microbiologia de trabulsi micologia parte 1
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3A
65 – Características gerais dos fungos
O fungos apresentam um conjunto de características que permitem sua
diferenciação das plantas: não sintetizam clorofila nem qualquer pigmento
fotossintético; não tem celulose na parede celular, e não armazenam amido como
substância de reserva. A presença de substâncias quitinosas na parede da maior parte
das espécies fúngicas e a capacidade de armazenar glicogênio os assemelham as células
animais.
Os fungos são ubíquos e participam ativamente do ciclo dos elementos na
natureza. As dispersão dos fungos na natureza é feita por várias vias: animais, homem,
insetos, água e, principalmente, pelo ar atmosférico, através dos ventos.
Os fungos são seres eucarióticos com um só núcleo, como as leveduras, ou
multinucleados, como os fungos filamentosos ou bolores e os cogumelos.
Estrutura da célula fúngica
Parede – é uma estrutura rígida que protege a célula de choques
osmóticos. A quitina é o principal componente estrutural do exoesqueleto de
invertebrados e da parede celular fúngica. Nas leveduras, a quitina encontra-se em
menor quantidade do que nos bolores e está restrita à área de blastoconidiação.
Membrana citoplasmática – atua como uma barreira semipermeável, no
transporte ativo e passivo de materiais, para dentro e para fora da célula, sendo
constituída de uma porção hidrofóbica e de uma porção hidrofílica. As membranas das
células dos fungos tem em sua composição química esteróis, que não são encontrados
nas células bacterianas. O esterol da membrana citoplasmática dos fungos é o
ergosterol. Este esterol é um colesterol( nas células humanas). Essa diferença
possibilitou um grande avanço na terapia das micoses, com a elaboração de antifúngicos
sintéticos com toxicidade seletiva para a célula fúngica com atuação nas várias etapas
da síntese do ergosterol.
Núcleo – contém o genoma fúngico. A membrana nuclear é de natureza
lipídica e possui numerosos poros.
Ribossomos – são formados por duas subunidades, 60S e 40S, e partícula
ribossomal completa tem 80S.
Mitocôndria – sítio de fosforilação oxidativa.
Retículo endoplasmático – é uma membrana em forma de rede que se
encontra distribuída por toda a célula fúngica.
Cápsula – é importante na patogenia do Cryptococcus neoformans,
dificultando a fagocitose.
MORFOLOGIA E REPRODUÇÃO
Colônias de dois tipos: leveduriformes e filamentosas.
As colônias leveduriformes, em geral, são pastosas ou cremosas e
caracterizam o grupo das leveduras, esses são unicelulares. Apresentam forma em geral
arredondada ou ovalada.
As colônias filamentosas, carecterísticas dos bolores, podem ser
algodonosas, aveluadas, pulvurulentas, com os mais variados tipos de pigmentação.
Apresentam elementos multicelulares em forma de tubos – as hifas – que podem ser não
septada ( cenocítica) ou septadas.
Ao conjunto de hifas dá se o nome micélio. O micélio que se desenvolve
no interior do substrato é chamado micélio vegetativo. O micélio que se projeta na
superfície e cresce acima do meio de cultivo é o micélio aéreo.
O micélio aéreo vegetativo dos fungos filamentosos pode diferenciar-se
em determinados pontos e formar o micélio reprodutivo, onde são formados os esporos,
também chamados de propágulos, e que pode ter origem sexuada o assexuada. O
micélio reprodutivo é de importância fundamental na identificação morfológica da
maioria das espécies fúngicas.
Os conídios representam o modo mais comum de reprodução assexuada e
cumprem importante papel na dispersão dos fungos na natureza. As células que dão
origem aos conídios são células conidiogênicas. Os conídios podem ser hialinos ou
pigmentados e apresentam formas diferentes e são formados na extremidade dos
conidióforo.
Os artroconídios são formados por fragmentos de hifas em elementos
retangulares. Os clamidoconídios, estruturas de resistência, são células geralmente
arredondadas de volume aumentado com paredes duplas e espessas e são formados em
condições ambientais adversas.
Outras estruturas de resistência, os esclerotos ou esclerócios que são
corpúsculos duros e parequimatosos, formados por conjuntos de hifas e que
permanecem em estado de dormência até que condições adequadas permitam a sua
germinação. Os propágulos assexuados de fungos filamentosos que possuem hifas não-
septadas originam-se em estruturas denominadas esporângios. Pela ruptura dos
esporângios os esporos são liberados. A hifa especial que sustenta o esporângio é
denominada esporangióforo.
Os propágulos sexuados internos são chamados ascósporos e formam-se
no interior de estruturas denominadas ascos. Três tipos de ascposcarpos ( corpos de
frutificação são conhecidos): cleitotécio, peritécio e apotécio.
O cleiotécio é uma estrutura globosa, fechada, de parede formada pela
união de hifas. O peritécio é uma estrutura piriforme com um poro por onde são
eliminados os ascos. O apotécio é um ascocarpo aberto e com forma de cálice.
Os propágulos sexuados externos são denominados basidiósporos e
originam-se no ápice de uma célula fértil chamada basídio.
A reprodução sexuada entre os fungos contribui, através da recombinação
genética, para a variabilidade necessária ao aperfeiçoamento da espécie. Em geral, esses
fungos com reprodução sexuada produzem, em determinadas fazer de seu ciclo,
estruturas assexuadas, os conídios, que asseguram a sua disseminação. Essa
característica de mudança de tipo de reprodução reflete-se em características
morfológicas diferentes e o mesmo fungo recebe denominação diferntes. Por exemplo, o
fungo leveduriforme C. neoformans em sua fase sexuada é denominado Filobasidiella
neoformans.
A fase sexuada é denominada teleomórfica ou perfeita, a assexuada é
denominada anamórfica ou imperfeita.
A maior parte da leveduras reproduz-se assexuadamente. No processo de
brotamento, a célula mãe origina uma gêmula, o blastoconídio, que cresce e recebe um
núcleo após a divisão do núcleo da célula-mae. Na fissão binária, a célula-mãe divide-se
em duas células de tamanhos iguais.
NUTRIÇÃO, CRESCIMENTO E METABOLISMO
Em sua maioria são aeróbios obrigatórios, com excessão de certas
leveduras fermentadoras anaeróbias facultativas.
Os fungos absorvem oxigênio e desprendem anidrido carbônico durante
seu metabolismo oxidativo. Alguns fungos podem germinar muito lentamente em meio
com pouco oxigênio. O crescimento vegetativo e a reprodução assexuada ocorrem
nessas condições, enquanto a reprodução sexuada se efetua apenas em atmosfera rica
em oxigênio.
Devido à ausência de clorofila, os fungos para se nutrirem, necessitam de
substâncias orgânicas que eles próprios são incapazes de elaborar. Assim, são obrigados
a viver em estado de saprofitismo, parasitismo ou simbiose.
Os saprófitas utilizam substâncias orgânicas inertes, muitas delas em
decomposição. Os parasitas se desenvolvem em outros organismos vivos. Os simbiontes
associam-se com outros organismos.
A nutrição da maioria dos fungos dá-se por absorção, processo no qual
enzimas adequadas hidrolisam macromoléculas, tornando-as assimiláveis através de
mecanismos de transporte.
Para o desenvolvimento, os fungos exigem, de preferência carboidratos
simples como a D-glicose. Entretanto, outros açucares como sacarose, maltose e fontes
de carbono mais complexas como amido e celulose podem também ser utilizadas.
Atualmente, de maneira geral, é sabido que as necessidades de crescimento
dos fungos devem ser expressas em referência à atividade de água ( Aa) do substrato.
Este fato está relacionado à quantidade de água disponível para que os microrganismos
se desenvolvam e realizem suas funções metabólicas.
Os valores da atividade de água oscilam entre 0 e 1. a medida que uma
solução se concentra, a pressão de vapor e a atividade de água diminui.
A atividade de água mínima para o crescimento da maioria dos fungos,
principalmente os contaminantes de alimentos, é na faixa de 0.80; abaixo de 0,60 de
atividade de água, os fungos em geral não se reproduzem.
Os fungos de importância médica, em geral, são mesófilos, apresentando
temperatura ótima entre 20°C e 30°C.
O fenômeno de variação morfológica mais importante em micologia
médica é o dimorfismo fúngico, que se expressa por um crescimento micelial entre
22°C e 28°C e leveduriforme entre 33 e 37°C.
A forma micelial ou saprofítica é a forma infectante e está presente no
solo, nas plantas, etc. A forma leveduriforme ou parasitária é encontrada nos tecidos e
in vitro em meios enriquecidos a 37°C. Na Candida albicans, a forma saprofítica
infectante é a leveduriforme e a forma parasitária, isolada dos tecidos, é a micelial.
O pleomorfismo nos dermatófitos expressa-se pela perda das estruturas de
reprodução ou conídios, com variações morfológicas das colônias. Essas estruturas
podem ser recuperadas nos retrocultivos, após inoculações em animais de laboratório ou
em meios enriquecidos com terra.
Um pH em torno de 5,6 é ótimo para o desenvolvimento deles. Os fungos
filamentosos podem crescer em ampla faixa de pH variando de 1,5 a 11. As leveduras
não toleram pH alcalino. A pigmentação dos cultivos, muitas vezes, está relacionada
com o pH do substrato.
No desenvolvimento vegetativo, os fungos preferem obscuridade ou luz
difusa, e no desenvolvimento da parte reprodutiva , procuram a luz para a sua formação.
A luz solar direta, geralmente, é um fator fungicida, devido às radiações ultravioletas.
O antagonismo ativo ocorre quando há inibição por contato ou inibição de
crescimento pela produção de antibióticos, ácidos, etc. No antagonismo passivo não há
inibição de um microrganismo pelo outro, ocorrendo a competição por espaço ou por
nutrientes essenciais. Por sua vez, nas interações sinérgicas há o favorecimento de um
ou ambos os microrganismos que colonizam o mesmo substrato.
Com a finalidade de impedir o crescimento bacteriano, o qual pode inibir
ou se sobrepor ao do fungo, é necessário incorporar aos meios de cultura antibacterianos
de largo espectro, como o clorafenicol. Também se pode acrescentar cicloheximida para
diminuir o crescimento de fungos saprófitas contaminantes dos cutivos.
TAXONOMIA DOS FUNGOS
Os fungos são atualmente enquadrados em três reinos distintos: Chromista,
Fungi e Protozoa.
O reino Chromista abange microrganismos unicelulares com parede
celular sem quitina e beta glucanas, mas contendo celulose., Phytim insidiosum e
Rhinosporidium seeberi, organismos hidrofílicos.
Os fungos patogênicos e oportunistas mais importantes estão distribuídos
em três filos do reino Fungi: Zygomycota, Basidiomycota, Ascomycota e no grupo dos
Deuteromycetes.
Filo Ascomycota
Agrupa fungos de hifas septadas e sua principal características é o asco,
estrutura em forma de bolsa ou saco, no interior do qual são produzidos os ascósporos,
esporos sexuados.
Filo Basidiomycota
Fungos superiores ou cogumelos comestíveis. Apresentam hifas septadas e
são caracterizados pela produção de esporos sexuados extremos, os basidiósporos. A
classe Teliomycetes contém a espécie patogênica mais importante, Filobasidiela
neoformans.
Filo Zygomycota
Fungos de micélio cenocítico. A reprodução pode ser sexuada pela
formação de zigosporos e assexuada com a produção de esporos, os esporangiosporos,
no interior de esporângios.
A classe Zygomytes contém fungos de interesse médico, encontrados nas
ordens Mucorales e Entomophtorales.
Deuteromycetes ( Fungos Mitospóricos)
Todos os fungos que não têm conexão com Ascomycetes e Basidiomycetes
são incluídos no grupo artificial dos Deuteromycetes. Outros termos como fungos
imperfeitos, fungos assexuados e fungos conidiais têm sido usados para designar esses
organismos.
A grande maioria dos fungos desse grupo tem hábitat no solo e são os
principais componentes da microbiota atmosférica.
Fungos patogênicos e oportunistas, em sua maioria estão, no grupo dos
Deuteromycetes, entre as classes Blastomycetes, Coelomycetes e Hyphomycetes.
Filo Oomycota
Nos filos Oomycota e Hyphochytriomycota, que pertencem ao reino
Chromista , são conhecidos Rhinosporidium seeberi e Pythium insidiosum, de relativa
importância em micologia médica.
ECOLOGIA
Hábitat
O solo é o grande hábitat dos fungos, onde atuam na ciclagem dos
elementos na natureza. Além disso, grande parte dos fungos patogênicos vive no solo e
algumas micoses que acometem o homem e outros animais são adquiridas em contato
com o solo.
Alguns fungos tem os vegetais como hospedeiros exclusivos somente
conseguindo se multiplicar em contato com eles. Hemileia vastathrix, fungo da
ferrugem do café é um exemplo típico desse grupo de fungos. Outros fungos pode ter
uma associação mutualística com raízes de vegetais e o conjunto é denominado
micorriza.
O meio aquático aquático também se constitui num hábitat para alguns
grupos de fungos, como vários representantes da subdivisão Matigomycotina.
Alguns fungos fazem parte da microbiota endógena ou transitória do
homem e de outros animais.
VIAS DE DISPERSÃO
A eficiência na dispersão está relacionada à alta produção de propágulos de
disseminação, sendo os mais importantes os esporos, principalmente os de origem
assexuada, que são formados em grande quantidade nesse processo. Além dos esporos,
fragmentos de micélio vegetativo ou outras estruturas fúngicas podem também se
constituir em propágulos de disseminação dos fungos. Essa dispersão é feita através de
várias vias como ar atmosférico, água, insetos, homem e animais.
Os fungos especializados na dispersão pelo ar atmosférico são também
chamados de anemófilos e, além de serem importantes como bioteriorantes de
substratos diversos, são estudados em Medicina como importantes agentes de alergias
respiratórias, como asma brônquica e rinites alérgicas.
A água, além de ter fungos aquáticos, serve também de via de dispersão a
fungos de outros habitas.
O homem e outros animais são também agentes de disseminação do
fungos, sendo vários os exemplos de introdução de doenças de plantas pelo transporte
de culturas infectadas pra uma determinada região.
Além dessas vias, os insetos também são grandes dispersores de fungos.
66 – Características gerais das Micoses
Três tipos de doença humana estão associados a elementos fúngicos ou a
seus produtos metabólicos: alérgicas, tóxicas e infecciosas.
A doença alérgica é causada pela interação de um hospedeiro
sensibilizado, com antígenos fúngicos, imunologicamente reativos.
A doença toxigênica pode ser provocada pela ingestão de alimentos
contaminados com fungos microscópicos, produtores de micotoxinas – a micotoxicoses
– ou pela ingestão de fungos macroscópicos venenosos – micetismos.
A doença infecciosa é aquela em que o agente possui propriedade de agir
como patógeno primário ou oportunista, exemplo: paracoccidiodomicose, candidíases.
As micoses superficiais compreendem as micoses superficiais estritas, as
dermatofitoses, as hialo-hifomicoses e feo-hifomicoses e as micoses mucocutânea ou
leveduroses.
As micoses superficiais estritas atingem as camadas mais superficiais da
pele ou do pêlo. As dermatofitoses atingem pele, pêlo ou unhas e são causadas por
fungos queratinofílicos, os dermatófitos. As hialo-hifomicoses e feo-hifomicoses se
localizam na pele, unha ou mucosas e são produzidas por fungos filamentosos não
dermatófitos. As leveduroses ou micoses mucocutâneas são produzidas por leveduras,
tendo origem endógena ( microbiota normal do hospedeiro) ou exógena ( quando
transmitida por outros indivíduos).
As micoses subcutâneas adquiridas por traumatismos com materiais
contaminados e por picadas de inseto e mordeduras de animais. Fungos isolados desse
tipo de de micose são comumente isolados do solo ou de vegetais.
As micoses sistêmicas são originadas principalmente pela inalação de
propágulos fúngicos levados do solo pelos ventos. C. neoformanas e H. capsulatum
pode ser veiculados de fezes de pombos e morcegos respectivamente.
As micoses oportunísticas atingem os pacientes imunocomprometidos por
doença de base, como câncer, diabetes, ou aqueles que são submetidos a tratamentos co
uso de corticoidoterapia, imunossupressores e antibioticoterapia.
Em geral, as micoses do tipo subcutâneo são esporádicas. Há ocorrências
de endemias onde o fungo é mais frenquentemente isolado. Microepidemias quando
indivíduos visitam cavernas habitadas por morcegos. Epidemias do couro cabeludo em
alunos de escola.
Idade, sexo e raça desempenham papel importante na freqüência de certas
micoses. A paracoccidioidomicose e a cromoblastomicose são comuns em indivíduos
adultos do sexo masculino. A atividade profissional influi na incidência de certas
micoses que são conhecidas como doenças profissionais. O tamanho da forma infectante
do fungo é importante. Partículas maiores que 10 micrometros só alcanças as vias aéreas
superiores, causando rinite. Partículas de 5 a 10 micrometros atingem os brônquios e
são responsáveis por quadros asmáticos, e as menores que 5 micrometros podem
alcançar os alvéolos.
A quantidade do inoculo também é importante, principalmente na
aquisição das micoses sistêmicas. Medidas preventivas são importantes e dependem do
tipo de micose. Máscaras ao visitar grutas de morcegos pode previnir infecção por H.
capsulatum; o uso de roupas e sapatos cobrindo partes descobertas do corpo evita o
traumatismo.
A fim de diminuir a infecção fúngica hospitalar, medidas preventivas,
como uso de filtros, higiene local e assepsia adequada do pessoal médico e paramédico,
são preconizadas.
MECANISMO DE DEFESA DO HOSPEDEIRO
Os mecanismos de defesa do hospedeiro contra infecção por fungos pode
ser inespecíficos e específicos.
Inespecíficos – pele, membranas mucosas e sistema inflamatório não-
específico.
A pele é considerada um grande órgão imunológico. A pele normal é, na
verdade, um barreira efetiva contra a colonização da maioria dos fungos, por ser uma
barreira física e por secretar ácidos graxos saturados com propriedades antifúngicas.
A integridade da pele e seu baixo teor de umidade são responsáveis pela
resistência natural a muitas infecções. Como a aderência é o estágio inicial no processo
invasivo dos fungos, a pele resiste a esta por vários mecanismos, como produção de
muco, competição com outros microrganismos e descamação das células epiteliais.
Específicos – o sistema imune específico consiste em macrófagos,
linfócitos, células do plasma e seus produtos, como as linfocinas e anticorpos. A
resposta imune se caracteriza pela produção de anticorpos específicos que reagem
contra os antígenos do fungo invasivo. Elevados títulos de anticorpos podem impedir o
desenvolvimento da imunidade celular. No entanto, em certas infecções, os anticorpos
são protetores.
PATOGENICIDADE DOS FUNGOS
Como possíveis fatores citam-se a variabilidade fenotípica, a aderência nos
tecidos do hospedeiro e a produção de toxinas e enzimas.
Para C.albicans, a sequência seria iniciada pela aderência a células
epiteliais da pele ou mucosas, seguida da multiplicação da levedura, com formação
posterior de tubo germinativo e filamentação. A produção de exoenzimas, proteinase e
fosfolipase permitiria a penetração da levedura nas células, ocasionando resposta
inflamatória, como ocorre nos tecidos.
Com relação a C. neoformans, sabe-se que a cápsula exerce ação protetora
deste contra fagocitose. O fungo tema capacidade de produzir a enzima uréase, que
hidrolisa a uréia, levando à produção de amônia, que inativa o complemento facilitando
a sua proliferação. Esta levedura produz também a enzima fenol-oxidase, relacionada
com a sua patogenicidade.
A existência da alfa 1,3 glucana na parede celular da fase leveduriforme de
Paracoccidioides brasiliensis foi considerada fator importante na virulência do fungo.
Nos dermatófitos, as atividades das queratinases, elastases e sulfitase são importantes na
implantação da micose.
DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO DAS MICOSES
Verificação do fungo no material clínico, em preparações microscópicas,
em exame histopatológico e em cultivos complementados por provas indiretas, como
testes intradérmicos, pesquisa de anticorpos séricos e de antígenos circulantes. Na
grande maioria dos casos clínicos, o método mais empregado é o da microscopia direta.
Na micoses superficiais e cutâneas, são coletados principalmente pêlos,
escamas de pele ou de uma. Nas micoses subcutâneas, o material inclui secreções, pus,
sangue, enquanto nas micoses profundas são examinados, por exemplo, escarro, fezes,
urina e líquido cefalorraquidiano.
Exame microscópico direto
É o método mais usado no diagnóstico de rotina das micoses. De modo
geral, o material a ser examinado é submetido à clarificação por solução de hidróxido de
potássio a 10 a 20%, acrescido de tinta Parker 51 permanente, na proporção de 2:1 e
aquecimento discreto.
Quando houver suspeita de infecção por C. neoformans, deve-se misturar
ao material clínico, geralmente escarro ou liquor, uma gota de tinta Nankin, pois essa
técnica permita a visualização da célula fúngica cora e da cápsula sem coloração. As
técnicas de coloração são bastante úteis, como a de Giemsa, na identificação do H.
capsulatum.
O exame microscópico direto é uma técnica de baixo custo, eficaz e
reprodutível, exigindo, porém, profissional técnico treinado.
Imunofluorescência – pode ser recomendada para a demonstração de
alguns fungos em cortes de tecidos e secreções. É usado, por exemplo, na diferenciação
das formas pequenas de P. brasiliensis e H. capsulatum. Podem ser identificados
também C.neoformnas, S. scheckii, C.immitis e C.albicans.
Corantes vitais – a avaliação da viabilidade de células fúngicas em
materiasis clínicos tem sido baseada, até o presente momento, no emprego de corantes
vitais ou, mais frequentemente, no cultivo em meios apropriados.
Comparativamente ao cultivo, os corantes vitais demonstram maior
rapidez, revelando-se importante indicador da viabilidade fúngica.
Biópsia – é bastante usado para diagnóstico das micoses subcutâneas e
sistêmicas. A biópsia é imprescindível no diagnóstico de certas micoses, com ao
rinosporidiose e a lobomicose, em que ser agentes etiológicos não foram cultivados.
Cultura e identificação
A cultura dos fungos é, em geral, imprescindível para o diagnóstico
específico da maior parte dos fungos. As dificuldades desta técnica residem na
crescimento lento de muitos agente, na contaminação por outro microrganismos e na
difuculdade de identificação de algumas amostras.
O meio mais empregado é o ágar Sabouraud dextrose, seu pH ácido (5,8) e
seu elvado teor de glicose que o torna mais seletivo para fungos. Deve ser acrescido de
antibióticos que inibem o crescimento desses microrganismos. O clorafenicol é dos
antibióticos mais utilizados devido à comodidade de seu uso, pois pode ser esterelizado
na autoclave com o meio e por seu largo espectro de ação. Quando se deseja impedir o
desenvolvimento de fungos não patogênicos, costuma-se incorporar cicloheximida (
actidione).
A técnica mais usada para fungos filamentosos é a da cultura em lâmina,
que consiste em semear o fungo, previamente isolado, na superfície de um bloco fino de
ágar colocado sobre um lâmina de microscopia, mantida em condições adequadas de
umidade, para evitar o dessecamento do ágar.
A atividade bioquímica dos fungos é geralmente estudada para
identificação de espécies de leveduras, pelo método de auxanograma, que permite
verificar a capacidade de o microrganismo utilizar açucares e outros nutrientes.
Certas enzimas podem ser pesquisadas em meios de cultura específicos e
caracterizam espécies de fungos, como a presença de uréase e fonoloxidase em C.
neoformans.
Testes intradérmicos – os testes intradérmicos são usados para pesquisar
o grau de sensibilização dos indivíduos aos antígenos fúngicos.
Pesquisa de anticorpos séricos – as mais difundidas são as de fixação de
complemento e de imunodifusão. Embora seu valor diagnóstico seja limitado, a
pesquisa de anticorpos séricos está indicada principalmente quando o exame
microscópico direto e sua cultura não revelam o fungo. Outras técnicas: imunodifusão
em ágar, ELISA e Western-blot.
AGENTES ANTIFÚNGICOS
Os fármacos utilizados na infecções fúngicas podem também ser tóxicos
pra as células do hospedeiro, devido à semelhança entre a célula fúngica e a humana.
No tratamento de micoses, devem ser cuidadosamente considerados os
seguintes aspectos: tipo de micose e seu agente etiológico, estado geral do paciente e os
antifúngicos, deve-se conhecer o seu mecanismo de ação, o espectro, as vias de
administração e os efeitos colaterais.
As drogas antifúngicas podem ser divididas em três categorias: aquelas que
alteram a membrana celular, as que atuam intracelularmente, interrompendo processos
celulares vitais ( síntese de DNA, RNA, proteína), novas drogas que agem na parede
celular, as equinocandinas, que são derivados semi-sintéticos da pneumocandina B0. As
mais utilizadas são os derivados poliênicos, imidazólicos, pirimidínicos, sulfamídicos,
benzofurânicos e outros compostos como iodetos, tiossulfatos, sulfetos e tolnaftatos.
Drogas que afetam a membrana celular
Derivados poliênicos – produzidos por várias espécies de Streptomyces,
altamente tóxicos para a membrana citoplasmática dos fungos, ligando-se a esta de
forma irreversível. Estas substâncias se combinam com esteróides da membrana,
rompendo-a ou tornando-a incapaz de efetuar suas funções normais, causando
alterações na permeabilidade celular e levando à perda de constituintes essenciais a
célula com o K+, açucares, proteínas, fosfatos inorgânicos, ácidos carboxílicos e ésteres
de fosfatos.
A sensibilidade de um organismo aos derivados poliênicos está
estreitamente relacionada com a presença de esteróis na sua membrana. Os dois
poliênicos mais utilizados são a anfotericina B e nistatina.
A anfotericina B foi isolado do Streptomyces nodosus, e é empregado no
tratamento de micoses profundas e apresenta grande espectro de ação.
A nistatina foi isolada do Streptomyces noursei e é empregada
principalmente na candidíase cutânea e mucocutânea.
Derivados imidazólicos – são potentes e específicos inibidores da síntese
das células fúngicas.
O clotrimazaol é ativo contra C. albincana, M. furfur, dermatófitos e
outros fungos. Utilizado apenas para uso tópico.
O miconazol tem ação efetiva no tratamento de várias infecções fúngicas,
especialmente em candidíase cutânea e sistêmica. Pode ser usado topicamente, oral e
endovenoso.
O cetoconazol importante do ponto de vista prático, pois é bem absorvido
pelo trato gastrointestinal. Utilizado via oral no tratamento de candidíases, micoses
profundas, das dermatofitoses e da pitiríase versicolor. Possui baixa toxicidade para o
homem e é mais ativo por via oral.
O itraconazol é um antifúngico triazólico de amplo espectro com boa
atividade, após a administração oral, em casos de dermatofitoses e candidíases.
O fluconazol e o voriconazol também são agentes triazólicos
administrados por via oral ou por via venosa. Utilizados especialmente nos casos de
candidíase e criptococose.
Drogas que atuam intracelularmente
Numerosas agentes que inibem processos vitais da célula fúngica são
conhecidos, mas, devido à sua toxicidade para o homem, não podem ser empregados
como medicamento. É o caso da cicloheximida ( actidione) que somente é utilizada em
meios de cultura.
A griseofulvina foi o fármaco de escolha para o tratamento das
dermatofitoses, especialmente nos quadros crônicos. É empregado por uso oral e o
tratamento varia de acordo coma forma clínica da micose.
Há sinergismo entre a atividade da 5-fluorocitosina e da anfotericina B.
esta associação é um dos melhores tratamentos para a meningite criptocócica.
Os iodetos podem ser considerados como compostos mais antigos
empregados no combate às infecções fúngicas. O iodeto de potássio é a droga de
escolha no tratamento da esporotricose.
Os derivados sufamídicos apresentam ação antifúngica e são utilizados
como arma terapêutica na paracoccidioidomicose.
Drogas que atuam na parede celular
A caspofungina (equinocandina) inibe a síntese da beta(1,3) – D-glucana,
um componente principal da parede celular do fungo, porém essa droga tem um
espectro de ação limitado.
Considerável progresso tem ocorrido na descoberta de novas drogas
antifúngicas, entretanto vários novos compostos tem demonstrado limitações, não se
conhecendo ainda uma droga ideal para o tratamento de micoses.
Testes de sensibilidade as drogas antifúngicas
Atualmente a técnica de escolha é a da microdiluição por sua maior
facilidade na preparação dos testes e escolha do CIM ( concentração inibitória mínima).
O EUCAST proveniente da escola européia, validado para leveduras fermentadoras,
realizado em placas de microdiluição, com leitura em espectofotômetro.
Alguns sistemas comerciais estão também disponíveis no mercado, como o
E-test (AB-Biodisk, Suécia). É o sistema que determina o CIM, e está adaptado a várias
drogas antifúngicas.
Técnicas moleculares aplicadas à micologia médica
Nas duas ultimas décadas, técnicas de biologia molecular vêm auxiliando
no diagnóstico, no estudo da epidemiologia e na taxonomia dos fungos.
O diagnóstico do agente etiológico das micoses é realizado por
microscopia direta e cultivo a partir dos espécimes de pacientes com posterior
caracterização e identificação dos isolados. Entretanto, por exemplo, as
hemoculturas oferecem pouca sensibilidade para detecção do agente infeccioso;
pois, quando as culturas se positivam, é tarde demais para a instituição de um regime
terapêutico adequado.
Como crescimento e identificação de fungos são etapas lentas, muitos
métodos tradicionais estão sendo substituídos por técnicas moleculares mais rápidas e
sensíveis. Sondas moleculares para o reconhecimento de fitas complementares de DNA
ou como iniciadores na reação em cadeia pela polimerase ( PCR) têm sido empregadas.
Várias são as metodologias empregadas para determinar o relacionamento
genéticos dos isolados, entretanto a eficiência destas dependerá da quantidade de DNA
extraído das amostras de fungos.
Polimorfismo de fragmentos de restrição de DNA ou RFLP ( Restriction Fragment Lenght Polimorfism) - consiste no fracionamento de DNA de
alto peso molecular, utilizando campos elétricos de orientação alternada.
Hibridação com sondas de DNA – os polimorfismos obtidos após a
digestão do DNA cromossômico no gel de agarose são transferidos para uma membrana
de nitrocelulose ou nylon utilizando a técnica de southern blot. Posteriormente, a
membrana será hibridizada com sonda específica de DNA, marcada radioativa ou não, e
permitindo detectar a distribuição desta sonda nos fragmentos, obtendo-se assim
polimorfismo.
Reação em cadeia de polimerase ou PCR - consiste na amplificação de
cópias de fragmentos de DNA utilizando como iniciadores da reação até dez
nucleotídeos de seqüencias repetitivas de diversos tamanhos até 125 pares de bases ou
seqüencias intergênicas.