mini bobina de tesla: uma proposta didática de atividade

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1 UNIVERSIDADE DO PORTO FACULDADE DE CIÊNCIAS MESTRADO EM ENSINO DE FÍSICA E DE QUÍMICA NO 3º CICLO DO ENSINO BÁSICO E NO ENSINO SECUNDÁRIO Mini bobina de Tesla: uma proposta didática de atividade experimental para o Ensino Secundário RELATÓRIO DE ESTÁGIO COMPONENTE DE FÍSICA Orientador: Professor Doutor Paulo Simeão de Oliveira Ferreira de Carvalho Aline Patriota Pereira UP201801652 2020

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UNIVERSIDADE DO PORTO

FACULDADE DE CIÊNCIAS

MESTRADO EM ENSINO DE FÍSICA E DE QUÍMICA NO 3º CICLO DO ENSINO BÁSICO E

NO ENSINO SECUNDÁRIO

Mini bobina de Tesla: uma proposta didática de atividade experimental para o Ensino

Secundário

RELATÓRIO DE ESTÁGIO – COMPONENTE DE FÍSICA

Orientador: Professor Doutor Paulo Simeão de Oliveira Ferreira de Carvalho

Aline Patriota Pereira

UP201801652

2020

2

“Se você quiser descobrir os segredos do Universo, pense em termos de energia, frequência e

vibração.”

Nikola Tesla

3

Resumo

Trazendo uma proposta de atividade experimental para o ensino secundário, especificamente para o

10º ano, o trabalho apresenta um projeto didático para a construção de uma mini bobina de Tesla e

seu uso demonstrativo para transmitir energia elétrica sem fios, acendendo uma lâmpada fluorescente

e na demonstração da gaiola de Faraday. Objetiva indicar uma forma de introduzir conceitos de

Eletricidade e Eletromagnetismo de forma qualitativa para estimular a curiosidade e o instinto

científico nos alunos.

Palavras-chave: Mini bobina de Tesla. Eletromagnetismo. Ensino secundário.

4

Índice

Noções básicas de eletromagnetismo

Eletricidade

Magnetismo

Eletromagnetismo

Bobina de Tesla

Mini bobina de Tesla

Enquadramento didático-curricular

Proposta de prática em contexto escolar

Construção da mini bobina de Tesla

Roteiro da atividade

Conclusões

Referências bibliográficas

Apêndices

05

05

06

07

09

10

13

14

16

18

20

21

22

5

Noções básicas de eletromagnetismo

Os conceitos físicos que explicam o funcionamento da mini bobina de Tesla fazem parte do

ensino do Eletromagnetismo, área que estuda os fenômenos associados aos campos elétricos e

magnéticos. Ao estudar Eletricidade, Magnetismo e Eletromagnetismo, a partir dos autores Halliday,

Resnick. (2008) e Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. (2005).

A carga elétrica (q) é uma propriedade intrínseca das partículas fundamentais. Geralmente um

átomo possui a mesma quantidade de cargas positivas e negativas, por isso há um equilíbrio e a carga

total é zero. Quando um átomo ganha ou perde um eletrão, a quantidade de tipos de cargas passa a

ser diferente, o átomo que inicialmente era eletricamente neutro, passa a ter uma carga elétrica

associada, essa carga é quantizada pela quantidade (n) de eletrões alterada multiplicada pela unidade

fundamental de carga elétrica (e):

𝑒 = 1,602.10−19𝐶 (1)

𝑞 = 𝑛. 𝑒 (2)

Chamamos de condutores os materiais em que as cargas elétricas se movem com facilidade e

não-condutores (isoladores), os materiais nos quais as cargas não se movem com facilidade. E

semicondutores, os materiais com condutividade intermédia entre os condutores e os isoladores. Já

os supercondutores são materiais onde as cargas elétricas se movem sem encontrar nenhuma

resistência.

Campo elétrico (→𝐸

) é um campo vetorial, em que há uma distribuição de vetores para cada

ponto em torno do objeto eletricamente carregado. O campo elétrico de uma partícula (átomo,

molécula, …) eletricamente carregada é "sentido” por outra partícula, afetando a partícula sem haver

um contato direto. É definido pela força eletrostática (→𝐹

) que age sobre a carga (q):

→𝐸

=→𝐹

𝑞

(3)

Corrente elétrica (i) é a taxa de variação com o tempo da carga (q) que passa por um ponto ou

região do espaço. Por convenção, o sentido da corrente elétrica é dado pelo sentido que as cargas

positivas se moveriam:

6

𝑖 =𝑑𝑞

𝑑𝑡

(4)

A corrente elétrica pode ser de dois tipos: corrente contínua (DC), que permanece constante

ao longo do tempo; ou corrente alternada (AC), em que a corrente elétrica varia de sentido no tempo.

Há alguns métodos de transformar uma corrente contínua em uma alternada e vice-versa. A corrente

alternada foi melhorada e inovada pelo Nikola Tesla, e é o tipo de corrente utilizada na bobina que é

alvo de estudo neste relatório.

Quando aplicamos uma diferença de potencial (V) entre dois pontos de um condutor e

medimos a corrente elétrica (i) resultante, o quociente dos valores dessas grandezas físicas permite

obter o valor da resistência elétrica (R) do condutor:

𝑅 =𝑉

𝑖

(5)

Um condutor introduz certa resistência no circuito é chamado de resistor. Numa certa

diferença de potencial, quanto maior a resistência menor a corrente elétrica.

Para haver um movimento de cargas num circuito elétrico é necessária uma diferença de

potencial entre as extremidades do condutor, para isso ser constante é utilizada uma fonte de tensão,

responsável por produzir uma força eletromotriz. A força eletromotriz (𝜀) é dada pelo trabalho (W)

realizado pela fonte para transportar uma carga elétrica (q) de um terminal ao outro:

𝜀 =𝑑𝑊

𝑑𝑞

(6)

Os campos magnéticos (𝐵) podem ser produzidos utilizando partículas eletricamente

carregadas em movimento. Por exemplo, pode-se produzir um eletroíman, construindo um

enrolamento de fio condutor em torno de um prego ou cilindro magnetizável e fazendo passar corrente

nesse fio. Ou pode-se produzir um íman permanente com o campo magnético intrínsico das partículas

elementares. O valor do campo magnético pode ser determinado a partir da força magnética (𝐹𝐵)

exercida sobre uma partícula de prova carregada eletricamente (q) e em movimento (v):

B =𝐹𝐵

ȁ𝑞ȁ𝑣

(7)

7

A força magnética que age sobre uma partícula carregada que se move com velocidade na

presença de um campo magnético é sempre perpendicular à velocidade e ao campo magnético. A

unidade do campo magnético no sistema internacional é o tesla (T).

Todos os aparelhos capazes de transformar outras formas de energia em energia elétrica são

classificados como fontes de energia elétrica, ou seja, são geradores de campo elétrico. Para gerar

energia elétrica há duas formas, fazendo variar o campo magnético ou usando a processos onde há

separação de cargas.

No caso de gerar energia elétrica a partir do uso de um campo magnético é necessário que o

campo magnético varie no tempo, assim gera um campo elétrico que agindo sobre os eletrões livres

do circuito produz uma corrente elétrica. Sendo explicado de acordo com a lei de Faraday, onde a

força eletromotriz (𝜀) induzida sobre o circuito é igual a variação do fluxo de campo magnético (𝛷𝐵):

𝜀 = − 𝑑𝛷𝐵

𝑑𝑡

(8)

O fluxo de campo magnético é a quantidade total de campo magnético que atravessa uma

determinada área e é dado por:

𝛷𝐵 = න𝐵→ .

𝑑𝐴ሱሮ

(9)

Também é possível conseguir a variação temporal de um campo magnético quando há um

campo magnético em torno de um fio com corrente e essa corrente é ligada e desligada, produzindo

campos magnéticos que variam no tempo.

No caso de um campo magnético produzido por uma corrente em uma bobina helicoidal

formada por espiras circulares muito próximas, onde o comprimento da bobina é muito maior do que

o diâmetro do fio, o campo magnético no interior da bobina é a soma vetorial dos campos produzidos

pelas espiras. A bobina se comporta magneticamente como um fio retilíneo enquanto as linhas de

campo do campo magnético são círculos quase concêntricos (figura 1).

8

Figura 1: Espiras de uma bobina com as linhas de campo magnético associado.

Fonte: Halliday, Resnick. (2008).

A força eletromotriz total induzida na bobina é dada por:

𝜀 = −𝑁 𝑑𝛷𝐵

𝑑𝑡

(10)

onde N é o número de espiras.

Na prática, para aumentar a força eletromotriz do sistema pode se colocar um número

máximo de espiras possíveis. A corrente induzida em uma espira segue um sentido onde o campo

magnético produzido pela corrente se opões ao campo magnético que induz a corrente, esse

conceito é conhecido como lei de Lenz.

O campo magnético criado pelo condutor percorrido por uma corrente pode ser calculado pela

lei de Biot-Savart. A derivada 𝑑 →𝐵

do campo magnético em um ponto gerado por um elemento de

corrente 𝑖𝑑 →𝑠

em uma distância (r) do ponto é dada pela expressão:

𝑑 →𝐵

=𝜇0

4𝜋

𝑖𝑑 →𝑠

𝑥𝑟^

𝑟2

(11)

O campo eletromagnético é um conceito físico que inclui o campo elétrico e o campo

magnético variando no tempo. As ondas eletromagnéticas são produto da formação do campo

eletromagnético. Maxwell descreveu os fenómenos eletromagnéticos em suas quatro equações,

juntamente com a lei de Faraday.

Lei de Faraday: 𝜀 =𝑑𝛷𝑚

𝑑𝑡 , força de origem eletromagnética que causa movimento nos iões

e nos eletrões livres.

9

Equações de Maxwell

James Clerk Maxwell unificou as leis de eletromagnetismo em 4 equações. Apoiado nas

descobertas anteriores, descreve o modo como os campos elétrico e magnético são produzidos por

distribuição de carga e correntes elétricas, mencionadas na tabela 1.

Lei de Gauss para a

eletricidade ∮ →

𝐸. 𝑑 →

𝐴=

𝑞𝑒𝑛𝑣

𝐸0

Relaciona o fluxo elétrico às cargas

elétricas envolvidas

Lei de Gauss para o

magnetismo

∮ →𝐵

. 𝑑 →𝐴

= 0 Relaciona o fluxo magnético às cargas

magnéticas envolvidas

Lei de Faraday ∮ →

𝐸. 𝑑 →

𝑠=

𝑑𝛷𝑠

𝑑𝑡

Relaciona o campo elétrico induzido à

variação do fluxo magnético

Lei de Ampére-Maxwell ∮ →

𝐸. 𝑑 →

𝑠= 𝜇0𝜀0

𝑑𝛷𝑠

𝑑𝑡+ 𝜇0𝑖𝑒𝑛𝑣

Relaciona o campo magnético induzido

à variação do fluxo elétrico à corrente

*supondo que não há materiais dielétricos ou magnéticos.

Tabela 1: Equações de Maxell.

Bobina de Tesla

A bobina de Tesla funciona como um transformador, ou seja, um instrumento que modifica

os níveis de tensão, aumentando, e corrente elétrica, diminuindo, e mantendo a potência quase

constante. Capaz de gerar uma tensão muito alta com grande simplicidade de construção, provocando

descargas elétricas.

Inventada pelo Nikola Tesla, em 1891, com a ideia de distribuir energia elétrica no mundo,

tem posição de destaque na história da eletricidade. Já teve uso em transmissores de rádios primitivos,

dispositivos de eletroterapia, geradores de alta tensão e, atualmente, como demonstração sobre

eletricidade em alta tensão.

10

Figura 2: Tesla e a bobina.

Fonte: https://oengenhosoeu.blogspot.com/2015/07/bobina-de-tesla.html

Conforme Duarte (2019), consiste em um transformador ressonante que produz altas

voltagens a partir de correntes elétricas alternadas de altas frequências. Formada por uma fonte de

alta tensão ligada a rede elétrica com um centelhador, um capacitor, uma bobina primária e uma

bobina secundária com conexão à terra. A fonte carrega o capacitor, que envia tensão para o

centelhador, que descarrega sobre a bobina primária. A energia oscila com baixa tensão e alta corrente

na bobina primária e é transferida à bobina secundária que apresenta oscilação de baixa corrente e

alta tensão, produzindo descargas elétricas no topo.

Mini bobina de Tesla

A proposta didática deste trabalho é de constituição de uma mini bobina de Tesla. Neste caso,

a mini bobina de Tesla é formada por uma bateria, um interruptor, um transístor, um resistor, uma

bobina primária e uma bobina secundária, de fácil construção e funcionando de modo seguro para o

utilizador. Também há outras montagens para mini bobina de Tesla, mas o modelo escolhido para tal

atividade utiliza os componentes citados. Pode ser usada como um instrumento no ensino de

eletromagnetismo, trazendo interesse e curiosidade aos fenómenos eletromagnéticos.

Com uma mini bobina de Tesla, é possível acender uma lâmpada fluorescente a uma pequena

distância da bobina, sem esta estar conectada a qualquer circuito. A proposta da mini bobina consiste

no circuito mostrado na figura 3, funcionando como um oscilador eletromagnético.

11

Figura 3: circuito da mini bobina de Tesla

Fonte: autoria própria

Seguindo o modelo apresentado, as funcionalidades dos elementos do circuito serão:

• Fonte de alimentação (pilha): fornece energia para o circuito.

• Interruptor: é um dispositivo utilizado para ligar ou desligar o circuito da mini bobina.

• Resistor (resistência): é um dispositivo utilizado para limitar a corrente elétrica em um

circuito. Por meio do efeito joule, ocorre no resistor uma transformação de energia elétrica

em energia térmica, que se liberta como calor. O resistor regula o fluxo de corrente elétrica

entre os pontos A e B do circuito.

• Transístor: é um dispositivo semicondutor, no caso é um transístor bipolar de junção composto

por junções NPN (negativo-positivo-negativo), funcionando como uma fonte de corrente

controlada por corrente, onde uma corrente aplicada a dos terminais do transístor controla a

corrente através dos outros terminais.

• Bobina: é um componente eletrônico que armazena energia em forma de campo magnético.

A mini bobina consiste em dois circuitos ressonantes, com frequências de ressonâncias muito

próximas ou iguais, para ter a máxima transferência de energia da bobina primária para a bobina

secundária, seguindo o mesmo princípio dos transformadores.

O transístor é uma peça chave do circuito. Constituído por um semicondutor com 3 terminais,

o emissor, a base e o coletor, no caso são respetivamente negativo, positivo e negativo. Sendo que as

regiões negativas são feitas de um semicondutor misturado com um elemento que tem um eletrão a

mais na camada de valência, para que formem bandas aumentando a banda de condução, podendo

12

aumentar o número de eletrões, formando uma região negativa no transístor. Da mesma forma pode-

se misturar o semicondutor com um elemento com um eletrão a menos na camada de valência,

resultando em novos níveis recetores próximo a banda de valência, fazendo que o eletrão não passe

para a banda de condução e gerando uma região constituída maioritariamente por lacunas, formando

uma região positiva no transístor. O transístor permite o controle do fluxo de corrente ou do nível de

tensão, funcionando como uma chave controlada, gerando pulsos de corrente. Dependendo da

corrente aplicada na base controla a circulação de corrente do coletor para o emissor.

Figura 4: representação de um transístor NPN

Fonte: autoria própria

Para entender o funcionamento da mini bobina, podemos pensar em 3 instantes. O instante

zero é quando a bobina está com o interruptor aberto, ou seja, está desligada, não há passagem de

corrente elétrica e nem formação do campo magnético.

A partir do momento que se fecha o interruptor, passa para o primeiro instante, onde começa

a ter passagem de corrente elétrica no circuito. Quando a corrente chega ao ponto A, como mostra na

figura 4, o fluxo de corrente elétrica opta pelo caminho de menor resistência por isso começa a ter

um fluxo de corrente pela bobina primária e chegando ao transístor pelo coletor, enquanto isso

também há um tanto de fluxo passando pela resistência e chegando ao transístor pela base, gerando

uma corrente de sentido contrário na bobina primária, produzindo uma oscilação da corrente,

transformando a corrente contínua em uma corrente alternada.

Como há movimento da corrente elétrica na bobina primária, induz a formação de um campo

magnético. E pelo fato de passar uma corrente alternada causa uma oscilação nesse campo magnético,

como um eletroíman. A bobina secundária, que tem uma alta resistência, é induzida um campo

elétrico pelo campo magnético da bobina primária, formando uma força eletromotriz com uma zona

positiva e outra zona negativa, perto de cada extremidade da bobina, seguindo a lei de Lenz. O valor

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da força eletromotriz é proporcional ao número de espiras da bobina, resultando em um aumento do

campo elétrico, mas diminuindo a corrente elétrica.

No segundo instante, na bobina secundária, como descrito pela lei de Lenz, aumenta a tensão

elétrica e os eletrões começam a passa pela bobina secundária e buscam sair pela extremidade solta,

gerando um fluxo de corrente. Isso causa um desvio de eletrões da base do transístor para suprir essa

diferença. Gerando uma queda do transístor, ou seja, aumenta a área desprovida de cargas livres nas

junções do transístor, causando um corte. Com isso há uma baixa de corrente na primeira bobina, que

diminui seu campo magnético, gerando uma diminuição do fluxo de corrente para a bobina secundária

até que chegue a zero. Nesse momento volta ao primeiro instante, que logo chega ao segundo instante

e ocorre isso constantemente, levando o transístor a uma alternação constante entre o estado de

saturação e o estado de corte.

Quando se aproxima uma lâmpada fluorescente à bobina, o campo magnético gerado pela

mini bobina de Tesla, induz uma diferença de potencial na lâmpada. Essa diferença de potencial,

induz a ionização do gás do interior da lâmpada, resultando em uma excitação dos eletrões e

consequentemente numa liberação de fotões, acendendo a lâmpada sem ter contato. A luz se torna

mais intensa com a proximidade da lâmpada à bobina secundária, por estar se aproximando da origem

do campo magnético. Em outras palavras, pela alta voltagem, o gás da lâmpada fluorescente se torna

um condutor, criando iões positivos e os eletrões tendem a mover em direção ao catião. Com o

movimento das partículas, os iões chocam entre si e como consequência há liberação de eletrões que

provocam a ionização de novos átomos. Quando os eletrões voltam ao estado fundamental emitem

radiação eletromagnética, luz.

Enquadramento didático-curricular

A atividade foi proposta para o 10º ano, mas muitos conceitos só seriam vistos em aula no 11º

ano, por isso a atividade teria um enquadramento mais qualitativo, estimulando uma curiosidade

sobre o eletromagnetismo.

O conteúdo se adequa com os documentos curriculares de referência de Física e Química A

da Direção-geral da Educação para o 10º e 11º anos, tanto no Programa de Física e Química A - 10.º

e 11.º anos - Curso científico-humanístico de Ciências e Tecnologia, nas Metas curriculares e nas

Aprendizagens Essenciais.

14

Na Física 10º ano se enquadra no domínio “Energia e fenómenos elétricos”, em que são

ensinados os circuitos elétricos, grandezas elétricas, corrente contínua e corrente alternada, bem como

a interpretação e distinção das grandezas elétricas.

Já na Física 11º ano, o conteúdo de eletromagnetismo é aprofundado e fenómenos associados

são estudados no domínio “Eletromagnetismo”. Do conteúdo programático do 11º ano constam os

campos elétricos e magnéticos, a lei de Faraday, os conceitos de gerador e transformador.

Apesar da teoria subjacente à bobina de Tesla e do seu funcionamento estar nos documentos

curriculares, não há uma atividade laboratorial proposta sobre eletromagnetismo nesses documentos.

Ressalto a importância da atividade experimental para a compreensão de conceitos abstratos no

ensino da Física e para motivar o estudo da disciplina.

Proposta de prática em contexto escolar

Com o objetivo de propor estratégias de ensino inovadoras e estimulantes, este trabalho

consiste na elaboração de uma atividade experimental e demonstrativa com alunos voluntários do 10º

ano do ensino secundário para exposição no dia do Laboratório Aberto (figura 5) a alunos do 9º ano

do ensino básico da Escola Secundária Inês de Castro, que seria executado no último dia do segundo

período de aula. Entretanto, o trabalho foi impossibilitado de ser realizado com os alunos devido a

pandemia de Covid-19, por isso segue uma proposta de prática em terreno escolar.

Figura 5: Divulgação do Laboratório Aberto do ano anterior

Fonte: disponibilizada pela professora Ana Sofia Armelim da Escola Secundária Inês de Castro

15

Foi selecionada para a atividade a construção de uma mini bobina de Tesla, que ficaria em

demonstração experimental, sendo utilizada para acender uma lâmpada fluorescente, mostrando o

fenómeno que Tesla propunha na tentativa de transmitir energia elétrica sem fios e detetando as ondas

eletromagnéticas. Apesar da escala reduzida, a técnica é a mesma para acender lâmpadas de néon e

globos de plasma. Demonstrado com a lâmpada fluorescente no Apêndice 1.

Como recurso didático permite uma discussão dos principais conceitos do eletromagnetismo,

que de forma lúdica seria explicada pelos alunos do 10ºano para os alunos do 9ºano.

Figura 6: Aplicação da mini bobina de Tesla em uma lãmpada fluorescente

Fonte: autoria própria

Também pode ser utilizada para demonstração do efeito da blindagem eletromagnética,

também conhecida como gaiola de Faraday. Utilizando uma rede metálica para constatar que quando

a lâmpada está dentro desta rede, não acende. Pode ser utilizada qualquer caixa metálica que seja

maior do que a lâmpada, reutilizando algo que tenha disponível na escola ou em casa, como por

exemplo uma lata de biscoitos. Demonstrado no Apêndice 2.

Figura 7: Exemplo de blindagem eletromagnética

Fonte: autoria própria

16

Construção da mini bobina de Tesla

Para a construção da mini bobina de Tesla é necessário:

1. Fio de cobre esmaltado de 1,2mm de espessura,

2. Fio de cobre esmaltado 60/40,

3. Cano ou rolo de papel,

4. Resistor 22kΩ,

5. Transístor 2N 2222A,

6. Interruptor,

7. Bateria 9V com conector,

8. Caixinha,

9. Lâmpada fluorescente,

10. Solda e cola-quente.

Figura 8: Materiais para construção da mini bobina de Tesla

Fonte: autoria própria

17

Para construir a mini bobina de Tesla foi utilizado o circuito representado na figura 3, que

também está representado na figura 10 de forma mais didática. Para fazer a bobina secundária, foi

feito um furo em cada ponta do rolo de papel (reutilizado), depois inserido o fio de cobre esmaltado

60/40 em um furo, com certa de 10 cm de fora, e enrolado até chegar ao outro furo. Essa é a parte

que demanda mais tempo, pois é preciso fazer com o cuidado para o fio não se sobrepor.

Em seguida foi feita a bobina primária com o fio de cobre esmaltado de 1,2mm, dando 3 voltas

um pouco mais largas do que o diâmetro da bobina secundária para poder colocar em sua volta sem

tocar, deixando cerca de 3 cm para cada ponta.

Foram feitos 3 furos na tampa da caixinha, dois para as extremidades da bobina primária e um

para o fio da bobina secundária. Também foi feita uma abertura na lateral para o encaixe do

interruptor. Após encaixar as bobinas, foram colocadas com cola quente para fixar e depois foi

encaixado o interruptor na lateral.

Para finalizar foram feitas as ligações seguindo o circuito, utilizando a solda. Para uma melhor

aparência e também uma fácil visualização, o circuito foi guardado na caixinha.

Não é necessário que os fios tenham esta medida exata, mas é importante que o fio da bobina

secundária seja o mais fino possível para ter uma maior quantidade de voltas sem ter uma grande

altura. Também pode-se utilizar um cano de PVC ou qualquer outro material cilíndrico no lugar do

rolo de papel. A caixinha de madeira também não é essencial, pode-se escolher que o circuito fique

visível, ou uma caixa de acrílico, papelão, entre outros materiais que sirvam de suporte. Sublinho

que todo o material necessário para construção é de baixo custo, e fácil de ser encontrado em lojas de

eletrónica.

Figura 9: Modelo da mini bobina de Tesla

Fonte: autoria própria

18

Figura 10: Circuito didático da mini bobina de Tesla

Fonte: https://thebeakerlife.com/mini-tesla-coil-bee1f930fd78

Roteiro da atividade

Para a montagem da mini bobina e para a compreensão de seu funcionamento seriam

utilizadas 4 horas/aula no laboratório. Como no final do segundo período do 10º ano ainda não

aprenderam os conceitos sobre eletricidade, que são vistos no terceiro período, o uso do contexto

histórico no desenvolvimento da eletricidade seria utilizado para introduzir a atividade.

A aula abordaria a eletricidade e seus avanços de forma sucinta e focaria nas descobertas mais

importantes desde Tales de Mileto, passando pelos grandes cientistas do começo do século XIX e

seus progressos. Até chegar no final do século XIX, na época da conhecida “Batalha das Correntes”

(figura 11) na qual Nikola Tesla, com a corrente alternada, e Thomas Edison, com a corrente contínua,

disputavam para defender e desenvolver cada corrente respetivamente. A explicação ressaltaria que

a ciência não é feita de grandes gênios, mas sim de uma construção coletiva do conhecimento, com

erros e acertos.

19

Figura 11: Ilustração da Batalha das Correntes

Fonte: https://www.davidjkent-writer.com/2017/03/13/tesla-and-edison-the-war-is-lost/

Após os alunos estarem familiarizados com algumas denominações e conceitos da

eletricidade, seria apresentado o circuito para a montagem da mini bobina de Tesla, figura 3 e figura

10, projetando no quadro e os materiais necessários para tal seriam disponibilizados para a montagem

em pequenos grupos. A montagem das bobinas e do circuito seria feita com o auxílio da professora.

O material necessário para a montagem da mini bobina pode ser adquirido por um baixo custo

em loja de eletrónica. Depois dos modelos da mini bobina de Tesla estarem prontos, cada grupo iria

testar se acende ou não uma lâmpada fluorescente. Após a confirmação da lâmpada acender e se

intensificar com a proximidade da bobina, iriam testar a gaiola de Faraday.

Seguidamente, pretende-se entregar uma ficha de trabalho com algumas questões relacionadas

com a mini bobina de Tesla, com a possibilidade de discussão dentro dos pequenos grupos para

formular as respostas da ficha. Logo depois, haveria uma discussão generalizada sobre as respostas

para que haja um consenso entre os alunos e que todos entendam, com o intuito de explicarem

qualitativamente como a bobina funciona para os alunos do 9º ano no dia do Laboratório Aberto.

Com questões como: “Qual a diferença entre corrente contínua e corrente alternada?”; “O que é a

bobina de Tesla?”; “Como a lâmpada acende sem ter contato com a bobina?” e “Por que varia a

intensidade luminosa da lâmpada quando varia a distância da bobina?”. A ficha de trabalho está no

Apêndice 3.

Para auxiliar na explicação e na visualização do princípio da Lei de Faraday, onde a corrente

alternada gera um campo magnético variável, que pode induzir a formação de um campo elétrico,

será utilizada uma simulação do PhET – “Laboratório de Eletromagnetismo” nas funções

20

“Eletromagnetismo” e “Transformador” (figura 12). Salientando a diferença que na mini bobina de

Tesla não há o contato físico da lâmpada com a bobina, mas há a variação do campo magnético. Para

o auxílio da demonstração da simulação está no Apêndice 4 um roteiro de exploração da simulação.

Figura 12: Simulação “Laboratório de Eletromagnetismo” do PhET

Fonte: https://phet.colorado.edu/pt/simulation/legacy/faraday

Conclusões

Foi apresentada uma proposta didática para complementar o ensino de Eletromagnetismo,

com uma atividade experimental na construção de uma mini bobina de Tesla e o uso para acender

uma lâmpada fluorescente. Com o intuito de acrescentar uma atividade prática para conceitos

previstos pela Direção-geral da Educação para o Ensino Secundário.

Com a abordagem experimental do ensino de eletromagnetismo é suposto inspirar os alunos,

provocando um espírito investigativo e uma participação na construção dos conceitos utilizados para

entender o funcionamento da mini bobina. Do mesmo modo, ressalto que há uma abordagem

histórico-filosófica sobre o Tesla e seu contributo para a evolução do eletromagnetismo que auxilia

na compreensão de tais conceitos, como também traz a temática sobre a construção da ciência.

O experimento tem uma alta capacidade de reprodução, independente do ambiente escolar,

por ser uma atividade que necessita de recursos de baixo custo, por vezes reutilizado, e por ser de

fácil montagem. Infelizmente foi impossibilitada de ser implementada com os alunos durante o ano

letivo 2019/2020, devido a pandemia relacionada com a Covid-19.

21

Referências bibliográficas:

Halliday, Resnick. (2008). Fundamentos de Física – Eletromagnetismo, Vol. 3. Rio de Janeiro: Livros

Técnicos e Científicos Editora Ltda.

Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. (2005). Física 3: Eletromagnetismo. São Paulo: Editora

da Universidade de São Paulo.

Duarte, I. (2019). Geração e detecção de campos eletromagnéticos por meio da bobina de Tesla:

uma proposta de ensino a partir de organizadores avançados ausebelianos. Brasília: UnB.

Chiquito, A., Lanciotti Jr., F. (2000). Bobina de Tesla: dos circuitos ressonantes LC aos princípios

das telecomunicações. Revista Brasileira de Ensino de Física. 22, 1.

Resistor. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Resistor.

Centelhador. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Centelhador.

Transístor. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Trans%C3%ADstor.

Manual do mundo. (s.d.). Faça uma mini bobina de Tesla Caseira – Manual do Mundo. Disponível

em: https://www.youtube.com/watch?v=w2bZGKNwB4Y.

PhET. Laboratório de Eletromagnetismo. Disponível em:

https://phet.colorado.edu/pt/simulation/legacy/faraday

Direção-geral de Educação. Documentos curriculares. Disponível em:

http://www.dge.mec.pt/fisica-e-quimica-0

22

Apêndice 1: vídeo – demonstração: mini bobina de Tesla acendendo a lâmpada fluorescente

https://youtu.be/958_8nIXSAU

23

Apêndice 2: vídeo – demonstração: mini bobina de Tesla e a gaiola de Faraday

https://youtu.be/iCKWlqU7Nqk

24

Apêndice 3: Ficha de trabalho

Física e Química A – 10º ano Ficha de trabalho

Nome: ______________________________________________ Turma: _____ nº: ______

Mini bobina de Tesla

25

Material Procedimento

• Fio de cobre esmaltado de 1,2mm de espessura,

• Fio de cobre esmaltado 60/40,

• Transístor 2N 2222A,

• Resistor 22kΩ,

• Interruptor,

• Bateria 9V com conector,

• Cano ou rolo de papel,

• Caixinha,

• Lâmpada fluorescente,

• Solda e cola-quente,

• Lixa.

1. Construir a bobina secundária: furar o rolo perto de cada extremidade, deixar cerca de 10cm do fio do lado de dentro e passando pelo furo enrolar o fio de cobre fino na parte de fora do rolo, com o cuidado para não sobrepor e não ter espaço, até o próximo furo e deixar cerca de 10cm sobrando para dentro do furo.

2. Construir a bobina primária: dar 3 voltas no fio de cobre mais grosso de forma a ficar um pouco mais largo do que a bobina secundária, deixando cerca de 3cm para cada ponta.

3. Lixar as pontas dos fios da bobina, de modo a tirar o esmalte do fio. 4. Encaixar as bobinas nos furos da tampa da caixinha e colar com cola

quente para fixar. 5. Encaixar o interruptor no furo lateral da caixinha. 6. Montar o circuito da mini bobina como mostra na figura acima, soldando

as ligações entre os fios, COM MUITO CUIDADO COM A SOLDA, deixando o interruptor e as bobinas por último.

7. Terminar de montar o circuito ligando ao interruptor e as bobinas, já dentro da caixinha.

8. Testar.

Observações:

Questões:

1- Qual a diferença entre corrente contínua e corrente alternada?

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2- O que é a bobina de Tesla?

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3- Como a lâmpada acende sem ter contato com a bobina?

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4- Por que varia a intensidade luminosa da lâmpada quando varia a distância da bobina?

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Apêndice 4: Roteiro de exploração da simulação “Laboratório de Eletromagnetismo”

ROTEIRO DE EXPLORAÇÃO DA SIMULAÇÃO

“LABORATÓRIO DE ELETROMAGNETISMO”

A simulação será utilizada para demonstração pelo professor em sala de aula, projetando a tela no quadro.

Link da simulação: https://phet.colorado.edu/pt/simulation/legacy/faraday

Funcionalidades:

Na barra superior da simulação pode-se escolher entre cinco opções diferentes.

Para Eletromagnetismo

No menu lateral direito pode-se

• Alterar entre corrente contínua (DC) e corrente alternada (AC).

• Alterar a quantidade de voltas da bobina (entre 1 e 4 voltas).

• Escolher o que fica visível: campo magnético; bússola; medidor de campo e eletrões.

Na barra inferior pode-se pausar ou dar ‘play’, e quando pausado pode passar quadro por quadro.

Para Transformador

No menu lateral direito, do Transformador, pode-se

• Alterar entre corrente contínua (DC) e corrente alternada (AC).

• Alterar a quantidade de voltas das bobinas (entre 1 e 4 voltas).

• Escolher o que fica visível: campo magnético; bússola; medidor de campo e eletrões.

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• Escolher entre uma lâmpada e um voltímetro como indicador da segunda bobina.

• Escolher a percentagem do tamanho da bobina secundária em relação ao tamanho da primária.

Na barra inferior pode-se pausar ou dar ‘play’, e quando pausado pode passar quadro por quadro.

Demonstrações:

1. Eletromagnetismo: corrente contínua DC, 0V – não há corrente elétrica, sem fluxo de eletrões.

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2. Eletromagnetismo: corrente contínua DC, 10V, bobina com 4 voltas – a corrente elétrica que passa

na bobina induz um campo magnético a sua volta.

3. Eletromagnetismo: corrente contínua DC, 10V, uma volta de fio – passagem de corrente elétrica,

induz o campo magnético.

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4. Eletromagnetismo: corrente alternada AC, sem corrente elétrica – não há movimento de eletrões.

5. Eletromagnetismo: corrente alternada AC, com passagem de corrente elétrica – a corrente

alternada induz um campo magnético, em movimento no tempo, como descrito pela lei de Faraday.

Consegue-se perceber pela variação do sentido da bússola e dos indicadores do campo magnético.

Quando a corrente está positiva, o campo magnético está em uma direção, quando ela está

negativa, o campo magnético está no sentido contrário.

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6. Eletromagnetismo: corrente alternada AC, com corrente elétrica nula – no breve instante, entre a

corrente positiva e negativa, em que não há corrente elétrica, também não há campo magnético.

✓ Nas demonstrações do Transformador ressaltar que é diferente da mini bobina de Tesla porque na mini

bobina a lâmpada não está conectada.

7. Transformador: corrente contínua DC, 10V – há corrente elétrica, que induz um campo magnético

fixo no tempo, esse campo magnético não induz um campo elétrico na segunda bobina por isso a

lâmpada não acende.

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8. Transformador: corrente alternada AC, com corrente elétrica – como visto no “Eletromagnetismo” a

corrente alternada induz um campo magnético que varia no tempo, esse campo induz um campo

elétrico na segunda bobina, na qual estabelece uma corrente elétrica capaz de acender a lâmpada.

9. Transformador: corrente alternada AC, alteração na quantidade de voltas da bobina primária –

verifica-se o aumento da quantidade de picos de intensidade de luz por tempo na lâmpada com o

aumento de voltas da bobina ligada a corrente.