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Aluno (a): _____________________________________________________________________ Disciplina: Literatura Professor (a): Daniele Sally Série: 2º ano Turma: 2001 Data: 26/03/2020 ENSINO MÉDIO - Interpretação de textos. - Memórias Póstumas de Brás Cubas, até capítulo 62 (LXII). - Romantismo brasileiro. 1- (Fuvest 2019) Considere os textos para responder às questões. Cap. XI O menino é pai do homem Sim, meu pai adorava-me. Tinha-me esse amor sem mérito, que é um simples e forte impulso da carne; amor que a razão não contrasta nem rege. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa. Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quarta-feira, 10 de julho. Meu pai é muito querido na família. Todos gostam dele e dizem que é muito bom marido e um homem muito bom. Eu gosto muito disso, mas fico admirada de todo mundo só falar que meu pai é bom marido e nunca ninguém dizer que mamãe é boa mulher. No entanto, no fundo do meu coração, eu acho que só Nossa Senhora pode ser melhor que mamãe. Helena Morley, Minha vida de menina. a) Os trechos acima se assemelham por serem retratos dos pais realizados por seus filhos: no primeiro deles, o menino Brás Cubas; no segundo, a pequena Helena. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta com base nos tempos verbais e na linguagem empregada em cada um deles. b) Nos trechos acima, as expressões “O marido era na Terra o seu deus” e “só Nossa Senhora pode ser melhor que mamãe” dão, respectivamente, exemplos de duas formas contrastantes de organização familiar, o patriarcado e o matriarcado. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta com base em ambas as passagens. 2- (Insper 2014) Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Passam tantas visões sobre meu peito! Palor de febre meu semblante cobre, Bate meu coração com tanto fogo! Um doce nome os lábios meus suspiram (...). (Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos) Nessa passagem, há marcas textuais típicas da função emotiva da linguagem. Essas marcas estão associadas a uma característica fundamental da poesia byroniana brasileira, que é o a) egocentrismo. b) indianismo. c) medievalismo. d) nacionalismo. e) nativismo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Soneto do Corifeu * São demais os perigos desta vida Para quem tem paixão, principalmente Quando uma lua surge de repente E se deixa no céu, como esquecida. E se ao luar que atua desvairado

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Page 1: - Memórias Póstumas de Brás Cubas, até capítulo 62 (LXII ... · Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quarta-feira, 10 de julho. Meu pai é muito querido na família

Aluno (a): _____________________________________________________________________

Disciplina: Literatura Professor (a): Daniele Sally

Série: 2º ano Turma: 2001 Data: 26/03/2020

ENSINO MÉDIO

- Interpretação de textos.

- Memórias Póstumas de Brás Cubas, até capítulo 62 (LXII).

- Romantismo brasileiro.

1- (Fuvest 2019) Considere os textos para responder às questões. Cap. XI O menino é pai do homem Sim, meu pai adorava-me. Tinha-me esse amor sem mérito, que é um simples e forte impulso da carne; amor que a razão não contrasta nem rege. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa.

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quarta-feira, 10 de julho. Meu pai é muito querido na família. Todos gostam dele e dizem que é muito bom marido e um homem muito bom. Eu gosto muito disso, mas fico admirada de todo mundo só falar que meu pai é bom marido e nunca ninguém dizer que mamãe é boa mulher. No entanto, no fundo do meu coração, eu acho que só Nossa Senhora pode ser melhor que mamãe.

Helena Morley, Minha vida de menina. a) Os trechos acima se assemelham por serem retratos dos pais realizados por seus filhos: no primeiro deles, o

menino Brás Cubas; no segundo, a pequena Helena. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta com base nos tempos verbais e na linguagem empregada em cada um deles.

b) Nos trechos acima, as expressões “O marido era na Terra o seu deus” e “só Nossa Senhora pode ser melhor que

mamãe” dão, respectivamente, exemplos de duas formas contrastantes de organização familiar, o patriarcado e o

matriarcado. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta com base em ambas as passagens.

2- (Insper 2014) Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Passam tantas visões sobre meu peito! Palor de febre meu semblante cobre, Bate meu coração com tanto fogo! Um doce nome os lábios meus suspiram (...).

(Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos) Nessa passagem, há marcas textuais típicas da função emotiva da linguagem. Essas marcas estão associadas a uma característica fundamental da poesia byroniana brasileira, que é o a) egocentrismo. b) indianismo. c) medievalismo. d) nacionalismo. e) nativismo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Soneto do Corifeu* São demais os perigos desta vida Para quem tem paixão, principalmente Quando uma lua surge de repente E se deixa no céu, como esquecida. E se ao luar que atua desvairado

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Vem se unir uma música qualquer Aí então é preciso ter cuidado Porque deve andar perto uma mulher. Deve andar perto uma mulher que é feita De música, luar e sentimento E que a vida não quer, de tão perfeita. Uma mulher que é como a própria Lua: Tão linda que só espalha sofrimento Tão cheia de pudor que vive nua. * Corifeu: personagem sempre presente no antigo teatro grego.

MORAES, Vinícius de. Livro de Sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

3- (Uerj 2019) Os dois primeiros versos do soneto sugerem uma advertência dirigida aos apaixonados. Com base na leitura do poema, essa advertência se baseia no pressuposto de que a paixão é capaz de provocar estado de: a) apatia b) carência c) contrariedade d) vulnerabilidade

4- (Unifesp 2018) Talvez o aspecto mais evidente da novidade retórica e formal na composição dessa obra seja justamente a metalinguagem ou a autorreflexividade da narrativa, quer dizer, o narrador “explica” constantemente para o leitor o andamento e o modo pelo qual vai contando suas histórias. Essa autorreflexividade tem um importante efeito de quebra da ilusão realista, pois lembra sempre o leitor de que ele está lendo um livro e que este, embora narre a respeito da vida de personagens, é apenas um livro, ou seja, um artifício, um artefato inventado. Pode-se dizer também que a reflexão do narrador, além de revelar a poética que preside a composição de sua narrativa, revela também a exigência dessa poética de contar com um novo tipo de leitor: o narrador como que pretende um leitor participante, ativo e não passivo.

(Valentim Facioli. Um defunto estrambótico, 2008. Adaptado.) Tal comentário aplica-se à obra a) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. b) O Ateneu, de Raul Pompeia. c) O cortiço, de Aluísio Azevedo. d) Iracema, de José de Alencar. e) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

Textos para a questão a seguir. Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. Não sei por que até hoje todo o mundo diz que tinha pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim. Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada em casa”.

Helena Morley, Minha vida de menina.

5- (Fuvest 2018) São características dos narradores Brás Cubas e Helena, respectivamente, a) malícia e ingenuidade. b) solidariedade e egoísmo. c) apatia e determinação.

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d) rebeldia e conformismo. e) otimismo e pessimismo.

6- (Fac. Albert Einstein - Medicin 2017) Uma Reflexão imoral Ocorre-me uma reflexão imoral, que é ao mesmo tempo uma correção de estilo. Cuido haver dito, no capítulo 14, que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente muito vista na gramática. Bons joalheiros, que seria do amor se não fossem os vossos dixes e fiados? Um terço ou um quinto do universal comércio dos corações. Esta é a reflexão imoral que eu pretendia fazer, a qual é ainda mais obscura do que imoral, porque não se entende bem o que eu quero dizer. O que eu quero dizer é que a mais bela testa do mundo não fica menos bela, se a cingir um diadema de pedras finas; nem menos bela, nem menos amada. Marcela, por exemplo, que era bem bonita, Marcela amou-me... (...) Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Do texto em pauta, integrante do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é ERRADO entender que a) há nele um segundo sentido em relação ao que parece ser que se esconde atrás da linguagem e das atitudes. b) há uma ironia que perpassa o texto, e que faz dos joalheiros os garantidores do universal comércio dos corações. c) exemplifica, no amor de Marcela pelo narrador, a veracidade da reflexão imoral apresentada. d) chama de reflexão imoral e obscura porque não se faz entender nem no âmbito da linguagem nem no da

interpretação dos sentimentos de Marcela.

7- (Pucsp 2017) Eu deixava-me estar ao canto da mesa, a escrever desvairadamente num pedaço de papel, com uma ponta de lápis; traçava uma palavra, uma frase, um verso, um nariz, um triângulo, e repetia-os muitas vezes, sem ordem, ao acaso, assim: Arma virumque cano A Arma virumque cano Arma virumque cano Arma virumque Arma virumque cano Virumque Maquinalmente tudo isto; e, não obstante, havia certa lógica, certa dedução; por exemplo, foi o virumque que me fez chegar ao nome do próprio poeta, por causa da primeira sílaba; ia a escrever virumque, - e sai-me Virgílio, então continuei: Vir Virgílio Virgílio Virgílio Virgílio Virgílio O trecho acima é do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis. Dele é correto afirmar que a) revela uma ruptura incomum dos procedimentos narrativos e da sequência linear que caracterizam esse romance

machadiano. b) provoca estranhamento pelo insólito uso do gráfico visual que desloca a narrativa do puramente verbal,

aproximando-a da linguagem plástica, o que fere o estatuto do literário. c) apresenta-se como uma citação da literatura latina, inserida por acaso no corpo do romance, sem outra finalidade

que não a de ser apenas mais uma digressão a integrar a estrutura da obra. d) indicia, no exercício lúdico da desmontagem verbal, a senha que levará o narrador à descoberta da mulher, com

quem viverá um prolongado relacionamento amoroso de caráter adulterino.

8- (Pucsp 2017) O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, faz significativo uso da linguagem figurada, o que dá ao texto uma fina dimensão estética. Assim, indique a alternativa em que o fragmento não está corretamente classificado, de acordo com a figura que nele ocorre. a) Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. – Metáfora. b) E estando a recordá-lo, ouço um ranger de porta, um farfalhar de saias... – onomatopeia. c) Quincas Borba não só estava louco, mas sabia que estava louco, e esse resto de consciência, como uma frouxa

lamparina no meio das trevas, complicava muito o horror da situação. – Eufemismo. d) Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer. – Antítese.

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9- (Pucsp 2017) O Almocreve Vai então, empacou o jumento em que eu vinha montado; fustiguei-o, ele deu dois corcovos, depois mais três, enfim mais um, que me sacudiu fora da sela, com tal desastre, que o pé esquerdo me ficou preso no estribo; tento agarrar-me ao ventre do animal, mas já então, espantado, disparou pela estrada fora. Digo mal: tentou disparar, e efetivamente deu dois saltos, mas um almocreve, que ali estava, acudiu a tempo de lhe pegar na rêdea e detê-lo, não sem esforço nem perigo. Dominado o bruto, desvencilhei-me do estribo e pus-me de pé. – Olhe do que vosmecê escapou, disse o almocreve. (...) Resolvi dar-lhe (...) uma recompensa digna da dedicação com que ele me salvou. Este trecho é retirado do capítulo que exemplifica bem a personalidade e o caráter do narrador. Assim, considerando o episódio como um todo, no ato final da recompensa, Brás Cubas a) foi extremamente generoso e deu ao almocreve três moedas de ouro das cinco que trazia consigo. b) ofertou-lhe apenas um cruzado em prata e considerou que havia pagado bem o gesto de seu salvador. c) reduziu a recompensa para apenas uma moeda de ouro, pois afinal o almocreve era um pobre diabo. d) deu-lhe umas moedas de cobre e considerou-se pródigo, pois entendeu que não houve mérito algum no gesto do

almocreve e que ele fora apenas um instrumento da Providência. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

CAPÍTULO LIII

Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha vida, no meu pensamento; – era o que dizia, e era verdade.

Há umas plantas que nascem e crescem depressa; outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques. Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que durou esse crescimento. Lembra-me, sim, que, em certa noite, abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula, – coitadinha, – trêmula de medo, porque era ao portão da chácara. Uniu-nos esse beijo único, – breve como a ocasião, ardente como o amor, 1prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de 2prazeres que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em alegria, – uma 3hipocrisia paciente e sistemática, único freio de uma 4paixão sem freio, – vida de agitações, de cóleras, de desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra; mas outra hora vinha e engolia aquela, como tudo mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do resto, que é o fastio e a saciedade: tal foi o 5livro daquele prólogo.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

10- (Fuvest 2017) Considerado no contexto de Memórias póstumas de Brás Cubas, o “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília, apresentado no breve capítulo aqui reproduzido, configura uma a) demonstração da tese naturalista que postula o fundamento biológico das relações amorosas. b) versão mais intensa e prolongada da típica sequência de animação e enfado, característica da trajetória de Brás

Cubas. c) incorporação, ao romance realista, dos triângulos amorosos, cuja criação se dera durante o período romântico. d) manifestação da liberdade que a condição de defunto-autor dava a Brás Cubas, permitindo-lhe tratar de assuntos

proibidos em sua época. e) crítica à devassidão que grassava entre as famílias da elite do Império, em particular, na Corte. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Capítulo II

O EMPLASTO Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu

tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te. Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplastro anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me argúam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória. Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória

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era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua mais genuína feição. Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.

ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. 11- (Ufjf-pism 2 2017) Com a ideia do emplasto fica claro uma característica do personagem-narrador Brás Cubas que é: a) o amor pelo próximo. b) o respeito pelas instituições. c) o romantismo. d) a devoção ao cristianismo. e) a megalomania.

12- (Unicamp 2016) (...) pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil réis. – Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu. – Sim? acudiu ele, dando um bote pra mim. – Trabalhando, concluí eu. Fez um gesto de desdém; calou-se alguns instantes, depois disse-me positivamente que não queria trabalhar.

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p.158.) O trecho citado diz respeito ao encontro entre Brás Cubas e Quincas Borba, no capítulo 49, e, mais precisamente, apanha o momento em que Brás dá uma esmola ao amigo. Considerando o conjunto do romance, é correto afirmar que essa passagem a) explicita a desigualdade das classes sociais na primeira metade do século XIX e propõe a categoria de trabalho

como fator fundamental para a emancipação do pobre. b) indica o ponto de vista da personagem Brás Cubas e propõe a meritocracia como dispositivo pedagógico e moral

para a promoção do ser humano no século XIX. c) elabora, por meio do narrador, o preconceito da classe social a que pertence Brás Cubas em relação à classe

média do século XIX, na qual se insere Quincas Borba. d) sugere as posições de classe social das personagens machadianas, mediante um narrador que valoriza o trabalho,

embora ele mesmo, sendo rico, não trabalhe.

13- (Fmp 2016) É frequente na obra de Machado de Assis a existência de triângulos amorosos, de casamentos de conveniência, eivados de tédio. Comumente a mulher é causadora do conflito na narração e, sendo descrita sob um olhar fundamentalmente masculino, incorpora uma imagem negativa. O trecho da obra machadiana em que a figura feminina NÃO é descrita dessa forma é o seguinte a) “Não sorria de escárnio. A expressão das palavras é que era uma mescla da candura e cinismo, de insolência e simplicidade, que desisto de definir melhor. Creio até que insolência e cinismo são mal aplicados. Genoveva não se defendia de um erro ou de um perjúrio; não se defendia de nada; faltava-lhe o padrão moral das ações. O que dizia, em resumo, é que era melhor não ter mudado, dava-se bem com a afeição do Deolindo, a prova é que quis fugir com ele; mas, uma vez que o mascate venceu o marujo, a razão era do mascate, e cumpria declará-lo.” (Noite de Almirante – Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/macn004.pdf>. Acesso

em: 21 nov. 2014.) b) “Já então possuía os olhos grandes e claros, menos sabedores, mas dotados de um mover particular, que não era o espalhado da mãe, nem o apagado do pai,antes mavioso e pensativo, tão cheio de graça que faria amável a cara de um avarento. Põe-lhe o nariz aquilino, rasga-lhe a boca meio risonha, formando tudo um rosto comprido, alisa-lhe os cabelos ruivos, e aí tens a moça Flora.”

(Esaú e Jacó, cap. XXXI – Flora - Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/romance/marm09.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2014.) c) “Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu- o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos!” (A cartomante - Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/macn005.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2014.) d) “A que me cativou foi uma dama espanhola. Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. [...] A verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida,sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes.”

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(Memórias Póstumas de Brás Cubas – Cap XIV – O primeiro beijo - Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/romance/marm05.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2014.)

e) “Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.” (Missa do galo - Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/macn006.pdf>. Acesso em: 21

nov. 2014.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Fiquei prostrado. 1E contudo era eu, nesse tempo, um fiel compêndio de trivialidade e presunção. Jamais o problema da vida e da morte me oprimira o cérebro; nunca até esse dia me debruçara sobre o abismo do Inexplicável; 2faltava-me o essencial, que é o estímulo, a vertigem...

3Para lhes dizer a verdade toda, eu refletia as opiniões de um cabeleireiro, que achei em Modena, e que se distinguia por não as ter absolutamente. Era a flor dos cabeleireiros; por mais demorada que fosse a operação do toucado, não enfadava nunca; 4ele intercalava as penteadelas com muitos motes e pulhas, cheios de um pico, de um sabor... Não tinha outra filosofia. Nem eu. Não digo que a universidade me não tivesse ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim: embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação...

5Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirto que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo.

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Objetiva, 2001. p. 70-71. 14- (Uefs 2016) O texto em destaque é um fragmento da famosa obra realista de Machado de Assis, intitulada Memórias Póstumas de Brás Cubas. O narrador-personagem é um defunto que foi um homem rico e solteiro em vida e resolve narrar a sua própria história depois de morto, emitindo opiniões sem se preocupar com o julgamento que os vivos poderiam dele fazer.

A leitura do fragmento transcrito da obra permite afirmar que o sujeito narrador descreve características de sua personalidade, revelando, a) com desconforto, a sua incapacidade de ser vulgar e de repetir posturas e ideologias com as quais não

concordava. b) sem melindres, a insipiência de seus conhecimentos e opiniões, sempre reproduzidas de outra pessoa também tão

superficial quanto ele. c) sem ressalvas, seus valores aristocráticos e sua habilidade para tratar sobre qualquer tema, devido à sua

formação sólida e humanista. d) de forma vaidosa, tudo que aprendeu durante a sua formação e que nunca pode colocar em prática por falta de

interlocutores à sua altura. e) de modo surpreendente, a sua crítica em relação a pessoas que exageravam em questionamentos e opiniões sobre

tudo, mesmo quando não dominavam o assunto.

15- (Enem 2014) Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

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ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna. b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade, com que Cotrim prendia e torturava os escravos. c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara. d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades. e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.

16- (Enem 2013) Capítulo LIV — A pêndula

Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim:

— Outra de menos… — Outra de menos… — Outra de menos… — Outra de menos… O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e

eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.

Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento). O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque a) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros. b) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo. c) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas. d) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas. e) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.

17- (Ufpa 2013) Gonçalves Dias foi considerado um dos maiores expoentes da literatura romântica brasileira. Procurando seguir os preceitos do romantismo, intencionou produzir uma poesia capaz de exprimir a independência literária do Brasil. Na condição de poeta, dedicou-se a vários gêneros literários, entre eles à poesia lírica e à poesia indianista. Leia atentamente as estrofes 4, 5, 6 e 7 do canto IV do poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias:

Andei longes terras, Lidei cruas guerras, Vaguei pelas serras Dos vis Aimorés; Vi lutas de bravos, Vi fortes – escravos! De estranhos ignavos Calcados aos pés. E os campos talados, E os arcos quebrados, E os piagas coitados Já sem maracás; E os meigos cantores, Servindo a senhores, Que vinham traidores, Com mostras de paz.

Aos golpes do imigo Meu último amigo, Sem lar, sem abrigo, Caiu junto a mi! Com plácido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri. Meu pai a meu lado Já cego e quebrado, De penas ralado, Firmava-se em mi: Nós ambos, mesquinhos, Por ínvios caminhos, Cobertos d’espinhos Chegamos aqui!

Glossário:

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Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da Bahia e do Espírito Santo; Timbiras: Tapuias que habitavam o interior do Maranhão; Ignavos: fracos, covardes; Piaga: pajé, chefe espiritual; Maracá: chocalho indígena utilizado em festas religiosas e cerimônias guerreiras; Talados: devastados; Acerbo: terrível, cruel; Ínvios: intransitáveis. Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto afirmar que a) o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o colonizador europeu. b) o ritual antropofágico é representado como uma manifestação da barbárie indígena. c) a submissão das nações indígenas pelo homem branco é considerada um processo natural e desejável para o

progresso da nova nação independente. d) o ponto de vista a partir do qual se elabora o poema é o do europeu português, que condena as práticas bárbaras e

violentas das nações indígenas brasileiras. e) as práticas colonizadoras portuguesas que levaram ao quase extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto de

vista do próprio índio.

18- (Puccamp 2018) Atente para este fragmento do poeta romântico Gonçalves de Magalhães, no prefácio à sua obra Suspiros poéticos e saudades: É um livro de poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito; ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus; (...) ora, enfim, refletindo sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. Nesse fragmento incluem-se convicções românticas quanto à importância a) da religiosidade pagã e do realismo nas análises da sociedade. b) do progresso material e da evolução da ciência. c) dos valores nacionalistas e da fé cristã. d) do repúdio à barbárie e do otimismo da civilização ocidental. e) da renúncia ao misticismo e do apego ao cotidiano.

19- (Ifsp 2011) Leia o poema de Francisco Otaviano.

Ilusões da Vida Quem passou pela vida em branca nuvem, E em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu; Foi espectro de homem, não foi homem, Só passou pela vida, não viveu.

(SECCHIN, Antonio Carlos. Roteiro da poesia brasileira – Romantismo. São Paulo: Global, 2007.)

Este poema pertence à estética romântica porque a) sugere que o leitor, para ser feliz, viva alienado e distante da realidade. b) são explícitas as referências a alguns cânones do Catolicismo. c) expõe os problemas sociais que afetavam a sociedade da época. d) nele se percebe a vassalagem amorosa, isto é, a submissão do homem em relação à mulher. e) sugere que é importante viver, de forma intensa e profunda, as experiências da existência humana.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: José de Alencar retratou o seu herói goitacá em prosa, a exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito

com os cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar um mítico passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros medievais de Scott, o índio seria o modelo de que Alencar lançaria mão. (...) O índio entrara como tema na literatura universal por influência das ideias dos filósofos iluministas e especialmente, da obra de Jean-Jacques Rousseau (...). As teses de Rousseau sobre o “bom selvagem”, por sua vez, bebiam na fonte das narrativas de viajantes do século XVI, os primeiros europeus que haviam colocado os pés no chão americano. Foram esses viajantes os responsáveis pela propagação do juízo de que, do outro lado do oceano, existia um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...).

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(NETO, Lira. O inimigo do Rei. Uma biografia de José de Alencar. São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167)

20- (Puccamp 2017) A corrente romântica indianista, além da ficção de José de Alencar, encontrou também alta expressão a) na poesia de feitio lírico ou épico, como nos cantos de Gonçalves Dias. b) na crônica de costumes, como as frequentadas pelos missionários do século XVI. c) no teatro popular, como o desenvolvido por Martins Pena. d) na épica de recorte clássico, como a concebeu Tomás Antônio Gonzaga. e) na crítica satírica, como a elaborada por Gregório de Matos.

GABARITO

Resposta da questão 1: a) Nos trechos citados no enunciado, os retratos dos pais realizados por seus filhos diferem na perspectiva temporal dos narradores, na linguagem e na visão da figura paterna no contexto familiar de cada um. Em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, o narrador é um homem adulto, com linguagem elaborada e intencionalmente irônica, que relembra a sua infância de forma distante, através de verbos, predominantemente, no pretérito imperfeito do indicativo. Em “Minha vida de menina”, o narrador é uma criança que o leitor identifica na linguagem simples de frases curtas e repetição de vocábulos com que tece considerações sobre ambas as figuras paternas, através do uso de verbos no presente do indicativo.

b) As expressões “O marido era na Terra o seu deus” e “só Nossa Senhora pode ser melhor que mamãe” não podem

ser consideradas, respectivamente, como exemplos de visões contrastantes da organização familiar, o patriarcado e o

matriarcado. No texto I, o narrador desvaloriza a figura materna no contexto familiar (“Minha mãe era uma senhora

fraca, de pouco cérebro”,” caseira, apesar de bonita”, “temente às trovoadas e ao marido”). Também no texto II, o

narrador, apesar da ligação afetiva que o aproxima mais da mãe, reconhece que, socialmente, a figura paterna é mais

reverenciada e elogiada do que a materna.

Resposta da questão 2: [A]

[A] Correta. O egocentrismo era uma das características principais da segunda geração modernista, representada, sobretudo, por Álvares de Azevedo e destacada pelos verbos subjetivos utilizados na primeira pessoa, enfatizando as dores do amor platônico, também uma outra característica da poesia Romântica da segunda geração.

[B] O indianismo pertence à primeira geração romântica. [C] O medievalismo foi mais trabalhado na primeira fase do Romantismo europeu, substituído pelo indianismo local. [D] O nacionalismo é característica do primeiro movimento Romântico no Brasil. [E] Qualquer menção nativista não pertence à poesia byroniana brasileira.

Resposta da questão 3: [D] O soneto coloca que a paixão deixa as pessoas vulneráveis ao sofrimento e, sendo assim, devem ter cuidado.

Resposta da questão 4: [E] Em Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis constrói um narrador que, a todo tempo, faz uma

autorreflexão de sua narrativa, explicando o percurso que seguirá e o que irá narrar. Isso faz com que a ideia de que o

romance é escrito a partir de um ponto de vista específico seja reforçada e que o leitor coloque em xeque muito daquilo

que o narrador expõe.

Resposta da questão 5: [C] Enquanto Brás Cubas aponta como fator positivo o fato de nunca ter trabalhado (“coube-me a boa fortuna de não

comprar o pão com o suor do meu rosto”), Helena manifesta o seu desagrado quando não está ocupada a fazer algo

(“Ser obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim”). Assim, é correta a opção [C], pois Brás Cubas e Helena

apresentam como características, respectivamente, apatia e determinação.

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Resposta da questão 6: [D] Sua reflexão imoral se faz entender a partir da ironia que o narrador utiliza. Ele trata dos sentimentos de Marcela, e coloca que ela o amou durante quinze meses e onze contos de réis. Assim, por meio da ironia insinua que Marcela, na verdade, gostava mesmo do dinheiro dele, daí a imoralidade da reflexão. Assim, a alternativa [D] está incorreta, uma vez que a reflexão se faz entender no âmbito da linguagem irônica e da interpretação dos sentimentos não tão sinceros de Marcela. Resposta da questão 7: [D] A repetição do nome “Virgílio” prenuncia a descoberta de Virgília, mulher com quem Brás irá se relacionar por um longo

tempo.

Resposta da questão 8: [C] Apenas na alternativa [C] não há correspondência entre o trecho apresentado e a figura de linguagem: em “como uma frouxa lamparina no meio das trevas” há uma comparação; o eufemismo é uma figura em que há intenção de amenizar uma mensagem. Resposta da questão 9: [B] [A] Incorreta. Brás cogitou dar três moedas das cinco de ouro que tinha, mas desistiu da ideia. [B] Correta. Apesar de cogitar recompensar o almocreve com três moedas de ouro, repensa a oferta a ponto de lhe

dar apenas “uma pratinha”. [C] Incorreta. A redução foi a um cruzado em prata. [D] Incorreta. Após haver dado o cruzado em prata, Brás considerou-se pródigo e pensou que deveria ter lhe dado moedas de cobre, ou seja, de menor valor. Resposta da questão 10: [B] O “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília alterna a “paixão sem freio” e “uma hipocrisia paciente e sistemática” no relacionamento do casal. Da mesma forma, a vida de Brás Cubas é uma sucessão de momentos de grande euforia com outros de grande tédio, como se afirma em [B]. Resposta da questão 11: [E] O personagem-narrador Brás Cubas busca criar um emplasto para obter lucro e tornar-se reconhecido. Assim, o que

o move não é uma preocupação com o outro, mas consigo próprio. A ideia do emplasto revela, portanto, uma

megalomania de Brás Cubas, isto é, uma supervalorização de si mesmo (narcisismo).

Resposta da questão 12: [D] O trecho em questão denuncia, ironicamente, a incoerência e hipocrisia de Brás Cubas, pois, vivendo de fortuna pessoal e apenas para mostrar superioridade, dá uma esmola ao mendigo Quincas Borba, não hesitando em exigir que trabalhe como forma de garantir a sua sobrevivência. Assim, é correta a opção [D]. Resposta da questão 13: [B] [A] Incorreta – A imagem negativa de Genoveva se faz presente, por exemplo, em “mescla da candura e cinismo, de

insolência e simplicidade, que desisto de definir melhor”, de modo que o narrador ainda afirma: “faltava-lhe o padrão moral das ações”.

[B] Correta – A “moça Flora” é descrita de modo positivo pelo narrador. Segundo ele, o olhar dela era “antes mavioso e pensativo, tão cheio de graça que faria amável a cara de um avarento”.

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[C] Incorreta – Rita é comparada a uma serpente pelo narrador. [D] Incorreta – A interesseira Marcela é descrita por Brás Cubas como “Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um

pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes.”

[E] Incorreta – Conceição, por seu caráter passivo, também é descrita de forma negativa: “No capítulo de que trato,

dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era

atenuado e passivo.”

Resposta da questão 14: [B] No trecho apresentado, Brás Cubas não tem pudor em defender que sua opinião é tal qual a de um cabeleireiro: não

a ter. O filho da elite brasileira orgulha-se por não ter opinião formada, por não ter feito do momento de estudos em

uma Universidade nada além de manter a aparência de cultura, sem se permitir aprofundamentos de ordem ideológica.

Resposta da questão 15: [B] Das mais nobres e raras marcas da linguagem machadiana é a sutileza, a ironia descrita por sugestões, em geral,

atitudes condenáveis moralmente, mas descritas com polidez, ainda que sórdidas, como a de torturar escravos,

martirizá-los enquanto os contrabandeava em navios, àquela época, prática já proibida.

Resposta da questão 16: [D] Através da simbologia do relógio, Brás Cubas faz uma distinção entre o tempo qualitativo, repleto de sensações

agradáveis pelo beijo com Virgília, com o tempo quantitativo, mensurável e mecânico que assinala a brevidade da vida.

Ou seja, o tempo que antes era encarado com enfado pelas sensações de perda que provocava, passa a ser objeto

de prazer quando, através da memória, revive os momentos passados com a mulher amada. Embora o escapismo,

idealização e subjetividade sejam características do Romantismo, o fato de estarem associados ao amor por uma

mulher adúltera desconstrói esses paradigmas. Assim, é correta a opção [D].

Resposta da questão 17: [E] As estrofes do poema ”I Juca Pirama” descrevem a derrota da tribo Tupi face às agressões do colonizador europeu e

a submissão a que foi sujeita perante a força do opressor, o que torna inadequadas as alternativas [A] e [C]. Também

não existe, no excerto do poema, nenhuma referência a ritual antropofágico e o ponto de vista a partir do qual se

elabora o poema é o do próprio índio, ao contrário do que afirma em [B] e [C], respectivamente. Assim, é correta apenas

a alternativa [E].

Resposta da questão 18: [C] O livro “Suspiros poéticos e saudades”, de Gonçalves de Magalhães, é tido como marco fundador do Romantismo no

Brasil. Exalta o patriotismo, o nacionalismo, o primitivismo brasileiro, a visão cristã e a natureza, como se pode observar

no último segmento do excerto: “admirando a grandeza de Deus; (...) ora, enfim, refletindo sobre a sorte da Pátria,

sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida”. Assim, é correta a opção [C].

Resposta da questão 19: [E] A estética romântica caracteriza-se, entre outros, pelo desenvolvimento de uma literatura confessional que se presta à

exibição do “eu” e do indivíduo como único e original em sentimentos e imaginação; o “eu” aspira ao absoluto e procura

transcender a sua condição humana, exalta a emotividade e os sentimentos são levados ao exagero: fala-se de amor,

de ciúme, de vingança, de desespero e de morte.

Resposta da questão 20:

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[A] É correta a opção [A], pois Gonçalves Dias, que fez parte da primeira geração do Romantismo brasileiro (também

conhecida como geração indianista ou nacionalista) procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar

assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura nacional. Os seus poemas marcados pela presença de rima,

musicalidade e métrica exaltam a natureza e valorizam a figura do índio e sua cultura de forma idealizada.