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ZULMÁRIA IZABEL DE MELO SOUZA TARGAS MATO GROSSO: ECONOMIA E SOCIEDADE NAS REDES DAS CASAS COMERCIAIS (SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX) DOURADOS 2017

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ZULMÁRIA IZABEL DE MELO SOUZA TARGAS

MATO GROSSO: ECONOMIA E SOCIEDADE NAS REDES DAS

CASAS COMERCIAIS (SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX)

DOURADOS – 2017

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ZULMÁRIA IZABEL DE MELO SOUZA TARGAS

MATO GROSSO: ECONOMIA E SOCIEDADE NAS REDES DAS

CASAS COMERCIAIS (SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

História da Faculdade de Ciências Humanas da

Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) como

parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora

em História.

Área de concentração: História, Região e Identidades.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Cimó Queiroz.

DOURADOS - 2017

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

T185m Targas, Zulmaria Izabel De Melo Souza

MATO GROSSO: Economia e Sociedade nas redes das casas comerciais

(século XIX e início do século XX) / Zulmaria Izabel De Melo Souza Targas –

Dourados: UFGD, 2017.

250f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Paulo Roberto Cimó Queiroz

Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Ciências Humanas,

Universidade Federal da Grande Dourados.

Inclui bibliografia

1. Mato Grosso. 2. Economia. 3. Transportes. 4. Importação. 5. Exportação. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

©Direitos reservados. Permitido a reprodução parcial desde que citada a fonte .

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ZULMÁRIA IZABEL DE MELO SOUZA TARGAS

MATO GROSSO: ECONOMIA E SOCIEDADE NAS REDES DAS

CASAS COMERCIAIS (SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX)

TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTORA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – PPGH/UFGD

Aprovada em _____de ___________________de ___________.

BANCA EXAMINADORA

Presidente e orientador:

Paulo Roberto Cimó Queiroz (Dr., UFGD)____________________________________

2º Examinador:

João Carlos de Souza (Dr., UFGD)_________________________________________

3ª Examinadora:

Nauk Maria de Jesus (Drª., UFGD)_________________________________________

4ª Examinadora:

Lisandra Pereira Lamoso (Drª., UFGD)______________________________________

5º Examinador:

Alcides Goularti Filho (Dr. UNESC)_________________________________________

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À toda minha família que é minha fortaleza.

À memória de

Antônio da Silva Souza,

Osmar da Silva Souza,

Marina da Silva Souza,

Maria Nazaré de Mello,

João Maria de Mello.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aqui a todos as pessoas especiais que integraram minha jornada acadêmica,

em especial os que me acompanharam nesses longos anos de doutoramento.

Primeiramente, quero agradecer em especial meu orientador o Prof. Paulo Roberto

Cimó Queiroz, o qual me dedicou plena confiança, sabedoria e amizade por mais de uma

década em que trabalhamos juntos, e com o qual aprendi mais que o saber acadêmico, pois

sua postura já é uma lição de vida.

Ao Prof. João Carlos de Souza, o qual sempre tive o maior respeito e admiração, e

sempre pude contar com seus conselhos sábios.

Aos meus irmãos Pierre e Peres que são meu porto seguro em todos os dias da minha

vida. As minhas cunhadas Verônica e Fernanda que são verdadeiras irmãs.

Ao meu marido Jaime, minha mãe Rosangela e minha sogra Eva pelo incentivo, amor,

paciência e companheirismo.

À todos os professores que fizeram parte da minha jornada acadêmica.

Aos amigos Cristóvão Henrique Ribeiro da Silva, Marciana Santiago de Oliveira,

Camila Pereira Machado, Djeovani Roos, Bruna Amaral Dávalo, Enrique Romero, Ana

Caroline Torelli, Regina Maria Lopes, Shirley Matias que, cada um à sua maneira, contribuiu

para o trabalho aqui apresentado.

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Resumo: O objetivo geral desta pesquisa consiste em estudar as casas comerciais

importadoras e exportadoras de Mato Grosso (incluindo os atuais MT e MS) entre o final do século XIX e os inícios do século XX, no que se refere a: o capital dessas casas (sua

procedência e composição); os detalhes de suas conexões tanto com o mercado nacional e mundial quanto com as atividades produtivas desenvolvidas na região; suas estruturas internas de funcionamento e suas estratégias comerciais. Entretanto, para atingir esse objetivo, a tese

busca também apresentar as transformações que se processaram nas vias de transporte e de comunicação e seus efeitos na sociedade e economia mato-grossenses ao longo de todo o

século XIX e início do século XX. As principais fontes utilizadas foram: os livros de registro de empresas da Inspetoria Comercial de Mato Grosso, disponíveis nos arquivos da Junta Comercial de Mato Grosso (Cuiabá) e da Junta Comercial de Mato Grosso do Sul (C.

Grande); livros de estatísticas de exportação da antiga Mesa de Rendas de Corumbá (APMT, Cuiabá); dados relativos ao comércio exterior de Mato Grosso, registrados pelas agências

fiscais federais existentes no estado e publicados pelo Serviço/Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda (disponíveis na internet). Utilizam-se também inventários e testamentos levantados tanto no Fórum de Corumbá como no arquivo do

Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (C. Grande). Além disso, são utilizados o Album graphico do Estado de Matto-Grosso, o Almanak Laemmert e os relatórios dos

presidentes/governadores de Mato Grosso. Como fontes secundárias, utilizam-se obras memorialistas e relatos de viajantes. Assim, a tese procura traçar as rotas e os meios utilizados na comunicação entre Mato Grosso e outras partes do Brasil, assim como com os países

estrangeiros, vizinhos ou não, ao longo do período. Além disso, indica as atividades econômicas que eram desenvolvidas e mostra como se processava o comércio e quais eram os

principais gêneros comercializados ao longo do século XIX e inícios do XX. Com relação especificamente às casas comerciais, a tese apresenta os caminhos percorridos pelos proprietários das empresas estudadas, ao mesmo tempo em que procura entender a dinâmica

do funcionamento e da estrutura dessas empresas. Além disso, identifica os capitais aplicados e as diversas relações comerciais envolvidas, mostrando que as casas comerciais mato-

grossenses eram responsáveis pela escoação dos principais produtos de exportação do estado (com exceção da erva-mate) e pela introdução dos mais variados artigos importados, desde alimentos a artigos de luxo. Finalmente, a tese busca ilustrar parte das relações comerciais

mato-grossenses com a Bolívia e os estados vizinhos do Amazonas e Pará, no contexto da exploração da borracha, assim como entender a atuação de algumas das principais casas

comerciais mato-grossenses nessa economia nas duas primeiras décadas do século XX. Palavras-chave: 1. Mato Grosso. 2. Economia. 3. Transportes. 4. Importação. 5. Exportação.

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Abstract: The general objective of this research is to study the importing and exporting firms

of Mato Grosso (including the current MT and MS) between the end of the 19th century and the early 20th century, with regard to: the capital of these firms (its origin and composition);

the details of their connections with both the national and global market and productive activities developed in the region; their internal structures and business strategies. However, to achieve this goal, the thesis also searchs to present the changes in the ways of

communication and transport and its effects on Mato Grosso society and economy throughout the 19th century and early 20th century. The main sources used were: the record books of the

Inspetoria Comercial of Mato Grosso, available in the archives of the Junta Comercial of Mato Grosso (Cuiabá) and the Junta Comercial of Mato Grosso do Sul (C. Grande); export statistics books of former Mesa de Rendas of Corumbá (APMT, Cuiabá); data on foreign

trade in Mato Grosso, registered by the federal Customs offices and published by the Ministry of Finance (available on internet). Also used inventories and wills found both in Forum of

Corumbá as the Tribunal de Justiça of Mato Grosso do Sul (Campo Grande). In addition, are used the Album graphico do Estado de Matto Grosso, the Almanak Laemmert and the reports of Presidents/Governors of Mato Grosso. As secondary sources, memoirs and reports of

travelers. Thus, the thesis seeks to trace the routes and the means used in the communication between Mato Grosso and other parts of Brazil, as well as with foreign countries, neighbours

or not, over the period. In addition, indicates the economic activities that were developed and shows how the trade was done and which were the main goods marketed throughout the 19th century and the early 20th century. With respect specifically to trade firms, the thesis presents

the paths traveled by their owners, while seeking to understand the dynamics of the functioning and the structure of these companies. In addition, identifies the capital that was

applied and the various business relationships, showing that these firms were responsible for flowing off the main export products of the State (with the exception of yerba mate) and the introduction of various imported items, from food to luxury items. Finally, the thesis seeks to

illustrate part of the mato-grossenses trade relations with Bolivia and neighbouring States of Amazonas and Pará, in the context of the exploitation of rubber, as well as understand the

performance of some of the major mato-grossenses trade firms in this economy in the first two decades of the 20th century.

Keywords: 1. Mato Grosso. 2. Economy. 3. Transport. 4. Import. 5. Export.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APMT - Arquivo Público de Mato Grosso. Cuiabá - MT.

DFN – Delegacia Fiscal do Norte

JUCEMAT - Junta Comercial de Mato Grosso. Cuiabá - MT.

JUCEMS - Junta Comercial de Mato Grosso do Sul. Campo Grande - MS.

NDHER - Núcleo de Documentação Histórica e Estudos Regionais. Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul – Corumbá - MS.

SMT - Sul do antigo Mato Grosso.

TJMS- Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Paquete Itajahy.................................................................................................. 46

Figura 2 - Paquete Nhandohy............................................................................................. 46

Figura 3 – Paquete Coxipó................................................................................................. 47

Figura 4 – Paquete Nioac................................................................................................... 48

Figura 5 – Paquete Orvalho................................................................................................ 48

Figura 6 – Vapor Etruria.................................................................................................... 49

Figura 7 – Vapor Leda........................................................................................................ 49

Figura 8 - Vapor G. B. Vierci............................................................................................. 50

Figura 9 - Embarque da borracha em igarités.................................................................... 54

Figura 10 - Traçado da Ferrovia Madeira-Mamoré............................................................ 57

Figura 11 - Matriz da casa Almeida & Cia. (Cuiabá) ........................................................ 132

Figura 12 - Escritório da Casa Almeida & Cia................................................................... 133

Figura 13 - Fábrica da Usina Itacy .................................................................................... 135

Figura 14 - Casa Orlando & Cia. (Cuiabá) na segunda década do século XX.................. 138

Figura 15 - Antiga casa Orlando & Cia. nos dias atuais .................................................... 138

Figura 16 - Alexandre Magno Addor ................................................................................ 144

Figura 17 - Automóvel responsável pelo transporte da carne do matadouro até os

açougues de Campo Grande................................................................................................

146

Figura 18 - Interior da casa Henrique Hesslein & Sergel .................................................. 150

Figura 19 - Casa Ao Anjo da Ventura ............................................................................... 153

Figura 20 - Vapor Etruria .................................................................................................. 154

Figura 21 - Interior da Casa Raphael Pinto de Arruda....................................................... 155

Figura 22 - Antiga casa comercial Angelo Rebuá, construída na primeira década do

século XX............................................................................................................................ 160

Figura 23 - Edificação Industrial Usina Açucareira Santo Antonio Ltda.......................... 162

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Produtos exportados de Mato Grosso no ano de 1885....................... 74

Gráfico 2 – Comparação dos valores das exportações da Casa Stöfen, Schnack,

Müller & Cia, nos anos de 1910-1912, segundo sua procedência declarada (em

réis)..........................................................................................................................

185

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Trajeto marítimo-fluvial entre o Rio de Janeiro e os portos mato-

grossenses..................................................................................................................... 40

Mapa 2 -Mato Grosso: porção centro-norte e suas articulações................................ 58

Mapa 3 -Mato Grosso: porção centro-sul e suas articulações .................................... 63

Mapa 4- Locais onde estavam situadas as matrizes e filiais da empresa Stöfen,

Schnack, Müller & Müller & Cia...............................................................................

184

Mapa 5 – Localidades situadas na fronteira de Mato Grosso com a Bolívia no

período estudado..........................................................................................................

188

Mapa 6 – Porção Noroeste de Mato Grosso: postos e agências fiscais, linha

telegráfica, rios e estrada de ferro................................................................................

191

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - População de Corumbá em 1862, distribuída conforme as

nacionalidades...............................................................................................................

41

Quadro 2 - MATO GROSSO – distância entre as principais localidades urbanas em

KM.....................................................................................................................................

60

Quadro 3 - Caminhos internos cargueiros entre localidades mato-grossenses

demonstrados em quilômetros......................................................................................

61

Quadro 4 - Demonstração da diferença de preços causada pela longa distância (1844-

1845), em réis.....................................................................................................

69

Quadro 5 - Comparação dos valores recebidos do Governo Imperial com os gastos

dos ministérios da Guerra e da Marinha.......................................................................

75

Quadro 6 - Quadro comparativo de receitas e despesas gerais das províncias

brasileiras (1885, 1886-1887), em réis.........................................................................

76

Quadro 7 - Valor total das importações e exportações de Mato Grosso no período de

1872-1914 (em réis) ................................................................................................

78

Quadro 8 - Divisão dos lucros líquidos da empresa Almeida & Cia., segundo a

participação de cada sócio, no ano de 1900..................................................................

131

Quadro 9 - Integrantes da firma Almeida & Moura, de acordo com o capital e

participação......................................................................................................................

136

Quadro 10 - Nicola Verlangieri & Filhos: distribuição do capital e participação nos

lucros, segundo os sócios (1900) ....................................................................................

145

Quadro 11 - Composição da empresa José Dulce & Cia. (1901)....................... ........... 152

Quadro 12 – Filhos do casal Henriqueta Pereira Rebuá e Geasone Rebuá................... 158

Quadro 13 - Distribuição do capital de Candia & Moliterno, segundo os sócios, no

ano de 1921...................................................................................................................

166

Quadro 14 - Volume da borracha exportada (em kg) pela Delegacia Fiscal do Norte e

respectivos valores dos impostos arrecadados, em réis (1907-1921) ..........................

197

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Principais produtos importados por Mato Grosso em 1901 (Valor posto a

bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ..............................................................

82

Tabela 2 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1902 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

83

Tabela 3 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1903 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

84

Tabela 4 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1904 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

85

Tabela 5 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1905 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

86

Tabela 6 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1906 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

87

Tabela 7 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1907 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

88

Tabela 8 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1908 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

89

Tabela 9 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1909 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

90

Tabela 10 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1910 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................

91

Tabela 11 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1911 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

92

Tabela 12 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1912 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

93

Tabela 13 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1913 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

94

Tabela 14 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1914 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

95

Tabela 15 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1915 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................

96

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Tabela 16 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1917 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro) ........................

97

Tabela 17 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1917 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................

98

Tabela 18 - Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano

de 1918 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro).........................

99

Tabela 19 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1901 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

106

Tabela 20 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1902 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

107

Tabela 21 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1903 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

108

Tabela 22 - Gêneros exportados por mato Grosso, segundo os portos de origem em

1904 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

109

Tabela 23 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1905 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

110

Tabela 24 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1906 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

111

Tabela 25 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1907 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

112

Tabela 26 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1908 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

113

Tabela 27 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1909 (valor em mil-réis) ....................................................................................................

114

Tabela 28 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de

origem em 1910 (valor em mil-réis) ...................................................................................

115

Tabela 29 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de

origem, em 1911 (valor em mil-réis) ..................................................................................

116

Tabela 30 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de

origem em 1912 (valor em mil-réis) ...................................................................................

117

Tabela 31 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de

origem em 1913 (valor em mil-réis) ...................................................................................

118

Tabela 32 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras

origem em 1914 (valor em mil-réis) ...................................................................................

119

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15

Tabela 33 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de

origem em 1915 (valor em mil-réis) ...................................................................................

120

Tabela 34 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1916 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

121

Tabela 35 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1917 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

122

Tabela 36 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em

1918 (valor em mil-réis) .....................................................................................................

124

Tabela 37 - Arrolamento de bens do casal Antônio e Maria Rebuá em 15 de novembro

de 1892................................................................................................................................

156

Tabela 38 - Corumbá: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor (inclusive entradas

repetidas), por nacionalidade...............................................................................................

172

Tabela 39 - Porto Murtinho: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor

(Inclusive entradas repetidas), por nacionalidade...............................................................

173

Tabela 40 - Porto Esperança: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor (Inclusive

entradas repetidas), por nacionalidade................................................................................

174

Tabela 41 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de

Corumbá no ano de 1908.....................................................................................................

178

Tabela 42 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de

Corumbá no ano de 1909.....................................................................................................

179

Tabela 43 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de

Corumbá no ano de 1910.....................................................................................................

179

Tabela 44 - Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito pelo Porto de

Corumbá no ano de 1912.....................................................................................................

180

Tabela 45 - Valor total das exportações de produtos da Bolívia em trânsito pelo Porto

de Corumbá no ano de 1913................................................................................................

180

Tabela 46 - Valor total das exportações de produtos da Bolívia em trânsito pelo Porto

de Corumbá no ano 1915.....................................................................................................

181

Tabela 47 - Total de borracha exportada pela Agência de Vila Murtinho (em kg),

segundo sua classificação (1911-1914) ..............................................................................

192

Tabela 48 - Total de borracha exportada pela Agência de São Manoel (em kg), segundo

sua classificação (1911-1914) ............................................................................................

192

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16

Tabela 49 - Total de borracha exportada do Jamary (em kg), segundo sua classificação

(1911-1914 .........................................................................................................................

193

Tabela 50 - Total de borracha exportada do Rio Machado (em kg), segundo sua

classificação (1911-1914) ...................................................................................................

193

Tabela 51 - Total de borracha exportada pela Agência Fiscal de Santo Antonio (em kg),

segundo sua classificação (1911-1914) ..............................................................................

193

Tabela 52 - Total da exportação de borracha pela Delegacia Fiscal do Norte (em kg),

segundo as agências fiscais (1911-1914) ...........................................................................

194

Tabela 53 - Comparação entre os dados da receita de Mato Grosso, com destaque para

a participação da borracha (1910-1915) .............................................................................

198

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17

SUMÁRIO

Lista de Abreviaturas e Siglas ........................................................................................ 7

Lista de Figuras................................................................................................................. 08

Lista de Gráficos................................................................................................................ 09

Lista de Mapas................................................................................................................... 10

Lista de Quadros............................................................................................................... 11

Lista de Tabelas................................................................................................................. 12

Introdução.......................................................................................................................... 18

Capítulo I - Mato Grosso: ocupação, povoamento, vias de comunicação e rotas

comerciais...........................................................................................................................

29

1.1 - Acesso à via platina: expectativas e realidades........................................................... 38

1.2 - Século XX e as novas vias de integração.................................................................... 53

Capítulo II - A economia mato-grossense e seus principais produtos de importação

e exportação (século XIX e início do século XX) ..........................................................

65

2.1 - Comércio mato-grossense na primeira metade do século XIX................................... 66

2.2 - A situação econômica de Mato Grosso após a abertura da navegação pelo rio

Paraguai...............................................................................................................................

72

2.3 - A dinâmica econômica mato-grossense e seus principais produtos de importação e

exportação no início do século XX.....................................................................................

79

Capítulo III - As casas comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso

(1890-1914) ........................................................................................................................

128

3.1 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cuiabá ........................................ 129

3.2 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cáceres ....................................... 151

3.3 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Miranda....................................... 155

3.4 - Casa comercial importadora e exportadora de Porto Murtinho.................................. 162

3.5 - Casa comercial importadora e exportadora de Nioaque............................................. 163

3.6 - Casas comerciais importadoras e exportadoras de Aquidauana ................................ 165

3.7 - As casas comerciais importadoras e exportadoras de Diamantino ............................ 167

3.8 – Casas comercial importadora e exportadora de Rosário............................................ 170

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Capítulo IV - A dinâmica das relações comerciais mato-grossenses ........................... 171

4.1 - As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e a Bolívia.................................... 175

4.2 - As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e os estados do Amazonas e Pará 190

Considerações finais.......................................................................................................... 200

Referências......................................................................................................................... 202

Anexo.................................................................................................................................. 210

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18

INTRODUÇÃO

Andar pelos portos das cidades de Cuiabá, Corumbá e Cáceres e ver as construções

que outrora foram receptáculos de algumas das grandes casas comerciais importadoras e

exportadoras que atuaram em Mato Grosso no último quartel do século XIX e nas duas

primeiras décadas do século XX, nos faz refletir sobre o viver em uma época em que os meios

de transporte eram totalmente diversos dos atuais; assim nos instiga a querer saber como essa

sociedade situada no extremo oeste brasileiro se relacionava com outras partes do nosso

território e com o mundo exterior, tornando o nosso objeto de pesquisa ainda mais fascinante.

Dessa forma, essa tese busca contribuir para a história de Mato Grosso1 através do estudo das

casas comerciais importadoras e exportadoras.

Tais casas importadoras e exportadoras não eram simples “armazéns”, pelo contrário,

eram empresas que tinham um sistema complexo de organização e atuavam em diversos

setores, tais como a exploração da indústria extrativa vegetal e animal, comércio por atacado e

a varejo, transporte, comissões, consignações e representações bancárias de bancos nacionais

e estrangeiros. Além disso, vendiam os mais variados produtos, desde alimentos perecíveis a

artigos de luxo, maquinários, mobília, ferramentas, entre outros. Essas empresas estavam

ligadas aos grandes centros capitalistas, com os quais mantinham intensas relações

comerciais, e além disso, muitos dos proprietários das referidas casas comerciais eram

estrangeiros que viram no distante Mato Grosso uma oportunidade de lucrar no comércio de

importação e exportação, criando assim uma rede de contatos que atravessavam o Atlântico.

De fato, as casas comerciais estavam inseridas em uma gama de redes sociais, compostas por

intensos contatos estabelecidos através de transações comerciais, relações pessoais e um

sistema de crédito interatuante.

Vale notar que o surgimento das casas comerciais importadoras e exportadoras de

Mato Grosso coincide com o surgimento de outras casas dessa mesma natureza em outras

regiões do país. Ressalvando as características particulares que diferenciam e definem essas

empresas conforme a região onde estavam situadas, todas elas tenderam a surgir em uma

mesma época, a partir de 1870, com uma forma de atuação semelhante. Temos na cidade de

Santos, por exemplo, o surgimento de empresas importadoras e exportadoras que tinham entre

seus proprietários uma predominância de estrangeiros, as quais também vendiam desde

1 Correspondente hoje aos estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

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aguardente até locomotivas; ainda de modo semelhante, tanto em Mato Grosso como na

cidade de Santos, a realidade começou a alterar-se no início do século XX, com a forte

presença de brasileiros no ramo de importação e exportação (PEDRO, 2010). Na cidade do Rio

Grande, por sua vez, temos outro caso que se assemelha ao das casas comerciais mato-

grossenses, pois as atividades de importação e exportação, nos moldes aqui referidos, se

iniciam no final do século XIX e são aperfeiçoadas nas duas primeiras décadas do século XX

(TORRES, 2010)2. Um outro estudo, sobre uma casa comercial em Fortaleza (Ceará), apresenta

um diferencial interessante, pois, no caso, a empresa situada naquela cidade era uma filial de

uma empresa francesa (TAKEYA, 1995). Apesar das características específicas das empresas

importadoras e exportadoras das diferentes regiões do Brasil, todas elas tenderam a estar

vinculadas a um comércio internacional único, que era permeado por uma intensa rede de

contatos.

Para melhor situar o leitor sobre a trajetória percorrida até a construção dessa tese,

traçarei a seguir um breve esboço dos caminhos que trilhei. Inicialmente, o encanto pela

temática se deu ainda na graduação, quando realizei a pesquisa intitulada As casas comerciais

ligadas ao transporte fluvial em Mato Grosso (1870-1930): um estudo da situação atual

desta questão nos planos teórico e empírico, desenvolvida através do Programa de Bolsas de

Iniciação Científica, PIBIC-CNPq/UFMS, no período referente a agosto de 2005 a julho de 2006.

Essa pesquisa preliminar tinha por objetivo traçar um levantamento das obras disponíveis

sobre o assunto e verificar quais eram os pontos divergentes e convergentes entre esses

autores; ao mesmo tempo, realizei um levantamento de fontes documentais no Núcleo de

Documentação Histórica e Estudos Regionais (NDHER), da UFMS/Corumbá, local em que se

encontram diversos livros pertencentes ao fundo da Casa Vasquez.

A partir dessa pesquisa inicial foi possível perceber que, embora a temática das casas

importadoras e exportadoras mato-grossenses tivesse sido mencionada por diversos autores,

não havia nenhum trabalho detalhado sobre as mesmas. Os vários estudos existentes

limitavam-se a traçar uma caracterização geral dessas casas, haja vista que é praticamente

impossível falar da economia mato-grossense sem mencioná-las, devido a sua importância.

Para Borges, por exemplo, a abertura da navegação pelo rio Paraguai (fins da década

de 1850), conjugada às “transformações ao nível da produção e dos transportes em nível

mundial”, acabou por fortalecer, “como instituição, a casa comercial importadora e

exportadora, através do controle monopólico efetivo do comércio local, na representação dos

2 Embora esse trabalho seja apenas um esboço do comércio de importação/exportação do Rio Grande.

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mais variados interesses econômicos que iam do controle da produção e do transporte ao

papel das agências bancárias” (BORGES, 2001, p. 119). Do mesmo modo, assinala que “coube

a um limitado número de casas comerciais (sediadas em grande parte em Corumbá) a

principal atividade nesse final do século XIX: o comércio de importação que, pelas próprias

condições em que se realizou, sugere ter-se constituído em uma fonte de lucros

elevadíssimos” (BORGES, 2001, p. 121).

Em seu estudo sobre a cidade de Corumbá, Souza refere-se também às casas

comerciais, assinalando que as atividades por elas exercidas “foram incorporando maior grau

de complexidade, o que, em contrapartida, representou uma divisão de trabalho no interior da

empresa, não sendo mais suficientes os conhecimentos rudimentares dos proprietários, dos

comerciantes tradicionais”. O autor nota que essas casas “mantinham correspondência com

empresas de vários países, especialmente da Europa, havia necessidade de conhecimento de

preços para tornar competitivas no mercado externo as mercadorias regionais, entender a

complexidade dos mecanismos do comércio internacional e as bolsas de produtos e mesmo

contatos pessoais com centros estrangeiros” (SOUZA, 2008, p. 180)3.

Na verdade, esse tema já tem até mesmo despertado algumas polêmicas, com relação,

principalmente, à interpretação oferecida por Alves (1984) – interpretação essa que, por ter

sido, de certa forma, “pioneira”, adquiriu grande influência, tendo sido adotada por vários

autores que se dedicaram, em maior ou menor grau, à história mato-grossense ou sul-mato-

grossense. Entretanto, pelo mesmo motivo ela suscitou diversas críticas e reavaliações.

Esse autor, por um lado, enfatiza a dominação social e econômica exercida por esses

comerciantes dos portos mato-grossenses. Ele observa, por exemplo, que a maioria deles

possuía barcos, e com isso “desenvolveram uma ‘navegação voluntária’, exercendo um

domínio tirânico sobre os produtores da região”, os quais dependeriam “exclusivamente da

casa comercial, tanto para escoar seus produtos como para abastecer-se de mercadorias

essenciais” (ALVES, op. cit., p. 67). Outra forma de domínio, segundo o autor, ligava-se ao

fato de que, na falta de agências bancárias na região, a casa comercial passou a “funcionar

como um banco nas últimas décadas do século XIX, pois oferecia crédito e cobrava altos

juros” (ALVES, 1985, p. 69).

O mesmo autor trabalha também com a ideia de que o poderio das casas comerciais

teria sido liquidado a partir da implantação do capital financeiro em Mato Grosso4, capital

3 Entre outros autores que se referem a essas casas, destaca-se também Reynaldo (2000).

4 Convém notar que, quando se refere a “capital financeiro”, “capital monopolista” e “imperialismo”, Alves

adota os conceitos expostos por V. I. Lênin na obra O imperialismo, estágio superior do capitalismo.

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esse que se teria materializado em bancos e outros grandes “empreendimentos, ligados à

produção e aos transportes, direta ou indiretamente vinculados a grandes monopólios

capitalistas” (ALVES, 1985, p. 75).

Segundo a avaliação de Queiroz (2007), o ensaio de Alves sobre a história econômica

de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul merece respeito por seu caráter “pioneiro”, pois foi

escrito em um momento em que a pesquisa em âmbito acadêmico no estado de Mato Grosso

do Sul dava seus primeiros passos. Contudo, o mesmo autor efetua duras críticas ao referido

ensaio, notando que ele adotava, como perspectiva teórica,

uma problemática versão do materialismo histórico – a qual se poderia talvez denominar, emprestando-se a expressão de Fragoso & Florentino, “marxismo da Guerra Fria”, com sua “exacerbação do determinismo ‘infra-estrutural’”. Além disso, seu diálogo com a historiografia econômica brasileira apresentava-se extremamente restrito, deixando de lado até mesmo as obras clássicas pertencentes à corrente marxista, como as de Caio Prado Júnior (QUEIROZ, 2007, p. 173).

Resumidamente, Queiroz concorda que a noção de “domínio do capital comercial

sobre o conjunto da economia mato-grossense, na época”, ideia defendida por Alves, constitui

“uma interpretação que encontra apoio na historiografia” (QUEIROZ, 2007, p. 182). O mesmo

autor considera, contudo, que “Alves superestima [...] a presença (e consequentes efeitos) do

‘capital financeiro’ na região” (id., p. 186) e sugere que, no estudo da história econômica de

Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, sejam deixados de lado “rígidos esquemas preconcebidos”

(id., p. 198).

Nesse panorama historiográfico, com o intuito de saber um pouco mais sobre as casas

comerciais importadoras e exportadoras, ingressei no mestrado e realizei a pesquisa que

recebeu o título: As casas comerciais importadoras/exportadoras em Corumbá (1904-1915)

(Dissertação de mestrado em História – PPGH/UFGD, bolsista da CAPES, 2010/12).

Por meio desse estudo sobre as casas comerciais localizadas na cidade de Corumbá,

pude avançar nos seguintes aspectos: a origem dos proprietários das empresas analisadas, suas

trajetórias e a origem do capital. Foi possível perceber que, no caso das casas comerciais de

importação e exportação de Corumbá, as sociedades de tais empreendimentos apresentavam

suas especificidades, visto que havia empresas pertencentes a estrangeiros, assim como a

brasileiros, mas também havia casos em que brasileiros e estrangeiros se associavam. Além

disso, as empresas pertencentes a estrangeiros negociavam produtos importados de diversas

nacionalidades, não se limitando ao país de origem de seus sócios. Em resumo,

“independentemente [...] de sua origem ou caracterização inicial, todos esses tipos de

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empresários tenderam a manter vínculos, igualmente diversos, com empresas e capitais

estrangeiros” (TARGAS, 2012, p. 58).

Também foi possível perceber que as empresas estudadas possuíam uma estrutura

complexa, pois atuaram não só no ramo da importação e exportação, mas também da extração

de produtos naturais e derivados da pecuária. Além disso, agiam nos ramos da comissão,

consignação, navegação e representação bancária. O capital empregado nessas empresas

também possuiu origem diversificada, sendo muitas vezes originário de uma antiga sociedade;

em outros casos, eram pessoas que já possuíam outras atividades e tinham capital para investir

no comércio, desta forma, admitiam um sócio, muitas vezes “de indústria”, para cuidar dos

negócios. No que se refere, especificamente, às funções bancárias das casas comerciais, aí

incluídas as representações de bancos estrangeiros, foi possível concluir que

as relações das principais casas comerciais de Corumbá com os vários bancos estrangeiros deviam destinar-se, sobretudo, a simplesmente viabilizar [...] operações de pagamento das importações e exportações. Em outras palavras, as casas comerciais, valendo-se das comunicações por telégrafo e da credibilidade que detinham perante os bancos, deviam atuar, sim, como “intermediárias”, mas apenas no que se refere aos processos de liquidação das transações, e não como “repassadoras” de recursos supostamente captados junto aos bancos (TARGAS, 2012, p. 90).

De todo modo, “isso não impediria também que as casas comerciais realizassem

operações financeiras com o seu próprio capital, emprestando dinheiro a juros, até mesmo na

forma conhecida como agiotagem” (TARGAS, 2012, p. 90).

Por meio da pesquisa de mestrado, portanto, foi possível esclarecer várias questões

sobre a problemática das casas comerciais; entretanto, outras perguntas surgiram. Entre as

dúvidas, as principais diziam respeito ao papel exercido pelas casas comerciais estabelecidas

em outras cidades do então estado de Mato Grosso, como Cuiabá, Cáceres, Miranda,

Diamantino, entre outras.

Desta forma, com a intenção de buscar esclarecer as novas interrogações sobre essa

temática, ingressei no doutorado no PPGH/UFGD com o anteprojeto de pesquisa: As casas

comerciais importadoras/exportadoras no antigo Mato Grosso (1890-1914), a qual contou

com o apoio da Fundect/Capes.

O objetivo geral delineado para a pesquisa consistia em estudar as casas comerciais

importadoras e exportadoras de Mato Grosso (incluindo os atuais MT e MS) no período de

1890 a 1914, no que se refere a: o capital dessas casas (sua procedência e composição); os

detalhes de suas conexões tanto com o mercado nacional e mundial quanto com as atividades

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produtivas desenvolvidas na região; e suas estruturas internas de funcionamento e suas

estratégias comerciais.

Contudo, ao iniciar a pesquisa senti a necessidade de ampliar a discussão sobre as

mudanças nas vias de transporte e na economia mato-grossense, as quais se processaram ao

longo dos anos, e dessa forma foi necessário ampliar o recorte temporal para o século XIX e as

duas primeiras décadas do século XX.

Assim, nessa tese busco contribuir para o conhecimento da intensa atuação desses

comerciantes e suas relações em âmbito regional, nacional e internacional e o seu papel na

economia mato-grossense. Ademais, esse trabalho não se limita ao estudo somente das casas

comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso. Pelo contrário, traz informações

sobre as mudanças ocorridas ao longo do século XIX e início do século XX, principalmente, no

que concerne às vias e meios de transporte e seus efeitos na sociedade e na economia mato-

grossense.

As fontes primárias que constituem a base para a realização dessa pesquisa são os

documentos da Junta Comercial de Mato Grosso (JUCEMAT, Cuiabá), da Junta Comercial de

Mato Grosso do Sul (JUCEMS, Campo Grande), bem como documentos da Mesa de Rendas de

Corumbá (APMT, Cuiabá). Utilizo também outros dados relativos ao comércio exterior de

Mato Grosso, registrados pelas agências fiscais federais existentes no estado e encontrados

nas publicações do Serviço/Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda,

referentes aos anos de 1900 a 1918 (disponíveis na internet). Além disso, são utilizados o

Album graphico do Estado de Matto-Grosso, o Almanak Laemmert; os relatórios dos

delegados da Delegacia Fiscal do Norte (APMT, Cuiabá) e os relatórios dos

presidentes/governadores de Mato Grosso dos anos de 1830 a 1930. O jornal Correio do

Estado, de Mato Grosso, também apresenta informações interessantes sobre os personagens

estudados. Finalmente, utilizo também inventários e testamentos que foram levantados tanto

no Fórum de Corumbá como no arquivo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul

(Campo Grande). Como fontes secundárias, utilizo obras memorialistas e obras

historiográficas pertinentes ao tema.

Isto posto, nota-se que as fontes utilizadas são de natureza diversa, pois “seria uma

grande ilusão imaginar que a cada problema histórico corresponde um tipo único de

documentos, específico para tal emprego” (BLOCH, 2001, p. 80). Assim, as fontes utilizadas são,

em sua maioria, denominadas fontes oficiais, pois são produzidas por órgãos públicos. Dessa

maneira, vale ressaltar que assumo aqui a orientação dada por Jacques Le Goff, o qual

classifica documentos como a “escolha do historiador” e monumentos como “herança do

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passado” (LE GOFF, 1996, p. 535). Deste modo, o dever principal do historiador é a “crítica do

documento – qualquer que ele seja – enquanto monumento”, já que o

documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa (LE GOFF, 1996, p. 545).

O documento, em si, só é capaz de responder a nossos questionamentos quando

sabemos interrogá-lo. Assim, o historiador deve “fazer falar indícios mudos, acumular provas,

inventar formas indiretas de revelar o que os documentos não dizem abertamente” (MATTOSO,

1988, p. 25). Conforme Carlos Bacellar, “o historiador precisa entender as fontes em seus

contextos, perceber que algumas imprecisões demonstram interesses de quem as escreveu”

(BACELLAR, 2005, p. 64).

As fontes da Junta Comercial de Mato Grosso (JUCEMAT), Junta Comercial de Mato

Grosso do Sul (JUCEMS), da Mesa de Rendas de Corumbá e da Delegacia Fiscal do Norte,

assim como os inventários e testamentos, são manuscritas. Todas essas fontes foram

reproduzidas por meio da fotografia digital, depois lançadas no computador e ampliadas para

facilitar a leitura. Todos os dados foram, portanto, extraídos manualmente, devido às

condições das fontes.

As fontes da JUCEMAT e da JUCEMS são compostas por contratos, alterações e distratos

de sociedades de casas comerciais mato-grossenses. Esses contratos possuem dados como o

nome dos proprietários, sua nacionalidade, o capital empregado na sociedade, a participação

de cada sócio nos lucros, sua função no negócio, e se possuíam alguma filial. A metodologia

empregada para lidar com essas fontes foi o uso de um quadro separando os dados acima

mencionados, para uma melhor análise dos mesmos. Essa documentação apresenta indícios

importantes para a realização de um dos objetivos da pesquisa, que é justamente saber quem

eram esses proprietários, sua origem e o capital empregado. No entanto, sem esquecer que “o

historiador não pode se submeter à sua fonte, julgar que o documento é verdade [...], ser

historiador exige que desconfie das fontes, das intenções de quem as produziu, somente

entendidas com o olhar crítico e a correta contextualização do documento que se tem em

mãos” (BACELLAR, 2005, p. 64).

Os dados de importação e exportação geral de Mato Grosso foram encontrados nas

publicações do Serviço/Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda. Esse

conjunto documental pertence ao acervo da Biblioteca do Ministério da Fazenda no Rio de

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Janeiro, disponível no site Memória Estatística do Brasil (http://memoria.org.br). Essa

documentação inicia-se em 1900 e vai a década de 1920. Através dessas fontes, tomei

conhecimento dos produtos importados e exportados por Mato Grosso, assim como de sua

quantidade. Além disso, também consta a nacionalidade e a quantidade das embarcações que

estiveram nos portos mato-grossenses. Convém assinalar que, conforme será melhor

explicitado no interior da tese, os dados mencionados apresentam importantes limitações, pois

registram apenas o comércio que passava pelas agências fiscais federais situadas em território

mato-grossense (a Alfândega de Corumbá e as agências de Porto Murtinho, Cuiabá, Porto

Esperança, Bela Vista e Nhuverá5). Desse modo, além de não ser contabilizado o comércio

interestadual, também não eram computados os dados referentes à importação e exportação

que, embora envolvendo produtos procedentes de ou destinados a Mato Grosso, eram

realizadas por portos dos estados vizinhos (Paraná, Amazonas e Pará).

A Mesa de Rendas de Corumbá era um órgão estadual responsável pela coleta dos

impostos de exportação dos produtos extraídos na região central e sul de Mato Grosso, pois

fiscalizava a exportação que saía pelo rio Paraguai. Todavia, além dos dados referentes ao

comércio mato-grossense, essa Mesa de Rendas registrava também os dados sobre os

produtos em trânsito pelo porto corumbaense declarados como de procedência boliviana. O

que torna esses dados mais interessantes é o fato de que os exportadores são brasileiros e

estrangeiros radicados em Mato Grosso que atuavam nos dois lados da fronteira,

especialmente na exploração da seringa (borracha). A documentação da Mesa de Rendas de

Corumbá, bem como das coletorias de Porto Murtinho e Bela Vista6, se encontra sob os

cuidados do Arquivo Público de Mato Grosso (APMT), em Cuiabá. Nesse mesmo arquivo

encontram-se os relatórios dos delegados da Delegacia Fiscal do Norte, órgão estadual

responsável pela coleta de impostos dos produtos originários da porção norte de Mato Grosso

que eram exportados pelos portos da Bacia Amazônica. Nesses relatórios foi possível tomar

conhecimento dos postos e agências fiscais que atuavam em pontos estratégicos, sempre

localizados às margens de rios amazônicos.

Os dados do comércio exterior do Brasil, da Mesa de Rendas e da Delegacia Fiscal do

Norte foram tratados, em sua maior parte, de forma quantitativa, através de tabelas que

apontam a quantidade e o valor dos produtos comercializados. Na análise dos números,

contudo, buscamos uma abordagem qualitativa, e não meramente descritiva, pois o número só

5 Local correspondente à atual cidade de Coronel Sapucaia (MS).

6 A documentação referente a essas coletorias foi analisada, todavia não foram encontrados vestígios das

empresas estudadas neste trabalho.

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tem importância para o historiador quando ele pode ser contextualizado (BARROS, 2004).

Assim, “o número – bruto ou elaborado – é uma referência, ou melhor dizendo, um índice. Do

mesmo modo que um fragmento de texto ou um caco de ânfora, ele orienta a intuição”

(GRENIER, 1998, p. 192).

Uma outra importante fonte para a realização dessa tese é o Album graphico do Estado

de Matto–Grosso, obra publicada em Hamburgo, em 1914, e que teve como principal

organizador Feliciano Simon, o qual era proprietário de uma importante casa comercial em

Corumbá. A publicação dessa obra teve apoio do governo, e sua “intenção explicitada era de

incrementar a economia, vender a imagem de um estado moderno e progressista aos que o

desejassem conhecer” (SOUZA, 2008, p. 75-76). Ao longo do Album graphico existem vários

artigos que dão pistas das principais rotas comerciais, assim como dicas de bens pertencentes

às casas comerciais analisadas, assim como outros importantes vestígios.

Para esta pesquisa, contudo, foi de especial importância o conteúdo da parte final do

Album, isto é, as dezenas de anúncios publicados por diversos empreendimentos em Mato

Grosso e outras empresas com vínculo no estado. Trata-se aí de uma fonte riquíssima, pois

esses anúncios trazem inúmeras informações sobre a história dessas empresas, a origem e

trajetória de seus proprietários, suas relações pessoais e comerciais etc. (informações que, em

boa parte, provavelmente não serão encontradas em nenhum outro local). Por outro lado, a

utilização dessas fontes constitui um risco para o historiador, haja vista que os anúncios

veiculam o discurso dos proprietários, isto é, eles indicam o modo como esses personagens

desejavam que suas empresas fossem vistas. Assumindo, portanto, esse risco (inerente ao

trabalho do historiador), o que procurei fazer foi, na medida do possível, cruzar as

informações dos anúncios com aquelas proporcionadas por outras fontes – lembrando sempre

que “as fontes só começam a falar a partir do momento em que as interrogamos, e que a

qualidade das respostas que elas podem dar coincide com a qualidade das questões que se

formulam” (FRANÇOIS, 1998, p. 158).

Os jornais publicados em Mato Grosso, encontram-se no site da Biblioteca Nacional

(http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx) e apresentam importantes informações sobre os

proprietários das casas comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso. Ao utilizar a

imprensa como fonte primária, sabemos que esta deve ser analisada criticamente, como

qualquer documento, pelo historiador. Lembrando que “as informações e as notícias devem

ser avaliadas enquanto linguagem produtora de significados na sua relação com uma

determinada conjuntura ou situação contextualizada historicamente” (ALVES, 1996, p. 35). O

uso da imprensa traz contribuições para compreender a dinâmica econômica e social dos

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proprietários das casas comerciais estudadas, haja vista que “as empresas são parte da

sociedade e não se pode estudá-las sem levar em conta as articulações recíprocas entre as

relações sociais e as práticas empresariais” (LEVY, 1994, p. 27).

Os processos de inventários e testamentos dos empresários estudados e de seus

familiares, disponíveis no arquivo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (situada em

Campo Grande) e no arquivo do Fórum de Corumbá, também integram o corpo documental

deste trabalho. Essas fontes são importantes porque:

as pesquisas que se utilizam dos inventários como fonte primária têm o monte-mor como indicador da riqueza acumulada pelo inventariado. Esse valor porta a vantagem de ser elemento obrigatório nos processos, apresentado imediatamente antes da partilha dos bens, servindo de base para o cálculo – deduzidas as custas e dívidas passivas – da meação, terça e legítimas dos herdeiros (VALENTIN, MOTTA, COSTA, 2013, p. 143).

As obras memorialistas ou não acadêmicas que integram o corpo documental são:

Italianos em Mato Grosso, de Lenine Póvoas, Generoso Ponce, um chefe de Generoso Ponce

Filho, e a obra Viagem e estudos sobre o Valle do Baixo Guaporé, de Manoel Esperidião da

Costa Marques; além disso, é também utilizado o relato do viajante Francis Castelnau

(Expedição às regiões centrais da América do Sul).

Com relação, especificamente, ao estudo da história das casas comerciais enquanto

empresas, procurei utilizar especialmente a obra de Valdaliso e López (2009), além da já

citada Levy (1994).

O primeiro capítulo, intitulado “Mato Grosso: ocupação, povoamento, vias de

comunicação e rotas comerciais”, apresenta um esboço geral a respeito da ocupação,

povoamento, vias de comunicação e rotas comerciais, desde o século XIX até a segunda

década do século XX, em Mato Grosso. Procurei traçar as rotas e os meios utilizados na

comunicação entre Mato Grosso e outras partes do Brasil, assim como com os países

estrangeiros, vizinhos ou não. Assim, tentei, no que foi possível, demonstrar os rios, as

estradas de terra e de ferro que foram utilizadas como vias de transporte, e os principais

elementos econômicos integrados a essas vias de comunicação.

O segundo capítulo, denominado “A economia mato-grossense e seus principais

produtos de importação e exportação (século XIX e início do século XX)”, demonstra as

atividades econômicas desenvolvidas em Mato Grosso no século XIX e nas duas primeiras

décadas do XX. Assim, foi possível perceber que algumas atividades, como a pecuária (que,

no território do atual MS, dava seus primeiros passos na primeira metade do século XIX), se

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consolidou e se tornou de suma importância para as novas atividades produtivas que foram

sendo desenvolvidas no último quartel do mesmo século. Ao mesmo tempo, outras atividades

também surgiram, como o extrativismo da borracha, que representou uma nova fase para a

economia mato-grossense nas duas primeiras décadas do século XX. Procurei, através de

quadros, tabelas e um gráfico, dar melhor esclarecimento de como a economia mato-

grossense funcionava.

Nesses dois primeiros capítulos, além de utilizar as fontes documentais, procurei

também dialogar com a produção acadêmica relativa à história de Mato Grosso no século XIX

(destacando-se, a esse respeito, a tese de Silva [2015], recentemente defendida neste

Programa de Pós-Graduação).

O terceiro capítulo, por sua vez, nomeado “As casas comerciais importadoras e

exportadoras de Mato Grosso (1890-1914)”, apresenta os caminhos percorridos pelos

proprietários das empresas estudadas, ao mesmo tempo em que procura entender a dinâmica

do funcionamento e da estrutura dessas empresas. Além disso, identifica os capitais aplicados

e as diversas relações comerciais envolvidas. É importante assinalar que, neste capítulo,

deixei de incluir as casas sediadas em Corumbá, tendo em vista que estas já foram estudadas

em minha dissertação de mestrado; no entanto, para que os leitores possam ter fácil acesso a

essa análise, optei, por sugestão do orientador, por colocar em Anexo a respectiva parte da

dissertação.

Finalmente, o quarto capítulo, que tem por título “A dinâmica das relações comerciais

mato-grossenses”, busca ilustrar parte das relações comerciais mato-grossenses com a Bolívia

e os estados vizinhos do Amazonas e Pará, no contexto da exploração da borracha, assim

como entender a atuação de algumas das principais casas comerciais mato-grossenses nessa

economia nas duas primeiras décadas do século XX.

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CAPÍTULO I

Mato Grosso: ocupação, povoamento, vias de comunicação e rotas

comerciais

Pelas vias de comunicação, de qualquer tipo ou natureza, não somente se realizam as trocas

comerciais e econômicas; se provêm de recursos e gêneros alimentícios as populações urbanas, se es-

tabelece a ligação entre os centros de consumo e os de produção, se atende às comunicações dos

exércitos, ao transporte e ao abastecimento de tropas, como ao tráfico internacional de viajantes, mas

também se produz e se intensifica a propagação de ideias e de culturas diferentes, se fecundam as

civilizações, umas pelas outras.

(Fernando de Azevedo)

O espaço geográfico que viria a constituir a Capitania, Província e depois Estado de

Mato Grosso7 começou a ser frequentado, ainda no século XVI, pelos súditos do Império

espanhol no sentido norte/sul, através do sistema fluvial Paraná/Paraguai que dá ligação ao

Oceano Atlântico via estuário do Prata, e chegaram a fundar, no final do século XVI, Santiago

de Xerez, hoje território sul mato-grossense. Já os agentes da Coroa portuguesa adentraram

essa região, no início do século XVII, por via terrestre no sentido leste/oeste, através dos

territórios dos atuais estados de Minas Gerais e São Paulo (QUEIROZ, 2011, p. 104-106). Toda

essa movimentação se fez unicamente

por meio do infame comércio de escravos índios, levados tanto a Assunção como a São Paulo. Em qualquer caso, no entanto, o Extremo Oeste não passava, então, de uma distante periferia. Ademais, ele logo perdeu praticamente toda a sua importância para os interesses espanhóis, à medida em que o centro principal desses interesses, na região platina, passou de Assunção para Buenos Aires. De fato, definitivamente fundada em 1580, essa última cidade tornou-se o nó principal da vasta rota alternativa (isto é, ilícita) de abastecimento das zonas mineiras do altiplano andino, relegando a própria Assunção a uma situação periférica; Xerez, por seu turno, desapareceu ainda na primeira metade do século XVII, e os paulistas puderam tranquilamente seguir em sua faina despovoadora do Extremo Oeste ao longo do restante desse século (QUEIROZ, 2011, p. 106-107).

7 Atuais estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia.

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Foi na busca contínua da captura de indígenas que os paulistas adentraram cada vez

mais ao Oeste, quando se depararam com manchas de ouro de aluvião em 1718/1719, em

locais que hoje correspondem à cidade de Cuiabá. Esses achados auríferos permitiram que o

Extremo Oeste passasse a se ligar efetivamente ao espaço econômico da América Portuguesa.

O ouro foi encontrado primeiro às margens do rio Coxipó-Mirim e continuou sendo

descoberto em outros ribeiros, entre os anos de 1719 e 1722. E com a descoberta do ouro às

margens do córrego da Prainha, em 1722, foi levantado o arraial do Senhor Bom Jesus do

Cuiabá, o qual foi elevado à condição de vila, em 1727, sob a denominação de Vila Real do

Cuiabá (JESUS, 2011). Em 1730, a atividade de caça ao índio foi responsável, mais uma vez,

pela descoberta de novas jazidas de ouro, desta vez, na Bacia do Guaporé (GALETTI, 2012, p.

76). O rio Guaporé pertence já à bacia amazônica; deságua no rio Mamoré, que por sua vez é

um dos formadores do rio Madeira; atualmente, o rio Guaporé faz a divisa entre o estado de

Rondônia e a República da Bolívia. Junto com os achados auríferos, ergueram-se os arraiais:

São Francisco Xavier, Santana, São Vicente, Nossa Senhora do Pilar, Ouro Fino, Lavrinhas e

Boa vista (JESUS, 2011; GALETTI, 2012).

Com a descoberta de veios auríferos pelos paulistas, a notícia se espalhou e levas de

pessoas passaram a se dirigir para as minas cuiabanas. E os caminhos terrestres ou fluvial-

terrestres utilizados inicialmente pelos bandeirantes para ligar o Extremo Oeste ao restante da

Colônia portuguesa foram substituídos pelos caminhos fluviais que viriam a ficar conhecidos

como monções cuiabanas ou de povoado. O trajeto iniciava-se no alto Tietê (no atual Porto

Feliz), depois passava ao rio Paraná e, já em território do que viria a constituir os atuais

estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, seguia pelo rio Pardo; daí atravessava “o

breve varadouro por terra, pelo qual se passava da bacia do Paraná para a do Paraguai e onde,

ainda na década de 1720, fundou-se o sítio de apoio chamado fazenda de Camapuã”,

chegando ao ribeirão de Camapuã; seguia-se depois pelos rios Coxim, Taquari, Paraguai, São

Lourenço e Cuiabá (QUEIROZ, 2011, p. 107-108).

Mais tarde, em 1736/1737, surgiu uma rota alternativa por via terrestre, conhecida

como “caminho de Goiás”. O seu curso ligava a zona aurífera de Cuiabá às minas de Goiás,

encontradas em 1725, e daí, via Minas Gerais, com São Paulo e o Rio de Janeiro (BORGES,

2001; QUEIROZ, 2008a).

Dada a importância das novas minas para a receita da Coroa portuguesa, o avanço

contínuo rumo ao Oeste levou à aproximação dos luso-brasileiros das províncias castelhanas

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de Moxos e Chiquitos8. Essa proximidade levou as coroas lusa e castelhana a ficarem atentas

às suas pretensões na área do Guaporé. Assim, o lado castelhano estabeleceu as missões

jesuíticas no Vale do Guaporé, em 1743; já a Coroa portuguesa divide a Capitania Geral de

São Paulo, criando as novas capitanias de Goiás e Mato Grosso em 1748 (GALETTI, 2012, p. 77-

78). A capitania de Mato Grosso “possuía dois distritos: o do Cuiabá, cujo principal núcleo

urbano era a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (1727), e o do Mato Grosso, cujo

principal núcleo era Vila Bela da Santíssima Trindade”, fundada no ano de 1752, tornando-se

a capital da capitania mato-grossense (JESUS, 2011, p. 18).

E a partir de Vila Bela da Santíssima Trindade9, outra via comercial permitiu que as

zonas auríferas da região, principalmente do Vale do Guaporé, se vinculassem ao litoral de

Belém. Essa ligação com o norte da América portuguesa foi realizada por via fluvial, através

dos rios Guaporé, Mamoré, Madeira e Amazonas, “por meio da Companhia de Comércio do

Grão-Pará e Maranhão, que operou entre 1755 e 1778” (QUEIROZ, 2011, p. 110). Essa rota ficou

conhecida como monções do Grão-Pará ou do Norte (Idem, 2008).

Como os limites entre os domínios de Portugal e a Espanha ainda continuavam

imprecisos e o acordo que vigorava era o Tratado de Tordesilhas, as instalações dessas

povoações e fortes serviram de argumento para justificar as posses dos territórios ocupados,

nas negociações do Tratado de Madri (1750), que se fundamentava no princípio do uti

possidetis. Com esse tratado,

as regiões de Mato Grosso, da Amazônia e do Rio Grande do Sul passavam legalmente a Portugal e, em troca da área de Sete Povos das Missões, era reconhecida a soberania espanhola sobre a Colônia de Sacramento. As dificuldades na aplicação do tratado, ao lado de divergências quanto às informações sobre os territórios, resultaram na sua anulação no ano de 1761. Nessas circunstâncias, diante das disputas por Sacramento, as autoridades lusas voltaram os interesses para as fronteiras norte e oeste (JESUS, 2011, p. 28).

O Tratado de El Pardo (1761), que anulou o de Madri, devolveu “ao domínio lusitano

a Colônia do Sacramento10 e parte da margem sul e ocidental dos rios Guaporé e Jauru, o que

incluía o território onde fora fixado, em 1754, o Marco do Jauru” (GALETTI, 2012, p. 80). No

8 Trata-se aqui da região correspondente ao nordeste da atual Bolívia.

9 Posteriormente, no século XIX, Vila Bela da Santíssima Trindade passou a ser chamada de Cidade de Mato

Grosso.

10 Situada, atualmente, em território do Uruguai.

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ano de 1763 foi realizado o Tratado de Paris, que estipulava que tudo voltasse aos termos do

Tratado de Tordesilhas. Sendo assim, a estratégia governamental utilizada pelos portugueses

para garantir o território correspondente à capitania de Mato Grosso foi a criação de alguns

fortes, os quais deveriam promover a povoação, ao mesmo tempo que efetivavam a presença

militar nos espaços fronteiriços. Assim, ao norte, criou-se o Forte do Príncipe da Beira, às

margens do rio Guaporé, em 1776 (GALETTI, 2012), nas proximidades de Moxos e Chiquitos.

No sul, primeiro foi criado o forte do Iguatemi em 1767, às margens do rio homônimo;

porém, este forte sucumbiu ao domínio espanhol, em 1777. E em 1775 foi criado o forte

Coimbra (QUEIROZ, 2011).

E nessa acirrada disputa de posses entre Portugal e Espanha foi realizado outro acordo,

o Tratado de Santo Ildefonso (1777), que instituiu quase os mesmos limites acordados

anteriormente pelo Tratado de Madri: garantindo a posse lusa, que tinha “por base os rios

Paraná, Paraguai e Guaporé, os limites ali definidos atenderam aos anseios portugueses de

manter sob a sua hegemonia a Bacia amazônica e as importantes vias de comunicação entre

Mato Grosso e as regiões Norte e Sul de sua colônia na América” (GALETTI, 2012, p. 81). Além

dos fortes, como tática geopolítica para defender a fronteira foram fundadas a povoação de

Albuquerque (atual Corumbá, 1778) e Vila Maria (atual Cáceres, 1778), ambas às margens do

rio Paraguai; a primeira ao Sul e a outra, ao Centro. Também foi criada a povoação de

Casalvasco11 (em 1783) e o Fortim de Miranda (atual cidade de Miranda, 1797), às margens

do rio Mondego (GARCIA, 2009; GALETTI, 2012).

Como os achados auríferos se limitaram à porção central da capitania de Mato Grosso,

a porção sul “permanecia basicamente como uma ‘área de passagem’, na medida em que nela

se situava a maior parte do trajeto das monções cuiabanas”. Nessa área, no início da década

de 1720 foram estabelecidos “sítios de lavoura destinados a abastecer os viajantes. Tais sítios,

contudo, com a única exceção da fazenda Camapuã, já em 1730 haviam sucumbido à

ofensiva dos Kayapó e Guaikuru” (QUEIROZ, 2011, p. 111). Logo, a porção sul se tornou ponto

de ligação entre o Sudeste brasileiro e o centro da capitania mato-grossense, ao mesmo tempo

em que servia de antemural da Colônia portuguesa frente aos avanços dos castelhanos (idem, p.

112).

Foi com a fundação da povoação de Santiago de Xerez e das missões do Itatim na

planície pantaneira, pelos espanhóis, que as primeiras remessas de gado bovino e cavalar

11 “Casalvasco foi ‘povoação regular’ e teve grande importância como espaço de negociações, inclusive

mercantis, entre autoridades hispano-lusitanas” (JESUS, 2011, p. 142).

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adentraram a região meridional da futura Capitania de Mato Grosso. Todavia, com a

destruição dessas povoações, esse gado teria se dispersado e dado origem ao gado bravio12, o

qual foi encontrado em processo de estruturação pelos paulistas na década de 1630 (ESSELIN,

2011, p. 23). E depois de um século, seriam enviadas as primeiras remessas de gado

provenientes dessa região para o estabelecimento da pecuária, em Cuiabá. Uma vez que a

mineração e a pecuária eram atividades que se complementavam, pois

o bovino tornou-se um bem de valor inestimável, era impossível imaginar um povoado sem os animais de tração que, realizando os serviços mais pesados, liberavam o negro para as atividades mais rendosas, tanto é que em 1761, portanto quarenta e dois anos após a descoberta dos metais, já havia em torno de Cuiabá uma oferta de gado bovino muito superior à necessidade de consumo local (ESSELIN, 2011, p. 25).

Assim, o rebanho bovino esteve presente nos diversos núcleos rurais que foram de

suma importância para a ocupação e povoamento não-índio do espaço que veio a constituir a

Capitania/Província e depois o Estado de Mato Grosso. Para Silva, existiram no período

colonial em Mato Grosso diversas áreas rurais, mas essa autora destaca o papel dos sítios, no

processo de povoamento mato-grossense. Para ela, existiam na Capitania mato-grossense

quatro tipos de sítios. A saber, os “sítios de engenho”, que eram responsáveis pela produção

agrícola destinada ao comércio; “os sítios com casa de morada e engenho”, que associavam a

produção agrícola à pecuária; os “sítios de lavradia” que, por sua vez, eram propriedades

próximas às áreas mineradoras e se ocupavam da agricultura de subsistência, e em alguns

casos, atendiam ao mercado local; por último, a “fazenda”, a qual destinava-se à criação

extensiva de bovinos e equinos (SILVA, 2015).

A estabilidade dos habitantes que permaneceram em Mato Grosso deve-se, em grande

parte, às outras atividades desenvolvidas na região. Entre essas atividades encontravam-se as

transações comerciais entre os habitantes de Moxos e Chiquitos e os de Mato Grosso. Esse

intercâmbio comercial fronteiriço iniciou-se no período colonial, ainda na primeira metade do

século XVIII, e se deu “com a intenção primeira de somar esforços para superar as duras

condições de vida. Nesse intercâmbio, efetivaram-se trocas, na tentativa de cada grupo

atenuar suas deficiências de abastecimento” (VOLPATO, 1987, p. 54).

Com o passar dos anos, as trocas comerciais foram se intensificando, e as autoridades

competentes dos dois lados da fronteira buscavam melhorias para as vias de comunicação que

12 É importante notar que os Mbayá-Guaikuru introduziram os bovinos e cavalares em seu cotidiano. Ver mais

em Corrêa, 1999.

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possibilitavam esse comércio. Assim, em 1837, José Antonio Pimenta Bueno (então

presidente da província) assinalava a importância de se melhorar o acesso que, passando por

Casalvasco, dirigia-se até Chiquitos, na Bolívia, com um percurso de 15 a 16 léguas. Além

disso, a Bolívia, com autorização do Governo Central, havia mandado abrir uma estrada que,

partindo de Jacobina, dirigia-se até o marco do Jauru e daí até São Rafael, na Bolívia (RMT13,

01/03/1837, p. 8). Outra evidência de tal comércio se encontra nas palavras do presidente da

província Estevão Ribeiro de Resende, quando enfatiza a importância do pedido da Câmara

Municipal da cidade de Mato Grosso sobre a necessidade de uma barca sobre o rio Guaporé

para fazer o translado dos comerciantes que se destinavam à Bolívia (RMT, 02/03/1839, p. 55).

Quanto à região sul da província de Mato Grosso (SMT)14, foi somente em fins da

década de 1820 que começou a ser povoada de forma mais significativa por não-índios, no

contexto da expansão da pecuária bovina. Expansão essa efetuada, por um lado, por

povoadores “provenientes de Minas Gerais e das terras paulistas vizinhas da região hoje

chamada Triângulo Mineiro” (QUEIROZ, 2008a, p. 20), os quais dirigiram-se para a bacia do

Paraná, especificamente para o planalto sul-mato-grossense, área propicia para a pecuária, já

que ali encontravam-se campos limpos e cerrados (QUEIROZ, 2011). A ocupação começou nas

imediações do rio Paranaíba (um dos formadores do Paraná), o que levou à instauração do

povoado de Santana do Paranaíba, reconhecida como freguesia em 1838 (hoje apenas

Paranaíba). Já na década de 1840, parte desse grupo migratório deslocou-se para o oeste e sul,

na região conhecida como Vacaria15 e o vale do rio Apa (QUEIROZ, 2008b). Outros povoadores

vieram dos arredores de Cuiabá, precisamente das áreas onde a pecuária bovina era

praticada16; estes, por sua vez, foram principalmente para “a porção meridional do pantanal”,

dando novo sentido às povoações existentes na região sul, isto é, Miranda e Albuquerque

13 Por meio desta abreviatura (RMT ) refiro-me aos relatórios, discursos ou mensagens dos presidentes da

Província/Estado de Mato Grosso que eram apresentados na abertura das sessões da Assembleia Legislativa, aqui

identificados pela data de apresentação (dia/mês/ano).

14 Utilizarei essa abreviação quando se tratar do antigo sul de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul, criado em

1977.

15 A partir do século XIX, “o nome Vacaria passou a ser aplicado a uma extensa área de campos limpos existente

no planalto, isto é, uma área que, com largura variável, acompanha a cuesta de Maracaju desde as cabeceiras do

Apa até as proximidades da atual cidade de Campo Grande” (QUEIROZ, 2008a, p. 20).

16 Foi com o movimento conhecido como Rusga, um dos movimentos do Período Regencial, que grupos de

pessoas deixarem Cuiabá e migraram para o sul da província mato-grossense. Para maiores informações ver:

CORRÊA FILHO, 1926.

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(atual Corumbá) (QUEIROZ, 2011, p. 114). Essas duas correntes de povoamento entraram em

contato no vale do Miranda, na década de 1840 (idem, 2008a, p. 21).

O estabelecimento de fazendas para a criação de gado no SMT se deu por volta de 1830

e 1840 e não foi um processo tranquilo, pelo contrário, se deu através do choque com os

Mbayá (Guaikurú) e outros grupos indígenas que já ocupavam a região. Em contrapartida, os

investimentos financeiros eram mínimos, pois necessitava-se apenas de “alguns animais de

tração e carretas, indispensáveis para percorrer os extensos campos, serras virgens e matas

densas, apenas transitáveis por antigas trilhas indígenas ou abertas a fogo e facão”; além

disso, a exploração das terras se deu por meio do desmatamento e das queimadas (CORRÊA,

1999, p. 95).

Na década de 1830 surgiu uma nova via de comunicação, o “caminho do Piquiri”.

Essa estrada ligava Cuiabá a Santana do Paranaíba (a qual, por sua vez, já estava ligada a

Uberaba e a todo o Sudeste brasileiro). Já os habitantes do vale do Miranda, “com esforços

próprios abriram uma nova trilha em direção ao Piquiri que deu a eles a oportunidade de

colocar seus rebanhos no mercado de Minas e São Paulo” (ESSELIN, 2011, p. 169). O processo

consistia em enviar o gado bovino ainda magro para ser engordado nas pastagens mineiras,

depois seguia para o abate no Sudeste brasileiro. Isso tornou possível a vinculação de Mato

Grosso com o centro econômico do país. Com o avançar do século XIX, essa via terrestre foi

ganhando maior importância, pois se tornou rota de exportação do gado, ao mesmo tempo que

via de entrada do sal e outros mantimentos indispensáveis aos moradores das áreas campestres

do sul de Mato Grosso (QUEIROZ, 2008a, p. 22- 34).

Apesar dos diversos esforços de integração do Extremo Oeste ao restante do Império, a

província de Mato Grosso ainda se desenvolvia em um ritmo considerado lento pelos

presidentes da província de Mato Grosso. Assim, desde o início do século XIX, os governantes

mato-grossenses atribuíam a debilidade econômica à falta de uma via de comunicação menos

onerosa e mais rápida com as províncias vizinhas e o centro comercial do Império. De tal

maneira, eram constantes em seus relatórios os pedidos de ajuda à Assembleia Legislativa

Provincial para que fossem abertas novas vias, assim como melhoradas as existentes. A esse

respeito, convém ressaltar que os presidentes provinciais, designados pelo governo imperial,

chegavam a Mato Grosso embebidos das noções de progresso correntes nos centros ditos

civilizados da época, tanto do Velho Mundo como do próprio litoral brasileiro; assim, ao

aplicarem à realidade mato-grossense os seus próprios valores, facilmente chegavam à

conclusão de que se tratava de uma região atrasada, quando não bárbara (cf. Galetti, 2012).

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Para o então presidente da província José Antonio Pimenta Bueno, a abertura da

estrada pelo Piquiri à província de S. Paulo proporcionaria um novo vigor financeiro, já que

ocorreria “avultada saída do gado vacum e cavalar desta província em benefício da Província

de S. Paulo e outras” (cf. RMT 30/11/1836, p. 16-17). No ano de 1840, o “caminho do Piquiri” já

se encontrava totalmente aberto até Santana do Paranaíba, e por ele estavam passando “várias

tropas vindas da Província de S. Paulo carregadas de sal” (cf. RMT 01/03/1840, p. 18).

Apesar dos esforços das autoridades competentes em efetivar o uso do “caminho do

Piquiri”, que ligava Cuiabá a Santana do Paranaíba e depois com o Sudeste brasileiro, essa via

não obteve a adesão dos comerciantes da porção central de Mato Grosso, que continuavam

preferindo o “caminho de Goiás” (QUEIROZ, 2008a, p. 31). Assim, o presidente da Província

escreve em seu relatório, em 1845:

a nova estrada17 de comunicação entre esta Província e a de S. Paulo, em cujos ensaios já se há despendido desde 1832 a quantia de 10:845$000 réis, tem estado como que abandonada há quase dois anos, sem dúvida pelo mau sucesso de ambas as veredas que se abriram até o Piquiri (cf. RMT, 01/03/1845, p. 23).

O interesse em efetivar essa via de comunicação pode ser entendido como estratégia de

integração dos novos habitantes vindos de Minas Gerais com a política mato-grossense.

Ademais, a não preferência dos comerciantes pelo “caminho do Piquiri” não significa que o

mesmo tenha sido relegado ao total abandono (QUEIROZ, 2008a, p. 31). Além disso, em 1851, a

estrada de Goiás estava relegada aos comerciantes que iam somente uma vez ao ano até a

capital do Império para realizar suas compras (cf. RMT, 10/05/1851, p. 33) e havia “quase que

cessado de vir por via de Goiás a correspondência pública e particular da Corte”, passando a

ser efetuada, quase que toda, pela estrada do Piquiri (idem, p. 34).

Outra via de comunicação passou a ser buscada e alvo de investidas por parte dos

governantes de Mato Grosso, desde a segunda década do século XIX. Essa via daria ligação ao

Pará, através da navegação dos rios Arinos, Tapajós e Amazonas. A esse respeito escreve o

então governador da capitania, D’Oeynhausen:

17 Refere-se aqui à “estrada do Piquiri”. Conforme Queiroz, é “digno de nota (e de maiores estudos) o fato de

que ela é sempre referida expressamente, pelos presidentes da província, como ‘estrada para São Paulo’ –

indicando, portanto, um interesse específico em uma ligação direta com essa província, sem passar sequer pelo

território de Minas Gerais” (QUEIROZ, 2008a, p. 29).

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A navegação do Arinos não se achou impraticável, porém muito custosa: não são muitas as cachoeiras, porém são grandes as que há, e a conduta [expedição] esteve a sofrer um contínuo sobressalto pela multidão de índios que encontrou. Porém, o que mais desacreditou esta navegação, foi que o oficial inferior mandado a esta diligência, dando dela as piores informações no Pará, pareceu confirmá-las pelo regresso que fez pelo Madeira, voltando por aquele rio para Mato Grosso. Tais princípios não eram de feliz agoiro para essa empresa e com efeito sucedeu o que devia suceder porque morreram todos os projetos de tirar partido dessa navegação, que se abandonou quase ao mesmo tempo que se empreendeu (Ofício nº 17, dirigido ao conde de Linhares, por João Carlos Augusto D’Oeynhausen, relativamente aos meios de transporte da capitania do Mato Grosso com as outras por via Fluvial, 30 de maio de 1811, apud HOLANDA, 1990, p. 123).

Apesar dos problemas relatados pelo governador, o interesse pela referida navegação

não foi abandonado. E, conforme apontou Castelnau, desde pelo menos 1816 essa rota

comercial teria entrado em atividade, utilizando para embarque um porto localizado no rio

Arinos, distante da vila de Diamantino cerca de dez léguas (CASTELNAU, 1849, p. 210).

Os dirigentes da Província continuaram ao longo dos anos buscando recursos para

melhorar essa rota fluvial, através da construção de portos, barracões e varadouros. Assim, em

1845, o presidente Ricardo José Gomes Jardim solicita melhoramentos nessa rota de

navegação, pois para ele a via de transporte por meio dos rios Arinos e Tapajós para o Pará

era “a mais urgente para a Província, pois que, sobre não ser mais incômoda, nem mais

perigosa que a do Guaporé, tem a vantagem de encurtar a distância de mais de 280 léguas,

relativamente a Cuiabá” (cf. RMT 01/03/1845, p. 22). Já no ano de 1848, buscava-se um

varadouro que pudesse dar ligação entre o porto denominado Guarda-mor, no rio Arinos, e o

rio Cuiabá; essa empreitada ficou a cargo do cidadão José Alves Ribeiro (RMT 03/05/1847, p.

20). Os planos iniciais se alteraram, assim, o porto Guarda-mor foi substituído por um novo

porto, também no rio Arinos, nomeado Bom Jardim. Assim, desse novo porto abriu-se um

varadouro que deu ligação ao rio Cuiabá, na localidade denominada Baixio. Essa rota

beneficiava o comércio dos municípios de Cuiabá e da Vila do Alto Paraguai Diamantino com

a cidade de Belém (RMT, 03/05/1849, p. 14). Essa via era valorizada por ser toda praticada dentro

do território brasileiro e, mesmo depois da abertura da navegação pelo rio Paraguai, ela não

deixou de ser utilizada.

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1.1 Acesso à via platina: expectativas e realidades

Desde o período colonial, a via platina18 era tida como a melhor via de comunicação e

rota comercial para Mato Grosso, a qual passou a ser buscada, desde a década de 1830, pelos

dirigentes brasileiros (QUEIROZ, 2008a, p. 36). Era esperado que, com a livre navegação pelo rio

Paraguai e, em seguida, o acesso aos portos dos países platinos, seria possível uma nova

existência para a província, pois seriam facilitadas as relações comerciais, ao mesmo tempo

que tornaria possível a colonização estrangeira (RMT, 01/03/1845). Como apontou Queiroz,

apesar desse caminho representar “uma enorme ampliação da distância absoluta entre Cuiabá

e o Rio de Janeiro”, por outro lado, “em termos relativos” seu significado era o contrário, já

que:

Possuindo condições de navegação que, sobretudo de Corumbá para baixo, variavam de regulares a excelentes, o sistema Paraguai/Paraná, além de proporcionar aos viajantes inéditas condições de conforto, permitiria um significativo encurtamento do tempo das viagens. Ele representaria, desse modo, uma verdadeira libertação em face das limitações então impostas pelo tráfego em lombo de mulas (no caso dos caminhos de terra) e pelos inúmeros trechos encachoeirados (nos caminhos fluviais interiores). Todas essas vantagens, enfim, além de beneficiarem diretamente as relações comerciais, facilitariam o aparelhamento militar da fronteira, fortalecendo desse modo a soberania do Império sobre o Extremo Oeste (QUEIROZ, 2011, p. 117).

Finalmente, em 1856 é celebrado o Tratado de Amizade entre o Império brasileiro e a

República do Paraguai, que franqueava o comércio e a navegação pelo rio Paraguai (RMT,

04/12/1856). Mas, devido às reclamações a respeito das regulamentações impostas pelo governo

paraguaio sobre a circulação das embarcações brasileiras, foi realizada em 1858 uma

“convenção adicional” ao Tratado da Amizade, a qual atendia às reclamações dos brasileiros

(QUEIROZ, 2008b).

Essa nova via de transporte possibilitou que a província de Mato Grosso passasse a se

ligar ao oceano Atlântico, via estuário do Prata. Assim, já em fevereiro de 1857 chegaram a

Cuiabá os primeiros vapores procedentes do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. O porto de

Corumbá, por sua vez, recebeu várias outras embarcações (cf. RMT, 03/05/1857), pois a sua

posição geográfica permitia receber vapores de maior calado, já que a navegação até Cuiabá

apresentava dificuldades impostas pela profundidade reduzida do rio Cuiabá.

18 Refiro-me aqui ao percurso pelo estuário do Prata e pelos rios Paraná e Paraguai, em direção a Mato Grosso.

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39

Com a nova via comercial surgiram novas expectativas para o tão sonhado

desenvolvimento econômico e populacional de Mato Grosso. Assim, por meio do Decreto nº

2.196, de 23 de julho de 1858, foi aprovado o contrato entre o governo do Império brasileiro e

o empresário José Antônio Soares, referente à organização da Companhia de Navegação do

Alto Paraguai, que iniciou suas atividades em novembro de 1859. Essa empresa tornava-se

responsável por realizar oito viagens redondas por ano, ou seja, Montevidéu-Cuiabá-

Montevidéu; pois do Rio de Janeiro até Montevidéu já havia uma linha de navegação regular.

Esse trajeto seria realizado por duas linhas, assim, a primeira partia de Montevidéu até

Corumbá e a segunda de Corumbá a Cuiabá e vice-versa. A citada companhia contou com a

subvenção de 25 contos de réis (25:000$000) por cada viagem redonda, que foi “dada pelos

primeiros 5 anos de operação da empresa, visando assegurar sua estabilidade econômica. Nos

anos seguintes, a subvenção iria sendo diminuída conforme o crescimento da Companhia”

(ARRUDA; QUEIROZ, 2013, p. 5). O contrato entre a Companhia de Navegação do Alto Paraguai

e o governo Imperial estabelecia que a linha de Montevidéu com destino a Corumbá deveria

ocorrer no terceiro dia “dos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro e nos dias 17 de

março, junho setembro e dezembro”. Já a rota de Cuiabá-Corumbá dava-se todo dia 15 dos

meses de fevereiro, maio, agosto e novembro e todo dia primeiro de abril, julho, outubro e

janeiro. E a linha Corumbá-Cuiabá deveria iniciar-se 48 horas após o encontro da linha de

Montevidéu-Corumbá com a linha Cuiabá-Corumbá. Já o tempo de parada nas escalas

variava, pois em Buenos Aires permanecia por 4 horas; na cidade de Paraná (província de

Entre Ríos, Argentina) esse tempo passava para 8 horas; já nos portos de Corrientes e de

Assunção ficavam parados por 48 horas, e quando chegava em seu ponto final, em Corumbá,

permanecia por 6 horas (RMT, 03/05/1862, p. 96-97). Contudo, as condições do porto de Corumbá

ainda eram modestas, e os comerciantes se queixavam da “ausência completa de uma

infraestrutura portuária, para transbordo e armazenamento de mercadorias”, além da “demora

na estadia de suas encomendas no Porto de Corumbá” (CORRÊA, 1999, p. 132).

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Mapa 1

Trajeto marítimo-fluvial entre o Rio de Janeiro e os portos mato-grossenses

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Essa nova via de comunicação permitiu que Corumbá se tornasse um entreposto

comercial. Assim, algumas medidas foram tomadas para dinamizar a sua povoação, foram

elas: a demarcação de lotes urbanos e a construção de um Arsenal de Guerra e do Trem

Naval, em 1858 (GARCIA, 2001). Em 1861, recebeu a instalação de uma Alfândega (CORRÊA,

1980, p. 39). No ano de 1862, havia em Corumbá 109 ranchos de palha, 36 casas edificadas e

ainda 29 casas em construção (RMT, 03/05/1862, p. 39). A população, por sua vez, era composta

por pessoas de diversas nacionalidades, conforme quadro 1.

Quadro 1

População de Corumbá em 1862, segundo suas nacionalidades

Fonte: RMT , 03/05/1862, p. 39

A presença de imigrantes em Mato Grosso21 contou com o incentivo do governo

imperial, garantindo que estrangeiros de diversas nacionalidades fossem transportados do

Uruguai para Mato Grosso com passagens e alimentação gratuitas. Essas medidas refletiram-

se no até então modestíssimo povoado de Corumbá, que foi elevado à categoria de vila, em

1862, devido ao seu aumento populacional e a expectativa de que viesse a se tornar o

principal polo comercial de Mato Grosso (CORRÊA, 1980, p. 39). E no ano de 1878, Corumbá

alcançou a categoria de cidade (SOUZA, 2008, p. 34).

19 Desse total, quatro pessoas eram identificadas como corrientinos.

20 Desse total de brasileiros, 44 eram ditos escravos.

21 A esse respeito, ver GOMES, 2011.

Nacionalidade Número

Alemães 2

Americanos 3

Argentinos 619

Bolivianos 3

Brasileiros 1.23120

Espanhóis 6

Franceses 26

Italianos 29

Uruguaios 9

Total 1.315

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A partir de Corumbá também se buscou abrir um caminho que pudesse dar acesso à

Bolívia. Essa via teria sido aberta por iniciativa de “alguns estrangeiros, a quem se associou

um brasileiro, guiados” – acrescenta curiosamente a fonte, sem maiores explicações, por “um

escravo do Barão de Vila Maria”. Seja como for, informa-se que, através desse caminho,

partindo de Corumbá, após 4 dias de viagem chegava-se ao porto de Santo Coração na

Bolívia, em um percurso de mais ou menos 25 a 30 léguas de distância. Esses esforços

empreendidos eram uma tentativa de animar o comércio entre as duas nações (RMT, 08/05/1866,

p. 5). Porém, a

Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, iniciada em 1864-1865, interromperia, com seu dramático cortejo de horrores e destruições, o processo até aqui referido. O rio Paraguai voltava a fechar-se à navegação brasileira; além disso, as operações bélicas devastaram tanto a República do Paraguai quanto o SMT (haja vista que, como se sabe, a guerra começou precisamente com a ocupação paraguaia desse território) (QUEIROZ, 2008a, p. 38).

Após a guerra, efetivou-se em definitivo a livre navegação pelo rio Paraguai até o

Porto de Corumbá, e essa nova via de transporte redefiniu de forma sensível as condições

econômicas de Mato Grosso, como também possibilitou um povoamento mais efetivo da

fronteira (CORRÊA, 1999, p. 130). E com o estabelecimento de uma divisão do Exército na vila de

Corumbá e um Arsenal da Marinha em Ladário, localidade próxima de Corumbá (CORRÊA,

1980), é possível afirmar que “esses dois estabelecimentos militares, somados à livre

navegação pela Bacia platina, foram de suma importância para que a situação do comércio

corumbaense começasse a prosperar” (TARGAS, 2012, p. 20).

A navegação a partir de Corumbá para outros locais de Mato Grosso ainda possuía

alguns empecilhos, já que seria “preciso grandes melhoramentos nos rios S. Lourenço e

Cuiabá, fazendo desaparecer a maior parte desses grandes obstáculos que hoje impedem a

navegação, até mesmo, dos pequenos vapores”, dizia o presidente da Província, em 1871

(RMT, 20/08/1871, p. 44). No ano de 1872, a navegação a vapor já era realizada por mais de uma

empresa. A Companhia de Navegação do Alto Paraguai, agora pertencente à sociedade

Conceição & Cia. (RMT, 03/05/1873, p.38), continuava realizando suas atividades com 7 vapores,

na linha de Montevidéu a Cuiabá. Uma viagem redonda durava em torno de 35 dias e

cobravam-se, por pessoa, 300$000 (trezentos mil réis) à ré e 150$000 (cento e cinquenta mil

réis) à proa (RMT, 04/10/1872, p. 93-95).

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Já a empresa de navegação Leocádia, de domínio da empresa Silva Pereira & Cia.

(RMT, 03/05/1873, p.38), fazia a rota de Corumbá a Cuiabá e a viagem custava 76$000 (setenta e

seis mil réis) na primeira classe e 38$000 (trinta e oito mil réis) na segunda classe. Possuía

somente uma embarcação a vapor, e a viagem demorava de 17 a 20 dias. Em embarcações

simples, como canoas, faziam-se os caminhos interiores, transportando mercadorias como de

Cuiabá a Miranda e de Vila Maria a Corumbá (RMT, 04/10/1872, p. 93-95).

Já em 1873, desejava-se que a navegação a vapor entre Montevidéu e Cuiabá, “com

escala por Corumbá e diversos portos da República do Paraguai e da Confederação

Argentina”, fosse completada por outra empresa com destino ao Rio de Janeiro ou as

províncias do Sul, evitando assim que “os passageiros com suas bagagens e cargas”

passassem “no porto [de Montevidéu] por longas estadias e as inerentes despesas” (RMT,

03/05/1873, p. 39). No ano de 1874, a Companhia de Navegação do Alto Paraguai já estava

incorporada à Companhia Nacional de Navegação a Vapor, que realizava a antiga rota de

Cuiabá a Montevidéu, bem como a linha deste porto ao Rio de Janeiro (RMT, 03/05/1874, p. 70).

Já se tem notícia de que, em 1878, havia uma companhia de vapores argentinos fazendo a

linha de Buenos Aires a Corumbá (QUEIROZ, 2008a, p. 40).

E mesmo com os incentivos fiscais concedidos em 1866, que foram prorrogados em

1872 até 1878 (GARCIA, 2001, p.103), a situação econômico-financeira de Mato Grosso não se

modificou rapidamente. A justificativa para tal fato era que “não há agricultura, não há

indústria, não há exportação”, além disso, “o comércio mantém-se num círculo acanhadíssimo

e quase que se destina, com especialidade, a prover à população que é limitada, e onde apenas

avulta o elemento oficial, e particularmente o elemento militar” (RMT, 04/10/1873, p. 90).

As elites dirigentes brasileiras não abandonaram a preocupação em obter uma via

interna e segura para a comunicação entre Mato Grosso e o restante do Império, pois a via

fluvial pelo estuário do Prata dependia do trânsito por outros países, estando sujeita a qualquer

eventualidade. E em 1879 isso estava evidente, pois estava em Mato Grosso o Engenheiro

Tenente Coronel Francisco Antonio Pimenta Bueno, que deveria estudar uma via entre Cuiabá

e Santana do Paranaíba (RMT, 05/12/1879). Além disso, também estava “incumbido pelo

Governo Imperial de estudar os meios de melhorar as comunicações da Capital da Província

com a Corte do Império, e com suas povoações mais importantes” (RMT, 01/10/1880, p. 56). As

expectativas dos dirigentes estavam voltadas para uma linha férrea que complementasse a

navegação interior, deixando de depender dos países vizinhos. Assim, acreditava-se que a

melhor opção seria

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o projeto que se compuser de uma seção em estrada de ferro da Corte ao melhor ponto de partida para a navegação do Paranapanema; de outra de navegação dos rios Paranapanema, Paraná, Ivinhema e Brilhante até o porto de Sete Voltas e, finalmente, duma secção de estrada ordinária [terrestre] deste porto à Vila de Miranda, perfazendo uma distância total de 2.128 quilômetros. De Miranda a esta capital far-se-á o trajeto pelo rio Miranda até o rio Paraguai, e desse pelo São Lourenço e Cuiabá, aperfeiçoando-se a navegação deste e daquele afluente (RMT, 01/10/1879, p. 83-84).

Essa via era considerada econômica e vantajosa, tanto para a ligação com o Rio de

Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, quanto com a Bolívia e o Paraguai (RMT,

01/10/1879). Mas, enquanto se sonhava com uma via interna que ligasse Mato Grosso ao litoral,

a via fluvial pelo Prata era a alternativa mais viável e foi melhorando com o avançar dos anos.

De tal modo, na década de 1880 novos vapores passaram a fazer as linhas regulares entre

Montevidéu e Cuiabá, são eles: o vapor D. Constança, de propriedade da casa comercial

Firmo de Mattos & Cia., e o Rio Branco, pertencente ao comerciante e ruralista Antonio

Joaquim Malheiros (CORRÊA, 1999, p. 132-133). Com esse sistema de transporte,

dinamizou-se, efetivamente, a navegação dos principais afluentes do Paraguai, de modo que os portos de Miranda e Aquidauana (nos rios homônimos), bem como Coxim (no rio Taquari), puderam tornar-se importantes subpolos comerciais – a partir dos quais as correntes comerciais irradiadas desde Corumbá prosseguiam, por caminhos terrestres, para o interior do SMT e até mesmo o sul de Goiás e a região de Santana do Paranaíba. Algo semelhante ocorreu, mais ao norte, com relação a Cáceres (situada sobre o rio Paraguai) e Cuiabá, cujo comércio abastecia amplas porções do centro-norte da província (QUEIROZ, 2011, p. 122).

Além do mais, os fluxos comerciais disseminados a partir de Corumbá, através dos

principais afluentes do rio Paraguai, permitiram a formação de novos núcleos populacionais

em Mato Grosso, assim como Puerto Suárez, na Bolívia. Nesse último caso, deve-se

considerar que o tratado de 1867 foi o primeiro acordo formal entre a Bolívia e o Brasil que

estabeleceu a fronteira entre os dois países, e por meio dele, a república boliviana abriu mão

de qualquer reclamação sobre a margem direita do rio Paraguai. Foi nesse contexto que o

então governo boliviano autorizou a fundação de Puerto Suárez, localidade situada às margens

da Lagoa de Cáceres e fundada em 1880. Essa lagoa situa-se próxima a Corumbá e através do

canal Tamengo se liga ao rio Paraguai. Dessa forma, o governo boliviano buscava uma via

que desse acesso ao litoral. Embora esse canal, assim como a própria lagoa, praticamente

secasse em boa parte do ano (QUEIROZ, 2004, p. 159), isso não foi obstáculo suficiente para

impedir que ali se estabelecesse uma aduana quatro anos depois. Assim, Puerto Suárez passou

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a exportar vários produtos bolivianos, “principalmente goma y café, hacia Corumbá para ser

enviados a otros destinos, también le llegaban productos importados a Corumbá y luego

pasaban a Bolívia a través del puerto”; depois de atravessar o rio Paraguai em chatas, os

produtos eram transportados por estradas carreteiras até Puerto Suárez e dali a Santa Cruz de

la Sierra e a outras localidades bolivianas. Assim, em Puerto Suárez instalaram-se casas

comerciais nacionais e estrangeiras que faziam o intercâmbio dos produtos que se destinavam

a Santa Cruz de la Sierra (GARRET, 2014, p. 127).

No caso mato-grossense, a povoação de Coxim, por exemplo, teve sua formação

iniciada em 1862, “com o nome de Núcleo Colonial do Taquari, no ponto extremo da

navegação do rio Taquari, isto é, nas imediações da barra do rio Coxim” (QUEIROZ, 2008a, p.

41).

Mais tarde, já em 15 de agosto de 1892, foram escolhidos o nome e o local para o

estabelecimento de outra povoação, desta vez, Aquidauana, à margem do rio homônimo. Em

1893, começaram a construir os primeiros ranchos de palha e, depois de três anos, uma

agência dos correios foi criada. Dois anos depois recebeu um distrito policial e mais tarde foi

elevada a Paróquia, em 1899; e tornou-se comarca em 1911 (CASTRO, 1914, p. 411).

Aquidauana tornou-se um ponto de ligação comercial entre as cidades de Corumbá e Campo

Grande; assim, em 1905 estava concluída “e entregue ao trânsito público a nova estrada que

vai do porto de Aquidauana à vila de Campo Grande e de cuja abertura se encarregava o

cidadão Bernardo Franco Baís”. Essa “via de comunicação atravessa o rio Aquidauana perto

da foz do ribeirão Salobra, onde foi construída uma barca-pêndulo para o transporte de

passageiros e cargas” (RMT, 04/03/1905, p. 47). O melhoramento dessa via de comunicação era

interessantíssimo para os comerciantes como o italiano Bernardo Franco Baís, que era sócio

da casa comercial Wanderley, Baís & Cia., a qual tinha matriz em Corumbá e filiais em

Miranda, Aquidauana e Campo Grande. De tal modo, essa estrada complementava a

navegação fluvial a vapor de Corumbá a Aquidauana, realizada pelos rebocadores Itajahy e

Nhandohy, de propriedade da referida empresa (ver figuras 1 e 2) (TARGAS, 2012, p. 64). Essas

embarcações eram capacitadas para o “reboque de chatas carregadas com a carga do comércio

e produtos de exportação”; contudo, encarregavam-se também do transporte de “passageiros,

sem, no entanto, poder oferecer outro conforto a não ser uma mesa farta de comidas boas para

as refeições, dominando para pernoitar as redes, colocadas no convés e expostas à intempérie”

(SIMON, 1914, p. 142). Além do mais, a Wanderley, Baís & Cia. também era responsável por

uma linha entre Corumbá e Cuiabá, Corumbá e Porto Esperança, assim como, eram

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consignatários de firmas uruguaias que faziam a rota de Montevidéu a Corumbá (TARGAS,

2012).

Figura 1

Paquete Itajahy

Fonte: Maciel, 1914, p. 141

Figura 2

Paquete Nhandohy

Fonte: Mendonça, 1914, p. 67

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E com a chegada da última década do século XIX, a empresa nacional Lloyd Brasileiro

passou a manter regularmente a linha de paquetes22 na rota Rio de Janeiro-Cuiabá. Assim,

seguia-se da capital brasileira “com passagens pelos portos de Santos, Cananéia, Iguape,

Paranaguá, Antonina, São Francisco, Florianópolis, Rio Grande e Montevidéu”; deste último

porto “fazia-se o translado de mercadorias e passageiros para navios a vapor de menor

calado” e seguia-se viagem com “escalas em Assunção, Conceição (ambas no Paraguai), e em

Porto Murtinho e Corumbá”, depois prosseguiam para Cuiabá, em “embarcações de menor

calado ainda, como os paquetes Coxipó, Nioac e Orvalho” (figuras 1, 2, 3) (CORRÊA, 1999, p.

135). Esses paquetes possuíam uma subvenção para 24 viagens anuais, mantida pelo governo

central (MACIEL, 1914, p. 142). Paras as viagens de Corumbá a São Luís de Cáceres (atualmente

só Cáceres), existia uma linha regular mensal, “com o vapor Etruria [figura 4], de propriedade

da importante casa José Dulce & Cia.” (MACIEL, 1914, p. 142).

Figura 3

Paquete Coxipó

Fonte: MENDONÇA, 1914, p. 67

22 O termo “paquete” (forma reduzida da expressão inglesa packet-boat) designa um tipo de embarcação rápida,

utilizada no transporte de passageiros ou correspondência.

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Figura 4

Paquete Nioac

Fonte: MENDONÇA, 1914, p. 67

Figura 5

Paquete Orvalho

Fonte: MENDONÇA, 1914, p. 67

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Figura 6

Vapor Etruria

Fonte: Album graphico, 1914, p. LI

Já a firma paraguaia Vierci & Hermanos, fundada em 1890, possuía uma frota de 9

vapores e 16 chatas e fazia semanalmente a linha Assunção-Corumbá-Assunção, com os

vapores “Leda e G. B. Vierci para passageiros e Adela e Neebocú para cargas” (Album graphico,

1914, p. IV-V).

Figura 7

Vapor Leda

Fonte: Album graphico, 1914, p. V

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Figura 8

Vapor G. B. Vierci

Fonte: Album graphico, 1914, p. V.

Com a chegada do século XX, diversos vapores intensificaram o tráfego entre Mato

Grosso e os países platinos, principalmente entre Assunção e Corumbá. Atuavam nessa linha

os vapores São José e Fernandes Vieira, de propriedade da casa comercial M. Cavassa Filho

& Cia., a mais antiga casa comercial de Corumbá (TARGAS, 2012). Mais tarde, em 1913, a

Companhia Argentina de Navegação Mihanovich inaugurou uma linha entre Buenos Aires e

Corumbá, “para qual dispunha dos navios Brasil, Chile, França, Holanda, Bermejo, Ciudad

de Asunción e Ciudad de Concepción” (BAÉZ, 1982, p. 17). Até então, essa empresa “só

mandava a Corumbá em viagens diretas e irregulares os vapores Alemanha, Holanda, França,

Chile e Brasil [...] quando – em consequência de contrato – tinha carregamentos completos de

material de estrada de ferro, tubos para encanamento de água, etc.”. As linhas regulares eram:

uma mensal de carga entre Montevidéu e Corumbá, “e outras duas, de passageiros e cargas,

bimensais e alternativas entre Buenos Aires e Corumbá, respectivamente Asunción e

Corumbá, cujas partidas de Asunción são combinadas com as chegadas dos paquetes de

Buenos Aires àquele porto” (MACIEL, 1914, p. 140).

Já o extremo sul de Mato Grosso23 se ligou economicamente24 por via terrestre ao

Paraguai, uma vez que “encontrava-se, geograficamente, muito mais próximo do porto

23 Atual sul de Mato Grosso do Sul.

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paraguaio de Concepción, igualmente situado no rio Paraguai, mas várias centenas de

quilômetros a jusante de Corumbá” (QUEIROZ, 2016, p. 330). Assim, os moradores do extremo

sul de Mato Grosso se beneficiaram do intercâmbio comercial com Concepción, tanto por via

legal como através do contrabando, já que essa rota oferecia melhores condições comerciais

do que qualquer outro centro comercial da província (QUEIROZ, 2011, p. 123). E dos vários

caminhos entre Concepción e o SMT “destacava-se a antiga picada do Chirigüelo, que vinha

terminar no alto da Serra de Amambai, precisamente no local onde hoje se situam as cidades

gêmeas de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero”. Ademais, “variantes e ramais desse caminho

levavam também ao Apa (como, por exemplo, ao local onde surgiria Bela Vista) e a diversas

localidades nos passos da Serra de Amambai e nos vales dos rios Amambai e Iguatemi”

(QUEIROZ, 2008a, p. 45).

Ao final do século XIX, novas povoações foram criadas no sul de Mato Grosso, e

consequentemente, novos caminhos terrestres e fluviais foram se formando. A cidade de Porto

Murtinho foi uma delas, cuja origem está ligada a uma exigência feita pelo governo

republicano, em 1890. Essa exigência foi feita a Tomás Laranjeira, que desde 1882 tinha

concessão e exclusividade sobre “a extração, preparação e exportação de erva-mate no

território da província de Mato Grosso”25. Mas com a mudança do sistema governamental, em

novembro de 1889, ficou decretado que Laranjeira deveria escoar a erva-mate através de um

porto mato-grossense, e obteve dois anos para realizar tal empreitada. Além disso, deveria

abrir uma estrada de rodagem que pudesse ligar o referido porto ao interior, isto é, à região

dos ervais. Antes, toda a erva-mate produzida no extremo sul era transportada por vias

terrestres e fluviais para Concepción (QUEIROZ, 2016, p. 332). Ainda de acordo com o mesmo

autor, foi em 1891 que “as concessões de Laranjeira saíram do âmbito de sua empresa

individual e passaram a uma sociedade anônima: a Companhia Mate Laranjeira”, a qual

passou ser “controlada pelo Banco Rio e Mato Grosso”, criado em janeiro do mesmo ano

(idem, ibidem). Dessa forma, o presidente do referido banco, Joaquim Murtinho, nomeou o

engenheiro Antônio Corrêa da Costa para fundar o referido porto, sendo o local escolhido a

fazenda Três Barras26. E

24 É importante destacar que os “tratados assinados entre o Brasil e o Paraguai em 1872 e em 1883 garantiam, no

concernente aos gêneros de produção local (mato-grossense e paraguaia), a liberdade de comércio entre Mato

Grosso e a república vizinha” (QUEIROZ, 2016, p. 331).

25 O brasileiro Tomás Laranjeira já se dedicava ao ramo da extração e comércio da erva-mate no lado paraguaio

quando obteve a concessão para a exploração em Mato Grosso (QUEIROZ, 2016, p. 331-332).

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ao novo porto, devidamente estabelecido, foi atribuída essa tríplice função: escoar a erva-mate mato-grossense, colonizar/valorizar as terras do banco e servir como entreposto comercial do extremo sul mato-grossense. E ali surgiu efetivamente um povoado, mais tarde transformado em município e comarca, que sobreviveu ao BRMT [Banco Rio e Mato Grosso] (liquidado em 1902) e às próprias operações da Companhia Mate Laranjeira (QUEIROZ, 2016, p. 335).

Já a “estrada de ligação entre o porto e os ervais” foi “concluída em dezembro de

1893”; todavia, essa estrada, que possuía “uma extensão aproximada de 300 km”, sofria em

seu percurso inicial “más condições”, pois encontrava-se na área “correspondente às terras

baixas e alagadiças do ‘litoral’ do rio Paraguai”. Então, em 1894 o Porto já estava

funcionando e sendo chamado de Porto Murtinho. Mas a medida encontrada para solucionar

definitivamente “o problema do ‘trecho alagadiço’ de pouco mais de 20 km” foi a construção

de “uma ferrovia do tipo Decauville”, realizada na primeira década do século XX (Ibidem, p. 8).

No outro extremo da referida via férrea estava localizada São Roque, localidade que atraiu

“casas comerciais de importância – na maioria filiais das de Porto Murtinho – destinadas a

abastecerem os municípios de Bela Vista e Ponta Porã” (CABRAL, 1914, p. 416). Desta forma, a

rota comercial que se originava em Porto Murtinho seguia até São Roque por via férrea e

depois seguia por diversos caminhos terrestres em carretas puxadas por boi, levando aos

produtores e extrativistas as mercadorias vindas das casas comerciais de Porto Murtinho e

retornando com produtos para exportação. Assim, junto ao Porto Murtinho formou-se um

núcleo urbano, e é interessante notar que, ao longo das duas primeiras décadas do século XX,

tornou-se um importante entreposto comercial (QUEIROZ, 2016), conforme veremos no capítulo

2. Em suma, pode-se dizer que Porto Murtinho recebia diversas embarcações “pertencentes a

empresas argentinas, uruguaias e paraguaias – além de [...] ‘diversos vapores vagabundos27,

alguns de grande calado, com capacidade de 1.500 a 2.000 toneladas, procedentes de diversos

portos das repúblicas vizinhas’”, assim como recebia os vapores do Lloyd Brasileiro (idem, p.

17).

A Companhia Mate Laranjeira, no início do século XX, redirecionou sua rota de

exportação do rio Paraguai para o rio Paraná, passando a utilizar o Porto Guaíra, “à margem

esquerda do Paraná, logo acima do Salto das Sete Quedas”. Logo abaixo desse salto, no

trecho “em que o rio Paraná não era navegável, comunicações terrestres foram então

26 “A fazenda Três Barras, por sua vez, manteve sua denominação e individualidade. Ao que parece, apenas o

porto e a área imediatamente adjacente receberam o nome de Porto Murtinho” (QUEIROZ, 2016, p. 339).

27 Com esta expressão designavam-se as embarcações que não se dedicavam a linhas regulares, isto é, aquelas

que não seguiam roteiros e calendários previamente programados.

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estabelecidas, em território paranaense, de Guaíra até o local chamado Porto Mendes”. Com

isso, no extremo sul de Mato Grosso, configurou-se a “formação de um amplo sistema de

transportes”, já que “os ranchos ervateiros situados no SMT ligavam-se a Guaíra tanto por

meio de estradas carreteiras como pela navegação dos afluentes meridionais do alto Paraná,

sobretudo o Iguatemi, o Amambai, o Ivinhema e seus formadores” (QUEIROZ, 2011, p. 128).

1.2 Século XX e as novas vias de integração

A borracha começou a se destacar nas estatísticas de exportação da Amazônia desde

1827. A quantidade da borracha exportada foi aumentando consideravelmente ao longo dos

anos e na década de 1850 já havia firmado sua hegemonia no comércio do Pará (WEINSTEIN,

1993). No caso mato-grossense, o primeiro grande volume de exportação da borracha só

ocorreu na década de 1870; contudo, foi somente no final da década de 1890 que essa

atividade extrativa se tornou a principal fonte de receita do estado de Mato Grosso. A

borracha mato-grossense foi exportada por duas vias, “uma parte, pela Bacia do Prata e a

outra, em maior quantidade, pelo rio Amazonas” (BORGES, 2001, p. 67). A principal zona de

exploração da borracha eram “os seringais das margens dos rios Mamoré, Madeira, Machado,

Jamary, Jacy-Paraná, Mutum-Paraná e seus numerosos afluentes”, e a sua produção era toda

transportada pelo rio Madeira até Manaus. “Também fazem parte dessa região as matas dos

rios São Manoel e Tapajós” e a borracha ali extraída era, em sua maior parte, encaminhada

para Belém. Mas, devido à sua proximidade com o rio Canumã, afluente do rio Madeira, que

“tem origem próxima ao Tapajós e oferece longo trecho navegável até sua primeira cachoeira,

havendo do último porto um varadouro para o rio Bararaty, que deságua duas léguas acima do

São Manoel, no mesmo Tapajós”, iniciou-se um “desvio na corrente comercial de Belém para

Manaus”, via rio Madeira (Album graphico, 1914, p. 373).

Por outro lado, a borracha extraída dos seringais localizados no entorno do rio

Guaporé, “desde a cachoeira do Guajará-Mirim até as suas principais nascentes e seus

numerosos afluentes”, nos “rios Juina, Juruena, Sangue e Sacre, Ceavary, Xucuruina, Arinos,

Paranatinga e todos os seus afluentes” (todos pertencentes à Bacia Amazônica), assim como

aquela extraída nas matas do rio Paraguai, “nas suas nascentes acima da cidade de São Luiz

de Cáceres”, tinha toda a sua produção dirigida para Corumbá.

O transporte da borracha das áreas de exploração era realizado em “lombo de animais

até o porto navegável por canoas e batelões de qualquer rio por onde possa ser conduzida aos

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portos de Cuiabá, São Luis de Cáceres e Santo Antonio do Rio Madeira, donde é remetida

para Corumbá, Manaus ou Belém” (SIMON, 1914, p. 251-252), sendo daí exportada para a Europa

e Estados Unidos da América.

Figura 9

Embarque da borracha em igarités

Fonte: SIMON, 1914, p. 251

O interesse pela exploração da borracha no norte de Mato Grosso levou à criação das

coletorias de rendas estaduais de Santo Antonio do Rio Madeira, nos limites de Mato Grosso

com o do Amazonas, “e outra no rio Tapajós, junto à foz do São Manoel, que é nossa linha

divisória com o estado do Pará”, através do Decreto n. 50 de 6 de julho de 1891 (RMT,

01/02/1896, p. 8). Todavia, a efetivação dessas coletorias deparou-se com a forte resistência por

parte dos estados vizinhos, como demonstra a fala do Presidente do Estado Antonio Corrêa da

Costa, em 1896:

Aqueles Estados [Amazonas e Pará], que de longa data têm usufruído as rendas dos produtos da região mato-grossense, não se conformam com a resolução tomada por Mato Grosso de reivindicar o seu direito: e a oposição que por parte dos respectivos governos têm encontrado nossos coletores para o desempenho de seus deveres, obstando, tanto o governo do Pará como o do Amazonas, a viva força, que as aludidas coletorias arrecadem os impostos de exportação que se faz pela nossa fronteira, sob o pretexto de que lhes pertence o território em que elas se acham, deu origem à questão de limites, que oportunamente será submetida ao poder competente (RMT, 01/02/1896, p. 9).

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Conforme apontou Garcia, essas questões de limites entre os estados, e em

consequência a disputa pela arrecadação dos impostos sobre a borracha, “devem ser

entendidas no contexto da descentralização republicana que transferiu para os Estados a

totalidade das receitas de exportação” (GARCIA, 2009, p. 67). Como tais limites não estavam

totalmente definidos, o governante de Mato Grosso propôs ao governo amazonense um

acordo que regulasse a arrecadação na área em litígio, até que fossem realmente definidas as

linhas divisórias entre os estados. Das cláusulas propostas por Antonio Corrêa da Costa, a

primeira estabelecia que:

Enquanto o Congresso Nacional não fixar definitivamente a linha divisória entre os dois estados, a arrecadação dos impostos na zona litigiosa, que é o triângulo formado pelo Madeira, de S. Antônio até a foz do Gy-Paraná, da foz deste rio a sua primeira cachoeira, e daí por uma reta até S. Antonio, será feita em comum por ambos os Estados, ficando cada um com direito a metade do total arrecadado (RMT, 01/02/1896, p. 13-14).

Tal proposta não foi aceita pelo governo do Amazonas, já que teria mandado expedir

força contra a coletoria mato-grossense; em contrapartida, o governo mato-grossense pediu

ajuda ao Presidente da República para que viesse a interferir de forma “amigável para a

aceitação do acordo”, pedido que foi atendido pelo presidente por meio de telegrama enviado

em dezembro de 1895 (idem, p. 15). Contudo, no ano de 1904, o então presidente de Mato

Grosso relatou que o agente da coletoria não havia conseguido arrecadar os impostos sobre a

borracha extraída às margens dos rios Ji-Paraná, Preto e Jamari, por causa da oposição das

autoridades amazonenses (RMT, 03/03/1904, p. 16). Ao longo dos anos, foram sendo

estabelecidos acordos que regulavam o modus vivendi. O primeiro acordo foi realizado em 4

de novembro de 1899, através do Supremo Tribunal Federal (Convênio Fiscal provisório

firmado com o governo do Amazonas, em 24 de maio de 1917, p. 4). Contudo, em 13 de

janeiro de 1916, Mato Grosso instalou novos postos fiscais: Coronel Rondon no rio

Madeirinha; Almirante Guedes no rio Roosevelt e General Caetano no rio Guariba, os quais

começaram a cobrar impostos da borracha que até então era toda considerada de procedência

amazonense. Assim, quando o Tesouro do Amazonas se recusou a despachar a borracha

considerada pela Delegacia do Norte28 como de procedência mato-grossense, iniciou-se uma

nova divergência que foi resolvida pelo acordo provisório de 10 de maio de 1917 (Diário

Oficial do Amazonas, ano XVIII, nº 4.881, Manaus 22/09/1910).

28 Órgão do governo de Mato Grosso responsável pela cobrança de impostos sobre exportação.

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Enquanto os limites entre os estados de Mato Grosso e Amazonas não eram

definidos29, os dirigentes mato-grossenses empenhavam-se em abrir vias de comunicação que

ligassem a porção central ao norte do estado de Mato Grosso. Cuiabá era ligada a São Luís de

Cáceres por uma estrada carroçável com 213 quilômetros, e daí à antiga cidade de Mato

Grosso (Vila Bela) através de uma “estrada cargueira”, ou seja, podia ser percorrida somente

em lombo de animais, com um trajeto de 338 quilômetros. E a partir de Vila Bela buscou-se,

por meio da navegação do rio Guaporé, alcançar Guajará-Mirim, localizada à margem do rio

Mamoré. Para tal, foi celebrado um contrato, em 1897, que regulava a navegação no rio

Guaporé, com a firma Mercado, Ballivian & Cia. E como a navegação a vapor de Guajará-

Mirim até Santo Antonio do Madeira (localizada à margem do rio Madeira) era impedida por

causa das diversas cachoeiras, ficou a cargo da mesma firma Mercado, Ballivan & Cia. a

abertura de uma estrada que contornasse as tais cachoeiras do rio (RMT, 01/02,1897, p. 26).

Ao que parece, essa empresa não cumpriu o acordo, pois, conforme consta, no ano de

1900 “subia da cachoeira Guajará-Mirim a lancha a vapor Guaporé”, pertencente à casa

comercial Maciel & Cia., “cabendo-lhes a honra de trazer pela primeira vez àquela cidade” de

Vila Bela a navegação a vapor, pois nesse trecho não há “uma só cachoeira ou pedra que

estorve a navegação” (MARQUES, 1906, p. 6). Ainda no vale do Guaporé, existia “uma

navegação independente, feita por lanchas de pequeno calado e a serviço das casas

interessadas naquela zona gomífera” (SIMON, 1914, p. 142).

A questão do Acre, entre o Brasil e a Bolívia, foi resolvida em 1903 com o Tratado de

Petrópolis, que possibilitou resolver os problemas da ligação de Guajará-Mirim até Santo

Antonio do Madeira. Através do Tratado de Petrópolis o governo brasileiro se encarregou da

construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, a qual, “iniciada em 1907 e concluída em 1912,

conseguiu contornar o trecho encachoeirado do rio Madeira, entre a cachoeira de Guajará-

mirim, no rio Mamoré, e Santo Antônio no rio Madeira” (FONSECA, 2011, p. 19). A ferrovia

Madeira-Mamoré teve seu percurso iniciado em Porto Velho, localidade situada à margem

direita do rio Madeira (pertencia ao estado do Amazonas, e hoje corresponde à capital do

estado de Rondônia), 6 quilômetros a jusante de Santo Antonio do Madeira, e seu término se

deu em Guajará-Mirim (Album graphico, 1914, p. 374) [ver figura 10].

29 Convém assinalar que, nessa mesma época, Mato Grosso enfrentou uma questão de limites também com o

estado do Pará.

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Figura 10

Traçado da Ferrovia Madeira-Mamoré

FONTE: http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias/efmm/mapa-EFMM-1969.shtml, acessado em: 27/10/2015

A construção dessa ferrovia se deu entre 1907 e 1912, e por ela a borracha da zona do

Guaporé passou a ser exportada pelo Amazonas (SIMON, 1914, p. 252), pois o porto da cidade de

Porto Velho tem capacidade para receber embarcações de grande calado como os

transatlânticos. A expectativa era que, com a conclusão da Ferrovia Madeira-Mamoré,

ocorreria um “grande impulso para a expansão da indústria extrativa no norte do estado,

facilitando o povoamento daquela grande e rica zona regada pelo caudaloso Madeira e seus

afluentes” (RMT, 13/05/1912, p. 48).

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Os proprietários da casa comercial Maciel & Cia. também foram responsáveis pela

abertura de outros caminhos. No ano de 1898, firmaram o primeiro contrato com o Governo

de Mato Grosso. Esse contrato dava “concessão pela qual deveriam operar uma linha de

navegação na hidrovia dos rios Guaporé e Paraguai e abrir uma estrada de rodagem ou de

ferro entre os rios Aguapey e Alegre que, naquele momento, supunham ser navegáveis”; essa

estrada faria a ligação entre as bacias amazônica e platina (GARCIA, 2009, p. 69-70). Mais tarde,

em 1905, um novo contrato foi celebrado, modificando a rota, o qual determinou que a casa

Maciel & Cia. deveria realizar

a navegação a vapor dos rios Mamoré, Guaporé, Jauru e Paraguai e [...] estabelecer o serviço de transportes, por meio de diligências e carretas, na estrada de rodagem que do porto do Salitre [atual Porto Esperidião], no Jauru, vai até à margem direita do Guaporé. O contratante obriga-se a realizar, de quatro em quatro meses, uma viagem redonda de Corumbá a Guajará-Mirim; a construir uma linha telegráfica ao longo da estrada mencionada, e bem assim, nos pontos extremos desta, casas para agasalho dos viajantes e galpões para depósito de mercadorias; fazer à sua custa o serviço de limpeza necessária para tornar franca a navegação naqueles rios, na parte em que tem de ser praticada. O estado obriga -se, em compensação, a conceder-lhe 165.000 hectares de terras, em vários lotes, e uma subvenção anual de cinquenta contos de réis, ou de quantia equivalente à renda de exportação dos produtos da zona servida pela empresa, se aquela for inferior a 50:000$000 (RMT, 04/03/1905, p. 47-49).

A exemplo dos comerciantes acima citados, os contatos entre Cuiabá e o norte do

estado se fazia através de lanchas a nafta30, de propriedade de casas comerciais e a exclusivo

serviço das mesmas.

Já com relação aos caminhos terrestres mato-grossenses que faziam as ligações

internas, pode-se dizer que eles foram se desenvolvendo lentamente, sendo que, na segunda

década do século XX, existiam apenas 1.428 quilômetros de “estradas carroçáveis” (estradas

de rodagem), dentre as quais destacam-se as citadas no quadro 2.

30 Trata-se aqui de um tipo de combustível destilado do petróleo.

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Quadro 2

MATO GROSSO – distância entre as principais localidades urbanas em km

Fonte: RMT , 15/05/1916, p. 39

A estrada que partia de Cuiabá rumo a Diamantino passava por importantes vilas:

Guia, Bahú, Brotas e Rosário; caminhos que por diversas vezes tornavam-se intransitáveis ou

de difícil acesso, por falta de pontes, árvores caídas, entre outras adversidades. Já os caminhos

denominados de “cargueiros” eram aqueles, quer “em campos, quer em matas, que, não

permitindo o acesso a veículos de rodas, podem ser, entretanto, percorridos por muares ou por

bois de carga, assim como pelos viajantes montados” (RMT, 15/05/1916, p. 41). Esses caminhos

cargueiros eram as principais rotas utilizadas para o transporte dos produtos extrativos,

destinados à exportação. Destacam-se as vias citadas no quadro 3, por serem as maiores.

Localidades Distância em km

Cuiabá – Cáceres 213

Cuiabá - Diamantino 192

Cuiabá – Coxipó 6

Cuiabá – Santo Antonio do Rio Abaixo 31

Cuiabá – Chapada 60

Corumbá – Porto Soares 30

Corumbá – Ladário 6

Campo Grande – Porto 15 de Novembro 296

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Quadro 3

Caminhos internos cargueiros entre localidades mato-grossenses,

demonstrados em quilômetros

Localidades Distância em km

Cuiabá – Registro de Araguaia 480

Cáceres – Vila Bela 338

Cuiabá – São Lourenço 239

Diamantino – Barra dos Bugres 186

Diamantino – Guajará-Mirim 1.500

Miranda – Ponta Porã 340

Coxim – Santana do Paranaíba 390

Bahú – Campo Grande 285

Três Lagoas – Santana do Paranaíba 95

Fonte: RMT , 15/05/1916, p. 41

Depois do fim da guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, mesmo com o acesso

liberado à via platina, os dirigentes brasileiros, conforme já foi dito, começaram a buscar

insistentemente uma via de comunicação interna que pudesse ligar Mato Grosso ao litoral

brasileiro. Para isso, foram criados vários projetos, mas nenhum foi posto em prática. Essa

situação começou a se alterar em 21 de junho de 1904, quando foi formada a Companhia de

Estradas de Ferro Noroeste do Brasil, e depois com o Decreto n° 5.266, de 30 de julho de

1904, que concedeu a essa companhia a concessão da construção de uma ferrovia que ligaria

Uberaba (MG) a Coxim. Contudo, ainda no ano de 1904 o traçado da ferrovia foi totalmente

modificado; assim, em julho de 1905 iniciou-se a construção da estrada de ferro em Bauru

(SP) com destino a Cuiabá. Mas, em 1907, o traçado da referida ferrovia foi mais uma vez

alterado, substituindo-se a cidade de Cuiabá por Corumbá. Além disso, em 1908, a

Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil teve sua concessão alterada somente para

o trecho Bauru-Itapura, sendo que o percurso de Itapura-Corumbá passou a ser propriedade da

União (embora a construção do trecho Itapura-Corumbá tenha ficado sob a responsabilidade

da Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil). Ainda no ano de 1908, começaram

as obras na outra extremidade da ferrovia, na localidade de Porto Esperança, às margens do

rio Paraguai, embora 78 quilômetros distante de Corumbá. O contrato entre a União e a

Companhia Noroeste foi desfeito e a União se tornou responsável pela conclusão da dita

ferrovia, que passou a ser chamada de “Estrada de Ferro Bauru a Porto Esperança”,

denominação logo substituída por “Estrada de Ferro Noroeste do Brasil” (NOB). O trecho

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Bauru-Porto Esperança foi concluído somente em 1914 (QUEIROZ, 1997, p. 21-24), o que

proporcionou a Mato Grosso a tão sonhada via interna de acesso ao litoral brasileiro.

A ferrovia Noroeste do Brasil também desempenhou um importante papel nas

negociações entre a Bolívia e o Brasil, já que o governo brasileiro, através do Tratado de

Petrópolis, se havia comprometido a proporcionar à Bolívia uma via de acesso para o

Atlântico. A Ferrovia Madeira-Mamoré deveria ter um ramal ligando Vila Murtinho (Brasil) a

Vila Bella (Bolívia). Contudo, o projeto desse ramal foi alvo de muitas discussões e acabou

por não se realizar; e por fim, com o final do ciclo da borracha, o interesse dos dirigentes

bolivianos em tal ligação se direcionou para o Sul, isto é, a região de Puerto Suárez e

Corumbá. E finalmente, após diversas negociações, a ferrovia Corumbá até Santa Cruz teve

início no segundo semestre de 1939. Ao mesmo tempo, começaram as obras para a conclusão

da linha tronco da NOB, ligando Porto Esperança a Corumbá, inaugurada em 1953, enquanto a

ferrovia Corumbá-Santa Cruz de la Sierra foi inaugurada um ano depois (cf. QUEIROZ, 2004).

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MAPA 3- PORÇÃO CENTRO-S UL E SUAS ARTICULAÇÕES

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Todo o projeto e construção da NOB, apesar das finalidades econômicas, tinha um

sentido político-estratégico determinante. Já que, para os dirigentes brasileiros, apesar de a via

platina oferecer um dinamismo econômico, também representava riscos à soberania nacional.

Assim, o papel da ferrovia Noroeste do Brasil era oferecer uma integração “direta e eficiente

entre a fronteira sul-mato-grossense e o litoral atlântico brasileiro, de modo a se poder

dispensar a via platina – a qual dependia do trânsito por dois países estrangeiros (o Paraguai e

a Argentina) cujas relações com o Brasil não eram consideradas confiáveis” (QUEIROZ,

2008a, p. 53).

Além disso, também se esperava que a efetiva conclusão da NOB proporcionasse um

aumento populacional no sul do estado (RMT, 13/05/1912, p. 49). E com as ressalvas necessárias

é possível dizer que com a construção da ferrovia Noroeste do Brasil ocorreu uma maior

dinamização econômica e populacional nas localidades já existentes, como Aquidauana,

Miranda, Campo Grande, Santana do Paranaíba, assim como possibilitou o surgimento de

Três Lagoas (cf. QUEIROZ, 2004). De fato, embora seus efeitos sejam frequentemente

superestimados pelo senso comum e mesmo pela historiografia, essa ferrovia significou uma

nova fase para Mato Grosso, em especial, a porção que hoje corresponde ao atual Mato

Grosso do Sul.

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CAPÍTULO II

A economia mato-grossense e seus principais produtos de importação

e exportação (século XIX e início do século XX)

“A economia industrial, nos seus primórdios, descobriu – graças em grande parte à pressão

da busca do capital – o que Marx chamou de sua ‘suprema realização’: a estrada de ferro. Em

segundo lugar – e parcialmente por causa da estrada de ferro, do vapor e do telégrafo, ‘que

finalmente representaram os meios de comunicação adequados aos meios de produção’ – o espaço

geográfico da economia capitalista poderia multiplicar-se repentinamente na medida em que a

intensidade das transações comerciais aumentasse. O mundo inteiro tornou-se parte dessa economia”

(Eric Hobsbawm).

A principal atividade econômica de Mato Grosso, no século XVIII, foi o ouro, que era

extraído somente nas aluviões. Conforme Holanda, o “ouro de pedra” ou “veeiro de cristal”

encontrava-se “de modo bastante irregular e descontínuo, mal compensando as despesas feitas

com a extração” (HOLANDA, 1990, p. 53). Outras atividades econômicas se desenvolveram

paralelamente à mineração, como o comércio, a pecuária e a lavoura. O comércio se destaca

em relação aos demais, pois essa atividade deteve “o controle do abastecimento de gêneros de

primeira necessidade e de diversas outras mercadorias. Esse comércio da zona mineira

absorveu grande parte da riqueza gerada pelo ouro e pelo diamante” (CORRÊA, 1980, p. 33).

A esse respeito, convém destacar as novas vertentes historiográficas, as quais,

conforme notou Vanda da Silva, questionam a noção de “decadência e miséria” que

supostamente seriam as marcas de Mato Grosso após o auge da extração aurífera. As análises

pioneiras de Elmar Arruda, nota a autora, já haviam avançado “em relação à ideia de uma

[simples] agricultura de subsistência e apontaram a formação de um setor agrícola produtivo

desde as primeiras décadas da exploração de ouro”. Ela nota que, “no princípio”, efetivamente,

“se fazia a roça para subsistir no local por mais tempo, mas, à medida que aumentava a

quantidade de pessoas, a produção de alimentos foi aumentando e se especializando a partir do

investimento do excedente da mineração, assim os limites da agricultura de subsistência foram

ultrapassados” (SILVA, 2015, p. 18).

Essa situação não se alterou com o processo de independência, e se delongou por todo

o século XIX, principalmente, nos primeiros cinquenta anos. Por outro lado, a Província de

Mato Grosso, além de pouco povoada por não-indígenas, era permeada pela instabilidade

política proveniente da tensão entre o Império brasileiro e os seus vizinhos platinos, adeptos

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do sistema republicano, que também encontravam-se em processo de consolidação nacional.

A visão política divergente adotada pelos novos estados nacionais sul-americanos ficou

evidente com a manutenção do regime escravista no Brasil, enquanto nos demais ocorreu o

declínio do escravagismo (GARCIA, 2009).

Além do mais, as fronteiras entre o Império do Brasil e as ex-colônias espanholas não

estavam definidas juridicamente, tendo mesmo ocorrido o curioso episódio da anexação da

Província de Chiquitos, em 1825, pela junta governativa de Vila Bela; tal acontecimento não

gerou grandes transtornos, já que o Governo Imperial, temendo represálias, imediatamente

mandou revogar tal anexação (op. cit.). Além disso, durante o período regencial eclodiram

várias revoltas de Norte a Sul no Império brasileiro. Em Mato Grosso, especificamente na

cidade de Cuiabá, ocorreu o movimento conhecido como Rusga (1834-1837), o qual

apresentava atributos de cunho social e nativista, já que os revoltosos responsabilizavam os

comerciantes portugueses pela alta constante no custo de vida da região (BORGES, 2000). Outro

movimento, conhecido como a Cabanagem (1835-1840), também influenciou na economia

mato-grossense, pois, apesar de ter ocorrido no Pará, os revoltosos teriam descido o rio

Tapajós até o limite entre as duas províncias, impedindo o trânsito na rota comercial entre o

Pará e Mato Grosso (RMT, 01/03/1838).

Durante toda a primeira metade do século XIX, ao lado da instabilidade política a

economia, por sua vez, se manteve sem grandes transformações, pois as atividades

desenvolvidas em Mato Grosso estavam em processo de estruturação e ainda não

comportavam as condições suficientes para suprir as despesas necessárias para a manutenção

da fronteira e, ao mesmo tempo, proporcionar um desenvolvimento econômico sólido

(GARCIA, 2009). Assim, este capítulo traz uma breve discussão sobre a economia mato-

grossense, enfatizando as mudanças econômicas que se processaram em Mato Grosso após a

efetiva liberação da navegação brasileira pelo rio Paraguai.

2.1. Comércio mato-grossense na primeira metade do século XIX

Como demonstrado no capítulo 1, até a efetiva liberação da navegação pelo rio

Paraguai, os caminhos que ligavam o Oeste ao Leste da América Portuguesa foram,

inicialmente, as monções cuiabanas ou de povoado; ainda no século XVIII, inseriam-se nesse

processo os caminhos terrestres: o chamado caminho de Goiás e o caminho do Piquiri; já a

integração com o Norte, mais especificamente com o Pará, se deu através das monções do

Grão-Pará ou do Norte. Essas rotas comerciais possibilitaram que mercadorias, tais como:

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alimentos, utensílios domésticos, vestimentas, ferramentas, entre outras, chegassem ao

distante Mato Grosso com preços elevados, em decorrência da longa distância e dos trajetos

inseguros. E, como apontou Borges, todos

os esquemas de comercialização e transporte que prevaleceram em Mato Grosso no século XVIII e na primeira metade do século XIX, foram realizados por tropeiros e caixeiros viajantes que possuíam grande prestígio, detinham informações importantes e por isso, davam-se bem nos negócios (BORGES, 2001, p. 118).

O fluxo comercial de importação e exportação mato-grossense esteve ligado,

principalmente, ao Rio de Janeiro, durante toda a primeira metade do século XIX, utilizando

para isso o caminho de Goiás. A justificativa dada pelo então Presidente da Província, José

Antônio Pimenta Bueno, para tal preferência, ao invés do comércio com o Pará, pautava-se

nas condições de compras a crédito, maior oferta de produtos e a garantia de melhor preço na

venda do ouro e dos diamantes, condições essas encontradas no Rio de Janeiro. Além disso,

tais comerciantes dedicavam-se, sobretudo, ao comércio de gêneros classificados como secos,

dentre os quais incluíam vestimentas, pratarias e cristais (RMT, 01/03/1837, p.13).

Alguns anos depois, a situação não parece ter se alterado, pois, de acordo com o

viajante francês Francis Castelnau, que passou por Mato Grosso no fim do ano de 1844 e

início de 1845, havia “cerca de quinze tropas fazendo o comércio regular entre Cuiabá e a

costa [principalmente, o Rio de Janeiro], variando entre cinquenta e duzentos o número de

animais de que cada uma se compõe”. Esses tropeiros encarregavam-se do comércio dos

poucos produtos mato-grossenses que se dirigiam para fora da Província, a saber: o ouro em

pó, couros vacuns, peles de onça e de veado, diamantes e a poaia (ipecacuanha). O comércio

de Cuiabá com o Rio de Janeiro era mais lucrativo, mas também demandava alto

investimento, sendo que custava em média “quarenta mil réis por animal, aí compreendida a

despesa com a compra de milho e o salário dos arrieiros e camaradas31. A carga de uma mula

varia, conforme a força do animal, entre seis e oito arrobas, havendo casos em que ela chega a

nove arrobas” (CASTELNAU, 1949, p. 167).

Todavia, o comércio com o Pará, sobretudo com a vila de Santarém, era tido como a

melhor opção na visão de Pimenta Bueno, por ser essa via mais rápida que o tortuoso

31 Eram homens livres e pobres que trabalhavam em várias atividades; em troca recebiam alimentação e salário.

Uma das atividades desenvolvidas por esses trabalhadores era o auxílio no transporte, tanto terrestre como

fluvial (SENA, 2010).

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caminho de Goiás (RMT, 01/03/1837, p. 13). Assim, a corrente comercial que se dirigia de

Cuiabá e Diamantino com destino ao Pará era composta por aqueles negociantes que se

dedicavam ao comércio de gêneros classificados como molhados, ferros e outros produtos

semelhantes. O comércio com a vila de Santarém demandava menor recurso financeiro que

com o Rio de Janeiro. Contudo, uma viagem de ida e volta de Diamantino até Santarém exigia

um investimento em torno de 1:751$600 (um conto e setecentos e cinquenta e um mil e

seiscentos réis) para cobrir as despesas com o transporte, alimentação do grupo e pagamento

dos camaradas (CASTELNAU, 1949, p. 213-214). Assim, comparando-se o valor de uma viagem

redonda de Diamantino a Santarém com os valores dos investimentos necessários para uma

ida e volta de Cuiabá ao Rio de Janeiro, pode-se perceber que os gastos dessa segunda rota

eram superiores aos da primeira; como mencionado anteriormente, o custo era de 40 mil réis

por animal e a menor tropa possuía cerca de 50 animais, assim chegaremos ao total de 2

contos de réis, no mínimo; uma tropa composta por 200 animais chegava ao custo de 8 contos

de réis.

A vila de Santarém era preferida pelos comerciantes por ser mais próxima e menos

dispendiosa do que a ida até Belém (CASTELNAU, 1949, p. 214). Um exemplo, é a comparação

dos preços das três praças comerciais, citadas no quadro 4, a seguir:

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Quadro 4

Demonstração da diferença de preços causada pela longa distância (1844-1845), em réis

Mercadorias

Preços praticados

Medidas usadas Em Belém Em Santarém Em

Diamantino

Azeitona $800 2$000 10$000 caixa

Bandejas 5$000 15$000 20$000 unidade

Chapéus de palha $500 1$600 3$000 dúzia

Chumbo para caça 10$000 24$000 76$000 quintal

Copos grandes $700 2$000 7$200 Dúzia

Farinha de trigo 9$000 25$000 76$000 6 arrobas32

Foices grandes $500 $900 2$000 Unidade

Foices pequenas $300 $800 1$000 Unidade

Macarrão 3$000 6$000 21$000 caixa de 20 libras

Machados $500 1$000 2$400 Unidade

Machadinhas $400 $800 1$800 Unidade

Pólvora para caça $500 $900 2$400 libra portuguesa33

Pratos rasos 1$000 2$200 5$400 Dúzia

Pratos fundos $450 1$600 4$000 Unidade

Queijos flamengos $700 2$000 4$000 Dúzia

Sal $700 2$000 20$000 alqueire34

Sopeiras $610 3$000 6$000 Unidade

Vinho português de 1ª

qualidade

80$000 160$000 720$000 pipa35

Vinho Moscatel 5$000 10$500 24$000 12 garrafas

Xícaras e pires 1$000 2$200 5$400 Dúzia

Fonte: CASTELNAU, 1949, p. 211.

É visível o acréscimo dos preços sobre os produtos, chegando, em alguns casos, a

quintuplicar. Para melhor compreender esse flagrante aumento de valores, deve-se

compreender as dificuldades enfrentadas pelos comerciantes; pois, o tempo que se levava para

32 Uma arroba equivalia a 14,74560 kg. Cf.

https://www.ifch.unicamp.br/cecult/lex/web/uploads/assets/file/Pesos%20e%20Medidas%20-

%20s%C3%A9culos%20XVIII%20e%20in%C3%ADcio%20XIX.pdf) – Acesso em 2 maio 2017.

33 Uma libra portuguesa equivalia a 460, 080 g (idem).

34 Um alqueire equivale a 36, 27 litros (op. cit).

35 Uma pipa portuguesa equivalia a 424 litros (idem).

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uma viagem de ida e volta de Diamantino a Santarém podia chegar a oito meses, e esse tempo

aumentava para aqueles comerciantes que saíam de Cuiabá rumo a essa vila paraense. A

viagem era morosa por ser esse caminho de difícil acesso, com diversas cachoeiras; além

disso, a carga era limitada, devido às condições impostas pelo trajeto (CASTELNAU, 1949, p.

212). Os comerciantes que saíam de Cuiabá e de Diamantino com destino ao Pará seguiam por

terra em lombos de animais até o porto do rio Arinos, e na ida levavam os mantimentos

necessários para a viagem, incluindo os necessários para a volta, os quais eram “escondidos

na mata ao longo do trajeto, debaixo de pequenos ranchos de folhas construídos pelos

canoeiros durante a descida” (CASTELNAU, 1949, p. 212). Do porto do rio Arinos desciam este

rio, depois passavam ao Juruena e por último ao Tapajós36, que dá vazão no rio Amazonas,

que, por sua vez, corre em direção ao Oceano Atlântico. A cidade de Santarém encontra-se no

ponto de confluência dos rios Tapajós e Amazonas. O percurso de Diamantino a Santarém

delongava em torno de 26 a 34 dias (RMT, 01/03/1837, p. 11). As viagens de ida eram realizadas

nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e a volta em setembro, outubro e novembro, pois a

navegação pelo rio Arinos só era possível na estação chuvosa. A realização das compras

demandava aproximadamente um mês (CASTELNAU, 1949, p. 212). Já a volta demorava em

torno de 105 a 135 dias (RMT, 01/03/1837, p. 11).

Além das articulações econômicas de Mato Grosso com outras províncias brasileiras,

existia também um comércio com as províncias bolivianas de Moxos e Chiquitos, desde o

período colonial. O contrabando era o principal meio desse comércio nas regiões fronteiriças

desde o Guaporé até o médio Paraguai (QUEIROZ, 2011, p. 110). Contudo, como as terras baixas

da Bolívia ficavam muito distantes do oceano Pacífico, os governantes de Mato Grosso

acreditavam que as províncias de Moxos, Chiquitos e até mesmo Santa Cruz pudessem se

tornar consumidores efetivos do mercado mato-grossense, ao invés das pequenas transações

comerciais que eram realizadas até então. Para que tal fato ocorresse, era preciso que os

preços dos gêneros procedentes dos portos brasileiros pudessem concorrer com os produtos

que eram conduzidos dos portos do Oceano Pacífico; assim, os meios de transporte da costa

brasileira até Mato Grosso deveriam ser melhorados para poder ser menos oneroso o preço

das mercadorias que ali chegavam (RMT, 01/03/1837, p. 8). Para tal, buscava-se a abertura de

uma nova estrada para articular tal comércio, o que parece ter acontecido, pois em 1840 já

36 Todos esses rios se interligam; porém, não são completamente navegáveis , pois ao longo do trajeto existem

várias cascatas e cachoeiras.

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existia uma linha de correio mensal entre o Departamento de Santa Cruz de la Sierra e a

Província de Mato Grosso (RMT, 01/03/1840, p. 25).

Além das mercadorias que vinham de outras províncias, havia em Mato Grosso uma

produção interna. Essa produção era desenvolvida nas chácaras, sítios ou fazendas. Enquanto

a agricultura era voltada para o mercado interno, o rebanho bovino, além de atender às

demandas internas, era remetido para as províncias de Minas Gerais e São Paulo. De acordo

com Vanda Silva, existiam em Mato Grosso diversos engenhos, os quais eram:

um conjunto de instalações composto por casas de vivenda, senzala, capela, engenho de moer cana, engenho de farinha e monjolos de socar milho, pilar arroz e socar mamona, roda de ralar mandioca, pomar e lavouras e moinhos. Ou seja, os engenhos eram um grande espaço de moradia e de beneficiamento dos produtos, além de possuírem as roças, pastos e pomares. De modo geral, as casas, senzalas e a maquinaria do engenho estavam muito próximas umas das outras (SILVA, 2015, p. 48-49).

Apesar de tal descrição se referir ao período colonial, pode-se concluir, pelas

estruturas de produção existentes nos anos posteriores, que não ocorreram mudanças

significativas após a independência. Sendo assim, podemos utilizar tal descrição para o

período aqui abordado. De tal maneira, esses engenhos eram unidades de produção

diversificadas, onde eram produzidos elementos básicos de consumo para o mercado interno,

tais como: farinha de milho, farinha de mandioca, azeite de mamona, arroz, feijão, milho,

melado, açúcar, carne seca, toucinho e aguardente. Essas propriedades também se destinavam

à produção de grandes lavouras, as quais utilizavam ferramentas simples como machado,

enxadas e foices, assim como a criação de animais cavalares, muares e vacuns (SILVA, 2015).

Os proprietários dos engenhos utilizavam-se de caixeiros viajantes e casas comissárias para

introduzir seus produtos nas vilas e povoações mato-grossenses. Além disso, esses engenhos

tinham importância fundamental no abastecimento dos estabelecimentos responsáveis pela

guarnição da fronteira. No período colonial, o abastecimento desses estabelecimentos era

realizado através do Armazém Real, “um órgão da Provedoria da Fazenda em diferentes

estabelecimentos e lugares para guardar e controlar a saída e entrada de diversos produtos

adquiridos pela Provedoria, como gêneros alimentícios, armamentos e ferramentas necessárias

para a manutenção da capitania”. O Armazém Real adquiria grande parte da produção interna

e para garantir seus mantimentos passou a utilizar-se de contratos com alguns proprietários de

engenhos; através desses contratos ficava estabelecido que as unidades produtoras deveriam

entregar uma determinada cota mensal de gêneros alimentícios (SILVA, 2015, p. 67). Assim, fica

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evidente a importância desses engenhos no abastecimento interno da Província de Mato

Grosso.

A realidade da economia mato-grossense começou a se alterar na segunda metade do

século XIX com a abertura da navegação pelo rio Paraguai, através do redirecionamento dos

fluxos econômicos para a região platina.

2.2 A situação econômica de Mato Grosso após a abertura da navegação pelo rio

Paraguai

A integração efetiva de Mato Grosso à via platina ocorreu em um período que o

historiador Eric Hobsbawm denominou de A Era dos Impérios. Momento esse que foi

marcado pela expansão capitalista, a qual teve por base o desenvolvimento de novas

tecnologias que vieram a constituir a chamada “Segunda Revolução Industrial”. Esta foi capaz

de criar uma economia global e atingir diversas regiões do globo terrestre, uma vez que as

economias industriais concorrentes estavam na contínua busca de novos mercados

consumidores para seus produtos industrializados, assim como fornecedores de matérias-

primas necessárias à indústria moderna em crescimento, ou mesmo, de produtos agrícolas e

exóticos (HOBSBAWM, 2010). As mudanças que se processavam, a partir de 1870, “acabaron

de unificar los mercados nacionales y dieron paso a un mercado internacional cada vez más

integrado. El tamaño del mercado se amplió, pero também aumentó sensiblemente la

competencia entre las empresas por el reparto del mismo” (VALDALISO; LOPEZ, 2009, p. 233-

234). Assim, “as mais remotas partes do mundo estavam agora começando a ser interligadas

por meios de comunicação que não tinham precedentes pela regularidade, pela capacidade de

transportar vastas quantidades de mercadorias e pessoas” (HOBSBAWM, 2014, p. 93).

E foi nessa corrida imperialista que o mercado da América do Sul passou a ser

disputado por novas potências industriais como a Alemanha e Estados Unidos, assim como

por outras nações como a Bélgica, a Holanda, a Espanha, Portugal e Itália. No último quartel

do século XIX, a Inglaterra ainda era preponderante perante as suas concorrentes, mas a

França já ocupava uma considerável fatia desse mercado (NORMANO, 1944). Nessa conjuntura

de expansão de capitais e bens, Mato Grosso, através da livre navegação pelo rio Paraguai,

conseguiu aos poucos se vincular ao mercado internacional. Como apontado anteriormente,

foi através dessa nova via fluvial que novos núcleos urbanos irradiados desde Corumbá se

formaram em Mato Grosso, principalmente na porção Sul.

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Com a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, a navegação pelo rio Paraguai foi

interrompida e uma das medidas tomadas para incentivar o desenvolvimento da economia

mato-grossense foi estabelecida pela lei nº 1.352, de 19 de setembro de 1866, editada pelo

governo imperial, que em seu artigo 8º apresenta a seguinte redação:

Fica o Governo autorizado para reduzir, como for conveniente, as taxas da Tarifa especial da Alfândega de Corumbá na Província de Mato Grosso, podendo conceder por espaço de cinco anos, depois de terminada a guerra atual [Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai], completa isenção dos direitos de consumo e de exportação.

Assim, o governo imperial, através do Decreto nº 4.388, de 15 de julho de 1869,

autorizou, por um prazo de dois anos, a isenção dos direitos de consumo das mercadorias

importadas, assim como para a exportação de produtos nacionais. E após o fim da referida

guerra, essa isenção foi prorrogada mais duas vezes, ambas por três anos, por meio dos

decretos nº 4.707, de 31 de março de 1871, e nº 5.626, de 4 de maio de 1874, vencendo

somente em 30 de junho de 1877 (Coleção de leis do Império, in:

http://www2.camara.leg.br/atividade- legislativa/legislacao/publicacoes/doimperio).

Nas décadas de 1870 a 1890, as arrecadações dos impostos se faziam na Alfândega de

Corumbá e nas diversas coletorias localizadas em Cuiabá, Diamantino, São Luís de Cáceres,

Vila do Rosário, Miranda, Poconé, Livramento e Santana do Paranaíba (RMT, 12/07/1886, p. 42).

E grande parte da receita da Província/Estado originava-se

dos impostos internos cobrados da pequena lavoura de consumo na província, da economia dos proprietários urbanos, das necessidades das classes operárias consumidoras de gêneros estrangeiros e nacionais de uso indispensável à vida, e das pequenas indústrias, ofícios e transações de que subsiste grande parte do povo (RMT, 12/07/1886, p. 35).

Na década de 1880, os produtos destinados à exportação ainda não compunham um

setor forte o suficiente para se sobressair nas finanças de Mato Grosso, pois as atividades de

extração de produtos naturais e de derivados da pecuária ainda estavam em processo de

consolidação. Como demonstrado no gráfico 1, a seguir:

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Gráfico 1

Produtos exportados de Mato Grosso no ano de 1885

Fonte: (RMT , 12/07/1886, p. 36).

Analisando os dados do gráfico 1, verifica-se que o valor total da exportação era

baixo, em comparação, por exemplo, com os valores exportados, nessa época, pelas

províncias cafeeiras. A renda proveniente dos impostos sobre a exportação era cobrada

conforme o produto, sendo que se pagava 10$000 (dez mil réis) por cada novilha ou vaca e

2$000 (dois mil réis) por cada boi; já sobre a erva-mate cobrava-se 5% sobre o valor,

enquanto dos demais produtos a taxa era de 10%. Fica evidente a discrepância da contribuição

da erva-mate, se comparada com os demais produtos. Os valores representados no gráfico 1

correspondiam a algo em torno de 20% da receita arrecadada por Mato Grosso no ano de

1885 (RMT, 12/07/1886, p. 34).

Grande parte da historiografia aponta para a dependência econômica de Mato Grosso,

que necessitava da ajuda do governo central para arcar com suas despesas37. Desta forma, a

Província de Mato Grosso se apresenta como dependente do amparo do governo Imperial, o

qual ajudava com remessas de dinheiro para suprir as despesas da província. Mas através da

análise dos dados, pude perceber que não é bem assim. Pois a quase totalidade das remessas

37 BORGES, 2001; CORRÊA, 1980; GARCIA, 2001.

Produtos Cal em pedra Caldo de carne Couros Chifres Erva-Mate Ipecacuanha Gado Vacum Outros Total

Valor oficial 4:072$000 43:200$000 141:209$000 2:460$000 337:083$000 43:759$500 66:036$000 2:084$380 639:964$880

Imposto 203$600 4:320$000 14:129$000 246$000 16:854$150 4:375$950 11:006$000 208:438 51:343$138

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vindas do Governo Imperial era gasta com o Ministério da Guerra e com o Ministério da

Marinha, como demonstrado no quadro 5, a seguir:

Quadro 5

Comparação dos valores recebidos do Governo Imperial com os gastos

dos ministérios da Guerra e da Marinha

Ano

(julho a

junho)

Valores

recebidos do

Império

Total dos gastos

com os ministérios

da Guerra e da

Marinha38

Diferença dos

recursos que

sobraram da remessa

do governo Central

Valores

devolvidos por

Mato Grosso ao

Governo Central

1873-1874 2.602:555$118 1.746:985$768

855:569$350

749:106$834

1874-1875 2.261:249$787 1.828:125$250

433:124$537

173:855$722

1875-1876 2.540:702$819 2.093:218$641

447:484$178

4:614$757

1877-1878 2.085:028$890 1.694:266$803

390:762$087

---

1879-1880 1.438:816$201 1.538:730$263

-99:914$062

---

1884-1885 1.145:331$520 1.073:571$176

71:760$344

510:008$097

1885-1886 1.634:796$465 1.138:731$392

496:065$073

465:148$868

1886-1887 666:075$233 334:016$606

332:058$627

98:864$474

Fonte: BORGES, 2001, p. 133 e 141.

Através da comparação dos dados acima, verifica-se que as remessas enviadas para

Mato Grosso eram utilizadas para suprir as próprias contas do governo central. Essas

remessas eram repassadas ao governo provincial, uma vez que as províncias se encarregavam

da administração financeira desses órgãos. Quando os relatórios dos presidentes da Província

mencionam a ajuda financeira para suprir as despesas da Província, estavam se referindo às

despesas do governo imperial em Mato Grosso. O fato é que os impostos pertencentes ao

governo central coletados dentro de Mato Grosso não eram suficientes para suprir as despesas

de responsabilidade do Império, daí a necessidade do envio de verbas suplementares. De toda

forma, após pagas as contas dos referidos ministérios, o dinheiro era remetido de volta aos

cofres do Império brasileiro. Para uma melhor compreensão, analisemos os dados do quadro

6, a seguir:

38 Trata-se aqui das despesas com o custeio e os melhoramentos das instalações militares existentes na província

(fortalezas, quartéis etc.) e o pagamento do respectivo pessoal.

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Quadro 6

Quadro comparativo de receitas e despesas gerais 39 das provinciais40

brasileiras (1885, 1886-1887), em réis

Províncias Receita Geral Despesa Geral Receita

Provincial

Despesa Provincial

Bahia 10.885:120$784 6.002:514$747 3.046:875$600 4.486:506$355

Pernambuco 10.126:142$880 7.714:561$579 2.714:829$695 3.337:615$201

São Paulo 9.658:639$023 2.745:492$144 5.236:833$333 5.489:081$378

Pará 9.028:843$062 2.397:473$767 3.960:630$000 3.700:521$160

Rio Grande do Sul 7.379:317$440 7.897:823$693 2.806:500$000 2.971:700$000

Maranhão 2.237:374$461 1.672:263$221 715:906$099 767$142$892

Minas Gerais 1.660:430$436 1.884:307$572 3.410:200$000 3.410:200$000

Rio de Janeiro 1.284:133$400 469:467$836 6.017:117$060 5.986:964$340

Ceará 1.172:591$207 1.033:105$887 976:564$000 1:053:940$000

Amazonas 961:257$494 602:512$680 1.939:080$000 1.778:947$023

Alagoas 928:028$560 847:598$845 741:823$760 847:598$845

Santa Catarina 782:914$250 743:798$560 374:032$438 461:937$684

Paraná 548:269$117 874:829$663 969:018$076 969:018$076

Paraíba 395:264$884 626:129$552 522:535$000 703:430$540

Mato Grosso 394:976$893 1.615:805$118 228:157$888 249:208$620

Sergipe 382:885$453 562:130$922 800:000$000 673:964$923

Espírito Santo 305:867$618 466:501$432 439:147$000 431:159$500

Piauí 271:353$410 567:197$819 272:980$144 319:127$460

Rio Grande do Norte 178:093$722 436:842$420 391:081$000 492:408$151

Goiás 61:0694829 756:998$355 240:267$673 240:030$153

Fonte: BARÃO DE COTEGIPE, 1887, s/nº p.

É concebível que quando comparadas as receitas e a despesas gerais em cada província

do Império brasileiro, tornem-se espantosos os dados de Mato Grosso; mas esses gastos, por

parte do governo central, devem ser compreendidos ao notar que se trata de uma região de

fronteira. Já se analisarmos as receitas e despesas provinciais percebemos que somente o

Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Sergipe conseguiram ter uma receita maior que as próprias

despesas. Algumas províncias possuíam uma pequena discrepância entre a receita e a despesa,

como é o caso de Mato Grosso; dessa forma, todas tendiam a manter um certo equilíbrio entre

39 Trata-se das receitas e despesas atribuídas ao governo central (“geral”).

40 Trata-se das receitas e despesas atribuídas aos governos provinciais.

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suas receitas e despesas. Em alguns anos, as receitas eram maiores que as despesas, em outros

não. Assim, tanto os saldos positivos como os negativos eram passados para o próximo

exercício financeiro anual.

Em Mato Grosso, nesse período, as rendas arrecadadas, em geral, conseguiam suprir

as despesas da própria província. O único auxílio financeiro que Mato Grosso efetivamente

recebia do governo central era para a manutenção da força policial, ou seja, a corporação

provincial encarregada da segurança pública (RMT, 01/11/1878).

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78

Quadro 7

Valor total das importações e exportações de Mato Grosso

no período de 1872-1914 (em réis).

Fontes: (1) Os dados referentes aos anos de 1872 a 1876 e 1894 a 1907 foram extraídos do

Boletim Comemorativo da Exposição Nacional de 1908, p. 104-106; (2) Os dados referentes aos

anos de 1885 e 1886 foram extraídos do Relatório que o Presidente de Província de Mato Grosso,

José Joaquim Ramos Ferreira, apresentou à Assembleia Legislativa Provincial de Mato Grosso em

1º de novembro de 1887, p. 113; (3) Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do

Ministério da Fazenda – 1909-1914.

Ano Importação Exportação

1872 1.028:000$000 154:900$000

1873 1.524:341$000 153:039$000

1874 962:170$000 124:803$000

1875 1.177:785$000 144:225$000

1876 2.744:800$000 120:200$000

1885 --- 639:964$880

1886 --- 925:454$990

1893 1.440:064$000 648:568$000

1894 1.648:099$000 933:348$000

1895 1.742:630$000 413:507$000

1896 2.316:609$000 481:108$000

1897 1.922:103$000 1.225:006$000

1902 2.439$418$000 7.555:960$000

1903 2.284:033$000 7.555:960$000

1904 2.752:973$000 7.103$396$000

1905 2.789$755$000 6.701:656$000

1906 2.552:467$000 5.969:900$000

1907 3.704:186$000 7.682:883$000

1908 4.017:779$000 8.189:279$000

1909 10.123:662$000 19.362:025$000

1910 7.766:100$000 24.984$994$000

1911 12.907:465$000 19.3113:661$000

1912 4.440:694$000 3.606:763$000

1913 4.875:655$000 5.399:945$000

1914 3.712:250$000 4.136:255$000

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A receita interna da província/estado contava com os impostos arrecadados sobre a

importação e exportação. Dessa maneira, através da análise dos valores expostos no quadro 7,

pode-se compreender que, até o final do século XIX, as receitas de Mato Grosso eram baixas.

Tendo por base os dados do quadro 7, apesar da falta sequencial de alguns anos, pode-

se verificar que o aumento dos valores das exportações foi um processo lento e gradual até o

final do século XIX. De tal maneira, apesar do pequeno crescimento no movimento das

exportações ao longo da década de 1890, foi somente no início do século XX que o total das

exportações superou o valor das importações. Isso se deve a uma melhor estruturação dos

meios produtivos pautados na extração de produtos naturais e na produção dos derivados da

pecuária – e também, certamente, ao aumento das exportações da borracha. Desta forma,

pode-se concluir que a historiografia mato-grossense/sul-mato-grossense tendeu a exagerar o

efetivo desenvolvimento econômico nos anos imediatamente seguintes à abertura da

navegação pelo rio Paraguai. Sobre as transformações ocorridas em Mato Grosso, logo após

essa abertura, o que parece é que o “dinamismo revelado [...] foi muito modesto, e somente

adquire certa significação no confronto com a modéstia, ainda maior, dos padrões da

economia mato-grossense no período anterior” (QUEIROZ, 2008, p. 137-138).

2.3 A dinâmica econômica mato-grossense e seus principais produtos de

importação e exportação no início do século XX

Com a inserção de Mato Grosso nos circuitos platinos, suas características econômicas

foram se alterando lentamente, pois a região do Prata já estava vinculada ao capitalismo

internacional, especialmente as cidades de Buenos Aires e Montevidéu. Assim, não é de

estranhar que a influência econômica exercida pelos países europeus sobre a região tenha se

estendido até Mato Grosso, por meio de investimentos no comércio de importação e

exportação, assim como em atividades produtivas (CORRÊA, 1980, p. 54). Em vista disso, muitos

imigrantes passaram a se dirigir para a província mato-grossense, entre eles “contavam-se

muitos europeus, especialmente italianos e espanhóis que já haviam feito um ‘estágio’ nas

Repúblicas do Prata, inclusive absorvendo os hábitos de seus povos” (PÓVOAS, 1982, p. 17),

além de alemães, uruguaios, argentinos e paraguaios.

Dentre esses imigrantes encontram-se aqueles que se estabeleceram em Mato Grosso e

investiram em casas comerciais de importação e exportação. Esse ramo de negócio não se

limitou à presença exclusiva de estrangeiros; pelo contrário, contou com a presença, tanto de

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mato-grossenses, como de brasileiros de outras regiões, instalados em Mato Grosso há várias

décadas. Tais casas comerciais, as quais são melhor analisadas nos capítulos 3 e 4, tiveram

papel importante na inserção dos produtos importados que chegavam a Mato Grosso. Uma

parte das exportações dos produtos mato-grossenses passava também pelas casas comerciais,

entretanto, não eram de sua exclusividade (TARGAS, 2012, p. 58), uma vez que os grandes

investidores, principalmente as companhias estrangeiras, se encarregavam de escoar sua

própria produção.

Corumbá, por ser o ponto final da navegação internacional, tornou-se o principal polo

comercial mato-grossense, assumindo a função de redistribuidor de mercadorias para as

outras áreas da província. Contudo, por estar estritamente vinculado ao mercado externo,

sofria os reflexos das suas crises, tais como: epidemias, “colapsos de abastecimento,

tendências altistas nos preços, ação de atravessadores, fretes monopolizados e contrabando;

reflexos de conflitos políticos nos países vizinhos e movimentos grevistas de trabalhadores

dos portos na Bacia do Prata” (CORRÊA, 1999, p. 157-158). Além disso, Corumbá, por estar

localizada em uma área de fronteira, recebeu atenção especial do governo central, através de

recursos injetados em obras públicas, o que a levou a contar com “uma massa consumidora

em crescimento e com razoável poder aquisitivo, representada pela concentração de militares

ali estacionados” (GARCIA, 2001, p. 44).

Nas páginas seguintes, dedico-me a analisar os dados referentes ao comércio de

importação e exportação realizado pelo estado de Mato Grosso. A série analisada inicia-se em

1901 porque é só a partir desse ano que o Ministério da Fazenda (através do Serviço, e depois

Diretoria de Estatística Comercial) passa a divulgar dados estatísticos detalhados sobre o

movimento comercial realizado pelos portos brasileiros.

Esses dados apresentam, contudo, “uma limitação básica: suas referências não são as

unidades federadas mas, sim, estritamente as alfândegas e postos aduaneiros (órgãos federais)

por onde passavam os gêneros importados e exportados” (QUEIROZ, 2016, p. 348). A

limitação apontada tem a ver com o seguinte fato: devido à situação geográfica do estado,

parte considerável do comércio exterior mato-grossense – tanto de importação como de

exportação – era realizado por meio de portos situados em outros estados, deixando, portanto,

de ser computada nas estatísticas relativas a Mato Grosso. Esse era o caso, principalmente, da

borracha (exportada, em boa parte, pelos portos de Belém e Manaus) e da erva-mate (que,

desde o final da primeira década do século, passa a ser exportada via estado do Paraná). Além

dessa, há ainda outra limitação: as estatísticas captam apenas o comércio exterior, ou seja, não

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há registros do comércio realizado internamente, entre Mato Grosso, por exemplo, e os

estados vizinhos.

Finalmente, cabe lembrar que, em um estado fronteiriço como Mato Grosso, o

comércio ilícito (contrabando) era amplamente praticado (cf., p. ex., CORRÊA, 1980).

Entretanto, tendo em vista a carência de dados fornecidos pelo governo estadual,

conclui-se que, “mesmo com todas as suas imperfeições, as estatísticas federais são úteis para

que se tenha ao menos um vislumbre do comércio exterior de Mato Grosso” (QUEIROZ, 2016,

p. 349).

No período analisado, os postos de arrecadação federal existentes em Mato Grosso

eram Corumbá, Porto Murtinho, Cuiabá (apenas importação), Nhuverá (apenas exportação),

Bela Vista (que apresentou movimento apenas no ano de 1910) e Porto Esperança (que

começou a operar em 1911).

Dos produtos que chegavam a tais postos aduaneiros mato-grossenses encontravam-

se desde artigos alimentícios básicos a artigos de luxo. Como já foi mencionado, apesar do

crescente movimento comercial que se instaurou com o acesso à via platina, foi somente na

primeira década do século XX que o comércio mato-grossense se tornou mais evidente,

sobretudo o de Corumbá. Momento em que se tem um grande aumento de novos

estabelecimentos comerciais, principalmente as casas comerciais importadoras/exportadoras –

cabendo notar que, por meio de tais casas, os produtos importados eram redistribuídos para o

restante do território do estado.

a) Importação

Para melhor compreender o vultoso volume das importações conforme seus

respectivos portos, analisemos os dados das tabelas 1 a 18, a seguir.

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Tabela 1 – Principais produtos importados por Mato Grosso em 1901 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Volume

Valor

Arame de aço e ferro 128.494 45:080$

Manufaturas não especificadas de ferro e aço 99.070 88:283$

Tecidos de algodão branco, crus, estampados, tintos 26.884 135:908$

Tecidos de algodão não especificado 19.413 100:559$

Manufaturas não especificadas de algodão com ou sem mesclas 23.668 68:183$

Aparelhos científicos e outros, máquinas e acessórios 31.030 91:361$

Utensílios e ferramentas não especificados 33.551 59:112$

Farinha de trigo 890.834 220:991$

Manteiga 11.493 45:443$

Sal bruto 979.400 54:703$

Vinhos 33.753 48:482$

Arroz 295.839 91:210$

Milho 1.329.828 150:118$

Manufaturas não especificadas de alumínio, chumbo, cobre,

estanho, folha de flandres, zinco e níquel

74.017 41:487$

Querosene e outros óleos minerais 181.474 50:800$

Outros ---- 1:291:720$

TOTAL ---- 2.489:163$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 2 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1902 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por produtos

Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 91.842 22:803$ 42.350 10:840$ - - 33:643$

Arroz 192.096 50:904$ 23.232 8:307$ - - 59:211$

Farinha de trigo 854.872 247:037$ 28.260 7:661$ - - 254:698$

Manufaturas não especificadas de ferro e

aço

- 42:459$ - 4:392$ - 712$ 47:563$

Manufaturas não especificadas de cobre,

estanho, folha de flandres, zinco e níquel

- 8:138$

- - - - 8:138$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos

- 219:841$ - 4:413$ - 547$ 224:801$

Manteiga 14.134 47:878$ 75 310$ 1.184 4:581$ 52:769$

Milho 436.363 47:725$ 761.956 77:373$ - - 125:098$

Querosene e outros óleos minerais 224.616 53:488$ 8.264 1:924$ 9.024 2:250$ 57:662$

Sal comum 704.994 35:979$ 237.210 10:680$ 1.265 90$ 46:749$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

26.964 113:461$ - 399$ 439

1:660$ 115:520$

Tecidos de algodão não especificado 27.359 123:414$ 8.642 24:597$ 2 48$ 148:059$

Vinhos não especificados 380.104 187:890$ 12.172 5:982$ 7.355 6:599$ 200:471$

Outros - 966:159$ - 454:187$ - 32:254$ 1.452:600$

Total geral - 2.168:828$ - 611:170$ - 48:741$ 2:828:739$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 3 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1903

(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos

Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 90.500 29:299$ 81.270 26:935$ - - 56:234$

Arroz 205.919 56:327$ 25.291 6:614$ - - 62:941$

Farinha de trigo 1.216.035 584:590$ 37.365 9:086 8.950 1:982$ 595:658$

Manufaturas não especificadas

de ferro e aço

- 28:282$ - 1:757$ - 256$ 30:295$

Máquinas, aparelhos e

pertences, ferramentas e

utensílios diversos.

- 67:713$ - 128:147$ - 78$ 69:386$

Manteiga 6.114 18:395$ 25 84$ 400 1:207 19:686$

Milho 325.643 32:140 716.598 69: 235$ 3.050 489$ 101:864$

Querosene e outros óleos

minerais

312.321 83:332$ 7.215 1:853$ 3.037 973$ 86:158$

Sal comum 1.742.191 109:543 $ 268.750 15:459$ ---- - 125:002$

Tecidos de algodão branco,

crus, estampados e tintos

29.408 108:795$ 136 567$ 1.089 4:164 113:526$

Tecidos de algodão não

especificado

27.750 121:245$ 1.701 2:097$ 436 4:164$ 127:506$

Vinhos em geral - 220:973$ - 8:294$ 5.598 5:910$ 235:177$

Outros - 592:177$ - 47:831$ - 19:958$ 659:966$

Total geral - 2.052:811$ - 191:485$ - 39:737$ 2.284:033

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 4 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1904

(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 183.484 46:746$ 61.351 14:626$ - - 61:72$

Arroz 158.835 47:086$ 26.694 6:421$ - - 53:507$

Farinha de trigo 821.155 203:934$ 61.780 14:004 - - 217:938$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

64.490 54:531$ 10.790 6:175$ - 10$ 60:716$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

85.308 101:515$ 76.321 98:412$ - 188$ 104:471$

Manteiga 2.757 9:582 45 83$ - - 9:665$

Milho 288.578 31:655$ 625.654 62:587$ - - 94:242$

Querosene e outros óleos minerais 227.321 74:911$ 10.257 2:848$ - - 77:759$

Sal comum 2.410.029 156:760$ 281.850 14:637$ - - 171:397$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

31.945 127:752$ 1.204 4:174$ 138 770$ 132:695$

Tecidos de algodão não

especificado

41.190 182:873$ 1.848 5:220$ 53 473$ 188:566$

Vinhos em geral 378.629 248:559$ - 9:773$ 2.152 3:398$ 261:730$

Outros - 1.226:444$ - 59:412$ - 4:839$ 1.290:695$

Total geral - 2.512.348$ - 202:918$ - 37:709$ 2.752:975$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 5 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1905 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 209.675 45:840$ 39.469 8:250$ - - 54:090$

Arroz 291.486 63:971$ 28.668 4:676$ - - 68:647$

Farinha de trigo 1.047.126 196:354$ 26.038 5:843$ - - 202:197$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

66.669 50:748$ 2.028 3:495$ - - 54:243$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

- 277:474$ 13.581 11:962$ - 1:083$ 289:436$

Manteiga 7.647 21:845$ - - - - 21:845$

Milho 358.090 32:724$ 571.933 44:856$ - - 77:580$

Querosene e outros óleos minerais 368.566 85:685$ 5.020 925$ - - 86:610$

Sal comum 1.542.244 115:224$ 160.070 5:805$ - - 121:029

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

22.247 72:024$ 368 1:167$ 125 438$ 73:191$

Tecidos de algodão não

especificado

80.230 269:441$ 447 2:073$ 35 238$ 271:514$

Vinhos em geral 427.654 235:514$ 12.149 6:453 29.638 28:553$ 241:967$

Outros - 1.094:617$ - 95:505$ - 30:213$ 1.220:335$

Total geral - 2.561:461 - 167:789$ - 60:525$ 2.789:775$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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87

Tabela 6 – Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1906

(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 177.060 36:080$ 60.425 14:055$ 12.100 2:6934 52:828$

Arroz 292.367 66:112$ 29.432 6:652$ - - 72:764$

Farinha de trigo 1.092.025 218:061$ 33.563 6:355$ - - 224:416$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

51.031 37:623$ 6.295 4:268$ - - 41:891$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

919.648 514:185$ 15.408 10:889$ - 31$ 525:074$

Manteiga 7.849 23:831$ - - - - 23:831$

Milho 396.359 35:202$ 498.903 39:580$ - - 74:782$

Querosene e outros óleos minerais 285.789 72:312$ 8.391 1:398$ - - 73:710$

Sal comum 1.800.805 99:118$ 289.280 11:277$ - - 110:395$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

27.586 73:035 - - - - 73:035$

Tecidos de algodão não

especificado

40.016 138:578$ - - - - 138:578$

Vinhos em geral 350.404 173:868$ 17.540 8:454$ 7.530 7:491$ 189:813$

Outros - 875:566$ - 67:059$ - 10:215$ 952:840$

Total geral - 2.363:571$ - 169:987$ ---- 18:969$ 2.552:527$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 7: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1907

(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 275.585 79:155$ 76.900 20:243$ 3.951 1:073$ 100:471$

Arroz 182.786 48:231$ 28.328 6:010$ - - 54:241$

Farinha de trigo 1.262.465 285:070 59.720 13:157$ - - 298:227$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

82.630 58:360$ 5.148 5:052$ - - 63:412$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

85.086 117:204$ 13.013 14:606$ 720 563$ 132:373$

Manteiga 17.337 51:121$ - - - - 51:121$

Milho - - 449.780 37:123$ - - 37:123$

Querosene e outros óleos minerais 413.734 108:942$ 12.155 2:932$ - - 111:874$

Sal comum 3.043.241 219:970$ 245.900 11:651$ - - 231:621$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

31.174 91:771$ 384 1:622$ - - 93:393$

Tecidos de algodão não

especificado

91.539 371:096$ 2.394 8:702$ 9 79$ 379:877$

Vinhos em geral 735.275 400:493$ 29.874 15:476$ 23.997 22:856$ 438:825$

Outros - 1.609:860$ - 75:741$ - 26:027$ 1.711:628$

Total geral - 3.441:273$ - 212:315$ - 50:598$ 3.704:186$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 8: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1908 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos

Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 274.668 87:823$ 70.475 20:140$ - - 107:963$

Arroz 126.622 36:171$ 25.326 5:718$ - - 41:889$

Farinha de trigo 1.212.603 263:226$ 65.268 17:854$ 31.250 9:355$ 290:435$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

74.000 72:927$ 9.068 6:580$ 596 288$ 79:795$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

255.937 239:916$ 79.984 69:879$ 19.345 18:789$ 328:584$

Manteiga 5.013 13:903$ 43 133$ - - 14:036$

Milho 559.080 45:904$ - - 45:904$

Querosene e outros óleos minerais 472.243 123:951$ 9.732 2:436$ - - 126:387$

Sal comum 2.125.008 125:540$ 429.500 15:745$ - - 141:285$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

19.438 65:451$ - - 74 553$ 66:004$

Tecidos de algodão não

especificado

61.231 230:567$ 446 1:761$ 7 127$ 232:455$

Vinhos em geral 410.226 229:006$ 29.376 19:370$ 32.458 30:301$ 278:677$

Outros - 2.122:705$ 114:094$ - 27:566$ 2.264:365$

Total geral - 3.611:186$ - 319:614$ - 86:979$ 4.017:779$

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Tabela 9:Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1909

(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 392.785 123:892$ 46.980 15:982$ - - 139:874$

Arroz 227.678 55:211$ 30.445 7:219$ - - 62:430$

Farinha de trigo 2.044.851 442:253$ 123.510 35:912$ - - 478:165$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

53.085 37:980$ 5.151 5:632$ 8.597 6:474$ 50:086$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

249.158 265:882$ 5.819 6:508$ 637.801 53:662$ 326:052$

Manteiga 8.177 25:116$ 288 815$ - - 25:931$

Milho 574.214 63:018$ 681.662 69:026$ - 103$ 132:147$

Querosene e outros óleos minerais 452.011 123:951$ 19.709 4:192$ 400 165$ 128:308$

Sal comum 2.123.730 148:625$ 241.366 11:427$ - - 160:052$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

14.156 44:838$ 155 739$ - 553$ 46:130$

Tecidos de algodão não especificado 26.935 115:289$ 1.676 5:680$ 5.879 14:922$ 135:891$

Vinhos em geral 630.095 229:006$ 39.649 21:579$ 38.105 36:117$ 286:702$

Outros - 4.911:208$ - 105:188$ - 3.135:471$ 8.448:574$

Total geral - 6.586:296$ - 289:899$ - 3.247:467$ 10:123:662$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 10: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1910

(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 534.653 148:580$ 44.160 7:948$ - - 156:528$

Arroz 407.029 89:235$ 52.142 12:477$ - - 101:712$

Farinha de trigo 1.432.696 345:113$ 180.060 49:166$ - - 394:279$

Manufaturas não especificadas de ferro e

aço

- - - - - - -

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

106.256 146:363$ 5.610 8:046$ - - 154:409$

Manteiga 28:633$ - - 784 2:209$ 30:842$

Milho 484.583 53:473$ 303.091 26:246$ - - 79:719$

Querosene 760.595 166.564$ 28.875 6:036$ - - 172:600$

Sal comum 3.141:421 217:852$ 873.500 35:325$ - - 253:177$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

38.093 112:658$ 438 1:109$ 1.213 5:403$ 119:170$

Tecidos de algodão não especificado 73.252 277:676$ 9.401 39:647$ - - 317:323$

Vinhos em geral 1.363:096 469:889$ 79.583 34:361$ 28.402 30:013$ 534:263$

Outros - 3.696:848$ - 105:798$ - 667:109$ 4.469:755$

Total geral - 5.752:884$ - 326.159$ - 704:734$ 6.783:777$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 11: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1911 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Porto Esperança41

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 458.047 125:168$ 169.730 12:845$ 18.000 3:823$ - - 141:836$

Arroz 303.157 74:117$ 53.946 15:299$ - - - - 89:416$

Farinha de trigo 1.964:611 436:422$ 169.872 42:085$ 456 1:165$ - - 479:672$

Manufaturas não especificadas de ferro e aço - - - - - - - - -

Máquinas, aparelhos e pertences, ferramentas

e utensílios diversos.

652.927 818:620$ 2.976 6:932$ - - 43.555 20:592$ 846:144$

Manteiga 8.507 24:414$ - - 2.185 5:290$ - - 29:704$

Milho 365.678 47:242$ 142.675 11:507$ - - - - 58:749$

Querosene 498.944 114:612$ 31.055 6:203$ - - - - 120:815$

Sal comum 2.441:179 200:916$ 770.247 35:430$ - - - 236:346$

Tecidos de algodão branco, crus, estampados

e tintos

38.049 126:897$ 1.962 4:028$ 9.086 28:940$ - - 159:865$

Tecidos de algodão não especificado 81.084 367:736$ 4.532 15:981$ 4.780 25:671$ - - 409:126$

Vinhos em geral 747.682 439:114$ 35.504 24:610$ 29.552 28:402$ - - 492:126$

Outros - 3.850:288$ - 117:166$ 180:183$ - 278:695$ 4.426:332$

Total geral - 6.625:546$ - 292:086$ - 273:474$ - 299:287$ 7.490:393$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

41 Os artigos importados pelo Porto Esperança nos anos de 1911 a 1914 eram artigos manufaturados destinados à construção da ferrovia Noroeste e estruturação do próprio

porto. São eles: trilhos, talas de junção e acessórios para estrada de ferro; aparelhos para eletricidade e iluminação elétrica, locomotivas, prensas de qualquer qualidade.

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Tabela 12: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1912 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Porto Esperança

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 258.691 80:847$ 51.740 14:249$ - - 176.000 42:715$ 137:811$

Arroz 235.932 63:530$ 68.145 23:394$ - - - - 86:924$

Farinha de trigo 1.469:169$ 346:212$ 234.630 49:969$ - - - - 396:181$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

- - - - - - - - -

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

121.306 170:635$ 4.853 4:691$ - - - - 175:326$

Manteiga 6.165 17:662$ - 4.233 11:150$ - - 28:812$

Milho 607.756 66:257$ 62.090 5:781$ - - - - 72:038$

Querosene 622.125 136:167$ 36.357 9:217$ - - - - 145:384$

Sal comum 2.183.265 134:043$ 1.444.505 68:703$ - - - - 202:746$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

14.915 49:797$ 704 2:741$ 2.155 6:573$ - 59:111$

Tecidos de algodão não

especificado

42.950 172:769$ 7.638 35:492$ 1.366 4:353 - - 212:614$

Vinhos em geral 632.944 330:618$ 49.285 31:123$ 26.630 39:004$ - - 400:745$

Outros - 2.322:220$ - 101:858$ - 141:639$ - 301:731$ 2.867:448$

Total geral - 3.890:757$ - 347:218$ - 202:719$ - 345:181$ 4.785:875$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 13: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1913 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Porto Esperança

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 238.936 78:504$ 180.094 50:938$ 5.832 1:238$ - - 130:680$

Arroz 288.605 80:202$ 47.036 13:153$ - - - - 93:355$

Farinha de trigo 1.823.270 473:605$ 223.525 53:788$ - - - - 527:393$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

- - 8.906 15:255$ - - - - 15:255$

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

- 249:404$ - 13:915$ - 32:986$ - - 296:305$

Manteiga 4.724 13:484$ - - 1.528 4:133$ - - 17:617$

Milho 1.047.942 125:498$ - - - - - - 125:109$

Querosene 801.736 193:542$ 39.670 8:478$ - - - - 33:648$

Sal comum 2.995.493 199:109$ --- --- - - - 119:109$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

8.365 28:955$ 507 2:151$ 739 2:542$ - - 33:648$

Tecidos de algodão não

especificado

26.216 97:000$ 2.463 9:595$ 2.707 13.007$ - - 119:602$

Vinhos em geral 718.937 404:454$ 49.003 25:749$ 29.349 26:485$ - - 456:688$

Outros - 2.271:127$ - 190:201$ - 197:157$ - 726:000$ 3.384485$

Total geral - 4.214.884$ - 383:223$ - 277:548$ - 726:004$ 5.601:659$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 14: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1914 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros

Corumbá

Porto Murtinho

Cuiabá

Porto Esperança42

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Arame de aço e ferro 295.459 83:263$ 118.380 23:766$ - - - - 107:029$

Arroz 183.332 50:165$ 76.499 23:061$ - - - - 73:226$

Farinha de trigo 1.558.729 449:253$ 161.930 45:645$ - - - - 494:898$

Manufaturas não especificadas de

ferro e aço

- - - - - - - - -

Máquinas, aparelhos e pertences,

ferramentas e utensílios diversos.

- 180:222$ - 12:435$ 27:468$ - - 220:125$

Manteiga 1.593 6:356$ - - - - - - 6:356$

Milho 688.091 86:211$ - - - - - - 86:211$

Querosene 636.804 162:473$ 51.545 12:127$ 8.850 1:508$ - - 176:108$

Sal comum 2.502.708 190:928$ - - 18.000 1:340$ - 192:268$

Tecidos de algodão branco, crus,

estampados e tintos

8.719 33:153$ 70 219$ 240 778$ - - 34:150$

Tecidos de algodão não especificado 32.586 126:661$ 3.044 11:458$ 3.378 14.938$ - - 153:057$

Vinhos em geral 484.012 281:516$ 41.652 22:834$ 23.153 27:116$ - - 331:466$

Outros - 1:548:267$ - 165:561$ - 123:528$ - 182:923$ 2.020:279$

Total geral - 3.198.468$ - 317:106$ - 196:676$ - 182:923$ 3.712:250$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1914, in http://memoria.org.br.

42 Desse valor, 5:020$ foram de bebidas não especificadas.

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Tabela 15: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1915 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Algodão 14.071 61:222$ 666 2:015$ 276 1:133$ 63:237$

D. Canhamo 2.230 2:737$ 1.972 2:438$ - - 5:175$

Ferro e aço 256.698 113:703$ 29.828 16:188$ - - 29:891$

Lã 485 4:277$ - - - - 4:277$

Linho 1.413 8:166$ 129 906$ - - 9:072$

Madeiras 773 2:400$ 7.180 5:764$ 74 410$ 8:164$

Perfumaria, pintura, tinturaria e outros usos - - 301 254$ - - 254$

Pedras, terras e outros minerais semelhantes 8.918 2:340$ 3 11$ - - 2:351$

Máquinas, aparelhos e acessórios, utensílios e ferramentas 52.368 93:683$ 2.188 3:508$ - - 97:191$

Vários artigos manufaturados 698.574 256:444$ 46.833 20:905$ - - 973$

Bebidas 267.397 147:143$ 26.555 18:658$ 5.615 4:409$ 277:349$

Cereais, farinhas e grãos alimentícios 1.588.404 597:710$ 109.470 40:699$ - - 638:409$

Leite e seus derivados 6.063 15:820$ 351 463$ 3.635 4:314$ 20:597$

Diversos alimentos não especificados 3.358.114 438:384$ 1.729.508 114:987$ 927 1:502$ 554:873$

Forragens 166.611 18:637$ - - - - 18:673$

Outros - 1.830:542$ - 226:796$ - 11:768$ 2.069:106$

Total - 2.154:982$ - 263:318$ - 21:240$ 2.439:540$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 16: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1916 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg/ ou litro)

Gêneros Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Porto Esperança Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Algodão 9.272 54:621$ 351 1:696$ - - 1.390 1:715$ 58:032$

D. Canhamo 4.683 6:157$ 593 724$ - - - - 6:881$

Ferro e aço 162.195 111:393$ 42.474 31:453$ - - 45 42$ 142:888$

Lã 489 11:977$ - - - - - - 11:977$

Linho 681 6:637$ 390 3:388$ - - - - 10:025$

Madeiras 3.879 6:213$ 75 203$ 174 845$ - - 7:261$

Perfumaria, pintura, tinturaria e outros usos 2.149 10:007$ 90 99$ - - - - 10:106$

Pedras, terras e outros minerais semelhantes 3.645 2:234$ 8.772 942$ - - - - 3:176$

Máquinas, aparelhos e acessórios, utensílios e

ferramentas - - 2.233 6:533$ - - - - 6:533$

Vários artigos manufaturados 712.224 324:900$ 38.155 18:072$ 35 288$ - - 343:260$

Bebidas 268.438 204:057$ 10.825 12:545$ 3.777 5:303$ 4.740 2:854$ 221:905

Cereais, farinhas e grãos alimentícios 1.492.446 500:142$ 185.734 64:634$ 72 121$ - - 564:897$

Leite e seus derivados 3.647 9:901$ 59 147$ 1.850 2:698$ - - 12:746$

Diversos alimentos não especificados 3.307.511 559:461$ 1.646.755 124:957$ 18.807 3:433$ 1.049.773 83:545$ 771:396

Forragens 150.368 22:842$ 4.320 734$ - - - - 23:576$

Outros - 562:828$ - 47:067$ - 12:688$ - 88:156$ 710:739$

Total geral

2.359:644$ - 313:194$ - 20:255$ - 97:776$ 2.790:869$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Tabela 17: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1917 (Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

Mercadorias

Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Bela Vista Porto Esperança Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Algodão 7.660 58:084$ 25 264$ 1.841 13:257$ 6 41$ 989 10:634$ 71:646$

D. Canhamo 3.158 52:141$ 761 1:470$ - - - - 2.689 3:212$ 56:823$

Ferro e aço 45.106 37:213$ 9.757 9:887$ 273 378$ 6.328 1:562$ 12.051 8:617$ 57:657$

Lã 15 168$ - - - - - - - - 168$

Linho 128 2:643$ - - - - - - - - 2:643$

Madeiras 4.192 3:757$ 8.010 2:408$

141 258$ 60 270$ 6:693$

Perfumaria, pintura, tinturaria e

outros usos 5.318 8:544$ 90 119$ - - - - - - 8:663$

Pedras, terras e outros minerais

semelhantes 1.456 3:054$ - - - - - - 4.700 939$ 3:993$

Máquinas, aparelhos e acessórios,

utensílios e ferramentas 56.356 76:475$ 17.891 32:576$ 114 322$ 55 34$ 19.736 21:428$ 130:835$

Vários artigos 501.331 280:801$ 23.318 15:773$ 1.985 4:078$ 4.181 543$ 94.715 48:971$ 350:166$

Bebidas 175.954 155:778$ 7.189 7:919$ 1.778 3:866$ - - 7.061 6:249$ 173:812$

Cereais, farinhas e grãos

alimentícios 1.599.947 787:204$ 114.722 43:739$ - - 36.129 11:081$ 44.730 19:850$ 861:874$

Leite e seus derivados 3.401 8:490$ 40 99$ - - - - - - 8:589$

Diversos 2.549.537 434:544$ 1.062.303 106:458$ 167 544$ 140.765 18:320$ 1.567.656 228:432$ 788:298$

Forragens 187.018 33:126$ 300 89$ - - 45 11$ 3.770 515$ 33:741$

Outros - 277:113$ 27:664$ - 25:635$ - 5:164$ - 19:542$ 355:118$

Total geral - 2.219:135 - 248:465$ - 48:080$ - 32:366$ - 368:659$ 2.916:705$

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Tabela 18: Principais produtos importados, segundo os portos mato-grossenses no ano de 1918

(Valor posto a bordo, em mil-réis papel; volume em kg ou litro)

Gêneros Corumbá Porto Murtinho Cuiabá Bela Vista Porto Esperança

Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Algodão 1.878 12:958$ - - - - 1 3$ 140 1:471$ 14:429$

D. Canhamo 101 118$ 1.020 2:495$ - - - - - - 2:613$

Ferro e aço 33.233 38:977$ 9.474 12:192$ 3.460 11:060$ 626 62$ 49.923 38:776$ 24$

Madeiras 1.584 2:113$ 1.037 1:381$ 26 90$ - - 60 225$ 2:454$

Perfumaria, pintura, tinturaria e outros

usos - - 475 983$ - - - - 2.381 7:236$ 101:067$

Pedras, terras e outros minerais

semelhantes - - 2.350 564$ - - 1.200 107$ 274 228$ 882$

Máquinas, aparelhos e acessórios,

utensílios e ferramentas 9.640 19:823$ - - 2.595 5:666$ 131 95$ 3.173 7:101$ 3:809$

Vários artigos 342.429 230:727$ 23.703 24:769$ - - 2.774 275$ 130.971 96:275$ 983$

Bebidas 193.411 120:250$ 9.271 12:194$ 1.475 4:002$ 96 42$ 9.083 6:663$ 3:996$

Cereais, farinhas e grãos alimentícios 1.431.827 614:971$ 199.370 76:150$ - - 39.710 8:268$ 132.608 56:428$ 899$

Leite e seus derivados 678 2:376$ - - - - - - - - 1:142$

Diversos 3.347.954 630:243$ 2.420.117 455:855$ - - 79.204 9:593$ 1.197.152 244:224$ 32:685$

Forragens 81.309 12:409$ 6.845 1:116$ 2.600 395$ 240 59$ - - 2:737$

Outros - 863:957$ - 14:173$ 23:760$ - 4:635$ - 18:336$ 924:861$

Total geral - 1.887:725$ - 615:624$ - 44:973$ - 23:139$ - 476:963$ 3.048:424$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br.

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Procurei, nas tabelas 1 a 18, apresentar os produtos importados que se destacam no

total das importações mato-grossenses. A partir da análise dos dados apresentados, podemos

verificar que o porto corumbaense concentrava a quase totalidade das importações. E o maior

peso das importações até o ano de 1914 se concentrava em produtos de consumo não

duráveis, como arroz, o trigo, o sal, milho, vinho e querosene. As cifras apresentadas

demonstram que, apesar de existir em Mato Grosso a prática agrícola, a qual dedicava-se ao

plantio de arroz, feijão, milho e algumas hortaliças e legumes, é possível perceber que a

quantidade produzida estava bem abaixo da necessidade de consumo dos moradores mato-

grossenses. De acordo com os relatos da época, a baixa produção agrícola mato-grossense

devia-se principalmente aos métodos utilizados no plantio, pois a técnica era totalmente

rústica, utilizando-se somente as queimadas para preparar o solo, assim como machados,

foices, enxadas e o arado a boi para o plantio (MARQUES, 1914, p. 260-268).

O porto de Cuiabá, por sua vez, apresenta o menor volume e valor das importações.

Essa circunstância tem a ver, certamente, com as difíceis condições de navegação do rio

Cuiabá, como já apontado. Além disso, tal fato deve estar ligado ao papel das casas

comerciais importadoras/exportadoras de Corumbá, que exerciam o papel de distribuidoras de

mercadorias para as demais áreas de Mato Grosso. Isto talvez se explique pelo fato de o porto

cuiabano não realizar exportações, sendo que as relações das casas comerciais corumbaenses

com as demais localidades pautavam-se na troca de produtos importados por produtos

destinados à exportação (TARGAS, 2012, p. 80-82). Os valores das importações pelo porto

cuiabano mantêm-se baixos, com exceção do ano de 1909. Pois em 1908, temos um total de

86:079$ (oitenta e seis contos e setenta e nove mil réis), já em 1909 ocorre um salto para

3.247:467$ (três mil duzentos e quarenta e sete contos e quatrocentos e sessenta e sete mil

réis). Tal elevação se explica pela excepcional importação de trilhos, talas de junção e etc.,

que compreenderam o total de 2.145:383$ (dois mil cento e quarenta e cinco contos trezentos

e oitenta e três mil réis) e de locomotivas com o valor de 509:320$ (quinhentos e nove contos

e trezentos e vinte mil réis) (Directoria de Estatística Commercial, 1909, p. XII). O avultado volume de

tais produtos deve estar relacionado à construção de ferrovias industriais (do tipo Decauville,

por exemplo) no interior das grandes usinas de açúcar, pois não havia nenhuma outra ferrovia

sendo construída na região de Cuiabá.

Já Porto Murtinho, apesar dos valores e quantidade dos produtos importados pelo seu

porto serem bem inferiores ao do porto corumbaense, os produtos são basicamente os

mesmos. Além disso, esse porto encontra-se localizado a jusante de Corumbá, assim as

embarcações nacionais e internacionais que se destinavam a Corumbá tocavam naquele porto.

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De acordo com Queiroz, para melhor compreender os modestos valores referentes às

importações em Porto Murtinho, deve-se levar em conta que grande parte da população mato-

grossense se encontrava na região centro-norte, a qual era suprida pelo porto de Corumbá.

Ademais, a posição geográfica de Porto Murtinho o deixava mais suscetível ao contrabando,

devido à existência de povoações dos dois lados da fronteira. E por último, na região atendida

por Porto Murtinho havia o porto paraguaio de Concepción, melhor posicionado para atender

a essa região (QUEIROZ, 2011, p. 18).

A partir de 1915, ocorreu uma significativa mudança dos produtos importados, assim

como se tem uma diminuição das importações – o que tem a ver, certamente, com o início da

Primeira Guerra Mundial e a desorganização por ela trazida ao comércio internacional. Por

outro lado, o arroz, por exemplo, deixa de aparecer nas estatísticas de importação e a partir de

1917 se torna produto de exportação, dando indícios de que a produção interna se tornava

mais consolidada.

b) Exportação

Para melhor compreender como alguns produtos destinados à exportação foram se

tornando de suma importância para a economia mato-grossense, segue adiante um breve

esboço dos principais empreendimentos que atuaram em Mato Grosso no final do século XIX

e início do XX.

Entre os capitais estrangeiros que migraram para Mato Grosso, encontra-se o do

argentino Rafael Del Sar, que adquiriu em 1876 a propriedade denominada Descalvado, que

pertencia ao Major João Carlos Pereira Leite, para montar uma charqueada simples, aos

moldes das que predominavam na região platina. Isso porque o desenvolvimento da pecuária

e a produção da carne e seus derivados no circuito platino proporcionou que as correntes

comerciais dali chegassem a Mato Grosso, região que, devido à “existência de grandes áreas

ainda não ocupadas e propícias para a criação de gado de forma extensiva”, se tornou atrativa

aos investimentos estrangeiros (GARCIA, 2009, p. 85).

A modernização das técnicas de preservação de carne, nas décadas de 1870 e 1880,

através do resfriamento ou congelamento, fez com que os uruguaios Jaime Cibils e seu filho

Jaime Cibils Buxareo, que se dedicavam ao ramo saladeiro (entre outras atividades) em

Montevidéu, desde a primeira metade do século XIX, buscassem novas alternativas para

modernizar sua produção. E como optaram por não usar a técnica de congelamento da carne, e

sim a produção de extrato e caldo de carne, buscaram fornecimento de gado que pudesse

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apresentar as condições ideais, ou seja, gado magro. Então, em 1880 arremataram em um

leilão as terras do já referido Major João Carlos Pereira Leite (GARCIA, 2009, p. 89-91). Junto

com essas terras adquiridas, Jaime Cibils e seu filho também compraram as terras de Rafael

Del Sar, assim

tinham como objetivo não só diversificar e modernizar a produção, mas também a busca alternativa para o fornecimento do gado ser abatido em regiões mais afastadas de Montevidéu, reforçando o tráfico de mercadorias pelo porto da capital uruguaia, naquele momento já sofrendo forte concorrência do porto de Buenos aires, mais moderno e em franco desenvolvimento (GARCIA, 2009, p. 89).

No ano de 1887, a propriedade citada como a mais importante de Mato Grosso era a

de Jaime Cibils, que se localizava na porção central da província, às margens do rio Paraguai,

entre a lagoa de Uberaba e o rio Jauru, com a estimativa de 100 mil cabeças de gado. Outra

propriedade de destaque era a fazenda “dos herdeiros do falecido Major José Caetano

Metello, no São Lourenço, com trinta mil rezes, e a de Antonio Joaquim Malheiros, no baixo

Paraguai, com 18 a 20 mil cabeças para mais ou para menos”, estimando-se a quantia de gado

vacum em toda a Província em torno de 800 mil cabeças (RMT, 01/11/1887, p. 104). E no ano de

1896, estimava-se que o total de bovinos em Mato Grosso estava em torno de 1.500.000

cabeças (RMT, 01/02/1896, p. 7).

Contudo, qualquer surto de doenças que pudessem interferir na produção bovina

causava intensa preocupação. É o caso do mal-de-cadeiras, que “destruiu quase totalmente a

raça cavalar” e “tem no geral, nas fazendas, tornado difícil ou quase impossível o custeio do

gado” (RMT, 03/05/1859, p.33). Como a pecuária era extensiva, a falta de cavalos para o manejo

dos bovinos permitia que se tornassem selvagens, o que, consequentemente, dificultava o

arrebanhamento para o abate. Jaime Cibils Buxareo tomou a frente dos negócios em Mato

Grosso, aproveitou as antigas instalações do saladeiro de Descalvados e, após fazer as

adequações necessárias, instalou sua moderna fábrica. Deste modo, passou a produzir extrato

e caldo de carne, assim como outros derivados (línguas, couros, entre outros); produtos esses

que passaram a constar na pauta das exportações mato-grossenses (GARCIA, 2009, p. 88-95).

Em 1888, Jaime Cibils falece, e mais tarde, em 1895, essa empresa tem sua razão

social alterada, pois passa a pertencer à Compagnie des Produits Cibils, a Anvers. Contudo,

apesar de ser uma empresa belga, Jaime Cibils Buxareo continuou na sociedade e ainda era o

sócio majoritário; uma nova alteração ocorre em 1899, pois Jaime C. Buxareo sai do negócio

e quem assume a direção da empresa é o Banque D’Outre-Mer. No ano de 1906, a

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Compagnie des Produits Cibils tem sua razão social alterada para Societé Industrielle et

Agricole au Brésil. Outros empreendimentos belgas passaram a atuar em Mato Grosso, foram

elas: a Compagnie des Caoutchous du Mato Grosso (1901); Mercado Ballivian & Compagnie

(1895); Sindicate Banque Africaine (1898); La Brésilienne (1901); Compagnie Comerciale et

d’Importateurs Reunis (1900); Compagnie de L’Urucum (1906) (GARCIA, 2009, 94-189). Essas

empresas estavam autorizadas a agir nos ramos da pecuária, extração de minérios e produtos

naturais, construção de estradas e ferrovias, navegação e outros empreendimentos que

pudessem ser úteis aos interesses dos empresários. Para isso, conseguiam concessões de

vastidões de terras.

Com o despontar do século XX, novos investidores estrangeiros chegaram a Mato

Grosso, em especial na porção sul, onde adquiriram porções de terras para estabelecimentos

industriais. Destaco a atuação da Brazil Land, Catle and Packing Co., importante empresa

ligada ao grupo de Percival Farquhar, que se instalou na região da Vacaria, em um total de

160 mil hectares de terra; esses empreendedores investiram no melhoramento da raça bovina

(QUEIROZ, 2004, p. 395-398). Essa mesma empresa comprou as propriedades de Descalvados,

São José e os direitos de exploração da borracha no rio Guaporé, todas pertencentes à Societé

Industrielle et Agricole au Brésil (GARCIA, 2009, 187- 188).

De acordo com Borges, as fazendas de pecuária bovina estiveram nas mãos de

estrangeiros, assim a já mencionada Brazil Land, Catle and Packing Co. possuía diversas

propriedades, sendo a de Cáceres, com 884.231 ha, a de Corumbá, com o total de 763.508 ha,

a de Três Lagoas, com 759.087 ha, e por fim, a menor com 146.379 ha, localizada em Campo

Grande. Outras propriedades por ele listadas são:

The Brazilian Meat Company tinha uma propriedade em Três Lagoas com 311.010 hectares e outra em Aquidauana com 5.000 hectares. A Fomento Argentino Sud-Americano dispôs em Corumbá de 726.077 hectares e a Franco-Brasileira, em Miranda, de 242.456 hectares, e em Corumbá de 172.352 hectares. A The Miranda Estancia Company controlou em Miranda 219.506 hectares. A Sud-Américaine Belge S/A possui em Corumbá 177.060 hectares, a Sociedade Anônima Rio Branco deteve em Corumbá 549.156 hectares e The Água Limpa Syndicate ocupou em Três Lagoas 180.000 hectares (BORGES, 2001, p. 79-80; grifos meus).

De acordo com Lúcia S. Corrêa, os preços do rebanho bovino alteraram-se

consideravelmente nas últimas décadas do século XIX, pois em 1880 uma cabeça de gado

custava 9$000 (nove mil-réis), já em 1890, custava 20$000 (vinte mil réis). Tal aumento, para

a autora, estava associado a “uma etapa de valorização pela demanda da produção de charque

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desenvolvida em Mato Grosso, sobretudo no sul do Estado” (CORRÊA, p. 182-183). Borges, por

sua vez, assinala que foi a partir de 1884 que o charque “proliferou” em Mato Grosso,

alcançando seu “real desenvolvimento” a partir de 1905 (BORGES, 2001, p. 84). A exportação do

charque até 1914 esteve totalmente ligada a órbita platina, contudo, após a inauguração da

NOB, ocorreu a possibilidade de escoar esse produto através da via férrea, e com isso, novas

charqueadas se instalaram próximas da ferrovia Noroeste (QUEIROZ, 2004, p. 411-412).

Os investimentos estrangeiros em Mato Grosso se estenderam à exploração da

borracha, em alta no final do século XIX e início do século XX. A própria Compagnie des

Produits Cibils conseguiu a concessão para explorar borracha no entorno do rio São Miguel,

no Vale do Guaporé; além dessa área também adquiriu de terceiros o direito de exploração no

rio Guaporé, em um trecho que se prolongava desde o Forte do Príncipe da Beira até Guajará-

Mirim. A Compangnie des Caoutchous du Mato Grosso atuava nas imediações de

Diamantino e Rosário do Oeste, além de manter instalações em Barra do Bugres (GARCIA,

2009, p. 169). Outro grupo importante na exploração da borracha mato-grossense foram os

proprietários das casas comerciais importadoras/exportadoras; esses empresários possuíam

grandes extensões de terras, nas quais, em sua maioria, também possuíam consideráveis

rebanhos bovinos, assim como extraíam a borracha.

Cabe mencionar que foram extraídos quatro tipos de borracha: a seringa (Hevea

brasilienses), a caucho (Castiloa elastica), a mangabeira (Hancornia speciosa) e a maniçoba.

A borracha ganha destaque na economia mato-grossense na primeira década do século XX e

chega, no ano de 1909, a contribuir com “mais de 2/3 da receita geral do exercício” para os

cofres mato-grossenses (RMT, 13/05/1910, p 15).

Outra importante fonte de renda da província foi o extrativismo da erva-mate (Ilex

paraguayensis), desde 1878. Mas foi na década de 1890 que essa atividade se consolidou,

chegando a se tornar a atividade que mais gerava lucros no estado de Mato Grosso, mesmo só

recebendo em solo mato-grossense o processo conhecido como “cancheamento” (QUEIROZ,

2015). A exploração da erva-mate foi quase exclusiva da Companhia Mate Laranjeira; essa

companhia dirigia todas as suas operações de importação e exportação. A quase totalidade da

produção era exportada para a Argentina.

A poaia, também conhecida como ipecacuanha, era outro produto extrativista de Mato

Grosso; trata-se de “um tubérculo, de folhas esverdeadas” (REYNALDO, 2000, p. 141). A poaia

era encontrada às margens dos afluentes do Alto Paraguai e destinava-se a fins medicinais. A

extração da ipecacuanha se dava na estação chuvosa, pois era necessário extrair o caule e a

raiz inteiros; mas somente a raiz era comercializada, pois o caule era utilizado para o

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replantio, estando pronto para nova colheita no próximo período chuvoso. O principal

mercado consumidor da ipecacuanha eram os Estados Unidos e a Europa, e a cotação do

produto era regulada pelos mercados consumidores, pois dependia da demanda externa

(GARCIA, 2009, p. 63-64).

Tendo ressaltado as principais fontes econômicas de Mato Grosso, apreciemos os

dados inseridos nas tabelas a seguir, que demonstram os dados de exportação, segundo os

portos mato-grossenses.

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Tabela 19: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1901 (valor em mil-réis)

Gêneros

exportados

Unidade

Corumbá Porto Murtinho Valor

total por

produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 14.271 3:650$ 300 200$ 3:850$

Cinzas de ossos >> 790 33$ - - 33$

Couros secos >> - - 3.214 2:301$ 2:301$

Couros salgados >> 504.673 640:952$ 28.830 39:167$ 680:119$

Crina >> 4.600 7:442$ 3.007 5:321$ 12:763$

Extrato e caldo de

carne

>> 116.066 391:810$ - - 391:810$

Gado vacum Cabeça - - 749 18:725$ 18:725$

Garras ou unhas Quilograma 497 130$ - - 130$

Lã >> 98 91$ 68 76$ 167$

Línguas secas e em

conserva

>> 10.516 29:665$ - - 29:665$

Ossos >> 7.792 228$ - - 228$

Peles de veado >> - - - - -

Peles diversas >> 5 10$ - - 10$

Sola Meio - - - - -

Umbigos Quilograma 1.588 277$ - - 2774

Metais velhos >> 15.575 16:042$ - - 16:042$

Açúcar branco >> 6.000 1:800$ - - 1:800$

Açúcar mascavo >> 42.860 15:405$ - - 15:405$

Borracha

mangabeira

>> 28.864 110:291$ 3.198 10:802$ 121:093$

Borracha seringa >> 211.994 1.270:633$ - - 1.270:633$

Café em grão Saca 2 120$ - - 120$

Folhas, raízes e resinas

medicinais

Quilograma 3.160 500$ - - 500$

Erva-Mate >> - - 4.659.099 4.074:884$ 4.074.884$

Ipecacuanha >> 31.970 698:390$ - - 698:390$

Total - 1.001.321 3.187:469$ 4.698.465 4.151:476$ 7.341:442$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in

http://memoria.org.br

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Tabela 20: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1902 (valor em mil-réis)

Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total

por

produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 7.195 5:294$ - - 5:294$

Couros secos >> 573.305 722:092$ 34.403 45:605$ 767:697$

Couros salgados >> 64.028 47:021$ - - 47:021$

Crina >> 4.990 7:675$ 1.541 2:416$ 10:091$

Extrato e caldo de carne >> 198.188 777:662$ - - 777:662$

Gado vacum Cabeça 54 1:350$ 764 20:035$ 21:385$

Lã >> 184 146$ 478 448$ 594$

Línguas secas e em conserva >> 61.270 14:623$ - - 14:623$

Ossos >> 8.377 779$ - - 779$

Peles de veado >> - - 335 531$ 531$

Peles diversas >> 393 1:150$ 40 440$ 1:590$

Sola Meio 37 238$ - - 238$

Umbigos Quilograma 697 348$ - - 348$

Borracha mangabeira >> 26.043 90:735$ - - 90:735$

Borracha seringa >> 356.578 1.851:856$ - - 1.851:856$

Café em grão Saca 79 4:728$ - - 4:728$

Folhas, raízes e resinas medicinais Quilograma 3.160 500$ - - 500$

Erva-Mate >> - - 3.468.598 3.569:813$ 3.569:813$

Ipecacuanha >> 16.457 390:345$ - - 390:345$

Plantas >>

30$ - - 30$

Postes de madeira >> 200 70$ - - 70$

Sementes >> 1.000 500$ - - 500$

Total - - 3.917:142$ - 3:639:288$ 7.556:430$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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Tabela 21: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1903 (valor em mil-réis)

Gêneros exportados Unidade

Corumbá Porto Murtinho Valor total

por produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 13.058 6:972$ - - 6:972$

Cinzas de ossos >> - - - - -

Couros secos >> 3.072 899:822$ - - 899:822$

Couros salgados >> 683.006 2:511$ 49.278 66:928$ 69:439$

Crina >> 5.807 10:107$ 2.553 4:478$ 14:585$$

Extrato e caldo de carne >> 326.250 339:448$ - - 339:448$

Gado vacum Cabeça - - 493 15:390$ 15:390$

Garras ou unhas Quilograma 70 8$ - - 8$

Lã >> - - 127 132$ 132$

Línguas secas e em conserva >> 10.699 7:479$ - - 7:479$

Peles de veado >> 116 236$ - - 236$

Peles diversas >> 606 2:650$ 77 330$ 2:980$

Borracha mangabeira >> 37.893 99:313$ 400 1:216$ 100:529$

Borracha seringa >> 255.168 1.787:152$ 2.740 17:053$ 1.804:205$

Café em grão Saca 22 660$ - - 660$

Erva-Mate >> - - 4.204.835 3.432:619$ 3.432:619$

Ipecacuanha >> 28.102 335:978$ - - 335:978$

Plantas >>

203$ - - 203$

Pontas de chifres >> 1.611 320$ - - 320$

Sebo >> 480 192$ - - 192$

Aguardente Litro 96 60$ - - 60$

Total - - 3.493:111$ - 3.538:146$ 7.031:257$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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Tabela 22: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1904 (valor em mil-réis)

Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total

por

produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 10.160 4:951$ - - 4:951$

Cinzas de ossos >> - - - - -

Couros secos >> 681.342 950:041$ 71.140 102:229$ 1.052:270$

Couros salgados >> - - 1.067 841$ 841$

Crina >> 7.078 11:368$ 2.987 4:726$ 16:094$

Extrato e caldo de carne >> 217.419 278:634$ - - 278:634$

Gado vacum Cabeça - - 179 6:265$ 6:265$

Garras ou unhas Quilograma - - - - -

Lã >> - - 200 224$ 224$

Línguas secas e em conserva >> 418 917$ - - 917$

Ossos >> 6.000 132$ - - 132$

Peles diversas >> 414 2:870$ 40 300$ 3:170$

Umbigos Quilograma 1.837 338$ - - 338$

Graxa >> 900 360$ - - 360$

Sebo >> 600 120$ - - 120$

Charque >> 46.840 18:736$ - - 18:736$

Borracha mangabeira >> 56.383 131:752$ 1.300 3:065$ 134:817$

Borracha seringa >> 251.396 1.991:695$ 3.800 28:616$ 2.020:311$

Café em grão Saca 6 300$ - - 300$

Fumo em folha Quilograma 18 36$ - - 36$

Erva-Mate >> - - 4.276.383 3.461:203$ 3.461:203$

Ipecacuanha >> 11.479 104:142$ - - 104:142$

Madeira Jacarandá >> 881 40$ - - 40$

Total - - 3.496.432 - 3.607:469$ 7.103:901$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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Tabela 23: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1905 (valor em mil-réis)

Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total por

produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 16.609 9:979$ - - 9:979$

Cerdas Quilograma - - 160 160$ 160$

Couros secos >> 613.778 757:242$ 61.934 77:528$ 834:770$

Couros salgados >> 27.595 17:880$ 9.128 6:180$ 24:060$

Crina >> 8.681 10:556$ 2.848 3:519$ 14:075$

Extrato e caldo de carne >> 63.439 88:205$ - - 88:205$

Gado vacum Cabeça - - 50 1:500$ 1:500$

Lã >> - - 160 157$ 157$

Línguas secas e em conserva >> 2.374 3:842$ - - 3:842$

Peles de veado >> 422 778$ - - 778$

Penas não especificadas Grama 905 3:388$ 35 305$ 3:693$

Umbigos >> 1.021 199$ - - 199$

Charque >> 133.950 63:415$ - - 63:415$

Borracha mangabeira Quilograma 74.733 206:487$ 480 1:200$ 207:687$

Borracha seringa >> 441.787 2.488:001$ 2.761 12:806$ 2.500:807$

Erva-mate >> - - 4.332.556 2.780:145$ 2.780:145$

Ipecacuanha >> 11.419 94:831$ - - 94:831$

Madeiras diversas >> - - 131.638 13:164$ 13:164$

Total - - 3.744:803$ - 2.896:664$ 6.641:467$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in

http://memoria.org.br

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Tabela 24: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1906 (valor em mil-réis)

Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total

por

produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 6.226 3:001$ - - 3:001$

Cerdas Quilograma - - - - -

Couros secos >> 519.852 742:508$ 76.730 105:764$ 848:272$

Couros salgados >> 90.455 72:460$ 517 453$ 72:913$

Crina >> 8.502 10:883$ 2.409 3:004$ 13:887$

Extrato e caldo de carne >> 47.072 71:041$ - - 71:041$

Gado vacum Cabeça - - 1.369 38:120$ 38:120$

Lã >> - - 135 196$ 196$

Línguas secas e em conserva >> 922 965$ - - 965$

Ossos >> 13.802 463$ - - 463$

Peles diversas >> 185 606$ - - 606$

Umbigos >> 1.206 210$ - - 210$

Charque >> 205.236 139:249$ - - 139:249$

Borracha mangabeira Quilograma 81.722 218:545$ 3.901 10:080$ 228:625$

Borracha seringa >> 217.353 1.367:448$ 653 4:886$ 1.372:334$

Erva-mate >> - - 4.472.094 2.705:914$ 2.705:914$

Ipecacuanha >> 8.062 80:860$ - - 80:860$

Madeiras não especificadas >> - - 730.330 73:033$ 73:033$

Total - - 2.708:239$ - 2.941:450$ 5.649:689$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Minist ério da Fazenda – 1900-1918, in

http://memoria.org.br

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Tabela 25: Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1907 (valor em mil-réis)

Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total

por produtos Volume Valor Volume Valor

Cerdas Quilograma - - 950 950$ 950$

Chifres Quilograma 17.010 9:859$ - - 9:859$

Couros secos >> 493.304 639:767$ 47.856 63:551$ 703:318$

Couros salgados >> 125.594 73:598$ 10.600 7;933$ 81:531$

Crina >> 8.315 12:151$ 2.165 3:158$ 15:309$

Gado vacum Cabeça - - 7.021 153:441$ 153:441$

Graxa Quilograma 30.327 21:020$ - - 21:020$

Lã >> - - 249 292$ 292$

Línguas secas e em conserva >> 1.338 1:638$ - - 1:638$

Peles de veado >> 500 1:100$ - - 1:100$

Peles diversas >> 1.147 3:170$ - - 3:170$

Grude ou cola >> - - 220 429$ 429$

Sola Meio 314 3:422$ - - 3:422$

Charque >> 242.608 123:257$ - - 123:257$

Borracha mangabeira Quilograma 75.800 231:458$ 815 2:297$ 233:755$

Borracha seringa >> 392.594 2.490:222$ - - 2.490:222$

Café em grão Saca 1 50$ - - 50$

Algodão em rama Quilograma 397 397$ - - 397$

Erva-Mate >> - - 5.655.321 3.578:420$ 3.578:420$

Ipecacuanha >> 9.887 139:624$ - - 139:624$

Metais velhos - Outros metais Quilograma 1.000 765$ - - 765$

Objetos indígenas >> 215 566$ - - 566$

Total - - 3.752:064$ - 3.810:471$ 7.562:535$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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Tabela 26 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1908 (valor em mil-réis)

Gêneros exportados Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total

por produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 29.637 13:828$ - - 13:828$

Couros secos >> 530.187 584:391$ 53.007 55:281$ 639:672$

Couros salgados >> 83.313 47:580$ 10.765 6:083$ 53:663$

Crina >> 8.554 11:611$ 2.863 3:704$ 15:315$

Extrato e caldo de carne >> 38.758 121:828$ - - 121:828$

Lã >> - - 475 428$ 428$

Línguas secas e em conserva >> 7.147 17:193$ - - 17:193$

Ossos >> 11.640 221$ - - 221$

Peles de veado >> 170 498$ - - 498$

Peles diversas >> 535 1:850$ 1.394 3:000$ 4:850$

Penas de ema Gramas 16.000 11:432$ - - 11:432$

Penas não especificadas >> 206.000 2:178$ - - 2:178$

Sebo Quilograma 87.954 13:856$ - - 13:856$

Charque >> 452.478 226:598$ - - 226:598$

Manganês Quilograma 2 47$ - - 47$

Pedras comuns não especificadas >> 496 56$ - - 56$

Borracha mangabeira Quilograma 80.337 236:318$ 646 1:981$ 238:299$

Borracha seringa >> 536.746 3.166:849$ 780 2:750$ 3.169:599$

Fumo em palha Quilograma 622 335$ - - 335$

Erva-mate >> - - 5.468.061 3.510:492$ 3.510:492$

Ipecacuanha >> 14.718 141:892$ - - 141:892$

Cinzas de ossos >> 698 13$ - - 13$

Total - - 4.598.574 - 3.583:719$ 8.182:293$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in

http://memoria.org.br

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114

Tabela 27 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1909 (valor em mil-réis)

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Valor total

por produtos Volume Valor Volume Valor

Cerdas Quilograma - - 1.222 1:222$ 1:222$

Chifres >> 45.270 21:412$ 3.000 1:410$ 22:822$

Couros secos >> 550.987 634:225$ 76.045 87:126$ 721:351$

Couros salgados >> 59.245 42:242$ 78.301 55:858$ 98:100$

Crina >> 13.687 19:716$ 3.222 4:578$ 24:294$

Extrato e caldo de carne >> 38.742 119:403$ - - 119:403$

Lã >> - - 70 61$ 61$

$Línguas secas e em conserva >> 5.117 11:559$ 606 1:397$ 12:956$

Ossos >> 21.000 420$

- 420$

Peles diversas >> 2.307 3:982$ 36 100$ 4:082$

Penas de ema Gramas 45.000 500$ - - 500$

Penas de garça >> 52.845 53:456$ - - 53:456$

Penas não especificadas >> 80.000 746$ - - 746$

Sebo Quilograma 69.046 20:902$ 10.783 3:774$ 24:676$

Umbigos >> 1.062 113$ - - 113$

Charque >> 604.844 289:627$ 32.730 19:638$ 309:265$

Pedras comuns não especificadas >> 46 160$ - - 160$

Borracha mangabeira Quilograma 86.168 369:213$ 600 2:637$ 371:850$

Borracha seringa >> 670.020 6.769:492$ 3.300 18:7214 6.788:213$

Café em grão Saca 2 100$ - - 100$

Erva-mate >> - - 3.944.401 2.562:533$ 2.562:533$

Ipecacuanha >> 6.230 59:656$ - - 59:656$

Madeiras não especificadas >> - - 170.000 17:000$ 17:000$

Plantas >> - 200$ - - 200$

Total - - 8.417:124$ - 2.776:055$ 11.193:179$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in

http://memoria.org.br

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Tabela 28 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1910 (valor em mil-réis)

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Bela Vista Nhu Verá- Total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Cerdas Quilograma 1.350 1:350$ - - - - - - 1:350$

Animais vivos não

especificados - - - - 7:525$

- - - -

7:525$

Chifres Quilograma 17.621 5:002$ 7.820 2:254$ - - - - 7:256$

Couros salgados >> 63.556 44:720$ 135.278 94:466$ - - - - 139:186$

Couros secos >> 844.775 833:066$ 219.540 251:996$ - - - - 1.085:062$

Crina >> 12.725 11:276$ 10.971 11:308$ - - - - 22:584$

Extrato e caldo de carne >> 111.753 150:482$ - - - - - - 150:482$

Lã >> - - 929 924$ - - - - 924$

Línguas secas e salgadas >> 3.312 8:174$ - - - - - - 8:174$

Ossos >> 18.893 869$ 3.556 164$ - - - - 1:033$

Peles de veado >> 82 205$ 39 128$ - - - - 333$

Peles diversas >> 1.775 5:066$ - - - - - - 5:066$

Penas de garça >> 43.150 26:086$ - - - - - - 26:086$

Sebo Quilograma 61.246 23:813$ 56.255 26:665$ - - - - 50:478$

Umbigos >> 750 100$ 1.281 172$ - - - 272$

Charque >> 256.874 124:407$ 205.250 102:443$ - - - - 226:850$

Borracha mangabeira Quilograma 95.387 426:667$ 4.435 17:841$ - - - - 444:508$

Borracha seringa >> 646.426 7.096:023$ 380 2:269$ - - - - 7.098:292$

Erva-mate >> - - 2.270.175 1.354:518$ 6.896 4:470$ 1.345.724 785:441$ 2.144:429$

Ipecacuanha >> 8.400 64:700$ - - - - - - 64:700$

Paina >> 238 150$ - - - - - - 150$

Outras espécies >>

12:966$ - - - - - - 12:966$

Total geral - - 8.822:156$ - 1.872:673$ - 4:470$ - 785:441$ 11.484:740$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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Tabela 29 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1911 (valor em mil-réis)

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 8.191 1:904$ 49.021 8:827$ - - 10:731$

Couros de cavalo >> 1.945 2:126$ - - - - 2:126$

Couros salgados >> 71.196 51:831$ 249.115 181:356$ - - 233:187$

Couros secos >> 552.767 757:96$ 144.270 200:550$ - - 957:846$

Crina >> 11.290 10:304$ 7.836 8:021$ - - 18:325$

Extrato e caldo de carne >> 13.405 34:365$ - - - - 34:365$

Línguas secas e salgadas >> 1.314 3:134$ - - - - 3:134$

Ossos >> 10.142 467$ 11.966 610$ - - 1:077$

Peles de veado >> 508 835$ - - - - 835$

Peles diversas >> 3.610 7:645$ - - - - 7:645$

Penas de garça >> 156.100 54:475$ - - - - 54:475$

Sebo Quilograma 41.219 20:733$ 17.455 6:982$ - - 27:715$

Umbigos >> 598 300$ 1.133 226$ - - 526$

Charque >> 84.431 53:107$ - - - - 53:107$

Borracha mangabeira Quilograma 76.326 224:681$ 1.837 5:419$ - - 230:100$

Borracha seringa >> 649.635 4.665:860$ - - - - 4.665:860$

Erva-mate >> - - 1.912.177 1.047:869$ 957.994 524:981$ 1.572:850$

Ipecacuanha >> 7.391 60:989$ - - - - 60:989$

Madeiras não especificadas >> - - 303.817 6:076$ - - 6:076$

Outras espécies >> - 540$ - - - - 540$

Total geral - - 5.950:592$ - 1.465:936$ - 524:981$ 7.941:509$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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117

Tabela 30 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1912 (valor em mil-réis

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total geral

por produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma 2.850 566$ 34.837 7:122$ - - 7:688$

Couros de cavalo >> 138 123$ - - - -

123$

Couros salgados >> - - 430.500 291:879$ - -

291:879$

Couros secos >> 223.723 276:833$ 213.185 303:550$ - - 580:383$

Crina >> 4.580 4:261$ 12.888 14:562$ - -

18:823$

Extrato e caldo de carne >> 835 2:228$ - - - -

2:228$

Gado vacum Cabeça - - 220 9:900$ - - 9:900$

Lã >> - - 402 347$ - -

347$

Peles diversas >> 391 906$ 53 410$ - -

1:316$

Penas de garça >> 15.900 7:250$ - - - - 7:250$

Umbigos >> 100 64$ 1.717 200$ - -

264$

Borracha mangabeira Quilograma 14.792 35:251$ 9.951 28:774$ - -

64:025$

Borracha seringa >> 276.784 1.860:232$ - - - - 1.860:232$

Erva-mate >> - - 650.678 357:761$ 577.136 339:811$

697:572$

Ipecacuanha >> 5.161 46:273$ - - - -

46:273$

Madeiras não especificadas >> - - 923.000 18:460$ - - 18:460$

Total geral - - 2.233:987$ - 1.032:965$ - 339:811$ 3.266:952$

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118

Tabela 31- Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1913 (valor em mil-réis)

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Cerdas Quilograma - - 1.032 929$ - -

929$

Chifres >> - - 5.322 1:192$ - -

1.192$

Cinzas de ossos >> - - 24.990 550$ - - 550$

Couros salgados >> 58.719 44:160$ 649.918 440:645$ - -

484:805$

Couros secos >> 636.102 939:949$ 165.554 279:153$ - -

1.219:102$

Crina >> 13.618 13:546$ 6.460 6:114$ - - 19:660$

Lã >> - - 602 563$ - -

563$

Línguas secas e salgadas >> - - 2.292 6:413$ - -

6:413$

Peles diversas >> 920 2:877$ 40 150$ - - 3:027$

Penas de garça >> 185.749 44:324$ - - - -

44:324$

Umbigos >> - - 1.717 745$ - -

745$

Borracha mangabeira Quilograma 38.321 72:576$ 3.291 5:696$ - - 78:272$

Borracha seringa >> 540.635 2.959:527$ - - - -

2.959:527$

Erva-mate >> - - - - 726.600 444:679$

444:679$

Ipecacuanha >> 16.484 114:537$ - - - - 114:537$

Madeiras não especificadas >> - - 1.081.000 21:620$ - -

21:620$

Total geral - - 4.191:496$ - 763:770$ - 444:679$ 5.399:945$

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Tabela 32 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo as estações aduaneiras de origem em 1914 (valor em mil-réis)

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

Gêneros Unidade

Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por

produtos

Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Aparas de couro Quilograma - - 3.519 387$ - - 387$

Chifres >> 8.806 1:920$ 27.994 6:102$ - - 8:022$

Couros salgados >> 109.583 63:558$ 800.127 454:901$ - - 518:459$

Couros secos >> 646.015 1.079:291$ 135.978 227:182$ - - 1.306:473$

Crina >> 25.901 25:333$ 10.670 9:893$ - - 35:226$

Garras ou unhas >> - - 5.317 484$ - - 484$

Lã >> 70 63$ 401 364$ - - 427$

Ossos >> 17.588 756$ 48.911 2:102$ - - 2:858$

Peles diversas >> 2.871 5:773$ 157 446$ - - 6:219$

Penas de garça >> 84.568 24:714$ - - - - 24:714$

Penas não especificadas >> 8.560 800$ - - - - 800$

Sebo >> 44.869 22:569$ 124.955 62:852$ - - 85:421$

Umbigos >> 1.804 180$ 2.568 388$ - - 568$

Borracha mangabeira >> 5.415 8:275$ - - - - 8:275$

Borracha seringa >> 489.409 1.476:089$ - - - - 1.476:089$

Fibras vegetais >> 25 30$ - - - - 30$

Erva-mate >> - - 56.774 34:746$ 660.800 404:411$ 439:157$

Ipecacuanha >> 23.017 208:798$ - - - - 208:798$

Paina >> 31 22$ - - - - 22$

Madeiras não especificadas >> - - 248.700 12:526$ - - 12:526$

Objetos indígenas >> 13 100$ - - - - 100$

Moedas de prata >> - 1:200$ - - - - 1:200$

Total geral >> - 2.919:471$ - 812:373$ - 404:411$ 4.136:255$

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Tabela 33 - Gêneros exportados por Mato Grosso segundo as estações aduaneiras de origem em 1915 (valor em mil-réis)

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Nhu-Verá Total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Cêra de abelhas >> 373 732$ - - - - 732$

Couros salgados >> 65.061 82:266$ 832.013 829:344$ - -

911:610$

Couros secos >> 868.283 1.295:667$ 210.219 306:671$ - -

1.602:338$

Crina >> 17.324 17:007$ 9.680 9:240$ - - 26:247$

Lã >> 909 1:232$ 627 794$ - -

2:026$

Peles não especificadas >> 2.583 6:436$ 484 1:063$ - -

7:499$

Penas de garça >> 52.060 23:615$ - - - - 23:615$

Metais velhos Quilograma 5.416 1:451$ - - - -

1:451$

Borracha mangabeira Quilograma 3.240 5:081$ 802 785$ - -

5:866$

Borracha seringa >> 637.190 2.122:583$ - - - - 2.122:583$

Erva-Mate >> - - - - 22.400 15:770$

15:770$

Ipecacuanha >> 37.732 426:726$ - - - -

426:726$

Madeiras não especificadas >> - - 45.000 900$ - - 900$

Total geral - - 3.982:796$ - 1.148:797$

-

15:770$

5.147:363$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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Tabela 34 - Gêneros exportados por Mato Grosso segundo os portos de origem em 1916 (valor em mil-réis)

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Total por

produtos Volume Valor Volume Valor

Chifres Quilograma - - 69.522 14:408$ 14:408$

Charque >> 226.631 303:862$ 446.160 584:564$ 888:426$

Couros salgados >> 550.650 665:049$ 1.053.775 1.163:214$ 1.828:263$

Couros secos >> 882.762 1.428:602$ 127.599 203:997$ 1.632:599$

Crina >> 19.012 19:699$ 13.598 14:669$ 34:368$

Lã >> 667 945$ - - 945$

Línguas secas e salgadas >> - - 680 1:553$ 1:553$

Ossos >> - - 8.050 298$ 298$

Peles não especificadas >> 3.442 8:089$ 123 743$ 8:832$

Penas de garça >> 30.102 82:8204 - - 82:820$

Sebo >> 80.524 46:387$ - - 46:387$

Umbigos >> - - 3.838 728$ 728$

Borracha mangabeira >> 13.062 26:457$ - - 26:457$

Borracha seringa >> 443.902 1.914:856$ - - 1.914:856$

Carvão vegetal >> - - 27.000 540$ 540$

Erva-mate >> 996 634$ - - 634$

Ipecacuanha >> 58.499 1.105:721$ - - 1.105:721$

Folhas, raízes e resinas medicinais >> - - 4.500 225$ 225$

Madeiras não especificadas >> 18.000 1:800$ 1.174.163 24:319$ 26:119$

Madeiras preparadas >> - - 84.140 3:197$ 3:197$

Total geral >> - 5.604:921$ - 2.012:455$ 7.617:376$

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Tabela 35 - Gêneros exportados por Mato Grosso segundo os portos de origem em 1917 (valor em mil-réis)

Gêneros Unidade Corumbá Porto Murtinho Porto Esperança Total por

produtos Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Banha Quilograma 593 930$ - - - -

930$

Chifres >> 10.818 2:637$ 34.705 8:788$ - -

11:425$

Charque >> 430.552 574:594$ 135.241 182:576$ 181.300 243:870$ 757:170$

Couros salgados >> 659.589 1.000:163$ 606.846 850:328$ 296.369 430:050$

1.850:491$

Couros secos >> 848.651 1.684:426$ 199.659 386:830$ 9.600 18:343$

2.071:256$

Manufaturas, não especificadas >> - - 216 194$ - - 194$

Crina >> 20.485 23:629$ 4.673 5:276$ 1.460 1:647$

28:905$

Lã >> 933 3:369$ 439 1:611$ - -

4:980$

Línguas secas e salgadas >> 130 206$ - - - - 206$

Ossos >> - - 14.263 2:314$ - -

2:314$

Peles não especificadas >> 812 3:210$ 743 1:644$ - -

4:854$

Penas de garça >> 30.300 91:083$ - - - - 91:083$

Sabão >> 440 381$ - - - -

381$

Sebo Quilograma 464.800 314:553$ 204.936 123:764$ 12.400 7:031$

438:317$

Umbigos >> 558 112$ 1.144 469$ - - 581$

Velas >> 10 30$ - - - -

30$

Óleos minerais Quilograma 30 54$ - - - -

54$

Pólvora >> 19 200$ - - - - 200$

Sal comum >> 1.200 270$ - - - -

270$

Tecidos de algodão >> 13 112$ - - - -

112$

Manufaturas (algodão), não

especificadas >> 129 1:570$ - -

- -

1.570$

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123

Arroz >> 11.973 5:793$ - - - - 5.793$

Açúcar >> 2.790 2:890$ - - - -

2.890$

Açúcar mascavo >> - - 108 108$ - -

108$

Borracha mangabeira >> 23.406 54608$ 313 764$ - - 55.372$

Borracha seringa >> 501.161 2.339:671$ 970 5:122$ - -

2.344:793$

Café em grão Saca 129 5:624$ - - - -

5:624$

Cebolas Quilograma 180 120$ - - - - 120$

Cerveja Garrafa 1.440 1:080$ - - - -

1:080$

Farinhas, féculas e

semelhantes, não especificadas Quilograma 3.250 2:000$ - -

- -

2:000$

Guaraná >> 2 22$ - - - -

22$

Ipecacuanha >> 46.088 902:208$ - - - - 902:208$

Carvão vegetal >> - - 2.180 310$ - -

310$

Madeiras não especificadas >> 11 60$ 908.153 44:365$ - -

44:425$

Frutas e frutos de mesa Cento 388 2:334$ - - - - 2:334$

Erva-mate Quilograma 292 210$ - - - -

210$

Medicamentos >> 95 110$ - - - -

110$

Milho >> 5.270 1:148$ - - - - 1:148$

Total geral - - 7.019:407$ - 1.614:463$ - 700:941$ 9.334:811$

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

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124

Tabela 36 - Gêneros exportados por Mato Grosso, segundo os portos de origem em 1918 (valor em mil-réis)

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda – 1900-1918, in http://memoria.org.br

Gêneros

Unidade

Corumbá Porto Murtinho Porto Esperança Total

geral por

produtos

Volume Valor Volume Valor Volume Valor

Charque Quilograma 207.699 242:579$ 43.520 50:918$ 208.934 334:131 293:497$

Chifres Quilograma 840 202$ 15.000 3:870$ 4:072$

Couros salgados >> 509.090 872:078$ 708.645 1.141:393$ 651.127 1.089:889$ 2.013:471$

Couros secos >> 570.827 1.187:839$ 169.798 355:034$ 9.600 27:656$ 1.542:873$

Crina >> 13.776 15:781$ 8.631 9:698$ - - 25:479$

Lã >> 821 3:213$ 3.245 14:716$ - - 17:929$

Línguas secas e salgadas >> - - - - 1.887 3:970$ 3:970$

Peles não especificadas >> 2.530 12;547$ 167 765$ - - 13:312$

Penas de garça >> 9.190 9:200$ - - - - 9:200$

Sebo >> 44.780 36:585$ - - - - 36:585$

Sementes >> - - - - 12.480 7:643$ 7:643$

Umbigos >> 460 40$ 1.645 667$ - - 707$

Arroz Quilograma 56.375 44:847$ - - - - 44:847$

Borracha mangabeira Quilograma 4.040 9:075$ 114 248$ - - 9.323$

Borracha seringa >> 268.058 1.197:100$ 228 1:098$ - - 1.198:198$

Café em grão Saca 280 13:860$ 1 65$ 133 5:376$ 19:301$

Ipecacuanha >> 37.049 716:110$ - - - - 716:110$

Madeiras não especificadas >> - - 6.560 249$ - - 249$

Frutos para extração de óleos, não especificados >> 31.200 5:306$ - - - - 5:306$

Medicamentos >> 671 14:936$ - - - - 14:936$

Mandioca >> - - - - 675 300$ 300$

Total >> - 4.381:298$ - 1.578:721$ - 1.482:704$ 7.442:723$

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125

A partir dos dados apreciados nas tabelas 19 a 36, é possível ter uma visão geral do

comércio exportador de Mato Grosso, nas duas primeiras décadas do século XX. Cabe aqui

relembrar as limitações dos dados utilizados – notando especialmente que a borracha extraída

no Norte de Mato Grosso era escoada pelos portos amazônicos, ou seja, do Pará e Amazonas,

de modo que a produção mato-grossense figura nas estatísticas como pertencente àqueles

estados.

A importância crescente da exploração da borracha na porção norte de Mato Grosso

levou à criação, por parte do governo do estado de Mato Grosso, em 1906, da Delegacia

Fiscal do Norte, órgão responsável pela coleta de impostos e que ficou sediado em Manaus.

Como os limites com o Pará e Amazonas não estavam totalmente definidos, a coleta de

impostos da borracha explorada na porção norte passava pelas agências e postos fiscais, esses,

por sua vez, localizados em vários pontos estratégicos de exploração e escoação da borracha,

que emitiam a guia referente à produção, mas os impostos sobre os produtos eram pagos nas

Recebedorias de Rendas dos Estados do Pará e do Amazonas. Para tal serviço, o estado de

Mato Grosso pagava aos empregados do fisco paraense uma gratificação de 5% sobre o valor

recolhido (RMT, 13/05/1912, p. 53-55).

Isto posto, os dados sobre a borracha representados nas tabelas 19 a 36, demonstram

somente a produção “extraída das margens do Paraguai e seus afluentes das cabeceiras do

Tapajós (Arinos, Juruena e Paranatinga) e do Alto Guaporé” (RMT, 13/05/1914, p. 8). Além

disso, a cotação da borracha que saía pelos portos do sul de Mato Grosso era menor em

comparação com a do norte, pois as técnicas empregadas na coagulação eram diferentes. A

borracha que saía por Corumbá, e em menor escala por Porto Murtinho, era coagulada com a

utilização do alúmen, enquanto que a seringa do vale do Amazonas era defumada, além de

passar “pelo processo de beneficiamento, classificação e encaixotamento antes de ser

despachada para a Europa” (RMT, 13/05/1913, p. 68). A renda sob os cuidados da Delegacia

Fiscal do Norte era bem superior àquelas que ficavam sob fiscalização da Alfândega de

Corumbá e do posto aduaneiro de Porto Murtinho, revelando a importância desse produto

para a economia de Mato Grosso43. Além disso, verifica-se que, enquanto o látex exportado

pelo Prata diminuía a partir de 1912, a exportação da Amazônia mato-grossense aumentava. A

exportação da borracha por Porto Murtinho é quase irrisória, embora saíssem por ali tanto a

43 De acordo com os relatórios da Delegacia Fiscal do Norte, a produção na porção norte foi a seguinte: em 1908

de 1.560.941 kg; em 1909 de 1.229.582 kg; em 1910 de 1.545.521 kg ; em 1911 de 1.593.167 kg; em 1912 de

2.705.611 kg; em 1913 de 2.635.004 kg; em 1914 de 3.139.187 kg.

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borracha mangabeira44 como a seringa. Como uma possível explicação para a exportação da

seringa por esse porto, encontra-se a ideia de que talvez “essa borracha fosse proveniente de

seringais pertencentes a cidadãos ou empresas estabelecidas em Murtinho (e que tinham, por

isso, interesse em fortalecer o respectivo posto aduaneiro)” (QUEIROZ, 2016, p. 356).

O posto aduaneiro de Porto Murtinho se destaca na exportação da erva-mate, o que

não é de se estranhar, visto que uma das finalidades, quando da fundação da localidade de

Porto Murtinho, era justamente escoar a erva-mate. E de acordo com os dados estatísticos,

esse porto foi o único pelo qual a erva-mate sul-mato-grossense saiu até o ano de 1909. Já em

1910, entram em cena dois novos postos aduaneiros, os de Nhu-Verá e Bela Vista (essa

última aduana só aparece no ano de 1910 e somente com a exportação da erva-mate). A erva-

mate foi o único item que apareceu nos registros de Nhu-verá nos anos de 1910 a 1915. O

volume da escoação da erva-mate por Porto Murtinho a partir de 1910 sofre decréscimo até

deixar de aparecer na pauta das exportações a partir de 1915 (cabe ressaltar que em 1913 não

houve registro desse produto, e no ano de 1914 ficou abaixo de quarenta contos de réis).

Contudo, a economia ervateira em Mato Grosso continuava de vento em popa, o que ocorreu

foi uma mudança na rota de exportação, pois essa deixa o rio Paraguai para ser transportada

pelo rio Paraná e seus afluentes localizados em Mato Grosso (QUEIROZ, 2016, p. 346-347).

A ipecacuanha se mantém na pauta das exportações em todo o período aqui abordado,

e no ano de 1901 foi o segundo item com maior valor exportado. Nos anos seguintes,

entretanto, apresenta uma queda que se prolonga até 1915, momento em que volta a

apresentar valores significativos.

Dos produtos derivados da pecuária, os que mais se destacaram na economia mato-

grossense entre os anos de 1901 e 1918 foram os couros secos e salgados, produtos de

aceitação internacional, sendo os principais importadores a França e os Estados Unidos. Os

couros secos ocuparam posição de destaque no ranking das exportações mato-grossenses,

principalmente pelo porto de Corumbá. No ano de 1901, os couros salgados se destacam,

contudo, a partir do ano seguinte seus valores caem abaixo de cem contos de réis e

permanecem assim até 1909. E a partir de 1910, a exportação dos couros salgados passa a

apresentar uma modesta elevação, chegando a se equiparar aos couros secos a partir de 1916.

E foi na pauta das exportações de Porto Murtinho e Porto Esperança que esse produto se

sobressaiu.

44 A mangabeira, árvore da qual se extraía um látex semelhante ao da seringueira, é uma espécie típica dos

cerrados brasileiros, formação vegetal que cobria quase toda a porção centro -sul do antigo Mato Grosso.

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Entre os anos de 1901 e 1912, o caldo e o extrato de carne também estiveram

presentes entre os itens de exportação mato-grossense. No entanto, sua importância maior se

deu entre 1901 a 1904. Nos registros de exportação mato-grossenses, o charque, por sua vez,

aparece de forma acanhada em 1904, contudo deixou de constar entre os anos de 1911 a 1915,

voltando depois com valores expressivos. E de acordo com os dados apresentados por

Queiroz, continua de forma ininterrupta até 1943 (QUEIROZ, 2004, p. 396-397).

Outros itens derivados de animais domesticados e silvestres integraram as

exportações, como os chifres, a crina, as línguas secas e salgadas, ossos, umbigos, peles e

penas silvestres, lã e cerdas. Isolados, não representam grande importância, mas se somados

os valores dos respectivos produtos, chegam a apresentar uma modesta contribuição para os

cofres públicos.

Apesar de os dados apresentados nas tabelas de importação e exportação oferecerem

limitações, isso não torna inválido o conhecimento sobre os produtos importados e exportados

por Mato Grosso. Além disso, como já foi mencionado, não se deve ignorar o comércio

ilícito, que foi ativamente praticado em toda a área de fronteira; dessa maneira, os valores

apresentados pelos órgãos públicos não representam a real produção de Mato Grosso,

principalmente da borracha, produto que era explorado do lado brasileiro e boliviano. Assunto

que é melhor abordado no capítulo 4.

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CAPÍTULO III

As casas comerciais importadoras e exportadoras de Mato Grosso

(1890-1914)

Las relaciones personales siguen siendo básicas en este negocio, tanto para eligir a los sócios como a los agentes en otras plazas y a los empleados. Por eso mismo, disponer de una red lo más amplia posible de clientes y corresponsales era uno de los activos más valiosos para las empresas

(Jesus María Valdaliso y Santiago López).

Na virada do século XIX para o XX, atuaram em Mato Grosso as casas comerciais

importadoras e exportadoras que contribuíram ativamente para sua dinâmica econômica e

social, uma vez que “as empresas são parte da sociedade e não se pode estudá-las sem levar

em conta as articulações recíprocas entre as relações sociais e as práticas empresarias” (LEVY,

1994, p. 27).

O presente capítulo busca fazer uma explanação sobre a existência, composição e

atuação das casas comerciais importadoras e exportadoras mato-grossenses, segundo as

cidades em que estavam localizadas.

Convém notar que as empresas de Corumbá já foram objeto de minha Dissertação de

Mestrado, intitulada As casas comerciais importadoras/exportadoras de Corumbá (1904-

1915). Assim sendo, para evitar repetições no interior desta tese, decidi colocar em Anexo o

capítulo da dissertação que trata das especificidades das casas corumbaenses.

Vale ressaltar que as atividades das casas comerciais iam além da importação e

exportação, pois dedicavam-se também ao extrativismo vegetal, à pecuária e seus derivados, à

navegação, à comissão45, à consignação, à representação de bancos nacionais e estrangeiros,

assim como despachos de mercadorias e seguros marítimos. Além disso, as casas aqui

analisadas apresentam dois tipos de sócios: os capitalistas e os de indústria. O sócio

capitalista “é aquele que entra com o capital e sua obrigação é solidária, ou seja, responde

legalmente pela empresa”; já o sócio de indústria, por sua vez, “contribui unicamente com seu

45 Essas empresas aceitavam produtos destinados à exportação na forma conhecida como consignação, ou seja, o

produtor deixava na casa comercial a mercadoria para ser vendida. A casa comercial, por sua vez, quando

realizava a venda dessa mercadoria recebia uma porcentagem sobre seu valor, transação que é chamada de

comissão.

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trabalho, tendo direito a uma participação nos lucros, especificada em contrato, no entanto,

não responde legalmente” pela empresa (TARGAS, 2012, p. 71).

Neste capítulo, uma das fontes mais utilizadas são os anúncios das próprias empresas,

publicados no Album graphico do Estado de Matto-Grosso (1914). A esse respeito, reporto-

me à discussão efetuada na Introdução desta tese, relativa aos problemas e limitações de tal

fonte.

3.1 Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cuiabá

Em Cuiabá existiram diversas casas comerciais importadoras e exportadoras, sendo

que as de maior porte econômico possuíam filiais em outras localidades. A cidade de

Corumbá atraía grande parte dessas filiais, devido à importância de seu porto, já que era ponto

final da navegação internacional em terras mato-grossenses; além disso, a navegação até

Cuiabá não comportava embarcações de maior calado. Dessa forma, grande parte das

mercadorias importadas e exportadas transitavam por esse porto46. E os produtos importados

que ali chegavam eram desembarcados no armazém da Alfândega de Corumbá para depois

serem encaminhados para as outras praças de Mato Grosso. No caso da exportação, os

produtos oriundos de outras localidades mato-grossenses chegavam a Corumbá e tinham

passagem obrigatória pela Mesa de Rendas, para só então serem remetidos ao exterior. Dada a

importância do porto de Corumbá, era interessante do ponto de vista econômico e estratégico

possuir uma sucursal nessa cidade, evitando assim a intermediação das empresas

corumbaenses – uma vez que as casas comerciais de Corumbá exerciam uma forte influência

nas demais empresas desse ramo, localizadas em outras cidades e vilas de Mato Grosso.

As vilas de Diamantino e Rosário do Oeste também tiveram diversas filiais de

empresas com matriz em Cuiabá, Corumbá e São Luiz de Cáceres. O interesse por esses

locais se dava pela exploração da borracha, como apontado no capítulo 1. Sendo assim,

seguem abaixo as casas comerciais das quais tomei conhecimento.

46 A outra parte transitava pelo porto de Santo Antonio do Madeira, através da Delegacia Fiscal do Norte. O

processo de importação e exportação pela Delegacia Fiscal do Norte é trabalhado no capítulo 4, uma vez que as

casas apresentadas no presente capítulo faziam transações comerciais através do porto de Corumbá.

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Almeida & Companhia

Em 1870 surgiu em Cuiabá a Casa Almeida, fundada pelo brasileiro João Baptista de

Almeida Filho, que iniciou suas atividades no antigo 2º Distrito da capital47. Nesse mesmo

período, começou a dedicar-se à exploração e exportação de borracha, sendo um dos pioneiros

nesse ramo em Mato Grosso. Ao longo dos anos, a firma vai se desenvolvendo,

acompanhando a ampliação econômica do próprio estado. Assim, em 1894, a empresa

transfere a sua sede para um prédio mais moderno, na rua 13 de Maio, localizado no 1º

Distrito da capital, ocasião em que aceita como sócio Manoel Xavier Castello. A empresa

passa, então, a girar sob a razão social de Almeida & Castello; entretanto, essa sociedade, por

desventura do destino, não perdurou muito tempo, pois o novo sócio veio a falecer (Album

graphico, 1914, anúncios, p. VII). E como de costume e previamente estabelecido nos contratos

desse tipo de sociedade, quando um sócio falecia se pagavam os direitos aos herdeiros,

encerrando a sociedade.

Após liquidada a parte que cabia aos herdeiros de Manoel Xavier Castello, foi formada

a sociedade Almeida & Companhia, em 1º de setembro de 1895, com a inclusão de Manoel

Pedroso da Silva Rondon, residente em Rosário do Oeste. O capital dessa empresa era

constituído de 200 contos de réis, sendo 150 contos pertencentes a João Baptista e o restante a

Manoel Pedroso. Nessa nova sociedade, além dos sócios capitalistas, havia os sócios de

indústria, sendo eles: José Benedicto Gomes Pedroso, Idelfonso Peixoto de Almeida Pitaluga,

ambos com direito a 7,5% sobre os lucros da empresa, e Amarílio Alves de Almeida (filho de

João Baptista), que contava com 5% dos lucros; os demais 80% dos lucros eram divididos

entre os sócios capitalistas na proporção do capital de cada um (JUCEMAT- Contratos avulsos,

1895).

Em 27 de fevereiro de 1900, o prazo da sociedade é renovado, tendo validade até 31

de dezembro de 1903. Por esse novo contrato ficou estipulado que os lucros verificados no

último balanço, de todos os sócios (capital e indústria), seriam depositados na conta de

suprimentos48 a juros de 5%. Além disso, também ficou esclarecido que o sócio Manoel

Pedroso da Silva Rondon faltava completar “sua cota de capital e adicionar mais 50% para ser

47 Cuiabá nesse período era dividida em dois distritos.

48 Conta de suprimentos é um empréstimo que a empresa contrai com os próprios sócios pagando -lhe uma

porcentagem estabelecida em contrato (http://www.maisvalias.com/2015/01/13/taxa-de-juro-sobre-suprimentos-

e-emprestimos-as-empresas-portaria-n-o-2792014/ ).

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elevado a setenta e cinco contos de réis” (75:000$000), para então conseguir atingir a metade

do capital do sócio João B. de Almeida Filho, que, no caso, corresponde a cento e cinquenta

contos de réis (150:000$000) (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 18). O quadro a seguir

apresenta a divisão dos lucros da sociedade supracitada no ano de 1900:

Quadro 8

Divisão dos lucros líquidos da empresa Almeida & Cia., segundo

a participação de cada sócio, no ano de 1900

Fonte: JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 19.

Vale ressaltar que o funcionário Luis Aureo Pompeo de Barros começa a ter direito

aos lucros apenas a partir do contrato de 1900; já os demais sócios de indústria têm sua

porcentagem sobre os lucros aumentada, assinalando que os negócios estavam em progresso

na virada do século XIX para o XX. Ainda ficou estabelecido que a empresa deveria pagar

mensalmente, ao sócio João B. Almeida Filho, 50 mil réis pelo aluguel de cada prédio

utilizado para o funcionamento das casas comerciais, sendo dois em Cuiabá e um na vila do

Rosário, onde possuíam uma filial (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 19).

O infortúnio do destino, mais uma vez, interfere na composição social da casa

Almeida & Cia., pois foi a óbito o sócio de indústria José Benedito Gomes Pedroso. Assim,

em 2 de abril de 1902, após realizado balanço na empresa, foram pagos os direitos aos

herdeiros do falecido, que no caso eram seus pais (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 62).

Um novo acordo49 foi então redigido, em 19 de abril de 1904. Nesse novo contrato,

dos antigos sócios, apenas pai e filho continuaram na sociedade, sendo admitido um novo

sócio: Antonio Augusto de Azambuja. Mas, agora, Amarilio Alves de Almeida se torna sócio

solidário. Assim, a nova composição social da empresa não tem sócio de indústria, apenas de

49 Apesar de não ter tido acesso a todos os contratos da sociedade, é possível deduzir algumas informações com

base em novos contratos (que faziam menção ao contrato anterior), assim como nos aditivos de contratos.

Sócios Participação nos lucros líquidos

João Baptista de Almeida Filho 46% + 2/3% de 1%

Manoel Pedroso da Silva Rondon 23% +1/3% de 1%

Amarilio Alves de Almeida 9%

Ildefonso Pitaluga 9%

José Benedito Gomes Pedroso 9%

Luis Aureo Pompeo de Barros 3%

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capital. E a divisão dos lucros ficou estipulada em: 66,668% para o sócio João Baptista de

Almeida Filho, e os sócios Amarilio Alves de Almeida e Antonio Augusto de Azambuja

ficaram, cada um, com 16, 666%. Todavia, no dia primeiro de novembro de 1904 foi redigido

um aditivo ao contrato de abril, no qual João Baptista cede 16,666% dos seus direitos ao Dr.

Alberto Novis, que entra para a sociedade como sócio solidário, com o capital de 12 contos de

réis. Dessa maneira, o sócio João Baptista ficou com 50,002% de direito sobre os lucros

(JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 71). João Baptista, em 4 de julho de 1912, através de

um novo aditivo ao contrato de abril de 1904, cede mais 16,666% dos seus direitos ao seu

outro filho, João Botocudo de Almeida, ficando agora com apenas 33,336% dos lucros

líquidos (JUCEMAT - Livro de registros, 1910-1913, p. 102).

Figura 11

Matriz da casa Almeida & Cia. (Cuiabá)

Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. VI

A casa Almeida & Companhia, além da importação e exportação, empregava-se em

outras atividades comerciais, como: a Cervejaria Cuiabana, a Usina Itaicy e terras para a

exploração da borracha e criação de gado vacum. A matriz ficava localizada em Cuiabá,

“ponto convergente de todas as operações” da empresa (Album graphico, 1914, anúncios, p. VII-IX).

A dinâmica de uma casa comercial importadora e exportadora era intensa e sua contabilidade

complexa. De fato,

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la función del sistema de contabilidade de un comerciante era registrar las transacciones que realizaba. Las transacciones reales se anotaban en un libro borrador en el momento en que se ejecutaban; al finalizar el mes estas partidas se pasaban al diário, donde se ponían en el haber las cuentas de las cantidades pagadas o de las mercancías vendidas, y en el debe las mercancías y las cantidades recibidas. Este registro cronológico de las transaciones se transfería, a su vez, a las cuentas apropiadas del libro mayor. El libro mayor se saldaba cerrando en un libro de inventario (VALDALISO; LOPES, 2009, p. 196).

Assim, a gerência da matriz estava a cargo do sócio Amarilio Alves de Almeida e o

escritório central sob a chefia do antigo guarda-livros, Joaquim Frederico de Mattos (Album

graphico, 1914, anúncios, p. VIII). No escritório, ainda trabalhavam Cid Camacho, Clarindo

Camacho, Plinio de Almeida Castello e Lycio Lima. Além desses funcionários, havia os que

trabalhavam no balcão atendendo os clientes, e os funcionários dos outros ramos em que a

empresa atuava (op. cit., p. VII).

Figura 12

Escritório da Casa Almeida & Cia.

Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. VIII

A filial da Casa Almeida & Companhia estava situada na vila do Rosário. Estratégia

interessantíssima para os negócios, pois era uma região importante no que se refere à

exploração e compra da borracha. E segundo informações, o total de terras que estavam sob

seu domínio chegava a 58.142 hectares, utilizando para a exploração da borracha apenas

50.492 ha, com 141.500 seringueiras (Album graphico, 1914, anúncios, p. IX). E para a extração da

borracha contavam com “280 seringueiros, 40 tropeiros e 12 empregados para a fiscalização

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do serviço” (op. cit., p. VIII). Já para a exploração da lavoura e pecuária, possuíam “as sesmarias

‘Quibol’, ‘Cambayuval’, ‘Agua Fria’, ‘Fazenda Vermelha’, ‘Marzagão’, ‘Pedras’, ‘Quilombo’

e ‘Bom Jardim’”, (Album graphico, 1914, anúncios, p. IX), com “800 cabeças de gado vacum, 40

bois tropeiros, 160 burros arreados e 12 cavalos (op. cit., p. VIII).

A Usina do Itaicy ficava localizada à margem direita do rio Cuiabá, sob a direção do

sócio Alberto Novis, que também era o médico da usina (Album graphico, 1914, anúncios, p. VII). A

produção da usina chegava a 225 toneladas de açúcar e 5 mil canadas de aguardente por ano.

A escoação da produção se dava pela via fluvial até Cuiabá e Corumbá, onde eram

consumidos. A usina estava avaliada em 1.000:000$000 (mil contos de réis) e, segundo

informações, contava com “pelo menos 20 empregados técnicos e 80 trabalhadores”, além de

“60 edifícios, dos quais 45 servem de habitações para os trabalhadores”; ademais, também

existia “uma serraria bem montada, uma farmácia para o pessoal das fábricas e do campo”.

Ao que consta, possuía ainda escola com o ensino primário para ambos os sexos e com um

total de 62 alunos, além disso, havia aulas de música, “com uma banda permanente de 12

figuras e oficinas diversas” (Album graphico, 1914, p. 280).

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Figura 13

Fábrica da Usina Itacy

Fonte: Album graphico, 1914, p. 279

A Cervejaria Cuyabana, por sua vez, encontrava-se a uma distância de dois

quilômetros do porto de Cuiabá e à margem esquerda do rio homônimo. A direção e gerência

da cervejaria estavam a cargo do sócio Antonio Augusto de Azambuja (op. cit. p. VIII). A

produção diária chegava a 10 hectolitros, além do mais, tinham duas adegas frigoríficas que

comportavam “vinte barris de um mil e quinhentos litros cada um, e uma menor para

fermentação, comportando cinco cubas de baixa fermentação”. A produção era restrita para o

consumo de Cuiabá e as localidades circunvizinhas, por isso, não utilizavam em sua

fabricação “nenhum ácido aconselhado para maior durabilidade”. A cervejaria possuía ainda

uma lancha a vapor com duas chatas (Album graphico, 1914, p. 324).

Para o desenvolvimento e funcionamento da cervejaria, a empresa Almeida & Cia.,

representada pela firma alemã Hesse, Norman & Cia., contratou o cervejeiro alemão Adolf

Shiele, em Hamburgo, no dia 26 de fevereiro de 1908, pelo período de 3 anos. No entanto, em

10 de fevereiro de 1911, prorrogaram a validade do contrato até 30 de novembro do mesmo

ano. Por meio desse contrato, ficou estipulado que Adolf Shiele deveria ensinar ao seu

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ajudante Theodoro Valentini os processos de fabricação da cerveja, e em troca receberia 2

contos de réis, os quais seriam pagos em duas prestações: “uma no dia primeiro de março e

outra no dia vinte e nove de julho do corrente ano” (JUCEMAT- Livro de registros, 1910-1913, p. 46).

Além do cervejeiro, estavam encarregados da fabricação: “um ajudante, um chefe de

máquinas, mais três empregados e seis empregados subalternos, além de numeroso pessoal

composto de carroceiros, trabalhadores e oficiais de ferraria e carpintaria” (MACIEL, 1914, p.

324).

Entre as operações da Casa Almeida & Cia. estava uma seção bancária que

representava, “além de operações próprias, o Banco do Brasil e o London & River Plate Bank

Ltda (Album graphico, 1914, anúncios, p. VIII).

Além de atuar como o principal sócio capitalista da empresa Almeida & Cia., João

Baptista de Almeida Filho se associou, em 28 de maio de 1900, ao empresário Franklin

Moura para constituir a empresa denominada Empresa Cuiabana Ferro Carril e Matadouro,

sob a razão social de Almeida & Moura. O controle administrativo da firma era de uso

exclusivo do sócio João Baptista, que ficou encarregado do caixa e da escrituração junto ao

guarda-livros; o sócio Franklin ficou responsável pelo auxílio pessoal no matadouro, enquanto

o sócio de indústria, João Feliciano Pinto, se responsabilizava pela gerência do serviço de

transporte e da manutenção de todo o material da empresa (Livro de registros, 1899-1904, p. 20). A

composição do capital e a divisão dos lucros ficou estabelecida da forma exposta no quadro 9,

a seguir:

Quadro 9

Integrantes da firma Almeida & Moura, de acordo com o capital e participação

Fonte: JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 20.

Os dados acima demonstram um fato curioso, pois, independentemente da participação

no capital da empresa, os lucros eram divididos de forma igualitária. O contrato ainda

especificava que, dos lucros verificados, somente 80% seriam divididos entre os sócios; já a

outra parte era destinada para depósito de fundos, para amparar a compra de material. O sócio

Sócios Capital Participação nos lucros

líquidos

João Baptista de Almeida Filho 56:000$000 1/3

Franklin Moura 28:000$000 1/3

João Feliciano Pinto [Indústria] 1/3

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de indústria ainda podia retirar mensalmente 200 mil réis, os quais seriam descontados de seus

lucros futuros (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 20).

A casa Almeida & Companhia foi uma das maiores empresas de importação e

exportação de Mato Grosso. Parece possível atribuir sua prosperidade, pelo menos em parte,

à atuação de João Baptista de Almeida, que soube aproveitar as ondas propícias de

investimento, uma vez que foi um dos pioneiros na exploração da borracha, assim como

estabeleceu seu comércio logo após a reabertura da navegação pelo rio Paraguai. Soube

também investir em outros ramos, como apontado acima. As fontes, contudo, não me

permitiram saber quando se encerrou a atuação dessa empresa.

Orlando Irmãos & Cia.

O italiano Francisco Orlando, nascido em Moliterno, na Província de Basilicata,

deixou o reino da Itália em direção à América do Sul ainda muito jovem, com apenas 17 anos

de idade. Primeiro se estabeleceu em Buenos Aires, permanecendo ali por alguns meses,

depois migrou para o Paraguai. Nessa república, também não permaneceu muito, deslocando-

se para a capital mato-grossense, lugar onde se estabeleceu no ano de 1874. Em Cuiabá, logo

se associou a outro italiano, Rafael Verlangieri, e juntos fundaram a casa comercial

Verlangieri & Orlando (GOMES, 2011, p. 19).

Rafael Verlangieri, que havia chegado a Cuiabá em 1871, iniciou suas atividades

como vendedor, “percorrendo a cidade de Cuiabá com uma maleta nas mãos e uma

campainha que soava para chamar atenção”. Seu primeiro estabelecimento comercial foi a

Loja da Campainha, menção ao objeto utilizado nos tempos de vendedor ambulante. E

somente mais tarde se associou a Francisco Orlando (PÓVOAS, 1989, p. 69).

Em 1884, chegaram a Cuiabá os irmãos de Francisco Orlando, momento em que

chegava ao fim a sociedade com Rafael Verlangieri. Assim, Francisco, dando continuidade

aos negócios, integrou seus irmãos José e Vicente Orlando à sociedade. Nesse momento, a

firma passa a girar sob a razão social de Orlando Irmãos & Companhia (GOMES, 2011).

Interessante notar que o Album graphico do Estado de Matto-Grosso, importante fonte para

esse trabalho, traz como data de fundação dessa sociedade o ano de 1873 (Album graphico, 1914,

anúncios, p. X). Tal fato, contudo, deve estar relacionado à fundação da primeira firma de

Rafael Verlangieri, a citada Loja da Campainha, sucedida pela Verlangieri & Orlando.

A firma Orlando Irmãos & Companhia apresenta uma interessante forma de

investimento de capital; que, no caso, era a associação dessa empresa com outras pessoas,

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momento em que formavam uma nova sociedade, que variava conforme o ramo de

investimentos e as cláusulas especificadas em contrato.

Como apontado anteriormente, a vila do Rosário era um importante entreposto

comercial, principalmente para a compra da borracha. Desse modo, a casa Orlando Irmãos &

Cia. formou uma sociedade para atuar na vila do Rosário, sob a razão social de Orlando,

Bruno & Cia., em 25 de dezembro de 1897 (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 39), sendo

sócios componentes da nova firma, Orlando Irmãos & Cia., Antonio Bruno Borges, Arthur

Campos Borges, Nicola Pecosa e Aniceto Pinto Botelho (Livro de registros, 1899-1904, p. 2).

Figura 14 Figura 15

Casa Orlando & Cia. (Cuiabá) Antiga casa Orlando & Cia.

na segunda década do século XX nos dias atuais

Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. X

Em março de 1899 foi registrada uma alteração no contrato primitivo, a qual

estabelecia que Augusto Leite de Figueiredo passava a integrar a firma Orlando, Bruno & Cia.

como sócio de capital, com direito a 10% dos lucros líquidos. Desse modo, Augusto integrou

o capital da empresa com dois contos e quinhentos mil réis (2:500$000) em espécie, e mais os

futuros 10% dos lucros líquidos que seriam creditados na sua conta de capital (JUCEMAT- Livro

de registros, 1899-1904, p. 2). Contudo, em fevereiro de 1901 ocorreu uma nova alteração no

contrato dessa empresa, momento em que o sócio Augusto Leite de Figueiredo deixa a

sociedade. Nesse mesmo documento, consta a integração de um novo membro: Francisco

Germano Corrêa da Costa, o qual agrega 22 contos de réis à sociedade (Livro de registros, 1899-

1904, p. 39). Além do mais, a cláusula 13ª estabeleceu que:

Fonte:http://aterramediadeclaudia.

blogspot.com.br/2012/05/rua-

galdino-pimentel.html

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Durante a vigência do presente contrato de prorrogação fica elevado de três a cinco contos de réis anuais, o preço do aluguel ou arrendamento à sociedade de todos os seringais e sítios denominados “Pantanalzinho”, pertencente ao sócio Antonio Bruno Borges, e do estabelecimento denominado “Campinal”, de propriedade do sócio Arthur Campos Borges (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 40).

É notório que o interesse da firma Orlando Irmãos & Companhia nessa sociedade

estava vinculado à exploração da borracha, além de ter exclusividade no fornecimento de

mercadorias para a casa Orlando, Bruno & Companhia. Ainda vale ressaltar que, a qualquer

momento, a Orlando Irmãos & Cia. tinha o direito de assumir a gestão dessa casa comercial e

dos negócios a ela pertencentes (JUCEMAT- Livro de Registros, 1899-1904, p. 40).

Desvinculado da Casa Orlando Irmãos & Cia., outro contrato foi realizado, no dia

primeiro de janeiro de 1901; dessa vez, entre os irmãos e sócios da referida casa (Francisco,

Vicente e José Orlando) e o antigo sócio Rafael Verlangieri. Tal sociedade, denominada

Orlando & Companhia, tinha por finalidade a exploração da indústria pastoril, no município

de Miranda, na Fazenda Rodrigo. Essa propriedade, avaliada em 400 contos de réis, ficou

pertencendo em partes iguais a todos os sócios (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 51).

Além do mais, ficou determinado que, após o dia primeiro de maio de 1902, poderia ali ser

estabelecida uma “seção mercantil para a compra e venda de mercadorias sob a mesma firma

e responsabilidade de todos os sócios” (op. cit., p. 52).

Os laços entre as famílias Verlangieri e Orlando iam além do ramo comercial, pois

estavam também ligados por vínculos familiares. Pois, Rafael Verlangieri se casou com

Amalia Amarante, em 1878, e Francisco Orlando, por sua vez, com a irmã de Amalia, a

senhorita Balbina Amarante, em 1884. Anos depois, essas duas famílias estreitaram ainda

mais os laços, pois ocorreu a celebração de mais dois matrimônios. Dessa vez, as filhas do

casal Rafael e Amalia Verlangieri se unem aos irmãos José e Vicente Orlando. Assim,

contraíram matrimônio Carmela Verlangieri e José Orlando, em 1893, e depois de dois anos,

Cizinia Verlangieri e Vicente Orlando (GOMES, 2011, p. 201).

Uma outra característica da Casa Orlando, como ficou conhecida ao longo de sua

existência, é o empréstimo de dinheiro a terceiros. Desse modo, foi através do capital

emprestado pela casa Orlando que foi possível a constituição de uma outra sociedade, em 15

de dezembro de 1900: a Moreira & Irmão, empresa constituída por um capital de 52 contos

de réis. Para a organização dessa sociedade foi contraída uma dívida de 47:153$047 (quarenta

e sete contos, cento e cinquenta e três mil e quarenta e sete réis) com a Casa Orlando, Irmãos

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& Cia. Os sócios de Moreira & Irmão eram Aquilino Moreira da Silva e João Fortunato

Moreira da Silva, naturais de Mato Grosso, os quais, vendo a possibilidade de sucesso na

exploração e exportação da borracha, constituíram essa sociedade com sede em Cuiabá. O

capital de 52 contos constituía-se em dois lotes em Diamantino, em “animais muares e

vacuns, e em dívidas de camaradas” (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 30).

A trajetória da Casa Orlando Irmãos & Companhia apresenta um interessante episódio,

quando se vincula ao Banco Rio e Mato Grosso (BRMT). Esse banco atuou no estado entre os

anos de 1891 e 1902; apesar de sua sede estar situada no Rio de Janeiro, sua finalidade

principal era atuar em Mato Grosso, possuindo uma agência em Cuiabá e uma caixa filial em

Corumbá. A presidência desse banco foi exercida por Joaquim Murtinho, importante figura

política mato-grossense, entre os anos de 1891 e 1896, e depois, por seu irmão, um dos sócios

fundadores, Francisco Murtinho, a partir de maio de 1897 até sua liquidação (QUEIROZ, 2010).

As intenções do Banco Rio e Mato Grosso50 em sua vinculação com a Casa Orlando

Irmãos & Cia. estão atreladas à exploração primário-exportadora, principal ramo de atuação

desse banco em Mato Grosso. Essa nova sociedade era de comércio e de indústria, ou seja,

exploração da venda de mercadorias em geral e “a extração, compra e exportação da borracha,

poaia e quaisquer outros produtos extrativos que a mesma sociedade tenha interesse em

explorar” (JUCEMAT- Livro de registros, 1899-1904, p. 45). De fato, o interesse do BRMT nessa

sociedade estava vinculado à exploração da borracha, pois conforme consta em relatório do

referido Banco:

há longo tempo luta esta administração para estabelecer em Mato Grosso uma empresa, em bases sólidas, destinada à extração e comércio da borracha. Temos hoje a satisfação de anunciar-vos que esse desideratum acha-se realizado e de modo a assegurar vantagens remunerativas a este Banco, e seguro desenvolvimento àquele Estado. Acabamos de adquirir a parte da importante empresa dos Srs. Orlando, Irmãos & C. que trabalha na exploração da borracha com os melhores elementos que existem ali (R, 1901)51.

Para constituir essa nova sociedade, primeiramente, os ativos da Casa Orlando Irmãos

& Cia. foram inventariados e avaliados em 1.594:566$436 (um mil e quinhentos e noventa e

quatro contos, quinhentos e sessenta e seis mil, quatrocentos e trinta e seis réis); sendo então,

50 Para maiores informações sobre essa instituição bancária, ver: Joaquim Murtinho, banqueiro: notas sobre a

experiência do Banco Rio e Mato Grosso (1891-1902).

51 Utilizarei aqui apenas a letra R ao me referir aos relatórios do BRMT , seguido do ano de realização da

assembleia.

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a sua metade adquirida pelo Banco Rio e Mato Grosso. É interessante notar que a casa

Orlando, Irmãos & Cia. entrou em liquidação somente para poder se associar ao BRMT, pois

foi após negociação com o referido banco que entraram em liquidação. E a nova sociedade

passou a ser denominada de Secção Industrial do Banco Rio e Mato Grosso, constituída em

primeiro de maio de 1901 com duração de um ano (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p.

45-46).

Pareciam auspiciosas as perspectivas para os investimentos do BRMT em Mato Grosso;

contudo, a instabilidade política causada pela revolta armada de 1901 prejudicou a extração

da borracha daquele ano. A ocorrência desse episódio modificou as previsões do BRMT sobre

“a cifra nos lucros calculados. A causa desse transtorno foi devida, em grande parte, à falta de

pessoal desviado do trabalho e a outros não pequenos prejuízos que a perturbação da ordem

pública ocasiona a empresas desta natureza” (R., 1902). Assim, resolveram prorrogar a duração

do contrato até 31 de dezembro de 1902 (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 45).

Um fato curioso sobre a associação entre o BRMT e os irmãos Orlando encontra-se em

algumas condições estipuladas. Entre elas, o BRMT ficou de efetuar o pagamento de sua parte

do capital com um abatimento de 30% sobre seu valor. Além disso, ainda ficou acordado que,

ao fim do prazo da sociedade, se realizaria um balanço dos negócios e, depois de verificados

os lucros, a sociedade seria dissolvida e o Banco faria “aquisição por compra não só da parte

de capital que na mesma sociedade têm os sócios Francisco, José e Vicente Orlando como

também da parte dos lucros que lhes tenham tocado”, e os irmãos Orlando deveriam dar um

abatimento especial de 30% em “uma e outra parcela” (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904,

p. 46). As condições estipuladas pelo Banco são de extrema vantagem para o mesmo; não

sabemos os motivos que levaram os sócios da casa Orlando Irmãos & Cia. a aceitar tais

condições ao vender seu empreendimento que, segundo as informações, “eram os melhores

existentes no Estado” (R., 1902). Todavia, podemos supor que os mesmos desejavam regressar

à Itália, uma vez que Francisco Orlando já passava grande parte do tempo em sua terra natal,

onde fazia tratamento de saúde (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 47).

De toda forma, independentemente das razões que levaram os sócios da Orlando,

Irmãos & Cia. a aceitarem as condições do BRMT, a sociedade entre ambos foi encerrada, já

que o banco entrou em liquidação no segundo semestre de 1902. A casa Orlando, Irmãos &

Cia., por sua vez, continuou funcionando. O sócio Francisco Orlando se retirou da sociedade e

recebeu, por sua parte nos negócios na firma, a quantia de 776:666$000 (setecentos e setenta e

seis contos, seiscentos e sessenta e seis mil réis), em 27 de janeiro de 1910, quando foi

registrada a sua saída da sociedade. De fato, Francisco já estava morando na Itália, quando da

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sua retirada da firma. Mais tarde, os sócios José e Vicente Orlando também retornaram para a

Itália e deixaram a empresa sob os cuidados dos gerentes Egidio Laraya e Giovanino Pecora

(JUCEMAT- Livro de Registros de 1910-1913, p. 108-109). Ademais, essa empresa manteve sua

atuação até 1978, quando foi extinta (PÓVOAS, 1989, p. 68).

Firmo de Mattos & Cia.

Uma das primeiras casas comerciais estabelecidas em Cuiabá, após a reabertura da

navegação pelo rio Paraguai, foi a Firmo de Mattos & Cia., fundada por Firmo José de

Mattos. A conjuntura que levou esse jovem pernambucano formado em Direito a se

estabelecer em Mato Grosso está atrelada à “Revolução Nunes Machado, em 1848”; visto

que, chegada ao fim a revolta e tendo sua participação chamado atenção, Firmo de Mattos é

então indicado como juiz de Direito em Mato Grosso. Estabelecido em Cuiabá, logo se torna

importante figura política, militante do Partido Liberal, e chegou a assumir a chefia do Partido

em 1879 (PONCE FILHO, 1952, p. 26). Ali constituiu família com Francisca Moraes Mattos, com

quem teve 10 filhos (Fórum de Corumbá - Inventário do Barão e Baronesa de Casalvasco, 1895).

Alguns anos após sua chegada ocorreu uma grave epidemia de varíola, momento em

que “presta serviços de relevo à causa pública e o governo provincial outorga, ao antigo juiz,

honras de Desembargador”; logo depois, recebe de herança, por parte de seu sogro, 30 contos

de réis, considerável quantia para a época; resolve então investir no comércio. Ocasião em

que se dirige ao Rio de Janeiro, onde, segundo informações, foi aconselhado pelo Visconde de

Figueiredo a se dirigir à Europa para realizar suas compras. Então, viaja à Europa com essa

finalidade e quando regressa abre casa comercial importadora e exportadora em Cuiabá.

Lembrando que, devido aos prejuízos sofridos durante a Guerra do Paraguai, a província de

Mato Grosso foi isenta de impostos de importação por alguns anos, o que tornava o momento

propício para investir no comércio de importação. E, conforme as informações, pode-se

deduzir que a casa Firmo de Mattos iniciou suas atividades em 1872-73, momento em que

admite Generoso Paes Leme de Souza Ponce como seu funcionário e, mais tarde, como

interessado na firma, tornando-se sócio algum tempo depois, constituindo a razão Firmo &

Ponce (PONCE FILHO, 1952, p. 27). O desembargador, mais tarde, recebe o título de Barão de

Casalvasco, por Decreto de 24 de agosto de 1889 (MESQUITA, 1992, p. 232).

Firmo de Mattos, seguindo os moldes de outras empresas da época, estabeleceu uma

outra casa comercial em Corumbá, com razão social e sócios diferentes da empresa de

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Cuiabá. Na cidade de Corumbá, constitui em 1876 a casa Firmo, Barros & Cia.52, junto ao

seu genro Antônio Pedro de Barros, firma que, mais tarde, passou a denominar-se Barros &

Cia. e que por fim, no início do século XX, se tornou Wanderley, Baís & Cia., uma das

principais casas comerciais de Mato Grosso (TARGAS, 2012).

A casa comercial Firmo & Ponce registrou sua dissolução de sociedade em 10 de

março de 1893. Ao que parece, Firmo de Mattos vendeu também a parte que lhe pertencia na

Firmo, Barros & Cia.; pois, quando da sua morte, em 28 de abril de 1895, dentre os bens

deixados não se encontram as empresas citadas. De fato, Firmo de Mattos veio a óbito quando

retornava do Rio de Janeiro para Mato Grosso, “a bordo do paquete Ladário, nas águas do rio

Paraná, abaixo de Corrientes”, além disso, fazia seis meses que sua esposa havia falecido, de

tal maneira que o inventário foi realizado em conjunto. Vale ressaltar que o Barão e a

Baronesa de Casalvasco deixaram uma considerável fortuna, num total de 1.267:320$705. Os

bens foram divididos conforme vontade expressa em seu testamento, tocando 2/3 para seus

filhos e 1/3 para suas netas, sendo 6 filhos vivos e 8 netas (Fórum de Corumbá - Inventário do Barão

e Baronesa de Casalvasco, 1895).

Alexandre Addor

Situada à rua 15 de Novembro, nº 67, encontrava-se a grande casa comercial

importadora e exportadora Alexandre Addor, fundada em 1865 (Album graphico, 1914, anúncios, p.

XIII). As evidências sobre essa empresa e principalmente sobre seu proprietário são limitadas;

todavia, é possível concluir que o mesmo era filho do suíço, naturalizado brasileiro, Carlos

Augusto Addor e da mato-grossense Sidonia Guilhermina da Penha. Esse casal se uniu em

matrimônio, em 1861, na cidade de Cuiabá; tendo o segundo filho do casal, Alexandre Magno

Addor, nascido em 29 de fevereiro de 1875 (PALMA, 1956, p. 199-202). De tal maneira, deve ter

sido Carlos Augusto Addor quem estabeleceu firma em 1865 em Cuiabá, a qual mais tarde

passaria a seu filho e viria a girar sob a razão de Alexandre Addor.

52 Ressalto que, em um trabalho anterior, denominado As casas comerciais importadoras/exportadoras de

Corumbá (1904-1915), afirmei que a Firmo, Barros & Cia. era uma filial da casa Firmo de Mattos & Cia. de

Cuiabá, que havia sofrido alteração em sua razão social. Contudo, as evidências empíricas me levam agora a

questionar tal afirmação, pois, ao que parece, o que aconteceu foi algo semelhante a outros casos, onde um sócio

acabava por contrair sociedade com pessoas de outra cidade, constituindo assim uma nova empresa – originando

uma relação que, apesar dos fortes laços econômicos que as uniam, não se encaixa na denominação matriz-filial.

E no caso, a firma de Cuiabá veio a tornar-se Firmo & Ponce.

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Figura 16

Alexandre Magno Addor

Fonte : Album graphico, 1914, anúnicos, p. XIII.

Alexandre Magno Addor ocupou vários cargos políticos em Mato Grosso, entre eles o

de Intendente Municipal de Cuiabá, nos anos de 1918 a 1920; e mais tarde, em 1922, agente

consular da França (Almanak Laemmert, 1922, p. 4.090). Além da influência política, foi um grande

empreendedor, pois a firma Alexandre Addor realizava importação em geral e exportação de

borracha, ipecacuanha e couros. Possuía 12 mil hectares à margem do rio Arinos e 4 mil e

quinhentos hectares à margem do rio Paranatinga para a extração da borracha, região em que

utilizava a mão de obra de 300 trabalhadores. Para a criação de gado vacum, possuía mais 9

mil e 600 hectares, em torno dos rios Paranatinga e Tombador. Além disso, possuía 6

propriedades urbanas em Rosário do Oeste e 8 em Diamantino (Album graphico, 1914, anúncios, p.

XIII).

Essa empresa possuía duas filiais: uma em Diamantino e outra em Rosário do Oeste,

locais em que realizavam a extração e a compra da borracha, chegando a exportar em média

80 mil quilogramas desse produto por ano. Ademais, tinham 3 embarcações para realizar o

transporte de mercadorias e dos produtos destinados à exportação entre Cuiabá e Rosário do

Oeste (op. cit.). E foi em Rosário do Oeste, no dia 26 de janeiro de 1900, que foram celebradas

as núpcias de Alexandre Magno Addor e Umbelina de Campos Borges, filha do comerciante

Antonio Bruno Borges53. Dessa união nasceram 9 filhos. Por fim, Alexandre Addor veio a

falecer em 5 de novembro de 1935 (PALMA, 1956, p. 200).

53 Sócio da casa Orlando, Bruno & Cia.

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145

Nicola Verlangieri & Filhos

Nicola Verlangieri, nascido em 15 de novembro de 1852, deixou a Província de

Salerno, no Reino da Itália, aos 12 anos de idade, e assim como grande parte dos imigrantes

que chegaram a Mato Grosso, permaneceu alguns anos na República Argentina, e somente

depois migrou para Cuiabá, junto com os seus irmãos Rafael e Francisco Verlangieri, no ano

de 1871. Ali contraiu matrimônio com a mato-grossense Honorata Adelina de Souza Aguiar,

em 1880 (GOMES, 2011). Nicola, seguindo os passos de seu irmão Rafael Verlangieri, abriu sua

empresa em 1884. Mais tarde, em dezembro de 1900, incluiu seus filhos Arsenio e Feliciano

Verlangieri nos negócios (JUCEMAT - Livro de registros, 1899-1904, p. 29). O capital e a

participação nos lucros eram distribuídos conforme quadro abaixo:

Quadro 10

Nicola Verlangieri & Filhos: distribuição do capital e participação nos lucros,

segundo os sócios (1900)

Sócios Capital Participação nos

lucros

Nicola Verlangieri 43:000$000 70%

Arsenio Verlangieri 5:000$000 20%

Feliciano Verlangieri 2:000$000 10%

Fonte: (JUCEMAT -Livro de registros, 1899-1904, p. 29).

Como demonstrado no quadro 10, o capital da Casa Nicola Verlangieri & Filhos era

modesto, contava com apenas 50 contos de réis. Essa casa, apesar de trabalhar com

importação e exportação, seu principal ramo de atuação era com os serviços comissionados.

Além disso, encarregavam-se de serviços a serem realizados nas repartições federais, como

“justificações para percepção de montepio e meio soldo de viúvas e filhos de militares e de

civis”; já nas repartições estaduais, ofereciam os serviços de “compras de terras e extração de

títulos provisórios e definitivos”. Ainda ofereciam serviços advocatícios (Album graphico, 1914,

anúncios, p. XIV).

Em 15 de dezembro de 1910, Nicola Verlangieri obteve a concessão de 50 anos para

construir um Matadouro Público em Campo Grande, no Sul do estado. Esse matadouro

deveria ser construído na confluência dos córregos Prosa e Segredo, limitado pelas ruas

Anhanduhy e Afonso Pena, dentro de um prazo de dez meses. Ademais, as instalações desse

matadouro seguiam algumas regras, como ser coberto de telha, piso de cimento, currais de

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madeira de lei. Das taxas cobradas aos usuários do matadouro, o município teria direito a 25%

(JUCEMAT -Livro de registros de 1910 a 1913, p. 73-76).

De fato, a necessidade desse Matadouro Público em Campo Grande foi estabelecida

pelo código de postura de 1905, e a “criação desse espaço responderia à necessidade da

diminuição da forte exalação de odores pútridos, decorrentes da decomposição, sobre o solo,

dos restos das reses e do sangue dos animais”. Esse espaço também possibilitava a

fiscalização das reses abatidas verificando se as mesmas estavam em condições saudáveis

para serem consumidas (TRUBILIANO; SILVA, 2013, p. 209).

Figura 17

Automóvel responsável pelo transporte da carne do matadouro

até os açougues de Campo Grande

Fonte: http://datasefatoshistoricos.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-10-12T08:44:00-

07:00&max-results=7&reverse-paginate=true&start=7&by-date=false

Ao que consta, o matadouro foi inaugurado em 1912; todavia Nicola Verlangieri não

ficou muito tempo à frente desse empreendimento, “devolvendo à intendência municipal, que

passou a operá-lo sob a denominação de Matadouro Público Municipal”

(http://datasefatoshistoricos.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-10-12T08:44:00-07:00&max-

results=7&reverse-paginate=true&start=7&by-date=false). Os motivos que levaram Nicola Verlangieri

a abrir mão da concessão do referido matadouro são desconhecidos, todavia não deixa de ser

importante sua atuação nesse ramo, visto que foi responsável pela construção do primeiro

matadouro de Campo Grande.

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R. Cardoso & Cia.

Essa casa comercial apresenta uma exceção, pois das empresas estudadas é a única que

apresenta uma mulher como sócia-proprietária. Além do mais, a mato-grossense Rosalina de

Carvalho Cardoso era a única sócia capitalista. No período em que essa empresa foi

constituída, as mulheres eram tidas pelo Estado como seres incapazes e só podiam atuar em

algum negócio com a plena autorização do marido, através de uma procuração. No caso aqui

apresentado, não foi diferente, pois no primeiro parágrafo do contrato já se elucida tal fato,

expressando que: “Rosalina de Carvalho Cardoso, natural deste estado, casada e devidamente

autorizada por seu marido, o alferes do Exército Candido Teixeira Cardoso, conforme

documento junto em original” etc. (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 26, destaques

meus).

Assim, foi constituída a sociedade da Casa R. Cardoso & Cia., sendo seu sócio de

indústria o mato-grossense Manoel Leopoldino, em 15 de setembro de 1900, com duração de

2 anos, podendo ser prorrogado o contrato. De fato, o capital empregado por Rosalina era

originário de sua casa de comércio já existente, avaliada em 30 contos de réis. Os lucros

líquidos ficaram divididos da seguinte forma: 60% para Rosalina, 35% para Manoel

Leopoldino e 5% para o funcionário da casa, Vicente Ferreira Bruno, que além dessa

porcentagem teria direito a 160 mil réis mensais. Além do capital, a empresa estava

estabelecida em uma casa que pertencia a Rosalina de Carvalho Cardoso e foi alugada à

sociedade por 100 mil réis mensais. Ademais, tanto os sócios quanto Vicente Ferreira

poderiam retirar da casa mercadorias para suprimento de suas famílias a preço de custo,

embora não pudessem exceder entre mercadorias e dinheiro os valores estipulados para cada

um; assim, Rosalina Cardoso podia retirar até 6:000$000 (seis contos de réis) anuais, já

Manoel até 4:800$000 (quatro contos e oitocentos mil réis) e Vicente 1:200$000 (um conto e

duzentos mil réis). A empresa R. Cardoso & Cia. estava localizada na praça do Ipiranga, à rua

13 de Junho, principal rua comercial de Cuiabá (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 27).

Apesar de ter encontrado poucas informações a respeito dessa empresa, ela apresenta

aspectos sociais e culturais de uma época, ao mesmo tempo em que podemos ver a

interessante atuação da mulher no ramo dos negócios.

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Domingos Dorsa & Irmão

Os italianos Domingos e Paulo Dorsa chegaram a Cuiabá em 1897, momento propício

para investir no comércio mato-grossense. Apesar dos irmãos Dorsa terem iniciado suas

atividades comerciais separadamente (PÓVOAS, 1989, p. 78), fundaram em 13 de dezembro de

1900 a Casa Domingos Dorsa & Irmão, com um capital modesto de apenas 27 contos de réis.

Sendo 15 contos pertencentes a Domingos e 12 contos a Paulo Dorsa, capital esse

representado por mercadorias, móveis, utensílios e animais, originários de seus antigos

estabelecimentos individuais54 (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 28-29).

Essa empresa apareceu nos destaques do Almanak Laemmert durante as duas primeiras

décadas do século XX, entre os comerciantes mais importantes de Cuiabá. A presença da casa

Dorsa & Irmão, como ficou conhecida, é notória, pois foi a responsável pela importação do

primeiro automóvel de Cuiabá, um landaulet, da marca Fiat, vendido ao estado de Mato

Grosso na gestão do presidente Dom Aquino Corrêa (1918-1922). De fato, essa empresa

atuou até o ano de 1924, quando os sócios decidiram liquidá-la. Mas, ao que parece, a sua

liquidação chegou ao final não por dificuldades financeiras, pelo contrário: segundo consta, os

sócios haviam adquirido propriedades em seu país de origem, em Nápoles e Calábria. Assim,

o motivo para o encerramento da empresa foi a volta de Paulo Dorsa para a Itália, uma vez

que seu irmão já havia regressado a sua terra natal, deixando os negócios ao encargo de Paulo

– que havia constituído família em Cuiabá, através do casamento com Delfina Corrêa, com

quem teve dez filhos, sendo 6 brasileiros e 4 italianos. Talvez esse tenha sido o motivo pelo

qual tenha demorado mais tempo para querer regressar a Itália, pois sua esposa era mato-

grossense. Mas segundo consta, foi através dos inúmeros “apelos dos irmãos” que resolveu

vender seu estoque e voltar para a Itália, levando toda a sua família (PÓVOAS, 1989, p. 80).

Pedro Torquato & Cia.

Situada à rua Treze de Junho, nº 3, estava a casa comercial Pedro Torquato & Cia.,

uma empresa de capital e indústria. Inicialmente essa empresa era constituída pelos brasileiros

Pedro Torquato Leite da Rocha e Francisco Ramos da Silva. Mas, em 14 de abril de 1902,

essa sociedade tem uma nova composição social, pois com a saída do sócio de indústria

54 Veremos mais adiante que Domingos Dorsa antes era sócio de Caetano Blais, na casa comercial Blais &

Dorsa, na vila de Rosário.

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Francisco Ramos da Silva, entra, em sua substituição, Fabio Freire. O capital da casa

comercial, que era de 105 contos de réis, pertencentes ao sócio Pedro Torquato, é acrescido de

8 contos de réis, inteirados por Fábio Freire. A gerência e o caixa da empresa eram de

responsabilidade de Pedro Torquato. A participação do sócio de indústria nos lucros era de

25% e ele podia retirar 300 mil réis por mês. Enquanto os outros 75% dos lucros líquidos

pertenciam a Pedro Torquato, quem, além disso, podia retirar até 600 mil réis por mês

(JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 58-59).

Destacamos aqui que o capital da empresa passou a ser de 113 contos de réis, uma

importante quantia para a época. Além do mais, esse novo contrato tinha validade de 4 anos.

Pelas fontes analisadas, não tomamos conhecimento de alterações ou distrato dessa sociedade.

Henrique Hesslein & Sergel

Os alemães Henrique Hesslein e Carlos Sergel formaram sociedade, em 2 de julho de

1910, para atuar no ramo da importação e consignação, com duração de 3 anos e meio. Essa

casa comercial foi sucessora da antiga firma individual Henrique Hesslein, de Cuiabá; além

disso, possuía uma filial na cidade de Corumbá (Album graphico, 1914, anúncios, p. XI). O capital

constituinte da empresa era significativo, contando com 250 contos de réis; o capital do sócio

Henrique Hesslein era de 225 contos, distribuídos em mercadorias, em dívidas ativas e

dinheiro, enquanto o sócio Carlos Sergel contribuiu para a sociedade com 25 contos de réis,

em espécie. Além disso, também ficou estabelecido que o capital efetivo de cada sócio

venceria juros de 8% ao ano, e esse valor seria deduzido antes de verificar os lucros da

empresa (JUCEMAT - Livro de Registros de 1910-1913, p. 1).

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Figura 18

Interior da casa Henrique Hesslein & Sergel

Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. XII.

Com o tempo, a firma Henrique Hesslein & Sergel passou também a realizar

exportação direta de borracha, couros vacuns e penas de garça; além disso, tornou-se

correspondente do Banco Alemão Transatlântico e do Brasilianische Bank Für Deutschland.

A casa comercial tinha uma seção especial para cobrança de saques, ou seja, o pagamento de

produtos importados. Ademais, essa empresa apresenta um diferencial, já que a importação

era exclusiva para a venda no atacado (Album graphico, 1914, anúncios, p. XI).

O contrato da empresa foi renovado por várias vezes, sendo o último do qual tomei

conhecimento realizado em 15 de setembro de 1927 (JUCEMAT - Livro de Registros 1914-1919,

p.57-58).

Outras empresas

Também se estabeleceram em Cuiabá outras empresas, além das mencionadas acima;

contudo, os dados sobre as mesmas são limitados, pois tomamos conhecimento da sua

existência somente através de anúncios, no já citado Album graphico do Estado de Matto

Grosso. Essas empresas são: Adolpho Brandes e Paulo Schmidt & Jorge Andreas.

A casa comercial Adolpho Brandes, com meia página de anúncio no Album graphico,

nos informa que atuava no ramo da importação, exportação e representação. Essa

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representação, por sua vez, não se limitava a empresas nacionais, pois representavam também

Oscar Goetz & Cia., de Hamburgo, na Alemanha, S. Albrecht & Cia., de Manchester, e

Francesco Cinzano & Cia., de Corino, na Itália (Album graphico, 1914, anúncios, p. XVI).

Paulo Schmidt & Jorge Andreas estava localizada à rua do Rosário, nº 1. Essa casa

comercial, além da importação e exportação, atuava no ramo da comissão e consignação.

Todavia, apresenta um diferencial, pois além de ser especialista na importação de tecidos

ingleses, trabalhava somente com venda por atacado (Album graphico, 1914, anúncios, p. XV).

3.2. Casas comerciais importadoras e exportadoras de Cáceres

Inicialmente Vila Maria, depois São Luiz de Cáceres e atualmente somente

Cáceres, situada à margem esquerda do rio Paraguai, próxima à fronteira com a Bolívia, teve

suas condições alteradas quando da abertura da navegação internacional por esse rio, em fins

da década de 1850. Essa mudança se acentua a partir de 1870, após a guerra da Tríplice

Aliança contra o Paraguai, uma vez que ocorre um impulso populacional e econômico,

ocasionado principalmente pelo fluxo de imigrantes italianos, portugueses e espanhóis

(GARCIA, 2014, p. 75). Tornando-se o terceiro polo comercial mais importante do estado de

Mato Grosso, Cáceres agremia casas comerciais de importação e exportação de grande

capital. Além disso, grande parte da borracha exportada de Mato Grosso tinha trânsito

obrigatório por Cáceres, principalmente as remessas que vinham da região de Diamantino.

Em torno de São Luiz de Cáceres encontravam-se grandes estabelecimentos de

exploração da pecuária, como a empresa Descalvados, propriedade que adentrava o território

boliviano, facilitando assim as práticas corriqueiras de contrabando nas áreas fronteiriças.

Ademais, os “desvios” não eram praticados somente na exploração da pecuária, mas também

de outros produtos, principalmente o da borracha, como veremos no capítulo 4.

José Dulce & Cia.

O italiano José Dulce deixou sua terra natal (Gênova, na Itália) ainda muito

jovem, fazendo o percurso de muitos outros estrangeiros que em Mato Grosso chegaram, ou

seja, passou um tempo em terras argentinas, local em que iniciou suas atividades comerciais.

Consta que José Dulce acompanhou as tropas argentinas durante a Guerra do Paraguai como

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vendedor ambulante, momento em que conhece Mato Grosso; e, chegado ao fim o show de

horrores que assolou as nações envolvidas nesse conflito, José Dulce sobe o rio Paraguai e

chega a Corumbá, onde se empregou em uma importante casa comercial. Todavia, logo

depois, seguiu viagem pelo mesmo rio Paraguai até São Luís de Cáceres, onde se estabeleceu

em 1871, com 23 anos de idade (MENDONÇA, 1914, p. 357).

Chegando a São Luiz de Cáceres, no mesmo ano José Dulce abriu casa

comercial, empresa que viria a ficar conhecida como Ao Anjo da Ventura. Mais tarde,

associou-se com Leopoldo Ambrósio e João Nilo, em 2 de março de 1901. Essa nova empresa

foi composta com um capital de 500 contos de réis, dividido nas proporções citadas no quadro

abaixo.

Quadro 11

Composição da empresa José Dulce & Cia. (1901)

Sócios Nacionalidade Capital % nos

lucros

José Dulce Italiano 300:000$000 60%

João do Nilo Brasileiro 150:000$000 29%

Leopoldo Ambrósio Italiano 50:000$000 11%

Fonte: JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 43.

Leopoldo Ambrósio havia chegado a São Luíz de Cáceres ainda criança,

acompanhando seus pais João e Carolina Ambrósio, “a convite do amigo e parente José

Dulce”. Seu nome de batismo era Leopoldo Livio D’Ambrosio, mas foi naturalizado

brasileiro com o nome de Leopoldo Ambrósio (PÓVOAS, 1989, p. 177).

Como nas demais empresas aqui estudadas, os contratos preestabeleciam a

duração da sociedade, todavia, essa poderia ser renovada. Dessa maneira, em 1912 foi

celebrado um novo contrato, e nele o capital permanece o mesmo, mas a sua distribuição e a

porcentagem dos lucros sofre uma alteração considerável. Assim, o capital de José Dulce

passou a ser 450 contos, e com direito a 60% dos lucros; já Leopoldo Ambrósio permaneceu

com seus 50 contos, mas passou a ter direito a 30% dos lucros. Nesse novo contrato, o

interessado da firma, também conhecido como sócio de indústria, José Bonifácio Pinto de

Arruda, ficou com direito a 10% dos lucros da empresa (JUCEMAT -Livro de Registros de 1910-

1913, p. 122).

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A casa José Dulce & Cia., além de atuar na importação e exportação, era

representante do Banco do Brasil, assim como banqueiros das sociedades Caixa Geral das

Famílias, Tranquilidade e Sul América. A especialidade de produtos importados da casa Ao

Anjo da Ventura eram: “tecidos, perfumarias, louças, cristais, móveis, ferragens, drogas,

chapéus, roupas masculinas e femininas, artigos de fantasias, armas de fogo, calçados e

arreamento” (Album graphico, 1914, anúncios, p. LI). Ademais, possuíam terras para a exploração

pecuária no entorno do rio Sepotuba, denominada Fazenda Sant Ignacio ou Porto do Campo,

com aproximadamente 3 mil e quinhentas cabeças de gado vacum, sendo que as terras de

todas as propriedades rurais chegava a um total aproximado de 70 mil hectares, sendo todas

no município de Cáceres (Album graphico, 1914, anúncios, p. LII).

Figura 19

Casa Ao Anjo da Ventura

Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. LI.

A casa José Dulce & Companhia atuava também no ramo da navegação, utilizando

para isso o vapor Etruria, com acomodações para 18 pessoas viajarem de 1ª classe. Esse

vapor era responsável pela linha regular entre São Luiz de Cáceres e Corumbá (Album graphico,

1914, anúncios, p. LI).

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Figura 20

Vapor Etruria

Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. LI.

Grande Armazém Mercantil de João Campos Widal

O empresário e advogado João Campos Widal nasceu em São Luiz de Cáceres, em 28

de janeiro de 1863, e tornou-se 2º Notário Público, além de ter fundado uma escola de

Segundas Letras, a qual esteve sob sua direção. Aproveitando o momento propício para

ingresso no comércio, deixou o funcionalismo público, em 1888, para estabelecer casa

comercial, sob a denominação Grande Armazém Mercantil de João Campos Widal. De

acordo com as informações que constam no anúncio publicado no Album graphico, seu

armazém, como era conhecido, teve origem modesta, comercializando somente na praça de

São Luiz de Cáceres. Com o tempo, foi agremiando notoriedade, estendendo suas ligações

comerciais; primeiro com a cidade de Corumbá, e em 1890 já havia conseguido alcançar as

praças de Montevidéu e Rio de Janeiro. E, dada a expansão dos negócios, “no ano

subsequente recebeu sua primeira fatura da Inglaterra” e depois passou a trabalhar com “todas

as praças do velho e novo mundo”. Com a prosperidade dos negócios, abriu uma filial na

mesma cidade, a qual estava sob a gerência de Alfredo Julio Granja (Album graphico, 1914,

anúncios, p. LIV).

Raphael Pinto de Arruda

A casa comercial de Raphael Pinto de Arruda, denominada Ao Clarão da Lua e

localizada à rua General Deodoro, nº 1, era especialista na importação de “fazendas em geral,

perfumaria, armarinhos, ferragens, drogas e especialidades farmacêuticas, conservas e bebidas

em grande sortimento, chapéus, artigos para fumantes, calçados e arreamento, bolachinhas

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inglesas e nacionais”. A exportação, por sua vez, era de couros e poaia (Album graphico, 1914,

anúncios, p. LV).

Figura 21

Interior da Casa Raphael Pinto de Arruda

Fonte: Album graphico, 1914, anúncios, p. LV

Irmãos Esteves

A casa Irmãos Esteves foi fundada em 1895 e estava situada à rua Antônio Maria, nº 7.

E era sucessora da empresa Americo Ferreira do Valle. Os proprietários da casa eram os

irmãos Hildebrando Esteves e João Carlos Esteves. A casa trabalhava com a importação em

geral de produtos nacionais e estrangeiros, a exportação realizada era de couros e poaia (Album

graphico, 1914, anúncios, p. LVI).

3.3 Casas comerci ai s i mportadoras e exportadoras de Mi randa

Como mencionado anteriormente, o surgimento de Miranda esteve ligado ao

estabelecimento do fortim homônimo e “com o correr dos tempos foram-se agremiando nas

suas circunvizinhanças alguns moradores que se entregavam exclusivamente à lavoura e a

criação de gado”. Então, em 1857, sua povoação foi elevada à categoria de vila (MARQUES,

1914, p. 404). Em Miranda, existiram casas comerciais de importação e exportação sob o forte

domínio da família Rebuá. Sobre as casas comerciais dos Rebuá, foi possível tomar maior

conhecimento devido aos dados encontrados em inventários da Família Rebuá, disponíveis no

arquivo do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Tais

casas e informações sobre seus proprietários e familiares são tratadas a seguir.

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Frate lli Rebuá

Através do inventário de Maria Antônia Rebuá foi possível tomar conhecimento da

existência da casa comercial Fratelli Rebuá, pertencente aos irmãos Geasone e Antônio

Rebuá. De fato, esse inventário dos bens deixados pela esposa do sócio Antônio Rebuá nos dá

uma ideia do capital da empresa em 1890; da mesma forma, também é possível deduzir que a

mesma empresa já atuava em Miranda pelo menos na década de 1880, o que não significa que

ela não poderia ter iniciado suas atividades anteriormente.

Antonio Rebuá ficou viúvo em 1890, aos 44 anos de idade e com três filhas: Selvagia

(10 anos), Reza (6 anos) e Anna (11 meses) (TJMS - Inventário de Maria Antonia Rebuá, 1890-1894).

Os bens do casal Maria Antonia e Antonio Rebuá são representados pela tabela a seguir:

Tabela 37 : Arrolamento de bens do casal Antônio e Maria Rebuá em 15 de

novembro de 1892

Fonte: TJMS - Inventário de Maria Antonia Rebuá, 1890-1894

No entanto, os valores obtidos através de inventários devem ser questionados, uma vez

que “os preços atribuídos aos itens descritos neste tipo de documento não resultam de uma

transação comercial propriamente dita, mas sim de uma avaliação feita, a priori, sem a

intenção de comercialização dos bens arrolados”. Além disso, os preços estavam sujeitos à

subjetividade dos avaliadores, que “certamente gozavam de reputação e prestígio para serem

escolhidos para tal função” (COSTA, 2013, p. 2). Dessa maneira,

Bens Valor Mercadorias gerais 16:820$160

Aviamentos 14:567$500

Móveis e utensílios 4:320$000

Dívidas garantidas 15:640$734

Dívidas não garantidas 1:986$168

Dívidas de letras 3:999$570

Dívida do governo da República 15:000$000

Dinheiro em caixa 18:030$156

Total 90:364$288

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entendemos ser crucial considerar que eles estavam imersos nas teias das relações políticas, sociais e econômicas das sociedades em que viviam. Dessa forma, aventamos a possibilidade de que, em muitos casos, interesses mais imediatos pudessem interferir na avaliação dos bens arrolados, contribuindo para superestimar os preços ou depreciá-los, conforme o emaranhado de situações que incidiam sobre os avaliadores no desenrolar de suas experiências sociais. Nestes casos, a suposta neutralidade subjacente ao juramento que prestavam certamente ficava restrita ao campo das formalidades, sendo marginalizada na prática (COSTA, 2013, p. 3).

Ressaltadas tais subjetividades, nas quais todo documento histórico está imerso, ainda

é possível ter nos inventários e testamentos uma importante fonte. Assim, dos bens acima

mencionados, a quantia de 73:602$523 (setenta e três contos, seiscentos e dois mil,

quinhentos e vinte e três réis) era correspondente ao capital que cabia ao casal na sociedade da

empresa Fratelli Rebuá, no balanço de 1892 (TJMS - Inventário de Maria Antônia Rebuá, 1890-1894).

O que significa que a empresa possuía um capital maior do que o supracitado, já que ela tinha

dois proprietários. Apesar do cuidado que o historiador deve ter ao lidar com inventários,

ainda é possível concluir que esse ramo de negócios já era lucrativo nas duas últimas décadas

do século XIX.

Entretanto, a casa comercial citada não aparece entre os registros de comerciantes de

Miranda no ano de 1905 (Almanak Laemmert, 1905, p. 1.718). De fato, no início do século XX,

como veremos a seguir, Geasone Rebuá aparece como proprietário de outra firma. Ademais,

vale ressaltar que os irmãos italianos Geasone e Antonio Rebuá (Correio do Estado, 22 de maio de

1909, p. 8) participaram da fundação da Sociedade Italiana de Beneficência na cidade de

Corumbá no ano de 1892 (PÓVOAS, 1989, p. 203).

Geasone Rebuá & Cia.

A empresa Geasone Rebuá & Cia. tinha como sócio principal Geasone Rebuá, antigo

sócio da Fratelli Rebuá. O mesmo era casado com Henriqueta Pereira Rebuá, a qual falece em

15 de setembro de 1901, deixando 17 filhos, citados no quadro abaixo:

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158

Quadro 12

Filhos do casal Henriqueta Pereira Rebuá e Geasone Rebuá

Filhos Estado civil Idade

Elvira Rebuá Candia Casada 31

Amélia Rebuá de Camargo Casada 29

Angelo Rebuá Casado 28

Antonia Rebuá Ribeiro Casada 27

Rosalina Rebuá Araújo Casada 25

Emilia Rebuá Moliterno Casada 24

Pylades Rebuá Solteiro 22

Edelmira Rebuá Solteira 20

Celma Rebuá Candido Casada 18

Irene Rebuá Machado Casada 17

Lydia Rebuá Solteira 16

Francisco Rebuá Solteiro 14

Herminia Rebuá Solteira 12

Pedro Rebuá Solteira 9

Elvira Rebuá Solteira 7

Oreste Rebuá Solteiro 6

Antonio Rebuá Sobrinho Solteiro 4

Fonte: TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902

Essa empresa era constituída de duas casas comerciais, a matriz em Miranda e a filial

em Aquidauana. Podemos ter uma noção do capital dessa empresa com base no arrolamento

dos bens pertencentes ao casal Geasone e Henriqueta Rebuá. Assim, no balanço realizado em

17 de novembro de 1902, a matriz possuía em mercadorias o equivalente a 151:135$373

(cento e cinquenta e um contos, cento e trinta e cinco mil, trezentos e setenta e três réis) e no

caixa da empresa a quantia de 4:044$100 (quatro contos, quarenta e quatro mil e cem réis).

Em sua filial, as mercadorias foram avaliadas em 19:902$631 (dezenove contos, novecentos e

dois mil, seiscentos e trinta e um réis) e o dinheiro em caixa constituía a quantia de 1:007$500

(um conto, e sete mil e quinhentos réis). Essas casas comerciais eram lucrativas, pois em um

mês, as mercadorias vendidas somaram 16:708$582 (dezesseis contos, setecentos e oito mil e

quinhentos e oitenta e dois réis) (TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902).

Todavia, o capital aqui apresentado não representa na íntegra o valor do capital da

empresa, visto que era uma empresa com pelo menos mais um sócio, já que o nome da

empresa era Geasone Rebuá & Companhia. Apesar das precauções tomadas ao considerar os

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valores acima citados, ainda é possível concluir que a empresa era bem-sucedida, pois o casal

tinha outras posses. E os bens e dívidas ativas somadas equivaliam a 1.031:480$701 (um mil

e trinta e um contos, quatrocentos e oitenta mil, setecentos e um réis). Entre os bens

encontravam-se: casas comerciais, terrenos urbanos situados em Miranda e Corumbá,

fazendas, serraria e embarcações (TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902-1903).

Depois de pagos os direitos aos herdeiros supracitados, a firma Geasone Rebuá

continuou atuando em Miranda. Entretanto, apesar do nome da empresa continuar sendo

Geasone Rebuá, ele não aparece entre os sócios, quando da dissolução da empresa em

dezembro de 1913. Nesse momento, aparece o nome de seu filho Pylades Rebuá entre os

sócios, sendo os demais integrantes da firma: Afonso Calgagui, Raphael Candia, Pompeo de

Camargo (JUCEMAT - Livro de Registro, 1913-1914, p. 90-91). Pylades Rebuá, por sua vez, além de

comerciante foi figura política, sendo eleito deputado estadual (Correio do Estado, 9 de novembro

de 1911) e prefeito de Miranda (COSTA, 2010, p. 103). Além disso, era proprietário de uma olaria

em Miranda, no ano de 1935 (Almanak Laemmert, 1935, p. 542).

Angelo Rebuá & Irmão

Seguindo o caminho do pai, os irmãos Angelo e Francisco Rebuá estabeleceram a casa

comercial importadora e exportadora Angelo Rebuá & Irmão, em 1908, que veio a suceder a

empresa individual Angelo Rebuá. Sendo os integrantes dessa nova firma, Angelo Rebuá

como sócio capitalista e Francisco Rebuá como sócio de indústria (Album graphico, 1914,

anúncios, p. LVIII), ambos herdeiros da fortuna de Henriqueta Pereira Rebuá. Em 1902, Angelo

Rebuá morava em Aquidauana, e provavelmente, nesse período, era responsável pela filial da

casa Geasone Rebuá & Cia. ali situada, local onde deve ter iniciado suas atividades

comerciais (TJMS - Inventário de Henriqueta Pereira Rebuá, 1902).

Essa empresa era importadora “com relações diretas nas principais praças do Brasil e

do rio da Prata” e possuía as fazendas Pastinho e Bocaina, as quais eram utilizadas para a

criação de gado vacum e suíno. Dedicava-se à exportação, especialmente de couros vacuns e

crina, os quais, em sua maioria, eram provenientes das fazendas citadas (Album graphico, 1914,

anúncios, p. LVIII). A empresa era proprietária de duas chatas e da lancha Agachy, que se

ocupava do transporte de cargas e passageiros até Corumbá (Correio do Estado, 31 de julho de 1909,

p. 2). Mais tarde, adquiriram a lancha Elba e a chata Pedro II, que oferecia “acomodações de

camarotes, cozinha, e mais dependências”. A lancha Agachy estava sob comando de

Francisco Rebuá (Idem, 26 de fevereiro de 1910, p .2).

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Conforme evidências, em 1916 o contrato da empresa Angelo Rebuá sofre alterações,

momento em que entra para a sociedade Ludgero Albuquerque (JUCEMAT - Livro de Registro de

jul. 1914-set. 1919, p. 234).

Figura 22

Antiga casa comercial Angelo Rebuá, construída na primeira década do século XX

Fonte: Prefeitura Municipal de Miranda, 2010, apud SANTOS, 2011, p. 31.

No ano de 1918 essa empresa entra em liquidação, mas os mesmos, antes da

liquidação chegar ao final, participaram de uma licitação para fornecimento de dormentes de

madeira para a construção da Estrada de Ferro Itapura a Corumbá, conforme contrato:

declarou o senhor diretor interino que, havendo a referida firma concorrência [sic] satisfeito todas as exigências da lei e estando a sua proposta dentro do preço máximo estipulado pela diretoria da Estrada, em virtude da cláusula quinze do mesmo edital e a única apresentada para o fornecimento de dormentes no trecho compreendido entre Campo Grande e Porto Esperança, proposta essa que a referida firma apresentou, antes de entrar em liquidação e que foi publicada no Diário Oficial de vinte e sete de janeiro de mil novecentos e dezoito, tendo sido aberta e lida após o julgamento de idoneidade da firma proponente [...], resolvia, de acordo com o edital de concorrência, aceitar a referida proposta e contratar com Angelo Rebuá & Irmão, ora em liquidação, o fornecimento de dormentes de madeira de lei de primeira (Diário Oficial da União, 24/03/1918).

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Para que esse contrato entrasse em vigor, a empresa Angelo Rebuá & Irmão deveria

efetivar um depósito caução de dez contos de réis (10:000$000), que poderia ser em moeda

corrente ou em apólices da dívida pública, os quais deveriam ser depositados no Tesouro

Nacional. Esse valor, depositado como segurança, seria devolvido quando chegasse o fim do

contrato, em 31 de dezembro de 1918, e a empresa Angelo Rebuá & Irmão tivesse cumprido o

que o contrato estabelecia. Ou seja, a entrega de trinta mil dormentes (30.000), todos “de

madeira de lei de primeira classe, empilhados à margem da linha da mesma Estrada no trecho

citado entre Campo Grande e Porto Esperança, ao preço de 35$000 (trinta e cinco mil réis)

cada dezena”. Além disso, a extração da madeira deveria ser realizada nos meses de maio,

junho, julho e agosto e deveria fornecer por mês pelo menos a décima parte do que foi

contratado (Diário Oficial da União, 24/03/1918, p. 419-420).

Chega ao fim a liquidação da empresa Angelo Rebuá & Irmão, momento em que

Francisco Rebuá deixa a sociedade com seu irmão e recebe um capital de 20:787$798 (vinte

contos, setecentos e oitenta e sete mil, setecentos e noventa e oito réis). Então, uma nova

firma foi formada, sob a razão social de Rebuá & Albuquerque, em 12 de maio de 1919,

permanecendo os antigos sócios Angelo Rebuá com 70% e Ludgero de Albuquerque com

30% do capital, que somava a quantia de 224:897$401 (duzentos e vinte quatro contos,

oitocentos e noventa e sete mil, quatrocentos e um réis) (JUCEMAT - Livro de Registro de jul. de

1913 a set. 1919, p. 235).

Angelo Rebuá diversifica ainda mais seus investimentos, pois no dia 21 de julho de

1929 é inaugurada a Usina de Açúcar Santo Antônio Ltda., tendo por sócios: Antônio Ferreira

Cândido, José Theófilo de Araújo, Egino Guedes, Francisco e Angelo Rebuá

(http://www.ilovemsoficial.com/2012/08/pontos -turisticos-de-miranda.html, acessado em 28 de fevereiro).

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Figura 23

Edificação Industrial Usina Açucareira Santo Antonio Ltda.

Fonte: Prefeitura Municipal de Miranda 2010, apud SANTOS, 2011, p. 31.

Já no ano de 1935, as evidências indicam que, da citada empresa, somente Angelo

Rebuá continuava no ramo empresarial, pois era exportador de frutas, apicultor e possuía

fábrica de biscoitos e outra de macarrão. Além disso, estava entre os oito capitalistas da

cidade de Miranda (Almanak Laemmert, 1935, p. 542). As frutas podem ser um indício de que a

experimentação que Angelo realizou na primeira década do século XX foi bem-sucedida, pois

havia iniciado “um bem cuidado campo de experimentação para a lavoura, empregando

máquinas modernas, aratórias, irrigação e sulfatagem”, onde dedicava-se “com preferência a

flori-, horti- e fruticultura, bem com a experiências quanto à aclimatização de plantas

exóticas” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, anúncios, p. LVIII).

3.4 Casa comercial importadora e exportadora de Porto Murtinho.

Porto Murtinho teve seu surgimento ligado à Companhia Mate Laranjeira, como

apontado, anteriormente, no capítulo 1. Nessa nova localidade, tomamos conhecimento

somente do surgimento de uma casa comercial importadora e exportadora, da qual trataremos

a seguir.

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Victor Lasclotas

O surgimento da casa comercial Victor Lasclotas está atrelada ao surgimento de Porto

Murtinho. O novo porto mato-grossense começou a funcionar em 1894, mas foi somente em

1898 que foi instalada a primeira casa comercial. O empresário responsável por tal feito foi o

espanhol Victor Lasclotas, quem, segundo consta no anúncio por ele publicado no Album

graphico, viu na nova região uma oportunidade de crescimento, e assim, conforme o

progresso da localidade, a empresa foi se desenvolvendo (Album graphico, 1914, anúncios, p. XLIX-

L).

Victor Lasclotas estabeleceu uma filial em São Roque, localidade que estava no outro

extremo da ferrovia do tipo Decauville, construída pela Mate Laranjeira para superar o trecho

alagadiço da estrada que ligava os ervais ao novo porto. A escolha por estabelecer uma filial

em São Roque está vinculada ao fato de que aquele era um ponto convergente da recepção de

produtos que eram destinados a exportação e, ao mesmo tempo, facilitava a venda de produtos

importados para Bela Vista e Ponta Porã. Essa empresa importava das seguintes praças:

Alemanha, Inglaterra, França e Espanha, assim como de Montevidéu e Buenos Aires; as

praças nacionais com as quais realizava negócios eram: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Pelotas,

Pernambuco e São Paulo. A exportação era realizada diretamente para Hamburgo e

Montevidéu, através de comissários, sendo os produtos exportados a borracha de mangabeira,

cerdas e couros vacuns (Album graphico, 1914, anúncios, p. XLIX- L).

3.5 Casa comercial importadora e exportadora de Nioaque

Povoação fundada em 1848, à margem do rio Nioaque, mais tarde, em 1855, ganhou

um destacamento militar ligado ao Presídio de Miranda. Esse novo arranjo contribuiu para o

aumento populacional de Nioaque, que foi, todavia, arrasada durante a Guerra do Paraguai.

Após a guerra, a modesta povoação foi aos poucos ganhando novos habitantes e, entre eles,

alguns estrangeiros que ali se estabeleceram. Em 1890, Nioaque foi elevada à condição de

vila, e, conforme consta, no início da segunda década do século XX contava com cerca de 5

mil habitantes (MENDONÇA, 1914, p. 413).

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Vicente Anastacio

O imigrante italiano Vicente Anastacio se estabeleceu em Nioaque logo após o

fim da Guerra do Paraguai, abrindo a Casa Vicente Anastacio em 1871. No ano seguinte,

estabeleceu, à margem esquerda do rio Aquidauana, uma filial (Album graphico, 1914, anúncios, p.

LIX), situada na fazenda Santa Maria, de sua propriedade, e ali foi se desenvolvendo um núcleo

populacional. A instalação dessa filial estava ligada à necessidade de um porto para receber as

mercadorias importadas, e a escolha da margem esquerda, segundo a fonte, encontra-se no

fato que do lado direito não era possível atracar as barcas. Vicente Anastacio chegou a Mato

Grosso acompanhado de seus irmãos Braz e Giuseppe e, logo que chegou a Nioaque, casou-se

com a mato-grossense Theodora Machado (GOMES, p. 142-143).

O desenvolvimento da casa comercial acompanhou o desenvolvimento da economia

da região sul de Mato Grosso. Assim, atuavam no ramo da importação, exportação, navegação

e representação bancária e terras para exploração extrativista. A casa Vicente Anastacio

importava produtos dos mais variados, entre eles, secos, molhados, ferragens e armarinhos, e

contava com novidades de vestuários atualizados com a moda vigente. No que se refere à

exportação, comercializava borracha, couros vacuns, crina, penas de garça e paina. Além

disso, Vicente Anastacio era banqueiro da Caixa Geral das Famílias, da Bonificadora e da

Companhia Sul América (Album graphico, 1914, anúncios, p. LIX).

As terras que a casa comercial possuía estavam localizadas na região de Nioaque,

denominadas de fazenda São João e fazenda Urumbeba, a primeira com cinco e a segunda

com duas léguas quadradas, as quais contavam com cerca de quatro mil cabeças de gado

vacum e quinhentas cabeças de gado cavalar. A casa comercial Vicente Anastacio possuía o

vapor Liguria, que rebocava as chatas Albuquerque e Aieta e realizava o percurso de

Aquidauana-Corumbá-Aquidauana, viagens essas subvencionadas pelo Governo de Mato

Grosso (Album graphico, 1914, anúncios, p. LX).

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165

3.6 Casas comerciais importadoras e exportadoras de Aquidauana

A povoação de Aquidauana surgiu à margem do rio de mesmo nome, na última década

do século XIX, e se tornou ponto de ligação entre Campo Grande e Corumbá, agremiando

algumas casas comerciais de importação e exportação, algumas com matriz no local, assim

como filiais de grandes casas estabelecidas em Corumbá, Miranda, Nioaque.

Candia & Moliterno

Os irmãos italianos José e Fidelis Candia estabeleceram casa comercial importadora e

exportadora, primeiramente, em Nioaque, no ano de 1905. Mais tarde, no ano de 1908,

abriram uma filial à margem esquerda do rio Aquidauana, devido à importância daquele

porto. Depois, se associaram aos seus primos, também italianos, os irmãos Moliterno, no ano

de 1909, momento em que a Casa Candia & Irmão passa a denominar-se Candia & Moliterno

(MARTINS JUNIOR, 2012, p. 337-338).

Contudo, as fontes indicam que a casa Candia e Moliterno deixa de possuir casa

comercial em Nioaque, pois quando renovam a sociedade, em 192055, a matriz deixa Nioaque

e se estabelece em Aquidauana e a filial, por sua vez, em Campo Grande. Fato que demonstra

os rearranjos econômicos que o estado sofre no final da segunda década do século XX

(relacionados com a construção da E. F. Noroeste do Brasil). Também fica explícito que a

casa de Aquidauana estava sob os cuidados de José Candia e Vicente Moliterno, enquanto que

Raphael, Nicola e Angelo Moliterno, todos sócios, eram responsáveis pela empresa de Campo

Grande. Nesse contrato, não aparece o nome do antigo sócio Fidelis Candia. O capital da

empresa era de 222:765$559 (duzentos e vinte e dois contos, setecentos e sessenta e cinco mil

e quinhentos e cinquenta e nove réis), distribuídos entre as duas casas, sendo 122:765$559

(cento e vinte e dois contos, setecentos e sessenta e cinco mil e quinhentos e cinquenta e nove

réis) para a casa matriz e 100:000$000 (cem contos de réis) para a filial (JUCEMS - Livro de

Registros de Aquidauana, 1921-1928, p. 8). A participação de cada sócio na composição do capital

da empresa é explicitada, no quadro 13 a seguir.

55 O contrato tinha validade desde 1º de janeiro de 1920, mas foi registrado na Coletoria Estadual de Aquidauana

somente em 22 de agosto de 1921. Ademais, esse contrato tinha validade de 5 anos.

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166

Quadro 13

Distribuição do capital de Candia & Moliterno,

segundo os sócios, no ano de 1921

Sócios Capital

José Candia 52:900$150

Vicente Moliterno 56:264$974

Raphael Moliterno 40:514$321

Nicola Moliterno 20:000$000

Ângelo Moliterno 55:086$114

Fonte: Livro de Registro de Aquidauana, 1921-1928, p. 8

Os lucros da empresa eram divididos de forma igualitária entre cada sócio,

independentemente da participação no capital; e todos tinham função de gerência na empresa

(JUCEMS - Livro de Registro de Aquidauana, 1921-1928, p. 9). Essa empresa teve forte atuação econômica

e social na região e suas atividades iam além da importação e exportação, pois eram

representantes de instituições bancárias nacionais e estrangeiras como o City Bank, dos

Estados Unidos da América, e a Sociedade Bonificadora, de Minas Gerais. Dentre os

produtos que comercializava, encontravam-se os mais variados, desde “vestido de noiva a

caixões funerários, de mobília doméstica, joias e vinhos importados, até uma simples carne

seca” (MARTINS JUNIOR, 2012, p.342).

A casa Candia & Moliterno alcançou enorme destaque não só no ramo econômico mas

também no sociocultural, uma vez que a atuação dessa empresa perdurou ao longo dos anos e

passou a integrar o patrimônio histórico-cultural da cidade de Anastácio. Esse município,

originado do antigo bairro aquidauanense, situado à margem esquerda do rio Aquidauana,

recebeu o nome em homenagem ao comerciante Vicente Anastacio.

E na sua longa história de atuação, a casa mantém até os dias atuais suas portas

abertas, preservando a fachada e os móveis antigos, na cidade de Anastácio. Essa casa sofreu,

ao longo dos anos, diversas alterações na razão social, mas mantendo o nome fantasia de Casa

Candia. E hoje a proprietária é Jandira Trindade, filha de um antigo funcionário que se tornou

sócio dos italianos proprietários da casa Candia & Moliterno

(https://delcueto.wordpress.com/2016/06/11/armazem-emporio -e-mercearia/).

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Empório Cruzeiro do Sul

O italiano Raphael Orrico iniciou suas atividades no sul de Mato Grosso no ano de

1902, segundo consta em seu anúncio publicado no Album graphico. E mais tarde, viu em

Aquidauana um lugar propício, estabelecendo em 1910, em edifício próprio, a empresa

denominada Empório Cruzeiro do Sul, situada à rua Marechal Mallet. A empresa importava

os mais variados artigos como armarinhos, chapéus, molhados, ferragens, calçados, entre

outros, e exportava borracha mangabeira, couros vacuns, crina e penas de garça (Album

graphico, 1914, anúncios, p. LXI-LXII).

O empresário Raphael Orrico também estabeleceu em Aquidauana um espaço

cinematográfico, local que possuía acomodações para 800 pessoas, utilizando um

cinetoscópio adquirido em Paris. Além disso, anexado ao cinematógrafo, havia “um café bem

montado e uma bela sala de bilhar” (Album graphico, 1914, anúncios, p. LXI-LXII). Ao que parece,

esse aparelho foi o primeiro do sul de Mato Grosso, pois, em 1910, Raphael Orrico foi

responsável pela primeira exibição cinematográfica em Campo Grande (SÁ; CASTILHO, 2013, p.

242).

Esse empresário também atuou no campo político, pois no ano de 1916 parece na lista

de vereadores de Aquidauana (Almanak Laemmert, 1916, p. 2987) e nos anos de 1920 e 1924

como 2º vice-intendente municipal (http://www.cmaquidauana.ms.gov.br/intendentes -

gerais.html?tmpl=component&print=1).

3.7 Casas comerciais importadoras e exportadoras de Diamantino

A vila de Diamantino surgiu ainda no século XVIII, no auge da exploração aurífera. No

final do século XIX, essa localidade ganhou importância devido às transações comerciais da

borracha. Muitos comerciantes viram a oportunidade de lucrar nesse ramo, utilizando a

técnica que ficou conhecida como aviamento. Geralmente, nesse tipo de transação comercial

existiam três espécies de protagonistas: os seringueiros, os aviadores e os donos das terras

onde se explorava a borracha.56

A oportunidade da obtenção de lucros através do comércio em Diamantino e nas suas

redondezas levou diversos empresários a estabeleceram ali uma casa comercial. Dentre as

56 Essas relações são melhores explicadas no capítulo 4.

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168

empresas constituídas existiam, como já apontado anteriormente, as filiais de grandes casas

comerciais estabelecidas em Cuiabá, Corumbá e São Luiz de Cáceres. Essas, em sua maioria,

representavam um duplo papel: o de aviador e dos barões da borracha, pois tinham suas

próprias concessões de terras para extrair a borracha e ao mesmo tempo forneciam os

suprimentos para os seringueiros, garantindo enormes lucros. Existiam também empresários

do próprio local, que se associaram a grandes comerciantes de outras cidades, constituindo

novas empresas, mas que estavam totalmente subordinadas a eles, atuando, assim, apenas

como aviadores. Além disso, também ocorreu o surgimento de pequenas empresas que eram

originárias do local.

Ponce, Vieira, Lapporte & Cia.

A empresa Ponce, Vieira, Lapporte & Companhia era uma sociedade de capital e

indústria. O capital pertencia à firma Ponce, Azevedo & Cia.57 (composta por Generoso Paes

Leme de Souza Ponce, João Lourenço de Figueiredo e Américo Augusto Caldas), e os sócios

de indústria eram João Vieira do Santos e Clemente Lapporte. A sociedade passou a ter

validade em 20 de fevereiro de 1900. O capital da empresa foi formado por 50 contos de réis,

composto principalmente por mercadorias, e a gerência ficou a cargo dos sócios de indústria

(JUCEMAT - Livro de Registro de 1899-1904, p. 10-11).

Temos aqui uma interessante forma de sociedade comercial, pois a empresa Ponce,

Azevedo & Cia. aproveitou a oportunidade de se estabelecer no centro da exploração da

borracha, sem investir muito. Ao mesmo tempo, também foi vantajoso para os sócios de

indústria, que precisaram apenas entrar para a sociedade com seu trabalho. Na divisão dos

lucros ficou estipulado que à empresa Ponce, Azevedo & Companhia caberiam 50% e aos

sócios de indústria 25% para cada um; e os lucros só poderiam ser retirados ao final do

contrato, que, no caso, era de um ano (op. cit., p. 11). Os sócios de indústria podiam retirar, para

suas despesas mensais, 250 mil réis (JUCEMAT - Livro de Registros de 1899-1904, p. 12).

Apesar da empresa Ponce, Vieira, Lapporte & Companhia não ser filial da Ponce,

Azevedo & Cia., ela se encontrava presa a algumas regras que limitavam seus poderes de

ação. Pois, a borracha ou qualquer outro produto que a mesma adquirisse deveria ser vendida

no exterior somente por intermédio da casa Ponce, Azevedo & Cia. (op. cit., p. 11).

57 A atuação dessa empresa, que teve inicialmente casa matriz em Cuiabá e depois em Corumbá, foi trabalhada

em minha dissertação de mestrado intitulada As casas comerciais importadoras/exportadoras de Corumbá

(1904-1915). Ver o Anexo a esta tese.

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Essa associação teve vida efêmera, pois em um ano José Vieira deixa a sociedade com

um saldo devedor, referente às suas retiradas mensais no valor de 4:516$481 – valor que

deveria ser abatido de seus direitos, após realizar-se o balanço da empresa no dia 28 de

fevereiro de 1901 (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 41).

Com a saída do sócio José Vieira, foi formada a firma Ponce, Lapporte & Cia., que,

por sua vez, também não perdurou por muito tempo, pois menos de seis meses depois a nova

sociedade também é desfeita. Quando Clemente Lapporte deixa a sociedade, estava com um

débito junto a Ponce, Azevedo & Cia., num total de 5:680$260 (cinco contos, seiscentos e

oitenta mil, duzentos e sessenta réis), os quais seriam abatidos dos lucros quando fossem

verificados (JUCEMAT- Livro de Registros de 1899-1904, p. 52).

Concluímos aqui que a casa comercial situada em Diamantino, que estava antes sob as

razões sociais citadas acima, passou a ser uma filial da consolidada casa Ponce, Azevedo &

Cia.

Ferreira Mendes & Fontes

Essa casa comercial foi fundada pela importante figura diamantinense, o

desembargador Joaquim Pereira Ferreira Mendes e seu cunhado, o Tenente Coronel João José

Rodrigues Fontes, que se associaram para atuar nos ramos da exploração agropastoril e no

comércio de importação e exportação. Essa empresa foi constituída em 3 de fevereiro de 1900

com um capital de 100 contos de réis, pertencente em partes iguais aos sócios. Esse capital foi

formado pelos bens de ambos os sócios, sendo eles: dois imóveis urbanos, um na cidade de

Diamantino e outro em Cuiabá; terras e animais cavalares, muares e vacuns que ambos

possuíam em Diamantino; e, por fim, uma “casa de negócio herdada de seu finado pai e

sogro” (JUCEMAT- Livro de Registro de 1899-1904, p. 15-16).

A casa comercial ficou sob os cuidados do magistrado Joaquim Pereira Ferreira

Mendes, enquanto João José Rodrigues Fontes ficou responsável pela fiscalização e bom

andamento da lavoura e criação dos animais. Além disso, o tempo de duração dessa sociedade

era indeterminado (op. cit., p. 6). Contudo, o nome da empresa ou de seus sócios não aparecem

nos registros de exportação, o que se deve, provavelmente, ao fato de que os mesmos

deveriam utilizar outras empresas que trabalhavam com comissão e consignação para colocar

seus produtos no mercado exterior.

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170

3.8 Casa comercial importadora e exportadora de Rosário

Em 1872, a freguesia do Rosário foi elevada à condição de Vila, e em 1914 contava

com cerca de 1.500 habitantes (MENDONÇA, 1914, p. 358). De fato, Rosário, assim como

Diamantino, sofreu o impacto econômico ocorrido por causa do advento da exploração da

borracha na circunvizinhança. E as casas comerciais que ali se instalaram seguiam os mesmos

moldes das que se estabeleceram em Diamantino. Todavia é importante assinalar que não

encontrei registros de outras casas com matriz na cidade de Rosário.

Blais & Dorsa

A sociedade da casa comercial Blais & Dorsa foi formada pelos italianos Caetano

Blais e Domingos Dorsa58, em 11 de dezembro de 1899. O objetivo dessa sociedade, além de

constituir casa comercial em Rosário, era o comércio ambulante pelo interior do estado

(JUCEMAT - Livro de Registro de 1899-1904, p. 8). Nessa forma de atuação comercial, conseguiam

vender ou trocar produtos importados por produtos destinados à exportação, alcançando

clientes nos lugares mais remotos.

O capital dessa empresa era modesto, com apenas 31 contos de réis, sendo 24

pertencentes a Caetano Blais e 7 contos a Domingos Dorsa. Essa sociedade durou apenas o

prazo estabelecido no contrato, que foi de um ano. No momento da dissolução, o capital da

empresa foi avaliado em 42 contos de réis, ficando Caetano Blais com a casa comercial, 13

animais arreados e dívidas para receber na vila do Rosário; já para Domingos Dorsa couberam

11 contos de réis, equivalentes a 11 animais arreados, as mercadorias ambulantes e dívidas a

receber no valor de 1:500$000 (um conto e quinhentos mil réis) (op. cit.).

58 O mesmo da casa comercial Dorsa & Irmão, da cidade de Cuiabá.

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171

CAPÍTULO IV

A dinâmica das relações comerciais mato-grossenses

“Podemos dizer que todo grande negociante produzia a partir de si uma cadeia de endividamento que

coincidia, em grande parte, com sua rede de relações mercantis. Em outras palavras, relações

mercantis envolviam sempre, ou quase, a criação de relações de crédito” (Antonio Carlos Jucá de

Sampaio).

Foi na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX que se

intensificaram, em Mato Grosso, as relações comerciais em âmbito regional, nacional e

internacional. Neste capítulo, busco ilustrar parte dessas relações, demonstrando as redes

comerciais em que se inseriam algumas das principais casas comerciais do estado durante as

duas primeiras décadas do século XX.59.

No que diz respeito ao comércio exterior, convém inicialmente esclarecer que, nesse

período, as relações comerciais diretas estabelecidas pelo comércio mato-grossense – ao

contrário do que estamos acostumados a pensar – apresentavam-se relativamente restritas, ou

seja, limitavam-se aos vizinhos da América do Sul.

Para verificar essa situação, dispomos dos dados referentes à entrada de embarcações

estrangeiras nos portos mato-grossenses, dados esses fornecidos pelo Serviço/Diretoria de

Estatística Comercial do Ministério da Fazenda e que constam nas 3 tabelas seguintes60.

Esses dados, disponíveis para Corumbá, Porto Murtinho e Porto Esperança, indicam

que, entre 1901 e 1918, somente deram entrada nesses portos embarcações pertencentes à

Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia – com a única exceção de duas entradas italianas,

registradas em Porto Murtinho, em 1910.

Vale notar que, conforme indicam os dados consultados, nos casos de Paraguai e

Bolívia, a recíproca também é verdadeira: no período analisado, os portos mato-grossenses

foram os únicos portos brasileiros que registraram entradas de embarcações paraguaias.

59 É conveniente observar que a comercialização da erva-mate (um dos mais importantes gêneros exportados por

Mato Grosso, nessa época) era realizada diretamente pela empresa que monopolizava os ervais, ou seja, esse

intercâmbio não envolvia as casas comerciais aqui estudadas.

60 Estas tabelas foram elaboradas por Paulo Roberto Cimó Queiroz, para um trabalho ainda inédito, e cedidas

para utilização nesta tese.

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172

Quanto à Bolívia, o mesmo ocorreu entre 1910 e 1918 (sendo que em 1915 não houve entrada

de barcos bolivianos em portos brasileiros).

Tabela 38 – Corumbá: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor

(inclusive entradas repetidas), por nacionalidade

Anos

Embarcações – por nacionalidades e total (nº de entradas)

Argentina Uruguai Paraguai Bolívia Outras Total

1901 5 6 29 0 0 40

1902 6 9 54 0 0 69

1903 7 15 39 0 0 61

1904 4 21 25 0 0 50

1905 17 13 8 0 0 38

1906 6 14 8 0 0 28

1907 10 12 9 0 0 31

1908 3 11 0 0 0 14

1909 23 8 17 0 0 48

1910 35 12 10 2 0 59

1911 54 19 2 0 0 75

1912 51 17 7 0 0 75

1913 53 16 22 0 0 91

1914 35 8 29 0 0 72

1915 30 3 48 0 0 81

1916 11 4 42 2 0 59

1917 11 5 36 9 0 61

1918 2 2 61 5 0 70

Total 363 195 446 18 0 1.022

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da

Fazenda – 1901-1918, in http://memoria.org.br.

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173

Tabela 39 – Porto Murtinho: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor

(inclusive entradas repetidas), por nacionalidade

Anos Embarcações – por nacionalidades e total (nº de entradas)

Argentina Uruguai Paraguai Bolívia Outras Total

1901 8 11 37 0 0 56

1902 7 8 37 0 0 52

1903 8 9 23 0 0 40

1904 8 9 14 0 0 31

1905 16 13 2 0 0 31

1906 11 11 13 0 0 35

1907 9 17 20 0 0 46

1908 3 9 0 0 0 12

1909 42 10 39 0 0 91

1910 68 8 11 1 2 90

1911 71 24 2 0 0 97

1912 77 23 15 0 0 115

1913 62 17 27 0 0 106

1914 35 9 32 0 0 76

1915 27 5 44 0 0 76

1916 12 6 41 2 0 61

1917 18 6 60 7 0 91

1918 1 7 110 9 0 127

Total 483 202 527 19 2 1.233

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da

Fazenda – 1901-1918, in http://memoria.org.br.

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174

Tabela 40– Porto Esperança: Entrada de embarcações estrangeiras a vapor

(inclusive entradas repetidas), por nacionalidade

Anos

Embarcações – por nacionalidades e total (nº de entradas)

Argentina Uruguai Paraguai Bolívia Outras Total

1913 - - - - - - - - - - - - - - - - - -

1914 - - - - - - - - - - - - - - - - - -

1915 - - - - - - - - - - - - - - - - - -

1916 - - - - - - - - - - - - - - - - - -

1917 9 2 39 7 - - - 57

1918 2 3 64 6 - - - 75

Total 11 5 103 13 - - - 132

Fonte: Publicações do Serviço / Directoria de Estatística Commercial do Ministério da

Fazenda – 1913-1918, in http://memoria.org.br.

Retomando a discussão sobre as redes e práticas das casas comerciais mato-grossenses,

buscarei a partir de agora efetuar uma discussão com base em dois grupos de fontes às quais

tive acesso:

1) Os dados da Mesa de Rendas de Corumbá, especificamente os livros de registros

de exportação, em trânsito, de produtos bolivianos, e os Registros de despachos de exportação

de produtos de Mato Grosso;

2) A documentação referente à Delegacia Fiscal do Norte, existente no APMT. Esse

fundo apresenta um vastíssimo número de documentos, entre eles relatórios dos delegados, da

mencionada Delegacia, aos governadores de Mato Grosso; assim como dados de centenas de

exploradores da borracha que atuavam na porção centro-norte, assim como dos compradores

situados nas praças amazonense e paraense. Ademais, apresentam também relatórios de

viagens dos inspetores da arrecadação fiscal, nos principais locais onde se explorava a

borracha, além de outras minuciosas informações. Todavia, não busco aqui dar conta de toda

essa documentação, visto que somente ela, em si, já daria uma tese. Busco então, através dos

dados abaixo mencionados, entender como funcionava esse comércio entre Mato Grosso e os

estados do Amazonas e o Pará.

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175

4.1. As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e a Bolívia

Embora, como foi visto pelas tabelas acima, as embarcações paraguaias fossem as

mais numerosas entre as embarcações estrangeiras que chegavam a Corumbá, a

documentação referente à Mesa de Rendas de Corumbá não traz informações sobre o

comércio entre Mato Grosso e o Paraguai. O que consta é apenas o comércio de trânsito

realizado pela Bolívia.

As relações fronteiriças são imbuídas de trocas simbólicas, econômicas e culturais,

constituindo-se um espaço geográfico com características próprias da vivência de seus

habitantes em suas diferentes temporalidades. Assim, existiram, e ainda existem diversas

formas de interação na fronteira dos atuais territórios do Brasil e da Bolívia. Além disso,

las fronteras mismas tienen su propia dinámica que han desarrollado quizás con más fuerza al estar alejadas tanto de los centros de poder a nivel nacional como departamental, o estatal, luchando, en el caso boliviano, contra el aislamiento y buscando surgir gracias a los intercambios comerciales que les han dado vida, en diversos momentos de su historia (GARRETT, 2014, p. 123).

De fato, esses contatos comerciais iniciaram-se ainda na primeira metade do século

XVIII, mais especificamente entre a capitania de Mato Grosso e as províncias de Moxos e

Chiquitos. E com o adentrar do novo século, as autoridades locais dos dois lados da fronteira

buscaram meios de melhorar os caminhos já existentes, assim como providenciar a abertura

de novas vias de comunicação61 para facilitar e incentivar as trocas comerciais. Todavia, foi

no final do século XIX e início do século XX que o intercâmbio comercial entre Mato Grosso e

a Bolívia ganhou novas características, no auge da exploração e exportação da borracha.

Momento em que brasileiros e estrangeiros se instalaram na zona fronteiriça do Vale do

Guaporé, e, conforme consta, foram os brasileiros os primeiros a explorarem os seringais

tanto do lado brasileiro como do lado boliviano, ainda na segunda metade do século XIX

(MARQUES, 1908, p. 7). Realidade que se altera na virada do século XIX para o XX com o afluxo

de bolivianos para a área fronteiriça do Vale do Guaporé, movimentação essa causada

principalmente pelo auge da produção gomífera, que estava com cotação elevada no mercado

exterior. Além disso, a “questão do Acre” intensificou a presença de bolivianos na fronteira,

incentivados pelo governo como uma forma de garantir o território nessa região rica em

seringais (GARCIA, 2009, p. 75).

61 Conforme apontado no capítulo 1.

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176

Nesse momento, o contrabando ou “descaminhos” se intensificaram pela fácil

movimentação dos dois lados da fronteira na região amazônica. Dessa forma, a região do Vale

do Guaporé atraiu empresários de diversas nacionalidades para investir nessa área fronteiriça;

empresários esses que já estavam sediados na Bolívia ou em Mato Grosso havia algum tempo,

e outros que vieram de além-mar em busca de altos lucros por meio da exploração e

exportação da borracha. Assim passaram a explorar a seringa nos dois lados da fronteira, fato

que facilitava o trânsito de mercadorias de um lado para o outro sem pagar os devidos

impostos. Do lado brasileiro da fronteira, foram concedidas grandes extensões de terras

públicas mato-grossenses a empresários brasileiros e estrangeiros, e esses, por sua vez,

sempre que possível se apossavam de uma área maior que a concedida, colocando sob seu

domínio uma grande faixa territorial (GARCIA, 2009).

A posse da terra concedida se dava com o estabelecimento de barracões, ao longo das

margens dos principais rios que serviam como vias de comunicação (MARQUES, 1908). Os

chamados barracões eram locais onde se concentravam as moradias dos chefes e encarregados

da extração da borracha e o armazém; local esse em que eram armazenadas as mercadorias

que eram fornecidas aos seringueiros em troca da borracha como forma de pagamento. Tais

produtos eram fornecidos aos seringueiros a preços exorbitantes, na forma que ficou

conhecida como aviamento. Sobre as relações entre o seringueiro e o seringalista em Mato

Grosso, podemos deduzir que se davam no mesmo molde do que ocorria no Amazonas e no

Pará. Conforme apontou Barbára Weisntein, nesses locais

Um seringueiro era responsável por duas estradas de seringueiras, em que trabalhava em dias alternados. Essas estradas tinham normalmente a forma de uma alça, com um traçado que mal se percebe, cada uma delas ligando entre si de cem a duzentas héveas, a espécie de árvore de borracha mais comumente explorada na Amazônia e a que produz o látex de melhor qualidade. [...] No sábado ou no domingo, o seringueiro entregava então o que produzira na semana (ou no mês) no ‘barracão mais próximo’, o posto mercantil central gerido pelo ‘patrão’ do seringueiro, que era, ou o grande proprietário da terra (seringalista) que ‘arrendava’ as estradas ao seringueiro, mediante uma porcentagem da borracha extraída, ou o comerciante local (conhecido geralmente como ‘aviador’) que controlava informalmente a produção e comércio da borracha na área (WEINSTEIN, 1993, p. 31-32).

O aviador, nessa teia de negócios, era o que mais lucrava, pois fazia o papel

intermediário, e no caso de grande parte das casas comerciais estudadas nesse trabalho, elas

iam além, pois faziam o papel de casa aviadora e ao mesmo tempo de exportadora. No caso de

outras empresas que atuaram na porção norte de Mato Grosso, essas geralmente estavam a

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177

serviços de outras grandes empresas atuantes no Amazonas e no Pará, como veremos mais

adiante.

A mão de obra utilizada na exploração da borracha no Vale do Guaporé foi em grande

parte de indígenas, que eram submetidos a condições que podemos denominar de trabalho

servil, devido aos péssimos tratos e miséria a que eram submetidos. Evidências dessas

condições são encontradas no relato do engenheiro Manoel Esperidião da Costa Marques,

que, ao viajar pelo vale do Baixo Guaporé a serviço da Casa Maciel & Cia, relatou o modus

vivendi da região. Segundo ele, “os camaradas dos bolivianos, índios chiquitanos, são

alimentados exclusivamente a milho, que às vezes falta e a fome vem” (MARQUES, 1908, p. 11).

Apesar de tal relato se referir ao lado boliviano, podemos supor que o mesmo se dava do lado

brasileiro, e o silêncio sobre tais relações se deve ao fato de o autor estar a serviço da Casa

Maciel & Cia., uma das mais importantes da região, a qual atuava nos dois lados da fronteira.

Além da concessão de grandes extensões de terras para a explorar a borracha, mão de

obra barata, trabalho servil, havia outro atrativo nessa região de fronteira: o contrabando. De

fato, a questão dos “desvios” na região fronteiriça entre o Brasil e a Bolívia eram motivos de

preocupações por parte das autoridades. Assim, o Inspetor da Alfândega de Manaus, Pedro

Torres Leite, percorreu a fronteira na porção norte de Mato Grosso, no percurso da Estrada de

Ferro Madeira-Mamoré, nos anos de 1913 e 1914, e relatou como se dava o processo de

contrabando. Segundo ele:

Em pequenas embarcações a remos são transportadas as mercadorias [vindas da Bolívia para o lado brasileiro] pelos rios Madeira, Abunã, Mamoré, Guaporé e outros, e vendidas ou permutadas por borracha nos barracões situados às margens brasileiras dos mesmos rios, sem o menor embaraço, o mais naturalmente possível. [...] As embarcações sobem carregadas de mercadorias e voltam carregadas de borracha para as referidas aduanas bolivianas. Metade, senão dois terços da borracha exportada pela Bolívia, é brasileira, de procedência de Mato Grosso, Acre e Amazonas (LEITE, 1924, p. 60).

Com base na fala do então Inspetor, pode-se notar que o contrabando da borracha era

algo rotineiro na fronteira entre Brasil e Bolívia. E foi nesse contexto que muitos proprietários

de casas comerciais de Corumbá passaram a atuar nessa região, o que nos leva a deduzir que

grande parte da borracha exportada como de procedência boliviana era, na verdade, extraída

em território brasileiro. E, conforme apontou Garcia, o sistema de contrabando consistia em

extrair a borracha do lado brasileiro e declarar que era extraída do lado boliviano, deixando

assim de pagar os devidos direitos ao estado de Mato Grosso (GARCIA, 2009, p. 73). Esse

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178

sistema era utilizado como uma forma de fugir dos impostos mato-grossenses, que eram bem

superiores aos cobrados do lado boliviano.

Na óbvia ausência de dados sobre o comércio ilícito, o que nos resta, para tentar

analisar o intercâmbio fronteiriço entre Mato Grosso e a Bolívia, são os dados oficiais sobre

as mercadorias exportadas da Bolívia via Corumbá, na modalidade “em trânsito”, com destino

aos mercados estrangeiros, os quais constam nas tabelas abaixo.

Tabela 41: Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito

pelo Porto de Corumbá no ano de 1908

EMPRESAS

PRODUTOS

Borracha fina Borracha

sernamby

Couros

vacuns secos

Couros

de onça

Couros

silvestres

Cera Total

João C.

Carstens

--- --- 3:457$500 --- --- --- 3:457$500

Larocca,

Mônaco & Cia.

--- --- 955$500 300$000 --- --- 1:255$500

M. Cavassa

Filhos & Cia.

--- --- 3:225$000 --- --- --- 3:225$000

Ponce,

Azevedo &

Cia.

668:485$400 57:691$295 101:025$588 337$200 31$000 10$080 827:580$563

TOTAL 668:485$400 57:691$295 108:663$588 637$200 31$000 10$080 835:518$563

Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em

trânsito pelo porto de Corumbá, 1908.

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Tabela 42 : Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito

pelo Porto de Corumbá no ano de 1909

EMPRESAS

PRODUTOS

Borracha

fina

Borracha

sernamby

Couros

vacuns secos

Couros de

onça

Couros

silvestres

Café

com

casca

Total

F. Simon --- --- 1:360$000 --- --- --- 1:360$000

João C.

Carstens

42:380$400 1:759$000 1:370$400 --- --- --- 45:509$800

Ponce,

Azevedo &

Cia.

709:309$600 69:995$000 11:441$200 450$000 --- 55$000 791:250$800

Stöfen,

Schnack,

Müller & Cia.

104:864$000 6:112$000 984$000 60$000 1$000 --- 112:021$000

Wanderley,

Baís & Cia.

--- --- 2:256$000 --- --- --- 2:256$000

TOTAL 856:554$000 77:866$000 17:411$600 510$000 1$000 55$000 952:397$600

Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em

trânsito pelo porto de Corumbá, 1909.

Tabela 43: Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito

pelo Porto de Corumbá no ano de 1910

EMPRESAS

PRODUTOS

Borracha fina Borracha

sernamby

Couros

vacuns secos

Couros

de onça

Penas de

garça

Total

Aurelio Jantsch 53:071$200 2:992$000 --- --- --- 56:063$200

F. Simon --- --- 1:126$400 --- 5:000$000 6:126$400

João L. A.

Coutinho

9:652$000 --- --- --- --- 9:652$000

Stöfen, Schnack,

Müller & Cia.

790:612$226 119:725$800 10:507$168 90$000 --- 920:935$194

TOTAL 853:335$426 122:717$800 11:633$568 90$000 5:000$000 992:776$794

Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia

em trânsito pelo porto de Corumbá, 1910.

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180

Tabela 44 – Valor total dos produtos exportados da Bolívia em trânsito

pelo Porto de Corumbá no ano de 1912

EMPRESAS

PRODUTOS

Borracha

fina

Borracha

mangabeira

Borracha

Sernambi

Couros

vacuns

secos

Couros

de onça

Couros

silvestres

Penas de

garça

Total

Aurelio

Jantsch

303:534$100 --- 41:216$600 732$000 270$000 --- --- 345:752$700

F. Simon 108:015$296 205$280 8:490$840 12:568$640 630$000 10$000 1:500$000 131:420$056

M. Cavassa 3:959$280 --- 111$454 --- --- --- --- 4:070$734

Stöfen,

Schnack,

Müller & Cia.

188:616$000 --- 4:406$000 4:156$800 --- --- 90$000 197:268$800

Wanderley,

Baís & Cia.

--- --- --- 3:518$000 --- --- --- 3:518$000

TOTAL 604:124$676 205$280 54:224$894 20:975$440 900$000 10$000 1:590$000 682:030$290

Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em

trânsito pelo porto de Corumbá, 1912.

Tabela 45 – Valor total das exportações de produtos da Bolívia

em trânsito pelo Porto de Corumbá no ano de 1913

EMPRESAS

PRODUTOS

Borracha

fina

Borracha

mangabeira

Borracha

sernambi

Couros

vacuns

secos

Couros de

onça

Couros

silvestres

Penas de

garça

Total

Aurelio Jantsch 265:386$500 1:343$664 26:636$206 10:744$800 450$000 --- 877$500 305:438$670

F. Simon 55:421$400 194$618 9:821$200 5:357$300 780$000 --- --- 71:574$518

Stöfen, Schnack,

Müller & Cia.

126:452$000 1:093$060 7:892$886 11:330$900 --- --- 2:525$000 149:293$846

Wanderley,

Baís &

Cia.

--- --- --- 800$000 --- --- --- 800$000

Total 447:259$900 2:631$342 44:350$292 28:233$000 1:230$000 --- 3:402$500 527:107$034

Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em trânsito

pelo porto de Corumbá, 1913.

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181

Tabela 46 – Valor total das exportações de produtos da Bolívia

em trânsito pelo Porto de Corumbá no ano de 1915

EMPRESAS

PRODUTOS

Borracha fina Borracha sernambi Couros vacuns secos Total

Aurelio Jantsch 532:182$991 23:558$812 30:359$200 586:101$003

Aristides Ramos 20:397$000 1:073$065 7:382$400 28:852$465

M. Cavassa 2:045$000 641$578 --- 2:686$578

Stöfen, Schnack,

Müller e Cia.

15:753$000 --- 6:687$000 22:440$000

Wanderley, Baís e

Cia.

--- --- 1:270$000 1:270$000

Total 570:377$991 25:273:455 45:698$600 641:350$046

Fonte: Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística Comercial de produtos exportados da Bolívia em

trânsito pelo porto de Corumbá, 1915.

Nota-se que os exportadores dos produtos ditos bolivianos, constantes nas tabelas

acima, eram todas empresas que estavam situadas em Mato Grosso, com exceção da Stöfen,

Schnack & Müller & Cia., empresa essa que possuía uma forte rede de atuação nos dois lados

da fronteira (v. mapa 4).

Analisando-se os valores totais, ao longo dos seis anos para os quais temos dados,

nota-se também que, dentre os 10 exportadores que aparecem, apenas três apresentam valores

mais significativos: Ponce, Azevedo & Cia; Stofen, Schnack & Müller; e Aurélio Jantsch.

As demais (com a parcial exceção de João C. Carstens, Feliciano Simon e Aristides

Ramos) surgem nos registros com valores extremamente baixos. Assim sendo, pode-se supor

que, nesses casos, os dados deviam expressar um comércio real, ou seja, produtos bolivianos

que, por alguma razão, eram efetivamente exportados por meio desses estabelecimentos. De

fato, todos os produtos que aparecem nas tabelas – principalmente borracha, couros vacuns,

peles de animais silvestres e penas de garça – podiam ser encontrados dos dois lados da

fronteira.

Entretanto, chamam a atenção os elevados valores das exportações realizadas pelas

três empresas acima citadas, valores aliás concentrados nos vários tipos de borracha.

A Stöfen, Schnack & Müller & Cia., além de possuir uma matriz em Corumbá e duas

filiais (uma em Aquidauana e a outra no rio Guaporé), também tinha uma grande atuação em

diversas localidades bolivianas, sendo a matriz em Puerto Suarez, com filiais em Santiago,

Santa Ana, San José, San Ignácio, Concepción e rio Itenez (TARGAS, 2012). Note-se que todas

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182

as filiais estavam em locais estratégicos no que se refere à exploração da borracha e ao

fornecimento de suprimentos aos seringueiros62.

É conveniente observar que, no final do século XIX, a Bolívia atraiu vários imigrantes

alemães que atuavam no ramo da importação e exportação utilizando a rota do Atlântico, via

rio Paraguai e estuário do Prata. Nesse processo observa-se a grande importância adquirida

por Puerto Suarez, uma povoação criada em 1880, durante a Guerra do Pacífico, e que se

destacou com a perda do acesso direto da Bolívia ao mar, em decorrência dessa guerra. Nesse

contexto, o comércio de Puerto Suárez, via estuário do Prata, passa a receber mercadorias

estrangeiras, destinadas ao mercado boliviano, e a exportar gêneros de produção local. Assim,

Puerto Suarez em 1884 ganha a instalação de uma aduana, e o comércio na rota comercial

Puerto Suarez-Santa Cruz de la Sierra se intensifica tanto com a importação como com a

exportação, principalmente da borracha (HOLLWEG, 1995, p. 191-192).

Dentre esses comerciantes alemães temos a presença da citada casa Stöfen, Schnack &

Müller & Cia. Sua origem se deu em 1893, sob a razão social Vöss & Villinger, depois

alterada para Vöss & Stöfen e por último Stöfen, Schnack & Müller (HOLLWEG, 1995, p. 232).

Essa casa alemã tinha uma grande rede de atuação, pois iniciava-se na porção sul de Mato

Grosso e da Bolívia e se estendia até a porção noroeste de Mato Grosso e norte da Bolívia;

assim navegavam todo o rio Guaporé, com sua lancha denominada “Mequenes” (APMT –

DFN63, Relatório, 1913, p. 76).

Em um relatório de 1918, o Delegado Fiscal do Norte faz menção a uma firma alemã

que atuava nos dois lados da fronteira no Vale do Guaporé e que contrabandeava praticamente

toda a sua produção para a Bolívia. Apesar de o delegado não dizer o nome da empresa, as

características indicam que seja a Casa Stöfen, Schnack, Müller & Cia., pois, segundo ele, “a

firma alemã [...] possui quer no nosso território, quer no território da Bolívia, casas em

diversos pontos, sendo seu principal gênero de negócio a exploração de goma elástica”

(APMT-DFN, Relatório, 1918, p. 21). E a solução para diminuir o contrabando seria aumentar a

fiscalização com a circulação de lanchas e mais instalações de postos fiscais. O delegado

ainda completa dizendo que, se as medidas fossem adotadas, “a fiscalização seria quase

completa e somente trafegariam por essa zona levando à praça de Corumbá para seu

62 Vale notar que isso parece ser verdadeiro até mesmo para o caso da filial de Aquidauana, já que a região do

cerrado sul-mato-grossense era fornecedora da borracha de mangabeira.

63 Utilizarei a sigla DFN quando me referir à Delegacia Fiscal do Norte

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183

beneficiamento de seus produtos a legítima borracha de procedência boliviana e não aquela

que duvidosamente o fazem por falta vigilância fiscal” (op. cit. p. 22).

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184

MAPA 4 – LOCAIS DAS MATRIZES E FILIAIS DA

EMPRESA STÖFEN, SCHNACK, MÜLLER & CIA.

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185

As evidências corroboram a afirmação do referido delegado, pois embora sua atuação

incluísse os dois lados da fronteira, na exportação realizada por essa casa comercial pelo porto

de Corumbá destacavam-se os valores das mercadorias declaradas como sendo de procedência

boliviana, os quais eram muitíssimo mais elevados que os valores referentes a produtos

procedentes de Mato Grosso (v. o gráfico abaixo).

Gráfico 2

Comparação dos valores das exportações da Casa Stöfen, Schnack, Müller & Cia. nos anos de

1910 e 1912, segundo sua procedência declarada (em réis)

Fontes: APMT – Livro de Registros de Exportação em trânsito por Corumbá, 1910 e

1912; Targas 2012.

A ausência de dados impossibilita a realização de uma análise ano a ano. Contudo, as

informações disponíveis nos permitem visualizar a grande discrepância de valores. Chamam a

atenção os números do ano de 1910, sendo que, em virtude do fato de que essa empresa tinha

forte atuação no Vale do Guaporé, provavelmente a quase totalidade dos valores apresentados

13

4:7

93$

364

56

:28

7$1

85

92

0:9

35$

194

19

7:2

68$

800

1 9 1 0 1 9 1 2

Mato Grosso Bolívia

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186

deviam referir-se a mercadorias de procedência brasileira, embora declaradas como sendo

bolivianas.

No que concerne à casa Aurélio Jantsch, os dados constantes nas tabelas mostram que,

nos anos de 1912, 1913 e 1915, ela exportou uma quantia considerável. Contudo, vale

destacar que essa empresa não era exportadora e sim comissionaria, ou seja, era responsável

por remeter ao exterior produtos mediante uma comissão. Sendo assim, com relação à origem

do volume total da borracha exportada, encontram-se fontes muito variadas, a saber: outras

empresas situadas em locais distantes do porto de Corumbá, e ainda, até mesmo os próprios

seringueiros – alguns dos quais, tentando fugir do controle do “patrão” sobre a produção,

acabavam entrando em negociações diretas com a empresa compradora64.

Finalmente, com referência à empresa Ponce, Azevedo & Cia.65, ao analisar sua

documentação não tomamos conhecimento sobre propriedades no Vale do Guaporé, muito

menos sobre atuação da empresa em terras bolivianas. No entanto, assim como no caso da

empresa alemã, os valores das exportações de produtos ditos bolivianos realizadas por Ponce,

Azevedo & Cia. (cf. as tabelas dos anos de 1908 e 1909) apresentam-se muito mais elevados

se comparados com os valores das exportações de produtos declarados como mato-

grossenses66. Apesar da ausência de dados sobre as exportações declaradas brasileiras nesses

anos, vemos que há uma enorme discrepância entre os valores, considerando a grande

extensão de terras que essa empresa possuía (TARGAS, 2012).

Assim, o que deveria ocorrer, no caso de Ponce, Azevedo & Cia., é que os produtos

exportados, principalmente a borracha e os couros remetidos ao exterior como sendo de

procedência boliviana, eram, na verdade, originados de suas propriedades situadas em

Diamantino. Sobre o modo como ocorria o processo para burlar o sistema de fiscalização,

temos duas hipóteses, as quais podem ser aplicadas para as todas as empresas aqui analisadas.

Primeiramente podemos supor que a nota era emitida sem a presença da borracha;

nesse possível esquema fraudulento, seria necessário somente que um representante da

empresa se dirigisse até a aduana de Puerto Suarez, localidade próxima a Corumbá, ou de San

Mathias, estação fiscal próxima a São Luiz de Cáceres (ver mapa 4), para obter a nota fiscal

que, depois, seria apresentada na Mesa de Rendas de Corumbá.

64 Conforme aponta Barbara Weinstein (1993) circulava nas regiões dos seringais aviadores que compravam

borracha direto do seringueiro.

65 Ver, em anexo, as informações sobre essa empresa, assim como as demais casas corumbaenses citadas nessa

tese.

66 Nos anos de 1905, 1907 e 1910, a casa Ponce, Azevedo & Cia. exportou produtos mato-grossenses no total,

respectivamente, de 21:564$567, 25:013$264 e 1:308$000 (cf. TARGAS, 2012).

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187

A segunda hipótese consistiria em simplesmente atravessar a borracha extraída em

Mato Grosso para a Bolívia, e, por dentro do território desse país, seguir por terra desde a

região de fronteira próxima a São Luiz de Cáceres até Corumbá. De fato, evidências

empíricas apontam para o fato de que a borracha extraída no Alto Guaporé era levada até a

cidade de Mato Grosso, local onde deixavam as embarcações e eram levadas em carretas

“para Sant’ Ana, depois Santo Coração, fazendo grandes viagens, e procurando Corumbá por

onde fazem a exportação” (MARQUES, 1908, p. 50). Assim, havia realmente uma rota por

território boliviano que dava acesso da cidade de Mato Grosso até Corumbá, o que facilitava o

comércio ilícito.

Ainda sobre as atividades comerciais na região de fronteira entre Mato Grosso e a

Bolívia, no Vale do Guaporé, especialmente no Médio e Baixo Guaporé, sabe-se que aí

atuaram também comerciantes ligados a praças amazonenses, e ainda aqueles que escoavam

suas mercadorias tanto pela via platina como pela Bacia Amazônica.

Nesse último caso, temos a presença do mato-grossense Balbino Antunes Maciel,

integrante da firma Maciel & Cia. que atuava nessa região desde a década de 1870 (GARCIA,

2009, p. 68); após ter obtido algumas concessões de terras, fixou ali barracões “nas melhores

áreas para a extração da borracha, sem se preocupar em demarcá-las” (op. cit., p. 162). Contudo,

em virtude da instauração da República, foi criada a Lei Fundiária de Mato Grosso, a Lei n°

20, de 1892, regulamentada pelo Decreto nº 38, de 1893, que passou a exigir a demarcação

das terras para a exploração da borracha. E foi nesse contexto que Balbino Antunes Maciel

contratou o já citado engenheiro mato-grossense Manoel Esperidião da Costa Marques, no

ano de 1899, para medir os seringais que se encontravam sob seu domínio e estavam

localizados “à margem do Guaporé, desde a foz do Corumbiara até o rio Lamengo, nas

proximidades do Forte do Príncipe da Beira” (MARQUES, 1908, p. V).

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MAPA 4 -LOCALIDADES SITUADAS NA FRONTEIRA DE MATO GROSSO COM A BOLÍVIA, NO

PERÍODO ESTUDADO

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189

Nos dois lados da fronteira no Vale do Guaporé, havia industriais brasileiros,

bolivianos e alemães, estes mais presentes do lado boliviano. Todavia, nos barracões que se

encontravam no lado brasileiro da linha divisória entre os dois países, as ligações, tanto

comerciais como até mesmo identitárias, eram bem maiores com o lado boliviano, pois eram

poucas as pessoas que falavam o português, predominando o castelhano, assim como a moeda

e os jornais circulantes eram de origem boliviana (MARQUES, 1908, 8-11).

Nessa região, a atuação das casas comerciais importadoras e exportadoras aqui

estudadas limitou-se aos casos das empresas Stöfen, Schnack, Müller & Cia. e Maciel & Cia.;

pelos dados de que tomei conhecimento, a primeira escoava seus produtos pelo estuário do

Prata, enquanto a segunda enviava a maior parte de sua produção pela via amazônica

(MARQUES, 1908). Todavia, é importante destacar que:

Em suas operações no vale do Guaporé, Balbino Antunes Maciel chegou a utilizar um veículo a vapor, que puxava alguns vagões e era utilizado no transporte de borracha e produtos importados. Esse veículo percorria a estrada de terra entre um ponto do rio Jauru (Salitre, atual Porto Esperidião) e um ponto do rio Guaporé (Ponte Velha, atual Pontes e Lacerda), justamente a região onde no passado se supunha ser possível fazer a transposição das águas dos rios Alegre e Aguapeí, ligando as bacias Amazônica e Platina (GARCIA, 2009, p. 69).

A ação da casa Maciel & Cia. atingia todo o Vale do Guaporé, “estabelecidos com

barracas desde muito antes do Forte do Príncipe da Beira até Villa-Bella, florescente

povoação boliviana, na foz do rio Beni, onde tem grande casa comercial, importadora de

mercadorias” (MARQUES, 1908, p. 49-50). Dessa forma, grande parte de sua produção era

exportada pela Bacia Amazônica. Apesar de eu não ter encontrado o nome dessa empresa nos

dados de exportação pela Mesa de Rendas de Corumbá, há indícios de sua ligação comercial

com a cidade de Corumbá (MARQUES, 1908); assim, é possível que a produção de Maciel &

Cia., exportada via Bacia Platina, fosse feita através de alguma outra empresa que trabalhava

com comissões e consignações.

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190

4.2 As relações comerciais envolvendo Mato Grosso e os estados do Amazonas e

Pará

A documentação referente à Delegacia Fiscal do Norte (criada pelo estado de Mato

Grosso para arrecadar os tributos sobre os produtos exportados pela Bacia Amazônica),

existente no Arquivo Público de Mato Grosso, é extremamente vasta. Neste capítulo,

portanto, busco utilizar parte dessa documentação a fim de ilustrar a dinâmica do comércio

envolvendo Mato Grosso e seus dois vizinhos amazônicos.

Como mencionado no capítulo 1, os limites entre o estado de Mato Grosso e os

estados vizinhos do Pará e Amazonas ainda não estavam definidos. Essa situação levou a

desavenças entre esses estados, devido ao aumento da cotação internacional sobre o valor da

borracha e à descentralização republicana, a qual transferiu a receita de exportação para os

estados, levando à disputa pelos impostos sobre a borracha. Contudo, esse foi um processo

que, tendo-se iniciado no fim do século XIX, só se resolveu no final da segunda década do

século XX.

Enquanto os limites de Mato Grosso com o Amazonas e o Pará não eram definidos

pelas autoridades competentes, foi realizado um acordo para regular a exploração da borracha

na região. Assim, várias agências fiscais foram instaladas nos principais rios onde era extraída

e por onde se escoava a borracha. Vale lembrar que essas agências fiscais estavam situadas

em rios que pertencem à Bacia Amazônica (v. mapa 6). Assim, nos postos e agências fiscais

eram registrados em quilogramas os produtos exportados por Mato Grosso que saíam tanto

pelo Amazonas como pelo Pará. Os valores tributários eram pagos nas Recebedorias do

Amazonas e do Pará, conforme a cotação do dia. A seguir, uma reprodução de um mapa da

época que demonstra os rios onde estavam instalados os postos e agências fiscais na porção

Norte de Mato Grosso.

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191

Mapa 6

Porção Noroeste de Mato Grosso: postos e agências fiscais,

linha telegráfica, rios e estrada de ferro

Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, documentos avulsos.

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192

Conforme demonstrado no mapa, eram os seguintes os pontos onde se encontravam as

agências fiscais mato-grossenses dedicadas à tributação da borracha (único produto na pauta

de exportação desses anos): Agências Fiscais de Villa Murtinho (a qual tinha sob seus

cuidados também os postos fiscais de Presidente Marques e Esperidião Marques), São

Manoel, Jamary, Machado e Santo Antonio (a qual tinha sob seus cuidados também o posto

fiscal de Generoso Ponce).

Analisemos os dados das tabelas a seguir, referentes aos anos de 1911 a 1914 e que

demonstram os valores em quilograma dos produtos exportados por cada agência fiscal.

Tabela 47 – Total de borracha exportada pela Agência de Vila Murtinho (em kg),

segundo sua classificação (1911-1914)

Ano Fina Sernambi Sernambi de

caucho

Caucho Total

1911 2.383 376 6.587 --- 9.346

1912 29.691 4.178 72.393 240 106.502

1913 45.121 3.097,5 254.413 --- 302.631,5

1914 115.882,5 8.363,5 267.666 --- 391.912

Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 67.

Tabela 48 – Total de borracha exportada pela Agência de São Manoel (em kg),

segundo sua classificação (1911-1914)

Ano Fina Sernamby Sernamby de

Caucho

Caucho Total

1911 34.918 9.646 27.472 1.652 73.688

1912 79.046 28.178 19.360 41.572 168.156

1913 53.991 13.600 55.545 --- 123.136

1914 72.838 15.616 77.729 --- 166.183

Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 68.

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193

Tabela 49 – Total de borracha exportada do Jamary (em kg),

segundo sua classificação (1911-1914)

Ano Fina Sernamby Sernamby de

Caucho

Caucho Total

1911 372.267 33.864 395.882 152 802.165

1912 441.672 35.582 560.133 341 1.037.728

1913 363.102 40.640 585.070 50.997 1.039.809

1914 590.809 36.403 676.172 1.476 1.304.860

Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p . 64.

Tabela 50 – Total de borracha exportada do Rio Machado (em kg),

segundo sua classificação (1911-1914)

Ano Fina Sernamby Sernamby de

Caucho

Caucho Total

1911 343.143 37.389 113.770 21.450 515.752

1912 487.906 83.902 427.958 32.036 1.031.802

1913 400.912 51.445 311.330 22.799 786.486

1914 393.321 32.897 400.560 2.491 829.289

Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 65.

Tabela 51 – Total de borracha exportada pela Agência Fiscal de Santo Antonio (em kg),

segundo sua classificação (1911-1914)

Ano Fina Sernamby Sernamby de

caucho

Caucho Total

1911 93.509 9.527 87.137 2.043 192.216

1912 114.749 23.344 221.550 2.780 362.423

1913 111.070 8.136,5 263.699,5 36 382.942

1914 146.513 10.904 289.054 472 446.943

Fonte: APMT – Delegacia Fiscal do Norte, Relatório do ano de 1915, em Manaus, p. 66.

A instalação dos postos e agências fiscais às margens dos principais rios mato-

grossenses ricos em seringais buscava tentar impedir que sua produção fosse declarada como

sendo procedente da Bolívia ou mesmo do Amazonas, pela forte ligação das zonas produtoras

com esse estado. A fiscalização na zona de produção gomífera foi aumentando a cada ano; e

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194

talvez isso explique por que, mesmo com a queda da demanda internacional, os números da

exportação se mantiveram e, em alguns casos, chegaram a subir modestamente.

Também podemos observar que as agências Jamary e Machado eram responsáveis

pelo controle da maior quantidade de borracha que saía pelo norte de Mato Grosso (v. tabela

52). Contudo, vale destacar aqui o caso da Agência Villa Murtinho. Apesar de ser responsável

pelo controle da borracha do Vale do Guaporé, uma região consideravelmente grande e com

uma produção elevada, essa agência se encontra apenas em penúltimo lugar no ranking da

média dos totais de todas as agências mencionadas acima. Assim, deduz-se que ela tem em

seus registros um valor bem inferior à sua capacidade, e assim temos, mais uma vez,

evidências do intenso “desvio” de borracha mato-grossense sendo atravessada para o lado

boliviano, como foi visto no tópico anterior.

Tabela 52 – Total da exportação de borracha pela Delegacia Fiscal do Norte (em kg),

segundo as agências fiscais (1911-1914)

Ano Agências fiscais

Jamary Machado Santo Antonio São Manoel Villa Murtinho Total

1911 802.165 515.752 192.216 73.688 9.346 1.593.167

1912 1.037.728 1.031.802 362.423 168.156 106.502 2.706.611

1913 1.039.809 786.486 382.942 123.136 302.631,5 2.635.004,5

1914 1.304.860 829.289 446.943 166.183 391.912 3.139.187

Total 4.184.562 3.163.329 1.384.524 531.163 810.391,5 10.073.969,5

Fonte: dados das tabelas 47 a 51.

Às margens dos rios Jamary, Machado, São Manoel (conhecido também por Teles

Pires), Juruena, Madeira, Mamoré, bem como dos principais afluentes de todos esses rios,

atuavam os seringalistas, casas aviadoras e casas importadoras e exportadoras.

Com base nos dados da Delegacia Fiscal do Norte foi possível perceber que atuaram

no negócio da borracha em Mato Grosso três tipos de casas aviadoras, cujas características

busco apresentar a seguir, de maneira geral.

O perfil mais atuante refere-se ao comerciante que somente aviava. Nesse caso, não

possuía terras nem realizava importação ou exportação; era apenas o intermediário entre os

seringalistas e as grandes casas exportadoras. Seu processo consistia em comprar nas cidades

de Manaus, Santarém ou Belém produtos importados, geralmente a crédito, e depois fornecê-

los aos seringueiros, no mesmo sistema de crédito, pois receberia mais tarde, como

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195

pagamento, a borracha. No caso dos seringueiros, o crédito dado a estes recebia o aval do

seringalista junto ao aviador, fato que colocava os seringueiros ainda mais nas mãos dos

seringalistas, pois aqueles já começavam a trabalhar endividados. Assim, os seringueiros

pagavam suas dívidas com a porcentagem que lhe cabia na coleta da borracha. Esse aviador

acabava também por comprar a produção de seringalistas que não possuíam uma estrutura

independente, como barcos e contatos com casas exportadoras.

Outra categoria atuante nos seringais era quando “um seringalista particularmente rico

poderia juntar dinheiro suficiente para adquirir um navio, expandir seu posto comercial e

estabelecer sua própria casa aviadora”. Por último, e no mais alto escalão estava a casa

comercial importadora e exportadora67 que se tornava seringalista, verticalizando assim seus

negócios e controlando, portanto, desde a extração da goma até sua exportação. A empresa

eliminava, dessa maneira, a presença dos intermediários, o que levava a lucros altíssimos

(WEINSTEIN, 1993, p. 36).

Dentre os registros encontrados no fundo da Delegacia Fiscal do Norte, pudemos

tomar conhecimento de centenas de pessoas ligadas ao comércio aviador na porção norte de

Mato Grosso, ligados principalmente à praça de Manaus, e alguns às cidades de Santarém e

Belém.

Dentre os industrias que atuavam no noroeste de Mato Grosso, temos a forte presença

da firma Ascensi & Cia., dos quais o próprio estado de Mato Grosso, alugava uma instalação

para seu posto fiscal em Calama, à margem do rio Madeira (APMT-DFN, Relatório, 1918, p. 72).

De fato, essa empresa foi ao longo dos anos acumulando propriedades, pois em 1912

conseguiu 108 mil hectares de terra, localizados às margens do rio Machado (APMT-DFN,

Relatório, 1912, p. 23). No ano seguinte, recebeu mais 54 mil hectares na mesma região, e assim

se tornaram os maiores industrias do Baixo Madeira (idem, 1913, p. 32). Praticamente todos os

despachos da firma Ascensi & Cia. eram remetidos à casa B. Corbacho & Cia.; temos aqui um

exemplo de uma casa aviadora que remetia seus produtos para uma empresa exportadora

efetuar seu escoamento (APMT-DFN, Relatórios, 1912 e 1913).

A empresa B. Levy & Cia., por sua vez, era o tipo de casa comercial aviadora que

atuava de ponta a ponta no negócio da borracha, pois, através da análise dos dados de

produtos despachados nos postos e agências fiscais de Mato Grosso, verifica-se que essa

67 O processo semelhante ocorria com as casas comerciais da porção central e sul de Mato Grosso, como a

Stöfen, Schnack, Müller & Cia., Ponce Azevedo & Cia., Orlando, Irmãos & Cia., entre outras que atuaram no

ramo da exploração da borracha e da pecuária.

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196

empresa era quem despachava e recebia sua própria produção; além disso, aparece entre as

empresas que recebiam a produção da borracha de terceiros (APMT-DFN, Relatórios, 1912 e 1913).

A exemplo dessa empresa temos diversas outras, entre as quais destacamos: Braga, Vieira &

Cia.; R. P. Brazil, Benchimol & Irmão; Z. Ohliger & C. e A. Andresen, que eram os nomes

que mais apareciam na lista dos carregadores e recebedores de Mato Grosso.

Infelizmente, não me é possível, aqui, dar conta dos detalhes sobre quem eram essas

empresas que atuavam na porção norte de Mato Grosso, do mesmo modo como procedi com

relação às casas que atuavam na porção centro-sul do estado.

Isso se deve ao fato de que, além de ser um volume considerável de empresas que

atuavam nessa região, elas não estavam registradas na JUCEMAT, o que nos impede de

conhecer seus dados relativos a capitais, sócios, duração etc. Aliás, o fato de essas empresas

não constarem nos registros da JUCEMAT me leva a concluir que as mesmas já estavam

atuando nessa região havia muito tempo, e, quando da chegada da fiscalização de Mato

Grosso sobre a extração da borracha, elas apenas passaram a ser tributadas por tal estado, mas

não deixaram seus vínculos de origem, que no caso eram com o Amazonas e, em menor

quantidade, com o Pará.

Assim, o que pretendi nesta tese, neste momento, é tão somente compreender a

importância da borracha explorada na porção norte de Mato Grosso para a economia do

estado. De tal forma, abaixo demonstramos os dados da exportação por ano, segundo as

agências, para melhor elucidação.

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197

Quadro 14

Volume da borracha exportada (em kg) pela Delegacia Fiscal do Norte

e respectivos valores dos impostos arrecadados, em réis (1907-1921)

Ano Volume da borracha

em kg

Valor arrecadado em

impostos, em réis

1907 1.190.918 ___

1908 1.560.941 ___

1909 1.229.582 ___

1910 1.545.521 2.652:978$018

1911 1.593.167 1.714:395$113

1912 2.705.270 2.208:504$364

1913 2.662.872 1.871:569$297

1914 3.139.187 1.630:340$302

1915 2.998.376 1.631:992$781

1918 4.328.405 1.022:585$620

1919 4.108.121 1.232:914$484

1920 3.926.064 878:712$975

1921 2.752.704 436:887$175

Fonte: Relatórios dos Delegados da Delegacia Fiscal do Norte – 1914 e 1921.

Analisando-se o quadro acima, nota-se que entre 1907 e 1911 o volume da exportação

da borracha se manteve estável, com uma leve variação. Todavia, a partir de 1912 o total de

borracha em quilogramas praticamente dobra, em comparação com os volumes antes

registrados.

Sobre os valores arrecadados em impostos sobre a borracha, só temos dados após o

ano de 1910, mas mesmo assim é possível fazer uma análise. Assim, analisando-se os anos de

1910 a 1921, percebe-se que a arrecadação dos direitos tributários sobre a exportação da

borracha passou a sofrer um decréscimo acentuado ano a ano, chegando a representar, em

1921, menos de 1/6 do que era arrecadado em 1910.

Tudo isso tem a ver, obviamente, com o fato de que, com o adentrar da segunda

década do século XX, a borracha brasileira começou a sofrer os efeitos da concorrência da

borracha asiática.

De fato, embora os direitos tributários tenham caído, a produção da borracha

continuou em ascendência considerável desde 1910 até 1919, apresentando uma pequena

variação no ano de 1915. Tal fato se deve à estratégia administrativa do estado de Mato

Grosso, que viu a alternativa de reduzir o imposto sobre a borracha como uma forma de

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incentivar a extração e diminuir o contrabando. Tal medida fez com que, apesar da crise que

afetava a borracha amazônica no comércio internacional, em vista da concorrência com a

borracha asiática, o volume exportado continuasse a crescer, evitando assim que essa indústria

deixasse de existir.

Finalmente, para avaliar o papel da borracha, em especial dos impostos arrecadados

pela Delegacia Fiscal do Norte, para as finanças do estado de Mato Grosso, analisemos os

dados da tabela abaixo.

Tabela 53: Comparação entre os dados da receita de Mato Grosso,

com destaque para a participação da borracha (1910-1915)

Ano Receita geral de

Mato Grosso

Receita total

proveniente da

exportação de Mato

Grosso

Receita proveniente da

borracha exportada pela

Delegacia Fiscal do Norte

1906 1.523:641$305 --- ---

1907 2.277:629$036 --- ---

1908 2.403:219$178 --- ---

1909 3.606:146$269 --- ---

1910 5.116:726$883 3.741:513$630 2.652:978$018

1911 4.258:265$778 --- 1.714:395$113

1912 4.734:430$515 2.783:702$617 2.208:475$284

1913 4.498:029$039 2.881:277$299 1.871:599$297

1914 4.078:979$292 2.164:200$512 1.630:340$302

1915 3.838:415$016 --- 1.631:162$841

1916 4.129:147$629 --- 1.785:929$122

1917 4.327:573$637 --- 1.486:310$358

1918 4.561:409$585 --- 1.022:585$620

Fontes: Relatórios dos Presidentes de Mato Grosso dos anos de 1911 a 1914 e de 1919;

Relatórios dos delegados da Delegacia Fiscal do Norte dos anos de 1914 a 1918.

A partir da comparação dos dados da tabela acima, fica evidente o peso da

participação da borracha para a economia de Mato Grosso, sobretudo os impostos arrecadados

pela Delegacia Fiscal do Norte, que contribuíam de forma significativa para a receita do

estado, chegando a aproximadamente metade da receita nos anos de 1910 e 1912. A

importância da goma elástica perdurou como a maior fonte da receita de Mato Grosso até

1920, quando a receita proveniente da pecuária consegue superar a da borracha em

226:296$976 (duzentos e vinte seis contos, duzentos e noventa e seis mil, novecentos e

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setenta e seis réis, cf. RMT, 07/09/1920, p. 123). E foi, de fato, com o encerramento da segunda

década do século XX que a estrutura econômica de Mato Grosso ganhou um novo cenário,

tornando-se o quarto estado brasileiro com maior rebanho bovino (BORGES, 2001, p. 79).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho, procurei analisar algumas das características

econômicas e sociais de Mato Grosso, tendo atenção especial à atuação das casas comerciais

importadoras e exportadoras nesse processo. Assim, foi possível perceber que as mudanças

que se processaram em Mato Grosso, no período abordado, embora tendo ocorrido em um

ritmo moderado, permitiram o surgimento de vias de comunicação e núcleos populacionais

que foram gerando uma nova dinâmica na economia mato-grossense.

Todavia, é notável que a abertura da livre navegação pelo rio Paraguai, ocorrida

em 1856/1858 e consolidada após o fim da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai,

ocasionou um novo redirecionamento dos fluxos econômicos de Mato Grosso, passando

assim a ter uma ligação direta com os principais portos platinos e brasileiros. E foi nesse

momento que se instalaram as primeiras casas comerciais importadoras e exportadoras em

Mato Grosso, constituídas seja por mato-grossenses, por brasileiros radicados em Mato

Grosso há várias décadas ou por estrangeiros.

Essa nova via de comunicação em Mato Grosso contribuiu para o surgimento

de novas vilas e cidades, todas interligadas pelas redes de contatos e de transações comerciais.

O porto de Corumbá se tornou o eixo principal de ligação das várias localidades do centro-sul

mato-grossense com outras praças, principalmente com os centros platinos e brasileiros,

embora as grandes casas comerciais possuíssem também contatos diretos com as principais

praças europeias. Todavia, vimos que, apesar de as empresas mato-grossenses terem ligações

comerciais com empresas europeias, as embarcações que chegavam aos portos mato-

grossenses, pelo menos nas duas primeiras décadas do século XX, eram todas de

nacionalidades da América do Sul, com exceção de duas entradas de embarcações italianas,

em Porto Murtinho, no ano de 1910. De fato, Mato Grosso recebeu um grande número de

imigrantes italianos, os quais se dedicaram a diversos tipos de negócios, entre eles o ramo da

importação e exportação.

As casas comerciais importadoras e exportadoras tendiam a enviar um membro

da empresa a países platinos e europeus para estabelecer relações comerciais. Assim,

viajavam para a Europa (geralmente, no caso dos estrangeiros, para seus próprios países de

origem e cidades em que tinham relações familiares), onde procuravam efetivar negócios,

oferecendo os produtos derivados da extração vegetal e da pecuária e, ao mesmo tempo,

comprando produtos industrializados para serem revendidos em Mato Grosso. Muitas dessas

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201

negociações eram feitas sob a forma de comissão ou consignação. Claro que, após serem

estabelecidas pessoalmente as primeiras relações comerciais, estas depois passavam a ser via

correspondência, ou seja, os pedidos eram efetivados através de cartas e telegramas. Enfim, as

casas comerciais importadoras e exportadoras, além de negociarem com uma enorme

variedade de itens, desde o atacado ao varejo, chegaram a tornar-se representantes de grandes

bancos alemães e ingleses.

Apesar da forte presença das casas comerciais em Mato Grosso, citadas ao

longo do trabalho, vimos que praticamente todas elas estavam sediadas no centro-sul do

estado, pois na porção norte a predominância era de empresas ligadas aos centros da Bacia

Amazônica (estados do Amazonas e do Pará). Além disso, foi possível perceber que, mesmo

que as empresas aqui analisadas tivessem como principal produto de exportação a borracha,

era a porção norte que concentrava a maior parte dos seringais, e estes estavam sob controle

de casas importadoras/exportadoras sediadas em Belém ou Manaus ou a serviço dessas

empresas.

Dessa maneira, no que concerne à exploração da borracha na porção norte do

estado, a participação de empresas sediadas em Mato Grosso reduz-se aos casos da Casa

Maciel & Cia. e da casa alemã Stöfen, Schnack, Müller & Cia., esta última, com forte ligação

com a Bolívia; quanto ao mais, o papel de Mato Grosso se limitava à venda ou concessão de

terras e à cobrança de impostos sobre a borracha extraída.

As transações comerciais que se davam entre Mato Grosso e a Bolívia

apresentavam suas especificidades, pois havia empresários atuando tanto no lado brasileiro

como no lado boliviano. Nesse contexto, havia aqueles que se utilizavam de rotas por

território boliviano para efetuar o chamado contrabando, ou seja, exportavam produtos

brasileiros declarados como sendo de origem boliviana. Então, podemos dizer que Mato

Grosso foi um dos principais produtores de goma elástica, visto que os dados do Boletim

Estatístico Comercial apontam que 30% da borracha dita amazonense era, na verdade, de

origem mato-grossense; ademais, temos que considerar o contrabando e as saídas pelo porto

de Corumbá.

Enfim, longe de ter esgotado a temática das casas comerciais mato-grossenses,

espero ter contribuído para o estudo desse tema de forma geral, uma vez que ainda são poucos

os estudos nessa área.

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202

REFERÊNCIAS

Fontes citadas

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Livro de Registros de Escritura e Publicações de 1899 a 1904 – JUCEMAT

Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e outros documentos de 1910 a 1913 - JUCEMAT

Livro de Registros de 1913 a 1914 - JUCEMAT

Livro de Registros de Escritura e Contratos de 1914 a 1919 – JUCEMAT

Livro de Registro de Aquidauana de 1921-1928 - JUCEMS

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Corumbá – APMT

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Delegado Octávio da Costa Marques, 1912.

Relatório apresentado ao Presidente do Estado Joaquim Augusto da Costa Marques, pelo

Delegado Octávio da Costa Marques, 1913.

Relatório apresentado ao Presidente Joaquim Augusto da Costa Marques, pela Delegacia Fiscal

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1917.

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Mattos, 1918.

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Relatório da Delegacia Fiscal do Norte, em Manaus, 1920.

Relatório da Delegacia Fiscal do Norte, em Manaus, 1921.

Convênio Fiscal provisório firmado com o governo do Amazonas, em 24 de maio de 1917 (APMT).

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203

Documentos extraídos de Meios eletrônicos

Correio do Estado, 22 de maio de 1909. Disponível em: memória.bn.br

Correio do Estado, 31 de julho de 1909. Disponível em: memória.bn.br

Correio do Estado, 26 de fevereiro de 1910. Disponível em: memória.bn.br

Correio do Estado, 09 de novembro de 1911. Disponível em: memória.bn.br

Diário Oficial da União, 24/03/1918. Disponível em: www.jusbrasil.com.br/diarios/DOU/1918/03/24,

Diário Oficial do Amazonas, ano XVIII, nº 4.881, Manaus 22/09/1910 (APMT).

Coleção de leis do Império: (consultados em http://www2.camara.leg.br/atividade-leg islativa/legislacao/publicacoes/doimperio).

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Decreto nº 4.388, de 15 de julho de 1869

Decretos nº 4.707, de 31 de março de 1871.

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Intendentes Gerais. Camara Municipal de Aquidauana. Disponível em:

http://www.cmaquidauana.ms.gov.br/intendentes-gerais.html?tmpl=component&print=1, acessado em 25 de

fevereiro de 2017.

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DISCURSO [...] José Antônio Pimenta Bueno [...] 1º de março de 1836.

Cuiabá: Tip. Provincial, 1845.

DISCURSO [...] José Antônio Pimenta Bueno [...] 1º de março de 1837.

Cuiabá: Tip. Provincial, 1845.

DISCURSO [...] José Antônio Pimenta Bueno [...] 1º de março de 1838.

Cuiabá: Tip. Provincial, 1845.

DISCURSO [...] Estêvão Ribeiro de Rezende [...] 1º de março de 1840.

Cuiabá: Tip. Provincial, 1840.

DISCURSO [...] Ricardo José Gomes [...]1º de março de 1845.

Cuiabá: Tip. Provincial, 1845.

DISCURSO [...] João Cipriano [...] 3 de maio de 1847. Cuiabá:

Tip. Provincial, 1847.

FALLA [...] 2 de março de 1839 [...] Estêvão Ribeiro de Rezende.

Manuscrito.

RELATÓRIO [...] Joaquim José de Oliveira [...] 3 de maio de 1849. Rio

de Janeiro: J. Villeneuve, 1850.

RELATÓRIO [...] Augusto Leverger [...] 10 de maio de 1851. Cuiabá:

Tip. do Echo Cuyabano, 1852.

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204

RELATÓRIO [...] Augusto Leverger [...] 4 de dezembro de 1856. Cuiabá:

Tip. do Echo Cuyabano, 1856.

RELATÓRIO [...] Albano de Sousa Osório [...] 3 de maio de 1857.

Cuiabá: Tip. do Noticiador Cuyabano, 1857.

RELATÓRIO [...] Herculano Ferreira Penna [...] 3 de maio de 1862.

Cuiabá: Tip. do Mato Grosso, 1864.

RELATÓRIO [...] Augusto Leverger [...] 8 de maio de 1866.

Cuiabá: Tip. do Mato Grosso, 1866.

RELATÓRIO [...] Francisco José Cardoso [...] 20 de agosto de 1871

Júnior. Cuiabá: Tip. do Souza Neves & Comp.,1873.

RELATÓRIO [...] Francisco José Cardoso [...] 04 de outubro de 1872

Júnior. Cuiabá: Tip. do Souza Neves & Comp.,1872.

RELATÓRIO [...] Francisco José Cardoso [...] 03 de maio de 1873

Júnior. Cuiabá: Tip. do Souza Neves & Comp.,1873.

RELATÓRIO [...] Francisco José Cardoso [...] 03 de maio de 1874

Júnior. Cuiabá: Tip. do Souza Neves & Comp., [nd]

RELATÓRIO [...] João José Pedrosa [...] 1º de novembro de 1878.

RELATÓRIO [...] João José Pedrosa [...] 1º de outubro de 1879.

Cuiabá: Tip. do Liberal, 1879.

RELATÓRIO [...] João José Pedrosa [...] 1º de outubro de 1880.

Cuiabá: Tip. De Joaquim J. R. Calháo, 1880.

RELATÓRIO [...] 12 de julho de 1886 [...] Joaquim Galdino Pimentel.

Cuiabá: Tip. da Situação, 1886.

MENSAGEM [...] 1º de fevereiro de 1896 [...] Antônio Corrêa da Costa.

Cuiabá: Tip. do Estado, 1896.

MENSAGEM [...] Antonio Corrêa da Costa [...] 1º de fevereiro de

1897. Cuiabá: Tip. do Estado, 1897.

MENSAGEM [...] Antônio Paes de Barros [...] 3 de março de 1904.

Cuiabá: Tip. do Estado, 1904.

MENSAGEM [...] Antônio Paes de Barros [...] 4 de março de 1905.

Manuscrito.

MENSAGEM [...] Joaquim Augusto da Costa Marques [...]13 de maio de 1912

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MENSAGEM [...] Caetano Manoel de Faria e Albuquerque [...] 15 de maio de 1916

[...]. Cuiabá: Tip. Oficial, 1916.

PUBLICAÇÕES do Serviço/Directoria de Estatística Commercial do Ministério da Fazenda

(1900-1918). (consultadas em memoria.org.br)

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ANEXO

(TARGAS, 2012, Capítulo 3)

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CAPÍTULO III

AS CASAS IMPORTADORAS/EXPORTADORAS DE CORUMBÁ:

EMPRESÁRIOS, CAPITAIS, VINCULAÇÕES EXTERNAS E INTERNAS,

PRÁTICAS COMERCIAIS

Com o despontar do século XX o comércio corumbaense incrementou-se e, em

consequência, ocorreu a abertura de novas casas comerciais de importação e exportação;

porém, verifica-se que esse ramo empresarial não ficou limitado aos estrangeiros, visto que

brasileiros vindos de outras praças, assim como mato-grossenses, também fizeram parte do

comércio de importação/exportação. Além disso, é possível perceber que, no caso das casas

comerciais de importação e exportação de Corumbá (e provavelmente em todo o Estado), as

sociedades de tais empreendimentos apresentam suas especificidades, visto que havia

empresas pertencentes a estrangeiros, assim como a brasileiros, mas também havia sociedades

em que brasileiros e estrangeiros se associavam. Além disso, as empresas pertencentes a

estrangeiros negociavam produtos importados de diversas nacionalidades, não se limitando ao

país de origem de seus sócios.

3.1 As casas importadoras/exportadoras de Corumbá: empresários, capitais, vinculações

externas e internas

Em sua análise da economia mato-grossense na virada do século XIX para o XX,

Alves distingue rigidamente, por um lado, a figura dos comerciantes (proprietários das casas

comerciais importadoras e/ou exportadoras – que ele chama de comerciantes mato-

grossenses, isto é, parte da burguesia mato-grossense da época), e, por outro lado, os

representantes do capital financeiro, isto é, o capital e as empresas estrangeiras,

“imperialistas”.

As evidências empíricas, contudo, demonstram que essa separação não tem razão de

ser. Entre as empresas aqui estudadas encontra-se, ao contrário, uma grande diversidade de

situações: comerciantes de origem estrangeira que se encontravam radicados em Mato Grosso

havia várias décadas (e portanto, de certa forma, já “identificados” com o meio); comerciantes

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estrangeiros recém-chegados, isto é, vindos entre fins do século XIX e inícios do XX;

comerciantes brasileiros não-mato-grossenses mas igualmente radicados e bem estabelecidos

na província/estado; e também, por certo, comerciantes naturais da própria província.

Independentemente, contudo, de sua origem ou caracterização inicial, todos esses tipos

de empresários tenderam a manter vínculos, igualmente diversos, com empresas e capitais

estrangeiros (no caso, especificamente europeus) – e também, claro, com outras forças

econômicas e políticas regionais e nacionais.

Essa diversidade é que busco expor nas análises que se seguem, referentes a algumas

das casas comerciais mais importantes do período abordado.

M. Cavassa Filho & Cia.

O português Manoel Cavassa, nascido em Lisboa, filho de mãe portuguesa e pai

italiano, emigrou para a América do Sul em 1842, e “depois de haver percorrido vários outros

lugares”, se estabelece em Buenos Aires, local onde afirma ter adquirido, através de muito

trabalho, “uma pequena fortuna” (CAVASSA, 1997, p. 20), conforme expressa em seu

Memorandum:

ali comprei um pequeno navio, com o qual empreendi a navegação do rio Uruguai, e no ano de 1850 me dediquei á carreira entre os portos de Buenos Aires e Assunção, República do Paraguai, com carregamento de minha propriedade, vendendo e comprando por minha conta, o que produziu-me bons lucros, fazendo avultar o meu capital (CAVASSA, 1997, p. 20).

E após a liberação da navegação fluvial pelo rio Paraguai, Manoel Cavassa teve a

oportunidade de conhecer Mato Grosso. Então, embarca em seu navio carregado de

mercadorias e chega à vila de Corumbá, ao final de 1857, e estabelece relações comerciais

com os habitantes da vila como também “com embarcações que vinham da capital, de Villa

Maria68 e de Miranda” (CAVASSA, 1997, p. 21). Através da análise do Memorandum de Manoel

Cavassa, dirigido ao Presidente da República no ano de 1894, com o intuito de conseguir

indenização pelas perdas durante a Guerra do Paraguai, pode-se entender que o comércio em

Mato Grosso era lucrat-ivo. Então, Manoel Cavassa, após passar dez meses em seu navio no

Porto de Corumbá, resolve fixar residência e comércio na vila (CAVASSA, 1997, p. 20-21), em

68 Atual cidade de Cáceres.

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1858; seus negócios são interrompidos por causa da Guerra do Paraguai, mas com o fim da

mesma, em 1870, a Casa Manoel Cavassa é restabelecida (Album graphico do Estado de Matto-

Grosso, 1914, p. XXI).

A referida Casa Manoel Cavassa tem sua razão social alterada para Cavassa & Irmãos,

acredito que essa alteração tenha ocorrido por causa da morte de Manoel Cavassa em 1900 (cf.

a introdução escrita por Valmir B. Corrêa e Lúcia S. Corrêa, in: CAVASSA, 1997, p. 17), já que os

proprietários da firma sucessora foram: João Pedro Cavassa, Raphael Cavassa, Julio M.

Cavassa, todos filhos de Manoel Cavassa. Entretanto, com a entrada de Manoel Cavassa

Filho, Mariano Cavassa e Salustiano Maciel, a razão social é alterada para M. Cavassa Filho

& Cia. (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXI). Não foi possível especificar

quando a empresa Cavassa & Irmãos passa a existir sob a razão social M. Cavassa Filho &

Cia., mas posso afirmar que no ano de 1905 já utilizava essa razão social, conforme os

registros do livro de exportação do ano de 1905, pertencente aos arquivos da Mesa de Rendas

de Corumbá.

De acordo com os historiadores Valmir Batista Corrêa e Lúcia Salsa Corrêa, a

primeira filha de Manoel Cavassa nasceu em Buenos Aires, e seus outros onze filhos

nasceram em Corumbá. Logo, os filhos de Manoel Cavassa que eram sócios da firma M.

Cavassa Filho & Cia. eram brasileiros descendentes de pai português e ao que tudo indica

mãe italiana (CAVASSA, 1997, p. 11); quanto ao sócio Salustiano Maciel, acredito que também

era brasileiro.

No que se refere ao capital da empresa M. Cavassa Filho & Cia., infelizmente não

consegui explicitar, mas acredito que era uma das mais importantes casas comerciais de

importação e exportação da época. Pois, possuía uma importante frota de navegação que fazia

a rota de “Corumbá a Assunção e a Montevideo, e vice-versa”, dividindo essa rota com as

companhias Vierci Hermanos e a Mihanovich (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p.

67). Possuía especialidades em “gêneros nacionais, farinha de trigo, querosene” (Op. cit.: XXI),

e exportava produtos do Estado, como couros vacuns, borracha, peles de animais silvestres e a

poaia (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Registros de exportação de 1905 - APMT, Fundo da Delegacia

Fiscal do Tesouro Nacional em Mato grosso). Além disso, possuía em sua casa comercial uma seção

bancária, e também eram agentes do Banco do Brasil para a “emissão de vales ouros para

pagamento de direitos aduaneiros, e também para cobranças de títulos” e da companhia Brazil

Land, Cattle and Packing Co., empresa ligada ao sindicato Farquhar “com sede em São

Paulo, que ultimamente adquiriu as propriedades de Descalvados, Alegre e outros

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estabelecimentos da indústria Pecuária neste Estado” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso,

1914, p. XXI).

Wanderley, Baís & Cia.

A origem desta casa encontra-se ligada à trajetória de Firmo José de Mattos,

importante personagem da história política e econômica de Mato Grosso. Os caminhos que

levaram Firmo José de Mattos a Mato Grosso foram bem diferentes daqueles percorridos por

Manoel Cavassa. Firmo, um pernambucano formado em Direito, participa da “Revolução

Nunes Machado, em 1848” e após “abafada a revolta Nunes Machado, José Tomás Nabuco de

Araújo, o estadista do Império, pede para o moço pernambucano um lugar de juiz de direito”;

seu pedido é atendido e “Firmo é nomeado juiz, em Cuiabá” (PONCE FILHO, 1952, p. 26). Logo

se torna Desembargador e ao receber uma herança do sogro, de trinta contos de réis, vai ao

Rio de Janeiro com o intuito de investir no comércio. Ali conhece o Visconde de Figueiredo,

que

sugere sua ida à Europa, onde compraria mercadorias para vendê-las em Mato Grosso, ocasião asada para a importação, realça o financista. O governo imperial concedera, como compensação pelos prejuízos sofridos pelo Rio Grande do Sul e Mato Grosso, durante a invasão paraguaia, isenção de direitos aduaneiros às duas províncias [...] O desembargador segue o providencial conselho do Visconde. Vai à Europa. E de lá regressa a Mato Grosso, gozando da isenção de direitos, outorgada pelo governo Imperial. Abre casa de negócio em Cuiabá (PONCE FILHO, 1952, p. 27).

Através da análise do trecho citado, é notável que um dos principais incentivos para o

estabelecimento de uma casa comercial em Mato Grosso, logo após a Guerra da Tríplice

Aliança, era a isenção de impostos sobre os produtos importados. Aproveitando a

oportunidade, Firmo José de Mattos abre sua casa comercial em Cuiabá (PONCE FILHO, 1952, p.

27), no ano de 1873 (idem, p. 427) e, como indicação de sucesso nos negócios em Cuiabá, no

ano de 1876 estabelece uma filial em Corumbá (Album graphico do Estado de Mato Grosso, 1914, p.

XXIII).

Essa filial, sob a razão social de Firmo de Mattos & Cia., logo mais se tornou Firmo,

Barros & Cia. (idem) quando Firmo José de Mattos admitiu como sócio, em sua casa

comercial, seu genro Antônio Pedro Alves de Barros, um brasileiro nascido no Maranhão, que

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foi oficial da Armada Nacional e Presidente do Estado de Mato Grosso de 1899 a 190369. As

fontes não nos dão pistas de quando essa alteração ocorreu; no entanto, a partir de 1º de

dezembro de 1904 a mesma empresa passou a ter por razão social Barros & Cia., sendo os

sócios Antônio Pedro Alves de Barros, outro genro de Firmo de Mattos, Francisco Mariani

Wanderley70, e Alberto Gomes Moreira (Inspetoria comercial de Mato Grosso, Livro de Registros: 2 de

janeiro de 1893 a 18 de setembro de 1915, p. 26, JUCEMAT). É importante ressaltar que Francisco M.

Wanderley era brasileiro e Alberto G. Moreira, português (Album graphico do Estado de Matto-

Grosso, 1914, p. XXII). Em primeiro de julho de 1906, um novo contrato é realizado e com ele se

forma a sociedade da empresa Wanderley, Baís & Cia. (Inspetoria comercial de Mato Grosso, Livro

de Registros: 2 de janeiro de 1893 a 18 de setembro de 1915, p. 28, JUCEMAT), quando o sócio Antônio

Pedro A. Barros se retira da sociedade e entra Francisco Bernardo Baís, de nacionalidade

italiana (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXII).

Francisco Mariani Wanderley ocupou posição de destaque não só no comércio mato-

grossense mas também na política, pois ocupou “por algumas legislaturas o cargo de

presidente da Assembleia Legislativa do Estado” e esteve ligado ao grupo oligárquico de

Generoso Ponce e Joaquim Murtinho quando da derrubada do então presidente do Estado

Antônio Paes de Barros (Totó Paes) em 1906. Também esteve ligado aos interesses belgas em

Mato Grosso, já que teve instalado em sua casa comercial o consulado belga (GARCIA, 2009, p.

176), se tornando vice-cônsul da Bélgica em Mato Grosso, enquanto seu sócio Alberto Gomes

Moreira era vice-cônsul da Argentina (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXII). No

entanto, algumas pistas sugerem que Francisco Mariani Wanderley também era cônsul

honorário da França e da Inglaterra, além de professor secundário e oficial da reserva da

Marinha (BÁEZ, 1977, p. 19).

É interessante notar como uma única pessoa podia representar vários consulados, o

que evidentemente a favorecia em seus investimentos comerciais e, ao que parece, apontava

possibilidades de investimentos financeiros em Mato Grosso aos países representados, que

buscavam mercados para seus produtos manufaturados, ao mesmo tempo, a compra de

69 Conforme árvore genealógica, Antônio Pedro Alves de Barros casou-se com Costança Amélia de Mattos, filha

de Firmo José de Mattos e Francisca Rosa de Moraes, com quem teve sete filhos

(http://www.araujo.eti.br/familia.asp?numPessoa=38244&dir=genxdir/, pesquisado em 10 de junho de 2011).

70 Francisco Mariani Wanderley era casado com Amália Mattos, filha de Firmo de Mattos ,

(http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_m_08.html/, pesquisado em 18 de junho de 2011).

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produtos primários baratos71. Talvez aqui se possa identificar uma semelhança ao caso

apontado pela historiadora Denise Monteiro Takeya, em seu estudo sobre a casa francesa

Bóris Fréres, que mantinha, nessa época, uma filial em fortaleza (Ceará) (TAKEYA, 1995, p.

123). Pelo que diz a autora, a montagem de casas comerciais no exterior envolvia uma grande

rede de informações, envolvendo instâncias governamentais (a começar pelas autoridades

consulares) e diversos agentes da economia francesa:

As observações feitas por agentes consulares apontavam para as possibilidades que se abriam para quem estabelecesse uma casa comercial francesa na província do Ceará. Não é de todo improvável que os Bóris tenham tido acesso a algum tipo de informação a respeito das potencialidades do Brasil como mercado para os produtos franceses (TAKEYA, 1995, p. 126).

Um outro aspecto interessante ligado à casa Wanderley, Baís & Cia. relaciona-se às

concessões para a exploração das jazidas de ferro e manganês do maciço do Urucum, nas

proximidades de Corumbá. Inicialmente a concessão para a exploração dessas minas foi dada

à baronesa de Vila Maria, “pelo governo do Império”; porém,

a concessão caiu em caducidade e o governo provisório da República decidiu prorrogá-la, após a baronesa publicar em um jornal de São Paulo um artigo em que questionava a viabilidade do Estado de Mato Grosso após a proclamação da República e defendia sua anexação ao estado de São Paulo. Com a promulgação da Constituição de 1892, a prerrogativa para legislar sobre as minas passou para os Estados e a concessão da baronesa caiu em caducidade, não sendo renovada pelo governo de Mato Grosso (GARCIA, 2009, p. 184).

Em seguida o governo estadual fez nova concessão para a exploração de Urucum,

“desta vez a Francisco Couto da Silva”, no ano de 1897, o qual não cumpriu “os termos da

concessão” mas teve a mesma “prorrogada em 1905, por decisão da Assembleia Legislativa

Estadual, presidida por Francisco Mariani Wanderley” (GARCIA, 2009, p. 184- 185). Ao que

parece, as influências política e comercial de Francisco Mariani Wanderley eram interligadas,

pois, ao que tudo indica, essa aprovação o beneficiou logo mais, conforme apontou Garcia:

O curioso é que o artigo segundo da lei que determinava a prorrogação, parece ter

sido escrito por encomenda para que a concessão pudesse ser vendida em seguida. Dizia esse artigo: ‘Fica também homologado qualquer acordo celebrado pelo cessionário, dentro porém, dos limites traçados no contrato firmado com o governo do Estado’. E de fato, Francisco Couto da Silva

71 Sobre a expansão comercial de 1875 a 1914, ver A era dos Impérios, de Eric Hobsbawm, 2010.

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vendeu oficialmente a concessão à empresa ‘Sociedade Geral das Minas de Manganês Gonçalves Ramos & Comp.’, sediada no Rio de Janeiro, em dezembro de 1905. Em 1906, essa concessão foi novamente vendida, desta vez aos belgas da Compagnie de l’Urucum Societé Anonyme (Op. cit., p. 185) .

No ano de 1907, após a empresa Compagnie de l’Urucum ter conseguido a concessão

da exploração do Urucum, o cônsul belga e administrador da referida empresa, Pierre de

Thier-David, passou uma procuração à casa Wanderley, Baís & Cia., a qual conferia poderes

de representação “perante as autoridades e repartições públicas deste Estado, Federais,

Estaduais e Municipais em quaisquer assuntos e também para representarem perante os juízes

e tribunais judiciais em quaisquer demandas civis, comerciais ou crimes” (Inspetoria comercial de

Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. 86, JUCEMAT).

Esses poderes só eram válidos na ausência dos engenheiros: Pierre de Thier-David e do seu

substituto Eugene Delkaye. Neste caso, portanto, o consulado seria representado por

Francisco M. Wanderley e a Compagnie de l’Urucum pela sua casa wanderley, Baís & Cia.

(GARCIA, 2009, p. 185-186).

Outro aspecto importante é o fato dessa empresa ser “representante em Corumbá da

Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (Ramal Itapura a Corumbá), da qual” era

“provedora dos mantimentos para os trabalhadores”. Também eram “consignatários das

firmas montevideanas: Viuda de A. F. Braga e Scarlato & Hermanos” (Album graphico do Estado

de Matto-Grosso, 1914, p. XXV). Suas operações podem assim ser resumidas em: operações

bancárias, além de comissão, consignação, importação, exportação, despachos e navegação

(idem, p. XXIII).

A matriz da Casa Wanderley, Baís & Cia. localizava-se em Corumbá e as filiais em

Campo Grande, Aquidauana e Miranda (BÁEZ, 1977, p. 19). O capital dessa casa, conforme a

propaganda exposta no Álbum graphico do Estado de Mato Grosso, era de mil contos de réis.

A mesma fonte também indica que os ativos dessa casa eram vultosos, pois incluíam:

além dos magníficos edifícios, onde funcionam a casa matriz e as filiais, diversas fazendas no interior do estado, ricos em gado de criação e madeiras de leis para a construção, e uma frota importante de quatro lanchas e 9 chatas, própria para a navegação (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXIII).

A empresa possuía diversas embarcações, empregadas “no serviço regular de

comunicação entre o porto de Corumbá e o da capital, Cuiabá, bem como para a vila de

Aquidauana, no sul do Estado, e Porto Esperança, futuro ponto final da Estrada de Ferro de

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São Paulo a Mato Grosso”, utilizando para isso “o vapor Iguatemy, com excelentes

acomodações para passageiros, três rebocadores possantes, denominados Jamary, Itajahi,

Nhandohi, próprios para o serviço de carga”, e contando com “nove chatas grandes com

capacidade total para 450 toneladas” para a carga e descarga das mercadorias no Porto de

Corumbá (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXIV). Com a descrição das

propriedades citadas acima, é possível perceber que a referida empresa atuava em diversos

ramos, constituindo uma rede de influências que ia do econômico ao político, do privado ao

público, beneficiando-se assim, reciprocamente.

Enfim, ainda hoje, quem andar pela Rua Manoel Cavassa (nome atual da antiga Rua

do Comércio) no Porto de Corumbá, ficará encantado pela vista do prédio que conserva a

fachada da antiga casa comercial Wanderley, Baís & Cia: com “três pisos, o acesso interno é

feito por escadas de ferro importadas da Inglaterra” (SOUZA, 2008, p.182). Hoje o prédio abriga

o Museu da História do Pantanal.

Pereira, Sobrinhos & Cia.

Outra casa que se destacou em Corumbá foi a Pereira, Sobrinhos & Cia., estabelecida

em 1909, sucessora da antiga firma Pereira & Sobrinhos que havia sido fundada em Corumbá,

em 1882, por Manoel Pereira Junior. A casa Pereira, Sobrinhos & Cia. tinha por sócios o

brasileiro Eugênio Antunes P. da Cunha como sócio principal; Manoel Diniz da Costa,

Galdino Pereira da Cruz Sobrinho e Armando Ignacio Pereira como sócios de indústria, sendo

o primeiro brasileiro, e os dois últimos portugueses; e a empresa Pereira & Sobrinhos,

estabelecida na Europa, como sócia comanditária (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914,

p. XXVII).

Como se pode perceber essa empresa apresenta um diferencial em relação às demais

empresas aqui estudadas, pois constituía uma sociedade em comandita; e neste tipo de

sociedade “os sócios comanditários não podem praticar ato algum de gestão, nem ser

empregados nos negócios da sociedade, ainda mesmo que seja como procuradores, nem fazer

parte da firma social” (Código comercial de 1850, Lei nº 556, Art. 314) Sendo assim, a firma europeia

Pereira & Sobrinhos não geria os negócios da empresa brasileira, respondendo apenas nos

limites do capital investido.

A partir dos dados mencionados acima, parece-me possível que, inicialmente, a firma

Pereira & Sobrinhos, estabelecida em Corumbá em 1882, tenha sido filial da matriz

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estabelecida na Europa, pois ambas tinham o mesmo nome. Portanto, acredito que Manoel

Pereira Junior, provavelmente português, possuía uma casa comercial em Portugal e tenha

tido algum tipo de informação sobre as potencialidades de Mato Grosso, especialmente da

cidade de Corumbá, o que o levou a estabelecer uma filial em Corumbá. Entretanto, não se

sabe os motivos que levaram à sua transformação, em 1909, na casa Pereira, Sobrinhos & Cia.

Entendo que neste caso, com a mudança da razão social, não mais se verifica o esquema

matriz na Europa e filial no Brasil, pois ao analisar o que era uma sociedade de comandita,

entende-se que a Pereira, Sobrinhos & Cia. passou a ser uma empresa a qual contava com um

investimento de capital estrangeiro sem ter, no entanto, uma vinculação de filial com a Pereira

& Sobrinhos.

Esta casa dedicava-se principalmente à importação em geral, “com preferência de

gêneros de estiva72, não deixando entretanto, de negociar em outros artigos em grande

escala” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVII). A exportação, por sua vez,

também possuía seu lugar de destaque, sendo o couro vacum seu principal produto. Essa

empresa também representava o Banco de la Republica, de Assunção (Album graphico do Estado

de Matto-Grosso, 1914, p. XXVI).

O capital dessa empresa, em dois anos (1909-1911), passou de 190 para 450 contos de

réis (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVI). O que me faz pensar que o comércio

em Corumbá, no início do século XX, realmente era lucrativo, e me permite entender por que

tantos estrangeiros ou brasileiros residentes de outras praças migraram para Corumbá.

Ponce, Azevedo & Cia.

No caso de Generoso Paes Leme de Souza Ponce, seu ingresso no comércio (e, aliás,

também na política) se deu através de Firmo José de Mattos (o mesmo que se encontra na

origem da casa Wanderley, Baís & Cia., conforme já mencionado). Este, ao estabelecer seu

comércio em Cuiabá, contrata Ponce como funcionário. Este inicia sua atividade no comércio

trabalhando a princípio no balcão, depois passa a caixeiro viajante, pois fica responsável pelas

72 “Os Gêneros a que se dá saída por Estiva são como o Café por exportação, que é em grande quantidade, e

todos os mais que não são de Selo, que pela sua qualidade de miudezas, se lhes dá saída por Estiva” (Decreto de

12 abr. 1810, CLB 1810-1811, apud Cruz, 1999, p. 6). “Gêneros de estiva, Reg (Pernambuco): os do comércio

de secos e molhados em grosso” (Dicionário Michaelis, in:

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues -portugues&palavra=g%EAnero,

pesquisado em 25 de junho de 2012).

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compras no Rio de Janeiro e na Europa (PONCE FILHO, 1952, p. 26-31), e ao que tudo indica

após três anos, se torna sócio de Firmo de Mattos (PONCE FILHO, 1952, p. 34). Deste modo,

“sócios, posteriormente formam a razão Firmo & Ponce. Este compra-lhe mais tarde a quota,

estabelecendo firma individual – Generoso Ponce” (Op. cit., p. 29). Ao que parece, Ponce se

tornou sócio somente da casa comercial de Cuiabá, pois em Corumbá, como já vimos, a

sucessora da Firmo de Mattos & Cia. foi a Firmo, Barros & Cia. (Album gráfico do Estado de

Matto-Grosso, 1914, p. XXIII). Generoso Ponce também estabeleceu uma casa comercial em

Diamantino (PONCE FILHO, 1952, p.340).

Além das atividades comerciais, a política sempre esteve presente na vida de Generoso

Ponce, pois foi “Deputado Provincial por várias vezes, fez parte da Assembleia Constituinte

Republicana. Foi eleito Vice-presidente do Estado”, foi chefe da contrarrevolução que levou

Manuel Murtinho ao poder e chefe do Estado, “tendo Ponce após a vitória” assumido “o

governo provisoriamente. Em 1894 foi eleito Senador Federal, cargo que ocupou até 1902.

Em 1907 foi eleito Presidente do Estado” (MENDONÇA, 1971, p. 132). Além disso:

de 1889 até 1906, Mato Grosso passou por quatro movimentos armados dirigidos contra o governo do estado: “Revolução73 de 1892”, “Revolução de 1899”, “Revolução de 1901”, “Revolução de 1906”. Generoso Ponce esteve envolvido em todos eles: ora no situacionismo, em 1892 e 1899; ora na oposição, em 1901 (indiretamente) e 1906. Nos três últimos, seu inimigo foi Antônio Paes de Barros, o Totó Paes. A vitória definitiva sobre o cel. Totó Paes selaria a sua grande vitória na política do estado – tanto para Ponce, quanto para correligionários fiéis, como Pedro Celestino Corrêa da Costa (PORTELA, 2009, p. 138-139).

Tomando como exemplo Corumbá, o historiador João Carlos de Souza apontou que

“os grupos sociais e políticos, em disputa por espaço e poder, tiveram na imprensa periódica

seu principal meio de manifestação” (SOUZA, 2008, p. 76). Com Generoso Ponce não foi

diferente, utiliza-se da imprensa como instrumento político, inicia com a redação de artigos no

jornal O Liberal (PONCE FILHO, 1952, p. 37) mas também participa da elaboração do periódico

A Reação, editado durante sua estada em Assunção (PONCE FILHO, 1967). Além disso,

participou “como redator principal do jornal O Mato-Grosso. Fundou e dirigiu o jornal O

Republicano, em 1895. Colaborou na imprensa do Rio de Janeiro” (MENDONÇA, 1971, p. 132).

O envolvimento político de Generoso Ponce acabou, segundo seu filho, por prejudicá-

lo nos negócios, visto que, durante a Revolução de 1899, teve sua casa comercial de

73 A disputa pelo poder político em Mato Grosso desencadeou diversos movimentos que na época eram

chamados de “revoluções”, sobre esse assunto, consultar Corrêa, 1995.

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Diamantino saqueada e destruída por seus adversários (PONCE FILHO, 1952, p. 340). E em

virtude da “Revolução de 1901” a família de Ponce, que residia em Cuiabá, teve que sair da

cidade e partiu rumo ao Rio de Janeiro, com a pretensão de encontrar Generoso, visto que este

cumpria seu mandato na capital do Brasil. No entanto, a família se reuniu em Assunção, no

Paraguai, onde fixaram residência, até 1903, quando Generoso Ponce resolve voltar para Mato

Grosso e estabelecer comércio e residência na cidade de Corumbá (PONCE FILHO, 1967, p. 8-29).

Nessa época, Ponce está “arrasado política e financeiramente” (Op. cit. p. 29), e conforme se

informa, contava com apenas “cinquenta contos de réis” para se restabelecer comercialmente

(PONCE FILHO, 1952, p. 338).

Então, Generoso Ponce, em agosto de 1903, encarrega Pedro Paulo de Medeiros de

estabelecer em Corumbá uma filial da Casa Generoso Ponce & Cia., já que a matriz,

localizada em Cuiabá, não deixara de existir, ficara a cargo de Joaquim Caracíolo Peixoto de

Azevedo. Inicialmente Ponce orienta à distância os negócios, “que iniciam a cargo de

Medeiros”, mas em outubro do mesmo ano se muda para Corumbá com a família para tomar

conta dos negócios (Op. cit. p. 339). Apesar da empresa Generoso Ponce & Cia., estabelecida

em Cuiabá, não ter deixado de existir, ao que parece ela ficou estagnada, devido às disputas

políticas (idem, p. 340).

Com relação à empresa Ponce, Azevedo & Cia., sua constituição se dá em novembro

de 1903, quando Generoso Ponce vai a Cuiabá, contrai sociedade com Joaquim Caracíolo

Peixoto de Azevedo e Américo Augusto Caldas, e “transforma a firma comercial - Generoso

Ponce & Cia., em Ponce, Azevedo & Cia”; a casa comercial de Cuiabá fica sob a gerência de

Medeiros e também restabelecem a empresa de Diamantino, ficando agora com três casas

comerciais (Idem, p. 347-348). Assim, Ponce se refaz “comercial e politicamente [...], em pouco

mais de dois anos” (PONCE FILHO, 1967, p. 31).

Os produtos importados pela Casa Ponce, Azevedo & Cia. eram “sal a grosso, tecidos

das mais variadas qualidades, artigos de luxo, perfumarias, calçados, comestíveis e conservas,

louças, ferragens, guaraná, tudo que possa carecer o comércio mato-grossense é importado”

(PONCE, 1952, p. 348). Após essa descrição, podemos perceber que não apenas essa empresa,

mas todas aquelas dedicadas à importação compravam vários tipos de produtos, não se

limitando a vestuário ou alimentação, mas uma mescla de produtos de que o mercado mato-

grossense carecia.

Uma indicação dos lucros da Casa Ponce, Azevedo & Cia. está em um levantamento

dos bens da referida empresa no ano de 1907, em uma proposta de venda a Leopoldo de

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Matos74. Este sai de Manaus e vai a Cuiabá “para trazer tentadora proposta”, já que “certo

sindicato inglês – é a época de ouro da borracha – comprar-lhe ia os seringais da firma e as

três casas comerciais, entrosadas no negócio da borracha” (PONCE FILHO, 1952, p. 464). A

proposta de compra das propriedades pertencentes à firma Ponce, Azevedo & Cia. foi de

3.400 contos de réis. Na mesma época da proposta, Ponce foi cotado como candidato à

presidência do Estado e foi eleito, e o motivo apontado por seu filho para a não realização do

negócio, é porque “suspeitariam que da influência do cargo viera a operação” (PONCE FILHO,

1952, p. 464-465). No entanto, “viria depois a queda da borracha. E tudo aquilo, quando”

[Ponce] “morre cinco anos depois, não vale sequer quarta parte” (idem, p. 466), com o que fica

mais uma vez evidente a importância da borracha para as empresas estudadas.

Stöfen, Schnack, Müller & Cia.

Um caso em particular é a empresa Stöfen, Schnack, Müller & Cia., pois possuía

matrizes em Corumbá e na vizinha cidade fronteiriça de Puerto Suarez, na Bolívia. Na cidade

de Corumbá, além da matriz, também possuía uma filial (Au Louvre), já as outras filiais

brasileiras se localizavam em Aquidauana, Rio Guaporé e as filiais bolivianas encontravam-se

em Santiago, Santa Ana, San José, San Ignacio, Concepcion e Rio Itenez. A firma foi aberta

em 1898, e os sócios componentes foram: Henrique Schnack, Guilherme Müller e Ernesto

Köhler (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXV). Portanto, sobre a nacionalidade

dos sócios, tomando com base os sobrenomes, suponho que os mesmos eram alemães ou

descendentes. O estudo desta empresa apresenta um caso intrigante, já que o nome do sócio

Stöfen não aparece na fundação da empresa em 1898. A esse respeito só é possível efetuar

algumas especulações. Por exemplo, Stöfen poderia ser um sócio que teria substituído Ernesto

Köhler na sociedade, até porque o nome desse último não aparece na razão social da empresa

em 1914 (a menos que Ernesto Köhler estivesse incluso na noção de “Cia.”).

Quanto ao capital dessa empresa, as fontes analisadas não trazem vestígios, entretanto

pode-se supor que o capital era algo significativo. Além de se dedicarem à exportação,

importação, comissão, consignação, também eram representantes da Anglo Bolivian Rubber

Estates, Ltd., de Londres. A extração e a exportação da borracha eram de seus próprios

seringais. Eram responsáveis pela “navegação no Rio Guaporé e Laguna de Cáceres” com as

74 Este era filho de Firmo de Mattos (PONCE FILHO, 1952, p. 464).

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lanchas “Meteor, Mequenes, Guilherme II e Inca” (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914,

p. XXXV). Os sócios da Casa Stöfen, Schnack, Müller & Cia. possuíam a vantagem de terem

casas comerciais na Bolívia e essa circunstância me leva a pensar que esta empresa poderia

utilizar os esquemas de comércio ilícito (contrabando) que são mencionados por Garcia.

Segundo esse autor, essa era uma prática rotineira no comércio mato-grossense:

o mecanismo utilizado para o contrabando consistia em extrair a borracha no lado brasileiro do rio Guaporé e alegar que era produto extraído no lado boliviano, evitando pagar os impostos ao Brasil, no caso ao estado de Mato Grosso, de outra maneira, a borracha extraída no lado boliviano era apresentada como extraída no lado brasileiro e, com isso, se evitava pagar imposto à Bolívia. O mesmo processo, de maneira invertida, deve ter funcionado para as mercadorias importadas (GARCIA, 2009, p. 73).

Tudo leva a crer que o motivo para declararem a borracha brasileira como de

procedência boliviana, era o fato de os impostos sobre as exportações bolivianas eram

insignificantes (BORGES, 2001, p. 68).

As exportações realizadas pelas casas Stöfen, Schnack, Müller, no período estudado,

eram expressivas, como pode ser verificado nas tabelas de exportação apresentadas no

capítulo 2 (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Estatística de 1910, 1911, 1912 e 1915 - APMT, Fundo da

Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso). Pela leitura da documentação percebe-se que

também eram expressivas as exportações realizadas por essa empresa, procedentes da Bolívia

em trânsito pelo porto de Corumbá (cf. os livros de Registros de Despachos dos Produtos exportados da

Bolívia - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso). Para o transporte de

suas mercadorias, em âmbito regional, utilizavam suas próprias lanchas (REYNALDO, 2000, p.

110), o que lhes propiciava autonomia, facilitando o translado de mercadorias do lado

brasileiro para o boliviano.

Vasquez, Filhos & Cia.

Quando analisa-se a nacionalidade dos proprietários das empresas estudadas, percebe-

se que a presença estrangeira se destaca, tanto de origem europeia quanto de latino-

americanos; pois os sócios da Casa Vasquez, Filhos & Cia. eram, em sua maioria, uruguaios,

com exceção de Agostinho Vasquez, o qual era brasileiro (Inspetoria Comercial de Mato Grosso,

Livro de Registros de1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144, JUCEMAT). Essa empresa

mantinha contatos com as repúblicas do Prata e com os países europeus, dos quais

importavam diversos produtos: como alimentos, vestuários, louças, algumas espécies de

máquinas, e sua especialidade era a farinha de trigo (Album graphico do Estado de Matto-Grosso,

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1914, p. XXVIII); também exportavam produtos primários do Estado (Fundo da Casa Vasquez, Filhos

& Cia., Livro Copiador de Cartas e Telegramas de 1910, NDHER).

Essa empresa iniciou suas atividades com a razão social Vasquez & Cia. (Inspetoria

Comercial de Mato Grosso Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144,

JUCEMAT). Segundo anúncio da empresa publicado no Album graphico, ela teria sido fundada

em 1900 (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVIII). Todavia, segundo consta na

logomarca impressa mais tarde nos papéis de correspondência da referida empresa, a

fundação teria ocorrido em 1898 por Miguel Vasquez (Carta enviada Pancho pela Casa Vasquez,

Filhos & Cia., carta avulsa de 1930). Depois a razão social foi alterada para Vasquez & Filhos e,

por último, Vasquez, Filhos & Cia., tendo por sócios: Francisco Vasquez, Miguel Vasques e

Agostinho Vasquez (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXVIII). O prédio dessa

casa é um dos maiores encontrados até hoje, no Porto de Corumbá, localizado “no início da

ladeira da Alfândega”. Ele foi construído em 1909 e “sua fachada apresenta o estilo eclético.

O arquiteto foi o italiano Martino Santa Lucci, responsável por muitas construções na cidade”

(SOUZA, 2008, p. 182). O prédio possui três pisos e chama atenção pela sua beleza e por sua

posição de destaque no Porto de Corumbá.

Quanto ao capital empregado no início da sociedade, as fontes utilizadas não deixam

pistas; no entanto, em um novo contrato feito em 1913, o capital empregado foi de

100:000$000 (cem contos de réis) (Inspetoria Comercial de Mato Grosso Livro de Registros de 1913 a

1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144, JUCEMAT). Conforme mostram as fontes, nesta

empresa, bem como em outras, mencionadas mais adiante, aparecem dois tipos de sócios: os

capitalistas e os de indústria. O sócio de indústria é aquele que contribui unicamente com seu

trabalho, tendo direito a uma participação nos lucros, especificada em contrato, no entanto

não é responsável pelas dívidas contraídas pela empresa, já que não responde legalmente por

ela; e o sócio capitalista é aquele que entra com o capital e sua obrigação é solidária, ou seja,

responde legalmente pela empresa. (Código Comercial de 1850, Lei nº 556, Art. 317 a 324). Além

disso, a participação nos lucros variava de acordo com a categoria dos sócios, assim como,

com a quantidade do capital empregado. Também os sócios que trabalhavam na empresa

tinham direito a um pro labore por mês, o qual era combinado em contrato e variava de

acordo com a função na empresa.

No caso da Casa Vasquez, Filhos & Cia., os sócios capitalistas eram Francisco

Vasquez e Agostinho Vasquez e cada um entrou com 50:000$000 (cinquenta contos de réis);

como sócios de indústria entraram Manoel Vasquez, Henrique Vasquez e Delphino Vasquez

(Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho d e 1914, p.

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144, JUCEMAT). A participação nos lucros ficou dividida da seguinte forma: 30% para

Francisco e 30% para Agostinho, para os demais sócios Manoel e Henrique, participações de

15% para cada um e de 10% para Delphino (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros

de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 9 de julho de 1914, p. 144, JUCEMAT). Em primeiro de janeiro de 1914,

um novo contrato é realizado, onde somente os sócios Francisco Vasquez e Agostinho

Vasquez permanecem na sociedade (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 02 de

janeiro de 1903 a 18 de setembro de 1915, p. 87, JUCEMAT).

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Foto 1

Casa Vasques, Filhos & Cia.

Autoria: TARGAS, Zulmária I. M. S., 2011.

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Mônaco, Piñon & Cia.

No ano de 1902 foi fundada em Corumbá a casa Larocca, Mônaco & Cia., no entanto,

essa empresa sofreu várias alterações em sua razão social. Pois, no ano de 1909 foi

transformada em Mônaco, Filho & Cia. (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXVI),

mas logo passou a girar sob a razão Mônaco, Moliterno & Cia., especificamente em 1º de

maio de 1910, tendo por sócios Agostinho Mônaco e Nicola Moliterno como capitalistas e

Leopoldo Mônaco e Almicar Clodomiro Vandoni como sócios de indústria, sendo italiano

Nicola Moliterno e os demais brasileiros (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de

Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 08 de janeiro de1913, p.17-18,

JUCEMAT).

O capital da casa Mônaco, Moliterno & Cia. foi composto por 227:927$951 (duzentos

e vinte e sete contos novecentos e vinte sete mil novecentos e cinquenta e um réis). O sócio

Agostinho Mônaco investiu a quantia de 124:278$967 (cento e vinte quatro contos e duzentos

e setenta e oito mil e novecentos e sessenta e sete réis), capital procedente da antiga firma

Mônaco, Filho & Cia., e Nicola Moliterno investiu 103:648$984 (cento e três contos

seiscentos e quarenta e oito mil novecentos e oitenta e quatro réis). Os lucros ficaram

divididos da seguinte forma: 40% para cada um dos sócios capitalistas, 15% para Leopoldo

Mônaco e 5% para Almicar C. Vandoni (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de

Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p.18-19,

JUCEMAT). Esta sociedade previa duração de cinco anos em seu contrato, contudo em 26 de

setembro de 1913 ocorreu o distrato da sociedade, com a retirada do sócio Nicola Moliterno.

O capital pertencente a Agostinho Mônaco, ao final desta sociedade, foi de 78:649$685

(setenta e oito contos e seiscentos e quarenta nove mil e seiscentos oitenta e quatro réis). A

Nicola Moliterno tocou a quantia de 76:540$685 (setenta e seis contos quinhentos e quarenta

mil seiscentos e oitenta e cinco réis); Leopoldo Mônaco ficou com 24:793$900 (vinte e quatro

contos setecentos e noventa e três mil e novecentos réis); nada tocando a Almicar C. Vandoni

(Op. cit., p.18-19). Essa sociedade provavelmente foi desfeita porque, por razões que não são

explicitadas, estava dando prejuízos, visto que em três anos de sociedade o capital diminuiu

em 47:043$681 (quarenta e sete contos e quarenta e três mil e seiscentos e oitenta e um réis).

Porém, no dia seguinte ao distrato da sociedade Mônaco, Moliterno & Cia. foi

registrado o contrato de uma nova sociedade, que passou a girar sob a razão social Mônaco,

Piñon & Cia.. Essa nova empresa era formada pelos sócios Agostinho Mônaco com o capital

de 78:149$974 (setenta e oito contos e cento e quarenta e nove mil novecentos e setenta e

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228

quatro réis), Leopoldo Mônaco com o capital que lhe competiu na dissolução da antiga

sociedade, Arthur Piñon com o capital de 6:556$120 (seis contos quinhentos e cinquenta e

seis mil e cento e vinte réis), e Almicar Clodomiro Vandoni, com sua indústria. A divisão dos

lucros ficou estabelecida em 40% dos lucros para Agostinho, 30% para Arthur, 20% para

Leopoldo e 10% para Almicar. A retirada mensal dos sócios ficou estabelecida em setecentos

mil réis para Agostinho, quinhentos mil para Arthur, trezentos mil réis para cada um dos

sócios Almicar e Leopoldo (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras,

Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p. 84-85,

JUCEMAT). Esta casa dedicava-se a “importação e exportação em geral, sendo sua

especialidade comestível”; o prédio que abrigava a casa possuía dois pisos (Album graphico do

Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXVI) e existe ainda hoje em Corumbá, encontrando-se em

reforma.

Josetti & Cia.

De acordo com os documentos da Mesa de Rendas de Corumbá, no ano de 1905

existia em Corumbá a Josetti, Nunes Dias & Rondon (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de

Estatística de Exportação de 1905 - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso).

Esta prevalece até meados de 1907 (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Lançamento de Impostos de

1907 - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso) quando esta empresa se

desfaz e passa a constituir outras duas: Josetti, Schmith & Cia. (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro

de Estatística de 1909 - APMT, Fundo da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso) e Nunes &

Rondon (Mesa de Rendas de Corumbá, Livro de Lançamento de Impostos de 1908 - APMT, Fundo da

Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Mato Grosso).

O Album Graphico do Estado de Matto-Grosso aponta o ano de 1909 para a

constituição da sociedade da casa Josetti & Cia. (Op. cit. p. XXXII); porém, o registro do

contrato na junta comercial ocorreu somente em quinze de julho de 1910, mesmo assim, o

nome da nova firma só aparece nos registros de exportações no ano de 1911. Essa sociedade

foi formada pela junção da Casa Josetti & Cia. de Corumbá – que pertencia a João Adolpho

Josetti e Arthur Josetti somando 150:000$000 (cento e cinquenta contos de réis), pertencendo

50% a cada um dos sócios – com a Josetti & Cia. de Diamantino, pertencente a Frederico A.

Josetti, no valor de 100:000$000 (cem contos de réis), somando juntas, um capital de

duzentos e cinquenta contos de réis. A casa de Corumbá ficou sendo a matriz, com filiais em

Barra do Bugres e no estabelecimento agrícola denominado ‘Affonso’ na Serra Tapirapuã

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229

(Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros

Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p.56, JUCEMAT) .

Tudo me leva a crer que os sócios e irmãos João Adolpho, Arthur e Frederico Adolpho

Josetti são descendentes de italianos, contudo, provavelmente todos nasceram em Mato

Grosso. O sócio João Adolpho Josetti nasceu em Cuiabá, em 1860, e se formou em medicina

na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro em 1885

(http://antoniovalsalva.blogspot.com.br/2011/04/o-dr-joao-adolpho-josetti.html, acessado em 13 de junho de

2012). Conforme exposto no Album graphico, João Adolpho residia na Europa, o que me faz

pensar que sua ida tenha sido para se aperfeiçoar nos avanços da medicina

(http://antoniovalsalva.blogspot.com.br/2011/04/o-dr-joao-adolpho-josetti.html acessado em 13 de junho de

2012), aproveitando para defender os interesses da firma na Europa (Album graphico do Estado de

Mato Grosso, 1914, p. XXXII).

Conforme propaganda da Casa Josetti & Cia. exibida no Album graphico do Estado de

Matto-Grosso, os produtos importados eram “máquinas para a indústria e artes, ferragens em

geral, artigos navais, móveis, louças, vidros, filtros, e artigos sanitários que vendem por

atacado e a varejo em todo o Estado”, vindos das “principais praças europeias e americanas”

(Op. cit., p. XXXII). Também se dedicava à exploração “da Borracha, Ipecacuanha, Penas de

garça, Peles, Madeiras e Cereais, produtos extraídos de seu grande estabelecimento industrial,

situado no município de Diamantino75” (idem, p. XXXIII).

As empresas estudadas apresentam a característica de possuírem terras para a

exploração das riquezas naturais do Estado, embora quanto ao “grande estabelecimento

industrial”, acima mencionado, temos que desconfiar, pois a informação provém da

publicidade, e essa fonte, talvez mais do que qualquer outra, deve ser vista sempre com

reservas. O que não significa que o mencionado estabelecimento não tinha sua importância

para a economia da empresa.

Em 1913, já no início da crise dos negócios da borracha no Brasil, a empresa fez um

curioso contrato com uma empresa alemã – o qual pode denotar ou que a firma brasileira já

estivesse enfrentando dificuldades financeiras ou que ainda não havia compreendido a

extensão da crise, pois a empresa Josetti & Cia. contraiu um empréstimo junto à empresa

alemã Bromberg & Cia., estabelecida em Hamburgo (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de

75 Trata-se aqui, ao que tudo indica, do estabelecimento denominado Affonso, acima referido.

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Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. 123, JUCEMAT). A Bromberg &

Cia., com matriz em Hamburgo, abriu sua primeira filial no Brasil em 1863, em Porto Alegre,

logo mais, constituiu outras filiais localizadas no Rio Grande, em Pelotas, em Santa Maria,

em Uruguaiana, em Passo Fundo, no Rio de Janeiro, em Buenos Aires e em Montevidéu

(LLOYD, 1913)76. O contrato do empréstimo, traduzido do alemão para o português, foi

registrado em 4 de julho de 1913, no entanto, já estava em vigor desde o dia 1º do mesmo mês

e apresentava em sua primeira cláusula:

A firma Bromberg & Companhia obriga-se, além do crédito de trezentos mil marcos concedidos a firma Josetti & Cia. na forma até hoje estabelecida, isto é, mediante o juro tomado a base de um por cento (1%) mais a taxa de desconto do Reichsbank (Banco do Império), sendo mínimo seis por cento (6%), aumentar o crédito por mais duzentos mil marcos. Em troca receberá a firma Bromberg & Companhia a quantidade total das safras da firma Josetti & Companhia para vender mediante uma comissão de dois e meio por cento (2 ½%) e a incumbência exclusiva das compras europeias mediante a comissão de cinco por cento (5%) (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 09 de julho de 1914, p. 123-124, JUCEMAT).

Analisando as condições a que a empresa Josetti & Cia. se submeteu, percebe-se que

ela ficou totalmente subordinada à empresa alemã Bromberg & Cia., pois firmaram um

acordo de exclusivo comércio por parte da Josetti & Cia., visto que todos os produtos de

importação europeia e exportação dos produtos mato-grossenses deveriam passar pela referida

firma alemã. Como as nações europeias estavam em uma intensa concorrência pelos mercados

da América Latina (NORMANO, 1944, p. 23), o que a empresa Bromberg & Cia. conseguiu foi a

garantia de exclusividade, estabelecendo uma porta de entrada para os produtos alemães e ao

mesmo tempo, garantiu um lucro maior sobre os produtos primários produzidos em Mato

Grosso.

Outro indício importante da submissão da Josetti & Cia. à empresa alemã Bromberg &

Cia. está no parágrafo segundo do mesmo contrato do qual estabeleceu que essa empresa

deveria fazer uma alteração em seu contrato, passando a gerência dos negócios para

Guilherme A. Linke e Gustavo Tervissen, representantes da Bromberg e Cia. (Inspetoria

Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914,

p.124, JUCEMAT). Com essa alteração, a empresa Josetti & Cia. ficou nas mãos da firma

76 Obra publicada na Inglaterra em 1913, por Lloyd’s Greater Publishing Company, Ltd., com aspecto de

propaganda das potencialidades do Bras il.

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231

Bromberg & Cia., e essa atitude deve ter sido tomada para garantir que se cumprisse o que

havia sido estabelecido no contrato.

Além disso, os bens individuais dos sócios tiveram que ser transferidos para a empresa

Josetti & Cia. como garantia do empréstimo. Já que, caso a dívida não fosse paga, a empresa

Josetti & Cia., junto com seus bens, seria tomada pela Bromberg & Cia. como pagamento. Os

bens transferidos foram: a Empresa Telegráfica de Corumbá, que pertencia a Arthur Josetti,

no valor aproximado de sessenta contos de réis, e a propriedade denominada “Palmar”,

situada em Aquidauana, de propriedade de João Adolpho Josetti, no valor de oitenta e cinco

contos de réis (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de

1913 a 9 de julho de 1914, p.124, JUCEMAT). Após obter os empréstimos a Casa Josetti & Cia.

ficou com apenas cinquenta e cinco por cento dos lucros, sendo os outros quarenta e cinco por

cento pertencentes à empresa Bromberg & Cia. (Inspetoria Comercial de Mato Grosso Livro de

Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 09 de julho de 1914, p. 125, JUCEMAT).

Também ficou estabelecido que “a firma Josetti & Cia. se obriga a inscrever o resto

das terras de sua propriedade às que foram hipotecadas às firmas Bromberg & Cia. e L.

Bhrens e Shoue 77 de forma a ficarem todas as propriedades territoriais da Firma Josetti &

Cia. compreendidas na hipoteca”. (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de 1913 a

1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. 125, JUCEMAT). Pode-se deduzir que uma dessas

propriedades fosse a Pharmacia e Drogaria Josetti, estabelecida em São Luís de Cáceres

(Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. XXXIII).

Feliciano Simon

A Casa Feliciano Simon foi estabelecida no ano de 1907, pelo paraguaio Feliciano

Simon. Esta casa se dedicava a representações, despachos, comissões, consignações,

transações bancárias, navegação e exportação (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. I).

Essa empresa se encarregava de transportar mercadorias do interior do estado e despachá-las

na Mesa de Rendas de Corumbá (Album graphico do Estado de Matto-Grosso, 1914, p. III), o que me

leva a entender que essa empresa atuava como intermediadora entre as empresas estrangeiras

e as empresas de menor porte do estado, as quais evidentemente não possuíam crédito e nem

mesmo contato com tais empresas estrangeiras.

77 Infelizmente, o contrato não esclarece quem são essas duas empresas . Esclareço que as passagens

aparentemente truncadas, no texto desse contrato, são da própria fonte, a qual reproduzi aqui fielmente.

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Essa empresa possuía relações bancárias com diversos bancos de diversas

nacionalidades, tais como: Brasilianische Bank für Deutschland; Banco Alemán

Transatlantico; Deutsch-Südamerikanishe Bank; Deutsche Bank; Dresdner Bank; Credito

Italiano; Banca Commerciale Italiana; Crédit Lyonais; Société Générale pour favoriser etc.;

F. M. Fernandes Guimarães e Cia (Porto); Crédit Franco-Portugais; Banque Nationale de

Bulgarie; Banque Impériale Ottomane; The Yocohama Specie Bank; The National City Bank

of New York; Banco Mexicano de Comercio y Industria; Banco de La Republica (Paraguai) e

Banco Pelotense (Op. cit). Não foi possível identificar o capital investido na empresa. O

comerciante foi responsável, junto com S. Cardoso Ayala, também paraguaio, pela

organização e publicação do Album Graphico do Estado de Matto-Grosso (Inspetoria Comercial

de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de julho de

1910 a 8 de janeiro de 1913, p. 98 b - JUCEMAT).

Outras empresas

Além das empresas mencionadas acima, também se estabeleceram em Corumbá as

seguintes empresas: Emílio Albers, Henrique Gutmann, Naveira & Congro, sobre as quais os

dados são escassos, como apontado no Quadro 2. Além dessas, outras empresas com um

capital menor também foram constituídas com o objetivo de se dedicarem ao comércio de

exportação e importação, são elas: Pinsdorf & Cia., Alves Côrrea & Cia., e essas duas

empresas apresentam um atributo em especial: ambas foram fundadas na segunda década do

século XX.

A empresa Pinsdorf & Cia. iniciou suas atividades com 60:000$000 (sessenta contos

de réis), em 1º de abril de 1911. As pessoas que contraíram sociedade para a constituição

desta empresa são: Carlos Augusto Micchelt, que investiu 30:000$000 (trinta contos de réis);

Maximo Gustavo Kurt Pinsdorf com os outros 30:000$000 (trinta contos de réis) e Guilherme

Pinsdorf com sua indústria, todos de nacionalidade alemã. Ficou estabelecido no contrato que

os lucros seriam divididos igualmente entre todos os sócios (Inspetoria Comercial de Mato Grosso,

Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 08 de

janeiro de1913, p.22-23, JUCEMAT). Um vestígio encontrado em uma fatura da referida empresa

demonstra que ela se denominava “casa alemã” (fatura da empresa Pinsdorf & Cia, avulsa Fundo da

Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).

Os livros de Estatísticas de Exportação pertencentes à Mesa de Rendas de Corumbá

não apresentam nenhum registro de exportação da referida casa. Porém, sabe-se que Maximo

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Gustavo Kurt Pinsdorf “era exportador para a Europa de produtos naturais como peles e

animais silvestres e importador de cristais e louças finas” (CORRÊA, 2006, p. 75). No entanto,

parece-me que, apesar desse empreendimento ter sido constituído com objetivo de “compra e

venda de mercadorias em geral e a importação e exportação de gêneros e produtos nacionais e

estrangeiros” (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e

Outros Documentos de 15 de Julho de 1910 a 8 de janeiro de1913, p. 51-53, JUCEMAT), se direcionou para

a constituição de um saladeiro em Aquidauana (CORRÊA, 1995, p. 116). Possivelmente, essa

mudança de investimento tenha ocorrido após Maximo Gustavo Kurt Pinsdorf falecer por

causa de beribéri, em 7 de maio de 1914 (CORRÊA, 2006, p. 75). Cabe ainda mencionar a

presença da Ferrovia Noroeste do Brasil, que após 1914 passou a escoar produtos do Estado,

sendo uma possível explicação para a ausência de registros de exportação da referida empresa

pelo porto de Corumbá.

Em fevereiro de 1914 foi fundada a casa comercial Alves Corrêa & Cia., sucessora da

firma Diógenes Corrêa & Cia. Os sócios da Alves Corrêa & Cia. são: Diógenes Alves Corrêa,

Juvenal Alves Corrêa Filho, Odorico Alves Corrêa, Joaquim Corrêa. Esses comerciantes

investiram um capital de 70:000$000 (setenta contos de réis), distribuídos da seguinte forma:

40:000$000 (quarenta contos de réis) pelo sócio comanditário Diógenes, capital esse

procedente da antiga firma Diógenes Corrêa & Cia.; 20:000$000 (vinte contos de réis) por

Juvenal e 10:000$000 (dez contos de réis) por Odorico, como sócios solidários78; e Joaquim

com sua indústria, que ficou responsável pela gerência da empresa (Inspetoria Comercial de Mato

Grosso, Livro de Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro de 1913 a 9 de julho de 1914, p. p.128-129,

JUCEMAT). Não encontramos registros de exportações e nem de importações da empresa

Alves Corrêa & Cia. nas fontes analisadas.

Já a empresa Emílio Albers dedicava-se a importação, exportação e comissões, e

representava as empresas Ewald Aders de Berlim e Kolp, Kullmann & Cia. de Manchester. A

julgar pelo nome da empresa e pela foto que consta na propaganda do referido Album

graphico, acredito que o Emílio Albers era o único proprietário da empresa (Album Graphico do

estado de Matto- Grosso, 1914, p. XLI).

Sobre a casa Henrique Gutmann sabe-se que era importadora e exportadora, além de

ser representante de diversas casas comerciais localizadas na Alemanha, França, Inglaterra,

Portugal e Estados Unidos da América, assim como casas brasileiras localizadas no Rio de

78 Os sócios solidários são os únicos que se responsabilizam pelas dívidas da empresa (código Comercial de

1850, Lei 556 de 25 de junho de 1850)

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Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. Também era agente da Companhia Alliança da Bahia de

Seguros Marítimos e Terrestres (Album Graphico do estado de Mato Grosso, 1914, p. LXVII).

Quanto à empresa Naveira e Congro, pode-se dizer apenas que destinava-se à

importação de comestíveis, de cimento, de telhas de zinco e exportava os produtos do estado

(Album Graphico do estado de Mato Grosso, 1914, XXXIV).

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Foto 2

Emílio Albers.

Fonte: ALBUM graphico do estado de Matto-Grosso, 1914, p. XLI.

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236

3.2 As casas importadoras/exportadoras de Corumbá: mecanismos de funcionamento e

práticas comerciais.

Devido às diversas atividades que uma casa comercial desempenhava, o seu

funcionamento exigia vários empregados. Além daqueles que trabalhavam no interior das

empresas, também tinham os representantes que viajavam para outras cidades/vilas e os

seringueiros empregados na extração da borracha. O número de funcionários variava

conforme o tamanho do estabelecimento, mas para se ter uma noção do quadro de

funcionários que uma casa comercial de importação e exportação podia alcançar, vejam-se os

dados sobre a Casa Wanderley, Baís & Cia., em cuja matriz “trabalhavam 29 empregados, no

balcão, e 19 no escritório” (BÁEZ, 1977, p. 19). Entretanto, para Souza, esses trabalhadores,

“além de se constituírem numa elite” local “com melhores salários, tinham pouca alternativa

de trabalho”, pois o “número de casas comerciais importadoras e exportadoras não chegava a

ser significativo e muitos, certamente, obtinham emprego, pois pertenciam a famílias

tradicionais do local ou por elas eram indicados” (SOUZA, 2008, p. 207). Um caso específico que

corrobora tal afirmação é o do primo de Generoso Ponce, Silverio Antunes de Souza, que,

residente em Cuiabá, muda-se para Corumbá para trabalhar na empresa de Ponce (PONCE

FILHO, 1952, p. 340).

As casas comerciais de importação e exportação demandavam esse grande número de

funcionários, pois além de atuarem em diversos ramos, trabalhavam com diversos produtos e

ao que parece sua estrutura administrativa era complexa. Uma casa comercial de importação e

exportação possuía vários livros que acompanhavam o cotidiano da empresa, são eles: o

borrador de balcão, onde eram anotadas as vendas do dia-a-dia; o copiador de cartas e

telegramas, no qual ficava uma cópia de toda correspondência enviada; o de contas correntes,

onde eram anotados o débito e o crédito das empresas com as quais comercializavam (Fundo da

Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER - UFMS, campus Corumbá).

De forma geral, as empresas estudadas eram as mais importantes da cidade de

Corumbá, tanto que era das mesmas o maior número de anúncios no Album graphico. Essas

casas comerciais dedicavam-se à importação em geral, mas não apresentavam grande

concorrência entre si, pois apesar de estarem abertas à negociação a todo tipo de mercadoria

importável, possuíam especialidades que garantiam a essas empresas seu espaço no comércio,

como foi visto no item 3.1.

A maioria das empresas estudadas buscava se diferenciar e ao mesmo tempo não agir

diretamente no ramo uma das outras. Ao que parece, o ramo alimentício era onde havia mais

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empresas atuando, mesmo assim não existia uma concorrência acentuada; pois tudo indica

que o maior problema das casas comerciais não era a concorrência entre si, e sim a escassez

de produtos, uma vez que o abastecimento dessas empresas dependia da importação que, por

sua vez, estava sujeita às vicissitudes da navegação. A falta de produtos básicos como o trigo,

a cebola, o feijão e o leite era frequente. Além do mais, muitas vezes os produtos perecíveis

acabavam por se deteriorarem ao longo do percurso, como fica evidente em um trecho da

carta trocada entre as empresas Vasquez, Filhos & Cia. e Adolpho de Torres & Hijo, da

cidade de Malaga, que diz: “cebolas: infelizmente não nos convém mais pedir-lhes este artigo,

visto como as que recebemos de sua remessa chegaram em péssimas condições, talvez pela

longa viagem” (Carta dirigida à empresa Adolpho de Torres & Hijo, Livro de cartas e telegramas de 1912, p.

14 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).

A documentação referente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. possibilita uma

interpretação sobre os detalhes das transações comerciais que existiam entre as empresas de

Corumbá e as empresas das demais vilas e cidades de Mato Grosso, assim como, com as

empresas estrangeiras ou as localizadas em outras praças nacionais. Só foi analisada a

documentação da referida empresa, por ser da mesma a única documentação da qual tomei

conhecimento. No entanto, acredito que as demais casas comerciais de importação/exportação

de Corumbá utilizavam um processo semelhante, ou até mesmo idêntico, em suas transações

comerciais. Por isso, assumo neste trabalho a suposição de que as ligações comerciais e a

estrutura de funcionamento utilizada pela Casa Vasquez, Filhos & Cia. eram as mesmas

utilizadas pelas demais empresas ali situadas no porto de Corumbá. Essas empresas, apesar de

atuarem no ramo da importação e exportação, apresentavam particularidades que as

distinguiam entre si79.

No que se refere às relações comerciais entre as casas comerciais de Corumbá, sabe-se

que elas vendiam produtos importados para as demais casas comerciais de Mato Grosso e

compravam, das mesmas, produtos destinados à exportação. Acredito que essas empresas

possuíam representantes que buscavam conquistar clientela em outras localidades do Estado,

assim como em outras praças nacionais e internacionais. Esses representantes também

viajavam para fazer compras para as casas que representavam; no caso de representantes das

casas comerciais de outros locais de Mato Grosso, acredito que estes muitas vezes iam até

Corumbá para comprar mercadorias com o melhor preço possível, ou mesmo tentar alguns

79 Observo que os documentos da empresa Vasquez, Filhos & Cia. são muitas vezes redigidos em uma mistura

dos idiomas Português e Espanhol. Portanto, para preservar esta característica, optei por não traduzir os termos

em Espanhol, limitando-me a atualizar a grafia dos termos em Português.

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produtos em consignação. As mercadorias eram enviadas pela casa comercial que realizasse a

venda, ou a consignação, conforme correspondência entre a empresa Vasquez, Filhos & Cia. e

a Vicente Anastácio de Aquidauana, que dizia: “tem a presente por fim apresentar-lhe o

conhecimento e fatura dos artigos que por ordem do Sr. Nicola Moliterno, embarcamos a sua

consignação na Lancha Ligúria, os quais desejamos que aí cheguem na melhor ordem e ao seu

inteiro contento” (Carta enviada em 15 de março de 1909, Livro de cartas e telegramas de 1909, p. 388 -

Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).

Todavia, as compras das empresas localizadas em Mato Grosso também eram

realizadas através de cartas que continham pedidos, que chegavam principalmente por meio

da navegação até Corumbá. Após receber o pedido, a empresa solicitada enviava os produtos

requeridos e outra correspondência que informava o valor, e caso não houvesse algum

produto, também era justificado. Para registro e controle das transações, as casas utilizavam o

conhecido sistema do “livro de contas correntes”.

Quando a casa comercial de Corumbá efetivava a venda, o seu valor era anotado no

livro de contas correntes como débito em nome da empresa que comprou. As casas comerciais

de outros locais do Estado enviavam produtos destinados à exportação, que eram anotados em

sua conta corrente como crédito, descontando assim do seu débito. Desta forma, o livro de

contas correntes apresentava o crédito e o débito de cada empresa com a qual comercializava

(Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).

Devido às dificuldades impostas pela carência das vias de transportes, as empresas

corumbaenses, quando efetuavam vendas para empresas situadas em Campo Grande,

utilizavam algumas empresas situadas em Aquidauana. Desta forma, enviavam produtos em

forma de consignação para comerciantes de Aquidauana, através da navegação, para que

estes ao receberem as mercadorias as encaminhassem até Campo Grande, conforme

correspondência: “[...] juntamos conhecimento das mercadorias embarcadas a sua

consignação e por conta do Snr. Muyses Maluff de Campo Grande e pedimos as fazer seguir

com brevidade pozible [sic]” (Carta enviada a Salim Maluff de Aquidauana, em 11 de novembro de 1912,

Livro de cartas e telegramas de 1912, p. 286 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -

UFMS, campus Corumbá). Em seguida enviavam outra carta ao destinatário final, segundo

correspondência: “ Embarque: juntamo-lhe fatura das mercadorias que hemos embarcado por

Rio tacuary a consignação do Snr. Salim Maluff a quien pedimos a remeter com toda

urgência” (Carta enviada a Muyses Maluff de Campo Grande, em 11 de novembro de 1912, Livro de cartas e

telegramas de 1912, p. 286 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus

Corumbá).

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239

As atividades de comissão e consignação incidiam tanto sobre os produtos importados

como sobre os exportados. No caso das importações, através de contatos com empresas de

outras praças que visavam conseguir alcançar o mercado mato-grossense; estas mandavam

produtos em consignação para as casas comerciais corumbaenses com as quais estabeleceram

relações comerciais para que as mesmas pudessem vender seus produtos mediante uma

comissão. As empresas localizadas em outras partes de Mato Grosso, em sua maioria,

utilizavam as casas comerciais de Corumbá como sua intermediária para exportar e importar;

neste caso, mediante as mesmas práticas de comissão e consignação.

A dinâmica comercial entre essas empresas pode ser compreendida ao analisar as

correspondências da Casa Vasquez, Filhos & Cia.; essa empresa vendia produtos importados

para casas comerciais de outras localidades de Mato Grosso, em contrapartida comprava ou

recebia das mesmas empresas produtos extrativos, derivados da pecuária e alguns produtos

agrícolas como o feijão e o milho em forma de consignação, conforme evidência: “Lancha

ypiranga: por essa lancha recebemos dois alqueires de feijão de sua remessa, os quais

liquidamos ao preço de R$ de 17$000 o alqueire” e “recebemos 10 sacos de milho que vamos

tratar de liquidá-lo” ( Carta enviada ao Sr. João Salies, Livro de carta e telegramas de 1909, p. 389-390 -

Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá). Esses produtos

não eram destinados à exportação, e sim ao consumo local. Tais produtos eram negociados

pelas casas comerciais, pois tudo indica que não havia na cidade um mercado onde os

próprios produtores pudessem expor seus produtos, conforme relatório apresentado a Câmara

de Corumbá, em 1895. Neste relatório afirma-se que a agricultura em Corumbá era nula “e os

gêneros que vem de outras localidades do Estado e do estrangeiro são atravessadas pelos

negociantes mais abastados, devido à falta de um mercado” (apud CORRÊA, 1982, p. 84).

Um outro exemplo das relações entre empresas pode ser verificado, no seguinte

trecho: “Couros: juntamos nota de liquidação dos 63 couros de sua remessa por D. Tilia

importando em R$ 783$150 que le hemos creditado em conta e agradecemos sua remessa

deste produto” ( Carta enviada ao Sr. Felix Damus & Irmão de Aquidauana, em 18 de junho de 1912, Livro de

carta e telegramas de 1912, p. 106 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS,

campus Corumbá). Em outra correspondência diziam: “Couros: este produto tem grande

oscilação no preço sendo que os últimos que recebemos dessa foram liquidados a R$ 1$150, e

tendo grande interesse neste negócio pedimos que sempre que tenha nos consulte o preço por

telégrafo” ( Carta enviada ao Sr. Nahum [...] & Filhos, em 18 de junho de 1912, Livro de carta e telegramas de

1912, p. 110 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).

Desta forma, essas empresas praticavam uma interação comercial que, aparentemente,

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beneficiava ambas as partes, pois necessitavam-se uma da outra. Além disso, pode-se notar

que as casas comerciais de Corumbá eram quem informava as demais localidades do Estado

sobre os preços vigentes dos produtos de exportação, pois essas estavam em contato direto

com o exterior. Essa circunstância provavelmente conferia às casas corumbaenses um certo

poder, que elas poderiam eventualmente utilizar a seu favor nas relações com as demais

localidades do Estado.

Em consignação também eram enviados produtos das empresas corumbaenses e de

terceiros a comerciantes estabelecidos nas Repúblicas do Prata. Essa afirmação pode ser

justificada através de uma correspondência entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e Arteaga &

Hermanos de Montevidéu, que expressa: “efetivamente as duas últimas partidas que

embarcamos a consignação [...] foram de terceiros” e “embarcamos a sua consignação os

seguintes produtos: 70 couros vacuns, 2 fardos de crina animal e dois fardos contendo 10

couros de onça” (Livro copiador de cartas e telegramas de 1910, p. 119- Fundo da Casa Vasquez, Filhos &

Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).

A Casa Vasquez, Filhos & Cia. possuía crédito junto a diversas empresas. Entendo que

pelo menos as mais importantes casas comerciais de Corumbá também obtinham esse crédito.

Contudo, as evidências apontam que antes de obter crédito no exterior, precisavam de uma

empresa intermediária como uma espécie de avalista, essa informação é melhor elucidada

através da citação: “inclusa a esta sua carta, encontramos a fatura das mercadorias de nosso

pedido, embarcadas no vapor ‘Amira [...]’ a consignação dos Srs. Eduardo Cooper & Hijo de

Montevidéu, as quais recebemos a conforme” (Carta remetida pela empresa Vasquez, Filhos & Cia. à

empresa Cardoso, Moreira & Cia. da cidade do Porto, Livro de correspondência de 1910, p. 147 - Fundo da

Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá). Entendo que nesse caso,

a Eduardo Cooper & Hijo, era responsável pelo pagamento das mercadorias enviadas a Casa

Vasquez, Filhos & Cia., caso ela não pagasse.

Ainda com relação a avais, percebe-se que uma casa comercial também podia avalizar

títulos de dívidas de terceiros. Isto pode ser visto na correspondência enviada à Casa Pereira,

Sobrinhos & Cia. pela Casa Vasquez, Filhos & Cia., que dizia:

Pela presente declaramos que continuamos responsáveis, pelo tempo que V.V. S.S. hajam de conceder em prorrogação a prazo amanhã findo, pelo pagamento de letra no valor de R$ 6:050$253, e mais os juros correspondentes até final liquidação, aceita a II de dezembro do ano findo pelo Senr. Armando Pires Vieira e por nós endossada (Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1912, p. 85 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).

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É perceptível a preocupação da Casa Vasquez, Filhos & Cia. com a nota a vencer no

dia seguinte, pois caso Armando Pires Vieira não pagasse ela era responsável. Infelizmente

não se tem como saber se esse episódio se refere a transações comerciais ou se trata de um

simples caso de empréstimo.

As empresas estudadas recebiam catálogos de empresas de artigos não alimentícios

com a divulgação dos produtos e com os respectivos preços; então a empresa corumbaense

interessada fazia seu pedido, conforme correspondência entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e

a empresa Frankfurter & Liberman de Hamburgo, que diz: “com os nossos agradecimentos

acusamos o recebimento de catálogo de camas de ferro e latão, pelo qual fizemos a escolha

constante no incluso pedido” (Carta dirigida a empresa Frankfurter & Liberman, em 21 de novembro de

1911, Livro de cartas e telegramas de 1911, p. 359 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao

NDHER, UFMS, campus Corumbá).

O contato entre as casas comerciais corumbaenses e empresas estrangeiras foi

facilitado com a chegada do telégrafo a Corumbá (1904), pois as comunicações com empresas

nacionais e com o exterior ficou mais rápida. Através de telegramas eram feitos os pedidos

mais urgentes, com isso, os produtos chegavam mais rápido; já os pedidos de produtos mais

vendidos eram feitos através de cartas, com grande antecedência. Para elucidar como eram

feitos os pedidos de produtos mais vendidos, e que eram importados da Europa, cito o trecho:

“duas notas de pedidos para 50 caixas de sardinhas 4/4 reduzido e 100 caixas de batatas

mensais a 30 quilos a partir de maio entrante até o mês de outubro” (Carta dirigida a empresa

Cardoso, Moreira & Cia. da cidade do Porto, Livro de cartas e telegramas de 1912, p. 13- Fundo da Casa

Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER -UFMS, campus Corumbá).

Para entender como funcionava a relação de compra e venda de mercadorias entre uma

casa comercial de importação/exportação de Corumbá e outra localizada fora de Mato Grosso,

passarei a descrever como se dava a relação entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e a empresa

Frankfurter & Liberman de Hamburgo. Sendo assim, a casa Vasquez, Filhos & Cia. enviava

uma correspondência a essa outra empresa com os seus pedidos; quando a Frankfurter &

Liberman enviava seus produtos para Corumbá, esses produtos vinham acompanhados de

uma carta com as faturas dos produtos. Então, a Vasquez, Filhos & Cia. marcava em seu livro

de contas correntes o crédito da referida empresa no valor da fatura, assim quando a fatura

vencia e o pagamento era realizado, o mesmo valor era debitado da conta da Frankfurter &

Liberman. Para a realização do pagamento desse comércio, de ambas as partes, era utilizada

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uma medida que, ao que parece, ainda está em vigor no ramo de importação/exportação,

conhecida como cobrança documentária, que funciona da seguinte forma:

Nesta modalidade de cobrança, o exportador envia a mercadoria ao país de destino e entrega os documentos de embarque e a letra de câmbio (conhecida igualmente por "cambial" ou "saque") ao banco negociador do câmbio [...], denominado "banco remetente", que por sua vez os encaminha, por meio de carta-cobrança, ao seu banco correspondente no exterior, denominado "banco cobrador". O banco cobrador entrega os documentos ao importador, mediante pagamento ou aceite do saque. De posse dos documentos, o importador pode desembaraçar a mercadoria importada. Em alguns casos, o exportador envia diretamente ao importador os documentos para a liberação da mercadoria, e cabe ao banco cobrador apresentar a letra de câmbio para recebimento do pagamento ou aceite (http://www.schualm.com.br/10fipe.htm ).

Essa afirmação é baseada na interpretação de diversas correspondências que foram

trocadas entre a Casa Vasquez, Filhos & Cia. e várias empresas nacionais e internacionais. É

perceptível que a Vasquez, Filhos & Cia. utilizava como intermediária de algumas transações

comerciais a empresa Eduardo Cooper & Hijo, de Montevidéu; essa empresa provavelmente

era representante de diversos bancos, neste caso, representava o banco “remetente” ou

“cobrador”, conforme a direção do comércio (importação ou exportação). No caso da

importação efetuada pela Casa Vasquez, Filhos & Cia., a empresa Eduardo Cooper & Hijo

funcionava como banco cobrador. Um exemplo é a correspondência enviada à empresa

Eduardo Cooper & Hijo pela Casa Vasquez, Filhos & Cia., que dizia: “devolvemos com o

nosso respectivo aceite as letras N. 757 de Ls. 135.0.0, N. 762 de Ls. 57.10.0 e 775 de Ls.

118.10.0, dos Srs. Cardoso, Moreira & Cia. de Lisboa para que possam aboná-las nos

respectivos vencimentos” (Carta dirigida à empresa Eduardo Cooper & Hijo, em 11 de abril de 1910, p.

1014, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao

NDHER, UFMS, campus Corumbá). Essa é uma autorização de pagamento de uma compra feita a

prazo, em favor da empresa Cardoso, Moreira & Cia.

Outro exemplo semelhante pode ser notado no seguinte trecho: “Rogamos remeterem

sempre aos Srs. Eduardo Cooper & Hijo, quando efetuarem os seus embarques, os devidos

detalhes das mercadorias, pesos e valores a fim de que possam os mesmos organizarem as

competentes faturas” (Carta dirigida à empresa, Frankfurter & Liberman, em 16 de janeiro de 1912, p. 1014,

Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao

NDHER, UFMS, campus Corumbá). Pode-se deduzir que com base nas faturas seria elaborada a

carta cobrança.

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Esse processo também era utilizado pelas empresas de Corumbá em transações

comerciais com empresas nacionais de outros estados, conforme evidência: “relativamente o

saque correspondente a sua fatura N. 4.767, certamente a esta hora já os amigos terão tido

aviso do Banco, o qual foi por nós aceito em data de 28 de setembro e pago a 28 de outubro

últimos” (Carta dirigida a empresa Horacio Carvalho & Cia. de Porto Alegre, em 20 de dezembro de 1911, p.

371, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910, p. 1014 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).

No caso do pagamento de compras efetuadas pela Casa Vasquez, Filhos & Cia. outro

exemplo encontra-se na correspondência a referida empresa e a G. Canepa & Cia. que dizia:

“já nos foi presente e aceito o de N. 12.977, vencida a 21 corrente, esperando para o aceite o

de N. 13.040 que ainda não nos veio em mão” (Carta dirigida a empresa G. Canepa & Cia., em 25 de

outubro de 1911, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1911, p. 327 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos &

Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).

Outra forma de pagamento entre as empresas nacionais se dava através de um

representante direto, presente pessoalmente no momento da transação, conforme a evidência:

“com a presente temos por fim avisar-lhes que nesta data entregamos ao seu digno

representante Sr. Antônio Josino Vieira, a importância de R$ 3:606$000, que levamos ao

débito da sua estimada conta, aguardando seu aviso de recebimento” (carta enviada pela Casa

Vasquez, Filhos & Cia. à João Reynaldo Coutinho Cia. do Rio de Janeiro, Livro copiador de Cartas e

Telegramas de 1912-1913, p. 7 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus

Corumbá).

O intercâmbio comercial das casas comerciais de Corumbá era mais intenso com

empresas de Montevidéu, pois eram constantes as remessas de produtos rumo a essa cidade.

Os produtos muitas vezes saíam em forma de consignação, conforme citação: “Produtos. Pelo

Vapor ‘Cáceres’ de saída desse porto, embarcamos à sua boa consignação 460 couros e 5

fardos de crina animal, conforme guias e conhecimentos juntos, esperamos bons esforços em

prol dos nossos interesses” (Carta dirigida a empresa Chao Pietra & Vantteone., em 5 de dezembro de

1911, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1911, p. 366- Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá). Parece-me que os produtos que saíam de

Corumbá podiam eventualmente ser acompanhados por um sócio da empresa de acordo com a

correspondência: “a sua boa consignação, embarcamos no vapor “Mercedes”, 18 fardos de

borracha com 1.181 quilogramas, conforme inclusa nota, cujo líquido produto servirá

creditar-nos na forma de costume. O conhecimento relativo a este embarque seguiu pelo

mesmo vapor em mãos do nosso sócio chefe” (Carta dirigida à empresa Eduardo Cooper & Hijo, em 11

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de abril de 1910, p. 1014, Livro copiador de Cartas e Telegramas de 1910 - Fundo da Casa Vasquez, Filhos &

Cia. pertencente ao NDHER, UFMS, campus Corumbá).

Quanto ao fato de as casas comerciais se apresentarem como representantes de bancos

estrangeiros, a interpretação de Alves, como já foi mencionado no capítulo 1, afirma que essas

casas realizavam empréstimos utilizando o capital daqueles bancos – tanto que esse autor

considera que os bancos (capital financeiro internacional) utilizavam, dessa forma, as casas

comerciais como uma espécie de “canal” para se fazerem presentes em Mato Grosso.

Entretanto, acredito que esta interpretação não corresponde exatamente aos processos que

efetivamente ocorriam. Pelas próprias condições econômicas da cidade de Corumbá, as

intermediações bancárias eram necessárias para o pagamento dos produtos importados e

exportados, em transações que envolviam, frequentemente, compradores e vendedores

situados no Brasil e em muitos outros países, tanto sul-americanos como europeus.

Portanto, as relações das principais casas comerciais de Corumbá com os vários

bancos estrangeiros deviam destinar-se, sobretudo, a simplesmente viabilizar essas operações

de pagamento das importações e exportações. Em outras palavras, as casas comerciais,

valendo-se das comunicações por telégrafo e da credibilidade que detinham perante os

bancos, deviam atuar, sim, como “intermediárias”, mas apenas no que se refere aos processos

de liquidação das transações, e não como “repassadoras” de recursos supostamente captados

junto aos bancos.

Essas transações deviam ocorrer, portanto, mais ou menos nos moldes praticados pelo

Banco Rio e Mato Grosso, uma instituição bancária que atuou no estado entre 1891 e 1902.

Esse banco, que possuía uma Caixa Filial em Corumbá atuou como “intermediário junto às

atividades do governo do estado de Mato Grosso” (SÁVIO; QUEIROZ, 2010, p. 8), mas, ao que

parece, “as operações mais importantes” estavam relacionadas “à intermediação das

transações de importação e exportação realizadas pelas casas comerciais estabelecidas em

Mato Grosso” (idem, p. 10)

Isso não impedia que as casas comerciais atuassem também como se fossem bancos.

De fato, um documento encontrado na JUCEMAT (o contrato da firma Cardoso, Salsedo &

Companhia) expressa que “semanalmente as quantias escrituradas nos livros da firma e

pertencentes à sociedade”, deveriam ser depositadas “na casa bancária de M. Cavassa Filho &

Companhia” (Inspetoria Comercial de Mato Grosso, Livro de Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e

Outros Documentos de 15 de julho de 1910 a 8 de janeiro de 1913, p. 99 b - JUCEMAT). Enfim, isso não

impediria também que as casas comerciais realizassem operações financeiras com o seu

próprio capital, emprestando dinheiro a juros, até mesmo na forma conhecida como

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agiotagem. A esse respeito, temos por exemplo a afirmação de um importante membro da

elite política e econômica do estado: “não há [em Mato Grosso] casas bancárias, nem instituto

algum de crédito destinado a facilitar recursos à lavoura”, de modo que “se acaso o lavrador

necessitar de algum capital, terá que recorrer à generosidade de algum comerciante ou de

algum pequeno capitalista e sujeitar-se a juros imódicos” (in ALBUM graphico, p. 275).

Dessa forma fica evidente que as intermediações bancárias eram necessárias para o

pagamento e recebimento de faturas; logo algumas casas comerciais de Corumbá passaram a

agir neste ramo, são elas: Feliciano Simon, Wanderley, Baís & Cia., Pereira, Sobrinhos &

Cia., Stöfen, Schnack, Müller & Cia.; essas empresas representavam diversos bancos ao

mesmo tempo. Provavelmente, a função de intermediária era concedida somente às empresas

com maior capital e com maior solidez. Essas empresas atuavam neste ramo, pois ao que tudo

indica era uma atividade lucrativa.

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REFERÊNCIAS

Documentos manuscritos

Carta enviada para Pancho pela Casa Vasquez, Filhos & Cia., carta avulsa de 1930.

Guias de Importação, rolo 21, Subseção da Capatazia, Alfândega de Corumbá, Fundo: Delegacia Fiscal do

Tesouro em Mato Grosso. (Microfilme NDIHR-UFMT).

Guias de Exportação, rolo 22, Subseção da Capatazia, Alfândega de Corumbá, Fundo: Delegacia Fiscal do

Tesouro em Mato Grosso Alfândega de Corumbá, rolo 21. (Microfilme NDIHR- UFMT).

Guias de Exportação, rolo 24, Subseção da Capatazia, Alfândega de Corumbá, Fundo: Delegacia Fiscal do

Tesouro em Mato Grosso. (Microfilme NDIHR-UFMT).

Livro de Atas da Associação Comercial de Corumbá, nº1, 1910 - 1928. ArACC.

Livro de Lançamentos de Impostos de 1906 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, Cx. 10, APMT.

Livro de Lançamentos de Impostos de 1907 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, Cx. APMT.

Livro de Lançamentos de Impostos de 1908 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, APMT.

Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de 1893 a 1915: 2 de janeiro a 18 de setembro julho de

1914, JUCEMAT.

Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de 1913 a 1914: 25 de janeiro a 09 de julho de 1914,

JUCEMAT.

Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de Escrituras, Contratos Comerciais e Outros

Documentos: 15 de Julho de 1910 a 08 de janeiro de1913, JUCEMAT.

Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de Escrituras e Estatuto (Atas): junho 1920/ a junho

1923, JUCEMAT.

Livro da Inspetoria Comercial de Mato Grosso: Registros de 02 de janeiro de 1903 a 18 de setembro de 1915,

JUCEMAT.

Livro Copiador de cartas e telegramas de 1909, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).

Livro Copiador de cartas e telegramas de 1910, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).

Livro Copiador de cartas e telegramas de 1911, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).

Livro Copiador de cartas e telegramas de 1912, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).

Livro Copiador de cartas e telegramas de 1912-1913, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).

Livro Copiador de cartas e telegramas de 1914-1916, pertencente ao Fundo da Casa Vasquez, Filhos & Cia.

(NDHER – UFMS, Campus Corumbá).

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Livro de Estatísticas de Exportação de 1905 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, Cx02, APMT.

Livro de Estatísticas de Exportação de 1907 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá Cx. 04, APMT.

Livro de Estatísticas de Exportação de 1910 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, Cx.07, APMT.

Livro de Estatísticas de Exportação de 1911 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, Cx. 08, APMT.

Livro de Estatísticas de Exportação de 1912 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, Cx. 09, APMT.

Livro de Estatísticas de Exportação de 1915 pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, Cx. 12, APMT.

Livro de Despachos de Produtos Exportados da Bolívia pertencente a Mesa de Rendas de Corumbá, APMT.

Documentos extraídos de meios eletrônicos

Código comercial de 1850. Disponível em: http://edutec.net/Leis/Gerais/cc.htm, acesso em 26 de julho de 2011.

Genealogia pernambucana. Disponível em:

http://www.araujo.eti.br/familia.asp?numPessoa=38244&dir=genxdir/ , acesso em 10 de junho de 2011.

Colégio Brasileiro de Genealogia. Disponível em: http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_m_08.html/ ,

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http://antoniovalsalva.blogspot.com.br/2011/04/o-dr-joao-adolpho-josetti.html, acessado em 13 de junho de

2012.

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Dicionário Michaelis, in: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues -

portugues&palavra=g%EAnero, pesquisado em 25 de junho de 2012).

http://www.schualm.com.br/10fipe.htm.

Obras citadas

ALBUM graphico do estado de Matto-Grosso. AYALA, S. Cardoso & SIMON Feliciano (Org.) Hamburgo-

Corumbá, 1914, 433 + 69.

ALVES, Gilberto Luiz. Mato Grosso e a história – 1870-1929: ensaio sobre a transição do domínio econômico

da casa comercial para a hegemonia do capital financeiro. In: Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n. 61,

p. 5-81, 2.sem.1984.

ALVES, Gilberto Luiz . A trajetória histórica do grande comerciante dos portos em Corumbá (1857 -1929) – a

propósito das determinações econômicas do casario do porto. In: CASARIO do porto de Corumbá . Campo

Grande: Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, 1985. p. 58-61.

ALVES, Paulo. Experiência de investigação: pressupostos e estratégias do historiador no trabalho com as fontes.

In: DI CREDDO, Maria do Carmo S.; ALVES, Paulo; OLIVEIRA, Carlos Alberto de. Fontes históricas: abordagens e

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