mÉtodos para projeto organizacional: uma...
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MÉTODOS PARA PROJETO
ORGANIZACIONAL: UMA REVISÃO NA
LITERATURA
Lethicia Mallet Vivas (UFRJ )
MARIA CLARA LIPPI (UFRJ )
GUIDO VAZ SILVA (UFRJ )
A necessidade de (re) projetar organizações é constante no contexto
das rápidas mudanças do mercado, que exigem flexibilidade de
adaptação, principalmente em ambientes pouco estáveis (GALBRAITH
et al., 2002; NADLER, 1994). As questões referrentes ao projeto de
organizações, apesar de origem não recente, são discutidas na
atualidade em função da dificuldade que persiste em estabelecer o
método mais adequado para o projeto organizacional de configurações
adaptáveis e flexíveis (GOMES; SALERNO, 2009). Desta forma, este
artigo busca reunir e sintetizar as principais vertentes teóricas da
literatura no tema - as tradicionais e as emergentes - de forma a
possibilitar a constante reflexão e atualização dos modelos disponíveis
com vistas à construção de projetos de organização capazes de atender
às necessidades demandadas pela dinâmica de mercado atual.
Palavras-chaves: Projeto Organizacional, Estrutura Organizacional,
Revisão na literatura
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1.
2. Introdução
A necessidade de (re) projetar organizações é constante no contexto das rápidas mudanças do
mercado, que exigem flexibilidade de adaptação, principalmente em ambientes pouco estáveis
(GALBRAITH et al., 2002; NADLER, 1994). Para Brunoro et al. (2010), o projeto de uma
organização flexível precisa alinhar as características organizacionais internas com a
estratégia pretendida, considerando a influência do ambiente externo. No entanto, para
promover este alinhamento, uma série de elementos deve ser levada em consideração para
cada tipo de organização na decisão da configuração organizacional mais aderente a sua
realidade (MINTZBERG, 2011). Devido às remanescentes questões relativas ao projeto de
organizações, e a dificuldade que persiste em estabelecer o método mais adequado para o
projeto organizacional de configurações adaptáveis e flexíveis (GOMES; SALERNO, 2009),
este artigo busca reunir e sintetizar as principais vertentes teóricas da literatura no tema – as
tradicionais e as emergentes – de forma a possibilitar a constante reflexão e atualização dos
modelos disponíveis com vistas à construção de projetos de organização capazes de atender às
necessidades demandadas pela dinâmica de mercado atual.
Primeiramente, pretende-se destrinchar o conceito de projeto organizacional para amparar a
teoria descrita nos tópicos subsequentes. Em seguida, serão apresentados os principais
modelos identificados pelas autoras para o projeto de organizações. Finalmente, o foco será
direcionado à apresentação das dimensões e critérios a serem considerados para escolha da
configuração organizacional pretendida quando da execução do projeto organizacional.
3. Metodologia
Conforme tipologia para classificação de pesquisas em Engenharia de Produção delimitada
por Lacerda et al. (2007), o presente estudo adota a Pesquisa Bibliográfica como
procedimento técnico metodológico, tendo em vista o objetivo de organizar o conjunto
conceitual já presente na literatura acerca do Projeto de Organizações, com foco nas decisões
atreladas à escolha da configuração organizacional a ser adotada dada uma realidade
específica.
Sendo assim, realizou-se a revisão da literatura acerca dos modelos de projeto organizacional
disponíveis e a maneira pela qual estes modelos se propõem a selecionar ou definir as
configurações organizacionais desejadas.
Em relação à escolha dos modelos de projeto organizacional aqui apresentados, a seleção
destes métodos respeitou o critério de recorrência em citações, considerando publicações mais
recentes cujo objetivo se relacionava à aplicação de um método de projeto organizacional.
Cabe ressaltar, ainda, que uma das principais relevâncias acadêmicas deste artigo está
centrada em seu objetivo de agregar os principais métodos de projeto organizacional presentes
e discutidos na literatura. Geralmente, as publicações acadêmicas afetas ao tema buscam
apresentar, propor, defender e/ou aplicar métodos individualmente. Ao busca por “projeto
organizacional” (e terminologias afins) nos últimos 5 anos de Anais deste Congresso, por
exemplo, não foi observada nenhuma publicação com o propósito deste artigo.
4. O conceito de Projeto organizacional
Para Salerno (2007), o projeto de organizações tem por objetivo determinar a estrutura de
funcionamento, produção e trabalho da empresa. Porém, adverte que a estrutura por si não é
suficiente para projetar uma organização, sendo necessária a implantação de sistemas de apoio
que acompanhem a orientação organizacional induzida pela estrutura. Salerno (2007, p.2)
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afirma que “espaços de comunicação” devem ser criados para discutir os erros do passado e as
ações atuais para alcançar metas no futuro.
Neste ponto, Galbraith et al. (2002) alertam sobre a importância da significativa distinção
existente entre os termos “estrutura organizacional” e “projeto organizacional”, uma vez que é
frequente a utilização incorreta destas expressões. O projeto organizacional possui
abrangência mais ampla que a estrutura, contemplando-a (GALBRAITH et al., 2002). A
estrutura organizacional representa a divisão do trabalho em diferentes tarefas, e determina
como essas tarefas são coordenadas para o alcance dos resultados do negócio (MINTZBERG,
2011).
Logo, a partir das considerações expostas acima, o conceito de projeto organizacional
assumido pelas autoras nesta pesquisa consiste no conjunto coordenado de ações integradas e
orientadas estrategicamente, responsáveis por construir a estrutura organizacional e os
sistemas que a suportam – processos, políticas de pessoal, mecanismos de coordenação, entre
outros.
Por questões de uniformidade de entendimento, o termo a ser adotado ao longo do texto para
tratar do projeto de organizações será “projeto organizacional”, e “configuração
organizacional” será o termo assumido como o resultado do projeto organizacional.
5. Modelos para projeto organizacional
Nadler et al. (1994) observam a procura crescente por modelos de referência ou metodologias
de projeto organizacional tendo em vista a necessidade de adequação às mudanças na forma
de se interpretar as relações organizacionais e, consequentemente, representá-las.
Algumas destas mudanças e novos contornos dados ao projeto de organizações são destacados
por Savage (1996, apud PINHEIRO DE LIMA, 2001):
― A ideia do projeto organizacional como um processo integrativo;
― A importância do diálogo como “eixo central” das discussões acerca da contribuição
individual e coletiva para o processo de criação de valor;
― A disponibilidade virtual dos recursos organizacionais que compõem a base de
conhecimento da organização;
― A gestão dinâmica de equipes, que permite alocação múltipla em projetos e processos,
considerando as limitações destes;
― O tempo assume novo conceito a partir de um senso de continuidade entre passado,
presente e futuro em relação ao cenário interno e externo à organização.
Tendo em vista esta nova perspectiva de se enxergar as relações organizacionais, alguns
métodos de projeto organizacional foram delineados para atender a essa dinâmica imposta às
organizações de se reinventarem e atualizarem suas configurações organizacionais. Dos
modelos contemporâneos destacam-se aqueles propostos por Daft (2008) e Galbraith et al.
(2002).
5.1. O modelo proposto por Salerno (1999)
Salerno (1999) apresenta um conjunto de regras para o projeto de organizações adaptáveis e
flexíveis, como se nota na Tabela 1.
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Tabela 1: Regras para o projeto organizacional
Regras Descrição
1. Elaboração da carta
de valores/princípios do
projeto
A primeira regra orienta a formalização explicita dos objetivos e
princípios do projeto ou re-projeto organizacional, de forma a
comunicar e prover a homogeneização do entendimento da equipe
envolvida acerca de todo o processo de projeto.
2. Definição dos
processos
A partir da identificação dos eixos estratégicos centrais da organização,
os processos ligados a estes eixos devem ser analisados quanto a suas
características e critérios de desempenho e, as atividades que compõem
estes processos devem ser controladas e monitoradas.
3. Paralelização A paralelização do fluxo produtivo é interessante para criar alternativas
para o fluxo se manter em casos de possíveis problemas ou
interferências (externas – do ambiente, ou internas – falhas em
equipamentos, entrega de material etc).
4. Segmentação É pertinente a determinação de macro grupos segundo critérios de
divisão do trabalho pré-definidos pelo autor como (a) as fronteiras da
organização devem ser internalizadas no grupo, (b) o ciclo de análise,
tratamento e melhoria de um dado evento deve ser mantido todo com
um grupo e (c) critérios secundários devem ser adotados caso a caso,
como nível de tecnologia, número de pessoas, heterogeneidade, tempo
e espaço etc.
5. Critérios para seleção
de tecnologia de
processo
Os equipamentos e software escolhidos devem estar de acordo com a
estratégia e lógica de funcionamento da organização. Por isso, a
tecnologia de processo deve ser eleita somente depois do projeto geral
da organização estar definido.
6. Sistemas de
informação, produção da
informação e espaços de
comunicação
O fluxo de informação precisa ser facilitado e, por isso, espaços para
interação interpessoal devem ser criados além dos sistemas
instrumentos de viabilização deste fluxo. Os mesmos devem ser
projetados após a paralelização e a segmentação para garantir a
coerência com a lógica de funcionamento da organização e seus
objetivos.
7. Sistemas de pilotagem
ou controle
(dirigibilidade para o
tratamento de eventos)
O autor sugere que sejam adotados sistemas preparados para mudanças
não previstas nos objetivos e metas organizacionais. Ou seja, manter
um controle que monitore a mudança de orientação estratégica para
possibilitar ajustes no projeto organizacional.
8. Sistemas de suporte
social
É essencial estabelecer planos de carreira, treinamento e incentivos
associados a desempenho. A gestão por competências é sinalizada
como possível ponto de partida para este tipo de sistema de
implantação. Fonte: Adaptado de Salerno (1999)
A conformação das regras propostas por Salerno (1999) oferece um conjunto importante de
elementos que devem ser considerados para o projeto de organizações. Apesar de não definir
uma ordem para atendimento às regras, ou seja, não há um processo sistemático a ser seguido,
as regras apresentadas sintetizam os elementos relevantes para qualquer projeto
organizacional.
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5.2. O modelo proposto por Daft (2008)
Daft (2008) defende que o projeto organizacional depende da orientação estratégica adotada
pela organização, se para o aprendizado ou para a eficiência. Porém, argumenta que em
alguns casos o projeto organizacional também é capaz de “limitar ou reprimir as metas e
estratégias” organizacionais, posto que a estratégia pode ser elaborada a partir das decisões
acerca da estrutura organizacional atual.
O modelo de projeto organizacional proposto por Daft (2008) é composto por um conjunto de
escolhas que concernem ao formato de estrutura a ser adotado (aprendizagem versus
eficiência), aos sistemas de controle e informação, ao tipo de tecnologia de produção, à
política de recursos humanos e incentivos, à cultura e às relações interorganizacionais. A
Erro! Fonte de referência não encontrada. esclarece o posicionamento do projeto da
organização em relação ao estabelecimento da estratégia e ao alcance dos resultados
esperados.
Figura 1 – Posicionamento do projeto organizacional no processo de formação do negócio
Fonte: Adaptado de Daft (2008)
5.3. O modelo proposto por Galbraith et al. (2002)
Galbraith et al. (2002) baseiam sua abordagem quanto ao projeto organizacional no modelo
estrela, ilustrado na Figura 2. Os cinco elementos apresentados (Estratégia, pessoas, estrutura,
sistemas de recompensa e processos e capability lateral) se inter-relacionam na construção de
uma organização, sendo o ponto de partida adotado a orientação estratégica.
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Fonte: Adaptado de Galbraith et al. (2002)
Esses elementos são os atores principais deste modelo, posto que determinam a etapa II
relativa ao projeto propriamente dito da organização, como se vê na Erro! Fonte de
referência não encontrada..
Fonte: Adaptado de Galbraith et al. (2002)
Nota-se que o processo de projeto evidenciado levanta perguntas chave para orientar os
resultados que devem ser obtidos a cada etapa do método.
Em um primeiro momento (etapa I), o método sugere a identificação do gap existente entre a
estratégia pretendida e a situação atual da organização. Dessa forma, Galbraith et al. (2002)
propõem o desdobramento do foco estratégico em três categorias: produto, operação e
clientes. Cada um destes focos está relacionado a um conjunto de capacitações necessárias.
Após a confirmação do foco atual através da identificação das mudanças do ambiente e a
Figura 2 – Modelo Estrela
Figura 3 – Método de projeto organizacional proposto por Galbraith et al. (2002)
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capacidade de resposta a elas, deve ser feito o levantamento da situação atual. Através da
comparação entre as capacitações observadas e as necessárias com base no foco definido, são
determinados os gaps de competência que devem ser supridos.
Na etapa II é necessário integrar os elementos-chave do modelo para promover o alinhamento
organizacional com a estratégia definida em I. Neste momento identificam-se as mudanças
necessárias e como estas deverão ser realizadas e conduzidas. São definidos a nova estrutura
organizacional e os novos papéis atrelados a ela; os processos laterais chave necessários para
suportar a nova estrutura; as métricas a serem utilizadas para medir e recompensar o
desempenho de um indivíduo, grupo ou de toda a organização; as práticas de recursos
humanos que suportem adequadamente a nova estrutura organizacional (GALBRAITH et al.,
2002).
Na terceira etapa, os elementos de projeto são refinados com o objetivo de prepará-los para o
processo de implantação da nova configuração organizacional. Finalmente, com participação
de toda a organização, o projeto desenhado é colocado em prática na etapa IV (GALBRAITH
et al., 2002). Adaptações devem ser realizadas para acomodar situações que necessitem de
ajustes.
5.4. O modelo proposto por Mintzberg (2011)
Mintzberg (2011) defende que a organização está dividida em cinco partes básicas, sob as
quais se discutem todos os aspectos relativos ao projeto organizacional.
Figura 4 – As cinco partes básicas de uma organização
Fonte: Adaptado de Mintzberg (2003, apud URBANAVINICIUS JUNIOR, 2008)
A Figura 4 ilustra o posicionamento das cinco partes da organização. O núcleo operacional
está ligado à realização das tarefas mais básicas da organização, que envolvem mão-de-obra
de operadores responsáveis pela produção direta de bens ou serviços. A cúpula estratégica é
responsável pelas diretrizes gerais da organização, e deve assegurar que a estratégia
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pretendida seja alcançada e que as partes interessadas pelos resultados tenham suas
necessidades atendidas. Em relação à linha intermediária, esta conecta a cúpula estratégica ao
núcleo operacional por meio de gerentes intermediários com autoridade formal
(MINTZBERG, 2011).
Por fim, Mintzberg (2011) defende a existência das partes de apoio ao corpo principal: a
Tecnoestrutura e a Assessoria de apoio. A primeira é encarregada pela padronização das
atividades e tarefas a partir da atuação de analistas de controle; e a segunda se preocupa em
assessorar as demais partes fora do fluxo de trabalho operacional habitual (consultoria
jurídica, departamento financeiro etc).
A ideologia pode ser considerada uma sexta parte-chave, por ser entendida pelo autor como
“parte viva de qualquer organização”, que pode ser “sentida” e que resume as “verdades” que
envolvem aquela organização, independente das crenças externas a ela (MINTZBERG, 2011).
Definidas as cinco partes básicas da organização, o modelo de Mintzberg (2011) baseia-se na
relação entre três elementos básicos que influenciam na conformação dessas partes – (a) os
elementos de integração (os chamados mecanismos de coordenação), (b) os parâmetros de
projeto, e (c) os elementos contingenciais ou fatores situacionais. Juntos, tais elementos
convergem para a formação natural de determinados clusters ou configurações básicas
apresentadas pelo autor e serão, a seguir, detalhados.
5.4.1. Mecanismos de coordenação
Os mecanismos de coordenação promovem a coordenação das tarefas (GALBRAITH et al.,
2002). Mintzberg (2011) adiciona que estes mecanismos não se limitam à coordenação, mais
ainda, estão relacionados ao controle e comunicação dos fluxos de trabalho, representando “a
cola que mantém a organização unida”. A Tabela 2 sintetiza o conjunto de mecanismos de
coordenação.
Tabela 2: Mecanismos de coordenação do trabalho
Mecanismos de
coordenação Descrição
Ajustamento
mútuo
A coordenação do trabalho é obtida pela comunicação informal entre os
operadores ou especialistas. Pode ser adotado tanto por organizações
simples (de forma natural) quanto complexas (quando a divisão do
trabalho e a especialização são elevadas e é necessária a habilidade de
adaptação mútua dos colaboradores).
Supervisão
direta
Nasce da necessidade de verticalização das tarefas. “Um cérebro coordena
várias mãos”, ou seja, cria-se a lógica de subordinação do trabalho.
Padronização
dos processos de
trabalho
Está relacionado à padronização do conteúdo do trabalho. À medida que
instruções de trabalho são detalhadas, as tarefas podem ser realizadas com
maior autonomia pelos operadores, o que reduz a necessidade de
supervisão, por exemplo.
Padronização
dos outputs do
trabalho
Ocorre quando são definidas especificações para os resultados obtidos de
um trabalho, ou seja, não importam os meios para obtenção do resultado e
sim a satisfação dos requisitos do produto ou serviço final.
Padronização
das habilidades
Para alcançar um desempenho esperado especifica-se o tipo de
treinamento necessário para atingir tal desempenho. Dessa forma,
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dos
trabalhadores
padroniza-se as habilidades do trabalhador na realização de suas
atividades.
Socialização ou
padronização
das normas
As normas e regras de uma organização servem para viabilizar a ideologia
que estabelece a maneira pela qual as atividades devem ser realizadas.
Fonte: Adaptado de Mintzberg (2011)
5.4.2. Parâmetros de projeto e fatores situacionais
Para começar a estruturar ou desenhar uma organização, Mintzberg (2011) sugere a adoção de
parâmetros de projeto - “alavancas” ou “botões”, que quando acionados, impactam na divisão
do trabalho e na coordenação das tarefas. Estes componentes básicos da estrutura
organizacional são ativados conforme o agrupamento organizacional a ser desenhado. A
Tabela 3 lista os nove parâmetros de projeto segundo os grupos organizacionais objeto de
projeto.
Tabela 3: Parâmetros de projeto
Grupo Parâmetro de projeto
Projeto das posições
Especialização da tarefa
Formalização do comportamento
Treinamento e doutrinação.
Projeto da superestrutura Agrupamento em unidades
Tamanho da unidade
Projeto dos vínculos laterais Sistemas de planejamento e controle
Instrumentos de vinculo
Projeto do sistema de tomada de decisão Descentralização vertical
Descentralização horizontal
Fonte: Adaptado de Mintzberg (2011)
Estes parâmetros, entretanto, precisam estar contextualizados no ambiente em que a
organização se encontra para que sua aplicação seja adequadamente realizada. Nesse sentido,
Mintzberg (2011) considera de que maneira os parâmetros de projeto podem ser influenciados
pelos chamados fatores contingenciais ou situacionais. Tratam-se do ambiente que envolve a
organização, das relações de poder entre suas partes básicas, o sistema técnico escolhido, o
tempo e idade da organização.
A combinação dos três elementos – mecanismos de coordenação, parâmetros e fatores
situacionais - criam tendências de arranjos específicos ao interferirem diretamente na maneira
com que a coordenação das tarefas e a divisão do trabalho acontecem. Dessa forma, o
entendimento destes elementos e da maneira com que podem se relacionar deverá ser
importante na discussão dos critérios a serem considerados no projeto organizacional.
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5.4.3. As cinco configurações básicas
Cinco configurações principais emergem da combinação dos parâmetros de projeto
(MINTZBERG, 2011).
― A estrutura simples, em que a cúpula estratégica é a principal parte e o mecanismo de
coordenação é a supervisão direta;
― A Burocracia mecanizada, em que a tecnoestrutura assume papel principal e a
padronização dos outputs é dominante;
― A Burocracia profissional, em que o núcleo operacional possui maior força e o
mecanismo de coordenação se baseia na padronização das habilidades;
― A forma divisionalizada, em que a padronização dos outputs é o mecanismo de
coordenação principal e a linha intermediária assume papel predominante em relação
as demais partes da organização;
― A Adhocracia, onde o ajustamento mútuo é a base da coordenação do trabalho e a
assessoria de apoio (acompanhada ou não do núcleo operacional) é a parte principal da
organização.
― A organização Missionária, em que a socialização é o mecanismo básico de
coordenação e a parte-chave a ideologia.
Em cada configuração, percebe-se a predominância de um mecanismo de
coordenação, bem como da atuação mais acentuada de uma ou outra parte da organização,
com diferentes tipos de tomada de decisão (centralização ou descentralização).
Tabela 4: Principais características-chave das cinco configurações
Configuração
estrutural
Primeiro mecanismo de
coordenação
Parte-chave da
organização
Tipos de tomada de
decisão
Estrutura
Simples
Supervisão direta Cúpula estratégica Centralização vertical e
horizontal
Burocracia
mecanizada
Padronização dos
processos de trabalho
Tecnoestrutura Descentralização
horizontal limitada
Burocracia
profissional
Padronização das
habilidades
Núcleo
Operacional
Descentralização vertical
e horizontal
Forma
divisionalizada
Padronização dos
outputs
Linha
intermediária
Descentralização vertical
limitada
Adhocracia Ajustamento mútuo Assessoria de
apoio
Descentralização seletiva
Organização
missionária
Socialização Ideologia Descentralização vertical
e horizontal
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Fonte: Adaptado de Mintzberg (2011)
Essas correspondências, vislumbradas na Tabela 4, são explicadas a partir das forças que cada
parte da organização exerce. Apesar de todas as organizações estarem sujeitas à ocorrência de
todas as forças, dependendo dos fatores situacionais, a amplitude da força pode variar de uma
parte para a outra, fazendo com que determinada força se sobreponha as demais e leve a
organização a se configurar de maneira distinta (Erro! Fonte de referência não
encontrada.) (MINTZBERG, 2011).
Figura 5 – As forças que impulsionam a organização
Fonte: Adaptado de Mintzberg (2011)
6. Decisão sobre projeto organizacional
O modelo de projeto organizacional de Daft (2008) propõe que a escolha da configuração
adequada deve ser feita a partir da definição do tipo de estratégia a ser seguida. A Tabela 5
sintetiza a relação construída por Daft (2008) entre a orientação estratégica definida pela
empresa e a configuração organizacional ajustada a esta escolha.
Tabela 5: Implicações da estratégia para a seleção da configuração organizacional
Categorias Tipo de
estratégia Configuração organizacional correspondente
Categorias de
Porter Diferenciação
Orientação para a aprendizagem, ações flexíveis,
sem controle rígido e com forte coordenação
horizontal; fortes competências em pesquisa;
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constrói mecanismos para conhecimento do
consumidor; recompensa a criatividade e a
inovação dos funcionários.
Liderança de
baixo custo
Orientação para a eficiência, forte autoridade
central, firme controle de custos com relatórios
frequentes e detalhados; procedimentos
operacionais padronizados; sistemas de
distribuição e compras altamente eficientes;
supervisão intensa, atividades rotineiras e
funcionários com empowerment limitado.
Categorias de Miles
e Snow
Prospectiva
Orientação para a aprendizagem, estrutura fluida,
flexível e descentralizada;fortes competências em
pesquisa.
Defensiva
Orientação para a eficiência, forte autoridade
central e firme controle de custos; ênfase na
eficiência de produção com baixos custos fixos;
supervisão intensa e pouco empowerment dos
funcionários.
Analisadora
Equilibra eficiência e aprendizagem, firme
controle de custos com flexibilidade e
adaptabilidade; produção eficiente para linhas de
produtos estáveis; ênfase em criatividade, na
pesquisa, no fato de assumir riscos para a
inovação.
Reativa
Não há uma abordagem organizacional clara; as
características do projeto podem mudar de
maneira abrupta, dependendo das necessidades do
momento.
Fonte: Adaptado de Miles et al. (1978 apud DAFT, 2008); Porter (1980 apud DAFT, 2008)
Já Mintzberg (2011) reúne um conjunto de elementos chamados por ele “dimensões do
projeto”, que localizam a organização em um tipo de configuração específica conforme sua
posição dentro de cada dimensão.
O detalhamento de todas as dimensões consideradas relevantes para o processo de projeto
organizacional encontra-se no ANEXO A. Ele consolida o conjunto de elementos formados
pelos parâmetros de projeto, fatores situacionais, mecanismos de coordenação e partes-chave
da organização, que são capazes de dirigir a escolha do tipo de configuração organizacional
mais aderente à realidade desejada.
A emergência das configurações, no entanto, não pode ser tomada como um processo de
escolha do melhor arranjo. Este conceito precisa estar claro no sentido em que não há
configuração melhor do que a outra, e sim, estrutura mais coerente dada a consistência interna
dos elementos chave – mecanismos de coordenação, parâmetros de projeto conjugados nos
fatores situacionais e força interna das partes-chave (MINTZBERG, 2011).
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7. Conclusão
O estudo apresentado buscou reunir as principais correntes teóricas em Projeto
Organizacional atualmente adotadas para estabelecimento de configurações organizacionais
ajustadas e aderentes à estratégia corporativa. Dos modelos descritos pode-se destacar que os
métodos tradicionais, representados notadamente por Mintzberg (2011) e Salerno (1999), se
mantêm como base para as versões contemporâneas de Galbraith et al. (2002) e Daft (2008).
Estes se aproximam mais de modelos mais flexíveis de organização, principalmente o último.
Ao avaliar a condução do processo de projeto organizacional, entretanto, Mintzberg (2011),
mostra-se mais pragmático ao indicar configurações “prontas” que respeitam critérios
definidos. Enquanto Galbraith et al. (2002) e Daft (2008) optam por modelos um pouco mais
genéricos que permitem certa liberdade de condução do projeto por parte da organização, com
a possibilidade de feedbacks e reavaliações ao longo do mesmo.
Nesse sentido, estabelece-se um trade-off entre a objetividade e a qualidade. Possivelmente o
método mais pragmático limita a capacidade analítica e a liberdade de escolha do projetista,
bem como o método mais analítico pode levar à morosidade no processo de projeto
organizacional.
Em relação às configurações organizacionais obtidas, todos os modelos apontaram (direta ou
indiretamente) para a existência de um continuum entre a centralização e a descentralização –
nomeadas de diferentes maneiras a depender do método – com variadas opções
intermediárias. Mais importante do que as configurações finais, no entanto, são os meios
pelos quais estas podem ser alcançadas, ou seja, os elementos ou requisitos de projeto
organizacional que conduzem a organização à decisão.
REFERÊNCIAS
BRUNORO, Claudio Marcelo; SZNELWAR, Laerte Idal; MARX, Roberto. Análise e Projeto
Organizacional de uma Empresa de Inovação (P&D) por meio de uma Pesquisa-Ação. Anais
do XXX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. São Carlos, SP, Brasil, out. 2010.
DAFT, Richard. L Organizações: Teoria e Projetos. 9ª ed. Cengage Learning, 2008.
GALBRAITH, Jay; DOWNEY, Diane; KATES, Amy. Designing Dynamic Organizations.
AMACOM, New York, 2002.
GOMES, Leonardo Augusto de Vasconcelos; SALERNO, Mario Sergio. Um método de
projeto organizacional para empresas de base tecnológica. Anais do XXIX Encontro
Nacional de Engenharia de Produção, Salvador, BA, Brasil, out. 2009.
LACERDA, Daniel Pacheco; SILVA, Edison Renato; NAVARRO, Leonardo Luiz Lima;
OLIVEIRA, Nikollas Nunes Pereira; CAULLIRAUX, Heitor Mansur. Algumas
caracterizações dos métodos científicos em Engenharia de Produção: Uma análise de
periódicos nacionais e internacionais, XXVII ENEGEP - Encontro Nacional de
Engenharia de Produção, Foz do Iguaçu, 2007.
MINTZBERG, Henry. Criando organizações eficazes, São Paulo, Atlas, 2ª Ed., 2011.
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