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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE MEIO AMBIENTE EM CRISE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: OS NOVOS RUMOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Por: Ana Paula de Alencar Vieira Professor Orientador: Antônio Fernando Vieira Ney Rio de Janeiro - RJ 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MMEEIIOO AAMMBBIIEENNTTEE EEMM CCRRIISSEE EE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO

SSUUSSTTEENNTTÁÁVVEELL:: OOSS NNOOVVOOSS RRUUMMOOSS DDAA

EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL

Por: Ana Paula de Alencar Vieira

Professor Orientador: Antônio Fernando Vieira Ney

Rio de Janeiro - RJ

2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

MMEEIIOO AAMMBBIIEENNTTEE EEMM CCRRIISSEE EE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO

SSUUSSTTEENNTTÁÁVVEELL:: OOSS NNOOVVOOSS RRUUMMOOSS DDAA

EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL

Ana Paula de Alencar Vieira

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para

a conclusão do Curso de Pós-Graduação

“Lato Sensu” em Docência do Ensino

Superior.

Rio de Janeiro - RJ

2004

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me permitir existir.

A minha família, especialmente meus pais,

pois sem eles não estaria aqui.

A minha amiga Leila Clara pelo incentivo e

companheirismo durante o curso.

À Universidade Cândido Mendes.

Ao orientador Professor Antônio Ney.

Aos demais professores e colegas do Curso.

A todos os que direta ou indiretamente

contribuíram para a realização desta

pesquisa.

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DEDICATÓRIA

Aos ambientalistas e educadores ambientais

que trabalham anônima e, arduamente, em

prol da natureza e que serão os responsáveis

pelos resultados tão sonhados pela sociedade

que busca o desenvolvimento sustentável.

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RESUMO

O grande crescimento demográfico aliado ao acelerado processo de

urbanização e a incessante industrialização provocaram mudanças nos

padrões de consumo do homem e nas relações estabelecidas entre o homem e

a natureza, o que vem colocando em risco a continuidade da vida no planeta. O

crescimento econômico em bases capitalistas apresenta um custo sócio-

ambiental que pode ser traduzido em sérios problemas ambientais, como

poluição, destruição da camada de ozônio, efeito estufa, desmatamento,

desertificação, extinção de espécies, exaustão dos recursos naturais, produção

de lixo, entre outros. Além da crise ambiental, são observados problemas

sociais, como concentração de renda, pobreza, fome, violência e exclusão

social. Desse modo, a Educação Ambiental surgiu como instrumento

fundamental para o exercício da cidadania, para o desenvolvimento da

conscientização ambiental e a implementação do desenvolvimento sustentável,

visando criar uma sociedade mais justa, participativa e reflexiva, preocupada

com a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida das

gerações presentes e futuras. Este trabalho apresenta uma caracterização

histórica e conceitual do tema no âmbito mundial e nacional, considerando as

legislações pertinentes e a forma como vem sendo sistematizada no currículo

escolar brasileiro. Além disso, procura mostrar o novo papel da Educação

Ambiental, seu caráter interdisciplinar, ético e transformador, que ultrapassa o

simples reducionismo das questões ambientais e exige práticas pedagógicas

mais inovadoras, capacitação dos professores e compromisso do poder público

para que seja possível desenvolver uma educação para sustentabilidade,

voltada para formação do cidadão com consciência crítica, capaz de interferir

na sua realidade de forma responsável e solidária.

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EPÍGRAFE

“... Não podemos cometer o erro de subordinar a luta

em defesa da natureza às mudanças nas estruturas

injustas de nossa sociedade, pois devem ser lutas

interligadas e simultâneas, já que de nada adianta

alcançarmos toda a riqueza do mundo, ou toda a

justiça social que sonhamos, se o planeta tornar-se

incapaz de sustentar a vida humana com qualidade”

(Vilmar Berna – Como Fazer Educação Ambiental).

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METODOLOGIA

Diante da intensa degradação do meio ambiente, agravada nas

últimas décadas pelo aumento demográfico, emissão de gases poluentes de

várias naturezas, industrialização, desmatamentos e poluição da água potável,

a Educação Ambiental se tornou o principal instrumento que possibilita o

resgate ou a elaboração de valores fundamentais do cidadão, proporcionando

uma relação mais solidária e cooperativa dos seres humanos entre si e com o

meio ambiente.

A principal função do trabalho educacional com o tema Meio

Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir

e a atuar na realidade sócio-ambiental de modo comprometido com a vida para

garantir a existência de um meio ambiente saudável com boa qualidade de vida

e bem-estar de cada um e da sociedade local e global.

O delineamento adotado para o desenvolvimento da presente

pesquisa foi caracterizado por um estudo teórico através de uma pesquisa

bibliográfica realizada a partir de um levantamento da literatura já publicada, na

forma de livros, revistas, periódicos, dissertações, teses e Internet, objetivando

esclarecer conceitos relativos ao tema.

“Numa iniciativa inovadora, pretende-se trabalhar a Educação Ambiental como instrumento de transformação cultural e social, à luz os princípios de eqüidade social e prudência ecológica, com base numa relação harmoniosa sociedade–natureza e no fortalecimento da solidariedade com as atuais e futuras gerações” (VIOLA et al – 1995).

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SUMÁRIO

RESUMO 05

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I – Evolução histórica da Educação Ambiental Internacional 12

CAPÍTULO II – Evolução histórica da Educação Ambiental Brasileira 31

CAPÍTULO III – Evolução Conceitual da Educação Ambiental 45

CAPÍTULO IV – A crise ambiental 54

CAPÍTULO V – Educação Ambiental e Cidadania 73

CAPÍTULO VI – Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 79

CAPÍTULO VII – Os novos rumos da Educação Ambiental no Brasil 88

CONCLUSÃO 101

BIBLIOGRAFIA 105

ANEXOS 109

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INTRODUÇÃO

A relação homem–natureza ocorre através de um dinâmico e

contínuo processo de construção. Nesse processo, o homem vem agindo de

forma predatória sobre a natureza e o meio ambiente, desprezando o fato de

que são finitos os recursos naturais do planeta, sem nenhum compromisso

moral com o equilíbrio dos ecossistemas e com as gerações futuras.

O crescimento acelerado da população do planeta juntamente

com o intenso processo de industrialização, urbanização e o desenvolvimento

tecnológico, ocorrido no último século e acentuado após a 2ª guerra mundial,

impôs a criação de novas opções de consumo ao homem, gerando muitos

problemas ao meio ambiente e conseqüentemente ao próprio ser humano.

Tais mudanças tecnológicas e industriais definiram historicamente

as transformações culturais das sociedades contemporâneas. Por exemplo, as

relações capitalistas entre produção e consumo se intensificaram e o mercado

cresceu, aumentando o número de produtos disponíveis para consumo. No

entanto, a produção dos bens de consumo é apenas voltada para o bem-estar

e o conforto daqueles que podem consumir.

Apesar do progresso tecnológico e científico, o desenvolvimento

econômico em bases capitalistas tem um custo sócio-ambiental que deve ser

considerado. Observa-se a exaustão dos recursos naturais, a concentração da

renda e a criação de níveis de exploração e pobreza indesejáveis Então, é

necessário refletir sobre as seguintes perguntas: Até que ponto esse

desenvolvimento é sustentável? Até que ponto o modelo de sociedade que

estamos construindo é sustentável? O que podemos ou devemos fazer para

construir uma sociedade sustentável?

Infelizmente, o homem ainda continua interferindo em ciclos da

natureza que levaram de milhões a bilhões de anos interagindo em harmonia e

que contribuíram para formar as atuais condições de vida do planeta. Tais

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intervenções humanas têm se traduzido em problemas como: extinção de

espécies, mudanças climáticas, poluição do solo, das águas, do ar, exaustão

de recursos naturais, desertificação, intensa produção de lixo e agravamento

das condições de saúde da população mundial.

Nos últimos anos a questão ambiental vem sendo amplamente

discutida em conferências e congressos internacionais, bem como entre

diversos segmentos da sociedade, embora ainda sejam necessários ações e

programas educativos que desenvolvam a consciência ecológica e conduzam a

uma convivência harmônica do homem com a natureza. Aliado às inúmeras

medidas preventivas e punitivas estabelecidas pela legislação, surge então, a

Educação Ambiental como elemento fundamental na luta pelo desenvolvimento

sustentável, pela preservação e melhor ocupação do meio ambiente.

A consciência dos riscos sócio-ambientais derivados dos avanços

da modernidade possibilita a elaboração de processos pedagógicos que

promovam mudanças de comportamentos, atitudes e ações políticas do plano

local ao global, em direção a um projeto de sociedade capaz de conciliar

desenvolvimento econômico, justiça social e preservação ambiental. Assim, a

sociedade do futuro sob a perspectiva da sustentabilidade deverá ser, portanto,

uma sociedade mais reflexiva, preocupada com a qualidade de vida e com o

futuro de todos os seres vivos.

Através da abordagem interdisciplinar da Educação Ambiental

aplicada no Ensino Fundamental, é possível atingir uma camada representativa

da sociedade, cuja faixa etária é muito jovem e que apresenta potencial ideal

para a absorção de novos conceitos de preservação e ocupação do espaço

geográfico, bem como a formação de uma consciência ecológica e crítica em

torno das questões sócio-ambientais.

Devido à natureza complexa dos problemas sócio-ambientais, a

Educação Ambiental deve ser ampliada e integrada em todos os níveis do

ensino formal e, portanto, deve ultrapassar os limites do espaço escolar para

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que se transforme num instrumento de formação de cidadania e de ampliação

da consciência humana e social. Além disso, os currículos e metodologias

didáticas devem ser reexaminados, os professores devem ser formados e

atualizados profissionalmente, já que serão os condutores dos processos de

ensino–aprendizagem na dimensão ambiental.

A presente investigação tem como objetivo principal identificar o

novo papel da Educação Ambiental diante da crise ambiental global e dos

princípios do desenvolvimento sustentável. Assim, para alcançar o objetivo

geral considerou-se relevante:

„ Pesquisar a evolução histórica e conceitual da Educação Ambiental.

„ Identificar os principais problemas ambientais e suas conseqüências.

„ Relacionar o papel da Educação Ambiental na formação da cidadania

e na construção de sociedades sustentáveis.

„ Identificar os novos rumos da Educação Ambiental no Brasil em

relação às práticas pedagógicas, à formação de docentes e à

legislação pertinente.

Esta pesquisa teve como eixo norteador realizar uma análise

crítica sobre a Educação Ambiental como prática social na dimensão dos

princípios da sustentabilidade e da formação da cidadania, abordando seu

papel nas relações entre Educação e Meio Ambiente. Além disso, este trabalho

tece algumas considerações acerca dos documentos e legislações nacionais e

internacionais sobre Educação Ambiental, a fim de apresentar a importância de

sua incorporação na instituição educacional em todos os níveis de ensino, a

necessidade de revisão das práticas pedagógicas e de capacitação dos

diferentes profissionais da área educacional.

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CAPÍTULO I

EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO HHIISSTTÓÓRRIICCAA DDAA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO

AAMMBBIIEENNTTAALL IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL

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1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

INTERNACIONAL

Desde que os mais distantes antepassados do homem surgiram

na Terra, eles vêm transformando a natureza. Inicialmente, essa transformação

causava um impacto irrelevante sobre o meio ambiente, uma vez que havia

poucos seres humanos vivendo no planeta, como também o homem não

possuía tecnologias que lhe permitissem fazer grandes transformações na

natureza. Dessa forma, durante muitos séculos, a ação humana sobre o meio

ambiente restringia-se à interferência em algumas cadeias alimentares em

função da caça de animais e da colheita de vegetais para seu consumo e

sobrevivência.

Com a descoberta do fogo, de como cultivar alimentos e criar

animais, o homem passou a se fixar em determinados lugares, tornando-se

mais sedentários. Gradativamente alguns impactos ambientais começaram a

ser observados devido à derrubada das florestas e à prática da agricultura e da

pecuária. Segundo JANNUZI (1989), já começaram a se fazer notar: alterações

em algumas cadeias alimentares, como resultado da extinção de espécies

animais e vegetais; erosão do solo, como resultado de práticas agrícolas

impróprias; poluição do ar, em alguns lugares, pela queima das florestas e da

lenha; poluição do solo e da água, em pontos localizados, devido ao excesso

de matéria orgânica.

Durante séculos de existência do homem no planeta, os avanços

tecnológicos foram muitos lentos, assim como o crescimento da população. Os

impactos sobre o meio ambiente eram considerados praticamente irrelevantes

e quase sempre localizados. No entanto, com a revolução industrial iniciada a

partir do século XVIII, a população passou a crescer num ritmo acelerado e

paralelamente ocorreram avanços na ciência e em tecnologia, o que aumentou

cada vez mais a capacidade do homem em intervir na natureza.

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A segunda metade do século XX (período pós-guerra) foi

historicamente caracterizado pela explosão tecnológica, acompanhada de um

considerável aumento na velocidade da degradação ambiental, principalmente

nos países industrializados e desenvolvidos. As nações em desenvolvimento

também contribuíram para a degradação do meio ambiente à medida que se

tornaram fornecedoras de matéria-prima para esse crescimento tecnológico.

Dessa forma, os impactos ambientais cresceram rapidamente, começando a

provocar desequilíbrios em escala global, colocando em risco a sobrevivência

da humanidade.

A partir dos anos 60, a Biologia começa a ganhar terreno e, com

ela, a Ecologia. O termo Ecologia foi proposto em 1869 pelo biólogo alemão

Ernst Haeckel, e deriva de duas palavras gregas: “oikos”, que quer dizer

“morada”, e “logos”, que significa “estudo”. A Ecologia começa sendo um novo

ramo das Ciências Naturais e seu estudo passa a sugerir novos campos do

conhecimento, como, por exemplo, a Ecologia Humana, na qual o homem é o

centro nas suas relações com outros seres vivos e com o próprio ambiente.

O surgimento da Ecologia como a ciência que estuda as relações

dos seres vivos entre si e com o ambiente possibilitou o entendimento dos

princípios de organização dos ecossistemas. O ecossistema é o ponto de

partida para o entendimento mais amplo do meio ambiente e de sua

preservação através dos tempos. O ecossistema é todo conjunto formado por

um ambiente inanimado (solo, água, atmosfera) e os seres vivos que o

habitam, sendo que a destruição e até a simples alteração de um único

elemento num ecossistema pode comprometer o sistema como um todo.

“É importante lembrar que os ecossistemas têm incrível capacidade de regeneração e recuperação contra eventuais impactos esporádicos, descontínuos ou localizados, muitos dos quais provocados pela própria natureza, mas a agressão causada pelo homem é contínua, não dando chance nem tempo para a regeneração do meio ambiente” (Geografia: Espaço Geográfico e Globalização, 1997).

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Por volta da metade do século XX, ao conhecimento científico da

Ecologia somou-se um movimento ecológico voltado inicialmente para a

preservação de grandes áreas de ecossistemas não alterados pela intervenção

antrópica, o que levou a criação de parques e reservas ecológicas. Isso era

visto muitas vezes como uma preocupação romântica dos ecologistas, já que

dificultava a exploração econômica dos recursos naturais.

Os movimentos ecológicos foram os primeiros movimentos sociais

de preocupação com o meio ambiente que, atualmente, são denominados

movimentos ambientalistas. Esses movimentos de defesa do meio ambiente

lutam para reduzir o acelerado ritmo de destruição dos recursos naturais ainda

preservados e buscam alternativas que conciliem, a conservação da natureza

com a qualidade de vida das populações que dependem dessa natureza.

Segundo LEONARDI (1997), preocupações para com as questões

da degradação da natureza apareciam juntamente com outras críticas que a

juventude fazia quanto ao estilo de vida, valores, comportamentos da

sociedade consumista e depredadora. Foi uma época em que os movimentos

alternativos, como movimentos hippies com seus usos e costumes, lutando por

paz e amor, num repúdio à Guerra do Vietnã e à depredação da natureza,

trouxeram ao mundo o despertar para esta consciência.

Um dos grandes marcos que contribuíram para o despertar da

consciência ecológica surgiu com a publicação do livro “Primavera Silenciosa”,

em 1962, pela jornalista americana Rachel Carlson, que alertava sobre os

efeitos danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, como por

exemplo, o uso de pesticidas na agricultura. Essa publicação promoveu o

despertar dos leitores para os problemas ambientais, tornando-se um clássico

do ambientalismo contemporâneo.

No ano de 1965, na Conferência em Educação, da Universidade

de Keele, a expressão “Environmental Education” foi usada e ouvida pela

primeira vez na Grã-Bretanha. Segundo DIAS (1998), neste evento aceitou-se

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que a Educação Ambiental deveria se tornar um elemento essencial na

Educação de todos. No entanto, na época, a Educação Ambiental foi vista

como conservação ou ecologia aplicada, conduzidas pela biologia.

Estes fatos, entre outros, levaram à criação do Clube de Roma,

em 1968 que trouxe à tona diversos problemas, especialmente os voltados à

questão ambiental e populacional, os quais tinham que ser abordados de forma

a estabelecer relações entre o conteúdo global e o local. Identificaram naquele

momento cinco fatores limitantes da expansão humana no planeta: demografia,

produção agrícola, recursos naturais, produção industrial e poluição.

Em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Estocolmo (Suécia), onde os países

desenvolvidos demonstraram a preocupação com a escassez de recursos

naturais e as mudanças climáticas e propuseram o controle de iniciativas

desenvolvimentistas. Segundo o autor GUIMARÃES (1991), a Conferência de

Estocolmo reflete a preocupação, sobretudo do mundo desenvolvido com a

vulnerabilidade dos ecossistemas naturais. Sua ênfase estava nos aspectos

técnicos da contaminação provocada pela industrialização acelerada, pela

explosão demográfica e pela expansão do crescimento urbano.

Na verdade, a agenda da Conferência de Estocolmo ressaltava

temas e interesses dos países desenvolvidos e já industrializados. Houve

reações de países em desenvolvimento (inclusive do Brasil), sob o argumento

de que eles precisavam de desenvolvimento e não de controle ambiental, e de

que se a poluição é inevitável, eles também possuíam direito de poluir.

Alertavam para o fato de que os países desenvolvidos estavam propondo o

controle ao crescimento econômico após terem atingido altos níveis de

crescimento e de degradação de seus próprios recursos. Além disso, diziam

que as nações já industrializadas queriam manipular o crescimento econômico

dos países em desenvolvimento com argumentos ecológicos.

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É importante registrar que, em Estocolmo, foi a primeira vez que

se pensou no planeta como um todo, considerando o caráter global das

questões sobre o meio ambiente. Produziu-se uma série de documentos que,

de certa forma marcaram o início dos trabalhos sobre as questões ambientais a

nível mundial, como também saíram indicações para a criação do Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (1973) com objetivo de

educar o cidadão comum, como o primeiro passo que ele deve tomar para

manejar e controlar seu meio ambiente. A recomendação nº 96 reconhece o

desenvolvimento da Educação Ambiental como elemento crítico para combate

à crise ambiental do mundo.

Com objetivo de discutir as formas de promover melhorias na

qualidade da Educação Ambiental, foi realizado em Belgrado (Iugoslávia), em

1975, o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental, promovido pela

Organização das Nações Unidas para a Ciência e Cultura – UNESCO, o qual

resultou na famosa “Carta de Belgrado”. Neste encontro foram formulados os

princípios e orientações para o Programa Internacional de Educação Ambiental

(PIEA), que passa, então, a existir oficialmente.

Segundo o autor DIAS (2000), a Carta de Belgrado preconizava a

necessidade de uma nova ética global, capaz de promover a erradicação da

pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, da exploração e dominação

humana, e censurava o desenvolvimento de uma nação às custas de outra,

acentuando a premência de formas de desenvolvimento que beneficiassem

toda a humanidade.

Em seqüência às recomendações da Conferência de Estocolmo,

foi promovida pela UNESCO em associação com o PNUMA, no ano de 1977,

em Tbilisi (Geórgia, antiga União Soviética), a Conferência Intergovernamental

sobre Educação Ambiental, que constituiu um dos pontos culminantes das

diretrizes e objetivos da Educação Ambiental em âmbito mundial, já que

estabeleceu os princípios orientadores da Educação Ambiental e remarcou seu

caráter interdisciplinar, critico, ético e transformador.

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Este evento é considerado um dos mais importantes dentre os

demais, pois representa um marco na evolução da Educação Ambiental. A

produção mais significativa foi a “Declaração sobre a Educação Ambiental”, um

documento onde se apresentavam os objetivos, as finalidades, os princípios

orientadores e as estratégias para o desenvolvimento da Educação Ambiental

e elege o treinamento de pessoal, o desenvolvimento de materiais educativos,

a pesquisa por novos métodos, o processamento de dados e a disseminação

de informações, como estratégias mais urgentes para o desenvolvimento da

Educação Ambiental.

Segundo DIAS (2000), "as recomendações da Conferência de

Tbilisi (1977) sobre os objetivos e os princípios orientadores da Educação

Ambiental devem ser consideradas como os alicerces para a Educação

Ambiental em todos os níveis, dentro e fora do sistema escolar". Apesar de

ocorrido há muito tempo e da realização de outros encontros internacionais,

muitos dos princípios orientadores da Educação Ambiental a ser desenvolvida

nas escolas continuam válidos nos dias atuais. Resumidamente, os principais

princípios são:

„ Considerar o meio ambiente em sua totalidade: em seus aspectos

natural e construído, tecnológicos e sociais, não apenas ecológica,

à margem dos problemas sociais.

„ Constituir um processo permanente e contínuo durante as fases

do ensino formal, no qual os indivíduos e a comunidade formam

consciência do seu meio e adquirem o conhecimento, os valores,

as habilidades, as experiências e a determinação que os torna

aptos a agir.

„ Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo

específico de cada área, de modo que se consiga uma perspectiva

global da questão ambiental.

„ Examinar as principais questões ambientais do ponto de vista

local, regional, nacional e internacional.

„ Concentrar-se nas questões ambientais atuais e naquelas que

podem surgir, levando em conta uma perspectiva histórica.

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„ Insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e

internacional para prevenir os problemas ambientais.

„ Promover a participação dos alunos na organização de suas

experiências de aprendizagem, dando-lhes a oportunidade de

tomar decisões e aceitar suas conseqüências.

„ Estabelecer, para os alunos de todas as idades, uma relação

entre a sensibilização ao meio ambiente, a aquisição de

conhecimentos, a atitude para resolver os problemas e a

clarificação de valores, procurando, principalmente, sensibilizar os

mais jovens para os problemas ambientais existentes na sua

própria comunidade.

„ Ajudar os alunos a descobrir os sintomas e as causas reais dos

problemas ambientais.

„ Ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em

conseqüência, a necessidade de desenvolver o senso crítico e as

atitudes necessárias para resolvê-los.

„ Utilizar os diversos ambientes com a finalidade educativa e uma

ampla gama de métodos para transmitir e adquirir conhecimento

sobre o meio ambiente, ressaltando principalmente as atividades

práticas e as experiências pessoais.

Considerando os problemas que o meio ambiente impõe à

sociedade contemporânea e levando em conta o papel que a educação pode e

deve desempenhar para a compreensão e a busca de soluções de tais

problemas, várias recomendações foram definidas para contribuir no

desenvolvimento da Educação Ambiental, em âmbito regional, nacional e

internacional. Algumas recomendações (trechos do documento da UNESCO

“Declaração sobre a Educação Ambiental“ extraídos da obra de DIAS, 2000)

são citadas abaixo:

“Recomendação nº 1”

a) Ainda que seja óbvio que os aspectos biológicos e físicos constituem

a base natural do meio humano, as dimensões sócio-culturais e

econômicas e os valores éticos definem, por sua parte, as

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orientações e os instrumentos com os quais o homem poderá

compreender e utilizar melhor os recursos da natureza com o objetivo

de satisfazer as suas necessidades;

b) A Educação Ambiental é o resultado de uma reorientação e

articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que

facilitam a percepção integrada do meio ambiente, tornando possível

uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades

sociais;

c) Um objetivo fundamental da Educação Ambiental é lograr que os

indivíduos e a coletividade compreendam a natureza complexa do

meio ambiente natural e do meio ambiente criado pelo homem,

resultante da integração de seus aspectos biológicos, físicos, sociais,

econômicos e culturais, e adquiram os conhecimentos, os valores, os

comportamentos e as habilidades práticas para participar

responsável e eficazmente da prevenção e solução dos problemas

ambientais, e da gestão da questão da qualidade do meio ambiente;

d) O Propósito fundamental da Educação Ambiental é também mostrar,

com toda clareza, as interdependências econômicas, políticas e

ecológicas do mundo moderno, no qual as decisões e

comportamentos dos diversos países podem ter conseqüências de

alcance internacional. Neste sentido, a Educação Ambiental deveria

contribuir para o desenvolvimento de um espírito de responsabilidade

e de solidariedade entre os países e as regiões, como fundamento de

uma nova ordem internacional que garanta a conservação e a

melhoria do meio ambiente;

e) Uma atenção particular deverá ser dada à compreensão das relações

complexas entre o desenvolvimento sócio-econômico e a melhoria do

meio ambiente;

f) Com esse propósito, cabe à Educação Ambiental dar os

conhecimentos necessários para interpretar os fenômenos

complexos que configuram o meio ambiente; fomentar os valores

éticos, econômicos e estéticos que constituem a base de uma

autodisciplina, que favoreçam o desenvolvimento de comportamentos

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compatíveis com a preservação e melhoria desse meio ambiente,

assim como uma ampla gama de habilidades práticas necessárias à

concepção e aplicação de soluções eficazes aos problemas

ambientais;

g) Para a realização de tais funções, a Educação Ambiental deveria

suscitar uma vinculação mais estreita entre os processos educativos

e a realidade, estruturando suas atividades em torno dos problemas

concretos que se impõem à comunidade; enfocar a análise de tais

problemas, através de uma perspectiva interdisciplinar e

globalizadora, que permita uma compreensão adequada dos

problemas ambientais;

h) A Educação Ambiental deve ser concebida como um processo

contínuo e que propicie aos seus beneficiários – graças a uma

renovação permanente de suas orientações, métodos e conteúdos –

um saber sempre adaptado às condições variáveis do meio

ambiente;

i) A Educação Ambiental deve dirigir-se a todos os grupos de idade e

categorias profissionais:

„ Ao público em geral, não-especializado, composto por jovens e

adultos cujos comportamentos cotidianos têm uma influência

decisiva na preservação e melhoria do meio ambiente.

„ Aos grupos sociais específicos cujas atividades profissionais

incidem sobre a qualidade desse meio.

„ Aos técnicos e cientistas cujas pesquisas e práticas

especializadas constituirão a base de conhecimentos sobre os

quais deve-se sustentar uma educação, uma formação e uma

gestão eficaz, relativa ao ambiente.

j) O desenvolvimento eficaz da Educação Ambiental exige o pleno

aproveitamento de todos os meios públicos e privados que a

sociedade dispõe para a educação da população: sistema de

educação formal, diferentes modalidades de educação extra-escolar

e os meios de comunicação de massa;

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k) A ação da Educação Ambiental deve vincular-se à legislação, às

políticas, às medidas de controle e às decisões que o governo adote

em relação ao meio ambiente.

No ano de 1987, dez anos depois da Conferência de Tbilisi, foi

também promovido pela UNESCO/PNUMA, o Congresso Internacional de

Educação Ambiental em Moscou (União Soviética), onde se reuniram os países

membros da ONU com intenção de avaliar nos últimos dez anos quais foram os

progressos e as dificuldades existentes na implementação dos programas de

Educação Ambiental. Este congresso também teve o objetivo de traçar, a partir

das necessidades e prioridades estabelecidas, uma estratégia internacional de

ação e formação ambientais para a década de 90.

O encontro em Moscou produziu um documento intitulado

"Orientações, objetivos e ações para a estratégia internacional em Educação

Ambiental e Formação Ambiental", o que reafirmou os objetivos e princípios

orientadores já propostos na Conferência de Tbilisi, em 1977. Neste documento

constam itens como: Acesso à informação, Pesquisa e experimentação,

Programas educacionais e materiais de ensino, Treinamento de docentes,

Educação técnica e vocacional, Educando e informando o público, Educação

Universitária geral, Treinamento de especialistas, Cooperação internacional e

regional e a sugestão de um outro congresso a ser realizado em 1997.

É inquestionável a importância da Conferência de Tbilisi, no

entanto, foi somente em Moscou que houve a participação irrestrita de

educadores ambientais e se enfatizou o treinamento de docentes como

principal fator para o desenvolvimento da Educação Ambiental. Nestes

treinamentos devem ser enfatizadas as relações entre desenvolvimento e meio

ambiente para que estes profissionais possam entender as conseqüências da

intervenção do homem sobre o ambiente.

Também em 1987, foi divulgado o “Our Common Future” (Nosso

Futuro Comum), o relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

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Desenvolvimento, também conhecida por Comissão Brundtland porque foi

presidida pela primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. Essa

comissão, criada pela ONU como um organismo independente (1983), tem o

objetivo de reexaminar os principais problemas do meio ambiente e do

desenvolvimento, em âmbito planetário e assegurar que o progresso humano

seja sustentável por meio do desenvolvimento, sem comprometer os recursos

ambientais para as futuras gerações.

O relatório trata de preocupações, desafios e esforços comuns

como a busca do desenvolvimento sustentável, o papel da economia

internacional, população, segurança alimentar, energia, indústria, desafio

urbano e mudança institucional. Segundo GUIMARÃES (1991), os problemas

do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável se encontram diretamente

relacionados com os problemas da pobreza, da satisfação das necessidades

básicas, de alimentação, saúde e habitação e de uma matriz energética que

privilegie as fontes renováveis no processo de inovação tecnológica.

Em 1990, foi realizada a Conferência Mundial sobre Educação

para Todos – Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, em

Jomtien (Tailândia), o que resultou na Declaração Mundial sobre Educação

para Todos, que apresenta no Artigo 1º: “A satisfação dessas necessidades

confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a

responsabilidade de respeitar e desenvolver sua herança cultural, lingüística e

espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça

social, de proteger o meio-ambiente e de ser tolerante com os sistemas sociais,

políticos e religiosos que difiram dos seus, assegurando respeito aos valores

humanistas e aos direitos humanos comumente aceitos, bem como de

trabalhar pela paz e pela solidariedade internacionais em um mundo

interdependente”.

Em 1991, foi revisada a Estratégia Mundial para Conservação

(EMC). A revisão foi realizada pelos patrocinadores da EMC, pelo Programa

das Nações Unidas para o Meio ambiente (PNUMA), pelo Fundo Mundial para

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a Natureza (WWF) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza

(UICN). Contou com a participação de cientistas, organizações ambientalistas e

entidades governamentais, que examinaram e consolidaram as informações

das experiências das diversas estratégias de conservação. O resultado foi o

documento "Cuidando do Planeta Terra: uma estratégia para o futuro da vida".

Dentre os princípios gerais e planos de ações estabelecidos

destacamos o seguinte trecho deste documento, pela sua importância para a

Educação Ambiental: “Para adotar a ética de vida sustentável, as pessoas têm

de reexaminar seus valores e alterar seu comportamento. A sociedade deve

promover valores que apóiem esta ética, desencorajando aqueles que são

incompatíveis com um modo de vida sustentável. Deve-se disseminar

informação por meio da educação formal e informal, de modo que as atitudes

necessárias sejam amplamente compreendidas”.

Em 1992, foi realizada no Rio de Janeiro (Brasil) a II Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio–92), com a

participação de cerca de 180 países e ainda inúmeras organizações não

governamentais. É considerada a maior conferência global da ONU de toda a

sua história. A Agenda 21, o principal documento resultante desse evento,

reúne propostas de ações e estratégias que promovem a qualidade de vida e o

desenvolvimento sustentado ao longo de todo século XXI.

A II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Rio–92) apresentava os seguintes objetivos:

a) Examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas

depois da Conferência de Estocolmo.

b) Identificar estratégias regionais e globais para ações apropriadas

referentes às principais questões ambientais.

c) Recomendar medidas a serem tomadas a níveis nacional e

internacional referentes à proteção ambiental através de política de

desenvolvimento sustentável.

d) Promover o aperfeiçoamento da legislação ambiental internacional.

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e) Examinar estratégias de promoção de desenvolvimento sustentável

para a eliminação da pobreza nos países em desenvolvimento, entre

outros.

Depois de vinte anos da Conferência de Estocolmo, a Conferência

Rio–92 representou um avanço nas discussões sobre o progresso humano,

seu consumismo característico e acima de tudo as bases que deverão nortear

a sustentabilidade humana no futuro. Além disso, tornou-se mais pública a

concordância internacional de que é necessária uma profunda reflexão sobre a

relação homem-natureza, até agora baseada no uso desenfreado dos recursos

naturais e na falta de consciência da população em relação à degradação do

meio ambiente e à qualidade de vida humana.

Em paralelo a Conferência Rio–92, realizou-se o Fórum Global

das Organizações Não Governamentais, reunindo cerca de 4000 entidades

civis de todo o mundo, tendo como resultado, o “Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, onde

foram delineados princípios e diretrizes gerais para o desenvolvimento de

trabalhos com a temática Meio Ambiente, conforme apresentados abaixo:

„ A educação é um direito de todos; somos todos aprendizes e

educadores.

„ A Educação Ambiental deve ter como base o pensamento crítico e

inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não-

formal e informal, promovendo a transformação e a construção da

sociedade.

„ A Educação Ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de

formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a

autodeterminação dos povos e a soberania das nações.

„ A Educação Ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato

político.

„ A Educação Ambiental deve envolver uma perspectiva holística,

enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de

forma interdisciplinar.

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„ A Educação Ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e

o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias

democráticas e da interação entre as culturas.

„ A Educação Ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas

causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu

contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados ao

desenvolvimento e ao meio ambiente, tais como população, saúde,

paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da flora e

fauna, devem se abordados dessa maneira.

„ A Educação Ambiental deve facilitar a cooperação mútua e eqüitativa

nos processos de decisão, em todos os níveis e etapas.

„ A Educação Ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir

e utilizar a história indígena e culturas locais, assim como promover a

diversidade cultural, lingüística e ecológica. Isto implica uma visão da

história dos povos nativos par modificar os enfoques etnocêntricos,

além de estimular a educação bilíngüe.

„ A Educação Ambiental deve estimular e potencializar o poder das

diversas populações, promovendo oportunidades para as mudanças

democráticas de base que estimulem os setores populares da

sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a

condução de seus próprios destinos.

„ A Educação Ambiental valoriza as diferentes formas de

conhecimento. Este é diversificado, acumulado e produzido

socialmente, não devendo ser patenteado ou monopolizado.

„ A Educação Ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas

a trabalharem conflitos de maneira justa e humana.

„ A Educação Ambiental deve promover a cooperação e do diálogo

entre indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos

de vida, baseados em atender às necessidades básicas de todos,

sem distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião ou classe.

„ A Educação Ambiental requer a democratização dos meios de

comunicação de massa e seus comprometimentos com os interesses

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de todos os setores da sociedade. A comunicação é um direito

inalienável e os meios de comunicação de massa devem ser

transformados em um canal privilegiado de educação, não somente

disseminando informações em bases igualitárias, mas também

promovendo intercâmbio de experiências, métodos e valores.

„ A Educação Ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões,

valores, atitudes e ações. Deve converter cada oportunidade em

experiências educativas de sociedades sustentáveis.

„ A Educação Ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência

ética sobre todas as formas de vida com as quais compartilhamos

este planeta, respeitar seus ciclos vitais e impor limites à exploração

dessas formas de vida pelos seres humanos.

Além da elaboração da Agenda 21, outros documentos foram

aprovados durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, tais como:

„ Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento, onde constam os princípios fundamentais

aprovados pelos participantes do evento.

„ Convenção sobre Mudanças Climáticas, onde faz referência a

emissão de gás carbônico.

„ Declaração de Princípios sobre Florestas.

„ Convenção sobre a Biodiversidade, relativa à preservação de

espécies e o direito de patentes dos produtos que tenham como

matéria-prima, as espécies do planeta.

A Agenda 21 foi o principal documento da Conferência Rio–92 e

recebeu esta denominação porque se refere às preocupações com o futuro da

humanidade durante o século XXI. Foi um programa de ações recomendado

aos governos, agências de desenvolvimento, órgãos das Nações Unidas,

organizações não governamentais e sociedade civil de um modo geral, para

ser colocado em prática a partir de sua aprovação, em 14 de junho de 1992, e

implementado ao longo deste século.

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Segundo BARBIERI (2000), a Agenda 21 é um documento longo,

com mais de 800 folhas, dividido em quatro seções, com quarenta capítulos,

divididos da seguinte forma:

„ Seção I, com sete capítulos que tratam das dimensões sociais do

desenvolvimento sustentável;

„ Seção II, sem título, com quatorze capítulos que abordam as

dimensões ambientais;

„ Seção III dedica nove capítulos aos principais grupos sociais,

mulheres, jovens, populações indígenas, trabalhadores, empresários,

ONGs, autoridades locais e outros com participação direta para se

obter o desenvolvimento sustentável;

„ Seção IV refere-se aos meios para implantar os programas e as

atividades recomendadas nas seções anteriores (recursos

financeiros, transferência de tecnologia, educação, etc.).

A Agenda 21 é vista como um sistema de planejamento ou gestão

organizacional estratégica que serve de guia para as ações do governo e de

todas as comunidades que procuram desenvolvimento sem com isso destruir o

meio ambiente. Da mesma forma que os países se reuniram e fizeram a

Agenda 21, as cidades, os bairros e as escolas também podem fazer a Agenda

21 Local. As bases metodológicas do Plano de Ação Agenda 21 Local estão

incluídas no capítulo 28 da Agenda 21Global

O capítulo 36 da Agenda 21 (Anexo I) é de grande importância já

que se refere à educação onde propõe um esforço global para fortalecer

atitudes, valores e ações que sejam ambientalmente saudáveis e que apóiem o

desenvolvimento sustentável por meio da promoção do ensino, do aumento da

conscientização pública e do treinamento.

Um grande encontro mundial foi a Conferência Internacional sobre

Educação Ambiental e Sociedade, realizada pela UNESCO na cidade de

Thessaloniki, Grécia, entre 8 a 12 de dezembro de 1997, onde foi gerado um

documento intitulado de "Educação para um Futuro Sustentável". Alguns

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pontos deste documento afirmam que ainda são válidas e não foram

explorados os planos de ação e as recomendações do Encontro de Belgrado

sobre Educação Ambiental (1975), da Conferência Intergovernamental em

Educação Ambiental em Tbilisi (1977) e do Congresso Internacional de

Educação e Formação Ambiental em Moscou (1987).

Através da Conferência de Thessaloniki é reconhecido que após

os cinco anos passados desde a II Conferência sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento (1992), a Educação Ambiental não foi desenvolvida de forma

eficiente. Além disso, para aumentar a conscientização ambiental e mudar

comportamentos visando a sustentabilidade, é necessário um processo de

aprendizagem coletiva, parceria e diálogo entre governos, meios acadêmicos,

organizações não governamentais e outros setores da sociedade, como

também uma reorientação das práticas educativas envolvendo todos os níveis

de educação formal, não-formal e informal em todas as nações.

Em 2002, foi realizada em Johannesburg (África do Sul), a Cúpula

Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+10). A cúpula, organizada

pela ONU, reuniu vários participantes, incluindo chefes de Estado e de

Governo, outras autoridades oficiais, empresários e representantes da

sociedade civil e organizações não governamentais, com o objetivo de avaliar

mudanças ocorridas nos dez anos passados desde a Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio–92).

A Rio+10 teve como objetivo encontrar soluções para a pobreza e

a degradação do meio ambiente, como também avaliar e dar continuidade o

que foi proposto na Rio–92. Foi constatado que dez anos após o último

encontro pouca coisa foi feita, mesmo depois da elaboração e assinatura da

Agenda 21. Os principais temas abordados foram: água potável, energia, clima,

biodiversidade, saúde e pobreza.

A Tabela 1 apresenta, em ordem cronológica, os principais

eventos internacionais relacionados à Educação Ambiental.

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Tabela 1: Principais Eventos Internacionais sobre Educação Ambiental

ANO

DESCRIÇÃO

1972 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Estocolmo/Suécia).

1975 Seminário Internacional sobre Educação Ambiental

(Belgrado/Ioguslávia).

1977 Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental

(Tbilisi/Geórgia).

1987

Congresso Internacional sobre Educação Ambiental

(Moscou/Rússia).

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

(Relatório Brundtland – Nosso Fórum Comum).

1990 Conferência Mundial sobre Educação para Todos

(Jomtien/Tailândia)

1992 Rio–92: II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

e Desenvolvimento (Rio de Janeiro/Brasil).

1997 Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade

(Thessaloniki/Grécia).

2002 Rio+10: Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável

(Johannesburg /África do Sul).

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CAPÍTULO II

EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO HHIISSTTÓÓRRIICCAA DDAA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO

AAMMBBIIEENNTTAALL BBRRAASSIILLEEIIRRAA

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2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

BRASILEIRA

O Brasil, além de ser um dos maiores países do mundo em

extensão, é dono de uma das maiores biodiversidades, possuindo inúmeros

recursos naturais de fundamental importância para todo o planeta, desde

ecossistemas importantes como as suas florestas tropicais, o pantanal, o

cerrado, os mangues e restingas, até uma grande quantidade de água doce

disponível para o consumo humano.

Analisando a história brasileira, considera-se que a preocupação

com a natureza iniciou em 1932 quando foi realizada a Primeira Conferência

Brasileira de Proteção à Natureza no Museu Nacional. No entanto, dentre os

países dotados de ricas florestas, o Brasil era o único que não possuía um

código florestal. Logo, em 1934, o Decreto 23.793 transformou em Lei o

Anteprojeto do Código Florestal de 1931. Alguns anos depois, foi criada a

primeira unidade de conservação do Brasil, o Parque Nacional de Itatiaia

(1937), e dois anos mais tarde, também foi criado o Parque Nacional do Iguaçu

(1939).

Durante do "milagre econômico" dos anos 70, o Brasil contrariava

as tendências internacionais de proteção ao meio ambiente, já que o regime

militar deu sustentação para o crescimento econômico a qualquer custo, sem

nenhuma preocupação ambiental. Além disso, a questão ambiental era

juridicamente fragmentada e desenvolvimentista. Apesar disso, durante a

ditadura militar, temos a edição de leis de proteção da flora (Lei nº 4.771/65 –

Código Florestal), da fauna (Lei nº 5.197/67 – Proteção à Fauna e Decreto-Lei

nº 221/67 – Proteção à Pesca), de regulamentação da exploração mineral

(Decreto-Lei nº 227/67 – Código de Minas) e da função social da terra (Lei nº

4.504/64 – Estatuto da Terra).

Ao mesmo tempo em que no Brasil a visão jurídica ainda tratava o

meio ambiente de forma fragmentada, começaram a surgir discussões entre

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países sobre o papel do estado e das leis na questão ambiental global Tais

discussões demonstraram a preocupação com a escassez de recursos naturais

e com as mudanças climáticas. Um marco dessas discussões foi a Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em

Estocolmo, em 1972.

Devido a sua postura de crescimento econômico a qualquer

custo, sem preocupação ambiental, o Brasil recebeu uma onda de críticas de

outros países. No entanto, o governo brasileiro colocou-se na defensiva,

espalhando a opinião de que a defesa do meio ambiente seria uma espécie de

conspiração das nações desenvolvidas para impedir o crescimento do país.

Mesmo mantendo esta posição defensiva, em 1972 o Brasil mandou uma

delegação oficial a Estocolmo e assinou, sem restrições, a Declaração da ONU

sobre o Meio Ambiente Humano.

No mesmo período, o professor João Vasconcellos Sobrinho

começou um trabalho regional a partir da Universidade Federal Rural de

Pernambuco, incorporando características do que mais tarde se chamaria

Educação Ambiental. Vasconcellos Sobrinho tornou-se famoso a partir de

1972, quando iniciou a campanha para trazer de volta o pau-brasil ao nosso

patrimônio ambiental. Esta planta, que deu o nome ao país, foi considerada

extinta em 1920. No entanto, em 7 de dezembro de 1961, a promulgação de

uma nova lei transformou o pau-brasil em Símbolo Nacional. Graças à ação do

professor, houve uma larga produção e distribuição de mudas de pau-brasil em

todo o país.

Em 1973, a Presidência da República criou a Secretaria Especial

de Meio Ambiente – SEMA, dentro do Ministério do Interior, convidando o

biólogo e professor Paulo Nogueira Neto para comandá-la. Foi o primeiro

organismo brasileiro, de ação nacional para a gestão integrada do meio

ambiente, tendo como principais atribuições, o controle da poluição e a

Educação Ambiental.

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Como já foi mencionado no Capítulo I, na Carta de Belgrado

(1975) foram estabelecidos as metas e princípios da Educação Ambiental e

também foram formulados os princípios e orientações para o Programa

Internacional de Educação Ambiental (PIEA). Assim, em 1976, a Secretaria do

Meio Ambiente (SEMA) criou os cursos de Pós-Graduação em Ecologia nas

Universidades do Amazonas, Brasília, Campinas, São Carlos e o Instituto

Nacional de Pesquisas Aéreas em São José dos Campos.

Logo após a realização da Conferência Intergovernamental sobre

Educação Ambiental, em Tbilisi (1977), onde foram definidos os princípios

orientadores e estratégias para o desenvolvimento da Educação Ambiental, em

âmbito regional, nacional e internacional, o Conselho Federal de Educação –

CFE tornou obrigatória a disciplina de Ciências Ambientais em cursos

Universitários de Engenharia Sanitária, em 1978, onde já inseriam as matérias

de Saneamento Básico e Saneamento Ambiental. Em 1979, o Departamento

de Ensino Médio do MEC, em parceria com a CETESB publicam o documento

“Ecologia – Uma proposta para o Ensino de 1º e 2º graus”.

Apesar do Brasil não ter participado da Conferência Internacional

de Tbilisi, em 1977, um pouco antes, reuniu um grupo de especialistas para

produzir o primeiro documento oficial do governo brasileiro sobre este tema.

Assinado pela Secretaria Especial do Meio Ambiente, e pelo Ministério do

Interior, o documento "Educação Ambiental" já introduzia princípios e objetivos

adotados em Tbilisi. O documento define que: "o objetivo específico do

processo de Educação Ambiental é criar uma interação mais harmônica,

positiva e permanente entre o homem e o meio criado por ele” e que, para isso,

se deveria “considerar o ambiente ecológico em sua totalidade: o político, o

econômico, o tecnológico, o social, o legislativo, o cultural e o estético; na

educação formal”. Para completar, informava-se que "não poderá ser mantida a

tradicional fragmentação dos conhecimentos ministrados através de disciplinas

escolares consideradas como compartimentos estanques” (KRASALCHIK).

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O pensamento global em relação às questões ambientais se

efetivou com a promulgação da Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 (Anexo

II) pelo presidente João Figueiredo, que dispõe sobre a Política Nacional do

Meio Ambiente (PNMA), seus fins e mecanismo de formulação e aplicação.

Essa lei introduziu um conceito mais preciso de meio ambiente, definiu

poluição, impôs a responsabilidade objetiva para o poluidor, reorientou a

gestão ambiental, criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA),

instituiu instrumentos de gestão eficazes e incluiu a Educação Ambiental a

“todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando

capacitá-la para participação ativa do meio ambiente”.

Em 1985, o Parecer nº 819/85 do MEC reforça a necessidade da

inclusão de conteúdos ecológicos ao longo do processo de formação do ensino

de 1º e 2º graus, integrados a todas as áreas do conhecimento de forma

sistematizada e progressiva, possibilitando a “formação da consciência

ecológica do futuro cidadão”. No entanto, somente em 1987, o Conselho

Federal Educação aprova o Parecer nº 226/87 em relação à necessidade de

inclusão da Educação Ambiental nos currículos escolares de 1º e 2º Graus.

Em 1987, foram concluídos os trabalhos da Comissão Brundtland

com a apresentação de um diagnóstico dos problemas globais ambientais. A

Comissão propôs que o desenvolvimento econômico fosse integrado à questão

ambiental, surgindo a noção de desenvolvimento sustentável. O Brasil foi

representado pelo professor Dr. Paulo Nogueira Neto. O relatório da Comissão

Brundtland é considerado um dos documentos mais importantes da década e

até os nossos dias constitui uma fonte de consulta obrigatória para quem lida

com as questões ambientais, os responsáveis pela tomada de decisões nos

programas de desenvolvimento.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

representou um avanço em termos de Meio Ambiente, uma vez que dedicou o

Capítulo VI ao Meio Ambiente e no Artigo 225, § 1º inciso VI que reconhece:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

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comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder

público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes

e futuras gerações” e no § 1º, inciso VI – “Para assegurar a efetividade desse

direito incumbe ao Poder Público: (...) VI – Promover a Educação Ambiental em

todos os níveis de ensino a conscientização pública para a preservação do

meio ambiente”.

Em 22 de fevereiro de 1989, a Lei 7.735 criou o Instituto Brasileiro

de Meio Ambiente – IBAMA, com a finalidade de formular, coordenar e

executar a política nacional do meio ambiente. Compete-lhe a preservação,

conservação, fomento e controle dos recursos naturais renováveis em todo o

território federal; proteger bancos genéticos da flora e da fauna brasileira e

estimular a Educação Ambiental nas suas diferentes formas. Também nesse

mesmo ano, foi criado o Fundo Nacional de Meio Ambiente – FNMA no

Ministério do Meio Ambiente.

Apesar das recomendações das conferências e dos encontros

internacionais, até meados da década de 90 não havia sido definida

completamente uma política de Educação Ambiental em termos nacionais. As

características e as responsabilidades do poder público e dos cidadãos com

relação à Educação Ambiental fixaram-se por lei no Congresso Nacional. Cabe

ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) definir os objetivos, as

estratégias e os meios para a efetivação de uma política de Educação

Ambiental no país.

Diante disso, pela Portaria nº 678/91 do MEC, foi determinado

que a educação escolar deveria contemplar a Educação Ambiental permeando

todos os currículos dos diferentes níveis e modalidades de ensino,

antecedendo a característica transversal do tema meio ambiente, adotada

pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – Meio Ambiente, publicado

em 1997.

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As iniciativas de Educação Ambiental pelo MEC começaram a

ocorrer durante o processo de preparação da II Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio–92), por meio da Portaria

nº 2.421, de 21 de novembro de 1991. Esta portaria instituiu, em caráter

permanente, um Grupo de Trabalho de Educação Ambiental com o objetivo de

definir, com as Secretarias Estaduais de Educação, as metas e estratégias

para a implantação da Educação Ambiental no país, elaborar proposta de

atuação do MEC na área da educação formal e não-formal e preparar sua

participação na Conferência Rio–92.

Como já foi mencionado no Capítulo I, quatro anos após a

promulgação da Constituição, é realizado no Rio de Janeiro o mais importante

evento sobre desenvolvimento sustentável: a II Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sendo que um dos principais

documentos resultante do evento foi a Agenda 21. Paralelamente, celebrado

por diversas organizações da sociedade civil ocorreu o Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que trata

especificamente da Educação Ambiental e reconhece a “educação como um

processo dinâmico em permanente construção”. Destaca-se que o papel da

Educação Ambiental na construção da Cidadania Ambiental.

Em decorrência dos compromissos assumidos durante a Rio–92 o

governo brasileiro desenvolveu estudos para incorporar os princípios do

desenvolvimento sustentável propostos na Agenda 21 às estratégias nacionais

de desenvolvimento e às políticas públicas. Os estudos fundamentaram a

elaboração do Decreto 1.160, de 21 de junho de 1994, que criou a Comissão

Interministerial para o Desenvolvimento Sustentável (CIDES), responsável pela

Agenda 21 Nacional com a finalidade de "assessorar o Presidente da

República na tomada de decisões sobre as estratégias e políticas nacionais

necessárias ao desenvolvimento sustentável, de acordo com a Agenda 21".

A Agenda 21 Brasileira foi dividida em seis grandes áreas

temáticas: cidades sustentáveis, agricultura sustentável, infra-estrutura e

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integração regional, gestão dos recursos naturais, redução das desigualdades

sociais, ciência e tecnologia e desenvolvimento sustentável. É importante

conhecer que a Agenda 21 pode ser elaborada tanto para o país, como

também para regiões específicas, estados e municípios, moldando o formato

institucional e as atribuições de acordo com suas particularidades. Assim,

passam a ser elaboradas as Agendas 21 Estaduais e as Agendas 21 Locais.

Uma classificação adotada para os problemas ambientais é a

divisão segundo "Agendas". Assim, a "Agenda Verde" se refere a assuntos

como preservação de florestas e biodiversidade, a "Agenda Azul" se refere à

gestão de recursos hídricos e a "Agenda Marrom" se refere aos problemas

ambientais urbanos, como a poluição do ar, da água e do solo, a coleta e

reciclagem de lixo, o ordenamento urbano, etc.

Nesse mesmo ano, o MEC promoveu em Jacarepaguá (Rio de

Janeiro) um Workshop com o objetivo de socializar os resultados das

experiências nacionais e internacionais sobre Educação Ambiental, discutir

metodologias e currículos. Este encontro teve como documento final a “Carta

Brasileira para Educação Ambiental” que, entre outras coisas, reconhece ser a

Educação Ambiental um dos instrumentos mais importantes para viabilizar o

desenvolvimento sustentável como estratégia de sobrevivência do planeta e,

conseqüentemente, de melhoria da qualidade de vida. Além disso, destaca-se

a necessidade de capacitação de recursos humanos para Educação Ambiental.

Para reverter a lentidão da produção de conhecimentos e a falta

de comprometimento real do poder público no cumprimento e complementação

da legislação em relação às políticas específicas de Educação Ambiental em

todos os níveis de ensino, em dezembro de 1992, o Grupo de Trabalho para

Educação Ambiental promoveu o Primeiro Encontro Nacional de Centros de

Educação Ambiental, realizado em Foz de Iguaçu onde os coordenadores dos

centros já existentes e técnicos das Secretarias de Educação debateram

propostas pedagógicas, recursos institucionais e apresentaram projetos e

experiências.

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Como resultado desse evento, o MEC apoiou a implantação de

Centros de Educação Ambiental como espaço de referência, visando à

formação integral do cidadão para interagir em diversos níveis e modalidades

de ensino e introduzir práticas de Educação Ambiental junto às comunidades.

Logo, em 1993 houve a criação dos Centros de Educação Ambiental do MEC,

com a finalidade de criar e difundir metodologias em Educação Ambiental.

A Portaria nº 773/93 do MEC institui em caráter permanente o

Grupo de Trabalho para Educação Ambiental, que é transformado em

Coordenação de Educação Ambiental (CEA) com o objetivo de coordenar,

apoiar, acompanhar, avaliar e orientar as ações, metas e estratégias para a

implantação da Educação Ambiental nos sistemas de ensino em todos os

níveis e modalidades – concretizando as recomendações aprovadas na II

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Um ano depois, em 1994, foi criado pelo CEA/MEC em parceria

com o IBAMA/MMA/MCT, o Programa Nacional de Educação Ambiental

(PRONEA), com o objetivo de “capacitar o sistema de educação formal e não-

formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e modalidades”,

cumprindo o artigo 225 da Constituição Federal de 1988, bem como os

compromissos internacionais assumidos pelo país.

O PRONEA foi uma proposta de implementação da Educação

Ambiental no ensino formal e não formal, incorporando em seus princípios e

objetivos as definições dos tratados internacionais, tornando-se uma das bases

para a discussão e proposição da Política Nacional de Educação Ambiental –

PNEA (Lei nº 9.795/99).

Em resposta às orientações do PRONEA, tendo como roteiro de

implementação o capítulo 36 da Agenda 21, a COEA/MEC promoveu entre os

anos de 1996 e 1998 dezoito cursos de capacitação para capacitar os técnicos

das Secretarias de Educação, das delegacias regionais do MEC, professores

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das escolas técnicas federais e dos cursos de pedagogia, para atuarem como

agentes multiplicadores da Educação Ambiental.

Paralelamente a realização da Conferência Internacional sobre

Educação Ambiental e Sociedade na cidade de Thessaloniki (Grécia), também

era realizada Primeira Conferência Nacional de Educação Ambiental – ICNEA,

em Brasília, 20 anos após a Conferência de Tbilisi, gerando o documento

“Declaração de Brasília para a Educação Ambiental”.

Em 1997, o MEC publicou o volume IX dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN), sob o título. “Meio Ambiente e Saúde – Temas

Transversais”. A colocação do tema Meio Ambiente, como conteúdo a ser

trabalhado pela educação formal desde as séries iniciais indica a importância

que essa temática vem ganhando no Brasil.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais dizem que a função

principal da Educação Ambiental: “é contribuir para a formação de cidadãos

conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade sócio–ambiental de

um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da

sociedade local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações

e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de

valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. E

esse é um grande desafio para a educação”.

Logo após a publicação do PCN, também foi publicado o livro

“Implantação da Educação Ambiental no Brasil”, que apresenta as principais

ações institucionais de Educação Ambiental e a história da Educação

Ambiental no Brasil. Esta publicação foi muito importante porque mostrou de

maneira contextualizada a evolução histórica da Educação Ambiental no Brasil

até 1998, incluindo as ações do MEC até este momento.

A criação de Centros de Educação Ambiental, os cursos de

capacitação para multiplicadores e a divulgação dos objetivos e princípios da

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Educação Ambiental, assim como os projetos de Educação Ambiental nas

escolas, garantiram a sensibilização dos atores da área educacional, mas não

penetraram no universo das políticas e ações educacionais das instituições

como era de se esperar.

A lei brasileira que merece destaque por propiciar a legitimação

da Educação Ambiental como política pública nos sistemas de ensino é a Lei nº

9.795, de 27 de abril de 1999 (Anexo III), sancionada pelo presidente Fernando

Henrique Cardoso que dispõe sobre a Política Nacional de Educação

Ambiental (PNEA). Essa Lei tramitou por quase cinco anos no Congresso e

determina a inclusão da Educação Ambiental de modo organizado e oficial no

sistema escolar brasileiro. É na prática uma regulamentação do inciso VI do

artigo 225 da Constituição, como também uma consolidação dos princípios da

Educação Ambiental, discutidos nos fóruns internacionais e nacionais desde

1977, quando os torna legais ao fornecer à sociedade um instrumento de

cobrança para a promoção da Educação Ambiental.

Nesse mesmo ano, após a transferência para a Secretaria de

Educação Fundamental, iniciou-se a atual gestão da Coordenação Geral de

Educação Ambiental (COEA), que definiu como missão a institucionalização da

Educação Ambiental nos sistemas de ensino (federal, estadual e municipal).

Para cumpri-la, optou pela estratégia de pautar o tema meio ambiente nas

políticas educacionais como forma mais eficaz de sensibilizar as instituições

educacionais para a incorporação do tema transversal meio ambiente em suas

políticas, ações, currículos e projetos educativos das escolas.

O ano de 2000 foi caracterizado pela expansão da COEA tanto

internamente, no MEC, como externamente, cumprindo o objetivo de

disseminar informações sobre a temática ambiental. A participação em diversos

eventos permitiu a COEA disseminar a PNEA, sua missão, seus objetivos e

estratégias para diferentes organizações e instituições, e articular parcerias e

interlocutores para a construção de uma política pública de Educação

Ambiental para o MEC.

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Paralelamente aos eventos que promovia, a COEA já discutia a

proposta de inserção do tema transversal meio ambiente no currículo e nos

projetos educativos da escola por meio da elaboração de um material para a

formação em serviço dos professores. Foi proposta, então uma política pública

de formação continuada de professores, o Programa Parâmetros em Ação –

Meio Ambiente na Escola (PAMA) que apresentava uma abordagem

pedagógica, com conteúdo e materiais de apoio diferenciados e adequados ao

desenvolvimento dos trabalhos para a área de Educação Ambiental.

O PAMA foi desenvolvido em parceria entre o MEC/SEF e as

Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, apresentando os seguintes

objetivos principais: incentivar a prática de formação continuada no interior dos

sistemas educacionais; contribuir para o debate a reflexão sobre o papel da

escola e do professor na perspectiva do desenvolvimento de uma prática de

transformação da ação pedagógica; criar espaços de aprendizagem coletiva,

incentivando a prática de troca de experiências e a realização de trabalho

coletivo nas escolas; criar novas possibilidades de trabalho em sala de aula,

aprimorando a qualidade da aprendizagem.

Pela Lei nº 10.172 de 09 de janeiro de 2001 fica aprovado o Plano

Nacional de Educação – PNE, com duração de dez anos. Além de cumprir uma

determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96) no

seu Artigo 87, fixa diretrizes, objetivos e metas para o período de 10 anos,

garantindo coerência nas prioridades educacionais para este período.

Nos objetivos e metas para o Ensino Fundamental e Ensino

Médio, o PNE propõe: “A Educação Ambiental, tratada como tema transversal,

será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e

permanente em conformidade com a Lei nº 9.795/99”. As novas estruturas

curriculares deverão estar sempre em consonância com as diretrizes

emanadas do Conselho Nacional de Educação e dos conselhos de educação

dos estados e municípios e constituem a base das políticas de

institucionalização da Educação Ambiental nos sistemas de ensino.

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Pelo Decreto nº 4.821, de 25 de junho de 2002 (Anexo IV), a Lei

nº 9.795/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, foi

regulamentada definindo que os coordenadores do Órgão Gestor responsáveis

pela implementação da Política da Educação Ambiental são os Ministérios da

Educação e do Meio Ambiente. A regulamentação da PNEA, que representa

um avanço, potencializou as possibilidades de ampliação das práticas da

Educação Ambiental nos diversos setores da sociedade.

No mesmo ano, foi lançado o Sistema Brasileiro de Informação

sobre Educação Ambiental – SIBEA. Este sistema foi um dos projetos do

Programa Nacional de Educação Ambiental sendo desenvolvido pela Diretoria

de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente em parceria com redes

e instituições governamentais e não governamentais que atuam em Educação

Ambiental. Sua missão é gerir informações sobre educação ambiental

permitindo, de acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental, o

planejamento, a promoção, a coordenação e a difusão de ações educacionais

em benefício da sociedade.

A Tabela 2 apresenta o resumo dos principais eventos sobre

Educação Ambiental ocorridos no Brasil:

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Tabela 2: Principais Eventos Nacionais sobre Educação Ambiental

ANO

DESCRIÇÃO

1972 A Universidade Federal de Pernambuco inicia uma campanha de reintrodução do pau-brasil

considerado extinto em 1920.

1973 Criação da SEMA – Secretaria Especial de Meio Ambiente, no âmbito de Ministério do Interior.

1977 A SEMA constitui grupo de trabalho para elaborar documento sobre Educação Ambiental,

definindo seu papel.

1978 Criação de cursos voltados para as questões ambientais em varias universidades brasileiras.

1981 Promulgação da Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 que dispõe sobre a Política Nacional do

Meio Ambiente (PNMA).

1985 Aprovação do Parecer nº 819/85 do MEC para inclusão da Educação Ambiental nos currículos

de 1º e 2º grau.

1986 A SEMA e a Universidade de Brasília organizam o primeiro curso de especialização em

Educação Ambiental.

1988

Constituição da República Federativa do Brasil – Artigo 225 no §1º, inciso VI.

Fundação Getúlio Vargas traduz e publica o Relatório Brundtland, Nosso Fórum Comum.

A CETESB publica o livro Educação Ambiental: Guia para professores de 1º e 2º graus.

1989 Criação do IBAMA, com a criação de uma divisão de Educação Ambiental.

Criação do Fundo Nacional do Meio Ambiente.

1991 Portaria nº 678/91 do MEC institui a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino.

1992 II Conferência das Nações Unidas sobre a Educação Ambiental e Desenvolvimento – ECO 92.

Carta Brasileira para a Educação Ambiental.

1993 Criação dos Centros de Educação Ambiental do MEC, com a finalidade de criar e difundir

metodologias em Educação Ambiental.

1994 Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) com a participação do

CEA/MEC/MMA/IBAMA/MCT.

1996 Promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei nº 9.394 de 20

de dezembro de 1996.

1998 Publicação do volume IX dos Parâmetros Curriculares Nacionais, sob o título “Meio Ambiente e

Saúde – Temas Transversais”.

1999 A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) foi instituída pela Lei nº 9.795 de 27 de

abril de 1999.

2001 Aprovação do Plano Nacional de Educação – PNE pela Lei nº 10.172 de 09 de janeiro de 2001.

2002

Regulamentação da PNEA pelo Decreto nº 4.821 de 25 de junho de 2002.

Lançamento do Sistema Brasileiro de Informação sobre Educação Ambiental – SIBEA pelo

MMA:

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CAPÍTULO III

EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO CCOONNCCEEIITTUUAALL DDAA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO

AAMMBBIIEENNTTAALL

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3 – EVOLUÇÃO CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A evolução do conceito de Educação Ambiental esteve

diretamente relacionada à evolução do conceito de meio ambiente e ao modo

como este era percebido. O conceito de meio ambiente ainda vem sendo

construído. Por enquanto, ele ainda é definido de modo diferente por

especialistas de diferentes áreas da ciência.

O termo Meio Ambiente tem sido utilizado para indicar um espaço

formado por componentes bióticos e abióticos e suas interações, em que um

ser vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo

transformado e transformando-o. Os componentes bióticos correspondem aos

seres vivos: animais (inclusive o homem), vegetais, fungos, protozoários e

bactérias, bem como as substâncias que os compõem ou são geradas por eles,

enquanto que os componentes abióticos são aqueles não-vivos: água, solo,

gases atmosféricos, sais minerais e todos os tipos de radiação.

Na interação do homem com os elementos da natureza, ao

espaço físico e biológico soma-se o espaço sócio-cultural. Na sua evolução, o

homem vem desenvolvendo a capacidade de intervir na natureza, provocando

vários tipos de modificação que se transformam com o decorrer da história.

Entretanto, ao transformar o meio ambiente, o homem também muda sua

própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive.

Por tratar-se de uma temática interdisciplinar, é extremamente

difícil reduzir a Educação Ambiental a conceitos fixos. É tanto que a Educação

Ambiental ainda não apresenta uma conceituação perfeitamente delimitada, já

que existe uma grande variedade de conceituações decorrentes de correntes

filosóficas, ambientalistas e pedagógicas. No entanto, reduzir a complexidade

da crise ambiental a um problema estritamente ecológico significa praticar o

mais simples reducionismo. É necessário considerar também os aspectos

econômicos, sociais e culturais relacionados com os problemas ambientais

para que estes possam ser reconhecidos e tratados de forma integrada.

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Segundo FOUCAULT (1992), em sua evolução, a Educação

Ambiental tem perpassado pelas diversas disciplinas, da Biologia à Geografia –

chamadas afins, hoje caminha para a Sociologia, muito provavelmente pela

necessidade do ser humano urbano necessitar muito mais ser conscientizado

para estar sensível às mudanças que as populações rurais, que de alguma

forma, vivem no seu dia-a-dia mais sensíveis às interações ambientais de seu

entorno.

Segundo LEONARDI (1997), existem algumas dificuldades na

conceituação de Educação Ambiental. Conforme a autora, dependendo da

ocasião e do evento que se reúna educadores e interessados no assunto

quase sempre é colocada a seguinte pergunta: O que é Educação Ambiental?

Ela mais educação ou mais ambiental? Outra dificuldade está em definir o

objeto, ou seja, em qual realidade está inserido. Ele é mais físico ou mais

biológico? Onde ficam as realidades culturais, as diversidades sociais que

foram se formando ou sendo destruídas ao longo da história? Elas também

iriam compor o nosso Meio Ambiente? Esses questionamentos são mais uma

prova de que a Educação Ambiental vem perpassando as diversas disciplinas e

ciências e vem se colocando no seio da Sociologia.

Dessa forma, o conceito de Educação Ambiental é definido

segundo a formação humana e a experiência de cada profissional que com ela

trabalhe, ou do momento em que é utilizada. Um biólogo daria um certo

conceito voltado naturalmente para a biologia, com fortes influências da

ecologia. Já um geógrafo já teria certas ressalvas em dar á ecologia um

destaque tão grande e iria enfatizar o ambiente físico. Um sociólogo iria

enfatizar o ambiente humano. Um economista acabaria por colocar o mercado

e as relações de trabalho como base sustentadora da Educação Ambiental, e

assim por diante.

Aliás, ainda conforme LEONARDI (1997) a Educação Ambiental

sofre influências culturais onde se destacam duas principais correntes:

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a) A corrente do ambientalismo pragmático ou de resultados, que tende

a privilegiar o instrumental behaviorista, estabelecendo uma relação

entre a informação e a mudança de comportamento. A Educação

Ambiental incorporada a esta corrente, também chamada de

Educação Ambiental de resultados é praticada por agências

governamentais e escolas onde prevalece a preocupação de

mudança de comportamento de curto prazo, tais como: diminuir a

quantidade de lixo jogado nas ruas após uma campanha com este

objetivo, diminuir o assoreamento de um córrego; induzir os

indivíduos a economizar energia, a adquirir os produtos menos

poluentes, entre outras.

b) A corrente do Ambientalismo ideológico, ecologismo profundo ou

ético, que congrega os fundamentalistas do ambientalismo, onde a

desejada conscientização é um processo que passa a construção de

uma nova sensibilidade. Neste processo são valorizados a razão

intuitiva, o imaginário, a poesia e as necessidades espirituais. O

discurso ético–filosófico tem tanta autoridade quanto o científico.

Por outro lado, segundo MEDINA (1998) para fundamentar a

Educação Ambiental é necessário adotar um conceito de caráter relacional,

onde o que importa é a compreensão das relações histórico-culturais entre

sociedade e natureza, concebendo três tendências da concepção de Meio

Ambiente:

„ A ecológico-preservacionista, onde o homem se porta como um

observador.

„ A sócio-cultural, que enfatiza os problemas da degradação ambiental,

tendo o homem como vilão, sem contextualização histórico-espacial-

social.

„ A sócio-ambiental, que contextualiza historicamente os problemas, na

qual o ser humano é considerado um ser social, que interage com a

natureza, analisa as causas e os efeitos de sua ação, determinando

as questões ambientais, entendendo as diferentes formas de acesso

aos recursos naturais.

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Dessa forma, a Educação Ambiental é a incorporação de critérios

sociais, ambientais, ecológicos e éticos, nos objetivos didáticos da educação.

Não se trata somente de ensinar sobre a natureza, mas de educar “para” e

“com” a natureza para que seja possível compreender e agir corretamente

diante dos grandes problemas ambientais gerados das relações entre o homem

e a natureza.

Na literatura consultada, encontra-se grande variedade de

conceitos sobre Educação Ambiental, com influências claras, de diversos

fatores, como os ramos do conhecimento, a fase histórica em que foram

concebidos e os eventos em que foram discutidos. No entanto, segundo

SORRENTINO (1995) existem várias concepções de Educação Ambiental,

diretamente relacionadas às diferentes formas de fazê-la. Estas diferentes

formas podem ser agrupadas em quatro grandes conjuntos de temas ou

objetivos da Educação Ambiental. São eles:

„ Biológicos: referem-se a proteger, conservar e preservar espécies, o

ecossistema e o planeta como um todo.

„ Espirituais/culturais: dedicam-se promover o autoconhecimento e o

conhecimento do universo, segundo uma nova ética.

„ Políticos: buscam desenvolver a democracia, cidadania, participação

popular, diálogo e autogestão.

„ Econômicos: defendem a geração de empregos em atividades

ambientais não-alienantes e não-exploradoras e também a

autogestão e a participação de grupos e indivíduos nas decisões

políticas.

Em termos legais, a Lei 9.795/99 (Anexo III) que dispõe sobre

Educação Ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental, onde

no seu Capítulo I, Art. 1º define a Educação Ambiental: “Entendem-se por

Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso

comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

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Segundo DIAS (2000), o CONAMA – Conselho Nacional do Meio

Ambiente definiu a Educação Ambiental como “um processo de formação e

informação, orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as

questões ambientais, e de atividades que levem à participação das

comunidades na preservação do equilíbrio ambiental”.

Levando a conceituação para o campo educacional, devemos

entender que seu papel não é de se apegar a um conceito, mas proporcionar e

estimular a capacidade crítica e reflexiva sobre a problemática ambiental e

social. Para isso é necessário que haja uma estratégia didática para melhor se

estudar o meio ambiente, que consiste em identificar os fatores físicos do

ambiente, como também os fatores sociais tratando das relações econômicas,

culturais, políticas de respeito ou dominação, de destruição ou preservação, de

consumismo ou conservação.

No seu livro “Pedagogia da Terra”, GADOTTI (2001) define

Educação Ambiental como um processo que parte de informações ao

desenvolvimento do senso crítico e raciocínio lógico, inserindo o homem no seu

real papel de integrante e dependente do meio ambiente, visando uma

modificação de valores tanto no que se refere às questões ambientais como

sociais, culturais, econômicas, políticas e éticas, o que levaria à melhoria da

qualidade de vida que está diretamente ligada ao tipo de convivência que

mantemos com a natureza e que implica atitudes, valores e ações. Trata-se de

uma opção de vida por uma relação saudável e equilibrada com o contexto. A

Educação Ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito

aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e interação

entre as culturas.

Dentre os princípios que constam no Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e que

mostram que educar nos termos da Educação Ambiental, é necessário um

certo teor de senso crítico e de conhecimento da realidade das sociedades:

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„ A Educação Ambiental deve se crítica e inovadora, seja na

modalidade formal, não-formal, e informal. Ela é tanto individual como

coletiva. Não é neutra; é um ato político voltado para a transformação

social.

„ A educação ambiental deve buscar uma perspectiva holística,

relacionando homem, natureza e universo, e também ser

interdisciplinar. Além disso, deve buscar a solidariedade, igualdade e

respeito através de formas democráticas de atuação, bem como

promover o diálogo.

„ A educação ambiental deve valorizar as diversas etnias, culturas e

sociedades, principalmente aquelas dos povos tradicionais.

„ A educação ambiental deve criar novos estilos de vida, desenvolver

uma consciência ética, trabalhar pela democratização dos meios de

comunicação em massa. Objetiva formar cidadãos.

Quanto à classificação da Educação ambiental, existem muitas

outras formas de se classificar os tipos e as ações da Educação Ambiental.

Uma delas foi desenvolvida por LEONARDI In: CAVALCANTI (1999),

colocando-a em três modalidades diferentes: Educação Ambiental formal;

Educação Ambiental não-formal e Educação Ambiental informal.

A Educação Ambiental formal é aquela exercida nas escolas em

todos os níveis. Apresenta grande diversidade em conteúdos e métodos. Pode

ser desenvolvida dentro dos ambientes escolares ou não em associação com

outras disciplinas. Cita-se, como exemplo, que com a comemoração do Dia do

Meio Ambiente pelos alunos, está se praticando a Educação Ambiental formal.

A definição de Educação Ambiental formal consta na Lei 9.795/99,

na seção II (Da Educação Ambiental no Ensino Formal) do Capítulo 1, Art. 9º:

“Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no

âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas,

englobando: I - educação básica, II - educação superior, III - educação

especial, IV - educação profissional e V - educação de jovens e adultos”.

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A Educação Ambiental não-formal é aquela exercida em outros

tipos de lugares da vida social por atores que atuam com a questão ambiental.

Utilizam ferramentas didáticas, métodos e materiais, diferentes dos utilizados

na Educação Ambiental formal. É menos estruturada do que a formal, mas

pode ser muito rica em parcerias. Cita-se, como exemplos, a Educação

Ambiental desenvolvida em empresas, como também os programas de

Educação Ambiental feitos em parques e outros espaços públicos.

A definição de Educação Ambiental não-formal também consta na

Lei 9.795/99, na seção III (Da Educação Ambiental Não-Formal) do Capítulo 1,

Art. 13: “Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas

educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões

ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio

ambiente” e no parágrafo único: “O Poder Público, em níveis federal, estadual e

municipal, incentivará: I – a difusão, por intermédio dos meios de comunicação

de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de

informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II – a ampla

participação da escola, da universidade e de organizações não governamentais

na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação

ambiental não-formal; III – a participação de empresas públicas e privadas no

desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a

escola, a universidade e as organizações não-governamentais; (...) VII – o

ecoturismo”.

A Educação Ambiental informal é também realizada em locais

variados da vida social, mas, neste caso, sem ter um compromisso com a

continuidade, periodicidade, metodologias e processos de avaliação. Cita-se,

como exemplo, os programas eventuais, isolados que tratam de questões

ambientais, sem avaliar o aproveitamento real que os telespectadores tiveram

da sua mensagem.

Dentre a bibliografia consultada, podemos citar a conceituação de

Educação Ambiental de MEDINA (1998) como sendo a mais completa e

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abrangente: “EDUCAÇÃO AMBIENTAL é um processo que permite às pessoas

uma compreensão global do Ambiente. Proporciona os instrumentos para

elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permite adotar uma posição

crítica e participativa a respeito das questões relacionadas com a conservação

e adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de

vida, a eliminação da pobreza extrema, do consumismo desenfreado, visando a

construção de relações sociais, econômicas e culturais capazes de respeitar e

incorporar as diferenças (minorias étnicas, populações tradicionais, a

perspectiva da mulher) e a liberdade para decidir os caminhos alternativos de

desenvolvimento sustentável, respeitando os limites dos ecossistemas,

substrato de nossa própria possibilidade de sobrevivência como espécie”.

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CAPÍTULO IV

AA CCRRIISSEE AAMMBBIIEENNTTAALL

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4 – A CRISE AMBIENTAL

“A questão ambiental vem sendo considerada como cada vez mais urgente e importante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis” (VIOLA, 1995).

A partir das últimas décadas a questão ambiental tornou-se uma

preocupação mundial. A grande maioria das nações do mundo reconhece a

emergência dos problemas ambientais. A destruição da camada de ozônio,

acidentes nucleares, alterações climáticas, desertificação, armazenamento e

transporte de resíduos perigosos, poluição hídrica, poluição atmosférica,

pressão populacional sobre os recursos naturais e perda de biodiversidade são

algumas das questões que devem ser resolvidas por cada uma das nações do

mundo, segundo suas respectivas especificidades.

A atual crise ambiental é muito mais a crise da sociedade do que,

propriamente, a crise de “gerenciamento da natureza”. Segundo GUIMARÃES

(1995), o modelo de sociedade vigente traz como caminho o crescimento

econômico, baseado na extração ilimitada de recursos naturais, renováveis ou

não, de acúmulo contínuo de capital, na produção ampliada de bens, criando-

se uma sociedade consumista, valorizando a competição, o individualismo e

transmitindo uma ilusão de crença na viabilidade desse modelo, que jamais

poderia ser alcançado por toda população planetária.

Segundo os autores americanos HOMER-DIXON e COLS (1993):

“Nos próximos 50 anos, a população humana tende a exceder nove bilhões e a

produção econômica global pode quadruplicar. Em grande parte, como

resultado dessas duas tendências, a escassez de recursos renováveis pode

aumentar acentuadamente. A área total de terras altamente produtivas para a

agricultura cairá, assim como a extensão de florestas e o número de espécies

que estas sustentam. As gerações futuras também sentirão o crescente

desgaste e a degradação das fontes de água, dos rios e de outros mananciais

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aquáticos, o declínio de pescado, a perda adicional da camada de ozônio e,

talvez, uma mudança climática significativa”.

4.1 – EFEITO ESTUFA

As interferências do homem sobre a natureza provocam graves

desequilíbrios ecológicos globais que podem colocar em risco a própria

sobrevivência da humanidade. Dentre os principais impactos ambientais

destaca-se o efeito estufa. Este fenômeno sempre existiu e sua presença é de

extrema importância para a manutenção da vida no planeta. No entanto, o que

preocupa hoje é o aumento de sua intensidade, em conseqüência da excessiva

concentração dos gases-estufa na atmosfera, provocada basicamente pelas

atividades humanas.

O efeito estufa ocorre na atmosfera do nosso planeta devido à

presença de certos gases que são chamados gases-estufa, como por exemplo,

dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), clorofluorcarbono

(CFC) e vapor d’água. Esses gases permitem que a luz do Sol passe quase

livremente, mas impedem parcialmente a saída do calor formado na superfície

do planeta, promovendo o aquecimento da superfície terrestre.

O Sol é a principal fonte de energia para a superfície da Terra.

Essa energia é composta por um conjunto de radiações, denominado espectro

solar. Por causa da alta temperatura do Sol, cerca de 99% do espectro solar

estão entre 0,10 e 4 µm, que correspondem ao ultravioleta, à radiação visível e

ao infravermelho curto e médio. No entanto, como a superfície do planeta

apresenta temperatura média de 288 K, ou seja, 15ºC, mais de 99% da energia

por ela emitida situam-se entre 4 e 100 µm.

O efeito estufa ocorre porque a atmosfera tende a reter o calor

próximo à superfície. A Terra recebe radiação do Sol nas bandas do

ultravioleta, visível e infravermelho, absorvendo uma parte e refletindo o

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restante ao mesmo tempo em que emite radiação infravermelha. Os gases-

estufa deixam passar a radiação visível e infravermelha, que carregam grande

parte da energia da luz solar, mas absorvem muito eficientemente a radiação

infravermelha emitida pela Terra. A maior parte dessa energia é irradiada de

volta para a superfície terrestre, promovendo o seu aquecimento.

Dentre os principais gases-estufa hoje presentes na atmosfera o

dióxido de carbono (CO2) é o principal deles, contribuindo para o aquecimento

global com cerca de 50%. Suas principais fontes antropogênicas são o

desmatamento e a queima de combustíveis fósseis ou não renováveis, como

por exemplo, petróleo, gás natural e carvão. A queima dessas reservas pode

triplicar os teores de CO2 na atmosfera, o que poderá provocar uma grande

alteração climática no planeta.

O segundo gás-estufa em importância é o metano (CH4) que

contribui com cerca de 18% do aquecimento global. É produzido durante o

processo de decomposição bacteriana anaeróbica. Suas principais fontes

antropogênicas são as plantações de arroz, os animais domésticos (rebanhos

de ruminantes, como por exemplo, os bovinos), os vazamentos de gás natural

na indústria petrolífera e os aterros sanitários.

O óxido nitroso (N2O) contribui com cerca de 6% para o

aquecimento global. Esse óxido é produzido no solo, estimando-se provirem

daí 90% das emissões globais. Apresenta potencial de absorção térmica de

150 vezes maior do que o do CO2. Suas principais fontes antropogênicas são o

uso exagerado de fertilizantes nitrogenados e a queima de biomassa.

Os clorofluorcarbonos (CFC-11 e CFC-12) contribuem com cerca

de 14% para o aquecimento global. As principais fontes de CFCs são os

vazamentos durante seu emprego na refrigeração e produção de espumas e

aerossóis. Uma molécula de CFC tem o mesmo efeito estufa de cerca de

10.000 moléculas de CO2.

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Em virtude da intensificação do efeito estufa, estima-se que a

temperatura média na superfície terrestre deverá elevar-se entre 1,5 e 4,5ºC,

porém o aquecimento não se dará na mesma intensidade nas diferentes

latitudes. Espera-se um aquecimento menor nos trópicos (+2ºC) e maior à

medida que se avança em direção aos pólos (+7ºC).

Assim, em resposta ao aquecimento, o gelo das calotas polares

poderá derreter-se, o que irá causar um aumento do nível do mar e a

inundação de diversas cidades litorâneas. Além disso, o aumento da

temperatura terá como conseqüência mudanças no padrão de circulação

atmosférica e, com isso, alterações no regime de chuvas.

O Brasil é um país de dimensões continentais com regiões e

climas diversos, como a Amazônia, o semi-árido nordestino, o planalto central

coberto pelo cerrado, a região sul e a região litorânea, cobertas pela Mata

Atlântica. Essas áreas têm características climáticas diferentes hoje e

provavelmente o terão também no futuro.

O Brasil já sofre hoje tremendamente com os padrões de

variabilidade climática. As secas da região nordeste são uma tragédia sócio-

econômica de enormes proporções, as enchentes nos grandes centros urbanos

trazem sofrimento e enormes prejuízos. As perdas de safras agrícolas em

decorrência de secas ocasionais ou chuvas excessivas são freqüentes. Além

disso, a diminuição das chuvas em bacias hidrográficas poderá trazer

problemas de suprimento de água para os centros urbanos, para a irrigação e

para a geração de energia hidrelétrica.

4.2 – DESMATAMENTO

O desmatamento pode ser definido como a destruição de matas e

florestas de forma indiscriminada, para comercialização de madeira, utilização

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dos terrenos para agricultura, pecuária, urbanização, qualquer outra atividade

econômica ou obra de engenharia.

O mundo está sob o risco de perder praticamente todas as suas

florestas tropicais restantes nas próximas décadas. Hoje, cerca de 40% das

florestas do planeta já desapareceram. Aquelas que restam estão sendo

destruídas a um ritmo tão acelerado. O desmatamento vem provocando sérios

impactos ambientais, destacando as alterações climáticas, a degradação do

solo, o comprometimento da rede hidrográfica e redução da complexidade e a

biodiversidade das comunidades florestais, essenciais para garantia da

estabilidade dos ecossistemas.

O clima do mundo é afetado com a destruição das florestas

porque elas regulam a temperatura, o regime de ventos e de chuvas. As

precipitações provêm, além de outros fatores, da evaporação da água por meio

da transpiração das plantas A redução drástica da camada vegetal leva à

diminuição das chuvas e, paralelamente, ao aquecimento da terra.

Como já foi mencionado, as florestas são diretamente responsáveis

pelas chuvas, pois as gigantescas árvores absorvem grande parte da água,

devolvendo-a lentamente ao meio ambiente sob forma de umidade. A devastação

da floresta, reduzindo a quantidade de chuva na região, pode levar a um processo

de desertificação. Desprovido de sua cobertura vegetal, o solo fica mais vulnerável

à erosão.

O desmatamento, aliado às queimadas, vem tornando o problema

ambiental ainda mais grave. As queimadas são realizadas geralmente para

formação de pastagens e lavouras temporárias. Elas destroem enormes áreas

de florestas em todo o mundo, provocando a emissão de dióxido de carbono,

monóxido de carbono e metano, que são responsáveis por possíveis alterações

climáticas do globo e destruição da camada de ozônio da atmosfera.

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Uma vez destruída, as florestas não podem ser recuperadas. Mesmo

removendo apenas as árvores maiores, o frágil ecossistema florestal não resistirá.

Com ele, estão perdidas para sempre comunidades inteiras de plantas e animais,

muitas das quais de grande valor para o homem. Há séculos, tribos que vivem nas

florestas têm usado as propriedades químicas de muitas espécies de plantas para

obter drogas e medicamentos. A própria ciência moderna já reconhece o valor

dessas ervas medicinais, algumas para o tratamento de doenças graves como

câncer, leucemia, problemas musculares e cardíacos.

4.3 – BURACO DA CAMADA DE OZÔNIO

O ozônio (O3) é um gás instável, diamagnético, com ponto de

ebulição de 112ºC. É uma forma alotrópica do oxigênio constituída por três

átomos unidos por ligações simples e duplas, sendo um agente oxidante

extremamente poderoso, porém é mais fraco apenas que o F2, reagindo muito

mais rapidamente que o oxigênio (O2). Sua alta reatividade o transforma em

elemento tóxico capaz de atacar proteínas, destruindo microorganismos e

prejudicar o crescimento dos vegetais.

A camada de ozônio é uma proteção gasosa que envolve a Terra

e a protege de vários tipos de radiação, sendo que a principal delas, a radiação

ultravioleta, que é a principal causadora de câncer de pele. O ozônio (O3) é

produzido naturalmente na estrastosfera pela ação fotoquímica dos raios

ultravioleta sobre as moléculas de oxigênio.

A radiação ultravioleta é uma parte do espectro solar que pode

ser separada em três partes: a radiação UV-A (320 a 400 nm), a radiação UV-B

(280 a 320 nm) e a radiação UV-C (280 nm a comprimentos de onda ainda

menores). A radiação UV mais importante é a UV-B. Esta radiação é absorvida

na atmosfera pelo ozônio, na estratosfera. A pequena quantidade que passa

pela atmosfera e atinge a superfície é muito importante, porque excessos desta

radiação causam câncer de pele. Como a camada de ozônio está ainda

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diminuindo, e vai continuar assim por mais algumas décadas, acredita-se que o

UV-B vai aumentar sua intensidade no futuro.

De uma forma geral, a formação do ozônio se dá quando os raios

ultravioletas C (UV-C) atingem uma molécula de oxigênio (O2), dividindo-as em

dois átomos de oxigênio. Estes, separados, se juntam rapidamente a outras

moléculas de oxigênio (O2), formando o ozônio (O3). Depois de formado, o

ozônio absorve a luz ultravioleta, sobretudo o UV-B, se quebrando novamente,

quando, então, volta-se a ter oxigênio (O2) e um átomo de oxigênio (O). E

finalmente, quando uma molécula de ozônio (O3) encontra-se com o átomo de

oxigênio (O), formam-se, outra vez, duas moléculas estáveis de oxigênio (O2).

No último século, devido ao desenvolvimento industrial, passaram

a ser utilizados produtos que emitem clorofluorcarbonos (CFCs). Os CFCs são

usados extensivamente em aerossóis, ar-condicionado, refrigeradores e

solventes de limpeza. Os dois principais tipos de clorofluorcarbonos são: o

triclorofluorcarbono (CFCl3) ou CFC-11 e diclorodifluormetano (CF2Cl2) ou

CFC-12. O CFC-11 é usado em aerossóis, enquanto que o CFC-12 é

tipicamente usado em refrigeradores. Ao atingir a camada de ozônio, os CFCs

destroem as moléculas que a formam (O3), causando assim a destruição dessa

camada da atmosfera. Sem essa camada, a incidência de raios ultravioletas

nocivos à população planetária fica sensivelmente maior, aumentando as

chances de contração de câncer.

A camada de ozônio é destruída porque as moléculas de CFC

passam intactas pela troposfera, que é a camada da atmosfera que vai da

superfície até uma altitude média de 10.000 metros. Em seguida essas

moléculas atingem a estratosfera, onde os raios ultravioletas do sol aparecem

em maior quantidade. Esses raios quebram as moléculas de CFC liberando

átomos de cloro (Cl) que atuam como catalisador da reação de destruição de

ozônio. Este átomo, então, rompe a molécula de ozônio (O3), formando

monóxido de cloro (ClO) e oxigênio (O2). O monóxido de cloro reage com

átomos de oxigênio, produzindo moléculas de O2 e novamente, átomos de

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cloro. O átomo de cloro regenerado inicia um novo ciclo de destruição,

portanto, um único átomo de cloro pode ser capaz de destruir até cem mil

moléculas de ozônio.

Quanto aos impactos ambientais causados pela destruição da

camada de ozônio, especula-se que na Antártida, o aumento da incidência do

ultravioleta B (UV-B) pode lesar estruturas biológicas como o DNA (ácido

desoxirribonucléico) e o sistema fotossintético dos vegetais. Além disso, a

destruição da camada de ozônio danificaria os sistemas aquáticos, afetando as

atividades pesqueiras. A saúde da população poderia ser afetada através do

aumento de casos de câncer de pele, catarata e distúrbios imunológicos.

4.4 – DESERTIFICAÇÃO

Inicialmente, o termo “desertificação” surgiu para caracterizar

aquelas áreas que estavam ficando "parecidas com desertos" ou desertos que

estavam se expandindo. Segundo a Convenção das Nações Unidas de

Combate à Desertificação, a desertificação foi definida como sendo a

“degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas

resultantes de fatores diversos tais como, as variações climáticas e as

atividades humanas”. Entende-se por “degradação da terra” a degradação dos

solos e recursos hídricos, a degradação da vegetação e biodiversidade e a

redução da qualidade de vida da população afetada.

Este conceito foi negociado durante a Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio–92), sendo que hoje é

internacionalmente aceito. Conforme acordos estabelecidos pelos governos

dos países reunidos, os processos de desertificação foram atribuídos

simultaneamente a atividades humanas (ações de degradação dos recursos

naturais) e a fatores climáticos, como as secas.

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A degradação da terra pela ação do homem deve-se entendê-la

como tendo, pelo menos, cinco componentes, conforme propõe a FAO (Food

and Agriculture Organization of The United Nations):

a) Degradação das populações animais e vegetais (degradação biótica

ou perda da biodiversidade) de vastas áreas do semi-árido devido à

caça e extração de madeira.

b) Degradação do solo, que pode ocorrer por efeito físico (erosão

hídrica ou eólica e compactação causada pelo uso da mecanização

pesada) ou por efeito químico (salinização ou sodificação).

c) Degradação das condições hidrológicas de superfície devido à perda

da cobertura vegetal.

d) Degradação das condições geohidrológicas (águas subterrâneas)

devido a modificações nas condições de recarga.

e) Degradação da infra-estrutura econômica e da qualidade de vida dos

assentamentos humanos.

A definição estabelecida para desertificação foi adotada pelo

PNUMA e, com base nela, foram definidas as áreas susceptíveis à

Desertificação. Essas áreas correspondem terras submetidas aos climas áridos

(árido, semi-árido e sub-úmido seco). Todavia, o escopo da Convenção

restringe-se, portanto, às regiões semi-áridas e sub-úmidas secas do mundo.

Estas regiões que compreendem a área em torno de 51.720.000 km2, quase

1/3 de toda a superfície do planeta. Deste total são excluídas as áreas hiper-

áridas, os desertos, que somam 9.780.000 km2, 16% da superfície terrestre.

As principais causas da degradação das zonas áridas são os usos

inadequados dos recursos da terra, agravados pelas secas. Os usos mais

nocivos ao meio ambiente são o uso intensivo dos solos tanto na agricultura

moderna quanto na tradicional, as práticas inapropriadas de irrigação,

particularmente sem o uso de drenagem, a pecuária extensiva e o

desmatamento em áreas com vegetação nativa.

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Segundo dados do “International Centre for Arid and Semi-Arid

Land Studies” – ICASALS, na Universidade do Texas (EUA), o total de terras

degradadas seria de 69,0 % de todas as terras áridas do mundo. Este dado

inclui as áreas onde existem alguma degradação da vegetação sem a

existência de degradação de solos.

Tabela 3: Áreas Afetadas pela Desertificação

Tipo Área (Km2) %

1. Áreas degradadas por irrigação 430.000 0,8

2. Áreas degradadas por agricultura 2.160.000 4,1

3. Áreas degradadas por pecuária 7.570.000 14,6

4. Áreas secas com degradação de solos (1+2+3) 10.160.000 19,5

5. Áreas degradadas de pastoreio 25.760.000 50,0

6. Total de áreas secas degradadas (4+5) 35.920.000 69,0

Sob ponto de vista social, deve-se acrescentar, que em grande

parte das áreas susceptíveis à desertificação e à seca está a pobreza, que vem

sendo reconhecida em todo o mundo como sendo um dos principais fatores

associados ao processo de degradação da terra. Além disso, existem

problemas como o abandono das terras por parte das populações mais pobres,

a diminuição da qualidade de vida, o aumento da mortalidade infantil e a

diminuição da expectativa de vida da população.

Segundo dados da ONU, o processo de desertificação vem

colocando fora de produção, anualmente, uma área em torno 60.000 Km2

devido às inadequadas atividades do homem. As principais perdas econômicas

devido à desertificação são a perda na produção e produtividade agrícolas, a

diminuição da renda e do consumo da população e elevado custo de

recuperação das terras degradadas.

As causas e os motivos da desertificação são resultados do

modelo de desenvolvimento econômico que vem sendo adotado. Para

solucionar o problema deve-se buscar "um modelo de desenvolvimento que

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permita aumentar a qualidade de vida das pessoas, sem deteriorar o meio

ambiente e este é o desafio".

4.5 – POLUIÇÃO HÍDRICA

A água é o componente vital no sistema de sustentação da vida

na Terra. Cobre cerca de 75% da superfície terrestre formando os rios, os

lagos, os mares, os lençóis subterrâneos, os pólos e até o ar atmosférico. No

entanto, somente uma pequena parte dessa água, cerca de 113 trilhões de m3,

está à disposição da vida no planeta. Apesar de parecer um número muito

grande, a Terra corre o risco de futuramente não mais dispor de água limpa.

A quantidade de água disponível no mundo, que possa ser

prontamente utilizada pelo ser humano, é relativamente muito pequena e mal

distribuída geograficamente, existindo regiões áridas onde existem poucos

cursos d'água indispensáveis para sobrevivência humana. Por outro lado,

regiões brasileiras como, por exemplo, a Amazônia e o Pantanal, possuem

gigantescas bacias hidrográficas, com uma inestimável biodiversidade ligada

ao ecossistema formado por estas condições de umidade.

O ecossistema aquático é extremamente susceptível de sofrer

poluição e contaminações derivadas das atividades humanas. A poluição da

água pelo lançamento de substâncias orgânicas e inorgânicas, resultantes

principalmente do esgoto doméstico, dos efluentes industriais e do uso de

agrotóxicos na agricultura, tem comprometido sua qualidade para utilização

pelas plantas, animais e para o uso humano. Por certo, a obtenção de água

potável será o maior desafio para os próximos anos.

A poluição da água indica que um ou mais de seus usos foram

prejudicados em função das alterações em suas características físicas,

químicas e biológicas, podendo atingir o homem de forma direta, pois ela é

usada por este como bebida, para tomar banho, para lavar roupas e utensílios

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e, principalmente, para sua alimentação e dos animais domésticos. Além disso,

abastece nossas cidades, sendo também utilizada nas indústrias e na irrigação

de plantações.

Para que a água seja utilizada ou consumida pelo homem, esta

deve ter aspecto limpo, pureza de gosto e estar isenta de microorganismos

patogênicos, o que é conseguido através do seu tratamento, desde da retirada

dos rios até a chegada nas residências urbanas ou rurais. Além disso, para a

água se manter em boas condições, deve-se evitar sua contaminação por

resíduos, sejam eles agrícolas, domésticos, industriais, lixo ou sedimentos

vindos da erosão.

Quando despejamos os esgotos domésticos em córregos, rios e

mares, não estamos apenas tornando a água imprestável para nosso consumo.

Dessa forma, o homem vem contribuindo para acabar com a vida aquática, já

que os esgotos são ricos em resíduos fecais, restos de alimentos, substâncias

orgânicas recalcitrantes e bactérias coliformes. Em geral, a matéria orgânica

dissolvida alimenta os diversos microrganismos que, para metabolizá-la,

consomem o oxigênio das águas.

A fartura de matéria orgânica faz com que os microorganismos se

reproduzam excessivamente, o que exige muito gás oxigênio, que é retirado do

ar dissolvido na água. Depois de algum tempo, o oxigênio da água acaba. Os

microrganismos começam a morrer e, junto com eles, todas as outras formas

de vida que havia antes na água, inclusive plantas e animais aquáticos. Foi

isso, por exemplo, que aconteceu com parte do rio Tietê que corta a cidade de

São Paulo, como também, com a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro,

quando houve uma grande mortandade de peixes.

A indústria é a maior responsável pela degradação ambiental. Os

principais poluentes de origem industrial são os compostos orgânicos e

inorgânicos e os metais pesados. Um dos principais poluentes orgânicos de

origem industrial são os compostos fenólicos, como por exemplo, benzeno,

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tolueno, xileno e fenol, provenientes de indústrias químicas e farmacêuticas e

dos esgotos hospitalares que, mesmo em baixas concentrações, podem alterar

a qualidade da água potável e o sabor dos peixes contaminados.

O petróleo polui a água do mar durante seu transporte, pois

ocorrem vazamentos e a limpeza dos petroleiros é feita no mar. Ele se espalha

sobre a água, formando uma camada que impedi as trocas gasosas e a

passagem da luz. Com isso, muitos peixes ficam com as brânquias obstruídas,

o que os impedem de respirar e as aves marinhas, com as penas lambuzando

de petróleo, perdem a capacidade de voar e de boiar, o que as condena à

morte.

Os detergentes utilizados na limpeza de equipamentos de

diversas indústrias também poluem as águas, uma vez que, impedem a

decantação e a deposição de sedimentos e, como reduzem a tensão

superficial, permitem a formação de espuma na superfície da água. Tal fato

impede o desenvolvimento da vida aquática. Enquanto isso, as indústrias de

celulose e papel despejam nos rios efluentes compostos por fibras, breu e

celulose, que apresenta difícil degradação.

Os principais compostos inorgânicos que ameaçam a integridade

dos recursos hídricos são basicamente os metais pesados, como por exemplo,

zinco, chumbo, cádmio, mercúrio, ferro e arsênio, provenientes de indústrias

químicas e farmacêuticas, de usinas siderúrgicas e indústrias de fertilizantes,

além das atividades de mineração. Dentre os metais pesados, o mercúrio é o

mais letal quando é despejado de forma negligente na natureza.

Quando um curso d'água é poluído por mercúrio, parte deste se

volatiliza na atmosfera e torna a cair na superfície com as chuvas, enquanto a

outra parte é absorvida direta ou indiretamente por plantas e animais aquáticos,

provocando a sua concentração em quantidades cada vez maiores nos animais

que estão mais acima na cadeia alimentar, como os peixes, que por sua vez

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são ainda consumidos pelo homem. Além disso, a atividade microbiana

transforma o mercúrio metálico em mercúrio orgânico, que é altamente tóxico.

Outra atividade humana que causa poluição da água é o uso

intensivo de agrotóxicos (herbicidas, praguicidas e inseticidas) para proteger as

plantações contra ataques de pragas que ameaçam as colheitas. Quando

usados indevidamente, enviam grandes quantidades de substâncias tóxicas

para os rios e lagos através das chuvas podendo até atingir os mares.

Mesmo em baixas concentrações, os agrotóxicos podem ser

tóxicos, principalmente aqueles de difícil degradação e que estão sujeitos a

contaminação cumulativa, como é caso dos produtos organoclorados. Os

organismos aquáticos, desde microorganismos até organismos superiores, são

afetados pelos agrotóxicos. Os que não morrem, acumulam tais substâncias

quando são comidos por outros, sendo que o efeito tóxico é potencializado e

transferido por toda cadeia alimentar, atingindo o próprio homem quando este

se alimenta de peixes contaminados, o que provoca graves prejuízos à saúde.

Os fertilizantes químicos inorgânicos ricos, principalmente em

nitrogênio e fósforo, são empregados para aumentar a produtividade agrícola,

como também responsáveis pela poluição hídrica. Quando utilizados de forma

exagerada, acabam sendo carregados pelas chuvas dos campos de cultivo

para os cursos d'água, contribuindo para a proliferação de microorganismos

autótrofos, grandes consumidores de oxigênio dissolvido na água, em prejuízo

das demais espécies que habitam esses ambientes aquáticos. Com a

diminuição do oxigênio, desenvolvem-se bactérias anaeróbias e produtos como

o sulfeto de hidrogênio, que é um gás de cheiro muito forte que, em grandes

quantidades, é tóxico, limitando e inibindo o desenvolvimento de outros

organismos aquáticos.

Geralmente, os depósitos de água subterrânea são mais

resistentes aos processos poluidores dos que os de água superficial, pois a

camada de solo sobrejacente atua como filtro físico e químico. Apesar disso, as

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fontes subterrâneas de água têm diminuído paulatinamente e já existe

escassez de água potável e de água para irrigação em muitas regiões do

mundo.

A poluição capaz de atingir as águas subterrâneas pode ter

origem variada. Considerando que os aqüíferos são corpos tridimensionais, em

geral extensos e profundos, diferentemente, portanto dos cursos d’água, a

forma da fonte poluidora tem importância fundamental nos estudos de impacto

ambiental.

A poluição de águas subterrâneas pode ser provocada

principalmente, pela infiltração de águas superficiais de rios e canais

contaminados, pelos líquidos percolados tóxicos de aterros sanitários, pelos

vazamentos de dutos transportadores de produtos químicos e pelo transporte

por difusão de poluentes através do solo contaminado. Normalmente, a

facilidade de um poluente atingir a água subterrânea dependerá do tipo de

aqüífero, da permeabilidade, da profundidade, do teor de matéria orgânica e do

tipo de óxidos e minerais de argila existentes no solo.

4.6 – POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

A poluição atmosférica caracteriza-se basicamente pela presença

de gases tóxicos e partículas sólidas no ar. Suas principais causas são: a

eliminação de resíduos por certos tipos de indústrias (siderúrgicas,

petroquímicas, de cimento, etc.), a queima de carvão e petróleo em usinas, a

combustão nos automóveis e sistemas de aquecimento doméstico.

A maioria dos países capitalistas desenvolvidos já possui uma

rigorosa legislação antipoluição, que obriga determinadas indústrias a terem

equipamentos especiais (filtros, tratamento de resíduos, etc.), ou ainda, a

utilizarem processos menos poluidores. Nesses países também é intenso o

controle sobre o aquecimento doméstico a carvão, a emissão veicular, etc. Tais

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procedimentos alcançam resultados consideráveis, embora não eliminem

completamente o problema da poluição do ar.

Nos grandes centros urbanos, o problema da poluição do ar é

uma das mais graves ameaças à qualidade de vida de seus habitantes. As

emissões causadas por veículos carregam diversas substâncias tóxicas que,

em contato com o sistema respiratório, podem produzir vários efeitos negativos

sobre a saúde. Essa emissão é composta de gases como: monóxido de

carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx), hidrocarbonetos (HC), óxidos de

enxofre (SOx), material particulado (MP), etc.

As indústrias também são as maiores responsáveis pela poluição

atmosférica, uma vez que, não respeita as florestas e as derrubam para utilizar-

se de seu local e construir seus parques industriais ou para usar a madeira.

Além disso, lançam poluentes como dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio,

que reagem com o vapor d’água e o oxigênio do ar transformando-se em ácido

sulfúrico e ácido nítrico, que por sua vez impregnam as águas da chuva,

gerando a chamada chuva ácida. Ao caírem na superfície, as chuvas ácidas

alteram a composição química do solo e das águas, destroem as florestas,

causam danos às plantações, atacam estruturas metálicas, monumentos e

edificações, atingem as cadeias alimentares e indiretamente o homem.

Anteriormente, já foi mencionado que a indústria também produz

o clorofluorcarbono (CFC), que é um gás quimicamente inerte, porém capaz de

subir a grandes altitudes e destruir a camada de ozônio, que é responsável

pela absorção dos raios ultravioletas emitidos pelo sol, funcionando como um

escudo protetor da terra.

A partir da queima de combustíveis fósseis, as indústrias junto

com os automóveis e com a respiração humana, produzem o dióxido de

carbono, também conhecido como gás carbônico (CO2), que é um gás

renovado pelas plantas e com a propriedade de absorver calor, pelo chamado

efeito estufa. Todavia, as queimadas e o desmatamento diminuem a

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quantidade das plantas, como também geram uma grande quantidade de CO2

na atmosfera, contribuindo para o aquecimento do planeta.

4.7 – PRODUÇÃO DE LIXO

Outro problema ambiental é a destinação inadequada de resíduos

sólidos, principalmente o lixo doméstico. Depositado em locais inadequados, o

lixo polui o ar, exalando gases e causando maus odores, e polui também o solo

e as águas superficiais e subterrâneas através do chorume. Além disso, o lixo

atrai animais como ratos, baratas e mosquitos, que se reproduzem em grande

escala e que são transmissores de várias doenças. Jogado nas ruas, o lixo

entope bueiros e galerias de águas pluviais, o que provoca enchentes

desastrosas na época das chuvas.

O volume de lixo tem crescido assustadoramente. O problema é

complexo; pois somente uma pequena parcela do lixo vai para os locais

adequados, como por exemplo, aterros sanitários, incineradores, usinas de

reciclagem e compostagem. No Brasil, praticamente não existem aterros

sanitários, mas sim poucos aterros controlados e a maioria, lixões a céu aberto,

onde o resíduo sólido urbano é jogado em qualquer lugar, inclusive diretamente

nos rios ou nas suas proximidades, o que leva ao carreamento dos mesmos

para os corpos d’água.

O maior problema encontrado nos aterros sanitários é a produção

de chorume pela decomposição anaeróbia do lixo. Este é um líquido escuro

contendo alta carga poluidora, o que pode ocasionar diversos efeitos sobre o

meio ambiente, já que compromete os recursos hídricos pela poluição das

águas superficiais e subterrâneas.

A decomposição dos resíduos sólidos também dá origem a uma

mistura gasosa, conhecida como biogás, constituído por cerca de 60% de

metano (CH4) e 40% de dióxido de carbono (CO2), o que contribui para o

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aumento do efeito estufa. Portanto, para que o aterro sanitário seja explorado

corretamente é necessário que este possua uma rede de drenagem de águas

pluviais, um sistema de captação e aproveitamento de biogás e um sistema de

captação e tratamento de chorume.

Dentre todos os resíduos poluentes, os mais perigosos são os

radioativos, que são resultantes da tecnologia nuclear desenvolvida no final do

século XX. A poluição radioativa provoca morte imediata, deformações

congênitas e câncer, dependendo da intensidade e tempo de exposição. As

substâncias radioativas são usadas como combustível em usinas atômicas de

geração de energia elétrica, em motores de submarinos nucleares, em

equipamentos médico-hospitalares e em instalações militares envolvidas na

construção de armas nucleares.

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CAPÍTULO V

EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL EE CCIIDDAADDAANNIIAA

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5 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA

“A educação ambiental busca um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual, quanto coletivo. Ela deve começar em casa, ganhar as praças e as ruas, atingir os bairros e as periferias, evidenciar as peculiaridades regionais, apontando para o nacional e o global. Deve gerar conhecimento local, sem perder de vista o global, precisa necessariamente, revitalizar a pesquisa de campo, no sentido de uma participação pesquisante, que envolva pais, estudantes, professores e comunidade. É um passo fundamental para a conquista da cidadania” (OLIVEIRA, 2000).

Segundo DALLARI (1998), a palavra cidadania expressa um

conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente

da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está

marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando

numa posição de inferioridade dentro do grupo social. No entanto, cidadania

não é simplesmente a conquista legal de alguns direitos significa a realização

destes direitos. É necessário que o cidadão participe, seja ativo, faça valer os

seus direitos.

Após definir o conceito de cidadania, surge a seguinte pergunta:

Como relacionar a Educação Ambiental com a cidadania? A cidadania está

relacionada com pertencer a uma coletividade e criar identidade com ela. A

Educação Ambiental, como formação e exercício de cidadania, significa uma

nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa

nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver

o mundo e os homens.

No Brasil, o Artigo 225 da Constituição da República Federativa,

promulgada em 05 de outubro de 1988 reconhece que: “Todos têm direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

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gerações”. É na tensão entre a necessidade de se garantir esse direito e a

forma como o ser humano está se apropriando dos recursos presentes na

natureza, que há o relacionamento entre cidadania e meio ambiente.

Segundo BERNA (1999), a destruição da natureza não resulta

somente da forma como os seres humanos se relacionam com o planeta, mas

da maneira como se relacionam entre eles. Ao desmatar, queimar, poluir,

utilizar ou desperdiçar recursos naturais ou energéticos, cada ser humano está

reproduzindo o que aprendeu ao longo da história e cultura de seu povo.

Portanto, a ação destruidora não é um ato isolado de um ou outro indivíduo,

mas reflete as relações culturais, sociais e tecnológicas de sua sociedade.

No seu livro “Como fazer Educação Ambiental” BERNA (1999)

também menciona que o ensino sobre o meio ambiente deve contribuir

principalmente para o exercício da cidadania, estimulando a ação

transformadora, além de buscar aprofundar os conhecimentos sobre as

questões ambientais de melhores tecnologias, estimular mudança de

comportamentos e a construção de novos valores éticos menos

antropocêntricos. A educação ambiental é fundamentalmente uma pedagogia

de ação. Não basta se tornar mais consciente dos problemas ambientais, tem

que se tornar também mais ativo, crítico participativo. Em outras palavras, o

comportamento dos cidadãos em relação ao seu meio ambiente, é

indissociável do exercício da cidadania.

Segundo a Coordenação Geral de Educação Ambiental (COAE)

do MEC, entende-se por Educação Ambiental como “componente essencial de

um processo pedagógico reflexivo, crítico e interdisciplinar que tenha como

objetivo a formação da cidadania plena; de mudança de valores, percepções e

comportamentos; e de preparação para ações transformadoras, especialmente

para a gestão ambiental, elemento fundamental para a sustentabilidade”.

Dessa forma, o exercício da Educação Ambiental na construção

da cidadania possibilita assumir a transformação individual como meio para

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sociedade atingir, ao longo de um certo tempo, uma conduta ambientalmente

mais responsável. Um outro direcionamento, ao contrário do anterior, considera

a transformação individual como decorrente do engajamento do sujeito na

construção coletiva de práticas sociais e ambientais responsáveis.

No Brasil é possível observar que o poder de decidir e intervir

para transformar o ambiente seja ele físico, natural ou construído, assim como

os benefícios e custos dele decorrentes não estão simetricamente distribuídos

socialmente e geograficamente na sociedade. Somente alguns grupos sociais,

aqueles que por serem detentores de poder econômico ou de poderes

outorgados pela sociedade, podem, por meio de suas ações, ser capazes de

influenciar direta ou indiretamente e de forma positiva ou negativa na

transformação da qualidade do meio ambiente.

Geralmente, quando é feita uma análise superficial os danos

ambientais, há uma tendência de atribuir as responsabilidades à ação humana,

deixando de perceber que o homem vive em sociedades heterogêneas,

formadas por grupos e classes sociais com poderes, atividades e interesses

diferenciados. Como os homens ocupam posições sociais diferentes, eles se

relacionam de forma diferente com o meio ambiente.

No que se refere à realidade brasileira, as desigualdades sociais,

a exclusão social, a pobreza e a ineficácia do sistema educacional são fatores

que tornam o exercício da cidadania um grande desafio. Este problema é

agravado pelo fato da impossibilidade do brasileiro, independente do seu grau

de escolaridade, de estabelecer ligações entre o desenvolvimento econômico e

os problemas ambientais observados no território nacional e no mundo. Além

disso, é impossível pretender que seres humanos explorados, injustiçados e

desprovidos de seus direitos de cidadãos consigam compreender que não

devam poluir o meio ambiente e explorar outros seres vivos.

Ao lado da globalização econômica, assiste-se a globalização dos

problemas ambientais. Logo, a cidadania que se busca a partir do processo

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educativo ambiental, é a cidadania ecológica e planetária, com a consolidação

dos direitos civis, políticos e sociais, e a busca por melhor qualidade de vida,

bem-estar social e respeito aos limites dos recursos naturais e não renováveis

existentes no planeta. No entanto, a realidade mundial mostra que a ação e o

nível de consciência ecológica são mais presentes e desenvolvidos naqueles

países com maior nível de informação, educação, renda e cidadania, ou seja,

onde os indivíduos conhecem e exercitam plenamente seus direitos e deveres

sociais.

O cidadão só pode agir de forma consciente no sentido da ação

desde que as suas competências e capacidades tenham sido desenvolvidas

com o objetivo de tornarem possível a sua atuação. É necessário que o

processo ensino-aprendizagem deva ser preferencialmente orientado para

valores, como apreço pela aprendizagem, respeito e cuidado por si próprio,

respeito pelos outros, respeito pelo meio ambiente, responsabilidade social,

sentimento de pertença e participação pública e cívica.

Segundo BERNA (1999), o ensino para o meio ambiente também

está intimamente associado à cultura. Um povo sem identidade cultural é difícil

de ser mobilizado em defesa das questões ambientais, já que se importa muito

pouco em saber que o patrimônio da coletividade, seja ambiental, seja

arquitetônico, histórico, cultural, a própria rua, a praça, está sendo ameaçado

ou destruído. Entretanto, muitas vezes o povo até apresenta consciência

ecológica, mas a ecologia em países pobres significa combater o esgoto a céu

aberto, o lixo não recolhido, a água contaminada, etc. Para a população,

especialmente a mais carente, as questões ecológicas devem ser associadas à

qualidade de vida.

Nesse contexto, a Educação Ambiental através de uma reforma

conceitual, deve propiciar uma mudança no comportamento de crianças e de

jovens, iniciando-os em seus papéis de cidadãos, estimulando sua participação

nas decisões sobre diversos assuntos referentes à realidade que os cerca,

formando cidadãos preocupados com o planeta, abertos para o mundo,

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atuando ativamente no local onde estão inseridos, agindo em relação aos

outros seres humanos com respeito, solidariedade e fraternidade.

No Brasil, todas as propostas de fortalecimento da cidadania e de

melhoria da qualidade da vida social passam, necessariamente, pelo

desenvolvimento da participação social. No entanto, a sociedade brasileira

historicamente autoritária, paternalista, individualista e dotada de baixos níveis

de educação política, produz nos indivíduos um conjunto de atitudes e

sentimentos negativos, que os distancia da ação coletiva e da mobilização

social para resolver seus próprios problemas comunitários. Desse modo,

acabam predominando a descrença, a apatia, a inércia e o despreparo para a

participação social. O cidadão, nessas condições, tende a perder a confiança e

a crença de que sua atitude individual pode ser transformada numa iniciativa

coletiva e eficaz.

Na Educação Ambiental também deve evitar o reducionismo no

tratamento da problemática ambiental. Para isso, é necessário que haja a

consolidação de um entendimento mais amplo do processo de educação

ambiental, ou seja, de que a educação, ao trabalhar com as questões

ambientais, não se reduza à simples defesa da ecologia numa visão romântica

de meio ambiente, limitando a complexidade da crise ambiental a um problema

estritamente ecológico. Além disso, o ensino sobre o meio ambiente também

não deve ser reduzido a atual educação compartimentada e fragmentada, que

ensina a memorizar e compartimentar as informações e não juntá-las, fazendo

com que a educação se resuma na simples divisão do conhecimento em áreas

isoladas, que começa na pré-escola e atinge a universidade.

Conclui-se que a Educação Ambiental deve ser encarada como

um processo voltado para a apreciação e percepção da questão ambiental, sob

sua perspectiva histórica, econômica, social, cultural e ecológica, enfim, como

educação política, na medida em que são decisões políticas que, em qualquer

nível, irão dar lugar às ações que afetam o meio ambiente.

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CAPÍTULO VI

EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL EE

DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO SSUUSSTTEENNTTÁÁVVEELL

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6 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

“Meio ambiente e desenvolvimento não consistem em desafios separados; estão inevitavelmente interligados. O desenvolvimento não se mantém se a base de recursos ambientais se deteriora; o meio ambiente não pode ser protegido se o crescimento não leve em conta as conseqüências da destruição ambiental”. (Relatório Brundtland – Nosso Fórum Comum, 1997).

A partir do século XX começou-se a perceber em nível planetário

a degradação ambiental e suas catastróficas conseqüências, o que originou

estudos e as primeiras discussões com objetivo de desenvolver métodos para

reduzir os danos ambientais. Estes estudos concluíram que se não houver uma

estabilidade populacional, econômica e ecológica, os recursos naturais, que

são limitados, poderão ser extintos colocando em risco a sobrevivência da

espécie humana. Isso lançou subsídios para a idéia de se desenvolver, porém

preservando.

A década de 70 foi um marco na emergência de questionamentos

e manifestações ecológicas, a nível mundial, que defendiam a inclusão dos

problemas ambientais nas discussões internacionais sobre o desenvolvimento

das nações. Tais preocupações refletem a percepção de um crescente conflito

entre o modelo econômico e as alterações e desequilíbrios provocados nos

ecossistemas naturais.

O atual modelo de desenvolvimento econômico, baseado no

capitalismo industrial orienta-se segundo os princípios de mercado, valorizando

o acúmulo de capital, a produção em larga escala, a competitividade, a

lucratividade, a individualidade e o desenfreado consumismo em detrimento da

conservação dos recursos naturais e da qualidade de vida. Entretanto, um

desenvolvimento centrado no crescimento econômico que ignore os aspectos

ambientais e que coloque em segundo plano as questões sociais não pode ser

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denominado de desenvolvimento, já que se trata apenas de um crescimento

econômico.

É um erro pensar que a problemática sócio-ambiental é apenas

resultante do desenvolvimento tecnológico. É também fruto de uma cultura de

consumo. A sociedade capitalista industrial criou o mito do consumismo como

sinônimo de bem-estar e felicidade. Além disso, através da publicidade e

marketing, os valores estão cada vez mais voltados no prazer de usar bens e

serviços e no prestígio social.

A realidade mostra que o sistema capitalista não tem existido para

satisfazer as necessidades dos seres humanos, mas sim para atender aos

desejos e as necessidades do mercado consumidor e a lucratividade de

empresários e produtores, resultando na divisão da sociedade em zonas de

inclusão e de exclusão social, num processo crescente de desigualdade social.

O que existe é uma relação cíclica de fenômenos de pobreza e de degradação

ambiental, o que evidencia as desvantagens de crescimento econômico

apoiado na desigualdade social.

A intensificação dos problemas sócio-ambientais é principalmente

resultado da urbanização acelerada, do crescimento e da desigual distribuição

demográfica e do consumo excessivo de recursos não-renováveis. Diante

disso, os processos de desertificação do solo, a contaminação tóxica dos

recursos naturais; o desmatamento, a redução da biodiversidade, a geração do

efeito estufa e a redução da camada de ozônio e suas implicações sobre o

equilíbrio climático, entre outros, despertaram a atenção para a necessidade de

uma verdadeira reforma na sociedade, visando à conservação dos sistemas de

sustentação da vida.

Já é universalmente constatado que o crescimento econômico

deve ser concebido inevitavelmente associado à preservação ambiental e à

qualidade de vida. No entanto, o que vem ocorrendo é uma aceleração da

degradação e exaustão dos recursos naturais do nosso planeta, além de

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grandes problemas sociais, como miséria, fome, exclusão social e violência nos

centros urbanos.

Segundo SACHS (1986) pobreza e ecologia são realidades

interdependentes, que precisam ser compreendidas e abordadas de forma

integrada, na busca de um equacionamento mais adequado. Isto porque, se a

degradação ambiental agrava as condições de vida dos mais pobres, a

pobreza destes conduz a uma exploração predatória dos recursos naturais,

fechando um ciclo perverso de prejuízos sócio-ambientais.

Conforme a história da Educação Ambiental mundial apresentada

no Capítulo I, desde 1972 quando as Nações Unidas realizaram a Primeira

Conferência Mundial sobre Meio Ambiente em Estocolmo, até 1992, com a

realização da Segunda Conferência no Rio de Janeiro, o homem passou a se

preocupar com a utilização dos recursos limitados e não renováveis existentes

na natureza. Embora o desenvolvimento econômico seja uma meta desejada, é

crescente a preocupação em buscar um desenvolvimento sustentado e

eqüitativo, que preserve a qualidade de vida da humanidade.

Com a elaboração do Relatório Brundtland pela Comissão

Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987) surgiu, então, o conceito

de desenvolvimento sustentável. Considera-se, portanto, desenvolvimento

sustentável como o desenvolvimento que trata de forma interligada e

interdependente a variável econômica, social e ambiental sendo, portanto,

estável e equilibrado garantindo melhor qualidade de vida para as gerações

presentes e futuras.

Segundo este relatório define-se o desenvolvimento sustentável:

“É aquele que harmoniza o imperativo do crescimento econômico com a

promoção da eqüidade social e preservação do patrimônio natural, garantindo

assim que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas sem

comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras”. O

relatório Brundtland é um documento inovador, uma vez que, se recusa tratar

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exclusivamente dos problemas ambientais, fazendo opção por uma perspectiva

que relaciona o padrão de desenvolvimento econômico e seus impactos sobre

a natureza.

Desse modo, a definição de desenvolvimento sustentável cria a

possibilidade de conciliar desenvolvimento econômico, preservação ambiental

e desenvolvimento social, buscando novas formas de crescimento econômico

que sejam compatíveis com o uso sustentado dos recursos naturais, ou seja,

minimizando-se a exaustão desses recursos e melhorando a qualidade de vida

da população planetária.

O conceito de desenvolvimento sustentável lançado pelo Relatório

Brundtland tem, desde então, ocupado uma posição de destaque nos debates

internacionais sobre a relação existente entre a questão ambiental e o

desenvolvimento sócio-econômico. Entretanto, seu significado tem apresentado

algumas positividades, contradições em suas interpretações e obstáculos em

relação à sua consolidação como alternativa de desenvolvimento econômico e

social.

Dentre suas qualidades positivas, o desenvolvimento sustentável

apresenta caráter inovador, uma vez que consiste numa nova filosofia de

desenvolvimento econômico capaz de articular economia, ecologia e política de

forma integrada. Além disso, percebe-se outros pontos positivos como a visão

de longo prazo, sintonizada com os ciclos da natureza e com as gerações

futuras e o tratamento político do problema ecológico, o que vem superando

explicações reducionistas e simplificadoras do problema ambiental.

De acordo com MORIN (2000), nós vivemos durante dezenas de

anos com a evidência de que o crescimento econômico, por exemplo, traz ao

desenvolvimento social e humano aumento da qualidade de vida e de que tudo

isso constitui o progresso. Mas começamos a perceber que pode haver

dissociação entre quantidade de bens e de produtos e qualidade de vida;

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vemos igualmente, que, a partir de certo limiar; o crescimento pode produzir

mais prejuízos do que bem-estar.

LAGO & PÁDUA (1992) cita que um dos focos privilegiados da

crítica ao modelo de desenvolvimento econômico dominante é a contradição

existente entre uma proposta de desenvolvimento ilimitado a partir de uma

base de recursos finita. Esta contradição básica tem sido analisada de diversas

perspectivas, todas elas evidenciando a insustentabilidade da proposta a longo

prazo.

No seu trabalho "O Mito do Desenvolvimento Econômico",

FURTADO (1996) desmistifica a doutrina do desenvolvimento que prega que

os povos pobres têm a possibilidade de atingir os padrões de vida dos povos

ricos, desde que sigam o exemplo e as recomendações dos países

industrializados. O autor mostra ser essa uma meta irrealizável, já que os

custos para tanto, em termos de degradação do meio ambiente, seriam tão

elevados, que colocaria em risco a própria sobrevivência da espécie humana.

Analisando as tendências do ambientalismo sistematizadas por

LEIS (1995), segundo os princípios antropocêntricos do ecocapitalismo, a

questão ambiental é vista como um subproduto indesejável do progresso,

porém perfeitamente ajustável dentro da ordem capitalista e que dispensa

quaisquer mudanças mais profundas. Compreende o enfoque de mercado, que

julga o livre jogo entre produtores e consumidores capaz de avançar na direção

de uma sociedade sustentável.

HERCULANO (1992) destaca como uma variante da tendência

ecocapitalista, o tecnocentrismo, uma espécie de ambientalismo otimista e

acomodado, que acredita na superação da crise ambiental através do

desenvolvimento científico-tecnológico. Essa tendência tem sido bastante

criticada por seu reducionismo, que dissolve toda a complexidade da questão

ambiental em aspectos meramente técnicos.

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Ainda seguindo as tendências propostas por LEIS (1995), o

ecossocialismo defende o socialismo e expressa a incompatibilidade entre o

capitalismo e ecologia ao afirmar: "a lógica ecológica é a negação pura e

simples da lógica capitalista; não se pode salvar a terra dentro do quadro do

capitalismo. Não se trata de converter a abominação em beleza, de esconder a

miséria, de desodorizar o mau cheiro, de florir as prisões, os bancos, as

fábricas, não se trata de purificar a sociedade existente, mas de a substituir"

(HERCULANO, 1992).

Segundo as tendências do biocentrismo, defende-se a igualdade

de todas as espécies, dentro da comunidade biótica e uma nova ética que

substitua os valores antropocêntricos. Pode apresentar preocupações sociais e

políticas, sendo mais tendentes a uma visão espiritualista onde, ao contrário do

antropocentrismo, a natureza assume uma importância central.

Em função das diferentes tendências do ambientalismo, surgiram

as críticas que mostram as contradições e vulnerabilidades existentes em torno

do conceito de desenvolvimento sustentável. No contexto de uma economia

capitalista de mercado, questiona-se como é possível conciliar o crescimento

econômico e a preservação ambiental e atingir eficiência econômica, prudência

ecológica e justiça social de forma integrada. A ambigüidade do conceito existe

quando se identifica a industrialização maciça do sistema capitalista como o

único meio de superação da pobreza.

Desse modo, os maiores desafios encontrados no processo de

materialização do desenvolvimento sustentável são as discordâncias sobre

como construir um desenvolvimento multidimensional, que consiga integrar

justiça social, sustentabilidade ambiental, viabilidade econômica, democracia

participativa e ética comportamental. Além disso, existem grandes dificuldades

em conciliar as necessidades sociais, a distribuição de renda, o bem-estar

coletivo e a solidariedade com as exigências da racionalidade capitalista que

buscam competitividade, produtividade e lucratividade.

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HERCULANO (1991) explora uma contradição semântica do

desenvolvimento sustentável, já que existe um antagonismo na associação das

noções de sustentabilidade e desenvolvimento. A autora menciona que

sustentabilidade é um conceito da ecologia, que significa tendência à

estabilidade, equilíbrio dinâmico e interdependência entre ecossistemas,

enquanto desenvolvimento diz respeito ao crescimento dos meios de produção,

à acumulação e expansão das forças produtivas.

Em função de seu complexo contexto, para implementação do

desenvolvimento sustentável é necessário que sua idéia seja mobilizada e

articulada pelas pessoas, pela sociedade civil em parceria com o poder público.

É também necessário que haja um processo de discussão e comprometimento

de toda sociedade, o que implica em mudanças no modo de pensar e de agir

dos atores sociais. Assim, surge a Educação Ambiental como instrumento

indispensável para a implementação dos princípios da sustentabilidade, bem

como no sentido da construção de uma sociedade sustentável.

Para alcançar o desenvolvimento sustentado e eqüitativo são

também necessárias soluções comportamentais que envolvam mudanças de

valores sociais e de relacionamento humano entre si e com o planeta. O estilo

de vida de nossa sociedade parece estar fadado ao colapso, uma vez que se

encontra no limite da insustentabilidade. Cabe então, agora, relacionar a noção

de sustentabilidade e sociedade para chegar ao conceito de sociedade

sustentável.

Segundo a publicação conjunta da União Internacional para

Conservação da Natureza – UICN, do Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente – PNUMA e do Fundo Mundial para a Natureza – WWF, uma

sociedade sustentável é aquela que vive em harmonia com nove princípios

interligados apresentados resumidamente a seguir:

„ Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos.

„ Melhorar a qualidade da vida humana.

„ Conservar a vitalidade e a diversidade do Planeta Terra.

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„ Minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis.

„ Permanecer no limites de capacidade de suporte do Planeta Terra.

„ Modificar atitudes e práticas pessoais.

„ Permitir que as comunidades cuidem do seu próprio ambiente.

„ Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e

conservação.

„ Construir uma aliança global.

Para que estes princípios sejam seguidos, deve-se adotar novas

atitudes como, por exemplo, substituir os recursos não renováveis ou limitados

por renováveis; ter uma taxa de exploração igual ou menor que a taxa de

regeneração dos recursos naturais; utilizar recursos não renováveis capazes

de ser reciclados e reutilizados; ter taxas de emissão de contaminantes

biodegradáveis iguais ou menores que as taxas de assimilação pelos ciclos

naturais; proibir contaminações por poluentes não biodegradáveis e que não se

reintegram ao ciclo da natureza.

Segundo FERREIRA & VIOLA (1996), uma sociedade sustentável

é aquela que mantém o estoque de capital natural ou compensa pelo

desenvolvimento do capital tecnológico uma reduzida depleção do capital

natural, permitindo assim o desenvolvimento das gerações futuras. Numa

sociedade sustentável o progresso é medido pela qualidade de vida (saúde,

longevidade, maturidade psicológica, educação, ambiente limpo, espírito

comunitário e lazer) ao invés de pelo puro consumo material.

Para concluir este capítulo, é importante citar que é praticamente

impossível construir um desenvolvimento sustentável sem uma educação

voltada para o desenvolvimento sustentável. A educação é um elemento chave

no processo de mudança de mentalidades, hábitos e comportamentos, no

sentido de uma sociedade sustentável A educação para sustentabilidade não

significa simplesmente viver melhor amanhã, mas viver de modo diferente hoje,

e, para que isso aconteça, exige profundas mudanças na forma de pensar,

viver, produzir e consumir de toda sociedade.

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CAPÍTULO VII

OOSS NNOOVVOOSS RRUUMMOOSS DDAA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO

AAMMBBIIEENNTTAALL NNOO BBRRAASSIILL

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7 – OS NOVOS RUMOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO

BRASIL

“A educação para o desenvolvimento sustentável exige novas orientações e conteúdos; novas práticas pedagógicas, nas quais se plasmem as relações de produção do conhecimento e os processos de circulação, transmissão e disseminação do saber ambiental. Isto traz a necessidade de serem incorporados os valores ambientais e os novos paradigmas do conhecimento na formação de novos atores da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável” (LEFF, 1999).

Os principais problemas ambientais foram apresentados no

Capítulo IV. Diante dessa crise ambiental, todo ser humano precisa com

urgência ser ecologicamente alfabetizado para que realmente conheça e se

sinta responsável pelo mundo em que vive. Segundo CAPRA (1999), "ser

ecologicamente alfabetizado, eco-alfabetizado, significa entender os princípios

de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar esses

princípios para criar comunidades humanas sustentáveis. Precisamos

revitalizar nossas comunidades, inclusive nossas comunidades educativas,

comerciais e políticas, de modo que os princípios da Ecologia se manifestem

nelas como princípios de educação, de administração e de política”.

Segundo este mesmo autor a principal causa dos problemas

ambientais é a ignorância ecológica. Ele parte do princípio de que conforme o

ser humano torna-se alfabetizado ecologicamente e internaliza os princípios

ecológicos, ele trará para o seu cotidiano, atitudes sócio-ambientais corretas.

Entretanto, em virtude da complexidade da crise planetária, o ser humano

necessita muito mais do que ser alfabetizado ecologicamente, ele necessita de

uma alfabetização ambiental, que não seja apenas ecológica, à margem dos

problemas sociais.

A Educação Ambiental surge como alternativa para reverter a

crise planetária e atuar para que o conhecimento supere a ignorância. Para

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isso sua conceituação deve englobar ações e atividades destinadas a mudar a

mentalidade dos indivíduos de forma que eles se tornem mais conscientes e

preocupados com o meio ambiente e que tenham compromisso em buscar

soluções para os problemas ambientais existentes, visando principalmente a

melhoria da qualidade de vida, bem como a harmonia entre os seres humanos

e destes com outras formas de vida.

Assim, alterando a ênfase dominante até o início dos anos 90, a

Educação Ambiental não se apresenta mais relacionada apenas à conservação

da diversidade da flora, da fauna e da preservação dos recursos naturais, como

a água, o solo e o ar. Sua nova perspectiva inclui a melhoria da qualidade de

vida com a eliminação da fome, da miséria, das doenças, da violência, entre

outros problemas sociais. Dessa forma, a Educação passa ter um enfoque

multidimensional na análise e tratamento dos problemas ambientais, levando

em conta a sustentabilidade dos ecossistemas.

Pela história da educação ambiental brasileira apresentada no

Capítulo II, a Educação Ambiental foi assumida como obrigação nacional pelo

Capítulo IV, Art. 225, § 1º inciso VI da Constituição da Federal de 1988. Abaixo

estão apresentados trechos desta Constituição que correspondem aos artigos

205 e 206, Seção I do CAPÍTULO III – DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO

DESPORTO e ao artigo 225 do CAPÍTULO VI – DO MEIO AMBIENTE:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e

o saber;

III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de

instituições públicas e privadas de ensino;

IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

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V – valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, planos

de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso

exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime

jurídico único para todas as instituições mantidas pela União;

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII – garantia de padrão de qualidade.

§ 1º – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º – O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua

oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º – Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino

fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,

pela freqüência à escola.

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se

ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações.

§ 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas;

II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material

genético;

III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e

supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que

comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de

impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos

e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio

ambiente;

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VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que

coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies

ou submetam os animais à crueldade.

§ 2º – Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio

ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público

competente, na forma da lei.

§ 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e

administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados.

§ 4º – A Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal

Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização

far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do

meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º – São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por

ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º – As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização

definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Segundo o artigo 205, a Educação é um direito de todos e dever

do Estado e da família. O direito à educação é um direito social de cidadania,

tido como indispensável para o desenvolvimento humano. Além disso, pelos

artigos 53 e 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), é

assegurado a todas as crianças e adolescentes o direito à educação em escola

pública e gratuita mais próxima de sua residência inclusive para aqueles que

não puderem iniciar os estudos na idade apropriada. No entanto, o que ocorre,

na verdade, é que, embora a educação seja garantida pela Constituição

Federal, o que se verifica, na prática, é o oferecimento irregular do ensino

obrigatório pelo Poder Público, índices de analfabetismo e desigualdades de

condições para o acesso á escola.

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Outros direitos que constam na Constituição e que também não

são cumpridos estão presentes no artigo 206. A “gratuidade do ensino público”

não consiste num grande benefício, já que não há o cumprimento de duas

outras afirmativas constitucionais: “valorização dos profissionais do ensino” e

“garantia de padrão de qualidade”. Além disso, a rede de ensino público não

disponibiliza um número de vagas suficiente para que se possa falar em

igualdade de condições de acesso à escola, bem como, a rede privada de

ensino dá oportunidade de ingresso apenas para uma pequena parcela da

sociedade de melhor poder aquisitivo.

No Capítulo I foi visto que através da criação do Programa

Internacional de Educação Ambiental (PIEA), recomendado na Conferência das

Nações Unidas para o Meio Ambiente em Estocolmo (1972) que, pela primeira

vez reconheceu oficialmente a importância da ação educativa para as questões

ambientais. A partir daí, as outras conferências como Belgrado (1975), Tbilisi

(1977), Moscou (1987) e Rio (1992), defenderam o ensino formal como um dos

eixos fundamentais para que a Educação Ambiental pudesse ser realizada,

insistindo para que fosse incluída nos sistemas educativos de todos os países.

Para atender às exigências do Plano Decenal de Educação

(1993–2003) e os compromissos assumidos nas conferências internacionais

sobre a questão ambiental, o MEC estabeleceu, durante o ano de 1996, uma

revisão dos currículos do Ensino Fundamental que orientam os processos de

ensino-aprendizagem realizados pelos professores e educadores em todo país.

Assim, no ano de 1997 a Secretaria de Educação Fundamental

disponibilizou os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental,

como um instrumento oficial de apoio às discussões e ao desenvolvimento do

projeto educativo das escolas, como também um material de apoio para a

formação e atualização de docentes, promovendo reflexão sobre as práticas

pedagógicas, o planejamento de aulas, a análise e seleção de materiais

didáticos e recursos tecnológicos.

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Em 1998, a publicação do volume IX dos Parâmetros Curriculares

Nacionais – Meio Ambiente determinou que os conteúdos relacionados ao meio

ambiente sejam integrados ao currículo do Ensino Fundamental através da

transversalidade, sendo tratados pelas diversas áreas do conhecimento, de

modo a atingir toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, criar uma visão

global e abrangente da questão ambiental. Assim, a questão ambiental pode

ser trabalhada de forma que não esteja somente relacionada com proteção da

vida no planeta, mas também a melhoria da qualidade de vida dos seres

humanos e do meio ambiente.

A elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais foi inspirada

na reforma educacional promovida na Espanha em 1990 através da LOGSE

(Lei Básica da Reforma Educativa Espanhola). Segundo MORENO (1998),

referindo-se às propostas de estudo e implantação dos temas transversais na

Espanha, menciona: “Das informações que tenho, o país que mais aprofundou

essa proposta até o momento foi a Espanha. A inclusão de temas transversais

sistematizados em um conjunto de conteúdos considerados fundamentais para

sociedade surgiu na reestruturação do sistema escolar espanhol em 1989, com

o objetivo de tentar diminuir o fosso existente entre o desenvolvimento

tecnológico e o da cidadania. Os temas transversais incorporados na reforma

educacional espanhola foram: Educação Ambiental, Educação para a Saúde e

Sexual, Educação para o Trânsito, Educação para a Paz, Educação para a

Igualdade de Oportunidades, Educação do Consumidor, Educação Multicultural

e, como tema nuclear, impregnando todos os demais e as matérias curriculares

tradicionais, a Educação Moral e Cívica”.

Assim, as diretrizes básicas definidas pelo MEC incorporaram às

áreas clássicas do conhecimento, temas como as questões da Ética, da

Pluralidade Cultural, do Meio Ambiente, da Saúde, da Orientação Sexual e do

Trabalho e Consumo, por serem consideradas problemáticas sociais atuais

urgentes, com abrangência nacional e até mesmo mundial e que favorecem a

compreensão da realidade e a participação social. Estes temas, chamados em

seu conjunto de Temas Transversais receberam um tratamento didático que os

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introduziu transversalmente no currículo, perpassando dessa maneira o corpo

de todas as áreas de saber.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do

Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de:

„ Compreender a cidadania como participação social e política; assim

como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais,

adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e

repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo

respeito;

„ Posicionar-se de maneira crítica e responsável em diferentes

situações sociais, utilizando-se do diálogo como forma de mediar

conflitos e de tomar decisões coletivas;

„ Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões

sociais, materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o

sentimento de pertinência ao País;

„ Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sócio-cultural

brasileiro, bem como aspectos sócio-culturais de outros povos e

nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em

diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia

ou outras características individuais e sociais;

„ Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do

ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles,

contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

„ Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento

de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética,

estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com

perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;

„ Conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos

saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e

agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde

coletiva;

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„ Utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica,

plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e

comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais,

em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e

situações de comunicação;

„ Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos

para adquirir e construir conhecimentos;

„ Questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de

resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a

intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos

e verificando sua adequação.

Conforme palavras do Ministro da Educação Paulo Renato Souza,

na introdução da referida publicação, os PCN foram elaborados com o objetivo

de auxiliar os professores no trabalho de fazer com que as crianças e jovens

dominem conhecimentos de que necessitam, para crescerem como cidadãos,

plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade. No

entanto, o simples envio dos PCN para as escolas, ou mesmo diretamente para

cada educador, não vai garantir que as metas propostas serão alcançadas e,

muito menos, que ocorra melhoria da qualidade do ensino.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, “... uma tarefa

importante para o professor, associada ao tema Meio Ambiente, é a de

favorecer ao aluno o reconhecimento de fatores que produzam real bem-estar;

ajudá-lo a desenvolver um espírito de crítica às induções ao consumismo e o

senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos

naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas de sua comunidade. A

responsabilidade e a solidariedade devem se expressar desde a relação entre

as pessoas com seu meio, até as relações entre povos e nações, passando

pelas relações sociais, econômicas e culturais”.

Em virtude da complexidade questão ambiental, é necessário que

a Educação Ambiental seja incorporada ao ensino formal começando pelo

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ensino infantil. No entanto, para que isso aconteça os professores devem ser

formados em outras bases, com uma percepção de ensino sobre o meio

ambiente que ultrapasse a simples memorização de conteúdos ecológicos e

que supere as antigas bases conceituais de educação ambiental que não

consideravam as interdependências sócio-econômicas e culturais envolvidas

nas questões ambientais.

O Art. 11 da Lei 9.597/99 diz que: “A dimensão ambiental deve

constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em

todas as disciplinas. Parágrafo único – Os professores em atividades devem

receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito

de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da

Política Nacional de educação Ambiental”. Desse modo, para que a Educação

Ambiental seja verdadeiramente integrada no ensino formal, é necessário que

os professores sejam preparados e recebam uma formação continuada para

que sejam capazes de trabalhar idéias, conceitos, valores e atitudes que

colaborem com a formação de uma sociedade mais justa e ambientalmente

responsável.

Fica evidente que um dos pontos fundamentais para que a

Educação Ambiental tenha êxito é a adequada formação dos professores. Isso

é garantido no Art. 8º, § 2º, inciso I da Lei 9.597/99 que diz: “A capacitação de

recursos humanos voltar-se-á para: I - a incorporação da dimensão ambiental

na formação, especialização e atualização dos educadores de todos os níveis e

modalidades de ensino”. Assim, o professor, seja qual for sua área de

especialização, deve ter um amplo contato com as questões ambientais, o que

permitirá sua reflexão sobre o assunto e a possibilidade de utilização de novas

práticas de ensino-aprendizagem.

Segundo o Art. 3º da Lei 9.597/99, não cabe somente ao Poder

Público e as instituições educativas promover a Educação Ambiental. O

processo educativo vai além do ensino formal. É preciso reconhecer a

importância da Educação Ambiental informal e refletir sobre as interfaces entre

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informação e formação para efeito da Educação Ambiental. Os meios de

comunicação de massa podem colaborar na disseminação de informações e

práticas educativas sobre meio ambiente, enquanto as empresas e outros

setores da sociedade podem promover programas de melhoria e controle

efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do

processo produtivo no meio ambiente.

Para que os princípios básicos da Educação Ambiental definidos

no Art. 4º da Lei 9.597/99 sejam cumpridos e que os objetivos fundamentais da

Educação Ambiental definidos no Art. 5º da mesma lei sejam alcançados, é

necessário que não deve mais existir uma educação tradicional centrada no

conhecimento fragmentado, na memorização de informações, na reprodução

de verdades absolutas, onde não cabe o questionamento pelo aluno. O aluno

deve ser visto como sujeito que interage na construção do conhecimento, e não

como objeto que simplesmente se apropria sem críticas de informações que lhe

são apresentadas.

A fragmentação do saber em prol da totalidade do conhecimento

pode ser superada através da interdisciplinaridade, que consiste numa forma

de diálogo entre várias áreas de conhecimento, onde o assunto, abordado em

uma disciplina, depende de conceitos, definições ou leis fornecidas por outra, o

que leva à integração e à harmonia do saber. Essa prática depende do trabalho

dos professores em fazer interfaces com outras áreas do conhecimento,

proporcionando a inserção dos alunos em sua própria realidade, possibilitando

uma maior compreensão do meio ambiente em que vive.

Além da crise ambiental, os novos rumos da educação nasceram

das atuais necessidades políticas e econômicas da sociedade, que não aceita

mais profissionais simplesmente adestrados para exercer uma função

específica dentro mercado de trabalho. Diante disso, é necessário formar

gerações mais competentes, observadoras, reflexivas, críticas, éticas, criativas

e autônomas, que sejam capazes de discutir e atuar diante dos problemas

ambientais de forma mais solidária e comprometida com a qualidade de vida da

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humanidade. Para isso, a escola deve ser um ambiente com práticas

pedagógicas inovadoras e voltadas para aprendizagem, onde os alunos podem

construir os seus conhecimentos e desenvolver o seu próprio raciocínio e

estabelecer uma relação entre o que aprenderam na escola e o que acontece

todos os dias em seu ambiente.

Da mesma forma que acontece na escola, a universidade também

vem trabalhando o conhecimento de forma fragmentada e isolada. Mesmo

assim, a Educação Ambiental tem sido introduzida no ensino superior como um

tema transversal para as diferentes disciplinas do currículo, ou como uma

disciplina autônoma. Aqui cabe ressaltar pelo § 1º do Art. 10 da Lei 9.597/99

que: “A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina

específica no currículo de ensino”. No entanto, o § 2º diz que: “Nos cursos de

pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da

Educação Ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de

disciplina específica”.

Segundo a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, Lei nº 9.394/96), o Art. 43 do Capítulo IV apresenta as finalidades da

educação superior, sendo que nenhum dos incisos menciona sobre a finalidade

da universidade em contribuir para mudar a realidade ambiental. Entretanto, o

inciso II diz que a educação superior tem por finalidade “formar diplomados nas

diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores

profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira,

e colaborar na sua formação contínua”. Observa-se que o referido inciso não

menciona à participação dos diplomados no desenvolvimento da sociedade em

bases sustentáveis.

Sendo a universidade é um local de grande importância na

produção do conhecimento, esta deveria estar à frente das mudanças da

realidade sócio-ambiental, buscando soluções através de suas pesquisas,

assumindo a responsabilidade de formar pessoas capazes de interpretar os

problemas sócio-ambientais e elaborar respostas pertinentes a eles. Dessa

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forma, a universidade deixa de ser um lugar para a simples criação de

conhecimento e se compromete com formação dos novos atores da Educação

Ambiental para o desenvolvimento sustentável.

Com a finalidade de orientar as transformações na formação dos

professores que atuam nos diferentes níveis da educação básica, o MEC

publicou o documento denominado Referenciais para Formação de

Professores, que reconhecem “que a formação de que dispõem os professores

hoje no Brasil não contribui suficientemente para que seus alunos se

desenvolvam como pessoas, tenham sucesso nas aprendizagens escolares e,

principalmente, participem como cidadãos de pleno direito num mundo cada

vez mais exigente sob todos os aspectos”.

Os Referenciais para Formação de Professores, em consonância

com as recomendações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

destacam a importância da valorização dos profissionais da educação, do

investimento na qualidade da formação inicial e continuada, na garantia de

jornada de trabalho adequada e concentrada em um único estabelecimento e

com salário digno. Assim, a atuação dos professores é essencial para que a

escola participe do movimento da sociedade pela construção de uma cidadania

consciente e ativa e permita que os alunos construam bases culturais que lhes

permitam identificar e posicionar-se frente às transformações no meio ambiente

e incorporar-se na vida produtiva.

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101

CCOONNCCLLUUSSÃÃOO

Concluído o processo de pesquisa bibliográfica, ficou evidente

que o planeta está atravessando um período crucial em sua história provocado

pela crise sócio-ambiental. O atual modelo econômico exige um crescimento

contínuo e ilimitado, em contraposição aos limitados recursos naturais que o

sustentam. Essa contradição pode provocar o esgotamento dos diversos

recursos necessários a sobrevivência da espécie humana, como também pode

resultar na produção de poluentes, alguns não biodegradáveis, em uma escala

bem maior do que a natureza é capaz de suportar.

Pela análise da evolução histórica da Educação Ambiental

internacional apresentada no Capítulo I, é possível observar que os problemas

sócio-ambientais tornaram-se uma preocupação mundial. Nas conferências

internacionais são crescentes a importância e a necessidade, para o mundo

contemporâneo, da criação e do desenvolvimento da Educação Ambiental

como um elemento fundamental para a conscientização ecológica e a

implementação do desenvolvimento sustentável.

O progresso científico e tecnológico, a industrialização acelerada,

o crescimento demográfico e as relações capitalistas da sociedade provocaram

os graves problemas ambientais mencionados no Capítulo IV, como o efeito

estufa, o desmatamento, o buraco da camada de ozônio, a desertificação, a

poluição hídrica, a produção de lixo industrial, doméstico e nuclear e a poluição

atmosférica. Além disso, a riqueza gerada pelo capitalismo propicia problemas

sociais como, a concentração da renda, a violência nas grandes cidades e não

impede o crescimento da miséria, da fome e da exclusão social. Nesse

contexto conclui-se que aliada à crise ambiental tem-se a crise da sociedade

como um todo.

O desenvolvimento sustentável, definido no Relatório Brundtland

e discutido no Capítulo VI, continua sendo o maior desafio da humanidade.

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Apesar de seus obstáculos e contradições, a viabilidade do crescimento

sustentado depende da conciliação entre eficiência econômica, justiça social,

melhoria da qualidade de vida, respeito à natureza e preservação dos

ecossistemas. Para isso, é necessário implementar os princípios da

sustentabilidade econômica, ambiental e social através da Educação

Ambiental, como também garantir um vínculo entre a política ambiental e

econômica em todos os níveis de governo e em todos os setores da economia.

A importância da Educação Ambiental como possibilidade para a

reversão da atual crise ecológica não pode ser feita sem uma profunda reflexão

sobre como as práticas educativas devem ser exercidas. O ensino sobre o

meio ambiente deve apresentar caráter interdisciplinar, crítico, ético e

transformador, contribuindo para a formação e o pleno exercício da cidadania,

promovendo a conscientização ambiental, estimulando a mudança de

comportamentos, atitudes e hábitos, desenvolvendo a adoção de novos valores

éticos e de posturas mais responsáveis em relação às questões ambientais.

No entanto, não é uma tarefa muito fácil implementar mudanças

nos comportamentos, valores e costumes dos povos, conforme preconizado

nas diversas conferências internacionais sobre meio ambiente. O despertar de

uma nova consciência ecológica, entretanto, apesar de sua importância, ainda

não se reverteu em responsabilidade e solidariedade, assim como não se

refletiu em mudanças significativas nos rumos das políticas governamentais e

dos estilos de vida individuais.

Pela evolução histórica da Educação Ambiental brasileira,

apresentada no Capítulo II, é possível observar que o Brasil foi fortemente

influenciado pelos acontecimentos e acordos internacionais sobre as questões

ambientais. Pelo artigo 225, a Constituição Federal de 1988 é considerada uma

das legislações mais avançadas do mundo sobre as questões ambientais, já

que se destaca por criar a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os

níveis de ensino. Para que esse direito seja garantido é necessário um real

compromisso do Poder Público em aumentar o investimento em educação,

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para melhorar a qualidade do ensino, ampliar a oferta de ensino em todos os

níveis e aumentar a remuneração dos profissionais da educação.

Os novos rumos da Educação Ambiental brasileira, apresentados

no Capítulo VII, foram inspirados nos documentos assinados nas Conferências

de Estocolmo (1972), Belgrado (1975), Tbilisi (1977), Moscou (1987) e Rio

(1992). A Educação Ambiental através dos Parâmetros Curriculares Nacionais

passou a ser trabalhada de forma transversal buscando obter mudanças de

comportamento pessoal, atitudes e valores de cidadania que podem ter fortes

conseqüências sociais.

Por sua importância nacional, destaca-se a Lei nº 9.795/99 que

propiciou a legitimação da Educação Ambiental como política pública nos

sistemas de ensino, com também definiu os princípios e objetivos da Educação

Ambiental, a necessidade da atualização dos educadores de todos os níveis e

modalidades de ensino, para que as sugestões propostas nos PCN sejam

exercidas com eficiência, dento e fora do ambiente escolar, contribuindo assim

para a formação de um cidadão com consciência crítica, capaz de interferir na

sua realidade de forma responsável e solidária.

Os documentos e as leis, que servem de alerta para a

conservação e proteção do meio ambiente, têm sido cada vez mais abundantes

e já existem penalidades para os infratores. Infelizmente, percebemos que as

agressões ao meio ambiente ainda continuam. A realidade brasileira mostra

que nem a Constituição Federal de 1988, nem a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB), nem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

garantem que a Educação Ambiental esteja acontecendo efetivamente nas

escolas.

É importante concluir que a Educação Ambiental surge como um

espaço de debate para que a sociedade faça uma reflexão a respeito das reais

causas dos problemas ambientais. A prevenção e a solução dos problemas

ambientais dependeriam, basicamente, de cada um de nós. Desse modo, se

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104

cada pessoa passasse a consumir apenas o necessário, a reaproveitar ao

máximo os produtos utilizados e a transformar os rejeitos em coisas úteis, em

princípio, poderíamos economizar em recursos naturais e energia e minimizar os

impactos ambientais.

Para finalizar esta pesquisa, segue mais um trecho do livro “Como fazer

Educação Ambiental” de Vilmar Berna (1999):

“O poder não está distribuído de maneira igual por toda a humanidade, sendo

diferente, portanto, a distribuição das responsabilidades de cada um pela

destruição do planeta e pela construção de um mundo melhor. Cada cidadão

pode e deve fazer a sua parte, mas os empresários, políticos, administradores

públicos, etc., têm uma responsabilidade muito maior. Atrás de cada agressão

à natureza estão interesses sócio-econômicos e culturais de nossa espécie,

que usa o planeta como se fosse uma fonte inesgotável de recursos. A relação

existente entre a espécie humana e a natureza está em desequilíbrio por que

reflete a injustiça e desarmonia da relação entre os indivíduos de nossa própria

espécie”.

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105

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109

ANEXO I

CAPÍTULO 36 DA AGENDA 21

A Agenda 21 é um programa de ações recomendado para todos

os países nas suas diversas instâncias e setores para colocarem em prática a

partir da data de sua aprovação – 14 de junho de 1992 e ao longo de todo

século 21. A seguir reproduzimos o capítulo referente à educação que propõe

um esforço global para fortalecer atitudes, valores e ações que sejam

ambientalmente saudáveis e que apóiem o desenvolvimento sustentável por

meio da promoção do ensino, da conscientização e do treinamento.

INTRODUÇÃO

O ensino, o aumento da consciência pública e o treinamento

estão vinculados virtualmente a todas as áreas de programa da Agenda 21 e

ainda mais próximas das que se referem à satisfação das necessidades

básicas, fortalecimento institucional e técnico, dados e informações, ciência e

papel dos principais grupos.

Este capítulo formula propostas gerais, enquanto que as

sugestões especificas relacionadas com as questões setoriais aparecem em

outros capítulos. A Declaração e as Recomendações da Conferência

Intergovernamental de Tbilisi sobre Educação Ambiental, organizada pela

UNESCO e pelo PNUMA e celebrada em 1977, ofereceram os princípios

fundamentais para as propostas deste documento.

As áreas de programas descritas neste capítulo são:

a) Reorientação do ensino no sentido do desenvolvimento

sustentável;

b) Aumento da consciência pública;

c) Promoção do treinamento.

O ensino, inclusive o ensino formal, a conscientização pública e o

treinamento devem ser reconhecidos como um processo pelo qual os seres

humanos e as sociedades podem desenvolver plenamente suas

potencialidades. O ensino tem fundamental importância na promoção do

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desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para

abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Ainda que o ensino

deve ser incorporado como parte essencial do aprendizado. Tanto o ensino

formal como o informal são indispensáveis para modificar a atitude das

pessoas, para que estas tenham capacidade de avaliar os problemas do

desenvolvimento sustentável e abordá-los.

O ensino é também fundamental para conferir consciência

ambiental e ética, valores e atitudes, técnicas e comportamentos em

consonância com o desenvolvimento sustentável e que favoreçam a

participação pública efetiva nas tomadas de decisão. Para ser eficaz, o ensino

sobre o meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a dinâmica do

desenvolvimento do meio físico/biológico e do sócio econômico e do

desenvolvimento humano (que pode incluir o espiritual) deve integrar-se em

todas as disciplinas e empregar métodos formais e meios efetivos de

comunicação.

OBJETIVOS

Reconhecendo-se que os países e as organizações regionais e

internacionais determinarão suas próprias prioridades e prazos para

implementação, em conformidade com suas necessidades, políticas e

programas, os seguintes objetivos são propostos:

a) Endossar as recomendações da Conferência Mundial sobre

Ensino para todos: Satisfação das Necessidades Básicas de

Aprendizagem (Jomtien, Tailândia, 5 a 9 de março de 1990),

procurar assegurar o acesso universal ao ensino básico,

conseguir, por meio de ensino formal e informal, que pelo

menos 80 por cento das meninas e 80 por cento dos meninos

em idade escolar terminem a escola primária, e reduzir a taxa

de analfabetismo entre os adultos ao menos pela metade de

seu valor de 1990. Os esforços devem centralizar-se na

redução dos altos índices de analfabetismo e na

compensação da falta de oportunidades que têm as mulheres

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de receber ensino básico, para que seus índices de

alfabetização venham a ser compatíveis com os dos homens;

b) Desenvolver consciência do meio ambiente e

desenvolvimento em todos os setores da sociedade em escala

mundial e com a maior brevidade possível;

c) Lutar para facilitar o acesso à educação sobre meio ambiente

e desenvolvimento, vinculada à educação social, desde a

idade escolar primária até a idade adulta em todos os grupos

da população;

d) Promover a integração de conceitos de ambiente e

desenvolvimento, inclusive demografia, em todos os

programas de ensino, em particular a análise das causas dos

principais problemas ambientais e de desenvolvimento em um

contexto local, recorrendo para isso às melhores provas

científicas disponíveis e a outras fontes apropriadas de

conhecimentos, e dando especial atenção ao aperfeiçoamento

do treinamento dos responsáveis por decisões em todos os

níveis.

ATIVIDADES

Reconhecendo-se que os países e as organizações regionais e

internacionais determinarão suas próprias prioridades e prazos para

implementação, em com suas necessidades, políticas programas, as seguintes

atividades são propostas:

a) Todos os países são incentivados a endossar as

recomendações da Conferência de Jomtien e a lutar para

assegurar sua estrutura de ação. Essa atividade deve

compreender a preparação de estratégias e atividades

nacionais para satisfazer as necessidades de ensino básico,

universalizar o acesso e promover a equidade, ampliar os

meios e o alcance do ensino, desenvolver um contexto de

política de apoio, mobilizar recursos e fortalecer a cooperação

internacional para compensar as atuais disparidades

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econômicas, sociais e de gênero que interferem no alcance

desses objetivos. As organizações não-governamentais

podem dar uma importante contribuição para a formulação e

implementação de programas educacionais e devem ser

reconhecidas;

b) Os Governos devem procurar atualizar ou preparar estratégias

destinadas a integrar meio ambiente e desenvolvimento como

tema interdisciplinar ao ensino de todos os níveis nos

próximos três anos. Isso deve ser feito em cooperação com

todos os setores da sociedade. Nas estratégias deve-se

formular políticas e atividades identificar necessidades,

custos, meios e cronogramas para sua implementação,

avaliação e revisão. Deve-se empreender uma revisão

exaustiva dos currículos para assegurar uma abordagem

multidisciplinar, que abarque as questões de meio ambiente e

desenvolvimento e seus aspectos e vínculos sócio-culturais e

demográficos. Deve-se também respeitar devidamente as

necessidades definidas pela comunidade e os sistemas de

conhecimentos, inclusive a ciência e a sensibilidade cultural e

social;

c) Os países são incentivados a estabelecer organismos

consultivos nacionais para a coordenação da educação

ecológica ou mesas redondas representativas de diversos

interesses tais como, o meio ambiente, o desenvolvimento, o

ensino, a mulher, entre outros, e das organizações não-

governamentais, com o fim de estimula parcerias, ajudar a

mobilizar recursos e criar uma fonte de informação e de

coordenação para a participação internacional. Esses órgãos

devem ajudar a mobilizar os diversos grupos de população e

comunidades e facilitar a avaliação por eles de suas próprias

necessidades e desenvolver as técnicas necessárias para

elaborar e por em prática suas próprias iniciativas sobre meio

ambiente e desenvolvimento;

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d) Recomenda-se que as autoridades educacionais, com a

assistência apropriada de grupos comunitários ou de

organizações não governamentais, colaborem ou estabeleçam

programas de treinamento prévio e em serviço para todos os

professores, administradores e planejadores educacionais,

assim como para educadores informais de todos os setores,

considerando o caráter e os métodos de ensino sobre meio

ambiente e desenvolvimento e utilizando a experiência

pertinente das organizações não governamentais;

e) As autoridades pertinentes devem assegurar que todas as

escolas recebam ajuda para a elaboração de planos de

trabalho sobre as atividades ambientais, com a participação

dos estudantes e do pessoal. As escolas devem estimular a

participação dos escolares nos estudos locais e regionais

sobre saúde ambiental, inclusive água potável, saneamento,

alimentação e os ecossistemas, e nas atividades pertinentes,

vinculando esse tipo de estudo com os serviços e pesquisas

realizadas em parques nacionais, reservas de fauna e flora,

locais de herança ecológica, etc;

f) As autoridades educacionais devem promover métodos

educacionais de valor demonstrado e desenvolvimento de

métodos pedagógicos inovadores para sua aplicação prática.

Devem reconhecer também o valor dos sistemas de ensino

tradicional apropriados nas comunidades locais;

g) Dentro dos próximos dois anos, o Sistema das Nações Unidas

deve empreender uma revisão ampla de seus programas de

ensino, compreendendo treinamento e conscientização

pública, com o objetivo de reavaliar prioridades e realocar

recursos. O programa Internacional de educação Ambiental da

UNESCO e do PNUMA, em colaboração com os órgãos

pertinentes do sistema das Nações Unidas, os Governos, as

organizações não governamentais e outras entidades, devem

estabelecer um programa em um prazo de dois anos, para

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integrar as decisões da Conferência à estrutura existente das

Nações Unidas, adaptado para as necessidades de

educadores de diferentes níveis e circunstâncias. As

organizações regionais e as autoridades nacionais devem ser

estimuladas a elaborar programa e oportunidades paralelos

análogos, analisando a maneira de mobilizar os diversos

setores da população para avaliar e enfrentar suas

necessidades em matéria de educação sobre meio ambiente e

desenvolvimento;

h) É necessário fortalecer, em um prazo de cinco anos, o

intercâmbio de informação por meio do melhoramento da

tecnologia e dos meios necessários para promover a

educação sobre meio ambiente e desenvolvimento e a

conscientização pública. Os países devem cooperar entre si e

com os diversos setores sociais e grupos de população para

preparar instrumentos educacionais que abarquem questões e

iniciativa regionais sobre o meio ambiente e desenvolvimento,

utilizando materiais e recursos de aprendizagem adaptados às

suas próprias necessidades;

i) Os países podem apoiar as universidades e outras atividades

terciárias e de redes para educação ambiental e

desenvolvimento. Deve-se oferecer a todos os estudantes

cursos interdisciplinares. As redes e atividades regionais e

ações de universidades nacionais que promovem a pesquisa

e abordagens comuns de ensino em desenvolvimento

sustentável devem ser aproveitadas e deve–se estabelecer

novos parceiros e vínculos com os setores empresariais e

outros setores independentes, assim como com todos os

países, tendo em vista o intercâmbio de tecnologias,

conhecimento técnico-científico e conhecimentos em geral;

j) Os países, com a assistência de organizações internacionais,

organizações não governamentais e outros setores, podem

fortalecer ou criar centros nacionais ou regionais de

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excelências para pesquisa e ensino interdisciplinar nas

ciências de meio ambiente e desenvolvimento, direito e

manejo de problemas ambientais específicos. Estes Centros

podem ser universidades ou redes existentes em cada país ou

região, que promovam a cooperação na pesquisa e difusão da

informação. No plano mundial, essas funções devem ser

desempenhadas por instituições apropriadas;

k) Os paises devem facilitar e promover atividades de ensino

informal nos planos local, regional e nacional por meio da

cooperação e apoio dos educadores informais e de outras

organizações baseadas na comunidade. Os órgãos

competentes do Sistema das Nações Unidas, em colaboração

com as organizações não governamentais, devem incentivar o

desenvolvimento de uma rede internacional para alcançar os

objetivos mundiais para o ensino. Nos foros públicos e

acadêmicos dos planos nacional e local deve-se examinar as

questões de meio ambiente e desenvolvimento e sugerir

opções sustentáveis aos responsáveis por decisões;

l) As autoridades educacionais, com a colaboração apropriada

das organizações não governamentais, inclusive as

organizações de mulheres e de populações indígenas, devem

promover todo tipo de programas de educação de adultos

para incentivar a educação permanente sobre meio ambiente

e desenvolvimento, utilizando como base de operação as

escolas primárias e secundárias e centrando-se nos

problemas locais. Estas autoridades e a industria devem

estimular as escolas de comércio, indústria e agricultura para

que incluam temas dessa natureza em seus currículos. O

setor empresarial pode incluir o desenvolvimento sustentável

em seus programas de ensino e treinamento. Os programas

de pós-graduação devem incluir cursos especialmente

concebidos para treinar os responsáveis por decisões;

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m) Governos e autoridades educacionais devem promover

oportunidades para a mulher em campos não tradicionais e

eliminar dos currículos os estereótipos de gênero. Isso pode

ser feito por meio da melhoria das oportunidades de inscrição

e incorporação da mulher, como estudante ou instrutora, em

programas avançados, reformulação das disposições de

ingresso e normas de dotação de pessoal docente e criação

de incentivos para estabelecer serviços de creche, quando

apropriado. Deve-se dar prioridade à educação das

adolescentes e a programas de alfabetização da mulher;

n) Os governos devem garantir por meio de legislação, se

necessário, o direito das populações indígenas a que sua

experiência e compreensão sobre o desenvolvimento

sustentável desempenhem um papel no ensino e no

treinamento;

o) As Nações Unidas podem manter um papel de monitoramento

e avaliação em relação as decisões da Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

sobre educação e conscientização por meio de agências

pertinentes das Nações Unidas. Em coordenação com os

Governos e as organizações governamentais, quando

apropriado, as Nações Unidas devem apresentar e difundir as

decisões sob diversas formas e assegurar a constante

implementação e revisão das conseqüências educacionais

das decisões da Conferência, em particular por meio da

celebração de atos e conferências pertinentes.

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

→ Financiamento e estimativa de custos

O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio

(1993 – 2000) da implementação das atividades deste programa em cerca de

$8 a $9 bilhões de doláres, inclusive cerca de $3.5 a $4.5 bilhões de doláres a

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serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de

doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas não

revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os

não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas

específicos que os governos decidam adotar para a implementação.

Considerando-se a situação especifica de cada pais, pode-se dar

mais apoio às atividades de ensino, treinamento e conscientização

relacionadas com meio ambiente e desenvolvimento, nos casos apropriados,

por meio de medidas como as que se seguem:

a) Dar alta prioridade a esses setores nas alocações

orçamentárias, protegendo-os das exigências de cortes

estruturais;

b) Nos orçamentos já estabelecidos para o ensino, transferir

créditos para o ensino primário com foco em meio ambiente e

desenvolvimento;

c) Promover condições em que as comunidades locais participem

mais dos gastos e as comunidades mais ricas ajudem as mais

pobres;

d) Obter fundos adicionais de doadores particulares para

concentrá-los nos países mais pobres e naqueles em que a

taxa de alfabetização esteja abaixo dos 40 por cento;

e) Estimular a conversão da dívida em atividades de ensino;

f) Eliminar as restrições sobre o ensino privado e aumentar o

fluxo de fundos de e para organizações não-governamentais,

inclusive organizações populares de pequena escala.

g) Promover a utilização eficaz das instalações existentes, por

exemplo, com vários turnos em uma escola, aproveitamento

pleno das universidades abertas e outros tipos de ensino à

distância;

h) Facilitar dos meios de comunicação de massa, de forma

gratuita ou barata, para fins de ensino;

i) Estimular as relações de reciprocidade entre as universidades

de países desenvolvidos e em desenvolvimento.

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→ Aumento da conscientização pública

Ainda há muito pouca consciência da inter-relação existente entre

todas as atividades humanas e o meio ambiente devido à insuficiência ou

inexatidão da informação. Os países em desenvolvimento, em particular,

carecem da tecnologia e dos especialistas competentes. É necessário

sensibilizar o público sobre os problemas de meio ambiente e desenvolvimento,

fazê-lo participara de suas soluções fomentar o senso de responsabilidade

pessoal em relação ao meio ambiente e uma maior motivação e dedicação em

relação ao desenvolvimento sustentável.

→ Atividades

Reconhecendo-se que os países e as organizações regionais e

internacionais devem desenvolver suas próprias prioridades e prazos para

implementação, em conformidade com suas necessidades, políticas e

programas, os seguintes objetivos são propostos:

a) Os países devem fortalecer os organismos consultivos

existentes ou estabelecer novo de informação pública sobre

meio ambiente e desenvolvimento e coordenar as atividades

com as ações Unidas, as organizações não-governamentais e

os meios de difusão mais importantes. Devem também

estimular a participação do público nos debates sobre políticas

e avaliações ambientais. Além disso, os Governos devem

facilitar e apoiar a formação de redes nacionais e locais de

informação por meio dos sistemas já existentes;

b) O sistema das Nações Unidas deve melhorar seus meios de

divulgação por meio de uma revisão de suas atividades de

ensino e conscientização do público para promover uma maior

revisão de suas atividades de ensino e conscientização do

público para promover uma maior participação e coordenação

de todas as partes do sistema, especialmente de seus

organismos de informação e suas operações nacionais e

regionais. Devem ser feitos estudos sistemáticos dos

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resultados das campanhas de difusão, tendo presentes as

necessidades e as contribuições de grupos específicos da

comunidade;

c) Deve-se estimular os países e as organizações regionais,

quando apropriado, a proporcionar serviços de informação

pública sobre meio ambiente e desenvolvimento para aumentar

a consciência de todos os grupos, do setor privado e, em

particular, dos responsáveis por decisões.

d) Os países devem estimular os estabelecimentos educacionais

em todos os setores, especialmente no setor terciário, para que

contribuam mais para a conscientização do público. Os

materiais didáticos de todo os tipos e para todo o tipo de

público devem basear-se na melhor informação científica

disponível, inclusive das ciências naturais, sociais e do

comportamento, considerando as dimensões ética e estética;

e) Os países e o sistema das Nações Unidas devem promover a

cooperação com os meios de informação, os grupos de teatro

popular e as indústrias de espetáculo e de publicidade,

iniciando debates para mobilizar sua experiência em influir

sobre o comportamento e os padrões de consumo do público e

fazendo amplo uso de seus métodos. Essa colaboração

também aumentará a participação ativa do público no debate

sobre meio ambiente. O UNICEF deve colocar a disposição dos

meios de comunicação material orientado para as crianças,

como instrumento didático, assegurando um estreita

colaboração entre o setor da informação pública extra-escolar e

o currículo do ensino primário. A UNESCO, o PNUMA e as

universidades devem enriquecer os currículos para jornalistas

com temas relacionados com meio ambiente e

desenvolvimento;

f) Os países, em colaboração com a comunidade científica,

devem estabelecer maneiras de autoridades nacionais e locais

do ensino e os organismos pertinentes das Nações Unidas

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devem expandir, quando apropriado, a utilização de meios

audiovisuais, especialmente na televisão para os países em

desenvolvimento, envolvendo a participação local e

empregando métodos interativos de multimídia e integrando

métodos avançados com os meios de comunicação populares;

g) Os países devem promover, quando apropriado, atividades de

lazer e turismo ambientalmente saudáveis, baseando-se na

Declaração de Haia sobre Turismo (1989) e os programas

atuais históricos, jardins zoológicos, jardins botânicos parques

nacionais e outras áreas protegidas;

h) Os países devem incentivar as organizações não-

governamentais a aumentar seu envolvimento nos problemas

ambientais e de desenvolvimento por meio de iniciativas

conjuntas de difusão e um maior intercâmbio com outros

setores da sociedade;

i) Os países e o sistema das Nações Unidas devem aumentar

sua interação e incluir, quando apropriado, as populações

indígenas no manejo, planejamento e desenvolvimento de seu

meio ambiente local, e incentivar a difusão de conhecimentos

tradicionais e socialmente transmitidos por meio de costumes

locais especialmente nas zonas rurais, integrando esses

esforços com os meios de comunicação eletrônicos, sempre

que apropriado;

j) O UNICEF, a UNESCO, o PNUMA e as organizações não

governamentais devem desenvolver programas para envolver

jovens e crianças com assuntos relacionados ao meio ambiente

e desenvolvimento, tais como reuniões informativas para

crianças e jovens baseados nas decisões da Cúpula Mundial

da Infância.

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ANEXO II

LEI N° 6.938 DE 31 DE AGOSTO DE 1981

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismo de

formulação e aplicação, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Artigo 1° - Esta Lei, com fundamento no artigo 8°, item XVII, alíneas "c", "h" e

"i", da Constituição Federal, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente,

seus fins e mecanismo de formulação e a aplicação, constitui o Sistema

Nacional do Meio Ambiente e institui o Cadastro Técnico Federal de Atividades

e Instrumentos de Defesa Ambiental.

Da Política Nacional do Meio Ambiente

Artigo 2° - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,

visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico,

aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida

humana, atendidos os seguintes princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o

meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado

e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; e largura;

III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

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VII - recuperação de áreas degradadas;

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da

comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio

ambiente.

Artigo 3° - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de

ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas

as suas formas;

II - degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características

do meio ambiente;

III - poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades

que direta ou indireta:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais

estabelecidos.

IV - poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,

responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação

ambiental;

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V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e

subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos

da biosfera.

Dos Objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente

Artigo 4° - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação

da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade

e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do

Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III - ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de

normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientais para

o uso racional de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo ambiente, à divulgação de dados e

informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a

necessidade a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do

equilíbrio ecológico;

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua

utilização racional e disponibilidade permanente, correndo para manutenção do

equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou

indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de

recursos ambientais com fins econômicos.

Artigo 5° - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão

formulados em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governo da

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União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no

que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do

equilíbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos no artigo 2° desta

Lei.

Parágrafo Único - As atividades empresariais públicas ou privadas serão

exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio

Ambiente.

Do Sistema Nacional do meio Ambiente

Artigo 6° - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,

dos territórios e dos Municípios, bem como as Fundações instituídas pelo

Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental,

constituirão o Sistema Nacional do meio Ambiente - SISNAMA, assim

estruturado:

I - Órgão Superior: o Conselho Nacional do meio Ambiente - CONAMA, com a

função de assistir o Presidente da República na formulação de diretrizes da

Política Nacional do Meio Ambiente;

II - Órgão Central: a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, do

Ministério do Interior, à qual cabe promover, disciplinar e avaliar a

implementação da Política Nacional do Meio Ambiente;

III - Órgãos Setoriais: os órgãos ou entidades integrantes da Administração

Pública Federal Direta ou Indireta, bem como as Fundações instituídas pelo

Poder Público, cujas atividades estejam, total ou parcialmente, associadas às

de preservação da qualidade ambiental ou de disciplinamento do uso de

recursos ambientais.

IV - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela

execução de programas e projetos e de controle e fiscalização das atividades

suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental;

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V - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo

controle e fiscalização dessas atividades, nas ruas respectivas áreas de

jurisdição.

§ 1° - Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua

jurisdição, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões

relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos

pelo CONAMA.

§ 2° - Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais,

também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior.

§ 3° - Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste

artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua

fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada.

§ 4° - De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Executivo autorizado a

criar uma Fundação de apoio técnico e científico às atividades da SEAMA.

Do Conselho Nacional do Meio Ambiente

Artigo 7° - E criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, cuja

composição, organização, competência e funcionamento serão estabelecidos,

em regulamento, pelo Poder Executivo.

Parágrafo Único: Integrarão, também, o CONAMA:

a) Representantes dos Governos dos Estados, indicados de acordo com o

estabelecido em regulamento, podendo ser adotado, um critério de delegação

por regiões, com indicação alternativa do representante comum, garantida

sempre a participação de um representante dos Estados em cujo território haja

área crítica de poluição, assim considerada por decreto federal;

b) Presidentes das Confederações Nacionais da Indústria, da Agricultura e do

Comércio, bem como das Confederações Nacionais dos Trabalhadores na

Indústria, na Agricultura e no Comércio.

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c) Presidentes da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e da

Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza;

d) 2 (dois) representantes de Associações legalmente constituídas para a

defesa dos recursos naturais e de combate à poluição, a serem nomeados pelo

Presidente da República.

Artigo 8° - Incluir-se-ão entre as competências do CONAMA:

I - estabelecer, mediante proposta da SEMA, normas e critérios para

licenciamento de atividades afetiva ou potencialmente poluidoras, a ser

concedido pelos Estados e supervisionado pela SEMA;

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das

alternativas e das possíveis conseqüentes ambientais de projetos públicos ou

privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como

entidades privadas, as informações indispensáveis ao exame da matéria;

III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante

depósito prévio sobre as multas e outras penalidades impostas pela SEAMA;

IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades puniárias na

obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental

(vetado);

V - determinar, mediante representação da SEMA, a perda ou restrição de

benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou

condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de

financiamento em estabelecimento oficiais de crédito;

VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da

poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante

audiência dos Ministérios competentes;

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VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à

manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos

recursos ambientais, principalmenrte os hídricos.

Dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente

Artigo 9° - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental;

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente

poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamento e a criação ou

absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental

e as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e

Municipal;

VII - O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de defesa

ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento das

medidas necessárias à preservação ou correção de degradação ambiental.

Artigo 10 - A construção, instalação, ampliação e funcionamento de

estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,

considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes sob

qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio

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licenciamento por órgão estadual competente, integrante do SISNAMA, sem

prejuízo de outras licenças exigíveis.

§ 1° - Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão

serão publicados no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico

regional ou local de grande circulação.

§ 2° - Nos casos e prazos previstos em resolução do CONAMA, o

licenciamento de que trata este artigo dependerá de homologação da SEAMA.

§ 3° - O órgão estadual do meio ambiente e a SEAMA, esta em caráter

supletivo, poderão, se necessário e sem prejuízo das penalidades pecuniárias

cabíveis, determinar a redução das atividades geradoras de poluição, para

manter as emissões gasosas, os efluentes líquidos e os resíduos sólidos dentro

das condições e limites estipulados no licenciamento concedido.

§ 4° - Caberá exclusivamente ao Poder Executivo Federal, ouvidos os

Governos Estadual e Municipal interessados, o licenciamento previsto no

"caput" deste artigo quando relativo a pólos petroquímicos, bem como a

instalações nucleares e outras definidas em lei.

Artigo 11 - Compete à SEMA propor ao CONAMA normas e padrões para

implantação, acompanhamento e fiscalização do licenciamento previsto no

artigo anterior, além das que forem oriundas do próprio CONAMA.

§ 1° - A fiscalização e o controle da aplicação de critérios, normas e padrões de

qualidade ambiental serão exercidos pela SEMA, em caráter supletivo da

atuação do órgão estadual e municipal competentes.

§ 2° - Inclui-se na competência da fiscalização e controle a análise de projetos

de entidades, públicas ou privadas, objetivando à preservação ou à

recuperação de recursos ambientais, afetados por processos de exploração

predatórios ou poluidores.

Artigo 12 - As entidades e órgãos de financiamento e incentivos

governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses

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benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das

normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.

Parágrafo Único - As entidades e órgãos referidos no "caput" deste artigo

deverão fazer constar dos projetos a realização de obras e aquisição de

equipamentos destinados ao controle de degradação ambiental e à melhoria da

qualidade do meio ambiente.

Artigo 13 - O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas para o meio

ambiente, visando:

I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos

destinados a reduzir a degradação da qualidade ambiental;

II - à fabricação de equipamento antipoluidores;

III - a outras iniciativas que propiciem a racionalização do uso de recursos

ambientais.

Parágrafo Único - Os órgãos, entidades e programas do Poder Público,

destinados ao incentivo das pesquisas científicas e tecnológicas, considerarão,

entre as suas metas prioritárias, o apoio aos projetos em que visem a adquirir e

desenvolver conhecimentos básicos e aplicáveis na área ambiental e

ecológica.

Artigo 14 - Sem prejuízo das penalidades pela legislação federal, estadual e

municipal, o não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou

correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade

ambiental sujeitará os transgressores:

I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10

(dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro

Nacional - ORTN's, agravada em casos de reincidência específica, conforme

dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido

aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios;

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II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo

Poder Público;

III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de crédito;

IV - à suspensão de sua atividade.

§ 1° - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o

poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou

reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, efetuados por sua

atividade. O competência Público da União e dos Estados terá legitimidade

para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao

meio ambiente.

§ 2° - No caso da omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao

Secretário do Meio Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias

previstas neste artigo.

§ 3° - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da

perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou

financeira, cumprindo resolução do CONAMA.

§ 4° - Nos casos de poluição provocada pelo derramamento ou lançamento de

detritos ou óleo em águas brasileiras, por embarcações r terminais marítimos

ou fluviais, prevalecerá o disposto na Lei n° 5.357, de 17 de Novembro de

1967.

Artigo 15 - É da competância exclusiva do Presidente da República a

suspensão prevista no inciso IV do artigo por anterior por prazo superior a 30

(trinta) dias.

§ 1° - O Ministro de Estado do Interior, mediante proposta do Secretário do

Meio Ambiente e/ou por provocação dos Governos locais, poderá suspender as

atividades referidas neste artigo por prazo não excedente a 30 (trinta) dias.

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§ 2° - Da decisão proferida com base no parágrafo anterior caberá recurso,

com efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, para o Presidente da

República.

Artigo 16 - Os Governantes dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios

poderão adotar medidas de emergência, visando a reduzir, nos limites

necessários, ou paralisar, pelo prazo máximo de 15 (quinze) dias, as atividades

poluidoras.

Parágrafo Único - Da decisão proferida com base neste artigo, caberá recurso,

sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, ao Ministro do interior.

Artigo 17 - É instituído sob a administração da SEMA, o Cadastro Técnico

Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, para registro

obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que dediquem à consultoria técnica

sobre problemas ecológicos ou ambientais à consultoria técnica sobre

problemas ecológicos ou ambientais e à indústria ou comércio de

equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades

efetiva ou potencialmente poluidoras.

Artigo 18 - São transformadas em reservas ou estações ecológicas, sob a

responsabilidade da SEMA, as florestas e as demais formas de vegetação

natural de preservação permanente, relacionadas no artigo 2° da Lei n° 4.771,

de 15 de Setembro de 1995 - Código Florestal, e os pousos das aves de

arribação protegidas por convênios, acordos ou tratados assinados pelo Brasil

com outras nações.

Parágrafo Único - As pessoas físicas ou jurídicas que, de qualquer modo,

degradarem reservas ou estações ecológicas, bem como outras áreas

declaradas como relevante interesse ecológico, estão sujeitas às penalidades

previstas no artigo 14 desta Lei.

Artigo 19 - (Vetado).

Artigo 20 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.

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Artigo 21 - Revogam-se as disposições em contrário.

João Figueiredo - Presidente da República

Mário David Andreazza.

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ANEXO III

LEI Nº 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999

Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação

Ambiental e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Art. 1º – Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e

sustentabilidade.

Art. 2º – Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da

educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os

níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

Art. 3º – Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à

educação ambiental incumbindo:

I – ao Poder Público, nos termos dos artigos 205 e 225 da Constituição

Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental,

promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento

da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

II – às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira

integrada aos programas educacionais que desenvolvem;

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III – aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente –

SISNAMA, promover ações de educação ambiental integradas aos programas

de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

IV – aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e

permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio

ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação;

V – às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas,

promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à

melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre

as repercussões do processo produtivo no meio ambiente;

VI – à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de

valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva

voltada para a preservação, a identificação e a solução de problemas

ambientais.

Art 4º – São princípios básicos da educação ambiental:

I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;

II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a

interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural sob o

enfoque da sustentabilidade;

III – o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter,

multi e transdiciplinaridade;

IV – a vinculação entre ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo;

VII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,

nacionais e globais;

VIII – o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e

cultural.

Art. 5º – São objetivos fundamentais da educação ambiental:

I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em

suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,

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psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e

éticos;

II – a garantia de democratização das informações ambientais;

III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a

problemática ambiental e social;

IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável,

na preservação do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade

ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro

e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente

equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,

democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;

VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e

solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.

CAPÍTULO II

DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Seção I

Disposições Gerais

Art. 6º – É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 7º – A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de

ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio

Ambiente - SISNAMA, instituições educacionais públicas e privadas dos

sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, e organizações não-governamentais com atuação

em educação ambiental.

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136

Art. 8º – As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental

devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por

meio das seguintes linhas de atuação inter-relacionadas:

I – capacitação de recursos humanos;

II – desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;

III – produção e divulgação de material educativo;

IV – acompanhamento e avaliação.

§ 1º – Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental

serão respeitados os princípios e objetivos fixados por esta Lei.

§ 2º – A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para:

I – a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e

atualização dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino;

II – a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e

atualização dos profissionais de todas as áreas;

III – a preparação de profissionais orientados para as atividades de gestão

ambiental;

IV – a formação, especialização e atualização de profissionais na área de meio

ambiente;

V – o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade no que

diz respeito à problemática ambiental.

§ 3º – As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para:

I – o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação

da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e

modalidades de ensino;

II – a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão

ambiental;

III – o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação

dos interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à

problemática ambiental;

IV – a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na

área ambiental;

V – o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção

de material educativo;

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137

VI – a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às

ações enumeradas nos incisos I a V.

Seção II

Da Educação Ambiental no Ensino Formal

Art 9º – Entende-se por educação ambiental na educação escolar a

desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e

privadas, englobando:

I – educação básica:

a. educação infantil b. ensino fundamental c. ensino médio;

II – educação superior;

III – educação especial;

IV – educação profissional;

V – educação de jovens e adultos.

Art. 10º - A educação ambiental será desenvolvida como um a prática

educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades

do ensino formal.

§ 1º – A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina

específica no currículo de ensino.

§ 2º – Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao

aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é

facultada a criação de disciplina específica.

§ 3º – Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos

os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das

atividades profissionais a serem desenvolvidas.

Art. 11º – A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de

professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas.

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138

Parágrafo único – Os professores em atividades devem receber formação

complementar ema suas áreas de atuação, com o propósito de atender

adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional

de educação Ambiental.

Art. 12º – A autorização e supervisão do funcionamento de instituições de

ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada, observarão o

cumprimento do disposto nos Artigos 10 e 11 desta Lei.

Seção III

Da Educação Ambiental Não-Formal

Art. 13º – Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas

educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões

ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio

ambiente.

Parágrafo único – O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal,

incentivará:

I – a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços

nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de

temas relacionados ao meio ambiente;

II – a ampla participação da escola, da universidade e de organizações

nãogovernamentais na formulação e execução de programas e atividades

vinculadas à educação ambiental não-formal;

III – a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de

programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e

as organizações não governamentais;

IV – a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de

conservação;

V – a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades

de conservação;

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VI – a sensibilização ambiental dos agricultores;

VII – o ecoturismo.

CAPÍTULO III

DA EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Art. 14 A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental ficará a

cargo de um órgão gestor, na forma definida pela regulamentação desta Lei.

Art. 15. São atribuições do órgão gestor:

I – definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional;

II – articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos na

área de educação ambiental, em âmbito nacional;

III – participação na negociação de financiamentos a planos, programas e

projetos na área de educação ambiental.

Art. 16. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua

competência e nas áreas de sua jurisdição, definirão diretrizes, normas e

critérios para a educação ambiental, respeitados os princípios e objetivos da

Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 17. A eleição de planos e programas, para fins de alocação de recursos

públicos vinculados à Política Nacional de Educação Ambiental, deve ser

realizada levando-se em conta os seguintes critérios:

I – conformidade com os princípios, objetivos e diretrizes da Política Nacional

de Educação Ambiental;

II – prioridade dos órgãos integrantes do SISNAMA e do Sistema Nacional de

Educação;

III – economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recursos a

alocar e o retorno social propiciado pelo plano ou programa proposto.

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Parágrafo único. Na eleição a que se refere o caput deste artigo, devem ser

contemplados, de forma eqüitativa, os planos, programas e projetos das

diferentes regiões do País.

Art. 18. (VETADO)

Art. 19. Os programas de assistência técnica e financeira relativos a meio

ambiente e educação, em níveis federal, estadual e municipal, devem alocar

recursos às ações de educação ambiental.

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias de

sua publicação, ouvidos o Conselho Nacional de Meio Ambiente e o Conselho

Nacional de Educação.

Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 27 de abril de 1999; 178º da Independência e 111º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Paulo Renato Souza

José Sarney Filho

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ANEXO IV

DECRETO Nº 4.281, DE 25 DE JUNHO DE 2002

Regulamenta a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política

Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. O PRESIDENTE

DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da

Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 9.795, de 27 de abril de

1999, DECRETA:

Art. 1º A Política Nacional de Educação Ambiental será executada pelos órgãos

e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA,

pelas instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino,

pelos órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,

envolvendo entidades não governamentais, entidades de classe, meios de

comunicação e demais segmentos da sociedade.

Art. 2º Fica criado o Órgão Gestor, nos termos do art. 14 da Lei nº 9.795, de 27

de abril de 1999, responsável pela coordenação da Política Nacional de

Educação Ambiental, que será dirigido pelos Ministros de Estado do Meio

Ambiente e da Educação.

§ 1º Aos dirigentes caberá indicar seus respectivos representantes

responsáveis pelas questões de Educação Ambiental em cada Ministério.

§ 2º As Secretarias-Executivas dos Ministérios do Meio Ambiente e da

Educação proverão o suporte técnico e administrativo necessários ao

desempenho das atribuições do Órgão Gestor.

§ 3º Cabe aos dirigentes a decisão, direção e coordenação das atividades do

Órgão Gestor, consultando, quando necessário, o Comitê Assessor, na forma

do art. 4º deste Decreto.

Art. 3º Compete ao Órgão Gestor:

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I - avaliar e intermediar, se for o caso, programas e projetos da área de

educação ambiental, inclusive supervisionando a recepção e emprego dos

recursos públicos e privados aplicados em atividades dessa área;

II - observar as deliberações do Conselho Nacional de Meio Ambiente -

CONAMA e do Conselho Nacional de Educação - CNE;

III - apoiar o processo de implementação e avaliação da Política Nacional de

Educação Ambiental em todos os níveis, delegando competências quando

necessário;

IV - sistematizar e divulgar as diretrizes nacionais definidas, garantindo o

processo participativo;

V - estimular e promover parcerias entre instituições públicas e privadas, com

ou sem fins lucrativos, objetivando o desenvolvimento de práticas educativas

voltadas à sensibilização da coletividade sobre questões ambientais;

VI - promover o levantamento de programas e projetos desenvolvidos na área

de Educação Ambiental e o intercâmbio de informações;

VII - indicar critérios e metodologias qualitativas e quantitativas para a

avaliação de programas e projetos de Educação Ambiental;

VIII - estimular o desenvolvimento de instrumentos e metodologias visando o

acompanhamento e avaliação de projetos de Educação Ambiental;

IX - levantar, sistematizar e divulgar as fontes de financiamento disponíveis no

País e no exterior para a realização de programas e projetos de educação

ambiental;

X - definir critérios considerando, inclusive, indicadores de sustentabilidade,

para o apoio institucional e alocação de recursos a projetos da área não formal;

XI - assegurar que sejam contemplados como objetivos do acompanhamento e

avaliação das iniciativas em Educação Ambiental: a) a orientação e

consolidação de projetos; b) o incentivo e multiplicação dos projetos bem

sucedidos; e, c) a compatibilização com os objetivos da Política Nacional de

Educação Ambiental.

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Art. 4º Fica criado Comitê Assessor com o objetivo de assessorar o Órgão

Gestor, integrado por um representante dos seguintes órgãos, entidades ou

setores:

I - setor educacional-ambiental, indicado pelas Comissões Estaduais

Interinstitucionais de Educação Ambiental;

II - setor produtivo patronal, indicado pelas Confederações Nacionais da

Indústria, do Comércio e da Agricultura, garantida a alternância;

III - setor produtivo laboral, indicado pelas Centrais Sindicais, garantida a

alternância;

IV - Organizações Não-Governamentais que desenvolvam ações em Educação

Ambiental, indicado pela Associação Brasileira de Organizações não

Governamentais - ABONG;

V - Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB;

VI - municípios, indicado pela Associação Nacional dos Municípios e Meio

Ambiente - ANAMMA;

VII - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC;

VIII - Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, indicado pela Câmara

Técnica de Educação Ambiental, excluindo-se os já representados neste

Comitê;

IX - Conselho Nacional de Educação - CNE;

X - União dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME

XI - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

- IBAMA;

XII - da Associação Brasileira de Imprensa - ABI;

XIII - da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Estado de Meio

Ambiente - ABEMA.

§ 1º A participação dos representantes no Comitê Assessor não enseja

qualquer tipo de remuneração, sendo considerada serviço de relevante

interesse público.

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§ 2º O Órgão Gestor poderá solicitar assessoria de órgãos, instituições e

pessoas de notório saber, na área de sua competência, em assuntos que

necessitem de conhecimento específico.

Art. 5º Na inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades

de ensino, recomenda-se como referência os Parâmetros e as Diretrizes

Curriculares Nacionais, observando-se:

I - a integração da educação ambiental às disciplinas de modo transversal,

contínuo e permanente;

II - a adequação dos programas já vigentes de formação continuada de

educadores.

Art. 6º Para o cumprimento do estabelecido neste Decreto, deverão ser

criados, mantidos e implementados, sem prejuízo de outras ações, programas

de educação ambiental integrados:

I - a todos os níveis e modalidades de ensino;

II - às atividades de conservação da biodiversidade, de zoneamento ambiental,

de licenciamento e revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras,

de gerenciamento de resíduos, de gerenciamento costeiro, de gestão de

recursos hídricos, de ordenamento de recursos pesqueiros, de manejo

sustentável de recursos ambientais, de ecoturismo e melhoria de qualidade

ambiental;

III - às políticas públicas, econômicas, sociais e culturais, de ciência e

tecnologia de comunicação, de transporte, de saneamento e de saúde;

IV - aos processos de capacitação de profissionais promovidos por empresas,

entidades de classe, instituições públicas e privadas;

V - a projetos financiados com recursos públicos;

VI - ao cumprimento da Agenda 21.

§ 1º Cabe ao Poder Público estabelecer mecanismos de incentivo à aplicação

de recursos privados em projetos de Educação Ambiental.

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§ 2º O Órgão Gestor estimulará os Fundos de Meio Ambiente e de Educação,

nos níveis Federal, Estadual e Municipal a alocarem recursos para o

desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental.

Art. 7º O Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Educação e seus órgãos

vinculados, na elaboração dos seus respectivos orçamentos, deverão

consignar recursos para a realização das atividades e para o cumprimento dos

objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 8º A definição de diretrizes para implementação da Política Nacional de

Educação Ambiental em âmbito nacional, conforme a atribuição do Órgão

Gestor definida na Lei, deverá ocorrer no prazo de oito meses após a

publicação deste Decreto, ouvidos o Conselho Nacional do Meio Ambiente –

CONAMA e o Conselho Nacional de Educação - CNE.

Art. 9º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 25 de junho de 2002, 181º da Independência e 114º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, Presidente da República.

Paulo Renato de Souza, Ministro da Educação.

José Carlos Carvalho, Ministro do Meio Ambiente.

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ANEXO V

COMPROVANTES DAS ATIVIDADES EXTRA-CLASSE

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