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Page 1: MEU FIM - toocastelobranco.seed.pr.gov.br · MEU FIM No fim de uma rua retirada da cidade, morávamos eu, meu velho e meus dois filhos. Eu era feliz, tinha uma família linda e também

MEU FIM

No fim de uma rua retirada da cidade, morávamos eu, meu velho e meus dois filhos. Eu era feliz, tinha uma família linda e também um jardim, onde cultivava flores para vender na feira da cidade. Nas horas vagas, fazia tricô na varanda. Meu velho trabalhava durante o dia todo, chegava em casa sempre cansado, porém, nunca deixou de me cumprimentar com um doce beijo na testa, depois, íamos ver as flores.

Em uma enluarada noite de verão, meus filhos, que já eram moços, resolveram ir á uma festa com uns amigos na cidade vizinha. Já era muito tarde e eles não retornavam, eu estava em pânico, apesar dos pedidos de meu marido para me acalmar. Foi quando o telefone tocou, era um bombeiro, que dizia que o carro onde eles estavam tinha sofrido um grave acidente e estavam todos mortos, o motorista estava bêbado.

Fiquei sem chão, a partir desse dia minha vida desmoronou. Na semana seguinte ao desastre, meu velho decidiu que iríamos mudar de cidade, para Curitiba, fugindo de tantas lembranças que aquela casa nos trazia, estava muito deprimida por causa de meus filhos.

Fomos morar em um apartamento, no centro de Curitiba. Minha vida mudou muito, de uma tranqüila cidade de interior para uma agitada metrópole, meu velho trabalhava em um escritório o dia todo, eu ficava só em casa, fazendo tricô, era um pouco monótono, mas era bom. Todos os sábados íamos passear pela cidade, era uma cidade muito grande, por isso tinha muitos lugares para conhecermos, apesar de tudo nossa vida era calma.

Até que um dia, ao chegarmos em casa do passeio, algo estranho acontece. Um envelope azul embaixo da porta. Abaixei-me para pegar e meu velho pegou primeiro. Ele abriu, olhou, perguntei o que era, respondeu que era coisa de seu trabalho e guardou no bolso. Eu fui fazer tricô e ele foi ler o jornal.

Notei que, a partir daquele dia, tudo mudou, ele ficava cada dia mais nervoso e agitado, menos carinhoso, nem me procurava mais. Eu estava quieta e pensativa, muito desconfiada de tudo isso. Além do mais, todo sábado encontrávamos um novo envelope.

Até que um dia, resolvi vestir um vestido branco que gostava muito, e ao procurá-lo, encontrei escondido no armário uma caixa que não conhecia. Abri a caixa e fiquei muito surpresa ao ver dentro dela muitos envelopes azuis. Abri um deles e, nela, uma frase de amor, junto com um fio de cabelo longo, certamente de mulher.

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Fiquei ao mesmo tempo decepcionada e curiosa. Fui abrindo todos os envelopes e lendo as cartas. Chorei muito, não acreditava que estava acontecendo aquilo comigo, com nosso casamento, eu que sempre amei tanto aquele homem...

Não merecia isso. Comecei a lembrar de nossa vida, como éramos felizes no interior, com nossos filhos, chorei por eles também. Estava desesperada, não tinha mais ninguém, então abri a gaveta, peguei o revólver de meu marido e sem pensar tirei minha própria vida.

Á noite, ele chega em casa e se depara com meu corpo banhado de sangue e as cartas espalhadas pelo chão. Entra em profundo desespero e se culpa por tudo aquilo. No dia seguinte, sou enterrada. Hoje meu marido, aliás viúvo, vive naquela casa, sozinho e triste, sente muito minha falta e se arrepende por tudo que me fez, sua vida é só tristeza e solidão.

Aline Pauleto 4º ano Formação de Docentes