miranda e miranda_construindo a relação de ajudatexto

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1 1 r .. -t-- CONSTRUINDO , A RELAÇÃO DE AJUDA Clara Feldman de Mi randa Már c io ci o de Miranda - . _ __..,_ Aprendemos a leir, a . escr-ever. a somàr, a sub- t1 ra ir. Ens i naram-nos a t raçar mapas . a descrever eventos hi stórícos.. a fa l ar outras nguas e mu i tas co isas mais.. __, ... : Por que não nos ensinara m a nos irel acíonar- mos uns com os óutros? Por que não aprendem os a conviver de manei- ra construtiva com as pessoas que nos são próx i- mas? · C lara. psicó l oga. e Márcio. méd i: co. coirnpa- nhei rt>s no traba lho e na vi da. acreditam que é pos- sível construir-se uma relação verdadeira com as · ·. - :- p essoas <lU e nos rodei am. seja nos contatos profis- sionais. seja nos encontros do dia -a-d i a. Basta , para isso. q ue sejam aprend i das al gumas habil idades in- te.-pessoais. ap resentadas aqui de manei ra si stemá- tica e o bj etiva. Este li vro dest i na-se a pai 1s. pr ofessores. psi - logos, orien tadores. prufíssi ona is de saúde . amigos, parcei ros - a todos aqueles que, nas suas relações com pessoas. pretendem construi r. ao invés de des- tr-u1r; a todos os C!Jind i datos a encontros humanos _; p rofundos e verda deiros. . > ;;. CONSTRUINDO A RELACÃO DE AJ 1 UOA -' EDIÇÃO Cl ara Feldman de IVtirancla IVlérc io Lúc1 io de IV1iranda

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Relação de Ajudas

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Page 1: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

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CONSTRUINDO,

A RELAÇÃO

DE AJUDA

Clara Feldman de M i randa Márc io Lúcio de Miranda

~ - . _ __..,_

Aprendemos a leir, a .escr-ever. a somàr, a sub­t 1rair . Ensinaram-nos a t raçar mapas. a descrever eventos h istórícos.. a falar outras línguas e muitas coisas mais.. __, ... :

Por que não nos ensinaram a nos irelacíonar­mos uns com os óutros?

Por que não aprendem os a conviver de manei­ra construtiva com as pessoas que nos são próxi­mas? ·

C lara. psicó loga. e Márcio. médi:co. coirnp a­nheirt>s no trabalho e na v ida. acreditam que é pos­sível construir-se uma relação verdadeira com as · ·.-:­p essoas <lUe nos rod eiam. seja nos contatos profis­sionais. seja nos encontros do dia-a-d ia. Basta, para isso. q ue sejam aprendidas a lgumas hab il idades in­t e.-pessoais. a presentadas aqui de m aneira sistemá­tica e o bjetiva.

Este livro dest ina-se a pai1s. professores. psicó­logos, orien tadores. prufíssionais de saúde. amigos, parcei ros - a todos aqueles que, nas suas relações com pessoas. pretendem constru i r. ao invés de des­tr-u1r; a todos os C!Jind idatos a encontros humanos _; p rofundos e verdadeiros.

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CONSTRUINDO A RELACÃO DE AJ1UOA-'

2~ EDIÇÃO

C lara Feldman de IVtirancla IVlérci o Lúc1io de IV1iranda

Page 2: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

< .

..

OONSTRU,INDO A RELACAO DE AJUDA N~R\A A!ViAD

V. Co.-npra, Vendo, Troca~</ Uvros novos e LlE<.d9'S

RU.A TAMÓIOS> 74 8 Tels. : 3201-8 186 I _j27 l -0486

83 AN f1S NA VH)P. CULTURAL / DE B H - ,_,e

11 fl .. ~ ~i .- ,,. .- : .,.., . .... -- -- ... .,., . . -.-- -- ... -

Page 3: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Copyright © 1983 de Clara Feldman de Miranda Márcio Lúcio de M iranda

Capa e Ilustrações Regina Coeli Rennó

Rua do Ou~o. 104 conj. 605 - Fone: C031 I 221 -9235 Bel.o Horizonte - 30.000 - M inas Gerais Brasil

Ao Márcio , com quem vivo minha mais profunda relação de ajuda; a um só tempo. o ajudadormais efetivo, o ajudado mais terno.

À Cfara, que me ajudou a perder o medo de perder, condição fundamental para ganhar.

Page 4: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Agradecimentos

A Wofber de Alvarerrga -terapeuta, mesue. amigo.

A B ernard G . Berens.on e Robert R . Carkhuff -1T1estres.

Aos nossos a lunos, clientes e creinandos ·-ajudados.que rorarn, tantas vezesl nossos melhores aju dadore.s.

Neste livro, vamos falar de como podem ser const<u<das as relações entre as pessoas. especial­mente aquelas 'relações em que uma pessoa tem a intenção de ajudar a outra.

Mas. antes de mais nada, vamos construir uma relação com você, leitor. Nossa intenção é ajudá-lo, seja de que forma for. Podemos ser bem sucedidos nessa tarefa ou não.

Antes que você comece a ler as páginas seguin­tes. gostari'amos de fazer uma observação a respeito de tudo o que você vai encontrar neste livro - isto é, se você chegar a lê-lo até o f im.

Os aspectos que vamos abordar são fruto de nossa experiência na vida pessoal, no consultório. nas salas de aula. no trabalho com grupos. Dessa experiência nasceu a crença de que esses aspectos sãà importantes nas relações humanas. em geral, e nas relações de ajuda, em particular. Isso não signi ­fica. no entanto, que as crenças devam ser tomadas como regras. Aliás. uma de nossas crenças é de que as regras não funcionam.

Nossa intenção é apenas compartilhar com vo­cê algumas coisas em que acreditamos. Algumas de­las podem servir a você. outras não. t a esse pro­cesso de discr iminação e seleção que nos submete­mos cada vez que lemos e escutamos outras p essoas failando de suas crenças. Absorvemos. das experiên­cias alheias e de nossa própria só aquilo que se mos­tro u efetivo e, ao mesmo t empo, condizente com nosso sistema de valores. estilo de vida, jeito de ser. A partir disso, constru ímos nosso estilo de traba­lho.

Esse é nosso convite a você - per1gunte-se. a cada l inha:

"O que isso tem a ver comigo?"' A bsorva o que encontrar de bom nestas páginas. jogue fora o que não o for e construa seu próprio estilo.

Belo Horizonte. março 1983.

C.F. M. M.L.M.

Page 5: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

1,. COMPREENDENDO A RELAÇÃO DE AJUDA De que são feitas as pessoas si'gn ificati\olas? Como tudo começou Quem precisa de ajuda? Q uem pode ajudar? Alguns princípios dai relação interpessoal

2. ATENDENDO e abrindo as portas da percepçã"ol Preparando o ambiente f ísico Acolhendo A tenden do fisicamente Observa ndo Escutando

3. RESPONDENDO (abrindo as portas da comunicação) R1espondendo ao conteúdo, Respondendo ao sentiment o Respondendo ao sentimento e conteúdo Respondendo oom imagens Respondendo ao comportamento Respondendo, ás perguntas R espondendo c om os próprios sen timentos

4 ., PERSONALIZANDO (abrindo as portas da comp reensão) Transformando a vítima em agente A s fases do personalizar

5. OR I ENTANDO

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(a brindo as ponas da ..-ealização) Orientando formalmente O significado da mudança Existe fim para o processo de ajuda?·

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Page 6: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

"O sentido de ligação a outra pessoa é um re­quisito básico para o crescimento individual. O re­lacionamento deve ser tal que cada pessoa seja con­siderada um individuo com recursos para o seu pró­prio desenvo.Jvlmento. O crescimento, às vezes, envolve urna lura interna entre necessidades de d e­pendência e de autono.rnia; mas o indivf'duo se sen­te· livre para se encarar se tiver um relacionamento em que sua capacidade seja reconhecida e valoriza­da e em que ele seja aceito e a.rnado. Então ele es­tará apto a desenvolver seu próprio potencial de vi­da, a tornar-se mais e mais singular, aut'odetermina­do e espontâneo. "'

Clark Moustakas

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Page 7: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

DE QUE SÃO FEIT AS AS PESSOAS SIGN IFICATIVAS?

Pare por um momento - empreenda uma bus­ca no seu arqu,ivo pessoa l - esse .arnorntoad'o de vi­vências, marcantes o suficiente para teriem sid'o r1e­g i1stradas ao longo de su1a vida. Se você· se pergun-· tar : "Qual foi a Pessoé!l_!!la is~gnificatiya ~~ minh~vi,­da? Ouem foi aquela pessoa que me ajudou em mo­mentos d e crise ou com quem mantive uma convi ­vência ta"o construtiva a ponto de jamaís ter-me es­quecido dela? Um v izinho? Um t io? Um ps:ofessor? Um médico? Meu pai? Minha mãe? Meu parceiro? Aquele jornaleiro da esquina que me viu crescer? Ou . .. qualquer outra pessoa?"

~ provável que sua resposta seja semelhante às de muitas outras pessoas a quem foi feita essa mes­ma pergunta - clientes; alunos de Psico logia. Odon­tologia, Medioina; enfermei ras; professores; médi ­cos e muit,os outros .• no decorrer de processos, de terapia, ,em cursos regulares na Universidade ou encontros esporádicos para treinamentos ou pa­lestras.

Não importa quem foi essa pessoa significa­tiva. 12

O que imponaé saber o que a mornou tão mar· conte cm suo vid2. E é esse quê o ponto comum a todas as resposcas : ela se tornou importante. não pela aparência física. sexo. idade. atividade pr-o­fissional. conhecimentos teóricos ou grau de paren· tesco; sua importância reside. certamente. em de­terminadas caracterist}ça~ R~~is ou .. !!ª~ de personalidade .. que deram direção ao relaciona­men to que ela manteve com v~. ~ Talvez você a descrevesse como uma pessoa; humana e calorosa; como uma pessoa acolhedora.! aceitativa. estimulante; ou. Quem sabe. como al­guém Que sabia escutar muito bem. oompreender muito bem; alguém que era capaz d e perceber sua aflição e sintonizar com você sem que uma úni-. ca palavra _fosse dita; e. até mesmo. como alguém' cujos conselhos sempre funcionavam. _

Enf im. oertamel'"'te você escolheu como a pes­soa significaitiva em sua vida alguém que possuía. em alto grau. o que chamamos de habilidades in­terpessoais - como o própri o cermo índ ica, habili­dades e .ntre pessoas. aquelas habilidades Que nos permitem um relacionamento integral e constru­tivo com o outro.

E agora talvez seja a sua vez de ser essa pes­soa significativa para alguém - um vizinho. úm so­bdnho. um aluno, um cliente. um filho. o par-ceiro - ou a próxima pessoa aflita que você encontrar. Qualquer pessoa que precise de você ou que bus­que sua ajuda. de maneira explicira ou não. e para quem você esteja dispon ível.

Se esse é o seu caso. então você precisa de certas habilidades para ajudar. E cla ro. muitas des­sas habilidades já fazem parte de você. in tegradas à sua pessoa ao longo de sua vida e aprendidas. quem sabe. com aqu ela pessoa significa tiva de quem você se lembrou. Talvez até mesmo sem per­ceber. você tenha passado a fazer com os outros o que fizeram com vooê. Ao avaliar suas próprias ha· bilidades interpessoais. você pode-se perceber co­mo uma pessoa humana, calorosa. acolhedora. acei­tativa. esti mui ante.

Ainda ass im. você pode ser muito mais do 13

Page 8: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

q u e isso. Você pode não só desenvolver todas as habi lidades que iá tem. como também adqu iri r novas e incorporá-tas à sua pessoa.

Essa é a proposta básica do livro - ajudar vo· cê a : - identificar habilidades interpessoais presentes em

seu relacionamento com as pessoas; - desenvolver ou reforçar essas habil idades; - adqui r ir n ovas habi l idades interpessoais.

A c ima de tudo. você pode tornar-se atento pa­ra as relações de causa e efeito q ue estabelece com o mundo a seu redor . Você pode. a cada m omento. peq:1u n ta r-se :

- "Que efeito p roduzem em mim as pessoas com quem convivo?"

- " Q ue efeito produ zo nas pessoas com quem con­vivo?"

Em outras palavras, você pq_d~ap_c~nde!:.J!_qe· tectar. em vooê meS'!J!!()JJJ..O.SJlUtr.O...s.._ aqueJa_s_babiti i -

• dades que " puxam para cim~ .. ª-9 _invés ~e _"Q!,!Xa­_rem p ara baixQ"; aquelas habilidades que. constru-indo ao invés de destrui r. nos ajudam a viver me­lhor n este mund o em c r ise e a encontrar um senti· do mriior para a própria vida.

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1 ~

COMO TUDO COME 1ÇOU

A abordagem mais sistemática às habil idad es interpessoais foi desenvolvida por R o bert R. Car­khuff e Bernard G . Berenson através de seu "mode­lo de ajuda". fonte principal d o nosso t rabal ho, e cuja h istória passamos a resumir .

Felizmente para a ciência. muitas vezes são os próprios profissionais de uma determinad a área que reso lvem questionar e investigar melhor seu próprio trabalho. sem medo das descobertas que possam vir a fazer.

Assim fo i com a Psicoterapia. que viu seu cam­po de trabalho vasculhado e questionado nas ú l t i­mas décadas. a parti r de pesquisas feitas pelos pró­prios psicoterapeut as.

U m dos estudos mais importantes nessa área foi real izado por Car l Rogers. de 1962 a 1967: Client es de terapeutas trabalhando com abord agens teór icas d iferentes liveifam seu f unciona mento ava­liado de acorc1o com detP.rminridos critérios~ antes. durante e depois de se submeterem ao processo psi­coterápico. Durante a pesquisa. foram gravadas horas e horas de sessões de cada cliente. Ao final da pesquisa, segundo novas ava l iações de seu f uncio­namen t o . esses clientes foram divididos em dois grupos: aqueles que t inham .. melh°'ado" e aqueles que tin ham .. piorado" sign ificativamente em rela-

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Page 9: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

ção ao início do processo pstcoterápico. Esse· foi o pnmeiro ach~o i mpo! tante : . Em muitos casos, a Ps1coterapta tem· efeitos

destruiivoS_.sgpre õs c líenfes. - - -- -Restava saber Quais eram oselemenms comuns

a esse grupo e quais eram os elementos comu_ns ao grupo de clientes cujos resultados foram considera·

dos positivos. . Surpreendentemente. esses eleme~tos. <:feter-

rninados a parti r das gravações das sessoes ps1c;o_te­rápicas. não estavam ligados à abordage~ t~raca ou ás técnicas usadas pelos terapeutas. As:s•m : que. no grupo dos que "melhoraram ... havia_ clientes provenientes de terapias de abordagens d•fe.~e':'tes. 0 mesmo acontecendo no grupo dos que piora-

ram" Esse era. en tão. um segundo ac hado : O c.rescim 1]1J.to-d9-Cli.e.nte-não--é-fum;ãa_da

ª bp rdagem t!!órica -º~ d4f!.S t écnicas usadª-.SJJPlo---te ­rapeu ta... _ .• - - E o que se encontrou de comum. enrao, 1a que não era a linha teórica de trabalho do terapeu· ta que fazia a d iferença? _

o que se encontrou foram tao somente algu-mas características individuais dos terapeutas no seu relacionamento com o cliente .. algo a Que :se

• poderia chamar de posturas ou_ at1t~des _ t~apeu­U..-at{o"""-~-- ticayidcpeAà~ente da denom 1na_çao_ teonca que

4 õ terapeuta usava. Tínhamos. a partir disso. um ter-ceiro achado:

o crescimento do cliente é Funcão de determi.:... nadas atitudes assumidas pç[Q_!_erapeµta _ cturan­-te _o p m cesso psic ot-erápico.

: .. -. - l

As posturas terapêuticas foram c::iassificadas em seis dimensões básicas - aqu elas atitudes co~s­tru tivas assumidas pelo terapeu t a na sua relaçao com o cliente. As três primeiras dimensões fora~ ideotificadas por Roge.-s ( 1967}. enquanto as tres ú l timas foram identificadas por Carkhuff ( 1 9 69) :

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l 1 l 1 ~

J

I

E mpatia : capacidade de se colocar no lugar do 1 outro. de modo a sentir o que se sentiria casó

se estivesse em seu lugar. ·

,1 A ceit ação incondiciona l ou resp eito: capacida-

2 de de acolher o outro integralmente. sem que lhe sejam co:ocadas qua isquer condições e sem julgá-lo pe!o que sente. per.sa, fala ou faz.

Congruência: capacidadedeser real. de se mos-3 trar ao outro de maneira autêntica e genuína.

expressando. através de palavras e atos. seus verdadeiros sentimentos.

onfrontação: capacidRde de perceber e comu­car ao outro certas d iscrepâncias ou incoe·

4 ri cias em seu componamento - d istância cre o que ele fala e faz. entre o que ele fala

e o que é na realidade. entre o que ele ·fala e m ostra.

lmed1a (icidade: capacidade de trabalhar a pró-5 pria relação terapeuta-cliente. abordando os

sentimentos imediatos que um experimenla p elo outro durante o processo.

Concreticidade: capacidade de decodificar a experiência do outro em elementos específi·

6 cos. objetivos e concretos. para que ele mes­mo possa compreender melhor sua experiên­cia, às vezes confusa.

Além de terem sido categorizadas as dimen­sões. determinou-se também a importância de dois outros aspectos ligados a P.s...as dimensões: - o grau ou nível em que elas eram apresentadas

p elo terapeuta. demonstrando-se Que Quanto mais alco era esse nível. maior o crescimento por parte do cliente;

- o momento em que eram introduzidas na reiação terapêutica: as três prime! ras (empail ia. aoei tação e congruência) caracterizando uma fase inicial

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Jamile
Page 10: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

do processo. e as outras três aparecendo em fases mais avançadas.

Essas dimensões. dependendo do nível em que eram apresentadas pelo terapeuta. foram conside­radas responsivas ou iniciativas_ Resoonsivas.Jlj.J.ao­_90 ç terapeuta resp_Qnçlia ao cl~r1te......n.o_J))esm0-ní­vel em que este estava se coJocando;_e. iniciativas. quando o terapeutã se tornaya '}]ais diretivo. per­mitindo-se acrescentar sua própria experiência às raspostas que formu lava ao cliente:- ·

Enfim. é como se as dimeilsões responsivas estabelecessem a base do relacionamento terapeuta­c l ien te e se tornassem pré-requisito para fases mais avançadas do processo. quando as dimensões inicia­tivas desempenhavam um papel decisivo no cresci­mento do cliente_

Da mesma forma que determinaram as dimen­·soes presentes nos ce,rapeutas 1ef etivos. os pesquisa- -dores tentaram descobrir o que se passava com os clientes. à medida que se desenrolava seu relacio­namento com esses terapeutas,. Assim. tentaram estabelecer as 'elações de causa e efeito a que já nos refel"imos. se um terapeuta é empático. respei ­toso, congruente. concreto. imediato e capaz de confrontação. que e feitos provoca em seu cliente?

Mudança nos construtos pessoais: t ransforma­ção das cren ças e valo res que orientam o rela-

1 cionamento do cliente consigo mesmo e com o mundo à sua volta. no sent ido de uma maior f lexibilidade desses valo res, inicialmente rígi­dos.

Proximidade da expenencia: habilid ade do

2 cliente de desenvolver o autoconhecimento através de um contato cada vez mais próximo com sua própria experiência_

Entrega ao relacion·amento: confiança do cl i en-3 te 1em relação ao terapeuta. de modo a se .abrir

l ivremente· com e le no deco rrer do p rocesso.

18.

T 1

Mudança n.a expressão dos problemas: movi­mento do clien te quanto ao con teúdo de suas

4 verbalizações. no sentido de expressar. cada vez mais. conteúdo interno freferente a sua própria pessoa) e menos conteúdo ex temo.

Em resumo. seria exatamente o somatório des­sas mudanças por parte do cliente que o levar ia a um crescimento emocional, através da aquisição de habilidades com as quais pudesse l idar melhor com seus problemas_ Enfim. transportando as novas aprendizagens da sala de terapia para seu mundo, o cliente poderia chegar a seu objetivo final: uma vi­da mais plena e mais satisfatória.

-ra :;foro:H:1ndo as ~t:n ensõe:;, ..:r r omoo r tamentos

Uma vez identificadas as dimensões do tera­peuta e seus efeitos sobre as pessoas, ocorreram uma ·compreensão maior do processo terapêutico e uma maior organização no estudo das psicoterapias_ Elementos até então desconhecidos ou apenas sus­peitados vieiram à luz. transformando-se em padrões confiáveis para a real ização de novas pesquisas_

IV\as isso não era ainda o bastante - um aspec­to fundamental no campo da Psicoterapia estava ainda deficitário: o processo de aprendizagem des­sas dimensões pelas pessoas que pretendiam tornar­se terapeutas efetivos. Elas já sabiam o que fazer -mas não sabiam como fazer. A verdade é que as dimenscSes não eram concretas o suficiente para se­rem treinadas e exercitadas pelos candidatos a tera~ peutas efetivos. Só havia um caminho para que fos­se implementado um verdadeiro programa de trei­namento - a transformação das dimensões em comp ortamentos ou habilidades tão visíveis e men­suráveis que não houvesse dúvida sobre sua apren­dizagem por parte de quem quer que fosse_

E assim foi feito ; desenvolvendo seu .. modelo de ajuda". Robert R . Carkhuff buscou incessante­mente uma operacionalização. cada vez maior. das habilidades interpessoais. Não se tratava então de sonegar informações e conhecimentos aos interes-

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Page 11: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

sados em ajudar. mas. ao contrário, ~o~ar.ti· lhar as habilidades de aiu?a c~n)J> ma1~r n umero possível de pessoa<!>. Estas mc!mam ta~bem_ os ch_?­mados leigos. uma vez que essas d1mens?e:' na? eram privi légio ou exclusividada dos prof1ss1ona1s d e ajL1da. Não só eram encontradas _ em qua~quer segmento da população. como hav~a também a enorme necessidade de serem aprendidas ~elas pes­soas significa!Civas !pais. professores. patroes. pro­fissionais de saúde. religiosos. etcJ - aquelas pes­soas que n ormalmente exercem influência marcan­t e na vida d os outros - além. n atur-almente, d os próprios profissionais da área da "saúde menta~ .. -psi qu ia eras. psi có I ogos. or ien t~d ~ r~s .. ~nse 1 hei ros . A todo esse grupo de pessoas s1grnficat1vas chamou ­se de ajudadores; e ao grupo de pessoas que. de uma forma ou de outra. sofrem sua influência. de ajudados. _ _ . _

A partir da operaciona!1zaçao das d 1mensoes do terapeuta e dos efeitos por e!as pro_vocados n_os clientes. desenvolveu-se o modelo de a1uda. que ir11 -

clui os comportamentos do ajudado dura_nte seu processo d e mudança. e as habilidade~ c:Iº a1udador que possibilitarn essa mudança - habilidades essas observáveis. ~nsuráveis e. acima de tudo. ti-ans­m issíveis ou treináveis.

Guar-dando. em sua essência. uma estreita ligação com as dimensões já cita?~s. ~ foram os quatr-o grupos principais de hab1hdades interpes­soais do ajudador formulados pelo modelo (cada u m dos quatro grupos se subdivide em habilidades específicas que serão destri nchadas ao !ongo do livro). ·

Atender: comunicar. de maneiras não-verbais. 1 disponibilidad.ft e interesse pelo aj,udado.

Responder: comunicar. corpor.al e verbalmen· 2 te. comp reensão pelo ajudado.

Personalizar: mostrar ao a judado sua par-cela 3 de responsabilidade no problema que está vi ­

vendo.

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Orientar_· avaliar. com o ajudado. as alternati 4 vas de ação possíveis e facilitai- a escolha de

uma d elas.

A mesma classificação das dimensões em res­ponsivas e iniciativas foi mantida para as habilida­des. Assim é que as duas primeiras - atender e res­ponder - são consideradas habilidades responsivas. enquan to que as duas últimas - personalizar e o ri­entar - são consideradas iniciativas.

A medida que o ajudador atende. respnruie. R:§rsonaViza e orienta .. o ajuda..do.....c.a.rneça também ..::-- - --ê.._..29ffiQQ.i0ar.zSe ...d.e._ma.da..a .,pro.mover s.ua_próprja ~udªf'J;9. Essas são as fases pelas quais ele passa duraf} te o desenrolar do _p.rooes~Q de_ajL.Lcl.a:

Envolver-se : capacidade de se entregar a0 p ro­l oesso de ajuda. iniciando a expressão corporal

e verbal de seus p roblemas.

Explorar: capacidade de avaliar a situação real

2 em que se encon tra no momento do processo de ajud a - seu s problemas. déficits. insatisfa­ções - e de defin ir. com c lareza. onde está.

Compreeoder: escabeleoer ligações de causa e efeito entre os vários elementos presentes em

3 sua vida - como se estivesse juntando as p eças de um quebra-cabeça - da modo a definir sua meta: onde quer chegar.

Agir: movimentar-se do ponto onde está p ara

4 onde quer chegar. escolhendo. para isso. o me­lhor caminho o u programa de ação - como chegar lá ..

As in cer-relações entre as habilidades do aju ­dador e os comportam entos do ajudado podem ser representadas da seguin te maneira:

AJUDADOR: atende ~ responde -+ penonali%a ~ orienta

1 ~ ! / ! / ! AJUDADO: envolve-se--+ explora --+ oon>preende --+ a ge

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l

1

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Page 12: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

A cada habilid ade do ajud ador corresponde um comportamento do ajudado. ranto essas habili­dades quanto os comportamentos obed ecem a uma certa seqüência. de tal modo que u ns se tornam pré­requisi tos para os out.·os.. Por exemplo: p arao aju­dador. não é possível p ersonalizar sem antes_atf:D~

_der ~ _!!!Y!onder; ~ra p -ªÍ!Jd2dº--. rião_ é_ pos.sL\lel !!fjir de_ manei r.:a efetiva ~n'Lsm.t~mp.ceender_su~ p rópria..expeciência.

Qg~n~ando·s~ _me~~?~ a~ ~i':'.'.ec~~-X€1~ do pro­~º d e a1uda. fica mais facil c9mpreender. por exempJo. por quê os "conselh~" (orien_:tarl_ .n~m sempre funcionam. 1 sso ocorre porque_estes forani 9fereciqo~ $?~ necessária base de comprêênsão P-?r p arte das pessoas:

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Conselho

.Não colhe agora a botão que,

somente amanhã, promete desabrochar.

Dá seiva à roseira que,

por si só, a rosa se abrirá num sorriso a .te oferecer

suas pétalas . . . seu perfume. . .

Dócil e incegraknr::n te.

Cláudia Myriam Botelho

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1 • 1 1 i

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f

Por outro lado. ao final de uma fase do pro­cesso. quando o ajudado age em alguma dir eção. todo esse processo se recicla novamente: os resulta­dos de sua nova ação se tornam os dad os para o co­meço de mais um ciclo. em que ele vai explorar esses dados. compreendê-los e agir novamente - e assim sucessivamente. até q u e ele se sinta em con­dições de andar por si mesmo. Em outras palavras. o final do ..QI.QGe$5.Q.de aj).Jda ocorre quªnd9 o_ aju­<Jado se ILOLíl.a seu p róprio a judador - ele já é cap az çte se atender. se responder. personal izar sua exp e­riência e se orientar . Enfim. ele já sabe fazer con­sigo mesmo aquilo que o a judador fez conn el'e ao longo de todo o processo de ajuda.

23

Jamile
Page 13: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

QUEM PRECISA DE AJU DA?

Nem melhor. nem pior. Apenas em falta de alguma coisa que. quando

encontrada. irá mudar sua v ida para melhor. O ajudado é. antes de mais nada. um~ p~so~~­

quem falltam algumas habilidades de_viçta. Isso o te~ a entrar em c r ises SÜoessivas de_ i0~_! i_sf~ão cons_fgo mesmo. cõm os outros e com o mundq_. Às vezes, par-ece-lhe que a faitã é ex terna - ele bus~_::;empre coisas e mudanças fora de sua_Qessoa. Muda de em­prego. de casa:-d.e cidade. de parceiro. Compra car­ro novo# roupa nova. um novo som. E, ai nda as­sim. a falta persiste. Dela nascem a ansiedade e a confusão. Ele se sente perdido. Gastou toda sua força. e energia na busca de coisas fora dele. Talvez tenha alcançado tudo aquilo que se prometeu um dia, na esperança de preencher o vazio - dinheiro, "status". sucesso. às vezes aplauso e admiração.

Mas o vazio começou "há muito tempo atrás e cresceu com ele e sua história. Na verdade, o vazio começou com as pessoas significativas de sua vida. a quem também faltaram habilidades para estabe­lecer com ele uma relação saudável e construtiva. Entre essas habilidades. é provável que tenha falta­do uma crucia l a seu desenvolvimento como pes­soa: amor incondicional. Se os adultos que o cer­caram não foram capazes dt:? expressar afeto e de transmitir mensagens de amor incondicional, ele cresoeu se percebendo como uma pessoa "não,-gos-

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tável". De acordo com essas mensagens, ele só seria amado se preenchesse determinadas condições im­postas pelos adultos: "Se você fizer isso ... Se você fizer aquilo ... Se você não fizer aquilo outro ... ". Ele seria amado desde que fizesse determinadas coisas. e seu valor como pessoa não estava em sim­plesmente ser quem era ... mas em Fazer o que espera­vam que Fizesse - em ações que deveria executar parai atender às expectativas dos outros. Não tendo sido realmente amado, não aprendeu a se amar.

Quando se tornou adulto# seu vazio era a fal­ta de alguma coisa tão indispensável quanto o ar que respirava : o amor a si mesmo. a que chamamos auto~stima.

Essa falta é a fonte de toda a insatisfação e infelici9ade que o acompanham pela vida afora. até o dia em que ele decide pedir ajuda. Para isso. é preciso que haja uma pré-disposição interna para ser ajudado.. Ou seja. ~ó pode rece6er ajuda quem admite que realme.nt;e precisa ser ajudado. Se é esse o caso. é hora de pedir socorro. Em meio à confu­são e ansiedade. ele nem mesmo sabe o que lhe fal­ta. Ou onde está se refletindo essa falta : se em sua área física. emocional ou intelectual. Se alguma coisa nao vai bem com seu corpo, seu déficit é Hsi­co. Ele pode descobrir que não está bem suprido de sono, de descanso ; que sua a1imentação não está saudável; que sua resistência física está baixa, sua energ ia e vigor para o t rabalho estão pequenos; que seu peso está abaixo ou acima do que deveria; ou que sua própria saúde 1esil:á abalada por sintomas fí­sicos ou por alguma doe'°ça que o impede de viver todo o seu potencial.

Seu déficit pode ser também eryiocional : seu relacionamento consigo mesmo e com os outros pode estar insatisfatório; ele pode estar sempre an­sioso. angustiado. sem nem mesmo saber por quê. Pode ser que se sin ta sempre sozinho. Ou sua pfó­pria situação objetiva de vida. no momento, pode estar muito difícil.

Sua área intelectual pode ser também o foco de seu problema - ele pode eslar tendo dificulda-

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des de aprnndizagem. de aquisição de conheci­mentos e informações importantes para viver uma vida melhor. Enfim. o mais provável é que as três áreas estejam deficitá r ias. tal a interdependência entre elas.

E: hora de encontrar uma pessoa Que faça com ele aqui lo que nunca fizeram antes - alguém que o atenda e responda à sua experiência. d e modo a ex­plorar onde está ; alguém que. personalizando. o leve a compreernder sua pró pria contribuição a seus problemas e a identificar onde que r chegar; e a l­guém que possa o..-ientá-lo, ajudando-o a encontrar a me lho..- maneira de chegar lá.

Quem p ode ajudá-lo agora?

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OUEM PODE AJUDAR?

A~tes de mais oada. é importante retomar­mos. neste ponto, aqu ela velha d iscussão do here­d itário versus ap..-endido. Tão velha q u anto os pri­mórdios da Psicologia e uma de suas primeiras inda­gações, ouviu -se, muitas vezes, a pe..-gunta : " A final , o q ue importa mais - a ca..-ga genética ou o ambi­ente? Certos traços individuais são determinados pelas combinações genéticas. no momento da con­cepção, ou pelas aprendizagens ocorr idas no meio ambiente desde o n ascimento? Assi m , como qual­quer ou1ira. atividad e, a habilidade de ajudar seria um 'dom inato', uma vocação e uma tendência na­tural, ou p o d eria ser u m comp ortamento passível de aprend izagem e treinamento? ..

Não é nossa intenção solucionar essa contro­vérsia, que p erman ece até hoje sem uma conclusão definitiva, apesar dos esforços d e tantos pesquisa­dores nesse sen t ido.

O importante é avaliarmos as implicações de uma ou de outra resposta e daí c1a..-mos di..-eção a nos.so trabalho.

Digamos gu~_@_nascernos sçib_engo ajudar~ que ~habil idade é realmente fruto de nossa carga h e­_recfitárja. E eniãõ? O que nos resta senão c ruzar­mos os braços e esperarmos as pessoas irem nascen­do, com o u sem o "gen" da ajuda? Quando muito. nosso papel seria apenas o de aval iarmos a presen­ça ou ausência desse gen numa certa altura d a vida

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das pessoas. encaminhando-as ou não para as pro­fissões de ajuda.

Ou digamos. pelo contrário. que a habilidade de -ª juda .é _ap.ceDc!Jd'a , seia de maneira sistemática (nos diversos c u rsos destinados aos prof issionais de ajuda). seja de m aneira íllllformal. durante a vi ­da. Por maneira informal entendemos t odos os en­contros que a pessoa manteve com pessoas s ign i f i­cativas durante a sua vida. Ser-ia uma aprendizagem casual de habilidades através da identificação e imitaÇão de modelos - a mãe. o pai. o professor ou qualquer outra pessoa - fazendo com os o u tros o -qu e fizeram com ela.

Se ajudar é rea l mente uma habi l idade a ser de­se·nvolvida. podernos aumentar o controle sobre sua aprendizagem. ao invés de d eixarmos essa aprendi­zagem p or conta do acaso. Mesmo porq ue isso não seria justo com aquelas pessoas que gostariam de saber ajudar. mas. por azar. não t iveram encontros bastante significativos para adq u iri rem as habi l i da­des necessárias à ajuda.

Assim, urna primeira resposta à questão sob~e quem pode ajudar seria essa:

Pode iliudar aquele qpe aprendeu a~_h_qf)i_li_da­des c;/e ajuda - seja de Fna~Í!3!. fOCWÊlo'-! t_nfonEªl

. !Vilais éspec:l'.flcameinte. ~bf:! __ f:!iudar o outr_o aquele que sabe ajudar a si mesmo. · Como conseqüência dos encontros significa­tivos. a pessoa passa a fazer consigo mesjm a aqui lo que os outros fizeram com ela. O que a diferencia dos outros não é o fa to de não ter problemas em sua vida - mas sua habilidade em lidar com eles. Q uem sabe ajudar-Si:L§Q..b.e,. an_t~ d_e .!fl?_i~ na~~'- a_te~­derr a _.si mesmo; sabe responder.à sua própria expe­-ri~cia~ . identificand o onde está e-.o -cluê I~ :~~a -par a d hegar onde precisa. Sabe qual é a sua parcela de respon:Sabi lidade nas c r ises em que v ive e sabe agir de· maneira efetiva para sair delas.

Além disso, o ajudador tem c_amo-caracI.e.u~­.tica básica uma bQ,a dose_ @ ~uJ.:Q~~tifl}gl-:_]SSQ_s.ig-_ ·n-i fica g1,1~ .,êle -ªRr.~Qf1~u- ª-~ amar acim~ de tudo e í n dependentemente das circunstâncias externas de sua ºv id-ãi. E é esse o ensinamento básiéo que vai

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uansm111r ao ajudado durante o processo de ajuda: amar--se. l1sso só é possível quando o ajudadorr é capaz de amar o outro. Como de amor não se tal.a. mas_ S.§_fª~-·-Q..Ê~..!-'lQ-P_!3?f..~SS2:_ de ªj1,.1_ç_la,_ "~jq_z" Õu se operacionaliza através das_habilidades inter· pessoais do aTudadÔ.Í . -E: u m - verdadeiro- "ciclodo ãínõr " que poderia ser representado assim:

sign i'ficativa a111la o

ajudadoir

ajudado se

ama

aiudadlor se

ama

ajudado ama outros -tomai-S>e aju dlador

ajudador am.a o

ajudado

Com isso. chegamos a um úl!~'ingred ien-1e·:_QQ_ªjy_dador: ._ele precisa ter dispoojh/ lidade in­f_t:rna par:a ajudar o m1tr~aLJLéHJ2ª1Q..EO decorrq da p ™s;sP..-.f!e ajuda. Sem isso. nenhurna habilida­de interpessoal é efetiva. da mesma forma que ne­nhum amor é suficiente para ajudar quando não fo­ram adquiridas as habilidades necessárias ao proces­so.

Aqui é bom lembrar que !WOhuro aj1 •dadQ.r tem a obrigação de aj1 •daL.O_teroQ:9_J_odo ou a.J.Qd_as j!s...Q.ess.QQ_~ Como tudo mais em sua vida. a ajuda é uma opção que ele faz a cada momento - se quer ou não usar suas habilidades. com quem. quando. onde. Ass1m.-chegamos à equação final do processo de a j uda:

AJUDA: disponibilidade· intel"na + amor +habilidades

A partir deste ponto. vamos falar de habi l ida· des de ajuda. E importante saber-se que essas h abi · !idades obedecem a uma cer ta seqüência Olll crono­logia no desenrolar do processo de ajuda e. conse­qüen temente. na organização do livro_

Como já vimos no tópico "Transformando as Dimensões em· Comportamentos". não podemos. por exemplo. personal izar sem antes re~ponder; o r i-

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entar sem antes atend er. É nesses "'saltos" que está, muitas vezes .. a causa du fracasso de uma relação de ajuda.

O importante aqui é não p erdeirmos de vista as hab ilidades mais básicas quando estivermos aboi-­dando as mais complexas. Talvez possamos com­preendei- melhoi- a seqüência das habilrdades se as v ii-mos como cumulativas - cada uma sendo pré-re­quisito parn a próxima. Ou se as compa rarmos oom uma escada em que cada habilidade é um degira u , sendo que só pisamos nodecimadepoisdepisarmos no de baixo - 'lembrando sempre que precisamos p_as3c_ poJ ..l_Q.do_s.....os...degr_fil!~- ~r.ê_ ~til}g_irmos nosso objetivo - no caso, ajudar alguém. - - - ~ - -

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ALGU NS PR1NCft>tOS DA RELAÇÃO INTERPESSOAL

1 - A pessoa é, em grande parte, resultado das re­lações interpessoais que estabeleceu durnnte sua vida.

2- Ninguém sai ileso de um encontro com o utra pessoa.

3 - H á sempre uma relação de causa e ef~ito acon­tecendo entre duas pessoas - uma causa efe i­tos sobre a outra e víoe-veirsa.

4 - ·:ES:s:es efeitos podem ser para methorr ou para pior, construtivos ·-ou destrutivos, para uma das partes ou para ambas_ .

5 - Esses efeitos são eSpecialmente marcaotes­quando uma das pessoas é conside<ada signifi­cativa - aquela que tem maioJ" influência-so­b~re a outra devido ao papeE social que desem-.

~ penha. · u~- Numa relação de .ajuda. a responsabilidade \ . . -

maior · pelos. r·esultados do encontro é ·do aju-_ dador.

· 7 - O resultado do enoontro depende de suas ha-;-. - ·bilidades mn terpessoais. . .{• . 8 - Essas habi lidades podem':Ser a·pcendidas. 9 ~ ·p Ma sere m -aprendidasl essas habil idades de­

~ .... ~ ;vem sér· ó peracionaltzadas e m . compOi-tameo­tos observáveis e mensuráveis.. .

1 O - No processo -de ajuda, o ajudador atende, res­' - pondé, personaliza e orienta .o.ajudado; como

conseqüência, este~ e nvolve, -explora onde es­tá. compreende onde quer chegar e age para chegar1á.

11 - A falta do ajudado pode esta r l'ocal izada em uma ou mais de suas áreas de funcionamento: ffsica .. emocional. intelectual.

12- Os ingredientes do ajudador são: di,sponib iLi­dade interna, amor pelo a judado e habilidades intei-pessoais em alto nível.

13 - Essas habilidades, apesar de caracterizarem a relação de ajuda, são básicas a qualquei- en­contro entre duas pessoas. mesmo que não lhe seja dada a conotação de a juda - são e las que determinam a qualidade desse encontro.

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"Quão bela, quão intensa e libertadora é a ex- 1 periência de se aprender a ajudar o outro. E impos-s/vel descrever-se a necessidade imensa que têm as pessoas de serem realmente ouvidas, levadas a sério, compreendidas.

A Psicologia de nossos dias nos tem, cada vez mais, chamado a .atenção para esse aspecto. Bem no cerne de toda psicoterapia permanece esse tipo de relacionamento em que alguém pode falar tudo a seu p róprio respeito, como uma criança Fala tudo à sua mãe.

Ninguém pode se· desenvolver livremente nes­se mundo, nem encontrar urna vida plena~ sem sen­tir-se corr1preendido por uma pessoa, pelo menos . ..

Aquele que quiser se perceber com clareza de­ve se abrir a um c onfidente, escolhido livremente e merecedor de tal confiança.

Ouça todas as conversas desse mundo, tanto entre· nações quanto entre casais. São, na maior parte, diálogos entre surdos."

Paul Tournier, M.D.

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(abrindo as portas da pereepção}

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Neste primeiro grupo de habilidades .. vamos ver como o aj_udador inicia seu_trabaliho .. muito an­tes de interagir verbalmente CQ!!L.0 aj.udatj_o e a té m~mo acnes d~_enco~IÕ. - - -

Inúmeras mensagens são transmitidas o temp o todo pelo oorpo do ajudador e pela extensão desse corpo. que é seu ambiente de t rabalho.

O corpo não mente. N ão importa se as pala­vras estão send o ditas ou como estão sendo ditas. o corpo está lá e v ai estar sempre. dizendo suas pró­prias coisas. sem jamais ment ir-.

Posso tornar-me ciente de meu corpo e apren­der ex>m ele um pouco mais a m eu próprio respeito. Posso saber. at1ravés dele. o .que ando dizendo às pessoas. Posso também escolher o que d izer a cada uma. a cada m omento. com esse corpo. Posso fa­zer dele o retrato do meu coração.

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PREPARANDO O AMBIENTE FISICO

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Q _primeir9 e:oi::i_tato d? _aju_d~~º- CQ[T'l 9 ~juqa,­dor se faz através do amb~ec:n~ f1s1co ~rr:! -~~~ este exerce sua atividade. Nesse caso. o ambiente de trabalho é como se .fosse a própria extensão do seu atendimento. Ou seja. o a judador começa a atender a pessoa antes mesmo de entrar em contato d i reto com ela - ele está presente em cada móvel , em cér da objeto. em cada detalhe que compõe seu ambi­ente.

O ambiente físico nunca é neutro - ele emi-te, o tempo todo, mensagens para o ajudado. Es­sas mensagens tanto podem ser de cuidado e de interresse como de extremo descuido e desinteresse. Essa ausência de neutralidade não é exclusiva do ambiente d e ajuda. Costuma-se dizer. por exemplo, que "a casa é o retrato do dono".-. isso porque ca­da pessoa imprime suas caractenst1cas a_ tudo qu~ faz. inclusive à maneira pela qual arranja o ambi­ente em que virve.

Independente do estilo e dô ousto. a decora­ção do ambiente é extremamente reveladora em

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relação à pessoa do ajudador. . ~ A partir. do i n!'>tante em Que o aJudado entra

em contato com o lugar em que vai ser atendido, oomeça a experimentar sensações de bem~tar o~• de mal-estar. provocadas pelo ambiente~Õde ' 1 perceber ~ ambiente como aconchegante e.s;a_!o- 1 !.OSO~ Q.U OQJ!lO_ t1j9_ ~- j~I. _Essa peroepçao. ! por sua vez. pode desencadear _sen~1mentos de espe- , rança. ai ívio. acolhimento. ace1taçao; ou de preocu- 1 pação, rejeição e até medo. .

A decoração inclui as cores usadas no ambien­te - como são combinadas, se são suficientes para dar vida ao lugar ou se são tão fortes que chegam a desviar. por completo. o foco de atenção do ajuda-do.

A disposição dos móveis é fundamental para a relação de ajuda. É importante que as cadeiras este­jam de frente uma para a outra e que sua d_ist_ância seja adequada ao tipo de ~noontro; a p:rox1m1~ade entre elas aumenta à med 11da Que aumenta o v1 ncu-

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lo entre ajudador e ajudado. Essa proximidade pres­supõe também a ausência de barreiras físicas entre os dois. especialmente quando o vínculo já se tor­nou grande o suficiente para dispensar. por exem­plo, a presença da escrivaninha ou qualquer outra coisa entre eles. Também em sa la de aula. essa dis­posição é pré-requisito para que se estabeleça uma ~elaçã<:> de ajuda efetiva_ entre pr~fes:sor e aluno . .f;f\~,.,_r,_\;.,.., ideal e c.oJQ.Ca.C.. ~cadeira~ ~m circulo de. rn.OOo _a 1~ k~ gu~ -.!.<?<12~-~jam~ sem. que um tenha de dar.. ~s(~~ ~v.~ <:.Q.stas_ aQ._Ol!tro_,__g>JJ1_0~9CO.oteoe quando as carte:1-.1(~ ...... .,., ras-são enfilelcadas. '

Outro aspecto importante está ligado a uma razoável igualdade entre as cadeiras usadas pelo ajudador e pelo ajudado. Essa igualdade está au­sente. por exemplo. num consultório em que a ca­deira ·do profissional é muito mais alta do que a do ajudado ou numa sala de aula em que o professor se assen1a sempre atrás de uma mesa. Tanto numa situação como na outr.a há uma mensagem. mui­tas vezes não-intencional, de superioridade por par­te do aijudador. IÉ como se ele estivesse dizendo, do alto de sua cadeira. ou de trás de sua mesa: "Eu sou me1hor do que você".

Naturalmente. essa igualdade nõo pode igno­rar que os papéis ali desempenhados são diferentes - ao ajudado é oferecido maior conforto, e sua ca­deira é um convite ao relaxamento e ao aHvio de tensões. Por outro lado. esse não pode ser o convite da cadeira do ajudador. Est~. pêlo contrário. está num momento de extrema atenção. não de descan­so ou descontração. Tudo isso deve ser levado em conta na escolha dos móveis para um e para outro.

Também fazem parte da decoração a limpeza e conservação do ambiente. Uma sala de aula cheia de papéis e pontas de cigarro no chão. ou um con­sultório com vidros quebrados e estofados rasga­dos, emitem mensagens de extremo descuido por parte do ajudador. Talvez possa ocorrer ao ajudado a seguinte indagação: "Posso acreditar que essa pes­soa vai saber cuidar de mim melhor do que cuida do própnio ambiente em que trabalha?"

Um último tópico referente à decoração diz 391

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respei to aos quadros e objetos usados para enfeitar o ambiente. São essenciais para dar aconchego ao lugar ,e se tornam especialmente importantes quan­do dizem do tipo de ajuda prestada no local. t o caso por exemplo. de "posters" com mulheres grá­vida~ ou amamentando num consultório obstétri­co; ou dos brinquedos. num consultório pediátrico. São detalhes que individualizam o ajudado e o fa­zem lembrar da importância que tem naquele lu­gar específico.

Além do cuidado direto. o ajudador pode ter alguns cuidados indiretos para com ? ajudado an­tes que se inicie o con t.a to en ue os dois.

Esses cuidados podem incluir. por exemplo. revis tas na sa 1 a de espera; água ou café. se for pos­s íve I; um banheiro. em caso de necessidade; músi­ca ambiente. também na sala de espera. Em outros lugares mais amplos. como um hospital ou uma es­cola. esses cuidados podem incluir a sinalização adequada das salas. para que o ajudado não se sinta perdido.

Já durante o contato direto. uma caixa de len­ços de papel significa cuidado e. mais do que isso. a permissão para o ajudado expressar livremente suas emoções.

Cuidar do ajudado jnch 1i também elimi.oau:IQ ambiente aualquer fonte de desconforto físico. Seu próprio papel de ajudado pressupoe a existência de um desconforto que o levou a buscar ajuda. Esse desconforto pode ser físico. emocional ou de qual ­quer outra natureza. Não é necessário. nem mesmo justo, que o ambiente de ajuda lhe propicie um_ des­conforto a mais. Pelo contrário. esse.-~º ~m!?~~nt~ que, em meio a todos os problemas, y:sú -se tornar seu lugar de paz e tranqüilidade; um oásis em meio a seu deserto de aflições. Esses desconfortos podem estar -ligados à temperatura do ambiente (especial ­mente em ambientes muito quentes ou muito frios) ; a ru Idos excessivos (barulhos da rua ou vozerrio de pessoas) ; à estimulação 'externa muito intensa '(um grande movímento de pes-soas. por exemplo) e até

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mesmo à claridade excessivê. (nesse caso. basta uma mera troca nas posições das cadeiras para aliv iar o ajudado).

Enfim, são pequenas atenções por parte do ajudador. mas de grande significado para o ajuda­do. A mensagem que ele recebe é algo como : "Es­tou ai para você e me importo com seu bem-estar muito antes de nos encontrarmos".

Nem sempre a decisão de buscar ajuda é fácil ou tranqüila para o ajudado. Admitir sua própria "fraqu eza" e dizer a respeito dela para alguém é mais difícil ainda.

As pessoas geralmente se sentem embaraçadas diante de seus problemas e por isso os escondem dos otitros. Quando. finalmente, decidem entregar­se ao ajudador. é porque estão dispostas a confiar nele. E o ajudado.r..não._Qode trair ~ua _c~a....D.? início o_ mfcümQ que pode oferecer-lhes e_a total --:.&.-- .... garaDti'!_(~!!:.Qr_!Yacidé!,d~ -:-. a ~r~za de ql:'e i:-ain_~~m. ãTém deJe próprio~ vai compa[tilh_9r ~ua 1nt1m1dad_e.

Essa garantia é dada. basicamente, através do ambiente: isso quer dizer que a vedação acústica entre a sala onde os dois se encontram e as outras °Salas deve ser perfeita. Não se admite que qualquer outra pessoa possa escutar o que está sendo dito entre os dois. Isso quer dizer também que a '_'.i,reda-

s ão visa 1al" não pode ~r - não se admite que qu-ãiQuer outra pessoa possa ver o interior da sala onde os dois se encontram. especialmente em con­sultórios onde se realizam exames físicos do ajuda­do.

Além disso. privacidade significa que o ajuda­do vai relacionar-se sozinho com o ajudador e que os acompanhantes - pai. mãe. filhos. marido, mu­lher - apesar de muitas vezes insistentes. vão fi­car esper-ando do lado de fora. A não ser que sua companhia seja requisitada pelo próprio ajudado -ele é o foco da relação de ajuda e é quem dá adi­reção.

Isso se aplica também a quaisquer outras pes­soas que façam parte do ambiente de ajuda : secr-e-

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tárias. serventes. outros prof,issionais. etc . A par­tir do momento em que ajudado e ajudador se en­contram. não deve haver o menor risco de serem interrompidos p or qualquer o u tra pessoa - e deve­rem sua privacidade quebrada.

Até esse ponto. temos nos referido aos pro­fissionais de ajuda - méd icos. dentistas. psicólo­gos. p rofessores. orientadores educacionais e ou­tros - e a seus ambientes de trabalho. Isso não quer dizer. no entanto. que foram excluídos os outros ajudadores - pais. colegas. amigos. parcei­ros, etc. - a q ue poderíamos c hamar de ajudadores informais. A d i ferença entre uns e outros. quanto ao preparo do ambiente. está apenas na existên­cia de locais cuja f inalidade bá<Sica é a ajuda, para os primeiros; e na improvisação d e outros locais. p ara os segundos. Mesmo improvisado, o ambiente e m que o ajudador informal e seu ajudado vão encontrar-se pode - e deve - manter algumas con­dições às quais nos referimos: posições adequadas tanto para um quanto para outro (a proximidade compatível com o vínculo). a possibilidade de um ver o outro sem barreiras. a el iminação de descon­f o rtos flsicos e, ac ima de iludo, a privaddade.

Vale aqui lembrar John PoW"ell . "Se eu e xpo­nho a você minha nudez como pessoa. não me fa­ça sentir ve rgonha"

n. '\ \. ~-\-~~ ~ x\> ) ,~ ~ ·~ -~~..._,_ ~--- ~-~" k \ j ~.(/>\. ~ ~ ·~ ~-

' \ ~~ _ -.LC>-- "'~ --~ -~ ~~'-'.lc, . J \ :\..--- '), ~ ~ '-!>("' "" - - ~ .... « - ~ ' ~- -

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Prepar ando o.ambiente físico · ~i.i't~

O que é: ~-.• e>· • ....r.

Arranjar o ambiente físico em que o àju.dadatv·ãi , ser. atendido. levanq.ó'~_ém •oonta quê -esse. ambíén'~ te e a extensão do ~tendimento do aju dador. ·"'"" .. ~"

y "Q~> .. -, ...

Para que: ~n .... Se ~idlo do amb iente tisico. cuido indiretamente do aiudado. de modo~ fazê-f'& _sentir~::Valor'izáOd. _•

Como : 1. Estar atento à d e.coração. 2 .. C?mbinar as cores do ambiente_,. ~ '> .':' ~~-'t:;; ;, " 3. Dispor os móveis d e maneira adeqt~tâôa"':" ~ ~m ~ 4. Mant er o ambiente lim po e bem conservado:~ 5. ~sar objetos decorativos relacionados com o

ai udado. · '\:'<. i?i.'.c·.:i; • """ h"'~';

6 . Of'.er~cer pequeno$ c u idados ao ajudàd b.> .. n"l -~~ 7. El1m1nar qualquer desconfono do ambiente. 8 . Garantir privacidpde ao ajudado.

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Page 23: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Refúgio

"'Quando t'odos parecem conSPirar contra você, quando o mundo parece desabar a seu r:edor, haverá ainda um lugar aonde ir.

Lá você pode sentir e chorar e falar da dor e esvaziar o peito cheio de mágoa.

Lá é trégua de guerra é refUgio tranquilo é porto seguro.

Vem, e ancora aqui seu coração .. "

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C.F.M.

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ACOLHENDO

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É nos primeiros momentos de cada encQ.OJJí.o que o ajudad9_;.r Y._ql aç_pJtíei º~judac:f~ e. ·a·l~avés c;!es~ $a acolh ida. constru i r a base da relacão entre os dois no n~staoie -dÔ- tem.Ro_qu~ têm p~lá firentª. Isso vale par-a qualquer encontro e. em especial, para o primei ro - quando um vai conhecer o ouitro.

Esses momentos poderiam ser compa:rados ao aquecimento de um motor, que só funciona quan­do bem aquecido a cada manhã. Da mesma forma. o relaciQnamentcL.de-,aj.uda é a_guecic::io..--a. cac@_ei::i:

_con t.-o, de ..modo a_ r:eno.er:: o .mfus:.Uno _para a j u dad9:r e ajudada. É como se o primeiro formasse uma imagem do segunrlo nesses primeiros momentos, checando o quanto de aberturn e disponibilidade pode esperar dele. E é a partir dessa imagem que o ajuçjado vai decidir o quanto de entrega vai-lhe oferecer no restante do tempo. Sendo assim, hã algumas coisas que o ajudador pode fazer para au· mentar a chance de o ajudado se entregar.

Ê o mame a primeira coisa que identifica a pessoa para ela mesma e para os outros. E uma das primeiras palavras que a criança escuta e aprende desde muito cedo. e que a destaca do r-esto do mundo.

Aprender o nO!!!_e do aill,ÇJaçlo_e_dl.amá.:to sew· P!"~J?!J!: _esse ri.ç>m~-~ ~.~m~m a primei!a q:>~ 9.!:Le

-~- ajud~Ç.19.!_pode ih:~z~r_ .e_ara t<?rna_r !3 rei.ação de aju­da um.eo_contro mais pessoal - -des1;acando o ajuda-dç» ~m_o u_m~ p~oa ~nica. ~· u~a tarefa que o aj~­dador deve executar antes mesmo de se encontrar com e le. de modo a chamá-lo pelo nome desde o iníoio do primeiro contato. No caso de ambulató­rios e enfeílmarias em que os pacientes são numera­dos. por exemplo, é muito importante que os pro· f issionais sa ibam seus nomes antes de começarem o artendimento.

Essa tarefa se torna um pouco mais d ifícil quando a re lação de ajuda não 'envolve apenas duas pessoas. Na relação professor-aluno ou no atendi­mento a grupos. o número de ajudados, às vezes. é grande. Nesses cãsos. é exigido do aju:dador um

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esforço maior para apre,nder o nome de 1oc:t~s. H á. -' · m~~ .!JJ.!_e face l 1 ta m a no entanto, ,alguns Qrocc,...1 __

tarefa: _ pedir aos ajudados que se assentem sem_Pre nos

mesmos lugares. pelo menos nos pnme•_ros e~­contros. de modo a associar os nomes as posi-ções ocupadas; - . · d fazer uma "chamada" sempre no in1c10 o en-contro. dizendo cada nome e par~~do po_r um momento na pessoa para fixar sua í1s1onom1a; pe<gunwr e repetir ~ nome da pessoa cada ve~ que ela se dirigir ao a1udador ou cada vez que es re se dirigir a ela;

_ repelir 0 nome várias vezes durante cada intera­ção; nomeai cada ajudado quando algum matcr-al for entregue ao grupo - nomeando primeiro. entregando depois; •

_associar a p essoa e seu nome a algu~a ~arac _e­rística marcan Le - por exemplo. Joao e o que usa óculos. Márcia usa aparelho nos dentes. An­tônio tem barba. Cláudia tem cabelo compri­do·

_ qu~ndo se esquecer-. não te~ vergonha de pergun­tar n ovamente o nome do a1ud<1du. _

_avisar. no inicio do contato. que_ vai pergunta_r e repetir os nomes várias ~ez~ ~te aprender. _?1-zendo também o quanto isso e importante para uma boa relação. .

Acima de tudo. quando o ajudad_or n.c;me1c: ~ ajudado. emite uma men~g:m do t1p? Voce e uma pessoa importante e unrc~. para m1 m no mo­m ento em que nos encontramos .

SãO- - O:? _çurnpcicn..e.rrtgs SH!~--~rgJr:'-2 i':'ício de catia..eocoQtro._ Eê,__ !!!!PQ®!lte S1U~_se1a o aJud_?_­dor- 9 pessoa que vai ·.~b~scar·· o aju~adq_ q_n_çle e le estiv.er - numa sala de espera. num corredor. etc_ -As vezes. basta chegar até a porta de <:>nde se pode ver 0 ajudado e acenar para ele. cumprimentando-o e convidando-o a entrar . - _

Além do aspecto verbal. faz parte do cumpri-

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_f!!ento algum tipo ge_contato físico_çocn~~j~dado . E sse contato vai depend er da profundidade e da na tureza da relação - om aperto de mãe. um " tapi ­nha" nas costas. um abraço. às vezes um beijo.

O aperto de mão. em esp ecial. é uma forma não só de t ransmitir segu.-ança e apoio para a pes­soa. como também de captar- os sentimentos que e la está experimentando no momento. Talvez se­ja essa uma forma de contato muito antiga na his­tória da pessoa. que a faz lembra r do aperto de mão do pai e da mãe e da segurança que eles l h e ti-ansmi t iam dessa manei ra. Para o ajudador. o to­que é uma das primeiras c hances não só de perce­ber o outro. como também de emiti r a seguinte mensagem: "E bom ver você neste momento ; es­tou aq1 Ji para ajudá-lo".

1 ndivídualizar o ajudado. apesar dr..: ser uma habil ,idade verbal. vai ser mencionada aqui porque vem. no geral. junco do cumprimento .

_!!!div id• 1aJi7ac o ajudada signifiCQ-'1erceber al­gumas de...suas caracterlsticas pre~n!_~_a dete(mi­nado einconti:o. Isso é especial m en te importante quando houver alguma mudança senslvel em sua aparência em relação ao ú ltimo encon t ro. Por exem­plo. "Você cortou o cabelo. está-se v estindo com muito cuidado. está gripado. machuc04..J-se. etc.". Assim. quando. a lém de perneber. o ajudador co­m unica essa percepção, dá ao ajudado a sensação de ser semprE> lembrado e de ser. por isso. i mpor­tan te p ara o ajudador.

Às vezes. uma pessoa em crise deixa a té mes­mo de atender a su as necessidades básicas - n~a raro. por exemplo. e!a deixa de se ai i mentar.

Na medida do passivei. o élljudador deve nu­trir fisicamente Q ~udado no in 1"cio d Q..encant'rQ. Até mesmo para recê6er ãjuda. é n ec°êssário ter um mlnimo de energia e as necessidad es básicas a tendi­das. No processo de apre ndizagem. por exemplo, a alimentação é pré-requ isito para que essa apren-

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dizagem ocor ra . É por isso que. nas escolas d e nlvel sócio-econômico mais baixo. as crianças são a i i­mentadas antes de in"ciarem qua quer ativ oade.

Oferecer um copo d'água ou uma xícara de chá. leite. café; agasalhar; oferecer remédio ou fa­zer um curativo para aliviar a dor; oferecer um lu­gar confonável para Que o ajudado poSSél relaxar­se e descansar são cuidados que fazem parte do que chamamos de nutr i r fisicamente. A lém do a i 1-vio que trazem ao a1udado. representam. simbo­licamente~ toda a nutrição emocional que o ajuda· dor e~tá d isposto a lhe oferecer.

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Acolhendo

O que é: R~ceber o ajudado calorosamente ao se iniciar o encontro com ele.

Para Que: Se acolho o ajudado. eu lhe transmito receptivida­de e interesse. de modo a ele se sentir valorizado .

Como : 1. Dirigir-se ao ajudado usando seu nome. 2. Cumprimentá .... o. 3. 1 ndividualizá-lo. 4. Nu tri-lo fisicamente .

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"Tente, de alguma maneira, Fazer alguém feliz. Aperte a maõ; dê um abraço, um passo em sua direção. Aproxime-se; sem cerimônia. Dê um pouco do calor de seu coração. Assente-se bem perto e deixe-se ficar, rnuito t:ernpo, ou pouco t:ernpo. Não conre o tempo de se dar. Deixe o SO'rr:íso acontecer. E não se espante se a pessoa mais feliz for você. "

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ATENDENCX> FISICAMENTE

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Em se tratando de mensagens, nada é rnais sig:­nif i cativo do que o co.-po. Já v erificamos como as mensagens são tr-ansmitida·s nos pequenos detalhes - na maneira oomo o ambiente é arranjado, nos ouidados que são ofereci:dos ao ajudado, na manei­ra como ele é cumprimentado. percebido, nutrido. J::'.lada, no ent:anto....!_em a força ~a me_o_~~m çor:QÇ>­ral. Isso fica bem ilustrado no própr-io título do li--~o de Pierre Wei l, "O Corpo Fala".

Uma das razões dessa força pode estar simples­mente na enorme verdade que reside no corpo dle cada um. O corpo não só fala_;_Q_g>rpo nunca men­te. Podemos, à;s vezes, duvidar das palavras, mas "'íião do corpo. Sua mensagem é tão clara e verda­deira que não deixa margem a dúvidas.

O corpo é nossa parte acim.a de q u a lq uer suspei ta.

Isso talvez se explique através do controle: assim como exercemos um razoável oontrole sobre as palavras - pe.n sanda sobre elas. esco 1 hendo-as. medindo como vamos pronunciá-la's - o mesmo não acontece com o corpo. Por não ter-mos um espelho permanentemente à nossa frente. dizendo­nos, a cada momento, como estamos corporalmen­te. aS'St.Jmimos posturas impensadas sem nos dai-mos conta do que estamos falando a 11ravés do nosso COlí­

po. 9u~nqo falta Q contrQI~. surge a yerdaqe. Atender fisicamente, então, significa empres­

tar ao corpo posturas tais que comuniquem ao aju­dado disponibilidade, abertura, interesse - caso isso tudo esteja presente no aj,udador, é daro. Co­mo vimos anteriormente, nenhum pmoesso de aju­da pode ser iniciado sem que haja d isponi b ilidade interna por parte do ajudador.

Quando essa disponibi 'lidade existe, é muito pr-ovãvel que o aju dador transforme seu corpo num reflexo de seu interior. Ao fazer isso, ele "ajeita" seu corpo de maneira intuitiva. escolhendo a pos­tura que melhor transmita sua mensag~m e. ao mes­m o tempo, lhe ofei-eça um mínimo de conforto pa­ra o atendimento.

O grande problema. e'ntretanto, é quando o ajudador está disponível internamente mas. por ra-

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zões várias. não consegue comunicar sua d~sponi ­bilidade ao ajud;:irio. Este. por sua vez. se r_:iao con­segue perceber o interesse por parte do a1udador. fecha-se sem nem mesmo começar a se envolver no processo de ajuda.

Essas "razões várias" podem incluir um certo cansaço do ajudador ou uma necessi~ade de mu~to conforto físico que o leva a assumir posturas in­compatíveis com seu desejo de ajudar.

~ necessário. então, est ar atento para aquelas posturas que realmente comunicam sua disposição de ajudar. Há alguns comportamentos que faci l i ­tam essa comunicação.

Como já fo i visto no tópico sobre disposição das cadeiras. há uma "distância ótima·· a ser esta­belecida a cada encontro e a cada momento num mesmo encontro. Uma distância mui to grande po­de d iiicultar a expressãoªº ajudado. ROr signif:_car. paraéle. uma distancia emocional e afetiva do aj~­dador. Por outro .!_a_çlQ.. u_ma distância muito P.:e-CU!_~ na dificulta igualmente, por signifi_~um~_j!]vas{io de sua intimidade, um oeSl-e$peil:õ- a seu es~ç_o.

A proximidade adeqüãda e estabelecida a par­tir de um pedido. também corporal. do ajudado. Através da observação. o ajudador percebe se a dist ância que determinou a princípio está adequada à necessidade do ajudado. Caso não esteja, faz ajus­tes na sua posição até que a proximidade seja a ideal para aquele momento.

E importante que todo o çorpo dQ.J).i.!,i_dador esteja de frente. paLa._Q_ç:tjudaçl9 - literalmente da cabeça aos pés.

Às ve7es. voltamos apenas a cabeça para a pes· soa com quem estamos falando, esquecendo-nos do res10 do corpo. Essa posição de lateralidade po­de soar como pouca disponibilidade para o ajuda­do.

Um dos elementos m a is significativos na po.s: 56

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tura do ajudador é a po_:;jção de seu_!_r:_onc~ . Es~ posição pode variar d~t: u t:ncoslé:li--se para ti-as na cadeira até uma grande inclinação. passando pe­la posição ereta. A mensagem transmitida. em cada uma delas. muda sensivelmente.

Quando alguém está "escarrapachado" ou mesmo recostado na cadeira, a impressão Que se tem é de cansaço, sono. desânimo. A pessoa mui­to ereta pode comunicar afastamento ou até mes­mo um.a certa superioridade. Sem dúvida. é quando inclina seu corpo para a frente que o ajudador co­munica total atenção pelo ajudado.

São Q$_oJb_o_s_ª-. f9Dte maior de comunicaçã~ Pode.;:;os nos abstrair de qualquer outro traço fi ­sionômico - boca. nariz. sobrancelhas. queixo. testa - mas não dos olhos. que dão vida ao rosto.

No momento em que o ajudador olha nos olhos do ajudado. não só comunica seu desejo de oontato. como também capta as mensagens que ele lhe transmite. Além disso. aumenta a sua concen­tração. evitando a dispersão por ouilíos estímulos que não o ajudado.

Há algumas abordagens ao processo te rapêu­t ico que acreditam que a melhor posição para o te­rapeuta é aquela em que ele não é visto pelo clien­te. A j ustificativa seria o cliente não se deixar con­t rolar pelas possíveis reações do terapeuta e. ao mesmo tempo, ser o único foco de sua própria atenção durante o processo.

Mas. desde que acreditamos que o processo de mudança tem como base a própria relação entre ajudador e ajudado. não seria coerente dispensar­mos. nessa relação. qualquer contato possível en­tre os dois - em especial através dos olhos.

Como no caso da distância ótima. deve haver também uma dosagem adequada de contato visual durante cada encontro. As vezes. o ajudado se sen­te embaraçado diante do olhar do ajudador. r-e­ceoso de que este descubra. em seus olhos. coisas que ainda não está pronto para dizer. Se for esse o caso. em certos momen1os. o ajudador comunica

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respeito deixando de encará-lo ..

Muit:o ligada ao contato visual, .a fisionomia receptiva é _~_quela que transmitH o inteiresse jocon­dlcional do a j,udador não só através dos o lhos. mas de todos Õs tiraços fisionômicos.

Sobr-ancelhas levantadas, boca caída. testa franzida são também sinais do que o aj1udador pode estar sen tindo ou pensando.

Por outro lado. esse é o e flemento fís!oo que mais foge ao controle : a expressão fisionômica é a menos susceptív.el ã mentira. ou sejfa. não pode­mos controlar nossos traços fisionô1m icos de modo a transmitir uma mensagem fallsa. Não se trata aqu i de suger ir ao ajudlador que "faça cara boa". mas apenas que esteja atento à sua fisionomia e ciente de que e la pode traí-lo caso esteja obrigando-se a atender a lguém sem a necessária disponibilidade. Ou caso estej,a experimentando sentimentos tã:o fortes que eles se reflitam em sua fisionomia e o impeçam de atender o outro .. Nessa situação. para preservar a congruência e imediaticidade. o ajuda- ­dor pode falar desses sentimentos ao ajudado (ver · mais adiante err> "respondendo com os próprios sentimentos") .

No tópico referente ao contato visual. já men­cionamo•s que olhar nos olhos evita a dispersão. ConcentJrar-se significa exatamente não fazer nada que não se.ia prestar atenção ao ajudado.

Qualquer QlJ.J:ra a_llvjdade simultânea ao ateu­di~or: _pequena _que. seiar _~divide ª-ªtenç~ó

-do aju dadpr. g1t,1e perde. por instantes. a fg4 m_ siri.ai. s'igrj"ifí~t~o do ajudado. Este. por sua vez. pode perceber a distração do ajudlador como uma men­sag.em do tipo: "Não estou i'11teiro para você. por isso outras coiisas chamam minha atençãO" _ Ainda que isso não seja verdade. é assim que o ajudado se sentJe - pouco importante para o ajudador ..

Isso inclui desde pequenas distrações - rabis­car um papel. brincar com aLg,um objeto. segurar

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alguma coisa .. es1talar os dedos. olhar o relógio. fu-1mar - até at:ivi d ades que ex ig;em maior atenção -escrever, bater a máquina. folhear um livro. fa ilar- ao telefone. pma.Jrar a lguma coisa.

Afgumas dessas observações se aplicam dire­tame n te à ãrea da saúde. onde, durante a anamne­se. o profissional escreve ou datilografa o que o ci i­e111te está dizendo; ou atende a telefonemas de ou­tr.as pessoas durante a consulta.

T ambém bastante iintU1nvo. o movimento_d_g_ C9. b!i'Ca. :QUiàruJº~v·ersamos _ _c_QITJ_algué rn ._indica gue estamos realmente acompanhando tudo o que está sendo -d itq, .. QJ!. c;:9n"COrda[ldõ oo_m _g_g t.,1e-está .se:.o.d-º-ielaitaçl_p.

Na 1relação de ajuda. esse gesto dá a sensação ao ajudado de que está sendo escutado com aten­ção integral.

1i= um traço individual. ao mesmo tem po na­tural em certas pessoas e desconfortável para outras, para quem o movimento ele cabeça seria forçado e desneoessá rio.

Já foi mencionado o contato físiico no tópico sobre ·cumprimento i líl icial.

Mesmo no desenrolar de um encontro, há mo­mentos em que nenhuma palavra é boa o bastante para expressarmos ao outro que estamos a seu lado. Especijalmente em momentos de intensa tristJeza e angústia. tocar o ajudado emite a mensagem: "Pos­so não ter a solução de seu problema. mas posso compreendê-lo; estou com vooê" ..

Durante o contato oom o ajudado. qualquer que seja sua duração. é impo,rtante...Q_ue o ajudador ~taj;:i __ no_ me.sm...Q. ajy_Etl .tisi_ço _gu__e_ele~ Em outras palavras. se o ajudado está sentado. é importante que o ajudado:r se assente também_ Se ele permane­cede pé, pode dar ao a judado a impressão de que está com pressa. Isso é especialmente impor1ante

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q u ando o ajudado é um paciente e está acamad o. em cuso ou no hospital. Puxar uma cade ira e colo­cá-la em frente à cama íacilita a expressão do aju­dado (paciente}. que percebe. nesse gesto, a dispo­nib ilidade do ajudador.

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Como nenhuma postura é destituíd a de signi­f icado. vamos lembrar aqui algumas posições que, quando adotadas pelo ajudador. podem em itir m ensagens negat ivas (de distâAc1a. rejeição. ausên­cia de disponibilidade. pressa. desinteresse) . q ual­quer p osição em que o ajudador tenha sua muscula­tura contraída; pernas cruzadas; braços crul:ados; cotovelos apontados na direção do ajudado; pés em posição de and<lr. etc.

Neste ponto. gostaríamos de fazer uma obser­vação a respeito desses elementos ligados à postu ra física do ajudador : nós os consideramos como in­gred ientes do atendimen m. podendo ser usad os todos ao mesmo tempo ou apenas algu ns deles de cad a vez. Isso vai depender do estilo individual de cada ajudador. Não es tamos apresentando regras. apenas algumas "dicas" para serem ava liadas pelo lei tor. O faro de vu& atertder recoslado na cadeira ou fumand o não quer dizer q ue isso vai compro­meter a qualidade de seu atendimento. Existem muitas outras características suas que vão tornar seu encontr o com o ajudado u m encontro efetivo.

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Atendend o fisit:.amente

O que é: Com unicar ao aju~ado d isponibilidade e inte resse ~través do corpo .•

~ ?ara .que: S~·- aten d 9 aq ajudado fisrcan:ien te , tra.osmi to.-\lhe mensagens de interesse~ de modo a envo lv ê-lo no pro~_d_e ajuda ..

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COrJ;lO,i,,, • 1., Ap(oximar-se . . 2._, Ficãr de tr"ente'. ·· 3 "' 1 n.?i':!ar o c;:orJ?~ para fr~nte. ~r!Vlanter .c9ntato v_i sua\. ~- .... • 5 _ Manter a fisionomia rece~t,iv~. 6 . Concentrar-se. -·- · · -7. Assentir com a cabeça. 8. Tocar. 9 . Man ter a m esma altu ra do ajudado.

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" Quando me sento junto de alguém, sei que isso é algu ma coisa, mesmo que eu nada tenha de valioso a dizer. Não necessito da evidência constan­te de que estou sendo efetivo e útil. Posso apenas me sentar e oferecer minha companhia. Já vivi si­tuações em que minha dor não podia ser compre­endida, mas em que me sentia confortável apenas estando com alguém realmente disponível para mim, alguém que nada exigia, alguém que não po­dia compreender meu coração dilacerado, mas que era urna companhia - como urn lugar aonde · ir quando se está f r aco e só - urna presença humano, a civil ização depois do deserto. E muito quando eu apenas me sento junto de alguém_ Mas acredito que ajuda dizer que pretendo sentar em silênci o. Ajuda a fazer do nada alguma coisa. "

Eugene T. Gendlin

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OBSERVANDO

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Ovando falamos de atender fisicarren te. o fo­co era o corpo do aju dador e como ele podia u sá­lo para transmitir mensagen's ao ajudado.

Agora. invertemos o foco : nossa preocupação aqui é captar as men sagen s d o ajudado atr avés de seu corpo. q u e- tãmbém f a la como o do ajudador . . ESte: ã&stra indo-se d as palav rras do ajudado, pode­se indagar - "Que mensagens não-verb ais e ajudado está me

transmi cindo?" - .. O que esta me dizendo seu corpo e que. às ve­

zes. suas palavras não podem me dizer~" Aí reside o papel crucial da observação na re­

lação d e a1uda:

Se quero encender a pessoa, devo primeiro olhar seu corpo para depois ouvir suas palavras, pois à verdade está, acim 3 de tudo, no primeiro.

Como muitas outras habilidades de aju da. ob­servar faz parte do nosso dia-a-dia. e nós a usamos. com freqüência. no contato com as pessoas. No entanto. não tanto quant o poderíamos. Segundo Powell. a tristeza básica da familia humana é que muito poucas são as pessoas que aproveitam todo o seu po;.enciéê'I; a estimativa é de que elas usam. em gerai. apends dez por cento do que poderiam. 1 sso vale Também para o que vêem - apenas dez por cento da beleza do mundo à sua volta .

Assim. o objetivo. ao abordarmos a observa­ção é recuperarmos nossa capacidade de ver. perdi­da ao longo de nosso desenvolvimento. Dois fato­res parecem ter contribuído para essa perda : 1 • A i ncoerencia dos adultos que, em nossa infân­c ia, se comportavam de uma maneira diferente da­quilo que nos diziam. Fazendo urna coisa e falando outra. eles nos levaram a ficar confusos e a acredi ­tar que tinharnos "visto errado" · - .. Mamãe, você está muito triste. seus olhos estão molhados e vermelhos de tanto chorar." - "Bobagem. meu filho. isso é porque estou gripa­da hoje .. ...

De incoerência em incoerência. f.omos arrofi-65

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ando nossos olhos e nossa habilidade natural de observair. Infelizmente. por serem autor ida des para nós os adultos nos Levar-am a acreditar mais em sua~ pal avras do que naquilo que víamos e nos fize­ram descrentes de nossos o lhos. 2. O sofrimento .que, às 'Vezes, r:esulta de nossa ob­servação. Quando vemos de verdade. P?~e~os ver. a lém da incoerência . a indiferença. a re1e1çao. o de· samor. A ssim. preferimos não ·,,er para não sofrer e escolhemos v iver ••tampando o sol corn a peneira'".

Como d iz o provéribio. "a verdade o lilber-tará. mas. antes. o deixará infel iz"'_

Treinando a habi•idade de o bservar . vamos re· cuperar a c red ibilidade de nossos olhos, checando pacientemente com nosso ajudado o que ,estamos vendo.

.. ,. ~ .-Antes de começarmos a ver o ou tro. é fun dta­

men ta 1 estabelecer-mos a diferença entre observar e inferir.

Quando o bservamos. estamos ~ena~_ o~nsta­tando a existência de algu!!ia~i ~i-~ visf~ei~-n~ pessoa· ob:Se~?d)?: sua aparência (a manei,~a como está vestida e pen teada). seus gestos, movimentos. sua expressão fisionômica. o ritmo de sua respira­ção e d e seus bat1imentos cardíacos. :sua posil:ura .. a delimitação de seu t ·erritório corporal ..

A par t i r desses dados objetivos. colet:adlos através da observação. podemos fazer i nferêrncias - hipóteses sobre o possível significado de cada um desses dados.

A observação é objetiva. não deixa malígem a dúvidas: "Eu realmente vi seus o lhos cheios d ··água".

A inferência é subjeüva. pode estar certa ou 1e<ra da em rel1aç.ao à verdade da pessoa observada : "Será tristeza o que vi em seus o lhos? Será ternura? Ou simplesmente uma conjuntivite?" Só ela pode dizer-me. Isto é . se souber o que é e se quiser com-parti lhar isso comigo.. .

A part ir dos elementos observados. o a1uda­dor po de inferir o n1ível de ener~ia de ~ma pessoa, que t ipo de sentimento _ela esta experimentando.

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sua p rontidão para determinada tareia, seu rel acio­namento com o próprio ajudador e com outras pessoas (caso estej a em grupo) e, acima de tudo. a coe.rência entre o que fala seu corpo e o que d izem suas palavras. Vamos detalhar mais cada uma das inferências e relacioná -las aos dados observados.

O nível de e.nergia se refere ao tônus museu· @L.OU d)~pGsjÇ;ãq _físi~- da Qessoa. A grosso modo. podemos c lassificá -lo con:'.'o alil:!)., m_~jo q_~ llai~~. a partir de sua postura (especificamente os om­bros). de seus movimentos e de sua expressão fisio­nômica. ,especialmente os olhos.

Os sentimentos, também numa d assi ticação maís abrangente. podem ser agradáveis ou desagra ­dáveis para a pessoa que os expêrimentã·; -poéfê -ser bpm- oÜ~BÚJll_ senti los .. Essa inferência po de ser fei ­ta- a partir de todos os elementos obsetvados. em especial a expressão f is ionôm ica, o r i tmo cardíaco e respiratório.

A prontidão se refere à d isponibi lidade da pessoa para executâr qualquer tarefa g~~..!:~'=1fla pê=­la frente: faz.er um exercício. assisti r à aula. subme­ter-se a um exame. etc. Posso supor sua presença ou ausência a part ir da postura e da expressão fisio­nô mica dia pessoa observada ..

O r:elacionamento do ajudado com o ajudador e com o utras pessoas. se fizelí parte de um grupo. pode ser negativo ou p~sit ivo. Ele pode estar c:i!Jer­to ou 1fechado para esse relacionamento. Isso pode ser inferidÓ através de seu contato v isual com as pessoas (se ele o mantém ou não) e da delim itação dP. seu territó1rio c orpora l . Este pode ser infe1rido se traçarmos uma linha i maginálíia em volta do aju­dadlo e o bseTVarmos sua relação com as pessoas a seu redor, incluindo.o ajudador. Assim. não é por acaso que ·ele fica semprre próx imo de algumas pes­soas e d istante de outras .. Também não é coincidên­cia. numa sa la de aula. que um a luno se assente sempre na plíimeira fifa e um out.ro. sempre na ú1l ­t ima. Observando seu território corporal. podemos inferir sua relação com o prof.essor e com os co­legas.

Toda vez que o a~udado atende fisicamente. õ7

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quer ao ajudador quer a outras pessoas do grupo. podemos dizer que o seu rel acionamento é posi ti ­vo; caso contrário. que ele está fechado para a re­lação.

~:;. A inda u m bom exercício. para se inferir are-lação de uma pessoa com as outras. é observar-se diversas fotografias. Estudando a inclinação do tronco e câbeça. o afastamento, a distância, onde estão colocadas mãos e pés, podemos supor muitas coisas a riespeito das pessoas fotografadas. Isso vale especialmente para o estudo das relações num núcleo familiar. através dos á lbuns de íam Ilia. Além de todos os dados acima. podemos verificar a freqüência com que uns membros da familia se aproximam e se afastam de outros.

Quanto ao últiino item a ser infer ido a co· erênc ia entre o corpor al e o verbal - como já foi dito anteriormente. é o mais revelador em relação ao ajudado. Há momerúo-s- em que ele nos diz de­terminada coisa e nos mostra outra. às vezes in · versa . Com o o corpo é ma is genu í ns:i __ do que o _i_n­telecto. que dita as palavras. é também mais dig­no de c rédito· . .M11itâs vezês:-o g u"ê mê__traz...,a.)lerda­dei_ra__çojnpreensão sobre ~-p~soa é aquilo que ve.: j o e não aqui lo que escuto . Vamos falar. adiante. ~dà i~portância de decidirmos se vamos ou não dizer ao ajudado a respeito do que vimos. especialmente quando isso contradiz o que ele fala.

1. O ajudador dev.e ser discreto ao observar o aju­dado .

A d iscriça.o se r:_efere à natu_rªlidade com que_o ªiudador:.. capta as mensagens d o ajl!d_ado. Encará­lo com cur iosidade vai fazer oom que ele se sinta to lhido e se feche. Se ele se sentir "vigindo". vai também mudar seu comportamento. deixando de ser espon tâneo na relação com o ajudador. 2'. O ajudador deve ser persistente e pac iente na

sua observação. Já q u e a capacidade d e o bservar foi parcial­

memte perdida ao long,o de seu desenvolvimento. ~imQQ'.il:~~-te agora que o ajudad or seja persisten· 68

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te e paciente na recuperação da h ab ilidade perdid_9. I sso sfgn ificaum trein o ÓOnstante =- nao só durant:e o iempô em que está tra balhando. mas durante to­do o tempo. Encon t ros. reuniões ou qualquer ati­vidade q u e envolva gente são boas oportunidades para se observare m as pessoas e suas in t erações umas com as out ras. 3 . As inferência$ só se tornam verdades q uando

confirmadas pelo, ajudado. Acima de tudo, Q...ajudador d eve seL.llymilde

,e_ara __ adm!jir _çi_ue não é dC?no da verdade _de nTn­guém e gu~ só o ~uda~o ~be .Qe_sj. Quando o aju­dador decide c h ecar suas inferências com o ajuda­do. várias coisas podem acontecer: O ajudado confirma suas inferências.

- Quando isso ocorre. ou o ajudado já sabe a respeito do q ue o ajudador está colocando e se sente verdadeiramen te compreen did o por ele. ou o ajud ado não sabe e. concordando com a inferên­cia. está tornando-se mais ciente de seus senti m en­tos, mais próximo de si mesmo e de sua experiên­cia. O ajudado nega suas inferências. porque: - O ajudador se enganou; suas suposições a respei­

to .do ajudado não correspondem à verdade. O significado do que ele viu é outro que não aque­le inferid o ~Os olhos rasos d'água não são de uisteza. rnas a s imples reação a um cisco caído no olh o) .

- O ajudado concorda internamente. mas não q u e r ad mitir o que foi inferido perante o ajudador. Ele não quer .. dar o braço a torcer", ou talvez se envergonhe daquilo que o ajudador descobriu a seu respeito. M ais tarde. quando sua entrega n a rel ação for maior , ele vai poder admi t ir o que agora nega.

- O ajudador acertou na sua inferência. mas cedo d emais - o ajudado não está pronto ainda para adm itir. nem par a ele mesmo, q ue aqui lo que o a jud ador inferiu pode ser verdade. Assim, ne­gan do p ara si mesmo. nega. conseqüentemente, para o aju d ador. Ele precisa de mais tempo para trabalhar suas vivência<S até ficar pronto para

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aceitar o que malmente está se passando com ele. Novamente aqui. diante de uma r~usa do

ajudado em aceitar sua inferência. o ajudado~e­ve continua~~nd9_bumilde e re~ito5?· nao di~­·cutindo com ele nem tentando convence-lo a acei ­tar sua inferência. Mais tarde. o ajudador pode per­ceber que se eng,anou. ou o ajudado pode aceitar a inferência. Se esse é o caso. ambos sairão enrique­cidos: o ajudado. por ler descoberto mais a seu p róprio respei to e por estar entregando-se mais na relação; o aju dador. por ter sabido respeitar ,e esperar pelo momento certo.

O mais imponante para o ajudaclor é não ficar preso à inferência recusada. pois essa p risão pode significar a perda de outras descobertas im­portantes a resp~ito do ajudado e que estão por acontecer. 4 . H á o momento exato para se comunicar ao aju­

dado alguma observaç,ão a seu r espei to . Além das inferências. mesmo os dados mais

óbvios observados pelo ajudador podem não ser aceitos pelo ajudado. Ajudador: - "Toda vez que você fa 1la sobre isso. fica ofegante." Ajudado: - "Impressão sua. isso não é nem um pouco importante para mim ...

Também aqui prevaleoe o mesmo respeito men­cionado no tópico anterior.Às vezes basta gue_Q ajudador a.rguive 2 _que viu ... esperando o momento em que o ajudado vai estar p ,ronil:o para ver também. 5 . Algumas observações nunca serão comunicadas

ao ajudado. Se relembrarmos aqui o fim ú ltimo da relação

de ajuda - levar o ajudado a crescer física. emocio­nal, intelectualmente - esse deve ser o critério para decidirmos, muitas vezes. que não vamos dizer a ele o que vimos.

Como tudo o que o ajudador faz durante o pro­cesso de ajuda. esse tipo de comunicação também po­de ser para melhor o u para pior em relação ao ajuda~ do. Se for para melhor. basta esperar o momento adequado. Caso contrário. o que foi visto é arquiva­do, servindo apenas como um dado a mais para compreendê-lo_ 70

Observando

O que é : LJ;;ar os olhos para captar as mensagen s não-verbais úansmitidas pelo ajudado.

Para que: Se observo o ajudado, posso receber mensagens sig­n ificativas sobre o que ele estávivendo, de modo a conhecê-lo melhor. r ~- ·

Como : 1 . Olhar a aparência do ajudado. 2. Olhar o comportamento do ajudado. 3 .. 1 nferi r:

- nlvel de energia; - senil:imento; - pro 11tidão; - relacionamento; - coerência.

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"Olhe para mim. Por favor, me veia. Não rninhas roupas ou unhas curtas Ou minha face descuidada. Abra seu coração, de modo a ver o meu. Não estou lhe pedindo para concordar com Ou compreender tudo o que vê, Pois nern mesmo eu faço i sso. Apenas o lhe para o que está realff1t1nte aqui E permita ser."

Peg1 Hoddinotr

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ESCUTANDO

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/ Observando (f' l:::.· ======~

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Atr:é aqui. referimo-nos. basicamente. à parte não-verbal da in teração entre ajudador e ajudado. Ao preparar o ambiente e atenáe- lo fisicamente, o ajuoadõr ·está i?:.ª..P!'ffli!indo1TT1e_n·~9é.fls_~~yg_!~1s. Ao obseiVãr. está captando mensagens não-verbais.

Ao escutar . nÕ e ntantÓ.- ·comeÇãmOS--a- lidàr com o aspecto verbal da interação. ainda que só dia parte do ajudado.

Enquanto observar é captar suas mensagens não-verbais. escu tar refere-se a captar a~ men~ns '!~rbais que ele transmite. 1retendlo na memória os D,On!Os mais importantes de seu relato.

Ou ando associamos as mensagens verbais às não-verbais, aumen t amos a chance de oompreender realmen te o que se passa com o ajudado. Ao es­outari:nos. comunicamos. mais uma vez, nosso de· sejo de ajudá-lo.

Se ficarmos atentos às oess.oas.~ue-oos_ce(cam. vamo_s _pe;Qe_ber _ tJl.!J~Jlll.JI i tO_ J>..()t,,JgliS _5ªQ. ai:t-ueJas que têm a capacidade de escut<;,l.r~ verdade iraimente. Muitas "táz.em de êonta" -q-ue escutam. E suficien-1!e um pequeno teste p<lra verificarmos que absor­veram uma parcela (nfima do que foi dito ou. às vezes. nem isso. Outiras nem mesmo simulam : auando são procuradas por alguém que precisa muito dizer das suas coisas, começam imediata­mente a falar de si mesmas. ao invés de escutarem.

Da mesma forma que tentamos compreender a perda da capacidade de observar .. podemos tentar descobrir o que nos impediu de· aprender a escu-tar.

Antes d e mais nada. não tivemos_mo.delos..e:fe­t ivo~::d.e_~~sc__utadores''. Provavelmente nossos pais não nos escutaram. nem amigos.. Perdemos, assim, a chance de aprender por imitação.

Além d isso, escutar é um r isco de se entrnr em in ti m idade com _aquf!le qi.:;-efâJa~ Ouàndo aou áÕ õutrÕ ~a chance d e falar de si mesmo. vou escu­tar- coiisas que p o dem amedrontar-me porque não sei como responder ou lidar- com elas. Por out ro la ­do. a p essoa que fala de s i faz um convite para que

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eu fale de mim .. Ela se entrega a mim 'e ,espera que. em .-c·torno. eu me entiregue a ela. E disso eu tenho muito medo. Não aprendi a d izer as minhas coisas. receoso de mem~rãr~rrãCOê-nooser aceit o . por iSsó. AS.sim~ êstâ fo rmadã-ã êadeia - nao esCU to: para que v.ooê não fale a seu r·espeiio. para q u e eu não fa le a meu respeito. Ao invés disso. falo em primei­ro 'lugar. para ter o controle d a converrsa. ,e escolho temas tão superficiais que não corro o rrisco de ter de entrar em intimidade e me expor ao outro.

Quanto a essa superficialidade. Po\!'!Je l l c lassHi­ca a co.municação entre as pessoas em c inco níveis de profundidade. indo da mais superficial à mais íntí1ma ou profunda: N l vel 5 : conversa clichê - é aquela que se faz atra­vés d e frases prontas e thavões. em que as palavras soam vazias porque na verdade, não representam o que sentijmos. ou o que queremos dizer realmente: "Apareça lá em casa um dia desses. _ :· N í vel 4 : c omentários sobre outras p essoas · - é o que chamamos. habitualmente. de "fofoca"_ Uma pessoa se encontra com outra e fala a respeito de uma teroeira. nunca a respeito de si meS'fTia : "Você nem imagina com quem ele estava ontem .. :· /\Hvef 3 : idéias e julgamentos - é o início da auto­exp osição. quando a pessoa começa a falar das coisas que pensa, de suas idéias. de suas crenças: '·Na minha opinião. sexo não deve se" ensinado na escola". Ni'vel 2 : sentimentos e .emoções - além de idéias e pensamentos. há mui to mais para a pessoa ofe­recer de si mesina e que a torna u m ser único: seus sentimentos e emoções. Ela tem medo de· expressá­los. pois pode não ser aceita por isso: "F ico muito e1mlbaraçado quando meus f ilhos faiam de sexo co­migo".

N1~vel 1: comunicação perfei t'a - são os momentos em que as duas pessoas q ue interagem conreguem sentir uma empatia tão recípl'oca e verdadeira, que cada uma compartilha inteiramente sua expe­riência e é capaz de sent1ir inteiramente a do ou­trro : 76

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- "Tenho medo de te perder . por isso sinto tanto cíúme." - "t assim que me sinto também : ameaçado cada1 vez que você conhece uma pessoa nova. com medo de você il' embora."

Os níveis mais profundos de relacionamento exigem que as pessoas envolvidas saibam ·escutar.~ melhor 1maneira de superfic ial tzar um encontro é não...e~ar. apenas fafar de coisas irrelevantes em relação à própria experiência.

Pode parecer contraditória. mas é verdadreira a afirmação de que quanto mais necessito (e te,mo) falar. menos escuto o outro. cnm medo de que "chegue a minha vez".

... . · ... Às vezes. nos surprreendemos quando •. depois

de um enoontro em que escutamos uma pessoa .sem dizermos nada, ela nos agradece:. a l iiviadla. pela ajuda que prestamos. Não conreguimos entender oomo. mesmo "sem fazer nada·~. conseguimos aju­dar.

Muitas vezes. a pessoa necessita çpen~~r escutãaa para que possa ordenar e organizar sua própria experiência. Quando ela encontra alguém pela frente disposto simplesmente a parar e escu· tá-la, começa a dizer coisas. antes de mais nada. para ela mesma. À medida que vai falando. escuta sua· própria voz. e vai oo1ocando em o rdem pensa­mentos que. contidos. estavam confusos. Sem di­zermos nada. ela não só ordena sua experiência~ como também se compreende melhor e clhega a en­contrar uma saída para seus prroblemas. Ao final de seu "monólogo.". sua sensação é de alegria por ter achado a luz ao fi nal do túnel.

Mesmo nos casos em que urna solução parece distante ou até impossível . o mero falar traz um ai ívio imediato. Fica para .a pessoa .a sensação de que encontrou. no mínimo. alguém interessado em seu problema. Se não desçobriu a so1ução. encon­trou alento e esperança. A imagem que ílusua bem a situação é aquela de um reservatório prestes a se romper p e lo acúmulo de água represada. Se permi-

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tirmos que essa água se ,escoe por uma pequena br-echa. haver-á um "alívio:'' no reservatório. que não mais se rompei-á. Esse processo também ocor­re com a pessoa sobrecarregada de emoções - se pode expressai--se. encontlía alívio; se o nív,el de tensão sobe acima de seu limite. sem possibilida­de de dividir o peso com alguém. ela expLocte. de­sestru tu rando-se.

Quan to a .. não fazermos nada" e a " apenas .. escutarmos. isso não passa de uma subestimação de nossa capacidade. Estamos. isso sim. fazendo muita coisa quarndo escutamos o outro com int·e­res.se e atenção. Estamos abrindo espaço ·para que ocorra esse alívio a que nos referimos... Temos a tendência .a buscar técnicas complexas e sofistica­das. quando as habilidades mais simp les são as mais efetivas - e estiio ao n osso alcance .

..E. im;pq_r:ta11_~ qu_e o ajudçdor. tenlfi_p em rri~n ­te _a_o._e~u~r. que .9!:!.aJg!Jer ooisa dit.a._pe1o. ajuda­éi~ tem uma raitiío d e ser. Não existe "mentira·· no que ,ele diz. Se algum fato rrelatado não corres­ponde à i-eal idade o bjetiva. nãO cabe ao a!udlado:i: desmenti r ou dis.oordar do ajudado. Se ele diz que e o sol que ilumina a noite. é porque pi-ecisa v ,er- ª:> coisas dessa maneira. Só aorroitaodo nele e oont1-nua11do a seu lado. sem tentar convencê-lo do con­tr.ário. é que vamos poder compreendê-lo. E ta 1-ve.z ajudá-lo. algum dia. a ver a noite como ela é -rnão ilu minada pelo sol. mas peta lua e pe'las estre­las.

Vale aqui lembrar o ajudado rotulado como "paciente psiquiátrí'ico... T alvez sua principal ca­racter ística seja a distância entre o que vive e o que chamamos de real idade objetiva. Se ele diz que está vendo umâ aranha a percorreir-lhe o corpo. não ca~ be ao· ajudador d izer-U1e que isso é mentira e que não há nenhuma aranha em seu corpo. nesse mo­mento. Aci-editandlo que e la está lá e tentando ver o seu significa-do na vida ·do ajudado. talvez o aju ­dador possa. mais tarde. levá-lo a l ibertar-se dela.

A base do processo _de_ ajuda é tentai-_ ~er ~

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mundo com os olhos do ajudado. não importa co­m Õ. c!c o vej a . O pape'I do ajudador nao é mostrar aõ aj udado o que é certo ou errado. verdade ou mentirr a, mas apenas estar a seu lado e compreen­dê-l o .

O que ele diz ao ajudador é o que ele p recisa dizer-lhe. num dado momento: talvez seja o que ele mesmo precisa de acreditar. para sobreviver. e sua esperança é que o ajudador ac redite tam bém. _Q, gue e le .diz . .é.~acima .deJ:u.da. a sua_verdªçl_ê. E é ne­la que o ajudador vai acreditar se qui1ser aiudlá-lo.

Quando escuto uma pessoa. posso dividir sua fala em duas partes: o conteúdo verbal ou o con­ju~Ho das palavras. que oorr-e!ipÕnde à letra de uma canção ; ~ 9'. -_:!!!~si~~ : q~e a_companha ~ ~OQ~eú: do. formada da entonação da voz. de sua altura. intensidade e timbre, do rirmo das palavrras. das p âu sas entre uma e outra e da respiração. ·· · -

---:t:\linguagem escrita· poderia ser e.amparada a uma canção sem música, só com letra. ~ a língua· gem falada que ganha vida com a melodia que cada pesso a lhe empresta.

Uma mesma frase pode ser dita de maneiras mui to diferentes quando falada por pessoas dife­rentes; pode comunicar alegria. tristeza. raiva ou qualquer outra coisa - depende de como é dita.

Cada. el1emento dessa músiica tem um s~gnifi­cado especial - ~ fal~ -~~p~~~osso estar ansio­so; se faço pausas ou gaguejo .. posso estar embara­çado ; se taio baixo, pôSso êstar -envergonhado ·e. se miflha respiraÇãõ é olêgãnte. posso estar emóc10-nado. · · ·

.§_e_o -~iudador qu.eir capt~ C?~xirno.da e;x~ riência de seu ajudado. deveestarr a1en_:tQ..a .wdo...o qu~_ele dj~_..e ÇQ.ato . .el.e diz.

à medida que o ajudado< escuta. vai selecio­nando. em meio à fala do ajudado. aqueles pontos. mais relevantes .à sua expenencia. Se aval iar-mos a expressão verbal de uma pessoa. vamos perceber

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que alguns pontos são fundamentais. enquanto ou­tros são seoundários e aparecem .apenas como com-p lementos dos primei ros. . _ .

Ao ~cutac._o_ajudador separa os...top1cos _mais importantes dos menos importantes. tenta~do iden­tificar o que é realmente relevante para o a1ud~do.

Dois cri té r ios podem ajudá-lo nessa seleçao: 19 - tudo o que é impor tante se repete. várias ve­

zes na fala do ajudado - é o terna central. qu~ vai e volta. ainda que sob formas diferen­tes. até que ele o tenha exp lorad o i n teiramen-te e possa passar para outr o tema; . .

2Q - O que é importante é d i to com grande intensi­dade pelo ajudado - ele pode alterar o tom de sua voz. ter seus olhos cheios d'água. fazer uma pausa. enfim. cada vez que ele tocar num ponto relevante. haverá uma mudança mar­cante na música que acompanha suas palavras.

Há ainda um ouu-o aspecto fundamental a ser lembrado quando se aborda o escutar : a fala de uma pessoa é. quase sempre. expressa em dois ní-veis.

Num primeiro ni'vel, captamos a mensagem explicita. E sta consiste no conjunto <!e palavras objetivas e audíveis para quem escuta; _e_ o Que pa­rece que a pessoa está querendo transm1t1r: - "Engraçado. acho que ando mesmo sem sorte; sem pre que lhe telefono. a secretária me diz que você está ocupado".

A mensagem explícita. no entanto. não vem sozinha_

Seu propósi to é esconder a lgu~ ou~a men­sagem que a pessoa. por algur;ia_ i:azc:_o. _ n~o ~od-~ transmitir diretamente_ E la e apenas o veiculo ãtravés do · quãl a pessoa vai tentar dizer o que realmente está sentindo e querendo dizer - a m en­sagem implícita. que é a verdadeira m"._!nsage~ : - "Penso que não soül"ffiportant e para voce. por­que você nunca me atende quando telefono".

Escutar é. acima de tudo. a busca permanente da ve·rél•adeira mensagem. que a pessoa esconde

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atrás de palavras por não poder revelá-la aberta­mente

F icar calado

A relação fjtlai:..:gscutar ~ ~.!!!ª sirl1ples ques­tão de ~aço~ Se preencho esse espaço falando. não existe a menor possibilidade de que outra pes­soa o faça_ Quando duas ou mais pessoas se encon­tram. a fala se torna fator de competição. Cada uma dispu ta o mair:- espaço possível para que. fa­lando. possa receber atenção, e. às vezes. testa r o quanto está sendo aceita e amada pelos outros.-

Em se tratando de uma relação de ajuda. o espaço maior pertence ao ajudado_ t ele que pre­cida d.e ajuda e a está buscando. e o mínimo que tem a faz~r _é falai-; quanto ao ajÜdador. o . m i'nl ­mo que tem a fazer é calar-se. até o momento em qüe o ajudado- lhe ceda o espaço_

Não interromp.er

Ouando o ajudado fala. segue uma linha de raciocínio com princípio. meio e fim. como se "falasse em parágrafos". Quando o ajudador corta essa linha ao meio, dispersa o ajudado e o afasta do foco de seu problema. Ele vai voltar sua atenção para as palavras do aiudador no momento em que mais precisava de estar consigo mesmo_ A in1errup­ção é um corte no contato que o ajudado estabe­leceu consigo mesmo. uma perda da p_r_Qprj?_ Qes­soa.

Não interromper significa discriminar o mo­mento exato em que o ajudado. expressando-se verbal e corporalmente. não só cede o espaço para o ajudador, como também lhe pede que fale. Ele agora é quem quer escutar. até o momento em que indicar que precisa de espaço novamente_

Enfim. o ajudado é que administra o espaço na relação de ajuda - usando-o e cedendo-o de acordo com suas necessidades_

Evitar d istrações externas

Tanto no tópico sobre privacidade (preparan-

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do o ambiente flsico) quanto no tópico sobre con­centração (atendendo fisicamente). já nos referi­mos à imponância de se diminuir. tan to quanto poss1'vel. a estimu lação externa durante o encontro de ajuda.

O ajudador deve cu idar desses dois aspectos para evitar que sua atenção se desvie do ajudado: preparar o ambiente d e modo a eliminar. ao má­x imo. quaisquer estímulos visuais e auditivos; es­tar atento à sua própria concentração. de modo a não se distrair com qualquer ouua atividade. por menor que seja_

As vezes. esses cuidados. apesçir de simples. são mui to e fetivos para a redução de estímulos. Numa sala de aula. por exemplo. manter a porta aberta é um convite à dispersão tanto para o pro­fessor quanto para os alunos - é difícil impedir que a atenção se volte para quem passa no corre­dor ou para os ruídos Que vêm de fora. Um simples fechar de porta faL uma enorme diferença. Numa enfermaria. há também uma maneira simples de se cortar um pouco a estimulação proveniente do mo­vimen m intenso de médicos. enfermeiras. alunos. seiven tes. visitas e dos outros pacientes. Apesar de não ser o lug,ar idea! para um encontro de ajuda. pode-se tanto aumentar a privacidade do paciente como rnmbém d iminuir pelo menos parte da esti­mulação visual se for usado o "biombo". E ssa divi­sória móvel. que faz parte das enfermarias. é usada. em geral. para a troca de curarivos e para os exames em que o paciente precisa ficar sem roupa; às vezes. é tam~m usada para isolar um paciente terminal. que cansei tui estímulo doloroso e ameaçador para os outros. Esse mesmo biombo. quando colocado entre a cama do aiudado e o resto da enfermaria. facilita bastante sua relação com o ajudador. ~ como se ambos se esquecessem que há tanta coisa acontecendo do lado de lá do biombo.

Para o ajudador. cortar as distrações externas aumenta muito sua capacidade de escutar e de manter sua atenção voltada só para o ajudado por períodos de tempo mais longos.

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Evitar d istrações internas

. O ª12:1biente ex terno não é a única fonte de e:st1mulaçao para o ajudador. Seu próprio ambiente interno - seu corpo e seu coração - às vezes

lhe oferece estlmulos tão intensos que o impede de esc~tar- o outro. Quando isso acon1eoe. seu momen­to e de escutar. _mas a si mesmo - a seu corpo. que carece de_ atençao. ou a seu coração. que lhe de­manda c uadado.

_ As disuações internas podem ser de ordem fí-src~ ou emocional. Ouando são ffsicas. há alguma co isa acon_tecendo com o corpo que exige uma pa­rada do a1_udador na sua própr-ia pesso<J. Ele pode esy:~r precisando de satisfazer alguma necessidade bas1ca -_ sono. repouso. alimentação. eliminação. E Quase impossível escutar alguém quando estamos com sono. cansados. com f ome, com sede ou com a bexiga cheia.

Além disso. oualguer desconforto Qu incômo­do físico_divider.nJambé_m , nQ~ate_n<;ã.o : roupãs ou sapatos apertados, dores, febre. qualquer tipo de mal-estar_ Até Que as necessidades sejam satisfei­ta_:; e ?S incômodos sejam el1iminados. o ajudador nao vaa estar inteiro para o a iudado.

. O mesmo ocorre com as distrações emocio­nais. Ouando o ajudador está vivendo intensamen­te alguma d ifiouldade, precisa de se escutar. Ouvin­do sua própria voz. não vai estar pronto para ouvir a voz dos outros. Às vezes, precisa até mesmo de buscar um ajudador que facilite a resolução de seus p~oblemas. Nesse momento. ele precisa de falar. n~o de escutar ; ele se transforma num ajudado e nao pode ser. ao mesmo tempo. ajudador. Se ele se forçar a escutar alguém. sua própria voz vai com­p~tir com a voz do outro - ambas pr-ecisam ser ou­vidas, e. nessa competição. é a sua voz que vai ga­nhar_ Escutar o outro. nessa hora. é uma tarefa im­posslvel. PC:is ~u espaço inter-no já está ocupado com ~.<! pr?pr!a fala. t prec iso que o ajudador .. se e~az1e primeiro. se quiser oferecerr seu espaço ao a1udado novamente.

_ t imponante lembrarmos que o profissional .de a1uda não é um .. super-homem" nem um "semi-

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caus" _ E feito da mesma massa que as outras pes­soas: sofre. passa por momentos difíceis. entra em crises. A única coisa que o difere ncia dos outros é o conjunto de habiiidades que possui para l idar com os próprios problemas. a facilidade com que aprende a través da própria dor e a efeüvidade com que sai de suas crises: mais maduro. mais crescido. mais inteiro.

..Be~uroindlo. só.. posso atender o outro depojs de atender a miJ"O__m.esmQ; quando estou em fa lta comigo e tento ajudar alguém. seremos dois ajuda­dos e a fundaremos. juntos. no mesmo barco.

S u spender iulgamen tos Toda pessoa possui seu próprio sistema de

valores - aquele conjunto de crenças e princípios a respeito de si mesma, dos outros, da vida e do mun­do que a oP.rca. Esse sistema é dividido em .. certos" e .. errados" - aquilo que a pessoa se permi1e viver. e que é a .. coisa cena". e aquilo que ela não aceita para si mesma (e. às vezes. para o s out:-os). e que é a .. coisa errada". É esse sistema de val or-es que dá a dir-eção ~ sua vida.

Nu ma relação de ajuda. entre outras coisas. ocor-re o encontro entre dois sistemas de valo,..es quase sempre dife:-entes - o do aiudador- e o do ajudado.

Se. ao escutar. o ajudador permit:e que o seu sistema de valores aflore e venha â tona. vai come­çar a julgar o que escuta de acordo com esses valo­res. classi f icando o que o outro diz em certo e erra­do. bom ou ruim.

Quando isso ocorre. o ajudador deixa de escu­tá-lo para escuta:- sua própria voz. como aconte­ce com as distracões internas. Se. ao invés de ouvir -º relato do ajudado •. começa ã avaliar esse relãto. está ouvindo a si mesmo e perde. portanto. tudo 9 ·mais que o ajudado tem a dizer ..

Essa tendência ao julgamento está presente na maior parte das pessoas e é -uma das causas mais comuns da dific u Idade de escu lar e de ajudar o outro. A dificuldade fica ainda maior quando esse julgamento é explícito. ou seja. quando o ajudador

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o tra111smi te verbalmente para o ajudado. Esse vai sentir-se incompreendido e pede querer procurar alguém que seja mais capaz de compreendê-lo.

Jul9_§1r é exatament~atitude inversa às pos­turas de aceitação incondicional e de empatia en.:­contradas nos ajud adores efet ivos. Não sé trata aqu 1 de se aorir mao do pl-óprío sistema de valores. -mas apenas de esquecê-lo durante o encontro com o ajudado. Fazendo isso. o ajudador abre as portas de seu coração sem restrições. deixando que as palavras do ajudado entrem inteiramente sem qual­quer censura.

T rata-se aqui~ também. de sermos su ficiente­mente humildes para sabermos. mais uma vez. que não somos donos da verdade - o que é l::K>m para mim pode não o ser para o ajudado e vice-versa. Ajudar não é impor meu sistema de valores à outra pessoã:mas apena~ ajudá~la ã-construir o -seü -pró-p rio e viver em coerência e harmonia com ele. - -

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Escutando

O gue é: _ ~ . .. ' i

Usar os ouvidos para captar as mensagens verbais 'transmitidas pelo aj~dado.

.. Para que : . Se escuto o ajudado. deixo entrar tudo o que ele quer transmi t ir-me. de modo a compreendê-lo-~ me­lhor.

Como: l _ Ficar calado. 2_ Não interromper_ 3. Evitar distrações externas. 4_ Evirar distrações internas (físicas e emocionais). 5_ Suspender julgamentos.

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ºAssim, o primeiro e mais simples sentimento que quero compartilhar com você é minha satisfação quando consigo realmente escutar alguém. C reio que, essa tem sido uma característica an#ga em mim. Ocorrem-me meus primeiras dias de escola. Uma criança fazia uma pergunta à professora, e esta dava uma resposra perfeita a uma pergunra completarnente diferente. Nessas ocasiões, um sen­tirnenro de dor e angústia sempre me invadia. Mi­nha reação era: 'Mas você nem mesmo o escutou! ,. Eu sentia urna espécie de desespero infantil diante da falta de comunicação que era (e ainda é} tão co~ mum."

Car l. R . Roger-s

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Vimos. neste capt'tulo. as cinco habil idades que fazem pane do atender: preparar o ambiente físico , acolher. atender fisicamente. observar e es­cutar. É através delas que o ajudador deixa que o mundo do ajudado penetre no seu. Comunicando­lhe sua disponibilidade. vendo-o claramente e ou­vindo o que 'ele tem a dizer. o ajudador vai poder formar um quadro mais preciso do ajudado. E com esse quadro em mente que ele vai poder começar a responder.

Relembrando aqui o ti'tulo do 1 ivro - Cons­t ru;ndo a R elação d e Ajuda - poderi'amos compa­ras as habilidades não-verbais aos alicerces de uma construção. Além de indispensáveis, é de sua quali­dade que depende a firmeza do edifício. Isso é tam­bém verdade para as habilidades de atender -quanto mais desenvolvidas por parte do ajudador. maior a chance de ele ser efetivo para o ajudado. Se elas não estiverem presentes no processo de aju­da, pelo menos num n i'vel m i'nimo. faltarâ a pró­pria base desse processo. que irá. sem dúvida. fra­cassar.

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(abrindo as portas da comunicação)

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Estamos in iciando. neste capítulo, a aborda­g,em das ~_ab ilidades verba is Que o ajudad1or precisa desenvolver em- suai .. nterãçãÕ- com o ajudado - as habilidades de responder. --- - Apesar de extremarmente importantes e ind is­pensáveis ao p rooes5o de ajuda, as habi l idades de atender. na maior pane dos casos. não são suficien­tes para uma condução efetiva desse processo ..

Mesmo reconhecendo o enorme significado d a i nteração corporal entre as pessoas. não podemos esquecer-nos de que 91 oomu .!:!_!~~~º·- ~~!'~ser~~ f!u-: manos .. é feita basicament.e através d~ palavra.

O ajudado~- ão tef"minãr-·éada uma de suas co­locações verbaís. espef"a um retorno do aj udador. tam bê m verba 1.. É certo que a necess idade básica do ojudado é fo lar - mas vai chegar o momento em que vai quer-er escutar. Ele pod .. e_gJ.J._e l'."er-.. lJl..m~ p rova coftcreta de_ q_ue _fQ i cornp_reend ifio. IE_ essa prÓva é Verbal. E le pode querer escutar algo a lém daqui lo que já sabe a seu respei to para se si tua r melhor. o u decidir melhor. Esse algo mais só o ajudador pode lhe trnnsmi t i r. verbalmente ..

Se prestarmos a tenção às respos-tas que as pes­soas- dão umas às outras no d ia -a-dia. vamos perce­b e r que pouco têm a ver co1m o que foi dito.

As vezes. a distância entre as verbalizações das pessoas que conversam é tão gr an de. q ue pare­cem estar fa lando 1 íngu as d iferentes,. Isso pode ooorrer- por vá·rias razões : - não apr,endemos a escutar e é im possível respon ­

det"mos corretamen te se não escutamos; - não aprendemos a respondec da m esma forma

que não a p :rendlem os as ou tras habi 1 id ades; - p recisamos t.anto d e falar a nosso respeito, que

não podemos responder ao outro; quando este termina uma colocação sobre si próprio. inicia ­mos outra que· nada tem a ver com ele. e sim com a nossa pessoa.

Constatando essa dificuldade, vamos ver. nest e capltu~o . o que podemos fazer para desenvolver­mos as habi lidades de responde.- e para facilita r­mos. com nossas respostas, o crescime111to do ou­tro.

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RESPONDENDO AO CONTEÚDO

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/ IES1Cutando ? 't:::::L============~C/

/ Qbsen.iando, ~ ~L ----===i,C/ . t Atendendo fis~am.ente (?

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Uma das características que estão presentes na m.aior parte dos ajudados é o r 'elato confuso d e sua pr~priª expe.-iência. Essa confusão "reflete Ümã ôê.-­ta desordem inil:erna e uma dificuldade para .separar oselementosrelevantesdos que não o são. Na maro­i-ia _dç_s _vez_es. 9 !3iudado está pe.-dido ern seu pró­prio mundo. Uma das expectativas que ele tem do ajudador é que este o leve a encontrar um caminho. Para que i1sso ocorra. !JIIla.das _prirn_eir~...1acefas .Q_o ajudador é refazelí a ~-)'.<pressão verbal do ajt..tdadq_çle um modo novo. resum indo-e organizando o que ele lhe disse.

Responder ao conteúdo. então. é buscar na fala do ajudado. o verdadei ro motivo que o ~evou a se m-anifestar veribalmente ou a té mesmo o motivo que o levou a procurar ajuda .

Conteúdo. nesse sentido. se .-efere ao tema central de sua fala -esse tema em torno do qual as pessoas contam suas estórias . às vezes longas e con­fusas. Refere-se. tamOém. àquele conjunto de te­mas comuns .que mendonamos no tópico sobre es­cutarr. Como essa habilidade ~ eSOJLta.-_- .é p.-é-r~­qu isi to para _o _irespÔnd~ , __ sQ esq.,i ~ndo oom aten­Ção total vamos ser c.apazes de separar o joio do trigo. ou seja. çl_~_ i.§entificar. ern meio à fala do aiu­dado. os elementos ffiâís importantes. São esses ele­-mentos que compõem a v,erdadeira mensagem que ele quer nos t.-anS1Tiítir.

A resQ.OSJa _ _ de_ÇPflt'e(lçl'Q _não implica repetir. mas riillêtir esse conteúdo .• através-de formatos do tipo: "Você está me dizendo que. _ :· ou "Em ou­tras palavras .. _" ou ''Parece-me. então. que o mais importante é . __ ,,._

Como na interação enti-e pessoas não existe causa sem ef,eito. podemos identificar algumas conseqüências. tanto por parte do ajudado. quarnto por parte do ajudado.-. quando este responde ao conteúdo: - Por parte do ajudador :

Aqui a palavra-chave é compreensão - o aju -

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dador tem como tarefa básica compreender o aju­dado. Muicas vezes. é o ajudador a primeira µt?ssoa ã fazer isso, em toda a vida do aiudado. Como ele vai saber se realmente captou a mensagem do ou­tro? Como vai saber se realmente escutou? Quando responde ao conteúdo. ele obtém do ajudado res­postas a essas indagações. Este vai confirmar ou negar a percepção do ajudador, corporal e verbal ­mente. Quando ele diz : "E isso mesmo! .. ou rela ­xa sua fisionomia (e aqui a habilidaç9-e d~_o~rvar continua presen le). está confirmando sua percep­Ção. Quando ele ·diz : "Bem. não é ºexatamente as­sim". ou franze a sobrancelha. está negando a per­cepção do ajudador. E como se este usasse a res­posta de conteúdo como uma bússola através da qual faz sucessivas correções de rumo até que o caminho certo seja encontrado. - Por parte do ajudado :

Já d•ssemos que o aj,udado geralmente está confuso. Oian te de uma resposta correta, ele dá o primeiro passo na direção de seu crescimento : co­meça a explorarr sua própria expe,-iência. organizan­do-a para descobrir onde está. Aqyi também a palavra-chave P. CQ.mpreensão - ele começa a se com­pr-eendef . encontrando uma certa ordem em meio ao caos..

Se "faço comigo o que fozem oomigo", é através da compreensão do ajudado,. que ele come­ça a se com preender: o ajud9do faz consigo o que o ajudador faz com ele.

Mesmo nos casos em que ele não está confuso. a resposta de conteúdo vai lhe comunicar a atenção do ajudador - é como se essa resposta reforçasse verbalmente a comunicação corporal da postura de atender. A mensagem é a mesma : "Estou junto de você". Como conseqüência, o ajudado se sente mais confiante, seguro e disposto a continua,. fa· lando de si mesmo, aprofundando. cada vez mais. suas verbalizações.

Por outro lado. às vezes a resposta de conteú­do parece não provocar qualquer efeito sobre o ajudado, seja verbal ou co·rpof"al. Ele está tão en· volvido nas próprias verbalizações. que precisa

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ainda d izer mais a seu respeito. Nesse momento é impossível esou~a r a resposta do ajudador. por m~is acertada Que seja. A su9 pirópria ausência de reação à rnsposta tem um significado - é como se ele esti­v.esse dizendo: "Fique calado. não acabei de lhe dizer tudo o que preciso; espere até que eu esteja p ronto para escutar você".

t muito importante que o ajudador esteja aten­to ao tamanho de sua resposila : esta deve ser sem­pre menor do qu~ a colocação feita pelo ajudado.

Em primeiro lugar. a resposta de conteúdo é u~~e~u~o_da_ falé?. Ço a1uaado·. Como todo borri r,e­sumo. deve ser sintética e formulada em poucas pa­lavras. sem detalhes ou divagações. Compete ao ~iudador . id~n!ificar o "miolo" dessa fala e devól ­vê-~o com o menor nú me,-o possi'vel de palavras. pa­ra que o ajudado simplifique e perceba, com clare­za. o que está vivendo naquele momento. Aqui. por exemplo, podef"iamos formular uma resposta de oonteúdo ao que foi dito nos dois primeiros pará­grafos:

"Você está me dizendo que as pessoas falam mais do que o necessário puru expressar o essencial e que o ajudadorr pode devolver ao ajudado apenas o que é fundamental em sua fala". Com relação ao tamanho. foram gastas 14 linhas para expressarmos uma idéia nos.,dois primeiros parágrafos. enquanto foram gastas apenas 4 para respondermos ao con­teúdo desses mesmos parágrafos.

Além disso. como já foi mencionad o antes há u~specto_qásico na relação de ajuda que nã~ i5õãê ser esgueçido..=- -2 distril:;l.l!ição do espaço {ou tempo). Essa distribuição-não pode ser eqüitativa -a parcela maior é sempre do ajudado, Que precisa de muito mais espaço na relação. Uma resposta grande não só dificulta a organização de sua expe­,.i,ência. como lhe rouba pane de um espaço que é so seu.

Ouando buscamos o conteúdo fatual da ex­pressão do ajudado, podemos ou não captar esse

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conteúdo de forma oorreta. Quando captamos o m iolo de sua fala. ~•e elabora sua pr-óxima coloca­ção verbal sem ter de voltar atrás para tentar uma nova explicação. Ouando isso acontece. dizemos que nossa resposta não desfo ca/;zou o processo do ajudado. isto é. não o afastou de sua experiência. Pelo contrário, essa resposta o ajudou em seu i-a­ciocínio e o fez caminhar. para frente em seu pró­prio entendimento.

Por outro lado. quando não conseguimos cap­tar o conteúdo, o ajudado volta atrás. tentando ser mais claro dessa vez. para o ajudador e para si mesmo. O importante aqui é lembrarmos que. mes­!TIº diante de uma resposta "incorreta" (aquela que não captou o miolo). o ajudado continua recieben­do uma mensagem de atenção e interesse por parte do ajudador. ~como se este estivesse dizendo: "Es­tou realmente interessado em compreender o que vooê está me d izendo. ainda que. às vezes. não o consiga da primeira vez ... Essa é a mensagem mais importante, e. por isso , o fato de o ajudador não acertar . em nada invalida sua inil:eração com o aju­dado.

Nesse sentido. não há, realmente. respostas "erradas". Todas são corretas. desde que expressem um empenho verdadeiro do ajudador em compre­ender o ajudado. não importa quantas tentativas ele faça até encontrar-o conteúdo de -sua fala.

Novamente aqui podemos formular uma res­posta de oonteúdo a todo este tópico: "Você está me dizendo que o que impo rta é o empenho real de compreender o ajudado e que ele peroebe esse empenho. não se incomcdando de repetir sua fala para ·se fazer entender melhor".

Entre as d imensões mencionadas no primeiro capítulo, duas estão especialmente p resentes quan­do formulamos respostas de conteúdo: A ceitação i:ncondic ional ou respeito - quando o ajudador responde usando o ponto de referência do ajudado e não o seu próprio, está lhe dizendo : "Eu o aceito como você é. v ivendo qualquer coisa

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~ for ~mportante para você". Isso leva o ajudado a se sentir livre na relação,. perdendo gradativamen­te o medo de se expor, pois sabe que não será re­provado ou criticado, diga·o que d isser. Acima de tudo, ele passa a se aceitar. como o ajudador faz com ele. Concreticidade - ao sintetizar o conteúdo, o ajuda­dor torna:se concreto e específico em suas respos­tas. refletindo o que é fundamental e abandonan­do o que é secundário.

Como ilu stração das respostas de conteúdo, vamos apresentar falas. de três ajudados e as respec­tivas respostas do ajudador : 1 .. Ana :

" Nem sei como começar. sabe. não falei disso a ninguém. é d ifícil pra mim contar o que houve. O problema é que comecei a trabalhar numa firma desde o ano passado, com um salário muito bom e um serviço fácil de fazer. agradável até. O ambiente também era bom. meus colegas eram pessoas le­gais. O patrão sempre muito educado e atencioso. eu não tinha queixas dele. até quando começou com uns comportamentos meio estranhos nos últi­mos meses. Me trazia uns presentes de vez em quando. dizia que era porque estava muito satisfei­to com o meu serviço; às vezes me pedia para fazer hora extra. dispensava os outros e ficava sozinho comigo no escritório até tarde e outras coisas as­sim . . Até que. na semana passada, numa dessas ho­ras extras. ele se assentou muito peno de mim. Es­tava meio ofegante, de repente me agarrou, queria me bei jar de todo jeito, diõendo que me queria. desde a primeira vez que me viu. Entrei em pânico. saí oorrendo do escritório, não voltei lá até hoje porque não sei o que vou fazer. Preciso muito do e~prego. não poss~ ficar sem ganhar. mas também nao quero me relacionar com ele. afinal tenho meu noivo. a quem amo demais. estamos até pensando en: nos casar no ano que vem .. . Realmente. não sei o que devo fazer . . . "

Resposta de conteúdo : .. Você está me dizendo que não sabe o que fazer:

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por um lado. precisa manter seu emprego. por outro. não quer se relacionar com seu patrão .. -

2_ Lúcia : "As vezes. penso que vou f icar louca. F oram

anos e anos de espera. f azendo tratamentos. cirur­gias arriscadas_ Tomei quilos de remédios. gasta­mos o que tínhamos e o que não t í nhamos_ Até o carro tivemos de vender. A ansi edade foi enorme até sabermos. pelo exame. que eu estava grávida. Nossa alegria não tinha tamanho. só pen sávamos e talávamos no nenen o dia inteiro. Mas durou pou­co. Abortei com t<ês meses. e agora o sonho aca­bou_ Não sei como vou faLer para conl inuar viven-do ___ "_

Resposta de c onteúdo :

"Você quer me d izer que perdeu o que tinha de mais importante - seu filho - e que agora sua vida não tem mais sentido". 3. Paulo :

"Você sabe. já não f oi fácil pra mim desfazer o primei ro casamento_ Todo aquele problema com os meninos. aquela culpa com a pr imeira mulher ; afinal era eu que a estava deixando. Custei a refazer minha vida_ Fui me acostumando a ver os meninos só nos fins de semana. aprendi a me virar- sozinho. até que apareceu a IR osa. minha segunda mulher. E nfrentamos urna barra juntos. foi um custo até que os meninos a aceitassem e eu pudesse refazer minha família. A c hegada do filho nos uniu ainda mais. a nós dois e aos meninos todos_ Agora ela vem e me diz que vai emborn. que não m e ama ma is. A s vezes. penso que isso é demais par-a mim. tenho medo de não aguentar".

Resposta de conteúdo: '"Em o utras patavrns. você fui capaz de vencer- a crise d o primeiro casamento desfei to. mas desfazer um segundo e perder a mulher a quem ama parece demais pra você" .

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Respondendo ao conteúdo

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jdentifiCar- os -1)ontÕs""mais important es da fala do •. ~judado ~ . refleti-los paia ele. de ·maneira resumida

~\. - .. e organfzâda. ' · ',-r• , · - .,.._ ' , ..... rr;-- - .....

·P~ra gqe:" -se r-e~nd9 ao êontootlo. ver ifico .se captei <:itr~o a mensâgém do aí uc;:fad o e or-gani7ó pa ra efe o que está corifuS.O neSsà ~~nSâQem. -~ .. •

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"Seres humanos não s-ão máquinas de fios sol­tos ou válvulas queimadas, que um cirurgião ideal pode tocar e consertar, ou ajustar, retirar ou reco­nectar_ Somos o:rga·nismos interativos, experienciais. Quando eu respondo ao que se pôSSa com alguma pessoa, então alguma coisa se passa dent1ro de.la. É claro, alguma coisa também já está acontecendo· antes que eu responda. Ela est.á magoada, ansiosa ou deprimida; ela perdeu seu próprio sentido; pode .não estar sentindo coisa alguma; tudo po­de estar soando insípido. Quando eu respondo (ou diga.mos, quando eu consigo responder, pois às vezes tento e falho durante semanas e meses), en­tão algo mais está .• de repente, acontecendo; ela sente, realmente, alguma coisa, há um sentido sur­pree.ndente do próprio eu e e/a sente: " Puxa, tal­vez eu não esteja perdida. _ _ "

Eugene T . Gendli n

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RESPONDENDO AO SENTIMENT O

~ L Respondendo ao c.ntirnenc:o (;::> / R8$pondendo ao conteú do (jJ

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t~=========º=~=eiv==an=d=º====:::=S-t?J L Atendendo fisicamenre (3J

~~=========A=co=1=h=endo========'(:/J­t:L==P=~==,.a=n=do=o=atn=bie=·==n=m==ft=·s=ico===J.7

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1 - Quando me r-elaciono comigo Se nos indagarmos. num dado momento.

qual é o verdadeir o sentido da vida. poderíam os responder que são os sentimentos a essência da própria vida. É o sentir · qL;e faz a d iferença entre ·as p essoas e as plantas. ou entre as pessoas e as pedras. O que é a nossa vida senão o alternar cons· tante entre a tristeza e a alegria. a raiva e o m edo. a frustração e a esperança? E o que dizer do amor • sentido maior da própria vida?

E quase impossível imaginarmos a vida oomo um mero desenrolar de "eventos neuuos" - ga~ nhos. perdas. encontros, desencon tros. vitórias. derrotas - sem que esses eventos sejam acompa­nhados de algum tipo d e sentimento. Se isso 1fosse passivei. seria vida. at inai?

Segundo A lbert Ellis. psicólogo americano que desenvolveu a Psicoterap ia Racional--emotiva, Q__que importa não são os fptos~ mas como nos $en­timos dianre deles. Assim é que um mesmo fato pode provocar sentimentos diferentes em pessoas diferentes. dependendo das circunstâncias de vida de cada uma. Ou '!.!~me~ f~tQ_pode pr9duzir sen t imentos dif~rentes numa me.sma pessoa. em d iferentes momen tos de sua vida. Talvez seja essa uma das mudanças fundamentais que as pessoas buscam alcançar através da relação de aiuda: sen­tirem-se de modo .diferente d iante de uma situação que nãÓ vai mudar. Quando não é possível mudar as coisas externas. e se essas coisas provocam sen· timen tos de incôm,odo e desconfo,rto. nada nos res· ta senão lidar com os sentimentos. q ue são mutá­veis.

Ellis, at,avés da abordagP-m racional -emotiva. procura explicar a fonte dos sentimentos através do que chama de "princípio do ABC" :

8 - © Acontec imento Conseqüência

(sen timento e/ou ação)

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Diante de A - um aoontedmento qualqu:er -a pessoa sofre conseqüênci~s (C! em dois níveis: sentimentos e ações. No d1a-a -cha, as p~oªs~x­plicam_o qll_e~entero e _o_ que f~zen:-, usando A com? causa de. e . da seguinte maneira: Estou com mu 1-tâ. raiva (sentimentol ,e vou largar- meu empr~o (açãoL porque meu patr-ão me chamou a atençao (acontecimento)". Portanto. A causa C.

Segundo Enis, no entanto. se um mesmo acontecimento teva a conseqüências tão diferentes ,em pessoas diferentes. não po<le ser A a causa de C. Há. portanto. um elemento fa ltando 111e~ rela­ção A -+ C. E esse elemento seria a verdade11ra cau­sa dos sentimentos e ações das pessoas:

0+0-+© acontedmeinto "belief.. conseqüência

(crença) B . do i ng1ês "bel iet•• ~crença l. !§?f e.-~-s~ às id~i­

as. pensamen 10s _ qu cnmças presentes nas pe~s­É Cü-ii)ê)seestãs construíssem. ao longo de sua vida. um arquivo onde acumulassem idéias a i-espeito de tudo. Esse arquivo varia de pessoa para pessoa e é formado basicamente. através das .experiên_cias in­d lviduâis de êaêja U.f'l1c d.iretas (aquilo que a pessoa viveu na 1~rópria pele ) ~ indiretas ( o que v i u e ouviu de pessoas importantes em sua vid a). O casamento. por exemplo. pode ser um evento muito bom e de­sejável para uma pessoa (que viu o casamento satis­fatório dos pais) e muito i ndesej1ável para a out.-a (que sempre ouviu a mãe dizendo que o casamento estragou suia vida) .

Assim. seriam ~-ídéj~ que as pessoas tên:_11 das coisas, e não.as própi-ias CQisas, que as levaJ"iam a -expei-imentarem sentimentos d ive.-sos. Estes seriam determinados pela in te rprntação pessoal que cada individuo tem a respeito do mundo em que virve.

Ainda segundo E llis, as idéias a .-espeito d as coisas podem sei- de dois t ipos: .-acionais e irrncio­nais. As p.-imeiras sei-iam interpretações lógicas a respeito dos eventtos e poderiam levar a sentimen­tos moderados de fru.st.-ação. tristeza, etc. As se-

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gundas seriam ín terpiretaçoes i rraojonais a respeito dos eventos, levando a foi-tes conseqüências e moci­onais. freqüentemente d esagradáveis e desgastan­tes para quem as experimenta.

Entre as idéias (irracipnais. a lg;um as são encon­tradas com maior freqüência entre as pessoas, cau­sand o -lhes ansíedàde. oulpa. autoêensura,, etc.: 1. Necessi tamos ser amados por todas as pessoas.. 2 . Devemos ser bem-suoed idos em tudo que faze-

mos. 3. É terrlvel que as coisas não sejam exatamen1te

como gostai-íamos que fossem. O objetivo da terapia racional-emotiva é iden­

tificar::- qúestíõnar · ê eliminar essas e outras idéias _il:Í:acioflais _Q.ue...i.JTme<J~!Tl ªs_pessoas de viverem- uma vida· satisfatór.ia...e _f e liz. Essa tarefa sÓ é --possi've1 na medida em q ue os sentimentos são também identi f icados e expressos pela própria pessoa ou com a ajuda de alguém capaz de pei-cebê-1 os.

Com.o o obse,rvar e o e seu ta r, :mmbém o ~n­t ir sofre mQQ.if.icaç.Qes ao_ longo do processoA~fe ~volvim.ento--d.as .. p_~_as_ A crilança pequena é inteiramente l ivre para senti r e exp.-essar o que senr te. A fonte de seus sentimentos se locali za, basica­mente, nos seus órgãos de sentido : seus olhos, ou­vidos. nai- iz. boca e pele lhe dizem o que é bom e o que é ruim. e daí nascem seus sentimentos,. pur-os e livr,es de quaisquer outras interferências. Livre também é sua expressão : e•a cho.-a . .-i • .-epete o que l he dá pr_azer e rejeita o que não dá Mais tai-de, quando já faz uso da palavra. d iz abenamente o que sente. de uma maneira tão direta e verdadeira. que chega a embaraçar os adultos.

O que acon;ece às pessoas e que as leva a es­conderem seus sentimentos d e si mesm as e dos o u ­t ros?

Mui to cedo. as crianças começam a ser puni­das por expressarem seus sen timentos . . A punição

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pode ser e)ÇpJ ícit~ (repreensões, agressões física~) o u imph'cita (o levantar de sobrancelhas. franl:ir de testa e outras expressões de desagradQ). t co­mo se os adultos as educassem para seguirem, não para sent:irem. Seguir ~ignitic:a não f~gir aos P:=!· drões sociais. ao que e considerado adequado -Nesse contexto. a criança que sente e se expressa pode ser conside<ada subversiva.

Além de ser punida e rejeitada, ela peroebe, também . que os adultos à sua volta não expressa'!l o que sentem. Pelo contrário, rnl!itos Jh~ _çomu~_!­cam 9u..e o s~l}timentÇ> _.? 2tn.ô.nüno __ d_e fraqueza. H o-mem não cho<a. Sem modelo dP. pessoa verda­deira, punid a e rejeitada cada vez que é honesta quanto ao que sente, a criança vai en~olhend'?~ pouco a pouco, reprimindo ~as emo_çoes; No ini ­cio, temerosa de não ser aceita. depois ate culpada por estar sentindo, acaba tão impossibílitada de ser ela mesma quanto os adultos que estão à sua volta.

Os efeitos dessa repressão não tardam a se fazer presentes.. Quando !~J?!_im? minha~ ~mo_ç<?es, escondendo-as de mim _mesm o e dos outros, isso não me garante que essas emoções se acabem. ~manchando:Se no ar , sin:ipl~SJTI~nte. Pelo con!rá­rio elas continuam em algum Jugar dentro de mim, me~mo que eu não saiba. Levam-rrie a uma insa t is­fação geral e difusa, para a qual não tenho uma ex­plicação. As vezes. quando todas as coisas externas parecem perfeitas - um bom emprego, o casamen­to ajustado. orianças saudáveis ... uma bela casa e o último carro do ano - a insatisfação per siste, sem uma explicação aparente. Em outros casos. é oco~­po que começa a mostrar os sinais - dores inexpli­cáveis, insônia, inapetência e até mesmo doenças sem qualquer causa orgân ica. que denominamos de "psicossomáticas". Algumas vezes. o resul tado final é um "estouro" inesperado: o casamento des­feito. o emprego abandonado. a mudança brusc~ de vida e. às vezes. a per-da do contato com a real1· dade. que traz para a pessoa a conseqüente rotu~a­ção de "paciente psiquiátrico". São _ps efT!OÇO~ (eprimidas durante toda uma vida e que. acumu­ladas, explodem diante de um estímulo qualquer.

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... -... ; -Já d issemos anteriormente que o processo de

ajuda tem como fina lidade a mudança do ajudado e que a base desse processo está na exploração e compreensão d e· suas vivências. Ao exploirar e com­preender a si própria. a pessoa atinge o au"'tõronne­éirnento-.qu_eT ãntes de mais ·nada. o rreconheci­mento dos próprios sent1imentos. ·Quando me ob­servo e me escuto. posso perguntar -me: "O que es­tou sentindo neste momento? De onde vem meu sentimento? O que quero? O que não quero? O que é i mportante para mim?" Quando entr o em conta· t o comigo mes.mo. faço o que é melhor para mim. Quando não me conheço, acabo fazendo aquilo que esperam que eu faça e não o que quero fazer. de verdade.

~ó_ posso mu~ar de Q'laneirn construtiva quan­do me conheÇ~o suficiente para escolher-a minhá própria direçã:_o.

~ , :. - do " ·· • - <.~-

Segundo John Powell. há alguns aspectos que devo levar em conta se quiser expressar minhas pró­prias emoções ou sentimentos:

1 ._1!1.eus sentimentos ..!!if.o_ se d;victem ..em_ce..rt..Q.$..J! err:ades,e/es..sirnplesrnen te__ ex~tem.

A maior parte das pessoas tende a julgar seus próprios sentimentos, como se alguns fossem bons e outros maus: Quando geoso que.meu sentimento é mau ou enrado. tenho· verqonh<! oi,,i me culpo por experimentá-lo.

É; i!!!QQ.l'!<!i:ite saber que todo e qualquer sen­_timentQ, se brota dentro de mim. é apenas Üma parte natural da própria condição humana. Preciso dar-me permissão, porta11to. pai-o- sentir. para expe­rienciar, reconhecer e aceitar qualquer emoção que seja minha. 2. Meus sent"imentos nem sempre determinam minha

-:ação. ~ importante aqui fazermos uma distinção en­

tre sen tfr e agir. O fato de. eu .me peTmiti r exp_~ri ­mentar meu sentimento em sua totalidade não sig-

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nífica que eu deva agir de acordo cof"1'1 ele: Esse é o mêéto que impede muitêlS pessoas ?e sentires:' : cios temem que. se deixarem os sentimentos_ v1rem à tona, vão agir de acordo com el~. mesmo q~e- se­jam des triu l ivos. Se estou e~ m r~ 1~a de voce. isso não quer dizer que vou agredi-lo f1s1camente.

M inha ação é o resultado de uma escolh~ que eu mesmo faço : posso ou não agir em _determinada d ireção. Reprimir as emoções, o~ agir sempre de acordo com elas são. ~mbas, atitudes extremas. não-saudáveis e destrutivas para a pessoa.

3. i; deseit!xeJ. . qye eu _t;:xpre~~ meus s,entimeotDs_ a outra pessoa. . . - ..Eaz-pru:.lfuie umõ .-e1ação _ç:qnstruuva a poss1-

bilid~e de eu dizer à outra pessoa o que es!9u_~n­tindo em relação a ela. Mais do que isso. e da co­municação de meus sentimentos que depende o su­cesso de meu relacionamento com outra pessoa.

Se reprimo minhas emoções. cor:' medo de ser rejeitado, punido ou mal compreen~:hdo. vou est~.r apenas .. varrnndo a poeira para debaixo do tapete . Isso significa que, depois de algum tempo, corro o risco de tropeçar. cair e me machucar por causa dos montes de poeira que eu mesmo fiz . _

Já1 nos referimos ao "'estouro" das emoçoes reprimidas. O caminho '"!"'ªi_s c~rto para ~traga: um relacionamento é reprimir minhas emoçoes-ate

0 dia em que elas explodem com tal violência que destroem, irreversivelmente. a relação que eu pre­tendia preservar.

4 . Posso muctar minbas-em~-Como Powell. também Ellis afirma que os

sentimentos não são padrões biológicos imutáveis. Se experimento emoções que me desgastam e _cne ·fazem sofrer, posso fazer CXlm Que essas emoçoes af,orem e eu as conheça. Conhecendo-as e desco­brindo sua font~osso_decid i.L.trocá:l~s l?Qí_ º~!r~ G!Je não sejam tão destrutivas p_ari) m1nha_p[_Ç>pna

pessoa. . Enfim a base do relacionamento que estabele-

ço oÕmigo · rn~mo es•á em meus senti~ntos: só posso conheoer-me e relacionar-me comigo quando

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sou capaz de escutá-los e identificá-los; quando sou capaz de aceitá-los em sua totalidade; e quando sou capaz de expressá-los livremente a mim mesmo e a outra pessoa.

11 - Oua.ndo me relaciono com o outro

O sentímento ex is te, sempre. Ao se relacio11ª-r:._.cam..o ajudado_, é_i_~ortante

. que o ajudador tenoa sempre em men!e que não existe n ínguém vazio de sentimento : atrás de cada palavra e de cada silêncio, está presente um senti­mento ou uma mistura de mui li.os. Ainda que o ajudado não expresse esses sentimentos de maneira explícita. e ainda que o ajudador não seja capaz de captar os sentimentos escondidos, é importante par~ _ 9 __ co1]1p reensão do __§lj udado lembrar quee le está Sempre experimentando -sensações~ sentimen­tos de incômodo ou desconforto que o levar am a buscar ajuda. Assim. são os sentimentos que levam a pess.oa a buscar ajuda.

Por isso, é fundamental que cada sentimento seja percebido e captado e que sua percepção seja comunicada ao ajudado.

Na área de saúde. por exemplo. os profissio­nais tendem a investigar e cuidar apenas da parte física d o ajudado. O paciente procura o médicc queixando-se de alg.um sintoma físico. O médico. por sua vez, limita-se a dar atenção a esse sintoma. a algum órgão afetado ou à doença aprnsentada pelo paciente. Não sendo treinado para cuidar do aspecto emocional de seu ajudado, ele se esquece d e que. atrás do sin toma. existe uma pessoa sentin­do alguma coisa a nível emocional. O sintoma des­perta um sentimento. e é esse sentimento que leva o paciente a buscar o médico. Um sintoma Hsico que não provoque preocupação. medo ou ansieda­de não é o suficiente para levar o paciente a pedir ajuda. Além disso, sabemos Que. muitas vezes. não existe nem mesmo um sin toma físico que justifique a consulta. O pacien te está .. apenas sentindo" e busca o profissional na esperança de ser escutado e de resolver seu problema. Em muitos casos, o sin11.oma é "inventado" ou serve apenas de pretex-

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to para a marcação da consulta. O paciente começa a se queixar desse s intoma. mas. se encont1rar um médico cap~ de esoutá-lo e de perceber ~us sen­timentos, vai passar rapidamente ao p~oblema que 0 preocupa e que é a verdade!r~ raz~o que o ~e­vou a buscar ajuda. Caso contrario. va11 embora m­satisfeito, continuando a procurar, d~ porta em porta. um profissional que. enfim, se1a capaz de compreendê~lo. A express~o d-:>s 5:2•.11-:-.o:::r.u .. :>

Como já toi visto neste capítulo. po~cas são as pessoas que sabem expressar seus sentimentos de 1maneira direta. Essas inciuem, em seus relato~, não só os fatos. mas os sentimentos que expen­mentam diante desses fatos. A mcaior parte d~s pessoas se expressa de maneira indi reta. atraves d e seus relatos vei-bais ou através de seu corpo. Muitas vezes. o ajudado nem mesmo sabe o que es­tá sentindo. Ou sabe e não quer admitir para si mesmo. pois o reconhecimento daquilo que sente vai levá-lo a sofrer ou a considerar-se um fraco. E. é claro, quando seus sentimentos não são a~r:iiti­dos nem para si mesmo. não podem ser adm1t1dos e 1nuito menos expressos ao ajudador. Prepara!~do .::) aj!..!·:iado n~,..e ;de·1t r· -ar ~;::l .;5 s'!;,,t:i

rr.er.tos E im_g9_r1a.nJ!Lqu~c!!Qr:. seia __ capa_z--não

só de · detec;;tar_ ess.es_sentiroeotos-"-~s. taf!l~~-m d~ ciiscrimina.r o momento ex_ac:Q __ d?_ çorn_!Jn_!..~-•gs_ ao ájudado. Este pode não esta< pronto a1'!da para es­cutar suas próprias verdades. Ouand~ isso oco_rre, são as respostas de conteúdo que vao comun~ca• compreensão ao ajudado, sem que este se sm2a ameaçado. Essas re~ostj:l~ .facilit§lri) _ê_C()~tri~çao de um relacionaroelíltO . firme e oons1.st~nte enue os dois de ta l modo que. mais tarde. o a1u'.dador pos­-sa o~municar sua percepção Êí)tegral ao a1udado.

A lém das respostas de conteúdo. há um ou~ro aspecto que deve ser Lev~do e~ co~ta: à. n:ied1da que é construída a relaçao ~e a1uda . _h'.:3 vanos n~­veis de sentimentos. do mais superf1c1al ao mais profundo. e esses níveis podem ser apresentados

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pouco a pouco ao ajudado, dependendo de sua prontidão para aceitá-los. E. como se houvesse "ca­madas de sentimentos". uns por baixo dos outros. Por exemplo, o a judador pode aprofundar os ní­ve is de sentimento com um ajudado diante da pos­s ibi lidade de abandono por par~e do paroeiro. da seguinte maneira: "Você está se sentindo incomo­dado -+ irritado -+ enciumado -+ ameaçado". E. como se o ajuda.dor levasse o ajudado a contactar sua própria experiência de maneira cuidadosa, pre­parando-o para ver. cada vez mais. a seu próprio respeito.

Quando o ajuda.dor percebe que o ajudado es-tá pronto para ºenêOntrãr-secom seus sent ime!}tõs. 'Seja em que n ível for. oomeça à responder .~ ~sses sentimentos.. Em resumo. responder ao sentimento se refere à habilidade de c:aptar o que o ajudado es-tá sentindo a cada momento e comunicar isso a ele_ Novamente aqui a palavra-chave é comunicação. De na?a ad ianta _o ajuda_dor compreen_der uma~...!~t<...­co1sas a respeito do a1udad0: e pre_(_?1so q~~a1b"! a:.;...,.,'".:>-'~ que o ajudador o compreende. A inda que não ~,. e:Xlstam"soluções mágicâs a -serem oferecidas, já vi- '>..;1

mos a imponância de o ajudado podei' expressar-se livremente e entrar em contato consigp mesmo. Quando o ajudador responde a seu sentimento, está tàcilitândo esse contato. - - ·- - - - --- Para responder oom o máximo de precisão posslvel . há al.guns passos que o ajudador deve se­guir a fi m de desenvolver e exercitar essa habilida­de: 1. Identif icar a categoria do sentimento. 2. ldentificar a intensidade do sentimento. 3. Escolher a ··palavra-sen"timento'' apropriada. 4. Responder ao ajudado usando o formato :

"Você está se sentindo. . . " Já vimos anteriormente como as habilidades

interpessoais se tornam pré-requisitos umas para outras. _AQ resQO_!l_tj_e_i:. __ <? . _ajuda.dqr continua aten­dendo fisicamente ao ajudaao. Por outro lado, seus olhos (.observar) e · seus ouvidos (escutar) são as

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duas- foot~s básicas que lhe permitem captar o sentimen to do ajudado_ Observando todas as suas rnensagenS - não-verbais e escutando a música e a letra de seu relato verbal, ele vai aumentar a chan­oe de sintonizar com o ajudado_ A música aqui é fundamental: uma mesma frase pode refletir os mais diferentes sentimentos. até mesmo c ontrários. dependendo da entonação que a acompanha.

Quanto à cat'egorfa do sentimento, sua identi­ficação pode ser útil quando o ajudador está ten­d o d ificuldade em perceber o que o ajudado está realmente sentindo, ou quando está começando a se treinar nesse tipo de habi l i d ade. A categoria se re­fere a uma classificação geral dos sentimentos. Para efeitos didáticos. foram determinadas cinco catego­rias : alegria. tristeza, raiva, medo, confusão_ Qua~ 9 _aju~ador. ao observar e ~:;ou~c.o ajudado!. fica em dúvida quantQ ao que este es.tá sentindo. pode. pelo mênos, tentar identificar a natureza de seu sentimento : "Será rairva o que ele est:'.I sentindo? Ou serrá medo? Ou ele parece triste?" A d ivisão em categorias. no entanto. não signi·fica que todos os sentimentos sejam sem pre enquadrados em al­gum a delas_ Há alguns que não se encaixam em ne­nhurna ou, às vezes, se encaixam em mois de uma. "Ansioso". por exemplo. pode ser um sentimento l igado a medo, confusão o u raiva. Por outro lado. "culpado" pode não estar enquadrado em nenhu­ma categoria. Çorno já toi _dito ... _a di~isão é sl!!'­plesmente didática . ..-- :-.D~pi_s _de escolher uma catego_ria mais prová­vel, o ajudador pode se perguntar com que inten­sidade o ajudado está experimentando o senti­mento_ E ste é muito forte. fraco ou mode<ado? A intensidade com que ele se expressa. corporal e verbalmente. vai lhe dizer a intensidade com que ele está sentindo.

Q u ando o ajudador identifica uma categoria e u ma Intensidade mais prováveis, pode escol,her a "palavra-sentimento" - aquela palavra, em geral um adjetivo, que mais se encaixa ao que a pessoa está sen t indo no momento. Se a categoria é triste­za. por exemplo. e a intensidade é fone. uma boa

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palavra para descrever o sentimento pode ser_ "arrasado"_ Numa mesma categoria há várias pala­vras que expressam intensidades diferentes d omes­mo sen timen to. Quando a categoria é ra iva, posso estar enfurecido. aborrecido ou apenas irritado_

No geral. as pessoas têm um pobre e limitado vocabu lário dêpâlavras-sentimento. Mesmo que te~ nham aprendido muitas dessas palavras. "têm 1pou­co hábito de usá-las no dia-a-dia, exatamente pela dificuldade em reconhecer e exprnssar sentimentos. Podem estar sentindo ou vendo alguém sentir , mas não conseguem expressar esse sentimento atr a­vés de uma palavra adequada. Esse vocabulário po­de ser desenvolvido_ Basta que o ajudador se p ro­ponha a escrever. num papel. todas as palavras-sen­timen to de que se lembrar. em cada categoria e com - 1intensidades forte. fraca. moderada. Na cate­goria de confusão, por exemplo, vão aparecer pa­lavras como indecisa. incerta. perdida. confusa. "barauinada". dividida, desorientada. 1etc. Ao final de algum tempo, o ajudador vai descobrir que seu vocabulário se enriqueceu com palavras que esta­vam registradas. em sua memória e das quais não se lembrava de início.

Um ase~!.9 impor_!~-n~_aQ_escQli]e< a palavr-a­sentimento, é verificar sua adequação ao ajudado específico que o ajudador tem à sua frente. Deve-se levar em conta sua idade. seu nível social, estilo de v ida. sua procedência. E o caso da gíria. que pode captar. oom exatidão. o sentimento de uma pessoa mais jovem ("bodeado'; por exemplo). mas pode ser in íntelegível ou mesmo ofensiva a uma pessoa que não a usa no seu dia-a -dia. Por outro lado. uma palavra como "estupefacto" pode ser entendida por pessoas com um certo nível acadêmico. m as não ser compreendida por outras que não tiveram a chance de estudar. Os regionalismos também de­vem ser levados em conta na interação verbal com o ajudado_ Dependendo da região de onde ele pro­cede. a terminologia para descr-ever determinados eventos é específica e diferente daquela usada pelo ajudador. Como i lustração. podemos lemb:rar o caso de um paciente proveniente da zona rural in-

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11:ernado num hospital de c idade grande. Foi neces­sária uma boa dose de paciência por parte de seus ajudadores. alunos do curso de Medicina. até que pudessem compreender a que ele~ referia quando dizia estar acometido de "pé l igeiro". Depois de vá­rias tentativas de compreensão, conseguiram d es­cobrir que "pé ligeiro" se referia a desarranjo in­testinal ou diarréia.

Há ainda uma outra estratégia que facilita ao ajudador a escolha da melhor palavra. Observan­do e escutando o outro. ele pode se perguntar: "Se eu fosse essa pessoa, vivendo o que ela está vivendo e relatando a vivência da maneira como relata. como me sentiria?". A resposta a essa per­gunta pode levá-to a encontrnr uma palavra de sen­timento pelo menos próxima do que o ajudado está experimentando tresposta empática).

Como último passo, o ajudador pode respon­der ao ajudado usando um formato que facilita sua comunicação: "Vooo está se sentindo. . . " obriga o ajudador a usar realmente uma palavra­sentimento. que acompanha o pronome reflex ivo se . No início do treinamento, existe o risco de o ajudador acabar dando uma resposta de conteúdo ("Você está sentindo que . .... ) quando queria dar uma resposta de sentimento.

E. importante r-eafirmar aqui que esses passos apenas facilitam o desenvolvimento da habil idad e numa fase de tireinamento. Via de regra, captar e reSQQnder ao sentimento do outro é uma h-ªbilid~: de que brota natura!m.ente.._do J:1iudador depois de ãtgumâ_ p rática. como brotam todas as ~tras- ha­.bilidades de ajuda.

r Algumas vezes, temos a tendência de cuidar " ))>~ mais do ajudado quando este vive m-omentos d.ifí­• f · t_çeis. Preocupados com seu bem--estar e: às vezes. ~ ansiosos por vê-lo superar uma crise. damos aten-')- ção integrnl a seus sentimentos desagradáveis. ten­

tando compreendê-lo e comunicando-lhe nossa percepção da melhor maneira possível.

No entanto.~ Q.Qro LembraLa-extr.ema impor·

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tância qu~ têm. as_mornentos de alegria_ e esperança _em seu processo de c·rescimento. E nesses momen­tos Q~e ele está descobrindo soluções e alternativas de açao para mudar nu ma direção melhor. E quan­do está descobrindo seus pontos fortes. E essencial que o ajudador responda a essa situação com o mesmo cuidado com que responde à crise. A isso chamam?s d~ usa~ a força do ajudado para "puxá­lo para cima • ao rnvés de apenas enfatizarmos seus pontos fracos.. _§ _tão ií!}Qorjg_ole para o..-ªiudaÇo po­~~r ~ompar_tilhar a dor e o desespero ~uanto a ale-

_gna e a esperança. O ajudador P.fetivo está a seu la­do em ambos os momentos.

. Retomando as falas dos ajudados da seção an­terior. vamos formular respostas de Sefltimento a cada um deles: 1. Ana

F~nal da fal~ : " . .. Preciso muito do emprego, nao posso ficar sem ganhar. mas também não quero me re-lacionar com ele. afinal tenhv meu noivo, a quem amo demais. estamos até pensando e~ nos casar no .ano que vem . .. Realmente, não ser o que devo fazer ... " Resposta de sentimento : "Você está se sentindo desorientada". ou

"Vore está se sentindo ameaçada ... 2. Lúcia

Final da fala : "Abortei com três meses, e agora o S?nho acabou. Não se~ como vou fazer parn con­tinuar vivendo .....

Resposta de sentimento : "Você está se sentindo desesperada··-, ou "Vooo está se sentindo arrasada".

3. Paulo Final da fala: "Agora ela vememedizquevai em­~ra, ,que não me ama mais. As vezes. penso que isso e demai s para mim. tenho medo de não agüentar . .. "

Resposta de sentimento: "Você está se sentindo angustiado ... ou "Vooo ·está se sent~ndo sufocado".

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Page 60: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Respondendo ao sentimento

"eara que . ·- - ~. SEt l"espoodo #ao sentfmento do ajudado. ele.~ãi se sentir cbmpreendido -e: ao ~mo """têrhpo.~iam-1:rar em có.._nta 11:0 corilsigo me5mo.

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Page 61: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

" Meus sentimentos são como minha impres­são digital,. co.mo a cor dos meus olhos e o tom de mi'nha' voz : únicos e irrepetfveis. Para você me co­nhecer,. é preciso que conheça meus sentimentos.

Minhas emoções são a chave para a minha pes­soa. Quando lhe dou essa chave,. v:ocê pode entrar e compartilhar com,igo o que tenho de mais precio­so para lhe oferecer: eu mesmo".

1 \._ ... ' ;,., \ • 1 •• _w 1~-,,

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John Powell

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RESPONDENDO AO SENTIMENTO E CONTEÚDO

- / Resp . ao sent. e conteúdo /

Z Responde<ndo "'° sen-cinrwtnto 7 ' L Respondendo ao conteódo 7

/ Escutando 7 ~/-=====~~~

t;=L=====:=Ob5=ervai=ndo~7 / Atendendo f~icamente 7 •

tt/'===========A=oo==lh=e=n=d=o=· ====~;:::> ( Prepairando 0 ambiente f1saoo (f?

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. -, .. -Responder a sentimento e conteúdo é o soma­

tório das duas habilidades anteriores. Quando o ajudador responde a sentimento e conteúdol co­munica_ que comprêende, ao mesmo tempo: como o ajüdado está se sentindo e por que ele esta se sen­tindo assi111. Através dessa respostâ, o ajudaáor càp­ta a razão para o sentimento do ajudado, que é exa­tamente o conteúdo de sua fala.

Se a finalidade da resposta é comunicar a compreensão total da experiência do ajudado, nem a resposta de sentimento, nem a de conteúdo, iso­ladamente, são suficientes para se fazer essa comu­nicação. ~ss!_rn co_rrio não exi~ cpriteúdo d~provi ­do de sentimento. não existe também sentimento sem. u ma razão de ser~ A resposta de sentimento e conteúdo é, portanto. a mais completa em termos da comp reensão do ajudado. ~ através dela que se faz a ligação entre o mundo interno do ajudado (seus sentimentos~ e o mundo externo em que ele vive (as pessoas. fatos ,e situações que desencadeiam seus sentimentos).

Estabelecendo uma ligação entre o princípio do ABC. de Ellis, e a resposta de sentimento e con­t~údo, vamos verificar que os sentimentos do aju­dado const ituem C - a conseqüência a nível emo­cional - e o conteúdo constitui A - o aconteci­mento que desencadeia a conseqüência. Mais tar­de. na habilidade de personalizar. será incluído o elemento B - o sistema de crenças do ajudado.

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Uma outra denominação usada para esse t ipo de resposta é o que chamamos de resposta inter­cambi ável - aquela que é formulada no mesmo ní­vel em que o ajudado está se expressand o, nem mais, nem menos. Além da resposta intercambiá111el . o ajudador pode oferecer respostas aditivas - aque­las em que ele acrescenta alguma coisa além daqui ­lo que foi expresso pelo ajudado. Essas respustas serão abordadas a partir do personalizar. que é considerada uma habilidade iniciativa. diferente das habilidades vistas até agora, que são respons ivas. Há

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Page 63: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

t:ambém as respostas subtrativas - 1essas. porém. não caracter-izam o ajudado.- efetivo. Como o pró­Dri9_ nome ir:id jça. ~º- resp.ostas_que subtraem~al­guma ooisa à experiência do ajudado, ou seja. Que oortam sua fala e o impedem de continuar em sua aut:o-exploração.

Talvez pudésseirnos i lustrar isso melhor. usan­do uma classificação mais simples para os vários ti ­pos de resposta que as pessioas dão umas às outras:

Examinando a r1elação entre algumas dimen­soes do ajudador e as respostas de sentimento e conteúdo, poderíamos classificar as interações do dia-a-dia em três categorias.. Essa dassificação seria feita de acordo com a presença ou ausência dessas dimensões em cada interação. Se prestarmos aten· ção às re~ost:as que as pessoas dão umas às outras. vamos verificar que se enquadram em alguma das categorias ou se aproximam delas. As mais comuns seriam as respostas do tipo simpática e antipática, e a menos comum. provavelmente. seria a empática ..

Resp,osta Slmpá~ica - ~ess~a-que rewo:ncle pc_o­oura :;;ei:_ag:radá_y~I a QL1emJãlã; mas desfocaliza i11tei­@men te a experiência1 .d:Q_Qutro; é como se ela se sentisse embaraçada diante do irelato da outra pes­soa, tentando, através de sua resposta simpá1tica .• interromper esse re1ato, ou superficializá-lo. e pas­sar para outro assunt.o. Seu efeito é cortar quem está falando.

Resposta Antipática - essa também le.v_a_a_pessoa ª ÇQrtqr__u_ .. seu .. re..lato~ Il1ª5·.-é.. for~_u ladjl d'e _ IT)aneira des~mradável,.. No geral. tem uma conotação de crí­ifoa à pessoa, tanto nas palavras quanto na entona­ção de voz e a deixa frequentemente "com um gos­to ruim na boca··. arrependida por ter começado a falar . Resposta Empática - como já a definimos é a .úini­~ .9~~ dá permis_são à ~<:'·- P._a_ra .se expr~r e . corntinuar seu re1lato; comunLca oompree111sao por. parte de quem a escuta. que tenta colocar-se no lugar do outro, como se pudes:se entrar debaixo

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de sua pele paira sentir o que ele está sentindo. Se retomarmos a fala de Paulo. o ajudado que

está prestes a desfazer seu segundo casamento. pode.íamos formular as respos1:as dos três t i pos diante de seu relato: Resposta simpática : "Não l iga não. Paulo, as mulheres são todas iguais • não vale a pena você esquentar a cabeça com elas. Logo você ajeita sua vida outra vez. mulher é o que não falta. Olha. vamos sentar al i e tomar uma cer­veja geladii nha. que isso logo passa. . . " Resposta antipática : "Bem f ,eito. isso é que dá faz,er bobagem duas vezes na vida. Já não chegou o primeiro casamenil:O, não serviu de lição. tem mais é que sofrer as conseqüên­cias .agora. Vê lá se não vai cair num terceiro. hein .....

Resposta empát.ica: "lmag,ino como você deve estar se sentindo. Paulo, angustiado e sem saber o que fazer diante da possi­bilidade de desfazer seu segundo casamento".

Ao conjunto de respostas intercambiáveis que o ajudador oferece ao ajudado chamamos de base intercambiável. E essa base. no relacionamento en­_tre -~s 0_01~~~-..@~mn•r~a.Q...ajy_dador p.ii§sarE?.a ra hab ilidades iD.iciaitivas~ --q1,.1an_dp~ o_ a~.f_Jad'o _ _:S}l!.~l!zar que -está pronto para ilsso. -· É como se a base intercambiável fosse o in­gr-esso para o ajudador passar a níveis mais profun­do5 em seu relacionamento oom o aíudado. quando vai poder acrescentar a sua própria percepção à compreensão que comunica ao ajudado {respostas ad it iv.as~.

Nã.o há um tempo pré-estabeleoido para a construção dessa base na relaçãO de ajuda. Pode levar de alg,uns m inutos até meses ou anos. Tudo vai degender ..da.RCQ'1tjd_?-q _çlo _aju.dstQ9~ d~ temp_q total de que os dois dispõem para construir sua re­lac;ã"o. Numa consulta médica de cinqüenta m inu­tos. essa base pode ocupar vinte a trinta minuto5 do tempo total. Num processo de terapia mais pro~

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longado, pode Levar algumas semanas ou .meses. E num ponto de ônibus, apenas algun s minutos._ :--'-... ~ ··- .. ...:: : -:.., > • t , i ·~-! .... :1 ;- :;» c:;-... -~t: ~ ....

1. ldent;ficar o sentimento. 2. 1 dentificar a razão para o sentimento . . 3. Responder usando o forrriat9:

"Você está se sentindo ... porque ..... ::rambém aqui os passos sã.o sugeridos apenas

para efeito de treinamento. O formato. Que aiuda a identificação tanto do sentimento quanto do con· teúido. pode ser trocado por qualquer outro que in­clua os dois elementos: "Di<tnte de ... você se sen­te; quando ... acontece. você se sente ... ; você se sente. . . to~a veL que. . . " .

Dizemos que o reste_da-r-esposta--do ajuda.dor se taiz· atia'Lés..da repção do ajudad9. Se a ~esposta ..,funciona" para o ajudado. elecvai continu a.- .-ela­tando suas vivências. em níve•s cada vez mais pro­fundos. i= como se cada resposta fosse um convite à sua expressão. é como se cada resposta "desse corda" ao ajudado, em analogia com bf-inquedos que ·con linuam a se movi mentar-~cada vez que a c ri-ançà lhes "dá ·co.-da". ·

Q~.9.ç_>~ajy_dad.2 .!~~sa~ a resl2_osta ou_ i'2 ter­rompe seu .-elato~ e sin~I d~ gue o ajutjador nao o ~compreendeu ou .não co~seg'uiu/comunicar sua compreensão através da resposta e deve continuar tentando até aoerrnr. L.

. O "erro .. na resposta de sentimento e conteú­do funciona como na resposta de conteúdo: não exisle. no sentido de que o ajudador semp.-e rice.-­ta pelo simples fato de esta.- empenhado em com­p.-eende.- e ajudar.

Se o se11timen10 capl.ado e comunic ado pe lo ajudador não c orresponde ao que o ajudado está sentindo, este mesmo se encarrega de corrigir ou de relatar melhor o Que está vivendo. Muitas vezes, é nessa hora de "corrnção" que ele descobre seu 1 2~

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ve.-dadeiro sentimento, até então desconhecido. Além disso, só o empenho do ajudador em ace.-ta r já o faz sentir-se amparado e valorizado como pes­soa.

Uma boa analogia para a s tentativas do ajuda­dor é o atvo usado no treinamento de tiro.

fa respostas podem guarda.- d istâncías variá­veis d Q alyo., o u do verãáãêirÔ sentimento e contetJ­do do ajudado. A cada tentativa . o "tiro" pode fi­car mais próximo, até que uma determinada respos­ta atinja realmente o centro do X : o alvo ou o mio­lo de suz fala.

Por último, é importante lembrar aqui o cui­dado com Que.. o aju-dador dêve fo.-mular· suas res­postas. Essas nunca devem ter a conotação de afir­mações taxativas sobre aquilo que o ajudado está vivendo. 1 niciar as respostas com "Parece-me que; Ouem sabe você está se _sentjndo: Talvez isso faça você sentir; Não sei se é isso mesmo, mas percebo que você se sente, etc." transmite uma atitude fundamental do ajudador: a consciência de que o único dono de sua verdade é o próp.-io ajudado; que ele, o ajudador. está tentando apenas facil i­tar a compreensão do ajudado em relação a si mes­mo: Se ele confirma sua resposta, isso significa que o a1udador captou sua expef"iêncía; caso contrário, nada lhe resta senão fazer novas tentativas até en­contrar a resposta acertada. Isso em nada prejudica a relação entre os dois; pelo contrário, reflete ape­nas a postura de humildade do ajudador. que reco~ nhece que a verdade pertence a seu próprio dono -o ajudado.

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"A pessoa inteira é aquela que estabelece um contato significativo e profundo com o m u ndo .à

sua volta. Ela não só escut,a a·si mesma, como também às vozes de seu mundo.

A extensão de sua própria experiência é infinitamente multiplicada pela empatia que sente em relação aos outros. E la sofre com os infelizes .e se .alegra com os bem-aventurados. Ela nasce a

cada primavera e sente o impacto dos mis.térios da rdda: o nascimento, o crescimento, o a.1nor, o

sofrimento, a morte. Seu coração bate com os enamorados, e ela

conhece a alegria .que está com eles. Ela conhece também o desespero, a solidão dos que sofrem sem

alívio; e os sinos, quando tocam, ressoam de maneira .singular para ela."

John Powell

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RESPONDENDO COM IMAGENS

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~pondlendo ao conteúdo 7

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Muitas vezes. à medida que escuto uma pes­soa. ocor re-me uma imagem que capta. de maneira simbólica. sua experiência. ~S§sLí.fr!agefll_seria como uma representação ériada pelo pensamento dãqu1lo q ue a peSS9a rel~ta es~r_vívênd~-9~~fltir:iél~: · - -

N em sempre. apenas refletir o oonteúdo ou encontrar uma palavrn-sentimento é suficiente para cap ta r inteiramente a experiência do ajudado. A imagem que brota espontaneamente no ajudador enq uanto escuta o outro tem. às vez1es. um poder muito maior de comunicar compreensão do que as respostas de conteúdo e sentimento.

É por brotar com tanta respontaneidade q u e' a imagem reflete um alto grau de empatia por parte do ajudador: é como s e. de repente. ele captasse. visual e viscer,almente. todo o relato do ajudado. corri uma empatia total. Visceralmente. porque a i m agem nasce dentro de _s,y:as_pIDpi:.~í_~_s. d e maneira inesperada e como resu l tado de uma s in­tonização perfeita com o ajudado.

C ompr1eendendo com tanta clareza a vivêrncia do outro e comunicando a ele essa compreensão. o ajudador faci li ta ao aj udado o 1entendimento do que se passa com ele. °"~tr9Y.és d_ajcnag_em •. am'bos.:vi ­suail izam com enorm~ _nitidez. aqui lo que-o ajudado esiá v ivendo- e -relá tândo. As vezes. responder com 'imagem é a manei ra mais efetiva de levá-lo a 1en t rar em contato profundo com a própria pessoa. /

Relacionando resse t ipo de resposta ã dimen­são de concreticidade. poderíamos dizer que a ima­gem torna ooncireta uma exper iência até então in­definida, que o ajudado tem dificuldadle de· visu a l i­zar para ele mesmo.

Por outro lad o. nos momentos em que a ima­gem se, refere a a lgu ma ação que o ajudado preten­de iniciar. é como se ele. através da imagem. "en­saiasse" essa ação. E quando e le consegue· visual i­zar-se fazendo alguma coisa num futuro próx imo. mas para a qual não est á pronto a inda. Nesse caso. a imagem o aiu.cia.a_aoJ~cipar ~ª ac;ãü p~lo m enos na imagina~o. dando-lhe .. infÕrmações sobre como va i séSerítir ao executá-la.

Também nos momentos em que o ajudado co-

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meça a relatar mudanças em sua vida. pequenas mas ao mesmo t empo significativas. o ajudador po­de enfatizar seu processo usando uma resposta de imagem (semelhante ao que vimos 1110 tópico sobre responder a sentimentos positivos). Po' exemplo: Beatriz : "Nas primeiras vezes em que eu vim aqui, pênsei que jamais conseguiria esquecê-lo e ser feliz nova­mente. Só pensava em morrer. Mas ontem, quando me peguei rindo pela primeira vez em tanto tempo e satisfoita ao lado de outro homem. comecei a pensar que talve.z eu até possa refazer minha v ida afetiva ...

Resposta de imagem : "Que bom, Beatriz. é como se. pela primeira vez em mui Lo tempo. você começasse êl enxergar uma luz ao final do túnel!"

...AL,es..Qosta de i"1ª9.eJD-POde ser formul~..2_a­ra Q ajud(!do isQl9çlam.en~e. o.u .acompanhada_de.res­,e.Õstas de sentimento. de conteúdo. ou de ambas. Os respectivos formatos seriam estes:

1. Resposta de imagem : ··~como se ... "

2. Resposta de imagem e conteúdo: "Quando ... (conteúdo). é como se ... "

3. Resposta de imagem e sentimento: "Você se sente ... como se ... "

4. Resposta de imagem, sentimento e conteúdo: "Diante de ...• você se sente. _ . como se. . ...

Vamos ilustrar usando falas de ajudados e for­mulando uma resposta de imagem para cada uma delas:

1. Pedro: "Ando muito em dúvida quanto ao curso que devo fazer. As veces, penso que o melhor ses-ia Medicina. Acho uma profissão bonita. e meu pai poderia ajudar~me, por ser médico. Mas o curso é muito pesado. e a vida de médico não é fáci l. Por outro lado. gosto também de Odontologia. acho que poderia ser um bom dentista. O curso é só de quatro anos. e eu poderia ter uma vida

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1

mais tranquila. depois de formado. Não sei mes­mo o que fazer. é uma escolha d i fíci l para mim."

Ajudador: "E como se você estivesse numa encruzilhada. Ped..-o. Tem diante de você duas estradas e não sabe qual delas vai levá-lo ao melhor lugar. " (resposta de imagem)

2.João : "Cada vez que meus colegas me cnt1cam. fico péssimo. Me dá um mal-estar muito grande. te­nho vontade de avançar neles. Também não gosto de brincadeiras. Tudo que as pessoas me dizem me incomoda muito, às vezes fico pensan­do, o dia in teiro. naquilo que alguém me falou. não consigo nem estudar".

Ajudador : "Você se sente 'fisgado' diante do que as pessoas lhe dizem. João. como se você fosse um peixe e as palavras fossem um anzol. que o fisgam quan­do você as ,escuta ... (resposta de imagem. sentimento e conteúdo).

3. Teresa : "E. engraçado. antes. eu vivia pensando em como eu ia me sentir livre ao me desquitar. Agora. consegui o que eu queria, meu marido assinou o desquite. mas não sei o que fazer com a liberda­de que eu tanto queria".

Ajudador : "Quando você se vê sol te ira de novo. é como se você fosse um passarinho que. depois de muito tempo de prisão, vê a porta da gaiola aberta, mas não sabe para onde voar". (resposta de imagem e conteúdo)

4. Roberto: "E. uma situação que acontece sem o meu con­trole. Eu vejo as pessoas fazendo coisas erradas. ou que me desagradam, todos os dias. Não con­sigo falar às pessoas sobre o que me incomoda. Um dia. de repente. por causa de uma bobagem, eu estouro. e aí vai tudo por água abaixo".

Ajudador : "Você se sente oprimido como se fosse água fer-

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vendo dentro da chaleira e com a tampa fechada. Quando a ebulição é mui to grande. faz a tampa saltar e toda a água entorna da chaleira" fresp~ta de imagem e sentimento) .

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Respondendo com imagens -,. t -

O que é :

Captar a experiência do ajudado. através de uma r~ presentação simbólica. e transmiti-la a ele.

Para Que:

Se respondo com imagens ao ajudado. oomunicO­lhe um alto grau de compreensãe, de modo a ele entrar em contato profundo oom sua próprj~-C.X.P,€-:'• riência e torná-la mais concreta.

Como :

J . Encontrar uma representação ~ncreta,i.:pa.ra º ""' relato do ajudado. - . '

_"·2. Transformá.~la em palavras. ;:;'.B .• Responder- usando o(s} fo rmatoCsJ :

nE-- como se. . . .. ..,,~ ::-Ovando. _ ., é como se . .. " ~ .. Você se sente . . . como se ... ..

.. Díante de .. . você se sente ... como se ... ··

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Livre, como um balão que sobe ao céu, sem dono.

Perdido, como um barc o en1 meio à tempestade, sem leme.

Tr iste, como um órfão em noi t:e de Natal~ sozinho.

Esperançoso, c orno um náufrago ~rn força s, avistando a ilha.

fmagem: numa só l i nha, em poucas palavras, a mágica de fazer entrar o mundo inteiro.

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C. F. M.

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RESPONDEN DO AO COMPORT AMENTO

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11 Respondendo com imagens (f? / Resp . ao .sen t . e conceúdo ~

t::::::I-========'(/ L Respondendo ao sentimenco (?

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Antes de concei tuarmos a habilidade de res­ponder ao comportamento. vamos examinar as maneir as pelas quais o ajudado se expressa quando está diante do ajudado:-:

1. O ajudado se expressa co:rporat?~ecbal.nJ.ê.!l.!e . 2 .· O a~udado não se e x pressa verbalmente, apenas

corpor-almente. através do que chama·mos de ·~R.fil.9fto" - quase nao há movimento em seu corpo. Os únicos dados de que díspomos a seu respeito são a sua aparência (modo corn o está vestido. penteado e sua postura~ e sua ex­pressão fisionômica_

3. O a~udado não se exp.-essa verbalmente, apenas cqrporalmente, através de um "silêncio movi· men tad o·· : e le pode chorar.. rir. ton::::e.- as mãos • mexer pe•nás.braços- e caõeÇã:- re$p_i.rar de ma­neira- Ófegante-:·su$pirar:· a•ndar de um lado para outrÕ. -às vezes até mesmo agredir o ajudador. São inúmeros sinaís. cada um oom um significa­do e uma mensagem diforrente.

Levand o isso em conta. podemos detenmi­nar o que é responder ao comportamento ne~e contexto.

0 ._- :,. ~ res~._,r1cSP.r <--:"(" =..:o -- .. 1r-r-aí~~r;;o

Já d issemos. no tópico sobre a habil idade de ob:se.-var . que o ajudador pr-ecisa sabeir discr-iminar quando deve arquivar e quando deve confrontar o .ajudado. oferecendo-lhe os dados de suas observa­cões e/ou infe·rências. · Responder ao comporrtam~tcLé .a habil idade de oferece;.-· ao aj~dado esses dados e /ou ínferên-

_:-cTãs.- nos momentos em quê 1sS.o tõr benéfico p ara ele.

Quando o ajudado está se expressando verbal-. mente. o ajudador pode responder simultaneamen­

te à sua expressão verba l e corporal . Se existe co~ r-ência entre as duas. o ajudador responde ao que está vendo e. com isso. apenas confi·rma o que está 1escutando. Por exemplo. "Você está me dízendo que as coisas melhoraram muito; e realmente pos-

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so ver que seus olhos estão b r ilhando e sua fisiono~ mia está alegre"_

Se os dados corporais não estão compatíveis com os dados verbais, e o ajudador acred ita que isso vai ser efet ivo para o ajudado 'e que seu relacio­namen to já lhe dá esse dlir,eito, ele pode confrontá­lo com sua p ercepção: " Por um lado, .você me diz que está tudo m u ito bem , por outro, estou vendo você triste e abatido hoje". Como já vimos também no observar, cabe ao ajudado confirmar ou n egar essa inferência.

H á também alguns sinais do ajudado que não têm, no momento, qualquer ligação com o quP. ele está dizendo, mars que são dignos de nota e devem ser mencionados. porque podem ter um sign ifica­do importante. Por exemplo ... ta primeira vez. que o vejo com uma roupa vermelha; como você só usa­va cores escuras, estou pensando que talvez você tenha r,esolvido se enfeirar mais"_ Ou, "Você cor­tou o cabelo; será que isso faz pane da sua decisão em cuidar mais de seu corpo?"

J á dissemos da importância de "pu xarmos pa­ra cima" o ajudado. Quando o ajudador observa pe­quenas mudanças e comunica isso a ele. está lhe d i­zendo algo como "Você é importante para mim, es­tou muito ate•Ho à sua pessoa e valorizo cada mu­dança sua".

Até agarrai fa lamos d e responder ao comporta­mento quando há exprnssão verbal do ajudado. Há muitos momentos, no entanto, em que ele não se expressa dessa maneira; vamos. então, responder a seu oomportamento, respondendo a seu silêncio, "parado .. ou "movimencado". Aqui, vamos preci­sar. mais do qye nunca. de nossa habi lidade de o b­servar - diante de seu silêncio. é a única habilidade a nosso alcance para captarmos suas mensagens.

1 - Quan do o si lêncio está ligado à sua relação c onsigo mesmo (ele não tem a intenção de usar o si lêncio p ara transmitir qualquer mensagem ao aju dador).

1. O ajudado não sabe o que dizer no primeis o con-

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tato_ Em se tratando de uma relação d e ajuda profis­sional, a pessoa q ue busca essa aju da pela primei­ra vez pode não saber o que se espera dela nesse contato. Ela não sabe se deve falar em primeiro lugar, se deve esperar q ue o ajudad o r fal e ou se d eve apenas r-esp onder a perguntas. Com (lledo de "errar", ela se cala, esperando que o ajudad or lhe diga o que fazer.

2. O ajudado está inteiram ente voltado para si mesmo. t quando e le n ão está interessado em intera­gir com o a judador ou com qualquer outra pessoa: está tão absorvido consigo mesmo. que se compona como se estivesse sozinho. Usando uma imagem. poderiamas dizer que ele está com "inversão do globo ocular", ou seja, seus olhos estão volt ados para seu interior, de tal modo q u e só enxerga a si mesmo e a ninguém mais.

3 . O aju dado está d eprimido. As vezes. no pico de sua crise, o ajudado está com o nível de energia tão baixo, que n ão tem força para coisa algu ma. nem mesmo para se expressar verbalmente.

4. O ajudado está confuso. Quando sua experiência está m uito con fusa, ele pode perder-se no meio dela, sem saber por onde oomeçar.

5. O ajudado está organizando seu pensament o. Algumas pessoas não querem falar de sua pró­pria con fusão. Preferem organizar suas idéias p r i­mei ro, para depois expressá-las de maneira mais ordenada.

6. O ajudad o está sentindo com mui ta int ensid ade. Quando experimenta sentimentos muito inten­sos. o ajudado nem sempre encontra palavras p& ra traduzi-los. Prefere calar-se ou se expressar de outras maneiras (ctlorando, por exemplo).

7. O ajudado está com "ressaca de entrega". As vezes o ajudado coloca um limite para a pró­pria entrega. Quando ele já se entiregou tanto quanto q ueria ou mais do que pretendia. prefere

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calar-se. &::: como se ele tivesse bebido muito e deixasse de b eber. dur-ante o período de "ressa­ca". De acordo com Powell .. _ . . Eu quero seguir a prescrição inteira. mas em pequenas doses. Eu quero a estória inteira. mas só posso ler um capí­tulo de cada vez . Não me sin to forte o bastan te. nem me amo o bastante p a.-a me defrontar com tudo de uma só vez."

11 - Quando o si lêncio está ligado à sua relação com o aj udador /sendo usado para lhe enviar mensagens especi f icas) .

1. O aiudado está com medo do ajudador. Quando a inda não se estabeleceu um clima de inteira con"fiança na relação. o ajudado pode ter medo da reação do ajudador d iance d e seu relato . Ou ele pode ter medo de o ajudador não manter sigilo absoluto. Quando ·esse medo é maior do que o desejo de fala.-, ele se cala.

2. O ajudado se sen te enve<gonhado diant1:e do aju­dador. Uma das característica1S do a~udado é sua inacei­tação quanto às coisas que está vivendo. Dessa inaoei tação. surge a vergonha de sua própria ex­periência e de sua pessoa. Temeroso de que o ajudador o julgue como ele mesmo está se jul­gando. o ajudado fica ansioso e embaraçado e não consegue relatar suas vivências.

3. O ajudado está com raiva do ajudador. N um certo momento da relação. o ajudado pode voltar-se contra o ajudador por várias razões. Nesse caso. ele u sa o silêncio como punição. ~a maneira de reieitar o ajudador e de dizer a ele que está magoado ou irritado. O ajudador não correspondeu a suas expectativas e agora é casti­gado por isso.

4. O ajudado está testando o ajudador. Faz pane do prooesso de ajuda. especialmente no m ício. uma fase em que o ajudado tes1a o ajudador para decidirr se pode ou não se entre­gar a ele. llm dos instrumentos de teste P?<1e s.er seu silênc io. A pergunta implícita é do tipo:

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1

"Você é capaz de me aceitar incondicionalmen­te;> Você vai querer me c.:nmpreender e se interes­sar po..- mim. mesmo que eu permaneça em si­lêncio?"

Para o ajudador que observa o t~mpo todo. não é difícil perceber quando o silêncio tem a ver com o próprio ajudado e quando tem a ver com a relação entre os dois. No primeiro caso. o ajudado não tem intenção de manter qualquer contato. e sua postura revela isso. No segundo. mesmo quan­do olha para outro lugar ou fica de costas. o aju­dado mantém contatos visuais ..-ápidos e esporádi­cos para confer ir qual é o efeito que está causando no ajudadoc Se a tinahdade é incomodà-lo. ele quer checar o quanto está atingindo seu objetivo.

Se retomarmos aqui o princípio do ABC. va­mos veriificar que o silêncio do ajudado tem signifi­cados d i ferentes para cada ajudador.

Para alguns. o silênc io pode soar como uma mensagem do tipo: "Não estou gostando de você. não quero compartilhar minhas coisas com você ... mesmo quando não é isso o que o ajudado está querendo transmit i r. E no caso d e ele querer trans­mitir exatamente isso. usando o silêncio para punir o ajudador. este pode sentir-se reieitado e cul pado. como se tivesse fracassado em suas funções. Su a tendência é quebrar o silêncio o mais rápido pas­sivei para baixar sua ansiedade. Com isso. está perdendo a chance não apenas de respeitar o aju­dado cerno também de trabalhar a relação ent re os d ois.

. :..._, . -.-:: 1 . F i cando em silênc io t ambém

Quando interpreta o si lêncio de maneira racio­nal. o ajudador se torna capaz de suportá-lo. transmitindo ao ajudado mensagens de respei­to e aceitacão. Isso va le especialmente para al­gumas das ·situações já descrilas ante..-iormente (quando o ajudado está voltado para si mesmo. está organizando suas idéias. está sentindo com muita intensidade. ou não quer entregar-se mais

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naquele momer.to}. Em algumas situ~ções, qual­quer resp osta verbal pode soar como uma co­brança para que o ajudado fale. O melhor é espe­rar até que este lhe envie qualquer mensagem. verbal ou corporal, no sentido de rntomar a inte­ração verbal entre os dois. Por outro lado. isso não quer dizer que o ajudador não possa. tam­bém. responder ao comportamento do ajudado em cada uma dessas situações. desde que o faça de maneira respeitosa. dando um tempo para o silêncio do outro antes de responder.

2. Respondendo ao comportamento Nas situações já descri1as. se o ajudador decide que o melhor é rest>onder ao ajudado. ele pode formular respostas do tipo: " Parece-me que você está precisando de ficar sozinho com você mes­mo" ou "Você prefere colocar suas idéias em ordem primeiro e falar depois" ou "Esse senti­mento é grande demais para ser expresso em pa­lavras" ou .. Hoje você falou de coisas mui to pe­sadas e prefere não falar mais a esse respeito por agora". Diante das respostas. o ajudado decide continuar em si lêncio. ou retomai- sua expressão verbal.

Ouan lo às outras si tu ações. precisani !:ãer l• o· balhadas para facilitar o próprio crescimento d o ajudado. e por isso. o ajudador deve responder a cada uma delas: - No primeiro contato - "Você talvez não saiba o

que fazer e gostaria que eu lhe dissesse. Pois aqui quem dá a direção é você. Se quiser. pode dizer-me por que motivo me procurou. ou.pode começar de pnde achar melhor".

- Com o ajudado deprimido - " Parece-me que ho­je você está triste e abatido".

- Com o ajudado con fuso - "Você me parece per­dido dentro da sua experiência. Talvez possa m e dizer como é isso. para tentarmos organizar as coisas juntos".

Quando o ajudador perc ebe que o silêncio está ligado ã sua relação com o ajudado. deve usar a d imensão de imediaticidade - o que está aconte· cendo aqu,i e agora en1re os dois - e aproveitar 146

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a oportunidade para trabalhar a relação. Desse trabalho depende toda a continuidade do proces­so de ajuda e o próprio crescimento do ajudado. Também aqui, o ajudaaor deve responder a cada uma das situações: - O ajudado está com medo - "Você talvez esteja

receoso de me relatar o que está vivendo; é um medo de eu não ser capaz de aceitá-lo. ou. Quem sabe. um medo de eu não guardar isso só para - _, .. mim.

- O ajudado está envergonhado - "E difícil para você falar dessas coisas, parece-me que você se sente embaraçado; há um receio de eu me sentir embaraçado também?"

- O ajudado está com raiva - "Parece~me que você está aborrecido ou magoado comigo; será que foi por alguma coisa que eu fiz. ou falei com você? ..

- O ajudado está testando - "Talvez você esteja se perguntando se eu vou aoeitá- l o de qualquer jei­to, mesmo ficando em silêncio assim".

O importante aqui é como vão ser formu lladas e~s respostas. Um tom interrogativo significa compreensão e aceitação por J.Jê:nl~ do ajudador e, ao mestno tempo, o reconhecimento de que só o ajudado sabe a verdade a seu respeito.

14J

1

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Page 75: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Respondendo ao comportamento

O que é: Comunicar ao ajudado que suas mensagens não-ver­bais-foram captadas.

Para que : Se respondo ao componamernto do .ajücfudo ~ - ere póde àliviar sua tensão. de modo a facil itar

sua comu(licaç.ão verbal; ".)., - pôSSÜ avaliar, junto com eJe, algumaºinooerência

entre seu comportamento verbal e-oorp0<at. de modo a ele se conhecer melhor;

- po5SO avaliar nosso relacionamento.

Como: 1. Observar. 2. Iden tificar mensagens não-verbais. 3. Comunicar essas mensagens ao ajudado. de acor ­

do com o form ato:

"Estou percebendo você . .. ". ou "Você está1 me parecendo ... " No caso de incoerência: "Por um lado v<>d! me diz que . ..• por outro vo­cê me parece . . . "

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~'A realidade do outro não está naquilo que ele revela a você1 mas naquilo que ele não lhe pode re­velar.

Portantol se você qu:;ser compreendê-lol escu­te não o que ele diz. rna.s o que ele não diz. n

Kalil Gibran

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RESPONDENDO ÀS PERGUNTAS

-+ L Respondendo às pergont& 7 éespondendo ao oorn,ponament?

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A interação verbal entre as pessoas não se faz apenas através d e relatos e afirmativas. As pergun­tas servem também de meio de comunicação entre e las. As raz.ões que as levam a fazer perguntas são várias e é imp ortante sabermos que ninguém inda­ga n ada à -toa.

1 . Porque precisam da resposta. Em alguns casos ( t alvez a menor parte deles). as pessoas precisam apenas de uma informação objetiva . A resposta vai ajud á-l as a tomarem uma decisão ou a iniciarem alguma <li;ão. Por exem­p lo : - .. Onde fica essa rua? " - _ .. A que horas passa o próximo ônibus? .. - .. Quanto c u sta?" São perguntas objet ivas. sem qualquer outra in~ tenção que não a de obter exatamente a respos­ta pedida. a não ser em situações esoeciais.

2. Porque querem mant,er contato com o outro. Muitas vezes. a resposta é o menos importante para quem indaga. A pessoa deseja apenas se aproximar do outro. conhecê-lo. ganhar afeto e compreensão. Nos contatos sociais. são f ormula­das algumas pergun tas-padr-ão do t ipo :

"Como é o seu nome?" - "'O que. você faz? " - "'Ond e você mora?" As respostas a essas pergunta s nem sempre sao muit o importantes para quem pergunta. Tenha o nome que tiver. mor-e onde m orar e seja qual for- a ativ idade profissional do ou tro. quem per­gunta está apenas fazendo um convite para se re­lacionar. Algumas vezes a pessoa que indaga já tem alé rnesrno a resposta. Sua pergunta é ape­nas u m pretexto para se aproximar de quem res­ponde.

3. Porque quer em e xpressar alguma coisa e não conseguem. Nesse caso. a pessoa quer- o contato descrito aci­ma e algo mais além disso : comunicar alguma coisa que não consegue expre ssa r diretamente.

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Por exemplo. um diente peiíguntando ao den­tista : - "Doutor. será que esse tratamento vai ficar

muito caro?"' Comunicação implícita na pergunta: - "Eu não tenho muito dinheiro e gostaria que

o senhor não cobrasse mui to caro de mim .. _ 4. Porque querem saber alguma outrn coisa e não

conseguem perguntar diretamente_ Também aqui há uma camuflagem. em que a pergun]a formulada esconde a vontade da pessoa de saber outra coisa. Por exemplo. a mulher per­guntando ao marido: - "A que horas você saiu do serv1iço? .. Pergunta implícita: "V~ veio direto para casa. ou fez alguma outra ooisa antes de vir?" Às vezes. atrás de uma pergunta implícita. ex i s­te outra ainda mais implícita:

"Você está se encontrando com outra mu­lher?" Não so existem uma ou mais perguntas implí­

citas. como também existe uma comunicação es­condida : "T cn ho rmu i to medo de você gostar de outra pessoa e não me querer mais"_

Como a pessoa tem medo ou vergonha de per­guntar o que realmente quer saber. ou de comuni­car o que realmente está sentindo. ela usa a pergun­ta p ara obter respostas às suas dúvidas e inseguran­ças.

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Já rnencionamos. no tópico sobre escutar. que a expressão verbal é formu lada em dois níveis_ No primeiro. temos uma mensagem explícita ou apar rente. que está contida na superfície das palavras que estão sendo ditas. E a esse nível que gera lmen­te escutamos e respondemos.. No segundo. temos uma mensagem implícita ou ~ubjacente. que é a verdadeira mensagem - é o que a pessoa realmen ­te está querendo nos dizer. A essa. raramente es­tamos atentos e por isso. não podemos responder a ela.

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As pessoas usam a mensagem aparente porque têm d ificuldade de comunicar direta e abertamen­te o que realmente estão sentindo.

Tudo isso vale para as p.erguntas. Por baixo de cada indagação, está escondida a verdadeira mensagem ou pedido da pessoa que pergunta. As palavras objetivas usadas na formu'lação da pergun­ta servem apenas de veía.i lo através do q ual a men­sagem real é transmit ida à pessoa que escuta. A ela cabe desvendar essa mensagem.

N esse contexto. responder à pergunta é a ha­bilidade cie : - perceber a mensagem su bj acen te a essa pergunta; - comunicar essa percepção ao outro; - responder. se necessár io. à pane objetiva da ques-

tão ( mensagem aparente). A identificação da m ensagem subjacente en­

v olve a percepção de sentimentos e conteúdos que estão atrás da pergunta. Muitas vezes. quando o ajudador capta essa mensagem e comunica sua compreensão ao ajudado. este nem mesmo vai que­rer resposta à pergunta objetiva que formulou. Ele queria apenas compreensão. e não informação. Se. no entanto. essa informação objetiva for imponan­te também. ele vai voltar a ela. perguntando no va­mente. Nesse momento. já tendo respondido a sen­t imento e/ou conteúdo. o ajudador fornece a infor­mação pP.dida_

Quando o aiudador responde apenas à mensa­gem aparente. perd e. ao mesmo tempo. duas chan­ces: a dle comunicar sua compreensão ao ajudado. dando-lhe espaço para se expressar diretamente, e a de facilitar sua exploração. levando-o a entrar em contato com sentimentos q u e. às vezes, nem ele mesmo conhece. ~ como se o ajudador "tirasse a roupa .. da pergunta para encontrar. junto com o ajudado. o "corpo" de sua mensagem_

N ovament e aqui vamos lembrar a importância de for mular respostas em 1om interrogat ivo_ Dessa maneira. n ossa postura d iante do ajudado con t inua ::.endo de humildade. diante da verdadP que é só dele.

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Vamos ilustirar- essa habilidade. respondendo às pe,.guntas de Elizabete e Carlos_

Elizabete : _ "Vore acha que a mulher. quando per-de a vir-­gindade. tem mais dific~ldade em se casa:?"

Se o ajudador esta atento apenas a part e ob­jetiva da questão. pode formular uma resposta do tipo: _ - "Não. Elizabete. acredito que um homem pode amar uma mulhe< e querer casar-se com ela mesmo se ela não for virgem".

Essa resposta pode resultar no corte da comu­nicação do ajudado_ Elizabete pode estar q':-'e.r~ndo comunicar. através da pergunta. um fato d1f1c1 I de ser relatado - a perda de sua própria virgindade -e seus sentimentos diante disso - pr-eocupação e medo de não se casar -

Se, por outro lado. o ajudadoir está atento à mensagem su bjacenme. pode responder de _modo a levar o ajudado a trazer ã tona seus verdadeiros sen­timentos : - "Par,ece-me que a virgindade é um aspecto com o qual você tem se preocupado''. (conteúdo) - "t:: i,mportante para voc.ê que a mulher se c~se. ~ a ausêilcia da virgindade pode ser um empecilho . (ccnteúdo) - "Isso deixa vare preocupada?" (sentimento}

Outro aspeçto importante é a cautela com que 0 ajudador formula a resposta. Uma maneira m_ui­to direta ou muito rápida de abordar o verdadeiro problema pode assustar o ajudado e l~vá:lo a fe­char-se. Por exemplo: "Você perdeu a v1 rgindade e está com medo de não se casar". pode ser uma ma­neira descuidada e desr-espeitosa d e confrontar o ajudado com o problema GUe é real, mas que ele não quer abrir para o ajudador nesse momento. Sua tarefa. nesse caso. é apenas oferecer condições pa~a que o ajudado seja capaz de colocar o seu própno problema. Carlos: - "Você acha que é normal uma pessoa ter ódio do seu próprio pai?"'

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Resposta à mensagem apar,ente: - "Claro. Carlos. se uma pessoa odeia o pai é por­que tem razões para isso".

Respostas à mensagem subjacente: - "Parece-me que vore acha estranho ver uma pes­soa com ódio do pai" _ {conteúdo) - "Vooo está preocupado com o tipo de sentimen­to Que as pessoas experimentam em relação a seus pais?" (sentimento e conteúdo)

Uma vez aberta a comunicação. tanto com El izabete como com Carlos. e depois de explorado o problema de cada um. o ajudador pode respon­der. de maneira objetiva. às perguntas, caso isso ainda seja importante para eles: - "Não. El izabete. não creio que a ausência da vir­gindade impeça a mulher de se casar". - "Aoh.o normal. Carlos, pois acredito que todos os sentimentos que brotam das pessoas são naturais e cêm uma raz.ão de ser".

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l _Quando não entendeu alguma coisa_ Se o ajudador não escutou bem. ou não compre­endeu alguma coisa expressa pelo ajudado, deve pe,.guntar sobre a parte que perdeu_ Isso não sig­nifica desatenção. mas justamente o contrário: seu desejo de captar cada palavra do ajudado. de modo a compreendê-lo da m e lhor forma possí­vel.

2_ Quando o ajudado quer, mas não consegue se ex­pressar. Muitas vezes o ajudado está repleto de coisas pa­ra colocar. mas algo o impede - vergonha. medo de crit ica, falta de costume de falar a seu respei­to. etc_ (ver .. respondendo ao comportamento"). Nesses momentos. uma pergunra (tanto quanto uma resposta ao compoirtamen 10) pode aliviar a tensão e facilitar a expressão do ajudado-

3. Quando o ojudado tem d if iculdade de explorar seus sentimentos_ A s vezes. o ajudado não consegu e det ectar seus próprios sentimentos_ N esse caso, as perguntas podem facilitar a tarefo. Por ex emplo. "Como é

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esse incômodo?" ou "De onc:!le vem sua ansieda­de?" são perguntas que podem levá-lo a exp lorar melhor sua própria experiénC:a.

4 . Quando o ajudado se expreSSCt de maneira abs· trata. O ajudado. às vezes. se expressa através de diva­gações e abstrações. Lembrando a dimensão de concreticidade, o ajudador pode levá-lo a se tor­nar mais específico em suas colocações através de pergun tas- N o geral. falta ao a judado fazer ligações entre sentimentos e conteúdos. Por exemplo : "Como a ausência dele faz você se sentir?" o u " O que você exper i m enta quando pensa em re­começar a trabalhar? " ou "O que faz você 1ícar tão preocupado?'·

Deixamos apenas um pequeno espaço para es­te último tópico p or acreditarm os que o ajudador e fetivo é capaz de c aptar as mensagens do ajudado sem que. para isso, tenha de fazer perguntas. a não ser nos casos d escritos acima. Vol ta:1do às habilida· des básicas. quanto melhor o a judador atende. ob­serva e escuta. m enor é a necessid ade de per-guntar. Da mesma forma. são as respostas d o a judador. e não su as p erguntas. que comunicam uma verdadei­ra compreensão ao ajudado.

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Re~cnderrdo às perguntas

O que é : Responder. ao mésmo tempo, à mensagem súb)a­

<aente e à mensagem ap~rente transmitida pelo aju­_~dado.

Para que : Se ~espondo às pergun~ do ajudado. facilito-,lhe a comunicação de conteúdo impl ícito ,e c-.omunico-lhe compreensão. ·- "...... "'·

-COmo: · ,, '(' ~ -~~ lft"!. .. .. ..

1. ldentifi_car sentiment~ -ê/ou oonteúdo. -si:Jbja-centes a pergunta. .

2. ResJ)onder a sentimento e/ou conteúdo. 3. Responder à questão objetiva. se neoessário.

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'Seja paciente com as coisas não-resolvidas em seu coração ... ..

Tente amar as próprias questões . . .

Não procure agora as respostas que não podem ser dadas pois você não seria capaz de vivê-las.

E o mais importante, é viver tudo.

Viva as questões agora. Talvez você possa,. então,

pouco a pouco, sem mesmo perceber,

Conviver, algum dia distante, _ com as respostas. "

Rainer Maria Rilke

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RESPONDENDO COM OS PRÓPR IOS SENTIMENTOS

~-pendendo ao componamoenl"?'

/ R espondendo com i m,ageM 7 •

/ R.esp. ao sent. e ·conreúdo 7 ~ :s

/ 'filesporrode ru::IA:I .ao s'ent im.en·co (? / Responden.do ao conteúdo 7

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/ Escu tandlo ~

l==_, ===============~~ /,...---Obse-rv-ando--7~

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/ Atende ndo fisicamente 7 f

/ A colhendo (:! ri\

/ P repara n cfo ·o aimbiern e físico

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Há uma tendência anitiga de se ver o pap el d o ajudador como uma posição de superioridade na re­lação de ajuda. As vezes. é o p.-óprio ajudador que quer ser visto como o elemento superior da relação. e tanto suas mensagens verbais quanto corporais são nesse sentido. Out1ras ve·zes. é o ajudado que tende a se sentir inferior como pessoa diant e do ajuda dor.

A verdade é que não há n inguém melhor ou pior como pessoa na relação de .ajuda. O ajudadlor não é melhor. da mesma forma que o ajudado não é pior. O que existe é apenas uma diferença entre os repertórios dos dois. Isso quer dizer que o aju­dador sabe faze·r coisas que o ajudado não sabe. e são essas coisas que este quer aprender - basica­mente. hab ilidades de vida. Po:r sua vez, o ajudado também sabe fazer coisas que o ajudadar provavel­mente não sabe. Esses repertórios estão l igados à atividade profissional de cada um. A diferença está. portanto. nesses repertórios e não na qualidade co­mo pessoa.

Existem várias formas de se quebrar essa ima· gem de superioridade. Uma delas está1 na genuinida­de do ajudador. Entre outras coisas. ser genuíno implica a habilidade de expressar os próprios sen­timentos ao ajudado. Ouando e1e faz isso. coloca sua parte de pessoa em contato com a pessoa do ajudado. O relacionamento. então. não é entre dois papéis. mas ent.-e duas pessoas vivendo um encon­tro v,errdadeiro.

Já d issemos arntes que ninguém vive vazio de serntimentos. O ajudador experimenta uma série de sentimentos quando está diante do ajudado. Querendo ou não. esses sentimentos brotam e são ,expressos •. ainda que apenas corporalmente. Quan­do são muito intensos e o ajudadlor os expressa ve["­bal mente, está ape n.as afi rm,a ndo oom pa 1 avras o que já transmit iu com o corpo; está sendo também coerente com suas atitudes d iante dele .. Quando o ajudado capta nossas mensa.gens corporais e nega-

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mos a ele o que estamos vivendo. é como se o esti­véssemos convidando a nos negar também seus sen-timentos e suas vivências. .

Algumas vez.es. o ajudado pergunta ao a1_uda­dor a respeito de sua vida pessoal. Vol~ando a ha­bilidade de responder às perguntas. o a1udador po­de começar respondendo à mensagei:i subi.acente. _ "Disseram-me que você tem sete filhos. e verda-

de?" - "Isto te deixa surpresso?" Exp•orando com o ajudado C<?mo esse event~ o ~faz sentir. o ajudador pode depots responder ob1et1va-mente à pergunta : _ "É verdade. sim. Como sou casado pela segunda vez. tenho quatro f i lhos do primeiro casaf'!'len~o. uma filha do segundo e dois filhos ~o primeiro casamento de minha mulher. que considero c<?mo se fossem meus também. A soma de todos da se-

te". - d -o relato de experiências pessoais, quan_ o tem a ver com as do ajudado ou qua~do questionadas pur ele. desmistifica a pessoa do a1udador e o apro­xima do ajudado.

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É importante que o ajudador sa iba c:Jiscrimi­nar quais sentimentos devem ser c~m~n1cado~ e quando comunicá-los ao ajudado. Tao importante quanto ser coerente é ser cuidadoso con: ele._

Cuidado. aqui, se refere a duas snuaço:s : na primeira. o ajuda dor é_ cu idadoso_ quando nao ex_­pressa os próprios sentimentos se 1~0 for destn~t1-vo para 0 ajudado. Por exemplo. !""orro _de raiva de você quando me conta como esta agredindo seu. marido" não vai facilitar em nada a abertu".3 do ajudado. f. preciso verificar ~né_ que f?Onto o a1uda· dor está misturando suas proprias coisas com as?º outro ( implicitamente. "E. essa a ra iva que eu sin­to quando minha mulher me agr-ide"L Quando el~ sabe separar o que é seu d~ qu~ é do ou_tro. vai contro lar-se quanto à comunicasao de sent1~entos que possam destiruir sua relaçao com o ª!uda~o. Muito provavelmente. vai deixar de sentir raiva

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quando descobrir a fonte de seus sentimentos. Até que ele descubra essa fonte. o melhor é não expres­sá-los. especialmente quando está confuso. Na se­gunda situação. o ajudador é cuidadoso quando ex­pressa sentimentos que vão comunicar interesse pe­ilo- ajudado. Em alguns momentos. o ajudador pode dizer como se sente diante das vivências do ajuda­do. "Fico preocupado quando penso que você está vivendo uma situação 1tão pesada e que precisa su­portá-la por mais algum temp o". "Estou triste por saber que o que você mais temia aconteceu".

Ainda que o ajudador n ão possa oferecer solu­ções mágicas. é reconfortante para o ajudado sa­ber que alguém está a seu lado. sentindo junto com ele. com um grau profundo de empat ia. -

Há uma pergunta básica que o ajudador deve fazer a si mesmo antes de expressar seus sentimen­tos ao ajudado.

"Essa comunicação vai ser-lhe úti l ou não?" "Estou sendo construt1ivo ou destrut ivo?" "Estou sendo efetivo ou inefetivo?"

Só quando se responde a essas questões. é que o ajudador pode expressar-se tranquilamente.

~ imp ortante também q ue ele saiba as razões que o levam a expressar seus sentimentos ao aju­dado.

Há duas razões que não deveriam levá-lo a esse tipo de comunicação: manipulação (q,uerer causar mudanças no ajudado)' e desabafo ~inverter os pa­péis na relação e usar os ouvidos do ajudado como se este fosse ajudador).

Por outro lado, há uma boa razão pela· qual o ajudador deve expressar-se ao ajudado : quando sua expressão é um convite para que o outro também se exp ..-esse. A auto-expressão íoi até mesmo trans­formada numa técnica de abertura por um psiquia­tra amer icano. Segundo Goldbrunner. é possível ter-se acesso à parte mais profunda das pessoas em poucos ·minutos. Basta. para i!>So. que o ajudador comece abrindo-se ao ajudado. dizendo-lhe honesta e abertamente sobre seus próprios sentimentos.

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Também segundo Powell ". . . Se estou d isposto a expor minha pane mais pr-oifunda a outra pessoa, o resultado é quase sempre automático e imedia~ to: ela se sente autorizada a se revelar para mim. Ten do escutado meu segredo e meus mais pro­fundos sentimentos. ela ganha cor~em para comu­nicar os seus. E. a isso. em ú ltima análise, que cha­rmamos d e' enoontro"'.

Acima de tudo. há aq ui uma questão básica: n u ma rel~ão de aj uda, o ajudador é ante$ de mais nada um modelo para o aj udado. Isso se apl ica não só à expressão de sentimentos, mas a tudo o mais: M il palavras de u ma pes.so;1 não valem um .só de seu s atos.

Voltando à coerência. é importante sabermos que. numa re lação de ajuda - e aqui vale lembrar­mos a relação professor-a:luno - a aprendiizag,em ooorre através daquilo que o ajudado nos vê 'fa­zendo, e não daquilo que ele nos ,escuta falando.

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Respo n dend o com os p róprios sentimentos V .. ' ... -·::.::.~ ...... - .... -_ ..... ::-~..:..-

O que é: · · Identificar meus p .róprios sentimentos d~anfe do aj~dado e expressá-los a -eie: -~ ·:F ~- ~ --.< -.~

..,.'$ ,.·.- • -~ ~'l .... ~ ..

..... . "'· ........ Para que: .~ .,... __ - -- . -

-- , Se expresso m~~~piê~-i ~ca~~nYn;~rí~~s- q~.~j\i,d,ado. ~.,, :_-rorno-me mais proxim~ 1.ê.~~1peuv.!_~q;p-~~pres-

--::- sar os seus_ .U-"e "'- (;r~~~-~f­

c-. :t.~~ -~-; .. - ~ --3:~ -'".;~ t.\-~l. "

..: ,Como: - ... ~r!' .... - . -! 0 .. 1 ~ s-- .. :..~ ~~ ~ s ~~ t-_ JdentiJicar 1meús sêniínieni:,Q?. •) ::..-:··-• ::.. ~~-..... "()? ~4-. Expressã~lo~ãb~Jru'Qiãé,:a~ês·-cre;,'foffu"§t'b:'~

'! • ._ e "Eu me sinil:o_ . _ quando __ . porque_ ..

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CONVITE

"?'ois fica decretado, a partir de hoje, que terapeuta é gente tainbém. Sofre e chora, aina e sente, e , às vezes, precisa falar.

O .olhar atento, o ouvido aberto escutando a tristeza do outro quando, às vezes, a tristeza maior está dentro do seu peito.

Quanto a mim, fico triste e fico alegre e sinto raiva também. Sou de carne e sou de osso e quero que você saiba isso de mim.

E agora, que já sabe que eu sou gente, quer falar de você p .ra mim?"

C.F.M ..

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PERSONALIZANDO

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Person.al i zando

~esp. com os próprios sentan.en«;f'

L Respondendo ás pe.-guntas '? ./Respondendo ao compommenf?

L Resporu:len.clo 00«n imagens. 7 ,;" Resp. ao sentimento e conteúdo(!>

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Respondendo ao sentimen10 (f> ,/ Respon~do ao conteúdo· ,/

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(abrindo as portas da compreensão)

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Page 87: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Vamos rever as fases do processo de ajuda e localizar até onde caminhamos neste livf"O.

Orie nta A rend e -+ Responde -+ Personaliza -+ A j udador-+

.J, u i ~ .J, • ,li. ,,,,.

1 l Ajudado-+ Age Envolve -se-+ e >Cplora -": Cocnpreende ' -

Fase responsiva Fase inic iativa

Abordamos. até aqui. as chamadas habilida­des responsivas - atender e responder - a t ravés das quais o ajudador responde ao ajudado no mesmo nível em que este está se expressando. sem Qual ­quer acréscimo_ Isso é verdade para a maior parte das habilidades incluídas no atender e responder_ Não é verdade. no entanto. para a,s três últimas. que já se caracterizam por um toque de iniciaciva por parte do ajudador - respond er ao comporta­mento. responder às pergum.as e responder com os próprios sentimen tos. _ . . _ .

Antes de enrr-armos na fase m1c1at1va propria­mente dita. é bom que sejam enfatizados alguns pontos importantes relativos ao desenvolvimento do processo de ajuda ·

1 - As hab ilidades inclu ia as no atender e respon­der são as rnais importantes na relação de ajuda: são elas que vão estabelecer a base de todo o processo. 2 - Com freqüência

1 quando ,o ajudador atende e

responde rnuit o bem ao ajudado: não prf!C1sa de usar suas habilidades de personalizar e or1ent'ar.· o próprio ajudado personaliza sua experiência e c o­meça a agir sem pedir orientação ao ajudador. 3 - Isso se torna poss1'vel quando as r espostas do ajudador são tão efeti vas que levam o ajudado a n(veis profundos d e c ompreensão quan to à su ares-ponsabilidade na própria vida. _ 4 - Quando o ajudad o_ não chega a perso na/Jzar para si mesmo. o ajudador pode fazê-lo~ desde q '!'! tenha adquirido esse d ireito ,através de suas hab1/1-dades de a tender e responder.

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T R ANSFORMANDO A V Í T IMA E M AGENTE

Chegamos fina lmente ao ponto culminante do processo de ajuda. seja personalizando para o aju­dado. seja vendo-0 personalizar para si mesmo.

Esse é tambê-m o ponto culminante do proces­so de amadureci mento da pessoa. vivendo ou não uma relação de ajuda formal. Esse prooesso é arná­logo ao desenvolvimento da criança. Que amadure­ce gradativamente. Seu choro. por exemp 1lo. d imi­nui pouco a pouco com seu crescimento. à medida que aumenta seu repertório de habilidades diante da vida. Nos primeiros meses. o recém-nascido cho­ra de fome e frio. E le não sabe suprir suas próprias necessidades. como não sabe pedir. de outra forma. aquilo de que necessita. Seu choro é proporcional à falta de respostas em seu repenório de vida. À medida que cresoe. a criança aprende primeiro a pe­dir . dep o is a fazer por si mesma. Alimentar-se e agasalhar-se deixam de ser problemas quando 1ela adquire o repertório que lhe possibi lita viver sem ajuda externa; não precisa mais chorar para ganhar. ela me5'na age para obter o que precisa.

O mesmo ocorre no processo de ajuda. Há um choro e um lamento do ajudado por não saber fa­zer. para si mesmo. alguma coisa necessária a uma vida satisfatória. Ele depende do ouiro para supri r suas necessidades. como o recém-nascido. A partir d o momento em que o ajudador o leva a identifi­carr o que está faltando. ele troca o choro pela es-

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perança - esperança de quem descobre que as solu­ções estao dentro de si mesmo e. por isso. podem ser alcançadas.

Assim também. q uando eu choiro é porque não estou sabendo fazer algur:na coisa por mim -não estou personalizando minha experiência. ou se­ja. não estou conseguindo identificar o meu papel dentro do meu própr io p roblema.

Personalizar, então. é identificar e assumir minha parcela de responsabi lidade d iante da s~­tuação q ue estou vivendo. E tomar minha vida nas minhas próp rias m ãos. percebendo minha cont ri­buição para os eventos que ocor rem à minha voha.

E. acima de tudo, abandonar o papel da víti· mó que passivamente se submete a condições de vida insalisfatórias e se transforma.- no agente da p róp,-ia m udança.

Assum indo a responsabilidade por r 1in ,os emo1,.ues

Segundo Powell. ninguém ,pode causar ou ser responsável por minhas emoções. A tendência para responsabilizar o outro pelo que sinto está clara­mente expressa na linguagem do dia-a-dia: "Vore me fez ficar com raiva, você me deixou ciumento. vooê me fez sofrer, etc." A verdade é que ninguém pode faz·er nada comigo. O outro apenas estimula as emoções que estão d entro de m im, esperando para virem à tona. A diferença entre causar e esti­mular emoções é crucial para o meu processo de au toconhecimento e para o meu relacionamento com o outro. Se acredi to que o outro é que cêlusa m inhas emoções, ou o acuso por isso, considero-o culpado pelo meu sofrimento e me afasto dele, ou torn o nossa convivência insup ortável. Se, por outro lado, admito que o outr o apenas estünula emoções que já estão latent es em m im, eu as reconheço e aproveito a oportu nidade para me tornar responsá­vel por mim mesmo-e me conhecer um pouco mais. perguntando-me: "De onde vem o meu medo? Por que essa raiva tão gran de? Em que ponto vulnerável o outro me to­cou?"

Quando acredito nisso. posso 1 ida,- com mi-

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n_h as emoções de maneira saudável; não preciso f u­gir de mim mesmo, julgando e condenando os ou­tros. Posso ficar. cada vez mais. em contato comigo mesmo.

. O import_ante é saber que cada emoção me diz _alguma co1~ .ª meu respeito Preciso aprender a '2.ªº responsabilizar outJras pessoas por minhas rn­aç<;>es. acusan~o-as. ao invés de aprender alguma coisa sobre mim. As reações emocionais de vá r ias pessoa.s são diferentes por causa de algu ma coisa que está den!ro '!e cada uma delas. O máximo q ue posso fazer e estimular essas emoções. Da mesma mane_i ra, se qu~ro saber alguma coisa a meu próprio respe110, preciso escutar cuidadosamen te minhas e~?ções, s_em fazer das acusações 20 outro um re­f ug1q_ de mim mesmo.

L .. .,c ~-•: ;-,

Já mencionamos antes a importância das ha­bilidades básicas - atender e responder-. São elas que formam a base do personalizar no processo de aj1:1da, especialmente através das respostas inter­cambiáveis - aquelas que estão no mesmo nlvel em que o ajudado se expressa.

E le nos indica sua prontidão para iniciar essa fase quando se torna capaz de manter seu prôprio com~ortamento de auto-expiorac;ão. Pcdemos per­sonalizar sua experiência quando ele mesmo se dá respostas intercambiáveis, ou seja, quando faz por si o que fazíamos por ele.

No início do processo. o ajudado fala, o tem­po todo. a respeito de outras pessoas. Elas são. ge-­rallmernte, :·culpadas .. ou responsáveis por seus. pro­blemas. Ja sabemos que isso não é verdade. Essa postu ra de vitima reflete apenas a falta de autoco­nheci mento e a falta de habilidades para conduz ir a própria vida. Além do mais. dificilmente poderí­amos mudar o comportamento de uma ou mais pessoas que estão forn da relação de ajuda. Nosso trabalho se faz diretamente com o ajudado. A me­dida que caminhamos c om ele em seu crescimento podemos levá-lo a as"St.Jmir a responsabilidade pel~ própria vida.

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AS FASES DO PERSONAL;IZAR

(ou t rocando pronomes}

Ao personalizar o con_teúdo. _nossa tarefa é dar respostas aditivas que mternallzam. cad a vez mais. os temas da Cala do ajudado. E~ses 1ema~. que a princípio são externos. tornam-se internos a me­d ida que acrescentamos alguma coisa além do niv~I em que o ajudado se exp ressa. É quand_~· '!epo1s de juntarmos as várias peças de sua experie~c1a. so­m os capazes de lhe oferecer nossa percepçao dessa experiência como um to d o; e de lhe oferecer. tam ­bém. nossa p ercepção de qual é a sua parcela d e contribuição ao seu problema._ _

As perguntas básicas_ aqu1_sao : _ , .. " Qual é o efeito da snuaçao sobre o a1udado . "Como suas vivências o afetam?" _ _ . se. na rase das respostas intercamb 1ave1s .• '?

formato era do tipo "Você s~ _sen:_e. - - porque. - -. agora há uma pequena mod1f1caçao. d~ gra.':'de sig­nificado: "Vocêse se,nte. _ . porque voce. - - A mu­dança do p ronome é o primeiro s inal de que .º con­teúdo está sendo internalizado. Ouando o a1udado personali za para ele meS<no. aban?ana os prono­mes na terceira pessoa ("Eu m e sinto. - - porq~ v~. __ .. e "Eu me sinto ...• porque :!e· e la. el~. · · ) e passa a usá-lo na p r imeira pessoa : Eu me sinto. - ·

_ porque eu. ··

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É por essa modificação que passam também a~ r-=-" postas do ajudador quando é ele que pcrsona liza P<)ra o ajudado_ De "Você se sente . . _ porque ele. ela. eles. etc .. _ ... o formato passa para .. Você se sente .. _ porque você.

Per-sonalizando a falta

O passo seguinte é levar o ajudado a identifi ­car a próor-ia falta. Aqui . "falta" não tem a conota ­ção de erro. mas de dé(ici t o u ausência. Esse passo se rerere à descoberta daquilo que o ajudad o não sabe. ou não consegue fazer-. e que o leva a seu pr-o­b lema_

Aqui. n ner9unta básica é : .. Como o ajudado está contribuindo para seu

problema? .. ou

·:o Qu e lhe falta e que o leva a viver o seu pro­blema'"

É esse o momento exato em que o aiudado as­sume inteira responsabi l idade pela própria v ida. E o momento em que "o mundo dei x a de ser mau·· para ser apenas o lugar em que ele mesmo se torna responsável por sua exper iência.

O formato aqui é do t ipo : .. Você se sente. _ . porque você não sabe

consegue é (;a paz de. _ ...

:: -;..Jo o obje t . • o

A últ ima fase do personalizar envolve a meta do ajudado. que é. no geral. inversa à faha.

A peTgunta aqui é a seguinte : "O que o ajudado pode fazer par-a resolver o

seu problema?" Se lhe falra alguma coisa. é preciso ident ificar

um objetivo que. q uando alcançado. o levará apre­enoher a !acuna.

O formato inclui o sentimento. a falta e o ob­je1ivo "Você se sen te. __ porque você não sabe. __ e você gostari a de _ . _ (objetivo) ..

O objetivo é o úlrimo elemen to do processo. c u ja •denlificação vai possibi litar ao ajudado elabo­r-ar seu p rograma de ação. ou determinar a-d ireção d e sua mudança_ lt a m eita que lhe diz "onde ele

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quer ohegar". O como vai ser abordado no próxi­mo capítulo.

Vamos ilustrar essa fase com o exemplo de um ajudado. Marta (fala inicial) :

"BefTI que me avisaram sobre a Ilusão da Uni­versidade. A gente entra pensando que é um.a coi­sa. quando chega lá vê que é outra. O sistema em q ue vivemos é teuível. e a Universidade é seu r-e­flexo. Não tem nem um professor que preste. São todos incompetentes. não sabem dar a matéria e depois exigem o que não deram. Desse jei to. acho que vou acabar saindo do curso sem saber nada".

Resposta intercambiável de sencimenlo e con­teúdo: ''Você fica revoltada. Marta. porque a U n iversida­de não é aquilo que você esperava".

Resposta personaliizada de conteúdo : "Você est á se sentindo frustrada porque você não está tendo o aproveitamento que gostaria com o curso".

Resposta personalizada de falta : "Vo~ fica insatisfeita. Marta. porque você n ao es­t á sabendo oomo aprender as coisas que precisa em condições de ensino tão desfavoráveis".

Resposta persor\al i zada de objetivo: "Vooê está preocupada. Marta, porque não está sai­bendo como aprende< em circunstâncias tão des­farvoráveis e você gost:aria de saber elaborar um pro­grama de estudo real para você mesma ...

Naturalmente. esses exemplos são esqu:emáti1-cos e simplificados em relação à v i da real. apenas para ilustrar os níveis de personalização e os vários tipos de resPostas.

Numa interação real. as respostas personalizai­das nem sempr,e ooor..-em próximas uma das outras. Na maior parte das ve.zes. o aíuoodor vol ta às in­tercambiáveis entre as respostas personalizadas que for-mu la. Isso per-mite ao ajudado assimilar gradual ­mente a sua responsabilidade diante da situação em que vive. Apesar de saudável e indispensável a uma vida satisfatória. a personalização é um processo

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doloroso que deve ser conduzido com extremo cui ­dado pe,lo ajudado..-. Não há dúvida de que é mais confonáve.I. apesar de inefeti•Ja, a posição de tornar os outros responsáveis PBIO próprio sofrinnernto. Deixar de acusá-l os e assumir a responsabil idade pe­la própria vida é um processo gradual e lento. por causa da dor que provoca. A verdade a respeito de nós mesmos é certamente a que mais nos fere : por isso. deve ser-· "tomada em pequenas doses".

Tudo isso deve ser levado em conta pelo aju­dador. especialmente nos momentos em que o aju­dado nega suas respostas persona 1 izadas. Sua recu­sa em aceitá·lae> é o sina 1I de que efle não está pronto a inda para ver sua próp1ria verdade; é o silf'la l de que o ajudador se enganou. ~ensando que já era hora de· ajudá-lo a ver sua parcela. Isso em nada p rejudica o prooes5o. desd e que· o ajudador volte a níveis inter­cambiáveis de resposta. Isso significa apenas que es­se p rocesso precisa caminhar num ritmo mais len­to. que é o r i tmo do ajudado. Mais tarde. o ajuda­do..- faz novas tentativas. até que o ajudado esteja pronto para personal i zar sua experiência.

Um último ponto que gostaríamos de mencio­nar é como os sentimentos do ajudado se modif i ­cam à m edida Que se desenrola o pr-ocesso de per­sonalização. Marta. por exemplo. sente-se revolta­da a pr-incípio. depois frustr-ada e por fim insatis­feita consigo mesma. No início. os sentimentos são dirigidos para fora. em espec ial para as pessoas que convivem com o ajudado. Este cosruma experimen· tar ra iva. revolta. mágoa. ressentimento. desde que responsabiliza as outras pessoas por sua vida, e e1las raramente atendem a suas expectativas. Mais tar­de. ele se volta par-a dentro de si mesmo e se sente preocupado. ameaçado. insatisfeito. E um m o v i­mento de fora para dentro - caracteriza a meta­morfose da vítima. que se transforma em agente e muda a d ireção da própr ia v ida.

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Personalizando

O que é :

~ostrar a~ aju~ag~ ,~ua par~la de .r~~Gop~f?ik°tfide , . . diante Ça_ Sl~u açaq· !3~1!.I que vive, ... ,__ _ ~

- oe-- ·,.;,.- pW - - • • • ,~-- - ....., _...., -b "-' ..

.;.· 2 !:."'~ ~ ,~ .. =r~ -,z_ ;t" • r ~~";\""\ f; •• ~,7:.-r.~ ~~Ha que~- . ~i ;:~ .• u:::-~ .1 t \ •_.:,_ :-e~· _..,._ 01'.l Se Pe<sonalizo·.para...o ajudado. faciHto sEJa c6inpre<.1 ensão do· papel que desempenha oo~~róprio pooble­~a. de modo a pQder resot\lê-lo. ._.- , • , , q,r.q

__ .. ~ ~l . ..... ~~'- "": • \ _'T\.,..,:. .... ~ ~..,i.-.nG .~'3t-1.1 .· c.•1

-. • .-.."Y-":.··v.S· ~'r),I .-i-~m~,,..\'7.'- :>(", ,t">~\~"t r,~ ,~~tl ).,. \' .... ,..... ~.,... '- ...__. • ,,, . . ...... ..:>. i< ...... -;\ ., .. --C:Omo : '"r..>... . · · -- .....- ' ...-::~..> .. ~·:.:J ""'., .,._1._...~, -\

1 .' bançãríúma ~ irtter~mbiável. " - :--' ... ,,~ \ r'" l""'!':5 ~~ :; .. e. .. - - .. -."\.. •MO\ ... : .. • r-.. ' 2 .., lntêinãftzàr .o 'o eudo: 'Vóc:ê se senre. -: ':;.por-

~ .. "\ -- , ... -~~fria #.1. •b ,\, ~--~ .:.·\'-...."'..)~Q~\"'t ~ -=-~--~..J --gue~o~-- . --~ , . - .. ".:'l -

3_-rõéntiffüar- ã'-mim: "'Vó~·~ 5eO't1L :·_por~'êt'~- ,--~ ce não Sabe ... ~~ • , ~:. ~ '"' ~Ç' -l'. e:· -,.. ~

" ~- Identificar a meta: "Você se sente. . porque vo­-:: cê não sabe ... e você gostaria de.

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"Sou eu que Faço você sofrer? Ou é você que soFre por minha causa? Ou, aüyda, é você que sofre por sua própáa causa?

Chegar a essa pergunta (leva anos e anos) é essencial na refação de amor. A respos.t:a demandará muito tempo, sofrimento e , em cada caso, será dife­rente. Mas, se enconr-rada, melhorará qualquer rela­ção. Ou constatará o seu término.

Proponho, como exerckio, urna atitude de troca. Onde se lê sofrer, leia-se feliçar (eu feliço, tu feliças, ele feliça, nós feliçamos, vós feliçais, eles re/içam} . .Por .que re/icidacle não cem verbo?

A pergunta, então, ficaria: Sou eu que faço você .feliz, ou é você que feo/iça por minha causa?

Curiosa e masoquista a vida. O verbo sofrer é complicado. Feliçar é simples. Por que a gente pre­fere conjugar o sofrer?"

Anur da Távola

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(abrindo as portas da realização)

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OR1E'NT ANDO

-

,/ Respondendo com imagens 7 /Resp. ao sentâment o e conteúdo;>

I Respondendo ao sern.imento (f:f> I Respondendo ao conteúdo (f?

L Escuundo ? / o~ando 7 •

/ Atendendo fisicamente 7 1

l::.L====A=·oo=•in.e=ndO::::::::. ==~;/ 7 ( Preparando 0 .ambiente físico

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Qr <:? 1!3r nao"lidade opc1ora Assim como todo processo d e ajuda efetive;>

tem como resu l tado uma ou várias mudanças por parte do ajudado. nem sempre essas mudanças ocorrem med iante a orientação do ajudad or. Isso quer dizer que. tendo explorado sua si tuação insa­tisfatória e compreend ido as várías peças dessa si­tuação. o ajudado. m uitas vezes. elabora soz inho seu p rograma de ação. Seu processo de exploração e compreensão só foi possível porque as habilida­des de atender e responder do ajudador f oram efe­t ivas no decorrer da relação de ajuda. As dimensões de aceitação. empatia. respeito e genuinidade en­contradas na re lação propiciaram um ambiente ri ­co em calor humano e o levaram a descobertas iné­dita.s a seu próprio respeito. A partir d o processo de autoconhecimento facilitado pelo ajudador. ele foi capaz. a lgumas vezes. de personalizar sua piró­pria experiência. Agora. também na fase de ação. sua mudan ça p ode brotar espontaneamente de den­tro dele. sem que. para isso. seja necessária a orien­tação do ajudador. Cada passo de seu programa de ação flui naturalmente numa seqüência har_'!lonio­sa. como resl.11tado das etapas b ásicas do processo de ajuda . o atender e o responder. por parte do ajudador . com a conseqüente exploração e com­preensão por parte d o ajudado.

Em outros momentos e em algumas áreas espe­cíficas de ajuda a hab ilidade d e orientar é indispensá· vel para que a ação seja desencadeada. Isso é especial­men1e verdade nas situações em que o ajudado não tem o domínio da á rea em que a ajuda está ocorren­do ; o aluno e o paciente são ajudados que i l ~tram bem essa sjtu ação. O professor pode ser a melhor pes­soa para ajudar o aluno a e laborar um programa dees· tudo;ou a levan t ar todas as al ternativas de lugares em que el e pode fazer estágios l igados à_ sua área acadêmi­ca. Por o utro lado.só o médico pode apresentar as vá­r ias so luções para a c u ra do paciente. Ou só o dentis­ta pode sugeri r o melhor material a ser usado na res­tauração ora 1 de seu cliente. Mesmo ne::.ses casos. a de­cisão última é do ajudado :o ajudador o orienta. e ele escolhe seguir o u não ::.ua or ie ntação.

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''Não siga por onde o caminho o levar. Ande, melhor, onde não há caminho e deixe, por onde passar, uma trilha. "

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ORI ENTANDO F ORMALME NTE

O ajudado,. sempre. . . o papel do ajudador ao orientar e apenas fa­

cilitar a decisão do ajudado ou elaborar, t:_º1'!7 ele. um ou vários planos de ação. nunca dec1d1r por efe·.

Mesmo quando o ajudado não tem conheci­mentos técnicos de uma deter'!li~da área. e o a judador lhe aponta a melhor d1reçao {sub~et~r­se a uma cirurgia. por exemplo}: cabe _ao primeiro decidir se vai ou -não seguir a onentaçao do segun ­do.

Cada pessoa é a maior auroridade em sua p ró -pria vida. . . .

o ajudado tem o dir·eito de dec~d~r o _que _e melhor para ele. mesmo que sua d~1sao nao se1a­a melhor de acordo com a visão do aJudad_or. Este pode. quando muito. e~p.-essar ~us sen_t1mentos diante da direção que o a1udado vai t?mar. ~ .

"Fico preocupad1a quand o ve10 vooe adiar muito essa cirurgia". . . _

"Sinto-me pesaroso por você ter dec1d1do nao participar do grupo". .

~ muito importante tambem que o a.iuda_d?r expresse sentimentos positivos diante da decrsao t omada pelo ajudado: . .

"Fico alegre por você ter resolvido f rear com esse emprego". _ . ·d1

"Sinto-me aliviado por voce ter dec1d1 'ºex-190

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pressa.- tudo isso a ele". Em algumas situ~ções. o ajud ado.- pode tam­

bém avaliar. com o ajudado. quais serão as conse­qüências por seguir uma ou outra direção :

"'Se você resolver que é melhor não fazer o repouso. sua giravidez corre o risco de seF inter­i-ompida''.

"Se você fizer estágio nessa empresa? aum enta a chance d e ser contratado depois de formado".

De resto, com ou sem conseqüências. é o aju· dado que dá a d i reção à sua vida.

Algumas vezes. no momento em <1ue o ajuda­do decide agir numa determinada direção, há al­gumas informações p or parte do ajudado.- que lhe faciJitam a ação.

Orientar, então. seria fornecer ao ajudado os dados necessários à obtenção do objetivo que ele mesmo escolheu.

Esse objetivo jã foi identificado quando o ajudado personalizou sua experiência. percebendo sua falta e determinando a meta a ser a lcançada.

Às vezes. o ajudado percebe o objetivo.como estando muito distante dele. ou com o sendo mui­to gra11de para ser alcançado de uma só vez. Se o ajudador orientá~lo de modo a decompor esse ob­jetivo em pequenos passos. vai aumentar sua ohan­ce de sucesso. As vezes. basta que o ajudador o le­ve a encontrar o p r •imeiro passo. Tendo exerutado esse primeiro passo. todos os outros brotam em seguida.

Algumas informações também facilitam esse processo de ação: quem. onde. como. quando. quanto. etc. De p osse d elas. o ajudado se sente mais pronto para começar a agir.

~ importante que o ajudador, nessa fase. não se esqueça das outras h abilid ades .. Lembrando que o modelo d~ ajuda é cumulat1ivo e que cada habili ­dade é pré-requisito para a seguinte, o ajudador deverá continuar atendendo. observando e escutan­do as possíveis reações do ajudado. respondendo intercambiavelmente e personalizando novamente. se necessã ri o.

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Por fim, quando o ajudado executa s~a a~o e volta co1m os r-esultados. todo o prnci:s_c:;o 'P. rrec•cla­do: a análise desses resultados consiste em n~va exploração e comp reensão. origin_a_ndo novas ª?Oes med iante a reciclagem das hab1l1dades de aauda {atender, resp onder, etc.). . . _ _

Outro ponto a ser !lemb rado~ a 1mpoi-tanc!a de 0 ajudador comparti lhar com o a1udado a ai~~'ª diante do sucesso de sua ação: ou, caso contrario. de aceitar o seu firacasso e tentar determinar. junto com ele, onde e por que ~racassou . _o ~undamental é estar sempre junto do ajudado. nao 1mp_ortam as circunstâncias.

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O SIGNI F ICADO DA MUDANÇA

NinguP.m procura ajuda se não estiver preten­dendo algum tipo de m u dança em sua vida. N enhu m processo de a juda ter-á sido ef etivo se sairmos como entramos : do mesmo tamanho, sem que· tenha havi­do crescimento -seja tisico, emocional. intelectual.

O fim último da relação de ajuda é a mudan­ça do ajudado.

Já vimos como a exploração o leva a saber onde está; como a com preensão o leva a escolher aonde quer chegaF. Q uando ele tem. diante de si, esses dois pontos,_é hora de traçar o caminho que vai levá-lo de u m ao outro .. E hora de agir_

Agir, aqu i, significa : - encontrar uma direção na vida; - mudar para melhor; - crescer. Ouando a mudança não ocor ne, alguma ooisa

falhou nas fases ant eriores d o processo: pod e não ter havido compreensão ·suficiente. ou exploração suficiente. N inguém pode decidir como chegar a algum lugar se não sabe onde fica esse lugar , ou se nem sabe qual é o ponto de partida. N esse caso. a solução é vol ta r ao ponto em q u e o processo fa­lhou : é co"1o dar a ré num carro q u e vai pegar "em­balada" para subir o m orro. Voltar atrás significa, às vezes. ganhar mais força para agir depois com mais segu rança.

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Uma das habil idades de vida mais caracterís­ticas da pessoa em crescimento é sua capacidade de

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diferenciar aquilo que está sob seu controle d aqui­lo que não está.

N ós. seres humanos tal íve is. temos a preten­são, às vez es. de cont1rolar o mundo e as pessoas que nos rodeiam. E tão insuportável a idéia de nos­sa p rópria imp o tência. que preferimos " dar murro em ponta de faca" ao invés de aceitarmos nossas l i m itações - e acabamos po:r descobrir que nada mudou; e que. além disso. nossas mãos sangram e doem d e tanto esmurrar. i n uti lmente. as facas da v ida.

E fun damental , antes de iniciarmos q ualquer mudança, que possamos determinar Qual é o nível dessa mudança - interno ou externo.

Quando a situação externa é passível de mu­dança. com eço a agir d ire tamente sobre ela. dando­lhe a d ireção que melho r m e atende. Ao final de um processo de ajuda. posso descobrir que não trabalho no melhor lugar; que não faço o cur so que realmente q ueria; que não vivo com a melhor pes­soa; ou que não me permito d esfrutar de tudo a que ten ho d irei to. Quando trabalhei o bastante nos meus sentim entos e nos significados d e minhas vivências, posso decidir largar atividades. coisas e p essoas. trocá-las por outras ou adquirir novas. N o m omento em que fizer isso. vou estar l iVTe pa­ra viver uma vida mais plena, mais sat isfatória.

Por outro lado. h á situações ex ternas imutá­veis. Delas fazem parte, por exemplo. os sentimen­tos. pensamentos. palavras, decisões. e atos d e ou­tras pessoas. sobre as quais não temos controle. Não p osso nem consigo imp or minha vontade so­bre o o u tro como se fosse seu dono. As pessoas são livres e não vieram ao mundo para atender mi­nhas exp ectat ivas. Se o fazem. não é porque me atendem. mas p orque a t endem a elas próp1·ias e. coincidentemente, queremos as mesmas coisas. Fe l izmente. o que é bom para m im. às vezes, é bom também para o outro.

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" Eu faço minhas coisas, você faz as suas N ão estou neste mundo para viver de acordo co·n i

suas expectativas E você não está neste mundo para viver de acordo

com as minhas Você é você, e eu sou eu E se por acaso nos encontrarmos, é lindo Se não, nada há .a faze.r ."

F 1ritz Perls

Além de p essoas. há situ ações também irrever­síveis e eventos irrevogáveis: a mort e d e a lguém, a perda de um braço num acidente, uma cirurgia mutiladora. uma doença incurável. Então. nada n os resta senão aceitar. conviver com e admitir, humil­demente. nossa impotência. Posso tentar tornar-me m enos vulnerável aos eventos externos. Quando, num processo de ajuda, admito m inha impossibili ­dade de mudar o mundo e decid o aceitar a realida­de que me cerca. posso recicla r esse processo, íni ­iando uma nova etapa de crescim ento na qual a ação se passa dentro. e não fora de mim.

Fato

Não é justo! Não é bom, Não I! certo, Não I! l impo! Não I! coere.nte, Não é maduro, Não é sincero, .~desumano! Não I! decente, Não I! v iável, Não tem razão, Não há quem entenda, N'ão há q uem aceire, Nao há quem aprove, N íngvdrn gosta! J

Não engulo!

M as I! fato. E co.nrra os faros não há argumentos.

Cláudia M yriam Botelho

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Page 99: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Um último ponto a resp eito de mudança e ação : quando vivemos uma situação incômoda. nos­sa tendência é agir o mais rápido possível para "nos vermos l•vres" da situação. Ouando isso ocorre. acabamos tomando decisões apressadas e impeituo­sas. sem a necessária base de exploração e compre­ensão. As conseqüências dessas ações não tardam : são resultados desastrosos q ue poderíamos ter evi­tado se soubéssemos lidar melhor com os momen­tos de crise. E: quando não Fazer nada t'ambém é Fa­zer alguma coisa . Não agir. em d ireção alguma, tam bém é uma decisão. " N ão faze r nada" externa­mente significa fazer mui t as coisas internamente. de modo a nos compreendermos melhor e poder­mos. mais tarde. agir na melhor direção.

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O que é : Fornecer a o aju dad o os :dados necessádos à ob'teo­-ção de sua m eta.

Com o.: _ -;& • Deoo1W9r '9 1obje'tiv~ ern.JDas&I>s. 2. ld en:fificar .o :pr1meijn ipasso. 3. 1 n'formar. 0 q we. QEllem~ unde. Quantci~tc:. . '

4. Reciclar.:..

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Page 100: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

Oração da Serenidade

"Deus me dê a serenidade de aceitar as coisas que não posso mudar~

a coragem de mudar as coh;as que posso mudar e a sabedoria para reconhecer a diferença."

Oração dos Alcoólatras Anônimos

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Page 101: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

EXISTE F I M PARA O PROCESSO DE AJUDA?

Sim e não.

S im, para a relação dê ajuda formal. em que ajudador e ajudado se encontrarram regularmente durante um certo tempo com a finalidade de cami­nharem juntos no processo de autoconhecimento do ajudado.

Nessa relação, o momento de parar chega quando o ajudado se transforrma em ajudador - é quando ele é capaz de fazer. consigo e com os ou­tros, o que o ajudador fez por e le todo esse tempo. Ele já sabe acolher-se. atender-se, observar-se, escu­tar-se e assim por diante. Ele é capaz de identi f icar seus próprios sentimentos e as r.azões pelas quais os experimenta. Ele já sabe qual é sua parcela de responsabilidade em cada situação e age para mu­dar. sempre. para melhor.

N ão. para a ·relação de ajuda que a pessoa es­tabelece informalmente consigo m esma e com os outros. a parti r do modelo oferecido pelo ajudador. Num processo efet ivo. as habilidades de ajuda i m ­pregnam de tal forma o ajudado. que se tornam o seu próprio estilo de vida. Ele não as esquecerá ja­mais e passará o resto de sua vida sendo seu pró­prio ajudador e o ajudador daqueles que o rodeiam.

Ele será a pessoa essencialmente humana que

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Powell define como aquela capaz de manter o equi-1 íbrio entre sua "interior idade" e a sua ··exteriori ­dade" : interioridade na medida em que vive em ní­veis P'ofundos de auto-aceitação; exterioridade. na medida em que sintoniza com o outro em alto grau de empatia.

Ele será a pessoa plena - que sabe. ao mesmo tempo. escutar os caminhos do coração e decidir, a cada momento, se deve ou não segui-los. Ele será a pessoa madura que se permite sentir tudo que é seu e. ao mesmo tempo, discriminar quais senti­mentos devem ser transformados em ação e quais devP.m ser apenas guardados do lado esquerdo do pei to.

Acima de tudo. ele será a pessoa inteira, ca­paz de ireformular. a cada dia, sua própria d ireção_ Sua bússola são seus sentimentos. e seus caminhos são os do coração. Afinal, há uma coisa que ele po­de fazer, e ternamente. sem limitações: cresceir, sem­pre crescer .

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Page 102: Miranda e Miranda_Construindo a Relação de AjudaTexto

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" O nromento de se_ 1n1c1ar uma vida autênti­ca e de abandonar a traição e a alienação está sem­pre presente.. Não importa º ' quão arraigada está uma pessoa .n.o mundo da outra, o· quanto ela ra­cionaliza, an·alisa e intelectuaHza; .não importa o quanto está submersa nos padrões, valores e obje­tivos do sistema, ela ainda pode, no momento se­guinte, decidir alterar todo 'º curso de sua vida. Ela ainda pode tornar-se aquilo que realrnenre é , criando sentidos e valores e desenv.olrvendo poten­ciaHdades .coerentes com seu próprio eu. Ninguém pode lhe roubar isso. E., a ninguém· em particular, pode-se predizer o que o indiv,fduo fará. lndepe.n­dente de seu passado, em qualquer .situação, a pes­soa pode escolher ativar as verdadeiras direções do seu eu. E verdade, para todo indivíduo, que ele pode,. a qualquer .momento,, escolher tornar-se ele mesmo, que é a única maneira de se viver uma vida autentica."

C la.-k Moustakas

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Segundo lançamento da

Por Oue Tenho Medo de

lhe Dizer Quem Sou

Autor: John Powell

1? Edição 1985

2~ Ed ição 1986