microbiologia de trabulsi micologia parte 1

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3A 65 Características gerais dos fungos O fungos apresentam um conjunto de características que permitem sua diferenciação das plantas: não sintetizam clorofila nem qualquer pigmento fotossintético; não tem celulose na parede celular, e não armazenam amido como substância de reserva. A presença de substâncias quitinosas na parede da maior parte das espécies fúngicas e a capacidade de armazenar glicogênio os assemelham as células animais. Os fungos são ubíquos e participam ativamente do ciclo dos elementos na natureza. As dispersão dos fungos na natureza é feita por várias vias: animais, homem, insetos, água e, principalmente, pelo ar atmosférico, através dos ventos. Os fungos são seres eucarióticos com um só núcleo, como as leveduras, ou multinucleados, como os fungos filamentosos ou bolores e os cogumelos. Estrutura da célula fúngica Parede é uma estrutura rígida que protege a célula de choques osmóticos. A quitina é o principal componente estrutural do exoesqueleto de invertebrados e da parede celular fúngica. Nas leveduras, a quitina encontra-se em menor quantidade do que nos bolores e está restrita à área de blastoconidiação. Membrana citoplasmática atua como uma barreira semipermeável, no transporte ativo e passivo de materiais, para dentro e para fora da célula, sendo constituída de uma porção hidrofóbica e de uma porção hidrofílica. As membranas das células dos fungos tem em sua composição química esteróis, que não são encontrados nas células bacterianas. O esterol da membrana citoplasmática dos fungos é o ergosterol. Este esterol é um colesterol( nas células humanas). Essa diferença possibilitou um grande avanço na terapia das micoses, com a elaboração de antifúngicos sintéticos com toxicidade seletiva para a célula fúngica com atuação nas várias etapas da síntese do ergosterol. Núcleo contém o genoma fúngico. A membrana nuclear é de natureza lipídica e possui numerosos poros. Ribossomos são formados por duas subunidades, 60S e 40S, e partícula ribossomal completa tem 80S. Mitocôndria sítio de fosforilação oxidativa. Retículo endoplasmático é uma membrana em forma de rede que se encontra distribuída por toda a célula fúngica. Cápsula é importante na patogenia do Cryptococcus neoformans, dificultando a fagocitose. MORFOLOGIA E REPRODUÇÃO Colônias de dois tipos: leveduriformes e filamentosas. As colônias leveduriformes, em geral, são pastosas ou cremosas e caracterizam o grupo das leveduras, esses são unicelulares. Apresentam forma em geral arredondada ou ovalada. As colônias filamentosas, carecterísticas dos bolores, podem ser algodonosas, aveluadas, pulvurulentas, com os mais variados tipos de pigmentação. Apresentam elementos multicelulares em forma de tubos as hifas que podem ser não septada ( cenocítica) ou septadas.

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Page 1: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

3A

65 – Características gerais dos fungos

O fungos apresentam um conjunto de características que permitem sua

diferenciação das plantas: não sintetizam clorofila nem qualquer pigmento

fotossintético; não tem celulose na parede celular, e não armazenam amido como

substância de reserva. A presença de substâncias quitinosas na parede da maior parte

das espécies fúngicas e a capacidade de armazenar glicogênio os assemelham as células

animais.

Os fungos são ubíquos e participam ativamente do ciclo dos elementos na

natureza. As dispersão dos fungos na natureza é feita por várias vias: animais, homem,

insetos, água e, principalmente, pelo ar atmosférico, através dos ventos.

Os fungos são seres eucarióticos com um só núcleo, como as leveduras, ou

multinucleados, como os fungos filamentosos ou bolores e os cogumelos.

Estrutura da célula fúngica

Parede – é uma estrutura rígida que protege a célula de choques

osmóticos. A quitina é o principal componente estrutural do exoesqueleto de

invertebrados e da parede celular fúngica. Nas leveduras, a quitina encontra-se em

menor quantidade do que nos bolores e está restrita à área de blastoconidiação.

Membrana citoplasmática – atua como uma barreira semipermeável, no

transporte ativo e passivo de materiais, para dentro e para fora da célula, sendo

constituída de uma porção hidrofóbica e de uma porção hidrofílica. As membranas das

células dos fungos tem em sua composição química esteróis, que não são encontrados

nas células bacterianas. O esterol da membrana citoplasmática dos fungos é o

ergosterol. Este esterol é um colesterol( nas células humanas). Essa diferença

possibilitou um grande avanço na terapia das micoses, com a elaboração de antifúngicos

sintéticos com toxicidade seletiva para a célula fúngica com atuação nas várias etapas

da síntese do ergosterol.

Núcleo – contém o genoma fúngico. A membrana nuclear é de natureza

lipídica e possui numerosos poros.

Ribossomos – são formados por duas subunidades, 60S e 40S, e partícula

ribossomal completa tem 80S.

Mitocôndria – sítio de fosforilação oxidativa.

Retículo endoplasmático – é uma membrana em forma de rede que se

encontra distribuída por toda a célula fúngica.

Cápsula – é importante na patogenia do Cryptococcus neoformans,

dificultando a fagocitose.

MORFOLOGIA E REPRODUÇÃO

Colônias de dois tipos: leveduriformes e filamentosas.

As colônias leveduriformes, em geral, são pastosas ou cremosas e

caracterizam o grupo das leveduras, esses são unicelulares. Apresentam forma em geral

arredondada ou ovalada.

As colônias filamentosas, carecterísticas dos bolores, podem ser

algodonosas, aveluadas, pulvurulentas, com os mais variados tipos de pigmentação.

Apresentam elementos multicelulares em forma de tubos – as hifas – que podem ser não

septada ( cenocítica) ou septadas.

Page 2: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

Ao conjunto de hifas dá se o nome micélio. O micélio que se desenvolve

no interior do substrato é chamado micélio vegetativo. O micélio que se projeta na

superfície e cresce acima do meio de cultivo é o micélio aéreo.

O micélio aéreo vegetativo dos fungos filamentosos pode diferenciar-se

em determinados pontos e formar o micélio reprodutivo, onde são formados os esporos,

também chamados de propágulos, e que pode ter origem sexuada o assexuada. O

micélio reprodutivo é de importância fundamental na identificação morfológica da

maioria das espécies fúngicas.

Os conídios representam o modo mais comum de reprodução assexuada e

cumprem importante papel na dispersão dos fungos na natureza. As células que dão

origem aos conídios são células conidiogênicas. Os conídios podem ser hialinos ou

pigmentados e apresentam formas diferentes e são formados na extremidade dos

conidióforo.

Os artroconídios são formados por fragmentos de hifas em elementos

retangulares. Os clamidoconídios, estruturas de resistência, são células geralmente

arredondadas de volume aumentado com paredes duplas e espessas e são formados em

condições ambientais adversas.

Outras estruturas de resistência, os esclerotos ou esclerócios que são

corpúsculos duros e parequimatosos, formados por conjuntos de hifas e que

permanecem em estado de dormência até que condições adequadas permitam a sua

germinação. Os propágulos assexuados de fungos filamentosos que possuem hifas não-

septadas originam-se em estruturas denominadas esporângios. Pela ruptura dos

esporângios os esporos são liberados. A hifa especial que sustenta o esporângio é

denominada esporangióforo.

Os propágulos sexuados internos são chamados ascósporos e formam-se

no interior de estruturas denominadas ascos. Três tipos de ascposcarpos ( corpos de

frutificação são conhecidos): cleitotécio, peritécio e apotécio.

O cleiotécio é uma estrutura globosa, fechada, de parede formada pela

união de hifas. O peritécio é uma estrutura piriforme com um poro por onde são

eliminados os ascos. O apotécio é um ascocarpo aberto e com forma de cálice.

Os propágulos sexuados externos são denominados basidiósporos e

originam-se no ápice de uma célula fértil chamada basídio.

A reprodução sexuada entre os fungos contribui, através da recombinação

genética, para a variabilidade necessária ao aperfeiçoamento da espécie. Em geral, esses

fungos com reprodução sexuada produzem, em determinadas fazer de seu ciclo,

estruturas assexuadas, os conídios, que asseguram a sua disseminação. Essa

característica de mudança de tipo de reprodução reflete-se em características

morfológicas diferentes e o mesmo fungo recebe denominação diferntes. Por exemplo, o

fungo leveduriforme C. neoformans em sua fase sexuada é denominado Filobasidiella

neoformans.

A fase sexuada é denominada teleomórfica ou perfeita, a assexuada é

denominada anamórfica ou imperfeita.

A maior parte da leveduras reproduz-se assexuadamente. No processo de

brotamento, a célula mãe origina uma gêmula, o blastoconídio, que cresce e recebe um

núcleo após a divisão do núcleo da célula-mae. Na fissão binária, a célula-mãe divide-se

em duas células de tamanhos iguais.

NUTRIÇÃO, CRESCIMENTO E METABOLISMO

Page 3: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

Em sua maioria são aeróbios obrigatórios, com excessão de certas

leveduras fermentadoras anaeróbias facultativas.

Os fungos absorvem oxigênio e desprendem anidrido carbônico durante

seu metabolismo oxidativo. Alguns fungos podem germinar muito lentamente em meio

com pouco oxigênio. O crescimento vegetativo e a reprodução assexuada ocorrem

nessas condições, enquanto a reprodução sexuada se efetua apenas em atmosfera rica

em oxigênio.

Devido à ausência de clorofila, os fungos para se nutrirem, necessitam de

substâncias orgânicas que eles próprios são incapazes de elaborar. Assim, são obrigados

a viver em estado de saprofitismo, parasitismo ou simbiose.

Os saprófitas utilizam substâncias orgânicas inertes, muitas delas em

decomposição. Os parasitas se desenvolvem em outros organismos vivos. Os simbiontes

associam-se com outros organismos.

A nutrição da maioria dos fungos dá-se por absorção, processo no qual

enzimas adequadas hidrolisam macromoléculas, tornando-as assimiláveis através de

mecanismos de transporte.

Para o desenvolvimento, os fungos exigem, de preferência carboidratos

simples como a D-glicose. Entretanto, outros açucares como sacarose, maltose e fontes

de carbono mais complexas como amido e celulose podem também ser utilizadas.

Atualmente, de maneira geral, é sabido que as necessidades de crescimento

dos fungos devem ser expressas em referência à atividade de água ( Aa) do substrato.

Este fato está relacionado à quantidade de água disponível para que os microrganismos

se desenvolvam e realizem suas funções metabólicas.

Os valores da atividade de água oscilam entre 0 e 1. a medida que uma

solução se concentra, a pressão de vapor e a atividade de água diminui.

A atividade de água mínima para o crescimento da maioria dos fungos,

principalmente os contaminantes de alimentos, é na faixa de 0.80; abaixo de 0,60 de

atividade de água, os fungos em geral não se reproduzem.

Os fungos de importância médica, em geral, são mesófilos, apresentando

temperatura ótima entre 20°C e 30°C.

O fenômeno de variação morfológica mais importante em micologia

médica é o dimorfismo fúngico, que se expressa por um crescimento micelial entre

22°C e 28°C e leveduriforme entre 33 e 37°C.

A forma micelial ou saprofítica é a forma infectante e está presente no

solo, nas plantas, etc. A forma leveduriforme ou parasitária é encontrada nos tecidos e

in vitro em meios enriquecidos a 37°C. Na Candida albicans, a forma saprofítica

infectante é a leveduriforme e a forma parasitária, isolada dos tecidos, é a micelial.

O pleomorfismo nos dermatófitos expressa-se pela perda das estruturas de

reprodução ou conídios, com variações morfológicas das colônias. Essas estruturas

podem ser recuperadas nos retrocultivos, após inoculações em animais de laboratório ou

em meios enriquecidos com terra.

Um pH em torno de 5,6 é ótimo para o desenvolvimento deles. Os fungos

filamentosos podem crescer em ampla faixa de pH variando de 1,5 a 11. As leveduras

não toleram pH alcalino. A pigmentação dos cultivos, muitas vezes, está relacionada

com o pH do substrato.

No desenvolvimento vegetativo, os fungos preferem obscuridade ou luz

difusa, e no desenvolvimento da parte reprodutiva , procuram a luz para a sua formação.

A luz solar direta, geralmente, é um fator fungicida, devido às radiações ultravioletas.

O antagonismo ativo ocorre quando há inibição por contato ou inibição de

crescimento pela produção de antibióticos, ácidos, etc. No antagonismo passivo não há

Page 4: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

inibição de um microrganismo pelo outro, ocorrendo a competição por espaço ou por

nutrientes essenciais. Por sua vez, nas interações sinérgicas há o favorecimento de um

ou ambos os microrganismos que colonizam o mesmo substrato.

Com a finalidade de impedir o crescimento bacteriano, o qual pode inibir

ou se sobrepor ao do fungo, é necessário incorporar aos meios de cultura antibacterianos

de largo espectro, como o clorafenicol. Também se pode acrescentar cicloheximida para

diminuir o crescimento de fungos saprófitas contaminantes dos cutivos.

TAXONOMIA DOS FUNGOS

Os fungos são atualmente enquadrados em três reinos distintos: Chromista,

Fungi e Protozoa.

O reino Chromista abange microrganismos unicelulares com parede

celular sem quitina e beta glucanas, mas contendo celulose., Phytim insidiosum e

Rhinosporidium seeberi, organismos hidrofílicos.

Os fungos patogênicos e oportunistas mais importantes estão distribuídos

em três filos do reino Fungi: Zygomycota, Basidiomycota, Ascomycota e no grupo dos

Deuteromycetes.

Filo Ascomycota

Agrupa fungos de hifas septadas e sua principal características é o asco,

estrutura em forma de bolsa ou saco, no interior do qual são produzidos os ascósporos,

esporos sexuados.

Filo Basidiomycota

Fungos superiores ou cogumelos comestíveis. Apresentam hifas septadas e

são caracterizados pela produção de esporos sexuados extremos, os basidiósporos. A

classe Teliomycetes contém a espécie patogênica mais importante, Filobasidiela

neoformans.

Filo Zygomycota

Fungos de micélio cenocítico. A reprodução pode ser sexuada pela

formação de zigosporos e assexuada com a produção de esporos, os esporangiosporos,

no interior de esporângios.

A classe Zygomytes contém fungos de interesse médico, encontrados nas

ordens Mucorales e Entomophtorales.

Deuteromycetes ( Fungos Mitospóricos)

Todos os fungos que não têm conexão com Ascomycetes e Basidiomycetes

são incluídos no grupo artificial dos Deuteromycetes. Outros termos como fungos

imperfeitos, fungos assexuados e fungos conidiais têm sido usados para designar esses

organismos.

A grande maioria dos fungos desse grupo tem hábitat no solo e são os

principais componentes da microbiota atmosférica.

Fungos patogênicos e oportunistas, em sua maioria estão, no grupo dos

Deuteromycetes, entre as classes Blastomycetes, Coelomycetes e Hyphomycetes.

Page 5: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

Filo Oomycota

Nos filos Oomycota e Hyphochytriomycota, que pertencem ao reino

Chromista , são conhecidos Rhinosporidium seeberi e Pythium insidiosum, de relativa

importância em micologia médica.

ECOLOGIA

Hábitat

O solo é o grande hábitat dos fungos, onde atuam na ciclagem dos

elementos na natureza. Além disso, grande parte dos fungos patogênicos vive no solo e

algumas micoses que acometem o homem e outros animais são adquiridas em contato

com o solo.

Alguns fungos tem os vegetais como hospedeiros exclusivos somente

conseguindo se multiplicar em contato com eles. Hemileia vastathrix, fungo da

ferrugem do café é um exemplo típico desse grupo de fungos. Outros fungos pode ter

uma associação mutualística com raízes de vegetais e o conjunto é denominado

micorriza.

O meio aquático aquático também se constitui num hábitat para alguns

grupos de fungos, como vários representantes da subdivisão Matigomycotina.

Alguns fungos fazem parte da microbiota endógena ou transitória do

homem e de outros animais.

VIAS DE DISPERSÃO

A eficiência na dispersão está relacionada à alta produção de propágulos de

disseminação, sendo os mais importantes os esporos, principalmente os de origem

assexuada, que são formados em grande quantidade nesse processo. Além dos esporos,

fragmentos de micélio vegetativo ou outras estruturas fúngicas podem também se

constituir em propágulos de disseminação dos fungos. Essa dispersão é feita através de

várias vias como ar atmosférico, água, insetos, homem e animais.

Os fungos especializados na dispersão pelo ar atmosférico são também

chamados de anemófilos e, além de serem importantes como bioteriorantes de

substratos diversos, são estudados em Medicina como importantes agentes de alergias

respiratórias, como asma brônquica e rinites alérgicas.

A água, além de ter fungos aquáticos, serve também de via de dispersão a

fungos de outros habitas.

O homem e outros animais são também agentes de disseminação do

fungos, sendo vários os exemplos de introdução de doenças de plantas pelo transporte

de culturas infectadas pra uma determinada região.

Além dessas vias, os insetos também são grandes dispersores de fungos.

66 – Características gerais das Micoses

Três tipos de doença humana estão associados a elementos fúngicos ou a

seus produtos metabólicos: alérgicas, tóxicas e infecciosas.

A doença alérgica é causada pela interação de um hospedeiro

sensibilizado, com antígenos fúngicos, imunologicamente reativos.

Page 6: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

A doença toxigênica pode ser provocada pela ingestão de alimentos

contaminados com fungos microscópicos, produtores de micotoxinas – a micotoxicoses

– ou pela ingestão de fungos macroscópicos venenosos – micetismos.

A doença infecciosa é aquela em que o agente possui propriedade de agir

como patógeno primário ou oportunista, exemplo: paracoccidiodomicose, candidíases.

As micoses superficiais compreendem as micoses superficiais estritas, as

dermatofitoses, as hialo-hifomicoses e feo-hifomicoses e as micoses mucocutânea ou

leveduroses.

As micoses superficiais estritas atingem as camadas mais superficiais da

pele ou do pêlo. As dermatofitoses atingem pele, pêlo ou unhas e são causadas por

fungos queratinofílicos, os dermatófitos. As hialo-hifomicoses e feo-hifomicoses se

localizam na pele, unha ou mucosas e são produzidas por fungos filamentosos não

dermatófitos. As leveduroses ou micoses mucocutâneas são produzidas por leveduras,

tendo origem endógena ( microbiota normal do hospedeiro) ou exógena ( quando

transmitida por outros indivíduos).

As micoses subcutâneas adquiridas por traumatismos com materiais

contaminados e por picadas de inseto e mordeduras de animais. Fungos isolados desse

tipo de de micose são comumente isolados do solo ou de vegetais.

As micoses sistêmicas são originadas principalmente pela inalação de

propágulos fúngicos levados do solo pelos ventos. C. neoformanas e H. capsulatum

pode ser veiculados de fezes de pombos e morcegos respectivamente.

As micoses oportunísticas atingem os pacientes imunocomprometidos por

doença de base, como câncer, diabetes, ou aqueles que são submetidos a tratamentos co

uso de corticoidoterapia, imunossupressores e antibioticoterapia.

Em geral, as micoses do tipo subcutâneo são esporádicas. Há ocorrências

de endemias onde o fungo é mais frenquentemente isolado. Microepidemias quando

indivíduos visitam cavernas habitadas por morcegos. Epidemias do couro cabeludo em

alunos de escola.

Idade, sexo e raça desempenham papel importante na freqüência de certas

micoses. A paracoccidioidomicose e a cromoblastomicose são comuns em indivíduos

adultos do sexo masculino. A atividade profissional influi na incidência de certas

micoses que são conhecidas como doenças profissionais. O tamanho da forma infectante

do fungo é importante. Partículas maiores que 10 micrometros só alcanças as vias aéreas

superiores, causando rinite. Partículas de 5 a 10 micrometros atingem os brônquios e

são responsáveis por quadros asmáticos, e as menores que 5 micrometros podem

alcançar os alvéolos.

A quantidade do inoculo também é importante, principalmente na

aquisição das micoses sistêmicas. Medidas preventivas são importantes e dependem do

tipo de micose. Máscaras ao visitar grutas de morcegos pode previnir infecção por H.

capsulatum; o uso de roupas e sapatos cobrindo partes descobertas do corpo evita o

traumatismo.

A fim de diminuir a infecção fúngica hospitalar, medidas preventivas,

como uso de filtros, higiene local e assepsia adequada do pessoal médico e paramédico,

são preconizadas.

MECANISMO DE DEFESA DO HOSPEDEIRO

Os mecanismos de defesa do hospedeiro contra infecção por fungos pode

ser inespecíficos e específicos.

Page 7: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

Inespecíficos – pele, membranas mucosas e sistema inflamatório não-

específico.

A pele é considerada um grande órgão imunológico. A pele normal é, na

verdade, um barreira efetiva contra a colonização da maioria dos fungos, por ser uma

barreira física e por secretar ácidos graxos saturados com propriedades antifúngicas.

A integridade da pele e seu baixo teor de umidade são responsáveis pela

resistência natural a muitas infecções. Como a aderência é o estágio inicial no processo

invasivo dos fungos, a pele resiste a esta por vários mecanismos, como produção de

muco, competição com outros microrganismos e descamação das células epiteliais.

Específicos – o sistema imune específico consiste em macrófagos,

linfócitos, células do plasma e seus produtos, como as linfocinas e anticorpos. A

resposta imune se caracteriza pela produção de anticorpos específicos que reagem

contra os antígenos do fungo invasivo. Elevados títulos de anticorpos podem impedir o

desenvolvimento da imunidade celular. No entanto, em certas infecções, os anticorpos

são protetores.

PATOGENICIDADE DOS FUNGOS

Como possíveis fatores citam-se a variabilidade fenotípica, a aderência nos

tecidos do hospedeiro e a produção de toxinas e enzimas.

Para C.albicans, a sequência seria iniciada pela aderência a células

epiteliais da pele ou mucosas, seguida da multiplicação da levedura, com formação

posterior de tubo germinativo e filamentação. A produção de exoenzimas, proteinase e

fosfolipase permitiria a penetração da levedura nas células, ocasionando resposta

inflamatória, como ocorre nos tecidos.

Com relação a C. neoformans, sabe-se que a cápsula exerce ação protetora

deste contra fagocitose. O fungo tema capacidade de produzir a enzima uréase, que

hidrolisa a uréia, levando à produção de amônia, que inativa o complemento facilitando

a sua proliferação. Esta levedura produz também a enzima fenol-oxidase, relacionada

com a sua patogenicidade.

A existência da alfa 1,3 glucana na parede celular da fase leveduriforme de

Paracoccidioides brasiliensis foi considerada fator importante na virulência do fungo.

Nos dermatófitos, as atividades das queratinases, elastases e sulfitase são importantes na

implantação da micose.

DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO DAS MICOSES

Verificação do fungo no material clínico, em preparações microscópicas,

em exame histopatológico e em cultivos complementados por provas indiretas, como

testes intradérmicos, pesquisa de anticorpos séricos e de antígenos circulantes. Na

grande maioria dos casos clínicos, o método mais empregado é o da microscopia direta.

Na micoses superficiais e cutâneas, são coletados principalmente pêlos,

escamas de pele ou de uma. Nas micoses subcutâneas, o material inclui secreções, pus,

sangue, enquanto nas micoses profundas são examinados, por exemplo, escarro, fezes,

urina e líquido cefalorraquidiano.

Exame microscópico direto

Page 8: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

É o método mais usado no diagnóstico de rotina das micoses. De modo

geral, o material a ser examinado é submetido à clarificação por solução de hidróxido de

potássio a 10 a 20%, acrescido de tinta Parker 51 permanente, na proporção de 2:1 e

aquecimento discreto.

Quando houver suspeita de infecção por C. neoformans, deve-se misturar

ao material clínico, geralmente escarro ou liquor, uma gota de tinta Nankin, pois essa

técnica permita a visualização da célula fúngica cora e da cápsula sem coloração. As

técnicas de coloração são bastante úteis, como a de Giemsa, na identificação do H.

capsulatum.

O exame microscópico direto é uma técnica de baixo custo, eficaz e

reprodutível, exigindo, porém, profissional técnico treinado.

Imunofluorescência – pode ser recomendada para a demonstração de

alguns fungos em cortes de tecidos e secreções. É usado, por exemplo, na diferenciação

das formas pequenas de P. brasiliensis e H. capsulatum. Podem ser identificados

também C.neoformnas, S. scheckii, C.immitis e C.albicans.

Corantes vitais – a avaliação da viabilidade de células fúngicas em

materiasis clínicos tem sido baseada, até o presente momento, no emprego de corantes

vitais ou, mais frequentemente, no cultivo em meios apropriados.

Comparativamente ao cultivo, os corantes vitais demonstram maior

rapidez, revelando-se importante indicador da viabilidade fúngica.

Biópsia – é bastante usado para diagnóstico das micoses subcutâneas e

sistêmicas. A biópsia é imprescindível no diagnóstico de certas micoses, com ao

rinosporidiose e a lobomicose, em que ser agentes etiológicos não foram cultivados.

Cultura e identificação

A cultura dos fungos é, em geral, imprescindível para o diagnóstico

específico da maior parte dos fungos. As dificuldades desta técnica residem na

crescimento lento de muitos agente, na contaminação por outro microrganismos e na

difuculdade de identificação de algumas amostras.

O meio mais empregado é o ágar Sabouraud dextrose, seu pH ácido (5,8) e

seu elvado teor de glicose que o torna mais seletivo para fungos. Deve ser acrescido de

antibióticos que inibem o crescimento desses microrganismos. O clorafenicol é dos

antibióticos mais utilizados devido à comodidade de seu uso, pois pode ser esterelizado

na autoclave com o meio e por seu largo espectro de ação. Quando se deseja impedir o

desenvolvimento de fungos não patogênicos, costuma-se incorporar cicloheximida (

actidione).

A técnica mais usada para fungos filamentosos é a da cultura em lâmina,

que consiste em semear o fungo, previamente isolado, na superfície de um bloco fino de

ágar colocado sobre um lâmina de microscopia, mantida em condições adequadas de

umidade, para evitar o dessecamento do ágar.

A atividade bioquímica dos fungos é geralmente estudada para

identificação de espécies de leveduras, pelo método de auxanograma, que permite

verificar a capacidade de o microrganismo utilizar açucares e outros nutrientes.

Certas enzimas podem ser pesquisadas em meios de cultura específicos e

caracterizam espécies de fungos, como a presença de uréase e fonoloxidase em C.

neoformans.

Page 9: Microbiologia de trabulsi   micologia parte 1

Testes intradérmicos – os testes intradérmicos são usados para pesquisar

o grau de sensibilização dos indivíduos aos antígenos fúngicos.

Pesquisa de anticorpos séricos – as mais difundidas são as de fixação de

complemento e de imunodifusão. Embora seu valor diagnóstico seja limitado, a

pesquisa de anticorpos séricos está indicada principalmente quando o exame

microscópico direto e sua cultura não revelam o fungo. Outras técnicas: imunodifusão

em ágar, ELISA e Western-blot.

AGENTES ANTIFÚNGICOS

Os fármacos utilizados na infecções fúngicas podem também ser tóxicos

pra as células do hospedeiro, devido à semelhança entre a célula fúngica e a humana.

No tratamento de micoses, devem ser cuidadosamente considerados os

seguintes aspectos: tipo de micose e seu agente etiológico, estado geral do paciente e os

antifúngicos, deve-se conhecer o seu mecanismo de ação, o espectro, as vias de

administração e os efeitos colaterais.

As drogas antifúngicas podem ser divididas em três categorias: aquelas que

alteram a membrana celular, as que atuam intracelularmente, interrompendo processos

celulares vitais ( síntese de DNA, RNA, proteína), novas drogas que agem na parede

celular, as equinocandinas, que são derivados semi-sintéticos da pneumocandina B0. As

mais utilizadas são os derivados poliênicos, imidazólicos, pirimidínicos, sulfamídicos,

benzofurânicos e outros compostos como iodetos, tiossulfatos, sulfetos e tolnaftatos.

Drogas que afetam a membrana celular

Derivados poliênicos – produzidos por várias espécies de Streptomyces,

altamente tóxicos para a membrana citoplasmática dos fungos, ligando-se a esta de

forma irreversível. Estas substâncias se combinam com esteróides da membrana,

rompendo-a ou tornando-a incapaz de efetuar suas funções normais, causando

alterações na permeabilidade celular e levando à perda de constituintes essenciais a

célula com o K+, açucares, proteínas, fosfatos inorgânicos, ácidos carboxílicos e ésteres

de fosfatos.

A sensibilidade de um organismo aos derivados poliênicos está

estreitamente relacionada com a presença de esteróis na sua membrana. Os dois

poliênicos mais utilizados são a anfotericina B e nistatina.

A anfotericina B foi isolado do Streptomyces nodosus, e é empregado no

tratamento de micoses profundas e apresenta grande espectro de ação.

A nistatina foi isolada do Streptomyces noursei e é empregada

principalmente na candidíase cutânea e mucocutânea.

Derivados imidazólicos – são potentes e específicos inibidores da síntese

das células fúngicas.

O clotrimazaol é ativo contra C. albincana, M. furfur, dermatófitos e

outros fungos. Utilizado apenas para uso tópico.

O miconazol tem ação efetiva no tratamento de várias infecções fúngicas,

especialmente em candidíase cutânea e sistêmica. Pode ser usado topicamente, oral e

endovenoso.

O cetoconazol importante do ponto de vista prático, pois é bem absorvido

pelo trato gastrointestinal. Utilizado via oral no tratamento de candidíases, micoses

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profundas, das dermatofitoses e da pitiríase versicolor. Possui baixa toxicidade para o

homem e é mais ativo por via oral.

O itraconazol é um antifúngico triazólico de amplo espectro com boa

atividade, após a administração oral, em casos de dermatofitoses e candidíases.

O fluconazol e o voriconazol também são agentes triazólicos

administrados por via oral ou por via venosa. Utilizados especialmente nos casos de

candidíase e criptococose.

Drogas que atuam intracelularmente

Numerosas agentes que inibem processos vitais da célula fúngica são

conhecidos, mas, devido à sua toxicidade para o homem, não podem ser empregados

como medicamento. É o caso da cicloheximida ( actidione) que somente é utilizada em

meios de cultura.

A griseofulvina foi o fármaco de escolha para o tratamento das

dermatofitoses, especialmente nos quadros crônicos. É empregado por uso oral e o

tratamento varia de acordo coma forma clínica da micose.

Há sinergismo entre a atividade da 5-fluorocitosina e da anfotericina B.

esta associação é um dos melhores tratamentos para a meningite criptocócica.

Os iodetos podem ser considerados como compostos mais antigos

empregados no combate às infecções fúngicas. O iodeto de potássio é a droga de

escolha no tratamento da esporotricose.

Os derivados sufamídicos apresentam ação antifúngica e são utilizados

como arma terapêutica na paracoccidioidomicose.

Drogas que atuam na parede celular

A caspofungina (equinocandina) inibe a síntese da beta(1,3) – D-glucana,

um componente principal da parede celular do fungo, porém essa droga tem um

espectro de ação limitado.

Considerável progresso tem ocorrido na descoberta de novas drogas

antifúngicas, entretanto vários novos compostos tem demonstrado limitações, não se

conhecendo ainda uma droga ideal para o tratamento de micoses.

Testes de sensibilidade as drogas antifúngicas

Atualmente a técnica de escolha é a da microdiluição por sua maior

facilidade na preparação dos testes e escolha do CIM ( concentração inibitória mínima).

O EUCAST proveniente da escola européia, validado para leveduras fermentadoras,

realizado em placas de microdiluição, com leitura em espectofotômetro.

Alguns sistemas comerciais estão também disponíveis no mercado, como o

E-test (AB-Biodisk, Suécia). É o sistema que determina o CIM, e está adaptado a várias

drogas antifúngicas.

Técnicas moleculares aplicadas à micologia médica

Nas duas ultimas décadas, técnicas de biologia molecular vêm auxiliando

no diagnóstico, no estudo da epidemiologia e na taxonomia dos fungos.

O diagnóstico do agente etiológico das micoses é realizado por

microscopia direta e cultivo a partir dos espécimes de pacientes com posterior

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caracterização e identificação dos isolados. Entretanto, por exemplo, as

hemoculturas oferecem pouca sensibilidade para detecção do agente infeccioso;

pois, quando as culturas se positivam, é tarde demais para a instituição de um regime

terapêutico adequado.

Como crescimento e identificação de fungos são etapas lentas, muitos

métodos tradicionais estão sendo substituídos por técnicas moleculares mais rápidas e

sensíveis. Sondas moleculares para o reconhecimento de fitas complementares de DNA

ou como iniciadores na reação em cadeia pela polimerase ( PCR) têm sido empregadas.

Várias são as metodologias empregadas para determinar o relacionamento

genéticos dos isolados, entretanto a eficiência destas dependerá da quantidade de DNA

extraído das amostras de fungos.

Polimorfismo de fragmentos de restrição de DNA ou RFLP ( Restriction Fragment Lenght Polimorfism) - consiste no fracionamento de DNA de

alto peso molecular, utilizando campos elétricos de orientação alternada.

Hibridação com sondas de DNA – os polimorfismos obtidos após a

digestão do DNA cromossômico no gel de agarose são transferidos para uma membrana

de nitrocelulose ou nylon utilizando a técnica de southern blot. Posteriormente, a

membrana será hibridizada com sonda específica de DNA, marcada radioativa ou não, e

permitindo detectar a distribuição desta sonda nos fragmentos, obtendo-se assim

polimorfismo.

Reação em cadeia de polimerase ou PCR - consiste na amplificação de

cópias de fragmentos de DNA utilizando como iniciadores da reação até dez

nucleotídeos de seqüencias repetitivas de diversos tamanhos até 125 pares de bases ou

seqüencias intergênicas.