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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL8º OFÍCIO DA PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO TOCANTINS
NÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 4ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO
JUDICIÁRIA DO ESTADO DO TOCANTINS
Referência: IPL nº 227/2016 (autos nº 0005097-55.2016.4.01.4300) (Operação Ápia)
1. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da
República que esta subscrevem, no uso de suas atribuições, vem, na forma do artigo 129,
inciso I da Constituição Federal (CF) e do artigo 6º, inciso V, da Lei Complementar n. 75, de
20 de maio de 1993, oferecer D E N Ú N C I A contra
1) JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, conhecido pela alcunha
política de Eduardo Siqueira Campos, brasileiro, nascido em 4.3.1959,
natural de Campinas/SP, filho de Aureny Siqueira Campos e José Wilson
Siqueira Campos,
2) JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, brasileiro, nascido em
1º.8.1928, natural de Crato, CE, filho
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3) SANDOVAL LOBO CARDOSO, brasileiro, nascido em 19.3.1977,
natural de Goiânia, GO,
4) ALVICTO OZORES NOGUEIRA, vulgo “KAKÁ”, brasileiro, nascido
em 11.4.1974, natural de Goiânia, GO,
5) MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, brasileiro, nascido em
21.3.1965, natural de Belo Horizonte, MG,
6) JOSÉ MARIA BATISTA DE ARAÚJO, vulgo “JOTA”, brasileiro,
nascido em 10.7.1968, natural de Carmo do Paranaíba, MG,
pela prática dos crimes a seguir narrados:
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SumárioI. Síntese das imputações............................................................................................................4II. Considerações sobre o funcionamento da organização criminosa.........................................6III. Peculato-desvio no Contrato 039/2012 (art. 312, Código Penal).......................................11IV. Peculato-desvio no Contrato nº 008/2014...........................................................................17VI. Corrupção ativa e passiva (arts. 333, p. único, e 317, § 1º, Código Penal) e Lavagem de dinheiro (art. 1º, caput, §1º, I, §2º, I, Lei n. 9.613/98)..............................................................26
VI.i. Esquema de subornos na AGETRANS........................................................................26VI.ii. Pagamentos ilícitos para ALVICTO OZORES NOGUEIRA e SANDOVAL LOBO CARDOSO...........................................................................................................................34VI.iii. Vantagens indevidas para EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS.................................37
VII. Desvio de finalidade na aplicação de financiamento (art. 20, Lei nº 7.492/86)................39VIII. Capitulação penal.............................................................................................................45IX. Pedidos................................................................................................................................47X. Rol de testemunhas/colaboradores.......................................................................................48XI. Rol de documentos..............................................................................................................49
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I. Síntese das imputações
2. Nos anos de 2011 a 2014, em Palmas e em diversos outros municípios do
Tocantins, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS e SANDOVAL LOBO CARDOSO, no
exercício do mandato de governador do Estado do Tocantins, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA
CAMPOS, na condição de Secretário de Relações Institucionais e de Planejamento e
Modernização da Gestão Pública deste Estado, e ALVICTO OZORES NOGUEIRA,
enquanto Secretário Estadual de Infraestrutura e presidente da Agência de Máquinas e
Transportes do Estado do Tocantins-AGETRANS, em concurso com outros servidores
públicos, agindo de modo livre, consciente e voluntário, em unidade de desígnios e integrando
organização criminosa, desviaram em proveito próprio e em favor de MARCUS VINICIUS
LIMA RIBEIRO verbas públicas dos Contratos nº 39/2012 e 08/2014, estabelecidos entre a
Agência de Máquinas e Transportes do Estado do Tocantins – AGETRANS, vinculada à
Secretaria Estadual de Infraestrutura – Seinfra, e a empresa MVL Construções Ltda., atuando
por si, em consórcio ou por subsidiária, de propriedade de MARCUS VINICIUS LIMA
RIBEIRO.
3. Nos anos de 2011 e 2013, em Palmas-TO, MARCUS VINICIUS LIMA
RIBEIRO ofereceu e prometeu vantagens indevidas, consciente, livre e voluntariamente, a
JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS,
SANDOVAL LOBO CARDOSO, e ALVICTO OZORES NOGUEIRA para, em razão dos
cargos que ocupavam, determinarem que empresa MVL Construções Ltda. fosse vencedora,
por meio de ajustes, combinações e outros expedientes fraudulentos, nas Concorrências nº
01/2011 e 03/2013 da Seinfra, para que providenciassem que a execução dos Contratos nº
39/2012 e 08/2014, delas decorrentes, respectivamente, fosse fraudada de modo a permitir
pagamentos indevidos à empresa MVL, oriundos de aditivos contratuais ilegais e medições
fraudulentas, ou ainda para que fossem realizados os pagamentos decorrentes dos referidos
contratos à citada empresa, com infringência de dever funcional.
4. Nos anos de 2011 a 2014, em Palmas-TO, JOSÉ WILSON SIQUEIRA
CAMPOS, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVAL LOBO CARDOSO,
ALVICTO OZORES NOGUEIRA solicitaram e receberam, para si e para outrem, direta e
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indiretamente, e aceitaram promessas de vantagens indevidas, de forma livre, consciente e
voluntária, de MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, para, em razão dos cargos que
ocupavam, determinarem que empresa MVL Construções Ltda. fosse vencedora, por meio de
ajustes, combinações e outros expedientes fraudulentos, nas Concorrências nº 01/2011 e
03/2013, da Seinfra, para que providenciassem que a execução dos Contratos nº 39/2012 e
08/2014, delas decorrentes, respectivamente, fosse fraudada de modo a permitir pagamentos
indevidos à empresa MVL, oriundos de aditivos contratuais ilegais e medições fraudulentas, e
ainda para que fossem realizados os pagamentos decorrentes dos referidos contratos à referida
empresa, com infringência de dever funcional.
5. Nos anos de 2011 a 2014, em Palmas-TO, JOSÉ WILSON SIQUEIRA
CAMPOS, SANDOVAL LOBO CARDOSO, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS,
e ALVICTO OZORES NOGUEIRA, em concurso com outros servidores públicos, agindo
de modo livre, consciente e voluntário, em unidade de desígnios, aplicaram em finalidade
diversa das previstas nos contratos recursos oriundos das operações de financiamento
(Operação 21/00003-4 e Operação nº 21/00004-2), firmados entre o Estado do Tocantins e o
Banco do Brasil, com garantia da União, destinando-os ao enriquecimento ilícito de
MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, propiciando pagamentos indevidos a agentes
públicos.
6. Nos anos de 2011 a 2014, em Palmas-TO, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA
CAMPOS, SANDOVAL LOBO CARDOSO, ALVICTO OZORES NOGUEIRA, JOSÉ
MARIA BATISTA DE ARAÚJO, o “Jota”, e MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO de
maneira livre e consciente, ocultaram e dissimularam a origem, localização, disposição,
movimentação e propriedade dos valores provenientes, direta e indiretamente, dos crimes de
peculato, corrupção ativa e passiva e crime contra o sistema financeiro nacional, acima
sumarizados, mediante repasses de valores da MVL Construções Ltda. para a empresa Alvicto
Ozores Nogueira & Cia Ltda (KK Máquinas), de propriedade de ALVICTO OZORES
NOGUEIRA, e para JOSÉ MARIA BATISTA DE ARAÚJO, para posterior repasse e
distribuição entre os agentes políticos ora denunciados.
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II. Considerações sobre o funcionamento da organização criminosa
7. A Polícia Federal e Ministério Público Federal, em concurso com órgãos
federais e estaduais de controle, apuraram1 a constituição e funcionamento de uma poderosa e
altamente lesiva organização criminosa operante no Estado de Tocantins. Composta de
agentes políticos, empresários do ramo da construção civil e servidores públicos da Agência
de Máquinas e Transportes do Estado do Tocantins – AGETRANS, vinculada à Secretaria
Estadual de Infraestrutura – Seinfra, sediadas em Palmas-TO, a organização teve como escopo
auferir vantagens econômicas ilícitas em razão do desvio de recursos públicos oriundos de
financiamentos contraídos com bancos nacionais e entidade internacional, garantidos pela
União.
8. O modus operandi do grupo fundava-se em 6 (seis) frentes principais: a)
busca por verbas oriundas de financiamentos, perante instituições financeiras federais ou
internacionais, com garantia da União; b) fraudes licitatórias visando a assegurar a vitória de
empresários e empresas mancomunados com o propósito de locupletamento ilícito e ao
domínio do mercado relevante; c) desvio dos recursos financiados, mediante sobrepreço em
aditivos contratuais e superfaturamento oriundo de medições fraudulentas de bens e serviços,
gerando benefícios indevidos a empresas e empresários; d) pagamento de vantagens
financeiras indevidas a agentes políticos e administrativos do Estado de Tocantins, em razão
dos benefícios auferidos; e) ocultação e dissimulação da origem ilícita dos recursos, fazendo
uso de interpostas pessoas, físicas ou jurídicas, da emissão de notas fiscais frias, sem a
correspondente prestação de serviços, ou ainda utilizando-se de outros meios fraudulentos,
como a constituição fictícia de sociedades empresariais.
9. A disposição interna da organização criminosa compunha-se de 3 (três)
núcleos distintos, porém interligados, cada qual com tarefas e atribuições específicas, a saber:
a – núcleo político – formado por gestores e parlamentar estaduais, entre os
quais: JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS e SANDOVAL LOBO CARDOSO, ex-
governadores do Estado do Tocantins (anos de 2011 e 2014); JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA
1 Inicialmente o inquérito foi registrado como IPL n. 0227/2016-4 – SR/PF/TO, da Superintendência daPolícia Federal em Tocantins, e depois tombado no Tribunal Regional Federal da 1ª Região sob n. 0065422-92.2016.4.01.000, e que após baixa ao juízo criminal de primeiro grau recebeu o n. 0002376-62.2018.4.01.4300.
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CAMPOS, atualmente Deputado Estadual no Estado do Tocantins e ex-Secretário de Relações
Institucionais e de Planejamento e Modernização da Gestão Pública do governo de seu pai; e
ALVICTO OZORES NOGUEIRA, Secretário Estadual de Infraestrutura e presidente da
AGETRANS (março de 2013 a dezembro de 2014);
b – núcleo empresarial – composto por empresários do ramo da construção
civil, proprietários e prepostos das empresas que participaram das licitações e foram
contratadas: Francisco Antelius Sérvulo Vaz (proprietário e administrador da Epeng –
Empresa Projetos de Engenharia Ltda.), Rossine Aires Guimarães (proprietário e
administrador da Construtora Rio Tocantins Ltda. – CRT), Marcus Vinícius Lima Ribeiro
(proprietário da MVL – Construções Ltda.), Wilmar Oliveira de Bastos (proprietário e
administrador da Eletro Hidro Ltda.– EHL), Humberto Siqueira Nogueira (proprietário e
administrador da CSN Engenharia Ltda.), José Maria Batista de Araújo, o “Jota”, e Geraldo
Magela Batista de Araújo (estes dois proprietários da Construtora Barra Grande Ltda.); e
c – núcleo administrativo – constituído por servidores públicos da
AGETRANS, responsáveis pela realização das licitações e fiscalização dos contratos no
âmbito de terraplanagem e pavimentação asfáltica e recuperação de vias públicas estaduais e
vias urbanas, além de diretores do órgão: Murilo Coury Cardoso (Secretário Executivo da
AGETRANS e substituto de ALVICTO NOGUEIRA), Círio Caetano da Silva (Presidente da
Comissão de Licitações da AGETRANS), Estemir de Sousa Pereira (Superintendente de
Construção e Conservação Rodoviária da AGETRANS durante a gestão de ALVICTO
NOGUEIRA), RENAN BEZERRA DE MELO PEREIRA (Superintendente de Operação e
Conservação Rodoviária da AGETRANS durante a gestão de ALVICTO NOGUEIRA), e
Bruno Marques Rocha (Coordenador de Acompanhamento de Obras e Serviços da
AGETRANS em 2014 e fiscal de contratos).
10. Os membros do Núcleo Político, pela condição própria de integrantes da
alta cúpula político-administrativa do Estado do Tocantins, eram encarregados da gestão
superior do esquema delituoso, inclusive a nomeação dos agentes administrativos que
concorriam para os ilícitos, e detinham pleno conhecimento e domínio dos fatos criminosos.
Decidiam a fonte dos recursos a serem vilipendiados, o modo como seriam desviados, os
beneficiários dos contratos administrativos e o destino final dos recursos apropriados
ilicitamente. Atuava como operador do esquema ALVICTO OZORES NOGUEIRA, pela sua
privilegiada condição de Secretário de Infraestrutura, determinando abertura das licitações,
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assinando contratos lesivos e aditivos fraudulentos, efetuando pagamentos e recebendo e
repassando propinas, mediante meios fraudulentos para encobrir sua origem
11. Os membros do Núcleo Empresarial participavam das licitações de modo a
assegurar a vitória entres eles, excluindo a concorrência. Beneficiavam-se de contratações por
preço acima do mercado, recebiam os valores decorrentes de aditivos contratuais fraudados e
as quantias desviadas de suas finalidades financeiras, notadamente as decorrentes de
superfaturamento por inexecução contratual, e ainda remuneravam ilicitamente o ramo
público do esquema: servidores e políticos do Estado.
12. A atuação do Núcleo Administrativo era marcada pelo desvio de finalidade
no exercício da função pública, exercendo-a de modo a favorecer o ânimo de locupletamento
indevido de todo o grupo: na comissão de licitação, cuidava das fraudes nos procedimentos
licitatórios, de modo a afastar a concorrência e a propiciar o domínio do específico mercado
relevante de bens e serviços; na gestão dos contratos, possibilitava a execução dos ajustes
públicos de modo ilegal e fraudulento, com aditivos e medições indevidos, gerando
pagamentos ilegais e lesivos aos cofres públicos. Além disso, recebiam pagamento de
vantagens indevidas pelo serviço prestado.
13. A teia criminosa atuou pelo período de 4 (quatro) anos no Estado, entre
janeiro de 2010 e dezembro de 2014, durante a gestão dos ex-governadores JOSÉ WILSON
SIQUEIRA CAMPOS e SANDOVAL LOBO CARDOSO. O mandato do primeiro durou de
1º.1.2011 a 5.4.2014, e o do segundo, de 5.4.2014 a 31.12.2014. Parte do grupo já atuava
antes mesmo da constituição deste grupo criminoso específico, notadamente nas licitações
ocorridas e contratos executados antes desse período, outra parte integrou o grupo em
momento posterior ao início das atividades criminosas, e outro grupo continuou atuando
mesmo depois da saída dos líderes.
14. O ponto central do agir do grupo de criminosos era o desvio dos recursos
adquiridos pelo Estado do Tocantins junto ao Banco do Brasil (BB), mediante 3 (três)
operações de crédito, cujo valor atingiu o total de R$ 1.203.367.668,70, em favor dos núcleos
de criminosos, visando à manutenção da indústria delitiva constituída.
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15. As operações foram contratadas entre 2012 e 20142, segundo esclarecido a
seguir:
Númerooperação/fonte dos
recursos
Data docontrato
Governador responsável pelaassinatura do contrato
Valor daoperação (R$)
21/00003-4 (BNDES/BB)
PROINVESTE
20.12.2012 José Wilson Siqueira Campos 553.367.668,7
21/00004-2(PROESTADO I-
Captação Externa)
27.6.2013 José Wilson Siqueira Campos 390.000.000,00
21/00005-0(PROESTADO II –
Recursos Próprios BB)
3.7.2014 Sandoval Lobo Cardoso 260.000.000,00
Total 1.203.367.668,7
16. As operações 21/00004-2 e 21/00005-0 foram autorizadas por meio da Lei
Estadual n. 2.701, de 7 de março de 2013, alterada pela Lei Estadual n. 2.763, de 05 de
setembro de 2013, que instituiu o Programa de Modernização do Estado e de sua
Infraestrutura Econômica e Social – PROESTADO. Já a Lei Estadual n. 2.615, de 26 de julho
de 2012, autorizou a operação n. 21/0003-4, com utilização dos recursos do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico – BNDES, por meio do seu Programa de Apoio ao
Investimento dos Estados e do Distrito Federal – PROINVESTE. T odos os contratos de
financiamento mencionados contêm cláusula expressa de garantia da União3.
17. Do total de R$ 1,203 bilhão das 3 (três) operações de financiamento
contratadas, pelo menos R$ 971,423 milhões foram destinados para obras de pavimentação
asfáltica e outras obras a ela relacionadas, foco das apurações da Polícia Federal e Ministério
Público Federal4. Houve significativo aumento de pagamentos nos contratos fiscalizados nos
meses de agosto a outubro de 20145.
2 Disponíveis em anexo, DOC 1, sob os nomes: Contrato Financeiro n. 21.00003-4 - Contrato FinanciamentoProinveste TO; Contrato Financeiro n. 21.00004-2 - CONTRATO 21.0004-2 OP. EXTERNA; e ContratoFinanceiro n. 21.00005-0 - Contrato Financiamento Recursos Próprios.
3 Ver Cláusula Primeira dos arquivos “DOC 1 - Contrato Financeiro n. 21.00003-4 - Contrato GarantiaProinveste TO”, “DOC 1 - Contrato Financeiro n. 21.00004-2 - Contrato de Garantia nº 891.PGFN.CAF”,“DOC 1 - Contrato Financeiro n. 21.00005-0 - Garantia 968.PGFN.CAF, de 04.07.2014”.
4 Ver “DOC 5 - Laudo de perícia n° 525-2016”.5 Ver “DOC 5 - Laudo de perícia n° 525-2016”.
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18. Para a destinação dos recursos obtidos por meio dos financiamentos
mencionados, o Estado do Tocantins, por meio da Secretaria Estadual de Infraestrutura,
realizou licitações para contratação de empresas, visando à pavimentação asfáltica.
Entretanto, as licitações não transcorriam de forma regular, de forma que a competição
inexistia.
19. As condutas de JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVAL
LOBO CARDOSO e ALVICTO OZORES NOGUEIRA, nesta fase licitatória, foram
delineadas em denúncias apartadas, na qual demonstrou-se que eles se reuniam previamente
com as empresas concorrentes para, mediante ajuste e combinação, definir qual delas seria a
empresa vencedora de cada certame6. A vitória – e todas as benesses contratuais – era
oferecida como contrapartida a promessas de pagamento de propina.
20. O envolvimento dos empresários nesses ajustes, combinações e expedientes
utilizados para frustrar o caráter competitivo dos certames licitatórios também foi alvo de
denúncia, na qual foram imputados a Francisco Antelius Sérvulo Vaz, Rossine Aires
Guimarães, Jairo Arantes, Marcus Vinicius Lima Ribeiro, Wilmar Oliveira de Bastos,
Humberto Siqueira Nogueira, José Maria Batista de Araújo e Geraldo Magela Batista de
Aráujo os crimes tipificados no art. 90 da Lei nº 8.666/93 e art. 4º, incisos I e II, alínea “a”, da
Lei nº 8.137/90.
21. A partir disso, estão sendo ajuizadas denúncias referentes aos crimes de
corrupção ativa, corrupção passiva, peculato e desvio de finalidade, praticados em cada
contrato celebrado pela Seinfra e, posteriormente, pela AGETRANS, durante o período
investigado no inquérito em epígrafe (2011 a 2014), as quais, para fins de organização e
celeridade, foram sistematizadas por empresas. Repartiu-se também, em denúncias
específicas, os fatos praticados pelos agentes do núcleo administrativo em relação a cada
empresa envolvida no esquema.
22. Quanto à presente exordial criminal, está adstrita aos delitos de peculato,
corrupção ativa, corrupção passiva e desvio de finalidade, e às condutas de JOSÉ
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ
MARIA BATISTA DE ARAÚJO, SANDOVAL LOBO CARDOSO, ALVICTO
6 Vide “DOC 3 - Reinquirição de Murilo Coury Cardoso 28.10.2016”, “DOC 3 - Declaração de Jairo” e “DOC2 - Relatório 01.2017-26.01.2017_PL 15”.
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OZORES NOGUEIRA e MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, praticadas no âmbito da
formulação e execução dos Contratos nº 039/2012 e 008/2014, estabelecidos entre a
Secretaria Estadual de Infraestrutura – Seinfra e a empresa MVL Construções Ltda.,
pertencente a MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO.
III. Peculato-desvio no Contrato 039/2012 (art. 312, Código Penal)
23. JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS e JOSÉ WILSON SIQUEIRA
CAMPOS, em concurso com servidores da Seinfra, desviaram em favor de MARCUS
VINICIUS LIMA RIBEIRO, valores correspondentes a percentual de aditivo do Contrato nº
039/2012, de 03 de julho de 2012, que teve como objetivo executar serviços de
terraplenagem, pavimentação asfáltica e obras de artes especiais na Rodovia TO-210, no
trecho Nazaré/Entrocamento TO-134 (Angico), com 25,27 km de extensão.
24. A contratação adveio da Concorrência nº 01/20117, eivada de fraudes e
expedientes que frustraram seu caráter competitivo, conforme expuseram os peritos da Polícia
Federal8 e, ainda, narraram os colaboradores Murilo Coury Cardoso, Estemir de Souza
Pereira, Rossine Aires Guimarães e Jairo Arantes, bem como a testemunha Tiago Modesto
Costa.
25. Conforme delineado em denúncia já ajuizada, os agentes políticos reuniam-
se com as empresas concorrentes para definir qual delas seria a vencedora de cada certame,
mediante o pagamento de propina.
26. O orçamento de referência do edital licitatório apontava R$ 23.109.867,41,
contra a proposta vencedora, na ordem de R$ 19.930.023,89, da MVL Construções Ltda.
27. A proposta original da MVL previa o custo de execução da obra por R$
20.333.785,32. Contudo, a empresa CSN, que apresentou proposta no valor de R$
19.625.847,15, e, consequentemente, seria a vencedora da concorrência, solicitou a sua
desclassificação do certame, que foi acatada, embora sem motivo plausível.
7 Processo n° 2013.3896.000559.8 Vide Laudo pericial n. 544-16.
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28. Em virtude disso, a MVL, segunda colocada no certame, foi consultada
sobre a possibilidade de executar a obra pela mesma proposta da primeira colocada, quando
anuiu contratar pelo menor valor, desde que acrescido das atualizações monetárias,
totalizando R$ 19.930.023,89. Assim, foi celebrado o Contrato nº 039/2012, em 03 de julho
de 2012, tendo como signatários Alexandre Ubaldo Monteiro Barbosa, presidente da Seinfra
na época dos fatos, e MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, representante da MVL
Construções Ltda..
29. Cerca de quatro meses da efetivação do negócio jurídico, a Seinfra e a MVL
firmaram o Primeiro Termo de Aditamento ao Contrato nº 039/2012, datado de 28/11/2012. O
aditivo contratual representou um acréscimo correspondente a 24,74% (R$ 4.930.025,78) no
total original contratado, índice bastante próximo do máximo permitido em lei, que é limitado
a 25%.
30. Assim, apesar da suposta economia obtida na licitação, o aditamento
demonstrou o valor real da contratação (R$ 24.860.049,67), acarretando, na prática, o prejuízo
de 7,5% em relação ao valor de referência, equivalente a R$ 1.750.182,26.
31. Tais ajustes não passaram de artifícios dolosamente orquestrados por JOSÉ
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS e JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, em conluio com
os servidores da Seinfra, Alexandre Ubaldo M. Barbosa, Lourival Novaes Medrado Santos e
Estemir de Souza Pereira, para beneficiarem indevidamente MARCUS VINICIUS LIMA
RIBEIRO da MVL.
32. Assim, o iter do crime de peculato iniciou-se na fase de execução contratual,
mediante pleito firmado por MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, o qual almejava a
readequação do contrato, via aditivo, alegando serem os projetos tecnicamente deficientes.
33. Consoante o Laudo Pericial nº 544/2016-SETEC/SR/PF/TO”9, para a
celebração do primeiro termo aditivo, foi feita a solicitação pela empresa, em 01/10/2012, sob
o argumento de que houve alteração no projeto e, consequentemente, alguns itens deveriam
ter seus quantitativos majorados.
9 “DOC 5 – Laudo 544-16 Engenharia”.
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34. Em resposta ao pleito da empresa, o fiscal Lourival Novaes Medrado Santos
apresentou, em 24/10/2012, justificativa técnica defendendo a existência de falhas na planilha
contratual e de divergências entre o projeto e os serviços executados na obra, em virtude da
necessidade de alteração do caminho da rodovia, manifestando-se favorável ao deferimento
da adequação solicitada pela contratada.
35. Entretanto, conforme análise pericial, a justificativa não estava embasada o
suficiente para permitir a alteração proposta no caminho da rodovia, com inclusão de serviços
cujas finalidades não foram tecnicamente elucidadas, havendo elementos suficientes para
questionar a veracidade da necessidade da execução dos quantitativos propostos.
Pormenorizando, convém transcrever os seguintes trechos do laudo:
A adequação proposta para o projeto original previu a mudança do traçado da rodovia,de modo a interceptar alguns povoados da região. Essa alteração gerou, segundoinformações aprovadas pelo fiscal da obra, aumento de incidência de solo mole. Oprojeto adequado de drenagem, por sua vez, previu a construção de colchão drenantecom areia em todos os locais onde seria removido solo mole.
Apenas a inserção deste novo serviço na planilha orçamentária gerou aumento no valorda obra de R$ 1.361.474,68, o que representa pouco menos de 30% do total aditivado.Esse montante corresponde à previsão de execução de 13.860,07m³ do serviço.
Esse volume equivale a mais de 550 caçambas de 25m³, tipo de transporte comercialmostrado, para efeito de ilustração, na Figura 03. Caso esse volume fosse integralmentecarregado nesse tipo de caminhão e todos eles fossem dispostos um atrás do outro, aextensão da fila seria de aproximadamente 10 quilômetros. A extensão total da rodovia,após o aditivo é de 25,27 quilômetros.
Cumpre destacar que, além da previsão de execução de colchão drenante com areia,havia ainda na planilha original do contrato, e este item não sofreu alteração, aexpectativa de execução de 6.700m³ de colchão drenante com brita, o que equivale aoutros 268 caminhões do mesmo tipo. Para a carga correspondente aos dois serviços, afila de veículos superaria 14 quilômetros e os custos com colchões drenantes na obraatinge o montante de R$ 2.125.408,68.
Cumpre destacar que o projeto apresentado por ocasião do pedido de aditivo contratualnão detalha e nem justifica a solução técnica adotada, que consiste em lançar o colchãodrenante com areia em todos os locais onde seria removido solo mole. No projeto, nãohá detalhamento relacionado à utilização de colchão drenante com brita.
O projeto é silente em relação à espessura que seria adotada para cada trecho deexecução de colchão drenante com areia, em razão, logicamente, do volume de águaque se pretendia drenar em cada caso.
Ademais, não foi apresentada justificativa técnica que embasasse a opção por colchãodrenante com areia em desfavor de outra solução de drenagem possível, eventualmenteaté mais econômica em comparação com a adotada pela fiscalização.
Por fim, não foram especificados os trechos em que se identificou a incidência de solomole e onde, consequentemente, se pretendia implantar o colchão drenante. Ademais,nenhum ensaio de laboratório foi apresentado na justificativa pela adoção dessasolução.
Nota-se, portanto, que a justificativa técnica apresentada para fundamentar o aditivo, aomenos para os serviços ora detalhados, não era suficiente para permitir sua aprovação.
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Além disso, a MVL não apresentou composição de preços unitários que embasasse aadoção do preço pactuado, tendo em vista que se trata de um serviço novo, ou seja,inicialmente não previsto na planilha orçamentária da obra.
36. A irregularidade do aditivo pode ser evidenciada ainda pelo recebimento
indevido de valores por Lourival Novaes Medrado Santos, supostamente para custear estadia
e transporte no local da fiscalização, pagos pela MVL10.
37. Estemir de Souza Pereira, Superintendente de Construção e Fiscalização
Rodoviária, chefe imediato de Lourival Novaes, supervisionou as atividades e aprovou a
suposta necessidade de aditivo, mesmo sem sua existência. A atuação dolosa do
Superintendente em desviar os recursos públicos resta ainda mais evidente quando analisada
no contexto de corrupção em que estava inserida. Em denúncia específica, demonstrou-se que
Estemir de Souza Pereira recebeu valores para aprovar medições fraudulentas e possibilitar os
desvios.
38. Com base na orientação técnica do fiscal da obra e concordância do
superintendente da área, a Seinfra aprovou o pleito da empresa que resultou, em 28/11/2012,
na celebração do 1º Termo Aditivo ao Contrato nº 039/2012, o qual passou a ter o valor de R$
24.860.049,57 (vinte e quatro milhões, oitocentos e sessenta mil e quarenta e nove reais e
cinquenta e sete centavos).
39. Todavia, a proposta da MVL já havia sido apresentada tendo como base
visita técnica ao local da obra, sendo esta, inclusive, um dos requisitos de habilitação
constante no item 14.4.1, alínea “h”, do edital licitatório, que exigia “declaração de ter
visitado o local de execução da obra e se inteirado de todas as condições necessárias e
suficientes para orientar a elaboração completa de sua proposta de preços (...)”, o que foi
cumprido pela Contratada.
40. Dessa forma, não haveria que se falar em readequação apenas 4 meses após
a contratação, uma vez que a proposta havia sido monetariamente atualizada dois meses antes
da assinatura do contrato. Ainda mais quando fundamentada de forma displicente e sem a
preocupação de demonstrar a real necessidade dos acréscimos.
10 DOC 2 – Relatório 27.2017-21.05.2017. p. 08.
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41. De acordo com a Controladoria-Geral do Estado do Tocantins11, “Aditivos
de valor, decorrentes de alterações de serviços quantitativa e/ou qualitativa, com justificativa
embasada na falha/deficiência de projeto, a exemplo da inexistência/deficiência de
levantamentos preliminares e/ou cadastramento, não devem ocorrer. A lei de licitações exige
um Projeto Básico que caracterize o objeto com a devida precisão, assim, alterações não
podem ser justificadas como atos necessários para corrigir grandes falhas de projeto”.
42. O referido aditivo contratual possui ares de ficção. Resta evidente que a
MVL tinha ciência de que o valor contratado não seria o valor total para execução do objeto e
utilizou-se da readequação, solicitada 2 meses após a celebração da avença, para assegurar
maior lucro e ainda suportar os posteriores desvios de recursos públicos aos agentes políticos.
43. Da parte do Núcleo Empresarial, Jairo Arantes esclareceu como ocorriam as
fraudes nos aditivos contratuais, ressaltando que o aditamento visava não apenas o aumento
do lucro das empresas, mas também o pagamento de propinas, conforme se vê:
(…) QUE os aditivos eram necessários para que os preços das obras se tornassemexequíveis, já que as obras eram licitadas com projetos básicos e valores globais muitobaixos; (…) QUE quando as empresas do grupo que atendia às exigências do governadorapresentavam proposta de preços, já tomavam como certo que haveria aditivo ao contrato;(…) QUE, quando da análise econômica de uma obra a ser licitada, o aditivo de 25% (vintee cinco por cento) já era dado como certo, tendo em vista que a planilha original eracomposta em cima de um projeto básico falho, com poucos critérios técnicos, apresentandoum preço/km muito abaixo do mercado, principalmente considerando o custo médiogerencial do DNIT; QUE, por esse motivo, eram firmados aditivos contratuais paraelevar o preço da obra, a fim de torná-la exequível, bem como para dar lucro àempresa e possibilitar o repasse de valores aos agentes políticos...”12
44. Acréscimos espúrios aos contratos se revelaram conduta reiterada e parte
essencial do modus operandi da organização criminosa comandada por EDUARDO
SIQUEIRA CAMPOS e SANDOVAL LOBO, com o braço operacional de ALVICTO
NOGUEIRA.
45. Em que pese ALVICTO NOGUEIRA não tenha sido responsável pela
celebração deste contrato, participou de grande parte dos esquemas empreendidos em sua
execução, após nomeado como Secretário de Infraestrutura e presidente da AGETRANS, uma
vez que o Contrato nº 39/2012 vigorou até fevereiro de 2014.
11 Vide p. 35 do “DOC 4 – Relatório CGE – Volume I”12 DOC 3 – Termo de declaração de JAIRO.
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46. Murilo Coury, secretário interino e substituto de ALVICTO na AGETRANS,
esclareceu como era organizado o pagamento de propina na época da execução do Contrato nº
039/2012, afirmando ter-se institucionalizado o pagamento de 10% do valor contratado, o
qual era repassado diretamente a EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, até meados de 2014,
quando o esquema mudou de forma:
“Quando nós entramos lá, já existia essa cobrança de 10%, quem me disse isso foi o Kaká;QUE: e ela (valor da cobrança) era encaminhada ao EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS,isso quando não era passado direto das empreiteiras para ele e quem operava era o ELONMARCELO... (…) quando a gente chegou lá, já existia esse pedágio, era um processo que era normal praeles, isso lá. Quando a gente chegou, isso já rodava normal, os 10%; QUE: quem recebia os10% era o EDUARDO, quando os empreiteiros não entregava diretamente pra ele, quemlevava era o ELON e nunca chegou a acontecer de alguém não pagar, sempre pagaram eque foi o próprio KAKA quem falou isso para o declarante...”13
47. O depoimento de Jairo Arantes confirma o modo de funcionamento do
esquema criminoso, de forma que “o pagamento de propina era previsto no valor global da
obra, o qual previa lucro aos empreiteiros de 15% a 20% para possibilitar o repasse de 5% a
10% aos agentes políticos...” 14.
48. Estemir de Sousa Pereira, Superintendente de Construção e Conservação
Rodoviária da AGETRANS, admitiu sua atuação fraudulenta nas medições dos serviços
contratados e revelou como funcionava esse momento da atuação delituosa:
(…) indagado, na presença de seus advogados, sobre sua participação na fraude perpetradana Superintendência responsável pelas obras de implantação e construção de rodovias, naqual era Superintendente, o Declarante confessou sua participação no esquema defraudes para a liberação de pagamento de valores não compatíveis com o totalexecutado das obras, em razão de atestar (assinava) medições não compatíveis com osserviços executados; QUE para fazer tais testes, recebia valores em espécie (em reais);QUE recebia em torno de 10 mil, 15 mil ou 20 mil reais, a depender da obrafiscalizada...”15
49. Pedro Olímpio Pereira Furtado Neto, subordinado a Estemir e fiscal de
contratos, afirmou que o valor não era definido em virtude dos serviços, mas de acordo com a
ordem dos superiores, sendo apenas alguns dos serviços adicionados realmente realizados16.
13 “DOC 3 – Reinquirição de Murilo Coury 28.10.2016”.14 “DOC 3 - Declaração de Jairo”.15 “DOC 3 - Reinquirição Estemir de Sousa 16.10.2016”.16 “DOC 3 – Termo de Declaração – Pedro Olímpio Pereira 15.10.16: (…) QUE o ESTEMIR e o BRUNO
MARQUES repassavam os valores que deveriam constar nas medições; QUE a definição dos valoresvinham dos escalões superiores, não sabendo declinar quem seriam essas pessoas; QUE acima do ESTEMIRestavam o "KAKA", o MURILO e SANDOVAL; QUE por determinação do ESTEMIR, elaborou o aditivoda obra executada pela EPENG; QUE o ESTEMIR falou que o aditivo era para ser executado por ordem
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50. Verificou-se, portanto, que JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ
WILSON SIQUEIRA CAMPOS e ALVICTO OZORES NOGUEIRA, valendo-se de
Alexandre Ubaldo Monteiro Barbosa, Lourival Novaes Medrado Santos e Estemir de Sousa
Pereira, desviaram, em proveito próprio e de MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, R$
4.930.025,78, recursos equivalentes a 24,74% do inicialmente ajustado no Contrato nº
039/2012, firmado entre a Secretaria de Infraestrutura do Estado do Tocantins – Seinfra e a
empresa MVL Construções Ltda, restando incursos no tipo penal disposto no art. 312 do
Código Penal.
IV. Peculato-desvio no Contrato nº 008/2014
51. O Contrato nº 008/2014 adveio da Concorrência nº 03/2013, que teve como
objetivo a contratação de empresa especializada para execução de serviços de terraplenagem,
pavimentação asfáltica e obras de arte especiais na Rodovia TO-123, trecho
Maurilândia/Itaguatins, numa extensão de 21,12 km.
52. O certame, homologado por ALVICTO OZORES NOGUEIRA, mediante
suborno, em conluio com EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ WILSON SIQUEIRA
CAMPOS e SANDOVAL LOBO CARDOSO, foi maculado por fraudes e expedientes que
frustraram seu caráter competitivo, conforme exposto em relatório da Controladoria-Geral do
Estado do Tocantins e Setor Técnico-Científico da Polícia Federal, contexto já denunciado
pelo Ministério Público Federal17.
53. As irregularidades deram causa a contratação manifestamente desvantajosa
para a Administração. O orçamento de referência do edital da Concorrência nº 03/2013
apontava R$ 18.017.897,21, mas o contrato foi firmado pelo preço de R$ 19.368.764,06. Isso
representa um acréscimo de aproximadamente 7,5% da quantia inicialmente estimada e um
custo superior de R$ 1.350.866,85.
superior e que o valor deveria girar em torno de 25%; QUE diante da ordem elaborou o aditivo, ajustando osserviços ao valor definido; QUE no aditivo, apenas alguns serviços seriam realmente realizados, pois houvealteração no traçado do projeto, que acabou aumentando o trajeto em aproximadamente 2 km (doisquilômetros);”
17 Ações nº 8347.2018.4.01.4300 e 400-83.2019.4.01.4300.
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54. O Contrato nº 08/2014 foi celebrado em 05 de fevereiro de 2014, tendo
como signatários ALVICTO OZORES NOGUEIRA, representando a AGETRANS, e
MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, representante da MVL. Em julho daquele ano, foi
firmado o Primeiro Termo Aditivo ao referido contrato, o qual resultou no acréscimo de R$
4.778.537,02, correspondente a 24,67%, bem próximo ao limite permitido pela lei.
55. Ao longo da execução dos ajustes a seguir explanados, os acusados
buscaram assegurar o enriquecimento indevido da MVL e de seu proprietário MARCUS
VINICIUS LIMA RIBEIRO.
56. A ação criminosa somente foi possível com a participação dos servidores da
AGETRANS, Rubens Lima de Souza, Estemir de Souza Pereira e Bruno Marques Rocha, os
quais, sob a direção e os desígnios delitivos de ALVICTO OZORES NOGUEIRA, JOSÉ
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS e JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, atestaram a
necessidade de aditamento contratual indevidamente da forma a seguir explanada.
57. A MVL solicitou a readequação da planilha contratual, em abril de 2014,
com pedido idêntico ao apresentado durante a execução do Contrato nº 039/2012, inexistindo
fato novo, ou seja, não conhecido na fase licitatória, capaz de fundamentar a modificação no
projeto.
58. Entretanto, o fiscal Rubens Lima de Souza, ao elaborar a justificativa
técnica para o termo aditivo, defendeu a readequação afirmando que se fazia necessária
“devido ao novo prazo para entrega da obra, no qual a construtora apresentou um novo
cronograma de execução dos serviços, reduzindo o prazo estimado em contrato em dez
meses; as Jazidas de Cascalho foram alteradas, pois o volume das Jazidas de projeto têm
volume inferior ao necessário para garantir a boa qualidade do pavimento; existência de
solo mole nas localidades de alguns bueiros e margem da ponte do Ribeirão Santo Antônio; a
necessidade de executar o enrocamento com pedra argamassada na saia do aterro da ponte;
a necessidade de execução de reforço do sub leito (…) principalmente a constatação de
vários segmentos com presença de material de 2ª categoria.
59. Bruno Marques Rocha, como Coordenador de Acompanhamento de Obras e
Serviços, além de coordenar os atos do fiscal da obra, elaborou as justificativas técnicas por
ele assinadas, conforme se verifica no Relatório nº 71/2018.
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60. Por sua vez, Estemir de Souza Pereira, como Superintendente de Construção
e Fiscalização Rodoviária, aceitou as justificativas técnicas falhas e opinou favoravelmente à
readequação da planilha contratual18.
61. A inadequação do aditivo veio à tona com o trabalho da Polícia Federal, que
especificou os desvios no Laudo nº 103/201719:
“O detalhamento contido na justificativa apresentada pela fiscalização prevê, dentre outros,a inclusão dos itens ‘escavação e remoção de solo mole’, com previsão de execução de38.160,80 metros cúbicos; ‘escavação, carga e transporte de material de 2ª categoria’, comexecução de 85.648,63 metros cúbicos; e ‘estabilização granulométrica sem mistura(reforço subleito)’, com execução de 18.832,00 metros cúbicos. O fiscal relata, ainda, que há necessidade de realizar reforço no subleito, devido à baixacapacidade de suporte do material existente em alguns trechos do caminhamento darodovia, o que acarreta alteração de quantitativos de outros serviços, previstosoriginalmente no contrato. Verificou-se, no entanto, que a justificativa apresentada pela fiscalização se limitou, excetoao apresentar algumas fotografias de escavação em material de segunda categoria, ainformar de forma genérica a necessidade de ajuste nos quantitativos. Nesta direção, não foram apresentadas memórias de cálculo detalhadas que sustentassem osquantitativos propostos e nem tampouco foram destacados quais os trechos onde seidentificou a ocorrência de solos moles, subleito com baixas resistências ou ocorrências dematerial de segunda categoria. Ademais, não foram juntados os resultados de ensaios laboratoriais que sustentam asconclusões apontadas pela fiscalização em relação à capacidade de suporte dos solos queteriam sido examinados do subleito. O detalhamento, sobretudo por meio de memórias de cálculo, é fundamental parademonstrar que os quantitativos propostos para o aditivo contratual encontramamparo fático, afastando qualquer dúvida quanto à real necessidade de suamajoração. Não é o que ocorreu, por exemplo, no caso da inclusão do serviço de escavação em solomole, com previsão de execução de 38.160,80 metros cúbicos. Esse volume equivale a maisde 1.520 caçambas de 25m³, tipo de transporte mostrado, para efeito de ilustração, naFigura 03. Caso esse volume fosse integralmente carregado nesse tipo de caminhão e todos elesfossem dispostos um atrás do outro, a extensão da fila seria de aproximadamente 27quilômetros. A extensão total da rodovia é de 21,12 quilômetros. Com essa ilustração, pode-se afirmar, portanto, que segundo a fiscalização o solo mole quese deveria retirar da obra, caso fosse disposto em caminhões semelhantes ao mostrado naFigura 03, resultaria em uma fila de veículos completamente carregados com extensãosuperior ao comprimento da própria rodovia. Com relação ao serviço de escavação em material de segunda categoria, o aditivo aprovadopela fiscalização, desacompanhado de qualquer detalhamento que demonstrasse o cálculodo volume desse tipo de material encontrado na obra, prevê a execução de 85.648,63metros cúbicos. Caso esse volume de material fosse disposto em caminhões semelhantes ao mostrado naFigura 03, a fila de veículos que se obteria, cerca de 3.425, seria de mais de 60 quilômetros.A extensão total da rodovia é de 21,12 quilômetros. A carência de elementos técnicos necessários à devida aprovação da solicitação daempresa permite ao perito afirmar que a justificativa técnica apresentada parafundamentar o aditivo, ao menos para os serviços ora detalhados, não era suficientepara permitir sua aprovação.”
18 DOC 7 – Execução cont. 08-2014 – Despacho aditamento Estemir. 19 Vide “DOC 5 – Laudo de perícia 103-17”.
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62. Ademais, o corpo técnico da Polícia Federal verificou que algumas
fotografias contidas na justificativa técnica referente ao Contrato nº 008/2014 foram também
utilizadas na instrução de aditivo ao Contrato nº 006/2014, celebrado entre a AGETRANS e a
CRT, como se verifica nas imagens a seguir20:
Figura 05 – Fotografias iguais e utilizadas em duas justificativas técnicasdistintas, referentes a obras diferentes, com a finalidade de justificar, emambas, a necessidade de majorar serviços relacionados à escavação em materialde segunda categoria. Acima, fotografias apresentadas na Justificativa Técnicaque instrui o processo de aditivo do Contrato nº 006/2014. Abaixo, as mesmasimagens apresentadas na Justificativa Técnica referente ao aditivo do Contratonº 008/2014. Portanto, o elemento técnico apresentado pelo fiscal para sustentar a necessidadede majorar a quantidade de escavação, carga e transporte de material de 2ª
20 DOC 5 – Laudo 104-17.
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categoria pode não retratar a obra em tela, mas sim o objeto do Contrato nº008/2014 ou até mesmo nenhuma das duas obras.
Além disso, nota-se nítida semelhança na forma, estrutura e conteúdo entre asduas justificativas citadas, bem como com diversas outras que foram elaboradasna mesma época. Essa constatação permite ao perito afirmar que as justificativastécnicas assinadas por fiscais distintos podem ter efetivamente um só autor.
63. Resta evidente a fraude no aditivo ora indicado, comprovada pela utilização
das mesmas fotos como fundamento para a aditivação em obras e contratos distintos.
64. A despreocupação na fundamentação técnica de tais aditivos foi esclarecida
por Jairo Arantes, que afirmou:
“(…) QUE como o aditivo era tido como algo corriqueiro pelos fiscais, secretário egoverno, em algum momento da obra seria elaborada uma readequação do projeto básicolicitado, com reflexos financeiros, normalmente próximos ao limite legal de 25% (vinte ecinco por cento); QUE não havia uma preocupação na elaboração de uma justificativatécnica fundamentada para embasar a necessidade desse aditivo, sendo costumeiras asvariações em quantitativos de terraplanagem e colchões drenantes, por serem itens de maiordificuldade de comprovação in loco...”.21
65. Não bastasse, apenas um mês após o primeiro aditamento, foi solicitada
nova readequação contratual, fundamentada na averiguação de incoerências no projeto básico
com as reais necessidades da obra, desta vez sem reflexo financeiro, revelando a atecnia da
primeira alteração no projeto básico e nas planilhas contratuais. Apesar da ausência de
impacto financeiro, o segundo aditivo também ensejou o pagamento de propinas a servidores
da AGETRANS, conforme recibos juntados ao Relatório nº 71/201822.
66. Dessa forma, torna-se claro, na execução do Contrato nº 08/2014, a
existência de ardil acuradamente desenhado para a aprovação dos aditamentos e de medições,
conforme exposto em relatório de análise de material apreendido.
67. Em que pese haja a divisão de tarefas entre os servidores do órgão, nesses
instrumentos pôde-se verificar a atuação de Bruno Marques Rocha em todas as fases de
execução e complementação dos serviços do mencionado aditivo, de acordo com informações
obtidas nos documentos encontrados em computador pessoal do referido servidor.
21 DOC 3 – Declarações ANEXOS – JAIRO – ANEXO III.22 Vide p. 35/37 do “DOC 2 - Relatório nº 71.2018-18.01.2018_PL01_Dig”.
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68. Segundo relatório policial, Bruno Marques elaborou os ofícios de aceite de
reprogramações de planilhas, assinado pelo representante da MVL, bem como relatórios de
readequações e justificativas técnicas para o 1º e 2º termos aditivos, os quais foram assinados
pelo fiscal Rubens Lima23.
69. A intervenção de Bruno Marques ultrapassa a esfera pessoal de atuação, de
modo que foi constatada ainda a atuação de Fabio Vinicius de Souza Santos, sócio de Bruno
nas empresas Intervia e Viatec Engenharia Ltda. na época dos fatos, na elaboração da
justificativa técnica acerca do primeiro termo aditivo, o qual foi assinado por Rubens Lima de
Souza24.
70. A participação majoritária de um mesmo servidor na instrução do
aditamento demonstra que a readequação não passou de um ajuste empreendido entre as
partes, visando ao enriquecimento ilícito de MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO e,
posteriormente, de ALVICTO OZORES NOGUEIRA, SANDOVAL LOBO CARDOSO,
JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS e JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS.
71. Ressalta-se que o fiscal Bruno Marques recebeu indevidamente valores da
MVL para aprovar medições e as readequações contratuais, conforme delineado em denúncia
referente ao núcleo administrativo. Além disso, sua empresa Viatec Engenharia Ltda. - ME
também recebeu R$ 10.000,0025 e a empresa Intervia Engenharia Ltda., R$ 100.000,0026, além
dos valores recebidos pessoalmente27, oriundos dos desvios contratuais, conforme se verifica
em relatórios policiais.
72. Efetivamente, o aditamento contratual assumiu ares de ficção. Confiante na
impunidade, sob os auspícios de ALVICTO e EDUARDO CAMPOS, os fiscais elaboraram e
assinaram justificativas de forma displicente e sem a preocupação de demonstrar a real
necessidade do vultuoso acréscimo (R$ 4.778.537,02), até porque não existia, uma vez que
requerido após meros 2 meses da contratação.
73. Evidencia-se o intuito principal de aumentar os lucros das empresas
contratadas pela AGETRANS, no contexto da aplicação dos recursos dos financiamentos,
23 Vide p. 06/07, 10/13 do “DOC 2 - Relatório nº 71.2018-18.01.2018_PL01_Dig”.24 Vide p. 08/09 do “DOC 2 - Relatório nº 71.2018-18.01.2018_PL01_Dig”.25 Vide p. 25 do “DOC 2 – Relatório de Análise Bancária nº 92/2019”.26 Vide p. 08 do “DOC2 – Relatório 21.2017-21.03.2017_PL”.27 Vide p. 05/06 “DOC2 – Relatório 21.2017-21.03.2017_PL”.
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inclusive na instrução dos referidos aditamentos. Embora a redução temporal na execução,
conforme realizado no primeiro aditivo, possa soar benéfica à coletividade, foi constatada a
real motivação da celeridade por meio dos depoimentos dos colaboradores Rossine Aires
Guimarães:
“(…) QUE nos meses seguintes, a partir de julho de 2014, conforme ROSSINE AIRES
GUIMARÃES recebia os valores das obras que executava, ALVICTO OZORES
NOGUEIRA (KAKA) lhe pedia, em diversas oportunidades, novas quantias; ...”28
74. Verificou-se que, durante o ano de 2014, último ano de mandato dos agentes
políticos denunciados, as obras supostamente alcançaram um ritmo de execução mais
acelerado, visando ao pagamento quase integral dos contratos para posterior repasse de
propinas aos agentes políticos, que visaram o enriquecimento pessoal dos agentes envolvidos.
75. Conforme verificado em perícia ao Contrato nº 08/2014, o pagamento das
medições não correspondiam ao cronograma físico-financeiro:
(…) ao analisar o total medido até a 4ª medição, emitida em junho de 2014, pode-se
constatar que 60,07% do valor contratual foi atestado em serviços executados, ao
tempo em que o cronograma físico-financeiro da obra previu a execução de apenas
14,93% do objeto para os primeiros 120 dias de trabalhos.29
76. Em relatório produzido pela Controladoria-Geral do Estado do Tocantins,
verificou-se ainda maior desproporção no pagamento dos serviços executados no bojo do
Contrato nº 08/2014, que foi quase integralmente pago antes de outubro de 2014 (final de
mandato), consoante planilha a seguir30:
28 Vide “DOC 3 – Depoimento de Rossine Aires Guimarães” (pg. 37).29 DOC 5 – Laudo 446-16. 30 Relatório CGE – Vol. I, pg. 81.
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77. Destaca-se que, mesmo com a redução temporal no andamento da obra da
rodovia, não seria possível a conclusão de 99,5% da empreitada em apenas sete meses, se
considerados o cronograma físico-financeiro a que estava submetida. Assim, está comprovado
que o instrumento contratual e seus aditivos são, efetivamente, desconsiderados para a
execução das obras e pagamentos de medições, não havendo correspondência alguma entre a
realidade e a instrução processual das avenças.
78. O enriquecimento de MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, em 2014,
certifica-se por meio do Relatório de Análise Bancária nº 92/2019, no qual constatou-se que o
empresário auferiu pessoalmente – após retirada de valor da conta bancária da MVL – R$
10.517.858,46 (dez milhões, quinhentos e dezessete mil, oitocentos e cinquenta e oito reais e
quarenta e seis centavos), diversamente dos anos de 2013, 2015 e 2016, nos quais não
chegava a embolsar metade desse valor.
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79. A confissão de Estemir de Sousa31 corrobora esses fatos e se mostra
novamente pertinente. O colaborador estimou os serviços pagos, mas não executados, no
Contrato nº 08/2014 em, ao menos, R$ 5.217.935,53. Veja-se a planilha apresentada:
80. Isso indica que vultosos valores medidos e pagos no contrato, inclusive em
porção superior ao seu aditamento, não eram realmente executados. Sobre isso, Jairo Arantes32
confirma as informações prestadas por Cid Hoffman Madureira a seguir transcritas33:
“(…) QUE as medições eram realizadas por meio de estimativas de avaliações em campo,sem necessariamente serem resultados de levantamentos precisos com equipes detopografia e laboratório; QUE, por conta disso, nem sempre todos os serviços queconstavam das medições tinham sido integralmente executados; QUE, portanto, asmedições eram feitas para atingir os valores que deveriam ser medidos, e não para refletiros serviços que realmente tinham sido executados; QUE importava apenas que o contratoseria totalmente medido e ao final executado; QUE quando os fiscais chegavam na obrapara realizar a medição, eles já sabiam o valor que deveriam medir (a determinação vinhamde seus superiores) e incluíam os itens necessários para atingir o valor estipulado;...”
81. Sobre o tema, Murilo Coury esclarece que a função dos aditivos contratuais
firmados pela AGETRANS consistia no pagamento de propinas e desvio recursos públicos,
veja-se34:
31 DOC 3 – Declarações de Estemir de Sousa 28.10.2016.32 Vide Anexos Jairo, p. 84/85.33 Vide Anexos Cid, p. 69.34 Ver “DOC 3 - Reinquirição de Murilo Coury Cardoso 28.10.2016”, p. 8.
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PERGUNTADO Nessa segunda fase aí já como é que consistiu o desvio aí, mais com
base nas medições então? Já que não tinha mais os 10%? RESPONDEU QUE: Nos
aditivos;”
82. Dessa forma, resta evidente a forma utilizada para o desvio dos recursos
públicos, oficializada nas instruções dos aditamentos, nos quais não havia influência alguma
da realidade fática da obra, tendo-se em vista que a finalidade precípua dos ajustes era o
apenas viabilizar os pagamentos indevidos à MVL e a seu representante, MARCUS
VINICIUS LIMA RIBEIRO, para posterior partilha com os agentes públicos.
83. Assim agindo, EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ WILSON
SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVAL LOBO CARDOSO e ALVICTO OZORES
NOGUEIRA, em concurso com os servidores citados, desviaram, em proveito de MARCUS
VINICIUS LIMA RIBEIRO, R$ 5.217.935,53, recursos equivalentes a 26,9% do inicialmente
ajustado no Contrato nº 08/2014, firmado entre a AGETRANS e a empresa MVL Construções
Ltda., restando incursos no tipo penal no disposto no art. 312 do Código Penal.
VI. Corrupção ativa e passiva (arts. 333, p. único, e 317, § 1º, Código Penal) eLavagem de dinheiro (art. 1º, caput, §1º, I, §2º, I, Lei n. 9.613/98)
VI.i. Esquema de subornos na AGETRANS
84. MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO obteve alto lucro em virtude dos
benefícios licitatórios e contratuais espúrios obtidos perante o Estado. Para tanto, ofereceu e
pagou propina para os comandantes do esquema criminoso, ALVICTO OZORES
NOGUEIRA, SANDOVAL LOBO CARDOSO e EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, agindo
em conluio com JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS.
85. Essas atividades – benefícios ilícitos e repasses de propinas – apresentaram-
se amplas e recorrentes durante as gestões de JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS e
SANDOVAL LOBO CARDOSO no governo estadual. A atuação do grupo político consistia
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em conferir altos ganhos aos empreiteiros em troca do pagamento de vantagens indevidas ao
conjunto político e administrativo integrante da organização criminosa.
86. Para o sucesso do esquema criminoso, JOSÉ WILSON SIQUEIRA
CAMPOS teve papel fundamental, uma vez que atuou na busca pelas altíssimas somas
financeiras que viabilizaram a prática do plano delitivo, assinando os contratos de
financiamentos das operações nº 21/00003-4 e 21/00004-2 entre o Estado do Tocantins e o
Banco do Brasil.
87. No exercício do cargo de Governador do Estado do Tocantins, nomeou o
principal responsável pela execução material das fraudes, ALVICTO OZORES NOGUEIRA,
para Secretário Estadual de Infraestrutura e presidente da AGETRANS, além de todos os
servidores com poderes de decisão – e, conforme explorado em denúncia apartada, ânimo de
delinquir – na agência, quais sejam: Murilo Coury Cardoso, Secretário-Executivo da
AGETRANS, Estemir de Sousa Pereira, Superintendente de Construção e Conservação
Rodoviária, e Bruno Marques Rocha, Coordenador de Acompanhamento de Obras e Serviços.
88. JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS também nomeou EDUARDO
SIQUEIRA CAMPOS, o principal mentor das fraudes e receptor dos desvios. EDUARDO
atuou na Secretaria de Planejamento e Modernização da Gestão e depois na Secretaria de
Relações Institucionais, mas, principalmente, agia como governador de fato, mantendo a
supremacia sobre a administração durante o governo do pai. Ele buscou a todo custo lucrar
com a máquina do Estado, notadamente na AGETRANS, que geria elevadas montas,
majoritariamente advindas de financiamentos.
89. A participação de JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS foi, ainda, decisiva
num dos momentos mais importantes da atuação da societas sceleris: a dupla renúncia,
maquiavelicamente orquestrada de JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS e de seu vice-
governador, João Oliveira, mediante suborno, para propiciar a assunção de SANDOVAL
LOBO CARDOSO ao cargo de Governador do Estado.
90. O cenário de corrupção amplamente praticado na Agência de Máquinas e
Transportes do Estado do Tocantins – AGETRANS, exatamente como estabelecido por JOSÉ
WILSON SIQUEIRA CAMPOS, EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS e SANDOVAL LOBO,
que puseram à frente, na condição de operador, ALVICTO NOGUEIRA, sobrou indicado na
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narrativa posta por Murilo Coury Cardoso, conforme trechos a seguir, extraídos dos diversos
depoimentos dados no inquérito:
(…) Estava trabalhando no Piauí, salvo engano em janeiro de 2013, comsuas máquinas…, quando recebeu uma ligação de KAKÁ NOGUEIRA, seuex-patrão; KAKÁ lhe disse que estava assumindo a Secretaria deInfraestrutura do Tocantins e gostaria de levá-lo para trabalhar novamentecom ele;… acredita que SIQUEIRA CAMPOS escolheu KAKÁNOGUEIRA para o cargo de Secretário de Infraestrutura visando alguminteresse político, mas o declarante não sabe dizer qual era; QUE KAKÁNOGUEIRA é cunhado do ex-governador SANDOVAL e acredita que foiSANDOVAL quem indicou KAKÁ NOGUEIRA para o cargo de Secretário;QUE já trabalhando dentro da AGETRANS, o declarante começou aperceber que algumas decisões administrativas não eram regulares. Comopor exemplo, era de conhecimento amplo que os contratos com asempresas construtoras tinham como acerto porcentagem de 10% depropina, que ia para KAKA NOGUEIRA; QUE o declarante não sabeafirmar como eram feitos os acertos, mas pode afirmar que ocorreramvárias reuniões, dentro da própria AGETRANS entre KAKANOGUEIRA e os construtores; QUE essas reuniões ocorriam na sala deKAKA NOGUEIRA, que ficava ao lado da sala do depoente; QUE odeclarante também pode dizer que as licitações eram com 'cartasmarcadas', pois já sabiam qual a empresa seria vencedora do certame;Por exemplo: o declarante soube com antecedência que a empresaBARRA GRANDE, pertencente a GERALDO MAGELA, seriavencedora da licitação da rodovia TO que vai para Recursolândia/TO;QUE recebeu essa informação de KAKÁ NOGUEIRA; QUE outracuriosidade em relação à empresa BARRA GRANDE é que todoscomentavam que ela somente funcionava em virtude da atuação deEDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, filho do Governador SIQUEIRACAMPOS; QUE o declarante afirma também que as licitações eram todascontroladas por CÍRIO, o Presidente da Comissão de Licitação daAGETRANS; QUE foi o próprio declarante quem ligou para CIRIO, apedido do KAKA NOGUEIRA, para convidá-lo; … mesmo quando estavafora da Secretaria de Infraestrutura, era KAKA NOGUEIRA quem dava asordens;35
QUE: Quando nós entramos lá, já existia essa cobrança dos 10%, quem medisse isso foi o Kaká; QUE: e ela (valor da cobrança) era encaminhada aoEDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, isso quando não era passado diretodas empreiteiras pra ele e quem operava era o ELON MARCELO;QUE: aí, o KAKÁ, passados uns dois meses, instituiu mais 2%, encimadesses 10%; QUE o KAKÁ, quem o convidou foi o governador (SIQUEIRACAMPOS), mas eu acredito que, com influência do SANDOVALCARDOSO; QUE o KAKÁ e o SIQUEIRA poderiam até se conhecer, masamistosamente não era; QUE perguntado se foi indicação realmente doCARDOSO, respondeu QUE Isso! Sim, eu acredito que sim, com certeza;QUE: isso foi em fevereiro e passados uns dois meses, 45 dias, ele instituiumais 2% encima desse pedágio, lá; QUE: esses 2% era pro KAKÁ; QUE: eupeguei umas duas vezes, esse dinheiro, eu peguei com a EHL, pegueicom a CSN, CRT e MVL, peguei com todas essas empresas; (…) Eupeguei com o WILMAR, peguei com a LUCIENE; PERGUNTADO de
35 DOC 3 - Declarações de Murilo Coury Cardoso 15.10.2016.
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qual empresa é a LUCIENE, RESPONDEU QUE: da CRT, WILMARda EHL, LUCIENE, da CRT, HUMBERTO da CSN e peguei tambémcom a LUCIENE da MVL, a mesma da CRT; QUE: eu peguei umas duasou três vezes, de cada empresa; QUE: não era assim, um número certo. Umavez era R$ 200.000,00, outra, era 150.000,00, outra, 100.000,00, outra250.000,00, assim, variava de uma empresa pra outra, por causa do valor daconta que era paga; QUE: o KAKÁ me passou uns 300 a 350 mil reais dissodaí, não tenho isso exato, não, mas foi isso aí que peguei; QUE: isso era umpedágio pra o negócio andar; QUE: nas concorrências o acerto feito nasala do lado da minha, em portas trancadas, que ninguém daAGETRANS podia nem ligar lá; QUE: quem participava eram todos osempreiteiros e o KAKÁ; QUE: pela EHL o WILMAR; pela CSN, o BETO(HUMBERTO), pela CRT, o JAIRO, o engenheiro deles e o ROSSINE vialgumas vezes lá; QUE: eu não conheço a JANAÍNA; QUE: da MVL, oMARCUS; QUE: da BARRA GRANDE, o MAGELA ou o “J”. Um dosdois sempre estava; PERGUNTADO como era feito para operacionalizar naComissão de Licitação? / Para não ficar dúvida: era feita a reunião comtodos os empreiteiros de uma vez, ou era feito por empresa? Como é queera? RESPONDEU QUE: tinha vez que reunia eles, mas eu acho que oacerto com eles era feito de um por um. Depois o KAKA falava, esse aquié do fulano, esse aqui é do siclano. Era feito de um por um e o KAKÁ;PERGUNTADO você disse que esse pedágio era pago pra poder a obraandar, RESPONDEU QUE: quando a gente chegou lá, já existia essepedágio, era um processo que era normal pra eles, isso lá. Quando agente chegou, isso já rodava normal, os 10%; QUE: quem recebia os10% era o EDUARDO, quando os empreiteiros não entregavadiretamente para ele, quem levava era o ELON e nunca chegou aacontecer de alguém não pagar, sempre pagaram e que foi o próprioKAKA quem falou isso para o declarante; PERGUNTADO qual ainfluência que o EDUARDO tinha sobre a SEINFRA/AGETRANS?RESPONDEU QUE eu não sei te falar isso. Ele nunca me ligou, o contatodele era direto com KAKÁ. Ele foi lá umas três vezes falar comigo, mas foipra mandar fazer estrada, que estava ruim, coisas de política mesmo; (…)PERGUNTADO como era operacionalizado para dar certo na comissão delicitação? RESPONDEU QUE essa parte, eu não sei, sei que eles acertavame quem fazia isso e pode falar isso é o CÍRIO, chegava pra mim tudo pronto;PERGUNTADO o acerto era feito com o KAKÁ? E o KAKÁ distribuía?,RESPONDEU QUE CIRIO, faz isso, como eram nas medições, ESTEMIR,mede isso, eu era prum lado, nesse ponto, prum lado, nesse ponto, e naslicitações, eu ouvi falar que havia troca de envelopes porque às vezesentrava alguma empresa, e eles pressionavam pra sair; PERGUNTADOhavia pressão pra sair alguma empresa da concorrência? RESPONDEUQUE a gente escutava falar lá, era, por isso que havia o certame edemorava; PERGUNTADO Você nunca participou de licitação,testemunhando isso? RESPONDEU QUE Não, Nunca fui na licitação.PERGUNTADO O CÍRIO lhe falou alguma coisa, como era?RESPONDEU QUE Não; PERGUNTADO Como é que você sabia quehavia pressão? RESPONDEU QUE Uma vez o KAKÁ pediu pra ligarpra uma empreiteira pra ir lá, falar com ele. Era a SÃO CRISTÓVÃO;PERGUNTADO Pra desistir; RESPONDEU QUE Era nesse sentido,mas eu não participei da conversa;… QUE as reuniões eram a EHLRESPONDEU QUE CSN, CRT, MVL… Eram 10%, passou a ser 12%.Dois pagamentos. Mediu, pagou, teve mais 2%. Aí acabou, Isso aí acabou;acabou a partir das licitações. Essas obras que existiam ficaram nos 10%. A
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partir das licitações, aí existiam a SPE entre as empresas; Até aquele tanto delicitação a empresa pagava 10%. Isso já via para o EDUARDO; Aí comoentrou Kaká, botou mais dois; ficou mais alguns meses e aí depois mudoutudo; … eles, ao invés de continuar com os 10% eles fizeram SPE… a obraera dividida para quem estava na SPE e o lucro era dividido também… oEduardo fazia parte da Barra Grande e da EPP que é do Elon Marcelo….Nessa nova sistemática o Eduardo participava da SPE através da ETP e daBarra Grande36
91. Estemir de Sousa Pereira, titular da Superintendência de Construção e
Fiscalização Rodoviária, com ampla atribuição fiscalizatória sobre contratos fraudados,
elucida o esquema de propinas estabelecido na AGETRANS:
(…) QUE indagado, na presença de seus advogados, sobre sua participaçãona fraude perpetrada na Superintendência responsável pelas obras deimplantação e construção de rodovias na qual era Superintendente, oDeclarante confessou sua participação no esquema de fraudes para liberaçãode pagamento de valores não compatíveis com o total executado das obras,em razão de atestar (assinava) medições não compatíveis com os serviçosexecutados; QUE para fazer tais atestes, recebia valores em espécie (emreais);37
(…) QUE desde a época do ALEXANDRE UBALDO, que antecedeu oKAKA na SEINFRA, o “J” (Barra Grande) e o ERLON tinham prioridade“0” (zero) na SEINFRA; QUE eles (“J” e “ERLON) chegavam na SEINFRAe eram imediatamente atendidos; QUE o ERLON era muito próximo doRENAN e sempre que ia na SEINFRA se reunia com ele; QUE era deconhecimento público que os dois (“J” e ERLON) eram operadores doEDUARDO SIQUEIRA; QUE quando o SIQUEIRA saiu e assumiu oSANDOVAL, o HUMBERTO da empresa CSN comentou que o EDUARDOqueria continuar recebendo, mas que ele não ia pagar, pois estava pagandopara o KAKA e não iria pagar duas vezes para mesma coisa; QUE era deconhecimento geral que a comissão do EDUARDO era de 10%; QUEera comum os empreiteiros comentar que se reuniam com o EDUARDO,na época que o SIQUEIRA era governador; QUE o ALEXANDREUBALDO despachava com frequência com o EDUARDO; QUE por váriasvezes, quando se encontrava na sala do ALEXANDRE UBALDOpresenciou ele receber ligações do EDUARDO SIQUEIRA o chamando paradespachar com ele; QUE antes do SANDOVAL assumir o governo, o KAKÁtambém despachava com o EDUARDO SIQUEIRA (...)”38
(Grifo nosso)
92. O panorama de pagamentos indevidos, narrado pelos dois ex-agentes do
Estado/AGETRANS, ganha reflexo no depoimento de Rossine Aires Guimarães, empreiteiro
proprietário da CRT, que atuava no Núcleo Empresarial. Ele deixou bastante claro como
agiam EDUARDO SIQUEIRA, SANDOVAL LOBO CARDOSO e ALVICTO NOGUEIRA,
36 DOC 3 - Reinquirição de Murilo Coury Cardoso 28.10.2016.37 DOC 3 - Reinquirição Estemir de Sousa 16.10.2016. 38 DOC 3 - Reinquirição Estemir de Sousa 28.10.16.
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já no período em que estes dois últimos passaram a cuidar do esquema criminoso, o segundo
como seu gestor maior, ao lado de EDUARDO, e o terceiro como operador39.
QUE no final de fevereiro/início de março de 2014, houve uma reunião entreJOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (filho do Governador JOSÉWILSON SIQUEIRA CAMPOS e então Secretário Estadual doPlanejamento e Modernização da Gestão Pública), SANDOVAL LOBOCARDOSO (na época Presidente da Assembleia Legislativa) e ALVICTOOZORES NOGUEIRA (KAKA) (na época Secretário de Infraestrutura ePresidente da AGETRANS), no apartamento de JOSÉ EDUARDOSIQUEIRA CAMPOS, que fica no centro de Palmas/TO; QUE PABLOCASTELHANO e “JOTA” (dono da CONSTRUTORA BARRA GRANDELTDA.) estavam presentes nessa reunião; QUE ROSSINE AIRESGUIMARÃES foi chamado para participar no final dessa reunião; QUEnaquele momento, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVALLOBO CARDOSO e ALVICTO OZORES NOGUEIRA (KAKA) disseram aROSSINE AIRES GUIMARÃES terem feito um acerto entre eles três; (...)QUE, por conta disso, pediram um adiantamento de dinheiro a ROSSINEAIRES GUIMARÃES, no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões dereais); QUE, em contrapartida, ROSSINE AIRES GUIMARÃES receberiacontratos para a execução de obras públicas que seriam dadas por ALVICTOOZORES NOGUEIRA (KAKA); QUE ROSSINE AIRES GUIMARÃESteria que pagar a eles a porcentagem de 10% a 17% do valor recebidopelas suas obras; QUE ROSSINE AIRES GUIMARÃES e os demaispresentes na reunião combinaram de negociar essa porcentagem conforme asobras fossem realizadas; QUE os R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais)mencionados seriam um adiantamento dessa porcentagem; QUE,naquela época, ROSSINE AIRES GUIMARÃES já tinha uma obra aindanão iniciada, em Miranorte/TO, indicada por ALVICTO OZORESNOGUEIRA (KAKA); QUE JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS,SANDOVAL LOBO CARDOSO e ALVICTO OZORES NOGUEIRA(KAKA) prometeram dar a ROSSINE AIRES GUIMARÃES mais algumasobras, além da de Miranorte/TO; QUE as obras que ROSSINE AIRESGUIMARÃES recebeu em contrapartida de ALVICTO OZORESNOGUEIRA (KAKA) e SANDOVAL LOBO CARDOSO foram as deMuricilândia/TO e Buriti/TO; QUE o montante no valor de R$ 5.000.000,00(cinco milhões de reais) adiantados foram pagos por meio de 5 (cinco)cheques, entregues pessoalmente por ROSSINE AIRES GUIMARÃES aJOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS; (…) QUE o pagamento foi feitodiretamente por ROSSINE AIRES GUIMARÃES a JOSÉ EDUARDOSIQUEIRA CAMPOS, mas os responsáveis por lhe garantir a contrapartidamediante indicação das obras foram ALVICTO OZORES NOGUEIRA(KAKA) e SANDOVAL LOBO CARDOSO; QUE, dias depois da entregados 5 (cinco) cheques, ROSSINE AIRES GUIMARÃES foi convidadopor SANDOVAL LOBO CARDOSO e ALVICTO OZORESNOGUEIRA (KAKA) a ir na AGETRANS; QUE nessa oportunidadeeles pediram a ROSSINE AIRES GUIMARÃES o pagamento de maisR$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais); QUE ROSSINEAIRES GUIMARÃES entendeu que esse valor fazia parte da porcentageminicialmente acordada como pagamento pelas obras que iria ganhar(Muricilândia e Buriti); (…) QUE nos meses seguintes, a partir de julho de
39 Vide “DOC 3 - Anexo V, Colaboração Rossine, PET 7159 Apenso 02, parcial”.
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2014, conforme ROSSINE AIRES GUIMARÃES recebia os valores dasobras que executava, ALVICTO OZORES NOGUEIRA (KAKA) lhe pedia,em diversas oportunidades, novas quantias; (…) QUE esses pagamentostotalizaram mais cerca de R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos milreais); QUE quando essas solicitações precisavam ser feitas, ROSSINEAIRES GUIMARÃES era chamado na AGETRANS ou na empresa de nomeKK MÁQUINAS E LOGISTICA, de propriedade de ALVICTO OZORESNOGUEIRA (KAKA); QUE desse valor, R$ 500.000,00 (quinhentos milreais) foram pagos diretamente a um assessor de ALVICTO OZORESNOGUEIRA (KAKA), a seu pedido, em 3 (três) ou 4 (quatro)oportunidades, em espécie; QUE os outros R$ 2.000.000,00 (dois milhões dereais) foram pagos diretamente a ALVICTO OZORES NOGUEIRA(KAKA), também em 3 (três) a 4 (quatro) vezes, em espécie, na KKMÁQUINAS E LOGISTICA, local em que eram feitos os pagamentos; QUEalgumas vezes em que ROSSINE AIRES GUIMARÃES foi na KKMÁQUINAS E LOGISTICA entregar dinheiro, “JOTA” estava lá;
(Grifo nosso)
93. Enfatizam-se, do exposto, não só a presença de SANDOVAL nas tratativas
de propinas, mas ainda o respectivo percentual em troca da “escolha” da empresa nas
licitações, que chegava ao equivalente de 10 a 17% do valor de cada pagamento das obras da
AGETRANS. Veja-se ainda o realce que Rossine Aires confere à participação de EDUARDO
SIQUEIRA CAMPOS nos governos de seu pai e de SANDOVAL e, demais, ao papel dos
demais empreiteiros nos pagamentos de vantagens indevidas, no que se inclui MARCUS
VINICIUS LIMA RIBEIRO:
(…) QUE sobre os governos José Wilson Siqueira Campos e Sandoval,tenho a esclarecer que a influência que o Eduardo Siqueira Campos tinhasobre o pai era toda: ele era o governador e ele tinha influência também nodo Sandoval; (….) QUE a decisão a respeito da empresa que seria vencedorada licitação era feita por ALVICTO OZORES NOGUEIRA (Kaká), sendorespeitada por todas as empreiteiras; (…) QUE as empresas e respectivosrepresentantes legais que normalmente pagavam o governo eram; EHL-ELETRO HIDRO (WILMAR OLIVEIRA DE BASTOS ou GERALDOANTÔNIO R. SAMPAIO), BARRA GRANDE CONSTRUÇÕES LTDA.(GERALDO MAGELA BATISTA DE ARAÚJO); EPENG – EMPRESAPROJETOS DE ENEGENHARIA LTDA. (FRANCISCO ANTELIUSSÉRVULO VAZ), MVL CONSTRUÇÕES TLDA. (MARCUS VINÍCIUSLIMA RIBEIRO), CSN ENGENHARIA LTDA. (...)40;
94. O percentual elevado de propina, de 17%, foi reiterado pelo testemunho de
Tiago Modesto Costa, administrador da Sivana Engenharia Ltda.. Tiago Modesto relatou que,
logo após vencer a disputa na Concorrência nº 06/2014 e assinar o contrato relativo ao trecho
citado, foi pressionado por EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, José Maria Batista de Araújo
40 DOC 3 - Depoimento de Rossine Aires Guimarães.
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(conhecido como Jota) e ALVICTO NOGUEIRA a pagar 17% do valor do contrato ao grupo,
ao que se recusou. Eis como expôs à autoridade policial:
QUE é administrador da Sivana Engenharia Ltda; QUE em 2013 participouda concorrência pública que licitou o trecho Lagoa da Confusão/Barreira daCruz; QUE foi pressionado a desistir da Licitação, mas sempre resistiu, poressa razão lhe pediram comissão de 17% do valor da obra, com o que nãoconcordou; QUE depois de diversos contatos de J. BATISTA, todos comesse mesmo fim, foi chamado em duas oportunidades para reuniões na casade EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS; QUE estavam nestas reuniões, alémdo declarante, EDUARDO SIQUEIRA, KAKÁ NOGUEIRA e J. BATISTA;QUE novamente foi pressionado para que pagasse 17% do valor do contratopara aquele grupo; QUE mais uma vez se recusou a pagar qualquer valor;41
95. Os depoimentos confluem para a preponderância da ação de EDUARDO
SIQUEIRA CAMPOS, agindo em simbiose com JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, na
gestão das propinas circuladas entre empresários e políticos. Num primeiro momento do
governo de seu pai, EDUARDO atuava com ascendência sobre Alexandre Ubaldo, então
Secretário de Infraestrutura. Desde aí, contava já com a cumplicidade de Jota Batista e Elon,
seus “testas-de-ferro”, encarregados por ele de receber e levar-lhe as quantias ilícitas, quando
não as recebia diretamente. Nesse período, a praxe criminosa era a cobrança de propina no
valor correspondente a 10% do contrato com as empresas, ou do valor do pagamento das
medições liberadas.
96. Depois, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS e EDUARDO SIQUEIRA
CAMPOS unem-se a SANDOVAL LOBO e, em conjunto, escolhem o novo Secretário de
Infraestrutura e Presidente da AGETRANS, o multicitado ALVICTO OZORES NOGUEIRA,
cunhado, apadrinhado político e longa manus de SANDOVAL. Isso em setembro de 2013. O
novo autor de delitos assume a posição de operador de propinas, em favor dos três cabeças do
esquema. Num primeiro instante, o recém-empossado secretário passou a solicitar mais 2%
dos valores contratuais. Depois disso, os pagamentos de propinas se davam na maioria das
vezes por via da constituição de sociedades em conta de participação-SCPs42, as quais se
mostraram um meio de lavar as quantias pagas.
41 DOC 3 - Declarações Tiago Modesto Costa 24.10.16.42 O colaborador Murilo Coury se engana quando se refere a SPE. Diversos documentos apreendidos na sede
das empresas dão conta de que se tratava, na verdade, de SCP.
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97. MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO figurou na condição de corruptor,
conforme percentuais supraindicados: prometia, oferecia e pagava quantias indevidas. Os
demais denunciados como corruptos: solicitavam e recebiam. Os atos de ofícios comprados
pelos empresários eram: a adjudicação fraudada nos certames da AGETRANS, pagamentos
por aditivos contratuais fraudulentos, inclusive por serviços não executados, modificações nos
contratos de financiamento para atender o grupo, e ainda os próprios pagamentos nos
contratos celebrados com as empresas.
98. E, para encobrir a natureza, origem, movimentação e propriedade dos
valores apropriados de forma criminosa, os denunciados se valeram de interpostas pessoas, no
presente caso, de Alvicto Ozores Nogueira & Cia Ltda (KK Máquinas) e JOSÉ MARIA
BATISTA DE ARAÚJO, conforme se explana a seguir.
VI.ii. Pagamentos ilícitos para ALVICTO OZORES NOGUEIRA eSANDOVAL LOBO CARDOSO
99. A circulação de propina entre empresários e agentes públicos, como narrado
nos testemunhos acima, ganha concretude nos processos das Concorrências nº 01/2011 e
03/2013, e na execução dos respectivos Contratos nº 39/2012 e 08/2014, nos quais se afigura
como beneficiária a MVL Construções Ltda.. Efetivamente, nesses casos, MARCUS
VINICIUS LIMA RIBEIRO, administrador da empresa, deliberou oferecer e pagar propinas a
ALVICTO NOGUEIRA e SANDOVAL LOBO, em razão dos interesses atendidos pelos
agentes estatais.
100. ALVICTO NOGUEIRA, em benefício próprio e de SANDOVAL LOBO
CARDOSO, seu cunhado e padrinho político, solicitava e recebia vantagens indevidas em
razões dos atos que praticou, na condição de Secretário de Infraestrutura e presidente da
AGETRANS, com superioridade e domínio sobre os servidores do órgão. Os atos que mais
beneficiaram MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, integrante da banda econômica da
organização criminosa, estão relacionados à própria seleção, em fraude à licitação, da MVL
Construções Ltda., nas duas concorrências citadas. Restou comprovado que as empresas
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vencedoras eram assim definidas, de antemão, por EDUARDO CAMPOS, SANDOVAL e
ALVICTO, em reuniões prévias com os concorrentes.
101. ALVICTO OZORES, figurando como autoridade máxima na AGETRANS,
nomeou membros das comissões de licitações, ordenou e chancelou as fraudes nos certames e,
como ordenador de despesas, assegurou o pagamento dos aditivos fraudulentos, ademais dos
serviços não prestados, sempre atuando para que os pagamentos ao empreiteiro fossem
realizados. Os atos praticados por Alexandre Ubaldo e, a partir de 2013, por ALVICTO,
diretamente ou por meio de Murilo Coury, seu substituto, sempre sob a supervisão criminosa
de SANDOVAL43 e EDUARDO, estão descritos no capítulo antecedente, que cuida do
peculato-desvio. Tudo ocorreu nas circunstâncias dos sobreditos contratos.
102. Daí que, nos moldes do que afirmaram os colaboradores Murilo, Estemir
Sousa, Rossine Aires e Jairo Arantes, e ainda a testemunha Tiago Modesto Costa, o
desembolso de quantias indevidas restou confirmado com elementos encontrados na sede da
MVL, contratada nos referidos ajustes, quando do cumprimento das buscas autorizadas
judicialmente e realizadas em 13 de outubro de 2016.
103. É certo que as negociações de propina entre ALVICTO OZORES e
MARCUS VINICIUS, tendo como contrapartida a vitória em certames fraudados e ainda os
ilícitos nos respectivos contratos, ocorreram durante a execução do Contrato nº 039/2012 e em
reuniões prévias à Concorrência 03/2013, da qual se sagrou vencedora a MVL. Prova disso
foi a identificação, em canhoto de cheques, recibos e anotações em agenda, recolhidos em
busca e apreensão realizada em escritório da MVL, de 11 registros de pagamentos para
ALVICTO OZORES NOGUEIRA, nos anos de 2012 a 2013, consolidando um total de R$
823.000,0044, conforme planilhas a seguir:
43 Sandoval e Eduardo Campos foram os maiores beneficiados pelos desvios. Vide Relatório de Análise dePolícia Judiciária nº 13/2016.
44 Vide Planilha que diz respeito ao destinatário, transcrito no “DOC 2 – Relatório 02.2016-24.10.2016” ePlanilha sobre pagamentos relativos a “KK”, transcrito no “DOC 2 – Relatório 21.2017-21.03.2017_PL 16”.
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104. Outrossim, pela via bancária apenas, sem considerar o trânsito por fora do
sistema financeiro, identificaram-se aportes no total de R$ 851.432,00 da MVL para a
empresa de ALVICTO, no período de 2013 a 2016, conforme análise de dados bancários45.
105. Desde a MVL, MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO direcionou propina
pessoalmente para ALVICTO OZORES NOGUEIRA e SANDOVAL LOBO, bem como por
meio da empresa Alvicto Ozores Nogueira & Cia Ltda.46. Ou seja, em desapreço aos
45 Vide “DOC 2 – Relatório 92-2019 de 14-07-2019 – Análise preliminar SIMBA_MVL” (pg. 05) denota ovalor de R$ 851.432,00 para ALVICTO OZORES NOGUEIRA E CIA LTDA.
46 “DOC 2 - Relatório 21.2017-21.03.2017_PL 16” e “DOC 2 – Relatório 92-2019 de 14-07-2019 – Análisepreliminar SIMBA_MVL” (pg. 05).
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princípios da impessoalidade e moralidade, a contratada do Estado relaciona-se com uma
empresa do gestor da agência do Estado responsável pela obra.
106. Assim, os elementos acima demonstram que ALVICTO OZORES
NOGUEIRA recebeu R$ 1.674.432,00, pessoalmente ou por meio de sua empresa KK
Máquinas – como subterfúgio para ocultar a propriedade e origem criminosa de tais valores –
para si e para SANDOVAL LOBO CARDOSO.
VI.iii. Vantagens indevidas para EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS
107. As vantagens indevidas prometidas por MARCUS VINICIUS LIMA
RIBEIRO aos agentes políticos envolveram, além de ALVICTO e SANDOVAL, também
JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, com o auxílio de JOSÉ WILSON SIQUEIRA
CAMPOS. Mais uma vez, JOSÉ MARIA BATISTA DE ARAÚJO agiu em prol do esquema
de repasse de propinas.
108. Na linha do que expuseram os colaboradores e testemunhas aludidos, as
práticas de corrupção na AGETRANS abrangiam, num primeiro momento (2011 a 2013), o
pagamento de 10 a 17% de suborno a EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, diretamente ou por
meio de seus “testas de ferro”. No caso em comento, aparece a Barra Grande Construções
Ltda., grande integrante do cartel de empresas de asfalto no Tocantins, ligada ao próprio
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, e pertencente a JOSÉ MARIA BATISTA DE ARAÚJO,
Geraldo Magela Batista de Araújo e Levi Batista de Araújo.
109. Como proprietário da empresa Barra Grande Construções Ltda., JOSÉ
MARIA BATISTA DE ARAÚJO, conhecido como “JOTA”, atuava como testa de ferro de
EDUARDO SIQUEIRA, intermediando repasses de propina e auxiliando no acobertamento
da destinação de valores pagos pelas empresas contratadas pelo Estado.
110. Com efeito, a condição de JOTA como pessoa interposta de EDUARDO
SIQUEIRA foi corroborada por informações prestadas por diversos colaboradores. Sobre isso,
Murilo Coury deixou esclarecidas tais posições em seu depoimento, dizendo que a Barra
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Grande Construções Ltda. somente existia em função da atuação de EDUARDO e que a
empresa era usada para movimentar os recursos desviados do Estado47.
111. No mesmo sentido, Estemir Pereira reportou que JOTA era operador de
EDUARDO SIQUEIRA e tinha prioridade “0” dentro da AGETRANS, com livre acesso ao
órgão e às reuniões no interior da organização criminosa com outros empresários48.
112. O empresário Tiago Modesto Costa deixou inferir que JOTA BATISTA,
conforme trecho de seu depoimento transcrito acima, atuava em conjunto com ALVICTO
OZORES e EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, quando lhe era exigido pagamento de
propinas em função de pagamento de medições da obra que executava junto ao órgão citado49.
113. Assim, para repassar a EDUARDO SIQUEIRA, a MVL de MARCUS
VINICIUS pagou a JOTA montante aproximado de R$ 497.900,00 durante o ano de 2013,
conforme identificado em canhoto de cheques e anotações em agenda, recolhidos em busca e
apreensão realizada em escritório da MVL, conforme planilha a seguir50:
114. A influência de EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS nas decisões referentes
aos contratos pode ser verificada em sua relação com diversos representantes de empresas que
47 Vide “DOC 3 – Declarações de Murilo Coury 15.10.2016, pg. 02” e “DOC 3 - Reinquirição de MuriloCoury Cardoso 28.10.2016, pg. 01”.
48 Vide “DOC 3 – Reinquirição de Estemir de Sousa Pereira 28.10.2016”. 49 Vide “DOC 3 - Declarações Tiago Modesto Costa 24.10.16. (…) QUE foi pressionado a desistir da
Licitação, mas sempre resistiu, por essa razão lhe pediram comissão de 17% do valor da obra, com o que nãoconcordou; QUE depois de diversos contados de J. BATISTA, todos com esse mesmo fim, foi chamado emduas oportunidades para reuniões na casa de EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS; QUE estavam nessasreuniões, além do declarante, EDUARDO SIQUEIRA, KAKÁ NOGUEIRA e J. BATISTA; QUE mais serecusou a pagar qualquer valor (...)”.
50 DOC 2 – Rel. Controle 02.2016-24.10.2016.
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o procuravam para ajustar as execuções das obras, principalmente por meio de reuniões
particulares, conforme depoimento de Rossine Aires Guimarães51.
115. A MVL também reuniu-se pessoalmente com EDUARDO SIQUEIRA
CAMPOS, por meio de representante, para ajustar a execução do Contrato nº 039/2012,
conforme se verifica em recibo datado de 02/05/2013, no qual especificou-se:
“Recebi da MVL Construções Ltda. CNPJ: 276.3.0/001-36 (Nazaré) a
quantia de R$ 3.600,00 (Três mil e seiscentos reais) referente a despesas
com viagem de avião para Palmas-TO, sendo essa para tratar de assuntos
de interesse da obra com Eduardo Siqueira Campos”.52
116. Em colaboração, Rossine Guimarães também foi explícito em dizer que
JOTA se fazia presente nas reuniões na casa de EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, quando
este, SANDOVAL LOBO e ALVICTO NOGUEIRA lhe solicitaram pagamento de vantagens
indevidas53.
117. Assim, todas as circunstâncias confirmam que JOSÉ MARIA BATISTA DE
ARAÚJO concorreu para que o valor ilícito de R$ 497.900,00, obtido em razão da função
desempenhada EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, redundasse em vantagens espúrias para o
deputado.
118. Ademais, os elementos asseveram que a manobra financeira intermediada
por JOSÉ MARIA BATISTA DE ARAÚJO tinha como finalidade dissimular e ocultar a
origem e a propriedade dos valores criminosos.
VII. Desvio de finalidade na aplicação de financiamento (art. 20, Lei nº 7.492/86)
119. A conduta dos acusados JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ
WILSON SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVAL LOBO CARDOSO, ALVICTO OZORES
NOGUEIRA e MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO teve por fim, ademais dos delitos
narrados, a aplicação de recursos financeiros dos programas PROINVESTE e PROESTADO I
51 DOC 3 - Depoimento de Rossine Aires Guimarães.52 Vide p. 6, item EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS “DOC 2 – Relatório 21.2017-21.03.2017_PL 16”.53 Vide “DOC 3 – Depoimento de Rossine Aires Guimarães 05.12.2018, pg. 02”.
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em fins diversos do que constava nos respectivos instrumentos de financiamento (Operação
21/00003-4 e Operação nº 21/00004-2, respectivamente).
120. A ação delituosa teve início nas tratativas perante o Banco do Brasil e a
União, com a finalidade de buscar os recursos para financiamento das atividades ilícitas
perante o grupo. JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, então governador, é quem representa
o Estado do Tocantins e ele mesmo assina54, ao final dos procedimentos, o Contrato de
Financiamento Mediante Abertura de Crédito nº 21/00003-4, em 20 de dezembro de 2012,
com o Banco do Brasil S.A.. Os recursos foram captados juntos ao BNDES – Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social, e são vinculados ao Programa de Apoio ao
Investimento dos Estados e do Distrito Federal – PROINVESTE, havendo a União se
apresentado como garante55.
121. O PROINVESTE é um programa de investimentos de âmbito nacional
instituído pelo art. 9º-N da Resolução CMN 2.827/2001, com alterações introduzidas pela
Resolução CMN 4.109, de 05 de julho de 2012. Esta última normativa indica, inclusive, os
valores que seriam destinados ao Estado do Tocantins56.
122. O objeto descrito foi “despesas de capital constantes do plano plurianual
(PPA) e das leis orçamentárias do BENEFICIÁRIO”. E a destinação do crédito foi, única e
exclusivamente, a prevista na Lei Estadual nº 2.615/201257 (artigo 2º), exatamente a que
autorizou o Estado a contrair o financiamento e estabeleceu que os recursos provenientes do
financiamento seriam aplicados na realização de despesas de capital. A lei em comento foi
sancionada por JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS.
123. As finalidades previstas em lei e em contrato de financiamento foram
efetivamente desobedecidas pelos denunciados, em razão do desvio de quantias financeiras
em favor do enriquecimento ilícito de MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO, de modo a
propiciar o pagamento de propinas aos agentes públicos.
124. A cada liberação de parcela, como condição para seu desembolso, era
necessário que o governador comprovasse haver aplicado corretamente o valor liberado no
54 DOC 1 - Contrato de Financiamento Proinveste TO.55 DOC 1 – Contrato de Garantia nº 784/PGFN/CAF.56 Disponível no link: <https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/
Normativos/Attachments/49143/Res_4109_v1_O.pdf)>.57 DOC 1 – Lei Autorizadora Proinveste TO – 2615-2012.
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desembolso antecedente (Cláusula Oitava). Assim é que, poucos dias após assinatura do
contrato, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS formula pedido de desembolso de R$
453.367.668,70, declarando que o Estado cumpriu todas as condicionantes prévias à sua
liberação, mesmo antevendo os graves ilícitos que maculariam as licitações e contratos
executados.
125. O ex-governador JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS também viabilizou
o Primeiro Aditivo58 ao Contrato de Financiamento nº 21/00003-4, em outubro de 2013, e
também o Segundo Aditivo59, datado de 06 de março de 2014.
126. No Terceiro Aditivo, no mês de outubro de 2014, SANDOVAL LOBO
CARDOSO, já no exercício do cargo de Governador do Estado, mediante renúncia de JOSÉ
WILSON SIQUEIRA CAMPOS e seu vice, João Oliveira60, manifesta também o dolo dirigido
aos delitos praticados pelo grupo de criminosos. Com efeito, promoveu ele alteração no
Anexo I do instrumento para aumentar, em prejuízo de outras atividades, como a de promoção
dos serviços de saúde, os valores destinados à pavimentação e recuperação asfáltica, objeto
dos contratos espúrios aqui expostos. Dos R$ 378.330.000,00 previstos no texto original,
passou a R$ 424.047.813,67, tornando luzente o escopo de alimentar o esquema de desvios e
locupletamento ilícitos denunciado.
127. O momento é coincidente com o de maior execução dos contratos a cargo
do órgão presidido por ALVICTO OZORES, circunstância a confirmar o intuito de desviar os
recursos financiados exatamente na área de atuação da organização criminosa: pavimentação
e recuperação asfáltica.
128. O ato demonstra a nítida adesão de SANDOVAL LOBO CARDOSO ao
esquema criminoso que estava em andamento. Ressalte-se que a própria assunção do cargo de
Governador por SANDOVAL foi objeto de tratativas delituosas que envolveram renúncia
dupla e pagamento de propina, com o propósito claro de perpetuar os desvios de
financiamentos iniciados na gestão anterior.
58 DOC 1 – Primeiro Aditivo59 DOC 1 – Segundo Aditivo60 João Oliveira entregou carta de renúncia no dia 03 de abril de 2014 à Assembleia Legislativa do Estado do
Tocantins. A renúncia foi publicada no Diário Oficial do dia 04. Com renúncia prévia de seu vice, JOSÉWILSON renuncia no mesmo dia 4, garantindo que SANDOVAL viesse a ocupar seu papel no grupo decriminosos.
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129. No que se refere ao PROESTADO I, a trama delitiva teve início nas
tratativas perante o Banco do Brasil e a União, com a finalidade de buscar os recursos para
financiamento das atividades ilícitas do grupo. JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, então
governador é quem representa o Estado do Tocantins e ele mesmo assina, ao final dos
procedimentos, o Contrato de Financiamento Mediante Repasse de Recursos Externos nº
21/00004-2, em 27 de junho de 2013 com o Banco do Brasil S.A.. Os recursos foram captados
no exterior junto ao Àktiengesellschaft de Viena, Áustria, havendo a União se apresentado
como garantidora61.
130. O objeto descrito foi “despesas de capital (investimentos) constantes da Lei
Orçamentária Anual – LOA 2014 e dos exercícios subsequentes do Governo do Estado do
Tocantins”. A destinação do crédito foi, única e exclusivamente, a prevista na Lei Estadual nº
2.701/2013 (Cláusula Terceira), exatamente a que instituiu o Programa de Modernização do
Estado e de sua Infraestrutura Econômica e Social (PROESTADO I). Sancionada por JOSÉ
WILSON SIQUEIRA CAMPOS, prescreveu que os recursos destinavam-se à implementação
as 7 (sete) atividades: base cartográfica, edificações públicas, informática e comunicação,
infraestrutura viária, produção agrícola, regulação de serviços públicos, saúde e segurança
pública.
131. Assim como nos recursos do PROINVESTE, tais finalidades foram
efetivamente desobedecidas pelos denunciados em razão do desvio das quantias financeiras
em favor do enriquecimento ilícito de MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO e outros
empresários, de modo a propiciar o pagamento de propinas aos agentes públicos.
132. Da mesma forma, e a cada liberação de parcela, como condição para seu
desembolso, era necessário que o governador comprovasse haver aplicado corretamente o
valor liberado no desembolso antecedente (Cláusula Sétima). Assim é que, assinado o
contrato, JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS formula pedido de desembolso de R$
234.000.000,00, em 17 de setembro de 2013, declarando que o Estado cumpriu todas as
condicionantes prévias à sua liberação, mesmo antevendo os graves ilícitos que maculariam as
licitações e contratos executados.
133. O ex-governador JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS também viabilizou
o Primeiro Aditivo ao Contrato de Financiamento nº 21/00004-2, já em fevereiro de 2014,
61 DOC - Contrato de Garantia nº 891/PGFN/CAF – Processo nº 17944.000237/2013-66.
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manifestando aqui também o dolo dirigido aos delitos praticados pelo grupo de criminosos.
Promoveu ele alteração no Anexo I do instrumento para aumentar, em prejuízo de outras
atividades estatais, os valores destinados à pavimentação e recuperação asfáltica, objeto dos
contratos espúrios aqui expostos. Dos R$ 165.900.000,00 previstos no texto original, passou a
R$ 219.209.361,00, tornando luzente o escopo de alimentar o esquema de desvios e
locupletamento ilícitos denunciado.
134. No Segundo Aditivo, no mês de setembro de 2014, já com SANDIOVAL
LOBO CARDOSO no exercício do cargo de governador do Estado, o intuito delituoso do
grupo vai se tornando inconteste: a verba específica para AGETRANS, que antes era de R$
162.188.425,30, subiu para os exorbitantes R$ 316.729.439,00. O momento é coincidente
com o de maior execução dos contratos a cargo do órgão presidido por ALVICTO OZORES.
Os recursos que antes eram destinados à saúde, de R$ 90.958.938,56 no início, foram
reduzidos a R$ 13.469.664,70, circunstância a confirmar o intuito de direcionar os recursos
financiados à área de atuação da organização criminosa: pavimentação e recuperação
asfáltica.
135. Portanto, os créditos se destinaram, única e exclusivamente, à aplicação na
execução das obras e aquisições de bens e serviços vinculados aos projetos e ações
autorizados pelas Leis Estaduais nº 2.615/2012 e 2.701/2013 (Cláusula Primeira).
136. De fato, os recursos de ambos os financiamentos foram direcionados às
contratações da AGETRANS com a empresa MVL de MARCUS VINICIUS LIMA
RIBEIRO, que se enriqueceu ilicitamente dessas verbas e as utilizou em parte para alimentar
o esquema de corrupção erigido pela organização criminosa, em claro desvio de finalidade.
137. Conforme Laudo nº 525/2016-SETEC/SR/PF/TO, o Programa
PROINVESTE (Operação 21/00003-4) abasteceu o Contrato nº 039/2012, celebrado pela
Seinfra – Secretaria de Infraestrutura do Estado do Tocantins com a empresa MVL
Construções Ltda., referente às obras da Rodovia TO-210, com previsão inicial de R$
19.93.023,89 e com desembolso efetivo de R$ 25.269.453,72, equivalente a 126,8% do valor
total do contrato, no período de 28 de janeiro de 2012 a 30 de abril de 2014.
138. As inconsistências podem ser notadas desde a primeira medição, a qual
previa a execução de serviços correspondentes a 4,57% do valor do contrato, ao tempo em
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que foi atestada a execução de serviços que correspondem a 17,47% do total contratado.
Ademais, consta do ateste a execução de 90% de cercas de vedação de faixa de domínio, em
que pese seja demonstrada a inexequibilidade desse montante no período referenciado, bem
como a inexistência de registro em diário de obra ou em relatório fotográfico dessa atividade,
conforme explanado no Laudo nº 544/2016-SETEC/SR/PF/TO.
139. Já o PROESTADO I (Operação 21/0004-2) direcionou montantes para o
Contrato nº 008/2014, cujo objeto refere-se à Rodovia TO-126. Celebrado em 05/02/2014, no
valor de R$ 19.368.764,06, os recursos financeiros oriundos do PROESTADO I alcançaram
R$ 24.042.574,20, correspondente a 124,1% do valor original do contrato, com desembolso
entre 27 de maio de 2014 e 16 de março de 2016.
140. Segundo o Laudo nº 446/2016-SETEC/SR/PF/TO, em análise do total
medido até a 4ª medição, emitida em junho de 2014, constatou-se que 60,7% do valor
contratual foi atestado como serviços executados, porém o cronograma físico-financeiro da
obra tinha previsto a execução de apenas 14,93% do objeto para os primeiros 120 dias de
trabalhos.
141. Destaque-se que o Laudo nº 525/2016 do mesmo setor asseverou que, após
177 dias da assinatura do contrato, já havia sido pago o equivalente a 94,8% do contrato,
mesmo tendo transcorrido apenas 32,7% do prazo de 540 dias para a conclusão da obra.
142. Esses contratos administrativos foram alvo de fraudes que propiciaram
pagamentos a maior para MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO. Efetivamente, recursos
originados dos contratos de financiamento público, cuja destinação precípua é promover o
desenvolvimento equilibrado do País e servir aos interesses da coletividade, foram desviados
de suas finalidades e dirigidos ao enriquecimento ilícito da MVL Construções Ltda. e seus
proprietários.
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143. Vulnerando regras do sistema financeiro, previstas na Constituição
Federal62, na Lei nº 4.595/6463, e nas Leis Estaduais nºs 2.615/2012 e 2.07/201364, logo acima
referidas, e afrontando as normas que estipulam os fins exclusivos dos contratos das
operações nº 21/00003-4 e 21/00004-2, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ
WILSON SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVAL LOBO CARDOSO e ALVICTO OZORES
NOGUEIRA e outros, destinaram ilegalmente a MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO
recursos financeiros dirigidos aos Contratos nº 39/2012 e 08/2014, estabelecidos entre a
Agência de Máquinas e Transportes do Estado do Tocantins – AGETRANS e a empresa MVL
Construções Ltda.
144. Consoante narrativa anterior, a MVL auferiu indevidamente pelo menos R$
4.930.025,78 decorrente de aditivo ilegal e espúrio firmado no Contrato nº 39/2012. No
Contrato nº 08/2014, o superfaturamento atingiu, no mínimo, R$ 4.778.537,02 em virtude de
aditamento contratual, totalizando R$ 5.217.935,53 de serviços não executados”65.
145. E, enquanto governador, SANDOVAL LOBO CARDOSO, abusou de seu
poder político para direcionar as verbas dos Programas citados em benefício de seus aliados
políticos, em manifesto desvio de finalidade.
VIII. Capitulação penal
146. Descritas as condutas de JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, ALVICTO OZORES NOGUEIRA e MARCUS
VINICIUS LIMA RIBEIRO, tem-se que incidiram, por 2 (duas) vezes, uma por contrato, no
tipo do art. 312 do Código Penal:
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ouqualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse emrazão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
62 Conforme art. 192 da Constituição Federal, “O sistema financeiro nacional, estruturado de forma apromover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas aspartes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares quedisporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram”.
63 Dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho MonetárioNacional.
64 A primeira autorizou a contratação de financiamento vinculado ao PROINVESTE e a segunda criou oPrograma PROESTADO I.
65 “DOC 3 – Termo de Declarações de Estemir de Sousa Pereira 28.10.2016”.
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Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
147. MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO infringiu ainda por 7 (sete) vezes o
art. 333, p. único, do Código Penal, uma por contrato, multiplicada pelo número de agentes
públicos:
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionáriopúblico, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão davantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou opratica infringindo dever funcional.
148. JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA
CAMPOS e ALVICTO OZORES NOGUEIRA incorreram nas penas do art. 317, § 1º, por 2
(duas) vezes, e SANDOVAL LOBO CARDOSO por 1 (uma). JOSÉ MARIA BATISTA DE
ARAÚJO concorreu para o crime previsto no art. 317 do Código Penal por uma vez:
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ouindiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas emrazão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagemou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato deofício ou o pratica infringindo dever funcional.
149. JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA
CAMPOS, ALVICTO OZORES NOGUEIRA e MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO
infringiram o art. 20 da Lei n. 7.492/86, por 2 (duas) vezes, uma por contrato administrativo
fraudado, e SANDOVAL LOBO CARDOSO por 1 (uma):
Art. 20. Aplicar, em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato,recursos provenientes de financiamento concedido por instituiçãofinanceira oficial ou por instituição credenciada para repassá-lo:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
150. JOSÉ EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVAL LOBO
CARDOSO, ALVICTO OZORES NOGUEIRA, JOSÉ MARIA BATISTA DE ARAÚJO e
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MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO também estão incursos nas penas do art. 1º, § 1º, I, e §
2º, I, da Lei n. 9.613/1998:
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,direta ou indiretamente, de infração penal.
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
§ 1 Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilizaçãode bens, direitos ou valores provenientes de infração penal:
I - os converte em ativos lícitos;
(...)
§ 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem:
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valoresprovenientes de infração penal;
§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidosnesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio deorganização criminosa.
IX. Pedidos
151. Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:
a) seja a presente denúncia autuada com os documentos que a instruem;
b) sejam os denunciados citados para apresentação de resposta à acusação no
prazo de 10 (dez) dias ou, não apresentada resposta no prazo legal, seja nomeado defensor
dativo para oferecê-la, designando, ato contínuo, dia e hora para audiência de instrução e
julgamento;
c) ao final, sejam condenados JOSÉ WILSON SIQUEIRA CAMPOS, JOSÉ
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, SANDOVAL LOBO CARDOSO, ALVICTO
OZORES NOGUEIRA, MARCUS VINICIUS LIMA RIBEIRO e JOSÉ MARIA
BATISTA DE ARAÚJO nas penas dos crimes acima dispostos;
d) a decretação da perda de cargo público e mandato eletivo eventualmente
ocupados pelos acusados;
e) o confisco e perdimento dos bens acrescidos ilicitamente ao patrimônio dos
agentes públicos;
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f) juntada posterior dos laudos periciais e relatórios de análise em material
apreendido, ainda não encaminhados pela Polícia Federal;
h) sejam disponibilizados para os denunciados o acesso integral aos autos do
IPL nº 227/2016 (0005097-55.2016.4.01.4300) e cautelares vinculadas, para fins de ampla
defesa; e
g) a oitiva das testemunhas abaixo arroladas.
152. Requer a fixação, na sentença, do valor de R$10.147.961,3166, em caráter
solidário, apurado até agora como prejuízo material causado (artigos 63 e 387 do Código de
Processo Penal), mais R$ 10.000.000,00, a título de dano moral coletivo, porquanto as
condutas também arranham bens jurídicos difusos e pluriofensivos (ordem econômica,
administração da Justiça, patrimônio moral da coletividade e confiança coletiva nas
instituições democráticas) e impedem o financiamento de serviços públicos essenciais à
coletividade.
153. Registra-se que a conduta das pessoas físicas que intervieram no processo
de lavagem de bens e capitais, aqui mencionadas, será objeto de denúncia específica. Também
a conduta dos servidores da AGETRANS que atuaram na fiscalização dos contratos
impugnados e receberam pagamentos indevidos.
X. Rol de testemunhas/colaboradores
66 Soma dos valores desviados nos contratos. Vide Capítulo que cuida do peculato desvio, notadamente oslaudos periciais e provas testemunhais, além dos colaboradores.
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XI. Rol de documentos
DOC 1 - Contratos Financeiros
DOC 2 - Relatórios de Análise de Material
DOC 3 - Depoimentos Relevantes
DOC 4 - Relatórios CGE
DOC 5 - Laudos da Polícia Federal
DOC 6 - Execução do contrato 39-2012
DOC 7 - Execução do contrato 08-2014
Palmas-TO, 21 de novembro de 2019.
José Ricardo Teixeira Alves
PROCURADOR DA REPÚBLICA
Rafael Paula Parreira CostaPROCURADOR DA REPÚBLICA
Daniel Luz Martins de Carvalho
PROCURADOR DA REPÚBLICA
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Assinatura/Certificação do documento PR-TO-00023756/2019 PETIÇÃO nº 29-2019
Signatário(a): JOSE RICARDO TEIXEIRA ALVESData e Hora: 21/11/2019 11:19:32
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Signatário(a): RAFAEL PAULA PARREIRA COSTAData e Hora: 22/11/2019 12:32:14
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