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7/24/2019 MARTIN. O Óvulo e o Esperma http://slidepdf.com/reader/full/martin-o-ovulo-e-o-esperma 1/12 O ÓVULO E O ESPERMA: COMO A CIÊNCIA CONSTRUIU UM ROMANCE BASEADO EM PAPÉIS ESTEREOTÍPICOS MACHO - FÊMEA Reprodução livre, em Português Brasileiro, do texto original de Emily Martin para fins de estudo, sem vantagens pecuniárias envolvidas. odos os direitos preservados. !ree reproduction, in Bra"ilian Portuguese, of Emily Martin#s original text for study purposes. $o pecuniary advantagens involved. %opyrig&ts preserved. Emily Martin (tradução de Fernando Manso) Pu'licação original Martin, Emily. (&e Egg and t&e )perm* +o )cience &as %onstructed a Romance 'ased on )tereotypical Male-!emale Roles. /n* 0E11ER, Evelyn !., e 12$3/$2, +elen E. 4eds.5. !eminism and )cience. $e 6or7* 2xford 8niversity Press, 9::;, p. 9<=-><. A teoria do corpo humano é sempre uma parte de uma visão de mundo. A teoria do corpo humano é sempre uma parte de uma fantasia. [James Hillmam, O mito da Análise] Como uma antropóloa, eu me interesso pela possi!ilidade "ue a cultura molde a forma pela "ual os cientistas !ióloos descrevem o "ue eles desco!rem so!re o mundo natural. #e isso for verdade, então estaremos aprendendo mais do "ue o mundo natural nas aulas de !ioloia$ estaremos aprendendo so!re cren%as e práticas culturais como se elas fossem parte da nature&a. 'o curso de minha pes"uisa eu verifi"uei "ue as fiuras do óvulo e do esperma desenhados nos relatos populares e cient(ficos da !ioloia reprodutiva se !aseia em estereótipos centrais a nossa defini%ão cultural de macho e f)mea. Os estereótipos implicam não apenas "ue os processos !iolóicos femininos valem menos "ue seu correspondente masculino, mas tam!ém "ue as mulheres valem menos "ue os homens. *arte do meu o!+etivo em escrever este artio é lan%ar uma lu& nos estereótipos de )nero escondidos dentro da linuaem cient(fica da !ioloia. -postos de tal forma, eu espero "ue eles venham a perder muito de seu poder de nos pre+udicar. O óvulo e o e!e"#$: U# %o&'o (e )$($ %*e&'+,%o 'um n(vel fundamental, todos os principais livros te-tos cient(ficos descrevem os órãos reprodutores masculino e feminino como sistemas para a produ%ão de su!stncias valiosas, tais como óvulos e esperma. 'o caso da mulher, o ciclo mensal é descrito como sendo pro+etado para produ&ir óvulos e preparar um local ade"uado para eles serem fertili&ados e crescerem / tudo com a finalidade de fa&er !e!)s. 0as o entusiasmo termina a(. -altando o ciclo feminino como um empreendimento produtivo, a menstrua%ão passa a ser vista, necessariamente, como uma falha. Os te-tos médicos descrevem a menstrua%ão como a 1ru(na2 do forro uterino, o

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O ÓVULO E O ESPERMA: COMO A CIÊNCIA CONSTRUIU UMROMANCE BASEADO EM PAPÉIS ESTEREOTÍPICOS MACHO -

FÊMEA

Reprodução livre, em Português Brasileiro, do texto original de Emily Martin para fins de estudo, sem vantagenspecuniárias envolvidas.odos os direitos preservados.

!ree reproduction, in Bra"ilian Portuguese, of Emily Martin#s original text for study purposes.$o pecuniary advantagens involved. %opyrig&ts preserved.

Emily Martin(tradução de Fernando Manso)

Pu'licação originalMartin, Emily. (&e Egg and t&e )perm* +o )cience &as %onstructed a Romance 'ased on )tereotypical Male-!emaleRoles./n* 0E11ER, Evelyn !., e 12$3/$2, +elen E. 4eds.5. !eminism and )cience. $e 6or7* 2xford 8niversity Press, 9::;,

p. 9<=-><.

A teoria do corpo humano é sempre uma parte de uma visão de mundo. Ateoria do corpo humano é sempre uma parte de uma fantasia.[James Hillmam, O mito da Análise]

Como uma antropóloa, eu me interesso pela possi!ilidade "ue a culturamolde a forma pela "ual os cientistas !ióloos descrevem o "ue elesdesco!rem so!re o mundo natural. #e isso for verdade, então estaremosaprendendo mais do "ue o mundo natural nas aulas de !ioloia$ estaremosaprendendo so!re cren%as e práticas culturais como se elas fossem parte da

nature&a. 'o curso de minha pes"uisa eu verifi"uei "ue as fiuras do óvuloe do esperma desenhados nos relatos populares e cient(ficos da !ioloiareprodutiva se !aseia em estereótipos centrais a nossa defini%ão cultural demacho e f)mea. Os estereótipos implicam não apenas "ue os processos!iolóicos femininos valem menos "ue seu correspondente masculino, mastam!ém "ue as mulheres valem menos "ue os homens. *arte do meuo!+etivo em escrever este artio é lan%ar uma lu& nos estereótipos de)nero escondidos dentro da linuaem cient(fica da !ioloia. -postos detal forma, eu espero "ue eles venham a perder muito de seu poder de nospre+udicar.

O óvulo e o e!e"#$: U# %o&'o (e )$($%*e&'+,%o

'um n(vel fundamental, todos os principais livros te-tos cient(ficosdescrevem os órãos reprodutores masculino e feminino como sistemaspara a produ%ão de su!stncias valiosas, tais como óvulos e esperma. 'ocaso da mulher, o ciclo mensal é descrito como sendo pro+etado paraprodu&ir óvulos e preparar um local ade"uado para eles serem fertili&ados ecrescerem / tudo com a finalidade de fa&er !e!)s. 0as o entusiasmotermina a(. -altando o ciclo feminino como um empreendimento produtivo,

a menstrua%ão passa a ser vista, necessariamente, como uma falha. Oste-tos médicos descrevem a menstrua%ão como a 1ru(na2 do forro uterino, o

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resultado de necrose, ou morte de tecido. A descri%ão implica "ue umsistema funcionou mal, fa&endo produtos in3teis, fora da especifica%ão,invendáveis, desperdi%ados, sucata. 4ma ilustra%ão em um testo médicolaramente utili&ado mostra a menstrua%ão como uma desintera%ãocaótica de forma, complementando os muitos te-tos "ue a descrevem como

 1interrup%ão2, 1morte2, 1perda2, 1priva%ão2, 1e-pulsão2.A fisioloia reprodutiva masculina é avaliada de forma !em diferente. 4mdos te-tos "ue v) menstrua%ão como uma produ%ão falha emprea um tipode prosa apoloética "uando descreve a matura%ão do esperma5 1Osmecanismos "ue uiam a e-traordinária transforma%ão celular do 6spermatid7 em esperma maduro permanece incerta ... 8alve& a maisfantástica caracter(stica da espermato)nese é sua enorme manitude5 ohomem normal pode produ&ir várias centenas de milh9es de espermas pordia2. 'o te-to clássico 0edical *h:siolo:, editado por ;ernon 0ountcastle,a compara%ão macho<f)mea, produtivo<destrutivo é mais e-pl(cita5

 1n"uanto a f)mea verte apenas um 3nico ameta a cada m)s, os t3!ulossemin(feros produ&em centenas de milh9es de espermas a cada dia2. Aautora feminina de outro te-to se deslum!ra com o comprimento dosmicroscópicos t3!ulos semin(feros, os "uais, se desenrolados e esticados 1co!ririam "uase um ter%o de uma milha=2 la escreve, 1'um adulto machoestas estruturas produ&em milh9es de espermas a cada dia.2 0ais adianteela perunta, 1Como este feito é conseuido>2 'enhum desses te-tose-pressam entusiasmo tão intenso por "ual"uer dos processos femininos.Certamente, não é acidente "ue o 1e-traordinário2 processo de fa&eresperma envolve precisamente a"uilo "ue, na visão médica, a menstrua%ãonão fa&5 produ%ão de aluma coisa considerada valiosa.

*oderia ser arumentado "ue a menstrua%ão e a espermato)nese não sãoprocessos análoos e, portanto, não deveria ser esperado "ue elasprovocassem o mesmo tipo de resposta. A analoia feminina própria com aespermato)nese, !ioloicamente, é a ovula%ão. 0as a ovula%ão tam!émnão merece o entusiasmo nesses te-tos. As descri%9es nos livros te-tosenfati&am "ue os fol(culos ovarianos "ue cont)m o ameta feminino +áestão presentes no nascimento. ?one de serem produ&idos, como são osespermas, eles meramente auardam, deenerando lentamente eenvelhecendo como um esto"ue5 1'o nascimento, os ovários humanosnormais cont)m um n3mero estimado de um milhão de fol(culos @cada um,

e nenhum novo fol(culo aparece após o nascimento. Assim em contrasteacentuado com o macho, a f)mea recém nascida +á tem todas as suascélulas erminativas. Apenas umas poucas, talve& B, estão destinadas aatinir plena maturidade, durante sua vida produtiva ativa. 8odas as outrasse deeneram em alum ponto durante seu desenvolvimento, de tal forma"ue poucas, se aluma, permanecem ao tempo em "ue ela atine amenopausa numa idade de apro-imadamente D anos2. 'oteEse o 1contraste acentuado2 "ue esta descri%ão esta!elece entre macho e f)mea5o macho, "ue produ& continuamente células erminativas novas, e a f)mea,"ue estocou ao nascer células erminativas e se depara com a suadeenera%ão.

'em são os órãos femininos poupados de descri%9es mais intensas. 4mcientista escreveu em um artio de +ornal "ue os ovários de uma mulher se

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tornam velhos e astos pelo amadurecimento dos óvulos a cada m)s,mesmo "ue a mulher se+a ainda relativamente +ovem5 1Fuando voc) olhaatravés de um laparoscópio ... num ovário "ue tenha passado por centenasde ciclos, mesmo em uma f)mea americana e-tremamente saudável, voc)v) um órão marcado e !atido2 

*ara evitar a conota%ão neativa "ue alumas pessoas associam ao sistemareprodutor feminino, os cientistas poderiam come%ar a descrever osprocessos masculino e feminino como homóloos. les poderiam creditar Gsf)meas a 1produ%ão2 de ametas maduros um a cada ve&, uma ve& "ue elessão necessários cada m)s, e descrever os machos como tendo de encararpro!lemas de deenera%ão de células erminativas. sta deenera%ãoocorreria ao lono de toda a vida entre os espermatonios, "ue são ascélulas erminativas indiferenciadas nos test(culos "ue são as duradouras einativas precursoras do esperma.

0as os te-tos tem uma insist)ncia "uase tena& em e-pressar os processosfemininos numa lu& neativa. Os te-tos cele!ram a produ%ão de espermapor"ue ele é cont(nuo da pu!erdade G velhice, en"uanto eles retratam aprodu%ão de óvulos como inferior por"ue ela está terminada no nascimento.Isto fa& a f)mea parecer improdutiva, mas aluns te-tos tam!ém insistem"ue é ela "ue é desperdi%adora. 'um t(tulo de se%ão do 0olecular iolo: of the cell, um te-to muito lido, está escrito "ue 1A oo)nese édesperdi%adora2. O te-to enfati&a "ue de sete milh9es de oonios, oucélulas erminadoras do óvulo, no em!rião feminino, a maioria deenera noovário. Ka"uelas "ue so!revivem e se tornam oócitos, ou óvulos, muitastam!ém deeneram, de tal forma "ue no nascimento apenas dois milh9es

de óvulos permanecem no ovário. A deenera%ão continua ao lono de todaa vida da mulher5 na pu!erdade permanecem L. óvulos, e apenasaluns poucos estão presentes na menopausa. 1durante os "uarenta epoucos anos da vida reprodutiva da mulher, apenas B ou D óvulosserão li!erados2, os autores escrevem. 18odo o resto terá deenerado. Mainda um mistério por "ue tantos óvulos são formados apenas para morrernos ovários.2 

O mistério real é por "ue a vasta produ%ão de esperma masculina não évista como um desperd(cio. Assumindo "ue um homem produ&a Nmilh9es @N de espermas por dia @uma estimativa conservadora durante

uma vida reprodutiva média de sessenta anos, ele produ&iria mais "ue doistrilh9es de espermas em sua vida. Assumindo "ue um mulher 1amadurece2 um óvulo por m)s lunar, ou tre&e por ano, ao lono do curso de sua vidareprodutiva de "uarenta anos, ela totali&aria cinco centenas de óvulos emsua vida. 0as a palavra desperd(cio implica um e-cesso, produ%ão emdemasia. Assumindo dois ou tr)s filhos, para cada !e!) "ue uma mulherprodu&, ela desperdi%a apenas por volta de P óvulos. *ara cada !e!) "ueum homem produ&, ele desperdi%a mais de um trilhão de espermas.

Como é "ue imaens positivas são neadas aos corpos das mulheres> 4maolhada na linuaem, neste caso a linuaem cient(fica, fornece a primeira

pista. Considere o óvulo e o esperma. M e-traordinário como o óvulo secomporta 1femininamente2 e o esperma se comporta 1masculinamente2. Oóvulo é visto como rande e passivo. le não se move, nem via+a, mas

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passivamente 1é transportado2, 1é arrastado2, ou 1desli&a2 pelo tu!ofalopiano. m completo contraste, o esperma é pe"ueno, 1dinmico2, einvariavelmente ativo. les 1entream2 seus enes ao óvulo, 1ativam oprorama de desenvolvimento do óvulo2, e t)m uma velocidade "ue éfre"Qentemente assinalada. #uas caudas são 1fortes2 e eficientemente

dotadas de pot)ncia. Junto com as for%as da e+acula%ão eles podem propeliro s)men nos mais profundos recessos da vaina. *ara isso eles precisam de 1eneria2, 1com!ust(vel2, de tal forma "ue com um 1movimento como o deum chicote e fortes sacudidelas2 eles podem furar a superf(cie do óvulo epenetráElo.

'o seu e-tremo, o velho relacionamento entre o óvulo e o espermaassumem uma aura real ou reliiosa. A superf(cie do óvulo, sua co!erturaprotetora, é alumas ve&es chamada de seus 1paramentos2, um termousualmente reservado para vestimentas saradas e reliiosas. Ki&Ese "ue oóvulo tem uma 1coroa2 e é acompanhado de 1células servidoras2. le é

sarado, posto de lado e acima, a rainha para o rei do esperma. O óvulo étam!ém passivo, o "ue sinifica "ue ele depende do esperma para sersalvo. Rerald #chatten e Helen #chatten comparam o papel do óvulo ao daela Adormecida5 1uma noiva adormecida auardando o !ei+o máico deseu companheiro2. O esperma, ao contrário tem uma 1missão2, "ue é 1semover através do trato enital feminino em !usca do óvulo2. 4m relatopopular di& "ue o esperma e-ecuta uma 1+ornada arriscada2 na 1escuridãoardente2 onde aluns tom!am 1e-austos2. 1Os so!reviventes2 1assaltam2 oóvulo, os candidatos !em sucedidos 1cercando o pr)mio2. *arte da ur)nciadessa +ornada, em termos mais cient(ficos, é devida ao fato "ue 1uma ve&li!erto do am!iente protetor do ovário, um óvulo morrerá dentro de horas a

menos "ue se+a salvo por um esperma. As palavras enfati&am a frailidadee a depend)ncia do óvulo, muito em!ora o mesmo te-to assinala em outraparte "ue o esperma tam!ém vive apenas umas poucas horas.

m NSB, num livro e-traordinário pelas suas primeiras percep%9es dessesassuntos, Tuth Hersch!erer arumentou "ue os órãos reprodutoresfemininos são vistos como !ioloicamente interdependentes, en"uanto osórãos masculinos são vistos como autnomos, operandoindependentemente e isolados5

'o presente a funcionalidade é enfati&ada apenas em cone-ão com as

mulheres5 é nelas "ue ovários, tu!os, 3tero, e vaina t)minterdepend)ncias intermináveis. 'o macho, a reprodu%ão parece envolverapenas 1órãos2.

'o entanto o esperma, tanto "uanto o óvulo, é dependente de muitosprocessos relacionados. Há secre%9es "ue aliviam a urina na uretra antes dae+acula%ão, para proteer o esperma. Há o refle-o fechando a cone-ão coma !e-ia, a provisão de secre%9es prostáticas, e vários tipos de propulsãomuscular. O esperma não é mais independente do seu meio do "ue o óvulo,e no entanto por uma espécie de dese+o, os !ióloos suportam a no%ão de"ue a f)mea, a come%ar pelo óvulo, é conenitamente mais dependente do

"ue o macho.

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8ra&endo um outro aspecto da autonomia do esperma, um artio noperiódico Cell tem o esperma tomando uma 1decisão e-istencial2 parapenetrar no óvulo5 1espermas são células com um repertóriocomportamental limitado, "ue é direcionado no sentido de fertili&ar óvulos.*ara e-ecutar a decisão de a!andonar seu estado haplóide, o esperma nada

para um óvulo e lá ele ad"uire a sua capacidade de efetuar a fusão demem!rana2. 'ão é esta uma versão de um erente corporativo dasatividades do esperma / 1e-ecutar decis9es2 anustiado pelas dif(ceisop%9es "ue envolvem altos riscos>

Há uma outra forma pela "ual o esperma, apesar do seu pe"ueno tamanho,pode ser levado a crescer em importncia com rela%ão aos óvulos. 'umacole%ão de artios cient(ficos, uma microrafia eletrnica de um enormeóvulo e um min3sculo esperma é intitulada 14m Tetrato do sperma2. Isto éum pouco como mostrar a foto de um cachorro e chamáEla de um "uadrodas pulas. AdmiteEse "ue o esperma microscópico é mais dif(cil de

fotorafar do "ue os óvulos, os "uais são suficientemente randes paraserem vistos a olho nu. 0as certamente o uso do termo 1retrato2, umapalavra associada com o poderoso e o saudável, é sinificante. Uvulos t)mapenas microrafias ou "uadros, não retratos.

4ma descri%ão do esperma como fraco e t(mido, em ve& de forte e poderoso/ a 3nica tal representa%ão na civili&a%ão ocidental até onde eu sei / ocorreno filme de Vood: Allen 8udo "ue voc) "ueria sa!er so!re sa!er so!re se-omas teve medo de peruntar. Allen, fa&endo o papel de um espermaapreensivo dentro dos test(culos de um homem, está assustado com oorasmo "ue se apro-ima. le está relutante em se lan%ar no escuro, com

medo dos dispositivos contraceptivos, com medo de ir parar no teto se ohomem se mastur!a.

O "uadro mais comum / o óvulo como uma +ovem anustiada, proteidaapenas pelas suas vestimentas saradas$ o esperma como um heróicouerreiro pronto a salváEla / não pode ser provado "ue se+a ditado pela!ioloia desses eventos. 0esmo "ue os 1fatos2 da !ioloia podem não sersempre constru(dos em termos culturais, neste caso eu arumentaria "uesão. O rau de conte3do metafórico nessas descri%9es, a e-tensão até a"ual as diferen%as entre o óvulo e o esperma são enfati&adas, e os paralelosentre os estereótipos culturais dos comportamentos do macho e da f)mea e

o caráter do óvulo e do esperma, tudo aponta para essa conclusão.

Nov$ !eu*$. vel/$ *#$0e&

'a medida em "ue novos entendimentos do óvulo e do esperma emerem,as imaens de )nero nos livros te-tos são revisadas. 0as as novaspes"uisas, lone de escapar da representa%9es estereot(picas do óvulo e doesperma, simplesmente replicam elementos das imaens de )nero noslivros te-tos numa forma diferente. A persist)ncia dessas imaens fa&lem!rar da"uilo "ue ?udWiX YlecX chamou de nature&a 1autocontida2 dopensamento cient(fico. #eundo ele a descreve, 1a intera%ão entre o "ue +á

é sa!ido, o "ue permanece a ser aprendido, e a"ueles "ue vão apreender,asseura harmonia dentro do sistema. 0as ao mesmo tempo eles tam!ém

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preservam a harmonia das ilus9es, a "ual é !astante seura dentro doslimites de um dado estilo de pensamento2. 'ós precisamos entender aforma pela "ual o conte3do cultural em descri%9es cient(ficas muda namedida em "ue as desco!ertas !iolóicas se desdo!ram, e se o conte3docultural está solidamente entrela%ado, ou se é facilmente alterado.

m todos os te-tos referidos acima, o esperma é descrito como o "uepenetra no óvulo, e su!stncias espec(ficas ha ca!e%a do esperma sãodescritas como as "ue se liam ao óvulo. Tecentemente, esta descri%ão deeventos foi revista em um la!oratório de !iof(sica na 4niversidade JohnsHopXins / transformando o óvulo de parte passiva para ativa.

Anteriormente a essa pes"uisa, pensavaEse "ue a &ona, os paramentosinternos do óvulo, formavam uma !arreira impenetrável. O esperma venciaa !arreira furandoEa mecanicamente, !atendo sua cauda e proredindolentamente. *es"uisas posteriores mostraram "ue o esperma li!erava

en&imas diestivas "ue "ue!ravam "uimicamente a &ona$ assim oscientistas presumiam "ue o esperma usava meios mecnicos e "u(micospara entrar no óvulo.

'esta recente investia%ão, os pes"uisadores come%aram a fa&er peruntasso!re a for%a mecnica da cauda do esperma. @O o!+etivo do la!oratórioera desenvolver um contraceptivo "ue tra!alhasse topicamente noesperma. les desco!riram, para sua rande surpresa, "ue a for%a doesperma para a frente é e-tremamente fraca, o "ue contradi& o pressupostode "ue os espermas são penetradores viorosos. m ve& de fa&er for%a paraa frente, a ca!e%a do esperma era aora vista se mover, a maior parte do

tempo, para a frente e para trás. Os movimentos laterais da cauda doesperma fa& a ca!e%a se mover lateralmente com uma for%a "ue é de&ve&es mais forte do "ue seu movimento para a frente. *ortanto, mesmo sea for%a total do esperma fosse suficiente para "ue!rar mecanicamente a&ona, a maior parte de sua for%as seria diriida para os lados e não para afrente. 'a verdade, sua tend)ncia mais forte, de& ve&es maior, é escapartentando se li!ertar do óvulo. Os espermas, então, t)m de sere-cepcionalmente eficientes para escapar de "ual"uer superf(cie celular "ueeles encostem. a superf(cie do óvulo precisa ser pro+etada para apanhar oesperma e evitar "ue ele escape. Caso contrário, poucos, ou mesmonenhum, esperma alcan%aria o óvulo.

Os pes"uisadores da Johns HopXins conclu(ram "ue o esperma e o óvulo seliam por conta de moléculas adesivas "ue há na superf(cie de cada umdeles. O óvulo aarra o esperma e adere a ele tão apertadamente "ue aca!e%a do esperma é for%ada a se recostar so!re a superf(cie da &ona, umpouco como, eles me disseram, 1o Coelho r7 er ficando cada ve& maispreso ao @tar !a!: "uanto mais se me-a2. O esperma aarrado continua ase me-er lateralmente, mas sem efeito. A for%a mecnica da sua cauda étão fraca "ue o esperma não pode "ue!rar nem mesmo uma lia%ão"u(mica. Isto é onde os en&imas diestivos li!erados pelo esperma entramem a%ão. #e eles come%am a amolecer a &ona e-atamente na ponta do

esperma e os lados permanecem presos, então o fraco e aitante espermaconseue se orientar na dire%ão certa e conseue atravessar a &ona / desde"ue suas lia%9es com a &ona se dissolvam na medida em "ue ele se move.

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m!ora essa nova versão da saa do óvulo e do esperma fosse contra ase-pectativas culturais, os pes"uisadores "ue fi&eram a desco!ertacontinuaram a escrever artios e resumos como se o esperma fosse a parteativa "ue ataca, lia, penetra, e adentra o óvulo. A 3nica diferen%a era "ueaora o esperma era visto como se e-ecutasse essas a%9es fracamente. #ó

em aosto de NSZ, mais de tr)s anos após os achados acima descritos,"ue estes pes"uisadores reconceituaram o processo dando ao óvulo umpapel mais ativo. les come%aram a descrever a &ona como umaapanhadora aressiva de espermas, co!erta com moléculas adesivas "uepodem capturar um esperma com uma simples lia%ão e mant)Elo preso nasuperf(cie da &ona. 'as palavras de seu relato pu!licado5 1O paramentomais interno, a &ona pel3cida, é uma capa de licoprote(na, "ue captura oesperma e o prende antes "ue ele a penetre ... O esperma é capturado nocontato inicial entre sua ponta e a &ona ... 4ma ve& "ue a for%a @doesperma é muito menor "ue a for%a necessária para romper uma simpleslia%ão de afinidade, a primeira lia%ão feita so!re a ponta / primeiro

encontro do esperma e a &ona / pode resultar na captura do esperma.-perimentos em um outro la!oratório revelaram padr9es similares deinterpreta%ão de dados. Rerrald #chatten e Helen #chatten mostraram "ue,contrariamente a sa!edoria convencional, 1o óvulo não é meramente umaesfera rande cheia de ema a "ual o esperma fura para produ&ir uma novavida. Ao contrário, pes"uisa recente suere a visão "uase herética de "ue oesperma e o óvulo são parceiros mutuamente ativos.2 Isto soa como umafastamento da visão estereot(pica dos livros te-tos, mas lendo um poucomais revelaEse a conformidade dos #chatten com a metáfora do espermaaressivo. les descrevem como se dá o encontro do esperma e do óvulo5

 1é "uando da ponta da ca!e%a trianular do esperma um filamento lono efino é disparado e arpeia o óvulo2. Yicamos então sa!endo "ue 1e-traordinariamente, o arpão é não somente disparado mas montado arande velocidade, molécula por molécula, a partir de uma reserva deprote(na arma&enadas numa reião especiali&ada chamada acrossomo. Ofilamento pode crescer até P ve&es maior "ue a ca!e%a do esperma até"ue sua ponta alcance e se fi-e no óvulo.2 *or "ue não chamar isso de 1construir uma ponte2 ou 1atirar uma linha2 em ve& de atirar um arpão>Arp9es perfuram as presas e feremEnas ou matamEnas, en"uanto estefilamento apenas ruda. por "ue não focar, como fe& o la!oratórioHopXins, no poder rudante do óvulo em ve& do poder rudante doesperma> 0ais adiante no artio. Os #chattens replicam a visão da +ornadaperiosa do esperma pelo escuro ardente da vaina, desta ve& com oo!+etivo de e-plicar sua +ornada dentro do óvulo5 1@o esperma ainda temuma árdua +ornada pela frente. le tem de penetrar além dentro da enormeesfera do óvulo de citoplasma e de aluma forma locali&ar o n3cleo, deforma a "ue os cromossomas das duas células possam de fundir. O espermamerulha no citoplasma, sua cauda !ate. 0as é loo interrompido pelas3!ita e rápida mira%ão do n3cleo do óvulo, "ue corre na dire%ão doesperma com uma velocidade tr)s ve&es maior do "ue a do movimento doscromossomas durante a divisão celular, atravessando todo o óvulo em cercade um minuto2.

Assim como os #chatten e o !iof(sico da John HopXins, outro pes"uisadorfe& desco!ertas recentes "ue parecem apontar para uma visão mais

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interativa da rela%ão entre o óvulo e o esperma. ste tra!alho, "ue *aulVassarman condu&iu so!re espermas e óvulos de ratos, foca naidentifica%ão de moléculas espec(ficas na co!ertura do óvulo @a &onapel3cida "ue são envolvidas na intera%ão óvulo esperma. A primeira vista,suas descri%9es parecem se ade"uar ao modelo de um relacionamento

iualitário. Rametas machos e f)meos 1se reconhecem2 e 1intera%9es ...ocorrem entre o esperma e o óvulo.2 0as o artio na #cientific American no"ual essas descri%9es aparecem come%a com uma vinheta "ue pressaia otema principal de sua apresenta%ão5 1Há mais de um século desde "ueHermann Yol, um &oóloo su(%o, olhando fi-amente em seu microscópio,tornouEse a primeira pessoa a ver um esperma penetrar um óvulo, fertili&áElo e formar a primeira célula do novo em!rião2. ste retrato do espermacomo a parte ativa / a"uele "ue penetra e fertili&a o óvulo e produ& oprimeiro em!rião / não é citado como e-emplo de uma visão anterior eultrapassada. Ao contrário, o autor reitera o ponto mais adiante no artio5 10uitos espermas podem se liar e penetrar a &ona pel3cida, ou co!ertura

e-terna, de um óvulo de rata infertili&ado, mas apenas um esperma seunirá com a fina mem!rana de plasma "ue envolve o óvulo propriamente @aesfera interior, fertili&ando o óvulo e produ&indo um novo em!rião.2 

As imaens do esperma como aressor são particularmente surpreendentesneste caso5 a principal desco!erta sendo reportada é o isolamento de umamolécula particular na co!ertura do óvulo "ue cumpre um papel importantena fertili&a%ão= A escolha de linuaem de Vassarman sustenta o "uadro.le chama a molécula "ue foi isolada de *L, um 1receptor de esperma2.Assim atri!uindo ao óvulo o papel passivo, do "ue espera, Vassarman podecontinuar a descrever o esperma como o ator, a"uele "ue fa& tudo

acontecer5 1O processo !ásico come%a "uando muitos espermas primeiroatacam livremente e então se liam tena&mente aos receptores nasuperf(cie na espessa co!ertura e-terna do óvulo, a &ona pel3cida. Cadaesperma, "ue tem em sua superf(cie um rande n3mero de prote(nasliantes ao óvulo, se lia a muitos receptores de esperma no óvulo. 0aisespecificamente, um luar em cada uma das prote(nas liantes se encai-anum luar complementar no receptor do esperma, assim como uma chavese encai-a numa fechadura.2 Com o esperma desinado como a 1chave2 e oóvulo como a 1fechadura2, é ó!vio "ue um ae e o outro sofre a a%ão. 'ãopoderiam essas imaens serem invertidas, dei-ando o esperma @afechadura esperar até "ue o óvulo produ&a a chave> Ou poder(amos falarde duas metades de um encontro de encai-e, e apreciar o encontro em sicomo a a%ão "ue inicia a fertili&a%ão>

M como se Vassarman estivesse determinado a fa&er do óvulo o parceiroreceptor. 4sualmente, em pes"uisa !iolóica, as prote(nas mem!ros do parde moléculas liantes são chamadas de receptoras, e fisicamente elas t)mum !olso "ue se parece com uma fechadura. Como mostra o diarama "ueilustra o artio de Vassarman, as moléculas no esperma são prote(nas et)m 1!olsos2. As moléculas pe"uenas e móveis "ue se encai-am nesses!olsos são chamadas 1liands2. Conforme mostrado no diarama, *L noóvulo é um pol(mero de 1chaves2$ muitas pe"uenas ma%anetas se pro+etampara fora. 8ipicamente, as moléculas do esperma seriam chamadasreceptoras, e as moléculas do óvulo seriam chamadas 1liands2. 0asVassarman escolheu denominar *L no óvulo receptor, e criar um novo

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termo, 1a prote(na liante ao óvulo2, para a molécula do esperma a "ual, deoutra forma teria sido chamada a receptora.

Vassarman credita G co!ertura do óvulo mais fun%9es do "ue as de umreceptor de esperma. Ao mesmo tempo em "ue ele o!serva "ue 1a &ona

pel3cida tem sido vista por ve&es por investiadores como uma o!stru%ão,uma !arreira para o esperma e assim um impedimento a fertili&a%ão2, suanova pes"uisa revela "ue a co!ertura do óvulo 1serve como um sofisticadosistema de seuran%a !iolóica "ue e-amina os espermas "ue cheam,seleciona apenas a"ueles compat(veis com a fertili&a%ão e desenvolvimento,prepara o esperma para a fusão com o óvulo e mais tarde protee oem!rião resultante da poliespermati&a%ão @uma condi%ão letal causada pelafusão de mais "ue um esperma com um 3nico óvulo2. m!ora estadescri%ão d) ao óvulo um papel ativo, este papel é redu&ido em termosestereotipicamente femininos. O óvulo seleciona um companheiroapropriado, preparaEo para a fusão, e então protee o filho resultante do

perio. Isto é corte+o e comportamento de uma companheira seundo osolhos de um socio!ióloo5 mulher como o pr)mio dif(cil de ser o!tido, a "ualem seuida a união com o escolhido, se torna mulher como servidora emãe.

Vassarman não para a(. 'um artio de revisão para a #cience, eleresume a 1cronoloia da fertili&a%ão2. *ró-imo do final do artio há doist(tulos de se%ão. O primeiro é 1A *enetra%ão do sperma2, so! o "ualVassarman descreve como a "u(mica dissolvente da &ona pel3cida com!inacom a 1su!stancial for%a propulsiva erada pelo esperma2. O seundo t(tuloé 1A Yusão sperma / Uvulo2. sta se%ão descreve o "ue acontece dentro

da &ona após o esperma 1penetráEla2. O esperma pode fa&er contato, aderir,e fundir @ou se+a, fertili&ar o óvulo2. A escolha de palavras de Vassarman,novamente, é surpreendentemente favorável a atividade do esperma, poisno pró-imo pronunciamento ele di& "ue o esperma perde toda a mo!ilidadeapós a fusão com a superf(cie do óvulo. 'os óvulos dos ratos e ouri%os domar, o esperma entra na voli%ão do óvulo, de acordo com a descri%ão deVassarman5 14ma ve& fundido com a mem!rana do plasma do óvulo @asuperf(cie do óvulo, como um esperma adentra o óvulo> A superf(cie dosóvulos tanto das ratas como dos ouri%os marinhos é co!erta com milharesde pro+e%9es do plasma liadas a mem!rana, chamadas microvilli@min3sculos ca!elos. vid)ncia nos ouri%os do mar suere "ue, após a

fusão da mem!rana, um rupo de microvilli alonadas se arupamapertadamente e se entrela%am com a ca!e%a do esperma. 'a medida em"ue as microvilli são suadas, o esperma é levado para dentro do óvulo.*ortanto, a mo!ilidade do esperma, "ue cessa no momento da fusão tantona rata como no ouri%o do mar, não é re"uerida para a entrada doesperma2. A se%ão chamada 1A penetra%ão do esperma2 seria seuida, maisloicamente, por uma se%ão chamada 1O óvulo envelopa2 do "ue 1A fusãoesperma óvulo2. Isto daria um sentido paralelo / e mais preciso / de "uetanto o óvulo "uanto o esperma iniciam a a%ão.

4ma outra forma pela "ual Vasserman redu& a atividade do óvulo é peladescri%ão de componentes do óvulo en"uanto se refere ao esperma comouma entidade inteira. Ke!orah Rordon descreveu tal a!ordaem como 1atomismo2 @1a parte é independente e primordial para o todo2 e a

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identificou como um dos 1pressupostos persistentes2 da ci)ncia e medicinaocidentais. Vassarman emprea o atomismo em seu favor. Fuando elerefere a processos "ue ocorrem dentro do esperma, ele consistentementeretorna a descri%9es "ue nos lem!ram de onde essas atividades vem5 elassão parte do esperma "ue penetra um óvulo ou era for%a propulsiva.

Fuando ele refere a processos "ue ocorrem dentro do óvulo, ele para a(.Como resultado, "ual"uer papel ativo "ue ele lhes atri!ui parece seratri!u(do a partes do óvulo, e não ao óvulo em si. 'a cita%ão acima, é omicrovilli "ue ativamente se arupa em torno do esperma. 'um outroe-emplo, 1a for%a propulsora da a!sor%ão de um esperma fundido vem deuma reião do citoplasma imediatamente a!ai-o de uma mem!rana doplasma do óvulo2 

I#!l*%$12e o%*$*: Pe&$&(o $l3#

8odos esses tr)s relatos revisionistas do óvulo e esperma parecem não

poder escapar das imaens hierár"uicas dos relatos antios. 0uito em!oracada novo relato d) ao óvulo um papel maior e mais ativo, apreciados +untos eles tra&em a cena um outro estereótipo cultural5 a mulher comouma amea%a periosa e aressiva. 'o modelo revisado do la!oratório JohnHopXins, o óvulo termina como a f)mea aressora "ue 1captura e prende2 oesperma com sua &ona aderente, assim como uma aranha auarda em suateia. O la!oratório dos #chatten disp9e "ue o n3cleo do óvulo 1interrompe2 o merulho do esperma com uma corrida 1s3!ita e rápida2 pela "ual eleseura o esperma e uia seu n3cleo para o centro. A descri%ão deVassarman da superf(cie do óvulo 1co!erto por milhares de pro+e%9es doplasma liadas a mem!rana, chamadas micvrovilli2 "ue alcan%a e seura o

esperma endossa as imaens do tipo aranha.

ssa imaens atri!uem ao óvulo um papel ativo, mas ao custo deparecerem indevidamente aressivos. Imaens de mulher como periosas earessivas, a f)mea fatal "ue vitima os homens, são laramente difundidasna literatura ocidental. 0ais espec(fica é a cone-ão das imaens de aranhacom a idéia de mãe a!sorvente e devoradora. 'ovos dados não levaram oscientistas a eliminar os estereótipos de )nero de suas descri%9es do óvuloe do esperma. Ao contrário, os cientistas simplesmente come%aram adescrever o óvulo e o esperma em termos diferentes, mas não menosdanosos.

*odemos pensar numa visão menos estereot(pica> A própria !ioloiafornece um outro modelo "ue poderia ser aplicado ao óvulo e ao esperma.O modelo ci!ernético, com seus ciclos de realimenta%ão, adapta%ão fle-(vela mudan%a, coordena%ão das partes dentro do todo, evolu%ão no tempo,respostas mutáveis ao am!iente / é comum em enética, endocrinoloia, eecoloia e tem uma influ)ncia crescente na medicina em eral. ste modelotem o potencial de deslocar nossas imaens do neativo, onde o sistemareprodutivo feminino é castiado tanto por não produ&ir óvulos após onascimento e por produ&ir @e assim desperdi%ar ovos em demasia, paraalo mais positivo. O sistema reprodutivo feminino poderia ser visto como

respondendo ao am!iente @ravide& ou menopausa, a+ustando Gsmudan%as mensais @menstrua%ão, e se alterando fle-ivelmente de

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reprodutor após a pu!erdade a não reprodutor mais tarde na vida. Asintera%9es entre o esperma e o óvulo poderiam tam!ém ser descritas emtermos ci!ernéticos. A pes"uisa de J. Y. Hartman em !ioloia reprodutivademonstrou "uin&e anos atrás "ue se um óvulo é morto por ser espetadocom uma aulha, o esperma vivo não pode atravessar a &ona. Claramente,

esta evid)ncia mostra "ue o óvulo e o esperma interaem em termos maism3tuos, tornando inconveniente a recusa da !ioloia em retratáElos dessaforma.

Yar(amos !em em estarmos conscientes, no entanto, "ue as imaensci!ernéticas não são neutras. 'o passado, modelos ci!ernéticos cumpriramuma parte importante na imposi%ão do controle social. stes modelosfornecem inerentemente uma forma de pensar so!re um 1campo2 decomponentes interativos. 4ma ve& "ue o campo pode ser visto, ele pode setornar o o!+eto de novas formas de conhecimento, o "ue por sua ve& podepermitir novas formas de controle social a serem e-ercidas so!re os

componentes do campo. Kurante os anos D, por e-emplo, a medicinacome%ou a reconhecer o am!iente psicossocial do paciente5 a fam(lia dopaciente e sua psicodinmica. *rofiss9es tais como o servi%o socialcome%aram a focar so!re este novo am!iente, e o conhecimento resultantetornouEse um modo de controlar mais o paciente. *acientes come%aram aser vistos não mais como corpos individuais isolados, mas como entidadespsicossociais locali&adas num sistema 1ecolóico25 a administra%ão da 1psicoloia do paciente foi uma nova forma de controle do paciente.2 

Os modelos "ue os !ióloos usam para descrever seus dados podem terimportantes efeitos sociais. Kurante o século de&enove as ci)ncias sociais e

naturais influenciaram fortemente uma a outra5 as idéias sociais de 0althusso!re como evitar o crescimento natural do po!re inspiraram A Oriem dasspécies de KarWin. 4ma ve& "ue a Oriem se colocou como uma descri%ãodo mundo natural, completa com competi%ão e lutas de mercado, ela podeser reimportada pela ci)ncia social como o KarWinismo social, no o!+etivode +ustificar a ordem social. O "ue estamos vendo aora é similar5 aimporta%ão de idéias culturais so!re f)meas passivas e machos heróicospelas 1personalidades2 dos ametas. Isto sinifica 1implantar imaenssociais so!re representa%9es da nature&a de forma a esta!elecer uma !asefirma para reimportar as mesmas imaens como e-plica%9es naturais defenmenos sociais.

0ais pes"uisa nos mostraria e-atamente "uais efeitos sociais estão sendotra!alhados a partir das imaens !iolóicas do óvulo e do esperma. 'om(nimo, as imaens mant)m vivas aluns dos estereótipos mais antiosso!re as fracas don&elas anustiadas e seus fortes machos salvadores. Fueestes estereótipos este+am aora sendo escritos ao n(vel da célula constituium movimento poderoso para fa&)Elos parecer tão naturais "ue se+amimunes a altera%ão.

As imaens estereot(picas podem tam!ém encora+ar pessoas a imainar"ue o "ue resulta da intera%ão entre o óvulo e o esperma / um óvulo

fertili&ado / é o resultado de uma a%ão 1humana2 deli!erada no n(velcelular. Independentemente das inten%9es do casal humano, nesta 1cultura2 microscópica uma 1noiva2 celular @ou f)mea fatal e um 1noivo2 celular @sua

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v(tima fa&em um !e!) celular. Tosalind *etchesX: aponta "ue através derepresenta%9es visuais tais como os as imaens ultrassnicas, temos acessoa 1imaens de fetos cada ve& mais novos e cada ve& menores sendo 6salvos7.2 Isto leva ao 1ponto de visi!ilidade ser 6empurrado para trás7 indefinidamente2. Kotar os óvulos e espermas de a%ão intencional, um

aspecto chave da pessoalidade em nossa cultura, esta!elece as funda%9espara o ponto de visi!ilidade ser empurrado para trás até o momento dafertili&a%ão. Isto, provavelmente, levará a uma maior aceita%ão dosdesenvolvimentos tecnolóicos e a novas formas de investia%ão emanipula%ão, para o !enef(cio dessas 1pessoas2 internas5 restri%9es leaisGs atividades de mulheres rávidas para proteer seus fetos, ciruria fetal,amniocentesis, e revoa%ão dos direitos de a!orto, para citar uns poucose-emplos.

0esmo "ue tenhamos sucesso em su!stituir metáforas mais iualitárias einterativas para descrever as atividades do óvulo e do esperma, e

consiamos evitar os perios dos modelos ci!ernéticos, ainda estar(amosculpadas de dotar entidades celulares com pessoalidade. 0ais crucial do "ueos tipos de personalidade "ue estamos outorando Gs células é o própriofato de estarmos fa&endo isso. ste processo pode vir a ter conse"Q)nciassociais profundamente danosas.

4m claro desafio feminista é acordar metáforas adormecidas nas ci)ncias,particularmente a"uelas envolvidas em descri%9es do óvulo e do esperma.m!ora a conven%ão literária se+a chamar tais metáforas de 1mortas2, elasnão estão mais mortas do "ue adormecidas, escondidas dentro do conte3docient(fico de te-tos / e muito poderosas para ele. Acordar tais metáforas,

tornandoEnos conscientes de "uando nós estamos pro+etando imaensculturais so!re o "ue estudamos, melhorará nossa capacidade de investiare entender a nature&a. Acordar tais metáforas, tornandoEnos conscientes desuas implica%9es, as furtará de seu poder de naturali&ar nossas conven%9essociais so!re )nero.