memorias sentimentais de joão miramar - 3ª a - 2011

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Memórias Sentimentais de João Miramar. Oswald de Andrade Alex Lavecchia Rezende Alexandra de Freitas Lima Márcia Gonçalves Amaro Maria Cláudia Gonçalves 3º A

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Page 1: Memorias Sentimentais de João Miramar - 3ª A - 2011

Memórias Sentimentais de João Miramar.Oswald de Andrade

Alex Lavecchia RezendeAlexandra de Freitas LimaMárcia Gonçalves AmaroMaria Cláudia Gonçalves

3º A

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José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo em 1890. Fez o curso secundário no Ginásio de São Bento em 1911, fundou o semanário humorístico O Pirralho, marco do movimento intelectual brasileiro e formou-se em Direito em 1919.Foi um dos principais organizadores da Semana de Arte Moderna para onde levou toda a influência obtida com suas diversas viagens à Europa, de onde trouxe o futurismo italiano e as vanguardas surrealistas francesas.

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• Em l924, iniciou o Movimento Pau-Brasil que buscava a ruptura com a tradição européia através de uma rebelião estética, o que estimulou o meio artístico a buscar novos rumos que apontava o primitivismo como caminho a ser seguido. Sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século XX e sua obra literária apresenta as mais fortes características do Movimento Modernista em sua primeira fase.Ao longo da vida Oswald construiu amizade com a mais alta intelectualidade brasileira e com grandes nomes da intelectualidade européia. Em 1945, o escritor tornou-se livre-docente em Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo. Morreu em 1954 na mesma cidade em que nasceu

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João Miramar relata, ou melhor sugere, sua história pessoal; e se inicia na infância do herói, sugerida pela linguagem propositadamente infantil dos primeiros capítulos. Ainda adolescente, e com grande inclinação para a boêmia, Miramar faz a sua primeira viagem à Europa, a bordo do navio Marta. O romance assume, a partir daí, a forma de um verdadeiro diário de viagem, que acentua o cosmopolitismo dos pontos turísticos da Europa. De volta ao Brasil, por causa do falecimento de sua mãe, João Miramar casa-se com Célia, sua prima, mantendo, ao mesmo tempo, um romance com a atriz Rocambola, o que vai provocar o seu posterior desquite.

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No final do romance, o herói fica viúvo, é abandonado pela amante e vai à falência, em virtude da má aplicação de fundos na indústria cinematográfica.

Nos últimos fragmentos, nota-se o amadurecimento de João Miramar que, retrospectivamente, redige as Memórias que o leitor está lendo.

Ao longo de capítulos revolucionariamente curtos, repassa os principais fatos que marcaram sua existência. As impressões deixadas pela infância, pela viagem ao exterior; o retorno ao Brasil; a 1ª Guerra Mundial; o namoro com Célia; o casamento; o nascimento de sua única filha (Celiazinha); o caso extraconjugal; a falência; o divórcio motivado pelo insucesso financeiro; a morte da ex-esposa; a recuperação da guarda da filha e da fortuna.

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A história do narrador é banal. Não tem nada de especial. Nem acontecimentos bombásticos que orientam para um final que exprima a vitória do verdadeiro amor, nem conseqüências necessárias resultantes de um determinismo psicossocial. Já aí vemos o quanto Oswald distancia-se de toda literatura que o precedeu tanto na escolha quanto no tratamento do tema.

Além destas, a outra grande inovação é o trabalho de Oswald com a linguagem. Ao longo da obra o que mais chama atenção não é a narrativa mas a maneira que o narrador emprega para sugerir sua trajetória pessoal. Contudo, esta é uma questão que será tratada em outro momento.

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Memórias Sentimentais de João Miramar é uma obra até certo ponto caótica. Em virtude disso, a análise de categorias como tempo, espaço e personagens é quase impossível.

A época o local em que os fatos ocorreram não tem importância. O que importa é a maneira pela qual o narrador filtrou aquelas experiências e, principalmente, a linguagem que emprega para contá-las ao leitor.

A obra parece seguir uma ordem vagamente cronológica.

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Os espaços não existissem para além das sugestões, das emoções que provocaram no narrador. Por isso, ele não se dá ao trabalho de fazer descrições, remetendo o leitor aos locais onde os fatos ocorreram pela simples menção de seus nomes (São Paulo, Paris, etc.).

Cada personagem tem sua vida própria, mas sua interferência na narrativa só existe sob a perspectiva do narrador. Por isso, com exceção de algumas características muitos gerais, nenhuma delas (nem mesmo o narrador) foi delineada, descrita física e psicologicamente. Tem um nome, isto basta. Contudo, há um traço que une-as:- seu apego excessivo ao dinheiro. É a partir deste ponto que a narrativa foi construída com o intuito de desmascarar, de satirizar suas relações sociais (ou devemos dizer econômicas?)

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João Miramar: filho de fazendeiro do interior paulista (família proprietária da Fazenda dos Bambus e Nova-Lombardia, na região de Aradópolis, comarca de Pindobaville);

Tia Gabriela: viúva, que se casou novamente, irmã de Miramar e sogra dele;

Nair, Célia, Candoca ou Cotita (Maria dos Anjos) e Pantico (José Elesão da Cunha): filhos do primeiro casamento de tia Gabriela;

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CÉLIA: PRIMA DE Miramar; CELINHA: filha de Miramar e Célia. GUSTAVO DALBERT;JOSÉ CHELININI (que veio a se casar

com tia Gabriela, exibindo o título de conde, e se tornou sócio de Miramar;

DR. PÔNCIO PILATOS: primo de Célia; “agigantada figura moral”; defensor dos interesses da família;

MACHADO PENUMBRA: autor do prólogo do livro e de textos parnasianos, sobretudo como orador;

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DR. MANDARIM PEDROSO: figura de projeção na sociedade, poeta e orador festejado;

SR. FíLEAS:poeta apreciador de floreios parnasianos (um cosmético de sonetos );

DR. PEPE ESBORRACHA: medico da família; BRITINHO:respeitado homem de negócios , sócio de

Miramar; BRITINHAS:vizinhas e amigas de Célia; MINÃO DA SILVA: sem instrução, mas atraído pela

literatura, escrevia cartas cheias de erros gramaticais;

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MLLE ROLAH: atriz sem talento de cinema, ligou-se a Miramar por interesses financeiros, largou-o quando soube que ele faliu;

MADAMA ROCAMBOLA:mãe de Rolah, que sobrevivia praticando ocultismo de falcatruas e que apoiou o “caso” da filha com Miramar;

MADÔ: moça filha de um comerciante francês que Miramar namorou ocasionalmente em sua viagem à Europa.

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Composto de 163 episódios numerados, tem por personagem principal João Miramar. A montagem fragmentária do romance impossibilita uma leitura tradicional e linear da história.

Uma série de inventivos traços de estilo e um agudo senso crítico da sociedade da época fazem desse texto uma grande obra de vanguarda.

De fato, o estilo fragmentário e sintético do texto é revolucionário na nossa prosa, assim como seu caráter cinematográfico. Os episódios assemelham-se mais a seqüências de um filme do que a capítulos de romance. Há uma ênfase muito grande no elemento visual e muitas das descrições adotam uma linha geométrica e sintética, bastante próximas dos princípios cubistas, que visa a apresentar fragmentos justapostos da realidade, numa tentativa de captá-la na sua totalidade.

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O foco narrativo na obra é predominantemente de 1ª pessoa. João Miramar relata os principais momentos de sua trajetória.

"Entrei para a escola mista de D. Matilde." (Cap. 5)

"Não disse nada do que queria dizer a Madô." (Cap. 10)

"Molhei secas pestanas para o rincão corcunda que vira nascer meu pai." (Cap. 58)

Em alguns momentos, o narrador de 1ª pessoa cede espaço a outros narradores também de 1ª pessoa. Isto ocorre quando são transcritas cartas e bilhetes:

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Carta administradora

"Ilmo. Sr. Dr.Cordeais saudações

Junto com esta um jacá de 15 frango que é para a criancinha se não morrê.Confirmo a minha de 11 próximo passado que aqui vai tudo em ordem e a lavoura vai bem já estou dando a segunda carpa.”

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Há momentos, ainda, em que foco narrativo de 1ª pessoa deixa de existir. Isto acontece quando a narrativa cede espaço à poesia.

Recreio Pingue-Pongue

“Miramar a vida é relativaO acontecimento não teria sidoSe nascesses sóSem a mãe que te deixou virtudes caladasO acontecimento te ofertouA filhinha de olhos clarosAbertos para os dias a virÉs o ele de uma cadeia infinitaAbraça o Dr. MandarimE soma ele o azul desta manhãLouçã”

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Em alguns capítulos a narrativa é impessoal, como se o narrador fosse de 3ª pessoa. Através deste artifício o autor dá a impressão que a narrativa vai se construindo por si mesma sem a interferência do narrador de 1ª pessoa que predomina na obra.

Costeleta milanesa

"Mas na limpidez da manhã mendiga cornamusas vieram sob janelas de grandes sobrados.

Milão estendia os Alpes imóveis no orvalho."

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A linguagem empregada nesta obra é telegráfica. O autor não narra, mas sugere através de capítulos curtos uma história com começo meio e fim. Contudo, cada capítulo é uma unidade que até pode ser lida independente das demais. O sentido de cada parte não se perde fora do contexto geral da obra.

Mas, isto não quer dizer que a prosa de Oswald de Andrade seja fácil. Ao contrário, cada um dos capítulos, apesar de extremamente curto, é uma charada, um enigma a ser desvendado. Oswald não facilita o trabalho do leitor.

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Seu estilo opõe-se de um lado aos exageros científico-detalhistas da escola Realista e à passionalidade-emotiva da narrativa da escola Romântica. Em cada um dos capítulos o trabalho essencial do autor foi com a linguagem. Não se deixou envolver nem pela ciência nem pela emoção, filtrou a ambas procurando dar uma nova conformação a literatura.

No início, a linguagem fragmentada lembra muito a maneira de falar das crianças. Miramar (o narrador), relata sua infância.

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Recursos expressivosAo longo da obra Oswald abusa de recursos de linguagem, muitas vezes misturando-os com um poder de síntese invejável.

METONÍMIA - "... de geografia aberta sobre a mesa..." (Cap. 79) = mapa

ONOMATOPÉIA - "...No silêncio tique-taque..." (Cap. 8) (Antítese:- silêncio/barulho)

"Dez horas da noite, o relógio farto batia dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão! dão!

HIPÉRBATO - "... mapas do secreto Mundo." (Cap. 9) ao invés de "...mapas do Mundo secreto."

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ALITERAÇÃO - "...punha patetismos pretos..." (Cap. 22)

PARADOXO - "...Companhia Industrial e Segurista de Imóveis Móveis..." (Cap. 119)

PROSOPOPÉIA - "... Depois casas baixas desanimaram a planície cansada." (Cap. 113)

SINESTESIA - "...de janelas cerradas e acesos silêncios." (Cap. 153)

O emprego de trocadilhos é comum na obra:- "... sátiras à sociedade de sátiros..." (Cap. 72)

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A exemplo de outros escritores, Oswald também realiza diálogos intertextuais, fazendo referência aos seguintes autores, personagens e obras:

- O primo Basílio (Eça de Queiroz) Cap. 100

-Herodes (Bíblia) Cap. 98

-Lord Byron (poeta romântico) Cap. 155

-Virgílio (poeta latino) Cap. 163

Faz referência à vanguarda artística européia (Picasso, Satie e João Cocteau - Cap. 51, Isadora Duncan - Cap. 47).

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Também é marcante o emprego de vocábulos e expressões em línguas estrangeiras:- Inglês Francês Espanhol Italiano: dancing habitué encuentro de ustedes si sinhore / It is very beautiful! Mademoiselle / board-house tour du monde / Albany Street goudron-citron / Latim / Res non verba!

A obra registra também uma variante do português resultante da influência da migração árabe:- "- Aqui nong teng acordo. Teng pagamento! (Cap. 148)

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A obra apresenta uma crítica ao casamento como instituição burguesa (união por interesse).

"Separação precavida de bens" (Cap. 62)

O motivo da separação do casal João Miramar/Célia é falência financeira dele: "A margem disso o caso financeiro negreja no horizonte. O Senhor adquiriu rapidamente uma reputação de dilapidador." (Cap. 142)

O interesse do pai pela filha só ocorre após a morte da mulher: "Foi à ele que corri na aflita busca de minha Celiazinha, feita milionária e só pelo Deus das revisões do processo." (Cap. 157)

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Através do livro, Oswald ressalta e satiriza o caráter patrimonial das relações sociais burguesas: "E Rolah trazia ao céu do cinema um destino de letra de câmbio." (Cap. 32)

Em duas oportunidades Oswald registra a utilização de dinheiro público para viagens de artistas ao exterior: "Dalbert de subsídio e trombone ia partir para a conquista da Europa." (Cap. 26)

"João Jordão que não era artista nem nada parecida magro e uma tarde arranjou subsídio governamental para estudar pintura em Paris." (Cap. 22)

A linguagem também reflete uma escolha ideológica. Oswad quebra a forma usual de narrar, rompendo definitivamente com as escolas literárias que o antecederam, e com uma determinada concepção da língua portuguesa (abusa de neologismo, cria verbos, adjetivos, etc.).

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Nesta obra Oswald de Andrade aproveitou as técnicas do vanguardismo europeu e as adaptou a transmissão literária de um país em transição: primeiras décadas do século XX, contexto social e mental da realidade urbana em processo inicial de industrialização, mas culturalmente presa a um passado parnasiano, econômica e politicamente contaminada pela guerra européia

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Tendo ou não lido “Ulysses” obra publicada em 1922 com edição restrita do irlandês James Joyce, citado mundialmente como o grande revolucionário da linguagem literário, Oswald de Andrade fez essa mesma revolução no Brasil. Oswald foi o primeiro importador do Futurismo em nossa literatura, movimento lançado por Marinetti em seu manifesto de 1.909, publicado no jornal “Fígaro” de Paris: “Queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, a corrida, o salto mortal, a bofetada e o soco” declarava o italiano na França, por onde andava Oswald na época.

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Memórias Sentimentais de João Miramar é uma narrativa que se recusa a construir-se como tal. Assim, através deste verdadeiro mosaico que é a obra, Oswald de Andrade não pretende somente explodir as bases da literatura da época, mas também e principalmente implodir a sociedade burguesa e seus valores morais.