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Melhoramento genético do cajueiro PARTE 7 Foto: Ana Cecília Ribeiro de Castro

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Melhoramento genético do cajueiro

Parte 7

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Ana Cecília Ribeiro de CastroRavena Ferreira VidalLevi de Moura BarrosFrancisco das Chagas Vidal NetoPatrícia do Nascimento BordalloFernando Antonio Souza de Aragão

Introdução, coleta e conservação de recursos genéticos do cajueiro

Resumo: A introdução, coleta e conservação de recursos genéticos é uma atividade de extrema importância para a preservação das espécies e como fonte de variabilidade genética para os programas de melhoramento. Para o cajueiro, principal matéria-prima da agroindústria do caju, de grande importância para a economia da região Nordeste, justifica-se a necessidade de coletar, conhecer, avaliar e usar a base genética disponível no território brasileiro. Uma importante amostra dessa variabilidade genética encontra-se no Banco Ativo de Germoplasma de Caju (BAG Caju), mantido pela Embrapa Agroindústria Tropical, em Pacajus, CE. Sendo a diversidade genética a principal ferramenta para o sucesso evolutivo e adaptativo de uma espécie, presume-se que ampliação e uso da variabilidade permite a orientação de cruzamentos que resultarão em genótipos agronomicamente superiores. No Brasil, a cultura do cajueiro passa por acelerado processo de substituição de plantas e copas em seus pomares, e pela introdução de cultivo de clones melhorados, o que restringe a variabilidade genética existente nos pomares de cajueiros-comuns plantados por sementes. Portanto, a execução de programas de coleta e conservação de germoplasma do cajueiro deve ser prioritária e urgente. A abordagem apresentada neste capítulo contempla a conservação e utilização da variabilidade genética do cajueiro, a caracterização morfológica e documentação, a coleta e conservação do germoplasma coletado, a metodologia para coleta e transporte de garfos de plantas a serem propagadas, além da contribuição dos recursos genéticos para os programas de melhoramento de caju.

Capítulo1

IntroduçãoA importância da agroindústria do caju para a economia da região Nordeste,

associada à expansão do cultivo em diversos ecossistemas, amplia a necessidade de conhecer, avaliar e usar a base genética disponível e vinculada ao Banco Ativo de Germoplasma de Caju.

O cajueiro, planta alógama e perene, demanda amostras de sementes de diferentes origens e tamanhos que representem adequadamente a variabilidade genética contida nas populações naturais para o sucesso dos programas de melhoramento. Por esse motivo, a atividade de conservação de germoplasma é altamente importante para o programa de melhoramento genético dessa espécie.

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470 Parte 7 Melhoramento genético do cajueiro

O modelo tradicional de conservação de recursos genéticos de caju é o que contempla a coleta, conservação, caracterização morfológica e documentação. Como a maioria das entradas de germoplasma foi por sementes, há necessidade de um número relativamente alto de plantas por acesso, o que resulta em elevados custos de manutenção da coleção no campo. Associado a isso, o número de descritores atualmente utilizados tem resultado em baixa eficiência na caracterização em campo e, como consequência, limitado o uso dos recursos genéticos disponíveis e sinalizado para a mudança de enfoque na forma atual de condução do programa de recursos genéticos do cajueiro.

A ênfase na conservação de recursos genéticos é coletar e conservar o máximo de variabilidade genética. Para que isso seja viável, há necessidade de aumentar a eficiência das ações de coleta, caracterização e uso do caju.

Conservação e utilização da variabilidade genética do cajueiro

O melhoramento convencional de plantas tem dado significativas contribuições ao setor produtivo dos agronegócios mais importantes, por meio de notáveis ganhos de produtividade agrícola, notadamente nos países desenvolvidos. O maior número de exemplos advém de espécies anuais cultivadas em zonas temperadas.

Com as plantas tropicais, e mais particularmente com as espécies perenes, os avanços obtidos pelo melhoramento de plantas são menos expressivos, apesar do potencial de diversas espécies com disponibilidade de diversidade genética em níveis favoráveis para ganhos mais significativos. Um exemplo é o cajueiro propagado naturalmente por sementes, que tem, nos pomares comerciais, acentuada variabilidade genética para os caracteres de interesse comercial, relacionados tanto à planta como à inflorescência e ao fruto completo (castanha e pedúnculo). Presume--se que essa variabilidade genética permite a orientação de cruzamentos com a finalidade de obter genótipos agronomicamente superiores, passíveis de resultar em variedades comerciais com tolerância/resistência a estresses bióticos e abióticos, com capacidade adaptativa a diferentes ambientes, mais produtivas e que atendam a qualidade exigida pelo mercado consumidor, tanto para a amêndoa quanto para o aproveitamento do pedúnculo.

Sendo a diversidade genética a principal ferramenta para o sucesso evolutivo e adaptativo de uma espécie, o conhecimento, disponibilidade e conservação de genótipos de interesse constitui objetivo básico de qualquer programa de recursos genéticos. A competente utilização dos recursos, por meio de estudos genéticos básicos e eficientes estratégias de melhoramento, é o caminho do sucesso nas novas obtenções. Para isso, é imprescindível que haja coleções formadas, mantidas

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e complementadas por introduções constantes, com maior número possível de indivíduos geneticamente diferentes.

O programa de conservação de germoplasma do cajueiro abrange a coleta, conservação, caracterização, avaliação e utilização da variabilidade existente para uso em programas de melhoramento. Porém, diversos fatores têm contribuído para o comprometimento dos recursos genéticos da espécie, entre os quais se destacam a pressão de uso da terra para a atividade agropecuária, a abertura de estradas e rodovias, a exploração madeireira e de recursos minerais e, até mesmo, o crescimento urbano das cidades, colocando em risco esses valiosos recursos.

Caracterização morfológica e documentação Atualmente, são conservados, pela Embrapa Agroindústria Tropical, 588

acessos de cajueiro, dos quais 538 são da espécie Anacardium occidentale. A coleção é mantida em campo, na Estação Experimental de Pacajus, CE, com coordenadas geográficas de 4o11’07’’S, 38o30’07’’W e altitude de 70 metros acima do nível do mar. A região apresenta tipo climático tropical quente, semiárido brando e tropical quente subúmido, com pluviosidade média de 791,4 mm ao ano e temperaturas médias de 26 oC a 28 oC.

É necessária a caracterização e correta documentação do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de caju para melhor utilização dos seus recursos genéticos pela comunidade científica, principalmente em programas de melhoramento genético, bem como a sua exploração comercial. O germoplasma sem uso representa gasto elevado de manutenção sem retorno à instituição.

A caracterização morfológica e a avaliação agronômica das plantas de cajueiro do BAG de caju são realizadas a partir da lista de 35 descritores estabelecidos para o cajueiro, que incluem características vegetativas, caracteres da planta e indicadores agroindustriais do fruto. As observações são realizadas em 10 plantas, quando possível, em épocas de avaliação específicas para cada descritor.

A estratégia atual é a aplicação dos descritores em um grupo limitado de acessos, a cada ano. Porém, verifica-se que os descritores relacionados aos frutos ficam, em geral, incompletos, pois muitas plantas mais velhas ou vindas de outras regiões não florescem ou não frutificam, demandando monitoramento por vários anos.

Por exemplo, no estudo inicial do campo de acessos “Materiais Diversos” implantado em 1994 no campo experimental de Pacajus, foram avaliadas quatro características relacionadas à lista de descritores do cajueiro, estabelecida pelo Centro Internacional para os Recursos Genéticos Vegetais (IBPGR), referentes a caracteres vegetativos de 317 plantas oriundas de diferentes cruzamentos.

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Os caracteres avaliados foram formato de folha (Figura 1), cor de folha madura (Figura 2), área foliar e presença das doenças mofo-preto e antracnose (Figura 3).

Figura 1. Formato da folha do Campo “Materiais Diversos”, implantado em 1994.

Oval Obovada

44%

56%

Verde-escuro Verde

28%

72%

Figura 2. Cor da folha madura do Campo “Materiais Diversos”, implantado em 1994.

Os resultados obtidos, juntamente com os subsequentes, que deverão ser avaliados no período de frutificação, serão utilizados para identificação de materiais. À medida que as avaliações são realizadas, os dados vão sendo arquivados.

Para a caracterização morfológica de acessos do Campo C-2, implantado em 1985 com 47 acessos e 288 plantas, oriundos do Cerrado brasileiro (Tabela 1), são apresentados dados acumulados de vários anos de avaliação (2007-2010).

Média de antracnose Média de mofo-preto

Média de antracnose Média de mofo-preto

1,74

Figura 3. Presença de antracnose e mofo-preto no Campo “Materiais Diversos”, implantado em 1994.

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473Capítulo 1 Introdução, coleta e conservação de recursos genéticos do cajueiro

Tabela 1. Acessos do Campo C-2, implantado em 1985 com 47 acessos, número de registro e local de coleta.

Acesso Espécie Local da coleta1 a 10 BRA 2704 Anacardium sp. Cristiano Castro PI

11 a 16 BRA 1805 Anacardium sp. Taiano RR17 a 57 BRA 2569 A. othonianum Campos Belos GO58 a 64 BRA 2313 A. humile S. João da Aliança GO65 a 91 BRA 2356 A. humile Cavalcante GO92 a 93 BRA 4821 A. spruceanum Inpa AM94 a 96 BRA 2658 A. humile Posse GO

97 a 112 2356 A. humile Cavalcante GO113 a 119 2631 A. othonianum São Domingos GO120 a 127 2305 A. humile S. João da Aliança GO

128 Anacardium sp.129 a 130 2682 Anacardium sp. Igaporã BA131 a 136 2283 A. humile S. João da Aliança GO137 a 144 2551 A. othonianum Arraias TO145 a 149 2615 A. othonianum Galheiro GO150 a 154 2534 A. othonianum Arraias GO155 a 160 2445 A. othonianum Cavalcante GO

161 2453 A. othonianum Cavalcante GO162 a 163 2348 A. humile Alto Paraíso GO164 a 166 4821 A. spruceanum Inpa167 a 169 2348 A. humile Alto Paraíso GO170 a 176 2402 A. othonianum Cavalcante GO177 a 182 2542 A. othonianum Cavalcante GO183 a 187 2488 A. othonianum Cavalcante GO188 a 192 2232 A. occidentale Colider MT193 a 200 2691 Anacardium sp. Cristalina GO201 a 208 2208 A. occidentale Itaiatuba PA209 a 214 2712 Anacardium sp. Eliseu Martins PI215 a 223 2445 A. othonianum Cavalcante GO

224 2500 A. othonianum Monte Alegre GO225 a 227 2241 A. othonianum Barra do Garças MT228 a 234 BRA 2640 A. humile Iaciara GO235 a 240 BRA 2267 A. occidentale Santa Terezinha MT241 a 244 BRA 2224 A. occidentale Itaiatuba PA245 a 248 BRA 2216 A. occidentale Itaiatuba PA249 a 255 BRA 2429 A. othonianum Cavalcante GO

256 BRA 2500 A. othonianum Monte Alegre GO257 a 260 BRA 2330 A. othonianum Alto Paraíso GO261 a 264 BRA 2518 A. othonianum Monte Alegre GO265 a 268 BRA 4821 Anacardium sp. Inpa AM269 a 272 BRA 2607 A. othonianum Campos Belos GO273 a 279 BRA 2259 A. othonianum Tucuruí PA280 a 281 BRA 2275 A. othonianum Água Boa MT282 a 283 BRA 2461 A. othonianum Cavalcante GO284 a 286 BRA 2399 A. othonianum Cavalcante GO287 a 288 BRA 00264 A. othonianum Cavalcante GO

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474 Parte 7 Melhoramento genético do cajueiro

Os dados de caracterização morfológica coletados de 44 acessos desse campo foram organizados e tabulados. Na Tabela 2, são apresentados os dados da caracterização morfológica, referentes a caracteres do fruto, formato e cor de pedúnculo maduro.

Tabela 2. Resumo da caracterização morfológica do Campo C-2 implantado em 1985 na Estação Experimental de Pacajus, CE.

Descritor Tipo (%)Espécie

A. humile A. occidentale A. othonianum Anacardium sp.

Planta

Altura

Anã(< 2,5 m) 72 0 17 0

Semialta (2,5 m - 6,0 m) 28 40 66 34

Alta(> 6,0 m) 0 60 17 66

HábitoEreta e compacta 0 40 54 8

Ereta e aberta 0 60 42 92Espalhada 100 0 4 0

Formato da folha

Oval 0 40 4 0Obovada 100 60 96 100

Cor da folha madura

Verde 75 80 79 75Verde-escuro 25 20 21 25

Cor da folha jovem

Verde-claro 0 20 14 0Verde-amarronzado 9 0 15 16,6Verde-avermelhado 82 80 66 75

Vermelho 9 0 5 8,4

Fragilidade da folha

Frágil 0 60 25 83,3Flexível 100 40 75 16,7

Pedúnculo

Cor

Laranja 0 75 0 62,5

Amarelo com ornamentação laranja 0 25 0 12,5

Amarelo 0 0 0 25Vermelho-claro 50 0 50 0

Vermelho-escuro 50 0 50 0

Formato

Redondo 50 50 50 25Piriforme 0 25 0 0Cilíndrico 0 25 0 12,5

Obovado cônico 50 0 50 62,5

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475Capítulo 1 Introdução, coleta e conservação de recursos genéticos do cajueiro

Vermelho-escuro

Amarelo

Laranja

Vermelho-claro

Amarelo comornamentação laranja

Vermelho-escuro

Amarelo

Laranja

Vermelho-claro

Amarelo comornamentação laranja

Figura 5. Cor de pedúnculo maduro das espécies A. humile e A. occidentale avaliadas do Campo C-2, implantado em 1985.

50% 50%

Figura 4. Variabilidade de cajus (pedúnculos e castanhas) maduros das espécies Anacardium ssp. avaliadas do Campo C-2, implantado em 1985.

Cor de pedúnculo maduro - Espécie A. humile Cor de pedúnculo maduro - Espécie A. occidentale

A coloração dos pedúnculos maduros das espécies A. humile, A. occidentale, Anacardium ssp. e A. othonianum variou em amarelo, amarelo com ornamentação avermelhada, amarelo alaranjado, laranja, laranja-claro, vermelho, vermelho-claro ou vermelho-escuro (Figuras 5 e 6).

Foto

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stro

A Figura 4 apresenta uma amostragem da variabilidade genética de tamanho e cor do pedúnculo e da castanha-de-caju.

25%

75%

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476 Parte 7 Melhoramento genético do cajueiro

Vermelho-escuroAmareloLaranja

Vermelho-claro

Amarelo comornamentação laranja

50% 50%

Vermelho-escuro

AmareloLaranja

Vermelho-claro

Amarelo comornamentação laranja

Figura 6. Cor de pedúnculo maduro das espécies Anacardium sp. e A. othonianum avaliadas do Campo C-2, implantado em 1985.

Quanto ao formato do pedúnculo das espécies A. humile, A. occidentale, Anacardium sp. e A. othonianum, foram observados pedúnculos redondos, piriformes, cilíndricos e cônicos obovados (Figura 7).

CilíndricoRedondo PiriformeCônico obovado

Figura 7. Formato de pedúnculo das espécies A. humile, A. occidentale, Anacardium ssp. e A. othonianum avaliadas do Campo C-2, implantado em 1985.

Cor de pedúnculo maduro - Espécie Anacardium ssp. Cor de pedúnculo maduro - Espécie A. othonianum

Formato de pedúnculo - Espécie A. humile Formato de pedúnculo - Espécie A. occidentale

CilíndricoRedondo PiriformeCônico obovado

CilíndricoRedondo PiriformeCônico obovado

Formato de pedúnculo - Espécie A. othonianum

CilíndricoRedondo PiriformeCônico obovado

Formato de pedúnculo - Espécie Anacardium ssp.

50% 50%

50%50%

25%

25%

50%

25%

63% 12%

13% 62%

25%

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477Capítulo 1 Introdução, coleta e conservação de recursos genéticos do cajueiro

Os dados de passaporte dos acessos estão organizados em planilhas eletrônicas, e o inventário das coleções, documentados no Sistema de Curadorias da Embrapa. Os dados de caracterização obtidos estão sendo usados para estudos de divergência genética.

Coleta e conservação Cerca de 70% dos acessos são oriundos do Ceará. O restante é proveniente dos

outros estados do Brasil (PA, MT, BA, SP, PI, RN, RR e GO). A coleta de germoplasma de caju, primeira atribuição da curadoria, é feita

pela obtenção de sementes. Tendo em vista que o cajueiro é uma espécie alógama, ou seja, com alto grau de heterozigose, é necessário grande número de indivíduos para representar a variabilidade. Além de elevar o custo de manutenção do campo, isso prejudica as etapas de avaliação e caracterização, geralmente pela carência de recursos humanos para exercer essas atividades.

Técnicas de conservação de garfos vêm sendo estudadas para aumentar a viabilidade deles, entre a coleta e o preparo de mudas, facilitando, assim, o manejo do BAG de caju.

Metodologia para coleta e transporte de garfos Populações naturais de cajueiro apresentam grande variação quanto à

época de floração e frutificação, sendo a intensidade desses fatores relacionada às condições climáticas anuais. Por isso, nem sempre se encontram, numa determinada população, indivíduos em fase reprodutiva, especialmente em frutificação, dificultando as coletas de frutos. Nesse caso, o uso de técnicas de reprodução assexuada pode viabilizar a coleta, bem como permitir a manutenção e multiplicação de um genótipo (WALTER; CAVALCANTI, 2005).

A enxertia constitui uma prática comum em espécies frutíferas. A utilização desse método permite a reprodução integral do genótipo e possibilita que as plantas entrem em fase de produção mais cedo (CARVALHO et al., 2000).

Tendo em vista que é fácil a enxertia por garfagem no cajueiro, é possível e importante empregar esse método em coletas efetuadas em locais próximos à base física da coleção, e, quando isso não for possível, o transporte dos garfos coletados deve ser o mais rápido possível. Isso porque o potencial de pegamento, que supera a 80% imediatamente após a coleta, diminui rapidamente nos dias subsequentes à coleta. Daí a necessidade de rápido retorno ao local de enxertia para garantia do pegamento dos enxertos. Tal fator é limitante para o caso de viagens de coletas mais demoradas, o que força a preferência de coleta por sementes.

A durabilidade dos garfos de cajueiro é de, no máximo, 5 dias, e já com perda acentuada do potencial de pegamento. Assim, nesse intervalo, deve ocorrer a

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478 Parte 7 Melhoramento genético do cajueiro

coleta, transporte e enxertia. Para isso, é fundamental adotar as medidas conhecidas de coleta, acondicionamento e transporte dos garfos para melhor conservação, aumentando a viabilidade deles e facilitando o manejo das atividades do BAG de caju.

Com base nisso, foi planejado um ensaio cujo objetivo era avaliar conservação e viabilidade de garfos de cajueiro submetidos a diferentes acondicionamentos. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com esquema fatorial 5x2x2x3 (Tabela 3), com o total de 20 tratamentos e dois grupos controles (Controle – garfos sem nenhum tratamento, e Controle Absoluto – garfos enxertados imediatamente após a coleta).

Tabela 3. Descrição do esquema fatorial utilizado para a montagem dos tratamentos do experimento de preservação de garfos de cajueiro.

Fator Descrição do fator

Tipos de acondicionamento

1 - Garfos envoltos em jornal umedecido2 - Garfos envoltos em jornal e saco plástico PVC umedecidos3 - Garfos envoltos em saco plástico umedecido4 - Garfos envoltos em saco plástico com polímero retentor de água5 - Garfos encobertos com vermiculita umedecida

Refrigeração 1 - Com refrigeração (placas de gelo dentro das caixas de isopor)2 - Sem refrigeração

Imersão em solução antioxidante

1 - Com solução antioxidante (150 mg L-1 de ácido ascórbico + 25 mg L-1 de ácido cítrico + 2 mg L-1 de L-cisteína (ZACCARO, 2006)

2 - Sem solução antioxidante

Intervalo entre a coleta e a enxertia

1 - 24 horas2 - 120 horas3 - 240 horas

Inicialmente, foram coletados garfos com 15 cm de comprimento de ramos ponteiros de plantas-matrizes de Anacardium occidentale (‘CCP 76’), removendo-se as folhas, e em seguida etiquetados e acondicionados em caixas de isopor. Para cada intervalo entre a coleta e enxertia, os garfos eram enxertados por meio de garfagem com fenda lateral em porta-enxerto de mudas (clone ‘CCP 76’) feitas a partir de sementes e com 90 dias de idade da planta após o plantio. A avaliação semanal das mudas era iniciada no 15o dia após a enxertia (DAE) dos garfos até os 60 DAE.

Notou-se que, de modo geral, maiores intervalos (120 e 240 horas) entre a coleta e enxertia resultaram em menor sobrevivência das estacas em relação aos garfos enxertados em até 24 horas. Por outro lado, não foram observadas diferenças quanto ao número médio de folhas (5,31) e o comprimento dos garfos (19,98 cm) aos 60 DAE, entre todos os tratamentos e intervalos para enxertia avaliados.

O grupo Controle Absoluto apresentou 0% de mortalidade, o que já era esperado, uma vez que esses garfos não passaram pelo estresse do acondicionamento após o corte, no período entre a coleta e a enxertia.

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479Capítulo 1 Introdução, coleta e conservação de recursos genéticos do cajueiro

Observou-se que a mortalidade dos garfos, em valores percentuais, foi menor nos tratamentos jornal + antioxidante sem gelo e jornal + saco plástico + antioxidante sem gelo, com apenas 9,53% de estacas mortas. Todos os tratamentos que envolveram uso de refrigeração tiveram comprometimento na sobrevida das estacas, com índices de mortalidade em torno de 60%.

A armazenagem prolongada em temperaturas próximas a 2 °C pode levar ao aparecimento de severos danos em decorrência do frio, em especial para materiais de origem tropical, como o caju.

A boa conservação dos materiais vegetais está relacionada à umidade, entretanto altos índices podem criar ambiente ideal ao desenvolvimento de microrganismos e apodrecimento e morte dos tecidos da planta. Neste trabalho, percebeu-se que a presença das placas de gelo acarretava o aumento de umidade no meio de acondicionamento, fato que pode ter contribuído com a baixa taxa de pegamento.

A partir desses resultados, foi conduzido o experimento II, eliminando-se os tratamentos menos efetivos na conservação e o fator refrigeração.

No segundo experimento, os garfos foram submetidos ao acondicionamento do tipo jornal úmido envolto por sacos plásticos; aplicação de três diferentes soluções de antioxidante nos garfos; e três intervalos para a enxertia (0, 10 e 15 dias), sendo montado em delineamento inteiramente casualizado, com esquema fatorial 4x3 (Tabela 4), constando ao final de 9 tratamentos e 2 grupos controle. Todos os garfos foram armazenados em recipientes de poliestirenos sem refrigeração e os dois grupos controle foram os mesmos do experimento I.

Tabela 4. Descrição do esquema fatorial utilizado para a montagem dos tratamentos do experimento de preservação de garfos de caju.

Fator Descrição do fator

Solução antioxidante

1 - Sem solução conservante (SSC)2 - Solução conservante 1: 150 mg L-1 de ácido ascórbico

+ 25 mg L-1 de ácido cítrico + 2 mg L-1 de L-cisteína (SC1)3 - Solução conservante 2: 150 mg L-1 de ácido ascórbico (SC2)4 - Solução conservante 3: 1.500 mg L-1 de ácido ascórbico (SC3)

Intervalo de acondicionamento (da coleta até a enxertia)

1 - Sem acondicionamento (SA)2 - 10 dias (A1)3 - 15 dias (A2)

A aplicação dos tratamentos constou de imersão em um recipiente de plástico contendo cada solução correspondente ao tratamento empregado, sendo a primei- ra solução composta por 15 mg L-1 de ácido ascórbico, a segunda por 150 mg L-1

de ácido ascórbico, 25 mg L-1 de ácido cítrico e 2 mg L-1 de L-cisteína, a terceira composta por 1.500 mg L-1 de ácido ascórbico (adaptado de ZACCARO et al., 2006).

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480 Parte 7 Melhoramento genético do cajueiro

Para os garfos armazenados por 15 dias até a enxertia, o melhor resultado para pegamento foi com garfos imersos em solução antioxidante de 150 mg L-1 de ácido ascórbico, com obtenção de 85,7% de pegamento. Os resultados mostraram que é possível prolongar a viabilidade dos garfos de cajueiro com o uso de métodos adequados de acondicionamento e de aplicação de solução antioxidante, proporcionando ganho de tempo entre a coleta e enxertia de garfos de cajueiro. Porém, outros trabalhos devem ser elaborados para o aperfeiçoamento da utilização de soluções antioxidantes na conservação de garfos para o uso na enxertia.

Contribuição dos recursos genéticosPara cajucultura, vários foram os caracteres melhorados com aporte genético

oriundo do Banco Ativo de Germoplasma de Caju da Embrapa Agroindústria Tropical, destacando-se: os aumentos da produtividade, qualidade do pedúnculo e peso da amêndoa; resistência a doenças; redução do porte da planta; maior precocidade e alongamento do período de frutificação. Dentre os diversos clones comerciais, destacam-se o ‘CCP 06’, ‘CCP 09’, ‘CCP 76’, ‘CCP 1001’, ‘Embrapa 51’ e ‘BRS 226’ (PAIVA et al., 2003).

Dispõe-se, atualmente, de um grande pomar com recursos genéticos, de valor inestimável para o sistema nacional de pesquisa, uma vez que, além de sua importância para agricultura, essa fruteira é uma das poucas que resistem à aridez e se mantêm verdes em tempos de seca. Deve-se enfatizar, no entanto, que ainda existe uma vasta variabilidade genética pouco explorada.

Nesse contexto, destaca-se a importância da curadoria do banco, por meio de ações inovadoras de coleta, novos usos e caracterização, para potencializar programas de melhoramento e, assim, ampliar as chances de obter ganhos genéticos para as características de importância econômica.

ReferênciasCARVALHO, J. E. U.; RIBEIRO, M. A. C.; NASCIMENTO, W. M. O.; MULLER, C.N. Enxertia da gravioleira (Annona muricata L.) em porta-enxertos dos gêneros Annona e Rollinia. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2000. 4 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Comunicado técnico, 27).

PAIVA, J. R.; CRISÓSTOMO, J. R.; BARROS, L. M. Recursos genéticos do cajueiro: coleta, conservação, caracterização e utilização. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2003. 43 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Documentos, 65).

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