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Microbiologia Reovírus

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Page 1: Microbiologia - Reovírus...Microbiologia Reovírus • Introdução Reovírus é uma família de vírus com características morfológicas em comum. O principal vírus deste grupo

Microbiologia

Reovírus

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• Introdução

Reovírus é uma família de vírus com características morfológicas em comum. O principal vírus deste grupo é o rotavírus. O rotavírus é um vírus RNA causador de gastroenterite principalmente entre a população pediátrica. Sua importância médica se dá devido as altas taxas de afecções moderadas e graves produzidas

pelo quadro viral diarreico, sendo este vírus o assunto deste capítulo.

• Estrutura

O rotavírus é um vírus não envelopado com cerca de 70nm de diâmetro, seu capsídeo é icosaédrico e tem tripla camada proteica: um capsídeo interno for-mado pela proteína VP6 e um capsídeo externo formado pelas proteinas VP7 e VP4, e o core viral que contém seu genoma composto por RNA fita dupla seg-mentado.

A antigenicidade da proteína VP6 do capsídeo interno divide os rotavírus em 8 grupos (A-H). A doença humana é causada pelo grupo A, podendo ser causada ocasionalmente pelos grupos B e C. Os sorotipos virais dentro dos grupos são definidos pelas proteinas VP7 (glicoproteína G) e VP4 (proteína P sensível à pro-tease). As proteínas do core viral são VP1, VP2 e VP3. VP1 e VP3 formam um complexo polimerase que se encontra ligado na camada mais interna do core

formada pela VP2.

São estáveis a variações amplas de de pH (estáveis em pH 3-9) e temperatura (estáveis a 4ºC por meses), bem como a vários detergentes e solventes lipídicos, podem permanecer no ambiente por 60 a 90 dias. São inativados por formamida,

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formol, etanol 95%. O rotavírus recebe este nome pois se refere ao seu formato arredondado à microscopia eletrônica.

O vírus também sintetiza proteinas não estruturais, são elas NSP1, NSP2, NSP3, NSP4, NSP5, sendo a NSP 4 uma enterotoxina viral participante da patogenia

da infecção.

• Patogênese

O patógeno tem capsídeo que é capaz de resistir ao ambiente ácido do estômago e permite atingir o intestino delgado. Lárealiza o processo de adsorção as células epiteliais colunares que cobrem as vilosidades. Corpos de inclusão são visualiza-dos após 8 horas de infecção. Podem ser liberadas até 1010partículas virais por grama de fezes na fase aguda.

A infecção da mucosa intestinal leva ao encurtamento e achatamento das vilosi-dades, além de infiltração de mononucleares dentro da lâmina própria. A infecção reduz a absorção de água e leva a perda de eletrólitos, o que resulta em diarreia aquosa. A proteína não estrutural NPS4 é uma enterotoxina viral que conduz a uma alteração neuronal da reabsorção de água.

A imunidade a infecção depende da ação de anticorpos IgA na mucosa intestinal como de anticorpos específicos IgG e IgM para as proteinas VP7 e VP4 que po-dem ser adquiridos de forma ativa ou passiva, mas que não impedem a doença, mas sim evitam formas graves, principalmente em crianças, devido a maturidade do sistema imunológico.

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• Replicação

O pico de replicação viral se dá com 20 a 24 horas de infecção. Os vírus são ativos por proteólise celular da VP4, para aumentar a eficiência da penetração celular. A VP4 clivada se liga ao ácido siálico contido nas glicoproteínas das cé-lulas epiteliais, bem como a participação de correceptores, a exemplo de molé-culas da família das integrinas, facilitam o processo. Assim, a ligação promove a penetração do vírion inteiro dentro da célula. Um segundo mecanismo de entrada na célula envolve mecanismo de endocitose.

A replicação ocorre no citoplasma onde, ao encontrar baixas concentrações de cálcio,o vírus perde o capsídeo externo. A partícula viral já contém todas as en-zimas necessárias para a síntese do RNAm a partir dos 11 seguimentos de RNA fita dupla. A ativação do complexo polimerase (VP1+VP3) se dá após a perda da VP7 e tem-se a transcrição do RNA viral. As fitas são traduzidas no citoplasma por intermédio de proteinas não estruturais. A montagem do core viral a partir das fitas sintetizadas de RNA+ e das proteinas estruturais ocorre também por intermédio de outras proteinas não estruturais. Os seguimentos de RNA+ são acoplados ao core viral e ali são sintetizados os RNA- que formarão o genoma fita dupla.

Após a montagem core, este se associa a proteína NSP4 fora do reticulo endo-plasmático (RE)e então brotam para dentro do RE, processo pelo qual adquirem sua glicoproteína VP7, do capsídeo externo. O vírus então deixa a célula durante

a lise celular.

O rotavírus tem a capacidade de realizar reestruturação de seu genoma (reas-sortment). Tal processo consiste em uma alteração genotípica por troca de

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segmentos genéticos entre diferentes estirpes virais. O processo se dá em coin-fecções, como ocorre quando as espécies de vírus humanos e suínos infectam um mesmo hospedeiro. A troca de segmentos de RNA não ocorre aleatoria-mente, a enzima polimerase de uma estirpe deve ser capaz de reconhecer o RNA da outra estirpe. As alterações fenotípicas podem ser positivas e incluir escape do sistema imune, como também podem ser alterações prejudiciais e reduzir a afinidade entre as proteinas agora sintetizadas.

• Epidemiologia

Estão presentes em todos os lugares do mundo, cerca de 95% das crianças são infectadas entre 3 e 5 anos. A principal via de infecção é a fecal oral, entretanto, também podem ser transmitidos por aerossóis. Os vírus resistem em fômites e nas mãos, permitindo a transmissão direta. Seu período de incubação é de cerda de 12-96h. A disseminação máxima do vírus ocorre 2 a 5 dias após o início da diarreia, mas pode ocorrer sem sintomas. Animais são reservatórios de outros sorotipos de rotavírus, que não são causadores de doenças em humanos. O ro-tavírus é uma das causas mais comuns de diarreia grave em crianças pequenas. São fatores de risco para desenvolver uma diarreia viral aguda:água contami-nada, condições sanitárias inadequadas, má higiene pessoal e doméstica, prepa-ração e armazenamento inadequado dos alimentos. Outros fatores relacionados ao hospedeiro que facilitam a infecção são: desnutrição, deficiência imunológica, redução da acidez gástrica, diminuição da motilidade intestinal. Os fatores rela-cionados ao vírus são: alta resistência ao ambiente, alta dose infectante, libera-

ção de grande número de partículas virais nas fezes.

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• Quadro clínico

É o principal causador de gastroenterite, as formas mais graves são observadas entre as crianças, que apresentam vômitos, diarreia, febre, desidratação, dese-quilíbrio hidroeletrolítico. Não há presença de leucócitos fecais ou sangue nas fezes. A diarreia é de natureza osmótica, mas também ocorre diarreia aquosa, devido a secreção intestinal de fluidos e perda da camada absortiva da mucosa do intestino. Participa do processo ainda a ativação do sistema nervoso entérico pela NSP4, com sua atividade enterotóxica. A gastroenterite viral é, em geral au-tolimitada e cursa com recuperação completa, sem sequelas. A infecção pode ser fatal para aqueles que já estavam desidratados e desnutridos antes da infecção.

• Diagnóstico laboratorial

A maioria dos pacientes tem grande quantidade de vírus nas fezes, o que torna a detecção direta do antígeno viral o método de escolha. Os principais testes disponíveis para o rotavírus são o imunoensaio enzimático e aglutinação em lá-tex. As partículas virais ainda podem ser visualizadas a microscopia eletrônica ou imunoeletrônica. A detecção do genoma viral ainda pode ser feita por eletro-

forese em poliacrilamida ou por PCR.

• Tratamento, prevenção e controle

Não existe um tratamento específico para esta enteroviroses. Como o quadro de diarreia leva a desidratação, o recomendável é que se faça a hidratação desses pacientes. A maioria das crianças que se desidratam podem ser reidratadas pela via oral, reservando a via parenteral para os quadros mais graves. Probióticos e antieméticos podem ser introduzidos na terapêutica, a fim de repor a microbiota

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intestinal e reduzir náuseas e vômitos respectivamente. Crianças em amamen-tação não devem interrompê-la frente ao quadro.

Devido a sua transmissão fecal-oral, sabe-se que é de suma importância investir em melhorias dos padrões de saneamento e higiene para que se reduza a inci-dência da enteroviroses. Entretanto, dificilmente essas medidas serão maxima-mente efetivas, fazendo a prevenção vacinal essencial para o controle desta do-ença.

A profilaxia para esta gastroenterite se dá com o uso de vacinas. As vacinas não impedem o adoecimento, mas sim, seu objetivo é reduzir as formas graves ou moderadas da doença, além de evitar a desidratação e a hospitalização, reduzir mortalidade e o impacto sócio econômico.

A primeira vacina contra a rotavirose foi a tetravalente RRV, composta por 4 es-tirpes atenuadas geneticamente reestruturadas (G1, G2 e G4 de origem humana e G3 de origem símia). Apesar da alta eficácia na prevenção das formas graves, foi retirada do mercado devido à sua associação a casos graves de intussuscep-ção (invaginação de qualquer porção do tubo gastrointestinal em outra porção adjacente).

A vacina Rotarix® (GSK Bio) é monovalente e tem como base uma estirpe hu-mana de especificidade G1P[8], não sendo registrado nenhum caso de intussus-cepção associado à vacina. É uma vacina oral, que deve ser feita em duas doses, disponibilizada pelo sus e aplicada com 2 e 4 meses, respeitando um intervalo de 4 semanas entre as doses. Já a vacina RotaTeq® (Merck) é uma 2ª geração de vacinas reestruturada pentavalente, composta por um reassortment de es-tirpe bovina e dos genótipos humanoG1, G2, G3, G4 e P1A[8]. Também não há

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casos de intussuscepção associados a essa vacina. Está disponível para comer-cialização e seu esquema de tomadas é em três doses.

• Questões

1) Quanto a estrutura do rotavírus, assinale a alternativa incorreta: a) É um vírus não envelopado com cerca de 70nm de diâmetro b) Seu capsídeo é icosaédrico e tem dupla camada proteica c) Seu genoma é composto por RNA fita dupla segmentado d) Não apresenta enzimas para replicação do RNA

COMENTÁRIO: a partícula viral deste vírus RNA segmentado (assim como a grande maioria dos vírus RNA) já contém o maquinário para a replicação de RNAm, a partir das fitas de RNA segmentado.

2) O rotavírus é dividido em diferentes grupos e sorotipos, tendo apenas alguns vírus importância média para humanos. Quanto aos diferentes tipos de rota-vírus, assinale a alternativa correta: a) As proteinas do capsídeo externo dividem os vírus em 7 grupos, nomea-

dos de A a G b) As manifestações cínicas em humanos são decorrentes da infecção pelo

Grupo D c) Os sorotipos são definidos pelas proteínas VP4 e VP7 d) As proteínas do capsídeo interno VP1 e VP3 formam um complexo poli-

merase

COMENTÁRIO: é a proteína VP6 do capsídeo interno dos vírus que define os grupos virais, sendo o grupo A o principal responsável pela infecção em huma-nos. As proteinas VP1 e VP3 são proteinas do core viral, as proteinas do capsí-deo externo são VP4 e VP7

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3) Quanto a replicação do rotavírus, assinale a alternativa incorreta: a) A replicação do rotavírus ocorre no citoplasma, dentro do core viral b) A proteólise das proteinas virais facilitam o processo de infecção e repli-

cação viral c) Tem capacidade de reestruturação do genoma, processo que se dá a

partir de mutações d) É composto por 11 segmentos de RNA fita dupla

COMENTÁRIO: a reestruturação ou reassortment é o processo pelo qual o vírus é capaz de assimilar um segmento de RNA de outra cepa viral em uma coinfec-ção. Esse processo não está associado com mutações

4) O rotavírus é um vírus ubíquo, causador de diarreia na população em geral. Sobre a doença causada por esse vírus, assinale a alternativa correta: a) A gastroenterite causada pelo rotavírus acomete principalmente adoles-

centes e adultos b) Os vírus resistem em fômites e nas mãos, permitindo a transmissão

direta c) Nas crianças, a infecção em geral é assintomática, devido a imaturidade

do sistema imunológico d) Uma vez diagnosticada, deve-se iniciar o tratamento com aciclovir

COMENTÁRIO: A rotavirose é mais frequente em crianças menores que 5 anos, população mais suscetível ao aparecimento de formas graves da doença. Não há tratamento específico para a infecção pelo rotavírus, sendo o tratamento de suporte sintomático.

5) A infecção pelo rotavírus, quando em suas formas graves, podem ter prog-nóstico ruim, devido a desidratação intensa, principalmente quando associ-ada desnutrição, o que demonstra sua grande importância entre a

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população pediátrica. Sobre o tratamento, prevenção e controle desta vi-rose, assinale a alternativa incorreta: a) A reidratação dessas crianças deve ser feita preferencialmente pela via

oral, reservando a via endovenosa para os casos mais graves. b) Saneamento básico, higiene pessoal e consumo de água filtrada são

medidas de prevenção para a infecção c) As primeiras vacinas orais para rotavírus mostraram grande eficácia,

mas estão associação a casos graves de intussuscepção intestinal d) A vacina, hoje fornecida pelo SUS, 5 sorotipos virais diferentes de ori-

gem suína, que oferecem imunidade cruzada aos sorotipos humanos

COMENTÁRIO: A vacina disponibilizada pelo sus é a Rotarix®. É composta por apenas um sorotipo humanos e sua capacidade de imunização se deve pela alta prevalência de circulação deste sorotipo, bem como pela capacidade de ge-ração de imunidade cruzada. A vacina pentavalente (RotaTeq®) é sintetizada a partir de um reassortment de estirpe bovinae de 5 genótipos humanos.