microbiologia aplicada parte i
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Microbiologia Aplicada – Prof. Amanda Fraga
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1. Introdução À Microbiologia
Quando você pensa em microbiologia, talvez pense em germes e ouça a voz de
sua mãe chamando lá da época da sua infância. “Não coloque isso na boca. Você não
sabe por onde isso andou, pode estar cheio de germes!” Quando você pensa em
microbiologia, provavelmente NÃO pensa no nosso planeta Terra girando no espaço.
Mas você deveria.
Sem os micróbios, a Terra como a conhecemos não existiria, e nem você. Os
micróbios são importantes em praticamente todos os aspectos da vida humana. Não é
possível você comer um hambúrguer, sentar-se em uma banheira de água quente, ou
mesmo escovar os seus dentes sem encontrar micróbios. Eles estão em toda parte, sobre
o seu corpo e à sua volta. Estão até mesmo nesta página. No entanto, nem todos são
danosos; muitos deles, na verdade, melhoram a qualidade da vida na Terra.
Por Que Estudar Microbiologia?
Os micróbios (bactérias, vírus, fungos, protozoários e algumas algas) vivem em
nós, sobre nós e em quase todos os lugares à nossa volta. Eles têm uma grande
importância em nossa saúde e no meio ambiente. Eles representam um papel importante
em muitos dos alimentos que comemos e nos medicamentos que tomamos.
Os micróbios têm uma importância fundamental na Saúde dos seres humanos
Embora menos de 1% dos micróbios causem doenças (micróbios patogênicos), o
conhecimento de como eles causam as doenças e como elas são transmitidas, bem como
descobrir como essas doenças podem ser tratadas, é de grande importância para o nosso
bem-estar como espécie.
Os micróbios ajudam a manter o equilíbrio da natureza
Muitos microrganismos aquáticos captam a energia da luz do sol e a armazenam
em moléculas que os outros organismos utilizam como alimento. Os microrganismos
decompõem organismos mortos e produtos da excreção dos seres vivos e podem
também decompor algumas espécies de resíduos industriais. Através desta
decomposição, eles produzem o nitrogênio acessível às plantas. Alguns microrganismos
residem no trato digestivo de animais herbívoros e desempenham um importante papel
na capacidade destes animais para digerir a grama.
Os microrganismos são essenciais a muitos esforços do ser humano
As reações bioquímicas realizadas pelos microrganismos têm sido aproveitadas
pelo homem para vários propósitos. Indústrias de alimentos utilizam estas reações no
preparo de alguns produtos. As reações de fermentação são utilizadas na fabricação da
cerveja, do vinho e também na preparação de pão. Um dos benefícios mais
significativos que os microrganismos fornecem é a sua capacidade de sintetizar
antibióticos.
Os microrganismos são especialmente atraentes para muitos pesquisadores
porque:
Comparados a outros organismos, os microrganimos têm estruturas
relativamente simples. É mais fácil estudar a maioria dos processos vitais em
organismos unicelulares simples do que em organismos multicelulares complexos. Um
grande número de microrganismos pode ser usado em um experimento para se
conseguirem resultados estatísticos confiáveis, a um custo razoável. O crescimento de
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um bilhão de bactérias custa menos do que a manutenção de dez ratos. Pelo fato de os
microrganismos se reproduzirem muito rapidamente, eles são especialmente úteis para
os estudos envolvendo a transferência de informação genética. Algumas bactérias
podem sofrer três divisões celulares em uma hora, de modo que os efeitos da
transferência dos genes podem ser rapidamente acompanhados através de muitas
gerações.
A microbiologia é o estudo dos microrganismos, organismos tão pequenos que
um microscópio se faz necessário para estudá-los. Os principais grupos de organismos
estudados na microbiologia são as bactérias, as algas, os fungos, os vírus e os
protozoários. Todos estão abundantemente distribuídos na natureza. A maioria dos
microrganismos possui uma única célula. Os vírus, entidades acelulares minúsculas
situadas entre os seres vivos e a matéria não-viva, comportam-se como seres vivos
quando conseguem penetrar nas células.
Todos os sistemas biológicos têm as seguintes características comuns: 1)
habilidade de reprodução; 2) capacidade de ingestão ou assimilação de substâncias
alimentares, metabolizando-as para suas necessidades de energia e de crescimento; 3)
habilidade de excreção de produtos de escória; 4) capacidade de reagir a alterações do
meio ambiente (algumas vezes chamada de "irritabilidade"), e 5) suscetibilidade à
mutação.
Os princípios da Biologia podem ser demonstrados através do estudo da
Microbiologia, pois os microrganismos têm muitas características que os tornam
instrumentos ideais para a pesquisa dos fenômenos biológicos. Os microrganismos
fornecem sistemas específicos para a investigação das reações fisiológicas, genéticas e
bioquímicas, que são a base da vida. Eles podem crescer, de maneira conveniente, em
tubos de ensaio ou frascos, exigindo, assim, menos espaço e cuidados de manutenção do
que as plantas superiores e os animais. Além disso, crescem rapidamente e se
reproduzem num ritmo muito alto; algumas espécies bacterianas demonstram quase 100
gerações num período de 24 horas. Os processos metabólicos dos microrganismos
seguem os padrões que ocorrem nos vegetais superiores e nos animais..
A vista humana é incapaz de perceber objetos com diâmetro inferior a cerca
de 0,1 milímetro. As células vivas, unidades biológicas da estrutura e função, estão
quase sempre bem abaixo desse limite de tamanho. Portanto, os menores organismos,
aqueles constituídos de uma só célula, são na maioria, invisíveis a vista humana
desarmada. Por esta razão, a própria existência do mundo microbiano só foi
reconhecida pelo homem quando, do progresso da tecnologia científica, resultou a
invenção de microscópios, - instrumentos óticos que servem para ampliar objetos
próximos tão pequenos que não podem ser vistos nitidamente pelo olho desarmado, seja
qual for à proximidade em que sejam colocados. O microscópio foi inventado no início
do século dezessete, desvendando assim, a exploração científica, o reino dos
infinitamente pequenos.
1.1 Posição dos microrganismos no mundo vivo
A Microbiologia estuda alguns organismos que são predominantemente
semelhantes ao vegetais , outros que são similares aos animais e, um terceiro grupo que
tem características aos animais e vegetais. Visto que não existem organismos que não
pertencem, naturalmente, a nenhum destes dois reinos, foi proposta a criação de novos
reinos que os pudessem incluir.
Uma dessas primeiras proposições foi feita em 1866 pelo zoólogo alemão E. H.
Haeckel. Este autor sugeriu que um terceiro reino incluísse os microrganismos que,
tipicamente não poderiam ser classificados como vegetais ou animais. Esses organismos
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foram chamados de protistas e colocados no reino Protista, constituído unicamente por
seres unicelulares. Assim, ao se falar de modo geral em protistas, compreendem-se
bactérias, algas, fungos e protozoários, excluindo-se os vírus que não são organismos
celulares. Mediante os progressos do conhecimento da ultra-estrutura celular, os
microrganismos puderam ser divididos em duas categorias: procariotos e eucariotos.
Esta divisão baseia-se nas diferenças de organização da maquinaria celular. As
algas azuis (cianofíceas) e as bactérias são organismos procariotos. Entre os
microrganismos eucariotos estão os protozoários, os fungos e as demais algas (as
células animais e vegetais são, também eucarióticas). Os vírus, isolados entre os
microrganismos, são deixados de lado neste esquema de organização celular.
Um outro sistema de classificação, o sistema dos cinco reinos, foi proposto por
Robert H. Whittaker (1969), baseado no modo pelo qual o organismo obtém nutrientes
de sua alimentação. Este sistema é, agora, amplamente aceito porque considera relações
evolutivas e é compatível com os recentes estudos bioquímicos, genéticos e
ultraestruturais, os quais sugerem que a endossimbiose (viver junto, um no interior do
outro) hereditária levou até a célula eucariótica, tal como ela é conhecida, a partir de
uma variedade de unidades procarióticas, desenvolvendo-se desde um ancestral
procariótico comum.
Os microrganismos, portanto, são encontrados em três dos cinco reinos: reino
Monera (bactérias e cianobactérias), reino Protista (algas microscópicas e protozoários)
e reino Fungi (leveduras e bolores). Até 1977, a idéia prevalecente era de que os
organismos procariotos, por causa da sua simplicidade estrutural, eram os ancestrais de
eucariotos mais complexos. Com as pesquisas de Carl Woese e seus colaboradores,
ficou comprovado que os procariotos e eucariotos evoluíram por vias completamente
diferentes a partir de uma forma ancestral comum, como mostra a figura 1. Estes
pesquisadores utilizaram uma técnica que compara o arranjo nucleotídico do RNAr
entre diferentes organismos. Por exemplo, se as sequências de ribonucleotídeos de 2
tipos de organismos diferem em grande extensão, a relação entre ambos é muito
distante; ou seja, os organismos divergiram há muito tempo de um ancestral comum.
Porém, se as sequências mostram mais similaridades, os organismos estão intimamente
relacionados e têm um ancestral comum relativamente recente. Os eucariotos possuem
um tipo geral de sequência e os procariotos, um segunto tipo. Dentre os procariotos,
alguns têm um terceiro tipo de sequência, que difere dos anteriores. Com isso, concluiu-
se que há 2 tipos principais de bactérias, designadas de arqueobactérias e eubactérias.
A figura 1 mostra um esquema das vias pelas quais os organismos vivos
evoluíram, como deduzido através de estudos comparativos e RNA ribossômico.
Figura 1. Representação das vias pelas quais os organismos vivos evoluíram, como deduzido
através de estudos comparativos.
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1.2 Distribuição dos Microrganismos na Natureza
Os microrganismos se encontram em praticamente todos os lugares da natureza.
São transportados por correntes aéreas desde a superfície da Terra até as camadas
superiores da atmosfera. Mesmo os microrganismos típicos dos oceanos podem ser
achados a muitos quilômetros de distância, no alto de montanhas. São encontrados em
sedimentos no fundo do mar, em grandes profundidades. São carregados por correntes
fluviais e até mares; e, se dejetos humanos contendo bactérias patogênicas forem
despejados em correntes de água, a doença pode disseminar-se de um lugar para outro.
Os microrganismos ocorrem mais abundantemente onde puderem encontrar
alimentos, umidade e temperatura adequadas para seu crescimento e multiplicação. Uma
vez que as condições que favorecem a sobrevivência e o crescimento de muitos
microrganismos são as mesmas sob as quais vivem as populações humanas, é inevitável
que vivamos entre grande quantidade de microrganismos. Eles estão no ar que
respiramos e no alimento que ingerimos. Estão na superfície de nosso corpo, em nosso
trato digestivo, na boca, no nariz e em outros orifícios naturais. Felizmente, a maioria
dos microrganismos é inócua para o homem, e este tem meios de resistir à invasão
daqueles que são potencialmente patogênicos.
1.3 Áreas de aplicação da Microbiologia
Existem numerosos aspectos no estudo da Microbiologia, que são divididos em
duas áreas principais: a microbiologia básica e a microbiologia aplicada. A
microbiologia básica estuda a natureza fundamental e as propriedades dos
microrganismos. Preocupa-se com assuntos relacionados aos seguintes temas:
! características morfológicas (forma e tamanho das células, composição
química, etc.);
! características fisiológicas (necessidades nutricionais específicas e condições
necessárias ao crescimento e reprodução);
! atividades bioquímicas (modo de obtenção de energia pelos microrganismos);
! características genéticas (hereditariedade e variabilidade das características);
! características ecológicas (ocorrência natural dos microrganismos no ambiente
e sua relação com outros organismos);
! potencial de patogenicidade dos microrganismos e
! classificação (relação taxonômica entre os grupos do mundo microbiano).
Na microbiologia aplicada estuda-se como os microrganismos podem ser
usados ou controlados para várias finalidades práticas. Os pricipais campos de aplicação
da microbiologia incluem: medicina, alimentos e laticínios, agricultura, indústria e
ambiente.
Na área industrial, por exemplo, os microrganismos são utilizados na síntese de
uma variedade de substâncias químicas, desde o ácido cítrico até antibióticos mais
complexos e enzimas. Certos microrganismos são capazes de fermentar material
orgânico animal e humano, produzindo gás metano que pode ser coletado e usado como
combustível. A biometalurgia explora as atividades químicas de bactérias para extrair
minerais, como cobre e ferro de minérios de baixa qualidade. A indústria do petróleo
têm utilizado bactérias e seus produtos, como os exopolissacarídeos presentes
externamente à célula bacteriana, para aumentar a extração do petróleo de rochas
reservatório.
Na área ambiental, estuda-se a utilização de microrganismos que podem
degradar poluentes específicos, como herbicidas e inseticidas. A microbiologia médica
trata dos microrganismos causadores de doenças humanas (patogênicos, além de estar
relacionada com a prevenção e o controle das doenças. Juntamente com a engenharia
genética, têm pesquisado a produção de enzimas bacterianas que dissolvam coágulos
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sangüíneos, vacinas humanas utilizando vírus de insetos e testes laboratoriais rápidos
para diagnóstico de infecção viral, entre tantas outras aplicações possíveis nesta área.
A microbiologia dos alimentos está relacionada com as doenças que podem ser
transmitidas pelos alimentos, como por exemplo, infecções causadas por salmonelas,
intoxicações causadas por estafilococos e clostrídios. Relaciona-se também com
aspectos positivos, com a utilização de microrganismos na produção de
alimentos/bebidas (queijos, pães, cervejas, etc.).
2. A Descoberta Do Mundo Microbiano
O descobridor do mundo dos organismos microscópicos foi um habilidoso
artesão holandês, Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723), que era fabricante de lentes
para a visão. Leeuwenhoek construiu sistemas de lentes que permitiam observar objetos
pequenos com aumento de 100 a 200 vezes.
Esses antigos sistemas em nada lembravam os modernos microscópios. Mesmo
assim, com o seu invento, Leeuwenhoek pôde observar vários tipos de materiais. Esse
instrumento desvendou o mundo dos seres vivos microscópicos, até então
desconhecido, Figura 2.
Figura 2. Microscópio de Leeuwenhoek.
Uma dimensão inteiramente nova veio, assim, enriquecer a biologia. Todos os
tipos principais de microrganismos unicelulares que hoje conhecemos – protozoários,
algas, fungos e bactérias – foram primeiramente descritos por Leeuwenhoek muitas
vezes com tal precisão que é possível identificar espécies individuais a partir de suas
descrições originais.
Robert Hooke, contemporâneo inglês de Leeuwenhoek, com o auxílio de um
microscópio simples, porém melhor que o do holandês, estudou materiais obtidos de
vários seres vivos: penas de aves, asas e patas de insetos e pedaços de cortiça. Sobre
esses últimos, disse que eram porosos, com cavidades semelhantes aos favos de uma
colméia. Hooke estava vendo apenas o esqueleto externo das células vegetais. Tratava-
se, portanto, de matéria morta e não células vivas. As cavidades que ele chamou de
células (do grego koilos, oco, ou do latim cella, cavidade), em 1665, eram, na verdade,
os espaços antes ocupados pelas células.
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Figura 3. Microscópio de Hooke.
As observações feitas por Hooke não tiveram grande repercussão, e pouco se
falou das células durante 160 anos, até a descoberta do núcleo celular, em 1831, por
Robert Brown. Em 1830, foram desenvolvidas as lentes acromáticas, que não geravam
distorções de cores. Elas permitiram o surgimento de microscópios com poder de
aumento muito superior aos primitivos microscópios de uma só lente. O botânico
alemão Mathias Schleiden afirmou, em 1838, serem todas as plantas constituídas por
células. No ano seguinte, o seu compatriota Theodor Schwann, fisiologista, concluiu
que também todos os animais eram formados por elas.
Assim nasceu a TEORIA CELULAR, dizendo que “todos os seres vivos são
constituídos por células”. Mais tarde, concluiu-se também que as células surgem
sempre de outras células, já existentes.
Essa descoberta revolucionou não só a Biologia, mas também a nossa noção de
mundo, porque mostrou a ligação que existe entre todos os seres vivos do planeta, já
que todos somos formados por células. Atualmente, os cientistas fazem uso de
microscópios eletrônicos, que permitem aumentos de até um milhão de vezes,
aproximadamente. Um tipo especial de microscópio eletrônico é o microscópio
eletrônico de varredura, capaz de oferecer aumentos próximos a cem milhões de vezes.
As células são as unidades vivas que formam o corpo dos seres vivos. São
consideradas vivas por realizarem funções necessárias a manutenção da vida, como:
nutrição, respiração, crescimento e reprodução.
2.1. Geração Espontânea versus Biogênese
A descoberta dos microrganismos focalizou o interesse científico sobre a origem
dos seres vivos. No que se refere às formas superiores de vida, Aristóteles (384-322
a.C.) pensava que os animais podiam se originar espontaneamente do solo, de plantas e
de outros animais diferentes, e sua influência ainda atingiram o século XVII. Era aceito
como fato, por exemplo, que as larvas podiam ser produzidas pela exposição da carne a
o calor e ao ar, embora Francesco Redi (1626-1697) duvidasse do mesmo. Ele realizou
uma experiência na qual colocou carne numa jarra coberta com gaze. Atraídas pelo odor
da carne, as moscas puseram seus ovos sobre a cobertura e, destes, emergiram as larvas.
Esta experiência e outras parecem ter resolvido o assunto, ao menos no que se referia a
tais formas vivas. Com os microrganismos, contudo, era diferente; seguramente eles não
tinham pais.
Em 1749, John Needham (1713-1781) trabalhando com carne exposta a cinzas
quentes observou o aparecimento de microrganismos que não existiam no início da
experiência, concluindo que as bactérias tinham se originado da carne. Quase que ao
mesmo tempo, Spallanzani (1729-1799) ferveu caldo de carne durante uma hora,
fechando logo a seguir os frascos. Nenhum microrganismo apareceu, mas seus
resultados, ainda que repetidos, não convenceram Needham. Este insistia em que o ar
era essencial para a produção espontânea dos seres microscópicos, e este ar tinha sido
excluído dos frascos pelo fechamento. 60 a 70 anos mais tarde dois pesquisadores
responderam a este argumento. Franz Schulze (1815-1873) aerava infusões fervidas,
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fazendo o ar atravessar soluções fortemente ácidas, enquanto Theodor Schwann (1810-
1882) forçava o ar através de tubos aquecidos ao rubro. Em nenhum dos casos surgiram
os micróbios. Os adeptos da geração espontânea não se convenceram, dizendo que o
ácido e o calor é que não permitiram o crescimento dos micróbios. Por volta de 1850,
Schröder e Von Dush realizaram uma experiência mais convincente, fazendo o ar passar
através do algodão para frascos que continham o caldo aquecido. Assim, as bactérias
foram retidas pelas fibras de algodão, tanto que não houve seu desenvolvimento.
Figura 4. Experimento de Redi.
O conceito de geração espontânea foi revivido, pela última vez, por Pouchet, que
publicou em 1859, um relatório, provando sua ocorrência. Pouchet foi rebatido por
Louis Pasteur (1822-1895). Este preparou um frasco com colo longo, estreito, em
pescoço de cisne. As soluções nutritivas foram aquecidas no frasco e o ar - não-tratado e
não-filtrado - podia passar para dentro ou para fora. Os micróbios, porém, depositavam-
se no pescoço de cisne e não apareciam na solução.
Finalmente, John Tyndall (1820-1893) efetuou experiências numa caixa
especialmente desenhada para provar que a poeira carrega os micróbios. Se não houver
poeira, o caldo estéril ficará livre de crescimento microbiano por períodos de tempo
indefinidos.
Figura 5. Teoria da geração espontanea.
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Foi o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895), que já fazia experimentos
sobre a origem dos microrganismos que lançou “luz” sobre o assunto. Com um de seus
experimentos, que ficou conhecido como “pescoço de cisne”, ele acabou derrubando
categoricamente a idéia da geração espontânea. A seqüência de desenhos a seguir
explica como foi realizado o experimento por Pasteur nos frascos “pescoço de cisne”.
Dessa forma ele demonstrou definitivamente que a vida não se origina espontaneamente
de um material não vivo. Observou que, mantendo os sucos a uma temperatura de 62-63
º C, durante uma hora e meia, obtinha o resultado desejado. Este processo tornou-se
conhecido como pasteurização e hoje é amplamente utilizado nas indústrias de
fermentação, porém é a indústria dos derivados do leite que está mais familiarizada com
este método, visando a destruição dos microrganismos patogênicos, presentes no leite.
Figura 6. Experimento de Pasteur.
As experiências realizadas por Pasteur e Redi apoiavam a idéia da biogênese,
isto é, um ser vivo só se origina a partir de outro ser vivo pré-existente.
Na Alemanha, o médico Robert Koch (1843-1910) estudou o problema do
carbúculo hemático, que é uma doença do gado bovino, caprino e, às vezes, do homem.
Ele descobriu os bacilos típicos com extremidades cortadas em ângulos retos, no sangue
de animais mortos pela infecção carbunculosa. Inoculou as bactérias em meios de
cultura, em seu laboratório, examinou-as ao microscópio para estar seguro de que
apenas uma espécie tinha se desenvolvido e injetou-as em outros animais para verificar
se estes se tornavam doentes e desenvolviam os sintomas clínicos do carbúnculo
hemático. A partir destes animais experimentais, Koch isolou micróbios iguais aos que
tinha encontrado originalmente nos carneiros infectados. Esta foi a primeira vez que
uma bactéria foi comprovada como causa de uma doença animal. A partir disto foram
estabelecidos os postulados de Koch: 1) Um microrganismo específico pode sempre ser
encontrado em associação com uma dada doença. 2) O organismo pode ser isolado e
cultivado, em cultura pura, no laboratório. 3) A cultura pura produzirá a doença quando
inoculada em animal sensível. 4) É possível recuperar o microrganismo, em cultura
pura, dos animais experimentalmente infectados.
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2.2. Caracterização e Classificação dos Microrganismos
A caracterização e a classificação dos organismos vivos são o principal objetivo
em todos os ramos da Ciência Biológica. A partir do momento em que um organismo é
completamente conhecido, torna-se possível fazer comparações com outros,
determinando semelhanças e diferenças. As comparações das características de grande
número de microrganismos resultam, eventualmente, num sistema de agrupamento das
espécies semelhantes. Por fim, cria-se um grupo com características muito semelhantes,
que é considerado como uma espécie e recebe um nome específico, isto é, o
microrganismo adquire um nome.
Por serem individualmente tão pequenos que não podem ser visualizados sem
ajuda de um microscópio, não é prático trabalhar com um único indivíduo. Por esta
razão estudam-se culturas, que contêm milhares, milhões e até mesmo bilhões de
indivíduos. Uma cultura que consiste em uma única espécie de microrganismo (uma
espécie viva), independentemente do número de indivíduos, num ambiente livre de
outros organismos vivos, é chamada de cultura axênica. Os microbiologistas usualmente
se referem a tais culturas como culturas puras, embora, no sentido técnico estrito, a
cultura pura seja aquela que se origina do crescimento de uma única célula. Se dois ou
mais tipos (espécies) crescem juntos, como normalmente ocorre na natureza, passam a
constituir uma cultura mista.
Antes de identificar e classificar um microrganismo, suas características devem
ser determinadas com detalhes adequados. As principais incluem as seguintes:
1. Características culturais: os nutrientes exigidos para o crescimento e as
condições físicas do ambiente que favorecem o desenvolvimento.
2. Características morfológicas: as dimensões das células, seus arranjos, a
diferenciação e a identificação de suas estruturas.
3. Características metabólicas: a maneira pela qual os microrganismos
desenvolvem os processos químicos vitais.
4. Características da composição química: a identificação dos principais e típicos
constituintes químicos da célula.
5. Características antigênicas: a detecção de componentes especiais da célula
(químicos) que fornecem evidências de semelhança entre as espécies.
6. Características genéticas: a análise da composição do ácido
desoxirribonucleico (DNA), assim como a determinação das relações entre o DNA
isolado de diferentes microrganismos.
A maioria das características acima citadas é determinada através de testes
laboratoriais, que incluem o uso de diferentes meios e diferentes reações químicas. No
entanto, um dos instrumentos mais poderosos na investigação é o microscópio.
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3. Bactérias
O reino Monera é formado pelas bactérias, organismos unicelulares que diferem
de outros seres vivos por serem procariontes, isto é, suas células não possuem um
núcleo individualizado por uma membrana e elas podem viver isoladas ou reunidas em
colônia. Acredita-se que os seres procariontes formem um grupo de seres vivos muito
antigo e que tenham surgido há cerca de 3,5 bilhões de anos. Existem evidências de que
os organismos procariontes primitivos foram os ancestrais de todas as formas de vida
que encontramos hoje na Terra.
Tabela 1. Diferenças fundamentais entre os 3 domínios.
As bactérias são encontradas em todos os ecossistemas terrestres: solo, rios,
lagos, profundezas oceânicas, montanhas elevadas, altas camadas atmosféricas e
também dentro e fora do organismo de outros seres vivos. São microscópicas, podendo
ser visualizadas por um microscópio óptico ou eletrônico. A maioria mede entre 1 a 10
micrômetros (símbolo μm). 1 micrômetro corresponde à milésima parte de um
milímetro.
Atualmente, o reino Monera está dividido em dois grupos: as arqueobactérias e
as eubactérias.
3.1. As arqueobactérias
O nome dado a esse grupo de bactérias se refere à época em que elas surgiram.
Atualmente, há poucas espécies de arqueobactérias. O prefixo arqueo vem da língua
grega e significa antigo. Supõe-se que as arqueobactérias tenham surgido há cerca de 3
bilhões de anos e que, até hoje, sofreram poucas modificações. Podem ser encontradas
nos ambientes mais extremos do planeta, onde não há possibilidade de vida para outros
seres vivos. Há arqueobactérias em fontes termais ácidas cuja temperatura varia de 60º
C a 80º C. Outro grupo consegue sobreviver no mar Morto ou em lagoas com salinidade
altíssima. Existem, ainda, aquelas que vivem em pântanos e no tubo digestório de
alguns animais herbívoros ou de insetos, como o cupim, produzindo gás metano que é
liberado para a atmosfera.
As eubactérias (do grego eu, verdadeiro). Esse grupo reúne a maioria das
bactérias conhecidas. Elas são mais complexas que as arqueobactérias e estão reunidas
em dois grupos: as bactérias e as cianobactérias.
3.2. Morfologia e Ultra-Estrutura das Bactérias
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Entre as principais características das células bacterianas estão suas dimensões,
forma, estrutura e arranjo. Estes elementos constituem a morfologia da célula (figura 3).
Embora existam milhares de espécies bacterianas diferentes, os organismos isolados
apresentam uma das três formas gerais: elipsoidal ou esférica, cilíndrica ou em
bastonete e espiralada.
As células bacterianas esféricas ou elipsoidais são chamadas de cocos e podem
apresentar os arranjos. As células bacterianas cilíndricas ou em bastonetes (bacilos)
comumente apresentam-se isoladas e ocasionalmente ocorrem aos pares (diplobacilos)
ou em cadeias (estreptobacilos). As bactérias espiraladas (singular = spirillum; plural =
spirilla) ocorrem, predominantemente, como células isoladas. As células individuais de
espécies diferentes exibem, contudo, nítidas diferenças no comprimento, número e
amplitude das espirais e na rigidez das paredes celulares. As bactérias curtas com
espiras incompletas são conhecidas como bactérias comma ou vibriões.
A unidade de medida das bactérias é o micrômetro, que equivale a 10-³ mm. As
bactérias mais freqüentemente estudadas em laboratório medem, aproximadamente, 0,5
a 1,0 μm por 2,0 a 5,0 μm. Os estafilococos e estreptococos, por exemplo, têm
diâmetros variáveis entre 0,75 e 1,25 μm. As formas cilíndricas, tais como o bacilo da
febre tifóide e da disenteria, apresentam uma largura de 0,5 a 1,0 μm e um comprimento
de 2 a 3 μm. Algumas formas filamentosas podem exceder os 100 μm de comprimento,
mas seu diâmetro está, de modo característico, entre 0,5 e 1,0 μm.A figura 7 mostra o
tamanho comparativo de uma célula de uma bactéria, um vírus e um protozoário.
Figura 7. Comparação entre os microrganismos quanto ao tamanho.
Em função dessa variação de formas, são agrupadas assim:
Cocos: forma arredondada.
Bacilos: células cilíndricas, alongadas com forma de bastonetes.
Espirilos: são filamentos longos, espiralados, que apresentam certa rigidez.
Vibriões: possuem aspecto que lembra um bastonete curvo ou uma vírgula.
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Figura 8. Estruturas Bacterianas
O exame da célula bacteriana revela certas estruturas definidas por dentro e por
fora da parede celular. Seguem-se breves descrições das estruturas bacterianas de fácil
identificação:
Flagelos: apêndices muito finos, semelhantes a cabelos, que se exteriorizam
através da parede celular e se originam de uma estrutura granular (corpo basal)
imediatamente abaixo da membrana citoplasmática, no citoplasma. O flagelo apresenta
três partes: uma estrutura basal, uma estrutura semelhante a um gancho e um longo
filamento externo à parede celular (figura 8). O seu comprimento é, usualmente, várias
vezes o da célula, mas seu diâmetro é uma pequena fração do diâmetro celular (p.e., 10
a 20 nm). Algumas bactérias se movimentam por outros meios, diversos da atividade
flagelar, como o deslizamento provocado pelo fluxo protoplasmático ou pela resposta
táxica (p.e., fototaxia, quimiotaxia).
Figura 9. Esquema do Flagelo
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Pêlos (fímbrias): apêndices filamentosos menores, mais curtos e mais
numerosos que os flagelos e que não formam ondas regulares. Estão presentes em
muitas bactérias gram-negativas. São encontrados
tanto nas espécies móveis como nas imóveis e
portanto, não desempenham papel relativo à
mobilidade. Podem funcionar como sítios de adsorção de
vírus bacterianos, como mecanismo de aderência à
superfícies e como porta de entrada de material
genético durante a conjugação bacteriana [(pêlo
sexual) (figura 9)]. fímbrias: adesão (várias unidades/célula)
pili: mais longos (geralmente 1 unidade/célula)
- conjugação
- adesão em bactérias patogênicas
composição: proteínas
Figura 10. Pili e Fímbria
Glicocálice: formado de uma substância viscosa, que forma uma camada de
cobertura ou envelope ao redor da célula. Se o glicocálice estiver organizado de maneira
definida e estiver acoplado firmemente à parede celular, recebe o nome de cápsula; se
estiver desorganizado e sem qualquer forma e anda estiver frouxamente acoplado à
parede celular, recebe o nome de camada limosa. O glicocálice pode ter natureza
polissacarídica (um ou vários tipos de açúcares como p.e., galactose, ramnose, glicana,
etc.) ou polipeptídica (p.e., ácido glutâmico). A principal função do glicocálice é a
aderência sobre superfícies; ele pode evitar o dessecamento das bactérias, fornece um
envoltório protetor e pode servir, também, como reservatório de alimentos, além de
evitar a adsorção e lise da células por bacteriófagos (figura 10).
* composição: glicoproteínas e/ou polissacarídeos
* função:
- adesão
- proteção contra dessecamento e fagocitose
Vesículas de gás
- procariotos aquáticos fotossintetizantes: ex. Cianobactérias
- ajuste vertical na coluna de água para regiões de luz ótima para a
fotossíntese
- poucas ou até centenas por célula
- proteínas hidrofóbicas
Figura 11. Estrutura do Glicocálice
Parede Celular: dá forma à célula e situa-se abaixo das substâncias
extracelulares (glicocálice) e externamente à membrana que está em contato imediato
com o citoplasma. Sua espessura é calculada, em média, de 10 a 25 nm. A função da
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parede celular é a de proporcionar uma moldura rígida, ou "colete", que suporta e
protege as estruturas protoplasmáticas mais lábeis, em face das possíveis lesões
osmóticas; evita ainda a evasão de certas enzimas, assim como o influxo de certas
substâncias que poderiam causar dano à célula.
Nas eubactérias, o peptideoglicano (ou mureína), um composto polimérico, é o
componente da parede celular que determina sua forma. A parede celular das bactérias
Gram-positivas é constituída por ácido teicóico, além do peptideoglicano, que
corresponde à uma fração maior que a encontrada na parede das bactérias Gram-
negativas (figura 11). A parede das bactérias Gram-negativas é mais complexa que a
parede das Gram-positivas pois possui uma membrana externa cobrindo uma camada
fina de peptideoglicano (figura 12). Esta membrana externa é cosnstituída por
fosfolipídeos, proteínas e lipopolissacarídeos (LPSs).
Figura 12. Gram Positiva. 90 % da parede formados de peptideoglicano (até 20
camadas) 30-60 nm.
Figura 13. Gram Negativa. 10 % de peptideoglicano (1-2 camadas) 2-3 nm
“Membrana” externa de bactérias Gram negativas (camada LPS).
Camada dupla, composta de:
• fosfolipídeos
• proteínas
• lipídeos
• polissacarídeos
lipoproteínas
Funções da camada:
• Seus componentes são tóxicos quando injetados em animais
• Participa do processo de nutrição formando canais de passagem
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• Maior rigidez à parede celular
3.3. Estruturas internas à parede celular:
Protoplastos: quando remove-se a parede celular de uma bactéria, esta torna-se
um corpo arredondado, que assume a forma esférica, justamente por não contar com a
rígida limitação da parede. A bactéria recebe o nome, então, de protoplasto, que pode
ser caracterizado como: imóvel, esférico, não se divide, não forma nova parede celular e
não é suscetível, de modo geral, à infecções por bacteriófagos.
Membrana citoplasmática: fina membrana situada abaixo da parede celular
(figura 13). Sua espessura é da ordem de 7,5 nm e é composta de fosfolipídeos (20 a
30%), que formam uma bicamada que envolve as proteínas (50 a 70%). A membrana é
sítio da atividade enzimática específica e do transporte de moléculas para dentro e para
fora da célula. Em alguns casos, a membrana se estende no citoplasma para formar o
mesossomo, que participa do metabolismo (através da secreção de certas enzimas, com
as penicilinases) e da replicação celular (na formação do septo durante o processo de
divisão celular).
Citoplasma: o material celular pode ser dividido em: área citoplasmática, que é
a porção fluida contendo substâncias dissolvidas e partículas tais como ribossomos, e
material nuclear ou nucleóide, rico em DNA.
Inclusões citoplasmáticas: depósitos concentrados de certas substâncias,
insolúveis, chamados de grânulos, e que podem servir como fonte de material nutritivo
de reserva. Os grânulos podem ser constituídos de polissacarídeos (amido, glicogênio),
lipídeos, fosfatos e até enxofre, como é o caso das bactérias sulforosas.
Material nuclear: as células bacterianas não contêm o núcleo típico das células
animais e vegetais. O material nuclear consiste de um cromossomo único e circular e
ocupa uma posição próxima do centro da célula. Pode ser chamado de corpo
cromatínico, nucleóide, equivalente nuclear ou cromossoma bacteriano.
Endósporos: esporos que se formam dentro da célula. São como um corpo oval
de parede espessa (um por célula), altamente resistente e refráteis. Todas bactérias dos
gêneros Bacillus e Clostridium produzem endósporos. São constituídos de ácido
dipicolínico e por grande quantidade de cálcio. Os esporos representam uma fase latente
(repouso) da célula bacteriana; comparados com as células vegetativas, são
extremamente resistentes aos agentes físicos e químicos adversos, demonstrando uma
estratégia de sobrevivência. Encontrados em algumas Gram positivas: Bacillus;
Clostridium; Sporosarcina; Sporolactobacillus. 10 % do peso seco é ácido dipicolínico
(exclusivo de esporos): estabilização do DNA. Resistentes ao calor, radiações, ácidos,
desinfetantes, lisozima.
Tipos Nutritivos das Bactérias
As bactérias podem ser divididas em grupos com base em suas exigências
nutritivas. A principal separação corresponde aos grupos fototróficos (organismos que
utilizam a energia radiante como fonte de energia) e quimiotróficos (organismos
incapazes de utilizar a energia radiante; dependem da oxidação de compostos químicos
para a obtenção de energia) (tabela 2).
♦ Fototróficos: existem bactérias que utilizam o CO2 como principal fonte de
carbono; são as fotolitotróficas. Outras exigem um composto orgânico (álcoois, ácidos
graxos, aminoácidos) e são ditas fotorganotróficas.
♦ Quimiotróficos: bactérias que utilizam o CO2 como fonte de carbono e
oxidam compostos inorgânicos (p.e., nitritos) ou elementos químicos (p.e., enxofre)
para obtenção da fonte de energia ,são chamadas quimiolitotróficas. As que utilizam
compostos orgânicos para obter energia, são chamadas quimiorganotróficas.
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As bactérias fotolitotróficas e quimiolitotróficas são conhecidas, comumente,
como autotróficas, ao passo que as espécies fotorganotróficas e quimiorganotróficas
são designadas heterotróficas.
As bactérias heterotróficas apresentam exigências nutritivas mais simples. O
fato de um organismo poder crescer e se reproduzir numa mistura de compostos
químicos simples indica que ele possui uma grande capacidade de síntese. As bactérias
heterotróficas foram estudadas mais profundamente porque, sob certo aspecto,
demonstram um interesse mais imediato. Neste grupo se encontram todas as bactérias
patogênicas para o homem, para outros animais e para os vegetais, assim como a maior
parte da população microbiana do ambiente humano. As bactérias heterotróficas,
embora constituam o principal grupo nutritivo, variam, consideravelmente, quanto aos
nutrientes específicos exigidos para o crescimento. As heterotróficas podem ser
consumidoras, alimentando-se de outros organismos vivos; saprófitas, que se
alimentam de matéria orgânica morta. Outras podem ser simbiontes, ou seja, mantém
uma relação estreita com um organismo de espécie diferente. Estas simbiontes podem
ser comensais, que nem ajudam, nem prejudicam seu hospedeiro, ou podem ser
parasitas, que causam dano ao hospedeiro (caso das bactérias patogênicas).
3.4. Condições Físicas Necessárias ao Crescimento
Assim como as bactérias variam com relação às exigências nutritivas, também
demonstram respostas diversas às condições físicas do ambiente.
pH
Lembre-se de que a acidez ou alcalinidade de um meio é expressa em termos de
pH. Os microrganismos possuem um pH ótimo – o pH no qual eles crescem melhor. O
pH ótimo pra os microrganismos está geralmente próximo da neutralidade (pH 7). A
maioria dos micróbios não cresce em um pH com uma unidade acima ou abaixo de seu
pH ótimo. De acordo com sua tolerância à acidez ou à alcalinidade, as bactérias são
classificadas em:
No entanto, espécie alguma consegue tolerar por completo a faixa inteira de pH
de qualquer uma destas categorias, e muitas delas toleram uma faixa que se sobrepõe a
duas categorias.
Acidófilas – ou seja, organismos que têm afinidade por meios ácidos,
desenvolvem-se melhor em valores de pH de 0,1 a 5,4. O Lactobacillus, que produz
ácido lático, é um acidófilo, mas suporta apenas uma acidez moderada;
Neutrófila – vivem entre valores de pH de 5,4 a 8,5. A maioria das bactérias
que causam doenças nos seres humanos pertence ao grupo das neutrófilas;
Alcalófilas – ou bactérias que gostam de ambientes alcalinos, vivem em
valores de pH entre 7 e 11,5. O Vibrio cholerae, o agente causador da doença chamada
cólera asiático, cresce melhor em pH em torno de 9.
Os efeitos do pH sobre os organismos podem estar em parte relacionados à
concentração de ácidos orgânicos no meio e à proteção que as paredes celulares
bacterianas às vezes proporcionam. Muitas bactérias, freqüentemente, produzem
quantidades suficientes de ácidos como subprodutos metabólicos que eventualmente
interferem em seu próprio crescimento.
Temperatura
A maioria das espécies bacterianas pode se desenvolver em uma faixa de
temperatura superior a 30º C, mas as temperaturas máxima e mínima variam
consideravelmente entre as diferentes espécies. A água do mar permanece líquida
abaixo de 0º C, e os organismos que lá vivem conseguem tolerar temperaturas
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negativas. De acordo com suas faixas de temperatura de crescimento, as bactérias
podem ser classificadas como organismos:
Psicrófilos – ou organismos que gostam do frio, crescem melhor a
temperaturas de 15 a 20º C, apesar de alguns viverem bem a 0º C. Os psicrófilos vivem
principalmente em águas e solos frios. Nenhum deles sobrevive no corpo humano, mas
alguns são conhecidos por causarem deterioração em alimentos refrigerados. Os
psicrófilos obrigatórios não crescem a temperaturas acima de 20º C, e psicrófilos
facultativos se desenvolvem melhor a temperaturas abaixo de 20º C, mas que também
cresce acima desta temperatura;.
Mesófilos – entre os quais se inclui a maioria das bactérias, são organismos
que crescem melhor a temperaturas entre 25 e 40º C. Os patógenos humanos estão
incluídos nesta categoria e, em sua maioria, crescem melhor a uma temperatura próxima
à do corpo humano (37º C);
Termófilos – ou organismos que gostam do calor, desenvolvem-se melhor a
temperaturas de 50 a 60º C. Muitas destas bactérias são encontradas em pilhas de adubo,
e algumas toleram temperaturas de 110º C em fontes termais ferventes. Os termófilos
obrigatórios se desenvolvem apenas a temperaturas acima de 37º C, e termófilos
facultativos se desenvolvem tanto acima quanto abaixo de 37º C.
Figura 14. Temperaturas.
A faixa de temperatura na qual um organismo se desenvolve é amplamente
determinada pelas temperaturas nas quais suas enzimas atuam. Dentro desta faixa,
podem ser identificadas três temperaturas críticas:
1. A temperatura mínima de crescimento, que é a menor temperatura em que as
células se dividem;
2. A temperatura máxima de crescimento, que é a temperatura mais alta em que
as células se dividem;
3. A temperatura ótima de crescimento, que é a temperatura em que as células se
dividem mais rapidamente, isto é, possuem o tempo de geração mais curto.
A temperatura é importante não apenas para proporcionar condições ao
crescimento bacteriano, mas também para evita-lo. A refrigeração de alimentos, feita
geralmente a 4º C, reduz o crescimento dos psicrófilos e impede o crescimento da
maioria das demais bactérias. Entretanto, os alimentos e outros materiais, como o
sangue, podem permitir o crescimento de bactérias mesmo quando refrigerados. Por esta
razão, se precisarem ser guardados por muito tempo, os materiais que podem suportar o
congelamento são armazenados a temperaturas de –30º C. Altas temperaturas também
podem impedir o crescimento bacteriano. As bactérias estão mais aptas a sobreviver em
extremos de frio do que em extremos de calor.
Oxigênio
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As bactérias, especialmente as heterotróficas, podem ser divididas em aeróbias,
que necessitam de oxigênio para se desenvolver, e anaeróbias, que não o requerem. As
aeróbias obrigatórias, como a Pseudomonas, que é uma causa comum de infecções
hospitalares, necessitam de oxigênio livre para a respiração aeróbia, ao passo que as
anaeróbias obrigatórias, morrem na presença do oxigênio. Entre os extremos das
bactérias aeróbias obrigatórias e das bactérias anaeróbicas obrigatórias estão as
microaerófilas, que desenvolvem-se melhor na presença de uma pequena quantidade de
oxigênio livre; as anaeróbias facultativas, que geralmente mantêm seu metabolismo
aeróbio; porém, na falta dele, mudam para o metabolismo anaeróbio. O Staphylococcus
e a Escherichia coli são anaeróbias facultativas; geralmente são encontradas nos tratos
intestinal e urinário, onde apenas uma pequena quantidade de oxigênio está disponível e
as anaeróbias aerotolerantes, que conseguem sobreviver na presença de oxigênio, mas
não fazem uso dele em seu metabolismo. O Lactobacillus por exemplo, sempre capta
energia através da fermentação, não importando se o ambiente tem ou não oxigênio.
Umidade
Todas as células ativamente metabolizantes geralmente requerem um meio
aquoso. Ao contrário de organismos maiores, que possuem revestimentos protetores e
ambientes internos líquidos, os organismos unicelulares são expostos diretamente a seus
meios. A maioria das células vegetativas sobrevive apenas algumas horas sem umidade;
apenas os esporos de organismos formadores de esporos podem sobreviver em um
estado inativo em um ambiente seco.
Pressão hidrostática
As águas dos oceanos e lagos exercem pressão hidrostática, ou seja, uma pressão
exercida pela água parada proporcional à sua profundidade. Tal pressão dobra a cada 10
metros na profundidade. Algumas depressões oceânicas possuem profundidade de até
7.000 metros, e determinadas bactérias são os únicos organismos conhecidos que
sobrevivem à pressão extrema em tais profundidades. As bactérias que vivem em altas
pressões, mas que morrem se deixadas por apenas algumas horas em laboratório à
pressão atmosférica padrão, são chamadas barófilas.
Pressão osmótica
As membranas de todos os microrganismos são seletivamente permeáveis e
permite à água se mover entre o citoplasma e o meio através da osmose (passagem de
água através de uma membrana, indo de um meio hipotônico para um meio
hipertônico). As células em meios hiperosmóticos perdem água e sofrem plasmólise, ou
enrugamento da célula. Inversamente, as células em água destilada possuem pressão
osmótica maior do que a de seu meio e, assim, ganham água. Nas bactérias, a parede
celular rígida impede que a célula inche ou se rompa, mas as células se enchem de água
e tornam-se túrgidas (distendidas).
A maioria das células bacterianas pode tolerar uma ampla gama de
concentrações de substâncias dissolvidas. Suas membranas celulares contêm sistemas
de transporte que regulam o movimento de substâncias dissolvidas através da
membrana. Mesmo assim, caso as concentrações fora da célula se tornem muito altas, a
perda de água pode inibir o crescimento ou até matar as células.
As bactérias halófilas, ou organismos que gostam de sal, requerem quantidades
de sal (cloreto de sódio) de médias a grandes. São normalmente encontradas nos
oceanos, onde a concentração de sal (3,5%) é ótima para seu crescimento. Halófilas
extremas requerem concentrações de sal de 20 a 30% e são encontradas em corpos
d’água excepcionalmente salgados, tais como o Mar Morto.
Radiação
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As energias radiantes, como por exemplo os raios gama e a luz ultravioleta,
podem causar mutações (mudanças no DNA) e até mesmo matar os organismos.
Entretanto, alguns microrganismos possuem pigmentos que filtram a radiação e ajudam
a prevenir danos ao DNA. Outros possuem sistemas enzimáticos que podem reparar
certos tipos de danos ao DNA.
Fatores nutricionais
O crescimento dos microrganismos é afetado por fatores nutricionais, assim
como por fatores físicos. Os nutrientes necessários aos microrganismos incluem, entre
outros, o carbono, o nitrogênio, o enxofre e o fósforo. Embora nós estejamos
interessados aqui nos modos pelos quais os microrganismos suprem suas próprias
necessidades nutricionais, podemos observar que, ao suprir tais necessidades, eles
também auxiliam a reciclar elementos no meio ambiente.
Fontes de Carbono
A maioria das bactérias utiliza compostos que contêm carbono como fonte de
energia e para sintetizar componentes celulares. Os organismos foto-autotróficos
reduzem o dióxido de carbono a glicose e a outras moléculas orgânicas. Tanto os
organismos autotróficos quanto os heterotróficos podem obter energia da glicose através
da glicólise, da fermentação e do ciclo de Krebs. Eles também sintetizam alguns
componentes celulares a partir de intermediários destas vias.
Fontes de Nitrogênio
Todos os organismos, inclusive os microrganismos, precisam de nitrogênio para
sintetizar ácidos nucléicos, enzimas e outras proteínas. Alguns microrganismos obtêm
nitrogênio a partir de fontes inorgânicas, e uns poucos até mesmo conseguem energia
metabolizando substâncias inorgânicas que contêm nitrogênio. Alguns organismos
podem sintetizar todos os 20 aminoácidos encontrados nas proteínas, ao passo que
outros necessitam ter um ou alguns aminoácidos fornecidos pelo meio.
Enxofre e Fósforo
Além do carbono e do nitrogênio, os microrganismos necessitam do suprimento
de certos minerais, especialmente enxofre e fósforo, que são componentes celulares
importantes. Os microrganismos podem obter enxofre a partir de sais de sulfato
inorgânicos e fósforo principalmente a partir de fostafo inorgânico.
3.5. Reprodução e Crescimento
O termo crescimento, tal como é comumente aplicado às bactérias e a outros
microrganismos, refere-se, usualmente, às alterações ocorridas na cultura das células e
não às alterações de um organismo isolado.
3.5.1. Reprodução
Bactérias geralmente reproduzem-se assexuadamente por fissão binária
transversa, quando ocorre a replicação do cromossomo bacteriano e a célula
desenvolve uma parede celular
transversa, dividindo-se então em duas
novas células (figura 15). Após a
replicação do cromossomo, a parede
transversa forma como uma invaginação
da membrana plasmática e da parede
celular. Quando a nova parede formada
não se separa completamente em duas
paredes, pode-se formar uma cadeia (ou
filamento) de bactérias. A fissão binária
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não é o único método reprodutivo entre as bactérias. As espécies do gênero
Streptomyces produzem muitos esporos reprodutivos por organismo, cada esporo dando
origem a um novo indivíduo. Bactérias do gênero Nocardia produzem extenso
crescimento filamentoso, seguido pela fragmentação dos filamentos em pequenas
células bacilares ou cocóides. Espécies do gênero Hyphomicrobium podem reproduzir-
se por brotamento: desenvolve-se um broto, a partir da célula-mãe e, depois de um
período de aumento de tamanho, o broto se separa da célula original, formando um
novo indivíduo.
Embora não ocorra uma reprodução sexuada complexa nos moneras, algumas
vezes as bactérias realizam troca de material genético. Tal recombinação genética pode
ocorrer por transformação, conjugação ou transdução.
Na transformação, a célula bacteriana "pega" fragmentos de DNA perdidos por
outra bactéria que se rompeu. Este mecanismo tem sido usado experimentalmente para
mostrar que os genes podem ser transferidos de uma bactéria para outra e que o DNA é
a base química da hereditariedade.
Figura 15. Transformação
Na conjugação, duas células bacterianas geneticamente diferentes trocam DNA
diretamente. Este processo tem
sido extensivamente estudado na
bactéria Escherichia coli, que tem
linhagens F- e F+. As células F+
são cobertas com pêlos e contêm
um plasmídeo conhecido como
fator F, ou fator da fertilidade.
Quando uma célula F+ entra em
contato com uma célula F-, os
pêlos organizam um tubo de
conjugação, chamado de pêlo
sexual ou pêlo F, que conecta a
célula F+ à célula F-. O pêlo F é
"oco", permitindo que o DNA
pase de uma bactéria para outra.
Figura 16. Conjugação
Na transdução, genes
bacterianos são carregados de
uma bactéria para outra, dentro
de um bacteriófago (vírus
bacteriano). Quando o
bacteriófago entra numa célula
bacteriana, o DNA do vírus
mistura-se com uma parte do
DNA bacteriano, de modo que o
vírus agora carrega esta parte do
DNA. Se o vírus infecta uma
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segunda bactéria, o DNA da primeira bactéria pode misturar-se com o DNA da segunda
bactéria. Esta nova informação genética é então replicada a cada nova divisão.
Figura 17. Transdução
A divisão celular nas leveduras e em algumas bactérias ocorre por brotamento.
Neste processo, uma pequena célula nova se desenvolve a partir da superfície de uma
célula preexistente e, subseqüentemente, se separa da célula mãe.
3.5.2.Fases de crescimento
Considere uma população de organismos introduzida em um meio fresco e rico
em nutrientes, isto é, uma mistura de substâncias sobre ou dentro da qual os
microrganismos crescem. Estes organismos mostram quatro principais fases de
crescimento: (1) a fase lag, (2) a fase log (logarítmica), (3) a fase estacionária e (4) a
fase de declínio ou de morte. Estas fases formam a curva-padrão de crescimento
bacteriano.
Figura 18. Curva de crescimento
Fase Lag
Nesta fase, os organismos não aumentam significativamente em número, mas
são metabolicamente ativos: crescem em tamanho, sintetizam enzimas e incorporam
diversas moléculas provenientes do meio, é a fase de adaptação. Algumas espécies se
adaptam ao meio em uma ou duas horas; outras levam vários dias.
Fase Log
Uma vez que os organismos se tenham adaptado ao meio, o crescimento da
população ocorrerá em velocidade exponencial ou logarítmica (log). Quando a escala
do eixo vertical é logarítmica, o crescimento nesta fase aparece no gráfico como uma
linha diagonal reta, que representa o tamanho da população bacteriana. Durante a fase
log, os organismos se dividem na sua velocidade mais rápida – um intervalo regular,
geneticamente determinado, chamado tempo de geração. A população de organismos
dobra em cada tempo de geração. Tal crescimento é chamado de exponencial, ou
logarítmico.
Em condições ideais, uma bactéria pode se multiplicar e originar 2.097.152
novas bactérias num período de 7 horas.
O tempo de geração para a maioria das bactérias fica entre 20 minutos e 20
horas, e é geralmente menor que uma hora. Nem todos os organismos se dividem
precisamente juntos. Se todos se dividissem juntos e se o tempo de geração fosse de
exatamente 20 minutos, o número de células em uma cultura aumentaria como os
degraus de uma escada, dobrando exatamente a cada 20 minutos – uma situação
hipotética chamada crescimento sincrônico. Em uma cultura real, cada célula se divide
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em algum momento durante o tempo de geração de 20 minutos, com cerca de 1/20 das
células se dividindo a cada minuto – uma situação natural chamada crescimento não-
sincrônico. O crescimento não-sincrônico aparece como uma linha reta, e não como
degraus, em um gráfico logarítmico. A medida que o número de organismos cresce, os
nutrientes são consumidos, os resíduos metabólicos são acumulados, o espaço pode se
tornar limitado e os organismos aeróbios sofrem de falta de oxigênio. O fator limite para
o crescimento logarítmico parece ser a velocidade na qual a energia pode ser produzida
na forma de ATP. À medida que a disponibilidade de nutrientes diminui, as células se
tornam menos capazes de gerar ATP e sua taxa de crescimento se reduz.
O nivelamento do crescimento é seguido pela fase estacionária, a não ser que um
meio fresco seja adicionado ou que os organismos sejam transferidos para um novo
meio.
Fase estacionária
Quando a divisão celular decresce a um ponto em que novas células são
produzidas com a mesma velocidade com que as células antigas morrem, o número de
células vivas permanece constante. A cultura está, então, na fase estacionária,
representada por uma linha horizontal reta. O meio contém uma quantidade limitada de
nutrientes e pode conter resíduos tóxicos. Além disso, o suprimento de oxigênio pode se
tornar inadequado para os organismos aeróbicos, e podem ocorrer mudanças
prejudiciais de pH.
Fase de declínio (Morte)
À medida que as condições do meio vão se tornando cada vez menos favoráveis
para a divisão celular, muitas células perdem a capacidade de se dividir e morrem. Nesta
fase de declínio, ou fase de morte, o número de células vivas decresce em velocidade
logarítmica, indicado por uma linha reta diagonal em declive. Durante a fase de
declínio, muitas células sofrem involução, isto é, assumem uma variedade de formas
incomuns, o que as torna difíceis de serem identificadas. Em culturas de organismos
formadores de esporos, sobrevivem mais esporos do que células vegetativas
(metabolicamente ativas). Culturas de algumas bactérias passam por todas as fases de
crescimento e morrem em alguns dias, ao passo que outras abrigarão alguns poucos
organismos vivos após meses ou mesmo anos.
Crescimento em colônias
As fases de crescimento são exibidas de diferentes maneiras nas colônias que
crescem em meio sólido. Normalmente, uma célula se divide exponencialmente,
formando uma pequena colônia – todos os descendentes da célula original. A colônia
cresce rapidamente em suas extremidades; as células que estão perto do centro crescem
mais lentamente, ou começam a morrer, por terem menores quantidades de nutrientes
disponíveis e por estarem expostas a mais produtos tóxicos residuais. Em uma colônia,
todas as fases da curva de crescimento ocorrem simultaneamente.
Cultivo
Para o cultivo rotineiro de microrganismos heterotróficos, utilizam-se certas
matérias-primas complexas, tais como as peptonas, os extratos de carne e de levedura
(tabela 4), daí resultando um meio que promove o desenvolvimento de grande variedade
de bactérias e de outros microrganismos. Quando se deseja um meio sólido, adiciona-se
o ágar como agente solidificante. O caldo e o ágar nutritivos são exemplos de meios
líquidos e sólidos, relativamente simples, indicados para a cultura de microrganismos
heterotróficos comuns.
Alguns microrganismos não se desenvolvem bem nestes meios, pois
demonstram exigências de nutrientes específicos, como vitaminas e outras substâncias
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estimulantes. Tais microrganismos são chamados de heterotróficos fastidiosos, e
necessitam de meios especiais para seu cultivo, isolamento e reconhecimento.
Os meios de cultura, de acordo com a sua aplicação ou função, podem ser
classificados, entre outros, como:
Meios Enriquecidos: a adição de sangue, soro ou extratos de tecidos animais ou
vegetais ao caldo ou ágar nutritivos proporciona nutrientes acessórios, de modo que o
meio possa permitir o crescimento de heterotróficos fastidiosos.
Meios Seletivos: a adição de certas substâncias químicas específicas ao ágar
nutritivo previne o crescimento de um grupo de bactérias sem agir sobre outras. O
cristal violeta, por exemplo, em uma dada concentração, impede o crescimento de
bactérias gram-positivas, sem afetar o desenvolvimento das bactérias gram-negativas.
Meios Diferenciais: a incorporação de certos reagentes ou substâncias químicas
no meio pode resultar num tipo de crescimento ou modificação, após a inoculação e a
incubação, que permite ao observador distinguir os tipos de bactérias. Por exemplo,
inoculando-se uma mistura de bactérias num meio de ágar sangue, algumas das
bactérias podem hemolisar (destruir) as células vermelhas e outras não. A zona clara ao
redor da colônia é a evidência de ter ocorrido a hemólise. Assim, pode-se estabelecer a
distinção entre bactérias hemolíticas e não-hemolíticas, de acordo com o seu
desenvolvimento. Tabela 2. Características de vários produtos complexos, usados como ingredientes dos
meios de cultura.
(Fonte: Pelezar, 1980)
3.5. Cultivo de Bactérias
O cultivo de bactérias em laboratório apresenta dois problemas. Primeiro, é
preciso uma cultura pura de uma única espécie para se estudar as características de um
organismo. Em segundo lugar, é preciso encontrar um meio que permita o crescimento
do organismo desejado.
Métodos de obtenção de culturas puras
Para o estudo de bactérias em laboratório, é importante se obter uma cultura
pura, uma cultura que contenha apenas uma única espécie de organismo. Hoje, as
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culturas puras são obtidas através do isolamento dos descendentes (ou prole) de uma
única célula.
Apesar de agora parecer simples, a técnica de isolar culturas puras foi difícil de
ser desenvolvida, pois dois ou mais organismos de diferentes espécies estavam várias
vezes presentes nas culturas. A técnica de espalhar poucas bactérias em uma superfície
sólida foi mais eficiente, pois ela depositava uma única bactéria em alguns locais.
Entretanto, várias substâncias sólidas foram testadas até se estabelecer o ágar como o
agente solidificante ideal. Poucos organismos o digerem, e, preparado em uma solução
de 1,5%, ele não se funde a uma temperatura inferior a 95º C. Além disso, depois de
fundido, o ágar permanece líquido até esfriar a 40º C, temperatura fria o suficiente para
permitir a adição de nutrientes e de organismos vivos que poderiam ser destruídos pelo
calor.
O método de esgotamento
Hoje, a maneira correta de preparar culturas puras é utilizar o método de
esgotamento em placas de ágar. As bactérias são recolhidas com uma alça metálica
estéril, e a alça é movida levemente na superfície do ágar, depositando as bactérias nas
estrias resultantes. A alça de inoculação é flambada e algumas bactérias são retiradas da
região já depositada e estriadas em uma nova região. À medida que o esgotamento
continua, cada vez menos bactérias são depositadas, sendo a alça flambada após cada
estriamento. Os organismos individuais são depositados na ultima região estriada.
Depois de a placa ser incubada a uma temperatura de crescimento adequada ao
organismo, aparecem pequenas colônias, cada uma derivada de uma única célula
bacteriana. A alça metálica é usada para se retirar uma porção de uma colônia isolada e
transferi-la para qualquer meio estéril apropriado, para estudos posteriores. O uso de
técnicas estéreis (assépticas) assegura que o novo meio irá conter organismos de uma
única espécie.
4. Fungos
Os fungos são tão distintos das algas, briófitas e plantas vasculares, quanto o são
dos animais. Tradicionalmente são agrupados com as plantas, mas pertencem a um
Reino distinto, Fungi, constituindo um dos cinco principais grupos de organismos vivos,
como já foi falado.
Juntamente com as bactérias, os fungos vêm a ser os seres encarregados da
decomposição na biosfera, sendo suas atividades tão necessárias à existência
permanente do mundo que conhecemos quanto as dos seres produtores de alimento. A
decomposição libera gás carbônico na atmosfera e devolve ao solo compostos
nitrogenados e outros materiais, que poderão ser novamente usados por vegetais e
eventualmente por animais. Foi estimado que os 20 cm superiores da terra fértil possam
conter perto de 5 toneladas de fungos e bactérias por hectare.
Os fungos constituem um grupo de microrganismos que tem grande interesse
prático e científico para os microbiologistas. Suas manifestações são familiares:
crescimentos azuis e verdes em laranjas, limões e queijos; as colônias cotonosas
(aspecto de algodão), brancas ou acinzentadas, no pão e no presunto; os cogumelos dos
campos e os comestíveis, entre tantos. Todas representam vários organismos fúngicos,
morfologicamente muito diversificados. De um modo geral, os fungos incluem os
bolores e as leveduras. A palavra bolor tem emprego pouco nítido, sendo usada para
designar os mofos, as ferrugens e o carvão (doença de gramíneas). As leveduras se
diferenciam dos bolores por se apresentarem sob a forma unicelular.
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Os fungos podem viver como saprófagos, quando obtêm seus alimentos
decompondo organismos mortos; como parasitas, quando se alimentam de substâncias
que retiram dos organismos vivos nos quais se instalam, prejudicando-os; ou podem
estabelecer associações mutualísticas com outros organismos, em que ambos se
beneficiam. Em todos os casos, no entanto, os fungos liberam enzimas digestivas para
fora de seus corpos e estas atuam diretamente no meio orgânico no qual eles se
instalam, degradando moléculas simples, que são então absorvidas pelo fungo. Os
fungos saprófagos são responsáveis por grande parte da degradação da matéria orgânica,
propiciando a reciclagem de nutrientes, como já foi comentado.
Os fungos são importantes nas fermentações industriais, tais como na fabricação
da cerveja, do vinho e na produção de antibióticos (penicilina), de vitaminas e ácidos
orgânicos (ácido cítrico). A fabricação de pães e o amadurecimento de queijos também
dependem da atividade saprofítica dos fungos. Como parasitas, os fungos causam
doenças vegetais, humanas e animais, embora a maior parte das micoses seja menos
severa que as bacterioses ou as viroses.
A ciência que estuda os fungos recebe o nome de Micologia.
4.1. Características próprias dos fungos
Os fungos são microrganismos eucarióticos quimiorganotróficos. Reproduzem
se, naturalmente, por meio de esporos, com poucas exceções. Além disso, a maioria das
partes de um fungo é potencialmente capaz de crescimento; um minúsculo fragmento é
suficiente para originar um novo indivíduo. Os fungos não têm clorofila, são
filamentosos em geral e comumente ramificados. Os filamentos apresentam paredes
celulares constituídas por quitina ou celulose, ou ambas. São imóveis, em sua maioria,
embora possam demonstrar células vegetativas móveis.
A maior parte entre todas as classes de fungos produz esporos de dois modos:
sexuada e assexuadamente. Os esporos produzidos sexuadamente têm núcleos derivados
das células parentais e estas, como os esporos, são, geralmente, haplóides. Dois núcleos
de células parentais se fundem para formar um núcleo diplóide zigótico, do qual, por
divisão celular redutora (meiose zigótica), originam-se os núcleos dos esporos
haplóides. Os esporos sexuados e as estruturas que os contém são usualmente
distinguíveis, sob o ponto de vista morfológico, dos esporos assexuados, os quais são
formados por simples diferenciação do talo em desenvolvimento (o talo é o fungo
individual completo, incluindo as porções vegetativas ou não-sexuadas e todas as
estruturas especializadas). Os esporos são muito importantes na classificação dos
fungos, sendo as classes diferenciadas pelas características morfológicas dos estágios
sexuados e dos esporos.
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26
Figura 19. Morfologia de alguns tipos de esporos fúngicos.
Morfologia dos fungos filamentosos: O talo de um fungo é tipicamente
composto por filamentos tubulares microscópicos, chamados hifas. O conjunto de hifas
tem o nome de micélio. A parede das hifas é semi-rígida, e os fungos podem apresentar
três tipos morfológicos de hifas. O micélio pode formar uma rede frouxa ou um tecido
compacto, como nos cogumelos. Além disso, os micélios podem ser vegetativos ou de
reprodução, sendo estes responsáveis pela produção de esporos. As hifas dos micélios
de reprodução são, em geral, aéreas, enquanto algumas hifas do micélio vegetativo
podem penetrar no meio, em busca de nutrientes.
Figura . Micélio
Tipos morfológicos de hifas nos fungos possuem hifa cenocítica não apresenta
septos transversais. As hifas septadas podem apresentar células mononucleadas (um
núcleo por célula) ou multinucleadas (dois ou mais núcleos por célula); os septos
transversais apresentam um poro central, através do qual o citoplasma e os nucléolos
podem migrar de um compartimento para outro.
* hifas septadas:
micélio apocítico: um núcleo em cada compartimento micélio diplocítico:
dois núcleos em cada compartimento
* hifas asseptadas: micélio cenocítico (do grego: koinos = partilhar +
kytos = compartimento)
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Figura. Hifas (Davis et al.., 1990).
4.2. Reprodução nos Fungos
As leveduras (fungos unicelulares) reproduzem-se assexuadamente por
gemulação ou brotamento, no qual uma pequena protuberância (broto) cresce e
eventualmente separa-se da célula-mãe. Cada broto que separa-se, pode tornar-se uma
nova levedura. Leveduras também podem reproduzir-se assexuadamente por fissão e
sexuadamente, através da formação de esporos. As leveduras não são classificadas
como um grupo taxonômico único, pois muitos fungos diferentes podem ser induzidos a
formar um estágio de levedura.
Os esporos dos fungos terrestres são células reprodutivas não-móveis, dispersas
através do vento ou por animais e, geralmente, produzidos nas hifas aéreas (que se
projetam no ar). Este arranjo permite que os esporos sejam "arrastados" por correntes de
ar e distribuídos a novas áreas. Em alguns fungos, as hifas aéreas formam estruturas
grandes e complexas, onde os esporos são produzidos. Estas estruturas são chamadas
esporocarpos ou corpos de frutificação. A parte familiar de um cogumelo, por
exemplo, é um grande esporocarpo. Nós normalmente não vemos a maior parte do
organismo, uma rede quase invisível de hifas enterradas sobre o material na qual ele
cresce. Ao contrário de células animais e vegetais, os fungos normalmente contêm
núcleos haplóides. Na reprodução sexuada, os fungos freqüentemente realizam um tipo
de conjugação no qual duas hifas geneticamente diferentes juntam-se e seus núcleos
fundem-se. Em certos fungos, os núcleos geneticamente diferentes não se fundem
imediatamente, mas permanecem separados dentro do citoplasma do fungo pela maior
parte de sua vida. Hifas que contêm dois núcleos distintos geneticamente dentro de cada
célula são chamadas dicarióticas. Hifas que contêm somente um núcleo por célula são
monocarióticas.
Quando um esporo fúngico "cai" num substrato apropriado, por exemplo, um
pêssego muito amadurecido, o esporo germina e começa a crescer. Uma hifa parecida
com um fio emerge do pequeno esporo. Assim que uma camada de hifas emaranhadas
infiltra-se no pêssego, outra hifa estende-se em direção ao ar. Células das hifas secretam
enzimas digestivas dentro do pêssego, degradando seus compostos orgânicos em
pequenas moléculas que serão absorvidas pelos fungos.
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Figura 19: a) Célula de uma levedura comum, mostrando a reprodução por brotamento. b)
Fotomicrografia de células da levedura Saccharomyces cerevisiae, utilizado como fermento de pão. Note
que muitas das células estão brotando (fonte: Davis, 1990).
Reprodução assexuada:
Ocorre com mais frequência (várias vezes numa estação)
Maior número de indivíduos (mas menor variabilidade genética)
* esporos assexuais (produzidos mitoticamente: geneticamente iguais)
* fragmentação de hifas
* gemulação
Tipos de esporos assexuais:
- esporangiósporos: esporos internos produzidos por
mitose em esporângios.
- conídios (“poeira” em grego) : esporos externos produzidos
sobre conidióforos.
- zoósporos: esporos móveis produzidos em zoosporângios
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b) Reprodução sexuada
Formação, ou não, de estruturas especializadas
Esporos formados por meiose: indivíduos diferentes doam seus núcleos
Principais tipos de esporos sexuados:
* Zigósporos * Ascósporos *Basidiósporos
Figura 20: Germinação de um esporo e crescimento de um fungo terrestre (fonte: Davis et al.., 1990).
Antes de ocorrer plasmogamia, é preciso que uma hifa "atraia" a outra. Isso
ocorre por meio da produção de feromônios (”atração sexual“) produzidos por hifas
compatíveis.
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4.3.Fisiologia e Nutrição dos Fungos
Fungos crescem melhor em habitats úmidos e escuros, porém são encontrados
universalmente onde quer que exista matéria orgânica disponível. Eles necessitam de
umidade para crescer e podem obter água da atmosfera, bem como do meio sobre o qual
vivem. Quando o ambiente torna-se muito seco, os fungos sobrevivem entrando num
estado de repouso ou produzindo esporos, que são resistentes à aridez. Embora o pH
ótimo para a maioria das espécies seja ± 5,6, alguns fungos podem tolerar e crescer em
ambientes onde o pH varia de 2 a 9. Muitos fungos são menos sensíveis às altas
pressões osmóticas que as bactérias, e podem crescer em soluções de sais concentradas
ou soluções de açúcares, que inibem ou previnem o crescimento bacteriano. Os fungos
também crescem num amplo intervalo de temperatura (0°C a 62°C, estando a
temperatura ótima entre 22°C e 30°C).
4.4. Classificação dos Fungos
A classificação dos fungos é baseada principalmente nas características dos
esporos sexuais e dos corpos de frutificação, na natureza de seus ciclos de vida e nas
características morfológicas de seus micélios vegetativos ou de suas células. Entretanto,
muitos fungos produzem esporos sexuais sob certas condições ambientais. Aqueles que
possuem todos os estágios sexuais conhecidos são denominados fungos perfeitos e os
que não possuem, fungos imperfeitos. Os fungos imperfeitos são classificados
arbitrariamente, num primeiro momento, e são colocados provisoriamente em uma
classe especial denominada Deuteromycetes. Quando o seu ciclo sexual é descoberto
posteriormente, são então reclassificados entre outras classes e recebem novos nomes.
Os micologistas dividem o Reino Fungi em 3 principais grupos: os fungos
limosos, os fungos inferiores flagelados e os fungos terrestres.
Os fungo limosos são considerados um enigma biológico e taxonômico porque
não são nem um fungo típico, nem um protozoário típico. Durante uma de suas etapas
de crescimento, assemelham-se aos protozoários porque não possuem parede celular,
possuem movimentos amebóides e ingerem nutrientes particulados. Durante a etapa de
propagação, formam corpos de frutificação e esporângios apresentando esporos com
paredes, como nos fungos típicos. Vivem em água doce, em solo úmido e em vegetais
em decomposição.
Os fungos inferiores flagelados incluem todos os fungos, com exceção dos
limosos, que produzem células flageladas em alguma fase do seu ciclo de vida.
Alimentam-se pela absorção dos alimentos. A grande maioria é filamentosa,
produzindo um micélio cenocítico. Muitos são unicelulares ou unicelulares com
rizóides. A reprodução sexuada pode ocorrer por vários meios; a reprodução assexuada
ocorre mediante a produção de zoósporos. Podem ser parasitas ou saprófitas, que vivem
no solo ou água doce.
Os fungos terrestres são as espécies mais conhecidas entre os fungos. Este
grupo inclui as leveduras, bolores, orelhas-de-pau, mofo, fungos em forma de taça,
ferrugem, carvão, bufa-de-lobo e cogumelos. Todos caracterizam-se pela nutrição
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através da absorção e, com exceção das leveduras, a maioria produz um micélio bem
desenvolvido constituído de hifas septadas ou cenocíticas. As células móveis não são
encontradas nos fungos terrestres. A reprodução assexuada ocorre através de
brotamento, fragmentação e produção de esporangióforos ou conídios. A reprodução
sexuada envolve a produção de zigósporos, ascósporos ou basidiósporos.
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Existem 4 principais grupos de fungos terrestres: Zygomycetes, Ascomycetes,
Basidiomycetes e Deuteromycetes.
4.4.1. Zygomycetes
Os membros desta classe são chamados de zigomicetos e há cerca de 600
espécies encontradas em todo mundo. Eles produzem esporos sexuais chamados
zigósporos, que permanecem dormentes por um tempo. Suas hifas são cenocíticas (não
têm septo). Muitos zigomicetos vivem no solo sobre matéria orgânica animal ou vegetal
em decomposição; alguns são parasitas de plantas e animais. Alguns zigomicetos são
utilizados na elaboração de produtos comercialmente valiosos, como molho de soja,
ácidos orgânicos esteróides para drogas contraceptivas e antiinflamatórias. Um
zigomiceto comum é o bolor preto do pão, Rhizopus stolonifer. O pão torna-se
embolorado quando o esporo do bolor cai sobre ele, germinando e crescendo como uma
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massa de fios, o micélio. As hifas penetram no pão e absorvem nutrientes. Algumas
hifas, chamadas estolões, crescem horizontalmente; outras, chamadas rizóides, ancoram
os estolões no pão. Eventualmente, certas hifas crescem para cima e desenvolvem um
esporângio, ou saco de esporos, na extremidade. Agregados de esporos esféricos pretos
desenvolvem-se dentro do esporângio e são liberados quando este se rompe. A
reprodução sexual pode ocorrer quando hifas de dois tipos diferentes (+ e -) crescem em
contato uma com a outra (figura 21). Não há diferenciação sexual morfológica, de modo
que não é próprio referir-se a linhagens feminina e masculina. Quando as hifas de dois
tipos encontram-se, hormônios são produzidos, fazendo com que suas extremidades
cresçam juntas. Os núcleos + e - fundem-se e formam um núcleo diplóide, o zigoto,
chamado de zigósporo. O zigósporo pode permanecer dormente por vários meses. A
meiose provavelmente ocorre no momento ou um pouco antes da germinação do
zigósporo. Quando este germina, uma hifa aérea desenvolve-se com um esporângio na
extremidade. Cada esporo formado é capaz de tornar-se um novo micélio.
4.4.2. Ascomycetes
Os ascomicetos constituem um grande grupo de mais ou menos 30.000 espécies
descritas. Recebem também o nome de fungos de saco pois seus esporos sexuais são
produzidos em pequenos sacos chamados ascos. Suas hifas geralmente têm septos,
porém as paredes transversais são perfuradas, permitindo o movimento do citoplasma.
Os ascomicetos variam na complexidade, desde leveduras unicelulares até mofos
multicelulares e fungos em forma de taça. Eles incluem a maioria dos bolores
esverdeados, rosas e marrons que estragam os alimentos e as trufas comestíveis. Os
ascomicetos desempenham um papel ecológico importante na degradação de moléculas
animais e vegetais resistentes como a celulose, lignina e o colágeno. Na maioria dos
ascomicetos, a reprodução assexuada envolve a produção de esporos, chamados
conídios. Estes esporos desprendem-se das extremidades de certas hifas conhecidas
como conidióforos (que contêm os esporos). Algumas vezes chamados de "esporos de
verão", os conídios são um meio de rápida propagação do novo micélio.
Eles variam na forma, tamanho e cor, nas diferentes espécies; a cor do conídio é que dá
a característica preta, azul, verde, rosa ou outra, a muitos destes bolores. A reprodução
sexual ocorre após duas hifas crescerem juntas e unirem seus citoplasmas. Dentro desta
estrutura fundida, os dois núcleos ficam juntos, porém não se fundem. Novas hifas
desenvolvem-se a partir desta estrutura; as células destas hifas são dicarióticas (2
núcleos). Estas hifas formam o corpo de frutificação conhecido como ascocarpo, onde
o asco se desenvolve. Dentro de cada célula que irá se desenvolver num asco, os dois
núcleos fundem-se e formam um núcleo diplóide, o zigoto. Cada zigoto sofre meiose e
origina 4 núcleos haplóides. Cada um destes passa por uma mitose, resultando na
formação de 8 núcleos. Estes, quando separados, formam os ascósporos. Assim, dentro
de um asco, há 4 ascósporos, que são liberados quando este se rompe.
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4.4.3.Basidiomycetes
Esta divisão tem mais de 25.000 espécies e incluem os fungos mais familiares,
como os cogumelos, as orelhas-de-pau, além de importantes parasitas de plantas, como
os fungos do carvão e da ferrugem.
Os basidiomicetos formam seus esporos sexuais dentro de estruturas chamadas
basídios. Na extremidade de cada um destes são formados 4 basidiósporos. Quando
são liberados e encontram ambiente apropriado, desenvolvem-se num novo micélio. O
corpo vegetativo de um basidiomiceto, tal como o do cogumelo comestível Agaricus
campestris, consiste em uma massa de hifas brancas, tipo fios, ramificadas, que fica
geralmente abaixo da terra. Massas compactas de hifas, chamadas botões, desenvolvem
se ao longo do micélio. Os botões desenvolvem-se numa estrutura que popularmente
chamamos de cogumelo, que consiste de uma haste (estipe) e um "chapéu", e que na
verdade é o basidiocarpo.
Os basídios estão localizados em lamelas que existem na superfície inferior dos
chapéus. Cada fungo individual produz milhões de basidiósporos, e cada um pode
formar, potencialmente, um novo micélio primário. As hifas deste micélio têm células
monocarióticas. Quando duas hifas de tipos diferentes se juntam, elas se fundem, porém
seus núcleos não. Assim é formado o micélio secundário, com hifas dicarióticas. Estas
hifas podem crescer e formar massas compactas, que são os basidiocarpos ou
cogumelos. Nas nervuras destes, os núcleos se fundem, formando zigotos diplóides.
Estes sofrem meiose e originam 4 núcleos haplóides, que se localizam na superfície do
basídio, como dedos, e vão formar os basidiósporos.
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4.4.4. Deuteromycetes
Em torno de 25.000 fungos são classificados como deuteromicetos, que
também são conhecidos como "fungos imperfeitos". Assim são chamados porque não
observa-se o estágio sexuado em seu ciclo de vida. A maioria dos deuteromicetos
reproduzem-se somente por esporos assexuais ou conídios (figura 25). Neste aspecto,
lembram os estágios assexuais de ascomicetos e basidiomicetos, que também produzem
esporos assexuais. Desta forma, acredita-se que alguns deuteromicetos possam ser
ascomicetos ou basidiomicetos que perderam a capacidade de formar ascos ou basídios.
Entre os gêneros economicamente importantes desta divisão estão o Penicillium
e o Aspergillus. Algumas espécies de Penicillium produzem o conhecido antibiótico
penicilina, enquanto outras espécies dão sabor e aroma a queijos com Roquefort e
Camembert. Espécies de Aspergillus são usadas para fermentar pastas e molhos de soja,
além de produzir ácido cítrico comercialmente. Outros fungos imperfeitos são
causadores de certas doenças, como Candida albicans, que causa a candidíase, uma
doença da mucosa da boca, vagina e trato alimentar.
Figura. Fotomicrografia
eletrônica de varredura de conidióforos de Penicillium. O arranjo dos conídios (esporos assexuais) nos conidióforos varia de espécie para espécie e é usado na identificação dos fungos (fonte: Solomon & Berg, 1995).
4.4.5. Leveduras
As leveduras, que são unicelulares, formam um dos grupos mais importantes e
interessantes dos ascomicetos microscópicos. Estão reunidas em torno de 40 gêneros,
com aproximadamente 350 espécies.
As leveduras possuem a capacidade de fermentar carboidratos, quebrando a
glicose para produzir etanol e dióxido de carbono. Este processo é de fundamental
importância na produção de pão, cerveja e vinho. Através dos anos, muitas linhagens
diferentes de leveduras têm sido selecionadas para este processo. A levedura de maior
importância econômica é espécie Saccharomyces cerevisiae. Outras leveduras são
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importantes patógenos e causam doenças tais como o "sapinho" e a criptococose,
infecção que pode atacar os pulmões, entre outras partes do organismo humano.
Figura. Leveduras
4.5. Fungos e suas associações com outros organismos
Os fungos podem se associar a organismos de diversas formas. Em algumas
destas associações os parceiros são mutuamente dependentes e não podem viver
isoladamente. Em outras, os indivíduos podem sobreviver por si mesmos.
4.5.1. Liquens
É uma relação simbiótica entre uma alga (ou uma cianobactéria) e um fungo. O
fungo geralmente é um ascomiceto. As algas ou cianobactérias encontradas nos liquens
também são encontradas livremente na natureza, enquanto que o parceiro fúngico tem
sido encontrado somente como parte do líquen. As algas fabricam alimentos pela
fotossíntese, usando a água e os minerais obtidos pelos fungos, enquanto estes
dependem das algas quanto ao fornecimento de carbono orgânico. Liquens normalmente
se reproduzem por simples fragmentação, ou pela produção de propágulos
pulvurulentos especiais denominados sorédios, ou por pequenas projeções do talo
conhecidas como isídios. Fragmentos, sorédios e isídios contêm tanto hifas do fungo
como algas ou cianobactérias; eles atuam como unidades de dispersão que têm a função
de estabelecer o liquen em novas localidades.
Existem mais ou menos 20.000 espécies de liquens. Eles toleram ambientes
extremos de temperatura e umidade e crescem em quase todos os lugares exceto em
ambientes muito poluídos, como cidades industriais, por exemplo. Por isso muitas
espécies são utilizadas como bioindicadoras de poluição. Os liquens podem crescer
sobre troncos de árvore, picos de montanhas e rochas lisas. As cores dos liquens variam
do branco ao negro, passando por tonalidades de vermelho, laranja, marrom, amarelo e
verde. Esses organismos contêm muitos compostos químicos incomuns. Muitos liquens
são utilizados como fontes de corantes e também como medicamentos, bases fixadoras
de perfumes ou fontes de alimento de menor importância.
4.5.2. Micorrizas
A micorriza é uma associação benéfica entre um fungo e uma raiz de planta.
Este termo é derivado do grego, significando "raiz fúngica". Estas associações são
usualmente benéficas para a planta hospedeira, assim como para o simbionte e, algumas
vezes, o hospedeiro não pode prosperar sem os benefícios oriundos do fungo, como o
caso de certas orquídeas, que são incapazes de germinar e se desenvolver a menos que
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sejam infectadas por fungos. As micorrizas melhoram a absorção mineral pelas plantas
verdes que possuem, geralmente, um sistema de proteção, para impedir que o fungo
cause dano às radicelas. As micorrizas ajudam na transferência direta do fósforo, zinco,
cobre e outros nutrientes do solo para as raízes. Por outro lado, a planta fornece carbono
orgânico ao fungo simbionte. Os parceiros fúngicos são geralmente os zigomicetos e os
basidiomicetos.
4.5.3. Trufas
As trufas são corpos frutificantes subterrâneos de certos Ascomycetes que
crescem em associação com algumas árvores, entre as quais o carvalho e a faia, que são
os parceiros mais comuns. O fungo proporciona certos nutrientes à arvore, a qual, por
sua vez, fornece substâncias essenciais para o crescimento do fungo. As trufas
consistem em uma massa de ascósporos e micélios, coberta com uma casca espessa e
protuberante do micélio. Possuem odor, gosto e textura agradáveis, o que as torna
apreciáveis pelos gourmets.
5. Algas e Protozoários
Os seres vivos pertencentes ao reino Protista são unicelulares, porém são
diferentes das bactérias porque suas células são eucarióticas, isto é, possuem um núcleo
individualizado, envolvido por uma membrana. Os principais representantes desse reino
são os protozoários e algumas algas.
A única célula que um protista possui pode ser considerada uma “célula
organismo”, pois é capaz de realizar todas as funções vitais que um organismo mais
complexo realiza: alimentação, respiração, excreção e locomoção. Eles são encontrados
nos mais diferentes ambientes: na superfície ou no fundo dos oceanos, na água doce ou
poluída, no solo úmido ou em matéria orgânica em decomposição. Outros vivem dentro
de algumas plantas ou de animais, inclusive o homem. Apresentam as mais variadas
formas, podendo viver isolados, fixos ou se locomover livremente. Certas espécies
podem formar colônias. Há ainda aqueles que vivem associados a outros seres vivos
trocando benefícios. Muitos protistas podem se locomover no ambiente em que vivem
e, para isso, possuem cílios, flagelos ou pseudópodos.
Quanto à nutrição, os protistas podem ser autótrofos com clorofila, como é o
caso das algas unicelulares, ou heterótrofos, sem pigmentos fotossintetizantes, como é o
caso dos protozoários.
5.1. Algas
As algas constituem um grupo filogeneticamente heterogêneo.
Compreendem vários grupos de seres vivos aquáticos e autotróficos
(fotossintetizantes).
A maioria são microscópicas (não devem ser confundidas com as
cianobactérias).
Algumas são macroscópicas: algas marinhas podem atingir mais de 30 m. Não
possuem verdadeiras raízes, caules ou folhas.
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- Não precisam de sistema vascular pois toda célula é autotrófica.
As algas contém clorofila e realizam a fotossíntese (autotrofia):
6 CO2 + 12 H2O energia luminosa C6H12O6 + 6 H2O + 6 O2
Algumas algas também realizam a fotossíntese anoxigênica:
6 CO2 + 12 H2 energia luminosa C6H12O6 + 6 H2O
(Também realizada por procariotos fotossintéticos, mas com H2S com redutor)
Algumas podem crescer na ausência de luz (quimiorganotrofia).
Outras podem assimilar compostos orgânicos simples na presença de luz
(fotoeterotrofia).
Uma das principais características de classificação das algas corresponde
ao polímero de reserva, como resultado da fotossíntese
A parede celular das algas apresenta grande diversidade na estrutura e
composição:
• Fibrilas de celulose
• Reforço de carbonato de cálcio (“algas calcáreas”)
• Quitina
• Sílica nas diatomáceas (melhores fósseis de algas, 200 milhões de anos)
• Contém poros que permitem apenas a passagem de substâncias de pequena
massa molecular
• Não fagocitam, aspecto que distingue dos protozoários.
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• Ausente nas euglenóides
As algas estão presentes nos oceanos, rios e lagos, tanques artificiais, poças de
água e são também comuns nos solos e em rochas em associação com fungos
(líquens).
Os líquens são seres pioneiros na sucessão ecológica: conseguem colonizar
ambientes com poucos recursos nutritivos.
Liberam substâncias que degradam as rochas, iniciando a formação de um solo.
Podem ser unicelulares e coloniais e quando os agregados são lineares:
filamentosa.
Em relação a motilidade algumas algas são móveis, em geral pela ação de
flagelos. Algas não apresentam cílios.
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Dinoflagelados (do grego dinos = rodopiante), podem originar densas
suspensões denominadas florescimentos, de coloração vermelha (marés
vermelhas) e possuem toxina que relacionada a uma potente neurotoxina (algas
do gênero Alexandrium). Pfiesteria é outro gênero de dinoflagelado tóxico e os
esporos infectam peixes e as neurotoxinas destroem a pele dos animais
infectados possibilitando o desenvolvimento de patógenos bacterianos, inclusive
1 bilhão de peixes foram mortos devido ao surto dessa alga no Estuário Nuese,
na Carolina do Norte, EUA.
.
5.2. Protozoários
O termo protozoário deriva do grego e significa “primeiro animal” é que durante
muito tempo eles foram classificados como animais microscópicos, mas atualmente essa
classificação mudou. Na realidade, os protozoários são Protistas unicelulares,
eucariontes, heterotróficos e com capacidade de locomoção.
Os protozoários por serem heterotróficos dependem de outros seres vivos para
obter seus alimentos. Podem se alimentar de bactérias ou outros protistas ou, então,
absorvem substâncias orgânicas da matéria em decomposição. Alguns são parasitas,
vivendo no corpo de outros seres vivos podendo lhes causar doenças. Há aqueles que,
embora vivendo dentro do corpo de seres vivos, lhes trazem benefícios, como é o caso
de algumas espécies que vivem no intestino dos cupins fazendo a digestão da celulose
que esses insetos comem.
A maioria dos protozoários se reproduz assexuadamente por cissiparidade ou
divisão binária. A célula cresce até um determinado tamanho, se divide ao meio,
originando os novos seres vivos. Mas existem também algumas espécies que se
reproduzem sexuadamente.
• Distinguem-se:
- Dos procariotos por sua natureza eucariótica e tamanho geralmente
maior.
- Das algas por serem desprovidos de clorofila
- Das leveduras (fungos) pela mobilidade e ausência de parede celular
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- Dos bolores (fungos) pela incapacidade de formar corpos de
frutificação.
• São filogeneticamente diversos, estando presentes em várias linhagens da árvore
de Eukarya.
O protozoários possuem diferentes formas de locomoção, que têm sido
consideradas a principal característica para classificá-los em diferentes grupos. São eles:
sarcodíneos, ciliados, flagelados e esporozoários.
Sarcodíneos
São os protozoários que se locomovem e capturam seus alimentos por
pseudópodos. As amebas são os principais representantes desse grupo. Alguns tipos de
amebas são de vida livre, mas há também espécies parasitas do homem e de outros
animais, podendo inclusive causar doenças. A forma como as amebas usam os
pseudópodos para se alimentar é muito interessante e é chamada de fagocitose. Observe
a figura para entender como acontece.
Ao entrar em contato com alguma partícula alimentar, a ameba estende
pseudópodos e circula o alimento, que é então levado para dentro do citoplasma da
célula onde será digerido.
Um grupo de protozoários, aparentado da ameba, tem habitado os mares desde
muito tempo, são os foraminíferos. Eles possuem uma carapaça rica em cálcio e silício.
Ao longo do tempo, as carapaças desses organismos foram se acumulado no fundo dos
oceanos, originando as rochas sedimentares calcárias. Sabe-se que determinados tipos
de foraminíferos estão relacionados com a formação de petróleo. Durante as
perfurações, a presença de foraminíferos indica para os geólogos a possibilidade da
existência de petróleo.
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Ciliados
Os ciliados apresentam um grande número de pequenos filamentos em volta do
corpo chamados cílios, que servem para locomoção e captura de alimentos. É o
movimento da água produzido pelo batimento dos cílios que ajuda o protozoário na
obtenção do alimento. A maioria dos ciliados é de vida livre. O paramécio é o mais
comum deles em água doce. Alimenta-se de microrganismos como bactérias, algas e
leveduras.
Flagelados
Os protozoários flagelados possuem longos e delicados filamentos chamados
flagelos, geralmente um ou dois, mas algumas espécies chegam a ter vários deles. Esses
filamentos são usados para a locomoção e obtenção de alimentos. Muitos flagelados têm
vida livre e outros são parasitas que ocasionam doenças no ser humano.
Mastigophora: os flagelados
• São móveis pela ação do flagelo
• Muitos são de vida livre
• Outros são parasitas e/ou patogênicos
• Os mais importantes são os tripanossomas
Euglenóides: flagelados fototróficos
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• Flagelados contendo cloroplastos (classificados como algas): permite o
crescimento fotossintético
• Na ausência de luz são capazes de crescer utilizando matéria orgânica (fonte de
C e energia), tornando-se indistinguíveis dos demais protozoários.
• Não são patogênicos.
Esporozoários
São protozoários que não possuem nenhum tipo estrutura de locomoção, como
pseudópodos, cílios ou flagelos, alguns se movem por modificações na forma do corpo.
Possuem o corpo arredondado ou alongado. Todos são parasitas e o alimento é
absorvido diretamente do hospedeiro.
Apicomplexa (esporozoários)
• São parasitas obrigatórios.
• Não formam esporos verdadeiros como os de fungos, mas sim uma estrutura
análoga, relacionada com sua transmissão.
O alimento é absorvido na forma solúvel, como nas bactérias
• A malária
é uma doença causada por esporozoários do gênero Plasmodium, transmitidos
pelo mosquito Anopheles, é uma doença tropical e parasitária que mais causa
problemas sociais e econômicos no mundo, só superada pela aids.
Doenças causadas por protozoários
Alguns protozoários podem causar doenças sérias no homem, muitas delas são
de difícil cura e outras ainda são incuráveis.
Algumas merecem mais destaque devido a sua grande incidência, atingindo um
grande número de pessoas no Brasil e no mundo. São elas:
Disenteria amebiana ou amebíase – causada pela Entamoeba histolytica.
Doença de Chagas – causada por um protozoário flagelado, o Trypanosoma
cruzi
Malária – o Plasmodio vivax é o protozoário causador da malária
Toxoplasmose – causada pelo protozoário Toxoplasma gondii
6.VÍRUS
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O termo vírus (do latim veneno) era empregado na Antigüidade como sinônimo
de veneno e se referia ao agente de natureza desconhecida, que provocavam doenças.
A descoberta dos vírus deve-se ao biólogo russo Dimitri Ivanovski pesquisador
do agente causador da doença que atacava as folhas do tabaco com a qual se fabricava o
fumo, impedindo o crescimento da planta, deixando suas folhas com manchas que
lembravam um desenho do tipo mosaico, por isso era conhecido como “mosaico do
fumo”, podendo, inclusive, levá-la à morte.
Em 1935, o norte-americano Stanley conseguiu isolar a partícula que causava o
mosaico, a partir de um concentrado feito com uma tonelada de folhas contaminadas.
Ele foi purificando esse suco até chegar a “cristais” em forma de agulhas. Alguns anos
mais tarde, com a descoberta do microscópio eletrônico, esses cristais puderam ser
observados e estudados e se conheceram melhor sua estrutura e a forma como eles
atuam.
Extremamente pequenos e visíveis apenas ao microscópio eletrônico, os vírus
são constituídos por uma cápsula orgânica de natureza basicamente protéica, que abriga
em seu interior o material genético viral. São tão pequenos que passam através dos
filtros cujos poros não permitem a passagem das bactérias. O maior vírus tem menos do
que a quarta parte das dimensões de uma salmonela e milhares dos de menor tamanho
poderiam ser colocados dentro da parede celular vazia de um estafilococo. Ao contrário
dos demais seres vivos, que possuem DNA e RNA, os vírus são portadores apenas de
um tipo de ácido nucléico: DNA ou RNA. Apesar de possuírem material genético, os
vírus são destituídos de membrana plasmática, de hialoplasma e de ribossomos. Assim,
esses seres não possuem organização celular, nem metabolismo próprio, permanecendo
absolutamente inertes quando fora de células vivas. Entretanto, quando penetram em
uma célula hospedeira ou nela injetam seu material genético, multiplicam-se em seu
interior à custa do equipamento bioquímico da célula vítima. Dessa maneira, os vírus
são considerados parasitas intracelulares obrigatórios e provocam inúmeras doenças
nos mais diversos grupos de seres vivos. Essas doenças são genericamente denominadas
viroses. No ser humano, entre outras viroses, podemos citar a Aids, a dengue, a gripe, a
poliomielite, a caxumba e a febre amarela.
Figura . Modelo do mosaico do tabaco.
6.1. Estrutura dos Vírus
Os menores vírus têm somente 17 nm de diâmetro e os maiores chegam a 1000
nm (1 micrômetro). Mesmo os maiores têm uma pobre visibilidade ao microscópio
óptico. A maioria dos vírus só pode ser detectada usando microscopia eletrônica de alta
resolução.
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Cada partícula viral (ou vírion) pode ter as seguintes estruturas:
Capsídio e Envelope: o capsídio é uma capa protéica que circunda o ácido
nucleico, e é composto de subunidades de proteína, os capsômeros, que são
responsáveis pela especificidade viral. Todos os vírions possuem uma simetria de
estrutura, podendo ou não apresentar um envoltório (envelope) contendo lipídeos ou
lipoproteínas. Assim, os vírions com envelope são sensíveis aos solventes de lipídeos,
tais como o éter, o clorofórmio e agentes emulsificantes (sais biliares e detergentes).
Ácidos Nucleicos: Os vírus podem ter DNA ou RNA, mas nunca são
encontrados os dois juntos no mesmo vírion. A estrutura dos ácidos nucleicos nos
vírions pode ser linear ou circular. Quanto à forma, os vírions podem ser:
Icosaédricos: poliedro regular com 20 faces triangulares e 12 ângulos;
esta forma é determinada pelo capsídio. O poliovírus e os adenovírus são alguns
exemplos.
Helicoidais: lembrando longos bastonetes, seus capsídios são cilindros
ocos, com estrutura helicoidal . O vírus do mosaico do tabaco é um exemplo.
Vírus envelopados: o nucleocapsídio interno desse vírus, que pode ser
icosaédrico ou helicoidal, é circundado por uma membrana envoltória. Tais
vírions são pleomórficos (têm formas variadas), já que os envoltórios não são rígidos. O
vírus do herpes é um vírion icosaédrico envelopado.
Vírus complexos: alguns vírions têm uma estrutura muito complicada; o
vírus da vacínia (grupo poxvirus), por exemplo, não possui capsídio claramente
identificado, mas apresenta várias camadas em torno do ácido nucleico.
Figura . Morfologia de alguns vírus bem conhecidos, Simetria icosaédrica: (A) pólio, verruga, adeno,
rota; (B) herpes, Simetria helicoidal: (C) mosaico do tabaco; (D) influenza; (E) sarampo, caxumba,
parainfluenza; (F) raiva. Simetria incerta ou complexa: (G) poxvirus; (H) fagos T-pares (fonte: Pelezar et
al., 1996).
6.2. Replicação do Vírus
Antes que qualquer vírus possa infectar uma célula animal, ele primeiro deve
ligar-se a um receptor específico na membrana celular, provavelmente uma
glicoproteína. Como já foi dito, muitos vírus podem ter um envelope rico em lipídeo
envolvendo o capsídio. Do envelope de muitos vírus projetam-se "pontas" que podem
conter glicoproteínas e lipídeos. As propriedades das moléculas que constituem o
envelope estão relacionadas com a adesão do vírus à vários substratos. Se o envelope
não está presente, as propriedades do capsídio determinam as características adesivas do
vírus.
A multiplicação dos vírus se faz por replicação, no qual as porções protéica e
nucleica aumentam no interior das células hospedeiras sensíveis. Este processo pode ser
dividido em etapas, que são comuns a todas as infecções virais:
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1. Adsorção: envolve a participação de receptores específicos na superfície da
célula hospedeira e das macromoléculas do vírion.
2. Penetração e desnudamento: os vírus com envelope unem-se às células
hospedeiras, levando à fusão do envoltório lipoproteico dos vírus com a membrana
citoplasmática da célula, que resulta na liberação do material nucleocapsídico no
citoplasma celular. Os vírus nús (sem envelope) parecem penetrar pelo mecanismo de
fagocitose.
3. Replicação bioquímica: a replicação ativa do ácido nucleico e a síntese de
proteínas virais começam após a dissociação do capsídio e do genoma. Além do ATP
celular, os vírus requerem o uso dos ribossomas da célula, do RNA de transferência, de
enzimas e de certos processos biossintéticos para sua replicação.
4. Acoplamento ou maturação: os vírus são capazes de dirigir a síntese dos
componentes essenciais para sua progênie e de acoplar estes materiais sob a forma de
vírions maduros, no núcleo e/ou no citoplasma da célula infectada.
5. Liberação: este processo varia com o agente viral. Em alguns casos, a lise
celular resulta na liberação concomitante das partículas virais. Em outros, a maturação e
a liberação são relativamente lentas e os vírions são liberados sem a destruição da célula
hospedeira.
6.3. Bacteriófagos
Bacteriófagos são vírus que infectam bactérias e foram descobertos
independentemente por Frederick W. Twort, na Inglaterra, em 1915, e por Felix
d’Herelle, no Instituto Pasteur, em Paris, em 1917. Os pesquisadores observaram que
colônias bacterianas algumas vezes dissolviam-se e desapareciam devido a uma lise que
ocorria nas células; este efeito lítico podia ser transmitido de colônia a colônia. Este
agente lítico seria um agente infeccioso filtrável, que parasitava as bactérias e foi
denominado de bacteriófago.
Os bacteriófagos têm o cerne de ácido nucléico envolvido por um capsídeo de
natureza proteica, como os outros vírus. Existem 3 formas básicas de bacteriófagos:
cabeça icosaédrica sem cauda, cabeça icosaédrica com cauda (figura 30) e filamentosa.
Com relação ao ciclo de vida, os bacteriófagos podem ser líticos (ou virulentos)
e temperados (ou avirulentos).
No ciclo lítico, os fagos líticos destroem as células hospedeiras bacterianas. No
processo infeccioso lítico, após a replicação do vírion, a célula hospedeira rompe-se,
liberando nova progênie de fagos para infectar outras células hospedeiras.
Os fagos temperados não destroem suas células hospedeiras. Em vez disso, o
ácido nucléico viral é integrado ao genoma da célula hospedeira e replica-se na célula
bacteriana hospedeira de uma geração a outra, sem que haja lise celular. Este processo é
denominado lisogenia e é realizado somente pelos fagos que possuem DNA de fita
dupla.
O processo de adesão de um bacteriófago a uma célula bacteriana é o mesmo
nos 2 tipos de ciclos e é mostrado na figura 31.
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6.4. Isolamento e identificação do vírus
O isolamento e a identificação dos vírus, a partir de espécimes clínicos ou de
materiais de pesquisa, podem ser desenvolvidos por meio de numerosos métodos, não
havendo, contudo, uma técnica única que seja satisfatória para o estudo de todos os
vírus. A primeira fase de identificação laboratorial de um vírus é a coleta e manutenção
adequadas dos espécimes, até que se possam inocular animais sensíveis, culturas de
tecidos, ovos embrionados ou outro tipo adequado de meio. Esta fase inclui a
eliminação de bactérias dos produtos em exame, através da filtração, da centrifugação
diferencial ou do uso de drogas antimicrobianas. Havendo a presença de vírus, podem
ser produzidos e pesquisados anticorpos específicos.
6.5. Agentes Infecciosos Semelhantes aos Vírus
Os viróides, os menores agentes infecciosos conhecidos, são constituídos de
RNA circular de fita única ou de RNA linear de fita dupla, não possuindo qualquer tipo
de capa protéica. Os viróides replicam-se em células de espécies de plantas susceptíveis,
mas não são capazes de codificar suas próprias proteínas, mostrando serem dependentes
da atividade metabólica do hospedeiro para replicação.
Um outro agente causador de doenças é o prion ou partícula protéica
infecciosa, já que a proteína parece ser seu único componente, não possuindo nenhum
ácido nucléico detectável. Possui propriedades incomuns, como a alta resistência à
radiação ultra-violeta e ao calor, ao contrário dos vírus convencionais; no entanto, são
inativados pelo hipoclorito e autoclave.
7. Controle Biológico
Certamente você já deve ter ouvido falar em controle biológico de pragas, que é
baseado em uma idéia simples: controlar uma praga, usando seus próprios inimigos
naturais.
É o que pode ser feito utilizando-se um vírus chamado Baculovirus anticarsia
que combate à lagarta da soja, inseto que pode causar grandes prejuízos às lavouras de
soja, devorando suas folhas.
O controle biológico é um fenômeno que acontece naturalmente na natureza que
consiste na regulação do número de plantas e animais por inimigos naturais. É uma
estratégia que o homem há muito tempo vem utilizando, explorando inimigos naturais
para o controle de patógenos, pragas e ervas daninhas – ação considerada uma arte por
muitos cientistas.
O controle biológico envolve o reconhecimento de que, todas as espécies de
plantas e animais têm inimigos naturais atacando seus vários estágios de vida. Dentre
tais inimigos naturais existem grupos bastante diversificados, como insetos, vírus,
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fungos, bactérias, aranhas, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. A forma mais
conhecida de controle biológico é o controle de insetos por outros insetos.
Os mais utilizados no controle biológico artificial são fungos , bactérias e vírus,
para os quais há inclusive formulações comerciais a venda em lojas de produtos
agrícolas.
Entre os agentes de controle microbiano de insetos que estão sendo utilizados no
país destacam-se os fungos Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Sporothrix
insectorum , os agentes de natureza viral Baculovirus anticarsia , B. erinnys e
B.spodoptera e os produtos à base das bactérias Bacillus thurigiensis e B. sphaericus.
O termo Controle Biológico foi empregado pela primeira vez em 1919, por H.S.
Smith, para designar o uso de inimigos naturais para o controle de insetos-praga.
O controle biológico é o componente fundamental do equilíbrio da Natureza,
cuja essência está baseada no mecanismo da densidade recíproca, isto é, com o aumento
da densidade populacional da presa, ou do hospedeiro, os predadores, ou parasitos,
tendo maior quantidade de alimento disponível, também aumentam em número. Desta
maneira, os inimigos naturais causam um declínio na população da praga.
Posteriormente, a população do inimigo natural diminui com a queda no número de
presas, ou hospedeiros, permitindo que a população da praga se recupere e volte a
crescer.
Em comparação ao controle químico o controle biológico apresenta vantagens e
desvantagens. Entre as vantagens pode-se citar que é uma medida atóxica, não provoca
desequilíbrio, não possui contra-indicações, propicia um controle mais extenso e é
eficiente quando não existe maneira de se utilizar o controle químico. Em compensação
requer mais tecnologia, possui um efeito mais lento, não é de tão fácil aquisição, nem
sempre pode ser aplicado em qualquer época do ano e, geralmente, é mais caro.
7.1.Entre outros tipos de Controle Biológico encontramos:
Controle biológico natural – que se refere à população de inimigos que
ocorrem naturalmente. São muito importantes em programas de manejo de pragas, pois
são responsáveis pela mortalidade natural no agroecossistema e, conseqüentemente,
pela manutenção de um nível de equilíbrio das pragas.
Controle biológico artificial - quando o homem interfere de modo a
proporcionar um aumento de seres predadores, parasitos ou patógenos, podendo esses
serem: insetos (mais atuantes no controle biológico natural), fungos , vírus, bactérias ,
nematóides e ácaros.
Os vírus como controle biológico
Embora muitas viroses ocorram em insetos, é na família Baculorividae que se
concentram os mais importantes vírus empregados no controle biológico. Esses vírus
têm sido usados efetivamente há mais de 50 anos. É nessa família de vírus que estão
aqueles que possuem corpos de inclusão visíveis ao microscópio ótico ou aqueles que
são observáveis apenas por meio de microscópio eletrônico.
Os vírus contaminam os insetos por via oral sendo ingeridos junto com órgãos e
tecidos foliares, principalmente folhas e caules. Os sintomas do contágio são: paralisia
da alimentação; movimentação lenta do inseto; perda de coloração do corpo; perda do
brilho natural; busca pela parte mais alta da planta e morte de cabeça para baixo,
ficando pendurados.
Vantagens: são bastante específicos; condições de armazenamento não são tão
rigorosas e podem ser usados com risco mínimo de contágio de seres humanos
(temperatura ótima de ação difere da temperatura do corpo humano).
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Desvantagens: falta de formulações adequadas; grande custo de produção; ação
lenta e pequena atividade residual.
As principais razões para desenvolver o controle de microrganismos podem, em
resumo, ser: 1) prevenir a transmissão de doenças e infecções; 2) prevenir a
contaminação ou crescimento de microrganismos nocivos e 3) prevenir a deterioração e
dano de materiais por microrganismos.
Antimicrobianos: agentes que inibem o crescimento ou matam microrganismos.
Termos mais específicos: antibacteriano, antifúngico, antiviral, etc.
Microbicida: agentes que matam microrganismos. Termos mais específicos:
bactericida, fungicida, virucida, etc.
Microbiostático: agentes que inibem o crescimento de microrganismos. Termos
mais específicos: bacteriostático, fungistático, etc.
Os microrganismos podem ser removidos, inibidos ou mortos por agentes físicos
ou químicos. Uma grande variedade de técnicas e de agentes pode ser utilizada, agindo
de modos diferentes e tendo seu próprio limite de aplicação prática.
Os termos a seguir são usados para descrever os processos físicos e os agentes
químicos destinados ao controle dos microrganismos:
7.2. Agentes físicos para o controle de micro-organismos
TEMPERATURA
Calor úmido: mata os microrganismos por desnaturação e coagulação das
proteínas. Exemplos: autoclaves, pasteurização.
Calor seco: mata os microrganismos por oxidação das proteínas e outros
constituintes celulares. Exemplos: forno de Pasteur, incineração.
Baixas temperaturas: permitem inibir o crescimento de microrganismos, mas não
necessariamente matam a população microbiana. Pode ser usado como método de
preservação de microrganismos.
RADIAÇÃO
Ionizante: causam ionização de moléculas, destruindo estas diretamente, ou
ainda os íons gerados podem ser altamente destrutivos para os constituintes celulares.
Exemplos: raios X, radiação gama, etc.
Não ionizante: excitam elétrons promovendo rearranjos moleculares. Exemplos:
luz ultravioleta (UV).
FILTRAÇÃO
Não é um método de esterilização. Exemplos: Membranas de éster de celulose,
câmaras de fluxo laminar, filtros HEPA (High Efficiency Particulate Air).
DESSECAÇÃO
Permite inibir o crescimento de microrganismos, mas não necessariamente,
matam a população microbiana. Pode ser usado como método de preservação de
microrganismos.
Exemplo: Liofilização.
AGENTES QUÍMICOS
Esterilizante: agente químico capaz de matar todos os microrganismos
presentes em um material, bem como seus esporos.
Desinfetante: agente químico capaz de matar todas as formas vegetativas de
microrganismos, mas não necessariamente seus esporos. Termo normalmente utilizado
para agentes que controlam microrganismos causadores de doenças.
Germicida: agente químico capaz de matar todas as formas vegetativas de
microrganismos, mas não necessariamente seus esporos. Termo normalmente utilizado
para agentes que controlam microrganismos que não necessariamente causam doenças.
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Antiséptico: agente químico, utilizado em geral, na superfície do corpo, que
previne o crescimento de microrganismos.
Sanitizante: agente químico que mata 99,9% dos microrganismos
contaminantes de uma área.
ANTIBIÓTICOS
Substância produzida por microrganismos que em concentrações muito
pequenas é inibitório para outros microrganismos.
Antibiograma: definição dos padrões de resistência e sensibilidade.
Usos não médicos de antibióticos: suplementação de ração animal.
7.3. Condições que influenciam a ação antimicrobiana
Na aplicação de qualquer agente físico ou químico destinado a inibir ou destruir
populações microbianas, devem ser considerados fatores como:
Temperatura: o aumento da temperatura, quando usado em combinação com
outro agente, como uma substância química, apressa a destruição dos microrganismos.
Tipo de microrganismo: as espécies de microrganismos diferem em sua
susceptibilidade aos agentes físicos e químicos. Nas espécies esporuladas, as formas
vegetativas são muito mais sensíveis que as formas esporuladas, sendo estas
extremamente resistentes.
Estado fisiológico das células: células jovens, metabolicamente ativas, são mais
facilmente destruídas que as células velhas ou em latência, no caso de o agente nocivo
agir através de uma interferência sobre o metabolismo (as células que não estão
crescendo não seriam afetadas).
Condições ambientais: as propriedades físicas e químicas do meio ou das
substâncias que sustentam os microrganismos têm profunda influência sobre o ritmo,
assim como sobre a eficácia da destruição microbiana. A eficiência do calor, por
exemplo, é muito maior nos meios ácidos do que nos alcalinos. A consistência do
material (aquosa ou viscosa) também influi na penetração do agente, e as altas
concentrações de carboidratos aumentam, em geral, a resistência térmica dos
microrganismos. A presença da matéria orgânica estranha pode reduzir,
significativamente, a eficácia de uma droga antimicrobiana, inativando-a ou protegendo
o microrganismo.
A tabela 11 resume os métodos que usam a temperatura no controle de microrganismos. Tabela 11: O uso da temperatura no controle de microrganismos (fonte: Pelczar et al., 1996).
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Tabela 12: Alguns desinfetantes e anti-sépticos comumente utilizados (fonte: Pelczar et al., 1996).
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A tabela 13 mostra alguns dos principais antibióticos utilizados.
Embora a penicilina seja, ainda, um dos antibióticos mais valiosos, a busca da
droga ideal continua. Entre os compostos aceitáveis, estão aqueles que atuam sobre os
microrganismos patogênicos insensíveis ou que se tornaram resistentes à penicilina. As
drogas mais importantes são produzidas por quatro gêneros de microrganismos:
Bacillus, Penicilium, Streptomyces e Cephalosporium, normalmente existentes no solo.
Assim sendo, o solo tem sido profundamente pesquisado na procura de micróbios
capazes de produzir novos antibióticos.
Tabela 13: Produtos metabólicos de bactérias e fungos, usados como antibióticos (fonte:
Pelczar, 1980).
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8. Bibliografia
LEVINSON, W.; JAWETZ, E. Microbiologia Médica e Imunologia. Porto Alegre, Ed.
Artmed, 1998. 415 p. (SBI)
NEDER, R.N. Microbiologia – Manual de Laboratório. São Paulo, Ed. Livraria Nobel. 1992. 138p. (SBI)
PELCZAR, M.; REID, R.; CHAN, E.C.S. Microbiologia. São Paulo, Ed. McGraw-Hill. 1980.
volumes 1 e 2. (SBI)
PELCZAR JR., J.M.; CHAN, E.C.S. & KRIEG, N.R. Microbiologia: conceitos e aplicações.
Vol.1, 2ª ed. São Paulo, Makron Books. 1996. 524p. (SBI)