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MATERIAL DE APOIO O FILME: RELATOS DO FRONT Data de lançamento 20 de junho de 2019 (1h 35min) Direção: Renato Martins Elenco: atores desconhecidos Gênero Documentário Nacionalidade Brasil Enquanto o Rio de Janeiro vive um de seus momentos mais difíceis em rela- ção a segurança pública, aqueles que convivem diariamente com a violência e o medo da morte fazem de tudo para que consigam sobreviver mais um dia. De policiais militares até simples moradores: todos são vítimas de um problema que é analisado por sociólogos, historiadores e advogados, na ten- tativa de entender como esta guerra começou. 22/07/2019 Relatos do Front na Maré - CEASM - 1

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MATERIAL DE APOIO

O FILME:

RELATOS DO FRONTData de lançamento 20 de junho de 2019 (1h 35min)

Direção: Renato Martins

Elenco: atores desconhecidos

Gênero Documentário

Nacionalidade Brasil

Enquanto o Rio de Janeiro vive um de seus momentos mais difíceis em rela-

ção a segurança pública, aqueles que convivem diariamente com a violência

e o medo da morte fazem de tudo para que consigam sobreviver mais um

dia. De policiais militares até simples moradores: todos são vítimas de um

problema que é analisado por sociólogos, historiadores e advogados, na ten-

tativa de entender como esta guerra começou.

22/07/2019 Relatos do Front na Maré - CEASM -

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CRÍTICA

O impacto da sequência que abre o documentário Relatos do Front é

instantâneo e inevitável, colocando o espectador em meio ao confronto entre

policiais e traficantes numa favela carioca durante uma ação da UPP (Unida-

de de Polícia Pacificadora). Um registro urgente e inquieto que termina com

as imagens de um jovem ensanguentado, atingido por uma bala perdida,

sendo carregado por parte da massa de moradores em desespero. Ainda que

opte pelo choque como ponto de partida, o diretor Renato Martins – que aqui

direciona seu olhar a um aspecto do cotidiano do Rio de Janeiro completa-

mente oposto àquele da paixão pelo futebol, trabalhado em seu longa anteri-

or, Geraldinos (2015) – não se atém apenas à exposição crua da realidade,

adentrando um caminho mais reflexivo para analisar as causas e as conse-

quências do caos instaurado na segurança pública de seu estado.

Buscando se manter o mais imparcial possível ao tratar de uma ma-

téria tão complexa e delicada, Martins oferece abertura para que todos os la-

dos sejam ouvidos, tanto moradores das favelas, ex-traficantes e familiares

de pessoas assassinadas quanto membros da polícia – que muitas vezes aca-

bam igualmente vitimados nos confrontos armados. Para dar mais estofo ao

debate, o cineasta entrevista ainda sociólogos, jornalistas, historiadores e ju-

ristas que ajudam a traçar o panorama da escalada da violência no Brasil,

partindo de uma breve introdução que contextualiza o surgimento da força

policial no país e sua transformação num aparato de repressão do Estado

desde a chegada da Família Real Portuguesa, no início do século XIX. Essa

introdução serve também para expor questões como a dos conflitos e do ódio

de classes, além da segregação racial, que se mostram indissociáveis do

tema central do longa.

Ao equilibrar os depoimentos, todos bastante contundentes, Martins

evita com sucesso a demonização de qualquer uma das partes. Policiais e

bandidos são colocados não apenas como frações de um mesmo problema,

mas também, e acima de tudo, como vítimas de um sistema falho no qual,

como bem aponta um ex-agente do BOPE, alguém que não se encontra em

meio ao fogo cruzado sai ganhando. De ambos os lados, criados para se en-

xergarem como inimigos, a percepção é a mesma: a de que os verdadeiros

responsáveis pelo sangue derramado são os governantes que utilizam o

combate ao crime como plataforma eleitoral, bem como outros detentores de22/07/2019 Relatos do Front na Maré - CEASM -

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poder, caso da indústria armamentista. Pois é para essas pessoas que a defi-

nição de “Guerra ao Tráfico” se mostra interessante, já que avaliza o cenário

de batalha estabelecido, em que mortes – civis ou policiais - são contabiliza-

das como casualidades em nome de votos e do lucro.

Todo esse conteúdo é formatado em uma estrutura bastante conven-

cional, mas, ainda assim, eficiente em extrair o máximo dos pontos de vista

apresentados. O bom trabalho de montagem exerce papel fundamental para

tal resultado, mantendo a dinâmica da narrativa e se mostrando hábil para

captar as passagens mais relevantes de cada entrevista. A escolha dos en-

trevistados, por sinal, se mostra igualmente acertada, já que não apenas os

especialistas, como também as “pessoas comuns” – as mães de jovens mor-

tos em confrontos, os ex-presidiários, os PM’s e seus familiares – revelam

um discurso articulado, levantando tópicos e opiniões que, de fato, acrescen-

tam algo à discussão. Fator que permite com que esta evolua sem andar em

círculos e, portanto, não soe repetitiva.

Talvez o ponto que conte contra Relatos do Front seja o fato de Mar-

tins, por vezes, não resistir à atração da força do choque, como visto inicial-

mente, pesando a mão na dramaticidade em determinadas escolhas, caso,

por exemplo, das tomadas aéreas de paisagens cariocas embaladas por uma

trilha sonora grave e ilustradas por manchetes de jornais que apontam dados

alarmantes sobre a violência no Brasil. Ou ainda das imagens dos velórios

dando grande ênfase à desolação dos familiares das vítimas, soando excessi-

vas, quase apelativas. Contudo, mesmo que tais opções se mostrem questio-

náveis, o que prevalece no trabalho do diretor é o desejo de promover a re-

flexão sobre o assunto, bem como uma procura por soluções que ataquem o

cerne do problema da segurança pública – como a redução da desigualdade

social e a melhoria da educação – sem se valer do extremismo irracional que

domina boa parte da sociedade brasileira atual e que se reflete diretamente

na dinâmica do conflito retratado.

Leonardo Ribeiroé formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película

(olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).

https://www.papodecinema.com.br/filmes/relatos-do-front/

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Eu pertenço a um grupo de mulheres que na sua maioria é negra e

aonde todas são violadas pelo Estado, seja com os filhos em cumprimento de

medidas socioeducativas ou assassinados pelo braço armado do Estado. Mes-

mo quando não é a polícia que comete diretamente os crimes, o Estado tam-

bém é responsável por não conseguir garantir a segurança pública. Acabei

descobrindo que passamos por essas violações devido a uma reparação his-

tórica não realizada que o governo brasileiro deve ao povo negro por conta

de toda tortura, racismo, falta de respeito, desigualdade e indiferença que

esse povo sofre e sofreu desde a escravidão até os dias de hoje.

A maioria dessas mulheres que eu represento são mulheres negras sim que

se sustentam e sustentam seus filhos e ainda tem que ajudar algum ente de

sua família. Na maioria das vezes, somos mulheres que ganhamos pouco e

que ficamos muitas horas fora de casa trabalhando e temos muito pouco

tempo de estar acompanhando o crescimento dos nossos filhos, dos filhos

das nossas vizinhas e até mesmo a transformação dos nossos bairros e co-

munidades. Assim como nossos filhos mudam, a realidade dos bairros tam-

bém muda e não é mais como antigamente, quando tínhamos a confiança de

que os nossos filhos estavam seguros onde moravam. Já carregamos, mes-

mo sem nossos filhos estarem envolvidos com algo ilícito, a tão terrível culpa

que nos coloca essa sociedade machista e racista. Nos culpam por não estar-

mos no momento em que eles mais precisam, como nas reuniões escolares,

nos esportes, nas festas, nas brincadeiras. Nos culpam também por não

aguentarmos mais aquele homem que não faz nada, não tem responsabilida-

de, não contribui financeiramente, mas é o pai dos nossos filhos. Então já

começamos a adoecer por conta dessas culpas que imaginamos que temos.

A partir daí, quando temos a certeza que esse filho de alguma forma está

nos dando mais problemas do que seria de costume, essa culpa ultrapassa e

de fato se materializa, você adoece de verdade sem perceber e ainda não

pode parar de trabalhar. Então você já não tem mais o prazer de cumprir sua

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O extermínio da Juventude Negra, a perspectiva de

uma mãe: por Mônica Cunha, Fundadora do Movimento

Moleque e Coordenadora da Comissão de Defesa dos

Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ

tarefa no trabalho com a mesma desenvoltura anterior, a cabeça fica total-

mente voltada para aquele filho que está dando problema, você começa a ter

sua vida ligada no automático, conforme os dias vão passando você vai se

perguntando: “Por que eu? Por que comigo? Eu fazia tudo certo, sei que não

sou uma mãe cem por cento, mas não deixo faltar nada.” Mas esse nada que

nós nos referimos são apenas as coisas materiais como alimentação, vesti-

mentas e algum tipo de diversão. Nós mulheres negras, quando assumimos

todas as situações, adoecemos de uma forma que não tomamos conheci-

mento por conta dessa vivência totalmente violada, desrespeitada, não só

pelo Estado, e sim por uma sociedade que tem certeza que a mulher negra é

culpada e responsável por tudo: até o nosso ex-governador atualmente pre-

so já falou que somos fábricas de parir marginais. O nosso adoecimento co-

meça de uma forma lenta, nos dando alarme não muito importante, e quan-

do percebemos já estamos com depressão, síndrome do pânico, perda de

memória, até desenvolvermos AVCs, câncer, dependência química. E quando

temos nossos filhos assassinados, humilhados, difamados, por todo um Esta-

do que desde quando engravidamos nos negou saúde, educação, tempo de

lazer e convivência diária, e uma sociedade que naquele momento nos apon-

ta como inconsequentes e irresponsáveis, acabamos adoecendo seriamente e

sendo internadas nas emergências dos hospitais públicos ou temos ataques

fulminantes no coração, caindo e morrendo em qualquer lugar, como foi o

caso de uma das mães da chacina de Costa Barros (onde foram assassinados

cinco jovens negros com 111 tiros no Parque de Madureira). Ela não foi a pri-

meira mãe a morrer dessa forma, temos outras mães que passaram pela

mesma situação, como as Mães de Acari. Dessa forma vemos que a bala do

Estado não atinge somente uma pessoa e sim toda uma família. A partir daí

ela se torna refém dela mesma. Mesmo sabendo desse quadro que é uma re-

alidade que nos é imposta todo dia lutamos para mudar essa história porque

a gente não pôde mudar o início, mas pode mudar o final. Por conta disto,

temos hoje toda esta militância de mães que gritam a todo instante pela vida

dos seus filhos, pela educação de seus filhos. Elas mostram o quanto têm di-

reito a parir e a criá-los, obrigando a sociedade e o país a escutá-las e a vê-

las como mulheres de luta que contribuem desde sempre, na construção

deste país e na construção da nossa história.

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histórias humanas

Crônica 1: Direito à cidade

A população portadora de algum tipo de deficiência têm muitas difi-

culdades de locomoção não só dentro da cidade como no deslocamento entre

municípios, e ainda sofre com o desrespeito a diversos de direitos tais como

a falta calçadas, sinais de trânsito, rampas e etc.

Atendemos há poucos dias uma senhora de 47 anos, dona Rosa, ela

é moradora da Baixada e mãe de Iara, uma adolescente que nasceu com pa-

ralisia cerebral. Ela sempre procurou atendimento nas instituições públicas.

Mas o acesso a hospitais para esse público é bem restrito, nem todos aten-

dem e muitos locais de tratamentos são bem distantes da residência dos pa-

cientes. Esse é o caso de Iara.

Há anos ela faz tratamento em outra cidade que fica há mais de duas

horas de viagem. E o problema que a Rosa enfrenta neste momento é de

como continuar levando a filha para o hospital, pois foi aprovada uma lei que

limita a gratuidade apenas dentro do próprio município.

Antes de chegar à Comissão, ela já havia procurado o Ministério Pú-

blico, que a orientou a buscar o CRAS (Dizer o que é CRAS). Nós da Comis-

são encaminhamos para a Defensoria Pública para mostrar todos os laudos

médicos, provar que sua filha não pode ficar sem atendimento e, por isso,

necessita da passagem gratuita.

Crônica 6: Moradia e Trabalho

A população negra, pobre, periférica da nossa cidade sofre cotidiana-

mente com a falta de direitos. Na tarde de quinta, dia 02 de maio, chegou na

sala da comissão um homem de 32 anos com dois bebês recém nascidos.

Sua esposa, de 29 anos, estava internada na maternidade, teve complica-

ções no parto.

Ele, desempregado, sem dinheiro para pagar o aluguel, sem quem

possa ajudá-lo a cuidar das crianças, foi até a comissão pedir orientação

para saber de onde poderia conseguir apoio para pagar o aluguel.22/07/2019 Relatos do Front na Maré - CEASM -

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Ele informou que já fez cadastro no bolsa família e que sairá em bre-

ve, mas que sua urgência é a questão da moradia, já que tem agora dois be-

bês para cuidar. Orientamos a procurá-lo o CRAS - Centro de Referência de

Assistência Social mais próximo de sua casa, levar a documentação e expli-

car todos os detalhes e saber como podem auxiliá-lo.

Crônica 2: Intolerância Religiosa

Cada vez mais recebemos denúncias e pedidos de apoio em relação a

casos de intolerância religiosa, as mais atacadas são as religiões de matriz

africana, o que nos mostra o quanto as religiões afros sofrem com a falta de

liberdade de expressão e com o racismo na sociedade, inclusive, nas institui-

ções públicas.

Adriana, de 32 anos, é candomblecista e a sua filha de 12 anos,

também. A filha, este ano, estava passando pelo ritual de iniciação de santo

dentro do terreiro, estava no quarto de repouso. Por causa disso, Adriana foi

denunciada por um casal de vizinhos evangélicos que possui cargos na igre-

ja. De Forma agressiva, eles invadiram o quarto que a criança estava para

retirá-la. A acusação é de que a filha estava sob cárcere privado, o que não

era verdade. O Conselho Tutelar deu a guarda provisória para a tia da crian-

ça.

Adriana solicitou apoio e quer ter de volta a sua filha, elas não se

veem há três meses. A Comissão encaminhou o caso para Núcleo de Defesa

dos Direitos Homoafetivos e Diversidade Sexual da Defensoria Pública do Rio

de Janeiro - NUDIVERSIS e segue em contato com ela para que não fique

sem orientação e cuidado.

Crônica 3: Sistema Prisional

Durante anos as carteirinhas de visitação do sistema prisional eram

feitas pela Secretaria de Administração Penitenciária - SEAP, mas no final do

ano passaram a ser expedidas pelo Detran. O que fez com que inúmeros fa-

miliares ficassem sem visitar os seus parentes por causa do atraso nos aten-

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dimentos. Um desses casos chegou até a sala da Comissão de Direitos Hu-

manos na tarde do dia 13 de abril, era Luciana, esposa de Marcos.

Marcos está há 5 meses no sistema prisional, em uma das unidades

de Bangu. Luciana relatou que está durante esse período sem ver o seu es-

poso por causa da falta da carteirinha de visita. Ela, que está grávida de 8

meses, ao ligar para o Detran, mesmo explicando a situação, eles desrespei-

tam o fato dela não poder se deslocar tanto por causa da gravidez e agen-

dam atendimento para entrega de documentação apenas para lugares dis-

tantes de seu bairro.

Luciana pede ajuda em relação ao atendimento em relação ao atendi-

mento Detran e diz que precisa também de notícias de seu marido. Luciana

não é a única a sofrer com a mudança de atendimento em relação à confec-

ção das carteirinhas para as visitas no sistema prisional, são inúmeras as

pessoas que ligam ou vão até a nossa sala solicitando apoio, reclamando, pe-

dindo algum tipo de orientação. Este caso da Luciana foi encaminhado para o

Mecanismo de Prevenção de Combate à Tortura - MNPCT que faz parte do

Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura.

O órgão é composto por 11 especialistas independentes (peritos),

que terão acesso para fiscalizar as instalações de privação de liberdade,

como centros de detenção, estabelecimento penal, hospital psiquiátrico, abri-

go de pessoa idosa, instituição socioeducativa ou centro militar de detenção

disciplinar.

Crônica 7: Violência Policial

Maria da Conceição, de 33 anos, chegou na sala da Comissão no dia

18 de maio, junto a ela veio o marido e o filho mais novo. Maria, chorando

muito, disse que o seu filho mais velho de 10 anos havia sido assassinado há

uma semana. Ele estava saindo da escola quando foi atingido por dois polici-

ais que passavam pelo local dentro de um carro sem qualquer identificação.

Maria contou que o seu filho chegou a ser levado pelos vizinhos para

o hospital, mas dois dias depois ele faleceu, não aguentou os tiros que acer-

taram o seu pequeno corpo. Ela, seu marido e o filho mais novo, chegaram

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na comissão dizendo que necessitam de qualquer tipo de apoio, pois o pró-

prio Estado não ligou para oferecer ajuda.

Maria disse que vizinhos viram o seu filho levando os tiros, mas que

as pessoas estão com medo de denunciar, já que os policiais podem voltar e

ameaçá-las. Casos como o de Maria aparecem com muita frequência e mui-

tos desses casos acabam sem testemunhas por causa do medo que as pes-

soas têm de testemunhar.

A Comissão indicou acompanhamento psicológico para ela, seu filho e

esposo e, também, acompanhou a família até a Defensoria Pública do Estado

do Rio de Janeiro para os primeiros procedimentos jurídicos. Seguimos

acompanhando o caso e se você passa por problemas como estes ou conhece

alguém que precise de atendimentos como estes, entre em contato com a

comissão.

Crônica 8: Saúde pública e Sistema prisional

Muitos dos casos que chegam na sala da Comissão de Defesa dos Di-

reitos Humanos e Cidadania da Alerj são iniciados por mulheres em busca de

apoio, ajuda, e a maioria delas são negras, faveladas, periféricas, pobres.

Muitos dos casos são sobre a violência policial que ocorrem nestes locais em-

pobrecidos, outros são sobre violações que ocorrem dentro dos hospitais, do

sistema penitenciário.

Joana, de 45 anos, mãe de Daniel, de 27 anos, nos contou que o seu

filho havia sido baleado em uma das periferias da Zona Oeste, ele sobrevi-

veu, foi levado ao hospital, lá ele teve duas paradas cardíacas. Três dias de-

pois, Daniel foi levado para o complexo penitenciário de Bangu sem qualquer

tipo de atendimento médico, ele se encontra com os ferimentos abertos, com

dor, sem remédio, sem a atenção que qualquer cidadão tem ou deveria ter

como direito, afinal, na constituição está descrito que todos e todas devem

ter seus direitos garantidos por lei.

A Comissão encaminhou o caso para o Mecanismo de Prevenção de

Combate à Tortura (MNPCT) que faz parte do Sistema Nacional de Prevenção

e Combate à Tortura. O órgão é composto por 11 especialistas independen-

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tes (peritos), que terão acesso para fiscalizar as instalações de privação de

liberdade, como centros de detenção, estabelecimento penal, hospital psiqui-

átrico, abrigo de pessoa idosa, instituição socioeducativa ou centro militar de

detenção disciplinar.

Crônica 10

É grande o número de comunicadores populares hoje no Rio de Ja-

neiro. Eles atuam, principalmente, nas favelas, periferias, sindicatos e movi-

mentos sociais. Estes comunicadores trazem uma análise crítica sobre socie-

dade. Essa atuação pode se dar por meio de mídias comunitárias como: jor-

nais, folhetos, redes sociais etc.

E, por terem mais visibilidade sobre os problemas e violações locais,

parte destes comunicadores começou a sofrer com fortes intimidações e

ameaças diretas ou indiretas, principalmente quando os seus conteúdos são

divulgados e expostos em larga escala pelas redes sociais.

Na Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj,

temos recebido alguns casos de intimidações e ameaças como estas e João,

de 26 anos, há 6 anos administra uma página que cotidianamente mostra as

violações de direitos que o seu bairro na Zona Oeste sofre.

Por isso, ele passou a sofrer ameaças constantes nessas rede que ele

administra. Ao conversar com a comissão, decidimos que o melhor caminho

era entramos em contato com organizações voltadas para comunicadores e

jornalistas que lidam com temas e situações como estas. Ou seja, encami-

nhamos o caso para organização que é especializada no tema sobre seguran-

ça à comunicadores e jornalistas brasileiros.

Historias dos atendimento feitos pela Comissão de Direitos Humanos da Alerj

e contadas pela ex aluna no CPV - Gizele Martins (hoje, 22, é aniversário

dela)

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Artigo: Política em tempo de cóleraNão surpreende que o governador não apresente propostas concretas para redução de

homicídios e feminicídiosIbis Pereira e Renata Souza

2019

Na encíclica “Laudato Si”, o Papa Francisco assinala o respeito à dig-

nidade humana como o fundamento de toda ordem social comprometida com

a vida. Para o Bispo de Roma, a paz é uma obra da solidariedade. A preser-

vação da ordem pública dependeria menos dos dispositivos de segurança do

que da constituição de um ambiente de justiça e fraternidade. O Papa nos re-

mete à grandeza da política, esfera de encontro, compromisso e partilha.

Do recente decreto de flexibilização do acesso a armas de fogo à de-

fesa entusiasmada do encarceramento em massa, passando pela visão tosca

da polícia e do Direito Penal como antídotos para a insegurança —cujo exem-

plo eloquente é o pacote anticrime do ministro Moro —, percebe-se a toada

fácil do combate ao inimigo. Há muito ódio e ranger de dentes em tudo isso,

muito desejo de guerra. Nossos “liberais-conservadores” parecem decididos

a superar a formulação nós/eles, especificidade da política, a tiros de fuzil. A

“nova política” semelha à negação da política.

Vejamos o programa de governo Wilson Witzel. Algo nele desconcer-

ta, para além da controversa autorização do abate de criminosos. A questão

é menos escandalosa, mas não menos equivocada. Lá pelas tantas, se diz

que a segurança pública precisa voltar a ser um “caso de polícia”, e não mais

de política. Ocorre que essa tem sido a receita do fracasso: reduzir seguran-

ça pública à atividade policial, desconsiderando a dimensão da política. No

diagnóstico, o problema se apresenta como solução. Não surpreende, portan-

to, que o governador não apresente propostas concretas para redução de ho-

micídios e feminicídios no Rio de Janeiro.

Sobre as agências de segurança têm recaído a conta do reducionis-

mo, ou seja, as instituições têm sido demandadas sem o direcionamento de

políticas públicas consistentes, fundamentadas em evidências e, por isso, ca-

22/07/2019 Relatos do Front na Maré - CEASM -

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pazes de articular ações integradas no curto, médio e longo prazos, através

dos níveis municipal, estadual e federal. Tal posicionamento preocupa, por-

que expõe policiais e a população mais pobre, sobretudo, à indeterminação.

A violência decorre, em grande medida, desse erro de perspectiva: substituir

a política pela polícia.

Outro aspecto inquietante: a proposta de parceria público-privada

como solução para a crise penitenciária. A ideia, adotada nos Estados Unidos

na onda neoliberal, tornou a terra de Donald Trump a maior encarceradora

do planeta. Mais presos, mais lucros. Encontraram no cárcere um modo de li-

dar com a exclusão, ganhando dinheiro. Menos custo e maior eficiência é o

que argumentam para transformar o naufrágio humano em negócio.

Quando homens e mulheres são tratados como meios e não como

fins, chegamos à beira do abismo, que se anuncia na retórica raivosa desse

tempo estranho, a soar como uma trombeta do apocalipse. E não há salva-

ção sem misericórdia. No país do “bandido bom é bandido morto”; do ódio

que se espalha como uma praga; de parlamentares a serviço da bala e da

degradação da natureza, a fazer da política ruína, como em Brumadinho,

nunca é demais refletir sobre a lição de Francisco: política existe é para livrar

a vida do poder da morte.

Renata Souza é deputada estadual (PSOL-RJ), Ibis Pereira é assessor parla-

mentar e foi comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro

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Milícia (Rio de Janeiro) - Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Milícia é a designação genérica das organizações militares ou parami-

litares compostas por cidadãos comuns, armados ou com poder de polícia

que teoricamente não integram as forças armadas de um país. As milícias

podem ser organizações oficiais mantidas parcialmente com recursos do Es-

tado e em parceria com organizações de carácter privado, muitas vezes de

legalidade duvidosa. Podem ter objetivos públicos de defesa nacional ou de

segurança interna, ou podem atuar na defesa de interesses particulares, com

objetivos políticos e monetários. Recentemente, no Rio de Janeiro, o termo

Milícia foi associado a práticas ilegais, geralmente são grupos formados em

comunidades urbanas de baixa renda como conjuntos habitacionais e favelas

sob a alegação de combater o crime narcotráfico porém mantendo-se com os

recursos financeiros provenientes da venda de proteção da população caren-

te e cobrança de pirataria na rede de informação,são ainda consideradas mi-

lícias todas as organizações da administração pública tercerizada e que pos-

suam estatuto militar, não pertençam às Forças Armadas de um país, isto é,

ao Exército, Marinha de Guerra ou à Força Aérea.

As milícias da cidade do Rio de Janeiro são grupos que controlam vá-

rias favelas. São formadas por policiais, bombeiros, vigilantes, agentes peni-

tenciários e militares, fora de serviço ou na ativa. Muitos milicianos são mo-

radores das comunidades e contam com respaldo de políticos e lideranças

comunitárias locais.

A princípio com a intenção de garantir a segurança contra traficantes,

os milicianos passaram a intimidar e extorquir moradores e comerciantes,

cobrando taxa de proteção. Através do controle armado, esses grupos tam-

bém controlam o fornecimento de muitos serviços aos moradores. São ativi-

dades como o transporte alternativo (que serve aos bairros da periferia), a

distribuição de gás, a instalação de ligações clandestinas de TV a cabo.

Segundo o Núcleo de Pesquisas das Violências da Uerj, até a opera-

ção no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, no final de novembro de

2010, as milícias dominavam 41,5% das 1.006 favelas do Rio de Janeiro

(contra 55,9% por traficantes, e 2,6% pelas Unidades de Polícia Pacificado-

ra).

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Questões de vestibular1. (Uerj 2002) FAVELANuma vasta extensão / onde não há plantação / nem ninguém morando lá. / Cada umpobre que passa por ali / só pensa em construir seu lar. / E quando o primeiro começa/ os outros, depressa, procuram marcar / seu pedacinho de terra pra morar. / E assima região sofre modificação, / fica sendo chamada de nova aquarela. / É aí que o lugarentão passa a se chamar / Favela ("Padeirinho" - Jorginho)

As primeiras favelas do Rio de Janeiro surgiram, provavelmente, ao final doséculo XIX nos morros Favela - atual Providência - e Santo Antônio, numa época de in-tenso crescimento populacional e significativas modificações urbanas.

O conhecimento histórico desse processo e as observações feitas pelos autores dacanção permitem afirmar que o surgimento das favelas, no Rio de Janeiro, está ligadoà conjugação dos seguintes fatores: a) expansão espacial da cidade e disputa pela ocupação do solo b) política estatal de habitação popular e crescimento da área metropolitana c) decadência agrícola fluminense e competição entre áreas de especialização produti-

va d) momento de imigração estrangeira e atração de novos trabalhadores para a indús-

tria

2.(Uerj 2002) Com base nas afirmativas abaixo, responda à(s) questão(ões) a seguir"A África é aqui. E a Europa também" "Da Lagoa a Acari, abismo de um sécu-lo." (Retratos do Rio - estudo sobre o Índice de Desenvolvimento Humano. O Globo, 24/03/2001.)

As diferenças internas da metrópole carioca estão apoiadas principalmente nadisparidade encontrada em:

a) indicadores sociais b) relações de trabalho c) composições étnicas d) organizações políticas

3.

No texto, o colunista expõe argumentos que procuram explicar as elevadas estatísticas associadas à ocorrência de crimes no Brasil. Dentre as medidas apresenta-das abaixo, todas com o objetivo de reduzir as taxas de criminalidade brasileiras, a única que pode ser justificada por tais argumentos é:A.a duplicação das vagas nos presídios brasileiros, que enfrentam crises de superlota-

ção.B.a melhoria do sistema de educação público, de modo a equipará-lo com o privado.C.a redução da maioridade penal, que atualmente é de 18 anos, para os 16 anos.

22/07/2019 Relatos do Front na Maré - CEASM -

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E.a utilização de técnicas científicas avançadas e novas tecnologias nas investigações policiais.

4. Em 2017, houve uma série de rebeliões de detentos em Roraima, em Minas Gerais, em Santa Catarina, no Amazonas, no Paraná e no Rio Grande do Norte. Essas ocorrên-cias demonstram a séria crise do sistema prisional brasileiro. A respeito desse assunto,julgue os itens a seguir.I A população carcerária brasileira é composta em sua totalidade por detentos que

cumprem penas já sentenciadas pela justiça.II Um dos problemas dos presídios brasileiros é a superlotação, resultante de políticas

de segurança ineficazes e da falta de celeridade da justiça.III As referidas rebeliões ocorreram devido às precárias condições e falhas do sistema

carcerário, não guardando relação com disputas entre grupos do crime organizado de outras regiões do país.

IV Para assegurar o controle do sistema carcerário, a privatização ou terceirização dospresídios tem sido apresentada como opção para solucionar a atual crise desse sis-tema.

Estão certos apenas os itensA.I e III. B.II e IV. C.III e IV. D.I, II e III. E.I, II e IV.

5.

A.nos últimos 30 anos, a violência progredia linearmente no Brasil ano a ano.B.está aumentando o número de mortes na população geral por armas de fogo.C.as crianças são as maiores vítimas de armas de fogo no Brasil nas últimas três déca-

das.D.no período da ditadura militar, matava-se mais por arma de fogo do que nos dias

atuais.

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E.o número de jovens assassinados por armas de fogo é superior às demais faixas etá-rias.

6 - FGV 2014Mais do que um problema relacionado à raça, o homicídio no Brasil sempre se caracte-rizou por ser um tipo de crime vinculado ao território. Nas últimas décadas, as princi-pais vítimas e autores de assassinatos foram homens, jovens, moradores de bairroscom pouca infraestrutura urbana dos grandes centros metropolitanos. Eles mataram emorreram por viverem em locais com grande quantidade de armas, marcados pela de-sordem. São territórios com frágil presença policial, vulneráveis à ação daqueles queestão dispostos a tentar exercer o domínio pela violência.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,homicidio-e-um-crime-territorial-e-nao-esta-vinculado-a-racas, 531604,0.htm. Acesso em15/01/2014.

A afirmação que é coerente com a situação da violência homicida no Brasil e com o texto acima, de autoria do jornalista Bruno Paes Manso, é:A - Nos grandes centros metropolitanos, a violência homicida afeta indistintamente a

população negra e branca, já que se trata apenas de um problema geográfico e nãoracial.

B- A presença policial, mesmo que frágil, garante a redução da violência homicida, já que impõe ordem aos territórios violentos e com pouca infraestrutura urbana.

C - Territórios segregados e desintegrados do conjunto da cidade, habitados normal-mente por populações de baixa renda, são ambientes onde as pessoas são mais suscetíveis ao risco da violência homicida.

D - Embora sua influência deva ser considerada, a ausência de infraestrutura urbana não pode ter sua importância sobrevalorizada quando a questão é o número de ho-micídios, porque esses dependem mais de outras causas.

E - A violência homicida é um crime vinculado ao território, portanto, não pode ser combatida por meio de políticas públicas de segurança ou de planejamento urbano.

7 - FGV-RJ 2016I. Os adolescentes são muito mais vítimas do que autores de crimes, o que contribui

para a queda da expectativa de vida no Brasil, pois se existe um "risco Brasil" este reside na violência da periferia das grandes e médias cidades. Dado impressionante é o de que 65% dos infratores vivem em família desorganizada, junto com a mãe abandonada pelo marido, que por vezes tem filhos de outras uniões também desfei-tas e luta para dar sobrevivência à sua prole.

Adaptado de REALE, M. J. Instituições de Direito Penal.Rio de Janeiro: Editora Forense, 2009, p. 212.

II. A maioridade penal deve ser reduzida, pois assim os menores de 18 deixariam de ser usados para a execução de crimes, como ocorre constantemente no Brasil, o que diminuiria a criminalidade. Devemos considerar que o jovem dos dias atuais amadurece precocemente, devido às informações, às tecnologias e a todos os apa-ratos desenvolvidos para melhor adaptação do homem ao mundo. Assim, a legisla-

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ção deveria se adequar a esse novo comportamento dos jovens, que é completa-mente diferente da época em que o Código Penal foi criado, em 1940.

Adaptado de http://www.webartigos.com/artigos/proposta-de-reducaoda-maioridade-penal/56734/#ixzz3fhDuOaJb.

A respeito dos argumentos sobre a redução da maioridade penal, as-sinale a afirmação corretaA - Ambos os fragmentos afirmam que a punição pura e simples, com penas a serem

adotadas e impostas aos menores, não gera a diminuição da violência no Brasil.B - O fragmento I relaciona a violência praticada por menores com as precárias condi-

ções sociais e familiares dos moradores de áreas periféricas do Brasil.C - Os fragmentos I e II discutem os aspectos jurídicos inerentes ao estabelecimento

da idade mínima a partir da qual uma pessoa responde pela violação da lei penal, na condição de adulto.

D - O fragmento II condena a redução da maioridade penal como um recurso que au-mentaria o aliciamento de jovens pelo crime organizado.

E - Tanto o fragmento I quanto o II consideram a mudança do conceito de “criança” e de “adolescente” ao longo do tempo como elemento que legitima a atualização do Código Penal brasileiro.

8 - UNESP(Meio de ano) 2015Analise as charges

As charges permitem que se faça uma abordagem ao mesmo tempo crítica e irônica dos meios de comunicação de massa e da vida nas cidades no período atual. Dentre os assuntos que podem ser diretamente associados aos problemas abordados pelas charges estão:A - o cumprimento pelos meios de comunicação de seu papel de noticiar o real cotidia-

no das cidades e o fortalecimento da segurança pública em detrimento da privada.B - o papel da mídia na propagação da sensação de insegurança junto à população e o

surgimento de atividades, produtos e serviços vinculados à segurança privada.C - a influência restrita dos meios de comunicação sobre o cotidiano das cidades e a

produção de um novo urbanismo expresso na valorização dos espaços públicos.D - a influência passiva da mídia sobre o comportamento e a vida das pessoas nas ci-

dades e a regressão de produtos, serviços e atividades ligadas à segurança privada.

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E - a difusão de informações sensacionalistas pela mídia e a intensificação da convi-vência entre pessoas na cidade.

9. ENEM 2012TEXTO I

O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminali-dade, que está presente em todos os redutos — seja nas áreas abandonadas pelo po-der público, seja na política ou no futebol. O brasileiro não é mais violento do que ou-tros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhecimento da cidadania e a au-sência do Estado em vários territórios do país se impõem como um caldo de cultura noqual a agressividade e a violência fincam suas raízes.

Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ. Edição 2099; 3 fev. 2010.

TEXTO IINenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsões e emoções do

indivíduo, sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e to-das as limitações são convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal como descritono Texto II, o argumento do Texto I acerca da violência e agressividade na sociedade brasileira expressa a

A - incompatibilidade entre os modos democráticos de convívio social e a presença de aparatos de controle policial.

B - manutenção de práticas repressivas herdadas dos períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos administrativos.

C - inabilidade das forças militares em conter a violência decorrente das ondas migra-tórias nas grandes cidades brasileiras.

D - dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucionalizar formas de controlesocial compatíveis com valores democráticos.

E - incapacidade das instituições político-legislativas em formular mecanismos de con-trole social específicos à realidade social brasileira.

10. ENEM(Segunda aplicação) 2016A favela é vista como um lugar sem ordem, capaz de ameaçar os que nela

não se incluem. Atribuir-lhe a ideia de perigo é o mesmo que reafirmar os valores e estruturas da sociedade que busca viver diferentemente do que se considera viver na favela. Alguns oficiantes do direito, ao defenderem ou acusarem réus moradores de fa-velas, usam em seus discursos representações previamente formuladas pela sociedadee incorporadas nesse campo profissional. Suas falas se fundamentam nas representa-ções inventadas a respeito da favela e que acabam por marcar a identidade dos indiví-duos que nela residem.

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RINALDI, A. Marginais, delinquentes e vítimas: um estudo sobre a representação da categoria favelado no tribunal do júri da cidade do Rio

de Janeiro. In: ZALUAR, A.; ALVITO, M. (Orgs.).Um século de favela. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998.

O estigma apontado no texto tem como consequência o(a)

A - aumento da impunidade criminal.B - enfraquecimento dos direitos civis.C - distorção na representação política.D - crescimento dos índices de criminalidade.E - ineficiência das medidas socioeducativas.

11. UENP 2010“O mapa da violência no Brasil, segundo umestudo divulgado ontem e elabo-rado pela Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, a Ciên-cia e a Cultura (OEI), mostra que não existe uma correlação estatística entremais pobreza e mais violência, ou menos pobreza e menos violência. Está er-rado o diagnóstico de que, estatisticamente, os jovens que cometem atos vio-lentos o fazem por falta de comida, por falta de vagas nas escolas ou por faltade condições básicas de existência. Causas sociais influenciam mas não são adeterminação da violência como alguns querem fazer acreditar. Nas regiõesmais pobres do Brasil (semiárido nordestino, Vale do Jequitinhonha) há rela-tivamente menos violência do que nas áreas metropolitanas, na fronteiraagrícola do norte e do centro-oeste e na fronteira com o Paraguai e a Bolívia.”(In:http://polimidia.wordpress.com/2007/02/28/pobreza-nao-e-a-determinacao-da-criminalidade-indicaestudo/ pu-

blicado em 28 de fevereiro de 2007)

De acordo com o texto acima é incorreto afirmar que:A - O nível de desigualdade social é uma das poucas causas da criminalidade que po-

dem ser quantificadas.B - Não é a pobreza absoluta que causa a violência, mas a pobreza relativa, quando

um tem mais do que o outro.C - Quando a pessoa se pergunta qual a melhor forma de resolver o problema da falta

de mobilidade social, a única resposta que encontra é a criminalidade.D - Quando há riqueza e opulência convivendo com a miséria, aumenta o sentimento

de privação do indivíduo, levando-o à violência.E - Os países africanos são estatisticamente mais violentos que o Brasil, tendo em vis-

ta que são mais pobres.

12. ENEM 2010“Pecado nefando” era expressão correntemente utilizada pelos inquisidores para a so-domia. Nefandus: o que não pode ser dito. A Assembleia de clérigos reunida em Sal-vador, em 1707, considerou a sodomia “tão péssimo e horrendo crime”, tão contrário à lei da natureza, que “era indigno de ser nomeado” e, por isso mesmo, nefando.

NOVAIS, F.; MELLO E SOUZA L. História da vida privada no Brasil. V. 1. São Paulo: Companhia das Letras. 1997 (adaptado).

O número de homossexuais assassinados no Brasil bateu o recorde histórico em 2009. De acordo com o Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais (LGBT –

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Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis), nesse ano foram registrados 195 mortos por motivação homofóbica no País.

Disponível em: www.alemdanoticia.com.br/utimas_noticias.php?codnoticia=3871. Acesso em: 29 abr. 2010 (adaptado).

A homofobia é a rejeição e menosprezo à orientação sexual do outro e, muitas vezes, expressa-se sob a forma de comportamentos violentos. Os textos indicam que as condenações públicas, perseguições e assassinatos de homossexuais no país estão associadasA - à baixa representatividade polítíca de grupos organizados que defendem os direitos

de cidadania dos homossexuais.B - à falência da democracia no país, que torna impeditiva a divulgação de estatísticas

relacionadas à violência contra homossexuais.C - à Constituição de 1988, que exclui do tecido social os homossexuais, além de im-

pedi-los de exercer seus direitos políticos.D - a um passado histórico marcado pela demonização do corpo e por formas recor-

rentes de tabus e intolerância.E - a uma política eugênica desenvolvida pelo Estado, justificada a partir dos posicio-

namentos de correntes filosófico-científicas.

13. Prova: FGV - 2010 - PC-AP - Delegado de PolíciaO oferecimento da substância entorpecente Cannabis sativa L. (popu-

larmente conhecida como maconha) a outrem sem objetivo de lucro e para consumo conjunto constitui o seguinte crime:A - posse de drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou re-

gulamentar para consumo pessoal (art. 28, da Lei 11.343/2006), punido com penasde advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de compa-recimento a programa ou curso educativo.

B - conduta equiparada ao crime de tráfico de drogas (art. 33, §3º, da Lei 11.343/2006) punido com pena de detenção seis meses a um ano, pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas de advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de compareci-mento a programa ou curso educativo.

C - cultivo de plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica para uso pessoal (art. 28, §1º, da Lei 11.343/2006) punido com penas de advertência, prestação de servi-ços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.tráfico de drogas (art. 33, da Lei 11.343/2006), punido com pena de re-clusão de cinco a quinze anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui-nhentos) dias-multa.

D - posse de drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou re-gulamentar para consumo pessoal (art. 28, da Lei 11.343/2006), punido com penasde detenção de seis meses a dois anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

14 - A carreira do crime

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Estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz sobre adolescentesrecrutados pelo tráfico de drogas nas favelas cariocas expõe as bases sociais dessasquadrilhas, contribuindo para explicar as dificuldades que o Estado enfrenta no comba-te ao crime organizado.

O tráfico oferece ao jovem de escolaridade precária (nenhum dos entrevista-dos havia completado o ensino fundamental) um plano de carreira bem estruturado,com salários que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000 mensais. Para uma base de com-paração, convém notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da população bra-sileira com mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha nomáximo o ‘piso salarial’ oferecido pelo crime. Dos traficantes ouvidos pela pesquisa,25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; já na população brasileira essa taxa não ul-trapassa 6%.

Tais rendimentos mostram que as políticas sociais compensatórias, como oBolsa-Escola (que paga R$ 15 mensais por aluno matriculado), são por si só incapazesde impedir que o narcotráfico continue aliciando crianças provenientes de estratos debaixa renda: tais políticas aliviam um pouco o orçamento familiar e incentivam os paisa manterem os filhos estudando, o que de modo algum impossibilita a opção pela deli-quência. No mesmo sentido, os programas voltados aos jovens vulneráveis ao crimeorganizado (circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de futebol) são importantes,mas não resolvem o problema.

A única maneira de reduzir a atração exercida pelo tráfico é a repressão, queaumenta os riscos para os que escolhem esse caminho. Os rendimentos pagos aosadolescentes provam isso: eles são elevados precisamente porque a possibilidade deser preso não é desprezível. É preciso que o Executivo federal e os estaduais desmon-tem as organizações paralelas erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de puni-ção elimine o fascínio dos salários do crime. Editorial. Folha de São Paulo. 15 jan. 2003.

No Editorial, o autor defende a tese de que “as políticas sociais que procuram evitar a entrada dos jovens compensatória que aquela oferecida pelos programas do governo”. Para comprovar sua tese, o autor apresentaA - instituic ̧ões que divulgam o crescimento de jovens no crime organizado.B - sugestões que ajudam a reduzir a atrac ̧ão exercida pelo crime organizado.C - políticas sociais que impedem o aliciamento de crianc ̧as no crime organizado.D - pesquisadores que se preocupam com os jovens envolvidos no crime organizado.E - números que comparam os valores pagos entre os programas de governo e o cri-

me organizado.

15 - “O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afir-mou nesta quinta-feira (25), após a megaoperação que tomou a favela da Vila Cruzei-ro, na zona norte da capital, que o objetivo central das ações da polícia no Estado é ode tirar território do tráfico.

'Essas ações estão sendo feitas com o objetivo de garantir a continuidade doque está sendo feito. Foi tirado dessas pessoas o que nunca foi tirado, o território. Seuporto seguro. Eles faziam suas barbaridades e corriam para seu reduto, protegidos por22/07/2019 Relatos do Front na Maré - CEASM -

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armas de guerra. É importante prender, mas é mais importante tirar o território', disseBeltrame. 'Se não tirar o território, não se avança' (...)”.

(D'AGOSTINO, R. Objetivo é tirar território do tráfico, diz secretário de Segurança do Rio. São Paulo: Uol Notícias, 25/11/2010. Disponívelem: <http://noticias.uol.com.br>).

Os espaços dominados pelo tráfico, conforme observamos na notícia acima,

constituem-se a partir da expressão de suas territorialidades. Podemos concluir que a

existência desses territórios é garantida por esses grupos

a) por uma relação de poder e domínio.

b) a partir de uma posição de intimidação moral.

c) pelo status do traficante no contexto do crime organizado.

d) pela identificação da população local com os grupos criminosos.

e) com base na sensação de pertencimento entre o indivíduo e o seu lugar.

16 - ENEM 2011 QUESTÃO 108

Conceitos e importância das lutas Antes de se tornarem esporte, as lutas ou

as artes marciais tiveram duas conotações principais: eram praticadas com o objetivo

guerreiro ou tinham um apelo filosófico como concepção de vida bastante significativo.

Atualmente, nos deparamos com a grande expansão das artes marciais em nível mun-

dial. As raízes orientais foram se disseminando, ora pela necessidade de luta pela so-

brevivência ou para a “defesa pessoal”, ora pela possibilidade de ter as artes marciais

como própria filosofia de vida.

CARREIRO, E. A. Educação Física na escola: Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008 (fragmento).

Um dos problemas da violência que está presente principalmente nos

grandes centros urbanos são as brigas e os enfrentamentos de torcidas orga-

nizadas, além da formação de gangues, que se apropriam de gestos das lutas,

resultando, muitas vezes, em fatalidades. Portanto, o verdadeiro objetivo da

aprendizagem desses movimentos foi mal compreendido, afinal as lutas

A - se tornaram um esporte, mas eram praticadas com o objetivo guerreiro a fim de

garantir a sobrevivência.

B - apresentam a possibilidade de desenvolver o autocontrole, o respeito ao outro e a

formação do caráter.

C - possuem como objetivo principal a “defesa pessoal” por meio de golpes agressivos

sobre o adversário.

D - sofreram transformações em seus princípios filosóficos em razão de sua dissemina-

ção pelo mundo.

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E - se disseminaram pela necessidade de luta pela sobrevivência ou como filosofia

pessoal de vida.

17 - Analise a charge abaixo para responder à questão:

A charge de Duke utiliza as linguagens verbal e não verbal para tecer uma crítica soci-al e política. Disponível em http://dukechargista.com.br/

As charges utilizam os recursos do desenho e do humor para tecer algum tipode crítica a diversas situações do cotidiano. Sobre a charge do chargista Duke, analise as seguintes afirmações e julgue aquelas que são verdadeiras:I. Através da expressão do torcedor, podemos notar que ele se encontra entusiasmado

com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil;II. Através da gradação na mudança de expressão do torcedor, podemos perceber que

ele possui uma visão crítica sobre a realização da Copa no Brasil;III. Não podemos afirmar que exista qualquer tipo de comentário crítico nas entreli-

nhas da charge, pois essa tem apenas a função de divertir o leitor;IV. Podemos inferir que o entusiamo inicial pela realização dos jogos no Brasil foi

substituído por uma postura pessimista por parte da personagem retratada.São verdadeiras:a) I e III. b) I, IV e III. c) II e IV. d) I, II e IV.

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ANOTAÇÕES

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Eu quero terra, fogo, pão, açúcar, farinha, mar, livros, pátria para todos, por isso andoerrante Pablo Neruda

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