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Materialidades de práticas de vigilância: como suas curtidas no Facebook constroem um candidato político 1 Maíra M. Moraes 2 Universidade de Brasília Resumo Durante uma pesquisa para o estado da arte e do conhecimento sobre as práticas de marketing político no Brasil, identifiquei que os estudos acadêmicos sobre o tema compreendem a internet e a mídia social apenas como meio de comunicação, reduzindo a análise sobre a abrangência e influência desses atores nas relações sociais, incluindo sua dimensão político-eleitoral. Para além da sociabilidade virtual, as redes sociais integram práticas de vigilância que resultam em representações de valores e ideias do arranjo social da cultura do consumo. Uma das materialidades dessas práticas pode ser a criação da persona de um candidato político. Neste artigo, apresento uma metodologia para uso dos dados de usuários do Facebook e como ela foi utilizada para pautar as estratégias de comunicação durante a pré-campanha das eleições municipais em 2016 em uma capital brasileira. Palavras-chave: Legibilidade; Mídia, Rede Social; Campanha Eleitoral. Introdução De início, é importante registrar que a expressão “candidato político” no título deste artigo pode ser substituído por qualquer produto ou serviço configurados por valores e ideias do arranjo social da cultura do consumo, ou melhor, bens de consumo que comunicam categorias culturais e valores, recursos sociais, materiais e simbólicos mediados pelos mercados e consumidores (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004). A escolha pelo “candidato político”, isto é, qualquer cidadão interessado em concorrer a um processo eletivo, é resultado de uma provocação, do que Peirano (2014) chama acionamento do “instinto etnográfico”: “tudo o que nos surpreende, que nos intriga, tudo o que estranhamos nos leva a refletir e a imediatamente nos conectar com outras situações semelhantes que conhecemos ou vivemos” (p. 378). 1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho 02 - Comunicação Consumo e Identidade: materialidades, atribuição de sentidos e representações midiáticas do 7º Encontro de GTs de Pós-Graduação - Comunicon, realizado nos dias 10 e 11 de outubro de 2018. 2 Maíra M. Moraes é doutoranda em Comunicação e Sociedade na Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Comunicação Midiática pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pesquisa as relações de poder implicadas no enquadramento de notícias e como as realidades são construídas por meio de narrativas dominantes. E-mail: mairamoraesrp@gmailcom.

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Materialidades de práticas de vigilância: como suas curtidas no Facebook constroem um candidato político1

Maíra M. Moraes2

Universidade de Brasília

Resumo

Durante uma pesquisa para o estado da arte e do conhecimento sobre as práticas de marketing político no Brasil, identifiquei que os estudos acadêmicos sobre o tema compreendem a internet e a mídia social apenas como meio de comunicação, reduzindo a análise sobre a abrangência e influência desses atores nas relações sociais, incluindo sua dimensão político-eleitoral. Para além da sociabilidade virtual, as redes sociais integram práticas de vigilância que resultam em representações de valores e ideias do arranjo social da cultura do consumo. Uma das materialidades dessas práticas pode ser a criação da persona de um candidato político. Neste artigo, apresento uma metodologia para uso dos dados de usuários do Facebook e como ela foi utilizada para pautar as estratégias de comunicação durante a pré-campanha das eleições municipais em 2016 em uma capital brasileira.

Palavras-chave: Legibilidade; Mídia, Rede Social; Campanha Eleitoral. Introdução

De início, é importante registrar que a expressão “candidato político” no título deste artigo pode

ser substituído por qualquer produto ou serviço configurados por valores e ideias do arranjo social da

cultura do consumo, ou melhor, bens de consumo que comunicam categorias culturais e valores,

recursos sociais, materiais e simbólicos mediados pelos mercados e consumidores (DOUGLAS;

ISHERWOOD, 2004). A escolha pelo “candidato político”, isto é, qualquer cidadão interessado em

concorrer a um processo eletivo, é resultado de uma provocação, do que Peirano (2014) chama

acionamento do “instinto etnográfico”: “tudo o que nos surpreende, que nos intriga, tudo o que

estranhamos nos leva a refletir e a imediatamente nos conectar com outras situações semelhantes que

conhecemos ou vivemos” (p. 378).

1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho 02 - Comunicação Consumo e Identidade: materialidades, atribuição de sentidos e representações midiáticas do 7º Encontro de GTs de Pós-Graduação - Comunicon, realizado nos dias 10 e 11 de outubro de 2018. 2 Maíra M. Moraes é doutoranda em Comunicação e Sociedade na Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Comunicação Midiática pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pesquisa as relações de poder implicadas no enquadramento de notícias e como as realidades são construídas por meio de narrativas dominantes. E-mail: mairamoraesrp@gmailcom.

Foi assim que durante uma pesquisa para o estado da arte e do conhecimento sobre as práticas

de marketing político no Brasil, em especial o olhar sobre a construção social do mercado em Castilho

(2013; 2014), identifiquei que estudos acadêmicos sobre o tema compreendem a internet e a mídia

social3 apenas como meio de comunicação4, reduzindo a análise sobre a abrangência e influência desses

atores nas relações de consumo, isto é, nas relações sociais dos produtos políticos e eleitorais. A partir do início do século XXI, e mais ainda de sua segunda década, o marketing político e o mercado eleitoral, que lhe é correlato, começam a sofrer a concorrência de novas tecnologias da comunicação política derivadas do uso intensivo da internet e das chamadas redes sociais (das quais os principais representantes no Brasil atualmente são o Facebook, o Twitter, o Myspace, o Linkedin, o Flickr e o Orkut)5. (CASTILHO, 2013, p.15) e (CASTILHO, 2014, p.87)

Invariavelmente, a mídia social é referenciada com características diferentes das tradicionais,

principalmente no que se refere à descentralização da produção e distribuição de conteúdo, além de

possibilitar a segmentação de público, não possível nos meios de massa. Mas, ainda assim, o olhar

analítico para esses meios refere-se mais ao campo da comunicação sob a luz de teorias do meio, da

recepção, do newsmaking, entre outras.

O que proponho aqui é de outra dimensão, busco produzir reflexões sobre práticas de

legibilidade e controle (SCOTT, 1998) e de como a mídia e as redes sociais, enquadram-se nesse

conjunto de procedimentos, cálculos e táticas que permitem instituições – para além do Estado -

exercerem uma forma complexa de poder (FOUCAULT, 1979), da sociedade disciplinar para a

sociedade de controle (DELEUZE, 2004, p. 220). Aqui, a materialidade dessas práticas refere-se à

produção de uma pesona6 alinhada com o imaginário de eleitores com e alto potencial de elegibilidade

em um pleito, no caso do Brasil, em eleições diretas, evento chamado constantemente pela mídia de

“festa da democracia”.

3 Utilizo o termo “rede social” denotando as redes virtuais. Temos aqui as redes sociais virtuais como grupos ou espaços específicos na Internet, que permitem partilhar dados e informações, sendo estas de caráter geral ou específico, nos mais diversos formatos: textos, arquivos, imagens fotos, vídeos etc. Mídias sociais significam a produção de muitos para muitos, a descentralização da produção e veiculação de informações. O Facebook caracteriza-se por ambos os papéis. 4 Assumo a definição de meio de comunicação de Luiz C. Martino: meio como tecnologia, comunicação como processo de experiência. (MARTINO, 2014, p. 05) 5 Grifo da autora. Utilizo o itálico nas palavras estrangeiras, comuns ao vocabulário digital. 6 O conceito vindo da psicologia analítica de Jung tem sido cada vez mais utilizado no planejamento de comunicação de instituições e indivíduos que buscam se apresentar ao mundo por meio de uma máscara agradável aos seus consumidores, criando vínculos, identificação e consumo de um produto, marca, serviço etc.

Por isso, olho para o Facebook ¾ a rede social com maior número de usuários cadastrados

mundialmente ¾ pelas lentes das práticas de vigilância e do modo como essas práticas têm, por meio

da opacidade de um lado e legibilidade de outro, integrado o cotidiano das pessoas como uma extensão

de entretenimento, mas cujo fim é transformar em ativos comercializáveis os registros de

comportamentos de seus usuários.

Para demonstrar meu argumento, descrevo como alguns comportamentos dos usuários na rede

social Facebook são monitorados, os tipos de dados que geram e como são comercializados pela

empresa por meio de sua ferramenta de anúncios. Importante ressaltar que, o que descrevemos neste

trabalho difere das práticas eticamente questionadas da empesa Cambridge Analytica, denunciada

recentemente por utilizar informações sensíveis e individualizadas dos usuários. Este estudo analisa

dados de tendências de comportamento de grupos a partir de registros realizados na rede social, sem

acesso a informações individuais. Além disso, no caso da Cambridge Analytica, a empresa capturou

registros por meio de aplicativos disponibilizados na rede social que chegavam a recolher dados

pessoais como números de telefone e endereços de e-mail, assim como informações compartilhadas

em conversas de mensagens privadas. A coleta não-autorizada era possível devido a política de

privacidade da ferramenta entre os anos de 2007 e 2014, que permitia acesso irrestrito de dados de

usuários por parte de desenvolvedores de aplicativos externos. Em abril deste ano, em resposta à crise

gerada pelas denúncias da Cambridge Analytica, o Facebook restringiu a integração desses aplicativos

e publicou a Política de Dados (2018), respondendo perguntas como: (1) que tipo de informações

coletamos; (2) como usamos essas informações e (3) como essas informações são compartilhadas.

Aqui localizo a dimensão da legibilidade. Em “Seein like a state”, James Scott (1998) elabora

o conceito de legibilidade como uma “tentativa de um estado de tornar a sociedade legível, de organizar

a população de tal maneira que fiquem simplificadas as funções básicas do estado de tributação,

conscrição e prevenção de rebelião”7 (p. 02). Como respostas a essas demandas, no objetivo de tornar

territórios “legíveis” e simplificados para os administradores, desenvolveram-se ferramentas de

governo como planejamento urbano, padronização de medidas, criação de sobrenomes permanentes,

entre outras estratégias. Por meio dessas tipificações, uma sociedade anteriormente opaca, torna-se

7 Tradução da autora. “[…] as a state's attempt to make a society legible, to arrange the population in ways that simplified the classic state functions of taxation, conscription, and prevention of rebellion.”

acessível aos gestores que constroem seus saberes e suas práticas mediados por objetos constituídos

simbolicamente por banco de dados, estatísticas e pesquisas quantitativas.

Nessa linha, Vitorino (2017), professor de marketing político e eleitoral da Escola Superior de

Propaganda e Marketing, afirma que o Facebook é o maior banco de dados acessível no mundo.

Segundo ele, “governos podem ter mais dados armazenados, mas o Facebook é o único que qualquer

pessoa, com um cartão de crédito, pode ter acesso”.

Apresento a seguir, o passo a passo do que Vitorino chama de “pesquisa de afinidade de

público” realizada com dados de usuários fornecidos pelo Facebook, , metodologia de tratamento de

informações utilizada durante o período pré-eleitoral de 2016 para entender, com base em

comportamentos de consumo dos usuários, com quais grupos certos candidatos teriam mais

proximidade para assim, construir realidades por meio de discursos e práticas de planejamento de

comunicação: a persona o candidato, sua narrativa junto ao eleitorado. O resultado apresentado neste

artigo, foi utilizado para orientar a campanha de um pré-candidato ao cargo de prefeito do Rio de

Janeiro. Tive acesso às informações por no período, fazer parte de uma equipe terceirizada de produção

de conteúdo da pré-campanha entre julho de 2015 e janeiro de 2016.8

É grátis e sempre será

Se à primeira vista o Facebook é uma rede social digital de amigos e compartilhamento de

informações, por trás da amigável interface visível nas telas de computadores e dispositivos móveis

encontra-se um circuito complexo de pessoas, empresas, capitais e algoritmos que constroem novas

realidades de poder institucional e econômico, negociados em dimensões do real ao virtual.

Farei uso do simbolismo de números para esclarecer o parágrafo anterior. No primeiro trimestre

de 2017, a plataforma chegou à marca 1,94 bilhão de usuários9, um crescimento de 17% em

comparação com o mesmo período do ano anterior. Em 2017, foi avaliada como a 9ª marca mais valiosa

do mundo em termos financeiros (EXAME, 2017) e em 2018 os ganhos financeiros continuam

aumentando. Mas o que faz esse modelo de negócio tão lucrativo em um momento histórico em que

expressões como pobreza, crise e dívida se tornam cada vez mais naturalizados?

8 A autorização para uso dessas informações foi possível com o meu comprometimento em não divulgar o nome do pré-candidato, informações partidárias e projetos políticos. 9 Um caminho para entender a potência de poder do Facebook como empresa, o número de usuários hoje equivale a um quarto da população mundial, hoje calculada em 7,2 bilhões de pessoas.

Seu principal ativo são os usuários, ou melhor, as informações que imprimem ou deixam rastros

a cada movimentação, a cada clique, compartilhando e trocando experiências produtificadas em textos,

arquivos, imagens, vídeos e até sentimentos. Um caminho para se compreender o crescente número de

inscritos na rede pode ser encontrado na economia da dádiva. Fazer parte da rede insere-se na lógica

ritualística de estabelecimento e manutenção de relações sociais. Na cultura do consumo participar ou

não participar do ritual diz respeito a estar incluído em maior ou menor grau em um conjunto de

relações sociais.

Nas conclusões de “Ensaio sobre a dádiva”, Mauss (2003) sugere que as sociedades

industrializadas, poderiam beneficiar-se ao reconhecerem um modelo de prática social baseado em

dádivas e doações, como as trocas de presentes das sociedades arcaicas: uma prática social menos

utilitarista e mais voltada para os vínculos entre os seres humanos, a construção de uma “moral de

grupos”, “moral da dádiva-troca” (p. 297). Mauss entende que a obrigatoriedade da troca é a base para

um sistema que tenderia a se estabilizar, destaca que nas sociedades que ele buscava compreender, os

indivíduos eram “menos sérios e tristes”, “mais generosos, mais dadivosos” do que os indivíduos das

sociedades contemporâneas a ele. Identifica que aquelas progrediram pela capacidade de substituírem

guerras e isolamento pela capacidade de estabelecer trocas e alianças, estabilizando essas relações a

partir do encadeamento entre dar, receber e retribuir.

A interface com que o Facebook se apresenta aos usuários das redes sociais, baseia-se na lógica

do sistema de dádiva, reforçada pelo manifesto “é grátis e sempre será”, mas a sustentação desse

sistema só é possível na coexistência e engendramento de outras lógicas, como a do capital, do lucro e

da vigilância.

O compartilhamento do comportamento cotidiano por parte do usuário, incorporado na

dinâmica da dádiva permite a criação de moedas de troca que torna rentável o modelo de negócio dessa

rede social.

Da lógica do capital

Quando meios como o jornal e rádio iniciaram sua estruturação dentro de modelos empresariais

¾ no Brasil datou entre as décadas de 1950 e 60 ¾ o aumento dos investimentos em publicidade em

seus espaços “permitiu que os maiores jornais se tornassem independentes das assinaturas ou da venda

avulsa” (CASTILHO, 2013, p. 67). Contexto semelhante configura as relações comerciais da mídia

social: quanto mais usuários, mais clientes em potencial para empresas anunciantes, que pagam por

anúncios publicitários dentro da plataforma.

E o que leva anunciantes para o Facebook?

Um primeiro fator é o contínuo aumento mundial do consumo de meios de acesso à internet e

a expansão do serviço. No Brasil, por exemplo, dados do PNAD (2015) indicaram que em 2016, 92,1%

dos domicílios brasileiros acessaram a internet por meio do telefone celular, enquanto 70,1% dos

domicílios o fizeram por meio do microcomputador. Em 2014, o acesso à internet (80,4% dos

domicílios) por meio do celular também foi predominante em relação ao uso do computador (76,6%

dos domicílios).

Outro fator é por tratar-se de um investimento mais acessível do que as mídias tradicionais, pois

é possível fazer investimentos de menor valor e com maior impacto bastando segmentar o público alvo.

Ferramentas como Facebook e Google, que são os líderes de audiência na internet, permitem ao

anunciante manter investimentos mensais calculados e com um retorno sistemático. Diferente de

anúncios em redes de televisão ou rádio que exigem um investimento maior, inclusive na produção das

peças a serem veiculadas, sem controle de segmentação.

A possiblidade de segmentar o investimento e o conteúdo são as principais narrativas dos

profissionais de comunicação digital que defendem o investimento nos novos canais e formatos

digitais. A mídia social, por exemplo, oferece a possibilidade de atingir públicos muito específicos,

segmentados por idade, sexo, escolaridade, profissão e mesmo por preferências cultuais ou locais

frequentados. A publicidade convencional ou off-line, é baseada no perfil demográfico, no Facebook

é comportamental. Para tornar esses anúncios mais eficientes, o Facebook precisa fornecer aos seus

anunciantes detalhes precisos sobre o perfil de seus usuários ¾ muito além de perfil dos espectadores

em determinados horários em um canal de televisão ¾, possibilitando um retorno mais eficaz e legível

do dinheiro anunciado.

Para chegar a esse quadro detalhado sobre os usuários, a ferramenta não faz uso apenas de

informações que habitualmente são coletados por empresas de pesquisas como nome, idade, local de

residência, em quem pretende votar ou em quem jamais votaria. A hierarquia da programação (1) coleta

de dados, (2) armazenamento e (3) processamento algorítmico permitem, além do registro de

comportamento, a produção de uma inteligência na organização dos dados. E esses processos vão além

do ambiente do Facebook, incluem também o comportamento em aplicativos de propriedade da

empresa, como Instagram e WhatsApp, além de sites e serviços on-line que usam o Facebook como

login de cadastro.

Em resumo, quando uma pessoa ser cadastra na rede ela dá a permissão para que suas

informações sejam utilizadas pela empresa. Cada comportamento conectado (por vezes desconectado

também) e armazenado é oferecido aos anunciantes, ou melhor, para qualquer pessoa com cartão de

crédito.

Na prática, qual a materialidade dessas informações?

Sociedade algorítmica

Mesmo antes do acontecimento midiático da Cambridge Analytica, Vitorino (2017) afirmava

em seus cursos de marketing político, que costumam lotar as salas da Escola Superior de Propaganda

e Marketing (ESPM) de publicitários, assessores de comunicação, políticos e candidatos, que o fato do

Facebook coletar dados em toda movimentação on-line e por vezes off-line é o que o tem transformado

em um dos mais completos bancos de dados para o planejamento de campanhas políticas e eleitorais.

Por um lado, o monitoramento permite manter a ferramenta atraente ao usuário. Estratégias

como “o tempo que você passa lendo uma publicação é medido para que conteúdos similares ao que

você passou mais tempo visualizando seja oferecido com mais frequência” (VITORINO, 2017),

resultam em um usuário mais tempo conectado e quanto mais tempo conectado, mais dados

armazenados, mais ativos para a empresa e mais interesse de anunciantes em seus espaços virtuais.

Além disso, o sistema também lista cookies que o Facebook armazenou no seu navegador ¾ arquivos

que registram os passos de navegação sobre tempo que o usuário permaneceu em cada página, a

sequência de cliques, as informações registradas em formulários on-line, entre outras informações.

Um recurso muito utilizado pelos usuários é o botão “sentimento/atividade” em que a pessoa

pode registrar, a partir de categorias pré-definidas como ele está se sentindo, o que está comprando, o

que está fazendo, o que está lendo, o que está assistindo, o que está jogando, o que está bebendo, para

onde está viajando, entre outros.

Dessa forma, um usuário que curte páginas sobre viagem ou que dá check-in em diversos locais,

pode ser impactado com algum tipo de anúncio sobre turismo ou de estabelecimentos comerciais das

regiões onde frequenta. A troca de status de relacionamento também é uma informação comercial. Para

um usuário que trocou seu status para casado, anúncios de empresas de decoração, pacotes de lua de

mel e temas correlatos. Para além de uma plataforma de relacionamento é uma rede difusa de pessoas

mediada e regulada por registros. Quanto mais informações registradas, mais sofisticadas tornam-se as

possibilidades de cruzamento de dados e categorias de informações a serem oferecidas a qualquer

pessoa ou instituição que pague pelo serviço que se constitui de quadros – veremos a seguir – que

permitem mapear, classificar, ler e simplificar um grupo de pessoas. O produto é da ordem da

generalização, da criação de categorias e de objetos que, legíveis, servem de suporte para manejar

eventos para a construção de novas narrativas, novas realidades. Mas todo esse esforço de legibilidade

é resultado de uma política de opacidade, pois os algoritmos de vigilância não são divulgados pela

empresa e mesmo empreendimentos de pesquisadores como o Share Labs10 referem-se à rede social

como uma “caixa-preta”. O que acontece dentro das paredes invisíveis desta complexa máquina algorítmica que medeia a comunicação de bilhões de pessoas é um tipo de mistério, uma caixa preta [...] Nesses muros invisíveis, em cada momento os algoritmos estão decidindo quais informações aparecerão em nossa infosfera, quantos e quais dos seus amigos verão suas postagens, que tipo de conteúdo se tornará parte de sua realidade e o que será censurado ou excluído. (SHARE LABS, 2016)

Além das informações que contam com a iniciativa do usuário em compartilhar, outras fontes

são usadas para legibilidade de consumidores em potencial. São diversas as estratégias de controle de

mobilidade e movimento. O Facebook armazena informações sobre os computadores, celulares e

tablets utilizados para entrar no endereço do site com seus protocolos, assim como as datas e horários,

os navegadores utilizados e operadora, no caso de acesso por rede móvel.

Esse panorama, incompleto é necessário dizer, transforma cada indivíduo cadastrado na rede

em um ativo cujo valor é incalculável. Como?

Eleitores legíveis, persona elegível

Como mídia social, o Facebook tem ferramenta de interface dedicada aos interessados em

realizar anúncios de forma segmentada dentro da rede social. Para isso, oferece ao anunciante inúmeras

possibilidades de cruzamento de dados de seus grupos para que o investimento tenha seu potencial de

10 Equipe de investigação baseada na Iugoslávia. Definem-se como um laboratório investigação de dados para exploração de diferentes aspectos técnicos das intersecções entre tecnologia e sociedade. “Estamos exploração das estradas de fronteira eletrônica; escondido. Estradas invisíveis e águas profundas de fluxo de informação para melhor entender as formas novas e emergentes de riscos relacionados à privacidade, neutralidade de rede e ameaços de segurança”. (SHARE LABS, 2016)

retorno ampliado. Há, inclusive, uma plataforma de ensino chamada Blueprint que traz aulas gratuitas

sobre como “aproveitar melhor” as ferramentas que o Facebook oferece para negócios.

Com um cartão de crédito registrado é possível ter acesso à base de dados da rede social repleta

de informações sobre comportamentos de usuários e, a partir dessas informações, determinar grupos

ou microgrupos para serem impactados por meio de uma comunicação que pode ser um anúncio, uma

enquete, um vídeo, um artigo até mesmo uma foto, que ganha o status de “patrocinado” na visualização

do usuário.

O material que apresento a seguir, refere-se ao uso destas informações para fins de planejamento

de campanha eleitoral, ou melhor, no manejo das informações disponibilizadas pela ferramenta de

anúncios, com o objetivo de identificar públicos com mais afinidade com um pré-candidato à prefeitura

do Rio de Janeiro. Nesse contexto, afinidade é o identificar-se com um grupo social, compartilhando

valores, não necessariamente relações de vizinhança, mas de relações de convivialidade mesmo à

distância. Relações mediadas por texto, imagens, sons.

O mapeamento de grupos de afinidades permite ao candidato político e aos seus assessores

desenhar a persona adequada para certos grupos. Segundo Vitorino (2017), compreender o grau de

afinidade do candidato com diversos grupos de públicos contribui para o desenho e planejamento do

projeto eleitoral, compreendido em seis frentes: (1) candidato, (2) mensagens e bandeiras, (3) canais

de comunicação, (4) público-alvo, (5) exposição e (6) audiência.

O planejamento sobre o candidato ¾ também chamado de marca ¾ responde a perguntas como

“quem ele será na campanha?”. Nessa frente de trabalho são definidas qual o vocabulário mais

adequado para usar junto aos seus eleitores, para estabelecer uma comunicação coerente e padronizada

ao longo da campanha.

No caso das mensagens e bandeiras, o desenho do conteúdo responde a questões como “o que

o candidato tem a dizer?” e “o que as pessoas querem ouvir do candidato?”. “Assim como na persona

do candidato, é preciso ter coerência também na mensagem para não cair em contradição. Mantenha

em toda a comunicação a ‘espinha dorsal’ da mensagem”. (VITORINO, 2017)

Os canais são utilizados para facilitar que tanto a marca do candidato quanto suas mensagens

cheguem ao eleitor. São classificados por (1) canais próprios, plataforma de campanha digital; (2)

canais paralelos, indicados para mobilização e; (3) ferramentas externas, redes acessórias, utilizadas

para disseminar conteúdo, gerar relacionamento e aproximação do eleitor com o candidato. “Para um

uso eficiente dos canais é necessário conhecer seu público a fundo para poder adequar o discurso ao

eleitor: o que eles gostam, qual é sua linguagem, quais horários costumam estar on-line, quais são

suas, lutas, ideologias, regiões, entre outras informações comportamentais”. (VITORINO, 2017)

No que se refere à exposição, marqueteiros afirmam que quanto mais próxima a data da eleição,

menos destaque espontâneo nas mídias é dado para os candidatos, por isso é importante planejar ações

de exposição ao longo do período de pré-campanha e campanha. As ações de exposição incluem

participação em eventos, realização de livestream11 em redes sociais como o Facebook, Periscope e

Instagram.

Para completar o planejamento de ações da pré-campanha ou campanha, Vitorino (2017) lança

a pergunta “como levar o eleitor até as plataformas?”. A busca da audiência, assim como todas as

frentes de ações anteriores, requerem dos estrategistas um quadro legível sobre os eleitores,

classificados e analisados de acordo com as variáveis definidas pelos especialistas de comunicação

política que, para além dos dados demográficos, encontraram em ferramentas como o Facebook

informações antes não possíveis de serem “capturadas” sobre eleitores (ou consumidores, dependendo

da perspectiva de análise).

A seguir, apresento o resultado de uma pesquisa de afinidade realizada com dados acessíveis

do Facebook, para um pré-candidato ao cargo de prefeito do Rio de Janeiro, em seguida descrevo

alguns usos dessas informações na criação de personas criadas para a concorrência do pleito, em 2016.

Pesquisa de afinidade de públicos no Facebook

Para iniciar a coleta de informações no Facebook são necessárias quatro fases preliminares.

A primeira é o levantamento de grupos de interesse (macro segmentação). Essas informações

são definidas com base em coleta de informações com o candidato e equipe assessora. No caso

analisado, definiu-se o recorte: família, funcionalismo, gênero, políticos cariocas, preferência política,

profissão, região, religião e visão de justiça. Em resumo, todos os usuários do Facebook, que

identificam a cidade do Rio de Janeiro como residência e que curtiram alguma página na rede social

que se refere a qualquer um dos temas faz parte da amostragem da pesquisa.

11 Plataforma de streaming de vídeo que permite a seus usuários assistir e transmitir vídeos ao vivo.

O segundo passo é a definição de públicos dentro dos grupos (microssegmentação). Estas

informações são refinadas pelo estrategista que detalhou cada variável dentro de cada grupo, por

exemplo, no grupo família, novos filtros foram indexados como: casados, com filhos, interesse em

família, novo emprego, recém-casados, recém-mudados, recém-noivados, solteiros. No grupo

funcionalismo, foram relacionados os filtros: funcionários públicos em geral, Guarda Civil Municipal

do Rio de Janeiro (GCM/RJ), Governo do Estado do Rio de Janeiro e Prefeitura Municipal do Rio de

Janeiro. Em preferências polícias, os filtros variavam entre Aécio e PSDB, Dilma, Lula e PT. Esse

trabalho de microssegmentação é realizado com todos os grupos de interesses mapeados anteriormente.

Esses filtros definem para quais usuários o Facebook mostrará o anúncio do candidato em

questão (produzidos em diversos formatos como vídeo, fan page, artigos e link para sites). Veiculado

o anúncio na rede social já é possível fazer uma análise sobre quais são os públicos que estão

apresentando as melhores performances, ou seja, mais curtidas. A base de análise é a coluna de custos:

os públicos com menores custos de curtir, são os mais próximos de alinhamento com o candidato.

Outras informações também são mostradas na ferramenta como o quanto os anúncios estão causando

de envolvimento, quantidade de compartilhamentos, de cliques, de curtidas na página, de curtidas no

post.

Mas as conclusões extraídas desta pesquisa vão além das métricas disponibilizadas pelo

Facebook. A questão “quais são os públicos com maior afinidade com o candidato?” é respondida por

meio de cruzamento de informações como (1) qual o potencial de pessoas que curtiram páginas sobre

Lula e que também curtem páginas sobre o candidato; (2) quantas pessoas que são solteiras e com

filhos curtem páginas sobre o candidato; (3) estudantes ou professores, qual o público com mais

afinidade com o candidato; e (4) outras variáveis a serem criadas pela equipe estratégica.

Para chegar a essas respostas mais duas fases são necessárias. Após a definição dos públicos

dentro dos grupos, inicia-se a fase técnica chamada “set up”, uma atividade operacional, em que um

profissional com competências no uso do Facebook for business, realiza o passo a passo para criação

de uma campanha dentro da ferramenta. Em seguida realiza-se o “set up da campanha” quando se

aciona o sistema para que a ferramenta configure os dados de acordo com os objetivos definidos. O

Facebook fornece diversas opções de campanhas que de acordo com a finalidade buscada, como

cliques no site, conversão dentro do site, visualização de vídeo e envolvimento com publicação.

No caso da pesquisa de afinidade, as variáveis trabalhadas são (1) “curtidas na página”, novos

fãs adquiridos na página por meio dos anúncios; e (2) “alcance”, número total de pessoas que viram o

anúncio. Quanto o menor alcance e maior o volume de curtidas, chega-se à identificação dos grupos

com mais afinidade junto ao candidato, chamados de “engajadores” e “disseminadores” (gráfico 1).

Em termos financeiros, quanto maior afinidade, menor o investimento financeiro necessário para

converter uma curtida na página do candidato.

Gráfico 1 Qual o público de maior afinidade com o pré-candidato?

Com o resultado dos conjuntos de anúncios sobre o pré-candidato, os grupos foram

posicionados de acordo com os quadrantes:

Gráfico 2 Públicos e grau de afinidade com o pré-candidato

O grupo localizado no quadrante “engajadores” é lido pelos planejadores de comunicação como

um público com potencial de impactar outros grupos quando o tema estiver relacionado ao candidato,

sua campanha e seu projeto político. Apesar de serem considerados um grupo numericamente pequeno

(baixo alcance) comparado aos quadrantes à direita, têm força de proteção à imagem do candidato e

requerem baixo investimento para mobilização digital. Em casos de crise de imagem, por exemplo,

podem ser impactados com anúncios para que se mobilizem e repliquem informações para influenciar

opiniões em suas redes de sociabilidade, presenciais ou digitais.

Segundo Vitorino (2017), o principal foco do trabalho será voltado para os grupos classificados

como “dissemidadores”. São grupos de pessoas numericamente maior (alto alcance) e com alta

conversão de curtidas nos anúncios realizados. O perfil destes grupos pauta decisões sobre a narrativa

a ser utilizada pelo pré-candidato. Se, de acordo com estudos paralelos identificar-se que os votos

femininos serão decisivos nas eleições, o candidato analisado precisaria trabalhar narrativas de

aproximação com os grupos femininos já que sua afinidade é maior com o público masculino (gráfico

2). Para isso, materiais de divulgação, propostas de campanha, agenda de eventos e outras ferramentas

seriam construídas buscando afinidade com o segmento.

Um exemplo de orientação dada ao pré-candidato com base no quadro de afinidade foi a

mudança de discurso sobre Eduardo Paes, prefeito em exercício no período. Quando a candidatura se

transformou em um projeto político do pré-candidato, esse começou a fazer constantes críticas à gestão

de Paes tanto na mídia quanto em seus canais próprios e redes sociais. Mas a pesquisa de afinidade

mostrou que ambos tinham mais proximidade do que o esperado (gráfico 2). A postura crítica ao

governo em exercício afastava os “disseminadores”, grupo de afinidade importante para viabilizar sua

candidatura. Situação semelhante foi identificada com Marcelo Crivella e, nesse contexto, novas

narrativas foram elaboradas para os materiais e discursos do pré-candidato e outros personagens foram

incluídos na dimensão das críticas.

As práticas de gestão de projetos atentam para a limitação de recursos como tempo, dinheiro e

pessoas. Engajado nessa lógica, o estrategista da pré-campanha definiu os públicos posicionados nos

quadrantes inferiores como não prioritários. No inferior direito, os grupos poderiam ser acionados em

casos de crise, impactados com narrativas de defesa, mas não diretamente ligadas ao político e sim a

algum tema que o vincule positivamente. No inferior esquerdo, um público pequeno, mas sem

aderência, só seria alvo de iniciativas da campanha se houvessem “tempo, dinheiro e recursos

sobrando” (Vitorino, 2017).

Considerações finais

Em "Postscript sobre as Sociedades de Controle", escrito em 1990, Deleuze prevê uma forma

de poder que não se baseia mais na produção de indivíduos, como na sociedade disciplinar, mas na

modulação de indivíduos. Para ele, os indivíduos seriam desconstruídos em dados numéricos, divididos

e administrados através de bancos de dados (DELEUZE, 2004).

Nessa linha crítica, o que busquei neste artigo foi olhar as redes sociais, para além de seu papel

midiático e sob sua forma de instrumento de controle capaz de transformar nossa sociabilidade em

números, modulações de pixels e bytes capazes de serem legíveis, empacotados e comercializados. Mas

essa dinâmica requer a construção de uma narrativa de opacidade, “o marketing é agora o instrumento

de controle social” (idem, p. 224). As recentes descobertas sobre o uso não autorizado de informações

de usuários de redes sociais para fins comerciais e eleitorais é uma face desse contexto.

Ao mesmo tempo, a metodologia que trago preserva a identidade dos usuários aproximando

seus resultados da coleta em grupos focais, conforme estudos comparativos durante a pré-campanha

demonstraram.

Planejar e construir a imagem de um candidato político por meio de dados fornecidos por

ferramentas como a de anúncios do Facebook - e outras mídias sociais como o Instagram e mesmo o

Google Adwords - são estratégias que tendem a se ampliar nos próximos anos, principalmente pela

redução de recursos nas campanhas brasileiras após a restrição de doação de empresas, desde o ano de

2016. Na iniciativa aqui apresentada, por exemplo, foram investidos R$720,00 e informações similares

a estas eram identificadas pelos estrategistas em grupos focais que costumam custar pelo menos dez

vezes mais.Outras inúmeras análises são possíveis com os mesmos dados extraídos para este estudo e

periodicamente o Facebook implementa novas funcionalidades tanto para registras hábitos dos

usuários, quando em formatos para oferecer legibilidade aos interessados em pagar por estas

informações.

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