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MEME Edição 02 - dezembro 2010 - R$2,50 BANDA GENTILEZA mistura todos os ritmos musicais que acha pela frente. Seleção de músicas para te acompanhar nesse verão. PROCRASTINA- ÇÃO: o terrível hábito de deixar tudo para depois. O que não pode faltar no cardápio de um vege- tariano.

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Revista voltada para estudantes universitários, criada como projeto de conclusão do curso de Design gráfico na UNESP de Bauru

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MEMEEdição 02 - dezembro 2010 - R$2,50

BANDA GENTILEZAmistura todos os ritmos musicais que acha pela frente.

Seleção de músicas para te acompanhar nesse verão.

PROCRASTINA-ÇÃO: o terrível hábito de deixar tudo para depois.

O que não pode faltar no cardápio de um vege-tariano.

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pontes, placas de trânsito, árvores, nuvens, luz e sombra.

Nada é original.Roube de qualquer lugar que ressoe com inspiração

ou abasteça sua imaginação. Devore filmes antigos, filmes novos, música, livros, pinturas, fotografias,poemas, sonhos, conversas aleatórias, arquitetura

Selecione para roubar somente coisas que falemdiretamente com sua alma. Se fizer isso, seu trabalho(e roubo) será autêntico. Autenticidade é inestimável,originalidade não existe. E não se preocupe em

dissimular seu roubo - celebre-o se você tiver vontade.Em todo caso, lembre-se da frase de Jean-Luc Godard:“Não importa de onde você tira as coisas - o queimporta é para onde você as leva”

- Jim Jarmusch

MEME Ajudando você a escolher seu

próprio caminho

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Cursos ExtrasOficinas e cursos complementares para os estudantes de Jornalismo, além do meio impresso.

AchadosProjetos legais e ideias criativas pra você admirar e se inspirar.

MúsicaPronto para o verão? A gente te mostra músicas que combinam com sol, calor e descanso.

SaúdeEsse é pra você que resolveu virar vegetariano e naõ faz ideia de como complementar sua alimenta-ção. Nesse texto divertido você aprende o que não pode ficar de fora do seu cardápio.

CinemaJá pensou se fisessem um filme da sua vida? Inspire-se nessas cinebiografias e comece agora a transformar sua rotina em algo ex-traordinário.

LiteraturaPequenas histórias do “Livro dos Abraços”.

Comportamento“Amanhã eu termino”. “Mais tarde eu faço”. “Deixa pra depois”. Se identificou? Entenda porque algu-mas pessoas não conseguem largar o hábito de procrastinar.

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CapaCantando sobre coisas cotidianas e banais e misturando todos os

ritmos imagináveis, a Banda Gentileza surpreende e faz música de qualidade. Saiba um pouco mais do percurso deles até aqui.

SumárioEditorialNotícias da redação.

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ReceitaSe você procurava uma receita de sobremesa fácil, rápida e barata, achou! Torta de limão que até o mais novato dos cozinheiros con-segue acertar.

CrônicaDezembro traz ares quentes e suores exces-sivos, e fica fácil se identificar com essa história.

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ExpedienteMEME

DIREÇÃO GERALMarina Burity [email protected]/burity

REPÓRTERESLaís Montagnana

[email protected]/lmontag

Renata [email protected]

www.twitter.com/renatapenzani

COLABORADORESRegina Colon

[email protected]/regina_colon

Clarice [email protected]

Caroline [email protected]/caroliland

FotógrafoLucas Laronga

[email protected]/lucaslaronga

Projeto Experimental de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Design da

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comuicação (FAAC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) para obtenção do bacharelado em

Design Gráfico.

ORIENTADORAProf. Dr. Cássia Letícia Carrara

[email protected]

Novembro, 2010

EnsaioCamisetas são baratas, versáteis e democráticas. Veja como se vestir bem gastando pouco.

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Uma banda que chama Gentileza só pode ser coisa boa. E é. Esses curitibanos resolveram misturar todos os ritmos musicais que acharam pela frente para cantar sobre as coisas mundanas da vida, e o resultado é maravilhoso. Se você ainda não os co-nhece, corre para a página 22 e saiba o que eles tem a dizer.

O verão está chegando e a MEME traz uma seleção de músicas brasileiras que combinam com sol e calor. Na Receita você aprende a fazer uma torta de limão refrescante, enquanto na seção Saúde mostramos o que não pode faltar no cardápio de um vegetariano. A Crônica que fecha a revista acompanha a estação e traz suores excessivos.

Quer mais? No nosso Ensaio, a gente elege as t-shirts como indispensáveis e te mostra porquê. Agora, se ao ler tudo isso bateu aquela preguiça e você pensou, “ah, vou ler depois”, vá agora para a página 40, leia nossa matéria sobre procrastinação e descubra como lutar contra esse hábito.

E se você tem algo de legal para mostrar, compartilhe com a gente. Pode ser um trabalho autoral ou uma coisa genial que você achou por aí e acha que deve ser divulgado. Participe, a revista é sua!

Marina Burity FranciscoDesigner

[email protected]

Editorial

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Achados

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“Paris vs New York” é uma disputa visual amigável entre as duas cidades, criada pelo designer gráfico Vahram Muratyan. O site

mostra de forma divertida as diferenças entre a Big Apple e a Cidade Luz, evidenciadas por

detalhes rotineiros.http://parisvsnyc.blogspot.com/

Em “Aéreas”, Cássio Vasconcellos fotografa o alto de uma piscina, um es-tacionamento, o relevo de uma região. No total são 50 imagens inusitadas fei-tas de helicóptero no Bra-sil, na Argentina, no Chile e nos Estados Unidos. A obra está disponível em três versões, que variam entre R$ 39 e R$ 800 - a mais cara é numerada, assinada pelo autor e vem com uma cópia fotográfica no tamanho 32 x 44 cm.

“I like New York”“Moi, je préfère Paris”

O mundo de cima

design. novidades. tendências.

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Juliana Mundim produz vídeos, faz fotos lindas e viaja, muito. Já andou por vários países do

mundo, e no site Pocket Film for Travelers divide alguns dos regis-tros dos lugares por onde passou,

em forma de foto, vídeo, texto, desenho e som. Dá pra perder horas viajando o mundo pelos

olhos da Ju.http://www.pocketfilmsfortravelers.

com/

Não faz ideia do que fazer da vida? Tá mais perdido que cego em tiroteio e que surdo em bingo? Seus problemas acaba-ram! O site “What The Fuck Should

I Do With My Life” te dá a resposta. E se você não estiver satisfeito com a sugestão, é só perguntar de novo. As opções vão desde se casar a trabalhar numa fazendo orgânica. Não custa nada tentar.http://wtfshouldidowithmylife.com/

Para viajantes

Guia pra vida

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Música

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músicas para oVERÃO

Encha seu ipod com essas bandas brasileiras e

aproveite o sol

Indo contra o som moderninho que ocupa boa parte da linha de frente do hype atual, o Gulivers apostou em um som cheio de influências do rock gaúcho para sua estreia. A banda porto-alegrense recrutou o ex-RPM Ray-Z para produzir 12 faixas que deixarão orgulhosos os fãs do britpop de Oasis e Stone Roses e do indie rock nacional de bandas como Pública e a extinta Gram. As guitarras, ora sutis e bem arranjadas, ora urgentes, coman-dam a maioria das músicas e se encaixam perfeitamente com a versátil voz de Cristiano Bauce. Em Boas Mãos é daqueles discos que você começa a escutar e, quando percebe, o silêncio aparece e tudo o que resta é um sorriso quase que involuntário—e várias melodias e refrães que não sairão da sua cabeça por dias. Neto Rodrigues

Na bio da banda, lê-se que os integrantes se juntaram para “interpretar rocks simples e de refrão”. Às vezes, isso é o suficiente. Ainda mais quando tais integrantes fazem ou fizeram parte de bandas como Forgotten Boys e Ludov. Da Doo Ron foi gravado no estúdio do guitarrista Chuck Hipolitho, que impôs seus riffs pegajosos nas faixas “Sem Nome” e “Impróprio”. Há também algo de cabaret rock na faixa que dá nome ao EP. Já “Pe-sadilla Blues” mostra que, mesmo se o momento pedir 5 minutos de guitarras cadenciadas e backing vocals bem trabalhados, o quarteto consegue entregar algo bem digno.Apesar da estreia só ter sete faixas, vale ficar de olho nas Vespas Mandarinas. Ou, como os próprios dizem, num feliz trocadilho, “bee-ware!”. Neto Rodrigues

Com seu disco de estreia, o Stop Play Moon cumpre o papel que propõe integralmente: faz música em que o único objetivo é desfrutar com leveza as possibilidades que uma pista de dança pode propor-cionar. A vertente da banda é explícita da primeira à última faixa: faz parte do mesmo segmento de grupos como Metric e Copacabana Club. Bom pelo apelo certo, ruim pelos sintetizadores, letras e sonori-dade já esperados. “Hey”, “Dance Floor” e “I wanna take it all” podem ilustrar musicalmente isso. En-tretanto, apesar de uma certa falta de ambição aparente, a organização do disco é homogênea, impecável. Não é um disco inovador, mas é o que precisamos: um que dê pra escutar inteiro, no mesmo ritmo.Ana Malmaceda

Gulivers - Em boas mãos

Vespas Mandarinas – Da Doo Ron

Stop Play Moon - Stop Play Moon

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Por trás de um grande personagem quase

sempre há uma grande tragédia. Não

me refiro a tragédia banal -- dessas de

programas de tv sensacionalistas. Me

refiro ao sentido original da palavra de

origem grega, que se refere ao conflito

entre um personagem e uma figura de

instância maior, como a lei, deuses e até

mesmo a sociedade. Baggio é o nome de

um homem que ficou conhecido por ser

‘um andarilho que teria perdido a noção

de realidade’. Uma pessoa que um dia

sonhou em viver de música enfrentando

todos os desafios para fazer sucesso com

suas canções. Em São Cristóvão, cidade

do interior de Sergipe, Baggio é um herói

mítico e o The Baggios, banda “desco-

berta’ da coluna de hoje , presta com seu

nome homenagem ao primeiro símbolo

regional conhecido por ‘enfrentar o

desconhecido’ e pagar com a própria vida

o preço por querer trilhar um caminho

que todos dizem ‘que nunca vai dar certo’.

O The Baggios é um duo formado pelo

guitarrista Júlio Andrade e pelo bate-

rista Gabriel Carvalho. A dupla já lançou

alguns singles e EPs, contudo, este ano

marca o lançamento do primeiro álbum

de uma trajetória que começou em 2004

trazendo na mochila como referência a

sonoridade de Jimi Hendrix, Led Zep-

pelin e até dos ‘lunáticos’ Skip Spence e

o eterno Raul Seixas. Christian Camilo

VOCÊ CONHECE?The Baggios

Apesar de alguns tropeços, Do Amor não trai o nome. “Bonito” sai do clichê e torna-se algo que, na construção de cada refrão, investiga uma

definição física da palavra. Assim, os latidos da primeira faixa funcionam como uma janela: “Vem me dar” é um pedido construído cheio de doçura e personalidade. É arriscado dizer, mas parece que Do Amor é uma apre-sentação clara de um pop brasileiro legítimo. Deboche e experimentalismo

podem significar coragem, mas música, acima de tudo, exige harmonia. “I Picture Myself ” e “Shop Chop” são exemplos claros de músicas que po-dem funcionar ao vivo, mas que não são compreensíveis no disco. Destoam das encantadoras “Chalé”, “Meu Corpo Ali” e “Lindo Lago do Amor”,

preciosidades da música brasileira. Ana Malmaceda

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Cinema

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As VIDAS

como elas são!

Histórias de vida

que inspiram

filmes fazem das

cinebiografias um

gênero famoso no

mundo todo

Regina Colon

Steven Spielberg acaba de anunciar que fará a cinebiografia dos Bee Gees. Sacha Baron Cohen irá interpretar Freddie Mercury em filme que contará a história de vida do vo-calista da banda Queen. O cinema brasileiro viu há pouco, uma das maiores bilheterias com Chico Xavier nas telonas.Não é de hoje que os longas inspirados em personagens reais e suas trajetórias são lucra-tivos, emocionantes e aguardados. Vários prê-mios Oscar foram dados a interpretações reais, confirmando que esse gênero do cinema é bem valorizado. Para interpretar uma pessoa real é necessário que o ator mergulhe mais a fundo na história, buscando a imitação perfeita daquele que retratará. Geralmente, esse trabalho de pes-quisa, não só do ator, mas também de toda a produção é tão intenso que o filme chama aten-ção pela fidelidade e é muito considerado pela qualidade histórica.

A cinebiografia está no limite entre filme e documentário, uma vez que o primeiro neces-sita de um roteiro comercial e romântico (não no sentido amoroso somente) e o segundo é a história bruta. Nessas produções é preciso destacar momentos reais da vida do persona-gem retratado. Não se pode falar de todos, sendo fundamental a seleção.Dirigido pelo aclamado Oliver Stone (de “Platoon” e “Wall Street”), o filme “The Doors” (1991) mostra a trajetória da banda de rock que ganhou fãs, principalmente, por causa do polêmico vocalista Jim Morrison, interpretado na ocasião por Val Kimer (de “Batman Eterna-mente”).

“Chaplin” (1992) conta a história do ator, comediante e produtor Charles Spencer Chap-lin, vivido por Robert Downey Jr. (de “Sherlock Holmes”), desde o seu inicio na Inglaterra até os anos de sucesso no cinema mundial. O filme fala de suas conquistas, amores e desamores. Dirigido por Richard Attenborough, que ganhou o Oscar por outra cinebiografia, “Gandhi”.Uma das cinebiografias mais ousadas atual-mente, “Não Estou Lá” (2007) narra a vida de Bob Dylan através de sete interpretações dife-rentes: Marcus Carl Franklin, Christian Bale, Ben Whishaw, Heath Ledger, Richard Gere e Cate Blanchett. Entretanto, o filme não tem tom docu-mental. A intenção do diretor Todd Haynes (de “Velvet Godmine”) era contar os mitos por trás da lenda do cantor folk. “Piaf ” (2007) rendeu à atriz francesa Marion Cotillard (de “Nine”) um Oscar e um lugar ao sol em Hollywood. O filme, que tem a direção de Oli-ver Dahan (de “Rios Vermelhos”), mostra a vida da cantora Edith Piaf, cheia de sofrimento e música. Audrey Tautou (de “O Código Da Vinci”) interpreta Gabrielle Bonheur Chanel, em “Coco Antes de Chanel” (2009), mostrando as fases e obs-táculos que a estilista viveu antes de chegar a alta costura. Dirigido por Anne Fontaine (de “O Preço da Traição”).“Chico Xavier” (2010) é uma adaptação do livro de Marcel Souto Maior, “As vidas de Chico Xavier”, produzido e dirigido por Daniel Filho (de “Se eu fosse você”). O filme conta a história do médium que viveu até os 92 anos, na qual exerceu atividades filantrópicas e escreveu mais de 400 li-vros psicografados. No elenco estão Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Tony Ramos, Christiane Torloni, Pedro Paulo Rangel entre outros.

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Confira as cinebiografias que renderam estatuetas para atores e atrizes:

Ben Kingsley levou o Oscar pela sua interpretação em “Gandhi”, em 1983.

Em 2003 Adrien Brody inter-pretou um polonês judeu na 2ª

Guerra Mundial em “O Pianista”.

Famoso cantor cego, Ray Charles foi interpretado por Jamie Foxx em 2005 no filme “Ray”.

Em “Capote”, Philip Seymour Hoffman dá vida ao escritor americano Truman Capote.

Primeiro gay assumido a ter um cargo público importante nos EUA, Harvey Milk foi levado às telas por Sean Penn em 2009, com “Milk”.

A vida sofrida da cantora francesa Edith Piaf foi re-tratada por Marion Cotillard em 2008 no filme “Piaf - Um hino ao amor”.

“A Rainha”, de 2007, mostra a vida da rainha Elizabeth II depois da

morte da princesa Diana. Bela interpretação de

Helen Mirren.

Julia Roberts recebeu seu Oscar depois de interpretar Erin Brockvich no filme homônimo de 2001.

Em “Meninos não choram”, de 2000, Hil-

lary Swank mostra a jovem Teena Brandon tentando assumir sua

homossexualidade.

Sally Field interpreta Norma Rae no filme de mesmo nome de 1980, sindicalista que lutou por melhores condições de trabalho nas indústrias têxteis.

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A pequena edição de capa amarela só revela o seu peso se o carregarmos no colo. Do Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano despenca um mundo de possibilidades que só esperam que abramos os olhos. É um livro de restrições, de liberdades; de sonhos desperdiçados; do cotidiano e do extraordinário; de política e de amor; de tormentos e ternuras; de coisas

tão pequenas que se perdem num abraço, mas que, ao mesmo tempo, ultrapassam a largura que os braços podem forjar.

Eduardo Galeano, primeiro cidadão ilustre do Mercosul, nasceu em Montevidéu, em 1940. Mais que o Galeano conhecido por qualquer um que já tenha ouvido falar de uma América Latina de Veias Abertas ou que colecione citações críticas ao imperialis-mo, ele é o Galeano das palavras que andam, do mundo que vaga, dos mais de 30 títulos traduzidos em mais de 20 línguas, dos olhos azuis e sorriso largo que já completam 68 anos. O Livro dos Abraços foi publicado pela primeira vez em 1989 e, para Jay Parini, do suplemento literário do New York Times, é o livro mais ousada do autor.

Mas, de tudo, o que fica é o impacto deste livro de abraços que mais parece um aperto. A ingenuidade das primeiras linhas vai traçando um caminho para o fantástico, que passa pelo absurdo, pelo protesto e pelo prosaico. Galeano passou sua vida sendo arremessado pelos quatro cantos da América Latina. Viveu o exílio dos anos 70 e sentiu várias fomes e dores que não somente as suas próprias. O Livro dos Abraços, como outras obras do autor, nasce do resultado de suas andanças. Uma singela tentativa de congelar a memória. Pequenos momentos, aqueles que sacodem a alma da gente sem a grandiloquência dos grandes heroísmos, mas com a grandeza da vida.

“No café da manhã, minhas certezas servem-se de dúvi-das. E têm dias em que me sinto estrangeiro em Montevi-déu e em qualquer outra parte. Nesses dias, dias sem sol, noites sem lua, nenhum lugar é o meu lugar e não consigo me reconhecer em nada, em ninguém. As palavras não se parecem àquilo que dão nome, e não se parecem nem mesmo ao seu próprio som. Então não estou onde estou. Deixo meu corpo e saio, para longe, para lugar nenhum, e não quero estar com ninguém, nem mesmo comigo, e não tenho, nem quero ter, nome algum: então perco a vontade de me chamar ou de ser chamado.”

VOLTANDO A PASSAR PELO CORAÇÃO

VOLTANDO A PASSAR PELO CORAÇÃOEduardo Galeano

e a arte das pequenas histórias

Renata Penzani

Literatura

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O começo, por sua descontextualização, incita uma certa inquietação, dessas que vêm só para depositar uma interrogação no meio da testa e depois ir embora. Não sabemos ao certo o que Galeano quer mostrar, quem são as personagens, o porquê de estarem ali, mas sabemos que deve valer o risco. De um pequeno conto entitulado O mundo, sai a primeira síntese dos pensamentos ab-surdos do autor: “o mundo é isso, um montão de gente, um mar de fogueirinhas”. Com a calma que nos é re-quisitada, continuamos a girar os olhos pelas páginas que seguem e, aos poucos, vão despontando cenários, personagens, criaturas míticas, fábulas: tudo aquilo que, até o final da última página, já estaremos pegando pela mão e chamando pelo nome.

De súbitas guerras e re-latos doloridos de tortura, a possibilidade de botar re-paro nas pequenas coisas, de questionar o papel da arte, desbravar fronteiras não ape-nas geográficas do mapa da América, mas da moral humana. As mais feias ima-gens vistas da ótica mais pura que Galeano conseguiu en-contrar. A pureza vista pelo ângulo mais frio. E o leitor já submerso num universo único de brincadeira e aguda seriedade. O autor mimetiza suas próprias palavras para construir uma narrativa repetitiva, mas nunca cansa-tiva. Escreve pequenos contos que acabam numa pá-gina; outros maiores que logo ganham duas ou três, em que as reticências parecem aparecer para resguardar a melhor parte.

O Livro dos Abraços é feito de histórias estilhaça-das que encontram a parte que lhes falta e a cola que as une no meio do caminho. A noite, por exemplo, é uma história ridiculamente pequena que tem suas quatro

“Na parede de um bote-quim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso infor-ma: É proibido brincar com os carrinhos porta-baga-gem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.”

partes divididas por apenas uma página. Todas falam da mesma mulher, do mesmo cenário, da mesma angústia e mesma alegria; é uma história completa, mas se não fosse fragmentada por essa página, não guardariam o mesmo grau de mistério e significação.

É o livro da minúcia. Um trabalho artesanal de colagem de histórias que nos distrai a ponto de que, num momento que nunca saberemos ao certo, desco-brimos que os personagens do começo são os mesmos do final do livro. Que a mulher que ele tanto destaca é, na verdade, a Helena de sempre, sua mulher. E assim, num livro que nem é biografia, em contos que nem são

ficção, acabamos sabendo de Galeano como pessoa que ca-sou, teve filhos, fome de abra-ços, saudade da pátria, infarto do miocárdio e simpatia por Portinari.

Galeano conduz uma lanterna que observa o mo-vimento tranquilo da narra-tiva. Observa as palavras que se dispersam para voltar a se es-barrarem e, finalmente, se abra-çarem. Parece banal se pen-sarmos pequeno, mas como todo silêncio excessivo é estu-pidez, Galeano dá voz a todas às histórias que encontra por aí abandonadas para compor um livro de agradáveis relatos que tentam, a partir da des-

pretensão, resgatar a grandeza das pequenices da vida. É por isso que O Livro dos Abraços nunca se es-

gota; é uma leitura de paciência e de sempre, que nunca encontra razão para parar. “A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas a sempre as-sombrosa síntese das contradições”, diria o autor. Ou não. Apenas acenderia um cigarro e seguiria rumo à percepção de outras pequenas sutilezas.

Ficha TécnicaO Livro dos Abraços

Eduardo GaleanoEditora: L&PM Pocket

5ª edição – 1997Tradução: Eric Nepomuceno

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ValsabolerockaipiraÉ o que a Banda Gentileza responde quando é perguntada sobre qual estilo de música eles tocam. Com criatividade pra ver as coisas banais com outros olhos sem cair no clichê, o grupo mistura samba, valsa e rock dançante. Confira a entrevista que fizemos e descubra qual o sabor dessa mistura.

Tiago Agostini e Marcelo Costa

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Não é de hoje que Curitiba e o Paraná são palco de uma leva de bandas talentosas. Qualquer um que tenha acom-panhado o cenário independente na última década cer-tamente ouviu falar de Relespública, Ter-minal Guadalupe, Pelebrói Não Sei, Poléxia… Heitor

Humberto faz parte da nova geração de talentos que tem surgido da terra das araucárias. À frente da Banda Gentileza, Heitor lançou um dos grandes discos de 2009.A Banda Gentileza surgiu nos corredores do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, quando Heitor precisou de companheiros para apresentar suas músicas autorais nas festinhas da faculdade. O que começou como quarteto hoje é um sexteto, completado por Artur Lipori (trompete), Emilio Mercuri (guitarra), Diego Perin (baixo), Diogo Fernandes (ba-teria) e Tetê Fontoura (sax, teclado).Para entender melhor o que pensam e a trajetória desses talentos da música paranaense nós fizemos uma longa entrevista com o Heitor.

Qual a sua primeira lembrança em relação à música? Essa coisa de começar a tocar, pegar um instrumento, fazer um som…A minha mãe é professora de piano, então desde que nasci tem música em casa. Ela se aposentou este ano, então já faz um tempo que ela não estuda, mas ela to-cava bastante, e eu cresci com ela tocando piano em casa. Quando comecei a crescer, não sei por que e de onde, pirei que queria tocar violino, e toquei dos sete aos treze, quando me mudei de Joinville. Nessa época fiz violino e teoria musical, e toquei na Orquestra de Joinville, uma coisa mais clássica. Quando fui para Cu-ritiba, eu mal conhecia a minha vida sem ter que parar uma hora por dia e estudar violino para ir pra aula. Era uma obrigação. Várias vezes quando a piazada ia brin-car, eu ficava tocando violino. Enchia o saco. Quando cheguei em Curitiba, com treze anos, decidi dar um

Como rolou essa fase de parar de tocar violino e encontrar a galera? Você já conhecia alguém quando chegou em Curitiba?Quando sai de Joinville, estranhei muito. Em Curitiba o pessoal é mais fechado, eu não conhecia ninguém, en-tão continuei voltando pra Joinville várias vezes, aquela coisa de moleque pré-adolescente que não se adapta. Eu tinha um grande amigo lá, o Ronaldo, e a gente começou a fazer um som. Ele tocava violão, e eu co-mecei a compor aquelas letras de rimas bem primárias, e ele musicava. Inclusive, uma que a gente toca até hoje, “Sempre Quase”, foi ele quem fez. É dessa época. A gente chegou a gravar uma demo em casa, que tenho

tempo e fiquei sem fazer nada. Óbvio que nunca mais voltei, parei de estudar e hoje em dia toco apenas por hobby na banda.

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Vocês chegaram a tocar em teatro de colégio?Não. A gente chegou a vender 50 cópias da nossa fita demo naquele esquema de chegar para o professor: “Compra”. Nessa época eu saia pouco, não acompan-hava tanto a cena musical de Curitiba. Isso aconteceu mais na época da faculdade, quando a gente começou a montar a banda.

E como eram a sua cidade? Tinha lugar pra to-car?Até por estar no colégio, eu não saia. Nem sei dizer. Lembro de alguns bares de nome, como o Café Beat-nick, o Circus…

Em 2004 a cena de Curitiba estava bem agitada. O De Inverno fazia festivais, havia bandas boas no circuito alternativo. Vocês viam essas ban-das?Próximo passo: como foi formar a banda que

você tem hoje? Como se deu isso de encontrar a galera e decidir fazer um som?Eu fui fazer jornalismo, e me identifiquei mais com o pessoal veterano, e alguns deles já tinham bandas. Inclusive, em várias festinhas de faculdade que a gente fazia no Salim, um bar bem pequeno em Curitiba, essas bandas faziam uns showzinhos. Comecei a conhecer o pes-soal, e eu tinha algumas músicas dessa época do Ronaldo, de Joinville, já estava tocando violão, e pedi para me deixarem tocar umas três ou quatro músicas en-tre as bandas, coisa de chato que pede espaço para tocar a sua música. Um dia eles cometeram o erro de deixar, e eu fui lá e toquei algumas, e quem estava lá acabou gostando bastante. Quando rolou uma festa seguinte, eles falaram: “Heitor, toca aquelas músicas suas de novo, a gente quer ouvir”. Eu fui e to-quei e foi legal. Na terceira eles pediram

até hoje. Era uma dupla que se chamava Arrotem (risos), violão e voz e uma batucada que a gente fazia com berimbau. Dois anos depois, gravei outra demo. Eu e um amigo do colégio falávamos muita besteira, e escrevíamos essas besteiras. A gente cantarolava e as pessoas ao redor, na sala de aula, já começavam a reconhecer as nossas músicas, e pensei: “Cara, vamos gravar?”. Ele tocava baixo e eu arranhava a guitarra, e marcamos um estúdio, por uma hora, pra gente ensaiar e fazer as músicas, e na hora seguinte gravar.

de novo, e o pessoal das bandas que estava lá subiu no palco pra me acompanhar. Pegaram baixo, guitarra e bateria, ficavam olhando o que eu tocava e tenta-vam acompanhar. Ficou uma… ninguém conhecia as músicas e começaram a estragar pacas o que já não era grande coisa (risos). Um dia fizeram um convite oficial para eu tocar numa festa, então chamei algumas das pessoas que tinha tocado comigo na festa anterior pra gente ensaiar. E era mais ou menos o Johnz, a banda que o Túlio, do Pagodeversions, tinha montado em Cu-ritiba. A gente ensaiou, fez esse show e no começo do ano seguinte me convidaram para fazer um show no Putz, o Festival de Cinema Universitário de Curitiba, e daí era num cinema, um show de verdade. A gente ensaiou e formatou as músicas. Ficou o Diego Garapa (baixo), o Diogo Fernandes (bateria) e o Jota (guitarra). Daí eles já botaram o arranjo deles. E quando acabou aquele show, a gente gostou do resultado. Não tinha pretensão nenhuma. Era só mais um ensaio para mais um show, e muita gente veio comentar, então decidimos continuar e gravar as músicas.

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Como você vê a carreira da banda agora nesse cenário doido que a gente está vivendo? Como você pensa o futuro da Banda Gentileza?Agora com o disco, percebemos uma ascensão nos últi-mos meses em termos de público.

Em termos de crítica também. O disco foi eleito o 11º melhor álbum de 2009 na votação do

O que você mudaria?Principalmente a voz. Foi a nossa primeira vez em estú-dio e pelo fato da gente tocar sempre em barzinho com o som sempre bizarro e sem retorno, eu não sabia como eu cantava. Quando a gente foi gravar o disco eu pensei que precisava aprender a cantar e fui fazer aula de can-to. Na primeira aula a professora falou: “Para de berrar. Agora. Pode cantar baixinho. No estúdio você aumenta o volume depois”. E então comecei a interpretar, tentar dar uma certa dinâmica para aquilo. “Preguiça”, por ex-emplo, eu acho que ficou bem boa, mas nas outras… eu poderia ter feito melhor, mas o que está no disco é bem espontâneo, sincero.

O disco Banda Gentileza foi gravado quando?Ano passado. A gente fez esse disco a jato. Decidimos que queríamos gravar um disco, e em janeiro já traçamos o cronograma do ano. Fechamos com o Plínio (Profeta, produtor), fechamos estúdio, fizemos ensaio até maio, quando o Plínio chegou para a pré-produção e em jun-ho a gente foi para o estúdio. O disco tem 12 músicas, e a gente já tinha gravado várias nos dois GGG. Decidi-mos regrava-las porque gostávamos delas. Hoje em dia, por mim, eu regravaria todas (risos)…

Nessa época o Terminal Guadalupe já tinha disco, a Poléxia já tinha disco…Eu ouvia falar, mas não ia muito atrás. Ia ver umas ban-das de fora que tocavam na cidade. O Fuck Fuckers… o Resist Control. Um pouco depois a gente gravou o primeiro EP, e ai sim, caímos pros bares e começamos a conhecer as bandas e fazer parte da cena musical de Curitiba. Antes era mais evento de faculdade mesmo.

Era uma cena mod, na verdade. Tinha Faichecleres, Dissonantes e mais trocentas bandas mod.Tinha a Reles… mas a gente não via muito, até porque não se identificava com o som.

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Mas é diferente. Pra essa nova gera-ção, da qual vocês fazem parte, o Los Hermanos bateu muito forte. Tanto que não só o “Bloco do Eu Sozinho” ganhou disparado a votação de Mel-hores da Década, como o “Ventura” ficou em segundo com uma larga vantagem. Por isso queremos saber:

Quais bandas com quem vocês tocaram juntos ou já viram ao vivo que vocês acharam fodas?Móveis Coloniais de Acaju. Você sai de casa pra ver uma parada que te deixa feliz.

E o que você pensa da banda no futuro?: A gente precisa plantar mais, precisa fazer a música chegar ás pessoas. Temos uma dificuldade muito grande de fazer show. Existe convite que a gente recusa porque não tem como faltar dois dias no trabalho. Estamos buscando meios, mas a gente também está otimista. A recepção está sendo muito boa, então o plano é continuar o trabalho. Divulgar, circular, tocar. Quando a gente de-cidiu gravar o disco, estávamos numa reunião na casa do Artur (Lipori), e conversamos: “Vai custar tanto. A gente não tem esse dinheiro. Vamos ter que fazer uma dívida. Vai valer a pena?”. A gente gravou e está acon-tecendo um monte de coisa legal. O disco não passou em branco, entrou em listas de melhores do ano, estou realizado. Agora é pensar no segundo disco…

Já que falamos do futuro, queremos saber um pouco do passado e o quan-to incomoda vocês quando alguém escreve, por exemplo, que vocês lem-bram Los Hermanos...Não tem ranço, não incomoda, mas eu fico pensando: “É só isso que ele consegue es-crever?”. Não dá para levar muito a sério um cara que escreve isso. A Adriane Perin escreveu no blog da De Inverno uma coisa legal após ter visto um show nosso: “Volta e meia comparam eles a Los Hermanos, mas não foram os Los Hermanos os primeiros a misturar rock com MPB. Por que eles não são comparados a Novos Baianos?”.

Sem pensar muito: tem uns sete mil CDs aqui. Se tivesse que pegar um e sair correndo, qual seria?Um só? Acho que iria ser o disco que mais me marcou, que é o “Roots”, do Sepultura. Marcou demais.

o Los Hermanos influenciou vocês? Quais ban-das influenciaram?Pô, foi no início da faculdade (o sucesso do Los Her-manos) e bateu muito forte. Eu não gostava do rock nacional, porque nada me agradava, não dizia nada pra mim. E fui ouvir o “Bloco” um tempo depois de lan-çado. Eu vi o clipe de “Todo Carnaval Tem Seu Fim” na MTV, numa madrugada, e fiquei pensando: “Eles estão fazendo isso?!?!”. Não tinha nada a ver com o primeiro disco, era diferente. Comecei a ouvir, ouvir e ouvir e não tinha ninguém fazendo aquilo. Tinha uma qualidade nas letras, uma preocupação estética, mas com muita espontaneidade. Aquilo é muito sincero, autêntico. Ba-teu e bateu muito forte. Havia uma comoção no país inteiro, shows lotados com todo mundo cantando de cabo a rabo todas as canções. A influência é inegável, mas não é só isso. Perguntaram pra nós, numa entre-vista, o que cada um estava ouvindo, e eu nunca tinha parado para pensar nisso, e cada um falou uma coisa diferente. Então, tem uma influência grande (de Los Hermanos), mas não é só isso. Não é difícil perceber.

Scream & Yell, sendo o melhor disco de estréia do ano...Sim, sim. A gente tocou em Joinville no fi-nal do ano e foi bem legal. Um mês depois eles nos chamaram de novo pra tocar e a gente pensou: “Faz tão pouco tempo que tocamos lá. Será que vale a pena?”. Mas fo-mos e a casa lotou e tinha fila para entrar, a galera cantando as músicas. Daí voltamos pra tocar em Curitiba. Começou tarde, bar lotado, e a mesma coisa que Joinville, galera cantando e tal. Aqui em São Paulo o lugar era grande, era no final da tarde, choveu, e mesmo assim deu um público legal. Termi-nou o show e a galera veio pra cima do pal-co conversar, comprar CD. Teve dois caras que viajaram para nos ver. É tipo um sonho de moleque de você montar uma banda e ter uma receptividade, sabe. Já estou real-izado. O trabalho agora é tentar fazer essa música chegar ao maior número de pessoas possível. Confesso que estou bem otimista e bastante animado.

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Saúde

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E já faz um tempo que o mesmo diálogo se repete:- Oi, que salgado você tem sem carne?- Olha, eu tenho aqui enroladinho de presunto e queijo, pão com salsicha... Ah

e tem também esfiha de frango!- Hum, então me vê um pão de queijo, por favor?Quem é vegetariano há algum tempo com certeza já passou por uma situação

como essa. Já corrigiu gentilmente milhares de atendentes de padarias e restaurantes explicando-lhes que presunto, salsicha e ainda mais o frango se enquadram na des-crição de carne. Ou então já passou numa padoca, verde de fome, e quando escutou a típica resposta do tiozinho do balcão e percebeu que não poderia matar sua fome com nenhuma das opções do cardápio sentiu vontade de descontar toda a sua raiva do mundo no infeliz e gritar: “TUDO ISSO TAMBÉM É CARNE, PORRA!”.

Coisas que todo vegetariano deve saberLaís Montagnana

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Eu faço parte do grupo dos vegetarianos conformados. Já perdi a paciência de ex-plicar para a mocinha da lanchonete quais alimentos são considerados carne, também já entendi que não vai adiantar nada eu ser grossa com ela, afinal ela não tem culpa se vivemos em um país onde já está enraizado o hábito de comer carne, e onde também o ser diferente causa estranhamento. Resta-me então me adaptar ao ambiente, e mesmo estando com a louca vontade de mandar pra dentro uma torta de espinafre com ricota, me contentar com o pão de queijo.

Veja bem, não sou nenhuma vegetariana militante revolucionária que quer mudar seus pensamentos e te entregar folhetos escritos “Meat is murder”. Assim como me ir-rito quando a galera carnívora faz graça do fato da minha condição “no meat” e tenta de todas a maneiras me convencer a largar dessa vida, eu entendo e respeito a sua opção de escolher se alimentar de pobres animaizinhos indefesos vítimas de abates violentos (brincadeirinha).

Só o que quero é transmitir minha humilde experiência de alguns anos sem carne (a pizza de frango da minha roomate e o hambúrguer do McDonald’s que eu ingeri durante esse período não contam porque eu estava bêbada, e bêbados lariquentos são capazes de tudo, ok?) àqueles que estão tentando tirar a carne do cardápio e não sabem como fazê-lo.

Primeiro de tudo, carne é fonte de proteína, ou seja, se você cortá-la do menu vai ter que procurar outras formas de obter proteína. A minha mais nova descoberta é a quinua. Ela é um grão que contém diferentes aminoácidos responsáveis pela formação de uma proteína completa e de boa absorção. Além disso, a quinua também é rica em vitaminas, ômega 3 e é livre da gordura saturada das carnes, que, em excesso, prejudica o coração. A aveia e a semente de linhaça também são alimentos que podem ser facilmente incluídos na sua dieta e que possuem um teor considerável de proteínas.

Aqueles que não são vegans devem agradecer ao ovo nosso de cada dia. Além de ser fonte de proteína, o ovo é rico em vitamina B12, geralmente encontrada somente nas carnes, e que ajuda a manter as células nervosas e as células vermelhas do sangue saudáveis. Só é preciso tomar cuidado com a quantidade de ovos que você consome, por causa do colesterol. O ideal é ingerir no máximo quatro ovos por semana, mas como toda a gordura fica na gema e a albumina fica na clara, você pode misturar e fazer omeletes com uma gema e duas ou mais claras. Outro ponto positivo do ovo é a sua praticidade; fala aí, você que tá saindo da casa da mamãe agora e não cozinha nada sabe ao menos fritar um ovo, né?!

E finalmente chegamos à tão falada soja! A proteína de soja é completa, de alta qualidade e digestibilidade. Ela possui um teor muito baixo de gordura, colesterol e lac-tose, além de ser rica em vitaminas do complexo B, A, E, C e possuir ótimo teor de fibras. Você pode encontrar a soja em várias opções como leite de soja, tofu, farinha, hambúr-guer, e a proteína texturizada de soja, que pode ser preparada de diferentes maneiras e é facilmente encontrada em supermercados.

Assim que eu cortei de vez a carne da minha vida, eu resolvi que não iria me per-mitir recusar, pelo menos experimentar, qualquer outro tipo de alimento que me fosse oferecido (afinal, se eu ficasse de frescurinha como “Ai, eu não como cebola, ai eu não como tomate...” eu iria acabar morrendo de fome!). E considero isso uma das partes mais legais de eu ter me tornado vegetariana, porque apesar da minha restrição com a carne, eu sou uma pessoa que come de tudo, aberta a todas as possibilidades oferecidas ao meu paladar, e que não fica bitolada no tradicional “arroz, feijão e bife” de todo o dia. MM

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Ensaio

A camiseta (famosa t-shirt) é a peça mais versátil de qualquer guarda-roupa. Democrática, veste todas as idades, grupos e classes. Anda pela aula, pela balada e pela praia sem hesitar. Passa uma mensagem, mostra seu gosto pessoal ou estampa uma ilustra-ção legal. Tudo isso por um preço baixo. Ainda precisa de mais motivos para adotar a camiseta no dia a dia? Então confira nosso ensaio.

SHIRT

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Fotos: Lucas Laronga

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Aqui estão alguns sites com camisetas bonitas, diferentes e

baratas:

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www.bancadecamisetas.com.brwww.nonsense.com.br

www.chicorei.com.brwww.elcabritoncamisetas.com.br

Mas ó, joga ‘camisetas’ no google e você vai ver que tem muito mais sites legais. Fuça lá e saia todo estiloso por aí!

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Comportamento

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A ARTE DEP.R.O.C.R.A.S.T.I.N.A.R.

Espero ter contribuído com a sua matéria. Sinceramente quando vi a rela-ção de perguntas quase deixei para responder depois, mas, como era sobre procrastinação resolvi responder de imediato. Não deixe para de-pois, senão pode ficar para nunca!”. Essa foi a resposta que recebi de um dos entrevistados, e que ilustra tão bem o que se passa na mente de

um procrastinador. Se você tem o hábito de adiar compromissos, deixar para fazer as tarefas nas vésperas da entrega ou sempre tem em mente a filosofia do “depois eu faço”, você também pode ser considerado um procrastinador. Procrastinar é adiar as-pectos relacionados a decisões, atitudes ou tarefas a serem realizadas. Como esclarece Sandro Caramaschi, professor do Departamento de Psicologia da Unesp: “Procrasti-nar é deixar para fazer depois o que você pode fazer agora”.

Entenda porque algumas pessoas tem o hábito de deixar tudo para depois.

Laís Montagnana

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Este hábito ou comportamento está ligado a fatores culturais, educativos e pessoais. Há pessoas que tendem a deixar tudo para de-pois e só cumprirem tarefas ou compromissos “na última hora”. A psicóloga e psicoterapeuta Carmen Neme explica que este comporta-mento é mais comum na fase da adolescência: “Nesta etapa do desen-volvimento, muito do tempo é ocupado com devaneios e a realidade e seus compromissos podem ficar de lado”, ela esclarece. Segundo a psicóloga, a causa da procrastinação pode ser a falta de motivação, o desinteresse pelas atividades do dia-a-dia, a dificuldade de cum-prir compromissos ou alguma doença que apresenta a procrastinação como um dos sintomas.

O procrastinador é caracterizado por ser aquela pessoa light demais, que deixa tudo para depois, não se ajusta aos prazos e que inicia um trabalho na véspera de sua entrega mesmo tendo um mês para realizá-lo. Neme cita o gato “Garfield” como um bom símbolo do procrastinador: ele demora para “pegar no tranco”.

“Encontro-me com livros começados e deixados na gaveta, correspondências antigas a descartar, roupas por serem tiradas do guarda roupa, atividades físicas que ‘segunda que vem eu começo’ e um relacionamento que vou adiando o término”, confessa a assistente financeira Sheyla Mendes, de 22 anos. Ela acredita que o brasileiro tem o hábito de deixar tudo para última hora, seja por esquecimen-to ou irresponsabilidade, e ainda comenta que recentemente quase perdeu o período de inscrição de sua pós-graduação por adiar um simples telefonema para pedir informação.

Membro da comunidade “Procrastinadores crônicos”, de um site de relacionamentos, o webdesigner Paulo César se considera um procrastinador. Ele diz que frequentemente adia tarefas apa-rentemente tediosas, e ao invés de completá-las procura fontes mo-mentâneas de prazer, “como conversar no Orkut, ver vídeos no you-tube, assistir televisão ou ir ao bar”. César conta que a procrastinação atrapalha sua rotina, tanto no cumprimento de prazos quanto na sen-sação de tranqüilidade por já ter terminado o trabalho. Pensamentos como: “Puxa, eu poderia ter terminado isso há horas!”, “Nossa, hoje eu não fiz nada!” ou “Por que raios eu não terminei isso ainda?!” são freqüentes na vida do procrastinador.

Para não deixar tudo para amanhã

O costume de sempre ficar adiando as tarefas pode prejudicar a rotina do procrastinador e provocar transtornos em seu ambiente de trabalho. Assim, o que fazer quando o hábito se transforma em pro-blema? A psicóloga Neme explica que, por ser um comportamento, a questão da disciplina na educação desde a infância é um fator impor-tante para evitar futuros procrastinadores. Ela esclarece que se deve deixar combinado as conseqüências quanto ao cumprimento de pra-zos e qualidade esperada do trabalho do educando: “O aprendizado se dá pelas conseqüências de nossos atos e não por decreto ou falatório, algumas mães se matam de falar, gritar, pedir, mas não colocam con-seqüências para os filhos, o que não resultará em aprendizagem ou

mudança de hábito”, diz ela.A ajuda médica ou psicológica

deve ser acionada quando é notado que a pessoa adia as suas ações porque ela não consegue, não tem disposição ou energia para toda e qualquer atividade, e não ape-nas para as que exigem esforço. Na pro-crastinação, a pessoa é lenta para realizar atividades que exigem esforço, mas não tem falta de energia para as prazerosas.

Na maioria dos casos a procrastina-ção em indivíduos não patológicos pode ser resolvida com uma simples tomada de decisão: Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje. O primeiro passo é definir prioridades: estabelecer o que precisa ser resolvido de imediato e o que precisa de mais tempo para uma decisão. O segundo passo é definir prazos a serem cumpridos: Se não é tomada uma atitude neste momento, deve-se estabelecer um momento para a realização da tarefa.

É fundamental aprender a ter prazer em organizar-se, cumprir os com-promissos corretamente e livrar-se da ansiedade de deixar para a última hora. Mas, se o comportamento de procrasti-nar já estiver muito arraigado a pessoa poderá precisar de ajuda para mudá-lo. A psicóloga Neme afirma que se deve pro-curar auxílio profissional na medida em que essa característica interfira na vida pessoal ou profissional do indivíduo.

“O procrastinador é caracterizado por ser aquela pessoa light demais, que deixa tudo para depois e que inicia um tra-balho na véspera de sua entrega mesmo tendo um mês para realizá-lo.”

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Cursos extras

Com o advento da internet e das redes sociais, a infor-mação ficou cada vez mais acessível e disponível em diferentes plataformas. Com isso, um bom jornalista deve entrar na dança da versatilidade e estar preparado para atuar em todos os meios, seja ele impresso, radiofônico, online ou televisivo. Para suprir as lacunas que a facul-dade pode deixar, é interessante procurar as oficinas e cursos que se aprofundem nessas áreas.Os exemplos abaixo são da Casa Midiática, que atende Bauru e região.

JORNALISMO

JORNALISMO

Como tirar o melhor proveito de sua máquina fotográfica? Essa e outras perguntas serão respondidas pelo jornalista e repórter fotográ-fico Cristiano. Na prática, ele pas-sará conceitos sobre os principais recursos e técnicas da fotografia.Na programação, serão abordados o conceito de fotojornalismo, as técnicas empregadas na construção da imagem e tudo sobre equipa-mentos fotográficos e a melhor maneira de utilizá-los. Além disso, a oficina conta com uma saída fotográfica e edição do material produzido.

Esse minicurso ensina como se portar como um telejornalista. Durante o curso, os alunos terão dicas práticas do perfil do repórter de TV, verão a importância da linguagem corporal, farão entradas ao vivo para aprender a controlar

Quantas vezes você deseja divulgar um trabalho, projeto ou alguma iniciativa que considera interes-sante, mas nem sabe por onde começar? Ou, então, entra em contato com a Imprensa mas sua abordagem não traz resultados... Se isso já aconteceu com você, aproveite a oportunidade de ouvir as dicas do jornalista Giuliano Tamura, repórter de rede da TV TEM, afiliada da Globo em Ba-uru. Em duas horas de bate papo, Tamura explicará, no dia 24/4, no auditório da APM de Bauru, o que é notícia e como tornar um assunto interessante a ponto de chamar a atenção das redações e ganhar repercussão.

Fotografia Digital e Fotojornalismo na prática

Minicurso Prático de Telejornalismo

Como virar notícia

Para saber mais, acesse:http://www.casamidiatica.com.br/agenda/

a adrenalina e aprenderão ainda como lidar com imprevistos. Por último, há a gravação dos textos e a avaliação dos exercícios.

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Ingredientes

> 3 limões> 1 lata de leite condensado> 1 caixinha de creme de leite> 1 pacote de bolacha maizena> 1 colher de manteiga

Modo de preparo

Esprema os 3 limões em uma vasilha e misture com o leite condensado. Faça isso devagar porque o limão costuma espirrar. Depois que estiver homogêneo, misture o creme de leite e raspe um pouco de casca de limão. Deixe a mistura na geladeira enquanto você prepara a massa.Para a massa, bata o pacote inteiro de bolacha maisena no liquidificador até virar uma farofa. Depois misture tudo com uma colher de manteiga até virar uma pasta. Pegue um recipiente e arrume essa massa de forma a cobrir todo o fundo e as laterais. Aperte bem para ela ficar firme. Despeje a mistura que estava na geladeira e coloque no forno por 10 minutos, só para a massa dar uma dourada. Espere esfriar um pouquinho e coloque na geladeira até gelar. Se quiser você pode ainda enfeitar a torta com pedaços de limão ou ralar mais casca por cima.Agora é só chamar os amigos para comer!

Essa é uma receita simplificada da famosa torta de limão, gostosa por equilibrar o azedinho do limão com o doce da sobremesa. Para fazê-la não é preciso ne-

nhuma habilidade ou experiên-cia na cozinha. Mais fácil não

há. E pra ficar melhor ainda, é uma receita bem barata! Pode

chamar todos os amigos!

Torta de limãoReceita

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A expressão “suar em bicas” nunca fez tanto sentido para alguém quanto sem-pre fez para ela. Num sábado insosso de preguiças acaloradas, ela se revirava

na cama, o lençol umedecido pela água quente que brotava dos seus poros. Sabia bem a fisiologia do calor: de tanto agonizar suores, ela foi estudar a fundo o processo. Entendia o mecanismo de defesa, a resposta biológica, o corpo querendo se resfriar através de movimentos desesperados de excreção de água. Só não entendia porque sentia tanto calor.

Passava as tardes de verão como uma enferma, largada na cama a base de líquidos e soros, sentindo cada poro seu querendo se abrir, quase aprendendo a falar para se livrar daquilo, de todo o suor, de toda a sensação de estar na iminência de grudar em algo ou alguém. Um banho, dois, três. Desliga o chuveiro. Mistura água com gelo. Ajusta o ar condicionado. Ventilador na cara. Suco de abacaxi. Loção refr-escante de pepino. Abre mais as janelas. Chiclete de hortelã. Chá verde. Nada fazia o calor esfriar. Dormiu querendo acordar molhada, imersa numa sensação de umidade perpétua. Queria viver todo o frescor prometido pelas publicidades de sabonete. Queria ser o próprio creme dental de menta. Ah-hhh! Refrescância, palavra bonita. Dormia devagar soletrando longamente essas sílabas, a tal ponto que achava a própria pronúncia um tanto mentolada. Acordou num movimento repentino, achando tudo estranho, sentindo um cheiro de banho recém-tomado, os poros todos arregalados, curiosos com a nova sensação.

Ela se levantou num susto, deixando a cama como quem deixa um cadáver. Não reconhecia aquele corpo que respirava, que não sofria os in-suportáveis calores de sempre, e se olhou no espe-lho como quem fita um completo estranho. Tinha a pele toda coberta de um brilho desconhecido, diferente da oleosidade habitual que carecia de ca-madas e mais camadas de pó facial para encobrir as gotículas. Este rosto de agora era fresco, gelado, molhado. Não demorou para que percebesse o corpo inteiro assim também: completamente mol-

hado. Dos seus poros não brotava mais aquele suor insípido, amarelado, cansado de tanto suar. Era uma água límpida, fina, livre.

E foi de calor em calor que ela aprendeu a apreciar seu novo estado, observando o sofrimento das pessoas que, leques em riste, lutavam para se esquivar das altas temperaturas. Para ela, ficou tudo mais simples. Podia usar as roupas que quisesse sem os arrepios quentes que vinham da sensação da camiseta encostando nas costas. O cabelo podia roçar sua nuca e os pés puderam calçar outra coisa que não fossem chinelos. Seu luxo maior passou a ser tomar cappuccino em pleno verão, ou fechar as janelas da casa toda sem se sentir sufocada. En-quanto os pobres mortais agonizavam em camisas em sopa e bigodes de suor, ela reinava, solene, em seu frescor absoluto.

Com o tempo, porém, a coisa foi saindo do controle. Seu sofá mais parecia uma poça e suas roupas preferidas cheiravam a mofo. O cabelo ficou intolerante a penteados e nenhuma das pessoas que convivia com ela conseguia disfarçar o olhar per-plexo, a vontade de querer decifrar a fonte da eterna umidade. Já não era tão legal ser molhada. Saía dos seus banhos com total indiferença. O mar não tinha mais graça. O primeiro gole de cerveja não surtia o mesmo efeito e nem correr na chuva e sentir os sapatos enxarcarem fazia algum sentido. Lavar o rosto não descansava seus calores. Não tinha mais suores para secar, nem desconforto para resolver: vivendo em seu frescor constante, desaprendeu o que era alívio. Era, e por isso não sabia mais o que era apenas estar. Estar molhada, estar seca, estar feliz. Dormiu com esforço e despencou num sono profundo, sonhando com lençóis quentinhos chei-rando a aloe vera. Acordou praguejando o desper-tador, quebrado havia dois dias. Sentindo seu corpo todo acalorado e embrulhado naquele conhecido desconforto, re-acostumou seu corpo ao alento dos ventos que sopravam da janela. Largada na cama, a base de líquidos e soros, já não era o mesmo vento que sentir evaporar seus suores naquela candente manhã de domingo.

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Renata Penzani

Crônica

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