mineração na amazônia: estado, empresas e movimentos sociais

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Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais www.forumcarajas.org.br São Luís/Maranhão/Brasil 2010

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Page 1: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Mineração na Amazônia:Estado, Empresas e Movimentos Sociais

www.forumcarajas.org.br

São Luís/Maranhão/Brasil2010

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Centro dos Direitos das Populações da Região de Carajás - Fórum Carajás

Programa: Siderurgia na Amazônia- Projeto “Políticas Públicas e Sustentabilidade da Região de Carajás”.

Coordenação Executiva do Fórum Carajás:Antonio Gomes de Morais, Edmilson Pinheiro e Jean Carlos Santos

Conselheiros: José Maria Araújo, Izabel Santos Lisboa, José Raimundo Rodrigues, Carlos Augusto Velo-so, Maria Carmélia Costa Borges, Fábio Pierre Fontenelle Pacheco, Alberto Cantanhede Lopes, João Fon-seca dos Santos, Raimundo José Pereira Ferreira, Josefa Andreza Alves, Maria da Graças Costa Martins, Saulo Pastor dos Santos, Elton Carlos Araújo Alves e Diarmondes Alves Paixão.

Apoio: Misereor

Textos: Rogério Almeida, Marluze Pastor; Padre Dario Bossi, Padre Edilberto Sena, Gilvandro Santa Brígida, Raimundo Gomes, Manoel Paiva, Airton Pereira, José Batista Afonso.

Capa: Carlos Latuff (www.latuff2.deviantart.com)

Projeto Gráfico: Linna di Castro

Organização: Rogério Almeida (http://rogerioalmeidafuro.blogspot.com/)

Colaboração: Cristiane Rocha / Edmilson Pinheiro (Secretario Executivo)

Fotos: Rogério Almeida, Nils Vanderbolt, Guto, Murilo Santos, Roberto K-Zau, Gilvandro Santa Brígida, Arquivo Fórum Carajás

Fórum CarajásAvenida João Pessoa, Q. 09, Casa 19- Filipinho

CEP: 65040-000 São Luís/MA/BrasilSite: www.forumcarajas.org.br http://twitter.com/forumcarajas

http://territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com/ http://reentrancias-ma.blogspot.com/

E-mail: [email protected] Fone/fax: (098) 3249-9712

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Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Contrário me dê licença para contar essa história

Impactos e resistências em Açailândia, profundo interior do Maranhão.

Itupanema em meio ao projeto Albras - Alunorte: o desencantamento do mundo.

Energia limpa na ponta e desgraça na fonte, resultado de mega hidrelétricas na Amazônia.

Geração de energia na Amazônia caso de Estreito em questão.

Grandes Projetos na Amazônia: mineração em Juruti e a produção de energia.

Grandes projetos no município de Barcarena: conflitos sociais e ambientais

A exploração mineral e suas consequências na Amazônia brasileira

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O extrativismo tem regido a econo-mia na Amazônia. O ciclo mais re-cente é o mineral, iniciado a partir

da década de 1950 do século passado, no estado do Amapá, quando o mesmo ainda tinha o status de ter-ritório.

A exploração do manganês na Serra do Navio foi ponta pé inicial. A experiência durou apenas cin-co décadas. Ficou apenas o buraco, literalmente.

A exploração mineral no Amapá, considera-da a primeira na Amazônia, foi ativada pela empresa estadunidense de Daniel Ludwig, a Bethlehem Ste-el Company em sociedade com o empresário Augus-to Trajano de Azevedo Antunes, dono da Indústria e Comércio de Mineração S/A (ICOMI).

O ciclo da mineração ganhou maiores pro-porções na Amazônia a partir da região de Carajás; com a presença da Vale na extração do minério de ferro na década de 1980, no sudeste do Pará, é com as atividades de prospecção inauguradas no regime militar.

O processo da transição democrática des-cortinou outros cenários na economia, política e na sociedade civil brasileira. Ainda que prepondere o constrangimento econômico e político em processos de definição de instalação de grandes projetos, há alguns avanços no campo normativo.

No entanto, tais avanços - se tratados assim - carecem de aperfeiçoamento ou uma refundação. Para a instalação de grandes projetos o empreende-

dor é obrigado a atender uma série de exigências. Como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Re-latório de Impacto Ambiental (Rima), que devem ser apresentados em audiências públicas. Sob um grave problema, a assimetria de forças entre as parte en-volvidas: grandes empreendedores versus comuni-dades tradicionais.

O processo é marcado por uma infinidade de limites, que passa pela incorreção e manipulação dos EIA/RIMA, não publicização das informações e a cobertura da mídia marcada pela parcialidade. O que denuncia a fragilidade da democracia nacional, que não universaliza o acesso ao direito. E, que às vezes, exibe as nuances autoritárias do Estado.

E por falar em Estado, ele ainda é o princi-pal indutor da economia. Se no período da ditadura o Banco da Amazônia (Basa) e a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) confi-guraram-se com as principais instituições, nos dias atuais o protagonismo recai sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ladeado pelo Banco Interamericano de Desenvolvi-mento (BID).

A atuação da instituição tem ultrapassado a fronteira nacional. Advoga-se que a mesma exerce um papel estratégico em escala continental. E as agências multilaterais são o centro de gravidade na definição de políticas de desenvolvimento para o Brasil e a América Latina.

Observa-se ainda outras diferenças nas polí-ticas para a Amazônia. Na ditadura imperaram os

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pólos de produção, madeira pecuária e extrativismo mineral. Enquanto hoje despontam os eixos de in-tegração, transporte multi-modal, comunicação e infraestrutura.

É creditado a Eliezer Batista, ex-executivo da Vale, a construção do mapa das riquezas naturais na América do Sul. Batista é pai de Eike, festejado como o novo bilionário nacional. Obra do acaso?

Os levantamentos de Batista foram encomen-dados pela Corporação Andina de Fomento (CAF). A CAF é um dos agentes do projeto de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA).

Do conjunto de 10 eixos de integração, qua-tro se destacam, por suas riquezas naturais e pos-sibilidades de conexões: o Amazonas, A Hidrovia Paraná-Paraguay, o Capricórnio e o Andino. O obje-tivo central, prima em facilitar a circulação de mer-cadorias.

O eixo do Amazonas compreende os seguin-tes países: Colômbia, Peru, Equador e Brasil. Visa criar uma rede eficiente de transportes entre a bacia Amazônica e o litoral do Pacífico, com vista à ex-portação.

No mundo do Brasil, alguns se arriscam em pontuar que o Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC) é uma miniatura do IIRSA.

Há algo de novo o ‘front’?

Parece que sim. O aprofundamento da pres-são sobre as riquezas naturais, a organização das grandes empresas em consórcio, em particular para a construção de hidrelétricas. No Maranhão, Pará e Tocantins surgiram inúmeras frentes de extrativis-mo mineral. No Pará há registros da amplificação do extrativismo que ultrapassa a celebrada mina de Carajás.

A oeste do estado o município de Juriti acaba de entrar no clube dos municípios minerários. Em Juruti a empresa estadunidense, Alcoa explora bau-xita. Matéria prima para a produção de alumínio. Num processo de instalação marcado por capítulos nebulosos, que exigiu a mediação do Ministério Pú-blico Federal (MPF). Dois ex-secretários de meio ambiente do estado respondem a processos por con-ta de não atenderem a recomendações do MPF.

Já no sudeste a Vale inicio a exploração de

cobre no município Canaã dos Carajás, e outros mi-nérios em São Félix do Xingu, Xinguara, Ourilândia do Norte e tantos outros. No município de Barcare-na as fábricas de produção de alumina e alumínio da Vale passam por uma ampliação da produção, que dialoga com o aumento da produção de energia da hidrelétrica de Tucuruí e a construção de outras usi-nas hidrelétricas e mesmo termoelétrica. A energia é o principal insumo das empresas de eletro-intensivo, como as de produção de alumínio.

A construção de termoelétrica no município de Açailândia, oeste do Maranhão, a presença da empresa Suzano Celulose, a construção da Ferrovia Norte Sul, bem como a construção da Hidrelétrica de Estreito constituem elementos recentes que re-configuram a paisagem física, econômica e humana da região. Assim como em São Luís, capital do Ma-ranhão, os portos experimentam uma ampliação.

Não se sabe exatamente o que vem ocorren-do na região. Há informações fragmentadas compar-tilhada nos espaços de encontros e desencontros que as redes de organizações sociais proporcionam.

É nesse sentido que nasce o projeto em aglu-tinar neste livro artigos que atualizem as dinâmicas nos municípios de São Luís, Açailândia e Bacabeira no estado do Maranhão; e no município de Barcare-na e regiões sudeste e sudoeste, Carajás e Tapajós/Xingu no Pará.

MINERAÇÃO NA AMAZÔNIA: ESTADO, EMPRESAS E MOVIMEN-TOS SOCIAIS reúne sete trabalhos que buscam pontuar elementos que podem ser considerados no-vos, e outros nem tanto assim, como a condição co-lonial. Condição econômica baseado no extrativis-mo.

Os trabalhos iformam que empresas pressio-nam sobre a terra e os recursos naturais. Indicam os impactos dos investimentos para as áreas e popula-ções afetadas, e questionam o papel do Estado e as ações que as organizações de base promovem para a ampliação de direitos.

A Engenheira Agrônoma Marluze Pastor recu-pera a ação do Fórum Carajás no acompanhamento das frentes de mineração na Amazônia, em particu-lar na região de Carajás. O padre Dario Bossi pontua as questões que afetam o município de Açailândia, e

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oeste do Maranhão, em particular sobre o pólo de gusa, os passivos sociais e ambientais. E as lutas e mobilizações da comunidade de Pequiá. Além de explicar o nascimento da iniciativa Justiço nos Tri-lhos.

Raimundo Gomes, Airton Pereira e José Ba-tista Afonso investigam as recentes tensões no sul e sudeste do Pará, em particular da Vale e as formas de resistência das comunidades tradicionais. O pa-dre Edilberto Sena, do município de Santarém, faz uma leitura que ajuda a entender os novos grandes projetos a oeste do estado, em diálogo com as ma-cro-políticas. Trata-se de uma peça esclarecedora.

Manoel Paiva e Gilvandro Santa Brígida, ex dirigentes sindicais no município de Barcarena, es-clarecem sobre o embate entre as grandes empresas que operam na cidade. Entre elas a Alunorte e Al-bras, controladas pela Norsk Hidro (Noruega). Não escapam às análises dos autores a Imerys Rio Capim, Pará Pigmentos e a Rio Campi Caulim. E mesmo os

projetos em andamento, como a construção de uma termoelétrica e a Companhia de Alumina do Pará (CAP). Rogério Almeida, jornalista, aborda o po-lêmico projeto de extração de bauxita no município de Juruti, no oeste do Pará e a construção da hidrelé-trica de Estreito, no município homônimo, no oeste do Maranhão.

Os autores dos artigos conhecem com proxi-midade as realidades aqui tratadas. Apesar de serem realidades ocorridas em estados diferentes estão en-laçadas por questões comuns, como a subordinação da terra ancestral à lógica do capital, a partir da pos-se privada em detrimento da coletiva.

A obra denuncia passivos sociais e ambien-tais, o poder das empresas e a coerção que o capital acaba provocando para atropelar os marcos legais. E ainda as mobilizações das comunidades ancestrais e de assessoria. As tensões registradas e os constran-gimentos para a aprovação dos empreendimentos evidenciam a delicada situação da democracia na-cional.

Mesa: O conflito entre a Vale e o Meio Ambiente no Fórum Social Mundial, Belém-PA / 2009 (foto: Fórum Carajás)

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Marluze Pastor, Engenheira Agrônoma, MSc em Agroecologia é consultora do Fórum Carajás1

A liberdade é para todos nós Não tem censura para calar nossa voz 2

A história do Fórum Carajás, iniciada em1992, é resultado de iniciativas adotadas pela socie-dade civil, para intervir nas políticas, nos projetos e plantas industriais causadores de danos sociais e ambientais. Na época, Fernando Collor de Melo era presidente do Brasil, Edson

Lobão e Jader Barbalho eram governadores, respectivamente, do Maranhão e do Pará. Os conflitos de terra nesses estados recrudesciam, entre 1985 e 1995. Neste período foram computadas pela Comissão Pastoral daTerra( CPT) 45 mortes no campo no Maranhão e 67 no Pará. A concentração fundiária estava no seu patamar mais alto, conforme Índice de Gini3 , em torno de 0,85 %; os recursos naturais eram utilizados para acelerar o processo de enriquecimento de grupos econômicos. A região e Carajás era área atrativa para investimentos. Várias siderúrgicas( convidadas pela CVRD) já estavam instaladas: Companhia Siderúrgica do Pará (COSIPAR), (1988) em Marabá a Siderúrgica Viena, (1988) e Vale do Pindaré, (1988) Açailandia.

1 Este texto teve a colaboração de Edmilson Pinheiro, Secretario Executivo do Fórum Carajás.2 Música de Zé Lopes, samba enredo da Favela do Samba em homenagem a César Teixeira.3 Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade, quanto mais próximo de um maior a desigualdade

Contrário me dê licença para contar essa história

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Em Barcarena já estavam a Albrás, (1985) Alunorte, (1978), em São Luís a ALUMAR e a ELETRONOR-TE, em Tucuruí. Havia também um grande número de fazendas e madeireiras.

Nesse contexto o Grupo de Trabalho Ama-zônico (GTA) e outras entidades do Maranhão e do

Pará, desencadearam um processo de articulação de grupos sociais atingidos pelas políticas e projetos. A partir daí surgiu a proposta de organizar um seminá-rio internacional sobre os grandes projetos na região, precedido de um conjunto de estudos para permitir uma intervenção qualificada do Movimento Social. Esse processo foi nominado de Seminário Consulta Carajás.

Naquele período eram poucas as organiza-ções ambientalistas na região, que se concentravam no Sul e Sudeste do Brasil, atuavam na proteção de ecossistemas naturais, porém havia um distancia-mento dessas organizações com outros movimentos, as ambientalistas ignoravam as questões sociais e as demais organizações não incorporavam a qualida-de ambiental nos discursos. Eram as ambientalistas compostas por universitários, funcionários/as de ór-gãos públicos.

O Fórum se estrutura enquanto rede socio-ambiental envolvendo sindicatos urbanos e rurais,

pesquisadores/as e organizações internacionais de igrejas e ambientalistas, ONGs, associações de moradores, grupos de jovens, grupos de mulheres, organizações de pescadores/as, de professores, se-ringueiros e quebradeiras de coco entre outras ex-trativistas.

A primeira ação foi conhecer os projetos, pois era necessário possuir conhecimentos para intervir, discutir o desenvolvimento da região, saber como eram as relações entre a indústria e meio ambien-te, analisar seus impactos. Assim uma série de estu-dos, pesquisas e treinamentos foram realizados com a participação de professores e pesquisadores das Universidades do Pará e do Maranhão e ligados aos movimentos sociais. A pesquisa precisava ser ime-diatamente útil, os/as pesquisadores/as participavam das reuniões com informações e análises dos dados levantados. Assim, pesquisas científicas tiveram o propósito apoiar na discussão dos problemas loca-lizados, bem como na promoção da capacidade de planejar, de tomar decisões, fortalecer o sentimento de pertencimento e poder de negociação.

A pretensão era intervir nas políticas públi-cas e privadas, mudar o curso da história, relacionar justiça social com meio ambiente, mas, era preci-so capacitar as organizações e as lideranças. Foram

Fonte: documento do Fórum Carajás

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criados grupos de estudos para a construção de um referencial teórico e alternativas para região. As or-ganizações foram habilitadas para participar de conselhos de gestão, comissões, acordos de negociação; foram disseminados conhecimentos e informações sobre os impactos na região utilizando inclusive rádios comunitárias, teatro, música, artes visuais, cursos, oficinas, encontros regionais, nacionais e intencionais. Foram elaborados livros, mapas, revistas e diversos textos (Verificar em referências bibliográficas).

As relações internacionais O desafio era grande, foi necessário identificar e conquistar parceiros em órgãos públicos, estimular

o apoio de legislativos, promover audiências públicas. Assim as relações com as organizações internacio-nais especialmente com organizações da Alemanha foram fundamentais para iniciar o processo de interlo-cução e reconhecimento do Fórum, por parte do setor público e privado.

Um primeiro projeto foi encaminhado a Pão para o Mundo (BROT FÜR DIE WELT- PPM)4, e Misereor5 com a interveniência da Coordenadora Ecumênica de Serviços (CESE). Naquela oportunidade, a Conferência Conjunta Igreja e Desenvolvimento (Gemeinsame Konferenz Entwicklung und Kirche-GKKE), organização das igrejas alemãs, que já atuava com programa de diálogo iniciou um novo progra-ma, tendo como centro de atividades a Tanzânia e Brasil sobre justiça internacional e de proteção ao meio ambiente com grupos representativos da sociedade civil da Alemanha, e, no caso do Brasil, com indústrias siderúrgicas alemãs e entidades populares da região de Carajás. Aqui se buscou estabelecer e ampliar re-lações com organizações internacionais, avançar nas relações Norte-Sul, nos acordos internacionais e na responsabilidade global.

Além das organizações da Igreja da Alemanha o Fórum desenvolveu outras relações internacionais com o GREEPEACE, FIAN, KOBRA, Cooperação Técnica Alemã (GTZ), IG Metal, International Rivers Network, PARC-FASE 6.

Primeira fase da articulação, o Seminário Consulta Carajás De 1992 até a realização da Mesa Redonda Internacional, em 1995, foram realizados encontros e

seminários, oficinas, estudos voltados para a realização de um evento que discutisse os projetos e políticas públicas para região com o Estado, empresas, consumidores internacionais, trabalhadores das empresas, grupos e comunidades atingidas. Vale destacar que o Projeto Ferro Carajás era o carro chefe dos projetos.

4 agência de cooperação da Alemanha5 agência de desenvolvimento da Igreja Católica da Alemanha6 O Greenpeace é uma organização global e que atua na defendesa do meio ambiente; a FIAN (“Food First Information & Action Network), é uma organização internacional de direitos humanos que trabalha pelo direito a alimentação; a KOBRA ( Kooperation Brasilien) é uma rede de pessoas e grupos de países de língua alemã, de solidariedade ao Brasil; a Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ), é uma empresa pública de direito privado, de cooperação internacional; o IG Metall, é sindicato de metalúrgicos da Alemanha; International Rivers Network (IRN), é uma rede internacional de guardiões dos rios; o PARC-FASE é um grupo de Pesquisa e intercâmbio com o Japão.

Quadro 01: Principais eventos na primeira fase do Fórum Carajás

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A Mesa Redonda Internacional (MRI)

Na MRI realizada em maio de 1995 em São Luís/MA, participaram 174 pessoas, autoridades fe-derais e estaduais de órgãos ambientais, do planeja-mento, e da questão agrária; parlamentares brasilei-ros e alemães; entidades eclesiásticas brasileiras e alemães; Banco Mundial; representantes de comu-nidades indígenas; lideranças de entidades sindicais rurais e urbanas; organizações não governamentais brasileiras e alemães. A MRI foi precedida por um cuidadoso processo de organização no que concerne a logística do evento (hospedagem, transporte, re-gimento interno do evento), como na formação dos participantes do movimento social, coordenação e mediação dos trabalhos.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) rea-giu não participando e incentivando a não participa-ção de empresas e de setores da Igreja Católica.

Carvoeiros 7

A usina converte em aço,a paisagem e em cinzas,

o coração dos homensO lingote é o filho aceso

da usina que oculta no seu fogo a lógica do deserto.

Segunda fase: as cadeias de produçãoA partir da avaliação da MRI o Fórum pas-

sa se identificar como Fórum Carajás e se empenha em discutir as políticas a partir de temas regionais, incentivando a incorporação de aspectos de susten-tabilidade ambiental e justiça social nas lutas nas atividades das entidades. Elencou como prioridades para atuação as cadeias de produtos identificadas na primeira fase como as mais impactantes: ferro; alumínio; madeira nativa/carvão; eucalipto/celulo-se. Na avaliação do Fórum realizada 1997 e 1998 aponta dois eixos temáticos como unificadores das diversas lutas e temas que se tornaram programas de trabalho:

• Agricultura familiar e grandes projetos, envolve as problemáticas rurais. Os destaques nes-se programa foram a questão do eucalipto e a

7 Versos do poema carvoeiro de Pedro Tierra

implantação de fábrica de celulose na região tocan-tina, a exploração de madeira nativa e a expan-são da sojicultura. Aqui se destaca a iniciativa das organizações do Sul do Maranhão, coordenadas pela Associação Camponesa (ACA) e o programa da movimento sindical coordenado pela Federação dos Trabalhadores(as) na agricultura do Estado do Maranhão (FETAEMA) sobre os impactos da soji-cultura;

• Privatização e desemprego, esse programa aglutinou problemáticas urbanas, tais como impac-tos sociais, ambientais e econômicos causados pela privatização e terceirização, mineração e siderurgia. A privatização de estatais, terceirização dos serviços e desemprego nas áreas de produção do alumínio e ferro motivaram estudos, audiências públicas na Câmara Federal dos Deputados e Câmara dos Depu-tados do Pará. Com relação as injustiças ambientais, o Fórum denunciou os danos ambientais causados pelo vazamento de óleo no rio Gapara, pela CVRD e, acompanhou a comunidade São Raimundo do Ga-para em maio de 2000. Por outro lado o contínuo e rápido desmatamento para a produção de carvão vegetal no corredor Carajás e as relações de traba-lho nas carvoarias levou a realização de Encontro de carvoeiros e carvoeiras em 2002 e acompanhamento da categoria e dos impactos ambientais.

• Os caminhos do alumínio, programa que trata sobre a cadeia do alumínio realizou seminários internacionais no Brasil e na Alemanha, intitulados

“Diálogo Internacional sobre Alumínio: Responsabi-lidade Global da Extração ao Consumo” sobre im-pactos no setor do alumínio. O seminário no Brasil foi realizado no Praia Mar Hotel, São Luis/MA, no período de 23 a 26 de março de 1999. Teve como objetivo a discussão, com os setores envolvidos, dos problemas causados pela exploração da bauxita, ge-ração de energia pela usina hidrelétrica de Tucuruí e produção de alumina e alumínio, com a intenção de encontrar soluções para os problemas sócio-am-bientais gerados, com a elaboração de um projeto de desenvolvimento regional sustentável. Nesse grupo temático o destaque foi a criação sindicato de quí-micos de Barcarena e participação desse sindicato no processo.

• Barragens e energia. Estava proposto construção de 14 barragens no Araguaia Tocantins. Como ação de resistência, o Fórum juntamente com outras organizações da região criaram Campanha

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11 Fórum Carajás outubro de 2010

Contra as Barragens do Araguaia e Tocantins atra-vés de reuniões, debates, levantamento e sistemati-zação de estudos sobre as barragens, produção de material impresso, seminários regionais, seminário interestadual em Imperatriz/MA e ato público em Itaguatins/TO.

• A mulher e os grandes projetos. Esse pro-grama “Mulher e os Grandes Projetos: impactos dos grandes projetos na vida das mulheres’’, objetivava identificar as condições de vida das mulheres frente aos grandes projetos, com ênfase para os aspectos da saúde, trabalho, salário e meio ambiente;bem como dar visibilidade aos trabalhos desenvolvidos por essas mulheres nas empresas, nas organizações e nas comunidades onde vivem; promover a cria-ção de novas organizações de mulheres eviden-ciando suas atividades. O estudo sobre “Mulher e os Grandes Projetos: Diálogo sobre Gênero e Meio Ambiente na Região do Carajás”, realizado junto às mulheres ao longo de oito meses nas Regiões Eco-lógicas Litoral/Baixada, Pré-Amazônia Maranhense e Chapadas do Sul do Maranhão e Sudeste do Pará participaram 237 mulheres e 10 homens em oito ofi-cinas realizadas nos municípios de São Luís, Impe-ratriz, Açailândia, São Raimundo das Mangabeiras, Parauapebas, Presidente Juscelino, Presidente Mé-dici, Rosário e Marabá. Após a realização de ofici-nas regionais em nove municípios, foi promovido o Seminário Filhas da Terra, Gênero e Meio Ambien-

te na Região Carajás, em dezembro, em São Luís onde participaram 131 pessoas, sendo 96 mulheres e quatro homens trabalhadoras/trabalhadores rurais, de 32 municípios do Maranhão e do Pará, represen-tantes do poder Executivo e legislativo Municipal, representantes da MAMA, dos Conselhos Estadual da Condição Feminina do Pará e do Rio de Janeiro, bem como representantes de órgãos financiadores internacionais CESE, DFID, ELO.

• O Programa “BOCA DE FORNO”, jo-vens rurais, arte e o meio ambiente. O Programa in-cluiu parcialmente os Estados do Maranhão e Pará envolvendo diretamente 279 pessoas dos seguintes municípios: São Luís, comunidades de Taim, Rio dos Cachorros, Porto Grande, Limoeiro e Vila Ma-ranhão; Itapecuru-mirim; Santa Rita; Morros; Presi-dente Juscelino; Açailândia; Imperatriz; Cidelândia; São Pedro da Água Branca; João Lisboa; Senador La Roque; Eldorado; Marabá; Tucuruí e Parauape-bas. Perfazendo um total de nove oficinas, no perío-do de maio a novembro de 2000, com jovens filhos/as de pescadores/as e agricultores/as. Nas oficinas buscou, nas expressões, artísticas fazer compreen-der a Natureza, os impactos ambientais dos grandes projetos bem como incentivou atitudes promotoras da sustentabilidade e autolimitação. O Programa incentivou os projetos Camurim I de formação de jovens em beneficiamento de pescado em 2000, e, o Projeto Camurim II de criação agroflorestal de pei-xes e crustáceos, em 2001.

Evento Local Data Audiência Pública da CELMAR, levantamento cartorial das áreas compradas pela CELMAR contestação de áreas adquiridas ilegalmente

Imperatriz - MA 1997

5° Encontro Interestadual Parauapebas - PA 07.e 08.09.96 Audiência com Banco Mundial e IBAMA Brasília - DF Dezembro 96 Seminário Internacional ”Pequeno Produtor e Grandes Projetos”

Balsas - MA 09 a 01.05.97

Encontro “Grito de Tucuruí” Tucuruí - PA 14.03.97 Seminário sobre os Grandes Projetos no Baixo Parnaíba

Brejo - MA 03.e 04.05.97

Audiências com deputados federais e assessores Brasília - DF Agosto/Setembro 97 Diálogo Internacional sobre Alumínio: Responsabilidade global da extração ao consumo

São Luís - MA Março de 1999

“Seminário ‘Gênero e meio ambiente” São Luís - MA Dezembro de 1999 Seminário Carajás: Mineração e Desemprego Parauapebas - PA 14, a 16.04. 2000

Reunião sobre grilagem no Parque do Mirador

Imperatriz - MA Fevereiro de 2001

Seminário sobre agricultura familiar Açailândia - MA Dezembro de 2001 Produção de vídeo sobre a expansão da soja em Vão das Salinas

Balsas - MA Maio de 2001

Oficina alternativas de sobrevivência Escola Sindical de Balsas

Balsas - MA Junho de 2001

Seminário sobre meio Ambiente e Cidadania Capinzal - MA Junho de 2001 Oficina sobre arte, cidadania e meio ambiente Taim - MA Jul/dez 2001 Oficina sobre “noções de organização, projetos Barcarena - PA Março de 2001 Encontro de Trabalhadoras em Carvoarias São Luís - MA Fevereiro de 2002 Oficinas durante o II Fórum Social Mundial sobre as cadeias de produção de soja e alumínio

Porto Alegre - RS Fevereiro de 2002

Campanha em defesa da criação da reserva extrativista das ilhas do lago de Tucuruí

Seminário outro lado da ilha: impactos no interior da ilha de são Luís, alternativas e organização das comunidades

Taim - São Luís - MA dezembro de 2002

Oficina a cadeia de produção da soja Fórum Social Panamazônico

Belém - PA

Pará 2002

2003

Quadro 2: Principais eventos na segunda fase do Fórum Carajás

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Fórum Carajás outubro de 2010 12

Estrutura organizativa

Uma estrutura político-administrativa par-ticipativa, as tomada de decisões, desde encontros estaduais e interestaduais, reuniões da coordenação e grupos temáticos eram discutidas por todas as en-tidades-membro.

Os Núcleos facilitavam a socialização das questões e a realização de atividades:

• Núcleo de Tucuruí participam organizações de Tucuruí, Novo Repartimento, Tailândia, Breu Branco,

• Núcleo de Marabá participam organizações de Marabá, Parauapebas, Eldorado, Paragominas, Curionópolis,

• Núcleo de Imperatriz participam organizações de Imperatriz, João Lisboa, Estreito, Cidelândia,

• Núcleo de Açailândia participam organiza-ções de Açailândia, Buriticupu e Santa Luzia.

A Coordenação era representada por todas as regiões e categorias de organizações integrantes do Fórum:

• Associação Agroecológica Tijupá;• Associação de Mulheres do Bico do Papagaio/

TO (ASMUBIP); • Associação em Áreas de Assentamento no Es-

tado do Maranhão (ASSEMA); • CÁRITAS Regional de São Luís/MA; • Centro de Educação e Cultura do Trabalhador

Rural (CENTRU) Imperatriz/MA;• Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria

Sindical e Popular (CEPASP) Marabá/PA;• Coordenadoria Ecumênica de Serviços

(CESE) Salvador/BA;• Cooperativa Agroextrativista de Paraupebas/PA ,

• FASE/MARABÁ; • Federação do Tocantins Araguaia (FATA)

Marabá/PA;• Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de

Metais Básicos (METABASE) Carajás/PA; • Movimento Nacional dos Pescadores (MO-

NAPE); • Movimento Interestadual de Quebradeiras de

Coco Babaçu (MIQCB); • Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia e

Imperatriz (SIMETAL); • Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão (SI-

METAL);• Sociedade Maranhense dos Direitos

Humanos; • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Açailândia; • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Balsas; • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Imperatriz/MA; • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de João Lisboa; • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Novo Repartimento; • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Parauapebas; • Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de Tucuruí.

Intercâmbios• Viagem de comitiva alemã para a região de

extração do minério de ferro em Carajás, 17 pessoas, representantes dos sindicatos alemães de mineração, setor químico e energético (IGBCE); do setor meta-lúrgico (IG Metall) da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), representantes da GKKE e asses-sores do Fórum Carajás;

Page 13: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

13 Fórum Carajás outubro de 2010

• Seminário envolvendo delegação alemã e 38 dirigentes sindicais brasileiros do setor mineral (CNTSM-CUT) e do setor siderúrgico (CNM-CUT), em Belo Horizonte, Minas Gerais, na sede da Escola Sindical 7 de Outubro. Participaram 10 representan-tes do Fórum Carajás;

• Programa EXPO 2000 del proyecto‚ salud, seguridad y medio ambiente en el local de trabajo’ Alemanha, con la participação de 30 brasileiros, 7 espanhois, 7 suecos e 15 alemãs. Participaram 7 sin-dicalistas do Fórum Carajás, em outubro de 2000;

• Conferência: “concepção de uma cadeia da soja sustentável nas relações Brasil/Alemanha”. Em Loccum na Alemanha, em maio de 2001. Participa-ram três representantes do Fórum Carajás;

• Intercâmbio internacional para um desen-volvimento sustentável (Arbeits- und Studienaufen-thalte in Lateinamerika – ASA) objetiva promover troca de experiências entre organismos não gover-namentais do Brasil e da Alemanha. Jovens alemães participam de algum projeto no Brasil (Fase Sul) um profissional brasileiro desenvolve uma atividade complementar na Alemanha (Fase Norte). O tema principal do intercâmbio é energias renováveis e aprendizagem global em Alemanha e Brasil. Tema priorizado para 2010 – alternativas energéticas e aprendizagem global na Alemanha e Brasil.

Salve a Terra8

Salva, Salvaterravives o teu tempo de guerra

não construístes armasplantastes cupuaçu

Salva, Salvaterra refinaria te ocupou

o teu povo sente dorpau d’arco cai a flor

Salva, SalvaterraQuem salvará tua terra?O que será do teu povo?

Salva Terra, Salva Terra, Salvaterra

8 Versos da poesia de Zeca Pereira ou Zeca do Sindicato de Rosá-rio sobre a comunidade Salvaterra de Rosário que foi desapropriada pelo governo do Maranhão para implantação de refinaria Premium da Petrobás

Terceira fase

A implantação, ampliação e/ou consolidação de refinarias de petróleo, termelétricas, aciária, ex-ploração de minas de bauxita e de ouro e outros empreendimentos que exaurem as riquezas e poten-cialidades locais, desterritorializa povos e comuni-dades, entretanto, a oferta de empregos desmobiliza grupos e movimentos o que tornam esse momento um desafio maior.

Por outro lado novas organizações se incor-poram ao Fórum bem como outros temas, destaca-se as organizações das regiões de cerrado, da Baixada Maranhense e de Barcarena no Pará, que por sua vez passaram a influenciar as prioridades. O Fórum passa a participar de outras organizações e/ou espa-ços de discussão como Fórum da Amazônia Oriental, Conselho Nacional de Recursos Hídricos,Conselho Estadual de Direitos Humanos , Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável, Rede de Interven-ção em Polítcas Públicas, Rede Manguemar Brasil, Redmanglar internacional , Campanha Justiça nos Trilhos, Fórum do Baixo Parnaiba, Rede de Tecno-logia Social, Fórum Estadual de Mulheres, Fórum em Defesa das Populações do Cerrado Sul Mara-nhense, Associação Brasileira de Ong`s, Rede de Agroecologia do Maranhão, Associação Nacional de Agroecologia, Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Fórum Brasileiro de Ong´s e Movimentos Sociais, Movimento Reage São Luís, Movimento SalvaTerra e Comissão Justiça nos Trilhos.

Dentre os principais programas trabalhados pelo Fórum Carajás,destacamos:

Expansão da sojicultura e a fronteira agrí-cola. Programa de educação ambiental, monitora-mento e alternativas para as comunidades afetadas pela expansão da sojicultura, seguem os projetos :

• Sonhem: Monitoramento e educação am-biental nos Cerrados Maranhenses, projeto desen-volvido em comunidades da bacia do Rio Parnaíba, no município de Loreto/MA;

• Alternativas para o Cerrado, projeto em de-senvolvimento pela ACA na região dos Gerais de Balsas;

• Ciranda Agroecológica, projeto desenvolvi-do no município de Mata Roma com jovens qui-lombolas;

Page 14: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Fórum Carajás outubro de 2010 14

• Chapada Limpa: desdobramento de uma proposta de conservação ambiental para o Baixo Parnaíba, em desenvolvimento na Reserva Reserva Extrativista Chapada Limpa, no município de Cha-padinha;

• Comunidade Tradicional e a Sustentabilida-de do Extrativismo do Bacuri, projeto em desenvol-vimento no município de Urbano Santos;

• Arte e Meio Ambiente: educação ambiental para comunidades quilombolas, projeto em desen-volvimento no município de Mata Roma;

• O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, em desenvolvimento em toda a região do Leste Maranhense, parceria com SMDH, CCN e FDBPM.

Mineração e siderurgia. O aumento das carvorias para abastecimento do Pólo Siderúrgico Carajás, acarretou novas mudanças ambientais tornando os povos e comunidades tradicionais espe-cialmente vulneráveis. A exemplo dos danos causa-dos pelas 13 empresas do Pólo Siderúrgico Carajás que consomem 7.314.404 ton/ano de carvão e, conse-quentemente, 13.194.949,46 ton/ano de lenha (IBA-MA, 2005). O Fórum acompanha e denuncia essas atividades e seus danos.

Participou do Movimento Reage São Luís, contra a implantação de um pólo siderúrgico na Ilha de São Luís, inclusive, com oficina no Fórum Social Mundial; participa da coordenação da Campanha Justiça nos Trilhos; coordena o Movimento Salva Maranhão, de denúncia de irregularidades e mobi-lização social sobre os projetos que não oferecem

equilíbrio entre crescimento econômico, equidade social, diversidade cultural e a proteção ambiental.

Revitalizando os Manguezais, objetiva dar visibilidade aos ecossistemas manguezais, tornando os moradores/as e organizações que vivem nos en-tornos, capazes de manejar, proteger e impedir a destruição dessas florestas remanescentes. Entre os projetos destacou -se o de Comunicação e Educa-ção Ambiental que tinha como finalidade elaborar propostas e fomentar discussões sobre questões ambientais com comunidades afetadas pelos grandes projetos no interior no interior da Ilha de São Luís durante os anos 2004 e 2005. Desenvolve atualmente o Projeto Bequimão na região da Baixada Maranhense.

Rosa Negra, é um projeto do Programa Mu-lher e os Grandes Projetos: impactos dos grandes pro-jetos na vida das mulheres, objetiva apoiar as alterna-tivas de renda e de organização de mulheres rurais possibilitando a manifestações culturais reforçando e reafirmando a identidade negra e novas relações de gênero.

Barragens e Energia, o Fórum acompanha a implantação de barragens na bacia do Araguaia/Tocantins e Parnaíba denunciando irregularidades e produzindo materiais de apoio as comunidades atin-gidas. Tem assento na Câmara Técnica de Análise de Projeto (CTAP) do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) intervindo para a melhoria dos pla-nos das bacias hidrográficas das regiões hidrográficas Bacia do Araguaia-Tocantins, Parnaíba e Nordeste Ocidental.

Quadro 3: Principais eventos na terceira fase do Fórum Carajás

Page 15: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

15 Fórum Carajás outubro de 2010

Page 16: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

O Fórum Carajás superou o modelo tradi-cional de organização política, na abrangência e diversidade, congrega grupos e organizações populares e sindicais, entidades eclesiais nacionais e parceiros internacionais.

A cultura e arte vitalizam todos os processos, facilitando a compreensão das problemáticas e en-volvendo artistas das regiões. Em a Filha da Chuva, compilação de poesias que mostrava como o desen-volvimento afeta os sentimentos, as emoções e os valores das pessoas; em Percussão em Movimento, utilizou-se variados sons através de instrumentos e dos próprios corpos para mostrar ao público sons da natureza e dos ambientes em que vivem. Em outros espetáculos como o Recital dos Carvoeiros, o Seminário “Rosa Negra” Mulheres Rurais, Danças e Tambores, homenageava os atingidos e fazedoras de cultura popular. O espaço Cumbuca de Saber é um

espaço informal de discussão político/cultural onde foram lançados livros e CDs, no programa Boca de Forno e no concurso “Artístico e Literário Fórum Carajás” o Fórum buscou despertar a criatividade artística nos/as jovens filhos/as de pescadores/as e agricultores/as.

O Fórum é uma teia sócio-ambientalista de caráter permanente que assume o enfrentamento de questões específicas e gerais. Proporciona um maior entendimento das relações regionais, urbanos e rurais, integração nas diversas lutas existentes na região e incorporação da proteção ambiental como uma dimensão relevante. Causa impacto na opinião pública, influência organismos estatais de meio ambiente, legislativos, pesquisadores e o empre-sariado.

Os materiais específicos como relatórios, car-tilhas, vídeos, fotos e mapas são usados como mate-rial didático em escolas de ensino fundametal e médio, como material de apoio a trabalhos de parlamentares e pesquisa acadêmica.

Uma conclusão

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Fórum Carajás outubro de 2010 16

Page 17: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

17 Fórum Carajás outubro de 2010

Material produzido pelo Fórum Carajás

ALMEIDA, A. W. B. A Guerra dos Mapas. Belém: Falangola, 1994. 330 p.

ALMEIDA, R.H. & BORGES M.R. Águas sem barragens. São Luís: Fórum Carajás, 2003

ALMEIDA, R.H.(org.). Alumínio na Amazônia: saúde do trabalhador, meio ambiente e desenvolvi-mento social. São Luís: Fórum Carajás. 2009

_____________Araguaia-Tocantins, Fios de uma História camponesa. Belém: Fórum Carajás/CPT Balsas/COOSPAT. 2006.

ANDRADE, M.P, A Destruição do Cerrado no Ma-ranhão, Margusa , Marflora e o Grupo João Santos no Baixo Parnaíba . São Luís: Fórum Carajás, 1993

CARNEIRO, M.S, Projetos Minerais e Metalúr-gicos na Área do Programa Grande Carajás. São Luís: Fórum Carajás, 1994

_______________Agricultura familiar e os gran-des projetos no Maranhão na década de 90. São Luís: Fórum Carajás.1999.

CEPASP. Carajás: Desenvolvimento ou destrui-ção? EXTRA – O que é o Seminário Consulta. Ma-rabá/PA: Fórum Carajás. 1995

BORGES, M. R.B. O Cerrado é chão, escrever é fazer ver. São Luís: Fórum Carajás. 2008.____________ Cerrado e suas lutas. São Luís: Fó-rum Carajás. 200?.

BORGES, M. R (org) Escritos sobre águas. São Luís: Fórum Carajás. 2003.

BORGES, M. R & Pinheiro, U. Excessos do Etanol. São Luís: Fórum Carajás, 2008.

FÓRUM CARAJÁS. O Pequeno Produtor e os Grandes Projetos. São Luís: Fórum Carajás/ACA, 1997.

________________Carajás: Desenvolvimento ou destruição. São Luís: Fórum Carajás,1992

________________CARAJÁS: Mesa Redonda In-ternacional- Relatório de Trabalho, São Luís: Fórum Carajás, 1995

_____________Campanha pela Reserva Extrati-vista de Ciriaco. São Luís: Fórum Carajás,

_____________Carta para Alain J. P. Belda, Pre-sidente da Alcoa. São Luís: Fórum Carajás/DGB, 2001_____________Carta do Fórum Carajás em Soli-dariedade aos Krikati em apoio a demarcação do território. São Luís: Fórum Carajás,

_____________Centro de Referência de Saúde do Trabalhador. São Luís: Fórum Carajás, _____________Diálogo Internacional sobre Alu-mínio: Responsabilidade global da extração ao con-sumo. São Luís: Fórum Carajás/ Fórum Carajás Alemão, 1999.

______________Carajás: Mineração e Desemprego, Paraupebas/PA: FórumCarajás, 2000.

______________Filhas da Terra, gênero e meio ambiente na região de Carajás. São Luís: Fórum Ca-rajás, 2001

______________Processo Avaliativo do Fórum Ca-rajás - conclusões, orientações e recomendações. São Luís: Fórum Carajás, 2001

______________Informativo Veredas, nº. 01, 02, 03 e 04, 2004

______________Informativo Fórum Carajás, 1996 a 2005

____________ Informativo Baixo Parnaíba Territó-rio Livre nº.01_____________Informativo Monitorando a Bacia do Rio Munim, 2007

_____________Jornal Chapada Limpa nº.01

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Page 18: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Fórum Carajás outubro de 2010 18

______________Jornal On Line

____________Revista Mineração na Amazônia (no prelo)

FURTADO, C.A. Texto Sobre Renda, São Luís: Fó-rum Carajás, 2002

GONÇALVES, F. C. (org.) Carajás: Desenvolvi-mento e/ou destruição? Relatórios de pesquisa. São Luís: CPT/Fórum Carajás, 1995.

LORIEN, A. Subsídios para criação de Reserva Extrativista no Cerrado Nordeste Maranhense. São Luís: Fórum Carajás. 2008;

MIRANDA, E.A Algumas considerações sobre os organogramas da CVRD. Belém: Fórum Carajás

MIRANDA E.A et. al. Diagnóstico do Mercado de Trabalho do Município de Parauapebas. Belém: Fórum Carajás. 2001NEVES Impactos da indústria do alumínio sobre a Saúde do Trabalhador: o caso da ALUMAR em São Luís-Ma. São Luís: Fórum Carajás,

SOUSA. M. M. F A Implantação da industria de celulose no Maranhão: a Celmar na Região Tocan-tina. São Luís: Fórum Carajás .1994

STUDTE,M. A Expansão da Fronteira Agrícola e a Agricultura Familiar no Cerrado Maranhense. Berlim: USP/,Fórum Carajás/Universidade Ber-lim.2008

www.forumcarajas.org.br

http://territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com

http://reentrancias-ma.blogspot.com/

http://twitter.com/forumcarajas

http://www.justicanostrilhos.org/

Material consultado

ARTICULAÇÃO SOJA HOLANDA. Um outro olhar sobre a soja, tradução Marianne Scheffer, 2006

CARNEIRO, M. S. Do Latifundiário Agropecuário à Empresa latifundiária Carvoeira. In: COELHO, Maria C.N.; COTA, Raymundo G. (org.) 10 anos da Estrada de Ferro Carajás. Belém: UFPA/NAEA, 1997.

CESE. Amazônia Mito e Desencanto. Salvador: CESE, 1995

COELHO, Maria Célia Nunes. COTA, Raymundo Garcia. (orgs.). 10 anos de Estrada de Ferro Cara-jás. Belém: UFPA/NAEA. Supercores, 1997

ESTERCI, N. Escravos da Desigualdade: Um estu-do sobre uso repressivo da força de trabalho hoje. Rio de Janeiro: CEDI l994.

MONTEIRO, M. A. Siderurgia e Carvoejamen-to na Amazônia: Drenagem Energético-material e pauperização regional. Belém: UFPA/NAEA/ETFPA, 1998.

ROCHA, M. Mª.C. & PINHEIRO, A.C. E Proje-to Sonhem: monitoramento e formação ambiental nos cerrados. São Luís In:Experiência Agrecolo-gicas no Maranhão/Rede de Agrecologia do Ma-ranhão. P.39-46,São Luís, 2007,CDU:63195(812.1).

SANTOS, M.P. As Transformações Sociais e Eco-lógicas ocorridas no Cerrado Maranhense a partir da implantação de projetos agroindustriais. São Luís: Cáritas Brasileira, 1985.

SAYAGO, D. et al. Amazônia Cenas e Cenário. Brasília: UNB, 2004. 382p

STUDTE , M. . & SCHAEFER;. S. A Produção de Alumínio e a Sociedade Civil no Brasil ASA Pro-gramm/InWent. 2005.

Page 19: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

19 Fórum Carajás outubro de 2010

N.º Nome da organização Tipo de organização

01 ABIPA Axixá/TO Organização de cooperaçãoagrícola

02 APOIO - Balsas/MA ONG03 Associação Agroecológica Tijupá - São Luís/MA ONG04 Associação de Donas de Casa de Açailândia/MA Grupo de mulheres05 Associação de Mulheres do Bico do Papagaio/TO –

ASMUBIPGrupo de mulheres rurais

06 Associação de Moradores de Boa Vista dos Pinhos/MA Associação de agricultor@s07 Associação de Moradores de Porto Alegre/MA Associação de agricultor@s08 Associação de Moradores da Vila Bom Jardim/MA Associação de bairro09 Associação de Moradores da Vila Tancredo/MA Associação de bairro10 Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do

Junco/MAGrupo de mulheres rurais

11 Associação de Mulheres Extrativista de Cidelândia/MA Associação de mulheres12 Associação dos Sindicatos Unidos do Médio Meariam/MA –

ASUMEMArticulação de STTRs

13 Associação do Trabalhadores Rurais Agroextrativista ePescadores Artesanais de Tucuruí/PA

Organização de cooperaçãoagrícola

14 Associação em Áreas de Assentamento no Estado doMaranhão - ASSEMA/MA

ONG rural

15 Associação Nossa Senhora do Rosário em Penalva/MA Organização de mulheres16 Associação dos Pequenos Produtores Projeto de Assentamento

AngelimAssociação de agrcultor@s

17 Caixa de Ararás - Marabá/PA Cooperativa agrícola18 Caixa Agrícola dos Pequenos Produtores de São João do

Araguaia/PACooperativa agrícola

19 Cáritas Regional de São Luís/MA Entidade da Igreja Católica20 Cáritas Diocesana de Brejo/MA Entidades da Igreja Católica21 Central Única dos Trabalhadores do Sudeste do Pará Central Sindical22 Central Agroambiental do Tocantins - CAT - Marabá/PA ONG23 Centro de Educação e Cultura do Trabalhador rural - CENTRU -

Imperatriz/MAONG

24 Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular -CEPASP - Marabá/PA

ONG

25 Centro de Estudos e Ação Social - CEAS - Salvador/BA ONG urbana26 Centro de Cultura Negra - São Luís/MA Movimento Negro27 Colônia de Pescadores de Tucuruí/PA Sindicato de pescadores28 Comissão Pastoral da Terra de Marabá/PA Entidade da Igreja católica29 Comissão Pastoral da Terra da Palestina/PA Entidade da Igreja católica30 Comissão Pastoral da Terra do Maranhão Entidade da Igreja católica31 Comissão Pastoral da Terra do Bico do Papagaio/To Entidade da Igreja católica32 Comunidade Tucumã - Índios Gavião da Montanha - Área

Indígena Mãe Maria- Marabá/PAOrganização indígena

33 Conselho Indigenista Missionário - CIMI/MA Entidade indigenista da Igreja34 Conselho Nacional dos Seringueiros - CNS - Marabá/PA Articulação de Extrativistas35 Cooperativa Pequenos Agricultores Agroextrativistas de

Esperantinópolis/MA – COPPAESPCooperativa

36 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de Lagodo Junco/MA

Cooperativa

37 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de LimaCampos/MA – COPPELC

Cooperativa

38 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de SãoLuís Gonzaga/Ma – COPPAES

Cooperativa

39 Cooperativa de Pequenos Rurais de Parauapebas/PA Cooperativa40 Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de

Imperatriz/MA – COPPAICooperativa

41 Colônia de Pescadores de Abaetetuba/PA Sindicato de pescadores42 Coordenadoria Ecumênica de Serviços - CESE- Salvador/BA ONG ecumênica43 Equipe de Educação Popular de Parauapebas/PA – EEPP ONG44 Federação do Tocantins Araguaia -FATA - Marabá/PA ONG

45 Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará - FETAGRI Federação de STTTR46 GREENPEACE ONG ambientalista47 Grupo de Mulheres da Ilha - São Luís/MA Organização feminista48 Grupo de Trabalho Amazônico Bico do Papagaio/TO - GTA – Bico Articulação de entidades49 Grupo de Trabalho Amazônico do Babaçu/MA - GTA – Babaçu Articulação de entidades50 Grupo de Trabalho Amazônico Nacional - GTA - Nacional Articulação de entidades51 Grupo de Jovens de Oiteiro/MA Grupo de jovens52 Grupo de Jovens de Rosário /MA Grupo de jovens53 Grupo de Jovens de Cajueiro/MA Grupo de jovens54 Grupo de Jovens de Taim /MA Grupo de jovens55 Igreja Evangélica Luterana de Balsas/MA Igreja evangélica

56 Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua Movimento57 Movimento dos Sem Terra de Parauapebas/PA Movimento58 Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade/PA Grupo de mulheres59 Movimento de Educação de Base - MEB - Imperatriz/MA Entidade de Igreja Católica60 Movimento de Educação de Base - MEB - Buriticupu/MA Entidade de Igreja Católica61 Movimento de Educação de Base - MEB - Marabá/PA Entidade da Igreja Católica62 Movimento de Mulheres do Araguaia -/PA Movimento de mulheres

63 Movimento de Mulheres do Sudeste do Pará - Marabá/PA Movimento de mulheres64 Movimento dos Pescadores do Maranhão - MOPEMA Movimento de pescadores65 Movimento dos Pescadores do Pará – MOPEPA Movimento pescadores66 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Marabá/PA Movimento67 Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu Movimento de mulheres rurais68 Movimento Nacional dos Pescadores – MONAPE Movimento de pescadores69 Pastoral da Mulher e da Criança de Buriticupu/MA Entidade de Igreja Católica70 Paróquia de Confissão Luterana de Belém/PA Igreja Evangélica71 Pastoral Popular de Marabá/PA Entidade da Igreja Católica72 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Barcarena/PA STTR73 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Buriticupu /MA STTR74 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Fortaleza de

Nogueiras/MASTTR

75 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Açailândia/MA STTR76 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Altamira/PA STTR77 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Amarante/MA STTR78 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Anapurus/MA STTR79 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Balsas/MA STTR80 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Brejo Grande do

Araguaia /PASTTR

81 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Breu Branco/MA STTR82 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Carolina/MA STTR83 Sindicato dos Trabalhadores /as Rurais de Eldorado dos

Carajás/PASTTR

84 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Esperantinópolis/Ma STTR85 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Estreito/MA STTR86 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Imperatriz/MA STTR87 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Itupiranga/PA STTR88 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Jacundá/PA STTR89 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de João Lisboa /MA STTR90 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Lago da Pedra/MA STTR91 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de do Junco/MA STTR92 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Lima Campos/MA STTR93 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Loreto/MA STTR94 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Magalhães de Almeida STTR95 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Marabá/PA STTR96 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Mata Roma/MA STTR97 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Novo Repartimento/PA STTR98 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Palestina/PA STTR99 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Paragominas/PA STTR100 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Parauapebas/PA STTR101 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Paulo Ramos/MA STTR102 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Pio XII /MA STTR103 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Pitinga/MA STTR104 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Poção de Pedras/MA STTR105 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais Riachão/Ma STTR106 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Domingos de

Araguaia/PASTTR

107 Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São João do Araguaia/PA STTR108 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Luís Gonzaga/MA STTR109 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Raimundo das

Mangabeiras/MASTTR

110 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Tasso Fragoso/MA STTR111 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Tucuruí STTR112 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Cidelândia/PA STTR113 Sindicato dos trabalhadores/as Rurais de Presidente Médici /MA STTR114 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Nova Colina /MA STTR115 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Santa Rita/MA STTR116 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Luís/MA STTR117 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Rosário /MA STTR119 Sindicato dos Urbanitários do Pará - Marabá/PA Sindicato urbano120 Sindicato dos Comerciários de Parauapebas/PA Sindicato urbano121 Sindicato dos Empregados em Entidades de Assistência Social e

Educacional - SENALBA - Imperatriz/MASindicato urbano

122 Sindicato dos Ferroviários Sindicato operário123 Sindicato dos Fotógrafos Açailândia /MA Sindicato urbano124 Sindicato dos Jornalistas de Imperatriz/MA Sindicato urbano125 Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia e Impera triz MA Sindicato operário126 Sindicato dos Químicos Barcarena/PA Sindicato operário127 Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão Sindicato operário128 Sindicato dos Metalúrgicos do Pará - SIMETAL Sindicato operário129 Sindicato dos Trabalhadores/as da Saúde do Pará -SINTESP -

Marabá/PASindicato urbano

130 Sindicato dos Trabalhadores/as da Indústria de Metais Básicos -METABASE- Carajás/PA

Sindicato operário

131 Sindicato dos Trabalhadores/as em Educação Pública do Pará -SINTEPP- Marabá/PA

Sindicato urbano

132 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e construção Civil deAçailândia/MA

Sindicato operário

133 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação doEstado do Pará - Marabá/PA

Sindicato operário

134 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireiras deEldorado/PA

Sindicato operário

135 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireiras deConstrução Civil de Açailândia/MA

Sindicato operário

136 Sindicato dos Trabalhadores nas Indústria Madeireiras deMovelaria de Açailândia/Ma

Sindicato operário

137 SINTRAFE - Marabá/PA Sindicato urbano138 Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos ONG139 Sociedade Paraense de Direitos Humanos ONG

Organizações participantes do Fórum Carajás

Page 20: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Fórum Carajás outubro de 2010 20

N.º Nome da organização Tipo de organização

01 ABIPA Axixá/TO Organização de cooperaçãoagrícola

02 APOIO - Balsas/MA ONG03 Associação Agroecológica Tijupá - São Luís/MA ONG04 Associação de Donas de Casa de Açailândia/MA Grupo de mulheres05 Associação de Mulheres do Bico do Papagaio/TO –

ASMUBIPGrupo de mulheres rurais

06 Associação de Moradores de Boa Vista dos Pinhos/MA Associação de agricultor@s07 Associação de Moradores de Porto Alegre/MA Associação de agricultor@s08 Associação de Moradores da Vila Bom Jardim/MA Associação de bairro09 Associação de Moradores da Vila Tancredo/MA Associação de bairro10 Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do

Junco/MAGrupo de mulheres rurais

11 Associação de Mulheres Extrativista de Cidelândia/MA Associação de mulheres12 Associação dos Sindicatos Unidos do Médio Meariam/MA –

ASUMEMArticulação de STTRs

13 Associação do Trabalhadores Rurais Agroextrativista ePescadores Artesanais de Tucuruí/PA

Organização de cooperaçãoagrícola

14 Associação em Áreas de Assentamento no Estado doMaranhão - ASSEMA/MA

ONG rural

15 Associação Nossa Senhora do Rosário em Penalva/MA Organização de mulheres16 Associação dos Pequenos Produtores Projeto de Assentamento

AngelimAssociação de agrcultor@s

17 Caixa de Ararás - Marabá/PA Cooperativa agrícola18 Caixa Agrícola dos Pequenos Produtores de São João do

Araguaia/PACooperativa agrícola

19 Cáritas Regional de São Luís/MA Entidade da Igreja Católica20 Cáritas Diocesana de Brejo/MA Entidades da Igreja Católica21 Central Única dos Trabalhadores do Sudeste do Pará Central Sindical22 Central Agroambiental do Tocantins - CAT - Marabá/PA ONG23 Centro de Educação e Cultura do Trabalhador rural - CENTRU -

Imperatriz/MAONG

24 Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular -CEPASP - Marabá/PA

ONG

25 Centro de Estudos e Ação Social - CEAS - Salvador/BA ONG urbana26 Centro de Cultura Negra - São Luís/MA Movimento Negro27 Colônia de Pescadores de Tucuruí/PA Sindicato de pescadores28 Comissão Pastoral da Terra de Marabá/PA Entidade da Igreja católica29 Comissão Pastoral da Terra da Palestina/PA Entidade da Igreja católica30 Comissão Pastoral da Terra do Maranhão Entidade da Igreja católica31 Comissão Pastoral da Terra do Bico do Papagaio/To Entidade da Igreja católica32 Comunidade Tucumã - Índios Gavião da Montanha - Área

Indígena Mãe Maria- Marabá/PAOrganização indígena

33 Conselho Indigenista Missionário - CIMI/MA Entidade indigenista da Igreja34 Conselho Nacional dos Seringueiros - CNS - Marabá/PA Articulação de Extrativistas35 Cooperativa Pequenos Agricultores Agroextrativistas de

Esperantinópolis/MA – COPPAESPCooperativa

36 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de Lagodo Junco/MA

Cooperativa

37 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de LimaCampos/MA – COPPELC

Cooperativa

38 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de SãoLuís Gonzaga/Ma – COPPAES

Cooperativa

39 Cooperativa de Pequenos Rurais de Parauapebas/PA Cooperativa40 Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de

Imperatriz/MA – COPPAICooperativa

41 Colônia de Pescadores de Abaetetuba/PA Sindicato de pescadores42 Coordenadoria Ecumênica de Serviços - CESE- Salvador/BA ONG ecumênica43 Equipe de Educação Popular de Parauapebas/PA – EEPP ONG44 Federação do Tocantins Araguaia -FATA - Marabá/PA ONG

45 Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará - FETAGRI Federação de STTTR46 GREENPEACE ONG ambientalista47 Grupo de Mulheres da Ilha - São Luís/MA Organização feminista48 Grupo de Trabalho Amazônico Bico do Papagaio/TO - GTA – Bico Articulação de entidades49 Grupo de Trabalho Amazônico do Babaçu/MA - GTA – Babaçu Articulação de entidades50 Grupo de Trabalho Amazônico Nacional - GTA - Nacional Articulação de entidades51 Grupo de Jovens de Oiteiro/MA Grupo de jovens52 Grupo de Jovens de Rosário /MA Grupo de jovens53 Grupo de Jovens de Cajueiro/MA Grupo de jovens54 Grupo de Jovens de Taim /MA Grupo de jovens55 Igreja Evangélica Luterana de Balsas/MA Igreja evangélica

56 Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua Movimento57 Movimento dos Sem Terra de Parauapebas/PA Movimento58 Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade/PA Grupo de mulheres59 Movimento de Educação de Base - MEB - Imperatriz/MA Entidade de Igreja Católica60 Movimento de Educação de Base - MEB - Buriticupu/MA Entidade de Igreja Católica61 Movimento de Educação de Base - MEB - Marabá/PA Entidade da Igreja Católica62 Movimento de Mulheres do Araguaia -/PA Movimento de mulheres

63 Movimento de Mulheres do Sudeste do Pará - Marabá/PA Movimento de mulheres64 Movimento dos Pescadores do Maranhão - MOPEMA Movimento de pescadores65 Movimento dos Pescadores do Pará – MOPEPA Movimento pescadores66 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Marabá/PA Movimento67 Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu Movimento de mulheres rurais68 Movimento Nacional dos Pescadores – MONAPE Movimento de pescadores69 Pastoral da Mulher e da Criança de Buriticupu/MA Entidade de Igreja Católica70 Paróquia de Confissão Luterana de Belém/PA Igreja Evangélica71 Pastoral Popular de Marabá/PA Entidade da Igreja Católica72 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Barcarena/PA STTR73 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Buriticupu /MA STTR74 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Fortaleza de

Nogueiras/MASTTR

75 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Açailândia/MA STTR76 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Altamira/PA STTR77 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Amarante/MA STTR78 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Anapurus/MA STTR79 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Balsas/MA STTR80 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Brejo Grande do

Araguaia /PASTTR

81 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Breu Branco/MA STTR82 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Carolina/MA STTR83 Sindicato dos Trabalhadores /as Rurais de Eldorado dos

Carajás/PASTTR

84 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Esperantinópolis/Ma STTR85 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Estreito/MA STTR86 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Imperatriz/MA STTR87 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Itupiranga/PA STTR88 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Jacundá/PA STTR89 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de João Lisboa /MA STTR90 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Lago da Pedra/MA STTR91 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de do Junco/MA STTR92 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Lima Campos/MA STTR93 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Loreto/MA STTR94 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Magalhães de Almeida STTR95 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Marabá/PA STTR96 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Mata Roma/MA STTR97 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Novo Repartimento/PA STTR98 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Palestina/PA STTR99 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Paragominas/PA STTR100 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Parauapebas/PA STTR101 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Paulo Ramos/MA STTR102 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Pio XII /MA STTR103 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Pitinga/MA STTR104 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Poção de Pedras/MA STTR105 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais Riachão/Ma STTR106 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Domingos de

Araguaia/PASTTR

107 Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São João do Araguaia/PA STTR108 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Luís Gonzaga/MA STTR109 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Raimundo das

Mangabeiras/MASTTR

110 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Tasso Fragoso/MA STTR111 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Tucuruí STTR112 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Cidelândia/PA STTR113 Sindicato dos trabalhadores/as Rurais de Presidente Médici /MA STTR114 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Nova Colina /MA STTR115 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Santa Rita/MA STTR116 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Luís/MA STTR117 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Rosário /MA STTR119 Sindicato dos Urbanitários do Pará - Marabá/PA Sindicato urbano120 Sindicato dos Comerciários de Parauapebas/PA Sindicato urbano121 Sindicato dos Empregados em Entidades de Assistência Social e

Educacional - SENALBA - Imperatriz/MASindicato urbano

122 Sindicato dos Ferroviários Sindicato operário123 Sindicato dos Fotógrafos Açailândia /MA Sindicato urbano124 Sindicato dos Jornalistas de Imperatriz/MA Sindicato urbano125 Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia e Impera triz MA Sindicato operário126 Sindicato dos Químicos Barcarena/PA Sindicato operário127 Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão Sindicato operário128 Sindicato dos Metalúrgicos do Pará - SIMETAL Sindicato operário129 Sindicato dos Trabalhadores/as da Saúde do Pará -SINTESP -

Marabá/PASindicato urbano

130 Sindicato dos Trabalhadores/as da Indústria de Metais Básicos -METABASE- Carajás/PA

Sindicato operário

131 Sindicato dos Trabalhadores/as em Educação Pública do Pará -SINTEPP- Marabá/PA

Sindicato urbano

132 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e construção Civil deAçailândia/MA

Sindicato operário

133 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação doEstado do Pará - Marabá/PA

Sindicato operário

134 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireiras deEldorado/PA

Sindicato operário

135 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireiras deConstrução Civil de Açailândia/MA

Sindicato operário

136 Sindicato dos Trabalhadores nas Indústria Madeireiras deMovelaria de Açailândia/Ma

Sindicato operário

137 SINTRAFE - Marabá/PA Sindicato urbano138 Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos ONG139 Sociedade Paraense de Direitos Humanos ONG

Page 21: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

N.º Nome da organização Tipo de organização

01 ABIPA Axixá/TO Organização de cooperaçãoagrícola

02 APOIO - Balsas/MA ONG03 Associação Agroecológica Tijupá - São Luís/MA ONG04 Associação de Donas de Casa de Açailândia/MA Grupo de mulheres05 Associação de Mulheres do Bico do Papagaio/TO –

ASMUBIPGrupo de mulheres rurais

06 Associação de Moradores de Boa Vista dos Pinhos/MA Associação de agricultor@s07 Associação de Moradores de Porto Alegre/MA Associação de agricultor@s08 Associação de Moradores da Vila Bom Jardim/MA Associação de bairro09 Associação de Moradores da Vila Tancredo/MA Associação de bairro10 Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do

Junco/MAGrupo de mulheres rurais

11 Associação de Mulheres Extrativista de Cidelândia/MA Associação de mulheres12 Associação dos Sindicatos Unidos do Médio Meariam/MA –

ASUMEMArticulação de STTRs

13 Associação do Trabalhadores Rurais Agroextrativista ePescadores Artesanais de Tucuruí/PA

Organização de cooperaçãoagrícola

14 Associação em Áreas de Assentamento no Estado doMaranhão - ASSEMA/MA

ONG rural

15 Associação Nossa Senhora do Rosário em Penalva/MA Organização de mulheres16 Associação dos Pequenos Produtores Projeto de Assentamento

AngelimAssociação de agrcultor@s

17 Caixa de Ararás - Marabá/PA Cooperativa agrícola18 Caixa Agrícola dos Pequenos Produtores de São João do

Araguaia/PACooperativa agrícola

19 Cáritas Regional de São Luís/MA Entidade da Igreja Católica20 Cáritas Diocesana de Brejo/MA Entidades da Igreja Católica21 Central Única dos Trabalhadores do Sudeste do Pará Central Sindical22 Central Agroambiental do Tocantins - CAT - Marabá/PA ONG23 Centro de Educação e Cultura do Trabalhador rural - CENTRU -

Imperatriz/MAONG

24 Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular -CEPASP - Marabá/PA

ONG

25 Centro de Estudos e Ação Social - CEAS - Salvador/BA ONG urbana26 Centro de Cultura Negra - São Luís/MA Movimento Negro27 Colônia de Pescadores de Tucuruí/PA Sindicato de pescadores28 Comissão Pastoral da Terra de Marabá/PA Entidade da Igreja católica29 Comissão Pastoral da Terra da Palestina/PA Entidade da Igreja católica30 Comissão Pastoral da Terra do Maranhão Entidade da Igreja católica31 Comissão Pastoral da Terra do Bico do Papagaio/To Entidade da Igreja católica32 Comunidade Tucumã - Índios Gavião da Montanha - Área

Indígena Mãe Maria- Marabá/PAOrganização indígena

33 Conselho Indigenista Missionário - CIMI/MA Entidade indigenista da Igreja34 Conselho Nacional dos Seringueiros - CNS - Marabá/PA Articulação de Extrativistas35 Cooperativa Pequenos Agricultores Agroextrativistas de

Esperantinópolis/MA – COPPAESPCooperativa

36 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de Lagodo Junco/MA

Cooperativa

37 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de LimaCampos/MA – COPPELC

Cooperativa

38 Cooperativa de Pequenos Agricultores Agroextrativistas de SãoLuís Gonzaga/Ma – COPPAES

Cooperativa

39 Cooperativa de Pequenos Rurais de Parauapebas/PA Cooperativa40 Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de

Imperatriz/MA – COPPAICooperativa

41 Colônia de Pescadores de Abaetetuba/PA Sindicato de pescadores42 Coordenadoria Ecumênica de Serviços - CESE- Salvador/BA ONG ecumênica43 Equipe de Educação Popular de Parauapebas/PA – EEPP ONG44 Federação do Tocantins Araguaia -FATA - Marabá/PA ONG

45 Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará - FETAGRI Federação de STTTR46 GREENPEACE ONG ambientalista47 Grupo de Mulheres da Ilha - São Luís/MA Organização feminista48 Grupo de Trabalho Amazônico Bico do Papagaio/TO - GTA – Bico Articulação de entidades49 Grupo de Trabalho Amazônico do Babaçu/MA - GTA – Babaçu Articulação de entidades50 Grupo de Trabalho Amazônico Nacional - GTA - Nacional Articulação de entidades51 Grupo de Jovens de Oiteiro/MA Grupo de jovens52 Grupo de Jovens de Rosário /MA Grupo de jovens53 Grupo de Jovens de Cajueiro/MA Grupo de jovens54 Grupo de Jovens de Taim /MA Grupo de jovens55 Igreja Evangélica Luterana de Balsas/MA Igreja evangélica

56 Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua Movimento57 Movimento dos Sem Terra de Parauapebas/PA Movimento58 Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade/PA Grupo de mulheres59 Movimento de Educação de Base - MEB - Imperatriz/MA Entidade de Igreja Católica60 Movimento de Educação de Base - MEB - Buriticupu/MA Entidade de Igreja Católica61 Movimento de Educação de Base - MEB - Marabá/PA Entidade da Igreja Católica62 Movimento de Mulheres do Araguaia -/PA Movimento de mulheres

63 Movimento de Mulheres do Sudeste do Pará - Marabá/PA Movimento de mulheres64 Movimento dos Pescadores do Maranhão - MOPEMA Movimento de pescadores65 Movimento dos Pescadores do Pará – MOPEPA Movimento pescadores66 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Marabá/PA Movimento67 Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu Movimento de mulheres rurais68 Movimento Nacional dos Pescadores – MONAPE Movimento de pescadores69 Pastoral da Mulher e da Criança de Buriticupu/MA Entidade de Igreja Católica70 Paróquia de Confissão Luterana de Belém/PA Igreja Evangélica71 Pastoral Popular de Marabá/PA Entidade da Igreja Católica72 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Barcarena/PA STTR73 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Buriticupu /MA STTR74 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Fortaleza de

Nogueiras/MASTTR

75 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Açailândia/MA STTR76 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Altamira/PA STTR77 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Amarante/MA STTR78 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Anapurus/MA STTR79 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Balsas/MA STTR80 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Brejo Grande do

Araguaia /PASTTR

81 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Breu Branco/MA STTR82 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Carolina/MA STTR83 Sindicato dos Trabalhadores /as Rurais de Eldorado dos

Carajás/PASTTR

84 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Esperantinópolis/Ma STTR85 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Estreito/MA STTR86 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Imperatriz/MA STTR87 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Itupiranga/PA STTR88 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Jacundá/PA STTR89 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de João Lisboa /MA STTR90 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Lago da Pedra/MA STTR91 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de do Junco/MA STTR92 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Lima Campos/MA STTR93 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Loreto/MA STTR94 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Magalhães de Almeida STTR95 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Marabá/PA STTR96 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Mata Roma/MA STTR97 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Novo Repartimento/PA STTR98 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Palestina/PA STTR99 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Paragominas/PA STTR100 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Parauapebas/PA STTR101 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Paulo Ramos/MA STTR102 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Pio XII /MA STTR103 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Pitinga/MA STTR104 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Poção de Pedras/MA STTR105 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais Riachão/Ma STTR106 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Domingos de

Araguaia/PASTTR

107 Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São João do Araguaia/PA STTR108 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Luís Gonzaga/MA STTR109 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Raimundo das

Mangabeiras/MASTTR

110 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Tasso Fragoso/MA STTR111 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Tucuruí STTR112 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Cidelândia/PA STTR113 Sindicato dos trabalhadores/as Rurais de Presidente Médici /MA STTR114 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Nova Colina /MA STTR115 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Santa Rita/MA STTR116 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de São Luís/MA STTR117 Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Rosário /MA STTR119 Sindicato dos Urbanitários do Pará - Marabá/PA Sindicato urbano120 Sindicato dos Comerciários de Parauapebas/PA Sindicato urbano121 Sindicato dos Empregados em Entidades de Assistência Social e

Educacional - SENALBA - Imperatriz/MASindicato urbano

122 Sindicato dos Ferroviários Sindicato operário123 Sindicato dos Fotógrafos Açailândia /MA Sindicato urbano124 Sindicato dos Jornalistas de Imperatriz/MA Sindicato urbano125 Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia e Impera triz MA Sindicato operário126 Sindicato dos Químicos Barcarena/PA Sindicato operário127 Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão Sindicato operário128 Sindicato dos Metalúrgicos do Pará - SIMETAL Sindicato operário129 Sindicato dos Trabalhadores/as da Saúde do Pará -SINTESP -

Marabá/PASindicato urbano

130 Sindicato dos Trabalhadores/as da Indústria de Metais Básicos -METABASE- Carajás/PA

Sindicato operário

131 Sindicato dos Trabalhadores/as em Educação Pública do Pará -SINTEPP- Marabá/PA

Sindicato urbano

132 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e construção Civil deAçailândia/MA

Sindicato operário

133 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação doEstado do Pará - Marabá/PA

Sindicato operário

134 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireiras deEldorado/PA

Sindicato operário

135 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireiras deConstrução Civil de Açailândia/MA

Sindicato operário

136 Sindicato dos Trabalhadores nas Indústria Madeireiras deMovelaria de Açailândia/Ma

Sindicato operário

137 SINTRAFE - Marabá/PA Sindicato urbano138 Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos ONG139 Sociedade Paraense de Direitos Humanos ONG

21 Fórum Carajás outubro de 2010

Page 22: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Impactos e resistências em Açailândia, profundo interior do Maranhão

Açailândia: terra do açaí

Dário Bossi1, em abril de 2010

O osantigos romanos costumavam dizer “nomen omen” (o destino de algo está em seu pró-prio nome); no caso de Açailândia, cidade do açaí, o ditado foi desmentido e a identidade do município foi rapidamente alterada em “cidade do ferro”.

Ainda pior o que aconteceu com uma de suas periferias. Piquiá era o nome que os moradores esco-lheram, valorizando uma das árvores mais elegantes da região. Mas logo que as empresas chegaram, trans-formaram o mesmo nome no acrônimo “Parque Industrial Químico Açailândia”!

Atrás dessa violação de identidade há uma violência simbólica sobre a vocação de um território e de um povo. Nesse artigo tentaremos detalhar os passos dessa violência e mostrar os movimentos de resistên-cia e organização popular.

1 Missionário Comboniano, residente no município de Açailândia, oeste do Maranhão e militante da campanha ‘Justiça nos Trilhos’- www.justicanostrilhos.org

Page 23: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

23 Fórum Carajás outubro de 2010

Açailândia tem pouco mais de cem mil habi-tantes distribuídos numa área de cerca de 5.806 Km². O Produto Interno Bruto (PIB) é de 1.410.298.000 R$2 . Com o preço do ferro-gusa antes da crise, ape-nas uma siderúrgica no município exportava por ano, produtos com valor correspondente a mais de 600 milhões de R$3 .

Por que a siderurgia guseira decidiu investir nessa cidade?

Açailândia se encontra no eixo de duas im-

portantes rodovias: a BR 010 Belém-Brasília e a BR 222, que liga o município a São Luís. O trânsito de caminhões e veículos é intenso. O município é pon-to de passagem para várias regiões do país, como a Norte e Nordeste.

Em Açailândia cruzam-se também duas im-portantes ferrovias: os 892 Km da Estrada de Ferro Carajás, que une Parauapebas no Pará com o porto de Itaqui em São Luís; e a Ferrovia Norte-Sul, 720 Km de trilhos, até Palmas no Tocantins (parte ainda está em construção). Ambas estão cedidas em con-cessão à mineradora Vale, que garante o escoamento de mercadorias e recursos e lucra a partir disso.

A abundância de terra livre na região foi des-de sempre um grande atrativo para os investimen-tos no território. A bibliografia de estudos sobre a região indica que tudo começou no final da década de 1960. Numa seqüência altamente destrutiva, que passou pelos ciclos da madeira nobre, das serrarias, dos pastos e gado, do carvão e do eucalipto.

A região tornou-se interessante também devi-do à relativa riqueza de água: rios, córregos e lagoas hoje desfrutados também pelas empresas instaladas no local. Em razão de tudo isso, a cidade tornou-se uma etapa obrigatória do dito desenvolvimento, que infelizmente passa por ela sem deixar amadurecer muitos frutos no local. Minério e ferro vão e vêm, mas o retorno econômico e o tal de ‘progresso’ para em Açailândia somente nas mãos de poucos.

2 IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, 2006.3 www.vienairon.com.br – Exportação anual de 500.000 ton de ferro gusa, com um preço antes da crise de 750 $ por tonelada.

Os atores do “desenvolvimento” e suas vítimas

a. O Projeto Grande Carajás e a Estrada de Fer-ro Carajás4

O Programa Grande Carajás (PGC), criado pelo Governo Federal em 1980, foi o fator que pro-piciou a instalação do setor siderúrgico na região. O PGC surge como um incentivo adicional do governo para os investimentos privados na região amazônica, juntamente com o Projeto Minério de Ferro Carajás (PMFC), localizado no município de Marabá (PA)5 e controlado pela companhia Vale. O projeto controla 10,6% do território nacional. O PGC foi considerado um dos maiores programas de desenvolvimento in-tegrado numa área de floresta tropical úmida.

A chegada da ferrovia e suas operações cres-centes determinaram boa parte dos investimentos industriais na região. Ao lado da ferrovia, no distri-to industrial de Piquiá, instalou-se um grande polo Petroquímico, estação de redistribuição para Mara-nhão, Pará e Tocantins do combustível que chega de navio em São Luís.

No final dos anos 80 instalaram-se também várias usinas siderúrgicas (atualmente 11 no Pará e 7 no Maranhão). Pelo Projeto Grande Carajás, esse deveria ser o primeiro passo rumo a “um complexo industrial metal-mecânico”, tendo como primeiro estágio as indústrias sídero-metalúrgicas. Foi pre-visto que “os encadeamentos para frente das ativida-des siderúrgicas engendrariam a criação de um par-que metal-mecânico, cujo porte ensejaria a criação de pelo menos 44 mil empregos diretos no ano de 2010”6

As promessas desse grande investimento in-dustrial, como quase sempre acontece, nunca se re-alizaram nessas proporções. Açailândia, segundo maior pólo de produção siderúrgica, entre os qua-

4 Relatório Social Instituto Carvão Cidadão, 2005 - http://www.car-vaocidadao.org.br/ata/relatorio_social.htm5 CARNEIRO, Marcelo Sampaio. Crítica social e responsabilização empresarial. Análise das estratégias para a legitimação da produção siderúrgica na Amazônia Oriental, Cad. CRH v.21 n.53 Salvador maio/ago. 2008, disponível em www.scielo.br6 BRASIL. 1989. Secretaria de Planejamento da Presidência da Repú-blica. Programa Grande Carajás. Secretaria Executiva. Plano-diretor do Corredor da Estrada de Ferro Carajás. Brasília, NATRON. 536p.

Page 24: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Fórum Carajás outubro de 2010 24

tro localizados ao longo da EFC, no final do ano de 2007 empregava no setor de transformação (princi-pal mas não unicamente siderúrgico) somente 2.568 pessoas!7 Ao contrário, como veremos logo a seguir, o impacto sócio-ambiental desses novos empreendi-mentos na região foi enorme.

A ferrovia influiu pesadamente sobre o de-senvolvimento da região e determinou a construção de uma cadeia completa de extração e elaboração do ferro. A cadeia é voltada para a exportação, com agregação de valor muito baixa para o povo mara-nhense. A economia extrativa é marcada por várias contradições: por exemplo, o contraste entre os va-lores que diariamente passam pelos trilhos e a mi-séria de muitos barracos que há anos permanecem à beira da ferrovia em condições indignas de seres humanos.

No ano passado a Vale transportou cerca de 100 milhões de toneladas de minério. Ao preço de 2009, uma tonelada de minério custava R$71,00. Portanto, a cada dia Vale transporta mediamente 333.000 toneladas, por um valor de R$ 21,3 milhões. Isto quer dizer que a cada dia passam em frente do povo de Açailândia cerca de R$50 milhões. Conside-rando que essa exportação é desonerada de impostos, por conta da Lei Kandir, pode-se imaginar os níveis de lucro da grande companhia multinacional.

Vamos conhecer mais de perto os trilhos da Estrada de Ferro Carajás (EFC), sobre os quais des-de abril de 2008 corre o maior trem do mundo: 330 vagões, cerca de 3.500 metros de extensão e capa-cidade para transportar 40 mil toneladas. Quatro lo-comotivas para cada trem, uma frota total de 205. A cada dia passa uma média de 10 trens de minério. Mais dois ou três de soja; e dois ou três com outros produtos, como minério para siderúrgicas e combus-tível para o pólo petroquímico, etc.

Sem falar dos trens vazios que voltam de São Luís para serem recarregados na mina.

Ao contrário, o trem de passageiros, - uma obrigação da Vale pela concessão estadual de uso da ferrovia - é garantido somente uma vez a cada dois dias. No fim de 2009, antes da representação

7 Ministério do Trabalho e Emprego/Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.

escrita do Sindicato dos Ferroviários ao Ministério Publico do Estado (MPE) e à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a rotina da viagem era marcada pelo atraso. Havia queixas ainda sobre a postura pouco ética da companhia para com os passageiros.

Os moradores na beira dos trilhos não conse-guem conviver com o barulho provocado pelos trens. Um incômodo permanente. As casas mais próximas dos trilhos sofrem com rachaduras. Os acidentes são freqüentes, com um número significativo de mortes por atropelamento de pessoas e animais. Até o ins-tante não existe uma política específica da empresa para lidar com esse problema. Segundo Relatório de Sustentabilidade da própria empresa, o número de acidentes de trem nos últimos anos foram 59 (2005), 63 (2006) e 46 (2007). A vida das pessoas, pelo jeito, é menos importante do que o transporte de minério, que tem mais ‘peso’.

Uma análise desse tipo é confirmada também pelo fenômeno dos “Meninos do trem”. Trata-se de meninos e meninas que viajam de maneira irregular nos trens de minério da Companhia Vale ao longo da Estrada de Ferro Carajás. São crianças e adolescen-tes que têm acesso de maneira clandestina ao trem, viajando de Marabá ou Parauapebas até São Luís, ou vice-versa. Quando descobertos pela segurança da Companhia, são entregues ao Conselho Tutelar mais próximo, cuja tarefa será de fazer o registro de ocorrência e devolvê-los (a custo da Vale) às suas famílias em seus municípios de origem.

O fenômeno tem crescido consideravelmente a cada ano e tem complicado muito a atuação ordi-nária dos Conselhos Tutelares da região. O MPE en-trou com uma representação a respeito, com o título

“Meninos do Trem da Vale – Situação de Risco”8 . Os meninos do trem estão expostos a toda sorte de perigos. Desde a contaminação pelo minério, até as condições climáticas diversas, além da viagem sem a proteção ou orientação de um adulto responsável.

“Pelos vagões do trem de ferro, quem leva a carga são os meninos. Com uma realidade que os ex-pulsa, em péssimas condições socioeconômicas, em

8 Procedimento n. 116/05 – Ministério Público do Estado do Mara-nhão

Page 25: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

25 Fórum Carajás outubro de 2010

Estados com baixo Índice de Desenvolvimento Hu-mano (IDH), sem a atenção dos órgãos competentes, sem políticas públicas específicas para a criança e o adolescente e sem acesso aos bens básicos para uma vida digna, resta a estes meninos e meninas pegar carona naquele que parece ter sido um dos motivos de tamanha desordem social. O trem de carga, que carrega minérios e meninos, parece anunciar através do seu apito que esta carga está pesada demais, es-pecialmente para os meninos do trem” 9.

A perspectiva da duplicação dos trilhos, já planejada e em fase de realização, assusta os mora-dores de Açailândia e do corredor inteiro, devido à evidente duplicação de todos os problemas até agora mencionados.

b. As usinas siderúrgicas

Em Açailândia encontram-se cinco empre-sas siderúrgicas: Viena Siderúrgica (capital próprio, em operação desde 1988), Simasa e Pindaré (Gru-po Queiróz-Galvão, 1993), Gusa Nordeste (Grupo Ferroeste, 1993), Fergumar (Grupo Aterpa, 1996). A tabela seguinte dá as dimensões das usinas, com dados de 2006 (em itálico os dados de algumas side-rúrgicas de Marabá):

9 SOUZA, Emilene Leite. “De passagem”. Universidade Federal do Maranhão/UFMA Imperatriz - CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA/CCSST 2009

Desde suas instalações, as guseiras da re-gião de Carajás receberam colaboração financeira através de recursos públicos oriundos do Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR) e do Fundo de Investimentos da Amazônia (FINAM). Uma vez aprovados os projetos, seus signatários recebiam até 75% do valor total indicado como necessário à im-plantação do parque industrial e à aquisição de áreas destinadas ao desenvolvimento de supostos projetos de “manejo florestal” ou de reflorestamento10.

A aprovação dos projetos exigiu só formal-mente uma série de condicionantes ligadas ao licen-ciamento ambiental. É muito difícil conseguir junto à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) os documentos de licenciamento. Nossa equipe de pes-quisa reiterou o pedido à SEMA e a visitou várias vezes antes de conseguir dados somente de três das cinco siderúrgicas, recebendo inclusive três proces-sos de licenciamento vencidos e não renovados.

Parece claro que, pela facilidade de instala-ção e a ausência/cumplicidade do poder público, as siderúrgicas da região de Carajás acumularam enor-mes lucros ao longo dos últimos anos. No período entre 2000 e 2008 o volume de ferro gusa exportado duplicou, mas o valor dessa exportação quase decu-plicou, passando de cerca de US$ 165 milhões em

10 MONTEIRO, Maurílio de Abreu . Siderurgia na Amazônia Orien-tal brasileira e a pressão sobre a floresta primária. In: II Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade - ANPPAS, 2004, Indaiatuba-SP. Anais do II Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Indaiatuba : ANNPAS, 2004. v. 1. p. 1-19

SiderúrgicaNº de alto -

fornos

Nº de

funcionários

próprios

Produção média

anual de ferro

gusa (em ton)

Consumo médio

anual de

carvão(emm3

)

Relação

consumo/

produção

FERGUMAR 2 234 216.000 480.000 2,22

GUSA NORDESTE 2 218 216.000 540.000 2,50

SIMASA/ PINDARÉ 5 650 564.000 1.440.000 2,55

VIENA 5 560 480.000 900.000 1,88

FERRO GUSA CARAJÁS 2 243 400.000 1.057.000 2,64

USIMAR 2 500 180.000 360.000 2,00

Fonte: Pesquisa de Campo IOS. Elaboração: Instituto Observatório Social.

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Fórum Carajás outubro de 2010 26

2000 para US$ 1,5 bilhão em 2008. Este crescimen-to tornou-se possível pelo salto do preço médio do ferro gusa exportado, que passou de US$ 99,6/ton para US$ 445,6/ton no mesmo período”11.

Também em tempos de crise, apesar de um discurso preocupado e resignado à solução inevitá-vel da demissão dos funcionários, as siderúrgicas não pararam de vender e lucrar. Carneiro e Ramalho (2009) sinalizam que, até o final de 2008, uma pe-quena redução na quantidade exportada, pouco mais de 67 mil toneladas, foi mais do que compensada pelo valor exportado, com um aumento de cerca de 498 milhões de dólares quando comparado ao ano anterior.

Ainda conforme os dados de Carneiro e Ra-malho (2009), os dados oficiais das exportações brasileiras, demonstram de forma inequívoca que as empresas guseiras do Pará e Maranhão finalizaram o ano de 2008 com grandes lucros. Sem dúvida, as de-missões podiam ser evitadas ou atrasadas, sem que o peso da crise pesasse somente sobre as costas dos mais fracos.

Além de desempregada, a população compar-tilha o pesado impacto sobre o meio ambiente. É ela

quem socializa os desastres ambientais ao longo de mais de duas décadas. Dados tabulados por Mon-teiro (2004), indicam que para produção de uma tonelada de ferro-gusa são necessários 875 kg de carvão vegetal, cuja produção, por sua vez, requer a utilização de pelo menos 2.600 kg de madeira seca, que – quando se utiliza lenha originária de matas

11 CARNEIRO, M e RAMALHO, R. A crise econômica mundial e seu impacto sobre as empresas de ferro-gusa: algumas informações sobre o desempenho recente das empresas guseiras e o desemprego no município de Açailândia. 2009.

nativas – corresponde a um desmatamento de pelo menos 600 m² de matas primárias.

Em 2005, por exemplo, as empresas siderúr-gicas da região de Carajás produziram 4 milhões de toneladas de ferro-gusa12, o que corresponderia ao consumo de 240.000 hectares de mata nativa. Na-quele ano, conforme dados da Associação das Si-derúrgicas de Carajás – ASICA, a percentagem de origem do carvão vegetal era de 49,6% da mata na-tiva e 50,4% de reflorestação com espécies exóti-cas. Portanto, somente em 2005, as siderúrgicas da região de Carajás queimaram para produzir carvão cerca de 120.000 hectares de mata nativa.

Vamos fazer um outro exemplo no caso do eucalipto. Para produzir uma tonelada de ferro gusa precisa de 3,8 m³ de eucalipto (ou 5,8 m³ de mata nativa). A siderúrgica Viena atualmente produz 500.000 toneladas de ferro gusa por ano; precisaria portanto, uma vez que se tornar auto suficiente com seu parque de monocultura, de 54.000 hectares de eucalipto ao ano, 1,6% da superfície do Maranhão.

Veja na tabela a seguir as previsões que as empresas fizeram em 2005 a respeito da interrupção do corte de mata nativa (fonte: ASICA).

Nos últimos anos, com a intensificação da fiscalização nas fazendas pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel, as empresas siderúrgicas da re-gião foram acusadas pelo Ministério Público Fede-ral de se beneficiarem da escravidão para produzir o ferro gusa. Muitas delas tiveram que pagar quantias elevadas em indenizações para os trabalhadores que produzem o carvão.

12 Relatório Social Instituto Carvão Cidadão, 2005.

Siderúrgica

Área

adquirida

para plantio

(em ha)

Área plantada

(em ha)

% de carvão

produzido em

carvoarias próprias

Ano meta para ser

auto-suficiente

FERGUMAR 10.000 6.000 0% Não há previsão

GUSA NORDESTE 27.000 10.000 0% 2010

SIMASA/ PINDARÉ 56.000 17.500 20% 2012

VIENA 52.000 20.000 55% 2011

FERRO GUSA CARAJÁS 75.000 32.000 100% Já é

USIMAR 3.000 0 0% Não há previsão

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27 Fórum Carajás outubro de 2010

Em 1999, visando adequar o trabalho desen-volvido nas carvoarias, as siderúrgicas do estado do Maranhão firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público do Tra-balho (MPT) e à Procuradoria Regional do Trabalho, envolvendo, também, empreiteiros e fornecedores .Hoje13, percebe-se uma melhoria efetiva das condi-ções de trabalho nas carvoarias, mesmo assim ainda existem numerosas carvoarias clandestinas.

Além do desmatamento e do trabalho escravo, há em Açailândia o grave problema da poluição, que afeta povoados inteiros, parcialmente preexistentes à instalação das siderúrgicas. É o caso de Piquiá de Baixo. Em abril de 2008 a Associação Comunitária de Pequiá de Baixo procurou o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CD-VDH) e a Paróquia São João Batista. A parceria visa enfrentar o problema da poluição provocada pelas siderúrgicas no distrito industrial.

A Associação Comunitária há tempo buscava denunciar a situação, batendo sem sucesso à porta de diferentes instituições. A aliança dos moradores de Piquiá de Baixo com o CDVDH e a Paróquia São João permitiu coordenar melhor as ações, partindo da oportunidade de um primeiro processo instituído contra uma das siderúrgicas: a Gusa Nordeste.

De fato, em novembro de 2005, 21 famílias moradoras de Piquiá de Baixo ( mais próximas fi-sicamente à empresa) denunciaram por danos a po-luição produzida pela a siderúrgica Gusa Nordeste, exigindo indenização. Depois de quase quatro anos, apesar da pressão e do apoio popular, repetidas ve-zes solidário à causa daquelas famílias, os procedi-mentos legais ainda não se concluíram.

Com o objetivo de verificar a existência de relação entre os casos denunciados pelas famílias14 com as atividades da empresa, a juíza da segunda vara da Comarca de Açailândia encomendou uma perícia ambiental nas dependências da empresa e nas residências das famílias . Esse estudo somou-se a um outro, encomendado pelo CDVDH, a respeito da poluição hídrica pelas siderúrgicas15.

13 Relatório Social Instituto Carvão Cidadão, 2005.14 Relatório de Perícia Ambiental apresentado à Segunda Vara Judi-cial da Comarca de Açailândia, dr. Ulisses Brigatto Albino, Impera-triz 2007. Perícia realizada dia 05 de Dezembro de 2006.15 Estudo preliminar da situação ambiental da população de Piquiá, eng. Mariana de la Fuente Gómez, Açailândia 2007.

Os estudos demonstram várias formas de po-luição geradas pelas usinas. As águas de resfriamen-to, por exemplo, são bombeadas do ribeirão Piquiá, escorrem pela superfície externa dos alto fornos e logo voltam ao rio Piquiá aquecidas e contendo fer-ro e outros solutos, passando nesse percurso pelos quintais das casas próximas às siderúrgicas.

Além de problemas ao meio ambiente, o pro-cesso pode gerar contaminação para os moradores por meio da alimentação. O excesso de ferro arma-zenado e não absorvido pelo organismo pode gerar graves conseqüências para o fígado e as células car-díacas das pessoas. Pela ausência de uma rede de captação das águas fluviais internas ao pátio, toda a escória de ferro e carvão da produção acaba es-correndo também no mesmo riacho logo abaixo dos empreendimentos.

A escória vitrificada não é devidamente tra-tada, mas descartada no ambiente, podendo gerar intoxicação de plantas, animais e pessoas. O vento levanta a poeira e o “pó de balão”. O pó é uma sobra da produção amontoada em cúmulos ao lado das ca-sas. O próprio britador que reduz a sobra em partícu-la do fino levanta muita poeira, que cai em cima das casas. No fim de 2009, uma das cinco siderúrgicas encontrou uma maneira de evitar esses depósitos.

Outro aspecto relevante: nenhuma das cha-minés dos 14 alto fornos das siderúrgicas possui filtro de manga. À fumaça acrescenta-se partícula do fino de carvão que se levanta em grandes nuvens pretas toda vez que a combustão não é regular e pre-cisa “desentupir” o forno.

Recentemente a Gusa Nordeste instalou uma termelétrica alimentada pelas próprias emissões de seus fornos. Isso lhe garante a produção de energia elétrica para uso interno e, posteriormente, a possi-bilidade de obter recurso com a venda de créditos de carbono. Apesar disso, o sistema não consegue con-ter todas as emissões das chaminés dos alto fornos, e o povo continua tendo sua dívida de oxigênio.

Em setembro de 2001, mais um acidente ter-rível humilhou e fez violência sobre o povo. Acon-teceu com Gilcivaldo, 7 anos, em busca de alguns pedaços de carvão para esquentar a comida em seu barraco. Avançou demais no monte de ‘munha’, uma escória incandescente depositada pelos caminhões das siderúrgicas, numa área livre e não protegida, ao lado do povoado.

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Fórum Carajás outubro de 2010 28

A munha esfria-se em superfície, mas se mantém muito quente logo abaixo. O amontoado de escória amoleceu e as pernas do adolescente acaba-ram se queimando até a bacia. Depois de 20 dias de agonia, Gilcivaldo faleceu. Acidentes desse tipo aconteceram também com outras pessoas e animais que acabaram se queimando e prejudicando a pele e às vezes parte das pernas.

Por causa de toda essa injustiça, o povo de Piquiá de Baixo vive revoltado e luta há anos por direitos e moradia. Quase todos os moradores estão de acordo em sair do lugar. Negociam com as usinas e o poder público o deslocamento do povoado para uma nova região. A mediação é do Ministério Pú-blico e a assessoria do CDVDH e da Paróquia São João Batista.

Sobre a situação ainda ambígua das siderúr-gicas na região de Carajás, Monteiro (2004:1) dis-para que:

Em que pese a produção siderúrgica ainda hoje estar presente no discurso de diversos e amplos segmentos sociais como elemento de moderni-zação regional, ela cumpre um papel distinto, conquanto amplia a pressão sobre a mata pri-mária, caotiza diversos espaços urbanos; refor-ça segmentos sociais que articulam a sua lógica produtiva à exploração predatória dos recursos naturais, como os madeireiros, ou com grupos sociais para os quais a grande propriedade fun-diária é fonte de poder social, como os fazendei-ros; amplia as tensões no campo e os conflitos fundiários; e intensifica os esquemas de submis-são da força de trabalho à baixa remuneração e a condições de trabalho insalubres.

c. A aciaria – um capítulo recente

Em maio de 2008 o Estado do Maranhão e a Gusa nordeste de Açailândia assinaram um pro-tocolo de intenções para a instalação de uma acia-ria na cidade. O novo empreendimento prospecta a produção de 500.000 toneladas anuais de tarugo de aço (Billet), que tem tanto uso industrial doméstico como para exportação. O Billet é o semi acabado utilizado como matéria-prima para a laminação de aços longos (vergalhões, fio máquina, perfis, barras mecânicas etc.).

Para produzir a capacidade total, serão ne-

cessárias aproximadamente 450 mil toneladas/ano de ferro gusa em estado líquido, transportado por caminhões especiais que saem da Gusa Nordeste e das outras siderúrgicas de Açailândia. Para a produ-ção do aço precisará esquentar ulteriormente o ferro gusa. O processo acontecerá inteiramente (ao dizer dos empresários) pela queima de oxigênio líquido, material muito caro que deverá vir do sul do País.

Para o esfriamento do processo de produção, serão necessários 200 m³ de água por hora. O Rela-tório de Impacto Ambiental (RIMA) da aciaria ga-rante que toda essa água será mantida em constante circulação interna e bombeada através de poços ar-tesianos. A construção da usina deve durar três anos e a estimativa de geração de emprego gira em torno de 1.000 postos. Existe a promessa de geração de mais 1.000 empregos entre diretos e indiretos, no ápice da produção.

Os movimentos populares acolhem com sa-tisfação a aciaria, pois ela traz o tão esperado iní-cio da verticalização da produção no contexto local, permitindo a valorização do trabalho maranhense e dos recursos de nosso subsolo.

Porém existem inúmeras dúvidas e inquietu-des. Uma das maiores recai sobre os investimentos para a construção desse novo empreendimento. O Banco do Nordeste irá financiar 300 milhões de re-ais somente na primeira fase. Por que, perguntam os movimentos numa carta aberta à cidade - tão grande investimento sem ter resolvido ainda os graves pro-blemas de poluição e impacto que o resto das ativi-dades está gerando há vinte anos?

Mais uma vez a lógica do lucro incondicional parece prevalecer acima de qualquer outro direito.

d. Os fornos de Califórnia

Ao lado do assentamento Califórnia, com mais de 1.800 moradores assentados há 13 anos, ins-talou-se em 2005 o empreendimento da Ferro Gusa Carajás (FGC). A empresa controlada pela Vale se dedica à produção de carvão vegetal destinado a ali-mentar a siderúrgica da Vale em Marabá. O empre-endimento é conhecido como Unidade de Produção de Redutor (UPR), que é o carvão para siderurgia.

A Licença de Instalação foi emitida pelo Pro-cesso nº. 2334/03, prevendo um pátio de carboni-zação composto por 64 fornos retangulares e uma

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29 Fórum Carajás outubro de 2010

estimativa de produzir 94 ton/dia de redutor (carvão vegetal) . Na realidade, foram construídos 72 fornos retangulares e 7 for-nos de tamanho menor (fornos a meia laranja), ocupando ao todo uma área de 1.185m². Cada forno retangular tem capacidade para 102m³ de madeira enfornada, ou 83m³ de carvão cada.

Cada queimador de gás é planejado por oito fornos, portan-to deveriam ter sido implementa-dos 9 queimadores de gases. Na realidade, atualmente existem somente 2 queimadores. O pri-meiro começou a funcionar em novembro de 2008, o segundo em fevereiro de 2009. Atualmen-te, ambos estão quebrados e não funcionam.

Pode-se concluir, então, que de 2005 até 2009 os mora-dores do assentamento Califórnia respiraram a fumaça emitida por todos os fornos em funcionamen-to. Recentemente, a FGC fechou metade dos fornos para diminuir as emissões. Ao dizer da empre-sa, isso foi devido à preocupação pela poluição. Sabe-se porém que a escolha deve-se à redução de produção de ferro gusa em de-corrência da crise mundial. Atu-almente funcionam só 4 das 11 unidades que alimentavam a si-derúrgica da Vale em Marabá. A perspectiva em médio prazo para a FGC de Marabá é queimar car-vão mineral da África.

A medição da qualidade do ar nem sempre foi efetiva. No Plano de Gestão da Qualidade, o artigo previa a execução de um programa de avaliação da quali-dade do ar e de acompanhamento da operação do queimador. Con-

forme o Relatório de Controle Ambiental, para a avaliação da qualidade do ar deveria ser mo-nitorado o parâmetro ‘partículas totais em suspensão’ (PTS). Para isso, deveria ser instalado um equipamento do tipo Hi-Vol a ju-sante da área do empreendimento, com relação à direção predomi-nante dos ventos.

Também nesse caso, foi so-mente em 2008 que dois medido-res foram instalados. Até outubro do mesmo ano, a SEMA nunca

recebeu um relatório oficial sobre a poluição do ar; só chegaram al-guns relatórios por e-mail. A pró-pria Secretaria Estadual de Meio Ambiente não quis levar até o fim a ação contra a FGC. Apenas no-tificou a firma novamente em ou-tubro de 2008, mas nunca recebeu resposta a essa notificação, nem assumiu nenhuma providência por isso.

Há exemplos em profusão. Os assentados entregaram um lau-do médico à SEMA dando conta

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Fórum Carajás outubro de 2010 30

de vários problemas respiratórios, de pele e de vista em função da fumaça dos fornos, especialmente para com idosos, bebês e crian-ças.

No decorrer dos três anos de difícil convivência com a carvoaria, a comunidade de Ca-lifórnia por diversas vezes enca-minhou denúncias ao Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), ao Minis-tério Público Estadual e Federal, à Vigilância Ambiental, às Secre-tarias Municipais de Saúde e de Meio Ambiente. Representantes do assentamento estiveram várias vezes em audiências com repre-sentantes destes órgãos cobrando providencias, chegando inclusive a convidar estes para duas assem-bléias no assentamento. Ninguém da representação pública compa-receu.

O povo de Califórnia é conhecido pelo histórico de luta. Em março de 2008 os assentados, com o apoio do MST, promove-ram um ato político de ocupação simbólica da fazenda Monte Líba-no e de interrupção temporária da BR 010. O ato tornou-se notícia nacional e facilitou a mobilização dos órgãos públicos e da fiscali-zação da área. Infelizmente, ainda hoje em muitos casos o povo con-segue se fazer escutar pelo gover-no somente engrossando a voz.

e. A Suzano e o deser-to verde

No meio de todos esses conflitos sócio-ambientais, o que os movimentos temiam se fez concreto: a Suzano chegou. A em-presa logo alcançou certa fama na região. “No período de 05 a 31 de

agosto a fábrica paulista Suzano Celulose estará consolidando o seu programa de retirada compul-sória de comunidades tradicionais da região dos cocais e do Tocan-tins. (…) O complexo de planta-ção do eucalipto envolve, só na região dos cocais, 21 cidades e atinge centenas de povoados, co-munidades tradicionais: quilom-bolas e agricultores familiares, atingindo principalmente seu modo de viver, produzir e repro-duzir-se socialmente.” .

A própria empresa utilizou a expressão “bota-fora” em seu termo de referencia (Projeto SPC 1008). Um dos principais motivos que leva a Suzano a instalar-se no Maranhão é o grande volume de água necessário para atender às demandas de produção de celulo-se. O medo dos moradores da re-gião é o que vai acontecer de suas reservas de água e da esperança cada vez mais fraca de refloresta-mento com espécies nativas.

As florestas vendidas à Su-zano eram anteriormente da Vale. Somam 84.500 hectares de terra, sendo 34.500 hectares plantados com eucaliptos. A implantação de mais esta indústria de celulose tem como objetivo elevar a capa-cidade de produção de celulose e papel, das atuais 4,3 milhões de toneladas por ano até 7,2 milhões de toneladas.

Os investimentos da Suza-no podem chegar a US$ 700 mi-lhões entre 2008 e 2015 na forma-ção florestal no Maranhão . São Luiz do Paraitinga (SP), Nazária (PI), Santa Quitéria (MA), Euná-polis (BA): a lista de municípios e territórios em conflito com a Su-zano é grande. Inquieta imaginar que talvez mais esse desafio re-

caia sobre Açailândia. Uma terra marcada por uma distorcida visão de desenvolvimento.

As respostas organizadas do povo

Apesar dos conflitos, ou talvez exatamente em função deles, o povo de Açailândia, as comunidades e movimentos não desanimam e tentam se organizar. Um primeiro sinal disso é a re-sistência teimosa dos moradores de Piquiá de Baixo e de Califór-nia. Humildes e iniciantes na luta, mas corajosos e até agora muito unidos.

A própria arte se coloca a serviço dessa resistência e tenta moldar junto ao povo um sonho concreto de libertação. Os jovens do grupo Juventudes pela Paz (Ju-paz) montaram uma peça a partir das histórias e dos contos dos mo-radores de Piquiá . Ver-se repre-sentados no corpo e nas vozes de outros redobra as energias e espe-ranças dos lutadores daquele bair-ro, e multiplica na consciência de outros uma luta que deve ser de todos e todas.

Um outro eixo de denúncia e proposta articulada de alternati-vas é a campanha “Justiça nos Tri-lhos”, que tem em Açailândia uma de suas bases e pontos de divulga-ção. A campanha visa desmasca-rar a violência da companhia Vale e seus impactos sócio-ambientais. Além disso, propõe mecanismos concretos de repartição do lucro ao longo dos trilhos e articula as vítimas da multinacional em nível de Brasil e exterior. Nasceu no final de 2007 sob a coordenação de Missionários Combonianos,

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Fórum Carajás, Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Fórum Reage São Luís, Cáritas Mara-nhão, Sindicato dos Ferroviários e CUT. A campa-nha alcançou em breve tempo os atingidos pela Vale em MA, MG, PA, RJ, Peru, Argentina, Chile, Equa-dor, Moçambique e Canadá .

Ainda em Açailândia, em tempos de crise e desemprego, uma aliança entre movimentos sociais permitiu a criação do “Movimento Popular em fa-vor da Justiça e da Dignidade Humana”. Trata-se de uma rede de entidades, associações de moradores, sindicatos, comunidades cristãs em busca de enca-minhamentos locais para minimizar o impacto da crise e buscar alternativas e enriquecimentos para o modelo produtivo de Açailândia, marcado pela fragilidade e pouca diversificação. Esse movimento organizou em maio de 2009 um grande seminário sobre crise e desemprego. Um marco importante no município para provocar uma reflexão comum sobre temas tão delicados.

Último sinal de esperança e de organização popular é a Rede de Cidadania. Ela existe há dois

anos e junta lideranças populares do município., onde a construção da cidadania, do controle social e de todos os mecanismos de participação acontecem de forma interativa, mediante a pesquisa coletiva e a troca de saberes. Será desse curso e a partir dessa rede que Açailândia terá novos conselheiros de di-reito, mais preparados/as e fortalecidos pelas alian-ças transversais que deverão se tecer nos próximos meses.

“Que desenvolvimento é esse?” - pergun-tava o povo de Piquiá de Baixo com seus cartazes na manifestação em frente ao Fórum da Comarca de Açailândia. É a pergunta que ressoa ao longo de todo esse texto: qual é o mundo que sonhamos e que gostaríamos de entregar para nossos filhos? E os moradores, filhos primogênitos desse jovem muni-cípio de somente 26 anos, que mundo receberam no começo da cidade? O que sobrou de tanta riqueza natural? Em que direção queremos trilhar o tal de ‘progresso’?

Voltará o município a ser a “cidade do açaí”, à sombra dos saudosos piquiás?

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31 Fórum Carajás outubro de 2010

Page 32: Mineração na Amazônia: Estado, Empresas e Movimentos Sociais

Referências

IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, 2006www.vienairon.com.br – Exportação anual de 500.000 ton de ferro gusa, com um preço antes da crise de 750 $ por tonelada

Relatório Social Instituto Carvão Cidadão, 2005 - http://www.carvaocidadao.org.br/ata/relatorio_so-cial.htm

CARNEIRO, Marcelo Sampaio Crítica social e res-ponsabilização empresarial. Análise das estratégias para a legitimação da produção siderúrgica na Amazônia Oriental, Cad. CRH v.21 n.53 Salvador maio/ago. 2008, disponível em www.scielo.br

BRASIL. 1989. Secretaria de Planejamento da Pre-sidência da República. Programa Grande Carajás. Secretaria Executiva. Plano-diretor do Corredor da Estrada de Ferro Carajás. Brasília, NATRON. 536p

Ministério do Trabalho e Emprego/Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.

Procedimento n. 116/05 – Ministério Público do es-tado do Maranhão

SOUZA, Emilene Leite. “De passagem”. Univer-sidade Federal do Maranhão/UFMA Imperatriz

- CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA/CCSST 2009

MONTEIRO, Maurílio de Abreu . Siderurgia na Amazônia Oriental brasileira e a pressão sobre a floresta primária. In: II Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Am-biente e Sociedade - ANPPAS, 2004, Indaiatuba-SP. Anais do II Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Indaiatuba : ANNPAS, 2004. v. 1. p. 1-19

CARNEIRO, M e RAMALHO, R. A crise econô-mica mundial e seu impacto sobre as empresas de ferro-gusa: algumas informações sobre o desempe-nho recente das empresas guseiras e o desemprego no município de Açailândia. 2009.

Relatório Social Instituto Carvão Cidadão, 2005Relatório de Perícia Ambiental apresentado à Se-gunda Vara Judicial da Comarca de Açailândia, dr. Ulisses Brigatto Albino, Imperatriz 2007. Perícia re-alizada dia 05 de Dezembro de 2006

Estudo preliminar da situação ambiental da popu-lação de Piquiá, eng. Mariana de la Fuente Gómez, Açailândia 2007

Trabalho sim, Poluição não! - Carta aberta à cidade de Açailândia e às autoridades sobre a nova aciaria em construção no Piquiá - Paróquia São João Ba-tista, Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Hu-manos, Sindicato dos Metalúrgicos, Associação dos Moradores de Piquiá, Centro Comunitário Frei Tito, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Sintrasema, Sindimotaa, Associação Rádio Comu-nitária Açailândia

Parecer Técnico da Superintendência de Fiscaliza-ção, Licenciamento e Defesa dos Recursos Naturais da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mara-nhão - Antônio Cesar Carneiro de Souza e Cláudia Cristina Ewerton Dominice, abril de 2008

CARNEIRO, Denilton - Povos, comunidades tra-dicionais, políticas étnicas e desenvolvimento sus-tentável. http://www.ecodebate.com.br/2009/08/15/fabrica-de-celulose-promovera-bota-fora-nas-regio-es-dos-cocais-e-tocantins-no-maranhao-artigo-de-denilton-santos-carneiro/. Capturado no dia 15 de agosto de 2009.

Peça teatral “E ao pó voltaremos” - direção Xico Cruz – Açailândia 2009

Fórum Carajás outubro de 2010 32

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Itupanema em meio ao projeto Albras – Alunorte: o desencanto do mundo

1Gilvandro Ferreira Santa Brígida

A literatura sobre os grandes projetos na Amazônia sinaliza sobre os passivos sociais e ambien-tais. Os mais comuns são a pressão sobre os recursos naturais, o deslocamento de populações consideradas tradicionais, o inchaço das cidades, a elevação do preço da terra e de aluguéis.

Assim o foi a experiência na comunidade conhecida como Itupanema, no município de Barcarena, norte do Pará. O município abriga as principais indústrias da cadeia produtiva do alumínio do Brasil. O pre-sente artigo tenta fazer o registro sobre o processo da presença das empresas Albrás e Alunorte, vinculadas a Vale (a Vale Transferiu em Maio/2010 todas as suas participações na Albrás, Alunorte e da Companhia de Alumina do Pará-CPA para a Norsk Hydro) e a desagregação social e ambiental em Itupanema, numa peleja marcada pela desigualdade entre as partes envolvidas.

O trabalho coletivo na terra é uma prática social desenvolvida secularmente pelos agricultores/ribei-rinhos e extrativistas da Amazônia. Entre as particularidades tem-se a distribuição de tarefas por gêneros ou por faixa etária. A reprodução das práticas é produto de socialização no meio familiar. A relação de colaboração permite que os grupos familiares enfrentem as adversidades.

1 Sou bacharel e licenciado pleno em Ciências Sociais, com ênfase em Sociologia. UFPA.

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As famílias praticam a agricultura de subsis-tência, na qual o agricultor procura assegurar para sua família o alimento necessário. E só depois co-mercializa o que sobrou. Esse processo de comércio era realizado de vez em quando através da “marreta-gem ”.2

O processo de urbanização no município co-aduna-se com a chegada do projeto ALBRAS/ALU-NORTE, na década de 1980. As empresas integram o portfólio da Vale, hoje Norsk Hydro. As radicais transformações consistiram na expulsão de grupos familiares de seus sítios, na desagregação das famí-lias camponesas, onde a terra perde a condição de fornecedor de meio de subsistência, para transfor-mar-se em mercadoria.

Tudo começou antes. Lá nos anos 1970. A pressão sobre a terra e as riquezas vegetais e mine-rais, através dos grandes projetos, agrava os emba-tes sociais e a agressão ao meio ambiente na região amazônica.

Os grandes projetos constituem-se em prin-cipal instrumento da política desenvolvimentista concebida pelo governo militar de 1964. Tal política ressalta o potencial dos recursos naturais da região, em particular as riquezas minerais e a hidrográfica. Aos olhos dos estrategistas, a Amazônia não passava de vazio demográfico. Indígenas, ribeirinhos, qui-lombolas e tantas outras variações do campesinato local nunca existiam na cabeça dos militares.

Os problemas ocasionados por esse mode-lo de desenvolvimento só serão medidos nos anos posteriores, a partir do deslocamento das famílias de suas terras e convívio com questões até então total-mente desconhecidas.

A luta pela terra: grandes corporações versos comunidades tradicionais

Nos anos 1980 instala-se em Barcarena o complexo de alumínio ALBRAS/ ALUNORTE, parte do programa grande Carajás, provocando a desapropriação de aproximadamente quinhentas fa-mílias. O modelo de projeto instalado em Barcarena não internaliza riqueza no local. Assim explicam os tratados das academias.

A Associação dos Desapropriados de Barca-rena nasce anos mais tarde. Emerge pela necessi-

2 O processo consistia na mobilização de moradores para otimizar o transporte de mercadorias até Belém.

dade de fazer frente ao processo de expansão e de desenvolvimento econômico das empresas e contra a pauperização imposta aos antigos moradores do espaço onde a fábrica se instalou.

O problema da desapropriação volta à cena nos anos 1990, com a instalação das empresas do projeto Caulim – Pará Pigmentos S/A e Rio Capim Caulim S/A, também vinculada ao grupo Vale. Em 1993, a Companhia de Desenvolvimento Industrial do Pará (CDI) desapropriou famílias que moravam na localidade de Ponta da Montanha. Os moradores do local, situado em frente ao rio Pará, foram trans-feridos para a área do Curuperé, situada nos limites da Vila do Conde3. A comunidade da Montanha ce-deu lugar para a construção do terminal portuário de exportação do caulim.

Esta ocupação causou profundas transforma-ções na estrutura produtiva, e no modo de vida da população residente nas áreas atingidas. E princi-palmente quando estas mudanças não cessaram por completo, pois a cada dia surgem novos desafios. Entre eles como as “comunidades” atingidas devem criar novas estratégias de organização e de sobrevivên-cia, diante da força do capital que se implanta na Ama-zônia, em particular em Bacarena.

Barcarena registra novas tensões entre morado-res tradicionais e empresas do grande capital em fase de instalação no município, como a refinaria chamada Companhia de Alumina do Pará (CAP)4. O projeto ado-ta um processo de expulsão mais sofisticado e cruel do que há trinta anos. A instalação da CAP tem derrubado casas dos moradores locais. Assim ficam impedidos de voltar. A expulsão dos moradores assemelha-se a um regime de exceção.

Há resistências, ainda que débeis. Mas, o iso-lamento e as técnicas de terror promovidas pela em-presa acabam por fazer com que os moradores dei-xem suas casas em troca de indenizações miseráveis, que não garantem a compra de outro imóvel com as mesmas características do anterior. O que assusta neste modelo é que tudo é feito com a conivência do estado, ou seja, institucionalizado. Como resultado deste modelo tem-se a pauperização crescente do tra-balhador rural, embora havendo algumas exceções.

3 Considerada conglomerado urbano de Barcarena, onde outras famí-lias de antigos posseiros já habitavam.4 O projeto transferido da Vale para a empresa norueguesa Norsk Hi-dro (20%) e deve produzir 1,9 milhão de tonelada/ano na primeira fase e 7,4 toneladas no apogeu da produção. U$$2,2 bilhões devem ser investidos. A previsão é a produção se inicie em 2011.

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O Município de Barcarena

30 km separam o município de Barcarena de Belém, em linha reta. Na verdade, encontra-se sepa-rado de Belém pelo rio Pará e pela ilha das Onças, sem os quais poderia ser visualizado a partir de Be-lém. O município está estruturado para efeito admi-nistrativo com a seguinte configuração geopolítica: Barcarena, sede e Distrito de Murucupi – (Vila dos Cabanos, Vila do Conde, Vila de São Francisco, Vila de Itupanema, Vila Nova e Vila do Laranjal).

Segundo ROCQUE (1994), reza a tradição, que o nome “Barcarena” se originou do fato de ter existido, naquela localidade, quando ainda era uma Missão Gibirié, uma barca muito grande denomina-da Arena. Apesar da deterioração da barca, as pes-soas continuavam chamando aquela área de “Bar-caarena”; simplificando, então, para a denominação

“Barcarena”. Esta denominação foi usada para bati-zar o local que ainda existia em uma enseada pedre-gosa, coberta por uma grande casa chamada “Casa das Canoas”, do lado esquerdo da Matriz.

Sua elevação à categoria de “Vila” aconteceu mediante a promulgação da Lei Estadual nº 94, de 10 de maio de 1897, ocorrendo sua instalação em 02 de janeiro de 1898, conforme determinado no De-creto nº 513, de 13 de dezembro de 1897. Somente em 1956 foi reconhecida sua composição territorial, formada por dois distritos: Barcarena (sede) e Muru-cupi, permanecendo esta configuração territorial até os dias de hoje.

VILA DE ITUPANEMA E A ORGANIZA-ÇÃO SOCIAL TRADICIONAL

A Vila de Itupanema está situada na região Noroeste do município de Barcarena, à margem di-reita do rio Pará. A Vila corresponde a um peque-no núcleo urbano, servindo de área residencial de população ocupada em atividades agrícolas, pesca e pequeno comércio. Uma pequena parcela destes moradores trabalha nas empresas prestadoras de ser-viços para a ALBRAS – Alumínio Brasileiro S/A, e a ALUNORTE – Alumina do norte do Brasil entre outras.

Itupanema constitui uma antiga ocupação, como a sede de Barcarena e a Vila do Conde. Dife-

rindo das ocupações mais recentes, que surgiram em função do projeto ALBRAS – ALUNORTE, como: Laranjal, bairro Pioneiro bairro Novo e Romeu Tei-xeira (CHAGAS, 2002). Entretanto, não se pode deixar de frisar que a expansão de Vila de Itupane-ma, deu-se em função da implantação do projeto Al-brás e Alunorte.

A Vila de Itupanema tinha seus mais antigos registros de moradores vinculados à Freguesia de Beja, ou São Miguel de Beja, não se sabe ao certo.

Segundo os moradores mais antigos a deno-minação “Itupanema” deriva do nome de uma praia, cuja enseada chamava-se Panema. Na frente dessa praia havia uma grande quantidade de pedras, que os índios e os moradores chamavam de “Itu” (que em Tupi Guarani significa grande).

Na época os pescadores e todos os navegan-tes que seguiam rumo a Belém, paravam na praia de Panema, usando-a como abrigo, a fim de se pro-tegerem dos temporais e marés fortes, além de re-duzir o tempo e agilizar a viagem. Os navegantes acostumaram-se a dizer: “vamos parar aqui na praia de Itu-panema”, a partir daí denominou-se a vila surgida posteriormente, revela Odineide Valente, líder comunitária.

A origem de Itupanema, em si, não seria re-levante, não fosse à insistência do mito de origem, a demonstrar a existência de uma tradição, que tem o papel de legitimadora de direito a terra, em oposição aos invasores recém-chegados.

A partir da década de 80 a população da Vila de Itupanema cresceu, pois, à vila original foram agregados dois outros núcleos: Vila Nova e Vila União. A primeira criada para abrigar as pessoas que residiam nas terras onde foram instaladas as empresas Albrás e Alunorte. E posteriormente por trabalhadores atraídos pelo projeto e, embora não conseguindo se inserir neste, permaneceram nas proximidades das fábricas.

O bairro de Vila Nova surgiu em 1982, quan-do a ALBRAS reservou uma grande área para trans-ferir a população que residia nos sítios onde estão localizadas as instalações das fábricas e a zona por-tuária. Assim como a área do núcleo urbano, onde foram construídas as casas para os trabalhadores da Albrás e Alunorte. A partir daí o bairro vem tendo um crescimento totalmente desordenado, sem ne-

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nhum planejamento por parte do poder público. O Centro Comunitário de Vila Nova ficou com a res-ponsabilidade de organizar o loteamento das pesso-as que chegavam ao lugar.

O bairro da Vila União é o mais extenso e o mais densamente ocupado. Na mesma proporção es-tão os problemas, em virtude do seu acelerado cres-cimento, não há saneamento básico e infra-estrutura urbana. Este bairro se tornou uma grande área de ocupação, que foi muito combatida pelas empresas Albrás e a Companhia de Desenvolvimento de Bar-carena (Codebar), que tentou de todas as maneiras evitar a ocupação, usando inclusive a força policial. Vários líderes comunitários foram presos durante a ocupação, mas as empresas não conseguiram evitar o assentamento. O que vemos hoje na Vila União é o retrato do descaso de uma administração avessa aos interesses da população.

A Vila de Itupanema, durante muito tempo, teve um povoamento muito lento, constituindo-se, portanto, em um pequeno vilarejo de sitiantes rurais. Na década de 80, seu crescimento era ainda relativa-mente baixo. O aumento da população, assim como a expansão territorial acontece a partir do início da década de 90. Momento em que a vila recebe muitas pessoas excluídas do Projeto ALBRAS, e também trabalhadores oriundos da construção da Alunorte, que ajudam a fundar inúmeras áreas periféricas em Itupanema.

Após o assentamento das pessoas interessa-das, e com pouco tempo novas ocupações voltaram a acontecer. Foram impulsionadas pela migração de mineiros, maranhenses, gaúchos, entre outros. Para os antigos moradores de Itupanema é clara a aversão aos trabalhadores oriundos de outros estados, trata-dos como “os de fora”. Eles são responsabilizados pelos problemas provocados no lugar após a implan-tação das Empresas. Entre eles: roubo, prostituição, formação de gangues, etc, assemelhando-se à situa-ção relatada por Norbert Elias (op. cit.).

Os movimentos migratórios em Itupanema refletem, como em toda a Amazônia, o que ocorre no seu espaço, como reflexo do processo de ocupa-ção territorial e de mobilização da força de trabalho. Esta força de trabalho muitas vezes sem a qualifi-cação exigida para trabalhar diretamente nas em-presas, acaba ficando em áreas próximas ao projeto.

E constituem-se em bolsões de reserva de mão-de-obra barata e disponível para qualquer serviço pou-co qualificado.

BECKER, B. (1991) destaca o papel des-ta população flutuante, no sentido de viabilizar as grandes obras, os grandes projetos. Entretanto, há outro lado da questão a ser ressaltada. Esta popu-lação, que é atraída para área deste tipo, promove, também, um problema de natureza social pelo fato de não ser assimilada, em sua maior parte, nestes empreendimentos. Na medida, também, em que as atividades econômicas praticadas tradicionalmen-te nesta área (extrativismo vegetal, pesca, pequena agricultura) estão em crise, não podendo absorver outras pessoas.

Boa parte dos moradores mais antigos de Vila de Itupanema possuía sítios nas áreas ocupadas pela ALBRAS e pela ALUNORTE. A CODEBAR e a Companhia de Desenvolvimento Industrial (CDI) desapropriaram os terrenos localizados à beira do rio Pará. Nestes sítios eles trabalhavam nas roças, nas quais plantavam mandioca, milho, arroz, feijão, melancia, amendoim, como também pescavam, ca-çavam e coletavam muitas frutas. Entre elas: pupu-nha, bacuri, uxi, cupuaçu, biriba, piquiá, entre ou-tros, e ainda extraíam carvão.

Estes moradores se referem com muito pe-sar a estas perdas, pois não perderam simplesmente seus sítios, mas, como dizem na região, formas de sobrevivência. Pois de lá tinham como adquirir ali-mentos básicos importantes, sem estas alternativas, passaram a comprar estes produtos ou consumi-los em menor quantidade, e até deixar de consumir os de menor importância na dieta alimentar. Tem-se as-sim mais uma questão, a segurança alimentar.

Os moradores destas áreas ocupadas pela AL-BRAS – ALUNORTE moveram uma ação na justi-ça através da Associação em Defesa de Barcarena (ADEBAR) exigindo indenizações pelos seus sítios, já que apenas uma parte da população recebeu inde-nização. Esta ação se estende há quase trinta anos, sem resultado favorável para os moradores.

Segundo alguns dos antigos moradores, após a instalação da ALBRAS e da ALUNORTE; ocor-reu uma diminuição significativa na quantidade e tamanho dos peixes, que costumavam pescar nos

“pesqueiros” (locais onde os peixes se concentra-

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vam), e que também, são encontrados, com freqüên-cia, peixes mortos na orla, mais próximo ao terreno daquelas empresas.

Entre os anos de 2003 a 2008 aconteceram vários acidentes ambientais nas praias de Itupane-ma, com o registro da mortandade de peixes. Fato registrado nos jornais de grande circulação do Esta-do, e também através de informações do Sindicato dos Químicos de Barcarena. A entidade representa os trabalhadores da Alunorte, empresa responsável por algumas das contaminações.

O processo de redefinição do território no município de Barcarena tem inúmeras implicações, a exemplo do que ocorreu para a construção do nú-cleo urbano ou Vila dos Cabanos. A expulsão das populações tradicionais para a implantação do pro-cesso industrial inviabilizou a agricultura familiar. A pequena dimensão dos lotes na Vila Nova, local de reassentamento dos moradores, onde atualmen-te se encontra a área do projeto Albrás/Alunorte é revelador sobre assunto. As áreas foram entregues totalmente desmatadas, sem as plantas e árvores fru-tíferas da região e o solo impróprio para o plantio.

Atualmente apenas uma pequena parcela da população de Itupanema se dedica às atividades agrícolas, embora morando na área urbana. Exercem um misto de atividades, pelo que pode ser observa-do, trabalhando em pequenas roças e também prati-cando atividade de natureza urbana, como pequenas vendas, e fazendo “bicos” diversos como estratégia de sobrevivência. Isso mostra o quanto é importante o apego a terra. Mesmo com todas as intervenções praticadas, a pequena agricultura, embora de forma restrita ainda resiste.

A pesca artesanal também é considerada uma atividade fundamental para a sobrevivência da po-pulação local. Existem poucos pescadores, em torno de trinta famílias que resistem nesta atividade. Como já citado, a quantidade de peixe sofreu redução em função das contaminações e o constante trânsito de navios que trazem e levam matéria prima para as empresas.

Na visão capitalista trazida junto com as em-presas, vida rural é parte do passado, e por isso há uma necessidade urgente em urbanizar Barcarena. A população local, no planejamento dos grandes pro-jetos, aparece como um entrave, como um obstáculo

para o desenvolvimento da região, que deve ser re-movido em nome do progresso.

Hoje na Vila de Itupanema o passado é repre-sentado pela igreja católica que esta localizada na Praça Matriz, a escola Presidente Dutra que data de 1950 e o cemitério da cidade. Fora isso, tudo mu-dou, o lugar calmo e bucólico está presente apenas na memória dos antigos moradores.

A realidade de Itupanema é apresentada de forma mais crua pelos filhos dos agricultores, que no momento das desapropriações eram crianças. Hoje, adultos, não encontram terra suficiente para plantar. Por isso não podem ser agricultores, nem tão pouco pescadores, já que a pesca ficou inviável com a cria-ção do Porto da Vila do Conde e as contaminações ambientais ocorridas no rio Pará. Por outro lado, também não tiveram a oportunidade de estudar para adquirir uma profissão. A geração de jovens de hoje não possui, a princípio, as condições adequadas para pleitear um emprego na região. Restou para estas duas gerações o direito de assistir ao crescimento es-pantoso das empresas ALBRAS/ALUNORTE e per-ceber o quanto o sonho de trabalhar ficou distante.

Durante estes longos anos de projeto não foi apresentado qualquer projeto de inclusão para os jovens de Itupanema. Percebemos o crescimento da violência, prostituição infantil, o alcoolismo e a mendicância no município, são problemas tipica-mente urbanos.

Do outro lado, as empresas da Vale apresen-tam os melhores índices de crescimento econômico de sua história, principalmente as apresentadas nes-te artigo. Hoje as empresas da área de alumínio são as “meninas de ouro” da Vale, mas as comunidades, em nenhum momento são lembradas. As empresas esquecem a divida social, que em três décadas de projeto em solo Barcarenense se amplifica. Ao lon-go dos anos de exploração de Alumínio e Alumina na região, o que tem ficado é o rejeito enterrado na terra que alimentava os filhos e filhas de Itupanema.

Memória e Desencantamento A história oral pode fornecer elementos difí-

ceis de serem encontrados em documentos ou livros. Pode fornecer informações novas, bem como a cha-ve explicativa de fatos. Apesar dos depoimentos que envolvem a memória, se constituírem em história construída a posteriori, contém marcos temporais

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pessoais e coletivos que permitem contar a história de outra maneira. Nos relatos, encontramos certa idealização do passado e uma construção dramáti-ca do passado mais recente, no entanto, trabalhar os depoimentos relacionalmente (BOURDIEU, 1989) permite evitar a naturalização dos depoimentos.

Memória de Itupanema - a linha da história através do olhar de um pescador

O depoimento do pescador aposentado Euri-co, que mora na região desde 1928, ajuda a elucidar o processo de redefinição da realidade de Itupanema. O pescador rememora que em 1940 o número de famílias era pequeno, a iluminação garantida através do querosene, as casas cobertas de palha e o lazer vi-nha de bandas do vizinho município de Abaetetuba.

Aqui o pescado era farto, não tinha bandida-gem. Cada um tinha a sua roça, seu forno de farinha, lembra Eurico. Conforme o pescador, o quadro co-meçou a ser alterado a partir da década de 1950. E se agravou com a instalação das empresas da Vale. Sobre a redução do peixe pondera que: “a Alunorte despeja aquele licor dela. Com essa soda cáustica, morre muito peixe. Morreu muito. Hoje tem gente aqui que passa até fome. Tem apenas alguns pés de manga”. As transformações se aceleram em 1985, sublinha o pescador.

Além do processo de reconfiguração do ter-ritório da região, Eurico salienta o papel coercitivo da empresa. Segundo Eurico, a Albras tem mandado até prender quem entra em áreas controladas pela empresa e proibir a produção de carvão:

Gilvandro - Por que as empresas da Vale proibiram de fazer carvão?Eurico - Por que é tudo dela isso aí. Enganaram o pessoal que está até para Brasília. São 580 famílias que estão na justiça O dinheiro está lá nós já demos 50 cruzeiros e mais 50 para o advogado, está corren-do há mais de dez anos. E nada foi resolvido. Teve gente que pegou 20 cruzeiros de indenização, o que dá isso?Gilvandro - Mas o que foi esses 20 cruzeiros? Para que?Eurico - Para pagar a casa e o terreno. Nós lá em cima trabalhávamos com o japonês, Tako Yamada. Ele disse: Eu dou 800. O terreno é grande. Mede

100 por 200 metros que eu vejo para ti. Foi ai que eles foram na casa do Dr. César...Gilvandro - César Bentes?Eurico - Sim, eu fui também. Olha, viram os pés de planta, os seis fornos, duas tarefas de roça, uma casa de farinha e a casa. Ele disse : vamos pagar só o forno, com a casa da farinha e as roças. O sítio com as casas fica pra depois. Vamos dar 20. Eu dis-se: não, 60. Aí fiquei com 60. Fiquei com dinheiro. Eles primeiro davam cheque. Aí peguei os 60, 20 e depois 40. Aí não pagaram. Fui chamado em Barca-rena. Não veio o da casa, só o do forno com a roça e a casa de farinha. Tem um dinheiro para a gente lá. Mas nunca mais veio.Gilvandro - Vocês entraram na justiça?Eurico - Foi o advogado que botou, mas está lá em Brasília... O padre está no meio, também.Gilvandro - Qual padre?Eurico - Eu me esqueço o nome do padre. Acho que é o padre Primo.Gilvandro - Na época ele estava aqui em Itupane-ma?Eurico - Sim. Na época ele estava aqui.Gilvandro - A igreja tinha terra, também?Eurico - Ele estava a favor da gente.Gilvandro - Ah, ele ajudou.Gilvandro - Como foi essa organização de vocês para entrar na justiça contra a Albras?Eurico - Eles vieram de Belém, o meu concunhado tinha também um terreno, deu cincoenta, encheu o centro paroquial lá de Barcarena. Eles falaram isso custa muito a justiça talvez uns três ou quatro anos, já tem mais de 20 anos e nada. Este dinheiro esta lá em Brasília.Gilvandro - Quantas famílias na sua época foram desapropriada?Eurico - Quinhentas e oitenta, agora já botaram oi-tocentas, novecentas, mas é mentira é somente qui-nhentas e oitenta famílias.Gilvandro - Quinhentas e oitenta famílias foram de-sapropriadas aqui em Itupanema?Eurico - Praticamente sem nada, pois deram uma besteirazinha, compraram terreno aí na Vila Nova onde estão morando, outros estão lá pro CDI, lá pra colônia.Gilvandro - A Vila Nova eram pessoas que mora-vam lá no núcleo urbano?

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Eurico - Não eram do Murucupi, do centro que cha-mavam assim.Gilvandro - Aonde é a Albras e a Alunorte hoje?Eurico - Não na Albrás e Alunorte era o pessoal do Conde, era muita gente do Conde. Era a turma que morava aqui pra trás.Gilvandro - Onde foram desapropriadas as terras?Eurico – Foi.Gilvandro - E ai formou a Vila Nova?Eurico - Formou a Vila Nova, e aqui pra trás foi a Code-bar que desapropriou. Depois invadiram.Gilvandro - O Jardim cabano era terras de vocês?Eurico - É todinho invadido. Gilvandro - Eram terras dos moradores?Eurico - Pra cá os Valentes, pra lá era de outros mo-radores.Gilvandro - Itupanema basicamente era da família Valente, ou tinham outras famílias?Eurico - Aqui atrás tinha a família Valente, ali em baixo os Cruz. Não era muita gente. Era bem dizer mais ou menos uns quinze. Com os filhos era mais. Gilvandro - Não se faz mais farinha, carvão, não se tem mais terra?Eurico - Tem, mas eles tomaram.Gilvandro - Tem terra, mas não é mais dos mora-dores?Eurico - Ficaram com as terras. Nós tivemos duas audiências. Uma lá na câmara que foi o pessoal da Alunorte, deixa estar por ali falou e tal. Ai do Muru-cupí ganharam. Estão ganhando 15 cestas básicas.Gilvandro - Da época da contaminação?Eurico - São agora os daqui de fora não, veio o pes-soal da Alunorte ai. Veio pessoal da ação social, as duas secretárias. A Michelle, que é a presidente fi-cou de vir mais não veio, pois vinha o presidente da colônia. Gilvandro - Mais pra falar com os pescadores?Eurico - É... que elas ainda disseram: cesta básica era bom. Amanhã a gente vem aqui pra conversar. Eu disse não, é o seguinte: por que isso aí, vai ser todo o tempo, vai chegar um tempo da gente pisar na praia e encher o pé todo de piche. Vai ter mais fábrica aqui, já estão fazendo outra pra bando de Conde de novo. Gilvandro - Como é a situação dos pescadores hoje?

Eurico - Ah, é muito difícil com a Alunorte. Disse: olha pra Alunorte e a Albrás dez ou quinze barcos com redes é o mesmo que dar um doce pra uma criança. Não é nada.

- eu vou lhe explicar logo aqui na Albrás e na Alu-norte, uma barcada desses com alumínio, paga tudo e ainda sobra. Dá muito resultado isso.Gilvandro - Quem falou foi o Funcionário da Alu-norte?Eurico - Sim, ele disse vamos ver como é. Ficaram de vir e não vieram mais. Gilvandro - Essa reunião foi com os pescadores?Eurico - Foi só com os pescadores.Gilvandro - Existe colônia dos pescadores em Itu-panema?Eurico - Não, tem em Barcarena. Na sede tinha um rapaz aqui. Mas, só fazia cadastrar os pescadores.Gilvandro - Quem é o presidente da comunidade?Eurico - Era o seu Morais e o Pancho. Agora eles estão fora porque vai ter eleição que é pra ver quem é fica de novo. Gilvandro - Existe outro centro comunitário?Eurico - Tem o outro centro da Vila Nova.Gilvandro - E como é a relação de Itupanema com os moradores de Vila Nova? Como é que vocês se entendem?Eurico - Isso aí é tudo Itupanema. Lá só botaram o apelido de Vila Nova, mas é tudo Itupanema. Tem uma igreja lá. Uma festa do livramento acontece em maio. A nossa é em setembro, Nossa Senhora das Dores é a padroeira.Gilvandro - E a Vila União?Eurico - Vila União é pra trás da invasãoGilvandro - Invasão?Eurico - É invasão. O Moraes falou se ganhasse a eleição, ele ia fazer um troço muito bacana. Ele me disse: olhe seu Eurico eu vou fazer minha prestação de conta aqui então eu falei: vamos ver se ele vai fazer mesmo. Entra prefeito sai prefeito aqui não faz nadinha. O Laurival Cunha só botou água.Gilvandro - As Empresas desenvolvem algum tra-balho na comunidade?Eurico - Se fez alguma coisa foi a Albrás.Gilvandro - O que ela fez?Eurico - Há... isso aqui, né?Gilvandro - Bloquete?Eurico - Bloquete. Ajeitou a praça. Em Vila Nova

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fez uma, como é que chama essa coisa de bater bola?Gilvandro - Quadra.Eurico - E a Igreja lá que eles ajudaram a forrar o telhado ficou bonito. Nós não temos ajuda de nada, o prefeito não ajuda em nada.Gilvandro - O senhor passou toda estas mudanças depois que vieram as empresas, a vida aqui do povo de Itupenema, como ficou?Eurico - Em parte piorou. O pessoal daqui não tem trabalho. Quando aparece ele pedem dois, três anos de experiência. Daqui não tem quatro pessoas na Al-brás.Gilvandro - Aqui de Itupanema?Eurico - Da Vila Nova parece que tem dois. Daqui agora não tem nenhum.Gilvandro - Tem muito jovem aqui na idade de tra-balhar?Eurico - Tem. O que não tem é emprego.Gilvandro - Não tem emprego?Eurico - Se você vai numa firma atrás de emprego, eles mandam para o Serviço Nacional de Emprego (SINE). Lá eles distribuem senhas. E mandam voltar no outro dia. Lá no SINE eles distribuem sopa para as pessoas desempregadas. Tem gente que vai só pra beber aquela sopa e volta.Gilvandro - Há muito desemprego aqui em Itupa-nema?Eurico - Muito desemprego. Principalmente o pes-soal que mora na beirada que vive da pesca. O pre-feito podia nos ajudar.Gilvandro - Como seu Eurico?Eurico - Assim, com uma cesta básica para as famí-lias. Eu não. Eu e a minha mulher já estamos apo-sentados pela pesca. Hoje tem gente passando fome aqui.Gilvandro - Quantos pescadores existem ainda aqui em Itupanema?Eurico - Quinze.Gilvandro - Quinze pescadores ou quinze famí-lias?Eurico - Só quinze pessoas.Gilvandro - Só quinze que pescam, e os outros?Eurico - Temos pouco pescador aqui.Gilvandro - Mais antigamente tinha muito pesca-dor?Eurico - Tinha um bocado de pescador. Uns já mor-

reram, outros já trabalham em outro serviço.Gilvandro - Trabalham onde?Eurico - Fazem bico por aí e vão vivendo a vida.Gilvandro - Bico?Eurico - Trabalho de carpinteiro e pedreiro. Não tem emprego pra eles.Gilvandro - Mudaram de profissão para poder so-breviver?Eurico - Sim. Agora os quinze que tem aí tem que ser da pesca mesmo.Gilvandro - Eles continuam pescando?Eurico - Sim. Gilvandro - Eles possuem barco?Eurico - Não. Só canoa pequena.Gilvandro - Canoa pequena?Eurico - Arranjam normalmente da bóia. Então, esse da Alunorte disse: Olha o barco servia pra vo-cês. Era bom o barco porque daria pra pegar peixe mar afora.Gilvandro - Pra poder pegar peixe maior, seu Euri-co, tem que ter um barco maior?Eurico - Um barco pelo menos para duas toneladas.Gilvandro - Para poder ir mais fora?Eurico - Sim, para poder ir lá pra baixo.Gilvandro - Porque tem que ir mais fora?Eurico - Porque não tem peixe aqui na beira?Gilvandro - Não tem mais peixe?Eurico - É Pra baixo mesmo, daqui mais duas horas de viagem. Lá pra baixo. Pra gente topar com peixe. Aqui perto não tem mais. Tem besteira de peixe.Gilvandro - Antes do projeto Albrás/ Alunorte dava muito peixe aqui em Itupanema?Eurico - Dava muito... deixa eu ver... Faz trinta anos. Foi na década de 70. Tinha dia de 18 geleiras na boca do arrozal. Enchia duas, três, quatro e ia embora.Gilvandro - Pra onde seu Eurico?Eurico - Tudo pra Belém. Gente de lá do Pacoval. Gente de Soure, Vigia, Icoaraci, Mosqueiro, Marudá e até de Bragança. Tudo pescava nesta área. Tinha muito peixe aqui.Gilvandro - Qual o peixe que dava?Eurico - Piramutaba. Muita piramutaba. Dava piraí, peixe pra 80 quilos. E começou tudo. Gilvandro - Começou o que?Eurico - As Empresas... Sumiu o peixe, de uma hora pra outra. Sumiu pouquinho, a piaba não veio mais.

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Gilvandro - Dava muita piaba?Gilvandro - O senhor que em sua Itupanema pre-senciou fartura depois viu também o sumiço dos peixes. O que o senhor acha que poderia resolver este problema aqui dos pescadores e suas famílias? Senhor falou que as empresas vão permanecer em Barcarena?Eurico - Sim daí pra frente não vai diminuir mais não.Gilvandro - O que o senhor acha que pode resolver a vida desses trabalhadores que estão aí sofrendo por conta da falta do peixe?Eurico - Uma coisa eu disse no dia da reunião que fizeram com a Alunorte. O barco era bom. E depois do barco era fazer um cadastro dos quinze pesca-dores para receber um salário mínimo pra ajudar as famílias.Gilvandro - Melhoraria a vida deles?Eurico - É. Cadastrava os quinze pescadores que tem aí pra pegar aquele salário mínimo todo mês, se não os barcos.Gilvandro - O senhor acha que os barcos poderiam ser comprados pelas empresas?Eurico - Sim, porque isso cada vez mais vai ficar pior.Gilvandro - O senhor costuma conversar com os outros pescadores ?Eurico - Sim.Gilvandro - Tem acontecido contaminação aqui?Eurico - Teve umas duas vezes no tempo do inver-no. Ali tem uma “baciona” , que tem o licor. Vem a bauxita bota soda caustica e aí vasa pro rio. Mata o peixe. É tui, é piabinha, doradinha, pescada, arraia. Deu até na televisão.Gilvandro - Ocorreram outras contaminações?Eurico - A primeira vez foi uma balsa que foi pro fundo. Não sei quantos litros de óleo que derramou no rio. Apareceu também na televisão. Eles deram quatrocentos e poucos mil. A presidente da comuni-dade foi esperta. Ela disse o seguinte: nós estamos precisando de água em Itupanema. Eles deram em serviço.Gilvandro - Não indenizaram os pescadores?Eurico - Esse dinheiro era pra dar ao menos 1000 para cada um, e ficasse com o resto. Eles fizeram o serviço na Vila Nova que não prestou.Gilvandro - Eles fizeram a caixa d’água e não deu certo?

Eurico - Não deu certo. Não fizeram a caixa d’agua. Só as tubulações. Enganaram a gente.Gilvandro - Tem água em Itupanema?Eurico - Tem, tem bastante água. Lá é da Compa-nhia de Saneamento do Pará (Cosanpa). Gilvandro - Quer dizer que lá já foi a prefeitura que fez no caso e não dá água?Eurico - Não. É da Cosanpa. Vem direto pra láGilvandro - Funciona o abastecimento?Eurico - Agora aqui é de poço. Nós pagamos 5,00 para o presidente da comunidade. Agora lá na Vila Nova eles pagam 7,50 no correio para a Cosanpa.Gilvandro - E os jovens hoje, o senhor tem filhos?Eurico - Os meus filhos já têm famílias.Gilvandro - Como é que você vê os jovens aqui em Itupanema sem essa oferta de emprego?Eurico - Já tem muito molecote. Olha outra coisa que vou dizer os meninos daqui com dez, doze anos tinham seus fornos, seu carvão, eles pescavam, fa-ziam roças e ajudavam muito os pais. Depois que Albrás veio. Veio maranhense, piauiense, vem de tudo e a maconha veio no meio. Muitos desses é da maconha.Gilvandro - Muita droga?Eurico - Gangue no meio. São poucas as famílias que tem filhos legais. Alguns estudam, quando tem uma folga metem um pererê. Gilvandro - O que o senhor acha que seria necessá-rio para melhorar a vida desses jovens?Eurico – Olha, eles botaram karatê pra luta. Tinham que botar era uma oficinaGilvandro - Oficina.Eurico - Uma oficina para aprender negócio de mó-veis. Uma escola pra aprender mecânica. Essas coi-sas assim seria muito bom.Gilvandro - Profissionalizante?Eurico - Seria bom para os meninos. Eles pegavam gosto e iam trabalhar.Gilvandro - Nunca aconteceu nem um curso profis-sionalizante aqui?Eurico - Nada. Um tempo que apareceu para ele-tricista e encanador. Alguns jovens daqui fizeram e pegaram emprego. O menino, o filho do meu com-padre Vanildo é eletricista. O Elizeu é eletricista. Ainda tem mais quatro ou cinco eletricistas e alguns encanadores. Os cursos deviam acontecer sempre.

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Gilvandro - Essas pessoas de fora são mais ou me-nos de qual estado?Eurico - Piauí, Maranhão, Parnaíba e Rio Grande do Norte.Gilvandro - E como vocês se relacionam com as pessoas de fora?Eurico - Agente se dá. Conversa com eles. São ba-canas.Gilvandro - O senhor falou em sítios, como eram esses sítios?Eurico - Sítio é quando tem Açaizeiro, Mangueira, Abacabeira.Gilvandro - Mas era vocês que plantavam mesmo?Eurico - Agente tinha sítios plantados. A Albrás to-mou conta de tudo.Gilvandro - Vocês vendiam pra quem?Eurico - Vendia pro marreteiro, que levava pra Be-lém.Gilvandro - E dava algum dinheiro?Eurico - Dava. Deus o livre. Esse que veio aqui ago-ra o compadre Bené dava era duas viagem por sema-na. Ele ia cheio de pupunha, uxi, abacate, cupuaçu. Itupanema era o 1° produtor de cupuaçu daqui.Gilvandro - Era mesmo?Eurico - Era sim, laranja dava muito, acabou tudo. Eu me sinto meio triste. Tanta gente passando fome aí. Não tem nada. Era muito farto aqui o que estra-gou foi isso aí.Gilvandro - As empresas?Eurico - É lá no Conde tá tudo seco. O menino dis-se: a minha mãe vem morar pra cá, o vento joga pra lá todinho a fumaça das empresas. Os açaizeiros tão todo vermelho na beirada. Olha não era tão calor agora é mais calor que de antigamente porque a po-luição sobe se pega com o sol e dispara muito calor.Gilvandro - O senhor se sente muito triste por tudo?Eurico - É porque tem gente que não tinha nenhum ganho e ia pra fora pegar um peixe. Dez quilos de pescada eu pegava de linha de mão. Se eu botasse a rede era de vinte quilos. Agora pega um quilo, dois é triste mesmo. Não tem fruta pra vender. Tem que comprar a farinha. Tem que comprar o carvão.Gilvandro - O sr. estava falando sr. Eurico das pes-soas que foram remanejadas do Conde e das pesso-as que moravam aqui.Eles vieram pra cá, para Vila Nova?

Eurico - Para Vila Nova, não só as pessoas que tava daí mesmo. O de lá de onde era Alunorte/Albrás fo-ram tudo para Bacuri, Colônia Nova, CDI, Massara-pó, e agora criam peixes. Está bom lá pra eles. Falei com uma comadre... Ah compadre, graças a Deus. Tem Rio Capim, para subir em cima do terreno deles pagaram 40 mil, e ainda deram um lugar para eles. O pessoal tem cooperativa para lá: maracujá. Agora peixe. Vão fazer gaiola para criar peixe.Gilvandro - Aqui em Itupanema, sr. Eurico, tinha condição de fazer esse trabalho, tipo cooperativa?Eurico - Aqui não adianta mais.Gilvandro – Qual o motivo? Eurico - A terra está tomada. Olha, aqui para bai-xo tem mais ou menos 4 km. Daqui até no Caripi a Albrás não deixa tirar nem uma vara. Não tem nin-guém aí. Nem um morador.Gilvandro - Mas porque, o que ela alega?Eurico - Porque é dela.Gilvandro - Mas ela faz algum trabalho?Eurico - Meio Ambiente. Não pode derrubar. Não pode morar. Lugar até pra lá que já é CODEBAR a pessoa pode até entrar, fazer uma casinha. Mas aqui não. Deus me livre. E o pescador que fez lá uma casa, pescava camarão. Há muitos anos lá. Chegou a Albrás. Tira sua casa daí, que não pode. Deram dinheiro para ele, comprou telha para ele e tábua. Fez a casinha dele. Ele vendeu, foi embora. Aí um rapazinho fez uma puxada na praia. Foram lá. Quei-maram a barraca dele. E ele era pescador.Gilvandro - Mas quem queimou a barraca dele?Eurico - O pessoal da AlbrásGilvandro - Que ano foi isso?Eurico - Está fazendo uns cinco anos.Gilvandro - E era pescador aqui de Itupanema?Eurico - Filho da Ilha. Mas casou com uma mulher daqui, que a mulher ficou até aí. Não pode. Quando chegou uns dias aí estava queimada a casa. Era uma pena. Era uma puxada de palha.

O depoimento de seu Eurico é de grande ri-queza e mostra como os moradores de Itupanema vivenciaram o processo de desapropriação, implan-tação e operação das fábricas. Alguns dos muitos pontos levantados são dignos de nota e serão co-mentados a seguir.

A memória permite a reconstrução de paisa-gens perdidas. seu Eurico descreve vividamente as

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árvores, os botecos, os lampiões, as casas de palha e a banda que alegrava as festas. Talvez não haja qualquer imagem desta paisagem, mas a descrição de seu Eurico permite a reconstrução da paisagem.

Nota-se o interlocutor trabalha como é fre-quente encontrarmos nos depoimentos de pessoas que vivenciaram grandes perturbações, uma cons-trução feita de oposições, marcada pela temporali-dade de um evento: a chegada das fábricas. Assim, antes, a natureza distribuía copiosamente seus frutos e o peixe abundava nos rios. Um passado que, por melhor que tenha sido, é vivido de forma idealizada. Por outro lado, o depois fica imerso na tragédia e é marcado pela falta, pelo bem limitado, pela fome. A fome parece ser a categoria crítica definidora do antes e do depois.

Outra categoria associada ao depois é o “en-gano”. As empresas enganam, enquanto que o antes era marcado pela confiança e pela solidariedade. O evento das desapropriações - que mais foram expro-priações ou expulsões - é o marco temporal central e o seu promotor lembrado por muitos pelo nome.

A construção mais reveladora se dá em torno da poluição. Essa é apropriada e descrita segundo

uma lógica nativa baseada nas relações com a natu-reza, mas também é o instrumento de reivindicação. A ideia da compensação dos danos perpassa as rela-ções com a empresa. A poluição coloca a empresa em dívida, por isso podem ser cobrados desde os barcos ao salário mínimo, à infraestrutura urbana ou o reparo da igreja.

Por outro lado, a empresa manipula as obras, disputando espaço de poder com a prefeitura do mu-nicípio. A implantação das indústrias de alumina e alumínio não atendeu a expectativa de desenvolvi-mento da grande maioria da população de Barcare-na. Pois esses projetos fizeram uma opção por um modelo fundamentado nos princípios capitalistas e privilegiaram alguns grupos econômicos, em detri-mento da agricultura familiar tradicionalmente utili-zado na região.

Estes agricultores receberam pouco apoio, uma vez que nenhuma política foi criada para mini-mizar os impactos provocados pelo modelo de pro-dução trazido para o município, constatando que a agricultura familiar sempre ocupou um lugar secun-dário na sociedade brasileira (Wanderley, 1996).

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Referência

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Energia limpa na ponta e desgraça na fonte, resultado de mega hidrelétricas na

Amazônia

Edilberto Sena1

O consumismo capitalista, tanto nacional com internacional, olha a Amazônia com olhos de cifrão, eldorado, lucro, mesmo que para isso aconteça o saque, a destruição e os impactos sociais e ambientais. Como o alarme mundial, por causa do aquecimento climático, se intensificou nos últimos 20 anos: o sis-tema fantasiou o chamado desenvolvimento sustentável para continuar o saque do eldorado amazônico. A partir do ano 2.000 o saque se intensificou, mineradoras, agronegócio, madeireiras, fazendas de gado e também mais recente, as obras do tal Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.

1 Rádio Rural de Santarém e Frente em defesa da Amazônia.

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Como entender o PAC do governo federal, num momento histórico em que se discute os efeitos das mudança climáticas no planeta e a Amazônia é um dos pontos chaves para esse controle? Será ele o prosseguimento do an-terior “Avança Brasil” do gover-no FHC? E se for, o que parece, o que estará por trás desses pro-gramas megalomaníacos, mesmo quando se fala em defesa da Ama-zônia, controle do desmatamento e coisas parecidas?

Como não há transparência da parte das autoridades federais, é preciso se buscar causas que são camufladas por presentinhos amansadores da população regio-nal. Daí, o PAC reserva alguns milhões de reais para saneamento básico aqui e ali, alguns milhões para alguns programas ambientais aqui e por ali, tudo para as popu-lações se iludirem que o PAC veio para melhorar a vida dos nativos. Santarém, por exemplo, tem pre-vistos R$ 75 milhões do PAC para saneamento básico da cidade.

Porém, do total previsto (504 bilhões de reais) para ser gasto em cinco anos, até 2012, dois terços serão gastos em gran-des projetos tais como, rodovias, hidrovias, ferrovias, hidrelétricas e telecomunicações. Então, os re-cursos do PAC na maior parte, não são para beneficiar as populações em si, mas o crescimento econô-mico. E todas essas obras estão previstas num outro plano maior e mais abrangente de crescimen-to econômico, o IIRSA (Iniciati-va de Integração da Infraestutura Regional Sul-Americana), criado já no ano 2.000 entre os presiden-

tes dos países da América do Sul, sob inspiração do Banco Intera-mericano de Desenvolvimento, o BID. Tal plano tem o objetivo de interligar os países da América do Sul desde o oceano Atlântico ao Pacífico, através de corredores de circulação de transportes de pro-dutos ainda abundantes neste con-tinente e ansiosamente procurados pelos países do G-8 e os emergen-tes que estão crescendo, apesar da crise econômica mundial.

É neste contexto que se deve compreender os grandes projetos do PAC. Entre outros, cinco hidrelétricas só na bacia do rio Tapajós, num total de cerca de 15 mil mega wattz de energia, que o presidente da república costu-ma alardear que é abundância de energia limpa. Grupos da socieda-de civil organizada em Santarém, Itaituba, entre os índios Munduru-cus e até em coordenações de uni-dades de conservação no entorno da bacia to rio Tapajós se pergun-tam – energia limpa e abundante para quem? Indagado quatro me-ses atrás em Brasília por um inter-locutor da Amazônia, o ministro do meio ambiente, Carlos Minc desviou a resposta e só disse que era para o desenvolvimento da Amazônia. O interlocutor riu ironicamente do ministro que se fazia de bobo, porque sabia que a resposta honesta seria – para atender às empreiteiras que con-trolam os contratos de construção de barragens no Brasil inteiro e, principalmente atender à fome de eletricidade intensiva das grandes empresas mineradoras que estão e vão se instalar na região, especial-mente no oeste do Pará.

A Eletronorte já vem tra-

balhando no programa de cinco hidrelétricas no Tapajós/Jaman-xim há mais de 10 anos, silen-ciosamente e sem dialogar com as populações ribeirinhas e da re-gião do Baixo Amazonas que será toda impactada pelas obras fara-ônicas. Apenas nos dois últimos anos, alguns grupos do movimen-to popular organizado descobri-ram que a coisa era urgente para o Ministério das Minas e Energia e a Eletronorte. Os estudos já esta-vam bem adiantados e nunca eles chamaram a sociedade regional e menos ainda os moradores, os indígenas e os responsáveis pelas áreas de conservação que serão atingidas pelas barragens.

Segundo dados da Eletro-norte o cronograma está assim montado: o estudo de viabilidade já foi feito, agora chega o pedido de licença para o EIA RIMA, se possível ainda antes do fim deste ano. Em 2.012 deve ser dada a li-cença de operação, depois de fala-ciosas audiências públicas, como foram as de Belo Monte dias atrás. E assim por diante, de forma que se não houver entraves, até o ano 2.018 as primeiras turbinas esta-rão gerando 6.000 megawatts em São Luiz do Tapajós.

Em recente encontro em Itaituba (21/08) a convite do Con-selho Consultivo do Parque Na-cional da Amazônia, estiveram em confronto duas exposições, com visões opostas de Amazô-nia e de desenvolvimento. Três técnicos da Eletronorte (dois de Brasília e um de Manaus) compa-receram para expor o cronograma e as vantagens das construções de cinco hidrelétricas na bacia do Tapajós. Logo após, apresentei

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um contraponto àquela exposição que chamei de propaganda para

“inglês ver”. Eles mostraram as vantagens das hidrelétricas para o crescimento econômico “do Bra-sil” (Alcoa, Rio Tinto, Vale, Cai-ma e demais empresas explorado-ras de minérios na Amazônia).

Mostraram eles um docu-mentário bem feito, ilustrativo de como as hidrelétricas no Tapajós serão modelo mais moderno, com mínimos impactos ambientais e sociais. Oito ou dez minutos de propaganda que me fez lembrar a estratégia de Goebels e Hitler na Alemanha nazista (uma mentira repetida muitas vezes parece ver-dade...). Depois descobrimos que o próprio presidente Luiz Inácio determinou que todas as embai-xadas brasileiras tivessem uma cópia do filmete para mostrar a todos os visitantes e contatos, em línguas diferentes.

Isto é, o presidente parece estar preocupado com as lutas que a sociedade civil está assumindo em Belo Monte, Jirau, Santo An-tonio e Tapajós. Surpreendente-mente, os três técnicos não contes-taram minhas argumentações que mostravam a desgraça para os ha-bitantes da região, caso as hidre-létricas venham a ser construídas. Apenas, em certo momento um disse que eles são técnicos e só respondiam a questões técnicas,

já as questões políticas das obras só o governo podia responder.

Como ele costuma dizer, “nunca antes neste país...” um presidente decidiu enfiar goela abaixo, dez mega hidrelétricas na Amazônia, sem respeitar os mo-radores da região. Estes são en-traves ao crescimento, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, ONGs e Ministério Público Federal. Para ele o que interessa é o PAC a ser-viço do grande Plano IIRSA. Os entraves que possam aparecer devem ser afastados com lei, ou novas normas.

No momento atual, um movimento está iniciando em de-fesa dos rios Tapajós e Jamanxin. Três encontros já aconteceram em Itaituba e um em São Luiz do Ta-pajós, desde novembro de 2008. Três seminários fora promovidos pelo movimento BR.163 susten-tável em aliança com o Movimen-to popular Frente em Defesa da Amazônia (FDA), de Santarém. O mais recente encontro foi promo-vido pelo Conselho Consultivo do Parque nacional da Amazônia.

Em Santarém foram reali-zados dois seminários, organiza-dos pela Diocese de Santarém em aliança com a Frente em Defesa da Amazônia. Encontros já foram realizados na cidade de Aveiro, nas comunidades Tauaraí e Pinhel, no baixo Tapajós. A FDA orga-

nizou uma exposição a ser feita num confronto com pessoal da Eletronorte em sessão especial na Câmara de Vereadores em Santa-rém, em outubro.

Na primeira semana de no-vembro, membros da FDA estarão na missão Cururu, entre os índios Mundurucus em três dias de en-contro. A organização dos frades e freiras franciscanos, que estão há cem anos na missão entre os Mundurucus, está organizando os encontros com lideranças indíge-nas para refletir sobre os danos e invasões que as cinco hidrelétri-cas farão nas terras e costumes deles.

Assim alguns movimentos populares estão sensibilizando as comunidades, cidades e povos so-bre a gravidade dos projetos hidre-létricos promovidos pelo governo

“Brasil de Todos” contra a Ama-zônia e seus povos. Infelizmente ainda é pequena a participação popular. Mesmo organizações de moradores, sindicatos, professo-res continuam indiferentes, como se os projetos hidrelétricos, como os outros grandes projetos não os atingissem. Outros raciocinam como se aqueles viessem trazer empregos e desenvolvimento. Mas a luta continua como continua em Porto Velho e no Xingu. Tapajós viverá.

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Geração de energia na Amazônia-caso de Estreito em questão1

Rogério Almeida2

O presidente Lula inaugurou no dia 04 de outubro de 2008 a segunda casa de força da hidrelétrica de Tucuruí, no sudeste do Pará. A UHE de Tucuruí é a maior hidrelétrica genuinamente nacional e foi erguida no rio Tocantins há 24 anos para alimentar com energia subsidiada empresas de produção de alumínio no Pará, Albrás e Alunorte, do grupo Vale e a Alumar, no Maranhão, da estadunidense Alcoa. 75% da produção de energia de Tucuruí vão para a exportação e o estado possui uma das tarifas domésticas mais caras do país. O derradeiro reajuste foi de 16%.

1 Reportagem publicada originalmente no blogue FURO em novembro de 2008 e reproduzida no site do www.forumcarajas.org.br, que apoio o trabalho.2 Colaborador da rede Fórum Carajás, mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (NAEA/UFPA).

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A segunda casa tem potên-cia instalada de 4,1 mil megawatts. Junto com a primeira casa de for-ça a potência instalada de Tucuruí vai ser de 8,3 mil megawatts. O maior empreendimento do setor de energia encontra-se em cons-trução no mesmo rio, na fronteira do estado Maranhão com o To-cantins, no município de Estreito.

A construção de hidrelétri-cas na Amazônia integra um por-tfólio de projetos baseados no uso intensivo dos recursos naturais da região. O modelo de desenvol-vimento tem na concentração da terra, renda e do poder político e econômico seus pilares e ativa tensões entre populações conside-radas tradicionais e grandes cor-poração do capital mundial.

No caso de Estreito, tais projetos tensionam com comuni-dades indígenas Krahô, Apinajé, no estado do Tocantins, e Gavião e Krikati no Maranhão. Na fron-teira há ainda pescadores, extrati-vistas e camponeses, ladeados por reservas como a Serra das Mesas do lado maranhense e um sítio de árvores fossilizadas no Tocantins. A hidrelétrica de Estreito prestes a completar o segundo ano em fevereiro de 2009, avança sobre o rio.

Estreito em questão – um mapa de enclaves

A BR-010 corta o muni-cípio de Estreito, oeste do Mara-nhão. A cidade há três anos tinha uma população estimada em 10 mil habitantes localizados na sede de um total de 26.490, conforme os dados do ano de 2007 do Ins-

tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda confor-me o IBGE, até 2001 a população total do município era calculada em torno de 22.930, bem antes do início da obra, fevereiro de 2007.

O município de Estreito encontra-se numa região repleta em implantação de grandes proje-tos púbicos e privados. A cidade dista 100 km do pólo de soja con-siderado um dos mais importantes do país, na cidade de Balsas, sul do Maranhão e tem como vizinha Aguiarnopólis, cidade do norte do Tocantins e fica mais de 500 km da capital do estado, São Luís. Os economistas tratam o modelo eco-nômico de enclave, traduzindo, não dinamiza a economia local.

Além do pólo de soja, im-pactam o município a implanta-ção da ferrovia Norte-Sul, a am-pliação da BR-010 e a construção do maior projeto hidrelétrico do país, a hidrelétrica de Estreito, no rio Tocantins. Não muito distante dali, no município de Açailândia, um pólo de gusa dinamiza uma cadeia de destruição ambiental e de trabalho escravo para a produ-ção do carvão vegetal.

O grotão e o planeta

O empreendimento da UHE de Estreito pluga o grotão marcado por inúmeras chacinas de camponeses ao resto do mun-do através da geração de energia. O empreendimento pertence ao Consorcio Ceste, que aglutina as grandes corporações do quilate da Camargo Corrêa (4.44%), AL-COA (25.49%), Vale (30%) e a belga Suez-Tractebel (40.07%).

O custo da obra é estimado em 2.5 bilhões de reais para que Estreito gere 1.087 MW de ener-gia. Os barramentos no rio devem ultrapassar a casa das 50 unidades entre grandes e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s). As PC’s produzem no máximo 3 mil kw. Ambientalistas que tratam sobre barragens advertem que caso se sacramente o planejamento esta-tal, o rio Tocantins deve se trans-formar num grande lago, onde os impactos ambientais e cumulati-vos são imensuráveis.

A radical alteração do ciclo de reprodução dos peixes, des-truição da mata ciliar e inundação de florestas nativas que abrigam animais silvestres são alguns dos impactos pontuados. Empreendi-mentos de grande porte tendem a atrair grandes contingentes de mi-grantes. 5.500 operários da cons-trução civil estão no canteiro de obras atualmente. Cabe interro-gar: para onde essa população irá após a conclusão da obra, prevista para 2010?

Estreito e Carolina no Es-tado do Maranhão, e Aguiarnópo-lis, Babaçulândia, Barra do Ouro, Darcinópolis, Filadélfia, Goiatins, Itapiratins, Palmeirante, Palmei-ras do Tocantins e Tupiratins se-rão os municípios afetados direta-mente pela obra.

As cidades abaladas pelo empreendimento tendem a ter os preços da terra, do aluguel e venda de imóveis inflacionados. As pe-riferias proliferam ladeadas pela marginalidade, aumento de con-sumo de álcool e a criminalidade. Até três anos atrás no município de Estreito não se via mendigos

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nas ruas. Um passeio na rodovi-ária local indica a alteração dessa realidade.

Carros das empresas sina-lizados com uma bandeira verme-lha com um X, homens fardados de variadas indumentárias que indicam a variedade de empresas que atuam no canteiro de obras da barragem, ônibus que os carregam agora fazem parte da paisagem na cidade. O trabalho é terceirizado.

A hidrelétrica de Estreito encontra-se em croquis dos plane-jadores de velha data. Localiza-se na bacia Araguaia-Tocantins, con-siderada a maior em potencial de geração de energia hidroelétrica do Brasil. Tal modelo de empre-endimento ratifica uma economia baseada no uso intensivo dos re-cursos naturais, ou seja, extrativa.

O hoje ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, reco-nhecido pelos serviços prestado à ditadura, integrante do ninho da família Sarney, ainda quando senador foi um dos mais fervoro-sos defensores da implantação da hidrelétrica de Estreito. Dono de meios de comunicação na região Tocantina, cedeu os veículos que controla para que alardeassem as

“benesses” da instalação do em-preendimento.

A Tractebel em Goiás

Bento Rixen, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Goi-ás em artigo publicado em 2003, numa publicação do Fórum Cara-jás, “Escritos sobre a água” alerta sobre os passivos sociais e am-bientais provocados pela empre-sa na construção da hidrelétrica de Cana Brava, nos município de Minaçu e Cavalcante.

Por conta da indiferen-ça dos diretores da Tractebel em relação às populações atingidas a CPT mobilizou a visita de um grupo de representantes de ONGs belgas. Os militantes internacio-nais puderam conhecer o cotidiano das famílias que foram expulsas de suas terras, e os desdobramen-tos do lago que surgiu depois da construção da barragem.

Rixen em um artigo expli-cita que a indenização proposta aos atingidos pela barragem fi-cou no patamar de R$ 5.300,00. O militante da CPT adverte que muitos não aceitaram esse valor considerado uma “mixaria”. No Ministério Público de Brasília e em Goiânia um documento enu-mera 804 famílias cadastradas como atingidas.

O reassentamento é uma das questões mais delicada no processo de implantação de hi-drelétricas. Em geral não se con-segue reproduzir as mesmas con-dições de reprodução de vida das origens dos trabalhadores rurais. Esse tem sido um questionamento constante, e a construção de La-jeado e Serra da Mesa, erguidas no estado do Tocantins ratificam a tese sobre a questão.

A equipe de belgas visi-tou uma área de 26 famílias reas-sentadas pela empresa Tractebel. Apesar de boa casa e uma parce-la de 20 ha, eles não estão bem. Entrevistados reclamam que só é possível produzir em um hecta-re. Posto ter de manter a reserva ambiental e a impossibilidade de plantar sobre os morros. Segundo a família, a plantação tem de ser irrigada, entretanto, eles não pos-suem dinheiro para pagar a ener-

gia da bomba de irrigação, revela Rixen.

Um grupo de 42 famílias na época vivia debaixo da lona preta na periferia de Minaçu. Os belgas denunciaram que eles fica-ram sem comida, sem água potá-vel e sem emprego. A “moradia” ficava a 500 metros de uma área de mineração de amianto, em um terreno que a própria prefeitura cedeu.

Em outro local de visita da equipe as terras férteis vira-ram brejos por conta da proxi-midade com o lago da barragem. Tornou-se impossível produzir os alimentos para sustento da famí-lia. O cheiro de fermentação e os mosquitos completavam o quadro crítico.

Desenvolvimento para quem?

O Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e So-cial (BNDES) é o principal agen-te financiador da obra, ou seja, a sociedade financia um modelo de desenvolvimento arcaico. Não se-ria mais prudente o Estado induzir um modelo de desenvolvimento contrário, em setores intensivos em tecnologia, por exemplo?

Artigo no jornal Le Mon-de Diplomatique Brasil, edição de outubro de 2008, do profes-sor João Roberto Lopes Pinto, da Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ), baseado em relatórios do próprio BNDES, indica que tal opção de desenvolvimento inten-siva no uso dos recursos naturais, induz a um crescimento menor de renda e da produtividade, onde prevalecem a ocupação informal,

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precária e de baixa qualificação. Gozam da gentileza do Estado o setor da mineração, celulose e etanol.

Tal modelo de desenvol-vimento induzido pelo Estado tende a fortalecer ainda mais as desigualdades existentes no país. Nesse sentido um conjunto de organizações sociais e políticas organizaram a frente “Platafor-ma BNDES,” explica o artigo do professor Pinto. A frente deseja pressionar o governo para que reoriente a política do BNDES em favor de um desenvolvimento que busque a superação das desi-gualdades e promova os direitos sociais.

Pinto reflete que a Plata-forma argumenta que se faz ne-cessário, entre outros pontos, a) fortalecer a economia de base camponesa e familiar, que garan-te produção para o mercado in-terno; b) descentralizar o crédito e que fomente a diversificação produtiva e a inovação técnica; c) incentivar a participação pública em obras de infraestrutura social, como uma política de saneamento básico.

Comissão Mundial de Barragens Adverte

Entre os anos de 1997 a 2000 uma comissão realizou es-tudos sobre a construção de bar-ragens em todo o mundo. Tucuruí foi o caso selecionado na América Latina. A construção de barragens do Brasil é responsável por 40% do valor da dívida externa. En-tre os impactos da construção de barragens como a de Estreito os estudos organizados pela Comis-

são Mundial de Barragens (Banco Mundial, construtores, atingidos por barragens, pesquisadores) verificaram-se:

a) Alagamento e saliniza-ção afetam um quinto das terras irrigadas no mundo, incluindo terras irrigadas por grandes bar-ragens e apresentam graves im-pactos de longo prazo, muitas vezes permanentes, sobre a terra, a agricultura e a subsistência da população;

b) as grandes barragens provocam impactos cumulativos sobre a água, inundações naturais e a composição de espécies quan-do várias barragens são implanta-das em um só rio (caso da bacia Araguaia-Tocanstins); c) as gran-des barragens provocam destrui-ção da floresta e locais selvagens, o desaparecimento de espécies e a destruição das áreas de captação à montante devido à inundação da área do reservatório;

d) as grandes barragens provocam o deslocamento de 40 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo; muitas das pessoas des-locadas não são reconhecidas (ou cadastradas) como tal e, portanto, não são reassentadas ou indenizadas.

Histórias de garimpeiros

Na região as histórias de venturas e desventuras sobre a busca de riqueza fácil em garim-pos no Pará é generosa. Francis-co foi o moto-taxista que serviu como guia na ensolarada Estreito. Ele soma uns 40 anos e é filho de migrantes do Ceará, estado que nunca chegou a retornar após ter ficado adulto. O nosso guia pe-rambulou pelos garimpos do su-

deste do Pará nos município de Xinguara, Rio Maria, Redenção e São Félix do Xingu.

Mamão, Pedra Rica, Ca-muru são alguns dos garimpos em que Francisco passou. Num deles ganhou um pouco de dinheiro com o ouro encontrado. Fala que não guardou muito da sorte que teve na década de 1980. “Dinheiro de garimpo parece que é amaldiçoa-do. Nunca durou muito”, reflete o moto-taxista. Francisco informa que passou no maior garimpo a céu aberto do mundo, o de Serra Pelada, mas não ficou por lá.

Ele lembra de pessoa que “bamburou“ (achou muito ouro) até 300 quilos de ouro. Teve for-tuna em fazendas de gado e casas, como o caso de um garimpeiro que mora em Estreito conhecido como Índio. O afortunado é do município de Codó. Quando ele pegou o dinheiro comprou uma penca de carros e invadiu a cida-de natal exibindo o “sucesso” em terras paraense, conta Francisco.

Nas idas e vindas de Fran-cisco ao Pará em busca de riqueza perdeu dois irmãos. A perda mais trágica foi a do caçula. Francisco lembra que o irmão tinha apenas 16 anos, e que era muito generoso com as pessoas ao redor. Mas, a realidade do garimpo não permite tal atitude.

Após achar uma peque-na porção de ouro foi tocaiado e morto por parceiros de farra em bebidas e cabarés. Um outro ir-mão não tem notícia faz mais de 15 anos. Francisco acredita que ele mora em Redenção, sudeste do Pará.

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A busca pelas fotos

Falo a Francisco do inte-resse em fazer fotos da obra da UHE de Estreito. Ele sugere que alugue uma canoa. Somente ela pode levar você até o local onde a construção começou. Numa via-gem até um portinho tenho sorte, deparo-me com José Antônio por volta das 11h da manhã de um dia escaldante. Antônio entre outras atividades é pescador, feirante e dono de sítio.

Passou toda a manhã numa exaustiva viagem, onde foi buscar a esposa e uns porcos para criar no sítio que tem na periferia do município de Estreito. Acusando cansaço resistiu em pegar a em-preitada de uma viagem que du-rou mais de uma hora ida e volta no caudaloso Tocantins até o can-teiro da obra. A viagem ganha em emoção posto o motor da canoa padecer de panes quando esquen-

ta. O jeito é parar e apreciar a pai-sagem.

No portinho algumas em-barcações. Uma barraca comercia-liza bebidas. Moradores se diver-tem no rio e tomam umas pingas. As casas são humildes. Destoam do gigantismo da obra vizinha. A arquitetura de compensado e co-bertura de palha socorre os mora-dores nos dias de chuva. Antônio limpa a merda dos porcos da ca-noa e iniciamos a viagem. Ainda de onde saímos é possível avistar o local.

Dragas, barcos de vigilân-cia, numa paisagem onde é possí-vel se avistar babaçuais e outros tipos de vegetação antecipam a nossa chegada. A passagem de uma embarcação veloz conhecida como voadeira forma banzeiros e faz a nossa canoa sacudir no meio do Tocantins. Antônio sugere cui-dado.

O pescador avisa que os vigilantes do barco ficam ali para

impedir que a passagem dos ribei-rinhos quando usam dinamite na obra. Segundo ele, as explosões são comuns no raiar do dia e no apagar da tarde.

Há luz nos grotões?

A instalação da hidrelétri-ca de Estreito coleciona inúmeros capítulos. Os relatórios de impac-tos sócio-ambientais amplamente criticados, as ações nos Minis-térios Públicos do Maranhão e Estreito, mobilizações do Movi-mento dos Atingidos por Barra-gens (MAB), apoiados pelo MST, atentado à bala de um gerente de operações contra militantes con-trários a instalação da barragem, greve de operários do canteiro de obras por conta da péssima quali-dade da comida e assédio moral de um gerente, que acabou sendo espancado pelos operários.

O progresso, geração de emprego e desenvolvimento são os argumentos dos alinhados na

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defesa do projeto. Qualquer voz que destoe de tal perspectiva é tra-tada como ressonância de forças externas que não desejam o pro-gresso do país. É comum a ojeriza a movimentos sociais e manifes-tações de xenofobia a análises e ONG´s internacionais que fazem oposição ao modelo do empreen-dimento.

Isso foi verificado desde o processo de audiências públi-cas. A força da “grana” coopta de clérigos a políticos, passa pelo in-centivo a criação de associações de fachada, como o caso da As-sociação de Atingidos pela Barra-gem, entre outras. As audiências que seriam um espaço de debate possuem ares de congresso de

“partido único”, isso na capital ou interior.

A propaganda é a alma

do negócio?

Os boletins do Ceste ce-lebram uma série de ações junto aos mais diversos segmentos da sociedade. Um posto de atendi-mento ao migrante localizado na pequena rodoviária indica para que as pessoas façam ficha no Sistema Nacional de Emprego (SINE), sempre com filas enor-mes. Escritórios do consórcio se espraiam em cidades estratégicas nos dois estados.

Os jornais do consórcio celebram ainda cursos que pas-sam pela “inclusão digital” com a Colônia de Pescadores- Z-35, que se manifestou contra o acampa-mento do MAB, doação de ambu-lância, doação de computadores a unidades de saúde. O que traduz

uma confusão sobre o papel do Estado e o da empresa. São ofer-tados ainda em parcerias com o Serviço Nacional de Aprendiza-gem Industrial (SENAI), cursos de panificação e costura.

Não raro os boletins inun-dam suas páginas com depoimen-tos de famílias que já foram desa-propriadas pelo Consórcio. Tudo é flor nesse jardim? Uma série de reportagens de Beatriz Camargo, pública no site Repórter Brasil, no mês de julho indicam que não. Sobre a especulação imobiliária, a série indica que houve pressão por parte de pessoas de empresas terceirizadas na compra de imó-veis, com vistas a serem desa-propriados com um melhor preço pelo consórcio.

A não inclusão dos povos indígenas como setores que po-dem ser afetados pela constru-ção é um outro ponto. O certo é que desde o começo do processo há uma série de temas nublados. Enquanto isso as obras avançam sobre o rio, sobre as histórias das populações locais, a reconfigurar uma região prenhe em conflitos na disputa pele terra e os recursos naturais nela existentes.

Sindicato dos Trabalha-dores Rurais (STR)

Raimundo Carvalho, co-nhecido como Cabeça Branca, dirigente sindical rural de Estrei-to, explica que no começo todo mundo achava que a barragem ia ser boa. Aos poucos o povo vai aprendendo que não é bem assim. Carvalho foi operário na constru-ção da barragem de Boa Esperan-ça, no rio Parnaíba, no estado do Piauí na década de 1960, e tam-

bém um atingido pela própria obra que ajudou a erguer.

Carvalho lembra que o di-nheiro que ganhou não conseguiu comprar nem metro de terra de-pois. “Com a terra a gente comia todos os dias, ganhava um dinhei-rinho e podia trabalhar a família por muito tempo. Dinheiro não é tudo na vida”, arremata o senhor. Ele alerta que a média de inde-nização tem sido de 30 mil reais. Ele teme pelos idosos. “Tenho um colega que mora só. Vai ser desa-brigado. Tem uns 80 anos. O que ele vai fazer aqui na cidade?”, in-terroga o sindicalista.

Construção civil - sindi-cato em construção

Delfino Araújo é o presi-dente do recém criado Sindicato da Construção Civil de Estreito, que tem 140 sócios como funda-dores. Ele explica que o registro para a criação do sindicato foi publicado no Diário Oficial em fevereiro deste ano. O sindicato ainda está em fase de construção, é o que se conclui após a conversa com o dirigente.

Araújo ainda não sabe quantificar quantas empresas es-tão no canteiro de obras da hidre-létrica e nem o número preciso de operários. Ele informa que já so-licitou os dados para o setor res-ponsável.

Sobre a paralisação de 11 dias dos operários no mês de julho, Araújo relata que as con-dições precárias de trabalho e a ração foram os motivadores. O di-rigente alerta que o sindicato ne-cessita tomar pé dos dados, para que possa garantir uma interven-ção qualificada.

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Grandes Projetos na Amazônia:mineração em Juruti e a produção

de energia1 Rogério Almeida

1.500 pessoas ocuparam no dia 28 de janeiro de 2009 uma área de operação da empresa estaduniden-se Alcoa, no município de Juruti, oeste do Pará. No local é explorada uma mina de bauxita, matéria-prima para a produção de alumina que é em seguida transformada em alumínio.

O empreendimento fica na bacia do Amazonas. Um bilhão de reais deve ser aplicado para produzir

1 Trabalho publicado no site www.plataformabndes.org.br em fevereiro de 2009

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quatro milhões de toneladas do minério. Desse total de investi-mento a sociedade brasileira vai entrar com 500 milhões através do Banco Nacional de Desenvol-vimento Econômico e Social (BN-DES) a juros módicos.

A companhia é uma das maiores mineradoras do mundo e opera em 32 países nos quatro continentes. No Maranhão man-tém uma empresa de produção de lingotes de alumínio. A Alumar, desde a década de 1980, em so-ciedade com a BHP Billiton e que deverá incrementar a produção de 368 mil para 420 mil tonela-das. Por isso o interesse na mina de Juruti, que também vai eman-cipar a Alcoa do fornecimento da Mineração Rio do Norte, da Vale, que extrai a bauxita no município de Oriximiná, na mesma região. Além das frentes de mineração o baixo Amazonas tem em pauta a construção de hidrelétricas no rio Tapajós e é impactado pela mono-cultura de grãos e pelo porto da Cargill.

Além de negócios no Ma-ranhão e agora no Pará, a Alcoa também é acionista majoritária do consórcio Baesa, responsável pela usina hidrelétrica de Barra Grande, localizada na região Sul do país. Junto com o grupo Vo-torantim, a Alcoa foi denuncia-da pela violação das Diretrizes para Empresas Multinacionais da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A Alcoa e o grupo Voto-rantim foram denunciados pelo Movimento de Atingidos de Bar-ragens (MAB) no ano de 2005. As empresas aproveitaram a Avalia-

ção de Impacto Ambiental apre-sentada, em 1999, pela empresa Engevix Engenharia S. A., que atestava de modo fraudulento a viabilidade ambiental da explora-ção do potencial hidroelétrico no rio Pelotas, afluente do rio Uru-guai, informa nota do MAB.

No caso do Pará, os mili-tantes denunciam os danos aos re-cursos hídricos, redução do pesca-do, impedimento do direito de ir e vir dos ribeirinhos, diminuição da coleta da castanha do Brasil, andi-roba e outras fontes de proteína e recursos da flora usados para fins medicinais.

O projeto representa tam-bém um risco de morte aos traba-lhadores, por conta da construção da ferrovia que escoará o minério. Eles explicam que não há túneis ou desvios nos trechos que cor-tam os projetos de assentamento impactados pela obra.

Durante a ocupação, a tro-pa de choque da Polícia Militar foi acionada. Os policiais usaram gás de pimenta e bombas de gás lacri-mogêneo contra os manifestantes. Crianças e mulheres foram atingi-das. Afinal, quem é o inimigo?

Documento sistematizado por Raimundo Gomes da Cruz Neto, sociólogo que visitou as comunidades atingidas, escla-rece que a mina está localizada numa área de floresta densa, nas cabeceiras do lago Juriti Grande, caracterizada por três platôs. A ferrovia atravessa dois projetos de assentamento de agricultores, criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Um deles é o Socó, com 420 famílias, das quais 43 tive-

ram seus lotes atravessados pela ferrovia, que receberam por inde-nização R$ 0,24/metro quadrado, por força de um acordo entre o sindicato e a empresa, enquanto reivindicavam R$ 3,00. O porto está colado à cidade sede do mu-nicípio de Juruti, de onde várias famílias estruturadas social e eco-nomicamente no bairro Terra Pre-ta foram expulsas.

Gerdeonor Pereira, diri-gente no Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Juruti Velho, informa que 80% do minério es-tão no PAE. O militante informa que pelo menos 50 mil hectares de floresta devem ser derrubados.

“O projeto trouxe para a cidade umas 15 mil pessoas. O município não tem estrutura para cuidar desse povo com moradia, saúde e escola. Hoje a empresa já iniciou as demissões porque as construções estão em fase de conclusão. Para onde esse povo vai”, interroga Pereira? Há infor-mes que por conta de migração o município passou por dois surtos de hepatite. A fase de construção é considerada onde a prefeitura mais fatura com arrecadação do Imposto Sobre Serviço (ISS). A estimativa é de um milhão por mês desde 2006.

A presença da empresa também incrementou o mercado de prostituição, drogas, especula-ção imobiliária e ocupações.

Os passivos socioambien-tais já experimentados nas 60 comunidades onde vivem cerca de quatro mil famílias num total aproximado de nove mil pessoas foram omitidos nos estudos de impactos ambientais, realizados pela empresa CNEC Engenharia

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e apresentado pela Alcoa para ob-ter a licença.

A CNEC é a mesma em-presa que realizou os estudos para a construção da hidrelétrica de Estreito, onde a Alcoa é sócia da Vale, da Suez Energy, da BHP Billiton e da Camargo Correa.

A hidrelétrica de Estreito está sendo erguida no rio Tocan-tins, fronteira do Maranhão com o estado do Tocantins e é conside-rado o maior empreendimento do setor no Brasil. No caso de Estrei-to, entre as omissões consta que as áreas indígenas nos dois esta-dos, Krahô, Apinajé, no estado do Tocantins, e Gavião e Krikati no Maranhão não serão afetadas pela obra. Informação que foi contes-tada pelas comunidades indígenas e pelos defensores dos direitos humanos.

As omissões nos relatórios que indicam os impactos ambien-tais da exploração da bauxita do Pará estão entre as motivações da ação movida na justiça pelos Mi-nistérios Públicos Federal e Es-tadual (MP) desde 2005. Nestes termos, a Alcoa funciona na ile-galidade em terras do Pará, posto as contestações dos MP sobre o processo de licenciamento da ex-ploração de bauxita.

O não cumprimento da recomendação dos MP também resvala no governo do estado do Pará. Gabriel Guerreiro, deputa-do estadual (PV) e Walmir Orte-ga, ambos ex-secretários do meio ambiente, respondem por impro-bidade administrativa. O primeiro pela aprovação da licença de ope-ração da Alcoa e o segundo pela manutenção, contrariando a reco-mendação dos MP, que decidiram pela suspensão.

Assim a Alcoa, como a Cargil que produz grãos no mu-nicípio vizinho de Santarém, que ergueu um porto ao arrepio da lei, finaliza a construção de rodovia, ferrovia, porto e tanques de con-tenção de rejeitos para a extração do minério.

O MPF e o MPE consi-deram que o Instituto Brasileiro dos Recursos Renováveis e do Meio Ambiente (IBAMA) deve-ria licenciar o projeto Juruti e não a Secretaria de Meio Ambiente, como ocorreu: Os elementos que demonstram a necessidade de que o licenciamento se dê no âmbito federal são:

1 - a área na qual estão lo-calizadas as minas de bauxita per-tence à União, tendo sido objeto de arrecadação administrativa e, hoje, encontra-se em processo de regularização fundiária, tendente a permitir a fixação dos clientes da reforma agrária;

2 - todas as atividades para a obtenção da bauxita (escavações e deposição de rejeitos nas cavas) ocorrerão sobre o aquífero Alter-do-Chão, importante reserva de água doce que atravessa dois es-tados (Pará e Amazonas);

3 - o porto está localizado às margens do rio Amazonas, rio internacional, sem que tal impac-to tenha sido nem mesmo correta-mente mensurado ou nem sequer estudado;

4 - todo o Projeto Juruti está contido na bacia hidrográfi-ca do Amazonas, sob jurisdição federal;

5 - há o registro de 73 ocor-rências de sítios arqueológicos na Área de Influência Direta (AID), até esta fase;

6 - na AID existem espé-cies vegetais (castanheiras, pau-cravo, pau rosa) protegidas pela legislação ambiental;

7 - na AID existem os ecos-sistemas de várzeas.

Negociações - Após a mo-bilização da população atingida pelo grande projeto de minera-ção que deve durar entre 80 a 100 anos, uma rodada de negociação foi realizada entre 9 a 11 de feve-reiro, no município pólo da região, Santarém.

Além dos atingidos pelo projeto, participaram dos deba-tes o representante da Alcoa na América Latina, Franklin Feder, os Ministérios Públicos, Prefei-tura de Juruti e representantes do Governo do Estado. A rodada teve várias divisões. Dia de de-bate com todos os envolvidos na questão, dia dedicado ao debate entre os atingidos e a empresa e uma rodada de negociação encer-ra com a participação de Walmir Ortega, então Secretário de Meio Ambiente do Pará, informa Perei-ra.

Reivindicações – A Asso-ciação das Comunidades de Juruti Velho exige entre outras coisas, a participação de 1,5 % nos lu-cros da empresa, investimentos em educação, saúde e moradia e a definição de uma agenda de compromisso. Gerdeonor Pereira esclarece que a primeira reivindi-cação já foi atendida.

Tal tipo de empreendimen-to na Amazônia coloca em lados opostos grandes corporações com staff de capacidade internacional de negociação e populações con-sideradas tradicionais. Tanto no

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caso do Pará como na fronteira do Maranhão com o Tocantins, a empresa apresenta um discurso de redenção da pobreza através do grande empreendimento, que deve ser seguido como se fosse um mantra da prosperidade.

A cooptação de políticos e agentes que representem algum tipo de liderança consta como agenda da ação da empresa, em

particular para fazerem coro pró-empreendimento nas audiências públicas onde são apresentados os estudos de impactos ambientais.

A empresa também não se descuida em “convencer” os meios de comunicação locais da sua nobre causa. É raro algum ve-ículo de comunicação dar visibi-lidade sobre as mazelas dos gran-des projetos. No caso da Alcoa

nenhum veículo informou que a mesma opera de forma ilegal. O destaque conferido recaiu sobre a nota da empresa sobre os possí-veis prejuízos.

Tanto no caso da usina de Estreito, como no caso da explo-ração mineral em Juruti, o fato foi verificado. Qualquer questiona-mento que soe a ambientalismo é logo satanizado. E os portadores de inquietações sobre os impactos

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socioambientais tratados como agentes que defen-dem o “atraso” do lugar.

O processo de licenciamento das obras e as populações tradicionais locais são classificados como os grandes entraves pelos empreendedores. Os mesmos podem ter em breve as suas demandas aceitas no que tange ao processo de licenciamento de obras na Amazônia. Ao menos, se depender do esforço de Mangabeira Unger, que deseja azeitar o já delicado processo.

O desenvolvimento e o progresso formam a dorsal do discurso de defesa dos grandes empreen-dimentos, que segundo as empresas, vai fazer ger-minar como se fosse leite e mel, o emprego e a fortu-na nos rincões. Numa clara linha de desinformação sobre a lógica que conforma tais empreendimentos nas periferias do planeta, o enclave. Ou seja, o saque dos recursos naturais.

Mineração na Amazônia e os eixos de inte-gração do continente

O extrativismo tem regido a economia na Amazônia. O ciclo mais recente é o mineral, inicia-do a partir da década de 1950, no estado do Amapá, quando o mesmo ainda tinha o status de território.

A exploração do manganês na Serra do Navio foi o pontapé inicial, e que em apenas cinco décadas se exauriu, restando apenas o buraco, literalmente. A exploração mineral no Amapá, considerada a pri-meira na Amazônia, foi protagonizada pela empresa estadunidense de Daniel Ludwig, a Bethlehem Steel Company em sociedade com o empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes, dono da Indústria e Comércio de Mineração S. A. (ICOMI).

O ciclo da mineração ganhou maiores pro-porções na Amazônia a partir da região de Carajás com a presença da Vale na extração do minério de ferro na década de 1980, no Pará.

É creditado a Eliezer Batista, ex-executivo da Vale, a construção do mapa das riquezas naturais na América do Sul. Batista é pai de Eike, festejado como o novo bilionário nacional. Obra do acaso? Os levantamentos de Batista foram encomendados pela Corporação Andina de Fomento (CAF). A CAF é

um dos agentes do projeto de Integração da Infraes-trutura Regional Sul-Americano (IIRSA).

Do conjunto de 10 eixos de integração, qua-tro se destacam, por suas riquezas naturais e pos-sibilidades de conexões: o Amazonas, o Hidrovia Paraná-Paraguay, o Capricórnio e o Andino. O obje-tivo central prima em facilitar a circulação de mer-cadorias.

O eixo do Amazonas compreende os seguin-tes países: Colômbia, Peru, Equador e Brasil e visa criar uma rede eficiente de transportes entre a bacia amazônica e o litoral do Pacífico, com vista à expor-tação.

Nesse sentido o BNDES exerce protagonis-mo continental, financiando obras de integração além de nossas fronteiras. Outro ator importante no longa metragem de extração das riquezas do conti-nente é o Banco Interamericano de Desenvolvimen-to (BID).

No mundo do Brasil, alguns se arriscam em pontuar que o Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC) é uma miniatura do IIRSA.

Antes do fim

No dia 16 de setembro de 2009 o Pará viveu um dia histórico. Em Belém o aparato policial foi usado contra populares numa audiência pública so-bre o projeto da hidrelétrica de Belo Monte. Já no município de Juruti a governadora Ana Júlia Carepa (PT) cortava a fita do projeto de mineração de bau-xita da Alcoa. Além de cortar a fita a governadora plantou uma árvore. Uma exacerbação do marke-ting.

Os dois projetos estão localizados na mesma região, sudoeste do estado. Numa foto de um diário local a governadora aparece amparada pelo repre-sentante da Alcoa na América Latina, Franklin Feder. Ainda na mesma foto destaque para o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, uma figura íntima do senador José Sarney. Desde o regime de exceção. Essa tal de governabilidade...

Mais irônico, o Instituto de Pesquisa Aplica-da (IPEA), acabava de apresentar relatório onde in-dica que a produção de alumínio é um desastre para região amazônica.

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Grandes projetos no municípiode Barcarena: conflitos sociais e

ambientais

Manoel Maria de Morais Paiva1

Meu nome é Manoel Paiva. Sou engenheiro ambiental e ex - presidente do Sindicato dos Químicos de Barcarena. Atualmente coordeno a Organização Não Governamental (ONG) Ecologia Sócio Ambiental da Amazônia (Ecosaam), com sede em Barcarena/Pará. E acumulo a direção da CTB e estou presidente do diretório municipal PC do B.

Resido em Barcarena desde 25 de setembro de 1985. Faz 25 anos que convivo com o projeto Albras e Alunorte. Entre 1985 a 1995 fui funcionário da Albras, trabalhando como operador de manuseio, forno e ponte rolante, até julho de 1995.

Em agosto de 1995 passei a trabalhar como funcionários da Alunorte. Em 2001 foi eleito presi-dente do Sindicato dos Químicos, que representa os trabalhadores da planta química da Alunorte. Fiquei liberado até 2007, quando perdemos a eleição para chapa que a Empresa Alunorte montou.

Em todos esses anos o que menos se viu em todas as ações das empresas em Barcarena, foi justi-

1 ex-presidente do Sindicato dos Químicos de Barcarena, engenheiro ambiental. [email protected] (91) 37544965 / 88713621}

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ça. Desde a implantação do pólo Industrial de Barcarena o capital tem atropelado as comunidades, trabalhadores e o meio ambiente. O poder do recurso financeiro tem preponderado. O passivo social e ambiental que ficará para Amazô-nia, ao final desse ciclo será in-calculável. Hoje são centenas de homens e mulheres mutilados em todos os sentidos, em decorrência dos ataques aos seus direitos.

Temos capital suficiente para articular um grande debate sobre a situação de cada comuni-dade afetada pelos grandes pro-jetos. Sejam eles da Vale, Alcoa, MMX ou CCM. Necessitamos apresentar propostas que possam garantir a permanência de famí-lias tradicionais em seu habitat. E as suas terras, suas raízes, suas culturas, sua identidade e meio ambiente.

Os passivos sociais e am-bientais se repetem a cada projeto. O que acresce são a crueldade e a injustiça. Podemos citar como exemplos os ribeirinhos do rio Murucupi. Os mesmos tiveram de deixar suas casas, por não pode-rem mais usar o rio em decorrên-cia da contaminação da água. O rio foi a garantia por muitos anos da segurança alimentar e fonte de renda de milhares de ribeirinhos, pescadores, camaroeiros. Era co-mum em tempos de abastança a presença de turistas que encosta-vam nas tabernas para beber uma pinga, cerveja ou comer um tira gosto.

A matemática dos grandes socializa a miséria e os desastres sociais e ambientais. A máxima de geração de emprego desapare-ce quando se faz um paralelo com os desempregados indiretamente.

E as pessoas que não tiveram a oportunidade de conhecer a fortu-na dos rios. Os grandes projetos na Amazônia têm deslocado co-munidades centenárias, subtrain-do chances de ao menos reclamar. Os protagonistas das nossas dores nunca aparecem em cena.

A saúde do trabalhador é delicada. Há um montante signi-ficativo de operários reclamando seus direitos. E outros que não têm a mesma iniciativa. Por conta da estratégia do calar. A regra con-siste em empregar filhos, filhas ou parentes dos ex-funcionários para que os mesmos fiquem presos no cordão umbilical da fábrica. Por conta do medo do desemprego agonizam calados. Dores que eles dividem somente com as famílias.

A demissão é um fantas-ma constante. O futuro para as empresas quem faz é o próprio trabalhador, quando deposita seu INSS, descontado em seu contra – cheque todo mês. Pois todo tra-balhador que chega a essa condi-ção de aposentadoria é um peso a menos para as empresas, que não garantem absolutamente nada aos trabalhadores por mais que os trinta e não sei quantos anos para a aposentadoria tenham si-dos trabalhados somente naquela empresa. Deveria haver leis que garantissem pelo menos plano de saúde vitalício para trabalhadores que prestaram serviços por cinco, dez ou vinte anos para grandes empresas.

Pois ao se aposentar o tra-balhador gasta metade do seu ren-dimento com medicação, princi-palmente na cultura do nosso país que quanto mais velho mais caro.

A Amazônia, em espe-cial o Estado do Pará, se destaca

pela exuberância de suas riquezas, minérios, rios, floresta e biodiver-sidades. Tudo dentro de um equi-líbrio que garante a sustentabili-dade dos ecossistemas terrestres e aquáticos.

Não queremos dizer com isso que vamos envelopar a Ama-zônia. Mas, não podemos mais aceitar sermos meros exportado-res de matérias primas para países desenvolvidos. Ditos do primeiro mundo, à custa do sofrimento do nosso povo.

O saque aos nossos re-cursos tem se repetido desde os tempos coloniais. Desde o des-cobrimento, até os dias de hoje. Os ciclos econômicos saqueiam nossas riquezas e não deixam para nosso povo reflexos positi-vos. Foi assim com ciclo com do pau brasil, borracha, ouro e pe-dras preciosas. E agora entramos na era dos minérios primários. Os mesmos são tratados aqui para se-rem exportados, sem o perigo de contaminação pela geração de re-jeitos perigosos. Até que tentaram sangrar o coração da Amazônia com a Estrada de Ferro Madeira Mamoré. A natureza não permitiu.

Onde estão os primeiros habitantes das comunidades que existiam nas proximidades do projeto Albras /Alunorte? Deve-riam no mínimo ter um endereço que servisse como referência para o resgate de sua cultura. Famílias inteiras foram esfaceladas para dar espaço para a construção das grandes fabricas de alumina, alu-mínio e caulim.

O povo do Pará tem fama de ser um povo hospitaleiro, ale-gre, falante e de fácil relaciona-mento. Mas, o que percebemos hoje no semblante das pessoas

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que foram remanejadas das suas comunidades não é o das referên-cias acima. A atitude hoje é des-confiança, revolta, sentimento de terem sido enganadas e desprezadas.

O projeto não trouxe a elas nenhuma perspectivas de melho-ria de vida. Como as empresas ha-viam propagado. Em particular os responsáveis pelas mentiras que convenceram os moradores tra-dicionais a saírem de suas terras. Terras que passaram centenas de anos sem ter um dono. O direi-to da propriedade privada se so-brepôs a posse ancestral da terra. Com os s grandes projetos apare-ceram donos de todo que é lado: União, Estado, Município e até as próprias empresas que estão che-gando e as aqui instaladas.

Essa questão da terra não é muito diferente dos conflitos agrários. Esses que a mídia ten-ta reproduzir de forma distorcida, quando “satanizam” os integran-tes do MST. A questão é mais complexa e envolve os gover-nos federal, estadual e municipal. Além de políticas públicas que possam garantir a distribuição de terras e incentivo à produção da agricultura familiar.

É preciso levar em con-ta que cada comunidade vive de acordo com suas disponibilidades e facilidades. Portanto não podem ser avaliadas e deslocadas para qualquer lugar. É necessário res-peitar cada atividade lucrativa de sustento das famílias. Por exem-plo: pescador em área propicia

a pesca e agricultores em áreas agricultáveis. Para evitar que haja conflitos no repasse das ativida-des as novas gerações.

Muitos dos remanejados para a implantação dos grandes projetos não conseguem assimi-lar, nem aceitar as ofertas feitas pelos grupos de interessados pelo projeto. Há registros de pessoas ganhando muito bem pra fazer a menor oferta possível às famílias. Muitas delas quase sempre des-providas de informações das reais intenções acabam ficando entre-gue a própria sorte.

O estado que deveria dis-ponibilizar profissionais capacita-dos para fazer as primeiras abor-dagem, e servir como o mediador não o faz. A perspectiva nos im-

Gilvandro, Damasceno e Manoel Paiva durante lançamento do livro Alumínio na Amazônia em Belém(PA) - foto: arquivo Fórum Carajás

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postos que o projeto poderá gerar, acaba deixando de lado as comu-nidades a serem remanejadas.

Em tal contexto as comu-nidades tornam-se alvo fácil pe-rante a pressão das grandes empre-sas. Quando existe resistência de uma ou outra família, as empresas usam de estratégias. Cooptam as pessoas mais esclarecidas, como se essas fossem funcionárias das empresas. Os empreendedores fo-mentam visitas a outras empresas, geralmente em outros estados. O objetivo é que elas possam ser as futuras formadoras de opinião e defendam os interesses das em-presas.

Após o convencimento é comum as empresas enviarem as comunidades de interesse delas olheiros (as). A missão consiste em realizarem levantamento das debilidades das políticas publicas, e necessárias ao atendimento das pessoas. A partir desse diagnósti-co passam a fazer um grande ma-rketing para vender a imagem de uma empresa cidadã. Geralmente criam cooperativas para reciclar lixo, criação de animais, confec-ção de uniformes, fabricação de papel reciclado, produção de brin-quedos com restos de madeiras das fábricas e outros. As iniciati-vas sobrevivem até atenderem os interesses das empresas.

As empresas nunca per-mitem que as próprias comunida-des toquem o projeto. As iniciati-vas são na verdade uma exigência dos agentes financiadores, como Banco Nacional do Desenvolvi-mento Econômico e Social (Bn-des), Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia (Basa) e a Superintendência de Desenvolvi-mento da Amazônia (Sudam). E outros agentes que condicionam a

liberação do financiamento para a efetivação de um projeto social.

Um exemplo: a gestão pas-sada do Sindicato dos Químicos exigiu das empresas a construção das casas para os operários. Tudo acertado no acordo coletivo que obriga a empresa a construir ca-sas aos trabalhadores. Por conta disso a Caixa Econômica exigiu um projeto social, que foi decidi-do entre empresa e construtora. A escolha foi troca de lajotas e a cor de pintura. Tentamos descobrir qual foi o projeto apresentado a Caixa Econômica Federal, porém até o final de nossa gestão não nos foi informado. É assim que fun-ciona.

Os próximos anos se de-senham como de grandes confli-tos. Pois estão em processo de licenciamento dois grandes pro-jetos: o da termoelétrica e o da Companhia de Alumina do Pará (CAP). Todos dois ainda sobre conflitos não resolvidos. Alguns moradores chegam até a acusar o Governo Estadual de receber dinheiro da Vale, e ainda não ter repassados aos moradores que precisam deixar a área. A termoe-létrica a carvão mineral, esta com o Estudo de Impacto Ambien-tal (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), questionado pelo ministério publico. Mas que pela prepotência da Vale já existe até peças da estrutura da usina em depósitos de Vila do Conde.

Na década de 70, eles faziam da maneira deles, hoje ou discutem com a sociedade ou não fazem. Pois o povo não perdeu oportunidade de buscar conheci-mento para jogar um papel impor-tante nas decisões de seus desti-

nos. Prova recente disso foram as manifestações contrárias a im-plantação da usina termoelétrica, e a não permissão para aceitar o lixo do município de Abaetetuba.

Dois projetos que não jus-tificam seu licenciamento. Se le-varmos em conta as discussões sobre aquecimento global, onde o Brasil apresentou em Copenhagen, na Dinamarca sua contribuição para diminuição do aquecimento do planeta, usar carvão mineral é remar contra maré. Maior contri-buinte para emissão de gases do efeito estufa.

Além da pressão sobre as terras das populações originárias, as contaminações ambientais têm sido denunciadas constantemente. Sinalizo isso como avanço da so-ciedade civil organizada local. Os crimes ambientais são aos órgãos competentes. Tem sido freqüente acidentes nos locais de operações das grandes empresas. Algumas vezes por conta da perda de con-trole do processo das empresas. Outras vezes por conta do descaso com a segurança, o que podemos qualificar como consciente.

Não podemos ver a Ama-zônia como uma alternativa para geração de artefatos primária de interesse do capital internacional. Acima de qualquer especulação financeira precisamos saber se o projeto será bom também para nossa terra, nossa água, nossa gente. Saber se realmente have-rá retorno em forma geração de emprego e renda, com respeito às comunidades tradicionais, ribei-rinhos, pescadores, agricultores, caçadores e operários. E princi-palmente para preservação das espécies entre elas o homem e a mulher.

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A exploração mineral e suasconsequências na Amazônia brasileira 1

Airton dos Reis Pereira [1]José Batista Gonçalves Afonso [2]Raimundo Gomes Cruz Neto [3]

1 – Introdução

Hoje, o que mais se ouve é que as grandes empresas são meios essenciais ao desenvolvimento eco-nômico e tecnológico do país. Na propaganda e nos discursos oficiais de governantes e de políticos influen-tes elas são apresentadas como símbolo do desenvolvimento, do progresso e da geração de empregos. E por estarem atreladas a mercados bem mais amplos que os regionais e por serem estratégicas no marketing internacional, não por acaso, recebem gigantescos investimentos do Estado.

1 Trabalho publicado originalmente no Relatório Sobre Violência da Comissão Pastoral da Terra (CPT), 2009.

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Na Amazônia brasileira, grandes empresas do ramo da mi-neração são beneficiadas com in-fra-estrutura (estradas, ferrovias, hidrovias, portos, energia, etc.) financiadas com dinheiro público, créditos subsidiados, isenção de impostos, etc. Controlam a “coisa pública”, os principais meios de comunicação e extensos territó-rios, onde exercem gestão autôno-ma criando enclaves que causam impactos sobre a organização so-cial regional e o meio ambiente. Para essas empresas, a Amazônia assume um alto valor estratégico, pois ao controlar recursos e o es-paço regional, fortalecem sua he-gemonia.

O crescimento da produ-ção industrial nos últimos anos e o consequente aumento do valor dos principais minérios no mer-cado internacional tem provocado uma corrida cada vez mais acele-rada do capital internacional sobre as reservas minerais existentes. Na Amazônia esse processo é ex-tremamente visível. São dezenas de projetos de exploração mineral em funcionamento e tantos outros em fase de instalação, resultado de uma política nacional vergo-nhosa e entreguista que coloca o país na condição de mero forne-cedor de matéria-prima e de sub-serviência aos interesses do capi-tal internacional. São projetos que evidenciam poucas possibilidades de incremento à economia local e têm trazido sérios prejuízos às comunidades de camponeses e ao meio ambiente.

2 - Exploração mineral: da garimpagem à atividade em-presarial

A exploração mineral na Amazônia brasileira não é algo re-cente, muitos foram os garimpos de extração de ouro, diamante e cristal, nas margens dos rios Ara-guaia, Tocantins, Tapajós, Xingu e Madeira e em vários de seus afluentes. Há casos de “ciclos” de extração aurífera, embora de forma isolada e fragmentada ainda no período colonial como, por exemplo, no Amapá e Mato Grosso. Mas a partir do final da década de 1950 e início dos anos 1960 tornou-se uma prática quase que intensiva como, por exemplo, com a descoberta da província aurífera do médio rio Tapajós e de cassiterita, em Rondônia e em São Felix do Xingu (PA).

Na década de 1980, as ati-vidades auríferas se intensifica-ram nos estados do Pará, Roraima e Rondônia. No Pará os garimpos de ouro em Serra Pelada, Cumaru e nos arredores de Itaituba e Jaca-reacanga atraíram milhares de ga-rimpeiros de quase todas as partes do Brasil [4].

A exploração mineral de forma empresarial teve início em meados da década de 1940 com a extração de manganês pela em-presa Indústria e Comércio de Mi-nérios S/A (ICOMI), no Amapá. Em 1947 essa empresa assinou contrato de concessão para explo-ração mineral e em 1953, assinou o contrato de concessão para a atividade portuária e ferroviária, considerado o marco zero da ex-ploração mineral na Amazônia [5].

Atualmente, embora se possa constatar que a exploração mineral esteja espalhada por toda a Amazônia, é possível considerar

que essa prática seja mais inten-sa e de efeitos trágicos às comu-nidades camponesas em quatro grandes pólos: “Amapá” com a exploração de bauxita, manga-nês, caulim e ouro; “Oeste do Pará” com a extração da bauxita pela Aluminium Limited of Ca-nadá (Alcan) e a Mineração Rio do Norte (MRN); “Carajás”, com a exploração de ferro, manganês, cobre, níquel e ouro por diversas empresas, entre elas a Compa-nhia Vale do Rio Doce, a Vale, e

“Paragominas” com a retirada de bauxita e caulim pela Vale e Pará Pigmentos S/A.

É visível que a Amazônia tem um peso significativo na ativi-dade de extração e transformação mineral realizada em território brasileiro, considerando a ocor-rência na região de diversos mi-nerais que influenciam na balança comercial do país, sendo o Pará o segundo maior estado exportador de minérios [6]. Em 2008, a ex-tração do nióbio colocou o Brasil em 1º lugar no ranking internacio-nal, em 2º com a extração do ferro, manganês e alumínio (bauxita), e em 5º com o caulim e o estanho. O estado do Amazonas participa com 12% do nióbio extraído no Brasil, e com 60% do estanho. Já o minério de ferro de Carajás, no sudeste paraense, ocupa o 2º lugar na extração nacional, colocando o Pará atrás apenas de Minas Gerais [7].

A tendência para 2009, de-pendendo das condições da crise na economia mundial, é de que haja um crescimento significativo na extração da bauxita, cobre, ní-quel, fosfato e ferro, considerando a entrada em operação das minas

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de cobre e níquel, da Vale, em Ca-rajás, a mina de bauxita da Alcoa, em Juruti, e o salto da extração de ferro de Carajás de 96 milhões de toneladas em 2008, para 126 milhões de toneladas, em 2009. Há de se considerar ainda que na Amazônia, enquanto a extração mineral responde por 25% do total das exportações, a transfor-mação (ferro gusa, alumina e alu-mínio) responde por 21%. [8]. É importante ressaltar ainda que o extrativismo mineral representou 59,2% dos 8 bilhões de dólares produzidos pela indústria mineral do estado do Pará.

Tratando-se de reservas conhecidas, o Brasil ocupa o ter-ceiro lugar no ranking mundial em bauxita, com depósitos con-centrados em três distritos princi-pais: Trombetas (médio Amazo-nas), Almeirim (baixo Amazonas) e Paragominas-Tiracambú (plata-forma Bragantina). Já os depósi-tos de caulim estão distribuídos em três principais distritos: Ma-naus (médio Amazonas), Almei-rim (baixo Amazonas) e Capim (plataforma Bragantina). O ouro e cassiterita estão distribuídos pe-las mais diversas áreas da região amazônica. Serra Pelada, no su-deste do Pará, por exemplo, ain-da representa grande potencial aurífero, fato que causa entreve-ros entre a Vale e cooperativas de garimpeiros, no município de Curionópolis. As jazidas de ferro em Carajás, com seus 18 bilhões de toneladas de minério, corres-pondem à maior concentração de alto teor já localizada no planeta, distribuídas em quatro setores principais: Serra Norte, Serra Sul, Serra Leste e Serra de São Félix ou Serra Arqueada.

Vale considerar que a pes-quisa, extração e transformação mineral no estado do Pará ocor-rem em quatro principais regiões: no Oeste, envolvendo os municí-pios de Oriximiná, Juruti, Monte Alegre, Alenquer e Óbidos; no Nordeste, compreendendo os municípios de Paragominas, São Domingos do Capim e Barcare-na; no sudeste destaque para os municípios de Marabá, Cuirionó-polis, Parauapebas e Canaã dos Carajás; e no Sul, os municípios de Xinguara, Ourilândia do Nor-te, Tucumã, São Félix do Xingu, Rio Maria, Floresta do Araguaia, Santa Maria das Barreiras e Con-ceição do Araguaia.

3 – As conseqüências

A extração e transforma-ção mineral na Amazônia efetiva-da pelas principais empresas do ramo: a Companhia Vale, a Anglo Americana, a ALCOA, a Albras, a Aluminum Limited of Canadá, a Alunorte, Rio Tinto, a Mine-ração Rio do Norte, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Imerys Rio Capim Caulim S/A, Caulim da Amazônia S/A (CA-DAM/Vale), ICOMI, Pará Pig-mentos S/A (PPSA/Vale), X Trata e Caraíba Metais, com o apoio e incentivo dos governos estaduais e federal vem se dando de forma espoliatória e predatória, desterri-torializando populações tradicio-nais e degradando o meio ambien-te. É notória a poluição do ar, do solo e das bacias hídricas, além do desflorestamento, destruição de habitat natural, de animais sil-vestres e de sítios arqueológicos [9]. São projetos dirigidos de fora

para dentro da região, sem que a população da Amazônia tenham a oportunidade de discutir e opinar sobre a viabilidade, necessidade e conseqüências desses empreendi-mentos.

O que se percebe é que o impacto da mineração é localiza-do, desestruturante e ao mesmo tempo estruturante, ao modo que interessa às empresas. Desestru-tura as comunidades locais (urba-nas ou rurais), além de provocar a migração de milhares de pessoas. Diversas são aquelas que chegam de outras regiões do país acredi-tando que as atividades dessas empresas vão melhorar as suas vidas. É visível o aumento, sem controle, da população no entor-no dos projetos mineralógicos. Não só os núcleos urbanos próxi-mos dessas áreas passam por rápi-das e indesejáveis transformações com o crescimento populacional, como também surgem outros aglomerados urbanos. O emprego esperado não aparece. Para sobre-viver muitos são aqueles que se enveredam nos trabalhos tempo-rários e informais. Assim, grande é o contingente de trabalhadores e trabalhadoras itinerantes, de vida marcada pela provisoriedade e mobilidade, e de mão-de-obra po-livalente que lutam cotidianamen-te pela sobrevivência. Os efeitos até então incontroláveis, nessas regiões, têm sido a elevação do índice de violência com destaque para os homicídios, comércio de drogas, prostituição e acidentes de trânsito [10].

A própria Vale encaminhou uma pesquisa nesses municípios e constatou que entre 2000 e 2005 o crescimento populacional foi de 22,9% e a projeção de cresci-

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mento do ano de 2005 para o ano de 2010 será de 92,9%. No ano de 2000 essa área contava com 334.386 habitantes, em 2005, com 423.361. Na projeção para o ano de 2010, se forem desenvolvidos todos os investimentos previstos, segundo esta pesquisa, essa área contará com 817.268 habitantes [11].

Os migrantes que ali che-gam diariamente, sem alternativa, se aventuram na formação de no-vos bairros (ocupações) compos-tos por casas, às vezes precárias, sem água encanada e sem esgoto sanitário. São, em sua maioria, trabalhadores pobres, analfabe-tos ou de baixa escolaridade, sem profissão definida.

Os povos indígenas es-tão sendo cercados, não somen-te pelos latifúndios e exploração madeireira, mas também pela ex-ploração mineral. O próximo alvo do setor minerário é conseguir a liberação da mineração em ter-

ras indígenas, que ocupam hoje 22% do território amazônico. [12] Como exemplo dos danos cau-sados a esses povos, no sudeste do Pará, os índios Gaviões tive-ram as suas terras atravessadas pela rodovia BR-222, pela linha de transmissão de energia elétri-ca de alta tensão da Eletronorte, que sai de Tucuruí rumo ao nor-deste brasileiro, e pela Estrada de Ferro Carajás. Agora se vêem na iminência de ter parte do seu território inundada pela hidrelé-trica de Marabá, no rio Tocantins. Os Xikrins do Cateté estão sendo ameaçados pela Vale a partir da execução dos projetos Salobo, de extração de cobre, no município de Marabá, e pelo projeto de ex-tração de níquel na Serra do Puma, em Ourilândia do Norte. Além de impactar diretamente sobre esses povos que ali habitam, são sérios os riscos de degradação ambien-tal com alterações significativas à

biodiversidade. Por outro lado, o impacto

da mineração é estruturante ao modo que interessa às empresas. Elas se aproveitam da conivência e submissão do Estado, das pre-cárias condições em que vive a maioria da população dos muni-cípios onde elas se instalam, para através da manipulação da consci-ência das pessoas, com o discurso da chegada do desenvolvimento e do progresso, criar um ambiente favorável para sua implantação e domínio. Desse modo, os gover-nantes municipais, governadores dos estados e não raros deputados e políticos influentes assumem o discurso e a defesa dessas empre-sas além de lhes possibilitar infra-estrutura, colaboração financeira e isenções tributárias, com vistas a fornecer-lhes condições com-petitivas e asseguratórias ao bom funcionamento dos seus empreen-dimentos.

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Uma das situações emble-máticas que até hoje tem gerado consequências negativas ao meio ambiente e à população local é a exploração do manganês, em Ma-capá, no estado do Amapá. De-pois da retirada de quase todo o minério, crateras de até 170 me-tros de profundidade ficaram a céu aberto. Enormes também são os estoques de rejeitos. “Calcula-se, que em Santana, estão estoca-das cerca de 70.000 toneladas de rejeito provenientes do processo de pelotização e que apresenta um percentual de arsênio supe-rior ao encontrado no minério in natura. A Fundação Evandro Cha-gas (Belém), depois de inúmeros exames laboratoriais, recomenda a imediata retirada desses rejei-tos para que não se tenha risco de contaminação de qualquer natu-reza às pessoas ou comunidades próximas a estes locais”. [13]

Em Oriximiná (PA), a Mi-neração Rio Norte (MRN) que explora as reservas de bauxita nesse município, provocou de-gradação do meio ambiente com os rejeitos da mineração a partir da emissão de partículas sólidas e material estéril, como argila, bau-xita fina e areia. O maior desastre foi causado no lago do Batata. As populações locais, formadas em sua maioria por camponeses e ri-beirinhos foram alijadas de seus direitos sobre as áreas de casta-nhais que ficam ao norte da Flo-resta Nacional de Sacará-Taquera, onde a mineradora está situada. Já a Alumínio Brasil S/A (AL-BRAS) e a Alumina Norte Brasil S/A (ALUNORTE), grandes pro-dutoras nacionais de alumina e alumínio instaladas no município

de Barcarena (PA), têm causado enormes prejuízos às comunida-des locais com o carreamento de poluentes compostos com dióxido de alumino e soda cáustica para os cursos d’água. A Pará Pigmen-tos S/A (PPSA) é outra empresa que tem causado sérios danos am-bientais às comunidades no norte do estado do Pará. O beneficia-mento de caulim, no município de Ipixuna tem contaminado cursos d’água afetando tragicamente as comunidades ribeirinhas. A Vale tem trazido sérios prejuízos às comunidades de quilombolas de Jambuaçú e outras comunidades dos municípios de Acará e Mojú com a construção de 180 quilô-metros de mineroduto (transporte de bauxita) e linhas de transmis-são de energia elétrica. Não só a produção agrícola foi prejudicada, mas vilas e povoados foram im-pactados diretamente pelos em-preendimentos.

Casos notórios são tam-bém aqueles causados pela Vale no sudeste do Pará. A explora-ção do ouro no igarapé Bahia es-palhou substâncias químicas na região por conta do uso de soda cáustica e cianeto para a separa-ção do minério da rocha primária. Não muito distante, a empresa construiu uma barragem de con-tenção no igarapé Gelado para o barramento de rejeitos oriundos da exploração do minério de ferro na Serra de Carajás. Em 1992 esta barragem transbordou e inundou áreas de camponeses da região causando sérios prejuízos econô-micos e ambientais. Desde então são ameaçados por outras inunda-ções. Recentemente esta empresa tem causado danos aos assenta-dos do Projeto de Assentamento

Cinturão Verde, município de Marabá. Os serviços de prospec-ção efetivados pela empresa têm contaminado nascentes de águas e danificado estradas e cercas de arame dos camponeses. A Mine-ração Buritirama S/A, instalada dentro desse mesmo assentamen-to vem contaminando as águas dos igarapés Bandeira e Grotão com a exploração do manganês. Traba-lhadores têm reclamado que no período chuvoso os rejeitos pro-venientes da lavagem do minério têm alcançado os cursos d’água, impossibilitando o seu uso.

Em 2003, a mineradora Canico do Brasil, da Specific In-ternational Scientific Cooperation Activities (INCO), empresa cana-dense, proprietária dos direitos minerários do projeto de extração de níquel nas serras do Onça e do Puma, no município de Ourilân-dia do Norte, sul do Pará, expul-sou 82 famílias através de compra ilegal dos lotes nos projetos de assentamentos Campos Altos e Tucumã, danificou reservas flo-restais, contaminou os igarapés e desestruturou a comunidade com os serviços de pesquisas. Em 2006, a Vale adquiriu o controle do projeto e continuou causando danos ambientais, econômicos e sociais, inviabilizando a vida de centenas de famílias assentadas que ainda resistem nos referidos assentamentos. Agora essa em-presa pleiteia a expulsão de mais 93 famílias assentadas. A direção nacional do Instituto de Coloniza-ção e Reforma Agrária (INCRA) tem sido totalmente conivente com os desmandos da empresa e omisso no que diz respeito aos di-reitos dos trabalhadores rurais.

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As empresas de mineração na Amazônia são beneficiadas pela Lei Complementar nº 87, de 1996, também conhecida como Lei Kandir. Como elas exportam produtos considerados matérias-primas são isentas de pagar Im-postos sobre Circulação de Mer-cadorias (ICMS). Os valores dos royalties ou da Contribuição Fi-nanceira pela Exploração de Re-cursos Minerais (CFEM) repassa-do pelas empresas aos municípios são extremamente baixos. Eles variam entre 1 e 3% do fatura-mento líquido. Como os cálculos são feitos pelas próprias empresas mineradoras, a União, o Estado e os municípios são lesados. O mu-nicípio de Parauapebas (PA), após uma auditoria, identificou que foi lesado pela Vale em mais de 700 milhões, como a Vale não se pro-põe pagar, a reclamação está na justiça [14].

4 – Resistências

Em quase todas as regiões onde se desenvolvem trabalhos de extração e de transformação mineral pelas grandes empresas do ramo, com apoio quase que in-condicional do Estado, os movi-mentos sociais têm demonstrado alguma reação. Os camponeses, sobretudo, têm implementado, embora que em âmbito local, di-versas ações contrárias a esta ló-gica perversa do capital.

Na região Guajarina, pro-ximidades de Belém, as comuni-dades quilombolas do Jambuaçu, no ano de 2006, após muitos dias de mobilização e protesto, derru-baram uma torre de transmissão de energia elétrica da Vale para que a empresa concordasse em nego-

ciar as compensações pelos danos ambientais, sociais e econômicos causados em seu território com a construção de um mineroduto que leva bauxita de Paragominas para Barcarena.

Na região de Carajás, em junho 2003, os índios Xicrin com flechas e bordunas ocuparam as instalações do Projeto Sossego, da Vale, em Canaã dos Carajás, no sul do Pará. Eles exigiam a cons-trução de uma estrada até a aldeia, escola e casas. Haviam-se com-pletado dez anos de promessas não cumpridas da empresa às al-deias Cateté e Djudjecô [15]. Em outubro de 2006, os Xicrin ocupa-ram por mais de três dias a mina de ferro de Carajás na tentativa de obrigar a Vale a negociar valores referentes a direitos dos índios, em decorrência dos impactos so-fridos pelo projeto Ferro Carajás. No final de 2007 e início de 2008, povos indígenas e trabalhadores rurais ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à Via Campesina fize-ram várias manifestações com ocupações dos trilhos da Estrada de Ferro de Carajás administrada pela Vale. Essas ações culmina-ram com a criação do Movimento dos Trabalhadores na Mineração (garimpeiros) e o lançamento de um manifesto intitulado Manifes-to da Mobilização dos Campone-ses de Marabá.

Em setembro de 2008, no município de Ourilândia do Norte, mais de 200 trabalhadores rurais dos Projetos de Assentamento Tucumã e Campos Altos, interdi-taram, por três dias, uma estrada usada pela Vale, que dá acesso à área de mineração da Serra Onça,

onde a empresa iniciou trabalhos para a extração de níquel. Os trabalhadores só deixaram o lo-cal depois que representantes da Companhia se dispuseram a dis-cutir com a comunidade os pro-blemas sociais e ambientais cau-sados por ela.

No final de janeiro de 2009, em Juruti, oeste do Pará, trabalha-dores atingidos pela extração e transformação de bauxita pela mi-neradora ALCOA iniciaram ferre-nha luta pelos seus direitos. Uma manifestação que começou com 800 trabalhadores, terminou com 2.500. A manifestação que durou uma semana, resultou numa ne-gociação entre os trabalhadores e o representante da empresa en-volvendo órgãos estaduais e os ministérios públicos estadual e federal.

Se por um lado é possível perceber que os amazônidas e os movimentos sociais vêm toman-do consciência dos impactos dos projetos de mineração, por outro, lideranças e suas organizações so-frem com o processo crescente de difamação, ameaças e criminali-zação, orquestrado pelas minera-doras, grupos políticos ligados a elas, os meios de comunicação e o poder judiciário. Devido a Prela-zia do Xingu, através do seu bispo Dom Erwin Klauter, ter se colo-cado em defesa das comunidades indígenas e contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, o religioso vem sen-do vítima de uma campanha de difamação movida pelos meios de comunicação ligados à Vale e tem sido ameaçado de morte ten-do, inclusive, que andar protegido por policiais militares.

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No Sudeste do Pará, o ad-vogado da CPT, José Batista Gon-çalves Afonso, que atua na defesa dos trabalhadores e lideranças indiciadas ou processadas em de-corrência de conflitos com a Vale, foi vítima de uma condenação pela Justiça Federal de Marabá, em ju-nho de 2008. Ele foi condenado a uma pena de 2 anos e 5 meses de prisão sem direito à pena alter-nativa. Acredita-se que a pesada condenação imposta pelo juiz foi em razão da atuação do advoga-do em defesa dos trabalhadores e contra os interesses da Companhia. Nessa mesma região, em setembro de 2008, uma liderança do MST e duas lideranças do Movimento dos Trabalhadores na Mineração (garimpeiros) foram condenadas pelo mesmo juiz ao pagamento de uma multa de 5 milhões e 200 mil reais por elas terem participa-do de mobilizações que resultaram na interdição da Estrada de Ferro Carajás. Contrariando o que diz a própria Lei, o juiz atribui às três pessoas uma condenação que, te-ria que ser aplicada a cada uma das quinhentas pessoas que participa-ram da interdição. A explicação do juiz é que eles eram lideranças e, por esta razão, deveriam ser con-denados.

5 – Considerações Finais

As características do ca-pitalismo são as mesmas em qualquer parte do mundo: con-centração dos meios de produ-ção; desenvolvimento das forças produtivas; exploração da força de trabalho; acumulação da mais-valia por poucos; e geração de po-breza e miséria para a maioria.

Na Amazônia, a expansão da exploração mineral, como foi demonstrada, nada mais é do que a expansão do próprio capitalis-mo destruidor e perverso, que ex-propria e explora intensivamente a terra, as águas, as florestas e a força dos trabalhadores.

São projetos baseados no extrativismo, de curta duração, que não agregam riquezas para as localidades, mas desestruturam re-lações de trabalho, comunidades e desterritorializam pessoas num processo de estruturação de uma sociedade do caos: aglomerados populacionais com alto índice de desemprego, criminalidade, com péssimas condições de habitação, saneamento básico e educação.

O Estado, entreguista e ar-recadador de migalhas na defesa do capital, coloca à disposição das

corporações todo seu aparato jurí-dico e policial, para facilitar a im-plantação dos empreendimentos e seu funcionamento ao mesmo tempo que reprime e repreende os movimentos sociais que venham a se opor a esta lógica.

É necessário e urgente fazer com que os bens naturais da Ama-zônia sejam colocados à disposição de seus povos e não para aumentar os lucros das grandes empresas. Os minérios, ao contrário do que vem acontecendo até o momento, devem gerar benefícios para as populações locais e diminuir as desigualdades e a pobreza. Não é justo e nem lícito que as empresas com direta partici-pação do Estado continuem causan-do sérios prejuízos às comunidades camponesas e ao meio ambiente.

Não interessa para a socie-dade amazônica a extração e trans-formação mineral, na forma de saque como está sendo feita, com a geração de crateras que jamais possam ser recuperadas. Não inte-ressa os rejeitos tóxicos, as matas devastadas, o solo e águas poluídas. Pelo contrário, torna-se um desafio a desconstrução do atual modelo imposto pelo capital e a construção de um modelo sustentável e racio-nal de aproveitamento dos recursos minerais na Amazônia.

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_______________________________________

[1] Historiador e Agente da Comissão Pastoral da Terra, em Marabá.

[2] Advogado e Agente da Comissão Pastoral da Terra, em Marabá.

[3] Sociólogo e Agrônomo do Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular.

[4]Marianne Schmink and Charles H. Wood Contested Fron-tiers in Amazonia. New York: Columbia University Press, 1992.

[5] Fórum Paraense de Desenvolvimento. 50 anos de minera-ção na Amazônia. Belém: Cejup, 2003.

[6] A situação dos minérios mais extraídos na Amazônia é esta: em primeiro lugar, o ferro, que em 2008, respondeu por 35,2% do total nacional. Em segundo lugar, a alumina (bauxita) com 17,6%, em terceiro, o alumínio com 15,1% e em quarto, o co-bre com 11,3%. O manganês da Mina do Azul, em Carajás, e da Buritirama, em Marabá, contribuíram com mais de 50% da extração nacional, dos 2,4 milhões de toneladas extraídas em 2008. O estado do Pará é ainda responsável por 100% da extração nacional do caulim, 85% da bauxita, 60% do cobre e 10% do ouro (Companhia Vale do Rio Doce. Relatório de Produção, 2008).

[7] O município de Parauapebas, no sudeste paraense, participou com 35,8% (minério de ferro), Barcarena com 33,3% (alumina e alumínio), Canaã dos Carajás com 10% (co-bre), Marabá com 7,1% (ferro gusa e manganês), Oriximiná com 6,3% (bauxita), contribuindo significativamente para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. O muni-cípio de Belém participou com 28,21%, para o PIB do estado, em segundo lugar, Barcarena com 8,03%, Parauapebas com 6,72%, Marabá com 5,91%, Ananindeua com 5,56%, Canaã dos Carajás com 1,58% e Oriximiná com 1,42%.

[8] Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). Informa-ções e Análises da Economia Mineral Brasileira, 3ª edição, IBRAM, 2008.

[9] O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) já lavrou 56 autos de infração contra a Vale, desde que foi privatizada, o que resultou em 37 milhões de reais em multas não pagas.

[10] Os registros mostram que na área de influência da Vale, no sudeste paraense (municípios de Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás, Eldorado dos Carajás, Curionópolis, Ourilândia do Norte e Tucumã), as mortes por causas violentas aumenta-ram em 23% de 2007 para 2008, considerando os corpos que passaram pelo Instituto Médico Legal (IML) de Marabá. No ano de 2008, os municípios de Marabá e Parauapebas foram os que mais registraram mortes por assassinato. Marabá saltou de 187 assassinatos, em 2007, para 266, em 2008, e Parauapebas,

saltou de 62, em 2007, para 94, em 2008 [10].

6 – Bibliografia

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[11] CVRD e Diagonal Urbana Consultoria. Diagnóstico Integrado em Socioeconomia para os empreendimentos da CVRD. 2006.

[12] Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1610/96 com o objetivo de regulamentar o art. 231 da Consti-tuição Federal que impede a atividade em território indígena.

[13] (Fórum Paraense de Desenvolvimento. 50 Anos de Mine-ração na Amazônia, Belém: Cejup, 2003).

[14] Em 1997, do faturamento de mais de 2 bilhões de dólares das empresas com a movimentação da bauxita extraída, em Oriximiná, e da produção de alumínio, em Barcarena, somente 30 milhões de dólares foram recolhidos aos cofres públicos, o que representa apenas 1,5% do faturamento. Em 2008, o reco-lhimento de 700 milhões de reais representou somente 1,44% do faturamento. Significa que nem os 2%, como manda a Lei que determina o valor da CFEM, para o caso da bauxita, está sendo cumprido.

[15] O LIBERAL, Belém, 13/06/03.

LINKS DE INTERESSE

www.forumcarajas.org.brwww.justicanostrilhos.org

http://relicariominado.blogspot.comhttp://rogerioalmeidafuro.blogspot.com

http://mineracaosudesteparaense.wordpress.com www.faor.org.br

www.forumsocialpanamazonico.orgwww.justicaambiental.org.brhttp://racismoambiental.net.br

http://atingidospelavale.wordpress.comwww.gta.org.br

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Integrantes do Fórum Carajás, Sindmetal e pesquisadores alemães (ASA) em visita a Alcoa.

Alcoa em Juruti/PA

Carvoarias no Baixo Parnaíba Maranhense Mineração Aurizona em Godofredo Viana/MA

Visita de Sussane (Assessora de mineração/MISEREOR ) ao Escritó-rio do Fórum Carajás.

Reunião do Grupo Salvaterra em Rio do Cachorros, São Luís/MA

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