mineração, gerenciamento ambiental do projetos, estudo de caso-ppgem

123
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto Departamento de Engenharia de Minas Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral – PPGEM Gerenciamento Ambiental de Projetos de Mineração: um estudo de caso Autor: Leandro Augusto de Freitas Borges Orientador: Prof. Dr. José Cruz do Carmo Flôres Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Mineral do Departamento de Engenharia de Minas da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Mineral. Área de concentração: Lavra de Minas. Ouro Preto – MG Março de 2009

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  • MINISTRIO DA EDUCAO E DO DESPORTO

    Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto Departamento de Engenharia de Minas

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mineral PPGEM

    Gerenciamento Ambiental de Projetos de Minerao:

    um estudo de caso

    Autor: Leandro Augusto de Freitas Borges

    Orientador: Prof. Dr. Jos Cruz do Carmo Flres

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mineral do Departamento de Engenharia de Minas da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Mineral.

    rea de concentrao: Lavra de Minas.

    Ouro Preto MG

    Maro de 2009

  • MINISTRIO DA EDUCAO E DO DESPORTO

    Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto Departamento de Engenharia de Minas

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mineral PPGEM

    GERENCIAMENTO AMBIENTAL DE PROJETOS DE MINERAO: UM

    ESTUDO DE CASO

    AUTOR: LEANDRO AUGUSTO DE FREITAS BORGES

    ORIENTADOR: Prof. Dr. JOS CRUZ DO CARMO FLRES

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mineral do Departamento de Engenharia de Minas da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Mineral.

    rea de concentrao: Lavra de Minas.

    Ouro Preto MG

    Maro de 2009

  • Catalogao: [email protected]

    B732c Borges, Leandro Augusto de Freitas. Gerenciamento ambiental de projetos de minerao : um estudo de caso

    [manuscrito] / Leandro Augusto de Freitas Borges. 2009. xiii , 76 f. : il., tabs., mapas. Orientador: Prof. Dr. Jos Cruz do Carmo Flres. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Ouro Preto. Departamento de Engenharia Mineral. Programa de Ps-graduao em Engenharia Mineral. rea de concentrao: Lavra de Minas

    1. Gesto ambiental - Teses. 2. Poltica ambiental - Teses. 3. Minas e minerao - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Ttulo.

    CDU: 504.06:622.7

  • iii

    Dedico este trabalho memria de meu querido pai, Eustquio Antnio Borges, que no pde acompanhar esta jornada at o fim.

  • v

    RESUMO

    A explorao dos recursos naturais com a insero da varivel ambiental uma

    realidade inerente a todos os projetos de minerao atualmente existentes. Esta forma de

    agir vem em busca do equilbrio entre atender as demandas da populao por minrios e

    manter a capacidade de suporte do meio ambiente. Desse modo, com a evoluo das

    questes legais, foram sendo criadas normas para a cobrana da gesto ambiental, a ser

    executada por parte das empresas de minerao. Nesta dissertao discutido um

    modelo de gesto ambiental aplicvel a mineraes de pequeno porte, definidas em

    funo das polticas governamentais, especificamente quelas dentro do Estado de

    Minas Gerais. Discute-se como o processo de regularizao ambiental exigido pelas

    entidades governamentais estaduais pode se tornar a principal ferramenta de gesto e

    administrao ambiental empresarial. O modelo de gesto proposto tem por base a

    aplicao das exigncias legais impostas aos projetos de minerao, para a obteno das

    vrias licenas ambientais necessrias para a extrao dos recursos minerais, como

    principal ferramenta de preveno dos danos ambientais potenciais que podero advir

    dessas atividades. Ao final, apresenta-se um estudo de caso, que cuida da aplicao do

    modelo de gesto proposto Pedreira Santa Efignia, localizada no Distrito de Antnio

    Pereira, no municpio de Ouro Preto, no Estado de Minas Gerais, cuja lavra est sendo

    pleiteada pela Cooperativa dos Trabalhadores da Pedreira Santa Efignia

    COOPERSERF.

    Palavras-chave: gesto ambiental, licenciamento ambiental, mineraes de pequeno

    porte, polticas governamentais.

  • vi

    ABSTRACT

    The exploration of natural sources with the insertion of the changeable environmental

    projects which is a reality attached to all current mining projects. The goal is to get

    balance between mining population needs and protection to environment. By the legal

    subjects, new laws were created, so that it became mandatory for the mining

    corporations to follow them by the environmental management groups. This article is

    about the environmental management groups standards that were developed to watch

    small corporations, defined by the governmental politics, specially the ones into Minas

    Gerais state. Its a topic of discussion, how the process of environmental regulation

    demanded by the government might become the main tool of environmental

    management and business administration. The example of the proposed management

    requirements is based on application of the legal demands related to the mining projects.

    The main tool utilized for environmental acquisition of protection is the various

    environmental licenses necessary for the mining operation in order to protect the

    environment. A specific case is presented at the end which deals with an example of the

    management project proposed to Pedreira Santa Efignia, located in Ouro Preto, Minas

    Gerais state, at Antonio Pereira district, which exploitation has been requested by the

    Cooperative of Workers of Pedreira Santa Efignia - COOPERSERF.

    Keywords: environmental management, environmental licencing, small mining

    corporations, governmental politics.

    .

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Aos Professores Doutores Jos Cruz do Carmo Flores Orientador e Hernani Mota de

    Lima, pelo ensino, amizade e bom humor, durante todo esse trajeto.

    Aos Professores Doutores Wilson Trigueiro e Carlos Magno Muniz e Silva, pela

    sabedoria e serenidade.

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPEMIG, pela

    concretizao desta pesquisa.

    Universidade Federal de Ouro Preto UFOP, ao Departamento de Engenharia de

    Minas DEMIN e ao Programa de Ps Graduao em Engenharia Mineral PPGEM,

    por todos esses anos de convvio.

    Cooperativa dos Trabalhadores da Pedreira Santa Efignia COOPERSERF, em

    nome do Sr. Srgio Edimar Ferreira, pela oportunidade de execuo deste estudo.

    minha querida namorada Ceci Nery Batista, por toda a pacincia, carinho, ateno e

    participao em etapas importantes de minha vida.

    Ao grande Matheus Funchal Monteiro, pela irmandade.

    Ao querido Tio Daniel de Freitas, pela experincia de vida.

    Aos amigos Jango Nery, Marcos Pardo, Tatiana Nery, Aralim Ferro, Sr. Joaquim

    Batista, Paloma Cerqueira, Rodrigo Melo, Diogo Soraggi, Mario Coelho, Juliano e

    famlia Guerra, e s Repblicas Espigo, Pulgatrio e Marragolo, pela convivncia e

    hospitalidade.

    minha me Maria Conceio Freitas Borges, aos irmos Edith Carla e Bruno Freitas,

    e aos sobrinhos Joo Pedro e Gabriel, por serem motivo de alegria.

  • vii

    SUMRIO

    DEDICATRIA........... ................................................................................................. III

    AGRADECIMENTOS ................................................................................................. III

    RESUMO ........................................................................................................................ V

    ABSTRACT ................................................................................................................... VI

    SUMRIO ................................................................................................................... VII

    LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... X

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................ XII

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................ XII

    CAPTULO 1 INTRODUO ................................................................................... 1

    CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................... 5

    2.1 EMPREENDIMENTOS MINERRIOS DE PEQUENO PORTE E O

    SETOR DE MINERAIS AGREGADOS PARA A CONSTRUO CIVIL .. 5

    2.2 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA MINERAO...........10

    2.3 LEGISLAO AMBIENTAL NO BRASIL.................................................16

    2.3.1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO MBITO FEDERAL...................19

    2.3.2 CARACTERSTICAS DAS LICENAS AMBIENTAIS............................21

    2.4 LEGISLAO AMBIENTAL NO ESTADO DE MINAS GERAIS.......22

    CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL

    INTEGRADO NA MINERAO .............................................................................. 25

    3.1 PLANEJAMENTO AMBIENTAL..............................................................26

  • viii

    3.1.1 CLASSIFICAO DE PROJETOS DE MINERAO PERANTE A

    DELIBERAO NORMATIVA COPAM NO 74/04.................................27

    3.1.2 CLASSIFICAO DOS EMPREENDIMENTOS MINERRIOS, TIPOS

    DE LICENAS E NVEL DE EXIGNCIA DO PROCESSO DE

    LICENCIAMENTO AMBIENTAL............................................................31

    3.1.2.1 Projetos de Minerao Grupo de Classes 1 e 2.....................32

    3.1.2.2 Projetos de Minerao Grupo de Classes 3 e 4.....................33

    3.1.2.3 Projetos de Minerao Grupo de Classes 5 e 6.....................33

    3.1.3 PRAZOS DE VIGNCIA DA AUTORIZAO AMBIENTAL DE

    FUNCIONAMENTO E DAS LICENAS AMBIENTAIS.........................35

    3.1.4 PRAZOS DE ANLISE DOS PROCESSOS PELOS RGOS

    AMBIENTAIS...........................................................................................36

    3.1.5 LICENCIAMENTO PREVENTIVO E CORRETIVO...............................37

    3.1.6 ETAPAS DA REGULARIZAO AMBIENTAL......................................37

    3.1.7 CUSTOS DE ANLISE DO PROCESSO DE REGULARIZAO

    AMBIENTAL............................................................................................42

    3.2 GERENCIAMENTO AMBIENTAL...........................................................45

    CAPTULO 4 O ESTUDO DE CASO DA PEDREIRA SANTA EFIGNIA ..... 47

    4.1 CARACTERIZAO GERAL DA REA.................................................47

    4.1.1 HISTRICO E CONTEXTUALIZAO SCIO-AMBIENTAL..............48

    4.1.2 PROCESSOS MINERRIOS DA COOPERSERF NO DNPM / 3

    DISTRITO................................................................................................49

    4.2 DIRETRIZES PARA A GESTO AMBIENTAL NA REA DA PEDREIRA

    SANTA EFIGNIA........................................................................................53

  • ix

    4.2.1 METODOLOGIA PARA O LEVANTAMENTO DE DADOS DA

    PEDREIRA...............................................................................................53

    4.2.2 PROCESSO DE REGULARIZAO AMBIENTAL DA PEDREIRA

    SANTA EFIGNIA...................................................................................54

    4.2.3 DA GESTO DE PRAZOS E MODALIDADE DAS

    LICENAS...............................................................................................56

    4.2.4 DOS ESTUDOS TCNICOS....................................................................57

    4.3 PLANEJAMENTO AMBIENTAL..............................................................57

    4.4 GERENCIAMENTO AMBIENTAL...........................................................61

    4.5 ANLISE DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS NA REA

    AMBIENTAL...............................................................................................64

    CAPTULO 5 CONSIDERAES FINAIS ........................................................... 67

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................ 71

    ANEXOS ........................................................................................................................ 77

  • x

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 Comparao do porte dos empreendimentos minerrios no Brasil e em

    Minas Gerais......................................................................................................................5

    FIGURA 2 Localizao das sedes das SUPRAMs com suas respectivas reas de

    abrangncia regional........................................................................................................23

    FIGURA 3 Fluxograma do processo de regularizao ambiental para a obteno da

    Autorizao Ambiental de Funcionamento AAF, para empreendimentos de minerao

    no Estado de Minas Gerais..............................................................................................40

    FIGURA 4 Fluxograma do processo de regularizao ambiental para a obteno da

    Licena Ambiental, para empreendimentos de minerao no Estado de Minas

    Gerais...............................................................................................................................41

    FIGURA 5 Localizao da Pedreira Santa Efignia....................................................47

    FIGURA 6 Processos minerrios da COOPERSERF no DNPM.................................52

    FIGURA 7 Presena de taludes altos e negativos........................................................58

    FIGURA 8 Casas prximas Pedreira Santa Efignia.................................................60

    FIGURA 9 Situao do Crrego gua Suja.................................................................61

    FIGURA 10 Estrutura geral esperada para os taludes da mina....................................62

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 Comportamento tpico das mineraes.......................................................9

    TABELA 2 Impactos ambientais da minerao...........................................................13

    TABELA 3 Potencial poluidor / degradador geral baseado nos possveis cruzamentos

    das variveis ambientais..................................................................................................29

    TABELA 4 Classificao dos empreendimentos conforme DN COPAM no 74/04.....31

    TABELA 5 Peculiaridades no Processo de Regularizao Ambiental, por

    Grupos.............................................................................................................................35

    TABELA 6 Comparativo entre os diferentes processos de regularizao ambiental em

    Minas Gerais....................................................................................................................39

    TABELA 7 Custo de anlise para projetos de minerao de Classes 1 e 2.................42

    TABELA 8 Custo de anlise para projetos de minerao de Classes 3 a 6.................43

    TABELA 9 Custo de anlise para processos de outorga de projetos de minerao.....44

    TABELA 10 Ttulos minerrios da VALE...................................................................50

    TABELA 11 Ttulos minerrios da COOPERSERF....................................................51

    TABELA 12 Anlise comparativa dos custos de anlise ambiental para mineraes de

    diferentes classificaes de porte e potencial poluidor/degradador................................65

  • xii

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ART Anotao de Responsabilidade Tcnica

    AAF Autorizao Ambiental de Funcionamento

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AIA Avaliao de Impactos Ambientais

    APEF Autorizao para Explorao Florestal

    CETEC Centro Tecnolgico de Minas Gerais

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

    COOPERSEF Cooperativa dos Trabalhadores da Pedreira Santa Efignia

    COPAM Conselho Estadual de Poltica Ambiental

    DEMIN Departamento de Engenharia de Minas

    DN Deliberao Normativa

    DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral

    DRH Departamento de Recursos Hdricos de Minas Gerais

    DTMA Diretoria de Tecnologia e Meio Ambiente de Minas Gerais

    EIA Estudo de Impacto Ambiental (Resoluo CONAMA no 01, 1986)

    FCEI Formulrio de Caracterizao do Empreendimento Integrado

    FEAM Fundao Estadual de Meio Ambiente

    FJP Fundao Joo Pinheiro

    FOBI Formulrio de Orientao Bsica Integrado

  • xiii

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    IEF Instituto Estadual de Florestas

    IGAM Instituto Mineiro de Gesto das guas

    LI Licena de Instalao

    LO Licena de Operao

    LP Licena Prvia

    PCA Plano de Controle Ambiental (FEAM, 2009)

    PPGEM Programa de Ps Graduao em Engenharia Mineral

    PRAD Plano de Recuperao de reas Degradadas (Decreto Federal no 97.632, 1989)

    RADA Relatrio de Avaliao de Desempenho Ambiental (FEAM, 2009)

    RCA Relatrio de Controle Ambiental (FEAM, 2009)

    RIMA Relatrio de Impacto Ambiental (Resoluo CONAMA no 01, 1986)

    SECT Secretaria de Estado de Cincia e Tecnologia de Minas Gerais

    SEMA Secretaria Especial de Meio Ambiente de Minas Gerais

    SEMAD Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel de

    Minas Gerais

    SISEMA Sistema Estadual de Meio Ambiente

    SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

    SUPRAM Superintendncia Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento

    Sustentvel

    UFOP Universidade Federal de Ouro Preto

  • CAPTULO 1 INTRODUO

    1

    Os minerais so essenciais sobrevivncia e qualidade de vida do ser humano e esto

    intimamente ligados evoluo histrica da Humanidade desde os primrdios, com o

    uso da pedra (Idade da Pedra) e posteriormente dos metais, com a Idade do Cobre e a

    Idade do Ferro.

    O desenvolvimento das tcnicas de explorao dos minerais no decorrer dos sculos e o

    aumento da escala de produo trouxeram como conseqncia, significativos impactos

    inerentes atividade mineral, como a poluio fonte de riscos para a sade humana ,

    acidentes ambientais e a escassez de alguns recursos naturais.

    Por mais importante que a minerao seja para a humanidade e para a economia, no se

    pode ignorar que este segmento promove modificaes no ambiente, em todos os meios:

    fsico, bitico e socioeconmico (PRADO FILHO, 2001).

    Mundialmente, no que tange evoluo das questes ambientais, o aumento da

    conscientizao dos problemas ambientais gerados pelas atividades humanas, inclusive

    a minerao, como a degradao ambiental e suas conseqncias sociais, ocorreu a

    partir de meados da dcada de 60, principalmente nos pases desenvolvidos (VIANA,

    2007).

    As dcadas seguintes, at os anos 90, foram marcadas pelas fases de normatizao

    ambiental, institucionalizao de polticas ambientais e assinatura de protocolos

    internacionais sobre temas ambientais globais, como a Conferncia de Estocolmo, em

    1972, e a Conferncia Rio 92, em 1992.

    No Brasil, sob o ponto de vista legal e normativo, a Poltica Nacional de Meio

    Ambiente foi instituda com a Lei Federal no 6.938/81, que estabeleceu, dentre seus

    instrumentos, a Avaliao de Impactos Ambientais AIA e a obrigatoriedade do

    licenciamento ambiental para todos os tipos de atividades potencialmente poluidoras e

    degradadoras do meio ambiente.

    A Resoluo CONAMA no 01/86 dispe sobre as diretrizes gerais para o uso e

    implementao da Avaliao de Impactos Ambientais. Nos seus termos, todas as

    atividades de minerao esto sujeitas ao licenciamento ambiental e, dentro deste

  • CAPTULO 1 INTRODUO

    2

    processo, os titulares de direitos minerrios esto obrigados a apresentar aos rgos

    competentes os respectivos Estudos de Impacto Ambiental EIA e Relatrio de

    Impacto Ambiental RIMA, dentro dos prazos estipulados na Resoluo.

    Posteriormente, a Resoluo CONAMA no 237/97 trouxe algumas mudanas e

    melhorias, tanto para a Lei Federal no 6.938/81 quanto para a Resoluo CONAMA no

    01/86.

    No Estado de Minas Gerais, o fato marcante a respeito do processo de licenciamento

    ambiental advm da Deliberao Normativa COPAM no 74/04, que estabelece critrios

    para classificao, segundo o porte e potencial poluidor, de empreendimentos e

    atividades modificadoras do meio ambiente.

    Em virtude da evoluo das questes ambientais, motivada pela introduo da varivel

    ambiental nas atividades de minerao, esta dissertao tem por objetivo geral a

    proposio do processo de regularizao ambiental do Estado de Minas Gerais como

    instrumento de gesto ambiental empresarial, para projetos de minerao de pequeno

    porte, baseado num estudo de caso. Sero discutidos os procedimentos, as ferramentas e

    os instrumentos que auxiliaro o empreendedor na gesto ambiental da mina durante

    toda a sua vida til, de acordo com as exigncias legais.

    Os seguintes objetivos especficos foram estabelecidos para o projeto de pesquisa:

    Levantamento dos principais impactos relacionados s atividades de minerao, da legislao vigente no Brasil e Minas Gerais, alm de apresentar

    os tipos bsicos de licenas ambientais pertinentes aos empreendimentos de

    minerao;

    Elaborao do Planejamento Ambiental, que deve ser articulado para a obteno da Autorizao Ambiental de Funcionamento e das diferentes

    licenas ambientais no Estado de Minas Gerais, focado nas pequenas

    mineraes;

  • CAPTULO 1 INTRODUO

    3

    Elaborar o Gerenciamento Ambiental Integrado durante a Fase de Operao, com o intuito de executar a gesto dos aspectos ambientais nas pequenas

    mineraes;

    Apresentar um estudo de caso do processo de regularizao ambiental estadual como instrumento de gesto ambiental empresarial da Pedreira Santa Efignia,

    extrao e britagem de dolomito, situado no distrito de Antnio Pereira, Ouro

    Preto/MG, pleiteada pela COOPERSEF Cooperativa dos Trabalhadores da

    Pedreira Santa Efignia.

    A relevncia do trabalho justifica-se devido importncia das mineraes de pequeno

    porte para suprir as necessidades humanas, por se tratar dos principais responsveis pela

    disponibilizao de minerais agregados para a construo civil no Brasil e no mundo.

    O resultado final apresentado nesta dissertao de mestrado, elaborada sob a

    orientao do Prof. Dr. Jos Cruz do Carmo Flres, como um dos requisitos para a

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Mineral, atravs do Programa de Ps

    Graduao em Engenharia Mineral / Departamento de Engenharia de Minas, da Escola

    de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto UFOP.

    A Deliberao Normativa COPAM no 74/04 classifica todos os tipos de atividade em

    Minas Gerais, inclusive a minerao, em pequeno, mdio ou grande porte/potencial

    poluidor, de modo que a complexidade e nvel de exigncia do processo de

    licenciamento ambiental depende da graduao e enquadramento ao qual o

    empreendimento inserido.

    Dessa forma, o processo de licenciamento ambiental exigido pelos rgos pblicos

    competentes, via solicitaes de ordem tcnica e administrativas, tornou-se o principal

    instrumento norteador de planejamento e gerenciamento ambiental integrado dos

    empreendimentos minerrios. Este fato demonstra-se particularmente verdadeiro para as

    mineraes de pequeno porte, devido a ausncia de outros instrumentos de

    gerenciamento ambiental aplicveis a este segmento da extrao mineral.

  • CAPTULO 1 INTRODUO

    4

    Formulada a hiptese inicial, nos termos apresentados nos pargrafos anteriores, o

    projeto desenvolveu-se mediante o cumprimento das seguintes etapas: a) reviso

    bibliogrfica da legislao ambiental federal vigente no Brasil; b) reviso bibliogrfica

    da legislao ambiental estadual em Minas Gerais; c) contatos com instituies federais

    e rgos ambientais estaduais encarregados da formulao e execuo da legislao

    ambiental; d) visitas mina selecionada para a execuo do estudo de caso do

    planejamento e gerenciamento ambiental integrado.

    Quatro captulos adicionais compem esta dissertao. O Captulo 2 apresenta uma

    breve anlise dos empreendimentos de minerao de pequeno porte, mostra sua relao

    com o setor de minerais agregados, expe a sntese dos principais impactos gerados pela

    atividade e apresenta a evoluo das questes legais clssicas para a obteno das

    licenas ambientais, bem como os seus tipos principais.

    O Captulo 3 dedicado abordagem conceitual do tema e est dividido em duas partes.

    A primeira parte aborda o planejamento do projeto de minerao baseado nas

    ferramentas governamentais, com vistas na obteno das licenas ambientais.

    apresentada a classificao dos projetos segundo o porte e potencial poluidor /

    degradador e sua relao com o nvel de complexidade do processo de regularizao

    ambiental, bem como os prazos legais, custos de anlise e as etapas que compem esse

    procedimento. A segunda etapa dedicada ao gerenciamento ambiental das atividades

    de minerao, que vem consolidar, comprovar e formalizar a execuo dos programas e

    planos propostos e elaborados na fase de planejamento.

    O Captulo 4 apresenta o estudo de caso da Pedreira Santa Efignia, cujo pleito de lavra

    da Cooperativa dos Trabalhadores da Pedreira Santa Efignia COOPERSERF, onde

    so aplicadas as ferramentas de regularizao ambiental governamental como

    instrumento de gesto ambiental empresarial em uma pequena empresa de minerao.

    O Captulo 5 apresenta as consideraes finais, formuladas como resultado do estudo,

    reflexes do autor e da abordagem das questes inerentes ao processo de regularizao

    ambiental. Por fim, sugerem-se alguns temas para estudos futuros e continuidade das

    pesquisas sobre o tema.

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    5

    2.1 EMPREENDIMENTOS MINERRIOS DE PEQUENO PORTE E O SETOR DE MINERAIS AGREGADOS PARA A CONSTRUO CIVIL

    A minerao representa um importante segmento da economia do Pas, contribuindo de

    forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida da populao como

    um todo. Porm, importante enfatizar que esta atividade deve ser exercida com

    responsabilidade tcnica, social e ambiental, sempre em busca dos preceitos do

    desenvolvimento sustentvel. A histria brasileira se relaciona com o aproveitamento

    dos seus recursos minerais, que sempre contriburam com importantes insumos para a

    economia nacional, fazendo parte inclusive da ocupao do territrio brasileiro.

    O perfil do setor mineral brasileiro composto por 73% de pequenas mineraes,

    considerando-se o total de empresas de minerao nacionais (DNPM, 2006). Em Minas

    Gerais, devido ocorrncia de mdios e grandes depsitos minerais e a importncia

    desse setor para a economia do estado, o nmero de minas de pequeno porte

    corresponde a 64% do total, valor abaixo do percentual nacional (Figura 1).

    Fonte: DNPM, 2006.

    Fonte: DNPM, 2006.

    Figura 1 Comparao do porte dos empreendimentos minerrios no Brasil e em Minas Gerais.

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    6

    A importncia da minerao em pequeno porte em confronto com as empresas de

    grande porte est associada aos seguintes benefcios potenciais (VALE, 2000 e LELLES

    et al., 2005):

    Maior nmero de empregados por unidade de produto;

    Menor demanda em termos de qualificao da mo-de-obra;

    Menor imobilizao de capital por unidade de produto;

    Menor rea de concesso para a lavra;

    Aproveitamento de depsitos de pequena dimenso;

    Desenvolvimento de regies de limitado potencial econmico;

    Maior integrao e articulao com a economia regional.

    Em se tratando dos custos e desafios, os aspectos usualmente realados so (VALE,

    2000):

    Maior componente de informalidade;

    Menor qualificao da mo-de-obra empregada;

    Menor produtividade da mo-de-obra;

    Maior intermitncia na operao;

    Padres operacionais insatisfatrios em relao proteo ambiental;

    Padres operacionais insatisfatrios em relao segurana no trabalho.

    Os bens minerais mais explotados pelas pequenas mineraes so os minerais agregados

    para a construo civil, com destaque para as areias, argilas, calcrio, quartzitos,

    dolomito, rochas britadas e cascalho (AMADE, 2006). A construo de uma obra civil

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    7

    (casa, edifcio, estrada, hospital, escola, aeroporto) s se concretiza aps a

    transformao da rocha em brita, do calcrio em cimento, da areia em vidro, argamassa

    e concreto (FLRES, 2006).

    Os minerais agregados para a construo civil so os insumos minerais mais

    consumidos e, conseqentemente, os mais significativos em quantidade produzidos no

    mundo (CAMPOS e FERNANDES, 2005). Apesar de serem abundantes, apresentam

    baixo valor unitrio e o seu consumo um importante indicador do perfil

    socioeconmico de desenvolvimento de um pas. Em contrapartida, tal

    desenvolvimento, juntamente com a necessidade da proximidade fornecedor-

    consumidor, tem aproximado a populao dos empreendimentos minerrios e dos

    impactos gerados pela extrao do mineral, tais como emisso de poeiras, rudos e

    vibraes (SILVA, 2005).

    Muitos dos empreendimentos de menor porte, principalmente as pequenas mineraes

    de minerais agregados, trabalham na clandestinidade, e, por isso, no h estatsticas

    confiveis sobre este segmento. O Departamento Nacional da Produo Mineral

    DNPM carece dessas estatsticas devido falta de uma estrutura de coleta e anlise dos

    dados apurados sobre o setor, que possibilite prestar informaes objetivas e confiveis

    aos organismos envolvidos na poltica de planejamento urbano (REIS et al, 2005).

    Os impactos ambientais causados pela atividade de minerao ocorrem desde os

    estgios iniciais da explorao mineral e aumentam progressivamente com o

    desenvolvimento e lavra da mina e podem continuar mesmo aps a desativao das

    atividades (CASSIANO, 1996).

    Embora a predominncia dos empreendimentos minerrios seja para os de menor porte,

    eles tendem a causar significativos impactos ambientais, devido falta de recursos

    financeiros dos titulares para arcar com as questes ambientais e as dificuldades de

    acesso s modernas tcnicas de extrao, alm do desconhecimento da legislao

    ambiental e minerria e da ausncia de corpo tcnico especializado nas atividades de

    lavra e de gesto ambiental.

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    8

    Desse modo, a busca da conciliao da explorao racional, atravs da utilizao das

    melhores tcnicas, conhecimento geolgico e viabilidade econmica, com a

    minimizao dos impactos sobre o ambiente e a sociedade abre discusses sobre o

    modelo de desenvolvimento sustentvel e gesto ambiental.

    Os modelos de gerenciamento dos impactos ambientais atualmente existentes so

    baseados na realidade e vivncia das grandes corporaes, onde h a disponibilidade de

    recursos financeiros para o levantamento de bancos de dados e a disponibilidade de

    corpo tcnico especializado para a abordagem das questes. O grande desafio est na

    utilizao de modelos de gerenciamento ambiental aplicveis realidade das

    mineraes de pequeno porte, maioria em Minas Gerais e no Brasil.

    Segundo GERMANI (2000), trabalhar com empreendimentos de pequeno porte reveste-

    se da maior importncia, pois estes segmentos configuram-se como aqueles que

    possuem as maiores dificuldades financeiras para contratarem corpo tcnico

    especializado e, portanto, tm dificuldade para gerenciar e planejar suas aes

    ambientais durante as diferentes etapas da vida do empreendimento.

    A experincia tem demonstrado que os custos so muito mais elevados e as solues

    ambientais / medidas mitigadoras tornam-se muito mais complexas quando so

    implementadas ao fim da vida til do empreendimento momento em que o fluxo de

    caixa j est prximo de zero. Medidas programadas durante a fase de planejamento e

    executadas nas fases de instalao e operao tm se mostrado mais eficazes no controle

    da degradao e na efetiva proteo ambiental; e normalmente, os custos tornam-se

    menos onerosos para o investidor, uma vez que podem ser diludos na sua

    contabilidade, ao longo de toda a vida til da mina.

    Geralmente, o porte dos empreendimentos mineiros e visibilidade perante a sociedade

    refletem suas aes tomadas sob o ponto de vista ambiental. O comportamento

    tipicamente passivo dos pequenos empreendimentos e reativo daqueles de mdio porte,

    mostra a viso imediatista dessas mineraes, enquanto o ideal seria o comportamento

    pr-ativo, mais observado em empresas de grande porte (Tabela 1).

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    9

    Tabela 1 Comportamento tpico das mineraes.

    COMPORTAMENTO CARACTERSTICAS CONSEQNCIAS

    (REAIS OU POTENCIAIS)

    Passivo

    - Cumprimento da legislao mediante sanes;

    - Investimento mnimo em controle ambiental;

    - Vem as questes ambientais apenas como

    reduo de lucro.

    - Conflitos com as partes

    interessadas;

    - Riscos constantes de acidentes;

    - Multas e sanes legais;

    - Concorrncia utiliza em seu

    favor o mau comportamento

    ambiental;

    - Passivos legais e ambientais;

    - Perdas financeiras e

    patrimoniais;

    - Presso constante dos rgos

    fiscalizadores;

    - Descrdito perante a

    sociedade;

    - Afastamento de investidores.

    Reativo

    - Procura cumprir a legislao quando exigido

    pela fiscalizao;

    - Postergao mxima dos novos investimentos

    em controle ambiental;

    - Antecipao dos riscos e custos eventuais;

    - Monitoramento contnuo;

    - Investimento em controle ambiental previstos

    desde a fase de projeto.

    - Exposio legal;

    - Melhores resultados

    operacionais;

    - Riscos de acidentes com

    graves conseqncias

    econmicas e financeiras;

    - Exposio concorrncia.

    Pr-ativo

    - Preveno de riscos socialmente instituda;

    - Abertura de negociao de problemas

    ambientais;

    - Medidas preventivas;

    - Risco controlado, faz auditorias e identifica

    inadimplncias legais;

    - Em geral possui Sistema de Gesto Ambiental

    Integrado e eficiente.

    - Bom relacionamento com os

    rgos ambientais;

    - Baixa probabilidade de

    problemas com multa e

    embargos;

    - Credibilidade com a sociedade;

    - Atrativo para investidores.

    FONTE: Adaptado de GERMANI (2000).

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    10

    A questo ambiental torna-se um ponto-chave para a sobrevivncia das pequenas

    mineraes no mercado atual, extremamente exigente. Empreendimentos que exercem

    suas atividades sem as necessrias licenas ambientais podem sofrer sanes (multas e

    embargos) oriundas dos rgos pblicos responsveis. Na maioria dos casos, os

    recursos financeiros exauridos como conseqncia dessas penalidades vo muito alm

    daqueles que seriam alocados para o funcionamento regular da empresa, atravs do

    licenciamento e posterior gerenciamento ambiental da atividade, podendo, em casos

    extremos, comprometer a sade financeira da empresa de maneira irremedivel.

    2.2 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA MINERAO

    Se por um lado a minerao exerce um impacto positivo sobre a sociedade e economia,

    atravs da gerao de empregos diretos e indiretos, impostos e royalties, por outro

    provoca impactos negativos ao ambiente, principalmente sobre os meios fsico, bitico e

    socioeconmico.

    Segundo o conceito clssico e legal definido pela Resoluo CONAMA no 01/86, em

    seu Art. 1, considera-se impacto ambiental qualquer alterao das propriedades

    fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de

    matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,

    afetam: (i) a sade, a segurana e o bem-estar da populao; (ii) as atividades sociais e

    econmicas; (iii) a biota; (iv) as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; (v)

    a qualidade dos recursos ambientais.

    Alguns autores consideram como impacto ambiental apenas as alteraes significativas

    ao ambiente, de tal modo que esta abordagem incorpora a materializao da ponderao

    dos impactos, atravs da elaborao de matrizes com a atribuio de valores numricos

    de acordo com o nvel de degradao sobre o ambiente, apesar das tcnicas utilizadas

    para tal serem consideradas como extremamente subjetivas.

    Existem alguns valores de atributos das variveis ambientais que podem ser

    representados em termos de parmetros e regulamentos, instrudos por instrumentos

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    11

    legais para a normatizao de parmetros ambientais. Na literatura tcnica sobre o

    assunto, so reconhecidos vrios mtodos de avaliao e mensurao dos impactos,

    notadamente sintetizados por PRADO FILHO (2001), que qualificam e quantificam os

    impactos causados pela minerao.

    Segundo CASSIANO (1996), a determinao, a qualidade e extenso dos impactos so

    orientados pela caracterizao do tipo de minrio (geologia da jazida), pela tecnologia

    utilizada na lavra, pelo mtodo de tratamento (beneficiamento) e pelas formas de

    disposio dos estreis e rejeitos.

    A caracterizao geolgica da jazida, alm de levantar dados sobre o mineral de

    interesse econmico a ser lavrado, gera informaes secundrias como os outros

    minerais presentes na rocha, o que possibilita o conhecimento sobre o potencial de

    gerao de impacto ambiental.

    Os mtodos de lavra e a disposio de estreis e rejeitos podem determinar ou at

    potencializar alguns impactos causados, bem como na etapa de beneficiamento, atravs

    da utilizao de substncias nocivas ao ambiente. A ttulo de exemplo, podem ser

    citados os minrios de ouro, potencialmente perigosos, pois podem liberar metais

    pesados em seu tratamento; e a lavra de minerais sulfetados, de modo que os estreis e

    rejeitos, quando dispostos de forma inadequada e sob a ao das intempries, podem

    acelerar o processo de gerao de drenagem cida e, como conseqncia, a liberao de

    metais pesados para o ambiente.

    A Tabela 2 apresenta os principais impactos causados pela minerao, analisados

    qualitativa e genericamente, na qual so descritos os principais impactos causados sobre

    cada fator ambiental para os diferentes meios: fsico, bitico e socioeconmico. A

    referida tabela contempla os potenciais ou reais impactos que podem ser provocados nas

    vrias etapas da vida dos empreendimentos mineiros.

    importante atentar para o fato de que a minerao no o nico tipo de atividade

    impactante do ambiente; vrias outras vm causando srios problemas ambientais de

    degradao do solo e subsolo, entre as quais se destacam: a urbanizao desordenada,

    agricultura, pecuria, construo de barragens, dentre outras (FARIAS, 2002). Porm,

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    12

    devido s propores e principalmente degradao visual e esttica causada, o setor

    mineral torna-se bastante visado pelos rgos reguladores ambientais e de minerao

    , e pela sociedade civil.

    Assim, embora a minerao cause impactos significativos sobre o ambiente, alguns dos

    quais realmente so inevitveis, a maioria pode ser contornada com a tomada de

    medidas de controle ambiental (MIRANDA, 1996).

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    13

    Tabela 2 Impactos ambientais da minerao.

    ETAPA MEIO VARIVEL OPERAO UNITRIA IMPACTOS

    E

    X

    P

    L

    O

    R

    A

    O

    Fsico

    Recursos Hdricos

    Sondagens Possibilidade de interligao de aqferos Possibilidade de contaminao dos aqferos

    Abertura de acessos e picadas Aumento dos ndices de turbidez e possibilidade de instalao de processos erosivos Uso de maquinrio Contaminao por leos e graxas

    Atmosfera Sondagens

    Poeiras, gases e rudos Abertura de acessos e picadas Uso de maquinrio

    Solo Sondagens

    Instalao de processos erosivos Abertura de acessos e picadas Uso de maquinrio

    Bitico

    Flora Sondagens

    Supresso de vegetao Retirada da camada frtil do solo Abertura de acessos e picadas

    Uso de maquinrio

    Fauna Sondagens

    Afugentamento das espcies Abertura de acessos e picadas Uso de maquinrio

    Socioeconmico Populao Sondagens Abertura de acessos e picadas Uso de maquinrio

    Alterao da qualidade ambiental (poeiras, gases e rudos) Impacto visual Problemas de sade Risco de acidentes

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    14

    ETAPA MEIO VARIVEL OPERAO UNITRIA IMPACTOS

    A

    T

    I

    V

    I

    D

    A

    D

    E

    D

    E

    L

    A

    V

    R

    A

    D

    E

    M

    I

    N

    A

    Fsico

    Recursos Hdricos

    Transporte de partculas finas das reas decapeadas pelas guas pluviais

    Aumento dos ndices de turbidez e possibilidade de instalao de processos erosivos Alteraes do regime de escoamento superficial Alteraes da qualidade da gua Alterao do nvel do lenol fretico Diminuio da umidade dos solos

    Desmonte, corte dos taludes e bancadas Alterao dos aqferos e dos regimes hidrolgicos subterrneos

    Atmosfera

    Transporte elico de particulados Desmonte, corte dos taludes e bancadas Pilhas de estril

    Gerao de poeiras e gases de motores Gerao de gases de explosivos Rudos Vibraes

    Solo

    Decapeamento Perda de fertilidade e processos erosivos Efluente da mina Contaminao do solo, em caso de drenagem cida

    Desmonte e carregamento Contaminao por leos e graxas Vibrao do terreno

    Bitico

    Flora Decapeamento Supresso de vegetao Retirada da camada frtil do solo

    Desmonte Dificuldade de crescimento vegetal

    Movimentao de mquinas

    Fauna Decapeamento Alterao dos habitats Desmonte e carregamento Alterao dos ecossistemas (aquticos e terrestres) Movimentao de mquinas Afugentamento das espcies

    Socioeconmico Populao

    Decapeamento Alterao do uso do solo Desmonte, corte dos taludes e bancadas Alterao da qualidade das guas

    Efluente da mina Impacto visual Gerao de poeiras e gases Problemas de sade Gerao de rudos e vibraes Alterao da qualidade ambiental (poeiras, gases e rudos)

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    15

    ETAPA MEIO VARIVEL OPERAO UNITRIA IMPACTOS

    D

    E

    S

    A

    T

    I

    V

    A

    O

    Fsico

    Recursos Hdricos Mina, usina, pilhas de estril e depsitos de rejeito

    Assoreamento Aumento dos ndices de turbidez Contaminao de corpos d'gua

    Atmosfera Demolio de prdios e estruturas Gerao de poeiras e rudos

    Solo Mina, usina, pilhas de estril e depsitos de rejeito

    Eroso Contaminao de corpos d'gua

    Bitico Flora Mina, usina, pilhas de estril e depsitos de rejeito

    Prejuzos devido poeira Contaminao por possvel lixiviao

    Fauna Mina, usina, pilhas de estril e depsitos de rejeito Contaminao por possvel lixiviao

    Socioeconmico Populao

    Contaminao da gua e solo Restries de uso Problemas de sade

    Mina, usina, pilhas de estril e depsitos de rejeito

    Alterao da qualidade ambiental (poeiras, gases e rudos) Impacto visual Restries de uso do solo Risco de acidentes (barragens, pilhas de estril)

    Abandono da cidade Cidade fantasma Desemprego Perda de arrecadao

    Fonte: Adaptado de CASSIANO (1996).

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    16

    2.3 LEGISLAO AMBIENTAL NO BRASIL

    A evoluo da poltica ambiental no Brasil se deu em relativa consonncia com o

    quadro internacional, tendo sido criada uma estrutura complexa para o seu

    desenvolvimento e implantao (ALMEIDA, 2006).

    No Brasil, a evoluo da proteo ao meio ambiente se deu desde a primeira

    Constituio Republicana, promulgada em 24/02/1891, na qual foram estabelecidas

    algumas normas relacionadas ao tema, porm de forma indireta (VIANA, 2007). Em

    1934, foi observado um avano significativo com a instituio do primeiro Cdigo

    Florestal (Decreto-Lei no 23.793, de 23/02/1934), do Cdigo das guas (Decreto-Lei no

    24.043, de 10/06/1934), do Decreto-Lei no 24.645, de 10/07/1934, que coibiu os maus

    tratos a animais, alm da promulgao da Constituio, em 16/07/1934.

    A Constituio outorgada em 10/11/1937 e a posterior, de 18/09/1946, praticamente

    repetiram o contedo da Constituio de 1934. Na Constituio de 1946, foi

    recepcionado, dentre outras leis, o Cdigo Florestal Brasileiro (atual Lei Federal no

    4.771, de 15 de setembro de 1965). A Constituio de 1988 explicita em seu Art. 23,

    competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos municpios: (...)

    VI - proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas;VII -

    preservar as florestas, a fauna e a flora (...).

    Sob influncia da evoluo das questes ambientais na Conferncia das Naes Unidas

    sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo (1972), foi criada em 1973, no mbito

    federal, a SEMA Secretaria Especial de Meio Ambiente. Porm, o grande marco das

    polticas pblicas de meio ambiente no Brasil veio se consolidar apenas na dcada de

    80, com a sano da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Poltica

    Nacional de Meio Ambiente, o SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente e o

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente.

    Oito anos mais tarde, o Decreto Federal no 97.632, de 10 de abril de 1989, veio

    regulamentar e aperfeioar a Lei no 6.938/81, exigindo aos mineradores que os

    empreendimentos que se destinam explorao de recursos minerais devero, quando

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    17

    da apresentao do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatrio de Impacto

    Ambiental - RIMA, submeter aprovao do rgo ambiental competente, plano de

    recuperao de rea degradada.

    A Lei no 6.938/81 tambm se destacou por estabelecer a descentralizao do

    gerenciamento ambiental no pas, por promover a discusso e participao do setor

    produtivo e da sociedade civil, alm da edio de importantes Resolues atravs do

    Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA, como a Resoluo no 01, de 23 de

    janeiro de 1986, que instituiu critrios bsicos e as diretrizes gerais para uso e

    implementao da Avaliao de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da

    Poltica Nacional do Meio Ambiente e a Resoluo no 237, de 19 de dezembro de 1997,

    que efetivou o sistema de licenciamento como instrumento de gesto ambiental.

    importante ressaltar que a Lei no 6.938/81 foi de extrema importncia para a

    implantao do gerenciamento ambiental no Brasil, pois apresentou uma viso sistmica

    dos objetivos e instrumentos voltados para a melhoria da qualidade ambiental. Assim, a

    referida lei, em seu Art. 9, estabeleceu treze instrumentos da Poltica Nacional de Meio

    Ambiente, a saber:

    I - o estabelecimento de padres da qualidade ambiental;

    II - o zoneamento ambiental;

    III - a avaliao de impactos ambientais;

    IV - o licenciamento e a reviso de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

    V - os incentivos produo e instalao de equipamentos e a criao ou absoro de

    tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

    VI - a criao de espaos territoriais especialmente protegidos pelo Poder Pblico

    Federal, Estadual e Municipal, tais como reas de Proteo Ambiental, de Relevante

    Interesse Ecolgico e Reservas Extrativistas;

    VII - o Sistema Nacional de Informaes sobre o Meio Ambiente;

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    18

    VIII - o Cadastro Tcnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;

    IX - as penalidades disciplinares ou compensatrias ao no cumprimento das medidas

    necessrias preservao ou correo da degradao ambiental.

    X - a instituio do Relatrio de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado

    anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    Renovveis - IBAMA;

    XI - a garantia da prestao de informaes relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se

    o Poder Pblico a produzi-las, quando inexistentes;

    XII - o Cadastro Tcnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou

    Utilizadoras dos Recursos Ambientais;

    XIII - instrumentos econmicos, como concesso florestal, servido ambiental, seguro

    ambiental e outro.

    de fcil percepo que, entre os instrumentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente,

    alguns mais que outros revestem-se de graus maiores de complexidade, seja na sua

    formulao, seja na sua aplicao, de tal modo que no foram ainda suficientemente

    formulados (MILAR, 2007). Dentre os instrumentos citados, os mais efetivos so, sem

    dvida, o licenciamento ambiental e a avaliao de impactos ambientais (PRADO

    FILHO e SOUZA, 2004).

    A Resoluo CONAMA no 01/86 dispe sobre as diretrizes gerais para o uso e

    implementao da Avaliao de Impacto Ambiental AIA como um dos instrumentos

    da Poltica Nacional de Meio Ambiente, preceituando em seu escopo que as atividades

    de minerao so obrigadas ao processo de licenciamento ambiental, sendo

    imprescindvel a apresentao do Estudo de Impacto Ambiental EIA e respectivo

    Relatrio de Impacto Ambiental RIMA ao rgo ambiental licenciador competente,

    cabendo a ele analis-lo e aprov-lo.

    Portanto, no mbito do Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA, o

    licenciamento ambiental o principal instrumento de controle ambiental dos

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    19

    empreendimentos potencialmente poluidores/degradadores do ambiente, entre eles

    includa a minerao; e a Avaliao de Impacto Ambiental um instrumento de tomada

    de deciso, dentro e fora do processo de licenciamento, sendo o EIA/RIMA apenas um

    de seus elementos, talvez o mais importante.

    2.3.1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO MBITO FEDERAL

    A Resoluo CONAMA no 237/97 trouxe algumas mudanas e melhorias, tanto para a

    Lei Federal no 6.938/81 quanto para a Resoluo CONAMA no 01/86, com o objetivo de

    efetivar a utilizao do sistema de licenciamento ambiental como instrumento de gesto

    ambiental.

    O licenciamento ambiental obedece a preceitos legais e normas administrativas ligadas

    e impostas aos empreendimentos que causem ou possam causar alteraes significativas

    ao meio, com repercusses sobre a qualidade ambiental, como o caso dos

    empreendimentos de minerao.

    De acordo com a Resoluo CONAMA no 237/97, em seu Art. 1, o licenciamento

    ambiental o procedimento administrativo pelo qual o rgo ambiental competente

    licencia a localizao, instalao, ampliao e a operao de empreendimentos e

    atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente

    poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradao

    ambiental, considerando as disposies legais e regulamentares e as normas tcnicas

    aplicveis ao caso.

    Segundo MILAR (2007), o licenciamento ambiental um ato nico, de carter

    complexo, que envolve os diversos rgos do SISNAMA, que dever ser precedido de

    estudos tcnicos que subsidiem sua anlise, inclusive o EIA/RIMA, sempre que

    constatada a significncia do impacto ambiental.

    A Resoluo CONAMA no 237/97 entrev, em seu Art. 10, pelo menos oito fases para

    o processo de licenciamento, a saber: (i) definio pelo rgo ambiental competente,

    com a participao do empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais,

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    20

    necessrios ao incio do processo de licenciamento; (ii) requerimento da licena

    ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos, estudos

    ambientais pertinentes e seu anncio pblico; (iii) anlise pelo rgo ambiental

    competente, integrante do SISNAMA, dos documentos, projetos e estudos ambientais

    apresentados e a realizao de vistorias tcnicas, se necessrias; (iv) solicitao de

    esclarecimentos e complementaes pelo rgo ambiental licenciador; (v) realizao ou

    dispensa de audincia pblica; (vi) solicitao de esclarecimentos e complementaes

    decorrentes de audincias pblicas; (vii) emisso de parecer tcnico conclusivo e,

    quando couber, parecer jurdico; (viii) deferimento ou indeferimento do pedido de

    licena com a devida publicidade.

    Em caso de parecer favorvel do rgo licenciador, esta fase de emisso da licena

    desdobra-se em quatro tipos principais:

    a) Licena Prvia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do

    empreendimento ou atividade, atestando sua viabilidade ambiental ou

    estabelecendo requisitos bsicos e condicionantes a serem atendidos nos prximos

    passos de sua implementao;

    b) Licena de Instalao (LI) expressa o consentimento para o incio da instalao

    do empreendimento ou atividade de acordo com as especificaes constantes dos

    planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle

    ambiental e demais condicionantes;

    c) Licena de Operao (LO) manifesta concordncia com a operao da atividade

    ou empreendimento, aps a verificao do efetivo cumprimento do que consta das

    licenas anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes;

    d) Revalidao da Licena de Operao todas as licenas acima possuem prazos

    de validade determinados pelos rgos ambientais. A licena de operao

    necessita ser revalidada, para que o empreendimento possa dar continuidade s

    suas atividades.

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    21

    Para os casos de fechamento de mina, o Plano de Recuperao de reas Degradadas

    PRAD veio sendo considerado como Plano de Fechamento de Mina, associado norma

    ABNT NBR 13.030 Elaborao e Apresentao de Projeto de Reabilitao de reas

    Degradadas pela Minerao. Entretanto, segundo LIMA et al. (2006), os PRADs se

    limitam a projetos de reconformao topogrfica e revegetao de reas degradadas, se

    posicionando distantes de constiturem um Plano de Fechamento de Mina, que deve

    conter, alm de outros estudos, o PRAD e o Plano de Descomissionamento.

    Essa discusso sobre fechamento de mina em Minas Gerais evoluiu e culminou na

    elaborao da Deliberao Normativa COPAM n 127, de 27 de Novembro de 2008,

    que estabelece diretrizes e procedimentos para avaliao ambiental da fase de

    fechamento de mina.

    2.3.2 CARACTERSTICAS DAS LICENAS AMBIENTAIS

    As licenas ambientais possuem trs caractersticas principais:

    Exigncia de uma avaliao prvia dos possveis impactos causados, que se consubstancia no EIA/RIMA, para a obteno da Licena Prvia LP, sempre

    que o empreendimento passvel de licenciamento puder causar impacto

    significativo;

    Desdobramento do licenciamento ambiental em trs subespcies de licena prvia, instalao e operao com o objetivo de melhor detectar, monitorar,

    mitigar e compensar os impactos ambientais ou reais;

    Prazos de validade da licena ambiental, definidos pelo rgo licenciador, obrigando o empreendedor a buscar a renovao da mesma, vinculada ao

    cumprimento dos aspectos ambientais relacionados com a atividade

    potencialmente poluidora, principalmente a mitigao e compensao dos

    impactos ambientais.

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    22

    No mbito federal, de acordo com o Art. 4 da Resoluo CONAMA no 237/97,

    compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    - IBAMA, rgo executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o

    artigo 10 da Lei n 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades

    com significativo impacto ambiental (...).

    2.4 LEGISLAO AMBIENTAL NO ESTADO DE MINAS GERAIS

    A legislao ambiental em Minas Gerais advm de meados do sculo XX, sendo o

    marco inicial assinalado com a criao do Instituto Estadual de Florestas IEF, atravs

    da Lei no 2.606, de 5 de janeiro de 1962 (VIANA, 2007).

    A organizao de uma estrutura tcnico-cientfica em Minas Gerais voltada para os

    problemas relacionados ao meio ambiente tem origem na Fundao Joo Pinheiro FJP

    com a criao, em 1975, da Diretoria de Tecnologia e Meio Ambiente DTMA

    (FEAM/FJP, 1998).

    A FJP foi instituda em 1969 para atuar no planejamento e desenvolvimento estadual,

    nos campos da economia e administrao pblica. O Centro Tecnolgico de Minas

    Gerais CETEC foi fundado em 1972, para o desenvolvimento de pesquisa tecnolgica,

    principalmente nos setores de minerao, metalurgia e minerais no-metlicos. Estas

    duas instituies constituram a base para o sistema estadual de gesto ambiental,

    institudo em meados da dcada de 1970.

    Em 1976, foi criada a Secretaria de Estado de Cincia e Tecnologia SECT, que em

    1987, atravs da Lei no 9.514 foi transformada em Conselho Estadual de Poltica

    Ambiental COPAM que possua, a partir de ento, poder deliberativo.

    A Fundao Estadual de Meio Ambiente FEAM foi instituda em 1987, pela Lei no

    9.525, que no mesmo ano aprovou o Decreto no 28.170, que regulamentou o

    Departamento de Recursos Hdricos DRH. Dez anos mais tarde o DRH foi

    transformado no Instituto Mineiro de Gesto das guas IGAM, pela Lei no 12.584 e

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    23

    incorporado, juntamente com o IEF, ao Sistema Estadual de Meio Ambiente

    SISEMA.

    Atualmente, o SISEMA em Minas Gerais composto pela Secretaria de Estado de Meio

    Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel SEMAD, Instituto Estadual de Florestas

    IEF, Instituto Mineiro de Gesto das guas IGAM e Fundao Estadual de Meio

    Ambiente FEAM. A SEMAD responsvel pela coordenao do SISEMA, com as

    funes de planejar, executar, controlar e avaliar as aes setoriais a cargo do Estado

    relativas proteo e defesa do meio ambiente, gesto dos recursos hdricos e

    articulao das polticas de gesto dos recursos ambientais para o desenvolvimento

    sustentvel.

    At o ano de 2007, os processos de licenciamento ambiental de todo o estado eram

    centralizados e analisados pela FEAM, situada em Belo Horizonte. A partir de 2007, a

    SEMAD foi descentralizada atravs da criao das Superintendncias Regionais de

    Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel SUPRAMs, localizadas em cidades

    estratgicas do estado, totalizadas at o momento em 8 regionais mais a central

    localizada na capital Belo Horizonte (Figura. 2).

    Fonte: http://www.semad.mg.gov.br

    Figura 2 Localizao das sedes das SUPRAMs com suas respectivas reas de abrangncia regional.

  • CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    24

    As SUPRAMs tm por finalidade, alm de agilizar os prazos de anlise das licenas e

    efetu-las de modo mais integrado e interdisciplinar, planejar, supervisionar, orientar e

    executar as atividades relativas poltica estadual de proteo do meio ambiente e de

    gerenciamento dos recursos hdricos formulados e desenvolvidos pela SEMAD, dentro

    de suas reas de abrangncia territorial.

    Nos procedimentos relativos aos processos de regularizao ambiental, as SUPRAMs

    subordinam-se administrativamente SEMAD e tecnicamente FEAM, ao IEF e ao

    IGAM. As SUPRAMs tm analisado os processos de licenciamento ambiental de

    forma integrada, de modo que existem representantes dos diferentes rgos para analisar

    os procedimentos tcnicos e jurdicos do licenciamento ambiental, processos de

    Autorizao para Explorao Florestal APEF, de Averbao de Reserva Legal e de

    outorga para uso dos recursos hdricos, em cada sede regional. Anteriormente criao

    das SUPRAMs, os processos eram analisados em sedes especficas e separados,

    prejudicando a anlise integrada das possveis alteraes causadas pelos

    empreendimentos.

    Partindo do entendimento da legislao ambiental federal e estadual e do organograma

    das entidades ambientais envolvidas, pode-se compreender ento como se d o

    procedimento de planejamento e gerenciamento ambiental baseado no nvel

    governamental. No captulo seguinte ser detalhado o processo de regularizao

    ambiental no Estado de Minas Gerais e como ele pode ser utilizado como a principal

    ferramenta de organizao, planejamento e gerenciamento para empreendimentos de

    pequeno porte, devido a carncia de modelos de gesto ambiental empresarial

    facilmente aplicveis para estes projetos de minerao.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    25

    A minerao constitui a principal base de recursos materiais e importante fonte

    energtica, de modo que no h como se pensar em qualidade de vida e

    desenvolvimento econmico sem a utilizao dos recursos minerais. Dessa forma,

    torna-se notria a necessidade de se compatibilizar a atividade de extrao mineral e o

    uso sustentvel do meio ambiente.

    Assim, a implantao de instrumentos que subsidiem o planejamento e gerenciamento

    das questes ambientais surge para incorporar de vez a varivel ambiental nas empresas

    de minerao, em busca do equilbrio entre as demandas por minrios e a capacidade de

    suporte do meio ambiente.

    A gesto e administrao ambiental podem ser discutidas em nvel empresarial ou

    governamental (SANCHEZ, 1994). No caso das empresas so discutidos instrumentos e

    mtodos de gerenciamento ambiental, definidos em funo das polticas

    governamentais, presses da sociedade civil e condies de mercado. Os instrumentos

    governamentais so elaborados pelas agncias reguladoras e visam melhoria e

    preveno da degradao da qualidade ambiental atravs do estabelecimento de normas

    e padres ambientais, emisses de licenas, multas e sanes penais (MECHI, 1999).

    Nesse sentido, discute-se neste captulo como o processo de regularizao ambiental

    exigido pelas entidades governamentais estaduais pode se tornar a principal ferramenta

    de gesto e administrao ambiental empresarial.

    O modelo de gesto proposto baseia-se na aplicao das exigncias legais que tangem

    os projetos de minerao para a obteno das vrias licenas ambientais, como principal

    ferramenta de controle das variveis ambientais.

    Nesta dissertao aborda-se a gesto ambiental integrada de empreendimentos mineiros

    de pequeno porte, no Estado de Minas Gerais, considerando-se duas etapas distintas:

    Planejamento Ambiental: feito na etapa inicial do projeto de minerao, visa orientar como se proceder para a concesso das diversas licenas ambientais. Os

    instrumentos de Planejamento Ambiental tm carter preventivo, pois buscam

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    26

    compilar informaes sobre a caracterizao da jazida, mtodos de lavra

    empregados, o levantamento dos impactos potenciais ou reais e a proposio de

    medidas mitigadoras;

    Gerenciamento Ambiental: executado a partir da instalao e operao do projeto de minerao, so aes que buscam a minimizao, o controle e o

    monitoramento dos impactos potenciais ou reais levantados na fase de

    concepo do projeto, com base nas informaes geradas na etapa de

    Planejamento Ambiental.

    Existem algumas conceituaes acerca da administrao empresarial das questes

    ambientais que no fazem distino da etapa de planejamento ambiental, ou consideram

    implicitamente o conceito de planejamento ao de gerenciamento (CASSIANO, 1996).

    Este fato comum em empresas de minerao que incorporam a varivel ambiental

    aps j operarem h algum tempo, implantando apenas medidas corretivas.

    3.1 PLANEJAMENTO AMBIENTAL

    O planejamento ambiental pode ser entendido como a antecipao que define as

    diretrizes para o uso sustentvel e racional de um recurso natural, pautado no fator

    ambiental como determinante do processo de deciso. No caso de sua utilizao em

    empresas privadas a sua concretizao se faz atravs da composio de programas

    ambientais (SANTOS e NASCIMENTO, 1992).

    Esses programas esto inseridos dentro de um processo tcnico e administrativo de

    regularizao ambiental exigido pelos rgos ambientais e necessrios aos projetos de

    minerao para as concesses, principalmente, das Licenas Prvia, de Instalao e

    Operao, assim como das liberaes para uso dos recursos hdricos e interveno ou

    supresso de vegetao.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    27

    A seguir so apresentados os procedimentos necessrios para a obteno das vrias

    licenas ambientais, consideradas como importante ferramenta de planejamento

    ambiental empresarial, tendo em vista a extensa arquitetura dos vrios atores envolvidos

    no processo de regularizao ambiental.

    3.1.1 CLASSIFICAO DE PROJETOS DE MINERAO PERANTE A

    DELIBERAO NORMATIVA COPAM NO 74/04

    O nvel de complexidade do processo de regularizao ambiental em Minas Gerais se d

    atravs da classificao dos projetos de minerao quanto ao porte e potencial poluidor.

    Entretanto, antes de entrar no mrito dessa questo, apresenta-se um breve histrico da

    legislao ligado a este tema.

    O Conselho Estadual de Poltica Ambiental COPAM, especificamente ligado s

    atividades de minerao, expediu a Deliberao Normativa DN no 01/89, que buscou

    compatibilizar o exerccio da atividade de extrao e beneficiamento de minerais com as

    questes vinculadas proteo ambiental.

    Posteriormente, a Deliberao Normativa COPAM no 01/90 estabeleceu a classificao

    de porte/potencial poluidor de empreendimentos modificadores do ambiente e os

    critrios e custos de anlises de pedidos de licenciamento. Para empreendimentos de

    minerao, os parmetros utilizados nessa classificao basearam-se nos parmetros

    como a rea til e nmero de empregados, de modo que foram levantados dezesseis

    tipos de fontes de poluio, divididos em pesquisa mineral e para cada metodologia de

    lavra subterrnea, cu aberto e aluvio.

    Com o avano dos conceitos sobre meio ambiente, 14 anos mais tarde, a DN COPAM

    no 01/90 foi substituda pela DN COPAM no 74, de 9 de setembro de 2004, que pode ser

    considerada uma das normas mais importantes desta dcada sobre processos de

    regulamentao ambiental no Estado de Minas Gerais.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    28

    A DN COPAM no 74/04 estabeleceu critrios para classificao dos empreendimentos,

    segundo o porte e potencial poluidor. Os empreendimentos foram organizados em 8

    tipos de atividade (de A a G), conforme a lista a seguir:

    Listagem A Atividades Minerrias;

    Listagem B Atividades Industriais / Indstria Metalrgica e Outras;

    Listagem C Atividades Industriais / Indstria Qumica;

    Listagem D Atividades Industriais / Indstria Alimentcia;

    Listagem E Atividades de Infra-Estrutura;

    Listagem F Servios e Comrcio Atacadista;

    Listagem G Atividades Agrossilvipastoris.

    A Listagem A Atividades Minerrias subdividida em seis tipologias distintas. So

    elas:

    Lavra subterrnea;

    Lavra a cu aberto;

    Extrao de Areia, Cascalho e Argila, para utilizao na construo civil;

    Extrao de gua mineral ou potvel de mesa;

    Unidades Operacionais em rea de minerao, inclusive unidades de tratamento de minerais;

    Explorao e extrao de gs natural ou de petrleo.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    29

    Cada uma dessas seis tipologias tambm subdividida, de acordo com as suas

    peculiaridades, de modo que existe um total de 22 tipologias possveis de

    empreendimentos de minerao.

    Para a classificao do porte dos empreendimentos minerrios dessas 22 tipologias

    existentes, o principal parmetro utilizado a produo bruta, mensurada ora em

    toneladas por ano (caso do minrio de ferro), ora m3 por ano (caso da extrao de areia e

    cascalho) e para o caso de gua mineral em litros por ano. Foram utilizados ainda outros

    parmetros para a determinao do porte, como rea til em hectares (para pilhas de

    estril) e extenso em km (estradas para transporte de minrio).

    Quanto ao potencial poluidor / degradador, este subdivide-se em trs tipos: pequeno (P),

    mdio (M) ou grande (G). Em funo das caractersticas intrnsecas de cada atividade, o

    potencial poluidor/degradador o obtido pelo julgamento dos potenciais impactos

    ambientais sobre a gua, ar e solo, pr-estabelecidos para cada atividade desenvolvida,

    de acordo com as caractersticas ambientais dos empreendimentos. Para efeito de

    simplificao, incluem-se no potencial poluidor sobre o ar os efeitos de poluio sonora,

    e sobre o solo, os efeitos nos meios bitico e socioeconmico. A Tabela 3 apresenta os

    possveis cruzamentos entre as variveis ambientais para a obteno do potencial

    poluidor / degradador geral.

    Tabela 3 Potencial poluidor / degradador geral baseado nos possveis cruzamentos das variveis ambientais.

    VARIVEL AMBIENTAL POTENCIAL POLUIDOR / DEGRADADOR GERAL AR GUA SOLO

    P P P P P P M P P P G M P M M M P M G M P G G G M M M M M M G M M G G G G G G G

    Fonte: DN COPAM no 74/04.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    30

    Assim, a DN COPAM no 74/04 classifica os empreendimentos em seis classes possveis,

    em ordem crescente, atravs do cruzamento do porte com o potencial poluidor /

    degradador da atividade, conforme apresentado:

    Classe 1

    i. pequeno porte e pequeno potencial poluidor / degradador;

    ii. pequeno porte e mdio potencial poluidor / degradador.

    Classe 2

    i. mdio porte e pequeno potencial poluidor / degradador.

    Classe 3

    i. pequeno porte e grande potencial poluidor / degradador;

    ii. mdio porte e mdio potencial poluidor / degradador.

    Classe 4

    i. grande porte e pequeno potencial poluidor / degradador.

    Classe 5

    i. mdio porte e grande potencial poluidor /degradador;

    ii. grande porte e mdio potencial poluidor / degradador.

    Classe 6

    i. grande porte e grande potencial poluidor ou degradador.

    Podem-se sintetizar as seis classes, segundo o cruzamento do porte e potencial poluidor

    degradador geral, conforme demonstra a Tabela 4.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    31

    Tabela 4 Classificao dos empreendimentos conforme DN COPAM no 74/04.

    POTENCIAL POLUIDOR/DEGRADADOR GERAL

    P M G

    PORTE DO EMPREENDIMENTO

    P 1 1 3

    M 2 3 5

    G 4 5 6 P = Pequeno, M = Mdio, G = Grande

    Fonte: Adaptado de DN COPAM no 74/04.

    3.1.2 CLASSIFICAO DOS EMPREENDIMENTOS MINERRIOS,

    TIPOS DE LICENAS E NVEL DE EXIGNCIA DO PROCESSO

    DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

    A classificao do porte e potencial poluidor/degradador dos empreendimentos,

    apresentada nos pargrafos anteriores, indica o nvel de complexidade que o processo de

    licenciamento ambiental e, conseqentemente, do seu planejamento.

    O nvel de exigncia dos estudos tcnicos necessrios para a concesso das licenas

    ambientais aumenta gradualmente da menor para a maior classe. Entretanto,

    independentemente da classe em que o projeto de minerao est inserido, devem ser

    comprovadas:

    Autorizao para Explorao Florestal APEF;

    Averbao de reserva Legal para reas rurais;

    Outorga para uso de recursos hdricos.

    A outorga o instrumento fornecido pelo Estado que autoriza o uso dos recursos

    hdricos. A Autorizao para Explorao Florestal APEF a autorizao prvia para

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    32

    qualquer interveno em vegetao ou em reas legalmente protegidas no Estado de

    Minas Gerais. Segundo a Lei Estadual no 14.309, de 19 de junho de 2002, o conceito de

    Reserva Legal diz que a rea localizada no interior de uma propriedade ou posse

    rural, ressalvada a de preservao permanente, representativa do ambiente natural da

    regio e necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e

    reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e

    proteo da fauna e flora nativas, equivalente a, no mnimo, 20% (vinte por cento) da

    rea total da propriedade. Existe todo um procedimento tcnico-administrativo para a

    criao e averbao da reserva legal.

    O Decreto Estadual no 44.309, de 5 de junho de 2006, alm de outras atribuies, foi

    elaborado para normatizar o processo de licenciamento ambiental e a autorizao

    ambiental de funcionamento em Minas Gerais. Esse documento, associado DN

    COPAM no 74/04, dispensa alguns empreendimentos do licenciamento ambiental e

    simplifica os procedimentos para outros, atravs da concesso, por exemplo, da Licena

    Prvia e de Instalao concomitantes.

    3.1.2.1 PROJETOS DE MINERAO GRUPO DE CLASSES 1 E 2

    Os empreendimentos inseridos nas Classes 1 e 2 so considerados como de impacto

    ambiental no significativo e ficam dispensados do licenciamento ambiental, porm

    sujeitos Autorizao Ambiental de Funcionamento AAF.

    Entretanto, essa autorizao s efetivada aps comprovao da regularidade da APEF,

    da Averbao de Reserva Legal e da outorga de direito de uso de recursos hdricos,

    quando necessrios.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    33

    3.1.2.2 PROJETOS DE MINERAO GRUPO DE CLASSES 3 E 4

    Os projetos de minerao de Classes 3 a 6 ficam obrigados a passarem pelo processo de

    licenciamento ambiental. Aqueles de Classes 3 e 4 podem solicitar as Licenas Prvia e

    de Instalao concomitantes.

    Os estudos tcnicos necessrios para a regularizao ambiental so simplificados,

    contemplados pelo Relatrio de Controle Ambiental RCA e o Plano de Controle

    Ambiental PCA. Devem ser, ainda, apresentadas as comprovaes da APEF,

    Averbao de Reserva Legal e a outorga de direito de uso de recursos hdricos, quando

    couberem ao caso.

    por meio do RCA que o minerador identifica os potenciais efeitos ambientais

    decorrentes da instalao e da operao do empreendimento para o qual est sendo

    requerida a licena. Em linhas gerais, o RCA deve conter, no mnimo, (i) a

    caracterizao geral do empreendimento; (ii) descrio do processo produtivo; (iii)

    caracterizao dos impactos reais e potenciais efluentes do processo, lquidos e

    atmosfricos, resduos slidos, rudos e esgoto sanitrio, entre outros; (iv)

    caracterizao da rea de influncia do projeto de minerao.

    Dessa forma, o RCA torna-se o documento norteador das aes a serem empreendidas

    no PCA, documento que busca solucionar os problemas detectados, no sentido de

    mitigar, controlar e monitorar os impactos ambientais decorrentes da atividade mineral.

    O PCA apresenta os planos e projetos capazes de prevenir e/ou controlar os impactos

    ambientais decorrentes da instalao e da operao do empreendimento para o qual est

    sendo requerida a licena, bem como para corrigir as no conformidades ambientais

    identificadas durante a operao.

    3.1.2.3 PROJETOS DE MINERAO GRUPO DE CLASSES 5 E 6

    Os empreendimentos de Classes 5 e 6, considerados os de maior porte e potencial

    poluidor, seguem o processo convencional para a obteno das licenas ambientais,

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    34

    obedecendo cronologia de obteno da Licena Prvia LP, seguida da Licena de

    Instalao LI e posteriormente, da Licena de Operao LO. Para obteno da LP,

    devem ser apresentados o EIA/RIMA, juntamente com a comprovao da APEF, da

    Averbao de Reserva Legal e da outorga de direito de uso de recursos hdricos, quando

    necessrios.

    Ainda de acordo com o Decreto Federal no 97.632/89, deve ser apresentado o Plano de

    Recuperao de reas Degradadas PRAD, normatizado pela ABNT NBR no

    13.030/2007 Elaborao e Apresentao de Projeto de Reabilitao de reas

    Degradadas pela Minerao, embora as entidades governamentais de Minas Gerais no

    tm exigido tal documentao para a concesso das licenas ambientais.

    O EIA deve ser elaborado por equipe multidisciplinar, com o objetivo de demonstrar a

    viabilidade ambiental do empreendimento ou atividade a ser instalada (RESOLUO

    CONAMA No 01/86). O RIMA explicita as concluses do EIA e redigido em

    linguagem acessvel, devidamente ilustrado com mapas, grficos e tabelas, de forma a

    facilitar a compreenso de todas as conseqncias ambientais e sociais do projeto por

    parte de todos os segmentos sociais interessados, principalmente a comunidade da rea

    afetada pelo empreendimento mineiro.

    Para a obteno da LI devem ser apresentados os programas ambientais contidos no

    PCA, com base nos levantamentos elaborados pelo EIA (BRUSCHI e PEIXOTO,

    2000). Para a concesso da LO deve ser comprovada a execuo dos programas

    contidos no PCA.

    Como resumo dos itens supracitados, a Tabela 5 apresenta as peculiaridades no

    processo de regularizao ambiental, de acordo com os grupos de classes.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    35

    Tabela 5 Peculiaridades no Processo de Regularizao Ambiental, por Grupos.

    GRUPOS PECULIARIDADES

    Classes 1 e 2 AAF

    Classes 3 e 4 LP e LI Concomitantes

    Classes 5 e 6 Licenciamento Convencional (LP, LI e LO separadamente)

    3.1.3 PRAZOS DE VIGNCIA DA AUTORIZAO AMBIENTAL DE

    FUNCIONAMENTO E DAS LICENAS AMBIENTAIS

    A elaborao de um cronograma fsico de cumprimento dos prazos exigidos pelo rgo

    ambiental est entre os principais mecanismos do planejamento ambiental. A gesto de

    prazos deve ser controlada de forma eficaz, pois o minerador requerido a apresentar

    documentos de ordem tcnica e jurdica durante todo o processo de regularizao

    ambiental, que pode durar alguns anos. Alm do mais, as licenas possuem prazos de

    vigncia diferentes, inclusive a APEF e a outorga para uso de recursos hdricos.

    Para o caso das APEFs, geralmente as autorizaes possuem prazo de validade de 6

    meses, renovveis por mais duas vezes com o mesmo prazo, sem que o minerador tenha

    que elaborar novos estudos. Concludo esses prazos, o minerador obrigado a elaborar

    novos estudos e passar pela anlise e aprovao de um novo processo de APEF. Quando

    a COOPERSERF, objeto deste estudo, for solicitar a utilizao para uso dos recursos

    hdricos, os processos de outorga geralmente possuem prazo de validade de 5 anos.

    Segundo a DN COPAM no 17, de 17 de dezembro de 1996, os prazos das licenas

    ambientais so os seguintes:

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    36

    LP: at 4 anos;

    LI: at 6 anos;

    LO: 8, 6 ou 4 anos, de acordo com o Anexo I Deliberao Normativa COPAM n 1, de 22 de maro de 1990.

    Para a LP e LI devem corresponder ao prazo previsto no cronograma constante do Plano

    de Controle Ambiental aprovado, para implantao da atividade ou empreendimento,

    incluindo o respectivo sistema de controle e qualquer outra medida mitigadora do

    impacto ambiental prevista para estas fases.

    3.1.4 PRAZOS DE ANLISE DOS PROCESSOS PELOS RGOS

    AMBIENTAIS

    Outro fato importante que deve ser de conhecimento do empreendedor so os prazos de

    anlise dos processos de licenciamento pelo rgo ambiental, pois propicia ao

    minerador condies de planejar e programar suas aes, inclusive a prpria concepo

    do projeto de minerao, visto que o empreendimento no pode funcionar sem a prvia

    concesso das licenas.

    Segundo o Sistema Integrado de Informaes Ambientais SIAM, independente do tipo

    de licena requerida, o prazo regimental para que o rgo ambiental se manifeste acerca

    do requerimento de at seis meses, ressalvada a hiptese de requerimentos instrudos

    por EIA/RIMA, quando o prazo de at 12 meses (FEAM, 2008).

    Com relao aos requerimentos de revalidao de LO, o prazo regimental de at 90

    dias. No computado nesse prazo o tempo gasto pelo empreendedor para apresentar

    informaes complementares, quando solicitadas pelo rgo ambiental.

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    37

    Para Autorizaes Ambientais de Funcionamento, quando comprovada a outorga para

    uso de recursos hdricos, APEF e Reserva Legal, o prazo de anlise regimental de 30

    dias.

    3.1.5 LICENCIAMENTO PREVENTIVO E CORRETIVO

    Para os empreendimentos de Classe 3 a 6, existem dois modos de se obter a licena

    ambiental, de acordo com a fase executiva em que se encontra o empreendimento.

    Quando o requerimento de licena for apresentado ainda na fase de planejamento, ou

    seja, antes que ocorra qualquer interveno no local do futuro projeto, diz-se que est

    ocorrendo o Licenciamento Preventivo.

    Quando o empreendimento mineiro encontra-se na fase de implantao ou mesmo de

    operao, por ocasio do requerimento da licena, diz-se que est ocorrendo o

    Licenciamento Corretivo. Neste caso, pode-se obter a Licena de Instalao Corretiva

    LIC ou a Licena de Operao Corretiva LOC.

    3.1.6 ETAPAS DA REGULARIZAO AMBIENTAL

    O processo de regularizao ambiental no Estado de Minas Gerais automatizado pelo

    Sistema Integrado de Informao Ambiental, permitindo agilidade na emisso de

    formulrios e interface de comunicao entre todas as entidades da Secretaria de Estado

    de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel SEMAD. A seguir so

    apresentados, resumidamente, os procedimentos bsicos necessrios para a instruo do

    processo de regularizao ambiental.

    O incio do processo se d pelo preenchimento do Formulrio de Caracterizao do

    Empreendimento Integrado FCEI (para o caso de mineraes existe um modelo

    especfico), disponibilizado pela SEMAD. O primeiro passo protocolizar este

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    38

    formulrio junto jurisdio da SUPRAM responsvel, determinada pela localizao

    geogrfica da minerao no Estado.

    Em seguida, o software do Sistema Integrado de Informao Ambiental SIAM

    alimentado com as informaes contidas no FCEI e ento emite o Formulrio de

    Orientao Bsica Integrado FOBI, documento que lista a documentao tcnica e

    jurdica necessria para a formalizao do processo, seja para a Autorizao Ambiental

    de Funcionamento AAF, seja para o processo de licenciamento ambiental.

    O minerador busca ento o levantamento de toda a documentao jurdica exigida e

    elabora os estudos tcnicos pertinentes. O passo seguinte formalizar o processo junto

    ao rgo ambiental.

    De posse dos documentos apresentados, o rgo ambiental faz a anlise do processo,

    nos setores jurdico e tcnico. Caso seja constatada a necessidade de exigncia de

    documentos ou da complementao dos estudos tcnicos apresentados pelo

    empreendedor, o rgo pode solicitar informaes complementares para emitir um

    parecer conclusivo sobre o processo.

    Posteriormente anlise criteriosa pela equipe tcnica da SUPRAM, feita a vistoria de

    campo para comprovao dos dados apresentados nos relatrios. Caso o rgo entenda

    que todas as informaes esto satisfatrias, emitido o parecer tcnico; caso contrrio,

    aps a vistoria tambm pode ser solicitada informaes complementares. O parecer

    revisto e aprovado pelo gerente e diretor da rea tcnica e ento encaminhado ao Setor

    Jurdico.

    Para os casos de licenciamento ambiental, com o parecer jurdico, o processo

    encaminhado para julgamento pelas cmaras tcnicas do Comit de Poltica Ambiental

    COPAM. Para os casos de AAF, os processos so julgados pela prpria SUPRAM

    responsvel.

    A Tabela 6 apresenta um comparativo para a obteno da AAF e da Licena Ambiental.

    A Figura 3 mostra o fluxograma do processo de regularizao ambiental para a

  • CAPTULO 3 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO NA MINERAO

    39

    Autorizao Ambiental de Funcionamento (Grupo de Classes 1 e 2), e a Figura 4, para

    Licenciamento Ambiental (Grupo de Classes 3 e 4).

    Tabela 6 Comparativo entre os diferentes processos de regularizao ambiental em Minas Gerais.

    AAF LICENA AMBIENTAL

    - Procedimento administrativo simplificado

    - Termo de responsabilidade assinado pelo

    empreendedor

    - Responsvel Tcnico ART

    - Ato dos Superintendentes das SUPRAMs

    - No h condicionantes

    - Validade de at 4 anos

    - Procedimento administrativo vinculado anlise

    tcnica de documentos EIA/RIMA, RCA, PCA

    - Anlise jurdica do processo

    - Pareceres das SUPRAMs subsidiam o COPAM na

    concesso ou indeferimento da licena

    - Condicionantes e prazos estabelecidos

    - Monitoramento ambiental

    - Validade de 4, 6 ou 8 anos

  • Figura 3 Fluxograma do processo de regularizao ambiental para a obteno da Autorizao Ambiental de Funcionamen