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Memorando 14 de Julho de 2017
Para Ministério da Administração Interna
De Linklaters LLP
Contrato SIRESP - Cláusula de Força Maior
1 Introdução
1.1 O Ministério da Administração Interna (o “MAI”) solicitou que procedêssemos à análise da
Cláusula 17 do contrato relativo à conceção, projeto, fornecimento, montagem, construção,
gestão e manutenção do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal
(“SIRESP” ou “Sistema”), celebrado em 4 de julho de 2006 entre o Gabinete de Estudos e de
Planeamento de Instalações do MAI e a SIRESP – Gestão de Redes Digitais de Segurança e
Emergência, S.A. (o “Contrato”). Mais precisamente, foi solicitado o nosso entendimento sobre
o âmbito e efeitos da referida Cláusula 17, em geral, e, em particular, sobre se um incêndio
pode configurar um caso de força maior para os efeitos do Contrato e quais os direitos da
Operadora e da Entidade Gestora quando a primeira alegue que a ocorrência de um incêndio
a impediu de cumprir as obrigações emergentes do Contrato.
1.2 A nossa análise incide exclusivamente sobre a interpretação da Cláusula 17 do Contrato e a
delimitação dos seus efeitos, sem incidência sobre quaisquer factos concretos e a sua
qualificação à luz daquela Cláusula. Na elaboração da nossa análise, apreciámos o Contrato
na versão que originalmente foi celebrada entre as partes (incluindo os seus Anexos), não tendo
tido acesso a qualquer modificação posterior que, em qualquer caso, assumimos não ter
incidido sobre aquela Cláusula. Tivemos acesso igualmente a cópia das apólices de seguro
contratadas pela Operadora na fase de operação do sistema que se encontram em vigor, que
nos foram disponibilizadas pelo MAI.
No presente memorando, as palavras e expressões iniciadas por maiúscula às quais não seja
dado significado específico terão o significado que lhes é atribuído no Contrato. Qualquer
referência a uma Cláusula ou um Anexo, desprovida de qualquer outra remissão, entende-se
como efetuada a uma Cláusula ou um Anexo do Contrato.
2 Sumário executivo
(i) O Contrato corresponde a uma parceria público-privada, cujo lançamento e celebração
se operou no quadro que à época era aplicável a essas parcerias, designadamente o
disposto no Decreto-Lei n.º 86/2003, de 26 de abril.
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(ii) Nos contratos administrativos clássicos, o caso de força maior corresponde a um risco
que corre por conta do contraente público, que suporta as consequências adversas da
sua verificação, ficando o contraente privado eximido de responsabilidade pelo não
cumprimento das suas obrigações contratuais na medida em que estas sejam afetadas
pelo caso de força maior.
(iii) Pelo contrário, a regra nos contratos subjacentes às parcerias é que a força maior é um
risco partilhado entre parceiro público e parceiro privado. A partilha decorre de, se o
evento corresponder a um risco suscetível de ser coberto por seguro, o parceiro privado
dever assumir as consequências da sua verificação até ao limite do seguro
comercialmente razoável; se inexistir seguro disponível, ou se se tratar de eventos
expressamente excluídos do dever de seguro, o risco é assumido pelo parceiro público;
se a força maior determinar a rescisão do contrato, o parceiro público assume apenas
as responsabilidades inerentes à dívida contratada, e o parceiro privado todas as
demais perdas associadas à rescisão.
(iv) É esta, precisamente, a regra do Contrato: corre por conta da Operadora o risco inerente
a um caso de força maior que corresponda, ao tempo da sua verificação, a um risco
segurável por apólice comercialmente aceitável em mercados da União Europeia, e
independentemente de a Operadora ter efetivamente contratado o seguro
correspondente; corre por conta da Entidade Gestora o risco correspondente aos casos
de força maior para os quais não exista na União Europeia seguro disponível por apólice
comercialmente aceitável.
(v) Um incêndio corresponde, para os efeitos do Contrato, a um caso de força maior; porém,
o risco inerente ao incêndio corre por conta da Operadora pois que o incêndio é um
risco segurável por apólice comercialmente aceitável.
(vi) A Operadora está obrigada pelo Contrato a celebrar contrato de seguro que abranja os
danos materiais causados por um incêndio a bens próprios ou de terceiros que estejam
afetos ao Sistema e às atividades inerentes ao Contrato e, bem assim, a perda de
receitas associada a uma dedução da sua remuneração por esse motivo;
independentemente da contratação efetiva desse seguro, a força maior por este motivo
corre por conta da Operadora.
(vii) Em razão desta conclusão, a Entidade Gestora pode aplicar as deduções
contratualmente previstas por Falhas de Disponibilidade ou por Falhas de Desempenho
ainda que estas tenham ocorrido por motivo de incêndio que danifique os bens e
equipamentos da Operadora ou de terceiros afetos ao Sistema, e os encargos inerentes
à sua reparação correm por conta da Operadora.
3 A força maior nos contratos administrativos
3.1 Este memorando tem por objeto a Cláusula 17 do Contrato, a qual tem por epígrafe «Força
Maior», e é sobre ela que incidimos a nossa análise. Justifica-se, antes de nos debruçarmos
sobre o seu conteúdo, à análise do conceito e dos efeitos do caso de força maior nos contratos
administrativos. Com efeito, e como veremos adiante, a força maior corresponde a um conceito
bem estabelecido no nosso direito, e o conteúdo da referida cláusula segue muito de perto a
prática contratual portuguesa das últimas décadas. Justifica-se, por isso, que façamos uma
breve referência ao entendimento e à regulamentação do caso de força maior no nosso Direito.
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3.2 O caso de força maior corresponde a uma hipótese de impossibilidade de cumprimento da
obrigação por motivo não imputável ao devedor, com longa tradição no nosso direito civil e no
direito dos contratos administrativos.
Assim, no Código Civil de 1867, o artigo 705.º estabelecia que o contraente que falte ao
cumprimento do contrato ficava exonerado de responsabilidade pelos prejuízos causados ao
outro contraente se tivesse sido impedido de cumprir por facto deste ou por caso fortuito ou de
força maior “para o qual de nenhum modo haja contribuído”. Dadas as similitudes de regime e
de consequências, o caso fortuito e o caso de força maior eram frequentemente reconduzidos
ao mesmo conceito amplo de força maior, como facto exterior às partes e para cuja verificação
estas não haviam contribuído, com impacte na execução contratual. Porém, tentando distinguir
o caso fortuito e o caso de força maior em sentido estrito, a doutrina usava vários critérios,
sendo o mais comummente utilizado aquele que atribuía ao primeiro o sentido de
acontecimento imprevisível (mesmo que na ordem das possibilidades, não se sabia se e quando
se poderia verificar e assim se mostrava inevitável); e ao segundo o sentido de acontecimento
que, mais do que – ou além de – imprevisível, se mostrava irresistível, tornando impossível a
prestação.
No âmbito do Código Civil atual, a formulação do artigo 790.º, correspondente àquele artigo
705.º, é distinta: dispõe-se que a obrigação se extingue quando a prestação se torna impossível
por causa – qualquer causa – não imputável ao devedor. Quando a impossibilidade se torne
meramente temporária, o devedor não responde pela mora no cumprimento. O Código Civil
atual tem assim uma formulação mais ampla que o Código de 1867. Enquanto que aquele
exonerava o devedor de responsabilidade pelo não cumprimento perante um catálogo fechado
de circunstâncias, o código atual considera a obrigação extinta sempre que se torne impossível
por qualquer motivo. A exoneração de responsabilidade ocorre também no caso de
impossibilidade temporária, quando esta decorra de qualquer causa não imputável ao devedor.
Para além disso, o Código Civil continua a referir-se expressamente ao caso de força maior: é
o caso dos artigos 505.º e 509.º, servindo a força maior para afastar a responsabilidade objetiva
do proprietário do veículo ou das instalações elétricas ou de gás.
A referência ao caso de força maior, com o sentido amplo que acima lhe apontamos, é ainda
comum na prática contratual comercial, particularmente no âmbito de contratos de empreitada
ou de fornecimento de bens ou serviços, sempre com o sentido de afastar a responsabilidade
da parte inadimplente. Além disso, é comum nos contratos de empreitada de construção de
imóveis que a ocorrência de caso de força maior, além de exonerar o empreiteiro pela
responsabilidade pela mora ou pelo incumprimento, faça recair sobre o dono da obra o dever
de suportar os encargos de reparação da obra danificada pelo evento de força maior – de modo
consentâneo, aliás, com o que se dispõe nos artigos 1227.° e 1228.º, n.º 1, do Código Civil.
3.3 Também no Direito Administrativo a referência ao caso de força maior é tradicional e tem
acolhimento na lei e na prática contratual. Já Marcello Caetano ensinava no seu Manual que as
alterações na execução dos contratos administrativos podem provir de factos alheios à vontade
dos contraentes e para os quais estes nada tenham contribuído – o que identificava como os
casos. E escrevia: “os casos, além de independentes da vontade dos contraentes, são
imprevisíveis no momento da celebração do contrato. Embora a sua verificação esteja na ordem
das possibilidades, não se sabe se se verificarão ou não no decurso da execução daquele
contrato e se, na hipótese de se verificarem, terão nele alguma influência” 1 Sobre o caso de
1 Cfr. Manual de Direito Administrativo, Vol. I, p.623, Coimbra, 1984, sublinhado no original.
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força maior, exemplo desse tipo de eventos, definia-o como “o facto imprevisível e estranho à
vontade dos contraentes que impossibilita absolutamente de cumprir as obrigações contratuais” 2. Sobre as suas consequências, escrevia que o caso de força maior exonera de
responsabilidade o contraente que não cumpra as suas obrigações e que, nalguns contratos –
citando, a título de exemplo, o contrato de empreitada de obras públicas – a ocorrência do caso
de força maior coloca a cargo da Administração os prejuízos causados ao particular pelo evento
(à semelhança, aliás, do que sucede na empreitada civil de construção de bens imóveis).
No direito positivo, o artigo 195º do Regime Jurídico das Empreitadas de Obras Públicas,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 59/99, de 2 de março – em vigor à data de celebração do Contrato
e que, na ausência de um código de contratos públicos, constituía um repositório de princípios
gerais aplicáveis aos contratos administrativos – definia o caso de força maior como “o facto de
terceiro ou facto natural ou situação, imprevisível e inevitável, cujos efeitos se produzam
independentemente da vontade ou das circunstâncias pessoais do empreiteiro, tais como atos
de guerra ou subversão, epidemias, ciclones, tremores de terra, fogo, raio, inundações, greves
gerais ou sectoriais e quaisquer outros eventos da mesma natureza que impeçam o
cumprimento do contrato”. A ocorrência de um caso de força maior fazia cessar a
responsabilidade do empreiteiro por falta ou deficiência ou atraso na execução do contrato,
conferia-lhe o direito a uma prorrogação do prazo para a conclusão da empreitada, e ainda
colocava a cargo do dono da obra os danos causados nos trabalhos por caso de força maior
“quando não correspondam a riscos que devam ser assumidos pelo empreiteiro nos termos do
contrato” (artigo 195.º, n.º 2).
No Código dos Contratos Públicos – não aplicável ao SIRESP, tendo em conta as suas regras
de aplicação no tempo – existe expressa referência ao caso de força maior no artigo 406.º, que
confere ao empreiteiro o direito à resolução do contrato na hipótese de suspensão prolongada
da empreitada por caso de força maior, sem prejuízo “do direito de indemnização nos termos
gerais”. Para lá disso, em lugar de uma referência específica ao caso de força maior como
exonerando o empreiteiro de responsabilidade, o Código contém uma regra geral de
responsabilização do contraente privado exclusivamente quando o não cumprimento decorra
de facto que lhe seja imputável (cfr. artigo 325.º, n.º 1) – excluindo-se assim a sua
responsabilidade nos casos em que o não cumprimento decorra de facto que lhe não seja, a
qualquer título, imputável. Também se encontra afloramento das consequências típicas do caso
de força maior quando se refere que o empreiteiro deve executar trabalhos a mais a expensas
do dono da obra quando estes se hajam tornado “necessários à execução da mesma obra na
sequência de uma circunstância imprevista” (cfr. artigo 370.º, n.º 1, al. a)); quando se estabelece
que as sanções contratuais por atraso no início ou na conclusão da obras – ou no cumprimento
de prazos parciais – apenas são devidas quando o atraso decorra de “facto imputável ao
empreiteiro” (cfr. artigo 403.º, n.ºs 1 e 2); ou quando se estabelecem fundamentos de resolução
sancionatória pelo dono da obra com referência a circunstâncias não imputáveis ao empreiteiro
(cfr. artigo 405.º).
Assim, no nosso Direito Administrativo, o caso de força maior – exemplo típico de facto não
imputável ao contraente particular – impede, pois, a responsabilização do contraente particular
pelo não cumprimento pontual das obrigações para si emergentes do contrato e corresponde,
em regra, a um risco alocado ao contraente público – isto é, as consequências adversas que
2 Cfr. op. loc. cits..
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decorram da verificação do caso de força maior (o atraso no cumprimento da prestação, a
destruição dos bens afetos à execução do contrato), são suportadas pela Administração.
3.4 Não é esta, porém, a situação no caso das parcerias público-privadas de base contratual,
apesar de estas constituírem modalidades de contratos administrativos. Ao longo de cerca de
quase um quarto de século de prática contratual, os contratos subjacentes às parcerias público-
privadas determinam uma repartição do risco de força maior entre o parceiro público e o
parceiro privado 3.
As cláusulas de força maior insertas nestes contratos têm uma matriz comum e regras muitos
semelhantes, apesar de alguma flutuação de redação. Assim:
(a) O caso de força maior é apresentado, em primeiro lugar, como um acontecimento
imprevisível e irresistível, cujos efeitos se produzem independentemente da vontade
ou das circunstâncias pessoais das partes;
(b) Em segundo lugar, é sempre feita uma enunciação exemplificativa de acontecimentos
que se consideram como casos de força maior, e que incluem, tipicamente, atos de
guerra, hostilidades ou invasão, tumultos, rebelião ou terrorismo, epidemias, radiações
atómicas, fogo, raio, graves inundações, ciclones, tremores de terra e outros
cataclismos naturais;
(c) Em terceiro lugar, estabelecem-se os efeitos da ocorrência de um caso de força maior:
por um lado, a exoneração da responsabilidade do parceiro privado pelo não
cumprimento das obrigações emergentes do contrato que sejam por ele afetadas; por
outro lado, a reposição do equilíbrio financeiro do contrato subjacente à parceria ou
a resolução do mesmo, caso a impossibilidade de cumprimento se torne definitiva, ou a
reposição do equilíbrio financeiro se revele excessivamente onerosa para o parceiro
público;
(d) Em quarto lugar, afastam-se os efeitos da força maior sempre que o caso de força
maior corresponda a um risco passível de ser coberto por seguro; nesse caso,
quer o parceiro privado tenha contratado seguro ou não, não há lugar a exoneração da
responsabilidade nem à reposição do equilíbrio financeiro na medida em que o seguro
suportasse as perdas associadas 4;
(e) Em quinto lugar, determina-se que determinadas categorias de eventos ficam
excluídos do dever de contratar seguro; tipicamente estes coincidem com os atos de
guerra ou subversão, hostilidade ou invasão, rebelião ou terrorismo e as radiações
atómicas – são estes casos, portanto em que o risco de força maior corre sempre por
conta do parceiro público;
3 A título de exemplo, vejam-se o Contrato de Concessão das Travessias Rodoviárias do Tejo, assinado em 1994 (cláusula
92); o Contrato de Concessão da Autoestrada do Norte, celebrado em 1999 (cláusula 79), o Contrato de Concessão SCUT
do Grande Porto, celebrado em 2002 (cláusula 79); o Contrato de Concessão do Eixo Ferroviário Norte-Sul, renegociado em
2005 (cláusula 35); ou o Contrato de Gestão do Hospital de Braga, celebrado em 2009 (cláusula 126). Um repositório destes
e de vários outros contratos correspondentes a PPPs, bem como das respetivas cláusulas de força maior, pode ser encontrado
no site da Unidade Técnica de Acompanhamento de Projetos do Ministério das Finanças em www.utap.pt.
4 Esta regra corresponde a estabelecer um dever de contratação de seguros: onde exista seguro disponível, o parceiro privado
assume o risco de força maior (por isso se diz que o risco é partilhado), devendo optar por contratar esse seguro - transferindo
o risco para a seguradora e suportando o respetivo prémio – ou não o contratar, e suportar diretamente as consequências do
evento.
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(f) Em sexto lugar, estabelecem-se as consequências da rescisão que ocorra em
consequência da verificação de um caso de força maior – recorde-se que a rescisão
terá lugar sempre que a impossibilidade de cumprimento seja definitiva, ou a reposição
do equilíbrio financeiro se revele excessivamente onerosa; nesse caso, o parceiro
público assume os direitos e obrigações inerentes aos financiamentos contratados pelo
parceiro privado, as indemnizações de seguros são pagas ao parceiro público e, em
consequência, o parceiro privado perde todo o investimento que houvesse sido
suportado por fundos próprios aportados pelos seus acionistas 5;
(g) Finalmente, estabelece-se o procedimento pelo qual o parceiro privado pode invocar
a força maior perante o parceiro público, criando-se um dever comunicação imediata ao
parceiro público da ocorrência de qualquer evento de força maior ao abrigo do disposto
e de indicação das obrigações afetadas pelo mesmo;
(h) Em alguns dos contratos – em que o parceiro privado assume o risco e a
responsabilidade pelo projeto e conceção da infraestrutura ou serviço – afasta-se a
qualificação como força maior dos eventos naturais cujo impacte deva ser suportado
pela infraestrutura nos termos do caderno de encargos e dentro dos limites por este
previstos 6.
São, pois, relativamente estáveis os contornos das cláusulas de força maior nas parcerias
público-privadas em todos os setores: a força maior corresponde à ocorrência de eventos
exteriores às partes, imprevisíveis e irresistíveis, e corresponde a um risco cujos efeitos são
partilhados entre parceiro público e parceiro privado. A partilha decorre de, se o evento
corresponder a um risco suscetível de ser coberto por seguro, o parceiro privado assumir as
consequências da sua verificação até ao limite do seguro comercialmente razoável; se inexistir
seguro disponível, ou se se tratar de eventos expressamente excluídos do dever de seguro, o
risco é assumido pelo parceiro público; se a força maior determinar a rescisão do contrato, o
parceiro público assume apenas as responsabilidades inerentes à dívida contratada, e o
parceiro privado todas as demais perdas associadas à rescisão 7.
4 Estrutura e linhas gerais do Contrato
4.1 Estamos agora em condições de incidirmos a nossa atenção na Cláusula 17 do Contrato. Por
forma a fixarmos o seu sentido e efeitos, porém, importa fazermos breve referência à estrutura
do Contrato e aos seus princípios e linhas gerais, pois que eles determinam o conteúdo das
prestações a que as partes se obrigam e os riscos, obrigações e responsabilidades assumidos
por cada uma delas. Só na compreensão dessas linhas contratuais se consegue estabelecer o
exato alcance da cláusula de força maior.
4.2 O Contrato tem por objeto a conceção, o projeto, o fornecimento, a montagem, a construção, a
gestão e a Manutenção do SIRESP, assegurando todas as funções e objetivos definidos no
5 Esta é outra manifestação da partilha do risco da força maior – na rescisão, o parceiro público assume os encargos com a
dívida e o parceiro privado absorve a perda do os investimentos dos sócios.
6 O que bem se compreende: se o projeto deve ser concebido e construído para suportar determinados impactes, então esse
impacte não é imprevisível. Pense-se, por exemplo, na obrigação de projetar um edifício para suportar sismos até determinada
magnitude. Faz parte do núcleo de obrigações do parceiro privado a conceção e construção de um edifício que resista a
sismos abaixo desse grau de magnitude. Um sismo abaixo desse grau não é, por isso, um caso de força maior.
7 Para uma síntese das regras aplicáveis à força maior nas parcerias público-privadas cfr. Pedro Melo, A «força maior» nas
concessões de obras públicas, in Revista de Contratos Públicos, n.º 6, 2012, pp. 21 ss..
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presente Contrato (cfr. Cláusula 3.1). A Operadora obrigava-se, durante o Período de
Concretização, a assegurar o fornecimento e montagem do Sistema, ficando responsável pela
conceção e projeto do SIRESP e sua conformidade com as Especificações Técnicas do
Contrato e com a Proposta (cfr. Cláusula 32.1), a adquirir e proceder à montagem dos
equipamentos necessários para o efeito, os quais se manteriam na sua titularidade ou posse
durante todo o período do Contrato (cfr. Cláusula 9), a assegurar o investimento necessário à
montagem do Sistema, sendo a Operadora a exclusiva responsável pelo financiamento das
atividades que integram o Contrato (cfr. Cláusula 11), e a assegurar a Entrada em Serviço do
SIRESP nas datas e com o faseamento previstos para o efeito (cfr. Cláusula 28).
Após a Entrada em Serviço, a Operadora realiza a gestão e Manutenção do SIRESP em perfeita
conformidade com o disposto no Contrato (cfr. Cláusulas 38 e 39), devendo assegurar a
disponibilidade do Sistema (cfr. Cláusula 42), e ainda o desempenho e a qualidade do Sistema,
tudo de acordo com os parâmetros previstos no Anexo 6 (Especificações Técnicas).
Em contrapartida pela execução das prestações que está adstrita nos termos do Contrato, a
Operadora tem direito, a partir da Entrada em Serviço de cada uma das Fases em que se
decompunha o Período de Concretização, aos pagamentos referidos na Cláusula 12 e no Anexo
9.
Os pagamentos a realizar pela Entidade Gestora a partir da Entrada em Serviço correspondem
aos valores estabelecidos no Contrato, ao qual serão efetuadas deduções caso se verifiquem
Falhas de Disponibilidade (cfr. Cláusula 42) ou Falhas de Desempenho (cfr. Cláusula 43). Tanto
as Falhas de Disponibilidade como as Falhas de Desempenho são calculadas nos termos
referidos no Anexo 29.
4.3 O Contrato está, deste modo, estruturado como uma parceria público-privada, e na sua
celebração foram observados, para além dos procedimentos pré-contratuais à época aplicáveis,
as regras constantes do Decreto-Lei n.º 86/2003, de 26 de abril, que disciplinava a formação
das parcerias públicas-privadas e da decisão de contratar nestas matérias.
Como tal, o Contrato vinculava a Operadora – no caso, o parceiro privado – a um resultado: o
de providenciar ao parceiro público – a Entidade Gestora – um serviço de comunicações de
emergência que pudesse ser utilizado pelas Entidades Utilizadoras. O parceiro privado terá
direito à remuneração fixada no Contrato desde que o serviço prestado cumpra os níveis de
disponibilidade fixados no Contrato e assegure o desempenho contratualmente especificado.
Caso os níveis de disponibilidade ou de desempenho não correspondam àqueles
contratualmente previstos, haverá lugar à aplicação de deduções à remuneração.
Sublinhamos este aspeto: a obrigação da Operadora é assegurar a disponibilidade e o
desempenho do SIRESP. Ao contrário do que sucede noutro tipo de contratos – em que as
entidades privadas se obrigam a entregar ao contraente público determinados bens ou outros
meios – no caso do Contrato, como de outras parcerias público-privadas, a obrigação é a de
assegurar um determinado output, neste caso que o Sistema está a funcionar dentro dos
parâmetros de disponibilidade e de desempenho contratualmente estipulados.
É certo que o Contrato contém abundantes referências à organização interna da Operadora, às
relações que estabelece com terceiros seus subcontratados, e aos meios que devem reunir
para prestar o serviço. Mas não são esses que são primariamente objeto do Contrato, relevando
apenas como modo de controle da adequação dos recursos afetos à parceria ao resultado
contratado.
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O que releva é apenas que, através do Contrato, a Operadora se obriga a manter o Sistema
em condições de disponibilidade e desempenho. Se o SIRESP não estiver disponível, apura-
se o período de indisponibilidade e aplicam-se as deduções contratualmente previstas no Anexo
29. De igual modo, se estiver disponível, mas a qualidade do seu desempenho não for aquela
fixada no Contrato, aplicam-se as deduções por falhas de desempenho estabelecidas no
mesmo Anexo. Note-se que o próprio Anexo 29 contém regras sobre o cálculo das falhas de
disponibilidade e de desempenho e estabelece regras específicas sobre o modo como as
mesmas devem ser valorizadas.
Trata-se, pois, de uma parceria público-privada em que se transfere para o privado o “risco de
construção” e o “risco de disponibilidade” 8.
4.4 Sendo obrigação da Operadora assegurar que o SIRESP está disponível nas condições
contratualmente especificadas, o principal incumprimento do Contrato após o termo do Período
de Concretização – isto é, após a Entrada em Serviço da Totalidade do SIRESP – consiste na
circunstância de o serviço não se encontrar disponível ou não assegurar a qualidade e o
desempenho previstos no Contrato. Para além destes, podem ocorrer situações de
incumprimento de outras obrigações – designadamente acessórias, como as obrigações de
manter e contratar os seguros contratualmente exigíveis (cfr. Cláusula 15), ou de proceder
registo e informação de dados de tráfego (cfr. Cláusula 41), entre muitas outras.
Importa, assim, fazer uma breve referência às regras contratuais relativas ao incumprimento ou
ao cumprimento defeituoso, pela Operadora, das obrigações para si emergentes do Contrato
durante o Período de Gestão e Manutenção – isto é, após a Entrada em Serviço da Totalidade
do SIRESP. Assim:
4.4.1 Se não for assegurada a disponibilidade do Sistema, nos termos e dentro dos
parâmetros previstos no Anexo 6, sujeita a deduções por Falhas de Disponibilidade, nos
termos definidos no Anexo 29 (cfr. Cláusula 42);
4.4.2 Se não forem assegurados o desempenho e a qualidade do Sistema, nos termos e
dentro dos parâmetros previstos no Anexo 6, a Operadora fica sujeita a deduções por
Falhas de Desempenho nos termos definidos no Anexo 29 (cfr. Cláusula 43);
4.4.3 Em caso de incumprimento, pela Operadora, das obrigações emergentes do Contrato
ou das determinações da Entidade Gestora emitidas no âmbito da lei ou do Contrato,
haverá lugar à aplicação de multas, a título de cláusula penal, sem prejuízo da
efetivação de responsabilidade de outra natureza (cfr. Cláusula 16.1); salvo nos casos
em que haja lugar a deduções à remuneração devida à Operadora por Falhas de
Disponibilidade ou por Falhas de Desempenho, o valor das multas variará em função
8 Estes conceitos foram detalhados em decisão do Gabinete de Estatística da União Europeia (EUROSTAT) de 11 de fevereiro
de 2004. De acordo com aquela decisão – entretanto ultrapassada – um determinado contrato deveria ser contabilizado como
uma PPP e, portanto, como não gerando aumento da dívida pública, se o parceiro privado assumisse o risco de construção
de um ativo e, na fase de exploração, o risco de disponibilidade ou o risco de procura. O risco de construção decorreria de o
parceiro privado assumir os riscos inerentes à montagem do ativo – atrasos ou sobrecustos, por exemplo – e de o parceiro
público não efetuar quaisquer pagamentos até à entrada em funcionamento do mesmo. O risco de disponibilidade
corresponderia aos casos em que o parceiro privado tivesse de assegurar que o serviço ou bem está disponível de acordo
com as especificações contratuais, estando o parceiro público em condições de efetuar deduções aos pagamentos se tal não
for o caso; as deduções deveriam ser automáticas e não ser meramente “cosméticas”, mas sim ter um efeito significativo nos
proveitos ou resultados do parceiro privado (posteriormente esclareceu-se que deveriam chegar ao limite de eliminar o retorno
sobre o investimento dos acionistas do parceiro privado).
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da gravidade da infração entre um mínimo de € 5.000,00 (cinco mil euros) e um máximo
de € 200.000,00 (duzentos mil euros), relativamente a cada uma das situações de
incumprimento, sem prejuízo do direito a indemnização por danos excedentes (cfr.
Cláusula 16.3);
4.4.4 No caso de não cumprimento grave ou reiterado, não sanado ou não sanável, das
obrigações dele emergentes por parte da Operadora, há lugar a rescisão sancionatória,
nos termos previstos na Cláusula 19; para além da regra geral, existem situações de
incumprimento especificamente previstas no Contrato, de que se destacam a ocorrência
de deficiência grave na organização da Operadora ou na gestão e funcionamento do
SIRESP, em termos que possam comprometer a continuidade desse funcionamento nas
condições exigidas pela lei e pelo Contrato (cfr. Cláusula 19.1.5), a perda do domínio
da Operadora pelos membros do agrupamento Adjudicatário à data da assinatura do
Contrato, por via direta ou indireta, sem prévia autorização da Entidade Gestora (cfr.
Cláusula 19.1.8), ou a aplicação, em dois anos de calendário consecutivos, das
deduções anuais máximas à remuneração devida à Operadora contratualmente
previstas e computadas no final de cada ano de calendário, por Falhas de
Disponibilidade ou por Falhas de Desempenho, salvo se as deduções aplicadas em
ambos os anos forem motivadas por uma mesma ocorrência de natureza pontual
entretanto sanada (cfr. Cláusula 19.1.13).
4.5 Deve ainda referir-se que, como é comum nas parceiras público-privadas, a Operadora é uma
sociedade veículo constituída com o objeto social exclusivo, durante todo o período de duração
do Contrato, de exercício das atividades abrangidas pelo Contrato (cfr. Cláusula 4.2). Assim, e
por forma a assegurar o cumprimento das obrigações por si assumidas perante a Entidade
Gestora, a Operadora celebrou diversos subcontratos com distintas entidades consigo
relacionadas, designadamente com os seus acionistas. Esses subcontratos constituem anexos
ao Contrato – e incluem, no Período de Gestão e Manutenção, o Contrato de Manutenção do
Sistema de Informação, celebrado com a DATACOMP – Sistemas de Informática, S.A., o
Contrato de Gestão e Manutenção do Sistema Tetra, celebrado com a TMN – Telecomunicações
Móveis Nacionais, S.A., e o Contrato de Prestação de Serviços Associados à Rede de Circuitos
para o SIRESP - Sistema Integrado para as Redes de Emergência e Segurança de Portugal,
igualmente celebrado com a TMN.
Porém, de acordo com a Cláusula 14.1, a existência de tais subcontratos não limita nem exime
a Operadora das responsabilidades assumidas perante a Entidade Gestora. De acordo com
essa Cláusula, “a Operadora é, face à Entidade Gestora, a única e direta responsável pelo
atempado e perfeito cumprimento das obrigações constantes do Contrato e as decorrentes de
normas, regulamentos ou disposições administrativas que lhe sejam aplicáveis, não podendo
opor à Entidade Gestora qualquer contrato ou relação com terceiros para exclusão ou limitação
dessa responsabilidade, salvo quando o próprio Contrato o permitir ou incumprimento resulte
da falha de funcionamento de circuitos de comunicações disponibilizados por entidades
públicas ao abrigo do disposto na Cláusula 12.13” 9.
Em consonância com esta regra, a Cláusula 14.3 estabelece que “a Operadora responderá
ainda, nos termos em que o comitente responde pelos atos do comissário, pelos prejuízos
9 A referência aos circuitos de comunicações disponibilizados por entidades públicas ao abrigo do disposto na Cláusula 12.13
fica a dever-se ao facto de que o Contrato previa que no futuro viesse a ser acordada a utilização pelo SIRESP de circuitos
de titularidade de entidades públicas e por estas disponibilizados à Operadora.
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causados por terceiros por si contratados para o desenvolvimento das atividades
compreendidas no Contrato”.
Ou seja: a Operadora responde pelos atos dos seus subcontratados e não pode opor à Entidade
Gestora as limitações, exceções ou meios de defesa que os subcontratados disponham perante
ela 10.
A Operadora é obrigada, nos termos da Cláusula 16, a prestar caução, mediante garantia
bancária, para garantia do exato e pontual cumprimento das obrigações que a Operadora
assume por virtude do Contrato. A Entidade Gestora pode acionar a caução independentemente
de prévia decisão judicial sempre que a Operadora não cumpra obrigações pecuniárias
vencidas, designadamente o pagamento de quaisquer multas ou indemnizações que se
mostrem devidas ou para se ressarcir do pagamento de despesas que haja suportado por conta
da Operadora.
4.6 Os exemplos referidos nos parágrafos 4.4 e 4.5 correspondem a casos de incumprimento, ou
de cumprimento defeituoso, de deveres gerados pelo Contrato, para os quais o Contrato
estabelece o conteúdo dos direitos da Entidade Gestora perante a Operadora. Exemplo típico
é das Falhas de Disponibilidade ou das Falhas de Desempenho, que são casos de cumprimento
defeituoso da prestação primária a que a Operadora se vinculou – a disponibilização do Sistema
nas condições de qualidade e desempenho contratualmente especificados.
Mas, a par dos danos decorrentes da própria prestação defeituosa, a Operadora ou os seus
subcontratados podem causar, na execução do Contrato, danos pessoais ou patrimoniais a
terceiros ou a outros bens integrados no património da Entidade Gestora – incluindo aqueles
que decorram do dever de indemnizar terceiros que demandem a Entidade Gestora por danos
causados pela Operadora no exercício prestação. Estes casos – que são casos de
responsabilidade extracontratual e não de responsabilidade contratual – encontram-se, ainda
assim, previstos e regulados no Contrato 11.
Assim:
4.6.1 Estabelece-se que, no que respeita à responsabilidade extracontratual, a Operadora
responderá, nos termos da lei geral, por quaisquer prejuízos causados à Entidade
Gestora e a terceiros no exercício das atividades que constituem o objeto do Contrato,
pela culpa ou pelo risco (cfr. Cláusula 14.2);
4.6.2 Dispõe-se, como se viu, que a Operadora responderá ainda, nos termos em que o
comitente responde pelos atos do comissário, pelos prejuízos causados por terceiros
por si contratados para o desenvolvimento das atividades compreendidas no Contrato
(cfr. Cláusula 14.3), o que também tem âmbito de aplicação no campo da
responsabilidade extracontratual;
10 Esta regra é particularmente relevante em todos os casos de parcerias público-privadas contratadas com sociedades veículo.
Dada a circunstância de o parceiro privado não dispor de meios próprios para o exercício das atividades compreendidas na
parceria, é habitual que recorra a contratos com terceiros, que se obrigam perante aquele a executar as prestações a que a
sociedade veículo está vinculada perante o parceiro público. Esses contratos constituem habitualmente anexos ao contrato
subjacente à parceira – como ocorre no SIRESP – mas deixa-se claro que aqueles contratos não afastam a responsabilidade
exclusiva do parceiro privado perante o parceiro público.
11 Sobre a distinção entre a responsabilidade (contratual) decorrente do incumprimento do contrato e a responsabilidade
(delitual) por danos causados na pessoa e património do credor na execução do contrato, incluindo aqueles decorrentes do
dever de indemnizar terceiros por facto imputável ao co-contratante, cfr. Pedro Romano Martinez, in Cumprimento Defeituoso
em Especial na Compra e Venda e na Empreitada, pp. 211 ss., Coimbra, 2015.
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4.6.3 Impõe-se à Operadora o dever de contratar seguros para garantir uma efetiva e
extensiva cobertura dos riscos inerentes às atividades compreendidas no Contrato (cfr.
Cláusula 11.1, incluindo a obrigação de contratar uma cobertura de responsabilidade
civil geral exploração, que garanta a responsabilidade extracontratual que, ao abrigo da
lei cível, seja imputável à Operadora na qualidade ou no exercício das suas atividades
(cfr. Anexo 11).
4.7 Fica assim claro o quadro das responsabilidades que para a Operadora decorrem do Contrato
e das consequências que nele se estabelecem para o incumprimento ou o cumprimento
defeituoso das obrigações dele emergentes – dever de indemnização do dano decorrente do
incumprimento; deduções aos pagamentos; cláusulas penais, que não afastam o dever de
indemnizar o dano excedente; rescisão sancionatória. O Contrato também dispõe (sem afastar
as regras que em qualquer caso decorrem da lei geral) sobre a responsabilidade extracontratual
da Operadora perante a Entidade Gestora e qualquer terceiro. A responsabilidade da Operadora
abrange, em ambos os casos, os factos imputáveis aos seus subcontratados, e não é limitada
por quaisquer exceções ou meios de defesa que lhe possam ser oponíveis por aqueles.
5 A cláusula de Força Maior no SIRESP
5.1 A cláusula de força maior constante do Contrato do SIRESP, como não podia deixar de ser,
segue de perto a configuração típica dessas cláusulas noutras parcerias público-privadas
adotadas nas últimas décadas no nosso país 12. Pela sua importância central neste memorando,
transcreve-se de seguida o seu teor:
“17.1 Para os efeitos do Contrato, considerar-se-ão casos de força maior os
eventos imprevisíveis e irresistíveis, cujos efeitos se produzam
independentemente da vontade da Operadora ou da sua atuação, ainda que
indiretos, que comprovadamente impeçam ou tornem mais oneroso o
cumprimento das suas obrigações contratuais.
17.2 Constituem, nomeadamente, casos de força maior atos de guerra ou
subversão, hostilidades ou invasão, rebelião, terrorismo ou epidemias,
raios, explosões, graves inundações, ciclones, tremores de terra e outros
cataclismos naturais que diretamente afetem as atividades objeto do
Contrato.
17.3 A ocorrência de um caso de força maior terá por efeito exonerar a
Operadora de responsabilidade pelo não cumprimento pontual das
obrigações emergentes do Contrato, na estrita medida em que o seu
cumprimento tenha sido impedido em virtude da referida ocorrência, e dará
lugar, verificados os pressupostos previstos na Cláusula 25, à reposição do
equilíbrio financeiro do Contrato, ou, nos casos em que a impossibilidade
de cumprimento se tornar definitiva ou a reposição do equilíbrio financeiro
se revelar impossível ou excessivamente onerosa para a Entidade Gestora,
à rescisão do Contrato.
17.4 Excetua-se do disposto nos Números anteriores os casos que determinem
a indisponibilidade do Sistema em violação das obrigações emergentes do
12 Aliás, a Cláusula é idêntica à que constava já das Condições Jurídicas do Caderno de Encargos.
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Contrato relativas às redundâncias do SIRESP e da exigência de escolha
de localizações que maximizem a segurança das instalações em caso de
catástrofe ou calamidade pública.
17.5 Quando fique impossibilitada de cumprir uma obrigação contratual em
consequência de caso de força maior, a Operadora deverá dar
conhecimento imediato por escrito desse facto à Entidade Gestora
especificando as obrigações não cumpridas e a causa desse
incumprimento, sob pena de não ficar exonerada do cumprimento dessas
obrigações.
17.6 Verificando-se um caso de força maior e cumprido o disposto no Número
anterior, a Operadora fica exonerada do incumprimento das obrigações que
decorra daquele caso, sendo os prazos para o cumprimento de quaisquer
obrigações contratuais afetadas prorrogados pelo tempo que se mostrar
adequado à sanação das suas consequências.
17.7 Sempre que algum caso de força maior corresponda, ao tempo da sua
verificação, a um risco segurável, em mercados da União Europeia, e
independentemente de a Operadora ter efetivamente contratado o seguro
correspondente, observar-se-á o seguinte:
17.7.1 A Operadora não ficará exonerada do cumprimento da obrigação
na medida em que aquele cumprimento fosse possível em virtude
do recebimento de indemnização nos termos de apólice
comercialmente aceitável relativa ao risco em causa;
17.7.2 Haverá lugar à reposição do equilíbrio financeiro do Contrato, nos
termos da Cláusula 25, apenas na medida do excesso dos prejuízos
sofridos, considerando a indemnização nos termos de apólice
comercialmente aceitável relativa ao risco em causa;
17.7.3 Haverá lugar à rescisão do Contrato quando, apesar do
recebimento da indemnização nos termos da apólice
comercialmente aceitável relativa ao risco em causa, a
impossibilidade de cumprimento das obrigações emergentes do
Contrato seja definitiva, ou a reposição do equilíbrio financeiro do
Contrato seja excessivamente onerosa para a Entidade Gestora ou
impossível.
17.8 Ficam em qualquer caso excluídos da previsão do Número 17.7. os atos de
guerra ou subversão, hostilidade ou invasão, tumultos, rebelião ou
terrorismo.
17.9 Verificando-se a resolução do Contrato nos termos da presente Cláusula, a
Entidade Gestora pagará as quantias em dívida ao abrigo dos Contratos de
Financiamento, sendo-lhe todavia pagas diretamente as indemnizações
devidas ao abrigo de quaisquer apólices de seguro que se destinem a cobrir
o evento de força maior ou os seus efeitos.
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17.10 Constitui obrigação da Operadora a mitigação, por qualquer meio razoável
e apropriado ao seu dispor, dos efeitos da verificação de um caso de força
maior.”
5.2 Vemos, por isso, que a Cláusula 17 do Contrato tem uma configuração semelhante às das
parcerias anteriormente analisadas13. Quer a caraterização dos casos de força maior, que os
exemplos que são dados, quer a identificação dos seus efeitos, quer a relação com o dever de
contratar seguros, quer o procedimento a adotar, são em tudo similares aos dos demais casos
estudados.
Também como sucede com outras parcerias em que o parceiro privado assume o dever de
projetar e construir uma infraestrutura ou um estabelecimento para a prestação de um serviço,
afasta-se do âmbito de qualificação como força maior de eventos que estejam compreendidos
nos parâmetros de conceção. Assim, onde em concessões rodoviárias se escrevia
“consideram-se excluídos da previsão dos números anteriores os eventos naturais cujo impacte
deva ser suportado pela Autoestrada, nos termos dos projectos aprovados e dentro dos limites
por estes previstos” 14, dispõe-se no contrato que “excetua-se do disposto nos Números
anteriores os casos que determinem a indisponibilidade do Sistema em violação das obrigações
emergentes do Contrato relativas às redundâncias do SIRESP e da exigência de escolha de
localizações que maximizem a segurança das instalações em caso de catástrofe ou calamidade
pública”.
Ou seja: a Operadora tinha a obrigação de projetar o Sistema e no desempenho dessa
obrigação tinha o dever de adotar determinadas obrigações previstas no Contrato quanto a
redundâncias – isto é, de configurar elementos redundantes de forma que assegure a
disponibilidade do Sistema ainda que o elemento primário falhe. Também tinha a obrigação de
escolher localizações que maximizem a segurança das instalações em caso de catástrofe ou
calamidade pública. Por isso, se o sistema se mostrar indisponível por falha de um elemento
que devia ter um par redundante que se mostra inoperacional, não se está perante um caso de
força maior, mas de um caso de incumprimento do contrato.
6 Apreciação concreta
6.1 Estamos em condições, pois, de começar a responder à questão que nos foi colocada e que,
recorda-se, corresponde a saber se um incêndio que danifique bens ou equipamentos afetos
ao SIRESP pode configurar-se, em primeiro lugar, como um caso de força maior para os efeitos
do Contrato e, em segundo lugar, quais os direitos da Operadora e da Entidade Gestora quando
a primeira alegue que a ocorrência de um incêndio a impediu de cumprir as obrigações
emergentes do Contrato.
Para esse efeito, haverá que considerar, em primeiro lugar, se os motivos das falhas de serviço
correspondem ao incumprimento das obrigações em matéria de redundâncias do SIRESP pois
que nesse caso, como se viu, não se aplica a cláusula de força maior. Não sendo esse o caso,
importa avaliar se um incêndio se pode configurar como um evento de força maior à luz dos
números 17.1 e 17.2. Em terceiro lugar, haverá que apurar se o incêndio corresponde ou não a
um evento que, ao tempo da sua verificação, constitui um risco segurável, em mercados da
13 Cfr. parágrafo 3.4 do presente memorando.
14 Cfr. Cláusulas 79.3 do Contrato de Concessão da Autoestrada do Norte, e do Contrato de Concessão SCUT do Grande Porto,
em www.utap.pt; ver também na mesma localização, com redação distinta mas o mesmo sentido, a Cláusula 92.2 do Contrato
das Travessias Rooviárias do Tejo;
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União Europeia (independentemente de a Operadora ter efetivamente contratado o seguro
correspondente), pois que nessa hipótese e nos termos do número 17.7 o efeito exoneratório
da força maior e o direito à reposição do equilíbrio financeiro são limitados ou mesmo afastados.
Analisaremos de seguida cada uma dessas questões.
6.2 A primeira questão respeita ao sentido e alcance da Cláusula 17.4 do Contrato. Como vimos,
esta Cláusula é semelhante às cláusulas que noutras parcerias público-privadas dispõem que
inexiste força maior quanto a eventos que correspondam a circunstâncias que o projeto foi
concebido para suportar. Como referimos a título de exemplo, se o parceiro privado está
obrigado a conceber e construir uma infraestrutura que suporte sismos até determinado grau
de magnitude, o sismo de grau inferior não é caso de força maior.
Coisa semelhante ocorre no Contrato do SIRESP. Este, para além de vincular a Operadora a
assegurar a disponibilidade do Sistema de acordo com determinados níveis de serviço, impõe-
lhe igualmente determinadas regras quanto à conceção do SIRESP. Uma dessas regras,
decorrentes das Especificações Técnicas e constante já do Caderno de Encargos, é a da
existência de elementos redundantes, que possam operar na ausência do elemento primário.
Importa, por isso, verificar se as falhas verificadas se ficaram a dever a qualquer elemento do
sistema que devesse ter elementos redundantes que não se encontrasse em funcionamento.
Esta é uma questão de facto, a cujo apuramento não podemos proceder, e pressupõe ainda
uma análise técnica do Caderno de Encargos e do Contrato que não nos cabe fazer 15.
Mas sendo esse o caso, fica claro que ocorreria incumprimento das obrigações em matéria de
redundâncias do SIRESP. Nesse caso, não faz sentido colocar a questão da força maior, mas
sim exigir o cumprimento por parte da Operadora
6.3 Não podendo nesta altura responder à questão enunciada, podemos em qualquer caso avaliar
se um incêndio se pode, em abstrato, configurar um caso de força maior para os efeitos do
Contrato. A resposta é positiva.
Como dissemos, o Contrato qualifica como caso de força maior “os eventos imprevisíveis e
irresistíveis, cujos efeitos se produzam independentemente da vontade da Operadora ou da
sua atuação, ainda que indiretos, que comprovadamente impeçam ou tornem mais oneroso o
cumprimento das suas obrigações contratuais”. Não nos cabe dúvida que um incêndio cabe
nesta definição.
Como indicámos no parágrafo 3.3 do presente memorando, a doutrina tem vindo ao longo das
décadas a solidificar o conceito de força maior e, com referência a este, das noções de
imprevisibilidade e de irresistibilidade. Fica claro que o evento imprevisível, para este efeito,
não é apenas aquele que as partes não podiam de todo configurar como possível. Os eventos
que se encontram no domínio das possibilidades, mas que as partes não podem ter a certeza
se se verificarão ou não, quando poderão ocorrer ou qual o impacte que possam ter sobre o
programa contratual, reconduzem-se ainda ao conceito de imprevisibilidade. Um incêndio cabe
neste conceito. As partes no Contrato podem e devem admitir a possibilidade de ocorrência de
15 Como exemplo, vejam-se as Especificações Técnicas do Caderno de Encargos, segundo o qual “as ligações fixas (entre
comutadores e entre estes e as estações base) devem ser redundantes, devendo haver redundância parcial nas estações
base” (cfr. Sec. B, §1.1, al. g)). Na conceção, desenvolvimento, fornecimento, instalação, ensaio e colocação em serviço de
todos os Subsistemas, a Operadora deve obedecer ao Caderno de Encargos (cfr. Contrato, Cl. 3), sendo que a Proposta
contém declaração de conformidade com o Caderno de Encargos.
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incêndios, mas não sabem se e quando este ocorrerá, ou em que medida poderá ter impacte
sobre a prestação.
O incêndio é também um evento irresistível. Uma vez deflagrado, a Operadora não dispõe de
meios para o seu combate e os seus efeitos impõem-se. O incêndio que não decorra de facto
imputável à Operadora surge independentemente da vontade desta e os seus efeitos
produzem-se também de forma independente.
Parece-nos, pois, que um incêndio deve qualificar-se, para os efeitos do Contrato, como um
caso de força maior.
6.4 Ainda que o incêndio se configure como um caso de força maior, tal não significa que o risco
da sua ocorrência não seja contratualmente alocado à Operadora. Como vimos acima, o
princípio do Contrato, como de outras parcerias público-privadas, é o de que corre por conta da
Operadora o risco de eventos de força maior que correspondam, ao tempo da sua verificação,
a um risco segurável, em mercados da União Europeia, por apólice comercialmente aceitável
(independentemente de a Operadora ter efetivamente contratado o seguro correspondente).
Ora, o risco de incêndio é neste momento segurável no mercado europeu. Está disponível
seguro de danos materiais sobre os bens – que cubra o risco do seu perecimento ou
degradação – incluindo por motivo de incêndio. Nos termos da lei, o seguro pode incidir sobre
bens ou direitos que sejam de titularidade do tomador de seguro ou de terceiro. Assim, a
Operadora pode contratar seguro sobre bens próprios ou de terceiros que estejam afetos ao
Sistema e que cubram o risco de qualquer desses bens poder ser destruído ou danificado em
caso de incêndio.
Isto mesmo, aliás, é imposto pelo Contrato à Operadora. Segundo a Cláusula 15, a Operadora é obrigada a “celebrar e manter em vigor as apólices de seguros necessárias para garantir uma efetiva e extensiva cobertura dos riscos inerentes às atividades compreendidas no Contrato”, e “a manter os referidos seguros em vigor e a comprová-lo perante a Entidade Gestora sempre que lhe seja solicitado, obrigando-se ainda a cumprir o disposto no Programa de Seguros e a celebrar as restantes apólices de seguro nele referidas nos momentos aí estabelecidos”. O Programa de Seguros consta do Anexo 11 ao Contrato, e segundo esse programa, a Operadora é obrigada, na fase de operação, a contratar apólice do tipo ALL RISKS por forma a encontrarem-se cobertos todos os riscos de danos materiais. Devem ser seguros “todos os bens que façam parte do património da Operadora ou estejam sob sua responsabilidade, incluindo equipamentos e instalações propriedade da Operadora, alugados, ou adquiridos em sistema de leasing ou similar”. A apólice ALL RISKS deve ainda cobrir perdas de exploração. Não há dúvida, por isso, que a Operadora tem o dever de contratar seguro de danos materiais que abranja o risco de incêndio e que cubra bens próprios ou de terceiro. O risco de incêndio é risco segurável existindo a cobertura para o efeito no mercado nacional e, salvo demonstração em contrário, as apólices disponíveis no mercado são “comercialmente aceitáveis” 16.
16 O conceito de “apólice comercialmente aceitável”, como se viu, é um conceito comummente utilizado nos contratos
subjacentes a parcerias público-privadas. Em si mesmo, é um conceito indeterminado, que deve ser interpretado como a
apólice cujo prémio não seja proibitivo ou desproporcionado. Deve ser claro que a apólice comercialmente aceitável não é só
aquela cujo prémio corresponda ao valor previsto no Caso Base anexo ao contrato. Na verdade, a incerteza quanto ao valor
do prémio constitui risco do parceiro privado, uma vez que, sendo o contrato de seguro de duração mais curta do que o
contrato de parceria público-privada (normalmente apenas um ano, havendo que renovar a apólice no seu termo), existe um
risco que corresponde à variação do prémio de seguro. Esse risco corre por conta do parceiro privado, salvo se, em qualquer
momento, o prémio se tornar claramente fora de proporção (pense-se, por exemplo, no que ocorreu no mercado internacional
com o risco de terrorismo após os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque).
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Por isso, o risco de incêndio que afete bens da Operadora ou de terceiro e que impeça ou torne
mais oneroso o cumprimento das obrigações contratuais da Operadora é risco que corre por
conta da Operadora 17.
6.5 Importa referir uma circunstância adicional. Como referimos, não nos pronunciamos neste
memorando sobre factos concretos, designadamente as circunstâncias em que um incêndio
possa afetar o cumprimento das obrigações da Operadora. Esses factos não nos foram
comunicados pelo Ministério da Administração Interna. Ainda assim, temos conhecimento que
uma das hipóteses que poderá estar em causa é destruição pelos incêndios dos cabos que
suportam os circuitos alugados à PT. Ora, tais circuitos não pertencem à Operadora, e o
contrato celebrado com a PT, que correspondia ao Anexo 40 do Contrato contém diversas
cláusulas que limitam a responsabilidade desta perante a Operadora.
Porém, como referimos anteriormente, a Cláusula 14.1 do Contrato dispõe expressamente que
a Operadora não pode “a Operadora é, face à Entidade Gestora, a única e direta responsável
pelo atempado e perfeito cumprimento das obrigações constantes do Contrato”, e não pode
“opor à Entidade Gestora qualquer contrato ou relação com terceiros para exclusão ou limitação
dessa responsabilidade, salvo quando o próprio Contrato o permitir ou incumprimento resulte
da falha de funcionamento de circuitos de comunicações disponibilizados por entidades
públicas ao abrigo do disposto na Cláusula 12.13”.
Não pode assim a Operadora invocar as limitações do contrato com a PT para se eximir ao
cumprimento das suas obrigações. Aliás, a própria circunstância de a Cláusula 14.1
expressamente afastar a responsabilidade da Operadora apenas nos casos dos circuitos de
comunicações disponibilizados por entidades públicas (porque tal corresponderia a uma falha
imputável à própria administração) deixa claro que o contrato relativo a circuitos alugados a
entidades privadas não pode limitar a responsabilidade da Operadora.
17 A Operadora tem em vigor apólice de seguro de tipo All Risks, cuja cópia nos foi facultada (Apólice PA14PR0012, contratada
junto da seguradora AIG – ata adicional n.º 3 referente a 2017). Essa apólice garante os riscos base, tal como definidos nas
respetivas Condições Gerais, que incluem “todos os riscos de perdas ou danos materiais diretos, súbitos e acidentais, não
expressamente excluídos no artigo 7.º, que sejam causados aos bens seguros tangíveis enquanto nos locais de risco
seguros”. Os locais de risco, segundo as Condições Particulares, são vários, e desconhecemos se abrangem os bens de
terceiro afetos ao Sistema, designadamente os circuitos alugados. Porém, esse é um tema para discussão entre a Operadora
e a sua Seguradora. Na relação com a Entidade Gestora, o que vale é a constatação de que a Operadora tem o dever de
contratar seguro que abranja o risco de incêndio que afete bens próprios ou de terceiros, e que segundo a Cláusula 17 esse
risco corre, pois, por conta da Operadora.