mídia e poder simbólico

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  • 7/25/2019 Mdia e Poder Simblico

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    IntercomSociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXVII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio NordesteNatal - RN2 a 4/07/2015

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    O campo jornalstico: espao de lutas e afirmao do poder simblico1

    Maria Stella Galvo Santos2Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN

    RESUMOA proposta deste artigo expor um extrato do corpus terico do socilogo francs PierreBourdieu sobre o universo da Comunicao e, em particular, do Jornalismo. Com basena apresentao e exposio de alguns conceitos fundamentais do autor, nos propomos arefletir sobre questes pertinentes ao campo e ao habitusjornalstico, buscando fazercorrelaes entre as concepes tericas de Bourdieu com outras leituras epistmicas nocampo da Comunicao e do fazer jornalstico.

    PALAVRAS-CHAVE

    Campo jornalstico; Informao; Poder Simblico; Pierre Bourdieu.

    Os debates sobre o campo do Jornalismo no raro parte de um fundamento comum s

    anlises feitas por diferentes vozes e autores: o da contaminao por inmeras relaes

    de poder. A proposio do Jornalismo como um campo de produo de conhecimento,

    ainda que seus mecanismos de afirmao ocorram por meio da disseminao de

    verdades junto sociedade, um exerccio que mobiliza pensadores desde osprimeiros estudos em torno da mdia de massa no incio do sculo XX. Partimos,

    portanto, do pressuposto de que no existe informao imparcial, at porque toda

    informao construda como parte de um determinado ponto de vista (poltico, social,

    cultural, econmico). Ao contrrio da propalada imparcialidade relacionada ao universo

    jornalstico, sabemos que toda informao alicerada em evidncias e interesses de

    grupos, e como consequncia, a comunicao e a informao que se recebe so

    expresses desta relao primria de poder.

    Bourdieu desenvolve sua noo de campo cientfico situando-o justamente no contexto

    do espao social estruturado, como um campo de foras em que h dominantes e

    dominados, relaes constantes de desigualdades que se exercem no interior desse

    espao, entrevisto tambm como arena de lutas para transformar ou conservar

    1Trabalho apresentado no DT 1 Jornalismo do XVII Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Nordesterealizado de 2 a 4 de julho de 2015.2Jornalista, doutoranda no Programa de Ps-Graduao em Educao/UFRN. E-mail:[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    determinadas foras. Cada um, no interior desse universo, empenha em sua

    concorrncia com os outros a fora (relativa) que detm e que define sua posio no

    campo e, em consequncia, suas estratgias.(BOURDIEU, 1997, p. 57)

    Na concepo de Bourdieu (1997), o campo jornalstico se constituiu, no sculo XIX,

    em um panorama no qual alguns jornais ofereciam notcias, preferencialmente as de

    cunho sensacionalista, enquanto outros traziam propostas de anlises e comentrios. Os

    ltimos distinguiam-se dos primeiros construindo valores de objetividade. O campo

    jornalstico , para o autor, o lugar de uma oposio entre duas lgicas e dois princpios

    de legitimao: o reconhecimento pelos pares, concedido queles que reconhecem esses

    valores e princpios internos, e o reconhecimento pela maioria, materializado no

    nmero de receitas, leitores, ouvintes ou espectadores, que expressam frmulas desucesso ou fracasso comercial.

    A tese aparentemente simples: o universo do Jornalismo um campo que est sob a

    presso do campo econmico a partir de uma realidade a qual a TV submeteu-se desde

    que assomou no espao pblico da disputa por mentes e coraes. Conforme Bourdieu,

    o campo jornalstico impe sobre os diferentes campos de produo cultural um

    conjunto de efeitos que esto ligados, na forma e tambm na eficcia, sua estruturaprpria, isto , distribuio dos diferentes jornais e jornalistas conforme sua autonomia

    em relao s foras externas, as do mercado dos leitores e as do mercado dos

    anunciantes.

    O grau de autonomia de um rgo de difuso se mede sem dvida pela parcelade suas receitas que provm da publicidade e da ajuda do Estado (sob a formade publicidade ou de subveno) e tambm pelo grau de concentrao dosanunciantes. Quanto ao grau de autonomia de um jornalista particular, depende

    em primeiro lugar do grau de concentrao da imprensa (que, reduzindo onmero de empregadores potenciais, aumenta a insegurana do emprego); emseguida, da posio de seu jornal no espao dos jornais, isto , mais ou menosperto do polo 'intelectual' ou do polo 'comercial'; depois, de sua posio nojornal ou rgo de imprensa (efetivo, free-lancer etc.), que determina asdiferentes garantias estatutrias (ligadas sobretudo notoriedade) de que eledispe e tambm seu salrio (...), enfim, de sua capacidade de produoautnoma da informao. (BOURDIEU, p. 103).

    Sobre o desempenho do papel dos jornalistas, Bourdieu (p. 25) sugere o peso daconstruo simblica: Os jornalistas tm culos especiais a partir dos quais vem

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    certas coisas e no outras; e vem de certa maneira as coisas que vem. Eles operam

    uma seleo e uma construo do que selecionado. (BOURDIEU, 1997, p. 34). Tais

    anlises, luz da Sociologia contempornea, so reveladoras da complexidade e

    multidimensionalidade dos fenmenos comunicativos num mundo cada vez mais

    globalizado, multiculturalizado e impregnado pelas tecnologias, mas tambm cada vez

    mais fragmentado e desigual. Neste cenrio, estudar a comunicao requer, em boa

    medida, converter-se em um especialista de interseces.

    Assim, o poder simblico obtido pela mdia, aqui entendido como poder miditico,

    justificado pelo conjunto de funes que lhe so atribudas na sociedade contempornea,

    do qual tributrio, com certa licena histrica, desde o surgimento da prensa (sculo

    XV) e seu enorme potencial disseminador de filtros da realidade. Os profissionais, como

    o pblico leitor, so levados a crer na imparcialidade e na objetividade do produto do

    seu trabalho, o que seria operado por meio de um desejado distanciamento dos fatos,

    conceitos hoje situados no plano mitolgico por vrios autores, acadmicos e

    profissionais jornalistas.

    a partir dos anos 1970-80 que Bourdieu empreende uma crtica direcionada ao

    Jornalismo como espao estratgico de ao vulgarizadora dos campos poltico e

    acadmico e/ou produto cultural de distino e reproduo; na ltima dcada do sculo

    XX, refora as crticas ao Jornalismo como campo de autonomia incompleta,

    subordinado e constitudo conforme as estratgias do campo econmico, e com efeitos

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    de homogeneizao sobre os campos culturais e polticos. Ao mesmo tempo em que o

    campo jornalstico autnomo e tem suas regras, ele sofre influncia externa de outros

    campos. Ou seja, o campo jornalstico s pode ser compreendido a partir da relao

    que estabelece com outros campos em determinados contextos histricos e sociais.

    (Augusti, 2010, p. 10)

    A lgica bourdiesiana, ao considerar o conflito permanente, a hierarquia e a distino,

    evidencia a acirrada concorrncia na produo jornalstica quanto busca pelo

    extraordinrio, ainda que a anlise do socilogo no considere o cenrio mediado pelas

    tecnologias digitais e os desdobramentos em termos de hipermediao indutora da

    homogeneizao na cobertura jornalstica. O formato de apresentao da informao na

    web traz novas noes de imediatismo, interatividade, consumo de notcias etc. Mas o

    funcionamento do campo jornalstico em geral ainda ocorre de forma semelhante

    apresentada pelo autor, com os processos simblicos a meio caminho entre a

    disseminao da informao e os mecanismos de condicionamento que lhe antecedem.

    Seguem vlidos, portanto, os apontamentos de Bourdieu acerca da perseguio ao furo

    jornalstico, que, conforme o socilogo, determina que todos acabem por fazer a mesma

    coisa, resultando no extraordinrio ordinrio, ou melhor, na produo cotidiana do

    extraordinrio. Essa perspectiva vai ao encontro do ponto de vista de Motta (2003), para

    quem a ruptura, a quebra da normalidade das coisas, o extraordinrio que se constitui

    no valor-notcia fundamental, fazendo com que um nmero expressivo de notcias ou a

    a totalidade delas, sejam impregnadas de tom emocional implcito ou explcito, e certo

    grau de tenso contnua. Pela onipresena e pela fora simblica da notcia em nossos

    cotidianos ps-modernos, pensa-se que uma antropologia que permita a leitura

    antropolgica das notcias enquanto um ato cultural (um novo constructo) da maiorurgncia. (MOTTA, 2003, p. 20).

    As percepes de Bourdieu, como afirmado, apresentam-se em um cenrio que antecede

    os efeitos inegveis da Internet na produo miditica. Trata-se de uma perspectiva

    nova para o campo jornalstico. A informao miditica que nos cerca cotidianamente

    parece sustentar essa lgica. Anlises menos superficiais nos reportam ideia de que o

    grau de novidade da maioria das notcias no chega a elev-las realmente condio denovas.

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    Variaes de apresentao dessas notcias causam impresses equivocadas a respeito de

    sua novidade. Acrescente-se que, em decorrncia do alcance da visibilidade miditica,

    podem-se produzir efeitos de real, minimizando ou impossibilitando a compreenso

    desses mecanismos de produo e apresentao. O que mostrado, da forma como

    mostrado, pode ocultar nuances do ocorrido, alm de apresentar eventualmente outra

    noo de realidade com uma verso maquiada dos fatos.

    A prtica jornalstica como expresso de poder que se imiscui na realidade,

    eventualmente conformando-a, adaptando-a a interesses, edulcorando-a, outro tpico

    explorado exaustivamente por Bourdieu (2007), que vincula o poder simblico ao poder

    das palavras, especialmente ao produzir mobilizao como produto de enunciaes

    discursivas:

    O poder simblico como poder de constituir o dado pela enunciao, de fazerver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a viso do mundo, e deste,modo, a ao sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mgico quepermite obter o equivalente daquilo que obtido pela fora (fsica oueconmica), graas ao efeito especfico de mobilizao, s se exerce se forreconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrrio (...). O que faz o poder daspalavras de ordem, poder de manter a ordem ou de a subverter, a crena na

    legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crena cuja produo no da competncia das palavras (BOURDIEU, 2007, p.15)

    Imiscuir-se na realidade por meio da produo de verses dos fatos matria prima

    jornalstica de primeira grandeza, como situa Martino ao tocar no universo sacrossanto

    da informao consagrada numa espcie de altar da pureza e intocabilidade. Ele desvela

    os mecanismos que operam no interior dessa construo simblica. A aparncia de

    objetividade informativa e a indiscutibilidade do real esconde a seleo temtica,

    lxica e estilstica inerente ao processo de comunicao, legitimando-a pelas

    consideraes do senso comum (MARTINO, 2005, p. 9).

    Concomitantemente, assiste-se confirmao do esfacelamento de uma tradio

    jornalsticaa apurao in loco, a reportagem em campo, o contato com a realidade ,

    que perde terreno frente a prticas imobilistas das redaes. A percepo do senso

    comum acerca desse universo miditico atravessado por jogos de interesse escusos e

    toda sorte de falcatruas e desgraas ilustrado por esta charge de Bira.

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    Ao considerar as relaes de poder sob a perspectiva de Bourdieu, deve-se compreender

    as estruturas objetivas presentes nos campos sociais e as estruturas incorporadas

    (habitus) pelos sujeitos. com base neste conceito que o autor engendra uma espcie de

    rompimento com o paradigma estruturalista, ao colocar em evidncia as capacidades

    criadoras, ativas e inventivas do agente e seu habitus, isto ,

    as estruturas mentais atravs das quais eles aprendem o mundo social, so emessncia produto da interiorizao das estruturas do mundo social. Como asdisposies perceptivas tendem a ajustar-se posio, os agentes, mesmo osmais desprivilegiados, tendem a perceber como evidente e a aceit-lo do modomuito mais amplo do que se poderia imaginar, especialmente quando se olha asituao dos dominados com o olho social de um dominante. (BOURDIEU,2004, p. 158)

    Sobre o capital do campo jornalstico, recorremos a Berger, que destaca em Bourdieu o

    apontamento de uma modalidade de capital como superior aos demais o simblico,

    por dar sentido ao mundo e transitar por todos os campos. A hiptese construda de

    que o campo jornalstico detm, privilegiadamente, o capital simblico, pois da

    natureza do Jornalismo fazer crer. O capital do campo do jornalismo justamente a

    credibilidade. (BERGER, 2003, p. 21). A crena est, portanto, vinculada a noes

    subjetivas e no a aspectos pautados pelo distanciamento. Essa observao aproxima-se

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    da hiptese de Berger, que sugere que as notcias precisam despertar a credibilidade,

    fazer crer que o que mostrado real.

    Em relao ao campo jornalstico, nota-se que a relevncia da existncia social de

    outros campos diretamente proporcional presena que eles efetivam tm nos meios

    de comunicao. A difuso dos meios de comunicao, por seu turno, orienta a

    produo de outros campos. O capital do campo jornalstico torna-se, portanto, uma

    moeda para se negociar no interior de outros campos. (FERREIRA, 2002, p. 248). Para

    Bourdieu, todos os campos de produo cultural esto sujeitos s limitaes estruturais

    do campo jornalstico. Ele aponta a influncia que os mecanismos de um campo

    jornalstico cada vez mais sujeito s exigncias do mercado destacando-se aqui os

    leitores e os anunciantes exercem, primeiramente sobre os jornalistas, e, em seguida,

    sobre os diferentes campos de produo cultural, jurdico, literrio, artstico, cientfico.

    Os diferentes poderes, de forma especial as instncias governamentais, no agem

    somente pelas presses econmicas que podem exercer, mas ainda por todas as presses

    autorizadas pelo monoplio da informao legtima, principalmente as fontes oficiais.

    Para Bourdieu, em primeiro lugar, esse monoplio proporciona s autoridades

    governamentais e administrao, polcia, por exemplo, mas tambm s autoridades

    jurdicas, cientficas, armas na luta que as ope aos jornalistas e na qual tentam

    manipular as informaes ou os agentes encarregados de transmiti-las. De outro lado, a

    imprensa procura manipular quem detm a informao para tentar obt-la e ainda ter

    exclusividade sobre ela.

    Produzir significao, no jornal impresso (raciocnio extensivo a outras mdias,

    inclusive as digitais e mveis) decorre, conforme Ttu (2002), da pluralidade daenunciao: o discurso do jornal est condicionado pelo discurso do outro. Isso seria

    justificativa para o fato de aparecerem, na prpria instncia enunciativa, os tpicos de

    legitimao (fontes de informao, autorizaes de reproduo de falas, as investigaes

    etc.), e tambm permite definir a relao que os meios de comunicao constroem entre

    o saber e o poder. Neste caso,o conjunto de procedimentos de normalizao atua

    como instncia de legitimao das estruturas do poder. (idem, 2002, p. 199)

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    Por outro lado seria ingnuo acreditar que a imprensa produz, por si s, de forma totalmente

    arbitrria e manipuladora, os acontecimentos. Trata-se de uma produo coletiva,

    orientada a partir das regras de um campo. Tm chances maiores de virar notcias aqueles

    que tiverem capitais mais ajustados aos padronizados pelo habitus jornalstico; as fontes

    convertem capital econmico, poltico, social e cultural em capital midatico. Define-se,

    ento, quem sero os entrevistados, aqueles a quem ser reconhecida uma voz, aqueles que

    tero seus perfis e contradies traados (GIRARDI Jr., 2007, p. 23).

    O poder simblico conceito caro a Bourdieu que tem suas razes na teoria do

    socilogo tambm francs Emile Durkheim e sua noo de representaes coletivas ,

    pode ser definido como o poder de construo da realidade, ou seja, do sentido imediato

    do mundo social. Os smbolos tornam possvel o consenso acerca do mundo social econtribuem, desta forma, para a reproduo da ordem social (BOURDIEU, 2007, p.9).

    Trata-se transformao de outras formas de poder (como o econmico, por exemplo),

    portanto, irreconhecvel, ignorada como arbitrria. O poder simblico, afinal, baseado

    em um crdito que aquele que lhe est sujeito d quele que o exerce, o que s

    possvel porque aquele que lhe est sujeito cr que ele existe.

    CONSIDERAESOs meios de comunicao constituem um espao privilegiado de legitimao ou

    contestao das estruturas sociais. Os grupos que conseguem acess-los com frequncia

    tm um poder maior de convencimento e de transformarem os seus problemas em

    questes centrais na esfera poltica, menos por ocupar um espao privilegiado em

    relao aos demais grupos, que pelo carter de representao da realidade e pela funo

    de formao da opinio pblica que so conferidos mdia.

    Mas o que justificaria o poder simblico obtido pela mdia? Bourdieu nos lembra que

    justamente na dimenso simblica que o poder exercido mais fortemente porque

    introjetado por meio de estratgias discursivas difusas. Fazer parte da realidade

    miditica implica, na perspectiva quase ontolgica que passou a caracterizar este campo

    de atividade, tornar factvel um discurso dado e de certo modo materializ-lo. De acordo

    com Bourdieu, o poder simblico invisvel e s pode ser exercido com a participao

    dos que o exercem ou dos que o ignoram. um poder de construo da realidade que

    tende a estabelecer o sentido do mundo social (BOURDIEU, 2007).

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    So os smbolos enquanto instrumentos de integrao, de conhecimento e de

    comunicao que possibilitam o consensus acerca do sentido do mundo social que

    contribui fundamentalmente para a reproduo da ordem social. (Idem, p. 10). ,

    portanto, o poder simblico que legitima a ordem estabelecida, logo, o que atribui

    legitimidade a quem o detm, dentro de um campo de foras que se antagonizam em

    lutas potencialmente renhidas. tentacular, opressivo, frequentemente manipulador.

    E, se a alquimia social do poder simblico se d pelo reconhecimento, quer dizer, pelo

    fato de ser ignorado como arbitrrio, nada mais prximo das articulaes de poder que

    se processam no interior do campo da Comunicao e, particularmente, do Jornalstico.

    REFERNCIAS:

    AUGUSTI, A. R. As relaes de poder do campo jornalstico: reflexes sobre asnotcias como construo social. REBEJ Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo.Ponta Grossa, v.1, n. 6, p. 5-32, dez. 2009/mai. 2010.

    BERGER, C. Do jornalismo: toda notcia que couber, o leitor apreciar e o anuncianteaprovar, a gente publica. In: MOUILLAUD, M.; PORTO, S. D. (Orgs.). O Jornal: daforma ao sentido. Braslia: Paralelo 15, 2002.

    BOURDIEU, P. Sobre a televiso. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

    _____________. O poder simblico. 11 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

    _____________. Coisas Ditas.So Paulo: Brasiliense, 2004.

    FERREIRA, J. Jornalismo como campo: do homogneo ao heterogneo. In: RevistaFronteiras. Vol. IV, no1, junho, 2002.

    GIRARDI JR., L. Pierre Bourdieu: Questes de Sociologia e Comunicao. So Paulo:

    Annablume, 2007.

    MARTINO, L. M. S. Mdia e poder simblico: um ensaio sobre comunicao e camporeligioso. 2 ed. So Paulo: Paulus, 2005.

    MOTTA, L. G. O jogo entre intencionalidades e reconhecimentos: pragmticaJornalstica e construo de sentidos. Comunicao e Espao Pblico, ano 6, n. 1 e 2.Braslia, 2003.

    TTU, J. Le Monde e Libration em perspectiva. Referncias e significao: LeMonde. In: MOUILLAUD, M.; PORTO, S. D. (Orgs.).O Jornal: da forma ao sentido.

    Braslia: Paralelo 15, 2002.