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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – GAECO
Promotoria de Justiça de Domingos Martins - ES
Ru Rua João Batista Wernersbach, n.º 51, Centro, Domingos Martins-ES - Fone: 027 3268 1528 - CEP- 29.260-000
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EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA CUMULATIVA DA
COMARCA DE DOMINGOS MARTINS
PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL Nº 008/2015 – (2015.0003.8013-20)
O Ministério Público oferece DENÚNCIA, em 21 (vinte e uma) páginas, em face de
JOÃO BATISTA GAIOTTI, JOSÉ MONTEIRO GAIOTTI, PAULO SÉRGIO MONTEIRO
GAIOTTI, JOSÉ PEDRO MONTEIRO GAIOTTI, NILSON PIRES DA SILVA, JÚLIO CESAR
FERNANDES DA SILVA, EDGAR PEREIRA MIRANDA e JB. IMÓVEIS por infração às
normas do artigo 50, incisos I e III, e parágrafo único inciso I da Lei nº 6.766/79,
artigos 171 e 288 do Código Penal e artigo 47 da Lei de Contravenção Penal,
todos na forma do artigo 70 do CP, bem assim artigos 38, 38 A, 39, 40, 41, 54 e 60
da lei 9605/98, todos na forma do artigo 70 do CP, entre si na forma do artigo 69
do CP.
1) DO DEVER DE REPARAÇÃO PELO DANO AMBIENTAL (PRAD E LUCRO CESSANTE
AMBIENTAL)
Ante a constatação do dano ambiental causado pelos denunciados, surge o
necessário dever jurídico de reparação em favor da coletividade, na forma do art.
225, § 3º da CF/88:
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
As condutas deixam a esfera da violação administrativa e penal, porquanto
afetam a qualidade do meio ambiente:
Art. 3º Lei nº 6.938/81
(...)
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II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das
características do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental;
Dessa forma, evidenciados conduta, nexo de causalidade e dano, surge para os
réus, em face do princípio da responsabilidade objetiva ambiental, o dever de
cessar imediatamente a conduta lesiva, providenciando a restauração das áreas
de preservação permanente e unidades de conservação de forma integral, por
meio do retorno ao status quo anterior à atuação antrópica em prejuízo ao meio
ambiente.
Para tanto, deverão arcar com os custos decorrentes da elaboração do Plano de
Recuperação de Área Degradada (PRAD) e das medidas necessárias à sua
execução, até que haja a completa reparação do dano ambiental, além do
pagamento dos lucros cessantes ambientais, ou seja, os ganhos não usufruídos
pela coletividade decorrente do tempo de recuperação da área considerada
como “de preservação permanente”.
Nesse viés, a reparação do dano, por meio do conceito de restitutio in integrum
do bem ambiental protegido será aquela capaz de proporcionar, nas lições de
Melo1:
1 MELO, Melissa Ely. O dever jurídico de restauração ambiental. Percepção da natureza como projeto. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador. Prof. Dr. José Rubens Morato Leite, Florianópolis, 2008, p. 131.
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“[...] a reabilitação ou a restauração dos elementos ambientais, não a
reposição material idêntica das condições físico-químicas do meio ambiente
anterior, não bastando a restauração unicamente da capacidade funcional
do bem ambiental, mas a restauração das capacidades de auto-regulação e
de auto-regeneração do mesmo”.
Sendim leciona que: “o dano deve considerar-se ressarcido in integrum quando, in
casu, o fim que a norma violada protege esteja de novo assegurado”2. Isso
pressupõe também a compensação pelos lucros cessantes ambientais que,
segundo Freitas3, deve ser cumulativo à reparação. In verbis:
O pedido de compensação, tratando-se de dano ambiental intercorrente,
deve ser cumulado com o de restauração, na chamada cumulação própria,
onde há verdadeira soma dos pedidos, já que a pretensão do autor é a de
que todos sejam atendidos.
A cumulação, nesse caso, é necessária, porquanto há diversidade de pedidos
mediatos: pretende-se a reparação “in natura” do meio ambiente e a
compensação pelo período que o meio ambiente ficou privado de todos os
seus atributos (ao contrário dos pedidos relativos à restauração e à
recuperação, onde o que se pretende, em última análise, é a reparação “in
natura” do meio ambiente lesado.
O pedido de indenização também pode ser incluído, através da cumulação
imprópria (eventual), desde que o que se pretenda seja a indenização em
caso de impossibilidade, total ou parcial, da compensação. Trata-se, portanto,
de pedido subsidiário e não alternativo.
Quanto à compensação, não há pedido alternativo, mas cumulação simples
ou sucessiva, porquanto não há qualquer possibilidade de se preterir a
restauração ou a recuperação, sendo elas viáveis tecnicamente em favor da
compensação.
Por isto, a efetiva reparação do dano deverá considerar além do pedido de
restitutio in integrum, consistente nas demolições dos imóveis construídos
2 SENDIM, op. cit. p. 178 3 FREITAS, Vladmir Passos de. A constituição federal e a efetividade das normas ambientais. São Paulo: RT, 2000.
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ilegalmente em áreas de preservação permanente, a compensação ambiental
em função dos lucros cessantes ambientais.
AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO PARQUE DO
SABIÁ. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC NÃO CONFIGURADA. CUMULAÇÃO DE
OBRIGAÇÕES DE FAZER COM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. ART. 3º DA LEI
7.347/1985. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS. CABIMENTO. [..] 3. O
dano ao meio ambiente, por ser bem público, gera repercussão geral,
impondo conscientização coletiva à sua reparação, a fim de resguardar o
direito das futuras gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo
massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta
a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. 5. Recurso
especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de
indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a
condenação em danos morais coletivos, com a devolução dos autos ao
Tribunal de origem para que verifique se, no caso, há dano indenizável e
fixação do eventual quantum debeatur. Recurso Especial nº 1.269.494/MG
(Relatora Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013).
Por fim, a considerar serem os cidadãos capixabas os reais titulares da pretensão
de ressarcimento pelo dano sofrido, entendemos não caber aplicação analógica
ao artigo 13 da lei nº 7.347/85, mas reversão do valor da indenização pelos danos
patrimonial e moral coletivo mínimos em favor do Estado do Espírito Santo, pessoa
jurídica de direito público presentante dos interesses populares, neste particular, e
cujo patrimônio merece recomposição, socorrendo-se da norma extraída do
artigo 18 da lei nº 8.429/92 (microssistema coletivo) 4. Ressalvamos que o Ministério
Público reserva-se ao direito de apontar expressamente o valor devido pelos
denunciados a título de reparação integral pelos danos coletivos causados ao
meio ao ambiente após a instrução processual, com expressa postulação em
alegações finais.
4 Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos
ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada
pelo ilícito.
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A. Da imediata paralização de obras e demolição das construções irregulares
Por óbvio, a considerar o direito constitucional à moradia e a necessária
concordância prática das liberdades públicas (dignidade da pessoa humana),
solicita-se que a medida extrema recaia, por ora, tão somente sobre as casas
desabitadas, de veraneio, classificadas como sítios, chácaras ou propriedades de
recreio ou utilização sazonal, com acompanhamento e fiscalização da medida
pelos órgãos de controle e fiscalização do meio ambiente como o IEMA (O
Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos), Polícia Militar Ambiental,
a Prefeitura de Domingos Martins, por sua Secretaria de Meio Ambiente e MPES,
por meio do CAOA.
Discriminamos, por relevante, as áreas objetos do pleito demolitório cautelar, com
as peculiaridades caso a caso, não excluindo que outras sejam afetadas, após
constatação in loco pelas autoridades ambientais:
1. Loteamento clandestino em Zona Rural – Comunidade Vista Linda – Relatório
Técnico 017/2015
Identificaram-se diversos lotes em áreas mais altas, com supressão de
vegetação nativa e implementação de platôs em área declivosa. Foram
localizadas 03 (três) edificações com bom padrão construtivo, construção
de muro de arrimo em um dos lotes e em outro platô havia materiais de
construção depositados.
2. Loteamento clandestino em Zona Rural – Melgacinho - Relatório Técnico
019/2015
Constatou-se a abertura de vias, demarcação de lotes, abertura de platôs
(nove) e 03 (três) edificações, sendo que uma encontra-se em fase de
construção.
3. Loteamento clandestino em Melgaço de Cima – Relatório Técnico 021/2015
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Fls. 233-244 - a vistoria no local identificou a abertura de vias, demarcação
de lotes, abertura de platôs (onze) e 02 (duas) edificações em construção,
ambas em padrão simples.
4. Loteamento clandestino em Zona Rural – Santa Izabel – Relatório Técnico
024/2015
Fls. 245-254 – constatou-se a abertura de vias, de platôs e várias edificações
já concluídas e outras ainda em construção. A gleba abrange encosta
íngreme com remanescentes de vegetação nativa estendendo-se até a
margem do córrego, sendo que a faixa de Área de Preservação
Permanente abrange a área plana e de encosta. Na margem esquerda do
córrego as edificações foram implantadas próximo a borda da calha,
limitando-se com a encosta íngreme. Também existem edificações
ocupando unicamente áreas de encosta.
5. Loteamento clandestino em Zona Rural – Boa vista – Relatório Técnico
029/2015
Neste loteamento foi verificada a abertura de vias, demarcação de lotes,
implantação de edificações, sendo que a maioria encontra-se em fase de
construção e abertura de platôs nas encostas, conforme fls. 255 - 269.
Com relação a este local, também constam informações da Polícia Militar
Ambiental: “No local foi constatado a construção de 21 (vinte e um) platôs,
sendo 03 (três) deles com talude acima do permitido e mais 08 (oito)
chácaras de 0,01 ha (mil metros quadrados), sendo que duas delas estão
construídas a 20 (vinte) metros do curso hídrico, uma a 35 (trinta e cinco)
metros e outra a 30 (trinta) metros do curso hídrico”(fls. 27 – 29).
6. Loteamento clandestino em Zona Rural – Distrito de Aracê – Relatório
Técnico 039/2015
Em vistoria realizada aos 24 de abril de 2015 (fls. 293-302) verificou-se na
área loteada arruamento e demarcação de lotes, não tendo sido
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localizada na área percorrida a implantação de edificação ou abertura de
platô.
7. Comercialização de terreno em Zona Rural – Rio das Farinhas (próximo a
Caramuru) – Relatório Técnico 034/2015
A área apresenta indícios de desmembramento, tendo sido localizado um
platô com tijolos de construção depositados (fls. 270-276).
8. Comercialização de terreno em Zona Rural – Panelas – Relatório Técnico
035/2015
O terreno localiza-se em área de difícil acesso em encosta declivosa
abrangendo Área de Preservação Permanente da margem do Rio Jucu,
tendo sido constatado a abertura de um platô, fazendo fronteira com o
loteamento clandestino implantado por José Pedro Monteiro Gaiotti.
8.1 Relatório Técnico 011/2013
Trata-se de loteamento clandestino situado em zona rural de propriedade
do Sr. José Pedro Monteiro Gaiotti. Identificaram-se 07 (sete) edificações em
diferentes fases de construção. Possuía ruas precariamente abertas, sem
pavimentação e drenagem, com valas provocadas pela erosão. O local
está embargado pela Prefeitura, contudo o responsável continuou com as
suas atividades, conforme fls. 284-292.
(...)
Em nova vistoria realizada, aos 23 de abril 2015, observou-se a implantação
de duas edificações, sendo uma em área de preservação permanente,
com supressão de vegetação.
Salienta-se que tanto a demolição de obra irregular como a suspensão/embargo
de suas atividades ou obras localizadas em áreas de preservação permanente e
não autorizadas pelos órgãos de controle administrativo, tem previsão legal e são
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medidas que podem ser, inclusive, aplicadas diretamente pelos órgãos
ambientais, após o devido processo administrativo (Lei 9.605/98, art. 72, VII e VIII, e
Decreto 6.514/2008, art. 191, I).
Lei 9.605/98 - Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes
sanções, observado o disposto no art. 6º:
I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,
instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza
utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;
Decreto 6.514/2008 - Art. 19. A sanção de demolição de obra poderá ser
aplicada pela autoridade ambiental, após o contraditório e ampla defesa,
quando: (Redação dada pelo Decreto nº 6.686, de 2008).
I - verificada a construção de obra em área ambientalmente protegida em
desacordo com a legislação ambiental;
Da mesma forma a legislação estadual (Lei 7.058/2002):
Art. 16. A penalidade de demolição de obra ou construção será aplicada para
evitar danos ambientais quando a penalidade de embargo se revelar
insuficiente, ou quando não houver possibilidade de recuperação ambiental
sem a retirada da obra/construção.
Deparamo-nos com recente julgado neste sentido:
CONSTITUCIONAL, PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. CONDENAÇÃO NO PAGAMENTO DE MULTA, NA DEMOLIÇÃO DE
CONSTRUÇÃO E NA RECOMPOSIÇÃO DE VEGETAÇÃO NATURAL. CERCEAMENTO
DO DIREITO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. NÃO INTERPOSIÇÃO DE RECURSO
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CONTRA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA DE INDEFERIMENTO DE REALIZAÇÃO DE
PERÍCIA. DESNECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE PROVA PERICIAL. DANO
AMBIENTAL. COMPROVAÇÃO. OCUPAÇÃO DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. IMPRESCINDIBILIDADE DE DEMOLIÇÃO DA CASA ERGUIDA NO
LOCAL E DE RECONSTITUIÇÃO DE MATA CILIAR DE AÇUDE PÚBLICO. CARÁTER
PROPTER REM DA OBRIGAÇÃO DE REPARAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE. DESINFLUÊNCIA DA SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO
PUNITIVA PENAL ESTATAL FUNDADA EM INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. PLANO DE
RECUPERAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA (PRAD). NÃO CUMPRIMENTO.
DESPROVIMENTO DO RECURSO. ERRO MATERIAL NA SENTENÇA. CORREÇÃO DE
OFÍCIO. POSSIBILIDADE. 1. Apelação interposta contra sentença de
procedência do pedido de ação civil pública, nos termos da qual o réu foi
condenado a pagar multa ambiental, a demolir construção erguida em área
de preservação permanente e a reconstituir a vegetação natural degradada,
de mata ciliar às margens de açude público, segundo plano de manejo a ser
aprovado pelo órgão ambiental competente.(...) 3. A preocupação com o
meio ambiente, reputado bem de uso comum do povo, representativo de
direito subjetivo e vinculado, essencialmente, ao direito à vida, encontra
guarida na Constituição Federal de 1988, seja no prelúdio, com a referência a
bem-estar, seja no corpo propriamente dito do Texto Constitucional (art. 225),
sobrelevando a preocupação com a atribuição de responsabilidade a todos
os entes da Federação e, mais que isso, à sociedade. Há muito se tem
observado um movimento de confirmação dessa responsabilização alargada,
percebida em função do necessário vínculo que se estabelece entre as
pessoas - quer queiram, quer não queiram -, por sofrerem, todas elas, os reflexos
da ação sobre o meio ambiente, mesmo porque os resultados dessa atuação
não distinguem poluidores de não poluidores, denegridores de não
denegridores, alcançando o conjunto social como um inteiro - e
independentemente mesmo da proximidade territorial em relação ao ato
poluente. Ademais, a previsão constitucional não tem caráter meramente
programático, tendo a CF/88 estabelecido uma série de imposições para
tornar efetivo esse direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
fixando, inclusive, que "as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados" (parágrafo 3º, do art. 225 da CF/88). A Lei nº 6.938/1981 está em
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sintonia com a CF/88, no que estabelece que, "sem obstar a aplicação das
penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente
da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade" (parágrafo 1º, do art. 14).
(...)8. As imposições feitas na sentença - pagamento de multa, demolição da
edificação e reconstituição vegetal da área - estão de conformidade com a lei
e com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 9.
Desprovimento da apelação. (TRF-5 - AC: 200081000130638 , Relator:
Desembargador Federal Frederico Koehler, Data de Julgamento: 23/01/2014,
Primeira Turma, Data de Publicação: 29/01/2014, grifo nosso).
O fumus boni iuris exigido para a medida cautelar extrai-se das informações
consignadas ao longo deste arrazoado e nos laudos técnicos do CAOA, com
danos ambientais em área ambientalmente protegida e desacordo com a
legislação ambiental federal, estadual e municipal, a saber: a) Constituição
Federal: arts. 1º, inc. III, 5º, incs. II, XXII e XXIII, 23, incs. VI e VII e, 182, § 2º, 196, 225 e
seus parágrafos e incisos; b) Legislação Federal: Lei n°12.651/12: arts. 3°, inciso II;
art. 4°; art. 7°; Lei nº 9.605/98 (Lei de crimes ambientais): art. 54 e art. 60; Lei nº
6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente): arts. 2º, incs. II e III, 3º, incs. I, II, III,
alíneas a até e, IV e V, 4º, incs. I,II,VI e VII, 10, e 14, § 1º, e parágrafo único; Código
Civil: arts. 927, parágrafo único, e 1.228, § 1º; Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da
Cidade): arts. 2º, inc. VI, a, b, c e g, e 39; Código de Processo Civil: art. 461, §§
3º, 4º e 5º; Resolução CONAMA nº 237/1997 (Regulamenta o Licenciamento
Ambiental): arts. 1º, inc. I, 2º, e 8º, incs. I a III; Decreto Federal nº 99.274/1990
(Regulamenta as Leis nº 6.902/1981 e a 6.938/1981): arts. 17, 18 e 19; Lei nº
6.015/1973 (Registros Públicos): art. 167, inc. I, item 19; c) Legislação Estadual: Lei
7.058/2002: artigos 7º, inc. I, II, III, IV, V, VI, VII, XI,XIX,XX, XXVI, XXXIII, XLIII; d)
Legislação Municipal: Lei Complementar 25/2013 (Plano Diretor Municipal de
Domingos Martins).
O periculum in mora busca assento na imprescindibilidade de resguardar o meio
ambiente ecologicamente equilibrado e impedir que os riscos ofertados pelas
atividades dos réus causem danos irreversíveis, ao ponto de tornar-se inócua a
tutela pleiteada caso tenha de aguardar a resolução deste feito.
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Diante do exposto, requer o Ministério Público:
a) Obrigação cautelar de fazer aos investigados consistente na restauração
das áreas de preservação permanente afetadas, recuperação por meio da
elaboração e execução do PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA
DEGRADADA (PRAD), que deverá ser aprovado por órgão técnico
competente. O projeto deverá apresentar cronograma das atividades a
serem desenvolvidas (que deverão abordar a completa recomposição do
complexo ecológico atingido, de modo que aquele readquira, qualitativa e
quantitativamente, os atributos anteriores ao início do processo de
degradação) e ser previamente aprovado pelos órgãos ambientais, antes
de ser executado.
b) Emissão de ordem cautelar de demolição das construções irregulares ao
Poder Público Municipal, no prazo máximo de 45 (quarenta) dias, às custas
dos investigados em posterior ação autônoma, com elaboração de Plano
de reassentamento familiar prévio pela municipalidade, em prazo razoável
a ser estipulado por este juízo, mediante estudo prévio, acompanhamento
e apreciação pelo o IEMA (O Instituto Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos), Polícia Militar Ambiental, Secretarias Municipais de Meio
Ambiente envolvidas, e MPES, por meio do CAOA, para identificação das
áreas em que é possível a medida sem violação ao direito fundamental à
moradia e, simultaneamente, para garantir a proteção ao direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado;
c) Obrigação de fazer, consistente na imediata paralisação das obras e
proibição de ocupação dos imóveis, sob pena de multa diária de R$
10.000,00 (mil reais) em caso de descumprimento do provimento
jurisdicional, a ser fiscalizado pelos órgãos ambientais, que deverão fornecer
relatório mensal ao Juízo;
d) Condenação solidária ao pagamento de indenização pelo dano moral
coletivo contra o meio ambiente, em valor a ser delimitado ao longo da
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instrução e postulado expressamente em alegações finais, e pelos danos
materiais contra eventuais particulares lesados que venham a se habilitar
como assistentes litisconsorciais, em quantum debeatur a ser aferido ao
longa da instrução judicial, por iniciativa probatória de cada
interessado/litisconsorte.
2) DAS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
A concatenação dos fatos e os documentos colacionados confirmam que os
investigados se enriqueceram ilicitamente e causaram prejuízo ao patrimônio
ambiental e aos promitentes compradores dos terrenos.
Com o fim de garantir futuras indenizações compostas pela compensação de
danos ambientais em função dos lucros cessantes ambientais a serem auferidos,
bem assim recomposição patrimonial aos particulares, recomenda-se a imposição
de gravame patrimonial sobre os bens dos investigados, tornando-os indisponíveis.
Mais uma vez, a plausibilidade do direito invocado restou caracterizada por meio
das razões de fato e de direito já explanadas.
O periculum in mora reside na necessidade de resguardar a administração pública
ambiental e particulares/adquirentes contra eventual insuficiência patrimonial dos
investigados para ressarcimento do dano em quantum que será delimitado, até
porque com a deflagração da operação, desfazem-se de seus bens por
interpostas pessoas, colocando em risco o resultado útil do processo.
Resguardados pelo Código de Processo Penal, o sequestro e o arresto de bens dos
investigados buscam exatamente acautelar o patrimônio contra dilapidações. Só
assim o processo será meio eficaz para a obtenção integral da tutela jurisdicional,
com recuperação do meio ambiente ecologicamente equilibrado e indenização
pelos danos materiais e morais à sociedade e particulares prejudicados.
Art. 125. Caberá o seqüestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com
os proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
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Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a existência de indícios
veementes da proveniência ilícita dos bens.
Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido,
ou mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o
seqüestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a
denúncia ou queixa.
Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado poderá ser requerida
pelo ofendido em qualquer fase do processo, desde que haja certeza da
infração e indícios suficientes da autoria.
Art. 137. Se o responsável não possuir bens imóveis ou os possuir de valor
insuficiente, poderão ser arrestados bens móveis suscetíveis de penhora, nos
termos em que é facultada a hipoteca legal dos imóveis. (Redação dada pela
Lei nº 11.435, de 2006).
§ 1o Se esses bens forem coisas fungíveis e facilmente deterioráveis,
proceder-se-á na forma do § 5o do art. 120.
§ 2o Das rendas dos bens móveis poderão ser fornecidos recursos
arbitrados pelo juiz, para a manutenção do indiciado e de sua família.
(...)
Art. 136. O arresto do imóvel poderá ser decretado de início, revogando-se,
porém, se no prazo de 15 (quinze) dias não for promovido o processo de
inscrição da hipoteca legal. (Redação dada pela Lei nº 11.435, de 2006).
Art. 137. Se o responsável não possuir bens imóveis ou os possuir de valor
insuficiente, poderão ser arrestados bens móveis suscetíveis de penhora, nos
termos em que é facultada a hipoteca legal dos imóveis. (Redação dada pela
Lei nº 11.435, de 2006).
Cumpre ressaltar que não há objeção em deferir as cautelares assecuratórias sem
prévia citação dos réus, haja vista que nesta hipótese o contraditório é diferido.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL. CAUTELAR DE SEQUESTRO. DEFERIMENTO DO PEDIDO
SEM PRÉVIA INTIMAÇÃO DA DEFESA.
Não acarreta nulidade o deferimento de medida cautelar patrimonial de
sequestro sem anterior intimação da defesa. Na hipótese de sequestro, o
contraditório será diferido em prol da integridade do patrimônio e contra a sua
eventual dissipação. Nesse caso, não se caracteriza qualquer cerceamento à
defesa, que tem a oportunidade de impugnar a determinação judicial,
utilizando os meios recursais legais previstos para tanto. (STJ - RMS 30.172-MT,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012).
E mais:
PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. CRIMES
AMBIENTAIS. "OPERAÇÃO RIO PARDO". INQUÉRITO. SEQÜESTRO DE BENS.
PROVENIÊNCIA ILÍCITA. INDÍCIOS VEEMENTES. INDIVIDUALIZAÇÃO DE CONDUTAS
DELITUOSAS. PARTICULARIZAÇÃO DOS BENS. REPARAÇÃO DO DANO. 1. "Não
cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição" (Súmula n. 267/STF). 2. Excepcionalmente tem esta Corte admitido o
mandado de segurança contra ato judicial ilegal, abusivo ou teratológico, se
houver a possibilidade de dano irreparável. Presentes esses requisitos, torna-se
viável o mandamus. 3. Consoante orientação jurisprudencial da 2ª Seção deste
Tribunal Regional Federal da 1ª Região, da decisão que decreta a medida
assecuratória de seqüestro de bens, o recurso cabível é a apelação. 4. A
medida penal assecuratória do seqüestro pode ser decretada sobre bens
imóveis e móveis, de ofício, mediante representação da autoridade policial ou
a requerimento de interessado, desde a data da infração, quando existirem
"indícios veementes da proveniência ilícita" desses bens (artigos 125, 126 e 132,
do Código de Processo Penal). 5. Infringe os princípios da proporcionalidade e
da adequação o decreto constritivo que não individualiza as condutas
delituosas de cada um dos indiciados e nem tampouco particulariza os bens
que poderiam ter provindo das práticas ilícitas. 6. O seqüestro será levantado
"se a ação penal não for intentada no prazo de 60 (sessenta) dias, contado da
data em que ficar concluída a diligência" (CPP, art. 131, I). 7. Segurança
concedida.(TRF-1 - MS: 10996 MT 2006.01.00.010996-1, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL MÁRIO CÉSAR RIBEIRO, Data de Julgamento:
16/05/2007, SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: 08/06/2007 DJ p.02)
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Com efeito, não importa se tais bens foram adquiridos antes ou depois da prática
criminosa; se são, ou não, produto do crime, bem como se foram, ou não,
adquiridos com proventos da infração, e ainda, se são bens móveis ou imóveis.
Até porque, tratando-se de única atividade econômica dos investigados, a
origem dos bens (lícita e ilícita) se confunde.
Uma vez presentes indícios veementes da responsabilidade dos indiciados, não há
impedimento para indisponibilização de tantos bens quantos forem necessários ao
ressarcimento dos prejuízos sofridos pelo Erário.
Sobre o tema e com relação ao momento em que tais medidas podem ser
requeridas, assim se manifesta Tourinho Filho5:
Uma vez que o ofendido faz jus à satisfação do dano ex delicto , que se
concretiza quer pela restituição, quer pelo ressarcimento ou reparação, já
sabemos que, se o produto do crime puder ser apreendido, far-se-á a
restituição, até mesmo na Polícia. Se, com os proventos do crime o criminoso
vier a adquirir bens imóveis ou móveis, a providência cautelar a ser tomada é o
seqüestro. Sendo este incabível, o ofendido, ou seu representante legal ou
herdeiros poderão, no juízo penal, requerer a especialização da hipoteca legal
sob os imóveis do réu, em qualquer fase do processo, desde que haja certeza
da infração e indícios suficientes de autoria. E pouco importa saber qual tenha
sido a infração: crime contra o patrimônio, crime contra a honra, crime contra
os costumes, crime contra a vida etc. Dês que tenha havido um prejuízo para a
vítima, esta pode, antes mesmo de ser iniciada a ação penal, providenciar
essa medida cautelar para se resguardar de eventual dilapidação do
patrimônio criminoso.
Colacionamos para fins ilustrativos:
PROCESSO PENAL. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS. SOCIEDADE EMPRESÁRIA.
ADMINISTRAÇÃO FRAUDULENTA. CONTABILIDADE "MAQUIADA". PETIÇÃO INICIAL.
INDEFERIMENTO. APELAÇÃO. CONTRARRAZÕES. DESNECESSIDADE.
5 Tourinho Filho. Processo penal. 21. ed. vol 3. rev. e atual. - São Paulo : Saraiva, 1999.
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TRIANGULAÇÃO INEXISTENTE. PREJUÍZO PATRIMONIAL. SÓCIA. INGRESSO
POSTERIOR AO FATO. ILEGITIMIDADE AD CAUSAM. AFASTAMENTO DO
ADMINISTRADOR. CPP, ART. 319. NÃO CABIMENTO. LITÍGIO DE NATUREZA CIVIL.
INSCRIÇÃO DE HIPOTECA LEGAL. ARRESTO. NOTÍCIA-CRIME. INQUÉRITO.
CABIMENTO. 1. O julgamento da apelação interposta da sentença indeferitória
da petição inicial de medida cautelar, no processo penal, independe do
oferecimento de contrarrazões, eis que não formalizada a triangulação
processual. 2. A cotista de sociedade empresária lesada por desfalque
patrimonial não tem legitimidade para requerer medidas assecuratórias (v.g.,
hipoteca legal e arresto) se ingressou na sociedade após a prática dos atos
apontados como fraudulentos, pois, nesta condição, não é vítima do delito. 3.
As medidas cautelares elencadas no art. 319 do Código de Processo Penal são
alternativas à prisão preventiva. Não abarcam o pedido de afastamento
cautelar do administrador de sociedade empresária, ainda quando
fundamentado em suposta gestão fraudulenta da empresa. 4. O indeferimento
de plano da petição inicial, considerando não estarem presentes os
pressupostos de admissibilidade, prescinde de prévia oitiva do Ministério
Público. 5. O arresto e a inscrição de hipoteca legal destinam-se,
precipuamente, a garantir futura indenização ex delicto. Têm nítida natureza
cautelar, podendo ser manejadas como procedimento preparatório.
Prescindem, pois, do prévio oferecimento da denúncia. RECURSO PROVIDO EM
PARTE. (TJ-SC, Relator: Roberto Lucas Pacheco, Data de Julgamento:
21/08/2013, Quarta Câmara Criminal Julgado; grifo nosso)
APELAÇAO CRIMINAL. AÇAO CAUTELAR DE SEQÜESTRO. CONSTRIÇAO DE BENS.
SENTENÇA DENEGATÓRIA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. EXEGESE DO
ART. 142, EM COTEJO COM OS ARTS. 127, 125 E 132, TODOS DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL, E COM O ART. 127 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. TUTELA
CAUTELAR. REQUISITOS EXISTENTES. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA.
DECRETAÇAO DO SEQÜESTRO/ARRESTO DE BENS IMÓVEIS, MÓVEIS E VALORES DE
INÚMEROS INDIVÍDUOS. RECURSO PROVIDO. 1. Denotase que as medidas
assecuratórias asseguradas em nosso Código de Processo Penal, elencadas em
seus artigos 125 ao 144, dentre elas o "seqüestro" (cuja natureza jurídica,
dependendo do caso, também poderá ser considerada como arresto), poderá
perfeitamente ser suscitada pelo Ministério Público, segundo exegese do art.
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142, em cotejo com os artigos 127, 125 e 132, todos do CPP, e com o art. 127 da
Constituição Federal. 2. Restando assaz a comprovação dos requisitos
autorizadores da medida cautelar, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum
in mora, os quais devem ser analisados na esfera meritória da ação cautelar,
segundo a melhor doutrina, necessário restaurar a medida constritiva
concedida inicialmente em decisão interlocutória do Juízo a quo, a qual
posteriormente foi revogada por meio de sentença exarada também em 1º
grau de jurisdição, a fim de decretar o seqüestro/aresto de bens imóveis,
móveis e valores de 7 (sete) pessoas físicas e de 1 (uma) pessoa jurídica. 3.
Recurso a que se dá provimento. (TJ-ES - APR: 24050077874 ES 24050077874,
Relator: ALEMER FERRAZ MOULIN, Data de Julgamento: 27/09/2006, PRIMEIRA
CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 17/10/2006, grifo nosso)
Cabe ainda destacar o seguinte: neste momento ainda não é possível a definição
exata do quantum debeatur, notadamente porquanto pendentes eventuais
habilitações de particulares como assistentes de acusação, bem assim
identificação dos danos individuais sofridos.
Não há se falar, todavia, em empecilho à indisponibilidade patrimonial. Isto
porque o sucesso de providência de recuperação de ativos posterior restará
comprometido caso o acervo patrimonial dos investigados seja-lhes mantido
plenamente disponível. Não se trata de retirar-lhes a proximidade física e/ou
eventualmente o usufruto, (neste caso sobre os bens não perecíveis), mas a livre
disposição, cessão, transferência, alienação, doação.
A indenização à sociedade pelos danos até então praticados é razão maior da
tutela patrimonial, e pedagogia inerente à manutenção da ordem social.
Para garantia da reparação dos danos causados requer:
seja oficiado aos Cartórios do Registro de Imóveis dos municípios de Vitória,
Vila Velha, Cariacica, Serra, Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano,
Venda Nova do Imigrante, Santa Leopoldina, e demais que Vossa
Excelência entenda pertinentes, informando a decretação da medida
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acima, com a indisponibilidade dos imóveis em nome dos denunciados,
necessários ao ressarcimento dos danos, de tudo informando esse r. Juízo,
sem prejuízo do envio, a esse Juízo, de certidão do Livro Indicador Pessoal
(artigos 132, d, e 138, da Lei 6.015/73), no qual conste ou tenha constado
algum bem em nome dos denunciados ou de seus cônjuges, quando for o
caso; outrossim, requer seja informado todos os imóveis que os denunciados
possuam e/ou possuíram nos últimos cinco anos;
o sequestro de valores consignados em contas correntes, aplicações
financeiras e correlatas, a partir de pesquisa nos bancos de dados do
BACEN-JUD por esse juízo;
seja expedido ofício ao IDAF para que informe se os denunciados possuem
registrados em seus nomes/cônjuges criação de gado ou de outro animal
de corte;
seja oficiado ao DETRAN/ES, informando sobre a decretação da presente
medida e determinando o bloqueio de todos os veículos em nome dos
denunciados, de tudo informando esse r. Juízo
Requer também que a penhora recaia sobre os estabelecimentos
empresariais e sobre as rendas respectivas, após oficio à Junta Comercial
deste Estado, procedendo este juízo na forma do artigo 677 e ss do CPC;
Seja oficiado à Procuradoria da Fazenda Nacional, solicitando as
informações concernentes quanto à existência crédito instrumentalizado
em precatório federal em favor dos denunciados;
Seja solicitada informações ao Exmo. Presidente do Tribunal de Justiça deste
Estado sobre a existência de crédito instrumentalizado em precatório
estadual em favor dos denunciados;
Seja oficiado às Procuradorias da Fazenda Municipal de Vitória, Vila Velha,
Cariacica, Serra, Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano, Venda Nova
do Imigrante e Santa Leopoldina solicitando as informações concernentes
quanto à existência crédito instrumentalizado em precatório municipal em
favor dos denunciados;
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Seja oficiado à Capitania dos Portos solicitando as informações quanto a
existência de embarcações em nome dos denunciados e, em caso positivo,
a realização de constrição;
sejam liberados os bens que se mostrarem excessivos para o ressarcimento
dos danos, a fim de se evitar qualquer constrangimento.
3) DA ALIENAÇÃO ANTECIPADA
Discriminados os bens objetos da medida cautelar de constrição, requer vista dos
autos para consolidar a relação de todos, com a descrição e a especificação de
cada um deles, e informações sobre quem os detém e local onde se encontram,
após o que requer desde já aplicação aos termos do artigo 144-A do CPP e artigo
4º e 4º-A da lei nº 9.613/98, este por analogia, em especial àqueles cuja
depreciação ou deterioração esteja diretamente relacionada ao fator tempo:
Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipada para preservação do
valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração
ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
(Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 1o O leilão far-se-á preferencialmente por meio eletrônico. (Incluído pela Lei
nº 12.694, de 2012)
§ 2o Os bens deverão ser vendidos pelo valor fixado na avaliação judicial ou
por valor maior. Não alcançado o valor estipulado pela administração judicial,
será realizado novo leilão, em até 10 (dez) dias contados da realização do
primeiro, podendo os bens ser alienados por valor não inferior a 80% (oitenta
por cento) do estipulado na avaliação judicial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de
2012)
§ 3o O produto da alienação ficará depositado em conta vinculada ao juízo
até a decisão final do processo, procedendo-se à sua conversão em renda
para a União, Estado ou Distrito Federal, no caso de condenação, ou, no caso
de absolvição, à sua devolução ao acusado. (Incluído pela Lei nº 12.694, de
2012)
§ 4o Quando a indisponibilidade recair sobre dinheiro, inclusive moeda
estrangeira, títulos, valores mobiliários ou cheques emitidos como ordem de
pagamento, o juízo determinará a conversão do numerário apreendido em
moeda nacional corrente e o depósito das correspondentes quantias em
conta judicial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 5o No caso da alienação de veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz
ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e
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controle a expedição de certificado de registro e licenciamento em favor do
arrematante, ficando este livre do pagamento de multas, encargos e tributos
anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em relação ao antigo proprietário.
(Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 6o O valor dos títulos da dívida pública, das ações das sociedades e dos
títulos de crédito negociáveis em bolsa será o da cotação oficial do dia,
provada por certidão ou publicação no órgão oficial. (Incluído pela Lei nº
12.694, de 2012).
Art. 4º lei nº 9.613/98 § 1o Proceder-se-á à alienação antecipada para
preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau
de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua
manutenção.
É o que recomenda o Conselho Nacional de Justiça (Recomendação CNJ nº
30/10):
Art. 1º, I - Aos magistrados com competência criminal, nos autos dos quais
existam bens apreendidos sujeitos à pena de perdimento na forma da
legislação respectiva, que:
(...)
c) observem, quando verificada a conveniência, oportunidade ou
necessidade da alienação antecipada, as disposições da lei processual penal
e subsidiariamente as da lei processual civil relativas à execução por quantia
certa no que respeita à avaliação, licitação e adjudicação ou arrematação e
da respectiva jurisprudência;
II - Aos juízos de primeiro grau e tribunais que, na medida do possível,
promovam periodicamente audiências ou sessões unificadas para alienação
antecipada de bens nos processos sob a sua jurisdição ou sob a jurisdição das
suas unidades judiciárias (leilão unificado), com ampla divulgação, permitindo
maior número de participações.
Trata-se de medida necessária à garantia da recomposição ao erário pelos
prejuízos decorrentes dos delitos praticados, fulcrada na probabilidade do direito e
potencial ineficácia da mera indisponibilidade pelos efeitos deletérios do tempo.
4) DA PRISÃO PREVENTIVA E SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES DA PESSOA JURÍDICA
A previsão legal contida no art. 312 do Código de Processo Penal aponta para a
possibilidade de aplicação de custódia cautelar quando envolva a necessidade
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de garantia da ordem pública. Veja-se que o estatuto processual penal,
reconhecendo a necessidade de resguardar valores sociais mais relevantes,
permite que haja a aplicação cautelar da medida extrema.
O fumus comissi delicti extrai-se da fundamentação exaustivamente lançada, com
menção a uma variedade espantosa de ilegalidades, com contornos associativos,
perene, estável, articulados.
Coletados os indícios mínimos de materialidade e autoria pelos elementos de
informação colacionados e que subsidiam a persecução extrajudicial, há que se
perquirir a presença de quaisquer dos fundamentos para sua decretação.
Trata-se, em verdade, de associação estruturada para o único fim de cometer
crimes. Pelo que já explanado, identifica-se, dentre outros, que o objetivo é a
obtenção de lucro por meio da implementação e comercialização de
loteamentos clandestinos e/ou irregulares, com destruição de florestas
consideradas de preservação permanente, primária e secundária, e danos diretos
às unidades de conservação, bem assim poluição do bioma local, já que os
loteamentos são desprovidos de infraestrutura mínima. Para garantia da
vantagem e impunidade pelos delitos praticados, lançam mão de falsificação
documental, pública e particular.
Durante a instrução preliminar constatou-se ainda que o grupo causa grande
temor na região, é formado por pessoas notoriamente “perigosas” (depoimento
de Nanci Farage de Souza, Tabeliã no Cartório Melgaço em Domingos Martins, pg.
554) e tem por objetivo único garantir o sucesso da empreitada delituosa
causando graves danos ao meio ambiente local, à fé pública, e ao patrimônio de
particulares lesados.
Mesmo após deflagrada a Operação BERG os investigados mantêm-se firmes no
propósito delitivo, ainda que por interpostas pessoas, conforme depoimento de
Mauro Cesar Hoffmam, técnico operacional no Cartório de 1º Ofício de Domingos
Martins (fls. 557).
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Lembremos ainda que JOSÉ PEDRO MONTEIRO GAIOTTI e EDGAR PEREIRA
MIRANDA lograram evadir-se quando do cumprimento da medida cautelar celular
temporária, prejudicando a instrução criminal. Verifica-se a necessidade da
medida acautelatória para a garantia da ordem pública, instrução criminal e
aplicação da lei penal, devendo ser aferida em concreto. Há, portanto, fortes
indícios de que os acusados, soltos, continuarão a delinquir, influenciarão na
colheita de provas e furtar-se-ão à aplicação da lei.
Ante o exposto, pugna o Ministério Público pela DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA dos acusados JOÃO BATISTA GAIOTTI, JOSÉ MONTEIRO GAIOTTI, PAULO
SÉRGIO MONTEIRO GAIOTTI, JOSÉ PEDRO MONTEIRO GAIOTTI, NILSON PIRES DA
SILVA, JÚLIO CESAR FERNANDES DA SILVA e EDGAR PEREIRA MIRANDA.
Quanto à JB – Imóveis, não obstante a impossibilidade física e jurídica de
segregação preventiva, admite-se a antecipação de medidas restritivas de direito
com os idênticos objetivos acautelatórios, notadamente para resguardar interesses
sociais relevantes ameaçados pela conduta reiteradamente típica.
Nesse sentido o art. 7º da Lei 9605/98 dispõe que:
“As penas restritivas de direito são autônomas e substituem as privativas de
liberdade quando:
II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que
a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do
crime.”
E o art. 8º prescreve que:
As penas restritivas de direito são:
III – suspensão parcial ou total de atividades;
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – GAECO
Promotoria de Justiça de Domingos Martins - ES
Ru Rua João Batista Wernersbach, n.º 51, Centro, Domingos Martins-ES - Fone: 027 3268 1528 - CEP- 29.260-000
Rua Luíza Grinalda, nº 377, Prainha, Vila Velha/ES (CEP 29.100-240) – Tel.: (27) 3145-7150 – www.mpes.mp.br
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Da análise dos laudos que instruem o procedimento extrai-se que os denunciados
constituíram pessoa jurídica exclusivamente para fomento de atividade ilícita, em
violação ao art. 170 da Constituição Federal, notadamente aos princípios da
função social da propriedade e da defesa do meio ambiente no exercício de
atividades econômicas. A postura dos denunciados, quando pouco, transparece
desprezo aos chamados direitos de terceira geração e aos normativos
consagrados no Estatuto da Cidade, em especial o desenvolvimento planejado e
sustentável.
Nesse estrito jaez, é fundamental que se tenha o amadurecimento e a
modernização da aplicação da lei penal para o fim de reconhecer nela efeitos
eminentemente preventivos, tais quais a suspensão das atividades daquele que,
açodada e indiscriminadamente, busca empoderamento financeiro às custas da
coletividade.
Trata-se, no caso, da aplicação do periculum in mora reverso, ou seja, risco social
e potencial, não conhecido em sua plenitude e extensão, pela postura dos
denunciados6:
Perigo de dano ambiental-Transindividual Perigo de dano econômico - Individual
Patrimonialidade intangível – não tem
preço de mercado
Preço de mercado – bens com preço
de mercado
Intangível Tangível
Intergeracional Geração presente
Veja que no sopesamento entre os perigos postos em confrontação impõe-se o
reconhecimento de que o perigo de dano econômico deve subordinar-se ao
perigo de dano ambiental dado o seu caráter intangível e sequer mensurável, em
função de que sua tutela tem repercussões não somente para a presente
geração como também para as gerações futuras.
6 Cfr.palestra do Ministro Antonio Herman Benjamin. In Panorama do Direito Ambiental Brasileiro.
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Ante o exposto, requer o Ministério Público a suspensão total das atividades da
pessoa jurídica JB-IMÓVEIS, na forma do inciso III do art. 8º da Lei 9605/98.
Pede e espera deferimento.
Vitória/ES, 18 de maio de 2016.