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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Exatas e Biológicas ICEB Departamento de Educação Matemática DEEMA Mestrado Profissional em Educação Matemática MODELAGEM MATEMÁTICA COMO UM AMBIENTE DE APRENDIZAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS EM MODELAGEM MATEMÁTICA DE UM GRUPO DE ESTUDANTES AO TRANSFORMAR UMA BRINCADEIRA EM UMA PRÁTICA ESPORTIVA Mestrando: Rogério Braga Soares Orientador: Daniel Clark Orey Ouro Preto, Minas Gerais Maio/2018

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  • MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

    Universidade Federal de Ouro Preto

    Instituto de Ciências Exatas e Biológicas – ICEB

    Departamento de Educação Matemática – DEEMA

    Mestrado Profissional em Educação Matemática

    MODELAGEM MATEMÁTICA COMO UM AMBIENTE DE

    APRENDIZAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS

    EM MODELAGEM MATEMÁTICA DE UM GRUPO DE ESTUDANTES AO

    TRANSFORMAR UMA BRINCADEIRA EM UMA PRÁTICA ESPORTIVA

    Mestrando: Rogério Braga Soares

    Orientador: Daniel Clark Orey

    Ouro Preto, Minas Gerais

    Maio/2018

  • MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

    Universidade Federal de Ouro Preto

    Instituto de Ciências Exatas e Biológicas – ICEB

    Departamento de Educação Matemática – DEEMA

    Mestrado Profissional em Educação Matemática

    Rogério Braga Soares

    MODELAGEM MATEMÁTICA COMO UM AMBIENTE DE

    APRENDIZAGEM PARA O DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS

    EM MODELAGEM MATEMÁTICA DE UM GRUPO DE ESTUDANTES AO

    TRANSFORMAR UMA BRINCADEIRA EM UMA PRÁTICA ESPORTIVA

    Dissertação apresentada ao Programa de

    Mestrado Profissional em Educação

    Matemática da Universidade Federal de

    Ouro Preto como requisito parcial para a

    obtenção do título de Mestre em

    Educação Matemática sob a orientação

    do Prof. Dr. Daniel Clark Orey.

    Ouro Preto, Minas Gerais

    Maio/2018

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus, por não me abandonar nos momentos difíceis e por sempre colocar

    em meu caminho pessoas sábias e amigas, com as quais sempre pude contar nesse longo

    trajeto.

    Agradeço a minha esposa Miliane e aos meus filhos Caio e Miguel, por compreenderem

    minhas ausências e meus momentos de recolhimento, durante essa fase de

    aprofundamento acadêmico e dedicação à pesquisa.

    Agradeço a meus pais Fernando e Marina e a meus irmãos Rubens, Juliana e Fernando,

    que sempre torceram pelo meu sucesso acadêmico e profissional.

    Agradeço a minha sogra Abadia por ser uma avó paciente e dedicada e sempre pronta a

    cuidar dos netos quando precisei.

    Agradeço aos professores Dr. Daniel Clark Orey (meu orientador), Dr. Milton Rosa

    (membro interno da banca examinadora), Dr. Dale Willian Bean (in Memorian) e Dr.

    Tod Shockey, com os quais tive meu primeiro contato dentro do Programa de Mestrado

    Profissional em Educação Matemática da UFOP, quando me aceitaram como aluno

    especial da disciplina de Etnomatemática em 2015, contribuindo para que eu seguisse

    nessa trajetória.

    Agradeço aos demais professores do programa, em especial a Profa. Dra. Ana Cristina

    Ferreira, Prof. Dr. Frederico da Silva Reis, Profa. Dra. Marger da Conceição Ventura

    Viana e Prof. Dr. Plínio Cavalcanti Moreira, com os quais aprendi várias lições.

    Agradeço ao professor Dr. Jonei Cerqueira Barbosa, por aceitar o convite para compor a

    minha banca examinadora como membro externo e, também, pelas suas valiosas

    contribuições para a valorização desse estudo.

    Agradeço aos colegas mestrandos das turmas de 2015, 2016 e 2017 pelos momentos de

    convívio, trocas de experiências, colaborações, incentivos e confraternizações. Em

    especial aos amigos, Andressa, Josias, Luan e Márcio.

    Agradeço a Senhora Gislaine Alves e a Professora Ana Carolina Maciel, que foram as

    minhas maiores incentivadoras para ingressar no programa de mestrado.

    Agradeço ao amigo Professor Wanderlei da Silva, pelo companheirismo e caronas, sem

    essa ajuda não teria conseguido concluir as duas disciplinas isoladas em 2015.

    Agradeço aos alunos participantes desse estudo pelo empenho, dedicação e seriedade no

    desenvolvimento das tarefas e aos diretores das escolas onde o trabalho de campo foi

    conduzido.

    Enfim agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para que eu

    pudesse alcançar esse objetivo, que Deus abençoe todos vocês.

  • RESUMO

    Esta pesquisa foi realizada em uma escola pública da rede estadual de ensino, localizada

    em Belo Horizonte, Minas Gerais, com 34 alunos do segundo ano do Ensino Médio na

    Educação de Jovens e Adultos (EJA). O objetivo central deste estudo foi verificar quais

    são as possíveis contribuições que a modelagem matemática como um ambiente de

    aprendizagem pode trazer para o desenvolvimento das competências de modelagem

    matemática de um grupo de estudantes, ao transformarem uma brincadeira em uma

    prática esportiva. Nesse direcionamento, a fundamentação teórica foi pautada na

    modelagem matemática como um ambiente de aprendizagem, em suas dimensões crítica

    e reflexiva, na modelagem matemática e os esportes e nas competências de modelagem

    matemática. Por conseguinte, foram desenvolvidos quatro blocos de atividades,

    desenvolvidos de acordo com as três fases e as dez etapas da modelagem matemática

    conforme propostas por Rosa em suas investigações. A coleta, a análise e a

    interpretação dos dados foram realizadas por meio da utilização da metodologia do

    estudo misto denominado QUAL+quan, por meio da qual os dados qualitativos e

    quantitativos foram coletados, analisados e interpretados simultaneamente.

    Posteriormente, os dados qualitativos foram quantificados. Nesse estudo, foram

    utilizados como instrumentos para a coleta de dados, dois questionários, sendo um

    inicial e outro final, com questões fechadas e abertas; quatro blocos de atividades do

    registro documental, que foram realizadas pelos participantes durante a condução do

    trabalho de campo, bem como as anotações registradas no diário de campo do professor-

    pesquisador. A interpretação dos dados foi realizada por meio da elaboração de duas

    categorias temáticas mistas, de seis subcategorias mistas e uma emergente, que

    possibilitaram o desenvolvimento da resposta para a questão de investigação dessa

    pesquisa. Os resultados dessa investigação mostram que, no ambiente de aprendizagem

    proporcionado pela modelagem matemática, os participantes desse estudo puderam

    relacionar a matemática com a prática esportiva, observando a sua importância na

    padronização de equipamentos esportivos, favorecendo, assim, o desenvolvimento da

    criticidade e da reflexão, sobre o papel da matemática em outras áreas ou situações do

    mundo real. Desse modo, a partir do envolvimento dos participantes nas atividades

    propostas em sala de aula, foi possível identificar ações realizadas pelos participantes,

    explícita ou implicitamente, envolvendo o raciocínio e a utilização de estratégias

  • diversas que os tornaram competentes para entender a situação-problema dada, elaborar

    modelos com dados provenientes mundo real, resolver as questões relacionadas com os

    modelos matemáticos e validar as soluções encontradas durante a condução do projeto

    de construção de carrinhos de rolimã. A partir da finalização dessa pesquisa, foi

    elaborado um produto educacional em formato de um caderno de sugestões com

    atividades interdisciplinares para que os professores e pessoas interessadas nessa

    temática possam criar um ambiente de aprendizagem sociocrítico e reflexivo para seus

    alunos, fundamentado na modelagem matemática.

    Palavras-chave: Modelagem Matemática, Ambientes de Aprendizagem, Dimensões

    Crítica e Reflexiva, Modelagem e Esportes, Competências em Modelagem.

  • ABSTRACT

    This research was carried out in a public school in the state education network, located

    in Belo Horizonte, Minas Gerais, with 34 second year high school students enrolled in

    youth and adult education (EJA). The central objective of this study was to verify what

    are the possible contributions that mathematical modeling as a learning environment can

    bring to the development of mathematical modeling skills of a group of students, by

    transforming a game into a sports practice. The theoretical basis for this study was

    based on mathematical modelling as a learning environment in both its critical and

    reflexive dimensions, mathematical modelling and sports and mathematical modelling

    skills. Four blocks of activities were developed, developed according to the three phases

    of mathematical modelling proposed and made use of the ten steps suggested by Rosa in

    his investigations. Data collection, analysis and interpretation were performed using the

    mixed study methodology QUAL + quan, through which qualitative and quantitative

    data were collected, analyzed and interpreted simultaneously where the qualitative data

    were quantified. In this study, the application of two questionnaires were used as an

    instrument for the collection of data. Both a pre and post questionnaire was developed

    with closed and open questions, four blocks of documentary activities that were carried

    out by the students during the course of the field work with notes made by the teacher-

    researcher's field diary. The interpretation of the data was carried out by means of the

    elaboration of two mixed thematic categories, six mixed subcategories and one

    emergent subcategory that allowed the research question of the research to be answered.

    The results of this investigation showed that in the learning environment provided by

    mathematical modelling the participants of this study were able to relate mathematics to

    sports practice, observing its importance in the standardization of sports equipment, thus

    favoring the development of criticality and reflection on the role of mathematics in

    other areas and situations in the real world. From the involvement in the proposed

    activities, it was possible to identify actions taken by the participants both explicitly or

    implicitly, involving reasoning and diverse strategies that made them competent to

    understand the problem situation, and to elaborate real world models, to solve questions

    related to mathematical models and validate the solutions. Based on this research, an

  • educational product was developed in a book format including suggestions with

    interdisciplinary activities so that interested teachers can easily create a sociocritical

    learning environments for their own students.

    Key words: Mathematical Modelling, Learning Environments, Critical and Reflective

    Dimensions, Modelling and Sports, Modelling Competencies.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Carrinho de rolimã construído com madeira e rolamentos de aço. ................. 24

    Figura 2: Croqui do campo de beisebol .......................................................................... 52

    Figura 3: Participação de alunos e professores nos 3 (três) casos de modelagem.......... 56

    Figura 4: Processo de realização do método misto de pesquisa ..................................... 65

    Figura 5: Design metodológico simultâneo do estudo misto ......................................... 66

    Figura 6: Processo de pesquisa QUAL + quan do estudo misto .................................... 67

    Figura 7: Fontes de triangulação utilizadas no estudo .................................................... 68

    Figura 8: Kit com os 18 carrinhos da marca Hot Wheels ............................................... 96

    Figura 9: Pista utilizada na corrida de carrinhos ............................................................ 97

    Figura 10: Print de tela mostrando o trecho do vídeo de uma competição entre ciclistas

    ...................................................................................................................................... 107

    Figura 11: Print de tela mostrando trecho do vídeo em que um garoto desenvolve uma

    prática de empilhar copos ............................................................................................. 108

    Figura 12: Print de tela mostrando trecho do vídeo em que aparece a brincadeira entre

    os atletas de uma equipe de futebol .............................................................................. 110

    Figura 13: Parte I do regulamento do Mundialito de Rolimã do Abacate .................... 112

    Figura 14: Parte II do regulamento do Mundialito de Rolimã do Abacate .................. 113

    Figura 15: Parte III do regulamento do Mundialito de Rolimã do Abacate ................. 113

    Figura 16: Parte IV do regulamento do Mundialito de Rolimã do Abacate ................. 113

    Figura 17: Parte V do regulamento do Mundialito de Rolimã do Abacate .................. 114

    Figura 18: Parte VI do regulamento do Mundialito de Rolimã do Abacate ................. 114

    Figura 19: Momento da largada de uma bateria infantil no Mundialito de Rolimã do

    Abacate ......................................................................................................................... 115

    Figura 20: Momento da largada de uma bateria infantil no Mundialito de Rolimã do

    Abacate ......................................................................................................................... 115

    Figura 21: Parte inicial da pista de corrida de carrinhos de rolimã .............................. 115

    Figura 22: Parte central da pista de corridas de carrinhos de rolimã ............................ 116

    Figura 23: Foto do trecho final da pista de corrida utilizada no Mundialito de Rolimã do

    Abacate ......................................................................................................................... 116

    Figura 24: Mapa da localização da rua onde é realizado o Mundialito de Rolimã do

    Abacate ......................................................................................................................... 117

    Figura 25: Carrinho I utilizado por um competidor no Mundialito de Rolimã do Abacate

    ...................................................................................................................................... 119

    Figura 26: Carrinho II utilizado por um competidor no Mundialito de Rolimã do

    Abacate ......................................................................................................................... 120

    Figura 27: Questão 166 da prova cinza do Enem de 2011 ........................................... 122

    Figura 28: Esboço do carrinho de rolimã realizado pela participante DF06 ................ 127

    Figura 29: Esboços de um carrinho de rolimã elaborados pelos participantes do grupo A

    ...................................................................................................................................... 127

  • Figura 30: Esboços de um carrinho de rolimã elaborados pelos participantes do grupo B

    ...................................................................................................................................... 128

    Figura 31: Esboço do carrinho de rolimã apresentado elaborado pelo participante CM06

    do grupo C .................................................................................................................... 128

    Figura 32: Esboços de um carrinho de rolimã apresentados pelos participantes DM01 e

    DM03 do grupo D ......................................................................................................... 129

    Figura 33: Participantes do grupo B realizando as comparações para definirem as

    dimensões do banco e do eixo principal do carrinho de rolimã ................................... 130

    Figura 34: Participantes AM02, BF05 e CM06 definindo a medida do eixo central do

    carrinho de rolimã ......................................................................................................... 130

    Figura 35: Print de tela mostrando o momento do vídeo em que o participante DM01

    expõe sua ideia de posicionamento do banco para os participantes dos demais grupos

    ...................................................................................................................................... 131

    Figura 36: Esboço feito pelo participante DM01 mostrando a perfuração do eixo

    principal para o ajuste do acento .................................................................................. 131

    Figura 37: Esboço do rolimã dianteiro elaborado pelo participante DM02 juntamente

    com os integrantes de seu grupo ................................................................................... 132

    Figura 38: Esboço do rolimã traseiro elaborado pelo participante DM02 juntamente com

    os integrantes de seu grupo ........................................................................................... 132

    Figura 39: Print de tela mostrando momento do vídeo em que aparece a apresentação

    dos líderes dos grupos para os demais participantes .................................................... 134

    Figura 40: Planilha preenchida pelo participante BM02 .............................................. 136

    Figura 41: Vista superior do carrinho de rolimã .......................................................... 137

    Figura 42: Vista lateral do carrinho de rolimã .............................................................. 138

    Figura 43: Vistas frontal e traseira do carrinho de rolimã ............................................ 138

    Figura 44: Desenho elaborado pelo participante CM06 ............................................... 140

    Figura 45: Desenho do banco do carrinho de rolimã elaborado pelo participante CM06

    ...................................................................................................................................... 141

    Figura 46: Banco do carrinho de rolimã ....................................................................... 143

    Figura 47: Base guia do carrinho de rolimã ................................................................. 143

    Figura 48: Bases suspensoras dianteiras ....................................................................... 143

    Figura 49: Base suspensora traseira.............................................................................. 144

    Figura 50: Eixo principal do carrinho de rolimãs ......................................................... 144

    Figura 51: Eixo dos rolimãs dianteiro .......................................................................... 144

    Figura 52: Eixo dos rolimãs traseiro ............................................................................ 144

    Figura 53: Conjunto com parafuso, arruelas e porcas para fixação da base guia. ........ 144

    Figura 54: Conjunto com parafusos, arruelas e borboletas para fixação do banco. ..... 145

    Figura 55: Rolimãs dianteiros....................................................................................... 145

    Figura 56: Rolimãs traseiros ......................................................................................... 145

    Figura 57: Quatro kits para a montagem dos carrinhos de rolimã. ............................... 146

    Figura 58: Grupo C recebendo o kit de peças, o desenho e a planilha ......................... 148

  • Figura 59: Participantes do grupo A conferindo as dimensões das peças e lançando os

    valores na planilha ........................................................................................................ 148

    Figura 60: Participantes do Grupo B desenvolvendo as atividades do terceiro bloco .. 149

    Figura 61: Participante DM03 medindo as peças do carrinho de rolimã para transcrevê-

    las para a planilha ......................................................................................................... 149

    Figura 62: Montagem do carrinho de rolimã pelas integrantes do grupo A ................. 154

    Figura 63: Montagem do carrinho de rolimã pelos participantes do grupo B .............. 154

    Figura 64: Integrantes do grupo C mancando as posições dos pregos para prender a

    parte traseira do carrinho de rolimãs ............................................................................ 155

    Figura 65: Momento em que o participante DM03 utilizou um estilete para desgastar o

    eixo dos rolimãs ............................................................................................................ 155

    Figura 66: Desenho das vistas superiores das sete peças de madeira do carrinho de

    rolimã elaborado pela participante BF05...................................................................... 159

    Figura 67: Cálculos desenvolvidos pelo participante CM02 ........................................ 159

    Figura 68: Cálculos da aluna BF07 para a atividade proposta ..................................... 160

    Figura 69: Esboço elaborado pelo participante CM06 do corte no eixo do e da cunha

    para fixação dos rolimãs ............................................................................................... 163

    Figura 70: Rolimã fixado no eixo do carrinho ............................................................. 163

    Figura 71: Teste dos carrinhos dentro da sala de aula .................................................. 164

    Figura 72: Teste do carrinho de rolimã do grupo C no corredor da escola .................. 164

    Figura 73: Pesagem dos carrinhos de rolimã ................................................................ 165

    Figura 74: Pista utilizada para a competição de corrida de carrinhos de rolimã .......... 169

    Figura 75: Largada da primeira bateria eliminatória entre os participantes AM02 e BM02

    ...................................................................................................................................... 170

    Figura 76: Chegada da primeira bateria da competição masculina .............................. 170

    Figura 77: Eliminatória masculina disputada entre os participantes CM06 e DM03 ... 171

    Figura 78: Largada da prova final disputada entre os participantes AM02 e DM03 .... 171

    Figura 79: Chegada da prova final disputada entre os participantes AM02 e DM03 ... 172

    Figura 80: Largada da prova final feminina ................................................................. 172

    Figura 81: Prova final da competição feminina............................................................ 173

    Figura 82: Final dos 200 metros da prova T44 das paraolimpíadas de Londres 2012 . 256

    Figura 83: Mundialito de Rolimã do Abacate que acontece anualmente ..................... 258

    Figura 84: Ilustração de uma pista de atletismo ........................................................... 259

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1: Faixa etária dos participantes desse estudo ................................................... 71

    Gráfico 2: Renda familiar dos participantes em salários mínimos ................................. 72

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Competências em modelagem matemática identificadas por Almeida e Zanin

    (2016) ............................................................................................................................. 40

    Quadro 2: Relacionamento entre as três fases e as dez etapas do desenvolvimento da

    modelagem matemática em sala de aula......................................................................... 63

    Quadro 3: Horário de aulas do turno da noite ................................................................ 69

    Quadro 4: Tipo de escola frequentada pelos participantes no ensino fundamental........ 72

    Quadro 5: Resposta dada pelos participantes para a questão cinco do questionário inicial

    ........................................................................................................................................ 73

    Quadro 6: Atividades desenvolvidas durante a condução do trabalho de campo .......... 79

    Quadro 7: Tipo de dados coletados em cada um dos instrumentos ................................ 80

    Quadro 8: Respostas dadas para a questão 6 do questionário inicial ............................. 83

    Quadro 9: Respostas dadas para a questão 7 do questionário inicial ............................. 84

    Quadro 10: Respostas dadas para a questão 8 do questionário inicial ........................... 85

    Quadro 11: Esportes praticados pelos participantes desse estudo .................................. 85

    Quadro 12: Respostas dadas pelos participantes para a questão 9 do questionário inicial

    ........................................................................................................................................ 86

    Quadro 13: Respostas dadas pelos participantes para a questão 10 do questionário

    inicial .............................................................................................................................. 87

    Quadro 14: Respostas dadas pelos participantes para a questão 11 do questionário

    inicial .............................................................................................................................. 88

    Quadro 15: Respostas dadas pelos participantes para a questão 13 do questionário

    inicial .............................................................................................................................. 89

    Quadro 16: Respostas dadas à questão 14 do questionário inicial ................................. 90

    Quadro 17: Respostas dadas pelos participantes para a questão 15 do questionário

    inicial .............................................................................................................................. 91

    Quadro 18: Opinião dos participantes sobre os critérios necessários para que uma

    competição esportiva seja realizada em condições de igualdade entre os atletas .......... 92

    Quadro 19: Atividades realizadas no primeiro bloco do registro documental ............... 93

    Quadro 20: Distribuição dos participantes em cada grupo no dia 13 de março de 2017 95

    Quadro 21: Distribuição dos participantes em cada grupo a partir de 24 de abril de 2017

    ........................................................................................................................................ 95

    Quadro 22: Carrinhos escolhidos pelos participantes de cada grupo ............................. 96

    Quadro 23: Fatores que influenciaram a escolha do carrinho de rolimã ........................ 97

    Quadro 24: Respostas dadas para a questão 2 do primeiro bloco de atividades ............ 99

    Quadro 25: Respostas dadas para a questão 3 do primeiro bloco de atividades .......... 100

    Quadro 26: Respostas dadas para a questão 4 do primeiro bloco de atividades .......... 101

    Quadro 27: Respostas dadas para a questão 5 do primeiro bloco de atividades .......... 102

    Quadro 28: Respostas dadas à questão 6 do primeiro bloco de atividades .................. 102

    Quadro 29: Respostas dadas para a questão 7 do primeiro bloco de atividades .......... 103

    Quadro 30: Respostas dadas para a questão 8 do primeiro bloco de atividades .......... 104

  • Quadro 31: Atividades desenvolvidas no segundo bloco ............................................. 105

    Quadro 32: Respostas dadas pelos participantes para o exercício final do segundo bloco

    ...................................................................................................................................... 123

    Quadro 33: Participantes presentes em cada grupo no dia da aplicação das atividades do

    terceiro bloco ................................................................................................................ 124

    Quadro 34: Desenvolvimento do terceiro bloco de atividades ..................................... 125

    Quadro 35: Quantidade e nome das peças de madeira do carrinho de rolimã.............. 134

    Quadro 36: Trecho do diálogo que ocorreu entre o professor-pesquisador e o

    participante CM06 durante a elaboração do desenho do carrinho de rolimã................ 135

    Quadro 37: Frequência dos participantes no dia 02 de Julho de 2017 ......................... 136

    Quadro 38: Planilha digitada pelo professor-pesquisador ............................................ 137

    Quadro 39: Dúvidas apontadas pelo marceneiro e suas justificativas .......................... 139

    Quadro 40 : Planilha revisada com as correções realizadas pelos participantes .......... 142

    Quadro 41: Distribuição dos participantes nos grupo a partir de 19 de Junho de 2017 146

    Quadro 42: Frequência dos participantes de cada grupo no dia 19 de Junho de 2017 . 146

    Quadro 43: Atividades do terceiro bloco desenvolvidas no dia 19 de Junho de 2017 . 147

    Quadro 44: Planilha mostrando as dimensões medidas pelos integrantes do grupo A . 150

    Quadro 45: Planilha mostrando as dimensões medidas pelos participantes do grupo B

    ...................................................................................................................................... 151

    Quadro 46: Planilha mostrando as dimensões medidas pelos integrantes do grupo C. 152

    Quadro 47: Planilha apresentando as dimensões medidas pelos integrantes do grupo D

    ...................................................................................................................................... 153

    Quadro 48: Descrição da atividade aplicada no terceiro bloco em 23 de Junho de 2017

    ...................................................................................................................................... 158

    Quadro 49: Respostas dadas pelos participantes desse estudo para a questão da atividade

    sobre escalas desenvolvida durante o terceiro bloco .................................................... 161

    Quadro 50: Frequência dos participantes no dia 26 de Junho de 2017 ........................ 161

    Quadro 51: Descrição da atividade aplicada no terceiro bloco em 26 de junho de 2017

    ...................................................................................................................................... 162

    Quadro 52: Medidas dos pesos dos carrinhos de rolimã de cada grupo ....................... 165

    Quadro 53: Respostas das pelos grupos ao tópico 2 da folha de validação dos carrinhos

    de rolimã ....................................................................................................................... 166

    Quadro 54: Frequência dos participantes no dia 16 de Julho de 2017 ......................... 167

    Quadro 55: Descrição das atividades desenvolvidas no quarto bloco no dia 16 de Julho

    de 2017 ......................................................................................................................... 168

    Quadro 56: Respostas dadas pelos participantes à questão 1 do questionário do bloco 4

    ...................................................................................................................................... 174

    Quadro 57: Respostas dadas pelos participantes à questão 2 do questionário do bloco 4

    ...................................................................................................................................... 175

    Quadro 58: Respostas dadas pelos participantes à questão 3 do questionário do bloco 4

    ...................................................................................................................................... 176

  • Quadro 59: Respostas dadas pelos participantes à questão 4 do questionário do bloco 4

    ...................................................................................................................................... 177

    Quadro 60: Respostas dadas pelos participantes à questão 5 do questionário do bloco 4

    ...................................................................................................................................... 178

    Quadro 61: Respostas dadas pelos participantes à questão 1 do questionário final ..... 179

    Quadro 62: Respostas dadas pelos participantes para o item b da questão 1 ............... 180

    Quadro 63: Respostas dadas pelos participantes para a questão 2 do questionário final

    ...................................................................................................................................... 181

    Quadro 64: Respostas dadas pelos participantes para a questão 3 do questionário final

    ...................................................................................................................................... 182

    Quadro 65: Respostas dadas pelos participantes à questão 4 do questionário final ..... 183

    Quadro 66: Respostas dadas pelos participantes à questão 5 do questionário final ..... 184

    Quadro 67: Respostas dadas pelos participantes à questão 6 do questionário final ..... 185

    Quadro 68: Respostas dadas pelos participantes para a questão 7 do questionário final

    ...................................................................................................................................... 186

    Quadro 69: Respostas dadas pelos participantes para a questão 8 do questionário final

    ...................................................................................................................................... 187

    Quadro 70: Respostas dadas pelos participantes para a questão 9 do questionário final

    ...................................................................................................................................... 188

    Quadro 71: Respostas dadas pelos participantes à questão 10 do questionário final ... 189

    Quadro 72: Respostas dadas pelos grupos para a questão 11 do questionário final ..... 190

    Quadro 73: Respostas dadas pelos participantes à questão 12 do questionário final ... 191

    Quadro 74: Quantificação dos dados qualitativos, frequência de termos e palavras ... 194

    Quadro 75: Quantificação dos dados qualitativos, frequência de frases e expressões. 196

    Quadro 76: Relação entre os blocos de atividades, as três fases e as dez etapas da

    modelagem ................................................................................................................... 210

  • Sumário

    INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 20

    UMA TRAJETÓRIA RUMO À MODELAGEM MATEMÁTICA ........................ 20

    CAPÍTULO I ................................................................................................................ 29

    1. FUNDAMENTANDO TEORICAMENTE A PROBLEMÁTICA DO ESTUDO

    .........................................................................................................................................29

    1.1. Modelagem Matemática .................................................................................. 29

    1.1.1. Competências de Modelagem Matemática ................................................... 36

    1.2. Modelagem Matemática Sociocrítica .............................................................. 41

    1.2.1. Dimensões Crítica e Reflexiva da Modelagem Matemática .................... 42

    1.3. Ambientes de Aprendizagem ........................................................................... 45

    1.4. Modelagem Matemática como um Ambiente de Aprendizagem .................... 47

    1.5. Modelagem Matemática e os Esportes ............................................................ 49

    1.5.1. Engenharia Desportiva Educacional ......................................................... 52

    1.6. Modelagem Matemática e Currículo ............................................................... 55

    CAPÍTULO II ............................................................................................................... 64

    2. UMA FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA PARA A UTILIZAÇÃO DO

    ESTUDO MISTO ......................................................................................................... 64

    2.1. Design Metodológico: Método Misto de Pesquisa ......................................... 64

    2.1.1. Triangulação dos Dados ........................................................................... 67

    2.2. Contexto Escolar .............................................................................................. 69

    2.3. Participantes da Pesquisa ................................................................................. 69

    2.4. Instrumentalização ........................................................................................... 73

    2.4.1. Questionários Inicial e Final ..................................................................... 74

    2.4.2. Blocos de Atividades do Registro Documental ........................................ 75

    2.4.3. Diário de Campo ....................................................................................... 76

    2.5. Procedimentos Metodológicos ......................................................................... 77

    2.6. Análise e Interpretação dos Dados ................................................................... 80

    CAPÍTULO III ............................................................................................................. 82

    3. ORGANIZAÇÃO, APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

    DOS DADOS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS .......................................... 82

  • 3.1. Apresentação e Análise das Informações Contidas nos Dados Qualitativos

    (QUAL) e Quantitativos (quan) do Questionário Inicial ............................................. 82

    3.2. Apresentação e Análise das Informações contidas nos Dados Qualitativos

    (QUAL) e Quantitativos (quan) dos Blocos de Atividades do Registro Documental . 92

    3.2.1. Bloco de Atividades 1: Apresentação do Tema e Experimentando uma

    Corrida de Carrinhos ............................................................................................... 93

    3.2.2. Bloco de Atividades 2: Apresentação do carrinho de rolimã, a competição

    e a proposta de padronização ................................................................................. 104

    3.2.3. Bloco de Atividades 3: Elaboração dos Projetos, Montagem dos Carrinhos

    e Validação ............................................................................................................ 124

    3.2.4. Bloco de Atividades 4: A Competição ........................................................ 166

    3.2.4.1. Teste dos Carrinhos Rolimãs e Ajustes Finais .................................... 168

    3.2.4.2. Provas das Modalidades Masculina e Feminina ................................. 169

    3.2.4.3. Apresentação e Análise das Informações Contidas nos Dados

    Qualitativos (QUAL) e Quantitativos (quan) do Questionário do Bloco 4 ........ 173

    3.3. Apresentação e Análise das Informações Contidas nos Dados Qualitativos

    (QUAL) e Quantitativos (quan) do Questionário Final ............................................. 178

    CAPÍTULO IV ............................................................................................................ 192

    4. INTERPRETANDO OS RESULTADOS UTILIZANDO AS CATEGORIAS

    DE ANÁLISES ............................................................................................................ 192

    4.1. Quantificação dos Dados Qualitativos ........................................................... 192

    4.2. Modelagem Matemática como um Ambiente de Aprendizagem .................. 203

    4.2.1. Matemática e Contexto Escolar .............................................................. 207

    4.2.2. Competências de Modelagem Matemática ............................................. 209

    4.2.3. Matemática e Esportes ............................................................................ 219

    4.3. Modelagem Matemática nos Esportes ........................................................... 220

    4.3.1. Brincadeiras ............................................................................................ 221

    4.3.2. Condições de Igualdade em Competições Esportivas ............................ 222

    4.3.3. Criticidade e Reflexão ............................................................................ 223

    4.3.4. Ação Pedagógica para a Modelagem Matemática .................................. 226

    CAPÍTULO V ............................................................................................................. 229

    5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: RESPONDENDO À QUESTÃO DE

    INVESTIGAÇÃO ....................................................................................................... 229

    5.1. Questão de Investigação ................................................................................ 229

  • 5.2. Respondendo a questão de investigação ........................................................ 230

    5.3. Considerações Finais ..................................................................................... 233

    REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 237

    LISTA DE APÊNDICES ........................................................................................... 245

    LISTA DE ANEXOS .................................................................................................. 264

  • 20

    INTRODUÇÃO

    UMA TRAJETÓRIA RUMO À MODELAGEM MATEMÁTICA

    Tendo em vista o cenário atual da educação, todo esforço no sentido de

    modificar as práticas pedagógicas que não se enquadram às necessidades dos alunos é

    válido. Assim, um dos principais objetivos desse estudo é utilizar a modelagem

    matemática como um ambiente de aprendizagem para que os alunos possam adquirir

    e/ou desenvolver as competências de modelagem matemática e, consequentemente,

    contribuir para a reestruturação da prática docente que possibilite a sua participação

    ativa no processo de ensino e aprendizagem em matemática.

    Atualmente, o maior desafio dos professores em sala de aula é vincular a teoria

    com a prática no exercício da docência. Assim, esse estudo buscou mostrar algumas

    possibilidades para que essa interação possa ocorrer nesse ambiente de aprendizagem.

    Então, se no exercício da profissão docente, as tarefas que antes eram simples e

    prazerosas se tornam árduas e cansativas, faz-se necessário reavaliar os métodos e

    buscar novas técnicas para garantir a eficiência do processo de ensino e aprendizagem,

    bem como a qualidade do produto final, ou seja, uma aprendizagem matemática com

    significado por parte dos alunos enquanto sujeitos em formação contínua.

    Como professor de matemática, o pesquisador percebeu, em sua prática docente,

    que o processo de ensino e aprendizagem dessa disciplina está cada vez mais difícil, por

    vários aspectos, como, por exemplo, o envolvimento dos alunos nas aulas, a falta de

    compromisso da maioria dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem dessa

    disciplina, as condutas éticas e morais em desacordo com a prática pedagógica, bem

    como a definição das relações de poder em discussões desencadeadas nas salas de aula.

    Esses aspectos ultrapassam os limites escolares, atingindo as relações dos alunos

    no ambiente familiar, as políticas públicas educacionais que, na maioria das vezes, estão

    em desacordo com a realidade e os cursos de formação de professores de matemática.

    Nesse sentido, percebe-se que, a cada ano, está mais difícil seguir os métodos

    tradicionais do processo de ensino e aprendizagem em matemática que estão

    relacionados com a prática do exercício e da repetição, pois os alunos clamam por

    mudanças.

    Desse modo, a utilização da bagagem cultural dos alunos e de suas experiências

    matemáticas no ambiente escolar “requer uma série de procedimentos que passam pela

  • 21

    observação cuidadosa da situação ou do fenômeno a ser modelado, pela interpretação da

    experiência realizada, pela captação do significado do que produz” (BIEMBENGUT,

    2004, p. 17). Então, se ensinar matemática significa desenvolver o raciocínio lógico,

    estimular o pensamento independente, a criatividade e a capacidade de resolver

    problemas, é importante que os professores de matemática busquem alternativas para

    motivar a aprendizagem, desenvolver a autoconfiança, a organização, a concentração, o

    convívio social e a troca de experiências entre os alunos (ROSA; OREY, 2012a).

    De acordo com esse contexto, o interesse do professor-pesquisador1 foi

    desenvolver uma pesquisa por meio da qual a matemática aparecesse sob um princípio

    que não estivesse apenas relacionado com o acúmulo de regras e fórmulas a serem

    decoradas e aplicadas em um exame ou teste padronizado, mas com um conjunto de

    objetos matemáticos vinculados ao cotidiano dos alunos.

    Nessa perspectiva, esses objetos podem servir como ferramentas pedagógicas

    para a sua utilização efetiva em momentos oportunos, pois visam auxiliar os alunos em

    seu desenvolvimento como cidadãos críticos e reflexivos e, também, com senso de

    justiça social (ROSA; OREY, 2007). Nesse sentido, ressalta-se que o:

    (...) objetivo do ensino da matemática deveria ser descobrir novos

    fatos a cerca da própria pessoa, sociedade, cultura e capacitar o

    estudante a fazer melhores julgamentos e tomar decisões; construir

    relações entre conceitos matemáticos, situações concretas e

    experiências pessoais (FASHEH, 1998, p. 12).

    De acordo com essa asserção, existe a necessidade de que o processo de ensino e

    aprendizagem em matemática seja conduzido por meio do esforço dos educadores para

    diminuírem a distância entre a teoria e a prática docente em sala de aula.

    Nesse direcionamento, durante a trajetória do professor-pesquisador como um

    docente, foi observado que os alunos são atraídos pelos conteúdos com aplicações

    práticas e, principalmente, quando trabalham com atividades curriculares que

    aproximam os conceitos matemáticos adquiridos em sala de aula com as atividades

    práticas que são desenvolvidas no contexto cultural em que vivem.

    1Nesse estudo, denominação professor-pesquisador é utilizada para se referir ao autor dessa pesquisa.

    Ressalta-se que essa denominação é empregada, pois o autor desse estudo também é o professor da

    disciplina da turma pesquisada. Nesse sentido, os professores-pesquisadores estão centrados na

    “consideração da prática, que passa a ser meio, fundamento e destinação dos saberes que suscita[m],

    desde que esses possam ser orientados e apropriados pela ação reflexiva do[s] professor[es]”

    (MIRANDA, 2006, p. 135). Assim, esses professores, que são pesquisadores, refletem criticamente sobre

    as questões educacionais relativas ao desenvolvimento de sua própria prática pedagógica com o objetivo

    de aprimorá-la em seu cotidiano docente.

  • 22

    Essa abordagem pedagógica considera os alunos como integrantes de um

    determinado grupo sociocultural, que adquirem os conhecimentos matemáticos nos

    ambientes social, cultural, econômico, político e ambiental ao longo de sua trajetória

    (ROSA; OREY, 2012).

    Por exemplo, no ano letivo de 2015, em uma das escolas onde o professor-

    pesquisador trabalhou, foi realizada uma intervenção na aula com a utilização de temas

    relacionados com razão, proporção, divisão proporcional, regra de três simples e

    composta. Durante essa intervenção, um aluno explicou o processo de fabricação do

    pãozinho de sal realizado por seu pai, que é o proprietário de uma padaria.

    Assistindo essa apresentação, o professor-pesquisador também se tornou um

    aluno e ficou admirado, principalmente, por tratar-se de um estudante que estava em

    recuperação em matemática e que havia declarado algumas vezes não gostar dessa

    disciplina. Essas experiências mostram que existe a necessidade de que os professores

    de matemática utilizem esses momentos valiosos para enriquecer o processo de ensino e

    aprendizagem em matemática que é desencadeado em salas de aula.

    Dessa maneira, em concordância com os Parâmetros Curriculares Nacionais

    (PCN) de Matemática, a:

    (...) situação-problema é o ponto de partida da atividade matemática e

    não a definição. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos,

    ideias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a

    exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos

    precisem desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las

    (BRASIL, 1998, p. 40).

    Para o professor-pesquisador, as atividades práticas realizadas em sala de aula

    podem estar relacionadas com o desenvolvimento de atividades esportivas, que podem

    ser estudadas por meio da modelagem matemática. Por exemplo, o estudo conduzido

    por Barbosa (2001) mostra o desenvolvimento de um projeto de modelagem em uma

    escola particular em Salvador, na Bahia, com três turmas de sétimo ano com 45 alunos

    em cada sala de aula. Assim, os membros de um dos grupos trabalharam com a

    ginástica olímpica e se interessaram em calcular o percurso em diagonal da ginasta no

    tatame por meio da elaboração de um modelo matemático com a utilização do Teorema

    de Pitágoras.

    O professor-pesquisador também observou que, nas escolas em que lecionou, os

    alunos praticavam esportes convencionais orientados pelos professores de educação

    física. Porém, em momentos informais extraclasses, esses alunos se organizavam e

  • 23

    brincavam com uma variação do futebol, por exemplo, criando as suas próprias regras,

    compartilhando os espaços, concentrados e cada um esperando o seu momento de entrar

    na brincadeira. Então se pergunta, será que é possível intervir em uma brincadeira e

    transformá-la em uma modalidade esportiva? Será possível realizar essa intervenção

    utilizando conceitos matemáticos? Como a matemática atuaria nesse processo? Seria

    interessante para os alunos?

    Após uma reflexão sobre essas indagações, discutindo com alguns colegas de

    profissão e com alguns alunos, o professor-pesquisador percebeu a viabilidade de criar

    um ambiente para a aprendizagem de conteúdos matemáticos por meio da utilização da

    modelagem matemática. Dessa maneira, para a criação desse ambiente, o professor-

    pesquisador relembrou uma brincadeira antiga, que não se sabe ao certo a sua origem,

    que é o carrinho de rolimã. E a partir dessa prática propôs a configuração de uma

    modalidade esportiva, considerando as suas manobras e velocidade. Nesse

    direcionamento, é importante o desenvolvimento de:

    (...) atividades que despertem o interesse dos alunos por intermédio do

    esporte e dos desafios por ele proporcionados, utilizando diversos

    conteúdos, possibilitando que os alunos aprendam o verdadeiro

    sentido da Matemática. Assim sendo, o esporte acaba desafiando o

    aluno a buscar, sempre, superar seus adversários e a si próprio, o que

    resulta em motivação para a prática do estudo (HARTMANN, 2014,

    p. 2).

    Então, essa abordagem é capaz de “ajudar o aluno a construir o conhecimento

    matemático valendo-se do interesse que o assunto poderia despertar, tornando-os

    autônomos, capazes de pensar e construir estratégias próprias para resolver as situações”

    (BURAK, 2005, p. 36). Então, é importante o entendimento e a compreensão de

    situações-problema que emergem no cotidiano dos alunos para a elaboração de

    atividades curriculares em sala de aula (ROSA; OREY, 2003).

    Assim, outro objetivo importante dessa pesquisa foi investigar as diversas

    concepções de modelagem matemática presentes na literatura e, a partir dos conceitos

    relacionados com o ambiente de aprendizagem, propor uma maneira prática de aplicar a

    modelagem matemática em sala de aula, que seja conduzida pela prática esportiva

    relacionada com os carrinhos de rolimã.

    Provavelmente, esses carrinhos podem ter surgido no final dos anos 60 e início

    dos anos 70, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, devido às

    primeiras ruas pavimentadas com asfalto e, também, por causa do tipo de topografia

    íngreme dessas cidades (OS CARRINHOS..., 2011).

  • 24

    A construção desses carrinhos é simples e bem diversificada, podendo variar de

    tamanho, forma e tipo de material. O processo pode ser artesanal, pois utiliza

    ferramentas simples como, por exemplo, o martelo e o serrote, sendo que a matéria

    prima utilizada é quase sempre composta por material reaproveitado, como, por

    exemplo, a madeira de demolição e os rolamentos (OS CARRINHOS..., 2011)

    Basicamente, esses carrinhos são constituídos de um corpo de madeira com um

    eixo móvel na frente, denominado de guia, sendo que podem ser utilizados três ou

    quatro rolamentos. A figura 1 mostra o carrinho de rolimã mais comum em que há a

    utilização de madeira e rolamentos de aço que são descartados em oficinas de reparos

    automotivos.

    Figura 1: Carrinho de rolimã construído com madeira e rolamentos de aço.

    Fonte: Foto por Rogério Braga Soares

    Em 2015, o professor-pesquisador presenciou a quarta edição de um evento

    intitulado Mundialito de Rolimã do Abacate que acontece anualmente em uma rua, de

    topografia íngreme, de um bairro de Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde há um

    centro cultural denominado Quilombo do Abacate2.

    A participação do professor-pesquisador nesse evento foi apenas como

    espectador, observador e ouvinte, pois estava buscando dados que fornecessem

    informações suficientes e necessárias para verificar a possibilidade de desenvolver um

    trabalho culturalmente relevante que agregasse valor real e qualidade à educação

    matemática. Ao ler o regulamento do evento notou alguns fatores interessantes, como,

    por exemplo, que existem três modalidades nessa competição: Velocidade, Manobra e

    Estilo.

    2O Quilombo do Abacate é um espaço aberto às vivências através da arte e da cultura, permitindo trocas,

    experiências e aprendizados. Esse centro cultural é destinado à multiplicidade dos sentidos e ao

    dinamismo do espaço, pois o Quilombo está aberto às manifestações artísticas, ideias absurdas e parceiros

    de criatividade. Mais informações podem ser obtidas em: www.facebook.com/Quilombo-do-Abacate,

    cujo acesso foi realizado em 10 de Setembro de 2015.

    http://www.facebook.com/Quilombo-do-Abacate

  • 25

    O professor-pesquisador percebeu que nas duas primeiras modalidades existe

    uma influência de conceitos matemáticos e físicos, pois a velocidade atingida pelo

    carrinho pode ser influenciada por sua estrutura e trajetória, que estão associadas com

    vários conceitos de geometria, como, por exemplo, a reta, a distância entre dois pontos,

    o plano e a circunferência e, também, pelo centro de massa das figuras geométricas.

    Quanto às manobras realizadas na competição, percebe-se a utilização dos

    ângulos e de movimentos de rotação pelos competidores, porém, sem nenhum padrão

    ou rigor acadêmico, pois as ideias e procecimentos matemáticos aplicados na construção

    desses carrinhos seguem apenas as experiências pessoais adquiridas pelos praticantes

    para proporcionar um melhor desempenho dos competidores.

    Na opinião do professor-pesquisador, esse fato pode tornar a competição

    esportiva descriteriosa, pois nas competições que utilizam instrumentos e/ou

    equipamentos há a aplicação de padrões regimentais determinados pelas federações que

    visam a regulamentação das modalidades esportivas.

    Por exemplo, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) inspeciona

    circuitos e homologa os carros por meio da exigência do cumprimento de uma série de

    normas para eliminar qualquer variável que possa influenciar os resultados da disputa de

    um Grande Prêmio (GP), que não sejam a habilidade e a experiência do piloto e,

    também, as estratégias adotadas pela escuderia (ENCICLOPÉDIA F1, 2016).

    Considerando que os carrinhos de rolimã têm como força de propulsão apenas o

    impulso inicial que é dado pelo próprio piloto e a força peso, o rigor matemático poderá

    auxiliar os alunos na realização dos cálculos de grandezas que podem influenciar o

    desenvolvimento da aceleração alcançada pelos carrinhos.

    Esses cálculos estão relacionados com a massa, o diâmetro da circunferência dos

    rolimãs, o número de rolimãs, as formas geométricas das partes fixas e móveis da

    estrutura do carrinho, a largura dos eixos entre os rolimãs, o comprimento do eixo

    principal e a simetria do carrinho e a sua aerodinâmica. Esses elementos podem garantir

    a padronização desse equipamento e, consequentemente, uma competição mais

    criteriosa para os seus competidores.

    Além disso, é importante resaltar que, a partir de uma padronização desses

    equipamentos, pode existir também o desenvolvimento de um critério padronizado de

    escolha dos competidores, como, por exemplo, o biotipo dos pilotos de Fórmula 1, que

    não apresentam variações extremas de altura e de massa corporal.

  • 26

    O professor-pesquisador também percebeu essa lacuna nos critérios para a

    competição de carrinhos de rolimã por meio dos comentários proferidos por alguns

    espectadores, como, por exemplo, “assim não vale os carrinhos são muito diferentes”,

    “olha o tamanho daquele rolimã, assim ele leva vantagem” e “aquele carrinho tem as

    rodas maiores, por isso ganhou”.

    A cada ano, esses eventos vêm se popularizando e conquistando mais adeptos

    por causa de seu dinamismo e, também, pelo resgate cultural que têm proporcionado

    para os membros desse grupo sociocultural e para outros indivíduos interessados nesse

    tipo de competição. Consequentemente, Rosa e Orey (2012b) afirmam que as práticas

    socioculturais podem ser consideradas como oportunidades para o estabelecimento de

    uma conexão entre a matemática praticada localmente com aquela ensinada no ambiente

    escolar.

    É nesse sentido que D‟Ambrosio (2003) argumenta sobre a origem das ideias

    matemáticas que é o resultado de um processo que procura explicar e entender fatos e

    fenômenos observados na realidade. Essas ideias podem ser traduzidas a partir de

    elaborações de modelos matemáticos cuja obtenção, aplicação e avaliação estão

    vinculadas ao processo de modelagem matemática. De acordo com esse contexto, é

    proposta a seguinte questão de investigação:

    Quais são as possíveis contribuições que a modelagem matemática como

    um ambiente de aprendizagem pode trazer para o desenvolvimento das

    competências de modelagem matemática de um grupo de estudantes, ao

    transformarem uma brincadeira em uma prática esportiva?

    Ressalta-se que, no decorrer dos anos, várias modalidades esportivas surgiram,

    outras se adaptaram à modernidade, muitas se popularizaram e, provavelmente, a

    matemática deve ter contribuído para o desenvolvimento desses processos.

    Assim, o estabelecimento de uma conexão entre o conhecimento matemático e a

    prática esportiva tem uma relevância para o enriquecimento da educação matemática,

    pois os alunos poderão atuar na elaboração de padrões e regras, partindo de

    conhecimentos tácitos3 adquiridos em seu convívio cultural.

    3Saber qual é a melhor alternativa, saber como resolver um problema e saber quem pode nos auxiliar na

    tomada de decisão é um processo documentado, formalizado e comunicado através de algum formato

    explícito, por exemplo, um contrato firmado entre duas pessoas. Neste caso, o conhecimento é

    caracterizado como explícito. Outras vezes, estas inferências fazem parte do nosso entendimento interno,

    que está tacitamente enraizado em nosso aprendizado e em nossa experiência, por exemplo, ativar a

  • 27

    Contudo, é importante que essa abordagem esteja aliada aos conceitos

    matemáticos que auxiliarão os alunos nessas padronizações, pois poderão permitir o

    desenvolvimento de um senso crítico e de justiça, que procurem garantir uma

    competição esportiva em que os competidores possam disputar em condições de

    igualdade.

    Nesse direcionamento, esse estudo justifica-se por propor um trabalho

    pedagógico vinculado à prática esportiva que está relacionada com o potencial

    educativo do esporte, bem como com os seus benefícios para a saúde e para o convívio

    social e afetivo dos participantes desse estudo.

    Porém, essas afirmativas estão embasadas no senso comum que difunde as ideias

    de que o esporte tira a criança da rua e ajuda a fazer novas amizades. Contudo, é

    preciso observar que a prática esportiva possui um potencial significativo que pode

    transformar a vida dos alunos (SANCHES; RUBIO, 2011).

    Portanto, se a prática esportiva estiver vinculada aos fundamentos matemáticos

    por meio da modelagem matemática como um ambiente de aprendizagem, pode-se

    desenvolver uma oportunidade de aprofundamento do entendimento e da compreensão

    da realidade para que os alunos possam ampliar a sua reflexão crítica sobre os

    problemas que afligem a sociedade.

    Finalizando a parte introdutória desse estudo, o restante dessa dissertação está

    organizada em 5 (cinco) capítulos.

    O Capítulo 1 apresenta a revisão de literatura que auxiliou o professor-

    pesquisador no aprofundamento das principais teorias que fundamentam esse estudo,

    como, por exemplo, a Modelagem Matemática, a Modelagem Matemática Sociocrítica e

    a Engenharia Desportiva Educacional4. Esse capítulo também apresenta uma revisão

    teórica sobre os ambientes de aprendizagem e sobre os esportes.

    O Capítulo 2 apresenta e explicita as etapas e os procedimentos metodológicos

    que o professor-pesquisador utilizou no desenvolvimento e na condução desse estudo,

    cujo design foi baseado no Método do Estudo Misto (Mixed Methods Studies). Esse

    capítulo também descreve como foram utilizados os instrumentos metodológicos

    memória e recorrer às experiências passadas para solucionar um dilema. Nesta situação, o conhecimento é

    caracterizado como implícito, isto é, o conhecimento é tácito (ROSA; OREY, 2012, p. 265). 4De acordo com Huddle (2016), a engenharia desportiva pode ser considerada como a aplicação técnica

    de conceitos matemáticos e físicos na resolução de situações-problema relacionadas com os esportes e a

    prática esportiva.

  • 28

    necessários para a coleta e a análise dos dados e a interpretação dos resultados obtidos

    nesse estudo.

    O Capítulo 3 apresenta a análise dos dados qualitativos e quantitativos de acordo

    com os pressupostos do Método do Estudo Misto. Esse capítulo também contemplar as

    respostas dadas pelos participantes para as atividades propostas no registro documental

    que, também, serão analisadas de acordo com o referencial teórico estudado na revisão

    de literatura.

    O Capítulo 4 apresenta a interpretação dos resultados obtidos a partir da análise

    das informações constantes nas categorias a priori, mistas, bem como das categorias

    que emergiram durante o processo de levantamento das informações qualitativas e

    quantitativas obtidas nos instrumentos de coleta de dados. Esse capítulo também

    apresenta o desenvolvimento do processo de quantificação dos dados qualitativos.

    O Capítulo 5 apresenta a resposta obtida para a questão de investigação, bem

    como as considerações finais sobre a interpretação dos resultados obtidos durante a

    condução desse estudo.

    As referências bibliográficas, os apêndices e os anexos também são parte

    integrante da estrutura dessa dissertação.

    Como resultado desse estudo, foi elaborado um produto educacional que

    compartilhará, com os professores de matemática e os interessados nesse tema, um

    projeto interdisciplinar que visa o desenvolvimento da criatividade e da criticidade dos

    alunos, mostrando a importância da utilização da matemática por meio da modelagem,

    para que uma competição esportiva possa ocorrer em condições de igualdade entre os

    atletas.

  • 29

    CAPÍTULO I

    1. FUNDAMENTANDO TEORICAMENTE A PROBLEMÁTICA DO ESTUDO

    É importante disponibilizar uma educação matemática de qualidade, inclusiva e

    atrativa para os alunos, pois há uma busca incessante por novas tendências que auxiliem

    os educadores a mostrarem a matemática sob uma perspectiva diferenciada, que

    considere os conhecimentos adquiridos pelas experiências de vida dos alunos enquanto

    integrantes de um determinado grupo sociocultural.

    De acordo com esse contexto, o principal objetivo desse capítulo é providenciar

    uma revisão de literatura relacionada com a concepção de Modelagem Matemática

    como um ambiente de aprendizagem, além de sua abordagem crítica e reflexiva, através

    da construção de modelos matemáticos visando a transformação de uma brincadeira em

    uma prática esportiva.

    Dessa maneira, o foco da revisão de literatura desse estudo está fundamentado

    nos seguintes tópicos:

    a) Modelagem Matemática

    Competências de Modelagem Matemática

    b) Modelagem Matemática Sociocrítica

    Dimensões Crítica e Reflexiva da Modelagem Matemática

    c) Ambientes de Aprendizagem

    d) Modelagem Matemática como um Ambiente de Aprendizagem

    e) Modelagem Matemática e os Esportes

    Engenharia Desportiva Educacional

    f) Modelagem Matemática e Currículo

    A seguir, apresenta-se a fundamentação teórica para cada um desses tópicos e

    subtópicos, de acordo com o estudo da revisão de literatura relacionada com a

    problemática desse estudo.

    1.1. Modelagem Matemática

    As novas tendências em Educação Matemática surgiram com a necessidade de

    se reestruturar o processo de ensino e aprendizagem em matemática. A partir da

    compreensão da Educação Matemática como um campo científico e, aprofundando

  • 30

    sobre a sua evolução histórica, inicialmente, é possível identificar seis tendências

    pedagógicas para o processo de ensino e aprendizagem em matemática: a formalista-

    clássica, a empírico-ativista, a formalista-moderna, a tecnicista, a construtivista e a

    sócio-etno-culturalista, que foram defendidas por seus idealizadores e pesquisadores

    (FIORENTINI, 1995):

    1. Formalista-clássica: essa tendência é centrada nos professores, sendo que a

    aprendizagem dos alunos é realizada de maneira passiva e baseada na

    memorização. Desse modo, os professores são os detentores do domínio dos

    conteúdos que são ensinados de uma maneira pronta e acabada, para que os

    alunos apenas copiem e repitam os exercícios propostos em sala de aula.

    2. Empírico-ativista: essa tendência surgiu como uma negação ou oposição à

    escola clássica, pois os professores abandonaram o posto de profissionais

    centrais do processo de ensino ao assumirem a postura de orientadores da

    aprendizagem. Nesse modelo, o conhecimento não é adquirido somente pela

    descoberta, pois o ato de aprender exige ação, manipulação e experimentação

    por parte dos alunos. Assim, existe uma preocupação de que o processo de

    ensino e aprendizagem seja realizado por meio da relação da matemática

    com outras ciências e, também, pela utilização de seus valores utilitários5.

    Nesse sentido, os alunos aprendem fazendo, pois trabalham com a resolução

    de problemas diários, participando da realização de atividades experimentais.

    3. Formalista-moderna: a Matemática Moderna foi um movimento de

    renovação no processo de ensino e aprendizagem de conteúdos matemáticos

    que se fortaleceu nas décadas de 1960 e 1970. Esse período caracterizou-se

    pelo desenvolvimento da tendência formalista-moderna, que enfatizava um

    ensino que tinha o propósito de organizar o conhecimento matemático de

    acordo com a utilização da linguagem, do rigor e das justificativas. Esse tipo

    de ensino priorizava a teoria dos conjuntos, as estruturas algébricas, as

    relações e as funções, sendo centrado nos professores e desvinculado das

    5De acordo com Biotto Filho (2014), os valores utilitários da matemática estão relacionados com o

    desenvolvimento da capacidade de os alunos lidarem com situações novas e reais, com a preparação para

    a sua participação política ao desenvolverem noções de economia, com a capacidade de analisar e

    interpretar os dados estatísticos, com a capacidade de resolver situações de conflito e de tomar decisões.

    Dessa maneira, a matemática é útil como um instrumentador para a vida e para o trabalho.

  • 31

    aplicações práticas. Esse movimento educacional está mais preocupado com

    a formação de especialistas em matemática do que cidadãos.

    4. Tecnicista: a finalidade dessa tendência é integrar os indivíduos e a

    sociedade para torná-los capacitados e úteis para o desenvolvimento dos

    objetivos da sociedade. Os conteúdos matemáticos são apresentados com a

    utilização de uma instrução programada por meio da qual os alunos realizam

    uma série de tarefas, do tipo resolva os exercícios abaixo, seguindo o modelo

    ou arme e efetue, que são propostas pelos professores. Nessa abordagem, os

    alunos e os professores são considerados como os executores de programas

    educacionais desenvolvidos por especialistas. Nesse tipo de instrução, os

    recursos e as técnicas de ensino são o centro do processo de ensino e

    aprendizagem.

    5. Construtivista: nessa tendência, os alunos interagem de uma maneira

    reflexiva com o meio ambiente através da construção de conhecimentos

    matemáticos para que possam adquirir a capacidade de aprender a aprender,

    bem como desenvolver o pensamento lógico-formal.

    6. Sócio-etno-culturalista: essa tendência propõe a utilização de problemas

    retirados da realidade dos alunos, que estão inseridos em grupos culturais

    diversos e distintos, que podem gerar temas para serem trabalhados em sala

    de aula. Desse modo, essa abordagem visa trazer uma visão antropológica,

    social e política para a Educação Matemática para que os alunos possam

    atribuir sentido e significado às ideais matemáticas, possibilitando-lhes o

    desenvolvimento do raciocínio e da análise crítica e reflexiva, bem como o

    estabelecimento de relações e a elaboração de hipóteses e justificativas.

    Continuando com o ciclo de evolução do processo educacional de ensino e

    aprendizagem em matemática, surgem outras tendências em Educação Matemática

    dentre as quais se destaca um movimento direcionado pela Modelagem Matemática.

    Algumas das principais tendências atuais em Educação Matemática são:

    Etnomatemática, História da Matemática, Resolução de Problemas e Tecnologias da

    Informação e Comunicação.

  • 32

    1) Etnomatemática: Ubiratan D‟Ambrosio (1993) afirma que a etnomatemática

    é um programa de pesquisa lakatosiano6, que vem adquirindo visibilidade

    como uma proposta pedagógica com uma importante repercussão na

    Educação Matemática, pois propõe um enfoque epistemológico alternativo

    associado a uma historiografia ampla. Assim, a ação pedagógica desse

    programa é alcançada partindo da realidade de uma forma natural que tem

    um enfoque cognitivo com uma forte fundamentação cultural. A cognição

    matemática é caracterizada na espécie humana, nas atividades de comparar,

    classificar, quantificar, medir, explicar, generalizar, inferir, modelar e

    avaliar. Então, a cognição está vinculada à cultura, que pode ser entendida

    como a união de conhecimentos compartilhados e comportamentos

    compatibilizados. Nesse sentido, a cognição de cada indivíduo está enraizada

    na cultura de seu grupo cultural (D‟AMBROSIO, 2001). Por conseguinte, o

    Programa Etnomatemática procura trazer subsídios para que se possa

    entender como os indivíduos consideram a realidade na qual estão inseridos.

    2) História da Matemática: essa tendência surgiu como um potencial para o

    desenvolvimento das aulas de matemática com o objetivo de facilitar a

    aprendizagem dessa disciplina, pois os “conceitos [matemáticos] abordados

    em conexão com [a] sua história constituem veículos de informação cultural,

    sociológica e antropológica de grande valor formativo. [Portanto,] a História

    da Matemática é, nesse sentido, um instrumento de resgate da própria

    identidade cultural” (BRASIL, 1997, p. 42) dos alunos.

    3) Resolução de Problemas: essa é uma tendência empregada no processo de

    ensino e aprendizagem em matemática, sendo considerada como um método

    eficaz para desenvolver o raciocínio lógico dos alunos, motivando-os no

    estudo dessa disciplina. Assim, o processo de ensino e aprendizagem pode

    ser desenvolvido através da resolução de situações-problema interessantes

    que despertem nos alunos o desejo de explorar caminhos variados para

    6A etnomatemática possui várias características relacionadas com a metodologia científica do programa

    de pesquisa lakatosiano, pois os principais componentes desse programa são o núcleo firme, as heurísticas

    e o cinturão protetor de hipóteses auxiliares, que facilitam a análise dos fenômenos empíricos. O principal

    objetivo do programa etnomatemática é o desenvolvimento e o fortalecimento das teorias que compõem o

    seu cinturão protetor, ampliando-o e tornando-o mais preciso com relação às predições empíricas que são

    realizadas em relação ao seu núcleo firme, que pode ser considerado como um conjunto de teorias

    irrefutáveis que possibilita a tomada de decisões metodológicas (ROSA; OREY, 2015).

  • 33

    determinar a sua solução (POLYA, 2006). Dessa maneira, o ensino por meio

    da resolução de problemas tem como objetivo auxiliar os alunos a lidarem

    com os insucessos, a agirem com perseverança, a apreciarem os pequenos

    progressos e a descobrirem a ideia essencial para que possam entender as

    situações-problema enfrentadas em seu cotidiano.

    4) Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC): é essencial que as escolas

    estimulem nos alunos a aquisição, a organização, a geração e a difusão de

    um conhecimento vivo que seja integrado aos valores e expectativas da

    sociedade por meio da utilização de tecnologia na educação. Essa abordagem

    garante a viabilidade desses acontecimentos, pois, a “informática e [as]

    comunicações dominarão a tecnologia educativa do futuro” (D‟AMBRÓSIO,

    1997, p. 80). Nesse sentido, as TIC possibilitam que os alunos estudem e

    explorem novos temas educacionais de diversas maneiras para que

    continuem motivados e interessados em seus estudos. O emprego das

    tecnologias no processo de ensino e aprendizagem em matemática pode

    promover uma mudança na prática pedagógica dos professores e no

    estabelecimento da relação da matemática com o seu ensino (FIORENTINI;

    LORENZATO, 2006).

    Retornando à modelagem matemática, o estudo de um breve histórico de seu

    desenvolvimento mostra que o:

    (...) termo „modelagem matemática‟ [é utilizado] como [um] processo

    para descrever, formular, modelar e resolver uma situação problema

    de alguma área do conhecimento encontra-se já no início do século

    XX na literatura de Engenharia e Ciências Econômicas

    (BIEMBENGUT, 2009, p. 7).

    De acordo com esse contexto, no Brasil, o início da Modelagem Matemática

    ocorreu por meio de trabalhos que procuravam incentivar a utilização de modelos

    matemáticos para o ensino da Matemática, realizado pelo Professor Aristides Barreto,

    na Pontifica Universidade Católica, no Rio de Janeiro, na década de 1970.

    Na década seguinte, em 1980, o movimento da modelagem matemática se

    fortaleceu com os estudos conduzidos pelo professor Ubiratan D‟Ambrósio. Nessa

    mesma década, o professor Rodney Bassanezi começou a aplicar a modelagem como

    um instrumento pedagógico em cursos de especialização para professores

    (BIEMBENGUT, 2009).

  • 34

    A partir dessa década, começaram a surgir trabalhos direcionando as aplicações

    da Modelagem Matemática para o ensino fundamental (BIEMBENGUT, 1990;

    BURAK, 1987), para o Ensino Médio (BIEMBENGUT, 1990; BURAK, 1992) e para o

    Ensino Superior (BORBA; MENEGHETTI; HERMINI, 1997; JACOBINI, 1999). Além

    disso, surgiram trabalhos, com modelagem matemática, direcionados para a formação

    de professores (BURAK, 1992; GAZZETA, 1989) e para a Educação de Jovens e

    Adultos (MONTEIRO, 1991).

    Do ponto de vista da educação matemática, constata-se que a modelagem

    matemática promove diversos delineamentos. Por exemplo, na perspectiva dos

    educadores matemáticos nota-se o desenvolvimento de algumas de suas dimensões,

    como, por exemplo, a modelagem como uma estratégia pedagógica (ARAÚJO, 2002;

    BASSANEZI, 2002) e como um ambiente de aprendizagem (BARBOSA, 2001;

    JACOBINI, 1999; DINIZ, 2007).

    Nesse movimento de evolução da modelagem, outras dimensões surgiram nesse

    campo de estudo, como, por exemplo, a etnocomputação (TEDRE, 2002) e a

    etnomodelagem (ROSA; OREY, 2010). Dessa maneira, a etnocomputação é o estudo

    das interações entre a computação e a cultura, que emerge do conhecimento

    desenvolvido nos grupos culturais, adaptando-se às mudanças que ocorrem nesses

    grupos ao estudar os fenômenos computacionais que são desenvolvidos nesses

    ambientes por meio da modelagem matemática (ROSA; OREY, 2012).

    A etnomodelagem é o estudo dos fenômenos que ocorrem em uma determinada

    cultura, pois é um construto social e culturalmente enraizado, que contempla os aspectos

    culturais do conhecimento matemático no processo da modelagem. Nesse processo, a

    tradução do conhecimento matemático local pode ser realizada por meio de métodos

    científicos (abordagem ética), podendo auxiliar os professores e alunos na compreensão

    dos fenômenos cotidianos (ROSA; OREY, 2014).

    Em concordância com essas dimensões, a utilização da modelagem matemática

    tem sido bem sucedida no oferecimento de cursos de especialização, de capacitação e de

    aperfeiçoamento de professores, no ensino superior (BASSANEZI, 2002), nos ensinos

    fundamental e médio (BIEMBEGUTT, 1999), no ensino de estatística (JACOBINI,

    1999) e, também, na educação de jovens e adultos (MONTEIRO, 1991).

    Por outro lado, a modelagem matemática pode ser considerada como um

    processo de construção de modelos que transforma uma situação real em uma situação

    matemática (BLUM, 1995). Essa abordagem consiste, essencialmente, na arte de

  • 35

    transformar problemas da realidade visando resolvê-los para que os indivíduos possam

    interpretar as suas soluções utilizando a linguagem do mundo real (BASSANEZI,

    2002). Contudo, quando aplicada no ensino, a modelagem pode ser entendida como

    uma descrição matemática de um fenômeno que é escolhido colaborativamente por

    grupos de professores (BORBA, 1999).

    De acordo com os aportes teóricos e metodológicos que utilizam as experiências

    vivenciadas pelos indivíduos no processo da modelagem matemática (ROSA; OREY,

    2014) essa tendência em Educação Matemática reconhece que as aplicações da

    matemática estão presentes na sociedade, pois trazem contribuições importantes para o

    processo de ensino e aprendizagem em matemática.

    Assim, a modelagem pode ser considerada como uma ferramenta pedagógica

    muito útil para a ação pedagógica desencadeada em sala de aula. Nessa abordagem, as

    atividades de modelagem matemática podem ser consideradas como oportunidades que

    os alunos possuem para explorar o papel que a matemática desempenha na sociedade

    contemporânea (BARBOSA, 2001).

    Portanto, a modelagem matemática assumiu outras concepções, como, por

    exemplo, a epistemológica ou teórica, a educacional, a contextual, a cognitiva e a

    sociocrítica (KAISER; SRIRAMAN, 2006 apud FREITAS, 2016, p. 47). De acordo

    com o ponto vista de Freitas (2016), essas concepções são reconhecidas como

    perspectivas internacionais da modelagem matemática que podem ser resumidamente

    entendidas como:

    a) Epistemológica ou Teórica: essa perspectiva evidencia o aperfeiçoamento

    dos conceitos matemáticos através das teorias matemáticas, abordando, dessa

    forma, as situações-problema previamente estruturadas para atingirem esse

    objetivo.

    b) Educacional: é uma junção das concepções realística e epistemológica da

    modelagem matemática, que considera o desenvolvimento da teoria

    matemática por meio da introdução de novos conceitos matemáticos ou pelo

    desenvolvimento de conceitos adquiridos previamente pelos alunos

    (modelagem conceitual) em concomitância com a estruturação e a promoção

    do aprendizado por meio da proposição de situações-problema autênticas

    (modelagem didática).

  • 36

    c) Contextual: nessa perspectiva são utilizadas situações-problema reais em sala

    de aula para a inclusão da modelagem matemática com o objetivo de motivar

    os alunos na promoção da aprendizagem por meio da interpretação dos

    enunciados dessas situações propostas. O principal objetivo dessa concepção

    é auxiliar os alunos na elaboração dos modelos matemáticos.

    d) Cognitiva: essa perspectiva estuda os processos cognitivos dos alunos

    enquanto realizam as atividades de modelagem propostas em sala de aula,

    pois está fundamentada na psicologia cognitiva. Essa concepção pode ser

    descrita como uma meta perspectiva, pois representa um estudo holístico do

    fenômeno em estudo, buscando entendê-lo de maneira ampla, abrangente,

    humanista e natural.

    e) Sociocrítica: essa perspectiva prioriza o pensamento crítico e reflexivo sobre

    o papel e a natureza dos modelos, bem como a função da matemática na

    sociedade contemporânea. Tortola, Silva e Almeida (2011) afirmam que essa

    perspectiva visa a formação de alunos autônomos e aptos para exercerem a

    cidadania.

    Independente da perspectiva adotada é importante salientar que a modelagem

    matemática tem sido caracterizada como uma atividade essencialmente investigativa e,

    em geral, requer dos alunos a utilização de procedimentos específicos nas atividades

    escolares das aulas de matemática (BLUM; FERRI, 2009; ALMEIDA, SILVA;

    VERTUAN, 2012). Sendo assim, torna-se relevante um aprofundamento teórico das

    competências necessárias para que os alunos possam participar de atividades de

    Modelagem Matemática como um recurso para a sua efetiva aprendizagem em sala de

    aula.

    1.1.1. Competências de Modelagem Matemática

    Para que se possa compreender a expressão competências de modelagem, é

    importante que se defina o termo competências, de uma maneira geral, pois existem

    várias definições para o mesmo. Essa variação de definição está relacionada com as

    diferentes origens do termo competência em vários ramos da ciência, bem como em

  • 37

    relação à distinção de certos tipos de competências (MAAβ, 2006). Por exemplo, para

    Dias (2010), o termo:

    Competência é um constructo teórico que se supõe como uma

    construção pessoal, singular, específica de cada um. É única e

    pertence exclusivamente à pessoa, exprimindo-se pela adequação de

    um indivíduo a uma situação (p.10).

    Contudo, para esse estudo, as definições derivadas no domínio pedagógico

    parecem ser significativas. Por exemplo, a competência pode ser definida como a

    capacidade que os indivíduos possuem para analisar e julgar, respectivamente, a

    adequação das descrições e das tarefas para transferi-las para ação (FREY, 1999 apud

    MAAβ, 2006).

    Em relação à expressão competência matemática,