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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PAES LANDIM EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PAES LANDIM/PI. O Ministério Público do Estado do Piauí, por seu representante legal, subscritor da presente peça, no uso de suas atribuições legais, precipuamente conferidas pelos arts. 127 e 129 da Constituição Federal de 1988, pelos arts. 1º e 5º da Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985, pelos arts. 81 e 82 da Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e pelo art. 25 da Lei Federal nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, vêm, perante Vossa Excelência, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUMULADA COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR, contra o Estado do Piauí, representado, neste ato, pelo Procurador Geral do Estado, nos termos do art. 12 do Código de Processo Civil, com endereço à rua Áurea Leão, 1650,Bairro Jockei Clube, Teresina-PI(CEP 64049-110) apresentando, para tanto, os motivos fáticos e jurídicos adiante esposados. I - SINOPSE FÁTICA. A presente ação tem por alicerce vistoria realizada pela Promotoria de Justiça de Paes Landim em inúmeras obras inacabadas no Município sede da Comarca mencionada. Percebe-se que a pequena cidade de Paes Landim, que dista 430km de Teresina, é um verdadeiro “cemitério de obras inacabadas”, tão grande é o número de obras iniciadas sem que tenham sido devidamente concluídas São diversas as obras iniciadas e não concluídas. Desde simples poços artesianos a aeroportos, de quadras esportivas a balneários, não há limite para a falta de planejamento por parte do Estado do Piauí na execução de suas obras. Em sua maioria, as obras estão abandonadas, com material de construção jogado ao lado das mesmas, sem que o Estado tenha cronograma para conclusão ou sequer um calendário programático para esclarecer aos cidadãos quando a obra será concluída.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PAES LANDIM

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PAES LANDIM/PI.

O Ministério Público do Estado do Piauí, por seu representante legal, subscritor da presente peça, no uso de suas atribuições legais, precipuamente conferidas pelos arts. 127 e 129 da Constituição Federal de 1988, pelos arts. 1º e 5º da Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985, pelos arts. 81 e 82 da Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e pelo art. 25 da Lei Federal nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, vêm, perante Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUMULADA COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR, contra o Estado do Piauí, representado, neste ato, pelo Procurador Geral do

Estado, nos termos do art. 12 do Código de Processo Civil, com endereço à rua Áurea Leão, 1650,Bairro Jockei Clube, Teresina-PI(CEP 64049-110) apresentando, para tanto, os motivos fáticos e jurídicos adiante esposados.

I - SINOPSE FÁTICA. A presente ação tem por alicerce vistoria realizada pela Promotoria de Justiça

de Paes Landim em inúmeras obras inacabadas no Município sede da Comarca mencionada. Percebe-se que a pequena cidade de Paes Landim, que dista 430km de Teresina, é um verdadeiro “cemitério de obras inacabadas”, tão grande é o número de obras iniciadas sem que tenham sido devidamente concluídas

São diversas as obras iniciadas e não concluídas. Desde simples poços

artesianos a aeroportos, de quadras esportivas a balneários, não há limite para a falta de planejamento por parte do Estado do Piauí na execução de suas obras.

Em sua maioria, as obras estão abandonadas, com material de construção

jogado ao lado das mesmas, sem que o Estado tenha cronograma para conclusão ou sequer um calendário programático para esclarecer aos cidadãos quando a obra será concluída.

Em muitas das obras, o abandono vêm causando mais prejuízos para o Estado do Piauí, uma vez que a paralisação das mesmas implica em aumento de despesas, já que recrudescem os gastos por maior necessidade de mão de obra e por mais material para reparar o desgaste decorrente de tanto tempo de abandono.

Risco maior se apresenta quando se sabe que no Brasil não faltam exemplos de

dinheiro público desperdiçado com verdadeiros “elefantes brancos” iniciados e abandonados, imobilizando patrimônio público sem qualquer utilidade para a comunidade.

Pois bem, o Estado do Piauí iniciou inúmeras obras na cidade de Paes Landim

que se encontram paralisadas, sendo que a vistoria, sem prejuízo de outras existentes, detectou algumas das obras em tal situação.

II - DAS OBRAS PARALISADAS 01.Balneário e Hotel Fazenda; Foi realizada vistoria nas obras do Balneário Poço Jorrante e Hotel Fazenda

situado nas proximidades das casas da Cohab em Paes Landim(saída para a cidade de Socorro do Piauí e São José do Peixe). O valor do contrato é de R$715.501,82(setecentos e quinze mil quinhentos e um mil e oitenta e dois centavos)com o contrato de nº 441-08 com a empresa Marcante Construtora LTDA(CNPJ 06208902-0001-2) com prazo de execução de 150 dias. A obra é da Emgerpi e o responsável pela obra é Amadeu Olimpío C Filho(CREA 1422-D-PI), encontrando-se inacabada. Existem 02 prédios levantados e com telhas colocadas, não estando tais prédios pintados ou com piso colocado.

Dentro de um dos prédios funciona um chiqueiro com porcos. A instalação elétrica está inacabada. Em relação a esta obra, foi realizado o pagamento de R$143.100,36(cento e

quarenta e três mil cem reais e trinta e seis centavos) aos 04 dias de Agosto de 2009, tendo sido seguido de aditivos que postergam indefinidamente a conclusão da obra que teve apenas 21,98% executados(conforme Parecer da Auditoria nº 020/2011).

02.Centro Cultural; A vistoria, à rua Alves Ferreira, visitou uma obra de responsabilidade da

Emgerpi no valor de R$186.095,30(cento e oitenta e seis mil noventa e cinco reais e trinta centavos) . A obra visa à construção de um Centro Cultural na cidade de Paes Landim, tendo o contrato de nº 27.037-09 com prazo de execução de 180 dias e tendo por empresa responsável a empresa Evidências Construções e Serviços LTDA. O técnico responsável é Roosberg Silva Rocha(Crea 18413-PI). Na placa consta como sendo a obra fruto de convênio com a Prefeitura Municipal de Paes Landim e .foi possível constatar que a obra encontra-se inacabada, tendo sido apenas colocado tijolo vermelho(bloco), alicerce, sem, no entanto, concluir a estrutura básica e

não há telhado e nem piso colocado. Segundo os policiais que acompanharam a vistoria, a obra foi paralisada antes das eleições de 2010, estando, desde então, paralisada.

03.Aeroporto; A vistoria teve continuidade na obra referente ao Aeroporto de Paes Landim que

fica na entrada para a localidade Onça. Na placa indicativa consta a obra no valor de R$798.492,64(setecentos e noventa e oito mil quatrocentos e noventa e dois reais e sessenta e quatro centavos) e como empresa contratada a JMM construções LTDA(CNPJ 08607680-001-18, responsável técnico Daniela Mota)referente ao contrato 80-09.A obra tem por objeto a implantação em tratamento superficial simples com banho diluído no Aeroporto de Paes Landim-PI. Foi realizada medição da pista com o marcador do veículo usado na vistoria e foi constatado que a pista tem ao todo 1km(aproximadamente), sendo metade com fina camada de asfalto e a outra metade com terraplanagem e não asfaltada. Não há postes ou iluminação na pista. Há uma área lateral com terraplanagem(como se fosse para construção de ponto de apoio com medidas aproximadas de 80metros x 80metros, não sendo asfaltada).Também se trata de obra não concluída e com execução paralisada.

04.Estádio Municipal; A vistoria teve prosseguimento com a verificação das obras de construção do

Estádio Municipal no valor de R$238.466,97(duzentos e trinta e oito mil reais quatrocentos e sessenta e seis centavos e noventa e sete centavos) com contrato de número 028-2009 com a empresa M D Construções LTDA(CNPJ 086916860001-16) e responsável técnico Maia dos Santos(CREA 587 SP). A obra é de responsabilidade da Fundespi e está inacabada.

Apenas o muro foi erguido e nada mais foi feito, exceto o início dos vestiários. Há tijolos no chão e areia(de obra) no local. Em relação às demais obras inacabadas já existem outras AÇÕES CIVIS

PÚBLICAS E AÇÕES CRIMINAIS ajuizadas pelo MINISTÉRIO PÚBLICO. 05. 50 Unidades Habitacionais Da mesma forma ocorre com a construção de 50(cinqüenta)unidades

habitacionais que deveriam ter sido executadas em Paes Landim sob a responsabilidade do Sr.JOSÉ PAULO PINHEIRO DE ARAÚJO.

Segundo se apurou nos autos do Processo AA.120.1.002321/08 instaurado pela

EMGERPI, a referida obra se encontra parcialmente concluída, sendo que foram executados apenas 16,47% dos serviços quando, de fato, já foram liberados 51,5% do valor do contrato, ou seja, R$257.500,00(duzentos e cinqüenta e sete mil e quinhentos reais), faltando para execução completa da obra 83,53% do objeto do contrato.

Do total de casas ajustadas, nenhuma foi integralmente concluída, cerca de 12

casas foram erguidas e colocado o teto(sem piso, banheiro e acabamento, no entanto) e nas demais apenas se iniciou o levantamento.

O descaso foi tão grande que hoje, após anos de inércia, a população, dada o

déficit habitacional, invadiu as mesmas e algumas famílias, por conta própria, estão concluindo as obras das casas.

III - FALTA DE PLANEJAMENTO POR PARTE DO ESTADO DO PIAUÍ E

INDEFINIÇÃO QUANTO A CONCLUSÃO DAS OBRAS A despeito de inúmeras obras encontrarem-se paralisadas, o Estado do Piauí

não dispõe de um cronograma de execução das mesmas, de forma que vai iniciando novas obras e direcionando recursos para as mesmas sem que as obras em andamento tenham conclusão, ficando estas submetidas a um ciclo interminável de celebração de aditivos contratuais sem previsão de conclusão(os prazos dos aditivos são, na prática, meramente simbólicos, uma vez que são frequentemente superados e, por mais uma vez, celebra-se um aditivo). Pior do que isso, muitas das obras ficam paralisadas por tanto tempo que a continuidade das mesmas fica inviabilizada devidos ao efeito do tempo(intempéries que causam natural deterioração), de forma somente uma nova obra atenderá aos requisitos mínimos exigidos,o que implica no desperdício de todos os recursos usados, uma vez que a obra parcialmente executada não teve aproveitamento econômico ou social.

Assim, as obras citadas encontram-se paralisadas sem previsão para sua

conclusão, sem destinação de recursos para sua efetiva execução, tendo sua execução realizada de forma descontínua quando a regra impõe continuidade.

Tal realidade(obras inacabadas) se espalha por todo o Estado do Piauí e

demanda uma solução concreta por parte do Poder Judiciário para que tal quadro não seja regra no Estado do Piauí.

IV - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DIREITO DIFUSO. ARTS. 1º

E 5º DA LEI FEDERAL Nº 7.347/85. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, PRECIPUAMENTE O DA LEGALIDADE, MORALIDADE E DA EFICIÊNCIA. DEFESA DE INTERESSE DIFUSO DA POPULAÇÃO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

09.No presente caso, a paralisação indefinida das obras públicas demonstra

verdadeiro quadro de desorganização administrativa e falta de planejamento que afetam diretamente a eficiência no gasto público, sendo um aspecto revelador de despreparo dos administradores públicos, de inobservância de regras orçamentárias(violação ao princípio da legalidade), de falta de zelo com a coisa pública(moralidade administrativa) e de descontinuidade administrativa, uma vez que outros projetos são iniciados sem que os anteriores sejam concluídos ou sequer tenham cronograma de execução definido.

10. Cada administrador pretende dar sua marca pessoal à gestão que assume,

sendo que tal pretensão é confundida com esquecimento do passado, incluindo as obras iniciadas em gestões anteriores, olvidando os administradores que a administração é contínua, muda apenas a figura do Chefe do Executivo, de forma que os projetos e obras já iniciadas anteriormente também são partes integrantes da nova administração que tem seu curso

inalterado pela mudança na chefia da administração pública, de cunho absolutamente personalista.

11.A atuação impessoal pressupõe tratamento isonômico entre os

administrados, mas em um outro ângulo também quer dizer que a publicidade de obras, serviços e campanhas terão cunho objetivo, sem exaltações do executor, mas realçando a atuação do Estado(§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.). Ou seja, tal visão realça a Administração Pública em detrimento do Administrador, razão pela qual as obras da Administração Pública, independentemente do momento de seu início, são projetos de Estado e, seja quem for o gestor, tem responsabilidade em sua continuidade e conclusão, sob pena de se perpetuar um estado de abandono que, em última análise, significa desperdício de dinheiro público.

12. O art. 129 da Carta Magna preceitua que são funções institucionais do

Ministério Público zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia, bem como promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

13.No caso em tela, inconteste que os interesses ora defendidos são difusos,

entendidos estes como os transindividuais (que ultrapassam a individualidade de uma única pessoa), de natureza indivisível (demandam uma solução para a coletividade), de sujeitos indeterminados (tamanho é o seu alcance, sendo impossível identificar todos aqueles que estão sendo lesados ou estão na iminência de serem) e onde está ausente uma relação jurídica entre tais sujeitos.

14.É direito de cada cidadão, não apenas na qualidade de contribuinte(que

direta ou indiretamente todos somos, independentemente da classe social), mas como integrantes de um corpo social que anseio pela aplicação eficiente dos recursos públicos, pelo não desperdício de dinheiro, pelo início e conclusão das obras que atendam aos interesses da comunidade e pelo planejamento adequado por parte da Administração Pública. Por tudo o que foi acima alegado, estamos, sem sombra de dúvidas, diante de direitos difusos da população.

15. Nesse diapasão, vale transcrever o texto do art. 1º que se trata, como ensina

Nelson Nery Júnior, "de norma de encerramento, exemplificativa, que se aplica a todo e qualquer direito ou interesse difuso, coletivo ou individual tratado coletivamente" (NERY JÚNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 1129.). Eis o artigo:

"Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as

ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (...) IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;"

16. Ademais, para demonstrar que estamos tratando de direito difuso, basta lembrarmos da possibilidade de qualquer cidadão, no caso em comento, ingressar com ação popular, visando a anular os atos lesivos ao Patrimônio Público (Lei 4.717/65. Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita ânua de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.).

17. De outro modo, um mesmo fato pode ensejar a defesa de interesses difusos,

coletivos ou individuais homogêneos. 18. À vista desse aspecto de determinação de outra ou outras normas, os

princípios tornaram-se "fonte primária de normatividade" (BONAVIDES, Paulo. Op. cit. p. 254.), sendo base, portanto, da ordem jurídica que interage com os indivíduos dentro de sociedade que têm os comportamentos e as relações inter-humanas reguladas por normas jurídicas estabelecidas dentro dos parâmetros do moderno Estado de Direito. Sendo esse modelo estatal alicerçado na Constituição, a lei das leis, os princípios passam também a ser tipificados como normas constitucionais.

19. Admitidos com conteúdos normativos, os princípios, então, passam a

pertencer à classe das normas constitucionais. Acrescente-se que a Constituição, na mais prestigiosa doutrina constitucional moderna, é a indicação do ubi jus e do unde jus, no dizer de Gordilho Cañas (Apud BONAVIDES, Paulo. Op. cit. p. 261.), isto é, além de determinar a localização do Direito, vislumbra também a sua procedência. Destarte, o princípio, inserido na Constituição, converte-se também em norma das normas.

20. Daí que o inexcedível mestre paulista Celso Antônio Bandeira de Mello

(Curso de Direito Administrativo. 7ª ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 537-538.), em conceito tão requisitado pelos doutrinadores pátrios, define princípio como "(...) mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo." E acrescenta: "Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensão não apenas a um específico mandamento obrigatório mas a todo o sistema de comandos."

Em verdade, ao ajuizar a presente ação, o MP está a defender os Princípios

Constitucionais da Legalidade, Moralidade, do Patrimônio Público e da Eficiência Administrativa,

o que, segundo o Acórdão do STJ que segue in verbis implica na manifesta legitimidade do “parquet”:

STJ-266982) ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS. ASSINATURA DE ADITIVOS QUE CONFIGURARAM FRAUDE À LICITAÇÃO.

1. Recurso especial de Paulo Gomes Machado: em suas razões recursais (fls. 3.023/3.092), com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, o primeiro recorrente alega o seguinte: (I) ofensa aos arts. 131 e 458 do Código de Processo Civil (CPC) - ao argumento de que o acórdão recorrido não está devidamente fundamentado; (II) violação dos arts. 3º e 267 do CPC - ao argumento de que o Ministério Público é parte ilegítima para propor a presente demanda de ação de improbidade; (III) malversação do art. 10, incs. VIII e IX, da Lei nº 8.429/92 - ao argumento de que são ausentes dolo e culpa nas condutas reputadas ímprobas em relação ao primeiro recorrente; (IV) malversação do art. 65, inc. I, da Lei nº 8.666/93 - ao argumento de que não houve superação, pelos aditivos, do limite de 25% do valor inicial do contrato; (V) ofensa ao art. 65, inc. II, alínea "c", da Lei nº 8.666/93 e Portaria SF nº 40/94 - ao argumento de que o edital da licitação e o contrato administrativo autorizavam a alteração da data de pagamento; (VI) possibilidade de inclusão de serviços extracontratuais, em razão do que dispunha o edital de licitação e o contrato administrativo; e (VII) violação do art. 12 da Lei nº 8.429/92 - ao argumento de que não foi feita a análise do grau de culpabilidade quando da fixação das penas.

2. Em relação ao item (I), observo incidir a Súmula nº 211 do Superior Tribunal de Justiça, haja vista que a origem não analisou a tese vinculada aos arts. 131 e 458 do CPC, mesmo após a oposição dos aclaratórios.

3. As partes vincularam a tese e os artigos à nulidade do acórdão, quando a origem apenas analisou a tese no que se refere à sentença.

4. Mesmo que se admitisse a análise dos referidos dispositivos, a leitura do acórdão revela que não há vícios em sua fundamentação, a ponto de caracterizá-la inexistente. A instância ordinária abordou, inclusive pormenorizadamente, todos os pontos relevantes para o deslinde da controvérsia.

5. No que tange ao item (II), é de se asseverar a legitimidade ativa ad causam do Ministério Público que, na espécie, ao contrário do que se alega, não funciona como acautelador de interesses patrimoniais do erário, mas como guardião da legalidade e da moralidade administrativa e do patrimônio público, na forma do que dispõe o art. 129, inc. III, da Constituição da República vigente.

6. No caso concreto, o Ministério Público noticiou que pode ter havido conluio entre agentes públicos e particulares para fins de burlar licitação, com consequente nulidade do contrato e recomposição do erário.

7. Como se nota, o benefício ao interesse público secundário é mera decorrência de providências tomadas como medidas que dizem com interesse público primário (inclusive de status constitucional). Daí porque o Ministério Público não atua como advogado do Estado, mas como promotor do interesse público primário.

8. No que se refere ao item (III), a instância ordinária asseverou, com base nesse conjunto, que ficou plenamente caracterizada a vontade consciente das partes em elaborar aditivos de forma a angariar mais verba, em detrimento do interesse público primário (e secundário também). Trecho do acórdão combatido.

9. A discussão acerca da existência de dolo e culpa, na forma como articulada no especial, requer a revisitação do conjunto fático-probatório dos autos, o que esbarra na incidência da Súmula nº 7 desta Corte Superior.

10. Em relação ao item (IV), avaliar se houve superação, pelos aditivos, do limite de 25% do valor inicial do contrato e se essa superação era autorizada pelo edital de licitação e pelo contrato administrativo violaria a vedação das Súmulas nº 5 e 7 do Superior Tribunal de Justiça.

11. O mesmo raciocínio se aplica ao item (v), acrescentando-se que portarias não se enquadram no conceito de "lei federal" para fins de interposição de recurso especial.

12. No que tange ao item (vi), a parte recorrente não trouxe à colação dispositivos infraconstitucionais federais aptos a abalizar o inconformismo.

13. Por fim, no que tange ao item (VII), importa frisar que o acórdão combatido adotou expressamente a fundamentação da sentença e da petição inicial do Ministério Público no que tange à fixação das penas (inclusive, com expressa menção ao grau de culpabilidade e lesividade das condutas). Não há alegada incongruência entre as sanções estabelecidas e o grau de culpabilidade do recorrente.

14. Além disso, analisar esse tipo de congruência violaria, na espécie, a Súmula nº 7 desta Corte Superior - adequar a conduta do agente à intensidade das sanções estabelecidas pela origem.

15. Não há qualquer semelhança com o que ora se debate e o apreciado por esta Turma no REsp 1.097.757/RS, Rel. Min. Castro Meira, DJe 18.09.2009, porque, neste caso, a análise feita pelo Ministro Relator envolvia a incompatibilidade da sanção de perda de direitos políticos com a conduta simplória do agente. Aqui, as condutas dos agentes são complexas e envolvem uma rede articulada de improbidade (conforme asseverado pela origem), o que impede a valoração das sanções (a título exemplificativo: por que multa civil em 50% do valor do dano, e não 25%? Por que seis anos de suspensão de direitos políticos, e não quatro anos?), pois lastreadas no conjunto fático-probatório carreado aos autos.

16. Recurso especial de Alfredo Mário Savelli: Em suas razões recursais (fls. 2.923/2.960), o segundo recorrente sustenta ter ocorrido malversação aos seguintes dispositivos: (a) arts. 2º, 128, 262, 289 e 460 do CPC - alegando que a origem analisou e deferiu pedidos sucessivos como se cumulativos fossem, juntamente ao pedido principal; (b) arts. 282 e 295 do CPC - alegando que foi utilizada uma causa de pedir para deferir um pedido ao qual aquela não estava vinculada; (c) arts. 59, parágrafo único da Lei nº 8.666/93, 12 da Lei nº 8.429/92 e Lei Municipal nº 10.544/88 - alegando que o Ministério Público não demonstrou a ocorrência de dolo nem de conluio no caso concreto, apto a ensejar a punição do recorrente, bem como a existência de dano ao erário; e (d) arts. 6º, 58 e 65, inc. I, alínea "b" da Lei nº 8.666/93 - ao argumento de que a Administração Pública podia, no caso concreto, promover as alterações que promoveu.

17. Em relação aos argumentos listados nos itens (a) e (b), carece de prequestionamento o recurso especial (Súmula nº 211 do Superior Tribunal de Justiça).

18. No que tange aos itens (c) e (d), aplico o mesmo raciocínio desenvolvido em relação ao itens (III), (IV), (V) e (VII), ou seja, incidência das Súmulas nº 5 e 7 desta Corte Superior, pelos mesmos motivos adotados (fundamentação da origem baseada em fatos e provas; articulação de violação de dispositivos de lei federal que envolve apreciação de matéria fático-probatória), acrescentando, ainda, que a ofensa a direito local não pode ser conhecida em especial (Súmula nº 280 do Supremo Tribunal Federal, por analogia).

19. Recursos especiais de Enterpa Ambiental S/A (Qualix Serviços Ambientais S/A) e Enterpa Engenharia Ltda.: impossível conhecer dos referidos recursos, uma vez que

extemporâneos, a saber: o acórdão dos embargos de declaração foi publicado em 30.06.2003 e os recursos especiais foram interpostos antes, em 04.06.2003 (fl. 2.758) e 06.06.2003 (fl. 2.875), sem ratificação dos seus termos depois da publicação do acórdão. Precedentes.

20. Recurso especial de Paulo Gomes Machado parcialmente conhecido e, nesta parte, não provido. Recurso especial de Alfredo Mário Savelli não conhecido. Recursos especial de Enterpa Ambiental S/A (Qualix Serviços Ambientais S/A) e Enterpa Engenharia Ltda. não conhecidos.

(Recurso Especial nº 723296/SP (2005/0019103-6), 2ª Turma do STJ, Rel. Mauro Campbell Marques. j. 27.04.2010, unânime, DJe 19.05.2010).

V - DA VEDAÇÃO LEGAL A REALIZAÇÃO DE NOVAS DESPESAS SEM

DOTAÇÃO DESTINADA AS OBRAS EM EXECUÇÃO 21. A lei de responsabilidade fiscal, em seu art.45, assim preceitua: Art. 45. Observado o disposto no § 5º do art. 5º, a lei orçamentária e as de

créditos adicionais só incluirão novos projetos após adequadamente atendidos os em andamento e contempladas as despesas de conservação do patrimônio público, nos termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias.

A Lei de Responsabilidade Fiscal tem como objetivo o ajuste fiscal de longo

prazo. Se os gestores puderem iniciar obras e paralisar e iniciar outras, não haverá ajuste fiscal. O relatório que o parágrafo único do art. 45 comanda é justamente para que possamos, com essa transparência, evitar o desperdício.

O art. 45 da LRF em conjunto com o art. 42 são complementares ao princípio

constitucional do planejamento e da programação dentro de um sistema integrado (compatibilidade e continuidade). Prescreve o art. 45, da Lei Complementar nº 101/2000, que observando o disposto no § 5º, art. 5º, a Lei Orçamentária e as de crédito adicionais só incluirão novos projetos após adequadamente atendidos os em andamento e contempladas as despesas de conservação do patrimônio público, nos termos do estipulado na lei de diretrizes orçamentárias. Segundo Luciano Ferraz, o artigo sub oculis enfatiza dois princípios capitais para a administração eficiente: continuidade e economicidade.

O princípio da continuidade do serviço é norma assente aos contratos

administrativos, não sendo permitido ao contratado a interrupção dos seus serviços fortuitamente.

O mestre Caio Tácito, uma das grandes referências do Direito Administrativo,

enaltece a importância do princípio quando aponta: "O princípio da continuidade do serviço público impõe ao concessionário o dever

de prosseguir na exploração do mesmo se for ruinosa. À Administração incumbe, correlatamente, partilhar das cargas extraordinárias, restando a economia abalada e a eficácia da execução do contrato."

Segundo Mário Masagão:

"(...) a 'continuidade' significa que as necessidades públicas, a cuja satisfação se

destina o serviço, não devem ser atendidas esporadicamente, mas de forma ininterrupta e constante."

Apesar de ser um princípio inerente a toda coletividade, a continuidade do

serviço, pela evolução legislativa (art. 78, XVI, da Lei nº 8.666/93), permite que haja a exceptio non adimpleti contractus, quando for verificado atraso superior a 90 dias dos pagamentos devidos pela Administração decorrentes de obras, serviços ou fornecimento:

"Vamos mais além, pois a boa-fé, princípio assente também no direito

administrativo e a moralidade pública, alicerçada no comando legal contido no art. 78, incisos XIV e XV da Lei nº 8.666/93, permitem que haja a rescisão do contrato administrativo por inexecução da Administração Pública."

Já a economicidade é traduzida na relação custo/benefício, sendo preconizado

pelo art. 3º, da Lei nº 8.666/93 que a licitação se destina "a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração".

Portanto, é "imprescindível a existência de previsão orçamentária para a

instauração do certame licitatório", sendo "óbvio que diante da vedação à inclusão de novos projetos, sem que estejam devidamente concluídos os anteriormente existentes e atendidas as despesas inerentes à conservação do patrimônio público, vedada estará a abertura de procedimentos visando a realização dos aludidos projetos."

Encontra, no art. 70, da CF, a economicidade, a sua raiz, onde a Administração

Pública tem que controlar seus gastos, para que eles sejam levados à efeito de uma forma menos onerosa, sem que haja desperdícios ou excessos.

Resumindo, o art.45 trata da inclusão de novos projetos na lei orçamentária

anual e nas leis de crédito adicional. Assim como os projetos que o Estado pretende realizar dependem de autorização na lei orçamentária anual, para a abertura de crédito adicional há a necessidade de autorização legislativa.A única exceção se abre aos créditos extraordinários que devido a urgência, podem ser abertos por decreto executivo, dele tomando imediato conhecimento o Poder Legislativo.Os créditos adicionais caracterizam-se por tratarem-se de despesas não computadas ou insuficientemente computadas na lei orçamentária(art.40 da lei 4.320/64).

Assim, somente poderão ser incluídos novos projetos se: a)forem adequadamente atendidos os projetos em andamento; b)forem contempladas as despesas de conservação do patrimônio público, nos

termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias; Emerson Garcia salienta em sua obra o seguinte:

“Especificamente em relação a lei orçamentária anual, merece realce o disposto no art.45, “caput”, da LRF, segundo o qual, “observado o disposto no §5º do art.5º, a lei orçamentária e os créditos adicionais só incluirão novos projetos após adequadamente atendidos os em andamento e contempladas as despesas de conservação do patrimônio público, nos termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias”, devendo o Poder Executivo encaminhar ao Legislativo as informações necessárias ao cumprimento de tal disposição.Ao priorizar os projetos em andamento, a LRF buscou conter a conhecida descontinuidade na execução de projetos de longo prazo, prática que era facilmente visualizada por ocasião da renovação dos quadros da administração, já que o novo administrador, sempre relegando a plano secundário o princípio da impessoalidade, nunca possuía interesse em ultimar os projetos iniciados em gestões anteriores, pois ele não seriam vinculados à sua imagem, o que terminaria por divulgar as realizações alheias. Com a LRF, o administrados que, verbi gratia, abandone as obras inacabadas e priorize seus projetos pessoais, será responsabilizado pela infração à lei e pela depreciação do patrimônio público”. (Garcia, Emerson e Pacheco Alves, Rogério; Improbidade Administrativa; 3ª edição rev. e ampl., Editora Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2006)

Pois bem, em Paes Landim, considerando a paralisia total de todas as obras

vistoriadas, percebe-se que o Estado do Piauí não cumpriu com a exigência legal prevista no art.45 da LC 101.

VI.DOS PRINCÍPIOS QUE IMPÕEM A NECESSIDADE DE CONCLUSÃO DAS

OBRAS EM ANDAMENTO; 22.Inúmeros princípios impõem a necessidade de conclusão das obras já

iniciadas, entre os quais o princípio da função social do contrato administrativo (Ex: a paralisação poderia causar - se é que já não causa - dano ambiental); princípio da indisponibilidade dos bens e serviços públicos (não cabe ao Estado paralisar obra quando bem entenda. Se publicou edital para contratação de empresa, o Estado demonstrou à coletividade a necessidade de sua realização, devendo, portanto, fazer a obra nos termos do edital publicado, salvo caso fortuito ou força maior); princípio da moralidade administrativa; princípio da contiunuidade do serviço público; princípio da razoabilidade (a paralisação de inúmeras obras pelo Governo do Estado não "está dentro dos padrões normais de aceitabilidade. Se atuar fora desses padrões, algum vício estará, sem dúvida, contaminando o comportamento estatal." (José dos Santos Carvalho Filho)) e princípio da eficiência do serviço público.

23.Em última análise, o abandono das obras públicas iniciadas pode até mesmo

caracterizar ato de Improbidade Administrativa capitulado no art.10 ou 11 da Lei 8.429/92 que se caracteriza quando há dano ao erário.

Emerson Garcia assim se manifesta: “Concisão à parte, as observações até aqui formuladas são suficientes para

demonstra que o descumprimento dos comandos da LRF, além de violar frontalmente o princípio da legalidade, geralmente importará em nítida violação aos princípios da moralidade e eficiência...” (Garcia, Emerson e Pacheco Alves, Rogério; Improbidade Administrativa; 3ª edição rev. e ampl., Editora Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2006).

24 José Joaquim Gomes Canotilho (CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito

Constitucional. 6ª ed. Coimbra: Almedina, 1995 p. 180-183.) elabora a distinção entre princípios estruturantes, princípios constitucionais gerais, princípios constitucionais especiais e regras constitucionais. Os princípios estruturantes são "constitutivos e indicativos das idéias directivas básicas de toda a ordem constitucional" (Op. cit. p. 180.). E esses ganham concretização "através de outros princípios (ou subprincípios) que densificam os princípios estruturantes, iluminando o seu sentido jurídico-constitucional e político-constitucional, formando, ao mesmo tempo, com eles, um sistema interno" (CANOTILHO, J. J. Gomes. Op. cit. p. 181.). Portanto, os princípios estruturantes concretizam-se através dos princípios constitucionais gerais, que, por sua vez, são densificados por meio dos princípios constitucionais especiais, e esses, ao fim, concretizam-se através das regras constitucionais.

25. Assim, para a solução dessa irregularidade, ao Ministério Público cabe, na

defesa da sociedade, ajuizar a presente ação coletiva, visando a corrigir os atos atentatórios aos princípios constitucionais da administração pública, nos termos do art. 1º da Lei Federal nº 7.347/85.

VI.DA POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DO

PODER JUDICIÁRIO 26.Poder-se-ia argumentar que é descabida a atuação do Ministério Público e

do Poder Judiciário em questões referentes a realização de obras públicas sob o argumento de “reserva de atribuição” da Administração Pública e “reserva do possível”, comumente usadas pelos entes públicos na tentativa de afastar a intervenção do Poder Judiciário, entretanto o STF já solucionou a questão ao analisar a argüição de descumprimento de preceito fundamental 45 que segue in literis:

MINISTRO CELSO DE MELO-ADPF45

EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPÓTESE DE ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSÃO POLÍTICA DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBÍTRIO ESTATAL À EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS. CARÁTER RELATIVO DA LIBERDADE DE CONFORMAÇÃO DO LEGISLADOR. CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA CLÁUSULA DA "RESERVA DO POSSÍVEL". NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO, EM FAVOR DOS INDIVÍDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NÚCLEO CONSUBSTANCIADOR DO "MÍNIMO EXISTENCIAL". VIABILIDADE

INSTRUMENTAL DA ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAÇÃO DAS LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAÇÃO). DECISÃO: Trata-se de argüição de descumprimento de preceito fundamental promovida contra veto, que, emanado do Senhor Presidente da República, incidiu sobre o § 2º do art. 55 (posteriormente renumerado para art. 59), de proposição legislativa que se converteu na Lei nº 10.707/2003 (LDO), destinada a fixar as diretrizes pertinentes à elaboração da lei orçamentária anual de 2004. O dispositivo vetado possui o seguinte conteúdo material: "§ 2º Para efeito do inciso II do caput deste artigo, consideram-se ações e serviços públicos de saúde a totalidade das dotações do Ministério da Saúde, deduzidos os encargos previdenciários da União, os serviços da dívida e a parcela das despesas do Ministério financiada com recursos do Fundo de Combate à Erradicação da Pobreza." O autor da presente ação constitucional sustenta que o veto presidencial importou em desrespeito a preceito fundamental decorrente da EC 29/2000, que foi promulgada para garantir recursos financeiros mínimos a serem aplicados nas ações e serviços públicos de saúde. Requisitei, ao Senhor Presidente da República, informações que por ele foram prestadas a fls. 93/144. Vale referir que o Senhor Presidente da República, logo após o veto parcial ora questionado nesta sede processual, veio a remeter, ao Congresso Nacional, projeto de lei, que, transformado na Lei nº 10.777/2003, restaurou, em sua integralidade, o § 2º do art. 59 da Lei nº 10.707/2003 (LDO), dele fazendo constar a mesma norma sobre a qual incidira o veto executivo. Em virtude da mencionada iniciativa presidencial, que deu causa à instauração do concernente processo legislativo, sobreveio a edição da já referida Lei nº 10.777, de 24/11/2003, cujo art. 1º - modificando a própria Lei de Diretrizes Orçamentárias (Lei nº 10.707/2003) - supriu a omissão motivadora do ajuizamento da presente ação constitucional. Com o advento da mencionada Lei nº 10.777/2003, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, editada para reger a elaboração da lei orçamentária de 2004, passou a ter, no ponto concernente à questionada omissão normativa, o seguinte conteúdo material: "Art. 1º O art. 59 da lei nº 10.707, de 30 de julho de 2003, passa a vigorar acrescido dos seguintes parágrafos: 'Art.59............................................ § 3º Para os efeitos do inciso II do caput deste artigo, consideram-se ações e serviços públicos de saúde a totalidade das dotações do Ministério da Saúde, deduzidos os encargos previdenciários da União, os serviços da dívida e a

parcela das despesas do Ministério financiada com recursos do Fundo de Combate à Erradicação da Pobreza. § 4º A demonstração da observância do limite mínimo previsto no § 3º deste artigo dar-se-á no encerramento do exercício financeiro de 2004.' (NR)." (grifei) Cabe registrar, por necessário, que a regra legal resultante da edição da Lei nº 10.777/2003, ora em pleno vigor, reproduz, essencialmente, em seu conteúdo, o preceito, que, constante do § 2º do art. 59 da Lei nº 10.707/2003 (LDO), veio a ser vetado pelo Senhor Presidente da República (fls. 23v.). Impende assinalar que a regra legal em questão - que culminou por colmatar a própria omissão normativa alegadamente descumpridora de preceito fundamental - entrou em vigor em 2003, para orientar, ainda em tempo oportuno, a elaboração da lei orçamentária anual pertinente ao exercício financeiro de 2004. Conclui-se, desse modo, que o objetivo perseguido na presente sede processual foi inteiramente alcançado com a edição da Lei nº 10.777, de 24/11/2003, promulgada com a finalidade específica de conferir efetividade à EC 29/2000, concebida para garantir, em bases adequadas - e sempre em benefício da população deste País - recursos financeiros mínimos a serem necessariamente aplicados nas ações e serviços públicos de saúde. Não obstante a superveniência desse fato juridicamente relevante, capaz de fazer instaurar situação de prejudicialidade da presente argüição de descumprimento de preceito fundamental, não posso deixar de reconhecer que a ação constitucional em referência, considerado o contexto em exame, qualifica-se como instrumento idôneo e apto a viabilizar a concretização de políticas públicas, quando, previstas no texto da Carta Política, tal como sucede no caso (EC 29/2000), venham a ser descumpridas, total ou parcialmente, pelas instâncias governamentais destinatárias do comando inscrito na própria Constituição da República. Essa eminente atribuição conferida ao Supremo Tribunal Federal põe em evidência, de modo particularmente expressivo, a dimensão política da jurisdição constitucional conferida a esta Corte, que não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tornar efetivos os direitos econômicos, sociais e culturais - que se identificam, enquanto direitos de segunda geração, com as liberdades positivas, reais ou concretas (RTJ 164/158-161, Rel. Min. CELSO DE MELLO) -, sob pena de o Poder Público, por violação positiva ou negativa da Constituição, comprometer, de modo inaceitável, a integridade da própria ordem constitucional: "DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO - MODALIDADES DE COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER PÚBLICO. - O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia governamental. A situação de inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo do Poder Público, que age ou edita normas em desacordo com o que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os

princípios que nela se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um facere (atuação positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. - Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e exeqüíveis, abstendo-se, em conseqüência, de cumprir o dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público. ....................................................... - A omissão do Estado - que deixa de cumprir, em maior ou em menor extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional - qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição, também ofende direitos que nela se fundam e também impede, por ausência de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos postulados e princípios da Lei Fundamental." (RTJ 185/794-796, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial - a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, "Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976", p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas de conteúdo programático. Cabe assinalar, presente esse contexto - consoante já proclamou esta Suprema Corte - que o caráter programático das regras inscritas no texto da Carta Política "não pode converter-se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado" (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Não deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema pertinente à "reserva do possível" (STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, "The Cost of Rights", 1999, Norton, New

York), notadamente em sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujo adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas. É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais - além de caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretização - depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, considerada a limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta Política. Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese - mediante indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou político-administrativa - criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência. Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da "reserva do possível" - ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível - não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. Daí a correta ponderação de ANA PAULA DE BARCELLOS ("A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais", p. 245-246, 2002, Renovar):

"Em resumo: a limitação de recursos existe e é uma contingência que não se pode ignorar. O intérprete deverá levá-la em conta ao afirmar que algum bem pode ser exigido judicialmente, assim como o magistrado, ao determinar seu fornecimento pelo Estado. Por outro lado, não se pode esquecer que a finalidade do Estado ao obter recursos, para, em seguida, gastá-los sob a forma de obras, prestação de serviços, ou qualquer outra política pública, é exatamente realizar os objetivos fundamentais da Constituição. A meta central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular, pode ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo ponto de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade, que inclui, além da proteção dos direitos individuais, condições materiais mínimas de existência. Ao apurar os elementos fundamentais dessa dignidade (o mínimo existencial), estar-se-ão estabelecendo exatamente os alvos prioritários dos gastos públicos. Apenas depois de atingi-los é que se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em que outros projetos se deverá investir. O mínimo existencial, como se vê, associado ao estabelecimento de prioridades

orçamentárias, é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível." (grifei) Vê-se, pois, que os condicionamentos impostos, pela cláusula da "reserva do possível", ao processo de concretização dos direitos de segunda geração - de implantação sempre onerosa -, traduzem-se em um binômio que compreende, de um lado, (1) a razoabilidade da pretensão individual/social deduzida em face do Poder Público e, de outro, (2) a existência de disponibilidade financeira do Estado para tornar efetivas as prestações positivas dele reclamadas. Desnecessário acentuar-se, considerado o encargo governamental de tornar efetiva a aplicação dos direitos econômicos, sociais e culturais, que os elementos componentes do mencionado binômio (razoabilidade da pretensão + disponibilidade financeira do Estado) devem configurar-se de modo afirmativo e em situação de cumulativa ocorrência, pois, ausente qualquer desses elementos, descaracterizar-se-á a possibilidade estatal de realização prática de tais direitos. Não obstante a formulação e a execução de políticas públicas dependam de opções políticas a cargo daqueles que, por delegação popular, receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que não se revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do legislador, nem a de atuação do Poder Executivo. É que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazoável ou procederem com a clara intenção de neutralizar, comprometendo-a, a eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando, como decorrência causal de uma injustificável inércia estatal ou de um abusivo comportamento governamental, aquele núcleo intangível consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas necessárias a uma existência digna e essenciais à própria sobrevivência do indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como precedentemente já enfatizado - e até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico -, a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja sido injustamente recusada pelo Estado. Extremamente pertinentes, a tal propósito, as observações de ANDREAS JOACHIM KRELL ("Direitos Sociais e Controle Judicial no Brasil e na Alemanha", p. 22-23, 2002, Fabris): "A constituição confere ao legislador uma margem substancial de autonomia na definição da forma e medida em que o direito social deve ser assegurado, o chamado 'livre espaço de conformação' (...). Num sistema político pluralista, as normas constitucionais sobre direitos sociais devem ser abertas para receber diversas concretizações consoante as alternativas periodicamente escolhidas pelo eleitorado. A apreciação dos fatores econômicos para uma tomada de decisão quanto às possibilidades e aos meios de efetivação desses direitos cabe, principalmente, aos governos e parlamentos. Em princípio, o Poder Judiciário não deve intervir em esfera reservada a

outro Poder para substituí-lo em juízos de conveniência e oportunidade, querendo controlar as opções legislativas de organização e prestação, a não ser, excepcionalmente, quando haja uma violação evidente e arbitrária, pelo legislador, da incumbência constitucional. No entanto, parece-nos cada vez mais necessária a revisão do vetusto dogma da Separação dos Poderes em relação ao controle dos gastos públicos e da prestação dos serviços básicos no Estado Social, visto que os Poderes Legislativo e Executivo no Brasil se mostraram incapazes de garantir um cumprimento racional dos respectivos preceitos constitucionais. A eficácia dos Direitos Fundamentais Sociais a prestações materiais depende, naturalmente, dos recursos públicos disponíveis; normalmente, há uma delegação constitucional para o legislador concretizar o conteúdo desses direitos. Muitos autores entendem que seria ilegítima a conformação desse conteúdo pelo Poder Judiciário, por atentar contra o princípio da Separação dos Poderes (...). Muitos autores e juízes não aceitam, até hoje, uma obrigação do Estado de prover diretamente uma prestação a cada pessoa necessitada de alguma atividade de atendimento médico, ensino, de moradia ou alimentação. Nem a doutrina nem a jurisprudência têm percebido o alcance das normas constitucionais programáticas sobre direitos sociais, nem lhes dado aplicação adequada como princípios-condição da justiça social.

A negação de qualquer tipo de obrigação a ser cumprida na base dos Direitos Fundamentais Sociais tem como conseqüência a renúncia de reconhecê-los como verdadeiros direitos. (...) Em geral, está crescendo o grupo daqueles que consideram os princípios constitucionais e as normas sobre direitos sociais como fonte de direitos e obrigações e admitem a intervenção do Judiciário em caso de omissões inconstitucionais." (grifei) Todas as considerações que venho de fazer justificam-se, plenamente, quanto à sua pertinência, em face da própria natureza constitucional da controvérsia jurídica ora suscitada nesta sede processual, consistente na impugnação a ato emanado do Senhor Presidente da República, de que poderia resultar grave comprometimento, na área da saúde pública, da execução de política governamental decorrente de decisão vinculante do Congresso Nacional, consubstanciada na Emenda Constitucional nº 29/2000. Ocorre, no entanto, como precedentemente já enfatizado no início desta decisão, que se registrou, na espécie, situação configuradora de prejudicialidade da presente argüição de descumprimento de preceito fundamental.

A inviabilidade da presente argüição de descumprimento, em decorrência da razão ora mencionada, impõe uma observação final: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste, ao Ministro-Relator, competência plena para exercer, monocraticamente, o controle das

ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em conseqüência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar. Cumpre acentuar, por oportuno, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade constitucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando incabíveis, estranhos à competência desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante do Tribunal (RTJ 139/53 - RTJ 168/174-175). Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - AI 159.892-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

Cabe enfatizar, por necessário, que esse entendimento jurisprudencial é também aplicável aos processos de controle normativo abstrato de constitucionalidade, qualquer que seja a sua modalidade (ADI 563/DF, Rel. Min. PAULO BROSSARD - ADI 593/GO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - ADI 2.060/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.207/AL, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.215/PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), eis que, tal como já assentou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, o ordenamento positivo brasileiro "não subtrai, ao Relator da causa, o poder de efetuar - enquanto responsável pela ordenação e direção do processo (RISTF, art. 21, I) - o controle prévio dos requisitos formais da fiscalização normativa abstrata (...)" (RTJ 139/67, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Sendo assim, tendo em consideração as razões expostas, julgo prejudicada a presente argüição de descumprimento de preceito fundamental, em virtude da perda superveniente de seu objeto.

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 29 de abril de 2004.

Ministro CELSO DE MELLO

Relator * decisão publicada no DJU de 4.5.2004

VII.DO USO INDISCRIMINADO DOS ADITIVOS CONTRATUAIS 27.Por outro lado, poderia a Administração alegar que as obras supra-

realizadas não encontrar-se-iam em atraso, posto que formalizado aditivo prorrogando o prazo para conclusão. A verdade é que as intermináveis postergações feitas através de aditivos e usadas de forma absolutamente indiscriminada e abusiva pelo Poder Público Estadual apenas tem o condão de formalizar a desorganização administrativa e financeira do Estado do Piauí, mas não impedem que novas obras com as dotações orçamentárias respectivas sejam iniciadas sem a conclusão das anteriores, violando frontalmente a regra do art.45 da Lei de Responsabilidade Fiscal e deixando, por um período indeterminado, inúmeras obras paralisadas, ao relento, com material de construção sem vigilância efetiva e, pior, sem perspectivas para sua conclusão.

O auditor público externo do TCE-RS Cezar Augusto Pinto Mota em artigo

publicado no site do TCE-RS(http://www.tce.pe.gov.br/xsinaop/adm_upload/imagens/OFICINA03_01.PDF) bem esclarece sobre o uso abusivo dos aditivos, conforme trecho que segue:

Conforme se afirma na introdução desse estudo, a cultura dos aditivos

contratuais também deve ser contrariada. Uma, porque denota falta de plena atenção às regras de planejamento e projeto; outra, por que inova numa relação que estabeleceu parâmetros que passam a ser modificados sem o conhecimento dos proponentes inicialmente envolvidos. Não que se defenda a impossibilidade dessas alterações, mas advoga-se pela elaboração destes instrumentos pós-contratuais apenas em condições onde sejam estritamente necessários e imprescindíveis.

Mesmo quando formalmente anotadas, vemos justificativas que não seriam

aceitáveis perante o espírito da lei, motivando prorrogações nos contratos, aumentos de quantidades em itens específicos, além da cobertura indevida de falhas de planejamento.

Por sua posição firme e que merece reflexão, transcreve-se parte de palestra

ministrada por Marcos Moreira de Carvalho6, no VI SINAOP, em Florianópolis: “Consoante a premissa (...) segundo a qual os contratos devem ser cumpridos

integralmente pelas partes, constata-se que as alterações contratuais possuem três origens distintas: dolo –vontade livre de fazê-lo (via de regra com atuação de má fé);culpa –quando há constatação de atitude com imperícia, imprudência ou negligência; caso fortuito ou força maior.”

Essas afirmações incisivas do autor denotam a necessidade de firmeza pelos

agentes de fiscalização e controle, para que esta “cultura” nociva seja eliminada do dia-a-dia das licitações públicas.

A atuação com dolo é a mais prejudicial das formas de ação, uma vez que,

intencionalmente, são feridos os princípios basilares da administração pública. Na ocorrência de dolo, maior a necessidade de rigorosa punição e

responsabilização dos agentes que assim atuaram. Neste sentido, torna- se própria a sentença que assevera ser a certeza da pena o maior desestímulo ao delito.

VII.DO PREJUÍZO DECORRENTE DA PARALISAÇÃO DAS OBRAS

PÚBLICAS 28.Pois bem, a conclusão referida no item “27” deixa clara a necessidade de

que o Poder Público se organize de tal forma que novas obras somente sejam realizadas(salvo situações excepcionais em casos de urgência)quando concluídas as obras já em curso ou mesmo quando houver dotação orçamentária disponível para tal.

O TCE do Paraná através da Comissão Especial de Auditoria de Obras

inacabadas elaborou relatório(http://www2.tce.pr.gov.br/cidadao/pdf/relatorio_preliminar.pdf) que apresenta a seguinte conclusão:

“A execução de qualquer construção deve obedecer seqüência ininterrupta,

composta de planejamento,execução e início da operação para que atinja os resultados previstos, com menor custo possível e a qualidade desejada.

Paralisações no andamento das obras provocam a desmobilização de empreiteiros e propiciam a ocorrência de depredações e eventual deterioração, causada pelas intempéries.

Pressupondo-se a necessidade da existência das obras e considerando-se sua

natureza a paralisação resulta em prejuízo social, além de possíveis perdas financeiras” IX. DA IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE LICITAÇÃO PARA NOVOS

PROJETOS QUANDO OS PROJETOS EM EXECUÇÃO NÃO FOREM CONTEMPLADOS

28. Um exemplo prático de regramento é o artigo 45, da LRF, que pode e deve influir diretamente sobre as licitações, visto vedar o início de novas obras antes de atendidas aquelas iniciadas anteriormente e cumpridas as ações de conservação do patrimônio existente.

O cumprimento rigoroso desta disposição legal não permitiria a existência de

obras inacabadas, pois somente após o andamento pleno das obras existentes, sem a interrupção do plano estabelecido, novas obras públicas poderiam ser empreendidas. Da mesma forma, a manutenção dos prédios públicos, das rodovias, dos parques, dos recursos ambientais, dentre outros bens constantes estaria garantida.

Nem mesmo as licitações poderiam ser realizadas, uma vez que ao final do processo, seria contratada nova obra, prática essa vedada, quando desatendida a disposição citada.

X. DA LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS DO ESTADO DO PIAUÍ/2011 29. Não bastassem todos os argumentos já mencionados, a Lei de Diretrizes

Orçamentárias do Estado do Piauí(lei 6.018/2010) para o ano de 2011 em seu art.20º dispõe o seguinte:

Art. 20. Além da observância das prioridades e metas fixadas nos termos do art.

2º desta lei, a lei orçamentária e as de créditos adicionais somente incluirão novos programas se:

I – tiverem sido adequadamente contemplados todos os projetos e

atividades em andamento; II – for previamente comprovada sua viabilidade técnica, econômica e financeira; III – os recursos alocados viabilizarem a conclusão de uma etapa ou a obtenção

de uma unidade completa; IV – tiverem sido contempladas as despesas de conservação do patrimônio

público.

O art.21 da LDO 2011 assim dispõe: Art. 21. Na programação de investimentos da administração direta e indireta, a

alocação de recursos para os projetos em execução terá preferência sobre os novos projetos. Assim, caso o Estado do Piauí, ao alocar recursos não dê prioridade aos

projetos em execução em detrimento de novos projetos estará descumprindo a LDO 2011, afrontando as normas financeiras já estabelecidas.

XI.DA TUTELA ESPECÍFICA DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E DE NÃO

FAZER 30. Por isso da importância de cronogramas físico-financeiros precisos e

objetivos. De início, cabe-nos apresentar o enfoque jurídico concebido pela doutrina e jurisprudência pátrias sobre a tutela específica de fazer e a possibilidade de sua antecipação em ações civis públicas.

Pois bem. Com o monopólio das soluções jurisdicionais, o Estado, por

intermédio dos órgãos que compõem o Poder Judiciário, tem o compromisso de tutelar de forma pronta e adequada os vários casos litigiosos, decorrentes das inúmeras inter-relações sociais.

31. No entanto, a morosidade dos processos judiciais, precipuamente os de cognição exauriente, estagnou a proteção dos direitos propugnados por aqueles que os afirmam, ocasionando, a partir daí, uma nova acepção sobre a temática da efetividade da tutela dos direitos e, por conseguinte, da efetividade do processo.

32. A problemática exposta é clarificada na lição do processualista Luiz

Guilherme Marioni, quando proclama que "A tutela cautelar, até poucos anos, era um instrumento excepcional e suficiente para evitar que a demora do processo conduzisse a inefetividade da tutela jurisdicional. Atualmente, porém, constata-se a proliferação das medidas cautelares e mesmo a distorção do seu uso. Trata-se de fenômeno oriundo das novas exigências de uma sociedade urbana de massa, que torna inaceitável a morosidade jurisdicional imposta pelas formas tradicionais de tutela. Na verdade, a prática forense, sob o rótulo de 'tutelar cautelar', passou a conceder tutelas antecipatórias, próprias dos direitos que precisam ser realizados de forma urgente (MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do Processo e Tutela de Urgência. Porto Alegre: FABRIS, 1994, p. 37.)."

33. Percebe-se, portanto, a preocupação da doutrina e da jurisprudência

brasileiras em se buscar mecanismos eficazes de proteção aos direitos. Para isto, foi inclusive sustentada a idéia de utilização do processo cautelar, o qual é típico de situações de referibilidade, para fins de socorrer situações de urgência, ou em que estejam demonstrados o auto grau de verossimilhança e de probabilidade do direito, antecipando, assim, os efeitos da medida pleiteada no pedido inicial.

34. Estes procedimentos acima mencionados, em particular, são utilizados

através de vias sumárias, ou seja, a relação entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível (conceito de cognição) se dá através de forma sumária.

35. A cognição sumária estabelece um juízo de verossimilhança do direito e de

probabilidade dos fatos afirmados, porquanto é uma cognição própria dos juízos de aparência. Para definir estes requisitos, ninguém melhor que o já citado mestre Luiz Guilherme Marinoni: "Na liminar cautelar ou antecipatória a cognição incide sobre a afirmação do fato, mas prescinde dos meios de prova destinados a demonstrá-lo. O que ocorre é a valoração da verossimilhança de que o fato afirmado possa a vir a ser demonstrado através das provas permitidas pela instrução sumária. Outra coisa bem diversa acontece no momento em que o juiz profere a sentença no processo sumário ou cautelar. Aí a valoração situa-se sobre as provas produzidas pelas partes, mas não suficientes para a cognição exauriente do fato afirmado. Podemos concluir, então que o juízo de verossimilhança precede o procedimento probatório, atendo-se tão-somente a afirmação do fato, enquanto que o Juízo de probabilidade se dá em confronto com as provas compatíveis com uma dada situação (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Cautelar e Tutela Antecipatória. São Paulo: RT, 1994, p. p. 24-25.)."

36. Assim, com o propósito de se conceder outros meios, em virtude do uso

crescente das vias cautelares, uma vez que estavam sendo utilizadas como remédio contra a ineficiência do procedimento ordinário, doutrinadores propugnavam pela necessidade de ser estabelecidas outras vias de tutela sumária, diminuindo, em parte, os reclames à tutela jurisdicional cautelar.

37. E com esse espírito, a Lei nº 8.952, de 13.12.1994, parte de uma série de reformas do Código de Processo Civil, deu nova roupagem aos arts. 273 e 461 admitindo ao Juiz, a requerimento da parte, a possibilidade de antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial.

38. Na hipótese do art. 461 do Código de Processo Civil, denominada de tutela

específica da obrigação de fazer ou não fazer, o legislador estendeu a previsão estatuída no art. 84 do Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/90), cuja aplicação também foi permitida para as ações coletivas, devida à integração determinada pelo art. 21 da Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal nº 7.347/85), para todo o procedimento individual regulamento pelo Código de Processo Civil.

39. Na situação postulada pelo novo art. 273 do Código de Processo Civil, a

antecipação foi admitida para as outras hipóteses de obrigações. 40. Dessarte, como a obrigação em análise refere-se à tutela de fazer e de não

fazer, imprescindível a transcrição do art. 84 do Código de Defesa do Consumidor e dos arts. 3º e 21 da Lei da Ação Civil Pública, nestes termos:

CDC Art. 84. "Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou

não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 1º. A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se

por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

§ 2º. A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (art. 287

do CPC). § 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio

de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

§ 4º. O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao

réu, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 5º. Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático

equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.

LACP Art. 3º. "A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o

cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer."

Art. 21. "Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e

individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da Lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor."

41. A lição de Nelson Nery Júnior é precisa, in verbis: "Segundo o CDC art. 84 aplicável às ações propostas com base na LACP por

força da LACP 21, nas ações condenatórias de obrigação de fazer ou não fazer poderá ser concedido pelo juiz o adiantamento da tutela de mérito, com ou sem justificação prévia. Isto quer dizer estar o magistrado autorizado a conceder tutela satisfativa liminarmente, isto é, julgar procedente o pedido de forma provisória, tal como ocorre com a tutela antecipatória do CPC 273, com as ações possessórias e de mandado de segurança. Pode o juiz, por exemplo, determinar imediata cessação de atividade que põe em risco o meio ambiente (RT 634/63, 629/118)" (NERY JÚNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 1135.).

42. Portanto, diante da possibilidade de antecipação dos efeitos da medida final

nos procedimentos coletivos, engendrada pelos artigos acima citados, percebemos que a liminar que concede ou não a antecipação da tutela específica da obrigação de fazer ou não fazer se trata de uma técnica de cognição sumária, a qual é analisada no próprio processo principal. Esta hipótese já era convencionada pela doutrina, como demonstra, mais uma vez, Luiz Guilherme Marinoni: "Outra importante espécie de procedimento diferenciado prevê a liminar como ato do próprio procedimento de cognição exauriente. Nesse caso, a tutela liminar pode estar fundada no fumus boni iuris e no periculum in mora ou apenas no alto grau de probabilidade da existência do direito do Autor (MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do Processo e Tutela de Urgência. Porto Alegre: FABRIS, 1994, p. 41.)."

43. No caso concreto, o requisito do fumus boni iuris, vale dizer, o relevante

fundamento da demanda, encontra-se, à saciedade, demonstrado nos motivos fáticos e jurídicos acima expendidos, especialmente quanto à previsão legal(LRF-art.45 de LDO-arts.20 e 21) supra-citada.

44. Quanto ao requisito do periculum in mora, ou seja, justificado receio de

ineficácia do provimento final, algumas conseqüências irreversíveis justificam a sua presença. Primeiro, porque, a realização de novas obras em detrimento das obras em execução acaba por deixar em completo estado de abandono as obras em curso que vão se deteriorando ao longo do tempo e entram na lista dos “elefantes brancos”, tradição brasileira que demonstra o descaso com a coisa pública e que, por conseqüência, causará dano ao erário. Ademais, a realização de novas obras diante das centenas de obras paralisadas acabam por agravar a situação estatal que aumenta o volume de obras sem que consiga atender aos fornecedores(atrasando pagamento) e paralisando ainda mais projetos, causando desequilíbrio financeiro, descumprimento contratual(que pode, dependendo do caso, gerar até perdas e danos contra o Estado) e desconfiança quanto a efetividade dos contratos administrativos.Por fim, os recursos disponibilizados para novas obras serão efetivamente usados, de forma que, a despeito de, por lei, deverem ser usados nas obras em andamento, serão usados em novas obras, perpetuando uma ilegalidade e aumentando ainda mais a indefinição quanto as obras em andamento;

45. Nesse ponto, vale lembrar, buscando apoio na lição sempre lúcida de

Nelson Nery Júnior, que "para o adiantamento da tutela de mérito, na ação condenatória em obrigação de fazer ou não fazer, a lei exige menos do que para a mesma providência na ação de conhecimento tout court (CPC 273) (NERY JÚNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 673.)."

46. Assim, em sede de pedido liminar, o Representante do Ministério Público,

subscritor da presente peça, requer: a) seja impedido o Estado do Piauí de executar qualquer dotação orçamentária para novas obras sem que disponibilize recursos para as obras em andamento mencionadas no título “Dos fatos” desta peça; b)seja impedido o Estado do Piauí de realizar qualquer certame licitatório para contratação de novos projetos sem que, antes, tenham sido executadas as dotações orçamentárias destinadas às obras em andamento, c)Seja o Estado do Piauí, através da Procuradoria Geral do Estado compelido a fazer o levantamento de todas as obras inacabadas e verificar os motivos do atraso, promovendo as medidas administrativas, financeiras e judiciais para a conclusão ou recuperação dos valores antecipados e não executados.

DO PEDIDO. 47. Diante do exposto, requer o Representante do Ministério Público, seja: a) concedida medida liminar antecipatória de obrigação de não fazer, para

obrigar ao Estado do Piauí a não realizar qualquer execução orçamentária das dotações orçamentárias para novas obras previstas na LOA sem que, antes, disponibilize recursos para as obras em andamento mencionadas no título “dos fatos” e que seja impedido o Estado do Piauí de realizar qualquer certame licitatório para contratação de novos projetos sem que, antes, tenham sido executadas as dotações orçamentárias destinadas às obras em andamento e seja o Estado do Piauí, através da Procuradoria Geral do Estado compelido a fazer o levantamento de todas as obras inacabadas e verificar os motivos do atraso, promovendo as medidas administrativas, financeiras e judiciais para a conclusão ou recuperação dos valores antecipados e não executados. No mérito, requer a ratificação das medidas liminares mencionadas e que seja determinado que o Estado do Piauí conclua as obras cujos contratos administrativos já foram celebrados e cuja execução já foi iniciada, DEVENDO SE PROCEDER DE FORMA ININTERRUPTA.

.b) fixada multa diária, para a qual se sugere o valor de 100 salários mínimos

por cada execução de dotação orçamentária dirigida a nova obra em desrespeito ao item “a” desta decisão e para a realização de cada licitação em desacordo com o item “b” do pedido formulado no item “46”;

c) citado o Estado do Piauí, na pessoa do Procurador Geral do Estado, nos

termos do art. 12 do Código de Processo Civil, para, querendo, no prazo de 72 (setenta e duas) horas, manifestar-se sobre o pedido de medida liminar, tudo conforme a Lei Federal nº 8.437/92, bem como, querendo, apresentar contestação, no prazo legal requerendo, de pronto, que o Estado do Piauí apresente a relação de todas as obras inacabadas do Estado do Piauí.

d) e, no provimento final, confirmado o deferimento do pedido formulado na antecipação da obrigação específica de fazer e de não fazer, tudo conforme o requerimento formulado no item "a", supra transcrito.

48. Dá-se à causa o valor de R$ 1.000(hum mil reais). Nestes termos, pede deferimento.

Paes Landim, 17/02/12

Paulo Rubens Parente Rebouças

Promotor de Justiça