memórias da cidade

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Memória da Cidade História e patrimônio urbano no Brasil RIO DE JANEIRO Profa. Ms. Ynaê Lopes dos Santos Mestre em História Social – USP Doutoranda em História Social – USP Rio de Janeiro, Outubro de 2011

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História

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Page 1: Memórias da cidade

Memória da CidadeHistória e patrimônio urbano no Brasil

RIO DE JANEIRO

Profa. Ms. Ynaê Lopes dos SantosMestre em História Social – USP

Doutoranda em História Social – USP

Rio de Janeiro, Outubro de 2011

Page 2: Memórias da cidade

“No mar estava escrito uma cidade”. C.D.A

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Carioca: “casa de Branco”

• Antes da chegada do europeus nas Américas, a região que ficou conhecida como capitania do Rio de Janeiro era, em sua maioria, habitada por índios tamoios e tupis.

Page 4: Memórias da cidade

O RIO DE JANEIROE O NASCIMENTO DO MUNDO

ATLÂNTICO• Existe certo mistério em relação à descoberta da

baía de Guanabara.• Hipótese mais recorrente aponta que a descoberta

teria ocorrido no dia 1º de janeiro de 1502, data que teria batizado, anos mais tarde, a cidade.

• Mas diários de Navegação apontam que a chegada à baía da Guanabara teria ocorrido em outro mês

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FRANÇA ANTÁRTIDA• No Verão de 1544 Nicolas Durand de

Villegagnon visitou secretamente a região do Cabo Frio, na costa do Brasil, onde seus compatriotas habitualmente escambavam. Ali obteve valiosas informações junto aos Tamoios, informando-se dos hábitos dos portugueses naquele litoral, colhendo dados essenciais ao futuro projeto de uma expedição para a fundação de um estabelecimento colonial. O local escolhido localizava-se cerca de cento e cinquenta quilômetros a Oeste: a Baía de Guanaba, evitada pelos portugueses devido à hostilidade dos indígenas na região. O projeto concebia transformá-la em uma poderosa base militar e naval, de onde a Coroa Francesa poderia tentar o controle do comércio com as Índias. Embora na ocasião não a tenha visitado, estava acerca dela bem informado por André Thèvet, que já a havia visitado por duas vezes, estando ciente de que os portugueses receavam os Tupinambás, indígenas ali estabelecidos. Na ocasião fez boas relações com ambos os povos (Tamoios e Tupinambás) recolhendo, além de valiosas informações, uma boa carga, com a qual lucrou ao retornar à França

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FRANÇA ANTÁRTIDAEm fins de 1554, o soberano ordenou ao seu principal ministro, Gaspard de Coligny (ainda católico), a preparação de uma expedição sigilosa ao Brasil, cujo comando entregou a Villegagnon. Embora tenha fornecido recursos modestos (apenas dez mil libras), os armadores de Dieppe (base do armador Jean Ango, experiente com a costa brasileira), decidiram investir na expedição. À falta de voluntários para integrá-la, Villegagnon percorreu as prisões da região norte da França, prometendo a liberdade a quem quer que se lhe juntasse.Para não despertar a atenção do Ministro de Portugal na França, Villegagnon fez espalhar a notícia de que a expedição se dirigia à costa da Guiné.Tendo atingido a baía de Guanabara em 10/11/1555, após tomar posse da Ilha de Sergipe, escolhida como local de estabelecimento da principal defesa da França Antártica, principiou-se a instalação. Para esse fim, foram providenciados alojamentos em terra e desembarcados homens, armas, munições e ferramentas. Apesar das dificuldades com a mão-de-obra européia, gracas ao auxílio dos indígenas, uma fortificação foi concluída em três meses. Ao fim de alguns meses, entretanto, essa mão-de-obra cansou-se dos presentes que recebia, assim como do excesso de trabalho, uma vez que os franceses se esquivavam das tarefas mais pesadas. O Forte Coligny dispunha de cinco baterias apontadas para o mar.

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FORTE COLIGNY

Mapa francês da baía de Guanabara, c. 1555.

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FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO• A região da Baía de

Guanabara possuía um dos portos com a melhor defesa natural em toda a América: uma entrada marítima estreita com quatro morros circundando-a. Dessa feita, as mesmas vantagens naturais que levaram franceses a invadir essa parte da América portuguesa também mobilizaram aos lusitanos ocupar a região.

Page 9: Memórias da cidade

FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIROSão Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada no contexto de conquista e colonização do século XVI, que obrigou os portugueses a responder de forma mais efetiva às invasões da França em terra lusitanas de além mar. No ano de 1555, a província do Rio de Janeiro foi, em parte, tomada por Villegaignon, que ficou na América portuguesa por cinco anos. A eficácia da investida francesa no Brasil deveu-se em grande parte à ausência do aparato metropolitano na região. Em 1555, a futura cidade do Rio de Janeiro era uma porção de terras alagadiças habitada por índios – na sua maioria tamoios - que contava apenas com uma pequena casa forte na Praia da Saudade, construída por Martim Afonso de Sousa na década de 1530.Embora as atenções das autoridades portuguesas estivessem voltadas para a região nordeste da colônia – que em meados do século XVI já era importante produtora de açúcar –, a invasão francesa no sudeste foi um lembrete, no mínimo incômodo, da necessidade em ocupar, efetivamente, toda a região costeira das possessões do Novo Mundo. Neste cenário de reconquista, destacou-se o nome de Mem de Sá, o reinol responsável pela expulsão dos franceses.

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SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

Finalmente, a 1º de março, Estácio de Sá desembarcava a sua gente numa estreita praia entre o morro do Pão de Açúcar e o morro Cara de Cão, iniciando imediatamente a construção de uma paliçada (atual Fortaleza de São João) e declarando fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma homenagem ao nome do soberano. Na ocasião, o padre Gonçalo de Oliveira entronizou, numa ermida de taipa, coberta de sapê, uma imagem de São Sebastião, que passava a ser o padroeiro da cidade. O próprio Estácio instituiu, na ocasião, as três setas do martírio do santo como armas da cidade.Ainda com os primeiros muros sendo levantados, a recém-fundada cidade sofreu um assalto por mar, a 6 de março, desfechado por três naus francesas e mais de cento e trinta canoas de guerra procedentes do Cabo Frio. Após alguns dias resistindo ao assalto, Estácio decidiu passar ao contra-ataque, acometendo as embarcações francesas e logrando repelí-las.

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TRANSFERÊNCIA PARA O MORRO DO CASTELO

• O marco zero do Rio de Janeiro foi construído em Vila Velha - quando o padre Gonçalo Oliveira ergueu uma igreja no pé do morro do Pão de Açúcar em 1º de março de 1565. Dois anos depois, seguindo a lógica defensiva e os critérios de sobrevivência, a vila foi transferida para o morro do Castelo, onde havia maior oferta de água, mais ventos e maior segurança. Ali, a Câmara, a cadeia, a casa do governador, as igrejas e algumas casas mais abastadas foram muradas de acordo com um modelo urbanístico profundamente militarizado. Procurando incrementar suas atividades portuárias, ainda no século XVI, a cidade expandiu seu espaço geográfico e sua importância política. Após a vitória sobre os tamoios e o fim das ofensivas espanholas e francesas, a cidade desceu o morro e a várzea passou a ser ocupada pelos habitantes e pelo apostolado. Nas terras enxutas foi delineado o perímetro urbano que além de ganhar as ruas próximas o Morro do Castelo (como a Ladeira da Ajuda e a Ladeira do Castelo) ocupou as regiões próximas ao Morro de São Bento. Criou-se então um plano urbanístico ortogonal muito semelhante a um tabuleiro de xadrez. Nesse modelo de plano urbano, o plano radiocêntrico é oposto pela implementação de ruas retas que se cruzam formando ângulos igualmente retos.

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IMPORTÂNCIA DA IGREJA

A organização espacial dos centros urbanos coloniais foi realizada quase toda pela Igreja Católica. As leis eclesiásticas e a própria religiosidade criaram uma dinâmica de cotidiano nas vilas e cidades até as reformas Pombalinas no final do século XVIII. Mas não era apenas pelo soar dos sinos e pela magnitude de seus edifícios que a Igreja Católica fazia sentir sua presença. Também preocupada com a segurança da vila, as diferentes ordens religiosas tiveram grande influência na construção das primeiras muralhas e forte. Além disso, do nascimento à morte, a Igreja e a religião católica fizeram parte da vida de todos os habitantes da cidade. A sociabilidade desse período era, em boa parte, criada a partir das missas, dos funerais, das festas litúrgicas e de instituições que funcionavam como “braços” da Igreja, tais como a Santa Casa de Misericórdia (fundada em 1582) e as Irmandades de Ordem Terceira que passaram a “pipocar” a partir dos seiscentos.

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CARTA TOPOGRÁFICA DO RIO DE JANEIRO

Carta Topographica da Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeyro, tirada, e executada pelo Capitão Andre Vaz Figueyra, Academico da Aula Militar. Anno de1750".autor: André Vaz Figueira

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LARGO DO PAÇOConstruído em 1733 durante o governo de Gomes Freire de Andrade, o conde

de Bobadela

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AQUEDUTO DA CARIOCAInaugurado em 1750

Leandro Joaquim, Lagoa do Boqueirão da Ajuda, 1790 (futuro Passeio Público)

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O RIO DE JANEIROILUSTRADO

A planta de 1767 corresponde ao levantamento realizado nesse ano, mostrando um significativo avanço da área edificada da cidade em direção ao interiorAutor: não identificado.Fonte: Original manuscrito do Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro.

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CRESCIMENTO POPULACIONAL APÓS A ELEVAÇÃO A VICE-REINADO

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HABITANTES DO RIO COLÔNIA

Configuração que mostra a Entrada do Rio de Ianeiro em distancia de meya legoa ao mar. No. 6 Na. Sa. De Copacabana, No. 7 o Pão de Assucar, No. 8 Fortaleza de Sa. Crus". 1779autor: Carlos Julião

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Festa de Nossa Senhora do Rosário, Rio de Janeiro, 1770Vestuário de mulheres escravas

no Rio de Janeiro, 1770

Negras de Tabuleiro, 1770

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CHAFARIZ DO CARMOChafariz projetado por Mestre Valentim e

construído entre 1779-1780

Thomas Ender, Chafariz do Carmo, 1817

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PASSEIO PÚBLICOPrimeiro Parque Ajardinado do Brasil foi concebido

por Mestre Valentim e construído em 1783, tornando-se o grande ponto de encontro da população carioca

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CHAFARIZ DAS MARRECASConstruído pelo Mestre Valentim para fornecer

água ao Passeio Público

Pallière, Chafariz das Marrecas, 1830

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MERCADO DO VALONGO

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VALONGO

O Mercado do Valongo foi construído em 1769, quando a América Portuguesa estava sob a administração do vice-rei Marquês do Lavradio. O

objetivo principal do vice-rei era retirar o desembarque e a comercialização de escravos da região central da cidade. Segundo o

Marquês, tal atitude evitaria “o terrível costume de tão logo os negros desembarcarem no porto vindos da costa africana, entrar na cidade

através das principais vias públicas, não penas carregados de inúmeras doenças, mas nus (...) e fazem tudo o que a natureza sugeria no meio da

rua.” (Carta do Marquês do Lavradio. Apub: PEREIRA, 2007, p. 72). O lugar escolhido para ser a nova praça de comércio de africanos novos foi a Rua do Valongo (que deu o nome ao mercado), situada na freguesia

de Santa Rita. Embora fosse um lugar relativamente distante das principais vias da época, a Rua do Valongo possuía duas importantes vantagens: ainda fazia parte do perímetro urbano da cidade, o que

permitia o fácil trânsito para o centro comercial do Rio de Janeiro; e tinha acesso direto ao porto.

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RIO: CAPITAL DO IMPÉRIO ULTRAMARINO

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Diversas mudanças foram feitas a fim de adaptar a cidade à sua nova condição:

• A criação da academia militar e de novas cadeias;

• a abertura dos cursos médicos; • a construção do Horto Botânico e do

Museu Real;• a instalação da Biblioteca Real em 1814 ;• a abertura da Escola Real de Ciência, Artes

e Ofício;• a construção da Quinta da Boa Vista

(1811) moradia da família real, • Construção do Campo de Santana (1815).;• Teatro São José e o Passeio Público foram

reformados para que a nobreza pudesse circular em locais apropriados e condizentes ao seu significado, evidenciando, assim, seu prestígio social.

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INTENDÊNCIA GERAL DA POLÍCIA DA CORTE

• A Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil merece especial atenção, pois foi o órgão responsável o pela coordenação da magistratura de

boa parte da Corte joanina. Com o objetivo de assegurar a limpeza, a saúde e a segurança da

cidade, a Intendência viabilizou o processo civilizador na nova capital, já iniciado com as

mudanças pombalinas, mas que foi levado a cabo pelo regente D. João.

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A INTENDÊNCIA SOB A CHEFIA DE PAULO FERNADES VIANA (1808-1821)

Junto às reuniões quase diárias com D. João, o intendente construiu uma ampla rede de comunicação que articulou as principais autoridades governativas do Brasil (governadores

de capitania, ouvidores, ministros, juízes de fora e de crime de bairro, etc.), visando tratar dos mais variados assuntos. A fim

de facilitar essa comunicação, o Príncipe Regente dividiu a Corte em duas jurisdições que ficaram sob a responsabilidade de dois Juízes de Crime, cargo recém-criado, cujos ocupantes

seriam escolhidos pelo monarca. Subordinados ao Intendente, esses magistrados facilitaram a associação dos poderes

policiais e judiciais

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ALGUMAS FUNÇÕES DA INTENDÊNCIA

• Implementação da Décima Urbana• Calçamento de vias• Aterramento de Brejos• Ampliação do Perímetro Urbano• Iluminação Noturna• Rondas Noturnas• Construções de estradas que ligassem a

cidade às regiões produtoras de alimentos

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QUESTÕES COTIDIANAS DA INTENDÊNCIA GERAL DE POLÍCIA

• “Aos vinte e nove dias do mês de Novembro de mil oitocentos e dezenove anos, na Secretaria da Intendência Geral da Polícia compareceu Joanna Francisca preta forra de ordem do conselheiros Intendente Geral da Polícia Paulo Fernandes Vianna, e pelo mesmo Conselheiros lhe foi determinado que vizinhasse bem com Maria Roza, casada com Pedro Congo, e no caso de contravenção ser presa por vinte dias na cadeia. O que sendo por ela ouvido assim o prometeu cumprir, e assinou a seu rogo Antonio Felipe de Souza por ela não saber escrever, e eu Antonio Xavier da Rocha que o escrevi e assinei.Antonio Xavier da RochaAntonio Felipe de Souza.”

• “Aos vinte e seis dias do mês de Fevereiro de mil oitocentos e vinte anos, na Secretaria da Intendência Geral da Polícia apareceu José Patrício, e pelo Conselheiro Intendente Paulo Fernandes Vianna lhe foi determinado que assinasse Termo de não rondar a preta do suplicante Antonio da Silva Paes, e lhe (ilegível) e de não seduzir a escrava do mesmo suplicante com a pena de três meses de prisão, e trabalhos em obras públicas. O que tendo lhe ouvido se obrigou cumprir e por não saber escrever se assinou com a cruz, sinal de que usa, e eu Francisco Xavier Barreiro que escrevi e assinei.Francisco Xavier Barreiro”

• “Aos três dias do mês de Outubro de mil oitocentos e vinte e três anos à Secretaria da Intendência foram vindos d’ordem do Intendente Estevão Ribeiro Rezende, Jacinto Pinto Gomes e Domingo Coutinho Pereira, e pelo dito Intendente lhes foi determinado, que assinassem o termo de não darem coito a negros fugidos, e nem terem comércio com eles, e menos darem-lhes entrada nas suas casas de molhados, pena no caso de obrarem o contrário de três meses de prisão, e de nunca mais poderem abrir as ditas casas. O que sendo por eles ouvido assim o prometeram cumprir, e assinaram esse termo, comigo que o escrevi e assineiAntonio Xavier da Rocha”

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A ESCRAVIDÃO EM TODO LUGAR

• Não era preciso mais que um breve passeio pelo centro para confirmar a força de seu pragmatismo: a escravidão estava em todo lugar. Luccock chegou a comparar, ainda em 1808, o Rio

de Janeiro com o coração da África, com a particularidade, porém, de que, como ressaltou Leithold,

• "negros e negras se cumprimentam ao estilo europeu: os homens tirando o chapéu com uma inclinação na cabeça; as

mulheres fazendo uma reverência”. Debret, no início dos oitocentos, relatou como que "percorrendo as ruas fica-se

espantado com a prodigiosa quantidade de negros, perambulando seminus e que executam os trabalhos mais

penosos”

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RUA DIREITA, A PRINCIPAL VIA DO RIO

Rugendas, Rua Direita

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A MÃO DE OBRA QUE TRANSFORMOU A CIDADE EM CORTE

Praticamente todas as obras descritas foram feitas com mão-de-obra escrava; e o uso dos cativos não parou por aí. Durante todo o período joanino bem como nos anos que se seguiram até maio de 1888, parte expressiva da rede de serviços urbanos era realizada por escravos. Essas duas constatações permitem afirmar que, na prática, não existiu nenhuma contradição insolúvel na dinâmica de uma Corte escravista.

Debret, Calçamento público

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Escravo pedreiros

Escravos acendendo lampião

Escravo Tigres

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A ESCRAVIDÃO E A CORTE

Embora um rumor de que a vinda da Família Real para o Brasil representaria o fim da escravidão tenha se espalhado entre a

escravaria, teria sido um despautério abolir o escravismo no Rio de Janeiro para garantir

certa fidedignidade ao modelo de Corte existente em Lisboa desde 1773.

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TEATRO SÃO JOÃO

Debret Teatro São João, construído em 1813, atual Teatro São Caetano

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POPULAÇÃO ESCRAVA CRESCEU COM A VINDA DA CORTE

• Os dados trabalhados por Manolo Florentino apontam uma duplicação no volume dos cativos que chegavam da África.

• No curto espaço de três anos: em 1808 a estimativa era que aportavam, anualmente, 9.602 cativos no Rio de Janeiro, número que cresceu para 18.677 em 1810.

• É claro que boa parte dos escravos seguia para outras regiões do sudeste brasileiro, mas, vale ressaltar, um significativo número deles ficava na Corte, principalmente nas freguesias urbanas, como aponta a tabela a seguir.

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População da cidade do Rio de Janeiropor freguesia em 1821

Freguesias Urbanas Fogos Pessoas Livres Escravos Total

Santa Rita 1.742 6.949 6.795 13.744

Santana 1.351 6.887 3.948 10.835

Sacramento 3.352 12.525 9.961 22.486

Candelária 1.434 5.405 7.040 12.445

São José 2.272 11.373 8.438 19.811

Total 10.151 43.136 36.139 79.321

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Volume e direção do tráfico

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TRÁFICO TRANSATLÂNTICO: Do interior à Costa

“Caravanas de escravos na África em viagem para a costa” (séc. XIX)

Page 42: Memórias da cidade

O mercado de escravos na África

“Hangar para escravos” (século XIX)

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Rumo ao navio

“Canoa de transporte de escravos” (Serra Leoa, 1840)

Page 44: Memórias da cidade

O navio negreiro

“Planta do navio Vigilante” (1822)

Page 45: Memórias da cidade

Rugendas, “Negros no porão” (1835)

A vida nos navios negreiros

Page 46: Memórias da cidade

O controle do comércio

Registro de Africanos do Navio “Virginia”(1823)

Page 47: Memórias da cidade

ORIGEM DOS AFRICANOS ESCRAVIZADOS

Page 48: Memórias da cidade

“NAÇÕES AFRICANAS” NO RIO

Debret, Escravas negas de diferentes nações, s/d.

Page 49: Memórias da cidade

“NAÇÕES AFRICANAS” NO RIO

Debret, Diferentes Nações Negras

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DESEMBARQUE DE AFRICANOS ESCRAVIZADOS

Page 51: Memórias da cidade

ESCRAVOS AO GANHO

• Na atividade do ganho - característica dos grandes centros urbanos do Brasil, como Salvador, Recife e a

capital da Corte –, o escravo teria que dispor de sua

força de trabalho, passando a maior parte do tempo nas ruas à procura de serviços

e, portanto, longe das vistas de seu senhor.

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ESCRAVOS DOMÉSTICOS A maior parte dos cativos do Rio de Janeiro

era destinada aos afazeres domésticos, cuja parcela significativa era semelhante

aos serviços realizados pelos escravos das zonas agrícolas. As famílias ricas do Rio tinham cozinheiras, copeiras, mucamas, cocheiros, lavadeiras e engomadeiras e cada uma dessas sub-atividades estava

relacionada com um espaço específico da casa senhorial. Em certos casos, o nível de especialização dos serviços domésticos era

tamanho que chegavam a exigir certa profissionalização dos cativos, o que em diversas situações chegou a moldar uma hierarquia entre os escravos domésticos

de um mesmo senhor.

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ESCRAVOS COMO SÍBOLO DE STATUS SOCIAL

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TRABALHOS ESPECIALIZADOS

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A RUA É DELES E DELAS...

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FORA DO HORÁRIO DE TRABALHO

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CRIMINALIDADE ESCRAVA NA CORTE

• FUGAS• FORMAÇÃO DE

QUILOMBOS• PEQUENOS CRIMES

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ESTRADA DE FERRO• a construção de um trecho de 14 Km de linha

férrea entre o porto de Mauá, na baía de Guanabara, e a estação de Fragoso, na raiz da serra da Estrela (Petrópolis), na então Província do Rio de Janeiro, a primeira no Brasil.[2 No dia da inauguração (30 de abril de 1854), na presença do imperador e de autoridades, a locomotiva, posteriormente apelidada de Baroneza[ (em homenagem à esposa de Mauá), percorreu em 23 minutos o percurso. Na mesma data, em reconhecimento, o empresário recebeu o título de barão de Mauá. Este seria o primeiro trecho de um projeto maior, visando a comunicar a região cafeicultora do vale do rio Paraíba e de Minas Gerais ao porto do Rio de Janeiro. Em 1873 pela Estrada União e Indústria, a primeira estrada pavimentada no país, chegavam as primeiras cargas de Minas Gerais para a Estrada de Ferro Dom Pedro II (depois Estrada de Ferro Central do Brasil) empreendimento estatal inaugurado em 1858, que oferecia fretes mais baixos. Em 1882, vencidas as dificuldades técnicas da serra, os trilhos chegavam a Petrópolis.

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BONDES CARIOCAS

O primeiro bonde do Rio de Janeiro circula, puxado a burro, em 30 de janeiro de 1859, ligando o Largo do Rocio (atual Praça de Tiradentes) a um local perto da atual Usina, na Tijuca, num trajeto de 7 km de comprimento. Mas tarde esta linha tem a tração animal substituída pela do vapor em setembro de 1862 - o que leva a companhia exploradora do serviço à falência e à extinção do serviço em 28 de novembro de 1865.Três anos depois, em 8 de outubro de 1868, inaugura-se o primeiro trecho da linha de bondes da The Botanical Garden Rail Road Company ligando a esquina da ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias, no Centro, ao Largo do Machado, no Catete; e em 19 de janeiro de 1870, a recém-criada companhia Rio de Janeiro Street Railway reabre a linha da Tijuca, sendo novamente usada a tração animal.Está criado, na cidade do Rio de Janeiro, um sistema de transportes públicos sobre trilhos - que passarão aqui a ser conhecidos por bondes - e que irá permanecer (com muitas altereções, naturalmente) até aos dias de hoje

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BONS DIAS NO BONDEOcorreu -me compor uma certas regras para uso dos que frequentam bonds. O desenvolvimento que tem sido entre nós esse meio de locomoção, essencialmente democrático! exige que ele não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão apenas dez.Art. I - Dos encatarroadosOs encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: -ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no próprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc., etc.Art. II - Da posição das pernasAs pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco. Não se proíbem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazê-los ocupar por meninas pobres ou viúvas desvalidas, mediante uma pequena gratificação.

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BONS DIAS NOS BONDESArt. III - Da leitura dos jornaisCada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encostá-los no passageiro da frente.Art. IV - Dos quebra-queixosÉ permitido o uso dos quebra-queixos em duas circunstâncias: a primeira quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.Art. V - Dos amoladoresToda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso, aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repelindo os ditos, .pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.

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CRESCIMENTO PARA A ZONA SUL

Túnel Aloar Prata (Túnel Velho) inaugurado em 1892 ligava Botafogo à Copacabana foi reformado em 1926.

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BOTAFOGO

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BOTAFOGO

Page 67: Memórias da cidade

COPACABANA

1890

Page 68: Memórias da cidade

COPACABANA

Page 69: Memórias da cidade

Rio de Janeiro 1867

Page 70: Memórias da cidade

Rio de Janeiro em 1879

Planta da cidade do Rio de Janeiro com o seu traçado urbano, em 1879, mostrando os principais prédios públicos em vermelho e as igrejas em preto, Luiz Schreiner. Fonte: Bolsa do Rio XXI, 2000.

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Rua do Ouvidor

Page 72: Memórias da cidade

A FESTA DA ABOLIÇÃO

Missa de Ação de Graças No Rio de Janeiro reuniu A Princesa Isabel e Cerca de 20 mil pessoas para celebrar a Abolição da Escravidão em 17 de maio de 1888.

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DESTRUIÇÃO DO CABEÇA DE PORCO1892

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RIO DE JANEIRO DE PEREIRA PASSOS

No início do século XX, o Rio de Janeiro passava por graves problemas sociais, decorrentes, em grande parte de seu rápido e desordenado crescimento,

alavancado pela imigração europeia e pela transição do trabalho escravo para o trabalho livre.

Na ocasião em que Pereira Passos assume a Prefeitura da cidade, o Rio de Janeiro, com sua estrutura de cidade colonial, possuía quase um milhão de

habitantes carentes de transporte, abastecimento de água, rede de esgotos, programas de saúde e segurança.

No centro do Rio de janeiro – a Cidade Velha e adjacências – eclodiam habitações coletivas insalubres (cortiços), epidemias de febra amarela, varíola, cólera,

conferindo à cidade a fama internacional de porto sujo ou "cidade da morte", como se tornara conhecida.

A reforma urbana de Pereira Passos, período conhecido popularmente como “Bota-abaixo”, visou o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, dando ao

Rio de Janeiro ares de cidade moderna e cosmopolita.

Page 75: Memórias da cidade

FEITOS DE PEREIRA PASSOS1903-1905

1903 - Inauguração do Pavilhão da Praça XV1903 - Prolongamento da Rua do Sacramento (atual Avenida Passos) até a

Rua Marechal Floriano1903 - Inauguração do Jardim do Alto da Boa Vista

1903 a 1904 - Alargamento da antiga Rua da Prainha (atual Rua do Acre)1904 - Construção do Aquário do Passeio Público

1904 - Obras na Rua 13 de Maio1905 - Início da Construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (inaugurado em 1909)

1905 - Inauguração da nova estrada da Tijuca1905 - Alargamento e prolongamento da Rua Marechal Floriano até o Largo de Santa Rita

1905 - Alargamento da Rua do Catete1905 - Alargamento e prolongamento da Rua Uruguaiana

1905 - Inauguração da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), marco de sua administração1905 - Decreto para a construção da Avenida Atlântica, em Copacabana

1905 - Inauguração da Escola-Modelo Tiradentes1905 - Abertura da Rua Gomes Freire de Andrade

1905 - Abertura da Avenida Maracanã

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Avenida Central. À esquerda o Teatro Municipal e à direita a Escola Nacional de Belas Artes. Foto de Marc Ferrer (1909).

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REVOLTA DA VACINA

Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado,

lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores

derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto

pelo sanitarista Oswaldo Cruz. Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904)

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REVOLTA DA VACINA 1904

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REVOLTA DA VACINAPara erradicar a varíola, o sanitarista convenceu o Congresso a aprovar a Lei da Vacina Obrigatória (31 de Outubro de 1904), que permitia que brigadas sanitárias, acompanhadas por policiais, entrassem nas casas para aplicar a vacina à força.A população estava confusa e descontente. A cidade parecia em ruínas, muitos perdiam suas casas e outros tantos tiveram seus lares invadidos pelos mata-mosquitos, que agiam acompanhados por policiais. Jornais da oposição criticavam a ação do governo e falavam de supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a vacina teria de ser aplicada nas "partes íntimas" do corpo (as mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou a ira da população, que se rebelou.A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta: no dia 5 de novembro, a oposição criava a Liga contra a Vacina Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de novembro , a cidade virou um campo de guerra. A população exaltada depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas, arrancou trilhos, quebrou postes e atacou as forças da polícia com pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14, os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se sublevaram contra as medidas baixadas pelo Governo Federal.A reação popular levou o governo a suspender a obrigatoriedade da vacina e a declarar estado de sítio (16 de novembro). A rebelião foi contida, deixando 50 mortos e 110 feridos. Centenas de pessoas foram presas e, muitas delas, deportadas para o Acre.Ao reassumir o controle da situação, o processo de vacinação foi reiniciado, tendo a varíola, em pouco tempo, sido erradicada da capital.

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FEITOS DE PEREIRA PASSOS1906

1906 - Alargamento da Rua da Carioca1906 - Inauguração da fonte do Jardim da Glória

1906 - Inauguração da nova Fortaleza na Ilha de Lage1906 - Inauguração do palácio da exposição permanente de São Luiz (futuro Palácio Monroe

)1906 - Conclusão das obras de melhoramento do porto do Rio de Janeiro e do Canal do

Mangue1906 - Inauguração das obras de melhoramento e embelezamento do Campo de São

Cristóvão1906 - Aterramento das praias do Flamengo e Botafogo, com construção de jardins;

1906 - Inauguração do alargamento da Rua Sete de Setembro , entre as avenidas Central e Primeiro de Março

1906 - Inauguração da Avenida Beira-Mar1906 - Reforma do Largo da Carioca

1906 - Construção do Pavilhão Mourisco, em Botafogo[4]

1906 - Construção do Restaurante Mourisco, próximo à estação das barcas, no Centro1906 - Melhorias no abastecimento de água da cidade.

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AVENIDA BEIRA MAR

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Avenida Beira Mar, 1906

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Alargamento da Rua Carioca

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DESTRUIÇÃO DOS CORTIÇOS

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A Alma encantadora das Ruas

Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.

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A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada praça, tipo diabólico que tem dos gnomos e dos silfos das florestas, tipo proteiforme, feito de risos e de lágrimas, de patifarias e de crimes irresponsáveis, de abandono e de inédita filosofia, tipo esquisito e ambíguo com saltos de felino e risos de navalha, o prodígio de uma criança mais sabida e cética que os velhos de setenta invernos, mas cuja ingenuidade é perpétua, voz que dá o apelido fatal aos potentados e nunca teve preocupações, criatura que pede como se fosse natural pedir, aclama sem interesse, e pode rir, francamente, depois de ter conhecido todos os males da cidade, poeira d’ouro que se faz lama e torna a ser poeira – a rua criou o garoto!