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MEMORIAL DESCRITIVO TEMPLO BUDISTA DE BRASÍLIA 0

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Page 1: MEMORIAL DESCRITIVO · Web viewDetalhe do morrote artificial, entre Jardim da integração Brasil-Japão e Jardim do Som Interior (foto: abril/ 2009) Jardim da Integração Brasil-Japão

MEMORIAL DESCRITIVO

TEMPLO BUDISTA DE BRASÍLIA

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IntroduçãoNesse memorial, será descrito

o conjunto de imóveis que compõem o complexo construído na EQS 315/316, o Templo Budista de Brasília. Cada prédio, assim como o jardim frontal serão tratados em separado, com ênfase no complexo religioso.

O terreno situado no final da Asa Sul com área de 7.200m2 mede 80m de frente por 90m de fundos e foi cedido à Associação Budista de Brasília em 1959. Passados 14 anos, em 1973, o Templo foi inaugurado. O projeto arquitetônico foi elaborado no Japão, no final dos anos cinquenta e início dos sessenta do século

passado, e adaptado às normas brasileiras, especificamente às normas de edificação e gabarito-NGB, por arquiteto brasileiro: Jihei Noda, de ascendência japonesa para obter o alvará de construção fornecido pela administração de Brasília. Durante a construção a comunidade budista levantou em madeira um edifício provisório onde aconteciam os encontros sociais e as práticas religiosas e onde residiam algumas famílias. Esse barracão permaneceu após a construção por mais dez anos e depois desse período foi demolido. Durante muito tempo ainda serviu como habitação da família do monge e deposito geral. Os dois portais, o pórtico da entrada, a casa do sino, e o edifício principal tem como referência o templo Shin Budista Reisenji na província de Fukui, no Japão, construído entre 1336 e 1573, no período Muromachi. Os antigos templos japoneses dessa escola e mesmo grande parte dos atuais são inspirados nos templos xintoístas, religião originária do Japão, onde cada elemento arquitetônico, estrutura, telhados, panos de paredes, janelas, pórticos ou mesmo a decoração interna da nave ou moya- busca modelos em estilos tradicionais diversos, caracterizando-se por seu ecletismo.

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Fachada principal, 2014

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PortaisChega-se ao Templo pelas laterais cruzando os portais ou torii e pelo centro através de um pórtico proporcional à escala do edifício religioso. Os dois portais foram colocados perpendiculares à frente do lote no seu limite externo. Os torii ou portais celestiais no pensamento oriental são um símbolo de purificação para aquele que os cruza. No portal da direita, lê-se Serenidade e no da esquerda, Pureza. No Templo Shin Budista de Brasília, os portais são semelhantes aos do estilo hachiman-torii. São ecléticos porque compostos de diferentes elementos tirados de vários tipos de torii. Cita-se entre outros os estilos Kasagi e shimagi, munetada, kasuga e hachiman. Os torii do Templo foram construídos em perfis metálicos circulares e pintados na cor terra usados nos templos xintoístas, shin japoneses. Os pilares levemente inclinados para dentro têm diâmetro de 25 cm. A largura do portal é de 2,95m e a altura de 4m.

PórticoO acesso ao Templo é feito por um generoso pórtico de entrada em estilo que faz lembrar os tradicionais pórticos dos antigos templos japoneses. Foi construído em 1990 e tem estrutura metálica com perfis quadrados e ou retangulares e a cobertura em chapas metálicas com inclinação e galbo acentuados. Os quatro pilares de sustentação têm perfil de 10x10cm. É limitado por grade de ferro e portão que têm desenho sóbrio. A largura maior entre pilares é de 3,25m e a menor de 1,65m. O pé direito é de 3,10m. Toda a estrutura assim como o portão e a grade são pintados com tinta fosca preta. O telhado em duas águas possui frontões fechados e amplo beiral, com as dimensões de 5,35m x 3,85m. Sua inclinação chega a 45 graus.

2Pórtico do acesso principal , 2014

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O EDIFÍCIO RELIGIOSOO edifício religioso foi estrategicamente colocado de modo a ser visto da rua comercial da quadra 115/116 sul. Na verdade, desde a comercial da 215/216 já aparece ao longe o grande telhado. O imóvel fica um pouco deslocado do eixo do lote e afastado 22,50m do limite frontal. O eixo de simetria do prédio se confunde com o eixo das ruas comerciais citadas. O edifício é formado por dois blocos, um maior à frente, onde se localiza o templo propriamente dito e outro menor ao fundo. O maior mede 20,90m x 20,80m e o menor 15,50m x 8,10m. O edifício tem dois pavimentos, o térreo e o pavimento superior. No térreo, com área de 1.265m², ficam as varandas laterais, a parte administrativa com secretaria, sala de reuniões, sala de massagem oriental, o salão social, os sanitários, a copa e a cozinha industrial para aulas de culinária e preparo de pratos japoneses. As varandas laterais do térreo foram anexadas ao corpo principal quando da reforma de 2008. No pavimento elevado estão o Templo, as varandas, a nave ou moya e a residência dos monges ao fundo com entrada independente e que tem área de 751m².

Após atravessar o pórtico de entrada chega-se a uma escadaria monumental de 20 degraus, com acesso pela frente e pelas laterais, que nos leva ao nível do Templo. Após subir nove degraus, há um largo patamar. Subindo mais 10 degraus chega-se a um espaço aberto de 2,20m de largura, espécie de adro-varanda que envolve a nave pela frente e pelas laterais; as varandas altas, permitindo a entrada na nave através das portas de correr frontais e laterais. A colocação da nave em nível elevado com acesso por ampla escadaria, além do caráter monumental evidente, dota o edifício do caráter religioso próprio de um templo budista japonês. Após subir mais um degrau, adentra-se - sempre com os pés descalços - o Templo, um espaço de 20,50m x 20,30m, onde são vistos ao fundo os três altares que ficam em nível

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Varanda superior, 2014 Fachada principal, 2014

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mais elevado e têm piso de madeira corrida. Destaca-se, ao centro, o altar principal, naijin cujo retábulo gokuden é ricamente decorado e todo dourado de acordo com modelo dos retábulos dos templos Shin budistas japoneses, e abriga em seu centro a imagem em pé do Buda Amida ou Amitaba, o Buda simbólico que é reverenciado nessa escola budista. A imagem dourada do Buda Amida sobre uma flor de lótus estilizada predomina chama a atenção quando se entra na nave. Os outros dois altares laterais situados em níveis mais baixos, migui waki dan e hidari waki dan menos suntuosos trazem as estampas dos dois patriarcas japoneses e fundadores da escola Shin:

Altares e retábulos, 2014 Buda Shakymuni, 2014

Shiran Shonin, à direita e Renyo Shonin à esquerda. Completando no nível desses dois altares os espaços restantes são cobertos com tatames, áreas propícias para meditação. No espaço da direita encontra-se a imagem dourada do Buda Shakyamuni, o Buda histórico e no da esquerda um pequeno altar de homenagem aos antepassados. A nave mede 15,60mx16m. Ao fundo da nave com entrada independente encontra-se a casa dos monges com hall de entrada, biblioteca, dois quartos, sala, cozinha e dois banheiros. A casa mede 10,80m x 8,10m. Interessante notar que esse quase anexo é mais estreito e bem menor que a nave, com pé direito de 3 metros, mais baixo que o da nave de 4,74m. Seu telhado tem cumeeira perpendicular ao do telhado da nave, que é maior e mais elevado. O conjunto tem telhados têm em estrutura metálica e cobertura em chapas também metálicas. A inclinação, como nos demais espaços aqui descritos, tem um ponto de 45 graus, típico desse tipo de arquitetura onde os telhados são sobremaneira destacados. Conceitualmente os telhados se baseiam no hiyoshi-zukuri, que é um estilo raro de arquitetura xintoísta. Esse estilo é caracterizado por um telhado com corpo reto e pontas na base. A casa do monge possui laje de forro ao passo que na nave o forro é de madeira. Na casa as esquadrias são de metal e vidro ao passo que na nave, as portas são de madeira com quadros em resina que substituem o papel arroz e que deixa-se atravessar pela luz. Sobre essas portas de correr encontram-se janelas fixas do mesmo material o que aumenta a claridade no interior. As quatro janelas fixas das laterais ao fundo da nave

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são como o katamoto do estilo zen que possui o formato de uma flor de lótus. São também em madeira e resina. Os pisos externos são em concreto impermeabilizado e pintado na cor terra, ao passo que na nave e casa do monge o piso é em Paviflex, muito usado na época em diversos projetos de arquitetura de Brasília, sobretudo nos do arquiteto Oscar Niemeyer e equipe. Vale salientar que o projeto original especificava tacos de madeira. Entretanto não foi possível saber ao certo a razão de tal troca. Essa parte do Templo mantém-se desde a sua construção bem conservada sem ser alterada. Possui varandas localizadas apenas nas laterais e na frente e são chamadas de hisashi o que torna esse estilo exclusivo, porque em outros estilos o hisashi está presente em todo o perímetro da edificação. A estrutura no estilo tradicional hirairi-zukuri, em que a entrada principal acessada por ampla escadaria foi localizada paralelamente à cumeeira. Esse estilo sobreviveu em grande parte na arquitetura religiosa japonesa. É importante assinalar que a estrutura em concreto armado segue o sistema modular característico da arquitetura japonesa, em particular o módulo ou ken de Kyoto que é de aproximadamente 2,20m. Os pilares, vigas e lajes de concreto armado, formalmente seguem o modelo dos antigos edifícios religiosos do Japão, onde a madeira predominava na construção. Aqui o concreto substitui a madeira salvo em algumas colunas no interior da nave onde a madeira não tem função estrutural, mas, decorativa. Os sinos, o altar, e o Buda Amida foram doações de budistas japoneses e chegaram ao Brasil pelo porto de Santos. Até 1991 o Templo permaneceu sem nenhuma obra de reforma ou manutenção. Nesse ano algumas intervenções foram realizadas visando mais a conservação do edifício. As paredes tanto internas quanto externas são pintadas de branco, contrastando com o verniz castanho das esquadrias de madeira.

Templo Budista – 2014

O projeto inicial previu sob a nave no térreo, um amplo espaço sem paredes que poderia ser dividido conforme as

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necessidades que fossem surgindo. Até 2008, ano do centenário da chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, esse espaço abrigava a administração, cozinha para preparação de alimentos nas quermesses anuais e em encontros da comunidade nipo-brasileira, além de depósitos variados. Com o crescimento das diversas atividades no Templo Foi necessário uma ampla reforma para adapta-lo as novas necessidades. Em 2011 foi elaborado um projeto para reabilitar todo esse espaço em função do crescimento das atividades extra religiosas do Templo. Em 2012 as obras foram concluídas. Foi aberta uma passagem sob a escadaria de acesso a nave ligando as duas varandas laterais e a construção de um grande salão social, sanitários, copa e uma cozinha industrial muito bem equipada para as aulas e experiências culinárias e gastronômicas. O salão já foi palco de vários eventos e por outro lado a bateria de sanitários serviu para atender a grande afluência de público. Atrás da cozinha numa pequena construção isolada foi instalado um balcão com lavabo e sanitários para atender aos pedidos feitos à cozinha por ocasião da quermesse e de outras atividades. As duas amplas varandas foram construídas e anexadas ao conjunto em 1999. Seu piso é também em concreto liso pintado na cor terra assim com os pilares cilíndricos de concreto armado. A estrutura de seu telhado é metálica e a cobertura em telhas de barro capa e bica do tipo telha plan. O piso dos demais compartimentos é em granitina; as esquadrias do salão são todas de correr e de vidro temperado. As demais esquadrias são de ferro e vidro seguindo o modelo da casa dos monges. Esse pavimento térreo tem pé direito de 3m.

Lateral do Templo - 2014

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Casa do SinoA casa do sino ou torre sineira foi

construída e inaugurada no ano de 1990. Projeto do arquiteto Jun Ito, de origem japonesa radicado em Brasília. A casa do sino localiza-se isolada e a direita do edifício religioso e envolvida pelo jardim, próximo ao pórtico de entrada. Uma pequena construção pouco elevada do solo, uma espécie de coreto. Chega-se ao nível onde se encontra o grande sino através de 6 degraus. Quatro colunas em concreto armado suportam a estrutura metálica que sustenta o sino e o telhado que é formado por chapas metálicas. O ponto do telhado é alto, aproximadamente 45 graus. Ele tem quatro águas com cumeeira, frontões fechados e amplo beiral, com área de35m2. Um guarda corpo em perfis metálicos de 90 cm de altura cerca o conjunto, abrindo-se somente para receber o acesso formado pelos degraus. Mede 4,90 m x 4,90m. As colunas são pintadas na cor terra e a estrutura do telhado em preto.

Casa do Sino, Vista da varanda superior do Templo e vistas da casa do sino, 2014

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DojôO dojô é o espaço das Artes

Marciais. Ele foi construído para ser o centro de difusão dos valores budistas de paz e solidariedade em várias práticas coletivas de corpo e mente. Ele se localiza ao fundo do Templo e próximo à residência do Monge. Sua construção é de 2011 e mede 19,90m x 22,10m, com área de 440m2. O pé direito é de aproximadamente 5m. O dojô tem o formato de um grande galpão com estrutura metálica de pilares e telhado. Sua cobertura é em telhas de fibrocimento com onda larga e é todo cercado por alambrado metálico. O piso é em concreto liso e quase a sua totalidade coberto por tatame. A entrada é pela varanda da lateral direita.

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Dojô visto da varanda superior, 2014

Dojô, 2014

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Salão Nobre – 2014 Sanitários do salão Nobre - 2014

SanitáriosPara atender aos praticantes de artes

marciais e às pessoas que frequentam o Templo foram construídos a altura do dojô, na lateral direita do terreno, os sanitários feminino e masculino, medindo 6,20m x 7,70m com área de 68m2. Internamente, têm revestimento de paredes em azulejos, piso em cerâmica, sem forro, com cobertura de uma água em telha de fibrocimento de onda larga. A estrutura do telhado é metálica. Esquadrias metálicas em portas e basculantes. Sua construção é do ano 2011.

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Casa do ZeladorConstruída em 1999, à esquerda e ao fundo, a frente do galpão metálico, a casa do zelador

mede 8,80m x 7,70m, com área de 68m2. Tem pequena varanda, sala, três quartos, cozinha, banheiro e área de serviço. Seu telhado é em telha de fibrocimento, onda larga em duas águas e escondido por platibanda. As esquadrias são todas metálicas, piso de cerâmica e o projeto são do arquiteto de origem japonesa Hélio Kay. Construção de 1999.

Casa do zelador - 2014

Fundos do Templo - 2014

Galpão metálico - 2014

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Vestiários do dojô – 2014

Galpão metálico ao Fundo.Para abrigar todo o material utilizado durante a quermesse anual foi construído ao

fundo, atrás da casa do zelador um galpão medindo 7,60m x 17,40m, com área de 133m 2, todo fechado em chapas metálicas onduladas e cobertura em uma água.

A localização dos sanitários, casa do zelador e galpões é inadequada por descaracterizar o edifício original, o Templo. Um plano diretor está sendo desenvolvido para melhor localização desses prédios de apoio uma vez que por serem construídos em estrutura metálica poderão ser removidos e montados em local mais conveniente.

Urbanização e jardinsO projeto de urbanização e paisagismo do Templo Budista de Brasília foi elaborado em

2008 e é do escritório Reis Arquitetura. O projeto é de autoria das arquitetas Viridiana Gomes e Leila Bueno e parece tem como referência os jardins Zen japoneses e foi construído no ano de 2008. Segue abaixo o Memorial descritivo das autoras e as fotos que explicitam melhor o projeto.

Templo Budista O Templo Budista Honpa Hongwanji, situa-se na entrequadra 315/ 316 sul, em terreno doado por Juscelino Kubitschek no ano de 1960 à comunidade japonesa recém chegada à Brasília. Até pouco tempo atrás, o templo apresentava-se alheio à sua vizinhança, uma vez que os descendentes de japoneses consolidaram-se nas imediações da cidade de Taguatinga e não se notava interesse, por parte dos dirigentes do Templo, em estabelecer um vínculo com a comunidade fora do círculo

japonês. Em 2005 o templo alterou seu estatuto mediante realização de assembléia, e a gestão do Templo entrou em um processo de abertura gradual. Além da tradicional festa durante os fins de semana do mês de agosto, que resultava no único momento em que o Templo se abria ao público, passaram a ser ministradas aulas de artes marciais , língua japonesa e caligrafia japonesa. No ano de 2008 se intensificaram diversas atividades no Templo, com o objetivo de aproximá-lo definitivamente da comunidade local. Foi realizada uma reforma no Templo que

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Templo Honpa Hongwanji (foto anterior à reforma); março/ 2008)

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buscou substituir as antigas instalações, em estado precário, e gerar ambientes mais funcionais. A comemoração dos 100 anos da imigração japonesa ao Brasil resultou em um fator decisivo na alavancagem de recursos para a realização dos trabalhos de reforma dos jardins, da praça e dos estacionamentos.

Os jardins encontravam-se em estado de abandono, desprovidos de manutenção ao longo de muitos anos; os mesmos não resistiram às águas das chuvas, que carrearam boa parte da cobertura vegetal original. Assim, a reforma consistiu na substituição de toda forração existente, retirada dos indivíduos em processo de falência, inserção de novas espécies e aproveitamento de boa parte dos arbustos existentes.

O projeto paisagístico baseou-se na divisão do jardim em três partes: Jardim da Integração Brasil-Japão, Jardim de Meditação e Jardim do Som Interior.

Além dessas áreas, foram tratadas as imediações dos estacionamentos, aonde se deu a preservação integral das árvores existentes, assim como ocorreu na praça frontal.

Paisagismo.

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Jardim da Meditação , 2014

Jardim da Integração Brasil-Japão (foto: abril/ 2009)

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Jardim da Integração Brasil-Japão Compõe a entrada do Templo e é o ponto focal do espaço, marcado pela grande escadaria central, acessada pelo portal de entrada, além da estátua do monge, situada entre o templo e o sino. Esse jardim dá suporte a todo o conjunto, percorrendo a diferença de nível entre o portal e o templo.

Novo perfil topográfico do Jardim frontal com morrote artificial (foto: abril/ 2009)

O primeiro passo na recuperação desta área foi inserir elementos que detivessem as águas das chuvas, uma vez que o terreno se encontra em declive. Assim, foram projetados pequenos morrotes com 1 metro de altura ao fundo deste jardim, que funcionariam como barreiras naturais. Além disso, tais morrotes, viriam a constituir um pano de fundo para essa frente ajardinada, o que deu destaque à própria edificação do Templo. Tais elementos realizam a interface entre o este jardim e os outros dois. Faceiam o Jardim Zen, criando um limite visual e físico entre esses dois espaços, propiciando certa introspecção ao espaço e, ao mesmo tempo, uma surpresa agradável ao jardim como um todo, que pode ser desvelado aos poucos. Seu trajeto se finaliza no delinear do contorno do laguinho de pedra.

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Jardim da Integração Brasil-Japão (foto: abril/ 2009)

Jardim frontal anterior à intervenção (foto: março/ 2008)

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Dentre as espécies existentes, as azaléias foram preservadas graças ao seu bom estado. Somaram-se a elas novas mudas, que constituíram generosas toceiras ao pé da escada frontal do Templo.

Algumas espécies foram introduzidas como a Leea rubra, o Phormiun variegado, Pândanus, Agapanthus africanus, Clorofito, o Podocarpus macrophyllus, uma conífera, Dietes bicolor e as Cerejeiras. Esse conjunto criou uma dinâmica visual de texturas e cores, proporcionadas pelos diferentes tons de verdes e as flores – azuis, lilases, rosas e amarelas - em suas épocas determinadas.

O Jardim da Integração se entrelaça com os outros dois jardins, unindo esses três espaços trabalhados.

Jardim de Meditação

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Jardim da Integração Brasil-Japão (foto: abril/ 2009)

Detalhe do morrote artificial, entre Jardim da integração Brasil-Japão e Jardim do Som Interior (foto: abril/ 2009)

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A lateral esquerda do acesso frontal que anteriormente constituía uma passagem pavimentada, transformou-se em um jardim xerófito, ou seja, um jardim seco, em que seus elementos principais são as pedras. As pedras têm forte simbolismo na cultura japonesa, representando desde o homem e a mulher, até mesmo a água, a ilha, o mar.

Este jardim tem referência direta ao jardim japonês. Sendo assim, as grandes pedras predominam na composição com o fundo de pedrisco branco. O Ophiophogum japonicus, uma forração conhecida popularmente como pelo de urso ou grama preta, espécie utilizada tanto aqui como no Japão faz a margem dessa composição, como se fosse a própria costa marítima.

Como elemento divisor entre os dois jardins o morrote artificial constitui a moldura verde deste espaço. Similar a um típico jardim de meditação budista, a simbologia utilizada na composição do espaço remete à água. Duas grandes pedras representam ilhas sobre um oceano, composto em realidade, por pequenos seixos brancos. As pedras foram desenvolvidas pelo artista plástico Lourenço de Bem; consistem de garrafas PET compactadas, envoltas em malha de arame, e revestidas com argamassa

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Local de passagem antes da intervenção (foto: março/ 2008)

Jardim da Meditação (foto: abril/ 2009

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Jardim do Som Interior

O espaço compreendido entre a lateral direita do acesso frontal e o conjunto do Sino foi destinado a um jardim voltado à contemplação.

O sino é um elemento predominante na paisagem, marcando o próprio tempo naquele espaço e seus rituais, com suas badaladas. A intervenção no seu entorno buscou um equilíbrio pela sua complementação. Água e pedra foram os elementos inseridos nesse jardim, além de um caminho com “bolachas” de madeira, convidando o

indivíduo ao percurso ladeado por alpíneas, herbácea própria do clima tropical, e viburnos, planta já característica do paisagismo japonês e também utilizada na nossa região.

O fluxo da água simboliza o nascimento, o crescimento e a morte e não poderia faltar no paisagismo criado. A utilização de água foi descartada devido ao custo. Nesse sentido, um laguinho com cascata de pedras foi feito recebendo outro elemento japonês: o tsukubai, uma espécie de cuba de pedra que recebe a água de uma fonte, é originário das cerimônias do chá e representa o ritual simbólico de lavar as mãos para purificar-se antes da meditação no jardim. A fonte de água é feita de bambu, remetendo também ao imaginário japonês.

O Templo foi analisado como um todo e cada espaço foi trabalhado buscando sua vocação com a paisagem. O percurso, o estar, a contemplação, a escala simbólica foram elementos valorizados no

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Jardim do Som Interior – Cascata (foto: abril/ 2009)

Jardim do Som Interior – Cascata (foto: abril/ 2009)

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projeto.

Quanto à vegetação, as espécies utilizadas no espaço do sino foram a Bambusa gracilis, chamada popularmente de bambuzinho de jardim e a Congéa, uma trepadeira tormentosa originária do sul da Ásia e bastante utilizada em clima tropical, ela proporciona uma bela florada cor-de-rosa.

Além da introdução dessas espécies foi mantido o Juniperus chinensis, cipreste escultural bastante comum em jardins orientais e que já caracterizava aquela paisagem ao lado do sino.

Dois grupos de cerejeiras foram doadas, em tempo oportuno, ao Templo. A doação foi muito bem recebida e inserida no Jardim do Som Interior. Foi disposto um grupo de 10 indivíduos, em torno do talude que define o laguinho. O outro grupo foi implantado no Jardim de Integração.

Aqui no Brasil, especialmente em Brasília, a introdução desta espécie está em processo de experimentação pelo Departamento de Parques e Jardins - DPJ, não se sabe ainda se ela se adaptará ao nosso clima. Contudo, o Templo foi visto como um bom ambiente para a tentativa de adaptação desta espécie.

As cerejeiras, chamadas de Sakura, são conhecidas como a flor da Felicidade, e assumem um lugar importante na cultura japonesa. No Japão, os meses de Março a Abril são dedicados aos festejos do Hanami para em comemoração à floração da árvore.

Autoras do Projeto:

Leila Bueno, arquiteta e professora do curso de arquitetura e urbanismo do UniCeuB.

Viridiana Gabriel Gomes, arquiteta e professora do curso de arquitetura e urbanismo do UniCeuB.

Equipe de elaboração do Dossiê de Tombamento do Templo Budista de Brasília:Coordenadora: Claudia Lopes Barbosa Maia, mestra em educação.

Textos: Monge Ademar Kyotoshi Sato, Monja Maria Cristina E-Gen Holanda Sato, Claudia Lopes Barbosa Maia e Fernando Madeira.

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Jardim do Som Interior – Cascata (foto: abril/ 2009)

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Levantamentos arquitetônicos: Maria Amélia Mello Galvão, arquiteta ; Maria Carolina do Amaral Miranda e Júlia Alves Vicentini, estagiárias de arquitetura, UniCEUB

Levantamento Topográfico: Gilson Pena, topógrafo; Marcos Vinícius Gonçalves Ribeiro, auxiliar de topografia.

Pesquisa e Memorial Descritivo do templo: Fernando Madeira, arquiteto, Maria Carolina Miranda e Júlia Alves Vicentini, estagiárias de arquitetura, UniCEUB.

Arquitetura paisagística, Jardins do Templo: Leila Bueno e Viridiana Gabriel Gomes, arquitetas e professoras do curso de arquitetura e urbanismo do UniCEUB.

Fotos: Arquivo Templo Budista de Brasília, Monja Maria Cristina E-Gen Holanda Sato, Maria Amélia Mello Galvão.

Funcionários Administrativos: Claudia Cristina Silva, Valdegrã Oliveira Rodrigues, Manuel Rodrigues da Luz Neto, Fernanda Figueira Pereira.

Agradecimentos: UniCEUB, Centro Universitário de Brasília; arquiteto Hélio Kay; João Koyti Tsujimoto; Clara Sakamoto.

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