metodologias em educaÇÃo ambiental formal e nÃo
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MIRLAINE ROTOLY DE FREITAS
METODOLOGIAS EM EDUCAO AMBIENTAL FORMAL E NO FORMAL PARA
A CONSERVAO DO SISTEMA SOCIOECOLGICO
LAVRAS MG
2014
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MIRLAINE ROTOLY DE FREITAS
METODOLOGIAS EM EDUCAO AMBIENTAL FORMAL E NO FORMAL PARA A CONSERVAO DO SISTEMA
SOCIOECOLGICO
Tese apresentada Universidade Federal de Lavras como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal, rea de concentrao em Cincias Florestais, para a obteno do ttulo de doutor.
Orientador
Dr. Renato Luiz Grisi Macedo
Coorientador
Dr. Matheus Puggina de Freitas
LAVRAS - MG
2014
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Freitas, Mirlaine Rotoly de. Metodologias em educao ambiental formal e no formal para a conservao do sistema scio-ecolgico / Mirlaine Rotoly de Freitas. Lavras : UFLA, 2014.
182 p. : il. Tese (doutorado) Universidade Federal de Lavras, 2014. Orientador: Renato Luiz Grisi Macedo. Bibliografia. 1. Conservao da natureza. 2. Ensino. 3. Percepo ambiental.
I. Universidade Federal de Lavras. II. Ttulo. CDD 372.357
Ficha Catalogrfica Elaborada pela Coordenadoria de Produtos e Servios da Biblioteca Universitria da UFLA
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MIRLAINE ROTOLY DE FREITAS
METODOLOGIAS EM EDUCAO AMBIENTAL FORMAL E NO FORMAL PARA A CONSERVAO DO SISTEMA
SOCIOECOLGICO
Tese apresentada Universidade Federal de Lavras como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal, rea de concentrao em Cincias Florestais, para a obteno do ttulo de doutor.
APROVADA em 17 de setembro de 2014. Dr. Nelson Venturin UFLA
Dr. Cleiton Antnio Nunes UFLA
Dra. Rosngela Alves Tristo Borm UFLA
Dra. Margarete Marin Lordelo Volpato Empresa de Pesquisa Agropecuria de
Minas Gerais - EPAMIG
Dr. Renato Luiz Grisi Macedo Orientador
LAVRAS MG
2014
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Ao Matheus, fonte da minha inspirao
A Clara e Isabela, luzes e encantos da minha vida
DEDICO
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AGRADECIMENTOS
- A Deus, por ter me concedido esta oportunidade.
- Ao Prof. Dr. Renato Luiz Grisi Macedo, pela sbia orientao,
confiana, amizade, estmulo, humildade e pelo idealismo contagiante na
construo de um planeta melhor, no qual a conservao ambiental seja
prioridade, por meio de um somatrio de aes da humanidade;
- Ao Prof. Dr. Nelson Venturin, pela ateno, enriquecedoras
contribuies, auxlio na coleta dos dados e pela confiana em meu trabalho;
- Ao Prof. Dr. Cleiton Nunes, pelas enriquecedoras, comprometidas e
competentes discusses sobre o uso da ferramenta PCA;
- Ao Prof. Dr. Luis Antnio Coimbra, pelo incentivo, confiana em
minha pesquisa e por contribuir para minha formao e organizao do
raciocnio, a partir da objetividade cientfica;
- Ao Juliano e a Francisca que, com prontido e solicitude, deram
suporte burocrtico para as etapas deste estudo;
- A Vanessa, Maria Oflia, Rafaela, Mary, Sandra e Joanna, pelo
auxlio, por acreditarem em meu trabalho e no idealismo da construo da
educao de qualidade e de cidados melhores;
- s amigas Stella, Diana e Kmila, pela amizade, incentivo,
companheirismo e apoio;
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- Aos professores Marco Aurlio, Josefina, Fabiano, Luciano e Evnia,
por viabilizarem a aplicao de questionrios, meu sincero agradecimento;
- Aos amigos, professores e funcionrios do Departamento de Cincias
Florestais e do Departamento de Qumica da UFLA, que direta ou indiretamente
contriburam para a concretizao deste estudo;
- Ao programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal, por
viabilizar, com muita competncia, minha formao como pesquisadora.
- FAPEMIG, pelo apoio financeiro;
- minha famlia, em especial aos meus pais, pelo estmulo, confiana e
por terem me transmitido os valores da vida;
- A Clara e Isabela, pelo incentivo constante da inocncia, alegria,
entusiasmo, fantasia e por vislumbrarem um planeta saudvel, repleto de VIDA.
- Ao Matheus, por ser meu incentivador, modelo de pesquisador e por
sua dedicao construo da cincia. Obrigada pelo exemplo, auxlio e
compreenso nos momentos de ausncia.
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RESUMO
A conservao do meio ambiente pode ser alcanada, no mdio e longo prazo, por meio de prticas de educao ambiental. Este estudo se justifica pela escassez de metodologias significativas de educao ambiental que abordem a compreenso do sistema socioecolgico, para as modalidades formal e no formal de ensino. Seu objetivo foi analisar as teorias ambientais ainda incipientes na educao ambiental brasileira e propor metodologias de anlise da percepo ambiental e de ensino em educao ambiental. Para a educao ambiental formal, foram elaborados e aplicados questionrios a alunos do ensino fundamental I, II, mdio, graduao e ps-graduao, com a finalidade de se identificar a percepo ambiental e as aes pr-ambientais que esses alunos consideram prioritrias. Esses dados foram analisados e correlacionados por meio de anlise de componentes principais (PCA). Para a educao ambiental no formal, um questionrio foi elaborado e aplicado a produtores rurais para identificar percepes referentes ao impacto ambiental de herbicidas. Na educao formal, os estudantes de todos os segmentos de ensino apresentaram, como percepo ambiental, uma viso intermediria sobre complexidade ambiental, a qual coerente com a indicao de aes de natureza pouco/moderadamente complexas de ambiente (aes de sensibilizao, compreenso e responsabilidade). Na educao no formal, embasado por um estudo qumico sobre herbicidas e pelos resultados da percepo ambiental que pouco considera o ambiente, props-se uma metodologia de educao ambiental. De forma geral, a compreenso dos resultados, embasada por teorias socioecolgicas, que se fundamentam nos conceitos de resilincia, adaptao e sustentabilidade, permitiu a elaborao de propostas metodolgicas para o ensino formal e no formal, que visam a suprir uma deficincia social no campo da educao ambiental. Espera-se que, no mdio e longo prazo, aes categorizadas como de competncia e cidadania comecem a ser praticadas pelos indivduos que sero submetidos s propostas de ensino.
Palavras-chave: Percepo ambiental. Ensino. Conservao da natureza.
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ABSTRACT
The environmental conservation can be achieved, in the medium and long term, through environmental education. This study is justified by the scarcity of meaningful methodologies in environmental education addressing the comprehension of the socio-ecological system for the formal and non-formal modalities of teaching. The objective of this work is focused on analyzing environmental theories, still incipient in the Brazilian environmental education, and also proposing methodologies for the analysis of the environmental perception and teaching-learning practices in environmental education. In the formal environmental education (primary levels I and II, high school, undergraduate and post-graduation), questionnaires were built and applied with the aim at identifying the environmental perception and the pro-environmental actions that these individuals consider as priority. These data were analyzed and correlated using principal component analysis (PCA). For the non-formal environmental education, a questionnaire was built and applied to rural producers to capture perceptions relative to the environmental impact when using herbicides. For the formal education, the students from every teaching segment exhibited an intermediate level of environmental complexity, according to the environmental perception analysis, which is consistent with their lowly/moderately complex pro-environmental actions (sensibility, comprehension and responsibility actions). For the non formal education, based on the outcomes from a chemical study about herbicides and from the insufficient environmental perception, a methodology in environmental education was proposed. Overall, from the theoretical background on socio-ecology, which is supported by the concepts of resilience, adaptability and sustainability, teaching-learning activities were proposed with the aim at overcoming a deficiency in the field of environmental education. We expect that competence and citizenship pro-environmental actions start to be practiced by the individuals submitted to the proposed teaching-learning activities in the medium and long term Keywords: Environmental perception. Teaching. Nature conservation.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Questo referente escolha de herbicidas - educao ambiental
no-formal ....................................................................................... 60
Figura 2 Exemplos de desenhos com diferentes pontuaes, a=1 ponto;
b=3 pontos; c=6 pontos ................................................................... 64
Figura 3 Elementos que compem o ambiente por graduandos de cursos
variados (Grupo A) ......................................................................... 65
Figura 4 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos graduandos
(Grupo A) ........................................................................................ 66
Figura 5 PCA para os dados referentes aos questionrios mistos dos
estudantes de ensino superior - cursos variados (Grupo A) ............ 68
Figura 6 Elementos que compem o ambiente - segundo grupo de
estudantes do ensino superior, cursos variados (Grupo A) ............. 69
Figura 7 Aes ambientais consideradas prioritrias pelo segundo grupo
de estudantes do ensino superior, cursos variados, questo
pseudoaberta (Grupo A) .................................................................. 70
Figura 8 Aes ambientais consideradas prioritrias pelo segundo grupo
de estudantes do ensino superior, cursos variados, questo
aberta (Grupo A) ............................................................................. 71
Figura 9 PCAs para os dados referentes ao segundo grupo de estudantes
do ensino superior, cursos variados; a) PCA obtida, a partir do
questionrio com questes pseudoabertas e b) PCA obtida, a
partir do questionrio com questes abertas (Grupo A) ................. 73
Figura 10 Elementos que compem o ambiente - graduao e ps-
graduao em Engenharia Florestal (Grupo B) ............................... 74
Figura 11 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos graduandos e
ps-graduandos em Engenharia Florestal (Grupo B) ...................... 75
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Figura 12 PCA para os dados referentes aos questionrios mistos dos
estudantes de graduao e ps-graduao em Engenharia
Florestal (Grupo B) ......................................................................... 77
Figura 13 Elementos que compem o ambiente - ensino fundamental I, II
e mdio (Grupo C) .......................................................................... 78
Figura 14 Elementos que compem o ambiente, por segmento do ensino
bsico (Grupo C) ............................................................................. 79
Figura 15 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos estudantes do
ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) - questo
estruturada ....................................................................................... 80
Figura 16 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos estudantes do
ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) - questo
semiestruturada ............................................................................... 81
Figura 17 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos estudantes do
ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) - questo
pseudoaberta ................................................................................... 82
Figura 18 PCAs para os dados do questionrio misto referentes aos
estudantes da educao bsica (Grupo C), incluindo os
segmentos fundamental I, fundamental II e mdio, juntos e
separados ......................................................................................... 84
Figura 19 PCA para o ensino fundamental e mdio (Grupo C) - questes
pseudoabertas .................................................................................. 85
Figura 20 PCA para o ensino fundamental e mdio (Grupo C) - questes
abertas ............................................................................................. 86
Figura 21 Esquema que correlaciona nveis de percepo ambiental com
categorias de aes em prol do ambiente ........................................ 88
Figura 22 Proposta de questionrio de percepo ambiental e sua anlise ..... 90
Figura 23 Esquema organizador do raciocnio ambiental ............................... 91
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Figura 24 Esquema de raciocnio sobre sistema socioecolgico ..................... 97
Figura 25 Exemplo de mapa conceitual sobre sistema socioecolgico e
aes ambientais ........................................................................... 100
Figura 26 Estruturas bsicas de alguns herbicidas acetanildicos e
triaznicos ...................................................................................... 105
Figura 27 LogKoc experimental versus ajustado e predito para a srie de
herbicidas acetanildicos ............................................................... 111
Figura 28 PCA para os herbicidas acetanildicos: grficos de a) scores e
b) loadings. PC1 = 0,569logKowautoescalado +
0,577MWautoescalado + 0,586MVautoescalado ................................... 113
Figura 29 LogKoc experimental versus ajustado e predito para a srie de
herbicidas triaznicos. a) Todos os compostos triaznicos da
srie includos; b) outliers 33 e 36 removidos .............................. 114
Figura 30 Diagnstico de outliers baseado em resduos de Student e
leverage das amostras ................................................................... 114
Figura 31 PCA para os herbicidas triaznicos: a) scores para o conjunto
de dados completo; b) loadings para o conjunto de dados
completo; c) scores aps remoo dos outliers 33 e 36; d)
loadings aps remoo dos outliers 33 e 36. PC1 =
0,559logKowautoescalado + 0,580MWautoescalado +
0,592MVautoescalado (outliers includos) e PC1 =
0,405logKowautoescalado + 0,644MWautoescalado +
0,650MVautoescalado (outliers removidos). ..................................... 116
Figura 32 Valores mdios (em mm, de um mximo de 100) indicados
pelos produtores rurais, sobre quo importantes so cada um
dos fatores (preo, meio ambiente e eficcia) durante a escolha
do herbicida ................................................................................... 118
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Figura 33 Respostas (de 0 a 100%) sobre o grau de conhecimento acerca
das propriedades de um herbicida, isto , se sabe-se que um
herbicida uma substncia qumica, que um contaminante
qumico do ambiente, e que existe relao entre sua estrutura
qumica com a toxicidade e risco ambiental ................................. 121
Figura 34 Proposta de mapa conceitual sobre sistema socioecolgico ......... 127
Figura 35 Painel sobre herbicidas e risco ambiental ..................................... 130
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Aes apresentadas aos indivduos para que os mesmos
indicassem apenas uma como sendo a mais importante para
conduzir conservao ambiental. A linguagem, nas
alternativas, varia de acordo com o pblico a ser analisado
(verses A, B e C). .......................................................................... 57
Tabela 2 Srie de herbicidas acetanildicos (1-21) e triaznicos (22-36),
valores de logKoc experimentais obtidos da literatura
(SABLJI et al., 1995) e descritores moleculares calculados ...... 108
Tabela 3 Amostras analisadas por cultura e resultados insatisfatrios -
2011 .............................................................................................. 122
Tabela 4 Amostras analisadas por cultura e resultados insatisfatrios -
2012 .............................................................................................. 122
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SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................. 16 1.1 Objetivos ............................................................................................. 17 1.1.1 Objetivo geral..................................................................................... 18 1.1.2 Objetivos especficos .......................................................................... 18 1.1.3 Hiptese .............................................................................................. 18 2 REFERENCIAL TERICO ............................................................ 19 2.1 Panorama das discusses dos encontros ambientais (ONU) .......... 19 2.2 Conceitos ambientais e educacionais ............................................... 25 2.3 Pesquisa em conservao e educao ambientais ........................... 39 2.3.1 Educao ambiental, sistema socioecolgico e resilincia
socioecolgica ..................................................................................... 39 2.3.2 Sistema socioecolgico e estratgias de raciocnio envolvendo
resilincia ............................................................................................ 43 2.3.3 Educao ambiental, percepo ambiental e estratgias de
ensino ................................................................................................ 44 3 MATERIAIS E MTODOS ............................................................. 48 3.1 Educao ambiental formal .............................................................. 49 3.2 Educao ambiental no formal ....................................................... 58 4 RESULTADOS E DISCUSSO....................................................... 63 4.1 Educao ambiental formal .............................................................. 63 4.1.1 Ensino superior/cursos variados (Grupo A) - questionrio misto . 65 4.1.1.1 PCA para o ensino superior/cursos variados (Grupo A) -
questionrio misto ............................................................................. 67 4.1.1.2 Ensino superior/cursos variados (Grupo A) - questionrios com
questes abertas e pseudoabertas ..................................................... 69 4.1.2 Graduao e ps-graduao em Engenharia Florestal (Grupo B) 73 4.1.2.1 PCA para a graduao e ps-graduao em Engenharia
Florestal (Grupo B) ........................................................................... 76 4.1.3 Ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) .................................. 77 4.1.3.1 PCAs para o ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) ........... 82 4.1.4 Sntese dos resultados e discusso .................................................... 86 4.1.5 Proposta metodolgica de ensino ..................................................... 90 4.1.5.1 Proposta de projeto em educao ambiental .................................. 94 4.2 Educao ambiental no formal ........................................................ 103 4.2.1 Estudo de herbicidas e sua soro no solo ........................................ 103 4.2.1.1 Herbicidas acetanildicos e triaznicos como poluentes orgnicos
do solo ............................................................................................. 104
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4.2.1.2 Construo do modelo QSPR para herbicidas acetanildicos e triaznicos ........................................................................................... 107
4.2.1.3 Resultados e discusso da modelagem QSPR da soro no solo de herbicidas acetanildicos e triaznicos ........................................ 110
4.2.2 Estudo de percepo ambiental com produtores rurais ................ 117 4.2.3 Proposta de educao ambiental para o ensino no formal .......... 124 5 CONCLUSES ................................................................................. 132 REFERNCIAS ................................................................................ 135 ANEXOS ............................................................................................ 147
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1 INTRODUO
As degradaes ambientais, decorrentes do desequilbrio entre as
relaes da sociedade humana com o ambiente, caracterizam-se como um dos
grandes problemas da atualidade que desafiam ,constantemente, a elaborao de
pesquisas em prol da conservao de todo o sistema socioecolgico. A
conservao ambiental pode ser alcanada, no mdio e longo prazo, por meio de
prticas de educao ambiental que orientem as pessoas sobre concepes e
prticas sustentveis.
As atividades de educao ambiental devem promover a concepo de
que o homem parte integrante do sistema socioecolgico e, diferente dos
outros elementos naturais ou artificiais, ele o elemento dotado de
racionalidade, com maior poder de interveno e que desencadeia aes com
reaes que podem ser benficas ou degradantes para todo o sistema. Essas
atividades de educao ambiental podem ser desenvolvidas no sistema formal de
ensino, permeando as disciplinas do currculo, ou na modalidade no formal,
focando associaes de bairros ou assessorias tcnicas, por exemplo. Ainda, as
atividades podem ser aplicadas na modalidade informal, em que as informaes
podem ser destinadas a ampliar a conscientizao pblica, por meio dos
mecanismos de comunicao de massa.
Para se desenvolver propostas em educao ambiental significativas,
necessrio saber como o pblico alvo percebe e concebe o meio ambiente. A
percepo ambiental fornece as ferramentas metodolgicas para que o
desenvolvimento da educao ambiental acontea, respeitando as
especificidades de cada pblico alvo.
O problema que motivou esta pesquisa foi: como desenvolver
metodologias significativas para se analisar a percepo ambiental e a
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predisposio ao desenvolvimento de aes conservacionistas em pessoas com
diferentes graus de instruo?
Esta pesquisa props a identificao e a anlise da percepo ambiental
de alunos do ensino fundamental I, II, mdio, universitrio e, especificamente, a
graduao e a ps-graduao em Engenharia Florestal, no intuito de se formular
uma metodologia de interveno de educao ambiental que se flexibilize para
todos os segmentos. Na educao ambiental no formal, avaliou-se a percepo
de produtores rurais quanto ao uso de herbicidas e seu risco ambiental. Para
assessorar o desenvolvimento da proposta metodolgica para produtores rurais,
foi realizado um estudo qumico sobre herbicidas e sua soro no solo, ou seja,
absoro e adsoro ocorrendo simultaneamente, ocasionando a incorporao do
herbicida no solo.
No presente estudo, utilizam-se conceitos, teorias e mtodos como:
pensamento sistmico, resilincia, sustentabilidade, adaptabilidade, teia da vida,
hiptese Gaia, percepo ambiental, representao social, complexidade
ambiental, aprendizagem significativa, aula e avaliao operatrias, entre outras,
que se conectam para gerar a solidez de uma proposta metodolgica que busca
auxiliar os educadores ambientais a delinearem seus materiais pedaggicos,
dando liberdade para se abordar a questo ambiental dentro dessa nova
perspectiva de cincia ambiental.
Este estudo se justifica pela escassez de metodologias significativas de
educao ambiental que abordem a compreenso do sistema socioecolgico para
as modalidades formal e no formal de ensino.
1.1 Objetivos
A seguir, segue o objetivo geral, bem como os objetivos especficos e a
hiptese que nortearam o desenvolvimento deste estudo.
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1.1.1 Objetivo geral
Analisar as teorias ambientais ainda incipientes na educao ambiental
brasileira e propor metodologias de anlise da percepo ambiental e de prticas
de ensino em educao ambiental.
1.1.2 Objetivos especficos
a) Traar o perfil perceptivo de indivduos de diferentes nveis de
escolaridade, relacionando representao social de ambiente com
categorizao de aes ambientais;
b) Avaliar a evoluo do raciocnio conservacionista nos diferentes
segmentos de ensino formal e propor atividades de ensino em prol da
conservao do sistema socioecolgico;
c) Avaliar, no mbito no formal e de forma descritiva, a percepo de
produtores rurais acerca da temtica ambiental: herbicidas versus
risco ambiental;
d) Estabelecer uma conexo entre a educao ambiental e um estudo
qumico, por meio de uma anlise de QSAR (Quantitative Structure-
Activity Relationship).
1.1.3 Hiptese
As pessoas que apresentam viso reducionista tendem a desenvolver
aes equivocadas ou insuficientes, que pouco contribuem com a conservao
ambiental.
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2 REFERENCIAL TERICO
A reviso de literatura buscou suprir trs necessidades tericas: a
identificao das tendncias das temticas ambientais ocorridas nos encontros
internacionais organizados pela ONU, a definio de conceitos ambientais e
educacionais relacionados ao enfoque da complexidade ambiental e sistema
socioecolgico, e o estado da arte da pesquisa relacionada educao ambiental.
2.1 Panorama das discusses dos encontros ambientais (ONU)
Nos ltimos duzentos anos, ou seja, aps a Revoluo Industrial, a
humanidade dotada de conhecimento tcnico e cientfico, passou a utilizar os
recursos naturais do planeta de forma acelerada, e, muitas vezes, inadequada. O
desenvolvimento cientfico e tecnolgico trouxe avanos, mas, tambm, gerou a
extino de inmeras espcies de animais e plantas, o desequilbrio de
ecossistemas e a exausto de recursos naturais. Atualmente, o ser humano e todo
o sistema Terra esto expostos aos efeitos negativos resultantes da degradao
ambiental. necessrio, fortalecer os vnculos do desenvolvimento tecnolgico,
da produo e do consumo sustentabilidade de todo o sistema socioecolgico.
Para se discutir as questes ambientais em nvel mundial, a Organizao
das Naes Unidas (ONU) organiza conferncias acerca das questes
ambientais, contando com a representatividade da maioria das naes do globo,
com o objetivo de analisar diagnsticos e traar metas que se materializem como
polticas pblicas adequadas s realidades especficas dos diferentes pases e
regies do globo.
Com o intuito de visualizar a evoluo das discusses ambientais, a
seguir, respeitando a ordem cronolgica, ser apresentado um breve resgate das
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temticas discutidas nas principais conferncias e documentos organizados pela
ONU.
Em 1972, em Estocolmo, na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio
Ambiente Humano (CNUMAH), houve um consenso sobre a necessidade
urgente de reagir ao problema da deteriorao ambiental. Nessa conferncia,
ficou claro que, para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos
fundamentais, inclusive o direito vida, essencial a conservao dos dois
aspectos do meio ambiente humano: o natural e o artificial. Foi exposta a
preocupao em se desenvolver a educao das temticas ambientais, com o
objetivo de instrumentalizar a sociedade com o conhecimento mnimo para se
manejar e utilizar os recursos ambientais de maneira racional (LUNDHOLM;
PLUMMER, 2010). A partir desse momento, a educao ambiental passou a ser
considerada como campo de ao pedaggico. Em 1977, ocorreu a Conferncia
de Tbilisi, a primeira Conferncia Intergovernamental sobre Educao
Ambiental (MACEDO; FREITAS; VENTURIN, 2011). As reunies
internacionais, organizadas pela ONU, incorporaram cada vez mais as
discusses sociais s ambientais e demonstraram preocupao em adequar o
ensino ambiental s problemticas ambientais que o planeta foi apresentando.
Cada encontro reafirmava as decises e compromissos do anterior e propunha
novas discusses, mais maduras e complexas.
A publicao do relatrio "Nosso Futuro Comum", em 1987, pela
Comisso Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (ORGANIZAO
DAS NAES UNIDAS - ONU, 2013c), trouxe dados e reflexes cientficas
que fundamentaram as discusses ambientais e introduziram no cenrio poltico
o termo "desenvolvimento sustentvel" (desenvolvimento econmico,
desenvolvimento social e proteo ambiental - para os mbitos local, nacional,
regional e global). Aps a publicao do relatrio Brundtland, como ficou
conhecido, os tomadores de deciso passaram a reconhecer a existncia do
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desenvolvimento sustentvel nesse novo enfoque para os projetos de
desenvolvimento.
Em 1992, no Rio de Janeiro, durante a Conferncia das Naes Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com base nos "Princpios do Rio",
ficou claro que a proteo do meio ambiente e o desenvolvimento social e
econmico so fundamentais para o desenvolvimento sustentvel. Para se
alcanar o desenvolvimento sustentvel, adotou-se o programa global "Agenda
21" e a "Declarao do Rio" (ONU, 2013a), os quais reafirmaram e ampliaram
os compromissos com o meio ambiente acordados em Estocolmo em 1972. A
Cpula do Rio foi um marco significativo, que estabeleceu uma agenda para o
desenvolvimento sustentvel.
Na ECO-92, discutiu-se que, para se atingir o desenvolvimento
sustentvel, era necessrio erradicar a pobreza, as disparidades sociais, incluir as
mulheres, os indgenas e todos os grupos vulnerveis nas questes de
planejamento ambiental; dessa forma, destacou-se a necessidade de
conscientizao e participao pblica nas questes ambientais e a necessidade
de uma legislao ambiental eficaz. Destacou-se a necessidade da criao de
programas eficazes de educao ambiental (MACEDO; FREITAS; VENTURIN,
2011), bem como discutiu-se a importncia da transparncia estatal quanto s
questes ambientais e a necessidade de cooperao internacional e intercmbio
de tecnologias. Nesse momento histrico, foi importante destacar que a paz, o
desenvolvimento e a proteo ambiental so interdependentes e indivisveis.
Na Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel, ocorrida em
Johanesburgo, em 2002, o contexto histrico revelava que novos elementos
relacionados ao processo de globalizao (SANTOS, 1997) haviam se
consolidado no cenrio poltico, social e econmico, e estavam impactando o
meio ambiente por meio de interesses que extrapolavam as fronteiras dos
Estados-Nao. O processo de globalizao adicionou uma nova dimenso e
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configurao ao desafio da conservao ambiental. A rpida integrao de
mercados, a mobilidade do capital e os significativos aumentos nos fluxos de
investimento nacionais e internacionais trouxeram desafios inditos e
oportunidades para a busca do desenvolvimento sustentvel (ONU, 2013b).
Na Cpula, as discusses das temticas ambientais agregaram, com
nfase, assuntos como cultura, minorias sociais, sociedade global humanitria,
equitativa e solidria (LUNDHOLM; PLUMMER, 2010). A Cpula reforou
que a erradicao da pobreza, a mudana dos padres de produo e consumo e
a proteo e manejo da base de recursos naturais para o desenvolvimento
econmico e social so objetivos fundamentais e requisitos essenciais do
desenvolvimento sustentvel.
O foco de discusso da Cpula de Johanesburgo foi a indivisibilidade da
dignidade humana e, por meio dessa viso, foram tomadas as decises sobre
metas, prazos e parcerias, que objetivaram ampliar o acesso a requisitos bsicos,
tais como gua potvel, saneamento, habitao adequada, energia, assistncia
mdica, segurana alimentar e proteo da biodiversidade.
Discutiu-se a necessidade da eliminao da subalimentao crnica,
desnutrio, ocupaes estrangeiras, conflitos armados, problemas com drogas
ilcitas, crime organizado, corrupo, desastres naturais, trfico ilegal de
armamentos, trfico humano, terrorismo, intolerncia e incitamento ao dio
racial, tnico e religioso, entre outros, xenofobia, e doenas endmicas,
transmissveis e crnicas, em particular HIV/AIDS, malria e tuberculose.
Reconhecendo que o desenvolvimento sustentvel requer uma
perspectiva de longo prazo e participao ampla na formulao de polticas,
tomada de decises e implementao em todos os nveis, a Cpula estabeleceu
que, para se atingir o desenvolvimento sustentvel e a efetiva aplicao da
"Agenda 21", das "Metas de Desenvolvimento do Milnio" e do "Plano de
Implementao de Johanesburgo", importante a parceria entre a sociedade
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civil, o setor pblico e o privado. Assim, para alcanar os objetivos do
desenvolvimento sustentvel, necessria a existncia de instituies
multilaterais mais eficazes, democrticas e responsveis.
Entre os principais encontros, foram realizadas conferncias, acordos,
discusses e metas sobre temticas especficas, que foram reforando e
colocando em prtica as polticas ambientais discutidas nas grandes
conferncias.
Como preparao para as discusses da Rio+20, o secretrio-geral da
ONU sobre sustentabilidade global apresentou, em 30 de janeiro de 2012, um
painel de alto nvel sobre sustentabilidade global denominado: "Povos
resilientes, planeta resiliente: um futuro digno de escolha" (ONU, 2013d). O
painel apresentou o projeto de desenvolvimento sustentvel e de baixo carbono.
Por meio de cinquenta e seis recomendaes polticas, props colocar em prtica
o desenvolvimento sustentvel, inserindo-o efetivamente na economia poltica e
transformando o desenvolvimento sustentvel de conceito de aceitao
generalizada para a realidade prtica. O projeto de desenvolvimento buscou
integrar poltica econmica e aos preos dos produtos e servios, os custos
sociais e externalidades ambientais. Props, tambm, que os indicadores do
desenvolvimento sustentvel considerem, alm do PIB, os princpios da
economia verde, que levam em conta o crescimento econmico, a reduo da
pobreza e a conservao ambiental.
As estratgias de crescimento verde consideram o crescimento e
desenvolvimento econmico ao mesmo tempo em que assegura que os recursos
naturais e servios ambientais sejam conservados. Recomenda aos pases, tanto
nos setores pblicos quanto privados, a cooperao em prol da proteo social, e
prope um modelo de crescimento mais resiliente, ou seja, aquele que tende a
retornar configurao inicial aps perturbaes e que seria mais capaz de
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24
suportar abalos externos (sejam relativos ao clima, energia, alimentos, recursos
ou mudanas demogrficas).
O relatrio apresenta recomendaes que, no longo prazo, buscam
erradicar a pobreza, aumentar a resilincia ambiental e social, fortalecer a
igualdade global, tornar a produo e o consumo mais sustentveis.
O foco do relatrio nas pessoas; portanto, discusses como resilincia
social sugerem a criao de redes de proteo social, por meio de leis que
mitiguem problemas sociais decorrentes de problemas ambientais, tais como:
mudana climtica, escassez de recursos, instabilidade financeira ou mesmo
contra picos de preos de alimentos ou outros bens bsicos.
A proposta de criao de um futuro sustentvel, justo e resiliente
pressupe a prtica de um desenvolvimento sustentvel desencadeado pelo
somatrio da governana internacional, nacional, local, sociedade civil e setor
privado.
Na Rio+20, discutiram-se as propostas de implantao do
desenvolvimento sustentvel que haviam sido destacadas pelo painel "Povos
resilientes, planeta resiliente: um futuro digno de escolha". Nesse contexto, as
discusses e compromissos envolveram termos como economia verde, sistemas
alimentares sustentveis, transporte sustentvel, energia sustentvel, empregos
verdes, riqueza sustentvel, segurana alimentar, bem-estar de pessoas, entre
outros.
Por meio da RIO+20 foram renovados e ampliados os compromissos
com o desenvolvimento sustentvel. O documento final, que concentra os focos
de discusses foi denominado: "O Futuro que ns queremos" (ONU, 2013b).
Desfrutando das facilidades tecnolgicas do momento atual, o evento foi
a primeira conferncia da ONU que se concentrou em atrair as pessoas em todo
o mundo por meio das redes sociais.
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25
importante ressaltar que as temticas a serem desenvolvidas em
educao ambiental seguem as tendncias dos debates que ocorrem nos
encontros internacionais, que definem diretrizes polticas e focos para as
discusses ambientais.
2.2 Conceitos ambientais e educacionais
A concepo de meio ambiente deve acontecer por meio do prisma da
complexidade ambiental, pois a diversidade de vises, abordagens e recursos de
investigao conferem pesquisa ambiental o respeito complexidade
intrnseca ao seu objeto de estudo: o ambiente. Para se pensar na complexidade
necessria a construo de um mundo pensado e modificado a partir das bases
da sustentabilidade. Essa nova mentalidade deve agregar ao conhecimento
cientfico socioambiental: saberes, valores e patrimnios culturais locais ou
globais.
Segundo Leff (2003), o pensamento complexo busca quebrar a
concepo de uma nica verdade absoluta produzida por uma cincia
radicalmente objetiva que homogeneiza o mundo e, por conseguinte, o meio
ambiente. Insere-se na anlise dos dados cientficos, a incerteza, a
imprevisibilidade e a perspectiva da teoria do caos.
A compartimentalizao didtico-cientfica do meio ambiente pode
gerar sua simplificao. Esse reducionismo de uma realidade que complexa,
pode desencadear aes ambientais inadequadas e degradantes (LEFF, 2003).
Com a busca da verdade racional cartesiana, a cincia compartimentou
seu conhecimento, valorizando as especializaes (BUARQUE, 1994),
abandonando a viso filosfica do estudo do todo, do global, do planetrio e
supervalorizando o conhecimento cientfico/analtico, ignorando, por exemplo,
as contribuies tradicionais do etnoconhecimento acerca das questes
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26
ambientais. Com a compartimentalizao do conhecimento cientfico,
frequentemente, as diferentes reas do conhecimento desenvolveram estudos
isolados, que deram suporte realizao de um mosaico de intervenes no
ambiente, desvinculados do comprometimento de pensar sobre o todo planetrio
e sua capacidade de carga, resilincia ou sustentabilidade. Os estudos de
caracterstica simplificadora e reducionista foram valorizados pelo mercado
capitalista, que prioriza o pensamento individualista e resultados no curto prazo.
Segundo Leff (2003), a crise ambiental no crise ecolgica, mas crise da razo.
Os problemas ambientais so, fundamentalmente, problemas do conhecimento.
A complexidade ambiental se apresenta como uma alternativa
metodolgica de raciocnio, que visa a restaurar a viso do todo, evitando as
simplificaes cientficas cartesianas, analisando o ambiente frente ao
cruzamento da maior quantidade possvel de componentes, fenmenos e
processos. O pensamento dialtico, utilizado no no enfoque da contradio ou
de contrrios, mas no enfoque da evoluo biolgica, auxilia na construo do
raciocnio que busca focar a totalidade ou a complexidade ambiental (LEFF,
2003).
O pensamento complexo prev uma via heurstica para analisar processos inter-relacionados que determinam as mudanas socioambientais, enquanto que a dialtica, como pensamento utpico, orienta uma revoluo permanente no pensamento que mobiliza a sociedade para a construo de uma racionalidade ambiental (LEFF, 2003, p. 33).
Para se definir ambiente, acredita-se que a concepo mais adequada a
que utiliza o termo sistema, aliando ao raciocnio de complexidade, o
pensamento dialtico e a investigao que busca abarcar a utopia do todo.
Historicamente, Capra (1996) cita que Lawrence Henderson utilizou o
termo sistema, pela primeira vez, para organismos vivos e sistemas sociais. Um
sistema passou a ser definido como um todo integrado, cujas propriedades
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27
surgem das relaes entre as suas partes e pensamento sistmico a
compreenso de um fenmeno dentro do contexto de um todo maior. Para a
concepo sistmica, os sistemas vivos apresentam sua organizao por meio de
redes, em que as relaes so fundamentais. Cada n da rede revela um
organismo que, amplificado, apresenta-se como outra rede. Assim, em escalas
diferentes, as redes se entrelaam e se comunicam.
Funtowicz e Marchi (2003) diferenciam os sistemas simples ou
meramente complicados dos complexos. Os primeiros, geralmente, so
estudados pela fsica clssica e, os complexos, so estudados pela ecologia e
cincias humanas e no podem ser compreendidos por uma nica perspectiva.
Nesses sistemas, a complexidade pode ser ordinria ou reflexiva. A
complexidade ordinria caracterstica dos sistemas biolgicos; nela, existe a
ausncia da autoconscincia e de propsitos, e o padro de organizao mais
comum a complementaridade da competncia e da cooperao. A
complexidade reflexiva caracterstica dos sistemas sociais, tcnicos ou mistos,
apresentando elementos com intencionalidade, representaes simblicas,
moralidade, etc., e o padro de organizao oscila entre a hegemonia e a
fragmentao. O estudo dos sistemas complexos reflexivos requer integrao do
conhecimento, considerao de incertezas e valores. Para o estudo desses
sistemas, os autores recomendam a utilizao da perspectiva da cincia ps-
normal.
Em um sistema complexo, acreditar que o entendimento do todo pode se
dar, simplesmente, a partir da compreenso das propriedades de suas partes um
pensamento mecanicista ou reducionista. O pensamento cartesiano, mecanicista,
foca a investigao analtica das partes de um todo, enfatizando, por exemplo, o
estudo das partes de um sistema. A partir de contribuies da biologia
organsmica, no sculo XX, a abordagem sistmica acentua que o enfoque deve
ser dado ao estudo do todo, pois o todo mais importante que o estudo de suas
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28
partes. Nessa abordagem, as propriedades das partes no so propriedades
intrnsecas, s podendo ser entendidas dentro do contexto do todo mais amplo.
No todo, processos e fenmenos que no aparecem no estudo isolado ou
analtico das partes podem ser estudados. O estudo do todo contextual, no
analtico. Essa abordagem oriunda da ecologia profunda ps-cartesiana e no-
mecanicista, e aponta para uma nova perspectiva na maneira de se produzir a
cincia (CAPRA, 1996).
O pensamento sistmico tem nfase no maior cruzamento possvel de
informaes conectadas em redes. Para se entender a amplitude e complexidade
do cruzamento dessas informaes, necessrio utilizar a perspectiva histrica
e ter cincia de que o futuro da rede condicional s aes presentes,
desencadeadas em qualquer ponto ou conexo da rede. Para se desenvolver esse
raciocnio de inter-relao local e temporal, necessrio conceber a relao
entre ser humano e ambiente nas bases da cooperao e interdependncia, ao
invs da dominao e hierarquizao. A concepo de coevoluo proposta pela
hiptese Gaia (LOVELOCK, 1979; MARGULIS, 1989) citada por Capra
(1996) como auxiliadora na construo desse raciocnio, que integra o ser
humano ao todo, ou seja, ao ambiente planetrio.
A viso sistmica permite relacionar os elementos, estabelecendo
relaes de interdependncia e minimizando vises reducionistas ou
simplificadoras do real. O termo sistema socioecolgico confere a abordagem de
complexidade que o ambiente deve apresentar (FAZEY, 2010).
O conceito de sistema socioecolgico est sendo amplamente discutido
pela comunidade cientfica internacional, pelo qual todos os componentes
abiticos e biticos, incluindo o ser humano, compem o ambiente, que
entendido por meio da concepo sistmica de inter-relaes e dependncia
(FAZEY, 2010; KRASNY, 2009). Portanto, pode-se compreender sistema
socioecolgico como um ambiente de inter-relaes, no qual o ser humano
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29
desempenha papel singular, em razo de sua racionalidade e capacidade de
interveno; consequentemente, o mesmo passvel de sofrer as consequncias
de suas aes.
Esse sistema recebe inmeras perturbaes, decorrentes dos impactos
positivos ou negativos das aes humanas ou relacionadas a processos biofsicos
do prprio sistema. Atualmente, as perturbaes esto cada vez mais
imprevisveis. Um exemplo de imprevisibilidade so as mudanas climticas.
Aps cada alterao, faz-se necessrio que, tanto os elementos ecolgicos do
sistema [correspondente ao conceito tradicional de resilincia, de acordo com
Odum e Barrett (2007)], quanto os sociais, busquem retomar a condio inicial.
Essa capacidade, denominada de resilincia, quando estendida tambm para o
sistema social (resilience thinking), que apresenta a peculiaridade do raciocnio,
pode ser conceituada como resilincia socioecolgica, ou resilincia orientada
pelo ser humano (FAZEY, 2010). Portanto, a complexidade ambiental e o
sistema socioecolgico definem os elementos do ambiente e suas inter-relaes.
O conceito de resilincia, por sua vez, est relacionado maneira com que esses
elementos interagem em favor da conservao ambiental e, ento, est
fortemente relacionado ao conceito de sustentabilidade.
A teoria da "resilincia socioecolgica" (FAZEY, 2010; FOLKE et al.,
2010) tem sido introduzida para avaliar formas que permitam ao ambiente se
recuperar, com o auxlio do ser humano, de perturbaes decorrentes de aes
antrpicas ou eventos naturais. Para que o ser humano possa interferir
positivamente para a reconstruo e conservao do meio ambiente, necessrio
que o mesmo tenha uma concepo ambiental complexa. As aes orientadas
pela resilincia socioecolgica tendem a ser embasadas por teorias ambientais e
pela viso sistmica, sendo carregadas de responsabilidade socioambiental e,
geralmente, as intervenes e seus resultados tm efeitos duradouros,
desencadeados no longo prazo. Por outro lado, aes de curto prazo so
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necessrias, em razo da necessidade eminente de conservar o ambiente; uma
linha dedicada a esses estudos a "otimizao para conservao" (LANDE;
ENGEN; SAETHER, 1994; MARGULES; PRESSEY, 2000;
ROUGHGARDEN; SMITH, 1996), a qual inclui prticas como fiscalizao e
intervenes pblicas imediatas. Idealmente, deve-se conciliar aes
relacionadas resilincia socioecolgica e otimizao para conservao, de
forma a resolver questes que necessitam de solues urgentes, mas, tambm,
que preparem a gerao atual e futura para conservarem o meio ambiente
(FISCHER et al., 2009).
A resilincia socioecolgica pode ser entendida como uma concepo,
ou um referencial metodolgico analtico, utilizado para guiar o planejamento de
aes, manejos e usos sustentveis dos recursos ambientais. Para se ter a
habilidade de pensar de forma resiliente, necessrio, desenvolver o raciocnio
hipottico de projetar o futuro ambiental, mobilizando o conhecimento
socioecolgico e a compreenso das interdependncias e relaes de causa e
efeito que existem entre os elementos e relaes de um sistema.
O domnio conceitual do sistema socioecolgico, a compreenso da
complexidade ambiental e os raciocnios relacionados resilincia
socioecolgica devem ser desenvolvidos na sociedade, por meio da educao
ambiental. O educador ambiental deve ser o disseminador de conhecimento
socioecolgico, por meio de metodologias que permitam com que o educando
possa construir seu conhecimento com o auxlio terico do educador, ajustando
contedos, habilidades e competncias realidade e necessidade de seu pblico
alvo, permitindo que o conhecimento ambiental transforme a estrutura cognitiva
de cada indivduo em prol da sustentabilidade, construindo de forma autnoma e
singular a conscientizao ambiental de cada cidado.
Nesse propsito, a educao ambiental no deve ser uma disciplina
isolada do currculo escolar, pois as discusses ambientais apresentam uma
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natureza complexa, exigindo a abordagem multidisciplinar, a contribuio de
vrios profissionais e a continuidade da construo do conhecimento em todos
os segmentos de ensino, do fundamental ps-graduao (BRASIL, 1996;
MACEDO; FREITAS; VENTURIN, 2011).
O educador/pesquisador deve ter a competncia e a liberdade de
produzir seu material didtico, atualizando seus contedos de acordo com o
desenvolvimento da pesquisa ambiental e conduzindo as atividades de ensino de
forma que a aprendizagem seja significativa.
De acordo com a teoria da aprendizagem cognitiva de David Ausubel, a
aprendizagem significativa um processo pelo qual um novo conhecimento
introduzido na estrutura cognitiva do educando, modificando ou se acoplando a
conhecimentos prvios, tambm chamados subsunores, que j existem na
estrutura cognitiva desse indivduo. Para haver a aprendizagem significativa,
necessrio haver conhecimento prvio (conceitos subsunores), um recurso
didtico potencialmente significativo (imagem, texto, tabela, etc., que possa se
relacionar com a estrutura cognitiva do educando) e a predisposio do
educando para a aprendizagem. De acordo com a teoria de Ausubel (MOREIRA,
1999; MOREIRA; MASINI, 2006), quando no houver conceitos subsunores, o
educador deve lanar organizadores prvios, que se baseiam em teorias com alto
grau de abstrao, para despertar o interesse dos alunos sobre o tema e para
estruturar sua aprendizagem de acordo com sua estrutura cognitiva, que se
organiza por meio da hierarquizao de conceitos mais gerais, para os conceitos
mais especficos.
Dois processos ocorrem na aprendizagem significativa: a diferenciao
progressiva, quando um conhecimento prvio modificado pela introduo de
um novo contedo, e a reconciliao integrativa, que ocorre quando ideias mais
gerais relacionam subsunores que estavam desconectados na estrutura cognitiva
do aluno (MOREIRA, 1999; MOREIRA; MASINI, 2006).
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Existem categorias da aprendizagem significativa, como a aprendizagem
representacional (quando o aluno atribui significados a smbolos ou eventos), a
aprendizagem de conceitos ( mais abstrata e mais generalizada que a
representacional), e a aprendizagem proposicional (em que os conceitos so
definidos por meio de uma proposio mais geral). Outras categorias so
complementares s j citadas, como a aprendizagem subordinada (um novo
conhecimento interage com os conhecimentos prvios, alterando-os), a
aprendizagem superordenada (a partir dos conhecimentos prvios uma
proposio formada) e aprendizagem combinatria (aprendizagem de uma
proposio global, nem subordinada, nem superordenada). A partir dessa teoria,
o fato do aluno saber conceituar, dissertar ou resolver problemas, no sinnimo
de que tenha acontecido uma aprendizagem significativa. A habilidade que
difere a aprendizagem significativa da mecnica quando o educando capaz de
realizar a transferncia de conhecimento (MOREIRA, 1999; MOREIRA;
MASINI, 2006).
Na teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (MOREIRA, 1999;
MOREIRA; MASINI, 2006), o educador elemento essencial no processo de
ensino/aprendizagem, pois ele detm o referencial metodolgico para conduzir o
processo de aprendizagem de acordo com seus objetivos, reconhecendo e
ancorando os conhecimentos prvios de seu pblico alvo aos novos
conhecimentos.
Em se tratando de temticas de educao ambiental, os indivduos, de
forma consciente ou no, apresentam imagens mentais, concepes e conceitos
subsunores relacionados ao meio ambiente. Quando o educador despreza esses
conhecimentos prvios, a aprendizagem tende a ser desinteressante, distante da
realidade do educando.
Ao se aliar a aprendizagem significativa ao novo modelo de cincia
ambiental, que se afasta do modelo cartesiano, entender como o indivduo
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percebe o mundo fundamental para se compreender como a teia de inter-
relaes percebida pelo mesmo e para se construir com o educando uma
conscincia sustentvel, embasada por relaes horizontais entre educandos e
educador, em que a cooperao e o compartilhar de conhecimentos
imprescindvel. Os conhecimentos prvios dos educandos relacionados a meio
ambiente so identificados pelo educador por meio da aplicao de ferramentas
de percepo ambiental.
A percepo ambiental apresenta metodologias para se identificar e
analisar as concepes relativas a meio ambiente de indivduos de diferentes
idades e nveis de instruo, para que sejam desenvolvidas propostas de
educao ambiental (FREITAS et al., 2009; MACEDO; FREITAS;
VENTURIN, 2011). As propostas devem ser planejadas e delineadas de acordo
com o objetivo que se pretende atingir e respeitando as especificidades do
pblico alvo. O educador deve ter autonomia para realizar os recortes
necessrios para adequar a atividade ao conhecimento prvio do seu pblico.
Para tanto, necessrio ter domnio terico sobre as teorias ambientais que iro
se desenvolver e sobre dois momentos especficos da manipulao dos dados de
percepo ambiental, a coleta e a sua anlise .
Os principais mtodos utilizados para a coleta dos dados so: os
questionrios semiestruturados, estruturados e mistos; entrevistas; mapa mental;
abordagem iconogrfica e abordagem fotogrfica (FREITAS et al., 2009).
O questionrio estruturado apresenta questes estruturadas ou fechadas,
ou seja, questes e respostas padronizadas e elaboradas objetivamente, a partir
das variveis a serem pesquisadas, em que todos os entrevistados tm a mesma
opo de pergunta e resposta. O questionrio semiestruturado se caracteriza por
apresentar questes semiestruturadas, ou abertas. Nelas, o pesquisador padroniza
as questes, que so elaboradas frente ao seu objetivo de pesquisa, mas a
resposta fica a critrio do respondente. O questionrio misto se caracteriza por
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34
apresentar questes estruturadas e semiestruturadas (BABBIE, 1999; LAVILLE;
DIONNE, 1999; REA; PARKER, 2000). Os estudos de casos em percepo
ambiental, que, geralmente, enfatizam a anlise qualitativa dos dados, tendem a
utilizar o questionrio semiestruturado ou misto para realizar a coleta de dados
(FREITAS; MACEDO; FERREIRA, 2009), enquanto, nas pesquisas do tipo
survey, cuja anlise dos dados tende a ser preponderantemente quantitativa, os
questionrios estruturados e mistos so mais aplicados (ANDRETTA, 2008;
FREITAS; MACEDO; FERREIRA, 2009).
As entrevistas orientadas ou no por roteiros seguem o nvel de
estruturao definido pelo pesquisador e representam um mtodo eficaz para se
coletar dados em percepo ambiental (LUCHIARI, 1997). Porm, o domnio
terico ambiental do educador ser o recurso utilizado para evitar indues ou
interferncias de representaes sociais na coleta dos dados.
O mapa mental um mtodo que utiliza o desenho para se coletar dados
especializados de percepo ambiental. Os dados refletem a organizao mental
sobre a realidade, que percebida por meio de esquemas perceptivos e imagens
mentais individuais e dotadas de significados. Quando se detectar a dificuldade
de conseguir coletar desenhos, existe a tcnica de elaborao do mapa mental
indireto, ou seja, ao invs de desenhos, os dados primrios so obtidos por meio
de um questionrio ou entrevista; assim, por meio da escrita, captam-se as
percepes e o pesquisador transforma os dados em desenho, espacializando-os
(RIO, 1999).
A abordagem fotogrfica um mtodo peculiar para se coletar a
percepo ambiental pela tica do objeto de estudo (FERRARA, 1999). A
populao amostral recebe do pesquisador mquinas fotogrficas descartveis
para registrar suas imagens e percepes do real. A partir de ento, o
pesquisador coleta um material que lhe permite analisar as imagens por meio da
viso que os objetos de estudo apresentam da realidade.
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A abordagem iconogrfica se caracteriza por apresentar ao pblico alvo
imagens e solicitar sua percepo e, por conseguinte, sua interpretao. Sherren,
Fischer e Fazey (2012) utilizaram fotografias para comparar as percepes de
paisagens entre criadores de gado que trabalham com manejo holstico de
plantaes (que envolvem cultivo de alta intensidade, curta durao e pouco uso
de agrotxicos) e aqueles mais convencionais na Austrlia; o objetivo dessa
pesquisa foi avaliar a capacidade adaptativa dos criadores frente s condies
climticas incertas e uma populao que, progressivamente, requer mais
alimento sem degradar o ecossistema. O uso de imagens ambientais foi
associado com sucesso ao questionrio semiestruturado por Freitas et al. (2010)
com o objetivo de se detectar a definio de ambiente de uma amostra. Reigota
(2007) utilizou esse mtodo conjugado com o dilogo, com o objetivo de
identificao e desconstruo de representaes sociais inadequadas.
A etapa da anlise e interpretao dos dados requer do pesquisador o
domnio do referencial terico ambiental, capaz de evitar indues e garantir
cientificidade aos resultados. Os dados numricos so, frequentemente,
analisados, organizados e sumarizados pela estatstica descritiva (FERREIRA;
OLIVEIRA, 2008), gerando, por exemplo, grficos de colunas, de barras,
setogramas (grficos de pizza) e histogramas, enquanto os textos so,
geralmente, analisados e categorizados por meio da anlise de contedo
(CAPELLE; MELO; GONALVES, 2003). Esse mtodo busca classificar
palavras, frases ou mesmo pargrafos em categorias de contedo. A partir
dessa metodologia, inicialmente, a unidade de anlise definida. Na sequncia,
a partir da leitura exaustiva das unidades de anlise, so elaboradas as
categorias, que organizam os dados para a interpretao.
A interpretao dos resultados deve seguir a proposta do pesquisador na
pesquisa ambiental, podendo seguir uma tendncia mais quantitativa ou
qualitativa.
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36
Comumente, as pesquisas de percepo ambiental so desenvolvidas
como estudos de caso (ALENCAR, 2004; LAVILLE; DIONNE, 1999),
conferindo a diversidade de aplicaes e de pblico alvo. O estudo de caso
permite ao pesquisador focalizar seu estudo na perspectiva de seu objeto de
estudo e enfatiza a importncia do estudo em microescala. Esse tipo de pesquisa
se caracteriza por aprofundar e detalhar um determinado fato ou fenmeno.
Pesquisas educacionais so frequentemente desenvolvidas por meio de estudos
de casos e, a partir da anlise de diversos casos, algumas generalizaes podem
ser realizadas.
Alencar (2004) e Murray (1974), ao expor que o estudo de caso pode
pesquisar uma parcela do real, a partir da viso de complexidade, ou mesmo
testar uma teoria existente ou parte dela, ou confirmar uma generalizao j
existente, ou mesmo, a partir das concluses do(s) caso(s), hipteses podem ser
geradas, incitando o desenvolvimento de outras pesquisas.
O estudo de caso se configura como mtodo fundamental para a
realizao de pesquisas qualitativas. Frequentemente, esse tipo de pesquisa
desenvolvido por meio de mtodos de coleta de dados, como questionrios
estruturados, semiestruturados e mistos (BABBIE, 1999; LAVILLE; DIONNE,
1999; REA; PARKER, 2000).
As pesquisas em percepo ambiental, geralmente, seguem o processo
linear de pesquisa, ou seja, suportado pelo referencial paradigmtico e terico, o
pesquisador define seu objeto de pesquisa, seu problema de pesquisa, sua
hiptese, seus objetivos, define a metodologia e escolhe seus mtodos para a
coleta e anlise dos dados. A partir de um planejamento prvio, a etapa para a
coleta dos dados programada por meio de um cronograma. Aps a etapa de
coleta, os dados so levados para o laboratrio, analisados e as concluses so
traadas (ALENCAR, 2004; SPRADLEY, 1980).
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Em um estudo de percepo ambiental, a partir do levantamento das
concepes ambientais, torna-se possvel identificar as representaes sociais
que as pessoas apresentam sobre a temtica ambiental. De acordo com Reigota
(2007), os conceitos cientficos, quando internalizados pela sociedade, fundem-
se a saberes do senso comum e aparecem nas coletas de dados como
representaes sociais. Outros autores, como Fazey et al. (2010), nomeiam
representao social como PEBs (Personal Epistemological Beliefs). Identificar,
analisar, desconstruir representaes ambientais incoerentes e construir
concepes conservacionistas, complexas e resilientes, tarefa do educador
ambiental.
Para se desenvolverem atividades de educao ambiental, o educador
pode utilizar inmeros mtodos de ensino e avaliao (MACEDO; FREITAS;
VENTURIN, 2011). De acordo com Ronca e Terzi (1995, 1996), os momentos
de aula e os avaliativos devem promover o desenvolvimento de operaes
mentais, como: anlise, comparao, sntese, classificao, seriao,
classificao, transferncia de conhecimento, entre outros. Para tornar a
aprendizagem significativa, impreterivelmente, os educandos devem dominar a
habilidade de transferncia de conhecimento (MOREIRA, 1999; MOREIRA;
MASINI, 2006). Em se tratando do conhecimento ambiental, a possibilidade de
transferir conhecimento ambiental para situaes cotidianas, configura-se na
habilidade que pode desencadear aes sustentveis, ao invs de degradantes.
Os projetos em educao ambiental podem conter vrias estratgias de
ensino e de avaliao da aprendizagem. Um recurso didtico pode ser utilizado
para sistematizar e organizar o contedo desenvolvido numa temtica e, ao
mesmo tempo, servir ao educador como avaliao da aprendizagem. Um
exemplo o uso de mapas conceituais, em que a partir da construo de um
diagrama, utilizando conceitos, palavras e setas representando a ponte entre
significados, um conceito principal destacado e relaes so estabelecidas,
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relacionando outros conceitos, fenmenos, exemplificaes, etc., com o intuito
de organizar o raciocnio a partir da aprendizagem de um contedo. Quando um
conceito relacionado a outros por meio de uma hierarquizao do raciocnio, o
mapa conceitual do tipo hierrquico. Tambm existem mapas conceituais do
tipo teia de aranha e fluxograma (MOREIRA, 1998, 2010; TAVARES, 2007).
Cabe ao educador desenvolver aquele que melhor atinge seu objetivo de
aprendizagem. A construo e uso de maquetes em atividades de ensino
(SIMIELLI et al., 1991) representam um recurso didtico dotado da
peculiaridade de estabelecer a ponte entre o abstrato terico e a realidade, numa
escala em que os alunos podem, de forma concreta, tocar, hipotetizar e projetar
raciocnios, fenmenos e processos ambientais (FREITAS; GARCIA, 2003).
So exemplos de mtodos de ensino e avaliao utilizados em atividades de
educao ambiental: estudo do meio, aula expositiva, seminrios, mesa-re-
donda, teatro, audincia pblica simulada, produo de cartazes, textos, mapas
conceituais, entre outros (MACEDO; FREITAS; VENTURIN, 2011).
Fazey et al. (2010) aplicou com sucesso, em alunos universitrios,
mtodos de resoluo de situaes problema em temticas ambientais para
desenvolver raciocnios de resilincia socioecolgica e, por meio de um
planejamento de ensino, exps o caminho para se construir um pensamento de
ordem superior referente a temas relacionados ao sistema socioecolgico.
Leff (2003, p. 58) coloca que a pedagogia da complexidade ambiental
reconhece que
a educao deve preparar as novas geraes no somente para aceitar a incerteza (uma educao como preparao ante o desastre ecolgico e capacidades de respostas para o imprevisto); tambm deve preparar novas mentalidades capazes de compreender as complexas inter-relaes entre os processos objetivos e subjetivos que constituem seu modo de vida, para gerar habilidades inovadoras para a construo do indito. Trata-se de uma educao que
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permite se preparar para a construo de uma nova racionalidade.
A educao ambiental tambm pode ser construda com os alunos a
partir da proposta pedaggica da educao popular de Paulo Freire.
Resumidamente, o enfoque dessa proposta promover a educao como ao
transformadora da sociedade (FREIRE, 1983). As atividades de educao
ambiental popular so desenvolvidas, a partir de temas geradores e questes
norteadoras, em que os fatores de problematizao aparecem no decorrer das
atividades. Nessa perspectiva, as relaes entre educadores e educandos devem
ser horizontais (AMNCIO, 2004).
2.3 Pesquisa em conservao e educao ambientais
Os contedos da educao ambiental devem seguir as atualizaes
decorrentes da evoluo das teorias, pesquisas e fenmenos ambientais que
mobilizam a comunidade cientfica. caracterstica da pesquisa em educao
ambiental ser ampla, diversificada e permear diferentes especializaes
cientficas.
2.3.1 Educao ambiental, sistema socioecolgico e resilincia
socioecolgica
Na literatura, discute-se, no mbito internacional, o papel da educao
ambiental frente s mudanas do sistema socioecolgico. Os estudos abordam
discusses metodolgicas da educao ambiental e a aproximao de conceitos,
como resilincia socioecolgica e adaptabilidade. O estudo de Lundholm e
Plummer (2010) auxilia no entendimento da evoluo histrica dos estudos e
temticas focados pela educao ambiental. Os autores realizaram um histrico
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sobre o desenvolvimento da educao ambiental, desde a dcada de 1970;
destacam, na dcada atual, a educao ambiental para o desenvolvimento
sustentvel como sendo sua principal contribuio. Eles discorrem sobre a
integrao discusso ambiental das mudanas referentes ao sistema
socioecolgico e como o prprio conceito de sustentabilidade passou a ser
entendido. Os autores afirmam que saberes e resilincia figuram,
dominantemente, como tendncia. O modo com que os conceitos surgem e se
unem so discutidos e suas interseces na educao ambiental so ilustradas no
contexto da escola formal, organizaes e sociedade.
Contribuindo com os estudos sobre resilincia socioecolgica, Krasny,
Lundholm e Plummer (2010a, 2010b) avaliam como a sociedade e os
ecossistemas se relacionam, se adaptam e aprendem a partir de mudanas. Para
tanto, utilizaram a resilincia, o saber e a educao ambiental em quatro
perspectivas: 1) a educao ambiental e o saber podem criar atributos de
resilincia do sistema socioecolgico; 2) a educao ambiental no pode ser
vista como um meio isolado para direcionar aspectos ambientais, mas como uma
ponte de um sistema complexo e multifacetado de interao de processos e
estruturas; 3) a resilincia, em mltiplos nveis, sugere uma forma de dividir a
educao ambiental em instrumental e intrnseca; 4) o paralelo entre conceitos
que utilizam a teoria cientfica e a resilincia do sistema socioecolgico pode
contribuir para a discusso de transferncia de ideias entre as disciplinas. Dessa
forma, esse estudo expe conceitos bsicos que auxiliam no entendimento dessa
nova tendncia da pesquisa em educao ambiental.
Krasny e Roth (2010) discutem a educao ambiental para resilincia do
sistema socioecolgico, a partir de uma perspectiva da teoria da atividade. Os
autores propem uma integrao da educao ambiental com os nveis de
capacidade de construo individual, com os conhecimentos bsicos para a
resilincia e com um foco sobre nveis de capacidade de adaptao do sistema
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socioecolgico. Alm disso, os pesquisadores apontam que alguns trabalhos da
literatura tm focado sobre nveis de capacidade de construo adaptativa em
indivduos e propem a associao do aprendizado individual com resilincia em
sistema socioecolgico. Para tanto, utilizam a teoria da atividade como uma
lente para examinar programas de educao ambiental, situados dentro de
prticas adaptativas de co-manejo, que podem criar novos saberes, misturando
contribuies recentes com implicaes diretas para a qualidade ambiental.
Krasny (2009) expe a relevncia da pesquisa em educao ambiental e
a importncia da aplicao de sistemas socioecolgicos e conscilincia
(convergncia de evidncias independentes) para a definio de objetivos de
pesquisa. A autora ressalta a importncia de se realizarem pontes entre as
disciplinas e o exame em diferentes nveis dos objetivos da educao ambiental
frente s mudanas ambientais e demogrficas atuais. Ainda, a pesquisadora
apresenta uma integrao do sistema socioecolgico e sua aproximao com a
pesquisa ambiental, que pode favorecer meios para se conciliar as
potencialidades da prtica de educao ambiental com a pesquisa tradicional.
Assim, a pesquisa em educao ambiental, segundo a autora, pode organizar o
aprendizado para aes individuais e coletivas sobre o ambiente. Na mesma
linha de raciocnio, Krasny, Lundholm e Plummer (2010b) apresentam uma rica
discusso sobre a resilincia em sistema socioecolgico, destacando o papel da
educao e do saber.
Krasny e Tidball (2009) aplicaram um mtodo de sistema de resilincia
para a educao ambiental urbana. As autoras destacam que o civismo ecolgico
uma prtica, uma via de integrao entre sociedade e ecologia no manejo dos
recursos naturais urbanos. O programa de educao ambiental, em que saberes
so situados na prtica do civismo ecolgico, tambm tem o potencial para
atingir comunidades e objetivos ambientais. A prtica do civismo ecolgico e
programas de educao ambiental podem criar resilincia no sistema
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socioecolgico urbano, por meio do melhoramento da diversidade biolgica e
servios do ecossistema, bem como, pela incorporao de diversas formas de
conhecimento e processos participativos de manejo de recursos. So propostas
inter-relaes entre manejo de recursos naturais, educao ambiental e sistema
socioecolgico. As autoras enfatizam o papel da educao ambiental em
sistemas, processos e resilincia.
Tidball, Krasny e Svendsen (2010) realizaram um estudo sobre o saber e
a memria relacionados resilincia de desastre. Os autores apontam que, aps
um desastre, a populao se mobiliza espontaneamente, fazendo uso de
memrias para recompor a paisagem. Os autores analisaram dois exemplos
urbanos para desenvolver suas hipteses, quais sejam, as memrias referentes ao
atentado de 11 de setembro, na cidade de Nova York, e a comunidade florestal
de New Orleans, afetadas pelo furaco Katrina. A resilincia do sistema
socioecolgico ps-trauma auxilia na recuperao ambiental e social. Shava et
al. (2010) realizaram um estudo de resilincia socioecolgica e educao
ambiental, focando no conhecimento agrcola em comunidades urbanas e
pessoas que foram realocadas.
Krasny, Tidball e Sriskandarajah (2009) abordam a educao e a
resilincia, destacando o aprendizado social entre estudantes universitrios e de
ensino mdio. Os autores apresentam uma viso geral sobre a sociedade e situam
o conhecimento literrio do setor dos recursos naturais e educao e sugerem
um programa educacional para estudantes universitrios e de ensino mdio, que
poderia contribuir para o esforo de melhorar a resilincia do sistema
socioecolgico em escala local. Tambm descrevem trs iniciativas com saberes
situados na adaptao, co-manejo e na prtica do civismo ecolgico.
Sriskandarajah et al. (2010) estudaram a resilincia em sistemas de
aprendizado por meio de estudos de caso em educao universitria. Os autores
assumiram o desafio de encontrar o conceito de resilincia em estratgias
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educacionais. Abordaram trs diferentes dimenses cognitivas: a ontolgica, a
epistemolgica e a axiolgica, em assuntos relacionados natureza da natureza,
natureza do conhecimento e natureza da natureza humana. As pesquisas
foram conduzidas sobre a educao superior nos EUA, na Holanda, na Sucia e
no Reino Unido, e ilustraram como os professores podem ser encorajados para
confrontar seu posicionamento quanto ontologia, epistemologia e axiologia,
bem como apreciar o posicionamento dos outros. Os casos enfatizam como
experincias de aprendizado podem ser designadas para facilitar transformaes
em diferentes nveis individuais e para criar nveis de resilincia do sistema
socioecolgico.
Sterling (2010) tece uma discusso, questionando se existe o
aprendizado para resilincia ou o aluno resiliente. O estudo conclui que, para
uma transformao no paradigma educacional para educao sustentvel,
necessrio integrar a perspectiva instrumental e intrnseca e criar o saber
resiliente para desenvolver a resilincia do sistema socioecolgico.
Plummer (2010) aborda uma sinopse sobre resilincia socioecolgica e
educao ambiental e discute sobre aplicaes e implicaes referentes
temtica. Schultz e Lundholm (2010) discutem sobre o saber para a resilincia e
desenvolvem um estudo que explora como esse saber para a resilincia
estimulado na prtica. Os autores investigam e analisam as oportunidades de
aprendizado em reservas de biosfera designadas pela UNESCO.
2.3.2 Sistema socioecolgico e estratgias de raciocnio envolvendo
resilincia
Estudos de sistema socioecolgico ,conjugando estratgias de raciocnio
baseadas na resilincia, adaptao e planejamento de aes no curto e/ou longo
prazo, revelam a aplicabilidade poltica da pesquisa ambiental. Fazey et al.
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(2010) discutem estratgias de adaptao para reduzir a vulnerabilidade a futuras
mudanas ambientais. Reed et al. (2010) discutem o que a aprendizagem social
e sua importncia. Fazey et al. (2010) apresenta uma anlise sobre resilincia e
pensamento de ordem superior. Fischer et al. (2009) contribuem, discutindo
sobre a integrao de resilincia e otimizao para a conservao ambiental.
Fazey et al. (2007) apresentam um estudo sobre a capacidade e aprendizado
adaptativo para aprender com os resduos de resilincia socioecolgica.
2.3.3 Educao ambiental, percepo ambiental e estratgias de ensino
Como o intuito das atividades de educao ambiental atingir o pblico
alvo de maneira significativa, interessante que o educador conhea e utilize
mtodos de coleta e anlise de dados relacionados percepo ambiental.
Estudos de percepes e comportamentos sociais relacionados ao ambiente
podem ser analisados pelo educador ambiental como ferramentas para a
avaliao do perfil do pblico alvo quanto a especificidades ou fenmenos
ambientais, ou mesmo, quanto avaliao de conhecimento prvio sobre
determinadas temticas. Conrad, Christie e Fazey (2011) avaliaram a
compreenso da percepo pblica sobre paisagem. Dong et al. (2011)
estudaram, na China, os determinantes das queixas dos cidados sobre poluio
ambiental. Payne (2010) realizou um histrico sobre a educao experiencial
relacionada imaginao ecolgica. Nesse caso, o autor menciona a
ecopedagogia da imaginao, que utilizada para subsidiar pedagogos criativos
a nutrirem uma reconciliao da humanidade, sociedade e da prpria natureza
humana.
Fazey et al. (2006) realizaram um estudo sobre o conhecimento
implcito e as percepes de tcnicos relacionados conservao ambiental.
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Wong e Wan (2011) avaliaram as percepes e os determinantes do
aspecto ambiental em Hong Kong e relacionaram ao desenvolvimento
sustentvel.
Bencze e Carter (2011) apresentaram a anlise das aes de estudantes
envolvidos com a globalizao.
Freitas, Macedo e Ferreira (2009) associaram as teorias referentes
percepo e complexidades ambientais para se atingir a conservao do
ambiente. Freitas et al. (2009) apresentaram materiais didticos para se realizar
estudos de percepo ambiental. Freitas et al. (2010) identificaram e avaliaram a
percepo ambiental de graduandos e docentes vinculados a um curso de
licenciatura em Qumica.
Estudos relacionados educao, didtica e materiais de ensino
complementam e atualizam a atividade prtica do educador ambiental. A
reciclagem e atualizao dos contedos so fundamentais para o educador.
Bozdogan, Karsli e Sahin (2011) apresentaram um estudo sobre o ensino do
tema aquecimento global, em que abordaram uma discusso sobre o prospectivo
conhecimento do professor sobre aquecimento global, mtodos de ensino e
atitudes referentes ao tema, com respeito a diferentes variveis.
Outros estudos, ao invs de focar contedos especficos, buscaram
entender o processo de aprendizagem por meio da construo do raciocnio do
estudante, fornecendo embasamento para que metodologias de ensino sejam
desenvolvidas e aperfeioadas. Keles (2011) realizou uma avaliao do
pensamento dos estudantes primrios e comportamentos e atitudes sobre
ambiente. Evely et al. (2011) comprovaram que altos nveis de participao em
projetos de conservao aumentam o aprendizado.
Pereira et al. (2006) descrevem prticas e materiais didticos para o uso
de reas urbanas naturais para o ensino de cincias e educao ambiental.
Ozguner, Cukur e Akten (2011) avaliaram o papel da disciplina sobre paisagem
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e planejamento urbano para estimular o desenvolvimento da educao ambiental
entre crianas da escola primria. Amato e Krasny (2011) apresentam a
educao ao ar livre, aplicando a teoria do aprendizado transformativo para
entender o aprendizado instrumental e o crescimento pessoal em educao
ambiental.
Sobre a contribuio educacional na formao do cidado, Bencze e
Carter (2011) apontaram a importncia do ensino em gerar estudantes
globalizados, que tenham aes voltadas para o bem comum; para tanto,
princpios como o holismo, o altrusmo, o dualismo, dentre outros, devem fazer
parte da formao.
Lionel e Le Grange (2011) apresentam uma crtica sobre a educao
superior, destacando problemas referentes fragmentao da
cincia/conhecimento e apontaram perspectivas para a criao de uma educao
mais complexa e sustentvel. Trautmann e Krasny (2006) propem um novo
modelo de educao universitria, integrando ensino e pesquisa. Ojeda-Barcelo,
Gutierrez-Perez e Perales-Palacios (2011) apresentam um programa colaborativo
virtual em educao ambiental, mostrando os fundamentos, o design, o
desenvolvimento, o modelo didtico, o conceito de ecourbano, os critrios de
validao e os componentes virtuais de inovao: o contextual, o pedaggico
didtico, o epistemolgico, a multimdia, o cognitivo e comunicativo.
Reid e Payne (2011) elaboraram um estudo reflexivo sobre a educao
ambiental, apontando a quebra de privilgios, identidades e significado. Payne
(2010) prope uma nova forma de se fazer educao ambiental, por meio de
espaos morais, da tica ambiental e da ecologia social da famlia. Teorias como
a ecopedagogia, a ecologia social e a educao experiencial embasam o estudo.
Schusler et al. (2009) propuseram o desenvolvimento de cidados e
comunidades sustentveis por meio do engajamento de jovens em aes
ambientais, com o intuito de motivar a juventude a realizar aes sociais e
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ambientais positivas. Schusler e Krasny (2010) propem a ao ambiental como
o contexto para o desenvolvimento da juventude. No estudo, as autoras analisam
as prticas de professores, educadores da cincia no formal, comunidades
organizadas e outros educadores que facilitam a participao de jovens em reas
de ao ambiental, bem como, as experincias em que jovens esto envolvidos.
Por meio de entrevistas com os educadores, foram identificados fortes paralelos
entre teoria e pesquisa emprica no desenvolvimento da literatura jovem,
sugerindo que a ao ambiental um valoroso contexto positivo para o
desenvolvimento da juventude. Aguilar e Krasny (2011) utilizam a comunicao
da prtica de conhecimentos bsicos para examinar um programa de educao
ambiental ps-escola para a juventude hispnica, ressaltando a importncia da
considerao dos conhecimentos prvios para o desenvolvimento de contedos
de educao ambiental.
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3 MATERIAIS E MTODOS
A natureza deste estudo social. Portanto, utilizou-se a metodologia de
pesquisa extrada das cincias sociais. O referencial paradigmtico que orientou
a escolha dos mtodos de coleta e anlise dos dados se situa na abordagem
estrutural do conflito. A dialtica marxista representa uma anlise terica capaz
de abarcar a perspectiva histrica na construo da questo ambiental,
permitindo a nfase nos aspectos da transio e mudanas de fenmenos,
processos ou configuraes. Permite, tambm, o enfoque da complexidade por
meio do exame das contradies, possibilidades, conflitos e totalidades
(MINAYO, 2000). O materialismo histrico e dialtico foi a lente terica que
deu suporte para a formulao das metodologias referentes percepo e
educao ambientais.
A ontologia que orientou esta pesquisa concebe que o arranjo ambiental
atual catico e decorrente de interferncias, manejos e adaptaes realizadas
pela sociedade orientada de forma consciente ou inconsciente pelo modo de
produo capitalista. A epistemologia da pesquisa seguiu a orientao
paradigmtica dialtica e privilegiou a abordagem e mtodos qualitativos
(BOGDAN; BIKKLEN, 1994; MINAYO, 2000) para a coleta e anlise dos
dados de percepo ambiental e mtodos qualitativos e quantitativos para o
tratamento dos dados da anlise qumica de herbicidas.
De acordo com Bulmer (1984), esta pesquisa se enquadra nas cincias
sociais no campo de anlise da "pesquisa estratgica", pois seus instrumentos
tericos e metodolgicos so os da pesquisa bsica das cincias sociais, mas sua
finalidade a ao, pois se orienta para problemas que surgem na sociedade.
O propsito desta pesquisa foi o de elaborar e testar metodologias
referentes percepo e educao ambientais. Portanto, no existiu a pretenso
de se diagnosticar tendncias ou generalizaes de percepo ambiental; assim,
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ao invs da pesquisa de survey (BABBIE, 1999), optou-se por estudos de casos
(ALENCAR, 2004; LAVILLE; DIONNE, 1999), conferindo a diversidade de
aplicaes e de pblico alvo.
Esta pesquisa seguiu o processo linear de pesquisa, ou seja, aps a etapa
de coleta, os dados foram levados para o laboratrio, analisados e as concluses
foram traadas (ALENCAR, 2004; SPRADLEY, 1980).
Na primeira parte deste estudo, utilizaram-se mtodos de descrio,
interpretao e anlise para se definirem especificidades, conceitos e tendncias
da discusso e pesquisa relacionadas ao sistema socioecolgico, com o intuito de
elaborar uma sistematizao terica sobre o tema. A identificao do estado da
arte em pesquisa ambiental foi fundamental para que um arcabouo terico
pudesse ser visualizado e filtrado por meio da anlise crtica, com a preocupao
de organizar o suporte terico para o desenvolvimento das propostas de
atividades de ensino em educao ambiental, que representam a segunda parte
deste estudo.
3.1 Educao ambiental formal
A metodologia aplicada na educao ambiental formal contemplou
estudantes do ensino fundamental I e II, ensino mdio e superior.
Mediante a recomendao do Comit de tica em Pesquisa em Seres
Humanos (COEPE/UFLA), que avaliou o projeto e os instrumentos de coleta de
dados (questionrios) dessa pesquisa, os nomes de pessoas e instituies de
ensino no foram mencionados, respeitando e preservando a identidade dos
voluntrios.
O mtodo elaborado para a coleta dos dados foi desenvolvido ,a partir de
experincias prvias em survey e estudos de caso em percepo ambiental
(FREITAS et al., 2010; FREITAS; MACEDO; FERREIRA, 2009), utilizando
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questionrios contendo questes estruturadas, semiestruturadas, rguas de
intensidade e imagens para se coletar percepes e definies de meio
ambiente.
Os instrumentos elaborados foram um questionrio misto, e dois semi-
estruturados, sendo um deles definido como "pseudoaberto", por conter
exemplos.
O questionrio misto apresentou uma questo no estruturada, a qual
solicita ao respondente a elaborao de um desenho sobre ambiente, que podia
ser complementado por anotaes ou legenda, e uma segunda questo,
estruturada, que solicitou ao respondente para assinalar uma, dentre oito aes,
que ele considerasse como primordial para a conservao ambiental. O
questionrio no solicitou nenhum tipo de identificao do voluntrio
respondente. Em razo da diferena no nvel de escolaridade dos objetos deste
estudo, a linguagem do questionrio foi adaptada aos diferentes pblicos alvo,
gerando trs verses do questionrio (ANEXOS A, B e C).
De acordo com as verses, o pblico alvo foi subdividido em:
a) Grupo A: estudantes do ensino superior;
b) Grupo B: estudantes do ensino superior, graduao e ps-graduao
em Engenharia Florestal;
c) Grupo C: estudantes do ensino fundamental I (3o e 5o anos); ensino
fundamental II (7o e 9o anos); ensino mdio (1o, 2o e 3o anos);
O questionrio aberto apresentou a primeira questo idntica do
questionrio misto, enquanto a segunda questo solicitou ao respondente para
escrever a ao ambiental que ele cons