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Jorge Volpi Memorial da fraude Tradução Maria Alzira Brum

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Jorge Volpi

Memorial da fraude

Tradução Maria Alzira Brum

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Copyright © 2013 by Jorge Volpi

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original Memorial del engaño

Capa Adaptação sobre design original de Leonel Sagahón

Revisão Ana Grillo Raquel Correa Eduardo Rosal

[2016]Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz s.a. Rua Cosme Velho, 103 22241-090 — Rio de Janeiro — rj Telefone: (21) 2199-7824 Fax: (21) 2199-7825 www.objetiva.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Volpi, JorgeMemorial da fraude / Jorge Volpi ; tradução Maria Alzira

Brum. – Rio de Janeiro : Alfaguara, 2016.

Título original: Memorial del engaño isbn 978-85-5652-008-1

1. Ficção espanhola I. Título.

16-01163 cdd-863

Índice para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura espanhola 863

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Para Rocío

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il commendatore Pentiti!

don giovanni No!

Mozart, Don Giovanni (1787)

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Sumário

Abertura 11

Primeiro ato. IL DIssOLuTO PuNITOCena i. sobre como um pombo estragou meu primeiro aniversário e a ingratidão dos lobinhos 17Cena ii. sobre como alguns shedim erraram sua maldição e minha mãe se uniu aos alienígenas 33Cena iii. sobre como desmontar um violino com uma serra elétrica e ser comunista e anticomunista em uma tarde 61Cena iv. sobre como apareceu meu Watson-com-saia-hippie e o judeu canalha que inventou o FMI 79Cena v. sobre a natureza assassina dos genes e as guerras travadas em família 93Cena vi. sobre como limpar seu nome da infâmia e a extinção dos profetas 111Cena vii. sobre como alguns banhistas conseguiram quebrar o Planeta Terra s.A. e a persistência dos vírus 121Cena viii. sobre as muitas vidas dos cadáveres e como formar um time de tênis com comunistas 131Cena ix. sobre como montar uma bomba H com bônus lixo e como cantar a três um dueto de La Bohème 137Cena x. sobre como influenciar pessoas e trair seus amigos e os corvos que aninham no coração 149

Segundo ato. l’occaSione Fa il ladroCena i. sobre como visitar Washington à noite e arrastar um cadáver pela lama 173Cena ii. sobre como dois economistas conseguiram a pedra filosofal e dois economistas estrelaram a luta do século 181

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Cena iii. sobre como se apaixonar por uma espiã e engordar com uma dieta de rancor 201Cena iv. sobre como furar uma bolha erótica e a guerra dos mundos 221Cena v. sobre como reconhecer dentes ruins e como encurralar um espião com uma abóbora 237Cena vi. sobre como formar um casamento perfeito e esbofetear delicadamente seu Mestre 259Cena vii. sobre como ganhar perdendo e perder ganhando e como montar um pequeno álbum de família 271Cena viii. sobre como reconstruir o mundo em um hotel de luxo e a plácida aposentadoria dos espiões 289Cena ix. sobre como uns gêmeos se apoderaram do mundo e como usar seu filho como escudo 307Cena x. sobre como investir em bens imóveis sendo comunista e naufragar sem salva-vidas 325

Terceiro ato. l’inganno FeliceCena i. sobre como salvar o mundo com esparadrapo e como comercializar com vento 343Cena ii. sobre como se aquecer no inverno moscovita e como se tornar milionário com cupons 361Cena iii. sobre como ser inteligente e bonito o transforma em herói e ser inteligente e bonita a transforma em puta 377Cena iv. sobre como atrasar a verdade por meio século e por que Babel caiu 397Cena v. sobre como sobreviver ao fim do mundo 421

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Abertura

Na manhã de 23 de abril de 2011, a secretária colocou na minha escrivaninha um pacote enviado por correio simples, sem remeten-te e com carimbo de Colombo, dentro do qual se alinhavam uma carta e um manuscrito intitulado Memorial da fraude assinados por J. Volpi. Imaginei que estava diante de uma brincadeira de mau gosto ou de uma provocação de algum autor malicioso da agência (pensei em dois ou três nomes). Como qualquer nova--iorquino, eu tinha acompanhado com certo interesse a história de Volpi, um investidor de Wall street e mecenas de ópera que, se-gundo uma reportagem do Times de outubro de 2008, fraudara seus clientes, em uma espécie de esquema Ponzi, em um montante aproximado de 15 bilhões de dólares: uma cifra bem menor que os 65 bilhões espoliados por Bernard Madoff, mas suficiente para creditá-lo como um dos grandes criminosos financeiros da Gran-de Recessão iniciada naquele ano. só que, enquanto Madoff foi condenado a cento e cinquenta anos de prisão depois de confessar o desfalque, Volpi, diante de sua iminente detenção, fugiu do país sem que haja até agora qualquer indício sobre seu paradeiro.

Em sua carta, ou na carta escrita em seu nome, Volpi me pedia (quase exigia) que eu lesse sua autobiografia e, caso apreciasse seu “ inegável valor documental e literário”, decidisse representá-lo. seu tom altivo e imperioso — um tom que, segundo a imprensa, sempre caracterizou suas intervenções públicas — me repugnou, mas, mesmo assim, solicitei a s. Ch., então vice-diretora da agên-cia, que me apresentasse uma avaliação. Com um ceticismo idênti-co ao meu, ela tentou se livrar da tarefa e a delegou a um assisten-te. Quero que você mesma analise, exigi sem contemplações.

No sábado seguinte, enquanto eu e minha mulher está-vamos jogando bridge com um célebre autor de romances policiais

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e sua mulher, s. Ch. ligou para me dizer que ou o manuscrito era obra de Volpi ou de alguém que o conheceu muito de perto: sem a menor dúvida, eu devia dar uma olhada nele o quanto antes. Na segunda-feira devorei mais de um terço do manuscrito antes de aceitar que era obrigado a informar sua existência às autori-dades. Quando finalmente marquei o número do FBI, tinha che-gado ao final, obcecado em usar luvas de látex para não arruinar as possíveis marcas espalhadas pelas páginas.

Ao final de algumas semanas os especialistas chegaram à mesma conclusão: o texto continha uma avalanche de dados que somente Volpi poderia conhecer; se o financista fugitivo não era o autor, devia pelo menos ter participado da redação, talvez auxiliado por um ghost-writer. Infelizmente o texto não oferecia pistas que levassem a localizá-lo ou a identificar seu hipotético cúmplice. E, com certeza, não continha nenhum rastro legível.

Ao término de um processo chatíssimo, um juiz federal determinou que o manuscrito fosse considerado parte do patri-mônio de Volpi e o anexou aos bens que o procurador estava en-carregado de alienar, a fim de ressarcir suas vítimas. Tanto Leah Levitt, a segunda esposa de Volpi (que só conseguiu o divórcio três anos depois de seu desaparecimento), quanto sua filha susan con-cordaram em entregar os previsíveis ganhos gerados pelo livro ao fundo destinado a atenuar os danos perpetrados pelo autor. De-pois de um leilão travado no âmbito da Feira do Livro de Frank-furt de 2012, Memorial da fraude encontrará seu caminho para a publicação graças ao entusiasmo de inúmeras editoras.

Por que Volpi enviou seu livro a uma agência estrita-mente literária em vez de se dirigir a uma especializada em obras de não ficção? Embora tenhamos chegado a nos cruzar em algum evento beneficente em Nova York ou a descer as escadarias do Lin-coln Center, eu e Volpi nunca tivemos a oportunidade de conver-sar e jamais houve qualquer relação pessoal entre nós. A resposta, acho, está em outro lugar: sua lendária soberba, causadora de sua vertiginosa ascensão e drástica queda, o impedia de se imaginar entre os milhares de best-sellers dedicados ao colapso financeiro e preferia considerar que seu lugar era ao lado dos treze prêmios Nobel e vinte e dois Pulitzer vigentes em nossa lista de autores.

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A verdadeira questão é, na realidade, por que decidi representá-lo ou, para ser mais preciso, administrar os direitos da sua autobiografia. Eu gostaria de observar que Volpi — ou seu ghost-writer — é dono de um estilo que superou minhas expec-tativas (embora seja inútil compará-lo com outros escritores da agência). Mas além das falhas formais, poucas vezes se pode ouvir a voz de um autor que, alheio a qualquer prudência ou senso ético, se atreve a esmiuçar com tamanha falta de vergonha o de-sastre financeiro desses anos. Além disso, Volpi narra a história de seu pai, um economista de origem russa que durante a segunda Guerra Mundial e os acordos de Bretton Woods trabalhou como assistente de Harry Dexter White no Departamento do Tesouro. Obcecado em elucidar sua identidade, Volpi nos reconstitui um episódio da nossa história política e moral que, hoje mais do que nunca, não deveria ficar no esquecimento.

sua história é, afinal, a história em primeira pessoa de uma geração que, presa entre o risco e a ganância, lançou o mun-do em um dos maiores desastres econômicos e humanos dos últi-mos tempos. Como chegou a dizer um analista, nunca tão poucos fizeram tanto contra tantos. O protagonista destas páginas, talvez um sósia ou doppelgänger do verdadeiro Volpi, se arrisca a falar — a cantar — por eles.

A.W. Nova York, 2 de dezembro de 2012

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Primeiro ato Il dissoluto punito

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Cena i. sobre como um pombo estragou meu primeiro aniversário e a ingratidão dos lobinhos

Cavatina de Judith

Uma metade brilhante e a outra opaca, como se al-guém tivesse despedaçado a lua com um estilete. Seu pai per-maneceu longos minutos diante da janela, com os olhos bem abertos, obcecado pelo claro-escuro. Tinha voltado a acordar às cinco da madrugada — seu relógio parou às 5h23 — como todos os dias, desde que nos deixou. Ao distinguir os primei-ros reflexos da alvorada, Noah voltou a se deitar na cama. Corrijo: um catre bichado, à deriva nas tábuas do piso; em volta, duas caixas de madeira faziam as vezes de mesas e ca-deiras. Seus únicos pertences: uma dúzia de livros, duas foto-grafias e o triste estojo com seu violino. Contemplei-o assim tantas vezes, filho: um corpo sem alma ou com uma alma que só retornava ao corpo depois de vários minutos de extravio. Quando seu pai recuperou a consciência, estava amanhecen-do. Só alguns raios de sol lambiam aquela pocilga; com sorte, perto das dez um fio de luz entraria pelas persianas e exibi-ria a sujeira da cama e das cobertas. Ao longe se distinguia a algazarra dos pássaros, os malditos pássaros que teimam em cantar quando clareia.

Noah se dirigiu ao banheiro, um quadrado minúsculo com uma privada carcomida pela ferrugem. Cenário lamentá-vel, filho, mas foi seu pai quem o escolheu quando abandonou nossa vida em comum. Não digo que nossa convivência fosse fácil, mas pelo menos no apartamento de Park Slope tínhamos conseguido nos manter à margem dos falatórios. No pior dos casos poderíamos ter ido para outra cidade ou outro estado, mas Noah nem sequer considerou minha sugestão. Girou a torneira, e um jato de água se precipitou sobre a imundície.

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Imagino que se despiu rapidamente, agitado por uma pressa repentina: seu corpo estava cada vez mais esquelético, as cos-telas rasgando os flancos, o umbigo saltado e o crânio com en-tradas até o cocuruto (quando jovem seu cabelo preto enlou-quecia as secretárias). Na sua idade outros homens conservam uma aura juvenil ou pelo menos certo vigor no olhar, mas no caso do seu pai os anos em Washington lhe arrebataram toda a energia, e a água morna mal diluiu seu despertar.

Uma vez, fora do chuveiro, deve ter se olhado no es-pelho, um cristal com a prata desencaixada da moldura que lhe devolveu sua decadência. Noah sempre odiou esse ritual matutino, constatar que cada vez se parecia menos com quem tinha sido no passado. Deslizou com destreza a navalha pelo pescoço e pela mandíbula: nem uma gota de sangue. Retor-nou ao cubículo, remexeu em uma das malas que ainda não tinha esvaziado e achou sua última camisa limpa. Eu mesma a tinha engomado sem saber que ele ia nos deixar. Impossível adivinhar se me agradeceu por isso ou se finalmente sentiu minha falta. Enfiou a cueca, as calças, a camisa e os suspensó-rios. Além disso, ainda teve tempo de se pentear e borrifar uns traços de loção na nuca. Para quê? Talvez só por costume, um reflexo que carece de propósito.

Sentou-se na cama e abriu um grosso tratado de eco-nomia. Não exija explicações, meu filho. Um livro didático como outro qualquer — os colegas dele me confirmaram isso —, um compêndio escolar despretensioso. Talvez tenha relido algum capítulo ou procurado um dado entre as páginas. Como saber? Fazia meses, repito, que seu comportamento tinha dei-xado de ser o que chamamos de normal. Palavra estúpida. Vejamos esta: previsível. Previsível para quem o acompanhou durante duas décadas, para quem tinha compartilhado suas incontáveis desventuras e escassas alegrias, para quem dormiu com ele diariamente, para quem o conhecia como ninguém. Mais que reservado, Noah era impenetrável, mas não confun-da esta expressão com misterioso ou enigmático. Há homens abertos e homens fechados, e seu pai pertencia ao segundo grupo. Uma caixa-forte dentro da qual guardava apenas ideais e bons sentimentos.

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Estava havia muitos anos triste, desolado. Como não ia estar? Havia consagrado sua vida ao Tesouro, a lutar pelo seu país, e de repente não restava nada pela frente. Isso eu en-tendo. Mas a melancolia não justifica que fosse embora de um dia para o outro, muito menos no meu estado. Depois de vinte anos, fugiu de mim, alugou aquela pocilga no Queens e se fechou lá como se estivesse em uma prisão ou uma sinagoga. O que esperava? Que eu o resgatasse? Que clamasse justiça em seu nome? Que implorasse sua volta? Você me conhece: eu não imploro nada a ninguém. Quando teve o descaramento de voltar para casa, depois de duas semanas, se limitou a pegar seu violino, seus papéis e seus livros. Outra vez não deu expli-cações. Preciso ir. Só isso. E foi embora para o Queens.

Imagino que seu pai ainda estava folheando o tratado de economia ou novamente com a mente em branco, quan-do um chiado na janela chamou sua atenção. Ao virar o olhar distinguiu um pombo que lutava para libertar uma das asas, presa entre o vidro e a madeira. Levantou-se e se aproximou do animal que batia as asas enlouquecidamente. Noah levan-tou o batente, mas, em vez de alçar voo, o pombo ficou ali, paralisado, com uma asa meio quebrada e o olhar dolorido. Imagino que os pombos também demonstrem dor no olhar. Seu pai deve tê-lo contemplado durante um tempo sem saber o que fazer, comovido pela fragilidade da criatura. Com certeza pensou que tinha obrigação de salvá-la. Deu-lhe um pequeno empurrão. Nada. Depois outro. Nada. Então deve ter imagi-nado que o melhor seria levar o bicho para dentro, estancar a ferida, alimentá-lo com bolachas, esperar que melhorasse pou-co a pouco, talvez lhe servisse de companhia. Inclinou-se sobre o parapeito e tentou apanhar o corpinho. O animalzinho deve ter interpretado mal suas intenções e se equilibrou desajeitada-mente na cornija. Noah tomou impulso e esticou o braço. Tal-vez tenha estremecido de vertigem ao ver os onze andares que o separavam da calçada. Ou tropeçado no parapeito em um úl-timo esforço para resgatar a avezinha. A verdade é que, quando o primeiro transeunte deu com o corpo espatifado na calçada, seu pai ainda conservava um chumaço de penas na mão.

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Recitativo

Com mais ou menos palavras, este é o relato de Judith sobre a morte do meu pai e, como se pode perceber, nunca lhe faltaram palavras. Eu devia ter uns quatro ou cinco anos quando ela desfiou pela primeira vez diante de mim o episódio e, mais do que da intromissão do pombo, me lembro do seu tom venenoso, que não reproduzi com justiça, do seu olhar de aço cravado sobre minha timidez e seus dedos traçando círcu-los no ar (as unhas vermelho-vivo), sem o mínimo vestígio de tato ou de pudor, até que uma de suas palmas, elevada à altura da cabeça, estalava contra sua gêmea reproduzindo o ranger dos ossos do meu pai no cimento. Às vezes Judith prolongava sua divagação sobre a miséria, a insônia ou as leituras de seu falecido marido; outras, adornava o incidente com uma pátina um pouco mais patética ou mais ridícula (ou as duas coisas), e outras se empenhava em me demonstrar que a desgraça ti-nha sido totalmente culpa do meu pai, mas em nenhum caso omitia apontar que, fora o caráter esquivo, o azar e sua fuga repentina, Noah era um bom homem, dizendo-o com doses iguais de comiseração e desprezo.

Acontecia assim.À noite, depois de me cobrir com o edredom, como

se fosse me contar um conto de fadas, ou na hora do almoço, acompanhando um gefilte fisch com khren, Judith reconstruía os fatos sem admitir perguntas da minha parte. Graças a esta tática, durante anos a única coisa que eu soube sobre meu pai foram os traços de caráter exaltados no seu infeliz encontro com o pombo: uma bondade terna para com os animais e talvez para com as pessoas, certo desinteresse ou descuido para com os fetos, uma clara propensão à infelicidade e uma afeição pela música clássica que contrastava com sua vulgar profissão de economista. Impossível tirar da minha mãe detalhes não incluídos neste relato ou pedir uma prova fotográfica: com uma única exceção, todas as fotografias dele foram perdidas na mudança posterior ao enterro, justificava-se ela. Ninguém deveria estranhar que meu pai fosse praticamente nada para

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