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Miniaturas com histórias Rui Albuquerque
Secção de colecionismo
2013
De entre as muitas competições automobilísticas que conheço, poucas são as que têm
mantido as características e o espírito iniciais durante décadas, até aos nossos dias.
Há uma prova que mantém um carisma muito especial e uma magia inexplicável. As suas
histórias permanecem e conseguem transmitir, mesmo a quem nunca esteve presente, como é
o meu caso, algumas das suas emoções; umas são de tristeza e dor, outras felizmente as mais
frequentes, de júbilo e celebração.
É a prova de resistência automóvel mais antiga do mundo: “24 Heures du Mans”!
Desenrola-se num circuito de 13.650 m, percorre parte da estrada nacional, junto à cidade
de Le Mans, capital da região Francesa de La Sarthe e utiliza também parcialmente o circuito
Bugatti. A organização da prova mantem-se desde 1923, ano em que teve início a primeira
edição desta mítica prova, sob a égide do A.C.O. (Automobile Clube de L’Ouest).
Para quem segue todos os anos em Junho, esta prova, falar de Mulsanne, Arnage, Tertre
Rouge ou Hunaudières, é tocar os acordes de uma música divinal. Estes nomes (para quem não
sabe) são locais do circuito, que pelas suas características, têm sido palco de episódios que
têm marcado cada prova, tornando-a diferente todos os
anos. Só por curiosidade, Hunaudiéres, é uma reta de
5km onde os protótipos podem atingir velocidades na
ordem dos 400Km/h, durante cerca de um minuto.
A prova tem a duração de 24 horas, e actualmente correm em simultâneo, quatro
categorias de automóveis:
LMP1 – São os protótipos mais evoluídos, que embora tenham algumas limitações em
termos de regulamento, permitem viaturas com tecnologias das mais
avançadas, nomeadamente em matéria de energia ou recuperação desta.
LMP2 - São protótipos menos evoluídos, de acesso ao topo da hierarquia. Poder-se-á
dizer que serve para que os pilotos mais ambiciosos possam adquirir
experiencia suficiente e poderem integrar um dia, equipas vencedoras.
LM GTE Pro - São carros derivados de viaturas de série, produzidas pelo menos em 100
unidades (25 se for um pequeno construtor).
LM GTE Am - São carros que têm que ter pelo menos um ano de idade, com características
idênticas aos GTE Pro (por conseguinte sem as últimas evoluções) utilizados
por pilotos privados e alguns endinheirados “Gentleman Drivers”. Estes carros
distinguem-se, sobretudo de noite, por terem os faróis com luz de cor amarela.
Miniaturas com histórias Rui Albuquerque
24 Heures du Mans
Algumas das minhas miniaturas são réplicas de carros que
competiram em La Sarthre, e por conseguinte, transportam
consigo, algumas histórias de diversos episódios que se
passaram nas boxes, na curva Mulsanne, na reta
Hunaudiéres, nas curvas Porsche, ou entre as curvas
Indianapolis e Arnage.
São várias as marcas que
têm conseguido protagonismo em Le Mans, o que lhes tem
acrescentado alguma notoriedade. Ao longo dos anos, marcas
generalistas, que inicialmente não faziam prever “vocação”
para este tipo de provas, como por exemplo, a Ford, Mazda,
Nissan, Peugeot, Toyota e Renault, já obtiveram resultados
surpreendentes. Também a Aston Martin, Alfa Romeo,
Bentley, BMW, Bugatti, Ferrari, Lancia, Maclaren ou Mercedes, tiveram aqui os seus sucessos.
A partir de 2000 a Audi tem sido a grande dominadora ao
ter alcançando onze vitórias, em treze possíveis. Em 2006 fez
história, ao vencer com o R10 TDI (primeiro veiculo Diesel a
vencer esta prova), em 2012, com o R18 e-tron, volta
novamente a fazer história, ao levar o primeiro veículo híbrido
(diesel-elétrico) à vitória em Le Mans.
A Porsche, que embora nos últimos anos não tem estado
presente na categoria rainha, e por conseguinte não ser
candidata a vencer a prova à geral, é no entanto a grande
recordista de vitórias, com dezasseis títulos alcançados.
Outras marcas já desaparecidas, como a Chenard &
Walcker, Delahaye, Lagonda, Lorraine-Dietrich, Matra,
Rondeau ou Talbot, tiveram também os seus momentos de
glória, ao subir o degrau mais alto do podium em Le Mans.
Miniaturas com histórias Rui Albuquerque
Pierre Levegh Juan Fangio Tazio Nuvolari Phil Hill Bob Wollek Michele Alboreto
Seria injusto falar de Le Mans sem lembrar aqueles que, ao longo destes noventa anos,
foram alguns dos protagonistas de histórias memoráveis, mas que infelizmente pereceram em
pista, e cujos nomes ficarão guardados nas nossas memórias, quais heróis de uma das mais
duras e emblemáticas provas motorizadas.
Um desses fatídicos acidentes aconteceu em 1955 e veio acrescentar uma página negra,
não só a esta prova, como a todo o desporto automóvel.
Hawthorn liderava a corrida à 34ª volta, com pouco mais de duas horas de prova. Levou até
à última gota o reservatório do seu Jaguar, quando a cerca de 100 metros da entrada para as
boxes, no último momento, para aí se dirigir, guinou para a direita, travando violentamente.
Um outro piloto mais lento, Lance Macklin conduzindo
um Austin-Healey, que tinha sido ultrapassado por
Hawthorn momentos antes, não teve alternativa se
não desviar-se para o meio da pista, sem ter tempo de
sinalizar devidamente a manobra. Nesse momento,
aproximavam-se dois Mercedes a grande velocidade,
de Levegh e Fangio, que vinham também em disputa
do 1º lugar. O inevitável aconteceu, pois Levegh a
pouco menos de 300Km/h não pôde evitar Macklin
que circulava a cerca de 180 Km/h. O embate fez projectar o Mercedes de Levegh que após um
voo de cerca de 50 metros foi atingir, fora da pista, uma estrutura de cimento. Sucederam-se
vários capotamentos, com algumas peças do carro a atingirem vários espectadores. O corpo
principal do Mercedes estava em chamas,
quando cai sobre pessoas que assistiam
impotentes, alguns em pânico, a todas estas
cenas aterradoras. Uma senhora, em chamas e
provavelmente já cadáver, foi levada para o
meio da pista, envolta numa faixa publicitária
por um policia que se encontrava perto do
local. Ao todo, 85 pessoas sucumbiram neste
acidente, tornando esta, a tragédia com mais vítimas, na história das competições automóvel.
É de realçar o forte empenho, por parte dos organizadores, em melhorar as condições da
pista, com introdução de “chicanes”, aumento de escapatórias, alargamento da pista, ou até
mesmo colocação de rails e vedações para protecção, quer dos pilotos, quer dos espectadores.
Também os construtores têm investido bastante em soluções de segurança para os pilotos.
Miniaturas com histórias Rui Albuquerque
Algumas curiosidades surgiram ao longo de todos estes anos de provas. Como por exemplo,
a situação embaraçosa para Juan Manuel Fangio, quando, na partida da célebre corrida de
1955, ao saltar para dento do carro (nessa época os carros estavam desligados, alinhados de
lado fazendo 45 graus para o sentido de corrida, e os pilotos do outro lado da pista, vinham a
correr e saltavam par dentro dos carros, começando depois a corrida), enfiou a perna da calça
na manete de velocidades, demorando algum tempo a desenvencilhar-se, o que lhe causou
algum atraso inicial em relação aos outros concorrentes.
Provavelmente nem todos sabem que a tradição
a que assistimos, na consagração do podium, no
final das corridas motorizadas, de verter o
“champagne” por cima das pessoas, surgiu numa
corrida em Le Mans, mais propriamente em 1967.
Dan Gurney e A. J. Foyt, tripulando um Ford GT 40
MK.IV venceram a prova, e quando estavam no
podium a festejar, ao verem as esposas, o patrão
Henry Ford II e alguns outros convidados juntamente
com jornalistas, tiveram
a reacção de
agitar as garrafas
de “champagne”
e, toca de borrifar
toda aquela gente que ali se encontrava. Era a
primeira vez que aquela prova se festejava com
“champagne”, quiçá por força do patrocínio da
conhecida marca Moët & Chandon.
Curiosamente numa outra grande prova
motorizada, as 500 milhas de Indianápolis, festeja-se
de forma diferente, com leite!
Todas as praxes têm uma origem com um motivo, e
todas terão certamente uma boa história para contar,
a do “champagne” no podium, começou assim!
Miniaturas com histórias Rui Albuquerque
Le Mans é uma das corridas onde todos os
pilotos gostariam de participar. Os portugueses
não são excepção e prova disso são as inúmeras
presenças Lusas. Seguramente foram mais de
uma dúzia, os portugueses que até hoje
correram em La Sarthre. De entre todos
destaco: Em 1960, Manuel Carlos Reis foi o
primeiro português a participar, conduzindo um Stanguellini
Bialbero 740 (nº55), Nicha Cabral, os irmãos Manuel e
Pedro Mello Brayner, Ni Amorim, Tiago Monteiro, Pedro
Matos Chaves, João Barbosa, Miguel Pais do Amaral são
muitos de entre os que ousaram correr entre os melhores.
Todos estes pilotos merecem a nossa admiração, contudo
permito-me destacar aquele que foi até hoje, o que
melhores resultados
conseguiu na pista de Le Mans, Pedro Lamy.
O Pedro já defendeu as cores de várias equipas, ao
volante de diversos carros: Porsche 911 GT1, Chrysler Viper
GTS-R, Mercedes Benz CLR, Chrysler LMP, Dallara LMP,
Aston Martin DBR9 (miniatura nº 009 da foto), Peugeot 908
HDI FAP (miniatura nº 8
da foto) e Chevrolet
Corvette C6 ZR1. Quanto a classificações, obteve resultados
magníficos, sendo sempre um piloto para disputar os
primeiros lugares das categorias e até mesmo da geral. Entre
outros, foi 3º GT1 (1997), 2º GT2 (1998), 3º em LMP 900 e 4º
na geral (2001), 2º em LMP1 e 2º na geral (2007), 2º LMP1 e
2º na geral (2011) e 1º em LM GT Am (2012).
As curiosidades e motivos de interesse relacionados com Le Mans são infindáveis.
Menciona-los a todos nesta apresentação, seria um trabalho fastidioso. Sem comentários,
deixo-vos mais algumas fotos das minhas miniaturas, todas à escala 1/43. Imaginem as
emoções que os verdadeiros carros proporcionaram, quer aos pilotos e suas equipas, quer aos
milhões de espectadores que os seguiram atentamente por todo o mundo.