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FONTES PERIÓDICAS: A MOVIMENTAÇÃO DE CRIANÇAS NO CONTEXTO DA GUERRA DA TRIPLICE ALIANÇA CONTRA O PARAGUAI 1860-1870. Michel Gomes do Carmo Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História - UFGD E-mail: [email protected] Adriana Aparecida Pinto Pós doutoranda em História - UNESP/Assis Professora Adjunto do curso de Graduação e Pós-Graduação em História/ UFGD E-mail: [email protected] A discussão a seguir é fruto dos interesses de pesquisas que tem na imprensa periódica sua fonte principal para promover estudos históricos (LUCA, 2005; PINTO, 2013, 2017, 2018). Em levantamento preliminar identificamos que o tema sobre o qual versam estes estudos tem atraído interesse dos historiadores e ampliando o campo de estudos da história da educação. Assim, o presente resumo apresenta elementos para a investigação que busca conhecer as formas de representação da infância, especificamente àquelas relacionadas às crianças que estavam envolvidas no contexto da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (GTACP 1 ) ocorrida entre 1864 a 1870. A historiografia que foi selecionada para explicar a contenda parte inicialmente de uma visão brasileira sobre o evento, no entanto, podemos notar que se trata de nomes considerados no âmbito acadêmico sendo citados em artigos, teses e dissertações. Sendo assim, podemos apreciar de inicio o que se tem verificado no trabalho de André Toral com o título de: Imagens em desordem: a iconografia da Guerra do Paraguai (2001), sendo originalmente apresentada como tese de Doutorado para o Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, (1997), como o título: Adiós, xamigo brasilero: um estudo sobre a iconografia da Guerra da Tríplice Aliança com o Paraguai (1864-1870). Essa obra é esclarecedora para explicar algumas questões referentes aos motivos que levaram os países a contenda, primeiramente, analisou-se a situação dos países envolvidos, notou-se que o século XIX na Argentina e no Uruguai, foi marcado por uma dualidade política. No Uruguai, por exemplo, essa dualidade se dava entre os 1 Guerra da Tríplice Aliança contra do Paraguai.

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FONTES PERIÓDICAS: A MOVIMENTAÇÃO DE CRIANÇAS NO CONTEXTO

DA GUERRA DA TRIPLICE ALIANÇA CONTRA O PARAGUAI 1860-1870.

Michel Gomes do Carmo

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História - UFGD

E-mail: [email protected]

Adriana Aparecida Pinto

Pós doutoranda em História - UNESP/Assis

Professora Adjunto do curso de Graduação e Pós-Graduação em História/ UFGD

E-mail: [email protected]

A discussão a seguir é fruto dos interesses de pesquisas que tem na imprensa

periódica sua fonte principal para promover estudos históricos (LUCA, 2005; PINTO,

2013, 2017, 2018). Em levantamento preliminar identificamos que o tema sobre o qual

versam estes estudos tem atraído interesse dos historiadores e ampliando o campo de

estudos da história da educação. Assim, o presente resumo apresenta elementos para a

investigação que busca conhecer as formas de representação da infância,

especificamente àquelas relacionadas às crianças que estavam envolvidas no contexto

da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (GTACP 1) ocorrida entre 1864 a 1870.

A historiografia que foi selecionada para explicar a contenda parte inicialmente

de uma visão brasileira sobre o evento, no entanto, podemos notar que se trata de nomes

considerados no âmbito acadêmico sendo citados em artigos, teses e dissertações.

Sendo assim, podemos apreciar de inicio o que se tem verificado no trabalho de

André Toral com o título de: Imagens em desordem: a iconografia da Guerra do

Paraguai (2001), sendo originalmente apresentada como tese de Doutorado para o

Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da

Universidade de São Paulo, (1997), como o título: Adiós, xamigo brasilero: um estudo

sobre a iconografia da Guerra da Tríplice Aliança com o Paraguai (1864-1870).

Essa obra é esclarecedora para explicar algumas questões referentes aos

motivos que levaram os países a contenda, primeiramente, analisou-se a situação dos

países envolvidos, notou-se que o século XIX na Argentina e no Uruguai, foi marcado

por uma dualidade política. No Uruguai, por exemplo, essa dualidade se dava entre os

1 Guerra da Tríplice Aliança contra do Paraguai.

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Blancos e Colorados; os blancos eram estancieiros liderados por Manuel Oribe e

tinham apoio argentino de Juan Manuel Rosas, nota-se que os blancos, possuíam

simpatizantes no país vizinho, neste caso o Paraguai; os colorados por sua vez, eram

comerciantes em Montevidéu liderados por Frutuoso Rivera e apoiados pelo Brasil

contra Rosas (TORAL, 2001). O que se consta por meio da pesquisa de Toral, é a

presença de dois grupos políticos divergentes, apoiados por países diferentes,

pretendendo influenciar na politica e no comercio uruguaio.

Os criadores de gado brasileiros instalados no território uruguaio se sentiram

desfavorecidos quando o governo blanco começou a dificultar o tráfico de gado o

Uruguai e o Rio Grande do Sul, como se vê a seguir, onde:

[...] stancieiros gaúchos, os quais se queixavam que Oribe prejudicara o

contrabando de gado uruguaio para o Rio Grande do Sul. Os mesmos

estancieiros passaram a invadir o Uruguai, para se apoderar de gado

(TORAL, 2001, P. 46).

O que acontecia era um enorme jogo de interesses no solo uruguaio, tanto por

parte do Brasil quanto pelo lado argentino.

A situação do Paraguai neste momento é sinalizada como a de um país com

uma politica centralizada, e assim vemos que o Paraguai combateu as oligarquias e em

especial as que apoiavam Buenos Aires, pois se caracterizavam como interessados em

anexar territórios (TORAL, 2001), neste sentido entende-se que o Paraguai possuía

algum tipo de simpatia com o Governo blanco. Apesar do “isolamento” em relação a

seus vizinhos, o governo de Solano Lopez estava atento aos movimentos no Uruguai,

pois, sua politica expansionista em relação ao rio da Prata que continha a sua única

saída navegável para a Europa e dependia desse jogo politico, no qual decidiu intervir

após o Império brasileiro ocupar o território uruguaio e depor representantes do governo

blanco , e foi não como resultado somente disso, mas é o marco para o inicio da

GTACP (TORAL, 2001). Sendo assim no dia 11 de Novembro de 1864 começaram as

primeiras manifestações de hostilidade da parte do Paraguai, com o aprisionamento do

navio Marquês de Olinda que transportava o então Presidente da Província de Mato

Grosso e o ataque ao forte Coimbra em 27 de Dezembro de 1864.

Apesar de esta guerra ter sido considerada por Toral como: “a mais longa, a

que envolveu mais países e a que fez mais vítimas”; se aprofundar nas questões bélicas

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e estratégicas da guerra não foi objetivo desta comunicação, que buscou na verdade

analisar questões pertinentes às crianças que se inseriam naquele contexto.

É importante comentar que este um estudo tem sua base de reflexão inicial

assentada nas narrativas construídas sobre a batalha que aconteceu já no final do

conflito, após a Dezembrada2 em 1868, trata-se do combate de 16 de Agosto de 1869

que ficou conhecido no Paraguai como a batalha de Acosta Ñu e no Brasil como a

Batalha de Campo Grande, este conflito tem, como se pode ver pela mídia digital, uma

construção simbólica, na qual as crianças que participaram do combate são

reinterpretadas hoje como heróis por meio principalmente das instituições de ensino3.

A obra Maldita Guerra de Francisco Doratiotto (2002) é referência para vários

interessados no tema da guerra. No tocante a proposta de estudo, o autor leva a pensar

na situação de algumas crianças que surgem em sua narrativa acompanhando suas

famílias, algo que segundo o autor era comum, outras que se perderam da família,

morreram em combate, outras que, juntamente com suas mães se movimentavam nas

aglomerações, como é o caso de Piraju onde “‘milhares e milhares’ de mulheres e

crianças, esfomeadas, se apresentaram aos aliados e ficaram ‘amontadas’ na igreja do

povoado” (DORATIOTTO, 2002, p. 404).

A obra Epopeya de los Siglos do professor Andres Aguirre (1979) que nos traz

indícios mais precisos da participação de crianças nas movimentações bélicas, segundo

ele, é possível confirmar a presença de crianças no contexto da guerra, desde

participações em desfiles de demonstração de patriotismo, até mesmo em combates

diretos, a questão da educação surge quando se percebe a informação contida na obra

sobre uma convocatória enviada para o diretor da escola do povoado de Mbocayaty, a

qual Clemente Medina, nos primeiros dias de Agosto de 1869 recebeu ordem para se

apresentar com seus alunos em Azcurra para, tomarem aulas de patriotismo e

2 Trata-se de uma sério de combates entre a Tríplice Aliança e o Paraguai em Dezembro de 1868, o mês

foi decisivo para a guerra e acabou com as forças militares de Solano Lopez 3 Afirmo isso com base em imagens de desfile onde crianças estão representando os “meninos mártires”,

também é possível constar, material audiovisual, que permite ver a representação atual sobre o

entendimento paraguaio a respeito do tema. Neste caso ver o vídeo intitulado Batalla de Acosta Ñu –

Homenaje, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=U3upgwAgBAE&t=629s , acessado em:

29/10/18.

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militarismo (AGUIRRE, 1979). Apesar de termos usado dois autores brasileiros para

explicar alguns momentos da guerra caros a essa pesquisa, essa visão paraguaia nos

oferece interessante objeto de reflexão capaz de suscitar diversas novas questões

pertinentes a esta pesquisa no que se refere às crianças.

Entende-se que, como a proposta de trabalho se dá por meio de questões sobre

a criança na condição de agente histórico na guerra, é importante pensar, o que era ser

criança na época que a guerra acontecia, sendo assim, tornou-se importante

compreender o que se entendia por Infância durante o século XIX.

Assim, busca-se compreender estudos históricos pertinentes à infância,

buscando compreendê-la como uma construção social, ou uma abstração construída

pelos homens ao longo dos tempos (KUHLMANN, 1998).

Não é pertinente estudar a infância sem acesso ao trabalho inaugural de

Philippe Ariès (1981), autor que se tornou referência para tratar o assunto. Sua obra

História social da criança e da família, baseada em imagens a partir da idade média,

nos leva a pensar as transformações na compreensão do termo Infância e suas relações

com a família e o meio social, apontando as fragilidades das crianças num contexto em

que eram tratadas com certa inferioridade pelos adultos e a ideia de que a preocupação

com o registro da idade se deu pela imposição religiosa nos documentos, nos levando a

crer que antes disso não havia motivações para se contar os anos de vida dos indivíduos,

essa pratica foi importante para haver a divisão entre as categorias criança e adulto

(ARIÉS, 1981).

Apesar de ser considerado por outros escritores da história da infância como

um “historiador de final de semana”4, sua obra tem importante papel nos estudos sobre a

infância e percebe-se que, o autor possui trabalhos importantes sobre a família como

podemos ver pela sua participação juntamente com Georges Duby na direção da coleção

História da Vida Privada (1989), nesta coleção existem trabalho de autores importantes

para o campo histórico como, Roger Chartier, Paul Veyne e Michelle Perrot.

Sua obra sobre a história da infância, possui sua relevância em mostrar o

momento em que a percepção sobre as preocupações relacionadas a infância por meio

das instituições de controle, em especial a eclesiástica, surge por meio de uma

4 Ver as obras de Colin Heywood Uma história da infância 2004 e Neil Postamn O desaparecimento da

Infancia 1999.

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necessidade cria a necessidade de por exemplo se contar a idade das pessoas, de

registrar nomes (ARIÉS, 1981).

Um dos críticos da obra de Ariès é Colin Heywood, professor de História

social e econômica na universidade de Nottingham, que por meio de sua obra intitulada

Uma História da Infância (2004), realiza uma crítica sobre algumas fragilidades

contidas na obra clássica sobre a infância criada por Philippe Ariès, como as

deficiências na questão do uso das metodologias adotadas por ele ao se propor em,

analisar a infância por meio de obras de arte durante o século XII, não levando em

consideração todas as possíveis intenções dos que registraram aqueles indivíduos

(HEYWOOD, 2004).

Heywood trabalha sinalizando outras obras que, fazem referência ao período

medieval, pensando as crianças com intelecto tão desenvolvido quanto o de um adulto

maduro, essa ideia é trazida pensando nas representações contidas nos registros

artísticos que a exemplo se tornaram fonte para estudos sobre a infância durante o

período medieval (HEYWOOD, 2004).

O autor deixa claro que há equívocos de análise das fontes na obra Ariès, umas

das preocupações metodológicas que o autor trás a luz, diz respeito conclusão que se

obteve por meio das fontes imagéticas naquele trabalho, pode-se dizer que faltou um

capital cultural, no sentido de entender quais as ideias dos artistas, o que queriam

retratar e por que; Ariès pensou que, o que se representava nas obras era a miniatura de

um adulto, logo afirmou que não existia a percepção da infância nos autores pelo fato

das obras retratarem a criança com aspectos de adultos, no entanto, a crítica a esse

movimento de análise, se baseia no argumento de que, antes de expressar a aparência

real do individuo, os artistas pensavam em ressaltar o status dos indivíduos como se

pode notar no trecho a seguir:

Mesmo ao retratarem adultos no inicio da época medieval, os artistas

estavam mais preocupados em transmitir os status e a posição de seus

retratados do que com a aparência individual (HEYWOOD, 2004, P.

25).

Assim pode-se supor segundo o autor, que a criança poderia ser interpretada

até mesmo como alguém com a mentalidade já formada, uma pessoa já madura e

decidida, acrescentando uma questão da sabedoria divina baseada na pureza da infância

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pois, o autor comenta: “Ariès parece pensar que ‘o artista pinta aquilo que todos vêem’

ignorando todas as questões complexas relacionadas à forma como a realidade é

mediada na arte” (HEYWOOD, 2004, P, 25).

A criança da Idade Media era tida por alguns como o Papa Leão, o Grande5,

como inocente e pura, pois, “a inocência das crianças significava que elas poderiam ter

visões celestiais, denunciar criminosos e servir como intermediários entre o Céu e a

Terra” (HEYWOOD, 2004, P, 28). Adiante os séculos XII, a exaltação da presença das

crianças se dava por meio do culto do menino Jesus e também pela memoria do

episódio conhecido como Massacre dos Inocentes, onde o tirano Heródes mandou matar

todos os recém-nascidos do sexo masculino no dia do nascimento de Cristo.

(HEYWOOD, 2004).

Para Heywood a infância não passou despercebida na Idade Média como

afirma a obra de Ariès, mas, foi antes compreendida e percebida de maneira distinta da

qual imaginamos hoje, a hipótese do autor sobre a presença das crianças diz que:

Havia um óbvio nivelamento de responsabilidades que as de menos

idade podiam assumir: desde trabalhos menores na casa até o

pastoreio e, eventualmente, um aprendizado de oficio ou um trabalho

formal no campo. Elas também tinham seus jogos, ao invés de

participar das competições adultas (HEYWOOD, 2004, P. 30).

Além disso, completa dizendo que Ariès é importante com sua obra, no

entanto, não é tão feliz ao dizer que a sociedade não percebia a diferença nas etapas do

desenvolvimento humano, tanto que sinaliza responsabilidades e atividades particulares

de jovens e crianças.

Levando em consideração o fato de que a obra de Ariès e até mesmo a de

Heywood sinalizam para crianças que se inseriam onde hoje é a Europa, tem-se como

importante, que devemos entender as crianças brasileiras e um estudo acerca delas

encontra-se na obra História social da infância no Brasil organizada por Marcos Cezar

de Freitas (2006) que nos mostra, por exemplo, como se desenvolveu o termo

“moleque”, buscando sua base referencial no Brasil colônia, além de comentar também

sobre como a criança passa a ganhar visibilidade a partir do momento em que se integra

5 Leão I, dito o Grande ou Magno, foi papa entre 29 de setembro de 440 e sua morte em 10 de novembro

de 461.

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com o mundo exterior a sua família que, quando isso ocorre, já não consegue mais

administrar o desenvolvimento de seus pequenos (FREITAS, 2006).

O abandono da criança também é tema da história da infância, e de outro

capítulo desta obra sobre a Roda dos Expostos, uma instituição criada para acolher

crianças que fossem rejeitadas (FREITAS, 2006), essa instituição é importante para o

contexto do nosso trabalho, pois saiam dela as crianças que iam trabalhar nos portos e

consequentemente acabavam ingressando na Marinha imperial (FREITAS, 2006).

No mesmo sentido, a obra História das crianças no Brasil de Mary Del Priore

(2006) mostra que, é possível constar o envio de crianças brasileiras para navios

mercantes e arsenais de guerra desde antes do conflito, informando que não existia de

inicio nenhum tipo de formação ou treinamento para os jovens marujos, sendo que só

após a independência o Império começou a copiar o modelo das Companhias de

Aprendizes europeias, sendo que durante o século XIX a instituição passou a ser uma

das formas de ascensão social para filhos de forros e negros livres (DEL PRIORE,

2006), no tocante ao envolvimento das crianças no conflito, é possível entender que a

Marinha também possuía seus aprendizes mirins.

Ana Paula Squinelo é pesquisadora de Mato Grosso do Sul que há décadas vem

se dedicando ao estudo sobre a GTACP por meio de várias vertentes participou em uma

obra coletiva intitulada, A guerra do Paraguai: entreolhares do Brasil, Paraguai,

Argentina e Uruguai (SQUINELO, 2016), registra-se a contribuição de Adler Castro,

com seu texto baseado nas crianças nos arsenais de guerra, buscou-se criar um diálogo

entre o texto de Adler e a já comentado obra de Marcos Cesar Freitas e por meio dele

notamos que, as crianças que ingressavam na marinha, também foram recrutadas para

participarem da guerra, Castro buscou esclarecer que a participação efetiva das crianças

se dava por meio de ajuda nos navios e comenta que, não era estranho, por exemplo,

crianças se casarem muito cedo além de que e a restrição de crianças ao trabalho só

surgiu no final do século XIX com a convenção de Berlim, (CASTRO, 2016), como

vimos anteriormente, trata-se de um mais um momento distinto do processo de

construção da Infância. Pensando por essa ótica devemos levar em consideração que o

próprio imperador do Brasil assumiu o trono com quatorze anos de idade em 1841.

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Após a reflexão ainda inacabada sobre Infância, podemos perceber como em

diferentes épocas e lugares as crianças eram vistas com diferentes olhares e

perspectivas, por exemplo, um bebe recém-nascido poderia ser um pecador condenado

durante meados do século IV, um ser inocente que provavelmente será corrompido pela

sociedade pela perspectiva de Rousseau no século XVIII, ou como no século XIX

capazes de manusear armas de fogo e combater contra indivíduos adultos.

Tendo realizado essa explicação sobre um ponto de vista sobre o inicio da

guerra e sobre o que se tem entendido pelo termo Infância podemos apresentar ao leitor

algumas propostas do que se pretende realizar por meio desta pesquisa.

O objetivo é compreender o discurso criado sobre as crianças através dos textos

imagéticos que circularam na imprensa, em especial nas revistas ilustradas tendo como plano de

fundo a guerra da Tríplice Aliança contra do Paraguai.

Assim, é necessário um estudo sobre impressos de natureza periódica da época

imperial, para tal empreitada, temos a obra História da Imprensa no Brasil de Nelson

Werneck Sodré (1983), que permite entender como existiu uma variedade de artefatos

produzidos durante o século XIX na imprensa do Império e em especial as que se

utilizavam de caricaturas, sobre tudo a partir dos anos de 1830, onde se pode constar

segundo este autor a primeira publicação ilustrada do Império em 1837 (SODRÉ, 1983).

As imagens na imprensa brasileira são datadas de 1837 de maneira avulsa, já

no ano de 1840, alguns periódicos começam a trabalhar com caricaturas e na Capital do

Império, 1845 foi o primeiro ano em que se viu publicar caricaturas impressas, no

entanto foi entre 1860 e 1870 que as revistas ilustradas ganharam força (SODRÉ, 1983).

Como informa a obra de Sodré no dia 4 de Janeiro de 1853 sinalizava as novas

tecnologias de imprensa brasileira adquiridas no ano anterior, semelhantes às utilizadas

na Europa, com o advento da gravura e litografia que desde então começaram a ilustrar

periódicos de moda de noticias (SODRÉ, 1983).

Desta obra vale também ressaltar noção da importância da compreensão do

termo “opinião publica” que a meu ver, possuía certa influência em algumas questões da

época, além de ser entendida como, a opinião das camadas sociais que ficavam a par das

noticias gerais do Império e se expressavam na sociedade (SODRÉ, 1983). Esse assunto

torna-se relevante, pois, entendo que a opinião publica se compunha em parte pelos

consumidores diretos daqueles periódicos, expressando por meio dos diálogos em

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sociedade o que entendiam dos conteúdos impressos, dessa forma, imagino que os

editores adaptavam até certo ponto as noticias conforme os interesses da classe

dominante sobre as classes subalternas.

No que tange as revistas ilustradas, destacamos dois nomes importantes para a

época e para nosso trabalho, o primeiro é Angelo Agostini que chegou de Paris em São

Paulo no ano de 1859, alguns anos depois, deu inicio a seus trabalhos como cartunista

fundando juntamente com seus companheiros Luís Gama e Sizenato Nabuco O Diabo

Coxo (1864-1865), após este trabalho, os mesmo nomes o ajudaram em outro projeto

desta vez intitulado O Cabrião (1866-1867), após sua mudança para o Rio de Janeiro

onde acabou fundando o periódico intitulado Vida Fluminense (1868-1869), pode-se

ressaltar o teor crítico que caracterizava as obras criadas por Agostini, devido a seu

posicionamento político contrário a diversas posturas adotadas pelo Império, sobretudo

em relação a escravidão, expresso por meio de sua principal arma de combate, o lápis de

desenho (SODRÉ, 1983).

Outro nome importante é o de Henrique Fleiuss, alemão que veio para o Brasil

em 1858, como desenhista de uma expedição cientifica, foi fundador da primeira escola

de xilogravuras do país, dessa oficina saiu em Dezembro de 1860 o periódico ilustrado

chamado Semana Ilustrada (1860-1875), no qual, importantes nomes passaram tais

como, Machado de Assis e Quintino Bocaiuva, ele possuía seus correspondentes na

guerra contra o Paraguai, que eram Joaquim José Inácio, Antonio Luís Von Hoonholtz e

Alfredo de Scragnole Taunay, vale ressaltar que Fleiuss não era humorista e nem crítico

do Império, aponta-se também a informação de que se instalou no Brasil para trabalhar

na Imprensa imperial (SODRÉ, 1983).

Pela obra organizada por Ana Luiza Martins e Tania de Luca História da

Imprensa no Brasil (2011) as autoras consideram a imprensa do século XIX como parte

do crescente processo civilizatório do segundo reinado iniciado em 1841, quando sobe

ao trono um imperador menino por meio da questão da Maioridade6, a partir deste

6 Diz respeito a um momento em que as condições políticas fizeram com que o D. Pedro I precisasse

retornar a Portugal para não perder seu poder na península Ibérica, no entanto o Império brasileiro ficaria

sem um imperador, visto que seu filho e sucessor do trono era demasiado jovem para o cargo, além disso,

a constituição recém promulgada estabelecia uma idade mínima para assumir o cargo, diante desses fatos

e de diversas revoltas a elite preocupada com a manutenção do seus privilégios decide criar uma maneira

de fazer com que D. Pedro II assumisse ainda com 14 anos de idade em 1841 o título de Imperador do

Brasil, essa medida ficou conhecida por alguns historiadores como o “Golpe da Maioridade”.

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período, pretendeu-se introduzir um processo aos moldes culturais franceses e ingleses

considerados pela classe dominante do Brasil como sendo os países inspiradores de uma

sociedade de corte (MARTINS & LUCA, 2011), assim sendo, seria interessante para a

elite daquele momento, realizar essa etapa de um processo desenvolvimento cultural.

A dissertação de mestrado de Marcos Túlio Borowiski Lavarda intitulada A

iconografia da guerra do Paraguai e o periódico Semana Ilustrada – 1865-1870: Um

discurso visual. (2009) defendida no Programa de Pós-graduação em História da

Universidade Federal da Grande Dourados, demonstra interessante exercício de análise

de imagens da guerra em revistas ilustradas, evidenciando aspectos que possibilitam

perceber uma “competição” entre ambas as revistas ilustradas acima mencionadas, e

nesse sentido, justifica-se a liberdade crítica de Agostini, por não possuir vínculos

políticos com o governo imperial, podemos imaginar por que seu periódico durou cerca

de um ano assim como outras duas revistas anteriores em que atuou, provavelmente sem

incentivos do governo (LAVARDA, 2009).

A pesquisa de Lavarda resultou da análise iconográfica sobre imagens da

guerra contra o Paraguai, através das fontes elencadas a partir da revista ilustrada criada

por Henrique Fleiuss, a qual serve de referencia para os estudos que vimos realizando.

A imprensa teria, em primeira análise, papel de dar a conhecer informações em

que pesem as dificuldades de acesso à informação e deslocamento da mesma pelo

território. No entanto considerando os apontamentos de Marc Bloch (2002), sobre a

ampliação das novas possibilidades de fontes históricas, problemáticas e objetos de

estudo, a imprensa configura-se como importante tipologia documental que traz à luz

temas e objetos ofuscados em outro tipo de documentação.

Por esse motivo busca-se, compreender a visão criada pelos editores das

revistas sobre a infância naquele momento da história por meio das imagens de crianças

que existem em algumas edições dessas revistas, o intuito é o de buscar respostas sobre

o que se pensava sobre a participação de crianças em embates militares naquele

momento da história.

Também ressalto que, inicialmente a proposta de trabalho com essa

documentação surgiu após reflexões teóricas que nos apoiam na perspectiva de trabalho

baseada na ampliação do sentido de fontes históricas e, sobretudo nas ultimas décadas,

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tendo estreita relação com os documentos e fontes digitalizados, visto que, todas as

imagens até aqui analisadas, encontram-se disponíveis no site da Biblioteca Nacional

Digital7 (BND), no site da biblioteca digital é possível encontrar, diversos periódicos de

diversas épocas que podem ser considerados como fonte, assim, a escolha das revistas

também envolve o seu lugar de produção e circulação sendo que neste caso se trata da

capital do Império brasileiro situada no Rio de Janeiro, local de relativa circulação de

ideias e de produção de artefatos impressos, como as duas revistas já sinalizadas, as

revistas chamaram atenção por investirem sobre a temática da guerra.

A metodologia adotada consiste, inicialmente, na organização de um banco

digital de imagens, que foram selecionadas a partir de visitas e análises das publicações

selecionadas no site da BND, para garantir a viabilidade das fontes, foram realizados

downloads das publicações das duas revistas para um HD (hard disk) externo, no

entanto há uma profusa documentação para ser analisada e assim, foi pensado um filtro

para as imagens que entraram para um banco de imagens, a quantidade de imagens

produzidas com referencia à guerra que acontecia é farta e se apresenta mostrando desde

mapas, cenas de recrutamento brasileiro e paraguaio, combates navais, vistas das

paisagens paraguaias e até algumas que sugerem relações entre homens e mulheres no

contexto em questão, bem como a noção, ainda que de modo irônico, de uma mensagem

sobre o patriotismo brasileiro, sendo assim, estabeleceu-se que seriam selecionadas as

imagens que possuem fragmentos que evidenciam a presença de crianças brasileiras

e/ou paraguaias no período entre os anos em que acontecia a contenda.

Para analisarmos essas imagens, pensamos em aplicar as técnicas descritas por

Erwin Panofsky em sua obra Significados nas artes visuais (1955), descritas como

Iconografia e Iconologia, sendo que a iconografia a grosso modo seria o que a imagem

diz a partir das linhas do desenho, das cores e do material em que se produz a obra e a

iconologia por sua vez, o conjunto de significados expressos nas entrelinhas das cores e

formas apresentadas ao leitor das imagens, que só podem ser decodificados de maneira

eficaz pelo leitor, mediante conhecimento sobre os temas expressos pelo artista.

Assim podemos apresentar alguns resultados de análises sobre algumas dessas

imagens ao leitor deste material. A análise aqui apresentada foi trabalhada num

7 http://bndigital.bn.gov.br/

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movimento iconográfico paralelo ao iconológico de forma que a imagem seja analisada

em sua totalidade.

A primeira imagem apresentada na edição Nº 69 da revista ilustrada intitulada

A Vida Fluminense publicada no dia 24/04/1869 com o título de “O negocio do paquete

inglez La Plata”.

(Fig. 1) A Vida Fluminense. O negocio do paquete inglez La Plata.

24/04/1869. N. 69. p, 826.

Após uma primeira vista sobre a imagem podemos aplicar os processos

iconográfico e iconológico à imagem. O que se vê pelas formas e linhas é a figura de

uma criança usando uma vestimenta e um adorno na cabeça escrito “Brazil” que fazem

forte referência à sociedades indígenas, a criança está posicionada sobre uma base

construída com blocos, podemos imaginar que seja um forte militar, comum em regiões

litorâneas, o que reforça a ideia de se tratar de um forte é o outro elemento que compõe

a imagem, trata-se de um canhão que é disparado pela criança, percebe-se o disparo

pelas linhas que a frente do canhão nos dão a ideia de fumaça, a direito da composição

da imagem, podemos notar um possível alvo para a crianças, é evidente a presença de

uma embarcação navegando nas águas calmas do mar, o navio é composto em suas

linhas por dois mastros, um chaminé e grandes rodas nas laterais, também é possível

perceber uma bandeira que não diz respeito a nenhum dos países envolvidos no conflito

que se desenrolava no Prata. É possível notar além do paquete um grande morro, que

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levando em consideração, o lugar de produção do periódico, pode vir a ser entendido

como uma paisagem característica do Rio de Janeiro. Vale destacar a Letra “A” no

canto inferior direito da imagem, indicando o autor da imagem, possivelmente Angelo

Agostini.

Sobre infância, é possível crer que se trata de uma crítica às Companhias de

Aprendizes, bem como alguma outra instituição de ensino que não fica clara se for o

caso, pois como já sinalizado, o autor desta obra possuía forte senso crítico. Pensando

na perspectiva de que o Brasil enquanto país possuía uma personificação nas páginas

ilustradas representada de forma expressiva por meio da figura de um índio adulto, com

cocar escrito “Brasil”, podemos presumir que esse índio infante representaria a infância

brasileira que como já foi comentado por meio dos trabalhos de Castro (2016) e

Venancio (2007), apresentaram seus trabalhos com a ideia da participação das crianças

na GTACP.

Além dessas reflexões, observar as imagens nos trás diversas indagações que

podem ser exploradas em outro momento, tais como: em quem a criança atira? Depois,

por que estaria atirando? Percebe-se que a bandeira do paquete não é a do país inimigo

do Império, assim sendo, seria outro o inimigo? Estaria a criança se equivocando e

atirando na embarcação errada?

Para Roland Barthes, a legenda das imagens é fundamental para complementar

o sentido da mesma e neste podemos obter novos questionamentos e reflexões sobre

esta. Sobretudo no sentido da critica sobre a ocupação da criança. Neste sentido

justificaria a legenda em especial a parte “só te obrigam a fazer asneiras”.

Podemos então, acolher esta imagem como fonte relevante no sentido de

demonstrar a acidez crítica de A Vida Fluminense sobre o tema que nos propomos a

investigar, pois na legenda se lê: “Pobre criança, tão intelligente e com tantas

disposições para tudo o que é nobre e elevado! Os teus mentores longe de aproveitarem

a tua boa vontade, só te obrigam a fazer asneiras!”. Esta afirmação nos leva a crer que

Agostini possivelmente não via com bons olhos o fato de crianças serem usadas como

combatentes.

Outra imagem interessante a ser analisada está na edição Nº 247 de 1865 da

revista Semana Ilustrada, intitulada “A liberdade e a oppressão”. Vejamos a seguir.

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(Fig. 2) Semana Illustrada. A liberdade e a opressão. 03/09/1865, N. 247, p.

1972.

O que se vê pelas linhas, traços e formas que compõem esta imagem, é ao

canto esquerdo a figura de um homem rechonchudo, com uniforme militar, um chapéu e

bigode, segurando uma espada na mão direita e apontando para a frente com a mão

esquerda, devido ao contexto da guerra presume-se que este individuo desenhado nesta

imagem se trate de Solano Lopez, ao fundo as linhas trazem a visão, onze indivíduos

que ao que parece, seguem a direção sinalizada pelo braço esquerdo de Lopez na

imagem, no canto superior esquerdo, podemos ler a palavra Humaitá, segundo as

referencias bibliográficas, Humaitá foi uma importante base e motivo de combates pela

sua dominação, também é possível ver em meio a esse grupo de pessoas, uma criança,

percebe-se isso pelo tamanho que o individuo foi retratado, pelo menos uma mulher,

alguns idosos e homens, também é interessante reparar, na face de alguns dos que ali

estão representados, alguns com uma clara feição de descontentamento e a criança, foco

principal de nossos estudos, parece estar marchando surpresa com a situação sem saber

direito por que realiza este ato.

Além disso, é possível perceber a discrepância entre Lopez e as pessoas que

com ele compõem a imagem, Lopez foi representado gordo, possivelmente como sinal

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da fartura que gozavam lideres nacionais em contraponto a sua população, que, como se

sabe foi seriamente castigada pela fome, inanição e miséria ao longo da guerra.

Essa imagem é interessante no que diz respeito a expressão bibliográfica sobre

as crianças que se envolveram diretamente nos conflitos entre os países beligerantes, as

obras que se tem lido trazem a luz as crianças paraguaias já no final do conflito, como

possível solução de Lopez para uma falta de contingente militar, no entanto, como se

anunciasse a tragédia de 16 de Agosto de 1869, Henrique Fleiuss lança com suas

iniciais “H.F” inscritas esse desenho em 1865.

A ideia que é apresentada pelo autor diz respeito a uma analogia entre o

alistamento brasileiro, realizado como forma de “amor à pátria”, espontâneo, em

contraste com o recrutamento paraguaio, que segundo Fleuiss já era sinalizado como

necessidade do exército guarani, segundo ele Lopez não quis saber se seus recrutas

poderiam ou não morrer na guerra enquanto, os recrutas brasileiros para ele, teriam uma

missão nobre a cumprir no front de batalha.

Assim sendo, podemos notar como dois representantes da imprensa ilustradas

do Rio de Janeiro do século XIX viam a questão da participação da infância na guerra,

neste caso podemos através dos artefatos criados nesse período, elaborar novas visões e

problemáticas sobre o conflito, bem como reafirmar, acrescentar detalhes ou contestar

ideias expressas por uma bibliografia que mais tem causado confusão aos historiadores

do século XXI visto que já existem pelo menos três revisões sobre a Guerra do

Paraguai.

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