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Mirian Vieira Maia O PORTFÓLIO REFLEXIVO ELETRÔNICO NA EDUCAÇÃO MÉDICA: uma análise da experiência do internato eletivo em Anestesiologia com base na Teoria da Aprendizagem Significativa Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Educação em Ciências e Saúde. Orientadora: Profa. Dra. Miriam Struchiner - NUTES-UFRJ RIO DE JANEIRO 2013

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Mirian Vieira Maia

O PORTFÓLIO REFLEXIVO ELETRÔNICO NA EDUCAÇÃO MÉDICA: uma análise da

experiência do internato eletivo em Anestesiologia com base na Teoria da Aprendizagem

Significativa

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Educação em

Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia

Educacional para a Saúde, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como requisito

parcial à obtenção do Título de Mestre em

Educação em Ciências e Saúde.

Orientadora: Profa. Dra. Miriam Struchiner - NUTES-UFRJ

RIO DE JANEIRO

2013

Ficha elaborada pela Biblioteca de Recursos Instrucionais/NUTES

M217p Maia, Mirian Vieira.

O portfólio reflexivo eletrônico na educação médica:

uma análise da experiência do internato eletivo em

Anestesiologia com base na Teoria da Aprendizagem

Significativa / Mirian Vieira Maia. - Rio de Janeiro:

NUTES, 2013.

189 f.; 21 cm.

Orientadora: Profa. Dra. Miriam Struchiner.

Dissertação (Mestrado) -- UFRJ, NUTES, Pós-

Graduação Educação em Ciências e Saúde, Rio de Janeiro,

2013.

Bibliografia: f. 164-173.

1. Educação médica. 2. Tecnologias da informação. 3.

Aprendizagem. I. Título. II. Struchiner, Miriam.

CDD 610.7

Mirian Vieira Maia

O PORTFÓLIO REFLEXIVO ELETRÔNICO NA EDUCAÇÃO MÉDICA: uma análise da

experiência do internato eletivo em Anestesiologia com base na Teoria da Aprendizagem

Significativa

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Educação em

Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia

Educacional para a Saúde, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como requisito

parcial à obtenção do Título de Mestre em

Educação em Ciências e Saúde.

Aprovado em __________________________________

______________________________________________________

Profa. Dra. Miriam Struchiner – UFRJ

______________________________________________________

Profa. Dra. Evelyse dos Santos Lemos – FIOCRUZ

______________________________________________________

Profa. Dra. Victoria Maria Brant Ribeiro Machado – UFRJ

Dedico este trabalho à memória de meu pai

que, pelo seu exemplo, sempre me incentivou

a perseverar e a acreditar que tudo é possível,

quando se tem determinação.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho e,

em especial:

Ao apoio de minha família que soube compreender meus momentos de ausência e

particularmente a João Carlos, meu amado marido, por seu amor, sua paciência e confiança; a

Mariana, minha filha, sobretudo por suas contribuições nas revisões de português e inglês; a

João Victor, meu filho, por todo o carinho demonstrado ao longo deste trabalho; a minha mãe,

por estar sempre a meu lado, pronta a me ajudar, incentivando-me e fornecendo-me a

tranquilidade necessária para essa empreitada

À minha orientadora, Profa. Miriam Struchiner que acreditou nesse projeto e que, com sua

paciência, profissionalismo e competência, ensinou-me a dar os primeiros passos no meio

acadêmico.

À professora Taís Giannella e demais companheiros do Laboratório de Tecnologias

Cognitivas (LTC) que tão carinhosamente me acolheram.

Aos meus colegas anestesiologistas do HUCFF/UFRJ e do HUPE/UERJ que me ajudaram nos

momentos em que precisei ausentar-me para cumprir com minhas tarefas e compromissos do

mestrado.

Aos meus colegas da pós-graduação do NUTES, sempre dispostos a trocar experiências,

proporcionando alguns poucos, mas importantes e agradáveis, momentos de convivência, que

ajudaram a amenizar o peso da jornada.

Aos alunos de Medicina e, em especial, aos participantes desta pesquisa, que foram a

motivação para que tudo isso acontecesse.

À professora Victoria Brant por ter me apresentado os princípios da Educação e aceitado

prontamente participar de minha banca de qualificação e defesa.

À amiga Elizabeth Leher, pelo incentivo e por ser a primeira a acreditar que eu conseguiria

chegar até aqui.

À professora Evelyse dos Santos Lemos, por aceitar participar de minha qualificação, muito

contribuindo para o desenvolvimento deste trabalho e por participar, também, da banca de

defesa.

Ao professor Carlos Otávio Fiúza Moreira, por suas considerações em relação ao presente

trabalho.

―Há uma coisa pela qual estou pronto a lutar,

até onde puder, em palavras e atos: devemos

ser homens melhores, mais corajosos e mais

ativos, se acreditarmos ser correto buscar algo

que não conhecemos, do que o seríamos se

acreditássemos que não há um porque nessa

busca, já que nunca poderemos descobrir o que

não conhecemos‖ (SÓCRATES, apud

SCHÖN, 2000, p.74)

RESUMO

MAIA, Mirian Vieira. O Portfólio Reflexivo Eletrônico na Educação Médica: uma análise da

experiência do internato eletivo em Anestesiologia com base na Teoria da Aprendizagem

Significativa. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e

Saúde) - Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

O presente estudo constitui-se em uma pesquisa-intervenção que teve como objetivos

investigar, na perspectiva da Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS) de Ausubel e

Novak (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1978; AUSUBEL, 2000; NOVAK e GOWIN,

1998), o processo de aprendizagem, mediado pelo uso do Portfólio Reflexivo Eletrônico

(PRE) (ALVES, 2004; GRANT e DORNAN, 2001; ALVES, 2002; SILVA e SÁ-CHAVES,

2009; YANCEY, 1996) na educação médica, com base na experiência de uso da ferramenta

por dez alunos do internato eletivo em Anestesiologia do Hospital Universitário Clementino

Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nesse contexto, o

PRE consiste em narrativas elaboradas pelos alunos e que, semanalmente, são inseridas por

eles na plataforma virtual Constructore (ltc.nutes.ufrj.br/constructore), com o objetivo de

acompanhar o processo de aprendizagem. Após análises dos portfólios, são elaborados

comentários pela preceptoria, que também são inseridos na plataforma. Na pesquisa, foram

utilizados métodos qualitativos e quantitativos para investigar o papel do PRE sobre a prática

reflexiva e sobre o processo de aprendizagem, além de conhecer as percepções dos alunos

sobre o PRE e sobre como as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) contribuíram

nesse processo. Para alcançar esses objetivos, foram coletados dados dos portfólios dos alunos

e das entrevistas semi-estruturadas realizadas com eles. Os dados foram analisados com base

na metodologia da análise de conteúdo do tipo temática (BARDIN, 2009). Para investigar a

aprendizagem significativa (AS) nas narrativas, foi utilizada uma adaptação da tipologia

proposta por Vitale e Romance (2000). Ela se baseia na avaliação das articulações conceituais

feitas pelos alunos para representar e qualificar seus conhecimentos. Os resultados

encontrados sugerem que o PRE, aliado à concepção pedagógica da TAS, pode ser uma

ferramenta que possibilita a prática reflexiva, sendo adequado não só à representação, como

também ao acompanhamento do aprendizado do aluno. Além disso, o PRE permitiu

evidenciar e qualificar o processo de AS, sendo evidenciados processos de AS desde níveis

mais simples até de maior complexidade, segundo as categorias hierárquicas da tipologia de

Vitale e Romance. A ferramenta também demonstrou potencial para facilitar o processo de

AS do aluno, uma vez que foi possível identificar, nas narrativas, processos recursivos e

intencionalidade do aluno em aprender. Em relação à percepção dos alunos sobre o uso do

PRE, de modo geral, apesar de considerarem muito trabalhosa a sua elaboração, todos

perceberam variados aspectos pedagógicos positivos no uso da ferramenta, tais como:

contribuição para a aprendizagem; estímulo à prática reflexiva; avaliação individualizada do

aluno; organização da aprendizagem; demonstração da visão dos alunos sobre seu

aprendizado; melhor conhecimento do aluno pelo professor; oportunidade para os alunos

expressarem seus pensamentos. Sobre o papel das TICs, os alunos consideraram que as

atividades e recursos oferecidos contribuíram estimulando a iteratividade e a autonomia dos

alunos quanto ao seu processo de aprendizagem. Em síntese, as análises dos resultados

encontrados sugerem que a ferramenta pode facilitar a construção de um conhecimento

significativo, contribuindo para melhorar o processo educacional.

Palavras-chave: Portfólio. Reflexão. Aprendizagem Significativa. Tecnologias da Informação

e Comunicação. Educação Médica. Anestesiologia.

ABSTRACT

MAIA, Mirian Vieira. O Portfólio Reflexivo Eletrônico na Educação Médica: uma análise da

experiência do internato eletivo em Anestesiologia com base na Teoria da Aprendizagem

Significativa. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e

Saúde) - Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

This study consists of an intervention research that aimed to investigate, from the

perspective of Ausubel and Novak’s Meaningful Learning Theory (MLT) (AUSUBEL,

NOVAK, HANESIAN, 1978; AUSUBEL, 2000; NOVAK e GOWIN, 1998), the learning

process, mediated by the use of the Reflective Electronic Portfolio (REP) (ALVES, 2004;

GRANT and DORNAN, 2001; ALVES, 2002; SILVA and SÁ-CHAVES, 2009; YANCEY,

1996) in medical education, based on the experience in the use of the tool by ten students

from the elective internship in Anesthesiology of Hospital Universitário Clementino Fraga

Filho – Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ). REP consists of narratives

produced by students and inserted by them weekly in the Constructore virtual platform

(ltc.nutes.ufrj.br/constructore), in order to follow the learning process. After analyzing the

portfolios, the preceptory elaborates comments, which are also included in the platform. In the

research, qualitative and quantitative methods were used to investigate the role of REP on the

reflective practice and the learning process, and also to understand students’ perceptions about

the REP and how Information and Communication Technology (ICT) contributed in this

process. To achieve these goals, data were collected from the students' portfolios and the

semi-structured interviews with them. Data were analyzed using the analysis of content of the

thematic type methodology (Bardin, 2009). To investigate meaningful learning (ML) in the

narratives, Vitale and Romance’ tipology was adapted (VITALE e ROMANCE, 2000). It is

based on the evaluation of conceptual links that the students did to represent and qualify their

knowledge. The results suggest that the REP, when involved with the pedagogical concept of

MLT, can be a tool that enabled the reflective practice and is suitable not only for

representation, but also for accompanying student learning. In addition, the REP has made it

possible to highlight and qualify some students’ ML process, being evidenced ML processes

levels from the simplest to the most complex, according to the hierarchical categories of

Vitale and Romance’s typology. The tool also demonstrated potential to facilitate the

student’s ML process, since it was possible to identify, in the narratives, recursive processes

and student’s learning intentionality. Regarding students' perceptions about the use of REP in

general, although considering its preparation laborious, all students identified various positive

pedagogical aspects in the use of the tool, such as: contribution to learning; encouragement of

reflective practice; individualized assessment of the student; better learning organization;

demonstration of the students’ self perceptions of learning; better knowledge of the student by

the teacher; opportunity of the students to express their thoughts. On the role of ICT, students

felt that the activities and resources heve stimulating interactivity and students’ autonomy on

their learning process. In summary, analysis of the results suggest that PRE can facilitate the

construction of meaningful knowledge, helping to improve the educational process.

Keywords: Portfolio. Information and Communication Technologies. Reflection. Meaningful

Learning Theory. Medical Education. Anesthesiology.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AS Aprendizagem Significativa

AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem

BIS Índice Bi-Espectral

BNM Bloqueador Neuromuscular

CAM Concentração Alveolar Mínima

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

HUCFF Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

IOT Intubação Oro-traqueal

LCE Laboratório de Currículo e Ensino

LTC Laboratório de Tecnologias Cognitivas

NUTES Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde

PNV Profilaxia de náuseas e vômitos

PRE Portfólio Reflexivo Eletrônico

RCP Reanimação Cardiopulmonar

RPA Recuperação Pós-Anestésica

SBA Sociedade Brasileira de Anestesiologia

TAS Teoria da Aprendizagem Significativa

TICs Tecnologias de Informação e Comunicação

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 O continuum aprendizagem mecânica-aprendizagem significativa 28

Figura 2 Ilustração das duas dimensões de aprendizagens 29

Figura 3 Mapa conceitual (modificado) com os cinco elementos de Novak 36

Figura 4 Modelo de Sistema de Tutoria Inteligente como arquitetura

para um Modelo de Ensino de Ciências

37

Figura 5 Arquitetura do Modelo IDEAS de Ciências 38

Figura 6 Tipologia de Avaliação para o modelo IDEAS de Ciências 40

Figura 7 Modelo geral de ensino articulando instrução e atividades 41

Figura 8 Componente do modelo de ensino com as especificações de

desempenho do aluno

42

Figura 9 Modelo do Programa do Internato em Anestesiologia 93

Figura 10 Ambiente do curso Anestesiologia para o Internato na plataforma

Constructore

97

Figura 11 Interface do formulário destinado ao portfólio no ambiente do curso 97

Figura 12 Áreas envolvidas na elaboração do portfólio 104

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Principais ênfases do Construtivismo apresentadas nos estudos 72

Quadro 2 Potencialidades das TICs citadas nos estudos 74

Quadro 3 Objetivos pedagógicos e contextos de uso do PRE identificados

nos estudos

75

Quadro 4 Temas teóricos do programa do Internato Eletivo em

Anestesiologia e atividades de ensino correspondentes

95

Quadro 5 Categorias relacionadas ao conteúdo dos portfólios propriamente

dito e seus respectivos indicadores

105

Quadro 6 Categorias relacionadas ao processo de elaboração do PRE e seus

respectivos indicadores

108

Quadro 7 Categorias relacionadas às percepções dos alunos sobre a

experiência de uso do PRE e seus indicadores

110

Quadro 8 Indícios de prática reflexiva na elaboração do PRE 113

Quadro 9 Eventos e principais articulações teóricas simples estabelecidas

pelos alunos

130

Quadro 10 Evidências de AS sugerindo prognóstico para o evento descrito 135

Quadro 11 Evidências de articulações teóricas para explicar eventos

observados pelos alunos

136

Quadro 12 Indícios de intencionalidade para aprender 143

Quadro 13 Processo de elaboração do PRE pelos alunos 144

Quadro 14 Percepções dos alunos sobre uso do PRE 145

Quadro 15 Percepções dos alunos sobre as contribuições das TICs 150

Quadro 16 Quadro analítico sobre o PRE de cada aluno 154

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Procedimentos e desempenhos dos alunos 118

Tabela 2 Desempenho individual dos alunos nos procedimentos

conforme conteúdo do PRE

120

Tabela 3 Temas teóricos abordados pelos alunos nos portfólios 122

Tabela 4 Frequência de citações nos portfólios sobre temas teóricos vivenciados

nas práticas

129

Tabela 5 Frequência de relatos de evidências de AS correspondentes a cada

categoria hierárquica

138

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 17

1.1 O PROBLEMA 18

1.2 O OBJETO DE PESQUISA 21

1.3 OBJETIVOS 22

1.4 ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA 22

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 24

2.1 O ENSINO E AS PERSPECTIVAS CONSTRUTIVISTAS 24

2.2 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL 27

2.3 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA SEGUNDO NOVAK 31

2.4 IMPLICAÇÕES DA TEORIA DA APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA (TAS) PARA O ENSINO

34

3 EDUCAÇÃO MÉDICA 44

3.1 MODELOS DE EDUCAÇÃO MÉDICA NO BRASIL 44

3.2 O PARADIGMA DA INTEGRALIDADE E A REALIDADE DA

FORMAÇÃO MÉDICA

52

3.3AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA PARA A MUDANÇA NA

EDUCAÇÃO MÉDICA

59

4 O PORTFÓLIO REFLEXIVO ELETRÔNICO (PRE) 62

4.1 CONCEITUAÇÕES E ASSOCIAÇÃO ÀS TECNOLOGIAS DE

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs)

62

4.2 REVISÃO DE LITERATURA SOBRE USO DO PORTFÓLIO

REFLEXIVO ELETRÔNICO NA EDUCAÇÃO MÉDICA

71

4.2.1 Princípios Norteadores 72

4.2.2 Contribuições das TICs 73

4.2.3 Possibilidades Pedagógicas de uso do PRE na Educação Médica 75

4.3 O PROCESSO DO PORTFÓLIO REFLEXIVO ELETRÔNICO

PELA PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA (AS)

83

4.3.1 O Portfólio como ferramenta de avaliação da AS 84

4.3.1.1 Estrutura 84

4.3.1.2 Procedimentos 85

5 METODOLOGIA 87

5.1 DESENHO METODOLÓGICO DO ESTUDO 88

5.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS 91

5.2.1 Análise do programa teórico-prático do internato eletivo em

Anestesiologia

91

5.2.1.1 Objetivos do programa 91

5.2.1.2 Os Conceitos Centrais 94

5.2.1.3 O Programa Teórico propriamente dito 94

5.2.1.4 Domínios de Avaliação 95

5.2.1.5 Atividades desenvolvidas pelos alunos 96

5.2.1.6 Especificações de desempenho baseadas em conhecimento 98

5.2.1.7 Evidências de aprendizagem significativa 98

5.2.2 Sujeitos da pesquisa 98

5.2.3 Procedimentos para coleta de dados 100

5.2.3.1 Momento 1 – leituras dos portfólios 100

5.2.3.2 Momento 2 – entrevistas com os internos participantes 101

5.2.4 Procedimento de análise dos dados 103

5.2.4.1 Análises dos dados dos conteúdos dos portfólios 104

5.2.4.1.1 Acompanhamento do aprendizado de conhecimentos

procedimentais

105

5.2.4.1.2 Temas e/ou eventos considerados relevantes pelo aluno 106

5.2.4.1.3 Recursividade 106

5.2.4.1.4 Evidências de aprendizagem significativa 106

5.2.4.2 Análise dos dados relacionados ao processo de elaboração

dos portfólios

107

5.2.4.2.1 Intencionalidade para aprender significativamente 108

5.2.4.2.2 Reflexão na organização para elaboração do PRE 109

5.2.4.2.3 Tempo destinado à elaboração do PRE 109

5.2.4.3 Análise dos dados referentes às percepções dos alunos sobre a

elaboração do PRE

110

5.2.4.3.1 Percepções dos alunos sobre o uso pedagógico do PRE 110

5.2.4.3.2 Percepções dos alunos sobre as contribuições das TICs 110

5.2.4.3.3 Percepções dos alunos sobre o Ambiente Virtual de

Aprendizagem (AVA)

110

5.2.4.3.4 Percepções dos alunos sobre a plataforma Constructore 111

5.2.5 Procedimentos de análise dos resultados encontrados 111

6 RESULTADOS E ANÁLISES 112

6.1 O PAPEL DO PRE SOBRE A PRÁTICA REFLEXIVA 112

6.2 O PRE COMO FERRAMENTA DE REPRESENTAÇÃO DO

PROCESSO DE APRENDIZAGEM

116

6.2.1 Aprendizado de conhecimentos procedimentais 117

6.2.2 Aprendizado teórico 121

6.2.3 Evidências de aprendizagem significativa 130

6.2.3.1 Articulação simples 130

6.2.3.2 Prognóstico 134

6.2.3.3 Articulação conceitual para explicar evento 136

6.3 PRE COMO FERRAMENTA DE FACILITAÇÃO DA

APRENDIZAGEM

139

6.3.1 Recursividade 139

6.3.2 Intencionalidade para aprender 142

6.4 O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO PRE 143

6.5 PERCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE A ELABORAÇÃO DO PRE 144

6.5.1 Aspectos positivos 146

6.5.2 Aspectos limitantes 149

6.6 CONTRIBUIÇÕES DAS TICs E PERCEPÇÕES SOBRE O AVA 150

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 155

REFERÊNCIAS 164

APÊNDICES 174

ANEXOS 177

17

1 INTRODUÇÃO

O grande avanço do conhecimento científico e da tecnologia foi responsável por uma

mudança no ensino médico, desviando o seu eixo para a formação de profissionais cada vez

mais especializados (ALBUQUERQUE et al, 2009). Esse desvio resultou em um modelo de

ensino verticalizado, com fragmentação do conteúdo e com a centralização do processo de

ensino/aprendizagem na figura do professor especialista (ALBUQUERQUE et al, 2009). Essa

construção do ensino médico privilegiou a excessiva especialização, o uso intensivo da

tecnologia, os altos custos de procedimentos diagnósticos e terapêuticos, mas não tem sido

capaz de atender às demandas básicas de saúde de grande parte da população brasileira. Para

Ramos (2010), esse modelo tradicional de ensino, mesmo que tenha possibilitado um

desenvolvimento científico e tecnológico na saúde, também comprometeu a organização, o

financiamento e os resultados dos serviços de saúde. Diversos são os problemas já

evidenciados no processo de ensino e de aprendizagem no contexto da educação médica.

Dentre eles, estão: formação inadequada dos professores para atividades de docência e de

investigação, produção de conhecimentos insuficiente, currículos arcaicos, carga horária

excessiva, dissociação entre teoria e prática, dissociação entre ciclo básico e o clínico,

formação que favorece a utilização indiscriminada de tecnologia e prática profissional

impessoal e descontextualizada etc (FEUERWERKER, 2002). Os problemas decorrentes

desse modelo tradicional de ensino contribuíram para a precária disponibilidade de médico

generalista, com uma visão ética, humanística e que esteja preparado para prestar cuidados de

forma contínua e resolutiva aos pacientes (ALBUQUERQUE et al, 2009).

Com base nessas considerações, inúmeros trabalhos (ALMEIDA et al, 2007; CECCIM

e CARVALHO, 2006; AMORETTI, 2005; LAMPERT, 2002, 2001; FEUERWERKER,

2002) e diversos fóruns do meio acadêmico discutem a necessidade de realizar mudanças

nesse modelo de ensino, que ainda impera em nossas universidades. Porém, para possibilitar a

transformação necessária na formação, é preciso que haja mudança não só no campo da

educação, mas também no social e na saúde (RAMOS, 2010).

Pelo exposto, percebe-se a complexidade do processo de formação médica, tornando-

se um grande desafio elaborar propostas que levem às melhorias exigidas nessa formação.

Várias escolas médicas estão implantando mudanças em seus currículos (LIMA, KOMATSU

e PADILHA, 2003; CYRINO e PEREIRA, 2004), aderindo às novas metodologias de ensino

(BRACCIALLI, 2008; CYRINO E PEREIRA, 2004), investindo em tecnologias educacionais

(PEZZI, 2008), com o objetivo de, por meio de inovações, promover as melhorias esperadas.

18

Todas essas ações são importantes, porém, são necessários embasamento científico e

comprometimento de todos os atores envolvidos no processo educacional para que possa

orientar as tomadas de decisões (MARIN, 2010). Para compreensão do fenômeno educativo, é

fundamental a integração da Educação com outras áreas do conhecimento, tais como

Psicologia, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Genética e Medicina (LIMA, 1990).

Assim, essas considerações iniciais nortearam o desenvolvimento da pesquisa que aqui

é apresentada.

1.1 O PROBLEMA

No ano de 2010, o grupo de preceptores formado pela pesquisadora e outros três

médicos do Serviço de Anestesiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

(HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), após concluir o curso de

formação pedagógica para o internato médico, organizado pelo Laboratório de Currículo e

Ensino (LCE) do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) da UFRJ,

decidiu estudar a possibilidade de implantação de mudanças no processo de ensino e

aprendizagem para os alunos do Internato Eletivo de Anestesiologia.

Pela análise do Programa Pedagógico do Internato vigente àquela época e baseados

nas vivências junto aos alunos, foram identificados diversos problemas nesse contexto

educacional, tais como: falta de comunicação entre a Faculdade de Medicina e o Serviço de

Anestesiologia, em relação ao encaminhamento dos respectivos internos, o que acarretava

uma série de discrepâncias e dificuldades no acolhimento destes; desinteresse bilateral, tanto

dos internos quanto dos membros do Serviço, devido à falta de definição clara sobre quais

eram as atribuições dos alunos no contexto das atividades diárias; impossibilidade em

controlar as atividades dos internos; falta de um conteúdo programático mínimo a ser

desenvolvido, pois eram oferecidas apenas algumas aulas teóricas expositivas, que se

repetiam a cada período, praticamente sem inovações; forma de avaliação utilizada que

limitava-se a uma prova de avaliação de conhecimento, ao final do internato, que gerava uma

nota para a aprovação do interno; ausência de uma avaliação do internato eletivo por parte dos

internos. Diante dessas observações, considerou-se que aquele programa pedagógico era

insuficiente para que os alunos alcançassem uma aprendizagem adequada, no sentido de

contribuir para a formação de um perfil profissional com as características recomendadas

pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina (DCN)

(BRASIL, 2001).

19

Com base nessas considerações e no aprendizado adquirido no Curso de Capacitação

Pedagógica para Formação de Preceptores do Internato Médico, foi elaborado e

implementado um programa de intervenção para o Internato Eletivo em Anestesiologia do

HUCFF/UFRJ. Ele consiste em: nova forma de acolhimento e recepção dos alunos,

estabelecimento dos objetivos específicos para o internato eletivo, organização de um

programa mínimo que obedeça aos objetivos determinados, utilização de metodologias mais

adequadas no desenvolvimento de conteúdos e de avaliação. A organização pedagógica do

programa é apresentada no capítulo 5 do presente trabalho.

O portfólio foi adotado pelo programa como um instrumento de aprendizagem, uma

vez que ele vem sendo apontado na literatura como adequado a esse objetivo (ALVES, 2004;

ALVES, 2002; SILVA e SÁ-CHAVES, 2009; YANCEY, 1996; STRUCHINER e

GIANNELLA, 2005, DEPRESBITERIS, 2001).

Estudos também descrevem diversas vantagens na associação das tecnologias de

informação e comunicação (TICs) ao portfólio, sugerindo que podem potencializar seus

objetivos pedagógicos (PARBOOSINGH, 1996; BRIDGE e EDDY, 2006; RUIZ et al, 2009).

Portanto, como parte da estratégia pedagógica do programa implementado e com o objetivo

de dinamizar o processo ensino aprendizagem, utilizam-se atividades de ensino

semipresencial, por meio da plataforma Constructore, elaborada pelo Laboratório de

Tecnologias Cognitivas (LTC) do NUTES/UFRJ (ltc.nutes.ufrj.br/constructore). A utilização

da ferramenta virtual tem como objetivos: melhorar a interação entre os alunos, entre

preceptores e alunos e entre os próprios preceptores; disponibilizar informações que ajudem

no processo de aprendizado, facilitando o acesso dos alunos a essas informações, pois podem

consultá-las quando e onde desejarem; estimular a busca por outras fontes de informações na

Internet, por meio de links disponibilizados na ferramenta; criar fóruns de discussões que

permitam interação do aluno com preceptores e demais colegas, ampliando, dessa forma, seu

conhecimento por meio da colaboração de todos e tendo oportunidade de refletir sobre as

questões levantadas sob outras perspectivas e opiniões; facilitar o acompanhamento do

desenvolvimento do interno por meio de suas participações nas atividades propostas; facilitar

a elaboração do portfólio; facilitar a elaboração de feedback da preceptoria para o aluno;

permitir a consulta a todo material inserido e desenvolvido na plataforma, quando se desejar;

observar se o objetivo de aprender a aprender está sendo estimulado e alcançado; além de

utilizar canais para facilitação de comunicação entre os preceptores, via e-mail específico no

Constructore, permitindo que o contato possa ser até mesmo diário entre todos os envolvidos

nas atividades do internato.

20

O objetivo da implementação desse novo programa pedagógico foi contribuir para que

o aluno desenvolva habilidades, conhecimento técnico-científico e um perfil profissional mais

crítico e reflexivo. Por isso, ao final de cada semestre, passou a ser feita uma reavaliação do

programa, baseada nas percepções dos preceptores, nos desempenhos dos alunos e nas

avaliações do curso feitas pelos internos ao final do período. Com base nessa discussão,

procede-se à necessária mudança, objetivando alcançar resultados melhores no próximo

período.

Desde a adoção do programa, o uso do portfólio vem passando por mudanças

gradativas, da seguinte forma: na primeira turma (com oito alunos, de agosto a novembro de

2010) em que o novo programa foi implementado, o portfólio era escrito em papel e utilizado

mais como um instrumento de controle de frequência do aluno ao Serviço; na segunda turma

(com 10 alunos, de março a junho de 2011), o portfólio passou a ter uma forma eletrônica,

porém, continuou a ser utilizado como um instrumento de controle de frequência; na terceira

turma (com nove alunos, de agosto a novembro de 2011), o portfólio eletrônico passou a ser

utilizado como um instrumento de acompanhamento do processo de aprendizagem, sendo

solicitado aos alunos que realizassem reflexões prévias sobre como estava ocorrendo esse

processo de aprendizagem e procurassem demonstrar em suas narrativas ―como‖ e ―o que‖

eles estavam aprendendo; na quarta turma (com quatro alunos, de março a junho de 2012), o

portfólio eletrônico passou a ser proposto como uma ferramenta de facilitação da

aprendizagem, sendo os alunos orientados a selecionarem o que considerassem mais relevante

para seu próprio aprendizado, refletissem sobre a questão selecionada de sua vivência prática,

articulassem com os conceitos teóricos já conhecidos por eles e elaborassem as narrativas,

tentando evidenciar seu aprendizado e como ele estava ocorrendo. Assim, buscando-se dar

maior enfoque sobre a importância da reflexão nesse processo, esse instrumento pedagógico

passou a ser denominado portfólio reflexivo eletrônico (PRE), sendo utilizado não só para o

acompanhamento do processo de aprendizagem, como também para a mediação no

desenvolvimento do ―aprender a aprender‖, com o objetivo de facilitar a aprendizagem

significativa dos futuros médicos sobre os conhecimentos básicos para sua formação.

Ao analisar as narrativas elaboradas pelos alunos e que, semanalmente, são inseridas

por eles na Plataforma Constructore, são observados os seguintes pontos: conteúdo das

narrativas; materiais didáticos utilizados pelos alunos para elaboração das narrativas; forma de

apresentação e de organização de suas ideias; presença de articulações entre os conhecimentos

teóricos e a prática; relatos de realizações dos procedimentos técnicos básicos; falhas que

possam estar ocorrendo nesse processo de aprendizado. Em síntese, o objetivo é perceber se

21

há indícios de evolução da aprendizagem significativa e se o objetivo de aprender a aprender

está sendo alcançado. Após análises dos portfólios, são elaborados comentários pela

preceptora que também são inseridos na plataforma, pois o objetivo é que esse seja um

processo dialógico, sendo fundamental esse feedback. Dessa forma, espera-se que o

acompanhamento do aprendizado do aluno e de seu progresso possa ocorrer continuamente,

permitindo correções e auto-avaliações, ainda com o processo em curso.

A utilização do portfólio na prática do internato também foi um processo de formação

docente e que gerou na preceptora e pesquisadora alguns questionamentos em relação ao seu

uso pedagógico nesse contexto, tais como: ele pode contribuir para a melhoria do processo

educacional, particularmente dos graduandos de Medicina, frente às necessidades de

mudanças na Educação Médica, discutidas em diversos trabalhos e fóruns sobre o assunto? Se

contribui, de que forma se dá essa contribuição?

1.2 OBJETO DA PESQUISA

Diante das discussões envolvendo as necessidades de mudanças na educação médica

fica claro que devem ser criadas, durante a graduação, condições que contribuam para a

formação de um profissional com formação básica adequada, que seja crítico, reflexivo e com

conhecimento que o instrumentalize a atuar em diversas situações com os mais variados

níveis de complexidade. Para isso, é fundamental que os atores envolvidos nesse processo de

formação se apropriem de concepções pedagógicas que permitam essa transformação. É

necessário, também, que se busquem alternativas pedagógicas que estimulem o

desenvolvimento de tais características ao longo da formação profissional e que,

simultaneamente, possam permitir ao aluno a construção de um conhecimento com

significado.

Assim, assumiu-se a Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS) como concepção

pedagógica norteadora para a análise do programa teórico-prático implantado no internato de

Anestesiologia que tem o portfólio reflexivo eletrônico como foco, por considerar que seus

princípios constituem um referencial essencial para o ensino e para a pesquisa. Na perspectiva

de Ausubel (2000), para que a aprendizagem seja significativa, é necessário que o conteúdo

ensinado relacione-se, de forma não arbitrária e substantiva, a conhecimentos prévios do

aluno, que este tenha a intencionalidade de aprender significativamente e seja capaz de

atribuir significado próprio ao que está assimilando, cabendo ao professor a função de

estimular que a aprendizagem ocorra.

22

Com a proposta de investigar esse processo de ensino aprendizagem pela perspectiva

da TAS, optou-se por formular o objeto da pesquisa nos seguintes termos: ―Investigação das

narrativas dos alunos e suas percepções sobre o papel do portfólio eletrônico como facilitador

da reflexão, do processo de construção da AS, e como instrumento de evidenciação da AS‖.

1.3 OBJETIVOS

Os objetivos da pesquisa são: analisar a influência do programa pedagógico

implementado, e especificamente do PRE, no desenvolvimento da prática reflexiva e no

processo de construção da AS.

Esperando-se encontrar subsídios que permitissem analisar e discutir, pela perspectiva

da TAS, as possíveis contribuições do PRE sobre a construção do conhecimento pelo aluno,

foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: a) analisar a influência dessa

ferramenta no processo de uma prática reflexiva, b) observar a possibilidade de

acompanhamento do aprendizado do aluno por meio dela, c) avaliar se a aprendizagem

significativa (AS) pode ser evidenciada pelo PRE; d) analisar seu papel na facilitação da

construção do aprendizado do aluno, e) conhecer o processo de elaboração do PRE pelos

alunos, f) conhecer as percepções destes sobre o uso do PRE e sobre as contribuições das

TICs nesse processo.

1.4 ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente trabalho está organizado da seguinte forma:

Nesse capítulo 1, é apresentado o problema que originou o interesse pela pesquisa, o

objeto de estudo e seus objetivos.

No capítulo 2, são apresentados os pressupostos teóricos que fundamentaram esse

estudo. As análises sobre as questões que permeiam esse tema conduziram o estudo para a

área da Educação, para o campo do Ensino e suas relações com outras áreas do conhecimento,

particularmente, da Psicologia da Educação. Por meio desses estudos, a visão construtivista

constituiu-se como a base para o desenvolvimento dessa pesquisa, tendo como referencial a

Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS), pela perspectiva de Ausubel (AUSUBEL,

NOVAK e HANESIAN, 1978; AUSUBEL, 2000) e Novak (NOVAK e GOWIN, 1998). São

apresentadas as implicações da TAS para o ensino e estratégias para facilitar e acompanhar o

processo de aprendizagem significativa (AS).

23

No capítulo 3, por meio de uma síntese sobre a trajetória dos modelos de Educação

Médica no Brasil, são levantadas algumas questões que evidenciam a dimensão da

complexidade do tema e que permitem se ter uma visão macropolítica da problemática. É

apresentada a realidade do internato médico em geral e do internato eletivo em

Anestesiologia. Dentre as diversas iniciativas que impulsionaram a implantação do novo

modelo proposto para a Educação Médica, estão as Diretrizes Curriculares Nacionais do

Curso de Graduação em Medicina (DCN), instituídas em 2001 pelo Ministério da Educação,

por meio do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2001), como forma de incentivar e

orientar novas formas de organização curricular e articulação entre ensino e serviços. Discute-

se, também, o que deve ser ensinado ao estudante de medicina e, diante das questões

abordadas, analisa-se como a TAS pode contribuir nesse processo de mudança.

No capítulo 4, são apresentadas as conceituações sobre PRE, suas contribuições para o

processo ensino aprendizagem, seguido de uma revisão de literatura sobre o uso desse

instrumento pedagógico no contexto da Educação Médica. Esses estudos sobre como o

portfólio eletrônico vem sendo utilizado e pesquisado no campo da Educação Médica,

permitiram observar que princípios norteadores os pesquisadores vêm utilizando, quais têm

sido as principais contribuições das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e que

possibilidades de uso pedagógico do PRE os pesquisadores têm empregado. Ainda nesse

capítulo, buscou-se explicar, pela perspectiva da TAS, como se insere a proposta de utilização

do PRE como ferramenta pedagógica que atenda às necessidades de mudanças no contexto da

educação médica, utilizando-se o modelo proposto por Vitale e Romance (2000) para o

planejamento pedagógico de uso do portfólio para avaliação da AS.

No capítulo 5, apresenta-se o desenho metodológico do estudo e os instrumentos e

procedimentos utilizados no desenvolvimento da pesquisa, tendo, como sujeitos do estudo, os

alunos matriculados nesse internato no período entre agosto de 2011 e junho de 2012; como

objeto de análise, o programa pedagógico implantado tendo como foco os portfólios

reflexivos eletrônicos elaborados pelos alunos; e, como fonte de coleta de dados, as narrativas

dos portfólios e os depoimentos das entrevistas com os internos. É apresentada, também, a

análise do programa, pela perspectiva da TAS, utilizando-se uma adaptação do modelo

proposto por Vitale e Romance (2000).

No capítulo 6, são apresentados e analisados os resultados das investigações sobre o

uso dos portfólios no contexto estudado, com base nos conteúdos dos portfólios elaborados

pelos alunos participantes da pesquisa e em seus depoimentos nas entrevistas realizadas.

No capítulo 7, são apresentadas as discussões e considerações finais.

24

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O ENSINO E AS PERSPECTIVAS CONSTRUTIVISTAS

A educação deve ser capaz de desencadear uma visão do todo — de

interdependência e de transdisciplinaridade —, além de possibilitar a construção de

redes de mudanças sociais, com a conseqüente expansão da consciência individual e

coletiva. Portanto, um dos seus méritos está, justamente, na crescente tendência à

busca de métodos inovadores, que admitam uma prática pedagógica ética, crítica,

reflexiva e transformadora, ultrapassando os limites do treinamento puramente

técnico, para efetivamente alcançar a formação do homem como um ser histórico,

inscrito na dialética da ação-reflexão-ação (MITRE, 2008, p. 2134).

Compartilhando dessa visão de Mitre (2008) sobre a necessidade de busca de práticas

pedagógicas inovadoras, percebe-se que a contribuição da Psicologia foi muito importante,

pois representou um grande impacto para a Educação ao tratar de questões relativas à

aprendizagem e ao comportamento humano. Isso permitiu que educadores e pedagogos

adquirissem conhecimentos que muito os orientou em seus processos educacionais (LIMA,

1990).

No Brasil, segundo Lima (1990), a relação Psicologia-Pedagogia foi influenciada por

diversas correntes, desde a teoria piagetiana, as teorias sócio-interacionistas de Vygotsky, até

as mais tradicionais da Psicometria e do Behaviorismo. Lima (1990) considera relevante para

a Educação no Brasil, a questão de sua relação com a Psicologia ter surgido não da realidade

brasileira propriamente dita, e sim de modelos educacionais de outros países desenvolvidos,

com seus pressupostos teóricos constituídos em determinado período histórico. Considera

ainda que:

com o advento do modelo norte-americano de educação, nós apenas refletimos o

percurso norte-americano da influência psicológica na ação de ―ensinar e aprender‖

e que ―o advento da Psicologia soviética na Psicologia brasileira ligada à Educação não surgiu por iniciativa nossa puramente, mas reflete a recuperação de Vygotsky

pela Psicologia norte-americana da mesma forma que nossa visão piagetiana na

Educação (LIMA, 1990, p. 4-5).

As teorias de aprendizagens construtivistas defendem que a aprendizagem é um

processo social e ativo e que os aprendizes constroem seus conhecimentos por meio de suas

experiências pessoais em interação social com outros (ZHANG, OLFMAN, FIRPO, 2010).

Partindo dessa premissa é que a proposta do Portfólio Reflexivo Eletrônico se insere, como

uma ferramenta facilitadora do processo de aprendizagem dentro da perspectiva

construtivista.

25

Construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de

que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo

terminado. Ele se constitui pela interação do Indivíduo com o meio físico e social,

com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por

força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no

meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem

consciência e, muito menos, pensamento (BECKER, 1994, p. 88-89).

Analisando etimologicamente o termo ―construtivismo‖ é possível estabelecer a

origem do verbo ―construir‖ do latim ―struere”, que significa organizar, dar estrutura

(CASTAÑON, 2005).

O psicólogo Jean Piaget foi quem primeiro introduziu o termo ―construtivismo‖ na

Psicologia, porém, abordagens teóricas relacionadas a diferentes correntes em áreas como a

própria Psicologia, a Educação, a Sociologia e outras vêm se apropriando desse termo, das

mais diferentes formas, o que dificulta uma definição básica (CASTAÑON, 2005).

Piaget considerava que

O desenvolvimento mental é uma construção contínua, comparável à edificação de um grande prédio que, à medida que se acrescenta algo, ficará mais sólido, ou à

montagem de um mecanismo delicado, cujas fases gradativas de ajustamento

conduziram a uma flexibilidade e uma mobilidade das peças tanto maiores quanto

mais estável se tornasse o equilíbrio (PIAGET, 1967, p. 12).

Já Vygotsky, além de considerar que o desenvolvimento mental é construído, defendia

que ele é resultante de um adequado aprendizado, conforme em:

...o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e

põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma,

seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e

universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente

organizadas e especificamente humanas (VYGOTSKY, 2007, p. 103).

Piaget e Vygotsky nasceram em 1896 e publicaram seus trabalhos nas décadas de 20 e

30. Porém Vygotsky morreu em 1934, enquanto Piaget continuou aprofundando sua teoria até

1980 (SOUZA e KRAMER, 1991). Ambos se opuseram à concepção empirista e racionalista

da teoria do conhecimento que influenciou os métodos tradicionais de ensino e aprendizagem

(SOUZA e KRAMER, 1991). Para uma melhor compreensão das teorias defendidas por esse

dois estudiosos, recorreu-se ao trabalho de Souza e Kramer (1991), que confronta alguns

pontos de ambas as teorias, particularmente aqueles com maior desdobramento na área da

Educação, na visão das autoras.

26

Dentre esses pontos, destaca-se a relação entre pensamento e linguagem e sua

influência na construção do conhecimento por essas duas perspectivas. Em relação aos

pressupostos filosóficos, Piaget foi orientado por uma perspectiva cognitivista-interacionista

ancorada na concepção biológica da evolução da espécie e das construções cognitivas. Ele

supunha a existência de um mecanismo evolutivo, tanto para os processos vitais quanto para

os mentais, ativado pela ação e interação do organismo com o meio, denominado auto-

regulação e que esse mecanismo era independente do contexto social e cultural. Nessa visão

―a produção do conhecimento científico se daria de forma sistemática e contínua sem as

interferências político-ideológicas e sócio-culturais geradas ao longo da história do homem‖

(p. 71).

Já Vygotsky foi orientado pela abordagem histórico-social, supondo que, ―ao longo da

história da humanidade, as estruturas do pensamento dos indivíduos modificam-se e essas

mudanças encontram suas raízes na sociedade e na cultura‖ (p.72), ou seja, o indivíduo

assimilaria os valores culturais de seu ambiente, desenvolveria uma consciência crítica sobre

eles, tornando-se capaz de se transformar para atender às novas exigências de seu contexto

social. Por essa visão, o homem produziria novas formas de comportamento a partir da

internalização dos símbolos culturais. Essa questão assumiu importância para a Educação,

pois, a análise dessas duas visões, permitiu entender como se constitui a relação entre

pensamento e linguagem, a partir de cada uma dessas perspectivas.

Enquanto Piaget priorizou as estruturas operatórias do pensamento, colocando em um

segundo plano o papel da linguagem no desenvolvimento do pensamento ou da consciência,

Vygotsky considerou esses dois elementos indissociáveis na construção do conhecimento.

Para Vygotsky (2005) o desenvolvimento cognitivo se origina pela conversão das

relações sociais em funções mentais superiores (pensamento, linguagem, comportamento

voluntário). Sendo essa conversão mediada por instrumentos e signos, entendendo-se por

instrumento aquilo que pode ser utilizado para fazer algo, enquanto signo é o que significa

alguma coisa (MOREIRA, 1999). Os tipos de signos são: os indicadores, que têm relação de

causa e efeito com o que significam, como por exemplo, a fumaça que significa fogo, porque

é causada por ele; os icônicos, que são imagens daquilo que significam; e os simbólicos, que

têm uma relação abstrata com aquilo que significam, como, por exemplo, as palavras (signos

lingüísticos), os números (signos matemáticos) (MOREIRA, 1999). As sociedades, ao longo

de sua história, criam instrumentos e signos que influenciam de forma decisiva em seu

desenvolvimento sócio-cultural. Segundo Moreira (1999), pela perspectiva de Vygotsky, à

medida que o sujeito utiliza os signos, as operações psicológicas que ele é capaz de fazer, vão

27

se modificando, o mesmo ocorrendo em relação ao uso dos instrumentos que ele utiliza.

Como os instrumentos e signos são construções sócio-culturais e históricas, o aprendiz se

apropria dessas construções por meio da interação social, ou seja, como os significados dos

signos são acordados socialmente, para que o aprendiz se aproprie desses significados e os

compartilhe, é fundamental que haja interação social (MOREIRA, 1999).

Moreira (1999) considera que é possível se construir uma analogia entre o processo de

internalização dos significados de instrumentos e signos, a partir da interação social,

defendida por Vygotsky, e o curso da aprendizagem significativa de Ausubel, em que o

significado lógico dos materiais de aprendizagem devem se transformar em significado

psicológico para que o aprendiz construa seu conhecimento de forma significativa.

Na ótica vygotskyana, a internalização de significados depende da interação social,

mas assim como na visão ausubeliana, tais significados podem ser apresentados ao

aprendiz em sua forma final. O indivíduo não tem que descobrir o que significam os

signos ou como são usados os instrumentos. Ele se apropria (reconstrói

internamente) dessas construções via interação social (MOREIRA, 1999, p. 94).

A utilização indiscriminada que se vem fazendo da expressão ―aprendizagem

significativa‖ nem sempre corresponde ao conceito adequado que foi proposto, tornando-se

relevante utilizá-la conforme sua conceituação original para que não se corra o risco de torná-

la trivial e até inútil (MOREIRA, 1999).

2.2 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL

Considerando que a maior parte das compreensões que os alunos adquirem, dentro e

fora da escola, é mais propriamente apresentada a eles (aprendizagem por recepção) do que

descoberta por eles (aprendizagem por descoberta), Ausubel (AUSUBEL, NOVAK,

HANESIAN, 1978) considera importante a distinção entre esses dois processos de

aprendizagem. Considera igualmente importante esclarecer que a aprendizagem por recepção

verbal não é necessariamente mecânica e pode ser significativa, assim como a aprendizagem

por descoberta não garante ser significativa.

Na aprendizagem receptiva (mecânica ou significativa) o que deve ser aprendido é

apresentado ao aprendiz em sua forma final. A tarefa de aprendizagem não envolve qualquer

descoberta independente por parte do aluno. É requerido a ele somente que internalize ou

incorpore o material apresentado, que será avaliado ou reproduzido em alguma ocasião futura.

Na aprendizagem por recepção significativa a tarefa ou material potencialmente significativo

é compreendido ou torna-se significativo no processo de internalização, em que os conceitos

28

Aprendizagem

Significativa

Aprendizagem

Mecânica

A maior parte da

aprendizagem que

se dá na escola

Produção

criativa

Incorporação substantiva, não arbitrária, não

literal de novo conhecimento à estrutura

cognitiva.

Esforço deliberado para ligar o novo

conhecimento a conceitos de ordem superior,

mais inclusivos, na estrutura cognitiva.

Compromisso afetivo de relacionar novos

conhecimentos a conhecimentos prévios

Prática, exercícios e replicas reflexivas contribuem para a

aprendizagem significativa

Incorporação não substantiva, arbitrária, literal de

novo conhecimento à estrutura cognitiva

Nenhum esforço para integrar o novo

conhecimento a conceitos existentes na estrutura

cognitiva

Nenhum compromisso afetivo de relacionar novos

conhecimentos a conhecimentos prévios

c

o

n

t

i

n

u

u

m

mais relevantes e inclusivos interagem com o novo material, servindo de ancoradouro,

incorporando-o e assimilando-o, porém, ao mesmo tempo, modificando-se em função dessa

ancoragem. Na aprendizagem por recepção mecânica as novas informações são armazenadas

de forma arbitrária e literal na mente (memorização), sem interação a conceitos relevantes já

existentes (MOREIRA, 1999). É importante reconhecer que existem tipos de aprendizagem

que estão na transição entre a aprendizagem significativa e a mecânica e que têm em comum

algumas características de ambas. Além disso, ambos os tipos de aprendizagem podem

ocorrer concomitantemente na mesma atividade de aprendizagem. A figura 1 ilustra em um

mesmo continuum a aprendizagem mecânica e a significativa.

Figura 1- O continuum aprendizagem mecânica-aprendizagem significativa. (Fonte: Moreira,1999, p. 18).

Essa mesma qualificação utilizada entre a aprendizagem mecânica e significativa,

pode ser aplicada à distinção entre a aprendizagem por descoberta e por recepção. A

característica essencial da aprendizagem por descoberta é que o conteúdo principal do que

deve ser aprendido, não é dado e sim descoberto pelo aprendiz antes que possa ser

29

incorporado significativamente na estrutura cognitiva do aluno. A primeira fase da

aprendizagem por descoberta envolve um processo completamente diferente da aprendizagem

por recepção. O aprendiz pode reajustar a informação, integrá-la com a estrutura cognitiva e

reorganizar ou transformar a combinação integrada de tal forma a gerar um produto final

desejado. Após a aprendizagem por descoberta ser completada, o conteúdo descoberto pode

tornar-se significativo da mesma forma que na aprendizagem por recepção. Portanto,

aprendizagem por recepção e por descoberta são dois tipos completamente diferentes de

processos.

A figura 2 ilustra essas duas dimensões em que aprendizagem por recepção e por

descoberta estão sobre um continuum separado do representado pela aprendizagem mecânica

e significativa.

Figura 2- Ilustração das duas dimensões de aprendizagens. Fonte: adaptação de Novak (1998, p. 8)

A essência do processo da aprendizagem significativa é que ideias expressadas

simbolicamente são relacionadas de maneira não arbitrária e substantiva (não literal) àquelas

que o aprendiz já conhece (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1978, p. 41). As

características básicas da aprendizagem significativa são a não arbitrariedade e a

substantividade.

Não-arbitrariedade quer dizer que o material potencialmente significativo se

relaciona de maneira não-arbitrária com o conhecimento já existente na estrutura

cognitiva do aprendiz. Ou seja, o relacionamento não é com qualquer aspecto da

estrutura cognitiva, mas sim com conhecimentos especificamente relevantes, os

Aprendizagem

Significativa

Aprendizagem

Mecânica

Aprendizagem

por recepção

Aprendizagem

por descoberta

dirigida

Aprendizagem

por descoberta

autônoma

Clarificação de

relações entre

conceitos

Aulas teóricas; livros de texto

Multiplicação; tabelas

Instrução

individualizada

bem programada

Trabalho de laboratório na escola

Aplicação de fórmulas para resolver problemas

Pesquisa científica;

criação artística

A maior parte da

―pesquisa‖ e produção

intelectual de rotina

Tentativa e erro; soluções

de ―quebra-cabeças‖

30

quais Ausubel chama subsunçores. O conhecimento prévio serve de matriz

ideacional e organizacional para a incorporação, compreensão e fixação de novos

conhecimentos quando estes ―se ancoram‖ em conhecimentos especificamente

relevantes (subsunçores) preexistentes na estrutura cognitiva. Novas ideias,

conceitos, proposições, podem ser aprendidos significativamente (e retidos) na

medida em que outras ideias, conceitos, proposições, especificamente relevantes e

inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva do

sujeito e funcionem como pontos de ―ancoragem‖ aos primeiros (MOREIRA, 2011,

p. 26).

Substantividade significa que o que é incorporado à estrutura cognitiva é a

substância do novo conhecimento, das novas ideias, não as palavras precisas usadas

para expressá-las. O mesmo conceito ou a mesma proposição podem ser expressos

de diferentes maneiras, através de distintos signos ou grupos de signos, equivalentes

em termos de significados (MOREIRA, 2011, p.26).

A aprendizagem por recepção significativa corresponde à aquisição de novos

significados, por meio do material de aprendizagem apresentado. A AS pressupõe que o

aprendiz manifeste um mecanismo de aprendizagem significativo (intencionalidade de

relacionar o novo material, não arbitrariamente e substantivamente, à sua estrutura cognitiva)

e que o material apresentado seja potencialmente significativo para ele, ou seja, que tenha

significado lógico dentro da capacidade humana de aprender e que a natureza da estrutura

cognitiva do aprendiz possua os subsunçores específicos para que haja a interação

(AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1978; AUSUBEL, 2000). Portanto, independente do

quanto o material possa ser potencialmente significativo, se a intencionalidade do aprendiz for

memorizá-lo de forma arbitrária e literal, tanto o processo de aprendizagem, quanto o

resultado da aprendizagem serão mecânicos ou menos significativos. Reciprocamente, mesmo

que o mecanismo de aprendizagem seja significativo, se a tarefa de aprendizagem não é

potencialmente significativa, nem o processo e nem o resultado da aprendizagem,

possivelmente podem ser significativos (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1978).

A interação entre material com significado lógico (suficientemente não arbitrário e não

aleatório, que se situe dentro do domínio da capacidade humana de aprender) e as ideias

relevantes na estrutura cognitiva do aprendiz, origina significados verdadeiros ou

psicológicos. Como a estrutura cognitiva de cada aluno é única, todos os novos significados

adquiridos são, obrigatoriamente, únicos, porém com partes compartilhadas (AUSUBEL,

2000; MOREIRA, 1999).

As informações podem ser organizadas na mente humana por assimilação e interação

dos elementos mais específicos de conhecimento aos subsunçores existentes na estrutura

cognitiva do aprendiz (MOREIRA, 1999).

31

Novak (1998) destaca a perspectiva humanista do conceito de aprendizagem

significativa ao defender que ela está subordinada à integração entre pensamento, sentimento

e ação.

2.3 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA SEGUNDO NOVAK

Novak (1998) refere que, além dos quatro elementos básicos de um evento educativo

(professor, aluno, currículo e contexto), pensamento, sentimento e ação participam de

qualquer experiência educativa. Dessa forma, ele introduz uma concepção humanista ao

conceito de AS ao defender que ela está subordinada à integração entre pensamento,

sentimento e ação (MOREIRA, 1999). Ele parte da premissa de que, como os seres humanos

pensam, sentem e agem, uma teoria de educação deve considerar cada um desses elementos,

uma vez que ―qualquer evento educativo é, de acordo com Novak, uma ação para trocar

significados (pensar) e sentimentos entre o aprendiz e o professor‖ (MOREIRA, 1999, p.35).

Novak também propõe a inserção da avaliação como um quinto elemento dentre os

constituintes básicos dos eventos educativos (MOREIRA, 1999).

A ideia fundamental da TAS proposta por Novak é que qualquer evento educativo

implica uma ação para trocar significados e sentimentos entre professor e aluno, com o

objetivo de que esse novo conhecimento seja contextualmente aceito. Para melhor

compreensão dessa ideia, ele salienta que a AS, por si só, não é garantia de aprendizagem

correta, ou seja, é possível o aluno atribuir conceitos que, para ele, são significativos, porém

são científica e contextualmente errôneos. A interação entre professor e aluno, trocando

significados é que contribuirá para a AS e correta (MOREIRA, 1999).

Outra ideia fundamental na teoria de Novak é a troca de sentimentos, pois, para ele,

experiências afetivas acompanham os eventos educativos. Conforme Ausubel já defendia,

para que a AS ocorra, uma das condições essenciais é que o aprendiz tenha predisposição para

aprender e, segundo Novak, isto está intimamente relacionado à experiência afetiva que o

aprendiz apresenta no evento educativo (MOREIRA, 1999).

―Predisposição para aprender e aprendizagem significativa guardam entre si uma

relação praticamente circular: a aprendizagem significativa requer predisposição para

aprender e, ao mesmo tempo, gera esse tipo de experiência afetiva‖ (MOREIRA, 1999, p.40).

Dentre os princípios que Moreira (1999, p.41) considera pertinentes à teoria de Novak,

destacam-se os seguintes: todo evento educativo envolve cinco elementos: aprendiz,

professor, conhecimento, contexto e avaliação; pensamentos, sentimentos e ações estão

32

interligados, positiva ou negativamente; a aprendizagem significativa requer disposição para

aprender, materiais potencialmente significativos e algum conhecimento relevante; atitudes e

sentimentos positivos em relação à experiência educativa têm suas raízes na aprendizagem

significativa e, por sua vez, a facilitam; o conhecimento humano é construído e a

aprendizagem significativa subjaz a essa construção; o conhecimento prévio do aprendiz tem

grande influência sobre a aprendizagem significativa de novos conhecimentos; significados

são contextuais e a aprendizagem significativa não implica aquisição de significados corretos;

conhecimentos adquiridos por aprendizagem significativa são muito resistentes a mudanças; o

ensino deve ser planejado para facilitar a aprendizagem significativa; a avaliação da

aprendizagem deve procurar evidências de aprendizagem significativa; o ensino, o currículo e

o contexto também devem ser avaliados.

Segundo Novak (2011), o assunto de qualquer disciplina necessita ser organizado de

forma que se apresentem primeiro as ideias principais da disciplina, facilitando assim a

aprendizagem e a compreensão dos detalhes que são lançados aos alunos, pois, do contrário,

eles não terão outros recursos senão memorizar a informação. Além disso, em qualquer

disciplina, mais do que considerar a mera informação, se deve considerar como o novo

conhecimento é criado na disciplina, o contexto social no qual a disciplina opera e avança, e o

tipo de atitude que se espera promover (NOVAK, 2011).

O papel do professor nesse processo também é discutido por Novak (2011),

considerando que, idealmente, os professores são também aprendizes e que eles ―negociam

significados‖ com seus alunos. Refere que essa é uma interação complexa em que os cinco

elementos do evento educativo deveriam estar envolvidos. Nessa perspectiva, o professor é

mais um orientador da aprendizagem do que um disseminador de informação.

Quanto ao contexto para a educação, Novak (2011) reforça que qualquer mudança no

contexto físico tem que ser acompanhada de mudanças em todos os outros elementos

requeridos para uma educação de qualidade, pois os cinco elementos são interdependentes.

Em relação à avaliação, Novak (2011) considera que, em determinadas situações, esse

é o elemento mais crucial. Pois, em muitos exemplos educacionais, em que o foco é

exclusivamente nos resultados de escores elevados em testes e exercícios sobre as

informações estudadas, nem sempre, a avaliação da compreensão e da aprendizagem

reproduzem os mesmos resultados obtidos pelos testes. Infelizmente, é muito mais fácil testar

na perspectiva da aprendizagem mecânica, usando testes objetivos, do que testar os ganhos na

compreensão do aluno sobre o assunto e acompanhar as mudanças atitudinais positivas em

33

suas apreciações da disciplina e compreensão das formas de conhecimento gerado na

disciplina.

Avaliar o aprendizado, pela perspectiva da TAS, implica em identificar evidências de

aprendizagem significativa. Essas evidências devem ser investigadas em todas as etapas

educacionais, logo, a avaliação deve permear todo o processo de ensino. Assumir a avaliação

do conhecimento como um processo evolutivo, não linear, representa assumir que a ação de

avaliar não está limitada apenas à afirmação sobre se ocorreu ou não AS e se esta é certa ou

errada (LEMOS, 2011a).

Em relação à avaliação final, que corresponde à emissão de um juízo de valor ou

mérito, esta deve ser realizada buscando perceber se os resultados obtidos estão de acordo

com os objetivos educacionais estabelecidos. Este é um aspecto fundamental na TAS, ou seja,

somente após determinação dos objetivos que se deseja alcançar é que se deve planejar uma

instrução adequada e determinar as formas de avaliação que serão utilizadas para esse fim

(LEMOS, 2011a).

Portanto, nessa perspectiva, a avaliação tem um papel central para a promoção da

aprendizagem, pois, por meio dela, é possível observar quais os conceitos que o aluno já

conhece, acompanhar e aperfeiçoar a evolução da aprendizagem, verificar se os objetivos

foram alcançados e se a forma de organização do assunto e as estratégias foram adequadas

(LEMOS, 2011a). Além disso, a avaliação pode facilitar o processo de aprendizagem, pois o

aluno, ao se preparar para o exame, tem a oportunidade de realizar a revisão, a consolidação e

a integração do assunto. A discussão sobre os resultados do exame permite que o aluno

evidencie o que deve ser melhor estudado, fazendo uma auto-avaliação sobre seu rendimento

escolar (LEMOS, 2011a).

Apesar de proposta há mais de 40 anos, a TAS apresenta conceitos e princípios

fundamentais para a atualidade. Porém, Moreira (2011) considera necessário que novas

abordagens sejam incorporadas à visão clássica proposta por Ausubel e Novak. Nesse sentido,

Moreira (2011) contribui lançando novos olhares sobre a TAS, particularmente quanto ao

caráter progressivo e crítico nesse processo.

Com base nos pressupostos de que a atribuição de significados a novos conhecimentos

é uma construção progressiva, e que a AS é dependente da captação de significados pela

negociação entre aprendiz e mediador, é fundamental que todo esse processo ocorra

lentamente, apresentando continuidades e descontinuidades. Assim, Moreira (2011) alerta

para o risco do estímulo à aprendizagem mecânica ao se tentar forçar indevidamente esse

processo progressivo.

34

Diante das demandas da sociedade contemporânea, em que o conhecimento é

construído em grande escala, passando rapidamente por mudança, Moreira (2011) defende

que a ocorrência da AS, por si só, já não é suficiente, é preciso que o aprendiz seja crítico,

questionando esse conhecimento. ―Aprender de maneira significativa e crítica permitirá ao

aprendiz lidar não só com a quantidade e com a incerteza do conhecimento, mas também com

as incertezas e mudanças da vida contemporânea‖ (MOREIRA, 2011, p. 14).

2.4 IMPLICAÇÕES DA TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA PARA O

ENSINO

A organização do ensino, pela perspectiva da TAS, sobre como e o que o professor

deve ensinar deve ser precedida da análise de outras questões, tais como: ―por que, para

quem, onde e com que tempo ensinar?‖ Pois, o ato de ensinar, por si só, não garante a

aprendizagem (LEMOS, 2011a).

A compreensão do significado da AS proposto originalmente por Ausubel, permite

que se identifiquem diversas questões que influenciam o processo de ensino e de

aprendizagem. Lemos (2011a) faz uma análise dessas questões, esclarecendo a influência de

cada uma delas, segundo os princípios de Ausubel. Quando a estrutura cognitiva do indivíduo

encontra-se organizada de forma lógica, realizando as ligações entre os significados

armazenados, de forma substantiva e não arbitrária, ele se torna mais capacitado para usar o

conhecimento e realizar novas aprendizagens, facilitando sua interação com e na realidade.

Por outro lado, o conhecimento obtido pela aprendizagem mecânica não capacita

adequadamente o indivíduo para que ele utilize esse conhecimento em novas situações. Dessa

forma, pode-se concluir que apenas o conhecimento pela AS possibilita autonomia intelectual

ao indivíduo, permitindo que ele consiga intervir na sua realidade. Diante disso, torna-se

essencial que o professor assuma o compromisso com a aprendizagem do aluno e este com a

sua própria aprendizagem. Nesse sentido, o professor deve: organizar seu planejamento de

ensino (selecionando, organizando e elaborando o material de ensino); verificar se os

significados compartilhados são aceitos no contexto da disciplina; reapresentar o significado

desejado de outras formas, caso o aluno não tenha conseguido ainda captá-lo. Quanto ao

aluno, este deve: captar e negociar os novos significados, além de ter a intencionalidade para

aprender significativamente. Ou seja, na situação de ensino propriamente dita, cabe ao

professor a responsabilidade de oferecer ao aluno as condições para que ele possa pensar

sobre o conhecimento, porém o ―aprender‖ do aluno independe da vontade do professor, pois,

35

essa é uma ação pessoal do mesmo que deve ter a intencionalidade para aprender

significativamente e negociar os novos significados com o professor (LEMOS, 2011a).

Lemos (2011a) reforça que o ensino é o meio pelo qual a aprendizagem do aluno é

favorecida e não a finalidade do processo educativo. É fundamental considerar que nenhuma

estratégia pedagógica garante um ensino de qualidade por si só. As decisões do professor e do

aluno, ao longo do processo, sendo orientadas por uma adequada concepção de aprendizagem

é que possibilitam a qualificação desse processo.

Considerando o caráter evolutivo desse processo de aprendizagem, Ausubel propôs

alguns princípios programáticos capazes de influenciar a estrutura cognitiva do aprendiz e

ajudar o professor a planejar o ensino de forma a promover a facilitação da AS. Esses

princípios são os seguintes (MOREIRA, 1999, p.51-52):

- Diferenciação progressiva: é o princípio segundo o qual as ideias mais gerais e

inclusivas devem ser apresentadas no início do ensino, pois é mais fácil o aprendiz captar os

aspectos mais gerais previamente aprendidos. Depois, progressivamente, essas ideias vão

sendo diferenciadas em seus pormenores e em suas especificidades.

- Reconciliação integrativa: por esse princípio, após a introdução dos conceitos mais

específicos, devem ser feitas constantes referências aos conceitos gerais, para se manter a

visão do todo e elaborar cada vez mais o geral (integração). Assim, deve-se ―descer‖ dos

conceitos gerais para os específicos e ―subir‖ novamente até os ―gerais‖.

- Organização sequencial: princípio pelo qual a compreensão de um tópico novo na

matéria de ensino é favorecida pelo entendimento prévio de um tópico a ele relacionado. Por

isso, para maximizar a aprendizagem significativa e sua retenção, devem ser utilizadas as

dependências sequenciais naturais existentes na matéria de ensino.

- Consolidação do que está sendo estudado: por esse princípio, antes que novos

materiais sejam introduzidos deve ser assegurado o entendimento do material já estudado, por

meio de práticas e exercícios, para o sucesso na aprendizagem sequencialmente organizada.

Portanto, é importante que esses princípios estejam permeando todo o ensino, pois,

para que o aluno vá consolidando gradativamente o conhecimento que está aprendendo, é

necessário que a diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa sejam oferecidas em

diferentes momentos e situações dentro do evento educativo (LEMOS, 2011a).

Novak (1998) se dedica não só a aprofundar o conceito de aprendizagem significativa,

como também às formas de facilitação dessa aprendizagem, como, por exemplo, a estratégia

do mapeamento conceitual que é um instrumento facilitador de aprendizagem, que consiste na

construção de representações conceituais, pelo aprendiz, sobre determinado conhecimento e

36

que pode servir também para avaliar o processo de aprendizagem. Nessa proposta, os mapas

conceituais devem ser organizados de forma hierárquica, em que os conceitos mais gerais

estão no topo e os conceitos subordinados abaixo. A figura 3 ilustra um mapa conceitual

representando os elementos básicos do evento educativo proposto por Novak (MORAES,

2007).

Figura 3- Mapa conceitual (modificado) com os cinco elementos de Novak (Joseph Novak, 1998) Fonte:

Moraes, 2007.

A estratégia pedagógica que usa o mapa conceitual serve não só para explicar o

conhecimento, por meio das relações conceituais, mas também para representar o processo de

aquisição do conhecimento, por meio da reorganização contínua de novas relações conceituais

que vão sendo incluídas no mapa, à medida que estão sendo aprendidas (VITALE e

ROMANCE, 2000) permitindo assim a avaliação da aprendizagem. O mapa conceitual

também é útil no planejamento de ensino, conforme abordado na página 42.

Para Moreira (1999), as teorias construtivistas, de modo geral, são teorias de

aprendizagem e não de ensino, porém, a teoria de Ausubel, enriquecida por Novak, apesar de

ser uma teoria de aprendizagem, oferece diretrizes, princípios e estratégias que auxiliam a

prática de ensino voltada para a aprendizagem significativa. Lemos (2011b, 2005)

compartilha dessa visão sobre a TAS, acrescentando que essa teoria possui, também,

implicações importantes para a investigação no contexto educacional.

Dessa forma, têm sido desenvolvidos estudos buscando ajudar os professores na

prática do ensino e da promoção da aprendizagem significativa. Recorrendo a Vitale e

Romance (2000, 2001), encontram-se contribuições importantes nesse sentido e que servem

como base para o desenvolvimento e análise da presente investigação.

37

MODELO DE SISTEMA DE TUTORIA INTELIGENTE

Interface

Computador/ Aluno

Problema/

Tarefas de

Aprendizagem

Avaliação de

Desempenho

do Aluno

MÓDULO DE ENSINO

Seleciona

Estratégias

de Ensino

Conteúdo a ser ensinado

Conceitos centrais

Conhecimento do Currículo

Determina

Estado de

Conhecimento

do Aluno

Alvo

Deficiência de

Conhecimento

do Aluno

Domínio do Estudante

Com o objetivo metodológico de estudar a representação do conhecimento, Vitale e

Romance (2000, 2001) desenvolveram um modelo de sistema de tutoria inteligente para

computador. A arquitetura desse modelo consiste em um sistema articulado à uma base

conhecimento e essa própria base é que fornece os significados para controlar os outros

componentes educativos e de avaliação do sistema. Nessa arquitetura, as estratégias e as

tarefas de avaliação são explicitamente baseadas no conteúdo da base conhecimento

(VITALE e ROMANCE, 2000; ROMANCE e VITALE, 2001). Esses modelos estão

ilustrados na figura 4, ambos representam o papel do conhecimento como elemento central

para o ensino e para a avaliação.

Figura 4 – Modelo de Sistema de Tutoria Inteligente como uma arquitetura para um modelo de ensino de

Ciências. Ambos os modelos ilustram o papel do conhecimento como elemento central no ensino e avaliação.

Fonte: Vitale e Romance, 2000.

Determina

Estado de

Conhecimento do Aluno

MODELO DE ENSINO DE CIÊNCIAS BASEADO EM CONHECIMENTO

Envolvimento

ativo do

aluno

Tarefas de

Aprendizagem

em sala de aula

Avaliação de

Desempenho do Aluno

Conhecimentos pedagógicos

Seleciona

Estratégias

de Ensino

Conteúdo a ser ensinado

Conceitos de Ciências

Conhecimento de Ciências

Alvo

Deficiência de

Conhecimento

do Aluno

Domínio do Estudante

38

GERAÇÃO DE SEQUÊNCIAS DE ATIVIDADES LIGADAS A CONCEITO POR MEIO DA ARQUITETURA IDEAS

Conceitos

alvos

de Ciências,

Relações, Aplicações

Revisão de

Conhecimentos prévios

de Ciências

Representação do

Conhecimento /

Representações

Conceituais

Construindo mapas/

modelos conceituais

Rotinas de ensino IDEAS

Atividades de

Leitura

Atividades Ciências

Leituras extras

Atividades de

Aplicação

Formatos de Ensino

IDEAS

ATIVIDADE 1: Revisão Conhecimento Prévio

ATIVIDADE 2: Atividade Mapa Conceitual

o ATIVIDADE 3: Demonstração Professor

o ATIVIDADE 4: Atividade manual do aluno

ATIVIDADE 5: Atividade Mapa Conceitual

(continuada)

o ATIVIDADE 6: Atividade leitura de livro texto

ATIVIDADE 7: Atividade Mapa conceitual

(continuada)

o ATIVIDADE 8: Escrevendo Atividade 1

o ATIVIDADE 9: Atividade de Aplicação (Projeto)

o ATIVIDADE 10: Leitura extra

o ATIVIDADE 11: Escrevendo atividade 2

Atividades Escritas

Ao apresentar esses modelos, Vitale e Romance (2000) salientam que é necessário que

o professor desenvolva um modelo de ensino que incorpore o fundamento dessa arquitetura

para seu ambiente de prática educacional. O modelo IDEAS para o ensino de Ciências,

elaborado por Vitale e Romance em 1995, é ancorado na arquitetura baseada em

conhecimento e usa um esquema de conceitos como roteiro de ensino, servindo de foco para

múltiplas atividades usadas para implementar um ambiente de aprendizagem profunda. Esse

modelo está ilustrado na figura 5.

Figura 5 – Arquitetura do Modelo IDEAS de Ciências. Como mostrado, os conceitos de ciências servem como

foco para múltiplas atividades usadas para implementar um ambiente de aprendizagem profunda. Fonte: Vitale e Romance, 2000.

Como complementação do componente de ensino do modelo acima, foi também

criado por Vitale e Romance, em 1995, um modelo de avaliação baseada em conhecimento,

que consiste em uma tipologia representando, qualitativamente, diferentes categorias de

articulações conceituais, por meio das quais os alunos demonstram compreensão de conceitos

de ciências ao completarem suas atividades (VITALE e ROMANCE, 2000).

As categorias específicas dessa tipologia de avaliação em ciências são as seguintes

(VITALE e ROMANCE, 2000):

Observações ou registro de eventos no ambiente: a correspondência de conceitos de

ciências com eventos no mundo é necessária para compreensão significativa.

39

Predição e/ou controle manipulativo de eventos futuros: a aplicação de conhecimento

de relações conceituais para fazer predições acuradas ou controlar eventos em

situações específicas é um importante elemento de compreensão significativa.

Análises e/ou explicações de eventos ocorridos: o uso de conhecimento de relações

conceituais para explicar eventos ocorridos em situações específicas é um importante

elemento de compreensão significativa.

Construção de representações lógicas e/ou visuais de como os conceitos de ciências

estão relacionados entre eles (tal como mapa conceitual): a construção de mapas

conceituais para representar conhecimento é reconhecido como importante ferramenta

de metacognição na aprendizagem: consciência demonstrada de como conceitos de

ciências e relações conceituais são aprendidas. Um importante aspecto de ciência é

compreender o processo pelo qual a disciplina tem obtido conhecimento e como se

aplica aqueles processos para um indivíduo obter conhecimento científico.

Demonstrações de comunicações de conhecimento científico para outros: as

comunicações de conhecimento em uma variedade de formas é um importante

constituinte de compreensão científica.

A tipologia apresentada segue uma estrutura hierárquica, com ênfase inicial sobre

conceitos e relações conceituais, como elemento fundamental para que o conhecimento de

ciências seja aprendido. Uma vez que tal conhecimento seja aprendido, sua aplicação,

representação, expansão e comunicação, devem ser todos articulados para o mundo, desde que

tenha sido acompanhado de uma aprendizagem significativa (VITALE e ROMANCE, 2000).

Os elementos dessa tipologia de avaliação podem ser inseridos em várias atividades

educativas. Dessa forma, ela serve como um guia para professores avaliarem os desempenhos

dos alunos (VITALE e ROMANCE, 2000). Esse modelo, com seus diferentes níveis de

categorias de desempenho dos estudantes para demonstrar compreensão conceitual, está

ilustrado na figura 6.

40

MODELO DE ENSINO BASEADO EM CONHECIMENTO

ATIVIDADES DOS ALUNOS USANDO CONCEITOS E RELAÇÕES CONCEITUAIS

PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DE SALA DE AULA USANDO CONCEITOS E RELAÇÕES CONCEITUAIAS

Observa

eventos no

ambiente Predizer

eventos

futuros Analisar e

Explicar

Eventos Articular conceitos a

outros conceitos Consciência de

como os novos

conceitos são

aprendidos Comunicação

de conhecimento

para outros

Figura 6 – Tipologia de Avaliação para o modelo IDEAS de Ciências. Tipologia representa categorias de

desempenho de alunos diferentes qualitativamente por meio da qual os alunos demonstram compreensão

conceitual nas atividades educativas (Vitale e Romance, 1995b; Vitale e Romance, 1998). Fonte: Vitale, 2000.

Adequado aos princípios da TAS, um modelo mais geral de ensino foi desenvolvido,

por Vitale e Romance, em 1998, como uma evolução do anteriormente descrito. Nesse

modelo, tanto as tarefas instrucionais como as de avaliação são baseadas em conhecimento.

Seus elementos são os seguintes:

Os professores identificam os conceitos centrais e as relações conceituais para serem

pensadas por tópicos ou unidades.

Os professores constroem um esquema representando os conceitos ou ideias centrais

para serem usados como um guia curricular

Professores desenham tarefas ou cenários que poderiam ser usados alternativamente,

tanto para instrução como para avaliação pela combinação de elementos dos seus

mapas conceituais com categorias da tipologia de avaliação

Professores apresentam as tarefas tanto modelando a aplicação dos conceitos de

ciências para as tarefas, e/ou determinando as tarefas como atividade dos alunos para

serem completadas com (ou sem) guia do professor, e/ou usando as tarefas para

avaliação do aluno

Professores referenciam todas as tarefas instrucionais e de avaliação ambas para o

mapa conceitual central inicial desenvolvido pelo professor ou para um mapa

conceitual desenvolvido interativamente pelos alunos com orientação do professor.

41

A figura 7 ilustra a representação desse modelo, articulando conceitos centrais com

categorias centrais de avaliação.

Figura 7 – Modelo geral de ensino articulando instrução e atividades (Vitale e Romance, 1998). Fonte: Vitale, 2000.

A característica desse modelo de ensino baseado em conhecimento é o uso do mapa

conceitual central, em conjunção com a tipologia, para gerar tarefas a serem aplicadas aos

alunos. Dessa forma, todas as tarefas são explicitamente baseadas em conhecimento. E, uma

vez geradas, as tarefas podem ser usadas pelo professor, com igual validade, como atividade

de aprendizagem ou para avaliação dos alunos. Importante notar que a articulação entre

especificações de desempenho dos alunos, tarefas e atividades deles, e o mapa conceitual

central, fornece uma estrutura com a qual professores estão aptos a organizar e refinar seus

cursos. Logo, o modelo baseado em conhecimento, fornece meios para implementação de

Mapa

conceitual do

currículo

Conceitos

centrais em

curso Exemplos em

ensino Atividades

aplicadas

aos alunos

Domínio da Avaliação

Gera

Gera

provêm estrutura baseada em conhecimento

Observa eventos

Prediz eventos futures

Analisa / explica eventos

Articula conceitos para outros

Consciência de como os conceitos aprendidos

Comunicação de conhecimento para outros

42

formas de avaliação baseadas em conhecimento (tal como portfólio), em que os professores

podem interpretar os resultados, como medidas válidas de compreensão conceitual.

A figura 8 ilustra o componente do modelo geral de ensino baseado em conhecimento,

proposto por Vitale e Romance, em 1998, mostrando as especificações sobre o desempenho

do aluno.

Figura 8 – Componente do modelo de ensino com as especificações de desempenho do aluno. Fonte: Vitale e

Romance, 2000.

Segundo Vitale e Romance (2000), na literatura educacional existem diversas

pesquisas abordando a importância da relação entre conhecimento e avaliação. Várias dessas

pesquisas mostram a importância de articular portfólio e outras formas de avaliação para o

conhecimento conceitual que se pretende avaliar.

Como uma variante do modelo geral de ensino, apresentado acima, Vitale e Romance

(2000) sugerem a elaboração de um modelo de avaliação por portfólio baseado em

conhecimento que é apresentado no capítulo 4 do presente trabalho.

A compreensão da TAS de Ausubel e Novak (AUSUBEL, NOVAK e HANESIAN,

1978; AUSUBEL, 2000; NOVAK e GOWIN, 1998; NOVAK, 2011; MOREIRA, 1999;

LEMOS, 2011a, 2011b) foi fundamental para o desenvolvimento do presente trabalho por

Atividades de

aplicação do

aluno

Conceitos

centrais em curso

Mapas

conceituais

do currículo

Domínios

de Avaliação

Especificações de Desempenho Baseado em Conhecimento

Tarefas / Atividades

Resultados tarefas / atividades

Processos/Procedimentos para fazer tarefas/atividades sucessivamente

Conhecimento prévio requerido para realizar processo/ procedimento

na forma de

Expressada como gera Oferece estrutura baseada em

conhecimento

determina

43

acreditar que seus princípios fornecem elementos que podem orientar o processo de ensino,

que busque um aprendizado efetivo, permitindo ao futuro profissional atuar em diferentes

contextos, com variados níveis de complexidade. Portanto, esses pressupostos permearam as

discussões sobre o processo educativo da graduação médica discutido no capítulo 3.

44

3 EDUCAÇÃO MÉDICA

Com o objetivo de um melhor entendimento sobre os fatores desencadeantes da crise

na educação médica, que levaram à necessidade de mudanças nesse contexto, optou-se por

traçar um breve histórico sobre a trajetória do ensino médico no Brasil. Com base nesse

estudo, é discutido o desafio do novo modelo de educação médica proposto frente à realidade

atual de formação nesse contexto. Em seguida, são apresentadas as possíveis contribuições da

TAS no processo de mudança que vem sendo construído.

3.1 MODELOS DE EDUCAÇÃO MÉDICA NO BRASIL

Durante os três primeiros séculos de colonização, a sociedade recorreu às mais

diferentes formas de cura para seus males, desde as trazidas da Europa até a medicina

indígena e as ―magias‖ dos povos africanos. Naquela época, os missionários jesuítas que já

eram os principais responsáveis pela educação colonial, assumiram o papel de curadores,

aproveitando-se muito da medicina indígena (EDLER e FONSECA, 2006a).

Aos jesuítas deve-se imputar a iniciativa de intercâmbio entre esses universos da

medicina, já que eles também absorviam o saber dos físicos, cirurgiões e boticários

aplicando-os nos precários hospitais da Santa Casa da Misericórdia (EDLER E

FONSECA, 2006a, p. 8).

Até o século XVIII, a medicina no Brasil era exercida pelos físicos1, cirurgiões

2,

boticários3 e barbeiros

4 (EDLER e FONSECA, 2006b). A partir da segunda metade do século

1 Físicos - atuavam como médicos da Coroa, da Câmara e das tropas nas principais cidades e vilas, sendo

numerosamente pouco expressivos no século XVIII, existindo em cidades como Recife e o Rio de Janeiro

somente 3 ou 4 físicos. Eles eram responsáveis pelo exame, diagnóstico e o receituário para os pacientes. 2 Cirurgiões considerados socialmente inferiores, eram responsáveis pelos ofícios manuais, que exigiam o uso

de ferros de lancetas, de tesouras, de escalpelos, de cautérios e de agulhas. Assim como os físicos, a partir da

segunda metade do século XVIII, passaram a se formar em universidades européias, alcançando posição social

mais privilegiada.

3 Boticários eram oriundos geralmente de famílias humildes e obtinham seus conhecimentos nas boticas

(farmácias). Para obtenção da Carta de Examinação, que lhes possibilitaria o exercício do ofício, submetiam-se a

um exame junto aos comissários do Físico-mor do Reino.

4 Barbeiros, além dos cortes de cabelos e das barbas, praticavam sangrias, aplicavam ventosas, sanguessugas e

clísteres, faziam curativos arrancavam dentes, etc. Da mesma forma que os boticários, os barbeiros necessitavam da Carta de Examinação para habilitá-los ao exercício de seu ofício. Os barbeiros geralmente eram portugueses e

castelhanos, muitos deles cristãos-novos, sendo que a partirdo século XVIII já incluíam-se negros e mestiços

neste ofício.

45

XVIII, os físicos e cirurgiões, já formados em universidades européias, alcançaram posições

sociais mais privilegiadas.

Com a vinda da família real para o Brasil, foi iniciado o processo de organização

profissional e regulamentação do ensino médico, com a instalação de dois cursos de cirurgia e

anatomia nos hospitais militares em Salvador e no Rio de Janeiro em 1808 (EDLER e

FONSECA, 2006c; LAMPERT, 2008). Essa época foi denominada de medicina pré-

científica, pois os textos e conhecimentos científicos vinham de fora (LAMPERT, 2006).

A partir do rompimento das relações com Portugal, ocorrido em 1822, o trabalho

médico dos físicos e cirurgiões de formação ibérica foi sendo substituído pelo dos doutores

formados nas escolas médicas nacionais, cujo modelo era influenciado pela escola francesa

(LAMPERT, 2008). Iniciou-se, assim, a tradição do médico de família que atuava como

clínico, cirurgião e conselheiro higienista (EDLER e FONSECA, 2006c). Começaram a surgir

pesquisas e estudos produzidos no Brasil, dando início à medicina científica propriamente dita

(LAMPERT, 2008). Surgiram os institutos de pesquisa Manguinhos, Bacteriológico e

Butantã. Os pesquisadores Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Carlos Chagas, Vital Brasil, Pirajá da

Silva destacaram-se por suas contribuições relevantes para a saúde pública nacional

(LAMPERT, 2008). Com a reforma de 1832 as duas escolas médicas passaram a ser

denominadas por faculdades (LAMPERT, 2008).

Dessa forma, a medicina acadêmica brasileira, sob influência francesa, iniciou um

período revolucionário com o surgimento de duas correntes dicotômicas: o racionalismo,

assimilado aos grandes sistemas unificados de patologias e terapêuticas e o empirismo,

associado à observação direta dos sintomas dos pacientes vinculada à observação de lesões

patológicas dos cadáveres, o que representou uma transformação na medicina, originando as

discussões sobre etiologia5 das doenças. Surgiram novos elementos no meio acadêmico e na

prática profissional, vindos da França, tais como: a ausculta, a percussão, patologia tissular,

autópsia, ceticismo clínico e estatística. O uso do estetoscópio fez da Medicina Interna uma

disciplina separada. Para o aprendizado dos métodos de diagnóstico clínico, tornou-se

necessário um ensinamento individualizado, junto ao leito do paciente, revelando a

inadequação apenas do método de leitura até então dominante. Os hospitais, com grande

número de pacientes que poderiam ser examinados sob supervisão, passaram a ser os locais

ideais para esse treinamento e considerados fontes de conhecimentos diagnósticos e

terapêuticos (EDLER e FONSECA, 2006d).

5 Etiologia- estudo das causas das doenças

46

Nesse período histórico, em que surgiram tantos elementos importantes para o avanço

da medicina, cabe destacar o ocorrido em 16 de outubro de 1846, na sala de operações do

Hospital Geral de Massachusetts: o paciente Gilbet Abbot foi anestesiado com éter por

William Thomas Morton, que era dentista, cursando o segundo ano de Medicina na Harvard

Medical School. Isso permitiu que o cirurgião John Collins Warren realizasse publicamente,

pela primeira vez, um procedimento cirúrgico completamente indolor (MARTINS, 1999).

Tal fato foi considerado um sucesso, sendo a data considerada um marco para a Medicina,

pois a narcose por meio da inalação de gases químicos possibilitou que a dor deixasse de ser o

maior obstáculo que impedia que os tratamentos cirúrgicos pudessem ser realizados ou

quando ocorriam representavam um sofrimento de intensidade extrema para o indivíduo. Tal

fato permitiu o imenso e rápido progresso no campo de ação da Cirurgia.

No Brasil, a experiência protagonizada por Morton foi repetida apenas sete meses

depois, quando Roberto Haddock Lobo, no Rio de Janeiro, em 25 de maio de 1847, realizou a

experiência em um estudante de Medicina, que voluntariamente aceitou participar, utilizando

o éter como anestésico. Alguns dias após, dois soldados foram anestesiados com éter no

Hospital Militar da Corte (MARTINS,1999). A partir de 1848, sucederam-se diversas teses

sobre anestesia, apresentadas à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro o que permitiu a

divulgação dos conhecimentos anestésicos no meio acadêmico-científico. Porém, o ato

anestésico durante algumas décadas era realizado pelos próprios cirurgiões até o surgimento

da Anestesiologia como especialidade médica .

Apesar dos progressos citados, por volta de 1880, professores e alunos da Faculdade

de Medicina do Rio de Janeiro, passaram a denunciar as péssimas condições das instituições

de ensino e a precariedade do ensino. Intensificaram-se as críticas ao modelo francês, que,

além de centralizador, separava as atividades de pesquisa prática do processo de formação

médica. Isto ajudou a impulsionar a implantação das reformas do ensino médico que se

seguiram (EDLER e FONSECA, 2006e).

Ao final do século XIX, foi criada a terceira escola médica, a Faculdade de Medicina

de Porto Alegre (LAMPERT, 2008). Surgiu também nessa época, no Rio de Janeiro, a

Medicina Experimental sob a influência do modelo germânico que defendia o ensino prático e

livre (EDLER e FONSECA, 2006f).

O período republicano apresentou uma nova mudança no modelo de ensino médico. A

Constituição da República de 1891 delegou aos estados a responsabilidade sobre a

organização do ensino superior, o que gerou diversidades regionais em relação à

institucionalização do ensino médico (EDLER e FONSECA, 2006g).

47

Em 1908, Abraham Flexner foi contratado para dirigir o programa de avaliação da

educação superior nos Estados Unidos, começando pelo ensino médico. Em 1910 ele

apresentou o ―Relatório Flexner‖ como resultado desse trabalho. Esse relatório desencadeou

uma profunda reforma no ensino médico na América do Norte, estendendo-se a outras áreas

de conhecimento, consolidando a arquitetura de currículo universitário dominante nos países

industrializados e introduzindo, na prática, critérios de cientificidade e institucionalidade para

regulação da formação acadêmica e profissional no campo da saúde (ALMEIDA FILHO,

2010). No processo de restauração da educação médica, das 155 faculdades de medicina

americanas incluídas no relatório, restaram apenas 31, após 10 anos de aplicação de suas

recomendações (ALMEIDA FILHO, 2010). Foram incentivadas a adoção das seguintes

medidas pelas faculdades de medicina: ―regime de ciclos, critérios de entrada, redução do

número de alunos nas salas de aula, hospitais com enfermarias de ensino, dedicação exclusiva

e consequente proibição da prática privada dos médicos docentes‖ (ALMEIDA FILHO,

2010, p. 2237). Naquela época, esse programa recebeu duras críticas, principalmente das

faculdades mais tradicionais. Porém, com o tempo passou a ser considerado padrão mínimo

de qualidade da educação médica americana moderna (ALMEIDA FILHO, 2010).

A diferenciação desse padrão tradicional ocorreu a partir do desenvolvimento da

pesquisa biomédica, com a incorporação crescente de tecnologias. Esse esforço se

consolidou a partir dos primeiros anos do século 20, quando o famoso relatório

Flexner1, ao criticar a medicina de então, obteve grande repercussão e favoreceu o

processo que levou à expansão da medicina especializada. Exageram, entretanto, os

que condenam o relatório, por não levarem em conta o contexto em que foi escrito.

Na época, havia grande deficiência na medicina, e o relatório promoveu seu

aperfeiçoamento e o reforço das especialidades, que eram e continuam a ser

necessárias. A distorção que pode ter resultado das propostas de Flexner se deveu

em grande parte à progressão descontrolada das mudanças propostas, resultantes da expansão do complexo médico hospitalar e do interesse dos próprios médicos em

auferir as vantagens que o novo modelo oferecia. Concomitantemente, difundiu-se o

uso dos hospitais e, neles, a criação das residências, inicialmente propostas como

forma de assegurar o cuidado continuado, mesmo fora das horas de expediente

regular, porém logo adotadas como estágio ideal para a formação de especialistas

(FERREIRA, 2006, p. 41).

A reforma da educação médica preconizada no Relatório Flexner repercutiu

tardiamente no Brasil. Naquele momento, primeiras décadas do século XX, nossas faculdades

de medicina ofereciam modelos retóricos de formação e, onde havia algum dinamismo

científico, cultivavam laços com duas tradições européias antagônicas: a escola francesa, com

forte foco na clínica, e a escola alemã, marcada pela pesquisa laboratorial (ALMEIDA

FILHO, 2010, p. 2237).

48

No início do século XX, a relação do Estado com a sociedade brasileira era

essencialmente campanhista, limitando-se a implementar, com orientação dos médicos da

época, campanhas de combate às doenças em situações de epidemias ou calamidades

(LAMPERT, 2008). Na segunda metade da década de 20, somavam-se mais cinco faculdades

de medicina (LAMPERT, 2008).

A partir de 1926, em São Paulo, o modelo flexneriano foi introduzido, por meio de

financiamento da Fundação Rockefeller, com a criação do tempo integral para disciplinas,

redução para 50 vagas na faculdade de medicina, surgimento do pesquisador com dedicação

exclusiva à pesquisa e à docência e a criação do hospital-escola (Hospital de Clínicas). Essas

transformações expressaram a tendência que a formação médica brasileira sofreu, na qual a

tradição essencialmente clínica, baseada no modelo francês, gradativamente, foi sendo

substituída pela ascensão das disciplinas básicas e pelas especialidades clínicas do modelo

norte-americano (EDLER e FONSECA, 2006g).

Em 1928, foi criado o primeiro Serviço de Anestesia na Santa Casa de Misericórdia do

Rio de Janeiro, de forma a incentivar os estagiários à especialidade. Somente em 1948 foi

fundada a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), como forma de representatividade

da nova especialidade médica, tendo como interesse o ensino para a formação de especialistas

na área, bem como oferecer educação continuada a todos os seus membros. A partir da

segunda metade do século XX, alguns hospitais no Brasil ofereciam treinamento na

especialidade. Em 1953 o governo do Estado de São Paulo instituía bolsas para treinamento

de Anestesiologistas para custear a formação dos especialistas. No início da criação, pelo

Estado, da Residência Médica como forma de especialização, foi verificado que, em sua

maioria, era ―uma forma de mão-de-obra, sem um critério de seleção à altura do que seria

necessário para a formação dos novos especialistas‖ (MOURA, 1999). Isto levou a que a SBA

instituísse exigências a serem preenchidas pelos hospitais para funcionarem como Centros de

Treinamento em Anestesiologia. Essas resoluções incluíam diversos itens, dentre eles o tempo

mínimo para a formação e o Programa de treinamento que deveria obedecer parte clínica e

teórica incluindo prática clínica, ciências básicas, técnicas anestésicas, visitas pré e pós

anestésicas, equipamentos adequados, fichas de anestesia, seminários e reuniões do corpo

clínico.

Após a Segunda Guerra Mundial, sob influência do Relatório Flexner, algumas

especialidades se consolidaram, tais como: Higiene, Saúde Pública, Bioquímica,

Epidemiologia, Pediatria e Hematologia (EDLER e FONSECA, 2006h).

49

Nos anos cinquenta predominava a especialização precoce, em que o estudante dos

últimos anos de Medicina, em troca de aprendizado e acesso às atividades assistenciais, era

vinculado a um determinado serviço, associado ou não a algum tipo de remuneração. A

formação de cirurgiões, clínicos e especialistas em geral ocorria dessa forma. Assim, muitos

se engajavam em equipes médicas e, gradativamente, iam se incorporando aos serviços

universitários ou ao mundo do trabalho (BAFFA, 2008).

Somente a partir da Resolução número 8 de 1969, do Conselho Federal de Educação,

do Ministério da Educação, é que foi estabelecido o currículo mínimo do curso de graduação

em Medicina (BAFFA, 2008) e criado o internato médico como o período de estágio

profissional obrigatório (BRANDÃO, 2011).

A partir de 1960, com a industrialização do país e com foco na saúde do trabalhador,

novas escolas médicas foram criadas, de forma desordenada, com um aumento exponencial da

oferta de vagas para estudantes de medicina, principalmente em escolas privadas. Isto ocorreu

sem nenhum compromisso com a qualidade do ensino. Em apenas cinco anos, criaram-se 35

escolas, chegando ao final do século com 113 escolas médicas (LAMPERT, 2008, EDLER e

FONSECA, 2006j, 2006l).

A Comissão do Ensino Médico do MEC, instituída em 1971 apontou em diversos

documentos as mazelas sofridas pelo ensino: corpo docente desqualificado, com

pouca ou nenhuma experiência em pesquisa; falta de infra-estrutura para a pesquisa;

professores convidados itinerantes; falta de campo para a prática de estudantes, na

fase clínica ou de internato; isto é, cursos eminentemente teóricos sem a realização

de estágios práticos (EDLER, 2006i, p.24).

Ao analisar esta tendência, a Comissão do Ensino Médico do MEC advertia: ―Por

motivos óbvios o ensino médico não pode, em hipótese alguma, limitar-se a preparo

doutrinário dos alunos. Requer aprendizado rigoroso de habilidades psicomotoras e

adoção de determinadas atitudes em situações complexas, o que exige instrução individualizada por pessoal docente altamente qualificado e equipamento

abundante‖ (EDLER e FONSECA, 2006l, p. 26).

A despeito do consenso já existente, desde a Primeira Conferência sobre o Ensino de

Clínica Médica no Brasil, ocorrido em 1961, a respeito dos padrões mínimos eficientes do

processo ensino aprendizagem, que preconizava a formação de clínicos gerais e o combate à

especialização precoce (EDLER e FONSECA, 2006h) e das advertências da Comissão do

Ensino Médico do MEC (EDLER e FONSECA, 2006i, 2006l), a realidade sócio-política da

época, permitiu o aumento do número de escolas médicas. Alguns dados, tais como: grande

número de municípios sem médicos, pequena proporção médico/habitante, alto índice de

mortalidade infantil, aliados ao interesse das classes médias urbanas pela Medicina, como

50

uma possibilidade de ascensão social, criaram um cenário propício para esse aumento de

escolas médicas no Brasil (EDLER e FONSECA, 2006l).

Segundo Ferreira (2006), com o tempo, os efeitos negativos da excessiva

especialização começaram a ser sentidos. Estudos e debates internacionais sobre o assunto se

intensificaram tentando encontrar soluções, por meio de ações visando estimular a formação

de médicos generalistas. Diversos programas de saúde começaram a ser promovidos com o

objetivo de uma prática assistencial voltada para a comunidade. A Medicina Preventiva

começou a se destacar como uma das estratégias para atender a essa demanda. Os debates

sinalizaram para a necessidade de uma formação médica de preparação básica integral. Desde

a segunda metade do século XX, a crise na educação médica tem sido tema de debates em

diversos fóruns internacionais, sendo percebidos diversos movimentos que retratam processos

de mudança na busca por um novo modelo de educação médica.

Em 1978 a Organização Mundial de Saúde e a UNICEF promoveram a Conferência de

Alma-Ata que teve como resultado a ampliação do conceito de saúde: ―completo bem estar

físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade...‖ (ALMA-

ATA, 1978, p.1) e a promulgação da Declaração pela ―saúde para todos até o ano 2000‖

juntamente com a proposição da atenção primária em saúde:

O desenvolvimento econômico e social baseado numa ordem econômica internacional é de importância fundamental para a mais plena realização da meta de

Saúde para Todos no Ano 2000 e para a redução da lacuna existente entre o estado

de saúde dos países em desenvolvimento e o dos desenvolvidos. A promoção e

proteção da saúde dos povos é essencial para o contínuo desenvolvimento

econômico e social e contribui para a melhor qualidade de vida e para a paz mundial

(ALMA-ATA, 1978, p.1).

A partir dos anos 80, os movimentos propondo mudanças na educação médica no

Brasil cresceram (FEUERWERKER, 1998). O Movimento Sanitarista ganhou força na

década de 80, influenciando as políticas públicas de saúde. Em 1986, ocorreu a VIII

Conferência Nacional de Saúde com o movimento da Reforma Sanitária. A Constituição

Federal de 1988 definiu cidadania (p.5), e garantiu a todos, o direito à saúde (p.7). A Lei

Orgânica do SUS (1990) normalizou a organização do Sistema de Saúde e seus principais

eixos: integralidade, universalidade, equidade e o institucionalizou como ordenador de um

sistema de formação em Saúde, em todos os níveis de ensino, inclusive de pós-graduação, e

de programas de permanente aperfeiçoamento (AMORETTI, 2005).

Apesar dos propósitos da Conferência de Alma-Ata não terem sido alcançados no

prazo previsto, eles influenciaram movimentos e instituições a atuarem no sentido desses

51

objetivos (AMORETTI, 2005). Com esse foco, a formação médica passou a ter uma ênfase na

prevenção, sendo importante que o aluno participasse desse contexto, discutindo e entendendo

os fatores sociais aí envolvidos.

Essa nova realidade expôs a fragilidade da formação do profissional, uma vez que este

não estava sendo capaz de atender às reais necessidades da população. O excesso de

tecnologias contrastava com a dificuldade de acesso aos recursos básicos de saúde, pela

grande maioria da população. Era necessário que o médico apresentasse um novo perfil

profissional: reflexivo e crítico em relação à sua profissão; permanentemente atualizado em

seus conhecimentos profissionais; conhecedor de Epidemiologia; participante na gestão do

sistema público de saúde; com conhecimento de comunidade, família e técnicas de grupo, de

práticas multidisciplinares e interdisciplinares necessárias ao trabalho; conhecimentos em

saúde mental e psicologia, em saúde coletiva, gestão e informação em saúde, em educação

para a promoção da saúde, de métodos de ensino aprendizagem e técnicas pedagógicas

inovadoras, dentre outras características (AMORETTI, 2005).

A formação do novo médico está condicionada à mudança na educação também dos

demais profissionais da área da saúde, de níveis superior e técnico. Este processo

deve ser simultâneo, integrado, progressivo e solidário. O foco no médico significa

que é em torno dele que se estrutura grande parte da distorção da educação atual e que a mudança na formação dos profissionais da medicina é central, embora não

exclusiva e nem suficiente para o êxito deste processo (AMORETTI, 2005, p. 143).

Contudo, apesar de algumas experiências inovadoras terem surgido em algumas

escolas médicas, o que vem prevalecendo é o modelo de ensino médico hegemônico,

caracterizado pela prática baseada principalmente em hospital-escola, metodologia tradicional

de ensino centrada no professor, e pela fragmentação do conhecimento devido à

especialização, impulsionada pela dinâmica do mercado de trabalho, o que influenciou na

falta de compromisso docente em projetos de ensino mais integradores (EDLER e

FONSECA, 2006l).

Feuerwerker (1998) salienta que foi a mudança do paradigma da doença pelo

paradigma da saúde que iniciou um processo de construção social da saúde.

Não se pode supor que a solução para a crise paradigmática da saúde vá surgir a

partir de projetos de mudança na educação médica. Ou que os problemas

enfrentados na implantação do SUS possam encontrar sua solução na discussão

sobre a formação de recursos humanos. Nos dois casos, a solução depende de haver

uma mudança na maneira como a sociedade enfrenta a construção da saúde. Mas o

processo de produção de alternativas ocorrerá nos dois campos: educação e prática

(FEUERWERKER, 1998, p. 55).

52

3.2 O PARADIGMA DA INTEGRALIDADE E A REALIDADE DA FORMAÇÃO

MÉDICA

O ―Paradigma6 da Integralidade‖ é o que vem sendo proposto nos diversos fóruns

nacionais e internacionais que debatem o futuro da educação médica. Este se caracteriza pelo

foco na saúde e não na doença; pelo processo ensino aprendizagem centrado no aluno; pela

formação prática em diferentes níveis de complexidade no sistema de saúde; capacitação

docente técnico-científica e didático-pedagógica para os médicos que atuam no ensino;

reflexão e crítica sobre os aspectos econômicos e humanísticos da prestação de serviços em

saúde e das questões éticas envolvidas de forma a orientar o acompanhamento da dinâmica do

mercado de trabalho médico (COSTA, 2007).

Atualmente, em relação ao campo da Anestesiologia, também tem sido proposto um

novo modelo para a sua prática, que é o da Medicina Perioperatória. Isto representa a

transformação da especialidade em um conceito mais amplo de cuidado ao paciente, que se dá

desde o momento da indicação de tratamento cirúrgico até a alta hospitalar (CAVALCANTI,

2005). Para que esse novo modelo se torne uma realidade, ainda há um longo caminho a ser

percorrido, uma vez que envolverá uma nova filosofia que implicará em novos planejamentos

administrativos, organizacionais e principalmente educacionais (CAVALCANTI, 2005). O

desafio será criar uma organização de serviços assistenciais para a medicina perioperatória,

cujo modelo é centrado no paciente e com ênfase em cuidados contínuos durante todas as

fases de seu tratamento, que se articule à uma nova proposta pedagógica centrada no aluno,

aliada ao modelo da integralidade.

A medicina perioperatória inclui a anestesia, o tratamento da dor aguda pós

operatória, a analgesia de parto, o cuidado intensivo dos pacientes cirúrgicos, a

reanimação cardio-respiratória e a medicina do trauma. Tem a finalidade de agregar

as diferentes áreas do conhecimento, numa sistemática interdisciplinar, com o intuito

de definir fatores que podem aumentar o risco perioperatório, planejar estratégias para atenuá-los ou evitá-los, possibilitando um atendimento integral ao paciente,

com melhora do curso perioperatório, imediato e tardio (CAUMO, W.; ARENSO-

PANDIKOW, H. M, p. 1).

6 Paradigma: termo definido por Kuhn (1975, p.30) como as realizações científicas que eram, simultaneamente,

suficientemente sem precedentes (para atrair um grupo duradouro de partidários) e suficientemente abertas (para

deixar toda espécie de problemas para serem resolvidos pelo grupo redefinido de praticantes da ciência). Assim

―duas condições devem ser preenchidas pelo novo paradigma: 1)resolver problemas detectados que o paradigma anterior não tenha conseguido resolver; e 2) preservar uma parte substantiva daquilo que foi construído pelo

paradigma velho‖ (LAMPERT, 2006, p.44). Apesar de saber que esse conceito não se aplica à educação médica,

por ser restrito ao mundo da ciência, ele é utilizado pelos estudiosos na área como uma metáfora que, por

similaridade, significa a mudança legitimada pela sociedade e que seja percebida como progresso.

53

A Anestesiologia é uma especialidade essencialmente interdisciplinar, particularmente

quando inserida no modelo da Medicina Perioperatória. Dessa forma, o contato com a

especialidade durante a graduação é o momento ideal para que o aluno adquira conhecimentos

fundamentais para o médico, qualquer que seja sua atuação futura. Além disso, é um

momento adequado para identificar possíveis interessados na especialidade, pois o contato e

diálogo com os especialistas e professores são muito relevantes para essa escolha. Porém, em

nível de currículo de graduação médica o contato com a Anestesiologia, e seu ensino, é

bastante variado conforme a instituição. De modo geral, o contato do graduando com essa

especialidade costuma ser muito limitado, quando comparado ao de outras disciplinas e,

algumas vezes, restringe-se a treinamentos pontuais (RAMALHO, 2012).

De acordo com o novo modelo de educação médica proposto, a formação prática deve

ocorrer em diferentes níveis de complexidade na atenção à saúde, logo, é fundamental que o

currículo de graduação médica seja capaz de permitir a prática da interdisciplinaridade.

Na última década, diversas iniciativas impulsionaram a implantação desse novo

modelo, como, por exemplo, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

Medicina (DCN), instituídas pelo Ministério da Educação, por meio do Conselho Nacional de

Educação. Esta legislação recomenda a formação de um médico generalista, humanista,

crítico e reflexivo, pautado em princípios éticos, capaz de atuar no processo de saúde-doença,

em seus diferentes níveis de atenção, com responsabilidade e compromisso com a cidadania

(BRASIL, 2001).

O artigo 7º. das DCN recomenda que a carga horária mínima do período do internato

deve corresponder a 35% da carga horária total do curso de graduação, o que representa cerca

de dois anos de duração. O treinamento no internato deve ocorrer em serviços próprios ou

conveniados, sob supervisão direta de docentes da própria faculdade. As atividades devem

ser essencialmente práticas e a carga horária teórica não deverá ultrapassar 20% da carga

horária total do estágio. Nos três primeiros semestres (nono, décimo e décimo primeiro

períodos) o internato é denominado internato rotatório e é cumprido nas grandes áreas da

medicina (Clínica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia / Obstetricia, Pediatria e Programa de

Saúde da Família), sendo que no último semestre (décimo segundo período), denominado

internato eletivo, deverá ser cumprido, por opção do aluno, em uma dessas grandes áreas. Os

departamentos destas grandes áreas são os responsáveis pelo planejamento e coordenação do

programa de internato, ficando a responsabilidade pelo controle e execução a cargo da

comissão de internato, constituída por um representante de cada um dos departamentos

envolvidos, de um representante do corpo discente de cada período do internato e presidida

54

pelo coordenador de graduação da Faculdade de Medicina. O Serviço de Anestesiologia faz

parte do Departamento de Cirurgia, participando das atividades de treinamento tanto do

internato eletivo quanto do rotatório. Os alunos que optam pelo internato eletivo em Cirurgia

Geral podem escolher passar parte desse período no internato em Anestesiologia (Internato

Eletivo em Anestesiologia).

Historicamente, a prática profissional dos médicos tem sido transmitida por meio de

treinamento em serviço, combinando os conhecimentos teóricos adquiridos com a experiência

clínica (incluindo o relacionamento com pacientes). Somente a experiência adquirida na

prática pode completar a formação do médico, pois é dessa forma que o profissional assume

seu comprometimento e responsabilidade para com os doentes e pode construir, também, a

ética em suas relações com os pacientes, baseada no exemplo e na experimentação

(FEUERWERKER, 2002).

É importante destacar que, ao longo da graduação, as faculdades de medicina

oferecem poucas oportunidades para o aprendizado de habilidades psicomotoras necessárias à

prática médica. Isto pode ser evidenciado em alguns estudos realizados na área e que

destacam a contribuição que o estágio na Anestesiologia, durante a graduação, pode oferecer

nesse processo (VOTTO, 1996; ARENSON-PANDIKOW, BORDIN e MEDEIROS, 2000;

NASCIMENTO JUNIOR, HONG E CASTIGLIA, 1998; ARENSON-PANDIKOW, PLANT

E MOYES, 1995).

Segundo Votto (1996), alguns aspectos limitam o treinamento pelo aluno nessas

habilidades junto aos pacientes, podendo acarretar um sofrimento maior a esses pacientes e

que podem gerar implicações éticas, sociais e legais. A autora salienta que o estágio em

Anestesiologia oportuniza ao aluno condições de aprendizado na identificação e solução de

determinados problemas críticos, como os respiratórios, cardiovasculares, metabólicos e

sensoriais. Esse estudo propôs a utilização de procedimento anestésico-cirúrgico em animais

como uma alternativa para que os alunos possam realizar a prática dessas habilidades, tais

como: punção venosa, preparo de fármacos, hidratação, injeção de drogas, avaliação clínica,

técnicas de acesso à via aérea, monitorização não invasiva e invasiva, técnicas e equipamentos

de anestesia.

O trabalho de Arenson-Pandikow, Bordin e Medeiros (2000), desenvolvido junto aos

alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, evidenciou

a falha existente no aprendizado de algumas habilidades psicomotoras consideradas básicas

para o médico genaralista. Nesse estudo, foram avaliados, durante a graduação, os

desempenhos dos alunos na realização de 18 habilidades consideradas inerentes ao

55

treinamento básico de um médico geral e que eram acessíveis aos alunos do décimo período

de graduação na rotina do estágio em Anestesiologia da disciplina de Cirurgia. Esse grupo de

habilidades foi distribuído nos quatro subgrupos seguintes:

a)Infusão venosa, composto por quatro habilidades: punção venosa, instalação de

soro, administração intra-venosa de fluidos e transfusão sangüínea; b)

monitorização, constando de monitorização básica, identificação de arritmia

cardíaca, medida de pressão venosa central e estimativa de perda sangüínea; c) via

aérea, incluindo identificação de obstrução respiratória, aspiração de secreções,

colocação de cânula orofaríngea, ventilação sob máscara, intubação orotraqueal e

extubação da traquéia; e d) cuidados com o paciente inconsciente, composto por

passagem de sonda nasogástrica, administração intravenosa de drogas que agem no sistema nervoso central (SNC), identificação do nível de consciência e transporte de

paciente inconsciente.(Arenson-Pandikow et al, 2000, p. 23-24)

Os resultados desse estudo foram baseados nos relatos dos alunos no início e no final

do estágio em Anestesiologia, mostrando que o desempenho dos alunos ficou abaixo do

esperado, pois menos da metade deles relatou desempenho em 11 das 18 habilidades

avaliadas.

O trabalho de Nascimento Junior, Hong e Castiglia (1998) também defende que por

integrar o currículo médico, a disciplina de Anestesiologia pode fornecer conhecimentos

importantes para a formação de um médico generalista, salientando que um dos problemas

nessa área de ensino é a avaliação do processo ensino-aprendizagem. Consideram que,

especificamente em Anestesiologia, a avaliação do aprendizado de habilidades básicas e as

relacionadas com o manuseio de vias aéreas, de reanimação e de identificação e entendimento

de ocorrências clínicas durante o período perioperatório são de grande importância.

Os resultados do trabalho de Arenson-Pandikow, Plant e Moyes (1995, p. 183)

sugerem que o ensino da Anestesiologia na graduação, quando ―dirigido para o

reconhecimento de intercorrências clínicas no per-operatório, promove ao aluno em

treinamento uma base de aprendizado clínico raramente disponível nos demais programas de

ensino‖.

Segundo Longnecker (2002), o ensino em Anestesiologia, durante a graduação, é o

momento adequado para expor todos os alunos de medicina aos desafios da especialidade e

contribuir para que desenvolvam diversos conhecimentos, além de treinamentos práticos,

como, por exemplo, relacionados ao tratamento da dor e cuidados críticos, defendendo que o

ensino em Anestesiologia deveria ser incorporado ao núcleo do currículo médico e não ficar

restrito apenas ao período eletivo opcional.

56

De modo geral, o treinamento prático dos alunos de medicina se inicia somente no

internato médico, o que gera uma radical separação entre teoria e prática, pois durante os

quatro anos iniciais da graduação predomina a transmissão de conhecimentos teóricos, sem

relações efetivas com os problemas práticos (FEUERWERKER, 2002).

O internato médico é o momento em que o aluno precisa colocar em prática todo o

conhecimento científico adquirido ao longo dos anos anteriores para desenvolver habilidades

e competências fundamentais para o exercício de sua futura profissão. Em geral, nesse

contexto educativo, o responsável pela recepção e acompanhamento dos internos, fornecendo

oportunidades para que ele integre ensino e prática, é o preceptor.

O preceptor é o profissional que atua dentro do ambiente de trabalho e de formação,

estritamente na área e no momento da prática clínica. Sua ação se dá por um curto período de tempo, com encontros formais que objetivam o progresso clínico do

aluno ou recém-graduado. O preceptor desenvolve uma relação que exige pouco

compromisso, percebido apenas no cenário do trabalho. Tem, então, a função

primordial de desenvolver habilidades clínicas e avaliar o profissional em formação

(BOTTI e REGO, 2008, p. 370).

Porém, essas atribuições do preceptor, no contexto do internato, apesar de serem

básicas, não são facilmente colocadas em prática, pois ―não existe capacitação específica para

relação médico-aluno que aí se constrói, nem compromisso formal com a formação‖

(MISSAKA E RIBEIRO, 2009, p.1). Os internos, de modo geral, sem uma adequada

preceptoria ficam expostos à má prática formativa. Diante desse cenário, é necessário que se

estabeleçam relações pedagógicas entre preceptor/aluno, que possam contribuir para

aprendizagem prática do interno, para que ele ―aprenda a ser médico‖.

Além de suas funções básicas, muitas vezes, os preceptores não somente servem de

modelo para o desenvolvimento e crescimento pessoal dos graduandos, como, ainda, auxiliam

na formação ética deles durante determinado período de tempo (BOTTI e REGO, 2008).

Outro aspecto que precisa ser percebido é que o internato é um período repleto de dúvidas,

angústias e inseguranças a serem superadas pelo graduando. Por isso, ao chegarem aos

diversos serviços, os internos deveriam ser acolhidos verdadeiramente. Isso implicaria em

oferecer algo além de transmitir informações e conhecimentos tecnicocientíficos, sendo

necessário competência e disponibilidade para escutar e dialogar (AYRES, 2004).

Nesse sentido, Cruz (1997) enfatiza que:

O docente da escola médica deve estar ciente e preparado para perceber que sua

interação com o aluno é tão importante quanto sua relação com o paciente. E este aluno só poderá desenvolver a percepção do paciente como pessoa se ele, aluno, for

percebido e considerado como pessoa (CRUZ, 1997, p.24).

57

Acrescenta ainda:

Pontes, em 1968, afirmava: "estabeleceu-se no âmbito da escola médica o triângulo

de relacionamento das três personagens principais: professor, estudante, paciente.

Não esquecer que o estudante é a figura mais importante se quiser estabelecer uma

prioridade. Dele nascem diretamente o médico e o professor e poderá dar origem ao

paciente tanto mais direta e facilmente quanto menos se lhe preste atenção como ser

humano em formação" (CRUZ, 1997, p.24).

Portanto, uma das mudanças necessárias pelo novo paradigma é que o currículo

contenha, além das matérias que compõem o programa de estudo, atividades e vivências no

processo ensino aprendizagem de forma que o aluno viva experiências apropriadas ao

processo. Logo, é necessário que se implantem mudanças nas práticas pedagógicas que

aproximem a formação do profissional de saúde da realidade social e que sejam capazes de

motivar docentes e discentes a se envolverem em novas redes de conhecimento (MITRE,

2008). Considerando a necessidade de um aprendizado contínuo, para além da graduação,

diante das rápidas transformações de conhecimentos e de competências para a prática

profissional adequada, é fundamental que a metodologia educacional utilizada seja capaz de

contribuir na formação de um profissional ativo e apto a ―aprender a aprender‖.

Segundo Fernandes e colaboradores, o aprender a aprender na formação dos

profissionais de saúde deve compreender o aprender a conhecer, o aprender a fazer,

o aprender a conviver e o aprender a ser, garantindo a integralidade da atenção à saúde com qualidade, eficiência e resolutividade (MITRE, 2008, p. 2135).

Nessa perspectiva, o docente assume o papel de facilitador do processo ensino

aprendizagem, desenvolvendo novas habilidades como, por exemplo, a de permitir que o

discente participe ativamente de seu processo de aprendizagem (MITRE, 2008).

Diante dessa nova demanda pedagógica, diversas dificuldades precisam ser

enfrentadas e superadas. Costa (2007), por meio de uma revisão de literatura, identificou

alguns fatores docentes que limitam as mudanças em Medicina, tais como: desvalorização das

atividades de ensino e supremacia da pesquisa; falta de profissionalização docente;

desvalorização da formação docente do professor de Medicina; resistência docente a

mudanças; e individualismo da ação docente. Para Abreu Neto et al (2006), um obstáculo à

mudança necessária na educação médica é a própria formação dos professores de Medicina.

Diante disso, pode-se considerar como fundamental para o sucesso de qualquer programa

pedagógico inovador, o investimento em programa de capacitação docente, avaliação

58

contínua do processo de implantação da mudança, com participação docente e discente, para

discussão de problemas e busca de soluções.

Em relação à realidade atual da educação médica, Feuerwerker (2002) aponta outros

problemas comuns que são relacionados à avaliação da aprendizagem, entre eles: a utilização

quase exclusiva da avaliação cognitiva ao final da disciplina (com ênfase na memorização de

conteúdos); a valorização de aspectos menos importantes do conteúdo das disciplinas; a

desvalorização de mecanismos de avaliação diferentes da prova. Já no internato, muitas vezes,

não há mais provas e, sim, avaliações de desempenho, feitas de modo muito subjetivo, sem a

definição de critérios. Baffa (2008) salienta que a prática avaliativa no internato médico deve

ser democrática, dialógica, formativa e includente. Na opinião de Feuerwerker (2002), é

indispensável entender que a avaliação da aprendizagem visa coletar informações sobre o

desempenho dos alunos para aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem; identificar os

interesses de cada estudante para melhor orientá-los; julgar quais experiências educacionais

são mais úteis para diversos grupos de estudantes; verificar se os programas educacionais

estão provocando reais mudanças; proporcionar elementos para que o professor possa planejar

o nível e o tipo de atividade educacional adequados.

Pelo exposto, depreende-se que esse novo modelo desejado de Educação Médica é

uma tendência, porém, como ele poderá ser alcançado? Que medidas deverão ser adotadas

para isso? E o que deverá realmente ser ensinado ao graduando e aprendido por ele?

Para Feuerwerker (2002), nos últimos 30 anos, as discussões sobre o aspecto

pedagógico na educação médica enfatizaram o desenvolvimento de materiais didáticos e

implementação de técnicas pedagógicas, ao invés de analisarem criticamente as concepções

pedagógicas predominantes nas faculdades de medicina. Pois, dependendo da concepção

adotada, haverá maior ou menor possibilidade do aluno desenvolver a iniciativa, o

pensamento crítico, o conhecimento da realidade e o compromisso social necessários nesse

novo modelo de formação que se deseja atingir. ―Compreender como se constrói o saber

médico é fundamental para propor melhores alternativas para o seu processo de educação. A

maior parte das tentativas de mudança, no entanto, passou ao largo desta discussão‖

(FEUERWERKER, 2002, p. 56).

Portanto, com base nessas considerações, foi possível perceber que os problemas

encontrados na formação médica, não estão limitados apenas ao campo da Saúde ou Educação

isoladamente. O fenômeno educativo é extremamente complexo e para compreendê-lo é

necessária a integração desses campos com outras áreas do conhecimento, tais como

Psicologia, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Genética e Medicina (LIMA, 1990). Foi esse

59

pensamento que norteou o desenvolvimento do presente trabalho. Ou seja, inicialmente,

buscou-se compreender os princípios da TAS, apresentados no capítulo 2, para integrá-los às

questões apresentadas no presente capítulo.

3.3 AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA TAS PARA A MUDANÇA NA EDUCAÇÃO

MÉDICA

Pela perspectiva de Novak (1998), os elementos básicos de qualquer evento educativo

são: o aluno, o professor, o conhecimento (currículo), o contexto e a avaliação. Portanto,

analisando-se cada um desses elementos inseridos no contexto da educação médica, pela

perspectiva da TAS, é possível entender como essa concepção pedagógica pode contribuir no

sentido da mudança desejada.

Em relação ao papel do aluno, pelo novo modelo de educação, o processo ensino

aprendizagem deve ser centrado nele que, além de adquirir os conhecimentos e habilidades

necessários à sua futura prática profissional, deverá desenvolver uma visão reflexiva e crítica

sobre ele mesmo e sobre a realidade apresentada. Pela TAS, o aluno, para aprender

significativamente, deve ter a intencionalidade de aprender e possuir algum conhecimento

prévio de forma que a nova informação seja passível de articular-se com ele. Dessa forma,

esse é um processo ativo no qual o aluno tem grande responsabilidade na construção de seu

conhecimento.

Deve- se considerar também que cada aluno possui a sua individualidade, logo, esse

processo de construção do conhecimento poderá ser incentivado e facilitado, porém, sempre

será dependente do nível de intencionalidade que cada aluno apresentar. Pelo que foi

observado, o graduando de medicina só irá completar sua formação pela experiência prática e,

uma vez que, durante a graduação, em geral, há uma separação entre a aquisição dos

conhecimentos teóricos e a prática, torna-se fundamental que se apliquem esforços no sentido

de mudanças urgentes no processo ensino aprendizagem durante o internato, uma vez que,

pela realidade da educação médica atual, somente nesse período essa experiência prática é

oferecida. Pela perspectiva da TAS, é fundamental que o interno tenha consciência de sua

responsabilidade nesse processo, que se conheça quais os conhecimentos teóricos prévios que

ele possui. Além disso, para que seu conhecimento se consolide, deve-se planejar

adequadamente as atividades pedagógicas, em ambientes de aprendizagem que sejam

favoráveis para o desenvolvimento da aprendizagem significativa, e que haja um

acompanhamento contínuo desse processo.

60

Em relação ao papel do professor, o novo paradigma preconiza que haja capacitação

docente técnico-científica e didático-pedagógica para os médicos que atuam no ensino.

Conforme já discutido neste capítulo, os estudos sobre a realidade atual da educação médica

apresentam diversos obstáculos relacionados à docência e que vêem impedindo a implantação

das mudanças necessárias nesse contexto educacional. Dentre eles, a falta de capacitação

didático-pedagógica é de grande relevância. Diante disto, também é urgente o investimento na

capacitação pedagógica dos docentes e/ou médicos envolvidos nesse evento educativo. Pela

perspectiva da TAS, o papel do professor é o de facilitador desse processo. Ele deve organizar

o planejamento de seu ensino, de acordo com os objetivos que deseja atingir, permitindo a

participação ativa do aluno na construção de seu conhecimento, promovendo atividades

adequadas, interagindo com o aluno e acompanhando continuamente esse processo.

Em relação ao currículo, para que possa atender aos princípios do novo paradigma,

este deve possuir o foco na saúde e não na doença, promover a integralidade e permitir que a

formação prática do aluno se dê em diferentes níveis de complexidade no sistema de saúde.

Conforme salientado por Feuerwerker (2002), as discussões e ações dos aspectos pedagógicos

da educação médica, em geral, ficaram limitados ao desenvolvimento de material didático e

implantação de novas técnicas pedagógicas, não sendo discutido o cerne dessa questão que é a

concepção pedagógica de aprendizagem e de ensino adotada. Nesse aspecto, a TAS oferece

elementos que podem orientar a organização de nova arquitetura curricular capaz de atender

aos princípios do paradigma da integralidade.

Em relação ao contexto, o novo paradigma preconiza que a formação se dê em

diferentes níveis de complexidade no sistema de saúde, o que sugere diferentes ambientes de

práticas educativas para o aprendizado. Porém, a realidade apresentada na educação médica,

em geral, evidencia um contexto inadequado em que a integralidade não está presente, sendo

o ensino fragmentado em disciplinas isoladas. Pela perspectiva da TAS, Novak (1998)

salienta que, como os cinco elementos do evento educativo são interdependentes, qualquer

mudança no contexto físico deve ser acompanhada de mudanças em todos os outros

elementos, seguindo a mesma concepção pedagógica.

Em relação à avaliação da aprendizagem na educação médica, diversos problemas

foram detectados, particularmente a avaliação cognitiva isolada ao final das disciplinas.

Porém, para o sucesso de qualquer evento educativo é fundamental que a avaliação esteja

permeando todo o processo. Pela perspectiva da TAS, além de identificar evidências de AS, a

avaliação tem um papel central para a promoção da aprendizagem, observando o que o aluno

está aprendendo, acompanhando a evolução desse aprendizado, verificando se as estratégias

61

pedagógicas utilizadas estão adequadas para a obtenção dos objetivos estabelecidos, e

facilitando o processo de aprendizagem, pois o aluno, ao se preparar para o exame, tem a

oportunidade de realizar a revisão, a consolidação e a integração do assunto.

Portanto, tendo por base os princípios do paradigma da integralidade proposto para a

educação médica, buscou-se analisar as principais questões envolvidas na realidade deste

contexto e relacioná-las aos princípios da TAS. Isso possibilitou o desenvolvimento da

presente pesquisa e a reflexão sobre a integração desses fundamentos com a prática

pedagógica adotada nos processos de ensino e de aprendizagem do contexto do internato

eletivo em Anestesiologia, tendo o Portfólio Reflexivo Eletrônico como ferramenta

facilitadora da AS.

62

4 O PORTFÓLIO REFLEXIVO ELETRÔNICO (PRE)

O presente capítulo procura definir e explorar as características do portfólio, de forma

a fundamentar seu uso como uma alternativa adequada às mudanças pedagógicas necessárias

no contexto da educação médica. Sendo assim, ele está dividido em três seções:

Na primeira seção é apresentada a conceituação e as características do portfólio de

consenso na literatura, buscando uma melhor compreensão sobre esse instrumento pedagógico

e a discussão sobre suas possíveis contribuições para o processo ensino aprendizagem, pela

perspectiva da TAS. É discutido também o uso das TICs na educação e sua associação ao

portfólio com o objetivo de potencializar os efeitos pedagógicos desse instrumento.

Na segunda seção, é discutido como o PRE vem sendo utilizado e pesquisado no

contexto da Educação Médica, por meio de uma revisão de literatura.

Na terceira seção, é apresentada a sugestão e orientação de Vitale e Romance (2000)

para o planejamento do processo de elaboração de um portfólio, com o objetivo de facilitar e

avaliar o processo de AS do aluno.

4.1 CONCEITUAÇÕES E ASSOCIAÇÃO ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO (TICs)

O termo portfólio se originou do latim, em que o prefixo port significa transportar.

Segundo o dicionário Michaelis online, a palavra ―folio‖ significa folha de livro e o termo

portfólio é uma pasta para documentos ministeriais ou pasta para guardar amostras, álbuns,

folhetos.

Segundo Alves (2004), o portfolio é uma modalidade de avaliação originada do campo

das artes e que tem como objetivo criar novas formas de avaliação para o desenvolvimento

das inteligências artísticas. Ele é constituído por um conjunto dos trabalhos do artista, que o

utiliza para divulgar sua produção, de forma que possa ser analisado e avaliado.

A partir de 1990, universidades americanas começaram a utilizar portfólio de ensino

em avaliações formativas e somativas. No Brasil, a utilização desse instrumento para

avaliação não é uma tradição na educação superior, apenas alguns professores, especialmente

em cursos de formação docente, o utilizam como forma de registro de ações e de reflexões

(ALVES, 2004).

Para Depresbiteris (2001) o portfólio é um instrumento que pode reunir diversos

trabalhos realizados pelo aluno (resumos de textos, relatórios, anotações diversas, casos

63

interessantes, ensaios reflexivos), permitindo que ele discuta, avalie e reflita sobre como a

experiência, do trabalho ou do curso realizado, modificaram seu conhecimento.

Grant e Dornan (2001) esclarecem que o portfólio é uma coleção de trabalhos do aluno

com evidência de sua aprendizagem e que pode ser usado como proposta de avaliação, porém,

para que haja evidência de crescimento profissional as narrativas devem ser feitas pelo

próprio aluno e os registros dessas narrativas devem ser coletados no curso de uma

aprendizagem experiencial. Além disso, a aprendizagem ocorre em resposta às necessidades

identificadas pelo próprio aluno a partir de uma reflexão. Este é o ponto central do método

―portfólio de aprendizagem‖, por isso, é chamado portfólio reflexivo.

Segundo Albuquerque et al (2010, p.192), ―narrar é uma manifestação que acompanha

o homem desde sua origem, podendo ser feita oralmente ou por escrito. Refletir sobre o ato de

narrar é quase tão antigo quanto o próprio narrar‖. A narrativa é uma das formas que as

pessoas utilizam para construir e constituir uma realidade, dando um sentido às suas

experiências individuais.

A particularidade do portfólio é proporcionar, ao estudante, um espaço de reflexão

sobre sua aprendizagem, apoiar a organização de seu saber, aprimorar a habilidade de

observação, promover a reelaboração do processo de aquisição de conhecimentos, permitir

intervenções e mudanças imediatas (ALVES, 2002).

Schön (1983), considera a reflexão como componente importante na organização de

um portfólio eficiente. Para ele, a reflexão é um processo em que os sujeitos extraem

o sentido de uma situação dada, não se apoiando, particularmente, em pontos de

vista objetivos ou técnicos ou em modelos referenciais estruturados, mas, mantendo um “diálogo reflexivo‖, aberto, amplo, consigo mesmo, a respeito de uma

determinada situação (ALVES, 2004, p.4).

Segundo Schön (2000, p. 220), ―a aprendizagem de um estudante é potencializada

quando ele pode falar sobre as suas confusões, descrever elementos do que já sabe ou dizer o

que já produz a partir do que o instrutor diz e mostra‖.

A reflexão é um processo do pensamento, que ocorre após um evento, levando à nova

interpretação daquela experiência. Pela reflexão sobre os eventos da prática diária, o aluno

pode perceber dificuldades e falhas de conhecimento. Ao identificar as suas necessidades de

aprendizagem, pode buscar o melhor caminho para atendê-las. Dessa forma, inicia-se um

ciclo de aprendizagem reflexiva. Nesse ciclo, o aluno, adquirindo novos conhecimentos, os

aplica em seu ambiente de prática e reflete sobre os resultados. O portfólio reflexivo não deve

ser apenas uma descrição da experiência, pelo contrário, deve ser analítico, oferecendo

64

evidências de sua aprendizagem. Sua narrativa deve ser capaz de capturar a natureza reflexiva

(GRANT e DORNAN, 2001).

Para o filósofo John Dewey (1979) o pensamento reflexivo se distingue do

pensamento rotineiro, pois ele consiste em examinar um assunto mentalmente, fazendo

considerações sobre ele de forma ativa, persistente, cuidadosa e contínua até que esse assunto

seja compreendido profundamente. Segundo Dewey (1979), o ato de refletir conduz a uma

indagação para levar a alguma conclusão.

De acordo com Yancey (1996), a característica fundamental do portfólio é a

possibilidade de reflexão, envolvendo um processo de desenvolvimento pelo qual o estudante

relata seu aprendizado: como os relatos do portfólio são criados, como a elaboração dele

provoca mudanças, que significados esse aprendizado tem para ele. Ainda para Yancey

(1996), o portfólio escrito incorpora cinco princípios seguintes: ele é uma ―coleção‖ de

trabalhos que representa um subconjunto de um arquivo maior; o processo de criação desse

subconjunto é uma ―seleção‖ que varia de acordo com a situação de contexto do portfólio; o

aluno explica seu aprendizado por meio de um processo de ―reflexão‖; envolve um processo

de ―comunicação‖, pois serve para comunicar algo sobre o autor do portfólio; qualquer

portfólio está vinculado à ―avaliação‖, pois mostra o processo envolvido em sua criação:

como o aluno faz a seleção do conteúdo do portfólio, como ele organiza, como ele fala com os

leitores do portfólio (e com ele mesmo), como as anotações e o aprendizado estão conectados.

Com base no ciclo de aprendizagem reflexiva envolvido no processo de elaboração do

portfólio (GRANT e DORNAN, 2001) e nos pressupostos de Schön (2000; apud ALVES,

2004) e Dewey (1979), enfatizando a importância da reflexão nos processos educativos,

identificou-se aí um campo rico para investigação, aplicando-se os princípios da TAS

propostos por Ausubel e Novak (AUSUBEL, NOVAK e HANESIAN, 1978; NOVAK e

GOWIN, 1998), uma vez que a AS é necessariamente um processo ativo que exige reflexão

do aprendiz e que pode ser facilitada pelas experiências de ensino oferecidas (AUSUBEL,

2000). Dessa forma, a utilização pedagógica do portfólio reflexivo como um instrumento

com potencialidades para facilitar o processo de aprendizagem significativa se constituiu em

um objeto a ser investigado.

Conforme o novo modelo proposto de educação médica, e que é enfatizado pelas DCN

(BRASIL, 2001), para se desenvolver um profissional com perfil crítico e reflexivo é

fundamental que esse tipo de pensamento esteja permeando todo o processo de formação, de

forma a promover um conhecimento adequado para que o médico exerça suas atividades

profissionais nas mais variadas e complexas situações. Ou seja, é preciso que, durante a

65

graduação, os futuros médicos desenvolvam habilidades abrangentes, além da indispensável

capacitação técnica e científica, para que possam intervir nas mais variadas situações de

diferentes níveis de complexidade.

A prática profissional configura um encontro entre o sujeito da aprendizagem e a

realidade social. Por isso, é importante criar nos processos de formação em saúde

oportunidades de observar as situações e sistematizá-las em narrativas que

favoreçam uma reflexão sobre a prática. O trabalho pedagógico com narrativas da

prática permite inferir a possibilidade de construção de novos significados a partir de

experiências reais vivenciadas pelos estudantes. (ALBUQUERQUE et al, 2010, p.

200).

Dessa forma, acredita-se que o portfólio reflexivo possa ser um instrumento capaz de

atender a esse desafio de estimular o pensamento crítico e reflexivo do aluno de medicina e,

consequentemente, gerar as condições necessárias para facilitar o processo de aprendizagem

significativa desse aluno, além de fornecer evidências da ocorrência dessa aprendizagem.

Silva e Sá-Chaves (2008) consideram que para que o portfólio não seja apenas um

instrumento de informação para avaliação, deve-se solicitar ao aluno que elabore narrativas de

natureza crítico-reflexiva sobre suas vivências nas atividades práticas e nos processos de

formação, constituindo-se, dessa forma, o portfólio reflexivo.

Sá-Chaves, em outro trabalho, considera que o enfoque reflexivo pode apresentar

diferentes níveis: técnico, prático, crítico e metacrítico (SILVA E SÁ-CHAVES, 2008),

esclarecendo que:

O nível técnico corresponde à descrição correta e detalhada de episódios de prática

vivenciados pelo formando.O formando pode, no entanto, ser estimulado no seu

questionamento, permitindo fazer uma análise de tipo crítico, ou seja, introduzir na

narrativa outros elementos para além da mera descrição dos fatos. Neste nível o

estudante identifica as múltiplas e possíveis causas, conseqüências e os significados

dos fenômenos em estudo, reflete sobre o papel dos contextos na determinação dos

fatos, sobre as funções e papéis desempenhados, sobre as concepções que sustentam

as decisões e, ainda, sobre novas possibilidades e funções que poderão vir a ser

desempenhadas à luz de novas percepções dos problemas. É neste quadro que o

estudante pode vir a desenvolver a reflexão sobre si próprio, de nível metacrítico, questionando-se quanto aos seus desempenhos, às funções e concepções subjacentes.

(SILVA E SÁ-CHAVES, 2008, p 728).

O portfólio pode ser elaborado manual ou eletronicamente. O portfólio eletrônico pode

ser utilizado para acompanhamento e avaliação em cursos a distância, semipresenciais e

presenciais. Sua construção na Internet permite que o aluno estabeleça links com outras

fontes, podendo assim aprofundar a construção do conhecimento sobre o tema estudado

(DEPRESBITERIS, 2001).

66

Para aprofundar a discussão sobre o portfolio mediado pelas TICs, é importante

inicialmente definir o que vem a ser tecnologia. Para isso, Kenski é bastante esclarecedora:

É muito difícil aceitar que apenas o atual momento que vivemos possa ser chamado

de ―era tecnológica‖. Na verdade desde o início da civilização, todas as eras

correspondem ao predomínio de um determinado tipo de tecnologia. Todas as eras

foram, portanto, cada uma à sua maneira, ―eras tecnológicas‖. Assim tivemos a

Idade da Pedra, do Bronze... até chegarmos ao momento tecnológico atual

(KENSKI, 2008, p.19).

Para Kenski (2008), tecnologia refere-se ao ―conjunto de conhecimentos e princípios

científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento

em um determinado tipo de atividade‖ (KENSKI, 2008, p.18).

A autora argumenta que a evolução tecnológica não está limitada apenas ao uso de

novos produtos e equipamentos, ela também altera comportamentos individuais e de todo

grupo social. As tecnologias são capazes de modificar as maneiras de pensar, sentir, agir,

além de transformar as formas de comunicação e de aquisição de conhecimentos (KENSKI,

2008).

Por sua vez, Levy (1993) já aborda outra perspectiva sobre tecnologia, ao defender

que nenhum tipo de conhecimento é independente do uso de tecnologias intelectuais. As

linguagens oral, escrita e digital são exemplos desse tipo de tecnologia.

Articuladas às tecnologias da inteligência, defendidas por Levy (1993), encontram-se

as TICs que, utilizando suportes de mídia, como jornal, rádio, televisão, computador etc,

permitem a veiculação de informações e todas as demais formas de ações comunicativas

(KENSKI, 2008).

Por meio do que é transmitido pela televisão, ou acessado pelo computador, as

pessoas se comunicam, adquirem informações e transformam seus comportamentos.

Tornam-se ―teledependentes‖ ou ―webdependentes‖, consumidoras ativas,

permanentes e acríticas do universo midiático (KENSKI, 2008, p.25).

Partindo dessas conceituações e visões preliminares, percebe-se a potencialidade das

contribuições que as TICs oferecem à área educacional. Uma das vantagens de seu uso nesse

contexto é muito bem descrito por Kenski (2008), ao apontar que, tradicionalmente, a

educação sempre foi oferecida em lugares determinados, como a escola. O aluno precisava se

deslocar até os ―locais de saberes‖ para aprender. Na era digital, os saberes viajam em

velocidade nas ―estradas virtuais da informação‖ e, em qualquer lugar onde o aluno esteja,

67

pode ter acesso ao conhecimento disponível nas redes, e continuar aprendendo, se assim

desejar.

Pode-se constatar que os avanços científicos e tecnológicos ocorridos em nossa

sociedade foram responsáveis pelas mudanças na produção e difusão de bens e conhecimentos

que, por sua vez, motivaram novas demandas nos processos de trabalho (STRUCHINER e

GIANNELLA, 2005). Diante disso, é necessário que os contextos de formação saiam dos

esquemas curriculares rígidos e que se tornem mais abertos e flexíveis (STRUCHINER e

GIANNELLA, 2005). Porém, é importante destacar que a qualidade pedagógica para que o

aluno atinja seus objetivos é o centro da questão, independentemente do tipo de tecnologia

utilizada.

Do ponto de vista dos alunos, além de terem acesso a conhecimentos e informações

relevantes para suas vidas pessoais e profissionais, desenvolvem competências para

a aprendizagem auto-dirigida e aperfeiçoam suas competências metacognitivas.

Transformam-se, portanto, em cidadãos mais autodeterminados, conscientes de suas

responsabilidades, necessidades, interesses, bem como das formas preferidas de aprendizagem (STRUCHINER e GIANNELLA, 2005, p.66).

Diante das necessidades atuais de mudanças nos modelos educacionais, segundo

Schank e Clery (1995), as TICs podem contribuir de forma importante nesse processo, pois

têm potencial de motivar os alunos, facilitar o acesso à informação e a comunicação, além de

possibilitar novos questionamentos e reflexões sobre as práticas educativas que podem ser

realizadas em novos cenários para o desenvolvimento das atividades de ensino e

aprendizagem. As TICs podem oferecer maior flexibilidade para o ensino e aprendizagem ao

possibilitar a organização do processo educativo em bases não lineares de conhecimento,

permitindo que o aluno tenha liberdade para resolver problemas e busque informações

conforme seu nível cognitivo, sua necessidade e seu interesse de aprofundamento sobre o

conteúdo que está sendo estudado. Dessa forma, o uso das TICs possibilita maior

independência e autonomia do aluno em formação (STRUCHINER E GIANNELLA, 2005;

VALENTE, 2002). Além disso, a integração da tecnologia possibilita a interação e

colaboração entre os participantes do evento educativo, o desenvolvimento de atividades e

estratégias que enfatizem a aprendizagem contextualizada, a solução de problemas e o

domínio do estudante sobre seu próprio processo de aprendizagem (STRUCHINER e

GIANNELLA, 2005). Essas possibilidades oferecidas pelas TICs podem constituir um campo

rico em recursos para o desenvolvimento do processo educacional pela perspectiva da TAS,

transformando-se em ferramentas cognitivas facilitadoras da construção do conhecimento.

68

A Internet, definida por Castells (2001) como um meio que permite a comunicação de

muitos com muitos, em escala global, oferece diversas ferramentas comunicacionais.

Atualmente, o professor conta com grande número de recursos que o auxiliam na construção

de materiais e atividades virtuais, não sendo necessário que ele domine habilidades ou

conhecimentos mais profundos em programação ou tecnologia da informação para

desenvolver suas próprias páginas eletrônicas. Esses recursos são os ―ambientes de autoria e

gerenciamento de cursos na web” que auxiliam os professores nos processos educacionais.

Em geral, essas ferramentas ou ambientes de autoria possuem um modelo básico de curso que

dispõe de recursos que podem ser acrescentados pelo professor (ESPÍNDOLA, 2010).

Normalmente, a montagem do curso é feita pelo preenchimento de formulários que geram as

páginas do curso. É importante enfatizar que as ferramentas de autoria não abrigam a

abordagem pedagógica e metodológica que o professor deseja utilizar, pois, cabe a ele

selecionar quais os recursos que irá disponibilizar e como eles serão utilizados, de acordo com

a abordagem pedagógica que ele planeja adotar no desenvolvimento de seu ambiente virtual

de aprendizagem (AVA) (STRUCHINER e GIANNELLA, 2005).

Portanto, apesar das TICs apresentarem grande potencialidade para a prática

pedagógica construtivista, particularmente da aprendizagem significativa, é fundamental que

o AVA desenvolvido para essa finalidade, reúna experiências de aprendizagem que facilitem

esse processo (COSTA e FRANCO, 2005; SILVA E SILVA, 2008), tais como:

- autonomia – os estudantes precisam ser responsáveis pelo seu próprio estudo,

decidem quando realizarão as tarefas solicitadas e quanto tempo poderão dedicar a elas.

Normalmente essa autonomia é limitada, uma vez que existem prazos a serem cumpridos,

regras e regulamentos e exigências curriculares;

- interatividade – os materiais de auto-aprendizagem devem conter atividades que

desafiem os alunos e favoreçam o diálogo, enquanto que os professores devem motivar o

aluno a fortalecer sua auto-aprendizagem e a colaborar com os outros alunos, para ampliar o

compromisso pedagógico;

- aprendizagem colaborativa – por meio de redes de aprendizagem em que os alunos

podem compartilhar seus conhecimentos (correio eletrônico, lista de discussão, chats etc).

Alves (2004) refere que, com o avanço das TICs, surgem novas formas de explorar a

construção dos portfólios, sendo possível a utilização de diversos formatos de material

didático, tais como imagens, vídeos, textos, gráficos, áudios, permitindo uma infinidade de

interações.

69

Os Webfólios podem guardar toda a memória do período escolar desde a Educação

Básica até a Educação Superior de um estudante, que servirá como processo de

reconstrução de suas aprendizagens e como elemento de avaliação. Finalmente, pode

apresentar-se à sociedade ou ao mundo do trabalho com o portfólio construído ao

longo da vida acadêmica (ALVES, 2004, p. 3).

A tecnologia pode ser um fator motivador na educação (BARRETT, 2004c, p. 3).

Contudo, segundo PRADO (2002), ―cabe ao professor dar vida, ou seja, dinamizar o

seu uso com os alunos‖. NIGUIDULA et al (2005, p. 3) opinam que no

desenvolvimento dos portfólios eletrônicos, a importância não está na tecnologia

(…) (apud CAMPBELL, 2007, p.5).

Ao abordar o uso educacional das TICs, é importante também discutir como professor

e aluno se inserem nesse contexto.

Em relação ao professor, Mishra e Khoeler (2006) propõem que os conhecimentos

básicos que este deve articular ao utilizar a tecnologia em seu processo educacional são: o

conhecimento de conteúdo, o conhecimento pedagógico, o conhecimento tecnológico e mais

suas inter-relações dentro do contexto de ensino.

Um dos problemas na área da saúde, também comum em outros contextos educativos,

é que, em geral, os docentes, ao exercerem suas funções como educadores, detêm apenas o

conhecimento do conteúdo, enquanto suas práticas pedagógicas são exercidas intuitivamente e

baseadas nos exemplos dos professores que participaram de sua formação.

Já Struchiner e Giannella (2005) referem que, ao utilizar a TIC como recurso de

inovação na prática de uma abordagem centrada no aluno, o professor atua como um

facilitador desse processo ao assumir a função de mediador ou orientador pedagógico,

ajudando o aluno na construção de seu conhecimento, no intercâmbio de experiências e na

criação de novas formas de participação dentro desse processo de aprendizagem.

Em relação aos métodos convencionais de aprendizagem, as TICs oferecem grandes

vantagens, pois facilitam a troca imediata de informações, permitem que estas sejam

adaptadas aos estilos individuais de aprendizagem, encorajam a exploração e a organização

dos conhecimentos, facilitam a integração e interação, agilizam a recuperação de informações,

possuem grande potencial na distribuição de informações e na comunicação em diferentes

contextos (AMEM e NUNES, 2005).

Na educação superior, mais precisamente na educação médica, observa-se a

necessidade de propiciar aos jovens condições para se desenvolverem numa

dimensão integrada do ponto de vista cognitivo, social, moral e ético. Isto

contribuiria para formar indivíduos adultos capazes de uma boa prática profissional na sociedade e aptos para dirigir sua formação por valores e atitudes em relação à

vida, ao ambiente, às relações humanas e a si próprios. Os estudantes não estão

isolados na escola; ao contrário, estabelecem complexas relações de

interdependência dentro e fora dela. O entendimento dessas relações envolve a

70

compreensão das condições físicas do meio, do modo de vida e da organização

sociopolítica e cultural. Os estudantes devem construir seus conhecimentos por meio

da interação com a realidade que os envolve. O conhecimento é dinâmico e não uma

mera simplificação do conhecimento científico. O grau e a direção do

desenvolvimento da consciência dependem, como sabemos, do ambiente cultural

(AMEM e NUNES, 2005, p. 174).

Segundo Jonassen (1996. p.70), ―se as tecnologias facilitam a transmissão de

informações, elas não mudarão a natureza destas sem mudanças fundamentais nas concepções

e métodos de ensino e aprendizagem‖, ou seja, apesar de representar uma inovação na área

educacional, o uso das TICs pode repetir os mesmos resultados ineficazes se não for

acompanhado de mudanças nas metodologias de ensino aplicadas. Ele sugere que, de

preferência, as TICs devem ser usadas para que os alunos tenham oportunidade de interagir e

trabalhar juntos em projetos e problemas. Defende também que:

Os princípios construtivistas fornecem um conjunto de diretrizes a fim de auxiliar

projetistas e professores na criação de meios ambientes colaboracionista direcionados ao ensino, que apoiem experiências autênticas, atraentes e reflexivas.

Os estudantes podem trabalhar juntos na construção do entendimento e do

significado através de práticas relevantes (JONASSEN, 1996, p. 70).

Nesse sentido, a TAS fornece princípios capazes de orientar o professor no

planejamento do ensino, de forma a utilizar os recursos tecnológicos e atividades mais

adequados para que o aluno possa aprender significativamente.

Segundo Jonassen (1996), em um processo educacional com uso das TICs a

aprendizagem significativa poderá ser favorecida, se os seguintes elementos estiverem

sinergicamente combinados no ambiente e nas atividades de aprendizagem propostas:

Atividades relevantes que permitam participação ativa do aluno na experiência

educativa;

Atividades construtivas que permitam que o aluno integre novas informações ao

conhecimento que já possui, construindo assim seu próprio significado para aquela

experiência;

Incentivo à reflexão de forma que o aluno analise suas próprias experiências, articule o

que está aprendendo com as decisões que toma, com as estratégias que usa e com as

respostas que encontra, para que tenha um melhor entendimento e que seja capaz de

transferir o conhecimento adquirido;

Colaboração favorecida por meio de atividades que permitam que a realização das

tarefas e a solução de problemas tenham a contribuição de outros participantes;

71

Intencionalidade para o aprendizado favorecida pelas tecnologias apoiando os alunos

na articulação de seus objetivos de aprendizagem, pois quando eles buscam atingir

ativamente um objetivo cognitivo, eles pensam e aprendem mais;

Complexidade da tarefa e atividade devem ser semelhantes aos problemas do mundo

real para que os alunos aprendam por meio de situações complexas e não simplificadas

para tornar mais fácil a compreensão;

Ação contextual de aprendizagem retratando as situações do mundo real para que

sejam ensinados conhecimentos e habilidades que possam ser praticados em diferentes

contextos reais;

Processo coloquial deve ser apoiado pelas tecnologias mediando a conexão dos alunos

a outros contextos sociais para que eles aprendam que existem diferentes visões de

mundo e múltiplas soluções para a maioria dos problemas.

Pelo exposto, teoricamente, pode-se perceber o potencial que o portfólio é capaz de

adquirir ao se associar o uso das TICs, com possibilidade de ser uma ferramenta adequada ao

acompanhamento e à facilitação do processo de aprendizagem significativa. Porém, com o

objetivo de obtenção de resultados práticos de seu uso pedagógico, particularmente em

relação ao contexto da educação médica, foi realizada uma revisão de literatura que é

apresentada na segunda seção do presente capítulo.

4.2 REVISÃO DE LITERATURA SOBRE USO DO PORTFÓLIO REFLEXIVO

ELETRÔNICO NA EDUCAÇÃO MÉDICA

Com base no pressuposto de que a utilização do portfólio reflexivo, aliado à

potencialidade das TICs, pode ser uma estratégia pedagógica inovadora e adequada para a

formação médica, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o uso do portfólio reflexivo

eletrônico (PRE), no contexto de Educação Médica. Esse levantamento foi realizado em 17

bases de dados eletrônicas disponíveis no Portal de Periódicos da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (Academic Search Premier- ASP

(EBSCO), Cambridge Journals Online, Dentistry and Oral Sciences Source (EBSCO), JAMA,

Journal Ovid Full Text (Ovid), Mary Ann, Nature, Science Direct (Elsevier), SportDiscus

with Full Text (EBSCO), SpringerLink (Metapress), Wiley Online Library, Applied Science

Tech Full Text (Wilson), Gale - Academic OneFile, General Science Full-Text (Wilson),

MetaPress, OECD iLibrary, Education Full Text (Wilson). Foram utilizadas as seguintes

72

palavras-chave: ―portfólio”, “reflective”, “technology”, “medical education”, sendo as

buscas limitadas a periódicos dos últimos 20 anos, que apresentassem textos completos e com

resumos.

Dos 91 artigos encontrados foram selecionados 18, após serem submetidos aos

seguintes critérios de exclusão: PRE não era o tema central; contexto não era de educação

médica; discussão técnica e não educacional do portfólio; uso do portfólio exclusivamente

para desenvolvimento profissional e não pedagógico.

Por meio dessa revisão de literatura foi possível observar que os estudos publicados

sobre o tema, no contexto pesquisado, são relativamente recentes, sendo o Reino Unido o país

com maior número de publicações, seguido pelos EUA. As análises dos estudos selecionados

permitiram conhecer os princípios norteadores que os pesquisadores vêm utilizando para

fundamentar o uso educacional desse instrumento; as contribuições das TICs nesse processo;

e as possibilidades pedagógicas do PRE nos diferentes contextos do ensino médico.

4.2.1 Princípios Norteadores

Diferentes ênfases e perspectivas do construtivismo fundamentam o uso pedagógico

do PRE em alguns dos trabalhos selecionados (KJAER, MAAGAARD e WIED, 2006;

PARBOOSING,1996; DAGLEY e BERRINGTON, 2005; MAKRIS et al, 2010; GREEN,

REDDY e HOLMBOE, 2009; FOULKES et al, 2011), conforme representado no quadro 1.

Quadro 1- Principais ênfases do construtivismo apresentadas nos estudos

Parboosing (1996), Dagley e Berrington (2005), e Kjaer, Maagaard e Wied (2006),

referem que o sucesso dessa estratégia educacional é compreendido pelos fundamentos da

aprendizagem experiencial, tendo como principal referência o modelo proposto por Kolb, que

se baseia no princípio de que as pessoas aprendem a partir de reflexões sobre suas

73

experiências, formando conceitos e generalizações que podem ser aplicadas em novas

situações, criando uma espiral de aprendizagem. Isso requer conscientização de situações de

aprendizagem na prática diária de trabalho e tempo para refletir sobre essas experiências

(DAGLEY e BERRINGTON, 2005).

A base da aprendizagem do adulto também é apresentada como fundamentação, tanto

pelo estudo de Dagley e Berrington (2005), que cita Brookfield (1996) como referência,

quanto por Makris et al (2010), que utiliza dois trabalhos de Knowles (1984 e 1998)

considerando que, nessa perspectiva, o portfólio pode favorecer a reflexão e a autonomia.

A formação do conhecimento por meio da reflexão, tendo como principal referência a

perspectiva de Schön (1987 e 2000/1983), é abordada nos trabalhos de Parboosing (1996) e de

Green, Reddy e Holmboe (2009). Este último estudo aponta que o portfólio de aprendizagem

baseado na prática facilita a reflexão e a aprendizagem, exercendo importante influência na

mudança de comportamento e no desenvolvimento profissional. Os autores argumentam que o

aluno ao elaborar o portfólio, pode empregar três níveis de reflexão: primeiramente ele

―reflete na ação‖, quando, considerando as questões clínicas apresentadas, tenta resolver o

problema; depois ele ―reflete sobre a ação‖, ao pensar sobre o que aprendeu e como isso pode

mudar sua prática; finalmente, reflete sobre o próprio processo de aprendizagem, ao rever seu

relato de aprendizado.

O estudo de Foulkes et al (2011), aborda o papel do feedback para o adequado uso

pedagógico do portfólio, evidenciando tal importância por diversas referências da literatura

educacional e da educação médica. Os autores salientam que, quando o feedback não é

adequadamente realizado pelo supervisor, pode comprometer negativamente todo o processo

de aprendizagem.

4.2.2 Contribuições das TICs

A interatividade, a autonomia e a aprendizagem colaborativa são as principais

potencialidades das TICs citadas pelos artigos analisados, cujas principais características estão

apresentadas no quadro 2.

74

Quadro 2 – Potencialidades das TICs citadas nos estudos

Interatividade: Ruiz et al (2009) considera que a Internet expande o acesso a recursos

educacionais, permitindo maior interação com colegas e docentes, além do que o sistema de

base de dados pode armazenar uma vasta quantidade de informações, conservando-as prontas

para serem acessadas a qualquer momento, tornando mais efetivo o processo de

aprendizagem. Bridge e Eddy (2006) consideram que a mídia eletrônica permite melhor

organização do conteúdo do portfólio, além de facilitar o acesso às informações relevantes.

Parboosingh (1996), ao discutir o potencial do portfólio sobre a formação dos profissionais de

saúde, concluiu que a integração da tecnologia ao portfólio poderá produzir uma nova geração

de ferramentas de aprendizagem interativas.

Autonomia: Essa geração de ferramentas interativas, segundo Parboosingh (1996),

ajuda a preservar a autonomia do aluno, uma vez que facilita sua independência no processo

de aprendizagem.

Aprendizagem colaborativa: Bridge e Eddy (2006) consideram a capacidade de

colaboração como uma das principais potencialidades do portfólio eletrônico, criando um

portfólio ―conectado‖, que pode ser avaliado por outros, que por sua vez podem colaborar

adicionando algo, fazendo assim uma construção coletiva de informações. Isso facilita a

revisão por seus pares, as trocas de ideias e reflexões. Essa característica tem também o

potencial para aumentar e estimular o trabalho e a aprendizagem multidisciplinares.

75

Diante dessas considerações, é possível perceber que o uso das TICs na Educação

oferece um grande potencial de recursos, capazes de instrumentalizar o processo ensino-

aprendizagem e que o PRE pode ser uma dessas ferramentas promissoras.

4.2.3 Possibilidades Pedagógicas de uso do PRE na Educação Médica

Pela análise dos estudos selecionados, foi possível identificar cinco categorias de

objetivos pedagógicos para o uso do PRE, conforme apresentado no quadro 3.

Quadro 3- Objetivos pedagógicos e contextos de uso do PRE identificados nos estudos

76

Acompanhar e/ou avaliar o processo de ensino aprendizagem: Essa categoria foi

identificada em sete trabalhos desenvolvidos nos seguintes contextos: Residência

Médica em Ginecologia e Obstetrícia, Mestrado em Educação para Profissionais de

Saúde, Especialização em Medicina de Família, Educação Continuada em Medicina

Interna e Graduação.

Fung et al.(2000), descreveram o Computerized Obstetrics and Ginecology Automated

Learning Analysis (KOALA) que é um portfólio de aprendizagem baseado na Internet,

multicêntrico, inserido no programa de Residência em Ginecologia–Obstetrícia em escola

médica canadense e pesquisaram os efeitos do uso dessa ferramenta sobre as habilidades de

aprendizagem dos alunos. Os residentes documentaram na plataforma os dados relevantes de

seus atendimentos ambulatoriais. Esse programa permitia que, por meio de links na própria

ferramenta, os alunos acessassem literatura para pesquisar sobre os questionamentos gerados

por suas experiências práticas. Após um ano de uso da ferramenta, foi realizado um estudo

quantitativo sobre as habilidades de aprendizagem dos residentes, comparando as percepções

dos alunos que usaram o programa com as dos alunos de outras escolas sem o programa. Os

autores concluíram que houve um efeito positivo do programa sobre a aprendizagem e que

portfólios com recursos online poderiam contribuir para aprendizagens futuras.

O estudo de Lewis e Baker (2007), utilizou o contexto de uma das disciplinas de

Mestrado em Educação para Profissionais de Saúde, em que cada aluno, sem experiência

prévia com portfólio, desenvolveu um portfólio eletrônico, ao longo da disciplina, como

trabalho final. Eles concluíram que o processo de elaboração do portfólio eletrônico foi uma

experiência de aprendizagem válida, que encorajou a criatividade, permitiu a construção e

utilização dos conhecimentos, tanto da disciplina, quanto das estratégias para a elaboração de

portfólios, capacitando os educadores médicos para o uso da ferramenta em outros contextos

de ensino-aprendizagem.

No contexto da especialização em Medicina de Família, Foulkes et al (2011),

utilizaram, como justificativa para o estudo, o surgimento de algumas evidências sugerindo

que o uso de portfólios eletrônicos estariam prejudicando o diálogo entre alunos e

supervisores e, consequentemente, fazendo com que os alunos não valorizassem o papel da

proposta de reflexão sobre os casos e se engajassem apenas superficialmente com o processo

de escrever os portfólios. Esses autores descreveram um workshop com um pequeno grupo de

supervisores do curso de especialização, em que foram discutidas diversas questões sobre

diferentes contextos de prática como ambientes de aprendizagem e a avaliação dessa

aprendizagem, por meio do portfólio eletrônico. As principais questões levantadas foram:

77

dificuldade da prática da reflexão pelos alunos, incapacidade dos alunos em demonstrar como

a experiência se relaciona com aprendizagem e a dificuldade dos supervisores em fornecer

feedback. A participação nas atividades do workshop, permitiu que os supervisores dos

especializandos aprendessem habilidades de como elaborar feedback reflexivo, que fosse útil

para o desenvolvimento do processo de aprendizagem dos alunos.

O estudo quali-quantitativo de Kjaer, Maagaard e Wied (2006), com especializandos

de Medicina de Família, objetivou pesquisar a influência do PRE sobre o aprendizado e

concluiu que a ferramenta os ajudou no desenvolvimento de habilidades para monitorar o

próprio progresso clínico, permitindo que se concentrassem sobre os objetivos de

aprendizagem, além ser útil na construção do conhecimento e no estímulo à reflexão,

especialmente em situações clínicas complexas e difíceis.

O estudo quantitativo (survey) de Wilcock (2011), por meio de questionário

respondido por especializandos em Medicina de Família, concluiu que 2/3 dos alunos

pesquisados consideraram o PRE uma ferramenta útil para aprendizagem, porém não discute

mais profundamente esse resultado.

Green, Reddy e Holmboe (2009), desenvolveram um portfólio eletrônico para que

médicos pudessem demonstrar suas aprendizagens ao longo da vida. Por meio de uma

pesquisa quantitativa (survey), a partir da análise direta do uso dessa ferramenta, no contexto

de Educação Continuada em Medicina Interna, concluíram que os médicos consideraram a

ferramenta útil para documentar suas auto-avaliações de conhecimentos médicos e que, após

refletirem sobre suas experiências de aprendizagem com o uso da ferramenta, muitos deles

efetuaram mudanças substanciais em suas estratégias de aprendizagem.

No estudo de Deketelaere et al (2009), foi utilizada a combinação de três métodos (a

própria experiência dos autores com o uso do portfólio eletrônico na graduação como

ferramenta para acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos, entrevistas com

tutores e respostas de questionário por alunos), com o objetivo de investigar as condições para

o sucesso da e-tutoria de portfólios eletrônicos. Baseado na análise de seus resultados e nas

dificuldades apontadas no estudo, os autores apresentaram as seguintes recomendações para

aumentar as chances de sucesso da e-tutoria no uso do PRE: avaliar antecipadamente se a

implantação do PRE é o melhor método para atingir os objetivos propostos e se é adequado ao

currículo; não supor que e-tutoria é igual à tutoria presencial, pois o tipo de supervisão obtida

pela e-tutoria é diferente da esperada na presencial, logo, os tutores devem estar conscientes

disso e se capacitarem para o uso da ferramenta; escolher o tutor baseado em sua competência

para estabelecer uma relação de confiança com o aluno; considerar que o investimento de

78

tempo pode ser maior do que na tutoria presencial; aguardar pelo menos um ano entre a

decisão de implantar a e-tutoria e o começo dessa ação na prática, uma vez que as

possibilidades tecnológicas da ferramenta devem ser exploradas cuidadosamente e a equipe

deve ser prepara para usá-las; treinar os tutores nos aspectos da e-tutoria; discutir e esclarecer

os objetivos do feedback eletrônico; considerar um tempo adequado para o desenvolvimento

das tarefas do portfólio; oferecer suporte adequado; entender e aceitar que mudanças

necessitam de tempo; prover os tutores com feedback dos alunos; analisar custo-benefício da

e-tutoria, ou seja, a importância da e-tutoria nesse processo deve ser reconhecida por todos os

atores envolvidos.

Pelos estudos analisados é possível perceber que o PRE, em todos os contextos

estudados, é um instrumento útil para avaliar e acompanhar todo o processo ensino

aprendizagem. Ele é capaz, não só de contribuir para construção de conhecimentos

específicos, mas também de permitir o desenvolvimento de habilidades e capacitações para

aprendizagem futura de futuros profissionais. Compreende-se também a importância da

capacitação dos tutores para que eles possam, por meio de adequado feedback, contribuir para

o sucesso desse processo. Porém, conforme o estudo de Deketelaere et al (2009), é importante

considerar as possíveis limitações e dificuldades no uso desse instrumento para que se consiga

superá-las ou minimizá-las.

Avaliar habilidades clínicas: essa categoria foi identificada em dois trabalhos a nível

de gradução e especialização.

Dornan et al (2003), apresentaram um estudo de caso realizado em uma escola de

graduação médica cujo currículo utilizava metodologia baseada em problema, com ênfase na

proficiência em habilidades clínicas. O objetivo do trabalho foi apresentar um portfólio

eletrônico baseado em habilidades clínicas, elaborado com base nas habilidades exigidas pelo

currículo. Na média, a apresentação do portfólio eletrônico e de seus materiais de treinamento

foram altamente avaliados pelos alunos, enquanto que a auto avaliação e o uso do portfólio

para planejar habilidades de aprendizagem foram altamente avaliados por uma menor parcela

dos pesquisados. Poucos alunos consideraram que registrariam sistematicamente seus

progressos com esse instrumento.

Wilcock (2011), realizou um survey em que um dos objetivos era pesquisar o uso

pedagógico do PRE para avaliação de habilidades clínicas. Os alunos consideraram que a

avaliação era superficial e não conseguia avaliar suficientemente suas habilidades reais como

um médico prático.

79

Avaliar e/ou documentar competências: essa categoria foi identificada em quatro

trabalhos a nível de residência médica e especialização.

Clay et al (2007), relataram a experiência de criação e o uso piloto de um portfólio

para especialização, de uso multidisciplinar, ou seja, que poderia ser usado por diversos

programas de Residência Médica para documentar competências. A ferramenta apresentava

exercícios cujas resoluções evidenciavam aquisição de conhecimentos e interpretação de

dados sobre competências específicas.

Mamelok (2009), também apresentou um relato de experiência sobre desenvolvimento

e uso do PRE para avaliação do treinamento em serviço de pós-graduandos em Medicina de

Família.

Ruiz et al (2009), em estudo utilizando survey e grupos focais, avaliou a percepção de

especializandos em Geriatria sobre a utilidade do PRE, sendo a ferramenta considerada

relevante no treinamento dos pós-graduandos, com potencial para documentação e avaliação

de competência.

O estudo de Lewis et al (2010), comparando as avaliações globais dos residentes de

cirurgia, feitas pelos docentes antes e após a implantação do PRE, permitiu concluir que a

ferramenta era efetiva na documentação e avaliação de competências tais como: cuidado com

paciente, conhecimento médico, profissionalismo, habilidade de comunicação interpessoal,

progresso e aprendizagem baseada na experiência e da prática baseada em sistemas.

Estimular reflexão: essa categoria foi identificada em três trabalhos a nível de

graduação e especialização.

Driessen et al (2007) consideram que o uso de portfólio vem crescendo na educação

médica, não somente como recurso informativo para avaliações, mas também como

ferramenta que estimule o aluno a refletir sobre suas experiências de aprendizagem. Baseado

nisso, esses autores desenvolveram um estudo qualitativo, comparando o formato tradicional e

o eletrônico dos portfólios reflexivos elaborados por graduandos do primeiro ano médico.

Essa pesquisa permitiu observar que a qualidade dos portfólios reflexivos produzidos pela

maioria dos alunos foi muito satisfatória. Eles salientaram que seus resultados, em relação ao

uso do portfólio para reflexão, diferem de outros autores cujos estudos revelaram dificuldades

na prática reflexiva e na documentação da reflexão por meio do PRE. Porém, atribuem seus

resultados positivos, ao emprego das condições favoráveis usadas nesse estudo, tais como:

80

trabalho de mentores e estrutura de portfólio que estimulem a reflexão, além de

procedimentos de avaliação adequados.

No contexto da especialização em medicina de família, dois estudos utilizaram

portfólios que tinham, como um dos objetivos pedagógicos, favorecer a reflexão. Makris et al

(2010), realizaram um estudo qualitativo para avaliar as percepções de consultores sobre suas

experiências no uso de portfólios eletrônicos para documentar, intensificar a aprendizagem e

avaliar competências, dentro de um contexto que utilizava diversos métodos de avaliações

baseadas em experiências. Pela análise dos resultados obtidos no estudo, foram identificadas

algumas vantagens e desvantagens. A oportunidade de identificação de necessidade de

aprendizado e o foco sobre o desenvolvimento desse aprendizado, foram algumas das

vantagens, enquanto que a dificuldade na documentação de reflexão, foi uma das

desvantagens encontradas.

Utilizando esse mesmo contexto de uso do portfólio eletrônico, Wilcock (2011),

realizou um estudo quantitativo (survey) com os especializandos, sobre suas experiências de

uso do portfólio eletrônico. Observou, dentre seus resultados, que a maioria dos pesquisados

havia usado a ferramenta para auto-avaliação e reflexão.

Conforme a análise dos estudos acima é possível observar certa divergência entre eles,

em relação ao uso do PRE para estimular a reflexão. Isso pode ser justificado pela falta de

familiaridade com a prática reflexiva, conforme considerado nos trabalhos de alguns autores.

Desenvolvimento Profissional Continuado: essa categoria foi identificada em três

trabalhos que abordaram o uso do PRE com o objetivo de acompanhar, documentar e

avaliar o desenvolvimento profissional continuado.

Dornan, Carrol e Parboosingh et al (2002) desenvolveram um estudo quali-

quantitativo com médicos endocrinologistas que utilizaram, ao longo de um ano, um portfólio

de aprendizagem eletrônico para auxiliar no desenvolvimento profissional continuado

reflexivo desses profissionais. Um dos objetivos dessa pesquisa foi avaliar a aceitação e o uso

do portfólio eletrônico como auxiliar no desenvolvimento profissional continuado reflexivo.

Os autores concluíram que a ferramenta possuía potencial para a prática reflexiva, porém sua

aceitabilidade e seu uso foram influenciados pelo estilo de aprendizagem individual, pelos

recursos, treinamento e suporte técnico oferecidos.

Dagley e Berrington (2005) descreveram algumas características da avaliação

qualitativa do portfólio de desenvolvimento pessoal eletrônico, criado por eles, para uso em

educação continuada de especialistas em Medicina de Família e relatam a aprendizagem que

81

resultou desse estudo. Eles identificaram alguns obstáculos para o uso do PRE, tais como:

prioridades pessoais e profissionais, falta de compreensão para a prática reflexiva, e

resistência às mudanças. Diante de seus resultados, eles fizeram algumas recomendações, tais

como: importância da conscientização para a aprendizagem reflexiva baseada na prática,

incentivo ao uso de todos os recursos de aprendizagem, respeito ao tempo destinado às

discussões e atividades baseadas na prática, para que estas fossem mais produtivas.

Já Bridge e Eddy (2006) referem que no Reino Unido o portfólio é uma ferramenta

fundamental para o desenvolvimento profissional, pois os conteúdos selecionados formam um

perfil para garantir conformidade com os Critérios de Desenvolvimento Profissional

Continuado, a fim de manter o registro no Conselho Profissional de Saúde. Os autores,

utilizando o contexto da prática profissional da Radioterapia, objetivaram analisar as razões

para o uso da mídia eletrônica, como alternativa ao portfólio convencional, diante da

importante finalidade dessa ferramenta naquele país.

Devido à potencialidade do portfólio eletrônico, como uma ferramenta de avaliação,

vem crescendo o interesse por ele em propostas de acreditação e recertificação para

profissionais de saúde. Pois, comparando com os métodos tradicionais de avaliação, o

portfólio pode ser adequado para avaliar a qualidade de conhecimento do profissional,

inclusive em áreas diferentes de sua especialidade. Ele permite, também, avaliar a habilidade

de aprender com a prática (PARBOOSINGH, 1996).

Apesar dessa revisão de literatura não contemplar nenhum estudo no Brasil com os

critérios utilizados, tem-se conhecimento de que, no contexto brasileiro, algumas faculdades

de medicina que utilizam metodologia de aprendizagem baseada em problema (ABP)7 vêm

desenvolvendo estudos com o objetivo de analisar o uso do portfólio como instrumento de

avaliação. A Faculdade de Medicina de Marília vem utilizando o portfólio reflexivo, como

avaliação formativa no curso médico, com o objetivo de ser uma ferramenta de aprendizagem

e de avaliação dialógica, que requer um processo avaliativo diagnóstico contínuo, que indica

definições claras do que se espera, além de constantes aproximações e ajustes (MARIN,

2010). Como outro exemplo, o estudo realizado por Silva e Francisco (2009), na Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de São Carlos, objetivou identificar a percepção dos alunos

quanto ao uso do portfólio reflexivo. Os resultados desse estudo apontaram a contribuição do

7 ABP- A aprendizagem baseada em problemas é uma metodologia baseada no filósofo americano John Dewey,

que requer um trabalho criativo do professor, sendo uma proposta de reestruturação curricular, interdisciplinar,

onde o aprendizado é centrado no aluno, enquanto o professor orienta o processo de aprendizagem (MAMEDE,

2001).

82

portfólio para a formação profissional, na medida em que permite ao estudante o

acompanhamento e a organização do cuidado à saúde das pessoas, sob sua responsabilidade, e

proporciona um processo de autoavaliação e que, para o desenvolvimento da habilidade

reflexiva com seu uso, é fundamental o suporte efetivo do professor e recomendável que o

portfólio seja introduzido logo no início do processo de formação.

Com base na análise dos estudos selecionados nessa revisão, foi possível perceber que

a concepção construtivista, em diferentes perspectivas, é o fundamento utilizado pelos

pesquisadores para o uso pedagógico do PRE, que tem a reflexão como ponto central. Assim,

espera-se que a construção do conhecimento, por meio do portfólio, possa favorecer a

ocorrência de aprendizagem significativa. Wald e Reis (2010) consideram que a escrita

reflexiva é um veículo para o desenvolvimento da capacidade reflexiva e tem um papel sobre

a construção da identidade profissional, servindo como guia para o desenvolvimento de

práticas médicas, levando à formação de um profissional consciente e competente.

De modo geral, pelos estudos analisados nesse levantamento, a proposta do uso do

portfólio na educação médica pode representar uma alternativa válida, que contribua não só

para o conhecimento científico, como para o desenvolvimento das demais habilidades

necessárias para a prática dos futuros profissionais. Porém, nenhum dos estudos selecionados

utilizou ou fez qualquer referência aos princípios da TAS como princípio norteador para o uso

pedagógico do PRE. Logo, a análise desse instrumento com base nessa concepção pedagógica

pode representar uma inovação.

Dessa forma, esse estudo propôs investigar se a prática reflexiva pode ser

desenvolvida e estimulada por meio da elaboração do PRE, uma vez que a literatura aponta a

reflexão como um elemento central no uso pedagógico desse instrumento. Além disso, ao

analisar esse instrumento pela perspectiva da TAS, esperou-se observar se a elaboração do

PRE foi capaz de facilitar e evidenciar a aprendizagem significativa do aluno.

Utilizando-se os princípios da aprendizagem significativa, aliados aos modelos

propostos por Vitale e Romance (2000), apresentados no capítulo 2 do presente trabalho,

como orientações no planejamento do ensino para facilitar a aprendizagem significativa, é

apresentada, na terceira seção do presente capítulo, uma análise do programa pedagógico

implantado no Internato Eletivo de Anestesiologia, por essa perspectiva, tendo como foco o

processo do PRE.

83

4.3 O PROCESSO DO PORTFÓLIO REFLEXIVO ELETRÔNICO PELA PERSPECTIVA

DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA (AS)

A principal proposta pedagógica do portfólio no presente trabalho é permitir o

acompanhamento e a análise do desenvolvimento do aprendizado do aluno, ao longo do curso,

de forma contínua e processual, a partir de uma desejável prática reflexiva. Por essa

característica, o portfólio pode ser visto como uma ferramenta com potencial para favorecer a

aprendizagem significativa.

Pelo exposto na primeira seção do presente capítulo, a associação das TICs nesse

processo pode oferecer grandes contribuições, dentre elas: permitir maior dinamismo, com

trocas mais rápidas de informações, favorecer maior interação entre os participantes do evento

educativo, facilitar o acesso às informações de acordo com as necessidades e estilos

individuais de aprendizagem, encorajar a exploração de informações possibilitando maior

motivação e interesse do aluno etc. Dessa forma, em tese, o formato eletrônico poderia

potencializar os efeitos pedagógicos do portfólio e facilitar o processo da aprendizagem

significativa, desde que o ensino e as atividades propostas tenham sido planejadas para essa

finalidade e que o ambiente virtual de aprendizagem ofereça os recursos adequados para tal.

Com base nos autores utilizados como principais referências no presente trabalho

(YANCEY, 1996; DEPRESBITERIS, 2001; GRANT e DORNAN, 2001; ALVES, 2002;

SCHÖN, 1983; ALVES, 2004; SILVA E SÁ-CHAVES, 2008), é possível perceber que para o

aluno elaborar seu portfólio, contendo os relatos sobre seu aprendizado, é fundamental que ele

reflita sobre esse processo e, de forma clara e organizada, explique e articule os significados

desse aprendizado, segundo seu entendimento. Dessa forma, o aluno pode comunicar ao

professor como ele selecionou e organizou o conteúdo do portfólio, como ele está articulando

o assunto estudado com os conceitos previamente aprendidos e quais são os significados que

ele está construindo nesse aprendizado. Assim, pela apropriação dos pressupostos da TAS,

pode-se inferir que a necessidade de refletir sobre seu aprendizado faz com que o aluno tenha

a oportunidade de, conscientemente, rever o que foi ensinado, encontrar em sua estrutura

cognitiva os conceitos que possam se relacionar com essas novas informações, fazer as

articulações entre seus conhecimentos prévios e as novas informações, pensar sobre os

significados desses conhecimentos anteriores e construir novos significados com base nessa

interação. Esse processo reflexivo demonstra o potencial do portfólio para que o aluno aplique

os conceitos teóricos e realize a aprendizagem integrativa (VITALE e ROMANCE, 2000).

84

Todo esse processo descrito deve estar presente para facilitar a ocorrência da AS.

Porém, apesar de, em tese, a elaboração do PRE oferecer condições, a AS só ocorrerá caso o

aluno tenha essa intencionalidade. Além disso, ele deve possuir conhecimentos prévios e

informações novas adequadas para construir os novos significados, conforme proposto por

Ausubel.

Portanto, o PRE não garante que a aprendizagem significativa ocorra, mas é possível

que ele seja um meio que facilite esse processo, se tiver sido planejado para isso e se os outros

elementos do evento educativo estiverem integrados nesse processo por essa mesma

perspectiva.

Por sua vez, o professor, ao analisar o portfólio, tem a oportunidade de: acompanhar

que tipo de relações conceituais o aluno está estabelecendo, avaliar se os significados

decorrentes desse processo são os adequados e esperados e, caso necessário, em um processo

dialógico, negociar esses significados, apontando para o aluno não só o que deve ser

modificado, mas também orientando como e por que modificar. O papel do professor como

orientador e negociador nesse processo é fundamental, por essa perspectiva (MOREIRA,

1999; LEMOS, 2011).

Ausubel e Novak (AUSUBEL, NOVAK e HANESIAN, 1978; NOVAK e GOWIN,

1998) também consideram que o planejamento de todo o ensino deve ser organizado de

acordo com a perspectiva da TAS e que a avaliação da aprendizagem significativa deve ser

realizada por meio de diversas formas capazes de evidenciar sua ocorrência.

Segundo Vitale e Romance (2000), o portfólio pode ser uma dessas formas de

avaliação da AS e sugere um processo de planejamento com um modelo de avaliação por

portfólio.

4.3.1 O Portfólio como ferramenta de avaliação da AS

A estrutura e os procedimentos desse modelo são os seguintes (VITALE e

ROMANCE, 2000, p.185)

4.3.1.1 Estrutura:

Etapa 1 – para especificar a base de conhecimento a ser avaliada utiliza-se um mapa

conceitual. Sugere que esse mapa conceitual com o conteúdo do curso seja construído

85

incluindo os conceitos centrais que se deseja enfatizar no ensino, servindo como um guia

curricular.

Etapa 2 – identificar os ambientes gerais e contextos nos quais o conteúdo será

aplicado. Sugere que os ambientes forneçam um contexto de aplicação geral para que as

tarefas do portfólio se desenvolvam e que ajudem a garantir relevância para a avaliação.

4.3.1.2 Procedimentos:

Etapa 3 – dentre os conceitos e conhecimentos do mapa conceitual da etapa 1,

selecionar os grupos ou subgrupos de conceitos que serão o foco da tarefa ou atividade de

avaliação do portfólio. Assim, essa etapa especifica o conhecimento conceitual que será

articulado à tarefa de avaliação do portfólio.

Etapa 4 – Especificar o contexto no qual a tarefa ou atividade de avaliação do portfólio

será conduzida. O ambiente fornece o contexto específico para a tarefa do portfólio e orienta

para as especificações de desempenho para o produto do portfólio. Essa etapa e a etapa 2

garantirão a relevância de instrução para avaliação.

Etapa 5 – Selecionar a forma de tarefas de avaliação do portfólio (relatórios de

pesquisa, análises de questões, artigos que demonstrem conhecimentos científicos,

documentações de apresentações elaboradas para explicar conceitos científicos para outros,

registros de reflexões, representações analíticas integrativas de conhecimentos adquiridos etc)

Nesse processo de planejamento das tarefas ou atividades de portfólio, é recomendado

que o professor tenha certeza de que não há modo do aluno completar a atividade sem aplicar

o conhecimento conceitual relevante e que, na avaliação do produto do portfólio, o foco deve

ser sobre a explicação ou interpretação da tarefa em relação ao conhecimento conceitual

relevante. Essas duas orientações possibilitam que a atividade e o produto do portfólio sejam

baseados em conhecimento, articulando conhecimentos conceituais relevantes para a tarefa e

para o produto do portfólio. Dessa forma, será fornecida fundamentação para inferência em

relação à aprendizagem significativa do aluno.

Etapa 6 – Desenvolver especificações de desempenho baseadas em conhecimento para

as tarefas e produtos dos portfólios, por meio de: descrição da atividade e tarefa do portfólio

para o aluno; definição dos requisitos que se espera encontrar no produto resultante do

portfólio; orientação sobre o processo a ser seguido pelo aluno para completar a atividade;

estabelecimento do conhecimento conceitual que é necessário para o aluno completar a tarefa

86

ou atividade. Este último elemento pode ou não ser comunicado ao aluno, dependendo se o

professor pretende interpretar o produto do portfólio, como medida de compreensão do aluno.

Etapa 7 – orientar os avaliadores do portfólio, enfatizando que a avaliação do portfólio

deve ser um julgamento clínico considerando a correta representação do conhecimento

conceitual relevante e os resultados de desempenhos especificados (etapa 6), incluindo a base

explicativa ou interpretativa pelo aluno sobre os conceitos relevantes.

A compreensão dos princípios da TAS associada às orientações dos modelos

elaborados por Vitale e Romance (2000) formam a base argumentativa que permite analisar

teoricamente o uso pedagógico do PRE por essa perspectiva construtivista. Porém, a

integração dessa relação em um evento educativo real é apresentada na presente pesquisa, por

meio da intervenção pedagógica realizada no contexto do internato eletivo de Anestesiologia,

que tem como foco o PRE.

Dessa forma, no capítulo 5 é apresentada a metodologia utilizada nesta investigação

que, segundo Minayo (1999), consiste no caminho e no instrumental utilizados para abordar

uma realidade.

87

5 METODOLOGIA

Neste capítulo é apresentada a metodologia que orientou o presente estudo, iniciando

pela caracterização do desenho metodológico utilizado, seguido da apresentação dos

instrumentos e procedimentos utilizados em cada etapa da investigação.

O projeto da presente pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do

HUCFF da UFRJ, protocolo 130/11, aprovado conforme parecer consubstanciado 738/11,

apreciado em 24/11/2012. A partir dessa aprovação, foram iniciados os procedimentos da

investigação empírica.

Os pressupostos sobre determinada realidade irão compor uma teoria sobre essa

realidade. O problema de pesquisa completará a ligação entre os pressupostos teóricos e os

dados da pesquisa, sendo que a metodologia utilizada será estruturada com base nessa teoria

(VÍCTORA, KNAUTH e HASSEN, 2000).

Segundo Leedy (1993), a natureza do problema e dos dados da pesquisa são os

elementos definidores da metodologia a ser utilizada.

Os métodos quantitativos de pesquisa são utilizados quando se deseja descrever a

tendência central de uma variável ou a frequência com que uma categoria dessa variável

ocorre em uma população maior (VÍCTORA, KNAUTH e HASSEN, 2000). Os métodos

qualitativos não são úteis para mensurar a ocorrência de fenômenos em grandes grupos, mas

são utilizados quando se pretende entender o contexto no qual algum fenômeno ocorre,

possibilitando a observação simultânea de vários elementos em um mesmo grupo. Dessa

forma, eles propiciam o conhecimento sobre um evento de forma mais aprofundada, assim

como possibilitam encontrar explicações de comportamentos (VÍCTORA, KNAUTH e

HASSEN, 2000).

A pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade

ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações,

incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, fotografias, as gravações e

os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista,

interpretativa, para mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas

em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em

termos dos significados que as pessoas a eles conferem. (DENZIN e LINCOLN

2006, p.17)

Portanto, pela natureza do problema da presente pesquisa, optou-se pela utilização de

métodos qualitativos e quantitativos. Para a investigação de questões baseadas em

interpretações de eventos, de percepções e de narrativas que pudessem conduzir a um

88

conhecimento mais profundo sobre os aspectos envolvidos na prática educacional do contexto

do internato médico, e sobre as alternativas pedagógicas propostas pelo presente estudo foram

utilizados os métodos qualitativos. Para a investigação e apresentação de resultados que

traduzissem a tendência ou a frequência da variável estudada, foram utilizados métodos

quantitativos.

Diversas estratégias e métodos podem ser utilizados em pesquisas qualitativas. Dentre

eles, o estudo de caso, a pesquisa documental, a pesquisa etnográfica, pesquisa-ação, pesquisa

participante, fenomenologia e outras (DENZIN e LINCOLN, 2006).

5.1 DESENHO METODOLÓGICO DO ESTUDO

A observação sobre o contexto educacional do internato eletivo em Anestesiologia

permitiu identificar alguns dos problemas aí envolvidos e que eram semelhantes aos

abordados em diversos estudos sobre o tema da Educação Médica. Com base nessas

informações preliminares foi elaborado e implementado um novo programa teórico-prático

para o internato em Anestesiologia, que se tornou o objeto da presente investigação,

apresentando o PRE como uma ferramenta pedagógica inovadora. Esse caminho inicial não

ocorreu de forma linear, pois alguns elementos foram considerados como possíveis limitantes

gerando na pesquisadora inquietações para o desenvolvimento da pesquisa. Primeiro, o fato

do uso pedagógico do PRE ser uma experiência recente e estar em processo de

aperfeiçoamento. Segundo, o fato de que a participação direta da pesquisadora no processo

investigado poderia comprometer a neutralidade da pesquisa, uma vez que, estava atuando,

simultaneamente, como preceptora responsável pelas análises dos portfólios e como

pesquisadora de tal processo.

O problema relativo à participação ativa das pessoas implicadas com uma pesquisa e

da interferência dos dispositivos de investigação nos processos observados só pôde

ser concebido como um problema de pesquisa com a superação das pretensões de

neutralidade e objetividade tão promulgadas pelo paradigma positivista nas ciências

(PAULON, 2005, p. 18).

Essas considerações sobre a natureza do problema e as etapas percorridas na presente

investigação apresentaram elementos que permitiram caracterizá-la como uma pesquisa-

intervenção. Esta consiste em um dos métodos de pesquisa participativa no qual o pesquisador

apresenta-se inserido na realidade investigada e o percurso da pesquisa se dá na

89

processualidade e complexidade dos acontecimentos investigados (SILVEIRA, REZENDE e

MOURA, 2010).

As pesquisas participativas surgem como um movimento frente às pesquisas

cientificistas tradicionais, trazendo pressupostos vinculados à problematização das

relações entre o investigador e o que é investigado, entre sujeito e objeto, teoria e

prática, com a perspectiva do estabelecimento de condições para captação

/elaboração da informação no cotidiano das culturas, grupos e organizações populares. Isso significa que as práticas que constituem o social e os referenciais

que lhe dão sentido vão se produzindo concomitantemente, uma vez que o

conhecimento e a ação sobre a realidade são constituídos no curso da pesquisa de

acordo com as análises e decisões coletivas, dando à comunidade participante uma

presença ativa no processo (ROCHA, 2006, p. 169).

Segundo Rocha (2006), na pesquisa participante o conhecimento é construído entre o

saber incorporado nos pressupostos do pesquisador e o fazer que produz continuamente

elementos que ajudam a organizar a ação de investigação. Ela se caracteriza pelo

questionamento de determinados parâmetros (como a verdade, a neutralidade, a objetividade e

a universalização de saberes) e pela influência das mudanças produzidas ao longo da pesquisa

sobre as transformações dos sujeitos e das práticas estabelecidas para a população participante

e/ou para os pesquisadores (ROCHA, 2006).

―A pesquisa-intervenção se caracteriza por uma intervenção psicossociológica em

nível de transformação institucional‖ (ROCHA, 2006, p. 170). Entendendo-se como

―institucional‖ não um estabelecimento ou uma estrutura organizacional e sim as práticas

sócio-historicamente produzidas, acompanhadas dos valores e das tradições, tendo como

referência as ações naturalizadas e universalizadas no cotidiano. Sendo esse cotidiano

construído pelas experiências vividas, produzindo sucessivas operações que vão se repetindo

em um processo permanente em que hábitos cristalizados ora são afirmados e ora são

desconstruídos (ROCHA, 2006).

A pesquisa-intervenção tem como referencial teórico a Análise Institucional que

surgiu com o Movimento Institucionalista na década de 60 na França e nas décadas seguintes

na América Latina.

A Análise Institucional é uma das correntes do Movimento Institucionalista, um movimento transdisciplinar que rejeita padrões e verdades préconcebidas, luta contra

toda forma de discriminação, exploração e dominação social, utiliza conceitos e

instrumentos desenvolvidos para a análise e intervenção nas instituições, visando à

autoanálise e autogestão dos coletivos envolvidos (Baremblitt, 2002; L’abbate,

2003; Pereira & Penzim, 2007) (apud SILVEIRA, REZENDE e MOURA, 2010, p.

186).

90

Rocha (2006) considera importante que, ao iniciar um trabalho de análise institucional,

o campo de análise seja construído pela organização de conhecimentos históricos, políticos e

conjunturais que estão envolvidos no cotidiano do contexto onde se busca desenvolver o

processo de investigação. O ponto de partida para a trajetória da investigação é a análise da

demanda criada pelo próprio pesquisador e das demandas gerais já existentes no local ou que

venham a surgir no decorrer da pesquisa. Uma vez estabelecido o projeto de trabalho, a

pesquisa-intervenção se inicia.

Diante das definições e caracterizações apresentadas tornou-se possível considerar o

desenho metodológico da pesquisa-intervenção como adequado à presente investigação.

De acordo com o referencial teórico-metodológico exposto, o primeiro movimento de

uma análise institucional deve ser a constituição do campo de análise. Assim, inicialmente,

buscou-se levantar as questões envolvidas com a problemática a ser investigada. Esse

levantamento conduziu a investigação para o campo da Psicologia da Educação e, por meio

dos estudos sobre o construtivismo, os princípios da Teoria da Aprendizagem Significativa

(AUSUBEL, NOVAK e HANESIAN, 1978; NOVAK e GOWIN, 1998) se constituíram na

fundamentação teórica para o delineamento da pesquisa. Paralelamente, os estudos sobre a

trajetória dos modelos de Educação Médica, desde os tempos da colonização brasileira,

permitiram a compreensão macropolítica dessa problemática, revelando as contradições

existentes entre a realidade atual desse contexto educacional e as características idealizadas

para o novo modelo de educação proposto (―paradigma da integralidade‖). Tendo como

proposta inicial de estudo, a análise do PRE alinhado aos pressupostos do novo modelo de

ensino proposto para o contexto da educação médica, foram realizados diversos estudos nesse

sentido, complementados por uma revisão de literatura sobre o tema. Dessa forma, o campo

de pesquisa foi se delineando, tendo como fundamento a TAS.

Em relação ao segundo movimento da análise institucional, o contexto do internato

eletivo em Anestesiologia do HUCFF/UFRJ se constituiu no campo de intervenção da

presente pesquisa, utilizando-se as seguintes fontes de dados, circunscritas apenas ao

segmento discente: as narrativas dos portfólios e entrevistas semi-estruturadas.

5.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

Para melhor compreensão dos instrumentos e procedimentos da presente investigação,

inicialmente, é apresentada uma análise do programa pedagógico implantado no internato

91

eletivo em Anestesiologia, pela perspectiva da AS, utilizando-se adaptações dos modelos

propostos por Vitale e Romance (2000), apresentados nos capítulos 2 e 4 do presente trabalho.

5.2.1 Análise do programa teórico-prático do internato eletivo em Anestesiologia

Durante a graduação médica, conforme Feuerwerker (2002, p. 66) salienta, ―a

multiplicação e a fragmentação de conteúdos, introduzidos sem critérios de relevância,

dificultam ainda mais a hierarquização e a integração dos conhecimentos por parte dos

estudantes‖. Essa constatação aliada a curta duração do internato eletivo em Anestesiologia

(cerca de oito a dez semanas) fez com que a elaboração de um programa adequado para esse

período se tornasse um desafio.

5.2.1.1 Objetivos do programa

Inicialmente, foi estabelecido que o objetivo geral do programa seria contribuir para

que o aluno integrasse os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo dos quatro anos da

graduação à prática médica em geral, ou seja, buscou-se definir critérios sobre que

procedimentos e conhecimentos eram mais relevantes para a formação de um médico

generalista que pudessem ser oferecidos no contexto da Anestesiologia. Portanto, a intenção

não era formar anestesiologistas, pois, para isso, aqueles que assim desejassem poderiam

optar pela Residência Médica na especialidade. Além disso, o período do internato daria a

oportunidade para que cada aluno acompanhasse a rotina diária do especialista, permitindo

que fizesse uma escolha mais consciente sobre seu futuro profissional na Medicina.

Para o estabelecimento dos objetivos específicos desse programa, foram utilizados

como base os seguintes parâmetros: a) competências e habilidades específicas para o

exercício médico presentes no art. 5 das DCN (2001), tais como, ―realizar procedimentos

clínicos e cirúrgicos indispensáveis para o atendimento ambulatorial e para o atendimento

inicial das urgências e emergências em todas as fases do ciclo biológico‖ (inciso XIV, p.2);

atuar em equipe multiprofissional (inciso XXI, p. 2); ―dominar os conhecimentos científicos

básicos da natureza biopsicosocio-ambiental subjacente à prática médica e ter raciocínio

crítico na interpretação dos dados, na identificação da natureza dos problemas da prática

médica e na sua resolução‖ (inciso VI, p. 2); b) as diretrizes para o curso de Graduação de

Medicina que constam em seu art. 12 (DCN, 2001).

Dessa forma, foram estabelecidos, pelo programa pedagógico implantado, os seguintes

objetivos específicos: permitir a prática do aluno em determinados procedimentos,

92

considerados básicos para sua futura prática profissional, independente da especialidade

médica (punção de veia periférica e instalação de hidratação, ventilação pulmonar sob

máscara, intubação orotraqueal, punção lombar durante a realização de raquianestesia);

adquirir noções teóricas e aplicações práticas sobre: avaliação pré-anestésica; avaliação de via

aérea; monitorização; anestésicos locais inalatórios e venosos; bloqueadores neuromusculares;

anestesia geral e regional; reanimação cardio-pulmonar; recuperação pós-anestésica.

Os modelos propostos por Vitale (2000) serviram de base para a análise do programa

teórico-prático proposto para o Internato Eletivo de Anestesiologia, tendo como fundamento

pedagógico a perspectiva da TAS. Assim, foi elaborado um modelo pedagógico para esse

programa, cuja adaptação está esquematizada pela figura 9.

93

Conceitos centrais

Conhecimentos Teóricos

Anatomia humana

Fisiologia Sistemas Orgânicos

Fisiopatologia

Farmacologia

Medicina Interna

Habilidades clínicas básicas

Programa do Internato

Clínicas

Cirúrgicas

Anestesiologia

Clínica Médica

e Especialidades

clínicas

I

N T

E

R

D I

S

C

I P

L

I

N A

R

I

D A

D E

Anatomia

Fisiologia

Farmacologia

Fisiopatologia

Medicina

Interna

TEMAS

-Equipamentos de

Anestesia -Vias Aéreas

-Profilaxia de

nauseas e vômitos

- Monitorização

-Anestésicos

Locais

-Anestésicos

Inalatórios -Anestésicos

venosos

-BNM

-Bloqueios Regionais

-RPA

-RCP

ENSINO e

Prática reflexiva

Aprendizagem

Significativa

Habilidades

Clínicas para cuidado

ao paciente

Domínios de Avaliação

ARTICULAÇÕES

Conhecimento Científico Habilidades Técnicas e

Clínicas

Atividades desenvolvidas pelos alunos

No Centro Cirúrgico Práticas

Aula demonstração

Aulas Teóricas Expositivas

Clube de Revista

No AVA (Constructore)

Portfólio

Narrativas e Fórum

na forma de

Especificações de Desempenho

Baseado em Conhecimento

Portfólio Eletrônico (narrativas semanais)

Fóruns

Provas objetivas (2)

Prova prática-oral

Demonstra aprendizagem significativa nas narrativas dos portfólios:

Observa eventos (articulações conceituais simples)

Faz prognósticos de eventos futuros Analisa e explica eventos (relações interconceituais)

MODELO DE ENSINO BASEADO EM CONHECIMENTO ADAPTADO AO PROGRAMA DO INTERNATO ELETIVO DE

ANESTESIOLOGIA DO HUCFF/UFRJ.

Determina

Oferece estrutura baseada em conhecimento

Figura 9 – Modelo do Programa do Internato em Anestesiologia

(Adaptado de Vitale e Romance, 2000)

94

A análise descritiva desse modelo adaptado é a seguinte:

5.2.1.2 Os Conceitos Centrais

Todos os temas teóricos do programa apresentavam relações com os conhecimentos

oriundos dos assuntos estudados ao longo do curso de graduação nas disciplinas de Anatomia,

Fisiologia dos Sistemas Orgânicos, Fisiopatologia, Farmacologia e Medicina Interna. Tais

conhecimentos foram considerados como conceitos centrais no modelo do programa,

esperando-se que estivessem presentes na estrutura cognitiva dos alunos, de forma a

possibilitar a ocorrência da AS.

Buscou-se salientar junto aos alunos, a importância da concepção de

interdisciplinaridade para a boa prática médica, especialmente na Anestesiologia.

Considerou-se, também, que as habilidades clínicas básicas, tais como anamnese e

exame físico, já eram de domínio dos alunos nessa etapa da graduação, de forma a permitir a

adequada prática médica junto ao paciente.

5.2.1.3 O Programa Teórico propriamente dito

Todos os temas articulam-se aos conceitos centrais, de forma a construir uma

integração que permita ao aluno desenvolver sua prática junto ao paciente. Esse é um ser

dinâmico, em que todas as funções orgânicas relacionam-se. A fragmentação da teoria em

temas facilita a organização do ensino, ao longo do curso básico, porém, no momento da

prática, deixa de existir, uma vez que o aluno deve ser capaz de fazer as articulações

adequadas, para desenvolver o raciocínio clínico que lhe permitirá ser um bom médico. Além

disso, esse aluno deverá entender e vivenciar a interdisciplinaridade no seu dia a dia. A

própria especialidade da Anestesiologia está intimamente relacionada à clínica médica e às

clínicas cirúrgicas, simultaneamente.

Os temas teóricos propostos pelo programa, para realização da presente pesquisa,

foram codificados por números de 1 a 12 e são apresentados no quadro 05 com as respectivas

atividades pedagógicas utilizadas em seu ensino.

95

Código

do

tema

Tema Atividade pedagógica de ensino

01 Equipamentos e Preparo

da sala para a anestesia

Aula com demonstração prática no centro cirúrgico sobre o manejo de

equipamentos importantes, sobretudo, para a segurança do paciente e da

equipe de saúde envolvida.

02 Avaliação pré-anestésica Aula expositiva sobre a importância da avaliação prévia em todo paciente

que vai se submeter a uma cirurgia e como ela deve ser realizada

03 Abordagem da via aérea Discussão de texto sobre as principais questões envolvidas na avaliação e

abordagem da via aérea do paciente, principalmente em relação à

identificação de preditores para possível dificuldade de ventilação e/ou

intubação traqueal.

04 Monitorização Aula expositiva com apresentação e indicações de uso de todos os recursos

disponíveis para a monitorização do paciente durante o ato anestésico-

cirurgico, desde os mais básicos até os mais invasivos.

05 Profilaxia de náuseas e vômitos (PNV)

Discussão de texto sobre a importância da identificação dos principais fatores de risco associados a esses desagradáveis eventos no pós

operatório, e apresentação das principais opções profiláticas e terapêuticas

disponíveis e suas indicações de uso.

06 Anestésicos Locais Aula expositiva sobre os princípios farmacológicos básicos e uso clínico

desses agentes.

07 Anestésicos Inalatórios Aula expositiva sobre os princípios farmacológicos básicos e os principais

efeitos desses fármacos sobre o organismo.

08 Anestésicos venosos Aula expositiva sobre os tipos e as principais ações farmacológicas dessas

drogas

09 Bloqueadores

neuromusculares (BNM)

Aula expositiva sobre os tipos de BNM, suas ações, a monitorização do

bloqueio e sua reversão.

10 Bloqueios regionais Aula expositiva sobre as principais técnicas, suas indicações, cuidados e

complicações mais frequentes.

11 Recuperação pós-

anestésica (RPA)

Aula expositiva sobre os principais cuidados e complicações mais

frequentes no pós operatório imediato.

12 Reanimação cardio-

pulmonar (RCP)

Aula expositiva apresentando os protocolos de conduta atualizados sobre o

assunto

Quadro 4 - Temas teóricos do programa e atividades de ensino correspondentes

Além do programa teórico, foram oferecidas aos alunos atividades práticas no centro

cirúrgico como oportunidades para vivenciarem a assistência e o cuidado ao paciente, não só

do ponto de vista anestesiológico, mas principalmente como médico generalista. É esperado

que, pela observação e/ou realização de determinados procedimentos, considerados essenciais

à prática médica, e pelo exercício do raciocínio clínico no per-operatório, o aluno desenvolva

seu aprendizado. Porém, este só se consolidará, se for construído com base em um ensino

planejado que consiga despertar no aluno a intencionalidade de aprender, por meio de uma

prática reflexiva que favoreça a aprendizagem significativa.

5.2.1.4 Domínios de Avaliação

Espera-se que a estruturação planejada para esse programa descrito ofereça uma base

de conhecimentos que permita ao aluno estabelecer as adequadas articulações entre esses

conhecimentos teóricos e as habilidades práticas e clínicas em desenvolvimento ao longo do

96

internato. Por sua vez, essas articulações estabelecidas podem oferecer as evidências de

domínios que se deseja avaliar no aluno. Dessa forma, acredita-se ser possível validar a

avaliação de uma aprendizagem significativa, sendo necessário, para isso, que o aluno

demonstre articulações entre os conceitos teóricos e os eventos observados, mas ainda não

vivenciados na prática clínica.

5.2.1.5 Atividades desenvolvidas pelos alunos

Os conceitos gerais selecionados, o programa pedagógico planejado e os domínios a

serem avaliados servem de base para o planejamento das atividades a serem aplicadas aos

alunos, de forma a atingir os objetivos estabelecidos. Dessa forma, foram planejadas diversas

atividades e tarefas para o desenvolvimento do programa, tais como: aulas teóricas

expositivas, discussões de textos, aula demonstração e práticas no centro cirúrgico. Essas

atividades servem como subsídios para a elaboração das narrativas dos alunos em seus

portfólios e para suas participações nos fóruns de discussões do ambiente virtual de

aprendizagem criado na plataforma Constructore8 (http://ltc.nutes.br/constructore) .

As figuras 10 e 11 ilustram o ambiente virtual inicial do curso e o formulário

destinado à inserção do portfólio, respectivamente.

8 A Constructore é uma ferramenta de autoria desenvolvida no Laboratório de Tecnologias Cognitivas do

NUTES-UFRJ, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento de atividades educativas utilizando recursos da Internet pelos docentes universitários, sem que precisem ter o domínio da programação computacional ou

recorrer ao auxílio de profissionais de informática. A atual versão da Constructore contempla uma página inicial

e três ambiente internos principais: o ambiente do professor, o ambiente de criação do curso e o ambiente do

curso. Seu endereço na web: http://ltc.nutes.br/constructore

97

Figura 10- Ambiente do curso Anestesiologia para o Internato na plataforma Constructore. Fonte: http://ltc.nutes.br/constructore

Figura 11- Interface do formulário destinado ao Portfólio no ambiente do curso. Fonte:

http://ltc.nutes.br/constructore

98

5.2.1.6 Especificações de desempenho baseadas em conhecimento

As atividades e tarefas planejadas para os alunos, se bem desenvolvidas, devem

permitir que eles demonstrem conhecimentos específicos que serão avaliados por meio de

provas teóricas objetivas, prova prática, participações nos fóruns e também pelos portfólios

eletrônicos.

5.2.1.7 Evidências de aprendizagem significativa

Espera-se que os portfólios elaborados pelos alunos possam demonstrar a ocorrência

de AS. Para isso, buscou-se analisar o que as narrativas informavam sobre o conhecimento

dos alunos, construído durante o desenvolvimento das atividades práticas. Buscou-se

observar, também, que elementos, contidos nas narrativas dos portfólios, podem ser

considerados evidências de AS, representadas pelas articulações entre os eventos práticos e os

conceitos teóricos.

Como forma de classificar hierarquicamente tais articulações, foram definidas as

seguintes categorias: articulações simples de conceitos teóricos para explicar os eventos

observados na prática; articulações entre teoria e prática que demonstrassem a previsão de

algum prognóstico para o evento observado; articulações entre diversas relações conceituais

teóricas para explicar eventos observados na prática.

Para fins da presente investigação, as participações dos alunos nos fóruns de discussão

e seus desempenhos nas provas objetivas não foram analisados, uma vez que o foco desta

pesquisa é o PRE.

A compreensão dos princípios da TAS associada às orientações dos modelos

elaborados por Vitale e Romance (2000) formam a base argumentativa que permite analisar

teoricamente o uso pedagógico do PRE nessa perspectiva construtivista. Porém, a integração

dessa relação em um evento educativo real é apresentada na presente pesquisa, por meio da

intervenção pedagógica realizada no contexto do internato eletivo de Anestesiologia, que tem

como foco o PRE.

5.2.2 Sujeitos da pesquisa

Todos os alunos matriculados no Internato Eletivo de Anestesiologia que participaram

da experiência de uso do portfólio eletrônico como ferramenta de reflexão foram convidados a

participar da pesquisa. Logo, os alunos do internato nos períodos de agosto de 2011 a

99

novembro de 2011 (grupo 1), e de março de 2012 a junho de 2012 (grupo 2) participaram da

pesquisa. A faixa etária dos alunos participantes variou entre 24 e 28 anos, em que 50% deles

(n=5) tinham 25 anos de idade, sendo sete do sexo masculino e três do feminino.

A seleção dos sujeitos da pesquisa se baseou no pressuposto de que, na pesquisa

qualitativa o critério para a seleção da amostra a ser estudada é sua capacidade de objetivar o

objeto empiricamente, em todas as suas dimensões, e não o critério da representatividade

numérica que possa possibilitar generalizações dos conceitos teóricos que se deseja testar. Por

isso, define-se como sujeitos da pesquisa o grupo social que seja mais relevante para refletir a

totalidade nas suas múltiplas dimensões (MINAYO, 1999).

No início de cada período, todos os internos foram acolhidos em um encontro

preparado especialmente para isso, com a presença do grupo de preceptores do Serviço de

Anestesiologia, envolvidos mais diretamente no programa. Esse grupo era constituído por

quatro médicos, incluindo a pesquisadora. Apenas um dos preceptores acumula também a

função docente na UFRJ, enquanto os outros três possuem apenas o vínculo de médicos e

haviam realizado o já citado curso de formação de preceptores. Todos do grupo trabalham na

instituição há mais de 20 anos. Nesse momento, além das apresentações pessoais, foram

esclarecidas as seguintes questões: os objetivos do internato eletivo, as atividades pedagógicas

para o desenvolvimento do programa teórico-prático, suas responsabilidades no serviço em

termos de horário, tarefas, compromissos e as formas de avaliação que seriam utilizadas,

incluindo o portfólio.

Em um segundo encontro, a proposta do portfólio eletrônico foi mais detalhadamente

apresentada, sendo enfatizados os seguintes pontos: objetivos pedagógicos para o processo de

ensino aprendizagem no contexto do internato; a autonomia do aluno na seleção do conteúdo

do portfólio, a partir do que cada um vivenciasse na prática em serviço e considerasse mais

relevante como aprendizado; a importância da reflexão e da articulação entre conhecimento

teórico adquirido e sua aplicação na prática para a elaboração do portfólio; os critérios que

seriam observados na avaliação das narrativas. Foi salientado o reconhecimento, por parte da

preceptoria, sobre a possível dificuldade que os alunos poderiam encontrar em realizar essa

tarefa, devido à falta de familiaridade com ela e devido ao tempo necessário para sua

execução. Ainda nessa ocasião, eles eram informados sobre esse estudo empírico, seus

objetivos e a importância da participação de cada um deles para essa pesquisa acadêmica.

Ao final de cada período do internato eletivo correspondente, cada aluno foi

convidado individualmente a participar da pesquisa que foi a ele esclarecida. Ao concordar

em participar, a entrevista com ele era agendada, em local e data convenientes para o aluno e

100

para pesquisadora. Antes de iniciada a entrevista, o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, era lido e assinado pelo interno, concordando em participar da pesquisa e

autorizando a utilização de suas falas nas entrevistas, dos conteúdos de seus portfólios e de

suas participações nos fóruns no estudo, com a garantia de que sua identificação não seria

revelada.

No primeiro grupo, dos nove (n=9) internos matriculados naquele período e que

haviam manifestado concordância em participar, apenas seis (n=6) efetivamente participaram,

enquanto no segundo grupo todos os quatro internos (n=4) matriculados participaram. No

total, então, a pesquisa foi realizada com dez alunos participantes (n=10) distribuídos em dois

grupos. Cabe informar que no período relativo ao primeiro grupo, houve vários desencontros

decorrentes dos problemas estruturais enfrentados pela instituição e que impossibilitaram seu

funcionamento. Como consequência, algumas entrevistas agendadas não puderam ser

realizadas e, com a descontinuidade das atividades na instituição houve grande dificuldade em

novos reagendamentos para as entrevistas. Provavelmente, essa questão pode ser considerada

como uma das causas que justifique a não participação na pesquisa de todos os alunos

matriculados naquele período.

Todos os alunos participantes da pesquisa foram codificados pela letra ―A‖, seguida

do número (n) correspondente à sequência de ―1 até 10‖.

5.2.3 Procedimentos para coleta de dados

A presente investigação foi desenvolvida exclusivamente com informações fornecidas

pelos alunos, sujeitos da pesquisa, cujos dados foram coletados dos portfólios elaborados e

das entrevistas realizadas com eles. Essa etapa da investigação ocorreu em dois momentos:

5.2.3.1 Momento 1 – leituras dos portfólios

Os formulários para inserção das narrativas semanais que compunham os portfólios

dos alunos foram identificados pela letra ―F‖, seguido de seu número representativo no

registro na ferramenta Constructore.

Todos os portfólios dos internos foram impressos de forma a facilitar as leituras e

manipulação do material. Os conteúdos dos portfólios, de todos os internos participantes,

foram analisados, individualmente.

101

5.2.3.2 Momento 2- entrevistas com os internos participantes

As entrevistas, em pesquisas qualitativas, permitem ao pesquisador tentar entender

algo do ponto de vista dos sujeitos e revelar o significado de suas experiências (KVALE,

1996).

...se forem bem realizadas, elas permitirão ao pesquisador fazer uma espécie de

mergulho em profundidade, coletando indícios dos modos como cada um daqueles

sujeitos percebe e significa sua realidade e levantando informações consistentes que lhe permitam descrever e compreender a lógica que preside as relações que se

estabelecem no interior daquele grupo, o que, em geral, é mais difícil obter com

outros instrumentos de coleta de dados (DUARTE, 2004, p.215).

Por meio da entrevista podem ser obtidos dados objetivos (estatísticas, censos,

variados registros etc) e dados subjetivos, que se referem ao nível mais profundo da realidade

dos indivíduos entrevistados, tais como suas atitudes, valores e opiniões. Portanto, esse

momento de coleta de dados não é um campo neutro, pois dois aspectos importantes precisam

ser valorizados e entendidos como pontos de conflitos e contradições (MINAYO,1999). São

eles:

Os critérios de representatividade das falas

A fala pode revelar condições estruturais, valores, normas, símbolos e,

simultaneamente, transmitir as representações de um determinado grupo sob condições

específicas do ponto de vista histórico, sócio-econômico e cultural. Por meio da comunicação

verbal, as pessoas refletem e retratam conflitos e contradições próprios de seu ambiente.

Portanto, a fala do indivíduo pode ser representativa da cultura de uma sociedade. Porém,

como cada ator social tem sua participação específica e relação diferenciada com a cultura

dominante, sua comunicação verbal também pode falar por si mesmo.

Interação social

A interação entre pesquisador e pesquisado é um aspecto essencial na abordagem

qualitativa, pois a entrevista não é simplesmente um trabalho de coleta de dados, mas um

momento em que as informações dadas pelos sujeitos podem ser profundamente afetadas pela

natureza da interação estabelecida entre ambos.

Em relação a esse aspecto, Minayo (1999) refere-se às considerações de Michelat,

sobre os seguinte pontos: a) quanto mais profundo for o nível da entrevista, mais rico será o

102

material produzido para a pesquisa; b) a afetividade e a experiência influenciam mais os

comportamentos do que a racionalidade da intelectualidade; c) quanto menos estruturada for a

entrevista, melhor será a comunicação no nível sócio-afetivo-existencial. Para o êxito da

pesquisa qualitativa é fundamental que esse nível de comunicação seja alcançado. Minayo

(1999) ressalta ainda que cada dado específico de cada entrevista é importante, porém, é do

conjunto de todas as informações, de todas as entrevistas, que o pesquisador irá compor seu

quadro de dados para análise. Outra questão levantada é sobre a importância da relevância do

tema para o pesquisado, para que ele emita sua opinião, pois, caso contrário, mesmo sendo

estimulado, o tema não será explicitado pelo entrevistado.

Segundo Duarte (2004), diante da gama de informações obtidas pela entrevista, cabe

ao pesquisador atribuir um sentido a essas informações, tendo como alguns dos referenciais os

seus pressupostos teóricos e os objetivos da pesquisa. Porém, é preciso também que o

pesquisador tenha consciência de que muitas vezes o pesquisado ―encena um personagem‖ (p.

223) e responde à entrevista de acordo com o que ele considera que o pesquisador deseja que

ele seja ou com o que ele acredita que o pesquisador gostaria de ouvir. Portanto, é importante

que essas informações sejam confrontadas com outros olhares e com a prática observada pelo

pesquisador no campo da pesquisa (DUARTE, 2004).

Em relação à sua estruturação, as entrevistas podem ser: a) estruturadas ou fechadas,

são frequentemente utilizadas em pesquisas quantitativas e experimentais, as perguntas são

padronizadas e as opções de respostas são limitadas; b) semi-estruturadas, comumente usadas

nas pesquisas qualitativas, com um roteiro de tópicos ou perguntas mais gerais; c) não-

estruturadas, também comuns em pesquisas qualitativas, em que o tema da pesquisa é

introduzido pelo entrevistador e o entrevistado discorre livremente sobre esse tema.

No presente estudo, foi utilizada entrevista semi-estruturada para investigar os

seguintes pontos: a) conhecer como ocorreu o processo de elaboração do portfólio; b)

compreender como os alunos perceberam e vivenciaram a experiência de utilização do

portfólio reflexivo eletrônico, ao longo do processo de aprendizagem durante o período do

internato eletivo; c) conhecer suas percepções sobre o uso do ambiente virtual de

aprendizagem e sobre possíveis vantagens e desvantagens dessa atividade.

Cada entrevista ocorreu em local privativo e silencioso, transcorrendo sem

interrupções e foi baseada em um roteiro (apêndice 1), que serviu apenas como orientação

para que os principais temas fossem abordados (avaliação, portfólio como instrumento de

avaliação, o processo de elaboração do portfólio e uso do ambiente virtual de aprendizagem).

103

A conversa fluiu de forma livre, buscando ouvir o entrevistado com calma e sem interrupções.

O tempo médio de entrevista foi em torno de 40 minutos.

Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas pela pesquisadora para serem

analisadas posteriormente.

As entrevistas foram codificadas utilizando o mesmo código do aluno (An).

5.2.4 Procedimento de análise dos dados

Para o tratamento dos dados coletados foi utilizada a Análise de Conteúdo que,

segundo Bardin (2009), é um conjunto de técnicas de análise de comunicação. É um método

empírico, que depende do tipo de fala que se deseja analisar e do tipo de interpretação que se

tem como objetivo.

Para Bauer (2002, p.189), ―os textos, do mesmo modo que as falas, referem-se aos

pensamentos, sentimentos, memórias, planos e discussões das pessoas, e algumas vezes nos

dizem mais do que seus autores imaginam‖.

A finalidade do método é a inferência de conhecimentos relacionados às condições de

produção do conteúdo analisado. Para inferir deve-se recorrer a indicadores que podem ser

quantitativos ou não (BARDIN, 2009). A inferência é o procedimento intermediário entre a

descrição do texto (primeira etapa) e a interpretação (última etapa) e que pressupõe a

comparação de dados (BARDIN, 2009; FRANCO, 2008).

Para organizar as análises é preciso definir as unidades de amostragem e de registro de

texto.

Para realizar a análise de conteúdo, da unidade de amostragem ou registro selecionada,

é necessário um referencial de codificação ou sistema de categorias, que deve ser criado

teoricamente e refletir o objetivo da pesquisa (BAUER, 2002). Segundo Franco (2008), essas

categorias podem ser criadas de duas formas: categorias criadas a priori que são pré-

definidas, em função da busca do investigador por uma resposta específica; categorias não

definidas a priori que emergem do discurso, após constantes análises do material.

Segundo o modelo elaborado por MsAskill em 2002 (apud RODRIGUES, 2009), é

possível se individualizar três variáveis componentes do portfólio: o conteúdo do portfólio, o

processo de elaboração do portfólio e a percepção sobre a realização do portfólio, conforme

ilustrado na figura 13.

104

Figura 12- Áreas envolvidas na elaboração do portfólio (Fonte: RODRIGUES, 2009)

MsAskill (2002) apresenta um modelo de utilização do portfólio para promover a

reflexão (percepção) e as decisões dos alunos em sua construção. O autor salienta

que essa modalidade de registro fornece informações e documentação significativa

sobre as capacidades dos estudantes, o que eles aprenderam e o que são capazes de fazer (FRISON, 2008, P. 215)

Essas variáveis foram adaptadas para a presente investigação e serviram de base para

analisar os dados coletados nos dois momentos descritos.

Dessa forma, a investigação sobre o PRE foi dividida em três etapas de acordo com a

natureza da categoria temática analisada: conteúdo dos portfólios propriamente dito; processo

de elaboração do portfólio e percepção dos alunos sobre o PRE.

5.2.4.1 Análises dos dados dos conteúdos dos portfólios:

Conforme os objetivos definidos pelo programa teórico prático implantado, era

esperado que, ao final do período do internato eletivo em Anestesiologia, o aluno conseguisse

adquirir conhecimentos tanto de natureza procedimental, quanto cognitiva. Logo, para que

fosse possível acompanhar esse processo de aprendizado, por meio do conteúdo do PRE,

foram definidas quatro categorias de dados para análise: a) referência à realização dos

procedimentos técnicos pelos alunos (procedimental); b) temas e/ou eventos do programa

selecionados como relevantes pelos alunos (cognitivo); c) recursividade; d) evidências de

aprendizagem significativa. O quadro 5 sintetiza essa etapa da investigação apresentando as

categorias utilizadas, seus respectivos indicadores, o método de coleta dos dados e o

procedimento de análise realizado.

PROCESSO

Decisões sobre o portfólio

PRODUTO

Conteúdo do portfólio

PERCEPÇÃO

Reflexão sobre os

objetivos e sobre o trabalho realizado

105

Unidade

temática

Categorias Indicadores Método

de

coleta

Procedimento de

análise

CONTEÚDO

DOS

PORTFÓLIOS

Conhecimento procedimental

(DCN, 2001; VOTTO, 1996; ARENSON-

PANDIKOW, BORDIN e MEDEIROS, 2000;

NASCIMENTO JUNIOR, HONG E CASTIGLIA,

1998; ARENSON-PANDIKOW, PLANT E

MOYES, 1995; Programa teórico/prático para o

curso Internato em Anestesiologia do HUCFF/UFRJ)

Referência à

realização de

procedimentos

técnicos

Registro

na plataforma

Constructore

Análise Temática

de Conteúdo

(BARDIN, 2009;

BAUER, 2002;

FRANCO 2008) Temas relevantes

(DCN, 2001; VOTTO, 1996; ARENSON-

PANDIKOW, BORDIN e MEDEIROS, 2000;

NASCIMENTO JUNIOR, HONG E CASTIGLIA,

1998; ARENSON-PANDIKOW, PLANT E

MOYES, 1995; Programa teórico/prático para o

curso Internato em Anestesiologia do HUCFF/UFRJ)

Referência a temas

teóricos vivenciados

na prática

Recursividade

(LEMOS, 2005, 2011; SIQUEIRA, 2009)

Frequência de

citações dos temas

estudados

Registro na

plataforma

Constructore

Análise Quantitativa

Evidências de AS

(VITALE e ROMANCE, 2000)

Articulações simples

entre teoria e prática

Registro na

plataforma

Constructore

Análise Temática

de Conteúdo

(BARDIN, 2009;

BAUER, 2002;

FRANCO 2008)

Prognóstico

Articulações de

relações conceituais

para explicar eventos

ocorridos

Quadro 5 – Categorias relacionadas ao conteúdo dos portfólios propriamente dito e seus respectivos indicadores

5.2.4.1.1 Acompanhamento do aprendizado de conhecimentos procedimentais

O desenvolvimento de habilidades na realização de determinados procedimentos

básicos, considerados importantes para a prática profissional, era um dos objet ivos do

programa. Os alunos recebiam supervisão da equipe de anestesiologistas responsável pelo

acompanhamento dos variados procedimentos cirúrgicos, agendados diariamente no centro

cirúrgico. Simultaneamente, ocorriam em média cerca de dez cirurgias, logo tornava-se difícil

que o mesmo preceptor pudesse acompanhar, de perto, o desempenho de cada aluno na

realização e/ou acompanhamento desses procedimentos. Por isso, foi considerado que o

portfólio poderia ser um instrumento útil no acompanhamento desse aprendizado técnico.

Assim, foram considerados como indicadores dessa categoria de conhecimento, os relatos dos

alunos com referências aos seguintes procedimentos práticos realizados no paciente pelo

aluno: punção de veia periférica, ventilação do paciente sob máscara facial, intubação oro-

traqueal (IOT), punção subaracnóidea lombar (para raquianestesia). A seleção desses

indicadores teve como base as habilidades consideradas por diversos autores (VOTTO, 1996;

ARENSON-PANDIKOW, BORDIN E MEDEIROS, 2000; NASCIMENTO JUNIOR,

HONG E CASTIGLIA, 1998; ARENSON-PANDIKOW, PLANT E MOYES, 1995) como

inerentes ao treinamento de um médico geral, conforme apresentado no capítulo 3, as

orientações das DCN e os objetivos estabelecidos pelo programa teórico-prático do internato

em Anestesiologia.

106

5.2.4.1.2 Temas e/ou eventos considerados relevantes pelo aluno

O aluno era autônomo para selecionar o que considerasse mais relevante, com o

objetivo de demonstrar seu aprendizado, por meio de sua narrativa. Dessa forma, esse também

foi um ponto considerado importante a ser analisado, permitindo observar como os diversos

temas abordados pelo programa teórico estavam sendo compreendidos pelo aluno. Os

indicadores usados para analisar essa categoria foram as referências nos relatos dos alunos

sobre os temas teóricos vivenciados na prática. Os temas utilizados como indicadores nessa

categoria foram selecionados pelos mesmos critérios utilizados na seleção dos indicadores

para acompanhamento do aprendizado de conhecimentos procedimentais.

5.2.4.1.3 Recursividade

De acordo com Houaiss (2007, p. 2406), recursividade é ―propriedade daquilo que se

pode repetir um número indefinido de vezes‖, e sua etimologia traz como origem dessa

palavra o adjetivo recursivo, algo que pode ser repetido, que apresenta recursividade.

Recursivo, por sua vez, tem como origem recurso, que apresenta como significado ―ato ou

efeito de recorrer‖, ou ainda ―invocação de auxílio‖, e que provém do latim recursus, ou seja,

―possibilidade de voltar, caminho para voltar, volta‖. (SIQUEIRA, 2009, p. 11)

A aprendizagem significativa é progressiva, os significados vão sendo captados e

internalizados pouco a pouco, de forma não linear. Nessa progressividade, o erro é comum e

sua superação leva à aprendizagem. Aprende-se a partir do erro. Seres humanos assim

procedem e aprendem. Nesse sentido, a recursividade é um elemento importante, pois permite

que o aluno refaça as tarefas de aprendizagem, aproveitando o erro como fator de

aprendizagem (MOREIRA, 2011b)

Na presente pesquisa, a recursividade foi investigada pela identificação da frequência

de citações, nas narrativas de cada aluno, sobre cada tema teórico estudado.

5.2.4.1.4 Evidências de aprendizagem significativa

Nessa categoria buscou-se estabelecer um controle metodológico que assegurasse a

validade das inferências feitas pela pesquisadora sobre as evidências de AS presentes nas

narrativas dos alunos, conforme defendido pela perspectiva da TAS. Por isso, tendo-se como

base as categorias de desempenho baseadas em conhecimento, propostas por Vitale e

107

Romance (2000), foram estabelecidos os seguintes indicadores para a análise do PRE como

um meio de evidenciar AS:

Articulação simples entre teoria e prática: os trechos das narrativas que foram

interpretados, pela pesquisadora, como evidências de articulações simples entre os

conceitos teóricos (que tenham sido ou não diretamente abordados ao longo do

programa) e os eventos observados na prática do interno foram consideradas

evidências de AS relacionadas ao nível de complexidade mais simples de acordo com

as categorias hierárquicas adaptadas daquelas propostas por Vitale e Romance (2000).

Prognóstico: foram consideradas como um nível aprofundado de aprendizagem

significativa, as narrativas interpretadas como demonstrações de capacidade de prever

algum prognóstico, com base na articulação adequada entre o evento observado na

prática e o conhecimento teórico apresentado.

Articulações de relações conceituais para explicar eventos ocorridos: nessa categoria

foram incluídas as informações das narrativas que foram interpretadas como

evidências de articulações adequadas, entre variados conceitos teóricos, para explicar

eventos ocorridos na prática. Nessa investigação essa categoria foi considerada como

evidências de AS de maior complexidade.

5.2.4.2 Análise dos dados relacionados ao processo de elaboração dos portfólios

Após leituras dos portfólios e das transcrições das entrevistas foram definidas três

categorias de análise quanto aos dados relacionados ao processo de elaboração do PRE:

intencionalidade para aprender significativamente; forma de organização e elaboração do

PRE, tempo destinado à elaboração do portfólio.

O quadro 6 sintetiza essa etapa da investigação, apresentando as categorias, seus

respectivos indicadores, métodos de coleta dos dados e o procedimento de análise realizado.

108

Unidade

Temática

Categorias Indicadores Método de

coleta

Procedimento de

Análise

PROCESSO DE

ELABORAÇÃO

DO

PORTFÓLIO

Intencionalidade para

aprender

significativamente

(AUSUBEL, 2000)

Tipo de narrativa (descritiva

ou analítica)

(SILVA E SÁ-CHAVES,

2008)

Registro na

plataforma

Constructore

Análise Temática

de Conteúdo

(BARDIN, 2009;

BAUER, 2002; FRANCO

2008)

Pensamento crítico/reflexivo

(DEWEY,1979; MEDINA,

2004)

Reflexão para organização

da elaboração do PRE

Referência ao emprego de

reflexão para a elaboração do

portfólio

Entrevista

Tempo destinado à

elaboração do PRE

Referência ao tempo gasto na

elaboração do PRE

Entrevista

Quadro 6 – Categorias relacionadas ao processo de elaboração do PRE e seus respectivos indicadores

5.2.4.2.1 Intencionalidade para aprender significativamente

Conforme discutido no capítulo II, pela perspectiva da TAS, proposta por Ausubel,

para que a AS ocorra, é necessário que o material de ensino seja potencialmente significativo

e que o aluno possua os conhecimentos prévios adequados que permitam que a nova

informação se transforme em aprendizado significativo, porém, nesse processo, é

fundamental que o aluno possua a intencionalidade para aprender, uma vez que sem ela esse

aprendizado poderá ser apenas mecânico, se assim o aluno desejar. Por isso, para investigar se

o PRE é um instrumento capaz de demonstrar e/ ou facilitar essa intencionalidade do aluno

utilizou-se os seguintes indicadores:

tipo de narrativas (analíticas ou descritivas)

Ao longo do internato foi solicitado a todos os alunos que elaborassem suas narrativas

para os portfólios com base em reflexões sobre suas vivências práticas, e que fizessem

articulações entre estas experiências e os conceitos teóricos envolvidos. Dessa forma,

esperava-se que o processo de elaboração de narrativas, baseado em análises reflexivas sobre

suas vivências de aprendizagem, pudesse facilitar a construção de conhecimentos pelos alunos

de forma significativa.

Conforme Alves (2002), o aluno, ao elaborar a narrativa para seu portfólio, tem a

oportunidade de refletir sobre sua aprendizagem, apoiar a organização de seu saber, aprimorar

a habilidade de observação, promover a reelaboração do processo de aquisição de

conhecimentos, permitir intervenções e mudanças imediatas. Por acreditar que a elaboração

de narrativas com base nessas reflexões pudesse representar a intencionalidade do aluno em

aprender, esse elemento foi utilizado como um dos indicadores dessa categoria.

109

Utilizando-se como referência as definições para os tipos de reflexões de Sá-Chaves

(2000), apud Silva e Sá-Chaves (2009), estabeleceu-se que as narrativas descritivas foram as

que se limitaram apenas às descrições dos fatos ou eventos observados, enquanto as narrativas

analíticas foram as que apresentaram outros elementos, além das descrições, interpretados

como reconsiderações do aluno sobre outras questões envolvidas ou não diretamente no

evento observado.

presença ou não de pensamento crítico/ reflexivo

Considerou-se que o pensamento crítico envolve avaliação de argumentos para a

defesa ou não de alguma ideia.

Pensamento Crítico: Este pensamento envolve o estudante para realizar uma

reorganização dinâmica do conhecimento aprendido no pensamento básico, dando-

lhe um significado para ser usado. Esta reorganização é feita com base na análise, na

avaliação e na conexão do conhecimento aprendido com outros conhecimentos

(MEDINA, 2004, p. 37).

Segundo John Dewey (YANCEY, 1996), o pensamento reflexivo é definido como

aquele que se constitui em considerações e reconsiderações, de forma ativa, persistente e

cuidadosa sobre determinado assunto em mente. Esse pensamento impele à interrogação.

Nesse sentido, ao analisar as narrativas dos portfólios dos alunos, pretendeu-se

identificar a presença ou não de pensamento crítico/reflexivo, buscando-se indícios de

interrogação ou de questionamento sobre o evento observado, ou sobre outras questões

daquela realidade vivenciada pelo aluno, que pudessem ser interpretados como uma reflexão

direcionada para compreender algo ou para fazer algum julgamento.

5.2.4.2.2 Reflexão na organização para elaboração do PRE

Pelas leituras dos depoimentos dos alunos, em relação à temática do processo de

elaboração do portfólio, buscou-se por referências sobre como se deu esse processo e que tipo

de reflexão o aluno fazia.

5.2.4.2.3 Tempo destinado à elaboração do PRE

110

Foram investigadas, pelos depoimentos dos alunos, as referências quanto ao tempo

que cada um destinou para a elaboração do portfólio.

5.2.4.3 Análise dos dados referentes às percepções dos alunos sobre a elaboração do PRE

Utilizando-se os dados coletados pelos depoimentos dos alunos em suas entrevistas

foram pré-definidas três categorias relacionadas às percepções dos alunos quanto: ao uso

pedagógico do PRE; às contribuições das TICs no processo; ao ambiente virtual de

aprendizagem utilizado e/ou à plataforma Constructore.

O quadro 7 sintetiza essa etapa da investigação apresentando as categorias utilizadas,

os respectivos indicadores, o método de coleta de dados e o procedimento de análise

realizado.

Unidade

Temática

Categorias Indicadores Método

de

coleta

Procedimento de

análise

PERCEPÇÕES DOS

ALUNOS SOBRE O USO DO PRE

Quanto ao aspecto

pedagógico envolvido na

elaboração do PRE

Referências nos depoimentos

dos alunos sobre suas opiniões

em relação à utilização do PRE

Entrevista

Análise Temática

de Conteúdo

(BARDIN, 2009;

BAUER, 2002;

FRANCO 2008)

Contribuições das TICs (JONASSEN, 1996)

Referências nos depoimentos

dos alunos sobre as

contribuições das TICs

Utilização do AVA Vantagens e desvantagens

observadas pelos alunos

Percepções sobre a

plataforma Constructore

Opiniões e sugestões dos alunos

Quadro 7 – Categorias de análises relacionadas às percepções dos alunos sobre a experiência de uso do PRE e

seus indicadores.

5.2.4.3.1 Percepções dos alunos sobre o uso pedagógico do PRE

Em relação ao uso do PRE no processo ensino aprendizagem, foram investigadas, por

meio das entrevistas, as percepções dos alunos sobre a experiência de uso desse instrumento

no contexto do estudo. Com base nas interpretações da pesquisadora, os resultados foram

divididos em dois grupos: aspectos positivos e os considerados limitantes pelos alunos na

utilização do PRE.

5.2.4.3.2 Percepções dos alunos sobre as contribuições das TICs

Investigou-se quais foram as contribuições das TICs no processo de elaboração do portfólio.

5.2.4.3.3 Percepções dos alunos sobre o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)

111

Foram investigadas, pelos depoimentos dos alunos, as principais vantagens e

desvantagens sobre a utilização de um AVA, no contexto do estudo.

5.2.4.3.4 Percepções dos alunos sobre a plataforma Constructore

Buscou-se conhecer as opiniões dos alunos sobre o uso dos recursos oferecidos pela

plataforma Constructore.

5.2.5 Procedimentos de análise dos resultados encontrados

Os resultados encontrados pelos métodos e procedimentos descritos permitiram a

análise individual do perfil dos portfólios de cada aluno nesse processo investigativo. Assim,

os resultados foram organizados e analisados de acordo com os objetivos estabelecidos na

presente pesquisa.

Essas análises são apresentadas no capítulo 6 e serviram de base para a discussão e

considerações finais apresentadas no capítulo 7 da presente pesquisa.

112

6 RESULTADOS E ANÁLISES

Considerando que o ponto central para a elaboração do portfólio é a reflexão, a

presente investigação se baseou no pressuposto de que a elaboração do PRE poderia estimular

a prática reflexiva e contribuir para a construção do conhecimento pelo aluno de forma

significativa. Para a investigação foram propostas as seguintes questões: A elaboração do

PRE pode facilitar a reflexão do aluno? As informações contidas no PRE podem representar o

aprendizado do aluno de forma a permitir o acompanhamento desse processo pelo professor?

O processo de AS pode ser evidenciado por meio dessa ferramenta? O PRE pode facilitar a

construção do aprendizado do aluno? Como se deu o processo de elaboração do PRE pelos

alunos? Quais as suas percepções sobre a experiência de uso do PRE? De que forma as TICs

podem ter contribuído nesse processo de aprendizagem?

Os resultados dessa investigação foram obtidos por meio da análise de conteúdo

(BARDIN, 2009) dos dados coletados dos portfólios elaborados pelos alunos e pelos

depoimentos transcritos das entrevistas realizadas com eles, de acordo com a natureza das

categorias temáticas definidas. Após relacioná-los aos objetivos da pesquisa, eles foram

organizados para serem apresentados e analisados neste capítulo, conforme as questões

norteadoras propostas para o estudo.

6.1 O PAPEL DO PRE SOBRE A PRÁTICA REFLEXIVA

Após realizada análise de conteúdo das narrativas e dos depoimentos de cada aluno, as

interpretações inferidas como relativas ao processo reflexivo foram organizadas em três

grupos: declaração nas entrevistas sobre realização de reflexão para a elaboração do PRE;

indícios de pensamentos críticos e/ou reflexivos nas narrativas; tipo de narrativa predominante

no PRE.

O quadro 8 sintetiza os resultados das investigações relacionados à prática reflexiva.

Pela análise dos depoimentos dos alunos foi possível observar que 70% (n=7) deles

(A3, A4, A5, A7, A8, A9, A10) referiram refletir sobre as ações vivenciadas na prática para

fazerem articulações com os conceitos teóricos estudados, enquanto 30% (n=3) (A1, A2, A6)

não referiram reflexão para a elaboração do PRE.

113

Alunos

A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10

Reflexão para elaborar

PRE

Não Não Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim

Pensamento crítico e/ou

reflexivo

Não Não Sim Não Sim Não Sim Sim Sim Sim

Tipo de narrativa* Desc. Desc. Anal. Desc. Anal. Desc. Anal. Anal. Desc./Anal Anal.

*Desc.-descritiva

Anal.- analítica

Quadro 8- Indícios de prática reflexiva na elaboração do PRE

O seguinte depoimento de A2, assumindo não realizar reflexão nesse processo,

contrasta com depoimento de A5 que exemplifica um processo de elaboração de portfólio

baseado em reflexão: ―Eu tinha tudo anotado, então eu abria o email,[...]aí eu copiava, colava

no Word, fazia a correção ortográfica, dava uma lida geral para fazer algumas correções [...]

Eu não fazia uma reflexão mais profunda‖. (A2)

Na verdade todo dia eu escrevia os casos do centro cirúrgico. Eu escrevia

resumidamente numa folha. Eu descrevia os casos e o que eu tinha pensado, mas de

forma resumida. Todo dia para não esquecer. E num determinado dia da semana, na quinta-feira, que foi o dia que eu determinei para fazer isso, eu sentava e

desenvolvia cada caso e ia desenvolvendo as reflexões e as bases teóricas. Enfim,

todos os dias eu fazia uma coisa resumida para eu não esquecer e num dia eu

desenvolvia cada um dos itens. Era basicamente isso o que eu fazia. (A5)

Na investigação sobre indícios de pensamentos críticos e/ou reflexivos, buscou-se

interpretar os trechos das narrativas que sugerissem interrogação ou questionamento sobre o

evento observado, ou sobre outras questões daquela realidade vivenciada pelo aluno, que

pudessem representar reflexão direcionada para compreender algo ou para fazer algum

julgamento, segundo os pressupostos de Dewey (1979) e Schön (2000).

Nas narrativas dos alunos A3, A5, A7, A8, A9 e A10 foi possível identificar indícios

de pensamento crítico/reflexivo de naturezas distintas, sendo que os pensamentos

relacionados ao conhecimento sobre o conteúdo estudado foram os mais frequentes. Não

foram encontrados indícios de pensamentos crítico/reflexivos nas narrativas dos alunos A1,

A2, A4 e A6.

O questionamento da aluna A5, em relação à indicação de técnica anestésica para a

situação prática apresentada, demonstra que, baseada em seus conhecimentos até aquele

momento, estava reconsiderando os benefícios daquela indicação feita pelo anestesiologista

responsável: ―[...] ao final do procedimento, fiquei com dúvida em relação aos benefícios de

realizar tal procedimento apenas com bloqueio peridural e sedação.‖ (A5)

114

Comparando os dois grupos de alunos, foi possível perceber que todos os do segundo

grupo (A7, A8, A9, A10) evidenciaram algum tipo de pensamento crítico/reflexivo.

Na investigação sobre o tipo de narrativa do aluno, foram utilizadas as definições de

tipos de reflexões com base em Silva e Sá-Chaves (2008) e que foram apresentadas no

capítulo 4 (p 66) e capítulo 5 (p.110).

Dessa forma, foi possível observar que, para o primeiro grupo, de modo geral, apenas

os alunos A3 e A5 apresentaram indícios de reflexões, com articulações entre os eventos

práticos e conhecimentos teóricos que permitiram caracterizar suas narrativas como analíticas.

Os demais alunos desse grupo mantiveram um padrão descritivo em todas as suas narrativas,

com pouca ou nenhuma informação que pudesse ser interpretada como aprendizado.

O aluno A1 apresentou o mesmo padrão descritivo, com poucas informações sobre

suas experiências práticas e as reflexões que lhes são inerentes, demonstrando pouco

aprendizado. O aluno A2 manteve um padrão descritivo e resumido em todas as suas

narrativas, praticamente sem informações que pudessem evidenciar aprendizados. O seguinte

relato é um exemplo de sua narrativa essencialmente descritiva:

Quinta: colecistectomia video-laparoscópica. Puncionei veia periférica. Fentanil para

indução, intubação com broncofibroscópio. Antibioticoprofilaxia com cefazolina.

Efedrina feita após hipotensão durante a ventilação com O2. Extubação 5 min após

termino da cirurgia com boa saturação de O2 e bom controle voluntário da

respiração (A2).

O aluno A3 apresentou narrativas analíticas ricas em informações, demonstrando

entender o que observava, evidenciando raciocínio clínico, organização e clareza de ideias,

conforme pode ser observado no seguinte relato:

A intubação foi difícil devido à protrusão da arcada superior da paciente... Foi

realizada na 3ª tentativa, sendo feita de forma seletiva, havendo necessidade de

reposicionamento do tubo-orotraqueal. Após cerca de 5 minutos, quando já havia

sido realizada a desinfecção, a paciente evoluiu com dificuldade de ventilação. As

curvas do ventilador mostravam ascensão lenta na inspiração, indicando aumento da

resistência nas vias aéreas (provável broncoespasmo). Não havia histórico de asma

nem de alergia por parte da paciente. Não havia sido administrada dipirona nem

antibiótico, diminuindo a possibilidade de reação alérgica. Ao passar a ventilação

para o manual, o aumento da resistência podia ser percebido. O murmúrio vesicular

estava praticamente abolido. Foi verificada a posição do tubo, não havendo nenhuma

irregularidade. Foi administrado beta-2-agonista e mantida a ventilação manual. Em

poucos minutos houve melhora significativa da ventilação, com o murmúrio apresentando-se normal, sem mesmo apresentar sibilos. Foi administrada também

hidrocortisona venosa (A3).

115

O aluno A4 manteve um padrão descritivo dos eventos práticos, assim como de alguns

de seus entendimentos sobre as aulas teóricas. Apresentou narrativas confusas em vários

momentos, com muitas críticas em relação tanto ao contexto da instituição, quanto aos

externos a ela. A presença de algumas informações e conclusões incoerentes também foi outro

fato observado, possivelmente devido a entendimentos errados sobre o que observava,

conforme pode ser exemplificado pelo seguinte trecho de uma de suas narrativas, em que

relaciona, erroneamente, o fentanil ao grupo dos benzodiazepínicos: ―...como conclusões a

partir deste dia, pude ver que a traqueostomia pode ser realizada com a utilização de um

benzodiazepínico (fentanil), um hipnótico (propofol) e um bloqueador neuromuscular

(atracúrio)‖. (A4)

A aluna A5 manteve um portfólio com padrão analítico, por meio de narrativas

reflexivas, relacionando os eventos observados aos conceitos ou ideias teóricas envolvidas, o

que pode ser exemplificado pelo seguinte relato:

O procedimento ocorreu sem intercorrências e no final não foi feita reversão do

bloqueador neuromuscular, pois o tempo de ação já havia passado e a paciente respirava bem. Porém ao chegar na RPA, a paciente iniciou queixa de dispnéia e não

conseguiu sustentar a cabeça ao ser solicitada alegando fraqueza, sendo então

realizada imediatamente a reversão do bloqueador neuromuscular com atropina e

neostigmina. Pude aprender que pode ocorrer ação residual do bloqueador

neuromuscular sendo importante ficar atento quanto à necessidade de sua reversão.

(A5).

O aluno A6 manteve um portfólio com padrão descritivo em todas as narrativas, sem

demonstrações de reflexões e de aprendizados, como pode ser demonstrado pelo seguinte

trecho: ―[...] segunda cirurgia era uma revisão cirúrgica de peritoniostomia. Menina de 19

anos com doença de Chron, muito semelhante a cirurgia anterior. Foi feito exatamente o

mesmo procedimento para induçao anestésica por sequência rápida‖. (A6)

Quanto ao segundo grupo, todos apresentaram indícios de características analíticas. As

narrativas da aluna A7 caracterizaram-se por serem ricas em informações e

predominantemente analíticas. O seguinte relato demonstra reflexão e análise sobre evento

observado:

Achei muito interessante essa cirurgia, pois pude perceber como é possível reduzir

um altíssimo valor de PA apenas reduzindo a dor do paciente e se utilizando dos

próprios ―efeitos colaterais‖ dos agentes anestésicos, sem precisar lançar mão de

agentes hipotensores propriamente ditos. (A7)

116

O aluno A8 manteve um padrão predominantemente analítico. A9 apresentou um

padrão analítico/descritivo, com certo predomínio descritivo. A aluna A10 manteve um

padrão predominantemente analítico.

O segundo grupo apresentou um resultado mais uniforme na realização dessa tarefa.

Foi possível observar uma compreensão maior sobre os objetivos do portfólio e sobre a

importância da reflexão para a realização adequada da atividade. Isso pode ser evidenciado

pelo predomínio de narrativas analíticas nos portfólios de A7 e de A10 e, também, pela

evolução na qualidade das narrativas de A8 e A9, que foram predominantemente descritivas,

no início, assumindo, progressivamente, uma natureza mais analítica.

O PRE foi uma ferramenta na qual a maioria dos alunos conseguiu documentar a

reflexão, tanto por meio de narrativas interpretadas como analíticas (60%, n=6, dos alunos -

A3, A5, A7, A8, A9, A10), como por demonstrações de pensamentos crítico/reflexivos (60%,

n=7, do total de alunos - A3, A5, A7, A8, A9, A10). O aluno A4 foi o único que referiu

realizar reflexão na elaboração do PRE, mas não conseguiu documentar tal reflexão em suas

narrativas.

Os resultados encontrados sugerem que a elaboração do PRE apresentou tendência à

facilitação da prática reflexiva, pois 60% (n=6) dos alunos (A3, A5, A7, A8, A9, A10)

referiram refletir ao elaborar o PRE e documentaram reflexão em suas narrativas.

6.2 PRE COMO FERRAMENTA DE REPRESENTAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Segundo Ausubel (1978), todo o processo educacional deve ser acompanhado, de

forma a observar se os objetivos estão sendo alcançados e se está sendo necessária alguma

intervenção ainda com o processo em curso. Nesse sentido, investigou-se o papel do PRE

como uma ferramenta para acompanhar de forma contínua o processo educacional estudado,

conforme os objetivos estabelecidos pelo programa do internato de Anestesiologia. Para isso,

foram pré-definidas as seguintes categorias de análise, de acordo com a natureza do

aprendizado (procedimental e teórico) que se desejava alcançar: referência à realização dos

procedimentos técnicos pelos alunos (procedimental); temas e/ou eventos do programa

selecionados como relevantes pelos alunos (teórico); evidências de aprendizagem significativa

(teórico).

117

6.2.1 Aprendizado de conhecimentos procedimentais

Diante das limitações para a prática de procedimentos técnicos pelos alunos, ao longo

da graduação, e das dificuldades para a avaliação de desempenho dos alunos nessas

habilidades psicomotoras (VOTTO, 1996; ARENSON-PANDIKOW, BORDIN e

MEDEIROS, 2000; NASCIMENTO JUNIOR, HONG E CASTIGLIA, 1998; ARENSON-

PANDIKOW, PLANT E MOYES, 1995), torna-se importante a busca de alternativas capazes

de acompanhar tal aprendizado.

O PRE tinha como um de seus objetivos acompanhar se esses procedimentos estavam

sendo realizados e/ou observados pelos alunos, uma vez que, dentro da dinâmica de prática no

centro cirúrgico, era impossível aos preceptores responsáveis acompanhar diariamente esse

processo de perto junto aos alunos.

Como indicadores para essa categoria de análise foram utilizados os registros nas

narrativas dos internos sobre a execução e/ou acompanhamento, pelo aluno, de tais

procedimentos. Cabe salientar que a ausência de registro nos portfólios dos alunos sobre a

realização e/ou participação na execução de determinado procedimento não significava que

ele deixou de executar ou participar do mesmo, uma vez que existia a possibilidade de que o

aluno tivesse participado, porém não tivesse relatado. Dessa forma, o resultado apresentado

no presente trabalho, sobre a frequência de realizações e/ou acompanhamentos dos

procedimentos, pode representar o mínimo praticado por cada um deles. Os relatos sobre

tentativas de realizações de procedimentos sem sucesso também não foram contabilizados

como executados pelos alunos.

A tabela 1 apresenta uma síntese dos procedimentos envolvidos na aprendizagem da

prática de anestesiologia investigados e o desempenho dos alunos em relação a cada

procedimento, de acordo com o conteúdo dos seus portfólios.

118

Tabela 1- Procedimentos e desempenho dos alunos

Venóclises periféricas: em relação à realização de venóclises periféricas, foi observado

que todos os alunos relataram a execução desse procedimento com sucesso, sendo que a

frequência (f) de relatos de venóclises entre os alunos, em ordem crescente, foi a seguinte:

uma (A7), duas (A2, A3), três (A6), quatro (A4, A8 e A9), sete (A5), dez (A10) e onze (A1).

Observou-se também que o grau de dificuldade na realização desse procedimento foi variável,

conforme descrito nessas duas situações distintas: ―pude puncionar o acesso venoso periférico

desse paciente, sem grande dificuldade‖ (A5); ―realizei a venóclise na segunda tentativa‖.

(A3)

Ventilação sob máscara facial: em relação à ventilação do paciente sob máscara facial,

70% (n=7) relataram ter executado tal procedimento, sendo A1 e A10 (quatro relatos); A8

(três relatos); A4 e A6 (dois relatos); A5 e A7 (uma relato), enquanto 30% (n=3) apenas

mencionaram a observação desse procedimento com uma frequência muito pequena (A2, A3

e A9). Em relação a esse fato, pode-se considerar que as observações sobre a realização desse

procedimento devem ter sido em número maior do que o registrado, diante da grande

quantidade de relatos sobre acompanhamentos de induções de anestesias gerais em que a

ventilação sob máscara normalmente ocorre. Ou seja, provavelmente esses três alunos

acompanharam a realização desse procedimento, porém não relataram.

119

Intubação oro-traqueal (IOT): em relação à IOT de paciente, o aluno A3 apresentou

registros apenas de observações de tal procedimento em seis ocasiões diferentes, sem relato

de sua execução por ele, enquanto que 90% dos alunos (n=9) relataram sua realização, sendo

A2, A4, A5, A6, A7 e A9 (um relato); A1 (dois relatos); A8 e A10 (quatro relatos).

Punção de dura-máter: quanto à realização de punção de dura-máter, durante a

raquianestesia, o padrão do desempenho dos alunos se modificou quando comparado aos

procedimentos anteriormente descritos. Pois, a maioria deles, 60% dos alunos (n=6), relatou

apenas o acompanhamento de tal procedimento, sendo A8 (um relato), A1, A3, A4 e A6 (dois

relatos), A9 (quatro relatos), enquanto 40% deles (n=4) registraram a oportunidade de

executá-lo, sendo A2, A7 e A10 (um relato) e A5 (dois relatos) ao longo de todo o período. A

menor frequência de realizações desse procedimento em relação aos outros, possivelmente,

ocorreu devido à maior complexidade envolvida em sua execução, o que pode ter limitado a

oportunidade dada pela equipe para que o aluno o realizasse. Os seguintes trechos

exemplificam respectivamente a observação e a realização da punção pelos alunos:

―acompanhamos um procedimento anestésico que ainda não tínhamos visto durante o

internato eletivo: a raquianestesia‖ (A8); ―[...] tive a oportunidade de realizar a raquianestesia

desse paciente sob orientação da residente e staff que me ajudaram no posicionamento da

agulha‖ (A5).

Considerando que esses relatos correspondem ao que ocorreu na realidade, algumas

condições podem ter contribuído para a o pequeno número de realizações de procedimentos

por alguns dos alunos, tais como: dificuldade de interação entre o aluno e a equipe de

anestesiologistas; competição pela execução do procedimento entre o aluno e os médicos

residentes, principalmente com os do primeiro ano de treinamento (R1); falta de interesse do

aluno nessa prática; número reduzido de cirurgias devido a frequentes problemas de ordens

estruturais na instituição que impediram o funcionamento do centro cirúrgico por diversas

vezes ao longo do internato.

Contudo, é importante observar que, mesmo diante da pequena quantidade de práticas

na execução desses procedimentos, todos esses alunos tiveram a oportunidade de adquirir as

noções básicas para tal realização, o que poderá representar uma menor dificuldade técnica no

desempenho futuro dessas habilidades em suas práticas.

Os relatos dos alunos sobre suas experiências foi muito importante, permitindo que a

preceptora acompanhasse de forma contínua a evolução do desempenho dos alunos na

realização dos procedimentos. O registro desses relatos na plataforma facilitou o

acompanhamento a distância do processo de aprendizado do aluno pelo portfólio, pois, foi

120

possível observar como cada aluno estava evoluindo e dialogar com cada um por meio dos

comentários sobre seu portfólio, inseridos pela preceptora na plataforma, conforme o seguinte

trecho do comentário feito ao aluno A8: ―Não fique chateado pelo seu primeiro insucesso na

tentativa de IOT. Com certeza, se foi o primeiro, não será o último, pois isso só acontece com

quem faz e já ocorreu com todos nós.‖.

Portanto, os resultados apresentados nessa etapa da presente investigação sugerem que

o PRE pode ser uma ferramenta adequada a esse objetivo, uma vez que, por meio do conteúdo

dos portfólios de cada aluno, foi possível acompanhar e analisar o desempenho individual dos

alunos em cada procedimento, conforme sumarizado na tabela 2.

Tabela 2- Desempenho individual dos alunos nos procedimentos, conforme conteúdo dos portfólios Procedimentos Frequência de citações nos portfólios dos alunos sobre realizações

ou apenas acompanhamentos de procedimentos

A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 Venóclise Realizou 11 02 02 04 07 03 01 04 04 10

Observou Ventilação

sob

máscara

Realizou 04 02 01 02 01 03 04 Observou 01 01 01

IOT Realizou 02 01 01 01 01 01 04 01 04 Observou 06

Punção dura-

máter

Realizou 01 02 01 01 Observou 02 02 02 02 01 04

Quantidade

de tipo de

procedimento

executado

03 03 01 03 04 03 04 03 02 04

O portfólio do aluno A1 demonstrou que ele executou venóclises (11 citações),

ventilação sobre máscara (quatro citações), IOT (duas citações) e apenas acompanhou a

punção de dura-máter (duas citações).

O portfólio do aluno A2 demonstrou que ele executou venóclises (duas citações), uma

IOT, uma punção de dura-máter e apenas acompanhou a ventilação sobre máscara (uma

citação).

O portfólio do aluno A3 demonstrou que ele executou venóclises (duas citações) e

apenas acompanhou os procedimentos de ventilação sobre máscara (uma citação), IOT (seis

citações), punção de dura-máter (duas citações).

O portfólio do aluno A4 demonstrou que ele executou venóclises (quatro citações),

ventilação sobre máscara (duas citações), IOT (uma citação) e apenas acompanhou o

procedimento de punção de dura-máter (duas citações).

121

O portfólio da aluna A5 demonstrou que ela executou venóclises (sete citações),

ventilação sobre máscara (uma citação), IOT (uma citação) e punção de dura-máter (duas

citações).

O portfólio do aluno A6 demonstrou que ele executou venóclises (três citações),

ventilação sobre máscara (duas citações), IOT (uma citação) e apenas acompanhou a punção

de dura-máter (duas citações).

O portfólio da aluna A7 demonstrou que ela executou venóclise (uma citação), IOT

(uma citação), IOT (uma citação) e punção de dura-máter (uma citação).

O portfólio do aluno A8 demonstrou que ele executou venóclises (quatro citações),

ventilação sobre máscara (três citações), IOT (quatro citações) e apenas acompanhou a

punção de dura-máter (uma citação).

O portfólio do aluno A9 demonstrou que ele executou venóclises (quatro citações),

IOT (uma citação) e apenas acompanhou a ventilação sob máscara (uma citação) e a punção

de dura-máter (quatro citações).

O portfólio da aluna A10 demonstrou que ela executou venóclises (dez citações),

ventilação sob máscara (quatro citações), IOT (quatro citações) e punção de dura-máter ( uma

citação).

Esses resultados permitiram observar que todos os alunos relataram, em seus

portfólios, a execução e/ou acompanhamento de todos os procedimentos investigados. Porém,

somente as alunas A5, A7 e A10 relataram a execução de todos os procedimentos analisados.

Apesar da variação no desempenho dos alunos em cada um dos procedimentos, foi possível

constatar que os principais aprendizados procedimentais estão representados nos portfólios

dos alunos, ou seja, os portfólios propiciaram a representação dessas experiências de

aprendizado.

6.2.2 Aprendizado Teórico

O programa teórico do internato eletivo foi composto de alguns temas que foram

apresentados aos alunos por meio de atividades como aulas expositivas, demonstrações e

discussões de textos. Esperava-se que a abordagem desses temas fosse complementada pela

prática dos internos no centro cirúrgico. Uma vez que todos os alunos foram orientados a

elaborar seus portfólios com o que considerassem mais relevante para seus aprendizados,

alguns dos temas apresentados em atividades teóricas, e que estiveram representados nos

eventos descritos por eles, foram utilizados como indicadores nessa categoria.

122

A observação dos temas que os alunos consideraram relevantes em suas narrativas foi

importante para o acompanhamento do processo ensino aprendizagem, pois permitiu perceber

que praticamente todos os temas abordados nas atividades teóricas foram complementados

por suas experiências nas práticas.

A tabela 3 representa uma síntese desses resultados, com base nos dados obtidos nos

conteúdos dos portfólios dos alunos.

Tabela 3- Temas teóricos abordados pelos alunos nos portfólios

TEMAS

Subtemas

Alunos

Frequência

Total de Alunos

(10)

Citações Total

citações

Alunos Frequência %

Equipamentos de anestesia

(tema 1)

Verificação das válvulas de O2 A3 01 01 01

05

50

Cal sodada

A3

A4

A8

A9

A10

01

01

02

02

01

07

05

Avaliação pré-operatória

(tema 2)

Alergia A1

A4

01

01

02 02

07

70

Estado físico (ASA)

A6

A7

A8

A9

A10

06

26

13

12

24

81

05

Exames pré-operatorios A4

A7

01

01

02 02

Medicações em uso A4

A7

01

01

02 02

Jejum pré-operatório A4 01 01 01

Vias Aéreas

(tema 3)

Preditores de dificuldade IOT

A1

A3

A5

A8

A10

01

01

03

05

01

11

05

05

50

Monitorização

(tema 4)

Capnografia

A3

A5

A7

A8

A9

A10

02

02

01

05

02

02

14

06

09

90

Monitorização invasiva

A1

A2

A5

A7

A8

A9

A10

03

02

01

01

02

01

03

13

07

Tromboelastograma A5 01 01 01

123

ECG A5

A6

A7

02

01

01

04 03

BIS

A3

A7

A8

A9

A10

01

01

01

04

01

08

05

Oximetro de pulso A9 01 01 01

PNV

(tema 5)

Anti-eméticos/ Fatores de risco

A3

A4

A5

A7

A8

A9

A10

02

01

02

01

06

02

07

21

07

07

70

Anestésicos locais

(tema 6)

Latência A5 03 03 01

04

40 Dose tóxica A5 01 01 01

Lidocaína A7

A10

02

01

03 02

Ropivacaína A8

A10

02

02

04 02

Bupi A10 01 01 01

Anestésicos inalatórios

(tema 7)

Efeito sobre a PIC A2 02 02 01

05

50 N2O A4

A9

01

01

02 02

Efeitos hemodinâmicos A4

A9

01

01

02 02

CAM A7

A8

A9

01

02

02

05 03

Anestésicos venosos

(tema 8)

Opióides

A1

A3

A5

A7

A8

A9

A10

02

01

03

03

01

01

01

12

07

07

70

Hipnóticos A5

A8

02

01

03 02

Quetamina A3

A10

01

01

02 02

Ação residual

A3

A5

A10

01

01

01

03 03

Liberação de histamina A3

A10

02

01

03 02

124

BNM

(tema 9)

Monitorização

A3

A5

A7

A8

A9

A10

02

01

01

01

02

03

10 06

06

60

Reversão

A5

A7

A9

A10

01

01

01

02

05 04

Tipos A9

A10

01

01

02 02

Metabolização A10 02 02 01

Bloqueios regionais

(tema 10)

Raquianestesia

A1

A3

A5

A6

A9

A10

03

03

05

01

02

01

15

06

08

80

Diferenças entre raquianestesia e

peridural

A4 01 01 01

Bloqueios periféricos A5 01 01 01

Complicações

A6

A8

A9

A10

01

01

01

01

04 04

Peridural

A1

A5

A9

A10

01

01

01

01

04 04

Efeito hipotensor A9 01 01 01

Plexo braquial

A1

A5

A10

01

01

01

03 03

Equipamentos de anestesia: em relação a esse tema os alunos apresentaram um total de

sete citações sobre o uso do filtro de cal sodada (A3, A4 e A10 com uma citação cada; A8 e

A9 com duas citações cada), cuja principal função prática é realizar a absorção do CO2

expirado pelo paciente e impedir sua reinalação. O aluno A3 fez uma citação sobre a

importância da verificação do correto funcionamento da válvula de oxigênio.

Avaliação e preparo pré-operatório: a avaliação pré-operatória dos pacientes foi um

dos assuntos do programa abordado pelos alunos, com base em suas vivências práticas no

internato, por meio de diferentes representações em suas narrativas. Sobre esse tema os

alunos abordaram quatro aspectos diferentes, tais como: Alergia ao látex (relatado pelos

alunos A1 e A4 em uma citação de cada um); Estado físico do paciente (relatado por cinco

alunos em um total de 81 citações, sendo A6 com seis citações, A7 com 26 citações, A8 com

125

13 citações, A9 com 12 citações e A10 com 24 citações); Exames pré-operatórios (relatados

por A4 e A7, com uma citação cada um); medicações em uso (A4 e A7 apresentaram uma

citação cada um sobre o aspecto de suspensão ou não das medicações que os pacientes estão

em uso antes da cirurgia); jejum pré-operatório (citado uma única vez pelo aluno A4).

Vias aéreas: Sobre esse tema, houve um total de 11 citações, por cinco alunos (A1,

A3, A10, com uma citação cada; A5 com três citações e A8 com cinco citações) relataram a

presença de preditores para possível dificuldade de IOT nos pacientes que eles

acompanharam. Como no seguinte exemplo: ―Dados da visita pré-anestésica observados antes

da cirurgia: possibilidade da intubação ser difícil devido à pequena abertura de boca, pescoço

curto e índice de Mallampati 3‖. (A8)

Monitorização: este tema foi bastante abordado pelos alunos, porém os seguintes

recursos de monitorização foram os que os alunos mais destacaram em seus relatos: oxímetro

de pulso (A9); eletrocardiograma (A5 com duas citações; A6 e A7 com uma citação cada);

capnografia (A7 com uma citação; A3, A5, A9, A10 com duas citações cada e A8 (com cinco

citações); monitorização biespectral (BIS) (A3, A7, A8 e A10 com uma citação cada e A9 em

quatro citações); tromboelastograma (A5); monitorização invasiva (A5, A7 e A9 com uma

citação cada, A2 e A8 com duas citações cada, A1 e A10 com três citações cada).

Profilaxia de náuseas e vômitos (PNV): esse deve ser um importante cuidado para

evitar a ocorrência dessa complicação no pós-operatório do paciente. Os resultados

apresentados, 21 citações no total (A4, A7 com uma citação cada, A3, A5 e A9 com duas

citações cada, A8 com seis citações e A10 com sete citações), sugerem que os alunos

conseguiram perceber a importância do tema e as indicações de uso dos diferentes tipos de

medicações, de acordo com os fatores de risco presentes em cada caso.

Anestésicos locais: esse tema foi representado pelos alunos, em diferentes aspectos,

em um total de 12 citações (A7 com duas citações, A8 com duas citações, A5 com três

citações, A10 com uma citação).

Anestésicos inalatórios: esse tema teve um total de 11 citações nos portfólios dos

alunos, sendo abordados principalmente os aspectos sobre o conceito de concentração

alveolar mínima desses agentes (A7 com uma citação, A8 e A9 com duas citações cada); o

uso e efeitos do protóxido (A4 e A9 com uma citação cada); efeitos desses anestésicos sobre a

pressão intracraniana (A2 com duas citações) e os seus efeitos hemodinâmicos em geral (A4 e

A9 com uma citação cada). Como exemplo de entendimento desse tema, tem-se o relato de

A9: ―após algum tempo de cirurgia o paciente fez hipotensão, com isso foi diminuído o

isoflurano e feito efedrina, a CAM ficou em 0.4 e o BIS em 59‖ (A9).

126

Anestésicos venosos: com um total de 17 citações, esse tema foi abordado pelos

alunos principalmente em relação aos seguintes subtemas: uso e efeitos dos opióides (A1, A3,

A8, A9 e A10, com uma citação cada; A5 e A7 com três citações cada), seu antagonismo (A1

com uma citação); uso e efeitos dos hipnóticos etomidado (A5 com uma citação) e propofol

(A5 e A8 com uma citação cada); uso e efeitos da quetamina (A3 e A10 com uma citação

cada). O seguinte relato da aluna A10 exemplifica o entendimento desse tema: ―o efeito do

remifentanil é de curta duração por causa da sua metabolização por esterases plasmáticas‖

(A10).

Bloqueadores neuromusculares (BNM): os alunos apresentaram um total de 25

citações sobre esse tema relatando principalmente os seguintes aspectos: ação residual no pós

operatório (A3, A5 e A10 com uma citação cada); liberação de histamina (A3 com duas

citações e A10 com uma citação); monitorização da função neuromuscular (A5, A7, A8 com

uma citação cada; A3, A9 com duas citações e A10 com três citações); reversão do BNM (A5,

A7, A9 com uma citação cada e A10 com duas citações); diferença entre os BNM

adespolarizantes e o despolarizante (A9 e A10 com uma citação cada); metabolização (A10

com duas citações).

[...] aprendemos a classificação e diferença de mecanismo de ação entre os agente

despolarizantes e adespolarizantes, as vantagens de cada agente (tempo de inicio de

ação, duração da ação, forma de metabolização, sendo importante levar todos esses

fatores em consideração na hora de escolher o agente mais indicado para cada

procedimento/paciente). Alem disso, aprendemos o funcionamento da monitorização

do bloqueio neuromuscular, feita principalmente pelo TOF. E por fim, a necessidade

de realizar a reversão da ação desses agentes com neostigmina (e atropina) para

evitar a recurarização (A5).

Bloqueios regionais: esse tema foi relatado pelos alunos com um total de 29 citações,

sendo citados principalmente os seguintes subtemas: raquianestesia (A6 e A10, com uma

citação cada; A9 com duas citações cada; A1 e A3 com três citações cada, e A5 com cinco

citações); peridural (A1, A5, A9 e A10 com uma citação cada), diferença entre essas duas

técnicas (A4 com uma citação), ênfase sobre o efeito da hipotensão arterial (A9 com uma

citação), complicações (A6, A8, A9, A10 com uma citação cada), bloqueios periféricos (A5

com uma citação), bloqueio de plexo braquial (A1, A5 e A10 com uma citação cada). O

seguinte relato de A5 exemplifica a abordagem sobre o tema:

[...] pude aprender a importância de saber detalhadamente a anatomia da coluna

vertebral, as diferenças de técnica/agulha/dose entre a anestesia peridural e

subaracnóide (raque), suas possíveis complicações e respectivos tratamentos. Além

disso, os fatores que influenciam na determinação do nível do bloqueio em cada uma

das técnicas (A5).

127

Foram observadas citações nos portfólios dos alunos sobre alguns temas que não

foram apresentados no conteúdo teórico do programa, mas que estavam relacionados aos tipos

de procedimentos cirúrgicos que eles presenciaram. Pelos relatos, foi possível perceber que

alguns desses temas despertaram muito interesse nos alunos, tais como: bloqueio peribulbar

para oftalmologia (A1, A4), anestesia pediátrica (A1, A3), anestesia para cirurgia cardíaca

(A1, A5), intubação endobrônquica (A3).

Conforme apresentado na tabela 3, os temas do programa foram abordados na seguinte

ordem decrescente de incidência, em relação ao total de alunos participantes da pesquisa: 90

% dos alunos (n=9) abordaram o tema monitorização; 80% (n=8) os bloqueios regionais; 70%

(n=7) a avaliação pré-operatória; 70% (n=7) a profilaxia de náuseas e vômitos; 70% (n=7) os

anestésicos venosos; 50% (n=5) os BNM; 50% (n=5) a abordagem da via aérea; 50% (n=5) os

anestésicos inalatórios; 40% (n=4) os anestésicos locais; 50% (n=5) os equipamentos de

anestesia.

Contudo, foi observado que dois temas do programa teórico não foram citados pelos

alunos em seus portfólios. Foram eles: Recuperação pós anestésica (RPA) e Reanimação

Cárdio Pulmonar. Em relação à ausência do primeiro desses temas, isso pode ser explicado,

possivelmente, pela preferência dos alunos no acompanhamento do ato anestésico-cirúrgico

propriamente dito, uma vez que o tempo reservado para essa prática era pequeno, pois eles

tinham que cumprir outras tarefas do internato em Cirurgia, logo, buscaram priorizar o que

consideraram que poderia contribuir mais para seus aprendizados. Possivelmente, nos futuros

grupos de internos, tal observação deverá ser reconsiderada e, provavelmente, serão

programadas atividades que insiram os internos na sala de recuperação pós-anestésica, como

mais um ambiente de aprendizagem prática. Em relação ao segundo, pela particularidade

desse assunto, ele só poderia ter sido experienciado pelos alunos, se eles tivessem presenciado

evento com parada cardiorrespiratória, e isso, ―felizmente‖, não ocorreu ao longo do período

em que estiveram no internato. Diante dessa realidade, torna-se necessário o planejamento de

alternativas pedagógicas que oportunizem aos alunos a prática das condutas preconizadas para

esse tipo de emergência médica, como por exemplo, as técnicas de ensino por meio de

simuladores.

É importante salientar que os conhecimentos dos alunos sobre esses dois temas não

contemplados nos portfólios foram avaliados por meio de provas objetivas durante o período

do internato.

Pelo exposto, foi possível perceber que, utilizando-se apenas os conteúdos do PRE

registrados na plataforma, conseguiu-se conhecer como os temas teóricos estavam sendo

128

vivenciados pelos alunos em suas práticas, atendendo assim às expectativas quanto ao seu uso

como instrumento para o acompanhamento desse processo, uma vez que, como já citado, a

dinâmica do trabalho no centro cirúrgico não permite que esse aprendizado do aluno possa ser

acompanhado de perto e de forma individualizada pelos preceptores responsáveis. Porém, o

uso do PRE como ferramenta pedagógica permitiu maior integração entre alunos e preceptora,

o que pode ter influenciado o aprendizado desses alunos, conforme pode ser demonstrado

pelos seguintes trechos do ―diálogo‖ entre a preceptora e o aluno A8, por meio do PRE:

―percebi que não lembro muita coisa sobre os opióides, como seus efeitos adversos

individuais e gerais, características farmacocinéticas, interações e indicações. Terei que

estudar esse tema. Teremos alguma aula sobre os opióides? Espero que sim.‖ (A8)

Comentário da preceptora:

Quero salientar que não precisa ficar esperando a aula para sanar suas dúvidas. O

grande objetivo deste portfólio é que você, ao se deparar com alguma situação prática, perceba lacunas teóricas existentes em seu aprendizado e busque ativamente

construir seu conhecimento. Não queremos que você fique passivo, esperando as

informações chegarem até você. Daqui a alguns meses você será médico e terá que

continuar aprendendo ou revendo o que já aprendeu. Você tem que continuar

estudando e aprendendo ao longo de sua vida profissional. O internato é um período

para aprender a caminhar de forma autônoma. A Educação Continuada e

Permanente deverão ser uma realidade para você. Em relação às dúvidas sobre

opióides, você pode ir buscar as informações, afinal você não teve Farmacologia na

Graduação?

Resposta de A8 em seu portfólio seguinte:

Obrigado pela resposta, professora. Não estou pensando em esperar as aulas para

tirar possíveis dúvidas. Não estou esperando um aprendizado passivo tanto que reconheci que precisava estudar o assunto, apenas perguntei da aula por perguntar

mesmo e por achar que sempre a aula nos traz um ―algo a mais‖ mesmo que seja

aspectos relativos à experiências daqueles que lecionam.

Quantos aos opióides, fui sim em busca das informações que queria. Como são

usados em todas cirurgias é importante reconhecer suas características. Pude na

prática observar o rápido efeito da morfina IV acontecendo em menos de 1 minuto.

Fui atrás das suas características farmacocinéticas e lembrei das diferenças entre as

vias oral, IM e IV; do efeito de primeira passagem no fígado: pela metabolização

hepática, é até 50% menor a concentração da droga no SNC; os principais efeitos

adversos: depressão respiratória, bradicardia, sedação, hipotensão.

Agora vou querer saber mais a fundo as diferenças dos opióides usados na indução

anestésica: quando usar o remifentanil, fentanil, ou alfentanil, por exemplo. (A8)

A análise desses resultados, obtidos pelo conteúdo dos portfólios, sugerem que o PRE

pode ser uma adequada ferramenta de acompanhamento do aprendizado teórico do aluno.

Além disso, os exemplos apresentados sugerem que a elaboração do PRE e a interação entre

129

preceptora e aluno, possivelmente, podem influenciar e estimular a reflexão deste sobre seu

aprendizado.

Os resultados apresentados na tabela 3, permitiram analisar e traçar o perfil de cada

aluno sobre o estudo dos temas teóricos e suas associações aos eventos vivenciados por eles

em suas práticas no centro cirúrgico, conforme sumarizado na tabela 4.

Tabela 4- Frequência de citações nos portfólios dos alunos sobre os temas teóricos vivenciados nas práticas

Frequências de citações sobre temas teóricos no portólio de

cada aluno

Códigos dos temas estudados A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10

1 - - 02 01 - - - 02 02 01

2 01 - - 04 - 06 26 13 12 24

3 01 - 01 - 03 - - 05 - 01

4 03 02 03 06 01 04 08 08 06

5 - - 02 01 02 - 01 06 02 07

6 - - - - 03 - 02 02 - 04

7 - 02 - 02 - - 01 02 04 -

8 02 - 02 - 05 - 03 02 01 03

9 - - 05 - 03 - 02 01 04 10

10 05 - 03 01 08 02 - 01 05 04

Total de temas associados aos eventos

práticos por aluno

05 02 07 05 07 03 07 10 08 09

A análise desses resultados possibilitou traçar o seguinte perfil individual dos alunos

quanto à quantidade de temas teóricos que cada um deles associou aos eventos práticos: os

portfólios do aluno A8 foram os que apresentaram associações com maior número de temas

(associações com dez dos 12 temas estudados), seguidos pelos portfólios dos alunos A10

(associações com nove temas), A9 (associações com oito temas), A3, A5 e A7 (associações

com sete temas), A1 e A4 (associações com cinco temas), A6 (associações com três temas) e

A2 (associações com apenas dois temas).

Dessa forma, por meio das narrativas de seus portfólios os alunos conseguiram

representar como os conteúdos do programa foram estudados e complementados por cada um

deles em suas vivências nas experiências práticas no centro cirúrgico.

A análise desses resultados evidenciou que o PRE foi uma ferramenta que possibilitou

o acompanhamento individualizado do aprendizado dos alunos no contexto do estudo,

permitindo inferir o comprometimento de cada um deles com seu próprio aprendizado.

130

6.2.3 Evidências de aprendizagem significativa

Pelo exposto, o PRE parece ser uma ferramenta que permite o acompanhamento do

aprendizado do aluno e que também pode exercer certa influência sobre esse aprendizado.

Porém, será possível identificar, pela análise do conteúdo do PRE, se esse aprendizado está

sendo significativo?

Para responder a essa questão, esta investigação buscou encontrar evidências de AS

nos conteúdos dos portfólios dos alunos. Para isso, foram utilizadas três categorias de

análises, com base nas categorias hierárquicas de aprendizagem significativa propostas por

Vitale (2000): articulação simples entre teoria e prática; prognóstico e articulações conceituais

para explicar eventos observados.

6.2.3.1 Articulação simples

A articulação simples entre eventos observados e conceitos teóricos envolvidos no

evento foi considerada como uma evidência mais básica de AS. O quadro 9 apresenta uma

síntese desses resultados.

Articulação simples entre prática e teoria

Aluno Evento (portfólio) Teoria associada pelo aluno

A3

Broncoespasmo Monitorização (curva capnografia). Possíveis causas para o evento

Adrenalectomia para feocromocitoma Anestésicos venosos (cuidados na seleção de drogas usadas devido a seus efeitos

farmacológicos)

Anestesia geral BNM (Monitorização - indicações de uso e interpretação do resultado)

Colocação de tampão no faringe do

paciente para evitar deglutição de sangue

PNV

Raquianestesia (indicação da via de

acesso)

Bloqueios regionais (associação com alterações anatômicas do idoso, como calcificações

do ligamento supra-espinhoso)

A5

Insuficiência respiratória em pós-

operatório imediato

BNM (ação residual e importância da reversão)

Broncoespasmo Monitorização (curva da capnografia e aumento resistência de vias aéreas)

Anestesia geral para cirurgia cardíaca Anestésicos venosos (indicação do Etomidato)

Via aérea (preditores de dificuldade de IOT)

Monitorização invasiva (tipos e indicações)

Anestesia para RTU de bexiga Bloqueios regionais (Raquianestesia -associação da velocidade de injeção com o nível de

bloqueio sensitivo)

Anestesia geral para cirurgia de fratura

de úmero

Anestésicos venosos (Observou a necessidade de altas doses de opióides pela não

realização de bloqueio de plexo braquial). Discutiu a melhor indicação dentre os opióides

com base na diferença da meia vida entre Fentanil e Alfentanil (Anestésicos venosos)

Bloqueio de plexo braquial Anestésicos locais (tempo de latência da ropivacaína e dose tóxica)

131

A7

Anestesia geral para traqueostomia Anestésicos venosos (efeito hipotensor do fentanil)

Anestesia para Prostatectomia radical Avaliação pré-operatória (Estado físico do paciente pela classificação da ASA)

Anestesia geral para fasciotomia Anestésico local (lidocaína por via endovenosa)

Anestesia para cirurgia cardíaca) Avaliação pré-operatória (Medicação pré-anestésica -indicações)

Suspensão de medicações (discute necessidade ou não da suspensão do AAS)

Anestesia geral para gastrectomia Anestésicos inalatórios (efeitos hipotensores)

Avaliação pré-operatória (Exames pré-operatórios)

A8

Anestesia geral para laminectomia Monitorização (capnografia)

Equipamentos de anestesia (Efeito da cal sodada sobre a diminição do CO2 expirado)

Anestesia geral para prostatectomia

radical

Via aérea (Identificou preditores para dificuldade de ventilação sob máscara)

Anestesia geral para cirurgia de

Aneurisma de Aorta

Monitorização invasiva (PAM permitindo acompanhar episódios de hipotensão e seu

tratamento)

Anestesia geral para colecistectomia por

videolaparoscopia

Monitorização (capnografia – acompanhamento de aumento do CO2 expirado pós

pneumoperitônio; uso do BIS no acompanhamento do despertar do paciente)

Anestesia geral para colectomia Via aérea (Preditores para dificuldade de IOT)

PNV (fatores de risco)

Anestesia geral para colecistectomia por

videolaparoscopia

PNV (fatores de risco e medicações indicadas)

BNM (ação residual e necessidade de reversão)

Anestesia geral para cirurgia

endoscópica nasal

Via aérea (Preditores de IOT difícil)

A9

Anestesia geral para laminectomia Monitorização (capnografia mostrando retenção de CO2 expirado e necessidade da troca

da cal sodada)

Anestesia geral para cirurgia ressecção

tumor uterino

BNM (monitorização e reversão)

A10

Anestesia geral para laminectomia PNV

Anestesia geral para rinoplastia BNM (escolha da droga em paciente asmático)

Anestesia geral para retirada de nódulo

mamário

BNM (indicação do uso e ação da succinilcolina)

Anestesia geral para colecistectomia BNM (efeito residual e reversão)

Quadro 9 – Eventos e principais articulações teóricas simples estabelecidas pelos alunos

O aluno A3 articulou o evento de broncoespasmo observado durante a anestesia de um

paciente às alterações na monitorização (curva da capnografia) que levaram a suspeitar desse

diagnóstico e discutiu as possíveis causas envolvidas nessa complicação. Ele apresentou as

razões farmacológicas para excluir o uso de determinadas drogas (morfina, succinilcolina,

pelo risco de liberação de histamina e catecolaminas e da clonidina pelo risco de hipotensão

importante após retirada de tumor) durante anestesia para adrenalectomia bilateral em

paciente com feocromocitoma. Ele detalhou as indicações e como devem ser feitas as

interpretações do uso da monitorização do bloqueio neuromuscular. Com base na observação

de colocação de tampão em faringe do paciente, em cirurgia nasal, para diminuir o risco de

deglutição de sangue, ele articulou com a necessidade de profilaxia de náusea e vômitos

132

discutida em atividade teórica. Ele também articulou a escolha da via de acesso para a

raquianestesia (paramediana) às alterações anatômicas e fisiológicas em pacientes idosos,

como a calcificação do ligamento supra-espinhoso.

Acompanhei um caso interessante de adrenalectomia bilateral devido a um

diagnóstico de feocromocitoma em um paciente de 25 anos. Ele havia feito preparo

com alfa-bloqueadores, seguido de beta-bloqueadores previamente à cirurgia. Em

relação à escolha dos medicamentos pude perceber como a escolha de quais agentes

usar pode ser complicada nestas situações. Foi excluída a possibilidade do uso de

morfina devido a liberação de histamina, que promoveria liberação de

catecolaminas. O uso de succinilcolina (despolarizante) deve ser evitado (também

pela liberação de histamina), dando preferência aos não-despolarizantes como o

pancurônio. A clonidina também não foi usada pelo risco de hipotensão importante

após a remoção do tumor. (A3)

A aluna A5 observou o caso de insuficiência ventilatória no pós-operatório em

paciente submetida à mamoplastia, em que foi utilizado atracúrio como BNM e articulou ao

efeito residual do bloqueio sendo necessária sua reversão. Observou evento diagnosticado

como broncoespasmo com base em alterações na curva de capnografia (―elevação lenta e

queda rápida‖) e na alta resistência de via aérea à ventilação. Com base na anestesia geral para

cirurgia cardíaca, ela abordou os temas: preditores para possível dificuldade de IOT

apresentados pelo paciente (―micrognata e pescoço curto‖); indicação de uso do hipnótico

etomidato em pacientes cardiopatas e os tipos e indicações de monitorização invasiva.

Salientou a influência da velocidade de injeção do anestésico local hiperbárico em

raquianestesia sobre o nível de bloqueio sensitivo a ser atingido. Observou o caso de anestesia

geral para cirurgia de fratura de úmero, percebeu a necessidade de altas doses de anestésicos e

discutiu a indicação da escolha do tipo de opióde utilizado, com base no conceito

farmacológico de meia vida da droga. Observou o bloqueio de plexo braquial utilizando o

anestésico local ropivacaína e relacionou a demora da instalação do bloqueio à latência da

droga, levantando também a importância do cálculo da dose tóxica para a segurança da

técnica. O seguinte relato exemplifica uma de suas articulações: ―pude fazer a injeção de

12mg de bupivacaína no espaço subdural, (proporcionando bloqueio anestésico no nível de

T10), o que me permitiu aprender sobre a velocidade certa da injeção e a influência desse

fator na determinação do nível anestésico‖. (A5)

A aluna A7 observou o efeito de hipotensão arterial e relacionou ao uso do opióide

fentanil e discutiu a classificação de estado físico segundo a classificação da ASA. Ao

observar o uso de anestésico local endovenoso em indução anestésica, ela fez uma pesquisa

133

sobre essa indicação e descreveu seu aprendizado com base no observado. Relatou o

acompanhamento de anestesia para cirurgia cardíaca, destacando a importância do uso da pré-

medicação anestésica e suas indicações e discutiu a necessidade de suspender ou não o uso de

AAS (ácido acetil salicílico) antes da cirurgia, com base no aprendizado de aula. Ela registrou

suas observações, durante anestesia geral para gastrectomia, sobre os efeitos hipotensores dos

anestésicos inalatórios e sobre a necessidade de exames pré-operatórios que permitam avaliar

as condições clínicas do paciente para uma cirurgia de grande porte, de acordo com a aula

sobre o tema.

A indução foi feita com propofol, fentanil e lidocaína. O uso do anestésico local por

via endovenosa decorre da sua capacidade de minimizar os efeitos de taquicardia e

hipertensão arterial (essas atenuações podem trazer especial benefício a pacientes

com doença isquêmica coronariana), além disso ela reduz a reatividade brônquica

em pacientes asmáticos, reduz a necessidade do uso de anestésicos no

intraoperatório, reduz a resposta inflamatória sistêmica ao ato cirúrgico, favorece a

alta hospitalar precoce e aumenta o tempo de ação de bloqueadores neuromusculares

(li essas informações no artigo ―Efeitos da utilização de 2 mg/ kg de lidocaína

endovenosa na latência de duas diferentes doses de rocurônio e na resposta

hemodinâmico à intubação traqueal‖. (A7)

O aluno A8 observou a importância da capnografia no diagnóstico de retenção de CO2

e do uso da cal sodada na diminuição da fração expirada de CO2. Em outro paciente ele

identificou preditores para dificuldade de ventilação sobre máscara. Relatou o

acompanhamento das alterações hemodinâmicas por meio da monitorização invasiva da

pressão arterial média (PAM) e seu tratamento durante cirurgia para ressecção de aneurisma

de aorta. Observou a retenção de CO2 pelo capnógrafo após pneumoperitônio para cirurgia de

colecistectomia por videolaparoscopia e nessa mesma anestesia acompanhou os valores da

monitorização pelo BIS, durante o despertar do paciente. Identificou os preditores para

dificuldade de IOT. Relatou os fatores de risco que determinam a seleção de drogas para

profilaxia de náuseas e vômitos; a ação residual de BNM e a necessidade de reversão.

Para profilaxia de náuseas e vômitos foi feito dexametasona e bromoprida no início

da cirurgia e ondansetron apenas no final. O uso de várias medicações foi necessário

devido aos muitos fatores de risco apresentados pela paciente como: cirurgia

abdominal, sexo feminino, não fumante. Alias a escolha de não usar o protóxido

também se deu pelo fato dele contribuir para distenção abdominal e aumentar

náuseas em pós operatório. (A8)

O aluno A9 relatou a necessidade e troca da cal sodada baseado na observação do

capnógrafo indicando retenção de CO2. Salientou a necessidade de reversão do BNM com

base na monitorização do bloqueio pelo TOF.

134

Após esse evento ainda notou-se uma fração expirada elevada de CO2 próximo a

50mmHg, portanto suspeitou-se que a cal sodada estava ―velha‖ e então foi realizada

troca e realmente os valores da fração expirada reduziram consideravelmente. (A9)

A aluna A10 relatou os fatores de risco para indicar o tipo de profilaxia para náuseas e

vômitos e discutiu vários aspectos sobre BNM, tais como, bloqueador mais indicado em

pacientes asmáticos, a indicação de uso e a ação da succinilcolina e o efeito residual, assim

como a necessidade de reversão. Como exemplo de um desses relatos, tem-se: ―o rocurônio

foi utilizado porque a paciente era asmática e o atracúrio libera histamina podendo causar

broncoespasmo‖. (A10)

Esses resultados permitiram observar que 60% dos alunos (n=6), A3, A5, A7, A8, A9

e A10, conseguiram demonstrar, pelos conteúdos de seus portfólios, evidências de

articulações simples entre conceitos teóricos e os eventos vivenciados por eles na prática, o

que nessa investigação foi considerado um nível mais básico de evidências de AS.

6.2.3.2 Prognóstico

Foram incluídas nessa categoria as informações presentes nos conteúdos das narrativas

dos alunos interpretadas como demonstrações de capacidade de prever algum prognóstico,

com base na articulação adequada entre o evento observado na prática e o conhecimento

teórico prévio do aluno. Nesse sentido, esse tipo de articulação foi considerada uma evidência

com um grau maior de complexidade que a simples articulação entre prática e teoria analisada

anteriormente.

Nas análises dos portfólios dos alunos foi possível encontrar algumas informações que

puderam ser interpretadas como evidências de AS dessa categoria. Cabe salientar que essas

narrativas que foram identificadas como possíveis articulações dessa categoria, apesar de

estarem relacionados a conceitos de Farmacologia, Anatomia, Fisiologia ou Fisiopatologia,

provavelmente estavam associadas às informações recebidas ou relembradas recentemente

durante o internato (memória recente). Porém, como estavam organizadas em articulações

bem elaboradas, foram consideradas como evidências de AS.

As evidências dessa categoria de AS são apresentadas no quadro 10.

135

Quadro 10 - Evidências de AS sugerindo prognóstico para o evento descrito

A aluna A7 relatou o caso de um paciente cardiopata que iria ser submetido à

revascularização do miocárdio e apresentou taquicardia. Seu comentário sobre esse episódio

foi interpretado como um indício de previsão de prognóstico relacionado à articulação desse

evento com seus prováveis conhecimentos prévios de fisiopatologia cardiovascular:

[...] o paciente apresentou taquicardia, quando então se lançou mão do esmolol (beta

bloqueador eficaz no tratamento e prevenção da taquicardia durante eventos

cirúrgicos). Lembrando, é claro, que um paciente coronariopata deve ter frequência

bem controlada, já que a mesma aumentaria o consumo de oxigênio, o que pode ser

bastante comprometedor para a fibra miocárdica. (A7)

A aluna A5 demonstrou entendimento sobre as alterações anatômicas que podem

representar dificuldade para a realização de IOT e o que deve ser feito para minimizar esse

risco: ―a paciente era obesa e apresentava via aérea com preditivos de intubação difícil

(pequena abertura de boca e pescoço curto), sendo inicialmente fundamental colocá-la na

posição correta‖. (A5)

A aluna A10 demonstrou entendimento sobre o que pode ocorrer em caso de

interrupção súbita da infusão de remifentanil, devido à sua rápida metabolização.

O remifentanil, por ser metabolizado por esterases plasmáticas tem o seu efeito

cessado rapidamente após a suspensão da infusão, caso o paciente apresente queda

pressórica significativa o efeito desse opióide é rapidamente interrompido com o

término da infusão. No entanto tem o risco de causar hiperalgesia de rebote, dessa

forma, para evitar esse efeito colateral foi utilizada cetamina que possui efeito

sedativo e analgésico (A10)

136

Esses resultados permitiram observar que apenas 30% dos alunos (n=3), A5, A7 e

A10, conseguiram evidenciar em seus portfólios um nível mais profundo de AS, conforme os

critérios estabelecidos nessa investigação.

6.2.3.3 Articulação conceitual para explicar evento

Essa representa a terceira categoria na ordem hierárquica de complexidade de

evidências de AS estabelecida nessa investigação, pois a utilização de conhecimento para

explicar eventos é um bom indicador de um processo de AS. O quadro 11 representa uma

síntese desses resultados.

Quadro 11- Evidências de articulações teóricas para explicar eventos observados pelos alunos

Nas análises dos portfólios dos alunos foram identificadas algumas evidências desse

tipo de articulação apenas nos portfólios das alunas A7, A10 e do aluno A8, conforme os

seguintes exemplos:

Evento 1: ―observou-se um agudamento do episódio de hipotensão (51X26).... Foi

realizada infusão de efedrina e rebaixamento da cabeceira e nova infusão de efedrina, a

pressão chegou a 89X49 e assim se manteve estável até o fim do procedimento‖. (A7)

Explicações para as condutas realizadas (posição de céfalo-declive e uso de efedrina,

respectivamente) como tratamento de episódio de hipotensão arterial descrito no evento:

Essa manobra consiste em rebaixar a cabeceira do paciente, em decúbito dorsal, até

atingir 40º em relação ao solo. O objetivo nesse caso foi para aumentar a pressão de

perfusão cerebral com auxílio da gravidade, já que o paciente havia apresentado uma

137

queda brusca da pressão arterial, reduzindo, assim, a chance de hipóxia cerebral.

(A7)

A efedrina é uma amina simpaticomimética, com ação em receptores alfa e beta

adrenérgicos e estimula, ainda a liberação de estoques de epinefrina para os nervos.

Isso gera efeito inotrópico positivo, cronotrópico positivo, causa vasoconstricção

periférica. Esses mecanismos causam o aumento do débito cardíaco e da pressão

arterial. Dessa forma, a efedrina é usada em momentos de hipotensão no tempo cirúrgico para elevar a pressão arterial, prevenindo danos que a hipóxia pudesse vir a

causar. (A7)

Evento 2: ―Após o término da cirurgia, foi realizada a descurarização com atropina e

neostigmina‖. (A7)

Explicação para o uso de neostigmina e atropina na reversão do bloqueio

neuromuscular na recuperação da anestesia geral:

Durante o processo de indução anestésica é optado por realizar relaxamento

muscular importante. Com esse objetivo é procedida a curarização que se utiliza de

relaxantes muscular potentes como pancurônio, vecurônio. Ao obter o relaxamento

desejado, sabe-se que todos os músculos, inclusive o diafragma irão perder o seu

poder de contração. Dessa forma, nesse momento o paciente não consegue ventilar

espontaneamente e então, é realizada a intubação. Ao fim da cirurgia, é necessário

realizar o processo inverso, de descurarização, para evitar que o paciente

tardiamente volte a parar de ventilar por ação remanescente da droga na placa

motora. Para tal fim são utilizados: neostigmina (aumenta o tempo de degradação da

acetilcolina, por inibir reversivelmente a acetilcolinesterase, dessa forma gera efeito

parassimpático pelo aumento da quantidade de acetilcolina na placa motora, estimula os receptores muscarínicos e nicotínicos, aumentando elevando o tônus

muscular e a possibilidade de contração) e a atropina (é um antagonista muscarínico,

revertendo os efeitos parassimpáticos nas terminações nervosas). Em conjunto os

dois deixam o processo de descurarização mais seguro e harmônico. (A7)

O aluno A8 apresentou também evidências de articulação conceitual desse tipo ao

explicar as razões farmacológicas para os efeitos do anestésico local ropivacaína:

Ainda em relação à ropivacaína, observei que sua ação é mais longa devido à sua

alta ligação protéica. Além disso, como seu PKa é relativamente próximo ao pH normal do sangue, seu início de ação demorou não muito tempo: em mais ou menos

10 minutos já observávamos as alterações hemodinâmicas.(A8)

A aluna A10 explicou porque a temperatura no filtro de cal sodada é um sinal de que a

reação não está ocorrendo levando ao aumento de CO2 expirado:

No início da cirurgia foi percebido que o CO2 expirado estava alto (55) e ao

examinar a cal sodada do aparelho de anestesia verificou-se que esta estava fria,

sendo que a absorção do dióxido de carbono é uma reação química exotérmica. A

cal sodada é um absorvedor de CO2 no sistema respiratório do aparelho de anestesia

permitindo a utilização de baixo fluxo de gases frescos para reduzir o consumo de anestésico inalatório, manter a temperatura corporal do paciente, conservar a

umidade das vias aéreas e evitar poluição na sala de cirurgia. Além disso, são

138

utilizadas pequenas quantidades de substâncias indicadoras que mudam de cor (ex:

violeta) quando o pH diminui. Depois de trocada a cal sodada o valor de CO2

expirado estava na normalidade (35). (A10)

Esses resultados permitiram observar que 30% dos alunos (n=3), A7, A8 e A10,

conseguiram evidenciar em seus relatos dos portfólios o nível mais profundo de AS utilizado

como referência nessa investigação.

Pelos resultados gerais em relação às evidências de AS, foi possível observar que 60%

(n=6) dos alunos investigados apresentaram em seus portfólios tais evidências, e que estas

ocorreram, principalmente, por articulações mais simples entre os eventos práticos e os

conceitos teóricos. Em relação às categorias hierárquicas de evidências mais complexas de

AS, houve uma frequência muito menor, quando comparada à categoria anterior, o que pode

ser observado pelos dados apresentados na tabela 5.

Tabela 5 - Frequência de relatos de evidências de AS correspondentes a cada categoria hierárquica

A análise desses resultados, utilizando os dados coletados apenas dos conteúdos dos

portfólios elaborados pelos alunos, demonstrou que foi possível evidenciar a ocorrência de AS

pelas narrativas dos alunos e permitiu observar que as alunas A7 e A10 apresentaram em seus

portfólios as três categorias hierárquicas de evidências de AS.

Entretanto, é preciso salientar que, apesar de acreditar que o portfólio possa ter

facilitado esse processo, apenas a análise do conteúdo do portfólio evidenciando AS, não é

suficiente para afirmar se houve influência direta do portfólio sobre o processo de construção

de AS pelo aluno. Para estabelecer tal relação, é necessária a análise de outros elementos

envolvidos nesse processo como, por exemplo, a presença da intencionalidade do aluno em

aprender significativamente.

139

6.3 PRE COMO FERRAMENTA DE FACILITAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Segundo Lemos (2011), para facilitar o processo de construção do conhecimento pelo

aluno, um elemento que deve estar presente durante todo o processo é a recursividade da

aprendizagem. Por isso, esse aspecto também foi investigado por meio da análise das

narrativas dos portfólios de cada aluno.

A investigação sobre a possível influência do processo de elaboração do portfólio na

qualidade das narrativas e no aprendizado dos alunos utilizou como base os seguintes

pressupostos: o princípio da importância da reflexão sobre a qualidade do processo de

aprendizagem do aluno, defendido por estudiosos como Dewey (1953) e Schön (2000); os

princípios da TAS, pela perspectiva de Ausubel(1978) e Novak (1998); e os diversos estudos

enfatizando o papel central da reflexão para a elaboração do portfólio (GRANT e DORNAN,

2001, ALVES, 2002, ALVES,2004, MAMEDE, 2001, YANCEY, 1996, DEPRESBITERIS,

2001, SILVA e SÁ-CHAVES, 2009).

Conforme já discutido no capítulo 2, pela perspectiva da TAS, proposta por Ausubel

(1978), para que a aprendizagem significativa ocorra, é necessário que o material de ensino

seja potencialmente significativo e que o aluno possua os conhecimentos prévios adequados

que permitam que a nova informação se transforme em aprendizado significativo. Porém,

nesse processo, é fundamental que o aluno possua intencionalidade para aprender

significativamente, uma vez que sem esta, esse aprendizado poderá ser apenas mecânico, se

assim o aluno desejar.

Com base nessas considerações, estabeleceu-se, como indicadores para investigar a

possível facilitação da aprendizagem pelo PRE, a recursividade e a intencionalidade em

aprender.

6.3.1 Recursividade

O planejamento do programa teórico-prático estudado possibilitou que o processo

recursivo pudesse ser vivenciado pelos alunos em diferentes situações das práticas diárias no

centro cirúrgico. Para investigar esse processo utilizou-se, como indicador, a frequência de

citações repetidas no portfólio de cada aluno sobre o mesmo tema estudado, com base nos

resultados apresentados na tabela 4 (p.130).

Esses resultados, obtidos pela análise dos conteúdos dos portfólios dos alunos,

permitiram observar quais os temas em que cada aluno demonstrou utilizar o processo de

recursividade.

140

Para fins dessa investigação foram considerados como processos recursivos a

frequência de citações maior que uma (f > 01), sobre cada um dos temas, sendo que as

maiores frequências representaram processos de maior recursividade. Para caracterização

desse processo de recursividade foram estabelecidos os seguintes critérios, pela pesquisadora:

baixa recursividade (de duas a cinco citações por tema); média recursividade (de seis a dez

citações por tema); alta recursividade (acima de dez citações por tema).

De acordo com os resultados apresentados foi possível perceber que os portfólios de

todos os alunos demonstraram algum grau de processo recursivo. A utilização dos critérios

descritos permitiu identificar nos portfólios dos alunos variados processos recursivos e traçar

o seguinte perfil individual dos alunos quanto a esse processo.

O portfólio do aluno A1 demonstrou um processo de baixa recursividade em relação

aos temas bloqueios regionais, monitorização e anestésicos venosos.

O portfólio do aluno A2 demonstrou processo de baixa recursividade em relação aos

temas monitorização e anestésicos locais.

O portfólio do aluno A3 demonstrou processo de baixa recursividade em relação

BNM, monitorização, bloqueios regionais, equipamentos em anestesia, PNV e anestésicos

venosos.

O portfólio do aluno A4 demonstrou processo de baixa recursividade em relação aos

temas monitorização e anestésicos inalatórios.

O portfólio do aluno A5 demonstrou processo de média recursividade em relação aos

temas bloqueios regionais e monitorização; e de baixa recursividade em relação aos temas

anestésicos venosos, via aérea, anestésicos locais, BNM e profilaxia de náuseas e vômitos.

O portfólio do aluno A6 demonstrou processo de média recursividade em relação ao

tema avaliação pré-operatória e de baixa recursividade quanto ao tema bloqueios regionais.

O portfólio do aluno A7 demonstrou processo de alta recursividade em relação ao

tema avaliação pré-operatória e de baixa recursividade em relação aos temas monitorização,

anestésicos venosos, anestésicos locais e BNM.

O portfólio do aluno A8 demonstrou processo de alta recursividade em relação ao

tema avaliação pré-operatória; média recursividade em relação aos temas monitorização,

PNV; e de baixa recursividade em relação aos temas via aérea, equipamentos de anestesia,

anestésicos locais, anestésicos inalatórios e anestésicos venosos.

O portfólio do aluno A9 demonstrou processo de alta recursividade em relação ao

tema avaliação pré-operatória; de média recursividade em relação ao tema monitorização e de

141

baixa recursividade em relação aos temas anestésicos inalatórios, BNM, bloqueios regionais,

equipamentos de anestesia e PNV.

O portfólio da aluna A10 demonstrou processo de alta recursividade em relação ao

tema avaliação pré-operatória; média recursividade em relação aos temas BNM, PNV,

monitorização e de baixa recursividade em relação aos temas anestésicos locais, bloqueios

regionais, anestésicos venosos.

Esses resultados permitiram observar que os portfólios dos alunos evidenciaram a

presença do processo recursivo dos temas estudados, o que pode ter facilitado o processo de

aprendizagem significativa dos alunos. Alguns trechos de relatos de A5 sobre o

acompanhamento de raquianestesia em diferentes momentos exemplificam esse processo

recursivo e a construção ampliada de conhecimentos sobre o tema pela aluna:

[...] porém, pude fazer a injeção de 12mg de bupivacaína no espaço subdural,

(proporcionando bloqueio anestésico no nível de T10), o que me permitiu aprender

sobre a velocidade certa da injeção e a influência desse fator na determinação do

nível anestésico. (A5)

Nesse trecho de sua narrativa, A5 relata o acompanhamento de raquianestesia

observando a influência da velocidade de injeção do anestésico na determinação do nível do

bloqueio anestésico.

Em seguida, tive a oportunidade de realizar a raqueanestesia desse paciente sob

orientação da residente e staff que me ajudaram no posicionamento da agulha,

inicialmente fizemos um botão anestésico com lidocaína e em seguida após punção

por via paramediana injetamos 15mg de bupivacaína no espaço subdural que

proporcionou um bloqueio no nível de T10. Foi muito interessante conseguir

perceber a diferença de densidade dos planos percorridos pela agulha durante a

punção e a consistência diferente durante a perfuração da dura-mater. (A5)

Nesse trecho ela relata outro momento em que realizou a raquianestesia percebendo a

consistência da dura-máter ao perfurá-la. Em um outro relato ela aborda a diferença no tempo

de ação entre dois anestésicos utilizados em raquianestesia: ―...foi interessante, pois aprendi que

a raquianestesia feita com bupivacaína isobárica proporciona analgesia por tempo mais prolongado

que a bupivacaína hiperbárica‖ (A5)

A análise desses resultados sugere que os processos de recursividade presentes nos

portfólios dos alunos representaram oportunidades para que os alunos refletissem, aplicassem

e articulassem os conceitos teóricos em diferentes situações práticas de forma a ampliar seu

entendimento sobre o tema e compreendê-lo em níveis mais profundos de complexidade.

142

Dessa forma, como a recursividade da aprendizagem pode promover e facilitar a construção

do conhecimento pelo aluno, é possível considerar que, ao elaborar seu portfólio com

narrativas recursivas, o aluno apresente maior tendência para construir um aprendizado com

significado.

6.3.2 Intencionalidade para aprender

De acordo com Belmont e Lemos (2012), não existe ainda descrita na literatura uma

metodologia específica para identificar a intencionalidade do aluno em aprender, pois este não

é um aspecto tradicionalmente investigado. Por isso, para investigar a possibilidade de

evidenciar a intencionalidade para aprender a pesquisadora optou por analisar a qualidade dos

portfólios apresentados pelos alunos. Para isso, foram utilizados alguns indicadores indiretos,

tais como o tipo de narrativa apresentada pelo aluno (analítica ou descritiva) em seus

portfólios e os indícios de pensamento crítico/reflexivo nessa narrativa. A seleção desses

indicadores se baseou nas considerações de Alves (2002) sobre as oportunidades de reflexão e

de organização do saber que são oferecidas ao aluno no momento da elaboração do portfólio.

Os indícios de pensamentos críticos e/ou reflexivos foram considerados adequados com base

no pressuposto defendido por Dewey (YANCEY, 1996) sobre o papel fundamental da

reflexão no processo de aprendizagem. Portanto, nessa investigação foram considerados bons

indicadores da intencionalidade do aluno em aprender significativamente, tanto as narrativas

evidenciando análise da situação vivenciada, como também os indícios de pensamentos

críticos e/ou reflexivos nessas narrativas.

Em relação à intencionalidade em aprender, os resultados demonstraram que 60%

(n=6) dos alunos (A3, A5, A7, A8, A9, A10) apresentaram forte tendência na

intencionalidade em aprender, uma vez que eles apresentaram em seus portfólios os dois

indicadores, ou seja, tanto narrativas analíticas, quanto indícios de pensamento

crítico/reflexivo (quadro 12).

143

Quadro 12 – Indícios de intencionalidade para aprender

O seguinte relato de A7 exemplifica um processo de reflexão e análise sobre o evento

observado:

Achei muito interessante essa cirurgia, pois pude perceber como é possível reduzir um altíssimo valor de PA apenas reduzindo a dor do paciente e se utilizando dos

próprios ―efeitos colaterais‖ dos agentes anestésicos, sem precisar lançar mão de

agentes hipotensores propriamente ditos. (A7)

Esses resultados permitiram concluir que, por meio dos portfólios foi possível

encontrar evidências de processos recursivos e identificar, pelo tipo de pensamento e

narrativas apresentados, quais alunos evidenciaram intencionalidade em aprender. Dessa

forma, os resultados encontrados sugerem que o PRE é uma ferramenta que apresenta

condições que podem facilitar o processo de construção do conhecimento, uma vez que

oportuniza ao aluno tanto a prática reflexiva, como a possibilidade para o desenvolvimento de

processos recursivos.

6.4 O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO PRE

A leitura dos depoimentos permitiu delinear o processo de elaboração do portfólio,

conforme sintetizado no quadro 13.

De modo geral, os alunos enfatizaram que a atividade de elaboração do PRE foi

trabalhosa, sendo que apenas A2 e A8 estimaram terem gasto cerca de uma e três horas por

semana, respectivamente, para a elaboração de cada narrativa semanal.

144

Resultados dos

depoimentos

Alunos

A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10

Tempo destinado à

elaboração do PRE

NE Cerca de

1h/sem

Uma

tarde

NE

trabalhoso

NE

trabalhoso

NE NE

trabalhoso

Cerca de

3h/sem

NE

trabalhoso

NE cansativo

e trabalhoso

Elaboração

semanal (S) ou

diária (D) dos

portfólios

D

S

S

S

S

S

S

S

S

S

Referiu reflexão

para elaborar o

PRE

Sim (S)

Não (N

N N S S S N S S S S

NE –não especificado

Quadro 13 – Processo de elaboração do PRE

Realmente demora um tempo. É um trabalho. Mas é melhor ter um trabalho e você

aprender do que ir empurrando com a barriga como acontece em muitos internatos,

em que você fica meio jogado. Você não está jogado, você tem o compromisso de

escrever, então você presta atenção (A7).

Apenas A1 declarou que elaborava suas narrativas diariamente, enquanto todos os

outros alunos referiram que as elaboravam em um determinado dia da semana, com base nas

anotações resumidas que faziam diariamente durante suas atividades práticas no centro

cirúrgico.

Conforme já apresentado, 70% dos alunos declararam uma prática reflexiva ao

elaborarem o PRE. O depoimento de A7 exemplifica um processo de elaboração de portfólio

baseado em reflexão.

Aí depois que eu anotava tudo da semana, num sábado ou domingo, mais no

domingo, eu sentava e ia escrever. Eu mandava ou no domingo ou na segunda. E aí

eu começava a refletir. Se o paciente era ASA 2, eu relembrava porque eu tinha

colocado ASA 2. Às vezes eu ficava na dúvida, se era ASA 2 ou ASA 3, aí eu

entrava no site, procurava artigos, relembrava toda a classificação. No início eu tinha

muita dificuldade, agora é que está ficando mais fácil de entender. (A7)

6.5 PERCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE A ELABORAÇÃO DO PRE

De acordo com os estudos analisados na revisão de literatura sobre o uso do PRE na

educação médica, apresentada no capítulo 4, foram identificadas quatro categorias de uso

pedagógico no contexto de formação: acompanhar e/ou avaliar aprendizagem (FUNG et al,

2000; LEWIS e BAKER, 2007; KJAER, MAAGAARD e WIED 2006; FOULKES et al,2011;

WILCOCK, 2011; GREEN et al, 2009; DEKETELAERE et al 2009); avaliar habilidades

145

clínicas (DORNAN et al, 2003; WILCOCK, 2011); avaliar e/ou documentar competências

(CLAY et al, 2007; MAMELOK, 2009; RUIZ, 2009; LEWIS et al, 2010); estimular a

reflexão (DRIESSEN et al, 2007; MAKRIS et al, 2010; WILCOCK, 2011). Esses estudos

foram utilizados como referências para comparar os resultados encontrados na presente

pesquisa, quanto ao uso pedagógico do PRE.

Com o objetivo de conhecer as percepções dos alunos sobre os aspectos pedagógicos

envolvidos na elaboração do PRE, no contexto estudado, foram analisados os depoimentos

dos alunos relacionados a essa questão e, de acordo com a interpretação realizada, os

resultados encontrados foram distribuídos por duas categorias identificadas pela pesquisadora:

aspectos positivos e limitantes quanto ao uso do PRE na opinião dos alunos. O quadro 14

sintetiza esses resultados.

Quadro 14 – Percepções dos alunos sobre uso do PRE

Por essa análise foi possível perceber as diversas finalidades pedagógicas de uso do

PRE, na opinião dos alunos. Dentre elas foram identificadas as seguintes: avaliar, ensinar e

contribuir para a aprendizagem simultaneamente (A1, A2, A3, A5, A8, A9); conhecer melhor

cada aluno (A1); demonstrar o aprendizado na visão do aluno (A5); oferecer oportunidade

para reflexão (A3, A5 e A10); facilitar a organização do processo de aprendizagem (A4, A7);

permitir que o aluno expresse seus pensamentos (A1); avaliar de forma individualizada (A5,

A6 e A10).

146

Quanto aos aspectos limitantes, o aluno A1 considerou demorado o tempo de uma

semana para obter a resposta do preceptor. O aluno A6 considerou que, como esse processo

dependia muito da prática, em determinados momentos os alunos ficaram sem assunto para

narrar, devido aos problemas de falta de atividades no centro cirúrgico, o que dificultou a

elaboração do PRE.

6.5.1 Aspectos positivos

Apesar da ênfase sobre o aspecto do trabalho e do consumo de tempo destinado à

realização da atividade, os alunos perceberam diversos aspectos positivos em relação ao uso

pedagógico do PRE. Alguns exemplos desses aspectos positivos percebidos pelos alunos são:

Contribuir para a aprendizagem (A1, A2, A3, A5, A6, A8, A9)

E além do mais exige que o aluno corra atrás das informações teóricas sobre aqueles

assuntos. Porque não adianta nada a gente ver aquilo na prática e ficar com as

dúvidas e nada levar a gente a procurar na teoria o porquê daquilo. Eu acho que o portfólio acaba sendo um instrumento que ajuda a gente a fazer isso. Obrigar a gente

a fazer isso. Porque a gente pra escrever tem que ter um embasamento teórico, a

gente acaba tendo que procurar aquelas informações. Então acho que é um método

válido (A5).

Para 60% (n=6) dos alunos, o PRE foi uma ferramenta que contribuiu para a

aprendizagem. Ao comparar essas percepções com as evidências de aprendizagem

apresentadas pelos alunos, observou-se que, dentre os que perceberam essa contribuição do

PRE, A8, A3, A5, A9 conseguiram evidenciar um bom processo de aprendizagem, A3, A5,

A8, A9 demonstraram algumas evidências de AS, enquanto A1 e A2 demonstraram um

processo de aprendizagem regular. Porém, A7 e A10, apesar de demonstrarem bons processos

de aprendizagem, não declararam perceber tal contribuição do PRE.

Essa contribuição sobre a aprendizagem também foi demonstrada nos trabalhos de

Fung et al (2000), Lewis e Baker (2007), Kjaer, Maagaard e Wied (2006), Foulkes et al

(2011), Wilcock (2011), Green et al (2009), Deketelaere et al (2009) que, apesar de utilizarem

contextos de formação médica e metologias diferentes dos utilizados nesta pesquisa,

concluíram que o PRE é uma ferramenta que pode oferecer variadas contribuições em

diversos processos de aprendizagem.

147

Oferecer oportunidade para a reflexão do aluno (A3, A5 e A10): ―E um portfólio para abrir

ao aluno uma oportunidade de refletir sobre as dúvidas dele, de correr atrás das informações‖

(A5).

Para 30% (n=3) dos alunos, o PRE estimulou a prática reflexiva. Esses três alunos

declararam ter realizado processo reflexivo ao elaborar o PRE e conseguiram evidenciar

reflexão por meio de seus portfólios. Porém, A7, A8 e A9, que também declararam reflexão

ao elaborar seus portfólios e conseguiram apresentar evidências dessa reflexão, não

perceberam esse aspecto como uma contribuição do PRE nesse processo.

O aspecto reflexivo também foi discutido nos trabalhos de Driessen et al (2007);

Makris et al (2010) e Wilcock (2011), analisados na revisão de literatura desta pesquisa.

Avaliar de forma individualizada (A5, A6 e A10)

Primeiro porque você percebe exatamente quais alunos estiveram presentes nas

atividades e quais não estiveram. Quais alunos estiveram prestando atenção no que

estava acontecendo e quais não estavam. Aqueles que precisam de mais apoio para

aprender alguma coisa e quais não precisam. Então acho que dá pra ter uma

avaliação mais individualizada de cada aluno. Acho que é um método muito útil

para isso. (A5)

Para 30% (n=3) dos alunos, o PRE permitiu a avaliação individualizada do aluno. Esse

aspecto pode ser demonstrado pelo desenvolvimento da pesquisa, uma vez que, por meio da

avaliação e análise dos portfólios, foi possível caracterizar o processo de aprendizagem de

cada aluno. Porém esse aspecto não foi discutido pelos trabalhos da revisão de literatura.

Organizar o processo de aprendizado (A4 e A7)

...eu achei muito legal. Primeiro porque eu sou uma pessoa um pouco desorganizada,

então era uma forma de eu rever tudo o que eu tinha aprendido. Porque, na prática, é

mais difícil você avaliar isso. Você vive aquela situação e aquilo se perde no tempo

e no espaço, e quando você anota, você está revivendo aquilo. ―É, realmente, aconteceu isso e tal...‖ Pra mim, pro meu estudo, porque eu sou pouco organizada e

tenho uma memória meio relapsa, foi muito legal. Ah! É, realmente, isso aconteceu‖

e eu nunca teria parado para pesquisar porque isso aconteceu, se eu não tivesse

anotado. Eu sei que tem outras pessoas com uma opinião diferente da minha, mas eu

achei muito legal (A7).

Para 20% (n=2) dos alunos, o PRE auxiliou na organização do aprendizado. Enquanto

A7 conseguiu demonstrar essa organização por seu PRE, o aluno A4, apesar de ter tal

percepção, não conseguiu demonstrá-la por meio de suas narrativas.

Esse aspecto também não foi analisado pelos estudos apresentados na revisão de

literatura.

148

Demonstrar aprendizado pela perspectiva do aluno (A5): ―Quando você me avalia por

portfólio, eu estou te mostrando o que aprendi. Você não está me perguntando o que você

quer que eu aprenda‖. (A5).

Para 10% (n=1) dos alunos, o PRE consegue informar sobre o aprendizado na visão do

aluno e, não necessariamente, o que o professor deseja que o aluno aprenda. Esse aspecto

abordado por A5 corrobora com a proposta do PRE no sentido do desenvolvimento da

autonomia do aluno nesse processo, cabendo ao professor o planejamento adequado do ensino

para garantir que o aluno alcance os objetivos pedagógicos desejados. Porém, nos estudos da

revisão de literatura esse aspecto também não foi analisado.

Permitir ao professor maior conhecimento sobre o aluno (A1):

Acho justo e acho muito interessante para o aluno. O professor conhece mais o seu

aluno. Por mais que eles tenham uma vivência prática, às vezes no internato com 15

alunos e com 30 staffs, cada médico pode nem conhecer os alunos. Agora, vendo os

portfólios, pode conhecer o que aquela pessoa pensa, qual a ideia dela de

Medicina.... Essas coisas só podem ser vistas numa análise reflexiva e subjetiva e não numa análise escrita com perguntas e respostas (A1).

Para 10% dos alunos, o PRE permitiu que o professor conhecesse melhor o aluno. Este

é um aspecto relevante, pois um dos objetivos do PRE é aproximar o professor do aluno, para

que ele possa conhecer melhor as possíveis limitações e dificuldades do aluno e o ajude a

superá-las. Porém, esse aspecto também não foi analisado pelos estudos da revisão de

literatura.

Possibilitar ao aluno expressar seus pensamentos (A1): ―Seria a possibilidade primeiro de se

expressar, de falar, não ter que marcar uma opção que nos foi dada. A gente pode dizer o que

a gente pensa e, principalmente, ver a resposta...‖ (A1).

Para 10% (n=1) dos alunos, o PRE permitiu que o aluno expressasse seus

pensamentos. Essa percepção de A1 sobre o PRE representa o aspecto central do portfólio,

pois é por meio de seus pensamentos que o aluno poderá refletir sobre seu processo de

aprendizagem. Apesar de manifestar tal percepção, A1 não conseguiu evidenciar seus

pensamentos reflexivos por meio do PRE.

Esse aspecto também não foi analisado pelos estudos da revisão de literatura.

6.5.2 Aspectos limitantes:

149

Foram mencionados nos depoimentos de 30% (n=3) dos alunos, alguns aspectos

considerados limitantes nesse processo, tais como:

Demora para a resposta do preceptor (A1): ―a única desvantagem é que não é uma conversa

tão dinâmica, porque eu via uma coisa e demora. Até o professor conseguir responder tudo

leva uma semana‖. (A1)

Avaliar pelo portfólio (A3)

[...] só que tem que ter um critério bem estabelecido. Se ele for usado como

avaliação, ele tem que ter a parte em que você cobre a prática e a parte braçal do

estudo...Essa é a parte mais difícil do portfólio. Acho que, no final, a desvantagem é

só isso. No momento, a dificuldade é sobre avaliar. (A3)

O aluno A3 considerou, como um aspecto negativo do PRE, o seu uso pedagógico

como instrumento de avaliação do conhecimento do aluno, defendendo que, para esse fim, é

necessário que sejam bem estabelecidos os critérios a serem utilizados para avaliar tanto o

aprendizado teórico, como o prático. Essa percepção de A3 foi pertinente, uma vez que os

estudos que objetivam investigar esse aspecto de uso do PRE estabelecem critérios bem

definidos para serem avaliados (DORNAN et al, 2003; WILCOCK, 2011; CLAY et al, 2007;

MAMELOK, 2009; RUIZ, 2009; LEWIS et al, 2010).

Dependência das atividades práticas (A6)

Eu acho que é... Aconteceu um pouco com a gente, teve uma hora que ficou um

pouco, meio que, sem assunto. Porque a gente não tinha como ver. E ficou uma

coisa que a gente não tinha o que falar. É exatamente isso, o portfólio depende do

funcionamento do serviço, Depende muito da parte prática. (A6)

O aluno A6 considerou a dependência de atividades práticas para a elaboração dos

portfólios como uma dificuldade, devido aos momentos em que tais práticas não puderem ser

realizadas, por motivos alheios à vontade do aluno.

A demora do feedback e a dependência das atividade práticas não foram aspectos

abordados pelos estudos da revisão de literatura.

6.6 CONTRIBUIÇÕES DAS TICS E PERCEPÇÕES SOBRE O AVA

Conforme apresentado no capítulo 4, segundo Jonassen (1996), para que o uso das

TICs possa favorecer o processo de AS, algumas condições devem ser oferecidas pela

150

atividade pedagógica, pois o uso das TICs, por si só, não é suficiente para contribuir em tal

processo.

Portanto, tendo esse princípio como base, essa pesquisa buscou investigar como as

TICs podem ter contribuído no processo de ensino aprendizagem estudado. Para isso, foram

utilizados os depoimentos dos alunos sobre suas percepções em relação às possíveis

contribuições das TICs no contexto do estudo.

Cabe salientar que só foram considerados os dados referentes ao uso das TICs que

tinham relação com o processo de uso do PRE, logo, os dados referentes às percepções quanto

ao fórum de discussão não foram analisados.

Essas possíveis contribuições, identificadas nos depoimentos dos alunos são as

seguintes e estão sumarizadas no quadro 15:

Contribuições das TICs pelas percepções dos alunos Alunos

Facilidade de comunicação A1,A3,A5, A6,A8, A10

Armazenamento de informações e material didático A1,A3, A5, A6, A8 , A10

Facilidade de acesso A2, A6, A7 e A9

Maior disponibilidade de tempo para desenvolver outras atividades A4

Quadro 15- Percepções dos alunos sobre as contribuições das TICs

Facilidade de comunicação e de armazenamento de informações e material didático (A1, A3,

A5, A6, A8, A10)

Eu achei o Constructore um avanço muito grande no internato. Às vezes no internato as coisas ficam muito largadas. Nem sempre as pessoas vêem o e-mail, às vezes não

consegue responder para todos os alunos e na Constructore tá tudo guardado ali

(aviso, fórum , material didático...). Por exemplo, às vezes recebe um arquivo com

quatro artigos, é muito pesado. Na Constructore fica tudo guardado, é só baixar e

guardar. Achei a ferramenta muito interessante. É uma boa ferramenta para o

internato (A1).

Foi possível observar que a facilidade de comunicação e o armazenamento de

informações e de material didático foram as contribuições percebidas por 60% (n=6) dos

alunos (A1,A3,A5, A6,A8, A10). Essas percepções constituem algumas das características da

interatividade que é uma das principais contribuições das TICs no processo de aprendizagem.

Segundo diversos autores referenciados nesta pesquisa, tais como, Jonassen (1996),

Struchiner e Giannella ( 2005), Ruiz et al (2009); Bridge e Eddy (2006), Parboosingh (1996),

Costa e Franco (2005); Silva e Silva (2008); Amem (2006), a interatividade possibilita o

aumento do diálogo entre os envolvidos no processo educativo, a motivação dos alunos na

busca por informações de acordo com seu nível de conhecimento, suas necessidades e

151

interesses, contribuindo, assim, na facilitação do processo de construção do conhecimento

pelo aluno.

Facilidade de acesso de qualquer lugar e a qualquer momento (A2, A6, A7, A9): ―Acesso de

qualquer lugar. Fica mais livre‖ (A7)

Eu acho que é uma facilidade, é. Assim, o mérito é esse. Na verdade é que você

escreve no computador e escreve pra te entregar, dá no mesmo. A diferença é a

praticidade. Você pode encontrar um momento, ir no computador e fazer isso.

Chegar em casa, descansado e fazer isso. Se tivesse que escrever e te entregar, daria

um pouco mais de trabalho. Tem que te encontrar no dia que você tá lá, e eu também

tenho que arranjar tempo. Acho que isso é a praticidade. (A9)

Poder, justamente, trocar informação de qualquer lugar. De casa, tranquilo. Às

vezes, os horários não batem com o professor. Você tem plantão no dia que o

professor dá a aula, mas aí ele manda a aula pra algum lugar e discute a aula depois.

E, independente do tempo e do dia, eu posso chegar em casa e ver. Acho que, pra

esse problema de bater horário, é muito bom. (A6)

A facilidade de acesso de qualquer lugar e a qualquer momento foi outra contribuição

percebida por 40% (n=4) dos alunos (A2, A6, A7 e A9). Segundo os trabalhos citados, essa

facilidade permite que o aluno tenha liberdade de decidir quando e onde realizará as tarefas

solicitadas e quanto tempo dedicará à sua execução. Essa maior flexibilidade permite o

desenvolvimento da autonomia do aluno sobre o seu próprio processo de aprendizagem.

Aumenta a disponibilidade de tempo para outras atividades (A4)

Embora seja contraditório o que eu vou falar, eu acho assim, ainda que o portfólio

consuma mais tempo, o fato de você ter uma ferramenta virtual, te dá muito mais

tempo para fazer outras coisas, para se dedicar ao que realmente interessa, do que

gastar tempo com coisas desnecessárias (A4)

O aumento da disponibilidade de tempo para o desenvolvimento de outras atividades

foi uma contribuição percebida pelo aluno A4, podendo ser considerada como uma vantagem

oferecida pelas TICs, no sentido de otimização do tempo de estudo do aluno dentro do seu

processo de aprendizagem.

Em relação à utilização de um ambiente virtual para o desenvolvimento de parte do

processo de ensino aprendizagem desenvolvido no contexto do estudo, os alunos, de modo

geral, consideraram vantajoso, ser for utilizado como recurso pedagógico complementar,

como pode ser exemplificado pelos seguintes trechos dos depoimentos de alguns alunos (A1,

A2, A4, A5 e A6):

152

―Acho que é bom desde que se mantenha o presencial também [...]. A EaD é bom para

a parte didática, acho que junto com a parte prática, vai chegando mais perto do que a gente

considera de ensino mais perfeito. ―Xerocar‖ material didático é muito antigo‖. (A1)

―Eu acho que é um complemento a parte. Não exclui a pessoa de estar presente

fisicamente... Integrado à prática, eu acho que funciona pra melhorar o curso, pra melhorar o

aprendizado ainda mais. E acho que é pra qualquer curso‖. (A2)

―Porque o contato a gente continua tendo com o professor, fisicamente. Se fosse

exclusivamente à distância, seria desvantajoso‖. (A4)

―Assim, eu não acho que educação a distância seja solução para nada, mas eu acho que

complementa. Como complemento eu acho válido‖. (A5)

―Eu acho que a forma como é empregado o ambiente dá certo, não tem desvantagem.

Só não pode achar que vai contar só com o virtual, não vai adiantar. Mas completando…

Difícil ter alguma desvantagem‖.(A6)

Em relação à plataforma Constructore, todos os alunos consideraram de fácil

navegação e muito úteis todos os recursos oferecidos, com exceção do aluno A2, que foi o

único a fazer crítica à plataforma. Apesar de considerar sua proposta como a melhor que ele

viu ao longo da faculdade, declarou que seu manual de uso era pouco didático.

Quanto às possíveis limitações da plataforma Constructore, 40% (n=4) dos alunos

(A7, A8, A9 e A10) consideraram a dificuldade do acesso em determinados momentos,

conforme exemplificado pelo seguinte depoimento de A9: ―A desvantagem é que, de vez em

quando, fica fora do ar‖.

Como contribuição para melhorias em relação à plataforma Constructore, o aluno A1

sugeriu que houvesse possibilidade do aluno inserir comentários sobre os avisos recebidos e o

aluno A2 sugeriu que houvesse a possibilidade de realizar buscas para pesquisas adicionais

por meio da própria plataforma.

A análise dos resultados da investigação sobre as contribuições das TICs no processo

estudado, com base nos depoimentos dos alunos, permitiu observar que a atividade do

portfólio pelo AVA foi bem aceita pelos alunos, representou uma inovação pedagógica, em

relação ao que foi oferecido a eles ao longo da graduação. De modo geral, os alunos

consideraram que o uso do AVA facilitou o processo de aprendizagem, sugerindo que este

recurso deveria ser utilizado em outros contextos do internato. Porém, ao se comparar os

resultados encontrados neste estudo, com as discussões sobre o assunto apresentadas por

outros autores e, principalmente, com as considerações de Jonassen (1996) apresentadas no

153

capítulo 4, percebe-se que seu uso foi bastante limitado, pois deixou de oferecer outras

potencialidades desse recurso apontadas pela literatura, como a aprendizagem colaborativa,

por exemplo.

Diante dos resultados descritos e de suas análises, foi possível traçar o perfil individual

de uso do PRE por aluno, procurando analisar seu uso como instrumento de facilitação da

prática reflexiva, facilitação da AS, documentação de reflexão, acompanhamento do

aprendizado do aluno, evidenciação da AS, e conhecer as percepções dos alunos quanto ao

uso do PRE e às contribuições das TICs no contexto do estudo. O quadro 16 apresenta uma

síntese do processo de investigação sobre o portfólio, com o panorama do PRE de cada aluno.

154

A

L

U

N

N

O

S

CATEGORIAS DE ANÁLISE DO PRE E INDICADORES

Facilitar

reflexão

Documentar

reflexão

Facilitar AS Acompanhar

Aprendizado

Evidenciar AS Percepções sobre PRE

Percepções sobre

TICs

Referiu

reflexão

ao

elaborar

PRE

PRE

analí-

tico

Pensa

m.

reflexi

vo

Recursi

vidade.

Intencio-

nalidade.

Procedi

mental

Teóri-

co

B

I

A

Positivas

Limitan-

tes

A1

Não Não Não B Não 3/4 5/12 - - - Contribui

aprendiz.;

Melhor

conhecimen

to do aluno;

Expressar

pensamento

Demora

resposta

preceptor

Facilitar comu-

nicação;

Armazenamento

de informações

A2 Não Não Não B Não 2/4 2/12 - - - Contribui

aprendiz.

Facilita acesso

A3

Sim Sim Sim B Sim 1/4 7/12 05 - - Contribui

aprendiz.;

Reflexão

Avalia-

ção

Facilitar comu-

nicação;

Armazenamento

de informações

A4 Sim Não Não B Não 3/4 5/12 - - - Organiz.

Aprendiz.

Otimização do

tempo do aluno

A5

Sim Sim Sim M/B Sim 4/4 7/12 06 01 - Contribui

aprendiz.;

Reflexão;

Avaliação

individual

Aprend.

visão do

aluno

Facilitar comu-

nicação;

Armazenamento

de informações

A6

Não Não Não M/B Não 3/4 3/12 - - -

Avaliação

individual

Depen-

dência da

prática

Facilitar comu-

nicação;

Armazenamento

de informações;

Facilitar acesso

A7 Sim Sim Sim A/B Sim 4/4 7/12 05 01 02 Organiz.

Aprendiz.

Facilitar acesso

A8

Sim Sim Sim A/M/B Sim 3/4 10/12 07 - 01

Contribui

aprendiz.

Facilitar comu-

nicação;

Armazenamento

de informações

A9 Sim Sim Sim A/M/B Sim 2/4 8/12 02 - - Contribui

aprendiz.

Facilitar acesso

A10

Sim Sim Sim A/M/B Sim 4/4 9/12 04 01 01 Reflexão;

Avaliação

individual

Facilitar comu-

nicação;

Armazenamento

de informações

Recursividade – codificação da caracterização do processo recursivo sobre temas teóricos apresentado nos portfólios: Alta – A; Média - M; Baixa –B.

Acompanhamento do aprendizado procedimental: quantidade do tipo de procedimentos executados por cada aluno/4(quantitativo de tipos de procedimentos

analisados no estudo).

Acompanhamento do aprendizado teórico: quantidade de temas teóricos abordados nos portfólios de cada aluno / 12(quantidade total de temas teóricos do

programa)

Evidências de AS: quantidade de evidências de cada categoria identificada nos portfólios de cada aluno: B (baixa complexidade)- articulação simples; I

(complexidade intermediária) -prognóstico; A (alta complexidade) -explicação de eventos.

Quadro 16 – Quadro analítico sobre o PRE de cada aluno

Portanto, esses resultados e suas análises forneceram subsídios para a discussão e

considerações finais apresentadas no capítulo 7 da presente pesquisa.

155

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão central que norteou esta pesquisa foi o processo de aprendizagem mediado

pelo Portfólio Reflexivo Eletrônico (ALVES, 2004; GRANT e DORNAN, 2001; ALVES,

2002; SILVA e SÁ-CHAVES, 2009; YANCEY, 1996) na perspectiva da Aprendizagem

Significativa de Ausubel e Novak (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1978; AUSUBEL,

2000; NOVAK e GOWIN, 1998) e as percepções dos alunos sobre suas experiências de

aprendizagem com o uso desta ferramenta pedagógica. Assim os principais objetivos foram:

a) analisar a influência dessa ferramenta no processo de uma prática reflexiva, b) observar a

possibilidade de acompanhamento do aprendizado do aluno por meio dela, c) avaliar se a

aprendizagem significativa (AS) pode ser evidenciada pelo PRE; d) analisar seu papel na

facilitação da construção do aprendizado do aluno, e) conhecer o processo de elaboração do

PRE pelos alunos, f) conhecer as percepções destes sobre o uso do PRE e sobre as

contribuições das TICs nesse processo.

Buscando responder a estas questões, recorreu-se aos estudos sobre a trajetória da

educação médica, que permitiram entender a complexidade do tema e perceber que os

problemas observados na prática da preceptoria, no contexto do internato eletivo de

Anestesiologia, eram semelhantes aos evidenciados e discutidos no meio acadêmico por

diversos autores (AMORETTI, 2005; ALMEIDA et al, 2007; CECCIM e CARVALHO,

2006; LAMPERT, 2001; FEUERWERKER, 2002). Diante da necessidade de se encontrar

alternativas capazes de contribuir para as mudanças na educação médica, inseridas no novo

paradigma da integralidade, foram fundamentais os estudos sobre a Educação em geral, o

Ensino, e particularmente, sobre a Psicologia da Educação. Esses estudos conduziram a um

maior conhecimento sobre a Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS) e a apropriação de

seus princípios, aliado aos estudos e orientações de Vitale e Romance (2000), contribuíram

para fundamentar e nortear as etapas da presente investigação.

O programa elaborado e implementado por meio de uma intervenção pedagógica, com

ênfase na utilização do portfólio reflexivo eletrônico, constituiu o objeto dessa pesquisa e foi

analisado pela perspectiva da TAS. Por outro lado, o maior conhecimento sobre o uso

pedagógico do portfólio, e das possíveis contribuições das TICs para potencializar este

processo, despertou o interesse em conduzir a investigação baseada no seguinte pressuposto: o

PRE, elaborado pelo aluno com base no desenvolvimento de uma prática de estudo reflexiva,

pode se constituir em uma ferramenta que, não só permite o acompanhamento do aprendizado

156

pelo aluno, como também contribui para a aprendizagem significativa, como o proposto por

Ausubel (2000, 1978) e Novak (1998).

Portanto, para analisar o programa pedagógico pela perspectiva da TAS, foram

adotados os princípios da teoria e uma adaptação do modelo de Vitale e Romance (2000) para

o planejamento do processo de ensino por meio do portfólio, objetivando evidenciar a

aprendizagem significativa construída pelo aluno sobre temas teóricos abordados ao longo do

internato em Anestesiologia. Dessa forma, a análise dos resultados encontrados na presente

pesquisa permitiu levantar algumas discussões e considerações com base no contexto

estudado.

Pela perspectiva da TAS, é fundamental que o professor assuma o compromisso de

favorecer a ocorrência de aprendizagem significativa pelo aluno. Assim, torna-se básico que

ele oriente suas ações buscando encontrar e entender os significados que os alunos estão

construindo, avaliar se esses significados estão de acordo com os desejados, negociar esses

significados com os alunos de forma a que atendam aos objetivos educacionais propostos.

Assim, o professor deve procurar garantir que o aluno construa seus conhecimentos, com foco

nos significados estabelecidos cientificamente e que essa construção ocorra em variados

momentos e situações envolvidas no evento educativo em que ele está inserido (NOVAK,

2011; MOREIRA, 1999; LEMOS, 2011a, 2011b).

Segundo Dewey (1979), a reflexão é indispensável no desenvolvimento do ato

educativo. Para analisar o papel do PRE sobre a prática reflexiva, investigou-se os elementos

associados à reflexão que estavam presentes nos portfólios. Para isso, foi realizada a análise

de conteúdo (BARDIN, 2009) das narrativas dos alunos e de seus depoimentos, buscando-se

identificar a presença de elementos relacionados ao processo reflexivo. Nesse sentido,

primeiramente, foi observado que tipo de narrativa cada aluno apresentou, tendo como

referência as definições de reflexões apresentadas por Sá-Chaves (SILVA e SÁ-CHAVES,

2008), que permitiram considerar as narrativas analíticas como intrinsecamente relacionadas

ao processo reflexivo. Um segundo elemento investigado foram os indícios de pensamentos

críticos/reflexivos, entendendo como críticos os pensamentos que envolvem avaliação de

argumentos para a defesa ou não de alguma ideia e como reflexivos os pensamentos

relacionados à indagações na busca por alguma conclusão, baseados nos pressupostos de

Schön (2000) e Dewey (1979). Um terceiro elemento foi investigado nos depoimentos dos

alunos, buscando-se por declarações sobre realização de reflexão para elaboração do portfólio.

Esses procedimentos metodológicos permitiram analisar os resultados encontrados e

sumarizá-los numericamente. Portanto, essa investigação sugere que o PRE foi uma

157

ferramenta que possibilitou a prática reflexiva, pois 70% (n=7) dos alunos investigados

apresentaram indícios de pensamentos crítico/reflexivos, sendo que, desses, 85,7% (seis dos

sete alunos) conseguiram evidenciar reflexão em suas narrativas, segundo os critérios

utilizados nesta investigação. Além disso, cerca de 30% dos alunos declararam na entrevista

que consideravam como uma das vantagens do PRE o estímulo à reflexão, sendo que todos

esses realmente conseguiram evidenciar a reflexão em seus portfólios. No processo de AS a

reflexão é essencial, logo se torna fundamental que sejam utilizadas atividades que consigam

estimular essa prática. Os resultados encontrados se aproximam daqueles de Driessen et al

(2007) que consideraram que o PRE estimula os alunos à reflexão sobre suas práticas

educativas. Esses autores atribuem seus resultados à utilização de condições favoráveis de

ensino para possibilitar a reflexão. Logo, no presente estudo, pode-se considerar que tais

condições também foram oferecidas, conforme exemplificado pelo depoimento de A5:

Na verdade todo dia eu escrevia os casos do centro cirúrgico. Eu escrevia

resumidamente numa folha. Eu descrevia os casos e o que eu tinha pensado, mas de

forma resumida. Todo dia para não esquecer. E num determinado dia da semana, na

quinta-feira, que foi o dia que eu determinei para fazer isso, eu sentava e

desenvolvia cada caso e ia desenvolvendo as reflexões e as bases teóricas. Enfim,

todos os dias eu fazia uma coisa resumida para eu não esquecer e num dia eu

desenvolvia cada um dos itens. Era basicamente isso o que eu fazia. (A5)

Em relação à investigação do PRE como uma ferramenta que possibilite o

acompanhamento do aprendizado do aluno, foram observados os relatos dos alunos

relacionados a: realização e/ou acompanhamento dos procedimentos estabelecidos como

básicos pelo programa, as citações sobre os temas/conceitos teóricos que eles estavam

vivenciando em suas práticas e as evidências de AS. Assim, o estudo demonstrou que o PRE,

apesar da variação nos desempenhos individuais dos alunos em cada um desses elementos

investigados, propiciou a representação dessas experiências de aprendizado, pois todos os

portfólios conseguiram evidenciar a realização e/ou participação do aluno em todos os

procedimentos técnicos, bem como evidenciar a aplicação prática de diversos conceitos

teóricos estudados, conforme resultados apresentados nas tabelas 1 (p.118), 2 (p.120), 3

(p.122) e 4 (p.129). O seguinte relato, também de A5, exemplifica os registros sobre a

realização de procedimentos que puderam ser acompanhados pelo PRE:

Pude puncionar o acesso venoso periférico desse paciente. Em seguida, foi iniciada a

indução anestésica e tive a oportunidade de ventilar o paciente sob máscara facial,

inicialmente tive certa dificuldade, entretanto após ajuda do residente consegui acoplar adequadamente a máscara facial e realizar a ventilação. (A5)

158

A investigação das evidências de AS permitiu não só elucidar esse processo como

também qualificá-lo. Isto porque foram evidenciados processos de AS desde níveis mais

simples até de maior complexidade, utilizando-se como base as categorias hierárquicas de

evidências de AS, propostas por Vitale e Romance (2000). O seguinte relato de A7

exemplifica uma articulação de nível intermediário de complexidade, evidenciando

elaboração de um prognóstico para o caso em questão sobre a possibilidade de lesão

miocárdica em vigência de taquicardia não controlada em paciente coronariopata:

O paciente apresentou taquicardia, quando então se lançou mão do esmolol (beta

bloqueador eficaz no tratamento e prevenção da taquicardia durante eventos

cirúrgicos). Lembrando, é claro, que um paciente coronariopata deve ter frequência

bem controlada, já que a mesma aumentaria o consumo de oxigênio, o que pode ser

bastante comprometedor para a fibra miocárdica. (A7)

Portanto, pelos critérios adotados nesta pesquisa, pode-se considerar o PRE uma

ferramenta adequada não só à representação, como também ao acompanhamento do

aprendizado do aluno, Estes resultados corroboram a perspectiva da AS (AUSUBEL,

NOVAK, HANESIAN, 1978). Os autores defendem que todo o curso do processo

educacional deve ser acompanhado e avaliado, de forma a observar se os objetivos

estabelecidos estão sendo alcançados, e se está sendo necessária alguma intervenção

pedagógica ainda com o processo em curso.

A presente pesquisa partiu da premissa de que a recursividade pode facilitar o

aprendizado (LEMOS, 2011a, 2011b; SIQUEIRA, 2009) e que a intencionalidade do aluno é

fundamental para favorecer a AS (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1978; AUSUBEL,

2000; NOVAK, 1998; MOREIRA, 1999; LEMOS, 2011a, 2011b). Os resultados indicaram

que o PRE foi uma ferramenta que favoreceu a recursividade para todos os alunos, o que pode

ser evidenciado pelas frequência de citações maior que uma (f > 01), sobre cada um dos

temas, nas narrativas de todos os alunos. Isto sugere que o PRE ofereceu oportunidade para

que eles refletissem, aplicassem e articulassem os conceitos teóricos em diferentes situações

práticas. Conforme salientado por Siqueira (2009), a importância da recursividade nesse

processo é no sentido do aluno ampliar seu entendimento sobre o tema e compreendê-lo em

níveis mais profundos de complexidade, promovendo a possibilidade do aluno mobilizar o

novo conhecimento na resolução de outros problemas e situações. Corroborando com essa

ideia, os resultados do presente trabalho sugerem que, ao elaborar seu portfólio com narrativas

recursivas, o aluno adquire melhores condições de construir um aprendizado significativo.

159

Em relação à intencionalidade em aprender, este princípio foi investigado pela

identificação, nas narrativas dos alunos, da presença simultânea dos dois indicadores

utilizados (a presença de pensamentos crítico/reflexivos e de narrativas analíticas), o que

permitiu observar que 60% dos alunos evidenciaram sua intencionalidade por meio do PRE.

Portanto, com base nos referenciais utilizados e nos resultados obtidos pelos

procedimentos metodológicos adotados, foi possível demonstrar os variados processos

recursivos em 100% dos portfólios e evidenciar, nas narrativas, a intencionalidade em

aprender em 60% dos alunos, além de observar que todos os alunos que demonstraram

intencionalidade em aprender também evidenciaram AS em variados níveis de complexidade.

Dessa forma, pode-se concluir que o PRE é uma ferramenta com potencial para facilitar o

processo de aprendizagem significativa do aluno.

A leitura dos depoimentos permitiu delinear o processo de elaboração do portfólio,

observando como se dava essa elaboração, qual o tempo destinado à atividade e referência à

reflexão nesse processo. De modo geral, os alunos enfatizaram que a atividade de elaboração

do PRE foi trabalhosa, cansativa, sendo que 60% deles declararam refletir para realizar a

tarefa.

Apesar da ênfase sobre o aspecto do trabalho e do consumo de tempo destinado à

realização da atividade, todos os alunos perceberam diversos aspectos positivos em relação ao

uso pedagógico do PRE, tais como: contribuição para a aprendizagem (60% dos alunos);

estímulo à prática reflexiva (30% dos alunos); avaliação individualizada (30% dos alunos);

organização do aprendizado (20% dos alunos); demonstração da visão do aluno sobre seu

aprendizado (10% dos alunos); melhor conhecimento do aluno pelo professor (10% dos

alunos); oportunidade para o aluno expressar seus pensamentos (10% dos alunos). Diante

disso, pode-se considerar que, nas percepções dos alunos, os benefícios pedagógicos,

justificam seu uso e superam os poucos aspectos limitantes percebidos por eles. Comparando-

se os benefícios elencados pelos alunos, com os resultados dos estudos apresentados na

revisão de literatura (capítulo 4), foi observado que houve discussão nos estudos da revisão

em relação à contribuição do PRE sobre a aprendizagem (FUNG et al, 2000; LEWIS e

BAKER, 2007; KJAER, MAAGAARD e WIED, 2006; FOULKES et al, 2011; WILCOCK,

2011; GREEN et al, 2009; DEKETELAERE et al, 2009) e ao estímulo à prática reflexiva

(DRIESSEN et al, 2007; MAKRIS et al, 2010 e WILCOCK, 2011). Entretanto, os outros

aspectos abordados pelos participantes do presente estudo não foram discutidos nos trabalhos

da revisão. Por outro lado, o uso pedagógico do PRE como ferramenta de avaliação da

aprendizagem foi investigado em diversos trabalhos da revisão e só foi apontado por um dos

160

alunos participantes, como um aspecto limitante para o uso da ferramenta, por considerar a

dificuldade de estabelecer-se critérios adequados para esse fim por meio do PRE, o que é

relevante, pois os estudos da revisão, que se propuseram a investigar esse uso do PRE,

utilizaram critérios bem definidos para serem avaliados (DORNAN et al, 2003; WILCOCK,

2011; CLAY et al, 2007; MAMELOK, 2009; RUIZ, 2009; LEWIS et al, 2010).

Em seus depoimentos todos os alunos consideraram que as TICs contribuíram nesse

processo de uso do PRE. As principais contribuições elencadas pelos alunos foram: facilidade

de comunicação (60%); armazenamento de informações e de materiais didáticos (60%),

facilidade de acesso (40%); otimização do tempo do aluno (10%). As percepções sobre a

facilidade de comunicação e de armazenamento de informações e de materiais didáticos,

constituem características da interatividade que é uma das principais contribuições das TIcs

no processo de aprendizagem. Segundo diversos autores (RUIZ et al, 2009; SILVA e SILVA,

2008; AMEM e NUNES, 2006; BRIDGE e EDDY, 2006; COSTA e FRANCO, 2005;

STRUCHINER e GIANNELLA, 2005; JONASSEN,1996; PARBOOSINGH, 1996), a

interatividade possibilita o aumento do diálogo entre os envolvidos no processo educativo, a

motivação dos alunos na busca por informações de acordo com seu nível de conhecimento,

suas necessidades e interesses, contribuindo, assim, na facilitação do processo de construção

do conhecimento pelo aluno. Em geral, os alunos consideraram que o uso das TICs facilitou o

processo de aprendizagem, sugerindo que este recurso deveria ser utilizado em outros

contextos do internato médico, sobretudo por oferecer oportunidades de interatividade e

desenvolvimento da autonomia dos alunos sobre seu próprio aprendizado. A utilização da

ferramenta Constructore (STRUCHINER, 2006) contribuiu muito nesse processo, uma vez

que os alunos declararam que ela apresentou facilidade de uso e recursos adequados ao

desenvolvimento do programa. Comparando-se os resultados encontrados com as

considerações sobre as TICS, compartilhadas pelos diversos autores referenciados, percebe-se

que o programa do internato não explorou todas as potencialidades possíveis desses recursos,

como, por exemplo, a aprendizagem colaborativa.

Pelo exposto, é possível evidenciar que o PRE, aliado à concepção pedagógica da

TAS, oferece a oportunidade ao aluno de construir um conhecimento com significado,

contribuindo, assim, para melhorar o processo educacional e para o desenvolvimento das

características estabelecidas pelas DCN para o novo perfil profissional.

Entretanto, realizando uma análise crítica do presente estudo, algumas limitações

puderam ser levantadas.

161

A análise do programa do internato pela perspectiva da TAS considerou como

subsunçores necessários para o aprendizado dos alunos os conceitos gerais estudados em

Anatomia, Farmacologia, Fisiologia, Fisiopatologia e Medicina Interna ao longo da

graduação. Porém, esses subsunçores não foram efetivamente pesquisados ou

individualizados entre os alunos, partindo-se da premissa de que todos possuíam uma mesma

base de conhecimentos, a partir do curso de graduação. Esse fato pode ser considerado uma

falha nesse processo de pesquisa, porém, poderá servir como um alerta para a importância

dessa etapa ser inserida nos planejamentos para as futuras turmas de internato. Contudo,

acredita-se que essa questão não influenciou diretamente a investigação sobre a utilização

pedagógica do PRE.

As principais limitações para o planejamento do programa voltado para a ocorrência

do processo de AS e que podem ter comprometido os resultados nesse sentido foram: o pouco

tempo destinado ao desenvolvimento do programa teórico-prático (quatro manhãs por aluno,

por semana, ao longo de oito a dez semanas); o contexto selecionado corresponder ao último

período do curso da graduação médica; a falta de familiaridade dos alunos e dos preceptores

(incluindo a pesquisadora) com a prática educacional reflexiva, com o uso do portfólio, com o

uso das TICs e com a abordagem pedagógica da TAS; a realidade do curso de graduação

médica ainda baseado no modelo tradicional de ensino, incentivando a memorização de

conteúdo; e a priorização dos alunos quanto ao concurso de residência médica, cujo modelo

de provas é configurado para atender à competição, beneficiando aos que detêm um maior

quantitativo de conhecimentos dos ―detalhes teóricos‖ sobre os que dominam a prática

médica junto aos pacientes.

Como, para aprender significativamente, é necessário que o aluno tenha a

intencionalidade de fazê-lo, uma vez que sua prioridade costuma ser a memorização dos

detalhes solicitados na prova de residência, dificilmente o aluno disponibilizará o tempo

necessário para aprender significativamente, uma vez que para isso é essencial que ele

perceba a informação que recebeu, a interprete e represente mentalmente os significados que

ele construiu. Na presente investigação, esses significados deveriam ser representados por

meio da elaboração de narrativas sobre o aprendizado e o tempo destinado a esse processo,

em geral, foi visto pelos alunos como um aspecto limitante diante da proximidade do

concurso da residência. Como pode ser exemplificado pelo seguinte depoimento de A1:

Toda essa ideia de no último ano, prova de residência, tem que ficar estudando para

fazer múltipla escolha, a gente acaba não aproveitando o que a gente poderia

aproveitar muito mais...Por falta de tempo... e, isso, eu acho que a maior perda que o

162

aluno teve nos últimos anos foi a criação de cursinhos, tudo isso... e o aluno no

último ano ter que só pensar na residência. (A1)

Esta constatação em relação ao tempo para elaboração do PRE, é abordada em alguns

estudos e particularmente por Dagley e Berrington (2005) que recomendam que esse tempo

deve ser respeitado e valorizado para o efetivo uso da ferramenta.

Apesar das limitações e dificuldades encontradas, em essência, a presente pesquisa

planejou descobrir se o PRE poderia estimular o desenvolvimento de uma prática reflexiva e

se poderia ser utilizado como uma ferramenta para facilitar e evidenciar a aprendizagem

significativa. Nesse sentido, a pesquisa conseguiu demonstrar ser possível a utilização do PRE

com essas finalidades. Além disso, foi possível identificar algumas outras contribuições do

presente trabalho.

Inicialmente, uma das contribuições desta pesquisa foi a aprendizagem significativa da

própria pesquisadora sobre as questões de ensino, de aprendizagem e sobre a ação de

pesquisar propriamente dita. Esta constatação demonstra possíveis implicações que a

apropriação de novas concepções pedagógicas pode representar para a formação de

preceptores em serviço, gerando novas abordagens de trabalho e mesmo um melhor

reconhecimento do preceptor como ―educador‖. Tais implicações são salientadas por vários

autores (BOTTI e REGO, 2008; MISSAKA e RIBEIRO, 2009; AYRES, 2004; MITRE,

2008) que discutem, por diferentes perspectivas, o papel e a importância do preceptor, diante

da necessidade de uma formação profissional mais voltada para a prática, a ética, a

comunidade e demais aspectos sociais visando a melhoria da qualidade da atenção em saúde.

Outra possível contribuição do presente trabalho é ajudar a difundir os princípios da

TAS, no contexto da educação médica, para que eles se tornem um conhecimento que possa

enriquecer o desenvolvimento de ações educacionais nesse campo. Pois, conforme salientado

por Feuerwerker (2002), é necessária uma discussão mais profunda sobre que concepções

pedagógicas devem ser adotadas pelas faculdades de medicina, para que busquem alcançar o

modelo de formação profissional defendido pelo novo paradigma para a educação médica.

No contexto do estudo, os resultados encontrados nesta investigação poderão

contribuir para orientar novos ajustes no planejamento do programa, com o objetivo de

melhorar esse processo.

Finalmente, espera-se que o compartilhamento da análise dos resultados do uso do

PRE, pela perspectiva da TAS, encoraje o uso dessa ferramenta em futuras pesquisas e que

contribua para que os profissionais ligados às atividades docentes persistam na busca por uma

163

educação de melhor qualidade e menos conservadora em outros campos de conhecimento e

níveis de ensino.

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174

APÊNDICE 1

Roteiro para entrevistas dos alunos

1- O que pensa sobre avaliação?

2- Como foram suas experiências ao longo da faculdade em relação às avaliações?

3- Já havia trabalhado com portfólio antes desse internato?

4- Qual sua opinião sobre portfólio reflexivo eletrônico como método avaliativo?

5- Quais as principais vantagens?

6- Quais as principais desvantagens?

7- Considera justo o processo de avaliação de habilidades por meio da elaboração de

portfólio?

8- Considera que a elaboração do portfólio contribuiu para aumentar seu aprendizado?

9- Como foi o seu processo de elaboração do portfólio?

10- Já havia utilizado a ferramenta Constructore e/ou outro ambiente virtual de

aprendizagem (AVA) antes desse internato?

11- Especificamente no internato em Anestesiologia qual foi sua opinião sobre a utilização

dessa ferramenta?

12- Quais as principais vantagens?

13- Quais as principais desvantagens?

14- O emprego de um AVA facilitou seu processo de aprendizagem?

15- Em relação ao estudo do programa teórico, considerou importante a utilização da

ferramenta?

16- Como foi a utilização da Constructore? Qual sua opinião sobre os recursos que ela

disponibiliza?

17- Teria alguma sugestão de mudança na utilização da ferramenta virtual?

18- Gostaria de falar algo mais?

175

APÊNDICE 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O Portfólio Reflexivo Eletrônico: uma inovação na forma de avaliar habilidades no

Internato em Anestesiologia

Por meio de entrevista individual, realizada pela pesquisadora, você está sendo convidado (a)

a participar voluntariamente do projeto de pesquisa de Mestrado Acadêmico em Educação em

Ciências e Saúde, desenvolvido no Laboratório de Tecnologias Cognitivas (LTC) do Núcleo

de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ), intitulado “Portfólio Reflexivo Eletrônico: Uma Inovação na Avaliação de

Habilidades no Internato em Anestesiologia‖, que tem como objetivo pesquisar

qualitativamente o uso do portfólio reflexivo eletrônico, como instrumento de avaliação das

habilidades desenvolvidas durante o Internato Eletivo em Anestesiologia, do qual você

participou.

Termo de esclarecimento:

Sua participação nessa pesquisa se dará por meio de entrevista semi estruturada, que será

gravada em áudio e cujas respostas serão posteriormente transcritas e analisadas por mim e

pela minha orientadora, Profa. Miriam Struchiner, para comporem os resultados desse estudo.

O acesso e a análise dos dados coletados serão exclusivamente utilizados por mim e não será

permitido acesso a terceiros. Serão respeitadas todas as normas éticas destinadas à pesquisa

envolvendo seres humanos da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP – MS). Os

objetivos da pesquisa são estritamente acadêmicos e os dados poderão vir a ser publicados e

divulgados, mas sempre mantendo o sigilo quanto a sua identidade. Comprometo-me também

a manter a guarda de todo material pesquisado (questionários, entrevistas gravadas e

transcrições) por um período de cinco anos; após esse prazo todo o material será destruído.

Sua participação nessa pesquisa é isenta de qualquer despesa ou benefício. Os possíveis riscos

que poderão ocorrer dizem respeito a desconfortos gerados por algumas respostas

constrangedoras. A maneira de minimizar esse risco será garantindo o direito do entrevistado

em recusar-se a responder questões que considere inapropriadas ou, em caso de ocorrência de

qualquer desconforto e/ou constrangimento, garantindo a manutenção da confidencialidade

dos sujeitos da pesquisa, bem como evitando qualquer referência pessoal na análise dos

dados. Você terá direito a se manter atualizado (a) sobre os resultados parciais e finais da

pesquisa, que sejam do conhecimento da pesquisadora, e também tem o direito de retirar, a

qualquer momento, o consentimento para sua participação nessa pesquisa.

Garantia de acesso:

Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso a mim ou à minha orientadora no endereço

Rua Prof. Rodolpho Paulo Rocco, Ed. CCS, Bloco L, sala55, subsolo, Cidade Universitária,

ou por meio dos telefones e e-mails abaixo:

-Dra. Mirian Vieira Maia (pesquisadora responsável), médica do Serviço de Anestesiologia do

HUCFF / UFRJ: telefones 25622663 e cel. 99480660, e-mail: [email protected]

-Profa. Miriam Struchiner: 25626627, e-mail: [email protected]

Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com

o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/

176

HUCFF/UFRJ – R. Prof. Rodolfpho Paulo Rocco, 255 – Cidade Universitária – sala 01D-46/

andar térreo; telefone 25622480, de segunda a sexta-feira, de 08 às 15 horas ou pelo e-mail

[email protected]

CONSENTIMENTO

Acredito ter sido suficientemente informado (a) a respeito das informações sobre o estudo

acima citado que foram lidas por mim. Discuti com a Dra. Mirian Vieira Maia, sobre a minha

decisão em participar desse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do

estudo, os procedimentos a serem realizados, as garantias de confidencialidade e de

esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de

despesas e riscos. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o

meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou

prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, no meu ensino nesta

Instituição. Autorizo que o conteúdo de minhas falas das entrevistas, dos textos dos portfólios

e de minhas participações no ambiente virtual da plataforma Constructore, sejam utilizados

nesse estudo e em futuras publicações, com a garantia de que minha identidade não será

revelada. Eu receberei uma cópia desse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE), ficando as demais com o pesquisador responsável por essa pesquisa. Além disso,

estou ciente que eu e a pesquisadora responsável deveremos rubricar todas as folhas e assinar

a última página desse TCLE.

____________________________________________________

Nome do Sujeito da Pesquisa

____________________________________________________

Assinatura do Sujeito da Pesquisa

Data ___/___

/___

Mirian Vieira Maia

Pesquisadora Responsável

Assinatura da Pesquisadora Responsável

Data ___/___

/___

177

ANEXO 1

178

ANEXO 2

Portfólio da Aluna A7

Formulário 1

Vocês deverão inserir nesse formulário suas narrativas sobre o que aprenderam nesse

período (de 12/03 a 23/03) e como está ocorrendo esse aprendizado. Lembrem-se que

devem fazer uma reflexão antes da elaboração desse portfólio, de forma que selecionem

o que consideraram mais relevante nesse período, sempre fazendo articulações entre

teoria e prática. Procurem relatar suas experiências no Centro cirúrgico de uma forma

analítica e não apenas descritiva. Sejam sinceros e verdadeiros. BOAS REFLEXÕES!

1) Paciente V.A.S, 66 anos, HAS, portadora de DPOC e artrite reumatóide (em uso de

imunosupressores). No momento, internada no CTI devido a choque séptico de origem

pulmonar, complicado por EAP desenvolvido durante a internação.

Cirurgia proposta: Traqueostomia.

A paciente chegou lúcida e orientada, (PA= 120X69, SatO2= 96%, Fc= 102 bpm),apenas com

―dripping‖ de fentanil para analgesia. A traqueostomia foi indicada pelo fato de ser esperado

que a paciente ficasse dependente de ventilação mecânica por longo período, além disso,

havia uma historia de intubação difícil e tal procedimento facilitaria a extubação

posteriormente. Como a paciente já veio do CTI, não houve muitos procedimentos que

pudessem ser realizados por mim. A monitorização já veio acompanhando a paciente, além de

já haver um acesso venoso adequado para infusão de drogas e logicamente, um TOT que já

tinha sido posicionado, há 6 dias. A partir de sua chegada, foi feita indução anestésica venosa,

com midazolam e propofol, seguida por anestesia inalatória com isoflurano. Foi realizado

bolus de fentanil, depois do qual observou-se um agudamente episodio de hipotensão

(51X26), que a staff relacionou a infusão rápida do fentanil. Foi realizada infusão de efedrina

e rebaixamento da cabeceira e nova infusão de efedrina, a pressão chegou a 89X49 e assim se

manteve estável até o fim do procedimento. A traqueostomia foi realizada com sucesso, 15

minutos após a entrada do cirurgião.

Aprendizado: esse procedimento foi bom para aprender as indicações de traqueostomia em

paciente em CTI e os importantes efeitos hipotensores do fentanil, principalmente em

pacientes previamente hipertensos.

2) Paciente C.B.B, 69 anos, HAS, portador de câncer de próstata.

Cirurgia proposta: Prostatectomia radical.

Anestesia: geral

ASA II (doença sistêmica controlada por remédios). Embora a classificação dada pela

residente tenha sido essa, eu questionei. Penso que o câncer por si só, ainda que sem

metástase já torna o paciente mais grave. Segundo a classificação ASA, o paciente ASA III

seria aquele com alteração sistêmica intensa, relacionado com patologia cirúrgica ou

enfermidade sistêmica. Eu achei que essa seria a melhor cassificação para ele.

O paciente ao chegar na sala, foi posicionado na mesa e deu-se inicio a monitorização básica:

colocado o cardioscópio (por mim!), esfigmomanômetro e oxímetro de pulso. Em seguida,

realizada venóclise. Logo após, procedeu-se a realizado de posicionamento de cateter

peridural para controle da analgesia pós-operatória. O paciente foi colocado em decúbito

lateral direito, a residente posicionou o cateter e infundiu lidocaina. Depois, foi realizada a

infusão de midazolam e fentanil para indução anestésica, seguida de ventilação sob máscara

de O2 (8L/min), por alguns minutos. Nesse momento, foi iniciada tentativa de TOT que foi

bem sucedida. Porém, ao pesquisarmos ruídos em bases pulmonares percebemos que o tubo

179

estava seletiva, pois a base esquerda estava reduzida em ruído. Então a residente regrediu um

pouco o tubo, resolvendo o problema. Após intubado, foi realizada cateterização de artéria

radial para aferição de PAM. Terminado isso, foi iniciado procedimento cirúrgico. O paciente

permaneceu estável, mas eu não vi até o fim porque fui pro seminário da c.geral.

Aprendizado: Essa cirurgia foi boa porque me fez pensar sobre a classificação ASA. Comecei

também a ajudar na monitorização do paciente. A questão da PAM e suas indicações também

foi levantada. Nesse caso, o paciente era hipertenso previamente e iria

ser submetido a uma cirurgia que poderia trazer importantes repercussões hemodinâmicas. E

também teve esse evento diferente, da seletivação do tubo, seu diagnostico e conduta.

3) Aula sobre monitorização com professorX. Excelente aula na qual foi explicita a

importância de cada tipo de monitorização para o sucesso do ato anestésico e

conseqüentemente, da cirurgia.

4) Paciente 52 anos, sem doenças sistêmicas, portadora de adenocarcinoma de reto localmente

avançado.

Cirurgia proposta: Sigmoidostomia

Anestesia: geral

ASA II

Iniciamos a monitorização, após chegada da paciente à sala de cirurgia, com cardioscópio,

oxímetro de pulso e esfigmomanômetro (eu que fiz!). Depois foi efetuada a venóclise pela

residência, seguida de infusão de fentanil 200 mg+ lidocaína 80 mg+ propofol (200 + 40

mg)+ atracúrio 25 mg. Depois iniciamos ventilação sob máscara O2 8L/min (eu que fiz, com

a staff me ajudando, ai ela foi me mostrando as curvas como é que tem que ser, qual a pressão

que deve exercer, como ver se está tendo escape). Logo, após foi realizada a intubação sob

laringoscopia na 1ª tentativa (eu que fiz, novamente), fixação do tubo, proteção ocular e

passagem de sonda orogástrica (também por mim). Foi feita a infusão de hidrocortisona no

soro, pois a paciente era corticóide dependente. Iniciou-se a cirurgia. Durante o procedimento,

a residente foi me ensinando a fazer a ficha de avaliação anestésica, ver os parâmetros no

monitor e completar a ficha com os mesmos. Mais para o final da cirurgia, foi feita infusão de

dexametasona e droperidol (prevenção de náuseas e vômitos) e dipirona e cetoprofeno

(analgesia preemptiva). A staff me explicou que se faz a dexametasona com o paciente sedado

porque eles observaram que as pacientes apresentavam queixa de prurido vaginal após a

infusão da mesma. Após o termino da cirurgia, foi realizada a descuralização com atropina e

neostigmina. Fiz q extubação e retirada da sonda orogástrica. Paciente encaminhada a RPA,

eu fui junto e vi o preenchimento da ficha pós anestésica.

Aprendizado: para mim essa foi a melhor cirurgia que presenciei porque além de fazer vários

procedimentos legais, vi o preenchimento da ficha, fui perguntando da ação das drogas,

aprendi efeitos colaterais que desconhecia e principalmente, achei importante ter assistido a

cirurgia até o fim, inclusive acompanhando até a RPA.

5) Paciente H.F.L, 70 anos, sem comorbidades, portador de estenose uretral

Anestesia: raquianestesia

ASA I

Essa cirurgia demorou muito a começar devido a falta de material esterelizado. Era um

paciente idoso com queixa de estenose uretral pós procedimento de ressecção prostática via

uretral. Ao chegar na sala o paciente foi monitorizado, feita a venóclise, colocada máscara de

O2 100% 10L/min. Depois o paciente foi colocado em decúbito lateral esquerdo e realizada

anestesia raqui, com injeção de bupivacaína. Alem disso, foi feito midazolam IV, para

sedação do paciente. O paciente manteve-se homodinamicamente estável e a cirurgia

terminou com sucesso e sem intercorrencias.

6) Nos reunimos com o professor Yque falou sobre as propriedade dos anestésicos locais.

7) Com o professor Y tivemos uma atividade em uma das salas do centro cirúrgico na qual

180

aprendemos a ligar e conferir toda a máquina da anestesia, verificar os gases, os níveis de

anestésicos, testar o funcionamento da maquina, preparar a mesa com os itens para intubação.

Comentário:

A semana, apesar da pouca disponibilidade de salas apropriadas para vocês (sem R1), foi um

período que permitiu bastante aprendizado. Ao analisar o portfólio são levados em

consideração alguns elementos, tais como: demonstração de aprendizado, tipo de narrativa

(descritiva ou analítica-reflexiva), que elementos didáticos foram utilizados em seu

aprendizado, organização, poder de síntese, se há articulação entre teoria e prática, se está

havendo a prática de procedimentos básicos, relação interpessoal com os membros da equipe

anestésico-cirúrgica e as atitudes dos alunos frente às diversas situações que se apresentam na

prática diária. Pode-se observar que você foi capaz de refletir sobre como os eventos do

período ocorreram, o que representou aprendizado, demonstrou um perfil crítico ao questionar

a classificação do estado físico de um paciente, dado pelo residente da anestesia. Ë clara,

organizada e objetiva em sua narrativa, realizou alguns procedimentos propostos. Apesar de

não estar relatado, parece ter havido uma boa interação com os membros da equipe. Porém,

houve pouca articulação entre teoria e prática, possivelmente devido a pouca atividade teórica

realizada até o momento. Como forma de provocá-la na busca de aprendizado, qual foi o

objetivo do ―rebaixamento da cabeceira‖ (posição de Trendelenburg), durante o episódio de

hipotensão arterial apresentado pela primeira paciente? Qual o mecanismo de ação da efedrina

nesse episódio? O que é a descurarização? Por que usar neostigmine e atropina na

descurarização?

Você começou muito bem seu primeiro portfólio. Continue nesse caminho. Tente encontrar as

respostas para os questionamentos acima e responda no próximo portfólio. Reitero que não

existe o portfólio certo ou errado. O importante é o que está sendo aprendido enquanto ele

está sendo elaborado. Procure também informar quais anestesistas participaram dos

procedimentos descritos.

Formulário 2

Vocês deverão inserir nesse formulário suas narrativas sobre suas experiências de

aprendizado até o momento e como isto está ocorrendo. Leiam seus portfólios anteriores

e os comentários feitos por mim. Façam suas reflexões antes da elaboração desse

portfólio. É importante que façam articulações entre teoria e prática. Analisem também

os dados clínicos dos pacientes que sejam relevantes para o manejo anestésico.

1) Qual o objetivo do staff ao realizar o ―rebaixamento da cabeceira‖ (posição de

Trendelenburg‖)?

Essa manobra consiste em rebaixar a cabeceira do paciente, em decúbito dorsal, até atingir 40º

em relação ao solo. O objetivo nesse caso foi para aumentar a pressão de perfusão cerebral

com auxílio da gravidade, já que o paciente havia apresentado uma queda brusca da pressão

arterial, reduzindo, assim, a chance de hipóxia cerebral.

2) Qual o mecanismo de ação da efedrina, nesse episódio?

A efedrina é uma amina simpaticomimética, com ação em receptores alfa e beta adrenérgicos

e estimula, ainda a liberação de estoques de epinefrina para os nervos. Isso gera efeito

inotrópico positivo, cronotrópico positivo, causa vasoconstricção periférica. Esses

mecanismos causam o aumento do débito cardíaco e da pressão arterial. Dessa forma, a

efedrina é usado em momentos de hipotensão no tempo cirúrgico para elevar a pressão

arterial, prevenindo danos que a hipóxia pudesse vir a causar.

181

3) O que é descurarização e porque é usada a atropina e neostigmina?

Durante o processo de indução anestésica é optado por realizar relaxamento muscular

importante. Com esse objetivo é procedida a curarização que se utiliza de relaxantes muscular

potentes como pancurônio, vecurônio. Ao obter o relaxamento desejado, sabe-se que todos os

músculos, inclusive o diafragma irão perder o seu poder de contração. Dessa forma, nesse

momento o paciente não consegue ventilar espontaneamente e então, é realizada a intubação.

Ao fim da cirurgia, é necessário realizar o processo inverso, de descurarização, para evitar que

o paciente tardiamente volte a parar de ventilar por ação remanescente da droga na placa

motora. Para tal fim dão utilizados: neostigmina (aumenta o tempo de degradação da

acetilcolina, por inibir reversivelmente a acetilcolinesterase, dessa forma gera efeito

parassimpático pelo aumento da quantidade de acetilcolina na placa motora, estimula os

receptores muscarínicos e nicotínicos, aumentando elevando o tônus muscular e a

possibilidade de contração) e a atropina (é um antagonista muscarínico, revertendo os efeitos

parassipáticos nas terminações nervosas). Em conjunto os dois deixam o processo de

descurarização mais seguro e harmônico.

4) Paciente I.R.M, 48 anos

Essa paciente tinha sido submetida a um procedimento prévio de fasciotomia devido a uma

cirurgia de revascularização de complicou com síndrome compartimental. Após a

fasciotomia, houve complicação no pós operatório tardio com infecção do sitio cirúrgico.

Dessa forma a paciente retornou ao centro cirúrgico para ser submetida a um procedimento de

limpeza e desbridamento da ferida, sob anestesia.

ASA II

Cirurgia proposta: desbridamento cirúrgico de fasciotomia.

Anestesia proposta: anestesia geral

Ao chegar na sala, foi realizada a monitorização e venóclise. A indução foi feita com

propofol, fentanil e lidocaína. O uso do anestésico local por via endovenosa decorre da sua

capacidade de minimizar os efeitos de taquicardia e hipertensão arterial (essas atenuações

podem trazer especial benefício a pacientes com doença isquêmica coronariana), além disso

ela reduz a reatividade brônquica em pacientes asmáticos, reduz a necessidade do uso de

anestésicos no intraoperatório, reduz a resposta inflamatória sistêmica ao ato cirúrgico,

favorece a alta hospitalar precoce e aumenta o tempo de ação de bloqueadores

neuromusculares (li essas informações no artigo ―Efeitos da utilização de 2 mg/ kg de

lidocaína endovenosa na latência de duas diferentes doses de rocurônio e na resposta

hemodinâmico à intubação traqueal‖. Após a indução foi realizada a intubação orotraqueal

com máscara laríngea. O uso da máscara laríngea pode ser feito pelo fato dessa cirurgia

especificamente ser relativamente rápida, já que a essa ferramenta não deve ser preferida ao

tubo se o tempo de permanência for longo. A cirurgia seguiu sem instabilidades

hemodinâmicas ou qualquer outra intercorrência significativa. A paciente recebeu de

analgesia preemptiva dipirona e morfina via endovenosa.

5) Paciente, 60 anos

ASA III

Cirurgia proposta: Correção de aorta abdominal e a ilíaca devido a disseção aórtica.

Essa cirurgia foi bem rica em procedimentos realizados pela equipe da anestesia. Ao chegar

na sala foi realizada monitorização e venóclise. Após isso, foi realizada colocação de cateter

peridural, primeiramente em nível torácico. A tentativa foi mal sucedida e a staff explicou que

essa colocação é mais dificil pelo espaço peridural torácico ter o tamanho bastante inferior ao

espaço peridural lombar (cerca de 2X menor). Assim, o residente acabou realizando a

colocação no espaço lombar mesmo. Esqueci de ver qual o agente utilizado (vou prestar mais

atenção no próximo bloqueio para poder falar sobre o agente e o tipo de anestesia). Em

seguida, indução com fentanil e propofol e realização de intubaçao orotraquel bem sucedida

182

na primeira tentativa. Com a paciente foram realizados três procedimentos bem legais de

associar com a aula do prof X(monitorização). Foi cateterizada artéria radial direita para

pressão invasiva. E alem disso, foi puncionada veia jugular interna para infusão de drogas e

volume e colocação de cateter de Swang Ganz. Essa monitorização mais invasiva, segundo a

aula do prof. X é realizada para termos um controle mais estreito dos parâmetros

hemodinâmicos e poder corrigir qual intercorrência bem rapidamente. Até onde eu vi, a

cirurgia transcorreu sem nenhum problema, só que os anestesistas trabalharam muuuuito (rs).

6) Aula com a senhora sobre os agente halogenados. Achei ótima e essa semana vou tentar

buscar mais bibliografia sobre eles.

Comentário:

Apesar da semana não ter sido tão proveitosa em realização de procedimentos, houve um bom

aprendizado. Você apresenta boa articulação entre teoria e prática. O importante é que você

entenda tudo que é feito pelo anestesista. Não fique com dúvidas. Busque as

informações.Tente identificar a equipe de anestesistas presentes em cada procedimento para

que possamos acompanhar a interação dos colegas com vocês. Muito boa sua narrativa!

Formulário 3

Vocês deverão inserir nesse formulário suas narrativas sobre suas experiências de

aprendizado até o momento e como isto está ocorrendo. Leiam seus portfólios anteriores

e os comentários feitos por mim. Façam suas reflexões antes da elaboração desse

portfólio e percebam o que vocês consideram que precisam conhecer mais e busquem

suas respostas nas fontes que considerarem mais apropriadas. Por exemplo, todos já

tiveram Fisiologia e Farmacologia, portanto, se perceberam que algumas informações

que tiveram já foram esquecidas e são importantes para entenderem o que tem sido

observado nas atividades práticas, retornem aos seus livros não só para relembrar, mas

sim para construir seu aprendizado baseado em suas experiências reais. É importante

que façam articulações entre teoria e prática. Analisem também os dados clínicos dos

pacientes que sejam relevantes para o manejo anestésico.

1) Paciente VSC, 55 anos

ASA III (HAS e coronariopata trivascular)

Cirurgia proposta: Revascularização miocárdica

O paciente deu entrada na sala, procedeu-se a monitorização não invasiva, monitorização por

(BIS- no próximo portfólio dou uma aprofundada nesse assunto!) seguida de venóclise. Na

véspera, o paciente havia recebido 15 mg de midazolam VO (isso foi legal de ver porque

tínhamos discutido, em aula, a importância da medicação pré-anestésica, não só para

ansiólise, como também para reduzir doses de agentes anestésicos no intra-operatório,

reduzindo, assim, chances de efeitos colaterais dose-dependente dos mesmos). Outro ponto

que notei é que o AAS foi suspenso uma semana antes e, embora isso seja quase uma rotina,

eu me perguntava se esse procedimento era realmente necessários, já que o que seria pior?

Um hematoma ou uma trombose coronariana? Hoje tivemos uma aula sobre avaliação pré

anestésica, na qual o prof. X explicou justamente isso. A conduta de suspender a aspirina é

exclusivamente do cirurgião, pois sua presença no ato cirúrgico não é um empecilho para que

a anestesia aconteça. Enfim, a indução anestésica foi iniciada, com propofol, fentanil e

midazolam, bem como bloqueio neuromuscular, seguido de intubação orotraqueal. Enquanto

a residência realizava acesso arterial para posicionamento de PAM o paciente apresentou

taquicardia, quando então se lançou mão do esmolol (beta bloqueador eficaz no tratamento e

prevenção da taquicardia durante eventos cirúrgicos). Lembrando, é claro, que um paciente

coronariopata deve ter frequência bem controlada, já que a mesma aumentaria o consumo de

183

oxigênio, o que pode ser bastante comprometedor para a fibra miocárdica. A droga foi feita

três vezes. Nesse momento, eu sai da sala, pois já estava a algum tempo lá dentro e fiquei com

medo da exposição aos agentes anestésicos.

2) Paciente portadora de hepatite autoimune, que já tinha sido transplantada pela doença,

perdeu o órgão novamente.

ASA IV

Essa procedimento foi um tanto complicado de agente poder participar muito porque eles

estavam com pressa já que o órgão deve ser colocado no corpo em até 12 horas. Observamos

de longe, mas foi uma experiência legal porque os acessos profundos foram colocados

guiados por US, sendo possível perceber que isso torna o procedimento muitas mais fácil (rs)

e reduz o risco de lesões iatrogênicas. Além disso, a paciente contou com um

ecotranesofágico intracirurgico, que ficaria ali tempo o tempo cirúrgico para detectar

possíveis anormalidades cardíacas. Foi muito bom ter visto, ainda que de longe, um trabalho

mais intensivo dos anestesistas.

3) Paciente portadora de lesão intraepitelial de alto grau de colo de útero

Cirurgia proposta: conização

ASA II

Essa cirurgia foi relativamente simples. A paciente foi colocada em decúbito lateral esquerda

e procedida anestesia peridural com lidocaína. O cateter foi deixado posicionado para

analgesia pós operatória. Foi feita sedação com midazolam.

Comentário:

Em relação ao primeiro caso apresentado você demonstra aprendizado, fazendo articulação

entre teoria e prática, quanto à influência da medicação pré-anestésica sobre a diminuição da

CAM. Demonstra também crítica pertinente em relação à necessidade de se suspender ou não

o AAS antes da cirurgia. Em relação a esse ponto (uso de AAS antes da cirurgia), saberia

explicar que tipo de influência poderia haver sobre a conduta anestésica a ser adotada, caso o

paciente tivesse que ser submetido, por exemplo, a uma cirurgia ortopédica de membro

inferior?

Você não tem conseguido realizar procedimentos? Sei que com a redução no número de salas

tem sido difícil oportunidade para que vocês realizem procedimentos, porém sempre tem uma

ou duas salas sem R1. Os anestesistas não estão permitindo? Você não tem identificado as

equipes de anestesistas em seus portfólios

Na avaliação dos portfólios que fizemos na quinta (6/4) solicitei que vocês procurassem

avaliar os pacientes previamente (fazer uma anamnese dirigida), tentando identificar, por

vocês mesmos, dados pré-operatórios (clínicos, laboratoriais, uso de drogas...) que fossem

relevantes para o manejo anestésico. Esse exercício irá fazer com que vocês possam avaliar

clinicamente o perfil de cada paciente e articular com o que vocês já vivenciaram e pensar

sobre os cuidados e condutas que estão observando na prática. Isso permitirá que vocês

ampliem seus aprendizados.

Formulário 4

Vocês deverão inserir nesse formulário suas experiências de aprendizado até o momento

e como isto está ocorrendo. Reflitam sobre os dados clínicos pré-operatórios, medicações

em uso, observações sobre as condutas anestésicas observadas, intercorrências

ocorridas. Façam uma avaliação global de todos esses elementos,observem eventuais

lacunas no aprendizado de cada um, busquem as respostas nas diversas fontes teóricas

que dispõem e façam suas narrativas evidenciando o que efetivamente aprenderam até

184

aqui. Citem que fontes teóricas utilizaram para auxiliar na construção dos novos

conhecimentos adquiridos. Encarem esse momento não como uma obrigação apenas,

mas como uma oportunidade real de aprendizado para suas vivências profissionais

futuras.

1) Monitorização Biespectral (BIS): Consiste em um tipo de monitorização não invasiva, que

analisa através do eletroencefalograma a atividade cerebral, correlacionando com o nível de

consciência. Dessa forma, é possível analisar de maneira mais segura se a quantidade de

anestésico está sendo suficiente para manter desejado plano anestésico. Tem como vantagens:

reduzir memória sobre eventos intra-operatórios, reduzir necessidade de hipnóticos, despertar

mais rápido após a cirurgia, recuperação mais rápida, diminuir risco de doses excessivas e

qualificação mais rápida para alta da RPA.

2) Paciente, 83 anos, portador de HAS controlada e adenocarcinoma gástrico.

Cirurgia proposta: gastrectomia subtotal

ASA III

O paciente chegou ao centro cirúrgico e foram colocadas monitorização e linha venosa. Logo

após, posicionado o cateter peridural. Iniciada indução com midazolam e fetanil, associado a

prevenção de êmese com dexametasona. Além disso, relaxamento muscular. Feita IOT.

Colocado cateter arterial para PAM. Durante a cirurgia, observou-se aumento considerável da

pressão arterial. A staff pensou dever-se a dor, então foi feita nova infusão de anestésico pelo

cateter peridural e aumento da quantidade de agente inalatório e aumento da dose de propofol.

Cabe lembrar que esses esforços foram feitos de maneira escalonada até ser obtivo um valor

de PA mais desejável. Achei muito interessante essa cirurgia pois pude perceber como é

possível reduzir um altíssimo valor de PA apenas reduzindo a dor do paciente e se utilizando

dos próprios ―efeitos colaterais‖ dos agentes anestésicos, sem precisar lançar mais de agentes

hipotensores propriamente ditos. Um tempo após esses esforços, no sentido de reduzir a PA, a

mesma caiu de maneira importante. Deveu-se tal fato, provavelmente, segundo a staff, pelo

efeito da analgesia peridural no controle da dor. Nesse momento, optou-se pelo uso da

efedrina para novo controle pressórico. A partir daí o paciente manteve-se

hemodinamicamente estável. Nessa cirurgia, foi usado o colóide no lugar de cristalóide,

perguntei ao residente se tinha um motivo especifico e ele me explicou que na verdade, tanto

faz, porem o colóide tem um efeito um pouco mais permanente dentro do vaso, mantendo o

volume intravascular por mais tempo. Dei uma olhada no prontuário e observei que foram

solicitados como pré operatórios Rx de tórax, ECO e teste de esforço. Achei interessante

observar isso porque durante essa semana tivemos aula com professor Leonel sobre quais

exames pré operatórios devemos pedir e qual a sua importância, dependendo da cirurgia. Esse

paciente, por se tratar de um paciente idoso, com possibilidade de evento isquêmico agudo,

era importante avaliar antes se ele agüentaria a carga hemodinâmica dessa cirurgia.

3) Paciente 60 anos, portadora de câncer de mama, sem mais comorbidades.

Cirurgia proposta: ressecção da mama.

ASA III

A paciente chega a sala, é realizada monitorização mais venóclise. Começa a indução

anestésica com fentanil e propofol. Realizada a IOT. Iniciado agente inalatório. Durante essa

cirurgia a paciente manteve-se hemodinamicamente estável e a mesma trancorreu sem

problemas.

4) Aula com professor Y sobre agentes anti-eméticos.

185

5) Aula com professor X sobre exames pré-operatórios.

Comentário:

Continua sem realizar procedimentos?

Em relação à sua observação sobre a necessidade de uma boa avaliação pré-operatória

articulada com a proposta cirúrgica, o que você observou especificamente nesse caso? Como

estavam os resultados dos exames daquele paciente? Mostravam que ele ―agüentaria a carga

hemodinâmica dessa cirurgia‖?

Formulário 5

Procurem relatar nesse portfólio considerações sobre a percepção de vocês em relação

ao manejo anestésico que deveria ser adotado para cada paciente, baseado nos dados

pré-anestésicos e com o que já aprenderam até aqui.Comparem com o que foi realizado

em sala e discutam sobre as possíveis diferenças observadas e porque ocorreram.

Tentem se ver como um clínico, com conhecimento em Anestesiologia,que está avaliando

um paciente para cirurgia e que depois acompanha esse mesmo paciente no per-

operatório. O que ocorreu era o que vocês esperavam? O que foi diferente? Por quê foi

diferente? Façam suas reflexões e críticas!

1) Paciente 77a, hipertensa (não faz tratamento), portadora de Ca de canal anal. ASA 3.

Cirurgia proposta sigmoidostomia. Encontrava-se hipertensa ao inicio da cirurgia, com

normalização após indução com fentanil, lidocaína, propofol. Usado rocurônio para

relaxamento muscular e isoflurano para manutenção em plano anestésico. A medicação

antiemética foi dexametasona e droperidol. Analgesia preemptiva com dipirona. Apesar de ser

uma paciente bastante idosa e já debilitada pela doença consuptiva, a cirurgia correu sem

intercorrências importantes.

2) Paciente 38ª, sem comorbidades, portador de fistula de canal anal. ASA 1. Cirurgia para

correção da fistulas (fistulectomia). Nesse paciente foi realizado bloqueio (raquianestesia,

com uso de bupivacaina). Foi feita clonidina como adjuvante. O midazolam foi usado para

conferir ansiolise e maior conforto ao paciente, durante a cirurgia. Questionei ao residente o

porque de não ter sido feita anestesia peridural com manutenção de caterer para analgesia

posterior. O mesmo explicou que o paciente teria alta brevemente por ser uma cirurgia

simples e que, portanto, manter o cateter atrasaria sua alta. Também perguntei o porquê de

não colocar morfina na raquianestesia. Foi explicado que a morfina demandaria colocação de

sonda vesical e que isso retardaria a recuperação.

3) Paciente 50 a, diabetes e HAS compensadas. ASA 2. Cirurgia de extração de cisto de

mandíbula. Essa cirurgia foi no mesmo anestésico que as demais com anestesia geral, de

interessante nela que eu pude acompanhar foi a tentativa de intubação nasotraqueal com

auxilio de laringoscópio equipado com uma câmera. Essa ferramenta facilita bastante a

intubação orotraqueal, pois facilita a visualização da glote. Porém, não foram bem sucedidos

ao tentar fazer a intubação nasotraqueal, pois ficou dificil mobilizar o tubo e coloca-lo na

traquéia sem visualização direta. O resto da cirurgia transcorreu sem problemas.

4) Paciente 24ª, sem comorbidades. ASA 1. Retirada de cisto de maxila . A cirurgia também

transcorreu sem problemas, sendo que essa intubação pode ser orotraqueal mesmo. Eu que fiz

a venóclise.

5) Paciente 71a, DPOC e doença arterial. ASA 3. Cirurgia de by pass poplíteo. Indução

186

anestésica transcorreu sem problemas. Foi colocada uma PAM no paciente. O procedimento

ocorreu sem que o paciente apresentasse repercussões hemodinâmicas significativas.

6) Aula de Ressuscitação cardiopulmonar.

Obs: Professora, achei que o padrão do portfolio dessa semana fosse semelhante aos que fiz

anteriormente. Só depois que digitei tudo no word é que vi. Na semana que vem eu faço com

esse novo padrão. Desculpe.

Formulário 9

1-Procurem relatar nesse portfólio considerações sobre a percepção de vocês em relação

ao manejo anestésico que deveria ser adotado para cada paciente, baseado nos dados

pré-anestésicos e com o que já aprenderam até aqui.Comparem com o que foi realizado

em sala e discutam sobre as possíveis diferenças observadas e porque ocorreram.

Tentem se ver como um clínico, com conhecimento em Anestesiologia,que está avaliando

um paciente para cirurgia e que depois acompanha esse mesmo paciente no per-

operatório. O que ocorreu era o que vocês esperavam? O que foi diferente? Por quê foi

diferente? Façam suas reflexões e críticas! Não esqueçam de relatar as experiências

dessa semana e da anterior.

1) Paciente 15 anos, ASA 1E. Apendicectomia de urgência. Essa cirurgia foi legal porque o

acesso venoso não foi fácil de obter, então o anestesista acabou pegando a veia jugular

externa. Além disso, quem fez todo o processo de pré oxigenação e intubação orotraqueal

fui eu, então foi bem válido.

2) Paciente 70 anos, ASA 3. Desbridamento de ferida. Essa cirurgia foi bastante legal

porque quem fez a raquianestesia fui eu. Orientada pelo professorY, realizei a assepsia e

depois a raquianestesia.

3) Paciente 50 anos, ASA 2. Essa cirurgia a intubação foi realizada com a técnica de

intubação com paciente acordado. A princípio a indicação foi a prevenção de

broncoaspiração. Porém após a intubação percebemos que a região cervical do paciente

―flutuava‖. Não havia relato na história de espondilite aquilosante, mas essa parecia ser

uma comorbidade do paciente e ter feito a intubação acordado acabou sendo ótimo,

porque a via aérea dele já era difícil. Fiz uma punção arterial para colheta de gasometria

arterial.

4) Paciente 59 anos, ASA 2. Colecistectomia eletiva. Cirurgia trascorreu sem grande

complicações.

5) Paciente 55 anos, ASA 2. Ressecção de cisto de maxila. Intubação orotraqueal.

Cirurgia sem intercorrências.

6) Paciente 26 anos, ASA 1. Fratura de rádio. Essa cirurgia achei interessante pois foi

feito um bloqueio de plexo braquial, que eu ainda não tinha visto.

7) Paciente 66 anos, ASA 3. Derivação biliodigestiva. Eu que intubei esse paciente,

porém não pude assisti-la até o fim porque havia algum compromisso na cirurgia geral.

187

ANEXO 3

Entrevista com aluna A5, em 09-11-11

P: Queria saber, você já decidiu mesmo pela anestesia. Sem dúvida? Aí queria que você me

relatasse como é que foi essa sua escolha pela especialidade.

A5: Medicina foi uma coisa que eu sempre quis. Desde que eu me entendo por gente, eu

sempre quis medicina. Meus pais são médicos. Minha mãe e meu pai são médicos. Meu pai é

cirurgião e minha mãe é anestesista. Então eu sempre fiquei nesse meio. Só que entre cirurgia

e anestesia, eu entrei na faculdade sem saber o que eu gostava mais. Aí eu entrei na faculdade

e durante a faculdade acabei me envolvendo com a anestesia no sentido de fazer PINC no

ambulatório de anestesia, fazer eletiva de dor, clínica de dor e essas coisas. E aí acabou que

durante a faculdade vendo, me envolvendo com essas coisas, decidi por anestesia. E como eu

já conhecia o ambiente por causa da minha mãe, aí pesou mais anestesia, por isso que eu

decidi.

P: Legal. E assim, ao longo da sua faculdade aqui, em relação a todas as disciplinas por que

você passou, como é que você vê a questão avaliação. Das avaliações, provas...

A5: No ciclo básico que eu acho que é tudo muito aquele jeito de colégio. Tem as aulas

teóricas, tem a provinha e só. Não acho que seja uma forma de avaliar justa ou pelo menos

não espelha exatamente nem o que o professor ensina e muito menos o que o aluno aprende,

porque são só aquelas provinhas ou múltipla escolha ou discursivas e que não avaliam tanto.

Já quando começa o ciclo profissional da faculdade, a minha turma em si teve vários

problemas durante a faculdade porque não tivemos muitas provas práticas. Em vários

momentos em que normalmente as turmas têm provas práticas, minha turma não teve por

problemas estruturais do hospital. Sempre tinha algum problema e a gente não tinha prova

prática. Então acabou que no ciclo profissional a nossa avaliação também se baseou muito em

provas teóricas. E no ciclo profissional mais ainda, prova em múltipla escolha e nesse sentido

aquelas provinhas bem simplificadas, que eu também acho que não seja a melhor forma de

avaliar. Durante o internato, no internato de clínica, também é só prova, e cirurgia também só

prova. Aí no internato de ginecologia teve uma avaliação no estilo portfólio, que a gente teve

a oportunidade de usar esse estilo, que eu acho que é válido. E nos outros internatos é tudo

igual, é só prova teórica, mas discursiva, o que eu acho que é melhor.

P: Então você falou que já tinha trabalhado com portfólio na ginecologia. Assim, comparando

com o que a gente fez aqui, tem diferença? Como é que era isso?

A5: Tem diferença, mas eles são bem parecidos. A única diferença é que lá eles pediam pra

gente dar um embasamento mais teórico e aqui a gente fez um embasamento mais reflexivo,

apesar de também ser cobrado um embasamento teórico, o que é muito válido. Eu acho que a

única diferença é basicamente essa. Lá ele não cobrava muito essa reflexão. Era só pegar e

escrever o caso e descrever a teoria. A gente não pensava muito sobre aquilo, só pegava o

caso, via na teoria e transportava. Aqui teve a oportunidade de a gente descrever as coisas que

a gente pensava sobre o assunto. Porque lá, não. Apesar de você pensar, porque na hora de

escrever, mal ou bem, você tem que pensar, aqui a gente pôde mostrar isso. Essa análise

reflexiva sobre os casos.

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P: E qual a sua opinião sobre usar esse instrumento do portfólio com reflexão para avaliar?

A5: Acho bem válido. Primeiro porque você percebe exatamente quais alunos estiveram

presentes nas atividades e quais não estiveram. Quais alunos estiveram prestando atenção no

que estava acontecendo e quais não estavam. Aqueles que precisam de mais apoio pra

aprender alguma coisa e quais não precisam. Então acho que dá pra ter uma avaliação mais

individualizada de cada aluno. Acho que é um método muito útil para isso. E além do mais

exige que o aluno corra atrás das informações teóricas sobre aqueles assuntos. Porque não

adianta nada a gente ver aquilo na prática e ficar com as dúvidas e nada levar a gente a

procurar na teoria o porquê daquilo. Eu acho que o portfólio acaba sendo um instrumento que

ajuda a gente a fazer isso. Obrigar a gente a fazer isso. Porque a gente pra escrever tem que ter

um embasamento teórico, a gente acaba tendo que procurar aquelas informações. Então acho

que é um método válido.

P: Então, assim, as vantagens você já falou. Agora o que você vê de desvantagem no

portfólio?

A5: No portfólio em relação aos outros? Em relação aos outros métodos?

P: Não, em relação ao portfólio em si. Você acha alguma desvantagem em ter que fazer o

portfólio?

A5: Não. Na parte dos alunos fica mais trabalhoso. Mal ou bem a gente perde muito mais

tempo fazendo isso do que fazendo só uma provinha. Mas, para o avaliador, a desvantagem

seria não direcionar as perguntas. Quando você me avalia por portfólio, eu estou te mostrando

o que aprendi. Você não está me perguntando o que você quer que eu aprenda. Então eu acho

que as duas coisas de repente têm que ser combinadas. Tem que ter uma avaliação teórica

para isso, para o professor perguntar exatamente aquilo que ele quer saber. E um portfólio

para abrir ao aluno uma oportunidade de refletir sobre as dúvidas dele, de correr atrás das

informações.

P: Em relação a você, como era esse processo de elaborar o portfólio? Como é que você

fazia? Você tinha uma rotina?

A5: Na verdade todo dia eu escrevia os casos do centro cirúrgico. Eu escrevia resumidamente

numa folha. Eu descrevia os casos e o que eu tinha pensado, mas de forma resumida. Todo dia

para não esquecer. E num determinado dia da semana, na quinta-feira, que foi o dia que eu

determinei para fazer isso, eu sentava e desenvolvia cada caso e ia desenvolvendo as reflexões

e as bases teóricas... Enfim, todos os dias eu fazia uma coisa resumida para eu não esquecer e

num dia eu desenvolvia cada um dos itens. Era basicamente isso o que eu fazia.

P: Eu percebi que o seu portfólio sempre foi muito dentro do que a gente esperava desde o

início. Todos se queixaram que depois de muito tempo foram ver que tinha comentários. Você

também não viu esses comentários desde o início?

A5: Eu não vi os comentários desde o início. Eu vi só depois também. O que me chamou a

atenção foi quando você postou dos comentários é que a gente foi procurar realmente. Mas eu

não sei. Eu fazia naquele estilo e acho que mantive o mesmo estilo sempre. Depois que eu vi

nas correções que era aquilo que você queria mesmo, aí eu mantive.

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P: E em relação a trabalhar num ambiente à distância, o Constructore, você já tinha feito isso

ao longo da faculdade? Alguma disciplina usou esse recurso, uma ferramenta virtual para

ajudar na aprendizagem?

A5: É, na ginecologia eles têm uma coisa no Constructore. Mas aquilo não é utilizado com a

frequência que a gente utilizou. A questão do fórum... tudo isso era mais um veículo para

vincular a questão dos artigos, um ou outro texto que eles queriam que a gente lesse. E até o

próprio portfólio era feito por e-mail mesmo. Não era feito pela ferramenta. Só usei de fato

todas as ferramentas aqui, no internato de vocês.

P: E o que você achou do uso de uma ferramenta virtual para ajudar nesse processo de

aprendizagem?

A5: Acho válido. Acho válido por isso, pela questão dos textos, que fica muito mais fácil de

vocês vincularem para a gente. Disponibilizar pela Internet os textos que a gente tem que ler.

E a questão do fórum, que apesar de a gente ter ficado muito no início, deu para ter uma ideia

de que funciona. A única coisa que limita um pouco esse tipo de coisa é a questão do tempo

de acesso, porque cada um entra num tempo diferente então acaba que a discussão fica

fragmentada. É diferente de você sentar numa sala e discutir todo mundo junto, sabe? Fica um

pouco fragmentado. Mas eu acho que é válido. Assim, eu não acho que educação à distância

seja solução para nada, mas eu acho que complementa. Como complemento eu acho válido.

P: É uma forma de você poder até se comunicar com o seu preceptor a toda hora. É à

distância, mas aproxima. Às vezes você só ia poder falar comigo na outra semana...

A5: É, facilita muito nesse sentido, até para tirar dúvidas.

P: E você achou difícil manipular o Constructore?

A5: Não, bem fácil. É tudo bem auto-explicativo lá. Não achei difícil não. A ferramenta é

rápida, as coisas são acessadas de forma rápida.

P: De alguma forma você achou que esse ambiente virtual ajudou no seu processo de

aprendizagem?

A5: Ajudou. Acho que sim. Primeiro, só o fato de a gente ter feito os portfólios já ajudava.

Me ajudou com certeza, porque eu fui buscar as informações de muita coisa que eu não tinha.

E segundo foram os textos que vocês colocaram para a gente ler através do virtual. Acho que

ajudou sim, sem dúvida.

P: Então você já acabou de responder o que a gente quer saber em relação ao programa

teórico. Você também acha que ajudou, né?

A5: É, ajudou também. Porque mal ou bem é mais uma fonte de teoria que a gente tem.

P: Você teria alguma sugestão a dar em relação à ferramenta? Alguma dificuldade que você

tenha tido?

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A5: Acho que, coisas a mais, eu não senti falta de nada não. Acho que de repente deixar o

fórum melhor. Acho que a única coisa que poderia ser feita melhor é isso mesmo. Os

portfólios eu achei perfeitos, nada a mudar. Só o fórum que podia ser mais dinâmico.

P: Em relação ao internato em si, o que você achou? Uma avaliação global.

A5: Em termos de parte práticas, apesar dos pesares, de a gente ter passado pelo fechamento e

tudo isso, eu acho que foi bom. Porque mal ou bem eu consegui fazer o que eu achava que eu

iria, que estava dentro das minhas possibilidades de fazer dentro de um centro cirúrgico que

tem um monte de gente, em que a concorrência é grande. Mas eu acho que foi bom. Eu

sempre tive os preceptores do meu lado, os residentes sempre me ajudaram. Toda vez que eu

tinha alguma dúvida eles se mostravam sempre disponíveis para responder. Então eu acho que

a parte prática não tenha ficado devendo em nada, não. Na parte teórica eu acho que a gente

conseguiu discutir bastantes coisas, a gente teve algumas aulas muito boas. Acho que poderia

ter tido mais, com certeza. Aulas de todos os temas que no início a gente tinha se proposto a

ver e acabou que não teve todas. Mas foram problemas estruturais mesmo, não de

coordenação. Acho que a ideia da coordenação está muito bem feita. Acho que se

conseguirem colocar em prática tudo o que está sendo pensado, acho que funciona muito bem.

É um internato muito bom.

P: E em relação para a próxima turma que vem, você acha que a gente deveria modificar mais

alguma coisa além dessas que você já colocou, tentar organizar melhor a parte teórica e o

fórum também?

A5: Acho que não. Acho que o modelo é bom. Acho que o modelo está bem colocado.