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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO (PUC-SP) José Eduardo Nalini Mercado de Reciclagem do Lixo no Brasil: Entraves ao Desenvolvimento PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA SÃO PAULO 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO (PUC-SP)

José Eduardo Nalini

Mercado de Reciclagem do Lixo no Brasil: Entraves ao Desenvolvimento

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA

SÃO PAULO 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO (PUC-SP)

José Eduardo Nalini

Mercado de Reciclagem do Lixo no Brasil: Entraves ao Desenvolvimento

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Economia Política pela Ponti- fícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Doutor Ladislau Dowbor

SÃO PAULO

2008

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Banca Examinadora ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________

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AGRADECIMENTOS

Dedico aos meus queridos pais, João Baptista Nalini e Maria De Lourdes Campos

Nalini, pelos ensinamentos e princípios, que me ensinaram dar valor a tudo que tenho,

mesmo que possa parecer pouco, e desta forma ter consciência econômica para

desperdiçar o menos possível os recursos disponíveis.

Agradeço primeiramente ao meu Professor e Orientador, Ladislau Dowbor, pelos

comentários e pela confiança depositada em mim. Agradeço também ao Professor Julio de

Mesquita pelos comentários e considerações durante a minha qualificação e também

posterior a ela, a Dorli Martins do Sebrae-SP por ter permitido a minha participação no

evento realizado no própria sede do Sebrae-SP em junho deste ano, ao Ricardo Lopes

Garcia, diretor do departamento de meio ambiente do sistema FIESP, por ter me recebido,

pelo material e pelas considerações acerca da visão da indústria sobre o mercado de

reciclagem, a Elizabeth Grimberg do Instituto Pólis, por ter sido o meu primeiro e

importante contato externo para obter diferentes pontos de vista sobre o mercado de

reciclagem, e também pelas importantes observações sobre o escopo do minha dissertação.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é entender os principais entraves ao desenvolvimento do

mercado de reciclagem no Brasil, comparativamente aos de outros países mais avançados

nesse setor. A metodologia utilizada foi, partir da análise do potencial e da viabilidade

econômica desse setor no Brasil, tese defendida por Sabetai Calderoni, na obra “Os Bilhões

Perdidos no Lixo”, e da comparação dos índides de reciclagem com outros países, para

entender porque esse mercado ainda é incipiente no Brasil.

Através também de contatos e entrevistas com representantes de entidades

representantivas do setor, como MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos,

Instituto Pólis, FIESP e SEBRAE, entre outras, entender os principais entraves ao

desenvolvimento desse mercado no Brasil sob diferentes pontos de vista. O resultado

obtido é que apesar da evolução desse mercado no Brasil nos últimos anos, ainda há muito

a ser feito para alavancar o seu crescimento, tanto em termos de Política Nacional de

Resíduos, conscientização e organização de todos os agentes, como um maior entendimento

dos diversos ganhos potenciais da reciclagem, e maior foco e investimento das Prefeituras

nos programas de coleta seletiva.

Palavras-chave: lixo, desperdício, consciência, organização e reciclagem.

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SUMMARY

The objective of this work is to understand what are the main inhibitors to

developing recycling market in Brazil compared to other more advanced countries. The

methodology used was, starting from the analysis of the potential and economical viability

of this market in Brazi, by Sabetai Calderoni, in “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, and a

comparison of recycling indexes with other countries, to finally understand why this market

is still so incipient in Brazil.

Through contacts and interviews with representants of representative entities of this

sector, like MNCS – Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos, Institulo Pólis,

FIESP and SEBRAE, among others. The general result was besides the growth reached by

this market in Brazil in the last years, there are still a lot to be done to take it to the next

level, in terms of Waste National Policy, conscience and organization from all agents, as

higher level of understanding of all recycling potential benefits and more focus and

investiment from Mayors for selective collect programs.

Key words: waste, wastefulness, conscience, organization and recycling.

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Sumário

INTRODUÇÃO....................................................................................................................11

CAPÍTULO 1 – Contexto da Reciclagem.............................................................................14

1. Problemáticas Ambiental e Econômico-Social.......................................14

2. Consumo e Meio Ambiente.....................................................................20

3. Conceitos sobre a Reciclagem.................................................................24

1. Conceitos de Reciclagem...................................................................24

2. Tipos de lixo......................................................................................25

3. Processo de Reciclagem....................................................................27

4. Destino dos Resíduos........................................................................29

CAPÍTULO 2 – Panorama do Setor no Mundo....................................................................31

CAPÍTULO 3 – Panorama do Setor no Brasil......................................................................45

1. Balanço da Reciclagem no Brasil............................................................45

2. Estrutura do Setor de Reciclagem no Brasil............................................50

3. Mapa da Reciclagem no Brasil................................................................59

1. Regulamentação Nacional..............................................................59

2. Índices Nacionais da Reciclagem...................................................61

CAPÍTULO 4 – Retrato do Município de São Paulo............................................................63

1. Disposição Final do Lixo.........................................................................66

2. Iniciativas da FIESP..............................................................................102

3. Programa de Gestão Ambiental do SEBRAE-SP..................................107

CONCLUSÃO....................................................................................................................114

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................117

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ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1.2 – Características dos Principais Materiais Recicláveis......................................27

Quadro 2.2 – Coleta e disposição de Resíduos Sólidos nas Cidades da AL&C...................35

Quadro 2.3 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita..........................................38

Quadro 2.4 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005).............................39

Quadro 3.1 – Formas de Disposição de Resíduos por Região no País.................................45

Quadro 3.2 – Estimativa de Geração de Resíduos Sólidos no Brasil...................................46

Quadro 3.7 – Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada)......................................50

Quadro 3.8 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%).................................62

Quadro 4.1 – MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - Evolução da Quantidade Anual de Lixo

Domiciliar – 1978 a 1996.....................................................................................................64

Quadro 4.2 – MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução Histórica da Composição dos

Resíduos Sólidos (%)............................................................................................................66

Quadro 4.3 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005).............................67

Quadro 4.4 – MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução do Custo Operacional dos

Aterros...................................................................................................................................69

Quadro 4.5 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita..........................................72

Quadro 4.12 – Tabela de Preços dos materiais recicláveis por grupo (R$/tonelada)............77

Quadro 4.13 – Tabela de Preços dos materiais recicláveis por grupo (R$/tonelada)............78

Quadro 4.14 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%)................................81

Quadro 4.15 – Município de São Paulo – Áreas de Interesse dos Participantes do Processo

de Reciclagem.......................................................................................................................82

Quadro 4.16 – Município de São Paulo – Distribuição dos Ganhos Possíveis pela

Reciclagem do Lixo..............................................................................................................83

Quadro 4.17 – Brasil – Economia Possível pela Reciclagem do Lixo.................................84

Quadro 4.18 – Município de São Paulo – Economia Possível pela Reciclagem do Lixo....85

Quadro 4.19 – Índice de Reciclagem de Latas de Alumínio – 1989 a 2008.......................87

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Quadro 4.20 – Consumo Anual de Latas de Alumínio (em bilhões de latas).......................88

Quadro 4.21 – Índice de Reciclagem das Latas de Alumínio (%)........................................88

Quadro 4.22 – Índice de Reciclagem do Vidro (%)..............................................................90

Quadro 4.23 – Crescimento do Índice de Reciclagem de Vidro – 1991 a 2008..................90

Quadro 4.24 – Consumo de Vidro Per Capita (em kg per capita)........................................91

Quadro 4.25 – Índice de Reciclagem do Papel (%)..............................................................93

Quadro 4.26 – Crescimento do Índice de Reciclagem de Papel...........................................93

Quadro 4.27 – Índice de Reciclagem do Plástico (%)..........................................................95

Quadro 4.28 – Crescimento do Índice de Lata de Aço.........................................................96

Quadro 4.29 – Índice de Reciclagem da Lata de Aço (%)...................................................97

Quadro 4.30 – Participação dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%).....................................101

Quadro 4.31 – Índice de Reciclagem dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%)......................102

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ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.1 – Crescimento Demográfico Mundial 1830-2050 (em bilhões de pessoas).......14

Figura 2.1 – Estimativa Crescimento Demográfico Mundial versus Resíduos Sólidos

Urbanos no Mundo (em bilhões de pessoas e bilhões de toneladas/ano).............................32

Figura 3.3 – Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva..................................48

Figura 3.4 – Participação da Coleta por Região (%).............................................................49

Figura 3.5 – Composição da Coleta Seletiva em Peso (%)...................................................49

Figura 3.6 – Índice Nacional de Reciclagem dos Principais Materiais em 2006..................49

Figura 4.6 – Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva..................................73

Figura 4.7 – Coleta por Região no Brasil..............................................................................73

Figura 4.8 – Composição da Coleta Seletiva (em peso).......................................................73

Figura 4.9 – Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada)........................................74

Figura 4.10 – Faturamento Anual da Indústria de Embalangens no Brasil (em bilhões de

reais)......................................................................................................................................76

Figura 4.11 – Participação de cada material no faturamento total (%).................................76

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Introdução

O meu interesse pela questão do lixo se iniciou quando participei de um trabalho

ainda na graduação de Economia, sobre as pessoas (adultos e crianças) que viviam do lixo e

dentro dos grandes lixões, ou aterros sanitários, no início da década de 90. Na época visitei

um deles, e presenciei a situação degradante daquelas pessoas. Recentemente, durante o

meu trabalho de pesquisa de fontes para a minha dissertação, encontrei um artigo de 1999

do Instituto Pólis com apoio da UNICEF, sobre o Programa Lixo e Cidadania. O objetivo

do programa era erradicar a coleta do lixo por crianças e adolescentes, capacitar seus

familiares para que tenham trabalho e renda e, ainda, mudar a situação do destino final do

lixo.

Segundo o IBGE, na maioria dos municípios brasileiros há pessoas vivendo no (ou

do) lixo. São catadores de rua ou coletores de sucata e papelão. Há famílias inteiras que

sobrevivem nos lixões, recolhendo restos de comida e outros materiais. Mais de 100 mil

pessoas, incluindo crianças e adolescentes, trabalham na coleta, tendo-se em alguns lugares,

três gerações de uma mesma família vivendo no e do lixo. A situação destas pessoas é

extremamente cruel: expostas a doenças atráves de vetores (moscas, ratos, baratas),

mutilações e riscos de vida. Elas estão privadas de educação, lazer, moradia, saúde, afeto, e

convivem com marginalidade, prostituição, uso indevido de drogas, sem qualquer

perspectiva de um futuro digno.

Desde então, o problema do destino do lixo só vem se agravando nos grandes

centros urbanos, principalmente nos países onde a cultura da reciclagem de resíduos é

pouco desenvolvida, como ainda é o caso do Brasil. O contexto atual é de previsões

catastróficas para o planeta terra causadas pelo aquecimento global, no qual o homem é o

agente responsável pelo efeito estufa, segundo últimos relatórios elaborados pela

Organização das Nações Unidas (ONU)1. Além disso, as consequências serão rápidas e

violentas em todos os continentes nas próximas décadas, mas atingirão principalmente as

nações mais pobres. E muito precisa ser feito por todos para mudarmos esse cenário

sombrio futuro.

1 Relatório do IPCC - International Panel on Climate Change, ONU.

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Nesse contexto, e também considerando que os recursos naturais são esgotáveis,

torna-se cada vez mais imprescindível o reaproveitamento dos resíduos orgânicos e não

orgânicos gerados pela produção e consumo, tanto na forma de reciclagem, como na forma

transformação em fontes alternativas de energia mais limpas, como o gás natural, gerado a

partir de resíduos orgânicos.

Na visão microeconômica, o lixo pode ser considerado uma externalidade negativa,

que tornou-se um grave problema para a maioria das grandes metrópoles. Nos últimos anos,

a reciclagem do lixo, está tornando-se uma atividade lucrativa, ajudando a melhorar a

imagem das empresas que possuem esse programa. Dados dos Ibope de Julho de 2007

revelam que 53% dos consumidores deixariam de comprar uma marca preferida se

soubessem que o fabricante fez algo prejudicial ao meio ambiente. E por último, também

ajuda a solucionar esse grave problema da sociedade atual, o destino dos resíduos.

A atividade de reciclagem do lixo é de fundamental relevância ambiental e

econômica, seja na geração de empregos, na economia de recursos, na produção de energia

e adubo. No Brasil, apesar dos recentes avanços, essa atividade ainda é pouca desenvolvida,

basicamente por falta de educação, organização e consciência (consumo consciente).

O objetivo deste trabalho é entender os principais entraves ao desenvolvimento do

mercado de reciclagem no Brasil, comparativamente aos de outros países mais avançados

nesse setor. A metodologia utilizada foi, partir da demonstração e conclusão do potencial e

da viabilidade econômica desse setor no Brasil, pelo Professor Sabetai Calderoni, na obra

“Os Bilhões Perdidos no Lixo”, e da comparação dos índides de reciclagem com outros

países, para entender porque esse mercado ainda é incipiente no Brasil.

Através de contatos e entrevistas com representantes de entidades representantivas

do setor, como MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos, Instituto Pólis,

FIESP e SEBRAE, entre outras, entender os principais entraves ao desenvolvimento desse

mercado no Brasil sob diferentes pontos de vista. O resultado obtido é que apesar da

evolução desse mercado no Brasil nos últimos anos, ainda há muito a ser feito para

alavancar o seu crescimento, tanto em termos de uma Política Nacional de Resíduos,

conscientização e organização de todos os agentes, como um maior entendimento dos

diversos ganhos potenciais da reciclagem, e maior foco e investimento das Prefeituras nos

programas de coleta seletiva.

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O referencial teórico utilizado, entre outros, são: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, de

Sabetai Calderoni, Economista, “Os Empresários do Lixo: Um Paradoxo da Modernidade”,

de Márcio Magera Conceição, Economista, e “Introdução à Economia Solidária”, de Paul

Singer, Economista.

A estrutura do trabalho, está dividida em quatro capítulos. O primeiro capítulo,

contextualiza as questões ambientais e sócio-econômicas, o consumo e o meio-ambiente e

conceitos sobre a reciclagem. O segundo capítulo, é um panorama do mercado de

reciclagem no mundo, destacando os países europeus, Estados Unidos e América Latina,

comparando os principais índices reciclagem e outros indicadores. No terceiro capítulo, o

foco é o Brasil, com os seus principais indicadores em níveis nacional e regional. O último

capítulo é um retrato da cidade de São Paulo, a qual merece destaque pela sua

representatividade em diversos aspectos, entre eles, populacional, nível de riqueza,

produção, consumo, orçamento municipal, etc.

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Capítulo 1 – Contexto da Reciclagem

1. Problemáticas Ambiental e Econômico-Social

O momento atual é marcado pelo aquecimento global e suas consequências e pelas

desigualdades sociais. Atualmente, a população mundial é de 6,6 bilhões de habitantes, com

um crescimento exponencial. As previsões da ONU para 2050, é de uma população

mundial de aproximadamente 9,5 bilhões de habitantes, ou seja, a população dobrou em 40

anos e crecerá nos próximos 50 anos mais 3,5 bilhões (ver figura abaixo).

Figura 1.1 – Crescimento Demográfico Mundial 1830-2050 (em bilhões de pessoas)

1.02.0

3.04.0

6.0

9.5

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

1830 1930 1960 1977 1999 2050

Fonte: SEBRAE - Palestra sobre Desenvolvimento Sustentável da Proferssora Sílvia Maria Sartor no Sebrae-SP em junho de 2008

Quanto à questão ambiental, o Relatório Planeta Vivo2, publicado pela WWF

(World Wild Foundation) em 2002, utiliza o conceito de “pegada ecológica” para qualificar

a pressão populacional sobre o ambiente natural. Desenvolveu-se um método para medir o

uso de recursos naturais pela humanidade e como isso se distribui pelos países e regiões.

Constatou-se a partir deste instrumento que, devido ao tamanho da população mundial e de

suas necessidades de alimentação básica, em nível de consumo de recursos, das tecnologias

utilizadas e da quantidade de resíduos gerados, já foi ultrapassada em 20 por cento a

capacidade de suporte da Terra. Ou seja , as sociedades estão usando mais recursos naturais

do que o planeta é capaz de repor.

2 Relatório Planeta Vivo, 2002. Disponível em http://www.wwf.org.br.

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O planeta tem 11,4 bilhões de hectares de terra e espaço marinho produtivos, ou

seja, 1,9 hectare de área per capita para produção de grãos, peixes e crustáceos, carne e

derivados. E hoje, no mundo, estão sendo usado em média 2,3 hectares por habitante.

Vale também destacar que, dos 6,2 bilhões de habitantes do planeta, cerca de 420

milhões vivem em países que não dispõem mais de terras agrícolas per capita suficientes

para cultivar seus alimentos. Esta situação coloca os países mais pobres deste grupo em

condições de dependência bastante preocupantes, o que força estas nações a importar

alimentos.

Quanto à produção de resíduos sólidos domiciliares no mundo, cerca de 2 milhões

de toneladas eram geradas por dia, ou seja, 730 milhões de toneladas ao ano (Desafios do

Lixo - TV Cultura, 2001). Segundo esse documentário, a contribuição de alguns países na

produção mundial deste tipo de resíduos chama a atenção: só os Estados Unidos, por

exemplo, geram 230 milhões de toneladas ao ano, o que representa 31% do total de

resíduos domiciliares gerados no mundo. Somados aos do Canadá e países ocidentais da

Europa atinge-se 56% do total mundial.

Na América Latina3, são produzidas cerca de 120 milhões de toneladas de resíduos

domiciliares anualmente, cerca de 15% do total mundial. Com base nos dados do

CEMPRE, nos países do norte do hemisfério, a média de geração de resíduos por habitante

é bastante superior a de países do sul: o Canadá chega a produzir 1,9 kg por pessoa/dia, os

Estados Unidos, 2,00 kg/dia, já na Índia este valor desce para 0,4 g/dia e no Brasil a média

é de 0,7 kg/dia. Em alguns segmentos sociais mais pobres, com poder aquisitivo mínimo,

este número pode baixar para 0,3 g/dia ou até menos. Em geral, nos países mais pobres, a

média oscila entre 0,4 e 0,9 g/dia por habitante.

Já na questão econômico-social, a participação dos 10% mais ricos da população

mundial, aumento de 51,6% para 53,4% do total da renda mundial. O brasil é o caso

extremos da desigualdade, os 10% mais ricos da população tem renda per capita 32 vezes a

dos 40% mais pobres.

3 Relatório sobre Produção Mais Limpa e Consumo Sustentável na América Latina e Caribe, 2004, relativo ao período de 2000 a 2003, o qual foi coordenado pela PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, p. 47.

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Segundo o Projeto do Milênio4, da Organização das Nações Unidas, mais de um

bilhão de pessoas no mundo vivem com menos de um dólar por dia . Outros 2,7 bilhões

lutam para sobreviver com menos de dois dólares por dia. A pobreza nos países em

desenvolvimento, no entanto, vai muito além da pobreza de renda. Significa ter de

caminhar mais de 1,5 quilômetros todos os dias, apenas para ir buscar água e lenha;

significa sofrer de doenças que, nos países ricos, foram erradicadas há décadas. Todos os

anos, morrem onze milhões de crianças , a maioria das quais com menos de cinco anos; e

mais de seis milhões morrem devido a causas totalmente evitáveis como a malária, a

diarréia e a pneumonia.

Em alguns países extremamente pobres, menos de metade das crianças freqüentam

o ensino primário e uma percentagem inferior a 20% passa para o ensino secundário. No

mundo inteiro, 114 milhões de crianças não recebem instrução sequer ao nível básico e 584

milhões de mulheres são analfabetas.

Seguem alguns dados elementares que revelam as causas e expressões da pobreza

que afeta mais de um terço da população mundial:

Fome

Mais de 800 milhões de pessoas vão se deitar todas as noites com fome; dentre elas,

300 milhões são crianças. Desses 300 milhões de crianças, apenas 8% são vítimas de fome

ou de outras condições de emergência. Mais de 90% sofrem de má nutrição prolongada e de

um déficit de micronutrientes. A cada 3,6 segundos, mais uma pessoa morre de fome; em

sua grande maioria, crianças com menos de 5 anos.

Água

Mais de 2,6 bilhões de pessoas - mais de 40% da população mundial – carecem de

saneamento básico e mais de um bilhão continua a usar fontes de água imprópria para o

consumo. Quatro em cada dez pessoas no mundo carecem de acesso a uma simples latrina.

Cinco milhões de pessoas, na sua maioria crianças, morrem todos os anos de doenças

relacionadas à qualidade da água.

Agricultura

Em 1969, a África era um exportador líquido de alimentos; hoje, o continente

importa um terço dos cereais de que necessita. Mais de 40% dos africanos não têm

4 The Millennium Project. Disponível em http://www.pnud.org.br/milenio/numeroscrise.php.

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capacidade de obter diariamente os alimentos suficientes. A decrescente fertilidade dos

solos, a sua degradação e a pandemia da AIDS levaram a uma diminuição da produção de

alimentos per capita da ordem dos 23%, nos últimos 25 anos, apesar de a população ter

aumentado muito significativamente. O agricultor africano paga pelos fertilizantes

convencionais entre três e seis vezes mais do que o seu custo no mercado mundial.

Importante autores da Academia, como os citados abaixo, já na década de 90,

escreveram sobre o impacto do acelerado crescimento econômico no século XX no meio-

ambiente e suas prováveis consequências sobre nós num futuro próximo.

Segundo Calderoni5, “o acelerado processo de transformação por que passa a

sociedade contempôranea tem consequências ambientais que só recentemente – sobretudo

a partir dos anos setenta – começaram a ser objeto de maior atenção por parte dos

governos e das organizações comunitárias. A inclusão da questão ecológica na arena do

debate público, ao longo de quase três décadas, produziu uma considerável elevação no

grau de consciência social sobre o tema, como demonstrou a própria Conferência Mundial

de 1992 no Rio de Janeiro”.

Segundo também Hobsbawm6, “Uma taxa de crescimento econômico como a da

segunda metade do Breve Século XX, se mantida indefinidamente..., deve ter consequências

irreversíveis e catastróficas para o ambiente natural deste planeta, incluindo a raça

humana que é parte dele...certamente mudará o padrão de vida na biosfera, e pode muito

bem torná-la inabitável pela espécie humana. Além disso, o ritmo em que a moderna

tecnologia aumentou a capacidade de nossa espécie de transformar o ambiente é tal que,

mesmo supondo que não vão acelerar-se, o tempo disponível para tratar do problema deve

ser medido mais em décadas do que em séculos”.

Em “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, com sua primeira edição datada de outubro de

1997, Calderoni parte de um cenário em que os dados sobre esse setor são escassos, ou seja,

praticamente as estatísticas no Brasil eram inexistentes, no qual basicamente a discussão

gerava em torno da viabilidade econômica da coleta seletiva para as poucas prefeituras que

implementaram esse sistema. Isso implicava desconsiderar totalmente os demais ganhos

econômicos e ambientais que a reciclagem poderia trazer para a sociedade de forma geral.

5 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 31. 6 In “Os Bilhões Perdios no Lixo”, 4ª edição, p. 31.

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Além disso, esse setor já movimentava recursos na ordem de bilhões de dólares em outros

países, como os Estados Unidos, muitos países da Europa e Japão.

Segundo Calderoni, a reciclagem do lixo envolve um conjunto inter-relacionado de

dimensões, econômica, tecnológica, ambiental, institucional, demográfica, social e

espacial. Um aspecto fundamental de análise do setor de reciclagem do lixo é analisá-lo do

ponto de vista microeconômico e também macroeconômico, abrangendo todos os atores

sociais e institucionais envolvidos, indústria, prefeituras, sucateiros, catadores, governos

federal, estadual e municipal e população em geral, chegando a medir a participação e o

benefício de cada um dos agentes envolvidos na cadeia produtiva. Além disso, a reciclagem

do lixo torná-se de extrema importância em função dos seguintes fatores:

a) Exaustão das matérias-primas, pois na sua maioria são finitas;

b) Custos crescentes de obtenção de matérias-primas;

c) Economia de energia, devido aos custos crescentes de produção;

d) Indisponibilidade e custo crescente dos Aterros Sanitários;

e) Custos de transportes crescentes, entre os pontos de coleta e os aterros sanitários;

f) Poluição e prejuízos à Saúde Pública, em função da disposição inadequada dos

resíduos;

g) Geração de emprego e renda com a reciclagem de resíduos;

h) Redução dos custos de produção.

Calderoni ainda discute alguns aspectos teóricos relevantes para a sua análise, entre

eles, a estrutura desigual dentro desse setor, caracterizado praticamente por um modelo de

concorrência perfeita no caso dos catadores e sucateiros, enquanto as indústrias recicladores

estariam mais próximas de um modelo de monopólio e monopsônio. Outro fator relevante é

a escassez de formulações teóricas econômicas sobre esse setor. Dois autores importantes

citados são Bertolini7 e Duston8, os quais analisaram respectivamente o preço negativo do

lixo (externalidade negativa) e o ponto de equilíbrio entre oferta e procura dos recicláveis,

atráves dos benefícios e custos marginais para cada um dos materiais recicláveis. Um

último aspecto teórico discutido foi sobre a atuação do Estado Brasileiro, o qual

7 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 65. 8 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 65.

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19

evidenciava a falta de regulamentação em níveis federal e estadual, e no nível municipal

incipientes programas de coleta seletiva, deixando claro a prevalência do laissez-faire.

A metodologia utilizada e aperfeiçoada pelo Calderoni para calcular e provar a

viabilidade econômica da reciclagem, foi inicialmente desenvolvida por Duston9, partindo

somente da diferença (G) entre o montante com a venda dos materiais recicláveis (V) e

(V’), já que na visão do conjunto a receita para uns é ao mesmo tempo despesa para outros,

menos o custo envolvido na coleta e separação dos mesmos (C), depois incorporando o

custo evitado de coleta, transporte, transbordo e disposição final (E), e chegando finalmente

ao modelo geral que incorporou outras variáveis de ganho econômico, como economia no

consumo de energia (W), economia de matérias-primas (M), economia de recursos hídricos

(H), economia de controle ambiental (A) e demais ganhos econômicos (D)10. A equação

completa é: G = (V-V’) – C + E + W + M + H + A + D.

Pelos dados preocupantes apresentados acima, principalmente no tocante a escassez

dos recursos naturais, torna-se imperativo, difundir a prática do reuso, da reutilização e da

redução do desperdício, também por meio do consumo consciente. Adicionalmente, é

extremamente necessário que as autoridades municipais, principalmente, invistam em

programas de coleta seletiva e reciclagem. Essa atividade, além de ajudar na resolução da

questão ambiental, através da economia de recursos naturais: matérias-primas, energia e

água, também gera empregos, renda e inclusão social.

9 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 81.

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2. Consumo e Meio Ambiente

Na história moderna, o modelo de consumo é baseado na “mercadoria” e é

geralmente ditado pela grandes nações industrializadas, atualmente os Estados Unidos.

Países como China e Índia, entre outros em desenvolvimento, buscam cada vez mais ter o

mesmo padrão de vida que os americanos, isso significa também ter o mesmo nível de

geração de resíduos e consequentemente de poluição que os americanos. A atual sociedade

apresenta dois grupos extremos em termos de consumo, ou seja, um quarto da população

que vive nos países desenvolvidos e que consome três quartos dos recursos naturais do

planeta.

A questão do bem-estar e da qualidade de vida foram deixadas em segundo plano há

muito tempo, o que realmente importa e faz bem é consumir, é acumular contínuamente

mais riqueza e então transformar essa riqueza em mercadorias, mesmo que essas não sejam

realmente necessárias. O papel da mídia é criar necessidades para que as empresas possam

então satisfazer as necessidades criadas dos seus consumidores, com seus produtos e

serviços. Segundo Hazel Henderson11, investir em comerciais realmente funciona.

Anualmente, são gastos U$ 220 bilhões em publicidade nos Estados Unidos, e de acordo

com muitos cientistas, a TV comercial é o programa de ensino mais eficaz desse país.

Todos são alvos da mídia, incluindo as crianças que são expostas diariamente ao

consumo, como potenciais compradores e também como influenciadores do consumo dos

seus pais. Juliet B. Schor12, cita o termo “mercantilização da infância”, na literatura

acadêmica, o termo é usado como sinônimo de comercialização, como na idéia de que as

crianças estão cada vez mais envolvidas na cultura consumista ou cultura comercial, ou

seja, anunciantes e marqueteiros, influenciam diretamente criação, educação, formação e

molde das nossas crianças. A modalidade de pesquisa que mais cresce é a observação

etnográfico-naturalista in situ com registro em vídeo. Não é pesquisa, a gente convive com

eles, nem antropologia, nós estamos dentro do contexto, segundo Emma Gilding,

marqueteira, entrevista por Juliet B. Schor, durante a elaboração do seu trabalho.

11 Desafios do Consumo – Reserva para garantia da verdade na publicidade, 2007, p. 30. 12 Desafios do Consumo – A mercantilização da infância: Relatos da linha de frente da publicidade, 2007, p. 41.

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O grande dilema atual, discutido por Flávio Tayra13, é continuar com a lógica

produtivista que é composta pela tríade consumo de produtos, extração de recursos naturais

e geração de resíduos, ou mudar nossa conduta de consumo, para um consumo sustentável,

como pregam várias correntes de ecologistas. O autor cita que o raciocínio objetivo indica

que a lógica produtivista deve ser continuada, pois gera crescimento econômico, o que

levaria a mais atividades econômicas e geração de emprego. Porém, a premissa de seu

trabalho é que os problemas ambientais são gerados pela lógica capitalista, ou seja,

produção de excedentes e satisfação de necessidades.

O autor ainda levanta uma interessantes discussão, da visão dos economistas

ortodoxos, ligados à corrente clássica, de que o mercado se encarregaria de fazer os ajustes

necessários também para solucionar os problemas ambientais, e de que o indivíduo é

sempre racional e faz as suas escolhas com liberdade. Porém, o consumo vai muito além de

uma pura satisfação de necessidades, ele envolve uma relação social, que é algo muito mais

complexo, o que nos lembra Marx, que baseou a seu obra, o Capital para explicar as

relações capitalistas através das relações sociais entre os indivíduos.

No tocante ao fator motivador do consumo discutido pelos economistas,

principalmente os ortodoxos, a crítica dos sociólogos é de que o discurso econômico tende

a banalizar o ato do consumo, reduzindo-o à expressão de um ato de escolha racional com

uma suposta previsibilidade axiomática. Além disso, o exercício da liberdade de escolha em

uma sociedade de consumo é algo que pode ser questionado, e uma análise econômica

parcial baseada somente no aspecto produtivo, mostra suas limitações quando abstrai os

aspectos emocionais e sociológicos do consumo.

Outro importante ponto de vista é de Pedro Jacobi14, na sua opinião o planeta já não

suporta esse contínuo crescimento do consumo, para atender no próximo século dez bilhões

de pessoas, e a mudança de conduta para um consumo sustentável faz-se necessário e

urgente, gerar menos desperdício, reduzir o volume consumido e fortalecer as práticas de

reciclagem. Porém, esse é o grande desafio, garantir um benefício social máximo a partir de

uma utilização mínima de recursos.

13Desafios do Consumo – Criação de necessidades e produção de satisfação: o papel econômico e cultural do consumo e seu impacto no meio ambiente, 2007, p. 247. 14 Desafios do Consumo – Consumo e sustentabilidade. Como pensar a aprendizagem social, 2007, p. 273.

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Segundo o autor, o consumo sustentável representa um salto qualitativo de

complexa realização, na medida em que agrega um conjunto de características que

articulam temas como equidade, ética, defesa do meio ambiente e cidadania, enfatizando a

importância de práticas coletivas como norteadoras de um processo que, embora englobe os

consumidores individuais, prioriza ações na sua dimensão política. O grande desafio que se

coloca é o da mudança na visão das políticas públicas, o que possibilitará desenvolver

conceitos e estratégias de desenvolvimento que promovam efetiva redução de práticas

pautadas pelo desperdício, pela superação de um paradigma que nos coloca cada vez mais

numa encruzilhada quanto à capacidade de suporte do planeta e da habilidade que a

sociedade tem de buscar em equilíbrio entre o que se considera ecologicamente necessário,

socialmente desejável e politicamente atingível ou possível.

Nesse processo de mudança de conduta para o consumo sustentável, o papel da

comunicação social é de extrema importância para informar as pessoas com clareza,

imparcialidade e de forma contínua. Segundo Gino Giacomini Filho15, as relações de

consumo se formam a partir de diversas instituições, públicos e símbolos, cabendo à

comunicação social importante papel nesse processo, inclusive quando trabalhar a

condução do consumo sustentável. Porém, o setor de comunicação social, de um modo

geral, ainda não se apresenta apto a atender às necessidades específicas do mercado de

produtos e serviços ambientalmente corretos, os chamados “produtos verdes”, seja pela

parcialidade de determinados grupos ou a descontinuidade da cobertura sobre fatos,

movimentos ou problemas ambientais.

A embalagem desempenha um papel central nessa problemática ambiental, desde as

primeiras civilizações, já existia a necessidade de transportar, acondicionar e armazenar

alimentos. Com a Revolução Industrial, veio a produção em série e a constante evolução

das embalagens, com a incorporação de novos materiais e formas. A ABRE (Associação

Brasileira de Embalagem), tem plena consciência da importância das embalagens para

conservação das mercadorias em seu transporte e armazenamento, porém também da

extrema importância da preservação do meio ambiente, e contribui para o desenvolvimento

da sociedade através de programas sociais e ambientais.

15 Desafios do Consumo – Comunicação organizacional e consumo no plano ecológico, 2007, p. 262.

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23

Segundo a ABRE, o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos

compreende a coleta integral do lixo de forma eficiente e abrangente, atendendo 100% da

população e a disposição adequada do que não foi possível reaproveitar. O gerenciamento

integrado é uma atividade que deve ser partilhada entre Governo, Indústria e População

proporcionando resultados positivos e ganhos sociais, como geração de empregos e renda,

através do incremento de novos negócios.

A mudança de conduta para o consumo sustentável, é uma questão de cidadania,

assim como a reciclagem dos resíduos também o é, e depende da consciência de cada

invidíduo de que esse planeta é a nossa casa e que tem recursos limitados e condições

mínimas que devem ser mantidas, para que nós e as gerações futuras (nossos filhos e netos)

possamos continuar vivendo aqui, caso contrário iremos sofrer graves consequências das

nossas ações.

Diante do exposto acima, fica evidente que essa análise deve levar em conta outros

aspectos além dos puramente econômico, principalmente sociológicos e que o consumo

sustentável dificilmente se dará de forma voluntária, pois as pessoas têm uma vontade

natural de manterem seus padrões de vida. Porém, uma mudança de conduta faz-se

necessária para termos um consumo mais equilibrado e consciente, sustentável, que pode

ser auxiliada por políticas públicas específicas.

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3. Conceitos sobre a Reciclagem

3.1 Conceito de Reciclagem

Segundo a Loga16, até meados do século XVIII, os resíduos (lixo) eram produzidos

em pequena quantidade e constituídos essencialmente de sobras de alimentos e outros

materiais orgânicos. A partir da Revolução Industrial, as embalagens foram introduzidas no

mercado, aumentando consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos gerados nas

áreas urbanas. Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das metrópoles fez com que as

áreas disponíveis para colocar os resíduos (lixo) se tornassem escassas.

Nos últimos anos nota-se uma tendência mundial em reaproveitar cada vez mais os

produtos jogados no lixo para fabricação de novos objetos, por meio do processo de

reciclagem, o que representa economias de matéria-prima, água e de energia fornecidas

pela natureza.

Durante as minhas pesquisas, encontrei algumas definições sobre reciclagem/coleta

seletiva, uma delas é de Vilmar Sidnei Demaman Berna17, a coleta seletiva do lixo pode ser

definida pelos quatro Rs:

1. Repensar – repense seus hábitos de consumo e comportamentos. Veja onde

você pode economizar e evitar produzir lixo.

2. Reduzir – reduza seu consumo e o uso de embalagens e produtos não

recicláveis.

3. Reaproveitar – reaproveite materiais, papel, embalagens, etc., que muitas

vezes vão para o lixo mas que poderiam continuar sendo usados ou doados

para outras pessoas.

4. Reciclar – recicle seus resíduos ou doe-os para quem os recicla.

16 Loga – Logística Ambiental de São Paulo S/A, é a concessionária responsável pela região noroeste da cidade. Data de outubro de 2004 o início da concessão que regulamentou os serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde da cidade de São Paulo. 17 Fundador do Portal do Meio Ambiente – REBIA.

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A outra é da ABRE (Associação Brasileira de Embalagens), a reciclagem se compõe

de uma atividade industrial que processa matéria-prima transformando-a em outra matéria-

prima com maior valor agregado e posteriormente um novo produto. A reciclagem vista de

maneira mais ampla é a criação de valor econômico, emprego e renda a partir da

recuperação de produtos já utilizados. Essa atividade envolve de maneira indissociável

fatores sociais, econômicos e ambientais. O Programa Brasileiro de Reciclagem (PBR) tem

por objetivo estimular a reciclagem de embalagens e criar mecanismos para que ela se torne

mais abrangente e efetiva, aumentando os índices já atingidos no Brasil.

3.2 Tipos de Lixo

Segundo a Loga18, concessionária responsável pela região noroeste da cidade de São

Paulo, o lixo pode ser classificado em diferentes tipos:

1. Urbano: resíduos sólidos em áreas urbanas, que engloba os domésticos, os

efluentes industriais domiciliares (pequenas indústrias de fundo de quintal) e os

comerciais;

2. Domiciliar : resíduos sólidos de atividades residenciais; grande quantidade de

matéria orgânica, plástico, lata, vidro;

3. Comercial: resíduos sólidos das áreas comerciais, composto por matéria

orgânica, papéis e plásticos de vários grupos;

4. Público: resíduos sólidos resultantes de limpeza pública (areia, papéis,

folhagem, poda de árvores etc.);

5. Especial: resíduos geralmente industriais, merecem tratamento, manipulação e

transporte especial; é composto por pilhas, baterias, embalagem de agrotóxicos,

embalagens de combustíveis, de remédios, venenos etc.;

6. Industrial : possue características peculiares dependendo das matérias-primas

utilizadas, e nem todos os resíduos produzidos pelas indústrias podem ser

designados como resíduos industriais. Algumas indústrias, padarias, por

18 Loga – Logística Ambiental de São Paulo S/A, é a concessionária responsável pela região noroeste da cidade. Data de outubro de 2004 o início da concessão que regulamentou os serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde da cidade de São Paulo.

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exemplo, produzem resíduos semelhantes ao doméstico. Os demais poderão ser

considerados resíduos especiais e terem o mesmo destino;

7. Serviço de saúde: resíduos dos serviços hospitalares, ambulatoriais, farmácias

etc. Denominados tecnicamente como RSSS - Resíduos Sólidos de Serviço de

Saúde, este tipo de resíduo deve ser incinerado, pois em contato com o meio

ambiente ou misturado ao resíduo (lixo) doméstico poderá ser patogênico ou

atuar como vetor de doenças;

8. Atômico: resultante da queima do combustível nuclear. A elevada

radioatividade constitui um grave perigo à saúde da população e, por esta razão,

deve ser enterrado em local próprio, inacessível;

9. Espacial: restos provenientes dos objetos lançados pelo homem no espaço, que

circulam ao redor da Terra; são estágios de foguetes, satélites desativados,

tanques de combustível e fragmentos de aparelhos que explodiram normalmente

por acidente ou foram destruídos pela ação das armas anti-satélites;

10. Radioativo: resíduos tóxicos e venenosos formados por substâncias radioativas

resultantes do funcionamento de reatores nucleares. Como não há um lugar

seguro para armazená-lo, a alternativa é de que sejam colocados em tambores ou

recipientes de concreto impermeáveis, à prova de radiação, e enterrados em

terrenos estáveis, no subsolo.

Além da classificação acima, o lixo também pode ser classificado como:

a) Lixo Seco: é composto de materiais inorgânicos, como: PAPEL (jornal,

caixas e embalagens de papel, revistas, cartuchos, papelão, carteira de

cigarro, etc.); PLÁSTICO (saquinhos de leite, embalagens e frascos, sacos

plásticos, brinquedos, etc.); METAIS (latas, tampinhas, tubos de pasta de

dente ou de remédio, etc.); VIDRO (garrafas, frascos, lâmpadas, etc.,

inteiros ou quebrados). Todo o material separado para a reciclagem, deve

estar limpo.

b) Lixo Molhado: é composto de materiais orgânicos que são constituídos por

restos de comida e sobras de cozinha.

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3.3 Processo de Reciclagem

A reciclagem é de extrema importância, pois os materiais consomem muitos

recursos naturais, que são esgotáveis e alguns demoram muito tempo para se decompor na

natureza, conforme quadro abaixo:

Quadro 1.2 – Características dos Principais Materiais Recicláveis

MATERIAL PRESERVAÇÃO DECOMPOSIÇÃO Lata de alumínio 5.000 kg minério 100 a 500 anos

Garrafa PET Milhares litros petróleo 200 a 450 anos Embalagem longa-vida Corte 20 árvores 1 a 3 meses

Papel branco Corte 20 árvores 1 a 3 meses Papelão Corte 20 árvores 1 a 3 meses

Vidro incolor 1.300 kg areia 4000 anos Fonte: Departamento de Limpeza Urbana (LIMPURB), Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana (ABRELPE), Instituto Pólis e Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre).

a) PLÁSTICO:

Origem: os plásticos sintéticos utilizados nas embalagens são produzidos a

partir da nafta, um derivado do petróleo.

Processos: reciclagem mecânica (conversão dos descartes plásticos pós-

industriais ou pós-consumo em grânulos), energética (recuperação da energia contida

nos plásticos através de processos térmicos) e química (reprocessamento de plásticos

transformando-os em petroquímicos básicos)

Produtos gerados: sacos de lixo, solados, pisos, conduítes, mangueiras,

componentes de automóveis, fibras, embalagens não-alimentícias, carpetes, roupas,

enchimentos, baldes, regadores, cabides, caixas de CD

Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o plástico é um material 100%

reciclável que, por ser inócuo, não é poluente. Cada tonelada reciclada poupa extração

de milhares de litros de petróleo. A decomposição leva de 200 a 450 anos. A coleta e

reindustrialização geram milhares de postos de trabalho, em especial para a população

de baixa renda.

b) VIDRO:

Origem: a partir de processo químico

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Processo: químico (reprocessamento de vidro)

Produtos gerados: próprio vidro

Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o vidro é um material 100%

reciclável. A produção a partir do próprio vidro também consome menor quantidade de

energia e emite menos resíduos particulados e CO2. Cada tonelada reciclada poupa a

extração de 1,300 kg de areia. A decomposição leva cerca de 4,000 anos. A coleta e

reindustrialização geram postos de trabalho, em especial para a população de baixa

renda.

c) ALUMÍNIO:

Origem: a partir de bauxita

Processo: químico (reprocessamento de alumínio)

Produtos gerados: próprio alumínio

Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o alumínio é um material 100% e

infinitamente reciclável. A reciclagem economiza até 95% da energia utilizada para

produzir alumínio a partir da bauxita. Cada tonelada reciclada poupa extração de 5

toneladas de minério. A decomposição leva de 100 a 500 anos. A coleta e

reindustrialização geram postos de trabalho, em especial para a população de baixa

renda.

d) PAPEL:

Origem: a partir da celulose

Processo: químico (reprocessamento de papel)

Produtos gerados: próprio papel

Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o papel/papelão é um material

100% reciclável. Cada tonelada reciclada pooupa extração de 20 árvores. A

decomposição leva de 1 a 3 meses. A coleta e reindustrialização geram postos de

trabalho, em especial para a população de baixa renda.

e) MATERIAL ORGÂNICO:

Origem: a partir da restos de material orgânico (restos de comida)

Processo: químico (usinas de compostagem)

Produtos gerados: adubo, energia

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Aspectos sociais, econômicos e ambientais: Produção de adubo para

agricultura e energia. A coleta e reindustrialização geram postos de trabalho, em

especial para a população de baixa renda.

3.4 Destino dos Resíduos

Conforme citado pela ABRE (Associação Brasileira de Embalagem), não existe um

modelo único de gerenciamento de resíduos. Cada região deve considerar suas

particularidades sociais, econômicas, geográficas e de infra-estrutura, e individualmente ou

por meio de parcerias com municipalidades próximas, contando com o apoio da indústria e

da sociedade, estabelecer diretrizes para o gerenciamento dos seus resíduos sólidos

urbanos.

Segundo a Loga, concessionária responsável pela região noroeste da cidade de São

Paulo, o destino final do lixo, teoricamente dependendo das suas características, pode ser:

a) Lixões: todos os resíduos (lixo) coletados são transportados para um local

afastado e descarregados diretamente no solo, sem qualquer tratamento. Os

resíduos (lixo) a céu aberto atraem ratos, que são transmissores de inúmeras

doenças, tais como raiva, meningite, leptospirose e peste bubônica. Outro

sério problema causado pelos lixões é a contaminação do solo e do lençol

freático, caso exista um no local, pela ação do “chorume”, líquido de cor

negra característico de matéria orgânica em decomposição. Além disso, os

lixões são visitados por pessoas carentes que buscam nestes locais um meio

de sobrevivência, alimentando-se ou vendendo entulhos.

b) Aterros Sanitários: processo de disposição final de resíduos sólidos,

principalmente dos resíduos (lixo) domiciliares. Os resíduos (lixo) são

tratados para evitar os aspectos negativos existentes nos lixões. O solo é

impermeabilizado, os resíduos (lixo) são compactados e cobertos

diariamente e o “chorume” é coletado e tratado para que sejam evitadas

contaminações do solo e da água. O aterro sanitário pode ter uma vida útil de

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até 50 anos, ao contrário dos lixões, que podem ser desativados em menos de

cinco anos.

c) Incineração: queima de materiais em alta temperatura (geralmente acima de

800ºC), em mistura com uma quantidade apropriada de ar e durante um

tempo pré-determinado. Os compostos orgânicos são reduzidos aos seus

constituintes minerais, principalmente dióxido de carbono gasoso e vapor

d’água, e a sólidos inorgânicos (cinzas). A incineração ainda é um processo

caro e exige o controle da emissão de gases gerados pela queima dos

resíduos (lixo) para evitar a poluição do meio ambiente; é adequada para o

tratamento de resíduos perigosos como os resíduos (lixo) hospitalares, os

alimentos estragados e os remédios fora do prazo de validade. Pode ser

utilizada também para a queima de dinheiro velho.

d) Usinas de Compostagem: processo de decomposição da matéria orgânica

contida no lixo por meio do qual os microrganismos convertem a parte

orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU) em um material estável,

conhecido como composto. Os resíduos (lixo), transformados em composto

orgânico, podem ser misturados na terra, que adubada com este tipo de

composto fica muito mais fofa, retém mais a umidade e as plantas crescem

com muito mais vigor.

e) Reciclagem e Reutilização: conjunto de técnicas que aproveita os detritos e

os reutiliza no ciclo de produção de que saíram. Resultado de uma série de

atividades pelo qual, materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são

desviados, coletados, separados e processados para serem usados como

matéria-prima na manufatura de novos produtos. Reduzir a quantidade de

resíduos (lixo) é um compromisso importante e permanente. Como cada

pessoa produz cerca de 180 quilos de resíduos (lixo) por ano, é fácil

perceber que diminuir o desperdício depende muito de cada um de nós.

Muitas vezes esquecemos que também somos parte da natureza e abusamos

dela como se fosse algo muito distante ou infinito. Os recursos naturais,

sempre tão abundantes, podem se esgotar caso não fizermos nada.

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Capítulo 2 – Panorama do Setor no Mundo Segundo o capítulo 8 da Agenda 21 do Programa Ambiental das Nações Unidas19,

a estimativa era que metade da população de 6,3 bilhões de pessoas viveriam nas cidades,

sendo mais de 2 bilhões nas metrópoles dos países em desenvolvimento. No seu relatório

em 1991, estimou que 720 bilhões de toneladas de lixo urbano eram gerados anualmente, e

que destes 440 bilhões de toneladas (cerca de 61%) eram geradas pelos países

desenvolvidos. Ainda entre 25% e 55% de todo o lixo gerado nas grandes cidades era

coletado pelas autoridades municipais, e até 95% dos resíduos eram jogados em locais a

ceú aberto. Cerca de 5 milhões de pessoas morrem anualmente por doenças relacionadas ao

inadequado sistema de disposição final do lixo.

O gerenciamento dos resíduos é um dos grandes desafios dos governos no mundo.

Como tratar essa questão, principalmente no que diz respeito a disposição final dos

resíduos, é um problema tanto dos países desenvolvidos como dos países em

desenvolvimento. O quadro abaixo mostra uma estimativa conservadora, calculada a partir

dos dados de 1999 para 200820 e 2050, mantendo a média mundial de 0,33kg/habitante/dia

(720 bilhões de toneladas de lixo divididas por 6 bilhões de pessoas, e dividadas por 365

dias no ano).

A estimativa nos leva de 720 bilhões de toneladas de lixo urbano em 1999 para

1.140 bilhões em 2050, ou um crescimento de aproximadamente 60%, porém sabemos que

a medida que os países se desenvolvem, cresce o volume de resíduos gerados. A China

atualmente com 1,3 bilhão de habitantes e crescendo a uma taxa aproximada de 10% ao

ano, pode causar um grande impacto nessa média de 0,33kg/habitante/dia, elevando ainda

mais a estimativa de lixo gerado para 2050.

19 The United Nations Environment Programme, 1996, chapter 8, Waste. 20 Wordmeters, população mundial atual, em 10/08/2008.

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32

Figura 2.1 – Estimativa Crescimento Demográfico Mundial versus Resíduos Sólidos

Urbanos no Mundo (em bilhões de pessoas e bilhões de toneladas/ano)

6,0

720,0

6,7

804,0

9,5

1.140,0

0,0

200,0

400,0

600,0

800,0

1.000,0

1.200,0

1999 2008 2050

População

Lixo

Fonte: Crescimento Demográfico Mundial, SEBRAE - Palestra sobre Desenvolvimento Sustentável da Proferssora Sílvia Maria Sartor no Sebrae-SP em junho de 2008. Estimativa do lixo produzido foi calculada com base no relatório da UNEP (United Nations Environment Programme)

Segundo a BBC21, nenhum organismo, independente de quão simples seja, é 100%

eficiente, portanto à medida que ele consome recursos, inevitavelmente serão gerados

resíduos. O mercado mundial de reciclagem atualmente movimenta cercade US$ 160

bilhões por ano e emprega 1,5 milhão de pessoas. O mercado de coleta e disposição

também é muito representativo. Além disso, a reciclagem e reuso tem uma grande

importância na área social, pois cria oportunidades de trabalho para aqueles que estão

tentando voltar à economia, como é o caso do Brasil. Somente a União Européia produz

anualmente cerca de 1,3 bilhão de lixo.

Na Europa, a utilização de recursos é tema central da política ambiental22. Apesar da

legislação ambiental adotada nos últimos 30 anos ter melhorado significativamente a gestão

de resíduos, o volume total de resíduos continuar a crescer, acompanhando a taxa de

crescimento econômico. O ojetivo é tornar-se uma sociedade de reciclagem, evitando o

desperdício e utilizando os resíduos como se de recursos se tratasse. A estratégia prevê o

desenvolvimento de programas nacionais de prevenção da produção de resíduos, a criação

de um mercado estável para as atividades de reciclagem e a modernização da legislação.

21 BBC Home, Life/The Natural World/Ecology and the Environment, Waste, 5th October 200. 22 Comissão Européia – Stavros Dimas, Comissãrio responsável pelo Ambiente, disponível em http://ec.europa.eu/commission_barroso/dimas/policies/waste/index_pt.htm, ultima atualização: 16/04/2008.

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A União Européia quer reduzir a eliminação final de resíduos em 20% até 2010 e

50% até 2050, em relação aos valores de 200023. A estratégia está baseada nos seguintes

princípios: 1) Prevenção; 2) Poluição-Pagador; 3) Precaução; e 4) Proximidade. Além

disso, procura influenciar as decisões dos produtores e consumidores para que façam

escolhas que protejam o ambiente, através dos seguintes meios:

1. Utilização de rótulos ecológicos;

2. Substituição das substâncias perigosas;

3. Concepção ecológica dos produtos;

4. Avalição do ciclo de vida;

5. Desenvolvimento de tecnologias mais limpas;

6. Publicação de folhetos informativos;

7. Organização de campanhas de sensibilização;

8. Adoção de diretrizes; e

9. Aplicação de regulamentação e imposição de taxas.

E por fim, a União Européia tomou uma série de medidas em relação aos resíduos, a

diretriz relativa às embalagens e resíduos de embalagens de 1994, estabeleceu metas para

recuperação e reciclagem e está na base do êxito da coleta seletiva. A meta para 2008 é

garantir entre 55% a 80% da reciclagem e pelo menos 60% de recuperação. Em 1999, uma

diretriz tornou obrigatória a captura e o tratamento das emissões de metano proveniente dos

aterros. Também foi estabelecida uma meta de 65% para a diminuição da quantidade de

resíduos biodegradáveis nos aterros sanitários entre 2006 e 2016. Como veremos em outro

capítulos, os índices de reciclagem na União Européia variam em função do material e do

país, mas são relativamente altos comparados aos demais países.

Nos últimos anos, o Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), fez dois

levantamentos comparativos com números relativos à reciclagem no Brasil e em outros

países. Os Estados Unidos em 2001 era a nação que mais gera resíduos sólidos urbano por

habitante e não é o primeiro em termos de reciclagem, com exceção apenas da reciclagem

dos resíduos orgânicos (59,3%), provavelmente esse quadro não deve ter se alterado muito

nos últimos anos. De maneira geral, países como a Alemanha, França, Itália, Suécia e

23 Europa – Ambiente para Jovens Europeus – Lixo – O que faz a União Européia, disponível em http://ec.europa.eu/environment/youth/waste/waste_what_the_eu_does_pthtml .

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ReinoUnido diminuíram a destinação de seus resíduos sólidos para aterros ou incineração

com recuperação de energia, e ampliaram a participação da reciclagem.

O maior crescimento do índice de reciclagem foi da Suécia que investiu em novas

técnicas que utilizam materiais recicláveis e pesquisas alternativas para aplicação do vidro

reciclado. Os elevados índices de reciclagem de plásticos de nações como Alemanha,

Espanha, República Tcheca, Bélgica, Noruega e Luxemburgo, devem-se a inclusão da

reciclagem energética desse material (uso dos resíduos plásticos como combustível na

geração de energia elétrica e/ou calefação).

Na América Latina24, a geração de resíduos sólidos é um dos principais problemas

ambientais enfrentados pela sociedade. Considerando que a humanidade utiliza cerca de

40% de todos os recursos primários do planeta, tem-se que uma parcela significativa de

resíduos sólidos, de origem domiciliar, industrial e de serviços (saúde, comercial, entre

outros), é gerada diariamente, como resultado da conversão desses recursos. O processo de

urbanização, aliado ao consumo crescente de produtos menos duráveis e/ou descartáveis,

também vem provocando um aumento do volume e diversificação dos resíduos sólidos

gerados.

No ano de 1995, a população urbana da AL&C produziu cerca de 330.000 toneladas

de resíduos sólidos diariamente. As três maiores cidades - Cidade do México, São Paulo e

Buenos Aires – produzem juntas 50% desse total. O problema do resíduo sólido não é

somente a quantidade produzida, mas a sua composição que, de densa e orgânica, tem se

tornado volumosa, não biodegradável (ex: plásticos) e com nível crescente de tóxicos e

patogênicos (ex: resíduos hospitalares, medicamentos vencidos, baterias, entre outros.

24 Relatório sobre Produção Mais Limpa e Consumo Sustentável na América Latina e Caribe, 2004, relativo ao período de 2000 a 2003, o qual foi coordenado pela PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, p. 47.

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Quadro 2.2 – Coleta e disposição de Resíduos Sólidos nas Cidades da AL&C

Disposição Final (%) Cidade População

(em

milhões)

Lixo

(ton/dia)

Lixo per

capita/dia

Coleta

(%) Aterro

Sanitário

Aterro

Controlado

Lixão

AMÉRICA DO SUL

Lima (a) 7,5 4.200 0,56 60 - 40 60

Buenos Aires (a) 12,0 10.500 0,86 91 100 - -

São Paulo (b) 16,4 22.100 1,35 95 80 10 10

Santiago 5,6 4.600 0,87 100 100 - -

Bogotá 5,3 4.200 0,75 99 100 - -

Montevideú 1,4 1.260 0,90 97 - - 100

Quito 1,3 900 0,69 85 - - 100

Caracas 3,0 3.500 1,17 95 - 100 -

Assunção 1,2 1.100 0,92 80 - -

La Paz 0,7 380 0,54 92 100 - -

AMÉRICA CENTRAL

México (a) 15,6 18.700 1,19 80 50 25 25

Manágua 1,0 600 0,60 70 - - 100

Guatemala 1,3 1.200 0,92 80 - - 100

Tegucigalpa 1,0 650 0,65 75 - - 100

San José 1,0 960 0,96 90 100 - -

Panamá 0,8 770 0,96 90 - 100 -

San Salvador 1,3 700 0,54 60 - - -

CARIBE

Havana 2,0 1.400 0,70 100 - 100 -

Fonte: GEO AL&C, In UNEP 2003 - Relatório sobre Produção Mais Limpa e Consumo Sustentável na

América Latina e Caribe

Legenda: (a) região metropolitana / (b) dados de CETESB, 2004

Conforme a Tabela acima, a quantidade de resíduos sólidos gerada per capita mais

que dobrou nos últimos 30 anos, passando de 0,2 a 0,5 kg/dia para 0,5 a1,2 kg/dia, com

uma média na região de 0,92 kg/dia. A maior parte das cidades de maior densidade

demográfica apresentam valores acima dessa média, por exemplo: São Paulo (1,35),

Caracas (1,17), Cidade do Panamá (0,96) e San José (0,96).

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Além disso, a maioria das cidades não conta com um sistema de coleta em toda a

sua extensão, destacando-se aquelas com menor índice de coleta: a Região Metropolitana

de Lima (60%), San Salvador (60%), Manágua (70%), Região Metropolitana da Cidade do

México (80%), Cidade da Guatemala (80%) e Quito (85%).

A coleta, por si só, não garante a disposição adequada, haja vista que para 43%

desses resíduos não há mecanismo de disposição adequado – ex: na cidade da Guatemala,

com mais de 3,2 milhões de habitantes, 80% de 1.200 toneladas, geradas diariamente, são

dispostos a “céu aberto”. Em San Salvador, a segunda cidade mais populosa da América

Central, com 1,3 milhões de habitantes, 60% das 700 toneladas, gerados diariamente, são

coletados e encaminhados a lixões.

Vale ressaltar que, embora, alguns países tenham uma estrutura legal para controle

desses resíduos, falta um sistema de gestão adequado, com capacitação técnica, fiscalização

e controle mais efetivos. Não há pesquisas sobre a geração e gerenciamento de resíduos

sólidos industriais na AL&C. O Estado de São Paulo, área mais industrializada dessa

região, estima que a cada ano são gerados cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos

industriais, sendo 535 mil toneladas de resíduos perigosos. Desse último valor, 53% são

tratados, 31% armazenados e os restantes 16% são dispostos em aterros .

A destinação adequada de resíduos sólidos, seja de origem domiciliar, industrial e

de serviços (saúde, comercial, entre outros), constitui um dos principais desafios ambientais

das próximas décadas, pois há uma necessidade cada vez maior de minimizar esses

resíduos, por meio de ações de redução, reuso, reciclagem e reaproveitamento energético,

associado a procedimentos para o monitoramento e controle desses resíduos.

Segundo o CEMPRE, o Brasil resumidadmente apresenta: a) nível relativo de

geração de resíduos sólidos urbanos per capita inferior aos demais países; b) incipiente

atividade de compostagem (1,5%), reutilizado na produção de fertilizantes; c) destaque na

reciclagem de embalagens de alumínio 95,7%, vidro, papel/papelão e latas de aço com

índices próximos de 50% e baixo índice para plásticos 16,5% e d) Somente cerca de 40%

do volume de resíduos urbanos sólidos recebe tratamento adequado.

Com base no CEMPRE, vale ainda destacar dois modelos de reciclagem. O

primeiro dele é do Japão que reciclou 15% dos resíduos sólidos urbanos gerados em 2001.

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Das cerca de 8 milhões de toneladas recicladas, 65,67% foram coletadas e separadas pelas

prefeituras locais. O restante foi recolhido por grupos comunitários que se mobilizam para a

coleta. A coleta doméstica representa 66,8% das fontes geradoras e a indústria/comércio

pelo restante. Os Japoneses geravam em média 1,12 kg/habitante/dia e destinava somente

5,3% dos resíduos para aterros, 78,2% para incineração com recuperação de energia e 15%

para reciclagem.

O segundo modelo é o Alemão no qual cerca de 50% dos resíduos sólidos

produzidos são reciclados, sendo que a maior parte desse total (30%) é direcionada para

incineração com recuperação de energia. Mesmo frente a um desempenho tão significativo,

o modelo é caracterizado por altos subsídios. O governo investiu 23,7 bilhões de euros na

criação de uma empresa para gerir o sistema e divulgar a reciclagem junto à população, e

apostou que a indústria verde pudesse gerar empregos e abrir mercados no exterior.

Entretanto, a empresa vem sendo acusada de ineficiência e alguns setores têm reclamado

que o excesso de leis ambientais prejudica a produtividade econômica. Para manter a

reciclagem, o governo gasta 4 bilhões de euros por ano, o que torno o seu programa o mais

caro do mundo.

Outra importante nação que merece destaque, é a China, que definiu um plano

plurianual (2001 a 2005), no qual metas de reciclagem por tipo de produto foram

estabelecidas. O crescimento econômico ampliará o consumo de diversas matérias-primas e

a reciclagem tornar-se-á importante para suprir essa demanda. Atualmente, porém, a

indústria da reciclagem local ainda produz em baixa escala (índice aproximado de 7% em

2000) e com tecnologia defasada. Na composição do lixo doméstico chinês, predominam os

resíduos orgânicos (sobras de comida), cerca de 110 milhões de toneladas em 2000. Papel,

plástico, metal e vidro têm participação reduzida no volume total.

O setor de reciclagem, em sua maioria, de resíduos sólidos industriais (650 milhões

de toneladas em 2000), é coberto sobretudo por companhias públicas e empresas ligadas à

Federação Nacional das Cooperativas de Suprimento e Mercado, a qual emprega cerca de

880 mil trabalhadores. Além disso, um setor informal, operado por trabalhadores

autônomos que também atuam na lavoura, realiza coleta de porta em porta. No final de

1995, cerca de 3 milhões de pessoas estavam engajadas nessa atividade informal,

respondendo por 80% do total de resíduos sólidos recuperados. Atualmente, a China tem

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mais de 5 mil empresas de coleta de resíduos e cerca de 3 mil unidades para tratamento. A

disposição em aterros (70%) continua sendo a solução mais comum para o gerenciamento

de resíduos sólidos, e é feita na maioria das vezes em lixões, com emissão de gás metano

para a atmosfera e ameaça aos lençóis freáticos, seguida da compostagem (20%).

Os quadros a seguir mostram respectivamente dois importantes indicadores, o

primeiro é a geração de resíduos sólidos urbanos per capita nos principais países, com

destaque para os Estados Unidos, que produzem cerca de 2 kg/dia. No segundo, destino dos

resíduos sólidos urbanos, o destaque é para o Brasil que ainda destina cerca de 90% dos

resíduos em aterros e/ou lixões.

Quadro 2.3 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita

PAÍSES ANO 2003 ANO 2006

Brasil 0,70 kg/dia 0,78 kg/dia

Uruguai 0,90 kg/dia N/D

México 0,87 kg/dia N/D

Estados Unidos 2,00 kg/dia N/D

Canadá 1,70 kg/dia N/D

Alemanha 0,90 kg/dia 1,55 kg/dia

Suécia 0,90 kg/dia 1,36 kg/dia

Polônia N/D 0,71 kg/dia

Dinamarca N/D 2,02 kg/dia

Reino Unido N/D 1,61 kgdia

Itália N/D 1,50 kgdia

Eslovênia N/D 1,18 kg/dia

Fonte: CEMPRE (2006) e Eurostat – Statistical Office of the European Communities (2006)

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Quadro 2.4 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005)

PAÍS Aterros e/ou Lixões Incineração com

Recuperação de

Energia

Compostagem +

Reciclagem

Brasil* 90% ---- 10%

Bélgica 10% 35% 55%

República Tcheca 70% 15% 15%

Alemanha 20% 20% 60%

Espanha 60% 5% 35%

França 40% 35% 25%

Itália 60% 5% 35%

Polônia 95% 1% 4%

Portugal 75% 20% 5%

Suécia 10% 50% 40%

Reino Unido 75% 10% 15%

Grécia 90% ---- 10%

Hungria 85% 5% 10%

China** + de 70% N/D 20%

(somente

compostagem)

Fonte: *CEMPRE / Eurostat – Statistical Office of the European Communities / **Circular Economy

Committee (CEC)

Segundo a revista Exame25, surge uma nova economia, a sombra do aquecimento

global está mudando a vida de grande empresas, atraindo investidores, estimulando a

criação de negócio e até de um pujante mercado de créditos de carbono. Alguns países e

cidades estão empreendendo esforços para mudar a base energética de suas economias e

aumentar o aproveitamento das matérias-primas por meio de programas gigantescos de

reciclagem.

Alguns exemplos são: Alemanha, criou subsídios para a energia eólica, que deverá

representar 20% de toda a matriz energética do país até 2020. A indústria de energa

renovável é a maior criadora de empregos e deverá abrir 100.000 novas vagas até 2020;

Japão, definiu uma série de leis para punir quem joga equipamentos usados no lixo comum

e obrigou as empresas a ter um percentual de reciclagem segundo o setor. A reciclagem no 25 Revista Quinzenal Exame, Estudo Exame Sustentabilidade, Ano 41, número 13, edição 897, 18/07/2007, p. 10-12.

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Japão representa uma indústria de mais de 60 bilhões de dólares por ano, o dobro do

tamanho do setor de tratamento de lixo no país; Califórnia , estabeleceu a meta de obter

20% de sua eletricidade de energias renováveis em 2017. Para 2020, o objetivo é ampliar

esse percentual para 33%. A redução de consumo de energia na Califórnia vai gerar uma

economia de até 59 bilhões de dólares por ano na próxima década.

O caso do Japão merece um destaque especial, pois até pouco tempo atrás era

comum ver televisores e computadores jogados nos lixões japoneses. Os consumidores do

país, estimulados pelas novidades que as empresas lançam com velocidade cada vez maior,

simplesmente descartavam os produtos usados sem se preocupar muito com o destino que

teriam. Nos últimos sete anos, o governo japonês iniciou uma luta para acabar com as

montanhas intermináveis de lixo que custam bilhões de dólares por ano para ser

incineradas, e que não encontravam mais espaço no diminuto território do país. Hoje, a

reciclagem atinge 49% do total de 570 milhões de toneladas de lixo geradas por ano no

Japão, e movimenta 63 bilhões de dólares, o dobro do tamanho do setor de tratamento de

lixo

O programa de reciclagem japonês, iniciado em 2000, envolveu a instituição de

regras de conduta para consumidores, varejistas e fabricantes. Uma série de leis começou a

punir de maneira severa quem descartasse produtos usados em lugar público ou aterros

ilegais, com multas de até 80.000 dólares ou cinco anos de cadeia. Os lojistas passaram a

ter de receber aparelhos usados pelos consumidores e a remetê-los a centros de

consolidação, operados por consórcios de fabricantes. São quase 200 centros, gerenciados

por indústrias de eletroeletrônicos, como Daewoo, Hitachi, Sanyo, Sharp e Sony. Desses

locais, os aparelhos seguem para mais de uma dezena de unidades de reciclagem existentes

no país. A legislação é bastante complexa e chega à minúcia de indicar procedimentos

específicos para cada um dos 33 produtos com reciclagem obrigatória, como televisores,

aparelhos de ar-condicionado, geladeiras, máquinas de lavar roupa, computadores, carros,

materiais de construção, embalagens e alimentos.

Com todo esse patrulhamento26, passou a fazer parte da política de imagem das

grandes companhias mostrar que elas não se limitam a cumprir as regras do governo, mas

26 Revista Quinzenal Exame, Estudo Exame Sustentabilidade, Ano 41, número 13, edição 897, 18/07/2007, p. 18-21.

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vão além. No caso dos automóveis, por exemplo, o governo definiu as metas de reciclagem

em 30% de todo o material utilizado em um veículo para 2005. O objetivo foi superado

com folga pelas principais montadoras, que, pelo menos desde os anos 80, já usavam

material reciclado de veículos velhos para fabricar seus novos produtos. A Toyota, por

exemplo, já recicla quase 60% dos resíduos da trituração de carros usados. Nos próximos

anos, esse índice deve se tornar ainda mais alto. A meta estabelecida pela Associação dos

Frabricantes de Automóveis do Japão é reciclar 95% desses resíduos até 2015.

Grandes corporações em todo o mundo estão economizando outros bilhões de

dólares ao mudar a maneira como lidam com recursos como água e energia. Um novo

pujante mercado de carbono começa a ganhar relevância. O que se vê hoje são sinais de que

o cenário do aquecimento global está fazendo emergir uma nova economia. Empresas como

Wal-Mart, HP, Unilever, DuPont e IBM possuem programas nesse sentido.

A Wal-Mart, anunciou metas ambiciosas de redução do consumo de energia em

suas lojas e uma ostensiva jornada com seus fornecedores para diminiur desperdícios nas

embalagens dos produtos oferecidos em suas prateleiras. A HP no Brasil, uma das maiores

fabricantes de impressoras no mundo, consome atualmente 1 tonelada de papel. Esse

volume gigantesco, usado principalmente para realizar testes nas cerca de 10.000

impressoras fabricadas no Brasil todos os meses, durante alguns anos teve como destino a

reciclagem. Já dávamos um fim adequado ao resíduo, mas achávamos que era possível ir

além, diz o iraniano Kami Saidi, diretor de operações da HP para o Mercosul.

Em 2006, depois de dois anos de estudos que envolveram quase uma dezena de

profissionais, entre engenheiros da empresa, fornecedores e pesquisadores de universidades

e centros de pesquisa, a HP colocou em prática uma solução para toda aquela montanha de

papel usado. A saída encontrada foi utilizar a papelada para fabricar protetores internos

para as embalagens das impressoras. Com isso, a HP não só reduziu drasticamente o uso do

isopor, material derivado do petróleo e de difícil reciclagem, como obteve economia de

10% no custo de embalagem, transporte e armazenamento do projeto. Como os calços de

isopor não podiam ser encaixados uns nos outros, acabavam ocupando um espaço valioso

nos caminhões e na linha de produção de nossas montadoras, diz Saidi.

Na fábrica de alimentos da Unilever em Goiânia, a maior que a multinacional tem

no mundo, a corrida por melhorias aparentemente simples, mas contínuas, começa a dar

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resultados. Ali, são produzidos diariamente 4.000 toneladas de alimentos, entre atomatados,

catchup e maionese. Desde 2000, a Unilever vem substituindo o óleo combustível de suas

caldeiras por biomassa. Atualmente, 95% do vapor gerado e usado nas máquinas é fruto da

queima de resíduos, como bagaço de cana e lascas de madeira. A substituição do óleo

combustível por fontes não poluidoras e renováveis gera à fábrica de Goiânia uma

economia anual de 17 milhões de reais, diz Rogério Range, diretor agrícola da Unilever do

Brasil. A cifra deve aumentar. Até o final deste ano, a unidade começará a usar também

como biomassa as sementes e as cascas de 6.000 toneladas de tomate que processa por

safra. Nenhuma das outras fábricas da empresa no mundo tem desempenho semelhante.

A DuPont, referência mundial em ecoficiência, é outro bom exemplo, a empresa

gasta 10% de todo seu investimento em pesquisa com tentativas de substituir as matérias-

primas de origem fóssil que deram origem a muitos de seus produtos milionários, como o

nylon, por insumos de origem vegetal. Uma dessas matérias-primas é o Bio-PDO,

ingrediente obtido do açucar do milho e que teve sua primeira fábrica inaugurada no final

de 2006, nos Estados Unidos. Ele é o principal componente do Sorona, um polímero que,

segundo Charles O. Holliday, presidente mundial da empresa, se transformará no nylon

verde da DuPont, e mudará radicalmente os negócios da secular companhia.

O americano Ray Anderson, dono da fabricante de carpetes Interface, com vendas

de 1 bilhão de dólares em 2006, com 35 fábricas espalhadas pelo mundo e presença em 150

países, é um dos pioneiros da sustentabilidade nos negócios nos Estados Unidos. Na última

década, Anderson dedicou-se a transformar radicamente o modelo de negócios da

companhia que fundou em 1973, depois principalmente da leitura do livro A Ecologia do

Comércio, do americano Paul Hawken. Nesse período, ele tratou de rever todos os

processos da Interface, do relacionamento com fornecedores ao pós-venda, de modo a

aproveitar ao máximo os carpetes usados. Sua meta é eliminar totalmente os desperdícios

até 2020. Anderson vem sendo cada vez mais requisitado por outros empresários e

executivos, como o presidente do Wal-Mart. Ele fez mais de 150 palestras por ano mundo

afora e criou, em janeiro de 2007, uma consultoria especializada no assunto, a

InterfaceRaise.

Em sua lista de dez clientes estão nomes como Toyota e GE. Para o empresário, o

movimento de diversas empresas nessa direção faz parte de uma nova, e inexorável, fase

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industrial. Algumas pessoas me acham radical, disse Anderson a EXAME. Mas sou tão

orientado aos lucros como qualquer outro empresário. A lógica por trás de tanto esforço,

como ressalta o empresário, vai além do discurso ambientalmente correto. Sua empreitada

na redução dos desperdícios, por exemplo, resultou numa economia de 336 milhões de

dólares nos últimos dez anos, apenas com a diminuição no consumo de água e energia na

fábrica.

O maior ganho, porém, está no aumento do uso de material reciclado ou de origem

orgânica na linha de produção. Nos últimos cinco anos, o índice desse tipo de material no

produto final passou de 3% para 21%. A mudança teve impacto direto nos resultados

financeiros da companhia. De 1994 a 2006, o Ebtida (lucro antes de impostos, juros,

depreciação e amortização) da Interface cresceu 82%. Nesse período, o mercado americano

de carpetes diminuiu mais de 30%. “Nossa margem de lucro só tem aumentado, mesmo

durante a recessão”, afirma Anderson. Nem por um minuto passou pela minha cabeça

abandonar nossa estratégia baseada na sustentabilidade.

Na IBM27, a responsabilidade sócio-ambiental já vem sendo discutida há 35 anos.

Foi em 1971 que a IBM elaborou e aprovou sua política corporativa com foco na proteção

do meio ambiente, passando mais recentemente para a conservação de energia e recursos

naturais. Este conjunto global de processos e diretrizes, respeitando às legislações locais,

determina as responsabilidades operacionais da companhina em cada país, assim como os

procedimentos específicos para cada atividade da empresa.

A IBM classifica seus resíduos em três categorias: não-perigosos (plásticos,

madeiras, metais, papéis, etc.); perigosos (lâmpadas fluorescentes, óleo lubrificantes e

produtos químicos); e especiais (equipamentos, etc.). A partir disso, define o destino de

cada tipo de resíduo: redução na fonte; reciclagem através do reuso ou de outros métodos;

tratamento (incineração, etc.); e disposição em aterros.

Nos últimos dez anos, a IBM conservou aproximadamente 8,6 bilhões de Kwh e

deixou de emitir 5,67 milhões de toneladas de CO2. Nos últimos três anos, a IBM obteve

resultados significativos na gestão de resíduos não perigosos, e em 2006, reciclou 86% dos

resíduos gerados. Além disso, possue iniciativas voltadas para a comunidade em geral,

27 Informações extraídas na página da empresa, w3.ibm.com/news/top_stories/2008/06/br_cidadania_meioambiente.

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apóia projetos sócio-ambientais, como por exemplo, o projeto de educação ambiental

“Reciclasa – Novos Usos para Antigos Materiais”, e desenvolve tecnologias para a

redução do consumo de energia.

Finalmente, segundo o Jornal Estado de São Paulo28, a geração de energia a partir

do lixo urbano já é comum nos países desenvolvidos, que não dispõem de grandes áreas

para confinar os resíduos. No entanto, esse aproveitamento energético é feito a partir da

incineração do lixo, e não da captura do biogás. Em todo o mundo, existe em torno de 600

plantas de geração de eletricidade a partir de resíduos, em 35 países. Essas unidades tratam

aproximadamente 170 milhões de toneladas de resíduos urbanos por ano.

Na Europa, a energia produzida em 400 plantas é suficiente para abastecer 27

milhões de pessoas. Esse mercado movimenta nove bilhões de euros e deve crescer ainda

mais. Uma diretiva da União Européia estabelece meta para que 22,1% da eletricidade

produzida nos países venha de fontes renováveis até 2010, bem como 12% do consumo

doméstico.

28 Jornal O Estado de São Paulo, Caderno de Negócios, 08/12/2007, p. B16A.

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Capítulo 3 – Panorama do Setor no Brasil

1. Balanço da Reciclagem no Brasil

É imporante ressaltar que a quantidade de resíduos gerada é diretamente

proporcional ao número de habitantes e sua composição varia em função da economia, dos

hábitos alimentares, da cultura e da existência ou não de programas de coleta seletiva, e que

a responsabilidade pela prestação de serviços de limpeza urbana (resíduos de origem

domiciliar, comercial e de serviços públicos) no Brasil é do município.

Entretanto, na maioria das cidades brasileiras, a coleta de resíduos é realizada pela

iniciativa privada, sob forma de concessão ou permissão (cerca de 60%), segundo a

Secretaria de Meio Ambiente em 200429, e os pagamentos são em peso de resíduo

depositado no aterro (R$/tonelada). Mais de 20% de todos os resíduos gerados no país em

2000, foram dispostos em lixões a ceú aberto ou lugares não fixos, como mostra o quadro

abaixo:

Quadro 3.1 – Formas de Disposição de Resíduos por Região no País

Forma Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro

Oeste

(%) (%) (%) (%) (%) (%)

Vazadouro a ceú

aberto

21,3 57,2 48,3 9,8 25,9 22,0

Aterro Controlado 37,0 28,3 14,6 46,5 24,3 32,8

Aterro Sanitário 36,2 13,3 36,2 37,1 40,5 38,8

Estação de

Compostagem

2,9 0,0 0,2 3,8 1,7 4,8

Estação de Triagem 1,0 0,0 0,2 0,9 4,2 0,5

Incineração 0,5 0,1 0,1 0,7 0,2 0,2

Locais Não-Fixos 0,5 0,9 0,3 0,6 0,6 0,7

Outra 0,7 0,2 0,1 0,7 2,6 0,2

Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico; IBGE (2000) In Gestão e Gerenciamento de Resíduos

Sólidos Urbanos no Brasil – Revista Sustentabilidade, 21/08/2007

29 Artigo Gestão e Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no Brasil, Revista Sustentabilidade, 21/08/2007.

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Com base no quadro acima, podemos ainda destacar o contraste entre duas regiões,

a região Sudeste, e em particular o Estado de São Paulo, no qual cerca de 45% dos

municípios (menos da metade) tratam seus resíduos de forma adequada, porém 70,4% das

20 mil toneladas geradas diariamente dentro do Estado foram dispostas adequadamente ou

de maneira controlada. Isto pode ser explicado pela maior preocupação e incentivos para a

disposição correta dos resíduos. Por outro lado, nas regiões Norte e Nordeste, praticamente

50% dos resíduos gerados foram dispostos de forma irregular, lixões a ceú aberto.

Dados da última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE) de 200030, apontam que dos 5,564 municípios brasileiros,

65% possuem lixões. Foram geradas diariamente nesse ano cerca de 228 mil toneladas de

resíduos, e a estimativa para 2006 era de 240 mil toneladas diárias de resíduos para uma

população de 180 milhões de habitantes. A região Sudeste era responsável por 62% de

todos os resíduos gerados no país, conforme quadro abaixo:

Quadro 3.2 – Estimativa de Geração de Resíduos Sólidos no Brasil

Região PopulaçãoTotal Geração de Resíduos

(ton/dia)

Geração

Percapita

(kg/hab/dia)

Quantidade Percentual Quantidade Percentual

Brasil 169.799.170 100,0 228.413 100,0 1,35

Norte 12.900.704 7,6 11.067 4,8 0,86

Nordeste 47.741.711 28,1 41.558 18,2 0,87

Sudeste 72.412.411 42,6 141.716 62,0 1,96

Sul 25.107.616 14,8 19.875 8,7 0,79

Centro-Oeste 11.636.728 6,9 14.297 6,3 1,23

Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico; IBGE (2000) In Gestão e Gerenciamento de Resíduos

Sólidos Urbanos no Brasil – Revista Sustentabilidade, 21/08/2007

30 Artigo - Gestão e Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no Brasil, Revista Sustentabilidade. 21/08/2007.

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Segundo o CEMPRE, no Brasil há atualmente cerca de 500 mil a 1 milhão de

catadores31, 405 cidades tem sistema de coleta seletiva, sendo que destas, 43,5%

desenvolvem programas em parceria com cooperativas. Segundo o CEMPRE32, em 2006

foram geradas no Brasil 51,1 milhões de toneladas de resíduos sólidos no Brasil (somente

urbano), ou cerca de 140 mil toneladas diárias, com um índice de reciclagem total de cerca

de 18% da fração do lixo seco urbano (metais, papéis, plásticos e vidros). Segundo o

Institulo Pólis33, atingimos essa marca, graças aos catadores que estão presente em cerca de

90% das cidades brasileiras, já que 80% dos materiais utilizados nas indústrias de

reciclagem chegam através dos mesmos.

No ano de 2005, o índice global de reciclagem do lixo urbano no Brasil foi de 11%,

esse total representou um retorno ao índice de 2003. Entretanto o volume reciclado passou

de 5,2 milhões de toneladas anuais para 5,76 milhões de toneladas, uma elevação de 11%.

A parcela de matéria orgânica representou 55% do lixo urbano brasileiro, e o volume diário

gerado é de 140 mil toneladas ou aproximadamente 0,8 kg/habitante/dia.

O desperdício no Brasil é considerado um dos maiores do mundo. O setor de

reciclagem movimentou, em 2005, R$ 7 bilhões e as estimativas de crescimento são

otimistas. O Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) projeta, para 2010,

índice de 20% na transformação do lixo coletado no Brasil. Para 2015, a taxa deverá atingir

30%, o que colocaria o País no mesmo patamar dos países desenvolvidos. Para isso, será

preciso adotar um conjunto de medidas que favoreçam o desenvolvimento da educação

ambiental, a geração de emprego e renda e a formalização de boa parte das empresas do

ramo. As prefeituras, por exemplo, têm a maior responsabilidade pela coleta e destinação

do lixo, mas, em geral, são omissas diante da necessidade de instituir a coleta seletiva.

Segundo estudo publicado34 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza

Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Panorama Nacional dos Resíduos Sólidos no

Brasil, coletar e dispor adequadamente os resíduos sólidos ainda é um problema para 61%

dos municípios brasileiros, apesar dos R$ 6 bilhões anuais gastos. Além disso, somente

39% dos municípios brasileiros dispõem de aterros sanitários para a destinação final do

31 Os números variam bastante de acordo com a fonte utilizada. 32 Cempre informa – Número 99 – Maio/Junho 2008. 33 Artigo - Política Nacional de Resíduos Sólidos: o desafio continua, por Elisabeth Grimberg, 22/10/2007. 34 Artigo - Estudo da Abrelpe indica que 61% dos municípios não têm destino adequado para lixo In Revista Sustentabilidade por Dayane Cunha.

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lixo, considerados os únicos locais adequados para o resíduo que não pode ser reciclado. A

região Norte é a que mais sofre, com 85,2% dos resíduos depositados inadequadamente,

seguida das regiões Nordeste (75%) e Centro-Oeste (65%). O Sudeste e Sul são as regiões

com mais aterros sanitários, 47,3% e 58,1%, respectivamente, e pagam mais por isso.

Com base na pesquisa Ciclosoft 2008, realizada pelo CEMPRE, cerca de 26 milhões

de brasileiros têm acesso a programas de coleta seletiva. Os quadros abaixos mostram uma

significativa evolução do número de municípios com coleta seletiva de 327 para 405,

porém ainda a representatividade é muito pequena, cerca de 7%. O segundo, a participação

da coleta seletiva por região (regiões Sul e Sudeste represetam 83%). O terceiro, a

composição da coleta seletiva em peso, com papel/papelão e plástico representando mais da

metade do volume (61%). O quarto, os índices nacionais de reciclagem dos principais

materiais, com destaque para latas de alumínio com 94,4%. E por último, a evolução do

custo médio da coleta seletiva de US$ 240 para US$ 221. Vale comentar também que no

mesmo período o custo médio da coleta seletiva foi de 10 para 5 vezes o custo médio da

coleta convencional.

Figura 3.3 - Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva

81

135

192237

327

405

050

100150200250300350400450

1994 1999 2002 2004 2006 2008

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE)

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Figura 3.4 – Participação da Coleta por Região (%)

Sudeste 48%

Norte 2%

Centro-Oeste 4%

Nordeste 11%

Sul 35%

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE)

Figura 3.5 - Composição da Coleta Seletiva em Peso (%)

Plásticos 22%

Rejeitos 13%

Vidros 10%

Metais 9%

Diversos 3%

Longa Vida 3%

Papel e Papelão 39%

Alumínio 1%

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE)

Figura 3.6 – Índice Nacional de Reciclagem dos Principais Materiais e m2006

40.0%

94.4%

20.0%

51.3%45.4% 46.0%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Embalagens deAço

Latas deAlumínio

Plásticos PET Papel/Papelão Vidro

Fonte: CEMPRE Informa – Número 99 – Maio/Junho 2008

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Quadro 3.7 - Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada)

1994 1999 2002 2004 2006 2008

Custo médio da coleta seletiva*

240 154 70 114 151 221

Custo da coleta seletiva x custo da coleta convencional

10 vezes maior

8 vezes maior

5 vezes maior

6 vezes maior

5 vezes maior

5 vezes maior

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) - * US$ 1 = R$ 1,70

Após 15 anos de discussões e debates, a Comissão Especial da Câmara acolheu o

parecer relacionado às práticas, tratamento e destinação dos resíduos sólidos para avaliação

em caráter de urgência. O diretor-executivo do CEMPRE (Compromisso Empresarial para

Reciclagem), André Vilhena, defende que é imprescindível a aprovação rápida deste

Projeto de Lei, para que o setor possa se organizar, atrair novos investimentos e,

consequentemente, se desenvolver. O principal objetivo desse projeto, é sistematizar a

regulamentação do trato de resíduos sólidos, que ainda não existe em nível federal. Fruto de

sugestões de companhias de diversos setores, como a indústria, a comunidade científica, o

governo e entidades representativas, o Projeto de Lei defende, entre outros itens, a gestão

integrada, que prega o envolvimento da sociedade, entidades governamentais e não-

governamentais e das empresas no trabalho de encontrar um destino mais adequado aos

resíduos sólidos.

Outro marco importante foi a assinatura do Decreto, no dia 25 de outubro, pelo

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva representa mais um passo em busca da inclusão social

dos catadores de lixo. A gestão pública federal assume nova perspectiva social e ambiental

ao estabelecer a coleta seletiva em órgãos públicos e a destinação de materiais recicláveis

para associações e cooperativas de catadores.

2. Estrutura do Setor de Reciclagem no Brasil (cooperativas, sucateiros e recicladoras)

O catador é o principal personagem e responsável pelo avanço acentuado da coleta

seletiva e reciclagem do lixo urbano no Brasil. Segundo o CEMPRE – Compromisso

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Empresarial para Reciclagem, atualmente há cerca de 800 mil35 de catadores no Brasil.

Muitos deles estruturados na forma de cooperativas. Graças a eles, alcançamos o índice de

18% de reciclagem de todo o lixo urbano gerado, maior índice entre os países em

desenvolvimento. As prefeituras, responsáveis pela gestão do lixo urbano, passaram a

inserir os catadores em seus modelos de coleta seletiva. O setor empresarial também

considera o catador como parceiro ideal para exercício de parte de sua responsabilidade

social e ambiental.

A forma de cooperativas é defendida por Paul Singer36 como a melhor alternativa

para a organização dos catadores de lixo, pois a cooperativa, possibilita compras em

comum a preços menores e vendas em comum a preços maiores, e ainda seria uma

oportunidade de resgate da dignidade humana do catador e desenvolvimento da auto-ajuda

e da ajuda mútua, que permite constituir a comunidade dos catadores.. Segundo o autor, os

catadores de lixo merecem uma atenção especial, devido ao seu significado social, os quais

são explorados pelos sucateiros. Esse é o meio de vida que restou para muitas pessoas,

extremamente pobres, uma boa parte delas, ainda vive em lixões, coletando tudo o que

pode ser reaproveitado e expostas a diversos tipos de doenças.

Acho interessante descrever o processo histórico do surgimento das cooperativas ou

economia solidária e seus princípios. Segundo Paul Singer, a economia solidária nasceu

pouco depois do capitalismo industrial, no início do século XIX, como uma reação a

expulsão dos camponeses dos domínios senhorais, os quais se transformariam no

proletariado moderno. Esse período também é conhecido como “cooperativismo

revolucionário”, por evidenciar a ligação essencial da economia solidária com a crítica

operária e socialista do capitalismo. Nesse período o grau de exploração dos trabalhadores

era extremo, e por isso alguns industriais mais esclarecidos começaram a propor leis de

proteção aos trabalhadores, entre eles, Roberto Owen37.

Owen foi pioneiro em limitar a jornada e proibir o emprego de crianças, para as

quais ergueu escolas. Mas principalmente, foi pioneiro, na criação de cooperativas, sua

preocupação iria muito além de baratear o sustento dos pobres, implicava numa mudança

no sistema social. O raciocínio econômico de Robert Owen era impecável, pois o maior

35 Os números variam de 500 mil a 1 milhão de catadores, dependendo da fonte utilizada. 36 Revista Sustentabilidade por Dayane Cunha. 37 Robert Owen, proprietário de um imenso complexo têxtil em New Lanark.

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desperdício, em qualquer crise econômica do tipo capitalista (devida à queda da demanda

global), seria a ociosidade forçada de parte substancial da força de trabalho. As

cooperativas teriam um caráter inclusivo nesses momentos, trazendo os excluídos da

atividade econômica para dentro do sistema.

Na França, merece destaque o autor, Charles Fourier, sua idéia central era que a

sociedade se organizasse de uma forma que todas as paixões humanas pudessem ter livre

curso para produzir uma harmonia universal, ou seja, ele defendia a idéia que todos

deveriam viver em comunidades autogeridas, tornando o Estado dispensável. Sua proposta

apresenta claramente ideais anarquistas. Fourier propõe ainda dois mecanismos para evitar

que a sociedade se polarize entre ricos e pobres. Primeiro, as ações (distribuição dos

resultados do trabalho) devem dar rendimento tanto maior quanto menor for o número delas

possuído pela pessoa, e segundo, todos teriam uma renda mínima.

Ainda segundo Paul Singer, Owen e Fourier foram, ao lado de Saint-Simon, os

clássicos do Socialismo Utópico. O primeiro foi, além disso, grande protagonista dos

movimentos sociais e políticos na Grã-Bretanha nas décadas iniciais do século XIX. O

cooperativismo recebeu deles inspiração fundamental, a partir da qual os praticantes da

economia solidária foram abrindo seus próprios caminhos, pelo único metodo disponível

no laboratório da história: o da tentativa e erro.

A economia solidária na figura do cooperativismo surge então como uma alternativa

ao capitalismo, o qual é desigual por sua própria natureza, pois é baseado na competição e

heterogestão através da propriedade individual e na liberdade individual, os melhores são

vencedores e os demais são perdedores. Na economia solidária, a competição e a

heterogestão são substituídas pela cooperação e autogestão (administração democrática), ou

seja a união de iguais em cooperativas, o que pressupõe uma igualdade entre os seus

participantes baseada na propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade

individual.

As cooperativas de consumo, que só vendiam aos seus sócios, foram as primeiras e

tiveram um papel importante na difusão do cooperativismo pela Europa. A mais famosa

cooperativa, considerada a mãe de todas as cooperativas, foi a Cooperativa dos Pioneiros

Equitativos de Rochdale, um importante centro têxtil no norte da Inglaterra em 1844.

Fundada por 28 operários de diversos ofícios, metade deles owenista, entre os seus

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objetivos estava a criação de uma colônia auto-suficiente e o apoio a outras sociedades com

este propósito. O impulso para a criação da cooperativa pode ter sido a derrota de uma

greve de tecelões em 1844. O mais importante é que eles adotaram uma série de princípios

que foram imortalizados como os princípios universais do cooperativismo:

1. Cada membro tem direito a um voto;

2. O princípio da “porta aberta”, qualquer poderiam aderir;

3. Sobre o capital emprestado a cooperativa pagaria uma taxa de juros fixa;

4. As sobras seriam divididas em proporção às compras de cada um;

5. As vendas da cooperativa seriam somente feitas à vista (inadimplência);

6. Os produtos vendidos seriam sempre puros, não adulterados;

7. A cooperativa se empenharia na educação cooperativa;

8. A cooperativa manter-se-ia sempre neutra em questões religiosas e políticas.

O objetivo central dos Pioneiros e de ouras sociedades com o mesmo rastro

ideológica, era constituir uma colônia comunista, ou Aldeia Cooperativa, partindo das

cooperativas de consumo e chegando as de produção, que visam produzir bens ou serviços

a serem vendidos em mercados. O cooperativismo de crédito também se desenvolveu logo

após o de consumo, essa atividade seria de extrema importância para suportar o

crescimento do cooperativismo, dando assim acesso ao crédito para os que anteriormente

não o tinham.

Nessa modalidade, o exemplo de sucesso mais importante, foi a criação do Grameen

Bank (Banco da Aldeia), num dos países mais pobres do mundo, Bangladesh, por

Mhammad Yunus, na década de 70, o que significou um retorno às raízes do

cooperativismo de crédito. Yunus, conclui que a teoria econômica tradicional, não era

suficiente para superar a questão da pobreza, ou seja, o mercado por si só não resolveria a

desigualdade existente. O Banco da Aldeia se preocupa com que seus clientes sejam

realmente pobres e tem como acionistas seus depositantes e mutuários.

O Grameen está presente em mais da metade das comunas rurais de Bangladesh, em

1997, haviam 1.079 agências e 12 mil empregados. Ele pode ser considerado um banco

cooperativo, mantido por dezenas de milhares de Centros, que equivalem de certa maneira

às cooperativas primárias de crédito. Essa iniciativa inspirou vários programas de crédito

por todo o mundo. No Brasil, há 30 “bancos do povo” apoiados pelo BNDES (Banco

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Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e também experiências mais recentes

de microcrédito.

O cooperativismo de consumo, começou a entrar em decadência no mundo inteiro

depois da Segunda Guerra Mundial, principalmente em função da concorrência com o

varejo capitalista, que descobruiu que as vendas em massa poderiam reduzir drasticamente

os custos de intermediação, mediante a mecanização e a automação de muitas operações.

Outros fatores inovadores também intensificaram essa concorrência, como o surgimento da

embalagem como elemento padronizador e o crescimento da propaganda. Como

consequência, surgiram os shopping centers na periferia das cidades, impulsionado pelo

fácil deslocamento, com o surgimento de um importante produto de massa, o automóvel. O

cooperativismo de crédito também enfrenta a concorrência dos intermediários públicos e

privados, de grande dimensão e capacidade de desenvolver e aplicar tecnologias avançadas

de informática.

Outro importante tipo de cooperativismo, em que podemos enquadrar os catadores

de lixo, são as cooperativas de compras e vendas, nas quais pequenos e médios produtores

ganham escala e poder de barganha, mediante a unificação de suas compras e/ou suas

vendas. Elas geralmente foram e são formadas por agricultores, taxistas, caminhoneiros,

comerciantes, profissionais liberais, etc. O grande perigo nessa modalide de cooperativismo

seria que as relações sociais de produção acabem se tornando, para algumas atividades,

capitalistas, à medida que assalariados executassem algumas atividades dentro dessas

cooperativas, atingindo um modelo híbrido, ou seja, solidária e capitalista ao mesmo tempo.

O resurgimento da economia solidária no fim do século XX, está associada ao

retorno do desemprego a partir da década de 70. Entre o período do fim da Segunda Guerra

Mundial até meados da década de 70, os ideais da economia solidária foram esquecidos, já

que diversos direitos foram conquistados para os assalariados pelo movimento operário,

liderado principalmente pelos sindicatos, os quais se tornaram organizações poderosas que

tinham como objetivo a manutenção do emprego e não a busca por uma alternativa ao

assalariamento.

Na década de 70, grande parte da produção industrial mundial foi transferida para

países em que as conquistas do movimento operário nunca se realizaram, assim os

sindicatos perderam sua força e os que continuaram empregados, sofreriam as

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consequências da “flexibilização” de seus direitos e a redução de salários diretos e

indiretos, aumentando a competição entre trabalhadores. Como resultado, os princípios da

economia solidária ressurgiram com mais força ainda.

A retomada da economia solidária vem num momento em que não se acredita mais

que o caminho alternativo ao capitalismo passe pela tomada do poder pelo Estado,

principalmente por duas transformações. A primeira foi a crise dos Estados socialistas da

Europa Oriental, em 1985 com a Perestroika e Glasnost na União Soviética e culminou em

1991 com a sua dissolução, a segunda foi o semifracasso dos governos e partidos social-

democratas, principalmente na Europa e também na América Latina.

No caso das cooperativas de reciclagem no Brasil, um marco importante foi a

formação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em meados de

1999, com o I Encontro Nacional de Catadores de Papel. Em 2001, ocorreu o I Congresso

Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em Brasília, evento que reuniu cerca de

1.700 catadores. Em 2003, foi realizado o I Congresso Latino-Americano de Catadores em

Caxias do Sul – RS, e o mesmo se repetiu em 2005. Os catadores e o MNCR passaram a ter

uma projeção internacional, e entre as suas principais conquistas nesses últimos anos, a

inclusão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), foi o primeiro passo para o

efetivo reconhecimento da categoria.

No Brasil, a pesquisa do Ministério das Cidades de agosto de 200538, com dados de

2002, sobre o tratamentos de resíduos sólidos nos municípios brasileiros, revelou que as

cooperativas de reciclagem e catadores estão presentes em 90% dos municípos consultados

(108 cidades urbanizadas). Contudo a pesquisa não considerou o universo dos catadores

não organizados. Segundo dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais

Recicláveis (MNCR), em 200539, haviam cerca de 500 mil catadores em todo país. Porém,

esse dado pode variar, pois a clandestinidade ou informalidade é grande nesse setor.

Segundo Calderoni (In Os Empresários do Lixo40), as Cooperativas de Reciclagem

de Lixo são frequentemente apresentadas como uma paradigma de inclusão social, porém

38 In Jornal do Movimento Nacional dos Catadores de Material Recilável (MNCR), Número 3, Ano I, Outubro de 2005. 39 In Jornal do Movimento Nacional dos Catadores de Material Recilável (MNCR), Número 1, Ano I, Agosto de 2005. 40 MAGERA, Márcio, Os Empresários do Lixo: um paradoxo da modernidade: análise interdisciplinar das Cooperativas de reciclagem do Lixo, 2005.

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Márcio Magera, defende em sua obra que essa realidade está muito longe de ser verdade, e

também muito distante dos princípios do cooperativismo, com base em sua pesquisa

realizada junto às Cooperativas no interior de São Paulo. Segundo suas conclusões, os

agentes da modernindade, “os catadores”, tornam-se paradoxalmente, também escória da

sociedade.

Sua obra aborda e discute principalmente duas problemáticas, a primeira é o

crescimento ilimitado do lixo e a segunda a precarização do trabalho, no caso dos catadores

lixo organizados em cooperativas. É uma denúncia à exploração dos catadores pelos

comerciantes (atravessadores ou intermediários) e indústrias de reciclagem, ou seja, as

cooperativas não conseguem reproduzir os princípios cooperativistas por dificuldades

econômicas e a falta de uma gestão organizacional, criam um modelo de terceirização do

trabalho de coleta e separação dos resíduos. Segundo o autor ainda, do ponto de vista das

relações trabalhistas, porém, essa prática resgata um sistema de trabalho que se pensava

estar no passado da Primeira Revolução Industrial (século XVIII).

Segundo o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas (In Os Empresários do Lixo,

p. 111), as embalagens têm vida efêmera, muitas não chegando a ter mais de 60 dias de

vida entre a sua saída da indústria até sua chegada ao lixo. Só no Brasil se movimentam

mais de 7 milhões de toneladas de embalagens por ano, representando mais de sete bilhões

de dólares anuais somente em custos para embalagens descartadas após o consumo do

produto interno, tendo como destino certo os lixões do país.

É importante mencionar duas importantes análises empíricas e seus resultados na

obra de Márcio Magera, a primeira é o estudo de caso no Município de Sorocaba: a

Reciclagem do Resíduo Sólido (seco) e sua Viabilidade Econômica, e a segunda é a

pesquisa de campo: as Cooperativas de Reciclagem de Lixo.

No Estudo de Caso no Município de Sorocaba, foi utilizado o modelo41 proposto

por Duston (In Os Empresários do Lixo, p. 111), aperfeiçoado e adaptado por Calderoni, o

mesmo foi aplicado por Arendit (In Os Empresários do Lixo, p. 111) em 1998 na análise de

viabilidade econômica da reciclagem do lixo na cidade de Campinas, SP. Esse modelo

pressupõe que se conheça a quantidade reciclada e consumida, nesse estudo foram

41 Equação do Modelo: G= -C+E+W+M+H+A+D (G ganho é igual ao custo do processo de reciclagem + C custo evitado com a coleta + W economia de energia + M economia de matéria-prima + H economia de água + A economia de controle ambiental + D demais ganhos econômicos, imensurável).

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considerados somente lata de alumínio, vidro, papel e papelão e plástico, pelos seus valores

valores econômicos mais expressivos e pelo interesse mercadológico. Com base na quantia

produzida, reciclada e disposta em aterros, torna-se possível mensurar a economia de

matéria-prima, energia, água e a redução dos danos ambientais, coleta, transporte e arranjo

final do lixo.

Pela falta de informações sobre o custo do processo de reciclagem na cidade de

Sorocaba, o autor utilizou um valor médio de algumas cidades, R$ 600,00/tonelada,

multiplicado pelas 12.546,48 toneladas/ano, chegando num custo total de R$ 7.527.888,00

por ano. O gasto da prefeitura de Sorocaba com a disposição final é de R$ 32,21/tonelada

coletada, já considerando a administração do aterro e infra-estrutura, portanto a economia

com a reciclagem seria de R$ 32,21/tonelada x 12.546,48 toneladas igual a R$ 404.122,12

por ano. Somando-se ainda, a economia de energia elétrica consumida R$ 4.210.729,93, a

economia de matérias-primas R$ 10.753.682,10 e economia de recursos hídricos R$

1.832.793,58, já que não foi possível calcular os ganhos com a economia de controle

ambiental e os demais, chega-se a uma economia obtida anualmente pela reciclagem do

lixo no município de Sorocaba de R$ 9.673.439,63.

Se todos os materiais sólidos consumidos considerados no estudo fossem reciclados,

o custo total do processo seria de R$ 600,00/tonelada x 45.969,60 toneladas igual a R$

27.581.760,00 por ano e a economia da prefeitura seria de R$ 32,21/tonelada x 45.969,60

toneladas igual a R$ 1.480.680,81 por ano. Somando-se os demais ganhos, chegaria-se

numa economia perdida anualmente pela não-reciclagem do lixo no município de Sorocaba

de R$ 44.962.253,13. Somando-se os valores obtidos pela reciclagem e pela não-

reciclagem, chega-se ao montante de R$ 54.635.692,76 por ano, ou seja, o valor total da

economia possível com a reciclagem dos resíduos sólidos (secos).

As conclusões desse estudo são: primeira, a cidade de Sorocaba com 550.000

habitantes que gera anualmente 120.000 toneladas de lixo urbano, é somente um caso,

podemos estimar o potencial de economia em nível país em alguns bilhões de reais, gerados

por 51 milhões de toneladas/ano de lixo urbano; segunda, a cidade deixaria de ter uma

despesa e passaria a ter um receita com a reciclagem; terceira, a economia total representa

cerca de 18% do orçamento da cidade (R$ 308 milhões). Segundo a Folha de São Paulo em

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21/09/2001, p. C2 (In Os Empresários do Lixo, p. 129), os Brasileiros jogam no lixo, todo

ano, R$ 10 bilhões em material reciclável.

Na pesquisa de campo com as cinco Cooperativas de Reciclagem de Lixo no

interior de São Paulo, o autor constatou que na maioria são formadas por desempregados e

que a situação dos catadores não melhorou, continuam sendo explorados pelos demais

agentes na cadeia produtiva, no caso os sucateiros que possuem infra-estrutura e

consequentemente tem maior poder de barganha, e a indústria consumidora do material

reciclável que exige grandes volumes nas suas negociações, favorecendo a manutenção do

intermediários/atravessadores, no caso os sucateiros.

Algumas características importantes do perfil dos cooperados são: o rendimento

médio mensal bruto apurado foi de R$ 256,88 e o líquido de R$ 213,21; reciclam apenas

4,9% (248 toneladas/mês) do total que poderiam reciclar; 60% desconhecem o nome do

Presidente da República; todas tem um “mentor intelectual”, o que inibe o desenvolvimento

da autogestão; 34% são analfabetos, 32% com até 4 anos de estudo (analfabeto funcional

pelo IBGE); 78% não entendem o significado de cooperativa; negros e pardos representam

70% dos cooperativados; 58% têm idade superior a 40 anos; 52% são originários do Estado

de São Paulo, que em sua maioria trabalhavam em fábricas; 71% disseram que ganhavam

mais nos empregos anteriores e a grande maioria tinha carteira assinada; 90% vivem na

periferia da periferia e somente 24% pagam INSS.

Além das características acima deixarem claro a falta de condições mínimas de

sobrevivência desses cooperados, fica evidente também que essas cooperativas não seguem

os princípios do cooperativismo, à medida que há presença de um “mentor intelectual”, de

um patrão e certa hierarquia, há desconhecimento por parte dos cooperados sobre o

cooperativismo e a operação da cooperativa, ausência de equipamentos de segurança e

presença de menores em uma das cooperativas.

Segundo o autor, essas cooperativas que atuam de forma improdutiva e ineficiente

para sobreviverem ao lado de empresas privadas e internacionais que estão entrando no

setor de reciclagem, necessitam de um novo modelo de gestão, baseado na aprimoração do

modo de produção, utilização do aporte tecnológico, buscando agregar valor aos resíduos

reciclados e na autogestão cooperativista.

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Um passo muito importante na direção da autogestão e na tentativa melhorar a renda

dos cooperativados, é a primeira indústria de catadores em Belo Horizonte - MG42. Esse

sonho tornou-se realidade para catadores de oito cidades do Estado. Segundo Luiz

Henrique da Silva, membro da Equipe de Articulação Nacional do MNCR e integrante da

ASMARE (Associação de Catadores de papel, papelão e materiais recicláveis), a indústria

é a primeira fábrica de reciclagem dirigida por catadores. Essa iniciativa sinaliza no

sentido de atingir o domínio da cadeia produtiva da reciclagem pelos catadores, um

objetivo que começa a ser concretizado.

A indústria conta com cerca de 580 catadores e faz o beneficiamento do plástico,

incrementando a renda dos cooperativados com a valorização do material, que além de ser

coletado e separado, passa também a ser processado, eliminando assim intermediários na

cadeia produtiva. A expectativa era de que a renda aumentaria em cerca de 60%. A

capacidade inicial da usina no primeiro ano de funcionamento seria de 200 toneladas de

plástico por mês, passando para 600 toneladas mensais no terceiro ano.

A usina teve um investimento de R$ 4,5 milhões, financiado pela parceria entre a

Fundação Banco do Brasil, Petrobrás, BrasilPrev e apoio do Ministério do Trabalho. A

construção foi feita em um terreno cedido pela prefeitura de Belo Horizonte. A experiência

de Minas Gerais é pioneira e é fruto da articulação do MNCR da região.

3. Mapa da Reciclagem no Brasil

3.1. Regulamentação Nacional Segundo Elizabeth Grimberg43, o processo de formulação de propostas para a

criação de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos iniciou-se há 15 anos. O Projeto de

Lei 1991/07 ainda está em tramitação no Congresso, ele foi encaminhado no dia 6 de

setembro de 2007 pelo governo federal. O Projeto tem apenas 33 artigos, nos quais

estabelece diretrizes, instrumentos, responsabilidades e proibições para o gerenciamento de

resíduos sólidos no páis. O objetivo principal é frear a irresponsabilidade de gestores

42 In Jornal do Movimento Nacional dos Catadores de Material Recilável (MNCR), Número 2, Ano I, Setembro de 2005. 43 Política Nacional de Resíduos Sólidos: o desafio continua In Revista Sustentabilidade.

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públicos municipais e ao mesmo tempo responsabilizar fabricantes, importadores,

revendedores, comerciantes e distribuidores.

O Projeto de Lei foi elaborado em conjunto pelos Ministérios do Meio Ambiente,

das Cidades, da Saúde, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do

Planejamento, Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da

Fazenda e Casa Civil. E utilizou propostas debatidas ao longo dos últimos sete anos em

seminários regionais e nacionais com diversos segmentos da sociedade civil. Entre eles,

Fórum Nacional do Lixo e Cidadania, o Fórum Lixo e Cidadania de São Paulo e o

Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis.

A proposta central do Projeto de Lei era tributar os geradores de resíduos

(fabricantes, importadores, distribuidores, revendedores, comerciantes de produtos) como

forma de responsabilização direta pelo passivo ambiental gerado. Os recursos auferidos

com a tributação financiaria a estruturação dos sistemas de recuperação de resíduos, coleta

seletiva, triagem, beneficiamento com inclusão dos catadores.

Segundo Elizabeth Grimberg, “nesse sentido, para avançar rumo a uma sociedade

sustentável defende-se a instituição de instrumentos que obriguem as indústrias a mudarem

seu padrão de produção no sentido de colocarem no mercado produtos efetivamente

duráveis, por um lado. E por outro lado, reivindica-se o estabelecimento de normas para a

redução do consumo de recursos naturais nos processos industriais e para que os produtos

pós consumo sejam passíveis de aproveitamento integral. Significa dizer, para se atingir

um patamar de sustentabilidade é preciso responsabilizar toda a cadeia produtiva, do

“berço ao túmulo”, ou seja, desde o momento da extração da matéria-prima até o

momento em que o produto torna-se resíduo”.

A instituição de outros importantes instrumentos ambientais só somariam para a

tomada de decisões relativas às questões ambientias, os quais são citados por Elizabeth

Grimberg abaixo:

a) Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produtos;

b) Cadastro Técnico Federativo de Atividades e Instrumentos de Defesa

Ambiental;

c) Inventários de Resíduos Sólidos, em conformidade com o Conselho Nacional de

Meio Ambiente (CONAMA);

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d) Avaliação de Impactos Ambientais;

e) Sistema Nacional de Informações Ambientais (SINIMA).

Ainda segundo Elizabeth Grimberg, “um sistema de recuperação de materiais

recicláveis que se pretenda avançar na direção de um novo paradigma pressupõe que se

combine a responsabilidade dos produtores pelos resíduos sólidos gerados com a

integração de catadores de forma autogestionária, no marco do que se considera gestão

socioambiental sustentável. E para tal é preciso que o Estado, no caso as prefeituras,

assumam o papel de coordenação desse processo para que o interesse público, no sentido

amplo da palavra, seja garantido”.

3.2. Índices Nacionais da Reciclagem O Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem, fundado há 15 anos, é

uma associação sem fins lucrativos, dedicada à promoção de reciclagem dentro do conceito

de gerenciamento integrado do lixo, é mantida por grandes empresas de diversos setores.

Em 2007, realizou pelo quarto ano consecutivo, uma detalhada pesquisa junto a

organizações que acompanham a reciclagem de vidro, alumínio, embalagens longa vida,

pneu, aço, plásticos, PET e papel. Mais uma vez, a consolidação desses dados dispersos

tem como meta traçar microcenários setoriais que revelem os caminhos da reciclagem no

Brasil.

Os índices de reciclagem de embalagens longa vida e de aço cresceram, os de vidro

mantiveram-se no mesmo patamar e os de alumínio, pneu e embalagens de aço para

bebidas tiveram uma ligeira queda. Ainda evidenciam o estágio avançado no caso do

alumínio com índice de reciclagem de 94% e 170 mil empregos gerados em 2006.

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Quadro 3.8 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%)

MATERIAL RECICLÁVEL

DÉCADA DE 90 ANO 2005 ANO 2006

PAPEL 31,7% 46,9% 45,4%

PLÁSTICO 12,0% 20,0% 20,0%

VIDRO 35,1% 45,0% 46,0%

LATA DE AÇO 18,0% 29,0% (só latas)

40,0% (embalagens)

LATA DE ALUMÍNIO 70,0% 96,2% 94,4%

Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo” na década de 90 e CEMPRE dados mais recentes (2005/2006)

Com relação ao lixo orgânico, a produção de energia em aterros sanitários ganha

impulso no Brasil. O gás (metano) que emana do lixo em decomposição produz

eletricidade. Crescem no Brasil os projetos de geração de energia elétrica a partir dos gás

metano. Há vinte projetos de controle de emissão de metano em aterros (controlados) em

andamento em todo o País, e metade deles está estruturada para geração futura de

eletricicade. Todas as grandes capitais estão se mobilizando para transformar aterros em

termoelétricas. É viável em municípios com mais de 500 mil habitantes e com grande

produção de lixo urbano, explica Antonio Carlos Delbin, diretor técnico da Biogás Energia

Ambiental.

Um estudo feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

(Cepea), da Esalq/USP, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), mostra

que, em um cenário conservador, o Brasil até 2015, pode gerar 356,2 MW de energia

elétrica. Em uma perspectiva mais otimista, esse número pode chegar a 440,7 MW.

Municípios com população acima de um milhão de habitantes, com grande produção de

resíduos, têm um potencial de geração médio de 19,5 MW.

A equiparação dos custos de produção de energia, atualmente a eletricidade

produzida nos aterros custa em média 35% mais que a energia hidrelétrica, também daria

impulso aos projetos. A energia produzida a partir do lixo ainda é mais cara do que a

energia produzida por hidrelétricas. Por enquanto, ela deve ser considerada mais pelos

seus benefícios ambientais do que econômicos, mas isso pode mudar, dis Walter Capello

Júnior, secretário geral da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais (Abrelpe). Há 30 anos, o aproveitamenteo do lixo para fins energéticos

era impensável.

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Capítulo 4 - Retrato do Município de São Paulo

Segundo a Secretaria Municipal de Serviços, atualmente a cidade de São Paulo

produz diariamente cerca de 15 mil toneladas, sendo 9 mil toneladas somente de resíduos

domiciliares, entre alimentos tais como, cascas de frutas, verduras, restos de comidas etc.,

produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiênico,

fraldas descartáveis e uma grande diversidade de outros itens. Contém, ainda, alguns

resíduos que podem ser tóxicos. No mês são 450.000 toneladas de lixo, e no ano cerca de

3,3 milhões de toneladas de lixo.

Estima-se que cada paulistano produza 1 kilo de lixo por dia, metade do que um

americano produz, ou um total de aproximadamente 15 mil toneladas de detritos (inclui lixo

industrial e entulho) são geradas diariamente em São Paulo. A evolução da quantidade

anual de lixo está diretamente ligada com o crescimento populacional e também no

crescimento vertiginoso da utilização de embalagens. A tabela a seguir demonstra a

evolução anual da quantidade de lixo domiciliar em São Paulo, a qual mais que dobra em

praticamente três décadas.

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Quadro 4.1 - MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - Evolução da Quantidade Anual de

Lixo Domiciliar – 1978 a 1996

ANO LIXO DOMICILIAR

T MIL

1978 1.550

1979 1.608

1980 1.638

1981 1.579

1982 1.779

1983 1.782

1984 1.530

1985 1.604

1986 1.948

1987 2.072

1988 2.297

1989 2.212

1990 2.258

1991 2.465

1992 2.368

1993 2.701

1994 3.033

1995 3.421

1996 3.600

2004 3.150

2005 3.227

2006 3.383

Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 109 e Limpurb In Artigo – Cruzada Contra o Lixo,

Caderno Cidades/Metrópole, 11/11/2007, p. C6

Segundo Calderoni44, o programa de coleta seletiva foi inicialmente implantada na

Administração Erundina e seguida pelos Prefeitos Maluf e Pitta, apenas quanto aos Postos

de Entrega Voluntária (PEV), porém não foi uma experiência de grande envergadura, e

creio que ainda hoje não é. Atualmente, a cidade tem um sistema de coleta seletiva na porta

das casas feita pelo governo municipal, são 72 caminhões que não atendem toda a cidade, e

levam os resíduos para os 15 centros de triagem, onde as cooperativas cadastradas pela

Prefeitura separam e posteriormente vendem o lixo. Há também 18 ecopontos da Prefeitura, 44 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 96.

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espaços de entrega voluntário onde o próprio morador pode levar seu lixo reciclável,

pequeno volume de entulhos (até 1 metro cúbico) ou grandes objetos (como móveis ou

restos de podas de árvores).

Os serviços de limpeza urbana no município de São Paulo, custavam R$ 35 milhões

no mês de agosto de 1996, ou cerca de R$ 420 milhões por ano, abrangendo a coleta

domiciliar (26%), o transbordo (3%), a disposição final em aterros (15%) e incineradores, a

compostagem e a varrição (30%), além das equipes responsáveis por sua administração

(9%). Segundo Calderoni, essa evolução no dispêndio pode ser explicada pelo aumento

populacional, pelo aumento no consumo de embalagens, mas principalmente por quatro

fatores:

a) Custo maior por tonelada nos Aterros (normas ambientais mais rígidas);

b) Aperfeiçoamento no sistema de gerenciamento das informações da LIMPURB;

c) Obras de manutenção;

d) Possível elevação na remuneração dos serviços.

Atualmente, segundo dados da Prefeitura45, em 2006 a despesa com urbanismo,

especificamente o total gasto com limpeza urbana na município de São Paulo, foi de R$

778 milhões, no ano passado R$ 772 milhões, o que representa cerca de 4% do orçamento

total da Prefeitura.

O quadro a seguir mostra a evolução da composição do lixo na cidade de São Paulo,

e que cerca de um terço são materiais recicláveis.

45 Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo, balanços anuais de 2006 e 2007, demonstrativos consolidados - Adminisração Direta e Indireta, Despesa por Função, Subfunção e Programa conforme Vínculo com os Recursos.

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Quadro 4.2 - MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução Histórica da Composição dos

Resíduos Sólidos (%)

COMPONENTES 1927 1947 1957 1965 1969 1972 1976 1989 1990 1991 1993

METAIS 1,7 2,2 2,2 2,2 7,8 4,2 4,0 3,3 5,3 3,5 3,2

VIDRO 0,9 1,4 1,4 1,5 2,6 2,1 1,7 1,5 4,2 1,7 1,1

PAPEL/PAPELÃO/JORNAL 13,4 16,7 16,7 16,8 29,2 25,9 21,4 17,0 29,6 13,9 14,4

PLÁSTICO 0,0 0,0 0,0 0,0 1,9 4,3 5,0 7,5 9,0 11,5 12,1

OUTROS 1,5 2,7 2,8 3,1 6,2 4,3 5,2 0,0 3,0 7,6 4,8

MATÉRIA ORGÂNICA 82,5 76,0 76,0 76,0 52,2 47,6 62,7 55,0 47,4 60,6 64,4

TOTAL 100,0 99,0 99,1 99,6 99,9 88,4 100,0 84,3 98,5 98,8 100,0

% NÃO EXPLICADO 0,0 1,0 0,9 0,4 0,1 11,6 0,0 15,8 1,5 1,2 0,0

RECICLÁVEIS 16,0 20,3 20,3 20,5 41,5 36,5 32,1 29,3 48,1 30,6 30,9

Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 112/114 de 1927 - 1993 e Limpurb

4.1. DISPOSIÇÃO FINAL DO LIXO: Conforme levantamento da Revista Saneamento Ambiental46, sobre as práticas de

disposição final do lixo nos municípios brasileiros, 76% utilizam de “lixões”, 10% contam

com aterros sanitários, 13% possuem aterros controlados e somente 1% empregam formas

de tratamento para compostagem, a reciclagem e incineração.

Com base no quadro a seguir, podemos observar que o Brasil concentra ainda

praticamente todos os resíduos sólidos urbanos (90%) em aterros e/ou lixões, ou seja,

deixar de aproveitar um grande potencial de energia através da incineração, no qual

podemos destacar Suécia, França e Bélgica, por outro lado demonstra a incipiência da

reciclagem no Brasil com um índice total aproximado de 10%, comparativamente muito

abaixo de países, como Alemanha, Bélgica e Suécia. Provavelmente a situação não é

diferente no Município de São Paulo, pois é praticamente inexistente outras formas de

destino final de lixo (discutidas abaixo), além dos aterros sanitários e a coleta seletiva.

Segundo a concessionária Loga, em meados de 2004, a prefeitura desativou a usina

de compostagem de Vila Leopoldina. Um novo local, com capacidade para processar até

mil toneladas de resíduos por dia, será construído pela concessionária. A primeira fase, com

capacidade para processar 500 toneladas por dia, porém os investimentos foram suspensos

pela Prefeitura Municipal de São Paulo em fevereiro de 2005, e até hoje não há nenhuma

46 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 117.

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solução. Segundo comunicado da Subprefeitura do Ipiranga47 em 2006, o incinerador da

usina de lixo Vergueiro também seria desativado pelo transtorno causado aos moradores da

região, em função do cheiro que exalava pela chaminé.

Quadro 4.3 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005)

PAÍS Aterros e/ou Lixões Incineração com

Recuperação de

Energia

Compostagem +

Reciclagem

Brasil* 90% ---- 10%

Bélgica 10% 35% 55%

República Tcheca 70% 15% 15%

Alemanha 20% 20% 60%

Espanha 60% 5% 35%

França 40% 35% 25%

Itália 60% 5% 35%

Polônia 95% 1% 4%

Portugal 75% 20% 5%

Suécia 10% 50% 40%

Reino Unido 75% 10% 15%

Grécia 90% ---- 10%

Hungria 85% 5% 10%

China** + de 70% N/D 20%

(somente

compostagem)

Fonte: *CEMPRE / Eurostat – Statistical Office of the European Communities / **Circular Economy

Committee (CEC)

ATERROS SANITÁRIOS: Segundo a Secretaria Municipal de Serviços de São Paulo, os aterros sanitários são

grandes áreas preparadas tecnicamente para receber os resíduos orgânicos coletados nas

residências. Estas áreas contam com garantias de proteção ao meio ambiente, evitando a

contaminação do lençol freático. Após o esgotamento dos aterros, a área é totalmente

47 Artigo, Usina de lixo vai virar pólo cultural de 21/07/2006, In página do Sistema FIESP.

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coberta e poderá ser utilizada como área de lazer, depois que o nível de contaminação for

praticamente zerado.

A vida útil de um aterro sanitário é calculada geralmente a partir de dois fatores: a

evolução dos volumes de descarga e a densidade média do lixo decorrente da compactação

que se poderá efetivamente alcançar. No caso do Município de São Paulo a situação é

crítica, os dois únicos aterros sanitários da capital já chegaram ao limite, o Bandeirantes e o

São João, o último já invade a reserva de mata atlântica. Os demais aterros foram

desativados ou continuam em manutenção, são eles: Sapopemba, Santo Amaro, Vila

Albertina, Jacuí estão em manutenção e o aterro de São Mateus encontra-se desativado.

O aterro São João, localizado na Estrada de Sapopemba km 33, em São Mateus,

recebe os resíduos coletados pela EcoUrbis (área sudeste). O volume depositado nesse

aterro diariamente é de 7 mil toneladas. A operação deste aterro foi iniciada em 1992. Já o

aterro Bandeirantes, localizado na Rodovia dos Bandeirantes km 26, em Perus, recebe

resíduos coletados pela Loga (área noroeste). O volume depositado nesse aterro diariamente

é de 6 mil toneladas. A operação deste aterro foi iniciada em 1979.

Segundo a concessionária Loga48, o Aterro Bandeirantes: propriedade da Prefeitura

Municipal de São Paulo, é operado e administrado pela concessionária, encontra-se em fase

final de encerramento dentro das cotas permitidas pela licença ambiental correspondente,

recebia cerca de 85 mil toneladas por mês, atualmente as 6.000 toneladas diárias são

destinadas a Central de Tratamento de Resíduos Caieiras, no interior de São Paulo.

Existem também os Transbordos, que são pontos de destinação intermediários dos

resíduos coletados na cidade, criados em função da considerável distância entre a área de

coleta e o aterro sanitário. As Estações de Transbordo, portanto, são locais onde o lixo é

descarregado dos caminhões compactadores e, depois, colocados em uma carreta que leva

os resíduos até o aterro sanitário, seu destino final. O volume estimado de movimentação

nos transbordos é em torno de 1.200 mil toneladas por dia. Hoje há três Estações de

Transbordo na cidade de São Paulo: Vergueiro, Santo Amaro e Ponte Pequena.

E não há alternativas: o único incinerador em operação na cidade não tem nenhum

controle dos poluentes e só queima lixo hospitalar. Novos aterros ou pontos de reciclagem

48 Loga – Logística Ambiental de São Paulo S/A, é a concessionária responsável pela região noroeste da cidade. Data de outubro de 2004 o início da concessão que regulamentou os serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde da cidade de São Paulo.

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estão congelados até que se avance na renegociação do contrato com empresas de lixo. Do

lixo gerado diariamente 89% são levados para os aterros, cerca de 10% vão para as usinas

de compostagem e viram adubo, segundo a Prefeitura.

A alternativa mais viável economicamente para essa situação crítica é o aumento da

reciclagem, já que novos aterros serão instalados em regiões mais distantes e

consequentemente o custo se elevará para a Prefeitura, pois o componente transporte é um

dos custos mais representativos do valor total. Além disso, os custos operacionais são

crescentes, à medida que são cada vez maiores as exigências técnicas por porte dos órgãos

de controle ambiental. Em 200749, a Prefeitura gastou R$ 771 milhoes com limpeza urbana,

cerca de 4% dos seus gastos totais.

Quadro 4.4 - MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução do Custo Operacional dos

Aterros

ANO US$/TONELADA

1980 2 a 3

1984 3 a 4

1988 4 a 5

1992 7 a 8

Fonte: PMSP/LIMPURB In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 124

Outro dado importante com relação ao lixo orgânico, o aterro sanitário Bandeirantes

já atingiu 140 metros de altura, em São Paulo, recebeu ao longo de sua vida útil 30 milhões

de toneladas de lixo, hoje produz 12 mil m3/hora de gás, que é usado para produzir energia

elétrica. A cidade de São Paulo produz, desde 2003, 20 megawatts (MW) de energia a partir

desse aterro.

49 Demonstrativos consolidados de 2007 da Prefeitura, Administração Direta e Indireta, Despesa por Função, Subfunção e Programa Conforme Vínculo com os Recursos.

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INCINERAÇÃO: A incineração tem como objetivo principal, reduzir o volume dos resíduos sólidos,

ou segundo Lima50, é “o processo de redução de peso e volume do lixo através de

combustão controlada”, redução porque não há combustão do lixo sem que resultem

resíduos. A redução de volume é geralmente de mais de 90%, e a de peso de cerca de

70%51, porém ela pode variar muito, pois depende da tencologia empregada e da natureza

do resíduo.

Essa prática tornou-se frequente em alguns países, como os Estados Unidos e

principalmente o Japão, a utilização dos incineradores para geração de energia através da

energia liberada com a queima dos materiais. Por outro lado, as normas estabelecidas com

relação às emissões de gases tóxicos, são cada vez mais rigorosas para a construção e

operação dos incineradores, associadas ao elevado investimento inicial e custo operacional

inibem a sua proliferação. Para países como o Japão, podemos deduzir que essa alternativa

faz-se necessária, pois não dispõe de grandes áreas para aterros sanitários.

O único incinerador no Município de São Paulo que estava em funcionamento, o

incinerador da usina de lixo Vergueiro foi desativado pelo transtorno causado aos

moradores da região, em função do cheiro que exalava pela chaminé.

COLETA SELETIVA: O orçamento para o programa de coleta seletiva no município de São Paulo, gira em

torno de 1% , ou seja algo em torno de R$ 7 a 8 milhões. Segundo o Instituto Pólis52, cerca

de metade do orçamento total de para limpeza urbana é destinado ao pagamentos das

concessionárias que prestam serviços de coleta e destinação de resíduos ao município.

Além disso, Elisabeth Grimberg, cita: não se tem mais como justificar que 90% dos

resíduos sólidos, passíveis de recuperação pela compostagem (60%) e reciclagem (30%),

sejam simplestemente enterrados. Das 10 mil toneladas levadas diariamente para os

aterros pelo pode público, 2.700 (resíduos secos) poderiam ser coletados seletivamente,

50 Lima, 1991, p. 117 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 132. 51 Corson, 1993 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 132. 52 Artigo Resíduos Sólidos de São Paulo: dilema e soluções, por Elisabeth Grimberg, 04/12/2007.

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potencializando as atividades e a renda das cooperativas e associações já existentes ou

alimentar novas organizações.

Vale a pena descrever um breve histórico da coleta seletiva com base na obra de

Calderoni53, no passado a coleta de lixo domiciliar não era responsabilidade das Prefeituras.

O país pioneiro na coleta seletiva foi oficialmente a Itália em 1941, durante a Segunda

Guerra Mundial e foi resultado das dificuldades associadas ao período. Fato interessante é

que na Europa a recuperação e reciclagem de resíduos alcançou os maiores índices nas

situações de crise e de guerra.

Os Estados Unidos, maior produtor de resíduos sólidos urbanos per capita (2,00

kg/dia/habitante), e a Europa são os pioneiros no campo da reciclagem de resíduos, porém o

Japão é o líder em matéria de reciclagem, com um grande números de municípios que

aderiram ao programa de seleta coletiva. É de conhecimento público que o Japão não

dispõe de grandes áreas para disposição dos resíduos. Um aspecto muito importante citado

pelo autor, “é a importância da participação social, nessa questão, alcança níveis muito

elevados, iniciando-se na escola e permeando o cotidiano da população, desde os edifícios

residenciais e comerciais até os supermercados e centros de lazer”.

Na Austrália, a coleta seletiva teve início em 1990 através da iniciativa

governamental. Na China, a coleta seletiva ocorre desde 1950. No Brasil, há importantes

iniciativas em algumas cidades, a pioneira foi a cidade de Niterói no Rio de Janeiro.

“Difere dos demais programas de coleta seletiva por sua ênfase sobre a descentralização e

o caráter comunitário, privilegiando essencialmente a pequena escala”54. Além dessa,

podemos citar também, Curitiba, a qual recebeu reconhecimento da ONU, Campinas e

Brasília.

O quadro a seguir compara a geração per capita de resíduos sólidos urbanos em

diversos países. O destaque são os Estados Unidos com uma média de 2,00 kg/dia, muito

acima dos demais países.

53 “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, 2003, p. 141. 54 “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, 2003, p. 141.

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Quadro 4.5 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita

PAÍSES ANO 2003 ANO 2005

Brasil 0,70 kg/dia 0,80 kg/dia

Uruguai 0,90 kg/dia N/D

México 0,87 kg/dia N/D

Estados Unidos 2,00 kg/dia N/D

Canadá 1,70 kg/dia N/D

Alemanha 0,90 kg/dia 1,46 kg/dia

Suécia 0,90 kg/dia 1,04 kg/dia

Polônia N/D 0,78 kg/dia

Dinamarca N/D 1,55 kg/dia

Reino Unido N/D 1,36 kgdia

Itália N/D 1,23 kgdia

Eslovênia N/D 1,63 kg/dia

Fonte: CEMPRE e Eurostat – Statistical Office of the European Communities

Segundo a última pesquisa Ciclosoft, realizada periodicamente pelo CEMPRE, em

2008 são cerca de 405 municípios que possuem o programa de coleta seletiva num total de

cerca de 5.500 municípios, cerca de 7%. Destaque importante deve ser dados para os

municípios com menos de 100 mil habitantes. Em termos de abrangência populacional,

cerca de 14% da população brasileira é atendida pelos programas de coleta seletiva, ou seja,

26 milhões de pessoas. A forma de organização dos programas está distribuída da seguinte

forma: 201 municípios com modelo porta em porta; 105 com Postos de Entrega Voluntária

(PEV) e 174 com Cooperativas de Catadores de materiais recicláveis.

Os quadros abaixos mostram respectivamente, a evolução do programa ao longo das

duas últimas décadas de 81 municípios em 1994 para 405 em 2008 e também um

crescimento de 24% de 2006 para 2008, a coleta por região tendo Sudeste representando

48% e Sul 35% (total de 83%), a composição da coleta seletiva (em peso) e a evolução

custo do programa de coleta seletiva, o qual partiu de 10 vezes o custo da coleta tradicional

para 5 vezes nos últimos anos. A comparação entre 2006 e 2008 em dólares é fortemente

impactada pela variação na taxa de câmbio, porém a proporção se manteve constante.

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Figura 4.6 - Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva

81

135

192237

327

405

050

100150200250300350400450

1994 1999 2002 2004 2006 2008

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE)

Figura 4.7 - Coleta por Região no Brasil

Sudeste 48%

Norte 2%

Centro-Oeste 4%

Nordeste 11%

Sul 35%

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE)

Figura 4.8 - Composição da Coleta Seletiva (em peso)

Plásticos 22%

Rejeitos 13%

Vidros 10%

Metais 9%

Diversos 3%

Longa Vida 3%

Papel e Papelão 39%

Alumínio 1%

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE)

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Figura 4.9 - Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada)

1994 1999 2002 2004 2006 2008 Custo médio da coleta seletiva*

240 154 70 114 151 221

Custo da coleta seletiva x custo da coleta convencional

10 vezes maior

8 vezes maior

5 vezes maior

6 vezes maior

5 vezes maior

5 vezes maior

Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) - * US$ 1 = R$ 1,70

No caso da Cidade de São Paulo, a coleta foi implementada inicialmente no bairro

da Vila Madalena em 1989 através de um projeto piloto na gestão da prefeita Luiza

Erundina. Abrangia a coleta em residências e os Postos de Entrega Voluntária (PEV).

Posteriormente a coleta foi estendida a outros bairros da cidade.

Segundo matéria publicada recentemente na própria página da Prefeitura de São

Paulo55, o Programa de Coleta Seletiva da cidade de São Paulo, nos últimos dois meses,

aumentou de 4,9% para 5,6%, o total do resíduo passível de ser coletado no município.

Atualmente dos 96 distritos existentes no Município de São Paulo, 71 são contemplados

pela Coleta de Materiais Recicláveis realizada pelas Centrais e pelas Concessionárias

(ECOURBIS e LOGA), ficando a sua coordenação sob a responsabilidade da Secretaria

Municipal de Serviços, por intermédio do Departamento de Limpeza Urbana – Limpurb,

estabelecendo normas e procedimentos para sua implementação, gerenciamento,

fiscalização e controle.

Regulamentado pelo Decreto nº 48.799 de 9 de outubro de 2007, o programa conta

atualmente com 15 Centrais de Triagem concentradas em várias regiões da cidade. Com

uma média de retirada/mês na ordem de R$ 600,00 são beneficiadas mais de mil pessoas

que estavam à margem da sociedade. A importância do programa não se restringe ao seu

caráter social, afinal, a preocupação ambiental acompanha as diretrizes que norteiam a

coleta seletiva. Nesse sentido, os dados de material coletado pelas cooperativas e também

55 Notícia publicada no dia 10/07/2008 no site da Prefeitura, disponível em http//www.prefeitura.sp.gov.br.

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pelas concessionárias Loga e Ecourbis, possibilitam uma sobrevida aos aterros sanitários e

uma melhor destinação ao material que é gerado diariamente.

Entre os equipamentos utilizados na Coleta Seletiva, são mais de 3.500 PEV´s

instalados em locais específicos e a implantação da conteinerização através da instalação de

PEV´s (Pontos de Entrega Voluntária) de 1.000 litros e 2.500 litros para material reciclável,

em estacionamentos de bancos, supermercados, escolas municipais, estaduais e

particulares, universidades e condomínios.

Um tema essencial ligado ao programa de coletiva seletiva é o custo do mesmo

comparado ao custo da coleta tradicional. Na época do levantamento56 (dados de

1992/1993), o custo da coleta seletiva em São Paulo era de US$ 294/tonelada (214

toneladas/mês), em Curitiba US$ 179/tonelada (804 toneladas/mês), enquanto o custo

médio da coleta tradicional era de US$ 30/tonelada na Cidade de São Paulo. Alcides Edílio

Valente57 afirmou que, “a coleta seletiva em São Paulo, caso viesse a ser bem estruturada

e racionalizada, poderia ter um custo líquido de US$ 63/tonelada”.

Os fatores principais apontados pelo autor para justificar os elevados custos da

coleta seletiva comparados à coleta tradicional, são basicamente:

1. Baixa escala para diminuição do custo médio;

2. Espaço para armazenagem para venda em lotes;

3. Negociação (falta de oferta estável e morosidade do processo licitatório);

4. Ausência de terceirização por parte da Prefeitura;

5. Baixa otimização dos circuitos;

6. Transporte e beneficiamento = preços melhores;

7. Planejamento e Gestão.

RECICLAGEM: Para falarmos sobre o mercado de reciclagem, vale ressaltar a importância e o

tamanho do mercado de embalagens no Brasil. O mercado faturou R$ 32,5 bilhões no ano

de 2007, um crescimento de 2,6% sobre o ano de 2006. Esse valor representou cerca de

1,4% do PIB nacional no mesmo ano. No fim de 2007, haviam 195.711 empregos formais 56 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 1997, 1ª edição. 57 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 2003, p. 156.

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no setor, sendo a Região Sudeste que concentra maior parte dos trabalhadores, cerca de

58,5%. Em termos de balança comercial, em 2007, o setor de embalagens foi superavitário,

com exportacões no valor de US$ 479,3 milhões e importações de US$ 368,5 milhões.

Figura 4.10 – Faturamento Anual da Indústria de Embalangens no Brasil (em bilhões

de reais)

28.5 29.5 3032.5 34.2

0

5

10

15

20

25

30

35

2004 2005 2006 2007 2008*

Fonte: Associação Brasileira de Embalagens (ABRE)

Figura 4.11 – Participação de cada material no faturamento total (%)

Metálicas 17,0%

Papel 7,0%

Vidro 4,9% Têxteis 2,9% Madeiras 2,3%

Papelão/Papelcartão 29,6%

Plástico 36,4%

Fonte: Associação Brasileira de Embalagens (ABRE)

O ciclo da cadeia produtiva de reciclagem é composto geralmente pelos seguintes

agentes: 1) Catadores, 2) Atravessadores (Sucateiros), 3) Pré-Indústria de Beneficiamento,

4) Indústria e 5) Comércio/Comunidade. A quantidade e a estrutura depende e varia para

cada tipo de material reciclável. O que iremos constatar posteriormente é que a grande

maioria dos processos na cadeia produtiva de reciclagem são realizadas pelos Catadores,

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porém os maiores benefícios (renda ou economias) ficam com os Atravessadores ou com a

Indústria.

O ciclo se inicia com o Catador que faz a coleta dos materiais recicláveis, depois

separa os materiais e então os leva para um galpão, que é o local de entrega ou entreposto,

dos quais são transportados para a equipe de triagem/administrativa comercial para triagem,

prensa e organização, até esse ponto essas atividades são realizadas pelos Catadores. A

partir daí, entram na cadeia os Atravessadores que recebem os materiais e vendem para a

pré-indústria de beneficiamento que beneficia, moi, lava e processa os materiais para a

venda final para a Indústria.

No caso do Município de São Paulo, vale ressaltar que a reciclagem foi iniciada

com a coleta seletiva implantada pela Prefeita Luiza Erundina, em duas frentes, com a

coleta domiciliar em alguns bairros e também com os PEVs, atingindo 230 toneladas

mensais num total de materiais recicláveis de 135 mil toneladas mensais58 (0,2%). Já na

gestão posterior do Prefeito Paulo Maluf (1996), sob a alegação dos custos elevados da

coleta seletiva, a coleta domiciliar foi abandonada e restou somente a coleta através dos

PEVs, porém mesmo assim o volume de materiais recicláveis coletados atingiu 982

toneladas mensais59, ou seja, mais que quatro vezes o volume da gestão anterior.

Os quadros a seguir demonstram as diferenças de preços auferidas entre catadores e

sucateiros e o crescimento dos preços dos materiais recicláveis no período de 2001 a 2008.

Quadro 4.12 - Tabela de Preços dos materiais recicláveis por grupo (R$/tonelada):

Material Grupo/Setor

Latas Alumínio Vidro Papel Plástico Latas Aço

Catadores 252,00 28,00 60,00 48,00 24,00 Sucateiros 630,00 70,00 150,00 120,00 60,00

Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, capítulos 10 a 14, dados de 1996

58 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 2003, p. 163. 59 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 2003, p. 165.

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Calderoni através da sua obra “Os Bilhões Perdidos no Lixo”60, mediu os ganhos

totais decorrentes (ordem de grandeza) da reciclagem dos resíduos primeiramente em nível

nacional e posteriormente para o Município de São Paulo, com base em dados e algumas

inferências, devido a inexistência de muitas estatísticas na época de sua pesquisa,

utilizando-se basicamente:

• Modelo desenvolvido por Duston61, porém estendido a outras variáveis;

• Dos principais materiais: lata de alumínio, vidro, papel, plástico e lata de aço;

• Das quantidades de materiais, produzidas, recicladas e disposta em aterros

• Mensuração do ganho obtido com a reciclagem e do ganho “perdido” pela não

reciclagem dos materiais.

Os resultados de seus estudos, foram uma economia possível em nível nacional de

cerca de R$ 5,8 bilhões, composta pela economia já obtida com a reciclagem de R$ 1,2

bilhão e a economia perdida pela não reciclagem de R$ 4,6 bilhões. Em nível Municipal,

uma economia possível de R$ 1,1 bilhão, composta pela economia já obtida com a

reciclagem de R$ 0,3 bilhão e a economia perdida pela não reciclagem de R$ 0,8 bilhão.

Em função das quantidades e das características dos processos de produção, os valores de

economia mais representativos de energia, matéria-prima e água, estão concentrados no

papel e plástico62.

Em um artigo publicado recentemente63, sobre a quantidade de lixo produzido no

Brasil, segundo o IBGE em 2000 foram coletados diariamente 125.281 toneladas de

resíduos domiciliares e 52,8% dos municípios destinaram seus resíduos em lixões64,

coincidência ou não, de acordo com o portal Ambiente Brasil, o país perde R$ 4,6 bilhões

por ano por não reciclar tudo o que poderia.

Outro aspecto importante abordado no trabalho, foi distribuição dos ganhos entre os

agentes do setor de reciclagem, os quais são, na esfera privada: indústria, sucateiros,

carrinheiros e catadores e a população residente. Na esfera pública, temos as Prefeituras, os

60 Primeira edição data de outubro de 1997. 61 Equação do Modelo: G= -C+E+W+M+H+A+D (G ganho é igual ao custo do processo de reciclagem + C custo evitado com a coleta + W economia de energia + M economia de matéria-prima + H economia de água + A economia de controle ambiental + D demais ganhos econômicos, imensurável). 62 Resina tremoplástica no período do estudo custava R$ 1.310 por tonelada, mais de sete vezes o custo da matéria-prima para o papel R$ 184 por tonelada In “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, p. 257. 63 Jornal Estado de São Paulo, Informe Publicitário sobre o Dia do Consumidor de 15/03/2008, p.9. 64 Não há preparação anterior do solo e nenhum sistema de tratamento dos efluentes líquidos

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Governos Estaduais e o Governo Federal. O primeiro quadro (página 82) a seguir

demonstra as áreas de interesses e interrelações entre os agentes citados acima.

O segundo (página 83) apresenta a distribuição dos ganhos totais entre os agentes,

evidenciado uma repartição muito desigual dos benefícios da reciclagem. Considerando os

ganhos possíveis com a reciclagem (ganhos obtidos + ganhos “perdidos”), a indústria é a

grande beneficiária ficando com algo em torno de 80% dos benefícios totais da reciclagem,

restando os demais 20% que possuem uma distribuição praticamente uniforme entre

sucateiros, carrinheiros/catadores e a Prefeitura de São Paulo. Os demais quadros, páginas

84 e 85, mostram a economia total possível (obtida e perdida) no Brasil (R$ 5,8 bilhões) e

no Município de São Paulo (R$ 1,1 bilhão).

Outras importantes conclusões de Calderoni dizem respeito:

1. A importância de considerar todos os apectos e agentes do mercado de

reciclagem, abordagem macroeconômica em substituição à visão

microeconômica de cada agente da cadeia produtiva;

2. Grande poder de barganha da indústria frente aos demais agentes, o que pode ser

confirmar nos percentuais de distribuição dos ganhos da reciclagem

mencionados acima;

3. A existência de uma correlação considerável entre o grau de oligopolização no

setor e o índice de reciclagem, corroborado pelo alto índice do aluminío e o

baixo índice do plástico;

4. A necessidade de uma maior participação do setor público nas três esferas e

maior interação entre a indústria, o setor público e a comunidade para

intensificar o processo de reciclagem;

5. A importância da reciclagem para a Prefeitura, traduzido nos custos que podem

ser evitados e também evitar incorrer em custos maiores, à medida que os custos

para disposição final dos resíduos tendem a se elevar, pois as áreas para novos

aterros são mais caras e mais distantes, elevando também o custo do transporte;

6. As perspectivas dos sucateiros e carrinheiros/catadores estão sujeitas ao

crescimento do mercado de reciclagem, ao nível de preços e à estabilidade de

tais preços;

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7. A necessidade de maior organização dos carrinheiros/catadores em cooperativas,

o que caracterizou uma inovação institucional importante, para proporcionar

maior poder de barganha e melhor remunueração, e também para acabar com a

situação de semi-clandestinidade em que a maioria se encontra;

8. Os fatores imperativos para desevolvimento do mercado de reciclagem são:

proteção ambiental; aumento dos índices reciclagem; aumento da produção,

expansão da coleta seletiva; pressão social; normas de proteção ambiental

(política nacional de resíduos sólidos);

9. A taxação pode ser um efetivo instrumento para alavancar o mercado de

reciclagem, o mesmo é utilizado na Europa. A incidência poderia ocorrer na pré-

produção (insumos das embalagens), na geração das embalagens ou no pós-

consumo (responsabilidade após a vida útil do bem);

10. Finalmente, o mercado de reciclagem é economicamente viável pela cifras

demonstradas, mas o seu desenvolvimento não será automático, apesar de todos

os benefícios apontados no estudo, ele depende de todos nós, setor público,

privado e sociedade.

Como podemos observar no quadro abaixo, desde a a obra os “Bilhões Perdidos no

Lixo”, com a primeira edição datada de 1997, houve uma grande evolução na reciclagem da

lata de alumínio, pelo seu alto valor, porém para os demais materiais recicláveis, ainda há

um grande potencial a ser explorado.

Quadro 4.14 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%)

MATERIAL RECICLÁVEL DÉCADA DE 90 ANO 2005 PAPEL 31,7% 46,9%

PLÁSTICO 12,0% 20,0%

VIDRO 35,1% 45,0%

LATA DE AÇO 18,0% 29,0%

LATA DE ALUMÍNIO 70,0% 96,2%

Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo” na década de 90 e CEMPRE dados mais recentes (2005)

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Com base na obra do Professor Calderoni65, acho interessante fazer um breve

descrição dos principais materiais recicláveis:

RECICLAGEM DO ALUMÍNIO: O Brasil na época da obra66, já era líder mundial de reciclagem de latas de alumínio,

passando até mesmo os Estados Unidos, o maior consumidor de latas do mundo. A lata de

alumínio é o material reciclável com maior valor, atingindo preço superior a cinco vezes o

do plástico, o segundo em valor.

A produção de alumínio é eletro-intensiva, para a obtenção de uma tonelada de

alumínio, são necessárias cinco toneladas do minério bauxita e 17,6 mil kWh. A economia

de energia com a reciclagem chega a atingir 95% comparada a produção a partir da

matéria-prima virgem, ou seja, de 17,6 mil kWh para 700 kWh. Outras características

importantes da lata de alumínio são o pouco peso e que ela pode ser reciclada infinita vezes

sem a perda de suas propriedades.

O seu processo de reciclagem se inicia com a coleta pelos Catadores que depois são

levadas aos Sucateiros para prensa, enfarda e então as repassam para as indústrias de

fundição, para derretimento e transformação em lingotes de alumínio. Os mesmos são

vendidos aos fabricantes de lâminas de alumínio que comercializam as chapas para

indústrias de lata.

A estrutura de mercado, em 1996, era caracterizada por uma forte concentração, na

figura da LATASA67, que era a única fabricante brasileira de latas de alumínio e única

compradora final da sucata. Formando-se assim simultâneamente monopólio e

monopsônio. As empresas produtoras de alumínio primário no Brasil eram: Albras, Alcoa,

Aluvale, Billiton, CBA e Alcan, sendo a Alcoa a líder no setor.

Segundo a pesquisa realizada pelo CEMPRE em 2005, “Microcenários Setoriais”, o

Brasil atingiu o índice de 96,2% de reciclagem de latas de alumínio (ABAL), o qual

mantém o Brasil na liderança mundial. O preço estava em torno de R$ 2,5 a R$ 3,5 mil a

65 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, 2003. 66 A primeira edição de “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, data de outubro de 1997. 67 LATASA – Latas de Alumínio S/A, é uma associação entre Reynolds Metals Co., Bancos Bradesco e J.P. Morgan.

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tonelada e foram recicladas 127,6 mil toneladas, o equivalente a 9,4 bilhões de latas por

ano. Um quilo equivale a 75 latinhas.

Segundo o levantamento de Calderoni68, o preço recebido por tonelada pelo

Catadores era de R$ 252,00, subia para R$ 630 para os Sucateiros e finalmente era cotado

em Londres entre US$ 1.282 e 1.435/tonelada (12/11/1996).

Os quadros a seguir demonstram a evolução índice de reciclagem das latas de

alumínio no Brasil e em outros países, e também o consumo de latas de alumínio nos

principais páises.

Quadro 4.19 – Índice de Reciclagem de Latas de Alumínio no Brasil – 1989 a 2008

ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE LATAS

1989 40,4%

1990 45,8%

1991 36,9%

1992 39,4%

1993 49,8%

1994 56,3%

1995 63,0%

1996 70,0%

1997 64,0%

1998 65,2%

1999 72,9%

2000 77,7%

2001 85,0%

2002 86,5%

2003 89,0%

2004 95,7%

2005 96,2%

2006 94,4%

Fonte: Giosa, José Roberto. “Reciclagem de Latas no Brasil – panorama e perspectivas”, In “Os

Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 178 e ABAL – Associação Brasileira do Alumínio (1997 – 2006)

68 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 185.

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Quadro 4.20 – Consumo Anual de Latas de Alumínio (em bilhões de latas)

PAÍS TOTAL ANUAL CONSUMIDO EM 1995

TOTAL ANUAL CONSUMIDO EM 2005

Estados Unidos 101,0 N/D

Reino Unido 8,70 N/D

Itália 1,50 N/D

Áustria 0,37 N/D

Suécia 0,93 N/D

França 1,62 N/D

Espanha 3,45 N/D

Portugal 0,28 N/D

Turquia 1,2 N/D

Grécia 0,90 N/D

Brasil 3,70 9,70

Fonte: Giosa, José Roberto. “Reciclagem de Latas no Brasil – panorama e perspectivas”, In “Os Bilhões

Perdidos no Lixo”, p. 178 e ABAL

Quadro 4.21 – Índice de Reciclagem das Latas de Alumínio (%)

PAÍS 2002 2003 2004 2005 2006

Argentina 78,0% 80,0% 78,0% 88,1% 88,2%

Brasil 86,5% 89,0% 95,7% 96,2% 94,4%

Europa 46,0% 48,0% 48,0% 52,0% N/D

EUA 53,4% 50,0% 51,2% 52,0% 51,6%

Japão 83,1% 81,8% 86,1% 91,7% 90,9%

Fonte: ABAL; ABRALTAS In CEMPRE

RECICLAGEM DO VIDRO:

No caso do vidro, que também pode ser reciclado infinita vezes sem perda de suas

propriedades, assim como o alumínio, o Brasil está posicionado num nível intermediário

entre os listados no quadro seguir, pois atualmente apresenta um índice de reciclagem de

45%69, merecendo destaque para os países europeus. A expectativa70 era que o Brasil

atingisse o patamar de 60%, entre os países que mais reciclam vidro no planeta, mas até

agora essa marca ainda não foi atingida, portanto podemos concluir que há ainda um grande

69 Em 1996 era de 35,09% In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 189. 70 Revista Nova Embalagem número 69, 1996, p. 7 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 189.

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potencial no vidro. Um componente chave no processo é o custo de transporte, já que o

vidro é um material mais pesado.

A reciclagem do vidro na Europa teve início em 1974, basicamente pelas crises do

petróleo, crises econômicas e o crescimento da consciência ambiental da população. Desde

então, muitos países mantém programas de reciclagem com destaque para Alemanha,

França, Bélgica, Noruega e Suécia.

Para se produzir uma tonelada de vidro são necessários 1.300 kg de matéria-prima

virgem, sua composição básica é: areia 58%, barrilha 19%, calcário 17% e feldspato 6%. A

produção a partir de vidro reciclado requer uma tonelada de cacos de vidro71. A economia

de energia é bem menor comparativamente a do alumínio, porém é representativa também.

À medida que se adiciona cacos de vidro a temperatura necessária do forno reduz-se, a

adição de 30% de cacos baixa a temperatura de fusão de 1.500º C para 1.300º C72.

Pela quantidade de empresas, esse mercado pode ser considerado como um

oligopólio na produção de vidros para embalagem (17 empresas, ABIVIDRO, 1993) e de

oligopsônio no consumo de cacos de vidro para reciclagem (7 empresas, ABIVIDRO,

1994)73. O vidro atualmente como matéria-prima para embalagem sofre a concorrência de

outros materiais, principalmente plástico, papelão e o alumínio.

Ainda, segundo o IPEA74, a determinação dos preços do caco do vidro encontra

problemas no que se refere ao fluxo...entre sucateiros e recicladores, pois tal preço é

substancialmente menos atrativo que o de outros materiais recicláveis..verifica-se uma

tendência entre as empresas recicladoras de trabalhar abaixo de sua capacidade

produtiva...e ainda com problemas com elevados custos de transporte, além da pesada

carga tributária.

Com base no levantamento do Professor Calderoni75, o preço recebido por tonelada

pelo Catadores era de R$ 28,00 e subia para R$ 70 para os Sucateiros.

Os quadros abaixo comparam os índices de reciclagem de vidro de vários países, a

evolução do índice de reciclagem no Brasil e por último o consum per capita de vidro.

71 Rego 1990, p.2 , citado por Vieira, 1993 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 195. 72 Castro, INTER, p. 54 In“Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 195. 73 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 200. 74 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 203 / CEMPRE. 75 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 199/200.

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Quadro 4.22 – Índice de Reciclagem do Vidro (%)

PAÍS 2004 2005

Brasil* 47,0% 45,0%

Alemanha 99,0% N/D

França 96,0% 71,0%

República Tcheca 57,0% 80,0%

Bélgica 99,8% N/D

Noruega 84,0% 89,0%

Polônia 20,5% 38,0%

Suécia 92,0% 96,0%

Portugal 28,7% 1,0%

Luxemburgo 59,5% N/D

Estados Unidos** N/D 21,6%

Fonte: *Abividro/Pro Europe/**US Environmental Protection Agency In CEMPRE

Quadro 4.23 – Índice de Reciclagem de Vidro – 1991 a 2008

ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE VIDRO NO

BRASIL

1991 15%

1992 18%

1993 25%

1994 33%

1995 35%

1996 37%

1997 39%

1998 40%

1999 40%

2000 41%

2001 42%

2002 44%

2003 45%

2004 45%

2005 45%

2006 46%

2007 47%

Fonte: ABIVIDRO – Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro

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Quadro 4.24 – Consumo de Vidro Per Capita (em kg per capita)

PAÍS KG PER CAPITA 1994

França 65,44

Turquia 4,23

Alemanha 50,39

Itália 47,51

Reino Unido 29,37

Grécia 11,82

Porturgal 44,25

Espanha 35,07

NOR+FIN+SUE 14,04

Suíca 33,84

Áustria 34,37

Bélgica+Dinamarca+Irlanda+Holanda 47,12

Fonte: ABIVIDRO, In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 191

RECICLAGEM DO PAPEL: No caso do papel, a reciclagem pode ser feita também infinita vezes, porém

diferente do alumínio e do vidro, há perda de suas propriedades a cada processo reciclagem.

Apesar do Brasil estar muito próximo do patamar de 50% e dos demais países, ainda assim

há um grande potencial, pois Coréia do Sul apresentou um índice de 84,3% em 2004 e

Japão e Alemanha estão no patamar dos 68%.

Uma característica importante citada pelo autor, é que nesse setor o grau de

integração é muito elevado entre as produções de celulose e papel, abrangendo também a

atividade de reflorestamento. Segundo a ANFPC76, os papéis produzidos no Brasil

classificam-se em: papéis para imprensa; papéis para imprimir; papéis para escrever; papéis

para embalagem; papéis para fins sanitários; cartões e cartolinas; e papéis para fins

especiais. Somente os papéis para fins sanitários e especiais não podem ser reciclados, os

quais representam cerca de 10% do total.

A reciclagem do papel proporciona importantes economias de energia elétrica,

consumo de água e também de matérias-primas. No caso da energia elétrica, a produção a

partir de aparas reduz o consumo de 4,98 MWh/tonelada para 1,47 MWh/tonelada, ou 70%

76 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 210.

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de redução em relação ao uso de matéria-prima virgem. No caso da água, a economia é de

29.202 litros por tonelada. E por último em termos de matéria-prima, a redução se aplica

tanto na madeira quanto nos produtos químicos utilizados na produção de celulose fibra-

curta.

Com base no levantamento do Professor Calderoni77, esse setor se caracteriza por

uma estrutura piramidal, com a indústria recicladora no topo atuando em regime de

oligopólio (consumidores de papel) e oligopsônio (compras de aparas), e abaixo os

aparistas (mercado fragmentado), depositários, sucateiros, carrinheiros e catadores. Em

1995, eram 196 empresas fabricantes de papel no Brasil, sendo 67 instaladas em São Paulo,

com um faturamento total de R$ 4,9 bilhões. Vale destacar as principais empresas, Klabin,

Suzano, Votorantim e Ripasa, que representavam cerca de 40% do mercado.

Esse mercado está sujeito a sazonalidade e a grande flutuação de preço78,

dependendo da oferta de celulose, o preco da apara varia. O preço recebido em 1996 por

tonelada pelo Catadores foi de R$ 60,00 e subia para R$ 150 para os Sucateiros.

Nos quadros a seguir, podemos observar a evolução do índice de reciclagem em

diversos países e também no Brasil.

77 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 216. 78 IPT In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 220.

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Quadro 4.25 – Índice de Reciclagem do Papel (%)

PAÍS 2004 2005 2006

Brasil 45,8% 46,9% 45,0%

Coréia do Sul 84,3% N/D N/D

Japão 68,4% N/D N/D

Alemanha 68,0% N/D 74,5%

Espanha 54,0% 68,6% 58,9%

Reino Unido 51,9% N/D 64,9%

França N/D N/D 63,7%

Itália 49,2% N/D 51,3%

Finlânida N/D N/D 47,7%

Estados Unidos 47,5% 50,0% 51,9%

Argentina 44,7% 44,7% 46,4%

México 41,9% 41,9% 39,0%

Malásia 38,7% 38,7% 43,4%

Polônia 33,2% 65% N/D

China 30,4% 30,4% 34,3%

Rússia N/D N/D 32,7%

Fonte: BRACELPA - Associação Brasileira de Celulose e Papel, Relatório Desempenho do Setor 2007 e

Projeções

Quadro 4.26 – Índice de Reciclagem de Papel

ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE VIDRO NO

BRASIL

1990 36,5%

1995 34,6%

2000 38,3%

2006 45,4%

Fonte: BRACELPA - Associação Brasileira de Celulose e Papel, Relatório Desempenho do Setor 2007 e

Projeções

RECICLAGEM DO PLÁSTICO: O índice de reciclagem do plástico no Brasil, em 1995, foi de12%, equivalente a

279 mil toneladas79, desde então o índice se elevou para 20% em 2005, porém ainda com

79 Revista Plástico Moderno, junho, 1996, pp. 8-9 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 224.

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um grande potencial inexplorado. Para a produção de plásticos são utilizadas as seguintes

resinas termoplásticas: PEBD (Polietileno de Baixa Densidade); PEAD (Polietileno de Alta

Densidade); PS (Poliestireno); PVC (Policloreto de Vinila); PP (Polipropileno); e PET

(Polietileno-tereftalato).

O plástico possue algumas características importantes em relação aos demais

materiais recicláveis, dentre elas: 1) impermeabilidade, maior resistência à perfuração e

transparência; 2) inquebrabilidade e baixo peso; 3) baixo preço e transparência; 4)

indeformabiliade e leveza; 5) através da incineração pode ser uma fonte alternativa de

energia, entrentanto normas devem ser seguidas para evitar a emissão de gases tóxicos na

atmosfera durante a queima do plástico.

A reciclagem do plástico também proporciona, economia considerável de energia de

6,74 mil kWh/tonelada a partir da matéria-prima virgem para 1,44 mil kWh/tonelada com o

uso de material reciclado, portanto uma economia na ordem de 80%. Há também economia

de matéria-prima e principalmente de petróleo, pois utiliza somente metade do necessário80,

principalmente nos dias atuais com a escalada do preço do petróleo no mercado

internacional.

Há algumas razões enumeradas na obra 81 para justificar o baixo índice de

reciclagem do plástico, dentre as principais temos:

1. Dificuldades técnicas envolvidas no processo de reciclagem pela diversidade de

produtos;

2. Grau de sujeira presente no plástico encontrado no lixo;

3. Baixa atratividade para os catadores em função da relação preço-volume;

Esse mercado também é caraterizado pelo estrutura de oligopólio, a época da

pesquisa, em 1995, haviam cerca de 20 grandes indústrias químicas que produziam as

resinas sintéticas provenientes do petróleo que são matéria-prima para a produção de

plásticos. A receita operacional líquida dessas empresas alcançou a cifra de R$ 2,6 bilhões.

Já as principais produtoras de embalagens são em menor número, porém atingiram um

faturamento no mesmo ano de cerca de R$ 2,3 bilhões.

80 IPEA, nov/95 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 227. 81 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 231.

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No meio dessa cadeia, estão os catadores e carrinheiros que ficam com a menor

parcela da renda da reciclagem, porém são os mais expostos as flutuações de preços. Com

base no levantamento do Professor Calderoni82, o preço recebido por tonelada pelo

Catadores era de R$ 48,00 e subia para R$ 120 para os Sucateiros.

O quadro abaixo compara os índices de reciclagem do plástico de diversos países

em 2004 e 2005.

Quadro 4.27 – Índice de Reciclagem do Plástico (%)

PAÍS 2004 2005

Brasil 16,5% 20,0%

Alemanha 97,0% N/D

Espanha 21,4% 25,9%

França 9,2% 20,0%

República Tcheca 34,0% 39,0%

Bélgica 30,0% 31,7%

Noruega 21,0% 27,0%

Polônia 17,0% 30,0%

Suécia 8,3% 20,4%

Portugal 2,9% 32,0%

Luxemburgo 30,6% 38,4%

China 10,0% N/D

Estados Unidos 21,6%

(somente PET)

5,7%

(total)

Fonte: Plastivida / Associação Nacional de Embalagens PET / EUA (Napcor) / Pro Europe In CEMPRE

RECICLAGEM DA LATA DE AÇO: O índice de reciclagem de lata de aço no Brasil em 1993 era de 18%83, em 2006

atingiu o patamar de 47%, mesmo assim bem atrás dos Estados Unidos (63%) e países da

Europa, como Alemanha (86%), Bélgica (92%), Espanha (68%) e Itália (63%). E a lata de

aço está ao lado do alumínio e vidro, pois pode ser reciclado infinita vezes sem a perda de

suas propriedades, o que não acontece com o plástico e o papel.

82 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 233. 83 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 239.

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A lata de aço apresenta algumas vantagens84 em relação aos outros materiais

recicláveis, dentre elas, menor custo, maior resistência, maior facilidade de manuseio,

maior inviolabilidade, opacidade e elevados índices de reciclabilidade. Por outro lado, a sua

desvantagem relativa está associada ao seu peso.

Com relação as economias85, o consumo de energia elétrica é reduzido na ordem de

74%, ou de 6,84 mil kWh/tonelada para 1,78 mil kWh/tonelada. O consumo de água é

reduzido em cerca de 40% com a reciclagem, e também há economia de matéria-prima,

minério.

Em relação à estrutura desse mercado, no Brasil havia apenas dois fabricantes de

folha de aço, a CSN e a USIMINAS. As aciarias, constituem o principal mercado associado

à reciclagem do aço, tem como função derreter a sucata, transformando-a em produtos ou

novas chapas de aço. Um importante aspecto das aciarias de porte médio com fornos

elétricos, é que elas geralmente processam a sucata a um custo menor que o das

siderúrgicas convencionais86.

Com base no levantamento do Professor Calderoni87, o preço recebido por tonelada

pelo Catadores era de R$ 24,00 e subia para R$ 60 para os Sucateiros.

Os quadros a seguir mostram a evolução do índice de reciclagem de latas de aço no

Brasil, com um crescimento expressivo de 18% em 1993 para 47% em 2006 e o

comparativo entre alguns países.

Quadro 4.28 – Crescimento do Índice de Lata de Aço

ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE LATA DE

AÇO NO BRASIL

1993 18,0%

2003 26,0%

2004 26,0%

2005 29,0%

2006 47,0%

Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 242 e CEMPRE

84 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 240. 85 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 241. 86 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 247. 87 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 245.

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Quadro 4.29 – Índice de Reciclagem da Lata de Aço (%)

PAÍS 2004

(embalagens de aço)

2005

(só latas)

Brasil 47,0% 29,0%

Estados Unidos 70,7% 63,3%

Alemanha 44,4% 86,0%

Portugal 65,0% 23,0%

(inclui outros metais)

Espanha 64,0% 68,0%

Finlândia 50,0% 55,0%

Itália 55,0% 63,0%

Noruega 61,0% 59,0%

(inclui outros metais)

Bélgica N/D 92,0%

Fonte: Plastivida / Associação Nacional de Embalagens PET / EUA (Napcor) / Pro Europe In CEMPRE

RECICLAGEM DO LIXO ORGÂNICO:

Apesar do resíduo orgânico não ser objeto de estudo do Professor Calderoni88,

considero de extrema relevância abordar esse tema, pois existem duas formas alternativas

de destinação desses resíduos que além de serem ecologicamente corretas, podem também

gerar benefícios econômicos. A primeira é a compostagem e a segunda, a geração de

energia.

Segundo o CEMPRE89, a compostagem é o processo de transformação dos resíduos

sólidos orgânicos não perigosos, restos vegetais e animais, em adubo. O processo ocorre

pela decomposição dos microorganismos presentes nos materiais orgânicos. O composto é

um fertilizante de excelentes qualidades, melhorando as propriedades físicas, químicas e

bioquímicas do solo. Além disso, é produzido praticamente sem custo nenhum, já que esses

resíduos normalmente são descartados.

Ainda com base na ficha técnica do CEMPRE, em 2006 somente 3% dos 60% dos

resíduos sólidos orgânicos no Brasil foram reciclados. Lembrando que a grande parcela não

reciclada vai para os aterros e/ou lixões e no processo de decomposição natural do lixo,

88 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, 2003. 89 CEMPRE, ficha técnica do composto urbano.

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gera o “chorume”, que se for não devidamente tratado, irá contaminar os lençois freáticos e

os cursos d’água das regiões próximas.

Com relação à geração de energia a partir dos resíduos orgânicos sólidos, há um

grande potencial também, apesar de alguns projetos já estarem em andamento no Brasil.

Segundo artigo do jornal Estado de São Paulo90, o lixo depositado nos aterros do Brasil

pode gerar até 440 megawatts de energia. O processo se dá através da decomposição do

lixo que gera o gás metano. No período, haviam 20 projetos de controle da emissão de

metano em aterros em andamento no país, e metade deles já estavam estruturados para

geração futura de eletricidade. A geração de energia elétrica só pode ser feita em aterros

sanitários controlados, que têm estrutura para captação do gás metano e do “chorume”.

Ainda segundo o artigo, a cidade de São Paulo produz desde 2003, 20 megawatts

(MW) por hora de energia a partir dos resíduos do aterro Bandeirantes, na região oeste da

capital. Em um estudo realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia

Aplicada) da Esalq/USP, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), mostra

que em um cenário conservador, o Brasil até 2015, pode gerar 356,2 MW de energia

elétrica, já em um cenário mais otimista, esse número pode atingir 440,7 MW. Os

municípios com contingente populacional acima de um milhão de habitantes, com grande

produção de resíduos, têm um potencial de geração média de 19,5 MW por hora.

O caso do aterro sanitário Bandeirantes é referência e merece destaque, ao longo de

sua vida útil, recebeu 30 milhões de toneladas de lixo e atualmente ele produz 12 mil m3/h

de gás que é usado para produzir energia. O processo é composto basicamente por 5 etapas:

1. O gás produzido pela decomposição do lixo é captado por tubulações e levado

até a usina termoelétrica instalada no próprio aterro;

2. Na usina o gás é beneficiado, deixando-o livre de impurezas, através dos

processos de condensação e resfriamento;

3. O gás então alimenta os 24 conjuntos de motogeradores, que possuem potência

de 20 MW;

4. O gás excedente é queimado em flares (queimadores), o que evita a emissão na

atmosfera;

90 Caderno de Negócios de 08/12/2007, p. B16A.

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99

5. Finalmente a eletricidade produzida é conectada a uma estação da AES

Eletropaulo e entra na rede de distribuição de energia.

Segundo Antonio Carlos Delbin91, “todas as grandes capitais estão se mobilizando

para transformar aterros em termoelétricas. É viável em municípios com mais de 500 mil

habitantes e grande produção de lixo urbano”. Ele conta que esses projetos permitem a

futura negociação de créditos de carbono no mercado internacional92, o que poderia ajudar

a reduzir os custos de implantação. No caso do Aterro Bandeirantes, a venda de créditos de

carbono feita em leilão na BM&F, permitiu à Prefeitura de São Paulo faturar R$ 35

milhões. O investimento na usina, em 2003, foi de US$ 25 milhões.

Dois outros Aterros que entrarão em funcionamento em 2008, são os Aterros de

Nova Iguaçu no Rio de Janeiro, sua usina terá capacidade para gerar 19 MW por hora de

energia e o São João, localizado na região leste de São Paulo, que recebe 7 mil toneladas de

resíduos por dia, o qual também terá uma usina com capacidade para gerar 20 MW por hora

de energia, o suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil a 300 mil habitantes.

Segundo Walter Capello Junior93, “a equiparação dos custos de produção de

energia, atualmente a eletricidade produzida nos aterros custa em média 35% mais que a

energia hidrelética, também daria impulso aos projetos. Por enquanto, ela deve ser

considerada mais pelos seus benefícios ambientais que econômicos, mas isso pode mudar.

Há 30 anos, o aproveitamento do lixo para fins energéticos era impensável”.

Nos países desenvolvidos é comum a prática de geração de energia através dos

resíduos sólidos orgânicos, porém a geração é feita através da incineração e não da captura

do biogás. Segundo o artigo94, são cerca de 600 plantas de geração de eletricidade a partir

de resíduos, em 35 países. Essas plantas processam cerca de 170 milhões de toneladas de

resíduos urbanos por ano. Na Europa, há 400 plantas que abastecem cerca de 27 milhões de

pessoas, e esse mercado movimenta cerca de 9 bilhões de euros, e ainda não atingiu o seu

91 Diretor Técnico da Biogás Energia Ambiental, empresa responsável pela operação da usina no Aterro Bandeirantes e que vai operar também a usina do Aterro São João In entrevista ao Jornal Estado de São Paulo de 08/12/2007, Caderno de Negócios, p. N16A. 92 Em 2007, o mercado mundial de carbono atingiu a cifra de US$ 64 bilhões, de acordo com levantamento do Banco Munidal In Jornal O Estado de São Paulo, 05/06/2008, Caderno Especial Meio Ambiente, p. X4. 93 Secretário Geral da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe In entrevista ao Jornal Estado de São Paulo de 08/12/2007, Caderno de Negócios, p. N16A. 94 Caderno de Negócios de 08/12/2007, p. B16A.

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100

limite. A meta da União Européia, estabelece que 22,1% da matriz energética venha de

fontes alternativas/renováveis até 2010, assim como 12% do consumo doméstico.

Vale ressaltar dois outros importantes projetos inovadores com relação tratamento

de resíduos sólidos orgânicos no Estado de São Paulo, o primeiro é um projeto-piloto95 na

Subprefeitura de Santo Amaro (zona sul)96, aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo

que cria o Programa de Aproveitamento de Madeiras de Podas de Árvores (Pampa), com

isso esses resíduos podem ser moídos e transformados em carvão e forragem e

compensado, gerando receita adicional para programas sociais (repasse da Prefeitura para

ONGs), e também dando um destino final mais apropriado para esses resíduos. A prefeitura

estima que recolhe de 3,5 mil a 4 mil toneladas de resíduos de podas todos os meses, ou

seja, são cerca de 50 mil toneladas ano que atualmente acabam se decompondo nos aterros

sanitários.

O segundo projeto inovador com relação ao tratamento de resíduos sólidos

orgânicos, é o uso da biomassa para geração de energia97. Empresas usam resíduos como

casca de arroz e de coco babaçu, bagaço de cana, cascalho e restos de madeira, como

combustível nas calderias, substituindo assim os combustíveis fósseis (óleo e gás natural)

ou como fonte alternativa de eletricidade. Essa prática é muito comum no setor de açucar e

álcool, e agora está se expandido para outros setores, como o de alimento. Segundo estudos

do governo federal, o País tem potencial para gerar até 8 mil MW de energia só com

biomassa, mais da metade da capacidade da hidrelétrica de Itaipu.

Segundo Ricardo Pretz98, “o número de projetos de termoelétricas que usam

biomassa dobrou de dois anos para cá. Os motivos são econômicos e ambientais, pois as

tarifas de energia elétrica vêm aumentando, ao mesmo tempo que os custos da implantação

de uma termoelétrica pode ser compensados em parte com a venda de créditos de carbono.

Há potencial para produzir, em curto espaço de tempo, pelo ao menos 3 mil MW de

energia”.

95 O autor do projeto foi o vereador Gilberto Natalini do Partido PSDB. 96 Jornal o Estão de São Paulo, 16/04/2008, Caderno Cidades/Metrópole, p. C6. 97 Jornal O Estado de São Paulo, 30/04/2008, Caderno de Negócios, p. B21. 98 Diretor da PTZ Bionergia, há 15 anos executa projetos de geração de energia com uso de biomassa.

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101

Os principais exemplos de empresas citadas no artigo99, são: a Camil, produtora de

arroz, que construiu uma termoelétrica dentro da sua fábrica em 2001, a planta produz 4,5

MW de energia, o suficiente para suprir o consumo da fábrica e vender o excedente no

mercado. Segundo Jacques Quartiero100, “a empresa tinha de comprar áreas para

armazenar o resíduo, que demora para desaparecer no ambiente. Hoje, virou uma fonte de

renda, pois já permitiu a venda de 1,5 milhão de euros em créditos de carbono. São

queimadas diariamente 180 toneladas de casca de arroz”.

A AmBev, fabricante de bebidas, atualmente queima biomassa nas caldeiras da suas

sete fábricas e estuda ainda a substituição do óleo combustível em uma outra fábrica. O tipo

de resíduo varia conforme a região, de casca de arroz, casca do coco de babaçu a restos de

madeira de reflorestamento. Segundo Beatriz Oliveira101, “os projetos tiveram início em

2003. Em 2007, a biomassa atingiu 34% da matriz energética da empresa e gerou uma

redução de 15% nos custos com combustíveis, mesmo com o aumento do preço do petróleo

no período.

Os quadros abaixo respectivamente mostram a participação dos resíduos sólidos

orgânicos nos resíduos sólidos totais em quatro países, e o índice de reciclagem em alguns

países, incluindo o Brasil.

Quadro 4.30 – Participação dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%)

PAÍS 2006

Brasil 60,0%

Estados Unidos 12,0%

Índia 68,0%

França 23,0%

Fonte: CEMPRE, ficha técnica do Composto Urbano

99 Cresce o uso da biomassa para geração de energia, Jornal O Estado de São Paulo, 30/04/2008, Caderno de Negócios, p. B21. 100 Diretor de Marketing da Camil In entrevista ao Jornal Estado de São Paulo de 30/04/2008, Caderno de Negócios, p. B21. 101 Gerente Corporativa de Meio Ambiente da AmBev.

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Quadro 4.31 – Índice de Reciclagem dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%)

PAÍS 2002

Brasil 1,5%

Estados Unidos 59,3%

Argentina, Paraguai e Uruguai < 5,0%

China 20,0%

Fonte: CEMPRE informa número 75, maio/junho 2004

4.2 INICIATIVAS DA FIESP: Em entrevista com Ricardo Lopes Garcia, Diretor do Departamento de Meio

Ambiente da FIESP, que representa 127 setores industriais do Estado de São Paulo

(atualmente o sistema Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, abrange

os sistemas FIESP, SESI, SENAI e IRS), foi abordado o projeto de gestão de resíduos

sólidos industriais desenvolvido em 2002.

O projeto tinha como objetivo um novo posicionamento do setor produtivo, foi

financiado com fontes governamentais internacionais e tinha um prazo de execução de 24 a

36 meses, e consistia nas seguintes etapas:

1. Plano diretor de localização de empreendimentos de tratamento e disposição de

resíduos industriais;

2. Produção mais limpa e tecnologia para obtenção de matérias-primas derivadas

de resíduos industriais;

3. A criação da Bolsa de Resíduos, a qual já havia sido implantada anteriormente.

A relevância desse projeto para o país consistia em um modelo de gestão de

desenvolvimento industrial com sustentabilidade ambiental; aumento da competitividade

internacional; e incremento de novos negócios. Já do ponto de vista da indústria, consistia

na redução de custos com descartes de resíduos e redução de desperdícios; geração de

novos negócios; impacto social positivo; e ativação da economia.

Com base nesse projeto e na entrevista com Ricardo Lopes Garcia, creio que seja

interessante explorar um pouco mais duas frentes importantes, atualmente em vigor, com

relação a reciclagem de resíduos sólidos industriais.

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PROTOCOLO DE INTENÇÕES COM A PREFEITURA: A primeira é o Protocolo de Intenções assinado entre Paulo Antonio Skaf,

Presidente da FIESP e pela Prefeitura de São Paulo na gestão atual do Prefeito Gilberto

Kassab em julho de 2006, o qual está por vencer e dependederá do novo Prefeito para ser

renovado. O objeto principal desse protocolo é:

Estabelecer diretrizes básicas que deverão ser observadas em futuros

instrumentos a serem firmados entre a Municipalidade, por meio da

Secretaria Municipal de Serviços, e entidades e empresas vinculadas a

FIESP, cujo escopo é o desenvolvimento e incremento do sistema de coleta

seletiva e reciclagem de resíduos sólidos urbanos de embalagens do

Município de São Paulo, por meio de ações no âmbito de atuação de cada

partícipe, voltadas a melhoria da qualidade de vida da população, à

preservação do meio ambiente e a inclusão social.

O principal objetivo desse protocolo por parte da FIESP é estabelecer relações

diretas com as cooperativas, e consequentemente eliminar os muitos atravessadores da

cadeia produtiva de reciclagem que são responsáveis por poucas ou nenhuma atividade,

porém elevam consideravelmente os preços finais dos materiais recicláveis para a indústria.

Entretanto, para reduzir os preços dos materiais recicláveis para a indústria, faz-se

necessário que as cooperativas incorporem uma gestão profissional, eliminando futuros

possíveis passivos trabalhistas, fiscais e ambientais de co-responsabilidade das indústrias

compradoras.

No protocolo, a FIESP se compromete a viabilizar parcerias com Sindicatos e

Associações Patronais e empresas do setor de embalagens para:

1. Capacitação técnica para coletores, operadores e separadores das

cooperativas;

2. Orientação sobre coleta seletiva e reciclagem de embalagens através da rede

de educação pública e do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem

Industrial);

3. Promoção de ações visando o fornecimento de maquinários e equipamentos

à Municipalidade;

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4. Identificação dos recicladores de embalagens localizados no Município de

São Paulo para colocá-los em contato direto com as cooperativas

conveniadas;

5. Criação de condições de aquisição de resíduos de embalagens;

6. Divulgação do projeto por mídia impressa e/ou eletrônica, com o logotipo

dos partícipes do presente protocolo;

7. Modernização e implementação de processos e equipamentos visando

agregar valores aos materiais triados;

8. Apoio ao Programa de Educação Ambiental e a instalação do “Centro

Interdisciplinar de Educação Ambiental – CIEA” nas escolas municipais.

Já a Prefeitura se compromete a:

1. Manter, nos termos da lei, o sistema de convênio com as Cooperativas de

Trabalho;

2. Buscar a formalização de novos convênios;

3. Realizar a coleta seletiva de material reciclável no âmbito do Município;

4. Providenciar locais devidamente adequados para a triagem;

5. Promover a triagem dos materiais recicláveis coletados;

6. Supervisionar a realização das atividades das Cooperativas conveniadas;

7. Implementar um programa de divulgação e comunicação sobre coleta

seletiva na cidade;

8. Desenvolver um programa de capacitação dos professores da rede pública

sobre coleta seletiva.

BOLSA DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS: A segunda importante iniciativa é a Bolsa de Resíduos102, inicialmente essa idéia

surgiu no início da década de 80. Em 1984, surgiu a primeira proposta de implantação na

FIESP. Criada efetivamente em março de 1986, a FIESP fazia a intermediação entre as

indústrias, as quais participavam através de uma ficha de inscrição e de acordo com a

102 Os dados foram extraídos da apresentação Bolsa de Resíduos da FIESP, Seminário de Reciclagem e Valorização de Resíduos Sólidos, realizado na Poli-USP, maio de 2008.

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classificação entre resíduos disponíveis e desejáveis. Operou nesse sistema até 1994, e

somente em 2002 foi lançado novamente via internet.

Há Bolsa de Resíduos espalhadas pelo mundo, na Alemanha, Estados Unidos,

Austrália, Espanha, Portugal, Costa Rica e Chile. A Bolsa consiste em um serviço gratuito,

que tem como objetivo geral disponibilizar para as empresas a divulgação de ofertas de

compra e venda de resíduos industriais recicláveis. As indústrias descobriram que os

resíduos são fontes de redução de custos de produção, ou ainda podem ser fonte de receita.

Os objetivos específicos da FIESP são:

1. A preservação e a melhoria da qualidade do meio ambiente e da saúde pública;

2. O uso sustentável, racional e eficiente dos recursos naturais;

3. O aumento da conscientização de que resíduo não é lixo, e sim um subproduto

com potencial de comercialização;

4. Valorização do resíduo que passa a ser utilizado como matéria-prima de outra

empresa/setor;

5. Redução de custos diretos relacionados ao manuseio, armazenamento, transporte

e destinação final;

6. Possibilidade de geração de receita direta;

7. Minimização de multas e/ou autuações;

8. Ganhos de imagem;

9. Ganhos sociais.

No período de abril de 2002 a maio de 2004, eram 902 empresas cadastradas na

Bolsa de Resíduos com 21 estados participantes. Em 2008, esses números estão em 2.103

empresas cadastradas com 24 estados participantes, com destaque para São Paulo, Rio de

Janeiro, Minas Gerais e Paraná. O distribuição das empresas em termos de porte são: Micro

41%, Pequenas 41%, Média 12% e 6% Grande. Com relação ao perfil das empresas, temos:

Indústrias 46%, Recicladoras 26%, Intermediários 20% e Sucateiros 8%.

Entre abril de 2002 e maio de 2004, foram 73.000 acessos a página da Bolsa de

Resíduos com 255 ofertas/procuras por resíduos. No período de abril de 2002 a maio de

2008, foram cerca de 200.000 acessos, ou uma média de 100 acessos diários, com 752

ofertas, sendo 66% ofertados e 34% procurados. O ranking dos produtos ofertados é:

plásticos, resíduos químicos, metal/metalúrgico, borracha e madeira/mobiliário. Já o

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ranking dos produtos procurados é: plásticos, resíduos químicos, metal/metalúrgico,

madeira/mobiliário e outros.

As quantidades e valores envolvidos no período de abril a julho de 2002103, foram

de aproximadamente R$ 84 milhões, para uma quantidade de 17,3 mil toneladas, referentes

aos resíduos ofertados na bolsa e R$ 19 milhões, para uma quantidade de 36,3 mil

toneladas, referentes aos resíduos procurados na bolsa, e efetivamente 17% dos negócios

foram negociados. Estima-se que o comércio de resíduos industriais movimente em torno

de R$ 250 milhões por ano no Brasil, mas tem potencial para chegar a R$ 1 bilhão por ano.

No Brasil104, o material reciclado também está trazendo lucro também para as

grandes empresas. Além de preservar o meio ambiente, reciclagem virou bom negócio para

empresas como a Embraer e a CST. Empresas como a Embraer estão aprendendo a usar a

reciclagem não só para preservar o meio ambiente como para ganhar dinheiro. Quem visita

a sede da companhia, em São José dos Campos, percebe como a fabricante de aviões está

reaproveitando todo tipo de material. Em uma área destinada ao material de reciclagem, há

uma montanha de resíduos metálicos, como limalhas de ferro e titânio. Ao lado,

computadores antigos, motores e compressores sem uso. Um tanque recebe óleos da

cozinha e outro, óleos industriais. Toneladas de lixo comum (papel, plástico e espumas) são

separados, prensados e acondicionados em fardos.

Todo esse material é encaminhando a empresas especializadas que o transformam

em vários produtos, de ração animal a combustível. O aproveitamenteo de resíduos diversos

rendeu à Embraer uma receita adicional de US$ 6,6 milhões em 2006, um aumento de

57,1% em relação ao ano anterior. Aqui, até o papel toalha usado nos banheiros é

reciclado, diz Luiz Alberto Ladewig, gerente de suporte de serviços da Embraer. Segundo o

executivo, a venda de resíduos existe na indústria desde meados da década de 1980, quando

a legislação ambiental passou a vigorar no Brasil. De lá para cá, a indústria aperfeiçoou

seus processos, e passou a adotar também a coleta seletiva para resíduos como papel,

papelão e plástico.

103 Os dados foram extraídos da apresentação A Experiência da FIESP/CIESP no Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais, na VI-Semana do Meio Ambiente, Os Caminhos da Indústria, junho de 2004. 104 Artigo – Material reciclado traz lucro para as empresas, Jornal O Estado de São Paulo, Caderno de Negócios, 20/06/2007, p. B20.

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Resíduos como a limalha de titânio, proveniente da fabricação de turbinas de

aeronaves, são nobres: paga-se R$ 45 por quilo do material, dez vezes mais que outro

resíduo nobre, o alumínio (R$ 4,5 o quilo). O papel vale R$ 0,08 o quilo, mas é gerado em

volume na Embraer: 50 toneladas/mês. Resíduos perigosos, como solventes, são

encaminhados para a indústria cimenteira, onde alimentam os alto fornos. A Embraer já

consegue reciclar 79,6% dos resíduos que produz: foram 9,9 mil toneladas em 2006. Um

índice considerado alto, em relação ao destino que é comumente dado ao lixo: o Brasil só

recicla cerca 18% dos resíduos sólidos urbanos, segundo dados do Compromisso

Empresarial para Reciclagem (Cempre). Na Embraer, o que não é reciclado é um lixo ainda

difícil de reaproveitar, como sobras de alimentos e papel higiênico.

Na CST Arcelor Brasil, o reaproveitamento dos resíduos do processo de produção

do aço rendeu US$ 41,6 milhões aos cofres da companhia em 2007. A empresa é

considerada referência em aproveitamento de resíduos no setor siderúrgico: recicla 95%

dos resíduos da produção de aço. As sobras do processo siderúrgico, lama, poeira, escória,

são usadas como matéria-prima em doze diferentes indústrias. Servem para pavimentar

estradas, na cerâmica, indústria química e agricultura, na correção de acidez do solo. Para

garantir o uso correto dos resíduos nessas aplicações, a CST firmou parcerias junto a

universidades e institutos de pesquisa. Foram R$ 2 milhões investidos em pesquisa e

desenvolvimento na área de co-produtos nos últimos cinco anos. Não temos dúvida de que

esse investimento traz retorno, diz Luiz Alberto Rossi, gerente de meio ambiente da CST.

4.3 PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL DO SEBRAE-SP: O Sebrae-SP tem progamas para o lixo, que orientam as empresas quanto à

destinação, considerando o tipo de resíduo gerado. Na maioria das empresas, materiais que

não servem mais são logo descartados. Mas esses resíduos podem virar lucro ao invés de

problemas. O programa Sistema de Gestão Ambiental (SGA) do Sebrae-SP foi lançado em

Setembro de 2007, ele já conta com 107 empresas dos mais diversos setores: oficina

mecânica, plástico, cerâmica, couro e calçado, lavanderia industrial, entre outros.

O programa surgiu com o conceito de “melhoria no sistema de gestão da empresa

visando gerenciar também seus aspectos ambientais, baseado na norma NBR ISO

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14001105” . Os princípios do programa eram construção conjunta e visão participativa,

realizou a capacitação dos consultores nos quesitos ISO 14001, Projeto-Piloto e Auditorias

Supervisionadas, envolvendo os setores de plástico, brinquedos educativos, oficinas

mecânicas e cerâmica estrutural.

Os associados do Sebrae são as micro e pequenas empresas106, lembrando que para

esses portes de empresas, quaisquer ganhos ou reduções de perdas é determinante para a

sustentabilidade. E também que essas representam cerca de 98% do universo de 4,5

milhões de empresas e empregam cerca de 60% da mão-de-obra. São responsáveis por 43%

da renda gerada nos setores industrial, comercial e de serviços e contribuem com 20% do

PIB nacional.

As empresas participantes foram selecionadas de acordo com os setores

considerados os que apresentam mais resíduos poluentes. “O principal objetivo é ensinar

como fazer a coleta e como se livrar dos resíduos”, segunda a coordenadora do programa

Dorli Martins. Os micro e pequenos empresários estão preocupados com a questão

ambiental, mas muitos ainda não têm acesso a informações adequadas.

No evento realizado em 26 de Junho de 2008 na própria sede do Sebrae-SP, tive a

oportunidade de assistir a diversas palestras relacionadas ao Sistema de Gestão Ambiental

lançado pelo Sebrae-SP. O slogan do evento foi: “Não importa o tamanho da sua empresa.

O importante é o tamanho do compromisso que ela tem com o meio ambiente”. Os

principais tópicos discutidos foram:

1. Resultado do Projeto Piloto do Sistema de Gestão Ambiental do Sebrae-SP;

2. Estudo de Caso da Coopermax (Cooperativa de reciclagem de resíduos);

3. Análise de Ciclo de Vida – ACV;

4. Histórico sobre o Programa de Gestão Ambiental do Sebrae no DF.

O Projeto Piloto de Gestão Ambiental, partiu do entendimento da metodologia e

dos processos das empresas, abrangendo o processo produtivo, ou seja, a entrada de

insumos, o processamento e a saída de produtos, resíduos, efluentes e emissões. Em

seguida, a montagem do diagnóstico, identificando os principais aspectos e impactos

105 A série de normas ISO 14000 (melhoria contínua) relacionam-se com o Sistema de Gestão Ambiental. 106 Palestra sobre Desenvolvimento Sustentável da Proferssora Sílvia Maria Sartor no Sebrae-SP em junho de 2008.

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109

ambientais significativos, os requisitos legais e regulamentações, riscos para a saúde e

segurança dos trabalhadores, e finalmente oportunidades competitivas.

Um exemplo prático do universo de 175 empresas pertencentes a 8 setores do

Projeto Piloto, é uma indústria de brinquedos de madeira, atráves da consultoria que

estudou o seu processo produtivo (produtos desejados e não desejados-resíduos),

perceberam que seria possível reduzir o desperdiçio, planejando e melhorando a produção.

Uma simples idéia foi mudar a forma de corte dos brinquedos na tábua de madeira,

aproveitando melhor todo o espaço. Somente com essa alteração de corte, foi possível

aumentar a produção em cerca de 20%, e ao mesmo tempo reduzir os resíduos gerados pelo

processo produtivo.

Esse caso serve como exemplo para as demais empresas, como uma forma de

otimização dos recursos disponíveis, já o que é jogado fora em algum momento foi um

custo no processo produtivo. Mas serve também para desmistificar os custos elevados

relativos às questões ambientais, e principalmente para conscientizar os empresários sobre a

importância do crescimento da produção andar na mesma direção da proteção ao meio-

ambiente.

O estudo de caso da Coopermax107 também é muito interessante, ela é uma

cooperativa de prestação de serviços e produção de materiais recicláveis, que iniciou suas

operações em 2000 com o apoio de voluntários, da iniciativa privada (patrocínio Petrobrás

Fome Zero em 2005) e do poder público (capacitação de 40 pessoas). Realiza a coleta

seletiva em 40% das residências do Município de São João da Boa Vista e em 8 empresas

que fazem doações. A cooperativa conta com 33 cooperados que fazem a coleta, transporte,

triagem e prensagem em fardos para venda aos sucateiros. Planeja ainda vender o material

direto para as recicladores, para obter um preço de venda melhor, sem passar pelos

sucateiros.

Os objetivos para implantar o Sistema de Gestão Ambiental na empresa, foram:

adequar-se às Leis e Normas Ambientais; preservar os recursos naturais; permanência no

mercado; diminuir a geração de resíduos; racionalizar o uso de água e energia; melhor

107 Apresentação – Estudo de Caso Coopermax, Eliane Avilla Vasconcelos no Sebrae-SP em junho de 2008.

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110

aproveitamento da matéria-prima; redução dos custos de produção; e melhoria da imagem

da empresa.

O diagnóstico do Sebrae-SP foi: grande desperdício de matéria-prima; recebimento

de material orgânico; local sem pavimentação (poeira); matéria-prima armazenada à ceú

aberto; alto consumo de água e energia; geração de resíduos em torno de 25% da produção;

controle de documentos (licenças); e emissões aéreas (ruídos da prensa e esteira).

Finalmente as recomendações do Sebrae-SP abrangeram três importantes áreas:

1. Gestão de resíduos, efluentes e emissões: melhor triagem dos materiais

recicláveis; escolher melhor os fornecedores ou capacitá-los no fornecimento de

matérias-primas mais bem segregadas;

2. Gestão da segurança e saúde ocupacional: disponibilizar procedimentos

formalizados e documentos em casos emergenciais aos cooperados; delimitar as

áreas de trabalho com marcações no piso; e sinalizar os extintores de incêndio;

3. Gestão de insumos: controlar, registrar e criar indicadores de consumo dos

insumos; economizar água, com captação e uso da água da chuva; economizar

energia, com o controle do uso do maquinário e dar manutenção constante; e

melhor aproveitamento da iluminação natural

Outro tema relativamente novo e muito relevante é a Análise do Ciclo de Vida –

ACV dos produtos108, essa análise parte do princípio que todos os produtos, independente

de que material seja feito, gera um impacto no meio ambiente, seja em função de seu

processo produtivo, das matérias-primas consumidas ou pelo seu uso ou disposição final.

Essa ferramenta, surgida inicialmente na década de 70 nos Estados Unidos e Europa,

permite avaliar previamente todos os possíveis impactos ambientais durante todo o ciclo de

vida de um produto.

Essa ferramenta tem como principais objetivos: fornecer uma visão mais completa

das interações entre uma atividade produtiva e o meio ambiente; melhor compreensão da

natureza interdependente e geral das consequências ambientais das atividades humanas;

fornecer aos tomadores de decisão e/ou formadores de opinião, parâmetros para definir os

impactos ambientais dessas atividades e identificar oportunidades de melhorias ambientais.

Resumidamente, a ACV é de extrema importânca para identificação dos possíveis impactos

108 Apresentação – Análise do Ciclo de Vida - ACV, Vera Lúcia P. Salazar no Sebrae-SP em junho de 2008.

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ambientais, e também permite optar por matérias-primas e processos produtivos com menor

impacto ambiental possível.

Há algumas normas da série ISO 14000 relativas a ACV, como: ISO 14040 de

1997, estabelece princípios e requisitos para a realização e divulgação dos resultados de

estudos de ACV; ISO 14041 de 1998, detalha os requisitos para estabalecer objetivos e o

escopo de estudo de uma ACV e descreve as etapas de análise de inventário; ISO 14031 de

2000, apresenta os princípios gerais para realização de Avaliação de Impacto, os

componentes obrigatórios, a seleção das categorias de impacto, descreve as etapas de

classificação e de caracterização; ISO 14043 de 2000 também, apresenta requisitos e

recomendações para interpretação dos resultados da Análise de Inventário ou Avaliação de

Impacto.

A norma ISO 14040, estabelece que a ACV de produtos deve considerar:

1. Definição do objetivo (propósito);

2. Escopo do trabalho (limites);

3. Análise do inventário (entradas insumos, saídas emissões, efluentes e resíduos, e

coleta de dados);

4. Avaliação do impacto (saúde ambiental, humana ou exaustão de recursos

naturais);

5. Interpretação dos resultados (principais problemas, avaliação e conclusões).

As principais categorias de impacto são: consumo de recursos naturais; consumo de

energia; efeito estufa; acidificação; toxicidade humana; ecotoxicidade; nutrificação ou

eutrofização e redução da camada de ozônio.

Finalmente foi apresentado um breve histórico sobre o Programa de Gestão

Ambiental do Sebrae no Distrito Federal109. Esse programa é anterior ao do Sebrae-SP,

porém seguindo os mesmos princípios e objetivos, de levar aos empresários informações

sobre gestão ambiental, por meio de palestras, treinamento básico e formação de

consultores para atuarem na aplicação de metodologias de gestão ambiental nas empresas.

O principal objetivo é orientar os empresários na identificação de desperdícios no

processo produtivo e na proposição de ações corretivas, visando diminuir custos de

109 Apresentação – Programa Sebrae de Gestão Ambiental, James Hilton Reeberg, Gerente da Unidade de Acesso a Inovação Tecnológica do Sebrae no Distrito Federal, no Sebrae-SP em junho de 2008.

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produção, aumentar a produtividade e minimizar os impactos ambientais. No período de

2003 a 2006, a metodologia foi aplicada em 754 empresas no Distrito Federal em 54

segmentos empresariais.

Brevemente vale ressaltar alguns estudos de caso que resultaram em redução de

desperdícios ou produtivide para as empresas.

1. Marcenaria: redução de perdas com a implantação do Sistema de Orientação do

Plano de Corte, como resultado a empresa saiu de uma perda anual de R$

15.750,00 para um ganho de R$ 23.400,00;

2. Farmácia Homeopática: redução anual da perda de água depois da Consultoria,

de cerca de 36%;

3. Confecção: redução de perdas no corte de tecidos, de 46% para 22%, além do

ganho econômico potencial com o processo de compras direto na fábrica;

4. Pizzaria: 6,6% de redução do consumo de energia elétrica pela mudança no

modo de utilização da refrigeração;

5. Restaurante: redução do desperdício de alimentos no buffet, ganho anual de R$

33.830,00, redução do desperdício do buffet de frios, ganho anual de R$

69.000,00 e redução do desperdício de chopp, ganho anual de R$ 99.600,00;

O programa do Sebrae-DF é baseado nos 5 Menos Que São Mais, menos água,

menos energia, menos matéria-prima, menos lixo e menos poluição que podem torna-se em

mais lucro, mais competitividade, mais satisfação do consumidor, maior produtividade e

mais qualidade ambiental. Possue diversas publicações sobre o tema, cartaz, folder,

revista/gibi, vídeo, CD rom e livro, e repassou a metodologia de redução de desperdício

para diversos estados: Rondônia, Rio Grande do Norte, Bahia, Amapá, Alagoas, Piauí,

Distrito Federal, Sergipe, Acre, Espírito Santo, Mato Grosso Sul, Tocantis, Mato Grosso,

São Paulo, Paraíba e Maranhão.

Segundo a Secretaria de Agricultura de São Paulo110, o Brasil joga fora anualmente

R$ 12 bilhões em alimentos, os Supermercados jogam fora 13 milhões de toneladas de

alimentos por ano, equivalente a R$ 13 bilhões, e as residências jogam fora cerca de 30%

de todos os alimentos comprados.

110In Apresentação – Programa Sebrae de Gestão Ambiental, James Hilton Reeberg, Gerente da Unidade de Acesso a Inovação Tecnológica do Sebrae no Distrito Federal, no Sebrae-SP em junho de 2008.

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Segundo o Sebrae-DF, apesar dos avanços já atingidos, os principais fatores

limitantes para a redução dos desperdícios são:

1. Baixa capacitação gerencial;

2. Carência de informações operacionais relacionadas aos desperdícios e aos

resíduos gerados, inclusive sobre o controle de processos e gastos de matéria-

prima e insumos;

3. Falta de metodologia para avaliar os resultados das ações de redução de

desperdícios implementadas;

4. Controle de estoque deficiente para matéria-prima e insumos;

5. Carência de capacitação de mão-de-obra;

6. Insuficiência de profissionais capacitados no mercado interno para as atividades

de manutenção preventiva;

7. Deficiência de comunicação entre os arranjos produtivos, que podem trabalhar

processos complementares aproveitando os resíduos gerados pelas

indústrias/empresas.

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Capítulo 7 - Conclusão

Mais uma vez na história, o Capitalismo parece transformar uma grave crise, a crise

ambiental, em oportunidade para novos negócios, com o surgimento de um novo setor, o

mercado de reciclagem de resíduos. As cifras calculadas pela não reciclagem (R$ 4,6

bilhões) para resíduos sólidos urbanos, pelo potencial de reciclagem dos resíduos

industriais (US$ 1,0 bilhão), e principalmente pelo desperdício de alimentos (R$ 12

bilhões), são uma grande vergonha, e ao mesmo tempo oportunidade para o nosso país.

Comparando o Brasil com os países desenvolvidos, ainda estamos atrasados nesse

setor. Há várias iniciativas isoladas em andamento, principalmente conduzidas pelo setor

privado, como a Fiesp, Sebrae e Cempre e empresas de todos os portes. O setor público no

Brasil precisa ser mais atuante nesse setor, como de costume, se mostra lento e ineficiente,

com algumas poucas iniciativas isoladas, ou seja, uma atuação muito tímida e consideradas

por muitos autores, ainda omissa.

Por outro lado, a sociedade brasileira ainda precisa avançar muito na

conscientização e organização de cada indivíduo com relação à importância das decisões de

consumo e seus impactos ambientais, o que contribuirá muito para o crescimento do setor

de reciclagem de resíduos no Brasil, trazendo benefícios ambientias, econômicos e sociais.

Pela quantidade de resíduos gerados diariamente no Brasil, existe um grande

potencial de negócios nesse setor, pois atualmente o índice total de reciclagem está em

torno de somente 18%. Sem mencionar, que há atualmente algo entre 500 mil e 1 milhão de

catadores espalhados pelo país, a maioria em situação de clandestinidade, que precisam ser

incluídos e organizados na forma de cooperativas com um modelo de autogestão

profissional.

Apesar do avanço dos índices de reciclagem dos principais materiais recicláveis

desde a publicação da primeira edição (1997) dos “Bilhões Perdidos no Lixo”, e ainda

comparando os índices em relação aos países mais desenvolvidos, há ainda um grande

potencial a ser aproveitado, ficou evidente que existem alguns fatores impeditivos para o

desenvolvimento desse mercado no Brasil, os quais são destacados abaixo:

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1. Falta de foco das prefeituras nos programas de coleta seletiva, apesar do

crescimento de 24% no número de municípios que implantaram a coleta seletiva, de 327

para 405, num total de cerca de 5.500 municípios brasileiros, representam somente 7%.

Além disso, a escala e o orçamento ainda são muito pequenos, principalmente na cidade de

São Paulo, que não chega a atingir 1% de todo o lixo gerado, deixando esse trabalho para o

nosso contingente de catadores.

2. Grande quantidade de intermediários/atravessadores, a quantidade varia para

cada tipo de material. Essa estrutura de mercado trava também o desenvolvimento do

mercado de reciclagem pois eleva os preços finais dos materiais para a indústria, e por

outro lado, impede o avanço das cooperativas na cadeia produtiva.

3. Falta de gestão profissional nas cooperativas, ainda persiste na maioria das

cooperativas, muitas delas não seguem os princípios do cooperativismo, pois geralmente

são geridas por representantes de órgãos públicos ou instituições não governamentais, não

permitindo assim o sistema de autogestão, e também pela falta de capacitação e informação

dos cooperados. Essa é uma preocupação também do lado da indústria, à medida que evita

a proximidade da mesma com as cooperativas, pois possíveis passivos trabalhistas e

ambientais podem ser de co-responsabilidade da mesma.

4. Lobby das empresas responsáveis pela coleta e disposição dos resíduos, os

contratos de limpeza urbana são milionários, e os seus custos só tendem a crescer

principalmente pelo esgotamentos dos aterros sanitários existentes. Com isso, os novos

aterros serão mais distantes e o custo de transporte também o será. Portanto, essas poucas

empresas possuem exercem uma grande influência sobre as Prefeituras, ou melhor,

resistência contra a reciclagem dos resíduos.

5. Maior pressão e atuação da sociedade na coleta seletiva e no consumo

consciente, o setor privado já percebeu que a gestão ambiental traz reduções de custos e

produtividade, mas há muito a ser feito por eles ainda, como a Análise de Ciclo de Vida

para cada produto novo, por exemplo. Porém, a sociedade precisa se conscientizar da

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importância do consumo consciente, da separação os materiais recicláveis, e finalmente

exercer pressão sobre as autoridades municipais para que a coleta seletiva mereça a devida

atenção.

6. Pouco interesse pelo lixo orgânico para geração de energia e adubo, o lixo

orgânico, apesar de representar cerca de 60% de todos os resíduos sólidos urbanos gerados,

muitas vezes é deixado de lado das discussões e estudos. Entretanto há nele um grande

potencial praticamente inexplorado, seja através das usinas de compostagem para

fabricação do adubo, da incineração ou da utilização do gás metano para geração de energia

elétrica, atualmente reciclamos somente cerca de 1,5%.

7. Falta de uma Política Nacional de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, o

Projeto de Lei está em tramitação há 15 anos, e somente recentemente a Comissão Especial

da Câmara acolheu o parecer relacionado às práticas, tratamento e destinação dos resíduos

sólidos para avaliação em caráter de urgência. Essa regulamentação em nível nacional é

imprescindível para se criar um novo paradigma de sustentabilidade ambiental, para que o

setor possa se organizar, atrair novos investimentos e, consequentemente crescer de forma

inclusiva, principalmente para os catadores.

8. Infra-estrutura capitalista para o setor (negócio lucrativo/leis ambientais),

como há em muitos países desenvolvidos, principalmente na Europa, Estados Unidos e

Japão, com a participação de todos os agentes públicos, privados e da sociedade. No Brasil

essa infra-estrutura ainda é incipiente, a maioria das ações ou iniciativas ainda são isoladas,

evidenciando esse negócio no Brasil ainda não é tratado de forma estruturada e capitalista.

O avanço na conscientização da importância, necessidade e benefícios ambientais,

econômicos e sociais da redução do desperdício, da coleta seletiva e da reciclagem de

resíduos, por parte de todos os agentes, associada à maior organização da sociedade civil,

pressionando as autoridades públicas ao cumprimento do seu papel, alavancarão o mercado

de reciclagem no Brasil, levando os nossos índices de reciclagem na direção dos índices

europeus.

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