matéria da revista contexto medo

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Q uem conheceu o mundo antes do final dos anos noventa e da relativa popularização da Inter- net sabe que o mundo se transformou profundamente. Hoje, quase um terço da população mundial tem acesso a rede de computadores. As mudanças que o mundo sofreu são astronômicas. O tempo de deixar os produtos pendurados na conta do quitandeiro de confiança vai passando, o tempo de compras on-demand vem substi- tuindo-o: segundo o Instituto Nielsen, quase 500 milhões de pessoas visitam mensalmente os quatorze maiores sites de vendas pela rede. No Brasil, os reflexos são tangíveis. Com 72 milhões de usuários, somos o povo que passa mais tempo plugado. O faturamento das vendas Online já su- pera o atingido pelos shopping-centers, circulando quase oito bilhões até o mês de outubro, segundo a FECOMERCIO. Um nome entre todas essas estatísti- cas é o de Carlos Nakabayashi, um arquiteto que começou a usar a rede para compras já em meados dos anos noventa, através do site Netbooks, que mais tarde seria comprado pelo Sub- marino.com. Carlos é um entusiasta da Web, e se utiliza dela tanto para fazer operações de internet banking quanto para comprar produtos em sites nacio- nais ou estrangeiros, como o Amazon. com, que lhe permite encontrar produ- tos não disponíveis no país e, graças ao dólar barato, a preços interessantes. Contudo, se esses dados são entusi- asmantes para quem quer integrar-se ao comércio digital, Carlos faz algu- mas ressalvas: “O rastreamento dos produtos em negociação ainda precisa ser aprimorado e é importante verificar se o produto que você está comprando pode parar na receita federal e sofrer taxação adicional, porque nem todos sofrem, mas os sites não dão informa- ções a esse respeito”. A própria FECOMERCIO traz in- formações que podem fazer com que o consumidor ainda prefira fazer suas compras pessoalmente: desvios de conta bancária e compras indevidas de cartão de crédito empatam no se- gundo lugar do pódio de crimes digi- tais que mais acometem os paulistanos, atingindo 22% desta população (per- dem apenas para a clonagem de pági- nas pessoais, que já atingiu 23,5% dos usuários). Para se proteger de tais ameaças, Carlos tem sua estratégia: “Sempre verifico se o site é blindado, e faço o pagamento via PayPal (empresa que administra a transferência de dinheiro entre usuários e empresas via cartão de crédito, débito ou contas de banco), além de usar um programa de antivírus sempre atualizado”. Além das dicas de um usuário ex- periente como Carlos, o professor do Bacharelado em Ciências da Com- putação da UNESP de Bauru, Clayton Reginaldo Pereira, especializado em segurança da informação, tem alguns conselhos para não se tornar vítima de crimes virtuais: “A internet é bastante suspeita, dependendo da ferramenta utilizada. Uma Lan-house não é um lugar adequado para se realizar tare- fas que necessitem da confirmação de dados pessoais, por exemplo, porque Anzol Digital 52 Texto, design: Thiago Teixeira Ilustração: Paulo Victor Teixeira TECNOLOGIA Os especialistas Clayton Pereira e Fábio Assolini ensinam como se proteger para não entregar seus dados à crimi- nosos ao fazer compras na internet

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revista Laboratório feita pelos alunos do 6º termo do curso de jornalismo da UNESP Bauru de 2010.

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Quem conheceu o mundo antes do final dos anos noventa e da relativa popularização da Inter-

net sabe que o mundo se transformou profundamente. Hoje, quase um terço da população mundial tem acesso a rede de computadores. As mudanças que o mundo sofreu são astronômicas.

O tempo de deixar os produtos pendurados na conta do quitandeiro de confiança vai passando, o tempo de compras on-demand vem substi-tuindo-o: segundo o Instituto Nielsen, quase 500 milhões de pessoas visitam mensalmente os quatorze maiores sites de vendas pela rede.

No Brasil, os reflexos são tangíveis. Com 72 milhões de usuários, somos o povo que passa mais tempo plugado. O faturamento das vendas Online já su-pera o atingido pelos shopping-centers, circulando quase oito bilhões até o mês de outubro, segundo a FECOMERCIO.

Um nome entre todas essas estatísti-cas é o de Carlos Nakabayashi, um arquiteto que começou a usar a rede para compras já em meados dos anos noventa, através do site Netbooks, que mais tarde seria comprado pelo Sub-marino.com. Carlos é um entusiasta da Web, e se utiliza dela tanto para fazer operações de internet banking quanto para comprar produtos em sites nacio-nais ou estrangeiros, como o Amazon.com, que lhe permite encontrar produ-tos não disponíveis no país e, graças ao dólar barato, a preços interessantes.

Contudo, se esses dados são entusi-asmantes para quem quer integrar-se ao comércio digital, Carlos faz algu-mas ressalvas: “O rastreamento dos

produtos em negociação ainda precisa ser aprimorado e é importante verificar se o produto que você está comprando pode parar na receita federal e sofrer taxação adicional, porque nem todos sofrem, mas os sites não dão informa-ções a esse respeito”.

A própria FECOMERCIO traz in-formações que podem fazer com que o consumidor ainda prefira fazer suas compras pessoalmente: desvios de conta bancária e compras indevidas de cartão de crédito empatam no se-gundo lugar do pódio de crimes digi-tais que mais acometem os paulistanos, atingindo 22% desta população (per-dem apenas para a clonagem de pági-nas pessoais, que já atingiu 23,5% dos usuários).

Para se proteger de tais ameaças, Carlos tem sua estratégia: “Sempre verifico se o site é blindado, e faço o pagamento via PayPal (empresa que administra a transferência de dinheiro entre usuários e empresas via cartão de crédito, débito ou contas de banco), além de usar um programa de antivírus sempre atualizado”.

Além das dicas de um usuário ex-periente como Carlos, o professor do Bacharelado em Ciências da Com-putação da UNESP de Bauru, Clayton Reginaldo Pereira, especializado em segurança da informação, tem alguns conselhos para não se tornar vítima de crimes virtuais: “A internet é bastante suspeita, dependendo da ferramenta utilizada. Uma Lan-house não é um lugar adequado para se realizar tare-fas que necessitem da confirmação de dados pessoais, por exemplo, porque

Anzol Digital

52

Texto, design: Thiago TeixeiraIlustração: Paulo Victor Teixeira

TECNOLOGIA

Os especialistas Clayton Pereira e Fábio Assolini ensinam como se proteger para não entregar seus dados à crimi-nosos ao fazer compras na internet

são computadores públicos, com-partilhados por muitos, e não é pos-sível saber se naquela máquina ex-iste algum mecanismo de roubo de senhas”.

Conhecido como phishing, o crime de roubo de informação, como senhas de cartão de crédito ou log-in de sites, pode ser realizado em for-mas que variam de programas que sequestram a senha digitada, até con-versas de e-mail que se aproveitam da boa fé do usuário. Para proteger-se, é importante ter um programa antivírus atualizado, checar com ceticismo e desconfiança os e-mails institucionais que recebe, atentando sempre para a possível presença de arquivos que não foram solicitados. Ainda há outra estratégia de defesa, que Clayton chama de “agite antes de usar”. Consiste em minimizar a tela do navegador e agitá-la com o mouse. Alguns programas de phish-ing as senhas imitam o campo da página onde se deve digitar a senha. “Se você estiver numa página autên-tica, o campo se movimentará junto com o navegador. Se ele permanecer fixo, é uma tentativa de phishing”, afirma o professor.

AntivírusO professor Clayton alerta que

apenas instalar o programa antivírus não é suficiente para se proteger das ameaças na Internet. Uma vez que os programadores de vírus estão fre-quentemente criando novas formas de acessar informações pessoais dos internautas, é imprescindível que se atualize o programa regularmente. Outro detalhe importante é que a in-stalação seja feita em um idioma do conhecimento do usuário: “o soft-ware de proteção avisa que um de-terminado arquivo não passou nos testes de verificação, ou que ameaças foram detectadas e pergunta se o cli-ente realmente gostaria de executá-lo, mesmo com os riscos que ele ofe-rece. A opção mais adequada seria recusar-se a abrir o documento, ou o programa, mas como o aviso é exi-bido em Inglês e o usuário que não domina o idioma, no afã de acessar as informações, acaba infectando seu computador”.

Tanto quanto as estratégias que os criminosos usam para conseguir

informações confidenciais dos in-ternautas, a falta de habilidade do usuário comum gera tarefas adi-cionais para quem desenvolve pro-gramas antivírus. Para o analista de malware Fábio Assolini, que trab-alha com esses desafios diariamente, há poucas iniciativas que busquem instruir o usuário final e seu produto deve ser efetivo para todos os usuári-os, dos mais íntimos da linguagem digital aos menos familiarizados. Para tal resultado, as empresas que desenvolvem antivírus trabalham com projetos que funcionem de for-ma cada vez mais autônoma, que incomode minimamente o usuário e esteja menos suscetível ao erro hu-mano.

O phishing pode ser realizado tanto por pro-gramas que sequestram a senha digitada quanto por conversas de e-mail que se aproveitam da boa fé do usuário.

Fábio também é pesquisador independente da ONG brasileira Linha Defensiva, que combate ame-aças á internet da Aliance of Secu-rity Analisis Professionals (ASAP) e atuou como pesquisador junto ao CastleCops MIRT (Malware Inci-dent Report and Termination Team, numa tradução livre “Equipe de Relatoria e Extermínio de Inciden-tes com Malwares). Ele destaca que, mesmo que o computador tenha sido infectado e que seja bastante difícil localizar o autores de crimes virtuais cometidos através de vírus, “é possível descobrir muita coisa ao realizar uma análise forense no com-putador da vítima. Também é pos-sível, na análise do código malicioso, descobrir para onde o artefato mali-cioso envia as informações roubadas da vítima. Juntando essa análise a uma investigação junto aos serviços de hospedagem é possível identifi-car os autores”.

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