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1 Memorial da Resistência de São Paulo PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA Presídio Tiradentes Endereço: Avenida Tiradentes, 451 Tiradentes, SP. Classificação: Aparato Repressivo. Identificação numérica: 192-01.020. Os principais conceitos em torno do espaço carcerário são: disciplina e repressão. A partir do século XIX com a consolidação do sistema capitalista, as sociedades passam por profundas transformações quanto a sua organicidade gerando, portanto uma sociedade disciplinar que abarca todas as esferas da vida, seja na produção material, seja no padrão comportamental. Portanto, quem não se adequa a esse modus operandi passa a ser punido. A constituição do sistema prisional visava disciplinar os cidadãos pertencentes às camadas empobrecidas, pois muitos dos que eram presos se enquadravam no estigma de vadios e arruaceiros. Com o início dos regimes ditatoriais a ideia de disciplina vem atrelada a repressão política, pois as ideologias contrárias as politicas de estado não tinham espaço e já não cabia apenas uma disciplinarização do modo de pensar e agir no mundo, mas uma repressão efetiva para que fossem extintas. PRESÍDIO TIRADENTES – HISTÓRICO E SISTEMA PRISIONAL Na província de São Paulo, a época Imperial, a concepção do espaço carcerário foi se estabelecendo lentamente e locais paliativos foram utilizados para o aprisionamento dos infratores. A falta de um sistema carcerário estava diretamente relacionada à escassez de verbas e de profissionais que pudessem realizar tal projeto. Nesse sentido, a Casa de Correção de São Paulo, após um longo percurso quanto a sua construção, surge em resposta a crescente demanda de infratores viabilizando, assim, a aplicação do código criminal a todos aqueles que ousavam descumpri-lo.

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Memorial da Resistência de São Paulo

PROGRAMA

LUGARES DA MEMÓRIA

Presídio Tiradentes

Endereço: Avenida Tiradentes, 451

Tiradentes, SP.

Classificação: Aparato Repressivo.

Identificação numérica: 192-01.020.

Os principais conceitos em torno do espaço carcerário são: disciplina e

repressão. A partir do século XIX com a consolidação do sistema capitalista, as

sociedades passam por profundas transformações quanto a sua organicidade

gerando, portanto uma sociedade disciplinar que abarca todas as esferas da vida, seja

na produção material, seja no padrão comportamental. Portanto, quem não se adequa

a esse modus operandi passa a ser punido.

A constituição do sistema prisional visava disciplinar os cidadãos pertencentes

às camadas empobrecidas, pois muitos dos que eram presos se enquadravam no

estigma de vadios e arruaceiros. Com o início dos regimes ditatoriais a ideia de

disciplina vem atrelada a repressão política, pois as ideologias contrárias as politicas

de estado não tinham espaço e já não cabia apenas uma disciplinarização do modo de

pensar e agir no mundo, mas uma repressão efetiva para que fossem extintas.

PRESÍDIO TIRADENTES – HISTÓRICO E SISTEMA PRISIONAL Na província de São Paulo, a época Imperial, a concepção do espaço

carcerário foi se estabelecendo lentamente e locais paliativos foram utilizados para o

aprisionamento dos infratores. A falta de um sistema carcerário estava diretamente

relacionada à escassez de verbas e de profissionais que pudessem realizar tal projeto.

Nesse sentido, a Casa de Correção de São Paulo, após um longo percurso quanto a

sua construção, surge em resposta a crescente demanda de infratores viabilizando,

assim, a aplicação do código criminal a todos aqueles que ousavam descumpri-lo.

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Portanto, pode-se sugerir que a correção e a repressão são conceitos inerentes à

constituição do Presídio Tiradentes.

Conhecida inicialmente como a Cadeia da Luz, a Casa de Correção de São

Paulo, foi criada em 1825, sendo inaugurada somente em 6 de maio de 1852. Sua

estrutura foi pensada para atender duas demandas específicas, a saber: como

depósito de escravos os quais eram postos no calabouço, e a casa de correção,

propriamente dita, para onde iam todos aqueles que em certa medida não se

adequavam as regras dessa sociedade, seja pela prática de delitos, seja por sua

condição social, e deste modo as penas eram cumpridas através do trabalho.

Localizava-se no largo do Seminário (atual Avenida Tiradentes), que começava

na Rua do Comércio da Luz e no baixo muro do Jardim do mesmo nome,

prolongando-se até as porteiras da Inglesa desembocando nas Ruas Alegre e

Constituição (atual Brigadeiro Tobias e Florêncio de Abreu)1.

De acordo com Gonçalves durante a sua construção o presídio passou por

inúmeras depredações e reformas permanecendo a Penitenciária e a Cadeia no

estado improvisado de 1877 até o final da monarquia e, pelo menos, por mais trinta

anos durante todo o período republicano2. As condições de encarceramento eram as

piores possíveis apontando todo descaso com a vida, tanto do ponto de vista

arquitetônico, com celas em tamanho reduzido e insalubres, quanto às insuficientes

condições de higiene e alimentação proporcionadas aos presos. A precariedade da

construção e as más condições de encarceramento eram uma marca que o Presídio

carregaria até a sua extinção em 1973, quando da sua demolição para o andamento

das obras do metrô.

A discussão na esfera pública quanto à deficiência do sistema prisional datam

do início do século XX. O senador da República Paulo Egídio (1890 a 1896), em seu

ensaio “Estudos de Sociologia Criminal” analisa o problema da criminalidade e o

associa a questões de ordem social. Tendo assumido um papel importante no senado

de São Paulo, propôs alterações no Código Penal, bem como a criação de novas

instituições relacionadas à prisão, já que o sistema vigente encarcerava tanto os

criminosos como os menores abandonados e os excluídos socialmente. Para ele a

reforma penitenciária compreendia o estabelecimento de uma rede de instituições

‘racional e praticante’ concebida para prevenção de delitos, para a sua supressão,

1 MENEZEZ, Raimundo de. Espetacular evasão da Cadeia da Luz em 1884. Investigações. São Paulo, n.37, ano IV, janeiro de 1952, p.29. 2 GONÇALVES, Flávia Maíra de Araújo. Cadeia e Correção: Sistema prisional e população carcerária na cidade de São Paulo (1830 – 1890). Dissertação (Mestrado em História Social). FFLCH. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2010, p.160.

3

para a correção dos delinquentes e para a prevenção da reincidência3. Para tanto,

seria necessário uma reforma na instituição vigente. Propôs então a criação de uma

comissão que se encarregaria de verificar as condições e necessidades da então

principal penitenciária de São Paulo, o Tiradentes.

O parecer desta comissão, mediante as condições de higiene e da constituição

da construção, apontou que uma condenação ali cumprida era uma pena de morte

atenuada. Frente os dados levantados pela comissão o Tiradentes estava

integralmente condenado, e nesse sentido a proposta de Paulo Egídio para uma nova

Penitenciaria do Estado, viria se concretizar em 1911 quando se inicia as obras da

nova Penitenciária do Estado “Instituto de Regeneração – Carandiru”, e sua

inauguração se dá em abril de 1920, visando atender as exigências do código penal

republicano de 1890. O Instituto de Regeneração cumpriu o seu papel, sendo

considerado modelo nas Américas, recebia visitas de inúmeros estudantes de direito,

personalidades das mais diversas nacionalidades, chegando a ser considerado um

dos cartões postais da cidade de São Paulo. Ainda assim, o presídio Tiradentes

continuou a funcionar encarcerando novos infratores.

Na década de 30, com o Estado Novo as feições do Presídio Tiradentes se

reconfiguraram, os que lutaram contra os regimes ditatoriais que se instalaram no país

acabavam por cumprir suas sentenças naquele espaço. Assumindo, portanto a

vocação de presídio político, o qual recebeu em um pavilhão especial todos os

indiciados na Lei de Segurança Nacional. Esta característica se seguiria até a queda

do Regime em 1945. Segundo Camargo e Sacchetta, neste período passaram por lá

José Maria Crispim e Monteiro Lobato homenageados posteriormente por outros

presos políticos que lá estiveram desde 1968, nomeando a cela em que passaram em

décadas anteriores4.

O Presídio Tiradentes foi sonho e pesadelo de uma geração. Os que lá passaram pelos anos 60 e 70 carregarão uma marca para o resto das suas vidas, nem sempre ruim, é bom que se diga, pois a prisão política – como se depreenderá da maioria dos textos contidos nesse livro – não é o inferno na terra. Ali se cultivaram também valores que não se perdem da noite para o dia, mais perenes, e que se colaram ao caráter dos inúmeros “hospedes” que teve o presídio, independentemente dos caminhos políticos que eles seguiram5.

3 ALVAREZ, Marcos César e SALLA, Fernando. Paulo Egídio e a Sociologia Criminal em São Paulo. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. São Paulo, v.12, n.1, p.101-122, maio de 2000, p. 9. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v12n1/v12n1a06.pdf>. 4 CAMARGOS, Márcia M. de R. e SACCHETTA, Vladimir. A história do presídio Tiradentes: um mergulho na iniquidade. In: FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; PONCE, J. A. de Granville (orgs.). Tiradentes, um Presídio da Ditadura: Memórias de Presos Políticos. São Paulo: Scipione Cultural, 1997, p.491-493. 5 FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; e PONCE, J. A. de Granville. Política, repressão e ideologia. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.41.

4

PERSEGUIÇÃO POLÍTICA

O século XX é marcadamente um período de grandes mudanças e

transformações no interior de suas estruturas, seja no campo da política e ideologias,

seja no âmbito das relações internacionais; algumas dessas transformações

culminaram em experiências catastróficas como as duas grandes guerras e os

regimes ditatoriais, os quais se instalaram tanto na Europa quanto nos países

periféricos. Deste modo, não poderia ter sido diferente o caso do Brasil, no qual as

conjunturas internacionais influiriam diretamente na nossa política e sociedade. Sendo

assim, buscou-se a defesa da “democracia” sob a égide da perseguição ao

comunismo.

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) surge em 1922 e com ele a Aliança

Nacional Libertadora (ALN), que combatia a influência do fascismo no Brasil e

reivindicava a suspensão da dívida externa do país, a nacionalização das empresas

estrangeiras, a reforma agrária e a proteção aos pequenos e médios proprietários, a

garantia de amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo popular6

Frente ao teor revolucionário destas reivindicações tanto o PCB como a ALN foram

postos na ilegalidade na Era Vargas com base na Lei de Segurança Nacional

promulgada em abril de 1935, que definia e punia os crimes contra o Estado e a

ideologia vigente. Esta lei surge como medida de controle popular e suporte para a

repressão e perseguição a todos aqueles que se enquadravam em atividades

supostamente subversivas, como por exemplo, o caso Monteiro Lobato.

LEI DE SEGURANÇA NACIONAL A ditadura Vargas foi seguida por um golpe militar que em março de 1964

tomou o país. Portanto, a menor discordância ou questionamento quanto à política

adotada pelo governo seria motivo para o enquadramento na Lei de Segurança

Nacional. Deste modo, a perseguição política, o encarceramento, as torturas e

punições tornaram-se prática recorrente. Elevando-se significativamente a população

carcerária, tal efeito se deu, sobretudo frente à especialização da polícia política que

objetivava conter e reprimir as mobilizações populares e organizações políticas. Como

consequência “as prisões ficaram ainda mais precárias devido à quantidade de novos

6 Para mais informações sobre esse contexto, conferir o material produzido pelo CPDOC/FGV sobre a ALN. Anos de Incerteza (1930-1937). Aliança Nacional Libertadora. Disponível em <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RadicalizacaoPolitica/ANL>. Acesso em 30/05/2014.

5

presos. O cárcere tornou-se o local de exclusão, por excelência, dos inimigos políticos

e sociais do regime”7

Com o golpe militar em 1964 a Lei de Segurança Nacional juntamente com o

Serviço Nacional de Informações, criado em junho do mesmo ano, forneciam e

produziam informações que atendiam aos interesses da ditadura e de seus aliados,

elevando o grau de recrudescimento da repressão política. O inimigo a ser combatido

encontrava-se no meio do povo. Estudantes, intelectuais, artistas e militantes políticos

foram o principal foco de perseguição e para tanto foi implantado em escala nacional o

Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna

(DOI-Codi) o qual visou não só a perseguição, mas o aprisionamento e a eliminação

de todos os opositores do regime.

Quando os presos já haviam passado pelas seções de interrogatórios, torturas,

e quando finalmente eram registrados junto a Auditoria Militar alguns eram transferidos

para o Presidio Tiradentes para aguardar o julgamento, cumprir a pena e ficar a

disposição dos militares.

PURGATÓRIO? ENTRE OS LIMITES DO CÉU E DO INFERNO

O Tiradentes era um purgatório, este limbo situado entre o inferno e o paraíso” diz um. Diz outro: “É um paradoxo pensar que um presídio possa ser um alivio salvo se for o pensamento de um masoquista – mas o Presídio Tiradentes, nos anos negros da ditadura, foi para mim, e para muitos que lá estiveram, uma espécie de alívio” [...] Um pouco tem a ver com o fato de que, na trajetória obrigatória da prisão política, ao chegar ao Tiradentes significava um alívio, quase uma vitória por ter sobrevivido às torturas, ao desaparecimento, à morte8

O purgatório é popularmente conhecido como o lugar onde as pessoas depois

de mortas expiam seus pecados para estarem aptas a entrar no céu, ou seja, o limite

entre o céu e o inferno. Percebido como purgatório, o Presídio Tiradentes era assim

conhecido por ser o lugar onde os presos políticos eram enviados quando saíam das

delegacias como o DOI-Codi, o DOPS e outros centros de detenção e tortura. “Com a

ida para o Tiradentes, a sensação era de que assumíamos de fato o status de

prisioneiros reais, vivos, com nome e endereço conhecidos. Aí terminava a

peregrinação de muitas famílias à procura de seus parentes”9. Muitos dos presos

ficavam meses sem nenhum tipo de registro que comprovasse a detenção, o que

7 PEDROSO, Regina Célia. Os signos da pressão: história e violência nas prisões brasileiras. São Paulo: Arquivo do Estado; Imprensa Oficial, Coleção Teses e Monografia, vol.5, 2002, p.151. 8 CANDIDO, Antônio. O Purgatório. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.15. 9 FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; e PONCE, J. A. de Granville. Política, repressão e ideologia. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.27.

6

poderia favorecer as possibilidades de que fossem mortos, sem nenhum tipo de

implicância penal aos assassinos, uma vez que não existia documentação sobre a

detenção.

O DOI-Codi foi um dos lugares onde mais se torturou e matou durante a

ditadura em São Paulo, conhecida entre os presos políticos como a “Sucursal do

Inferno”. Assim, para os presos políticos que eram registrados e transferidos do DOI-

Codi para o Presídio Tiradentes, constituía-se uma espécie de “ascensão” ao

purgatório, já que a repressão e o encarceramento permaneciam, mas com níveis de

crueldade em menor proporção. Na analogia apresentada, o céu seria a liberdade,

palavra cara aos que lutaram pela democracia no Brasil e que foram barbaramente

reprimidos.

Não se pode ocultar que o Presídio Tiradentes representa em si um lugar de

memórias de dor e de violações aos direitos humanos. No entanto, é preciso atentar

para as condições físicas e psicológicas em que os presos políticos chegavam. Seus

corpos e mentes já estavam consideravelmente debilitados, na grande maioria dos

casos, pelas torturas sofridas em outros centros de repressão. O Presídio Tiradentes

não foi palco de seções de torturas físicas para presos políticos, entre outros motivos,

porque os que lá chegavam já haviam sido “interrogados” com todas as “metodologias”

possíveis. No entanto, torturou psicologicamente e fisicamente os presos, ao negar

qualquer tipo de assistência médica aos intensos problemas de saúde que tinham os

presos políticos devido às torturas sofridas. Sem esquecer, é claro, que estamos

falando de uma unidade prisional, com todas as restrições e deficiências que são os

presídios no Brasil. Percepção que pode ser confirmada no depoimento de Dulce Maia

sobre sua estadia no Tiradentes. “No princípio, senti um alívio. Cheguei a acreditar

que tudo ali seria diferente, ilusão que durou pouco. Logo percebi que toda cadeia é

essencialmente igual, ainda que tenha métodos diferentes”10.

OS ESPAÇOS DO TIRADENTES E A TORRE DAS DONZELAS Para além dos presos políticos, o Presídio Tiradentes abrigava presos comuns,

conhecidos como “corrós”11. Os primeiros presos políticos, da ditadura civil-militar, que

foram encarcerados no Tiradentes ficavam em celas comuns, não havia uma

separação inicial entre presos comuns e políticos. Silvio Rego Rangel ao relatar sua

chegada ao Tiradentes, descreve:

10 MAIA, Dulce. A morte, as donzelas e a Canção dos pescadores. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.100. 11 Carlos Roberto Pittoli, ex-preso político do Presídio Tiradentes, explica que o termo é uma abreviação de Correcionais, presos correcionais. Conferir: PITOLLI, Carlos Roberto. A fortaleza e o queijo. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.115.

7

Eram dois prédios, um cinza e um amarelo, um mais novo e o outro muito velho, ambos cheios de janelas gradeadas. [...] Existia um cheiro de creolina por todos os lugares e alguns presos comuns trabalhavam fazendo limpeza. As celas do pavilhão I eram fechadas com grandes chaves. Imagino que cada uma delas pesava quase um quilo e os carcereiros as carregavam balançando-as, fazendo um barulho que lembrava o de sinos. Cela 3, pavilhão I ou X3-P1 – meu novo endereço. [...] Além dos presos políticos, moravam também na cela um tira umbandista, acusado de assassinato, [...], um indiano, um cafetão belga e um americano12.

Os estudantes presos no encontro da UNE em 1968 ficaram detidos no

Presídio Tiradentes, sendo alguns posteriormente liberados. Com o aumento

exponencial da chegada de presos políticos, de ambos os sexos, os presos políticos

passaram a ficar em um pavilhão específico.

A composição das celas se dava a partir de muitas artimanhas junto à carceragem, que, pouco afeitas a lidar com presos políticos, não conseguia perceber que as várias organizações e tendências políticas iam se dividindo e agrupando pelas sete celas do pavilhão. [...] As celas, sem exceção, tinham uma composição heterogênea quanto à origem social, política, intelectual e faixa etária13.

As mulheres, presas políticas, ficavam em outro pavilhão, separado da ala

masculina. Situado na parte traseira do Tiradentes, havia um prédio com uma torre.

“Do saguão saía uma ampla escada que conduzia às celas que se encontravam no

andar superior”14.

O local que habitávamos no presídio Tiradentes era uma velha torre circular, de paredes maciças, rodeada de guaritas, isolada do resto do presídio pelo pátio feminino, e tendo como única entrada uma porta de ferro. Dentro, o acesso às celas se dava por uma escada dupla, majestosa, em forma de ferradura. Sua amurada na parte superior, como um mezanino, permitia a visão do que acontecia na parte de baixo. A porta de entrada e de saída rangia sempre, e seu cadeado tinha uma batida inconfundível15.

Rose Nogueira afirma que muitas histórias eram contadas em torno da torre,

por ter sido prisão de escravos no século passado (onde ficavam acorrentados antes

12 RANGEL, Silvio Rego. Um maravilhoso mundo novo. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.154. 13 ROIG, Vicente. Encontro e reencontro com o amor e a vida. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.128. 14 LOBO, Elza. Os sinais, os gestos e os ritos. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.220. 15 SIPAHI, Rita. Em nome da Rosa. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.183.

8

de ir a leilão) e por ter sido cárcere de presos políticos de outras épocas, como

Monteiro Lobato em 1953 por defesa da campanha “O petróleo é nosso”16.

O contato entre presos políticos homens e mulheres não era permitido. “Não

era possível vê-las dos pavilhões masculinos, a não ser através de um minúsculo

orifício existente no portão de ferro que separava os pátios das alas masculinas e

feminina, e ainda assim somente nos dias de visita, que eram as únicas ocasiões em

que esses pátios comunicantes eram utilizados”17. Os casais que eram civilmente

casados, podiam se encontrar sob vigilância dos carcereiros. Na ocasião, eram

trocadas “balinhas” de correspondência com informações, textos políticos e cartas.

Segundo Vicente Roig, eram escritos bilhetes com letras muito pequenas em um papel

seda, “dobrava-se o papel de tal forma que ficasse de tamanho ínfimo, embrulhava-se

em outro papel de seda e depois revestia-se com durex, de tal forma que ficasse do

tamanho de uma balinha. As balinhas eram levadas pelos casados, na boca, à prova

de qualquer revista”18.

Outra forma de troca de informações entre os presos era realizada através de

mensagens numa corda artesanal, que foi chamada entre os presos de “Teresa”.

“Uma corda feita de barbantes trançados, com um peso na ponta – um companheiro

girava o peso e arremessava a “teresa”, que se enroscava no braço estendido do

destinatário, algumas celas adiante. Esse preso recebia algo que vinha amarrado na

outra ponta”19. E assim, os presos políticos trocavam informações e solidariedade

entre eles.

COTIDIANO PRISIONAL – REPRESSÃO E RESISTÊNCIA ATRÁS DAS GRADES A descrição das celas e do cotidiano dos presos políticos é muito variante, por

vários motivos, entre eles podem ser destacados: a divergência dos relatos de ex-

presos, que varia de acordo com o período histórico que viveram no lugar, e por

disputas e conflitos em torno dessas memórias. No entanto, o cruzamento de fontes

nos permitiu apresentar algumas peculiaridades em torno do tema.

A comida que os presos recebiam, vinha do Presídio Carandiru em condições

bastante precárias em termos de cozimento e higiene. José Machado afirma que era

preciso “fazer a reciclagem da comida, que consistia em aproveitar o que era

aproveitável na comida do caldeirão e depois retemperar tudo e voltar ao fogo”20. Com

o tempo, os presos políticos improvisaram uma cozinha na cela com um pequeno

16 NOGUEIRA, Rose. Em corte seco. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.143. 17 ROIG, Vicente. op. cit. p.129. 18 Idem. 19 PITOLLI, Carlos Roberto, op. cit., p.116. 20 MACHADO, José. Teses em xeque: começa a revisão. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.120.

9

fogareiro de duas bocas, e os familiares passaram a levar alimentos que eram

preparados diariamente pelos presos.

E o planejamento consistia em que se organizava uma lista de acordo com as posses das famílias e racionalizado, porque as famílias, cada uma trazia pro seu ente querido uma sacola e quando chegava vinha um monte de coisa repetida e um monte de coisa que faltava. Então chegava quatro, cinco quilos de sal... E aí todas as celas adotaram o planejamento. Então, eu, por exemplo, escolhi para minha família que trouxesse cigarros. E a minha mãe ficava desesperada porque eu não fumava, né. Eu falava: “Mãe tranquila e calma. Eu escolhi cigarros porque tem o problema dos valores, dos preços, quem pode comprar o quê e é mais fácil pra trazer, tá certo?”. E aí, famílias que tinham carro, por exemplo, arcavam com arroz, feijão, açúcar, traziam coisas de mais volume. A minha mãe ia me visitar de ônibus, não tinha carro, e meu pai trabalhava, então, cigarro era muito confortável e ficava dentro do preço das famílias que tinham. Tinha gente que não tinha nem família e não podia levar nada e não levava nada21.

Os presos se revezavam em duplas para o preparo da comida e a limpeza dos

pratos e panelas. Vários depoimentos, transcritos no livro “Tiradentes, um presídio da

ditadura”, como o de Luiz Raul Machado, destaca que apenas o leite e o pão da

manhã distribuídos no presídio eram recebidos entre os presos políticos, o café

também era preparado por eles22.

Nas celas havia rádio, televisão, jornais, revistas, livros. Mas existiam regras

para usufruir desses bens de consumo. “Nada de TV o tempo todo ligada. A TV era

para o Jornal Nacional, filmes e futebol”23. Quanto aos jornais, revistas e, sobretudo,

livros, eram severamente revistados e passavam por aprovações dos funcionários do

presídio para entrarem. No livro “Tiradentes, um presídio da ditadura” existem vários

relatos de ex-presos sobre como driblavam o rigor da censura e conseguiam receber e

ler livros considerados “subversivos”. Entre os relatos, a principal prática era dividir o

livro em capítulos, e separar os capítulos em livros com outra capa, com intervalos

entre o livro original e os capítulos do livro que se queria ler. Paralelo às leituras, eram

promovidos intensos debates sobre temas políticos entre os presos.

Considerando que ali também era um lugar de resistência, os presos tratavam

de ocupar seu tempo ministrando aulas. Eram oferecidas aulas de história, geografia,

português, matemática, física, filosofia, capacitação política, educação física, e outras

21 ROIG, Vicente Eduardo Gomez. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Paula Salles em 15/04/2014. . 22 MACHADO, Luiz Raul. Recordação da casa dos vivos. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.68. 23 PRADO JUNIOR, Antônio de Pádua. A massa quer sangue, então terá. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.133.

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disciplinas. Entre os que lecionavam, Pitolli cita Jacob Gorender, Diógenes de Arruda

Câmara, Espinosa, e o próprio depoente24. O tempo também era ocupado em oficinas

e produção de artesanatos e desenho. As mulheres faziam tricô, crochê e costura.

A produção semanal de artesanato nos obrigava a uma rígida disciplina que estimulava a nossa criatividade. Conseguíamos dos nossos familiares e amigos uma rede externa de apoio e venda de nossos produtos, que revertiam para as necessidades das companheiras trabalhadoras do campo e da cidade25.

Os homens também produziam artesanato, sobretudo peças em couro, tapetes

de lã e pirogravuras em madeira. Sobre essa produção, um caso muito peculiar sobre

a confecção de peças em couro por presos políticos no Tiradentes, foi à fabricação de

um colar de couro por Manoel Cyrilo que escondia uma peça especial no interior do

colar. Tratava-se de um carimbo da Auditoria Militar, que o mesmo havia furtado por

ocasião de uma visita feita em decorrência de seu processo que estava sendo julgado.

Mesmo algemado, Manoel Cyrilo conseguiu separar o carimbo do suporte e escondê-

lo. Mais tarde, de volta ao Presídio Tiradentes, o carimbo foi utilizado em vários livros

considerados “subversivos” em poder dos presos. O carimbo representava que o livro

havia sido submetido e aprovado pela censura, portanto livre de ser recolhido quando

das revistas periódicas nas celas.

O carimbo ficava escondido no interior do colar, que foi preparado para que ao

tato, em caso de revistas, não pudesse ser identificado que existia alguma coisa em

seu interior. E sempre pendurado junto aos outros produtos recém-produzidos pelos

presos, que seriam vendidos. Assim, o carimbo ajudou a formar uma livraria no interior

do espaço prisional. Manoel Cyrilo concedeu duas entrevistas ao projeto Coleta

Regular de Testemunhos do Memorial da Resistência no ano de 2013, nas quais falou

sobre militância e resistência política. No dia 16 de agosto de 2013 trouxe o colar ao

Memorial da Resistência, que mediou sua abertura, tratamento e melhor

acondicionamento junto à equipe de Conservação e Restauro da Pinacoteca do

Estado de São Paulo.

24 PITOLLI, Carlos Roberto, op. cit., p.114. 25 LOBO, Elza. op. cit., p.219.

11

Imagem 01: Colar de couro fechado, antes da intervenção de retirada do carimbo. Foto: Sarah Piasentin. Fonte: Acervo Memorial da Resistência de São Paulo.

Imagem 02, 03 e 04: Intervenção da equipe de restauro da Pinacoteca de São Paulo para a retirada do carimbo no interior do colar. Foto: Sarah Piasentin. Fonte: Acervo Memorial da Resistência de São Paulo.

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Questionado sobre a permissão do uso de materiais de trabalho nas celas

como tesouras, cola para couro e outros materiais, que não são comumente

permitidos dentro de unidades prisionais, Cyrilo destacou que a censura aos presos

políticos era, sobretudo política. A grande represália era com revistas e livros, com

materiais “subversivos”. Além do fato de que a produção dos artesanatos tinha um

cunho social, os produtos eram vendidos por seus familiares, e a renda destinada a

famílias de presos em situação de carência.

As visitas familiares no Tiradentes aconteciam aos sábados, e “a noite de

sábado era sempre nostálgica. Depois da visita, o sábado ficava denso. Um silêncio

especial em cada “mocó”. Quem sabe, uma lágrima escondida. Uma desesperança a

mais”26. O domingo era dia de limpeza nas celas entre os presos e futebol. Sim,

futebol. Os presos políticos utilizavam a cela 05 do Tiradentes para jogar futebol.

Prado Júnior relata que retiravam os beliches da cela (que servia de arquibancada do

lado de fora por outros presos) e improvisavam os gols com caixotes de madeira e a

bola com meias velhas enroladas umas sobre as outras. Cinco minutos por partida,

estava feito o futebol de cela27.

Mas como diria o ditado popular, nem tudo são flores. E nos dias em que

ocorriam os repercutidos sequestros a embaixadores, que posteriormente seriam

trocados por presos políticos, o clima de tensão e terror se instaurava no Tiradentes.

Enquanto durava cada sequestro, o presídio ficava isolado, interditado, e as visitas, suspensas. Mas, fosse através dos guardinhas da muralha, fosse através de outros esquemas, acabávamos tendo informações sobre o que se passava no mundão. As ameaças de revistas nas celas se tornavam mais constantes, do mesmo modo que outros tipos de provocações e ameaças por parte de PMs ou da direção do presídio. Entre nós, presos e presas, criava-se um clima de expectativa em relação ao êxito da ação e da aceitação ou não pelo governo das exigências feitas por parte do comando da organização que conduzia as negociações28.

Com o êxito dos sequestros, muitos presos políticos do Presídio Tiradentes e

de outros centros de detenção e tortura foram “libertos” e enviados para o exílio. Suas

saídas eram sempre acompanhadas de canções, que naquele espaço representava a

solidariedade aos que estavam saindo do Purgatório. As principais músicas cantadas

pelos presos eram: “A Internacional” e “Suíte dos Pescadores” de Dorival Caymmi.

26 PRADO JUNIOR, Antônio de Pádua, op. cit., p.133. 27 Idem, p.132. 28 MAIA, Dulce, op. cit., p.105.

13

A GREVE DE FOME DOS PRESOS POLÍTICOS

Maurice Politi afirma que pelo Presídio Tiradentes entre 1969 e 1973 passou

cerca de trezentos presos políticos, das diversas tendências de organizações políticas

que militaram contra o regime29. Desde parlamentares, ativistas clandestinos e

militares. E entre eles a solidariedade era uma prática cotidiana. Mas essa

solidariedade também se estendia aos presos comuns, chamados de “corrós”, que

comumente eram torturados durante a noite. “Os carcereiros faziam um grupo desfilar

nu no frio do pátio, espancavam todos com uns pedaços de pau ou cassetetes e

obrigavam a mergulhar numa cisterna. A fúria se voltava em ameaças contra nós

quando protestávamos da janela”30. Os relatos de Dulce Maia afirmam que essas

torturas aos presos comuns eram constantes.

Esses presos comuns eram retirados durante a madrugada de suas celas a pauladas, socos e pontapés e jogados num poço situado num dos pátios da ala masculina. Outras vezes era o pelotão de choque que invadia, com jatos d’água, os cubículos onde se amontoavam dezenas de “corrós”, e descia o cacete31.

Sobre essa questão Aytans Miranda Sipahi afirma que os presos políticos

muitas vezes conseguiam interromper essa prática de violência,

[...] batendo e gritando através das grades. A rotina de tortura e maus tratos contra os presos comuns no presídio chegava ao ápice quando, durante a madrugada, vários detentos eram retirados de suas celas e levados pelo Esquadrão da morte para serem fuzilados nas periferias de São Paulo32.

O Esquadrão da Morte era composto por autoridades policiais do próprio

Tiradentes, os envolvidos eram: o diretor do presídio, o delegado e outros funcionários

da instituição, tendo como seu principal mentor o delegado Sérgio Fernando Paranhos

Fleury, conhecido agente da repressão. O objetivo era eliminar os indesejados e os

excluídos, assim muitos dos presos comuns eram torturados dentro do Tiradentes e

retirados clandestinamente do presídio para serem executados em zonas de periferia

da cidade.

A partir da década de 70, o procurador de justiça Hélio Pereira Bicudo inicia um

processo de denúncias contra os delitos praticados por esse grupo. Visitou o presídio,

ordenou o fechamento do poço que era utilizado para práticas de tortura, e, sobretudo,

apurou as denúncias sobre o esquadrão da morte. Sua investigação foi

consideravelmente auxiliada por Guilherme Simões Gomes (que á época era preso

29 POLITI, Maurice. Resistência atrás das grades. Rio de Janeiro: Garamond, 2014, p.20. 30 MACHADO, Luiz Raul, op. cit., p.70. 31 MAIA, Dulce. Op. cit., p. 103. 32 SIPAHI, Aytan. A cidade vista da janela. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p. 233.

14

político no Tiradentes e prestava atendimento odontológico a todos os presos)33.

Guilherme mantinha as fichas de atendimentos dos presos e os números destas nem

sempre correspondiam com os registros internos do presídio, o que viabilizou a

instauração do processo contra o grupo. Maurice Politi afirma que no final de abril de

1972 o juiz Mario Fernandes decretou a prisão de vários policiais envolvidos em

execuções de presos comuns e colocou em prisão preventiva por 30 dias o delegado

Olinto Denardi, diretor do presídio Tiradentes34.

José Marconi Júnior, assistente de Denardi, assume o cargo da direção e inicia

uma retaliação aos presos políticos, principais denunciadores do Esquadrão da Morte,

visando o “controle de denúncias e o fim da agitação”. O objetivo era separar os

presos políticos, transferindo-os para outras unidades prisionais como o Carandiru, a

OBAN, o DOPS, entre outros. Vale destacar que os presos eram transferidos sem

nenhum tipo de informação para onde iriam, com um intenso e ostensivo aparato

repressivo como escolta35.

Quando ocorrem as primeiras transferências de presos políticos do Tiradentes

para o Presídio Carandiru, os presos decidem promover uma greve de fome. Assim,

em 12 de maio de 1972 se dá inicio a greve no Presídio Tiradentes (nas alas

masculina e feminina), logo após mais presos são transferidos. Os presos então

decidem enviar um abaixo-assinado dos presos políticos para a direção com um prazo

para que juntassem os presos transferidos. A represália veio com mais transferências,

dessa vez para o Presídio Presidente Venceslau, fora da cidade de São Paulo. Os

presos transferidos foram: os dominicanos Frei Fernando de Brito, Frei Yves do

Amaral Lesbaupin, Frei Carlos Alberto Libânio Christo (cujos nomes eram os primeiros

da lista do abaixo-assinado enviado a direção), e Wanderley Caixe (advogado),

Manuel Porfírio de Souza (camponês) e Maurice Politi (estudante)36. Inicia-se então

outra greve de fome, que durou 32 dias no Tiradentes e 33 dias no Presidente

Venceslau.

33 Para maiores informações sobre as ações de Hélio Bicudo e do atendimento que prestava Guilherme Simões, sugere-se a leitura do capítulo “A longa viagem” de Guilherme Simões Gomes no livro Tiradentes: um presídio da ditadura. Memórias de presos políticos, 1997, p.172-180. 34 POLITI, Maurice. op. cit, p.28. 35 Sobre as escoltas de presos políticos, vale destacar que os presos que prestaram depoimento sobre suas prisões em livros e programas de história oral, sempre recordam das escoltas ironicamente, considerando a debilidade física em que se encontravam (a maioria intensamente fragilizada pelas torturas sofridas, muitos necessitando da ajuda de outros presos para andar) e a excessiva quantidade de carros e policiais fortemente armados. 36 A greve de fome no Presídio Presidente Venceslau foi promovida por esses presos, tendo durado 33 dias. Maurice Politi descreve como foi sua estadia no presídio, as condições em que foram tratados e detalhes sobre a greve de fome que para eles durou 39 dias considerando as duas fases da greve. POLITI, Maurice, op. cit.

15

No Presídio Tiradentes, “cada cela que aderiu à greve colou na porta um papel

declarando sua decisão em solidariedade aos presos transferidos e exigindo a volta

deles ao Tiradentes. Os carcereiros, surpreendidos por essa iniciativa, tiraram fotos

das celas consideradas “rebeldes””37. Foi ainda elaborado um documento sobre as

reivindicações que foi entregue a direção, e fizeram descer a carceragem do presídio

caixas com os alimentos que haviam recebido de seus familiares para serem doados

às obras sociais da Cúria Metropolitana. Maurice Politi apresenta cópia do documento

entregue em seu livro, do qual apresentamos um trecho.

Nós, presos políticos, detidos no recolhimento de Presos Tiradentes, em São Paulo, vimos às autoridades competentes e à opinião pública comunicar a nossa decisão de, a partir desta data, permanecer em greve de fome, até que a nós se reúnam nossos companheiros que daqui, arbitrariamente, foram retirados e confinados em regime de isolamento na Penitenciária do Estado38.

A greve teve uma grande repercussão nacional e internacional, como o apoio

da Anistia Internacional, que gerou desconfortos para os militares. Com a debilidade

física dos presos políticos, dada às torturas e a ausência de alimentação, jornais

anunciavam a greve e a possibilidade dos presos não resistirem e virem a óbito. O

apoio da igreja foi muito importante, sobretudo Dom Paulo Evaristo Arns e suas

tentativas de visitar os presos e divulgar a greve de fome e as reivindicações dos

presos. Nem todos suportaram se manter em greve de fome, sobretudo na segunda

fase da greve. Muitos foram ao hospital e tiveram graves problemas, causados pelas

torturas e agravados pela ausência de alimentos e grande quantidade de injeções com

soro na veia. Os presos que seguiram na greve foram reprimidos e alguns transferidos

para outras unidades prisionais, como as presas do Tiradentes, Aurea Moretti e

Marlene Soccas que por aderirem a segunda fase da greve foram transferidas para

celas solitárias no Deops. Já os presos Paulo de Tarso Venceslau e Paulo Vannucchi

foram transferidos para o DOI-CODI onde foram barbaramente torturados.

A greve foi, portanto, o instrumento encontrado por cerca de 200 presos

políticos39, de promover reivindicações e de se solidarizar com os companheiros que

estavam sendo transferidos e separados em presídios, para outras cidades. As

transferências além de desmobilizar as “reuniões” de presos políticos, dificultava que

os mesmos recebessem visita de seus familiares dada à distância dos novos cárceres.

37 POLITI, Maurice, op. cit., p.30. 38 Idem, p.139. 39 Informação apresentada pela Carta de solidariedade aos presos políticos que estavam em greve de fome, escrita pela Liga de Defesa dos Penitenciários Políticos do Brasil em 12/05/1972. Conferir o livro: POLITI, Maurice, op. cit., p.148.

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Imagens 05, 06 e 07: Fotografias tiradas por funcionários do Presídio Tiradentes durante a greve de fome dos presos políticos em 1972. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo da Secretaria de Segurança Pública – APESP/DEOPS.

17

A MODERNIZAÇÃO E A DEMOLIÇÃO DO PRESÍDIO

A cidade de São Paulo na década de 60, durante a gestão do prefeito José

Vicente de Faria Lima passa por um processo de modernização com a implantação do

sistema metroviário. O intuito era ligar a zona norte com a zona sul da cidade. Projeto

que reconheceu o presídio Tiradentes como uma pedra no caminho. Assim, em 1972 o

presídio foi demolido para ceder espaço ao “progresso” apresentado pelo metrô, numa

área total de 9.670 m² construídos. A estação, inaugurada em 29/09/1975, integrou a

linha azul do metrô, recebendo a denominação de Estação Tiradentes. Os presos que

ali estavam foram então transferidos para o Carandiru e para a Penitenciária do

Estado, sob um regime muito violento comandado pelo então Coronel Erasmo Dias,

conforme destaca Freire40.

Vale destacar que o espaço do que foi o Presídio Tiradentes não foi utilizado

em sua totalidade pela estação do metro. O excedente foi utilizado pelo Banco do

Estado de São Paulo Nossa Caixa, que instalou ali uma agência bancária em 1976.

Nesse sentido, o arco do antigo presídio foi igualmente mantido, agora no projeto

elaborado pelo escritório de arquitetura Croce Aflalo e Gasperini, sob a

responsabilidade dos arquitetos Giancarlo Gasperini e Teresinha Corrêa Maia de

Carvalho. A agência do Banco Nossa Caixa funcionou até o ano 2009, quando foi

comprado pelo Banco do Brasil.

O TOMBAMENTO E A SALVAGUARDA DA MEMÓRIA. O PÓRTICO COMO

INGRESSO NA IMATERIALIDADE

A solicitação do tombamento contou com a inciativa do Sindicato dos

Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e endossado por diversas

organizações da sociedade civil e entidades de direitos humanos como a Comissão

Justiça e Paz, Comitê Brasileiro pela Anistia, entre outros. O pedido foi apresentado ao

CONDEPHAAT em 30 de outubro de 1984 sob o processo nº 4180/84, e requeria para

além do tombamento do “Arco de Pedra” erguido junto a Avenida Tiradentes, e sua

transformação em Monumento Público. Transformado em estudo de tombamento, foi

convertido no processo nº 23345/1985 e posteriormente registrado como patrimônio

histórico e monumento público.

O parecer do conselheiro do CONDEHAAT Lúcio Felix Frederico Kowarick, em

01 de abril de 1985 deixa claro o reconhecimento do valor imaterial ante a

materialidade do que sobrou daquele lugar de memória.

40 FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; e PONCE, J. A. de Granville. Política, repressão e ideologia. In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.38.

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Considerando o valor histórico do Arco da Pedra enquanto símbolo da luta contra o arbítrio e a violência é meu parecer que ele deva ser tombado, e posteriormente transformado em monumento público. Sendo um arco, é forçosamente uma passagem que simboliza o esforço atual para a plena redemocratização do país41.

O tombamento do Arco de Pedra do Presídio Tiradentes inova, já em 1985, o

trato com memórias de dor e violência da história política nacional, bem como a

percepção do que vem a ser um patrimônio histórico.

O que este estudo nos traz de efetivamente novo é a visão do tombamento não apenas como um instrumento de preservação da memória, da história, e como guardião de bens culturais que se constituem em suportes de valores que formam sentido em nossa sociedade, mas também como co-participe na identificação e manutenção de um espaço de recordação e homenagem de uma realidade histórica que muitos prefeririam negar, justamente porque o edifício não existe mais. Desta forma, o tombamento do arco “reconstitui” o bem, reconhece, lembra e homenageia períodos da história e procedimentos que se gostaria enterrados e demolidos, como as próprias paredes do presídio42.

A prática de tombar prédios históricos no Brasil remonta a década de 1930,

quando da criação do SPHAN, que atualmente se chama Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. O órgão é responsável por preservar o

patrimônio histórico e artístico a nível nacional.

Em 02 de agosto de 1984 o IPHAN outorgava um reconhecimento similar aos

valores patrimoniais considerados para o tombamento do arco do presídio Tiradentes,

a imaterialidade. Tratava-se da intenção em preservar o modo tradicional de fazer o

vinho tinto de caju na cidade de João Pessoa/Paraíba, através do tombamento do

prédio que abrigava a antiga Fábrica de Vinho Tinto de Cajú Tito Silva e seu

maquinário. Mas ao incluírem a técnica industrial do modo de fazer o vinho no

processo de tombamento, o IPHAN inovou na salvaguarda da imaterialidade, ao

41 CONDEPHAAT. Processo Nº SC 04180/84 da Secretaria de Cultura. Pedido de Tombamento e Transformação do Arco do Presídio Tiradentes em Monumento Público assinado pelo conselheiro Lúcio Felix Frederico Kowarick. Governo do Estado de São Paulo; SEC-SP; CONDEPHAAT: São Paulo, 01 de abril de 1985. Disponível em: < http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bem-tombado/uso-original/administracao-publica/portal-de-pedra-do-antigo-presidio-tiradentes>. Acesso em 19/05/2014. 42 CONDEPHAAT. Processo nº23345/85 da Secretaria de Cultura. Estudo de Tombamento do Arco do Presídio Tiradentes em Monumento Público assinado pela historiadora Sheila Schvarzman. Governo do Estado de São Paulo; SEC-SP; CONDEPHAAT: São Paulo, 29 de setembro de 1985. Disponível em <http://www.arquicultura.fau.usp.br/images/arquicultura/Processo_23345-85_-_Antigo_Presidio_Tiradentes.Image.Marked.pdf>. Acesso em 19/05/2014.

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tombar o bem material, ou seja, o prédio43. O que nos indica que já havia uma

preocupação com a memória e com o patrimônio imaterial por parte dos órgãos de

preservação, ainda que tímido. No que tange aos órgãos estaduais, o CONDEPHAAT

inovou nesse reconhecimento. Não se sugere que o tombamento da Fábrica de Vinho

da Paraíba tenha influenciado na decisão pelo tombamento do Arco do Presídio

Tiradentes, dada entre outros a distância geográfica e a dificuldade de intercambio de

informações entre os órgãos citados. No entanto, cabe destacar que o tombamento do

Arco do Presídio inovou por dois principais motivos: por reconhecer a importância da

preservação do que sobrou do antigo presídio, e, sobretudo, por desafiar um silêncio

institucional que vigia em se tratando de memórias políticas do período ditatorial no

Brasil. Vale ressaltar que em 1985 o Brasil estava saindo oficialmente de um governo

ditatorial, e elegendo o primeiro presidente democraticamente eleito pós-ditadura civil-

militar, no que ficou conhecida como Diretas Já.

ATUALMENTE E/OU ACONTECIMENTOS RECENTES Do que foi o presídio Tiradentes, hoje resta apenas seu pórtico de entrada. Em

sua antiga área, hoje funcionam: uma estação de metro que foi denominada Estação

Tiradentes, e uma agência do Banco do Brasil.

Em reconhecimento a importância da memória do lugar, a Pinacoteca do

Estado de São Paulo, em parceria com os artistas alemães Horst Hoheisel e Andreas

Knitz realizaram no ano de 2003 uma instalação de metal dentro da Pinacoteca.

Tratava-se de uma gaiola de pássaros, que reproduzia em escala real o pórtico do

presídio demolido. A intervenção chamou-se Pássaro Livre/Vogel Frei, e nele foram

colocados pombos, que semanalmente eram libertos numa analogia aos presos

políticos que eram soltos do antigo Tiradentes44.

43 IPHAN. Fábrica de Vinho Tito Silva (João Pessoa, PB). Livro Histórico Inscrição nº 495, Processo: 1054-T-82 de 02 de agosto de 1984. Cf: <http://www.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_hist.gif&Cod=1494>. Acesso em 19/05/2014. 44 Para fotos e mais informações sobre a exposição Pássaro Livre/Vogel Frei, consultar: <http://www.knitz.net/index.php?Itemid=3&id=14&option=com_content&task=view&lang=pt-br>. Acesso em 26/05/2014.

20

A exposição ficou aberta ao público entre 02 de agosto de 2013 a 07 de

setembro de 2003. Integrou o projeto Octógono Arte Contemporânea da Pinacoteca e

recebeu cerca de 1050 visitantes. O livro de visitas registra muitas felicitações a obra,

mas também muitas críticas ao aprisionamento das aves. As aves eram soltas

semanalmente, e a primeira a ser liberta foi conduzida por Alípio Freire, ex-preso

político do Presídio Tiradentes, que foi um dos organizadores do livro com

depoimentos sobre o presídio em 1997.

O pórtico tombado salvaguarda a memória do que foi o Presídio Tiradentes.

Lugar de memórias de dor e de alegrias. Alegria de ter sobrevivido aos centros de

tortura e extermínio, que buscavam destruir o corpo e a mente dos que combatiam a

repressão militar.

A solidariedade possui cadeira cativa nos relatos de ex-presos políticos que

passaram pelo Tiradentes. O programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial

da Resistência, destaca que a emoção nos relatos sobre o companheirismo e a

solidariedade sempre emocionam os entrevistados. A lembrança do apoio recebido e

doado é mais detalhado que as memórias das torturas sofridas no cárcere. Isso pode

ser compreendido por vários motivos, e cada um deles deve ser respeitado: o direito

ao esquecimento (para alguns, o esquecimento é utilizado como mecanismo de

funcionalidade para lidar com um passado doloroso, e esse mecanismo pode ser

consciente ou inconsciente), o direito de ter detalhes de seu passado preservado

(direito a reserva legal do passado, percebido, sobretudo em casos de violência sexual

Imagens 08 e 09: Inauguração da exposição Pássaro Livre/Vogel Frei no dia 02 de agosto de 2003. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo CEDOC / Pinacoteca do Estado de São Paulo.

21

a homens e a mulheres durante as torturas), entre outros pontos que fazem com que

esses depoentes deem mais ênfase a resistência e a solidariedade, em detrimento a

especificidades das violências sofridas por parte da repressão militar.

“O esquecimento não compreende um problema para a memória, o perigo está

na manipulação do esquecimento e ainda na violação do direito à memória que omite

e oculta o passado”45. Assim, é importante destacar que dentro do tema, temos uma

promoção de memórias e esquecimentos que nem sempre são harmônicas, disputam

e por vezes recorrem ao silêncio. O fato é que as experiências vividas nesses lugares

históricos, como o Presídio Tiradentes, marcaram toda uma geração e suas memórias.

A experiência prisional deixa marcas que carregamos por muito tempo. Algumas são físicas e se manifestam, por exemplo, no tímpano rompido pela tortura conhecida por telefone; o algoz bate ao mesmo tempo com as duas mãos nos ouvidos do preso, produzindo forte pressão que resulta em quedas, zumbidos, dor. Outras, psicológicas, traduzidas em pesadelos noturnos; policiais surgem no meio da noite com maquininhas de choque elétrico, e riem com as contorções e o espasmo do homem nu que deseja ver campos e bosques, mas só reconhece os limites de sua impossibilidade46.

Em reconhecimento ao que representou e ao que representa o Presídio

Tiradentes, na resistência (de cidadãos que ousaram reivindicar democracia durante

uma ditadura militar) e na repressão (que sofreram naquele lugar), aqui é apresentado

o Presídio Tiradentes como um lugar de memória.

ENTREVISTAS RELACIONADAS AO TEMA O Memorial da Resistência possui um programa especialmente dedicado a registrar,

por meio de entrevistas, os testemunhos de ex-presos e perseguidos políticos,

familiares de mortos e desaparecidos e de outros cidadãos que

trabalharam/frequentaram o antigo Deops/SP. O Programa Coleta Regular de

Testemunhos tem a finalidade de formar um acervo cujo objetivo principal é ampliar o

conhecimento sobre o Deops/SP e outros lugares de memória do estado de São

Paulo, divulgando desta forma o tema da resistência e repressão política no período

da ditadura civil-militar.

- Produzidas pelo Programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial da

Resistência

45 BRITO, Ana Paula Ferreira de. O Tempo da Memória Política: (Re) Significando os usos sobre a memória do período militar no Brasil. Dissertação (Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural). Universidade Federal de Pelotas: Pelotas/RS, 2013, p.41. 46 CITELLI, Adilson Odair. O pequeno concerto que não virou canção. In: In: FREIRE, A.; ALMADA, I.; e PONCE, J. A. de G. (orgs.), op. cit., p.198.

22

ALMADA, Izaías. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a

ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a

Kátia Filipini, Maurice Politi, Vanessa do Amaral em 08/11/2012.

ALMEIDA, Leane de. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante

a ditadura civil- militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida

a Karina Alves e Marcela Boni em 23/07/2013.

BELLOQUE, Maria Luiza Locatelli Garcia. Entrevista sobre militância, resistência e

repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo,

entrevista concedida a Katia Felipini, Maurice Politi, Rodrigo Pezzoni, Vanessa Amaral

e Gilberto Bolloque em 31/10/2012.

CASTRO, Cloves de. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante

a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida

a Karina Alves e Marcela Boni em 12/06/2013.

CHILE, João. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a

ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a

Katia Felipini em 25/02/2013.

IVO, Emílio. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a

ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a

Karina Alves e Vanessa Amaral em 13/09/2013.

LOBO, Elza. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a

ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a

Karina Alves em 26/04/2014.

LOPES, Guiomar Silva. Entrevista sobre militância, resistência e repressão

durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista

concedida a Ivan Seixas em 08/04/2014.

NETO, Manoel Cyrillo de Oliveira. Entrevista sobre militância, resistência e

repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo,

entrevista concedida a Karina Alves e Marcela Boni em 26/07/2013.

PADILHA, Anivaldo. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a

ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a

Karina Alves e Marcela Boni em 30/08/2013.

23

PIRES, Áurea Moretti. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante

a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida

a Karina Alvese Marcela Boni em 25/10/2013.

ROIG, Vicente Eduardo Gomez. Entrevista sobre militância, resistência e

repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo,

entrevista concedida a Karina Alves e Paula Salles em 15/04/2014.

SCAVONE, Artur. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a

ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a

Karina Alves e Paula Salles em 26/04/2014.

SIPAHI, Rita Maria de Miranda. Entrevista sobre militância, resistência e repressão

durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista

concedida a Katia Felipini em 19/03/2013.

SISTER, Sérgio. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a

ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a

Katia Felipini e Marcela Boni em 27/03/2013.

VANNUCHI, Paulo de Tarso. Entrevista sobre militância, resistência e repressão

durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista

concedida a Katia Felipini, Maurice Politi e Vanessa Amaral em 21/12/2012.

FILMES E/OU DOCUMENTÁRIOS

Documentário: 1964 - Um golpe contra o Brasil. Direção de Alípio Freire. 2013.

Sinopse: O documentário apresenta uma série de memórias sobre o período da

ditadura civil-militar no Brasil, e através de um registro informativo dos principais

fatores e acontecimentos em torno do tema, promove uma reflexão sobre o período

com olhares do presente. Possui diversos depoimentos de ex-presos políticos que

passaram pelo Presídio Tiradentes, entre outros centros de detenção e tortura, que

compartilham suas memórias de dor e de resistência.

Documentário: Mulheres em Luta. Direção de Ana Miranda. 2014. Sinopse: Trata-se

de uma série documental do canal GNT que apresenta em cinco episódios a vida e a

história de cinco mulheres e sua militância, com destaque ao período da ditadura civil-

militar, em que pegaram em armas e foram presas. Muitas das mulheres apresentadas

na série estiveram presas no Presídio Tiradentes.

24

REMISSIVAS: Penitenciária Regional de Presidente Venceslau; Casa de Detenção de

São Paulo – Carandiru; Departamento de Operações Internas do Centro de

Operações para a Defesa Interna (DOI-Codi); Departamento Estadual de Ordem

Política e Social de São Paulo (Deops/SP); Auditoria da Justiça Militar; Primeiro

Batalhão de Polícia de Choque - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA);

Presídio da Polícia Militar Romão Gomes - Presídio Barro Branco.

PLANTAS E MAPAS

Imagem 10: Planta da Casa de Correção de São Paulo. Fonte: Relatório da Comissão Inspetora da Penitenciária de 12 de novembro de 1885. In: Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo Presidente da Província, João Alfredo Corrêa de Oliveira, no dia 15 de fevereiro de 1886. São Paulo: Typographia a vapor Jorge Seckler & C. 1886, planta n.1.

25

REFERÊNCIAS

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A. de Granville (orgs.). Tiradentes, um presídio da ditadura. Memórias de presos

políticos. São Paulo: Scipione Cultural, 1997.

CAMARGOS, Márcia M. de R. e SACCHETTA, Vladimir. A história do presídio

Tiradentes: um mergulho na iniquidade. In: FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; PONCE,

J. A. de Granville (orgs.). Tiradentes, um Presídio da Ditadura: Memórias de

Presos Políticos. São Paulo: Scipione Cultural, 1997.

CITELLI, Adilson Odair. O pequeno concerto que não virou canção. In: FREIRE, Alípio;

ALMADA, Izaías; e PONCE, J. A. de Granville (orgs.). Tiradentes, um presídio da

ditadura. Memórias de presos políticos. São Paulo: Scipione Cultural, 1997.

FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; PONCE, J. A. de Granville (orgs.). Tiradentes, um

presídio da ditadura. Memórias de presos políticos. São Paulo, SP: Scipione

Cultural, 1997.

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perdidas à luta armada. São Paulo: Editora Ática, 1998.

FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; e PONCE, J. A. de Granville. Política, repressão e

ideologia. In: FREIRE, Alípio; ALMADA, Izaías; e PONCE, J. A. de Granville (orgs.).

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COMO CITAR ESTE DOCUMENTO: Programa Lugares da Memória. Presídio

Tiradentes. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2014.