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II FÓRUM INTERNACIONAL DE COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE 06 e 07 de Maio de 2009 Conteúdo distribuído gratuitamente, pois acreditamos na disseminação e acessibilidade do conhecimento www.comunicacaoesustentabilidade.com www.atitudebrasil.com MESA 4 - INTEGRIDADE ECOLÓGICA PALESTRAS Palestrantes: MOHAN MUNASINGHE - Prêmio Nobel da Paz 1998 MARINA SILVA Senadora ANDRÉ BANIWA Vice-Prefeito de São Gabriel da Cachoeira - AM WASHINGTON NOVAES Jornalista OLINTA CARDOSO Ex-diretora de Comunicação Institucional da Vale Mediador: ANDRÉ TRIGUEIRO - Jornalista

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MESA 4 - INTEGRIDADE ECOLÓGICA

PALESTRAS Palestrantes: MOHAN MUNASINGHE - Prêmio Nobel da Paz 1998 MARINA SILVA – Senadora ANDRÉ BANIWA – Vice-Prefeito de São Gabriel da Cachoeira - AM WASHINGTON NOVAES – Jornalista OLINTA CARDOSO – Ex-diretora de Comunicação Institucional da Vale Mediador: ANDRÉ TRIGUEIRO - Jornalista

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MOHAN MUNASINGHE Muito obrigado. ... palavra de prosperidade e paz do meu país, Sri Lanka. É um grande prazer falar aqui hoje. Visitei o Brasil pela primeira vez em 1974, 35 anos atrás. Gosto muito deste país. Gosto da gente também. Eu sou amigo do Brasil, quase um brasileiro adotado. Então, em inglês... É um grande privilégio e prazer estar aqui. Obrigado ao presidente da mesa por esta excelente apresentação. Tenho muito a cobrir e vários slides. Estes slides serão disponibilizados em um site para que vocês possam baixá-los e ler no seu ritmo. Vou começar falando sobre outras ameaças globais que enfrentamos atualmente que estão minando o desenvolvimento sustentável. Depois falaremos sobre como podemos transformar este cenário em um futuro seguro e melhor, utilizando uma estrutura chamada "sustainomics" para tornar o desenvolvimento mais sustentável. Então falaremos sobre as ferramentas e políticas disponíveis e veremos que há muitos exemplos de melhores práticas mundo afora. No filme de hoje temos um ótimo exemplo de Santa Catarina e eu vou mostrar para vocês um exemplo de mudança de clima, o que podemos fazer com a mudança no clima. E por fim falaremos sobre quem pode contribuir, o Brasil e especialmente os jovens no Brasil e, claro, a mídia. Agora, temos múltiplas questões globais. Temos, é claro, a pobreza, distribuição desigual de renda, escassez de recursos, conflitos por energia, danos ambientais, não somente mudança climática mas também da água, do ar e da terra, problemas de globalização, maus governantes e assim por diante. Por exemplo, respostas descoordenadas podem complicar as coisas. Há alguns anos se propôs o etanol de milho como solução para o problema do petróleo, mas infelizmente isso coincidiu há uns 2 anos com uma seca que levou à falta de grãos. E o desvio do milho para a produção de etanol piorou o problema de escassez de alimentos. Estou falando aqui do etanol de milho, não o de cana de açúcar, que é produzido no Brasil e é bastante sustentável. Mas a questão é que você não pode tentar resolver o problema do petróleo às custas do problema de alimentos. Tudo deve ser solucionado de forma coordenada. Vamos ver se hoje estabeleceremos bem nossas prioridades. Vamos analisar a bolha financeira, causada pela ambição humana, onde os mercados financeiros inflacionaram o valor de certos ativos além do verdadeiro valor econômico deles. Quando a bolha explodiu, tivemos o colapso do sistema econômico no mundo. Mas esta não é a única bolha. Há também uma bolha de pobreza. Temos muito crescimento, mas em muitos casos o crescimento é só para os ricos. A bolha da pobreza significa que há bilhões de pessoas pobres que estão excluídas. E há uma terceira bolha, ambiental, de externalidades, que significa que estamos usando e abusando do meio ambiente hoje e pagaremos o preço por isso no futuro, como com mudanças climáticas. Então temos que resolver tudo isso junto. Agora, se você olha para os recursos financeiros, você verá que há 4 trilhões de dólares, isto é 4 mil bilhões de dólares destinados a resolver o problema dos mercados financeiros, principalmente grandes bancos, grandes empresas. Destinamos apenas cem bilhões de dólares por ano para a pobreza, que é 1/40 daquele valor e para o clima somente

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alguns bilhões de dólares, então são estas prioridades dos tomadores de decisão de hoje que devem ser alteradas. Isto tem que ser mudado. Há riscos crescentes que choques repetidos ao sistema global levarão a um colapso. Há, claro, a crise econômica imediata que temos que resolver, mas há também falta de recursos. Quando sairmos da crise econômica daqui um ano ou dois, então os preços do petróleo começarão a subir e haverá escassez de energia. Possivelmente haverá depois uma crise de água e com certeza haverá uma crise de alimentos. Então temos danos ambientais, eventos extremos, outros problemas e, evidentemente, por último, a derradeira mudança climática. E é por isso que precisamos mudar. Pegue o exemplo do pico de petróleo: até por volta de 2010 a oferta de petróleo vem aumentando mas agora chegará a seu pico e a demanda terá que ser atendida por outros meios, através da eficiência nos transportes, preços, impostos, conservação de energia e assim por diante. Então já estamos enfrentando uma escassez de petróleo. Mudanças climáticas: aqui está um resumo das principais descobertas do IPCC, mas os dois pontos principais estão embaixo, são basicamente: um, que são os pobres e os países mais pobres que sofrerão as piores consequências das mudanças climáticas; isto é totalmente injusto porque não foram eles que causaram o problema. Foram os ricos que causaram o problema, mas eles que sofrerão. O segundo ponto é também um ponto positivo, isto é, se tornarmos o desenvolvimento mais sustentável hoje, não somente resolveremos o problema da pobreza, mas também o problema da mudança climática ao mesmo tempo. Então, para resumir, há diversas ameaças que são relacionadas entre si mas infelizmente os interesses dos envolvidos são divergentes, as respostas descoordenadas e, principalmente, há uma falta de vontade política. Eu examinei com meus colegas vários cenários de longo prazo para o mundo e, dentre esses, vou mostrar para vocês um é que um cenário ruim. Neste aqui temos forças do mercado sem controle, junto com uma falta de princípios morais e éticos que se juntarão aos problemas que mostrei para vocês, pobreza, pandemias, degradação ambiental, até mesmo terrorismo e as mudanças climáticas, levando a uma situação caótica, uma situação de mundo sitiado onde os ricos viverão em comunidades protegidas e os pobres no lado de fora, no caos. Este não é um retrato bonito do mundo. Aqui está um exemplo do porquê precisamos de caminhos inovadores e, infelizmente, a maioria dos nossos jovens são ensinados, como este gato, a nunca pensarem fora da caixa. Infelizmente. Agora, como começamos? Para início de conversa, pense nos 4 trilhões de dólares do pacote de estímulos. Se este valor, ou a maior parte dele, for utilizado para investimentos ecológicos de longo prazo, energias renováveis, florestamento, agricultura, desenvolvimento social, auxílio à educação, subsistências sustentáveis, para alavancar a redução da pobreza e poderemos também, claro, melhorar os governos, a gestão, os mercados e reajustar preços, se isso puder ser feito podemos resolver não somente a crise econômica mas também lidar com os problemas a longo prazo da pobreza e mudanças climáticas. Construir para o longo prazo, para tornar o desenvolvimento mais sustentável, transformar as estruturas governamentais, incluindo a reforma dos mercados. Precisamos tornar o sistema da ONU mais eficiente, o FMI e o Banco Mundial estão sendo

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transformados de forma que os países em desenvolvimento tenham uma maior participação nestas instituições, e agora o G20 tem que passar a ter um peso maior, não o G7, porque os países em desenvolvimento, como o Brasil, tem mais a contribuir. Eu propus em reuniões internacionais com líderes que criássemos também um grupo chamado C20, que é um grupo de líderes da sociedade civil que darão assessoria aos líderes de governo do G20 e o B20 é um grupo de 20 lideranças empresariais que também darão assessoria ao G20, de forma que tenhamos não só o governo, mas também a sociedade civil e as empresas trabalhando em conjunto. Então o caminho para frente, em suma, uma visão de longo termo é a seguinte: agora estamos concentrando somente nas questões superficiais dos danos ambientais, pobreza e etc, mas de uma forma muito descoordenada e de uma maneira muito a curto prazo. E isto principalmente por governos que cada vez mais não conseguem lidar com o problema. Este é um mundo de alto risco. O que precisamos fazer é olhar um nível abaixo, quais são as forças motrizes? São os padrões de consumo, a população, a tecnologia e os governantes. Se conseguirmos tornar o desenvolvimento mais sustentável, com reformas políticas sistemáticas, se conseguirmos fazer a sociedade civil e as empresas trabalharem junto com os governos, então conseguiremos fazer a transição para um mundo melhor. E se fizermos isso agora, então poderemos ir para o futuro, daqui a 20 anos, vocês, os jovens, e seus filhos. Vocês podem mudar para um caminho de verdadeiro desenvolvimento sustentável onde se possa analisar coisas como as necessidades básicas, estrutura do poder social, valores e escolhas, uma base de conhecimento onde se possa ter movimentos civis em massa com justiça social mundial, políticas de liderança inovadoras e tecnologias e assim por diante. Mas para chegarmos àquele mundo daqui a 20 anos, precisamos fazer a transição hoje e, de acordo com minha tese, o que vou dizer é que isto pode ser feito com o conhecimento que temos hoje. Não há desculpas para mais atrasos. Como podemos ir adiante? Deixa eu descrever a estrutura da "sustainomics" para vocês. Devo dizer que isto foi proposto pela primeira vez no Rio em 1992 onde tive meu momento de inspiração e devo muito ao Brasil por me proporcionar isso. O primeiro princípio chama-se "tornar o desenvolvimento mais sustentável." Vejam, há muitas definições de desenvolvimento sustentável e não devemos entrar nesta confusão, porque nunca conseguimos concordar. O que é importante é agir hoje para tornar o desenvolvimento mais sustentável porque muitas atividades são insustentáveis. Vocês viram em Santa Catarina e em outro lugar, se você desligar a luz ao sair da sala, você está tornando o desenvolvimento mais sustentável, se você ver lixo no chão e retirá-lo, você está tornando o desenvolvimento mais sustentável. Então é como escalar uma montanha. O pico é o desenvolvimento sustentável, está coberto por nuvens, não temos certeza exatamente o que é, mas nós somos aquelas pessoas à esquerda. São ativistas, estão subindo um passo por vez, em algum momento chegarão ao topo. Não são como as pessoas à direita que estão sentadas batendo papo. Por que? Porque os pobres não podem esperar, os pobres estão morrendo e famintos e temos que fazer algo por eles hoje. E há muitas atividades insustentáveis que podemos parar já com elas. Por exemplo, em um nível pessoal, podemos plantar árvores, podemos utilizar lâmpadas fluorescentes, podemos comer menos carne, há muitas coisas que podemos fazer. No nível corporativo há a responsabilidade social e outros conceitos que podem ser utilizados. Nós certamente temos que juntar os

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consumidores sustentáveis com os produtores sustentáveis para que possam se fortalecerem e em nível nacional, por exemplo, no que se refere às mudanças climáticas, temos que mostrar aos tomadores de decisão como estas mudanças se relacionam com as atividades diárias dos governos, da agricultura, da energia, da água, da indústria. Uma vez que mostrarmos esta ligação, então os tomadores de decisão tomarão alguma providência, mas até que se faça isso, aquilo não acontecerá. Deixe-me passar rapidamente para o segundo elemento que é muito importante, o triângulo do desenvolvimento sustentável que, novamente, propus em 92, que diz apenas que estamos preocupados demais com a prosperidade econômica. Só o PIB que interessa. Esquecemos o elemento social, que há pobres, que precisamos distribuir a renda, que precisamos incluí-los em nossas decisões, dar poder a eles. Temos que lembrar também que há o meio ambiente. Não devemos destruir o meio ambiente ao longo do processo de enriquecimento econômico. E o importante é o equilíbrio entre os três, não somente um. Porque precisamos também do progresso econômico para resolver o problema da pobreza, mas precisamos contrabalançá-lo com o social e o ambiental, e se você colocar qualquer sujeito no centro, como as mudanças climáticas, você verá que este tem dimensões econômicas, sociais e ambientais. Esta é uma forma poderosa de se olhar para os problemas do mundo. Então devo mencionar que o capital social, que vejo aqui nesta sala e neste Fórum, também é muito importante. O capital social em nível individual são as ligações que você tem com outros amigos, com a família, etc. Em nível nacional ou comunitário, é a cola que nos une e é fundamental. As pessoas se esquecem que isto é um ativo muito importante, tanto como há o capital natural e o econômico, há também o capital social Vou só mencionar o caso do tsunami em 2004, lá tivemos um ótimo exemplo de capital social, porque no Sri Lanka 1 em cada 500 pessoas foi morta em 2 horas, só pelo tsunami. E é um país de renda extremamente baixa, mas ainda assim a sociedade sobreviveu porque as pessoas se uniram na hora da crise. Você pode também pegar o exemplo do furacão Katrina nos EUA, foi uma crise bem menor, em Nova Orleans. Fizemos um estudo comparativo e naquele caso o capital social não foi tão forte. Houve todo tipo de colapsos sociais naquela sociedade. Então o capital social não é uma questão de rico ou pobre, é algo que está dentro das pessoas. No Brasil, eu me lembro de ter vindo aqui em 1988 durante as enchentes do Rio, e uma grande quantidade de capital social foi despendida. Então aquela cidade se uniu durante a crise, isso é algo que temos que preservar e usar para trazer o desenvolvimento sustentável para o mundo. A terceira e última coisa, que é muito importante, é a importância de se ultrapassar fronteiras. Temos que pensar fora de nossas matérias porque a solução para o desenvolvimento sustentável não virá da medicina ou do direito ou da economia ou da engenharia, virá de todos esses. Precisamos trabalhar juntos para pensar além das fronteiras. Temos que pensar em termos de um grande espaço, não somente sua família ou sua cidade, mas todo o planeta. Também temos que pensar em termos de tempo, em termos de séculos, não necessariamente dias somente. E quanto às partes envolvidas, com certeza temos que pensar não somente nos governos, mas também na sociedade civil e nas empresas e fazer com que todas trabalhem juntas.

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O último ponto que devo dizer a vocês é que esta não é uma caixa vazia. Estas não são apenas teorias, há muitos exemplos ou bons exemplos de práticas disponíveis em todo o mundo...por escrito, em relatórios que podem ser aproveitados. Acho que podemos progredir através destes exemplos práticos. Deixa eu falar rapidinho para vocês: precisamos nos integrar nas três dimensões de desenvolvimento: a econômica, a social e a ambiental. Nem sempre é fácil, algumas vezes há barganhas porque sabemos evidentemente que quando se tem progresso econômico, algumas vezes há danos ambientais, então tem que haver algum equilíbrio. O que devemos tentar é procurar soluções ganhar-ganhar onde podemos ter um conjunto de políticas que permitirá avançarmos não somente economicamente, mas também socialmente e ambientalmente. Temos que encontrar os indicadores de progresso corretos que nos dirão o que fazer. Agora deixa eu passar rapidamente para alguns dos exemplos práticos sobre os quais eu falei e falar um pouco sobre mudanças climáticas nesse processo. O derradeiro multiplicador de ameaças: o que queremos dizer com multiplicador de ameaças é que o clima torna tudo pior. Você sabe que, basicamente, o dióxido de carbono está agindo como um cobertor que prende o calor solar e aquece a terra. Aqui está o aumento do dióxido de carbono nos últimos tempos, principalmente desde a Revolução Industrial, de 275 partes por milhão por volume para cerca de 400 agora. E isto causou um aumento na temperatura nos últimos cem anos, um aumento no nível do mar, derretimento de gelo e outras coisas e muitos outros fenômenos. O que podemos prever? As duas últimas curvas mostram que a média prevista pelo IPCC é que no final do século teremos um aumento de cerca de 3°C na temperatura, o nível do mar aumentará por volta de 40 centímetros, o que é bem alto. E nossas descobertas mais recentes sugerem que provavelmente será ainda mais, a situação é mais séria do que está mostrado aqui. Países como Bangladesh, um dos mais pobres e com maior densidade populacional, perderá 17% de sua área territorial. Os locais áridos ficarão mais áridos, mais desertos, as áreas úmidas mais úmidas, o que significa mais enchentes. E, é claro, eventos extremos. Vocês podem ver que nas últimas 4 décadas o custo de eventos extremos subiu e continuará a subir neste novo século. Há também o risco de impactos em larga escala. Por exemplo, se as camadas de gelo derreterem lá pelo final do século, isto não é um efeito imediato, mas depois teremos não centímetros, mas metros, vários metros de aumento do nível do mar. Então imagine as enchentes. Então as mudanças climáticas são a motivação principal para se buscar um desenvolvimento mais sustentável porque, como eu disse, mesmo sem as mudanças climáticas, temos bilhões de pessoas pobres vivendo sem energia, sem água, sem comida, sem abrigo. Quando ocorrerem as mudanças climáticas, só vai piorar tudo. Temos vários acordos mundiais: a Eco 92, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio..olha aqui, estas são metas muito boas, mas não serão atingidas se houver a mudança climática. E os pobres estão vivendo nos países em desenvolvimento, e como eu disse, nós que seremos afetados. A distribuição de renda: 20% das pessoas mais ricas do mundo, inclusive eu, consomem 60 vezes mais que os 20% mais pobre. Então é essa a distribuição de renda que temos.

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A Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima dispõe não sobre a distribuição da atmosfera terrestre de forma perigosa, fala de responsabilidades comuns, mas diferenciadas, constituindo dados muito importantes. Te diz que todos nós somos partes envolvidas. Há 6 bilhões de pessoas no planeta que devem trabalhar juntas, mas para os pobres, os países pobres tem prioridade em algo chamado de adaptação. Porque precisamos primeiro proteger nossas pessoas pobres, as pessoas vulneráveis. Então se o nível do mar subir, você tem que construir muros para manter o mar de fora. A adaptação é a primeira responsabilidade de países em desenvolvimento. Para os países ricos há outra questão, chamada mitigação. Eles são os principais causadores do problema, no lado esquerdo do gráfico você ver aquele pico alto que é os Estados Unidos, à direita você vê mais países em desenvolvimento, que estão bem abaixo. Então dizemos que os países industrializados ricos devem suportar o ônus principal da mitigação. É outro problema. Deixe-me dizer ainda que devemos lembrar também as perspectivas históricas. Por exemplo, tivemos muitas civilizações antigas no Egito, na China, na Índia, que não duraram 10 ou 100 anos, duraram milhares de anos. Então elas sabiam sim alguns segredos de desenvolvimento sustentável. Não devemos esquecer estas lições a medida que seguimos em frente. Agora vejamos como o clima e o desenvolvimento sustentável estão ligados. Você pode ver neste diagrama, embaixo, que o lado direito te mostra que são as emissões dos gases do efeito estufa, esta seta, do desenvolvimento passado que estão perturbando o sistema climático através de um processo chamado de forçamento radioativo. Então quando se perturba o sistema climático, esse revida aumentando a temperatura, aumentando o nível do mar ou as tempestades. Isto afetará os sistemas humanos e naturais e, portanto,o desenvolvimento futuro será afetado. Então você tem um ciclo completo, e o que fazemos na adaptação é tentar impedir o impacto e através da mitigação tentamos reduzir a causa, tentamos reduzir a quantidade de emissões de gás do efeito estufa . Então basicamente, as melhores políticas seriam aquelas que combinam adaptação e mitigação com o desenvolvimento sustentável. E há muitos exemplos, como florestamento, conservação de energia e assim por diante. Vamos dar uma olhada rápida aqui, aqui há uma grande estrutura institucional mundial, incluindo a Convenção do Clima, o IPCC e mais outros, que estão trabalhando com estes problemas, por enquanto não com muito sucesso. E vejamos a adaptação. Podemos proteger os mais vulneráveis que são principalmente as crianças, os idosos e os pobres. As regiões mais vulneráveis: pequenas ilhas, o Ártico, os mega-deltas Asiáticos, a África Sub-Sahariana. Também aqui alguns dos sistemas e setores mais vulneráveis: alguns ecossistemas, recursos hídricos, agricultura, saúde humana, etc. E principalmente os ecossistemas porque por volta dos 2°C há um patamar crítico, onde muitos ecossistemas no mundo estarão de fato ameaçados. Então pega uma doença como a malária, por exemplo, ela pode afetar mais de 2 bilhões de pessoas no mundo e irá piorar com as mudanças climáticas, mas outras também, como a esquistossomose e muitas, muitas outras. Aqui está um exemplo que mostra o que a adaptação pode fazer se continuarmos como estamos, sem alterar nossos métodos de proteção das costas litorâneas. Se as temperaturas subirem por volta dos 2°C, este modelo sugere que de 50 a 100 milhões de pessoas serão inundadas todos os

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anos, devido a este aumento de 2°C na temperatura. Agora se tivemos um aumento bem pequeno na proteção das costas litorâneas, na mesma proporção do crescimento do PIB, então se este for de 4%, aumenta-se a proteção costeira em 4% também, você vê imediatamente nas curvas inferiores que o número de pessoas inundadas diminuirá drasticamente. Será menos que 5 a 10 milhões de pessoas. Então o que isso me diz é que se agirmos agora, podemos poupar muita dor, muitos problemas no futuro. Isto é importante, é por isso que temos que tornar o desenvolvimento mais sustentável agora. Mitigação, deixa eu andar rápido agora porque estou nos 10 minutos finais da minha apresentação. A importância da mitigação é que as emissões têm aumentado, temos que baixá-las. Começamos muito bem em 1992 com a Convenção do Clima, mas desde então temos caminhado para trás. O Protocolo de Kioto de 1997 era uma meta bem modesta, mas nem esta foi cumprida e agora estamos chegando a Copenhague em 2012 onde tudo está dependendo de uma reunião. Olha o que aconteceu nos últimos 30 anos. As emissões não caíram, na verdade elas aumentaram 70%, apesar do Protocolo de Kioto. A UE estabeleceu um limite de perigo de 2°C que é aproximadamente 400-450 partes por milhão até 2100 e isso significa que as emissões têm que atingir seu pico e começarem a diminuir até no mais tardar 2020, se não reduzirmos as emissões até 2020 veremos aumentos de temperatura muito maiores e mudanças climáticas no futuro. O que podemos fazer principalmente são mudanças na energia, no setor energético e mudanças no uso das terras, na agricultura e desmatamento. Isso pode ser feito em muitos setores e em todas as regiões do mundo. Há elementos políticos, elementos tecnológicos e acordos internacionais. Só que acontece que não conseguimos encontrar o político que aplicará estas soluções, porque elas estão lá. Tornar o desenvolvimento mais sustentável afetará de forma positiva os esforços de adaptação e mitigação e vice-versa, e pode ser feito agora. Deixe-me dar alguns exemplos práticos rapidamente. O que podemos esperar da conferência de Copenhague? Estive recentemente na Dinamarca dando alguns conselhos ao Primeiro Ministro Dinamarquês sobre os tipos de acordo que são possíveis. Aqui vocês veem uma possibilidade. No eixo vertical estão as emissões per capita (dióxido de carbono), no eixo horizontal o PIB per capita, que é quão rico é um país. No ponto A você tem um país mais pobre, com baixas emissões, baixa renda. No ponto C você tem um país rico, com altas emissões, alta renda. Estão acima dos limites seguros de emissões. E você tem muitos países como o Brasil e o Sri Lanka que estão no meio no ponto B. Agora a primeira solução são os países ricos reduzirem suas emissões. Foi isto que pedimos em Kioto, é o que esperamos em Copenhague. Mas percebam que eles podem continuar a ter uma vida boa, mas têm simplesmente que utilizar tecnologias modernas e políticas modernas para abaixarem suas emissões além do nível perigoso. Ao mesmo tempo, precisamos providenciar uma rede de segurança para os pobres, principalmente para os países que serão inundados pelo aumento do nível do mar, isto se chama de "rede de segurança de adaptação", para poderem sobreviver às mudanças climáticas.

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O terceiro elemento importante é o que acontece com os Brasis, as Chinas, as Índias, as Sri Lankas? Temos tantas pessoas pobres, não podemos abrir mão de nosso desenvolvimento, temos que salvá-las, mas temos que encontrar um caminho diferente. Se seguirmos os mesmos passos das economias industriais, então o mundo não será grande o suficiente para aguentar todas as pessoas do mundo com um alto nível de consumo. Mas podemos encontrar o que eu chamo de túnel. Estamos dando um grande salto, já estamos mostrando no Brasil, como vi nos filmes, em muitos países, no Sri Lanka, em pequenas comunidades, como se desenvolver de forma mais sustentável e podemos fazer isto. Então também vamos melhorar, vamos resolver o problema da pobreza, mas faremos isso sem ultrapassar o limite seguro. E, finalmente, para que isso ocorra precisamos de cooperação tecnológica e apoio financeiro para fazer esta transição. E não somente do Norte para o Sul mas também entre Sul e Sul. Acho que países em desenvolvimento avançados, que estão na liderança como o Brasil, podem fazer grandes contribuições para ajudar outros países em desenvolvimento. Vou passar por esses aqui porque não temos tempo suficiente. Por favor, desculpe. Vou apenas falar o que fazemos em termos de país. Acabamos de falar sobre o nível mundial. Eu disse a vocês que em nível nacional o importante é pegar um único problema como as mudanças climáticas e demonstrar como isso afeta as atividades do cotidiano dos governos. Podemos fazer isso através de modelos macroeconômicos e análises ambientais e análises de pobreza. Esta é uma ferramenta que uso muito, é uma ferramenta das Contas Nacionais e Verdes de Renda. No canto esquerdo superior você os cálculos econômicos que utilizo para calcular o PIB, só um único número. Mas devemos calcular também a caixa verde. A caixa verde te diz quais as atividades econômicas que vão danificar o meio ambiente, então temos que incluir o dano ambiental no nosso cálculo do PIB. A caixa rosa embaixo te mostra a distribuição de renda de todas estas atividades econômicas: está tudo indo para os ricos ou está indo alguma coisa para os pobres também? E a caixa amarela te diz como o dano ambiental está afetando os ricos ou os pobres. Então isso te dar um retrato muito mais completo, abrangente, do que olhar somente para o PIB, só a dimensão econômica. Vou mostrar para vocês bem rapidamente os resultados do que fizemos no Sri Lanka para aplicar alguns desses modelos na agricultura e recursos hídricos. Utilizamos um modelo macroeconômico com o setor agrícola e olhamos para 2 áreas: produção de arroz e de chá. O chá é para exportação, o arroz é usado para consumo interno. E o que descobrimos neste exemplo é que os fazendeiros pobres na zona árida do Sri Lanka que estão produzindo arroz são afetados de forma negativa. O rendimento deles cairá cerca de 15% nos próximos 20 anos. Mas as pessoas que vivem na zona úmida, que produzem chá, são donos de plantação mais ricos, eles na verdade se beneficiarão porque a temperatura maior e o aumento das chuvas aumentarão sua produção. Então o que está acontecendo? O efeito líquido é cancelado porque você tem menos arroz, mais chá, mas há um efeito de equidade. Os pobres ficarão mais pobres e mesmo na pequenina Sri Lanka, os ricos ficarão mais ricos. Então o governo tem que estar ciente destes efeitos, tentar ver se há movimentos demográficos que mudarão as pessoas de lugares e resolver estes problemas. Deixe eu passar por estes e chegar à parte final da minha apresentação, que diz basicamente que temos

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que cuidar do meio ambiente, e um dos métodos é através da avaliação de impactos ambientais. Porque ignoramos o meio ambiente? É porque essas são as chamadas externalidades, não há valor de mercado para elas. Mas não há desculpa, há muitas técnicas para aprimoramento da avaliação do meio ambiente para que possamos incluir estes números em nossos cálculos. Esta é a última parte da minha apresentação, sobre o Brasil e o papel da mídia. Eu acho, como eu disse, que o Brasil é um país em desenvolvimento avançado. Ele pode ajudar a descobrir o caminho do desenvolvimento sustentável para o século XXI. No quesito econômico vocês têm a tecnologia, os recursos e as habilidades, no lado social vocês têm capital social e humano, vocês são comprometidos com a paz, vocês são um país unido e, no lado ambiental, vocês são ricos em recursos naturais. Vocês podem mobilizar a sociedade civil e as empresas para trabalharem junto com o governo, não só no Brasil, mas fora também. E vocês são capazes de conectar não somente Sul e Sul, mas também Sul e Norte, através do G20. Eu daria aos jovens três brasileiros excepcionais. No lado ambiental, Chico Mendes, pela gestão sustentável da Floresta Amazônica. No lado social, Orlando Villas Boas, que trabalhou com culturas indígenas e no lado econômico, Celso Furtado, que foi um economista muito famoso, e ele falou bastante sobre a distribuição desigual de renda, recursos naturais e dependência dos recursos naturais. Estes são os exemplos que você em seu próprio país. E a mídia, uma palavra para a mídia, vocês têm um papel chave a ser desempenhado para levar a sociedade civil e as empresas a trabalharem junto com os governos. Porque estamos vivendo muito em função do governo, estamos criticando o governo, estamos falando que os políticos são ruins. Na verdade, eles precisam de nossa ajuda. Vocês têm que ir lá e ajudá-los porque eles são as únicas pessoas que estão lá para governarem. Se eu e você pudermos fazer isso, então o mundo será um lugar melhor. Vou falar com vocês ainda que o caminho do consumo sustentável é bastante importante para o desenvolvimento. E não é somente as grandes empresas e os governos que podem fazer isto. Eu e você, como consumidores, podemos fazer esta mudança. Deixa eu mostrar este túnel, falando em túneis, esta é uma família pobre em Dalfour. Este é o estoque de comida para uma semana para eles, para esta família de 6 pessoas. Agora, isto não é suficiente, isto é insustentável, é inaceitável, temos que aumentar a renda deles. Mas queremos que eles acabem como esta família Europeia, que está sem espaço com tantos pacotes e outras coisas? Então para fazer isto temos que achar o túnel e devemos conectar os produtores e consumidores sustentáveis para tornar isto mais sustentável. Valores éticos e morais são fundamentais, a ganância e o egoísmo, insustentáveis. Desprendimento, altruísmo e interesse próprio esclarecido são na verdade muito mais sustentáveis. Vou citar o Buda, dizendo "O ódio não pode cessar pelo ódio, apenas pelo amor; essa é uma verdade." A interpretação mais moderna disto é "não se prenda a ódios antigos que nos dividem, mas deixe que os desafios do futuro nos unam." Então agora vimos toda a lista. Vou deixar vocês com uma mensagem final otimista que, apesar dos problemas serem muito sérios, podemos resolvê-los, podemos trabalhar com o governo, a

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sociedade civil e as empresas para resolvê-los. Acho que o Brasil e a mídia têm um papel chave a ser desempenhado. Aqui há uma citação do Sri Lanka que diz: "que as chuvas venham a tempo, que a colheita seja abundante, que as pessoas estejam felizes e contentes, que o rei seja justo." Vocês têm o ambiental, o econômico e o social. Eles já sabiam disso há milhares de anos, nós estamos apenas reinventando a roda. Muito obrigado mesmo. Junto podemos.

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MARINA SILVA É muito interessante a gente poder ter esse olhar mais abrangente, do professor Munasinghe, sobretudo em relação as questões técnicas suscitadas pelo painel inter governamental para as mudanças do sistema climático, com os dados que eles nos apresentam e mais ainda porque não são apenas dados, esses dados foram qualificados, pela sua avaliação, pelo seu compromisso ético, pelo seu envolvimento pelo país e a sua contribuição para todos nós que temos um agradecimento muito grande, por isso ele é o Prêmio Nobel da Paz, em função desse trabalho. Eu vou tentar colocar aqui alguns aspectos. Eu vou mais me ater a uma experiência vivencial, tanto alguém que militou no movimento social, como alguém que tem uma atividade política, e os cinco anos, cinco meses e treze dias que fiquei no Ministério do Meio Ambiente. Isso é bem significativo agora no dia treze de maio, um ano da minha saída do Ministério do Meio Ambiente. E esse momento agora que nós estamos vivendo, é um momento muito importante. Nós estamos diante daquilo que alguns pensadores mais o professor Cristovão Buarque insiste muito em fazer essa comparação, de uma esquina civilizatória. Quando você está na esquina, você pode dobrar para um lado ou pode dobrar para o outro. Mas essa decisão, ela não acontece por acaso, ela acontece baseada naquilo que motivou a decisão, de avançar, de recuar, de ir para direita ou ir para esquerda, ou ficar simplesmente ali paralisado no centro da esquina. Então, o quadro apresentado aqui, ele é dramático. Nós já estamos vivendo sob os efeitos das mudanças climáticas, a temperatura da terra já está se elevando e nós já temos vários sinais de que os eventos extremos já estão acontecendo. Muita chuva em alguns lugares, nenhuma chuva em outros lugares. Concentração de chuva durante um período curto, e uma longa estiagem, só para citar alguns exemplos. Então, essa situação dramática, perda de biodiversidade, hoje se perde mil vezes mais biodiversidade do que há cinquenta anos atrás. Já existem previsões que diz que nós podemos ter uma redução do PIB do planeta, em cerca de vinte a trinta por cento, e uma série de outros problemas, graves, dramáticos, com prejuízos enormes para os seres humanos, para as outras formas de vida, para as outras formas de existência. Eu disse que estamos diante de uma esquina ética. E o nosso passado, de certa forma ele é orientador, daquilo que nós vamos fazer no presente com as perspectivas do futuro. Falando desses problemas todos, se nós ficássemos apenas na escolha, aqui no presente, sem qualificar porque chegamos até aqui como fez o professor Munasinghe, nós estaríamos fazendo uma escolha no escuro, um tiro no escuro. É como se estivéssemos todos dentro desse auditório, e de repente entrasse um leão feroz e esse leão feroz tentasse devorar alguns de nós. De repente o leão faria isso, ele sairia e entraria aqui o médico. E médico nos encontraria a todos pálidos, com o coração palpitante, muito ofegantes, desesperados, e ele resolvesse fazer um exame de sangue para ver o que estava causando na gente aquele excesso de adrenalina. Com o exame de sangue ele ia ver que a gente estava com uma disfunção que estava produzindo muita adrenalina. E com certeza ele poderia dar uma medicação para que baixasse a adrenalina. Mas se ele não viu o que aconteceu antes, que foi o leão que entrou e que suscitou em nós essa alteração em termos físicos, químicos e biológicos, ele iria prescrever uma medicação errada, dar um diagnóstico errado. Na questão da crise ambiental que nós estamos vivendo, quem está dando o diagnóstico é o painel inter governamental do IPCC. Noventa e cinco por cento do painel, liderado aqui pelo nosso professor diz que as mudanças que aconteceram, elas aconteceram em f unção da nossa atividade humana na terra, após a revolução

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industrial, o aumento significativo de CO2, de gases que provocam a elevação da temperatura, e em função disso temos todas essas mudanças que são dramáticas para a sustentação da vida na terra e isso noventa e cinco por cento está em acordo. Mais ou menos cinco por cento, diz que não é bem assim, que é um fenômeno natural e que já acontecia normalmente. E tentando suscitar talvez uma certa paralisia. Logo se nós formos por esse raciocínio nós vamos dizer que temos que continuar como está para ver como é que fica. Eu acho que os seres humanos e a sua capacidade é a de não permitir esse tipo de coisa e eu fico com aquele diagnóstico que diz em função do que aconteceu para trás, entrou um leão aqui e vocês ficaram todos assustados por isso precisamos tomar novas atitudes, precisamos tomar novas atitudes. E o caminho das novas atitudes é exatamente a mudança da nossa relação. Em primeiro lugar com nós mesmos, em segundo lugar com os outros seres humanos, e com a natureza. Para isso, alguns cientistas, alguns pesquisadores, políticos, pessoas ligadas ao mundo da ética, da filosofia, sugeriram uma alternativa, até a década de oitenta, com o seu relatório, “Nosso Futuro Comum”, que foi feito o diagnóstico, ou a humanidade pára - na década de setenta esse relatório foi feito assim – de produzir ou nós não teremos chances de continuar existindo aqui nesse planeta terra. Para os países desenvolvidos, parar de crescer poderia ser uma alternativa, porque eles já atenderam necessidade de saúde, de educação, de habitação, necessidades básicas. Para países em desenvolvimento, da África, da Ásia, da América Latina, isso seria muito difícil porque nós ainda temos uma grande quantidade de pessoas que ainda estão abaixo da linha da pobreza. O planeta tem mais de dois bilhões de seres humanos que estão abaixo da linha de pobreza. Então, para esses países, como parar de crescer. Então veio depois do relatório “Nosso Futuro Comum” a idéia de uma outra forma de desenvolvimento, o que seria o desenvolvimento sustentável. Aonde poderíamos continuar com alguma forma de desenvolvimento mas que não comprometesse os recursos naturais para que aqueles que ainda não nasceram os encontrasse nas mesmas condições ou melhores condições que estamos encontrando hoje. A idéia de desenvolvimento sustentável eu vi narrado aqui pelo professor, no livro do professor José Veiga – “Desenvolvimento Sustentável, que Bicho é Esse?”. É um conceito da biologia. Por que? Um sistema vivo, ele é um sistema aberto. Tem capacidade de auto regeneração. E os sistemas econômicos parecem sistemas fechados. Aos poucos eles vão se inviabilizando. Eles vão levando a um processo de entropia em que essa incapacidade de dar circularidade, de trânsito, faz com que leve a um colapso à própria desconstituição do modelo. Então a idéia de desenvolvimento sustentável seria como viabilizar o desenvolvimento econômico com a preservação e a preservação com o desenvolvimento. Para melhor qualificar isso, de acordo até mesmo, fazendo vínculo já com a Carta da Terra, se pensou que o desenvolvimento teria várias dimensões. Uma dimensão ambiental, obviamente, uma dimensão econômica, uma dimensão social, uma dimensão cultural. Essas dimensões tradicionais são aceitas. Eu costumo acrescentar mais três. A dimensão da sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural, mas também uma dimensão da sustentabilidade política, uma dimensão da sustentabilidade estética e uma dimensão da sustentabilidade ética. Pensar a sustentabilidade ambiental seria a preservação, a capacidade de regeneração dos ecossistemas. Para não comprometer o futuro da vida na terra. A dimensão da sustentabilidade econômica diz respeito aos princípios de equidade. Porque nós podemos ter crescimento mas isso não significa que vai ter redução da pobreza. Não significa que vai melhorar as condições das pessoas. Pode até construir mais prédios, mais carros, ter mais uma série de

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coisas, mas não se reverter daquilo que é básico, ter mais saúde, mais educação, mais habitação, em qualidade de vida, então a dimensão da sustentabilidade econômica, diz respeito a princípios de equidade. De qualificar essa idéia de desenvolvimento. No que concerne a questão ambiental, é auto explicativo eu acho que já falei rapidamente. Na dimensão da sustentabilidade cultural, diz respeito a nossa capacidade de termos um modelo de desenvolvimento, que não seja desconstitutivo das nossas raízes. Eu sempre para andar rápido com essa idéia, eu cito o exemplo da demarcação indígena, Raposo Terra do Sol. São dezoito mil índios, em um milhão e setecentos hectares, de terra e seis arrozeiros em mais ou menos treze mil hectares de terra. As pessoas dizem: é muita terra para pouco índio. Mas ninguém diz é muita terra para pouco arrozeiro. As pessoas não param para pensar que os índios estão ali há milhares de anos, e que eles têm uma forma de produzir, tem uma especificidade cultural, eles têm uma cosmo visão, que só se constituiu com aquele povo, naquele lugar do mundo. Inclusive o seu mito de criação, é o Monte Roraima. A partir dali eles acreditam o mundo foi criado. E só existe esse povo, no mundo inteiro que tem essa cosmo visão, e aquela forma de ser. E nós as vezes ficamos tristes, preocupados, e eu me sinto muito empobrecida, porque nós já não podemos trocar com civilizações que desapareceram, em função dos erros praticados, pelas civilizações do passado que nos trouxeram até agora. E a gente quando se depara com as civilizações, com o povo que resta, de lembrança de artefato, de povos que ainda temos, ainda que perdidos nesse elo cultural civilizatório, dos Incas, dos Astecas, dos Maias, nós nos sentimos empobrecidos. Quão maravilhoso seria se pudéssemos trocar com essas civilizações. Quão maravilhoso seria se pudéssemos hoje ter pelas, no seu curso histórico, social, cultural, para poder estabelecer essa troca entre as diferenças. Então nós nos sentimos civilizatoriamente mais empobrecidos por não trocarmos com elas. Portanto, no Brasil nós temos duzentos e oitenta povos que falam mais de duzentas línguas. Entre eles estão ali os índios caxinauás, os índios iapitiúnas, enfim, todas as etnias brasileiras. São mais de duzentos povos falando mais de duzentas línguas. Nós não conseguimos ter orgulho disso. Isso é um tesouro fantástico. Imagine uma cultura um pais que fala mais de duzentas línguas, que tem mais de duzentos povos, que é constitutivo da sua raiz civilizatória. Qualquer projeto de desenvolvimento tem que levar em conta a dimensão da sustentablidade cultural. Porque é um poder de desenvolvimento que não tem sensibilidade que não é capaz de estabelecer um processo, uma cultura que seja capaz de conviver com o diferente, com a alteridade, é uma cultura pobre, fadada ao fracasso. Se não ao fracasso econômico, mas ao fracasso civilizatório, do ponto de vista ético, do ponto de vista de uma visão de mundo, que coloca o outro em um espaço de sustentação de uns pelos outros. A intolerância, a incapacidade de aceitar as diferenças, é a negação do outro e o homem só se afirma no olhar do outro, da cultura do outro, na escuta do outro. Então no que concerne a dimensão da sustentabilidade cultural é sermos capazes de ter um modelo de desenvolvimento que acolha essas diferenças. É por isso que o André está aqui como nosso vice-prefeito, lá de São Gabriel da Cachoeira. E nós devemos estar felizes, porque o Brasil tem vários brasileiros, de várias formas, de várias culturas, e com muitas diferenças. A dimensão da sustentabilidade estética. Parece uma coisa fútil. Não porque também é constitutivo da nossa identidade. Quem aqui proporia dar a alguém que sabe bem fazer negócio, transformar pedra em dinheiro, que dinamite o Pão de Açúcar e transforme aquilo ali em brita. Afinal de contas é só uma pedra. Mas nós brasileiros, todos, não só os cariocas, nos levantaríamos contra. Porque existe uma dimensão da sustentabilidade estética, que é constitutivo de nosso ser, que é constitutivo da

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nossa escrita, da nossa existência, de nosso olhar, e a gente tem que parar de achar que só tem valor aquilo que pode ser monetarizado. Existe um valor intangível nas coisas que valem por si mesmas, ontologicamente, e é por isso, que nós não concordaríamos em transformar o Pão de Açúcar em brita. E a dimensão da sustentabilidade política. A dimensão da sustentabilidade política diz respeito a capacidade que nós teríamos, pessoas de um modo geral, de fazer valer esse desafio civilizatório, porque as vezes a gente acha, que – e eu não vou legislar em causa própria – que tudo é culpa dos políticos. Suponhamos que noventa e cinco por cento seja. Suponhamos. Noventa e cinco por cento. Só que tem cinco por cento que diz respeito a escolha mal feita dos maus políticos. Não é isso? Eu sempre me deparo com um problema. O projeto para preservar os sete por cento que resta da Mata Atlântica. Levou quinze anos. Quinze anos. A Mata Atlântica era um milhão e quinhentos mil quilômetros quadrados quando os portugueses chegaram aqui só resta sete por cento. Que favorece o micro clima que mantém recursos hídricos, uma série de serviços ambientais, sem os quais estaríamos todos perdidos aqui por essas regiões. No entanto, levou quinze anos. É claro que as pessoas dizem: mas a culpa é de vocês que não aprovaram o projeto. Mas se a gente continuar sem dar sustentação política para aquilo que a gente acha que é importante alguém vai continuar fazendo errado, e a gente não se coloca como responsável por isso. O bom é que a gente pode eleger mais do que deputado senador governador e prefeito. Evidente. A gente pode eleger que a água aqui seja tirada da forma correta, tratada da forma correta. E a palha que fez esse móvel, ele tenha sido feito de forma sustentável. Nós podemos eleger comprar o grão que não seja a custa do desmatamento da Amazônia. Podemos fazer uma eleição para que a madeira que entra na nossa casa não seja de desmatamento ilegal seja de maneira florestal sustentável, não tenha sido roubada da terra dos índios, nem de unidade de conservação. É uma eleição. Nós podemos escolher o minério, enfim, o aço, seja lá o que for, que foi produzido sem o carvão fóssil, nós podemos. Nós podemos. Nós podemos eleger mais do que presidente, e essa é uma força que ninguém pode tirar da sociedade. A dimensão da sustentabilidade política diz respeito a cada cidadão dar o termo de referência: para as empresas, para os políticos, e para si mesmos. Então isso é muito importante e por último, a dimensão da sustentabilidade ética. Para mim essa é orientadora de todas as coisas. Porque eu tenho muito medo do consenso oco. O que é o consenso oco. É quando todo mundo concorda com uma coisa. Todo mundo concorda com uma coisa, alguns ficam morrendo de trabalhar para mudar e outros ficam fazendo do mesmo jeito dizendo que concorda com a gente. E isso já começa a acontecer no mundo e começa a acontecer no Brasil. Na comissão de meio ambiente, por exemplo. Não tem ninguém que seja a favor de desmatamento, um ser só que seja. No entanto, são trinta e dois projetos e decretos no legislativo trancando para revogar iniciativas que favorecem o meio ambiente, favorecem causas indígenas, iniciativas em curso. Esse que o André falou, a mudança do Código Florestal em Santa Catarina, inconstitucional, mudar a mata ciliar, de trinta metros para cinco metros, suponhamos, como dizem os professores, didaticamente, a sobrancelha é para o suor não cair no olho. É como se tirassem todos os pelos da minha sobrancelha, deixassem três e achasse que isso ia proteger o meu olho do suor. Não vai. É uma mudança por interesse econômico, e o que nos assusta a todos? É que é no Estado que acaba de acontecer uma catástrofe e que todos nós ficamos solidários e estarrecidos, e a iniciativa da Assembléia, a iniciativa do governador, é de mudar a legislação para piorar a próxima catástrofe que tivermos. Porque se eles dizem – não, mas isso não tem nada a ver com mudança climática – isso já

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aconteceu na década de oitenta, aconteceu agora e daqui a mais vinte anos vai acontecer de novo. Só que com menos mata ciliar, provavelmente, com mais rio assoreados, com menos floresta para absorver a água, e a catástrofe será maior. A dimensão da sustentabilidade ética nos leva a não termos um discurso que não tem conseqüência porque as pessoas as vezes elas vão banalizando as coisas, vulgarizando as coisas, todos concordamos, todos defendem o meio ambiente, no ambiente dos outros. Mas como eu digo, difícil é defender meio ambiente no seu ambiente. Ai a coisa começa a ficar – vai ficar pobre essa rima. Diferente. Mas continuando. Agora para essas dimensões todas acontecerem – e eu estou aqui já me valendo do diagnóstico e das avaliações muito bem feitas pelo professor. Nós não vamos conseguir isso só pela onipotência do nosso pensamento. Só porque nós estamos aqui querendo, com boa intenção, ou desejando. Isso é importante, o ser humano marcar a sua vontade o seu desejo. E desejos diferentes porque nós aqui somos diferentes. Mas nós estamos ligados em cima de princípios que nos unem mesmo nessa diferença. Que eu disse: não vai acontecer pela onipotência do nosso pensamento. Para alcançar esse desenvolvimento que nós ainda não sabemos, ninguém tem a receita, mas sabemos que temos que começar, já temos bons indícios para começar, há de se ter uma visão, um processo e uma estrutura. Por que em primeiro lugar uma visão? Porque nós não estamos nessa sala, eu suponho, a maioria de nós ou todos nós simplesmente porque a gente resolveu vir para cá. Não. Nós estamos aqui aliançados em um desejo de aprender mais sobre meio ambiente, sobre como desenvolver, sobre como fazer que a empresa cresça mas sem destruir a natureza, enfim, tem uma série de valores que nos unem aqui. Então a visão diz respeito a termos um terreno em que estamos minimamente de acordo. Nós queremos que a vida continue existindo nós queremos equidade social, nós queremos que haja qualidade de vida para as pessoas, nós queremos isso. Então a visão, muito simplistamente falando, diz respeito a isso. Mas desdobrando um pouco mais a idéia da visão. A visão em primeiro lugar, ter claro de que não existe uma receita. É um processo histórico, é uma construção histórica. Só que com alguma previsibilidade. Porque se os outros processos aconteceram quase que por acaso. Ninguém planejou sair do feudalismo para o capitalismo, vamos virar capitalistas, ninguém planejou isso. Foi um processo que aconteceu dentro de uma dinâmica social. Pela primeira vez na história da humanidade nós estamos dizendo que nós queremos fazer essa reversão, dentro do processo civilizatório. Queremos fazer uma mudança de paradigma. Nós estamos fazendo uma inflexão dentro daquilo que nós estamos fazendo. Mas isso não está pronto, é um processo histórico. Nós devemos ter esse lugar de sentido. Que nos une pelo sentido. Tem um psicanalista italiano que escreve na Folha de São Paulo, as quintas feiras que ele diz que a humanidade está doente, adoecida por falta de significado e significação. Você quer ver um homem adoecido? Impotente, sem força nenhuma, tire dele o significado. Você quer ver um gigante, mesmo quando é só um gravetinho? De a ele um sentido um significado que ele se agiganta, ele vai lá e faz a diferença. Foi isso que fez o Chico Mendes ser o que ele é. É isso que faz o Celso Furtado ser o que é na nossa história, e faz o Vilas Boas ser o que é na nossa história. São homens que tiveram sentido, significado, significação. E são eles que nos ajudam a sair desse adoecimento de estarmos na manada achando que está tudo certo, vamos no rumo. Então isso é uma coisa importante. Não deve pretender a diluição das diferenças, nem a homogeneização dos sonhos. Por que? Nós somos diferentes. Eu acho que um dos problemas das utopias socialistas, é que tentaram fazer uma espécie de homogeneização de tudo. É como se a gente fosse saco de estopa. E nós não somos sacos de estopa nem saco de

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batata. Somos pessoas diferentes. Temos desejos diferentes, uns querem ser engenheiros, outros enfermeiros, uns querem até ter um pouco mais de dinheiro e outros querem viver uma vida simples, uma vida modesta desde que com qualidade, desenvolvendo suas potencialidades, alguns querem ser artistas, outros querem ser escritores. Somos diferentes. Então, temos sonhos diferentes. E isso é a riqueza da raça humana, isso é constitutivo da nossa força. No que concerte ao processo. O processo tem que ser democrático. O processo tem que ser transparente, e o processo tem que estabelecer novas formas de relação política. Do ponto de vista democrático, ele precisa ser horizontal, do ponto de vista político como um novos tipos de líderes. Como seriam os líderes para esse desafio tão grande de fazer essa mudança civilizatória? No meu entendimento, líderes multicêntricos para processos multicêntricos. Os problemas são tão variados e tão complexos, que não existe ninguém que possa responder a todos. Não se pode pretender ser líder de tudo e depois ser líder do resto, até porque é preciso cada vez mais credibilidade para se falar das coisas. Por que que o André está aqui? Por que que o Novaes estão aqui? Porque eles são jornalistas ambientalistas. Nenhum outro está aqui. Temos outros jornalistas ambientalistas, mas eu digo nesse evento e se fosse em outro lugar, seriam outros, mas igualmente com a história deles. Certo? Então há que ser democrático, e as lideranças têm que ser multicêntricas para processos multicêntricos. Tem que ter um processo que tem algum tipo de fraternidade. Que seja respeitoso com o outro. Como é que você faz o exercício da liderança fraterna? Dividindo a autoria, a realização e o reconhecimento. Esse evento, muita gente trabalhou para que ele desse certo. E com certeza há que dividir a autoria com todos. São co-autores desse evento. Certo? E eu sou co-autora dessa fala que eu to fazendo. Porque noventa e nove virgula nove por cento do que eu to dizendo não fui eu quem inventei. Foram várias pessoas no mundo todo, um processo que seja capaz de dividir a autoria, a realização e o reconhecimento. Que seja capaz de substituir a velha mania de fazer as coisas para as pessoas pelo fazer com as pessoas. Olha o que a gente viu aqui, eu entrei já estava passando aquela experiência linda dos jovens e da comunidade, fazendo com as pessoas. Não impondo uma visão nem uma relação paternalista, aonde eu faço para você, mas eu faço com você. Se nós quisermos dar certo, temos que fazer com os jovens, com os idosos, com os homens, com as mulheres, com os empresários, até com os políticos, e no caso aqui, eu me incluo. Líderes, que sejam capazes de dividir a autoria. Mas também nós vamos precisar de um processo que seja capaz de estabelecer metas, objetivos, de longo prazo, nos curtos prazos políticos dos dirigentes. O presidente Obama terá oito anos. Suponhamos que ele ganhe de novo as eleições. O presidente Lula teve oito anos, vamos supor que aonde tem reeleição, seja no máximo de oito anos. O mandato de Senador é de oito anos. Então as mudanças elas são tão complexas que demoram um tempo muito significativo, que esses líderes passageiros, tem que ter compromisso com plataformas duradouras. O combate – o André está me sinalizando aqui e com justa razão o tempo. E eu tenho três qualidades que me fazem falar pouco. Sou mulher, sou professora, sou política, e acrescento quarta sou latino-americana. Então você me controla. Então esses líderes têm que ter plataformas e eu digo que tem que ser plataformas duradouras. Não importa se for um PC um PSDB, um PMDB, quem for, tem que estar comprometido com as medas de redução para um desmatamento. Com a preservação da Amazônia, com a mudança do modelo de desenvolvimento para agricultura, para exploração florestal, para a industria. Isso são processos que a sociedade pode dar o termo de referência. A nova estrutura, já vou pular aqui para concluir. A nova estrutura é uma estrutura que tem que ter

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alguma flexibilidade, alguma plasticidade. Por que isso? Porque é uma dinâmica que acontece com um grau de mudança muito forte. Se nós tivermos estruturas rígidas, nós não vamos ser capazes de responder às situações que não são previsíveis. A crise do sistema econômico mostrou isso: veio a crise as pessoas tinham dogmas. Quem cuida de tudo isso é o mercado. O governo não se mete. Veio a crise, eles imediatamente nem pararam para pensar. Quem resolve isso é o governo de depois vocês nos interam e apareceram trilhões para resolver a crise econômica, mas não aparece os bilhões para resolver a crise ambiental global. E a crise de pobreza. Essa estrutura tem que ter plasticidade. Para comportar a contribuição da espiritualidade, da academia, da política, da sociedade, da cultura, de todos os lugares e de todos os espaços. Porque como eu disse é uma crise muito séria. Eu tive a oportunidade de tentar implementar isso quando eu estava no Ministério do Meio Ambiente. Eu assisti o seminário do professor Edgar Morin, e ele disse: a mudança no começo é apenas um desvio. E nós temos que ficar atentos para o desvio que nós queremos ver prosperar ou não. E um outro disse que as utopias são apenas começo. Eu vivi a Utopia de imaginar que era possível uma política transversal eu não desisto dela. Que meio ambiente não seja apenas uma diretoria dentro de uma empresa que quando vem uma crise econômica a primeira coisa que se faz é desconstituir a diretoria. Dentro dos bancos, dentro das empresas, e tal. Que não seja uma política que quando vem a crise, os recursos para as obras para aceleração do crescimentos são preservados, mas para o Ministério do Meio Ambiente é cortado em quarenta por cento. Eu acredito em uma política transversal. Que seja capaz de dizer que a prioridade é transversal dentro da empresa, é transversal dentro do governo, ainda que tenha que ter um setor forte de planejamento e de acompanhamento se essas políticas de fato estão prosperando. Então durante esses cinco anos, foi um trabalho. Mas o iniciozinho desse trabalho, nos levou ao plano de combate ao desmatamento. Três ministérios trabalhando juntos, há uma redução do desmatamento de cinqüenta e sete por cento, reduziu um bilhão de toneladas de “CO2”, representando mais de vinte por cento de tudo que deve ser reduzido pelos países ricos até dois mil e doze. É apenas um pequeno começo. Um pequeno começo que precisa prosperar esse pequeno desvio, porque no congresso agora é medida provisória para todo lado, para mudar o Código Florestal, para mudar o licenciamento, para fazer uma série de coisas. E o que eu observo é que a sociedade brasileira está começando a dar o termo de referência. A pesquisa do Data Folha que diz que noventa e cinco por cento das pessoas até preferem pagar um pouco mais mas que se não tenha desmatamento pelo arroz, pelo feijão pela carne, é muito alvissareira. É muito bom saber que há um sentimento, esse sentimento precisa ser potencializado, e nós estamos aqui para trabalharmos juntos, dividindo a autoria, a realização, e assumindo cada um as suas responsabilidades. Eu quero concluir apenas agradecendo pela oportunidade, de estar participando deste evento, que tenha a ver com comunicação. Mas dizendo uma coisa: comunicação não de política ambiental, de desenvolvimento sustentável, para o desafio que estamos vivendo, não é propaganda. Não pode ser propaganda nem de governo nem de empresa. A comunicação tem que fazer parte de uma narrativa. É diferente a narrativa da propaganda. Na propaganda você inventa alguma coisa verde, pinta de verde, e diz que está fazendo mudança ambiental. Na narrativa você tenta re-significar sua empresa, re-significar o governo, re-significar tua ação na relação com o planeta, como indivíduo e consigo mesmo. Então, narrativa não é propaganda. Que nós possamos criar uma nova narrativa para o Brasil no lugar de uma economia predatória que destrói floresta que preserva, no lugar do uso sustentável da madeira, a madeira

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certificada, isso é uma nova narrativa. No lugar de comprarmos as coisas apenas pela qualidade técnica e estética, vamos atribuir também a elas o valor ético, e isso que fará essa mudança civilizatória.

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ANDRÉ BANIWA (Começa falando em no idioma baniwa) Isso ninguém traduz, né? Bom eu sou André, indígena, liderança Baniwa, da região do Alto Rio Negro, do município de São Gabriel da Cachoeira. Esse município tem mais de quarenta mil pessoas, mais de noventa por cento delas são indígenas, esses indígenas têm uma diversidade de vinte e três povos diferentes, quatro grupos lingüísticos, e esse município também reconheceu três línguas indígenas co oficiais, passam a ser oficiais também, do município, junto com o português que são Baniwa, que são língua Tucano e língua Geral. Nesse município, esses vinte e três povos indígenas, eles se organizam em uma Federação das Organizações indígenas do Rio Negro fundada em mil novecentos e oitenta e sete, para lutar pela demarcação de suas terras indígenas, uma forma de defender e preservar a sua terra, o seu conhecimento, fortalecer a sua identidade. E ela também organizou todas as comunidades que são mais de quinhentas em pequenas associações, também para fortalecer a sua política. Dentro dessa experiência, queria traduzir também na verdade o que eu falei em Baniwa para todos vocês: eu to muito feliz a convite da Atitude Brasil, cumprimentar a todos aqui, agradecer essa oportunidade de conversar com vocês de trazer e falar sobre a realidade dos povos indígenas no Brasil mais especialmente da região do Rio Negro. Então, senhores, o que eu queria falar para vocês, nesse tema de integridade ecológica, mudança climática, tem a falar, a comunicação. Eu to vendo esse auditório, como se fosse uma maloca. O formato assim. Para nós a floresta, a terra, ela nos dá essa comunicação também. Como morro, serra, são como malocas para outros seres vivos. São seres que estão ali como nós estamos hoje aqui dentro, trabalhando, produzindo suas coisas aqui dentro, e por isso os povos indígenas respeitam essa natureza. Por isso os indígenas procuram trabalhar sem destruir as espécies que estão ali sobre ela. Então esse é um tipo de comunicação, além de desenho nas pedras, que são milenares mitológicos, e também nos ensinam como respeitar. Nos ensinam como amar a terra, nos ensinam como respeitar o outro, que não seja da nossa etnia. Então todos esses sinais, essas comunicações nós temos com a natureza. Eu acho que tudo isso é fundamental para que todos, o mundo inteiro, podia fazer essa leitura podia se comunicar com a natureza dessa forma e passar mais a respeitar, a natureza, para gente não passar essa situação que a gente enfrenta hoje, de uma certa forma dando medo para nós. Eu sou uma pessoa dentro do meu povo, que é como interlocutor, levo a notícia do meu povo para os não indígenas assim como levo notícia daqui para o que está acontecendo. Eu conversando outro dia com um pajé Baniwa, sobre essas situação de mudanças climáticas, que o mundo vai acabar, e muita coisa também se repete no campo político: mudar São Gabriel, mudar o Amazonas, no sentido de talvez para melhor ou para pior, ninguém sabe. E eu falava com ele, que o mundo ia acabar no ano dois mil, isso foi antes do ano dois mil. Todo mundo falava disso. E que as coisas iam ser piores, e eu queria ouvir a opinião dele. Esse senhor de quase oitenta anos, ele falou para mim eu tinha quase vinte, vinte e dois anos, e ele falava assim, ele falou: “eu nasci olhando o sol, assim, a lua, as estrelas, o céu, e todas as plantas até hoje, eu que estou ficando velho, mas o sol e a lua continuam as mesmas. Se você escutar que as coisas estão mudando não é verdade. Essas que eu citei, serão os mesmos. As pessoas é que vão acabar. As pessoas é que estão mudando. Então essas pessoas se quiserem viver numa condição e em paz, eles que têm que fazer isso.” Então isso

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eu aprendi com ele. Por isso eu continuo lutando e defendendo meu povo, para que as nossas comunidades possam continuar vivendo e esses povos indígenas do Alto Rio Negro, tem uma experiência de relação de parceria, inicialmente não com o Brasil, mas com o país Áustria no âmbito da mudança climática. Um compromisso estabelecido, assinado entre Alto Rio Negro e esse país, de esses indígenas continuarem a manter a floresta em pé. E esse pais em contrapartida, ajudar também os povos daquela região fortalecer e conseguir demarcar as suas terras, dando um pouquinho de condição de trabalho, e ele dá também um compromisso de transformar todos as fábricas em tecnologias limpas. Isso já se passou mais de dez anos, e essa experiência foi bem sucedida, o nosso município, graças a tudo isso, representa mais de noventa por cento de áreas preservada que são do Governo Federal e Estadual. Esses povos, atualmente, nós hoje – estou falando português com vocês – eu falo minha língua Baniwa, cada povo fala sua língua, e busca ,cada vez mais, reconhecer esse mundo que não é indígena. Porque nós temos mais de trezentos anos de contatos, de história, e esses trezentos anos dos povos indígenas da Região do Rio Negro, deixaram muitas coisas, acabaram com seus conhecimentos, praticamente em nome de não ir para o inferno. Eu sempre digo isso, porque a cultura indígena sempre foi vista como diabólica, leva para o inferno, não tem conhecimento, e não trabalha e assim é vistos os povos indígenas no Brasil. Talvez isso tenha mudado aos poucos, mas muitos olham os povos indígenas dessa forma. Isso estou dizendo para falar sobre conhecimentos tradicionais. Existe uma convenção internacional sobre diversidade biológica, e uma parte dela fala sobre os conhecimentos tradicionais e temos discutido no Brasil para que reconhecesse da-se melhor procedimento para reconhecimento desses conhecimentos. E esses conhecimentos dentro da sociedade, científica, não reconhece uma ciência. Mas eu sempre digo que a ciência é de cada povo. O povo Baniwa tem sua ciência. Assim como os Tucanos têm sua ciência, a sociedade não indígena tem sua ciência, tem diferentes formas de produzir, constituir a sua ciência. E uma depende da outra. Outro dia falando sobre regras de acesso a esses conhecimentos junto com recursos genéticos, uma pessoa do Ministério da Agricultura falava que nossos conhecimentos eram públicos. Que nós conquistamos esses direitos, coletivos. Falava que se são coletivos, portanto são públicos, se são públicos, portanto não devem ter regras. Para mostrar para vocês como é que são visões, como é que são concepções dessas pessoas e eu respondia dizendo que não conheço recurso público que não tenha tantas regras para serem acessados pela população brasileira. Então não é verdade que o que é público que não tenha regras. Então várias outras coisas nessa experiência, vivida defendendo o meu povo, a parte de educação escolar indígena é outro exemplo. Essa experiência de educação escolar, decidir fazer escola própria para Baniwa. Eu tenho junto com o meu povo defendido uma educação Baniwa, escola Bamari, é esse o nome. Bamari é o nome sagrado da nossa região. É o nome para onde vai as almas depois da morte da pessoa Baniwa. Mas também é o nome de uma planta que dá frutas não só para o homem, mas também para os peixes,para os animais. Então essa escola foi pensada por nós, para que porque o meu povo passou a gostar muito das escolas. Só que temos um problema. Essas escolas sempre têm sido o professor dando aula em português para os alunos filhos de indígenas que falavam Baniwa. E nunca passaram de alfabetização, porque o professor falava em português. Quando que vai passar? Quando que vai aprender a ser alfabetizado? Então, essa escola, discutimos junto com a minha comunidade, é o objetivo daquela comunidade, interesse daquela comunidade, objeto daquela comunidade, dentro do fortalecimento da cultura, da identidade, de buscar viver melhor

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assim fala o meu povo, para viver melhor. Mas o que significa escola? A metodologia dessas escolas no Brasil, através de missionários, leva quatro, oito, doze quase vinte anos. Pensando na minha tradição, o meu povo fazia uma capacitação durante quinze dias ou trinta dias. E essa pessoa já era suficiente para viver a vida na comunidade. Fazer cesto para levar mandioca, cesto para colher suas frutas, peneira para peneirar e fazer sua farinha, fazer sua canoa, fazer o seu remo, viver a vida. Isso é a formação do povo Baniwa. Agora esse lado, esse outro lado onde estudamos e eu estudei até o ensino fundamental somente, ai tive condições, estudamos até se formar na oitava série. E no final meu avô falava assim: está formado o meu neto. Para ele se formar é saber fazer as coisas. Então ele pedia do neto dele, me faça uma pilha. Eu preciso usar na minha comunidade. Eu quero usar isso. Me faça um anzol. Ele falava assim. Só que ninguém aprendeu a fazer isso. Ele dizia estão enganando você. Se você não sabe fazer isso, estão enganando vocês. Ou seja, estou tentando aqui transmitir para vocês a referência que nós temos, a visão que nós temos, ou seja, a questão é o conceito que traz essa sustentabilidade, para gente viver no nosso país de formação multicultural, viver multiculturalmente, é difícil. Alguém precisa traduzir isso ai para nós. E assim como tem que ter alguém para traduzir isso para vocês, para vocês que não são indígenas, que a gente tem a visão que a vivência completamente diferente. A mesma coisa na área da medicina. Medicina tradicional, chamamos. Temos nossos conhecimentos na floresta para plantas, cultivados e são vários e resolvemos, tratamos de doenças com isso. A picada de cobra, se mordida uma pessoa é tratado. Não se corta a perna da pessoa, não se amputa a perna da pessoa por causa disso. E na sociedade, na medicina não indígena, a solução seria amputar a perna, quando dá um problema, quando complica uma situação dessas. Então são conhecimentos, são ciências, diferentes, mas funcionam. Que um e outro não conseguem reconhecer, ou não procura conhecer e fica falando que essas coisas não funcionam. Então essa situação que a gente fala dentro do nosso território, defendendo a continuidade desses povos, o direito que nós temos para ficar aqui nesse país. Outra coisa importante é ser indígena. Eu sou indígena Baniwa primeiramente. Eu tenho orgulho de ser brasileiro, mas primeiro eu sou indígena Baniwa. Amazonense e Brasileiro. E tem que ser assim. Não pode ser diferente. Eu acho que isso dá valorização para o meu povo, para o meu estado, para o meu país. Outro dia eu estava conversando com uma pessoa que defendia que não tinha que ter índio. Essa questão de indígenas no Brasil não existe. Os povos indígenas no Brasil não existem. Só tem brasileiro. É um país de Brasil, então só tem que ter brasileiro. E eu falava para essa pessoa, e eu perguntei dele se você fosse lá do outro país do outro lado do mar, e lá como é que você se identificaria? Passaria a ser europeu? Falou não. Eu ia dizer que eu sou brasileira. Então nós a mesma coisa. Eu sou Baniwa, mas também sou brasileira. Então essas coisas dentro do campo da sustentabilidade, dessa relação nós indígenas com os não indígenas, nós estamos trabalhando para gente conhecer a nossa tradição, o nosso conhecimento, mas também conhecer conhecimento da sociedade não indígena. Esses dois conhecimentos para nós, são extremamente importante. Muitas coisas dentro de cada cultura, são boas, e assim como dentro de uma cultura sempre tem coisas também que não são boas. Isso hoje nós estamos conscientes e por isso devem ser valorizadas esses dois conhecimentos, essas duas formas de ver as coisas. E assim passamos a respeitar um ao outro. Eu acho que a nossa questão como indígenas de marcar nossas terras tentar criar conversar com o Estado Brasileiro, com o governo para ter programas específicos para nossos trabalhos de educação escolar, medicina, medicina tradicional a saúde indígena, desenvolvimento sustentável,

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também começamos a falar de dentro das nossas comunidades. Essa palavra – sustentabilidade – é também porque nós passamos a usar as coisas que não são nossas hoje. Então a gente precisa saber usar conscientemente tudo o que está entrando dentro das nossas comunidades. Então eu queria dizer isso para vocês tentando trazer essa realidade da comunidade. Outra parte que eu queria contar para vocês, a forma indígena de trabalhar a terra. Que é completamente diferente que talvez isso seja talvez representa melhor a sustentabilidade, rapidamente. Uma roça feita pela comunidade indígena, ela vive em uma comunidade que não tem emprego, mas tem floresta, tem água ela pesca, faz a casa, então ela precisa de uma roça. E essa roça ela é plantada talvez com equivalente a um hectare, e madura, quando colhe, começa pelas beiras. Quando terminar o centro, as primeiras partes onde começou já estão maduras de novo. E consegue fazer isso durante cinco anos. Então eu acho que isso é uma das maneiras, sustentável de trabalhar, de viver de necessitar menos essa questão hoje na minha comunidade, em termos de dinheiro, em termos de recurso, precisa de no mínimo de mil e oitocentos reais o ano inteiro, ela precisa de recurso de fora. O resto, dentro de suas terras. Obrigado.

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WASHINGTON NOVAES Eu costumo dizer que hoje é praticamente impossível tratar de qualquer tema, sem relembrar o que disse Kofi Annan, que foi secretário Geral da ONU, durante mais de uma década, com a experiência e a autoridade dele. Ele se cansou de dizer o seguinte: Que hoje os problemas centrais da humanidade são mudanças climáticas e padrões insustentáveis de produção e consumo. E acrescentando, esses problemas ameaçam a sobrevivência da espécie humana. É muito grave, né. Diante de tudo o que já foi dito, aqui. Eu vou tentar resumir um pouco informações sobre a área do clima e dos padrões de consumo para falar um pouco mais das mudanças. Mas não há nenhuma dúvida com essa afirmação do Kofi Annan, entre outras coisas de que nós estamos vivendo hoje uma crise do padrão civilizatório. Os nossos modos de viver, não são adequados ao planeta que nós temos porque também nós estamos consumindo recursos naturais e danificando serviços naturais já a vinte e cinco por cento além do que a biosfera terrestre é capaz de repor. Isso é um processo que se agrava e terá conseqüências dramáticas. Diante disso, tudo vai ter que mudar no mundo nós vamos ter que encontrar novos formatos de viver. O Brasil, por exemplo, nessa questão do clima, o Brasil tem que tomar em conta essa questão que já é o quarto maior emissor do planeta. O Sir Nicholas Stern que fez um relatório muito competente para o governo inglês, sobre o clima e a economia e ele é um ex economista chefe do banco mundial, com essa autoridade, disse que nós temos dez anos de prazo, no máximo para enfrentar tudo isso sob pena de enfrentar a mais grave recessão da história da humanidade e perdermos até vinte por cento do produto bruto mundial. E quando ao caso brasileiro – ele esteve aqui no começo do ano – foi ao programa Roda Viva, foi onde eu perguntei algumas coisas, e entre elas ele respondeu o seguinte: quando eu disse em dois mil e seis que nós temos dez anos eu fui muito otimista. Nós não temos dez anos. Quando eu disse que precisaríamos aplicar de um por cento do Produto Bruto Mundial a cada ano para enfrentar também é um otimismo. Vamos ter que aplicar de dois a três por cento o que significaria de um trilhão e duzentos a trilhão e oitocentos bilhões por ano e em relação ao Brasil, ele deu uma notícia surpreendente. É que as emissões brasileiras já estão em onze a doze toneladas de equivalente de carbono por ano. Isso significa que nós dobramos as nossas emissões em relação a mil novecentos e noventa e quatro que é o ano a que se refere ao único inventario do clima que foi apresentado em dois mil e quatro. Há um outro relatório prometido para esse ano. Mas o Brasil continua se recusando a assumir compromissos de emissão da próprios da comissão de mudanças climáticas por várias razões que eu não vou discutir aqui e agora, isso não vai dar tempo. E propõe apenas metas voluntárias, como a redução do desmatamento na Amazônia, que eu também não vou discutir aqui agora. Mas o fato é que o Brasil tem a peculiaridade de setenta e cinco por cento das nossas emissões se devem a mudanças no uso do solo, dos desmatamentos e queimadas. Em segundo a ex secretária do clima no Ministério do Meio Ambiente, diz que cinqüenta e nove por cento das emissões por essa razão acontecem na Amazônia. Não disse onde acontece as outras mas provavelmente acontece na sua quase totalidade no Cerrado, porque segundo o último levantamento do Instituto de Sociedade de População e Natureza, nós continuamos desmatando vinte e dois mil quilômetros quadrados por ano no Cerrado, no que já desmatamos oitocentos mil quilômetros quadrados. Mais do que na Amazônia que são setecentos e trinta e cinco mil quilômetros quadrados já desmatadados. Diante de todas essas coisas, do panorama mundial, o Instituto Nacional de Pesquisa traçou alguns

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cenários muito graves para o Brasil, e disse que a temperatura na Amazônia, pode se elevar entre seis e oito graus, ao longo desse século, mantidas as atuais tendências, pode aumentar de três a quatro graus no centro-oeste, e tudo isso com muito reflexo nas outras áreas brasileiras. E que o Nordeste pode perder vinte e cinco por cento dos recursos hídricos e que os eventos extremos, como eles são chamados, se acentuarão muito, continuam se acentuando nesse momento, o Nordeste está debaixo d`água, setecentos mil desabrigados, o Norte, diante da maior cheia de todos os tempos e o Sul diante de uma estiagem terrível. Diante de todas essas questões, como é que se vai fazer, por exemplo, na questão dos recursos naturais o que os estudos do programa das Nações Unidas dizem é que a chamada pegada ecológica, no mundo já está dois virgula dois hectares por habitante da terra, ou seja você precisa de dois virgula dois hectares para atender às necessidades de uma pessoa. Mas a disponibilidade média mundial é de um virgula oito. O Brasil embora seja um país bastante privilegiado sob esses aspecto, está acima da média. O Brasil está em dois virgula um hectares por habitante. Agora diante de todas essas coisas, há quem diga o seguinte “não o que vai resolver, é desenvolvimento, é crescimento econômico.” O Edward Wilson é considerado o Papa da biodiversidade, faz uma argumentação interessante ele diz o seguinte: vamos admitir para argumentar que o caminho seja esse: o crescimento econômico. E que nós tenhamos no mundo ao longo das próximas décadas, esse crescimento do Produto Bruto de três virgula cinco ao ano. Que é um crescimento relativamente modesto até de seis, cinco, sete por cento na china. Se o crescimento no mundo for de três virgula cinco por cento na média, o produto bruto mundial, que está perto de sessenta trilhões de dólares, anuais, chegaria a dois mil e cinqüenta com cento e cinqüenta e oito trilhões de dólares. Mas não chegará a isso. Não há base física para sustentar esse crescimento. Não há recursos e serviços naturais capazes de sustentar este crescimento. Então nós vamos ter que criar outros formatos de viver. Para isso, é preciso em primeiro lugar que a própria sociedade mude. Eu acho a sociedade brasileira por exemplo precisa sair da posição em que ela está hoje que nós chamamos de “retórica indignada”. Ela fica indignada com tudo com o congresso, com o governo, com os políticos, com uma porção de coisas, agora em uma posição passiva. Enquanto a sociedade permanecer nessa posição passiva, não acontecerão as transformações fundamentais que terão que ser muitas e profundas. A começar pela reformulação das matrizes energéticas do mundo, não é só do Brasil. As mudanças têm que ser no mundo. E para isso será preciso reduzir as emissões, principalmente na geração de energia que é a principal causa de emissões no mundo que se baseia principalmente na queima de combustíveis fósseis, petróleo, carvão mineral. Há muitos países que embora não digam isso preferem continuar apostando na tecnologia que serão capazes de resolver o problemas, dentre elas são o chamado seqüestro e sepultamento do carbono. É captar o carbono na origem, digamos, uma usina que queime carvão tem aquelas emissões, capta ali e através de grandes tubos leva para o fundo do mar ou para o fundo da terra os campos de petróleos abandonados. O painel do clima fez uma avaliação preliminar dessa tecnologia e disse o seguinte: tecnicamente é viável, agora é preciso saber que conseqüências geológicas terá no fundo da terra, que consequências hidrológicas, terá e no fundo do mar o que acontecerá com a biodiversidade marinha. Ao que dizem os cientistas que estudam essa biodiversidade marinha diz como no fundo do mar o carvão não terá como ficar aprisionado ele será liberado ele vai destruir toda a biodiversidade marinha. Mas será preciso reformular também a matriz de transportes nós não podemos continuar no mundo na base do transporte individual o desperdício que ele tem um automóvel gasta noventa

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por cento da energia para transportar ele mesmo e não passageiro. Os estudos recentes mostram que a diferença entre consumo de energia e deslocamento de automóvel e deslocamento de metrô na cidade de São Paulo no mesmo trajeto é de vinte e seis vezes. O Metrô gasta vinte e seis vezes menos energia para transportar aquele passageiro. É um desperdício de tempo. Em São Paulo cada pessoa perde em média duas horas por dia no transporte o que significa dez milhões de horas/dia se multiplicar isso pelo valor da hora. Há um economista que diz o seguinte: ao longo de uma década, o que se desperdiça em valor se fosse possível transpor, seria suficiente para implantar a rede de Metrô em toda a cidade de São Paulo. Nós teremos que reformular completamente a nossa agropecuária, que embora se fale muito pouco nisto, é uma das principais causas das nossas emissões, principalmente a pecuária. Nós temos que lembrar que o Brasil tem duzentos e cinco milhões de bois e que cada boi, segundo a Embrapa meio ambiente mediu em Jaguariúna, cada boi emite cinqüenta e oito quilos de metano por ano no processo de ruminação dos alimentos que come. Multiplicando duzentos e cinco por cinqüenta e oito milhões vão ser mais de dez milhões de toneladas de metano por ano. Como o metano e vinte e três vezes mais prejudicial a concentração de gás na atmosfera, embora permaneça menos tempo, isso vai significar quase duzentos e cinqüenta milhões de toneladas que pelo inventário de mil novecentos e noventa e quatro é tanto quanto a industria e o transporte, os dois. Será preciso reformular todos os padrões de construção. Eu estava contando aqui vocês sabem quantas luminárias nesse auditório, tem mais de oitocentas luminárias. Em um dia de sol como hoje não entra um raio de luz aqui dentro e nós estamos aqui consumindo uma energia enorme e mais ainda porque precisa do ar condicionado para dissipar o calor provocado por essa energia. Não estou falando mal nem do arquiteto nem do construtor, mas é um método de construção que não vai ser possível continuar. E isso se vocês pensarem em cada casa, cada edifício, vocês vão ver que é mais ou menos a mesma coisa. Os Shoppings Centers por exemplo, no Brasil mais de cinqüenta por cento do consumo de energia deles é para dissipar o calor provocado pelo sistema de iluminação. Que lá também não entra luz natural. Agora para que tudo isso aconteça, será preciso que os fatores e custos ambientais estejam no centro de toda a estratégia política, dentro de cada empreendimento privado. Para avaliar se deve ou não ser feito se vai ser feito quais são os custos, se houver custos, se tem como reduzir, ou mitigar isso, como se chama, e quem é que vai arcar com esses custos. E não repassa-lo a sociedade toda como acontece hoje. Por exemplo: quem é que paga o custo da poluição do ar? É o dono do automóvel? Não. É a sociedade inteira que paga os programas de saúde. Quem paga as mortes das pessoas? Em São Paulo são vinte mortes de pessoas por dia afetadas pela poluição do ar. Agora o que me parece o mais grave é que o Brasil não tem uma estratégia adequada para enfrentar essas questões e não tem uma estratégia adequada para os seus biomas a começar da Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica, da Caatinga, de todos eles. E o Brasil precisa muito deles pelo seguinte: se os recursos naturais os serviços naturais são um fator escasso no mundo, não é aquilo que o mundo mais precisa porque esta consumindo mais do que pode, o Brasil é uma espécie de sonho do mundo. Porque o Brasil é muito privilegiado. Nós temos um território continental, temos sol o ano todo, para plantar e colher, temos de doze a treze por cento do fluxo superficial de água do planeta, que é um alto privilégio de doze a treze por cento. Temos de quinze a vinte por cento da biodiversidade, planetária. E isso é outro privilégio que a biodiversidade é a grande possibilidade de futuro de novos matérias, novos alimentos, novos medicamentos. Sir Thomas Lovejoy disse que só em

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medicamentos derivados de plantas hoje o comercio mundial já está acima de duzentos bilhões de dólares por ano. O Brasil tem de quinze a vinte por cento da biodiversidade e nem conhece essa biodiversidade. Nós temos a possibilidade de uma matriz energética nesse tempo de crise de clima, uma matriz energética que é limpa, renovável, com hidroeletricidade, com energia eólica, só o potencial da energia eólica é maior do que tudo o que se consome em energia hoje no Brasil. Potencial de energia solar. Há um estudo que mostra o seguinte se eu usasse um quarto da área de Itaipu para implantar painéis solares se geraria ali tanta energia quanto toda a usina de Itaipu. Podemos ter energia de marés e a energia de biocombustíveis, esperando que o Brasil não faça a besteira de não zonear as áreas de não regulamentar essa coisa e não transformar os biocombustíveis por muitas razões que não dá para expor aqui, para que eles não passem de solução para problema. E também é preciso repensar as cosias. O governo federal não pode continuar fazendo de conta que não viu vários estudos sobre matrizes energéticas, principalmente um estudo da Unicamp, junto com o WWF que diz o seguinte o Brasil pode reduzir tranquilamente em cinqüenta por cento o seu consumo de energia sem nenhum prejuízo. Pode reduzir em trinta por cento com eficiência e conservação energética tal como fez no apagão dois mil e um sem nenhum prejuízo para ninguém. Pode ganhar mais dez por cento com repotenciação de usinas antigas que estão velhas e produzem pouco e a custo muito menor do que fazer uma nova. E ganhar mais dez por cento com a redução de perdas nas linhas de transmissão. Nós estamos perdendo entre quinze e dezessete por cento da energia na transmissão quando o Japão, por exemplo, perde um por cento. E não se pode dizer que isso prejudica qualquer desenvolvimento, nem mesmo o desenvolvimento convencional. Os Estados Unidos, por exemplo, depois da primeira crise do petróleo, em mil novecentos de setenta e três, nos quinze anos seguintes, com programas de conservação, eficiência própria de equipamentos, por ai, os Estados Unidos não aumentaram um só quilowatt durante quinze anos o seu consumo de energia embora o seu Produto Bruto tenha crescido quarenta por cento e tenham construído dez milhões de unidades residenciais. Agora nós não podemos continuar fazendo de conta que não sabemos disso e ter até estimulo para consumir mais e agora com esse brilhante Ministro de Minas e Energia que nós temos, querendo construir sessenta usinas nucleares e quarenta por cento da energia em termo elétricas altamente poluidoras que não funcionam a maior parte do ano embora cada um de nós pague a conta para elas, porque elas recebem mesmo paradas. Então eu vou falar aqui um pouco para que a gente possa avançar nisso que eu acho que tem muita coisa que se pode fazer mas que não vai dar tempo de falar, nós vamos ter que conseguir mudar a comunicação também. É muito difícil falar de comunicação de uma forma generalizada porque evidentemente isso varia de órgão para órgão num meio de comunicação para meio de comunicação. Mas não é nem leviano nem exagerado dizer que a comunicação brasileira de modo geral está mergulhada no que tem sido chamada de modelo hollywoodiano da comunicação. É de dar importância de fatos nessa área que nós estamos tratando aqui, apenas quando há um grande drama, uma grande emoção, uma grande tragédia, que desperta atenção, provoca mais audiência, mais índice de leitura e passado isso se esquece, não informa a sociedade sobre essas coisas para que ela possa discutir – porque a sociedade tem que aprender – a se informar e a discutir essas coisas e a ter propostas práticas e efetivas para a classe política para sair dessa posição dessa retórica, indignada e inútil. Só que essa mudança ela é muito ameaçadora para todo mundo. Eu

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acho que ela é muito ameaçadora para governo, para administradores, porque se eles levarem essas coisas a serio eles têm que mudar todos os seus modos de governar e de administrar. É ameaçadora para as empresas. Porque elas terão que pensar e absorver custos em momento difícil de muita competitividade, de crise. Acho que é muito ameaçadora para a publicidade, que vai estar muito ligada a todas essas coisas. Acho que é ameaçadora também para os meios de comunicação porque eles terão muitos conflitos com empresas, com publicidade, com governos, com uma porção de coisas acho que é extremamente ameaçadora para uma parte uma grande parte dos jornalistas, porque para levar isso a sério, eles têm que mudar sua visão de mundo, e achar que essas questões são questões de eco-xiitas, eco – chatos e por ai e não questões fundamentais para serem discutidas. E é ameaçadora para qualquer cidadão que colocado diante disso, fala “eu faço o que, como é que eu faço, como é que eu faço”. Bom isso vai ter que exigir uma nova ética na área da religião, vai ter que exigir um sistema de informação na educação, e na ciência, e por ai, e tudo isso. Não vai dar para falar isso tudo, então eu vou só terminar dizendo o seguinte: que é preciso ter pressa lembrar as advertências do Nicholas Stern, e outros e lembrar mais o seguinte em mil novecentos e sessenta e oito o Cardeal Belga já dizia isso, hoje a diferença entre uma pessoa de vinte anos e uma de quarenta não é de duas décadas é de dois séculos. Porque o que acontecia em um século, hoje acontece em uma década, o que antes precisava de uma década hoje acontece em um ano. Então é preciso correr para não ser atropelado e lembrando o seguinte: nós todos temos compromissos com as futuras gerações, como disse o presidente Jacques Chirrac, na África do Sul, elas um dia dirão, vocês sabiam de tudo e não fizeram nada. E diante dessas questões então eu acho que só concluindo com um poeta que é o Yeates que diz o seguinte: a nossa missão é tentar o resto não é da nossa conta. Muito obrigado pela atenção.