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PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2012

Título: Trabalhando a história e cultura africana e afrobrasileira com textos não escolares nas aulas de Sociologia.

Autor Vera Lucia do Rosario

Disciplina/Área Sociologia

Escola de Implementação do Projeto e sua localização

Colégio Estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira

Rua Joaquim Ferreira Claudino, 900 – Jd. Cruzeiro, São José dos Pinhais.

Município da escola São José dos Pinhais

Núcleo Regional de Educação Área Metropolitana Sul

Professor Orientador Rafael Ginane Bezerra

Instituição de Ensino Superior Universidade Federal do Paraná

Relação Interdisciplinar Sociologia, História.

Resumo A Lei 10.639/03 obrigou o ensino da história e cultura africana e afrobrasileira em todos os níveis de ensino. Incluir esses conteúdos tornou-se um desafio para o ensino no Brasil. A Sociologia já aborda no currículo os aspectos antropológicos da Cultura, mas ainda não absorveu a demanda imposta pela referida lei. Como os conteúdos da história e cultura africana e afrobrasileira ainda não aparecem de forma satisfatória nos livros didáticos, esta Produção Didático-Pedagógica traz alguns recursos temáticos e conceituais que podem auxiliar professores e alunos a problematizar e debater estas questões em sala de aula. Os textos procuram apresentar a história e cultura africana numa perspectiva não eurocêntrica, a partir dos conceitos das ciências sociais, tais como o mito da democracia racial, identidade e pertencimento, etnocentrismo, características históricas e culturais da afrodescendência, discriminação, racismo, exclusão social. As propostas de atividades presentes neste Caderno Pedagógico contemplam o uso de textos não escolares: jornais, charges, pinturas,filmes e músicas. A opção de atividades com essas linguagens reforça a possibilidade de aproximar a realidade cotidiana dos alunos com os conteúdos acadêmicos, procurando sensibilizar os educandos para a construção de uma postura que valorize, respeite e afirme positivamente a afrodescendência no Brasil.

Palavras-chave Ensino de Sociologia; textos não escolares; história e cultura africana e afrobrasileira.

Formato do Material Didático Caderno Pedagógico.

Público Alvo Alunos da 2ª Série do Ensino Médio.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

VERA LUCIA DO ROSARIO

PDE / 2012

CURITIBA

2012

Trabalhando a história e cultura africana e afrobrasileira com textos

não escolares nas aulas de Sociologia

Trabalhando a história e cultura africana e afrobrasileira com textos

colares nas aulas de Sociologia

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Caro(a) Educador(a), Esta Produção Didático-Pedagógica é resultado do trabalho desenvolvido durante a segunda fase

do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola do PDE 2012, promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

A obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afrobrasileira em todos os níveis de ensino estabelecida pela Lei 10.639/03, juntamente com a carência de materiais didáticos direcionados aos alunos e que trabalhem esta temática em sala de aula, foram os motivadores da produção deste Caderno Pedagógico.

O tema Cultura faz parte dos conteúdos estruturantes estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares Estaduais de Sociologia. Por isso, entende-se que a temática história e cultura africana e afrobrasileira deva ser trabalhada no momento em que se discute a concepção antropológica de cultura e os subtemas dela resultantes, como por exemplo, a questão da identidade e da etnicidade do povo brasileiro. A temática africana e afrobrasileira pode ser inserida nesse contexto teórico.

Este Caderno Pedagógico está organizado em seis capítulos: 1. História da África antes da colonização; 2. Colonização e escravização; 3. Trabalho escravo e resistência; 4. Preconceito, discriminação e exclusão social; 5. Etnicidade, identidade e Pertencimento; e 6. Cultura afrobrasileira. Embora fosse interessante que o professor trabalhasse todo o conjunto dos seis capítulos, nada impede que escolha um ou dois apenas para serem trabalhados individualmente. Tudo depende do seu interesse ou necessidade. A forma como os textos e atividades está organizado não impede esta possibilidade.

Cada capítulo apresenta a seguinte estrutura: um texto construído a partir das leituras realizadas para a confecção deste material e fragmentos de textos de pensadores brasileiros especialistas na questão afrobrasileira (que aparecem em destaque nas caixas de texto ou Box), e um conjunto de atividades que pressupõem visualização, audição e interpretação de textos não escolares, tais como jornais, charges, pinturas, trechos de filmes e músicas.

A escolha do trabalho com linguagens ou textos não escolares se deu pela tentativa de tornar o conteúdo teórico mais atrativo, interessante e de fácil compreensão. Esse recurso didático-metodológico se apresenta como uma oportunidade de aproximar o saber acadêmico do conhecimento tácito dos alunos. É preciso considerar, conforme diz Paulo Freire, que o aluno encontra-se inserido numa cultura e carrega consigo suas experiências. E é a partir da reflexão crítica sobre essas experiências que os sujeitos podem transformar e recriar a realidade que os cerca. Ao usar textos não escolares, portanto, espera-se que o aluno construa um novo saber, uma vez que passa a refletir sobre determinados conceitos a partir da sua própria vivência.

Ao final de cada exercício, você encontrará algumas sugestões extras de atividades que aparecem com o indicativo “outras possibilidades de trabalho”. Estas atividades podem ou não ser realizadas, dependendo da organização, do tempo, das possibilidades e objetivos dos educadores que utilizarão este caderno.

Encerrando o capítulo, são apresentadas “sugestões para ler e ver”. Trata-se de uma pequena relação de textos, artigos, links, vídeos ou filmes que irão contribuir para a formação teórico-metodológica dos educadores. Estas sugestões podem ser acessadas tanto por vocês, quanto pelos alunos que se interessarem em aprofundar os temas abordados.

O trabalho com a temática africana e afrobrasileira é importante no sentido de se estabelecer no espaço escolar e na sociedade, uma cultura de respeito às diferenças e de valorização do africano na formação histórica, étnica e cultural do Brasil. Vivemos numa sociedade em que diariamente os direitos humanos mais elementares são violados, sendo imprescindível, nesse sentido, sensibilizar os alunos para o reconhecimento do outro. Reconhecendo a humanidade no outro, reconhece sua própria humanidade e contribui, assim, para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática onde, todos os indivíduos, independentemente do seu pertencimento étnico são ouvidos, considerados e respeitados.

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Caro(a) Aluno(a), Este material foi preparado com muito carinho e dedicação para você. Ele é resultado do trabalho

desenvolvido durante a segunda fase do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola do PDE 2012, promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Houve uma tendência da escola e da ciência em compreender o mundo a partir do ponto de vista europeu. A história da África e do povo que veio desse continente para o Brasil deixou de ser contada. Assim como, sempre se difundiu o mito de um Brasil sem preconceito, onde todos, independentemente da cor são tratados como iguais. Num país onde, segundo dados do IBGE de 2011, os negros e pardos somam 50,7% da população total, chegaria um momento em que essa situação deveria ser revertida.

Com o crescimento das demandas sociais reivindicadas pelos movimentos sociais negros, teve início no país uma série de medidas que procuraram resgatar o papel histórico do negro na formação étnica e cultural do país, bem como o desenvolvimento de estudos que visavam compreender os processos de exclusão social, suas causas e consequências.

Em 2003 o governo sancionou a Lei 10.639 tornando obrigatório o ensino da história e cultura africana e afrobrasileira em todos os níveis de ensino. Já, em 2010, com a Lei 12.288, instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, que objetiva “garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”. Várias universidades federais começaram a estabelecer uma política de cotas para negros, procurando reverter a ausência história desse grupo étnico nos meios acadêmicos. Como resultado dessa demanda, em agosto de 2012, a Presidente Dilma Rousseff sancionou a lei de cotas raciais e sociais para as universidades e institutos técnicos federais, reservando 50% das vagas para os alunos que tenham cursado todo o ensino médio em escola pública, negros, pardos e indígenas.

Neste Caderno Pedagógico, você vai encontrar seis capítulos que versam sobre: 1. História da África antes da colonização; 2. Colonização e escravização; 3. Trabalho escravo e resistência; 4. Preconceito, discriminação e exclusão social; 5. Etnicidade, identidade e Pertencimento; e 6. Cultura afrobrasileira.

Cada capítulo apresenta-se organizado com um texto básico produzido pela autora e textos copilados de pensadores brasileiros especialistas na questão afrobrasileira (que aparecem em destaque nas caixas de texto ou Box), e um conjunto de atividades com textos não escolares, tais como jornais, charges, pinturas, trechos de filmes e músicas.

Com isso, vai se construindo uma nova concepção de educação para as relações étnico-raciais. Este material foi produzido justamente com a intenção de que, você, aluno(a) do Ensino Médio, possa conhecer, compreender e posicionar-se criticamente sobre a história e a cultura africana e afrobrasileira durante as aulas de Sociologia.

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Introdução

Atividade Inicial: Caixa de Questões Para que você possa compreender minimamente a questão da história e cultura africana e afrobrasileira, é preciso considerar primeiramente sua experiência. Você precisa primeiro se autodizer, ou seja, dizer o que você conhece sobre este tema, de que maneira ele lhe afeta e quais são suas dúvidas iniciais. Para isso, escolha algumas questões e escreva seus comentários, depositando as respostas numa caixa. Você pode também escrever sobre qualquer assunto que não esteja neste roteiro e que esteja vinculado ao tema:

• O que você conhece sobre a África Antiga?

• O que você conhece sobre a África atual?

• O continente africano é formado por tribos ou países?

• Existem apenas negros na África?

• Quem eram os africanos que vieram para o Brasil?

• Quando chegaram aqui, o que fizeram, no que trabalhavam? Como era esse trabalho?

• O que você conhece sobre as condições de vida dos escravizados?

• Após a abolição, como ficaram as condições de vida dos ex-escravizados?

• Existe racismo no Brasil?

• Como o racismo se manifesta?

• O que são políticas afirmativas?

• Quais são as maiores expressões da cultura africana presente na cultura brasileira?

• Que palavras você associa espontaneamente quando lhe vem à mente: África, Africano, Afrobrasileiro, negro?

Pempamsie – simboliza a prontidão, perseverança e resistência. A nação africana Ashanti e os Gyaman da Costa do Marfim, na África, possuem uma riqueza de símbolos

impressos que decoram tecidos e estampam peças do vestuário. A simbologia adinkra, como a deste desenho, “representa um sistema de valores humanos universais, como a família, integridade, tolerância,

harmonia e determinação, entre outros”. Fonte - Disponível em: < http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com.br/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html>.

Acesso em 17 dez. 2012.

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“A memória onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura servir o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de maneira que a história sirva para a libertação e não servidão dos homens.” (Jacques Le Goff, Historiador)

As civilizações da África Antiga...

A descoberta e análise de fósseis de hominídeos no continente africano e

dos ancestrais do gênero Homo entre os anos 1960 e 1970, comprovaram

cientificamente que o homem moderno surgiu e evoluiu no continente africano e

de lá migrou para ocupar e povoar o restante do planeta.

Apresença dos humanos mais antigos e a localização de vestígios

tecnológicos, como o início da atividade agrícola, a domesticação de animais, a

metalurgia (cobre, bronze, ferro), a escrita, a arquitetura e o desenvolvimento do

comércio, constituem um conjunto de características históricas que, atribuídas ao continente africano, lhe

conferem o título de berço histórico da humanidade. Também é notório o desenvolvimento da África antiga no

que diz respeito à navegação.

No continente africano surgiram inúmeras civilizações, mas pouco se conhece sobre a história desses

povos, isto porque, historicamente, a literatura didático-científica sempre privilegiou a Europa como o centro de

todo o processo civilizatório. Qualquer agrupamento humano não europeu, por mais desenvolvido que fosse,

era tido como atrasado, inferior e incapaz de produzir conhecimento. A única civilização da África Antiga que

recebeu um espaço considerável nos livros didáticos de história foi a egípcia e, mesmo assim, foi sempre

retratada com “ares” europeus, clareando-se a pele do povo nas gravuras e desenhos ou não relacionando a sua

história à do continente africano, numa espécie de europeização de tudo o que fosse egípcio em função da

inegável grandiosidade dos seus feitos, construções e domínios.

Contar a história da África (tendo a própria África como protagonista) é uma tarefa extremamente

complexa por duas razões: primeiro, pela grande diversidade e riqueza de

povos, culturas e civilizações que existiram no continente, pois se corre o

risco de se ignorarem fatos importantes ou de se cometerem erros

históricos, dada a amplitude da história africana; e, segundo, pela

dificuldade de se encontrar uma literatura científica que dê conta de

sintetizar didaticamente as características históricas das principais

civilizações que habitaram o continente. Ainda que cercado dessas

limitações e correndo os riscos anteriormente assinalados, o quadro-

síntese seguinte tem o intuito de apresentar, de uma maneira bastante

didática, um panorama sobre as principais civilizações antigas da África.

Capítulo 1 História da África Antes da Colonização

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“Os povos antigos, até mesmo africanos, navegavam os mares à procura da rota para as índias, milênios

antes das caravelas portuguesas e espanholas. Os egípcios construíam navios de grande porte desde o terceiro milênio a.C., e há indícios de que enviavam frotas até a Irlanda à procura de estanho para fazer o bronze. O mundo antigo caracterizava-se por ativo comércio e intercâmbio cultural entre a África, a Europa,

Sumer e Elam, a Índia, a China e a Ásia Oriental, e provavelmente as Américas.” NASCIMENTO, E. L. Introdução à história da África. In: Educação Africanidades Brasil. MEC – UNB – CEAD. [S.L.: s.n.], [200?], p.35

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Protagonismo africano Busca-se resgatar o papel central da

África como detentora de sua própria história, superando-se a

visão do continente como economicamente atrasado,

miserável, mero fornecedor de escravos e sem capacidade

civilizatória de produzir conhecimento.

Hominídeos Primatas ancestrais do Homo sapiens que teriam surgido na África há cerca de 70 milhões de anos.

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Quadro 1 – As civilizações antigas do continente africano.

Civilizações ou Reinos

Período Localização Principais características

Egito 3000 a.C. a 330 da Era Cristã.

Vale do rio Nilo / região Nordeste da África.

• Império que se desenvolveu pela sucessão de várias dinastias.

• Invenção da escrita (hieroglífica, hierática e demótica).

• Matemática, engenharia, arquitetura avançadas: Pirâmides e Templos.

• Desenvolvimento agrícola: canais de irrigação

• Conhecimentos médicos: suturas, antissepsia com sais de cobre, conhecimento da anatomia humana, mumificação.

• Segundo estudos recentes (do antropólogo senegalês Cheikh Anta Diop) o Egito influenciou o desenvolvimento da Grécia e da civilização ocidental.

Núbia / Kush 200 a.C. a 400 da

Era Cristã. Sul do Egito.

• No período da 25ª dinastia (750 a 660 a.C.) lideraram o Egito.

• Possuía sua própria escrita, pirâmides e templos.

• Comercializava com Índia e China.

• Metalurgia.

Axum Século V a.C. Norte da atual Etiópia.

• Relações com o sul da Arábia.

• Aliança entre a rainha de Sabá e Salomão (lenda do filho Menelik como fundador da Etiópia).

• Porto de Adulis – Centro mundial do comércio com a Ásia.

• O Reino tornou-se cristão no século IV da Era Cristã.

• As dinastias do reino de Axum sucumbiram apenas no século XX (1935) com a invasão da Itália fascista, mas restaurado em 1941 com o imperador Haile Selassie.

Bérberes

Sem data precisa. Seus

descendentes ainda vivem na

região.

Norte da África / Saara.

• Não apresentam uma unidade política própria, pois são povos nômades que habitaram e habitam o Saara.

• Não compõe um grupo étnico e sim linguístico.

• Intensa atividade comercial pelo deserto do Saara (sal, ouro, marfim).

• Mantiveram relações comerciais com os Fenícios (povos que dominaram o comércio pelo mar Mediterrâneo no período de 1500 a.C. até 300 a.C.

Nok Século III da Era

Cristã. África Ocidental. • Civilização conhecida pelas suas obras de arte e pelo uso do ferro.

Bantos Século V a.C. Atual Nigéria e Camarões.

• Grupo linguístico que deu origem a centenas de línguas africanas modernas.

• Tecnologia do ferro.

• Migrou para outras regiões da África (bacia do rio Congo).

Mali Século VIII até XIV

da Era Cristã.

África subsaariana (regiões que abrangem o delta do

rio Níger Senegal).

• Cidades que se destacaram: Tombuctu, Jené e Gaô.

• Vasto império que se estendeu até o delta do Níger.

• No ano de 1230 o chefe supremo Sundiata, mansa tornou-se soberano sobre vários povos da região.

• Compunha-se de várias etnias (povos da região do rio Senegal, como jalofos, sereres, tucolores e fulas; da região do rio Níger, como bambaras e soninquês; assim como os songais e hauçás).

• Comercializou com os povos da floresta, mantendo um intercâmbio comercial com os mercadores uângaras.

Songai Século XV da Era

Cristã. África subsaariana (região

do médio rio Níger).

• Império que se tornou poderoso após o reinado de ásquia (chefe supremo) que por volta de 1470 conquistou Tombuctu e Jené.

• Dominou cidades hauçás quando se expandiu para o leste.

• Permaneceu dominante na região até 1591, quando foi invadido por exércitos oriundos do Marrocos.

Benin / Ifé

Vestígios datam desde o século

VIII até XV e XVI, quando os

portugueses chegaram nessa região da África.

Região do rio Volta e do baixo rio Níger.

• Grande parte dos dados sobre esse reino foi obtida pelos mitos (relatos orais) dos povos da região.

• Vestígios de muros de pedra que cercavam as cidades do reino de Benin, como os de Ifé (terra dos Iorubás).

• Formavam uma monarquia divina (dirigida pelo oni, representante da divindade Odudua que governava as várias aldeias que compunham o reino).

Fonte - dados e informações coletados de: 1. NASCIMENTO, Elisa Larkin. Introdução à história da África.In: Educação Africanidades Brasil. MEC – UNB – CEAD. [S.L.: s.n.],

[200?], p.40-43. 2. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007, p. 31-37.

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Figura1 - Grandes muralhas de pedra construídas a partir do século XIII na região do Grande Zimbábue

Fotografia disponível em: <http://nalupa.com/africa-livre-02-o-grande-zimbabue/>. Acesso em 21 ago 12.

1. Reflita e responda:

1.1. Após a leitura deste capítulo, escreva um pequeno texto demonstrando as novidades que você aprendeu a respeito do continente africano que até então você não conhecia.

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Sobre a história africana é preciso também saber que...

1. O reino do Congo, na porção sul do rio Congo, segundo relatos dos europeus que colonizaram a região por volta do início do século XV, era constituído por povos agricultores bantos. Esses povos viviam em aldeias, submetidos à autoridade de um chefe regional que, por sua vez, obedecia à autoridade de um chefe geral do reino, o ntotila ou mani. Organizado em aldeias e cidades, numa complexa rede que incluía o pagamento de impostos ao chefe supremo (mani Congo), eram produtores de alimentos, tecidos, cobre e realizavam um intenso comércio entre as cidades e aldeias. “Banza Congo, assim como a capital do Benin, era uma cidade do tamanho das capitais europeias da época (...). Quando os portugueses conheceram esse reino, logo viram que seria um bom parceiro comercial, e trataram de manter relações amistosas com ele” (SOUZA, 2007, p. 39-40). 2. Os bantos também formavam o reino de Monomotapa, na região do rio Zambéze, constituído por agricultores e criadores de gado, e que ficou famoso pelas construções circulares de pedra chamadas de zimbabués (prováveis centros religiosos – veja fotografia ao lado). Nesse reino também existiam jazidas de ouro, que despertaram o interesse dos portugueses que se fixavam na região e se casavam com as filhas dos chefes locais com o intuito de estreitar os laços entre eles. Fonte: SOUZA, Marina de Mello e.

África e Brasil africano. São Paulo:

Ática, 2007, p. 39-41.

Para saber mais... É bem provável que você imaginasse que o continente africano

era historicamente formado apenas por um imenso conjunto de tribos ou aldeias e que nem tenha passado por sua cabeça que lá existiram impérios e reinos. Isto porque sempre quiseram que o imaginário social fosse moldado segundo os padrões científicos europeus. Ao ignorar que o continente africano apresentava Estados ou formas de governo mais complexas, a perspectiva de análise eurocêntrica construía uma visão deturpada do continente como inferior, atrasado, desorganizado e sem relevância histórica.

As sociedades africanas apresentavam uma organização política diferenciada dos moldes europeus, mas nem por isso menos importante. Sobre esse aspecto, a pensadora Elisa Larkin Nascimento (2006, p. 38), destaca que na África “prevalecia na maioria dos casos a monarquia espiritualmente fundada, ou seja, os poderes políticos procediam da sanção espiritual coletivamente reconhecida, e a pessoa do monarca (que não era considerado divino) incorporava o sentimento de Deus ao bem-estar do seu povo”.

Não existia entre as sociedades africanas a propriedade privada da terra, nem o feudo enquanto sistema de organização social, econômica e política.

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1.2. Leia o fragmento seguinte: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.” Fonte: ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 5.

A existência de diversos reinos antigos no continente africano revela uma história rica, complexa e diversificada. Por que os europeus não tinham interesse que essa história fosse contada? Qual a relação entre o etnocentrismo e a postura dos europeus com os africanos?

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2. Trabalhando textos não-escolares: 2.1. Primeiro vamos ouvir, depois analise a letra da música seguinte:

LÁGRIMA DO SUL Milton Nascimento

Letra disponível em: <http://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/lagrima-do-sul.html#ixzz24KJbFmuk>. Acesso em 22 ago 2012.

A letra desta música apresenta-se numa linguagem poética, porém ela possibilita a compreensão de algumas questões a respeito do continente e dos afro-descendentes. Por exemplo, ao se referir à possibilidade da África possuir “mil asas pra voar, que haverão de vir um dia”, o autor demonstra a esperança de superação da miséria, da fome, da exploração e de todos os vestígios de preconceito e tristeza que permearam a história do continente e de seus povos. Partindo desta referência, interprete a música: a. Como a África é retratada pelo compositor? Explique sua resposta.

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b. Milton Nascimento se refere à África como “Berço de meus pais”. Por quê?

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c. Que aspectos culturais especificamente africanos são mencionados na música?

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3. Localizando-se no tempo e no espaço: 3.1. No mapa do continente africano abaixo, circule todas as cidades e reinos antigos que foram mencionados neste capítulo:

Figura 2: Mapa da África com cidades e reinos antigos

Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007, p. 15.

Outras possibilidades de trabalho...

1. O(a) professor(a) após analisar o Quadro 2 – As civilizações antigas do continente africano, pode dividir a

turma em grupos, para que cada um pesquise mais informações e imagens sobre as civilizações listadas,

monte cartazes, slides ou vídeos e apresentem para a turma.

2. Outra possibilidade é montar um painel sobre a África na atualidade. Pedir para os alunos pesquisarem

em jornais escritos, falados ou mesmo na Internet, notícias sobre países africanos. Fazer um levantamento

dos principais temas, localizar os países onde as notícias foram encontradas e montar um quadro ou painel

sobre os resultados dessa pesquisa.

Neste capítulo discutimos:

o História da África.

o Antigas nações africanas.

o Etnocentrismo.

ESCALA

0 748 1496 km

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Sugestões para ler e ver Para o aluno:

1. Livro: ”História do negro no Brasil”. Autoria de Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho, livro de fácil leitura lançado pela Fundação Cultural Palmares em 2006, promove um resgate histórico do negro no Brasil desde a colonização e escravização, passando pelas questões culturais, o preconceito e o movimento negro na atualidade. Download gratuito no link: <http://pt.scribd.com/doc/7108249/Historia-Do-Negro-No-Brasil>. Acesso em 18 out. 2012.

2. Vídeo Documentário: “A Origem do Homem” (Título original: The Real Eve). Produzido pela Discovery Channel em 2002, este documentário de 90 minutos, discute as teses científicas (no campo da Genética e da Antropologia) sobre a origem do homem na África Oriental, a formação das diferentes etnias e a diáspora humana pelo mundo. Para o professor:

1. Livro: “História Geral da África”. Coleção de oito volumes, editado por Joseph Ki-Zerbo, dedicados à história do continente Africano. É de domínio publico e está disponível para consulta e download em pdf no link: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000318.pdf>. Acesso em 18 out. 2012. 2. Filme: “A Massai Branca”. Uma produção alemã de 2005, dirigida por Hermine Huntgeburth. Baseia-se nas memórias de Corinne Hofmann, uma suíça que, em viagem pelo Quênia, conhece um guerreiro da tribo samburu, casa e passa a viver com ele na aldeia. O filme aborda o choque cultural, as dificuldades de se lidar com costumes tão diferentes e o conflito resultante da interferência que um exerce sobre a cultura do outro. Trata-se de um belo retrato da riqueza cultural existente nas diversas Áfricas existentes.

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“Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados.” (Makota Valdina, Religiosa do Candomblé)

Afinal, o que foi a Colonização?

As chamadas grandes navegações do século XV surgiram para reforçar

as práticas mercantilistas que objetivavam o desenvolvimento econômico dos

países europeus. A colonização da América, e mais especificamente a

colonização portuguesa no Brasil, teve como objetivos básicos: a obtenção de

lucro com os novos produtos que seriam comercializados na Europa, a

disseminação do catolicismo, a conquista de novos territórios “além-mar” e a

superação dos perigos (reais e imaginários) que o mar oferecia.

Para conquistar esses objetivos, os portugueses conquistaram, dominaram, povoaram, exploraram e

exterminaram em nome da colonização. A conquista e a escravização dos indígenas e mais tarde dos africanos

(como veremos adiante), submeteram povos e estabeleceram na América aquilo que os europeus denominavam

de “a civilização”. O processo de colonização, nesse sentido, refletiu as relações de poder de um povo sobre

outro. Por isso, podemos dizer que em 1500 não ocorreu a descoberta do Brasil, mas a instauração do domínio,

da conquista e do extermínio dos indígenas que aqui viviam pelos portugueses.

Observe alguns dados históricos sobre a ocupação portuguesa no Brasil:

• A partir de 1500 os “selvagens” (que era como os portugueses se referiam aos indígenas) começaram a ser exterminados, principalmente por doenças como a gripe e a sífilis transmitidas pelos europeus.

• Entre 1500 e 1530 foram realizadas expedições de reconhecimento do território. Nesse momento são nomeadas localidades no litoral e confirmar a possibilidade de exploração do pau-brasil.

• No comando do governo absolutista português o rei Dom Emanuel I, para efetivar a exploração sobre o novo território conquistado, determinou em 1516 o envio de novos navios. Essa nova leva de colonizadores provocou a expulsão de indígenas do litoral, instalando-se em Porto Seguro (Bahia).

• Em 1531, já sob o domínio do monarca absolutista Dom João III, a coroa portuguesa enviou Martin Afonso de Souza (capitão-mor da esquadra e das terras coloniais) para distribuir as sesmarias (lotes de terras) aos portugueses que estavam sob a proteção do rei e efetivar a exploração econômica das terras

conquistadas.

• Martin Afonso de Souza funda os primeiros povoados em 1532: no litoral as Vilas de São Vicente mais para o interior Piratininga – atual cidade de São Paulo. Verificando a abundância de terras e o clima que aqui existia, ele dá início ao plantio da cana-de-açúcar que tinha um alto valor comercial na Europa. Os primeiros engenhos de açúcar surgiram no litoral de São Paulo e do Nordeste. Neste momento tem início a escravização: primeiramente dos indígenas e posteriormente dos africanos. O tráfico negreiro torna-se um empreendimento necessário e rentável que dá apoio à dominação e à exploração das terras brasileiras pelos portugueses.

Não existem escravos, existem escravizados...

O governo absolutista, bem como a nobreza e os comerciantes portugueses sabiam que para efetivar o domínio colonial sobre o Brasil precisariam de mão de obra. Os portugueses já exploravam o trabalho do africano escravizado nas colônias das Ilhas dos Açores e da Madeira (litoral africano), não demorando muito para perceber que após o uso da mão de obra do indígena durante o século XVI1, seria possível substituí-la facilmente

1 A mão-de-obra do indígena escravizado foi utilizada até o final do século XVIII nas capitanias do Pará e do Maranhão e até o século XIX na

Capítulo 2 Colonização e Escravização

Cana-de-açúcar O contato dos portugueses com a cana-de-açúcar ocorreu durante as Cruzadas na Idade Média. Eles começaram a cultivá-la na Ilha da Madeira (litoral da África).

Produtos Os produtos mais buscados pelos portugueses eram os metais preciosos (ouro e prata).

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pela mão de obra do africano. Mesmo porque, grande parte da burguesia mercantil portuguesa acumulava grandes somas de dinheiro com o comércio de escravizados. Os ganhos de capital com o tráfico de escravizados e a necessidade de um grande contingente de mão de obra para suprir o modelo de produção agroexportadora, foram as principais motivações para a substituição do indígena pelo africano. Todavia, não há como negar que a insubordinação do indígena ao trabalho forçado também gerou descontentamento aos colonizadores.

A “decepção” dos colonizadores com a mão de obra indígena se deu, em grande parte, pela rebeldia desses povos que nunca aceitaram passivamente o cativeiro. São inúmeras as narrativas de fugas, rebeliões e ataques às vilas provocadas pelos indígenas. A ideia do “índio preguiçoso” foi uma invenção portuguesa para justificar a insubordinação do indígena ao trabalho compulsório.

O africano escravizado estava presente em todos os tipos de trabalho compulsório existentes no Brasil Colônia: nas plantações, na manufatura do açúcar, no comércio, nos serviços domésticos, nas estradas, na criação de gado, nas minas de ouro, nas oficinas de carpintaria, ferraria e sapataria... Mas quem eram esses homens e mulheres que atravessavam o Atlântico para vir aqui e involuntariamente realizar um trabalho que enchia de riquezas os bolsos dos colonizadores? Nenhum ser humano nasce escravo, ele se torna escravo na medida em que outro ser humano o escraviza. Portanto, precisamos primeiramente apagar do nosso imaginário aquela ideia de que o africano é naturalmente escravo. Em função disso, você verá em todo o texto originalmente de nossa autoria, utilizaremos o termo escravizado ao invés de escravo, para deixar claro que os africanos eram homens livres, mas se tornaram escravizados em função de vários processos. É comum que se imagine a escravidão como um processo natural e até “romântico”, como se a relação entre dominador e dominado fosse harmoniosa, necessária e inevitável. Este fundamento se estabelece com base numa concepção aristotélica de mundo2, na qual uns nasceram para serem livres e outros nasceram para serem escravos. Os argumentos do colonizador ou da historiografia tradicional de base europeia presente nos livros didáticos, no cinema e na literatura, e que, portanto, constituem o nosso imaginário, caminham nessa linha: o fato de muitos africanos durante as guerras internas venderem os prisioneiros desses conflitos como escravos ou de existirem formas diferenciadas de escravidão no continente (conforme Box da página seguinte), revestia o processo de escravidão realizado pelo europeu de uma “normalidade” e “naturalidade” que não dava espaço para a indignação. Nesse sentido, é que

região hoje correspondente ao estado do Amazonas. Isto demonstra que não houve uma substituição imediata do trabalho do indígena pelo do africano escravizado em todas as áreas do Brasil dominadas pelos portugueses. 2 Para o pensador grego Aristóteles (384 a.C-322 a.C.), a escravidão é um processo natural no qual alguns indivíduos nasceram para comandar e outros para serem escravos. Lógico que essa concepção tem ligação com a ideia que este autor fazia sobre a Política, mas não nos cabe aqui entrar no mérito desse debate.

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A capitania de Porto Seguro “O regime de Capitanias hereditárias inaugura verdadeiramente o processo de colonização do Brasil. O

território brasileiro foi dividido em 15 amplas faixas de terra que se estendiam da costa atlântica até a linha de Tordesilhas. No entanto poucos foram os donatários que realmente investiram na colonização de suas terras, um deles foi Pero do Campo Tourinho, donatário da capitania de Porto Seguro. Pero do Campo recebeu da Coroa Portuguesa 50 léguas de costa para administrar, que se estendiam do Rio Grande, atual Jequitinhonha ao Rio Doce. Vendeu todas as suas propriedades em Portugal e rumou para o Brasil, em 1535, trazendo consigo sua família e 600 homens (colonos acompanhados de suas esposas, homens de arma e funcionários cíveis e eclesiásticos). Tão logo desembarca funda a Vila de Nossa Senhora da Pena, situada numa colina próxima ao local onde Cabral plantara a cruz (cidade histórica de Porto Seguro). Funda outras vilas, constrói engenhos e estabelece a paz com os indígenas. No entanto a prosperidade inicial cede espaço a uma forte crise econômica e política, os ataques indígenas cada vez mais constantes impediam o crescimento econômico e, agravando ainda mais a situação, os colonos entram em choque direto com o donatário. O resultado deste processo é a denúncia contra Tourinho feita ao tribunal do Santo Ofício em 1543, sob a acusação de heresia.”

Disponível em: < http://www.portonet.com.br/portoseguro/capitania.htm>. Acesso em: 02 out. 2012.

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Raça A comprovação científica de que não existem raças diferentes e que a cor da pele, dos olhos e o formato do rosto são determinados pelos genes que integram o DNA, torna os seres humanos (negros, brancos ou amarelos) todos iguais e pertencentes à espécie humana. Raças não existem. O que existe são diferentes experiências humanas que se expressam em culturas diversificadas.

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muitos ainda permanecem com a ideia de que todos os africanos eram naturalmente escravos, não se relativizando o fato de que “as formas de servidão praticadas na África que se baseavam na captura de prisioneiros de guerra”, eram diferentes da prática do colonizador que prendia, comprava e escravizava o africano porque não o considerava gente, mas “selvagem” e pertencente a uma “raça inferior”. O europeu destituía de humanidade o africano e o rebaixava à condição de animal, transformando gentes em mera mercadoria ou peça para gerar ou produzir riquezas. Sobre esse processo de desumanização do africano, vejamos o que nos diz o antropólogo Darcy Ribeiro:

“A empresa escravista, fundada na apropriação de seres humanos através da violência mais crua e da coerção permanente, exercida através dos castigos mais atrozes, atua como uma mó desumanizadora e desculturadora de eficácia incomparável. Submetido a

essa compressão, qualquer povo é desapropriado de si, deixando de ser ele próprio, primeiro, para ser ninguém ao ver-se reduzido a uma condição de bem semovente, como um animal de carga; depois para ser outro, quando transfigurado etnicamente na linha consentida pelo senhor, que é a mais compatível com a preservação dos seus interesses. O espantoso é que os índios como os pretos, postos nesse engenho deculturativo, consigam permanecer humanos. Só o conseguem, porém, mediante um esforço inaudito de auto-reconstrução no fluxo do seu processo de desfazimento. Não têm outra saída, entretanto, uma vez que da condição de escravo só se sai pela porta da morte ou da fuga. Portas estreitas, pelas quais, entretanto, muitos índios e muitos negros saíram; seja pela fuga voluntarista do suicídio, que era muito frequente, ou da fuga, mais frequente ainda, que era tão temerária porque quase sempre resultava mortal. Todo negro alentava no peito uma ilusão de fuga, era suficientemente audaz para, tendo uma oportunidade, fugir, sendo por isso supervigiado durante seus sete a dez anos de vida ativa no trabalho. Seu destino era morrer de estafa, que era sua morte natural. Uma vez desgastado, podia até ser alforriado por imprestável, para que o senhor não tivesse que alimentar um negro inútil”. Fonte: RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 118.

Se o africano escravizado passava por todo esse processo de desumanização, além da esperança de fuga e de liberdade, quais os demais mecanismos que criou para manter sua humanidade e a sua dignidade? Quando Darcy Ribeiro, no texto acima, se refere à auto-reconstrução está falando das possibilidades que o africano escravizado encontrou ao resistir e manter sua humanidade diante de tantas atrocidades contra seu corpo, sua vida e sua cultura. A manutenção de costumes e hábitos, como a religiosidade e os movimentos de resistência foram alguns deles, conforme veremos nos capítulos seguintes.

Bem semovente Significa “aquele que anda ou se move por si” e diz respeito aos animais de rebanho. É aplicado pelo Direito para se referir àqueles animais que constituem a propriedade ou o patrimônio do sujeito; são objetos capazes de serem vendidos, trocados ou penhorados.

A escravidão na África

“Desde os tempos mais antigos alguns homens escravizaram outros homens, que não eram vistos como seus semelhantes, mas sim como inimigos ou inferiores. A maior fonte de escravos sempre foram as guerras, com os prisioneiros sendo postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como condenação por transgressões e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dívidas, ou mesmo de sobreviver independentemente por falta de recursos. Pelo menos assim era na África, onde acontecida de pessoas se entregarem como escravos a quem pudesse salvar a si e a sua família da morte por falta de alimento, caso a seca ou os gafanhotos tivessem arruinado toda a colheita. Se considerarmos a escravidão como: situação na qual a pessoa não pode transitar livremente nem pode escolher o que vai fazer, tendo, pelo contrário, de fazer o que manda seu senhor; situação na qual a pessoa pode ser castigada fisicamente e vendida caso seu senhor assim ache necessário; situação na qual o escravo não é visto como membro completo na sociedade em que vive, mas como ser inferior e sem direitos, então a escravidão existiu em muitas sociedades africanas bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo oceano Atlântico. (...) A escravidão estava mais presente nas capitais dos reinos, nas cidades-estado e nos grandes centros de comércio, onde havia maior circulação de riquezas, mais marcadas entre os grupos sociais. Além de os escravos serem integrados nessas sociedades, também eram uma mercadoria importante nas rotas do Saara. Parte dos cativos, obtidos geralmente por meio de guerras ou ataques a aldeias desprotegidas, era negociada com os comerciantes que os levariam para o norte da África. (...)”

Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e

Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007, p. 47-

49.

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As escarificações (sinais ou marcas

esculpidas no rosto) foram alguns dos

elementos utilizados para indicar a

origem étnica do africano escravizado

quando chegava ao Brasil.

Fonte da imagem: Fonte: SOUZA,

Marina de Mello e. África e Brasil

africano. São Paulo: Ática, 2007, p. 62.

A diáspora africana: quem eram os africanos que vieram para o Brasil?

A diáspora é um processo que ocorre quando um povo e sua cultura se espalham pelo mundo. Podemos dizer que ocorreram dois grandes momentos de dispersão na diáspora africana: o primeiro na pré-história, já que os achados arqueológicos comprovam que o povoamento do mundo teve início na África, daí a expressão “somos todos filhos da África” ou “África: berço da humanidade”; e o segundo ligado ao processo de tráfico involuntário dos africanos escravizados durante a colonização da América. Interessante notar que um povo, mesmo submetido, carrega junto de si a cultura que possui. Por isso a cultura brasileira é constituída

também por elementos trazidos pelos africanos. Elementos estes que se expressam na religiosidade, na música, na dança, na culinária, nos conhecimentos, no uso medicinal das ervas... Isto foi possível porque quando chegaram ao Brasil, até como forma de resistência, procuraram manter aspectos da sua cultura, mesmo estando proibidos de praticá-la, ainda que para isso tivessem que modificá-la ou adaptá-la. Manter a identidade é manter a própria vida. Garantir que sua cultura não fosse esquecida ou negada era uma forma de manter vivas as lembranças, a família, os costumes, as crenças e trazer de alguma maneira o território africano para dentro de outro espaço que não havia escolhido habitar.

A diáspora africana, portanto, além de constituir-se no deslocamento involuntário de pessoas, é também caracterizada pela necessidade de manter viva a história, a identidade e garantir algum vínculo com sua origem africana. Mas de que lugares saíram os africanos que vieram para o Brasil? Observe o mapa seguinte:

Conforme podemos observar, para Belém (PA) vieram escravizados da Guiné. Para São Luís (MA) e Rio de Janeiro (RJ) vieram da Costa do Ouro (onde hoje estão Gana, Benin, Togo e Nigéria). Para Recife (PE), Salvador (BA) e também Rio de Janeiro vieram africanos de Angola (Loango Cabinda e Luanda). Os africanos de Moçambique também foram trazidos para o Rio de Janeiro. Importante lembrar que o tráfico ocorreu do século XVI ao XIX, sendo que, neste último vieram em maior número para o Brasil os escravizados de Angola e Moçambique, justamente as regiões que se transformaram em colônias portuguesas na África. Cerca de 40% do total de africanos escravizados foram trazidos para o Brasil. Fonte do mapa: SCHMIDT, Mário Furley. Nova

história

crítica:

ensino médio. Vol. único. São Paulo: Nova Geração, 2005, p. 198.

O continente africano abriga uma imensa diversidade étnica, cultural e linguística nos dias atuais que não é diferente daquela que existia na época da colonização. Portanto, explicar as origens dos povos escravizados que vieram para o Brasil não é uma tarefa fácil, mesmo porque, o processo de transformação do africano em escravo, é fruto de uma rede complexa de relações.

“As formas de servidão praticadas na África que se baseavam na

Diversidade Étnica O termo Etnia se refere a um grupo de pessoas ou sociedade que possui em comum a língua, a história, um sistema de crenças, costumes, valores etc. A diversidade étnica, portanto, diz respeito a um grande número de povos de diferentes culturas e línguas que existiu e existe no continente africano.

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captura de prisioneiros de guerra” acabaram por contribuir para que o africano aprisionado fosse mais facilmente vendido aos traficantes de escravizados. Descobrindo esse vilão, os traficantes europeus estimularam as guerras entre os reinos com o objetivo de conseguir mais escravos. Além deste fato, muitos portugueses que lidavam com o tráfico de seres humanos para a América, penetravam no interior do continente e “caçavam” os africanos, como se animais fossem, na mata, na tribo, dentro de suas casas.

Sobre o aprisionamento dos africanos, sua trajetória desde a África (as viagens duravam entre 30 e 45 dias) e as condições de trabalho a que eram submetidos, leia o que escreveu o antropólogo Darcy Ribeiro:

“Apresado aos quinze anos em sua terra,

como se fosse uma caça apanhada numa armadilha, ele era arrastado pelo pombeiro – mercador africano de escravos – para a praia, onde seria resgatado em troca de tabaco, aguardente e bugigangas. Dali partiam em comboios, pescoço atado a pescoço com outros negros, numa corda puxada até o porto e o tumbeiro. Metido no navio, era deitado no meio de cem outros para ocupar, por meios e meio, o exíguo espaço do seu tamanho, mal comendo, mal cagando ali mesmo, no meio da fedentina mais hedionda. Escapando vivo à travessia, caía no outro mercado, no lado de cá, onde era examinado como um cavalo magro. Avaliado pelos dentes, pela grossura dos tornozelos e dos punhos, era arrematado. Outro comboio, agora de correntes, o levava à terra adentro, ao senhor das minas ou dos açúcares, para viver o destino que lhe havia prescrito a civilização: trabalhar dezoito horas por dia, todos os dias do ano. No domingo, podia cultivar uma rocinha, devorar faminto a para e porca ração de bicho com que restaurava sua capacidade de trabalhar no dia seguinte até a exaustão.

Sem amor de ninguém, sem família, sem sexo que não fosse a masturbação, sem nenhuma identificação possível com ninguém – seu capataz podia ser um negro, seus companheiros de infortúnio, inimigos – maltrapilho e sujo, feio e fedido, perebento e enfermo, sem qualquer gozo ou orgulho do corpo, vivia a sua rotina. Esta era sofrer todo o dia o castigo diário das chicotadas soltas, para trabalhar atento e tenso. Semanalmente vinha um castigo preventivo, pedagógico, para não pensar em fuga, e, quando chamava atenção, recaía sobre ele um castigo exemplar, na forma de mutilações de dedos, do furo de seios, de queimaduras com tição, de ter todos os dentes quebrados criteriosamente, ou dos açoites no pelourinho, sob trezentas chicotadas de uma vez, para matar, ou cinquenta chicotadas diárias, para sobreviver. Se fugia e era apanhado, podia ser marcado com ferro em brasa,

Quem eram os escravizados Os africanos escravizados que vieram para o Brasil pertenciam a diferentes etnias. Ainda que fossem capturados juntos, muitos eram posteriormente separados dos seus familiares, parentes ou amigos. Isso dificultava as relações sociais, a fuga e a organização dos escravizados, visto que pertencendo a diferentes etnias, possuíam culturas, religiões e línguas diferenciadas. Sobre a origem dos escravizados, vamos ler o que escreve Marina de Mello e Souza: “Os escravos que chegaram ao Brasil eram embarcados em alguns portos africanos como Luanda, Benguela e Cabinda, na costa de Angola, Ajudá e Lagos, na Costa da Mina, e mais tarde no porto de Moçambique. De Benguela vinham principalmente ovimbundos; de Luanda, dembos, ambundos, imbangalas, quiocos, lubas e lundas; de Cabinda vinham congos e tios. Todos pertencentes ao grupo linguístico banto. No Brasil, essas diferentes etnias foram reagrupadas como os nomes de angola, congo, benguela e cabinda, identificando os africanos pelos portos nos quais haviam sido embarcados ou pela região na qual eles se localizavam. (...) Quanto aos escravos embarcados no golfo da Guiné, eles passaram a ser, a partir do século XVII, conhecidos como minas. Mais tarde, além das designações mais gerais de negro mina, ou negro da Guiné, na Bahia, os escravizados vindos de áreas mais a oeste eram chamados de jejês, e os iorubas de regiões mais a leste de nagôs. Os primeiros cultuavam os voduns, ligados a ancestrais fundadores de linhagens, e os segundos os orixás, mitologicamente ligados à cidade-mãe de Ifé, de onde teriam se originado todos os reinos da região do golfo da Guiné. No século XIX chegaram à Bahia muitos hauçás, aprisionados nas guerras contra os iorubas, seus vizinhos do sudoeste. Os hauçás eram islamizados, assim como alguns iorubas de Óio, e a partir de Salvador fizeram que os islã marcasse sua presença entre a população negra do Brasil do século XIX. A maioria dos africanos trazidos para o Brasil veio da região de Angola (...). Já os vindos da África Ocidental, entre os quais os iorubás eram os mais numerosos, se concentraram principalmente na Bahia e no Maranhão, e em menor quantidade em Minas Gerais (onde trabalharam na mineração). Ao Rio de Janeiro chegaram em maior número após 1850, pois quando o tráfico pelo Atlântico foi proibido, escravizados do Nordeste foram vendidos para o Sudeste para trabalhar nas lavouras de café em função da decadência dos engenhos de açúcar. A influência banto é a mais disseminada por todo o Brasil, ao passo que a ioruba é mais forte na região de Salvador, que manteve fortes laços com a Costa da Mina até o período final do tráfico. Ali, os africanos e seus descendentes refizeram suas religiões, mantendo-as mais perto das suas matrizes africanas. Já as manifestações culturais de influência banto são resultado de misturas mais antigas, incorporando elementos das culturas indígena, portuguesa e ioruba.” Adaptado de: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano.

São Paulo: Ática, 2007, p. 85-87.

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tendo um tendão cortado, viver peado com uma bola de ferro, ser queimado vivo, em dias de agonia, na boca da fornalha ou, de uma só vez, jogado nela para arder como um graveto oleoso.” Fonte: RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 119-20.

1. Reflita e responda: “Muita violência, espanto e perplexidade iriam regular as relações entre povos, sociedades e culturas tão impressionantemente diferentes a ponto de uma negar, frequentemente, à outra a própria natureza humana.” “(...) a diferença que se travestia em espanto e perplexidade, nos séculos XV e XVI, encontra, nos séculos XVIII e XIX, uma nova explicação: o outro é diferente porque possui diferente grau de evolução.”

Fonte: ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 11-12.

Nos fragmentos acima, encontram-se duas “justificativas” ideológicas para que os europeus escravizassem os africanos. Explique-as.

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2. Trabalhando textos não-escolares: 2.1. Vamos assistir agora um trecho do filme AMISTAD (1:16:55 – 1:26:01), de produção estadunidense de 1997, com roteiro de David Franzoni e direção de Steven Spielberg. A história de Amistad é baseada em fatos reais que teriam ocorrido no ano de 1839, quando escravizados após organizarem uma revolta no interior do navio La Amistad, chegam à costa norte-americana onde são julgados e libertados. O trecho selecionado mostra a captura e o transporte de escravizados para realizar trabalhos na América do Norte.

Nos dez minutos de filme, você percebeu como era realizado o tráfico de africanos para a América. Escreva um texto, na forma de narrativa histórica que conte os principais fatos que você considerou mais significativos, marcantes e impressionantes no trecho selecionado do filme.

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Narrativa histórica Narrar, neste caso, consiste em realizar não só uma sequência de fatos, incluindo personagens localizados num determinado espaço e tempo. Mas também registrar as impressões pessoais sobre o fato, o que foi significativo e que ajudou a compreender o fenômeno estudado.

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2.2. Observe as imagens abaixo e responda:

Imagem 1

Fonte: <http://tribunodahistoria.blogspot.com.br/2011/07/o-comercio-de-escravos-africanos.html>. Acesso em: 17 out. 2012.

Imagem 2

Fonte: MORIER, Luiz. Todos negros. Jornal do Brasil, 1983.

Luiz Morier recebeu o Prêmio Esso de fotografia em 1983 por esta foto.

a. O que existe de diferente e de semelhante entre as duas imagens?

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b. Em 1983, Luiz Morier trabalhava para o Jornal do Brasil e se dirigia à redação pela estrada Grajaú-Jacarepaguá no Rio de Janeiro, quando observou uma viatura da Polícia Militar estacionada na estrada próxima a uma comunidade (“favela”) , desceu do carro, penetrou na mata e encontrou a “cena” fotografada (Imagem 2). Situações como esta ainda podem ser percebidas no nosso dia a dia? Por quê? Se possível dê exemplos.

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2.3. As pinturas do francês Jean-Baptiste Debret sempre foram utilizadas pelos livros didáticos para ilustrar a escravidão no Brasil. A imagem a seguir chama-se “Um jantar brasileiro” (Aquarela de 1827). Após analisá-la responda:

a. A aquarela pintada por Debret representa as condições reais do escravizado doméstico no Brasil colônia? Justifique utilizando argumentos dos textos que você leu neste capítulo.

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Fonte: <http://historiaporimagem.blogspot.com.br/2011/10/jean-baptiste-debret-um-jantar.html>. Acesso em: 10 nov. 2012.

b. Qual o conteúdo ideológico que a imagem transmite a respeito das relações entre senhores e escravos? Explique.

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2.4. Leia o fragmento escrito pelo antropólogo Darcy Ribeiro: “O espantoso é que os índios como os pretos, postos nesse engenho deculturativo, consigam permanecer humanos. Só o conseguem, porém, mediante um esforço inaudito de auto-reconstrução no fluxo do seu processo de desfazimento. Não têm outra saída, entretanto, uma vez que da condição de escravo só se sai pela porta da morte ou da fuga.” O que você compreendeu a respeito da ideia de auto-reconstrução destacada no texto?

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2.5. Leia e observe os documentos a seguir e responda:

Documento 1 Relato de Mahommah Gardo Baqua, ex-escravo do reino de Bergoo na África Central enviado aos Estados Unidos. Ele faz esta declaração ao abolicionista Samuel Moore em 1854, descrevendo as condições absurdas pelas quais havia passado no navio negreiro:

“Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado e as mulheres do outro. O porão era baixo que não podíamos ficar em pé, éramos obrigados a nos agachar ou a sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos. Ficamos desesperados com o sofrimento e a fadiga. Oh! A repugnância e a imundície daquele lugar horrível nunca serão apagadas de minha memória. Não: enquanto a memória mantiver seu posto nesse cérebro distraído, lembrarei daquilo. Meu coração até hoje adoece ao pensar nisto.” Fonte: ALBUQUERQUE. Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006, p. 48.

Documento 2

Fonte: ALBUQUERQUE. Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006, p.49.

Documento 3 Música: TODO CAMBURÂO TEM UM POUCO DE NAVIO NEGREIRO O Rappa Letra disponível em: <http://www.vagalume.com.br/o-rappa/todo-camburao-tem-um-pouco-de-navio-negreiro.html#ixzz28kGbTv8q>. Acesso em: 10 out. 2012.

a. O primeiro documento é um relato em forma de história oral, o segundo é uma ilustração e o terceiro documento trata-se de uma música (linguagem poética). Embora sejam linguagens distintas, existe uma relação entre os três documentos. Explique essa relação.

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b. Por que a música (documento 3) usa a máxima “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”? Copie um trecho da música que justifique sua resposta.

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c. Que trecho da música é possível relacionar com a segunda imagem da questão 2.2? Por quê? (copie o trecho, antes de justificar).

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Outras possibilidades de trabalho...

O(a) professor(a) pode solicitar uma pesquisa para os alunos com a temática “A Igreja Católica e a escravidão”, no sentido de compreender o papel da instituição religiosa católica no processo de escravização.

Neste capítulo discutimos:

o Colonização do Brasil.

o Escravização.

o Diversidade étnica na África.

o De onde vinham e quem eram os africanos que vieram para o Brasil.

o Diáspora africana.

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Sugestões para ler e ver

1. Livro: “Negras Raízes”. Trata-se de uma das descrições mais incríveis sobre a captura e aprisionamento de africanos pelos traficantes de escravizados, a trajetória no

navio negreiro e a vida na América. O romance foi escrito por Alex Haley como resultado de um trabalho de investigação de suas origens africanas. Veja o que diz a nota do tradutor para a edição brasileira:

“Poucas narrativas despertam tanta inquietação e desconforto como Negras Raízes, a saga do negro nos Estados Unidos, que merece ser considerada a saga do negro nas Américas. O trabalho de doze anos de pesquisa, ao qual se dedicou Alex Haley, resultou

na autobiografia mais coletiva de que se teve notícia. Kunta Kinte, dito o “Africano”, pela avó e as tias velhas de Haley, não é apenas o mais remoto ancestral do autor, é também o mais remoto ancestral na genealogia de uma raça inteira, caçada nas matas ou à beira dos

rios, amontoada nos porões infectos dos navios negreiros e vendida a retalhos num ponto qualquer dos Estados Unidos, Cuba, Haiti ou Brasil . (...)

(...) Alex Haley reconstituiu biblicamente a trajetória de sua família, a partir das histórias repetidas por sua avó, depois de percorrer arquivos, bibliotecas, coleções de documentos oficiais e particulares, realizar várias viagens à África, particularmente a

Gâmbia – terra dos mandingas, cujos contingentes também aportaram no Brasil -, onde detectou os passos do seu parente Kunta Kinte, que – mais do que uma personagem – é o símbolo e o protótipo do preto capturado pelos negociantes negreiros.” HALEY, Alex. Negras Raízes. São Paulo: Círculo do Livro, [198?], p.9 e 11.

2. Vídeo: “Escravidão no Brasil em fotos reais inéditas”. Montagem feita com fotografias do acervo do Instituto Moreira Salles. Disponível no youtube.com, conforme o link: <http://www.youtube.com/watch?v=jRZRa4H8674&feature=related>. Acesso em 17 out. 2012.

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“E na senzala / o contraste se fazia / enquanto o negro apanhava / a mãe preta embalava / o filho branco do senhor que adormecia.” (Samba Enredo da Unidos da Tijuca, 1961).

O trabalho escravo Até que fossem encontrados metais preciosos em terras brasileiras, Portugal precisava estabelecer o

domínio colonial sobre o território, ao menos na faixa que lhe pertencia segundo os domínios do Tratado de Tordesilhas. Para que esse domínio se efetivasse, estabeleceu um modelo econômico no Brasil fundado na monocultura da cana-de-açúcar.

Os pilares básicos da colonização de exploração estão na monocultura, no latifúndio e na extração de recursos para serem destinados à metrópole europeia. Terra havia em abundância, mesmo porque já havia sido pilhada dos povos indígenas, assim, inúmeros engenhos foram se espalhando pelo território, edificando um modelo de produção agrícola que necessitava de um grande contingente de trabalhadores.

Os indígenas que já tinham sido explorados na extração do pau-brasil seriam “naturalmente” utilizados no trabalho das grandes fazendas de cana. Todavia, a mão de obra indígena foi substituída pela do africano escravizado. Mas por que isto ocorreu? Assim como os africanos não se submeteram à escravidão (neste capítulo veremos as formas de resistência), os indígenas ficavam doentes, recusavam-se executar um trabalho extenuante, degradante e extremamente diferente dos seus hábitos e costumes. Tudo era diferente da sua relação com a natureza, por isso organizavam levantes e ataques às vilas dos colonizadores.

Estes conflitos e guerras, aliados às epidemias e pestes transmitidas pelos colonizadores, contribuíram para que se configurasse o genocídio dos povos originários do Brasil, o que provocou um assustador decréscimo da população indígena no século XVI (alguns pesquisadores afirmam que em 1574, dos 93% de escravizados indígenas, passaram para 63% em 1591, demonstrando uma queda no número de indígenas cativos).

Como os portugueses já usavam mão de obra africana nas ilhas da Madeira e Açores na África e havia a oportunidade de aumentar os ganhos de capital com o comércio de escravizados, encontraram rapidamente uma maneira de solucionar o problema da mão de obra e começaram a trazer, via tráfico, um grande contingente de africanos para o Brasil.

Não existe um dado estatístico exato sobre a quantidade de africanos que vieram para o Brasil ou mesmo sobre a quantidade de escravizados (visto que aqueles que nasciam aqui também carregavam a sina da escravidão), mas estima-se que vieram cerca de quatro milhões de africanos para o Brasil3. Foram esses estes e seus descendentes que produziram a riqueza consumida e exportada que se produziu aqui por mais de trezentos anos.

O africano realizava todo tipo de trabalho, mas para uma melhor compreensão vamos fazer uma divisão do trabalho segundo os espaços e territórios específicos onde ocorria: o espaço rural e o espaço urbano. Esta divisão facilita a compreensão de algumas características específicas do modo de vida e a organização do trabalho própria de cada espaço.

3 Na maior parte da história do Brasil colonial e imperial a população negra urbana e rural era maior do que a branca. Para se ter uma ideia, “no início do século XIX, o Brasil tinha uma população de 3.818.000 pessoas, das quais 1.930.000 eram escravas”. Em alguns locais o número de escravizados superava o número de pessoas livres. Quando foi abolido o tráfico de escravos (Lei Eusébio de Queiroz) a maior parte dos africanos escravizados do Brasil era nascida na África. Fonte: ALBUQUERQUE. Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006, p. 66.

Capítulo 3 Trabalho Escravo e Resistência

Genocídio O genocídio pode ser definido como o extermínio em massa de um grupo de pessoas, povo ou sociedade, motivado por questões étnicas, religiosas ou políticas. A “limpeza” étnica é um exemplo de genocídio. Estima-se que existiam cerca de cinco milhões de indígenas no Brasil em 1500. Hoje, são 230 povos reconhecidos com mais de 80 línguas diferentes, somando um total de 800 mil. Destes cerca da metade ainda vive em aldeias.

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Trabalho escravo no espaço rural No engenho e nas fazendas de café

O engenho de açúcar era uma grande propriedade agrícola que abrigava entre sessenta e oitenta escravizados (os maiores chegavam a possuir duzentos) que realizavam um trabalho árduo, pesado e contínuo. Acordavam às cinco da manhã, reuniam-se no terreiro para receber as ordens, muitas vezes realizavam uma oração e seguiam para o canavial. Realizavam duas refeições (feijão, angu, farinha de mandioca e às vezes um pedaço de charque), uma no meio da manhã e outra no meio da tarde.

O trabalho no canavial era realizado por homens, mulheres e crianças. Cada escravizado recebia uma cota diária de cana para cortar. As crianças menores de dez anos realizavam trabalhos domésticos na casa do senhor. A todo momento um feitor (que em alguns casos podia ser até um escravizado de confiança ou um negro livre) vigiava e supervisionava o trabalho. Muitos desses feitores ou escravizados especializados se tornavam líderes de revoltas. Os escravizados também trabalhavam na moenda e no beneficiamento do açúcar e realizavam todas as benfeitorias no engenho, como reparar cerca e pontes, pastorear o gado e cuidar do pomar.

Sabe-se que a exploração não se limitou ao trabalho braçal, também explorou-se a inteligência e a criatividade, pois muitos africanos desenvolveram técnicas de fabrico do açúcar e técnicas de cultivo e instrumentos agrícolas que foram sendo apropriados pelos senhores e lhes renderam mais riqueza. Nas fazendas de café do sudeste brasileiro o trabalho também era árduo e com quase as mesmas características do engenho. Trabalhavam entre quinze e dezoito horas por dia. No final da tarde, após o

trabalho duro, muitos escravizados ainda tinham que preparar os alimentos para o dia seguinte (moer a farinha, por exemplo) e se recolhiam às senzalas em torno das dez horas da noite.

Nas minas

A mineração ocorreu principalmente em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. No auge da exploração do ouro, no século XVIII, 30 por cento da população de Minas Gerais era constituída por escravizados.

O trabalho nas minas também era extremamente desgastante, pois além de trabalhar

o dia inteiro com parte do corpo mergulhado na água dos rios, ele tinha que se posicionar de frente para o capataz, curvado, para que não escondesse o ouro ou o diamante que encontrasse. Além disso, o escravizado tinha que construir açudes ou tanques para facilitar o trabalho de garimpo.

Acredita-se que o trabalho na mineração era até mais desgastante que o da lavoura, por isso

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“Nos engenhos o índice de mortalidade era alto e o de nascimentos baixo, por isso havia a necessidade permanente de adquirir novos escravos para substituir os que morriam ou envelheciam. No século XIX, cerca de 6 por cento dos escravos dos engenhos padeciam de “cansaço”, possivelmente uma doença relacionada ao desgaste ou exaustão que os impedia de trabalhar. No engenho de Sergipe do Conde, no Recôncavo Baiano, entre 1622 e 1653, cerca de cinco escravos eram comprados por ano para manter o grupo de aproximadamente setenta cativos.

O trabalho na lavoura era extremamente penoso para as mulheres, especialmente se estivessem em período de gestação ou amamentando. As altas taxas de aborto e mortalidade infantil nos engenhos estavam relacionadas à sobrecarga de trabalho, principalmente nas épocas de colheita, quanto se intensificavam as atividades.”

Fonte: ALBUQUERQUE. Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006, p.74.

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Fonte: autoria própria. Ouro Preto, Minas Gerais.

O estado de Minas Gerais abrigou o maior número de negros durante o século XVIII. Para se ter uma ideia, em Vila Rica, antigo nome da cidade de Ouro Preto, no ano de 1721 foram listados 10.741 escravos pertencentes a 1.757 proprietários. Boa parte dos escravizados das minas já dominavam técnicas de extração do ouro desde África. Muitos trabalhavam em antigas minas no continente africano, eram aprisionados e enviados ao Brasil.

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as mortes eram prematuras e, muitas vezes, evitadas por meio da cura realizada com ervas típicas utilizadas na medicina africana ou indígena.

No pastoreio de gado e nas charqueadas

A partir do século XVIII, a criação de gado e a produção de charque no Rio Grande do Sul também se utilizaram da mão de obra escravizada. Segundo a pesquisadora Wlamyra Albuquerque (2006), “nos períodos de maior atividade, entre outubro e maio, os cativos chegavam a trabalhar dezesseis horas seguidas sob a vigilância dos capatazes, como eram chamados os feitores gaúchos”.

Em todos os três territórios de exploração rural do trabalho escravo, era comum que os senhores servissem aguardente para estimulá-los ao trabalho.

A vida na senzala

Existiam dois tipos básicos de senzala: a) uma na forma de barracão retangular e alongado, construídos pelos senhores e repartido em vários cubículos que se localizavam atrás das casas-grandes. Normalmente homens e mulheres ficavam separados, mas havia casos em que alguns compartimentos eram reservados para casais com filhos. A senzala era trancada à noite como medida disciplinar, estabelecendo o horário para que todos se recolhessem e como medida preventiva, para evitar fugas de escravizados; b) o segundo tipo de senzala era constituído por barracos de barro batido e cobertos por telhas de cerâmica ou sapê construídos pelos próprios escravizados, de modo que lhes permitia uma certa privacidade, pois cozinhavam a própria comida e ficavam mais distantes da vigia do senhor.

Trabalho escravo no espaço urbano Nos centros urbanos também se utilizava a mão de obra do escravizado. Havia uma diversidade enorme de tarefas que eram exercidas no espaço urbano. Como a atividade laboral era considerada degradante e aviltante numa sociedade escravocrata, os negros, libertos ou não, executavam todo tipo de trabalho braçal existente: estivador, sapateiro, carroceiro, pintor, ferreiro, costureira, bordadeira etc. Mas também executavam trabalhos especializados, como a enfermagem, por exemplo. Sem contar que nas cidades era comum um tipo especial de trabalho que era o chamado “escravo de ganho”, que consistia no transporte de mercadorias, de pessoas e de água nos centros urbanos. Além do trabalho externo à casa do senhor, existiam os escravizados domésticos, geralmente realizados por mulheres, cujas atividades iam desde o trabalho como carregadoras de água, cozinheiras, arrumadeiras, até as amas de leite que ficavam

Pelourinho “Nas cidades os senhores podiam recorrer ao poder público pra castigar os escravos desobedientes ou que não cumpriam suas obrigações. Durante a colônia o castigo era aplicado publicamente, em local determinado pela municipalidade. Este local era chamado de pelourinho. Mas, em torno de meados do século XIX, quando a escravidão passou a ser condenada abertamente por alguns setores da sociedade, o castigo veio a ser aplicado em locais fechados e que não despertassem a atenção das pessoas. Para punir os cativos desobedientes ou que fugiam, os senhores pagavam uma taxa à polícia para executar o castigo no interior das cadeias públicas, geralmente açoites e palmatoadas.” Fonte: ALBUQUERQUE. Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006, p.88.

Cidade de Mariana, Minas Gerais. Na praça, em frente à igreja pode se avistar o pelourinho. Local onde o escravizado era punido publicamente. Fonte: Autoria própria.

Detalhe das argolas que prendiam as mãos do escravizado enquanto recebia o castigo público no pelourinho. Fonte: Autoria própria.

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responsáveis pela amamentação e o cuidado das crianças.

Em geral, os senhores que não eram ricos ou passavam por dificuldades financeiras, alugavam seus escravos para outros senhores, ou os utilizavam para a venda de doces, bolos ou quitutes de origem africana pelas ruas da cidade. No século XIX, com o surgimento de pequenas fábricas, como as de pólvora, tecido, sabão e chapéus, o trabalho escravo também foi utilizado. Para se ter uma ideia, “em 1836, a fábrica de ferro São João de Ipanema, sediada em São Paulo, chegou a empregar 141 escravos” (Wlamyra, 2006). A vantagem (se é que se pode dizer que havia alguma vantagem em ser escravizado em qualquer lugar que fosse), de viver nas cidades é que havia certa liberdade de movimento, pois os “escravos de aluguel” ou “escravos de ganho”, às vezes não moravam com seu senhor, o que lhes permitia uma possibilidade maior de realizar atividades extras que lhes garantisse uma renda, esta poderia ser utilizada mais tarde na compra de sua liberdade (a alforria). Grande parte dos escravizados urbanos moravam em alguns prédios abandonados (cortiços), numa espécie de senzala urbana. Isto permitia maiores possibilidades de casamento sem a intervenção do senhor ou de viver junto de suas famílias. Estes locais abrigavam também negros libertos. Isso não quer dizer que não havia controle sobre suas vidas. Era comum a interferência da polícia e dos vizinhos sobre atividades “indesejadas” como festas, batuques, cantigas ou mesmo atividades religiosas.

Os escravizados, após o toque de recolher (por volta das vinte horas), eram proibidos de circular pelas ruas da cidade durante a noite ou de portar armas, pois se temiam os “ajuntamentos” de negros e as possibilidades de insurreições, rebeliões, crimes ou fugas (o que era, de fato, bem possível acontecer, conforme veremos mais adiante). Havia também um grande controle sobre as atividades religiosas. Os locais de culto afro-brasileiro geralmente eram fechados, os seus membros presos e os objetos sagrados destruídos.

Mão de obra especializada O descaso com que sempre foram tratadas as formas de resistência (conforme veremos a seguir) também se refletiu na desconsideração ou não valorização do conhecimento tecnológico que o africano trazia consigo desde a África. De acordo com Cunha Junior (2010, p. 11-12), “os conhecimentos técnicos e tecnológicos tiveram sempre difusão por todo o continente africano devido às rotas de comércio entre os diversos países africanos e entre as diversas regiões do mundo antigo. As agriculturas tropicais tiveram grande desenvolvimento na África antes do século 16. Culturas como cana-de-açúcar, banana, café, algodão, arroz e amendoim eram bastante desenvolvidas em regiões africanas. Como também produtos como açúcar e tecidos. A tecelagem africana era exportada para a Europa no século 17, de países como o Congo e o Kano”. Lógico pensar então que, se havia tanto desenvolvimento tecnológico na África, aqueles que vieram para o Brasil eram detentores desse conhecimento e, portanto, geraram a produção e acumulação de riquezas nesse período da história.

Assim, além do desconhecimento histórico sobre o continente africano, produziu-se a ideia preconceituosa e estigmatizada que o escravizado apenas detinha a força bruta que o tornava capaz de exercer

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“No campo dos trabalhos profissionais, nós temos às populações africanas e afrodescendentes realizando todos os tipos de trabalhos existentes na época. As profissões de ofícios que dependiam de formação ao lado de um mestre do ofício muitas vezes têm estes mestres africanos. Um exemplo importante é das forjas de ferro em Sorocaba, no início da metalurgia brasileira. Outros exemplos são os de marceneiros, carpinteiros, ferreiros, oleiros, artistas, professores e construtores existentes no Rio de Janeiro no século 19 (Karasch, 2000), (Silva, 2000).

No Brasil mesmo, a cultura das elites portuguesas e brasileiras tem um grau elevado de dependência dos africanos e afrodescendentes. Visto que os trabalhos nas áreas da música clássica, do teatro e das artes foram realizados como trabalhos anônimos de africanos e afrodescendentes ilustrados. A própria instrução dessas elites dependeu em muito de afrodescendentes. A mão de obra africana e afrodescendente no Brasil foi em parte um conjunto de trabalhadores com formação profissional esmerada e com especializações importantes para a economia da época em diversas áreas de ofícios.”

Fonte: CUNHA JUNIOR, Henrique. Tecnologia africana na formação brasileira. Rio de Janeiro: CEAP, 2010, p. 18-20.

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Estigmatizada Estigmatizar é condenar, tachar, marcar alguém com uma característica de origem preconceituosa. O estigma gera preconceitos e ideias falsas, tais quais aquelas difundidas pelos colonizadores que os indígenas são preguiçosos ou que os africanos eram inferiores por não possuírem conhecimentos, mas apenas força bruta.

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um trabalho extenuante, repetitivo e não-especializado. Como reflexo da dominação e preconceito, anulava-se o fato que ele era um ser pensante, dotado de conhecimento e sabedoria.

Resistência Vimos anteriormente que o processo de escravidão

conduziu o africano a uma condição de “não-gente”, retirando-lhe sua humanidade. Eram expropriados do escravizado os sentimentos, vontades, desejos e impunha-se a obediência. A princípio, esse projeto tornava-se totalmente eficaz para o sistema, pois o senhor passava a dominar e coagir o escravizado, já que este era sua propriedade e que, por isso, poderia dispor, vender, trocar, castigar e punir quando bem entendesse. Diante da força, acreditava-se que o escravizado ficava inerte a qualquer reação. Mas será que ele reagiu passivamente à exploração? Veremos que não foi bem assim que aconteceu.

Embora sujeito a todo tipo de crueldade, humilhação e dominação e, muitas vezes sem condições de ir contra a exploração cruel e degradante no trabalho e os castigos recebidos, existiram várias alternativas de resistência à escravidão.

As formas ou mecanismos de resistência variavam bastante. Vejamos algumas:

� Simples desobediência às ordens do senhor, mesmo que castigados depois.

� Envenenamento dos senhores pela água ou alimentação (geralmente realizado com a ajuda das cozinheiras).

� Lentidão na execução dos trabalhos ou tarefas. � Simulação de doenças. � Banzo: doença motivada pela depressão, tristeza e

apatia. Muitos paravam de falar, de se alimentar, vindo a falecer tempos depois.

� Suicídio (embora existissem casos em que o senhor, para encobrir o assassinato do escravizado, dizia que este havia se suicidado).

� Sabotagem da produção. Muitos também se apropriavam de parte da colheita (café), de galinhas ou porcos para venderem e comprarem bens que lhes faltavam.

� Nas minas, embora com todo o risco e controle, escondiam pepitas de ouro para venderem e comprarem a alforria.

� Improvisavam cantos (jongos) para ritmar o trabalho nas fazendas de café ou para alertar os companheiros da presença de feitores ou senhores.

� Pequenas fugas para simplesmente descansar da massacrante jornada de trabalho de 15 horas diárias. Muitas fugas também eram utilizadas como luta e reivindicação da diminuição da jornada de trabalho, tanto que quando conseguiam negociá-la, retornavam ao trabalho.

Quilombos

“Quilombos, palenques, marrons são diferentes denominações para o mesmo fenômeno nas diversas sociedades escravistas nas Américas: os grupos organizados de negros fugidos. No Brasil, esses agrupamentos também eram chamados de mocambos. Fugir do senhor e se ajuntar a outros rebeldes foi uma estratégia de luta desde que os primeiros tumbeiros apontaram na costa brasileira até vésperas da abolição. Ao se referir a quilombo é comum as pessoas imaginarem comunidades exclusivamente negras formadas por choupanas de palha escondidas no meio da floresta, no alto das montanhas, longe das cidades, fora do alcance dos senhores e onde se vivia apenas da própria lavoura, da caça, peça e extrativismo. Mas não é bem essa a história de um grande número de quilombos no Brasil. Em todo o país foram muitos os negros rebeldes reunidos em pequenos grupos nos arredores dos engenhos, fazendas, vilas e cidades, em lugares conhecidos por seus senhores e autoridades. (...) Era exatamente por se localizarem perto de núcleos de povoamento que os quilombos inquietavam as autoridades e causavam tantos transtornos aos proprietários de terras e escravos. Além disso, um grande número de quilombos reunia não só escravos em fuga, mas também negros libertos, indígenas e brancos com problemas com a justiça.” Era grande a quantidade de quilombos pelo Brasil. Para se ter uma ideia, “Vila Rica, atual Ouro Preto, capital da capitania de Minas Gerais, era cercada por pequenos quilombos, que traziam preocupação para os proprietários de escravos ocupados com a mineração. Entre 1710 e 1798, pelo menos 160 quilombos foram identificados em Minas Gerais”.

Fonte: ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Fundação Cultural Palmares, 2006, p. 120 e 126.

Vocabulário: Tumbeiros: nomes dos navios de pequeno porte que realizavam o tráfico de escravizados entre a África e o Brasil. A palavra tumbeiro vem de tumba e eram assim chamados porque durante o trajeto metade dos viajantes morriam devido às péssimas condições às quais estavam sujeitos os escravizados.

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� Para enfrentar a distância e a ausência dos parentes deixados na África, criavam uma extensão para os laços de parentesco. Além do laço consanguíneo, se estabelecia um parentesco simbólico, onde padrinhos, afilhados, parceiros de trabalho também eram considerados membros da família.

� Os senhores, quando escolhidos para apadrinhar seus escravizados, tinham a obrigação moral de alforriar o afilhado católico, por isso, muitos escolhiam seus senhores para apadrinhar os filhos com a esperança de que este lhes concedesse a liberdade.

� Para poderem praticar suas crenças religiosas adotavam o catolicismo (mesmo porque eram obrigados a se converter ao cristianismo católico), porém, aos poucos incorporavam elementos da religiosidade africana.

� Fundaram irmandades religiosas que abarcavam diferentes funções: a manutenção da religiosidade africana em conjunto com as práticas do catolicismo; organização de festas e comemorações onde podiam se reunir com seus companheiros; promoção de ajuda aos escravizados incapacitados para o trabalho ou abandonados pelos senhores; união de grupos com a mesma origem étnica; afirmação cultural e étnica, buscando reunir ou estabelecer alianças entre negros de diferentes origens.

� Fugas coletivas ou individuais. � A formação dos quilombos (Box da página anterior). Sobre os quilombos é importante fazer uma

ressalva. O quilombo nem sempre está vinculado à fuga da escravidão, mas também constitui um espaço de liberdade onde a comunidade negra pode reconstruir seu modo de vida, preservar a cultura e os costumes africanos.

� Revoltas e rebeliões. As fugas, as revoltas e rebeliões merecem destaque enquanto formas de resistência à escravidão. Uma

vez que elas não se restringiam a um escravo individualmente, mas constituíam-se num projeto coletivo de resistência e luta contra a dominação dos senhores.

O quadro seguinte apresenta uma síntese das principais revoltas e rebeliões de negros (escravizados ou não) que ocorreram em diferentes momentos na história do Brasil, inclusive após a abolição da escravatura.

Rebeliões Ano Onde e como ocorreu Desfecho

1. Rebelião escrava em Salvador,

Bahia.

1807

No dia 28 de maio de 1807, em meio às comemorações de Corpus Christi os escravizados planejaram incendiar a Casa da Alfândega e uma igreja. A ideia era que eliminariam os brancos e teriam o seu próprio governador. Os rebeldes eram de origem haussá (do norte da atual Nigéria), portanto, eram de origem muçulmana. Por isso, essa rebelião combinava motivos políticos e religiosos.

Um escravizado leal ao seu senhor denunciou os chefes rebeldes que foram presos. Alguns foram açoitados em praça pública, outros foram transferidos para Angola. Também foram proibidas festas africanas e limitada a circulação de negros libertos pela cidade.

2. Plano de fuga em massa,

Salvador e Recôncavo

Baiano.

1809 Em janeiro de 1809, havia o plano de uma fuga em massa de escravizados de Salvador e do Recôncavo para os quilombos.

Soldados e capitães-do-mato prenderam cerca de 80 homens e mulheres. Como castigo, muitos foram mortos, marcados a ferro ou açoitados publicamente. Os rebeldes que conseguiram escapar incendiaram fazendas, roubaram e mataram pelo interior da capitania.

3. Trinta revoltas na

Bahia.

Entre 1814 e 1835

Em 1814 em 1835 ocorreram cerca de trinta revoltas na Bahia. A maior parte dessas rebeliões foi iniciativa dos africanos de origem haussá e nagô (iorubá).

O desfecho era praticamente o mesmo. Os líderes eram presos, condenados à morte ou castigados em praça pública.

4. Revolta de Carrancas,

Minas Gerais.

1833

Carrancas ficava ao sul de Belo Horizonte a uma distância de cerca de 286 quilômetros. Entre 1833 e 1835 a região tinha uma população de 4.053 pessoas, sendo 61,5% escravizados. As ações dos rebeldes foram marcadas pelos ataques às fazendas, com o objetivo de matar os brancos e tomar suas propriedades.

Após a prisão dos envolvidos, dezessete deles foram condenados à morte por enforcamento.

5. Revolta dos Malês, Bahia.

1835

Em janeiro de 1835 foi denunciado que os malês (nagôs de origem muçulmana) estavam planejando uma grande revolta em Salvador na Bahia. A ideia era construir estabelecer um território governado por africanos.

Alguns negros libertos denunciaram o plano às autoridades. Os rebeldes enfrentaram a polícia quando foram descobertos planejando a rebelião no centro da cidade. Os tiros, a gritaria e a confusão acordaram outros africanos que atacaram a cadeia pública e mais tarde, em meio às orações para Alá, foram derrotados. Cerca de setenta mortos ficaram expostos pelas ruas de Salvador.

6. Revolta de Manoel Congo, Rio de Janeiro.

1838

Em Vassouras, Rio de Janeiro, em novembro de 1838 teve início a fuga de quase duzentos escravizados de várias fazendas da região. Eles se esconderam nas matas carregando alimentos, munição e ferramentas saqueadas das fazendas e rumaram para o quilombo Manoel Congo.

A Guarda Nacional e o Exército, sob o comando de Luís Alves de Lima e Silva (aquele que seria no futuro o Duque de Caxias) pôs fim ao quilombo Manoel Congo, condenando seu líder à morte por enforcamento.

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7. A Balaiada, Maranhão.

1838 a 1841

Esta revolta foi caracterizada por uma série de ações que o correu no Maranhão: assassinatos de feitores, roubos e assaltos levaram às autoridades a acreditar que estava sendo organizada uma grande revolta. As suspeitas não eram infundadas, pois em 1839, liderados por Cosme Bento das Chagas (um negro liberto), cerca de dois mil negros dominaram uma fazenda às margens do Rio Preto e obrigaram seu dono a assinar as cartas de alforria dos seus 200 escravizados antes que fosse morto.

Em 1840 o Exército, novamente sob as ordens de Luís Alves de Lima e Silva dominou a região. Ao tentar ultrapassar os limites fronteiriços do Maranhão, mais duzentos quilombolas foram capturados e o líder Cosme Bento das Chagas executado em 1842.

8. Insurreição em Recife,

Pernambuco.

1846

Em Recife, Pernambuco, uma seita constituída por negros e liderada por Divino Mestre (o crioulo Agostinho José Pereira) que fazia uma leitura muito particular da Bíblia, dizendo que este livro sagrado anunciava o fim da escravidão. Isso abalou as estruturas da Igreja Católica, mas foram as autoridades que ficaram mais preocupadas, pois os versos poéticos e subversivos do Divino Mestre citavam a revolução no Haiti (em 1791 ocorreu a abolição neste país da América Central, mas Napoleão ao assumir o poder restaurou a escravidão. Revoltados, os ex-escravos realizaram uma revolução, expulsaram os franceses e assumiram o poder no país em 1804, proclamando a independência e o fim da escravidão).

Divino Mestre era seguido por cerca de trezentos negros que se autodenominavam livres ou libertos. Quando foi preso, juntamente com ele foram para a prisão sete homens e sete mulheres letrados (que sabiam ler e escrever). No seu julgamento foi defendido por Borges da Fonseca, grande ativista político do seu tempo. Não se sabe ao certo o que ocorreu com Divino Mestre. Um jornal da época disse que ele teria sido libertado pelo habeas corpus de Borges da Fonseca. Alguns especulam que teria ajudado a organizar algumas revoltas que se sucederam.

9. Revoltas dos Quilombolas,

Maranhão.

1867

Como grande parte dos homens pobres e negros livres foram convocados para a Guerra do Paraguai (1864-1870), a província do Maranhão ficou desguarnecida de homens brancos e autoridades. Os quilombolas do interior do Maranhão, em 1867, aproveitaram a situação e começaram a organizar um levante contra os senhores. Atacavam, ocupavam ou saqueavam fazendas e exigiam a liberdade dos escravizados. Seguindo essas ideias, vários escravizados passaram a desobedecer aos senhores e resistir ao trabalho forçado.

O presidente da província e as autoridades locais (delegados), tentando conter a rebeldia dos escravizados, enviavam tropas para os locais de revolta, ocorrendo muitas mortes de ambos os lados. A reação das autoridades, todavia, não conteve totalmente as rebeliões dos quilombolas da região, que continuaram a lutar pela abolição da escravatura.

10. Revolta da Chibata, Rio de

Janeiro

1910

Cerca de 90% do corpo básico da marinha brasileira era composto por negros. Apesar de a abolição ter ocorrido há mais de 20 anos, existia uma lei que punia com chibatadas os marinheiros que descumprissem uma ordem. Caso cometesse uma falta grave, a punição era de 25 chibatadas (chicotadas). Porém às vésperas da revolta, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes, recebeu como castigo 250 chibatadas. No dia 22 de novembro de 1910, sob a liderança de João Cândido (O Almirante Negro), teve início uma insurreição dos marinheiros contra essas punições. Eles tomaram o controle de quatro grandes navios de guerra e ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro, a capital da república na época, exigindo o fim dos castigos corporais.

Depois de negociações com o governo, em 27 de novembro de 2012, a chibata tinha sido oficialmente abolida da marinha brasileira. Uma das cláusulas do acordo era anistiar os marinheiros revoltados, o que ocorreu, mas 12 dias após inicia-se outra revolta de marujos, e o governo passa a esmagar os rebeldes e punir severamente os líderes rebeldes. João Cândido e 18 marinheiros são presos na Ilha das Cobras. Dezesseis desses marinheiros morreram na prisão (consumidos pela cal que existia no cárcere, mas o governo atestou insolação). Outros marinheiros são enviados num navio para o litoral do Nordeste onde alguns são fuzilados e outros vão trabalhar compulsoriamente na extração da borracha na Amazônia. João Cândido é mandado para um hospital de loucos no bairro do Botafogo no Rio de Janeiro. Recebeu alta, mas a marinha o prendeu novamente. Em setembro de 1912, ele e 12 marinheiros foram acusados pela revolta na Ilha das Cobras já que não podiam ser condenados pela Revolta da Chibata devido à Anistia. Após o julgamento, todos foram absolvidos.

O período da escravidão foi significativamente marcado pela rebeldia escrava. Porém, prevalecia o senso comum que os escravizados aceitavam passivamente sua condição. Isto porque a historiografia, e consequentemente a escola, não reconheciam a resistência como uma forma de luta e de insubordinação do negro frente à exploração desumana que sofria. O quilombo, sob esse aspecto, deve ser compreendido não como resultante da simples fuga do escravizado que encontrava um local para se esconder, mas na possibilidade que os negros tinham de construir um novo território que lhes garantisse a liberdade, a sobrevivência digna e a vivência dos costumes e hábitos que trouxeram da África.

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1. Trabalhando textos não-escolares: 1.1. Leia as manchetes retiradas da Internet:

I. “MPT encontra paraguaios vítimas de tráfico de pessoas escravizadas em frigorífico. Segundo fiscalização,

71 imigrantes foram aliciados e submetidos a condições degradantes em Cambira, no Paraná.” (06 de

novembro de 2012).

II. Fazendas de pecuária na Amazônia concentram mais de um terço das libertações de escravos. De 150

casos de escravidão contemporânea flagrados pela fiscalização de janeiro a outubro de 2012, 54 foram em

fazendas de gado dentro dos limites da Amazônia Legal. (01 de janeiro de 2012).

III. Preparo de terreno para plantio de soja usava trabalho escravo. Em propriedade em Marianópolis (TO), 45

vítimas trabalhavam em condições degradantes no preparo de área destinada à cultura do grão. (03 de

outubro de 2012).

IV. Fraude em documentos escondia trabalho escravo no interior de São Paulo. Fiscalização em propriedade

em Pirassununga (SP) libertou 26 trabalhadores em condições análogas à da escravidão. Eles foram

aliciados em Minas Gerais e trabalhavam há cinco meses sem receber.

V. Trabalho escravo abastece produção da marca Tatita Kume. Grupo de oito pessoas, todas vindas da

Bolívia, foi libertado de trabalho escravo em oficina de costura precária e improvisada que produduzia

peças de roupa para a marca Talita Kume, com sede no bairro Bom Retiro, na capital paulista. (11 de julho de 2012).

Disponível em: <http://www.reporterbrasil.com.br/noticias_agencia.php>. Acesso em 07 nov. 2012.

Lendo as notícias, podemos perceber que o sistema capitalista reinventou o trabalho escravo. Aponte algumas semelhanças e diferenças entre o trabalho escravo no Brasil colonial e imperial e o trabalho escravo contemporâneo.

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1.2. Analise a charge abaixo.

Disponível em: <http://chibatas.blogspot.com.br/2010/11/tensao-traicao-e-expulsao.html>. Acesso em 07 nov. 2012.

a. Verifique se você consegue identificar sobre qual revolta ela se refere? Cite-a. ______________________________

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b. O homem sentado com a caneta na mão é(Presidente do Brasil entre 1910 e 1914).

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1.3. Analise as pinturas.

As cenas do trabalho escravo retratadas por relação entre as imagens e o fragmento de texto de Cunha Junior “

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1.4. Vamos assistir o documentário “Quilombo

dia 24 de maio de 2012. “O programa percorreu a Bahia, o Maranhão e o Rio Grande do Sul para mostrar como vivem esses brasileiros e como eles preservam suas culturas e tradições”comunidades quilombolas com relação aos

(Disponível em: < http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/quilombos

a. O que é uma “Comunidade Quilombola”? Cite algumas características.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b. Por que as comunidades quilombolas ainda

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“O Sapateiro”- Jean Baptiste Debret (1768Disponível em: <http://www.ibamendes.com/2012/05/historia

homem sentado com a caneta na mão é o sobrinho do Marechal Deodoro da Fonseca1914). Procure explicar o fato e como é retratado pela charge

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As cenas do trabalho escravo retratadas por Debret confirmam qual tese levantada neste capítulo? Procure fazer uma relação entre as imagens e o fragmento de texto de Cunha Junior “Tecnologia africana na formação brasileira

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Quilombos”, realizado pelos Caminhos da Reportagem, da TV Brasil“O programa percorreu a Bahia, o Maranhão e o Rio Grande do Sul para mostrar como vivem

esses brasileiros e como eles preservam suas culturas e tradições”. O vídeo também mostra com relação aos conflitos pela terra e a pobreza.

http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/quilombos

O que é uma “Comunidade Quilombola”? Cite algumas características.

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Por que as comunidades quilombolas ainda hoje representam uma forma resistência à opressão

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Jean Baptiste Debret (1768-1848) “Negros Serradores” – Jean Baptiste Debret (1768http://www.ibamendes.com/2012/05/historia-do-brasil-atraves-da-arte-de.html>. Acesso em 20 nov. 2012.

o sobrinho do Marechal Deodoro da Fonseca, Hermes da Fonseca e como é retratado pela charge.

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vantada neste capítulo? Procure fazer uma Tecnologia africana na formação brasileira”.

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pelos Caminhos da Reportagem, da TV Brasil e exibido no “O programa percorreu a Bahia, o Maranhão e o Rio Grande do Sul para mostrar como vivem

O vídeo também mostra os problemas de algumas

http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/quilombos>. Acesso em 21 nov. 2012).

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representam uma forma resistência à opressão?

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Jean Baptiste Debret (1768-1848) Acesso em 20 nov. 2012.

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c. Quais as principais dificuldades atuais encontradas pelas comunidades quilombolas?

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Outras possibilidades de trabalho...

O(a) professor(a) pode solicitar uma pesquisa sobre alguns temas significativos referentes às formas de resistência à escravidão e ao Movimento Negro contemporâneo. Os resultados da pesquisa podem ser apresentados num seminário ou debate os temas. Sugestões:

• O Quilombo de Palmares.

• Movimento Abolicionista.

• Quilombolas do Paraná.

• Movimento Negro no Brasil.

• Abdias do Nascimento.

Neste capítulo discutimos:

o Trabalho escravo no espaço rural.

o Trabalho escravo no espaço urbano.

o Especialização da mão de obra africana.

o Formas de resistência à escravidão.

o Rebeliões e revoltas escravas.

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Sugestões para ler e ver

1. Artigo: “Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos”. Neste artigo, Petrônio Domingues faz uma série de apontamentos sobre a trajetória do movimento negro desde a proclamação da República. Texto bastante didático e de fácil leitura. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/v12n23a07.pdf>. Acesso em 20 nov. 2012.

2. Livro: “Paraná Negro”. Pesquisa realizada pelo Grupo de Trabalho Clóvis Moura sobre as 90 comunidades quilombolas do estado do Paraná. Apresenta um rico acervo iconográfico e uma síntese das principais características culturas dos quilombolas do Paraná. In: Paraná Negro / Jackson Gomes Júnior, Geraldo Luiz da Silva, Paulo Afonso Bracarense Costa (orgs.); fotografia e pesquisa histórica: Grupo de Trabalho Clóvis Moura. Curitiba: UFPR/PROEC, 2008. Disponível para download em: <http://www.direito.caop.mp.pr.gov.br/arquivos/File/Parana_negro_atual.pdf>. Acesso em 28 nov. 2012. 3. Vídeo/documentário: “Um olhar sobre os quilombos do Brasil - Mocambo”. (16 min., MG, 2006). Este curta apresenta alguns aspectos históricos e culturais sobre a comunidade quilombola de Mocambo, em Sergipe. Disponível em: < http://www.curtadoc.tv/curta/index.php?id=842>. Acesso em 21 nov. 2012. 4. Vídeo/documentário: “João Cândido – A luta pelos Direitos Humanos”. (1997). Vídeo realizado pelo Projeto Memória da Fundação Banco do Brasil em conjunto com a Petrobrás, ACAN, Ministério da Cultura e Governo Federal. Este DVD contém um Livro Fotobiográfico, Vídeo Documentário, Almanaque histórico e Guia de Orientação para Professor. É um material didático interessantíssimo para o professor passar em sala de aula. Este DVD foi distribuído para as escolas e deve ser encontrado facilmente no acervo do colégio. 5. Filme: “Quilombo”. (119min.) Co-produção brasileira e francesa de 1984, dirigido por Cacá Diegues. Baseou-se nos livros Ganga Zumba, de João Felício dos Santos e Palmares, de Décio de Freitas. Reconstitui a fuga e a organização do Quilombo de Palmares durante o século XVII.

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“Os preconceitos são a razão dos imbecis.” (Voltaire, Filósofo francês)

A ideia que havia submissão e aceitação passiva da escravidão por parte dos escravizados é fruto de uma concepção tradicional e conservadora de história, na qual o papel do negro enquanto sujeito foi negligenciado. Passou-se a falsa impressão que não ocorreram rebeliões e inexistiram diferentes formas de resistência e insubordinação. Assim como ocorreu um processo de “desumanização” do africano, ao não considerá-lo como um ser pensante e dotado de conhecimento, essas noções acabaram por construir o imaginário social que estabeleceram as bases do preconceito e da discriminação no Brasil. Mas por que a história do negro no Brasil não foi contada tal como deveria? O conhecimento antropológico e histórico que se produziu sobre a história do Brasil até bem pouco tempo atrás, considerava relevante apenas os fatos que retratassem as elites. O papel do povo, dos trabalhadores, dos negros, escravizados, ex-escravizados, enfim, dos dominados ou pertencentes às classes pobres, não era considerado relevante na construção da história, a tal ponto de nem aparecerem nos livros didáticos das diferentes disciplinas do conhecimento. Isso impossibilitou que se produzisse um conhecimento crítico sobre esse período, principalmente no que diz respeito ao papel do africano e do afrodescendente na economia, na cultura, na arte, na música e formação étnica do povo brasileiro.

Desta forma, criou-se no imaginário social a ideia do negro como um indivíduo submisso, dócil e resignado e, portanto, incapaz de adquirir o status de sujeito da história. Estigmatizado pela escravidão e pelo modelo teórico que não valorizava o seu papel na história, a população afrodescendente passou a sofrer um longo processo de preconceito e discriminação.

Brasil: paraíso racial? Até a década de 1950 o Brasil era tido como um país democrático do ponto de vista racial, uma vez que não existiam leis racistas4 que impedissem a ascensão social do negro e que as diferentes etnias, de modo especial o branco e o negro, conviviam harmoniosamente, sem que houvesse discriminação de qualquer espécie. Criou-se, desta maneira, o que se convencionou chamar de mito da democracia racial. Durante muito tempo negou-se a discriminação como uma das causadoras do processo de exclusão social do negro na sociedade brasileira. Atribuía-se a dificuldade de mobilidade social apenas a fatores econômicos, como os de classe, considerando-se a discriminação “pela cor” como um processo que não interferia na ascensão social5.

4 Cabe lembrar que em 1948 foi legalmente implantado o Apartheid (segregação racial) na África do Sul, que estabelecia a desigualdade de

direitos entre negros e brancos. Nesse regime, os negros eram proibidos, por exemplo, de se casarem com os brancos, morar nos mesmos bairros, frequentar as mesmas escolas, sentar no mesmo banco na praça ou no estádio de futebol, usar o mesmo banheiro ou o mesmo ônibus dos brancos. O Apartheid acabou em 1991 graças à resistência organizada por grandes líderes como Nelson Mandela e Steve Biko e aos boicotes internacionais contra a África do Sul. Nos EUA os negros não tinham direitos civis até a década de 1960. Por isso, nesse período eclodiram vários movimentos pelos direitos dos negros nesse país. Martin Luther King, Rosa Parks e Malcom X foram grandes líderes contra esse racismo institucionalizado. 5 Ricardo Henriques (2001), professor e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), ao analisar dados sócio-econômicos da população brasileira de 1999, escreve que “o pertencimento racial tem importância significativa na estruturação das desigualdades sociais e econômicas no Brasil”. Os dados revelam que o Brasil naquela data apresentava um total de 53 milhões de pobres e de 22 milhões de indigentes. E deste contingente, os negros representavam 64% dos pobres e 69% dos indigentes. Por sua vez, os brancos compunham 54% da população total e representavam 36% dos pobres e 31% dos indigentes. Ou seja, a herança da escravidão ainda se reflete nas situações expressas de desigualdade entre brancos e negros no Brasil (In: <http://desafios2.ipea.gov.br/pub/td/2001/td_0807.pdf>. Acesso em 22 mai. 2012).

Capítulo 4 Preconceito, Discriminação e Exclusão Social

Mito da Democracia Racial O termo mito é utilizado para expressar um conjunto de crenças comuns que não tem fundamento científico. No caso específico do mito da democracia racial quer dizer que, principalmente na primeira metade do século XX, difundiu-se nos meios intelectuais e na sociedade, a ideia de um padrão ideal de relações étnicas no Brasil. Esse ideal de relações entre o branco, o negro e o índio partia do pressuposto que a relação entre esses grupos era pacífica, harmônica e não conflituosa. Sendo assim, negava-se o racismo e defendia-se a ideia de um país onde as relações raciais eram equilibradas e homogêneas.

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Esta linha de raciocínio se deve, em boa parte, às ideias de afirmadas por Gilberto Freyre nos livros “Casa Grande & Senzala” (1933) e “Sobrados e Mucambos” (1936). Embora não use literalmente a expressão “democracia racial” nessas obras, ao desenvolver a noção do “bom senhor” e do “escravo conformado” (ou até de escravizados que desfrutavam de conforto material ou de prestígio na hierarquia social da colônia como se isso fosse comum a boa parte dos negros), este pensador acaba por estabelecer o mito de uma relação harmônica entre senhor e escravizado. De modo que, vários autores posteriores a Freyre, passaram a defender a premissa que não havia discriminação contra o negro no Brasil.

Existe, desta forma, uma peculiaridade do preconceito no Brasil, pois ao vincular-se à aparência física (conforme Box acima). Além da discriminação pela cor propriamente dita, também ocorre uma série de atribuições ou auto-atribuições que disfarçam a origem étnica da população negra e que, em certa medida, expressam uma forma de “amenizar a origem ou branquear o conteúdo identificatório”, por isso a existência de tantos termos, tais como escurinho, moreno, mulato, café com leite etc. Existe outro aspecto do processo discriminatório que se expressa no fenômeno do branqueamento, onde termos como preto e pobre tornam-se sinônimos. Isto porque a discriminação étnica historicamente construída e a consequente exclusão social do negro, estabeleceu uma

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Preconceito racial de marca O pesquisador Oracy Nogueira (1985) realizou um estudo comparativo entre as relações raciais no Brasil e as relações raciais nos Estados Unidos, fazendo uma distinção entre o preconceito à brasileira: o de marca (vinculado ao fenótipo, isto é, à aparência física) e o preconceito estadunidense: o de origem (vinculado à hereditariedade). “A distinção apresentada por Nogueira entre preconceito racial de marca e de origem é essencial. No caso brasileiro, é o preconceito racial de marca – isto é, aquele vinculado à aparência física, manifestações gestuais, etc. – que permite, em função do grau de mestiçagem, de indivíduo para indivíduo, decidir a sua inclusão ou exclusão na categoria negro. Isto é o que se torna impossível frente ao preconceito racial de origem vivido nos Estados Unidos, segundo o qual a definição étnica está dada pela hereditariedade, independentemente do fato de o indivíduo trazer ou não traços do fenótipo negro.” Fonte: LOPES, Ana Lúcia. Currículo, escola e relações ético-raciais.

In: Educação africanidades Brasil. MEC – SECAD – UnB – CEAD –

Faculdade de Educação. Brasília, 2006, p. 19.

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As dimensões do preconceito racial “O preconceito racial, no caso brasileiro, opera

fundamentalmente em três dimensões: 1. a moral; 2. a intelectual; 3. a estética.

As atribuições, as piadas, as brincadeiras que reforçam o preconceito racial quase sempre revelam conteúdos racistas relacionados a essas três dimensões. (...) Um outro momento no qual o preconceito racial se manifesta é o da situação de conflito, por meio de xingamentos (...). Os apelidos e xingamentos fazem parte da vida de crianças e adolescentes, mas apelidos e xingamentos de cunho racial são característicos da experiência de crianças e jovens negros, tanto no convívio cotidiano quando na experiência escolar. Xingamentos são, via de regra, expressões de desqualificação e diminuição pessoal, que podem se estender à família ou a outros grupos sociais de pertencimento. (...) O que o preconceito racial expressa é o sentido histórico de inferioridade gestado a partir das relações de dominação e subalternidade entre senhores e escravos durante quase quatrocentos anos de escravidão no Brasil que, côo modelo econômico e social, fundou a sociedade brasileira. (...) Os registros das situações de manifestação do preconceito não precisam de atos inteiros para serem compreendidas. Um olhar de desdém ou um sorriso de escárnio já indicam o sentido da mensagem. O portador do conjunto de características físicas visadas pelo preconceito já sabe o que o espera e já tem de antemão a expectativa de vê-lo manifestar-se. (...) As expressões que denotam o preconceito racial estão de tal forma impregnadas na nossa sociabilidade que já ficaram naturalizadas no nosso cotidiano, como padrão predominante de comportamento social e, por isso mesmo, nos obrigam a ampliar a observação e a interferência nessas situações. Essas expressões atuam fortemente na construção identitária de crianças e jovens negros e mestiços, e precisam ser desmontadas, pois, ao veicular conteúdos de inferiorização, dificultam encontros positivos de identidade e auto-estima. É fundamental, para o desenvolvimento tranquilo, que a criança se sinta valorizada pelo seu corpo, seu intelecto e sua moral e é essa experiência de valorização da sua imagem que o preconceito racial tenta impedir na criança e no jovem negro.”

Fonte: LOPES, Ana Lúcia. Currículo, escola e relações ético-

raciais. In: Educação africanidades Brasil. MEC – SECAD –

UnB – CEAD – Faculdade de Educação. Brasília, 2006, p. 21-

22.

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desigualdade social e econômica brutal entre negros e brancos. Para exemplificar esse quadro, é só observarmos alguns dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os negros e pardos somam 50,7% do total da população brasileira, ou seja, mais da metade. Apesar de ser maioria em termos absolutos, estão entre os mais pobres, os analfabetos, os com pior renda e os que sofrem mais diretamente com a violência. O Censo de 2010 revela a imensa desigualdade social e econômica entre brancos e negros quando se apresentam os dados sobre os rendimentos médios mensais dos brasileiros: entre os brancos é de R$ 1.538 e entre os amarelos é de R$ 1.574. Os rendimentos dos brancos e amarelos totalizam quase o dobro do valor relativo aos negros e pardos que é de R$ 834 e R$ 845, respectivamente. Os afrodescendentes ainda são minoria nas universidades e constituem a maioria dos analfabetos. Segundo os dados, os brancos são a maioria no ensino superior: da faixa etária entre 15 e 24 anos, 31,1% dos brancos frequentavam a universidade, enquanto que entre os pardos e negros, os índices são de 13,4% e 12,8%, respectivamente. Do total de 9.6% de analfabetos existentes no Brasil, os brancos somam 5,9%, enquanto que pardos e pretos somam 13% e 14,4%, respectivamente. Existe uma série de dados estatísticos infindáveis que comprovam a desigualdade social e econômica entre negros e brancos. Mas, o importante é que se perceba, nos poucos exemplos mencionados que, qualquer indicador social que represente as condições de vida (moradia, saúde, lazer, educação, rendimentos...), os brancos sempre se apresentam em condições mais favoráveis que os negros. Como bem escreve Wlamyra R. de Albuquerque (2006, p. 302): “Esses indicadores deixam evidente que no Brasil o racismo não se resume a episódios individuais de discriminação. O racismo está amplamente disseminado, tem raízes históricas profundas e por isso representa um significativo obstáculo para que os negros possam progredir na vida, além de aumentar o risco de morte prematura”. Assim, percebemos que não existe uma democracia racial no Brasil. Conforme percebemos neste capítulo, o racismo se reveste de diversas formas, transformando em um mito a convivência harmoniosa e sem conflitos entre brancos e negros. É importante que se considere também que, o racismo à brasileira, tem por base a negação de si mesmo, uma vez que se questionando qualquer pessoa em relação ao preconceito racial, esta sempre se colocará como sendo “não-racista”. O racismo atualmente não se “justifica” mais pela noção de raça superior ou inferior (embora ele se caracterize no Brasil como um racismo de marca), mas pelo preconceito que hierarquiza e desumaniza em função da cultura e da identidade do afrodescendente. É sobre este aspecto que trataremos no capítulo seguinte.

1. Trabalhando textos não-escolares: 1.1. Leia alguns artigos da Lei 7.716/1989 que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau.

Pena: reclusão de três a cinco anos. Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Pena: reclusão de três a cinco anos. Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos: Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.

Pardos O termo pardo diz respeito a alguém que tenha origem multirracial. Segundo o IBGE o pardo integra um dos cinco grupos de “Cor ou Raça” junto com os negros, brancos, amarelos e indígenas.

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Você já presenciou, observou, leu ou assistiu na mídia a divulgação sobre a violação de algum desses crimes estabelecidos na lei? Exemplifique. Caso sua resposta seja não, por que imagina que isso não ocorreu, sabendo que o racismo se manifesta todos os dias na sociedade brasileira?

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1.2. Leia as duas informações e responda:

• “Até a década de 1930, jogadores negros não eram admitidos nos times de primeira divisão do campeonato paulista.” (Albuquerque, 2006, p237).

• No início do século XX, muitos jogadores, para parecerem “mais brancos” esticavam o cabelo rente à raiz ou cobria o rosto com pó-de-arroz. Foi o que ocorreu com o jogador Carlos Alberto, “que trocou o America pelo Fluminense em 1914. Como a camisa branca do clube de elite da zona sul contrastava com sua pele mulata, Carlos Alberto entrava em campo maquiado com pó-de-arroz, que, ao longo da partida, ia escorrendo junto ao suor. A torcida então passou a gritar "pó-de-arroz", que posteriormente se tornaria um apelido dos adeptos tricolores.”

In: A inserção do negro no futebol brasileiro. Disponível em: <http://br.esporteinterativo.yahoo.com/noticias/spt--

consci%C3%AAncia-negra--a-iser%C3%A7%C3%A3o-do-negro-no-futebol-brasileiro-143330079.html>. Acesso em 20 nov. 2012.

O racismo ainda é um elemento presente nos campos de futebol? Como você percebe que ele ocorre? Dê exemplos.

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1.3. Assista o vídeo “Racismo no Brasil – Preto no Branco – Nem tudo é o que parece”. Canal Futura. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=vqZIriXBeEw>. Acesso em 22 nov. 2012.

Após o vídeo e a leitura deste capítulo, apresente alguns argumentos que justifiquem a ideia de que a democracia racial no Brasil é um mito.

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1.4. Leia o trecho da reportagem A violência contra jovens negros no Brasil, assinada por Paulo Ramos, na revista Carta Capital on line do dia 15.08.12:

“A cada nova divulgação dos dados sobre homicídios no Brasil a mesma informação é dada: morrem por homicídio, proporcionalmente, mais jovens negros do que jovens brancos no país. Além disso, vem se confirmando que a tendência é um crescimento desta desigualdade nas mortes por homicídios.

O diagnóstico produzido pelo Governo Federal apresentado ao Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE mostra vetores importantes desta realidade, para além dos socioeconômicos: a condição geracional e a condição racial dos vitimizados. Em 2010, morreram no Brasil 49.932 pessoas vítimas de homicídio, ou seja, 26,2 a cada 100 mil habitantes. 70,6% das vítimas eram negras. Em 2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total; 74,6% dos jovens assassinados eram negros e 91,3% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino. Já as vítimas jovens (ente 15 e 29 anos) correspondem a 53% do total e a diferença entre jovens brancos e negros salta de 4.807 para 12.190 homicídios, entre 2000 e 2009. Os dados foram recolhidos do DataSUS/Ministério da Saúde e do Mapa da Violência 2011.”

Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-violencia-contra-jovens-negros-no-brasil/>. Acesso em 20 nov. 2012.

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Qual a relação entre os indicadores da violência contra negros que esta reportagem apresenta e o conteúdo deste capítulo? Por que os negros estão mais vulneráveis à violência?

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1.5. Ouça e analise a letra do samba-enredo da Escola de Samba Mangueira, de 1988: CEM ANOS DE LIBERDADE, REALIDADE E ILUSÃO Hélio Turco, Jurandir e Alvinho

Letra disponível em: <http://www.vagalume.com.br/mangueira/samba-enredo-1988.html#ixzz2BZ8Nq1nP>. Acesso em 07 nov. 2012.

a. Por que os autores da música se perguntam se a libertação dos escravos em 1888, com a assinatura da Lei Áurea não foi uma ilusão?

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b. Qual a concepção de liberdade dos autores da música? Você concorda com eles? Justifique.

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c. É possível fazermos uma relação entre a música e a charge de Angeli abaixo? Explique.

Fonte - Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dbch20112006.htm>. Acesso em 27 nov. 2012.

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1.6. “O racismo se expressa no estranhamento do branco em relação ao negro”. Explique esta frase e relacione suas ideias com a crítica presente na charge abaixo.

Fonte - Disponível em: <http://riscoserabiscos-sandrynnha.blogspot.com.br/2012/07/algumas-charges.html>. Acesso em 27 nov. 2012.

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Outras possibilidades de trabalho...

O(a) professor(a) pode dividir a turma em equipes e, em conjunto com o(a) professor(a) de artes, pedir que os alunos façam cartazes ou faixas (com logomarca, lemas, desenhos...) para uma campanha contra o racismo no Colégio. Expor os cartazes para toda a escola.

Neste capítulo discutimos:

o Mito da democracia racial.

o Preconceito racial.

o Discriminação.

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Sugestões para ler e ver

1. Artigo: “Preconceito de cor e racismo no Brasil”. Neste artigo divulgado na Revista de Antropologia da USP, Antonio Sergio Alfredo Guimarães analisa o desenvolvimento dos estudos sobre racismo realizados no Brasil nos anos 1940 e 1970. Interessante para o Sociólogo ou o Historiador compreender como se deu a discussão acadêmica sobre o preconceito e racismo e o surgimento de novos paradigmas sobre a questão racial. In: GUIMARÃES, Antonio Sergio Alfredo. Preconceito de cor e racismo no Brasil. Rev. Antropol. vol. 47, nº1, São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77012004000100001&script=sci_arttext>. Acesso em 20 nov. 2012.

2. Documentário: “A Negação do Brasil”. 90 min. Direção de Joel Zito Araújo. Este vídeo-documentário faz uma análise da presença do negro na telenovela no Brasil. Apresenta depoimentos de atores e faz uma crítica aos modelos estereotipados e negativos do negro na teledramaturgia. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Z9B9ryJP4t0&feature=watch-vrec>. Acesso em 21 nov. 2012.

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“Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, Entre a vida e o fogo, Meu coração cresce Dez metros e explode. - Ó vida futura! Nós te criaremos. (Carlos Drummond de Andrade, Poeta)

Conforme observamos nos capítulos anteriores, pode-se dizer que no Brasil ocorreu uma espécie de negação das origens, uma vez que desconhecemos parte da nossa história ao retirarmos da nossa memória histórica e social a participação do negro na formação étnica e cultural brasileira. A negligência em relação à história oficial do negro no Brasil, aliada aos processos discriminatórios e racistas desde a escravização, só tem reforçado o “estranhamento” do branco em relação ao negro. E aí cabe um questionamento: se a imagem do branco sempre apareceu como referência na qual todos devem se espelhar e a imagem do negro quase nunca aparece, ou quando aparece é quase sempre numa posição estigmatizada ou preconceituosa, como é possível construir uma identidade positiva da afrodescendência?

Para explicitar melhor essa questão, tomemos como exemplo a ausência dos afrodescendentes nos meios de comunicação. Eles não apareciam na publicidade (pois não eram considerados como uma fatia importante do mercado consumidor), bem como não recebiam papeis relevantes na dramaturgia. Geralmente

Capítulo 5 Etnicidade, Identidade e Pertencimento

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Sinhá Moça representa a Casa Grande “A telenovela Sinhá Moça, produzida pela Rede Globo teve sua primeira versão em 1986. Escrita por

Benedito Ruy Barbosa foi readaptada em 2006, com novo elenco formado por Débora Falabella e Danton Mello, entre outros. Em 2010, o folhetim foi reprisado em "Vale a Pena Ver de Novo".

No enredo busca-se representar o contexto que vivia o país principalmente em 1887, um ano antes da abolição formal da escravidão no Brasil. A trama ocorre em uma cidade do interior de São Paulo chamada Araruna, onde monarquistas e republicanos (abolicionistas) enfrentam-se, representando aqueles que buscam conservar o trabalho forçado de negros e os que buscam abolir a escravidão. Como todas as novelas de época, busca-se certo contexto histórico da realidade brasileira (na maioria das vezes sem sucesso), vindo carregadas de muito romantismo para agradar aos paladares de quem as assiste sem muito senso crítico.

Nesta novela, pode se perceber algo que esteve muito presente nas ciências sociais e na literatura do século XX: velhas ideias e maneiras que fortaleceram a construção, no imaginário brasileiro, de um país mestiço e de democracia racial. O que pouco se vê nas novelas como Sinhá Moça é a ação e luta dos escravos para sua própria libertação, talvez por esta ficar apagada e à sombra das boas intenções de brancos advindos do escravismo. A ação do sinhozinho branco e abolicionista nos últimos anos até a efetivação formal (e não real) em 1888, em meio à efervescência internacional de ver a última e sofrida abolição efetuada, na teledramaturgia fica acima de milhares de revoltas de negros que pipocavam em todo o território brasileiro. Sinhá Moça representa a visão da casa grande (senhores) acerca do processo de abolição.

Levantes como em 1756 e 1864 em Minas Gerais, a revolta dos Malês em 1835, na Bahia, e os milhares de quilombos formados a partir de fugas e conflitos contra o escravismo ficam abafados pela TV comercial brasileira, na tentativa de enganar a todos com o velho discurso de passividade dos negros com sua situação, negando-os como sujeitos históricos em meio à bondade de senhores brancos em um sistema já falido social e economicamente. Sinhá Moça, como tantas outras novelas, busca apagar de nossa memória e história a luta de resistência dos escravos que ajudaram a construir este país. Ainda hoje, seus descendentes sofrem os reflexos de quase quatro séculos de dominação, e isso também querem apagar.”

Adaptado de: CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Sinhá moça representa a casa grande. Disponível em:

<http://outraspalavras.arteblog.com.br/299306/Sinha-Moca-representa-a-Casa-Grande/>. Acesso em 16 nov. 2012.

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se destacavam apenas nas telenovelas temáticas sobre a escravidão (ler Box da página anterior) ou eram retratados

em posições caricatas (engraçadas, desdentadas, bobas, ingênuas) ou subalternas, como empregados domésticos, motoristas ou bandidos.

Assim sendo, pode-se dizer que a mídia também contribuiu para que se construísse um estereótipo racista e estigmatizado do negro, dificultando, assim, a construção de uma imagem positiva da negritute.

Decorrente dessa imagem distorcida e preconceituosa processou-se um fenômeno de invisibilidade do afrodescendente. Isto ocorreu e ainda ocorre nas diferentes esferas da sociedade brasileira, seja no mundo da escola, da cultura, do trabalho, das comunicações etc.

Assim sendo, é importante que se debata e se reflita sobre a história, a cultura, a religiosidade e outras manifestações que constroem a identidade do negro no Brasil. Mas antes, vejamos alguns conceitos importantes como os de etnicidade, identidade e pertencimento.

Etnicidade Quando grupos étnicos ou grupos populacionais específicos se tornam invisíveis na sociedade, precisando ser reconhecidos e respeitados, torna-se importante que se coloque em pauta o conceito de etnicidade. Segundo Lima e Castilho (2010, p. 237-238) os fenômenos étnicos podem ser abordados com base em três vertentes teóricas: 1. A vertente primordialista enfatiza os vínculos de base biológica (relações de parentesco), características religiosas e linguísticas como tendências dominantes num determinado grupo ou os vínculos resultantes de um sentimento e afinidades comuns, que caracterizam a cultura de cada sociedade ou grupo étnico; 2. A segunda vertente, chamada de instrumentalismo, refere-se à busca, por meio de mecanismos políticos e através de lideranças, de recuperar o “orgulho étnico perdido” e acessar certos recursos e determinados patamares de poder. 3. A terceira e última vertente teórica, estabelece que a “etnicidade é uma construção histórica situacional” em que certos grupos buscam estabelecer uma fronteira cultural, onde as diferenças são marcadas e definidas com o objetivo de conquistar determinados recursos e garantir o reconhecimento perante a sociedade. A etnicidade, do ponto de vista de Lima e Castilho (2010, p. 233), designa, portanto:

Comunidades Remanescentes Quilombolas

“As comunidades quilombolas são grupos sociais cuja identidade étnica os distingue do restante da sociedade. A Associação Brasileira de Antropologia define as comunidades quilombolas como “grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar”.

São comunidades que se constituíram a partir de uma grande diversidade de processos, tanto durante a vigência do sistema escravocrata, que por mais de 300 anos subjugou negros trazidos da África para o Brasil, quanto após sua abolição no século XIX, enfrentando as desigualdades que se arrastam até o presente século.

Sua identidade se define “pela experiência vivida e as versões compartilhadas de sua trajetória comum e da continuidade enquanto grupo. Trata-se, portanto, de uma referência histórica comum, construída a partir de vivências e valores partilhados”.

As comunidades quilombolas se caracterizam pela prática do sistema de uso comum de suas terras, concebidos por elas como um espaço coletivo e indivisível que é ocupado e explorado por meio de regras consensuais aos diversos grupos familiares que compõem as comunidades, cujas relações são orientadas pela solidariedade e ajuda mútua.

A definição normativa do conceito de quilombo é veiculada no Decreto nº 4.887 de 2003, quer seja “consideram-se remanescentes das comunidades de quilombo, para fins deste Decreto, os grupo étnico-raciais, segundo os critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”.

O conceito de remanescentes das comunidades de quilombo, à luz do Art. 68º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal, refere-se “aos indivíduos, agrupados em maior ou menor número, que pertençam ou pertenciam a comunidades, que, portanto, viveram, vivam ou pretendam ter vivido na condição de integrantes delas como repositório das suas tradições, cultura, língua e valores, historicamente relacionados ou culturalmente ligados ao fenômeno sócio-cultural quilombola”.

Fonte: BRASIL. Programa Brasil Quilombola. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais. [S.L.:S.N.], [200?], p. 10-11. Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/.arquivos/pbq.pdf>. Acesso em 16 nov. 2012.

Estereótipo É uma imagem generalizada e falsa que se constrói sobre algum indivíduo ou grupo de indivíduos. Geralmente é baseada no sistema de valores e crenças de cada um. O estereótipo do negro construído socialmente vincula-se a uma visão desfavorável, preconceituosa e que o marginaliza.

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“(...) o sentimento de ser portador de atributos distintivos face aos integrantes de outros grupos, atributos estes que são considerados os mais importantes pelos indivíduos que pertencem a um dado grupo. Oscilando, portanto, no largo espectro do estigma imputado por outros e da falta de consciência de sua singularidade, de um lado, ao orgulho e à consciência de sua diferença, de outro, a etnicidade, como marcador de diferença, é um fenômeno de ordem essencialmente cultural. Os grupos étnicos diferem, assim, de classes sociais, grupos de status, ordens ou raças.” Desta forma, estabelecer as diferenças entre os grupos étnicos, e mais especificamente da etnia negra

em relação à branca, não se funda na diferenciação pura e simples das características fenotípicas, pois, conforme visto no primeiro capítulo já se encontra superada pela Antropologia e pela Biologia a noção de raça. Muito além das características físicas (embora elas estejam na base do racismo e discriminação), a etnicidade aparece como uma possibilidade de tornar visível a cultura afrodescendente, estabelecendo determinadas diferenças que garantem a visibilidade, o reconhecimento e o acesso aos direitos de cidadania. A demarcação étnica ou etnicidade é posta como uma possibilidade de redefinir o sujeito, na medida em que contribui para a construção da identidade daquelas pessoas que compartilham da mesma trajetória histórica e social. Funciona para o afrodescendente como um mecanismo importante no processo de afirmar-se com orgulho e positividade diante dos demais grupos dominantes (neste caso, os brancos). A etnicidade é um fenômeno que se vincula diretamente à construção da identidade e do pertencimento étnico racial, conforme veremos.

Identidade e Pertencimento Étnico-Racial A cultura é um processo dinâmico na sociedade, ela não é dada. Assim também funciona com a identidade. Tanto uma quanto a outra podem ser modificadas, transformadas ou construídas. A invisibilidade e o não reconhecimento do afrodescendente, juntamente com os processos históricos que sempre colocaram o negro como subalterno, inferior e o excluiu das possibilidades de mobilidade social, conforme já vimos nos textos anteriores, trouxe a necessidade de serem repensadas as noções de identidade (ler Box abaixo) e de pertencimento étnico.

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A construção da identidade, segundo Norbert Elias

“Norbert Elias (2000) chama atenção que precisamos tratar as diferenças, enquanto um problema que precisa ser entendido no conjunto da sociedade, buscando o entendimento da relação de poder entre aqueles que se reconhecem no grupo dos Estabelecidos e os que estão entre os Outsiders. Um grupo, ao estigmatizar o outro, se coloca no centro do poder. Sua estratégia é rotular o grupo como inferior para, desta forma, manter a superioridade social. Assim, o grupo estigmatizado constrói uma autoimagem inferiorizada.

Ao longo do tempo, sofrendo a inferioridade, este grupo vai criando cicatrizes e até acredita que é mesmo “tudo o que não presta”. Assim, é possível que uma criança que sempre foi estigmatizada, incorpore a inferioridade. Esta criança cresce percebendo e “sentindo na pele” o processo civilizador imposto a situação vivida pelo seu povo através do tratamento que lhe é dado, seja pela família, vizinhos, colegas, professores, polícia, etc.

A imagem negativa sobre um determinado grupo leva as pessoas a serem julgadas e tratadas negativamente. Até as próprias pessoas do grupo se julgam inferiorizadas e incapazes. Pois, o descrédito atribuído a um grupo que é inferiorizado atinge todas as pessoas que se identificam neste grupo, provocando a baixa autoestima.

Os outsiders que não se conhecem, não se encontram, não se fortalecem e não se identificam são constantemente excluídos. As iniciativas de formação de grupos é um sinal de unidade entre os menos favorecidos (como os negros e as negras do Brasil), dando-lhe forças para unir os traços da solidariedade e assim fortalecer a construção de identidade de um grupo. Isto ajuda os pares a resolver/amenizar os seus problemas e a se unir em busca de ideais comuns.

Em busca da construção de sua identidade, os grupos menos favorecidos economicamente, politicamente e socialmente, lutam por políticas públicas de afirmação para que possam ser reconhecidos e valorizados por sua identidade e dignos de obter os mesmos direitos sociais.

Porém, é possível retornar e retomar a identidade do (a) negro (a) no momento em que se abrem espaços para a realização do ser, da educação, da cultura, dos valores e dos costumes de um povo, que durante muito tempo foi impedido de se expressar. Suas emoções foram controladas com imposição de um “processo civilizador” (ELIAS, 1994). A forma de expressão da negritude, no vestir, no trançar o cabelo, no dançar (entre diversas outras expressões) contribuiu para manter a cultura afro-brasileira como expressão de resistência para que o negro e a negra reafirmassem seu pertencimento e sua identidade étnica.” Fonte: REIS, Maria da Conceição dos. O processo civilizador na construção da identidade negra. XII Simpósio Internacional Processo

Civilizador. Recife, 2009, p. 4. Disponível em: < http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais12

artigos/pdfs/comunicacoes/C_Reis2.pdf>. Acesso em 16 nov. 2012.

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A resistência política, as reivindicações dos movimentos negros e o surgimento de vários instrumentos vinculados a auto-afirmação, trouxeram à tona essa discussão. Vejamos o que nos diz Maria da Conceição dos Reis (2009, p.2):

“Politicamente, a dimensão de resistência pode ser verificada ao longo da história do Brasil, contada por Munanga e Gomes (2006), como na Revolta da Chibata em 1910, na organização da Frente Negra Brasileira em 1931, no surgimento do Teatro Experimental do Negro em 1944 e, entre outros, na fundação do Movimento Negro Unificado em 1978, todos na intenção de produzir e fortalecer a identidade política, a identidade negra, para lutar contra o preconceito e a exclusão social dos (as) negros (as). As várias expressões de valorização, orgulho e presença deste povo, que busca a auto-afirmação, começam a fazer parte do dia-a-dia das pessoas com mais frequência. Podemos perceber isto diante dos acontecimentos vividos entre o final do século passado e início do século XXI, em que é possível constatar este fato através de vários instrumentos/aspectos relacionados ou direcionados às pessoas negras. Entre eles, podemos citar: o aparecimento de revistas, de livros, de teses de doutorado, de dissertações de mestrados e de grupos de pesquisas; o visual dos cabelos trançados; a produção de cosméticos para pele negra e, no vestuário, a estampa de camisas com slogan que valorizam a população negra.”

Não é de hoje, portanto, que a população negra vem tentando conquistar politicamente determinados

direitos, bem como posicionar-se e afirmar-se socialmente. Determinar o pertencimento torna-se, nesse contexto, um mecanismo de mobilização e de valorização da identidade. No caso da população negra trata-se de uma re(construção) da identidade perdida e negada durante os processos históricos de escravização, de discriminação e de exclusão social.

A formação da identidade étnica é um processo que se estabelece na relação do indivíduo com a sociedade e não está desvinculada do auto-reconhecimento e do pertencimento. Construir a identidade é uma forma de assumir positivamente o grupo étnico ao qual pertence, aderindo aos valores, crenças e tradições estabelecidas nesse grupo. Conforme escreve Reis (2009, p.3), “(...) a pessoa que se reconhece, assume e se orgulha de seu pertencimento a população negra, está mais propícia a contribuir com si mesmo e com o grupo ao qual pertence”. Assim sendo, assumir o pertencimento étnico-racial permite que o indivíduo possa posicionar-se diante dos diferentes grupos da sociedade, como também, no interior do seu próprio grupo, alargando as possibilidades de expressar diferentes visões de mundo.

Fonte1 e 2: Elton Henrique Fernandes Fonte3: Autoria própria.

Nestas fotos percebemos o cabelo enquanto elemento marcador da identidade e do pertencimento. Assumir a negritude é uma forma de marcar e afirmar as raízes africanas. O cabelo expressa a autoestima e manifesta respeito às características étnicas – Nas fotos: Elton Henrique (Acadêmico de História), Thaís (Estudante e Operadora de Telemarketing) e Célio Roberto (Professor de Língua Portuguesa).

Quando os indivíduos reconhecem sua identidade e pertencimento, orgulham-se de sua negritude, se

assumem e se colocam diante dos demais com dignidade, passam a ser respeitados e contribuem para que suas características étnicas sejam (re)conhecidas. A princípio, não se tem preconceito sobre o que se conhece. Com isso, as lutas pelo poder, os conflitos étnicos, a discriminação e consequente exclusão social, tendem a melhorar significativamente.

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1. Reflita e responda: 1.1. Nas atividades do primeiro capítulo, está escrito o conceito de etnocentrismo. A questão da etnicidade como uma forma de o afrodescendente “afirmar-se com orgulho e positividade” diante do outro, pode ser considerada uma atitude etnocêntrica? Argumente.

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1.2. Até cem anos após a assinatura da Lei Áurea que libertou os escravizados no Brasil, os quilombos eram considerados locais com grandes concentrações de negros que se rebelaram contra o regime colonial. Com a Constituição Federal de 1988, o termo “quilombo” teve seu conceito ampliado de modo que na atualidade é considerado toda área ocupada por comunidades remanescentes dos antigos quilombos. Por que o conceito de quilombo foi ampliado?

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2. Trabalhando textos não escolares: 2.1. Observe as duas fontes seguintes:

FONTE 1 Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 1999 e 2009 houve um crescimento da populaçõe que se autodeclara preta e parda, conforme você pode observar nos gráficos abaixo.

Composição Étnica da População Brasileira

FONTE 2

Aumentam pretos e pardos com ensino superior, diz MEC

Dados do Censo da Educação Superior 2011, divulgados na tarde desta terça-feira (16) pelo Ministério da Educação (MEC), apontam aumento no número de pretos e pardos jovens com ensino superior no País. Em 2011, 8,8% dos jovens autodeclarados pretos, de 18 a 24 anos, frequentavam ou já haviam concluído o ensino superior. Em 2004, a proporção era de 5%; e em 1997, de apenas 1,8%. Quando se analisam os números de jovens autodeclarados pardos, também se observa uma melhora - em 2011, 11% dos jovens pardos, de 18 a 24 anos, frequentavam ou já haviam concluído o ensino superior, ante 5,6% em 2004 e

2,2% em 1997. Os números foram divulgados pelo governo um dia após a publicação de portaria que trata da Lei das Cotas nas universidades, que entra em vigor para o próximo vestibular. "Isso (esse aumento) foi muito importante, mas eles (pretos e pardos) continuam muito abaixo do peso que têm na população. Muitas universidades públicas já tinham cotas. A nossa meta, agora, é que a participação de negros no nível superior seja a mesma do Censo do IBGE", disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. (...)

Gazeta do Povo Online, 15 de novembro de 2012. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/ensino/conteudo.phtml?id=1308319&tit=Aumentam-pretos-e-pardos-com-ensino-superior-diz-MEC>. Acesso em 15 nov. 2012.

Brancos54%

Pardos38%

Negros6%

Outros0%

1999

Brancos47%

Pardos43%

Negros8%

Outros0%

2011

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a. De acordo com o que você leu neste capítulo e com as fontes acima, porque há uma tendência de crescimento das pessoas se autodeclararem com a cor que realmente pertencem?

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b. Existe uma relação entre o aumento das autodeclarações de pretos e pardos segundo os dados do IBGE com o aumento no número de pretos e pardos jovens com ensino superior no país?

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2.2. Analise a charge abaixo e identifique os elementos que contribuem para que a mídia (de modo especial a telenovela) construa um estereótipo negativo do negro.

___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ Disponível em: <http://profwalber.blogspot.com.br/2011/11/ charge-racismo.html>. Acesso em 23 nov. 2012.

2.3. Candolina Rosa de Carvalho Cerqueira, graduada em Línguas Neolatinas e Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia em 1949 e 1970, respectivamente. Fundou e dirigiu dois colégios na Bahia e foi professora de Caetano Veloso, que a homenageia nesta música: NEIDE CANDOLINA Caetano Veloso

Letra disponível em: <http://letras.mus.br/caetano-veloso/568968/>.

a. A música passa uma imagem positiva ou negativa da negritude de Candolina? Justifique.

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b. O que Caetano Veloso quis dizer com estes versos: “A porcaria da cidade / Tem que reverter o quadro atual / Pra lhe ser igual”?

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2.4. Assista os vídeos que divulgam o Projeto Pixaim, desenvolvido pela CUFA (Central Única de Favelas) no Bairro São

João Del Rei, em Cuiabá, Mato Grosso. Disponível em: <http://projetopixaim.blogspot.com.br/>. Acesso em 28 nov. 2012 e

<http://www.youtube.com/watch?v=k--wzYXQRAc>. Acesso em 28 nov. 2012.

Escreva um comentário sobre a importância de projetos como esse, considerando a questão da valorização estética da

mulher e do homem negro.

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Outras possibilidades de trabalho...

O(a) professor(a) pode dividir a turma em equipes e orientar uma pesquisa sobre a vida alguns importantes nomes da afrodescendência brasileira nas diversas áreas (músicos, pintores, engenheiros, artistas, escritores, atletas etc.), montar cartazes e expor para o Colégio. Sugestões de nomes: André Rebouças (engenheiro e abolicionista), Castro Alves (poeta), Chiquinha Gonzaga (musicista), Cruz e Souza (poeta), Grande Otelo (ator), Heitor dos Prazeres (compositor e pintor), Lima Barreto (jornalista e escritor), Luis Gama (advogado, jornalista, escritor e abolicionista), Machado de Assis (escritor), Mãe Menininha do Gantois (mãe de santo), Cartola (cantor e compositor), Pixinguinha (cantor e compositor), Pelé (jogador de futebol), Daiane dos Santos (ginasta), Milton Santos (geógrafo), Milton Nascimento (cantor e compositor), Abdias do Nascimento (político e ativista do movimento negro).

Neste capítulo discutimos:

o Estereótipo.

o Etnicidade.

o Pertencimento étnico-racial.

o Auto-construção.

Sugestões para ler e ver

1. Dissertação de Mestrado: “Pertencimento étnico racial e o ensino de história”. Dissertação de mestrado de Paulo Sérgio de Andrade pela Universidade Federal de São Carlos. O autor procura compreender as influências do ensino de história na construção do pertencimento étnico-racial. Ótima leitura para que o professor possa verificar se o ensino de história interfere ou não na formação da identidade, na aceitação do pertencimento e na construção da auto-estima do afrodescendente. In: ANDRADE, Paulo Sérgio. Pertencimento étnico racial e ensino de história. São Carlos: UFSCar, 2006. Disponível em: <http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/tde_arquivos/8/TDE-2006-10-18T15:31:26Z-1215/Publico/DissPSA.pdf >. Acesso em 20 nov. 2012.

2. Documentário: “O Povo Brasileiro”. Vídeo/documentário baseado no livro de Darcy Ribeiro, grande nome da Antropologia brasileira. Apresenta imagens, depoimentos e análises sobre a formação do povo brasileiro, nas suas três matrizes: portuguesa, africana e indígena. A série é dividida em 10 partes, todas disponíveis com ótima qualidade no Youtube. Link da primeira parte - Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=2gqz4BHYcck >. Acesso em 30 nov. 2012.

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“Ser negro é ter a pele pintada de dor e beleza.” (Sintia Lira, poeta)

Conceito antropológico de cultura

O ser humano possui uma série de atributos e capacidades de produzir e transmitir determinados elementos que são próprios da humanidade. Esses atributos e capacidades, do ponto de vista da Antropologia, formam um modo de pensar, viver e produzir próprios de cada sociedade humana, ou seja, formam a cultura. Simões e Giunbelli (2010, p. 187-188) a tratar do conceito de cultura, fazem uma distinção entre aquilo que denominam cultura “no singular” e cultura “no plural”. Os seres humanos (no singular) possuem a capacidade de raciocinar, produzir linguagem, símbolos e imprimem significados às suas experiências sobre a Terra. Como as sociedades são variadas (no plural), elas também produzem uma forma de pensar, de se organizar e apresentam um conjunto de crenças, costumes, línguas, enfim, um modo de vida que lhes são característicos e que as distinguem umas das outras. Assim temos um conceito: a cultura constitui o conjunto de hábitos, costumes, utensílios, vestuários, crenças, leis, artes etc. que caracterizam o modo de viver, ser e pensar dos agrupamentos humanos. Em síntese, “(...) designa e sintetiza os aspectos que conferem identidade e especificidade aos diversos grupos humanos e sociedades humanas” (SIMOES &GIUMBELLI, 2010, p. 188). Partindo dessa ideia, podemos dizer que existe uma cultura tipicamente brasileira, pois possuímos uma história, um modo de viver, falar, trabalhar, pensar, vestir e acreditar próprios dos habitantes deste território e que, portanto, constituem uma determinada identidade nacional. Porém, esse conjunto de elementos culturais que constituem a nossa identidade como “brasileiros” é resultado das relações e da convivência entre diferentes etnias: a do negro, do branco e do índio, o que torna a cultura brasileira não homogênea e muito menos singular.

É perfeitamente possível, nesse sentido, identificar elementos que são próprios da cultura afrodescendente que estão integrados à identidade nacional (como o carnaval, a capoeira e a música) e elementos que fazem parte dessa mesma cultura, mas que não são reconhecidos, valorizados e se tornam alvos do preconceito, como é o caso da religiosidade.

(Re)conhecermos a cultura afrodescendente é uma forma de valorizarmos e respeitarmos as diferentes expressões culturais e étnicas existentes no Brasil.

Manifestações culturais afrobrasileiras 1. Carnaval Ainda na época da colônia, durante o mês de fevereiro, existia uma brincadeira - o Entrudo - que divertia os foliões negros e pobres com o uso de máscaras, água e farinha. Porém, a partir de 1880 ocorreram várias campanhas encabeçadas pela elite contra essa brincadeira. Isto com o objetivo de copiar o carnaval que se praticava na Europa (Paris, Veneza) e de impor a ideia que todos deveriam aprender a se divertir de forma “civilizada”. Esse discurso de cunho racista era uma forma de a elite branca reprimir as manifestações culturais oriundas das classes pobres e negras. Apesar da repressão, surgiram no Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do século XX, os ranchos e cordões carnavalescos (no Pará são denominados de reisados), que inicialmente apareciam apenas nas festas religiosas católicas, onde os participantes se vestiam com adornos luxuosos e imitavam a coreografia das elites dos salões de bailes de carnaval. Segundo Albuquerque (2006, p. 228), “os primeiros ranchos carnavalescos cariocas surgiram, no começo do século XX, na região do porto, lugar repleto de matas de capoeira, candomblés e cortiços onde (...) habitava boa parte da população negra migrante do Nordeste. Era a chamada Pequena África”. Esses grupos viviam sofrendo com a perseguição e repressão policial e, para livrar-se dela, geralmente utilizavam a proteção e a ajuda de pessoas influentes que eram adeptos do candomblé. Aos poucos esses grupos conseguiram ser incorporados às festas carnavalescas. Assim como ocorreu em outros locais do Brasil, como os cortejos de maracatus ou “nações africanas” no Recife, os clubes de negros, as batucadas e cordões em Salvador, cujos temas africanos promoviam nas ruas canções em língua iorubá ao ritmo dos atabaques e tambores utilizados nos terreiros de candomblé. Em São Paulo, na Barra Funda, da mistura

Capítulo 6 Cultura Afrobrasileira

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Lavação das escadarias da Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito – Largo da Ordem – Curitiba, 18 nov. 2012. Fonte: autoria própria.

entre trabalhadores negros e imigrantes europeus das fábricas e da estocagem de café, surgiram os primeiros cordões e sambistas que deram origem às primeiras escolas de samba da cidade em 1914 (Escola Camisa Verde e Branca). Boa parte desses grupos para saírem às ruas dependia de autorização legal para desfilar. E mesmo quando portadores dessas licenças, muitos grupos sofriam com a vigilância e repressão policial.

Durante as primeiras décadas do século XX, era proibido o uso de fantasias de índios e de certos instrumentos musicais, como o bumbo.

2. Religiosidade A religiosidade de matriz africana é um dos traços culturais mais fortes que foram preservados pelos afrodescendentes. Mas, conforme já estudamos nos capítulos anteriores, as práticas religiosas sofreram com a repressão dos senhores e sofrem ainda hoje com o preconceito dos brancos ou dos praticantes de outras religiões.

No caso das manifestações religiosas de origem africana é preciso considerar que existe uma variação segundo a origem étnica, não sendo, assim, uma única religião fundada nos mesmos princípios. Cada região do Brasil tem a presença mais ou menos forte de um grupo étnico ou de outro, sendo que os rituais e crenças representam a recriação das tradições desses grupos étnicos.

Segundo Albuquerque (2006, p. 239), “quando o século XX se inaugurou, as religiões afrobrasileiras já estavam solidamente assentadas na sociedade brasileira. Estavam constituídos o candomblé na Bahia, a umbanda no Rio de Janeiro, xango no Recife, batuque em Porto Alegre e Casa das Minas no Maranhão”.

A manutenção de ritos e crenças se deve à importância vital que a religiosidade tinha para as culturas africanas, bem

como numa forma de manter viva na memória a África que havia sido deixada pra trás. Por isso, as religiões conseguiram manter algumas características originais, porém transformadas ou até adaptadas às crenças católicas para que pudessem ser praticadas (ou evitassem a perseguição). Muitas incorporaram também elementos de outras religiões cristãs, configurando-se o fenômeno conhecido como sincretismo religioso.

O preconceito que ainda existe contra as religiões afrobrasileiras está vinculado ao preconceito contra os afrodescendentes. Na medida em que as diferenças étnicas de cunho racista deixarem de ter importância, a religiosidade também pode adquirir o respeito de toda a população.

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Origens das Escolas de Samba do Rio de Janeiro

“No Rio de Janeiro, por volta de 1928, surgiram as primeiras organizações de sambistas no Estácio, nos morros da favela, no centro da cidade e na Mangueira. As escolas de samba, no início eram agremiações com fins festivos e assistenciais e aos poucos conquistaram espaço na indústria do entretenimento celebrando temas nacionais. À estrutura dramática dos enredos, personagens, estandarte e alas, já definidas pelos ranchos, foi acrescida a novidade rítmica do samba, das coreografias e da exaltação à nação brasileira. A beleza e o exotismo nacional passaram a fazer parte do repertório dos sambistas.”

Fonte: ALBUQUERQUE. Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006, p.238.

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Sincretismo Religioso Entende-se por sincretismo religioso a fusão entre concepções religiosas diferentes, na qual uma religião exerce influência sobre a outra. No caso da religiosidade afrobrasileira, podemos tomar como exemplo a umbanda: prática religiosa “de origem banto, onde são cultuados ancestrais e espíritos da natureza, com forte presença de elementos das religiões indígenas e também influência do espiritismo, de origem européia”. (SOUZA, 2007, p. 133).

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3. Música e dança A música de origem africana adquiriu uma importância vital na religiosidade e, mais tarde, se estendeu para fora dos terreiros de candomblé e umbanda, estando presente nas festas tradicionais e nas danças dos maracatus, congadas, reisados, capoeira etc.

O ritmo e os instrumentos tipicamente africanos (como o tambor, o agogô, o reco-reco), passaram a influenciar na formação da música popular brasileira e contribuíram para a origem do samba e do carnaval, conforme já mencionado anteriormente. Segundo Marina de Mello e Souza (2007, p. 134), “também os sambas de umbigada e de roda, os jongos (dança de roda feita em torno de tambores, geralmente dois, sendo um maior e outro menor), o frevo e muitas outras danças têm passos mais ou menos fiéis àqueles que realizaram os primeiros africanos e afrodescendentes que dançaram em terras brasileiras”.

A música e a dança estão presentes nas festas populares das comunidades que ainda procuram conservar as tradições afrodescendentes, como a do bumba meu boi (ou boi-bumbá) e na música contemporânea, como o axé music, gênero musical que surgiu na Bahia nos anos 1980 e que incorporou tambores e ritmos africanos, junto com o forró e o maracatu (tipicamente brasileiros), o reggae jamaicano e o merengue caribenho.

Lavação das escadarias da Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito – Largo da Ordem – Curitiba, 18 nov. 2012. Fonte: Ozanam A. Souza.

Características da religiosidade de matriz africana

Durante o Brasil escravista, existiam os calundus, “em torno dos quais os grupos de africanos e afrodescendentes se reuniam para reverenciar os espíritos capazes de proteger, de curar e de orientar os que a eles recorriam. Os calundunzeiros e calundunzeiras mais famosos eram procurados até por brancos, senhores de escravos e mesmo padres, que tendo esgotado os outros recursos a que estavam mais acostumados, como missas, rezas, chás, sangrias e emplastros de ervas, buscavam nas religiões africanas solução para os males que o afligiam. A partir do século XIX, mas principalmente do século XX, esse papel foi ocupado pelas mães e pais de santo dos candomblés da Bahia, Rio de Janeiro, do Maranhão, de Porto Alegre e das umbandas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Grais e de Goiás. À medida que deixavam de serem perseguidas, as diversas religiões afrobrasileiras, praticadas em todo o Brasil, ganharam mais força do que já tinham. Frequentadas não só pelas comunidades negras mas também por pessoas de outros grupos sociais (...). Os terreiros nos quais se abrigam os candomblés e as umbandas são espaços com muitas características das culturas africanas – na arquitetura, nos tipos de plantas e árvores plantadas no entorno das construções, nos altares nos quais as entidades sobrenaturais recebem abrigo, alimentos e cuidados cotidianos, e nas formas de festejar. Nos ritos, a presença africana é ainda mais evidente, como na postura dos corpos, no gestual, na dança em círculos ao ritmo dos tambores, instrumentos que aqui e na África são cercados de cuidados, sendo intermediários com o sagrado, e, portanto não podendo ser tocados por qualquer pessoa ou em qualquer situação. Os ritmos acelerados que os tocadores tiram deles acompanham o transe dos médiuns, por meio dos quais as entidades do além se manifestam frequentemente assumindo posturas corporais e vozes diferentes. Cada ritmo permite a incorporação de uma entidade sobrenatural, que tem toque, cores, adereços, roupas, comidas e gestos próprios. Cada terreiro tem seus orixás e espíritos, cada médium recebe determinadas entidades, em número limitado.” Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007, p.132-133.

O Agogô ou Gã (como é chamado no candomblé) é um instrumento musical de origem iorubá. É considerado por alguns estudiosos, o instrumento mais antigo do samba. Fonte: autoria própria.

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Apresentação de capoeira no Largo da Ordem, Curitiba, 18 nov. 2012. Fonte: autoria própria.

4. Culinária O uso de diversos temperos da culinária brasileira, como a pimenta e o azeite de dendê (presente principalmente na culinária nordestina), foram trazidos dos africanos que vieram da região da Costa da Mina. “Acarajé, vatapá, aluá e xinxim de galinha são alguns dos pratos que, além do nome, têm receitas parecidas com as feitas na África, satisfazendo o paladar dos que se criaram dentro dos gostos dos seus pais. Além dos pratos preparados, o inhame, o cará, a noz-de-cola (aqui chamada de obi e orobó e usada em cultos religiosos) e a nossa tão típica banana vieram do continente africano, esta última depois de atravessá-lo inteiramente a partir da costa oriental, para onde foi levada pelos que vinha da Índia” (SOUZA, 2007, p. 135). Feijão, sorgo (ou milho), arroz e cuscuz (de origem berbere), foram incorporados à comida brasileira pelos escravizados. Como a carne utilizada na áfrica era geralmente carne de caça, aqui quando não conseguiam esse tipo de carne, utilizavam a galinha, o toucinho e a carne-seca. Embora existam pesquisadores que discordam desta teoria, acredita-se que a feijoada (prato que marca a identidade da comida brasileira), teria se originado com os africanos ainda durante a escravização. Como a comida nas senzalas era escassa e os senhores rejeitavam as partes menos nobres do porco (orelhas, rabos, pés), estas, acrescidas ao feijão, água, sal e outros temperos, acabou dando origem à feijoada.

5. Capoeira e Maculelê Acredita-se que a capoeira [do tupi-guarani ka'a ("mata") e pûer ("que foi") = o que foi mata] surgiu também como uma forma de resistência durante a escravidão. Os negros fugidos a utilizavam como ferramenta de sobrevivência contra os capitães-do-mato ou seus senhores, e também a transformavam num instrumento de luta para garantir a segurança dos quilombos.

Segundo Albuquerque (2006, p. 244), a capoeira praticada no século XIX “consistia no uso da agilidade corporal e no manejo da navalha para golpear adversários” e, apesar de ser uma atividade realizada por trabalhadores, os praticantes sofriam constante repressão policial sendo tratados como desocupados e vagabundos que ameaçavam a segurança e a ordem social vigente.

Em função disso, durante praticamente todo o século XIX a capoeira foi considerada subversiva e perigosa pelas autoridades policiais. Porém, durante a Guerra do Paraguai (1866-1870) muitos capoeiristas foram convocados e quando retornaram adquiriram certo prestígio e o jogo da capoeira passou a ser praticado até por oficiais do exército. Era comum também, que muitos capoeiristas pudessem se exibir nos centros urbanos com a conivência da polícia porque alguns se tornaram capangas de políticos locais (conforme aconteceu durante o auge da borracha no estado do Pará).

No Rio de janeiro, não era difícil identificar um capoeirista naquela época: “o andar gingado, as calças de boca larga e a argolinha de ouro na orelha” (idem, 2006, p. 246). Eram comuns também as disputas e rivalidades entre grupos de capoeiristas.

Durante os movimentos pela proclamação da República, muitos grupos de capoeiristas se aliaram aos políticos monarquistas e provocaram uma série de manifestações e tumultos na cidade do Rio de Janeiro, fazendo com que, depois de proclamada a República, surgisse uma legislação repressiva contra a capoeira. Pelo Código Penal de 1890 a capoeira tornou-se contravenção penal, resultando na prisão dos seus praticantes.

Apenas na década de 1930 teve início um processo de descriminalização e popularização da capoeira. Em Salvador, na Bahia, é criada a capoeira regional, tornado-se uma prática desportiva: mestre Bimba “reinventou o jogo da capoeira incorporando golpes de lutas marciais que faziam sucesso na época, sem dissociá-la de suas raízes negras” (ibidem, 2006, p. 248). Depois de reinventada e readaptada, parte do preconceito foi se desfazendo e a capoeira foi adquirindo espaço, inclusive nas academias de ginástica e no currículo das aulas de educação física.

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A capoeira acabou se tornando um elemento importante da cultura nacional tanto que, por decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 15 de julho de 2008, tornou-se Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.

O maculelê é considerado por alguns praticantes como uma dança e por outros como uma arte marcial armada. Essa prática simula uma luta/dança tribal em que os dois participantes usam dois bastões (em alguns casos podem ser facões), os quais desferem golpes um contra o outro, ritmados pela música. Não se sabe ao certo a origem do maculelê, todavia acredita-se que seja uma mistura de tradições africanas (iorubá) e indígenas que teria iniciado nos canaviais de Santo Amaro da Purificação, na Bahia.

6. Hip-Hop: Rap e grafiti O rap é um gênero musical que surgiu nos Estados Unidos nos anos 1960 (sob a influência do rap jamaicano), justamente na década em que eclodiram diversos movimentos sociais que lutavam pelos direitos civis dos negros estadunidenses e de outros movimentos culturais pelo mundo, como o movimento feminista, o da contracultura e o de Maio de 68 na França. Movimentos estes que reivindicavam a liberdade de expressão, questionavam o poder e o consumismo. Mas foi na década de 1970 que o rap ganhou expressão dentre as comunidades latinas, jamaicanas e afro-americanas do subúrbio Nova Iorque inserido num movimento que ficou conhecido como hip-hop. Os rappers ou MCs (mestre de cerimônias) que interpretam a música (a capella ou acompanhados por batidas de fundo - beatbox), geralmente são originários de comunidades pobres ou periféricas, os guetos. O rap acabou sendo difundido para diversos países e, no Brasil, tornou-se, assim como nos Estados Unidos, um movimento ou estilo musical que denuncia a violência, a desigualdade social, a opressão e a marginalização das populações da periferia (em sua maioria afrodescendentes). O rap, o grafiti e a dança (break) integram o conjunto de manifestações culturais e artísticas do movimento hip-hop. Além da batida do rap, a dança com o requebro de quadris e movimentos de ombros remete aos ritmos e danças africanas.

1. Trabalhando textos não escolares:

1.1. Leia as três fontes seguintes:

Fonte 1

“Só em janeiro de 1976, durante os festejos ao Senhor do Bonfim na Bahia, o então governador Roberto Santos assinou o ato administrativo que garantiu a liberdade de culto para as religiões afrobrasileiras. Só então, os terreiros deixaram de ser obrigados a pedir licença para funcionarem e foi suspenso o pagamento de taxa ou registro na polícia” (Albuquerque, 2006, p. 243).

Fonte 2

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias; (Constituição Federal de 1988).

Fonte 3

Evangélicos tentam invadir terreiro em Olinda Centenas de evangélicos com faixas e gritando palavras de ordem realizam protesto em frente a um terreiro de matriz africana e afro-brasileira – candomblé, umbanda e jurema. As imagens poderiam ser de um filme sobre a Idade Média. No entanto, foram registradas no domingo, no Varadouro, em Olinda, Grande Recife. As cenas de intolerância religiosa circularam ontem nas redes sociais e provocaram a revolta de milhares de internautas. (Disponível em: <http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/noticia/2012/07/18/evangelicos-tentam-invadir-terreiro-em-olinda-49482.php>. Acesso em 02 out. 2012).

Patrimônio Cultural Imaterial O patrimônio cultural pode ser dividido em material e imaterial. Os bens materiais da cultura constituem os elementos artísticos, arqueológicos, paisagísticos, etc. pertencentes a um determinado grupo, sociedade ou a humanidade como um todo. Os bens imateriais relacionam-se aos conhecimentos, práticas, representações, crenças, valores, habilidades, que um grupo ou sociedade reconhece como parte da sua cultura e que vai sendo transmitido e recriado de geração em geração.

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a. Escreva um texto consideranto as informações das três fontes. O título já está escrito.

Religião afrobrasileira: identidade e direito.

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b. Suponha que você trabalhe em uma agência de publicidade e que o governo do estado do Paraná, em função da violência, intolerância étnica e religiosa contra os afrodescendentes e seus terreiros, contratou sua agência para realizar uma campanha de conscientização. Crie no quadro seguinte, um desenho, um título e uma legenda explicativa, para um cartaz que encabeçe uma campanha pelo respeito às religiões de matriz africana.

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1.2. Ouça o RAP e após analisar a letra participe de um debate sobre os principais temas e ideias expostos pelo autor. NEGRO DRAMA Racionais MC's

Letra disponívem em: < http://letras.mus.br/racionais-mcs/63398/ >. Acesso em 23 nov. 2102. 1.3. Agora é a sua vez: Em equipes (de até quatro alunos), escolha um tema que estudamos sobre a história e cultura africana e afrobrasileira, monte um rap para ser apresentado aos seus colegas de sala. Entregue uma cópia da letra para o(a) professora(a) no dia da apresentação.

Outras possibilidades de trabalho...

1. O(a) professor(a) pode identificar alunos que pratiquem a capoeira ou, dentro das possibilidades do Colégio, realizar uma oficina de capoeira com as turmas que trabalharam com este material. 2. Dividir a turma em equipes para, junto com o(a) professor(a) de educação física, montar grupos de dança afrobrasileira (samba de roda, axé, samba, frevo, maracatu...) e apresentarem para os colegas. 3. Fazer um estudo do Estatuto da Igualdade Racial (12.288/10), no sentido de compreender as razões das políticas afirmativas (como a de cotas, por exemplo) como mecanismos que garantem a igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos dos negros e o combate à intolerância e discriminação étnica.

Neste capítulo discutimos:

o Conceito antropológico de cultura.

o Cultura afrobrasileira (carnaval, religião, música, dança, culinária, capoeira, maculelê, hip-hop).

Sugestões para ler e ver

1. Artigo: “O negro drama do rap: entre a lei do cão e a lei da selva”. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100020>. Acesso em 23 nov. 2012. 3. Site: “A Cor da Cultura”. “A Cor da Cultura é um projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira, fruto de uma parceria entre o Canal Futura, a Petrobras, o Cidan – Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, a TV Globo e a Seppir – Secretaria especial de políticas de promoção da igualdade racial. O projeto teve seu início em 2004 e, desde então, tem realizado produtos audiovisuais, ações culturais e coletivas que visam práticas positivas, valorizando a história deste segmento sob um ponto de vista afirmativo.” Disponível em: <http://www.acordacultura.org.br/>. Acesso em 30 nov. 2012. Procure no acervo do Colégio este material, pois as escolas receberam algumas caixas. Caso seu colégio não tenha recebido é só fazer o pedido através do site. Além disso, é possível fazer download de todo o material no site: < http://www.futuratec.org.br/>.

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Referências Bibliográficas:

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Publicada no Diário Oficial da União em 21 de julho de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm>. Acesso em 30 nov. 2012. BRASIL. Programa Brasil Quilombola. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas de Promoção a Igualdade Racial. Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais. [S.L. ; S.N.], [200?]. Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/.arquivos/pbq.pdf>. Acesso em 16 nov. 2012 CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Sinhá moça representa a casa grande. Disponível em: <http://outraspalavras.arteblog.com.br/299306/Sinha-Moca-representa-a-Casa-Grande/>. Acesso em 16 nov. 2012. CUNHA JUNIOR, Henrique. Tecnologia africana na formação brasileira. Rio de Janeiro: CEAP, 2010. HENRIQUES, Paulo. Desigualdade Racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90. In: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - IPEA, Rio de Janeiro, 2001. Disponível em: <http://desafios2.ipea.gov.br/pub/td/2001/td_0807.pdf>. Acesso em 02 jun. 2012. LIMA, Antonio Carlos de Souza & CASTILHO, Sérgio Ricardo Rodrigues. Grupos étnicos e etnicidades. In: Sociologia : ensino médio / Coordenação Amaury César Moraes. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. 304 p. : il. (Coleção Explorando o Ensino ; v. 15). LOPES, Ana Lúcia. Currículo, escola e relações ético-raciais. In: Educação africanidades Brasil. MEC – SECAD – UnB – CEAD – Faculdade de Educação. Brasília, 2006. NASCIMENTO, Elisa Larkin. Introdução à história da África. In: Educação Africanidades Brasil. MEC – SECAD – UnB – CEAD – Faculdade de Educação. Brasília, 2006. REIS, Maria da Conceição dos. O processo civilizador na construção da identidade negra. XII Simpósio Internacional Processo Civilizador. Recife, 2009, p. 4. Disponível em: < http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais12artigos/pdfs/comunicacoes/C_Reis2.pdf>. Acesso em 16 nov. 2012. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

SIMOES, Júlio Assis & GIUMBELLI, Emerson. Cultura e alteridade. In: Sociologia : ensino médio / Coordenação

Amaury César Moraes. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. 304 p.: il. (Coleção Explorando o Ensino ; v. 15). SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007. ZENI, Bruno. O negro drama do rap: entre a lei do cão e a lei da selva. In: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, vol.18 no.50 São Paulo Jan./Apr. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100020>. Acesso em 30 nov. 2012.