memoria o drama do cÉsio 137 - de olhos e ouvidos · (canoas), val (alvorada) e vialeste...

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ANO 13 - Nº 138 PORTO ALEGRE DEZEMBRO/2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA MEMORIA O DRAMA DO CÉSIO 137 Por Sérgio Ross, de Brasília Testemunha ocular e também vítima do Césio 137, a repórter Marlene Galleazi relembra a dolorida tragédia que se abateu em Goiânia 23 anos atrás. No final da tarde do dia 13 de setembro de 1987, começaria a viver o drama do maior acidente radioativo na história do Brasil. Vou deixar então a Marlene, relatar tudo o que viveu por quatro meses em Goiânia. São lembranças doidas sobre o maior acidente radioativo do país. ‘’Uma cápsula de dois centímetros de comprimento por dois milímetros de espessura totalmente lacrada e escondida nas entranhas de um cabeçote de chumbo que pesava em torno de 300 quilos, ao ser liberada por dois catadores de papel e vendedores de ferro-velho, provocou há 23 anos uma verdadeira guerra contra um inimigo invisível e poderoso. O compacto de pó branco, que gerava um fascinante brilho e uma mágica luz azul, não era nada mais, nada menos, que uma fonte radioativa, uma bomba de Césio 137, usada em tratamentos de radioterapia. Uma tragédia histórica ocorrida em Goiânia, que mobilizou físicos, químicos, cientistas, médicos e a imprensa do Brasil e do exterior. Tudo começou no final da tarde do dia 13 de setembro de 1987. Goiânia, cidade em ritmo acelerado de crescimento, mas de costumes ainda interioranos, mantinha seus domingos calmos como aquele, com as ruas quase desertas. O período era de seca, de baixa umidade e as ventanias frequentes anunciava a próxima estação das chuvas. continua na pag.3

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Page 1: MEMORIA O DRAMA DO CÉSIO 137 - De Olhos e Ouvidos · (Canoas), VAL (Alvorada) e VIALESTE (Viamão). VALE TRANSPORTE ELETRÔNICO COMEÇOU NA CENTRAL EM NOVEMBRO! 3 continuação da

ANO 13 - Nº 138PORTO ALEGREDEZEMBRO/2010

DISTRIBUIÇÃOGRATUITA

MEMORIA

O DRAMA DO CÉSIO 137Por Sérgio Ross, de Brasília

Testemunha ocular e também vítima do Césio 137, a repórter Marlene Galleazi relembra a dolorida tragédia que se abateu em Goiânia 23 anos atrás. No final da tarde do dia 13 de setembro de 1987, começaria a viver o drama do maior acidente radioativo na história do Brasil.Vou deixar então a Marlene, relatar tudo o que viveu por quatro meses em Goiânia. São lembranças doidas sobre o maior acidente radioativo do país.

‘’Uma cápsula de dois centímetros de comprimento por dois milímetros de espessura totalmente lacrada e escondida nas entranhas de um cabeçote de chumbo que pesava em torno de 300 quilos, ao ser liberada por dois catadores de papel e vendedores de ferro-velho, provocou há 23 anos uma verdadeira guerra contra um inimigo invisível e poderoso. O compacto de pó branco, que gerava um fascinante brilho e uma mágica luz azul, não era nada mais, nada menos, que uma fonte radioativa, uma bomba de Césio 137, usada em tratamentos de radioterapia. Uma tragédia histórica ocorrida em Goiânia, que mobilizou físicos, químicos, cientistas, médicos e a imprensa do Brasil e do exterior.

Tudo começou no final da tarde do dia 13 de setembro de 1987. Goiânia, cidade em ritmo acelerado de crescimento, mas de costumes ainda interioranos, mantinha seus domingos calmos como aquele, com as ruas quase desertas. O período era de seca, de baixa umidade e as ventanias frequentes anunciava a próxima estação das chuvas.

continua na pag.3

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Propriedade de Olides Canton - MECNPJ 94.974.953/0001-02Editor: Jorn. Olides Canton - Mtb 4959Endereço: Av. Lavras, 425/303Fone/Fax: (51) 3330.6803e-mail: [email protected] 90460-040 - Porto Alegre/RSEditoração Eletrônica: Rita Martins(9832.8385)e-mail: [email protected]ão: RM&L Gráfica (3347.6575)Os artigos assinados são de responsabilidade dosautores. Os colaboradores não têm vínculoempregatício.

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Coisas do Barranco

«Antes dos assaltos se tornarem uma rotina na casa, o Barranco não conhecia a ação dos melitantes. Um dos donos, Vicente Tasca foi vítima de um assalto quando estava no caixa. O assaltante com o revólver apontado pra ele e o Vicente se fazendo de sanso. Ai o césar Tasca, tentou mediar. - Vicente é um assalto, ele quer a grana. Vicente não deu e outro garção levou um tiro na nuca saindo ferido.

«

«

Quem levou o tiro foi um segurança, de nome Nelson. Já era madrugada, lá pelas duas ou três horas. Ferido, o segurança foi levado pelo Tasca e por Vicente para o HPS, onde tiveram que deixá-lo no terceiro andar (que os feridos chamam de MARÉ VERMELHA). Ali o segurança ferido naquela madrugada foi atendido e não veio a falecer....

Gente da Noite«Felipe, ex-garção do Barranco foi a Europa uma única vez - mas o acompanhava o cunhado (um ex-padre) casado com a irmã, ex-freira) e a irmã ‘‘só queriam ir a igrejas e museus’’ diz o Felipe, sentado numa mesa do Metrópolis.

Outra desta viagem do Felipe.«Em Paris ele foi ligar a TV no canal de filmes pornôs. Desligou e ligou algumas vezes. Resultado: $140 dólares.

«

DUAS EMPRESAS DE GRANDE PORTE DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE - CENTRAL E REAL - QUE AINDA NÃO TINHAM O SISTEMA DE BILHETAGEM AUTOMÁTICA IMPLANTADO O ESTÃO FAZENDO. AS DUAS TOTALIZAM 170 ÔNIBUS.

A CENTRAL COMEÇOU A IMPLANTAR A BILHETAGEM AUTOMÁTICA EM 22 DE NOVEMBRO E A REAL O FARÁ EM FEVEREIRO DE 2011.

ALÉM DESTAS DUAS TAMBÉM ENTRARÃO NA BILHETAGEM AUTOMÁTICA - SISTEMA TEU - TRES EMPRESAS QUE OPERAM OS ONIBUS URBANOS A SABER A SOGAL, DE CANOAS, A FAL DE ALVORADA E A VIALESTE DE VIAMÃO.

O GERENTE DA ATM, ERICO MICHELS, INFORMA QUE JÁ estão operando, no sistema TEU!, 9 empresas intermunicipais metropolitanas e 3 urbanas: SOGAL (Canoas), VAL (Alvorada) e VIALESTE (Viamão).

VA L E T R A N S P O R T E E L E T R Ô N I C OCOMEÇOU NA CENTRAL EM NOVEMBRO!

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continuação da capa

Na esquina da Avenida Tocantins com a Avenida

Paraíba, dentro de um barracão semidestruído,

localizado na área da antiga Santa Casa de

Misericórdia onde alguns anos atrás funcionara o

Instituto Goiano de Radioterapia, um aparelho que

pesava em torno de uma tonelada, estava

abandonado.

Verdadeiro achado para Wagner Mota Pereira

de 19 anos, casado, pai de uma menina de três meses

e para Roberto dos Santos Alves, de 22 anos, que

viviam de recolher sucatas. Eles sabiam que poderiam

conseguir um bom preço levando a peça para Devair

Alves Ferreira, 36 anos, dono de um ferro velho, com

quem costumavam fazer negócios. Ninguém por perto,

a remoção não teria testemunhas.

O problema era como transportar a gigantesca

máquina. A solução foi dividi-la em partes e chamar o

amigo Eterno Almeida Santos, catador de papel que

morava numa favela, para que ajudasse e fizesse o

frete em sua carroça manual. Trabalho que seria pago

após a venda do material.

Negócio fechado, os três deixaram o local

carregando a peça radioativa para a rua 57, onde

Roberto morava num pequeno terreno ocupado por

vários barracos e onde a peça seria desmantelada. A

partir daí começa a ser escrito o mais triste capítulo da

história da capital de Goiás.

Na mesma noite, no quintal embaixo de uma

mangueira e sobre um tapete velho, os dois amigos

iniciaram o desmonte de parte do equipamento,

fazendo com que as peças interligadas se soltassem, e

que dividida em partes, daria um bom dinheiro. Sem

nunca ter ouvido falar em máquinas radioativas,

usando ferramentas inadequadas. Wagner consegue

romper a janela de 1mm de iridio, metal brilhante,

branco, duro mas maleável, cujo nome vem do grego

iris, que significa arco-iris, pelo colorido brilhante de

seus sais. Já espatifada, dentro dela estava a fonte do

césio que fora importado em 1971, conforme

autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear,

responsável pela sua fiscalização, igual a todos os

outros aparelhos de radioatividade que existem no

Brasil.

Usadas para curas e tratamentos do câncer, daí

para a frente passou a ser o símbolo da morte, de

doenças e tragédias sem fim. Exposto, sem qualquer

tipo de proteção, o Césio radioativo 137, uma fonte

eletromagnetica do tipo RX, que se forma na proporção

de 6,2% durante o processo de fusão atômica do urânio

235, emite raios beta e gama de alto poder de

penetração. O destino estava selado e os primeiro a

serem atingidos pelos raios luminosos que

encantavam a todos como se fossem brilhantes, foram

exatamente os que acreditaram ter encontrado um

tesouro.

Com o encerramento da 56ª Feira do Livro de

Porto Alegre fechou-se também o principal palco da

feira de vaidades literárias que toma conta de nossa

cidade todos os anos. Duvido que haja outro espaço

de maior número de vaidosos por metro quadrado do

que o pavilhão de autógrafos erguido na Praça da

Alfândega. Foram mais de 600 sessões durante os

15 dias da feira. Mas quantos desses mereceriam ser

realmente selecionados? O que levou tanta gente a

reivindicar um lugarzinho naquela vitrine? O desejo

de aparecer, de ouvir seu nome anunciado pelos alto-

falantes, a vontade de dizer ‘’olha, eu também sei

escrever, eu também sou escritor’’. Enfim, pura

vaidade. Mesmo que junto à mesa de muitos autores

aparecessem uns poucos ‘‘gatos pingados’’, dois ou

três amigos ou parentes.

Sou de opinião que os organizadores da Feira do

Livro deveriam repensar esse quesito. Valeria a pena

banalizar as sessões de autógrafos? Não seria

melhor valorizar a qualidade em vez da quantidade?

Há algumas figurinhas carimbadas, que todos nós

conhecemos, que aproveitam esta época para lançar

seus livros Muitos sem qualquer afinidade com o

ofício literário, mas lá aparecem só porque dispõem

de um mínimo de notoriedade em outras áreas. Tudo

por um único motivo: vaidade. Todo escritor, ou

aspirante a, é um vaidoso por excelência Não quer

dizer que todo vaidoso seja escritor, mas todo

escritor é vaidoso.

Para não ficar só na generalidade, não posso

deixar de citar alguns nomes. Embora reconheça no

professor e escritor Luis Augusto Fischer um

intelectual talentoso e atuante, surpreendi-me ao ver

que seu nome figurou no Guia da Feira em nada

menos do que oito eventos, seja autografando livros,

fazendo palestras ou coordenando debates. A seu

lado, com o mesmo número, está também Marô

Barbieri. O terceiro mais votado foi Alcy Cheuiche,

com seis aparições. Todos superaram o próprio

patrono da feira, Paixão Côrtes, e o nosso imortal

Moacyr Scliar, ambos citados quatro vezes. Até que

ponto a vaidade teve influência nesses números?

Não desanimem. Tudo deve se repetir no ano que

vem.

FEIRA DAS VAIDADESAntônio Goulart*

*Antônio Goulart é jornalista

Para ler partes anteriores, acesse www.deolhoseouvidos.com.br

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Até a derrapagem mundial, avançava a economia da importação de crescimento e exportação do lucro, e regredia a ética do Brasil Legal em relação ao Brasil Real. O PIB do poder não precisou desemperrar as fronteiras sociais, a não ser nos pontos de pássagem da fila de emprego. Crescer para dentro é a receita trabalhista.

A reação à cota na universidade explicitou a cumplicidade da intelectualidade com a cronificação da desigualdade. Recomeçou a pressão por reformas para trás. A cargo da grande mídia - as cadeias de jornal, rádio e TV - a agenda do apartheid desdobra pontualmente as etapas de estranhamento e animosidade entre os do meio e os de baixo. Os do meio aprendem a se alhear da realidade, a suspeitar de pobres, a se desligar do ambiente subjetivo comum e a curtir um estilo de vida exótico.

Os de baixo são ensinados a se julgar inferiores, incapazes de assimilar os códigos de compreensão da realidade. Em retribuição à aceitação da sina sem-nada podem comparar dinheiro a longo prazo e juros estratosféricos nos bancos disfarçados de lojas de eletrodomésticos. Os de cima comemoram a separação dos brasileiros.

Dia a dia, a consciência social vai embolando, a capacidade de pensar encolhendo. ‘‘Fomos perdendo a condição de país lúcido’’(2). A grande mídia cozinha o caldo do diabo em fogo colorido, à espera da hora de jogar a culpa da criminalidade nos pobres. Vem ai o mega-espetáculo da guerra civil social.

Brizola detectou a convivência da monstruosa engrenagem de desinformação com a dissolução social. Sacou a manha da estratégia de desconstrução da vontade pública e implantação em seu lugar da opinião prefabricada. Sua última gama de investida contra a ditadura da palavra ainda será reconhecida como precursora da causa da democratização da informação. Investigou a interdição do espaço público ao debate e flagrou a intimidade dos barões da imprensa com a fina flor da pilantragem financeira. Em represália, foi catalogado como um fóssil vivo da política. O muro de lá caiu, a esquerda retrocedeu em pânico e em parte se vendeu. Só Brizola continuou forcejando contra os muros intocáveis daqui, ermitão solitário pregando no deserto os mandamentos da brasilidade.

Não faz muito, nós mesmos vacilamos diante do falso socialismo X trabalhismo. Não prestamos atenção quando falou que o trabalhismo é o socialismo caboclo, moreno, mulato, mestiço. Escapamos da reforma ideológica meia sola.

Do reconhecimento dos direitos sociais à montagem da infraestrutura de desenvolvimento o Brasil chegou até aqui podendo ser ainda mais pelas mãos do trabalhismo. No balaio da memória social não há outra opção à exclusão.

Não podemos esquecer que a execração que penamos tem outro destinatário - o povo brasileiro - e isso deve nos orgulhar em vez de abater. Andamos desanimados mas não podemos baixar a cabeça. Nossa melhor homenagem a Brizola nesta hora é a reflexão sobre tudo que o trabalhismo deu ao Brasil e aos brasileiros e o muito que ainda oferece como sementeira das idéias de igualdade. Estamos proibidos de subir a rampa, não de ajudar o povo a se organizar.

(1) Definição do historiador Thomas Skidmore para o modelo político-econômico histórico do Brasil.(2) Consequência - segundo Brizola - da contínua lavagem ideológica a que a população é submetida.

A DISSOLUÇÃO SOCIAL SOBRE LEONEL BRIZOLA