mÉtodo pilates: benefÍcios e possibilidade de …re.granbery.edu.br/artigos/nda3.pdf · 3 dados...
TRANSCRIPT
Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Educação Física - N. 9, JUL/DEZ 2010
MÉTODO PILATES: BENEFÍCIOS E POSSIBILIDADE DE INSERÇÃO NA
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR – RELATO DE EXPERIÊNCIA
Leonardo de Souza Oliveira1
Eliete do Carmo Garcia Verbena e Faria2
Claudia Xavier Correa3
RESUMO O método Pilates tem se expandido como forma de preparação de atletas e
dançarinos, e mais recentemente no âmbito do condicionamento físico, da correção
e orientação postural e na reabilitação. É rico em formas diferentes de movimento,
objeto principal de estudo da Educação Física, seja qual for a sua área de atuação.
O presente trabalho tem como objetivo analisar e refletir sobre a utilização e
benefícios do Método Pilates nas aulas de Educação Física Escolar; discutir o
Método Pilates como possibilidade de ampliação da cultura corporal de movimento
na escola; e relatar experiência de aplicação do Método Pilates na escola, nas aulas
de Educação Física. A metodologia utilizada contemplou estudo bibliográfico sobre o
Método Pilates e Educação Física Escolar, além de trabalho de campo no qual o
referido método foi foco de aplicação em uma escola pública municipal, envolvendo
alunos do sétimo ano. Do trabalho realizado, pode-se concluir que o Método Pilates
pode ser aplicado na escola, resguardando as especificidades, e encontra respaldo
na abordagem da Saúde Renovada. Além do conhecimento, pode proporcionar
benefícios no sentido de estimular os alunos a um estilo de vida ativo.
PALAVRAS-CHAVE: Método Pilates. Educação Física Escolar. Relato de
Experiência.
ABSTRACT
1 Acadêmico do Curso de Educação Física / FMG. 2 Prof.a Educação Física Colégio de Aplicação João XXIII. 3 Prof.a dos Cursos de Educação Física / FMG.
2
The Pilates method has been increased as a way to prepare athletes and dancers,
and recently in physical conditioning area, in postural correction and orientation and in
rehabilitation. It is rich in different ways of movement, main object of study of Physical
Education, wherever its action area. The present study aims to analyze and think over about
the use and benefits of Pilates method in Physical Education classes; to discuss about Pilates
Methods as possibility of increase of corporal culture of movement in school; and to report
experience of application of Pilates Method in school, in Physical Education classes. The
methodology used contemplate a bibliographic study about Pilates Method and School
Physical Education, besides camp work where the method was the focus of application in a
municipal public school involving students of seventh year. From the work that was done, it
can be concluded that Pilates Method can be applied in school, protecting the specificities,
and finds support in Renovation Health. Besides knowledge, it can give benefits with the
purpose to stimulate the students to an active life style.
KEY-WORDS: Pilates Method. Physical School Education. Experience Report.
INTRODUÇÃO
O Método Pilates contempla exercícios físicos com objetivo de melhoria da
saúde. De acordo com Camarão (2004, p. 5 e 6), o método tem como princípios o
relaxamento, a concentração, o alinhamento músculo-esquelético, a respiração, a
coordenação e a resistência, no sentido de proporcionar benefícios como o aumento
da flexibilidade, do equilíbrio, do alongamento, da coordenação motora, do
fortalecimento e definição muscular. Esses aspectos podem justificar o crescimento
da prática do Método Pilates, que, além de benéficos físicos, pode contribuir para o
alívio de stress, aumento da autoestima, a prevenção de lesões, a correção postural
e a consciência corporal.
Atualmente, percebe-se na escola um ambiente acelerado e competitivo,
tendo como resultados o stress, a falta de concentração e a má postura. A prática de
carregar mochilas pesadas, a postura relaxada em frente à TV ou ao computador e
mesmo a quantidade excessiva de atividades são fatores que contribuem para que
as crianças adquiram maus hábitos, implicando em má postura e,
consequentemente, em aspectos negativos à saúde.
3
Dados esses aspectos, questiona-se sobre a possibilidade de aplicação
do Método Pilates na escola e suas possíveis contribuições para mudanças no
quadro explicitado. Será que há aceitação por parte dos alunos?
A partir desse contexto, esse estudo tem como objetivo refletir sobre a
utilização do Método Pilates nas aulas de Educação Física Escolar, atentando para
a identificação dos benefícios do Método Pilates nas aulas de Educação Física
Escolar; discussão do Método Pilates como possibilidade de ampliação da cultura
corporal de movimento na escola; e relatar experiência de aplicação do Método
Pilates na escola, nas aulas de Educação Física.
Para tanto, a metodologia contempla pesquisa bibliográfica referente à
temática do Método Pilates e Educação Física na escola, e trabalho de campo no
qual o referido método foi foco de aplicação em uma escola pública municipal,
envolvendo alunos do sétimo ano.
Tal monografia foi organizada considerando, inicialmente, uma abordagem
sobre o Método Pilates, sua história, crescimento no Brasil e principais
características. Em outro momento, foi feita uma discussão sobre a Educação Física
na escola, com enfoque na abordagem da Saúde Renovada. Por fim, o relato da
experiência desenvolvida com alunos do sétimo ano de uma escola pública
municipal da cidade de Juiz de Fora.
CONHECENDO O MÉTODO PILATES
Nesse capítulo será feita uma breve apresentação do Método Pilates,
considerando aspectos históricos gerais e no Brasil, além dos fundamentos básicos
do referido Método. Essa compreensão é necessária para que possamos pensar sua
aplicação no contexto escolar.
Sobre o surgimento do Método Pilates
Joseph Hubertus Pilates (1880-1967) nasceu nos arredores de Dusseldorf,
Alemanha. Sua infância foi marcada pela fragilidade de seu estado de saúde,
4
quando apresentou asma, raquitismo e febre reumática. Para superar a debilidade
de seu estado de saúde, Pilates resolveu dedicar-se a esportes como ginástica,
esqui, mergulho, boxe e luta romana, como forma de obter saúde e força física.
Ainda jovem decidiu se especializar em anatomia, fisiologia e também em cultura
física (CAMARÃO, 2004). Estudou diversas formas de se exercitar, tanto ocidentais
quanto orientais, e buscou, inclusive, inspiração na calistenia da Grécia antiga.
Segundo Rodriguez (2006, p. 6), “foi tanta a sua determinação que conseguiu
transformar o próprio corpo, tornando-o musculoso de tal forma que, aos 14 anos,
posava como modelo anatômico”.
Em 1912, aos 32 anos, J.H. Pilates se mudou para a Inglaterra, onde
trabalhou como lutador de boxe, artista de circo (CAMARÃO, 2004) e instrutor de
autodefesa de detetives ingleses da Scotland Yard (RODRIGUEZ, 2006). Com a I
Guerra Mundial, J.H. Pilates foi mandado juntamente com outros alemães para um
campo de batalha em Lancaster. Nesse período, ele refinou suas ideias sobre saúde
e condicionamento físico. Desenvolveu seu próprio método de exercícios, que eram
realizados no solo (mais tarde nomeado de Pilates Mat) e, encorajando seus colegas
a participarem de seu programa, conseguiu manter sua saúde e a dos mesmos. O
reconhecimento de sua técnica se deu quando Pilates atribuiu ao seu método a
sobrevivência de prisioneiros à epidemia de gripe em 1918 (entre outras doenças), à
qual se atribui a morte de milhares de ingleses.
No final da I Guerra, J.H. Pilates foi transferido para a Ilha de Man, onde
aplicou seus conhecimentos para ajudar na reabilitação de pessoas feridas em
combate. Pilates, então, começou a experimentar seu método de exercícios
adaptando as camas e outros artefatos e, utilizando-se das molas contidas nas
próprias camas, descobriu que estas poderiam servir para condicionar os pacientes
debilitados, que permaneciam por muito tempo deitados, sem se movimentarem.
Dessa forma, os pacientes conseguiam recuperar a força, a flexibilidade e a
resistência, além de restabelecer o tônus muscular mais rapidamente. Surgiam
assim, os primeiros protótipos dos aparelhos que se conhecem para aplicação desse
método (Cadillac, Barrel, Reformer, Combo Chair, Wunda Chair e Wall Unit),
(RODRIGUEZ, 2006).
Joseph Pilates voltou à Alemanha, onde iniciou o refinamento de seu
método, nomeado por ele próprio de arte da “Contrologia”, técnica que consiste no
controle da totalidade do corpo, unindo mente e respiração ao exercício, realizado
5
com concentração e precisão exaustivas, que exigem equilíbrio e estabilidade,
utilizando o centro de força corporal (Power House). Seu método chamou a atenção
de membros do mundo da dança como Rudolf Von Laban, Martha Graham e George
Balanchine, que, por causa das lesões derivadas do treinamento exaustivo,
obrigavam-se a passar por longos períodos de recuperação e inatividade
(RODRIGUEZ, 2006). Uma curiosidade, segundo o mesmo autor, é que o grande
Balanchine chegou a incorporar o quadro de exercícios de solo do método Pilates
em uma das suas peças de dança mais populares, “Os sete pecados capitais” (p. 7).
Pilates conduziu-se, também, à criação de equipamentos de mecanoterapia
específicos do método Pilates, como o Cadilac e o Universal Reformer, entre outros,
baseando-se nos protótipos criados por ele na Ilha de Man. Foi chamado para
treinar a polícia da Alemanha, recusou-se e resolveu se mudar para Nova York. No
navio, a caminho dos Estados Unidos, Pilates conheceu a enfermeira Clara, com
quem se casou. Clara o ajudou nas sistematizações do próprio método e juntos
instalaram um estúdio - The Pilates Studio - no prédio do New York City Ballet, onde
Pilates abriu, também, uma oficina para seus aparelhos, localizada abaixo do seu
estúdio (CAMARÃO, 2004; RODRIGUEZ, 2006).
Na América, o método Pilates continuou atraindo dançarinos por
complementar o treinamento da dança, e pouco se conhecia sobre tal método, que
permaneceu durante muito tempo associado ao mundo da dança. Mas logo caiu no
gosto de atores, atrizes, atletas e pessoas que queriam manter um bom
condicionamento sem a “hipertrofia muscular”, sendo um lema do próprio Pilates:
“Nem muito pouco, nem em excesso”.
Foi em Nova York que Joseph Pilates desenvolveu o amplo repertório de
movimentos de seu método. A teoria e a prática deste método, o próprio Joseph
Pilates explicou em seus livros: Your Health: A Correct System of Exercising That
Revolutionizes the Entire Field of Physical Education, em 1934 e Returne to Life
Through Contrology, em 1945 (RODRIGUEZ, 2006). Pilates faz uma abordagem
holística, definindo sua técnica como uma “completa integração entre corpo, mente e
espírito”, e ainda, “Estes exercícios são o que as pessoas vão querer e precisar no
novo milênio” (J. H. Pilates, apud, CAMARÃO, 2004, p. 3). Complementa, afirmando
que “A mente, quando contida em um corpo saudável, possui um sentido glorioso da
energia.” (J. H. Pilates, apud RODRIGUEZ, 2006, p. 9).
6
Romana Kryzanowska, bailarina e antiga aluna de Pilates dos anos 40,
conheceu o método Pilates por intermédio de Balanchine, pois sofria com uma lesão
no tornozelo que a impedia de dançar. Conseguiu com a prática do método Pilates,
não só a melhora de seu tornozelo, como também em seu equilíbrio e sua força na
dança e, desde então, tal foi a sua dedicação ao método, que Romana foi eleita por
Joseph Pilates para seguir com o seu trabalho. Joseph Hubertus Pilates morreu no
ano de 1967, aos 87 anos, sem deixar herdeiros. Clara Pilates, sua esposa, assumiu
então a direção do estúdio, dando continuidade ao trabalho do marido. Por volta de
1970, ela passou o cargo à eleita de Joseph. Romana Kryzanowska formou uma
infinidade de instrutores, conservando íntegro o método original, que além do
sistema do solo (ou colchonete), chamado de “Pilates Mat”, e do método com uso
dos aparelhos, hoje conta também com uma gama de mais de 500 exercícios, além
do uso de elementos, tais como bolas, elásticos, tensores e até mesmo pesos
(RODRIGUEZ, 2006).
Outro grande responsável pela difusão do método Pilates foi Ron Fletcher,
dançarino de Martha Graham, Devido a uma lesão no joelho, consultou-se e iniciou
seus estudos com Pilates em 1940. Em 1970, ele abriu seu estúdio em Los Angeles
e atraiu muitas estrelas de Hollywood.
Muitos dos alunos de Joseph abriram seus próprios estúdios e difundiram
sua técnica, fazendo também importantes contribuições para o desenvolvimento e
aprimoramento do método Pilates que, segundo Rodriguez (2006, p. 11), em todos
esses anos, passou por diversas modificações, conforme o enfoque ou o estilo
pedagógico adotado pelo instrutor, a maneira como cada um se expressa ou se
comunica com seus alunos, mas as bases do método permanecem as mesmas.
No dia 20 de Novembro do ano 2000, a Corte Federal de Nova York,
através da juíza Dra. Miriam Goldman Cedarbaum, tornou nulas as marcas
registradas pelo The Pilates Studio, tornando de uso público o nome Pilates, por se
tratar da denominação de um método de trabalho (CAMARÃO, 2004, p. 3).
O método Pilates no Brasil
7
A relação do Método Pilates com a saúde seguiu seu curso no Brasil por
meio de Alice Becker Denovaro4, a primeira brasileira a se certificar para instrução
da Técnica de Pilates. Graduada em Dança pela Universidade Federal da Bahia e
mestre em Coreografia pelo Califórnia Institute of The Arts, Los Angeles.
Tornou-se professora de Pilates do Balé Teatro Castro Alves, adquirindo
papel fundamental na preparação dos profissionais dessa companhia. Além disso,
Alice introduziu o Pilates na área clínica, em Salvador, através do Ambulatório de
Dor do Hospital das Clínicas - HUPES - UFBA. Hoje, Salvador conta com mais de
vinte estúdios em plena atividade, com mais de dois mil praticantes do método. Por
meio da Physio Pilates, Alice Becker é hoje licenciada da Polestar Education para a
América do Sul. Dessa forma, já realizou diversos cursos de formação no Brasil,
Venezuela, Uruguai, Argentina, Chile e Equador.
A partir do trabalho de Alice Becker, surgiram novos estúdios. A dançarina
Ruth Rachou, tendo desenvolvido uma estreita relação com a Escola de Dança de
Martha Graham, em Nova York, passou a frequentar o Estúdio de Robert Fitzgerald,
onde os dançarinos da companhia de Martha faziam as suas aulas de Pilates.
Sendo assim, decidiu, em 1993, trazer a técnica para o "Espaço de Dança Ruth
Rachou", em São Paulo. (Phisio Pilates, 2008).
Em agosto de 1994, Maria Cristina Rossi Abrami, graduada em Educação
Física, após ser certificada no método Pilates pelo Physical Mind Institute, no Novo
México, iniciou as suas atividades com Pilates em São Paulo, no CGPA - Centro de
Ginástica Postural Angélica.
Em 1996, Inélia Garcia, após ter feito a sua certificação com Romana
Kryzanowska, iniciou também em São Paulo os trabalhos com o método Pilates.
Licenciada pelo "The Pilates Studio", Inélia vem também promovendo cursos de
formação no Brasil. Também em 1996, Elaine de Markondes, após um congresso
sobre técnicas corporais em Buenos Aires, iniciou suas pesquisas sobre o Método
Pilates. Tendo participado de diversos cursos e workshops, começou em 1997 os
trabalhos com Pilates, em Curitiba. Hoje, Elaine é licenciada pelo Physical Mind
Institute, ministrando cursos de formação em Pilates.
Em 1999, finalmente, para alívio de toda a Comunidade Pilates no Brasil,
surgiu oficialmente o primeiro fabricante brasileiro de equipamentos de Pilates, a
Physio Pilates, com sede em Salvador/BA, trabalhando sob licença exclusiva de
4 www.phisiopilates.com
8
Balanced Body® para toda a América do Sul. Atualmente, a Physio Pilates tem
clientes em diversos países da América do Sul, como Venezuela, Chile, Argentina,
Uruguai e Equador. Em 1999, o trabalho chega ao Rio, por intermédio da Physio
Pilates. Em Goiás, o trabalho começou em 1999, sendo Adriano Bittar o primeiro
fisioterapeuta no Brasil a ser certificado pela Polestar Education, na Técnica de
Pilates-Evolved para reabilitação. Em 2004, a Physio Pilates inaugura seus Studios
Master em Salvador e em Porto Alegre. Hoje, mais de dois mil centros de Pilates na
América do Sul (entre Estúdios independentes e Academias) que oferecem o
método no Brasil, Uruguai, Chile, Argentina, Colômbia e Venezuela, tiveram origem
a partir da formação de profissionais.
Os Princípios básicos do método Pilates
Como é percebido, o grande objetivo a ser alcançado por meio do método
Pilates é a saúde numa perspectiva ampla, e não necessariamente relacionada à
doença e à reabilitação.
Segundo Camarão (2004) e Rodrigues (2006), o método Pilates baseia-se
em princípios da cultura oriental, sobretudo relacionados às noções de
concentração, equilíbrio, percepção, controle corporal e flexibilidade, e da cultura
ocidental, destacando a ênfase relativa à força e ao tônus muscular, envolvendo
Pilates envolve, conscientemente, todos os músculos corporais durante a
realização dos movimentos. A isto se convencionou chamar de "contrologia".
Assim, o método Pilates se baseia em fundamentos anatômicos,
fisiológicos e cinesiológicos, sendo necessária a consciência corporal para efetiva
vivência do referido método. É compreendido em seis princípios, segundo Camarão
(2004, p. 7 e 8), que serão estudados a seguir.
Concentração
Durante todo o exercício, a atenção é voltada para cada parte do corpo,
para que o movimento seja desenvolvido com maior eficiência possível. A atenção
dispensada na realização do exercício é destacada ao aprendizado motor, que é o
grande objetivo da técnica.
9
Controle ou relaxamento
A coordenação é a integração da atividade motora de todo o corpo,
visando um padrão suave e harmônico de movimento. É importante a preocupação
com o controle de todos os movimentos a fim de aprimorar a coordenação motora,
evitando contrações musculares inadequadas ou indesejáveis.
Precisão ou alinhamento
De fundamental importância na qualidade do movimento, sobretudo, ao
realinhamento postural do corpo. Consiste no refinamento do controle e equilíbrio
dos diferentes músculos envolvidos em um movimento.
Centramento
A este princípio, Pilates chamou de Powerhouse, ou centro de força
(constitui-se pelas quatro camadas abdominais: o reto do abdome, oblíquo interno,
obliquo externo e transverso do abdome; eretores profundos da espinha, extensores,
flexores do quadril juntamente com os músculos que compõem o períneo), o ponto
central para o controle corporal.
Este centro de força forma uma estrutura de suporte responsável pela
sustentação da coluna e órgãos internos. O fortalecimento desta musculatura
proporciona a estabilização do tronco e um alinhamento biomecânico com menor
gasto energético aos movimentos.
Respiração
Para que o corpo receba a quantidade de oxigênio necessária para um
bom desempenho nos exercícios, deve-se respirar de forma eficaz. Segundo Craig
(2003), Joseph Pilates afirmava que frequentemente respiramos de forma errada e
usando apenas uma fração da capacidade do pulmão. Por isto, Pilates, em seu
trabalho, enfatizava a respiração como o fator primordial no início do movimento,
favorecendo a organização do tronco pelo recrutamento dos músculos
10
estabilizadores profundos da coluna na sustentação pélvica, bem como o
relaxamento dos músculos inspiratórios e cervicais.
Coordenação
Refere-se ao movimento, que deve ser de forma controlada e contínua,
deve exibir qualidades de fluidez e leveza que absorvam os impactos do corpo com
o solo, contribuindo para a manutenção da saúde do corpo. Ao contrário dos
movimentos truncados, pesados, que criam choques no solo, levam ao desperdício
de energia, além de tornar os tecidos propensos ao desgaste prematuro.
A partir das características apresentadas, percebe-se que o método
Pilates surge com o objetivo de promover e manter a saúde através do movimento.
E não é esse um dos objetivos da Educação Física, inclusive no âmbito escolar?
Analisando a história do método Pilates e toda a sua importância, esbarramos em
outros objetivos da Educação Física, a cultura corporal de movimento, o estudo e
relato das práticas corporais, a expressão do ser através do movimento, desde os
seus primórdios até os dias atuais. A utilização do movimento como forma de
garantir a sobrevivência, a perpetuação da espécie e, até mesmo, como forma de
lazer.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Os movimentos são de grande importância biológica, psicológica, social,
cultural e evolutiva, uma vez que é através de movimentos que o ser humano
interage com o meio ambiente para alcançar objetivos desejados ou satisfazer suas
necessidades (GO TANI et al., 2001). São também de grande importância biológica
para o organismo, “no sentido de que constituem os atos que solucionam problemas
motores”, como afirma Connolly (apud GO TANI, 2001, p.11). Importante destacar
que os movimentos não se restringem apenas ao aspecto biológico, pois a
capacidade do ser humano de se mover é mais do que uma simples conveniência
que lhe possibilite andar, jogar e manipular objetos segundo influência de aspectos
culturais e sociais. Portanto, ele é o ponto central do nosso desenvolvimento
evolucionário, tanto físico-motor como sócio-cultural. É através dele que tomamos
conhecimento e nos apropriamos do mundo.
11
O centro das preocupações e interesses da Educação Física está no
movimento humano e, para entendermos melhor, é preciso que voltemos um pouco
no tempo, pois, “[...] ao resgatarmos uma visão antropológica do movimento
humano, passamos a percebê-lo em sua totalidade como resultante da interação de
seus componentes biofisiológicos e socioculturais” (CASTELLANI, apud.
GONÇALVES et al., 1996, p. 16). Assim, a relação da Educação Física com o
movimento, em especial com a ginástica sistematizada, será retratada a seguir.
A importância das Escolas Ginásticas para a Educação Física
Segundo Soares (2001), a partir do ano de 1800, vão surgindo na Europa,
em diferentes regiões, formas distintas de “encarar os exercícios físicos”. Essas
“formas” receberam o nome de “métodos ginásticos” (ou escolas ginásticas) e fazem
menção aos quatro países que deram origem às primeiras sistematizações sobre a
ginástica nas sociedades burguesas: Alemanha, Suécia, França e Inglaterra, tendo,
esse último, desenvolvido o esporte de forma mais acentuada.
Mais tarde, essas sistematizações seriam transplantadas para outros
países fora do continente europeu. Bregolato (2002) afirma a formulação de tais
métodos em princípios da cultura da Grécia antiga, que enaltecia a saúde, a força e
a beleza, e que teve todas as atividades da Educação Física denominadas de
GINÁSTICA (Gymnus: nu - tratando-se da prática de atividades com o corpo
desnudo) por filósofos e estudiosos gregos.
De acordo com Soares, ao apresentar algumas particularidades dos
Países de origem, essas escolas, de um modo geral, possuem finalidades
semelhantes: regenerar a raça (não esquecendo o grande número de mortes e
doenças na época); promover a saúde; desenvolver a vontade, a coragem, a força, a
energia de viver (para servir a pátria nas guerras e na indústria); e, finalmente,
desenvolver a moral (que nada mais é do que uma intervenção nas tradições e nos
costumes dos povos). A autora afirma, ainda, que a ginástica desempenhou
importantes funções na sociedade, nessa época, apresentando-se capaz de corrigir
vícios posturais oriundos das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando, assim,
as suas vinculações com a Medicina e, desse modo, conquistando grande status
perante a sociedade.
12
A Escola Alemã (ou Método Alemão) surge para atingir as finalidades
apontadas anteriormente, particularmente a da defesa da pátria,
[...] uma vez que este país, no início do século XIX, não havia ainda realizado a sua unidade territorial. Era preciso, portanto, criar um forte espírito nacionalista para atingir a unidade, a qual seria conseguida com homens e mulheres fortes, robustos e saudáveis (SOARES, 2001, p. 53).
Segundo a autora (p. 53), para Guts Muths, um dos fundadores da
ginástica na Alemanha (outros dois fundadores foram: Friederich Ludwig Jahn e
Adolph Spiess), esta deveria ser organizada pelo Estado e ministrada todos os dias
para homens, mulheres e crianças, sendo um meio educativo fundamental para a
nação, disseminando cuidados higiênicos com o corpo e com o espaço onde se vive.
Em momento algum a saúde física deixou de pontuar aquelas propostas, e o corpo
anatomofisiológico sempre foi seu objetivo de atenção. Segundo Soares, o viés
médico-higiênico emprestava o caráter científico que, juntamente com a moral
burguesa, completava o caráter ideológico. De um modo geral, o movimento de
ginástica na Alemanha caracterizou-se por um forte espírito nacionalista, sob quatro
orientações: nacionalista, socialista, ultranacionalista e racista. Sua implantação no
Brasil acontece na primeira metade do século XX e deve-se ao grande número de
imigrantes alemães que aqui se instalaram e que tinham, naquela ginástica, um
hábito de vida. Sua implantação também pode ser atribuída aos soldados da Guarda
Imperial, que eram de origem prussiana e que, ao deixarem o serviço militar, não
mais regressavam ao país de origem, preferindo permanecer no Brasil. Assim, esse
contingente populacional de origem alemã cria inúmeras sociedades de ginástica
com as características básicas traçadas por seus fundadores, Jahn, Guts Muths e
Spiess.
O método Alemão permaneceu oficial na Escola Militar até o ano de 1912,
quando então é substituído pelo método Francês que, para seu fundador, o
espanhol D. Francisco de Amoros y Ondeaño, integrava a ideia de uma educação
voltada não somente para militares, mas também para toda a população, para o
desenvolvimento social, colocando-se como uma prática capaz de contribuir para a
formação do homem “completo, universal”.
13
O método ginástico Francês, além das preocupações básicas com o corpo
anatomofisiológico, possuía, também, um forte traço moral e patriótico, dos quais se
imbuía Amoros, que criou um método ginástico semelhante ao método Sueco. Uma
ginástica que poderia ser: civil e industrial, militar, médica e cênica ou funambulesca
(extravagante). A ginástica civil foi a que mais despertou o interesse entre os
brasileiros e, por isso, foi a mais disseminada, sendo oficialmente implantada no
Brasil em 12 de Abril de 1921, através do Decreto nº. 14.784. Sua chegada, porém,
deu-se no ano de 1907, através da Missão Militar Francesa, que veio ao país com a
finalidade de ministrar instrução militar à Força Pública do Estado de São Paulo,
onde fundou uma “Sala de Armas” que deu origem, mais tarde, à Escola de
Educação Física do Estado de São Paulo.
Quanto às Escolas Primárias, o método Sueco foi adotado pelos
brasileiros como o mais adequado, sendo extremamente defendido por Rui Barbosa,
num primeiro momento, e por Fernando de Azevedo, décadas mais tarde, por
possuir um caráter essencialmente pedagógico.
Idealizado por Pehr Henrick Ling, poeta e escritor que acreditava que uma
Educação Física que harmonizasse as faculdades dinâmicas do corpo com as forças
espirituais tinha que fazer parte da educação da população. Ling dividiu em quatro o
seu método ginástico: Ginástica Pedagógica ou Educativa, visando desenvolver o
indivíduo de forma saudável e harmoniosa, evitando a instalação de vícios, defeitos
posturais e enfermidades, independente de sexo e idade; Ginástica Militar, devendo
incluir a ginástica pedagógica, acrescida de exercícios propriamente militares, cujo
objetivo era preparar o guerreiro que colocaria fora de combate o adversário;
Ginástica Médica e Ortopédica, que também deveria estar baseada na ginástica
pedagógica, visando eliminar vícios ou defeitos posturais e curar certas
enfermidades através de movimentos especiais para cada caso encontrado; e, por
último, mas não menos importante, a Ginástica Estética, que, assim como as
demais, estaria baseada na ginástica pedagógica, e, para além dela, procuraria o
desenvolvimento harmonioso do organismo e seria complementada pela dança e
certos movimentos suaves que proporcionam beleza e graça ao corpo. Com isto,
lentamente, os demais métodos ginásticos foram se restringindo aos
estabelecimentos militares e a ginástica sueca foi se tornando a mais adequada para
a Educação Física civil, fosse no âmbito escolar, fosse fora dele (SOARES, 2001, p.
58).
14
Educação Física Escolar: influência da ginástica e novas abordagens
Segundo Moreira (2002 et al., p. 214), estudos desenvolvidos por Bracht
(1989) afirmam que o conteúdo de que trata a Educação Física escolar tem sido
determinado, ainda, por diferentes instituições que não a escola, tais como a
instituição médica, a militar e a desportiva. Isso mostra a influência dos métodos
ginásticos na Educação Física escolar.
Oliveira (1983, p. 52) acredita que o efetivo início da Educação Física no
processo educacional ocorreu por volta do ano de 1824, com tentativas de
organização do caos em que se encontrava o sistema educacional no Brasil
imperial, e que, apesar dos esforços, os significativos estímulos pedagógicos não
foram proporcionados, cabendo à “Educação Física” a influência médica e higienista.
Para Guiraldelli Jr. (1988, p. 23), é importante enfatizar a influência de Rui
Barbosa, advogado baiano que acreditava na Educação Física como a chave para
as mazelas sociais, que defendia a tese de que a “higiene do corpo e a higiene da
alma são inseparáveis” e encontrava na Educação Física a disciplina escolar capaz
de satisfazer o apetite infantil pelo movimento. Sobre essa concepção, a perspectiva
da Educação Física vislumbra a possibilidade e a necessidade de resolver o
problema da saúde pública através da educação.
Em 1921, através de decreto, impôs-se ao país, como método de
Educação Física oficial, o conhecido “Método do Exército Francês”, sendo estendido
à rede escolar com o início da vigência de legislação que colocou a Educação Física
como disciplina obrigatória nos cursos secundários, coordenando o pensamento
sobre a Educação Física durante as duas décadas seguintes (GUIRALDELLI Jr.,
1988). Entrava em cena a Educação Física militarista, também preocupada com a
saúde pública, mas voltada ao “processo de seleção natural” (Idem, p. 25), excluindo
os fracos e premiando os fortes. Seu objetivo fundamental era a obtenção de uma
juventude capaz de suportar o combate, a luta, a guerra. Era a formação do
“cidadão-soldado” (Ibidem), exemplo para todo o restante da juventude pela sua
bravura e coragem.
No período pós-guerra (1945 – 1964), segundo Guiraldelli Jr. (1988, p.
28), aumentaram os estudos sobre Educação Física Comparada.
15
As revistas brasileiras dedicadas à Educação Física não cansam de publicar artigos mostrando a organização dos Desportos e da Educação Física nos Países desenvolvidos. O modelo americano era o mais cativante no meio da intelectualidade universitária ligada às Escolas de Educação Física. [...]
Com isso, abriu-se espaço a uma nova concepção de Educação Física, a
Pedagogicista. Essa concepção que foi reclamar da sociedade a necessidade de
encarar a Educação Física não somente como uma prática eminentemente
educativa. Foi ela que colaborou decisivamente para que a juventude viesse a
“melhorar sua saúde, adquirir hábitos fundamentais, preparo vocacional e
racionalização do uso das horas de lazer” (GUIRALDELLI Jr., 1988, p. 19).
A Educação Física Pedagogicista preocupa-se com a juventude que
frequenta as escolas. A ginástica, a dança, o desporto etc., são meios de educação
do alunado. São instrumentos capazes de levar a juventude a aceitar as regras de
convívio democrático e de preparar as novas gerações para o altruísmo, o culto a
riquezas nacionais etc. Uma concepção que encara a Educação Física como algo
“útil e bom socialmente”, e que deve ser respeitada acima das lutas políticas, dos
interesses diversos de grupos ou de classes. (GUIRALDELLI, op. Cit, p. 29).
Segundo o autor, a partir dos anos 1920 e 1930, progressivamente, o
“desporto de alto nível” ganhou espaço no interior da sociedade e,
consequentemente, da Educação Física. Já nos anos 1960 – 1970, a ideia liberal
presente na Educação Física Pedagogicista, que encara a Educação, e por
extensão, a Educação Física, como algo neutro, necessariamente acima dos
conflitos sociais, cresce e ganha corpo na Educação Física Competitivista. O
“desporto de alto nível subjuga a Educação Física, tentando colocá-la como mero
apêndice de um projeto que privilegia o Treinamento Desportivo”.
Como a Educação Física Militarista, a Educação Física Competitivista
também está a serviço de uma hierarquização e etilização social. Seu objetivo
fundamental é a caracterização da competição e da superação individual como
valores fundamentais e desejados em uma sociedade moderna e, como na
Educação Física Pedagogicista, também advoga uma neutralidade em relação aos
conflitos político-sociais.
16
Aqui, a Educação Física Fica reduzida ao “desporto de alto nível”. A prática desportiva deve ser “massificada”, para daí poder brotar os expoentes capazes de brindar o País com medalhas olímpicas. [...] Desenvolve-se assim o Treinamento Desportivo baseado nos avançados estudos da Fisiologia do Esforço e da Biomecânica, capazes de melhorar a técnica desportiva. (GUIRALDELLI, 1988, p. 20).
Com o Movimento Operário e Popular iniciado praticamente com a
república, segundo o autor, outra concepção de Educação Física ganhou espaço,
sendo forjada no interior desse e de outros movimentos operários: a Educação
Física Popular, privilegiando a ludicidade, a solidariedade e a organização e
mobilização dos trabalhadores na tarefa de construção de uma sociedade
efetivamente democrática. Ao contrário das concepções anteriormente citadas, a
Educação Física Popular, segundo Guiraldelli, não revelaria uma produção teórica
(livros, periódicos, teses etc.) abundante e de fácil acesso. Todavia, do pouco
material existente (jornais, revistas etc.), que sobreviveram aos “olhos e garras
incineradoras” das classes dominantes, é possível resgatar uma concepção de
Educação Física que, “paralela e subterraneamente”, veio historicamente se
desenvolvendo com e contra as concepções ligadas à ideologia dominante.
Segundo o autor, “ela é, antes de tudo, ludicidade e cooperação, e aí o desporto, a
dança, a ginástica, etc., assumem um papel de promotores da organização e
mobilização dos trabalhadores” (p. 21). Essa concepção de Educação Física
entende que a educação dos trabalhadores está intimamente ligada ao movimento
de organização das classes populares para o embate da prática social, ou seja, para
o confronto cotidiano imposto pelas lutas de classes.
Segundo Tani (2001, p. 13), é preciso que a Educação Física “modifique a
compreensão restrita de outrora”, passando a analisar o significado do movimento,
principal objetivo de ação e estudo da mesma, na relação dinâmica entre o ser
humano e o meio ambiente, investigando os princípios básicos de organização do
movimento em diferentes níveis de análise, desde o bioquímico, neurofisiológico e
comportamental, até o social, para se ter a compreensão mais adequada possível do
movimento humano.
O autor enfatiza, ainda, a necessidade da Educação Física estudar o real
significado do movimento dentro do ciclo de vida do ser humano, considerando-o
17
como um fator que contribui para uma crescente ordem no sistema e na sua
interação com o meio ambiente.
Nesse sentido, novas abordagens de ensino surgiram como oposição
àquelas estabelecidas até então, num movimento denominado como “Renovador”.
Dentre elas, têm-se: Construtivista-Interacionalista, Crítico Superadora, Sistêmica,
Saúde Renovada entre outras (DARIDO, 2003).
Como o foco desse estudo refere-se ao Método Pilates e sua possibilidade
de utilização na Educação Física escolar e, considerando a relação do Pilates com a
saúde, será discutida a abordagem da Saúde Renovada, tratada pelos autores
Nahas (1997, apud DARIDO, 2003), Guedes e Guedes (1996, apud DARIDO, 2003),
que defendem uma Educação Física escolar dentro de uma matriz biológica, embora
não se afastando das temáticas da saúde e da qualidade de vida. Segundo Darido
(2001, p. 11),
[...] é importante ressaltar que ao longo do século XX, foram muitos os autores que defenderam a Educação Física numa perspectiva biológica. No entanto, entendo que as considerações destes autores representem uma nova proposta, sobretudo a partir de meados da década de 90, pois propõem novas formas de compreensão destas relações, com novos argumentos.
Segundo Darido (Op Cit), os autores Guedes e Guedes ressaltam que
uma das principais preocupações da comunidade científica nas áreas da Educação
Física e da saúde pública é levantar alternativas que possam auxiliar na tentativa de
reverter a elevada incidência de distúrbios orgânicos associados à falta de atividade
física. Segundo ela, os autores se baseiam em diferentes trabalhos americanos, e
entendem que as práticas de atividade física vivenciadas na infância e adolescência
se caracterizam como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes,
habilidades e hábitos que podem auxiliar na adoção de um estilo de vida fisicamente
ativo na idade adulta. E como proposta, sugere a redefinição do papel dos
programas de Educação Física na escola, agora como meio de promoção da saúde,
ou a indicação para um estilo de vida ativa, proposta por também por Nahas.
Denomino esta proposta de biológica renovada porque ela incorpora princípios e cuidados já consagrados em outras
18
abordagens com enfoque mais sócio cultural. NAHAS (1997), por exemplo, sugere que o objetivo da Educação Física na escola de ensino médio é ensinar os conceitos básicos da relação entre atividade física, aptidão física e saúde. O autor observa que esta perspectiva procura atender a todos os alunos, principalmente os que mais necessitam: sedentários, baixa aptidão física, obesos e portadores de deficiências. (NAHAS, 1997; apud DARIDO, 2001, p. 12; e DARIDO, 2003, P. 18 e 19).
Além disso, segundo Darido, os autores Guedes e Guedes criticam os
professores que trabalham na escola apenas as modalidades esportivas tradicionais:
voleibol, basquetebol, handebol e futebol, "impedindo, desse modo, que os
escolares tivessem acesso às atividades esportivas alternativas que eventualmente
possam apresentar uma maior aderência a sua prática fora do ambiente escolar",
(GUEDES & GUEDES, 1996, apud DARIDO, 2001, p. 12). Os autores consideram
que as atividades esportivas são menos interessantes para a promoção da saúde
devido à dificuldade no alcance das adaptações fisiológicas e, também, porque não
predizem sua prática ao longo de toda a vida (DARIDO, 2001 e DARIDO, 2003).
Segundo a referida autora, Guedes e Guedes, assim como Nahas, “ressaltam a
importância das informações e conceitos relacionados à aptidão física e saúde” (p.
12). A adoção destas estratégias de ensino, conforme Darido (2003), contempla não
apenas os aspectos práticos, mas também a abordagem de conceitos e princípios
teóricos que proporcionem subsídios aos alunos, no sentido de tomarem decisões
quanto à adoção de hábitos saudáveis de atividade física ao longo de toda vida.
Considerando os princípios básicos do Método Pilates, e sua aproximação
com a abordagem pedagógica da Saúde Renovada, deve-se pensar na contribuição
que o mesmo pode trazer para a saúde de crianças e adolescentes, em especial, no
que diz respeito aos problemas e vícios posturais, bem como à compreensão e
consciência acerca desse conteúdo na Educação Física escolar. Esta pode
contribuir por meio da vivência motora e, até mesmo, de orientações no sentido de
minimizar “maus hábitos” posturais causados pela mochila pesada, postura relaxada
em frente à TV, ou ao computador, e até mesmo na cadeira da escola etc. Exercícios de fortalecimento, alongamento e conscientização postural,
podem proporcionar resultados rápidos e duradouros, o que pode ser útil na vida
cotidiana dos alunos. Além desses benefícios, o Método Pilates pode ser uma
19
divertida e importante fonte de aquisição motora e cognitiva, equilibrando corpo e
mente em cada ação, melhorando, até mesmo, problemas como a hiperatividade,
muito frequente em crianças e adolescentes, que acaba, de certa forma,
atrapalhando em atividades escolares.
O MÉTODO PILATES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: RELATO DE EXPERIÊNCIA
A experiência relatada nesse estudo aconteceu em uma escola pública do
município de Juiz de Fora. Inicialmente foram feitos contatos com a Professora de
Educação Física da referida escola, que tomou conhecimento do estudo e aceitou
participar do mesmo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram concedidas duas aulas de uma turma de 7º ano do Ensino
Fundamental, contendo 34 alunos, com idades compreendidas entre 12 e 15 anos,
para que o Método Pilates (Pilates Mat) fosse apresentado, por meio do
conhecimento e da vivência, pela turma. Tais intervenções aconteceram no mês de
setembro de 2009.
Aula 1: Intervenção: O primeiro contato
A primeira aula aconteceu na quadra esportiva da escola, no dia 21 de
Setembro, com 25 alunos participantes, inclusive um aluno com deficiência visual.
“Gostei muito!” Disse ele ao final da aula.
Inicialmente, houve um bate-papo que pôde mostrar que a maioria dos
alunos não conhecia o método Pilates, mas alguns disseram ter tido contato com
alguns materiais utilizados em diferentes modalidades do método. É curioso e válido
lembrar que apenas um aluno conhecia o método, por intermédio da avó, praticante
de Pilates por indicação médica, devido ao acometimento de osteoporose. Após o
diálogo e uma breve apresentação do método Pilates e seu histórico, os alunos, que
se mostravam muito curiosos, foram convidados a participar da vivência. Foram
distribuídas toalhas para proteger o corpo do contato direto com o solo. As toalhas
tinham uma espessura não muito distante da espessura dos colchonetes reais,
utilizados na prática do método.
20
O espaço foi organizado, as devidas orientações sobre postura e
respiração foram feitas e, iniciados os exercícios, a cada momento um aluno era
utilizado como “modelo”, ou melhor, como referência para explicações, correção de
postura etc.
Foram realizados exercícios de postura e respiração, exercícios de
flexibilidade, bem como de rolamentos com a utilização de toda a extensão da
coluna. Grande parte dos exercícios utilizados nas práticas consistia em
mobilizações da coluna de forma geral e de forma específica, com o objetivo de
soltura e fortalecimento da musculatura que envolve a mesma, como por exemplo,
exercícios nas posições de pé, em que o aluno realizava movimentos de flexão
(frontal ou lateral) da coluna em direção ao solo, a partir das vértebras cervicais, sem
que esse movimento fosse forçado; também, exercícios de resistência muscular
como, por exemplo, nos exercícios que partem da posição deitada, com joelhos
flexionados e apoio dos pés no solo, realizando a contração abdominal e flexão da
coluna a partir das vértebras cervicais até uma posição final, em que o aluno
realizava o realinhamento das mesmas; ou ainda, exercícios em posição de “quatro
apoios”, em que o aluno se postava de joelhos, com as mãos apoiadas no solo, e
realizava ao mesmo tempo, a extensão do quadril e a flexão do ombro, com apoios
“transversais” (tirando do solo, ao mesmo tempo perna direita e braço esquerdo, e
vice-versa). De uma forma geral, os exercícios aplicados visavam o fortalecimento,
alongamento e conscientização postural, bem como a conscientização com relação
à respiração durante a realização dos movimentos.
Durante a execução dos exercícios, no desenvolvimento da aula, alguns
alunos diziam: “É difícil, mas gostoso!”, “Achei muito legal!”, “Nossa, como eu tô
dura!”, “Ai, eu senti a minha coluna!”.
Ao final da aula foi feita uma avaliação com os alunos. Nesse momento,
os alunos eram questionados sobre o que sentiam durante a realização de cada
exercício, do que mais gostaram, dificuldades e facilidades etc. Esse encontro foi
finalizado dando projeções referentes ao segundo momento, que aconteceria
naquela mesma semana.
Aula 2: intervenção: A vivência do Pilates na escola
21
A segunda aula aconteceu no dia 24 de Setembro, e, conforme um
combinado entre os professores de Educação Física da escola, outra turma utilizaria
o espaço da quadra poli esportiva, enquanto a turma que estava participando do
estudo sobre Pilates na escola utilizaria um espaço aberto. Como estava chovendo
neste dia, foi utilizada a sala de aula para a vivência do referido método.
A sala era bem menor, em comparação à quadra, mas nos serviu muito
bem. As carteiras foram agrupadas nas paredes, sendo liberado um espaço no
centro da mesma. Importante destacar que a redução do espaço físico não foi o
bastante para reduzir a curiosidade dos alunos quanto aos novos exercícios que,
além de postura, respiração e flexibilidade, desta vez abrangiam, também, a
resistência, o equilíbrio, concentração e coordenação.
No início da aula foi feita uma ligação com a aula anterior e apresentado
os objetivos da mesma. Infelizmente houve um número reduzido de participantes, se
comparado à aula anterior, mas os que não fizeram a parte prática estavam atentos
ao desenvolvimento da aula. Os alunos mostraram ter adorado os exercícios de
resistência, inclusive os de abdominais, por desafiarem a gravidade e o equilíbrio: “a
gente treme muito!”, dizia uma aluna. Igualmente com os exercícios de mudança de
postura (sentado e ajoelhado) através de rolamentos sobre os membros inferiores,
sem ter de sair do chão. “É legal, é gostoso!”, disse outra aluna. Sem esquecer dos
rolamentos (balanceios) que alongam e relaxam regiões específicas da coluna
vertebral. Como disse um dos alunos: “o corpo fica leve!”. Esse é um dos grandes
objetivos do método Pilates: a consciência corporal.
Ao final dessa aula foi feita uma avaliação da mesma, bem como uma
avaliação geral, considerando o primeiro e o segundo encontros. Nesses momentos
os alunos foram questionados sobre o que sentiam com cada exercício, de qual
exercício mais gostaram etc.
Foi perguntado sobre a facilidade e dificuldade de realização dos
exercícios propostos, e todos os alunos demonstraram grande facilidade de
compreensão e execução dos exercícios. Isso foi confirmado pela fala deles. Ao
serem questionados sobre a utilização do Método Pilates nas aulas de Educação
Física, as respostas divergiram bastante: “Eu acho que devia ser só Pilates!“ disse
uma aluna; outro aluno falou: ”Já não temos muito Futebol, aí é que não vamos ter
mesmo!”; “Acho interessante o Pilates antes das atividades de Educação Física, ou
depois!”, disse uma aluna. Isso foi justificado pela característica de consciência
22
corporal, alongamento e força, trabalhados lentamente. Essa mesma característica
trouxe outro posicionamento: “O Pilates é devagar, tem muito alongamento, acho
que a Educação Física precisa de mais movimento!”; “Eu gostei muito, acho que
devia ter, sim!”. Depois foi a vez dos alunos questionarem: “Porque o corpo treme?”,
“O Pilates emagrece?”, e um novo e proveitoso bate-papo se iniciou para finalizar as
intervenções.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que os conteúdos trabalhados na Educação Física Escolar estão
fortemente marcados pelo esporte. Torna-se, pois, importante uma ampliação dos
mesmos no sentido de diversificar a experiência da cultura corporal de movimentos.
A concentração, a respiração, o controle, o alinhamento, a precisão, a
fluência, o ritmo, o centramento e o compromisso com o corpo são a base de todos
os exercícios de Pilates e são elementos fundamentais para o desenvolvimento de
crianças e adolescentes.
O Pilates pode contribuir para a saúde de crianças e adolescentes, em
especial, no que diz respeito aos problemas posturais através de seus princípios e
aplicação na Educação Física escolar. Alguns vícios posturais comuns, sejam eles
causados pela mochila pesada, postura relaxada em frente à TV ou ao computado,r
e até mesmo na cadeira da escola, podem ser trabalhados com o método Pilates.
Nesse caso, a consciência corporal desenvolvida por meio da compreensão e
vivência de exercícios de fortalecimento, alongamento e conscientização postural
proporciona benefícios diversos aos alunos. Destaca-se que, além desses
benefícios, o Método Pilates pode ser uma divertida e importante fonte de aquisição
motora e cognitiva, desde que seja respeitada a individualidade de cada um. Pode
auxiliar, também, no controle da hiperatividade, muito frequente em crianças e
adolescentes, que, de certa forma, atrapalha as atividades escolares.
O Método Pilates pode proporcionar ao aluno, por meio dos seus
princípios e exercícios, a percepção do próprio corpo e do espaço que ele ocupa,
além da consequente percepção do espaço que o outro ocupa. Com isso, os alunos
ganham consciência ampla e aprendem a respeitar as possibilidades e os limites
próprios e dos outros.
23
Sua aplicação na escola pode ser respaldada pela perspectiva da
abordagem da Saúde Renovada, que atenta para a importância do conhecimento
acerca da prática de atividades físicas, principalmente na infância e na adolescência,
como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes, habilidades e hábitos
que previnam e corrijam maus hábitos comportamentais, físicos e posturais, e que
podem auxiliar na adoção de um estilo de vida fisicamente ativo ao longo da vida.
Da experiência desenvolvida em uma escola, pode-se concluir que a
Educação Física ainda carrega o preconceito de que tem que estar relacionada com
o esporte ou preparar o indivíduo para o mesmo. Torna-se necessária uma reflexão
acerca de como “tratamos” a Educação Física dentro das escolas, em sala de aula e
fora dela. Devemos atentar para que nosso trabalho dentro das instituições de
ensino não seja apenas o de “professores de Esportes”, e sim de profissionais da
área da saúde, do bem-estar e da educação, seja ela esportiva, corporal,
comportamental etc., para que nossos alunos tenham uma concepção diferente do
que é a Educação Física.
Este estudo não pretende esgotar o assunto, e espera-se que, a partir
dele, novas inquietações surjam no meio acadêmico e que novos estudos sejam
desenvolvidos.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Educação Física, Brasília: MEC, 1998. BREGOLATO, Roseli Aparecida. Cultura corporal da Ginástica: livro do professor e do aluno. São Paulo: Ícone, 2002. CAMARÃO, Teresa. Pilates no Brasil: corpo e movimento. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. CRAIG, Colleen. Pilates com a bola. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2004. DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2003. _____DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física Escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Revista perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. Disponível em: <http://www.uff.br/gef/revista>. Acesso em: 13 de Novembro de 2009.
24
GONÇALVES, Maria Cristina; PINTO, Roberto Costacurta Alves; TEUB, Sílvia Pessoa. Aprendendo a Educação Física: da pré-escola até a oitava série do primeiro grau – a técnica aplicada ao movimento livre. Bolsa Nacional do Livro, 1996. GUIRALDELLI JR., Paulo. Educação Física Progressista – a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a Educação Física Brasileira. São Paulo: Loyola, 1988. GO TANI (et al.). Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. 3º reimpressão. São Paulo: E.P.U., 2001. MOREIRA, Wagner Wey (Org.). Educação Física e Esportes: perspectivas para o século XXI. 8º Edição. Campinas: Papirus, 2002. _____Método Pilates: Pilates no Brasil. Disponível em: <www.physiopilates.com.br>. Acesso em: 25 de Março 2009. NAPPER, Howard; ROBINSON, Lynne. Exercícios inteligentes com Pilates e Yoga. Tradução. São Paulo: Pensamento, 2004. OLIVEIRA, Vitor Marinho de. O que é Educação Física. São Paulo: Brasiliense, 1983. _____Pilates para crianças e adolescentes. Disponível em: <www.physiopilates.com.br>. Acesso em: 18 de Maio 2009. RODRIGUEZ, José. Pilates. (Reimpressão). Tradução. São Paulo: Marco Zero, 2008. SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física: raízes européias e Brasil. Campinas: Autores Associados, 2001. THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack K.; SILVERMAN; Stephen J. Métodos de pesquisa em Atividade Física. 5 ed. São Paulo: Artmed, 2007.