meus herois morreram jovem

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Revelações sobre a vida e a morte de sete lendas do rock’n’roll Tradução Ricardo Giassetti Roberta Bronzatto O Livro dos Mortos do Rock David Comfort

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Page 1: Meus Herois Morreram Jovem

Revelações sobre a vida e a morte de sete lendas do rock’n’roll

TraduçãoRicardo Giassetti

Roberta Bronzatto

O Livro dos Mortos do Rock

David Comfort

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Page 2: Meus Herois Morreram Jovem

editora aleph ltda.Rua Dr. Luiz Migliano, 1110 – Cj. 30105711-900 – São Paulo – SP – Brasil

Tel.: [55 11] 3743-3202Fax: [55 11] 3743-3263

www.editoraaleph.com.br

Copyright © David Comfort, 2009Copyright © Editora Aleph, 2010

(edição em língua portuguesa para o Brasil)

Índices para catálogo sistemático:1. Músicos de rock : Biografia 781.66092

Comfort, DavidO livro dos mortos do rock : revelações sobre a vida e a morte de sete lendas do rock’n’roll / David Comfort ; tradução Ricardo Giassetti, Roberta Bronzatto. – São Paulo : Aleph, 2010.

Título original: The rock & roll book of the dead.ISBN 978-85-7657-100-1

1. Músicos de rock - Morte 2. Músicos de rock - Biografia I. Título.

10-06342 CDD-781.66092

TÍTULO ORIGINAL:CAPA:

preparação de texto:

COPIDESQUE:REVISÃO:

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO:COORDENAÇÃO EDITORIAL:

DIREÇÃO EDITORIAL:

The rock & roll book of the deadRetina78Débora Dutra VieiraMarcos Fernando de Barros LimaOople EditorialLuciane Helena GomideRS2 Comunicação Débora Dutra VieiraMarcos Fernando de Barros LimaAdriano Fromer Piazzi

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.Publicado mediante acordo com Kensington Publishing Corp., New York, NY, USA.

Michael Ochs Archives/Getty Images (Jimi Hendrix); Michael Ochs Archives/Getty Images (Janis Joplin)/ Michael Ochs Ar-chives/Getty Images (Jim Morrison); Michael Ochs Archives/Getty Images (Elvis Presley); Robert Whitaker/Hulton Archive/Getty Images (John Lennon); Jeff Kravitz/Film Magic (Kurt Cobain); Michael Ochs Archives/Getty Images (Jerry Garcia).

fotos de capa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Page 3: Meus Herois Morreram Jovem

6 Kurt Cobain20 de fevereiro de 1967 – 5 de abril de 1994 279

Interlúdio: Amor 325

2 Janis Joplin19 de janeiro de 1943 – 4 de outubro de 1970 89

Interlúdio: Chapados 115

3 Jim Morrison8 de dezembro de 1943 – 3 de julho de 1971 133

Interlúdio: Loucos 169

4 Elvis Presley8 de janeiro de 1935 – 16 de agosto de 1977 183

Interlúdio: Sr. M 217

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Introdução 11

Bibliografia 385

1 Jimi Hendrix7 de novembro de 1942 – 18 de setembro de 1970 21

Interlúdio: Órfãos 71

5 John Lennon9 de outubro de 1940 – 8 de dezembro de 1980 229

Interlúdio: Alma 269

7 Jerry Garcia1º de agosto de 1942 – 9 de agosto de 1995 341

Epílogo: Vida 375

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Um motorista de caminhão, uma garçonete de boliche, um ze-lador, um paraquedista, um poeta sem teto, um professor de guitarra hippie, um estudante de arte sem dinheiro: todos tiveram origens mo-destas. Mas os “Sete Imortais” ou os “Sete” estavam destinados a se tornar os pioneiros do rock moderno – ícones culturais, apóstolos do Vaticano do pop e muito mais.

“Somos mais famosos do que Jesus Cristo”, disse um deles sobre seu grupo, declarando depois que ele próprio era Jesus Cristo – afir-mações que posteriormente resultaram em seu assassinato.

“Jesus não deveria ter morrido tão novo”, disse outro, “pois teria sido mais bem-sucedido se tivesse durado mais.”

Quatro morreram aos 27 anos de idade. A maioria teve premoni-ções sobre morrer jovem. “Estarei morto em dois anos”, declarou um deles, sabendo muito bem o que estava dizendo aos 25 anos. “Não te-nho certeza se chegarei aos 28”, disse um segundo membro do Clube dos 27. “Nunca vou chegar aos 30”, previu um terceiro.

A morte assombrou a vida da maioria deles desde a infância. A mãe de dois deles faleceu em acidente de automóvel. A mãe de outros dois bebia até cair. Aos 5 anos de idade, um deles viu o pai se afogar. Outro astro insistia em dizer que possuía os “genes do suicídio” porque os membros de sua família haviam tirado a própria vida.

Cada um possuía uma atração fatal. “Vou ser um músico famoso, me matar e me apagar em uma chama de glória!”, exclamou um. Ele deu ao seu grupo o nome de Nirvana, definindo o termo como “a paz absoluta da morte.” Outra estrela, estudan-te do Livro tibetano dos mortos como muitos dos outros, deu à sua banda o nome Grateful Dead*. Outro nomeou seu grupo The Doors, uma porta para o outro mundo, além de descrever sua música como um “convite às forças do mal.” Outra lenda viva, obce-cada pelo fantasma do “carma instantâneo”, disse que faria o seguinte quando final-mente encontrasse o mensageiro da Morte: “Irei agarrá-lo pelas bochechas e lhe darei um beijo molhado na boca mofada, porque só há uma forma de partir – encarando o vento e rindo pra caralho!.” Outros demonstravam uma curiosidade irresistível sobre a vida além da morte, como observou o meio-irmão do próprio Rei do Rock: “Era como um devaneio para saber até onde ele poderia chegar – era quase como se ele procurasse a morte –, apenas para ver o que havia do outro lado e depois voltar.”

Embora cada um dos Sete tenha alcançado o auge da fama durante uma breve vida, só foram tificados como imortais após sua autodestruição. O namoro de cada

* Literalmente, “Morto Agradecido.” [n. do t.]

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ão

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O Livro dos Mortos do Rock12 Introdução

um deles com a morte adquiriu vida própria até assumir proporções mitológicas, tornando-se um tipo de calvário para sua legião de fãs.

“Talvez meu público aprecie mais a minha música se achar que estou me des-truindo”, disse a estrela que teve diversas overdoses antes da injeção que finalmente a matou em um quarto de hotel em Los Angeles. Nos dias que se seguiriam, ela deveria gravar a versão final dos vocais de Buried Alive in the Blues para o maior álbum de sua carreira.

“É engraçada a forma como a maioria das pessoas admira a morte”, meditou outro imortal. “[...] você tem de morrer para acharem que você vale alguma coisa.”

Todos os Sete, exceto um, tentaram suicídio ou ameaçaram cometê-lo. Todos os Sete tornaram-se viciados. A maioria morreu por excesso de drogas. Se um deles não tivesse morrido baleado, poderia muito bem ter tido o mesmo fim.

“Bicho, estou chapado o tempo todo!”, declarou o poeta que, como a maioria dos outros, foi alertado por seus médicos para que largasse as drogas ou morreria. Antes de sua impressionante estreia no clube Whisky a Go Go em Los Angeles, ele tomou uma dose de lsd dez vezes mais forte do que a normal. Ele adorava citar William Blake: “A estrada dos excessos leva ao palácio da sabedoria.” Seu palácio da sabedoria veio a ser seu mausoléu pichado no cemitério Père Lachaise, em Paris, ao lado dos túmulos de Oscar Wilde, Chopin e Balzac.

O passatempo favorito de outra estrela era “fumar um, tomar um, lamber um, chupar um, foder um.” Seus amigos a alertaram para pegar leve. “Ah, bicho, não quero viver assim”, protestou ela. “Eu quero queimar. Quero arder lentamente.”

Ela e o primeiro membro do Clube dos 27, famoso por destruir suas guitarras, usavam heroína juntos antes de transar. O apetite dele não ficava atrás do dela. Como lembrou um vocalista famoso e drogado de outro supergrupo, “Ele era o cara mais chapado que já conheci.”

Seis dos sete imortais foram presos diversas vezes. Foras da lei, rebeldes, pre-gadores da liberdade, tiveram uma postura gloriosa contra o establishment. O sétimo foi o único de sua espécie, fazendo sua própria lei – afinal, ele era o establishment: o Rei. O presidente Nixon o nomeou agente federal de narcóticos. O Rei nunca se permitiu ser um drogado de rua: nos últimos 20 meses de vida, consumiu 12 mil tipos diferentes de analgésicos, todos receitados por médicos.

Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Elvis Presley, John Lennon, Kurt Cobain e Jerry Garcia foram os ícones do maior movimento jovem na história. Os Sete surgiram em momentos trágicos. Os sonhos da década de 1960 foram estilha-

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Introdução 13

çados com o assassinato de seus heróis da juventude: os Kennedy e Martin Luther King. Meio milhão de soldados morreram no Vietnã; outros jovens foram mor-tos no massacre da Universidade de Kent, na Convenção Democrata de Chicago e no festival de Altamont. Tudo isso ocorreu sob a sombra sinistra de bombas atômicas e da Guerra Fria.

Em meio a esse cenário, o grito de liberdade foi dado por uma nova voz políti-ca, cultural e artística: a das estrelas do rock. Pioneiros em uma forma de arte criada por jovens para os jovens, os astros cantavam sobre a revolução e o amor. Sua mú-sica expressava todo o idealismo, inocência e energia sem limites da juventude, mas, ao mesmo tempo, falava de sua alienação, confusão, seu medo e violência. Nesse sentido, foi o prenúncio das mesmas lutas que nos cercam atualmente.

Conforme o panorama se tornava mais sombrio, o mesmo ocorria com a música e com a vida desses escolhidos. Ao testarem mais e mais os limites da liberdade e da re-beldia, todos adentraram uma zona perigosa. Janis também falava pelos outros quan-do disse que se apresentava e vivia “nos limites externos da probabilidade”, sem freios ou redes de segurança. Em uma ironia final, todos se tornaram distantes, solitários e autodestrutivos na mesma proporção de sua fama. Os Sete passaram a ser consumidos não apenas por seu próprio isolamento e seus excessos, mas pelas expectativas insanas e quase divinas de suas plateias fiéis. Não há dúvidas de que esses músicos foram gênios e vozes de suas gerações. Mas não eram deuses. E o destino normalmente reservado às deidades terrestres, reais ou imaginárias, é bem conhecido: o sofrimento.

Como muitos outros artistas, todos os Sete eram obcecados por tornarem-se estrelas, mas, uma vez conquistado o sucesso, a fama se converteu em uma gaiola dourada. Apenas as drogas proporcionavam uma fuga temporária e, em última instância, a emancipação absoluta.

“Instant Karma’s gonna knock you right on the head”, cantou Lennon. “You better get yourself together. Pretty soon you’re gonna be dead.”* Lennon sempre acreditou que morreria jovem e de forma violenta por ter levado uma vida violenta. Ainda assim, “Não tenho medo de morrer”, insistiu. “É como sair de um carro e entrar em outro.” E assim foi: ele saiu da limusine e, momentos depois, foi trans-portado para uma viatura de polícia, onde deu seus últimos suspiros.

Outros pareciam igualmente resignados com seus destinos. Ao ouvir sobre a morte de Jimi, seu ex-amante, Janis disse apenas: “Fico pensando se terei tanta publicidade.” Seis semanas depois, ela se juntou a ele. Morrison fez um brinde a ela em seu bar favorito: “Vocês estão bebendo com o Número Três”, disse a seus acompanhantes.

* O Carma Instantâneo vai te acertar em cheio / É melhor você se recompor. Muito em breve você vai estar morto.

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O Livro dos Mortos do Rock14 Introdução

Ironicamente, foi um dos deuses que sobreviveu ao rock, Pete Townshend, quem cantou o hino do movimento: “Hope I die before I get old.”*

Mas a realidade “viver rápido, morrer cedo e deixar um belo cadáver”, de James Dean, não é nem de longe tão glamourosa. Depois dos anos de excesso, a maioria continuava viva quando já deveria ter morrido. “Tive tanta pena dele que chorei”, confessou um dos seguranças de Elvis após outra desastrosa apresentação em Vegas. “Ele estava gordo. Não podia andar. Esqueceu as letras de suas músicas. Achei mesmo que ele fosse morrer naquela noite.”

Depois de vê-la em uma festa de reencontro da turma do colégio, um dos antigos colegas de classe de Janis observou: “Ela parecia um trecho de estrada esbu-racada – seu rosto, braços, veias. Não esperava que ela durasse muito mais tempo.”

O guitarrista de blues Johnny Winter falou sobre seu amigo Hendrix perto do fim: “Quando o vi, fiquei arrepiado [...] Ele entrou com seu séquito e parecia que já estava morto.”

Como foi comprovado pela carreira dos Sete, ser uma lenda viva pode trans-formar o paraíso em inferno. Mas, em virtude de suas opressivas ambições, ne-nhum deles se deu conta dos perigos da fama até que fosse tarde demais, até es-tarem sufocados em suas próprias personificações sobre-humanas. É seguro dizer que morreram por sua música da mesma forma que viveram para ela. Embora a carreira da maioria tenha sido breve, no final estavam todos exauridos, sem forças e desgastados, exatamente como muitas das estrelas de hoje.

As pressões da supercelebridade não eram menos esmagadoras do que agora. Os fãs exigiam que suas estrelas criassem continuamente músicas revolucionárias, inovadoras e, ainda assim, clonagens de seus antigos sucessos. Esperava-se que se apresentassem noite após noite, ano após ano, com o mesmo nível de talento, energia e empolgação. Apesar de sua resistência, todos eles se tornaram empreen-dimentos comerciais, com centenas e até mesmo milhares de funcionários em suas folhas de pagamento. O cerco dos fãs, a perseguição dos paparazzi e o assédio da impressa logo perderam a aura de novidade. Estavam cercados por sanguessugas, desequilibrados mentais e manipuladores inescrupulosos. Na posição de produ-tos de vitrine, tinham pouca privacidade e nenhum tempo para si mesmos. Eram obrigados a sustentar imagens dramáticas, até mesmo caricaturais, que há tempos haviam superado e que jamais haviam desejado.

“Estou cansado de tudo”, disse Morrison a um entrevistador pouco antes de sua morte. “As pessoas continuam me vendo como um astro do rock e não quero nada disso. Não aguento mais.”

* Espero morrer antes de ficar velho.

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Após uma apresentação medíocre do Grateful Dead, Jerry Garcia, o que so-breviveu por mais tempo entre os Sete, reclamou para seu último tecladista, Bruce Hornsby, “Você não entende 25 anos de cansaço!”

Somente Lennon conseguiu “se livrar do ciclo vicioso”, entrando em um período de reclusão de cinco anos. Mas tão logo o fundador dos Beatles voltou à ribalta esperando “conquistar novamente o mundo”, foi dada a bandeirada final de sua corrida.

Apesar da fama sem precedentes desses notórios artistas, os últimos dias de muitos deles estão encobertos pelo mistério. Dúvidas cruciais permanecem, as quais examinaremos atentamente sob o prisma de investigações mais recentes.

No final, Hendrix estava tentando deixar seu empresário, que havia se apro-priado de milhões de dólares do astro e que possuía fortes conexões com a máfia. Jimi tomou a dose fatal de barbitúricos e álcool por acidente ou de forma inten-cional, ou foi obrigado a ingeri-la? Por que sua misteriosa noiva levou horas para chamar a ambulância, desapareceu de seu quarto de hotel antes da chegada da polícia e, mais tarde, após ser julgada, cometeu suicídio?

Janis estava concluindo o álbum mais importante de sua carreira, estava final-mente noiva do homem dos seus sonhos, após inúmeros casos amorosos, e estava abandonando a heroína. Pelo menos, essa é a história oficial. Sua overdose foi realmente apenas um “trágico acidente”, como muitos a classificam?

Morrison havia abandonado o Doors e estava tentando ressurgir como poeta, mas estava em um impasse criativo. Embora fosse um ávido consumidor de todos os outros tipos de bebidas e drogas, Morrison sempre evitou a heroína. Teria ele tomado de forma consciente uma overdose fatal naquela noite em Paris? Sua espo-sa viciada, que enganou a polícia francesa e organizou um funeral às pressas, teria se suicidado dois anos depois em virtude de alguma culpa inconfessável?

Dois anos após o falecimento do Rei, a causa real de sua morte foi finalmente revelada. Ou não? Ele estava tomando uma droga “miraculosa” que, em altas do-ses, normalmente causa depressão suicida. Além disso, ele ingeriu durante anos os poderosos analgésicos encontrados em seu organismo – todos, menos um, ao qual sabia ser alérgico. Ele conseguiu um frasco dessa droga em uma consulta de emer-gência ao dentista no meio da noite, horas antes de sua morte. Por quê?

Ao promover seu primeiro álbum em cinco anos, Lennon recusou guarda-costas e seguranças de qualquer tipo, apesar das ameaças de morte e das terríveis pre-dições dos oráculos de sua esposa. Em virtude de seu ativismo político anterior,

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O Livro dos Mortos do Rock16 Introdução

o ex-Beatle estava sob vigilância constante do fbi. Seria seu fã e assassino, Mark David Chapman, um candidato manchu*? Após anos de antagonismo mútuo e infidelidades, Yoko planejava em segredo divorciar-se de John depois que ele a ajudasse a lançar seu próprio álbum solo. Pouco tempo antes de seu assassinato, por que ela e seus frequentemente cuidadosos “direcionadores” psíquicos o acon-selharam a atravessar o Triângulo das Bermudas em uma minúscula corveta?

Cobain estava deixando o Nirvana, divorciando-se de Courtney Love, rees-crevendo o testamento para excluí-la e preparando-se para pedir a custódia de sua filha. Seu corpo sem vida foi encontrado no cômodo acima de sua garagem, ao lado de uma espingarda e um bilhete de suicídio. Além disso, de acordo com a autópsia, a quantidade de heroína detectada em seu sangue correspondia a três vezes a dose letal da droga. Como o próprio Cobain ainda poderia ter puxado o gatilho da espingarda?

Muito já se escreveu sobre os lendários pioneiros do rock, mas nunca um livro que compilasse suas biografias, tecendo um cenário único e dramático a partir de diversos pontos de vista de pessoas próximas – bem como das palavras e músicas dos próprios artistas.

Não vivemos mais em uma era de reis e rainhas. A nova aristocracia são as celebridades. Os reis e rainhas de nossa nobreza pública são os superstars. A vida dos astros muitas vezes é distorcida para evitar qualquer impacto sobre a arrecadação de royalties e sobre os sobreviventes que contam com esse dinheiro. Ou, a despeito das garantias da Primeira Emenda, pessoas se calam por medo de processos que visam negar ao público seu direito de saber a verdade.

Geralmente, as biografias de celebridades se apresentam sob duas formas: a hagiografia ou o exposé. O primeiro tipo, muitas vezes “autorizado” pela família, elogia seu protagonista, ampliando a lenda ao minimizar ou ignorar informações críticas. O segundo tipo, muitas vezes denunciado por pessoas que viveram os fatos, traspassa a fachada, diminuindo seu protagonista e negligenciando suas qua-lidades. Como os reis e rainhas de antigamente, as estrelas colocam seus súditos de um lado e seus inimigos de outro – e ambos sabem que a caneta pode ser mais poderosa do que a espada.

* Uma pessoa que, alheia a sua própria vontade, é convencida a agir em prol de interesses de terceiros. O termo foi imortalizado pelo livro The Manchurian candidate, de Richard Condon, adaptado para o cinema em 1954 e 2004 (no Brasil, Sob o domínio do mal). [n. do t.]

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A grande verdade a respeito de uma figura histórica é encontrada em uma jun-ção criteriosa das perspectivas verídica e crítica – sem seguir de forma rígida a uma ou a outra. Neste livro, pela primeira vez, essas lendárias personalidades serão retra-tadas de um ponto de vista imparcial, não comprometido com a adulação ou a difa-mação, mas sim com a verdade. “Just gimme some truth now”, cantou John Lennon em Imagine. “All I want is the truth.”* Este trabalho é dedicado a esse pedido.

Sob todos os aspectos, os sete astros são revelados como seres humanos bri-lhantes e carismáticos, mas complicados e cheios de conflitos – muito diferentes das lendas que pensávamos conhecer. Ainda assim, no final, é exatamente sua humanidade e sua luta verdadeiras que inspiram nossa compaixão e nosso amor, não sua mitificação.

Cada um dos capítulos que se seguem compõe uma história maior do que a vida de isolamento e excessos que os conduziu inexoravelmente a um fim prematuro. Os capítulos foram organizados em ordem cronológica, seguindo a sequência de suas mortes durante o que foi a era de ouro do rock. Os interlúdios entre essas his-tórias de vida traçam os aspectos subjacentes compartilhados por esses artistas históricos – sua infância solitária, o vício em drogas, a instabilidade mental, os relacionamentos desastrosos e a celebridade que os consumiu.

O psicólogo Carl Jung escreveu que os “grandes talentos são as mais adoráveis e, muitas vezes, as mais perigosas frutas da árvore da humanidade. Eles estão presos aos galhos mais finos, que se partem com mais facilidade.”

O extremismo e a tendência destrutiva afligem muitas personalidades criativas, particularmente os jovens. Isso é especialmente verdade em se tratando de uma arte performática de espetáculo e som explosivos que nos remete às nossas raízes ancestrais, cerimoniais e arrebatadoras. O rock sempre teve a ver com juventude, com liberdade, com a tomada da Bastilha. Em uma palavra: revolução – não apenas revolução política, mas revolução real.

“Elvis libertou o corpo”, declarou Bruce Springsteen ao entrar para o Hall da Fama do Rock and Roll, “Dylan libertou a mente.”

Artistas são os xamãs modernos, grandes feiticeiros que nos levam a um mun-do novo de energia e libertação inebriantes. O verdadeiro rock’n’roll é perigoso: o “furacão de fogo cruzado” de Jumpin’ Jack Flash. Em seu auge, é a arte zen de con-trolar o incontrolável, de dançar na corda bamba sem rede de proteção. E alguns pagam o preço.

Para fins de comparação, sobreviventes lendários do rock serão examinados: Mick Jagger e Keith Richards, o Narciso e o Lázaro da “Melhor Banda de Rock

* Me diga a verdade agora / Tudo o que eu quero é a verdade.

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do Mundo”; Eric Clapton, o guitarrista do Cream, que já foi chamado de “Deus”; Paul McCartney, o mais prolífico e bem-sucedido compositor do século 20; e Bob Dylan, o maior poeta lírico de nosso tempo. Embora tenham sofrido muitas das mesmas provações em suas vidas e carreiras, eles perseveraram onde outros falha-ram. Por quê?

Richards disse: “A parte da lenda é fácil. O difícil é viver.”Jagger afirmou: “Ou você está morto ou segue em frente.”Dylan completou: “Todo dia acima do chão é um bom dia.”Quanto aos Sete, todos eles viveram sob o brilho de um sol eclipsante, o que

concedeu intensidade e paixão sobrenaturais à sua arte e, no final, imortalizou cada um deles.

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