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Mestrado Forense 2007/2008

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Mestrado Forense

2007/2008

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 20-12-1989 S.T.J. B.M.J. n.º 392,

pág. 415

- Nulidades em Processo Penal - Falta de notificação ao recorrente de despacho que desatende a arguição de nulidade - Arguição extemporânea (In) constitucionalidade do art. 664.º do C.P.P. de 1929

I – O artigo 100º do Código de Processo Penal de 1929 estabelece uma presunção juris et de júris do conhecimento da nulidade no momento da notificação ou da intervenção. II – O nº 1 do artigo 205º do Código de Processo Civil não pode ser aplicado subsidiariamente em Processo Penal, ao abrigo do § único do artigo 1º do Código de Processo Penal, de 1929, porque não existe caso omisso: em processo penal, o assunto é regido pelo artigo 100º do mesmo Código. III – É extemporânea a arguição da nulidade da falta de notificação, ao réu, de um despacho do Desembargador-relator que decidiu não competir ao Tribunal da Relação decretar a nulidade do parecer do Ministério Público após a vista do artigo 664º do Código de Processo Penal, invocada com fundamento na inconstitucionalidade desta norma, quando essa arguição é feita através de requerimento que não corresponde à primeira intervenção do recorrente após a prolação do mencionado despacho e surge depois do prazo legal para a sua apresentação.

16-01-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 393, pág. 481

- Difamação qualificada - Pena - Prescrição - Recursos - Nulidade - Omissão de pronúncia

I – Constitui o crime qualificado de difamação a imputação difamatória cometida através dos meios de comunicação social, tendo por ofendido um magistrado – artigo 167º, nº 2 e 168º, nº 1 do Código Penal. II – O limite máximo da pena é de 3 anos, pelo que o prazo de prescrição de tal ilícito é de 5 anos, artigo 177º, alínea c) do Código Penal. III – Só não contam para a determinação daquele máximo as circunstâncias agravantes modificativas previstas na parte geral do código. IV – O acórdão da Relação que não se pronunciou sobre um recurso interlocutório interposto da 1ª instância é nulo por omissão de pronuncia, não sendo licito ao S.T.J. substituir-se à 2ª instância no seu conhecimento, pois se eliminaria um grau de jurisdição.

16-01-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 393, pág. 495

- Acumulação de infracções - Julgamento conjunto - Forma do processo - Nulidade sanável - Constituição de assistente - Legitimidade

I – O julgamento conjunto de todas as infracções penais unidas por conexão subjectiva é um principio regra que informa o nosso sistema processual, pois só um julgamento conjunto possibilita uma justa avaliação da personalidade do autor das infracções, facilita a aplicação da pena unitária e proporciona uma maior celeridade e economia processual. II – A utilização do processo correccional para o julgamento de diversas infracções, designadamente daquelas a que cabia a forma de processo comum, constitui uma nulidade dependente de arguição, prevista no artigo 120 n.º 2, alínea a), do Código Processo Penal, a qual só pode ser arguida por qualquer dos interessados antes que o julgamento, desde que a ele presente, esteja terminado nos termos do n.º 3 alínea a), do mesmo normativo. III – Uma Câmara Municipal tem legitimidade para se constituir assistente relativamente a um crime de coacção contra um membro de órgão autárquico, previsto e punível pelo artigo 368, nºs 1, 3 e 4 do Código Penal, em que é ofendido um seu vereador, quando no exercício das suas funções, fazia uma exposição numa sessão da dita Câmara.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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31-01-1990 S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo I, págs.

23 a 25

Defensor não advogado Alteração dos factos da Acusação

I – Não se verifica irregularidade por ter sido nomeado para assistir ao arguido no seu interrogatório, pessoa que não é advogado nem estagiário à advocacia. II – Não se verifica irregularidade pelo facto de o tribunal, em certa altura do julgamento, pressupondo a ocorrência de uma alteração não substancial dos factos descritos na acusação e aceites na pronúncia, ter suspendido a audiência de julgamento, comunicado a alteração ao arguido e concedido prazo para se defender desses factos, que se reconduziam a substituição da imputação de homicídio voluntário por acção, por homicídio de comissão por omissão e, a final, ter vindo a condenar o arguido pelo crime constante da acusação.

31-01-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 393, pág. 533

- Audiência de julgamento - Representação do M.P. - Greve - Substituição dos Delegados do Procurador da República - Nulidade absoluta

I – A substituição dos delegados do Procurador da República obedece ao regime estabelecido nos artigos 48º e 49º da Lei 47/86, de 15 de Outubro (Lei Orgânica do Ministério Público). II – O juiz só pode proceder à nomeação prevista naquele artigo 49º quando verificadas cumulativamente as condições fixadas nesse normativo. III – Não comparecendo em audiência de julgamento o agente do Ministério Público titular – por adesão a uma greve decretada pelo respectivo Sindicato -, a sua substituição deve efectuar-se de acordo com o disposto nos referidos preceitos. IV – A nomeação pelo juiz de pessoa idónea ad hoc, com inobservância do critério legal de substituição, equivale à ausência do Ministério Público a julgamento e constitui a nulidade absoluta prevista no artigo 98º, n.º 8, do Código de Processo Penal de 1929.

07-03-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 395, pág. 433

- Tribunal de júri - Aplicação da lei processual penal no tempo - Nulidades

I – O regime do tribunal de júri é matéria de processo penal, estreitamente conexionada com o Código de Processo Penal, tanto o de 1929 como o de 1987. II – O novo regime do tribunal de júri segundo o Decreto-Lei n.º 387 –A/87, de 29 de Novembro, não é aplicável aos processos pendentes, instaurados antes da entrada em vigor daquele Código. III – A intervenção do tribunal do júri segundo o Decreto-Lei n.º 387 –A/87, de 29 de Novembro, em processo instaurado antes da entrada em vigor do Código de Processo penal de 1987, constitui a nulidade do n.º 7 do artigo 98º do Código de Processo Penal de 1929 (falta do numero legal de jurados no julgamento), com referencia ao disposto no artigo 481º deste ultimo Código e no artigo 1º daquele Decreto-Lei.

21-03-1990

Relação de Coimbra

CJ, Tomo II, pág. 82 - Efeitos da anulação Anulada uma sentença por não indicação dos meios de prova que serviram para formar a convicção do julgador, este apenas pode colmatar o vício apontado pela Relação e não proceder a novo julgamento com alteração da matéria de facto e da decisão.

04-05-1990

Relação de Lisboa

CJ, Tomo III, págs. 158 a 161

- Delegação para inquérito São válidos e não geradores de nulidade os actos de instrução dos processos crimes feitos pelas Polícias, ao abrigo do despacho do Procurador-Geral da República de 21 de Dezembro de 1987, por o conceito de direcção da instrução conferida ao Ministério Público pelos artigos 53.º e 263.º do Código do Processo Penal não exigir a direcção real e efectiva e não se contentar com uma direcção funcional da mesma.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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16-05-1990

Relação de Lisboa

CJ, Tomo III, págs. 162 e 163

- Defensor Constitui nulidade insanável do processado a falta de nomeação de defensor a arguido menor de 21 anos.

06-06-1990

Relação de Coimbra

C J, Tomo III, págs. 80 e 81

- Chamada para a audiência Constitui irregularidade, que deve levar à anulação da audiência de julgamento e subsequente sentença, a omissão da chamada de testemunhas na hora em que devia realizar-se a audiência e a omissão de nova chamada às que faltaram na anterior.

06-06-1990

Relação de Coimbra

CJ, Tomo III, págs. 77 a 79

- Sentença Constitui irregularidade, que deve levar à anulação da audiência de julgamento e subsequente sentença, a omissão da chamada de testemunhas na hora em que devia realizar-se a audiência e a omissão de nova chamada às que faltaram na anterior.

20-06-1990 S.T.J. BMJ n.º 398, pág. 431

- Recurso - Matéria de facto e matéria de direito - Poderes de cognição do S.T.J. - Duplo grau de jurisdição - Audiência de julgamento - Documentação de declarações orais - Constitucionalidade - Requisitos da sentença - Fundamentação - Nulidade - Autoria

I – Os recursos para o Supremo Tribunal de Justiça são restritos a matéria de direito, conforme dispõe o artigo 433º do Código de Processo Penal; o Supremo Tribunal de Justiça, em recurso, só conhece de matéria de facto nos casos previstos no artigo 410º n.º 2, por força do artigo 433º, ambos do Código de Processo Penal. II – O artigo 363º do Código de Processo Penal não viola os artigos 32º, n 1 e 5, 9º, alínea b), 13º n.º 1, 18º n.º 2 e 205º n.º 2 da Constituição da República Portuguesa, pelo que não é inconstitucional III – Não enferma da nulidade prevista no artigo 379º, alínea a) do Código de Processo Penal, a sentença que, embora por forma demasiado sintética mas suficiente, enumerou os factos provados, não enumerando os não provados por inexistentes; enunciou os motivos de facto e de direito que fundamentaram a decisão e indicou as provas que serviram para formar a convicção do tribunal. IV – O principio in dúbio pró reo só tem aplicação na apreciação da matéria de facto, a que o Supremo Tribunal de Justiça é alheio. V – Para ser autor não se torna necessário que o agente tome parte em todos e cada um dos actos de execução que correspondem à descrição legal punível, bastando a eficiência idónea da actividade de todos os agentes para a realização desse descritivo.

20-06-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 398, pág. 428

- Julgamento à revelia - Novo julgamento - Validade da prova produzida - Desistência da queixa - Tempestividade

I – O novo julgamento do réu julgado à revelia, ordenado oficiosamente pelo tribunal de recurso, nos termos do artigo 577º, ou a requerimento do réu, nos termos do artigo 571º, § 3º, ambos do Código de Processo Penal de 1929, tem a justificá-lo a finalidade de fazer prevalecer a verdade material, susceptível de ser afectada pela inicial revelia do réu. II – O novo julgamento não é um mero complemento do primeiro, podendo ter um desfecho diferente e até contrario daquele, acontecendo apenas que, por força da lei, (artigo 576º do Código de Processo Penal de 1929), as provas nele produzidas se mantêm válidas, com vista a afastar as consequências do decurso do tempo na memória das testemunhas, e até as da morte delas, sendo produzidas no novo julgamento as provas que de novo se oferecerem ou forem ordenadas.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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26-09-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 399, pág. 429

- Recurso de acórdão da Relação - Interposição - Falta de depósito das quantias em dívida - Deserção - Recurso do despacho do relator - Remessa oficiosa do processo à conferência - Nulidade do acórdão

I – Julgado deserto um recurso na relação, por despacho do relator, devido à falta de depósito das quantias que o recorrente devia então garantir, não pode a parte recorrer de tal despacho porque o relator não é um órgão colectivo de cujas decisões caiba recurso para o Supremo Tribunal de Justiça. II – Quando a parte se considere prejudicada por qualquer despacho do relator, pode ela reagir mediante reclamação para a conferência, pois só com a decisão colegial desta é possível abrir a via de recurso. III – Na ausência absoluta de reclamação da parte, nem o relator pode levar, oficiosamente, a matéria à apreciação da conferência, nem a Relação pode pronunciar-se sobre a matéria do despacho do relator. IV – Tendo-se a Relação pronunciado, o acórdão recorrido incorreu em nulidade, porquanto conheceu de questão de que não podia, legalmente conhecer.

03-10-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 400, pág. 524

- Identificação do arguido - Rectificação da identificação - Arguição de irregularidades

I – Foram correctamente elaboradas a acusação e a pronúncia que contem as indicações tendentes à identificação do arguido, por este fornecidas em auto de declarações autenticado com a sua impressão digital. II – Quando seja certa a pessoa do arguido, mas inexacta a sua identificação, proceder-se-á à rectificação desta no processo, podendo tal correcção se efectuada antes ou depois do julgamento, – cfr. Artigo 9º, n.º 2, do Decreto-Lei nº 402/82, de 23 de Setembro. III – Entendendo que existe qualquer irregularidade no processo, o interessado deverá argui-la nos três dias seguintes à sua notificação para o julgamento – artigo 123º, n.º 1 do Código de Processo Penal.

17-10-1990 S.T.J. B.M.J. n.º 400, pág. 551

- Crime de injúrias – convolação - Guarda Nacional Republicana - Legitimidade - Nulidade da sentença

I – Absolvidos os arguidos do crime de injúrias contra militares da Guarda Nacional Republicana, por que vinham acusados, não podem eles ser condenados pelo de injurias contra corporação militar. II – A condenação por crime diverso, com inobservância do artigo 359º do Código de Processo Penal, constitui a nulidade da sentença. III – A legitimidade para apresentar queixa por ofensa à Guarda Nacional Republicana, cabe apenas ao seu representante, o Comandante Geral.

07-11-1990

Relação de Lisboa

CJ, Tomo V, págs. 151 e 152

- Nulidade da sentença

I – É nula a sentença criminal em que se não faça a indicação das provas em que se baseou a convicção do julgador. II – A nulidade acima referida não é de conhecimento oficioso, mas pode ser arguida na motivação do recurso.

14-11-1990 S.T.J. B.M.J. Processo nº 40966

- Nulidades em Processo Penal - Poderes de cognição do S.T.J.

I – Ao Supremo Tribunal de Justiça, como tribunal de revista, está vedado entrar na apreciação concreta de qualquer dos vícios constantes do artigo 712º, n.º 2, do Código de Processo Civil, mas compete-lhe verificar se a relação, ao usar do correspondente poder legal de anulação, agiu dentro dos limites traçados por lei, porquanto se não os observou, incorreu em violação de lei,

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o que constitui já matéria de direito. II – No exercício desta competência o Supremo Tribunal de Justiça pode tão somente apreciar, em cada caso, se a relação ao determinar, a anulação da decisão do colectivo invocou uma situação de deficiência, obscuridade ou contradição (ou de indispensabilidade) nas respostas aos quesitos, sem, contudo, entrar na apreciação do fundo de tal situação, pois isso implicaria conhecer da matéria e facto.

21-11-1990

Relação de Coimbra

CJ, Tomo V, pág. 85 a 87

- Falta de alegações

Não tendo sido dada palavra ao M.P. e aos advogados do assistente e do arguido, foi cometida irregularidade, que apenas acarreta a invalidade do acto e dos termos subsequentes quando tiver sido arguida pelos interessados no próprio acto.

28-11-1990 S.T.J. B.M.J. Processo nº 41167

- C.P.P. de 1987 - CP de 1982 - Competência dos Juízes não togados do Tribunal de Júri - Impedimento de depoimento de co-arguidos - Indocumentação das exposições introdutórias - Significado da declaração judicial de improvação fáctica - Relevância dos vícios processuais previstos no art. 410.º do C.P.P. – Limites ao conhecimento de vícios processuais pelo S.T.J. - Perda a favor do Estado de instrumento do crime - Medida legal da pena

I – Aos juízes não togados do tribunal de júri não compete intervir na decisão sobre a audição ou não de um dos arguidos, como testemunha, á matéria de acusação deduzida contra o outro. II – O impedimento de depoimento dos arguidos só opera em relação às infracções em que haja a co-arguição. III – A exposição introdutória do Ministério Público, do advogado do assistente, do lesado, do responsável civil e do defensor, relativamente aos factos que se proponham provar não tem de constar da acta. IV – A afirmação judicial de que se não provou determinada factualidade, não implica que se tenha por apurada a que lhe é contrária. V – Os vícios processuais enumerados no artigo 410 do Código de Processo Penal só relevam na medida em que incidam sobre factos que tenham interesse para a decisão da causa. VI – Ao Supremo Tribunal de Justiça é vedado conhecer, se o vicio não resultar do texto da decisão recorrida, da incapacidade de depor de uma testemunha, em razão do seu estado de saúde invocado no tribunal recorrido e por este não atendido.

05-12-1990

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo V, págs.

18 a 20

- Alteração da qualificação feita na acusação

I – Não se verifica violação dos art. 358.º 3 e 359.º do Cod. Penal com a alteração da qualificação jurídica dos factos que tinha sido feita na acusação. II – Actualmente, para a verificação de reincidência é necessária a prova de que a condenação ou condenações anteriores não constituíram suficiente prevenção para que o arguido não voltasse a delinquir. III – Se o tribunal, para além do que consta da acusação, dá por verificados os pressupostos da reincidência, sem ter dado oportunidade ao arguido de se defender, conforme o art. 358.º

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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pratica a nulidade da sentença do art. 379.º, al. h) sujeita ao regime do art. 120.º, n.º 3. IV – Arguida essa nulidade, mesmo na motivação do recurso, a consequência será a anulação do julgamento, para que, de novo, seja dada oportunidade ao acusado para se defender e, depois, ter por verificada ou não a reincidência conforme o que se apurar.

12-12-1990

Relação de Lisboa

CJ, Tomo V, págs. 162 e 163

- Interrogatório Judicial de Arguido Preso

I – O juiz de instrução está obrigado a proceder ao primeiro interrogatório de arguido preso, mesmo que, por razões de saúde deste, ou por outro motivo justificado, tal interrogatório não possa ser feito no prazo legal de 48 horas. II – A não efectivação, por motivo justificado, do interrogatório judicial do arguido preso, dentro do prazo de 48 horas, não tem a natureza de nulidade, mas obriga a que o mesmo venha a ser feito no mais curto prazo possível.

Jurisprudência referente ao ano de 1990 recolhida por

Lídia Cristina Leal das Neves e Pedro Rocha Pereira

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 04-01-91

S.T.J. www.dgsi.pt

processo n.º 042083 Confissão do arguido I – Quer na hipótese de confissão integral e sem reservas, quer no caso de confissão parcial ou

com reservas, o tribunal mantém intacta a sua liberdade de apreciação e, consequentemente, pode admitir ou não a confissão (artigo 344 do Código de Processo Penal). II - Assim, a confissão do arguido, mesmo no caso de ser admitida, não impede, necessariamente, a produção de prova em audiência, mormente no que respeita à prova da defesa, para o efeito da escolha e da medida da reacção criminal a aplicar, em tal sentido devendo interpretar-se o citado artigo 344. III – Não incorre em nulidade nem sequer em irregularidade o despacho do juiz que, em audição do acusado por crime de furto qualificado, face à confissão integral e sem reservas operada pelo arguido, decide em sua livre convicção não ter lugar a produção de prova relativamente à acusação, ordenando a produção relativamente à defesa.

16-01-91 S.T.J. BMJ n.º 403, pág. 276

Falta do número de juízes A acta da audiência de julgamento reveste a natureza de documento oficial que faz prova plena do que ocorreu na referida audiência e de que só isso ocorreu. Não constando da acta, respeitante ao acto público de leitura de acórdão, como tendo estando presentes os restantes juízes que deviam integrar o tribunal colectivo, forçoso é concluir que ao acto apenas compareceu o juiz Presidente. Nessas circunstâncias, a falta do número de juízes que deviam compor o tribunal, não obstante todos terem assinado o acórdão, constitui nulidade insanável – 119 a) – que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase do procedimento, e que torna inválido o acto em que se verificou bem como daqueles que dele dependem – 122º n.º 1. Tal nulidade pode ser declarada pelo próprio tribunal onde se verificou, que deverá ordenar a repetição da leitura do acórdão com o tribunal devidamente constituído, porquanto relativamente a essa actuação não estava esgotado o correspondente poder jurisdicional do Juiz.

16-01-91

S.T.J. BMJ n.º 403, pág. 288

Utilização de abreviaturas no acórdão

Não ocorre a nulidade do art. 374º n.º 3 e) quando do acórdão recorrido consta a abreviatura “d.s.”, seguida de três assinaturas que, apesar de não serem de fácil leitura, ninguém pôs em dúvida que sejam os juízes que intervieram no julgamento e constam da acta.

23-01-91

S.T.J. BMJ n.º 403, pág. 469

Nulidade do inquérito por falta de direcção do M.P. – 119º b)

Foi intenção do legislador assegurar no processo penal, a começar pelo inquérito, a garantias de defesa constitucionalmente reconhecidas, designadamente o art. 32/1 da C.R.P. Para que no inquérito sejam asseguradas aquelas garantias, torna-se mister que do processo constem as ordens, directivas, instruções, delegações de poderes e/ou solicitações dirigidas pelo M.P. aos órgãos de polícia criminal. Assim, a acusação deduzida pelo M.P. em inquérito realizado pela PJ, sem a satisfação de qualquer dos requisitos indicados na conclusão antecedente, envolve a nulidade dos autos, à excepção da participação inicial.

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05-02-91

S.T.J. BMJ n.º 404, pág. 151

Intercepção de conversações É irrelevante a alegação de que a PJ interceptara, sem autorização judicial, as conversações de um depoente com eventuais vendedores de droga, quando não se mostra provado quer o funcionamento do aparelho, quer a gravação de qualquer conversa, inexistindo, assim, qualquer nulidade.

13-02-91

Relação do Porto

C.J., Ano XVI, Tomo I, pág. 268

Inconstitucionalidade do artigo 16º n.º 3 e consequente nulidade insanável de acto em cumprimento deste artigo

A norma do art. 16/3 do C.P.P., enquanto não permite ao acusado opor-se à ali prevista atribuição de competência ao tribunal singular, é inconstitucional. A atribuição de competência num caso concreto ao tribunal singular, em cumprimento daquela norma, constitui nulidade insanável, de conhecimento oficioso em qualquer fase do processo.

20-02-91

Relação de Coimbra

C.J., Ano XVI, Tomo I, pág. 102

Revistas sem autorização judicial prévia, mas após a detenção do arguido

Uma revista efectuada sem autorização judicial prévia, mas após a detenção do arguido não é ilegal. A nulidade prevista no art. 126/3 das provas obtidas mediante intromissão na vida privada, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações sem consentimento do respectivo titular, depende de arguição dos interessados.

27-02-91

Relação do Porto

www.dgsi.pt processo n.º

9050927

Conceitos de poderes especiais; legitimidade do MP

O conceito de "poderes especiais" (cfr. artigo 49, n. 3 do Código de Processo Penal), no âmbito do processo criminal, impõe que o titular do direito confira ao mandatário poderes para, em seu nome, apresentar queixa contra terceiros que, na medida do possível, deverá individualizar. Não obedece a esses requisitos a procuração que se limita a conferir poderes gerais forenses e os especiais para confessar, desistir ou transigir em qualquer processo. II - Se a procuração confere poderes insuficientes ao mandatário para apresentar queixa, deve a autoridade judiciária desencadear o mecanismo previsto no artigo 40, n. 2 do Código de Processo Civil ( "ex vi" do artigo 4 do Código de Processo Penal ) e se o mandante supre a falta e ratifica o processado no prazo consignado, a queixa deve considerar-se válida desde a data da apresentação, mesmo que o vício só tenha sido notado quando já havia caducado o direito de queixa. III – Não se tendo adoptado esse procedimento, é prematuro concluir-se pela ilegitimidade do Ministério Público ou pela extinção do direito de queixa.

29-02-91

Relação de Évora

C.J., ano XVI, Tomo I, pág. 316

Falta de formulação do pedido cível pelo M.P.

Não constitui nulidade a falta de formulação de pedido cível que tenha sido requerida ao M.P. pelo queixoso, não invalidando a acusação deduzida por aquele, tendo apenas reflexos nas relações entre o queixoso e o representante do M.P.

19-03-91

Relação de Lisboa

BMJ, nº 405, pág. 519

Nulidade do inquérito pela falta de direcção pelo M.P.

Não tendo o M.P. tido conhecimento do inquérito senão após a conclusão do mesmo, não se pode dizer que o haja dirigido, pelo que se verifica a nulidade dos actos que, indevidamente, lhe passaram à margem.

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19-03-91

21-03-91

(orientação divergente)

Relação de Lisboa

Relação de Lisboa

BMJ, nº 405, pág. 519

BMJ, nº 405, pág. 519

Delegação pelo PGR dos poderes do M.P. à PJ

(19-03-91) O Procurador-Geral da República não pode transferir para a PJ os poderes e deveres que a lei atribui e impõe ao M.P.

(21-03-91) Não é ilegal o despacho do Procurador-Geral da República de 21 de Dezembro de 1987, que confere à PJ o encargo de investigar quaisquer crimes que lhe sejam denunciados ou de que tenha conhecimento nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, sendo que não se impõe uma delegação específica ou caso a caso. A inobservância do disposto no art. 248º do C.P.P. constitui mera irregularidade, que tem de haver-se por suprida logo após a intervenção directa do M.P.

03-04-91 S.T.J.

www.dgsi.pt

processo n.º 041669 Fundamentação da sentença I - Quando se prescreve, no artigo 374 n. 2 do C.P.P., que da sentença devem constar os

factos provados e não provados, tal normativo respeita aos factos essenciais a caracterização do crime e suas circunstancias juridicamente relevantes, pelo que não se verifica a nulidade processual prevista no artigo 379 alínea a) do mesmo citado código, quando as divergências se reportam a factos meramente instrumentais e explicativos dos factos essenciais.

03-04-91

S.T.J. www.dgsi.pt processo n.º 041794

Notificação da acusação ao arguido

Deduzida a acusação, ela é notificado ao arguido (n. 5 do artigo 283 Código de Processo Penal) podendo optar-se por o fazer pela via postal (alínea b) do n. 1 do artigo 113 Código de Processo Penal); II – O aviso de recepção só pode ser assinado pelo destinatário previa e legalmente identificado (alínea b) n. 1 do artigo 113) a menos que o identificado tenha indicado pessoa para o efeito de receber notificação ( n.º 4 do artigo 113.º); III – Se assim não acontecer, estamos em face de verdadeira inexistência da notificação.

09-04-91

Relação de Lisboa

C.J., Ano XVI, Tomo II, pág. 201

Nulidade pela não concessão atempada de apoio oportunamente requerido

A não suspensão do processado, após a dedução do pedido de apoio judiciário, por quem igualmente pretenda intervir nos autos como assistente, em causa em que não haja arguidos presos, e a demora injustificada na concessão daquele, após a efectivação de sessões da audiência de julgamento, impeditivas da intervenção activa do requerente na qualidade de assistente, como sujeito processual, inibem este de intervir contraditoriamente no processo e, por consequência, implicam a anulação dos actos praticados entre a formulação do pedido e a sua decisão e, designadamente, do próprio julgamento que entretanto tenha sido realizado.

19-04-91

S.T.J. BMJ, nº 406, pág. 361

Declarações para memória futura

A falta de comunicação ao M.P., ao arguido e ao defensor do dia, hora e local da prestação de depoimento para memória futura, nos termos e para os efeitos do art. 271º nº 2 do C.P.P., apenas constitui a irregularidade sujeita ao regime do art. 123º. Não se verifica qualquer irregularidade na forma concreta como foi feita a inquirição de uma testemunha, nos termos do art. 271º, quando o depoimento para memória futura foi tomado pelo juiz de instrução em forma de confirmação das declarações já prestadas na Delegação da Procuradoria Geral da República.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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22-05-91

S.T.J. C.J., Ano XVI, Tomo III, p. 20

Insuficiência da decisão por falta do relatório social

Verifica-se insuficiência para a decisão, da matéria de facto provada, a motivar o reenvio do processo, se não tiver sido junto o relatório social relativo a arguido menor de 21 anos, se tiver sido condenado em pena de prisão e tiver sido objecto do recurso a revogação da suspensão da pena. Nos termos das disposições combinadas dos art. 410/2 a), 426º e 436º do CPP, não se podendo decidir a questão por falta de elementos, que deveriam constar do relatório social, ordena-se o reenvio do processo ao tribunal indicado na ultima das citadas disposições, com vista a ulterior decisão exclusiva sobre a suspensão da execução da pena, obtido que seja o mencionado relatório.

23-05-91 S.T.J. www.dgsi.pt processo n.º

041692

Nulidade da sentença por falta de fundamentação

É nula a sentença que não contiver a enumeração e fundamentação dos factos provados ou não provados, mas tais factos são de momento os que se encontram indicados nos ns. 2 e 3 do artigo 368 do Código de Processo Penal, ou seja os relevantes para as questões de saber: a) se se verificaram os elementos constitutivos do tipo de crime; b) se o arguido praticou o crime ou nele participou; c) se o arguido actuou com culpa; d) se se verificou alguma causa que exclua a ilicitude ou a culpa; e) se se verificaram quaisquer outros pressupostos de que a lei faça depender a punibilidade do agente ou a aplicação a este de uma medida de segurança; f) se se verificaram os pressupostos de que depende o arbitramento da indemnização civil.

05-06-91

S.T.J. BMJ nº 408, pág. 404

Irregularidades da sentença. Nulidade do art. 343º

As irregularidades a considerar em recurso de sentença reduzem-se aos vícios residualmente recolhidos no art. 380º do C.P.P. e em termos muito restritos. A nulidade prevista no art. 343º – violação do dever de informação em audiência separada no julgamento – é uma nulidade de processo e não de um acto processual, pelo que, cometida em julgamento, é sanável, tem de ser arguida antes que este termine. Não pode esta nulidade arguir-se em recurso, não se integrando no âmbito dos artigos 379º e 380º.

05-06-91

S.T.J. BMJ nº 408, pág. 162

Ilegibilidade da acusação A ilegibilidade da acusação, invocada como fundamento de nulidade da respectiva notificação, é questão meramente de facto e, nessa medida, fora dos poderes de apreciação do STJ, quando este só reexamina de direito. Não constitui nulidade insanável por falta de disposição expressa nesse sentido. Deste despacho, não pode o arguido recorrer, pois dos despachos do MP só se pode reclamar hierarquicamente.

05-06-91

S.T.J. C.J., Ano XVI, Tomo III, pág. 26

Arguição da nulidade por falta de notificação da acusação

A falta de notificação da acusação não constitui nulidade insanável e deve ser tempestivamente arguida para o tribunal, autoridade competente para a declarar e não para o MP.

05-06-91

S.T.J. C.J., Ano XVI, Tomo III, pág. 26

Buscas A busca só pode ter lugar nos casos previstos na lei ou com consentimento de quem tiver a livre disponibilidade em relação ao lugar onde é efectuada, que pode não ser a pessoa visada com a diligência.

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05-06-91

S.T.J. C.J., Ano XVI, Tomo III, pág. 29

Depoimentos sobre autos de leitura não permitida; depoimentos indirectos

As irregularidades de ter havido autoridades da polícia que depuseram sobre o conteúdo de autos de leitura não permitida e de terem sido prestados depoimentos por ouvir dizer, não podem ser conhecidas pelo tribunal superior se não tiverem sido denunciadas na acta. A indicação das provas exigida para a sentença destina-se a assegurar a inexistência de violação do princípio da inadmissibilidade das proibições de prova.

05-06-91

S.T.J. BMJ nº 408, pág. 404

Valor da proibição de prova A nulidade resultante da violação da proibição de prova é insanável.

05-06-91

S.T.J. C.J., Ano XVI, Tomo III, pág. 29

Falta de exposições introdutórias e de certas informações aos arguidos

II- As nulidades da sentença podem ser atacadas não só pela via do art. 120º nº3 do CPP, mas também pela via e no prazo de recurso. III – As irregularidades da falta de exposição introdutória, falta de conhecimento aos arguidos ouvidos em separado do que se passou nas suas ausências e de ter sido produzido como depoimento o que foi prestado por arguido arrependido, têm que ser arguidas na audiência, antes do julgamento estar terminado.

19-06-91

Relação do Porto

C.J., Ano XVI, Tomo III, p. 277

Não abertura de inquérito Escutas

A autoridade policial que suspeitar da prática de um crime, pode proceder a averiguações sumárias, antes de o participar ao M.P. Num tal caso, se houver necessidade de proceder a escutas telefónicas, deve aquela autoridade dirigir-se ao M.P., a fim de ser apresentado o respectivo pedido ao juiz. Sendo-lhe apresentado o pedido e verificando-se os pressupostos legais, o juiz não deve denegar a autorização, com fundamento em que o M.P. – contrariamente ao que devia ter feito – não abrira o inquérito. É que, iniciando-se o processo criminal com a denúncia ou queixa do crime, a não abertura de inquérito constitui, no caso, mera irregularidade, susceptível apenas de importar responsabilidade disciplinar para o M.P.

26-06-91

S.T.J. C.J., Ano XVI, Tomo III, p. 35

Leitura de declarações do arguido. Inquirição de testemunhas não arroladas

Apenas é permitida a leitura de declarações anteriormente feitas pelo arguido quando ele também prestar declarações em audiência. Por isso, no caso de um arguido se recusar a prestar declarações em audiência, não é possível a leitura das que anteriormente fez no processo. Não constitui nulidade por omissão de diligência reputada essencial para a descoberta da verdade, o indeferimento de audição de testemunhas não arroladas e cujo depoimento se manifesta essencial no decurso da audiência, face à recusa de prestação de declarações por parte do arguido e outros declarantes.

27-06-91

S.T.J. www.dgsi.pt processo n.º 040429

Falta das testemunhas. Falta de leitura dos quesitos.

A falta de testemunhas só determina o adiamento da audiência quando o tribunal o julgar indispensável a realização da justiça. A inspecção ao local não é obrigatória. A falta de leitura dos quesitos antes de o tribunal colectivo recolher para deliberar constitui nulidade secundária, ou irregularidade, que tem de ser arguida no próprio acto pelo interessado, se estiver presente, ou no prazo de 5 dias a partir do seu conhecimento presumido, se não estiver. (no sentido desta última conclusão, o acórdão STJ de 27-11-91, processo 040438, disponível em www.dgsi.pt)

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03-07-91

S.T.J. BMJ n.º 408, pág. 618

Nulidade por inobservância dos artigos 358º e 359º

Condenado o arguido por factos diversos da acusação sem que se tivesse cumprido o disposto nos artigos 358º ou 359º do C.P.P., verifica-se a nulidade da sentença do art. 379 b). A solução não é o reenvio mas a anulação da sentença e, nessa parte, do julgamento, que deverá ser repetido, se possível, pelo mesmo tribunal.

12-12-91

S.T.J. www.dgsi.pt processo n.º 042188

Poderes de cognição do Tribunal no caso de nulidade da sentença

O artigo 379, alínea b), do Código de Processo Penal, que se refere a nulidade de sentença, apenas delimita os poderes de cognição do Tribunal aos factos respeitantes aos elementos constitutivos de crime imputado ao arguido, cuja narração deve constar da acusação ou da pronúncia, se a houver, - artigo 283, n. 3, 1, n. 1 - a), 358 e 359 do Código de Processo Penal .

Jurisprudência referente ao ano de 1991 recolhida por

Verónica Martins Mendes

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 29-01-1992 S.T.J. CJ, Acórdãos do

S.T.J., Tomo I, págs. 20 e seguintes

* Depoimento de agentes de polícia * Conhecimento de provas no STJ

As declarações, escritas ou não, prestadas por uma pessoa, informalmente, antes da sua constituição formal como arguida num processo que contra ela já esteja a correr, obrigam à sua imediata constituição como arguida, sob pena de nulidade da utilização da prova resultante de tais declarações e da impossibilidade de tal prova ser utilizada contra ela.

13-02-1992 S.T.J. BMJ n.º 414, pág. 389

Nulidade da sentença I – Não está ferido de vício o acórdão que contenha apenas como indicação das provas que serviram para formar a convicção do Tribunal as “declarações do arguido e depoimentos das testemunhas, nomeadamente, do queixoso”, já porque somente estas foram produzidas e examinadas em audiência, já porque acrescia a proibição de leitura de outras peças do processo, de acordo com o artigo 351.º, n.º 1, alínea b) do Código do Processo Penal. II – O vício de “erro notório na apreciação da prova” referido no artigo 410.º, n.º 2, alínea c), deste Código, deve resultar do texto da decisão, por si soo, conjugada com as regras de experiência comum. III – É nulo o acórdão – e não a audiência de julgamento – face ao estatuído no n.º 2 dos artigos 374.º e 379.º, alínea a) do mesmo Código, que não contenha um exame crítico sobre as provas que concorreram para a formação da convicção do Tribunal colectivo.

27-02-1992 S.T.J. BMJ n.º 414, pág. 265

Lapso da sentença I – Constitui um ostensivo lapso de sentença, corrigível nos termos do artigo 380.º, n.º 1, alínea b) do Código do Processo Civil, quando na fundamentação da decisão, se diz, no seu trecho final, acerca das penas parcelares. – “Tudo visto, temos por adequadas as penas de 15 meses de prisão pelo crime de roubo e de seis meses de prisão pelo crime de furto” e na parte dispositiva se refere: “condenar o arguido como autor do crime de furto previsto e punido pelo artigo 299.º do Código do Código Penal e de um crime de roubo previsto e punido pelo artigo 306.º do Código Penal nas penas, respectivamente, de quinze meses de prisão e de seis meses de prisão.” II – É lícito ao Supremo Tribunal de Justiça – como Tribunal competente para conhecer do recurso interposto do acórdão do Tribunal colectivo – corrigir a sentença proferida em 1.ª instância, ao abrigo do disposto no artigo 380.º, n.º 2, do Código do Processo Penal, quando seja manifesto, em face da fundamentação, que estava no pensamento do Tribunal a quo a aplicação, quanto a certo crime, de pena diferente daquela que, relativamente

05-03-1992 S.T.J. BMJ n.º 415, pág. 434

Nulidade da sentença I – Face à prova produzida no presente processo impõe-se reconhecer, por um lado, que não está excluída a existência, in casu, de uma concreta associação de delinquentes e, por outro lado, que ao nível de aspectos fulcrais se não encontram desfibrados, com a devida nitidez, os elementos respectivos. II – Verifica-se assim, o vício da “insuficiência para a decisão da matéria de facto provada”, a que alude o artigo 410.º, n.º 2, alínea a) do Código do Processo Penal, que dá lugar ao reenvio do processo nos termos dos artigos 426.º e 436.º do mesmo Código.

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III – Esse reenvio projecta-se, em moldes imediatos, no domínio das intervenções no tráfico de estupefacientes (artigo 23.º e 27.º do Decreto-Lei n.º 430/83), pois o aspecto o tráfico depende da matéria da associação de delinquentes a um nível que quase se confunde com a indissociabilidade, de tal modo que a reapreciação desta última matéria torna inevitável a reapreciação também do tráfico. IV – O erro notório na apreciação da prova, a que se refere o artigo 410.º, n.º 2, alínea c), do Código do Processo Penal, há-de ser de tal modo evidente que não passa despercebido ao comum dos observadores, ou seja, quando o homem médio facilmente dele se dá conta.

12-03-1992 S.T.J. BMJ n.º 415, pág. 464

Leitura de declarações do arguido na audiência de julgamento

I – Perguntado pelo juiz ao arguido se autorizava a leitura das suas anteriores declarações e respondendo este afirmativamente, mostra-se respeitado o disposto na alínea a) do n.º 1, do artigo 357.º do Código do Processo Penal. II – Perguntado pelo juiz ao arguido se autorizava a leitura das suas anteriores declarações e respondendo este afirmativamente, mostra-se respeitado o disposto na alínea a) do n.º 1, do artigo 357.º do Código do Processo Penal. III – A nulidade prevista no 8, do artigo 356.º do Código do Processo Penal – não consignação em acta da permissão e justificação legal da leitura – é uma nulidade relativa sujeita à disciplina do artigo 120.º, n.º 2, e n.º 3, alínea a) do Código do Processo Penal. IV – O acto em causa é a leitura das declarações anteriores do arguido, pelo que, terminada esta, terminou o acto, não podendo já arguir-se a sua nulidade.

26-03-1992 S.T.J. BMJ n.º 415, pág. 499

Nulidade da sentença I – A referência, constante do n.º 2, do artigo 374.º do Código do Processo Penal, a uma “enumeração dos factos provados e não provados”, implica a necessidade da descrição especificada, facto por facto, dos alegados pela acusação e pela defesa, e dos resultantes da discussão da causa. II – A afirmação genérica de que não se provaram “quaisquer outros factos” equivale, em princípio, a considerar que não se provaram os factos incompatíveis com os havidos por provados. III – Assim, se se dá como provado que a arguida tinha um pequeno embrulho na algibeira, contendo produto estupefaciente, tudo indica, em princípio, que não se teria provado haver ela retirado esse embrulho da algibeira para o dissimular sob uma das axilas. IV – A não enumeração, nos termos expostos, depósitos factos provados e não provados constitui fundamento de nulidade da sentença.

01-04-1992 S.T.J. BMJ n.º 416, pág. 511

Nulidade da sentença I – Torna-se irrelevante que uma conclusão de recurso não contenha a indicação das normas jurídicas violadas quando a mesma não se reporta a matéria de direito, mas a matéria de facto. II – A formulação de uma conclusão no articulado da motivação de recurso e não na parte terminal do mesmo, onde o legislador pressupõe que as conclusões terão lugar, não pode originar a rejeição do recurso, já que, no dizer da lei, o que terá tal efeito é a não formulação de conclusões (de direito) e não a mera irregularidade formal da sua colocação num momento físico e temporal diferente do pressuposto. III – Ocorre o vício de erro na apreciação da prova, tal como deve ser entendido para efeitos do disposto no artigo 410.º, n.º 2, alínea c), do Código do Processo Penal, quando, face à prova produzida

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e constante da decisão, interpretada esta por si só ou conjugadamente com as regras da experiência, se deva concluir que o Tribunal errou na sua apreciação por forma notória, evidente, que não passa despercebida ao comum dos cidadãos. IV – Um duplo pontapé no ventre de uma mulher grávida, que com ele sofreu dores físicas, constitui um processo idóneo à interrupção da gravidez. V – Estamos perante um evidente erro na apreciação da prova quando o acórdão recorrido aceitou, não obstante a ofendida estar grávida e de o seu estado ser visível, o arguido, ao dar-lhe os pontapés no ventre, que causaram dores físicas, não tenha criado perigo de aborto e, por isso, tenha sido havido como autor do crime de ofensas simples e não do dolo de perigo, pelo qual era acusado. VI – O colectivo, ao não se pronunciar sobre os dados de facto alegados pela acusação como substracto de tal dolo, deixou de pronunciar-se sobre uma questão relevante que devia ter ponderado, cometendo, por essa forma, a nulidade da alínea c) do artigo 668 do Código de Processo Civil, aplicável por força do artigo 4 do Código de Processo Penal. VII – Tal omissão do Colectivo conduz ao reenvio do processo nos termos do artigo 436 do Código de Processo Penal, para que o tribunal tome posição quanto aos factos que integram o dolo de perigo e que constam da acusação. VIII – Ao não dar como provado que o arguido, que disparou uma arma de fogo a distância não superior a três metros contra o ofendido, atingindo-o na cabeça, lhe quisesse provocar a morte, o acórdão recorrido não enferma de erro notório na apreciação da prova.

08-04-1992 S.T.J. BMJ n.º 416, pág. 521

Nulidade absoluta A intervenção do Tribunal do Júri segundo o Decreto-Lei n.º 387-A/87, de 29 de Dezembro, em processo instaurado antes da entrada em vigor do Código do Processo Penal de 1987, cai no âmbito da nulidade absoluta e, por isso, insanável, consignada no artigo 98.º, n.º 7, do Código do Processo Penal de 1929, que acarreta, imediatamente, a anulação do julgamento e de todos os actos posteriores.

23-04-1992 S.T.J. BMJ n.º 416, pág. 536

Nulidades I – Agem em conformidade com a lei os agentes da Polícia de Segurança Pública que solicitaram, através da empregada de recepção de uma pensão, que chamasse um hóspede que se encontrava num dos quartos, tendo este franqueado voluntariamente a abertura da porta do compartimento. II – Apercebendo-se os agentes da autoridade que o arguido detinha substancias susceptíveis de serem classificadas como estupefacientes e apetrechos próprios para pesagem, diligenciaram pela sua imediata imobilização e captura, o que se impunha pela situação de flagrante delito, seguida de busca e preensão de objectos. III – Tal busca e apreensão estão legitimadas pelo disposto no artigo 174.º, n.º 4, alínea a) do Código do Processo Penal, norma que faz prevalecer o interesse público de recolha imediata das provas do crime surpreendido sobre os da reserva da intimidade da vida privada ou do domicílio, sendo que a entrada só se verificou por ter sido facultado o domicílio. IV – Ainda que se devesse entender que cumpria observar o disposto no artigo 177.º do Código do Processo Penal – mandado para busca domiciliária – a sua inobservância configura-se como nulidade relativa, cuja arguição, sujeita a prazo, não se efectuou atempadamente, cf. artigos 119.º e 120.º, n.º 3, alínea c) do mesmo diploma.

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V – Constando da acusação que houvera busca devidamente autorizada pelo visado e constatando-se em julgamento que se verificava a descrita ocorrência de flagrante delito, essa alteração, posto que não substancial, assume relevo para a decisão da causa, tendo a defesa interesse em contradizer o novo estado de coisas, pelo que é declarada nula a decisão, nessa parte, por violação do disposto no artigo 358.º, n.º 1, e 379.º, alínea b), ambos do Código do Processo Penal.

23-04-1992

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo II,

págs. 22 e seguintes

* Proibições de prova * Buscas * Alteração dos factos da Acusação

I – Quando agentes da P.S.P. entram no quarto que o arguido tinha numa Pensão e aí apreendem heroína que o arguido tinha, por a verem, bem como uma balança na mesinha de cabeceira, depois de o arguido ter aberto a porta, ao chamamento e batimento da empregada da Pensão, a quem os referidos agentes tinham pedido para o fazer, não se verifica violação de qualquer proibição de prova ou do princípio da legalidade dos métodos de recolha de provas, violação de domicílio ou nulidade de busca domiciliária. II – Constando da acusação que a busca ao quarto tinha sido devidamente autorizada pelo arguido, verifica-se alteração dos factos nela descritos, quando se dá como provado que ela ocorreu nas circunstâncias acabadas de referir. III – Se não foi comunicada ao arguido essa alteração para preparar a sua defesa em relação a esses novos factos, verifica-se a nulidade do art. 379 b) do C.P.P.

06-05-1992 (Assento)

S.T.J. BMJ n.º 417, pág. 111

Nulidade Sanável Não é insanável a nulidade da alínea a) do artigo 379.º do Código do Processo Penal de 1987, consistente na falta de indicação, na sentença penal, das provas que serviram para formar a convicção do Tribunal, ordenado pelo artigo 374.º, n.º 2, parte final, do mesmo Código, por isso não lhe sendo aplicável a disciplina do corpo do artigo 119.º daquele diploma legal.

06-05-1992 S.T.J. BMJ n.º 417, pág. 582

Erro de julgamento I – A existência de um erro de julgamento é susceptível de conduzir a uma reapreciação pelo Tribunal superior ou, em determinadas situações, a uma anulação da decisão (que não do julgamento), por forma a poder ser reposta a correcta aplicação do direito. Os vícios da falta de fundamentação da decisão e da insuficiência da matéria de facto implicam a nulidade do julgamento e o consequente reenvio. II – Os vícios referidos no artigo 410.º, do Código do Processo Penal, e em outras disposições legais igualmente indicadas, não correspondem a nulidades substanciais, não sendo, por isso, de conhecimento oficioso pelo Tribunal de recurso.

06-05-1992

S.T.J. C J, Acórdãos do S.T.J., Tomo IV,

págs. 6 e seguintes

* Conhecimento de vícios do Julgamento

O conhecimento dos vícios referidos no art. 410 nº 2 do C.P.P. – vícios do Julgamento – não é de natureza oficiosa, pelo que elas só podem ser apuradas se tiverem sido expressamente invocadas por um dos recorrentes.

13-05-1992 S.T.J. BMJ n.º 417, pág. 592

Irregularidade I – Não sendo permitida, no caso, a leitura das declarações do arguido, o agente policial não está impedido de depor sobre os factos de que tenha conhecimento directo obtido por meios diferentes das declarações que recebeu daquele no decurso do processo. II – Não se compreende à luz do princípio da investigação ou da verdade material que não possa o

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juiz, para a boa decisão da causa, admitir a depor um órgão de polícia criminal sobre a actividade de investigação criminal de que foi incumbido, só porque no processo recebeu declarações cuja leitura não foi permitida. III – Tanto que a inquirição não verse sobre o conteúdo dessas declarações. IV – Se a lei concede ao arguido o direito de se recusar a prestar declarações não pode admitir como meio de prova um depoimento por via indirecta acerca do conteúdo daquelas. V – A ocorrer tal situação verifica-se uma mera irregularidade que invalida o depoimento nessa parte, tudo se passando como se não tivesse sido prestado – artigos 123 e 129.º do Código do Processo Penal – invalidade que não implica a revogação da decisão recorrida. VI – Não constando da motivação do acórdão recorrido que o depoimento do agente policial foi decisivo na convicção do Tribunal e funcionando o princípio da livre apreciação da prova, não compete ao Supremo Tribunal exercer censura sobre a conclusão de facto desde que não se verifiquem os vícios a que alude o artigo 410.º, n.º 2, do Código do Processo Penal.

13-05-1992

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo III,

págs. 15 e seguintes

* Leitura de declarações do Arguido * Crime de associação criminosa * Introdução em local vedado ao público

I – Verifica-se a contradição exigida pelo art. 357 nº 1 b) do C.P.P. que permite a leitura em Julgamento de anteriores declarações do arguido, quando ele, nessas declarações faz um relato dos factos, a confirmá-los e, em audiência, nega tê-los praticado. II – A nulidade das declarações feitas pelo arguido no inquérito, que confirmou perante o JIC, com fundamento em terem sido obtidas mediante sevícias policiais, somente pode ser arguida no primeiro interrogatório pelo JIC ou, mais tarde, com recurso a uma situação coactiva que, porventura, ainda se mantivesse durante a efectivação desse interrogatório.

20-05-1992 S.T.J. BMJ n.º 417, pág. 600

Nulidades A possibilidade de conhecer das nulidades previstas no Código do Processo Penal apenas existe antes do trânsito em julgado da decisão final, pelo que a nulidade de um acto é fundamento de reclamação e, se esta não for atendida, de recurso ordinário, mas não de revisão.

20-05-1992 BMJ n.º 417, pág. 606

Declarações de órgão de polícia criminal

I – É preciso interpretar a norma do artigo 356.º, n.º 7, do Código do Processo Penal dentro dos seus próprios limites, o primeiro dos quais é o de as declarações do arguido serem as escritas e não quaisquer outras, com conteúdo diverso, que ela haja prestado durante a investigação. II – Depois, há que aceitar que os testemunhos proibidos serão aqueles – e só aqueles – de que o agente policial tomou conhecimento através das declarações que recebeu do arguido, e não os factos de que já tinha conhecimento anterior, durante a investigação. III – Só não poderão ser objecto de depoimento, por parte dos órgãos de polícia criminal que tiverem recebido declarações do arguido, os factos que conheceram apenas através dessas declarações. IV – Resultando da motivação da decisão recorrida que o Tribunal apenas atendeu ao depoimento de um agente da Polícia Judiciária quanto aos factos que ultrapassaram as declarações do arguido ou de que aquele tomou conhecimento no decurso das averiguações a que procedeu, não ocorre violação da referida norma. V – De resto, a ter lugar, essa violação não levaria a qualquer anulação, uma vez que para ela não foi estabelecida como sanção qualquer nulidade.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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25-05-1992 S.T.J. BMJ n.º 417, pág. 613

Nulidade I – A falta de fundamentação da decisão constitui nulidade, nos termos do disposto no artigo 668.º, n.º 1, alínea b) do Código do Processo Civil, aplicável in casu por força do disposto no parágrafo único do artigo 1.º do Código do Processo Penal de 1929. II – Para efeitos do disposto no artigo 4.º do Código Penal – aferição da pena mais favorável – há que cotejar a medida das penas segundo os diplomas em conflito – Código Penal de 1886 e 1982. III – Não havendo esta indicação, ocorre a nulidade do artigo 668.º, n.º 1, alínea d), do Código do Processo Civil, aplicável nos termos referidos. IV – Ao aplicar o perdão concedido por Lei n.º 23/91, não deve o Tribunal limitar-se a declarar “perdoada a pena de prisão na medida prevista no artigo 14.º, n.º 1, alínea b) e a pena de multa, esta dentro dos limites previstos na alínea c), do n.º 1, do citado artigo 14.º”. V – Ao não tornar certa da medida quer do perdão da prisão quer do perdão da multa, pratica-se a nulidade do artigo 668.º, n.º 1, alínea d), do Código do Processo Civil.

28-05-1992 S.T.J. BMJ n.º 417, pág. 619

Sentença I – Os vícios do artigo 410.º do Código do Processo Penal hão-de resultar do texto da decisão recorrida, na sua globalidade, mas sem recurso a quaisquer elementos que lhe sejam externos. II – Os motivos de facto que fundamentam a decisão não são nem os factos provados nem os meios de prova, mas os elementos que, em razão das regras da experiência ou de critérios lógicos, constituem o substrato racional que conduziu a que a convicção do Tribunal se formasse em determinado sentido ou valorasse de determinada forma os diversos meios de prova apresentados em audiência.

03-06-1992

Relação do Porto

CJ, Tomo III, pág. 317 e seguintes

* Diligências de prova; poderes do Juíz * Caução económica

I – Embora o juiz não seja obrigado a praticar todas as diligências probatórias requeridas, o poder de as deferir ou indeferir não é arbitrário. II – Assim, não pode indeferir-se a inquirição de mais uma testemunha, só porque a sua indicação foi tardia. III – Esse indeferimento indevido constitui nulidade que, no entanto, ficou sanada se não foi arguida até ao encerramento da instrução. IV – O juiz só pode indeferir o pedido de fixação de caução económica depois de produzida a prova oferecida para o efeito.

09-06-1992

Relação de Coimbra

CJ, Tomo III, págs. 148 e seguintes

* Quesitos Em processo penal só os consultores técnicos designados pelos sujeitos processuais para assistir à realização da perícia, e os próprios peritos – e não também os sujeitos processuais – podem requerer a formulação de quesitos.

24-06-1992 S.T.J. BMJ n.º 418, pág. 683

Inexistência Jurídica I – É inexistente a sentença que condena uma pessoa por um crime de que ela não era acusada e em relação ao qual nenhum facto permite afirmar a sua comparticipação. II – A decisão inexistente não tem de ser anulada, por não ter a virtualidade de produzir efeitos jurídicos nem a de originar caso julgado. III – Há que extrair dessa inexistência os efeitos devidos, os quais se resumes a ter como inexistente a condenação proferida.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

20

30-06-1992

Relação de Lisboa

CJ, Tomo III, pág. 254

* Indeferimento do pedido de documentação da prova

I – O recurso do despacho que indefere o pedido de documentação em acta da prova tem subida diferida para o momento da subida do recurso da decisão final. II – Recurso cuja retenção o torne absolutamente inútil é tão somente aquele que, seja qual for a solução que o Tribunal Superior lhe der, ela será completamente inútil no momento de uma apreciação diferida, mas não aquele cujo provimento possa conduzir à eventual anulação do processado posterior à sua interposição.

08-07-1992 S.T.J. BMJ n.º 419, pág. 401

Fundamentação da sentença

A fundamentação feita, nos termos de que, para a determinação da factualidade apurada, foi determinante a confissão integral e sem reservas de todos os factos pelo arguido, bem como o depoimento de determinada testemunhas, que depôs com rigor, certeza e isenção, por forma a terem-se por dignos de fé os respectivos documentos, dá cabal cumprimento ao preceituado no n.º 2, do artigo 374.º do Código do Processo Penal.

15-07-1992 S.T.J. BMJ n.º 419, pág. 598

Enumeração dos factos provados

É nulo o acórdão em que se não enumeram os factos não provados – artigo 379.º, alínea a) do Código do Processo Penal.

15-07-1992 S.T.J. BMJ n.º 419, pág. 609

Actos decisórios dos juízes

I – A fundamentação dos despachos e outras decisões judiciais não pode ter lugar por mera adesão aos fundamentos invocados por qualquer das partes. II – A ausência de fundamentação das sentenças e acórdãos conduz à nulidade. III – A omissão de fundamentação dos despachos não os afecta de nulidade (artigo 118.º e 97.º do Código do Processo Penal). IV – Acarreta simples irregularidade o facto de o despacho judicial, que ordenou uma busca, conter como fundamentação uma implícita adesão à promoção do Ministério Público, em que tal busca é referida e devidamente fundamentada. V – Tal irregularidade tem-se por sanada, porquanto não foi arguida atempadamente (artigo 123.º do Código do Processo Penal) VI – Apenas existe nulidade das buscas nas hipóteses previstas no artigo 174.º, n.º 3 e n.º 4, 176.º e 177.º, do Código do Processo Penal: o de a busca ser em casa habitada ou em sua dependência fechada e nos caso de ter lugar em escritório de advogado ou médico, não sendo presidida por magistrado. VII – As formalidades previstas no artigo 176.º do Código do Processo Penal constitui apenas irregularidade.

23-09-1992 S.T.J. BMJ n.º 419, pág. 454

Contradição da matéria de facto

Qualquer contradição que ocorra na matéria de facto, ainda que insanável, só impõe o reenvio do processo para novo julgamento quando o vício for de tal ordem que, enquanto subsistir, não seja possível decidir a causa – cf. artigo 426.º, com referência ao artigo 410.º, n.º 2, do C.P.P.

02-12-1992

Relação de Coimbra

CJ, Tomo V, págs. 90 e seguintes

* Buscas

I – Sendo a busca efectuada por órgão da polícia criminal, é dispensada a autorização ou ordem da autoridade judiciária competente se o visado consentir, desde que o consentimento fique documentado. II – Esse consentimento tanto pode ser dado antes como depois da diligência.

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12-12-1992 S.T.J. BMJ n.º 412, pág. 368

Nulidade da Sentença I – O artigo 379.º, alínea b) do Código do Processo Penal apenas delimita os poderes de cognição do Tribunal aos factos respeitantes aos elementos constitutivos do crime imputado ao arguido. II – O haver-se julgado provado, na audiência de julgamento, ter o arguido a correr contra si outros processos-crime e haver-se dirigido a uma testemunha para que depusesse em contrário à verdade, não ofende aquele normativo, pois se trata de factos com evidente reflexo na arguição da culpa, a terem de ser tomados em consideração para a determinação da medida da pena e sobre os quais não deixou de ser dada possibilidade de defesa. III – Não obstante factos constantes da acusação, julgados provados, não constituírem uma dissecação exaustiva da actividade criminosa do arguido, não tendo aquela sido objecto de arguição de nulidade, não pode falar-se em ofensa ou violação do artigo 283, n.º 3, alínea b) do C.P.P.

18-12-1992 S.T.J. BMJ n.º 412, pág. 383

Nulidade da Sentença I – É nulo nos termos do artigo 379.º, alínea a) do C.P.P., o acórdão do Tribunal colectivo que não observa correctamente o disposto no n.º 2, do artigo 374.º do mesmo diploma na parte relativa à indicação das provas que serviram para fundamentar a convicção do Tribunal, ou seja a expressão título quanto possível completa, ainda que concisa, dos motivos de facto que fundamentam a decisão. II – Os motivos de facto que fundamentam a decisão não são nem os factos provados (thema decidendum) nem os meios de prova (thema probandum), mas os elementos que em razão das regras de experiência ou de critérios lógicos constituam o substracto racional que conduziu a que a convicção do Tribunal se formasse em determinado sentido ou valorasse de determinada forma os diversos meios de prova apresentados em audiência. III – A fundamentação ou motivação deve ser tal que, intraprocessualmente, permita aos sujeitos processuais e ao Tribunal superar o exame do processo lógico ou racional, que lhes subjaz, pela via de recurso, conforme impõe inequivocamente o artigo 410.º, n.º 2, do Código do Processo Penal; e extraprocessualmente, a fundamentação deve assegurar, pelo conteúdo, um respeito efectivo pelo princípio da legalidade na sentença e a própria independência e imparcialidade dos juízes, uma vez que os destinatários da decisão não são apenas os sujeitos processuais mas a própria sociedade. IV – É ainda nulo o acórdão que não enumerar os factos não provados, limitando-se a deles absolver o arguido, como exige o artigo 374.º, n.º 2, do Código do Processo Penal.

Jurisprudência referente ao ano de 1992 recolhida por

António Prates e Alexandre Macedo

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 09-12-1992 Relação do

Porto BMJ n.º 422, pág.

432 Interrogatório de Arguido

I – Configura nulidade insanável o interrogatório, durante o inquérito, de um arguido, com menos de 21 anos de idade sem a assistência de um defensor. II – A invalidade deste interrogatório, que não permite tomar conhecimento das declarações do arguido, implica a invalidade da acusação entretanto deduzida, independentemente de haver ou não no processo outros elementos de prova que, só por si, apontem indiciariamente para a existência de crime e para a responsabilidade de arguido.

11-02-1993 S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo I, págs.

191 a 193

- SENTENÇA Fundamentação

I – Na fundamentação do Acórdão deve constar os factos provados e não provados que tiverem sido alegados na contestação. II – A nulidade resultante dessa omissão depende de arguição, que pode ser feita na motivação do recurso interposto e, portanto, dentro do prazo da motivação.

24-02-1993 Relação de Lisboa

CJ, Tomo I, págs. 160 a 162

- PROCESSO PENAL Deficiência de inquérito Requerimento de instrução

I – As deficiências de investigação no inquérito, apontadas pelo ofendido assistente em processo por crime particular, apenas podem obter satisfação através de reclamação hierárquica. II – A falta de notificação do assistente do resultado do inquérito é omissão de diligência essencial para a descoberta da verdade, produzindo a nulidade do art. 120º nº 2 d) do C.P.P. III – Apesar de o arguido ser ao mesmo tempo assistente, isso não o impede de requerer a abertura de instrução.

11-03-1993 S.T.J. BMJ n.º 425, pág. 423

Busca I – Não há abusiva intromissão no domicílio quando o pai do arguido, conforme consta de documento e de declarações que fazem parte dos autos, expressamente consentiu que o órgão de polícia criminal (GNR) efectuasse uma busca na casa de que aquele era dono, em acto seguido à detenção do arguido em flagrante delito por crime a que corresponde pena de prisão – artigo 174º, n.º 4, alíneas b) e c) do Código de Processo Penal. II – A hora a que foi efectuada a busca (22:15horas) não pode ser considerada circunstância impeditiva da diligência da busca, face àquele expresso consentimento de quem tinha legitimidade para o dar. III – Mesmo que se entendesse ter havido violação do direito de inviolabilidade do domicilio, com consequente nulidade das provas obtidas – artigo 32º, n.º 6 da Constituição da República Portuguesa – ela deveria ter sido arguida até ao momento referido no artigo 120º, n.º 2, alínea c), do Código de Processo Penal e, não o tendo sido, teria de considerar-se sanada.

16-03-1993

Relação de Lisboa

CJ, Tomo II, págs. 148 e 149

Filmagem de condutas ilícitas Meios de prova permitidos e proibidos

Não comete o crime de intromissão na vida privada, do artigo 179º do Código Penal, quem filma, da rua, ou de uma casa para ela virada, uma discussão, ou uma desordem, ou uma troca de insultos, ocorridos no interior de uma oficina cuja porta se encontre aberta por forma a que tais situações sejam facilmente visíveis a partir das referidas rua ou casa.

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Por isso, é inteiramente admissível a produção de prova desses factos através da exibição da filmagem assim obtida.

29-04-1993

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo II, págs. 215 e 216

- BUSCA DOMICILIÁRIA Nulidade

Não acarreta nulidade da busca o facto de não ter sido entregue ao arguido cópia do despacho que a ordenou.

05-05-1993

S.T.J. C J, Acórdãos do S.T.J., Tomo II, págs. 216 e 217

- AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO Defensor do arguido Falta

I – Quando no substabelecimento não é feita qualquer declaração em contrário, a substituição operada não envolve a exclusão do procurador primitivo, pelo que o arguido passa a ser representado por dois advogados, o que é permitido no actual processo penal. II – Tendo um deles sido notificado e faltando ambos à audiência, não se verifica qualquer nulidade se a ela proceder com assistência de defensor nomeado pelo tribunal.

05-05-1993

Relação de Coimbra

C J, Tomo III, págs. 66 e 67

- PROCESSO PENAL Denúncia por crime particular

A falta de declaração na denúncia por crime particular de que o denunciante se deseja constituir assistente nos autos é uma mera irregularidade que se tem por sanada se não for oportunamente arguida.

05-05-1993

Relação do Porto

CJ, Tomo III, págs. 243 a 245

- PROCESSO PENAL Estrutura acusatória Abstenção de acusação Requerimento de instrução Inexistência de instrução

I – O processo penal tem estrutura acusatória, sendo o seu objecto fixado pela acusação. II – No caso de abstenção de acusação pelo Ministério Público, o assistente pode requerer a instrução, devendo, no entanto, indicar os factos que, delimitando o objecto da investigação, permitam a elaboração da decisão instrutória. III – Se não fizer essa indicação, o vício daí resultante, afectando o debate instrutório e a respectiva decisão constitui inexistência (e não nulidade).

30-06-1993 Relação do Porto

CJ, Tomo III, págs. 260 e 261

- PROCESSO SUMÁRIO Acusação Falta de promoção do Ministério Público

I – Em processo sumário, verifica-se a nulidade do Art. 119.º, al. b) do Cod. Proc. Penal, falta de promoção do processo pelo M.P. se o Delegado, em face da participação, se limitou a promover a remessa daquela a Juízo «para julgamento imediato», não constando da acta a leitura do auto, nos termos impostos pelo Art. 389.º, n.º 3 do mesmo código. II – Tal artigo da lei processual é indissociável do princípio acusatório consagrado no art. 32.º, n.º 5, da Constituição da República, que tem como implicação fundamental que ao arguido seja dado a conhecer com precisão aquilo de que é acusado, para que possa convenientemente defender-se.

07-07-1993

Relação do Porto

CJ, Tomo IV, págs. 247 e 248

- CITAÇÃO EDITAL Irregularidade

I – O emprego da citação edital sem precedência de qualquer diligência tendente à localização do arguido consubstancia um vício de procedimento, que, por não integrar nulidade, deve ser qualificado como irregularidade. II – Como tal deve ser arguida no próprio acto ou, se a este não tiver assistido o arguido, nos três dias seguintes a contar daquele em que tiver sido notificado para qualquer termo do processo ou intervindo em algum acto nele praticado.

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07-07-1993

Relação do Porto

CJ, Tomo IV, pág. 248

- AUDIÊNCIA DE DISCUSSÃO E JULGAMENTO Nulidade

I – É nulo o julgamento cuja sentença foi proferida decorridos mais de 30 dias após a produção da prova. II – Essa nulidade deve ser arguida pelo interessado no prazo de 5 dias ou na motivação do recurso.

07-07-1993

S.T.J. CJ, Acórdãos do

S.T.J., Tomo III, págs. 195 a 197

- SENTENÇA Meios de Prova

I – É jurisprudência corrente do STJ que a enumeração sucinta dos meios de prova que determinaram a decisão da matéria de facto, é suficiente para afastar a nulidade do art. 379º a) do C.P.P. II – Pronuncia-se o tribunal colectivo sobre elementos de facto, cuja cognição está fora dos poderes do Supremo, quando dá como provado que “o arguido, ao efectuar o disparo, admitiu a possibilidade de, atenta a distância a que deles se encontrava e as característica da arma por si utilizada, provocar a morte de qualquer dos elementos do grupo, conformando-se com essa eventualidade”.

29-09-1993 Relação do Porto

CJ, Tomo IV, págs. 257 a 259

- PROCESSO PENAL Conhecimento de vícios de julgamento Custas do pedido civil

I – O conhecimento dos vícios referidos no art. 410.º, n.º 2, do Cod. Proc. Penal não é de natureza oficiosa, pelo que só podem ser apurados se tiverem sido expressamente invocados pelo recorrente. II – Sendo o arguido absolvido do crime que lhe vem imputado mas condenado no pedido cível as custas devem ser suportadas pelo arguido.

06-10-1993

Relação de Lisboa

CJ, Tomo IV, págs. 163 a 165

- BUSCAS DOMICILIÁRIAS Depois do anoitecer e autorizadas

As buscas domiciliárias, efectuadas por órgãos da polícia criminal, mediante consentimento dos visados, não estão sujeitas ao limite temporal fixado pelo nº 1, do Art. 177º, do Código do Processo Penal, para aquelas outras ordenadas ou autorizadas pelo juiz.

14-10-1993

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo III, págs. 216 a 218

- NULIDADE DO ACÓRDÃO Insuficiência de produção de prova Novo julgamento

I – Para o Supremo Tribunal de Justiça poder tomar posição sobre o tipo criminal p. e p. no art. 133. ou do p. e p no Art. 131.º, em relação com o Art. 72.º, todos Cod. Penal, necessário se torna averiguar se o arguido actuou dominado ou não por qualquer estado de emoção violenta. II – Não tendo sido considerado pelo tribunal «a quo», tanto basta para que tenha de ser havido o acórdão recorrido como viciado por insuficiência da matéria de facto – vício que a alínea a) do n.º 2 do art. 410.º do Cod. Proc. Penal abarca. III – E isso determina o reenvio do processo para a realização de um novo julgamento, a abranger a totalidade do objecto do mesmo, pelo tribunal competente para tal, em conformidade com aquelas referenciadas disposições.

18-10-1993

Tribunal Colectivo do 2º juízo

da Comarca de Oeiras

CJ, Tomo IV, pág. 309 a 311

- BUSCAS Justificação

I – Um automóvel pode ser considerado espaço fechado em que a intromissão policial, nomeadamente para efeitos de buscas, está sujeita ao condicionalismo do art. 134º do C.P. Penal, embora com menores cuidados do que os exigidos para a busca domiciliária. II – O grau de suficiência dos indícios para iniciar uma busca deve ser procurado na tensão dialéctica entre os interesses da perseguição penal e os interesses individuais. III – Se alguém se encontra sozinho dentro do veículo parado em local não habitual, atenta a hora do dia, e depois, de abordado por soldados da GNR revela um grande nervosismo, a opção pela

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realização de uma busca no automóvel é justificada, perante o diminuto grau de violação do direito à reserva da vida privada do condutor. IV – A busca nesse automóvel pode ser imediatamente realizada, com fundamento no art. 251º nº 1 e tem que ser posteriormente validada pelo JIC, ao menos implicitamente, por acto donde resulte, sem equívocos, que a relevou. V – Se este, tendo conhecimento da busca, pela leitura do auto de notícia, no momento em que o arguido lhe foi presente, baseou nele a sua decisão de legalizar a prisão do arguido, tem de concluir-se que demonstrou, inequivocamente, que considerou a busca válida.

20-10-1993

Relação de Coimbra

CJ, Tomo IV, págs. 84 e 85

- PROCESSO DE TRANSGRESSÃO Defensor oficioso

I – Em processo de transgressão por infracção a que corresponde, além de multa, medida de segurança, é obrigatória a presença de defensor, mesmo que o transgressor declare dele prescindir. II – A ausência de defensor no julgamento de tal processo constitui nulidade.

10-11-1993

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo III, págs. 233 a 236

- SENTENÇA Exame de provas documentais Enumeração dos factos não provados

I – O exame das provas documentais não exige, por forma alguma, a necessidade da sua leitura na audiência, já que o exame é feito em sede de deliberação pelo tribunal. II – É nulo o Acórdão do tribunal colectivo que não conte a enumeração concreta, feita da mesma forma, dos factos provados e não provados, com interesse para a decisão, nos termos do art. 379º a) do C.P.P.

11-11-1993 S.T.J. BMJ n.º 431, pág. 221

Perícia I – Se a omissão de um exame especializado integrasse nulidade, esta caberia na previsão do artigo 120º, n.º 2, alínea d) do C.P.P. e só poderia ser arguida até ao encerramento do debate instrutório ou, não havendo lugar a instrução, até cinco dias após a notificação do despacho que tiver encerrado o inquérito. Tendo a nulidade em causa apenas sido arguida depois da leitura de acórdão final, verifica-se a intempestividade da sua invocação.

17-11-1993

Relação de Coimbra

C J, Tomo V, págs. 56 a 59

- MEDIDAS DE COACÇÃO Interrogatório do arguido Assinatura do defensor

I – Ao arguido preso deve ser dada a possibilidade de, através do seu defensor, se manifestar sobre a medida de coacção que está em vias de lhe ser aplicada. II – A inobservância deste procedimento constitui mera irregularidade que só pode ser arguida no acto. III – O defensor do arguido deve assinar os actos processuais a que esteve presente. IV – Não o fazendo, ocorre também uma simples irregularidade.

17-11-1993

Relação de Coimbra

CJ, Tomo V, págs. 59 a 60

- INSTRUÇÃO Requerimento de abertura

I – A falta de indicação das razões, de facto e de direito, de discordância relativamente à acusação, no requerimento de abertura de instrução formulado pelo arguido, não é fundamento de rejeição da instrução. II – Essa falta constitui simples irregularidade, que o juiz deve mandar reparar oficiosamente ao abrigo do disposto no art. 123º nº 2 do C.P. Penal.

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02-12-1993

Relação do Porto

CJ, Tomo V, págs. 262 a 264

SENTENÇA Prazo para a sua prolação Nulidade

I – O prazo estabelecido no art. 373.º do Cod. Proc. Penal tem natureza meramente ordenadora e a sua ultrapassagem não acarreta irregularidade e, muito menos, qualquer nulidade, podendo dar origem apenas a procedimento disciplinar. II – Mas, se entre o dia que se produziu a prova e o dia em que se procedeu à leitura da sentença, decorreram mais de 30 dias, a prova perdeu eficácia e a sentença não pode subsistir. III – É que, a continuidade da audiência tem em vista que, entre a produção da prova e a decisão, medeie o menor espaço de tempo possível, evitando-se o esquecimento. IV – Se a sentença não for proferida no prazo legalmente fixado (30 dias), impõe-se a repetição do julgamento, se tal for arguido no prazo de 5 dias ou na motivação, como fundamento de recurso.

Jurisprudência referente ao ano de 1993 recolhida por

David Halfin e Tiago Félix da Costa

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 02-12-1993 S.T.J. BMJ n.º 432

(Janeiro), págs. 67 a 69

- Nulidades de sentença - Prazo e modo de arguição

As nulidades de sentença taxativamente enumeradas no artigo 379.º, alíneas a) e b), do Código de Processo Penal, podem ser arguidas na motivação de recurso.

06-01-1994 S.T.J. BMJ n.º 433 (Fevereiro), págs.

423 a 426

- Diligências probatórias - Critérios da sua utilidade - Legitimidade do arguido para recorrer - Pedido de esclarecimento - Poderes do juiz

I – As decisões sobre a utilidade ou inutilidade de uma diligência probatória obedecem a critérios de mera oportunidade ou ao bom senso e isenção do julgador, constituindo, por isso, puras questões de facto da exclusiva competência do tribunal recorrido. II – O arguido só tem legitimidade para recorrer das decisões contra ele proferidas [artigo 401.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal], num afloramento do princípio geral de que os recursos só podem ser interpostos por quem tenha ficado vencido ou directa e efectivamente prejudicado pela decisão. III – Por aplicação das normas do processo civil, pode qualquer dos interessados no processo penal requerer no tribunal que proferiu a sentença o esclarecimento de alguma obscuridade ou ambiguidade que ela contenha [artigos 666.º, n.º 2, e 669.º, alínea a), do Código de Processo Civil]; mas a intervenção do juiz não pode ir mais além, sob pena de violação das regras limitativas do seu poder jurisdicional, que, nessa altura, se encontra já esgotado.

06-01-1994 S.T.J. BMJ n.º 433 (Fevereiro), págs.

432 a 438

- Homicídio - Anulação de julgamento - Erro notório na apreciação da prova - Insuficiência da matéria de facto

I – Há erro notório na apreciação da prova ao ser dado como provado que o tiro foi disparado quando o autor e vítima se encontravam próximos e ao mesmo tempo concluir que o disparo foi feito a distância indeterminada porque o próximo significa perto; verifica-se o mesmo erro quando é dado como provado que o autor perseguia a vítima, alcançou-a, disparou a arma, atingindo-a em região vital, e depois se tira a conclusão que o mesmo não agiu com intenção de matar ou com negligência. II – Há também insuficiência de matéria de facto quando o tribunal devia ter averiguado se o arguido se conformou ou não com o resultado e não o fez.

20-01-1994 S.T.J. BMJ n.º 433 (Fevereiro), págs.

443 a 452

- Processo Penal - Acórdão - Requisito da indicação das provas - Audiência de Julgamento - Depoimento de testemunhas admitidas. - Nulidade - Poderes do juiz - Contradição insanável

I – Para preenchimento do requisito da indicação de provas (artigo 374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal) não é necessária a transcrição dos textos documentados, com especificação da matéria por eles provada, nem a expressão do teor dos depoimentos e da razão que leva o tribunal a preferi-los, rejeitando versões discordantes. II – O tribunal que, nos termos do artigo 340.º do Código de processo Penal, deferiu o requerimento da defesa para que fossem inquiridas testemunhas de acusação cujo depoimento fora prescindido pelo Ministério Público não ficou definitivamente vinculado a produzir tais depoimentos. III – Naquele normativo conjugam-se os princípios da necessidade e da legalidade com a adequação e a obtenibilidade dos meios de prova, pelo que os julgadores que ao abrigo da alínea b) do n.º 4 do artigo 340.º poderiam indeferir o requerimento para produção de prova, têm (por maioria de razão) possibilidade legal de prescindir de provas veiculadas em requerimento que admitira se, a posteriori,

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verificar ser impossível por muito duvidosa a sua obtenção. IV – Não se verifica contradição insanável se o tribunal não ordenou a perda do veículo (por não se ter provado a sua proveniência ilícita) nem a sua entrega ao arguido (por não se ter provado que fosse o seu proprietário).

26-01-1994

Relação do Porto

C.J., Tomo I, pág. 255

Irregularidade processual

I – O arguido, que o ministério público apresenta ao juiz sob detenção, deve ser por este interrogado. II – Se o juiz não procede ao interrogatório do arguido assim detido, comete uma irregularidade processual enquadrável no art. 123º do Cod. Proc. Penal

28-01-1994 S.T.J. BMJ n.º 433 (Fevereiro), págs.

465 a 466

- Revisão da sentença - Erro na identificação do autor da infracção - Facto novo

Constitui facto novo, susceptível de fundamentar a autorização do pedido de revisão da sentença, o erro do autuante na identificação de transgressor que levou à condenação de pessoa diferente do autor do ilícito.

02-02-1994 S.T.J. BMJ n.º 434 (Março), págs. 423

a 433

- Recurso penal - Alegações escritas - Audiência - Âmbito do recurso - Conclusões da motivação - Nulidade em processo penal - Falta de instrução - Falta de prova pericial

I – Se o recorrente requereu que as alegações a produzir o fossem por escrito e, notificada para o efeito, não alegou, o processo, apesar de tudo, segue para julgamento, destinando-se a audiência a tornar pública a decisão. II – O âmbito de um recurso é dado pelas conclusões extraídas pelo recorrente da respectiva motivação. III – A não observância dos imperativos dos artigos 283.º, n.º 5, 277.º, n.º 3 e 113.º, n.º 1, alínea c), do Código de Processo Penal constitui mera irregularidade prevista no artigo 118.º, n.º 2, que se deve considerar sanada se não for tempestivamente arguida (cfr. artigo 123.º, n.º 1, daquele Código). IV – Na verdade não afeiçoa ela qualquer nulidade, muito menos de natureza insanável, não havendo falta de inquérito e de instrução, que é de carácter facultativo (artigo 286.º, n.º 2, do Código de Processo Penal). V – Não se conclui de forma diferente perante o disposto na parte final da alínea d) do artigo 119.º do Código de Processo Penal, alínea que tem sido objecto de críticas, por aludir a obrigatoriedade de instrução, quando é certo que a instrução, mesmo quando a ela pode haver lugar, nunca é obrigatória, mas facultativa. Embora o texto legal não seja feliz, é claro que quer aludir aos casos em que, podendo haver lugar a instrução, ela foi requerida por quem para isso tem legitimidade, em tempo, revestindo a partir daí a natureza de obrigatória. VI – O artigo 119.º, alínea d), do Código de Processo Penal ao considerar nulidade a falta de instrução quer referir-se aos casos em que, podendo haver instrução, ela foi requerida em tempo, por quem tem legitimidade. VII – Sempre que a percepção ou a apreciação dos factos exigirem especiais conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, deve ter lugar a prova pericial. Só em tais termos a omissão da realização da prova pericial nos casos em que deve ser realizada integrará nulidade dependente de arguição do artigo 120.º, n.º 2, alínea d), quando se entender que a diligência é essencial para descoberta da verdade, e integrará uma irregularidade, sujeita ao regime do artigo 123.º, nos demais casos, isto é, de diligência útil mas não essencial para a descoberta.

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09-02-1994 S.T.J. BMJ n.º 434 (Março), págs. 451

a 470

- Princípio do duplo grau de jurisdição - Artigo 32.º, n.º 1, da Constituição (In)constitucionalidade dos artigos 363.º, 410.º e 433.º do Código de Processo Penal - Recurso perante as Relações - Recurso perante o Supremo - Desigualdade de tratamento - Artigo 13.º da Constituição - Poderes de cognição do Supremo Tribunal de Justiça - Prova - Leitura de declarações do arguido - Nulidade sanável - Tráfico de estupefacientes - Medida da pena

I – No direito internacional – Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigo 11, n.º 1), Convenção Europeia dos Direitos do Homem (artigo 6.º, n.º 1), Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (artigo 14.º, n.º 5) e Protocolo n.º 7 à Convenção Europeia dos Direitos do Homem (artigo 2.º) – não é exigido um duplo grau de jurisdição em matéria de facto, no processo penal. II – A Constituição da República Portuguesa não consagra, expressamente, a princípio do duplo grau de jurisdição (artigo 32.º n.º 1); daquele diploma fundamental só indirectamente resulta o direito de recurso, na medida em que prevê a existência de tribunais de recurso, sem que tal signifique que tenham de existir vários graus de jurisdição. III – Assim, face à ausência de uma imposição constitucional do duplo grau de jurisdição, o legislador ordinário pode livremente estabelecer as regras sobre recursos, desde que delas não resulte, na prática, a sua ineficácia. IV – A solução adoptada pelos artigos 410.º, n.º 2 e 433.º do Código de Processo Penal – criando a chamada «revista alargada», que protege o arguido contra erros grosseiros de facto que podem conduzir a uma sentença injustiça – garante o núcleo essencial ao recurso em matéria de facto, e não viola o princípio do duplo grau de jurisdição. V – Estando este princípio suficientemente garantido com o sistema adoptado pelo Código de Processo Penal, a circunstância de o Supremo Tribunal de Justiça não se poder servir da gravação de prova produzida perante o tribunal colectivo (artigo 363.º, conjugado com o artigo 410.º) não viola o artigo 32.º, n.º 1, da Constituição. VI – O facto de os recursos perante as relações admitirem reexame da matéria de facto nos casos previstos no Código, não significa desigualdade de tratamento, violadora do artigo 12.º da Constituição, preceito que nada tem a ver com a tramitação dos recursos penais. VII – O Supremo Tribunal de Justiça não tem poderes para alterar a matéria de facto decidida pelo tribunal colectivo – a qual se tem como definitivamente fixada –, apenas lhe sendo permitido detectar, na matéria de facto decidida, os vícios a que alude o artigo 410.º, n.º 2, do Código de Processo Penal, face aos quais só pode decretar o reenvio do processo para que, em novo julgamento, sejam sanados tais vícios. VIII – Tendo o recorrente declarado em audiência que não desejava prestar declarações, e não constando da acta que alguma declaração tenha sido por ele produzida sobre a matéria da acusação ou da defesa, a leitura das suas declarações perante o juiz de instrução só podia ter tido lugar a seu requerimento [artigo 357.º, n.º 1, aliena a)]. IX – Não tendo sido requerida essa leitura – a qual também se não podia fundamentar nas contradições referidas na alínea b) do n.º 1 do artigo 357.º –, estamos face a uma prova inadmissível, proibida por lei. X – Tratando-se, porém, da nulidade, sanável, de um acto a que o arguido assistiu, devia ter sido arguida antes que esse acto terminasse [artigo 120.º, n.º 1, aliena a)], o que não sucedeu. XI – Segundo o artigo 72.º do Código Penal, a culpa é fundamento e limite da pena, pelo que a medida da pena a aplicar a cada arguido só poderá variar se as necessidades de prevenção forem diferentes, e diferentes forem também as circunstâncias agravantes e atenuantes.

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09-02-1994 S.T.J. C.J., Acórdãos do S.T.J., Tomo I,

pág. 223

- NULIDADE DE ACÓRDÃO Omissão de pronúncia Arguição Novo julgamento

I – Comete o crime do artigo nº 1 e 1º do Dec.-Lei nº 29.883, de 17/9/939, aquele que, tendo dado em penhor mercantil 30 bovinos leiteiros, os vende, conquanto soubesse que não podia dispor deles, desse modo frustrando a garantia do empréstimo que lhe fora concedido para a compra daqueles animais e do qual só tinha pago a 1ª prestação. II – Se, formulado pedido de indemnização civil em processo criminal, a sentença proferida, apenas se baseou sobre a acusação penal, omitindo qualquer referencia a esse pedido que, assim não decidiu, essa sentença é nula, nos termos do artigo 179º, alínea a), do C.P. III – Trata-se de nulidade dependente de arguição, e, se esta o foi em tempo, dela é de conhecer pelo S.T.J. que, decretando a anulação da sentença recorrida, ordene novo julgamento, a fim de ser proferida outra que conheça e decida sobre o pedido civil deduzido oportunamente.

10-2-1994

21-04-1994

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo I,

pág. 227

- NULIDADES - Momentos para a junção de documentos - Junção de documentos em audiência - Oposição - Violação do principio da igualdade das armas - Extensão do visto inicial do Ministério Público nos recursos - Composição do Tribunal de recurso nas conferências

I – Os documentos, em processo penal, devem ser juntos, em regra, no decurso do inquérito ou da instrução, mas podem sê-lo até ao encerramento da audiência, se se mostrar não ter sido possível a sua junção anterior. II – Não são susceptíveis de serem juntos em audiência documentos em poder do arguido desde momento anterior ao da sua contestação e contra cuja junção se verifique oposição do Ministério Público. III – A junção de documentos em tais condições é feita com violação do princípio da igualdade das armas em processo penal e tem como consequência a anulação do julgamento, por os mesmos terem a virtude de influenciarem a decisão final. IV – Os recursos devem ser apreciados pela ordem da sua interposição, salvo quando tenham como objecto questões prévias cuja procedência implique a anulação do processado e o consequente não conhecimento das matérias impugnadas. V – É de conhecimento prioritário o recurso interlocutório interposto em primeiro lugar cuja procedência possa originar a anulação do julgamento, relativamente a uma arguição de extemporaneidade do recurso da decisão final conjuntamente com o qual aquele sobe. VI – Não corresponde a pedido de agravamento da posição do arguido a afirmação do Ministério Público, no seu visto inicial de um recurso interlocutório, respeitante a uma invocada nulidade de junção de documentos, de que estes últimos, além do mais, constituem também fundamento da decisão final, por tal informação ser inócua quanto ao aspecto, sujeito a apreciação nesse recurso, de os mesmos terem ou não a virtualidade de influenciar a referida decisão final. VII – Nos Tribunais de recurso, o presidente da Secção Criminal intervém nas conferencias, quer através da presidência da respectiva sessão, da direcção, da discussão, e da assinatura da acta, mas só deve assinar o acórdão quando se verifique a necessidade de desempatar a votação do objecto de recurso.

16-02-1994 S.T.J. BMJ n.º 434 (Março), págs. 478

a 480

- Nulidade de sentença - Omissão de menção de factos como provados ou não provados

É nula a sentença que condenou o arguido pelo crime de tráfico de estupefacientes, em cujo relatório se dão por reproduzidos dois documentos constantes dos autos, que se reportam à condição de toxicodependente do mesmo arguido, sem que, porém, o aresto faça qualquer referência à prova ou falta de prova desse facto, para o levar ou deixar de levar em consideração.

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17-02-1994 S.T.J. BMJ n.º 434 (Março), págs. 481

a 513

- Processo penal - Exposições introdutórias - Audiência de julgamento - Acta - Irregularidade - Erro notório na apreciação da prova

I – A menção na acta da audiência de ter-se concedido a palavra aos defensores para as exposições introdutórias não consta do rol das menções necessárias (artigo 362.º do Código de Processo Penal); mas a omissão dessa menção não significa que o acto não teve lugar. II – Em qualquer dos casos haveria de considerar sanada a irregularidade resultante – artigos 339.º, 118.º, 119.º e 123.º do Código de Processo Penal. III – Do facto de não ter sido apreendido determinado ácido usado pelos arguidos na síntese da pasta da cocaína não resulta que não se possa dar como provado que eles o tenham utilizado, não se verificando qualquer erro. IV – A indicação das provas que serviram para formar a convicção do tribunal não se categoriza como elemento integrativo do requisito «fundamentação», pois e tão-somente um atributo necessário do último desses elementos (a exposição de motivos), não havendo necessidade de se exprimir o teor das declarações e dos depoimentos, bem como a razão crítica do Tribunal para os aceitar, ou para os preferir em detrimento de eventuais provas divergentes.

17-02-1994 S.T.J. BMJ n.º 434 (Março), págs. 514

a 524

- Insuficiência da matéria de facto - Exposição dos motivos de facto - Contradição insanável na fundamentação - Erro notório na apreciação da prova

I – A «exposição demasiadamente simplista» dos motivos de facto que fundamentaram a decisão da 1.ª instância não pode configurar uma situação de nulidade insanável, de conhecimento oficioso, pois não se enquadra na enumeração taxativa do artigo 119.º do Código de Processo Penal. II – A «contradição insanável na fundamentação», a que se refere a alínea b) do n.º 2 do artigo 410.º do Código de Processo Penal, só pode resultar dos elementos indicados no próprio texto da decisão recorrida. III – O «erro notório na apreciação da prova», a que se refere a aliena c) do n.º 1 do artigo 410.º do Código de Processo Penal, só pode resultar dos elementos constantes do próprio texto da decisão recorrida, quando conjugados entre si ou com as regras da experiência comum.

09-03-1994 S.T.J. BMJ n.º 435 (Abril), págs. 626 a

640

- Poderes de cognição do Supremo Tribunal de Justiça em matéria de facto - Valor probatório de exames periciais - Leitura de provas em audiência - Rejeição do recurso - Manifesta improcedência e falta de motivação

I – A invocação das «regras da experiência comum», em conjugação com o texto duma decisão de que se recorra por vício em matéria de facto, pode ser feita nos casos da alínea a), deve ser excluída nos casos da aliena b) e só será de admitir excepcionalmente nos casos da aliena c), todas do n.º 2 do artigo 410.º do Código de Processo Penal. II – O apelo àquelas «regras da experiência comum» só relevará, para demonstração do «erro notório na apreciação da prova», previsto na referida aliena c), quando existam elementos probatórios não contestados, designadamente documentos autênticos, ou dados do conhecimento público generalizado, que impliquem ser completamente absurdo dar-se certo facto por provado ou por não provado. III – A convicção do julgador sobre os factos forma-se livremente, com base nos elementos de prova globalmente considerados, sem vinculação estrita às conclusões dos exames periciais, mesmo nos casos de alienação mental, se houver elementos de prova que contrariem a factualidade sobre que assentaram tais exames. IV – De acordo com o n.º 2 do artigo 355.º do Código de Processo Penal, os elementos de prova constantes do processo consideram-se produzidos em audiência independentemente de nesta ser feita a respectiva leitura, desde que se trate de caso em que esta leitura não seja proibida. V – Deve ser rejeitado por manifesta improcedência, nos termos do n.º 1 do artigo 420.º do Código de

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Processo Penal, o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça assente em considerações, que se proponham demonstrar quais os factos que haviam de dar-se por provados face à prova produzida em audiência. VI – Ainda de acordo com o n.º 1 do artigo 420.º do Código de Processo Penal, o recurso relativo a matéria de direito deverá ser rejeitado, por falta de motivação, se não forem indicadas as disposições legais violadas em relação a todas as conclusões cujo conteúdo pretenda definir a inobservância de disposição legal.

10-03-1994 S.T.J. BMJ n.º 435 (Abril), págs. 658 a

662

- Processo penal - Sentença - Factos não provados - Omissão de indicação

I – O conceito de «enumeração», constante do n.º 2 do artigo 374.º do Código de Processo Penal, traduz-se na indicação, matéria por matéria, dos factos provados e não provados. II – Omite o tribunal este dever de indicar especificamente os factos não provados quando se limita à afirmação de que nada mais ficou provado do que aquilo que antes considerou provado. III – Apenas é admissível esta afirmação quando o conjunto dos factos provados abrange toda a matéria constante da acusação, do pedido cível e das contestações. IV – O vício da falta de fundamentação da matéria de facto dada como não provada é gerador da nulidade da decisão.

10-03-1994

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo I,

pág. 245

- SENTENÇA - Enumeração dos factos provados e não provados

Não corresponde a enumeração dos factos não provados, exigida pelo artigo 374 do Código de Processo Penal, a simples indicação de que “se não provaram quaisquer outros factos, além dos que se referiram como provados”, (vício de falta de fundamentação da matéria de facto dada como não provada, vício gerador da nulidade da decisão)

16-03-1994 S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo I,

pág. 247

- Proibição de prova - Inquirição de agentes da polícia Artigo 356º do C.P.P.

III – O vicio da produção de prova proibida por inquirição de pessoas cuja audição era parcialmente proibida, só pode ser apreciada pelo Supremo se da decisão final constar que esses depoimentos foram prestados em relação a matérias em que seja proibida tal audição e que os mesmos foram essenciais para a formação da convicção dos julgadores.

06-04-1994 S.T.J. BMJ n.º 436 (Maio), págs. 242 a

247

- Prescrição do procedimento criminal - Actos decisórios do Ministério Público - Erro notório na apreciação da prova

I – O interrogatório do arguido ordenado pelo Ministério Público e àquele notificado, tal como foi estruturado pela lei processual em vigor, interrompe, efectivamente, o prazo da prescrição do procedimento criminal. II – de harmonia com o disposto no artigo 1.º, alínea b), do Código de Processo Penal, o Ministério Público é uma autoridade judiciária relativamente aos actos processuais que caibam na sua competência, tomando a forma de despachos os seus actos decisórios (artigo 97.º, n.º 1, do Código de Processo Penal). III – O erro notório só ocorre, quando, face à decisão, por si só ou conjugada com as regras da experiência, se deva concluir que, ao dar como assente determinado facto, o julgador errou por forma evidente e tanto que do erro o homem comum não pode deixar de se aperceber.

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07-04-1994

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo II,

pág.. 187

- INSTRUÇÃO - Recurso de despacho de pronúncia - Diligências instrutórias - Prazos – Nulidades

I – O regime da irrecorribilidade da decisão instrutória aludida no artigo 310º n.º 1, do Cod. Proc. Penal não se estende à decisão das questões prévias ou incidentais a que se refere o art. 308º, n.º 3 do Cod. Proc. Penal. II – Decidindo o Juiz de instrução criminal as questões suscitadas pelo arguido, sem praticar quaisquer actos de instrução, e sem proceder ao debate instrutório, apoiando-se apenas nos factos da acusação, verifica-se a nulidade prevista no artigo 119º, d) do Cod. Proc. Penal – falta de instrução. III – Impõe-se ao Juiz de Instrução Criminal, sob pena de nulidade prevista no art. 120º, n.º 2 al. d) do Cod. Proc. Penal, conceder o prazo solicitado pelo arguido para este completar o seu requerimento de abertura de instrução.

21-04-1994 S.T.J. BMJ n.º 436 (Maio), págs. 266 a

273

- Irregularidade processual arguida no tribunal de recurso - Notificação do visto inicial do Ministério Público - Despacho liminar do relator - Conexão de julgamento dos recursos - Competência do presidente da secção

I – Quando uma irregularidade processual for arguida, nos termos do artigo 123.º do Código de Processo Penal, o tribunal de recurso tem de emitir um juízo de prognose póstuma destinado a saber se o acto, no condicionalismo em que foi praticado, era susceptível de influir no exame ou decisão da causa, pois só neste caso o vício invocado relevará para efeitos de invalidação do acto a que se refere e dos termos subsequentes que possa afectar – cfr. o artigo 201.º, n.º 1, in fine, do Código de Processo Civil, aplicável ao processo penal por força do artigo 4.º do respectivo código. II – Não constitui qualquer nulidade processual nem consubstancia interpretação e aplicação inconstitucional do artigo 416.º do Código de Processo Penal, a omissão de notificação, ao arguido-recorrente, do «visto inicial» do Ministério Público, quando o conteúdo do parecer, emitido ao abrigo daquela disposição, for irrelevante para o exame e decisão da causa – cfr. o artigo 137.º do Código de Processo Civil, aplicável ao processo penal por força do artigo 4.º do respectivo código. III – O «despacho liminar», a que se refere o artigo 417.º do Código de Processo Penal é um despacho de apreciação prévia da admissibilidade do prosseguimento do recurso, insusceptível de vincular a conferência e de fixar definitivamente a obrigação de o tribunal proceder à apreciação do mérito daquele, não tendo, por isso, de ser notificado aos interessados no processo. IV – Admitido, na primeira instância, o recurso da decisão final e admitido, anteriormente, recurso de despacho interlocutório, para subir com o que viesse a ser interposto da decisão final, fixa-se a conexão de julgamento dos dois recursos, nos termos das alíneas c) e d) do artigo 432.º do Código de Processo Penal, e tal conexão mantém-se no Supremo Tribunal de Justiça, excepto se vier a ser entendido que o recurso da decisão interlocutória foi recebido com efeito e regime de subida errados. V – Para além de dirigir a discussão de todos os processos que correm pela secção, o respectivo presidente tem o dever específico de desempatar, quando não puder formar-se maioria, mas só neste caso assuna o acórdão – cfr. o artigo 419.º do Código de Processo Penal e conjugar com os artigos 33.º e 35.º da Lei n.º 38/87, de 23 de Dezembro (Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais).

27-04-1994 S.T.J. BMJ n.º 436 (Maio), págs. 279 a

286

- Supremo Tribunal de Justiça - Recurso - Erro notório na

I – O Supremo Tribunal de Justiça, em via de recurso penal, procede ao reexame da matéria de direito e pode interferir em questões de facto nos casos expressos no artigo 410.º do Código de Processo Penal, um dos quais é o da decisão recorrida enfermar de erro notório da apreciação da prova, o qual tem lugar quando, pela análise da própria sentença, por si só conjugada com as regras da experiência,

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apreciação da prova - Contradição insanável da fundamentação - Conhecimento oficioso

mas sem possibilidade de recurso a elementos estranhos a ela, ainda que constantes do processo, se verifica que os julgadores deram como verificado algo que é notório no sentido em que este termo é havido para efeitos do artigo 514.º, n.º 1, do Código de Processo Civil – não poder ser e cujo erro é logo detectável pelo observador comum. II – Não se verifica o vício do erro notório na apreciação da prova quando o erro que se alega decorre não do que consta da sentença proferida mas do que, em seu entender, terá resultado da prova produzida em julgamento. III – Observa-se o vício enunciado na alínea b) do n.º 2 do referido artigo 410.º contradição insanável na fundamentação – quando, dando-se como provado que o réu agiu com dolo meramente eventual, se considerou provado que agiu com intenção de causar a morte de uma pessoa, que o fez voluntariamente, com a consciência da natureza proibida do seu agir e que este era idóneo à produção do resultado morte e esta teve lugar, o que imporia necessariamente a ilação de um dolo directo. IV – Os vícios referidos são de conhecimento oficioso pelo tribunal de recurso.

11-05-1994 S.T.J. BMJ n.º 437 (Junho), págs. 375

a 381

- Erro notório na apreciação da prova - Regras da experiência

Verifica-se erro notório na apreciação da prova quando se conclui que o arguido actuou sem consciência da ilicitude e sem dolo, quando tal conclusão contraria as regras da experiência e vão contra o entendimento da generalidade das pessoas que têm consciência dos valores que a comunidade pretende ver definidos.

11-05-1994 S.T.J. BMJ n.º 437 (Junho), págs. 382

a 388

- Fundamentação da sentença - Especificação dos factos provados e não provados - Nulidade da sentença

I – Nos termos do n.º 2 do artigo 374.º do Código de Processo Penal, da fundamentação da sentença deve constar a enumeração dos factos provados e não provados. II – A lei deseja criar a certeza, especialmente para o tribunal de recurso, de que os factos, todos os factos, foram considerados, sofreram votação pelo Tribunal Colectivo. III – Não esclarecendo o acórdão recorrido os factos que não foram provados, impõe-se que o acórdão recorrido seja declarado nulo.

11-05-1994 S.T.J. BMJ n.º 437 (Junho), págs. 389

a 393

- Nulidade da sentença - Factos alegados na contestação - Interesse para a discussão da causa

I – A enumeração dos factos provados e não provados, embora possa não ser especificada, não pode deixar dúvidas de que foram apreciados todos os factos que interessavam para a decisão da causa. II – É nula a decisão do Tribunal que não conhece os factos alegados pela defesa e que podem influenciar o juízo sobre a possibilidade de o arguido se ressocializar e sobre o seu comportamento futuro.

12-05-1994 S.T.J. BMJ n.º 437 (Junho), págs. 394

a 399

- Recurso extraordinário - Revisão de sentença - Fundamento - Admissibilidade

Tendo um arguido detido e, nessa situação, julgado e condenado em processo sumário, como autor de um crime previsto e punível pelo artigo 110.º do Decreto-Lei n.º 422/89, de 2 de Dezembro, mas provando-se posteriormente que o mesmo, que não se fazia acompanhar de qualquer documento de identificação, falseou a sua identidade, declarando em audiência de julgamento, como sendo a sua, a identidade de um seu irmão, de todo alheio à prática dos factos e que, assim, veio a ser condenado por um crime que não cometeu, deve ser autorizada a revisão da respectiva sentença, por ocorrer em grau de suficiência bastante o fundamento constante da aliena d) do n.º 1 do artigo 449.º do Código de Processo Penal.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

35

19-05-1994

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo II,

pág.. 219

AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO - Confissão integral e sem reservas - Nulidade

Ocorrendo a confissão integral e sem reservas relativamente a crimes puníveis com pena de prisão superior a três anos, não pode o colectivo dar como provados factos que não constem da acusação, sem ter havido produção de prova sobre os mesmos.

26-5-1994

S.T.J. C J, Acórdãos do S.T.J., Tomo II,

pág. 237

- RECURSOS - Conhecimento das declarações dos arguidos

III - O conhecimento, em julgamento, de declarações prestadas pelos arguidos na fase do inquérito, só é licito nas circunstâncias indicadas no artigo 356º do Código de Processo Penal, e os factores que o tornam admissível têm de constar da acta, sob pena de nulidade. IV – O decretamento dessa nulidade, não implica o reenvio do processo, uma vez que este só pode ter lugar quando se verifiquem os vícios do nº 2 do artigo 410 do mesmo Código, mas não os indicados no seu nº 3, como se vê pelo artigo 426º desse diploma.

16-06-1994 S.T.J. BMJ n.º 438 (Julho), págs. 342

a 350

- Suficiência da matéria de facto para a decisão - Tribunal colectivo - Registo da prova em audiência - Arguição de nulidades sanáveis - Princípio in dubio pro reo - Princípio da livre apreciação da prova - Qualificação jurídica dos factos na pronúncia e em julgamento

I – Tendo-se provado que o arguido aproveitando-se da noite, se introduziu na residência da ofendida, contra vontade desta, por uma janela que fica ao nível do 1.º andar, à qual trepou com a ajuda do gradeamento da janela do rés-do-chão e dos fios do estendal da roupa, é patente que provada ficou matéria de facto suficiente para a condenação pelo crime do artigo 176.º, n.os 1 e 2, do Código Penal. II – O registo da prova é obrigatório perante o tribunal colectivo, razão por que não tem de ser documentada na acta a prova produzida em audiência – cfr. artigos 363.º e 364.º do Código de Processo Penal. III – Tendo existido eventuais nulidades derivadas de actos praticados no inquérito ou na instrução, elas tinham de ser arguidas no prazo fixado no artigo 210.º, n.º 3, alínea c), do Código de Processo Penal, pelo que, não o tendo sido, devem considerar-se sanadas e não podem ser objecto de recurso – artigo 410.º, n.º 3, do Código de Processo Penal. IV – O princípio in dubio pro reo, por ser um princípio de valoração da prova em matéria de facto, não cabe no reexame da matéria de direito que, em princípio, exclusivamente é cometido ao Supremo Tribunal de Justiça – artigo 433.º do Código de Processo Penal. V – Os juízes que na apreciação da prova apenas usam regras de experiência comum não estão a fazer uso da sua ciência privada, não havendo, assim, qualquer violação do artigo 130.º, n.º 2, aliena b), do Código de Processo Penal, mas antes uma livre apreciação da prova, nos termos do artigo 127.º do mesmo diploma. VI – O tribunal é livre de qualificar juridicamente os factos de maneira diferente da pronúncia, ainda que se trate de submeter tais factos a uma figura criminal mais grave.

26-10-1994 S.T.J. BMJ n.º 440 (Novembro), págs.

340 a 349

- Sentença penal - Enumeração dos factos não provados - Indicação dos meios de prova - Convolação para crimes simples

I – Satisfaz o imperativo legal de enumeração dos factos provados e não provados contido no artigo 374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal a decisão que descreve especificamente os factos provados e se limita a enunciar «como não provados os restantes factos da acusação e da contestação». II – O artigo 374.º, n.º 2, in fine, do Código de Processo Penal só exige a mera indicação das provas que serviram para formar a convicção do julgador, pelo que satisfaz esse requisito a sentença que refere ter-se essa convicção fundamentado no depoimento das testemunhas da acusação inquiridas em audiência de julgamento.

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- Nulidade III – Este era o entendimento que passou a ser dado ao artigo 653.º, n.º 2, do Código de Processo Civil, na parte em que existe paralelismo com o segmento em análise no n.º 2 do artigo 374.º do Código de Processo Penal, pelo que se o legislador penal pretendesse expressar uma maior exigência o teria dito doutra maneira. IV – Não existe a nulidade do artigo 379.º, n.º 2, do Código Penal, quando os julgadores, por entenderem não se terem comprovado quaisquer circunstâncias agravativas do tipo base, arredaram o crime acusado e operaram a convolação de acusação para um crime de ofensas corporais e simples.

30-11-1994 S.T.J. BMJ n.º 441 (Dezembro), págs.

165-177

- Sentença - Fundamentação - Indicação das provas - Erro notório - Circunstâncias modificativas

I – A existência da indicação das provas que serviram para formar a convicção do tribunal feita no artigo 374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal foi estruturada de forma a satisfazer a exigência legal da explicação do processo lógico-racional da formação de convicção, prevenindo a utilização de provas proibidas, mas sem esquecer que não se trata de reduzir a escrito a prova produzida em audiência e que o Supremo Tribunal de Justiça não pode sindicar a forma como o tribunal recorrido formou a sua convicção. II – Se determinados factos resultaram ou não de um deficiente processo na formação da convicção do tribunal, isto é, se não foram produzidas suficientes provas para concluir como concluiu, ou a prova produzida conduzia a diferente convicção, são questões que o Supremo Tribunal de Justiça não pode apreciar. III – O erro notório na apreciação da prova é aquele que é tão evidente que é detectável por qualquer cidadão médio e só é relevante o que resulta do texto da decisão recorrida, e não o que resulta da apreciação da prova produzida em julgamento. IV – O funcionamento das agravantes modificativas depende do seu relevo, no caso concreto, para facilitar a execução do projecto criminoso, para aumentar a gravidade do crime e para revelar a especial perigosidade do agente.

Jurisprudência referente ao ano de 1994 recolhida por

Pedro Rocha Pereira, David Halfin e

Elisabete Gonçalves

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 11-01-1995 Relação do

Porto CJ, Tomo I, pág.

232 - Escutas telefónicas

I – A danosidade social indissociavelmente ligada à utilização das escutas telefónicas como meio de prova impõe uma leitura restritiva das normas que fixam os pressupostos da sua admissibilidade. II – Nessa ordem de ideias, é de considerar como preceito de observância obrigatória o da proibição, em princípio, da valoração dos conhecimentos fortuitos obtidos através das escutas. III – Consequentemente, ao arguido tem de ser concedido o direito de controlar os conhecimentos adquiridos por essa via e o modo como o foram e, se para tal imprescindível, o acesso directo aos próprios meios técnicos utilizados na escuta. IV – Tal direito, porém, tem de ser exercido nos limites consentidos pela actual estrutura do processo penal não se contemplando ai, designadamente a abertura de uma reclamada “fase pré-instrutória” com vista a instruir o requerimento de abertura de instrução propriamente dita.

17-01-1995

Relação de Lisboa

CJ, Tomo I, pág. 155

- Falta de notificação da acusação do arguido

A falta de notificação de acusação ao arguido não é uma nulidade insanável.

08-02-1995 S.T.J. BMJ n.º 444, pág. 358 e seguintes

- Busca - Nulidade sanável

Deve considerar-se proibida uma busca à casa da arguida, levada a efeito por agentes policiais, sem precedência de autorização da competente autoridade judiciária nem consentimento da pessoa visada - art. 174.º, n.º 4 do CPP-, sendo irrelevante o consentimento dado pelo filho da arguida. As provas obtidas por métodos relativamente proibidos, enquanto susceptíveis de consentimento relevante do respectivo titular, integram nulidade sanável, dependendo de arguição do interessado, sujeita à disciplina dos arts. 120.º e 121.º do mesmo diploma, não se tendo verificado no caso a sua oportuna arguição.

08-02-1995 S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo I,

págs. 194

- Buscas - Nulidade - Validade da prova obtida

I – É nula busca domiciliária levada a cabo por agentes policiais sem autorização da competente autoridade judiciária e sem que se verifique qualquer das situações previstas nas alíneas do n.º 4 do art. 174º do C.P.P. designadamente o consentimento do visado. II – Esse consentimento tem que ser dado por quem seja visado com a diligência e seja titular do direito à inviolabilidade do domicílio, não bastando a mera disponibilidade do lugar da habitação. III – As provas obtidas por métodos absolutamente proibidos não podem nunca ser utilizadas no processo, mesmo com o consentimento do visado; as provas obtidas por métodos apenas relativamente proibidos, por susceptíveis de consentimento relevante do respectivo titular, são da mesma forma nulas, mas essa nulidade, por ser sanável, depende de arguição do interessado. Por isso, não pode ser arguida em recurso a nulidade das provas obtidas no inquérito durante busca domiciliária sem autorização da autoridade judiciária ou do visado.

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15-02-1995

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo I,

pág. 205

- Crimes de Furto - Provas - Cassetes de vídeo

I – Apenas não podem ser usadas em processo penal as fotografias extraídas de cassetes de vídeo quando, para as obter, tiver havido abusiva intromissão na vida privada do arguido. O que não acontece quando este é filmado em local que não é privado, ao qual as outras pessoas tenham acesso e que apenas substituem depoimentos de gentes ou pessoas que fizessem a observação da conduta do mesmo arguido. Não sendo assim, é cometida nulidade do art. 119º do C.P.P, dependente de tempestiva arguição. II – Ainda que tenha formulado pedido cível e, por isso, seja “parte civil”, o ofendido não fica impedido de depor como testemunha. O art. 133º nº 1 do C.P.P., ao referir-se a partes civis, apenas pretende abranger os casos em que se está perante lesados meramente civis.

29-03-1995 S.T.J. BMJ n.º 445, pág. 279 e seguintes

- Órgãos de polícia criminal - Conversas informais com o arguido - Inquirição de agentes da polícia

Os órgãos de polícia criminal estão proibidos de ser inquiridos como testemunhas sobre o conteúdo das declarações que tenham recebido e cuja leitura não seja permitida e não de o serem sobre o relato de conversas informais que tenham tido com os arguidos. Salvo se se provar que o agente investigador escolheu deliberadamente esse meio de conversas informais para evitar a proibição da leitura das declarações do arguido em audiência.

03-05-1995 Relação de Lisboa

BMJ n.º 447 - Prova testemunhal - Nulidade - Anulação do julgamento

I – Se o depoimento produzido resultar do que a testemunha ouviu dizer a pessoa determinada, e esta não tiver sido chamada a depor pelo Juiz apesar de não se mostrar provada a impossibilidade de ser inquirida, não pode o depoimento nessa parte servir de prova por, em regra, ser proibido o depoimento indirecto. II – O vício que corresponde a essa situação inquina as demais provas licitamente obtidas, na medida em que, tendo sido indicado tal depoimento como meio de prova da fundamentação da decisão da matéria de facto, contribuiu para a convicção do Juiz e, sendo esta indivisível, deve ser anulado o julgamento e determinada a sua repetição pelo mesmo tribunal, por não se configurar uma situação de reenvio.

09-05-1995

S.T.J. C J, Acórdãos do S.T.J., Tomo II,

pág. 189

- Prova pericial - Valor probatório

A presunção que alude o nº 1 do art. 163º do código de processo penal apenas se refere ao juízo técnico-científico e não propriamente aos factos em que o mesmo se apoia. Assim, a necessidade de fundamentar-se a divergência só se dará quando esta incide sobre o juízo pericial.

10-05-1995 S.T.J. BMJ n.º 447, pág. 331 e seguintes

Acta de audiência O acórdão final, depois de elaborado e assinado, pode ser lido pelo presidente ou por outro dos juízes, sem a presença dos restantes dois, a menos que surja incidente a impor a presença de todos, pelo que uma diferente menção constante da acta integraria uma simples irregularidade sanável mediante substituição dessa acta.

07-06-1995

Relação de Lisboa

CJ, Tomo III, pág. 166

- Recolha e registo de provas para outro processo

Em Processo tutelar, não podem recolher-se provas e efectuar-se o registo delas com a preocupação do seu ulterior e eventual carreamento para outro processo, particularmente criminal.

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14-06-1995 S.T.J. BMJ n.º 448, pág. 255 e seguintes

Fundamentação Há que distinguir cuidadosamente a falta absoluta de fundamentação da fundamentação deficiente, medíocre ou errada. O que a lei considera irregularidade ou nulidade é a falta absoluta de fundamentação. A insuficiência ou mediocridade é espécie diferente, afecta o valor doutrinal do despacho sujeito ao risco de ser revogado ou alterado em recurso, mas não produz irregularidade ou nulidade.

21-06-1995 S.T.J. BMJ n.º 448, pág. 283 e seguintes

- Requisitos de sentença: fundamentação especificada Nulidade

A exigência constante do art. 374.º, n.º2. do CPP destina-se apenas a esclarecer as partes de que o tribunal não se serviu de meios ilegais de provas e que a sua convicção resultou de um processo lógico e racional com base em dados concretos, não sendo, portanto, uma decisão arbitrária.

01-09-1995 S.T.J. BMJ n.º 449, pág. 225 e seguintes

Excepcional complexidade

A irregularidade resultante da inobservância do art. 113.º, n.º 5, in fine, do CPP - por não ter sido notificado ao arguido o despacho que declarou o processo de excepcional complexidade - deve ter-se como sanada ( art. 123.º, n.º 1, ibidem).

11-10-1995 S.T.J.

BMJ n.º 450 - Nulidades - Erro - Vício de julgamento - Erro notório - Tráfico de estupefacientes - Tráfico de menor gravidade - Perigo abstracto - Trato sucessivo - Tentativa de consumo - Leis no tempo

I – Não extravasou o limite das suas competências o agente da PSP enquanto, por iniciativa própria, deteve os arguidos em flagrante delito, seguido de buscas necessárias e urgentes, tomando declarações a pretensos compradores de droga, tudo remetendo com os arguidos ao M.P. II – Não tendo aqueles possíveis compradores sido ouvidos nem constituídos como arguidos, também nas declarações que vieram a prestar quando os autos foram remetidos à Polícia Judiciária para investigação, significa que o M.P. entendeu correctamente que não havia suspeita de crime, por não ser o de consumo de estupefacientes na forma tentada. III – A eventual inobservância do procedimento previsto no nº 1 do art. 59 do C.P.P. não implica qualquer nulidade, apenas determinando que as declarações prestadas não possam ser usadas como prova contra a pessoa visada, sendo indiferente quanto a terceiros que hajam sido prestadas a título de testemunho ou na qualidade de arguidos, se for o mesmo o seu conteúdo.

25-10-1995 S.T.J. BMJ n.º 450, pág. 339 e seguintes

Sentença: requisitos Fundamentação Nulidade Omissão da indicação de provas

É nulo o acórdão que nada diz quanto aos elementos documentais fornecidos por instituição bancária, importantes para o esclarecimento dos depósitos bancários, e também quanto à enorme desconformidade dos valores movimentados pelos arguidos face aos seus modestos réditos mensais.

25-10-1995

S.T.J. CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo III,

pág. 211

Prova pericial - Inimputabilidade - Perigosidade

Aceitando o tribunal colectivo o juízo cientifico quanto à inimputabilidade do arguido, tem, todavia o poder de livre apreciação quanto aos elementos de facto que revelem a sua perigosidade.

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08-11-1995 S.T.J.

BMJ n.º 451 - Busca domiciliária - Ausência da arguida - Falta de consentimento da arguida - Falta de entrega de cópia do despacho que determinou a busca - Matéria de facto - Poderes de cognição do STJ - Alteração da qualificação dos factos na sentença - Constitucionalidade - Cocaína - Tráfico de menor gravidade

I – A disciplina dos artigos 176 e 177 do C.P.P. autoriza a realização de busca em casa habitada sem a presença ou a autorização do dono, não estando aquele art. 176 ferido de inconstitucionalidade, no cotejo com o art. 34 da C.R.P. II – A falta de entrega de cópia do despacho que determina a busca à pessoa que a esta assistiu, inobservando o disposto no art. 176 do C.P.P. constitui, quando muito, nulidade suprível, sanada por falta da respectiva arguição até ao encerramento do debate instrutório. III – A busca realizada na casa do arguido sem o seu consentimento constitui procedimento ressalvado no nº 3 do art. 126 do C.P.P., quanto à regra da nulidade das provas obtidas mediante intromissão no domicílio sem o consentimento do respectivo titular.

07-12-1995 S.T.J. BMJ n.º 442, pág. 76 e seguintes

Nulidade da acusação O n.º 3 do art. 283.º comina com nulidade a acusação que omita alguma das matérias elencadas nas suas alíneas. Não sendo abrangida na enumeração do art. 119.º, essa nulidade não é insanável, devendo, pois, ser arguida pelos interessados, ficando sujeita à disciplina prevista nos arts. 120.º e 121.º.

Jurisprudência referente ao ano de 1995 recolhida por

Teresa Margarida Fernandes, António Prates e

Margarida Cardoso

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 11-01-1996 S.T.J.

BMJ 453 (1996) p. 299

Sentença penal Enumeração dos factos provados e dos factos não provados Omissão de elementos de facto constantes da acusação Nulidade da sentença

Nos termos do n.º 2 do art. 374.º C.P.P. , da fundamentação da sentença deve constar, além do mais, a enumeração dos factos provados e não provados. A falta de menção, na sentença, dos factos não provados constitui a nulidade do art. 379 a) C.P.P. A omissão de elementos de facto constantes da acusação e que torna inviável que o tribunal de recurso tome uma decisão de direito constitui nulidade, que dá lugar à anulação de julgamento, e não ao reenvio, e que pode ser conhecida oficiosamente.

31-01-1996 S.T.J. BMJ 453 (1996) p. 345

Motivação da decisão Factos não provados Nulidade Tráfico de estupefacientes

Mostra-se satisfeita a observância daquele normativo (art. 374 n.º 2 C.P.P.) e, por isso, afastada a nulidade a que se refere o art. 379.º a), do mesmo Código, se foi feita uma enumeração, ainda que concisa, dos factos não provados, de modo a adquirir a certeza de que todos os factos alegados foram objecto de decisão.

31-01-1996 S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 191

Nulidade prevista no artigo 379.º, n.º 1, a) e artigo 374.º, n 2, do C.P.P.

O disposto no artigo 374.º, n.º 2, C.P.P. apenas se aplica ao acórdão da 1.ª Instância.

31-01-1996

S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 195 a 197

Idem, quanto aos factos não provados

Não enferma de nulidade o acórdão que, sem descrever com minúcia os factos não provados, os enumera de forma concisa em termos de adquirir a certeza que todos os factos foram objecto de decisão.

01-02-1996

S.T.J. C J, Tomo I, págs. 199 a 201

Nulidade prevista no artigo 379.º, n.º 1, a) e artigo 374.º, n 2, do C.P.P., por falta de indicação dos fundamentos de facto e de direito

Os motivos de facto e de direito que o artigo 374, 2, do C.P.P. manda que o tribunal indique são os motivos de facto e de direito que justificam a conclusão do tribunal ao proferir uma certa decisão num dado sentido, isto é, que a justificam para proceder ao enquadramento jurídico dos factos apurados.

01-02-1996

S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 199 a 201

Proibição de Prova 147.º, n.º 4, do C.P.P., na redacção ant. a 2007

O reconhecimento do arguido, feito por uma testemunha no decurso da audiência de julgamento, não tem de obedecer ao formalismo prescrito no artigo 147.º C.P.P., pois este apenas se aplica à fase de inquérito e de instrução.

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07-02-1996 S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 205 e 206

Nulidade prevista no artigo 120.º, n.º 2, d), e 122.º do C.P.P. por omissão de diligências essenciais à descoberta da verdade, por perda da eficácia da prova – artigo 348.º, 6, do C.P.P.

Não perde eficácia a prova produzida, quando o julgamento é adiado para 4 dias depois, para ser lido o acórdão, nesse dia é adiado para 24 dias depois, para ser elaborado e junto relatório social de um arguido, nesse dia é dado conhecimento da junção do relatório, é dada a palavra ao MP e à defesa para alegações e é encerrada a discussão e é adiado para 6 dias depois para a leitura do acórdão. Isto porque a reabertura da audiência nunca excedeu 30 dias após a suspensão e o relatório social não pode deixar de ser considerado como prova sujeita ao contraditório. Considerando que no dia em que foi junto o relatório social, o tribunal deveria ter decidido se alguns dos actos já realizados deviam ser repetidos, a falta da decisão ou constitui irregularidade que deveria ter sido arguida no próprio acto ou nulidade do art. 120, 2, d), que pode entender-se sanada pela natureza das provas antes produzidas que não perdiam eficácia.

07-02-1996 Relação de Coimbra

CJ, Tomo I, págs. 51 e 52

Irregularidade Em sede de inquérito, a reparação oficiosa de irregularidade processual, como actividade preventiva, compete unicamente ao M.P.

07-02-1996 Relação do Porto

CJ, Tomo I, págs. 247 e 248

Nulidade de acórdão Se o STJ declarou nulo o acórdão do tribunal colectivo e determinou que o mesmo tribunal elabore outro com respeito pelo formalismo legal cuja omissão originou a nulidade, o cumprimento do julgado compete aos juízes que subscreveram o acórdão anulado, mesmo que alguns deles já se encontrem noutro tribunal.

14-02-1996 S.T.J.

BMJ 454 (1996) p. 519

Audiência Continuidade Interrupção do julgamento por mais de 30 dias Perda de eficácia da prova Irregularidade

O art. 238 n.º 6 C.P.P. estipula que o adiantamento do julgamento não pode exceder 30 dias. Porém, a lei não comina para tal facto a nulidade, sendo certo que o acto só será nulo quando a nulidade for expressamente cominada - art. 118 n.º 1 do C.P.P. O acto será pois irregular e, sendo-o, só afectaria a validade daquele e dos termos subsequentes se tivesse sido arguida a ilegalidade pelos interessados no próprio acto, se a ele tivessem assistido, ou nos três dias seguintes, se a ele não estivessem presentes. No caso dos autos, esse período do tempo foi excedido através de adiamentos sucessivos. Porém, tal ilegalidade não foi suscitada pelo M.P. no próprio acto e só no recurso da decisão final a vem arguir, não obstante constar das actas de julgamento que sempre esteve nelas representado. O acto de interrupção, apesar de ilegal, não é, assim susceptível de produzir qualquer invalidade – art. 123.º n.º 1 C.P.P.

28-02-1996

Relação de Coimbra

CJ, Tomo I, págs. 52 a 54

Nulidade Insanável Constitui nulidade insanável a intervenção na audiência de julgamento de defensor que não possa suscitar questões de direito, ainda que a nomeação tenha sido feita a pedido do arguido. Um solicitador apenas pode intervir num processo penal se constituído em conjunto com um advogado ou para actos urgentes ou na impossibilidade de nomear advogado.

06-03-1996

S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 221 a 224

Nulidade prevista no artigo 355.º, n.º 2 e artigo 356.º, 3, a), do C.P.P.

O Tribunal pode proceder à leitura das declarações prestadas na fase instrutória, desde que o hajam sido em perante juiz e houver entre elas e as prestadas em audiência contradições ou discrepâncias sensíveis que não possam ser esclarecidas de outra forma.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

43

06-03-1996

S.T.J. C J, Tomo I, págs. 221 a 224

Proibição de prova Tendo havido separação de culpas, o arguido já julgado no processo inicial, tem capacidade para ser testemunha no julgamento de outro co-arguido, podendo o seu depoimento ser utilizado como meio de prova na formação da convicção do tribunal.

07-03-1996

S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 231 a 233

Habeas Corpus A nomeação de um senhor solicitador como defensor do arguido, para assistir ao 1.º Interrogatório não constitui nulidade insanável. Todavia, logo que seja proferida decisão quanto à aplicação da prisão preventiva, deverá ser nomeado defensor.

20-03-1996

Relação do Porto

CJ, Tomo II, págs. 233 a 235

Nulidade Insanável Constitui nulidade insanável a falta de notificação do arguido e defensor para uma audiência destinada a apreciar da possibilidade de aplicação de uma medida de clemência (perdão) e a refazer o cúmulo jurídico da pena.

28-03-1996 S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 238 a 240

Proibição de prova É lícita, como agentes infiltrados, a actuação de agentes da GNR que se apresentaram no local como se fossem tóxico-dependentes, na companhia de viciados como tais conhecidos do arguido. O arguido já estava pré-determinado a proceder à venda dos estupefacientes a quem quer que lhe aparecesse a pedir-lhe.

28-03-1996

S.T.J. CJ, Tomo I, págs. 238 a 240

Erro notório na apreciação da prova

Verifica-se a omissão de pronúncia e erro notório na apreciação da prova, quando o Tribunal se limitou a decidir que não se provou que o arguido ao desferir um golpe de faca de cozinha no abdómen da vítima, perfurando-lhe o jejuno e o mesentério, tivesse agido com dolo directo, conforme constava da acusação, sem ter investigado e decidido sobre as restantes modalidades de dolo.

16-04-1996

Relação de Lisboa

CJ, Tomo II, págs. 152 e 153

Irregularidade A busca que se realize após o termo do prazo concedido pelo juiz não enferma de nulidade, pois não estava previsto no artigo 118.º, 1, C.P.P., mas apenas de irregularidade (Cfr. nova redacção do n.º 4, do artigo 174 C.P.P.).

30-05-1996 S.T.J. B.M.J. n.º 457, Leitura de documentos em audiência. Declarações de arguido. Valor probatório. Princípio In Dúbio Pro Reo. Poderes de cognição do S.T.J.

I – Os documentos probatórios que se encontram junto aos autos não são de leitura obrigatória na audiência de julgamento, considerando-se examinados e produzidos em audiência independentemente de nesta ter sido feita a respectiva leitura e competente menção em acta II – Nada impede que um arguido preste declarações sobre factos de que possua conhecimento directo e que constituam objecto de prova (…).

04-06-1996 S.T.J.

BMJ 458 (1996) p. 169

Crimes de roubo e sequestro Vícios do acórdão Nulidade de julgamento Reenvio do processo

O art. 374 n.º 2 C.P.P. impõe a obrigatoriedade da enumeração dos factos provados, não se contentando o legislador com a afirmação vaga e imprecisa de que se não provaram os demais factos que estivessem em oposição com os apurados, na contestação, pelo arguido. Tal vício é gerado da nulidade da decisão. Para além deste vício, o acórdão em apreço enferma igualmente do vício de contradição insanável da fundamentação, que origina a nulidade do julgamento.

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20-06-1996 S.T.J. BMJ 458 (1996) p. 187

Requisitos da sentença Fundamentação Enumeração dos factos provados e não provados Indicação das provas que serviram para formar a convicção do tribunal Nulidade da sentença

A fundamentação da sentença basta-se com a indicação expressa dos meios de prova produzidos em julgamento e que serviram para formar a convicção do julgamento quanto aos factos provados e não provados. Só a ausência total de referência às provas que constituíram a fonte de convicção do tribunal constitui violação do art. 374.º n.º 2 C.P.P., o que acarreta a nulidade da decisão por força do art. 379 do C.P.P.

03-07-1996

S.T.J. C J, Tomo II, págs. 208 a 211

Nulidade O art. 328.º, 6 do C.P.P. emprega o termo adiamento em sentido amplo, abrangendo o adiamento propriamente dito, quando não foi declarada a sua abertura, quando não se iniciou ainda a ordem de trabalhos e a interrupção. Ordenando-se a continuação de audiência suspensa de forma a ser ultrapassado o prazo de 30 dias de adiamentos, não se verifica a nulidade, mas apenas a perda da eficácia da prova feita oralmente nas sessões.

10-07-1996

S.T.J. CJ, Tomo II, págs. 229 a 251

Artigo 355.º, 1, C.P.P. Os documentos constantes do processo consideram-se reproduzidos em audiência de julgamento, independentemente da sua leitura e é irrelevante que as actas sejam omissas quanto aos que contribuíram para a formação da vontade.

10-07-1996 S.T.J. CJ, Tomo II, págs. 229 a 251

Artigo 410.º, 2, c), C.P.P. O erro na apreciação da prova só é considerado notório quando, contra o que resulte de elementos que constam dos autos, cuja força probatória não haja sido infirmada, ou de dados do conhecimento generalizado, se emite um juízo sobre a verificação, ou não, de certa matéria de facto e se torne incontestável a existência de tal erro de julgamento sobre a prova produzida. Assim, as regras de experiência comum, em princípio, só podem ser invocadas quando da sua aplicação resulte, sem equívocos, a inexistência do aludido erro.

16-08-1996

Relação de Lisboa

CJ, Tomo IV, págs. 155 a 157

Artigo 188º, 1, C.P.P. Não constitui nulidade, mas somente fundamento de pedido de aceleração ou a procedimento disciplinar, a exigência estabelecida no artigo 188, 1, C.P.P., sendo certo que a expressão “imediatamente” deve ser entendida no sentido de “no tempo mais rápido possível”.

01-10-1996

Relação de Lisboa

CJ, Tomo IV, págs. 159 e 160

Notificação para audiência em Tribunal Superior

A notificação de um acórdão, de um tribunal superior, proferido em audiência para a qual o arguido não tenha, nem devesse ter sido convocado, vale como a feita a ele próprio, quando o seja ao defensor oficioso, ainda que nomeado em substituição do primitivo defensor, convocado, mas ausente.

02-10-1996 S.T.J. BMJ 460 (1996) p. 217

Direito Probatório Regras da experiência comum Fundamentação

Se, no julgamento da matéria de facto descrita na proposição anterior, tribunal não tiver fundamentado a conclusão dada assente de que a droga se destinava ao consumo pessoal, a decisão tem de ser considerada como inquinada por violação do art. 410.º n.º 2 a) C.P.P.

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insuficiente Nulidade da decisão Reenvio do processo

19-10-1996

Relação de Évora

CJ, Tomo IV, págs. 302 e 303

Nulidade I – A violação do disposto no n.º 6, do artigo 328 C.P.P. – aproveitamento da prova produzida mais de 30 dias antes da prolação da sentença – constitui nulidade que, quando invocada nas alegações de recurso, determina a nulidade do julgamento, ainda que a prova oral já tenha sido produzida e a suspensão do processo tenha sido determinada, apenas, para obtenção de elementos escritos.

30-10-1996 S.T.J. B.M.J. n.º 460 Conversas informais: Valoração. Perda de veículo automóvel a favor do Estado Roubo e uso de arma proibida: Não consumpção. Falsificação de chapa de matrícula. Lei penal no tempo

I - Resultando da fundamentação de facto do acórdão recorrido que os agentes investigadores da policia judiciária se limitaram a narrar “as diligências em que cada um deles interveio”, não é aplicável aos seus depoimentos o preceituado no n.º 7 do art. 356º do Código de Processo Penal, também tendo valorado a narração de “conversas informais” com os arguidos. II – O veiculo automóvel que foi posto pelo seu dono à disposição dos outros arguidos para o reconhecimento da agência bancária que deveria ser assaltada, oferecendo sério risco de vir a ser utilizado para o cometimento de novas infracções criminais, deve ser objecto de declaração de perda a favor do estado. III – Tendo os arguidos cometido um crime de roubo, com a utilização de armas de fogo proibidas, não se verifica a consumpção de crime de uso de arma proibida por aquele, devendo ambas as infracções ser punidas autonomamente. (…)

06-11-1996 S.T.J. CJ, Tomo II, págs. 195 a 197

Nulidade contida no artigo 332.º, 1, e 119, a) C.P.P. Irregularidade prevista no artigo 123 C.P.P.

Quando o processo baixa para, pelos mesmos juízes, ser suprida a irregularidade de falta de indicação dos factos não provados, não é necessária a notificação do M.P., arguido e seu defensor para comparecerem à reunião do tribunal colectivo e a prova produzida anteriormente, mesmo ultrapassando os 30 dias, não perdeu a sua eficácia, por a audiência onde foi produzida ter terminado nesse prazo.

19-11-1996

Relação de Évora

CJ, Tomo V, págs. 287 e 288

Inexistência Apesar de constar de acta de julgamento que, realizada a audiência foi, pelo juiz, lida a sentença e notificado o arguido, verificar-se-á a inexistência daquela peça processual se, tratando-se de processo comum, não tiver sido apresentada na secretaria.

20-11-1996 STJ

BMJ 461 (1996) p. 321

Lugar da prática do facto Tempo Princípio do contraditório Alteração substancial dos factos Nulidade do acórdão

Tendo a acusação localizado temporalmente os factos em data não apurada do fim do ano escolar de 1991/1992, tendo a ofendida 9 anos de idade, e a decisão final condenado o arguido por factos que aconteceram em data não apurada do fim do ano escolar de 1992/1993, tendo ela 10 anos de idade, operou-se uma alteração substancial dos factos, que, não tendo obedecido ao ritualismo do art. 358.º C.P.P., conduz a nulidade do acórdão, por força do art. 379 b) do C.P.P.

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20-11-1996

Relação do Porto

CJ, Tomo V, págs. 234 e 235

Nulidade Constitui nulidade dependente de arguição (artigo 120, 2, d) C.P.P.) a decisão por mero despacho, relativo a recurso interposto contra a decisão que aplicou a coima, contra a oposição expressa do arguido.

20-11-1996

Relação do Porto

CJ, Tomo V, págs. 237 e 239

Nulidade do despacho que aplicou o arresto preventivo por: - ter sido omitida a possibilidade de prestar caução (artigo 227 e 228 C.P.P. e artigo 120, 2, a); - o arguido não ter sido notificado para assistir á inquirição de testemunhas, foi violado o disposto no artigo 61,1, a), C.P.P.; - não estar suficientemente fundamentado.

- O arresto preventivo, sem imposição prévia de caução ao arguido, constitui irregularidade processual, de conhecimento oficioso (artigo 123, 2, do C.P.P.). - A não audição do arguido antes de aplicar a medida de coacção não constitui nulidade insanável, desde que seja devidamente fundamentada (artigo 194, 3, C.P.P.). - Constitui nulidade a não fundamentação do despacho que aplique uma medida de garantia patrimonial ou uma medida de coacção, nomeadamente quanto à indicação das exigências cautelares e dos indícios que em concreto justificam a medida aplicada, e a indicação dos meios de prova pertinentes.

03-12-1996

Relação de Évora

CJ, Tomo V, pág. 292

Correcção da Sentença A correcção da sentença deve ser efectuada pelo Juiz que a tenha proferido mas, quando o mesmo tenha deixado de exercer funções no tribunal onde foi efectuado o julgamento, será competente para o efeito, o Juiz a quem esteja afecto o respectivo processo, desde que deste constem todos os elementos essenciais.

06-12-1995 S.T.J. BMJ 452 (1996) p. 322

Fundamentação da decisão Indicação dos meios de prova Erro material

Se se derem como provados factos sobre os quais não se indicou a prova que serviu para formar a convicção do Tribunal, de designadamente os autos de exame directo e de sanidade dos autos, mas é óbvio que foram esses autos que permitiram dar como provadas as lesões sofridas pelo ofendido e as suas consequências, tanto mais que, neste aspecto, o Tribunal se limitou a dar como provados os factos que constavam da acusação; trata-se de um mero lapso do Tribunal recorrido, cuja eliminação não importa modificação essencial e que pode ser corrigido no STJ de harmonia com o art. 380.º n.º 1 b) e 2 C.P.P., não tendo sido violado o art. 374.º n.º 2, nem é nulo – art. 379.º a) este como aquele do C.P.P.

10-12-1996 Relação de Lisboa

CJ, Tomo V, págs. 157 e 158

Irregularidade Processual

Quando não se tenha prescindido da documentação da prova, produzida em julgamento, deverão ser transcritos na respectiva acta as declarações e depoimentos prestados, ainda que constem de gravação magnetofónica ou áudio simples.

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18-12-1996

Relação do Porto

Irregularidade traduzida na omissão da sua notificação pessoal do acórdão do STJ proferido nos autos; requerendo ao juiz da 1.ª Instância que sanasse a irregularidade com a notificação pessoal em falta.

Improcede a arguição da irregularidade, com fundamento em que ao tribunal inferior está vedado apreciar a arguição de nulidades ou irregularidades cometidas pelo tribunal superior (artigo 15.º da LOTJ).

18-12-1996

S.T.J. CJ, Tomo II, págs. 210 a 212

Nulidade prevista no artigo 379.º, n.º 1, a) e artigo 374.º, n 2, do C.P.P.

Constitui nulidade da decisão recorrida a falta de pronúncia sobre parcela do pedido de indemnização formulado, não condenando nem justificando a não condenação. Porém, se contiver em si todos os elementos de prova que permitam uma decisão, deve o tribunal de recurso aplicar o direito.

18-12-1996

S.T.J. C J, Tomo II, págs. 212 a 214

Absolvição do arguido que tinha confessado na audiência de julgamento.

Não tendo sido impugnado o despacho que declarou provados os factos imputados ao arguido, por este os ter confessado de forma integral e sem reservas, viola o disposto no artigo 666, 1, CPC, por aplicação do artigo 4, do C.P.P., a sentença que absolve o arguido. Nesse caso, deve ser anulado o julgamento e proceder-se à sua repetição, se possível, com os mesmos juízes.

19-12-1996

S.T.J. CJ, Tomo II, págs. 214 a 222

Artigo 344.º, 3, C.P.P. Nada impede que um arguido preste declarações sobre factos de que possua conhecimento directo e que constituam objecto da prova, ou seja, tanto sobre factos que a ele digam directamente respeito como sobre factos que também respeitem a outros arguidos. As declarações de co-arguido são meios de prova e como tal, o Tribunal pode valorá-las para fundar a sua convicção acerca dos factos que deu como provados. Não resulta do disposto no artigo 344 do C.P.P. que não podem ser valoradas as declarações de um co-arguido quando haja co-arguidos que não confessaram integralmente e sem reservas. O que o n.º 3 desse dispositivo afasta é a “força probatória pleníssima” e não todo e qualquer valor probatório e as consequências que o n.º 3 estabelece para a confissão integral e sem reservas. Sendo os crimes puníveis com pena superior a 3 anos e existindo co-arguidos que não confessaram integralmente e sem reservas, as declarações do arguido constituem um meio de prova válido a apreciar livremente pelo Tribunal.

Jurisprudência referente ao ano de 1996 recolhida por

Alexandre Monteiro de Macedo e Miguel Marques dos Reis Rocha

Paula Gil

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 09-01-1997 S.T.J BMJ nº 463

Pág 416 Nulidade Se for cometida alguma irregularidade do artigo 147.º do C.P.P. aquando da prova do reconhecimento

em inquérito, tem de ser arguida no prazo previsto no artigo 120.º, n.º 3, alínea c). Ainda que tivesse sido admitida prova de reconhecimento, que não o foi em audiência de julgamento sem respeito pelo disposto no artigo 147.º, a nulidade tem de ser arguida imediatamente (porque acto praticado na presença do interessado) e não no recurso do acórdão.

09-01-1997 S.T.J. www.dgsi.pt Proc. nº 96P783

Meio de Prova Proibido A nulidade por violação do preceituado no artigo 147.º do C.P.P. deve ser arguida no prazo fixado no artigo 120.º n.º 3, alínea c), do mesmo Código. O reconhecimento do arguido, feito por uma testemunha no decurso da audiência, não tem que obedecer ao formalismo do artigo 147.º do C.P.P., incompatível com os ritos da própria audiência e com a presença no tribunal de todos os interessados no julgamento. Perante o depoimento de testemunhas que afirmam reconhecer o arguido fica sempre aberta, ao acusado, a possibilidade de demonstrar, em contra-interrogatório (artigo 348.º, n. 4 do C.P.P.) que as afirmações dessas testemunhas não merecem credibilidade, por qualquer dos meios que o princípio do contraditório admite.

15-01-1997

Relação de Lisboa

Nulidade Insanável Requerido julgamento com processo sumaríssimo, houve violação do artigo 392.º nsº. 1 e 2 do C.P.P., uma vez que estamos perante crime punível com prisão até 1 ano e sanção acessória diversa da "inibição do direito de conduzir"; verificando-se a nulidade insanável prevista no artigo 119.º al. f) do C.P.P., sendo certo que a falta de inquérito também constituirá nulidade insanável face ao disposto no artigo 119,º al. d) do mesmo diploma legal.

15-01-1997

S.T.J BMJ nº 463 Pág 226

Meio prova proibido A alínea a) do n.º 2 do artigo 126.º do C.P.P. proíbe a utilização de meios enganosos na obtenção de provas, de que é exemplo máximo, a hipótese em que o delinquente é levado a agir por pressão ou sugestão de pessoa que julga ser um seu comparticipante, ou no caso de tráfico, uma pessoa interessada em adquirir o que ele se dispõem a vender, mas que é simplesmente um membro de entidade investigadora que age com o objectivo de arranjar elementos conducentes à sua punição.

21-01-1997

Relação de Lisboa

www.dgsi.pt, Proc. n.º 0005685

Nulidade Insanável Não tendo o M.P. usado da faculdade conferida pelo artigo 16.º n.º 3 do C.P.P., compete ao Tribunal Colectivo, sob pena de nulidade insanável, julgar o processo em que haja concurso de infracções passíveis individualmente de pena máxima não superior a 5 anos de prisão, mas a que, em cúmulo jurídico, possa corresponder uma pena única (abstractamente aplicável) superior àquele limite; o qual, antes da entrada em vigor do DL n. 317/95 de 28 de Novembro, era de 3 anos de prisão.

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04-02-1997 S.T.J BMJ nº 464 Pág. 432

Nulidade Realizada a audiência de julgamento, sem repetição dos actos anteriores e sem qualquer reclamação, já não é admissível a arguição de nulidade do despacho que designou para a continuação dessa audiência (artigo 203.º n.º 2 do C.P.P.)

04-02-1997

Relação de Évora

CJ, Tomo I, págs. 306 e 307

Nulidade Insanável A falta de comparência de um arguido ao debate instrutório, por não ter sido notificado no local constante dos autos, determina a nulidade daquele acto, [art. 119.º c) e 122.º n.º 1 e 2 C.P.P.] inclusive quanto aos restantes co-arguidos, apesar de terem estado presentes.

05-02-1997

S.T.J. www.dgsi.pt Proc. nº 96P796

(Não há) Nulidade Insanável

Não constitui nulidade insanável a intervenção do juiz que havia presidido à instrução, ao debate instrutório e que lavrou o despacho de pronúncia, em duas sessões de audiência de julgamento que foram adiadas devido à não comparência do arguido às mesmas.

05-02-1997

Relação do Porto

CJ, Tomo I, págs. 247 a 249

Nulidade Insanável Constitui nulidade insanável a não notificação ao arguido, mas apenas ao seu defensor, da data para a continuação da audiência, que foi suspensa depois de produzida toda a prova, para o efeito de se obter o parecer de um perito.

12-02-1997 S.T.J BMJ nº 464 Pág 346

Nulidade da sentença Verifica-se a nulidade prevista no artigo 379.º alínea a), do C.P.P., a ser suprida pelo tribunal da decisão viciada, quando este não indica as provas em que faz assentar a sua convicção acerca da propriedade e posse de um veículo que declara perdido a favor do Estado.

12-02-1997

Relação do Porto

CJ, Tomo IV, págs. 257 e seguintes

Irregularidade A não comunicação pelos OPC, no mais curto prazo possível, do crime que lhes tenha sido denunciado, em violação do art. 248.º C.P.P., constitui mera irregularidade, que se deve considerar sanada com a intervenção directa do M.P. no processo

19-02-1997 S.T.J BMJ, 464 Pág 407

Nulidade da sentença Mostra-se ferido de nulidade, por falta de fundamentação, o acórdão em que o tribunal, no raciocínio lógico-formal de subsumpção dos factos ao direito aplicável, se limitou a revelar a conclusão, sem que em qualquer momento tenha exposto as premissas de que partiu, designadamente quais os elementos essenciais dos tipos legais de crime por que condenou o arguido e os factos que, entre os provados, os integram e por que razão

12-03-1997

Relação de Lisboa

CJ, Tomo II, págs. 137 a 139

Nulidade Sanável

È obrigatório a presença do M.P. no debate instrutório. Essa falta constitui nulidade sanável.

20-03-1997

S.T.J. www.dgsi.pt Proc. nº 96P532

Nulidade Insanável Nulidade Sanável

É nula, de conhecimento oficioso e invocável a todo tempo, a sentença que condena por crime em relação ao qual se verifica falta de promoção do M.P. É anulável nos termos do art. 379.º C.P.P., e por isso, dependente de arguição, a sentença que condena por factos diversos dos descritos na acusação ou da pronúncia, fora das condições previstas nos artigos 358.º e 359.º.

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10-04-1997 S.T.J BMJ nº 466 Pág. 172

Nulidade Sanável Não constando da acta a justificação legal para a leitura dessas declarações do arguido ou qualquer referência a ela, como deveria ter sucedido, tal omissão é passível de verificação de nulidade (artigo 356.º n.º 8 C.P.P.) Essa nulidade encontra-se, porém, sanada por não ter sido oportunamente arguida na audiência de julgamento, aquando da prática do respectivo acto, onde se achavam presentes o arguido e o seu defensor oficioso (artigo 120.º, nºs 1 e 3, alínea a) C.P.P.).

17-04-1997

Relação de Coimbra

CJ, Tomo II, págs. 58 a 60

Nulidade Sanável Um juiz não pode efectuar o julgamento de processo em que proferiu o despacho de pronúncia. Fazendo-o, o julgamento é nulo, sendo, todavia, essa nulidade dependente de arguição.

28-05-1997

Relação de Lisboa

C J, Tomo III, págs. 49 e 50

Nulidade Insanável

A não transcrição na acta de audiência de julgamento do despacho que decretou que ele se realizasse com exclusão de publicidade – “à porta fechada” – constitui nulidade insanável, prevista no art. 321.º n.º 1 do C.P.P., que acarreta a nulidade da própria audiência e de todos os actos dela dependentes.

17-09-1997

S.T.J. CJ, Tomo III, págs. 173 a 176

(Não há) Nulidade Insanável

Não constitui nulidade de conhecimento oficioso a falta do relatório social e a não aplicação ao arguido do regime especial para jovens delinquentes.

18-09-1997 Relação de Coimbra

CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo IV, págs. 50 a 52

Nulidade Sanável A exigência legal de, na fundamentação da sentença, constar a enumeração dos factos provados e não provados só se satisfaz com a relacionação ou narração minuciosa, isto é, um a um dos factos provados e não provados. Assim, esta ferida de nulidade a sentença em que, no tocante aos factos não provados, se escreveu: “Não se provaram quaisquer outros factos com relevância para a decisão”.

24-09-1997

Relação de Lisboa

CJ, Ano XXII, págs. 144 a 146

Irregularidade

Verifica-se mera irregularidade, no caso de o assistente ter deduzido acusação por crime público ou semi-público e de o Ministério Público, posteriormente, ter apenas declarado acompanhá-la.

25-09-1997 S.T.J BMJ nº 469 Pág 351

Prova Proibida O tribunal pode valorar o depoimento de um agente da polícia judiciária, não sobre declarações (por si recebidas) prestadas no decurso do processo pelo arguido ou testemunhas, mas acerca dos factos de que tomou conhecimento directo, mercê da vigilância a que procedeu ao local do crime ou da investigação que fez a partir de denúncia do indivíduo cuja identidade não foi revelada, ou ainda do que observou aquando da busca efectuada.

08-10-1997

Relação de Coimbra

C J, Tomo IV, págs. 56 a 58

Nulidade Insanável O defensor do arguido deve estar presente na inquirição de testemunhas feitas pelo JIC em inquérito, para decidir sobre a prisão preventiva. A sua falta nesse acto constitui nulidade insanável.

09-10-1997 S.T.J BMJ nº 470 Pág 355

Nulidade da sentença

Não constitui nulidade da sentença por alteração substancial dos factos descritos na acusação ou pronúncia a condenação por crimes diversos daqueles que eram imputados aos arguidos. É nula, por violação de direito de defesa, a decisão que condena por cinco crimes de violação de domicílios os arguidos que vinham acusados de cinco crimes de introdução de local vedado ao público sem que o tribunal previamente lhes comunique a alteração da incriminação.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

51

14-10-1997

Relação de Lisboa

CJ, Tomo IV, págs. 150 a 152

Nulidade Insanável A aplicação da medida de prisão preventiva, sem audição do M.P. e do arguido e sem qualquer tomada de posição sobre a eventual impossibilidade ou inconveniência do respectivo contraditório, constitui nulidade insanável.

15-10-1997 S.T.J BMJ nº 470 Pág 373

Nulidade da sentença Como o tribunal não averiguou os factos constantes da acusação, e que permitiam decidir da sua subsunção ao regime do art. 4.º do DL n.º 401/82, não enumerou se esses factos estavam ou não provados, pelo que incorreu na nulidade dos arts 379.º e 374.º/2 do C.P.P., o que desde logo impede o tribunal de recurso de apreciar também oficiosamente se ocorriam ou não os requisitos de submissão do caso ao referido art. 4.º. Esta nulidade, impedindo o tribunal de recurso d proferir essa decisão de direito por carência, no acórdão, desses elementos de facto olvidados de contestação, é nulidade de conhecimento oficioso e implica a anulação do julgamento, e não o reenvio.

16-10-1997 Relação de Coimbra

CJ, Tomo I, págs. 238 a 240

Irregularidade Nulidade Sanável

A falta de indicação sumária das conclusões contidas na contestação constitui mera irregularidade. A falta de enumeração de factos provados sobre os quais o tribunal tinha de se pronunciar constitui nulidade dependente de arguição.

06-11-1997

Relação de Coimbra

C J, Acórdãos do S.T.J., Tomo V, págs. 48 a 50

Nulidade Sanável Constitui nulidade da sentença e não vício de insuficiência de factos para a decisão, a falta de indicação de factos que, constantes da acusação, deveriam ter merecido um julgamento pelo tribunal.

12-11-1997

S.T.J. www.dgsi.pt Proc. nº 97P1203

Meio de Prova Proibido A omissão de alguma das formalidades descritas no Capítulo IV do Código de Processo Penal, subordinado à epígrafe "Da prova por reconhecimento", não constitui nulidade insanável.

12-11-1997 Relação de Coimbra

CJ, Tomo V, págs. 50 a 52

Irregularidade O ofendido por crime particular tem de se constituir assistente no processo que impulsionou por esse crime. Não tendo de tal sido advertido no acto de apresentação da queixa, deve ser convidado a constituir-se assistente. Não tendo sido adoptado este procedimento, a irregularidade cometida considera-se sanada se o ofendido a não arguir logo que intervir no processo.

Toda a Jurisprudência referente ao ano de 1997 foi recolhida por

Tatiana Matos Silva

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

52

Data Tribunal Publicação Observações Sumário 08-01-1998 S.T.J. CJ, Tomo I, pág.

153

Omissão de pronúncia É nulo o acórdão quando, tendo nele sido certificado e dados por assentes factos que constavam da acusação e susceptíveis de configurar o crime acusado, ou de permitirem ponderar sobre a bondade dessa configuração, se omita toda e qualquer decisão, relativamente a tais factos e a tal crime. A nulidade cometida é de conhecimento oficioso, mas determina apenas a anulação do acórdão e o reenvio do processo ao Tribunal a quo.

08-01-1998

S.T.J. CJ, Tomo I, pág. 155

Métodos proibidos de prova

Não é nula a prova obtida por autoridades policiais que, sob disfarce, ou ocultas perante o suspeito, o surpreendam ou encaminhem para espaços ou tempos em que a sua actividade criminosa pudesse ser revelada.

08-01-1998

S.T.J. CJ, Tomo I, pág. 158

Prova proibida Validação de buscas

Nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, bem como nos demais referidos art. 174º a) C.P.P., se a busca não tiver sido previamente ordenada pela autoridade judiciária competente, deverá ser imediatamente comunicada ao Juiz de Instrução para efeitos do n.º 4 do citado art., ainda que o visado tenha, expressamente, consentido na sua realização. A validação judicial pode ser implícita, desde que se revele inequivocamente.

15-01-1998

S.T.J. CJ, Tomo I, pág. 130

Métodos proibidos de prova

A actuação do 1º sargento da GNR que, na investigação, instigou um arguido a contactar telefonicamente outro arguido, a fim de simular uma entrega de haxixe, não está abrangida no art. 126º do C.P.P.; é lícita e, por isso, os meios de prova dela resultantes não podem haver-se como proibidos.

21-01-1998 S.T.J. BMJ n.º 473, pág. 374

Nulidade da sentença por falta de menção dos factos não provados na sentença – art. 379º a)

Nos termos do art. 374º n. 2, enumerar os factos significa expor um a um os factos provados, não podendo adoptar-se o sistema de se referir à factualidade usando-se expressões de ordem genérica. Só com a individualização dos factos é possível dar-se uma sentença clara e precisa e propiciar-se, quando o processo suba em recurso, a oportunidade do tribunal ad quem proferir uma decisão jurídica que abarque a matéria que efectivamente foi considerada na primeira instância e ali objecto de deliberação e votação. A falta de menção na sentença dos factos não provados constituiu nulidade prevista no art. 379 a). A expressão “com interesse para a decisão da causa não ficaram provados quaisquer outros factos” equivale à falta de menção dos factos não provados.

21-01-1998

S.T.J. BMJ n.º 473, pág. 113

Falta de menção na acta da prova documental

A lei não exige que se proceda, em julgamento, à leitura da prova documental contida nos autos quando o arguido dela teve prévio conhecimento. E, na hipótese de o tribunal dela se socorrer, não constitui nulidade a falta da sua menção na acta.

22-01-1998

S.T.J. www.dgsi.pt proc. n.º 97B604

Falta de indicação das disposições legais na sentença

O facto de no acórdão recorrido se não indicarem as disposições legais que fundamentam a decisão não implica nulidade, embora seja essencial que se mencionem os princípios, as regras, as normas em que a decisão se apoia.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

53

27-01-1998

S.T.J. BMJ n.º 473, pág. 166

Prova proibida Nulidade relativa da revista – 120º n. 3 c)

A revista pode ser efectuada pelos órgãos de polícia criminal sem prévia autorização da autoridade competente nos casos em que as condutas integrem os crimes previstos nos arts. 21º a 24º do DL 15/93 (tráfico de estupefacientes) devendo, porém, ser comunicados imediatamente ao JIC e por este apreciados em ordem à sua validação (174/4 C.P.P.). A nulidade decorrente da falta de comunicação a que alude o art. 174/4 não é insanável, logo deve ser arguida nos termos do art. 120º n. 3 c).

28-01-1998

S.T.J.

BMJ n.º 473, p. 186

- Alteração da qualificação jurídica para figura mais grave sem tempo para a defesa – 379º b)

(28-01-98) É dever do tribunal corrigir, ainda que em figura criminal mais grave, a qualificação jurídica dos factos da acusação ou pronúncia. É também obrigação do tribunal dar conhecimento prévio ao arguido da alteração da qualificação jurídica dos factos; é nula a sentença, sempre que se omite esse dever de conhecimento prévio, nos termos do art. 379º b), determinado tal nulidade a realização de novo julgamento. (11-02-8-98) Constitui a nulidade prevista na alínea b) do artigo 379 do C.P.P a circunstância de o Tribunal Colectivo, embora sem acrescentar quaisquer factos novos à acusação e à pronúncia, os haver qualificado jurídico - penalmente de forma diversa, considerando-os integradores de uma infracção mais grave do que a mencionada na pronúncia e, antes, na acusação - tendo sido a arguida acusada e pronunciada por um crime de homicídio previsto e punido pelo artigo 131 do C. P., foi condenada pela prática de um crime de homicídio qualificado previsto e punido pelos artigos 131 e 132, ns. 1 e 2, alíneas f) e g), do C. Penal - não sendo a arguida prevenida da eventualidade desta diferente qualificação jurídica nem lhe tendo sido dada a possibilidade de dela se defender.

12-02-1998 S.T.J. BMJ n.º 474, pág. 321

- Vícios da sentença: Fundamentação - Contradição da fundamentação da decisão de facto

I – No apuramento do vício da contradição da fundamentação da sentença a que se refere a alínea b) do n.º 2 do artigo 410.º do Código de Processo Penal não se pode confundir a insuficiência da matéria de facto provada com a insuficiência da prova para a decisão de facto que foi proferida. II – Se no acórdão sob recurso, além dos meios de prova de que o tribunal se socorreu para formar a sua convicção, se indica a razão de ciência de cada uma das pessoas cujos depoimentos ou declarações tomou em consideração, não se verifica insuficiência dos motivos de facto que fundamentam a decisão, nos termos do artigo 374.º, n.º 2, do Código de Processo Penal.

19-02-1998

(orientações divergentes)

S.T.J.

www.dgsi.pt processo n.º 97P1182

Falta de comparência do defensor na audiência de julgamento

(19-02-98) Não constitui qualquer nulidade insanável o facto de: A. Não tendo comparecido à audiência de julgamento o advogado constituído por dois arguidos, embora para tal tivesse sido notificado, o Tribunal Colectivo ter nomeado a esses arguidos um defensor oficioso e, declarando este a sua incapacidade para defender tais arguidos, dada a sua agressividade, haver nomeado para estes um terceiro defensor, recusando-se os ditos arguidos a prestar declarações, dizendo que só as prestariam na presença do advogado por eles constituído, o que manifestaram de forma desordeira e agressiva, o que levou o Tribunal a fazê-los recolher a uma sala contígua à sala de audiências, donde ainda voltaram a esta por duas vezes mas sempre recusando a prestação das suas declarações sem estar presente o dito advogado, pelo que foi determinado o seu regresso à tal sala contígua, prosseguindo o julgamento até final sem a presença deles.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

54

17-06-1998

Relação do Porto

CJ, Tomo III, pág. 241

(17-06-98) I – Mostra-se ferida de nulidade insanável a audiência de julgamento a que se procedeu na ausência do arguido (como requerera e obtivera deferimento), sem a presença do respectivo mandatário constituído apesar deste ter sido substituído por defensor oficioso. É que, num tal caso, é impossível a conferência do arguido com o defensor que acaso lhe fosse constituído. Oral, a possibilidade de tal conferência é pressuposto da validade dessa substituição. II – Tendo em conta sobretudo o interesse da defesa, sendo certo que a substituição imediata pode representar um forte grava para o arguido, impunha-se o adiamento do julgamento por prazo não superior a cinco dias, havendo lugar a um único adiamento.

19-02-1998

S.T.J. www.dgsi.pt processo n.º 97P1099

- Alteração não substancial dos factos sem tempo para defesa – 379º b)

Não constando da acusação - nem, é óbvio, da contestação -, o facto de o arguido manter a exploração do "centro de massagens" onde explorava a prostituição depois da intervenção policial em 19 de Abril de 1993 tem efeitos agravativos da pena ao mesmo aplicável, como os teve no acórdão recorrido. O facto anteriormente sumariado constitui uma alteração não substancial dos factos descritos na pronúncia, com relevo para a decisão da causa, pelo que, ainda no decurso da audiência, o presidente do tribunal colectivo devia ter comunicado ao arguido e conceder-lhe, se ele o requeresse, o tempo (estritamente) necessário para a preparação da defesa. Por não ter sido feito como se diz no ponto anterior, a sentença é nula – artigo 379, alínea b), do C.P.P. – e essa nulidade tem por efeito a anulação do julgamento mas só na medida necessária para dar cumprimento ao preceituado no artigo 358, n. 1, já atrás citado, não sendo porém causa de reenvio do processo, o qual só pode ter lugar no caso de se verificar algum dos vícios do n.º 2 do art. 410, n. 2, do CP.

25-02-1998

Relação do Porto

CJ, Tomo I, pág. 242

Nulidade pela falta do arguido nas alegações – 119º c)

O prosseguimento do julgamento no dia designado para alegações sem a presença do arguido, privando-o da "última oportunidade do exercício do direito de defesa, antes da deliberação" integra a nulidade insanável prevista na alínea c) do artigo 119 do Código de Processo Penal, que torna inválida essa sessão de julgamento e os actos dela dependentes e que a nulidade possa afectar, designadamente aquele despacho que condenou o arguido em multa por ter faltado, quando o respectivo advogado enviou um fax a solicitar o adiamento, invocando para tanto, doença do arguido.

11-03-1998 S.T.J. CJ, Tomo I, pág. 220

Métodos proibidos de prova

Não é meio de prova proibida a colaboração de uma pessoa, ainda que arguida, posterior à pratica dos factos e no estrito âmbito de uma investigação policial já em curso, e que nada tenha a ver com a figura do agente provocador.

12-03-1998 S.T.J. BMJ n.º 475, pág. 492

- Alteração substancial - Insuficiência da matéria de facto

Não constando do processo os momentos temporais da prática de crimes anteriores nem a restituição do arguido à liberdade, com possível implicação na verificação da reincidência, nem tão-pouco a indagação sobre o modo de ser da sua personalidade com vista à ponderação quanto ao relevo das condenações como advertência dissuasora de futuros comportamentos associais, verifica-se a insuficiência da matéria de facto para a decisão, pelo que se anula o julgamento do arguido, ordenando-se o reenvio do processo para os efeitos consignados nos artigos 426.º 2 436.º do Código de processo Penal.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

55

17-03-1998

29-09-1998

(orientações divergentes)

Relação de

Lisboa

Relação de Lisboa

CJ, Tomo II, pág. 145

BMJ n.º 479, pág. 704

Manutenção da prisão preventiva sem audição do arguido – 119º c)

(17-03-98) Verifica-se nulidade insanável, prevista no art. 119º c) quando o juiz, no reexame trimestral, decide oficiosamente pela manutenção da prisão preventiva, sem prévia audição do arguido. (29-09-98) É conforme à Constituição a norma do art. 213/2 do C.P.P., ao dispor que a decisão de manter a prisão preventiva, no reexame trimestral e oficioso dos seus pressupostos, só tem de ser precedido da audição do arguido se isso for necessário.

24-03-1998

Relação de

Lisboa

CJ, Tomo II, pág. 155

Insuficiência da instrução por não apreciação da prova apresentada pelo arguido

A não inquirição de testemunhas arroladas pelo arguido e a não apreciação dos documentos por ele apresentados constitui nulidade, cujo conhecimento depende de arguição a efectuar até ao encerramento do debate instrutório, sob pena de ficarem sanadas, nos termos do art. 120 n. 2 d).

25-03-1998 S.T.J. BMJ n.º 475, pág. 502

- Insuficiência da matéria de facto para a decisão - Contradição insanável da fundamentação - Interpretação do Artigo 374, n.º 2 do Código de Processo Penal

III – Estamos em presença da insuficiência da matéria de facto para a decisão do direito quando os factos colhidos, após o julgamento, não consentem, quer na sua objectividade quer na subjectividade, o ilícito dado como provado. IV – Existe contradição insanável da fundamentação quando, de acordo com um raciocínio lógico, seja de concluir que não é perfeita a compatibilidade de todos os factos provados. VIII – A norma do artigo 374.º, n.º 2 do Código de Processo Penal tem vindo a ser interpretada pelos tribunais superiores, designadamente pelo Supremos Tribunal, no sentido de o tribunal não ser obrigado a indicar na sentença desenvolvidamente os meios de prova, mas somente as fontes de provas.

22-04-1998

S.T.J. BMJ n.º 476, pág. 268

Nulidade da sentença pela falta da indicação dos motivos de direito

É nula, por falta de fundamentação – 379º b) – a sentença que procedeu ao cúmulo jurídico de diversas penas impostas em vários processos e que se aplicou ao arguido a pena única de 17 anos de prisão sem, contudo, indicar quais foram os motivos de facto e de direito que fundamentaram a medida concreta dessa pena unitária.

14-05-1998 S.T.J. BMJ n.º 477, pág. 289

- Vícios da sentença - Insuficiência para a decisão da matéria de facto

I – Só existe insuficiência da matéria de facto face à decisão se o tribunal deixar de investigar o que deve e pode investigar, tornando a matéria de facto insusceptível de adequada subsunção jurídica-criminal.

20-05-1998 S.T.J. BMJ n.º 477, pág. 297

- Prova Pericial - Exigência da prova pericial

I - O valor da prova pericial vincula o critério do julgador, o qual só a pode rejeitar com fundamento nua crítica material da mesma natureza. II – A prova pericial é a única prova admissível quando a percepção ou apreciação dos factos exige especiais conhecimentos técnicos – como na causa de morte, científicas ou artísticas. III – Divergindo a conclusão do tribunal do juízo contido nos pareceres dos peritos, e não se encontrando fundamentada, nos termos do artigo 163º, n.º 2, do Código de Processo Penal, para os depoimentos dos médicos inquiridos na audiência de julgamento não terem sido reduzidas a escrito, a fim de poderem ser cotejadas com o relatório de autópsia, uma vez que se está no domínio da prova

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

56

vinculada, deve o julgamento ser anulado, para, em novo julgamento, se ter em consideração o disposto nos artigos 158.º e 163.º do Código de Processo Penal.

27-05-1998

S.T.J. BMJ n.º 477, pág. 303

Separação de processos tomada em acta, sem presença do arguido ou defensor

Deve cessar a conexão de processos e proceder-se à sua separação por extracção da culpa tocante para ser possível a pretensão punitiva do Estado e evitar o retardamento excessivo do julgamento dos outros arguidos, quando foi tentada sem êxito a notificação do outro arguido. Não se verifica nenhuma nulidade insanável quando esta decisão é tomada em acta, onde não se encontra o arguido ou o defensor porque o mesmo não foi submetido a julgamento.

28-05-1998

S.T.J. www.dgsi.pt processo n.º

98P368

Nulidade relativa pela não junção do relatório social

A não junção do relatório social ao processo, nos casos em que tal junção é obrigatória, não constitui nulidade insanável, tendo, antes, cabimento no disposto do artigo 120 n. 1, alínea d), do Código Penal, mas o seu conhecimento está vedado ao Supremo Tribunal de Justiça, por se dever considerar sanada, se não tiver sido arguida. E, também por isso, essa omissão não pode ser tratada como mera irregularidade, determinativa da invalidade prevista no artigo 123 do citado diploma. A falta de tal relatório quando a referida junção é obrigatória, constitui certamente, o vício previsto no artigo 410 n. 2, alínea a) do Código de Processo Penal. Isto é, constitui uma insuficiência para a decisão da matéria de facto.

18-06-1998

S.T.J. BMJ n.º 478, pág. 235

Prova proibida Falta do defensor durante o reconhecimento de pessoas

A falta de notificação ou nomeação de defensor ao arguido no acto em que se procedeu ao reconhecimento de pessoas não constitui a nulidade prevista no art. 119º c). E não integra qualquer nulidade porque nem o art. 147º nem o art. 64º impõem a obrigatoriedade de nomeação de defensor ao arguido, nem este tão-pouco a solicitou.

25-06-1998 S.T.J. BMJ n.º 478, pág. 242

- Omissão de pronúncia - Nulidade da decisão

V – Se a ausência de indicação, na sentença, de factos constantes da acusação (ou dos factos provados e/ou não provados) inculca nulidade, por maioria de razão nulidade se verificará quando, havendo sido certificados e dados por assentes factos que constavam da acusação e susceptíveis de configurarem os crimes naquela imputados, se omita decisão relativamente a tais factos e a tais crimes. VI – Quando a decisão não teve em conta, perante os factos que firmou, dois dos crimes apontados na acusação, não aduzindo qualquer fundamentação jurídica justificativa de tal procedimento lacunar, ao menos em termos de se concluir que os entendeu consumidos por qualquer dos demais tipos penais em causa, verifica-se a omissão na decisão, sem indicação de motivos de direito para tanto, da consideração de tipos penais apontados na acusação na base da factualidade nela descrita. VII – Nulidade que dá lugar a anulação do acórdão – que não ao reenvio, por não invocados nem detectados quaisquer dos vícios previstos no n.º 2 do artigo 410.º do Código de Processo Penal.

01-07-1998

Relação de

Coimbra

CJ, Tomo IV, pág. 46

Acompanhamento do MP da acusação intempestiva do particular - 119º b)

Em crimes públicos ou semi-públicos, se o assistente deduzir acusação antes de o fazer o MP, e este se limitar a acompanhar tal acusação, ocorre nulidade insanável prevista no art. 119 b), a determinar a nulidade de todos os actos processuais que do acto omitido dependam.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

57

02-07-1998

S.T.J. BMJ n.º 479, pág. 233

Prova proibida Validade de provas

As reproduções fonográficas, se não forem ilícitas, constituem documentos e valem como prova, como resulta do art. 164/1 e 167/1 do C.P.P. Nada impede o tribunal de, nos termos do art. 127º, utilizar como meio de prova a gravação da conversa mantida por uma testemunha que se recusou a depor na audiência de julgamento.

08-07-1998 S.T.J. BMJ n.º 479, pág. 364

- Medida da pena -Personalidade do agente - Fundamentação - Nulidade

I – Os factos a enumerar nos termos do disposto no artigo 374º, n.º 2, do Código de Processo Penal são os essenciais à caracterização do crime e circunstâncias juridicamente relevantes, que influenciem a medida concreta da pena, estando incluídos, no caso, os factos alegados na contestação, só que dados como não provados, por isso não tidos em conta para determinação da espécie e medida da sanção criminal. II – Não cumpre a obrigação de motivação imposta pelos artigos 77.º, n.º 1, segunda parte, e 72.º, n.º 2, alínea f), ambos do Código Penal, o acórdão que ao aplicar uma pena única, em concurso, nada diz quanto às características da personalidade dos arguidos, não sendo suficiente a mera invocação de factos que teve como provados nem a mera alusão ao texto legal. III – Tal vício gera nulidade parcial do acórdão, por inobservância do disposto nos artigos 374º, n.º 2, e 379.º, alínea a), do Código de Processo Penal.

15-09-1998

Relação do Porto

Prova proibida Falta do defensor durante a inquirição de testemunhas

A falta de notificação ao advogado da data designada para inquirição de testemunhas constitui nulidade que pode influir no exame e decisão da causa, dando lugar, se for arguida tempestivamente, à anulação dos actos que dela tenham derivado, contaminando a própria inquirição, que deve ser repetida.

30-09-1998

S.T.J. BMJ n.º 479 pág. 414 e ss

Prova proibida - Validade de depoimentos

As declarações da queixosa / demandante cível, que refere, em audiência de julgamento, aquilo que, quer processualmente, quer extraprocessualmente, lhe foi oralmente transmitido pelo arguido, podem ser admitidas ainda que o arguido se negue a prestar declarações em julgamento. Não estamos perante depoimento indirecto proibido; a queixosa prestou declarações na presença do arguido, que estava assistido pelo respectivo defensor, respeitando-se, assim, os princípios da imediação, da igualdade de armas e as regras da cross-examination, sendo certo que esta prova, tal como qualquer outra, é apreciada livremente pelo tribunal. A proibição de prova relativamente a declarações prestadas pelo arguido, durante o inquérito, a agentes da PJ, que redundam na impossibilidade de utilização de tais depoimentos e das diligências com base neles efectuadas, não impede que estes mesmos agentes testemunhem sobre factos que tomaram conhecimento directo mercê de outras diligências de investigação, que não as proibidas pelo art. 356º n.º 7 do C.P.P., ainda que o arguido opte por não prestar declarações durante a audiência de julgamento.

21-10-1998 S.T.J. BMJ n.º 480, pág. 275

Prova proibida Busca domiciliária – 177º

O C.P.P. não exige que nos mandados de busca – no caso, em residência – conste o nome de quem desfruta da moradia, pelo que a omissão dessa indicação não configura qualquer nulidade ou irregularidade.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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21-10-1998

S.T.J. BMJ n.º 480 pág. 275

Nulidade da sentença pela sua deficiente fundamentação – 379º a)

A deficiente fundamentação, incompatível com o propósito do legislador constitucional do art. 205º n.º 1, culmina na nulidade da sentença – 379º a) e 374º n. 2, determinando, não a nulidade do julgamento, mas apenas a necessidade de colmatar essa falha pelo tribunal que a proferiu, arguida que foi em via de recurso, como podia realmente ser, pois trata-se de uma nulidade sanável, porque não enquadrada no art. 119º C.P.P.. Nestes termos, deve ser declarado nulo o acórdão recorrido, baixando os autos à primeira instância para que, pelo mesmo tribunal e juiz, se possível, ser proferida decisão que observe o disposto no art. 374º n.º 2 C.P.P.

24-10-1998

Relação de Évora

CJ, Tomo IV, p. 285

Omissão de diligências durante a instrução

A omissão de diligências que pudessem reputar-se essenciais para a descoberta da verdade – 120 d) – reporta-se exclusivamente à fase posterior à instrução, pelo que essa omissão durante a instrução não constitui nulidade.

29-10-1998

S.T.J. www.dgsi.pt proc. n.º 98P525

Prova proibida Nulidade relativa das escutas – 189º

A não observância do disposto no n. 1 do artigo 188, do Código de Processo Penal constitui nulidade sanável que, por conseguinte, depende de arguição, nos termos do art. 189º.

04-11-1998

Relação de

Lisboa

CJ, Tomo V, pág. 137

Remissão da acusação do M.P. para a acusação particular – 120/2

A circunstância da acusação pública remeter para a acusação particular, ilegitimamente formulada, significa falta de narração dos factos, mas não a ausência de acusação pública, configurando uma mera irregularidade; redundaria, quando muito, na verificação de uma nulidade relativa, dependente de arguição, nos termos do art. 120º n. 2 e 283 n.º 3.

10-11-1998

Relação de

Lisboa

CJ, Acórdãos do S.T.J., Tomo V,

págs. 18 a 20

Nulidade do julgamento por utilização de prova ineficaz (quebra do princípio da concentração temporal – 328º/6 e 120/2 d).

Havendo decorrido um hiato superior a 30 dias entre produção de prova e a leitura da sentença, tal prova perdera eficácia, por força do disposto no art. 328º n. 6. O proferimento de sentença sem repetição da prova constitui nulidade, decorrente da omissão de diligências essenciais para a descoberta da verdade (a repetição da prova), envolvendo tal nulidade, tempestivamente arguida, a invalidade do julgamento e da própria sentença, nos termos do disposto nos artigos 120 n. 2 d) e 122º n. 1 do C.P.P.

24-11-1998 S.T.J. BMJ n.º 481, pág. 350

- Insuficiência para a decisão da matéria de facto

II – A insuficiência para a decisão da matéria de facto provada existe quando os factos provados são insuficientes para justificar a decisão assumida, ou quando o tribunal recorrido, podendo fazê-lo, deixou de investigar toda a matéria de facto relevante, de tal forma que essa matéria de facto não permite, por insuficiência, a aplicação do direito ao caso submetido à apreciação do tribunal. III – Só a omissão de factualidade que assuma relevância para a decisão da causa integra a nulidade plasmada nos artigos 374.º, n.º 2 e 379.º, alínea a), do Código de Processo Penal.

09-12-1998

S.T.J. CJ, Tomo III, pág. 235

Prova proibida Validade de buscas

A busca que não é presidida pela autoridade judiciária que a ordenou, mas por órgão de polícia criminal, a quem a autoridade judiciária confiou tal presidência, não é nula.

Jurisprudência referente ao ano de 1998 recolhida por Verónica Martins Mendes e Lídia Neves

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 14-01-1999 S.T.J.

CJ, tomo I, pp.

187 e ss. Fundamentação de sentença

Uma fundamentação que apenas indica como elementos de convicção do tribunal, quanto a factos essenciais, o depoimento de duas testemunhas, nada dizendo sobre a razão de ciência dessas testemunhas, infringe o disposto no art. 374 nº 2 do C.P.P., com a consequente nulidade, prevista no art. 379.º al. a).

14-01-1999 S.T.J.

CJ, tomo I, pp. 179 e ss.

Gravações ilícitas e nulidade

O propósito de carrear provas para o processo penal não pode, enquanto tal, excluir a ilicitude das gravações efectuadas por particulares sem o consentimento do visado. A justa causa prevista no art. 179.º do CP tem de reportar-se a interesses, valores ou bens jurídicos transcendentes ao processo penal, tais como o direito à vida ou à integridade física, valores estes que devem encontrar-se perante um efectivo e actual perigo. Destinando-se as gravações feitas por particulares e sem o consentimento do visado a ser utilizadas para efeitos probatórios, estamos perante provas proibidas, provas nulas.

28-01-1999 S.T.J. BMJ N.º 483, PÁG. 146

Produção da prova – prova testemunhal

- A circunstância de terem sido ouvidas testemunhas de acusação depois das testemunhas de defesa não viola o n.º 2 do artigo 348º do C.P.P., que, embora estabeleça uma certa ordem para a inquirição de testemunhas, confere ao presidente do tribunal o poder discricionário de, concorrendo motivo fundado, a alterar ou a modificar.

10-02-1999 Relação de Porto

CJ, tomo I pp. 240 e ss.

Dever de audição do arguido

O arguido tem que ser notificado para estar presente na diligência onde deva decidir-se o pedido de prestação de caução económica e ouvido, a fim de se pronunciar sobre o objecto da diligência. O despacho que, com omissão de tais formalidades impôs ao arguido a obrigação de prestar caução económica.

24-02-1999 Relação de Lisboa

CJ, tomo I pp. 154 e ss

Posição do Ministério Público

O M.P. tem o dever legal de tomar posição sobre a acusação particular, quer abstendo-se de acusar, quer subscrevendo-a integralmente, quer acompanhando-a apenas quanto a alguns factos nela descritos, quer acusando por outros factos que não importem uma alteração substancial daqueles. Se o não fizer, ocorrerá a nulidade insanável prevista na al. b) do art. 119.º do C.P.P.

24-02-1999 Relação do Coimbra

CJ, tomo I, pp. 54 e ss.

Pagamento do custo de certidão

Apenas os pretendentes ao apoio judiciário e na parte que se relaciona com a respectiva concessão estão dispensados do pagamento do custo de certidões e não os já beneficiários desse apoio.

25-02-1999 STJ BMJ n.º 484 Pag 288

- Livre apreciação de prova; - Regras da experiência comum; - Erro notório na apreciação de prova.

- Contraria notoriamente as regras da experiência comum concluir que o arguido estava na posse dum porta-moedas contendo 43 doses de heroína sem saber o que se encontrava dentro do mesmo porta-moedas, pois o comportamento normal e instintivo de qualquer pessoa que acha um desses objectos é abri-lo para ver o que contém; - Assim, a conclusão do Tribunal quanto a um dos elementos subjectivos do crime (consciência do arguido de que detinha consigo 43 embalagens de heroína) surge como manifestamente irrazoável a

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qualquer observador comum, por contrariar abertamente não só a normalidade dos comportamentos humanos como também as regras da experiência comum. Ficam, assim, patentes tanto a violação do artigo 127º do Código de Processo Penal como erro notório na apreciação da prova, vício a que se refere a alínea c) do n.º 2 do artigo 410º do mesmo diploma.

03-03-1999 STJ BMJ n.º 485 Pag. 248

- Livre apreciação de prova

A livre apreciação da prova a que alude o artigo 127º do Código de Processo Penal não é reconduzível a um íntimo convencimento, a um convencimento meramente subjectivo sem possibilidade de justificação objectiva, mas a uma liberdade de apreciação no âmbito das operações lógicas probatórias que sustentem um convencimento qualificado pela persuasão racional do juízo e que, por isso, também externamente possa ser acompanhado no seu processo formativo segundo o principio da publicidade da actividade probatória.

10-03-1999

Relação de Lisboa

CJ Tomo. II pp. 138 e ss.

Fundamentação As sanções acessórias não são efeito automático de aplicação das penas principais; consequentemente, é essencial que nas sentenças que as imponham se especifiquem os fundamentos de direito e de facto determinantes da sua fixação, sob pena de cometimento de nulidade prevista na al. a) do art. 379.º do C.P.P.

24-03-1999 S.T.J.

CJ Tomo. I pp. 257 e ss.

Adiamento para inquirição de testemunha

O art. 328º do C.P.P. refere-se à continuidade da audiência, enquanto o art. 331º se reporta a audiência ainda não iniciada. Por isso, iniciado o julgamento, já adiado antes uma vez, é possível interromper ou adiar a audiência, para que se faça comparecer uma testemunha que tinha faltado e cujo depoimento se afigura essencial para a descoberta da verdade.

24-03-99 S.T.J. BMJ N.º 485, PÁG. 281

Erro notório na apreciação da prova

- O erro notório na apreciação da prova há-de ser de tal modo evidente que não possa passar despercebido a qualquer homem medianamente dotado e terá que se evidenciar exclusivamente da decisão recorrida. – A discordância entre o que o recorrente entende que deveria ter sido dado como provado e o que na realidade o foi pelo tribunal nada tem a ver com o vício do erro notório na apreciação da prova, tal como este é estruturado na lei.

25-03-99 S.T.J. BMJ N.º 485, PÁG. 286

Contradição insanável da fundamentação – Duplo grau de jurisdição em processo penal

- A contradição insanável da fundamentação é só aquela que se apresenta como insanável, irredutível, que não pode ser ultrapassada com recurso à decisão recorrida no seu todo e com recurso às regras da experiência. – Para se verificar contradição insanável da fundamentação têm de constar da decisão recorrida, sobre a mesma questão, posições antagónicas e inconciliáveis. – Não são inconstitucionais as normas resultantes da conjugação do artigo 433º do C.P.P. (versão originária) com o corpo do nº 2 do artigo 410º do mesmo código, na medida em que limitam os fundamentos do recurso a que o vício resulte do texto da decisão recorrida, por si só ou conjugada com as regras da experiência comum.

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25-03-1999 STJ BMJ n.º 485 Pag. 335

- Direito a um processo justo e equitativo. - Ministério Público. - Actos do Ministério Público no inquérito. - Juiz de instrução criminal - Audiência de Julgamento - Nulidade da sentença - Fundamentação sobre a matéria de facto

- A Convenção Europeia dos Direitos do Homem, vigente em Portugal desde 8 de Novembro de 1978, consagra, no seu artigo 6º, o direito a um processo equitativo, abrangendo, nesta previsão, o direito de defesa por si próprio ou por defensor à sua escolha, e o direito a inquirir ou fazer inquirir as testemunhas de acusação e obter a convocação e inquirição das testemunhas de defesa, nas mesmas condições que as testemunhas de acusação; - No nosso ordenamento processual penal, o Ministério Público surge como um órgão de administração da justiça com a particular função de colaborar “com juiz na descoberta da verdade e na realização do direito, obedecendo e todas as intervenções processuais a critérios de estrita objectividade”. - O juiz de instrução surge no processo penal português como dominus da fase da instrução, fase esta que se interpõe entre o inquérito e o julgamento apenas quando o arguido ou o assistente a requeiram, com o objectivo de ser comprovada judicialmente a decisão do Ministério Público de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito, em ordem a submeter ou não a causa a julgamento. - A lei permissiva da leitura das declarações anteriormente feitas pelo arguido só é, em princípio, permitida, sob a verificação dos seguintes pressupostos: a) a sua própria solicitação e , neste caso, seja qual for a entidade perante a qual tiverem sido prestadas; ou b) quando, tendo sido feitas perante o juiz, houver contradições ou discrepâncias sensíveis entre elas e as feitas em audiência que não possam ser esclarecidas de outro modo. - Na fundamentação das decisões em matéria de facto não basta a simples enumeração dos meios de prova utilizados em 1ª instância, exigindo-se a explicitação do processo de formação da convicção do tribunal.

14-04-1999 Relação de Coimbra

CJ Tomo. III pp. 49 e ss.

Transcrição da gravação da prova

A não transcrição da prova produzida oralmente em audiência de julgamento no mais curto prazo de tempo possível é uma mera irregularidade. As lacunas da gravação constituem irregularidade que afecta irremediavelmente o valor do julgamento, a conhecer oficiosamente.

14-04-1999 STJ BMJ n.º 486 Pag. 227

- Prazo de dedução de pedido cível. - Leitura de declarações de Audiência. - Sanação de Nulidade - Poderes de cognição do Supremo Tribunal de Justiça

- Sabido que a instância esteve suspensa no tocante à matéria do pedido cível, desde o momento em que houve notícia nos autos da morte da ofendida, até ao momento da constituição como assistente de seu filho, é atempada a apresentação do pedido cível juntamente com a acusação do assistente, por fax, no último dia do prazo facultado pelo artigo 77º do Código de Processo Penal, dando entrada dois dias depois o original do requerimento, face ao disposto nos n.º 3 e 6 do artigo 4º do Decreto-lei n.º 28/92 de 27 de Fevereiro. - Segundo a alínea b) do n.º 2 do artigo 356º do Código do Processo Penal é permitida a leitura em audiência de declarações de pessoa entretanto falecida, obtido o acordo do Ministério Público, da representante do assistente e dos arguidos, mas, na falta desse acordo, a nulidade do acto em que se analisa tal leitura deverá ser arguida, pelo interessado que assiste ao acto, até ele terminar, sob pena de o vicio ficar sanado. - Os poderes de cognição do Supremo Tribunal de Justiça em matéria de facto confinam-se aos vícios elencados no n.º 2 do artigo 410º, do Código de Processo Penal desde que tais vícios resultem do texto

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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da decisão recorrida, por si só, ou conjugada com as regras da experiência comum.

21-04-1999 Relação de Coimbra

CJ Tomo. II pp. 52 e ss.

Constituição de arguido e falta de interrogatório do arguido

Tendo o arguido sido notificado da acusação e requerido a abertura da instrução, tem a partir da data daquela notificação o estatuto de arguido, não obstante não ter anteriormente sido formalmente constituído como tal. A nulidade decorrente da falta de interrogatório do arguido é de considerar sanada, se ele, em acareação com a ofendida, tiver revelado a sua intenção de não ser ouvido sobre o objecto do processo.

16-06-99

S.T.J. BMJ N.º 488, PÁG. 262

Apreciação da prova -Erro notório e livre apreciação -Falta de fundamentação

-O erro notório na apreciação da prova só se verifica quando se dá como provada uma série de factos que violam as regras da experiência comum e juízos lógicos ou que são contraditados por documentação com prova plena sem ser invocada a sua falsidade. – Não se verifica violação do art. 127º do C.P.P. quando a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção dos julgadores seguirem um processo lógico e racional. – A falta de fundamentação da decisão recorrida verifica-se por ausência total de referência às provas, não havendo omissão quando a exposição de motivos que fundamenta a decisão constitui a fundamentação de direito com a respectiva qualificação jurídica dos factos provados.

17-06-1999 STJ BMJ n.º 488 Pág. 266

- Prova pericial - Insuficiência da matéria de facto - Reenvio do processo

- O Tribunal não está vinculado às conclusões formuladas no exame pericial mas não pode fazer constar do acórdão que a sua convicção se fundou, designadamente, em tal elemento probatório, quando a matéria dele constante não foi considerada provada ou não provada. - Ao fazê-lo, o Tribunal deixou, desse modo, de se pronunciar sobre questões que deveria apreciar, o que faz incorrer no vício da insuficiência da matéria de facto provada, determinando a nulidade do acórdão. - Daí que da conjugação do preceituado nos artigos 379º, n.º 1, alínea c), e 410º n.º 2 alínea a), do Código de Processo Penal, e ao abrigo do preceituado no artigo 426º, n.º 1, do mesmo diploma, haja lugar ao reenvio do processo para novo julgamento relativamente a essa questão concreta.

07-07-1999 STJ BMJ n.º 489 Pag. 239

- Recursos - Competência do Supremo Tribunal de Justiça - Matéria de facto e de direito

Se é certo que nos recursos de acórdãos finais proferidos pelo tribunal de júri, interpostos para o Supremo Tribunal de Justiça, podem ser levantadas questões de facto e de direito, não é menos certo que, nos recursos de acórdãos finais proferidos pelo tribunal colectivo, somente podem ser suscitadas questões de direito.

16-07-1999 STJ BMJ n.º 488 Pág. 262

- Apreciação da prova - Erro notório e livre apreciação - Decisão - Falta de Fundamentação

- O erro notório na apreciação de prova só se verifica quando se dá como provada uma série de factos que violam as regras da experiência comum e juízos lógicos ou que são contraditados por documentação com prova sem ser invocada a sua falsidade. - Não se verifica violação do artigo 127º do Código de Processo Penal quando a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção dos julgadores seguirem um processo lógico e racional.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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- Perdão - A falta de fundamentação da decisão recorrida verifica-se por ausência total de referência às provas, não havendo omissão quando a exposição de motivos que fundamenta a decisão constitui a fundamentação de direito com a respectiva qualificação jurídica dos factos provados.

22-09-1999 STJ BMJ n.º 489 Pag. 242

- Recurso da matéria de facto e da de direito - Competência do Supremo Tribunal de Justiça e da Relação em matéria de facto

- A pedra de toque para a definição do tribunal competente para o recurso com fundamento no n.º 2 do artigo 410º do Código de Processo Penal consiste em se aceitar ou não a matéria de facto como correctamente estabelecida. - Só porque a parte recorrente achou que era correcta a factualidade não significa que o Supremo fique manietado e impossibilitado de analisar os factos em conformidade com a 2ª parte da alínea d) do artigo 432º e o disposto no artigo 434º do mesmo diploma.

29-09-1999 Relação de Lisboa

CJ Tomo. IV pp. 145 e ss.

Reexame de prisão preventiva

Quando haja de proceder-se ao reexame dos pressupostos da prisão preventiva, e o juiz, considere desnecessária a audição prévia do M.P. ou do arguido, deverá fundamentar devidamente essa necessidade. A falta dessa fundamentação constitui nulidade insanável.

29-09-1999

Relação do Porto

CJ Tomo. IV pp. 241 e ss.

Continuação sem audição do arguido

Enferma de nulidade insanável o despacho do juiz que determina a continuação do arguido na situação de prisão preventiva sem previamente o ouvir.

13-10-1999

Relação do Porto

CJ Tomo. IV pp. 246 e ss.

Falta de registo da prova A falta de registo dos depoimentos prestados na audiência de julgamento contra o preceituado na lei constitui mera irregularidade.

20-10-99 S.T.J. BMJ N.º 490, PÁG. 190

Diligências de prova -insuficiência para a decisão -erro notório na apreciação da prova

-Visando a instrução o ser comprovada judicialmente a decisão de ter sido deduzida acusação, as diligências de prova só são levadas a cabo se interessarem para a descoberta da verdade. – A insuficiência para a decisão da matéria de facto prevista no n.º 2, alínea a) do artigo 410º do C.P.P. não integra a falta de produção de meios de prova indicados e também não se verifica se não faltar matéria de facto necessária à decisão do direito. – Erro notório na apreciação da prova só existe se do texto da decisão recorrida resultar uma determinada factualidade lógica e incoerente em si mesma e confrontada com a fundamentação.

21-10-1999

Relação de Lisboa

CJ Tomo. IV pp. 155 e ss.

Acusação infundada e insuficiência do inquérito

Se o M.P. opta por acusar, sem estar devidamente apoiado na prova que recolheu durante o inquérito, a consequência não é a nulidade da acusação e do processado subsequente, mas sim a não pronúncia ou a absolvição do arguido, conforme os autos sigam para a instrução, ou, directamente, para julgamento. A insuficiência de inquérito é uma nulidade genérica que só se verifica quando se tiver omitido um acto que a lei prescreve como obrigatório e desde que, para essa omissão a lei não disponha de forma diversa.

21-10-1999

Relação de Lisboa

CJ Tomo. IV pp. 158 e ss.

Falta de inquérito e poderes do juiz

O vício de falta de inquérito, gerador de nulidade insanável, só ocorre quando haja ausência absoluta, ou total, de inquérito. No caso de arquivamento dos autos pelo M.P., o requerimento para abertura da instrução, formulado pelo assistente, constitui, substancialmente, uma acusação alternativa, sujeita a comprovação judicial. Face a tal requerimento, o juiz deve abrir a instrução e não ordenar a devolução

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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dos autos com fundamento em nulidade insanável praticada no inquérito, ou em errada qualificação dos factos.

27-10-1999

Relação de Coimbra

CJ Tomo. V pp. 41 e ss.

Testemunha arrolada adicionalmente

A audição em audiência de julgamento de testemunha arrolada adicionalmente, sem comunicação aos restantes participantes processuais e sem prévio despacho de admissão, constitui mera irregularidade a conhecer, oficiosamente na própria audiência

24-11-1999 Relação de Coimbra

CJ Tomo. V pp. 51 e ss.

Notificação por via postal

A acusação tem de ser notificada ao arguido, sendo a via postal uma das formas dessa notificação. Na notificação da acusação por via postal, não sendo o destinatário encontrado, os serviços postais devem fazer menção do facto, com a indicação da pessoa que recebeu a carta ou aviso, a razão por que não foi entregue ao destinatário e a qualidade daquela pessoa, designadamente se é pessoa com quem ele habite ou trabalhe. O incumprimento destas formalidades constitui irregularidade, a conhecer oficiosamente, uma vez que pode afectar o valor da cominação e é com base nesta que o arguido pode, nomeadamente, requerer a instrução.

25-11-99 S.T.J. BMJ N.º 491, PÁG. 200

Fundamentação da sentença – Exame crítico das provas -Nulidade das sentenças

-O artigo 374, n.º 2 do C.P.P., exige na fundamentação da sentença, e no que respeita à exposição dos motivos de facto e de direito que fundamentam a decisão, além da indicação das provas que serviram para formar a convicção do tribunal, o exame crítico dessas provas. -A sentença que não contiver essa menção é nula, nos termos do artigo 379º, n.º 1, alínea b) do C.P.P., sendo a nulidade de conhecimento oficioso em sede de recurso – n.º 2 daquele artigo 379º.

02-12-1999 STJ BMJ nº 482 Pag 142

- Poderes do Supremo em matéria de facto; - Livre apreciação da prova; - Fundamentação

- Os poderes cognitivos do Supremo Tribunal de Justiça como tribunal de recurso em processo penal restringem-se aos que emergem do estatuído nas disposições conjugadas dos artigos 410º e 433º do Código de Processo Penal, normas estas que não violam quaisquer princípios constitucionais, por o principio do duplo grau de jurisdição, reconhecido como umas garantias de defesa asseguradas pela Lei Fundamental (artigo 32º, n.º 1), não abranger o reexame da matéria de facto em termos que permitam a repetição do julgamento para além dos casos elencados no citado artigo 410º. - O colectivo aprecia a prova segundo a sua convicção livremente formada, como lhe é consentido pelo artigo 127º do Código de Processo Penal, sendo a sua valoração matéria subtraída ao controlo do Supremo Tribunal. - Para que o tribunal ad quem possa averiguar se as provas a que o tribunal a quo atendeu são, ou não, permitidas por lei e garantir que os julgadores seguiram um processo lógico e racional na apreciação da prova é imprescindível que sejam especificados não só os meios concretos da prova, mas também as razões da credibilidade ou da força decisiva reconhecida a esses meios de prova, com expressa menção da razão da ciência das testemunhas, nomeadamente para controlo dos chamados depoimentos directos, vozes públicas e convicções pessoais.

Jurisprudência referente ao ano de 1999 recolhida por Miguel Marques dos Reis Rocha

Teresa Margarida Fernandes Mafalda Branco

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 02-02-2000 S.T.J. B.M.J. n.º 494,

pág. 201 Nulidade por omissão de diligências em audiência que pudessem reputar-se essenciais para a descoberta da verdade.

III – Tendo sido adiada uma vez a audiência de julgamento com base na falta de testemunhas e verificando-se no novo dia designado para a audiência encontrar-se presente apenas o arguido e faltarem todas as testemunhas, consideradas imprescindíveis pelo magistrado do M.P., o tribunal colectivo devia, conforme fora requerido por este magistrado, ter iniciado a audiência e determinado a comparência das testemunhas para deporem, inclusivamente, se indispensável, pelo recurso aos meios coactivos previstos pelo art. 116.º n.º 2, do C.P.P., interrompendo-a ou, se necessário, adiando-a, nos termos dos citados dispositivos do art. 328.º IV – Da não utilização, no caso, dessa possibilidade legal resultou a omissão na fase de julgamento de diligências que eram de reputar como podendo der essenciais para a descoberta da verdade, o que constitui nulidade prevista no art. 120.º, n.º 2, al. d), de que deriva, nos termos do art. 122.º, a invalidade dos actos posteriores à abertura da audiência, nulidade que é fundamento de recurso, nos termos do que dispõe o art. 410.º, n.º 3, por arguida em conformidade com o disposto no n.º 3, al. a), do art. 120.º, todos do C.P.P.

09-02-2000 S.T.J. B.M.J. n.º 494, pág. 218

Nulidade da sentença I – Não fazendo o acórdão recorrido nenhuma alusão à contestação apresentada pelo arguido, em que este nega a sua participação nos factos e justifica essa afirmação com outros que, na sua óptica, levariam à sua absolvição, decorre daí que não foram submetidos a deliberação e votação os factos por ele alegados em sua defesa e que eram relevantes para a questão da culpabilidade, em especial para a questão de saber se ele praticou o crime ou nele participou, aparecendo, por isso, violados os arts. 368.º, n.º 2, e 374.º, n.º 2, do C.P.P. , o que determina a nulidade do acórdão por força do disposto no n.º 1, al. a), do art. 379.º do mesmo código. II – Não ocorre apenas a violação da al. d) do n.º 1 do art. 374.º do C.P.P., disposição que rege o «relatório da sentença», mas de vício que se situa no âmbito nuclear da fundamentação a que se reporta o n.º 2 daquele art. Num caso, haveria mera irregularidade; no outro, o vício é mais profundo e a esse defeito faz a lei corresponder a nulidade do acórdão. III – A nulidade em causa não afecta, contudo, a situação dos outros arguidos, cuja absolvição se tem como definitiva: não houve recurso do M.P. e o que foi interposto pelo co-arguido não os pode prejudicar [art. 402.º, n.º 2, al. a), do C.P.P.].

01-03-2000 S.T.J. B.M.J. n.º495, pág. 209

Anulação do acórdão; reenvio do processo para novo julgamento

III – Se na contestação o arguido alega factos que podem alijar a sua responsabilidade, e se o tribunal não esclarecer com clareza tais factos, nomeadamente jóias, dinheiro ou o automóvel que tinha consigo no momento em que foi detido eram seus (ou por si utilizados, no caso do automóvel) ou fruto do tráfico de estupefacientes, verifica-se o vício previsto no art. 410.º, n.º2, al. a), do CPP. IV – Se se verificar este vício, deve o julgamento ser anulado e ordenado o reenvio do processo, para que, em novo julgamento, se averigúe toda a factualidade, sem prejuízo de alargamento a outros factos, se assim o exigir a correcção do acórdão a proferir.

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08-03-2000 Relação de Lisboa

CJ, tomo II, pag. 227 a 234

Nulidade de prova – escutas telefónicas

IV. O juiz, embora não tenha que proceder pessoalmente às escutas telefónicas, tem que acompanhar as mesmas, temporal e materialmente, de forma contínua e próxima, a fim de, em função do decurso das mesmas, manter ou alterar a autorização que deu para a elas se proceder. V. É o juiz – e só ele – quem, de entre os elementos probatórios recolhidos através das escutas telefónicas, há-de decidir quais é que, por serem relevantes para a investigação, devem ser transcritos em auto, a juntar ao processo. VI. As provas obtidas mediante escuta telefónicas com violação dos art. 187º, nºs 1 e 3, e 188º, nºs 1 e 3 do C.P.P., designadamente por estas terem sido feitas depois de o juiz ter revogado a autorização dada, são nulas, porque proibidas.

30-03-2000 S.T.J. B.M.J. n.º 495, pág. 227

Conhecimento dos vícios enunciados no art. 410.º do C.P.P.

III – Cabe à Relação apreciar os recursos em que se invoquem os vícios referidos no art. 410.º, n.ºs 2 e 3, do C.P.P., independentemente de serem bem ou mal invocados, dado que o STJ deles não pode conhecer quando tenham por objecto acórdãos finais proferidos pelo tribunal colectivo. É o que se extrai do disposto nos arts. 432.º, al. d), e 434.º daquele diploma. Nestes casos funciona o regime-regra, que é o da interposição dos recursos para a Relação – arts. 427.º e 428.º, n.º 1, do C.P.P. IV – A Relação, ao proferir o acórdão, violou as regras da competência em razão da hierarquia constantes dos arts. 427.º, 428.º, n.º 1, e 432.º, al. d), do C.P.P., regras essas que, aliás, impedem que possa haver qualquer conflito de competência entre o STJ e as Relações. V – A violação das referidas regras de competência constitui nulidade insanável, que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase do procedimento, nos termos do art. 119.º, al. e), do C.P.P. O acórdão da Relação é, pois, nulo e de nenhum efeito.

06-04-2000 S.T.J. B.M.J. n.º 496, pág. 169

Insuficiência para a decisão da matéria de facto; erro notório na apreciação da prova.

I – Verifica-se o vício da insuficiência para a decisão da matéria de facto provada, previsto na al. a) do n.º 2 do art. 410.º do C.P.P., quando da factualidade vertida na decisão se colhe faltarem dados e elementos que, podendo e devendo ser indagados, são necessários para que se possa formular um juízo seguro de condenação (e da medida desta) ou de absolvição. II – Ocorre o vício do erro notório na apreciação da prova, previsto na al. c) do n.º 2 do art. 410.º do C.P.P., quando a matéria de facto sofre de uma irrazoabilidade passível de ser patente a qualquer observador comum, por se opor à normalidade dos comportamentos e às regras da experiência comum. III – A regra da livre apreciação da prova em processo penal, contida no art. 127.º do C.P.P., não se confunde com a apreciação arbitrária, discricionária ou caprichosa da prova, de todo em todo imotivável. O julgador, ao apreciar livremente a prova, ao procurar através dela atingir a verdade material, deve observância às regras da experiência comum, utilizando como método de avaliação e aquisição do conhecimento critérios objectivos, genericamente susceptíveis de motivação e controlo.

03-05-2000 S.T.J. B.M.J. n.º 497, pág. 272

Documentação de declarações orais; inobservância do art. 363.º do CPP

I – Apesar da letra do art. 363.º do C.P.P. não ter sido alterada pela Lei n.º 59/98, de 25 de Agosto, os elementos histórico e sistemático da interpretação das alterações introduzidas em matéria de recursos sustentam um elemento teleológico da interpretação que aponta decisivamente para o sentido, com um mínimo de correspondência verbal na letra da lei, de que a documentação que nele se prescreve visa

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garantir, também e essencialmente, o recurso para o Tribunal da Relação da decisão em matéria de facto do tribunal colectivo de 1.ª Instância. II – A inobservância dessa disposição da lei não determina, porém, nulidade, considerando o princípio da legalidade constante do n.º 1 do art. 118.º do C.P.P. e a circunstância de não haver disposição que expressamente a comine. III – Estamos, antes, face a uma irregularidade (art. 118.º, n.º 2, do C.P.P.), que deve, porém, considerar-se sanada, uma vez que não foi arguida em audiência de julgamento e que dela não deve conhecer-se oficiosamente por não importar a afectação do valor do acto da audiência (art. 123.º do C.P.P.).

03-05-2000

S.T.J. CJ, tomo II, pag. 176 a 180

Irregularidade proveniente de falta de documentação da prova

I – Mesmo nos julgamentos feitos pelo tribunal colectivo, a documentação da prova em audiência, exigida pelo art. 363º do C.P.P., sem prejuízo da finalidade de controle da prova ao serviço do tribunal, visa garantir a efectividade de recurso em matéria de facto. II – A falta dessa documentação constitui irregularidade que deve ser arguida em audiência, sob pena de dever considerar-se sanada.

12-07-2000

S.T.J. disponível em www.dgsi.pt

Violação da proibição de valoração das provas – art. 355º, nº 1

I - Se as declarações anteriormente prestadas pelo arguido, no processo, não foram lidas na audiência e mesmo assim fundamentaram a convicção do tribunal, verifica-se a violação da proibição de valoração das provas a que se refere o n.º 1, do art. 355º, do C.P.P.; se as mesmas declarações foram lidas na audiência mas não constar da acta a permissão de leitura e sua justificação legal, então, verifica-se nulidade da acta e, consequentemente, por derivação, a proibição da sua valoração.

13-12-2000

S.T.J. CJ, tomo III, pags. 248 a 256

Proibição de valoração da prova – inexistência de violação

Não existe violação da proibição de valoração de provas (art. 355º do C.P.P.) quando o tribunal, apesar de ter apreciado, para formar a sua convicção, as declarações prestadas pelo arguido no primeiro interrogatório judicial, sem as ter lido na audiência de julgamento, não retira das mesmas quaisquer juízos negativos ou que de qualquer modo possam influenciar o seu convencimento sobre as declarações prestadas pelo arguido em audiência.

Jurisprudência referente ao ano de 2000 recolhida por

Maria Franco e Mafalda Silva

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Data Tribunal Publicação Sumário Observações 27-04-2001 Relação de

Lisboa CJ Ano XXVI, 2001, Tomo II

Se na gravação magnetofónica, de que o tribunal se utilizou para fundamentar a decisão, existirem trechos inaudíveis e outros de tão difícil percepção que não permitem garantir a fidedignidade da sua transcrição e falte o registo de todo o depoimento de uma testemunha de grande relevância para a decisão, tal constitui irregularidade que, no caso de não ter prescindindo de recurso, só ficará sanada se for repetido o julgamento.

A documentação das declarações está prevista nos art. 363º e 364º, ambos do C.P.P.. No art. 363º está consagrado um principio no sentido em que ou o tribunal dispõe dos meios técnicos –meios estenotípicos ou estenográficos ou outros meios técnicos idóneos a assegurar a reprodução integral das declarações prestadas – de modo que as declarações prestadas oralmente, na audiência, são documentadas; Ou o tribunal não dispõe desses meios técnicos e nesse caso as declarações prestadas oralmente e na audiência, não ficarão documentadas em acta. A menos que: De acordo com o Art. 364º C.P.P., estivermos em audiência na ausência do arguido (art. 334º, n.º 3 C.P.P.) nesse caso, as declarações prestadas oralmente são sempre documentadas; Ou, - Ocorrer julgamento em tribunal singular, nesse caso as declarações prestadas oralmente são sempre documentadas, excepto se, até ao inicio das declarações do arguido previstas no art. 343º C.P.P., o M.P., o defensor ou o advogado do assistente declararem unanimemente para a acta que prescindem dessa documentação. - Se o tribunal não dispor dos meios técnicos idóneos, faz a documentação da prova em audiência, ditando para a acta o que resultar das declarações prestadas. - O princípio da documentação das declarações orais em audiência, nos julgamentos efectuados pelo tribunal colectivo, júri ou tribunal singular (fora dos casos do art. 364º C.P.P.) não têm por finalidade o recurso, mas somente o controlo da prova. Controle de prova esse com o fim de possibilitar aos vários intervenientes processuais o exame entre o que foi dito e o que ficou gravado. - Se o julgamento decorrer perante juiz singular, na ausência do arguido ou não houver a declaração unânime por parte dos sujeitos processuais de que prescindem da documentação, esta tem por finalidade permitir a apreciação da prova pelos tribunais superiores. - Atendendo que: - A gravação magnetofónica de que o tribunal se serviu não foi idónea para assegurar a reprodução integral das declarações prestadas oralmente em audiência; - Existem trechos inaudíveis e outros de difícil percepção de modo de que não se pode garantir a fidedignidade da sua transcrição; - Falta o registo do depoimento de uma testemunha, não obstante na acta da audiência dizer-se que o depoimento foi gravado; - O registo fonográfico dos depoimentos gravados contém lacunas e ruídos de fundo que impossibilitam a percepção quer da pergunta quer da resposta, contendo ainda ruídos de fundo, que impossibilitam a clareza da audição; - O defensor não prescindiu da documentação em acta;

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- O tribunal de 1º instância não procedeu à transcrição da prova gravada; Pelo que, estamos perante irregularidades que somente ficarão sanadas com a repetição do julgamento.

20-06-2001 STJ CJ Ano IX, 2001, Tomo II

1. As proibições de gravação vídeo mesmo que com consentimento das pessoas visadas, na medida em que o legislador constitucional e o ordinário pretendem defender a vida, actividade privada das pessoas, pressupõe, v.g. que as imagens tomadas o foram em algum local privado, total ou parcialmente restrito, no qual, segundo as concepções morais vigentes, uma pessoa não pode ser retratada, abrindo-se uma excepção sempre que as exigências de polícia ou dos tribunais exigirem ou necessitarem de tais gravações para proteger direitos ou garantias fundamentais que, por exemplo, a vida ou a integridade física exigem. 2. Assim, não é proibida a prova obtida por sistema mecânico de videogravação colocado em postos de abastecimento de combustíveis ou noutros locais públicos, com a finalidade de proteger a

- A questão fulcral prende-se com a captação de imagens videográficas durante a prática de um crime de roubo em estação de abastecimento de combustíveis. Apurar se essa captação de imagens pode ser usada como meio de prova legal. A questão essencial versa sobre o alcance do art. 167º C.P.P. na medida em que se acusa o tribunal de as captações de vídeo na estação de abastecimento terem sido feitas sem se cumprir o disposto nos arts. 1º, 3º, al. b) 112º, n.º 2 do D.L. 231/98 e se ter infringido o disposto no art. 199º, n.º 2, al. a) e b) do C.P. e, assim, os arts. 125º e 167º C.P.P. por terem sido obtidas sem a vontade do arguido. - Mesmo que o legislador ordinário possa publicar leis restritivas dos direitos de personalidade, permanece vinculado à salvaguarda do núcleo essencial dos direitos restringidos na Constituição, nunca podendo aniquilar um direito subjectivo individual, devendo no entanto ter em atenção os direitos da vida comunitária, assegurando a segurança jurídica nos cidadãos. - São indicados os art. 70º a 81º Código Civil e o D.L. 231/98, de 22 de Julho, onde é protegido o direito à imagem. Não é todavia necessário o consentimento da pessoa retratada quando assim o justifiquem, nomeadamente exigências de policias ou de justiça ou quando a reprodução da imagem vier enquadrada na de lugares públicos. Não obstante não pode o retrato ser reproduzido, exposto ou lançado no comércio. A extensão da reserva à imagem é definida conforme a natureza do caso e a condição das pessoas. O exercício de actividades de segurança privada tem como objectivo a protecção de pessoas e bens e a prevenção e dissuasão de acções ilícitas-criminais, pelo que há a obrigatoriedade de em certos espaços públicos, pelo tipo de actividades que ai são desenvolvidas, haver uma maior possibilidade de se gerarem ai situações que coloquem riscos de segurança. - Há justificação para que os arguidos tenham sido videogravados por um sistema mecânico instalado no posto de abastecimento. - Esse sistema visava proteger a integridade física, a vida, o património dos proprietários do posto de abastecimento das tentativas de furto ou de roubo. Relevante é a situação de esses aparelhos não estarem instalados e colocados em recintos fechados, vedados, de acesso restrito aos indivíduos. - Pelo que a gravação da imagem dos arguidos no local de abastecimento de combustível não contém violação de qualquer direito de reserva das respectivas vidas privadas. - Por outro lado, é permitida, por lícita, a fotografia de um suspeito, desde que no quadro das medidas cautelares e de polícia, com o argumento de que os criminosos estão bastante bem equipados de armas e meio técnicos. - Finalmente sempre se dirá que a recolha videográfica não é punível quando a sua ilicitude é excluída nos termos do art. 31º, n.º 1 e 2 C.P., uma vez que nunca poderá haver responsabilidade criminal por factos que sejam considerados lícitos do ponto de vista civil.

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integridade física, a vida, o património dos proprietários de veículos ou dos próprios postos de abastecimento perante tentativas de furto ou de roubo.

30-05-2001 Relação do Porto

CJ Ano XXVI, 2001, Tomo III

1. Constitui irregularidade a notificação do arguido, para comparecer em certo dia na P.J., a fim de participar na diligência, sem especificar a natureza desta, nem transcrever ou mandar cópia (ou resumo) do despacho que a ordenou. 2. Esta irregularidade tem de ser arguida no prazo de 3 dias a contar da notificação irregular. 3. Embora a notificação respeitasse à fase do inquérito, é ao juiz, e não ao M.P., que compete conhecer da arguição de nulidade.

- É necessário apurar se a competência para apreciar e decidir sobre uma irregularidade arguida no inquérito cabe ao M.P. ou ao Juiz de Instrução Criminal. - O art. 263º, n.º 1 C.P.P. consagra que, a direcção do inquérito cabe ao M.P., assistido pelos órgãos de policia criminal que actuam sob a directa orientação do M.P. e na sua dependência funcional. E ainda o art. 262º C.P.P. que prevê que, o inquérito compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher provas em ordem à decisão sobre a acusação. - Mesmo durante o inquérito há funções jurisdicionais que são da competência do juiz. Os actos de jurisdição ou de quase jurisdição previstos nos art. 268º e 269º do C.P.P. e outros actos espalhados por aquele Código, são da competência do juiz de instrução. A decisão sobre a arguição de uma nulidade ou irregularidade que ocorra durante o inquérito, tratando-se de actos jurisdicionais, tal prática está reservada ao juiz de instrução. (de acordo com o art. 268º, n.º 1, al. f) C.P.P.). Por outro lado, o art. 122º, n.º 2 e 3 C.P.P. dispõem que, a declaração de nulidade determina que os actos que possam ser declarados inválidos e ordena sempre que necessário e possível a sua repetição. E ainda que o juiz ao declarar uma nulidade, aproveite todos os actos que ainda puderem ser salvos. Considera-se que não se pode conferir à actuação processual do M.P. uma eficácia de caso julgado em termos decisórios, pois essa é uma prerrogativa privativa da função jurisdicional. Os despachos do M.P. não são susceptíveis de recurso, mas sim de reclamação hierárquica. - Da decisão de irregularidade cabe recurso nos termos gerais do art. 399º C.P.P. A irregularidade que afectar a validade do acto pode ser reparada a todo o tempo após a data em que dela se tome conhecimento. Pelo que o M.P. pode, a requerimento, ou oficiosamente mandar reparar essa irregularidade. - Em conclusão, as nulidades ou irregularidades verificadas durante o inquérito ou a instrução devem ser arguidas perante o juiz. Tal não impede que o M.P. durante o inquérito, tenha o poder dever de pôr cobro a toda a nulidade ou irregularidade que ocorra no processo, mesmo sem intervenção do juiz.

01-09- 2001 Relação de Lisboa

CJ Ano XXVI, 2001, Tomo IV

Constitui irregularidade processual que afecta o valor dos actos em causa, a não transcrição dos depoimentos

Os arguidos indicaram como meio de prova os depoimentos de diversas testemunhas. Sendo alguma dessa prova da maior importância. Foi indicado o nome das testemunhas e as actas onde consta o depoimento de cada uma delas. As inquirições e interrogatórios foram gravados, porém não foi feita a sua transcrição, de acordo com o previsto no art. 101º C.P.P. De acordo com o Código, com essa gravação em auto tenta-se dar

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prestados e gravados em sede de instrução

garantias de genuinidade e fidedignidade à prova. Esse auto constitui a força de documento autêntico que faz prova plena. Deve haver a redução a auto dos depoimentos prestados em audiência mediante a transcrição do respectivo registo magnetofónico. Essa não redução a auto constitui uma irregularidade, cuja reparação se impõe e pode ser levada a cabo mediante a realização da apontada transcrição.

26-09-2001 S.T.J. CJ Ano IX, 2001, Tomo III

I - Não é nula a prova resultante da busca efectuada ao veiculo do arguido, sem autorização da autoridade judiciária, mas logo após o arguido ter parado o veiculo, em obediência a sinal dos agentes da PSP, ter saído do mesmo e ter trancado as portas, ocorrendo deste modo o circunstancialismo previsto na al. a) do n.º 1 do art. 251º C.P.P.

É alegado que a busca não devia ter sido legalmente efectuada porque não fora autorizada por autoridade judiciária e não ocorrera o condicionalismo previsto na al. a) do n.º 1 do art. 251º do C.P.P., na medida em que, no momento em que fora realizada, a suspeita da prática de um facto ilícito só podia considerar-se verificada relativamente à contra-ordenação estradal e não quanto ao crime. O arguido ao ter levantado suspeitas aos agentes da PSP por ter efectuado uma manobra perigosa, aliado à hora da prática desse facto – considera-se que preenche os requisitos da possibilidade de busca prevista na disposição 251º, n.º 1, al. a) C.P.P.. Desse modo permite-se o sacrifício da privacidade do suspeito, desde que não esteja sem prévia autorização da autoridade judiciária e que haja razão para crer que os objectos apreendidos estão relacionados com o crime de que se levantaram suspeitas.

Jurisprudência referente ao ano de 2001 recolhida por

Paula Gil

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 16-01-2002

S.T.J. n.º 3059/01 - 3.ª

Secção Proc. n.º 3059/01

3.º Secção Armando Leandro

Nulidades V - Contraditório que importa, desde logo, que constem da acusação ou da pronúncia os factos que podem fundamentar a decisão de expulsão, segundo as disposições aplicáveis, igualmente a indicar, para que o arguido possa organizar a sua defesa. VI - A inobservância de tal exigência, é determinante da impossibilidade de condenação do arguido nessa pena acessória, sob pena de se verificar uma nulidade insanável, nos termos do art. 119.º, al. b), do C.P.P.

17-01-2002

S.T.J. Proc. 3142/01 5.º Secção

Nulidades A reacção adequada a manifestar a discordância quanto ao não conhecimento de um recurso não é a arguição de nulidades mas sim o recurso, se este for admissível.

17-01-2002 S.T.J. CJ, ano X, tomo I, P. 173 ss.

Irregularidades IV. Documentação do art. 363.º do C.P.P. cuja inobservância, face à enumeração taxativa das situações de nulidade, constitui uma mera irregularidade (art. 118.º n.º 1 do C.P.P.) que deve considerar-se sanada quando, estando o arguido presente, a não suscite na própria audiência (123.º n.º 1 do C.P.P.).

23-01-2002 Relação do Porto

CJ, tomo I, P. 226 ss.

Irregularidades I. A deficiente gravação da prova produzida na audiência de julgamento constitui irregularidade. II. Tal irregularidade, impedindo a Relação de reexaminar a matéria de facto, afecta o valor do acto de produção de prova – e, assim, do julgamento que, por isso, deve ser anulado e repetido. III. No novo julgamento, a prova deve ser documentada pelo recurso a meios técnicos idóneos à sua reprodução integral, se o tribunal deles dispuser, ou ditada para a acta pelo juiz, no caso contrário.

23-01-2002

S.T.J. Proc. n.º 3070/01 3.º Secção

Borges de Pinho Franco de Sá

Armando Leandro Virgílio Oliveira

Franco de Sá

Proibição de Prova I - A autorização judicial para a realização de uma busca, delimitando a residência do arguido num certo local (lote 120/120 C), de uma determinada rua de uma localidade bem individualizada - no qual o acto afinal se veio a concretizar (no Anexo A) - é clara e precisa, rigorosa mesmo, não configurando, de modo algum, “uma autorização em branco à autoridade policial”, a enformar um método proibido de prova (art. 126.º do C.P.P.). II - As vicissitudes havidas com a busca - inicialmente a ser feita no anexo B, por informação do arguido de que aí era a sua residência, que não se ficaram a dever à alegada imprecisão do mandado mas sim a todo um circunstancialismo fortuito em que a “cooperação” habilidosa do arguido deu as mãos a uma menor diligência, atenção e cuidado dos executantes, que confiaram nas indicações daquele, de modo nenhum infirmam ou invalidam a realidade e a legalidade da diligência posteriormente concretizada no anexo A.

30-01-2002

S.T.J. Proc. n.º 3739/01 3.º Secção

Lourenço Martins

Proibição de Prova V - Houve erro notório na apreciação da prova por parte do Colectivo, ao afirmar que a prescrição da indemnização civil foi invocada sem o ter sido, pois do texto da decisão não se infere o fundamento dessa afirmação já que nem na contestação nem na matéria provada em audiência de julgamento (no

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Pires Salpico Leal-Henriques Borges de Pinho

qual os arguidos guardaram silêncio) se deu como demonstrado que foi pelos demandados “arguida a excepção de prescrição”. VI - Reconhecidas várias contradições na matéria de facto, vício que, de maneira oficiosa, pode ser conhecido pelo STJ, determina-se o reenvio do processo para novo julgamento relativamente ao pedido de indemnização civil e à determinação do seu montante.

31-01-2002 Relação de Lisboa

CJ, tomo I, P. 144 ss.

Nulidades Ainda que os factos provados na audiência de discussão e julgamento, determinem a incriminação do arguido, como autor de um crime menos grave do que aquele por que havia sido acusado e pronunciado, há que cumprir o preceituado no n.º 1 do art. 358.º do C.P.P., sob pena de se verificar a nulidade, prevista na alínea b) do n.º 1 do art. 379.º do C.P.P.

06-02-2002 Relação do Porto

CJ, tomo I, P. 233 ss.

Nulidades II. Nos crimes semi-públicos, em que o procedimento criminal não depende de acusação particular, compete ao M. P. deduzir acusação. III. Sendo o crime semi-público, se o M. P. não deduzir acusação, apenas o fazendo o assistente, comete-se nulidade insanável, consistente na falta de promoção do processo pelo M. P.

19-02-2002 Relação de Lisboa

CJ , ano XXVII, tomo I, P. 148 ss.

Nulidades Sobe diferidamente o recurso da decisão, proferida antes da decisão instrutória, que tenha apreciado nulidades, suscitadas no âmbito da instrução.

19-02-2002 Relação de Évora

CJ, ano XXVII, tomo I, P. 276 ss.

Nulidades Tendo o M.P. promovido o julgamento em processo sumário se da acta respectiva ainda não contar que se procedeu à leitura dos autos de notícia, de modo a dar conhecimento ao arguido dos factos que lhe são imputados, o processo é nulo e deve ser reenviado para a forma de processo comum.

13-03-2002 Relação de Coimbra

CJ, ano XXVII, tomo II, P. 45 ss.

Proibição de Prova II. A proibição de valoração do silêncio do arguido incide sobre o silêncio que ele adoptou como a melhor estratégia processual, não se repercutindo na prova produzida por qualquer outro meio legal e que venha a precisar e demonstrar a responsabilidade criminal do arguido.

14-03-2002 Relação de Lisboa

CJ, tomo II, P. 135 ss.

Irregularidades Quando o pedido de indemnização cível, formulado na acção penal, enferme de irregularidades pode ser mandado aperfeiçoar.

11-04-2002 Relação de Lisboa

CJ, tomo II, P. 147 ss.

Nulidades I. É nulo, e deve ser rejeitado liminarmente, o requerimento para abertura de instrução apresentado pelo assistente, no qual se limite a impugnar os fundamentos da decisão de arquivamento dos autos e a requerer a utilização de uma gravação como meio de prova contra o arguido. II. O requerimento para abertura de instrução não pode ser objecto de despacho de convite ao seu aperfeiçoamento.

17-04-2002 Relação do Porto

CJ , tomo II, P. 241 ss.

Proibição de Prova I. Mesmo quando a prova fica gravada, a interrupção da audiência de julgamento não pode exceder 30 dias. II. Se a audiência se interromper por mais de 30 dias, perde eficácia a prova produzida oralmente na sessão anterior.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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III. A proibição de valoração da prova produzida oralmente na sessão de julgamento que foi interrompida é exigida pelos princípios da oralidade, da imediação e da continuidade.

15-05-2002 Relação de Coimbra

CJ, tomo IV, p. 36 ss

Nulidades

V. Chegando o Tribunal à conclusão de que os factos dados como provados conduzem à alteração da qualificação jurídica dos factos descritos na acusação ou na pronúncia, terá de dar cumprimento ao disposto no n. 1 do art. 353.º do C.P.P.; mas, se na audiência de julgamento, se verifica uma alteração dos factos, a conduzir a condenação por crime diverso, com factos novos, o normativo a cumprir pelo tribunal é o do art. 359.º daquele código. VI. Não se mostrando cumprido aquele dispositivo legal, a sentença a proferir é nula.

22-05-2002 Relação do Porto

Irregularidades Nos casos em que há deficiências na gravação das declarações, não existindo norma que determine a nulidade do julgamento, está-se perante uma irregularidade que devia ser arguida pelo recorrente perante o juiz do processo nos três dias posteriores ao seu reconhecimento, e não nos três dias posteriores ao recebimento das cassetes, pois sendo o prazo de recurso de 15 dias nada impede que o recorrente elabore o recurso e oiça as cassetes no último dia deste prazo, só então tomando conhecimento daquelas deficiências.

Trata-se de uma irregularidade que não é de conhecimento oficioso.

19-06-2002

Relação do Porto

CJ, ano XXVII, tomo III, P. 218

ss.

Proibição de Prova II. Não constitui meio de prova proibido os depoimentos das testemunhas, relatando o conteúdo das mensagens que o arguido, por sua livre iniciativa, deixou nos telemóveis dos ofendidos, e que elas ouviram a pedido destes.

26-06-2002 Relação do Porto

CJ, ano XXVII, tomo III, P. 223

ss.

Proibição de Prova III. Determinando o art. 79.º, n.º 1, do C.P.P. que as provas relativas ao pedido de indemnização civil devem ser requeridas com os articulados, deve ser indeferido o requerimento para junção aos autos de um atestado médico, apresentado na audiência de julgamento pelos assistentes, que se limitaram a dizer que o mesmo se destinava à prova de determinados itens do pedido cível.

17-07-2002 S.T.J. N.º 5/2002 Proc. n.º

2979/2001 - 3.ª Secção

Luís Flores Ribeiro (relator)

DR 163 SÉRIE I-A

Irregularidades A não documentação das declarações prestadas oralmente na audiência de julgamento, contra o disposto no artigo 363.º do Código de Processo Penal, constitui irregularidade, sujeita ao regime estabelecido no artigo 123.º do mesmo diploma legal, pelo que, uma vez sanada, o tribunal já dela não pode conhecer.

26-09-2002 Relação do Porto

Rec. Penal nº 1287/07 4ª Sec.

Proibição de Prova É inválida a prova obtida por meio de buscas e apreensões ordenadas com base em elementos recolhidos através da intercepção e gravação de conversações telefónicas declaradas nulas.

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30–09–2002

Relação de Guimarães

CJ, tomo IV, P. 285 ss.

Proibição de Prova I. Não constitui prova proibida a utilização de cassetes vídeo, contendo imagens captadas por câmaras instaladas num estabelecimento comercial, para garantir a segurança desse estabelecimento e a vida e integridade física dos que aí transitam, e não para devassar a imagem e a vida privada de quem quer que seja. II. Não pode falar-se em proibição de captação de imagem, pois a própria lei impõe que, nos locais do tipo daquele em que as cassetes foram gravadas, adoptem sistemas de segurança privada.

23-10-2002 S.T.J. CJ, ano X, Tomo III, pag. 212 e ss.

Nulidades III. Indeferida a arguição de nulidade da utilização das escutas sem que o arguido tivesse recorrido do respectivo despacho, formou-se caso julgado, pelo que tal questão foi já objecto de avaliação definitiva que ao Supremo se impõe acatar. IV. O desrespeito pelas prescrições formais das transcrições, previstas nos arts. 94.º, n.º 6, e 95.º, n.º 1 do C.P.P., constitui mera irregularidade de carácter geral que fica sanada se não for arguida pelo interessado durante o acto ou no prazo de 3 dias a partir do conhecimento presumido da sua prática.

30-10-2002 Relação de Lisboa

CJ , tomo IV, 2002, P. 139 ss.

Proibição de Prova I. O agente provocador cria o próprio crime e o criminoso, na medida em que o induz à prática de ilícitos, torna-se um verdadeiro instigador dos mesmos e, como tal deverá ser punido e não ser aceite a prova dele obtida. II. O agente infiltrado limita-se a obter a confiança do suspeito, tornando-se aparentemente, um deles, mas no cumprimento de um dever.

20-11-2002 S.T.J. CJ, ano X, tomo III, P. 232 ss.

Proibição de Prova I. Conquanto os OPC estejam proibidos de ser inquiridos como testemunhas sobre o conteúdo de declarações que tenham recebido e cuja leitura não seja permitida, nada impede que possam ser ouvidos sobre factos de que tomaram conhecimento, mormente em resultado de terem tomado conta da ocorrência.

II. Podem também ser valoradas para efeitos de convicção do tribunal, as declarações logo prestadas na ocorrência pela vítima mortal.

27-11-2002 Relação de

Coimbra CJ Proibição de Prova I. O auto a que se refere o art. 188.º do C.P.P., ao qual se juntarão as fitas gravadas ou elementos

analógicos, deve ser levado imediatamente ao conhecimento do juiz. II. Tal auto deve ser lavrado no tempo mais rápido possível, devendo a sua elaboração iniciar-se imediatamente após o trabalho de intercepção e gravação, e o seu encerramento deve ser feito no mais curto espaço de tempo. III. O incumprimento ou inobservância deste procedimento acarreta a nulidade da intercepção ou escuta telefónica, nulidade que, embora sanável – isto é dependente de arguição -, caso seja declarada, torna o acto inválido sem possibilidade de qualquer aproveitamento e, obviamente, sem possibilidade, de repetição.

Jurisprudência referente ao ano de 2002 recolhida por

Mafalda Silva

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 21-01-2003

Relação de Lisboa

www.dgsi.pt Gravação da prova Arguição de nulidades

I – A nulidade decorrente da deficiente gravação da prova obedece ao regime geral das nulidades processuais, devendo ser arguida e apreciada no tribunal onde a prova foi produzida. II – É extemporânea a arguição da nulidade no último dia do prazo fixado para a apresentação de alegações no âmbito do recurso interposto da sentença final.

29-01-2003

Relação do Porto

CJ, Tomo I, págs. 208 a 211

Listagem de chamadas telefónicas Meio de prova proibido

I – Comete o crime de perturbação da vida privada aquele que faz telefonemas para casa de outrem, querendo, desse modo, perturbar a vida dos respectivos moradores. II – Para a consumação de tal crime, não se exige a verificação do resultado, por isso que, verificando-se ele, a conduta do agente resulta agravada. III – A listagem das chamadas telefónicas efectuadas pelo arguido dos seus telefones, enviada pelas respectivas operadoras a solicitação do M.P. sem o consentimento daquele, não pode ser utilizada para fundamentar o julgamento do facto, uma vez que, constituindo uma intromissão inautorizada nas suas comunicações telefónicas, é um meio de prova nulo.

05-02-2003

Relação de Lisboa

CJ, Tomo I, págs. 134 a 138

Valor probatório das mensagens gravadas em “voice mail”

I – A danosidade social que as escutas telefónicas acarretam, que justificam o regime estabelecido nos arts. 187º e 190º do C.P.P., não existe numa gravação voluntária da voz num telemóvel, promovida pelo titular dos bens jurídicos que com ela podem ser postos em causa. II – Não sendo a gravação ilícita, nomeadamente nos termos do artigo 199º do Código Penal, nada obsta, portanto, à sua valoração como meio de prova (artigo 167º do C.P.P.).

20-02-2003

S.T.J. www.dgsi.pt Tráfico de estupefacientes Proibição de prova Agente infiltrado agente provocador

1 – Têm sido, em geral, admitidas medidas de investigação especiais, como último meio, mas como estritamente necessárias à eficácia de prevenção e combate à criminalidade objectivamente grave, de consequências de elevada danosidade social, que corroem os próprios fundamentos das sociedades democráticas e abertas, e às dificuldades de investigação que normalmente lhe estão associadas, como sucede com o terrorismo, a criminalidade organizada e o tráfico de droga. II – A pressão das circunstâncias e das imposições de defesa das sociedades democráticas contra tão graves afrontamentos tem imposto em todas as legislações meios como a admissibilidade de escutas telefónicas, a utilização de agentes infiltrados, as entregas controladas. III – No quadro normativo vigente, a actuação do agente provocador é normalmente considerada como ilegítima, caindo nos limites das proibições de prova, sendo patente o consenso da doutrina e da jurisprudência de que importa distinguir os casos em que a actuação do agente policial (agente encoberto) cria uma intenção criminosa até então inexistente, dos casos em que o sujeito já está implícita ou potencialmente inclinado a delinquir e a actuação do agente policial apenas põe em marcha

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aquela decisão. Isto é, importa distinguir entre a criação de uma oportunidade com vista à realização de uma intenção criminosa, e a criação dessa mesma intenção. IV – Com efeito, na distinção e caracterização da proibição dum meio de prova pessoal é pertinente o respeito ou o desrespeito da liberdade de determinação de vontade ou de decisão da capacidade de memorizar ou de avaliar. Desde que estes limites sejam respeitados, não será abalado o equilíbrio, a equidade, entre os direitos das pessoas enquanto fontes ou detentoras da prova e as exigências públicas do inquérito e da investigação. A provocação, em matéria de proibição de prova, só intervém se essas actuações visam incitar outra pessoa a cometer uma infracção que, sem essa intervenção, não teria lugar, com vista a obter a prova duma infracção que sem essa conduta não existiria. V – Não se verifica a actuação do agente provocador, mas sim do agente infiltrado se: - já está em execução uma operação de importação e introdução na Europa de 1.105 Kgs de cocaína, através de Portugal, com a droga a bordo de uma embarcação em alto mar, quando é contactado um português, livre e autonomamente escolhido pelos traficantes, para colaborar na transferência dessa substância no mar, no desembarque em território português e depósito até ser transportada para Espanha; - esse cidadão se oferece para colaborar com a Polícia Judiciária, o que esta aceita; - obtém uma embarcação, com outros agentes encobertos e efectua o transbordo, com a presença de um representante dos traficantes que é o único que detém as coordenadas do ponto de encontro e o número do telefone satélite da outra embarcação; - são os traficantes que decidem onde deve ser finalmente descarregada e depositada a droga, tendo enviado um casal para estar presente no arrendamento da casa destinada a depósito; - e são presos quando carregavam parte daquela substância para levar para Espanha. VI – Neste caso, também não se pode dizer que os agentes infiltrados tenham tido total domínio do facto.

19-03-2003

Relação de Coimbra

CJ, Tomo II, págs. 39 a 41

Buscas e revistas Meio de prova nulo

I – A nulidade das buscas e revistas levadas a cabo sem procedência de autorização judicial e sem que tenham sido imediatamente comunicadas ao juiz de instrução e por este apreciadas, não é insanável pelo que tais actos podem ser utilizados no processo, a menos que venha a ser validamente arguidos e declarados inválidos. II – Um auto de notícia é um documento que vale como documento autêntico quando levantado ou mandado levantar por uma autoridade pública, seja autoridade judiciária ou autoridade policial e, por isso, faz prova dos factos materiais dele constantes, conquanto nunca prove a prática do crime. III – No caso de depoimento parcialmente indirecto e parcialmente directo, a sanção de invalidade não se aplica a todo o depoimento mas apenas àquela parte em que é indirecto. IV – A falta de constituição como arguido no momento devido constitui mera irregularidade, que implica que as declarações prestadas pela pessoa visada não possam ser utilizadas como prova contra ela.

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06-05-2003

Relação de Lisboa

CJ, Tomo III, págs. 124 a 126

Escutas telefónicas Proibição de valoração dos conhecimentos fortuitos

I – Se, em resultado de escuta realizada e autorizada para obtenção de prova de crimes de catálogo, se colherem informações marginais que denunciem o conhecimento de outro crime não constante do elenco anunciado no art. 187º do C.P.P., não poderão tais informações fortuitas ser usadas para instruir crimes de gravidade inferior aos aí elencados. II – Sendo proibidas as provas recolhidas que estiveram na base da acusação formulada pelo M.P. contra a arguida, deve esta ser despronunciada relativamente ao crime de segredo de justiça que lhe foi imputado.

18-06-2003

Relação de Coimbra

CJ, Tomo I, pag. 125

Depoimento indirecto Valoração da prova

I – A prova por ouvir dizer, quando reportada a afirmações produzidas extraprocessualmente pelo arguido, é passível de livre apreciação pelo tribunal quando o arguido se encontra presente em audiência e, por isso, com plena possibilidade de a contraditar, ou seja, de se defender. II – A proibição de depoimentos dos órgãos de polícia criminal ou das pessoas a que se refere o art. 356º nº 7 do C.P.P. apenas incide sobre o conteúdo das declarações prestadas pelo arguido em inquérito ou em instrução. III – Assim, nada obsta à valoração e utilização dos depoimentos prestados em audiência por dois agentes da GNR na parte em que transmitiram ao tribunal aquilo que ouviram dizer ao arguido no Hospital onde ele havia sido conduzido após o acidente de viação objecto do processo. IV – Não tendo esses depoimentos sido valorados na sentença recorrida, terá esta de ser revogada e o processo remetido à 1ª instância para elaboração de nova sentença em que se tomem em consideração tais meios de prova.

09-07-2003

Relação de Coimbra

CJ, Tomo IV, págs. 36 a 39

Gravação incompleta da prova Irregularidade

A omissão da gravação de parte das declarações prestadas em audiência de julgamento com a prova documentada, constitui irregularidade processual que afecta o direito ao recurso em matéria de facto e leva à anulação parcial do julgamento. II – Tal irregularidade fica sanada com a reabertura da audiência e o simples registo das declarações não gravadas, sem necessidade de se proceder à repetição do julgamento. III – Nesse caso deve proceder-se à reabertura, pelo mesmo juiz, da audiência de julgamento, com gravação das declarações omissas, não estando o tribunal impedido de voltar a inquirir outras testemunhas na medida do necessário para esclarecimentos complementares por força daquelas declarações. IV – Seguidamente, após conceder a palavra para alegações orais aos interessados, o juiz deve proferir, com toda a liberdade de decisão, nova sentença substitutiva da recorrida. V – No caso de impossibilidade de repetição pelo juiz que proferiu a sentença em recurso, proceder-se-á a novo e total julgamento

05-11-2003

S.T.J. CJ, Tomo III, págs. 227 a 229

Nulidade da prova por reconhecimento

A nulidade do reconhecimento efectuado sem obediência ao estatuído no artigo 147.º, n.º 4 do CPP apenas significa que tal acto não vale como tal, não impedindo que se proceda a novo reconhecimento efectuado com observância das formalidades legais.

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10-12-2003

Relação de Lisboa

CJ, Tomo V, págs. 148 a 153

Listagem de chamadas telefónicas Meio de prova nulo

A listagem das chamadas telefónicas efectuada, a solicitação do M.P., sem consentimento do titular do aparelho utilizado, só é válida, como meio de prova quando, previamente, autorizada pelo Juiz de Instrução Criminal, sob pena de nulidade.

16-12-2003

Relação de Évora

CJ, Tomo V, págs. 276 e 277

Agente provocador Prova proibida

Não actua como agente provocador quem, pretendendo demonstrar a existência de um actividade ilícita, se introduz no respectivo circuito, designadamente para comprovar a venda de um produto condicionada a receita médica.

Jurisprudência referente ao ano de 2003 recolhida por

Catarina Alexandra S. C. Fernandes

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80

Data Acórdão

Tribunal Publicação Observações Sumário

07-01-2004

Relação de Coimbra

CJ, Tomo I, pag. 39

Erro notório na apreciação da prova

I — O crime de administração danosa do art. 235 do C.P. exige o dolo especificou intenção do gestor apenas quanto à violação das regras de boa gestão económica, satisfazendo-se quanto ao prejuízo verificado com o dolo genérico em qualquer das suas modalidades (directo, necessário ou eventual). II — Por “regras económicas de gestão racional”, entende-se o conjunto dos deveres objectivos de cuidado pertinentes às “legis artis’ duma gestão responsável, em última instância apostada em minimizar os custos e maximizar os proventos. III — Assim, preenche-se a previsão legal do tipo quando o gestor viola intencionalmente as regras de uma gestão racional actuando propositadamente como um gestor negligente ou não criterioso quanto aos interesses patrimoniais da empresa, sabendo que desse modo causa danos patrimoniais a esta, e representando-se-lhe esta possibilidade de dano actua conformando-se com a sua ocorrência. IV— A violação das regras da prova vinculada, designadamente quando o tribunal se afasta Infundadamente dos juízos dos peritos, consubstancia o vício de erro notório na apreciação da prova, a impor a anulação do julgamento e o reenvio do processo para novo julgamento.

15-01-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo I, pag. 125

Falta de fundamentação do despacho de não pronúncia Art. 123 C.P.P.

I — O despacho de não pronúncia não está sujeito às exigências de fundamentação das sentenças, estabelecidas no art. 374° do C.P.P., mas apenas ao dever genérico, previsto no n.º 4 do art. 97° do mesmo diploma. II — Assim, a falta de fundamentação do referido despacho constitui uma simples irregularidade, sujeita ao regime geral, estabelecido no art. 123º, também do C.P.P.

21-01-2004

S.T.J.

Tomo I, pag. 175 Processo-crime contra juiz de direito/Pedido de indemnização cível/Amnistia.

Instaurado o processo crime contra o juiz de Direito no Tribunal da Relação e tendo sido deduzido nesse processo pedido de indemnização cível, será este tribunal competente até à decisão final desse pedido, mesmo no caso de amnistiado o crime de que vinha acusado, desde que o demandante requeira, em devido tempo, o prosseguimento para esse efeito.

29-01-2004

S.T.J. Tomo I, pag. 184 Continuidade. O artigo 328º n.º 6 do C.P.P. não tem aplicação quando o STJ ordena a baixa do processo para ser elaborado novo acórdão pelos mesmos juízes, já que o mesmo artigo se refere ao princípio da continuidade da audiência.

05-02-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo I, pag. 129

Não notificação do Arguido pela Entidade Administrativa Art. 119.º C.P.P.

I – A não notificação do arguido para apresentar a sua defesa na fase preliminar do procedimento contra-ordenacional constitui nulidade insanável e implica a anulação de todo o processado após o auto de noticia. II – Assim sendo, não ocorreu qualquer causa de interrupção ou suspensão da prescrição, estando, em consequência, os autos prescritos.

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10-02-2004

Relação de Évora

CJ, Tomo I, pag. 261

Deficiências da gravação magnetofónica das declarações produzidas na audiência de julgamento

A anomalia, consistente no facto de a gravação da prova ser deficiente, consubstancia a irregularidade prevista no art. 123 do C.P.P., a qual afecta a validade do acto, podendo apenas ser sanada com a realização de novo julgamento.

02-03-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo II, pag. 122

Detenção ilegal de estrangeiro ilegal – Nulidade Insanável Art. 117.º n.º 1 D.L. 34/2003 ex vi art. 119 C.P.P.

Se um cidadão estrangeiro detido por permanecer, ilegalmente, em Portugal, não for Interrogado pelo juiz, quando lhe seja apresentado para validação da detenção e aplicação de medida de coacção adequada, tal omissão, integra nulidade insanável que afecta a decisão, bem como da medida de coação aplicada, e da ordem de comparência no SEF.

09-03-2004

Relação de Évora

CJ, Tomo II, pag. 260

Realização de Julgamento em audiência

Quando, o arguido, no requerimento em que impugne, judicialmente, a decisão administrativa alegue factos novos com aptidão para excluir a negligência que lhe for imputada e arrole testemunhas, este procedimento deverá ser considerado como oposição a que a questão seja decidida por simples despacho, devendo portanto o recurso ser julgado em audiência de julgamento, sob pena de cometimento da nulidade prevista na ai. d), n.º 2, do art. 120° do C.P.P.

10-03-2004

Relação de Coimbra

CJ, Tomo II, pag. 38

Reenvio do processo – Composição do colectivo

Havendo lugar a reenvio do processo para novo julgamento, a realizar por tribunal diferente, o juiz que tenha tido intervenção no anterior não pode intervir no novo julgamento.

10-03-2004

Relação de Coimbra

CJ, Tomo II, pag. 39

Não pronuncia sobre questão da validade ou não da prova

I – O prazo máximo de colheita do sangue, de duas horas a contar da ocorrência do acidente ou do acto de fiscalização, nos casos em que o estado do arguido não permite a detecção do álcool pelos aparelhos atribuídos às autoridades rodoviárias, fixado no art. 6 do Dec. Reg. N.º 5 24198, de 30-10, não é um prazo peremptório, pelo que o julgador não está impedido de valorar a prova pericial efectuada em sangue recolhido par além daquele prazo, com auxilio de outros elementos de prova de conhecimento científico e das regras de experiência comum e daí extrair uma conclusão sobre a taxa de alcoolémia. II — A fundamentação da sentença não se basta com a indicação das provas que serviram para fundamentar a convicção do tribunal, tendo este ainda de expressar o exame crítico das mesmas, isto é o processo lógico e racional que foi seguido na apreciação das provas. III — Não tendo o tribunal apreciado a questão da taxa de alcoolemia de que o arguido era portado no exercício da condução, dando essa taxa como provada ou como não provada, a sentença é nula, nos termos do art. 379, n.º 1, al. e) do C.P.P.

11-03-2004

S.T.J. CJ, Tomo I, pag. 222

Reexame dos pressupostos da prisão preventiva

Quando não se trate de prazo de duração máxima de prisão preventiva, a omissão de reapreciação do que tenha sido imposto, nos prazos estabelecidos no n.º 1 do artigo 213.º C.P.P., constitui irregularidade processual sanável oficiosamente ou a requerimento do interessado.

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17-03-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo II, pag. 130

Violação das regras de distribuição Art. 119.º al. a) C.P.P.

I — A violação das regras de competência do tribunal Constitui nulidade insanável, mas as medidas de coacção ou de garantia patrimonial ordenadas pelo tribunal competente Conservam eficácia mesmo após a declaração de incompetência. II — Contudo, tais medidas devem, no mais curto espaço de tempo, ser convalidadas ou infirmadas pelo tribunal competente

18-03-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo II, pag. 135

Decisão sobre requerimento feito na Audiência de Discussão e Julgamento por juiz do mesmo tribunal que nela não intervinha

Ofende os princípios da imediação, concentração e continuidade da Audiência de Julgamento, se no decurso desta for suscitada uma questão de nulidade e esta for decidida por um Juiz que não participava na respectiva Audiência. Art. 119.º al. a) C.P.P.

29-03-2004

Relação de Guimarães

Tomo II, pag. 291 Fotogramas/Direito à imagem/Direito à reserva da vida privada.

I. Podem ser usados como meio de prova os fotogramas obtidos a partir de gravações em vídeo feitas num posto de abastecimento de combustível sem autorização do arguido e sem despacho judicial a ordená-las; -II. As gravações em causa, tratando-se da captação de imagens em lugar público por quem está legalmente obrigado a adoptar medidas de segurança privada, não violam o direito à imagem, nem o direito à reserva da vida privada.

22-04-2004

S.T.J. Tomo I, pag. 65 Testemunho de agentes investigadores/Valor probatório/Pluralidade de crimes.

I. São passíveis de valorização, em sede de julgamento, os testemunhos dos agentes da autoridade investigatória competente, relativamente a factos que foram resultado da sua percepção directa, colhida durante a realização da reconstituição dos crimes de incêndio antes confessados pelo então suspeito; II. É que tais depoimentos não versaram sobre autos de leitura proibida, uma vez que não se tratou de declarações de arguido, que o recorrente ainda não era nem tinha ainda de ser; III. A existência duma só resolução, traduzida ou executada depois na realização plúrima do mesmo delito, não afasta a possibilidade de pluralidade de crimes; IV. É o que acontece quando o arguido repete a sua actuação, entretanto nas matas e ateando fogo, cinco meses depois da inicial resolução que então concretizou.

28-04-2004

Relação do Porto

Tomo II, pag. 218 Realização de diligência omitida no inquérito

I. Se o assistente no requerimento de abertura de instrução, não imputa à acusação pública a omissão de factos ou uma incorrecta qualificação jurídica dos que dela constam, antes se limita a pedir a realização de uma diligência não efectuada no inquérito, deve tal requerimento ser indeferido; II. É que a instrução não é uma mera fase complementar do inquérito destinada a suprir deficiências investigatórias deste, nem tão pouco visa substituir o M.P. pelo juiz de instrução.

06-05-2004

S.T.J. CJ, Tomo II, pag. 188

Meio de prova proibido Agente Provocador

I— Na distinção e caracterização da proibição de um meio de prova pessoal é pertinente o respeito ou desrespeito da liberdade de determinação da vontade ou da decisão da capacidade de memorizar ou de avaliar. II — Desde que esses limites sejam respeitados, não será abalado o equilíbrio e a equidade entre os

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direitos das pessoas, enquanto fonte ou detentoras da prova, e as exigências públicas do inquérito e investigação. III — Caindo a actuação do agente “provocador” nos limites das proibições de prova, importa, assim, distinguir os casos em que a actuação do agente policial (agente encoberto) cria naquele uma intenção criminosa, até então inexistente, dos casos em que o sujeito já está implícito ou potencialmente inclinado a delinquir, sendo que a actuação do agente policial apenas põe em marcha aquela decisão. IV – Nesses termos, a provocação, em matéria de proibição de prova, só releva se essas actuações visam incitar outra pessoa a cometer uma infracção que, sem essa intervenção, não teria lugar, e com vista a obter, desse modo, a prova de uma infracção que sem tal conduta não existiria.

25-05-2004

Relação de Évora

CJ, Tomo III, pag. 262

Reexame Trimestral dos pressupostos da prisão preventiva – Irregularidade

Quando a prisão preventiva esteja justificada por despacho judicial e em conformidade com os prazos de duração máxima fixados no art. 215 do Código Penal, a não realização atempada do reexame trimestral não determina a sua invalidação, constituindo apenas simples irregularidade sujeita ao regime previsto no art. 123º do Código do Processo Penal.

26-05-2004

S.T.J. CJ, Tomo II, pag. 202

Competência e Composição do “novo” tribunal Art. 119.º al. a) C.P.P.

I — No caso de reenvio do processo para novo julgamento, à luz do disposto no art. 426º-A do C.P.P., a razão de ser da desafectação da jurisdição do tribunal, que proferiu antes o acórdão que foi anulado, é de garantir, por razões de transparência e de imparcialidade, que o novo julgamento seja efectuado por órgão jurisdicional diferente, e com uma composição humana também distinta. II — Ora, tendo o Tribunal da Relação determinado o reenvio do processo para novo julgamento, com a produção de prova a incidir somente sobre questões de facto concretamente identificadas, não pode tal julgamento, não obstante o processo ser distribuído a um outro juízo daquele mesmo tribunal da 1° instância, ser efectuado pelos mesmos elementos que compuseram o anterior tribunal colectivo, por carecerem de jurisdição para o efeito. III — A realização de tal julgamento, pelos mesmos juízes que compuseram o anterior tribunal colectivo, consubstancia, nos termos do art. 119° al. a) do C.P.P., uma nulidade insanável, que leva, como consequência, à invalidade desse novo julgamento e bem assim dos actos subsequentes que se lhe seguiram, incluindo o próprio acórdão proferido.

16-06-2004

S.T.J. CJ, Tomo II, pag. 225

- Impedimento do juiz - Validade das escutas telefónicas

I – Qualquer intervenção de um juiz em fase anterior de um processo penal, diversa das intervenções a que se refere o art. 40° do C.P.P., não é fundamento, directamente ex lege de impedimento; pode apenas, nos termos do art. 43º n.º 2, constituir fundamento de recusa, sujeito ao regime do art. 44°: só pode ser requerido antes do início da audiência e é decidido nos termos regulados no art. 45.º, II — A presença dos sujeitos processuais, do defensor ou dos mandatários, na produção antecipada de depoimento é facultativa, embora devam ser notificados de todos os elementos relevantes sobre a realização do acto processual para que, se o desejarem, possam estar presentes. III — Quando as sessões de escutas telefónicas não forem imediatamente levadas ao juiz que as ordenou, pode entender-se que se verifica uma nulidade relativa de matriz processual ou uma nulidade absoluta de natureza substancial. - Se se considera existir uma nulidade processual será sanável, tendo de ser arguida no tempo

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processual previsto no art. 120º n.º 3 al. c) do C.P.P.; - se se considera que é de natureza substantiva, relativa à validade, produção e valoração como meio de obtenção da prova a apreciação dessa questão depende da identificação precisa dos elementos de prova que, produzidos e utilizados para formar em seu desfavor a convicção do tribunal, sofram de vício que afecta a respectiva validade, não como actos do processo, mas enquanto elementos de prova.

23-06-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo III, pag. 149

Apreensão de encomendas postais por agentes policiais – Nulidade da Prova

É nula toda a prova obtida, por agentes policiais, mediante a apreensão e abertura, ou exposição a raios X, de encomendas postais depositadas em estações dos CTT, sem prévia ordem ou autorização judicial, nem do remetente ou do destinatário.

07-07-2004

Relação de Lisboa

Tomo IV, pag. 123

Utilização de escutas/Reconhecimento do arguido em julgamento.

I. No reconhecimento do arguido, efectuado em julgamento, não tem de se observar o formalismo do artigo 147º do C.P.P. II. Quando as escutas tenham sido autorizadas pela autoridade competente, e respeitados os requisitos legalmente prescritos, é admissível a sua utilização noutros processos, quando tal se considere necessário. III. Se, na 1º Instância não tiver sido requerida a documentação da prova, esta não pode ser repetida no Tribunal da Relação.

08-07-2004

S.T.J. CJ, tomo II, pag. 253

Composição do tribunal I – Em caso de reenvio do processo em recurso, para novo julgamento colegial, o tribunal colectivo competente será, numa comarca de dois ou mais juízos, o do outro juízo ou o que resultar de distribuição. II — A eventual coincidência entre um ou mais juízes do tribunal colectivo competente para o novo julgamento e os que integraram o tribunal colectivo do anterior é fundamento de escusa ou recusa, sendo o seu lugar preenchido pelo juiz que, pelas leis da organização judiciária deva substituí-lo.

23-09-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo IV, pag. 139

Interrogatório de estrangeiro ilegal detido – Nulidade Insanável

O cidadão estrangeiro detido por se encontrar em situação ilegal deve, obrigatoriamente, ser interrogado pelo juiz a que seja apresentado, para validação da detenção e aplicação da medida de coacção, se for caso disso.

27-09-2004

Relação de Guimarães

CJ; Tomo IV, pag. 291

Intervenção do juiz de instrução no Auto de Escutas telefónicas – Nulidade

I – Mal seja dado início à intercepção e gravação das comunicações telefónicas, deve lavrar-se logo auto do qual se deve dar imediato conhecimento ao juiz de Instrução, pois este, conquanto não tenha que controlar permanentemente as escutas, deve proceder a um controlo próximo das mesmas, por forma a poder ajuizar permanentemente da sua legalidade e necessidade. II – O órgão de polícia criminal que procede a intercepção e gravação das comunicações telefónicas pode tomar conhecimento das conversações interceptadas antes de apresentaras gravações ao juiz de Instrução, uma vez que, só desse modo, pode indicar-lhe as passagens que considera relevantes para a prova. III — Mas, como é ao juiz de Instrução que cabe ajuizar em definitivo dessa relevância e, bem assim, da legalidade e necessidade das escutas, deve ele ouvir as passagens indicadas como relevantes pelo

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órgão de polícia criminal. IV— Se o não fizer e se limitar a validar a informação do órgão de polícia criminal, as provas assim obtidas são nulas. V — Essa nulidade é insanável.

28-09-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo IV, pag. 141

Obrigatoriedade de defensor – Advogado Arguido

Nos processos-crime em que sejam arguidos, não é admissível aos advogados exercer, como tal, o seu próprio patrocínio.

13-10-2004

Relação de Porto

CJ, Tomo IV, pag. 214

Nomeação de Interprete – Nulidade Relativa

I — A acusação não tem que ser traduzida para a língua dos arguidos que não dominam convenientemente a língua portuguesa; mas, quando a mesma lhes é notificada, deve ser nomeado intérprete que lha traduza, sob pena de nulidade relativa. II — Se, em face dos documentos apresentados, houver dúvidas fundadas sobre a idade do arguido, deve o tribunal mandar procederá realização de diligências para a apurar, designadamente submetendo aquele ao competente exame. III — Verifica-se o vício e Insuficiência da matéria de facto para a decisão, se, em vez disso, o tribunal Conclui pela inimputabilidade do arguido em razão da idade.

13-10-2004

Relação de Porto

CJ, Tomo IV, pag. 217

Inaudibilidade da Prova gravada – Irregularidade

I – Constitui irregularidade processual, carecida de arguição dos interessados, a Inaudibilidade de parte da prova gravada que impeça a sua transcrição. II — Não sendo tal irregularidade arguida pelos interessados, não pode a Relação conhecer do recurso sobre a matéria de facto, uma vez que a possibilidade de modificação desta pressupõe a transcrição das provas gravadas.

13-10-2004

Relação de Coimbra

CJ, Tomo IV, pag. 48

Violação do princípio contraditório – Falta de audição do condenado

A suspensão da execução da pena de prisão, por o condenado no decurso do respectivo período não haver cumprido os deveres ou regras de conduta a que a suspensão ficou subordinada, não pode ser revogada sem a prévia audição dele.

14-10-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo IV, pag. 145

Falta de fundamentação A falta de fundamentação de facto e de direito do despacho de não pronúncia não constitui nulidade mas mera irregularidade ao contrário do que acontece com a sentença ou acórdão.

20-10-2004 Relação do Porto

Tomo I, pag. 222 Perda de eficácia/Prolação da sentença passados mais de 30 dias da produção da prova.

O n.º 6 do artigo 328º do C.P.P., relativo à perda de eficácia da prova, não impõe que a sentença seja proferida nos 30 dias posteriores à produção da prova, mas apenas que não haja intervalos superiores a 30 dias entre as várias sessões de julgamento, com ou sem produção efectiva de prova.

27-10-2004

Relação de Coimbra

CJ, Tomo IV, pag. 51

A falta de justificação por não audição do Arguido na aplicação de medida de coação –

I - Sempre que o Juiz, ao aplicar uma medida de coacção e de garantia patrimonial, não deu ao arguido a possibilidade de se pronunciar a tal respeito, deve fundamentar, com base nos conceitos de possibilidade e conveniência, porque não procedeu à sua audição prévia. II – A não audição prévia do arguido sobre a matéria de medida de coacção patrimonial aplicada e a

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Irregularidade não fundamentação das razões dessa não audição consubstanciam uma irregularidade processual, a arguir nos três dias seguintes a contar da notificação do despacho que a tenha decretado, de harmonia como disposto no art. 123 do C.P.P.

10-11-2004 Relação de Coimbra

Tomo V, pag. 45 Depoimento do co-arguido.

O depoimento do co-arguido deve ser valorado de acordo com outros meios de prova que lhe confiram credibilidade, dentro do princípio da livre apreciação da prova devidamente fundamentada e objectiva.

16-11-2004

Relação de Lisboa

Tomo V, pag. 132 Indeferimento do requerimento de abertura.

Determinado o arquivamento do inquérito, por desconhecimento, ou incerteza do autor dos crimes, não é admissível ao assistente requerer abertura da instrução e pretender que, nesta fase, o juiz proceda a diligência com vista à sua identificação.

01-12-2004

Relação de Lisboa

CJ, Tomo V, pag. 146

Obrigatoriedade de defensor

Nos recursos ordinários, interpostos de decisões preferidas em processos de contra-ordenação, ainda que na fase executiva, é obrigatória a assistência de defensor.

Jurisprudência referente ao ano de 2004 recolhida por

Elisabete Gonçalves e Cláudia Sobral

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 5-1-2005

S.T.J. Tomo I, pág. 159

Meios de Prova Reconstituição do facto Sua valoração em julgamento

A reconstituição do facto como meio de prova, uma vez realizado e documentado em auto, vale como meio de prova, sobre os factos a que se refere, nos termos do disposto no art. 127º do C.P.P. Muito embora a reconstituição do facto não imponha a intervenção do arguido, também não a exclui, sempre que este se disponha a participar nela e essa participação não tenha sido determinada por qualquer condicionamento ou perturbação da sua vontade, que se possa enquadrar no art. 126º do C.P.P.

02-02-2005

Relação de Coimbra

Tomo I, Pag 42

Julgamento -Prova. Testemunha de “ouvir dizer”

Os depoimentos das testemunhas que ouviram o relato dos factos da boca do próprio ofendido, quase de seguida à ocorrência dos mesmos, podem ser valorados pelo tribunal, não constituindo prova proibida.

23-2-2005

S.T.J.

Tomo I, pág. 210

Prova Prova documental Depoimento de agentes de autoridade

Tratando-se de prova documental, constante do processo, ainda que não tenha sido lida, nem examinada, na audiência de julgamento, nada obsta a que possa servir para formar a convicção do tribunal. A prestação do depoimento, por agentes da autoridade, sobre factos praticados na sua presença, não ofende o princípio da legalidade, nem o estatuto do arguido.

1-3-2005

Relação de Lisboa

Tomo II, Pag. 123

Suspensão da Pena - Revogação

A omissão da concessão, ao arguido, da faculdade prevista no n.º 2 do artigo 495º do C.P.P., de se pronunciar sobre o incumprimento das condições a que estava subordinada a suspensão da pena, a que fora condenado, configura a nulidade insanável estabelecida na alínea c) do art. 119º do C.P.P.

07-04-2005

Relação de Lisboa

Tomo II, Pag 138

Nulidade das Intercepções/ /Escutas telefónicas Interpretação do art. 188º, n.º 1 do C.P.P

A expressão “imediato” significa acto contínuo e não “em tempo oportuno”. Única interpretação compatível com a sua função teleológica, que é a de assegurar o controlo judicial contínuo sobre as gravações. No caso dos autos em questão, temos que concluir que nenhuma das gravações foi, imediatamente, levada ao conhecimento do JIC. Consequentemente, são inválidos todos os actos que dependerem das intercepções telefónicas realizadas, devendo a instrução ser de novo aberta, e após, proferida decisão instrutória, em conformidade com o presente juízo de nulidade das escutas.

9-6-2005

Relação de Guimarães

Tomo III, Pag. 297

Escutas telefónicas -Acompanhamento contínuo e próximo pelo Juiz -Efeito à distância da nulidade das escutas

Iniciada a gravação das escutas telefónicas, deve logo lavrar-se auto, o qual se deve levar, de imediato, ao conhecimento do juiz de instrução, para lhe possibilitar um acompanhamento contínuo e próximo, temporal e materialmente. Senão houver, por parte do juiz de instrução, um acompanhamento contínuo, as escutas são nulas. A nulidade das escutas, que é uma nulidade insanável, não se transmite às provas obtidas através de busca, revista e da apreensão, legalmente realizadas. A nulidade das escutas afecta, no entanto, a prova obtida exclusivamente, através das escutas.

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4-7-2005

Relação de Guimarães

Tomo IV, Pag 300

-Não descrição dos factos não indiciados: Irregularidade de conhecimento oficioso

Constitui irregularidade, que pode não ser conhecida oficiosamente, a não descrição, no despacho de não pronúncia, dos factos que o juiz não considera suficientemente indiciados.

16-11-2005

Relação de Porto

Tomo V, Pag 219

Provas em Processo Penal Fotografias do arguido

Não violam a esfera privado do arguido, que está acusado do crime de tráfico de estupefacientes, as fotografias que os investigadores lhe tiraram em locais públicos, para documentar factos que eles observaram e fizeram constar dos relatórios que elaboraram, dando conta das diligências de vigilância levados a cabo no inquérito. Tais fotografias constituem, por isso, provas admitidas por lei.

16-11-2005

S.T.J. Tomo III, pág. 210

Cumulo Jurídico de Penas Fundamentação da decisão Nulidade

Não se pode confundir a fundamentação relativa à escolha e medida de cada uma das penas singularmente consideradas com a fundamentação que a lei exige para a fixação da pena unitária no cúmulo jurídico. Na fixação da pena do cúmulo importa interligar os factos com a personalidade do agente. A referência única e sintética expressa na decisão “ao conjunto dos factos e à personalidade do arguido” consubstancia uma total ausência de fundamentação, o que torna a sentença nula.

Jurisprudência referente ao ano de 2005 recolhida por

Mafalda Branco

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Data Tribunal Publicação Observações Sumário 15-02-2006

* S.T.J. Ano XIV,

Tomo I, pág. 190 e sgs.

- Escutas Telefónicas; - Reconhecimento; - Nulidades.

I – A regulamentação dos procedimentos para a realização de escutas telefónicas, estabelecida no artigo 188º do C.P.P., após a ordem e autorização judicial para o efeito, encontra-se num nível de protecção diferenciada dos requisitos de admissibilidade das intercepções, estabelecidas no artigo 187º do C.P.P. II – O que está em causa no artigo 188º é uma questão procedimental relativa à aquisição de prova, pelo que o regime das nulidades insanáveis p.p. pelo artigo 120º do C.P.P. é o adequado às situações de violação daquelas questões procedimentais. III – O reconhecimento das testemunhas efectuado no inquérito ao abrigo do disposto no artigo 147º do C.P.P. pode ser lido e valorado em audiência de julgamento.

16-02-2006 S.T.J. Declarações do Arguido Na verdade, constitui a matéria respeitante aos antecedentes criminais do arguido objecto da prova, por se tratar de factos juridicamente relevantes para a determinação da pena (n.º 1 do art. 124.º do C.P.P.), sendo admissíveis as provas que não forem proibidas por lei (art. 125.º do C.P.P., n.º 3 do art. 141.º do C.P.P.), não actuando aqui a proibição de prova (art. 126.º do C.P.P.), com a limitação de que esses factos não podem ser valorados na determinação da culpabilidade do arguido. Por outro lado, não se trata de factos em relação aos quais a lei exija uma prova tarifada ou tabelada, que não pode ser substituída por outra.

22-03-2006 Relação do Porto

Registo de voz e imagem

A recolha de provas através do registo de voz e imagem em lugares públicos sem autorização do visado ( prevista na Lei n.º 5/2002, de 11/Janeiro) tem de ser autorizada pelo juiz. Essa autorização só deve ser concedida quando estejam em causa um dos crimes referidos na dita Lei e seja impossível ou extremamente difícil obter prova por outro meio menos danoso para o direito à imagem e à reserva da vida privada do visado.

22-03-2006 Relação do Porto

Busca Depoimento para memória futura

Uma garagem comum de um prédio não goza da protecção constitucional do domicílio; é, por isso, válida e busca que nela levou a cabo a PJ, apesar de não ter sido autorizada por um juiz. Os depoimentos para memória futura, apesar de terem sido prestados sem a presença do arguido ou do seu defensor, que não foram notificados do dia, nem da hora, nem do local da sua prestação, não violam o princípio do contraditório, uma vez que a respectiva recolha teve lugar em Espanha, e não se indica qualquer norma do ordenamento jurídico desse país que tenha sido violada. O dito princípio do contraditório é, no entanto, violado com o facto de os ditos depoimentos assim recolhidos não terem sido submetidos a contraditório na audiência de julgamento e, não obstante, terem sido valorados como prova.

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29-03-2006 Relação de Coimbra

Ano XIV, Tomo II,

Pág. 44 e sgs

- Escutas Telefónicas; - Utilização noutro processo; - Nulidade.

I – A fundamentação de um acórdão proferido em recurso pode ser feita mediante remissão para os fundamentos e sentido da decisão anterior, ainda que esta tenha sido anteriormente anulada. II – A infracção dos pressupostos de admissibilidade das escutas telefónicas, conduz à nulidade absoluta das mesmas. III – A infracção das formalidades dos procedimentos de intercepção e gravação das escutas telefónicas, enunciados no artigo 188º do C.P.P., corresponde a uma nulidade relativa e, como tal, depende da sua invocação tempestiva pelo interessado, sujeita à disciplina do artigo 120º, sob pena de se vir a considerar tal vício sanado. IV – A formação da convicção do tribunal pode apoiar-se na transcrição de escutas telefónicas que constem do processo, sem necessidade de leitura prévia dos respectivos autos na audiência de discussão e julgamento.

29-03-2006 S.T.J. Depoimento de testemunhas OPC

É válido e por isso passível de ser valorado pelo Tribunal, o depoimento de uma testemunha membro de órgão de polícia criminal que esclarece o tribunal sobre os contactos entre arguidos e terceiros bem como sobre o alcance da linguagem codificada utilizada nas escutas telefónicas.

03-05-2006 Relação de Lisboa

Fotografia ilícita São provas nulas as imagens de vídeo obtidas sem o consentimento ou conhecimento do arguido, através de câmara oculta colocada pelo assistente no seu estabelecimento de gelataria, e que é o local de trabalho do arguido, e sem que estivesse afixada informação sobre a existência de meios de videovigilância e qual a sua finalidade. Arrolados tais meios de prova na acusação pública por crime de furto e valorados em audiência, onde foram visionadas as imagens do vídeo, é nulo todo o processado desde a acusação, inclusive, e ulteriores termos do processo - art. 122.º n.º 1 do C.P.P.

04-05-2006

S.T.J. Ano XIV, Tomo II,

pág. 175 e sgs.

- Escutas Telefónicas; - Proibição de Prova

I – Os conhecimentos fortuitos obtidos por via de escutas telefónicas apenas poderão ser considerados como prova válida, desde que haja prévia autorização judicial, digam respeito, tanto no processo originário, como no subsequente, a um crime dito de catálogo e se apresentem indispensáveis à investigação em curso. II – Não será de considerar como meio de prova a notícia de um crime, que se obteve casualmente numa escuta telefónica interceptada no âmbito de um processo e que veio originar a abertura de um outro, o qual passa a ser investigado com total autonomia em relação àquele outro.

15-05-2006 Relação de Guimarães

Ano XXXI, Tomo III,

pág. 296 e sgs.

- Falta de Interrogatório de Arguido; - Nulidade do Inquérito.

A falta de interrogatório, como arguido, no inquérito, de pessoa determinada contra quem o mesmo corre constitui a nulidade prevista no art. 120º, n.º 2, al. c) do C.P.P., mesmo que o arguido tenha prestado TIR e o M.P. não tenha deduzido acusação.

15-05-2006 Relação de Guimarães

Ano XXXI, Tomo III, pág. 298

- Enumeração de factos no despacho de pronúncia; - Irregularidade.

I – A lei não impõe que no despacho de não pronúncia seja feita a enumeração dos factos “indiciados” e “não indiciados”, pois a enumeração é apenas uma das formas possíveis de serem expostos “os motivos de facto”. II – Mesmo que se entendesse que a lei impunha tal enumeração, a sua falta originaria apenas uma

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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mera irregularidade sujeita ao regime de arguição previsto no art. 123º, n.º 1, do C.P.P. III – Verificando o tribunal de recurso que se verifica a irregularidade prevista no art.º 123º, n.º 2, do C.P.P., embora a declare, não deverá deixar de conhecer o seu objecto, se o processo contiver todos os elementos necessários à decisão.

18-05-2006 S.T.J. Apreensão de correspondência

A violação da correspondência só pode ser feita por ordem do juiz e este é a primeira pessoa que toma conhecimento do conteúdo da mesma. Pode admitir-se que numa situação em que haja urgência ou perigo na demora, os órgãos de polícia criminal possam efectuar apreensões de correspondência, mas tal acto fica sujeito à validação no prazo máximo de 72 h pela “ autoridade judiciária” (art. 178.º n.º 4 e 5), isto é, pelo juiz e não o M.P., já que há reserva de competência daquele (art. 179.º). Fora dessas situações, estamos perante a nulidade de um meio de prova. Enquanto que a nulidade de um acto pode ser sanável ou insanável, a nulidade do meio de prova dá lugar à proibição de ser usado para esse fim (de prova).

24-05-2006 Relação de Lisboa

Testemunhas

Em processo penal, a parte cível pode contra-interrogar, sobre os factos que constituem objecto do processo, as testemunhas arroladas na acusação. Se o tribunal impedir esse contra-interrogatório, comete uma irregularidade.

14-06-2006 S.T.J. Depoimento A circunstância de o arguido ter participado na reconstituição dos factos não tem o efeito de fazer corresponder esse acto a declarações suas para se concluir pela impossibilidade de valoração daquele meio de prova, ponto é que só sejam valorados como provas os depoimentos das testemunhas sobre o que observaram e não as revelações feitas durante a realização dessas diligências.

12-07-2006 S.T.J. Declarações do Co-arguido

As declarações do co-arguido só podem fundamentar a prova de um facto criminalmente relevante quando sejam confirmadas por outro autónomo contributo em abono daquele facto.

13-09-2006 Relação do Porto

Zaragatoa Bucal O despacho do M.P. que, durante o inquérito, ordena a colheita de saliva doa arguidos, por zaragatoa bucal, para definição do seu perfil genético e subsequente comparação com vestígios biológicos encontrados no local do crime, só é, em princípio, sindicável pelo juiz, se o arguido requerer a abertura de instrução e alegar a inadmissibilidade de tal prova. Tal exame (zaragatoa bucal) para colheita de saliva, sendo embora ofensivo do direito de autodeterminação corporal dos arguidos, é-o em grau ou medida desprezível; e, por isso, é legalmente admissível.

18-09-2006 Relação de Guimarães

Ano XXXI, Tomo IV, pág. 285

- Busca - Consentimento

Realizada uma busca a um estabelecimento comercial, nos termos da alínea b) do n.º 4 do art. 174º do C.P.P., a mesma não enferma de qualquer nulidade se for autorizada por quem tem a disponibilidade do local, o seu responsável directo, independentemente de ser ou não o gerente desse estabelecimento.

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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18-09-2006 Relação de Guimarães

Ano XXXI, Tomo IV, pág. 281

- Ausência do Arguido; - Nulidade Absoluta.

Tendo o arguido assinado o TIR sem se aperceber que a morada aí constante como sendo a da sua residência não era correcta e sendo para essa morada enviadas cartas para a sua notificação – da acusação e do julgamento - que vieram a devolvidas, pratica-se nulidade absoluta ao realizar-se o julgamento na ausência do arguido, que nunca chegou a ser notificado, apesar de no TIR contar o domicílio profissional do arguido, dois números de telefone e de nos autos constar a sua verdadeira morada.

20-09-2006 S.T.J. Ano XIV, Tomo III,

pág. 189 e sgs.

- Buscas; - Proibição de Prova; - Nulidade.

I – Conjuntamente, casa e garagem, enquanto espaço fechado dela dependente, merecem a tutela cominada na lei processual penal e constitucional, para a busca domiciliária. II – A autorização de busca domiciliária deverá abranger a dependência que é a garagem, sendo certo que, mesmo a não se entender assim, sempre seria relevante o consentimento, na altura, do visado, e seria possível, a validação da mesma busca, a posteriori, tendo em atenção a dimensão do crime de tráfico em causa. III – A nulidade resultante das autoridades policiais terem lido as mensagens existentes no respectivo cartão de telemóvel, do arguido, não é absoluta, mas sim relativa, logo, deveria ter sido invocada até cinco dias sobre o encerramento do inquérito.

11-10-2006 Relação de Lisboa

Depoimento indirecto O actual Código de Processo Penal, no seu art. 129.º, n.º 1, não estabelece qualquer proibição de produção dos depoimentos indirectos. Porém, prevê a proibição da sua valoração, na parte em que como tal devam ser qualificados, se o juiz não chamar a depor as pessoas indicadas pela testemunha como sendo a fonte originária do conhecimento por ela transmitido ao tribunal. Só assim não será se a inquirição dessas pessoas «não for possível por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de serem encontradas».

17-10-2006 Relação de Lisboa

Proibição de prova Em relação ao que a doutrina apelida de “efeito à distância” das provas nulas, ou seja, à extensão da proibição de valoração à prova depois obtida, na sequência e por causa da inicial e ilegitimamente recolhida, importa averiguar, caso a caso, se a prova derivada só foi possível em virtude da prova viciada, não se verificando o efeito à distância quando ao mesmo resultado probatório se chegaria sem a prova viciada.

29-11-2006 Relação de Lisboa

Agente provocador Se a transacção de droga foi desencadeada/determinada pela PJ, tendo sido utilizado agente provocador, a prova obtida é nula, por inadmissível, por ter sido utilizado meio enganoso, proibido por lei, já que afecta a liberdade de vontade ou de decisão dos arguidos em causa. A actividade do agente provocador não pode deixar de ser considerada ilícita e, por isso, as provas assim obtidas são provas proibidas, por inadmissíveis face, desde logo, ao art. 125.º do CPP, ao estabelecer que, apenas, «são admissíveis as provas que não forem proibidas por lei».

29-11-2006 S.T.J. Ano XIV, Tomo III,

pág. 235 sgs.

- Escutas; - Nulidade.

I – A fundamentação de um acórdão proferido em recurso pode ser feita mediante remissão para os fundamentos e sentido da decisão anterior, ainda que esta tenha sido anteriormente anulada. II – A infracção dos pressupostos de admissibilidade das escutas telefónicas, conduz à nulidade

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Recolha de Jurisprudência sobre Nulidades, Irregularidades e Proibições de Prova

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absoluta das mesmas. III – A infracção das formalidades dos procedimentos de intercepção e gravação das escutas telefónicas, enunciados no artigo 188º do C.P.P., corresponde a uma nulidade relativa e, como tal, depende da sua invocação tempestiva pelo interessado, sujeita à disciplina do artigo 120º, sob pena de se vir a considerar tal vício sanado. IV – A formação da convicção do tribunal pode apoiar-se na transcrição de escutas telefónicas que constem do processo, sem necessidade de leitura prévia dos respectivos autos na audiência de discussão e julgamento.

20-12-2006 S.T.J. Escutas telefónicas A questão da eventual nulidade das intercepções telefónicas, que foi colocada ao Tribunal da Relação, obteve desta instância uma resposta fundamentada, tendo-se ali decidido que as escutas e gravações realizadas no âmbito da investigação levada a cabo no decurso do inquérito, não só foram acompanhadas e avaliadas pelo juiz de instrução criminal, como lhe foram apresentadas em devido tempo; a lei estabelece uma limitação absoluta às provas obtidas mediante tortura, coacção, ou, em geral, ofensa à integridade física ou moral das pessoas - arts. 32.º, n.º 8, da CRP e 126.º, n.º 1, do C.P.P. - sendo que, relativamente às provas obtidas mediante intromissão na vida privada, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações, maxime às obtidas através de intercepção e gravação de conversações ou comunicações telefónicas, não recai tal limitação, podendo e devendo ser efectuadas quando ordenadas ou autorizadas por despacho do juiz, suposto o preenchimento dos pressupostos legais, o que se verificou nos autos - arts. 126.º, n.º 3, e 187.º, n.º 1, ambos do C.P.P.; os procedimentos para a realização das intercepções e gravações telefónicas estabelecidos no art. 188.º, após ordem ou autorização judicial para o efeito, constituem formalidades processuais cuja não observância não contende com a validade e a fidedignidade daquele meio de prova, razão pela qual, como este Supremo vem entendendo, à violação dos procedimentos previstos naquele normativo é aplicável o regime das nulidades sanáveis previsto no art. 120.º do C.P.P. ; improcede o recurso dos arguidos na parte em que alegam que as intercepções telefónicas efectuadas no âmbito da investigação levada a cabo na fase de inquérito enfermam de nulidade insanável, quer por não haverem sido controladas pelo juiz de instrução criminal, quer por não haverem sido levadas ao conhecimento daquele em devido tempo, quer ainda por terem sido obtidas sem o consentimento dos escutados.

Jurisprudência referente ao ano de 2006 recolhida por

Tiago Félix da Costa e Mafalda de Melo Cardoso