materiais cerâmicos – ciência e aplicação como biomateriais · processamento de cerâmicas...
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Sumário
IntroduçãoProcessamento de materiais cerâmicosPropriedades mecânicasCerâmicas utilizadas como biomateriais
IntroduçãoA característica comum a estes materiais é serem constituídos de elementos metálicos e elementos não metálicos, ligados por ligações de caráter misto, iônico-covalente .Os materiais cerâmicos apresentam alto ponto de fusão.São geralmente isolantes elétricos, embora possam existir materiais cerâmicos semicondutoras, condutores e até mesmo supercondutores (estes dois últimos, em faixas específicas de temperatura).São comumente estáveis sob condições ambientais severas.Os materiais cerâmicos são geralmente duros e frágeis.Os principais materiais cerâmicos são:
Materiais Cerâmicos Tradicionais : cerâmicas estruturais, louças, refratários (provenientes de matérias primas argilosas).Vidros e Vitro-Cerâmicas.Abrasivos.Cimentos.Cerâmicas “Avançadas” : aplicações eletro-eletrônicas, térmicas, mecânicas, ópticas, químicas, bio-médicas.
Classificação
ConvencionaisEstruturais
Vidros
Louças
Cimentos
AvançadasEletrônicos
Ópticos
Biomateriais
Introdução
ÓculosFibra óptica para biosensores e endoscópiosSuportes porosos para biomoléculasCerâmicas usadas em odontologia, para dentaduras e coroasImplantesGeralmente utilizados para reparo em tecidos conectivos duros do esqueleto
Processamento de Cerâmicas - Vidros
vidrofundido
molde
arcomprimido
placa de vidro
queimadorvidro
fundido
Processamento de CerâmicasMuitos materiais cerâmicos têm elevado ponto de fusão e apresentam
dificuldade de conformação passando pelo estado líquido. A plasticidade necessária para sua moldagem é conseguida antes da
queima, por meio de mistura das matérias primas em pó com um líquido.
PROCESSAMENTO
Preparação da matéria prima em pó.Mistura do pó com um líquido (geralmente água) para formar um material conformável : suspensão de alta fluidez (“barbotina”) ou massa plástica.Conformação da mistura (existem diferentes processos).Secagem das peças conformadas.Queima das peças após secagem.Acabamento final (quando necessário).
Secagem de Peças Cerâmicas
Na secagem ocorre perda de massa e retração pela remoção gradativa de umidade.A peça seca pode passar por uma etapa de acabamento:
acabamento superficial e montagem das peças (por exemplo, asas das xícaras).aplicação de esmaltes ou vidrados.
Queima das Peças
As peças são queimadas geralmente entre 900oC e 1400oC. Esta temperatura depende da composição da peça e das propriedades desejadas. Durante a queima ocorre um aumento da densidade e da resistência mecânica devido à combinação de diversos fatores.Na queima ocorrem os seguintes fenômenos:
Eliminação do material orgânico (dispersantes, ligantes, material orgânico nas argilas)decomposição e formação de novas fases de acordo com o diagrama de fases (formação de alumina, mulita e vidro a partir das argilas)Sinterização (eliminação da porosidade e densificação)
Comportamento Mecânico de Cerâmicas
Apresentam maior módulo de elasticidade (ligações químicas mais fortes)Baixas densidadesDurosBaixa ductibilidade (em geral frágeis)
As cerâmicas apresentam intrinsicamente uma enorme resistência ao movimento das discordâncias
Deformação plástica em cerâmicasCerâmicas Cristalinas:
O deslocamento de discordâncias é muito difícil – íons com mesma carga elétrica são colocados próximos uns dos outros – REPULSÂO;
No caso de cerâmicas onde a ligação covalente predomina o escorregamento também é difícil – LIGAÇÃO FORTE.
Cerâmicas Amorfas:Não há uma estrutura cristalina regular – NÃO HÁ DISCORDÂNCIAS;Materiais se deformam por ESCOAMENTO VISCOSO.A resistência à deformação em um material não-cristalino é medida por
intermédio de sua viscosidade.
Comportamento Mecânico de Cerâmicas
Materiais essencialmente frágeis e apresentam fratura frágilResistência de cerâmicas é definida em termos da resistência à fraturaResistência à fratura teórica pode ser definida como a tensão necessária para quebrar as ligações atômicasO valor teórico é muito maior que o medido experimentalmente → presença de defeitos
Comportamento tensão-deformação
Não é avaliado por ensaio de tração:É difícil preparar e testar amostras que possuam a geometria exigida;É difícil prender e segurar materiais frágeis;As cerâmicas falham após uma deformação de apenas 0,1%, o que exige que os corpos de prova estejam perfeitamente alinhados.
Comportamento elástico
0.00100.00080.00060.00040.00020.00000
100
200
300
Bending Strain
Ben
ding
Str
ess,
MPa
Aluminum Oxide
Soda-Lime Glass
Comportamento Mecânico de Cerâmica
Segundo a Teoria de Griffith – a fratura ocorre devido à concentração de tensões na ponta de trincas ou outros defeitos
Metais – a deformação plástica na ponta da trinca age no sentido de diminuir o efeito de intensificação de tensõesCerâmicas – quando a tensão na ponta da trinca atinge um valor crítico, ela continua a propagar-se
Tenacidade a Fratura
Modelo de Griffith:Todos os materiais contêm trincas ou defeitos.Kc ou KIC tenacidade à fratura (MN m-3/2)A falha ocorre quando K excede o valor crítico do material Gc tenacidade (ás vezes, taxa de liberação de energia de deformação crítica) (kJ m-2)
cc EGaK == πσ
Tenacidade a fratura indica a facilidade com que uma trinca se propaga num dado material
Tenacidade a Fratura
Obtenção de cerâmicas de tamanho de grão expecionalmente finos e de alta densidade;Introdução de tensões residuais de compressão na superfície dos materiais onde as trincas têm maior probabilidade de se iniciar – vidro temperadoEnvolvimento de partículas cerâmicas com uma fase mais tenazDesenvolvimento de compósitos de matriz cerâmica com partículas ou fibras cerâmicas dispersasAumento de tenacidade por transformação de fase –cerâmicas a base de zircônia
Cerâmicas usadas na medicina
Elevada estabilidade química, biocompatibilidade melhor do que os metais e excelentes propriedades tribológicasUtilizados normalmente para reparo e substituição dos tecidos conectivos duros
Interação do biomaterial
Resposta dos tecidos aos implantesReabsorvíveis: o material dissolve ou édecomposto, o tecido vizinho o substitui – Ex: fosfato de tricálcio e os vidros bioativosInertes: Formação de cápsulas fibrosas em torno do implante – Ex: óxidos de Al, Ti, ZrBioativo: Formação de ligação interfacial – Ex.: Hidroxiapatita
Biocerâmicos – Fixação aos tecidos
Denso (não poroso) e inerte: osso cresce nas irregularidades da superfície, ajuste sob pressão no defeito ou cimentação - fixação morfológica
Movimento relativo entre o material e a cápsula - causam falhaPoroso e inerte: tecido cresce intenamente aos poros do material (fixação biológica)
Mais estável, estruturalmente fraco (rachaduras de corrosão), melhores como revestimento,
Denso, não poroso e com superfície reativa: ligação química ao osso (fixação bioativa)
Superfície ativa, biovidros, HA, e compósitosDensos, não porosos e reabsorvíveis: substituição lenta pelo osso
Taxa de reabsorção, metabólicos (fosfato tricálcico)
Cerâmicas Inertes
Nenhum material é realmente inerte – quase inertesNão são solúveis no meio fisiológico –estáveis com o tempoFixação através de ancoramento mecânico
Uma cápsula fina de tecido fibroso se forma em torno do implanteAlumina, Zircônio e materiais a base de carbono
Alumina
Pode ser utilizada na forma densa ou porosaα-Al2O3 policristalina, produzida por prensagem e sinterização em torno de 1600ºCUtilizada principalmente em ponto de apoio de carga em próteses de quadril e implantes dentais resistência à corrosão, boa
biocompatibilidade, alta resistência à abrasão e alta resistência mecânica à compressão
Propriedades da Alumina
Propriedade Valor% Al2O3 ≥ 99,50 % SiO2 + Na2O < 0,1 Densidade (g/cm3) ≥ 3,90 Tamanho médio de grão (μm) < 7 Dureza Vickers (HV) > 2.000 Módulo de ruptura à flexão (MPa) >400
Alumina
Quando utilizadas em prótese de quadril devem ser polidas conjuntamente (esfera e acetápulo) para permitir um elevado grau de esfericidade e baixo grau de fricção entre as duas superfíciesO coeficiente de fricção das superfícies alumina-alumina tende a diminuir com tempo – se aproximando de valores próximo aos de articulação normalOcorre adsorção de moléculas biológicas
Zircônia – ZrO2
Possui maior tenacidade à fratura, maior resistência mecânica à flexão e menor módulo de elasticidadeTipos de Zircônia para implantes:
Zircônia tetragonal estabilizada com ítria (TZP)Zircônia parcialmente estabilizada com magnésia (Mg-PSZ)
Propriedades
875Tenacidade à fratura (MN/m3/2)
208150400Módulo de elasticidade(MPa)
1.8502.0004.250Resist. à Compressão(MPa)
8001.000595Resist. Flexão (MPa)
Mg-PSZTZPAl2O3Propriedade
Zircônia
Poderia ser um candidato para substituição da Alumina onde o material seja submetido a cargas e abrasão, mas:
Possível redução da resistência dos material quando submetido a meios fisiológicosDesgaste mais acentuado quando em meio fisiológicosRadioatividade do material – presença de impurezas radioativas
Carbono
Três tipos de carbonos são utilizados em equipamentos médicos:
Carbono pirolítico (contém 20% de sílica)Carbono vítreoCarbono depositado por vapor
Em contraste com o grafite têm empilhamento desordenado, não havendo orientação preferencial dos cristalitosAlta resistência a tração e deformações em baixos valores de tensões
Carbono Pirolítico
é obtido através da deposição de carbono, a partir de um leito fluidizado, em um substrato. O leito fluidizado é formado a partir da pirólisede gás hidrocarbônico em temperaturas na faixa de 1000-2500°CProduz uma camada de até 1mm de espessura sobre o substrato
Carbono Vítreo
Aparência negra e brilhante Material cristalino com reduzido tamanho de grãoObtido pelo aquecimento controlado de corpos poliméricos, permitindo a saída de materiais voláteis
Carbono depositado por vapor
Evaporação de átomos de carbono de uma fonte de carbono aquecida, condensada sobre um substrato cerâmico, metálico ou poliméricoEspessura do recobrimento – cerca de 1μmNão modifica a topografia ou as propriedades do substrato e ainda confere biocompatibilidade ao material
Propriedades Mecânicas
É possível a obtenção de materiais com baixo módulo de elasticidade (20GPa) e alta resistência mecânica (275 a 620MPa)Deformações ~ 2% sem ocorrer fratura do materialExtremamente tenazes (carbono pirolítico -5,5MJ/m3; Alumina - 0,18MJ/m3)Deformação de fratura do carbono depositado a vapor é superior a 5,0%Alta resistência ao desgaste
Aplicação
Próteses, sendo que, no caso do carbono pirolítico, é muito comum a utilização em válvulas cardíacas e camadas cardiovasculares.
Propriedades que tornam este material apropriado para este uso incluem boa resistência, durabilidade e, mais importante, “trombo-resistência”, ou habilidade de suportar coagulação sangüínea
Carbono pirolítico também é utilizado em pequenas juntas ortopédicas como dedos e inserções espinhais
Cerâmicas Bioativas
Material capaz de ligar-se ao tecido ósseoFormação de uma camada de hidroxiapatitacarbonatada (HCA) na superfície do implante → fase equivalente em composição e estrutura à fase mineral do ossoPrincipalmente na recuperação ou substituição de ossos
Vidros biotaivosVitrocerâmicosCerâmicas de fosfato de cálcio
Vidros
O vidro projetado para provocar uma específica resposta biológica através de reações controladas de superfícieComposição: CaO, P2O5 e Na2O SiO2 (Bioglass)Possibilita a ligação do tecido ósseo por meio da deposição de uma camada HCA
Vidros
Seqüência de reações:Perda de sílica solúvel e formação de silanol (Si-OH);Policondensação de grupos silanol para formar um gel de sílica hidratadaFormação de uma camada de fosfato de cálcio amorfaCristalização de uma camada de HCA
Composição – altamente reativaSiO2 menos de 60%Na2O e CaO em níveis elevadosCaO/P2O5 Relação elevada
Vidros
Podem ser obtidos pelo método convencional de fusão e resfriamento rápido ou pelo método sol-gel
Temperaturas mais baixasControle da estrutura de poros do gel, de acordo com a biotividade e biodegradabilidade desejadaAté 100% SiO2 – ampla área superficial e grande concentração de grupos silanol
Vidros
Vidros
Dois métodos sol-gel:Transformação de suspensões coloidais em gelHidrólise e condensação controlada de percursores de alcóxidos metálicos
Criação de uma rede tridimensional, interconectada, denominada gel, a partir de
uma suspensão de partículas pequenas, colidais (partículas menores que 100nm),
chamada sol
Vitrocerâmicos – vidro contendo fases cristalinas numa matriz vítrea por meio de tratamentos térmicosCeravital® - inicialmente aplicações em locaissolicitados por cargas, substituição de ossosou dentes → baixas propriedades mecânicasMica ou wolastonita – usinadas facilmentepor meio de ferramentas diamantadasmelhores propriedades mecânicas
Vitrocerâmicas bioativas
Fosfatos de cálcio
Utilizado na substituição do tecido ósseo ocorre em conseqüência da identidade em termos de composiçãoFavorece a interação tecido vivo e o materialClassificação – razão molar Ca/P
Hidroxiapatita
Principais aplicações:Reparo de defeitos ósseos em aplicações odontológicas e ortopédicas;Aumento de rebordo alveolar;Coadjuvante na colocação de implantes metálicos;Regeneração guiada de tecidos ósseos;Equipamentos percutâneos;Reparo e substituição de paredes ósseas;Substituição do globo ocular;Reconstrução bucomaxilofacial;Recobrimento de implantes metálicos.
Cimentos de fosfato de cálcio
O cimento ósseo é colocado nos espaços vazios entre o implante e a superfície óssea endosteal, endurecendo em pouco tempo e assegurando a firme colocação da protésePrincipais vantagens:
Não é necessário dar forma à cavidade;Preparação realizada durante a cirurgia;Ótimo contato entre osso e implante;Biocompatibilidade e bioatividade.
Utilizado na forma de pó com composição e granulometria controladas – implantado na região lesada do tecido ósseo → função principal é preencher o espaço e participar do processo de regeneração natural do tecidoutilizadas na forma de implantes e próteses → alto módulo de elasticidade e baixa tenacidade a fratura
Formas de Uso e aplicações clínicas
Combinação com outros materiais de forma a melhorar o comportamento mecânico, mantendo as características bioativas
Recobrimento de peças metálicasCombinação de partículas ou fibras com um material polimérico
Formas de Uso e aplicações clínicas
Cerâmicas Porosas
Dá suporte à parte fisiologicamente ativa no reparo do tecido naturalPoros interconectados com tamanho suficiente para que possa hospedar componentes celulares e extracelulares dos ossos →crescimento do tecido
Fixação biológica Fixação bioativa