ministÉrio pÚblico do estado do amazonas 13ª promotoria de...

33
Doc: 843794 Auto: 2010/14360 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE MANAUS/AM. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS, pela Titular da 13ª Promotoria de Justiça que esta subscreve, vem, mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 127, caput, e art. 129, inciso III, ambos da Constituição Federal, arts. 2º e 5º, I, da Lei nº 7.437/85 e arts. 60, IX e 71, da Lei Complementar Estadual nº 11/93, bem como na Súmula 329 do STJ, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULADA COM PEDIDO DE RESSARCIMENTO DE DANO AO ERÁRIO em face de: 1) REGINA FERNANDES DO NASCIMENTO, brasileira, casada, funcionária pública, Secretaria de Estado de Assistência Social, portadora da CI nº 2041916-3 SSP/AM e do CPF nº 145.387.502-63, residente à rua Salinas, nº 21, Conjunto Deborah – D. Pedro, nesta cidade; 2) MARIA DAS GRAÇAS SOARES PROLA, brasileira, casada, residente e domiciliada nesta cidade na rua N, casa 40, Conjunto Eldorado, Parque Dez, portadora do CPF nº 034.249.792-87; 3) MARCINETH PEVAS LIMA, brasileira, residente e domiciliada nesta cidade na rua B, Quadra 01, Conjunto Jardim Amazonas, 19, Parque Dez, CEP 69055670, portadora do CPF 21419310291; Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AM TEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX) Se impresso, para conferência acesse o site http://consultasaj.tjam.jus.br/esaj, informe o processo 0616438-76.2014.8.04.0001 e o código 1959EDD. Este documento foi assinado digitalmente por tjam.jus.br e NEYDE REGINA DEMOSTHENES TRINDADE. Protocolado em 29/05/2014 às 12:42:32. fls. 1

Upload: vunhan

Post on 17-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DAFAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE MANAUS/AM.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS, pela Titular da 13ªPromotoria de Justiça que esta subscreve, vem, mui respeitosamente à presença de VossaExcelência, com fundamento no art. 127, caput, e art. 129, inciso III, ambos da ConstituiçãoFederal, arts. 2º e 5º, I, da Lei nº 7.437/85 e arts. 60, IX e 71, da Lei Complementar Estadual nº11/93, bem como na Súmula 329 do STJ, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULADACOM PEDIDO DE RESSARCIMENTO DE DANO AO ERÁRIO

em face de:

1) REGINA FERNANDES DO NASCIMENTO, brasileira, casada, funcionária pública,Secretaria de Estado de Assistência Social, portadora da CI nº 2041916-3 SSP/AM e do CPFnº 145.387.502-63, residente à rua Salinas, nº 21, Conjunto Deborah – D. Pedro, nestacidade;

2) MARIA DAS GRAÇAS SOARES PROLA, brasileira, casada, residente e domiciliadanesta cidade na rua N, casa 40, Conjunto Eldorado, Parque Dez, portadora do CPF nº034.249.792-87;

3) MARCINETH PEVAS LIMA, brasileira, residente e domiciliada nesta cidade na rua B,Quadra 01, Conjunto Jardim Amazonas, 19, Parque Dez, CEP 69055670, portadora do CPF21419310291;

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 1

Page 2: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público4) SUELEN SOARES CARVALHO, brasileira, residente e domiciliada nesta cidade na rua

dos Jasmins, 355, Conjunto Tiradentes, Aleixo, CEP 69083260, portadora dos CPF718.347.372-49;

5) FRANCISCO DAS CHAGAS SILVA DE OLIVEIRA, brasileiro, contador, residente edomiciliada nesta cidade na rua Jambo, nº 08, Quadra 47, Conjunto Cidade Nova I, CidadeNova, CEP 69.090-294, portador do CPF nº 092.210.772-68;

6) JOÃO RIBEIRO GUIMARÃES JÚNIOR, brasileiro, casado, residente e domiciliado arua Planeta Urano, Conjunto Morada do Sol, Aleixo, CPP 69060-069, ou rua Barão deMauá, 19, Colônia Santo Antônio, CEP nº 69093-040, portador do CPF nº 075.003.782-20;e

7) ZUELHA CRUZ BARBOSA, brasileira, casada, residente e domiciliada nesta cidade narua 03, nº 15, quadra 85, Núcleo 01, Cidade Nova, CEP 69095-000, portadora do CPF nº148.716.962-00

em razão dos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos:

I- DOS FATOS

A presente Ação de Improbidade Administrativa decorreu da análise da assinatura eexecução dos Termos de Parcerias nºs 001/2008, 004/2009 e 003/2010 entre a SEAS Secretaria deEstado de Assistência Social – SEAS e a Sociedade de Interesse Público do Amazonas - SIPAMpara atender ao Projeto Família e Cidadania, com objetivos descritos, respectivamente, como

Termo de Parceria nº 001/2008 – SEAS: “conjugação de recursos técnicos para contribuirno atendimento nas seguintes áreas: médicas (atenção à saúde bucal, ginecologia, pediatria,clínica geral e oftalmologia), palestras preventivas, realização de cursos profissionalizantes,promover atendimento às necessidades especiais e acompanhamento familiar dos usuáriosdo SIPAM”

Termo de Parceria nº 004/2009 – SEAS: “conjugação de recursos financeiros paracontribuir na redução de déficits de assistência entre crianças, jovens carentes e famíliassocialmente vulnerabilizadas, desenvolvendo ações que possibilitem assistênciaespecializada em diversas especialidades médicas, apoio nutricional, atendimentopsicossocial de acompanhamento e atenção às famílias, afim de fortalecer vínculos afetivos,familiares e comunitários; orientação dos direitos sociais, visita domiciliar e outros atravésdo Programa Família e Cidadania”.

Termo de Parceria nº 003/2010 – SEAS: “conjugação de recursos financeiros paracontribuir na redução de déficits de assistência entre crianças, jovens carentes e famíliassocialmente vulnerabilizadas, desenvolvendo ações que possibilitem assistênciaespecializada em diversas especialidades médicas, apoio nutricional, atendimentopsicossocial de acompanhamento e atenção às famílias, afim de fortalecer vínculos afetivos,familiares e comunitários; orientação dos direitos sociais, visita domiciliar e outros atravésdo Programa Família e Cidadania”.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 2

Page 3: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Instaurado o Inquérito Civil 041/2010 que dá lastro a presente Ação, solicitou-se ao e.TCE, conhecer do andamento e conclusões (preliminares ou definitivas) de investigação noticiadada percepção de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) pelas Associações SIPAM – Sociedade deInteresse Público do Amazonas e Sociedade de Interesse Público do Médio Amazonas – SIPMAM,tendo aquele Órgão encaminhado cópia dos pareceres técnicos preliminares emitidos nos autos5120/2011 - TCE e 5121/2011 - TCE, em setembro de 2012, hoje apensados ao Processo TCE nº6844/2009, detectando de plano inúmeras irregularidades nas prestações de contas dos ajustes emtela.

De igual modo, recebeu-se do Ministério Público Federal Eleitoral cópia integral doProcedimento nº 1.13.000.001336/2010-66, bem como da Representação por Condutas Vedadasprotocolada junto ao TRE-AM contra Nelson Raimundo Azedo resultante.

Outrossim, também foi encaminhado a esta Promotoria Tombamento originário dodesmembramento do Inquérito Civil nº 001/2009 que tramitou perante a 46ª Promotoria de Justiçado Estado do Amazonas e tinha por objeto apurar suspeitas de malversação de verbas públicas, emdecorrência da celebração de convênios entre a Secretaria de Estado de Assistência Social e diversasentidades filantrópicas, determinando a juntada a este IC, posto tratar aquela porção de investigaçãodos Termos de Parcerias nºs 001/2008 e 004/2009 entre a SEAS Secretaria de Estado de AssistênciaSocial – SEAS e a Sociedade de Interesse Público do Amazonas - SIPAM para atender ao ProjetoFamília e Cidadania, já em apuração nestes autos.

Da documentação coletada, destaca-se a juntada de relatórios produzidos pela própriaSEAS nos quais as assistentes sociais responsáveis por visita de inspeção à SIPAM destacam aimpossibilidade de cumprimento pela instituição do objeto acordado, dizendo claramente no últimorelatório emitido, em 2010, de não haver comprovação da realização do objeto pactuado.

Considerando o que tinha sido até então apurado e a comprovação da existência de atode improbidade administrativa que causa dano ao Erário, resolveu, de modo a complementar asinformações já obtidas para a propositura da competente AIA:

1. Solicitar ao e. TCE conhecer da emissão de relatório conclusivo e parecer do MP deContas nos autos 5120/2011 e 5121/2011, hoje apensados ao Processo nº 6844/2009,considerando o lapso temporal decorrido da última informação fornecida pelo Órgão emsetembro de 2012;

2. Solicitar, de igual modo ao TCE, cópia das notas fiscais juntadas nas referidas prestaçõesde contas, bem como dos cheques emitidos a credores por ventura já apresentados;

3. Oficiar, conforme o caso, à SEFAZ e/ou SEMINF, requisitando conhecer da idoneidadedas notas fiscais anexadas à prestação de contas do Termo de Parceria nº 001/2008, e, umavez recebidas as demais notas fiscais do TCE, encaminhá-las igualmente à análise dasmencionadas secretarias de fazenda.

4. Concluídas as presentes diligências, elaborar a competente Ação de ImprobidadeAdministrativa.

Após a última prorrogação do presente Inquérito Civil, foram recebidas respostas adiligências feitas ao TCE, ao Ministério Público Federal Eleitoral e à Promotoria de JustiçaEspecializada em Associações.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 3

Page 4: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Respondeu o TCE com cópia dos relatórios conclusivos e pareceres do MP de Contasque confirmam as irregularidades apontadas. Outrossim, quanto aos cheques solicitados, informounão haver a entidade apresentado os mesmos, alegando a referida OSCIP ter feito os pagamentosem espécie.

As Secretarias Estadual e Municipal de Fazenda, encaminharam análise acerca daidoneidade das notas fiscais encaminhadas aos referidos órgãos referentes à prestação de contas daSociedade de Interesse Público do Amazonas – SIPAM.

A resposta não poderia ser mais estarrecedora.

1. DAS NOTAS FISCAIS INIDÔNEAS E DO FLAGRANTE INDÍCIO DE DESVIO ELAVAGEM DE DINHEIRO PÚBLICO

As notas fiscais apresentadas pela SIPAM em sua prestação de contas dos convênios oraanalisados, apresentam graves vícios, conforme se demonstra a seguir.

Primeiramente, algumas empresas, com fortes indícios de lavagem de dinheiro e outroscrimes organizados para desviar verbas públicas, uma vez que: a) possuem selos fiscais emsequência, com lapsos temporais de 04 meses, como se o único cliente que tivessem fosse a SIPAM;b) Possuem reiteradamente os mesmos valores (os emitentes fazem uma “ginástica”, para encaixarprodutos e serviços que totalizem a cada período o mesmo valor); c) A enorme quantidade de notasconsideradas inidôneas pela SEFAZ-AM, a saber:

RAZÃO SOCIAL DA EMITENTE QUANTIDADE DE NOTAS EMITIDAS

QUANTIDADE DE NOTAS INIDÔNEAS

VALOR TOTAL DAS NOTAS INIDÔNEAS

D S G de Moraes 04 Notas 04 Notas TOTAL = R$ 71.400,00

Aquaroraima Imp. E Exportadora LTDA(Kit bebê)

06 notas 06 notas 06 Notas de R$ 15.000,00 =R$90.000,00

TOTAL = R$ 90.000,00

PROMED Comércio Importação LTDA(Medicamentos, cadeira de rodas)

28 notas 28 notas 21 Notas de R$ 15.000,00 =R$ 315.000,00

08 Notas restantes somandoo valor de R$ 73.316,97

TOTAL = R$ 386.316,97

Mund Office Empreendimentos ComerciaisLTDA

02 Notas 02 Notas TOTAL = R$ 45.490,57

Drogaria Bezerra LTDA (Medicamentos) 01 Nota 01 Nota TOTAL - R$ 50.000,00

Waldemar de Lima 03 Notas 03 Notas 03Notas de R$ 15.000,00 =R$ 45.000,00

TOTAL = R$ 45.000,00

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 4

Page 5: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Medicamed Distribuidora LTDA 03 Notas 03 Notas TOTAL - R$ 28.250,00

Keep Er Comércio e Serviço de bensmóveis LTDA

08 Notas 08 Notas 08 Notas de R$ 15.000,00 =R$ 120.000,00

TOTAL - R$ 120.000,00

Nativo Comércio de Descartáveis (Materialde limpeza)

11 Notas 11 Notas 13 Notas de R$ 15.000,00 =R$ 195.000,00

TOTAL – R$ 221.971,31

Jadir Amorim Ferreira de Oliveira ME(Informática, material de escritório ematerial de limpeza)

25 Notas 25 Notas 22 Notas de R$ 15.000,00 =R$ 330.000,00

TOTAL = 370.122,22

J P Tavares da Silva Ferragens 05 Notas 05 Notas TOTAL = 14.793,55

L M A Duarte (Kit Cesta Básica) 11 Notas 03 Notas 03 Notas de R$ 15.000,00 = TOTAL = 45.000,00

L A de Araújo Barroso ME 01 Nota 01 Nota TOTAL = 7.610,00

Elcinei Pereira Ladislau (Material deEscritório)

01 Nota 01 Nota TOTAL = 15.000,00

109 Notas 101 NotasInidôneas

R$ 1.510.954,62

Antes de adentrar na análise qualitativa dos gastos (o que será feito nas linhas queseguem), é preciso analisar de forma contundente os dados apresentados na tabela acima.

A soma das notas indicadas como inidôneas pela própria Secretaria de Fazenda doEstado do Amazonas, representam o valor de R$ 1.510.954,62 (Um milhão, quinhentos e dez mil,novecentos e cinquenta e quatro reais e sessenta e dois centavos).

Mas não é só o alto valor que traz a repulsa acerca da aplicação do dinheiro público.Fica evidenciado pelo valor individual das notas fiscais que havia um esquema extremamenteorganizado de distribuição de verbas públicas a particulares com ramificações que certamentebeneficiaram os agentes públicos envolvidos na contratação da OSCIP.

É de se notar, pois, que das 109 Notas fiscais apresentadas nesta análise, 76 (setenta eseis) delas possuíam o valor exato de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), de forma constante ereiterada, o que demonstra um pagamento habitual de alguma verba destinada a fins ilícitos, comoocorreu no que se chamou de “mensalão”, devidamente comprovado nos autos da Ação Penal 470 –STF, marco histórico do combate à corrupção em nosso país.

Como caso concreto, cite-se as notas fiscais da empresa JADIR AMORIMFERREIRA DE OLIVEIRA, nome fantasia: MASTER COMÉRCIO E DISTRIBUIDORA.em que22 (vinte e duas) das 25 (vinte e cinco) notas continham referido valor de R$ 15.000,00 (quinze milreais).

Havia um verdadeiro contorcionismo para que as notas chegassem a tal valor,incluindo produtos que certamente nunca foram entregues ou talvez nem mesmo existissem, como:

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 5

Page 6: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

500 (quinhentas) caixas de disquete (NF nº 000151), 10.000 (dez mil) CD-R para gravação (NF nº000151), 600 CD-R (NF nº 000161), 20.000 CD-RW (NF nº 000163), 20.000 CD-RW (NF nº000170), 10.000 CD-R (NF Nº 000173), 10.000 CD-RW + 5.000 CD-R + 500 DVD RW (NF Nº000159) 08 DVD-R custando R$ 112,99 cada um (NF nº 000448).

Ora, os produtos além de não terem qualquer relação com o objeto do convênio,apenas eram encaixados na nota fiscal para que completassem o valor de R$ 15.000,00 (quinze milreais) a serem repartidos entre os agentes ímprobos envolvidos.

Não obstante, tais vícios extremamente graves, é preciso ir além, analisar algunscasos estarrecedores na aplicação do dinheiro destinado ao convênio.

2. DA ANÁLISE QUALITATIVA DOS GASTOS REALIZADOS PELO SIPAM.

2.1 DA AQUISIÇÃO DE CARTUCHOS.

Durante o prazo de vigência do convênio, foram adquiridos 24 (vinte e quatro)espécies de cartuchos e Tonners de impressora, que somados totalizaram impressionantes 1.252 (milduzentos e cinquenta e duas) unidades do referido produto.

Como já salientado, o objeto do convênio certamente não descreve a distribuição decartuchos como uma das metas da OSCIP de fachada.

Certamente esses cartuchos nem existiam, eram apenas forma de facilitar a lavagem eo desvio dos recursos públicos. Caso realmente tivessem sido entregues os referidos cartuchos, issosignificaria que a OSCIP possuía no mínimo 12 (doze) impressoras e que imprimiu cerca de doismilhões de páginas, suficiente para imprimir o equivalente a 22 (vinte e duas) edições completas daEnciclopédia BARSA (18 volumes e 500 páginas por volume). É um absoluto despropósito.

Uma das empresas que mais vendeu os “cartuchos fantasmas” foi a empresa JadirAmorim Ferreira de Oliveira, conhecida como Master Comércio, onde foram adquiridos 1.038cartuchos. Chegou-se ao completo acinte de comprar 250 (duzentos e cinquenta) cartuchos de umasó vez, conforme consta na Nota Fiscal nº 000164.

Mas não é só. Há flagrantes distorções no preço para chegar-se ao número mágico deR$ 15.000,00 (quinze mil reais). Apenas para citar um exemplo: Na nota fiscal nº 000164 ocartucho Toner Impressora HP C 4092A – Cor Preta foi adquirido por R$ 60,00 (sessenta reais) aunidade, e foram encomendados 250 deles. O cartucho Toner para mesma impressora, mas de coramarela foi adquirido na Nota Fiscal nº 000160 pelo valor de R$ 480,00 (quatrocentos e oitentareais) por unidade, tendo sido adquiridos dez naquela oportunidade.

Apenas em cartuchos adquiridos para empresa Jadir Amorim, foi repassado o valorde R$ 115.200,00 (cento e quinze mil e duzentos reais), em produtos que certamente nuncaexistiram, servindo apenas para os fins escusos da corrupção devidamente demonstrada nos autosem epígrafe e na improbidade correlata.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 6

Page 7: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Não é demais lembrar que os selos fiscais quase todos são sequenciais, ou seja, aempresa de fachada foi criada unicamente para realizar esta prática ilícita, bem como quase todas asnotas fiscais, “coincidentemente” foram de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) em uma espécie de“mensalinho”.

Finalmente, ressalte-se que as notas fiscais não revelam a denominação da empresa(JADIR AMORIM FERREIRA DE OLIVEIRA - ME), ao invés disso, inclui outro nome, qual seja(JARDIM AMORIM FERREIRA DE OLIVEIRA), o que denota ainda mais a fraude perpetuadapelos agentes ímprobos envolvidos no repasse indevido.

2.2 DO ESQUEMA PARA AQUISIÇÃO DE “ÓCULOS PARA PERTO DE 2,5º ”

Os óculos adquiridos pela OSCIP em teoria para distribuir para a população mostramum aspecto cruel, desvia-se dinheiro até mesmo da saúde oftalmológica da população, talvez paraque não se enxergue as falcatruas cometidas por tais aventureiros.

Na verdade, a empresa que distribuía os óculos teve sua baixa em 08/12/2011 emação da Receita Federal do Brasil, pelo motivo de “INEXISTÊNCIA DE FATO”.

É a comprovação do que vem se afirmando ao longo desta exordial, o uso deempresas de fachada para lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos, em benefício departiculares e agentes públicos que facilitam a perpetuação destas instituições parasitárias.

Ademais, mesmo que tivessem sido adquiridos os tais óculos (certamente eram tãoinexistentes quanto a empresa), eles nunca poderiam ter sido adquiridos em lotes e apenas para umtipo de defeito da visão.

Em síntese, foram adquiridos 3.550 óculos dos quais mais da metade, 1.880, foramna qualidade de “óculos de grau para perto 2,5´ grau”; outros 900 foram adquiridos na qualidade de“óculos de grau (2,5 grau – visão longe)”; 450 foram comprados como “óculos de grau para longe eperto com lente bifocal 2,5 grau”; e, finalmente, 400 foram comprados como “óculos de grau paraperto 1,5 grau”

São vários equívocos.

Primeiramente, não há como se falar em “óculos de grau para perto”, o dado é tãoimpreciso quanto grave, pois não estabelece para qual tipo de problema de visão os óculos seriamconfeccionados (caso o objeto realmente existisse), pois há vários problemas relacionados adificuldade de enxergar “para perto”, tais como: Presbiopia ou Hipermetropia.

Da mesma forma, pode-se falar da dificuldade para enxergar “de longe”. O fato maiscurioso, entretanto é que a maior parte dos óculos foi feito, quase 90% (noventa por cento) foramfabricados (na verdade nunca o foram) para quem teria 2,5 grau de problema de visão,coincidentemente nos dois olhos, o que revela ou uma epidemia inédita na ciência oftalmológica oua legítima convicção de que as notas poderiam ser expedidas de qualquer maneira, que a fraude nãoseria descoberta.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 7

Page 8: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Não é demais lembrar que os selos fiscais quase todos são sequenciais, ou seja, aempresa de fachada foi criada unicamente para realizar esta prática ilícita, bem como todas as notasfiscais, “coincidentemente” foram de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) em uma espécie de“mensalinho”, tendo sido repassados a empresa de fachada o valor total de R$ 120.000,00 (cento evinte mil reais).

2.3 DA AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DE LIMPEZA

O terceiro exemplo da fraude e dos atos de improbidade cometidos em face do eráriorefere-se a aquisição de produtos de limpeza pela Sociedade de Interesse Público do Amazonas-SIPAM.

Novamente, o material adquirido para limpeza não guarda qualquer relação com oobjeto do convênio em questão. As impropriedades podem ser vistas no aspecto quantitativo equalitativo, vez que não se relacionam com o objeto do convênio, destacando-se apenas as notasfiscais inidôneas e as empresas suspeitas de fraude, senão vejamos:

06/2008 – 12/2008

OBJETO QUANTIDADE VALOR TOTAL

Saco plástico para lixo 200 litros 8.000 unidades (1.600.000 Litros, ou 1.600 toneladas) R$ 10.800,00

Saco plástico para lixo 100 litros 11.150 unidades (1.115.000 Litros, ou 1.115 toneladas)

R$ 9.000,00

Saco plástico para lixo 50 litros 10.000 (500.000 litros, ou 500 Toneladas) R$ 3.200,00

Papel Higiênico 8.800 rolos (243.200 metros ou 243,2 Km) R$ 11.000,00

Cloro em pó 425 Kg R$ 11.250,00

Cloro Líquido 530 Litros R$ 11.250,00

Cera Bravo Antiderrapante 900 Unidades R$ 5.400,00

Vassoura de Cipó 900 Unidades R$ 4.500

Vassoura Piaçava 900 Unidades R$ 4.500

TOTAL R$ 70.900,00

10/2009 – 11/2009

OBJETO QUANTIDADE VALOR TOTAL

Saco plástico para lixo 100 litros 4.000 unidades (400.000 Litros, ou 400 toneladas)

R$ 3.682,00

Saco plástico para lixo 50 litros 6.200 (310.000 litros, ou 310 Toneladas)

R$ 3.000,00

Papel Higiênico 9.200 rolos (276.000 metros ou 276 Km)

R$ 5.000,00

Cloro em pó 140 Kg R$ 3.200,00

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 8

Page 9: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Cloro Líquido 225 Litros R$ 3.705,00

Vassoura Piaçava 360 Unidades R$ 1.756,80

TOTAL R$ 20.343,80

07/2010 – 01/2011

OBJETO QUANTIDADE VALOR TOTAL

Saco plástico para lixo 200 litros 1000 unidades (200.000 Litros ou 200 Toneladas)

R$ 5.050,00

Saco plástico para lixo 100 litros 640 unidades (64.000 Litros ou 64 Toneladas)

R$ 4.800,00

Saco plástico para lixo 50 litros 1000 unidades (50.000 Litros ou 54 Toneladas)

R$ 3.200,00

Vassoura de Cipó 505 Unidades R$ 2.525,00

Vassoura de Piaçava 504 Unidades R$ 2.520,00

Cloro em pó 250 Kg R$ 6.250,00

Cloro Líquido 424 Litros R$ 6.100,00

TOTAL R$ 30.445,00

Não há como justificar tantas impropriedades (para dizer o mínimo), mas uma análisedetalhada certamente revela a gravidade das condutas ímprobas narradas nesta inicial.

Consolidando os dados apresentados obtidos junto às notas fiscais apresentadas naoportunidade da prestação de contas é possível observar que foi gasto apenas em sacos de lixo ovalor de R$ 47.912,00 (quarenta e sete mil, novecentos e doze reais), os quais foram adquiridos,considerando o intervalo das notas referidas, em apenas 13 meses, o que já seria ilegal e ímprobo,simplesmente por não possuir relação com o Convênio.

A capacidade absoluta em litros de todos os sacos de lixo adquiridos é de 4.515.000 L(quatro milhões, quinhentos e quinze mil litros) de lixo. Tal quantidade, quando transformada paratonelada nos permite visualizar a dimensão dos atos ímprobos cometidos, pois representa, 4.243Ton (quatro mil, duzentos e quarenta e três toneladas).

Informações obtidas no endereço da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana,disponível no link http://semulpsp.manaus.am.gov.br/acoes, impresso em anexo, revelam a título decomparação, que a quantidade de lixo produzido pelo SIPAM (caso os produtos realmenteexistissem) seria maior que todo o lixo retirado dos igarapés de Manaus no ano de 2009 e seriamaior que toda a quantidade de lixo seletivo coletada pelo Município de Manaus nos anos de 2009 a2011.

Com efeito, são números estarrecedores. Infelizmente não se resumem aos sacos delixo. Foram adquiridas ao longo do período indicado 1764 vassouras de piaçava e 1405 vassourasde cipó, totalizando 3.169 vassouras, novamente, além de ser estranho ao objeto do convênio,indaga-se: para que essa quantidade de vassouras? Será que o SIPAM precisava de tanta limpezaassim?

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 9

Page 10: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

De qualquer modo, além das vassouras, foram adquiridos 815 Kg de Cloro em pó,além de 1.179 litros de Cloro líquido, outro flagrante descaso com o dinheiro público, em umproduto que se sabe inexistente, ou seria razoável acreditar que se usou quase duas toneladas decloro no SIPAM? Nem que tivessem que cuidar de todas as piscinas olímpicas do planeta.

2.4 DOS OUTROS GASTOS RELEVANTES

Consta ainda nos autos gastos com a “prestação de serviços de diversas palestraseducativas de prevenção a saúde bucal e outras doenças”, conforme notas fiscais referentes ao mêsde agosto de 2010 expedidas por diversos profissionais. Primeiramente, saúde bucal não é doença,conforme consta na descrição da nota fiscal referenciada.

A unidade da palestra era de R$ 2.000,00 dois mil reais, sendo que poderia ser obtidoo mesmo serviço junto aos cursos de graduação de odontologia, em que os alunos fariam o mesmotrabalho não remunerado em troca de horas complementares em sua grade curricular.

Apenas no mês de agosto de 2010, foi gasto a título de palestra o valor de R$17.500,00 (dezessete mil e quinhentos reais) apenas para pagar por palestras. Não está se falandoaqui em atendimento, mas de mera “palestra para escovar os dentes”. Tudo tem limite, até a farracom o dinheiro público deve ter. Deve-se aplicar a política de tolerância zero.

Cite-se ainda, a título ilustrativo, o pagamento de estagiários com o dinheiro doconvênio, conforme recibos constantes na prestação de conta.

Novamente para exemplificar o destrato com a coisa pública, revela-se a aquisição de1.115 (mil cento e quinze litros) de combustível) ao valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) semespecificar em qual veículo foi usado e para qual finalidade.

Finalmente, destacam-se os gastos elencados nas notas fiscais nº 1461042 e 1461026referente a “serviços prestados de manutenção do sistema de informação” nos meses de novembro edezembro de 2010 no valor total de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) em total dissonância com osobjetos dos termos de parceria.

3. DAS IMPROBIDADES DETECTADAS PELO E. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADODO AMAZONAS

A análise das contas pela Comissão de Inspeção Extraordinária e pelo MinistérioPúblico de Contas constante no volume 2 do Inquérito Civil que lastreia a presente ação, continua arevelar o descaso dos agentes ímprobos com o dinheiro público, conforme se depreende dos tópicosque seguem.

3.1 ESCOLHA DO SIPAM

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 10

Page 11: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Como era corriqueiro em projetos similares, a proposta de repassar dinheiro públicopara a SIPAM partiu da própria entidade, que não tinha nem pessoal nem local para funcionar eatender o público-alvo do convênio. Somente depois de ter sido sinalizado pela SEAS que haveria acelebração do pacto, é que foi providenciada a locação do espaço físico, que seria pago comrecursos oriundo do futuro convênio.

Parte-se sempre do vazio, do abstrato, da mera idéia em um papel. O Parceiro nãotem absolutamente nada a oferecer, apenas intermediar (pessimamente) a gestão do dinheiro públicocomo parte de um assistencialismo dedicado exclusivamente a fins escusos, certamente nãopúblicos.

No que se refere à locação do prédio, verifica-se que após visitação das instalaçõesfísicas da SIPA, houve a elaboração de dois pareceres desfavoráveis à assinatura do termo, e nelesconstava um rol de inúmeras restrições quanto ao local e aos serviços a serem prestados, seja pelafalta de pessoal qualificado ou pela falta de local adequado à prestação dos serviços propostos noplano de trabalho.

Como num passe de mágica, o que era impróprio se tornou adequado, com base emulterior parecer exarado por equipe de técnicos da SEAS, os quais indicaram que as falhas estavamsendo sanadas, muito embora não tenha sido colacionado nenhum elemento probatório queconfirmasse a referida adequação.

Verifica-se, assim, flagrante direcionamento para essa OSCIP, que não possuíacondições físicas e de pessoal para dar cumprimento efetivo às cláusulas contratadas.

Conforme salientou a douta Procuradora de Contas “houve uma insistência de tentarsanar as falhas para finalmente ser considerada apta, ou seja, não se questionou a viabilidade debuscar em outra Oscip uma solução melhor para o atendimento ao interesse dito como público,numa clara evidência de que o importante era celebrar o termo com a SIPAM a qualquer custo!”.

Em síntese, o erário deveria arcar com o aluguel do local, bem como de todo opessoal que prestaria serviços médicos, odontológicos e de assistência social aos beneficiários,assim como toda a reforma para que o prédio funcionasse a contento e ainda, os equipamentos deinformática para a manutenção desses atendimentos (inclusive com a contratação de assistênciaperiódica mensal).

Logo, por que contratar uma OSCIP, quando é o Estado que financia toda a estruturafísica e de pessoal? Qual a vantagem para o Estado? Qual o benefício para o contribuinte? Por que obeneficiário não pode receber a ajuda diretamente do Estado?

São perguntas que revelam a improbidade dos agentes ímprobos envolvidos nacontratação da OSCIP.

3.2 PLANO DE TRABALHO GENÉRICO

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 11

Page 12: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Novamente, como é de costume na Administração Pública, o Plano de Trabalho éabsolutamente genérico e sem qualquer detalhamento do objeto específico da parceria, de modo aeivar o termo de ilegalidade, não por um acaso. Na verdade, ao tornar abstrato o plano de trabalho,atende-se a um único propósito: permitir a aplicação indevida de recursos públicos, no intuito dedesviá-los para o particular.

O Objeto envolvia o pagamento de pessoal, mas o plano e o próprio termo deparceria não discriminaram a quantidade, nem a remuneração de cada prestador de serviços, nem aquantidade e preço unitário de cada produto a ser adquirido, muito menos a fixação de metas aserem atingidas.

3.3 DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA EXECUÇÃO DO TERMO DE PARCERIA

Compulsando os autos da prestação de contas anexas ao Inquérito Civil, apenas épossível encontrar diversas notas fiscais e recibos relativos a aquisições de materiais de limpeza (ex:3.169 vassouras), materiais de expediente (ex: 1.252 cartuchos e tonners de impressora), produtosalimentícios e de prestação de serviços que teriam sido realizados por profissionais das áreasmédica, odontológica e de assistência social, com a relação de pessoas que também teriam sidoatendidas por esses profissionais. Porém não se vislumbra a entrega e existência física dessesmateriais e muito menos a realização de palestrar e orientações a pessoas necessitadas. Nem aomenos uma foto ou ficha de atendimento.

A OSCIP não apresentou nada de concreto na realização do convênio e a SEASnada cobrou, continuando a repassar o dinheiro público para a entidade, celebrandosucessivos convênios até que a OSCIP fosse extinta.

Por todo o exposto, patente o ato de improbidade administrativa que causa dano aoErário, a impor a propositura da presente Ação, bem como o ressarcimento do dano ao Eráriocorrespondente, lembrando-se que esse é imprescritível.

II. DO DIREITO

1. DA LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional doEstado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interessessociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput, da CF/88).

A Carta Republicana de 1988 elenca dentre as funções institucionais do MinistérioPúblico a defesa do patrimônio público, em seu art. 129, que estabelece:

Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:[...]

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 12

Page 13: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público esocial, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (g.n.).

Determina a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – Lei nº 8.625/93,1 em seuart. 25:

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e emoutras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:[...]IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, aoconsumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e aoutros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou àmoralidade administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas oufundacionais ou de entidades privadas de que participem;2

Em relação às atribuições deste Órgão Ministerial quanto à presente matéria, assimestatui o ATO PGJ N.° 042/20083, em seu art. 2º:

Art. 2.º – Aos Promotores de Justiça com atuação nas Promotorias de Justiça Especializadas naProteção do Patrimônio Público compete:

V – instaurar inquérito civil, promover ação civil pública para a proteção do patrimôniopúblico nos termos da Lei e ação de improbidade administrativa para apuração daresponsabilidade pessoal dos agentes elencados na Lei;

VI – propor medidas administrativas e judiciais necessárias para a proteção do patrimôniopúblico e para a apuração de atos de improbidade administrativa;

A Lei da Ação Civil Pública estabelece no art. 5º, I4, que o Ministério Público temlegitimidade para propor as ações principal e cautelar visando à tutela dos bens elencados no art. 1ºda mesma Lei.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já se manifestou claramente sob a

possibilidade da tutela do patrimônio público via ação civil pública, com base na Constituição

1 Institui a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dosEstados e dá outras providências.2 A mesma incumbência é repetida na Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Amazonas – Lei Complementar estadual

nº 11/93, art. 3º, inciso IV, alíneas a e b.3 Estabelece as atribuições das Promotorias de Justiça Especializadas na Proteção do Patrimônio Público e dá outras providências.4 Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).

I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). (g.n.)

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 13

Page 14: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Federal e no inciso IV do art. 1º5, da Lei 7.347/85, a despeito de esse bem jurídico não estearnominalmente citado no referido dispositivo legal, a exemplo do aresto transcrito:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADEATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ART. 129, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.EX-PREFEITO. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. 1. O Ministério Público está legitimado à propositura da ação civil pública em defesa dequalquer interesse difuso ou coletivo, abarcando nessa previsão o resguardo dopatrimônio público, com supedâneo no art. 1.º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, máximediante do comando do art. 129, inciso III, da Carta Maior, que prevê a ação civil pública, agorade forma categórica, como instrumento de proteção do patrimônio público e social(Precedentes: REsp n.º 861566, Relator Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 23/04/2008; REspn.º 686.993/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 25/05/2006; REsp n.º 815.332/MG, Rel.Min. Francisco Falcão, DJU de 08/05/2006; e Resp n.º 631.408/GO, Rel. Min. Teori AlbinoZavascki, DJU de 30/05/2005).2. Legitimatio ad causam do Ministério Público à luz da dicção final do disposto no art.127 da CF, que o habilita a demandar em prol de interesses indisponíveis, na forma dasúmula nº 329, aprovada pela Corte Especial em 02.08.2006, cujo verbete assim sintetiza atese:"O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa dopatrimônio público". [...](REsp 1086147 / MG. RECURSO ESPECIAL 2008/0193613-1. Relator(a): Ministro LUIZFUX (1122). Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento: 02/04/2009.Data da Publicação/Fonte: DJe 06/05/2009). (g.n.)

De se ressaltar que o conceito jurídico de patrimônio público é abrangente, não selimitando ao aspecto meramente material, como bem salienta Franco:

[…] a noção de patrimônio público, além de alcançar os elementos de valor econômico,encontra informação advinda também de princípios ausentes de tangibilidade financeira, masde valia ética ou moral. Dessa forma, o acervo público abrange essa gama de bens e valores,mensuráveis ou não economicamente, de que sejam titulares as pessoas jurídicas de direitopúblico, de administração direta ou indireta.São partes desse acervo, segundo o entendimento de Fernando Rodrigues Martins, os benspúblicos, o erário público, os direitos e o patrimônio moral. De acordo com o professor CélioRodrigues da Cruz, a noção de patrimônio público pode ser verificada em dois sentidos. Deforma ampla, ao abranger em seu conceito os elementos expostos na Lei de Ação Popular; ourestritamente, noção adstrita ao 'conjunto de bens e direitos de valor econômico pertencente ouvinculado aos entes da Administração Pública direta e indireta.' Neste último sentido, encontra-se verificada a expressão erário.6

5 Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais epatrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)I - ao meio-ambiente;II - ao consumidor;III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; V - por infração da ordem econômica e da economia popular; (Redação dada pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) VI - à ordem urbanística. (Redação dada pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) (g.n.) Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos doTítulo III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. (Incluído pela Lei nº 8.078, de 1990) (g.n.)

6 FRANCO, Gabriela Pereira. A imprescritibilidade da ação de ressarcimento em decorrência da prática de ato ilícitoque causa prejuízo ao erário por improbidade administrativa. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2623, 6 set. 2010.Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/17340>. Acesso em: 10 nov. 2010.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 14

Page 15: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

O patrimônio moral é composto pelos princípios éticos que regem a atividadepública, sintetizados no princípio da moralidade, consagrado no artigo 37 da Constituição. Aatuação segundo o princípio da moralidade, por parte de todos os agentes públicos, garante aobservância de um padrão de atuação dentro da moral, da boa-fé, da lealdade e da honestidade,essencial ao bom e correto funcionamento da Administração Pública,7 do que decorre também adignidade, o respeito e a credibilidade de que goza a Administração perante a sociedade.

A tutela judicial do patrimônio público via ACP é matéria que já se encontrasumulada no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, a teor do Enunciado nº 329: O MinistérioPúblico tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público . Demodo que demonstrada está a legitimidade deste Órgão Ministerial para o presente feito.

Assim, é também em especial defesa ao patrimônio moral da sociedade amazonense,que o Ministério Público, por meio da presente ação, pretende obter, mediante a responsabilizaçãodos agentes envolvidos na contratação e execução (ou inexecução) dos Termos de Parceria nº01/2008, 04/2009 e 03/2010 celebrado entre a Sociedade de Interesse Público do Amazonas –SIPAM e a Secretaria de Assistência Social e Cidadania – SEAS que se beneficiaram dos atosímprobos narrados ao longo desta exordial.

2. DO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO

A presente Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa tem comofundamento as diversas infrações gravíssimas ao ordenamento jurídico vigente, especialmente noque se refere à Lei de Improbidade Administrativa, no que tange aos Termos de Parceria nº 01/2008,04/2009 e 03/2010 celebrado entre a Sociedade de Interesse Públco do Amazonas – SIPAM e aSecretaria de Assistência Social e Cidadania – SEAS, infrações essas que geraram dano ao eráriopela inexecução do pactuado.

Considerando os fatos apontados, a presente Ação Civil Pública por Ato deImprobidade Administrativa visa obter provimento jurisdicional para reprimir o desrespeito aprincípios norteadores da Administração Pública, previstos no caput do art. 37 da CF, sobretudo oda legalidade, da eficiência e da lealdade às instituições e, ainda, fazer cumprir requisito ínsito aosserviços públicos, qual seja, o respeito à ordem jurídica vigente, corolário do Estado de Direito,através do controle judicial dos atos ilegítimos e ilegais praticados pelos agentes públicos.

Tem por fim, ainda, a presente demanda, a aplicação das sanções relativas aos atos deimprobidade administrativa praticados pelos réus, não apenas os que atentam contra os princípios daAdministração Pública (art. 11, caput, da Lei 8.429/92), mas sobretudo que importam emenriquecimento ilícito (art. 9º, inciso XI) e causam dano ao erário (art. 10, I e VIII), além doressarcimento ao erário do dano provocado pela conduta ímproba dos réus.

7 GARCIA, Mônica Nicida. Patrimônio Público (Escola Superior do Ministério Público da União). Disponível em:<http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Patrim%C3%B4nio%20p%C3%BAblico>. Acesso em:11 nov. 2010.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 15

Page 16: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

3. DOS SUJEITOS

3.1.. DO SUJEITO PASSIVO

É sujeito passivo da improbidade administrativa qualquer entidade pública ouparticular que tenha participação de dinheiro público em seu patrimônio ou receita anual, conformedefine o art. 1º da Lei 8429/92:

Art. 1º - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não,contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União,dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada aopatrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio haja concorrido ou concorracom mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na formada Lei.

A Secretaria de Assistência Social e Cidadania foi atingida e usada como instrumentopelos agentes ímprobos, por consequência, o Estado do Amazonas é a pessoa jurídica de direitopúblico lesada, a figurar na presente demanda como sujeito passivo da improbidade administrativa,uma vez que teve recursos desviados em decorrência da celebração indevida de termos de parceriabem como frustração de processo licitatório e pagamento de objetos completamente alheios àparceria firmada.

3.2. DOS SUJEITOS ATIVOS DA IMPROBIDADE

O sujeito ativo da improbidade, tomando por base a Lei 8.429/92, é por excelência oagente público que, com ou sem o concurso de terceiro, pratica o ato de improbidade.

Art. 2º - Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, aindaque transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contrataçãoou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nasentidades mencionadas no artigo anterior.

Mas não é só. O particular também poderá cometer ato de improbidadeadministrativa na medida em que concorrer para realização do ato, nos termos do art. 3º do mesmodiploma normativo, in litteris:

Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sen-do agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se bene-ficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Frise-se que a Lei de Improbidade Administrativa é perfeitamente aplicável a pessoasjurídicas, como bem ensina Emerson Garcia in Improbidade Administrativa, 2ª ed., Rio deJaneiro: Lumen Juris, 2004, p. 253:

Também as pessoas jurídicas poderão figurar como terceiros na prática dos atos deimprobidade, o que será normalmente verificado com a incorporação ao seu patrimônio

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 16

Page 17: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

dos bens públicos desviados pelo ímprobo. Contrariamente ao que ocorre com o agentepúblico, o qual é o sujeito ativo dos atos de improbidade e é necessariamente uma pessoafísica, o art. 3º da Lei de Improbidade não faz qualquer distinção em relação aos terceiros,tendo previsto que “as disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,mesmo não sendo agente público...”, o que permite concluir que as pessoas jurídicastambém estão incluídas sob tal epígrafe.

No mesmo sentido:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LICITAÇÃO. VIOLAÇÃO DOS DEVERESDE MORALIDADE EIMPESSOALIDADE. DANO EFETIVO. EMPRESABENEFICIÁRIA. RESPONSABILIDADE. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.SÚMULA 7/STJ. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO (SÚMULAS 282 E356/STF). DIVERGÊNCIA INDEMONSTRADA.1. (…) 6. A título de argumento obiter dictum merece destaque as situações fáticas,insindicáveis nesta Corte, assentadas pelo Tribunal local: (a) (...) (c) "(...)Por outrolado, houve prova efetiva do dano, caracterizado na resposta ao quesito "b" doMinistério Público, f. 508, em cuja resposta o perito oficial informa que o preço deaquisição dos carrinhos foi cerca de 35% acima do preço praticado pela TAMBASA,empresa que foi tomada por base pelo órgão ministerial para comparação. E, não sepode admitir esta diferença considerável, ao frete e as condições de pagamento, comoentendeu a douta magistrada a quo. E, prevendo o art. 3º da Lei nº 8.429, aresponsabilidade de terceiro pelo ato de improbidade administrativa, pelo seubeneficiamento dele decorrente, tem-se que possibilitada a condenação da empresaapelada solidariamente aos demais apelados (…)" 7. Recursos Especiais nãoconhecidos (STJ, 1ª Turma. REsp 916895 / MG RECURSO ESPECIAL 2007/0007758-5. Rel. Min. Luiz Fux. J. em 1º.10.2009. DJe 13.10.2009.

Neste sentir é necessário realizar uma breve digressão acerca de legitimidade passivados Réus.

Indubitavelmente, os agentes públicos que celebraram o termo de parceria devem serresponsabilizados, Sra. Regina Fernandes do Nascimento e Sra. Maria das Graças Prola, entreoutros fatores por: a) celebrar parceria com OSCIP que flagrantemente não tinha estrutura paracomportar o objeto do convênio; b) convalidar programa de trabalho com objeto manifestamentegenérico, a fim de permitir o enriquecimento do particular; c) não traçar no plano de trabalhoqualquer meta a ser atingida pelo convênio; d) falhar em fiscalizar a prestação de contas, e o que épior, realizar sucessivos pactos com a mesma OSCIP, mesmo diante dos fortes indícios de crime ede desvio do dinheiro público.

Não menos importante, é responsabilizar a Senhora Marcineth Pevas Lima(CRESS 1687) e a Gerente de Regulação do SUAS Sra. Suelen Soares Carvalho , que após 02(dois) relatórios já prescrevendo parecer desfavorável à celebração do Termo de Parceria, emitiramrelatório afirmando a “superação das pendências com a correção dos planos de trabalho eatendimento ao que preconiza a Política Nacional de Assistência Social”.

Contudo, na análise dos pontos assinalados pelas equipes técnicas, tais quais,adequações estruturais e operacionais e alterações do plano de trabalho, não se demonstrou porqualquer meio probatório: a) documentação que comprovasse que houve a superação daspendências evidenciadas nos dois pareceres desfavoráveis; b) alteração no Plano de Trabalho de

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 17

Page 18: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

cunho relevante, pois foram apresentados valores genéricos, sem que se aferisse objetivamente ocusto real das consultas, da contratação de palestrante, de aquisições de cestas básicas, etc,tampouco discriminasse objetos adquiridos e seu custo; c) a seleção de concurso de Projetos.

A responsabilidade sobre tal fato, não pode ser imputada somente às referidaspareceristas, mas também às gestoras signatárias dos respectivos termos que direcionaram acontratação da OSCIP.

Mas não é só. Há de se responsabilizar ainda a Senhora Zuelha Cruz Barbosa, entãoPresidente da SIPAM (responsável pelo termo de parceria nº 001/2008) e o Senhor João RibeiroGuimarães Júnior Presidente à época da celebração dos termos de parceria nº 04/2009 e 03/2010.Claramente os responsáveis pelo termo: a) forjaram notas fiscais em contato com os fornecedores;b) adquiriram diversos produtos fora do objeto contratual; c) não realizaram integralmente o objetodo convênio, não apresentando qualquer evidência idônea que demonstrasse o contrário; d) nãorealizaram qualquer processo de seleção de fornecedores para obter a proposta mais vantajosa; e)mentiram no “relatório de atendimento”, onde informam que atenderam um número menor depessoas em relação aos óculos adquiridos.

Destaca-se que os então signatários dos termos aqui questionados e Presidentes doSIPAM devem ser responsabilizados em seu patrimônio pessoal, isto porque, o SIPAM através deseus representantes legais abusou de sua responsabilidade, com manifesto desvio definalidade, nos termos do art. 50 do Código Civil, devendo desconsiderar-se sua personalidadejurídica.

Outrossim, em relação ao SIPAM, é necessário mencionar que a referidainstituição ficou inativa a partir de 17/06/2011, o que apenas corrobora ser uma instituição defachada, incubadora de recursos públicos para poder desviá-los e aplicá-los em fins escusos.

Fazia ainda parte do esquema criminoso Francisco das Chagas Silva de Oliveira,Contador responsável por elaborar o parecer obrigatório de “auditoria independente”, e, afirma,dolosamente, a despeito de todas as considerações já expostas até aqui acerca da malversação derecursos públicos que “Os recursos da Entidade foram aplicados em suas finalidades com seuestatuto social, demonstrado pelas suas Despesas e Investimentos Patrimoniais”, conforme constaem relatório acostado no volume 2 do Inquérito Civil que instrui a presente Ação.

Conforme será visto linhas abaixo, os Agentes Ímprobos têm suas condutasenquadradas nos atos de improbidade administrativa elencados nos arts. 9º, XI, 10 e 11, caput einciso I, tudo da Lei 8.429/92.

4. DO FUNDAMENTO JURÍDICO E DA CARACTERIZAÇÃO DAS CONDUTASDANOSAS

4.1. DAS CONDUTAS QUE GERARAM DANO AO ERÁRIO

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualqueração ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 18

Page 19: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no artigo 1ºdesta Lei, e notadamente:I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular,de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervopatrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei;(...)VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;(...)XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir dequalquer forma para a sua aplicação irregular;

Diante de tais considerações até aqui levantadas, vislumbra-se que a atitude dos réusgestores se amolda perfeitamente como ato de improbidade administrativa, especialmente entre aquelesque causam dano ao erário descritos nos dispositivos da LIA acima transcritos. Individualizando-as,temos:

4.1.1. DA AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO OU PROCESSO DE ESCOLHA VÁLIDO NACELEBRAÇÃO DOS TERMOS DE PARCERIA SEAS – SIPAM EM TELA.

Admitindo-se, por hipótese, a possibilidade de terceirização de serviços e mão deobra que a princípio deveriam ser prestados diretamente pela SEAS, não há razão em termosjurídicos para a referida Secretaria ter optado, de pronto, por celebrar parceria com a SIPAM antesde averiguar se não seria mais vantajoso realizar licitação para os fins desejados.

Os termos de parcerias em análise não foram precedidos de qualquer critério objetivode escolha. Aliás, como já dito e frisado pela análise técnica do e. Tribunal de Contas do Estado,houve direcionamento para a escolha da SIPAM, por meio da elaboração de laudo positivo frágilque substituísse os outros dois negativos constantes nos autos, os quais não recomendavam acelebração do Termo.

Segua a análise dos técnicos, em secundando Marçal Justen Filho, defendendo que éobrigatória a adoção de procedimento licitatório para a realização de termo de parceria, casocontrário seria “porta aberta” para a fraude e a destruição da regra constitucional da obrigatoriedadeda licitação e “bastaria a própria Administração produzir o nascimento de uma “organização”,submetida a seu estrito controle, e dela se valer para realizar todo tipo de contratação sem prévialicitação”.

O Decreto nº 25.761/2006, que regulamenta a Lei Estadual nº 3.017/2005, asemelhança do que disciplina o Decreto Federal nº 3.100/99 (que regulamenta a Lei nº 9.790/99),em seu art. 23, dispõe que para a escolha da OSCIP para a celebração do Termo de Parceria poderáser realizado o Concurso de Projetos pelo Órgão Estatal parceiro, instaurando processo de seleção.

A despeito do uso do termo “poderá”, é certo que não há discricionariedade para ogestor público, pois no dispositivo está implícito que para a celebração da Parceria deve serobservado os princípios constitucionais que regem a administração pública expressos no art. 37,caput da CR/88.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 19

Page 20: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Portanto, resta claro o dever da Administração Pública realizar concurso de projetose/ou outra modalidade de licitação, garantindo a escolha da proposta mais vantajosa, nos termos doart. 3º da Lei nº 8.666/93, o que não ocorreu no caso vertente, ocasionando a responsabilização dasgestoras da SEAS signatárias dos mesmos, nos termos da Lei de Improbidade Administrativa,especialmente no que se estabelece no art. 10, VIII da LIA, já que dispensaram indevidamente oprocesso licitatório ou outro de seleção quando da contratação da SIPAM.

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer açãoou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no artigo 1o destaLei, e notadamente:

VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente; (grifei)

Aqui, mais do que a presença da culpa das gestoras da SEAS à época, ReginaFernandes e Graça Prola, está presente o dolo, na exata medida em que se buscou beneficiardiretamente a SIPAM, de forma sistemática, já que, admitindo-se a regularidade do primeiro termofirmado, os seguintes cairiam por terra se também os gestores primassem na análise das prestaçõesde contas.

Este comportamento reiterado dos gestores da SEAS e dos responsáveis pelo SIPAM,bem como pelos auditores independentes que atestaram o cumprimento do objeto e das assistentessociais que avalizaram a contratação, só revelam o dolo,

Em análise benevolente, agiram com culpa, em verdadeira negligência com osrecursos públicos sob sua gestão ou fiscalização, figura também admitida nas hipóteses do art. 10 daLIA.

4.1.2 DA FACILITAÇÃO PARA INCORPORAÇÃO AO PATRIMÔNIO PARTICULAR DEVERBAS PÚBLICAS.

Além da falta de critérios válidos para a celebração dos Termos de Parceria nº01/2008, 04/2009 e 03/2010 entre a Sociedade de Interesse Público do Amazonas – SIPAM e aSecretaria de Assistência Social e Cidadania – SEAS, há de se destacar a três momentos em que osatos dos agentes públicos e dos terceiros envolvidos concorreram para o dano ao Erário através daincorporação dos valores repassados pelo Estado do Amazonas ao patrimônio do SIPAM, já que ainstituição não logrou demonstrar a utilização dos recursos para os fins devidos.

Primeiramente, o ato da Assistente Social Marcineth Pevas Lima e da Gerente deRegulação do SUAS, Suelen Soares Carvalho, ao firmarem parecer avalizando as condições daSIPAM para a realização do objeto do Convênio, sem que ao menos tivesse a entidade sede própria,após duas manifestações negativas, uma das quais além de destacar não funcionar qualquer entidadeno endereço constante do plano de trabalho, aponta a total falta de diagnóstico social da área e ainadequação das estratégias aos objetos propostos. Contribuíram indubitavelmente para o dano aoErário, avalizando como apta entidade inexistente de fato, para quem se repassou mais de trêsmilhões de reais.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 20

Page 21: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Note-se que aqui não há falar em parecer meramente opinativo, já que se constituíano instrumento técnico que avalizava as condições da entidade para prestação do serviço.

Em segundo, temos a realização de gastos alheios aos objetos dos Termos deParcerias.

A SIPAM não tinha absolutamente nada para oferecer ao Estado, pois o dinheiro parapagar os funcionários, aluguel da sede, água, luz, telefone, papel higiênico, vassoura, saco de lixo,cartucho de impressora, copo descartável, produtos de limpeza, todos eram despendidos com odinheiro público. Até mesmo a “Auditoria Independente” foi paga com o dinheiro público.

Conforme se delimitou e especificou, os gastos realizados pela SIPAM eram feitoscom objetos extremamente alheios ao convênio, como os já citados cloro em pó, cloro líquido, sacode lixo, vassoura, etc, em quantidades que não se sustentam, demonstrando claramente o intuito deunicamente justificar uma aplicação em realidade não realizada.

Com efeito, as notas fiscais declaradas inidôneas pela SEFAZ, conduzem ainequívoca conclusão que havia um forte esquema de desvio e lavagem de dinheiro montados comfins escusos no âmbito dos Termos de Parcerias firmados entre a SEAS e a SIPAM.

O meio como se operava era muito simples: a grande maioria das notas fiscais friastinha um valor fixo, R$ 15.000,00 (quinze mil reais). Escolhia-se um produto, que nem mesmoguardava relação com o objeto do ajuste, e emitia-se notas fiscais simulando a aquisição, já que asnotas não tinham validade jurídica, quer por não terem tido sua confecção autorizada pela SecretariaEstadual de Fazenda, quer por serem emitidas por empresas inexistentes, como a da venda dosóculos, que teve sua baixa pela Receita Federal por ser inexistente de fato. Assim, como tambémnão cumpriu a entidade (nem exigiu a SEAS) a obrigação de efetuar despesas por meio de chequesou transferências bancárias identificadas, mas efetuou saques em dinheiro, saiu o dinheiro públiconão se sabe para qual destino, só não foi aplicado onde devia.

Essa forma de facilitar a incorporação de verbas públicas ao patrimônio do particularfoi ato ímprobo que causa dano ao Erário, descrito no art. 10, I, da LIA, de responsabilidade dasgestoras de SEAS que administraram as Parcerias ora em comento, Regina Fernandes doNascimento e Graça Prola, com a total colaboração dos gestores da SIPAM, responsáveis pelaassinatura dos Termos de Parcerias e prestação de contas, Zuelha Cruz Barbosa e João RibeiroGuimarães Júnior.

O mais triste é que o referido esquema jamais foi minimamente observado na análiseda prestação de contas da SIPAM pela SEAS, mantendo-se a entrega pura e simples do dinheiropúblico por três anos, entre 2008 e 2010.

Observa-se, daí, um terceiro ponto a facilitar o desvio: os planos de trabalho,aprovados pelas gestoras da SEAAS, posto demasiadamente vagos, sem que se pudesse extrairdeles a mínima meta de resultado concreto para que se pudesse fixar um parâmetro objetivo acercado adimplemento do termo.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 21

Page 22: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Nesta seara, consta nos autos apenas o Relatório Geral de Atendimento da SIPAM noperíodo de 02/05/2008 à 29/12/2008, relatório esse que limita a encaminhar lista da qual constamnomes de pessoas supostamente atendidas e o respectivo serviço.

Observa-se que nem mesmo termo de recebimento do serviço por parte dessessupostos beneficiados há. Supostos sim, pois, por exemplo, os beneficiários dos óculos de grau2,5o . Como dizer que receberam se as notas da aquisição, além de serem inidôneas e sequenciais,foram emitidas por empresa que teve seu registro baixado diante da inexistência de fato, conformecertidão da receita acostada aos autos.

Finalmente, também concorreu para o dano ao Erário o Sr. Francisco das ChagasSilva de Oliveira, contador e Auditor Independente contratado pela OSCIP (mas pago com recursosda parceria), que avalizou tais gastos e com isso concorreu com o enriquecimento ilícito da SIPAM,devendo, portanto, responder de igual modo, como incurso nas sanções do art. 10, I, da LIA.

É evidente que a ausência de comprovação a execução dos Termos de Parcerias,constatada também pelos Técnicos do TCE, a aplicação do dinheiro público em gastoscomprovados por meio de notas fiscais comprovadamente inidôneas, a aquisição de óculos deempresa declarada inexistente pela Receita Federal do Brasil, a própria escolha da OSCIP, mesmoapós dois laudos que não recomendavam a celebração do termo, o aval da Auditoria Independenteacerca da comprovação dos gastos em sintonia com o objeto da OSCIP e as despesas com insumoscompletamente fora do objeto contratual geraram dano ao Erário Estadual.

Não houve comprovação efetiva, em nenhum momento, da execução do objeto dostermos de parceria, e, mesmo assim, houve a liberação integral dos recursos públicos destinados aoSIPAM, com renovações sucessivas, em três anos consecutivos.

O dolo é evidente e a responsabilidade deve ser imputada de acordo com a gravidadeda conduta dos Réus, assim como a obrigação de ressarcir o dano causado, dano este que perfaz, nomínimo, R$ 1.510.954,62 (Um milhão, quinhentos e dez mil, novecentos e cinquenta e quatroreais e sessenta e dois centavos), o que corresponde a 41,39% do total das despesas efetuadas nostrês anos de parceria, despesas essas comprovadas com notas fiscais inidôneas.

Contudo, a despeito da especificação do valor acima, o dever de ressarcir deveabranger não apenas este montante, mas TODO O VALOR GASTO com os termos de parceria, umavez que as ilegalidades maculam tais ajustes em seu nascedouro, tanto na forma dirigida decontratação, quanto na ausência de comprovação dos gastos e da execução do pacto.

Sabe-se que o valor do Termo de Parceria nº 001/2008 – SEAS foi de R$1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil reais), o do Termo de Parceria nº 004/2009 – SEAS foi deR$ 850.000,00 (oitocentos e cinquenta mil reais) e o do Termo de Parceria nº 003/2010 foi de R$1.000.000,00 (um milhão de reais,) totalizando a dívida em R$ 3.650.000,00 (três milhões,seiscentos e cinquenta mil reais).

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 22

Page 23: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

4.2 DO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE PROPICIA OENRIQUECIMENTO ILÍCITO

Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícitoauferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no artigo 1o desta Lei,e notadamente:(...)XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valoresintegrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1o desta Lei;

O caso em análise importa, inicialmente, em perfeita subsunção do fato às hipótesesdescritas no art. 9º, XI da Lei nº 8.429/92.

Preliminarmente, restou devidamente delineado nos autos a aplicação de verbapública e comprovação de despesas com notas inidôneas (de acordo com a própria SEFAZ), nomontante de R$ 1.510.954,62 (um milhão, quinhentos e dez mil, novecentos e cinquenta e quatroreais e sessenta e dois centavos), o que corresponde a 41,39% do total das despesas efetuadas nostrês anos de ajuste.

Mas não é só.

Como já afirmado ao longo desta exordial, verificou-se que a qualidade dos gastosefetuados denota o total enriquecimento ilícito do particular, uma vez que fica evidente que taisbens nunca foram entregues, e os diretores da SIPAM desviaram a verba para fins diversos. Comoexemplo da malversação pode-se citar a tabela elaborada no tópico 2.3 da presente inicial.

O atendimento visado pelas parcerias contestadas em nada diziam respeito à limpezaou cartuchos de impressão. Tratavam de atendimento médico, odontológico e psicossocial.

Neste ponto indaga-se: como o fornecimento de insumos tais como, a) 1.252 (milduzentos e cinquenta e duas) unidades de tonner e cartuchos de tinta; b) 1764 vassouras de piaçavae 1405 vassouras de cipó, totalizando 3.169 vassouras; c) 815 Kg de Cloro em pó, além de 1.179Litros de Cloro líquido; se adequariam ao objeto do termo de parceria?

Trata-se de pergunta que obviamente não tem resposta, já que dissociado de qualquerrelação, ainda que remota, com o objeto básico. Talvez houvesse um verdadeiro asco pela sujeirarealizada com o dinheiro público, daí a necessidade de tantos produtos de limpeza.

Ademais, a ausência de relatório sobre a execução do objeto macula e põe em xequea liberação total dos recursos, pois não há como imaginar que o Estado libere recursos públicos semque haja a comprovação inequívoca da contra prestação a que se obrigou o particular. Não basta aentidade comprovar com o que se gastou, mas se realizou efetivamente o objeto do termo deparceria.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 23

Page 24: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Sem a contra prestação, o valor total pago pelo Estado é indevido, e oenriquecimento ilícito torna-se evidente na totalidade do valor repassado.

Deste modo, comprovado está o desvio de dinheiro público pertencente ao Estado doAmazonas, que deveria ter sido aplicado pela SEAS e pelos agentes ordenadores de despesas esignatário do Termo de Parceria em tela na promoção da assistência social, mas ao invés dissoapenas enriqueceu ilicitamente a SIPAM e seus sócios (declarados ou ocultos).

Assim, resta delineada a má fé com a coisa pública por parte dos agentesresponsáveis e sobretudo a associação para benefício de terceiros pelo pagamento indevidoefetuado, ações essas que não se pode compreender sem o dolo dos agentes, que pactuaram orepasse de verbas públicas destinadas a pagar insumos incompatíveis com o próprio objeto doprojeto básico.

Ademais, como já falado, a ilegalidade está na gênese do termo de parceria, com acontratação de objeto ilícito, que permitiu o indevido locupletamento pelo particular de recursospúblicos. A Secretaria, representada por suas Gestoras, em nenhum momento preocupou-se emcobrar a contraprestação, o que inviabiliza o próprio controle e demonstra o intuito de permitir oenriquecimento ilícito do particular.

Pois bem, esta é a oportunidade deste douto Poder Judiciário dar um basta! Asociedade não tolera mais a corrupção, foi às ruas para exigir o fim da impunidade, razão pela qualdeve-se buscar responsabilizar aqueles que não tem compromisso com a boa gestão da coisapública. Ao contrário, tratam-na com descaso e promovem o indevido benefício de terceiros.

Assim, os Presidentes da OSCIP à época devem ser responsabilizados à luz da Lei deImprobidade Administrativa, neste particular, sob a égide dos arts. 9º, caput e inciso XI da Lei nº8.429/92.

5. DO ATO DE IMPROBIDADE QUE ATENTA CONTRA OS PRINCÍPIOS INERENTESÀ ADMINISTRAÇÃO, NOTADAMENTE OS DA LEGALIDADE, MORALIDADE EEFICIÊNCIA.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios daadministração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto naregra de competência;

É evidente que os atos de improbidade dos Réus REGINA FERNANDES DONASCIMENTO; MARIA DAS GRAÇAS SOARES PROLA; MARCINETH PEVAS LIMA;SUELEN SOARES CARVALHO; FRANCISCO DAS CHAGAS SILVA DE OLIVEIRA;JOÃO RIBEIRO GUIMARÃES JÚNIOR; ZUELHA CRUZ BARBOSA violaram também os

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 24

Page 25: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

princípios basilares da Administração Pública, especialmente os referentes a moralidade,eficiência, legalidade e lealdade à instituição.

É cediço que a Administração Pública, de qualquer nível, tem que pautar seus atosem obediência aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência,conforme exigido pelo caput do art. 37 da Constituição da República.

A Constituição Federal de 1988, ao dispor sobre a Administração Pública, previu, no§ 4° do art. 37, a responsabilidade civil dos agentes públicos por ato de improbidade administrativa,independentemente da responsabilidade penal, estabelecendo no seu próprio texto sançõesaplicáveis ao homem ímprobo, como a perda da função pública, suspensão de direitos políticos eressarcimento do dano.

Por sua vez, a Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), ao regulamentar oaludido dispositivo constitucional, estabeleceu as gradações de improbidade administrativa, quaissejam as que geram enriquecimento ilícito ao agente, as que causam dano ao erário e as dedescumprimento de princípios, estabelecendo mais duas sanções não indicadas no textoconstitucional, a saber, a proibição de contratar com a Administração Pública e a multa civil.

Doutra banda, restou claro que tal responsabilidade alcança também aqueles que, porajuste, assumem a gerência de recursos públicos. Portanto, alcança-os de igual modo o dever deobediência aos princípios constitucionais do art. 37 da CF (legalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e eficiência). Neste sentido vale repetir o teor do art. 4° da Lei 8.429/92, in litteris:

Art. 4° - Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pelaestrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidadeno trato dos assuntos que lhe são afetos."

Acresça-se que o caput do art. 11 da Lei de Improbidade impõe os deveres dehonestidade, imparcialidade e lealdade às instituições, além das condutas expressas de seus incisos.

PAZZAGLINI FILHO assegura que velar pela estrita observância não significaapenas cumprir, mas também fazer cumprir. É o dever de zelo e obediência aos princípios daAdministração Pública, de cuja inobservância resultam as espécies de improbidade ditadas pelo art.11, entre as quais se amolda não apenas a conduta comissiva, mas também o que é mais comum, aomissiva, ou seja, o incumprimento por parte do sujeito das obrigações assumidas perante o Estado.

Tão ou mais censurável que afrontar uma norma é o silêncio sobre seudescumprimento, omissão que contribui para o esvaziamento dos princípios aludidos.(PAZZAGLINI in Improbidade Administrativa, Aspectos Jurídicos da Defesa do PatrimônioPúblico. Atlas, SP, 1999,4a ed, pg. 52 e segs.).

In casu, o princípio da legalidade foi desrespeitado na medida em que às RésGestoras Regina Fernandes do Nascimento e Maria as Graças Soares Prola deixaram de observar asnormas legais atinentes à formalização das parcerias, como já antes explicitado, bem como àquelasrelativas ao controle dos gastos públicos, pois apesar das prestações de contas que no todoevidenciavam a inexecução do acordado, além de incompletas quanto aos requisitos formais (comoa realização de despesas por movimentação bancária específica e identificada – cheque ou

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 25

Page 26: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

transferência identificada), permaneceram por três anos renovando o ajuste e transferindo o dinheiropúblico sem efetiva fiscalização.

Nesse patamar, também se encontram as servidoras Marcineth Pevas Lima e SuelenSoares Carvalho que atestaram a adequação da SIPAM para o ajuste, apesar da notoriedade de suafalta de estrutura, quer física, quer de pessoal, quer de experiência comprovada no serviço a que sepropunha.

Consultando-se a jurisprudência, na busca de se encontrar a extensão do princípio dalegalidade, encontramos a lição do Des. Cardoso Rolim, ao assegurar que o controle jurisdicionalsobre a administração é de legalidade, afirmou que: “por legalidade ou legitimidade se entende nãosó a conformação do ato com a lei, como também com a moral administrativa e com o interessecoletivo, indissociável de toda atividade pública. Tanto é ilegal ou ilegítimo o que desatende à lei,como o que violenta a moral da instituição, ou se desvia do interesse público, para servir ainteresses privados de pessoal, grupos ou partidos favoritos da administração” (Tribunal deJustiça de São Paulo. Apelação Cível n. 151.580. Rel. Dês. Cardoso Rolim, em 20-10-65)8.

Daí se passa ao princípio da impessoalidade, também ferido, já que privilegiou-se,com tais parceriaso, interesse pessoal da dita Sociedade parceira, aviltando-se também lealdadedevida à Administração Pública.

Ressalte-se que evidentemente concorreram para as violações os representanteslegais da OSCIP, sem deixar de mencionar o auditor independente, que mostrou-se ao finalcontratado tão-somente para avalizar as irregularidades feitas pela OSCIP em questão.

Outrossim, ofende sobre maneira também o princípio da moralidade. Aqui, conformeALMEIDA (ALMEIDA, João Batista de in Aspectos Controvertidos da Ação Civil Pública, ed. RT,SP, 2001, pg. 53) o que se busca proteger é a boa administração, segundo as normas legais e, emespecial, os princípios constitucionais. Coíbe-se à Administração que se desvia da finalidade, quedeixa de cumprir o que dispõe a lei e a Constituição, que se afasta da moral que deve presidir aatividade administrativa, cause ou não dano ao erário.

Abordando o mesmo princípio, MORAES (MORAES, Alexandre in DireitoConstitucional, ed. Atlas, SP, 2002,11a ed., pg. 312) consignou que não basta ao administrador ocumprimento da estrita legalidade, devendo ele, no exercício de sua função pública, respeitar osprincípios éticos de razoabilidade e justiça, pois a moralidade constitui, a partir da Constituição de1988, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública.

A Constituição Federal, ao consagrar o princípio da moralidade administrativa comovetor da atuação da Administração Pública, igualmente consagrou a necessidade de proteção àmoralidade e responsabilização do gestor de coisa pública amoral ou imoral.

O princípio da moralidade foi ferido, de igual modo, na hipótese ora avaliada, namedida em que a moral "administrativa" abrange a utilização de critérios razoáveis na realizaçãoda atividade própria da Administração Pública, considerando-se imoralidade - como já dito –o desvio de recursos públicos, para beneficiar terceiros.

8 BARBOZA, Márcia. O Princípio da Moralidade Administrativa. Livraria do Advogado, 2002, pág. 99.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 26

Page 27: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

Finalmente, tem-se também como violado o princípio da eficiência.

A respeito do tema, salienta Alexandre de Moraes: 'Assim, princípio da eficiência éaquele que impõe à Administração Pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bemcomum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente,participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção doscritérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, demaneira a evitar-se desperdícios e garantir-se maior rentabilidade social.

Nota-se que não se trata da consagração da tecnocracia, muito pelo contrário, oprincípio da eficiência dirige-se para a razão e o fim maior do Estado, a prestação dos serviçosessenciais à população, visando a adoção de todos os meios legais e morais possíveis para asatisfação do bem comum'.(...) A atuação ineficiente do agente público, portanto, é ilegítima e pode,inclusive, configurar o ato de improbidade administrativa prevista no art. 11 da Lei nº 8.429 de1992". (in "Princípios Constitucionais Reguladores da Administração Pública", Editora Atlas, págs.30/33).

No caso presente, ao invés de resultar a parceria em benefícios ao público alvo, osrecursos foram aplicados indevidamente, com aquisição de produtos estranhos ao termo de parceria,despesas comprovadas por meio de notas fiscais inidôneas, inexecução do termo de parceria, entreoutras irregularidades apontadas ao longo desta exordial, para tudo o que concorreram todos osRéus.

III – DO DANO MORAL COLETIVO

A questão do dano social ou dano moral coletivo, causado na admissão de pessoal, érelativamente nova no nosso direito e, apesar de sua razoabilidade, vem encontrando uma certaresistência por parte de alguns aplicadores do direito. Porém, de forma mais avançada, outros vemdeferido o pleito, como se vê abaixo, in verbis:

AgRg no REsp 1003126 / PBAGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL2007/0261672-3 Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142) Órgão Julgador T1 -PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 01/03/2011 Data da Publicação/Fonte DJe10/05/2011 Ementa PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVOREGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. COMPETÊNCIA PARA OPROCESSAMENTO E JULGAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELOMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL OBJETIVANDO INDENIZAÇÃO POR DANOSMORAIS COLETIVOS EM DECORRÊNCIA DE FRAUDES EM LICITAÇÕES PARA AAQUISIÇÃO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO MEDIANTE A UTILIZAÇÃO DERECURSOS FEDERAIS. EMISSÃO DE DECLARAÇÕES FALSAS DEEXCLUSIVIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS. ART. 535 DO CPCNÃO VIOLADO. UNIÃO FEDERAL ADMITIDA COMO ASSISTENTE. SÚMULA 150DO STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, I, DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS ÀPROPOSITURA DA AÇÃO RECHAÇADA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 27

Page 28: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 DO STJ. 1. Constatado que a Corte regional empregoufundamentação adequada e suficiente para dirimir a controvérsia, dispensando,portanto,qualquer integração à compreensão do que fora por ela decidido, é dese afastar aalegada violação do art. 535 do CPC.2. À luz dos artigos 127 e 129, III, da CF/88, oMinistério Público Federal tem legitimidade para o ajuizamento de ação civil públicaobjetivando indenização por danos morais coletivos em decorrência de emissões dedeclarações falsas de exclusividade de distribuição de medicamentos usadas para burlarprocedimentos licitatórios de compra de medicamentos pelo Estado da Paraíba mediante autilização de recursos federais. 3. A presença da União Federal como assistente simples(art. 50 do CPC), por si só, impõe a competência Justiça Federal, nos termos do art. 109, I,da Constituição Federal. Incidência da Súmula 150 do STJ: "Compete à Justiça Federaldecidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença da União, noprocesso, da União, suas Autarquias ou Empresas Públicas".4. Se as instâncias ordináriasdecidiram por bem manter a ora agravante na lide diante do acervo fático-probatório jáproduzido,não é dado a esta Corte rever os elementos que levaram à tal convicção.5. Édefeso ao Superior Tribunal de Justiça apreciar a alegação de ausência de documentosindispensáveis à propositura da ação, rechaçada pelas instâncias ordinárias. Incidência daSumula 7 do STJ.6. Agravo regimental não provido.(g.n)

“DANO MORAL COLETIVO. FRAUDE A PRECEITO CONSTITUCIONAL E ÀLEGISLAÇÃO TRABALHISTA. CONFIGURAÇÃO. A concepção segundo a qual o danomoral somente se produz pela conjugação do binômio formado pela afetação psicossocialdo indivíduo aliada ao prejuízo material que daí decorre, hodiernamente, encontrarespeitáveis adversários traduzidos na jurisprudência e na doutrina. Não é apenas nassituações de violação a direitos exclusivamente ligados à dignidade da pessoal humanaque se caracteriza o dano moral coletivo. Também resta configurada tal lesão – ousodizer que mesmo como maior intensidade – nos casos de completo desrespeito einobservância dos ditames do ordenamento jurídico, solene e reiteradamente ignorado,no caso em análise, pela ofensa a dispositivos constitucionais e infraconstitucionais denatureza cogente, perpetrada pela fraude na qual participou a própria AdministraçãoPública, à qual incumbe, com maior vinculação, a defesa da ordem constitucional e legal– impondo-se a punição rigorosa da conduta, inclusive com efeito de coibir a suarepetição. Recursos conhecidos para, rejeitando-se as preliminares, negar provimento aoapelo da segunda reclamada e à remessa oficial e dar provimento ao recurso adesivo doautor. (TRT/10-RO-0145.2003.8001.10.00.9; Ac. 2ª T.; Rel. Juiz Brasilino Santos Ramos,DJU 18.03.2004) (g.n)

“DANO MORAL COLETIVO. PREVISÃO LEGAL. Na forma do disposto no art. 1º da Lei7.347/1985 regem-se pela LACP as ações de responsabilidade por danos morais causadosa qualquer interesse difuso ou coletivo. (TRT/10-RO-0395.2003.005.10.00.9; AC. 1ª T.; RelJuíza Elke Doris Just, DJU, 07.05.2004)

O Ministro Luiz Fux, nos fundamentos de seu voto no REsp 598.281/MG9, traz doisargumentos fundamentais para a compreensão do dano moral coletivo. O primeiro, a expressaprevisão legal na Lei de Ação Civil Pública. Considerando, assim, ser a Ação de ImprobidadeAdministrativa espécie do gênero Ação Civil Pública, no todo possível a identificação de danomoral coletivo nos fatos que a geraram.

O segundo, de ordem fática, caracteriza-se pelo reconhecimento de haver verdadeirosentimento coletivo que pode ser ofendido em consequência de lesão a direitos de natureza

9 STJ, REsp 598.281/MG, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 01.06.2006. Disponível emhttp://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudência/toc.jsp#DOC10

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 28

Page 29: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

transindividual, como por exemplo o dano ao Erário, causando sofrimento à coletividade, como aque deveria ser atendida pela entidade parceira SIPAM e viu as ações sociais reduzidas a sacos delixos, vassouras e cartuchos de impressão.

Sabe-se que os danos morais não têm características indenizatórias, pois se referem abem não-patrimonial, mas sim características compensatória e punitiva. Compensam os reflexosnegativos sofridos pelo ente público e a sociedade e sancionam o agente público, para servir dealerta e forma de dissuadir o administrador público de praticar novas ilegalidades, imoralidades,pessoalidades e ferimentos aos princípios constitucionais da administração pública.

O grande problema prático é estimar os danos morais sofridos pela sociedade. Tudodepende do caso concreto. O arbitramento deverá levar em consideração o ato praticado, as suascondições, os ganhos financeiros e políticos do administrador, seu partido ou grupo político, osprejuízos morais e financeiros, as conseqüências negativas provocadas ao ente público e àcomunidade e os seus reflexos no funcionamento da máquina administrativa. As condiçõeseconômicas e salariais do agente público deverão influenciar na fixação.

O arbitramento ainda deverá levar em conta o bom senso e a eqüidade, para fixarvalor razoável, não tão elevado nem tão pequeno, para servir de exemplo a outros administradores eagentes públicos e servir de desestímulo à reiteração de atos de improbidade e imoralidade peloagente infrator.

No caso concreto, considerando a existência do Fundo Estadual de Assistência Social– FEAS, CNPJ 01.079.142/0001-59, vislumbra-se que o mais adequado é que o valor da reparaçãoseja revertido em favor do referido Fundo.

Entende-se, assim, que os danos morais afrontam a coletividade, pois oscidadãos decepcionam-se com o comportamento do agente público, sentem-se impotentes erevoltados diante da situação e veem aumentar o sentimento de desprestígio do ente públicoperante a comunidade, com inegáveis reflexos no recolhimento de tributos e na preservaçãodo patrimônio público e dispêndio irregular de recursos públicos.

Assim, estima-se como razoável o valor de 10% (dez por cento) do montante a serressarcido a ser arbitrado a título de danos morais, a serem recolhidos ao mencionado FundoEstadual de Assistência Social – FEAS, CNPJ 01.079.142/0001-59.

VI – DOS PEDIDOS

1. DO PEDIDO DE RESSARCIMENTO E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADEJURÍDICA.

Considerando o já devidamente delineado na causa de pedir próxima e remota, vê-seum claro desvirtuamento na aplicação dos recursos públicos pela SEAS, representada à época porsuas gestoras Sra. REGINA FERNANDES DO NASCIMENTO e MARIA DAS GRAÇASSOARES PROLA, bem como os Gestores do SIPAM, que em deliberadamente e em manifesta

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 29

Page 30: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

ofensa às normas norteadoras da Administração Pública no Brasil, aplicaram indevidamente e/oudesviaram dos cofres do Estado do Amazonas o montante discriminado no corpo da ação referenteapenas às notas inidôneas declaradas pela própria Secretaria de Fazenda do Estado do Amazonas,representam o valor de R$ 1.510.954,62 (Um milhão, quinhentos e dez mil, novecentos ecinquenta e quatro reais e sessenta e dois centavos).

Contudo, a despeito da especificação do valor acima, o dever de ressarcir deveabranger não apenas este montante, mas TODO O VALOR GASTO com o termo de parceria, umavez que as ilegalidades maculam o termo em seu nascedouro, tanto no objeto ilícito, quanto naausência de comprovação dos gastos e da execução do pacto.

Sabe-se que o valor do Termo de Parceria nº 001/2008 – SEAS foi de R$1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil reais), o do Termo de Parceria nº 004/2009 – SEAS foi deR$ 850.000,00 (oitocentos e cinquenta mil reais) e o do Termo de Parceria nº 003/2010 foi de R$1.000.000,00 (um milhão de reais,) totalizando a dívida em R$ 3.650.000,00 (três milhões,seiscentos e cinquenta mil reais).

Trata-se de uma dívida solidária entre o Gestor Público e o SIPAM, aquirepresentado por seus sócios presidentes à época, por meio de desconsideração da personalidadejurídica, nos termos do art. 50 do Código Civil, in verbis:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio definalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou doMinistério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas edeterminadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dosadministradores ou sócios da pessoa jurídica.

Aplica-se o instituto da desconsideração diante do manifesto desvio de finalidade,uma vez que a instituição foi criada meramente para angariar recursos públicos e posteriormentedesviá-los, sem nem ao menos adimplir o objeto da Parceria.

Desta forma, deverão responder, como dito, todos os réus em regime desolidariedade passiva pelos danos causados ao erário, seja pelo efetivo desvio, seja pelafacilitação de tais atos ímprobos.

Assim, o Estado do Amazonas deverá ser indenizado no valor total de R$3.650.000,00 (três milhões, seiscentos e cinquenta mil reais) pela falta de comprovação deexecução dos Termos de Parceria 001/2008 – SEAS, 004/2009 – SEAS e 003/2010, ou, nomínimo, sucessivamente, na forma do permissivo do art. 289 do CPC, pelos valores cujaaplicação indevida ou não aplicação foi devidamente discriminado nos autos, referentes àsnotas inidôneas declaradas pela SEFAZ no montante de R$ 1.510.954,62 (um milhão,quinhentos e dez mil, novecentos e cinquenta e quatro reais e sessenta e dois centavos).

2. DO PEDIDO CAUTELAR DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS DOS RÉUS – DATUTELA DE EVIDÊNCIA (DISPENSA DO PERICULUM IN MORA ) .

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 30

Page 31: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

O Parquet pugna pela declaração de indisponibilidade de bens dos Réus paraassegurar o integral ressarcimento do dano, senão vejamos o teor do art. 7º da Lei de ImprobidadeAdministrativa:

Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enri-quecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito represen-tar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bensque assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultan-te do enriquecimento ilícito.

No Superior Tribunal de Justiça, em recente Voto vencedor, o Ministro MauroCampbell Marques, no julgamento do Recurso Especial n.º 1.319.515/ES (Processo Judicial n.º2012/0071028-0), esclareceu, de forma didática, a possibilidade jurídica de que seja decretada, peloPoder Judiciário, a medida cautelar de indisponibilidade de bens, prevista no art. 7.º, parágrafoúnico, da Lei n.º 8.429, de 02 de junho de 1992, a Lei de Improbidade Administrativa, mesmo seausente o patente risco da demora, ou seja, ainda que não haja indícios concretos de que o réupretende, de fato, dilapidar o patrimônio, para inviabilizar o ressarcimento aos cofres públicos.

Ao pronunciar o referido Voto, o Ministro Mauro Marques esclarece que, no contextoda medida cautelar de indisponibilidade de bens, tal como acolhida pela Lei de ImprobidadeAdministrativa, não há uma típica tutela de urgência (baseada, tradicionalmente, na plausibilidadejurídica do direito alegado e no “fundado receio de que a outra parte, antes do julgamento da lide,cause, ao seu direito, lesão grave ou de difícil reparação”), e, sim, uma verdadeira tutela deevidência, cuja caracterização depende, apenas, da comprovada “verossimilhança das alegações”,desde que o Poder Judiciário fundamente, de modo adequado, essa medida cautelar excepcional, aqual deve se limitar ao indispensável para “garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo aoerário”, resguardado o imprescindível à subsistência do réu.

Assim, requer, liminarmente e independente da providência estabelecida no art.17, § 7º, da Lei nº 8.429/92, seja oficiado por esse MM. Juízo aos Cartórios de Registro deImóveis desta cidade, bem como ao DETRAN/AM a fim de que indiquem os bens existentesem nome dos réus, para que sejam tornados indisponíveis os que alcancem o valor a serressarcido, tudo a fim de garantir a efetividade de eventual execução de sentença.

3 – DO PEDIDO FINAL

Pelo exposto, requer o Ministério Público do Estado do Amazonas que seja recebidaa exordial para :

a) NOTIFICAR os Requeridos, nos endereços acimamencionados, para, desejando, oferecer manifestação por escrito, conforme §7º, do art. 17, da Lei n.º 8.429/92, pedindo ainda a citação do Estado doAmazonas, para querendo, figurar na qualidade de litisconsorte ativo nademanda, conforme exigência do § 3º, do mesmo art. 17 da LIA;

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 31

Page 32: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

b) o RECEBIMENTO DA AÇÃO e a CITAÇÃOdos Réu para contestar, no prazo legal, sob pena de arcar com ônus da reveliae confissão sobre a matéria de fato;

c) Liminarmente e independente da providênciaestabelecida no art. 17, § 7º, da Lei nº 8.429/92, seja oficiado por esseMM. Juízo aos Cartórios de Registro de Imóveis desta cidade, bem comoao DETRAN/AM a fim de que indiquem os bens registrados em nomedos réus, para que sejam tornados indisponíveis os que alcancem o valora ser ressarcido, tudo a fim de garantir a efetividade de eventualexecução de sentença.

d) Que os Réus sejam CONDENADOS pelos atos deimprobidade administrativa narrados e delimitados na inicial,imputando-lhes as sanções cabíveis e devidamente valoradas por esseJuízo, dentre as descritas no art. 12, I, II e III da Lei 8.429/92, diante dasubsunção dos atos ao disposto no mesmmo Diploma Legal nos arts. 9º,caput e XI (João Ribeiro Guimarães Júnior; Zuelha Cruz Barbosa); 10,caput, I (Regina Fernandes do Nascimento; Maria das Graças SoaresProla; Marcineth Pevas Lima; Suelen Soares Carvalho; Francisco dasChagas Silva de Oliveira; João Ribeiro Guimarães Júnior; Zuelha CruzBarbosa), VIII (Regina Fernandes do Nascimento; Maria das GraçasSoares Prola) e XI (Regina Fernandes do Nascimento; Maria das GraçasSoares Prola; Marcineth Pevas Lima; Suelen Soares Carvalho; FranciscoDas Chagas Silva de Oliveira; João Ribeiro Guimarães Júnior; ZuelhaCruz Barbosa); e 11, I do mesmo diploma normativo (Regina Fernandesdo Nascimento; Maria das Graças Soares Prola; Marcineth Pevas Lima;Suelen Soares Carvalho; Francisco das Chagas Silva de Oliveira; JoãoRibeiro Guimarães Júnior; Zuelha Cruz Barbosa), especialmente oressarcimento, imprescritível, de R$ 3.650.000,00 (três milhões, seiscentose cinquenta mil reais), pela falta de comprovação de execução dos Termosde Parceria 001/2008 – SEAS, 004/2009 – SEAS e 003/2010, ou, nomínimo, sucessivamente, na forma do permissivo do art. 289 do CPC,pelos valores cuja aplicação indevida ou não aplicação foi devidamentediscriminado nos autos, referentes às notas inidôneas declaradas pelaSEFAZ no montante de R$ 1.510.954,62 (um milhão, quinhentos e dezmil, novecentos e cinquenta e quatro reais e sessenta e dois centavos);

e) CONDENAR, de igual modo os Réus aorecolhimento de 10% (dez por cento) do montante a ser ressarcido, a título dedanos morais coletivos, a ser recolhido ao Fundo Estadual de AssistênciaSocial – FEAS, CNPJ 01.079.142/0001-59;

f) DISPENSAR o Ministério Público do pagamentode custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, à vista do exposto noart. 18, da Lei nº 7.347/87;

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 32

Page 33: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS 13ª Promotoria de ...amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Acao-Civil-Publica... · familiares e comunitários; orientação

Doc: 843794Auto: 2010/14360

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS13ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção ao Patrimônio Público

g) INTIMAÇÕES do Ministério Público autor feitaspessoalmente, dado o exposto no art. 236, § 2º, do Código de Processo Civil,e art. 116, Inciso V, da Lei Complementar Estadual nº 011/93; e

h) DEFERIR a produção de todas as provas emdireito admitidas, tais como juntada de novos documentos, oitiva detestemunhas, perícias, inspeções judiciais, depoimento pessoal dos réus, ouquaisquer outros meios que se fizerem necessários para apuração dos fatos,bem como para quantificar e individualizar os valores devidos ao erário pelosRéus, requerendo sobretudo a juntada de documentos extraídos dos autos deInquérito Civil nº 041/2010/13ª PRODEPPP (02 volumes) e seus 02 anexosque acompanham a inicial.

Dá-se a causa o valor de R$ 3.650.000,00 (três milhões, seiscentos e cinquenta milreais).

Nesses termos,Pede deferimento.

Manaus, 29 de maio de 2014.

Neyde Regina Demosthenes TrindadePromotora de Justiça

Titular da 13ª PRODEPPP

Avenida Coronel Teixeira, 7995, Nova Esperança – CEP: 69.030-480 – Manaus/AMTEL: (92) 3655-0500 / 3655-0764 / 3655-0768 (FAX)

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttp://

cons

ulta

saj.t

jam

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

6164

38-7

6.20

14.8

.04.

0001

e o

cód

igo

1959

ED

D.

Est

e do

cum

ento

foi a

ssin

ado

digi

talm

ente

por

tjam

.jus.

br e

NE

YD

E R

EG

INA

DE

MO

ST

HE

NE

S T

RIN

DA

DE

. Pro

toco

lado

em

29/

05/2

014

às 1

2:42

:32.

fls. 33