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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS 8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA- GOIÂNIA URBANISMO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _______ VARA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, representado pelo Promotor de Justiça de Urbanismo da Capital infra- assinado, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nos arts. 127 e 129, incisos II e III, da Constituição Federal, no artigo 1º, inciso IV, artigo 5º e 21 da Lei 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e artigo 25, IV, “a” da Lei Federal 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), vem propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER, em face de: MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público interno, representado por seu Prefeito ou Procurador (artigo 12, II do CPC), instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito à Av. do Cerrado, nº 999, qd. APM9, Park Lozandes, nesta Capital, e de: Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail: [email protected] 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA- GOIÂNIA

URBANISMO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _______ VARA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,

representado pelo Promotor de Justiça de Urbanismo da Capital infra-

assinado, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nos arts.

127 e 129, incisos II e III, da Constituição Federal, no artigo 1º, inciso

IV, artigo 5º e 21 da Lei 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e artigo

25, IV, “a” da Lei Federal 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do

Ministério Público), vem propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER, em face de:

MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público

interno, representado por seu Prefeito ou Procurador (artigo 12, II do

CPC), instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito à Av. do Cerrado,

nº 999, qd. APM9, Park Lozandes, nesta Capital, e de:

Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail:

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EMPRESA GOTA AZUL BAR LTDA, pessoa jurídica de

direito privado, inscrita no CGC/MF sob nº 03.389.782/0001-90,

estabelecida à Via Área Verde 35 (Avenida Flamboyant esq. com a

Avenida das Laranjeiras), Qd 17, nº 28, Parque das Laranjeiras, nesta

Capital, representado por seus sócios-proprietários a Srª. Marlete

Teresinha Gottsilig e o Sr. Sérgio Gottsilig.

I - DOS FATOS

A empresa Gota Azul Bar Ltda, interessada em

aumentar o seu estabelecimento, promoveu expansão da sua atividade

sobre a área pública anexa ao lote 28, ocupando-a com mesas,

cadeiras e também um estacionamento.

Para tanto, fez derrubada e arranquios de árvores

situadas em área destinada à Jardins Públicos de Representação. De

acordo com o artigo 85, IV da Lei de Zoneamento (ZPA-IV), o Jardim de

Representação pode ser de domínio público ou particular, estabelecido

como planta ornamental de logradouro. Compreendem-se os espaços

abertos, praças, parques infantis, parques esportivos, rótulas do

sistema viário e plantas ornamentais dos logradouros.

Em 18 de agosto de 2001, a Associação dos Moradores

do Parque das Laranjeiras, representados pelo seu Presidente, o Sr.

Pedro Damasceno, solicitou providências no sentido de fazer com que o

proprietário do imóvel em questão (bar “Gota Azul”), retirasse uma

cerca, juntamente com as britas que foram colocadas dentro do

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Bosque (Área Verde), localizada na confluência da Av. Flamboyant com

Av. Laranjeiras, naquele Setor.

A alegação era de que o invasor haveria se apropriado do

bosque (uma reserva com muitas árvores centenárias), fazendo do

mesmo uma propriedade particular e explorando o local como área

comercial.

Em visita técnica realizada no Parque das Laranjeiras no

dia 26 de março de 2002, às 09:00h, em atendimento à solicitação do

Sr. Pedro Damasceno - Presidente da Associação de Moradores do

Parque das Laranjeiras, ficou constatado um processo de erosão na

encosta da rua Juriti da unidade de conservação do Parque das

Laranjeiras, sendo que esta unidade encontrava-se delimitada com

cercamento de alambrado o que poderia ocasionar danificações ao

mesmo se o problema não fosse sanado.

Foi constatada também a utilização imprópria e

inadequada de logradouro público - Área Verde de canteiro para praça

pública municipal - como estacionamento (em frente ao bar “Gota

Azul”), onde foi colocado brita e quebrado o meio fio para rebaixamento

para entrada de veículos, esta situação se configura um sério problema

de dano ambiental pois nesta região possui 18 (dezoito) árvores nativas

(dentre elas uma barriguda) que estão sofrendo os impactos negativos

no local.

Foi retirada também a cobertura vegetal da região

desconfigurando a destinação de área verde pública municipal.

Em reunião com o Sr. Paulo César, Diretor

Administrativo da COMURG, alegou-se que esta empresa somente

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estava aguardando a desocupação da área para fazer o levantamento

do local com terra e arborização adequada, através de sua

Superintendência de Parques e Jardins.

Foi solicitada ao Sr. Secretário de Fiscalização Urbana, a

retirada imediata do invasor da área verde, visto que a referida invasão

colocava em risco o Bosque Centenário existente no local, pois com o

entra e sai de veículos, o terreno já não mais estava absorvendo as

águas das chuvas, levando consequentemente, a morte prematura das

árvores.

Ainda assim, alegou a inércia da Prefeitura, no sentido

de não coibir os danos e as imoralidades (brigas, tiros, invasão de área

verde pública, atentado ao pudor dentro dos veículos etc), que tanto

perturba aos moradores. (Abaixo assinado anexado).

Em 15 de abril de 2002, firmou-se Termo de

Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta entre

Secretaria Municipal de Meio Ambiente, representada pelo Secretário e

o bar “Gota Azul”, representado pelo seu sócio o Sr. Sérgio Gottsilig,

visando a compensação de danos ambientais, porém, o referido sócio

não tem o poder de representação da empresa, sendo tal competência

da sócia Marlete Terezinha Gottsilig, inclusive perante a própria

Prefeitura, conforme produção de prova documental, acostada nos

autos às fls. .

Das cláusulas imposta, ficaram firmadas que a Empresa

Gota Azul Bar Ltda se encarregaria de plantar 20 (vinte) espécies na

área em que atualmente está o estacionamento; que esta não

praticaria nenhum ato que vise a expansão do estacionamento; que

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ficaria obrigada a colocar um funcionário para cuidar da área,

mantendo-a limpa, arborizada e protegida de depredadores e vândalos;

enfim, que faria o plantio de 50 (cinqüenta) mudas de espécies

adequadas para a localidade, além de 20 (vinte) espécies situadas

anteriormente na área verde.

Através do Termo de Compromisso, Responsabilidade e

Ajustamento de Conduta a Empresa acima referida assumiu o

compromisso e a responsabilidade de não incidir em práticas que

causem danos ao patrimônio ambiental e à coletividade, tomando

medidas compatíveis com a defesa e preservação do meio ambiente.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, em hipótese

alguma reconheceu a propriedade da área em questão como sendo da

compromitente, sendo que somente visava a adequação ambiental.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente firmou esse

Termo fundamentado no fato de que a municipalidade expede

autorizações para funcionamento de quiosques, pit-dogs, bancas, etc.

em área pública, não fugindo este caso, aos dos demais existentes em

Goiânia.

A Empresa Gota Azul Bar Ltda obrigou-se a fechar o acesso ao estacionamento, visando a total recuperação ambiental da área, bem como limitar o funcionamento do estabelecimento no imóvel locado do proprietário.

Ainda assim, a Secretaria Municipal de Meio Aambiente

deu validade de 04 (quatro) anos, contado da data da assinatura pelas

partes.

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Aos 11 de julho de 2002, foi feito laudo técnico de

“Viabilidade Técnica de Termo de Ajustamento de Conduta” pelo

Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério

Público do Estado de Goiás, através do Assessor Técnico do Centro de

Defesa do Meio Ambiente, o Sr. Osmar Pires Martins Júnior.

O objetivo do seguinte laudo técnico era o de analisar a

viabilidade técnica do Termo de Compromisso, Responsabilidade e

Ajustamento de Conduta a ser assinado entre o bar “Gota Azul”,

através do seu sócio o Sr. Sérgio Gottsilig e o Município de Goiânia,

através do Secretário Municipal de Meio Ambiente, o Sr. John Mivaldo

da Silveira, respectivamente compromitente e compromissário, visando

a compensação de danos ambientais por ocupação de área pública

ambiental.

Conforme o exposto, o bar “Gota Azul” tinha ocupado

área verde pública, contrariando o Código de Posturas do Município de

Goiânia e contribuindo para a dilapidação do patrimônio público

municipal.

Diante do que foi dito, a Assessoria Técnica manifestou

parecer favorável a proposta apresentada, com as seguintes

condicionantes a serem acrescidos como cláusulas do Termo de Ajuste:

- Que o funcionamento do bar “Gota Azul” seja

autorizado, pelo Município, a funcionar em área exclusivamente restrita ao lote 28 da quadra 17, no endereço citado, obedecendo-se os limites e confrontações a serem verificados na escritura do referido imóvel;

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- Que o Município, através da Secretaria Municipal

de Meio Ambiente, relacione a lista de espécies nativas adequadas e indicadas para o reflorestamento da área degradada, a ser executado pelo proprietário do estabelecimento comercial em referência.

Em 14 de agosto de 2002, a Secretaria Municipal de

Fiscalização Urbana expediu relatório circunstanciado realizado pela

Assistente de Fiscalização – Meio Ambiente a Srª Elaine Bontempo dos

Reis, Mat. 475289-01 no qual descreveu o seguinte :

“Procedendo vistoria no estabelecimento denominado

“Bar Gota Azul”, situado na Via da Área Verde 35 s/nº Qd. 17, Lt. 28

Setor Parque das Laranjeiras, esta servidora fiscal tem a relatar que o

estabelecimento possui Alvará de Localização e Funcionamento nº

05159/1999 – SEDEM; Cadastro de Atividades Econômicas com

validade até 14/01/2004, cuja inscrição cadastral é 154345/8 e Alvará

Sanitário com validade até 31/12/2002. Na área verde (lateral ao lote

28) foi construído uma área coberta, cimentada e com suporte fixado em

logradouro público, na qual foi construída uma churrasqueira de

alvenaria e colocadas algumas mesas e cadeiras. A parte frontal a esta

área foi cercada com esteios de madeira, com altura e diâmetros

inferiores ao estabelecido pelo artigo 63, 11 do Código de Posturas do

Município, e coberto com britas, o qual é utilizado para a colocação de

mais mesas e cadeiras. Foi constatado, também, estes esteios junto à

rótula e no passeio público. Conforme informado à folha 04 o

estabelecimento já fora autuado por encontrar-se infringindo o artigo 66

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da Lei Complementar nº 014/92, dito Código de Posturas do Município

(Auto de Infração nº 11527 - Processo nº 18489635). Portanto, estando o

estabelecimento licenciado a funcionar em Área Verde, sugiro que o

presente processo seja remetido ao órgão competente responsável pelo

fornecimento desta licença, para que o mesmo se pronuncie quanto às

“benfeitorias” realizadas no local (área verde de preservação

ambiental).”

Diante das Cláusulas do Termo de Compromisso a

Secretaria Municipal de Meio Ambiente assumiu o compromisso de

vistoriar o seu cumprimento, portanto ao contrário do que faz

acostados ao procedimento de investigação.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A) A LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA INCIDENTE

Na distribuição de competências

originárias para legislar sobre direito

urbanístico, proteção ao meio ambiente e a

saúde, a CONSTITUIÇÃO FEDERAL

contemplou somente a UNIÃO, ESTADO e

DISTRITO FEDERAL (art. 24, I, VI e XII),

reservando ao MUNICÍPIO o poder para, no

que couber, suplementar a legislação federal e

estadual, e promover o adequado ordenamento

territorial, mediante planejamento e controle

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do uso, do parcelamento e da ocupação do solo

urbano (Competência administrativa), bem

como legislar sobre assuntos de interesse local

(art. 30,I,II e VIII).

A Carta Magna estabelece, também,

o dever do Poder Público de conservar o

patrimônio público (art. 23,I) A política de

desenvolvimento urbano, executada pelo Poder

Público Municipal, tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funções sociais da

cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes, sendo o plano diretor o

instrumento básico dessa política (art. 182,

§1º, CF).

B) VIOLAÇÃO AOS DIREITOS URBANÍSTICOS

Vê-se que a lei impõe ao Poder

Público o dever de preservação e recuperação

dos espaços livres, praças, áreas verdes e

institucionais, componentes do espaço urbano,

bens do patrimônio público e social. A

constatação da obstrução e ocupação irregular

desses espaços revela que o Município, gestor

dos bens públicos, descurou de sua obrigação

legal, permitindo, por negligência (falta de

fiscalização eficaz e mal funcionamento do

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serviço público), que a coletividade fosse

despojada da fruição de área de bem comum

do povo, em prol de um grupo de pessoas.

Ante a inércia e descaso com a obstrução da

via pública, nega os fins da legislação urbanística, traduz abuso de

poder por omissão, desvio de finalidade e afronta o princípio

constitucional da legalidade que rege toda a atividade da

Administração Pública (art. 37, caput, CF):

Art. 37 – A administração pública

direta, indireta ou fundacional, de qualquer

dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e, também, ao

seguinte (...).

O dever de buscar sempre a finalidade

normativa é inerente ao princípio da legalidade, porque todo

comportamento administrativo que desatende o fim legal descumpre a

própria lei (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional

positivo, 8ª ed., Malheiros Editores, São Paulo, 1990, p.562; HELY

LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 17ª ed.,

Malheiros Editores, São Paulo, 1992, p.95; CELSO ANTÔNIO

BANDEIRA DE MELLO, Elementos de Direito Administrativo, 3 ed.,

Malheiros Editores, São Paulo, 1992, pp. 54-55; CAIO TÁCITO, O

abuso do poder administrativo no Brasil – conceito e remédios, em

Revista de Direito Administrativo 56/10; VÍTOR NUNES LEAL, Poder

Discricionário e Ação Arbitrária, em Problemas de Direito Público,

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Forense, Rio de Janeiro, 1960, p. 285; AFONSO RODRIGUES QUEIRÓ,

Reflexões sobre a Teoria do Desvio de Poder em Direito Administrativo,

Coimbra Editora, 1940, p.16; MARIA CUERVO SILVA E VAZ

CERQUINHO, O Desvio de Poder no Ato Administrativo, Ed. Revista

dos Tribunais, São Paulo, 1979, pp.18-19), pouco importando que

consista em uma ação ou em uma omissão, pois as abstenções

juridicamente relevantes também estão sujeitas ao controle de

compatibilidade e conformação ao Direito (ANTÔNIO CARLOS DE

ARAÚJO CINTRA, Motivo e Motivação do Ato Administrativo, Ed.

Revista dos Tribunais, São Paulo, 1979, p.34; EINSENMA, “O Direito

Administrativo e o princípio da legalidade”, em Revista de Direito

Administrativo 56/48).

A perpetuação dessa situação e a indiferença do Poder Público ofendem os direitos e interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis, autorizando sua tutela supletiva judicial pelo Ministério Público, instituição

vocacionada à defesa da ordem jurídica e do patrimônio público e

social pela ação civil pública (arts. 127, caput, e 129, II E III da

Constituição Federal; arts. 1º, IV, 5º e 21 da Lei 7.347/85; arts. 81,

82, 83, 110 e 117 da Lei 8.078/80; art. 25, IV, “a”, da Lei 8.625/93),

pois nenhuma lei exclui da apreciação do Judiciário a lesão a direitos

(art. 5º, XXXV, CF), como no caso presente, causada também pela

negligência (culpa) da Administração Pública Municipal na gestão dos

bens públicos, por omissão geradora de sua responsabilidade civil

aquiliana objetiva e subjetiva (arts. 15 e 159, Cód. Civil; art. 14,§ 1º,

Lei 6.938/81; art. 37, § 6º, CF).

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Nesse sentido, a jurisprudência:

Invasão e Responsabilidade do

Município

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Ato

impugnado – Invasão de área pública por

particulares – Dano ao patrimônio público e ao

meio ambiente – Ajuizamento contra a

municipalidade, omissa no cumprimento de

normas que disciplinam o loteamento urbano –

Art. 18 da Lei Federal 6.766, de 1979 –

Ingerência na Administração Municipal e

violação do princípio da separação dos poderes

inocorrentes – Ação procedente – Sentença

confirmada (Ap. 261.800-2, 17ª Câm. Cív.,

TJSP, Rel. ribeiro Machado – j. 03/10/95 –

JTJ, LEX 178/12).

Representação da pessoa jurídica:

Representação - Pessoa jurídica -

Contestação apresentada por um dos sócios -

Revelia decretada. As pessoas jurídicas são

entidades autônomas, plenamente distintas

das pessoas de seus sócios. Por isso, não se há

como deixar de reconhecer a revelia em

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demanda proposta contra sociedade comercial,

na qual a contestação foi efetuada

singularmente por um de seus sócios. (TJ/SC -

Ap. Cível n. 97.010495-2 - Comarca de

Jaraguá do Sul - Ac. unân. - 3a. Câm. Cív. -

Rel: Des. Eder Graf - Fonte: DJSC, 24.04.98,

pág. 24).

Processo civil -Representação

processual - Pessoa jurídica - Procuração -

Desnecessidade de exibição dos estatutos -

Argüição inoportuna - Preclusão - Ofensa à

lealdade processual. "As pessoas jurídicas

serão representadas em Juízo pelas pessoas

designadas nos respectivos estatutos. Não há

necessidade da juntada de cópias dos

estatutos aos autos - Compete à parte que

impugnar a qualidade do representante, a

prova da inidoneidade" (JC 62/110). O

princípio da lealdade processual, consagrado

no art. 245 do CPC, manda que as partes

argúam, de pronto, os vícios dos atos

processuais na primeira oportunidade em que

lhes couber falar no feito, sob pena de tornar-

se precluso o direito de alegá-los, advindo

como conseqüência sua convalidação. (TJ/SC -

Ag. Instrumento n. 98.011745-3 - Comarca da

Capital - Ac. unân. - 3a. Câm. Cív. - Rel: Des.

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Nilton Macedo Machado - Fonte: DJSC,

04.11.98, pág. 6)

A Constituição Federal, em seu art. 182 é clara:

“A política de desenvolvimento

urbano, executada pelo Poder Público

Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas

em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.”

A Lei Orgânica do Município de Goiânia, no seu capítulo

V (Dos Bens Municipais) diz caber ao Prefeito a administração dos

bens municipais, bem como dispõe sobre o fato de que o uso de tais

bens por terceiros só ser possível mediante concessão, permissão ou

autorização.

Art. 41 – Cabe ao Prefeito a

administração dos bens municipais,

respeitadas a competência da Câmara quanto

àqueles postos a seus serviços ou deles

utilizados.

Art. 44 _ O uso de bens municipais

por terceiros poderá ser feito mediante

concessão, permissão ou autorização,

conforme o caso e quando houver interesse

público, devidamente justificado.

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§ 2º - A concessão administrativa de

bens públicos de uso comum somente poderá

ser outorgada mediante autorização legislativa.

§ 3º - A permissão, que poderá

incidir sobre qualquer bem público, será feita

mediante autorização legislativa e sempre a

título precário.

Demonstra-se assim que a omissão do Poder Público

Municipal acarretou a usurpação do patrimônio público, sendo

logradouros e praças, objeto da presente ação. Portanto, tal situação,

acarreta prejuízo a coletividade e ao erário público.

O particular, quando satisfaz seus tributos, tem o direito

que o Poder Público execute as providências elementares para a

utilização do bem público de uso comum, posto dentro das normas

urbanísticas à sua disposição, que no caso em tela, vários cidadãos

estão impedidos de usufruírem, destes bens fundamentalmente

necessários, visto os transtornos de terem seus percursos aumentados

em dois(02) quilômetros. (Informação constante do ofício fls. 49/50, de

um morador interessado). Portanto cuida de responsabilidade

administrativa ante a omissão do Poder Público, o qual deverá

responder.

A propriedade das vias e praças públicas está

legalmente constituída, conforme art.22 da Lei 6.766, de 19 de

Dezembro de 1979, que determina que desde a data do registro do

loteamento, passam a integrar o domínio do Município as vias e

praças, conforme dispõe o Código Civil, em seu art. 66. Neste diapasão,

o eminente doutrinador Hely Lopes Meirelles, leciona que:

Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail:

[email protected]

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“ Bens de uso comum do povo ou domínio público: como exemplifica a própria

lei, são os mares, praias, rios, estradas, ruas e

praças. Enfim, todos os locais abertos à

utilização pública adquirem esse caráter de

comunidade, de uso coletivo, de fruição própria

do povo”.(Direito, p.481)

1. A Constituição Federal.

A Constituição Federal incumbe ao Poder Público

assegurar a efetividade do Direito ao Meio Ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida .... (caput art 225). O art. 225 § 1º, I, III, VII e § 3º.

“§ 1º - Para assegurar a efetividade

desse direito, incumbe ao poder público:

I - preservar e restaurar os processos

ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas;

...

III - definir, em todas as unidades da

Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente

protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada

qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua

proteção;Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de

Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail: [email protected]

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VII - proteger a fauna e a flora,

vedadas, na forma da lei, as práticas que

coloquem em risco sua função ecológica,

provoquem a extinção de espécies ou

submetam os animais a crueldade.

§ 3º - As condutas e atividades

consideradas lesivas ao Meio Ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou

jurídicas, as sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de repara os

danos causados.

2. A Constituição Estadual

A Constituição Estadual no Capítulo V- Da Proteção dos

Recursos Naturais e da Preservação do Meio Ambiente da Constituição

Estadual estabelece que:

“Art. 127 - Todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo,

recuperá-lo e preservá-lo.

§ 1º - Para assegurar a efetividade

desse direito, cabe ao Poder Público:

I - preservar a diversidade biológica

de espécies e ecossistemas existentes no

território goiano;

Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail:

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II - conservar e recuperar o

patrimônio geológico, paleontológico, cultural,

arqueológico, paisagístico e espeleológico;

III - inserir a educação ambiental em

todos os níveis de ensino, promover a conscientização pública para a preservação do meio ambiente e estimular práticas conservacionistas;

IV - assegurar o direito à informação

veraz e atualizada em tudo o que disser

respeito à qualidade do meio ambiente;

...

VI - controlar e fiscalizar a produção,

comercialização, transporte, estocagem e uso

de técnicas, métodos e substâncias que

comportem risco para a vida e o meio

ambiente;

...

Art. 128 - Para promover, de forma

eficaz, a preservação da diversidade biológica,

cumpre ao Estado:

I - criar unidades de preservação,

assegurando a integridade de no mínimo vinte

por cento do seu território e a

representatividade de todos os tipos de

ecossistemas nele existentes; Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de

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II - promover a regeneração de áreas

degradadas de interesse ecológico, objetivando

especialmente a proteção de terrenos erosivos

e de recursos hídricos, bem como a

conservação de índices mínimos de cobertura

vegetal;

...

V - estabelecer, sempre que

necessário, áreas sujeitas a restrições de uso;

3. O Código Florestal

Por seu turno, o Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15 de

setembro de 1965), com as adaptações feitas pela Lei nº 7.803/89,

considera de preservação permanente as florestas e demais formas de

vegetação natural destinadas a assegurar condições de bem-estar

social (art. 2º, alínea h).

Anote-se que o art. 18 da Lei nº 6.938/81, que dispõe

sobre a política nacional de meio ambiente, transformou "em reservas

ou estações ecológicas, sob a responsabilidade do IBAMA, as florestas

e as demais formas de vegetação natural de preservação permanente,

relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 -

Código Florestal, e os pousos das aves de arribação protegidas por

convênios, acordos ou tratados assinados pelo Brasil com outras

nações".

4. O Código de Posturas do Município

Art. 66 - É proibido, sob qualquer forma ou pretexto, a

invasão de logradouros públicos e/ou áreas públicas municipais.Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de

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Parágrafo Único: A violação da norma deste artigo

sujeita o infrator, além de outras penalidades previstas, a ter a obra ou

construção, permanente ou provisória, demolida pelo órgão próprio da

Prefeitura, com a remoção dos materiais resultantes sem aviso prévio,

indenização, bem como qualquer responsabilidade de revogação.

Art. 68 - Além das exigências contidas na legislação de

preservação do Meio Ambiente, fica proibido:

I - Danificar, de qualquer forma, os

jardins públicos;

II - Podar, cortar, danificar, derrubar,

remover ou sacrificar qualquer unidade da arborização pública;

5. Da Lei de Zoneamento Urbano

A Lei de Zoneamento Urbano de Goiânia em seu artigo

84 descreve:

Art. 84 - As Zonas de Proteção

Ambiental - ZPA, compreendem as Áreas de

Preservação Permanente, as Unidades de

Conservação e faixas contíguas às Áreas de

Preservação Permanente e às Unidades de

Conservação.

Parágrafo Único - Integram as Zonas

de Proteção Ambiental, para efeito desta lei, as

praças, rótulas do sistema viário com

dimensões superiores a 1.000 m2 (hum mil

metros quadrados).Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de

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Art. 86 - As Zonas de Preservação

Ambiental são diferenciadas basicamente por

suas peculiaridades ecológicas e classificam-se

em:

...

IV - Zona de Preservação Ambiental

IV - ZPA-IV, compreendendo os espaços

abertos, praças, rótulas, parques infantis,

parques esportivos, rótulas do sistema viário e

plantas ornamentais de logradouros.

Art. 87 - São coletivamente

consideradas Unidades de Conservação os

sítios ecológicos de relevante importância

cultural, criados pelo poder público, como;

I -parques municipais;

II - estações e reservas ecológicas;

...

IV - Jardim Botânico;

V - Área de Proteção Ambiental;

VI - reserva particular de patrimônio

natural;

VII - bosques e matas definidas nos

projetos de parcelamento do solo urbano;

VIII - florestas municipais ;

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6. O Código Civil Brasileiro.

Sobre o ato jurídico praticado quando da celebração do

“Termo de Compromisso, Responasbilidade e Ajustamento de Conduta”

entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a empresa Gota Azul

Bar Ltda (doc. fls. 20/23), tem-se no Código Civil Brasileiro, a respeito

dos fatos jurídicos:

“Art. 104 – A validade do negócio

jurídico requer:

I – Agente capaz; (grifou-se)

II - Objeto lícito, possível,

determinado ou determinável;

III – forma prescrita ou não defesa

em lei”.

Quanto à invalidade do negócio jurídico a legislação civil pátria nos

ensina:

“Art. 171 – Além dos casos

expressamente declarados na lei, é anulável o

negócio jurídico:

I – por incapacidade relativa do agente;

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II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”. (Grifou-se)

“Art. 172 – O negócio anulável pode

ser confirmado pelas partes, salvo direito de

terceiro”.

“Art. 182 – Anulado o negócio

jurídico, restituir-se-ão as partes o estado em

que antes dele se achavam, e, não sendo

possível restituí-las, serão indenizadas com o

equivalente”.

Diz, ainda, o nosso ordenamento jurídico civil sobre

os atos ilícitos:

“Art. 186 – Aquele que, por ação ou

omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a

outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito”. (grifou-se)

“Art. 187 – Também comete ato ilícito

o titular de um direito que, ao exercê-lo,

excede manifestamente os limites impostos

pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé

ou pelos bons costumes”.

7. O Código de Processo Civil.Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de

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No Código de Processo Civil, temos no artigo 12, o

seguinte:

“ Art. 12 – Serão representados em

juízo, ativa e passivamente:

I – ...;

VI – as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou,

não os designando, por seus diretores”.(grifou-

se)

A eminente Profª. Maria Helena Diniz, no livro “Teoria

Geral do Direito Civil”, 15ª edição, Ed. Saraiva 1999, pág. 155, do

faremos a transcrição, assim diz:

“Quanto à responsabilidade das pessoas jurídicas,

poder-se-á dizer que tanto pessoa jurídica de direito privado como a de

direito público, no que se refere à realização de um negócio jurídico

dentro dos limites do poder autorizado pela lei ou pelo estatuto,

deliberado pelo órgão competente e realizado pelo legítimo

representante, é responsável, devendo cumprir o disposto no contrato,

respondendo com seus bens pelo inadimplemento contratual, conforme

prescreve o art. 1056 co Código Civil”

Doutrinariamente, o pensamento do ilustre Prof.

Washington de Barros Monteiro, na obra “Curso de Direito Civl”, 31ª

edição, Ed. Saraiva, 2001 pág. 21, é adiante reproduzido:

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“A relação obrigacional deverá ser então

convenientemente sopesada, impondo-se-lhe condenação sempre que

ofenda o sentimento médio de moralidade, os interesses gerais da

nação e o conjunto dos preceitos que garantem a dignidade das relações

jurídicas. Não se exige qua lei conceitue o objeto como criminoso ou

desonesto; se este contraria as regras da moral universal, o hábito do

bem e a parte mais fundamental da legislação, numa palavra, a ordem

pública e os bons costumes, ter-se-á ostentado a ilicitude que há de

bani-lo do direito”.

Diante de fatos incontroversos, restou somente a

confirmação da nulidade do Termo de compronisso firmado entre a

Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a empresa Gota Azul Bar

Ltda, por sua celebração, além do prejuizo causado à comunidade,

pela privatização de área verde pública, para o uso do particular, foi

firmado por pessoa sem a capacidade de representação, segundo a

legislação vigente e Contrato Social da empresa. (doc. fls. )

III - DOS ATOS DE IMPROBIDADE PRATICADOS.

As questões ambientais interessam sobremaneira à

coletividade, sendo de importância para as gerações presentes e

futuras, incumbindo ao Poder Público sua defesa e preservação (art.

225 da CF).

Os interesses de particulares, movidos por ambições

imediatas, normalmente desconsideram a preservação do meio

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ambiente e, para evitar a conspurcação irremediável, deve o Poder

Público velar por sua preservação, autorizando e monitorando as ações

que possam ensejar a ruptura do ecossistema.

Para tanto, o Poder Público deve assumir postura

protetora do meio ambiente, isentando-se dos interesses particulares

para decidir com imparcialidade as questões que lhe são submetidas,

devendo agir com cautela e prudência para não se transformar

também em agente degradador, em cumplicidade com o interessado.

Exsurgem como de extrema importância as atividades

do agente público que opera com as questões ambientais, o qual deve

se pautar pelos princípios da moralidade, legalidade e impessoalidade,

cumprindo rigorosamente as determinações legais e regulamentares

para impedir qualquer dano ambiental, sempre tendo em mira os

interesses da coletividade.

Contudo, descurando-se da observância dos princípios

que regem a Administração Pública, dolosamente ou não, estará o

agente público incorrendo na prática de atos de improbidade

administrativa, descritos na Lei n° 8.429/92.

Com efeito, o artigo 11 da Lei de Improbidade dispõe:

"Art. 11 - Constitui ato de

improbidade administrativa que atenta contra

os princípios da administração pública

qualquer ação ou omissão que viole os deveres

de honestidade, imparcialidade, legalidade, e

lealdade às instituições, e notadamente:

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"I - praticar ato visando fim proibido

em lei ou regulamento ou diverso daquele

previsto, na regra de competência;

Comentando o inciso I do artigo 11, Marcelo Figueiredo

Vaticina:

"O princípio da legalidade é, sem dúvida, um dos pilares

do Estado Democrático de Direito. Ao lado dele convive o princípio da

supremacia do interesse público ou princípio da finalidade pública. De

fato, a administração pública, ao cumprir seus deveres constitucionais e

legais, busca incessantemente o interesse público, verdadeira síntese

dos poderes a ela atribuídos pelo sistema jurídico positivo,

desequilibrando forçosamente a relação administração-administrado.

Ausentes os poderes administrativos, não seria possível realizar uma

série de competências e deveres institucionais (os sacrifícios a direitos,

as intervenções, desapropriações, autorizações, concessões, poder de

polícia, serviços públicos etc.). Contudo, forçoso reconhecer que a

atividade administrativa não é senhora dos interesses públicos, no

sentido de poder dispor dos mesmos a seu talante e alvedrio. Age de

acordo com a "finalidade da lei", com os princípios retores do

ordenamento, expressos e implícitos. A administração atua, age, como

instrumento de realização do ideário constitucional, norma jurídica

superior do sistema jurídico brasileiro.

...

"A norma em foco autoriza a pesquisa do ato

administrativo a fim de revelar se o mesmo está íntegro ou, ao contrário,

apenas aparentemente atende à lei, se os motivos e seu objeto têm

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relação com o interesse público, se houve algum uso ou abuso do

administrador, se a finalidade foi atendida de acordo com o sistema

jurídico; e assim por diante".

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a empresa

Gota Azul Bar Ltda violaram frontalmente o mandamento do artigo 11,

inciso I, da Lei nº 8.429/92 ao participarem ativamente na emissão de

Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta,

sem analisar a situação real do fato através de realização de perícias e

vistorias, o que contrariou os dispositivos legais já transcritos, atuando

no sentido de obstar a prevalência do interesse da coletividade,

consubstanciado na proteção do meio ambiente nos termos da

Constituição Federal, desvirtuando o ato administrativo para atingir

finalidade distinta daquela proclamada pelas normas ambientais

vigentes, qual seja, o interesse particular do empreendedor.

Não pode negar desconhecimento dos impedimentos

legais. Atuantes na área ambiental, a Secretaria Municipal do Meio

Ambiente, afeita à análise e manejo dos dispositivos constitucionais,

legais e regulamentares invocados, a ré tinha plena consciência da

existência do referido bar, mas imprimiu omissão ao ato

administrativo, desconsiderando as expressas vedações legais e

motivando-o em ato normativo administrativo inexistente sequer

adotado pelo titular da pasta, não passando de mera conjectura sem

força vinculativa.

Além disso, foram expressamente alertadas por outros

órgãos técnicos (SEFUR, Assessoria Técnica do MPGO), que indicaram

todos os impedimentos técnicos e legais que determinavam o

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indeferimento imediato do pedido de autorização, deixando de adotar

postura formalmente simples e regular.

Mas, ao contrário, deram-lhe esperança em ver

aprovado o que põe abaixo, vegetação integrante da arborização

urbana denominada jardins de representação, provocando a discussão

da supressão da área verde junto ao Órgão licenciador de atividades

ligadas ao meio ambiente no Município de Goiânia, onde defendeu

ardorosamente o desmatamento, autorizando o funcionamento do

estabelecimento, desprezando completamente a preocupação com a

fauna local, que indica a existência de espécies ameaçadas.

Atuou deliberadamente contra os dispositivos legais

invocados, desprezando as exceções legais impeditivas de autorização

do funcionamento com o fim de privilegiar interesses da empresa Gota

Azul Bar Ltda.

A respeito, ensinam Pazzaglini Filho, Elias Rosa e Fazzio

Júnior que, na situação indicada,

"o agente público pratica ato nulo, por ilicitude do objeto

ou por incompetência. É o desvio de finalidade, seja porque atua com

fito pessoal (por exemplo, vingança, protecionismo etc.), seja porque tem

em mira finalidade administrativa diversa da determinada pela lei",

arrematando que para "que se configure o disposto no inciso, basta que

o ato inquinado vise a fim ilícito ou extrapole a esfera de competência do

agente público"

Ademais, dando continuidade a um procedimento

licenciatório que poderia - e deveria - ser interrompido de pronto, as

rés ensejaram perda patrimonial aos cofres públicos, representada

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pelos custos da elaboração de perícias administrativas, visitas

exploratórias ao local do empreendimento, despesas com locomoção,

tempo dispensado pelos servidores, além de outros fatores,

determinando, pois, lesão ao erário que impende ser apurada e

reparada, diante da tipificação da conduta no art. 10 da Lei de

Improbidade, do teor seguinte:

"Art. 10 - Constitui ato de

improbidade administrativa que causa lesão ao

erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou

culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação

dos bens ou haveres das entidades referidas

no art. 1º desta Lei ... ".

A conduta dos réus propiciaram perda patrimonial ao

erário, pois permitiram o debate do tema, inclusive em reunião do

Ministério Público do Estado de Goiás, com desperdício de tempo e

material, custeados pelos cofres públicos, que devem ser apurados e

ressarcidos, em posterior arbitramento.

Note-se que tinham plena ciência da desnecessidade e

da ilegalidade do ato praticado. Sabiam que sustentavam contra legem, através de pareceres e desenvolvimento de análises técnicas e

periciais, a autorização do empreendimento referido. Contrariaram em

seus pareceres finais dispositivos expressos de lei, proporcionando

perda patrimonial ao erário na forma acima mencionada, que deve ser

apurada para o devido ressarcimento.

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Consumando o ato írrito, a Secretaria Municipal e Meio

Ambienmte se pôs omissa ao desenrolar da autorização de

funcionamento do bar “Gota Azul”, dando forma jurídica à

irregularidade praticada, quando deveria de imediato, impedir tal

autorização, obstando definitivamente a ilegalidade cometida.

Por sua vez, o bar “Gota Azul” se beneficiou do ato

perpetrado que se busca a declaração de nulidade e, por isso, deve

igualmente integrar a lide, por tratar-se de litisconsórcio necessário, na

forma da norma de extensão prevista no art. 3º da Lei 8.429/9210.

IV - FUMUS BONI IURIS

A Lei nº 8.429 de 02 de junho de 1992, determina:

Art. 1° Os atos de improbidade

praticados por qualquer agente público,

servidor ou não, contra a administração direta,

indireta ou fundacional de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal, dos Municípios, de Território, de

empresa incorporada ao patrimônio público ou

de entidade para cuja criação ou custeio o

erário haja concorrido ou concorra com mais

de cinqüenta por cento do patrimônio ou da

receita anual, serão punidos na forma desta

lei.

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Parágrafo único - Estão também

sujeitos às penalidades desta lei os atos de

improbidade praticados contra o patrimônio de

entidade que receba subvenção, benefício ou

incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público

bem como daquelas para cuja criação ou

custeio o erário haja concorrido ou concorra

com menos de cinqüenta por cento do

patrimônio ou da receita anual, limitando-se,

nestes casos, a sanção patrimonial à

repercussão do ilícito sobre a contribuição dos

cofres públicos.

Art. 2° Reputa-se agente público,

para os efeitos desta lei, todo aquele que

exerce, ainda que transitoriamente ou sem

remuneração, por eleição, nomeação,

designação, contratação ou qualquer outra

forma de investidura ou vínculo, mandato,

cargo, emprego ou função nas entidades

mencionadas no artigo anterior.

...

Art. 4° Os agentes públicos de

qualquer nível ou hierarquia são obrigados a

velar pela estrita observância dos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade e

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publicidade no trato dos assuntos que lhe são

afetos.

Art. 5° Ocorrendo lesão ao

patrimônio público por ação ou omissão,

dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro,

dar-se-á o integral ressarcimento do dano.

Neste passo, importante registrar que a mesma Lei nº

8.429/92 também traça conceitos que tipifiquem as condutas dos

requeridos como ato de improbidade administrativa.

É o que emerge, indubitavelmente, do texto legal em

apreço:

Art. 11. Constitui ato de improbidade

administrativa que atenta contra os princípios

da administração pública qualquer ação ou

omissão que viole os deveres de honestidade,

imparcialidade, legalidade, e lealdade às

instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido

em lei ou regulamento ou diverso daquele

previsto, na regra de competência;

A respeito do texto legal ora evidenciado, urge que

façamos menção ao dispositivo constitucional ínsito no artigo 37,

“caput” da Carta Magna:

Art. 37 - A administração pública

direta, indireta ou formal, de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de

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Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade publicidade ...”

A moralidade administrativa, princípio esculpido no

artigo 37 da Constituição também foi vulnerada pelos requeridos.

O doutrinador Waldo Fazzio Júnior, em sua obra

conhecida, Improbidade Administrativa e Crimes de Prefeitos, faz o

seguinte comentário sobre a ofensa à moralidade administrativa e

desvio de finalidade dos atos adminstrativos:

“Se a finalidade colimada ao praticar o ato administrativo

é ilegal ou irregular, a moralidade administrativa é imediatamente

atingida, já que a imoralidade desvela-se no objeto do ato

administrativo, quando este faz vistas grossas para a honestidade, a

boa-fé e as normas de conduta ética. Aparece como resultado de uma

confrontação lógica entre os meios de que se vale o agente público e os

fins objetivados com o ato. Fins e meios não podem ser estranhos entre

si. Sua incompatibilidade denota improbidade administrativa.”

A probidade administrativa consiste no dever de o

"funcionário servir à Administração com honestidade, procedendo no

exercício das suas funções, sem aproveitar os poderes ou facilidades

delas decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira

favorecer"

As questões ambientais são marcadas de intensa

atividade administrativa, tanto no que concerne aos atos autorizativos

ou licenciadores do Poder Público, como no que diz respeito à

fiscalização das práticas potencialmente danosas ao meio ambiente.

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O meio ambiente interessa sobremaneira à coletividade,

sendo de importância para as gerações presentes e futuras, incumbindo

ao Poder Público sua defesa e preservação (art. 225 da CF).

Com isso, os atos do Poder Público destinados ao

controle, proteção e fiscalização do meio ambiente devem ser

praticados com observância dos princípios constitucionais, legais e

regulamentares, cuja inobservância poderá determinar a prática de

improbidade e conseqüente punição do agente.

O Poder Público deve assumir postura protetora do meio

ambiente, isentando-se dos interesses particulares para decidir com

imparcialidade as questões que lhe são submetidas. Deve agir com

cautela e prudência para não se transformar também em agente

degradador, em cumplicidade com o interessado.

As atividades do agente público que opera com as

questões ambientais devem observar os princípios da legalidade e

impessoalidade. Cumpre-lhe aplicar rigorosamente as determinações

legais e regulamentares para impedir qualquer dano ambiental,

sempre tendo em mira os interesses da coletividade.

V – PERICULUM IN MORA

O ato administrativo, consistente na autorização de

funcionamento expedida, permite, como já mencionado, que o

empreendedor possa investir contra o meio físico e promover a

degradação da área necessária à instalação do projeto.

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A autorização, conforme asseverado, decorreu de

procedimento vicioso que, além de afrontar a legislação vigente e

desvirtuar a regra de competência, foi motivada por ato normativo

inexistente no mundo jurídico.

Entretanto, a autorização pode gerar efeitos,

possibilitando que atitudes danosas ao meio ambiente possam ser

iniciadas pelo empreendedor com fulcro no ato expedido, causando

lesão de potencial degradador de impossível reparação, diante das

características peculiares da vegetação.

Com isso, existe probabilidade de que do ato ilegal

provoque efeitos indesejados e irreparáveis em face da coletividade

enquanto se estabelece o contraditório, sendo que, até o julgamento

definitivo da presente ação, o bem jurídico protegido pela legislação

ambiental citada pode perecer.

Assim, presentes os requisitos indispensáveis à

concessão da cautela, ou seja, o periculum in mora e fumus boni juris,

requer-se a deferimento de medida liminar, independentemente de

oitiva das partes contrárias, para suspender a autorização de

funcionamento expedida em favor do bar “Gota Azul” até final

julgamento da presente ação.

VI – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

No que pertine a legitimidade do Parquet resta acentuar

que o artigo 127 da Constituição Federal conferiu ao Ministério Público

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relevante missão institucional na defesa da ordem jurídica, do regime

democrático dos interesses indisponíveis da sociedade.

O aritgo 129, inciso III da Lei Maior dispõe que:

“São fuções institucionais do

Ministério Público:

III – Promover o inquérito civil e a

ação civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio ambiente

e de outros interesses difusos e coletivos;”

Em conformidade com o mandamento constitucional

estão as disposições da Constituição do Estado de Goiás, da Lei

Federal nº 8.625/93 e da Lei Complementar Estadual nº 28/97.

O artigo 25, inciso IV, alínea b, da Lei nº 8.625, de 12 de

fevereiro de 1993 confere legitimação ao Ministério Público “para a

anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município,

de suas administrações indiretas ou fundacionais ou de entidade

privada de que participem.

De todo o modo, é incontroverso que a Constituição

Federal confere ao Ministério Público a legitimação para a propositura

de ação civil pública voltada para a defesa da ordem jurídica e para a

defesa do patrimônio público.

Assim, a legitimação ativa para o ajuizamento da ação

civil pública com a finalidade de proteger a ordem pública, o patrimônio

público e a moralidade administrativa, é conferida ao Ministério Público

pelo artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 1º, inciso IV, e Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de

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5º, da Lei nº 7.347/85, artigo 25, inciso IV, alínea b, da Lei nº 8.625/93 e

também pelos artigos 16 e 18 da Lei Federal nº 8.429/92.

VII - DOS PEDIDOS.

Face ao exposto, requer a Vossa Excelência se digne a determinar:

I - a distribuição e autuação da presente ação, com os

documentos extraídos do procedimento administrativo RA- 220,

acompanhado de apenso;

II - a citação dos requeridos para, querendo, contestarem a

presente ação, que deverá seguir o rito ordinário, no prazo legal e sob

pena de revelia;

III - a produção de todas as provas em Direito admitidas,

notadamente a juntada de outros documentos, realização de perícias,

oitivas de testemunhas, depoimento pessoal das rés e outras que se

fizerem necessárias, ficando, desde já, requerida a expedição de ofício à

Secretaria Municipal de Meio Ambiente requisitando a apresentação

dos documentos em que o empreendimento foi discutido;

V - a intimação pessoal do autor de todos os atos e termos

processuais na Via Área Verde 35 (Avenida Flamboyant esq. com a Av.

Laranjeiras), Qd. 17, Lt. 18, Parque das Laranjeiras, nos termos do art.

236, §2º, do Código de Processo Civil.

Requer ainda seja julgada procedente a presente ação com a

finalidade de:

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a) declarar nulo o ato administrativo praticado, consistente na

autorização de funcionamento, expedida em prol de Gota Azul Bar Ltda

por ofensa ao princípio da legalidade e pelas demais razões expostas, e

b) condenar Marlete Terezinha Gottsilig e Sérgio Gottslig pela

prática de atos de improbidade previstos nos artigos 10, caput e 11,

caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92, ao ressarcimento integral do dano

patrimonial que causaram ao erário, a ser apurado mediante

arbitramento, impondo-lhes pagamento de multa civil e proibição de

contratar com o poder público, ou receber benefícios e incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por

intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, com base

no art. 12, incisos II e III, da Lei Federal nº 8.429/92;

Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00.

Termos em que, pede deferimento.

Goiânia, 23 de Outubro de 2003

MAURÍCIO JOSÉ NARDINIPROMOTOR DE JUSTIÇA

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