“matéria” do projecto. ideais “puristas” e razão técnica na
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
DEPARTAMENTO DE ARQUITECTURA - FACULDADE DE CINCIAS E TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
JOAQUIM CARLOS PINTO DE ALMEIDA MARO 2009
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
DEPARTAMENTO DE ARQUITECTURA - FACULDADE DE CINCIAS E TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA JOAQUIM CARLOS PINTO DE ALMEIDA MARO 2009
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ABSTRACT
MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
A prtica da profisso a prtica da transformao - por vezes parcial - da
realidade que prevalece sobre as outras dimenses da arquitectura. Esta condio
levanta contemporaneamente novas dificuldades, quer para as escolas de
arquitectura, quer para a prtica profissional situadas em orientaes que
sucessivamente se distanciam ora da compreenso dos problemas de natureza
filosfica ou epistemolgica ora das exigncias multidisciplinares do mundo
cientfico contemporneo. Esta questo, estabeleceu a problemtica para a
fundamentao da tese e o seu objectivo final: estabelecer os limites e actuao da
arquitectura, tomando como questo essencial a sua materialidade. Deste modo,
este trabalho, procura indagar a forma e os instrumentos da arquitectura
contempornea, tomando como referncia, quer os conceitos intrnsecos ao
conhecimento da arquitectura, quer, enquanto momento de charneira, as alteraes
metodolgicas introduzidas pelas arquitecturas resultantes do Movimento Moderno
e as suas repercusses na pratica arquitectnica contempornea. Estas problemticas dividiram a tese em duas partes:
A parte I da tese, reservada definio dos temas e conceitos que fundamentam este trabalho. Paralelamente definio dos seus parmetros, explana as
problemticas fundamentais da prtica da arquitectura contempornea, definindo
termos, ideias e teorias essenciais para a sua discusso. Nesta parte so lanadas
as hipteses de partida, e a sua sustentabilidade como temas centralizadores do
discurso arquitectnico contemporneo. O indagar sobre a persistncia das
formulaes de Alberti, confrontadas com as metodologias de criao do projecto
introduzidas pelo Movimento Moderno permitir-nos- problematizar entre conceitos
e problemticas da prtica da arquitectnica contempornea como: ideia e
matria; ou os limites actuais da actuao do projecto e o que motiva (hoje) as
consideraes sobre o objecto arquitectnico na arquitectura contempornea; ou,
ainda, a identificao do posicionamento e das diferenas fundamentais existentes
por meio da anlise de obras contemporneas (com particular incidncia na
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produo da arquitectura portuguesa). O desenvolvimento dos conceitos que a
partir do renascimento, toma como referncia Alberti, atravs do seu tratado, De re
aedificatoria, procura a estrutura essencial sobre a qual se constroem conceitos,
formulaes e terminologias que suportam a prtica arquitectnica contempornea.
Simultaneamente so abordados os contedos formais e temticas que ao longo do
sculo XX, foram construindo o iderio do projecto moderno, (fundamentalmente
nos dois modelos emergentes do Movimento Moderno, protagonizados por Le
Corbusier e Mies van der Rohe) em novos conceitos e as alteraes metodolgicas
introduzidas prtica do projecto como formulaes contemporneas emergentes
necessrias na definio e identificao da identidade dos produtos da
arquitectura contempornea. A parte II da tese reservada aos casos de estudo. A seleco dos casos de estudo, em anlise, centra-se fundamentalmente nos dois modelos emergentes do
Moderno (abstraco e composio - Mies van der Rohe e Le Corbusier)
referenciados na primeira parte e procurar evidenciar a permanncia e a
recorrncia das temticas em objectos concretos da produo arquitectnica
contempornea. Estes objectos, tidos como representaes dos Ideais Modernos,
evidenciam-se actualmente como depositrios de caractersticas comuns prtica
Moderna, expondo as realidades produtivas, ao mesmo tempo instncia e reflexo
do tempo e contexto onde se inserem.
Na procura da universalidade dos pressupostos, lanados na parte I, da tese, os casos de estudo seleccionados confrontam a prtica arquitectnica portuguesa com
realidade arquitectnica internacional. A anlise sobre a identidade dos produtos
resultantes da construo do Moderno, ainda que pretendendo uma
fundamentao universal, procurar no essencial a possibilidade do
reconhecimento na especificidade da arquitectura portuguesa enquanto afirmao
da sua identidade e testemunho das permanncias na reformulao da sua herana
cultural.
JOAQUIM CARLOS PINTO DE ALMEIDA
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ABSTRACT
MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
The practice of the profession is the practice of transformation some times partially
- of the reality that prevails above other dimensions of architecture. This condition
exposes contemporarily new difficulties to the architecture schools and for the
professional practice that are placed in orientations successively apart from the
understanding of the problems of philosophical nature or epistemological or from the
comprehension of the multidisciplinary demands of the contemporary scientific
world.
This interpellation, established the problem for the foundation of the thesis and its
final objective: to establish the limits and actuation of architecture, placing the question of its matter or materiality as an essential subject. This way, this work, tries to investigate upon the form and instruments of the contemporary architecture,
taking for reference, as a point of shifting, the methodological alterations introduced
by the architectures of the Modern Movement.
The part I of this thesis reserves itself to the definition of the themes and concepts that support this work. Parallel to the definition of their parameters, the fundamental
problems of the practice of the contemporary architecture are explained defining
terms, ideas and essential theories for its discussion. The departure hypotheses are
established, in this part I, and sustain, as well, the centralizing themes of the
contemporary architectonic discourse.
The investigation on the persistence of Alberti formulations, confronted with the
methodologies of the project creation introduced by the Modern Movement allows us
to enquiry between concepts and concerns of the architecture contemporary
practice. Between: "idealization" and "matter"; or the actual limits of the project
actuation or the considerations of what motivates (today) the contemporary "object
architectonic" or finally to identify, through the analysis of contemporary works, the
fundamental different positions existent (with particular incidence in Portuguese
architecture production). The understanding of the development of the concepts
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that start from the renaissance taking as a reference Alberti treaty, De re
aedificatoria, seek, for the thesis, the essential structure on which concepts,
formulations and terminologies, that sustain the contemporary architectonic practice,
are built up. Simultaneously, the formal and thematic contents built along the
century XX, in the iderio of the "modern project", (fundamentally in the two
emerging models of the Modern Movement, played by Le Corbusier and Mies van
der Rohe) approached as new concepts and as methodological alterations introduce
to the practice of the project an emerging contemporary formulations. These
important understandings are indispensably necessary to the definition and
identification of the "identity of the products" of contemporary architecture.
The part II of the theory reserved to the cases of study selected, is centred fundamentally in the analysis of the two emerging models of the Modern (abstraction
and composition, Mies van der Rohe and it Le Corbusier). These references
belonging to the part I try to evidence the permanence and the appeal of these
themes, in this part II, in a concrete "object" of the contemporary architectonic
production. These contemporary "objects", taken as representations of the Modern
ideals, actuality evidenced as receivers of characteristics common to the Modern
practice, expose the actual productive realities at the same time, as instance and
reflex of the time and context of interference.
In the search of the universality of the presuppositions established, in part I, the
selection of the contemporary cases studies confront the Portuguese architectural
practice with the international architecture practice The analysis concerning to the
identity of the resulting products "construction of the Modern", although intending a
universal foundation, most of all, seek the possibility of there recognition in the
context of Portuguese architecture while statement of its identity and testify of the
permanence in the reformulation of its cultural inheritance.
JOAQUIM CARLOS PINTO DE ALMEIDA
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Ao Professor Doutor Mrio Jlio Teixeira Krger, agradeo a orientao cientfica, directrizes e rigor metodolgico com que a acompanhou o meu trabalho. A sua crtica exigente e sempre estimulante, bem como a autoridade cientfica, foram determinantes para o desenvolvimento das vrias fases desta dissertao. Ao Arquitecto lvaro Siza e ao Arquitecto Souto de Moura um agradecimento especial pelo apoio dado ao longo do trabalho, na total disponibilidade revelada facultando todo o material original e toda a bibliografia disponvel, das suas obras, analisadas neste trabalho. Fundao para a Cincia e a Tecnologia, pela bolsa concedida, entre 2005 e 2007 que permitiu as condies para a realizao dos Estudos de Doutoramento para Obteno de Certificado de Suficincia Cientfica no Departamento de Proyectos da Escuela Tcnica Superior de Arquitectura, da Universidad Politcnica de Madrid, designado Teora y Prctica del Proyecto. Edite agradeo pela compreenso, dedicao e pacincia com que acompanhou o meu trabalho. O seu contributo, experincia e comentrios crticos que permitiram ultrapassar dificuldades, incutindo e exigindo o nimo necessrio. minha famlia por aceitar pacientemente as ausncias prolongadas. Agradeo o suporte operacional, Arq. Ana Monteiro e Arq. Daniela Macedo, na montagem grfica final do trabalho.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
DEPARTAMENTO DE ARQUITECTURA - FACULDADE DE CINCIAS E TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Dissertao de doutoramento na rea cientifica de Arquitectura, especialidade de Arquitectura e Construo, orientada pelo Senhor Professor Doutor Mrio Jlio Teixeira Krger e apresentada ao Departamento de Arquitectura da Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade de Coimbra. JOAQUIM CARLOS PINTO DE ALMEIDA MARO 2009
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
NDICE 3 PREMBULO Estrutura do trabalho 5 I PARTE INTRODUO 9 I TECHN; TCNICA, TECNOLOGIA; TECTNICA 45 II ESTRUTURA; FORMA; FUNO; ESPAO; TIPO 111 III IDEAIS ARQUITECTNICOS 177 IV MODELOS FORMAIS 197 IV.1 Le Corbusier 199 IV.2 Mies van der Rohe 223 II PARTE V ANLISE DE OBRAS CONTEMPORNEAS 255 V.1 lvaro Siza Fundao Iber Camargo, em Porto Alegre, Brasil 257 V.2 Souto de Moura Edifcios do Burgo, no Porto 305 CONCLUSO 345 Sntese Crtica 367 BIBLIOGRAFIA 381 _________________________________________________________________________ ANEXO DOCUMENTAL I Le Corbusier 3 II Mies van der Rohe 37 III lvaro Siza Fundao Iber Camargo, em Porto Alegre, Brasil 65 IV Souto de Moura Edifcios do Burgo, no Porto 121
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
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Cyril Stanley Smith, Diagrama de uma trama reticular de tomos, e uma regio em que a posio dos tomos se
altera para formar uma disposio triangular.
[Jurez, Antonio, Chicote, Milln, Jos Antonio, Alba, Poticas del espacio contemporneo, Curso de Doctorado,
ETSAM, 2004]
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
PREMBULO Estrutura do trabalho (Diviso em duas partes: Noes e conceitos tericos que fundamentam a tese e anlise de obras actuais.)
A parte I da tese reservada definio dos temas e conceitos que fundamentam este trabalho. Paralelamente definio dos seus parmetros, so explanadas as
problemticas fundamentais da prtica da arquitectura contempornea, definindo
termos, ideias e teorias essenciais para a sua discusso. Nesta parte so lanadas
as hipteses de partida, e a sua sustentabilidade como temas centralizadores do
discurso arquitectnico contemporneo. O indagar sobre a persistncia das
formulaes de Alberti, confrontadas com as metodologias de criao do projecto
introduzidas pelo Movimento Moderno permitir-nos- problematizar entre conceitos
e problemticas da prtica da arquitectnica contempornea como: ideia e
matria; ou os limites actuais da actuao do projecto e o que motiva (hoje) as
consideraes sobre o objecto arquitectnico na arquitectura contempornea; ou,
ainda, a identificao do posicionamento e das diferenas fundamentais existentes
por meio da anlise de obras contemporneas (com particular incidncia na
produo da arquitectura portuguesa). Num primeiro momento, procuramos abordar
o desenvolvimento dos conceitos a partir do renascimento, tomando como
referncia Alberti, atravs do seu tratado, De re aedificatoria, procurando a
estrutura essencial sobre a qual se constroem conceitos, formulaes e
terminologias que suportam a prtica arquitectnica contempornea. Num segundo
momento, procuraremos abordar os contedos formais e temticas que ao longo do
sculo XX foram construindo o iderio do projecto moderno, (fundamentalmente
nos dois modelos emergentes do Moderno (Le Corbusier e Mies van der Rohe) em
novos conceitos e nas alteraes metodolgicas introduzidas prtica do projecto
como formulaes contemporneas emergentes necessrias na definio e
identificao da identidade dos produtos da arquitectura contempornea.
A parte II da tese ser reservada aos casos de estudo. A seleco dos casos de estudo, em anlise, centra-se fundamentalmente nos dois modelos emergentes do
Moderno (abstraco e composio Mies van der Rohe e Le Corbusier)
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referenciados na primeira parte e procurar evidenciar a permanncia e a
recorrncia das temticas em objectos concretos da produo arquitectnica
contempornea. Estes objectos tidos como representaes utpicas dos Ideais
Modernos, evidenciam-se actualmente como depositrios de caractersticas
comuns prtica Moderna, expondo as realidades produtivas, do mesmo tempo
instncia e reflexo do tempo e contexto onde se inserem.
Na procura da universalidade destes pressupostos, a seleco dos casos de estudo
confrontar a prtica arquitectnica portuguesa com as temticas desenvolvidas na
parte I da tese, para tal recorreremos a dois dos autores incontornveis que a caracterizam e suportam em larga medida a sua identidade. Do contexto portugus
de actuao, usaremos a Fundao Iber Camargo, em Porto Alegre, Brasil, de
lvaro Siza e os Edifcios do Burgo, no Porto, de Souto de Moura. Estas obras
sero confrontadas com a prtica arquitectnica no contexto internacional,
procurando encontrar os pontos comuns de actuao, ou as caractersticas
divergentes, seja de procedimento operativo, seja formulao e sustentculo
terico.
Como processo de caracterizao dos objectos em estudo sero abordados,
enquanto matriz de anlise uniforme para estas obras, os seguintes temas:
contexto; estrutura; forma; funo; espao, tipo e tectnica.
A anlise sobre a identidade dos produtos resultantes da construo do Moderno,
ainda que pretendendo uma fundamentao universal, procurar o seu
reconhecimento na arquitectura portuguesa enquanto herana da afirmao e
reformulao da sua identidade, de modo a testemunhar tambm as permanncias
na reformulao da sua herana cultural (considerada, como uma arquitectura de
resistncia [?]).
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
I PARTE
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INTRODUO
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
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Stonehenge, 2750-1500 A.C.
[Iiguez, Manuel, La columna y el muro. Fragmentos de un dilogo, Barcelona, Fundacin Caja de Arquitectos,
2001, pg. 23]
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
I Problemticas
I.1 - A DISPERSO DE SABERES CONTEMPORNEOS E O VALOR DA CRTICA (Contrariar a disperso actual e fomentar conhecimento do conjunto de saberes)
A prtica da profisso a prtica da transformao (por vezes parcial) da realidade
que prevalece sobre as outras dimenses da arquitectura. Esta condio levanta na
contemporaneidade novas dificuldades, quer para as escolas de arquitectura, quer
para a prtica profissional, enraizadas em orientaes que sucessivamente se
distanciam, ora da compreenso dos problemas de natureza filosfica ou
epistemolgica, ora das exigncias multidisciplinares do mundo cientfico
contemporneo. Efectivamente, o panorama arquitectnico contemporneo
confrontado com complexidades decorrentes de encomendas que exigem a
interligao de diferentes ramos do conhecimento, tornando indispensvel a
sustentabilidade de uma prtica profissional apoiada na investigao do campo da
criao e da prtica da arquitectura que promova entendimentos mais relevantes
para a sua fundamentao.
Em paralelo com os diferentes entendimentos da arquitectura, cada vez mais
personalizados, assiste-se igualmente a uma progressiva diferenciao dos seus
intervenientes resultante do desenvolvimento da indstria da construo, numa
especializao e burocratizao que torna cada vez mais complexa a distncia,
entre o acto criativo e a sua realizao construtiva. Deste modo,
contemporaneamente, a tomada de decises que interferem na arquitectura,
passou a ser de forma mais evidente, frequentemente, o resultado do compromisso
entre um nmero alargado de elementos que, por sua vez, a distanciam igualmente
do acto criativo da produo arquitectnica. A criatividade foi sempre, ao longo dos
tempos, considerada a faceta mais intimista, introspectiva e o parmetro
caracterizador da prtica da arquitectura, tomada como entidade ordenadora das
aparncias estticas e necessrias contemporizao da arquitectura proposta,
enquanto fruto do entendimento intelectual do seu valor cultural.
Neste sentido, este estudo justifica que procuremos a compreenso, de natureza
filosfica da dimenso artstica, combinada com a compreenso da dimenso
tecnolgica (de sentido tectnico?) da cincia aplicada, avaliando a amplitude dos
processos e dos seus produtos, na criao do objecto arquitectnico
contemporneo.
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I.2 - REFLEXO CRTICA
No mbito da abrangncia de cultura interdisciplinar contempornea, torna-se
necessrio a compreenso da natureza conceptual da reflexo crtica, idealmente
sistematizada numa teoria. No entanto, a crtica uma palavra da qual se abusou
tanto que, no raras vezes, se torna vazia de significados. Esta condio deve-se,
em larga medida, ao excesso de uso e superficialidade de abordagem dos temas
fracturantes do discurso contemporneo, pelo sujeito que desenvolve a crtica,
isolando-os como nicos objectos de reflexo.
A arquitectura como acto de criao individual exige uma capacidade crtica que
permita uma tomada de deciso de juzo crtico, suporte da realizao da
proposta arquitectnica. Neste contexto, considera-se que a condio da crtica em
arquitectura, deve enfatizar a conduo das ideias que devem mostrar de forma
clara e evidente as suas prprias regras, para que a autocrtica possa fazer parte
do processo de aprendizagem colectiva. Deste modo, entende-se que na
arquitectura, a crtica referenciada realiza-se dentro da prpria disciplina, situando o
crtico e o autor no mesmo campo de actuao, a formular questes, a desenvolver
interesses e a comunicar numa linguagem comum ao objecto da crtica.
A crtica recolhe na histria os seus instrumentos de trabalho, mantendo a
conscincia de que, para a arquitectura, todas as formas herdadas do passado so
tornadas condies operativas do presente, seja num processo de negao,
sujeio, ou de aceitao. Podemos afirmar que sua condio de trabalho ordena-
se a partir do passado, mas formula-se no presente.1
I.3 - A CLIVAGEM ENTRE TEORIA E PRTICA, NA PROPOSIO DO PROJECTO SEM MATRIA (Distanciamento actual entre teoria e prtica, ideia e produo) O acto criativo da arquitectura, enquanto reflexo crtica, de debate fundamental da
sociedade, assume-se frequentemente como um processo, de identidade e
afirmao cultural de cada poca. As interferncias entre os sistemas produtivos e
os imagticos parecem influenciar-se de forma decisiva e recproca, de certa
maneira, parece permanente a ideia que, teoria e prtica se inter-conectam
mantendo o debate vivo e aberto nas relaes estabelecidas entre a inovao 1 - Tafuri, Manfredo, Teorias e Histria da Arquitectura, Lisboa, Editorial Presena, 1988.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
tecnolgica e construtiva e a formulao de novas percepes arquitectnicas. As
questes relacionadas com a construo adquirem, assim, um peso prprio no
entendimento da componente imagtica da arquitectura, sendo por via desta
reciprocidade interpretativa, entre propriedades poticas e propriedades fsicas que
se desenvolvem novas perspectivas e entendimentos de natureza disciplinar. O desenvolvimento tecnolgico pode interpretar-se, assim, como resultado de
investigaes formais ou poticas, tal como a imagtica se compromete de forma
significativa com as diferentes possibilidades tcnicas (sistemas produtivos). Estas
tcnicas transformadas em imagens construdas potenciam na arquitectura, novas
formas de aproximao entre as questes da construo e o desenvolvimento
tecnolgico.
A interaco entre os meios de produo disponveis e os meios de criao
arquitectnica podem, de acordo com este raciocino, permitir-nos construir novos
motivos geradores de novas solues arquitectnicas, reconhecendo os aspectos
poticos e os aspectos tcnicos e materiais, como os parmetros de interpretao
da forma construda. A questo passar portanto, por verificarmos como estes dois
factores interagem e so geradores de novos modelos paradigmticos.2
No entanto, nas ltimas dcadas evidenciou-se, neste processo arquitectnico, o
distanciamento progressivo entre o campo do desenvolvimento das ideias e o
campo produtivo da arquitectura, em virtude de uma explorao cada vez mais
enftica nos instrumentos da comunicao, considerados como fim ltimo de
afirmao exclusiva da qualidade arquitectnica, resultante da homogeneizao
generalizada da crtica. Este novo entendimento da prtica arquitectnica que
diferencia os tempos de abordagem do processo de criao e do processo
produtivo, se motivador pelo incremento de inovao, numa primeira fase do
processo arquitectnico, torna-se por vezes, factor inibidor do prprio carcter
esttico.3
2 - Giedion, Siegfried, Espacio tiempo y arquitectura, Madrid, Editorial Dossat, S.A., 1979, pg. 670.
Segundo Giedion, o arquitecto, encontra-se pouco interessado em quem, ou por quem um determinado edifcio foi
realizado. As suas questes so antes, o que o construtor pretendeu alcanar e como consegui resolver os
problemas. Por outras palavras, o arquitecto preocupa-se com a pesquisa do conhecimento arquitectnico prvio
de modo a poder imediatamente confrontar os anseios da arquitectura contempornea, com as de um perodo
anterior. 3 - Podemos constatar, neste domnio, a introduo cada vez mais acentuada de restries, procedimentos e
regras, que condicionam em fase de projecto, todos os seus procedimentos. Estas condies tornam a arquitectura
limitada a um catlogo de solues que, sustentadas no desenho, so em grande medida fomentadoras de uma
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A abordagem de imagem meditica aplicada arquitectura resulta de maneira geral
numa prtica arquitectnica que, quando confrontada com a realidade, no
consegue contornar, com os seus processos instrumentais e disciplinares, as
contingncias da materialidade. Nesta nova realidade importa verificar, em trmites
de concluso desta tese, se contnua inevitvel para o estado actual da definio da
arquitectura, uma estrita dependncia com a identidade dos seus produtos
suportada na sua materialidade, enquanto permanncia da condio essencial da
formalidade arquitectnica.
II Objectivos
II.1 - OBJECTIVO GENRICO. INDAGAR FORMAS E INSTRUMENTOS DA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
Esta ltima interpelao, naturalmente esclareceu-nos a problemtica para a fundamentao da tese e o seu objectivo final: estabelecer os limites e actuao da
arquitectura, tomando como questo essencial a sua materialidade. Pretende-se,
assim, indagar neste trabalho a forma e os instrumentos da arquitectura
contempornea, tomando como referncia, enquanto momento de charneira, as
alteraes metodolgicas introduzidas pelas arquitecturas resultantes do
Movimento Moderno. No entanto, como procuraremos evidenciar, esta
essencialidade material que coloca a questo sobre a interaco entre o aparelho
produtivo e a esttica resultante, quer por via da inovao tecnolgica em novos
produtos, quer por via da converso de solues ditas tradicionais tambm em
novos produtos, em qualquer caso sujeito a mediao por parte do arquitecto que
de maneira mais ou menos eloquente estabelece os parmetros de actuao e
define as etapas e limites entre o objecto idealizado, a tecnologia disponvel e os
produtos construdos. Procura-se, deste modo, evidenciar o papel do arquitecto
como gerador privilegiado nas transformaes arquitectnicas promovidas, quer por
via das inovaes tecnolgicas que so incorporadas no sistema construtivo como
meio de resolver os problemas resultantes da complexidade das solues
actuao generalistas e de gosto comum, negando as qualidades estritas prtica disciplinar que se sustentam na
adequao entre os aspectos funcionais e tcnicos da prtica da arquitectura, enquanto processo de idealizao
fundamental.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
arquitectnicas ao nvel da morfologia espacial, quer por via dos novos materiais e
mtodos construtivos ajustados pela tecnologia que condicionam os campos de
abordagem e as metodologias de projecto. () certo que a arquitectura depende de feitos, mas o seu verdadeiro campo de actividade o reino do significado. Espero que compreendam que a
arquitectura no tem nada que ver com a inveno de formas. No um campo de jogos para crianas pequenas ou grandes. A arquitectura escreveu a histria
das pocas e nomeou-as. A arquitectura depende do seu tempo, a cristalizao da sua estrutura interna, o lento aperfeioamento da sua
forma.().4
Mies van der Rohe
As alteraes metodolgicas introduzidas pelas arquitecturas resultantes do
Movimento Moderno estabelece a importncia do estudo de alguns protagonistas
do Movimento Moderno, evidente na citao anterior de Mies van der Rohe. Este
autor denota todo o seu contedo de pensamento contemporneo ao considerar a
arquitectura como uma instituio cultural que pressuponha na sua gnese a
incorporao do intercmbio entre a forma e os instrumentos num duplo sentido: a
conscincia que a arquitectura influncia processos transformadores do seu tempo
e simultaneamente influenciado pelo seu contexto cultural e tcnico, expressa
por Mies como a arquitectura sendo tomada como forma o seu tempo e
simultaneamente formada pelo (seu) tempo. Neste sentido, procuraremos verificar
se este processo recproco de transferncia de informao se constitui como o
reflexo da realidade imediata, simultaneamente, encarnando os elementos que
formam a sua herana cultural e lanando, ao mesmo tempo, possveis alternativas
futuras. O reconhecimento destes movimentos dinmicos de interaco e
reciprocidade entre pocas imediatamente precedentes constituem-se como
motivos essenciais de debate contemporneo e constroem as realidades culturais
do debate arquitectnico.
4 - Mies van der Rohe, Arquitectura y tecnologa (1950). em Neumeyer, Fritz, Mies van der Rohe. la palabra sin
artificio, reflexiones sobre arquitectura 1922-1968, Madrid, El Croquis editorial, 1995, pg. 489. Citao traduzida
pelo autor da dissertao, bem como, todas as restantes citaes posteriores a esta, foram efectuadas a partir da
bibliografia consultada.
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(Paradoxo contemporneo da mistura entre a tecnologia e a artesania) Contemporaneamente, tal como em outros domnios, assiste-se na arquitectura a
uma progressiva globalizao das prticas produtivas, com o incremento da
industrializao a contribuir, aparentemente, para o declnio da produo
sustentada nas artesanias produtivas locais. Os aspectos primordiais que
dominaram a prtica arquitectnica ao longo dos tempos, centrados na artesania
produtiva e relacionados com os aspectos produtivos locais e do contexto, deixaram
de ser partes essenciais, no discurso contemporneo.5
Efectivamente, reconhecvel como as inovaes tecnolgicas oriundas de outros
campos disciplinares de actuao, ou de reas produtivas diferenciadas, tm
contribudo de forma significativa para a transformao da imagem tradicional do
processo produtivo da arquitectura, influenciando de forma significativa a definio
de objecto arquitectnico contemporneo. Facto visvel, por exemplo no estudo
mais aprofundado de solues inovadoras no campo dos sistemas estruturais que
tm vindo a alterar de forma significativa as percepes espaciais e formais da
idealizao arquitectnica.6
(Permanncia actual dos instrumentos arcaicos e o aumento da complexidade infra-estrutural e material)
No entanto, a prtica arquitectnica e o seu aparelho produtivo no evoluram de
forma to acelerada como noutros campos industriais, mantendo aspectos de
produo, instrumentalmente arcaicos. Neste contexto, de alterao da prtica
construtiva, fruto das transformaes tecnolgicas ocorridas durante o sculo XX,
subsiste, no entanto, o paradoxo da existncia de conceitos de arquitectura
formalmente inovadores que, por recorrerem a metodologias construtivas oriundas
de procedimentos mais artesanais, misturadas com materiais provenientes de
novas tecnologias dificultam todo o processo de reconhecimento da identidade dos
objectos da arquitectura contempornea. 5 - As prticas mais dependentes de artesos qualificados, como as carpintarias, maonarias ou de pedreiro,
dependentes de conhecimentos transmitidos de mestre a aprendiz, foram de forma evidente, dando lugar a uma
prtica onde a eficcia, a rapidez e a repetio se tornaram mais importantes que os conhecimentos interpretativos,
ainda que, por vezes empricos, mais circunstanciais. 6 - Os novos materiais de construo, os materiais compsitos, os sistemas infra-estruturais e os novos sistemas
estruturais ligeiros, alargaram o campo das possibilidades arquitectnicas, espaciais e construtivas. A maior
complexidade construtiva surge na interaco entre diferentes tipos de materiais, na compatibilidade entre
materiais, na degradao acelerada de componentes por ocorrncias inesperadas, circunstncias estas que
criaram um novo conjunto de problemas construtivos introduzindo novos problemas disciplinares arquitectura
que, de maneira geral, tinham sido resolvidos ao longo dos tempos, pelos procedimentos construtivos tradicionais.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
II.2 OBJECTIVO ESPECFICO PROCURAR RESPONDER PERGUNTA, HAVER PROJECTO SEM MATRIA?
Para alm de outras consideraes sobre os limites do processo de criao do
projecto, temos como ponto de partida secular que a prtica da arquitectura est
dependente da sua condio material, encarada como produto final. Mas, ser
possvel contemporaneamente, separar a condio essencial (de aspirao) de
materialidade, do processo produtivo que a suporta, da sua condio construtiva e
portanto, avali-la apenas no campo das ideias (?). Ou avaliando-a no campo
disciplinar da prtica produtiva, estabelece-la como factor igualmente essencial da
sua operacionalidade. Poderemos, construir margem de um qualquer sistema
construtivo coerente, ainda que admitindo a sua flexibilidade e nesse sentido negar
a existncia de uma verdadeira condio e conscincia construtiva, do processo de
criao arquitectnica (?).
A este conjunto de questes condensadas na pergunta fundamental da tese haver
projecto (arquitectura) sem matria? sero procuradas respostas que permitam
entender as transformaes ocorridas na estrutura de criao arquitectnica. A
procura de respostas define-se a partir da identificao das premissas e
metodologias do projecto moderno, tomando como ponto de partida os seus
postulados arquitectnicos, dependentes do exerccio de abstraco e purismo
definidos no campo da arte, na dcada de 20 do sculo XX e, ainda, nas
consideraes tutelares sobre arquitectura e prtica do projecto, propostas por
Alberti, em De re aedificatoria. Estas identificaes sero contrapostas s diferentes
metodologias emergentes, no campo das iluses em que se move a arquitectura
contempornea.
III Elementos de suporte para o estudo
III.1 - NOES E TERMOS DE CARCTER UNIVERSAL (Teoria de apoio que refuta ou valida postulados existentes, para indagar rupturas ou permanncias)
Na apreciao fundamentada das formas e dos instrumentos de criao do projecto
contemporneo, impem-se como crucial referenciar os entendimentos formulados
por Alberti sobre a arquitectura e verificar actualmente a validade, as
transformaes, as rupturas, ou permanncia dos seus postulados. A proposta de
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-
Alberti, de uma arquitectura como lineamenta, produto simultneo do Pensamento e da Matria, por uma lado, dependendo do poder da mente e, por outro, dependente
da preparao e seleco dos materiais, estes ltimos, mediados pela mestria do
artista no conformar da matria, o delineamento conforme estabelece um
paradigma que importa indagar se, se mantm (?) contemporaneamente inclume.7
Tomaremos assim, como propunha Alberti que, a arquitectura depende do
estabelecimento de hierarquias entre partes ou sistemas, enquanto a construo,
(como cumprimento da condio essencial de prazer) obrigatoriamente integrada
no sistema hierarquicamente superior das exigncias e das aspiraes verbalmente
facultadas, s poder ser desenvolvida no espao e no tempo, se articulada pelas
regras da beleza e da ornamentao. Necessitamos portanto de entender os limites
de actuao e permanncia desta condio, de Alberti, na teoria e na prtica da
arquitectura contempornea, enquanto entendimento do valor essencial da criao
do objecto arquitectnico actual.
Esta investigao incidir portanto, na caracterizao do objecto arquitectnico
contemporneo, simultaneamente numa referncia discursiva do manifesto
escrito quer, por um lado, em relao tratadstica clssica do valor prtico
como proposto por Alberti no seu tratado De re aedificatoria, como base de
entendimento universal e, por outro, (como ponto de partida) no manifesto purista
como o tempo imediatamente precedente e legatrio do actual, incio de confiana
total na mquina e expoente do saber cientfico-tcnico para a criao de um
mundo melhor. Toma-se o manifesto purista, por estabelecer como referncia a
mquina, como modelo de organizao exacta, abstracta e inequvoca do
conhecimento cientfico-tcnico, procurando na correspondncia entre forma e
funo, compreender a ideia do objecto e conciliar a criao artstica com as
metamorfoses de um presente tecnolgico e industrializado.
7 - Krger, Mrio, A arte da investigao em Arquitectura, em ECDJ, investigao em arquitectura [?], darq
FCTUC, 2001
- Krger, Mrio, Relatrio das Disciplinas de Arquitectura Terica I e II da Licenciatura em Arquitectura, Coimbra,
Edies do Departamento de Arquitectura da FCTUC, 1997.
Krger considera que, em grande medida os postulados e as propostas de actuao que devem caracterizar, o
arquitecto, a actividade produtiva e de investigao em arquitectura, se mantm praticamente inalteradas, desde
que foram formulados por Alberti em De re aedificatria.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
(A arte e cincia duas atitudes crticas conciliveis?)
Se nos reportarmos historiografia clssica dos tratados verificmos que a partir
do fim do sculo XVII, o ncleo do saber humano que definia de forma objectiva a
condio da arquitectura, foi sendo fragmentado e diversificado. Esta condio do
saber na arquitectura, no se diferencia de forma substancial das alteraes
ocorridas noutras reas de conhecimento, uma contingncia que nos permite
reavaliar o papel dos tratados contemporaneamente. Efectivamente, pode-se
actualmente aferir no ser objectivo do desenvolvimento da arquitectura, a
elaborao de tratados que recomponham os fragmentos dos saberes dispersos
capazes de compor um conhecimento transmissvel e eficaz, tal como foi proposto
em pocas passadas, como sucedeu, no renascimento. De facto,
contemporaneamente, j ningum confia em tentativas de codificao estvel e
definitiva do conhecimento.8
(Duas atitudes crticas (arte e cincia), a prtica isolada ou a prtica fundamentada)
A condio da prtica da arquitectura contempornea, em grande parte, decorrente
da cultura artstica que valoriza o indivduo no confronto com a realidade produtiva
e com o desenvolvimento tecnolgico, permite-nos reconhecer dois tipos de
actuao fundamentais, ainda que estas se constituam efectivamente como
complementares. Por um lado, podemos reconhecer uma actuao de aparente
renncia a todo o tipo de reflexo sistemtica, baseada numa prtica arquitectnica
que se individualiza, na experincia isolada de conhecimentos acumulados e
simultaneamente, por outro lado, podemos verificar que permanece uma outra
vontade baseada na fundamentao da prtica arquitectnica, assente sobre uma
condio terica que lhe permita, ainda que sem uma segurana ou certeza
absoluta, ser objecto de anlise e de debate.
A primeira posio define-se como idealista e concebe a arte como uma mera
manifestao do sentimento ou de conscincia do artista que nega de forma radical
a possibilidade da existncia de uma dimenso cognoscitiva de carcter geral,
prpria da actividade artstica. A segunda define-se como uma atitude positivista
que apenas admite o conhecimento que deriva do pensamento cientfico
sistemtico, tentando aplicar s disciplinas artsticas, critrios e mtodos
directamente extrados do campo da cincia. Estas duas atitudes tm em comum
supor que, inevitavelmente, nunca ser eficaz a aproximao produo 8 - Tafuri, Manfredo, Teorias e Histria da Arquitectura, Lisboa, Editorial Presena, 1988.
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arquitectnica sob um ponto de vista exclusivamente terico. Deste modo, podemos
concluir que, de modo a evitar uma teoria que se auto-fundamente no afastamento
realidade produtiva arquitectnica aproximando-se perigosamente de
posicionamentos dogmticos, ser indispensvel ter sempre em linha de conta que,
no discurso da contemporaneidade, a teoria de arquitectura deve partir do estudo
de obras de arquitectura que se evidenciem pela sua singularidade de
concretizao conceptual, procurando na anlise destas obras de referncia, os
pontos de conexo e permanncias que fundamentem a arquitectura como
condio permanente e intemporal.
(Diferenas e vnculos entre arte e cincia)
Na realidade, durante os ltimos sculos, a cincia assumiu-se como o principal
referente epistemolgico, constituindo os avanos cientficos da era Moderna,
alguns dos principais referentes do pensamento contemporneo, este facto, no
entanto, no pressupe a sua existncia como uma inevitabilidade na formao de
todos os tipos de conhecimento. De todos os modos, no devemos, deslegitimar
todo o discurso cientfico, reduzindo-o apenas a pura racionalidade instrumental,
tal como frequentemente caracterizado contemporaneamente, por alguns
pensadores, mas aceitar e reconhecer a amplitude e complexidade do territrio do
conhecimento.
Neste contexto, devemos pr em evidncia os vnculos existentes entre arte e
cincia, tentando romper os esteretipos que pesam em ambos como campos
contrrios e independentes, sem pontos de contacto. Neste sentido, nem a arte
pode ser reduzida a mero empirismo, nem a cincia pode entender-se como uma
estrita aplicao da racionalidade instrumental, relembrando a necessidade de nos
suportarmos em simultneo na intuio e na reflexo, a primeira como acto puro da
observao, a segunda como aspirao de inteligibilidade.
Efectivamente, a cincia (na sua essncia) prope enunciados abstractos de
carcter geral que podem incidir de maneira prtica no mundo fsico e material,
enquanto, pelo contrrio, a arte procura objectos concretos e singulares capazes
de reformular o mundo das ideias. Esta diferenciao de contedos estratgicos do
campo de actuao da cincia e da arte, onde os primeiros definem princpios de
actuao no discurso cientfico e os segundos se suportam nos exemplos como
processo expositivo e acumulativo do conhecimento artstico so ambos
fundamentais ao desenvolvimento do saber arquitectnico.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
O saber arquitectnico inscreve-se e deposita nas prprias obras e projectos de
arquitectura a sua operatividade e, embora, sendo um conhecimento cifrado
(depende em larga medida de um conhecimento e prtica de um autor), mas no
indecifrvel e impenetrvel, depende sobretudo da capacidade de manipular,
desmontar o conhecimento artstico, cientfico e tcnico. Esta maneira de
descortinar os processos de construo do saber arquitectnico engloba tanto o
resultado, a obra, como o procedimento que est na origem da sua definio em
paralelo com a realidade do construdo. Deste modo, qualquer construo terica
que tenha como objecto a arquitectura deve assumir um papel de suporte transitrio
e auxiliar, cujo motivo essencial sos as obras realizadas ou a realizar.
Efectivamente, toda a arquitectura tem implcita, ou explcita, a existncia de uma
fundamentao terica que estabelece constantemente a relao das formas
arquitectnicas concretas com as ideias e os conceitos que lhes servem de base de
fundamentao. Esta fundamentao terica de contedo reflexivo que est na
base da produo da arquitectura constitui-se, assim, como o fundamento do
conhecimento e saber arquitectnico, no qual a arquitectura no surge como
simples aplicao de um saber ou conhecimento esttico, estabelecido segundo um
modelo dogmtico e pr-estabelecido, mas antes, como um processo dialctico
entre pensamento e aco que se mantm sempre em aberto, deambulando muitas
vezes entre mbitos opostos, ainda que se possam reconhecer motivos, contedos
e permanncia, na anlise e no debate das obras.
Fernando Tvora dizia frequentemente () em arquitectura, o contrrio tambm
pode ser verdade() e relembrava-nos que na arquitectura existem mltiplas
solues possveis para um mesmo problema, estabelecendo a diferena clara,
entre a cincia e o campo da arte. Se a cincia pretende a obteno de uma
explicao, tanto quanto possvel, inabalvel e imutvel (paradigmtica para cada
problema concreto), a arte tem como propsito uma compreenso do
acontecimento que inevitavelmente est dependente do sujeito interpretativo e do
contexto da ocorrncia. No contexto da realidade, tudo depende de como a
interpretamos, um processo frequentemente fragmentado e nebuloso, de
reconhecimento do mundo que nos rodeia, onde necessrio um posicionamento
simultaneamente activo e receptivo, visto que o mundo que interrogamos, no se
fundamenta apenas nos elementos visveis, sendo frequentemente necessrio
descortinar motivos geradores de novas interpretaes.
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(Noo de abstraco em arquitectura - operao mental e processo analtico)
A ideia de abstraco, constantemente associada a algumas tendncias
arquitectnicas, apesar de no existir um acordo geral no que respeita ao seu
significado, , no entanto, recorrentemente usada para designar quer um processo
mental de actuao quer um resultado arquitectnico concreto. Para termos um
entendimento correcto sobre a noo de abstracto convir, deste modo, definir
previamente e com preciso os conceitos implcitos aplicados e o seu contexto de
actuao.
Consensualmente existe um entendimento geral da abstraco como uma
operao intelectual que consiste em separar mentalmente, o que na realidade se
constituiu como inseparvel. Uma qualquer operao analtica, na medida em que
suponha o decompor de um todo unitrio nos seus componentes bsicos, implica
necessariamente tambm um certo grau de abstraco.9
Do ponto de vista filosfico, a abstraco entende-se como um procedimento
cognitivo que tende a separar os aspectos circunstanciais dos aspectos essenciais,
procurando, deste modo, obter um conceito universal a partir do reconhecimento de
diversas situaes ou objectos particulares, alcanando um carcter intemporal.10
9 - Pin, Helio, Arte abstracto y arquitectura moderna, Abstraccin, DPA, n 16, Barcelona, UPC 2001. 10 - Wilhelm Worringer (1881-1965) em Abstraktion und Einfhlung (1908) estabeleceu a interpretao bsica da
evoluo da arte, desde a antiguidade clssica at ao sculo XIX, definida entre dois parmetros de actuao, a
abstraco e o expressionismo. O mpeto de abstraco nasce frequentemente como busca racional da ordem, da
trama imutvel e das formas absolutas, como contraponto arbitrariedade do orgnico e ambiguidade da
expresso. Sobre estes conceitos, fundamentais para entender a arte e a arquitectura do sculo XX, Worringer
escreveu, af de abstraco est presente no princpio da arte e segue reinando em alguns povos de
elevado nvel cultural, enquanto entre os gregos, por exemplo, e outros povos ocidentais foi diminuindo
lentamente at que o af de Einfhlung o substitui (...) Enquanto o af de projeco sentimental est
condicionado por uma aventurada e confiada comunicao pantesta entre o homem e os fenmenos do
mundo circundante, o af de abstraco a consequncia de uma intensa inquietao do homem diante
destes fenmenos (...) Quanto menos a humanidade est familiarizada, em virtude de uma compreenso
intelectual, com o fenmeno do mundo exterior, quanto menor for a sua intimidade em relao a este, mais
poderoso o mpeto com o qual aspira quela suprema beleza abstracta (...) As formas abstractas, sujeitas
lei, so consequentemente as nicas e as supremas formas onde o homem pode descansar frente ao
imenso caos do panorama universal.
Worringer, Wilhelm, Abstraccin y naturaleza, Fondo de Cultura Econmica, Madrid, 1997, citado em Montaner,
Joseph Maria, Las formas del siglo XX, Barcelona, Editorial Gili, SA, 2002.
- Ver igualmente em AA/VV, Camposici III, Curs 1997-1998, Antologia de Textes I, Barcelona.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
(Abstraco na arte e na arquitectura moderna)
No campo da arte, o significado de abstraco parece mais definido e estabilizado,
onde, efectivamente, se contrape a pintura abstracta pintura figurativa, por no
ter como objectivo a representao da realidade tal como a percepcionamos. Na
arte pictrica esta noo circunscreve-se, de maneira geral, a um perodo histrico
especfico que se identifica com a modernidade, mas esta restrio apenas diverge
no significado geral do seu significado. Ainda no campo da arte, a proposta de
abstraco pressupe, na sua essncia, a negao de uma representao de
mbito figurativo anulando o intento de evocao da imitao da realidade
procurando, no essencial, no valorizar os aspectos casusticos emergentes, mas
sim, a ordem intrnseca da construo das formas de composio estabelecidas.
Em arquitectura, o prprio processo de representao, j supe em si mesmo uma
condio de abstraco mental, pois antecipa uma realidade por processos no
reais nossa percepo do espao ou da matria, as seces, horizontais ou
verticais, que obedecendo s regras prprias da disciplina, produzem uma estrutura
construda imaginria (apenas) permitindo um entendimento futuro (para iniciados)
sobre as caractersticas espaciais, ou materiais que a obra aspira a realizar.
Relativamente ao nvel dos significados tambm no mbito da arquitectura se pode
reconhecer, semelhana dos princpios definidos anteriormente para a arte, o
campo de actuao do abstracto, frequentemente associado valorizao dos
aspectos essenciais da forma, quer ao nvel do processo de composio formal,
quer ao nvel da actuao construtiva e da definio material do objecto
arquitectnico. Deste modo, a arquitectura ser tanto mais abstracta, quanto mais
desligada de todos os constrangimentos que a rodeia, separando-se da sua
implicao com o mundo, dotando-se de regras especificas de conformao, que
tornam mais importante a forma das relaes estabelecidas que o valor especfico
dos seus elementos constituintes.11
11 - Foi precisamente no princpio do sculo XX, com as vanguardas abstractas (a partir de autores como
Mondrian, Kandinsky, Malevitch, Klee) que a forma voltou a ser entendida como a essncia, a composio
estrutural interna, a estrutura mnima irredutvel constituda por elementos substanciais e bsicos. Esta concepo
foi fundamentada posteriormente pelas teorias lingusticas e pelo pensamento estruturalista.
Na pintura, o conceito de abstracto pode ser localizado em 1910, data em que Kandinsky pinta a sua primeira
improvisao e em 1915 quando Malvich expe os seus quadros supremativistas.
AA/VV, Abstraccin, DPA, n 16, Barcelona, UPC 2001.
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Esta condio de abstraco anula em parte a condio material da arquitectura
que, em certa medida, se torna irrelevante no momento em que nos propomos fazer
um juzo de valor sobre as qualidades artsticas de uma obra.
(Noo de forma entre o mbito figurativo (particular) ou abstracto (universal))
Convm igualmente referenciar que a noo de forma que aparece frequentemente
associada ao conceito de abstraco inclui tambm, no seu domnio, de maneira
implcita os dois campos distintos que caracterizam a arquitectura, o mbito
figurativo e o mbito da abstraco. Por um lado, a forma pode dizer apenas
respeito aparncia do objecto, definida pelo aspecto ou conformao externa e
convertendo-se em sinnimo de figura. Por outro, a forma, pode ser associada ou
identificar a constituio interna do objecto referindo-se disposio e ordenao
geral dos elementos constituintes e prximo da identificao da forma como
conceito moderno de estrutura.
Estas duas apreciaes sobre a forma diferenciam, as duas opes de apreciao
arquitectnica, uma prxima dos aspectos de figurao e outra da concepo
abstracta. Na primeira apreciao, a forma define-se como figura, com um claro
carcter semntico que remete para as dimenses perceptivas do objecto. Na
segunda apreciao a forma define-se como estrutura, numa vertente sintctica que
remete para as dimenses inelegveis do objecto. Diferenciam-se deste modo, as
qualidades sentimentais da obra e a exaltao de aspectos particulares, ou em
contraponto, a procura de universalidade e inteligibilidade. Deste modo, a ideia de
abstracto, adquire um papel importante na definio das caractersticas de
apreciao de uma obra, por nos permitir pr em comparao diferentes pocas,
confrontando o antigo com o novo, como suporte dos interesses actuais, permitindo
abrir novos caminhos para o entendimento do presente.
(A tecnologia como resultado de progresso)
Nesta procura de compreender o saber arquitectnico, tomada entre vnculos de
arte e de cincia, torna-se essencial esclarecer ainda o conceito de tecnologia. Este
conceito normalmente associado ao domnio da cincia aplicada, no entanto, no
se reduz estrita racionalidade instrumental. Se o conceito de tecnologia um
factor de entendimento universal que se fundamenta como essencial no discurso
arquitectnico e no desenvolvimento humano ao longo dos tempos, tambm
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
notrio que assume contemporaneamente novas dimenses e entendimentos que
so geradores de interpretaes diversas no discurso arquitectnico.
A transferncia quase definitiva para um sistema industrializado que promove em
definitivo a mecanizao dos sistemas de manufactura, com sistemas de pr-
fabricao e produo massificada, desde o fim do sculo XIX, caracterizam em
larga medida as alteraes ocorridas na estrutura do aparelho produtivo actual.
Estas transformaes no aparelho produtivo, tm contemporaneamente, um
significado bem visvel na forma como so encaradas as suas transformaes, com
consequncias na prpria organizao da estrutura da sociedade, fortemente
influenciada pelas novas tecnologias e no prprio significado do termo tecnologia.
(A noo de tectnica Heidegger e o conceito de techn, ferramenta [instrumento] e fabricao [processo])
A techn, a palavra grega para tecnologia, significa segundo Heidegger, a arte de
fazer. Apesar de parecer paradoxal, esta definio de techn, designa no s os
instrumentos utilizados como tambm a prpria fabricao (processos da
produo), num entendimento que se posiciona de modo privilegiado no mundo de
significados, o que poderemos comprovar, pelo entendimento deste termo por
Heidegger, ao definir techn como potico e ordenador.12
Esta interpretao da palavra techn foi inicialmente sugerida por Vitrvio em De
Architectura. Para Vitrvio, a arquitectura alcana o sentido absoluto de unidade,
quando se torna impossvel adicionar ou retirar, uma parte ou elemento ao
conjunto, assim, a norma de composio tripartida desenvolvida em todos os
artefactos clssicos, no so considerados apenas como uma categoria esttica
(pura), mas igualmente como um modo de ver e construir.
(Techn como conceito de fazer, at ao sculo XIX - desenho e construo para Alberti)
Neste entendimento, os arquitectos de renascimento associaram palavra techn
s conotaes religiosas de dualidade entre o divino e a condio terrena.
Para Alberti, desenho e construo (composio) so duas temticas separadas
ainda que correlacionadas.13 A construo engloba todas as tcnicas e artes
necessrias ao desenvolvimento produtivo, enquanto os desenhos, ou lineamenta,
12 - Heidegger, Martin, La pregunta por la tcnica, em Conferencias y artculos, Barcelona, Ediciones del Serbal,
1994. 13 - Alberti, De re aedificatoria, Livro I, cap. I, traduo de Javier Fresnillo Nez, Madrid, Ediciones Akal, 1991.
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precede a construo e abrange a condio global do esboo, correcto e preciso,
composto de linhas e ngulos. Com esta distino, Alberti, antecipou o cisma
contemporneo entre teoria e prtica, e a dualidade entre desenho e construo
prevalecente no discurso Moderno. Deveras, muita da dualidade de entendimento
entre desenho e construo quer no pensamento do sculo XIX quer no
pensamento contemporneo, tem a sua fundamentao, na interpretao das
formulaes de Alberti.
Os tratados de arquitectura elaborados at meados do sculo XIX, discutem
extensivamente o campo de actuao da construo. No entanto, o seu significado
foi inicialmente ajustado pelo contexto metafsico de techn, em que o conceito de
fazer conformado sob um sistema implacvel e coerente de valores estticos e
normas tcnicas, fundamentado pelo discurso humanista.
(Techn a partir do sculo XIX - ideia da tcnica, significado e processo construtivo)
A partir de meados do sculo XVIII a mecanizao da produo e o aparecimento
de novas tcnicas e materiais de origem industrial, tornou possvel interpretar a
arquitectura gtica, segundo o positivismo de Laugier. A cabana de Laugier, s
podia alcanar a sua forma arquitectnica, atravs do ajustamento do discurso
normativo da forma com a ideia de techn, como processo biunvoco entre os
significados e os aspectos empricos da construo. Neste contexto, retomada a
interpretao de Alberti do desenho que passar a ser considerado como
expresso potica e ideal arquitectnico, obrigando os arquitectos do sculo XIX e
incio do sculo XX, a mudar o seu sistema de classificao, de modo a poder
utilizar as novas tcnicas e materiais industriais.
(Ruptura entre significado e construo - como arte csmica e tectnica produtiva)
Para esta temtica importante a inovao introduzida por Gottfried Semper que
sugere uma ruptura entre os significados e a construo no entendimento de
tecnologia como originrio do conceito de tectnica. Gottfried Semper radicaliza a
questo relativa origem da arquitectura, substituindo o discurso arquitectnico de
progresso linear e ordenada, do discurso humanista, por um sistema formativo do
processo produtivo. Transformando o discurso arquitectnico num modo de pensar
e de fazer que anula simultaneamente o contexto metafsico de techn e de
tectnica, bem como, a tenso entre os significados recorrentes e a experincia
(processos do fazer).
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
Esta transformao, no discurso arquitectnico importante para entender o
pensamento de Semper sobre a ideia de tectnica. Na definio de Semper, de
tectnica, existem dois pontos que transcendem a condio humanista. Primeiro,
em oposio classificao tradicional que associa a arquitectura com as artes de
representao, Semper considera a tectnica como uma arte csmica, anloga
msica e dana. Segundo, criticando o historicismo e a condio esttica, da sua
poca, Semper associou a tectnica com as outras artesanias produtivas,
caracterizadoras do desenvolvimento humano: a olaria, a carpintaria, a maonaria,
e a tecelagem. Desde este ponto de vista, considerou a produo arquitectnica
interligada com os aspectos essenciais, quer filosficos, quer produtivos do
desenvolvimento humano.
O ecletismo dominou o pensamento arquitectnico, no sculo XIX com uma
apetncia que reflectia um estado de esprito, em que, a perda de sentido do uso da
linguagem clssica, era tida como inevitvel, ainda que no existisse uma
alternativa vivel. Esta condio reflectia-se nas diferentes formas de interpretar os
materiais, no seu significado, ou uso, como o ferro e o ao, ou o beto armado,
enquanto materiais emergentes no sculo XIX. Curiosamente, apesar deste
passado, o tema da construo enquanto contedo interpretativo da arquitectura,
parece no ocupar de forma plena um lugar formativo no discurso arquitectnico
contemporneo.
(Dissoluo contempornea do conceito de techn e o aparecimento da forma geomtrica abstracta)
O desfasamento entre diferentes entendimentos eliminou em definitivo o conceito
de techn, anteriormente purificado pela linguagem clssica, abrindo campo para
que os arquitectos (do sculo XX) desenvolvessem um entendimento de forma
geomtrica abstracta tomando-a como o elemento expressivo fundamental. Esta
condio, resulta em parte, do facto da maioria das teorias actuais sobre a
arquitectura, tendencialmente criticarem alguns dos aspectos da modernidade e
subsequentes temas e conceitos que evoluram a partir da segunda metade do
sculo XIX.
(Montagem como conceito contemporneo de tectnica)
A importncia do conceito de montagem no discurso arquitectnico
contemporneo remete para o pensamento de Semper, sobre a arquitectura,
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considerando que o processo de idealizar do espao, evoluiu independentemente
das tcnicas desenvolvidas noutras indstrias.
A montagem no s um modo de fazer partilhado pelo processo de produo de
diferentes meios culturais, como tambm corporiza a experincia contempornea
de fragmentao. De facto, a mecanizao produtiva tornou impossvel transferir a
tradio, inclusive as artesanias produtivas, sem a sujeitar massificao dos
processos produtivos, fomentada pelo progresso tecnolgico, transformando-os em
procedimentos de uso corrente. A ideia de montagem permite, assim, formular um
discurso sobre a qual possvel negar o contedo metafsico da dualidade entre
construo e representao, ao revelar a tectnica como elemento mediador entre
significante e significado. O campo de actuao criado entre significante e
significado fornece-nos, deste modo, as temticas essenciais para a definio da
tectnica como a construo de espao qualificado.
(A tectnica como conhecimento da matria construda e dependente do seu contexto de actuao)
No contexto contemporneo, tornou-se recorrente o uso do termo tectnica como
modo de afirmao, de qualidades inerentes ao processo de criao de objectos
arquitectnicos no mbito, quer dos instrumentos de projecto, quer da sua
concretizao e discusso como produto final. Deste modo, ser objectivo
primordial, entender o campo efectivo da ideia de tectnica, como meio estruturante
do processo arquitectnico contemporneo, avaliando a sua real expresso na
produo da arquitectura.
O conceito de tectnica adquire especial relevncia no enriquecimento do
pensamento arquitectnico, no decorrer do sculo XX. A temtica, reintroduzida por
Sekler, no incio da dcada de 60 do sculo XX, com o seu texto introdutrio,
Structure, Construction, Tectonic, centrou o processo de criao do objecto
arquitectnico, como um entendimento da matria construda, decorrente de
factores externos, culturais e de contexto, para alm dos entendimentos
especficos da disciplina, como a estrutura ou a construo. Este entendimento de
ndole cultural, posteriormente refundamentado e enfatizado por Kenneth Frampton
em, Studies in Tectonic Culture: The Poetics of Construction in Nineteenth and
Twentieth Century reintroduz a temtica da tectnica no discurso arquitectnico
contemporneo, promovendo a discusso volta das questes que influenciam a
definio dos seus produtos e objectos.
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
Kenneth Frampton estabelece uma teoria centrada na ideia de tectnica que
reconstri, uma viso crtica sobre a histria da arquitectura, pela caracterizao do
carcter emergente de uma produo, enquanto resultado de contextos de
insero, cultural e regional, qualificando desse modo, as arquitecturas da
resultantes. Numa primeira abordagem o factor tectnica, ter como ponto de
partida os conceitos adstritos prpria prtica da arquitectura, como a incorporao
de novos conceitos de estrutura, novos materiais e novas tecnologias construtivas,
mas em que, o processo interpretativo da sua incorporao no processo
arquitectnico, ter sempre subjacente os factores especficos identificativos:
cultura, identidade, etc., dos seus contextos de actuao. Deste modo,
relacionando os processos e as metodologias de projecto com as estratgias de
construo, retoma de certa forma, os conceitos vitruvianos de significado e
significante, de uma viso construtiva do objecto, oscilando entre uma definio
potica (poiesis) e uma definio instrumental, na definio do campo de actuao
da arquitectura.
(Tectnica actualmente como identificativo de processo e produto)
Nesse sentido, o conceito de tectnica, tal como o propomos, identificar em
simultneo tanto os processos como os seus produtos, como resultado da matriz
cultural estrita do seu contexto, reorientando o debate para a sua capacidade de
transformar o prprio discurso arquitectnico, em sintonia com a alterao das
prticas construtivas recorrentes. A questo que ressalta deste entendimento da
arquitectura centrada numa ideia de tectnica, o seu processo de actuao,
assente na interaco entre os factores tecnolgicos e os ideais arquitectnicos que
ao longo do tempo induzem as alteraes ao pensamento arquitectnico. Esta
interaco entre uma fenomenologia da tectnica e dos processos produtivos,
investigar de que modo, estas duas componentes, se assumem na formatao do
processo arquitectnico e como que este se incorpora no processo produtivo.
(Tectnica relao entre tcnica e composio - tecnologia e forma-essencial para o conceito de estrutura)
A tectnica, inserida no debate de temticas fundamentais no discurso
arquitectnico durante parte do sculo XIX e do sculo XX , sobretudo, sustentada
na tecnologia como instrumento e motivo fundamental da construo dos seus
objectos, procurando como metodologia principal, antes de mais, relacionar os
aspectos tcnicos com os aspectos de composio.
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Verificaremos, igualmente, como as diferentes formulaes da tectnica se
fundamentam como geradoras de novas percepes arquitectnicas reformulando
o entendimento de ideais arquitectnicos de carcter tecnolgico ou de ideal
tectnico numa construo formal que tomada aqui como geradora das relaes
entre tecnologia e arquitectura. Abordaremos igualmente, a relao entre processo
e tecnologia como resultado de um designo tecnolgico industrial do pensamento
contemporneo, com especial relevncia, na questo da estrutura, de novas
solues tcnicas ou materiais e da sua relao no processo de idealizao da
forma construda.
Ser atravs do entendimento da ideia de um sistema integrado que
fundamentaremos a ideia do objecto construdo como resultado que oscila entre a
ideia de organismo e de mquina enquanto geradora de novos entendimentos
sobre novas tecnologias de construir e novas prticas construtivas.14
Abordaremos as ideias e os mtodos construtivos, com base na seleco dos
casos de estudos, procurando a dimenso tica das suas abordagens de modo a
aclarar convenientemente a sua importncia no discurso contemporneo.15
14 - A diviso entre o natural e o artificial, que caracteriza parte da cultura industrial, um fenmeno recente. O
advento da modernidade, especialmente a partir da segunda metade do sculo XIX com o predomnio do
racionalismo positivista, provocou uma ciso entre o artificial e o natural. Na noo de organon, segundo
Aristteles, o natural e o mecnico no eram antagnicos, mas complementares, condio que permaneceu desde
a cultura da antiguidade clssica at a cultura do Renascimento e pr-industrial. Leonardo da Vinci desenvolveu as
suas invenes, ou os estudos sobre a anatomia do corpo humano como uma unidade de pensamento,
experimentao e criao. Nos sculos XVI e XVIII, a cincia moderna, avanou sistematicamente pela reflexo
sobre os fenmenos da natureza e do universo, mantendo a simbiose entre cincia e natureza.
Montaner, Joseph Maria, Las formas del siglo XX, Barcelona, Editorial Gili, SA, 2002.
- Subsistem no entanto, interpretaes que contemporaneamente associam a forma natural com os mecanismos
interpretativos da cincia, introduzindo nos seus processo de trabalho condies poticas associadas natureza
das coisas, a par com as razes absolutas da fsica e da matemtica, como foram os exemplos na dcada de 50
do sculo XX, de Cyril Stanley Smith e Robert Le Ricolais. Deste modo, mantm-se permanente no discurso
contemporneo, ainda que; com outra roupagem, a ideia de forma equilibrada de todos os organismos que pode
ser explicada pela interaco ou balano de foras, descrita de acordo com as leis da esttica, da fsica e da
matemtica. Como sugeria DArcy Thompson, no existem formas orgnicas que no estejam regidas por
leis fsicas e princpios matemticos.
Thompson, DArcy, Sobre el Crecimiento y la Forma (On Growth and Form (1917)), Madrid, Cambridge University
Press, Edited de J. T. Bonner; 2003 (1 ed. Cambridge University Press, 1961). 15 - Collins situa a construo e as origens ideolgicas e formais do Movimento Moderno a partir 1750.
Desmistificando uma emergncia da condio Moderna, situada prxima da contemporaneidade, desloca os seus
contedos formadores para as origens formais do perodo iluminista, momento em que se iniciam as
transformaes sociais e tecnolgicas mais profundas, fundadoras da cultura contempornea e centrada na
autonomia e liberdade do indivduo. Nesta perspectiva, a arquitectura contempornea surge como resultado de
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
(Conceito de tectnica na anlise das obras) A seleco de obras de autores contemporneos reconhecidos, permitir explorar o
tema da tectnica, em simultneo, com a generalizao das temticas da
construo como instrumentos privilegiados de trabalho contemporneo, tendo
como objectivo reconhecer o grau de sensibilidade ao tema da tectnica e de que
maneira se mantm permanente, desde a construo do discurso Moderno.
A temtica da construo e suas implicaes poticas na definio da arquitectura
so temporalmente transversais e estruturantes do discurso arquitectnico e
provavelmente permanentes no discurso actual. Deste modo, procuraremos
reconhecer no discurso contemporneo, as estratgias recorrentes que tornam os
temas da construo instrumentos privilegiados e por vezes exclusivos que
reflectem o eterno retorno aos mesmos fundamentos, ainda que com diferentes
mscaras formais.
(Noo de tipo - importncia actual da ideia de tipo)
Numa abordagem identificao de modos de actuao permanentes torna-se
tambm como essencial esclarecer o conceito de tipo e tipologia como termos
recorrentes do discurso arquitectnico ao longo dos tempos. Embora os termos de
tipo e tipologia sejam lugares comuns no discurso arquitectnico, existe
efectivamente um certo grau de impreciso e algum equvoco sua volta. Estes
conceitos, serviro para nos reencontrarmos com arquitecturas que, sendo de
outros contextos temporais, ainda condicionam o debate contemporneo,
procurando sobretudo identificar formas de actuao permanentes e estabelecer
possveis padres de actuao futuros. A clarificao destes termos, permite uma
reflexo mais rigorosa sobre as condies da obra de arquitectura ao examinar o
uma progresso natural, de acontecimentos e transformaes correlacionadas ao nvel das alteraes das
condies tcnicas e sociais, cuja origem est na base da cultura arquitectnica contempornea. Collins considera
que a simpatia dos arquitectos da segunda metade do sculo XVIII, s aluses Histricas, s justificaes
analgicas, s perspectivas assimtricas, o detalhe bruto, cuja utilizao de tipos orientais e tcnicas pictricas,
no s os diferencia da tradio dos sculos anteriores, como os relaciona intimamente com os arquitectos
contemporneos. Atribuindo, por este motivo unidade ao perodo 1750-1950, Collins considera que este tempo
apenas pode ser considerado como um s perodo arquitectnico A estrutura temtica, do livro, reflecte uma viso
de formato clssico, suportada em conceitos de estrutura/construo, composio e organizao, como processo
recorrente de interpretao da produo arquitectnica.
Collins Peter, Los ideales de la arquitectura Moderna, su evolucin (1750-1950), Barcelona, Editorial Gustavo Gili,
S.A., 1981.
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carcter especfico da obra, bem como, ao verificar quais os mecanismos de
produo que os tornaram, ou tornam, possveis, obrigando-se atravs desta
reflexo, a reconhecer as origens da prpria disciplina.
Ao procurar entender as aparentes transformaes relativas a novos processos
expositivos que ocorrem contemporaneamente, redescobre-se que, na sua
essncia, estes processos so permanentes, do contedo interpretativo do prprio
processo de fazer. Deste modo, a noo de tipo, aparecer como ponto
imprescindvel a observar, no que caracteriza e diferencia a obra de arquitectura
contempornea, da desenvolvida no passado, pela verificao das constantes
formais que se reflectem, quer na produo, quer no uso dos produtos finais. Ser
necessrio este entendimento na condio singular e prpria de cada obra e nas
invariveis de procedimento que reflectem e permitem, enquadradas em famlias de
actuao, descobrir as permanncias do discurso arquitectnico.
(Duas noes de tipo: a platnica [ideia de base] a aristotlica [manuteno de princpios])
A apropriao da noo de tipo permite-nos reconhecer identidades aparentemente
diversas, associando-as pelos mesmos processos de actuao. Neste contexto, a
questo que definir a noo de tipo, ter duas formulaes distintas como base de
actuao. Na primeira, o tipo ser sempre representao da ideia de base, que
permanente apesar de especfico (viso platnica), na segunda, o tipo ser o
denominador comum que pode apreciar-se numa srie de obras e que leva
observao atenta da realidade que mantm o princpio de continuidade ao longo
da Histria (viso aristotlica), usadas aqui como ordenadoras da anlise sobre as
obras seleccionadas.
(A noo de estrutura formal, suporte essencial do tipo na identificao de permanncias rupturas nos modos de fazer, na tectnica)
Condicionando de maneira mais completa, ou mais sinttica, o suporte da noo de
tipo que organiza de forma indirecta este trabalho surge a noo de estrutura
formal, como tambm, uma condio especfica do entendimento da realidade
construda. Entende-se, no entanto, que o conceito de estrutura formal nada tem a
ver com a simplificao que supe a elaborao de esquemas ou diagramas. Este
suporte inevitvel na identificao do tipo, implica o reconhecimento dos elementos
comuns que permitem a identificao de obras de arquitectura que compartilham a
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
mesma estrutura formal e dela emerge, mais uma vez a questo dos contedos
universais do processo de fazer.
A estrutura formal, responsvel pela noo de tipo, est presente em toda a obra de
arquitectura, de maneira no muito diversa ao modo como aparece na iconografia
na histria da pintura. Deve-se salientar a estreita relao que existe entre o
conceito de iconografia e o conceito de tipologia, tal como manejado pelos crticos
e historiadores. Deste modo, o conceito de iconografia, adquire um valor
fundamental para o estudo das questes tericas volta da noo de tipo em
arquitectura.
O conceito de iconografia na pintura ser a mesma que aparece na variedade com
que se nos apresentam as obras pertencentes a um mesmo tipo de arquitectura.
Assim podemos considerar que o conceito de iconografia no est muito distante
do conceito de tipologia e a conscincia do paralelo estabelecido por estes dois
conceitos, permitir reforar o entendimento da obra de arquitectura.
Esta condio fragmentada da realidade, com que o arquitecto trabalha, um
conceito que se refere interaco que se manifesta entre distintos elementos
convergentes do tipo.
(Noo de tipo em arquitectura - aspectos especificamente disciplinares e singularidade circunstancial)
O conceito de tipo, na especificidade da obra de arquitectura, implica seleccionar
quais as condies a aplicar capazes de aceitar tanto os aspectos especficos e
prprios da disciplina, como responder singularidade que as circunstncias
reclamam a cada obra concreta. Naturalmente, ao no ignorar a necessidade de
explorar as condies prprias da prtica profissional, compreende-se, no
desenvolvimento da obra, o processo de manipulao no mbito do conceito de
tipo. A descrio dos mecanismos de manipulao do tipo, usados pela arquitectura
enquanto elemento fundamental da condio cultural, permitem definir a
centralidade do debate disciplinar.
(A herana contempornea das noes de composio, mtodo, funo, tcnica)
A pertinncia das obras a analisar, radica na aceitao das condies de partida,
centradas na sua origem no discurso do Moderno, estabelecendo por esta via o
quadro de fundamentao necessrio ao seu entendimento. Este discurso de
matrias permanentes no debate contemporneo , por sua vez, fundado na
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interpretao diferenciada das constantes formais que nos permitem perceber a
continuidade que os seus contedos mantm ao longo do tempo.
Aparentemente, a arquitectura contempornea est marcada pela transformao do
mundo formal e social estabelecido no renascimento, situao que se inicia com a
ruptura do espao renascentista, transposto fragmentado e desconexo para a
ilustrao do neoclassicismo. Se transpusermos este processo de destruio e
transformao formal, para o mbito da prtica profissional, encontramo-nos com o
arquitecto que j deixou de servir os objectos para fazer o mesmo perante a
realidade, numa concretizao que deveria constituir-se como razo ltima da
arquitectura. A composio a que se juntou posteriormente o mtodo define os
instrumentos ao alcance do arquitecto que far da funo e da tcnica a razo de
ser do seu trabalho e os instrumentos privilegiados na construo da identidade
Moderna. Deste modo, a renovao do interesse na noo de tipo emerge no
reconhecimento da sua necessria interferncia na prtica projectual, colocando a
tipologia como alternativa metodologia.
(Noo de estrutura a fragmentao actual de saberes em disciplinas independentes)
Contemporaneamente, somos obrigados a mover-nos num universo de escalas
aumentadas, a transformao da noo de proximidade fsica tornou-se muito
diferente da do passado, no qual a base de confiana nascia na esfera da
familiaridade. Para este facto contribuiu a cincia e o desenvolvimento tcnico que
tal como no passado, permitiram alterar o campo da percepo da realidade em
que nos movemos, obrigou a reformular o mapa das referncias fsicas, a
compreend-lo dentro das estruturas harmoniosas, apreciveis desde a percepo
visual, de modo a organizar os novos entendimentos em conformidade com as
novas perspectivas. A fragmentao da experincia e do conhecimento que ocorreu
no sculo XX, pulverizou-se em diversas disciplinas, aparentemente independentes,
cada uma com uma linguagem prpria, cada vez mais especializadas, tornando
manifestamente impossvel, reconhecer todas as variantes do mundo que nos
rodeia.
(A estrutura como procura de inter-conexo de saberes)
A nova condio contempornea de diversificao do conhecimento, mais ampla
claramente reminiscente do desenvolvimento cientfico iniciado no renascimento
que, apesar de abranger um espectro amplo de conhecimentos, estavam ainda
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MATRIA DO PROJECTO. IDEAIS PURISTAS E RAZO TCNICA NA ARQUITECTURA CONTEMPORNEA
fortemente interligados pela estrutura rudimentar do conhecimento, herdeira da
cultura clssica, o que permitia falar da constituio de conhecimento universal e
humanista. Actualmente coloca-se-nos uma nova escala de existncia, as relaes
conhecidas do conhecimento so comummente fragmentadas, transformando uma
cultura de saberes, numa cultura estruturada e compartimentada pela cincia.
Neste sentido, torna-se imperativo encontrar novas condies ordenadoras que
permitam unir o nosso entendimento comum e ajustar-se ao esprito do nosso
tempo.
(O papel da viso [inteligncia visual] como instrumento mediador da estrutura)
Os novos conhecimentos tm sempre uma origem e preocupao comum, a
circulao das ideias e dos conhecimentos. Esta circulao procura inter-conectar
diferentes disciplinas de modo a facilitar o reconhecimento global do mundo que
nos rodeia e a permitir novos entendimentos que se possam apresentar nos
campos cientficos e tecnolgicos, como forma de captar os seus significados, as
suas matizes e fundaes humanas. Neste mbito a viso (idealizao) humana
entendida como inteligibilidade (processo mental de entendimento do que se
observa) tem uma posio central no momento de dar forma e significado nossa
envolvente fsica e espacial. A viso (idealizao) procura entender os novos
aspectos do reconhecimento da natureza, revelados pela cincia moderna, mas
sobretudo atravs da experincia dos artistas, como herdeiros privilegiados das
aspiraes criativas do devir presente que se reala a nossa percepo da
condio humana de possvel dilogo com a realidade contempornea intelectual e
tecnolgica.
(Estrutura como evento de ordenao de saberes)
Na possibilidade de reconhecimento do nosso mundo como uma totalidade inter-
conectada, aparece a noo de estrutura essencial viso do arquitecto e ao
exerccio da arquitectura. A estrutura, na sua condio essencial, a unidade
formada pelas partes e unio de entidades, um sistema de coeso dinmica na
qual, a forma e o formar, so coexistentes e intercambiveis, constituindo-se, desta
maneira, como um sistema de foras inter-relacionadas percebidas como uma s
entidade espao-temporal. A idealizao est orientada para o reconhecimento de
estrutura e uma vez que as conexes tradicionais se vo desmoronando, os nossos
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esforos criativos reorientam-se para procurar novos princpios de ordenao que
substituam os antigos.
(A estrutura como elemento central da inteligibilidade - o papel da estrutura na cincia e na arte)
A noo de estrutura igualmente central na percepo da nossa maneira de
compreender como o demonstraram as teorias da gestalt. As investigaes sobre a
natureza da linguagem mostram que as propriedades estruturais da lngua tm um
efeito fundamental na estruturao do pensamento.16
As artes tambm proporcionaram os paralelismos significativos com a investigao
cientfica e nesse sentido, os artistas do princpio do sculo XX tentaram abranger
todas as condies contemporneas, procurando princpios de estrutura na arte.
Em vez de retratarem apenas o objecto de interpretao ilusria, que lhes era
perceptvel, inventaram imagens e estruturas espaciais, partindo de superfcies
neutras no moduladas, de figuras abstractas e de cores primrias e lisas que eram
usadas como blocos de construo mental.17
16 - As teorias de gestalt, demonstraram que nos processos perceptivos e cognitivos, os eventos psicolgicos no
ocorrem atravs da acumulao de elementos individuais dos dados sensoriais, mas antes pelo funcionamento
coordenado por redes claramente desenhadas de sensao, determinadas pelas leis da estrutura (trama de
relaes). 17 - Ainda que com formulaes de partida diversas, podemos reconhecer diferentes correntes estilsticas, desde o
neo-plasticismo do De Stijl, o Cubismo e o Purismo.
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III.2 - A MODERNIDADE COMO PRECEDENTE PARA O ESTUDO DA CONTEMPORANEIDADE. (O suporte moderno no entendimento da contemporaneidade)
O estudo tendo como objectivo principal, a aferio dos campos de actuao da
arquitectura contempornea, fundamentalmente no entendimento do processo de
transformao do percurso conceptual e produtivo e no domnio da arquitectura
enquanto arte aplicada, toma como ponto de partida as referncias formais que
vinculam a nova ordem espacial do Moderno, estabelecida na conscincia actual
como suporte fundamental para o entendimento da contemporaneidade. O estudo partir, portanto, da matriz de consolidao da conscincia do Moderno
procurando as fundamentaes para a teoria e prtica da arquitectura
contempornea e indagando os fundamentos estticos e conceptuais que se
constituiro como instrumentos privilegiados da arquitectur