meia entrada para professores do espírito santo
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Aqui, na íntegra, o Projeto de Lei do deputado estadual Roberto Carlos, que prevê meia entrada para professores do Estado do Espírito Santo.TRANSCRIPT
1 Gabinete Deputado Roberto Carlos - PT
Av. Américo Buaiz, 205, gabinete 203 – Enseada do Suá – Vitória – ES – CEP 29.050-950 Telefones (027) 3382-5200 / 3382- 5201 / 3382- 5203 / FAX 3382-5202
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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
PROJETO DE LEI Nº /2013
Assegura aos professores da rede de ensino público e particular de todo o território do Estado do Espírito Santo que estejam exercendo suas funções, o pagamento de 50% do valor realmente cobrado para o ingresso em estabelecimentos e/ou casas de diversões, praças esportivas e similares, que promovam espetáculos de lazer, entretenimento e difusão cultural, conforme especifica.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
D E C R E T A:
Art. 1º. Fica assegurado aos professores da rede de ensino público e particular
de todo o território do Estado do Espírito Santo, que estejam exercendo suas
funções, o pagamento de 50% (cinquenta por cento) do valor realmente
cobrado para o ingresso em estabelecimentos e/ou casas de diversões, praças
esportivas e similares, que promovam espetáculos de lazer, entretenimento e
difusão cultural.
Parágrafo único. A meia-entrada corresponderá sempre à metade do valor do
ingresso cobrado, ainda que sobre o seu preço incidam descontos ou
atividades promocionais.
Art. 2º. Consideram-se casas de diversões, para efeitos desta lei, os
estabelecimentos que realizarem espetáculos musicais, artísticos, circenses,
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teatrais, cinematográficos, atividades sociais recreativas, de artes plásticas e
quaisquer outros que proporcionem lazer e entretenimento.
Art. 3º. A condição prevista no artigo 1º, para o recebimento do benefício,
deverá ser feita mediante apresentação de comprovante de vínculo
empregatício ou funcional com a instituição de ensino e documento oficial de
identificação.
Art. 4°. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Sala das Sessões, 23 de abril de 2013.
ROBERTO CARLOS Deputado Estadual - PT
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J U S T I F I C A T I V A
Os professores da rede pública e particular de ensino prestam um serviço imprescindível à sociedade brasileira, difundindo o conhecimento técnico e científico, e preparando jovens e adultos para o mercado de trabalho. A valorização da classe docente a partir de mecanismos de qualificação profissional e valorização da categoria são instrumentos essenciais para a qualidade de vida no exercício da atividade docente. No entanto, deve-se esclarecer que este mecanismo de valorização não substitui, tampouco minimiza, a necessidade da reposição salarial, mediante correção das perdas, valorização da carreira e aumento real. Não obstante, a remuneração dos professores, nas três esferas de governo e na iniciativa privada ainda é insuficiente. Esta realidade cria uma situação contraditória, pois cabe aos professores incentivar os jovens na busca do conhecimento cultural e científico, usufruindo dos bens culturais disponíveis, enquanto os próprios professores estão com dificuldades de acesso a esses bens, em virtude da situação financeira precária. O meio ingresso objetiva efetivar um direito expresso na Constituição de 1988: o acesso à cultura. É dever do Estado democratizar o acesso às fontes da cultura nacional, bem como possibilitar o envolvimento da população em atividades que aprimorem o seu desenvolvimento humano e intelectual, conforme determina o artigo 215 da Constituição Federal. Além disso, trata-se de iniciativa que promove a valorização cultural, a promoção e difusão dos bens culturais. No Espírito Santo já existe a meia entrada para estudantes e para doadores do sangue, previstas respectivamente nas leis nº 4.955/1994 e nº 7.737/2004. Ou seja, a Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo já tratou do tema e o considerou constitucional ao aprovar as referias proposições. Inclusive, no ano de 2012 a ALES, novamente, tratou do tema, ao aprovar o PL 340/2012, que conferiu nova redação ao artigo 5º da Lei nº 7.737/2004, que instituiu a ½ (meia) entrada em locais públicos de cultura, esporte e lazer para doadores de sangue e órgãos, originando a Lei 9988/2013. Percebe-se, com isso, que a ALES já estabeleceu a constitucionalidade do tema e o Governador sancionou a proposta de meia entrada.
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Quanto à meia entrada para professores, esta já é realidade no Município do Rio de Janeiro, estando prevista na Lei Municipal nº 3.424, de 18 de julho de 2002. Também no Estado do Paraná foi aprovada a Lei nº 15.876, de 07 de Julho de 2008, e no Estado de Goiás, a Lei nº 17.575, de 30 de janeiro de 2012, que alterou a Lei nº 14.975, de 20 de outubro de 2004. A matéria não trata de competência privativa do Poder Executivo e refere-se à intervenção no domínio econômico, portanto, de competência concorrente (art. 24, I da Constituição Federal), por isso, não há vício de iniciativa. Ao contrário, o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou acerca do tema, decidindo pela sua constitucionalidade. Nesse sentido, seguem os Acórdãos do Supremo:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 7.844/92, DO ESTADO DE SÃO PAULO. MEIA ENTRADA ASSEGURADA AOS ESTUDANTES REGULARMENTE MATRICULADOS EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO. INGRESSO EM CASAS DE DIVERSÃO, ESPORTE, CULTURA E LAZER. COMPETÊNCIA CONCORRENTE ENTRE A UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS E O DISTRITO FEDERAL PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO. CONSTITUCIONALIDADE. LIVRE INICIATIVA E ORDEM ECONÔMICA. MERCADO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA. ARTIGOS 1º, 3º, 170, 205, 208, 215 e 217, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988 define opção por um sistema no qual joga um papel primordial a livre iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais. 2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global normativo para o Estado e para a sociedade, informado pelos preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170. 3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à empresa. 4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto [artigos 23, inciso V, 205, 208, 215 e 217 § 3º, da Constituição]. Na composição entre esses princípios e regras há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público primário. 5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de complementar a formação dos estudantes. 6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 1950, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 03/11/2005, DJ 02-06-2006 PP-00004 EMENT VOL-02235-01 PP-00052 LEXSTF v. 28, n. 331, 2006, p. 56-72 RT v. 95, n. 852, 2006, p. 146-153)
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EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 7.737/2004, DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. GARANTIA DE MEIA ENTRADA AOS DOADORES REGULARES DE SANGUE. ACESSO A LOCAIS PÚBLICOS DE CULTURA ESPORTE E LAZER. COMPETÊNCIA CONCORRENTE ENTRE A UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS E O DISTRITO FEDERAL PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO. CONTROLE DAS DOAÇÕES DE SANGUE E COMPROVANTE DA REGULARIDADE. SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE. CONSTITUCIONALIDADE. LIVRE INICIATIVA E ORDEM ECONÔMICA. MERCADO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA. ARTIGOS 1º, 3º, 170 E 199, § 4º DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988 define opção por um sistema no qual joga um papel primordial a livre iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais. Muito ao contrário. 2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global normativo para o Estado e para a sociedade, informado pelos preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170. 3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à empresa. 4. A Constituição do Brasil em seu artigo 199, § 4º, veda todo tipo de comercialização de sangue, entretanto estabelece que a lei infraconstitucional disporá sobre as condições e requisitos que facilitem a coleta de sangue. 5. O ato normativo estadual não determina recompensa financeira à doação ou estimula a comercialização de sangue. 6. Na composição entre o princípio da livre iniciativa e o direito à vida há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público primário. 7. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 3512, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 15/02/2006, DJ 23-06-2006 PP-00003 EMENT VOL-02238-01 PP-00091 RTJ VOL-00199-01 PP-00209 LEXSTF v. 28, n. 332, 2006, p. 69-82)
O suposto argumento que o presente projeto de lei fere a igualdade prevista no
artigo 5º da Constituição Cidadã não pode se sustentar.
Primeiramente porque é preciso tratar os desiguais de forma desigual. Não é
possível tratar desiguais de forma igual sob pena de incorrer em desigualdade.
Os professores lidam todos os dias com o acesso à cultura, por isso, é
imprescindível tratar essa categoria de forma diferente. O próprio Supremo
Tribunal Federal já decidiu que a verdadeira igualdade é tratar os iguais de
forma igual e os desiguais de forma desigual. Logo, alegar
inconstitucionalidade no presente projeto é tratar todos de forma igual, isso sim,
fere o principio constitucional da igualdade.
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Segundo, porque, no julgamento do sistema de cotas nas universidades o
Supremo Tribunal Federal decidiu pela constitucionalidade. No voto do Ministro
Luiz Fux, é preciso destacar que: “a instituição de cotas dá cumprimento ao
dever constitucional que atribui ao Estado a responsabilidade com a educação,
assegurando acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um”. Por isso, a “meia
entrada” para Professores é também uma forma de assegurar o acesso à
cultura e o cumprimento de dever constitucional.
Terceiro, pois, o Ministro decano do STF, Celso de Mello, ao proferir voto no
julgamento das ações afirmativas destaca que: “O desafio não é apenas a
mera proclamação formal de reconhecer o compromisso em matéria dos
direitos básicos da pessoa humana, mas a efetivação concreta no plano das
realizações materiais dos encargos assumidos”. Por isso, de acordo com os
encargos assumidos pelos professores, necessário se faz o tratamento
desigual dos mesmos, uma vez que lidam todos os dias com o acesso aos
bens culturais, por isso, devem ser tratados de forma diferenciada e facilitada.
Quarto, a ALES já tratou do tema e conferiu constitucionalidade à proposta.
Não cabe, ainda, justificar inconstitucionalidade argumentando que a proposta
pode abrir precedente para outras categorias. Desde que sejam constitucionais
e razoáveis é necessário criar condições para benefícios constitucionalmente
assegurados, já que, dessa forma, o legislador estadual além do dever de
legislar, estará cumprindo com o dever de facilitar o acesso aos direitos
fundamentais de segunda dimensão, ou seja, direitos sociais, tão escassos e
raros de serem cumpridos.
Além disso, o Plano Plurianual para o quadriênio 2012-2015 estabelece como
uma das diretrizes e eixos estratégicos que representam os grandes desafios
com os quais a sociedade se depara neste momento é: o desenvolvimento da
educação e da cultura. Nesse sentido, percebe-se que a presente proposta
vai ao encontro, também, do PPA do Governo do Estado.
Por fim, destaca-se a questão suscitada pelo ministro Marco Aurélio no voto
das ações afirmativas no STF: “as ações afirmativas devem ser utilizadas na
correção de desigualdades. Mas estamos longe disso. Façamos o que está a
nosso alcance, o que está previsto na Constituição Federal”. Por isso,
apresentar mecanismos, a exemplo dessa proposta, que contribuam para o
acesso à produção cultural está ao nosso alcance e está previsto na
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Constituição Cidadã, conforme matéria já apreciado nesta Casa e diversas leis
vigentes no país que concede aos professores a “meia entrada”.
Assim, considerando a necessidade de efetivação do acesso aos bens culturais pelos professores, imprescindíveis à contínua formação, e a necessidade de democratização do acesso aos bens culturais, é que apresento o presente projeto de lei.
ROBERTO CARLOS
Deputado Estadual - PT