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  • MIRLAINE ROTOLY DE FREITAS

    METODOLOGIAS EM EDUCAO AMBIENTAL FORMAL E NO FORMAL PARA

    A CONSERVAO DO SISTEMA SOCIOECOLGICO

    LAVRAS MG

    2014

  • MIRLAINE ROTOLY DE FREITAS

    METODOLOGIAS EM EDUCAO AMBIENTAL FORMAL E NO FORMAL PARA A CONSERVAO DO SISTEMA

    SOCIOECOLGICO

    Tese apresentada Universidade Federal de Lavras como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal, rea de concentrao em Cincias Florestais, para a obteno do ttulo de doutor.

    Orientador

    Dr. Renato Luiz Grisi Macedo

    Coorientador

    Dr. Matheus Puggina de Freitas

    LAVRAS - MG

    2014

  • Freitas, Mirlaine Rotoly de. Metodologias em educao ambiental formal e no formal para a conservao do sistema scio-ecolgico / Mirlaine Rotoly de Freitas. Lavras : UFLA, 2014.

    182 p. : il. Tese (doutorado) Universidade Federal de Lavras, 2014. Orientador: Renato Luiz Grisi Macedo. Bibliografia. 1. Conservao da natureza. 2. Ensino. 3. Percepo ambiental.

    I. Universidade Federal de Lavras. II. Ttulo. CDD 372.357

    Ficha Catalogrfica Elaborada pela Coordenadoria de Produtos e Servios da Biblioteca Universitria da UFLA

  • MIRLAINE ROTOLY DE FREITAS

    METODOLOGIAS EM EDUCAO AMBIENTAL FORMAL E NO FORMAL PARA A CONSERVAO DO SISTEMA

    SOCIOECOLGICO

    Tese apresentada Universidade Federal de Lavras como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal, rea de concentrao em Cincias Florestais, para a obteno do ttulo de doutor.

    APROVADA em 17 de setembro de 2014. Dr. Nelson Venturin UFLA

    Dr. Cleiton Antnio Nunes UFLA

    Dra. Rosngela Alves Tristo Borm UFLA

    Dra. Margarete Marin Lordelo Volpato Empresa de Pesquisa Agropecuria de

    Minas Gerais - EPAMIG

    Dr. Renato Luiz Grisi Macedo Orientador

    LAVRAS MG

    2014

  • Ao Matheus, fonte da minha inspirao

    A Clara e Isabela, luzes e encantos da minha vida

    DEDICO

  • AGRADECIMENTOS

    - A Deus, por ter me concedido esta oportunidade.

    - Ao Prof. Dr. Renato Luiz Grisi Macedo, pela sbia orientao,

    confiana, amizade, estmulo, humildade e pelo idealismo contagiante na

    construo de um planeta melhor, no qual a conservao ambiental seja

    prioridade, por meio de um somatrio de aes da humanidade;

    - Ao Prof. Dr. Nelson Venturin, pela ateno, enriquecedoras

    contribuies, auxlio na coleta dos dados e pela confiana em meu trabalho;

    - Ao Prof. Dr. Cleiton Nunes, pelas enriquecedoras, comprometidas e

    competentes discusses sobre o uso da ferramenta PCA;

    - Ao Prof. Dr. Luis Antnio Coimbra, pelo incentivo, confiana em

    minha pesquisa e por contribuir para minha formao e organizao do

    raciocnio, a partir da objetividade cientfica;

    - Ao Juliano e a Francisca que, com prontido e solicitude, deram

    suporte burocrtico para as etapas deste estudo;

    - A Vanessa, Maria Oflia, Rafaela, Mary, Sandra e Joanna, pelo

    auxlio, por acreditarem em meu trabalho e no idealismo da construo da

    educao de qualidade e de cidados melhores;

    - s amigas Stella, Diana e Kmila, pela amizade, incentivo,

    companheirismo e apoio;

  • - Aos professores Marco Aurlio, Josefina, Fabiano, Luciano e Evnia,

    por viabilizarem a aplicao de questionrios, meu sincero agradecimento;

    - Aos amigos, professores e funcionrios do Departamento de Cincias

    Florestais e do Departamento de Qumica da UFLA, que direta ou indiretamente

    contriburam para a concretizao deste estudo;

    - Ao programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal, por

    viabilizar, com muita competncia, minha formao como pesquisadora.

    - FAPEMIG, pelo apoio financeiro;

    - minha famlia, em especial aos meus pais, pelo estmulo, confiana e

    por terem me transmitido os valores da vida;

    - A Clara e Isabela, pelo incentivo constante da inocncia, alegria,

    entusiasmo, fantasia e por vislumbrarem um planeta saudvel, repleto de VIDA.

    - Ao Matheus, por ser meu incentivador, modelo de pesquisador e por

    sua dedicao construo da cincia. Obrigada pelo exemplo, auxlio e

    compreenso nos momentos de ausncia.

  • RESUMO

    A conservao do meio ambiente pode ser alcanada, no mdio e longo prazo, por meio de prticas de educao ambiental. Este estudo se justifica pela escassez de metodologias significativas de educao ambiental que abordem a compreenso do sistema socioecolgico, para as modalidades formal e no formal de ensino. Seu objetivo foi analisar as teorias ambientais ainda incipientes na educao ambiental brasileira e propor metodologias de anlise da percepo ambiental e de ensino em educao ambiental. Para a educao ambiental formal, foram elaborados e aplicados questionrios a alunos do ensino fundamental I, II, mdio, graduao e ps-graduao, com a finalidade de se identificar a percepo ambiental e as aes pr-ambientais que esses alunos consideram prioritrias. Esses dados foram analisados e correlacionados por meio de anlise de componentes principais (PCA). Para a educao ambiental no formal, um questionrio foi elaborado e aplicado a produtores rurais para identificar percepes referentes ao impacto ambiental de herbicidas. Na educao formal, os estudantes de todos os segmentos de ensino apresentaram, como percepo ambiental, uma viso intermediria sobre complexidade ambiental, a qual coerente com a indicao de aes de natureza pouco/moderadamente complexas de ambiente (aes de sensibilizao, compreenso e responsabilidade). Na educao no formal, embasado por um estudo qumico sobre herbicidas e pelos resultados da percepo ambiental que pouco considera o ambiente, props-se uma metodologia de educao ambiental. De forma geral, a compreenso dos resultados, embasada por teorias socioecolgicas, que se fundamentam nos conceitos de resilincia, adaptao e sustentabilidade, permitiu a elaborao de propostas metodolgicas para o ensino formal e no formal, que visam a suprir uma deficincia social no campo da educao ambiental. Espera-se que, no mdio e longo prazo, aes categorizadas como de competncia e cidadania comecem a ser praticadas pelos indivduos que sero submetidos s propostas de ensino.

    Palavras-chave: Percepo ambiental. Ensino. Conservao da natureza.

  • ABSTRACT

    The environmental conservation can be achieved, in the medium and long term, through environmental education. This study is justified by the scarcity of meaningful methodologies in environmental education addressing the comprehension of the socio-ecological system for the formal and non-formal modalities of teaching. The objective of this work is focused on analyzing environmental theories, still incipient in the Brazilian environmental education, and also proposing methodologies for the analysis of the environmental perception and teaching-learning practices in environmental education. In the formal environmental education (primary levels I and II, high school, undergraduate and post-graduation), questionnaires were built and applied with the aim at identifying the environmental perception and the pro-environmental actions that these individuals consider as priority. These data were analyzed and correlated using principal component analysis (PCA). For the non-formal environmental education, a questionnaire was built and applied to rural producers to capture perceptions relative to the environmental impact when using herbicides. For the formal education, the students from every teaching segment exhibited an intermediate level of environmental complexity, according to the environmental perception analysis, which is consistent with their lowly/moderately complex pro-environmental actions (sensibility, comprehension and responsibility actions). For the non formal education, based on the outcomes from a chemical study about herbicides and from the insufficient environmental perception, a methodology in environmental education was proposed. Overall, from the theoretical background on socio-ecology, which is supported by the concepts of resilience, adaptability and sustainability, teaching-learning activities were proposed with the aim at overcoming a deficiency in the field of environmental education. We expect that competence and citizenship pro-environmental actions start to be practiced by the individuals submitted to the proposed teaching-learning activities in the medium and long term Keywords: Environmental perception. Teaching. Nature conservation.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Questo referente escolha de herbicidas - educao ambiental

    no-formal ....................................................................................... 60

    Figura 2 Exemplos de desenhos com diferentes pontuaes, a=1 ponto;

    b=3 pontos; c=6 pontos ................................................................... 64

    Figura 3 Elementos que compem o ambiente por graduandos de cursos

    variados (Grupo A) ......................................................................... 65

    Figura 4 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos graduandos

    (Grupo A) ........................................................................................ 66

    Figura 5 PCA para os dados referentes aos questionrios mistos dos

    estudantes de ensino superior - cursos variados (Grupo A) ............ 68

    Figura 6 Elementos que compem o ambiente - segundo grupo de

    estudantes do ensino superior, cursos variados (Grupo A) ............. 69

    Figura 7 Aes ambientais consideradas prioritrias pelo segundo grupo

    de estudantes do ensino superior, cursos variados, questo

    pseudoaberta (Grupo A) .................................................................. 70

    Figura 8 Aes ambientais consideradas prioritrias pelo segundo grupo

    de estudantes do ensino superior, cursos variados, questo

    aberta (Grupo A) ............................................................................. 71

    Figura 9 PCAs para os dados referentes ao segundo grupo de estudantes

    do ensino superior, cursos variados; a) PCA obtida, a partir do

    questionrio com questes pseudoabertas e b) PCA obtida, a

    partir do questionrio com questes abertas (Grupo A) ................. 73

    Figura 10 Elementos que compem o ambiente - graduao e ps-

    graduao em Engenharia Florestal (Grupo B) ............................... 74

    Figura 11 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos graduandos e

    ps-graduandos em Engenharia Florestal (Grupo B) ...................... 75

  • Figura 12 PCA para os dados referentes aos questionrios mistos dos

    estudantes de graduao e ps-graduao em Engenharia

    Florestal (Grupo B) ......................................................................... 77

    Figura 13 Elementos que compem o ambiente - ensino fundamental I, II

    e mdio (Grupo C) .......................................................................... 78

    Figura 14 Elementos que compem o ambiente, por segmento do ensino

    bsico (Grupo C) ............................................................................. 79

    Figura 15 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos estudantes do

    ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) - questo

    estruturada ....................................................................................... 80

    Figura 16 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos estudantes do

    ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) - questo

    semiestruturada ............................................................................... 81

    Figura 17 Aes ambientais consideradas prioritrias pelos estudantes do

    ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) - questo

    pseudoaberta ................................................................................... 82

    Figura 18 PCAs para os dados do questionrio misto referentes aos

    estudantes da educao bsica (Grupo C), incluindo os

    segmentos fundamental I, fundamental II e mdio, juntos e

    separados ......................................................................................... 84

    Figura 19 PCA para o ensino fundamental e mdio (Grupo C) - questes

    pseudoabertas .................................................................................. 85

    Figura 20 PCA para o ensino fundamental e mdio (Grupo C) - questes

    abertas ............................................................................................. 86

    Figura 21 Esquema que correlaciona nveis de percepo ambiental com

    categorias de aes em prol do ambiente ........................................ 88

    Figura 22 Proposta de questionrio de percepo ambiental e sua anlise ..... 90

    Figura 23 Esquema organizador do raciocnio ambiental ............................... 91

  • Figura 24 Esquema de raciocnio sobre sistema socioecolgico ..................... 97

    Figura 25 Exemplo de mapa conceitual sobre sistema socioecolgico e

    aes ambientais ........................................................................... 100

    Figura 26 Estruturas bsicas de alguns herbicidas acetanildicos e

    triaznicos ...................................................................................... 105

    Figura 27 LogKoc experimental versus ajustado e predito para a srie de

    herbicidas acetanildicos ............................................................... 111

    Figura 28 PCA para os herbicidas acetanildicos: grficos de a) scores e

    b) loadings. PC1 = 0,569logKowautoescalado +

    0,577MWautoescalado + 0,586MVautoescalado ................................... 113

    Figura 29 LogKoc experimental versus ajustado e predito para a srie de

    herbicidas triaznicos. a) Todos os compostos triaznicos da

    srie includos; b) outliers 33 e 36 removidos .............................. 114

    Figura 30 Diagnstico de outliers baseado em resduos de Student e

    leverage das amostras ................................................................... 114

    Figura 31 PCA para os herbicidas triaznicos: a) scores para o conjunto

    de dados completo; b) loadings para o conjunto de dados

    completo; c) scores aps remoo dos outliers 33 e 36; d)

    loadings aps remoo dos outliers 33 e 36. PC1 =

    0,559logKowautoescalado + 0,580MWautoescalado +

    0,592MVautoescalado (outliers includos) e PC1 =

    0,405logKowautoescalado + 0,644MWautoescalado +

    0,650MVautoescalado (outliers removidos). ..................................... 116

    Figura 32 Valores mdios (em mm, de um mximo de 100) indicados

    pelos produtores rurais, sobre quo importantes so cada um

    dos fatores (preo, meio ambiente e eficcia) durante a escolha

    do herbicida ................................................................................... 118

  • Figura 33 Respostas (de 0 a 100%) sobre o grau de conhecimento acerca

    das propriedades de um herbicida, isto , se sabe-se que um

    herbicida uma substncia qumica, que um contaminante

    qumico do ambiente, e que existe relao entre sua estrutura

    qumica com a toxicidade e risco ambiental ................................. 121

    Figura 34 Proposta de mapa conceitual sobre sistema socioecolgico ......... 127

    Figura 35 Painel sobre herbicidas e risco ambiental ..................................... 130

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Aes apresentadas aos indivduos para que os mesmos

    indicassem apenas uma como sendo a mais importante para

    conduzir conservao ambiental. A linguagem, nas

    alternativas, varia de acordo com o pblico a ser analisado

    (verses A, B e C). .......................................................................... 57

    Tabela 2 Srie de herbicidas acetanildicos (1-21) e triaznicos (22-36),

    valores de logKoc experimentais obtidos da literatura

    (SABLJI et al., 1995) e descritores moleculares calculados ...... 108

    Tabela 3 Amostras analisadas por cultura e resultados insatisfatrios -

    2011 .............................................................................................. 122

    Tabela 4 Amostras analisadas por cultura e resultados insatisfatrios -

    2012 .............................................................................................. 122

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................. 16 1.1 Objetivos ............................................................................................. 17 1.1.1 Objetivo geral..................................................................................... 18 1.1.2 Objetivos especficos .......................................................................... 18 1.1.3 Hiptese .............................................................................................. 18 2 REFERENCIAL TERICO ............................................................ 19 2.1 Panorama das discusses dos encontros ambientais (ONU) .......... 19 2.2 Conceitos ambientais e educacionais ............................................... 25 2.3 Pesquisa em conservao e educao ambientais ........................... 39 2.3.1 Educao ambiental, sistema socioecolgico e resilincia

    socioecolgica ..................................................................................... 39 2.3.2 Sistema socioecolgico e estratgias de raciocnio envolvendo

    resilincia ............................................................................................ 43 2.3.3 Educao ambiental, percepo ambiental e estratgias de

    ensino ................................................................................................ 44 3 MATERIAIS E MTODOS ............................................................. 48 3.1 Educao ambiental formal .............................................................. 49 3.2 Educao ambiental no formal ....................................................... 58 4 RESULTADOS E DISCUSSO....................................................... 63 4.1 Educao ambiental formal .............................................................. 63 4.1.1 Ensino superior/cursos variados (Grupo A) - questionrio misto . 65 4.1.1.1 PCA para o ensino superior/cursos variados (Grupo A) -

    questionrio misto ............................................................................. 67 4.1.1.2 Ensino superior/cursos variados (Grupo A) - questionrios com

    questes abertas e pseudoabertas ..................................................... 69 4.1.2 Graduao e ps-graduao em Engenharia Florestal (Grupo B) 73 4.1.2.1 PCA para a graduao e ps-graduao em Engenharia

    Florestal (Grupo B) ........................................................................... 76 4.1.3 Ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) .................................. 77 4.1.3.1 PCAs para o ensino fundamental I, II e mdio (Grupo C) ........... 82 4.1.4 Sntese dos resultados e discusso .................................................... 86 4.1.5 Proposta metodolgica de ensino ..................................................... 90 4.1.5.1 Proposta de projeto em educao ambiental .................................. 94 4.2 Educao ambiental no formal ........................................................ 103 4.2.1 Estudo de herbicidas e sua soro no solo ........................................ 103 4.2.1.1 Herbicidas acetanildicos e triaznicos como poluentes orgnicos

    do solo ............................................................................................. 104

  • 4.2.1.2 Construo do modelo QSPR para herbicidas acetanildicos e triaznicos ........................................................................................... 107

    4.2.1.3 Resultados e discusso da modelagem QSPR da soro no solo de herbicidas acetanildicos e triaznicos ........................................ 110

    4.2.2 Estudo de percepo ambiental com produtores rurais ................ 117 4.2.3 Proposta de educao ambiental para o ensino no formal .......... 124 5 CONCLUSES ................................................................................. 132 REFERNCIAS ................................................................................ 135 ANEXOS ............................................................................................ 147

  • 16

    1 INTRODUO

    As degradaes ambientais, decorrentes do desequilbrio entre as

    relaes da sociedade humana com o ambiente, caracterizam-se como um dos

    grandes problemas da atualidade que desafiam ,constantemente, a elaborao de

    pesquisas em prol da conservao de todo o sistema socioecolgico. A

    conservao ambiental pode ser alcanada, no mdio e longo prazo, por meio de

    prticas de educao ambiental que orientem as pessoas sobre concepes e

    prticas sustentveis.

    As atividades de educao ambiental devem promover a concepo de

    que o homem parte integrante do sistema socioecolgico e, diferente dos

    outros elementos naturais ou artificiais, ele o elemento dotado de

    racionalidade, com maior poder de interveno e que desencadeia aes com

    reaes que podem ser benficas ou degradantes para todo o sistema. Essas

    atividades de educao ambiental podem ser desenvolvidas no sistema formal de

    ensino, permeando as disciplinas do currculo, ou na modalidade no formal,

    focando associaes de bairros ou assessorias tcnicas, por exemplo. Ainda, as

    atividades podem ser aplicadas na modalidade informal, em que as informaes

    podem ser destinadas a ampliar a conscientizao pblica, por meio dos

    mecanismos de comunicao de massa.

    Para se desenvolver propostas em educao ambiental significativas,

    necessrio saber como o pblico alvo percebe e concebe o meio ambiente. A

    percepo ambiental fornece as ferramentas metodolgicas para que o

    desenvolvimento da educao ambiental acontea, respeitando as

    especificidades de cada pblico alvo.

    O problema que motivou esta pesquisa foi: como desenvolver

    metodologias significativas para se analisar a percepo ambiental e a

  • 17

    predisposio ao desenvolvimento de aes conservacionistas em pessoas com

    diferentes graus de instruo?

    Esta pesquisa props a identificao e a anlise da percepo ambiental

    de alunos do ensino fundamental I, II, mdio, universitrio e, especificamente, a

    graduao e a ps-graduao em Engenharia Florestal, no intuito de se formular

    uma metodologia de interveno de educao ambiental que se flexibilize para

    todos os segmentos. Na educao ambiental no formal, avaliou-se a percepo

    de produtores rurais quanto ao uso de herbicidas e seu risco ambiental. Para

    assessorar o desenvolvimento da proposta metodolgica para produtores rurais,

    foi realizado um estudo qumico sobre herbicidas e sua soro no solo, ou seja,

    absoro e adsoro ocorrendo simultaneamente, ocasionando a incorporao do

    herbicida no solo.

    No presente estudo, utilizam-se conceitos, teorias e mtodos como:

    pensamento sistmico, resilincia, sustentabilidade, adaptabilidade, teia da vida,

    hiptese Gaia, percepo ambiental, representao social, complexidade

    ambiental, aprendizagem significativa, aula e avaliao operatrias, entre outras,

    que se conectam para gerar a solidez de uma proposta metodolgica que busca

    auxiliar os educadores ambientais a delinearem seus materiais pedaggicos,

    dando liberdade para se abordar a questo ambiental dentro dessa nova

    perspectiva de cincia ambiental.

    Este estudo se justifica pela escassez de metodologias significativas de

    educao ambiental que abordem a compreenso do sistema socioecolgico para

    as modalidades formal e no formal de ensino.

    1.1 Objetivos

    A seguir, segue o objetivo geral, bem como os objetivos especficos e a

    hiptese que nortearam o desenvolvimento deste estudo.

  • 18

    1.1.1 Objetivo geral

    Analisar as teorias ambientais ainda incipientes na educao ambiental

    brasileira e propor metodologias de anlise da percepo ambiental e de prticas

    de ensino em educao ambiental.

    1.1.2 Objetivos especficos

    a) Traar o perfil perceptivo de indivduos de diferentes nveis de

    escolaridade, relacionando representao social de ambiente com

    categorizao de aes ambientais;

    b) Avaliar a evoluo do raciocnio conservacionista nos diferentes

    segmentos de ensino formal e propor atividades de ensino em prol da

    conservao do sistema socioecolgico;

    c) Avaliar, no mbito no formal e de forma descritiva, a percepo de

    produtores rurais acerca da temtica ambiental: herbicidas versus

    risco ambiental;

    d) Estabelecer uma conexo entre a educao ambiental e um estudo

    qumico, por meio de uma anlise de QSAR (Quantitative Structure-

    Activity Relationship).

    1.1.3 Hiptese

    As pessoas que apresentam viso reducionista tendem a desenvolver

    aes equivocadas ou insuficientes, que pouco contribuem com a conservao

    ambiental.

  • 19

    2 REFERENCIAL TERICO

    A reviso de literatura buscou suprir trs necessidades tericas: a

    identificao das tendncias das temticas ambientais ocorridas nos encontros

    internacionais organizados pela ONU, a definio de conceitos ambientais e

    educacionais relacionados ao enfoque da complexidade ambiental e sistema

    socioecolgico, e o estado da arte da pesquisa relacionada educao ambiental.

    2.1 Panorama das discusses dos encontros ambientais (ONU)

    Nos ltimos duzentos anos, ou seja, aps a Revoluo Industrial, a

    humanidade dotada de conhecimento tcnico e cientfico, passou a utilizar os

    recursos naturais do planeta de forma acelerada, e, muitas vezes, inadequada. O

    desenvolvimento cientfico e tecnolgico trouxe avanos, mas, tambm, gerou a

    extino de inmeras espcies de animais e plantas, o desequilbrio de

    ecossistemas e a exausto de recursos naturais. Atualmente, o ser humano e todo

    o sistema Terra esto expostos aos efeitos negativos resultantes da degradao

    ambiental. necessrio, fortalecer os vnculos do desenvolvimento tecnolgico,

    da produo e do consumo sustentabilidade de todo o sistema socioecolgico.

    Para se discutir as questes ambientais em nvel mundial, a Organizao

    das Naes Unidas (ONU) organiza conferncias acerca das questes

    ambientais, contando com a representatividade da maioria das naes do globo,

    com o objetivo de analisar diagnsticos e traar metas que se materializem como

    polticas pblicas adequadas s realidades especficas dos diferentes pases e

    regies do globo.

    Com o intuito de visualizar a evoluo das discusses ambientais, a

    seguir, respeitando a ordem cronolgica, ser apresentado um breve resgate das

  • 20

    temticas discutidas nas principais conferncias e documentos organizados pela

    ONU.

    Em 1972, em Estocolmo, na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio

    Ambiente Humano (CNUMAH), houve um consenso sobre a necessidade

    urgente de reagir ao problema da deteriorao ambiental. Nessa conferncia,

    ficou claro que, para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos

    fundamentais, inclusive o direito vida, essencial a conservao dos dois

    aspectos do meio ambiente humano: o natural e o artificial. Foi exposta a

    preocupao em se desenvolver a educao das temticas ambientais, com o

    objetivo de instrumentalizar a sociedade com o conhecimento mnimo para se

    manejar e utilizar os recursos ambientais de maneira racional (LUNDHOLM;

    PLUMMER, 2010). A partir desse momento, a educao ambiental passou a ser

    considerada como campo de ao pedaggico. Em 1977, ocorreu a Conferncia

    de Tbilisi, a primeira Conferncia Intergovernamental sobre Educao

    Ambiental (MACEDO; FREITAS; VENTURIN, 2011). As reunies

    internacionais, organizadas pela ONU, incorporaram cada vez mais as

    discusses sociais s ambientais e demonstraram preocupao em adequar o

    ensino ambiental s problemticas ambientais que o planeta foi apresentando.

    Cada encontro reafirmava as decises e compromissos do anterior e propunha

    novas discusses, mais maduras e complexas.

    A publicao do relatrio "Nosso Futuro Comum", em 1987, pela

    Comisso Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (ORGANIZAO

    DAS NAES UNIDAS - ONU, 2013c), trouxe dados e reflexes cientficas

    que fundamentaram as discusses ambientais e introduziram no cenrio poltico

    o termo "desenvolvimento sustentvel" (desenvolvimento econmico,

    desenvolvimento social e proteo ambiental - para os mbitos local, nacional,

    regional e global). Aps a publicao do relatrio Brundtland, como ficou

    conhecido, os tomadores de deciso passaram a reconhecer a existncia do

  • 21

    desenvolvimento sustentvel nesse novo enfoque para os projetos de

    desenvolvimento.

    Em 1992, no Rio de Janeiro, durante a Conferncia das Naes Unidas

    sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com base nos "Princpios do Rio",

    ficou claro que a proteo do meio ambiente e o desenvolvimento social e

    econmico so fundamentais para o desenvolvimento sustentvel. Para se

    alcanar o desenvolvimento sustentvel, adotou-se o programa global "Agenda

    21" e a "Declarao do Rio" (ONU, 2013a), os quais reafirmaram e ampliaram

    os compromissos com o meio ambiente acordados em Estocolmo em 1972. A

    Cpula do Rio foi um marco significativo, que estabeleceu uma agenda para o

    desenvolvimento sustentvel.

    Na ECO-92, discutiu-se que, para se atingir o desenvolvimento

    sustentvel, era necessrio erradicar a pobreza, as disparidades sociais, incluir as

    mulheres, os indgenas e todos os grupos vulnerveis nas questes de

    planejamento ambiental; dessa forma, destacou-se a necessidade de

    conscientizao e participao pblica nas questes ambientais e a necessidade

    de uma legislao ambiental eficaz. Destacou-se a necessidade da criao de

    programas eficazes de educao ambiental (MACEDO; FREITAS; VENTURIN,

    2011), bem como discutiu-se a importncia da transparncia estatal quanto s

    questes ambientais e a necessidade de cooperao internacional e intercmbio

    de tecnologias. Nesse momento histrico, foi importante destacar que a paz, o

    desenvolvimento e a proteo ambiental so interdependentes e indivisveis.

    Na Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel, ocorrida em

    Johanesburgo, em 2002, o contexto histrico revelava que novos elementos

    relacionados ao processo de globalizao (SANTOS, 1997) haviam se

    consolidado no cenrio poltico, social e econmico, e estavam impactando o

    meio ambiente por meio de interesses que extrapolavam as fronteiras dos

    Estados-Nao. O processo de globalizao adicionou uma nova dimenso e

  • 22

    configurao ao desafio da conservao ambiental. A rpida integrao de

    mercados, a mobilidade do capital e os significativos aumentos nos fluxos de

    investimento nacionais e internacionais trouxeram desafios inditos e

    oportunidades para a busca do desenvolvimento sustentvel (ONU, 2013b).

    Na Cpula, as discusses das temticas ambientais agregaram, com

    nfase, assuntos como cultura, minorias sociais, sociedade global humanitria,

    equitativa e solidria (LUNDHOLM; PLUMMER, 2010). A Cpula reforou

    que a erradicao da pobreza, a mudana dos padres de produo e consumo e

    a proteo e manejo da base de recursos naturais para o desenvolvimento

    econmico e social so objetivos fundamentais e requisitos essenciais do

    desenvolvimento sustentvel.

    O foco de discusso da Cpula de Johanesburgo foi a indivisibilidade da

    dignidade humana e, por meio dessa viso, foram tomadas as decises sobre

    metas, prazos e parcerias, que objetivaram ampliar o acesso a requisitos bsicos,

    tais como gua potvel, saneamento, habitao adequada, energia, assistncia

    mdica, segurana alimentar e proteo da biodiversidade.

    Discutiu-se a necessidade da eliminao da subalimentao crnica,

    desnutrio, ocupaes estrangeiras, conflitos armados, problemas com drogas

    ilcitas, crime organizado, corrupo, desastres naturais, trfico ilegal de

    armamentos, trfico humano, terrorismo, intolerncia e incitamento ao dio

    racial, tnico e religioso, entre outros, xenofobia, e doenas endmicas,

    transmissveis e crnicas, em particular HIV/AIDS, malria e tuberculose.

    Reconhecendo que o desenvolvimento sustentvel requer uma

    perspectiva de longo prazo e participao ampla na formulao de polticas,

    tomada de decises e implementao em todos os nveis, a Cpula estabeleceu

    que, para se atingir o desenvolvimento sustentvel e a efetiva aplicao da

    "Agenda 21", das "Metas de Desenvolvimento do Milnio" e do "Plano de

    Implementao de Johanesburgo", importante a parceria entre a sociedade

  • 23

    civil, o setor pblico e o privado. Assim, para alcanar os objetivos do

    desenvolvimento sustentvel, necessria a existncia de instituies

    multilaterais mais eficazes, democrticas e responsveis.

    Entre os principais encontros, foram realizadas conferncias, acordos,

    discusses e metas sobre temticas especficas, que foram reforando e

    colocando em prtica as polticas ambientais discutidas nas grandes

    conferncias.

    Como preparao para as discusses da Rio+20, o secretrio-geral da

    ONU sobre sustentabilidade global apresentou, em 30 de janeiro de 2012, um

    painel de alto nvel sobre sustentabilidade global denominado: "Povos

    resilientes, planeta resiliente: um futuro digno de escolha" (ONU, 2013d). O

    painel apresentou o projeto de desenvolvimento sustentvel e de baixo carbono.

    Por meio de cinquenta e seis recomendaes polticas, props colocar em prtica

    o desenvolvimento sustentvel, inserindo-o efetivamente na economia poltica e

    transformando o desenvolvimento sustentvel de conceito de aceitao

    generalizada para a realidade prtica. O projeto de desenvolvimento buscou

    integrar poltica econmica e aos preos dos produtos e servios, os custos

    sociais e externalidades ambientais. Props, tambm, que os indicadores do

    desenvolvimento sustentvel considerem, alm do PIB, os princpios da

    economia verde, que levam em conta o crescimento econmico, a reduo da

    pobreza e a conservao ambiental.

    As estratgias de crescimento verde consideram o crescimento e

    desenvolvimento econmico ao mesmo tempo em que assegura que os recursos

    naturais e servios ambientais sejam conservados. Recomenda aos pases, tanto

    nos setores pblicos quanto privados, a cooperao em prol da proteo social, e

    prope um modelo de crescimento mais resiliente, ou seja, aquele que tende a

    retornar configurao inicial aps perturbaes e que seria mais capaz de

  • 24

    suportar abalos externos (sejam relativos ao clima, energia, alimentos, recursos

    ou mudanas demogrficas).

    O relatrio apresenta recomendaes que, no longo prazo, buscam

    erradicar a pobreza, aumentar a resilincia ambiental e social, fortalecer a

    igualdade global, tornar a produo e o consumo mais sustentveis.

    O foco do relatrio nas pessoas; portanto, discusses como resilincia

    social sugerem a criao de redes de proteo social, por meio de leis que

    mitiguem problemas sociais decorrentes de problemas ambientais, tais como:

    mudana climtica, escassez de recursos, instabilidade financeira ou mesmo

    contra picos de preos de alimentos ou outros bens bsicos.

    A proposta de criao de um futuro sustentvel, justo e resiliente

    pressupe a prtica de um desenvolvimento sustentvel desencadeado pelo

    somatrio da governana internacional, nacional, local, sociedade civil e setor

    privado.

    Na Rio+20, discutiram-se as propostas de implantao do

    desenvolvimento sustentvel que haviam sido destacadas pelo painel "Povos

    resilientes, planeta resiliente: um futuro digno de escolha". Nesse contexto, as

    discusses e compromissos envolveram termos como economia verde, sistemas

    alimentares sustentveis, transporte sustentvel, energia sustentvel, empregos

    verdes, riqueza sustentvel, segurana alimentar, bem-estar de pessoas, entre

    outros.

    Por meio da RIO+20 foram renovados e ampliados os compromissos

    com o desenvolvimento sustentvel. O documento final, que concentra os focos

    de discusses foi denominado: "O Futuro que ns queremos" (ONU, 2013b).

    Desfrutando das facilidades tecnolgicas do momento atual, o evento foi

    a primeira conferncia da ONU que se concentrou em atrair as pessoas em todo

    o mundo por meio das redes sociais.

  • 25

    importante ressaltar que as temticas a serem desenvolvidas em

    educao ambiental seguem as tendncias dos debates que ocorrem nos

    encontros internacionais, que definem diretrizes polticas e focos para as

    discusses ambientais.

    2.2 Conceitos ambientais e educacionais

    A concepo de meio ambiente deve acontecer por meio do prisma da

    complexidade ambiental, pois a diversidade de vises, abordagens e recursos de

    investigao conferem pesquisa ambiental o respeito complexidade

    intrnseca ao seu objeto de estudo: o ambiente. Para se pensar na complexidade

    necessria a construo de um mundo pensado e modificado a partir das bases

    da sustentabilidade. Essa nova mentalidade deve agregar ao conhecimento

    cientfico socioambiental: saberes, valores e patrimnios culturais locais ou

    globais.

    Segundo Leff (2003), o pensamento complexo busca quebrar a

    concepo de uma nica verdade absoluta produzida por uma cincia

    radicalmente objetiva que homogeneiza o mundo e, por conseguinte, o meio

    ambiente. Insere-se na anlise dos dados cientficos, a incerteza, a

    imprevisibilidade e a perspectiva da teoria do caos.

    A compartimentalizao didtico-cientfica do meio ambiente pode

    gerar sua simplificao. Esse reducionismo de uma realidade que complexa,

    pode desencadear aes ambientais inadequadas e degradantes (LEFF, 2003).

    Com a busca da verdade racional cartesiana, a cincia compartimentou

    seu conhecimento, valorizando as especializaes (BUARQUE, 1994),

    abandonando a viso filosfica do estudo do todo, do global, do planetrio e

    supervalorizando o conhecimento cientfico/analtico, ignorando, por exemplo,

    as contribuies tradicionais do etnoconhecimento acerca das questes

  • 26

    ambientais. Com a compartimentalizao do conhecimento cientfico,

    frequentemente, as diferentes reas do conhecimento desenvolveram estudos

    isolados, que deram suporte realizao de um mosaico de intervenes no

    ambiente, desvinculados do comprometimento de pensar sobre o todo planetrio

    e sua capacidade de carga, resilincia ou sustentabilidade. Os estudos de

    caracterstica simplificadora e reducionista foram valorizados pelo mercado

    capitalista, que prioriza o pensamento individualista e resultados no curto prazo.

    Segundo Leff (2003), a crise ambiental no crise ecolgica, mas crise da razo.

    Os problemas ambientais so, fundamentalmente, problemas do conhecimento.

    A complexidade ambiental se apresenta como uma alternativa

    metodolgica de raciocnio, que visa a restaurar a viso do todo, evitando as

    simplificaes cientficas cartesianas, analisando o ambiente frente ao

    cruzamento da maior quantidade possvel de componentes, fenmenos e

    processos. O pensamento dialtico, utilizado no no enfoque da contradio ou

    de contrrios, mas no enfoque da evoluo biolgica, auxilia na construo do

    raciocnio que busca focar a totalidade ou a complexidade ambiental (LEFF,

    2003).

    O pensamento complexo prev uma via heurstica para analisar processos inter-relacionados que determinam as mudanas socioambientais, enquanto que a dialtica, como pensamento utpico, orienta uma revoluo permanente no pensamento que mobiliza a sociedade para a construo de uma racionalidade ambiental (LEFF, 2003, p. 33).

    Para se definir ambiente, acredita-se que a concepo mais adequada a

    que utiliza o termo sistema, aliando ao raciocnio de complexidade, o

    pensamento dialtico e a investigao que busca abarcar a utopia do todo.

    Historicamente, Capra (1996) cita que Lawrence Henderson utilizou o

    termo sistema, pela primeira vez, para organismos vivos e sistemas sociais. Um

    sistema passou a ser definido como um todo integrado, cujas propriedades

  • 27

    surgem das relaes entre as suas partes e pensamento sistmico a

    compreenso de um fenmeno dentro do contexto de um todo maior. Para a

    concepo sistmica, os sistemas vivos apresentam sua organizao por meio de

    redes, em que as relaes so fundamentais. Cada n da rede revela um

    organismo que, amplificado, apresenta-se como outra rede. Assim, em escalas

    diferentes, as redes se entrelaam e se comunicam.

    Funtowicz e Marchi (2003) diferenciam os sistemas simples ou

    meramente complicados dos complexos. Os primeiros, geralmente, so

    estudados pela fsica clssica e, os complexos, so estudados pela ecologia e

    cincias humanas e no podem ser compreendidos por uma nica perspectiva.

    Nesses sistemas, a complexidade pode ser ordinria ou reflexiva. A

    complexidade ordinria caracterstica dos sistemas biolgicos; nela, existe a

    ausncia da autoconscincia e de propsitos, e o padro de organizao mais

    comum a complementaridade da competncia e da cooperao. A

    complexidade reflexiva caracterstica dos sistemas sociais, tcnicos ou mistos,

    apresentando elementos com intencionalidade, representaes simblicas,

    moralidade, etc., e o padro de organizao oscila entre a hegemonia e a

    fragmentao. O estudo dos sistemas complexos reflexivos requer integrao do

    conhecimento, considerao de incertezas e valores. Para o estudo desses

    sistemas, os autores recomendam a utilizao da perspectiva da cincia ps-

    normal.

    Em um sistema complexo, acreditar que o entendimento do todo pode se

    dar, simplesmente, a partir da compreenso das propriedades de suas partes um

    pensamento mecanicista ou reducionista. O pensamento cartesiano, mecanicista,

    foca a investigao analtica das partes de um todo, enfatizando, por exemplo, o

    estudo das partes de um sistema. A partir de contribuies da biologia

    organsmica, no sculo XX, a abordagem sistmica acentua que o enfoque deve

    ser dado ao estudo do todo, pois o todo mais importante que o estudo de suas

  • 28

    partes. Nessa abordagem, as propriedades das partes no so propriedades

    intrnsecas, s podendo ser entendidas dentro do contexto do todo mais amplo.

    No todo, processos e fenmenos que no aparecem no estudo isolado ou

    analtico das partes podem ser estudados. O estudo do todo contextual, no

    analtico. Essa abordagem oriunda da ecologia profunda ps-cartesiana e no-

    mecanicista, e aponta para uma nova perspectiva na maneira de se produzir a

    cincia (CAPRA, 1996).

    O pensamento sistmico tem nfase no maior cruzamento possvel de

    informaes conectadas em redes. Para se entender a amplitude e complexidade

    do cruzamento dessas informaes, necessrio utilizar a perspectiva histrica

    e ter cincia de que o futuro da rede condicional s aes presentes,

    desencadeadas em qualquer ponto ou conexo da rede. Para se desenvolver esse

    raciocnio de inter-relao local e temporal, necessrio conceber a relao

    entre ser humano e ambiente nas bases da cooperao e interdependncia, ao

    invs da dominao e hierarquizao. A concepo de coevoluo proposta pela

    hiptese Gaia (LOVELOCK, 1979; MARGULIS, 1989) citada por Capra

    (1996) como auxiliadora na construo desse raciocnio, que integra o ser

    humano ao todo, ou seja, ao ambiente planetrio.

    A viso sistmica permite relacionar os elementos, estabelecendo

    relaes de interdependncia e minimizando vises reducionistas ou

    simplificadoras do real. O termo sistema socioecolgico confere a abordagem de

    complexidade que o ambiente deve apresentar (FAZEY, 2010).

    O conceito de sistema socioecolgico est sendo amplamente discutido

    pela comunidade cientfica internacional, pelo qual todos os componentes

    abiticos e biticos, incluindo o ser humano, compem o ambiente, que

    entendido por meio da concepo sistmica de inter-relaes e dependncia

    (FAZEY, 2010; KRASNY, 2009). Portanto, pode-se compreender sistema

    socioecolgico como um ambiente de inter-relaes, no qual o ser humano

  • 29

    desempenha papel singular, em razo de sua racionalidade e capacidade de

    interveno; consequentemente, o mesmo passvel de sofrer as consequncias

    de suas aes.

    Esse sistema recebe inmeras perturbaes, decorrentes dos impactos

    positivos ou negativos das aes humanas ou relacionadas a processos biofsicos

    do prprio sistema. Atualmente, as perturbaes esto cada vez mais

    imprevisveis. Um exemplo de imprevisibilidade so as mudanas climticas.

    Aps cada alterao, faz-se necessrio que, tanto os elementos ecolgicos do

    sistema [correspondente ao conceito tradicional de resilincia, de acordo com

    Odum e Barrett (2007)], quanto os sociais, busquem retomar a condio inicial.

    Essa capacidade, denominada de resilincia, quando estendida tambm para o

    sistema social (resilience thinking), que apresenta a peculiaridade do raciocnio,

    pode ser conceituada como resilincia socioecolgica, ou resilincia orientada

    pelo ser humano (FAZEY, 2010). Portanto, a complexidade ambiental e o

    sistema socioecolgico definem os elementos do ambiente e suas inter-relaes.

    O conceito de resilincia, por sua vez, est relacionado maneira com que esses

    elementos interagem em favor da conservao ambiental e, ento, est

    fortemente relacionado ao conceito de sustentabilidade.

    A teoria da "resilincia socioecolgica" (FAZEY, 2010; FOLKE et al.,

    2010) tem sido introduzida para avaliar formas que permitam ao ambiente se

    recuperar, com o auxlio do ser humano, de perturbaes decorrentes de aes

    antrpicas ou eventos naturais. Para que o ser humano possa interferir

    positivamente para a reconstruo e conservao do meio ambiente, necessrio

    que o mesmo tenha uma concepo ambiental complexa. As aes orientadas

    pela resilincia socioecolgica tendem a ser embasadas por teorias ambientais e

    pela viso sistmica, sendo carregadas de responsabilidade socioambiental e,

    geralmente, as intervenes e seus resultados tm efeitos duradouros,

    desencadeados no longo prazo. Por outro lado, aes de curto prazo so

  • 30

    necessrias, em razo da necessidade eminente de conservar o ambiente; uma

    linha dedicada a esses estudos a "otimizao para conservao" (LANDE;

    ENGEN; SAETHER, 1994; MARGULES; PRESSEY, 2000;

    ROUGHGARDEN; SMITH, 1996), a qual inclui prticas como fiscalizao e

    intervenes pblicas imediatas. Idealmente, deve-se conciliar aes

    relacionadas resilincia socioecolgica e otimizao para conservao, de

    forma a resolver questes que necessitam de solues urgentes, mas, tambm,

    que preparem a gerao atual e futura para conservarem o meio ambiente

    (FISCHER et al., 2009).

    A resilincia socioecolgica pode ser entendida como uma concepo,

    ou um referencial metodolgico analtico, utilizado para guiar o planejamento de

    aes, manejos e usos sustentveis dos recursos ambientais. Para se ter a

    habilidade de pensar de forma resiliente, necessrio, desenvolver o raciocnio

    hipottico de projetar o futuro ambiental, mobilizando o conhecimento

    socioecolgico e a compreenso das interdependncias e relaes de causa e

    efeito que existem entre os elementos e relaes de um sistema.

    O domnio conceitual do sistema socioecolgico, a compreenso da

    complexidade ambiental e os raciocnios relacionados resilincia

    socioecolgica devem ser desenvolvidos na sociedade, por meio da educao

    ambiental. O educador ambiental deve ser o disseminador de conhecimento

    socioecolgico, por meio de metodologias que permitam com que o educando

    possa construir seu conhecimento com o auxlio terico do educador, ajustando

    contedos, habilidades e competncias realidade e necessidade de seu pblico

    alvo, permitindo que o conhecimento ambiental transforme a estrutura cognitiva

    de cada indivduo em prol da sustentabilidade, construindo de forma autnoma e

    singular a conscientizao ambiental de cada cidado.

    Nesse propsito, a educao ambiental no deve ser uma disciplina

    isolada do currculo escolar, pois as discusses ambientais apresentam uma

  • 31

    natureza complexa, exigindo a abordagem multidisciplinar, a contribuio de

    vrios profissionais e a continuidade da construo do conhecimento em todos

    os segmentos de ensino, do fundamental ps-graduao (BRASIL, 1996;

    MACEDO; FREITAS; VENTURIN, 2011).

    O educador/pesquisador deve ter a competncia e a liberdade de

    produzir seu material didtico, atualizando seus contedos de acordo com o

    desenvolvimento da pesquisa ambiental e conduzindo as atividades de ensino de

    forma que a aprendizagem seja significativa.

    De acordo com a teoria da aprendizagem cognitiva de David Ausubel, a

    aprendizagem significativa um processo pelo qual um novo conhecimento

    introduzido na estrutura cognitiva do educando, modificando ou se acoplando a

    conhecimentos prvios, tambm chamados subsunores, que j existem na

    estrutura cognitiva desse indivduo. Para haver a aprendizagem significativa,

    necessrio haver conhecimento prvio (conceitos subsunores), um recurso

    didtico potencialmente significativo (imagem, texto, tabela, etc., que possa se

    relacionar com a estrutura cognitiva do educando) e a predisposio do

    educando para a aprendizagem. De acordo com a teoria de Ausubel (MOREIRA,

    1999; MOREIRA; MASINI, 2006), quando no houver conceitos subsunores, o

    educador deve lanar organizadores prvios, que se baseiam em teorias com alto

    grau de abstrao, para despertar o interesse dos alunos sobre o tema e para

    estruturar sua aprendizagem de acordo com sua estrutura cognitiva, que se

    organiza por meio da hierarquizao de conceitos mais gerais, para os conceitos

    mais especficos.

    Dois processos ocorrem na aprendizagem significativa: a diferenciao

    progressiva, quando um conhecimento prvio modificado pela introduo de

    um novo contedo, e a reconciliao integrativa, que ocorre quando ideias mais

    gerais relacionam subsunores que estavam desconectados na estrutura cognitiva

    do aluno (MOREIRA, 1999; MOREIRA; MASINI, 2006).

  • 32

    Existem categorias da aprendizagem significativa, como a aprendizagem

    representacional (quando o aluno atribui significados a smbolos ou eventos), a

    aprendizagem de conceitos ( mais abstrata e mais generalizada que a

    representacional), e a aprendizagem proposicional (em que os conceitos so

    definidos por meio de uma proposio mais geral). Outras categorias so

    complementares s j citadas, como a aprendizagem subordinada (um novo

    conhecimento interage com os conhecimentos prvios, alterando-os), a

    aprendizagem superordenada (a partir dos conhecimentos prvios uma

    proposio formada) e aprendizagem combinatria (aprendizagem de uma

    proposio global, nem subordinada, nem superordenada). A partir dessa teoria,

    o fato do aluno saber conceituar, dissertar ou resolver problemas, no sinnimo

    de que tenha acontecido uma aprendizagem significativa. A habilidade que

    difere a aprendizagem significativa da mecnica quando o educando capaz de

    realizar a transferncia de conhecimento (MOREIRA, 1999; MOREIRA;

    MASINI, 2006).

    Na teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (MOREIRA, 1999;

    MOREIRA; MASINI, 2006), o educador elemento essencial no processo de

    ensino/aprendizagem, pois ele detm o referencial metodolgico para conduzir o

    processo de aprendizagem de acordo com seus objetivos, reconhecendo e

    ancorando os conhecimentos prvios de seu pblico alvo aos novos

    conhecimentos.

    Em se tratando de temticas de educao ambiental, os indivduos, de

    forma consciente ou no, apresentam imagens mentais, concepes e conceitos

    subsunores relacionados ao meio ambiente. Quando o educador despreza esses

    conhecimentos prvios, a aprendizagem tende a ser desinteressante, distante da

    realidade do educando.

    Ao se aliar a aprendizagem significativa ao novo modelo de cincia

    ambiental, que se afasta do modelo cartesiano, entender como o indivduo

  • 33

    percebe o mundo fundamental para se compreender como a teia de inter-

    relaes percebida pelo mesmo e para se construir com o educando uma

    conscincia sustentvel, embasada por relaes horizontais entre educandos e

    educador, em que a cooperao e o compartilhar de conhecimentos

    imprescindvel. Os conhecimentos prvios dos educandos relacionados a meio

    ambiente so identificados pelo educador por meio da aplicao de ferramentas

    de percepo ambiental.

    A percepo ambiental apresenta metodologias para se identificar e

    analisar as concepes relativas a meio ambiente de indivduos de diferentes

    idades e nveis de instruo, para que sejam desenvolvidas propostas de

    educao ambiental (FREITAS et al., 2009; MACEDO; FREITAS;

    VENTURIN, 2011). As propostas devem ser planejadas e delineadas de acordo

    com o objetivo que se pretende atingir e respeitando as especificidades do

    pblico alvo. O educador deve ter autonomia para realizar os recortes

    necessrios para adequar a atividade ao conhecimento prvio do seu pblico.

    Para tanto, necessrio ter domnio terico sobre as teorias ambientais que iro

    se desenvolver e sobre dois momentos especficos da manipulao dos dados de

    percepo ambiental, a coleta e a sua anlise .

    Os principais mtodos utilizados para a coleta dos dados so: os

    questionrios semiestruturados, estruturados e mistos; entrevistas; mapa mental;

    abordagem iconogrfica e abordagem fotogrfica (FREITAS et al., 2009).

    O questionrio estruturado apresenta questes estruturadas ou fechadas,

    ou seja, questes e respostas padronizadas e elaboradas objetivamente, a partir

    das variveis a serem pesquisadas, em que todos os entrevistados tm a mesma

    opo de pergunta e resposta. O questionrio semiestruturado se caracteriza por

    apresentar questes semiestruturadas, ou abertas. Nelas, o pesquisador padroniza

    as questes, que so elaboradas frente ao seu objetivo de pesquisa, mas a

    resposta fica a critrio do respondente. O questionrio misto se caracteriza por

  • 34

    apresentar questes estruturadas e semiestruturadas (BABBIE, 1999; LAVILLE;

    DIONNE, 1999; REA; PARKER, 2000). Os estudos de casos em percepo

    ambiental, que, geralmente, enfatizam a anlise qualitativa dos dados, tendem a

    utilizar o questionrio semiestruturado ou misto para realizar a coleta de dados

    (FREITAS; MACEDO; FERREIRA, 2009), enquanto, nas pesquisas do tipo

    survey, cuja anlise dos dados tende a ser preponderantemente quantitativa, os

    questionrios estruturados e mistos so mais aplicados (ANDRETTA, 2008;

    FREITAS; MACEDO; FERREIRA, 2009).

    As entrevistas orientadas ou no por roteiros seguem o nvel de

    estruturao definido pelo pesquisador e representam um mtodo eficaz para se

    coletar dados em percepo ambiental (LUCHIARI, 1997). Porm, o domnio

    terico ambiental do educador ser o recurso utilizado para evitar indues ou

    interferncias de representaes sociais na coleta dos dados.

    O mapa mental um mtodo que utiliza o desenho para se coletar dados

    especializados de percepo ambiental. Os dados refletem a organizao mental

    sobre a realidade, que percebida por meio de esquemas perceptivos e imagens

    mentais individuais e dotadas de significados. Quando se detectar a dificuldade

    de conseguir coletar desenhos, existe a tcnica de elaborao do mapa mental

    indireto, ou seja, ao invs de desenhos, os dados primrios so obtidos por meio

    de um questionrio ou entrevista; assim, por meio da escrita, captam-se as

    percepes e o pesquisador transforma os dados em desenho, espacializando-os

    (RIO, 1999).

    A abordagem fotogrfica um mtodo peculiar para se coletar a

    percepo ambiental pela tica do objeto de estudo (FERRARA, 1999). A

    populao amostral recebe do pesquisador mquinas fotogrficas descartveis

    para registrar suas imagens e percepes do real. A partir de ento, o

    pesquisador coleta um material que lhe permite analisar as imagens por meio da

    viso que os objetos de estudo apresentam da realidade.

  • 35

    A abordagem iconogrfica se caracteriza por apresentar ao pblico alvo

    imagens e solicitar sua percepo e, por conseguinte, sua interpretao. Sherren,

    Fischer e Fazey (2012) utilizaram fotografias para comparar as percepes de

    paisagens entre criadores de gado que trabalham com manejo holstico de

    plantaes (que envolvem cultivo de alta intensidade, curta durao e pouco uso

    de agrotxicos) e aqueles mais convencionais na Austrlia; o objetivo dessa

    pesquisa foi avaliar a capacidade adaptativa dos criadores frente s condies

    climticas incertas e uma populao que, progressivamente, requer mais

    alimento sem degradar o ecossistema. O uso de imagens ambientais foi

    associado com sucesso ao questionrio semiestruturado por Freitas et al. (2010)

    com o objetivo de se detectar a definio de ambiente de uma amostra. Reigota

    (2007) utilizou esse mtodo conjugado com o dilogo, com o objetivo de

    identificao e desconstruo de representaes sociais inadequadas.

    A etapa da anlise e interpretao dos dados requer do pesquisador o

    domnio do referencial terico ambiental, capaz de evitar indues e garantir

    cientificidade aos resultados. Os dados numricos so, frequentemente,

    analisados, organizados e sumarizados pela estatstica descritiva (FERREIRA;

    OLIVEIRA, 2008), gerando, por exemplo, grficos de colunas, de barras,

    setogramas (grficos de pizza) e histogramas, enquanto os textos so,

    geralmente, analisados e categorizados por meio da anlise de contedo

    (CAPELLE; MELO; GONALVES, 2003). Esse mtodo busca classificar

    palavras, frases ou mesmo pargrafos em categorias de contedo. A partir

    dessa metodologia, inicialmente, a unidade de anlise definida. Na sequncia,

    a partir da leitura exaustiva das unidades de anlise, so elaboradas as

    categorias, que organizam os dados para a interpretao.

    A interpretao dos resultados deve seguir a proposta do pesquisador na

    pesquisa ambiental, podendo seguir uma tendncia mais quantitativa ou

    qualitativa.

  • 36

    Comumente, as pesquisas de percepo ambiental so desenvolvidas

    como estudos de caso (ALENCAR, 2004; LAVILLE; DIONNE, 1999),

    conferindo a diversidade de aplicaes e de pblico alvo. O estudo de caso

    permite ao pesquisador focalizar seu estudo na perspectiva de seu objeto de

    estudo e enfatiza a importncia do estudo em microescala. Esse tipo de pesquisa

    se caracteriza por aprofundar e detalhar um determinado fato ou fenmeno.

    Pesquisas educacionais so frequentemente desenvolvidas por meio de estudos

    de casos e, a partir da anlise de diversos casos, algumas generalizaes podem

    ser realizadas.

    Alencar (2004) e Murray (1974), ao expor que o estudo de caso pode

    pesquisar uma parcela do real, a partir da viso de complexidade, ou mesmo

    testar uma teoria existente ou parte dela, ou confirmar uma generalizao j

    existente, ou mesmo, a partir das concluses do(s) caso(s), hipteses podem ser

    geradas, incitando o desenvolvimento de outras pesquisas.

    O estudo de caso se configura como mtodo fundamental para a

    realizao de pesquisas qualitativas. Frequentemente, esse tipo de pesquisa

    desenvolvido por meio de mtodos de coleta de dados, como questionrios

    estruturados, semiestruturados e mistos (BABBIE, 1999; LAVILLE; DIONNE,

    1999; REA; PARKER, 2000).

    As pesquisas em percepo ambiental, geralmente, seguem o processo

    linear de pesquisa, ou seja, suportado pelo referencial paradigmtico e terico, o

    pesquisador define seu objeto de pesquisa, seu problema de pesquisa, sua

    hiptese, seus objetivos, define a metodologia e escolhe seus mtodos para a

    coleta e anlise dos dados. A partir de um planejamento prvio, a etapa para a

    coleta dos dados programada por meio de um cronograma. Aps a etapa de

    coleta, os dados so levados para o laboratrio, analisados e as concluses so

    traadas (ALENCAR, 2004; SPRADLEY, 1980).

  • 37

    Em um estudo de percepo ambiental, a partir do levantamento das

    concepes ambientais, torna-se possvel identificar as representaes sociais

    que as pessoas apresentam sobre a temtica ambiental. De acordo com Reigota

    (2007), os conceitos cientficos, quando internalizados pela sociedade, fundem-

    se a saberes do senso comum e aparecem nas coletas de dados como

    representaes sociais. Outros autores, como Fazey et al. (2010), nomeiam

    representao social como PEBs (Personal Epistemological Beliefs). Identificar,

    analisar, desconstruir representaes ambientais incoerentes e construir

    concepes conservacionistas, complexas e resilientes, tarefa do educador

    ambiental.

    Para se desenvolverem atividades de educao ambiental, o educador

    pode utilizar inmeros mtodos de ensino e avaliao (MACEDO; FREITAS;

    VENTURIN, 2011). De acordo com Ronca e Terzi (1995, 1996), os momentos

    de aula e os avaliativos devem promover o desenvolvimento de operaes

    mentais, como: anlise, comparao, sntese, classificao, seriao,

    classificao, transferncia de conhecimento, entre outros. Para tornar a

    aprendizagem significativa, impreterivelmente, os educandos devem dominar a

    habilidade de transferncia de conhecimento (MOREIRA, 1999; MOREIRA;

    MASINI, 2006). Em se tratando do conhecimento ambiental, a possibilidade de

    transferir conhecimento ambiental para situaes cotidianas, configura-se na

    habilidade que pode desencadear aes sustentveis, ao invs de degradantes.

    Os projetos em educao ambiental podem conter vrias estratgias de

    ensino e de avaliao da aprendizagem. Um recurso didtico pode ser utilizado

    para sistematizar e organizar o contedo desenvolvido numa temtica e, ao

    mesmo tempo, servir ao educador como avaliao da aprendizagem. Um

    exemplo o uso de mapas conceituais, em que a partir da construo de um

    diagrama, utilizando conceitos, palavras e setas representando a ponte entre

    significados, um conceito principal destacado e relaes so estabelecidas,

  • 38

    relacionando outros conceitos, fenmenos, exemplificaes, etc., com o intuito

    de organizar o raciocnio a partir da aprendizagem de um contedo. Quando um

    conceito relacionado a outros por meio de uma hierarquizao do raciocnio, o

    mapa conceitual do tipo hierrquico. Tambm existem mapas conceituais do

    tipo teia de aranha e fluxograma (MOREIRA, 1998, 2010; TAVARES, 2007).

    Cabe ao educador desenvolver aquele que melhor atinge seu objetivo de

    aprendizagem. A construo e uso de maquetes em atividades de ensino

    (SIMIELLI et al., 1991) representam um recurso didtico dotado da

    peculiaridade de estabelecer a ponte entre o abstrato terico e a realidade, numa

    escala em que os alunos podem, de forma concreta, tocar, hipotetizar e projetar

    raciocnios, fenmenos e processos ambientais (FREITAS; GARCIA, 2003).

    So exemplos de mtodos de ensino e avaliao utilizados em atividades de

    educao ambiental: estudo do meio, aula expositiva, seminrios, mesa-re-

    donda, teatro, audincia pblica simulada, produo de cartazes, textos, mapas

    conceituais, entre outros (MACEDO; FREITAS; VENTURIN, 2011).

    Fazey et al. (2010) aplicou com sucesso, em alunos universitrios,

    mtodos de resoluo de situaes problema em temticas ambientais para

    desenvolver raciocnios de resilincia socioecolgica e, por meio de um

    planejamento de ensino, exps o caminho para se construir um pensamento de

    ordem superior referente a temas relacionados ao sistema socioecolgico.

    Leff (2003, p. 58) coloca que a pedagogia da complexidade ambiental

    reconhece que

    a educao deve preparar as novas geraes no somente para aceitar a incerteza (uma educao como preparao ante o desastre ecolgico e capacidades de respostas para o imprevisto); tambm deve preparar novas mentalidades capazes de compreender as complexas inter-relaes entre os processos objetivos e subjetivos que constituem seu modo de vida, para gerar habilidades inovadoras para a construo do indito. Trata-se de uma educao que

  • 39

    permite se preparar para a construo de uma nova racionalidade.

    A educao ambiental tambm pode ser construda com os alunos a

    partir da proposta pedaggica da educao popular de Paulo Freire.

    Resumidamente, o enfoque dessa proposta promover a educao como ao

    transformadora da sociedade (FREIRE, 1983). As atividades de educao

    ambiental popular so desenvolvidas, a partir de temas geradores e questes

    norteadoras, em que os fatores de problematizao aparecem no decorrer das

    atividades. Nessa perspectiva, as relaes entre educadores e educandos devem

    ser horizontais (AMNCIO, 2004).

    2.3 Pesquisa em conservao e educao ambientais

    Os contedos da educao ambiental devem seguir as atualizaes

    decorrentes da evoluo das teorias, pesquisas e fenmenos ambientais que

    mobilizam a comunidade cientfica. caracterstica da pesquisa em educao

    ambiental ser ampla, diversificada e permear diferentes especializaes

    cientficas.

    2.3.1 Educao ambiental, sistema socioecolgico e resilincia

    socioecolgica

    Na literatura, discute-se, no mbito internacional, o papel da educao

    ambiental frente s mudanas do sistema socioecolgico. Os estudos abordam

    discusses metodolgicas da educao ambiental e a aproximao de conceitos,

    como resilincia socioecolgica e adaptabilidade. O estudo de Lundholm e

    Plummer (2010) auxilia no entendimento da evoluo histrica dos estudos e

    temticas focados pela educao ambiental. Os autores realizaram um histrico

  • 40

    sobre o desenvolvimento da educao ambiental, desde a dcada de 1970;

    destacam, na dcada atual, a educao ambiental para o desenvolvimento

    sustentvel como sendo sua principal contribuio. Eles discorrem sobre a

    integrao discusso ambiental das mudanas referentes ao sistema

    socioecolgico e como o prprio conceito de sustentabilidade passou a ser

    entendido. Os autores afirmam que saberes e resilincia figuram,

    dominantemente, como tendncia. O modo com que os conceitos surgem e se

    unem so discutidos e suas interseces na educao ambiental so ilustradas no

    contexto da escola formal, organizaes e sociedade.

    Contribuindo com os estudos sobre resilincia socioecolgica, Krasny,

    Lundholm e Plummer (2010a, 2010b) avaliam como a sociedade e os

    ecossistemas se relacionam, se adaptam e aprendem a partir de mudanas. Para

    tanto, utilizaram a resilincia, o saber e a educao ambiental em quatro

    perspectivas: 1) a educao ambiental e o saber podem criar atributos de

    resilincia do sistema socioecolgico; 2) a educao ambiental no pode ser

    vista como um meio isolado para direcionar aspectos ambientais, mas como uma

    ponte de um sistema complexo e multifacetado de interao de processos e

    estruturas; 3) a resilincia, em mltiplos nveis, sugere uma forma de dividir a

    educao ambiental em instrumental e intrnseca; 4) o paralelo entre conceitos

    que utilizam a teoria cientfica e a resilincia do sistema socioecolgico pode

    contribuir para a discusso de transferncia de ideias entre as disciplinas. Dessa

    forma, esse estudo expe conceitos bsicos que auxiliam no entendimento dessa

    nova tendncia da pesquisa em educao ambiental.

    Krasny e Roth (2010) discutem a educao ambiental para resilincia do

    sistema socioecolgico, a partir de uma perspectiva da teoria da atividade. Os

    autores propem uma integrao da educao ambiental com os nveis de

    capacidade de construo individual, com os conhecimentos bsicos para a

    resilincia e com um foco sobre nveis de capacidade de adaptao do sistema

  • 41

    socioecolgico. Alm disso, os pesquisadores apontam que alguns trabalhos da

    literatura tm focado sobre nveis de capacidade de construo adaptativa em

    indivduos e propem a associao do aprendizado individual com resilincia em

    sistema socioecolgico. Para tanto, utilizam a teoria da atividade como uma

    lente para examinar programas de educao ambiental, situados dentro de

    prticas adaptativas de co-manejo, que podem criar novos saberes, misturando

    contribuies recentes com implicaes diretas para a qualidade ambiental.

    Krasny (2009) expe a relevncia da pesquisa em educao ambiental e

    a importncia da aplicao de sistemas socioecolgicos e conscilincia

    (convergncia de evidncias independentes) para a definio de objetivos de

    pesquisa. A autora ressalta a importncia de se realizarem pontes entre as

    disciplinas e o exame em diferentes nveis dos objetivos da educao ambiental

    frente s mudanas ambientais e demogrficas atuais. Ainda, a pesquisadora

    apresenta uma integrao do sistema socioecolgico e sua aproximao com a

    pesquisa ambiental, que pode favorecer meios para se conciliar as

    potencialidades da prtica de educao ambiental com a pesquisa tradicional.

    Assim, a pesquisa em educao ambiental, segundo a autora, pode organizar o

    aprendizado para aes individuais e coletivas sobre o ambiente. Na mesma

    linha de raciocnio, Krasny, Lundholm e Plummer (2010b) apresentam uma rica

    discusso sobre a resilincia em sistema socioecolgico, destacando o papel da

    educao e do saber.

    Krasny e Tidball (2009) aplicaram um mtodo de sistema de resilincia

    para a educao ambiental urbana. As autoras destacam que o civismo ecolgico

    uma prtica, uma via de integrao entre sociedade e ecologia no manejo dos

    recursos naturais urbanos. O programa de educao ambiental, em que saberes

    so situados na prtica do civismo ecolgico, tambm tem o potencial para

    atingir comunidades e objetivos ambientais. A prtica do civismo ecolgico e

    programas de educao ambiental podem criar resilincia no sistema

  • 42

    socioecolgico urbano, por meio do melhoramento da diversidade biolgica e

    servios do ecossistema, bem como, pela incorporao de diversas formas de

    conhecimento e processos participativos de manejo de recursos. So propostas

    inter-relaes entre manejo de recursos naturais, educao ambiental e sistema

    socioecolgico. As autoras enfatizam o papel da educao ambiental em

    sistemas, processos e resilincia.

    Tidball, Krasny e Svendsen (2010) realizaram um estudo sobre o saber e

    a memria relacionados resilincia de desastre. Os autores apontam que, aps

    um desastre, a populao se mobiliza espontaneamente, fazendo uso de

    memrias para recompor a paisagem. Os autores analisaram dois exemplos

    urbanos para desenvolver suas hipteses, quais sejam, as memrias referentes ao

    atentado de 11 de setembro, na cidade de Nova York, e a comunidade florestal

    de New Orleans, afetadas pelo furaco Katrina. A resilincia do sistema

    socioecolgico ps-trauma auxilia na recuperao ambiental e social. Shava et

    al. (2010) realizaram um estudo de resilincia socioecolgica e educao

    ambiental, focando no conhecimento agrcola em comunidades urbanas e

    pessoas que foram realocadas.

    Krasny, Tidball e Sriskandarajah (2009) abordam a educao e a

    resilincia, destacando o aprendizado social entre estudantes universitrios e de

    ensino mdio. Os autores apresentam uma viso geral sobre a sociedade e situam

    o conhecimento literrio do setor dos recursos naturais e educao e sugerem

    um programa educacional para estudantes universitrios e de ensino mdio, que

    poderia contribuir para o esforo de melhorar a resilincia do sistema

    socioecolgico em escala local. Tambm descrevem trs iniciativas com saberes

    situados na adaptao, co-manejo e na prtica do civismo ecolgico.

    Sriskandarajah et al. (2010) estudaram a resilincia em sistemas de

    aprendizado por meio de estudos de caso em educao universitria. Os autores

    assumiram o desafio de encontrar o conceito de resilincia em estratgias

  • 43

    educacionais. Abordaram trs diferentes dimenses cognitivas: a ontolgica, a

    epistemolgica e a axiolgica, em assuntos relacionados natureza da natureza,

    natureza do conhecimento e natureza da natureza humana. As pesquisas

    foram conduzidas sobre a educao superior nos EUA, na Holanda, na Sucia e

    no Reino Unido, e ilustraram como os professores podem ser encorajados para

    confrontar seu posicionamento quanto ontologia, epistemologia e axiologia,

    bem como apreciar o posicionamento dos outros. Os casos enfatizam como

    experincias de aprendizado podem ser designadas para facilitar transformaes

    em diferentes nveis individuais e para criar nveis de resilincia do sistema

    socioecolgico.

    Sterling (2010) tece uma discusso, questionando se existe o

    aprendizado para resilincia ou o aluno resiliente. O estudo conclui que, para

    uma transformao no paradigma educacional para educao sustentvel,

    necessrio integrar a perspectiva instrumental e intrnseca e criar o saber

    resiliente para desenvolver a resilincia do sistema socioecolgico.

    Plummer (2010) aborda uma sinopse sobre resilincia socioecolgica e

    educao ambiental e discute sobre aplicaes e implicaes referentes

    temtica. Schultz e Lundholm (2010) discutem sobre o saber para a resilincia e

    desenvolvem um estudo que explora como esse saber para a resilincia

    estimulado na prtica. Os autores investigam e analisam as oportunidades de

    aprendizado em reservas de biosfera designadas pela UNESCO.

    2.3.2 Sistema socioecolgico e estratgias de raciocnio envolvendo

    resilincia

    Estudos de sistema socioecolgico ,conjugando estratgias de raciocnio

    baseadas na resilincia, adaptao e planejamento de aes no curto e/ou longo

    prazo, revelam a aplicabilidade poltica da pesquisa ambiental. Fazey et al.

  • 44

    (2010) discutem estratgias de adaptao para reduzir a vulnerabilidade a futuras

    mudanas ambientais. Reed et al. (2010) discutem o que a aprendizagem social

    e sua importncia. Fazey et al. (2010) apresenta uma anlise sobre resilincia e

    pensamento de ordem superior. Fischer et al. (2009) contribuem, discutindo

    sobre a integrao de resilincia e otimizao para a conservao ambiental.

    Fazey et al. (2007) apresentam um estudo sobre a capacidade e aprendizado

    adaptativo para aprender com os resduos de resilincia socioecolgica.

    2.3.3 Educao ambiental, percepo ambiental e estratgias de ensino

    Como o intuito das atividades de educao ambiental atingir o pblico

    alvo de maneira significativa, interessante que o educador conhea e utilize

    mtodos de coleta e anlise de dados relacionados percepo ambiental.

    Estudos de percepes e comportamentos sociais relacionados ao ambiente

    podem ser analisados pelo educador ambiental como ferramentas para a

    avaliao do perfil do pblico alvo quanto a especificidades ou fenmenos

    ambientais, ou mesmo, quanto avaliao de conhecimento prvio sobre

    determinadas temticas. Conrad, Christie e Fazey (2011) avaliaram a

    compreenso da percepo pblica sobre paisagem. Dong et al. (2011)

    estudaram, na China, os determinantes das queixas dos cidados sobre poluio

    ambiental. Payne (2010) realizou um histrico sobre a educao experiencial

    relacionada imaginao ecolgica. Nesse caso, o autor menciona a

    ecopedagogia da imaginao, que utilizada para subsidiar pedagogos criativos

    a nutrirem uma reconciliao da humanidade, sociedade e da prpria natureza

    humana.

    Fazey et al. (2006) realizaram um estudo sobre o conhecimento

    implcito e as percepes de tcnicos relacionados conservao ambiental.

  • 45

    Wong e Wan (2011) avaliaram as percepes e os determinantes do

    aspecto ambiental em Hong Kong e relacionaram ao desenvolvimento

    sustentvel.

    Bencze e Carter (2011) apresentaram a anlise das aes de estudantes

    envolvidos com a globalizao.

    Freitas, Macedo e Ferreira (2009) associaram as teorias referentes

    percepo e complexidades ambientais para se atingir a conservao do

    ambiente. Freitas et al. (2009) apresentaram materiais didticos para se realizar

    estudos de percepo ambiental. Freitas et al. (2010) identificaram e avaliaram a

    percepo ambiental de graduandos e docentes vinculados a um curso de

    licenciatura em Qumica.

    Estudos relacionados educao, didtica e materiais de ensino

    complementam e atualizam a atividade prtica do educador ambiental. A

    reciclagem e atualizao dos contedos so fundamentais para o educador.

    Bozdogan, Karsli e Sahin (2011) apresentaram um estudo sobre o ensino do

    tema aquecimento global, em que abordaram uma discusso sobre o prospectivo

    conhecimento do professor sobre aquecimento global, mtodos de ensino e

    atitudes referentes ao tema, com respeito a diferentes variveis.

    Outros estudos, ao invs de focar contedos especficos, buscaram

    entender o processo de aprendizagem por meio da construo do raciocnio do

    estudante, fornecendo embasamento para que metodologias de ensino sejam

    desenvolvidas e aperfeioadas. Keles (2011) realizou uma avaliao do

    pensamento dos estudantes primrios e comportamentos e atitudes sobre

    ambiente. Evely et al. (2011) comprovaram que altos nveis de participao em

    projetos de conservao aumentam o aprendizado.

    Pereira et al. (2006) descrevem prticas e materiais didticos para o uso

    de reas urbanas naturais para o ensino de cincias e educao ambiental.

    Ozguner, Cukur e Akten (2011) avaliaram o papel da disciplina sobre paisagem

  • 46

    e planejamento urbano para estimular o desenvolvimento da educao ambiental

    entre crianas da escola primria. Amato e Krasny (2011) apresentam a

    educao ao ar livre, aplicando a teoria do aprendizado transformativo para

    entender o aprendizado instrumental e o crescimento pessoal em educao

    ambiental.

    Sobre a contribuio educacional na formao do cidado, Bencze e

    Carter (2011) apontaram a importncia do ensino em gerar estudantes

    globalizados, que tenham aes voltadas para o bem comum; para tanto,

    princpios como o holismo, o altrusmo, o dualismo, dentre outros, devem fazer

    parte da formao.

    Lionel e Le Grange (2011) apresentam uma crtica sobre a educao

    superior, destacando problemas referentes fragmentao da

    cincia/conhecimento e apontaram perspectivas para a criao de uma educao

    mais complexa e sustentvel. Trautmann e Krasny (2006) propem um novo

    modelo de educao universitria, integrando ensino e pesquisa. Ojeda-Barcelo,

    Gutierrez-Perez e Perales-Palacios (2011) apresentam um programa colaborativo

    virtual em educao ambiental, mostrando os fundamentos, o design, o

    desenvolvimento, o modelo didtico, o conceito de ecourbano, os critrios de

    validao e os componentes virtuais de inovao: o contextual, o pedaggico

    didtico, o epistemolgico, a multimdia, o cognitivo e comunicativo.

    Reid e Payne (2011) elaboraram um estudo reflexivo sobre a educao

    ambiental, apontando a quebra de privilgios, identidades e significado. Payne

    (2010) prope uma nova forma de se fazer educao ambiental, por meio de

    espaos morais, da tica ambiental e da ecologia social da famlia. Teorias como

    a ecopedagogia, a ecologia social e a educao experiencial embasam o estudo.

    Schusler et al. (2009) propuseram o desenvolvimento de cidados e

    comunidades sustentveis por meio do engajamento de jovens em aes

    ambientais, com o intuito de motivar a juventude a realizar aes sociais e

  • 47

    ambientais positivas. Schusler e Krasny (2010) propem a ao ambiental como

    o contexto para o desenvolvimento da juventude. No estudo, as autoras analisam

    as prticas de professores, educadores da cincia no formal, comunidades

    organizadas e outros educadores que facilitam a participao de jovens em reas

    de ao ambiental, bem como, as experincias em que jovens esto envolvidos.

    Por meio de entrevistas com os educadores, foram identificados fortes paralelos

    entre teoria e pesquisa emprica no desenvolvimento da literatura jovem,

    sugerindo que a ao ambiental um valoroso contexto positivo para o

    desenvolvimento da juventude. Aguilar e Krasny (2011) utilizam a comunicao

    da prtica de conhecimentos bsicos para examinar um programa de educao

    ambiental ps-escola para a juventude hispnica, ressaltando a importncia da

    considerao dos conhecimentos prvios para o desenvolvimento de contedos

    de educao ambiental.

  • 48

    3 MATERIAIS E MTODOS

    A natureza deste estudo social. Portanto, utilizou-se a metodologia de

    pesquisa extrada das cincias sociais. O referencial paradigmtico que orientou

    a escolha dos mtodos de coleta e anlise dos dados se situa na abordagem

    estrutural do conflito. A dialtica marxista representa uma anlise terica capaz

    de abarcar a perspectiva histrica na construo da questo ambiental,

    permitindo a nfase nos aspectos da transio e mudanas de fenmenos,

    processos ou configuraes. Permite, tambm, o enfoque da complexidade por

    meio do exame das contradies, possibilidades, conflitos e totalidades

    (MINAYO, 2000). O materialismo histrico e dialtico foi a lente terica que

    deu suporte para a formulao das metodologias referentes percepo e

    educao ambientais.

    A ontologia que orientou esta pesquisa concebe que o arranjo ambiental

    atual catico e decorrente de interferncias, manejos e adaptaes realizadas

    pela sociedade orientada de forma consciente ou inconsciente pelo modo de

    produo capitalista. A epistemologia da pesquisa seguiu a orientao

    paradigmtica dialtica e privilegiou a abordagem e mtodos qualitativos

    (BOGDAN; BIKKLEN, 1994; MINAYO, 2000) para a coleta e anlise dos

    dados de percepo ambiental e mtodos qualitativos e quantitativos para o

    tratamento dos dados da anlise qumica de herbicidas.

    De acordo com Bulmer (1984), esta pesquisa se enquadra nas cincias

    sociais no campo de anlise da "pesquisa estratgica", pois seus instrumentos

    tericos e metodolgicos so os da pesquisa bsica das cincias sociais, mas sua

    finalidade a ao, pois se orienta para problemas que surgem na sociedade.

    O propsito desta pesquisa foi o de elaborar e testar metodologias

    referentes percepo e educao ambientais. Portanto, no existiu a pretenso

    de se diagnosticar tendncias ou generalizaes de percepo ambiental; assim,

  • 49

    ao invs da pesquisa de survey (BABBIE, 1999), optou-se por estudos de casos

    (ALENCAR, 2004; LAVILLE; DIONNE, 1999), conferindo a diversidade de

    aplicaes e de pblico alvo.

    Esta pesquisa seguiu o processo linear de pesquisa, ou seja, aps a etapa

    de coleta, os dados foram levados para o laboratrio, analisados e as concluses

    foram traadas (ALENCAR, 2004; SPRADLEY, 1980).

    Na primeira parte deste estudo, utilizaram-se mtodos de descrio,

    interpretao e anlise para se definirem especificidades, conceitos e tendncias

    da discusso e pesquisa relacionadas ao sistema socioecolgico, com o intuito de

    elaborar uma sistematizao terica sobre o tema. A identificao do estado da

    arte em pesquisa ambiental foi fundamental para que um arcabouo terico

    pudesse ser visualizado e filtrado por meio da anlise crtica, com a preocupao

    de organizar o suporte terico para o desenvolvimento das propostas de

    atividades de ensino em educao ambiental, que representam a segunda parte

    deste estudo.

    3.1 Educao ambiental formal

    A metodologia aplicada na educao ambiental formal contemplou

    estudantes do ensino fundamental I e II, ensino mdio e superior.

    Mediante a recomendao do Comit de tica em Pesquisa em Seres

    Humanos (COEPE/UFLA), que avaliou o projeto e os instrumentos de coleta de

    dados (questionrios) dessa pesquisa, os nomes de pessoas e instituies de

    ensino no foram mencionados, respeitando e preservando a identidade dos

    voluntrios.

    O mtodo elaborado para a coleta dos dados foi desenvolvido ,a partir de

    experincias prvias em survey e estudos de caso em percepo ambiental

    (FREITAS et al., 2010; FREITAS; MACEDO; FERREIRA, 2009), utilizando

  • 50

    questionrios contendo questes estruturadas, semiestruturadas, rguas de

    intensidade e imagens para se coletar percepes e definies de meio

    ambiente.

    Os instrumentos elaborados foram um questionrio misto, e dois semi-

    estruturados, sendo um deles definido como "pseudoaberto", por conter

    exemplos.

    O questionrio misto apresentou uma questo no estruturada, a qual

    solicita ao respondente a elaborao de um desenho sobre ambiente, que podia

    ser complementado por anotaes ou legenda, e uma segunda questo,

    estruturada, que solicitou ao respondente para assinalar uma, dentre oito aes,

    que ele considerasse como primordial para a conservao ambiental. O

    questionrio no solicitou nenhum tipo de identificao do voluntrio

    respondente. Em razo da diferena no nvel de escolaridade dos objetos deste

    estudo, a linguagem do questionrio foi adaptada aos diferentes pblicos alvo,

    gerando trs verses do questionrio (ANEXOS A, B e C).

    De acordo com as verses, o pblico alvo foi subdividido em:

    a) Grupo A: estudantes do ensino superior;

    b) Grupo B: estudantes do ensino superior, graduao e ps-graduao

    em Engenharia Florestal;

    c) Grupo C: estudantes do ensino fundamental I (3o e 5o anos); ensino

    fundamental II (7o e 9o anos); ensino mdio (1o, 2o e 3o anos);

    O questionrio aberto apresentou a primeira questo idntica do

    questionrio misto, enquanto a segunda questo solicitou ao respondente para

    escrever a ao ambiental que ele cons