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1 | Página Medidas e modelos de desempenho em um segmento de produção: metrificação da produtividade sob a óptica da eficiência produtiva Adeilson Miguel da Fonseca (UFERSA) [email protected] Daniela Barros dos Anjos (UFERSA) [email protected] Tâmara Edelyne Rodrigues da Silva (UFERSA) [email protected] Lycia Nascimento Rabelo (UFERSA) [email protected] Resumo A atuação de empresas no mundo contemporâneo exige um esforço no sentido de que aquela ocorra de forma competitiva, fazendo que as organizações busquem sempre alcançar resultados expressivos. Dessa forma, surge a necessidade de se medir o desempenho das operações para avaliar se os resultados desejados estão sendo alcançados, sendo necessário utilizar-se de ferramentas de medição de desempenho que integrem as visões interna e externa de um processo produtivo. Com base nesse contexto, o objetivo desse trabalho é aplicar medidas e modelos de metrificação e avaliação do desempenho em um sistema de produção que possam refletir a eficiência da operação, para que se possa descrever o desempenho alcançado pelo sistema O desenvolvimento do trabalho se deu através visitas técnicas a uma empresa pertencente à indústria alimentícia, localizada no município de Mossoró, observação e análise de documentos relativos ao setor de produção, além de entrevistas com os gerentes de produção e pesquisas na literatura. Palavras-chave: Modelos de desempenho; Metrificação da produtividade; Ferramentas de medição de desempenho; Eficiência produtiva.

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1 | P á g i n a

Medidas e modelos de desempenho em um segmento de produção:

metrificação da produtividade sob a óptica da eficiência produtiva

Adeilson Miguel da Fonseca (UFERSA)

[email protected]

Daniela Barros dos Anjos (UFERSA)

[email protected]

Tâmara Edelyne Rodrigues da Silva (UFERSA)

[email protected]

Lycia Nascimento Rabelo (UFERSA)

[email protected]

Resumo

A atuação de empresas no mundo contemporâneo exige um esforço no sentido de que aquela

ocorra de forma competitiva, fazendo que as organizações busquem sempre alcançar

resultados expressivos. Dessa forma, surge a necessidade de se medir o desempenho das

operações para avaliar se os resultados desejados estão sendo alcançados, sendo necessário

utilizar-se de ferramentas de medição de desempenho que integrem as visões interna e externa

de um processo produtivo. Com base nesse contexto, o objetivo desse trabalho é aplicar

medidas e modelos de metrificação e avaliação do desempenho em um sistema de produção

que possam refletir a eficiência da operação, para que se possa descrever o desempenho

alcançado pelo sistema O desenvolvimento do trabalho se deu através visitas técnicas a uma

empresa pertencente à indústria alimentícia, localizada no município de Mossoró, observação

e análise de documentos relativos ao setor de produção, além de entrevistas com os gerentes

de produção e pesquisas na literatura.

Palavras-chave: Modelos de desempenho; Metrificação da produtividade; Ferramentas de

medição de desempenho; Eficiência produtiva.

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1. Introdução

Medidas de desempenho têm sido usadas para medir a atuação das organizações. Por muito

tempo, dados estatísticos financeiros eram usadas como principais formas de medição de

desempenho, além de considerados suficientes. Para Neely (2003), as técnicas contábeis

contemporâneas originaram-se na idade média e, provavelmente, desde essa época, a

avaliação de desempenho tenha sido feita se concentrando em critérios financeiros, apenas.

Com o passar do tempo, a avaliação de desempenho meramente financeira passou a se tornar

insuficiente. Isso porque as medições e avaliações financeiras davam bons resultados em

outra conjuntura, onde os mercados eram estáveis, a concorrência praticada não era dinâmica

e massiva quanto hoje, etc. Era outra situação competitiva. A partir de certo momento, foram

surgindo clientes mais exigentes e com novas necessidades, logo, aumentou-se a preocupação

com a concorrência.

A qualidade de produtos e processos passou então a se tornar fator de enorme grandeza para

que as empresas pudessem enfrentar os concorrentes e satisfazer os clientes ao mesmo tempo.

Além de preocupações com qualidade, começou a haver espaço também para esforços de

redução de desperdícios, o que implica numa tentativa de melhor utilização de recursos

(aumento de produtividade) que traria benefícios às empresas no que diz respeito à redução de

custos, proporcionando assim, aumento na competitividade.

Enfim, foi surgindo uma série de fatores que influenciavam no andamento de todos os setores

de uma organização que visava lucros. Essas novas preocupações trouxeram à tona o

problema da necessidade de implantação de novas formas de medição de desempenho, com

outros tipos de indicadores.

Embora as medidas financeiras mostrassem o desempenho alcançado pela operação, não

mostravam como o desempenho era alcançado, o que é fundamental para guiar uma operação,

objetivo principal de um sistema de medição de desempenho.

Ora, mesmo que medidas essencialmente financeiras sempre funcionassem bem, como ficaria

a avaliação de sistemas de produção que não visassem à obtenção de lucro? Daí surge a

importância o uso de sistemas de avaliação de desempenho multidimensionais. Essa

importância no uso de sistemas de medição de desempenho diversificados justifica a

realização desse trabalho.

Dessa forma, este trabalho tem como objetivo aplicar modelos de medição de desempenho em

um sistema de produção do ramo alimentício, mais especificamente o modelo de Pinto

(1998), de modo que seja possível fazer uma descrição de alguns aspectos estratégicos para a

unidade fabril que foi objeto de estudo.

2. Revisão de Literatura

Difícil, provavelmente impossível, é a tarefa de uma empresa qualquer conduzir bem sua

operação sem que haja uma forma de checar seu andamento. A todo processo deve estar

ligado um sistema de medição de desempenho, que é a ferramenta utilizada para verificar se

as ações estão dentro dos limites planejados.

Segundo Neely et al. (1995), medição de desempenho é o processo de quantificar ação. O

processo de quantificação da ação que fornece subsídios para elevar o desempenho. Dessa

forma, nos vem à mente a idéia de que um sistema de medição de desempenho avalia certas

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ações, e, com base em suas medidas, na maioria das vezes quantitativa, informa as

características da ação: sua eficiência e eficácia.

De acordo com Corrêa e Corrêa (2008), a eficácia se refere à extensão segundo a qual os

objetivos são atingidos e, eficiência é a medida de quão economicamente os recursos da

organização são utilizados quando promovem determinado nível de satisfação dos clientes e

outros grupos de interesse. Resumidamente: a eficiência ocorre quando metas traçadas são

alcançadas da melhor forma possível, avaliando, quantitativamente e qualitativamente,

relações entre inputs e outputs, ou seja, seu conceito é praticamente igual ao de produtividade,

fazer mais coisas da melhor maneira possível, utilizando a menor quantidade de recursos

possível. Já a eficácia é alcançada quando metas antes estabelecidas são alcançadas. É a

relação entre os outputs de um processo qualquer e os objetivos a serem alcançados por esse

processo. Essas relações são mostradas na Figura 2.1.

Figura 2.1: Diferença entre eficiência e eficácia (CORRÊA e CORRÊA, 2008).

Ainda segundo Corrêa e Corrêa (2008), os sistemas de avaliação de desempenho (SAD’s) são

muito importantes, considerando que possuem dois objetivos principais:

a) São partes integrantes do ciclo de planejamento e controle; essencial para a gestão de

operações. Não se pode saber se determinada operação está ocorrendo bem se não houver uma

forma de medi-la. Os SAD’s auxiliam o processo de planejamento ao utilizarem metas em sua

composição, metas essas que são necessárias como padrão comparativo. Auxiliam também no

processo de controle, ao utilizar medidas de desempenho em determinadas operações e

compará-las com os padrões (metas).

b) O estabelecimento de um sistema adequado de avaliação de desempenho tem um papel

importante em influenciar comportamentos desejados nas pessoas e sistemas de operações.

Isso se torna uma ajuda para que determinadas intenções estratégicas venham realmente a

ocorrer.

Um SAD possui as características citadas a cima, mas é importante salientar, para que ele

realmente tenha um efeito desejado, é necessário que as métricas utilizadas sejam condizentes

com os objetivos estratégicos da organização. Isso porque o interesse maior de determinada

organização ao usar um SAD deve ser verificar o processo de implementação da estratégia.

Para isso, devem-se verificar as medidas de aspectos estratégicos e compará-las com as metas,

não poderia ser de outra forma. Se aspectos não estratégicos fossem levados em consideração

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no momento da medição, as organizações perderiam o rumo, poderiam estar bem segundo a

sua avaliação, mas seria uma miragem, já que não conheceriam o seu desempenho em

aspectos realmente importantes para a sua operação.

2.1 Grupos de métricas

Considerando-se que os objetivos de desempenho de uma operação podem ser resumidos em

cinco grupos, custo, qualidade, flexibilidade, velocidade e confiabilidade, são mostrados no

Quadro 2.1.1 exemplos de indicadores pertinentes a cada um dos grupos.

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Quadro 2.1.1: indicadores de desempenho e sua pertinência nos objetivos de desempenho (CORRÊA e

CORRÊA , 2008).

2.2. Características de uma boa medida de desempenho

Corrêa e Corrêa (2008) lista algumas características que um indicador deve possuir para que

seja considerado bom. Algumas dessas características são mostradas abaixo:

a) Um indicador deveria ser derivado da estratégia e alinhado com as prioridades competitivas

da operação;

b) Ser simples de entender e usar;

c) Referir-se a metas especificas;

d) Ser objetivo e não apenas opinativo;

e) Prover feedback rápido.

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Há uma série de outras características, mas em geral, quando um indicador atende a essas

características principais, ele pode ser considerado bom, principalmente se ele atender a

primeira característica: ser derivado da estratégia. Essa sim é a característica mais importante

de um indicador, uma vez que medindo aspectos estratégicos a organização pode ter idéia se

está ou não alcançando os objetivos a que se propõe.

2.3. Modelo de medição de desempenho (PINTO, 1998)

No modelo de Pinto (1998), várias medidas de desempenho são analisadas em um diagrama

radial, onde as medidas são separadas de acordo com sua categoria (custo, flexibilidade,

rapidez, etc.). Nesse diagrama, há duas marcações em forma de polígono: uma mostra o

desempenho atual medido de sua respectiva métrica, e a outra mostra a meta a ser alcançada.

Há um espaço entre os dois polígonos, significando uma diferença entre a meta desejada e o

desempenho alcançado, permitindo assim, a fácil verificação do desempenho obtido em

qualquer aspecto que tenha sido medido e representado no diagrama. A área de diferença

entre o resultado obtido e o esperado é chamada de área de aperfeiçoamento.

No modelo de Pinto (1998), há uma escala de um a nove, representando critérios ganhadores

e qualificadores de pedidos na visão do cliente e da empresa. Observe a figura 2.3.

Figura 2.3.1: Diagrama de desempenho utilizado para medir o desempenho de três prioridades competitivas em

uma unidade de negócios (Adaptado de PINTO, 1998).

Nesse diagrama, são utilizadas medidas de desempenho relacionadas ao cliente (CL), que

possuem ligações com este, e medidas relacionadas à concorrência (CO). As medidas são

separadas nos grupos F, R e S (Flexibilidade, Recursos e Saídas, respectivamente) e então

verifica-se de acordo com a numeração alcançada se a medida pertence aos critérios

ganhadores de pedidos, qualificadores de pedidos, ou critérios menos importantes (Esses

critérios situam-se nas faixas de 1 a 3, 4 a 6 e 7 a 9, respectivamente).

3. Procedimentos Metodológicos

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Este trabalho foi feito com o intuito de descrever medidas de desempenho em uma unidade

produtiva pertencente ao setor alimentício, situada em Mossoró-RN. Este foi um critério

adotado para escolha da empresa a ser analisada, ou seja, proximidade geográfica. Outro

critério para tal decisão foi a simples disponibilidade da empresa às pesquisas e visitas

técnicas.

Essas visitas à fábrica foram feitas com o objetivo de visualizar o sistema produtivo. Os dados

aqui utilizados foram adquiridos através de entrevistas com os responsáveis pelo setor

produtivo e outros setores da empresa. Após a coleta desses dados, agrupamos as medidas de

desempenho (Algumas delas já em funcionamento na empresa, outras desenvolvidas para este

trabalho) em quatro grupos referentes aos objetivos estratégicos da empresa, que são: custo,

velocidade, confiabilidade e qualidade. Depois desse agrupamento realizou-se uma descrição

do desempenho obtido em cada medida individual num período de nove meses, referentes ao

período de janeiro a setembro de 2009 (A disponibilidade de dados para a nossa análise era

referente apenas a esse período, por isso, não foi possível fazer uma descrição mais longa).

É mostrado ainda, o desempenho de produção de duas máquinas essenciais para o processo

produtivo, pois se comportam como gargalo produtivo, uma vez que a mesma é responsável

pela embalagem de todos os produtos. Essas máquinas processam o alimento principal da

fábrica (Esta fábrica uma linha de alimentos) e embalam. É mostrado o nível de

processamento e consumo de embalagens, assim como seu desperdício. Ao final, é feito o

comparativo do desempenho médio dos pontos analisados no período analisado com a meta

desejada. Todas essas comparações são realizadas com base no modelo de Pinto (1998), onde

os desempenhos alcançados são comparados com os valores meta. Esse modelo foi escolhido

devido à sua facilidade e praticidade de leitura e interpretação, o que torna esses processos

mais rápidos.

Para a construção dos gráficos foi utilizado o software Microsoft® Office Excel. É valido

lembrar que há uma pequena diferença do modelo de medição de desempenho utilizado neste

trabalho com o modelo de Pinto (1998), uma vez que este utiliza um gráfico circular, e, neste

trabalho, é utilizado um gráfico de barras. De qualquer forma, a idéia central do modelo

original é mantida, já que é feita uma comparação do desempenho atual com a meta nos dois

tipos de gráfico.

4. Resultados obtidos

A análise aqui envolvida está dividida em quatro aspectos: custo, velocidade, qualidade e

confiabilidade. Esses grupos foram escolhidos porque fazem parte dos objetivos estratégicos

da empresa em estudo. Coube também analisar o desempenho de duas maquinas específicas,

por se tratarem de um gargalo produtivo. No Quadro 2 são mostradas as métricas utilizadas no

trabalho e suas respectivas distribuições nos quatro grupos estratégicos, de acordo com o

Quadro 4.1.

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Quadro 4.1: Medidas utilizadas e seus respectivos grupos.

A seguir, é feita uma descrição de cada medida utilizada:

-Tempo de parada: significa o tempo de parada em máquinas, resultante de defeitos, quebras

e outros problemas;

-Número de reclamações: significa o número de reclamações de clientes, por causa de

defeitos na qualidade, demora na entrega de pedidos, entre outros problemas;

-Taxa de aprovação de controle interno: significa a razão entre o número de itens

aprovados no controle de qualidade feito na produção interna e o número total de itens

produzidos;

-Entregas no prazo: significa o número de entregas de produtos acabados ao consumidor que

foram feitas dentro do prazo de tempo combinado inicialmente. Aqui, essa medida se refere à

razão entre o número de entregas no prazo e o número total de entregas.

-Tempo perdido em atividades não agregadoras de valor: Equivale ao tempo usado em

atividades que não geram valor direto ao produto, como limpeza das máquinas.

Essas medidas podem ser consideradas boas medidas, segundo as características descritas por

CORRÊA e CORRÊA (2008), pois:

1. Todas essas medidas são derivadas da estratégia da empresa;

2. São simples de entender e usar;

3. Provém um feedback rápido, já que são medidas numéricas simples.

4.1. Dados obtidos

Após todo o procedimento de coleta de dados, foram obtidos valores numéricos para cada

uma dessas métricas e ainda para as duas máquinas cruciais no processo, que chamaremos

aqui de M1 e M2. Para essas máquinas, foram coletados dados referentes ao nível de

produção em kg (processamento de produto, neste caso.), consumo de embalagens em kg, e

desperdício de embalagens, também em kg.

A seguir, são mostrados quadros com os valores obtidos para as métricas analisadas, junto

com as metas estabelecidas pelo setor de produção para cada métrica. Lembrando que esses

valores médios são relativos ao período de janeiro a setembro de 2009.

Quadro 4.1.1: Valores de produção, consumo de embalagens e desperdício de embalagens para as máquinas 1 e

2 e suas respectivas metas.

Agregando os dados relativos a essas duas máquinas, para facilitar a análise sistêmica, temos

o seguinte quadro, onde os valores mostrados são os valores de M1 e M2 somados. A meta

agora, para cada uma das três medidas é o dobro da apresentada no quadro anterior, pelo fato

de se tratar de uma análise agregada das duas máquinas.

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Quadro 4.1.2: Valores agregados para a produção, consumo de embalagens e desperdícios de embalagens para as

máquinas 1 e 2 e suas respectivas metas.

A seguir é mostrado um quadro com os valores obtidos para as métricas dos quatro grupos de

desempenho. Os valores entre parênteses representam as metas para cada métrica2.

Quadro 4.1.3: Valores mensais de cada métrica e suas respectivas metas.

O número de reclamações é dado em valores absolutos, e o tempo de parada e de atividades

não agregadoras de valor é dado em horas. A fim de construir um gráfico comparativo entre

os valores alcançados no período e suas metas, cada unidade de reclamação, assim como cada

hora de parada das máquinas, é considerada como 100%, pois como não há um limite

conhecido por mês, sendo esses números de natureza aleatória. Não podemos considerar, por

exemplo, um número fixo de reclamações por mês de 10, e a partir daí, calcular a

porcentagem proporcional de outros valores. O mesmo raciocínio é seguido para o tempo de

parada das maquinas.

O tempo de atividades não agregadoras de valor tem como meta um valor máximo de 34

horas, sendo que, se o tempo real for menor, o desempenho foi melhor, e se for maior, o

desempenho foi menor. A porcentagem em relação à meta do valor atual é calculada da

seguinte forma: considera-se 34 horas como 100%, e qualquer valor abaixo disso é

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proporcionalmente maior que 100%, devido ao desempenho ser melhor, assim como qualquer

valor maior que 34 horas será proporcionalmente menor que 100%.

O objetivo de transformar essas medidas de valores absolutos e horas para porcentagem é

uniformizar as unidades de todas as medidas para que possam ser avaliadas em conjunto em

um único gráfico (Modelo de PINTO, 1998). Dessa forma, obtemos o Quadro 4.1.4.

Quadro 4.1.4: Métricas analisadas e seu desempenho em porcentagem em relação às metas.

4.2 Aplicação do Método

Sabendo-se que os valores médios das metas são iguais aos valores para cada mês, já que os

valores são sempre iguais em todos os meses, e, utilizando os valores dos Quadros 4.1.1, 4.1.2

e 4.1.4, plotamos os gráficos utilizados para uma melhor análise (Modelo de PINTO, 1998).

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Gráfico 4.2.1: Desempenho médio do período para um grupo de medidas de desempenho correspondentes à quatro objetivos de desempenho.

Gráfico 4.2.2: Desempenho médio do período analisado separadamente para as máquinas M1 e M2.

Gráfico 4.2.3: Desempenho médio do período de análise para as máquinas M1 e M2 analisadas em conjunto

quanto a três aspectos.

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5. Discussão dos resultados

Após a aplicação do método de Pinto (1998), vê-se que dentre as métricas e objetivos de

desempenho analisados, o melhor desempenho alcançado foi a métrica entregas no prazo, já

que obteve um desempenho de 99% em relação a meta. Foram poucas entregas ocorridas fora

do prazo as métricas taxa de aprovação no controle interno e tempo perdido em atividades não

agregadoras de valor encontram-se com baixo desempenho, embora este esteja próximo à

meta.

Talvez o desempenho destas duas últimas medidas não seja tão baixo, com a primeira com

um desempenho de 98,56% e a segunda com 97,71%, o alcance da meta pode ser

perfeitamente possível. Lembrando que um desempenho de 100% na métrica tempo perdido

em atividades não agregadoras de valor significa um tempo gasto de 34 horas por mês nessas

atividades, que se fazem necessárias. O desempenho de 97,71% nessa métrica significa que se

gastou em média mais que 34 horas por mês nessas atividades.

O desempenho do número de reclamações pode parecer alarmante, mas como a meta é 0% e

qualquer reclamação é tratada como 100%, nota-se que o número médio de reclamações do

período foi de 1,33 reclamações por mês. O desempenho do tempo de parada foi de 700%

com uma meta de 0%, o que significa uma parada média de 7 horas por mês.

A análise do Gráfico 4.2.2 mostra que a máquina M1 teve bons desempenhos. O fato de o seu

consumo de embalagens ter superado a meta é explicado pelo fato de sua produção também

ter ultrapassado a meta, uma vez que o consumo meta de embalagens é calculado com base na

meta de produção. O desperdício de embalagens gerado por essa máquina foi menor que o

permitido, gerando assim um bom desempenho nesse aspecto. Já a M2 possuiu um baixo

desempenho, já que seu consumo de embalagens foi baixo por ela ter produzido abaixo da

meta. E ainda mais, ela desperdiçou mais embalagens que a meta. Lembrando que o

desperdício de embalagens é relativo ao consumo de cada máquina. A M1 consumiu mais,

desperdiçou uma média de 0,28kg. A M2 consumiu menos que M1 e desperdiçou um número

maior que M1, 0,55kg, ultrapassando a meta, 0,47kg.

O Gráfico 4.2.3 mostra que a produção média total de M1 e M2 foi menor que a meta. Isso

muito se deve ao fato de M2 ter produzido muito menos que a meta estabelecida. O consumo

médio total de embalagens foi menor que a média, já que a produção também foi menor. Já o

desperdício médio total ficou abaixo do aceitável, fato esse bastante influenciado pelo fato de

a M1 ter desperdiçado muito pouco, o que deu muito peso ao valor obtido.

Quanto aos objetivos de desempenho qualidade, custo, confiabilidade e velocidade, observa-

se que a empresa analisada encontra-se próximo ao desempenho esperado em três desses

objetivos, que são entregas no prazo (confiabilidade), taxa de aprovação no controle interno

(qualidade) e tempo perdido em atividades não agregadoras de valor (velocidade). Isso mostra

que em relação à esses aspectos (confiabilidade, velocidade e qualidade), observando-se

apenas essas métricas, a empresa se encontra bem quanto ao objetivo que almeja.

Quanto ao número de reclamações (qualidade) e tempo de parada (custo), a empresa se

mostrou um pouco fora das metas, mas como o número médio de reclamações por mês é

pequeno (1,33), a empresa não se distancia muito de sua meta. O maior problema está no

tempo de parada (7 horas) e na máquina 2, que está produzindo abaixo da meta e

desperdiçando muitas embalagens. Quanto às recomendações, pelo caráter descritivo deste

trabalho, não faremos nenhuma de modo mais técnico. O objetivo era apenas descrever a

situação de alguns pontos do sistema em estudo.

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De toda forma, recomenda-se uma melhor avaliação na máquina M2, pelo seu baixo

desempenho em relação às expectativas, e também uma melhor análise no fato de haver um

tempo de parada médio de 7 horas por mês, a fim de avaliar as causas desses resultados e

procurar encontrar soluções para esses problemas.

6. Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo analisar alguns elementos do sistema produtivo de

uma empresa do ramo alimentício, pertencente ao setor secundário e primário da economia.

Através dessa análise seguida de descrição, foi possível notar como esses elementos

específicos do sistema produtivo se comportam em relação às suas metas. Somente com base

nesse comportamento é que se pode ter uma idéia de como e onde agir para tornar o sistema

mais aperfeiçoado.

Daí surge a visão da importância de um sistema de medição de desempenho para qualquer

operação produtiva, seja de bens ou serviços, sistema esse que é responsável pelo controle das

ações. Como é inaceitável que uma operação produtiva ocorra de forma descontrolada, o que

acarretaria prejuízos financeiros, estratégicos, etc. é necessário que se tenha em

funcionamento em empresas e sistemas produtivos quaisquer, um sistema de medição de

desempenho, pois, na falta deste, não haveria como controlar o alcance ou não de questões

estratégicas, objetivo principal de qualquer sistema produtivo.

7. Notas

1 - Lembramos que a limpeza das máquinas é essencial para a qualidade do processo, o

motivo pelo qual listamos essa ação aqui, é o fato de que ao iniciar-se a limpeza das

máquinas, o processo deve parar. Como o produto deixa de ser processado, não há valor

agregado diretamente a ele, mas indiretamente. Se o tempo de limpeza fosse reduzido, o

tempo de processamento seria maior.

2 - A meta do tempo perdido em atividades não agregadoras de valor está na casa das 34

horas porque é necessário parar durante 34 horas por mês, para limpeza, por exemplo.

Referências

ARAVECHIA, Carlos H. M.; PIRES, Sílvio R. I.; Avaliação de Desempenho de Cadeias

de Suprimentos. Santa Bárbara d’Oeste: UNIMEP, 1999. Dissertação de Mestrado.

CORRÊA, Henrique L.; CORRÊA, Carlos A.; Administração da Produção e operações.

Manufatura e Serviços: Uma abordagem estratégica. 2ª Ed, 3ª reimpressão; São Paulo: Atlas,

2008.

NEELY, A., GREGORY M., PLATTES K. Performance measurement systems design: a

literature review and research agenda. International Journal of Operations & Production

Management, v.15, n.4, p.80-116, 1995.

PINTO, J. C. Avaliação Estratégica do Desempenho Competitivo da Manufatura: Proposta

de um Modelo Conceitual Flexível. Campinas: UNICAMP, 1998. Dissertação de Mestrado.

Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas.