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28 NA LAND ART AS INTERVENçõES SE CONFIGURAM NA RELAçãO DO ARTISTA COM A PAISAGEM E SEUS RECURSOS I ntervir na natureza tendo como instrumentos seus próprios recursos, entre eles folhas, galhos, pedras, frutas, areia, e formar a partir dela o seu trabalho. Em resumo é essa a ideia seguida pelos artistas que desenvolvem suas criações em Land Art (ou Earth Art/Earthwork). Realizadas em locais como desertos, montanhas, cânions e planícies, as obras podem ser pequenas e se perder na imensidão do ambiente ou ser tão vastas quanto o espaço em que se inserem. “A Land Art originou-se na década de 1960 com a propos- ta de recriar e remodelar a paisagem”, explica a ilustradora e artista visual Laís Bicudo. “De modo geral, fundamenta-se nas práticas experimentais que têm como elemento essencial a estreita relação entre homem, paisagem, sítios naturais e principal- mente a ruptura com os espaços institucionais.” RELAçãO COM O COTIDIANO Pensar o espaço e a intervenção nos lugares é um dos pontos estimulantes para os realizadores desse tipo de intervenção. Para Marcelo Moscheta, artista visual e vencedor do Prêmio Pipa (Prêmio Investidor Profissional de Arte) em 2010, o objetivo é procurar os lugares mais inóspitos e fazer uma transposição desse material para o espaço museológico. Os artis- tas que se aventuram nessa prática também se mos- tram dispostos a viajar e a experimentar as diferen- tes paisagens. É o caso de Moscheta, que já esteve em regiões tão distintas quanto o Polo Norte, o Deserto do Atacama e o Uruguai. “O objetivo é realizar uma mistura de observação científica e ficcional, Land Art e práticas orientadas pelo lugar”, diz. Laís acrescenta que, atualmente, criadores – como Moscheta – levam características específi- cas da Land Art para suas obras: “É uma propos- ta de trabalho com a natureza, com experiências de deslocamento e experiência frente ao mun- do”. Em outras situações, o processo artístico é similar ao fazer arqueológico, questionando, principalmente, as fronteiras de um território. Outra característica desse tipo de trabalho é alternar expressões manuais – desenho, pin- tura, gravura, escultura – com os recursos das mídias de vídeo e fotografia. No entanto, é pre- ciso ter um bom planejamento, já que cada ma- terial exige um modo de trabalho. “Acho que as mídias oferecem suporte para o ato principal”, opina Moscheta, que está compondo uma insta- lação com rochas que chegam a pesar 60 quilos cada uma. Um artista admirado neste círculo é o bri- tânico Richard Long, que em A Line Made by Walking (performance, 1967) tem no ato de ca- minhar sua prática estética. Nesses passeios, ele também reúne elementos orgânicos para reorga- nizá-los em espaços museológicos. Laís acredita que por meio dessas interven- ções na natureza os artistas questionam a for- ma pela qual moldamos a paisagem no dia a dia e como isso interfere na vida das pessoas. “Esse tipo de manifestação liga-se ao nosso cotidiano porque os artistas usam o deslocamento como um dos principais meios de experiência para a criação de suas obras e sua relação com a natu- reza”, explica.

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Texto sobre Land Art e exposição "A Agricultura da Imagem" publicado na Revista do Sesc em novembro de 2014

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Na LaNd art as iNterveNções se

coNfiguram Na reLação do artista

com a paisagem e seus recursos

i ntervir na natureza tendo como instrumentos seus próprios recursos, entre eles folhas, galhos, pedras, frutas, areia, e formar a partir dela o seu

trabalho. Em resumo é essa a ideia seguida pelos artistas que desenvolvem suas criações em Land Art (ou Earth Art/Earthwork).

Realizadas em locais como desertos, montanhas, cânions e planícies, as obras podem ser pequenas e se perder na imensidão do ambiente ou ser tão vastas quanto o espaço em que se inserem. “A Land Art originou-se na década de 1960 com a propos-ta de recriar e remodelar a paisagem”, explica a ilustradora e artista visual Laís Bicudo. “De modo geral, fundamenta-se nas práticas experimentais que têm como elemento essencial a estreita relação entre homem, paisagem, sítios naturais e principal-mente a ruptura com os espaços institucionais.”

reLação com o cotidiaNoPensar o espaço e a intervenção nos lugares é um

dos pontos estimulantes para os realizadores desse tipo de intervenção. Para Marcelo Moscheta, artista visual e vencedor do Prêmio Pipa (Prêmio Investidor Profissional de Arte) em 2010, o objetivo é procurar os lugares mais inóspitos e fazer uma transposição desse material para o espaço museológico. Os artis-tas que se aventuram nessa prática também se mos-tram dispostos a viajar e a experimentar as diferen-tes paisagens. É o caso de Moscheta, que já esteve em regiões tão distintas quanto o Polo Norte, o Deserto do Atacama e o Uruguai. “O objetivo é realizar uma mistura de observação científica e ficcional, Land Art e práticas orientadas pelo lugar”, diz.

Laís acrescenta que, atualmente, criadores – como Moscheta – levam características específi-cas da Land Art para suas obras: “É uma propos-ta de trabalho com a natureza, com experiências de deslocamento e experiência frente ao mun-do”. Em outras situações, o processo artístico é similar ao fazer arqueológico, questionando, principalmente, as fronteiras de um território.

Outra característica desse tipo de trabalho é alternar expressões manuais – desenho, pin-tura, gravura, escultura – com os recursos das mídias de vídeo e fotografia. No entanto, é pre-ciso ter um bom planejamento, já que cada ma-terial exige um modo de trabalho. “Acho que as mídias oferecem suporte para o ato principal”, opina Moscheta, que está compondo uma insta-lação com rochas que chegam a pesar 60 quilos cada uma.

Um artista admirado neste círculo é o bri-tânico Richard Long, que em A Line Made by Walking (performance, 1967) tem no ato de ca-minhar sua prática estética. Nesses passeios, ele também reúne elementos orgânicos para reorga-nizá-los em espaços museológicos.

Laís acredita que por meio dessas interven-ções na natureza os artistas questionam a for-ma pela qual moldamos a paisagem no dia a dia e como isso interfere na vida das pessoas. “Esse tipo de manifestação liga-se ao nosso cotidiano porque os artistas usam o deslocamento como um dos principais meios de experiência para a criação de suas obras e sua relação com a natu-reza”, explica.

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Observar e construir

Em trabalho que apresenta acúmulo de vivências e descobertas, as fotos de Rodrigo

Braga exprimem anos de pesquisa e retratam as experiências do fotógrafo amazonense em biomas de três regiões brasileiras: Amazonas,

Pernambuco e Rio de Janeiro

exposição reveLa o processo coNceituaL e estético do fotógrafo rodrigo Braga

a lém de fotografias registradas em biomas de diferentes regiões brasileiras – Amazonas, Pernambuco e Rio de Janeiro –, a exposição Agricultura da Imagem aproxima o visitante do processo criativo de Rodrigo Braga. Juntamente com as imagens,

é possível visualizar o processo criativo do fotógrafo por meio de seus desenhos e croquis, que são apresentados como uma espécie de gabinete do artista.

Nas andanças para fazer as suas fotografias, Braga foi registrando em memória e nos desenhos o que via, sempre acompanha-do por uma câmera. Para ele, esse material tem um caráter de aquecimento, pois a foto começa a se mostrar nessa observação. Mas por ser tão íntimo, não havia cogitado a possibilidade de expô-los, atitude que foi tomada pela intervenção do curador Daniel Rangel. “Ele me convenceu a expor. Nunca falei isso antes para ninguém. O Daniel se debruçou sobre os trabalhos, visitou meu ateliê diversas vezes e até entrou na mata comigo”, conta Braga.

E a ousadia valeu a pena. O fotógrafo diz que essa é a parte que vem rendendo mais comentários do público. “Pelo que tenho ouvido, o que as pessoas enfatizam é justamente a junção da exposição das fotografias e das mídias, o que dá a ideia do pro-cesso, e as pessoas se surpreendem com o desenho. Acaba sendo uma exposição não só da obra, mas da pessoa”, confessa.

A curadoria de Rangel se estendeu por um ano e priorizou criar uma relação de confiança com o artista, sempre mantendo o seu olhar de pes-quisador: “Queria vasculhar não só com ele, mas o universo dele. Sempre tive essa premissa de descobrir algo que nem nós mesmos sabíamos o que era”. Em sua visão, era mais importante mostrar a relação do fotó-grafo com o desenvolvimento e a construção das imagens. “Queria mos-trá-lo como um construtor da imagem, ou seja, o fotógrafo que constrói, mais do que o fotógrafo da performance”, define Rangel.

A exposição Agricultura da Imagem pode ser vista no Sesc Belenzinho até 30 de novembro.

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