miÍase de cÓlon

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638 Rev Assoc Med Bras 2010; 56(6): 638 RELATO DE CASO R.O.L, 68 anos, masculino, casado e proveniente de São Paulo-SP encaminhado para o Hospital Sírio-Libanês – São Paulo- SP para investigação de episódios de melena. Solicitado colonos- copia. Realizada a colonoscopia com introdução do colonoscópio até o íleo terminal, que apresentava aspecto endocópico normal. Na colonoscopia observou-se na transição retossigmóide, lesão úlcero-vegetante, de aspecto infiltrativo, onde foram realizadas biópsias. O diagnóstico histopatológico foi adenocarcinoma infiltrativo. No reto foi identificado pólipo séssil, medindo 0,3cm, contornos regulares e superfície lisa. Realizada polipectomia. O diagnóstico histopatológico foi adenoma tubular com displasia de baixo grau. No cólon transverso, observou-se diminuto parasita, com aspecto anelar, não aderido à mucosa do cólon e imóvel. Tentou-se remover tal parasita com a pinça de biópsia, porém houve fragmentação do espécime. Apresentadas as fotos do exame ao médico patologista, o qual relatou tratar-se de uma miíase. DISCUSSÃO A miíase é doença parasitária provocada pelas larvas de moscas Cochliomyia hominivorax, Dermatobia hominis, e Cordylobia anthropophaga, vulgarmente conhecidas como “mosca varejeira”, “mosca berneira” e “mosca tumbu”, respecti- vamente. Embora estas espécies tenham distribuição geográfica e ciclos evolutivos diferentes, apresentam características clínicas similares. Quanto à localização, as miíases podem ser cutâneas (pele e tecido subcutâneo) ou cavitárias. Biologicamente, podem ser classificadas como acidentais (quando o indivíduo acidental- mente ingere ovos ou larvas de moscas presentes em alimentos – intestinal ou urinária) ou obrigatórias (quando a mosca necessita de um hospedeiro vivo ou morto para depositar seus ovos ou larvas). As larvas desenvolvem-se em feridas recentes, fossas nasais, gengivas, vulva e ânus, entre outros locais. Inicialmente, há prurido intenso e posteriormente dor local nas miíases que acometem as áreas cutâneo-mucosas, podendo ocorrer infecção secundária. Nas situações de miíases acidentais (intestinais ou urinárias), o diagnóstico pode ser realizado através de endoscopia digestiva e cistoscopia. Não foram encontrados relatos de miíase colônica na literatura médica em consulta na Medline-Pubmed. O intuito da apresentação deste caso é demonstrar um achado endoscópico infrequente, sendo sua documentação fotográfica fundamental para auxílio no diagnóstico final. COLONOSCOPIA Figura 1 - Neoplasia da transição retossigmoide Figura 2 - Parasita do Cólon MIÍASE DE CÓLON JARBAS FARACO MALDONADO LOUREIRO 1 , PAULO ALBERTO FALCO PIRES CORRÊA 1 , MARCELO AVERBACH 1 , GIULIO F. ROSSINI 1 , JOSÉ LUIZ PACCOS 1 , RAFAEL TORRES MELO CAVALCANTE 2 , ELIAS JIRJOSS ILIAS 3 , LILIANA BAHIA SECAF 4 1. Médicos colonoscopistas do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Sírio- Libanês, São Paulo, SP 2. Residente do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP 3. Professor Convidado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP 4. Médica Nefrologista do Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP Imagem em Medicina

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Page 1: MIÍASE DE CÓLON

Filho AB et Al.

638 Rev Assoc Med Bras 2010; 56(6): 638

Relato de Caso

R.O.L, 68 anos, masculino, casado e proveniente de São Paulo-SP encaminhado para o Hospital Sírio-Libanês – São Paulo-SP para investigação de episódios de melena. Solicitado colonos-copia. Realizada a colonoscopia com introdução do colonoscópio até o íleo terminal, que apresentava aspecto endocópico normal. Na colonoscopia observou-se na transição retossigmóide, lesão úlcero-vegetante, de aspecto infiltrativo, onde foram realizadas biópsias. O diagnóstico histopatológico foi adenocarcinoma infiltrativo. No reto foi identificado pólipo séssil, medindo 0,3cm, contornos regulares e superfície lisa. Realizada polipectomia. O diagnóstico histopatológico foi adenoma tubular com displasia de baixo grau. No cólon transverso, observou-se diminuto parasita, com aspecto anelar, não aderido à mucosa do cólon e imóvel. Tentou-se remover tal parasita com a pinça de biópsia, porém houve fragmentação do espécime. Apresentadas as fotos do exame ao médico patologista, o qual relatou tratar-se de uma miíase.

disCussão

A miíase é doença parasitária provocada pelas larvas de moscas Cochliomyia hominivorax, Dermatobia hominis, e Cordylobia anthropophaga, vulgarmente conhecidas como “mosca varejeira”, “mosca berneira” e “mosca tumbu”, respecti-vamente. Embora estas espécies tenham distribuição geográfica e ciclos evolutivos diferentes, apresentam características clínicas similares. Quanto à localização, as miíases podem ser cutâneas (pele e tecido subcutâneo) ou cavitárias. Biologicamente, podem ser classificadas como acidentais (quando o indivíduo acidental-mente ingere ovos ou larvas de moscas presentes em alimentos – intestinal ou urinária) ou obrigatórias (quando a mosca necessita de um hospedeiro vivo ou morto para depositar seus ovos ou larvas). As larvas desenvolvem-se em feridas recentes, fossas nasais, gengivas, vulva e ânus, entre outros locais. Inicialmente, há prurido intenso e posteriormente dor local nas miíases que acometem as áreas cutâneo-mucosas, podendo ocorrer infecção

secundária. Nas situações de miíases acidentais (intestinais ou urinárias), o diagnóstico pode ser realizado através de endoscopia digestiva e cistoscopia. Não foram encontrados relatos de miíase colônica na literatura médica em consulta na Medline-Pubmed.

O intuito da apresentação deste caso é demonstrar um achado endoscópico infrequente, sendo sua documentação fotográfica fundamental para auxílio no diagnóstico final.

ColonosCopia

Figura 1 - Neoplasia da transição retossigmoide

Figura 2 - Parasita do Cólon

miíase de CólonJaRbas FaRaCo maldonado louReiRo1, paulo albeRto FalCo piRes CoRRêa1, maRCelo aveRbaCh1, Giulio F. Rossini1, José luiz paCCos1, RaFael toRRes melo CavalCante2, elias JiRJoss ilias3, liliana bahia seCaF4

1. Médicos colonoscopistas do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Sírio- Libanês, São Paulo, SP2. Residente do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP3. Professor Convidado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP4. Médica Nefrologista do Hospital Sírio-Libanês, São Paulo, SP

Imagem em Medicina

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