assis, machado de. memórias póstumas de brás cubas ... · 10.b) ainda quanto a esses...

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ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas QUESTÕES PARA EXERCITAÇÃO Questão 1 Concordei que assim era, mas aleguei que a velhice de D. Plácida estava agora ao abrigo da mendicidade: era uma compensação. Se não fossem os meus amores, provavelmente D. Plácida acabaria como tantas outras criaturas humanas; donde se poderia deduzir que o vício é muitas vezes o estrume da virtude. O que não impede que a virtude seja uma flor cheirosa e sã. A consciência concordou, e eu fui abrir a porta a Virgília. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis) Neste fragmento, o narrador justifica o fato de haver convencido D. Plácida a cuidar da casa onde ele e Virgília manteriam seus encontros adúlteros, utilizando o argumento segundo o qual ele praticara, dessa forma, uma boa ação, livrando a ex-costureira de um fim de vida ao desamparo. a) Do ponto de vista da ética, como se pode considerar essa argumentação do narrador? b) Explique o sentido da sequência: “...o vício é muitas vezes o estrume da virtude.” Questão 2 No momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo Neves o seu movimento de translação. Morria com o pé na escada ministerial. Correu, ao menos durante algumas semanas, que ele ia ser ministro; e pois que o boato me encheu de muita irritação e inveja, não é possível que a notícia da morte me deixasse alguma tranquilidade, alívio e um ou dois minutos de prazer. Prazer é muito, mas é verdade; juro aos séculos que é a pura verdade. Fui ao enterro. Na sala mortuária achei Virgília, ao pé do féretro, a soluçar. Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras. Ao sair o enterro, abraçou-se ao caixão, aflita; vieram tirá-la e levá-la para dentro. Digo-vos que as lágrimas eram verdadeiras. Eu fui ao cemitério; e, para dizer tudo, não tinha muita vontade de falar; levava uma pedra na garganta ou na consciência. No cemitério, principalmente quando deixei cair a pá de cal sobre o caixão, no fundo da cova, o baque surdo da cal deu-me um estremecimento, passageiro, é certo, mas desagradável; e depois a tarde tinha o peso e a cor do chumbo; o cemitério, as roupas pretas . . . (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis) Considerando o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas como um todo, qual o verdadeiro motivo que teria levado o narrador a afirmar, referindo-se a Virgília: “Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras (...) Digo-vos que as lágrimas eram verdadeiras”? Texto para as questões “3” e “4”: Capítulo LXXVI O ESTRUME Súbito deu-me a consciência um repelão, acusou-me de ter feito capitular a probidade de D. Plácida, obrigando-a a um papel torpe, depois de uma longa vida de trabalho e privações. Medianeira não era melhor que concubina, e eu tinha-a baixado a

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Page 1: ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas ... · 10.b) Ainda quanto a esses “deslizes”, o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas revela-se como alguém que

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas QUESTÕES PARA EXERCITAÇÃO

Questão 1

Concordei que assim era, mas aleguei que a velhice de D. Plácida estava agora

ao abrigo da mendicidade: era uma compensação. Se não fossem os meus amores,

provavelmente D. Plácida acabaria como tantas outras criaturas humanas; donde se

poderia deduzir que o vício é muitas vezes o estrume da virtude. O que não impede que

a virtude seja uma flor cheirosa e sã. A consciência concordou, e eu fui abrir a porta a

Virgília.

(Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis)

Neste fragmento, o narrador justifica o fato de haver convencido D. Plácida a cuidar da

casa onde ele e Virgília manteriam seus encontros adúlteros, utilizando o argumento

segundo o qual ele praticara, dessa forma, uma boa ação, livrando a ex-costureira de um

fim de vida ao desamparo.

a) Do ponto de vista da ética, como se pode considerar essa argumentação do narrador?

b) Explique o sentido da sequência: “...o vício é muitas vezes o estrume da virtude.”

Questão 2 No momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo

Neves o seu movimento de translação. Morria com o pé na escada ministerial. Correu,

ao menos durante algumas semanas, que ele ia ser ministro; e pois que o boato me

encheu de muita irritação e inveja, não é possível que a notícia da morte me deixasse

alguma tranquilidade, alívio e um ou dois minutos de prazer. Prazer é muito, mas é

verdade; juro aos séculos que é a pura verdade.

Fui ao enterro. Na sala mortuária achei Virgília, ao pé do féretro, a soluçar.

Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras. Ao sair o enterro, abraçou-se ao

caixão, aflita; vieram tirá-la e levá-la para dentro. Digo-vos que as lágrimas eram

verdadeiras. Eu fui ao cemitério; e, para dizer tudo, não tinha muita vontade de falar;

levava uma pedra na garganta ou na consciência. No cemitério, principalmente quando

deixei cair a pá de cal sobre o caixão, no fundo da cova, o baque surdo da cal deu-me

um estremecimento, passageiro, é certo, mas desagradável; e depois a tarde tinha o peso

e a cor do chumbo; o cemitério, as roupas pretas . . .

(Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis)

Considerando o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas como um todo, qual o

verdadeiro motivo que teria levado o narrador a afirmar, referindo-se a Virgília:

“Quando levantou a cabeça, vi que chorava deveras (...) Digo-vos que as lágrimas eram

verdadeiras”?

Texto para as questões “3” e “4”:

Capítulo LXXVI

O ESTRUME

Súbito deu-me a consciência um repelão, acusou-me de ter feito capitular a

probidade de D. Plácida, obrigando-a a um papel torpe, depois de uma longa vida de

trabalho e privações. Medianeira não era melhor que concubina, e eu tinha-a baixado a

Page 2: ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas ... · 10.b) Ainda quanto a esses “deslizes”, o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas revela-se como alguém que

esse ofício, à custa de obséquios e dinheiros. Foi o que me disse a consciência; fiquei

uns dez minutos sem saber que lhe replicasse. Ela acrescentou que eu me aproveitara da

fascinação exercida por Virgília sobre a ex-costureira, da gratidão desta, enfim da

necessidade. Notou a resistência de D. Plácida, as lágrimas dos primeiros dias, as caras

feias, os silêncios, os olhos baixos, e a minha arte em suportar tudo isto, até vencê-la. E

repuxou-me outra vez de um modo irritado e nervoso .

Concordei que assim era mas aleguei que a velhice de D. Plácida estava agora ao

abrigo da mendicidade(1)

, era uma compensação. Se não fossem os meus amores,

provavelmente D. Plácida acabaria como tantas outras criaturas humanas; donde se

poderia deduzir que o vício é muitas vezes o estrume da virtude. O que não impede que

a virtude seja uma flor cheirosa e sã. A consciência concordou, e eu fui abrir a porta a

Virgília.

(1) mendicidade: qualidade ou estado de mendigo. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis)

Questão 3 No texto, a personagem joga com as palavras “virtude” e “vício”.

De que “vício” e de que “virtude” se trata?

Questão 4 Que análise permite o fato de a personagem relacionar ambos?

Questão 5

Uma semana depois, Lobo Neves foi nomeado presidente da província. Agarrei-

me à esperança de recusa, se o decreto viesse outra vez datado de 13, trouxe, porém, a

data de 31, e esta simples transposição de algarismos eliminou deles a substância

diabólica. Que profundas que são as molas da vida!

(Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis)

A frase “Que profundas que são as molas da vida!” pode ser interpretada como irônica

no contexto do romance? Por quê?

Texto para as questões “6” e “7”: Os Cães

Mas enfim, que pretendes fazer agora? Perguntou-me Quincas Borba, indo pôr a

xícara vazia no parapeito de uma das janelas.

- Não sei; vou meter-me na Tijuca; fugir aos homens. Estou envergonhado,

aborrecido. Tantos sonhos, meu caro Borba, tantos sonhos, e não sou nada.

-Nada! interrompeu-me Quincas Borba com um gesto de indignação.

Para distrair-me, convidou-me a sair; saímos para os lados do Engenho Velho.

Íamos a pé, filosofando as coisas. Nunca me há de esquecer o benefício desse passeio. A

palavra daquele grande homem era o cordial da sabedoria. Disse-me ele que eu não

podia fugir ao combate; se me fechavam a tribuna, cumpria-me abrir um jornal. Chegou

a usar uma expressão menos elevada, mostrando assim que a língua filosófica podia,

uma ou outra vez, retemperar-se no calão do povo. Funda um jornal, disse-me ele, e “

desmancha toda esta igrejinha”.

- Magnífica idéia! Vou fundar um jornal, vou escacha(1)

-los, vou...

-Lutar. Podes escachá-los ou não; o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem

luta é um mar morto no centro do organismo universal.

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Daí a pouco demos com uma briga de cães; fato que aos olhos de um homem

vulgar não teria valor. Quincas Borba fez-me parar e observar os cães. Eram dois.

Notou que ao pé deles estava um osso, motivo da guerra, e não deixou de chamar a

minha atenção para a circunstância de que o osso não tinha carne. Um simples osso nu.

Os cães mordiam-se, rosnavam, com o furor nos olhos... Quincas Borba meteu a

bengala debaixo do braço, e parecia em êxtase.

- Que belo que isto é! dizia ele de quando em quando. (1) escachar: rachar; partir ao meio

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Questão 6 No trecho transcrito de Memórias Póstumas de Brás Cubas, está estampada uma

oposição entre o lugar ocupado por Quincas Borba, um filósofo e um “ grande

homem”, e as pessoas comuns. Comente dois exemplos extraídos do fragmento, pelos

quais fica evidente essa distinção, tanto no plano dos fatos quanto no plano lingüístico.

Questão 7 A observação da briga de cães causa uma reflexão filosófica de Quincas Borba. Essa

teoria aparece tanto em Memórias Póstumas de Brás Cubas como no romance seguinte,

Quincas Borba. Qual o nome da teoria de Quincas Borba?

Textos para as questões “8” e “9”:

TEXTO I Mas o realismo de Manuel Antônio de Almeida não se esgota nas linhas meio

caricaturais com que define uma variada galeria de tipos populares. O seu valor reside

principalmente em ter captado, pelo fluxo narrativo, uma das marcas da vida na

pobreza, que é a perpétua sujeição(1)

à necessidade, sentida de modo fatalista como o

destino de cada um. Esse contínuo esforço de driblar o acaso das condições adversas e a

avidez de gozar os intervalos de boa sorte impelem os figurantes das Memórias, e, em

primeiro lugar, o anti-herói Leonardo, “filho de uma pisadela e de um beliscão” para a

roda viva de pequenos engodos(2)

e demandas(3)

de emprego, entremeadas com

ciganagens e patuscadas(4)

que dão motivo ao romancista para fazer entrar em cena tipos

e costumes do velho Rio. (1) sujeição: ato de sujeitar ou sujeitar-se; dependência; submissão

(2) engodo: isca com que se apanham peixes; ação para seduzir alguém; adulação para seduzir

(3) demanda: busca; procura

(4) patuscada: ajuntamento festivo de pessoas para comer e beber; farra; pândega (BOSI, Alfredo, 1994. História Concisa da Literatura Brasileira.São Paulo:

Editora Cultrix)

TEXTO II

- Se eu pudesse encontrar outro marido – disse-me ela -, creia que me teria

casado; mas ninguém queria casar comigo.

Um dos pretendentes conseguiu fazer-se aceito; não sendo, porém, mais delicado

que os outros, Dona Plácida despediu-o do mesmo modo, e, depois de o despedir,

chorou muito. Continuou a coser(1)

para fora e a escumar(2)

os tachos. A mãe tinha a

rabugem do temperamento, dos anos e da necessidade; mortificava a filha para que

tomasse um dos maridos de empréstimo e de ocasião que lha pediam. E bradava:

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- Queres ser melhor do que eu? Não sei donde te vêm essas fidúcias(3)

de pessoa

rica. Minha camarada, a vida não se arranja à toa; não se come vento. Ora essa! Moços

tão bons como o Policarpo da venda, coitado... Esperas algum fidalgo, não é?

(1) coser: costurar; fazer trabalho de costura

(2) escumar: tirar a escuma (espuma) a; deitar ou fazer escuma

(3) fidúcia: confiança; segurança

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Questão 8 Que aspecto presente no Texto II pode ser associado ao trecho em negrito do Texto I?

Questão 9 Por que o trecho em negrito do Texto I, que remete a uma obra inserida no Romantismo

brasileiro, pode ser associado ao Texto II, fragmento de uma obra inserida no Realismo

brasileiro?

Textos para as questões “10” e “11”:

TEXTO I

Outrossim, afeiçoei-me à contemplação da injustiça humana, inclinei-me a

atenuá-la, a explicá-la, a classificá-la por partes, a entendê-la, não segundo um padrão

rígido, mas ao sabor das circunstâncias e lugares. Minha mãe doutrinava-me a seu

modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que, mais do que as

orações, me governavam os nervos e o sangue, e a boa regra perdia o espírito, que a faz

viver, para se tornar uma vã(1)

fórmula. De manhã, antes do mingau, e de noite, antes da

cama, pedia a Deus que me perdoasse, assim como eu perdoava aos meus devedores;

mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade, e meu pai, passado o alvoroço,

deva-me pancadinhas na cara, e exclamava a rir: “Ah! Brejeiro(2)

! Ah! Brejeiro!”

(1) vão: sem valor; inútil; ineficaz

(2) brejeiro: brincalhão; malicioso (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)

TEXTO II

O compadre que no meio de tudo tinha sempre pintado a história do menino com

cores muito favoráveis, não cessando de gabar a sua mansidão, boa índole, e dourado(1)

sempre as suas diabruras com o título de inocências, ingenuidades ou coisas de criança,

começou a dar o cavaco(2)

com o desmentido que lhe dava a vizinha, que ao contrário

dele pintava tudo com cores negras. A comadre interveio também nessa ocasião, porém

conservando uma posição duvidosa: ora era da opinião do compadre, ora da opinião da

vizinha. (1) dourar: cobrir; embelezar

(2) dar o cavaco: demonstrar enfado ou zanga por ter sido zombado ou ridicularizado (ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias)

Questão 10 Com relação aos “deslizes” que o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas

comete durante a narrativa, “desnudando-se em suas falhas”, o Texto I oferece marcas

que confirmam alguns desses “deslizes”.

10.a) Aponte duas dessas marcas e esclareça por que essa escolha comprova a “auto-

traição” do narrador.

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10.b) Ainda quanto a esses “deslizes”, o narrador de Memórias Póstumas de Brás

Cubas revela-se como alguém que relativiza o cumprimento dos preceitos éticos.

Transcreva uma sequência (máximo de dez palavras) que comprove essa relativização.

Justifique sua resposta.

Questão 11 Embora os fragmentos aqui apresentados, extraídos de romances inseridos em

movimentos literários diferentes, o Realismo e o Romantismo, é possível observar uma

semelhança quanto à atitude tomada pelo pai do narrador de Memórias Póstumas de

Brás Cubas e a atitude tomada pelo “compadre”, no Texto II.

Indique qual é essa semelhança e esclareça por que a evidência dessas atitudes

configura uma crítica dentro de cada uma das obras.

Textos para as questões “12” e “13”:

TEXTO I Tão exagerados eram os afagos de José Manoel para com D. Maria, e tanto repartia ele

esses afagos com Luisinha, que bem claro se deixou ver que havia neles fim oculto.

Afinal o negócio aclarou-se. D. Maria era, como dissemos, rica e velha; não tinha outro

herdeiro senão sua sobrinha; se morresse D. Maria, Luisinha ficaria arranjada, e como

era muito criança e mostrava ser muito simples, era uma esposa conveniente a qualquer

esperto que se achasse, como José Manoel, em disponibilidade; este pois fazia a corte à

velha com intenções na sobrinha. Quando Leonardo, esclarecido pela sagacidade(1)

de

seu padrinho, entrou no conhecimento destas coisas, ficou fora de si, e a ideia mais

pacífica que teve foi que podia mui bem, quando fosse visitar D. Maria, munir-se(2)

de

uma das navalhas mais afiadas de seu padrinho, e na primeira ocasião oportuna fazer de

um só golpe em dois o pescoço de José Manoel. Porém teve de aplacar-se(3)

e ceder às

admoestações(4)

do padrinho, que sabia de todos os seus sentimentos, e que os aprovava. (1) sagacidade: finura; perspicácia; sutileza

(2) munir-se: armar-se; prover-se do necessário para a defesa ou o combate

(3) aplacar-se: acalmar-se; moderar

(4) admoestação: advertência; aviso; conselho (ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias)

TEXTO II Capítulo 28

CONTANTO QUE...

- Virgília? interrompi eu.

- Sim, senhor; é o nome da noiva. Um anjo, meu pateta, um anjo sem asas.

Imagina uma moça assim, desta altura, viva como um azougue(1)

, e uns olhos... filha do

Dutra...

- Que Dutra?

- O Conselheiro Dutra, não conheces; uma influência política. Vamos lá, aceitas?

Não respondi logo; fitei por alguns segundos a ponta do botim(2)

; declarei depois

que estava disposto a examinar as duas coisas, a candidatura e o casamento, contanto

que...

- Contanto que?

- Contanto que não fique obrigado a aceitar as duas; creio que posso ser

separadamente homem casado ou homem público...

- Todo o homem público deve ser casado, interrompeu sentenciosamente(3)

meu

pai. Mas seja como queres; estou por tudo; fico certo de que a vista fará fé! Demais a

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noiva e o parlamento são a mesma coisa... isto é, não... saberás depois.. Vá; aceito a

dilação(4)

, contanto que...

- Contanto que?... interrompi eu, imitando-lhe a voz.

- Ah! brejeiro! Contanto que não te deixes ficar aí inútil, obscuro, e triste; não

gastei dinheiro, cuidados, empenhos, para te não ver brilhar, como deves, e te convém, e

a todos nós; é preciso continuar o nosso nome, continuá-lo e ilustrá-lo ainda mais. (1) azougue: pessoa inquieta; pessoa esperta

(2) botim: calçado de couro, de cano mais curto que a bota e geralmente com elásticos

(3) sentencioso: grave como um juiz; da natureza da sentença

(4) dilação: adiamento; prorrogação (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Questão 12 No que diz respeito ao casamento, é possível identificar uma semelhança entre os dois

textos.

12.a) Em que consiste essa semelhança? Justifique sua resposta.

12.b) Comente a resposta à Questão “28.a” levando em conta os movimentos literários

em que estão inseridos os dois romances.

Questão 13 Na fala: “Todo o homem público...”, há o emprego indevido do artigo “o”.

Em que consiste essa inadequação? Justifique sua resposta, apresentando a classificação

gramatical das palavras envolvidas naquela construção.

Texto para as questões “14” e “15”:

Capítulo 115

O ALMOÇO

Não a vi partir; mas à hora marcada senti alguma coisa que não era dor nem

prazer, uma coisa mista, alívio e saudade, tudo misturado, em iguais doses. Não se irrite

o leitor com esta confissão. Eu bem sei que, para titilar(1)

-lhe os nervos da fantasia,

devia padecer(2)

um grande desespero, derramar algumas lágrimas, e não almoçar. Seria

romanesco; mas não seria biográfico. A realidade pura é que almocei, como nos demais

dias, acudindo ao coração com as lembranças da minha aventura, e ao estômago com os

acepipes(3)

de M. Prudhon... (1) titilar: estremecer; estimular; fazer cócegas ligeiras

(2) padecer: ser atormentado; sofrer dores físicas ou morais

(3) acepipe: guloseima; petisco (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Questão 14 Neste fragmento, é possível notar revelações sobre o narrador e seu estilo.

Que elementos presentes neste fragmento permitem observações quanto ao fato de o

narrador “revelar-se a si mesmo” em seus relatos, fato recorrente ao longo de toda a

narrativa?

Questão 15 Que passagem deste fragmento permite afirmar que há aí uma crítica ao movimento

literário anterior ao Realismo? Justifique sua resposta.

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Texto para as questões “16” e “17”: Capítulo 70 – Dona Plácida Voltemos à casinha. Não serias capaz de lá entrar hoje, curioso leitor; envelheceu, apodreceu, e o proprietário deitou-a abaixo para substituí-la por outra, três vezes maior , mas juro-te que muito menor que a primeira. O mundo era estreito para Alexandre(1); um desvão(2) de telhado é o infinito para as andorinhas. Vê agora a neutralidade deste globo, que nos leva, através dos espaços, como uma lancha de náufragos, que vai dar à costa: dorme hoje um casal de virtudes no mesmo espaço de chão que sofreu um casal de pecados. Amanhã pode lá dormir um eclesiástico(3), depois um assassino, depois um ferreiro, depois um poeta, e todos abençoarão esse canto de terra, que lhes deu algumas ilusões. Virgília fez daquilo um brinco; designou as alfaias(4) mais idôneas(5), e dispô-las com a intuição estética(6) da mulher elegante; eu levei para lá alguns livros, e tudo ficou sob a guarda de Dona Plácida, suposta, e, a certos respeitos, verdadeira dona da casa.

Alexandre: rei da Macedônia (356 a.C. - 323 a.C.) desvão: espaço entre o telhado e o forro de uma casa eclesiástico: sacerdote; pertencente ou relativo à Igreja alfaia: móvel ou utensílio de uso ou adorno doméstico idôneo: adequado; próprio para alguma coisa estético: harmonioso; belo

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas) Questão 16 Considerando o todo do romance, esclareça a aparente contradição presente em: “... três vezes maior, mas juro-te que muito menor que a primeira.”. Questão 17 Indique uma passagem do segundo parágrafo deste fragmento que justifique a sua resposta à questão anterior. Justifique a indicação. Textos para as questões “18”, “19” e “20”: TEXTO I Capítulo XVII – D. Maria (...) A causa principal de tudo isto era, supomos nós, além talvez de outras, o levar esta procissão uma coisa que não tinha nenhuma das outras: o leitor há de achá-la sem dúvida extravagante e ridícula; outro tanto nos acontece, mas temos obrigação de referi-la. Queremos falar de um grande rancho chamado das – Baianas, - que caminhava adiante da procissão, atraindo mais ou tanto como os santos, os andores(1), os emblemas(2) sagrados, os olhares dos devotos; era formado esse rancho por um grande número de negras vestidas à moda da província da Bahia, donde lhe vinha o nome, e que dançavam nos intervalos dos Deo-gratias(3) uma dança lá a seu capricho. Para falarmos a verdade, a coisa era curiosa: e se não a empregassem como primeira parte de uma procissão religiosa, certamente seria mais desculpável. Todos conhecem o modo por que se vestem as negras da Bahia; é um dos modos de trajar mais bonito que temos visto, não aconselhamos porém que ninguém o adote; um país em que todas as mulheres usassem desse traje, especialmente se fosse desses abençoados em que elas são alvas e formosas, seria uma terra de perdição e de pecados. Procuremos descrevê-lo.

(1) andor: padiola sobre a qual se conduzem imagens nas procissões

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(2) emblema: símbolo; figura simbólica

(3) Deo-gratias: Graças a Deus – expressão que muito frequentemente se repete nas orações litúrgicas

(ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias) TEXTO II Capítulo 12 – Um episódio de 1814 Chegando ao Rio de Janeiro a notícia da primeira queda de Napoleão, houve naturalmente grande abalo em nossa casa, mas nenhum chasco(1) ou remoque(2). Os vencidos, testemunhas do regozijo(3) público, julgaram mais decoroso o silêncio; alguns foram além e bateram palmas. A população, cordialmente alegre, não regateou(4) demonstrações de afeto à real família; houve iluminações, salvas, Te Deum(5), cortejo e aclamações. Figurei nesses dias com um espadim(6) novo, que meu padrinho me dera no dia de Santo Antônio; e, francamente, interessava-me mais o espadim do que a queda de Bonaparte. Nunca me esqueceu esse fenômeno. Nunca mais deixei de pensar comigo que o nosso espadim é sempre maior do que a espada de Napoleão.

(1) chasco: zombaria

(2) remoque: insinuação indireta e maliciosa

(3) regozijo: vivo contentamento; grande satisfação

(4) regatear: diminuir; depreciar

(5) Te Deum: cântico de ação de graças da Igreja Católica; cerimônia que acompanha essa ação de graças

(6) espadim: pequena espada (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas) TEXTO III

Capítulo 76 - O estrume(1) Súbito deu-me a consciência um repelão, acusou-me de ter feito capitular a probidade de dona Plácida, obrigando-a a um papel torpe(2), depois de uma longa vida de trabalho e privações(3). (…) Concordei que assim era, mas aleguei que a velhice de dona Plácida estava agora ao abrigo da mendicidade(4): era uma compensação. Se não fossem os meus amores, provavelmente dona Plácida acabaria como tantas outras criaturas humanas; donde se poderia deduzir que o vício é muitas vezes o estrume da virtude. O que não impede que a virtude seja uma flor cheirosa e sã. A consciência concordou, e eu fui abrir a porta a Virgília.

(1) estrume: adubo geralmente consituído de esterco (2) torpe: desonesto; infame (3) privação: ato de deixar de possuir; ato de impedir a posse

(4) mendicidade: qualidade de mendigo; ato de mendigar (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas) Questão 3918 Tendo em vista as características das obras de que foram extraídos estes fragmentos, faça um comentário a respeito do detalhamento das descrições presentes nos Textos I e II, comparando-as e justificando as diferenças quanto a esse detalhamento. Questão 19 Considerando as características de Memórias de um Sargento de Milícias, explique o

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emprego da sequência em destaque no trecho a seguir: “A causa principal de tudo isso era, supomos nós, além talvez de outras, o levar esta procissão uma coisa que não tinha nenhuma das outras: o leitor há de achá-la sem dúvida extravagante e ridícula; outro tanto nos acontece, mas temos obrigação de referi-la.” Questão 20 Explique a utilização da metalinguagem pelos narradores dos Textos I e III, não se esquecendo de considerar as características narrativas das respectivas obras.

Texto para as questões “21” e “22”:

Capítulo 58 – Confidência

Lobo Neves, a princípio, metia-me grandes sustos. Pura ilusão! Como adorasse a

mulher, não se vexava de mo dizer muitas vezes; achava que Virgília era a perfeição

mesma, um conjunto de qualidades sólidas e finas, amorável, elegante, austera, um

modelo. E a confiança não parava aí. De fresta que era, chegou a porta escancarada. Um

dia confessou-me que trazia uma triste carcoma na existência: faltava-lhe a glória

pública. Animei-o; disse-lhe muitas coisas bonitas, que ele ouviu com aquela unção

religiosa de um desejo que não quer acabar de morrer; então compreendi que a ambição

dele andava cansada de bater as asas, sem poder abrir o voo. Dias depois disse-me todos

os seus tédios e desfalecimentos, as amarguras engolidas, as raivas sopitadas; contou-

me que a vida política era um tecido de invejas,despeitos, intrigas, perfídias, interesses,

vaidades. Evidentemente havia aí uma crise de melancolia; tratei de combatê-la.

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Questão 21

Baseando-se em elementos presentes neste fragmento, esclareça o sentido da sequência:

“De fresta que era, chegou a porta escancarada.”

Questão 22

Identifique a metáfora utilizada pelo narrador para explicar a ambição de Lobo Neves e

esclareça tal metáfora, levando em conta elementos presentes neste fragmento e

considerando o todo do romance.

Texto para as questões “23” e “24: TEXTO O DELÍRIO Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação desses fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direto à narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos. (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas) Questão 23 Esclareça a que se referem o pronome “o” (“... delírio; faço-o eu, e a ciência...”) e a contração “mo” (“..., e a ciência mo agradecerá.”). Questão 24

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Um traço marcante da personalidade de Brás Cubas, o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas, é a sua vaidade, que o leitor atento vai percebendo nos deslizes cometidos durante a narração. Identifique neste excerto uma sequência que comprova esse traço da personalidade do narrador e justifique sua escolha. Texto para a questão “25”: TEXTO MARQUESA, PORQUE EU SEREI MARQUÊS Positivamente, era um diabrete Virgília, um diabrete angélico, se querem, mas era-o, e então... Então apareceu o Lobo Neves, um homem que não era mais esbelto que eu, nem mais elegante, nem mais lido, nem mais simpático, e todavia foi quem me arrebatou Vírgília e a candidatura, dentro de poucas semanas, com um ímpeto verdadeiramente cesariano(1).

(1) cesariano: como se fosse um Júlio César, famoso político e general romano.

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas) Questão 25 No segundo período deste excerto, o narrador utiliza-se de uma anáfora para reforçar uma oposição que será apresentada na sequência. Identifique todos os elementos envolvidos na anáfora e na oposição, esclarecendo como se realiza a ênfase pretendida pelo narrador, com o uso desses recursos. Texto para a questão “26”: TEXTO O PRIMEIRO BEIJO Tinha dezessete anos: pungia(1)-me um buçozinho(2) que eu forcejava(3) por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança com fumos(4) de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção(5), lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram(6) a tal ponto que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira(7) e vermes e, por compaixão, o transportou para os seus livros.

(1) pungir: estimular; incitar. (2) buço: pelos ralos que nascem acima do lábio superior dos homens, quando começam

a ter barba, e de algumas mulheres. (3) forcejar: esforçar-se, pelejar para conseguir algo. (4) com fumos: com aparência de. (5) garção: rapaz; jovem. (6) estafar: chatear; cansar. (7) lazeira: miséria; desgraça.

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas) Questão 26

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Esclareça resumidamente o emprego da metáfora do corcel, utilizada pelo narrador, associando a sua explicação aos movimentos literários envolvidos na criação dessa metáfora. Texto para as questões “27” e “28”: TEXTO O VERGALHO(1)

Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: “Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova. — Toma, diabo! — dizia ele —, toma mais perdão, bêbado! — Meu senhor! — gemia o outro. — Cala a boca, besta! — replicava o vergalho. Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho! Nada menos que o meu moleque Prudêncio — o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele. — É, sim, nhonhô. — Fez-te alguma coisa? — É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda,

enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.

— Está bom, perdoa-lhe — disse eu.

— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!

Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjeturas. Segui

caminho, a desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido;

aliás, seria matéria para um bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos

alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo(2)

o episódio do Valongo; mas só

exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo

gaiato(3)

, fino e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das

pancadas recebidas — transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe

um freio na boca, e desancava(4)

-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém,

que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar,

dormir, desagrilhoado(5)

da antiga condição, agora é que ele se desbancava(6)

: comprou

um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as

sutilezas do maroto!

(1) vergalho: chicote feito do pênis do boi ou do cavalo; qualquer chicote.

(2) torvo: assustador; que provoca terror.

(3) gaiato: travesso; malandro.

(4) desancar: espancar; bater muito nas ancas (especialmente de animais); bater em.

(5) desagrilhoar: tirar os grilhões; libertar das amarras.

(6) desbancar: vencer; levar vantagem; suplantar.

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Questão 27

Observe as duas sequências a seguir: “— Cala a boca, besta! — replicava o vergalho.” “Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho!”

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Do ponto de vista da denotação e da conotação, a palavra “vergalho” é empregada de uma mesma forma nestas duas sequências, ou os empregos são diferentes quanto à linguagem? Justifique sua resposta resumidamente, identificando os eventuais recursos estilísticos empregados.

Questão 28

Quanto ao posicionamento ético do narrador, qual o comentário que se pode fazer a

respeito da consideração apresentada no final deste capítulo: “Vejam as sutilezas do

maroto!”?