mário ferreira dos santos

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  • 8/12/2019 Mrio Ferreira Dos Santos

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    Mrio Ferreira dos SANTOSe o nosso futuro

    Olavo de CarvalhoDicta & Contradicta,junho de 2009

    Quando a obra de um nico autor mais rica e poderosa que a culturainteira do seu pas, das duas uma: ou o pas consente em APRENDERCOMele ou recusa o presente dos cus e inflige a si prprio o merecidocastigo pelo pecado da soberba, condenando-se ao definhamentointelectual e a todo o cortejo de misrias morais que necessariamente oacompanham.

    Mrio Ferreira ocupa no Brasil uma posio similar de GIAMBATTISTA VICO na cultura napolitana do sculo XVIII ou deGottfried von Leibniz na Alemanha da mesma poca: um gniouniversal perdido num ambiente provinciano incapaz no s decompreend-lo, mas de enxerg-lo. Leibniz ainda teve o recurso deescrever em francs e latim, abrindo assim algum dilogo cominterlocutores estrangeiros. Mrio est mais prximo de Vico no seuisolamento absoluto, que faz dele uma espcie de monstro. Quem, numambiente intelectual prisioneiro do imediatismo mais mesquinho e do

    materialismo mais deprimente materialismo compreendido nemmesmo como postura filosfica, mas como vcio de s crer no que temimpacto corporal , poderia suspeitar que, num escritrio modesto da

    Vila Olimpia, na verdade uma passagem repleta de livros entre acozinha e a sala de visitas, um desconhecido discutia EM P deigualdade com os grandes filsofos de todas as pocas, demolia commeticulosidade cruel asESCOLAS DE PENSAMENTO mais em moda esobre seus escombros erigia um novo padro de inteligibilidade

    universal?

    Os problemas que Mrio enfrentou foram os mais altos e complexos dafilosofia, mas, por isso mesmo, esto to acima das cogitaes banaisda nossa intelectualidade, que esta no poderia defrontar-se com elesem passar por uma metania, uma converso do esprito, a descobertade uma dimenso ignorada e infinita. Foi talvez a premonioinconsciente do terror e do espanto do thambosaristotlico que aimpeliu a fugir dessa experincia, buscando abrigo nas suas miudezasusuais e definhando pouco a pouco, at chegar nulidade completa;

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    decerto o maior fenmeno deAUTO-aniquilao intelectual jtranscorrido em tempo to breve em qualquer poca ou pas. Adesproporo entre o nosso filsofo e os seus contemporneos muitosuperiores, no entanto, atual gerao mede-se por um episdio

    transcorrido num centro anarquista, em data que agora me escapa,quando se defrontaram, num debate, Mrio e o ento mais eminenteintelectual oficial do Partido Comunista Brasileiro, Caio Prado Jnior.Caio falou primeiro, respondendo desde o ponto de vista marxista questo proposta comoLeitmotivdo debate. Quando ele terminou,Mrio se ergueu e disse mais ou menos o seguinte:

    Lamento informar, mas o ponto de VISTA marxista sobre os tpicos

    escolhidos no o que voc exps. Vou portanto refazer a suaconferncia antes de fazer a minha.

    E assim fez. Muito apreciado no grupo anarquista, no por serintegralmente um anarquista ele prprio, mas por defender as idiaseconmicas de Pierre-Joseph Proudhon, Mrio jamais foi perdoadopelos comunistas por esse vexame imposto a uma VACA SAGRADA doPartido. O fato pode ter contribudo em algo para o muro de silncioque cercou a obra do filsofo desde a sua morte. O PARTIDO

    COMUNISTA sempre se arrogou a autoridade de tirar de circulao osautores que o incomodavam, usando para isso a rede de seus agentescolocados em altos postos na mdia, no MUNDO EDITORIAL e nosistema de ensino. A lista dos condenados ao ostracismo grande enotvel. Mas, no caso de Mrio, no creio que tenha sido esse o fatordecisivo. O Brasil preferiu ignorar o filsofo simplesmente porque nosabia do que ele estava falando. Essa confisso coletiva de inpcia tem,decerto, o atenuante de que as obras do filsofo, publicadas por ele

    mesmo e vendidas de porta em porta com um sucesso que contrastavapateticamente com a ausncia completa de menes a respeito namdia cultural, vinham impressas com tantas omisses, frasestruncadas e erros gerais de reviso, que sua leitura se tornava um

    verdadeiro suplcio at para os estudiosos mais interessados o que,decerto, explica mas no justifica. A desproporo evidenciada naqueleepisdio torna-se ainda mais eloqente porque o marxismo era ocentro dominante ou nico dos interesses intelectuais de Caio Prado

    Jnior, ao passo que, no horizonte infinitamente mais vasto doscampos de estudo de Mrio Ferreira, era apenas um detalhe ao qual ele

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    no poderia ter dedicado seno alguns meses de ateno: nesses meses,aprendera mais do que o especialista que dedicara ao assunto uma vidainteira.

    A mente de Mrio Ferreira era to formidavelmente organizada quepara ele era a coisa MAIS FCIL localizar imediatamente no conjuntoda ordem intelectual qualquer conhecimento novo que lhe chegassedesde rea estranha e desconhecida. Numa outra conferncia,interrogado por um mineralogista de profisso que desejava sabercomo aplicar ao seu campo especializado as tcnicas lgicas que Mriodesenvolvera, o filsofo respondeu que nada sabia de mineralogia masque, por deduo desde os fundamentos gerais da cincia, os princpios

    da mineralogia s poderiam ser tais e quais e enunciou quatorze. Oprofissional reconheceu que, desses, s conhecia oito.

    A biografia do filsofo repleta dessas demonstraes de fora, queassustavam a platia, MAS QUE para ele no significavam nada. Quemouve as gravaes das suas aulas, registradas j na voz cambaleante dohomem afetado pela grave DOENA CARDACA que haveria de mat-lo aos 65 anos, no pode deixar de reparar na modstia tocante comque o maior sbio j havido em terras lusfonas se dirigia, com

    educao e pacincia mais que paternais, mesmo s platias maisdespreparadas e toscas. Nessas gravaes, pouco se nota dos hiatos eincongruncias gramaticais prprios da expresso oral, quaseinevitveis num pas onde a distncia entre a fala e a escrita se ampliadia aps dia. As frases vm completas, acabadas, numa seqnciahierrquica admirvel, pronunciadas em recto tono, comonum DITADO.

    Quando me refiro organizao mental, no estou falando s de umahabilidade pessoal do filsofo, mas da MARCA MAIS caracterstica desua obra escrita. Se, num primeiro momento, essa obra d a impressode um caos inabarcvel, de um desastre editorial completo, o examemais demorado acaba revelando nela, como demonstrei na introduoSabedoria das Leis Eternas[1], um plano de excepcional clareza eintegridade, realizado quase sem falhas ao longo dos 52 volumes da suaconstruo monumental, aEnciclopdia das Cincias Filosficas.

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    Alm dos maus cuidados editoriais um pecado que o prprio autorreconhecia e que explicava, com justeza, pela falta de tempo , outrofator que torna difcil ao leitor perceber a ordem por trs do caosaparente provm de uma causa biogrfica. A obra escrita de Mrio

    reflete trs etapas distintas no seu desenvolvimento intelectual, dasquais a primeira no deixa prever em nada as duas subseqentes, e aterceira, comparada segunda, um salto to formidvel na escala dosgraus de abstrao que a parecemos nos defrontar j no com umfilsofo em luta com suas incertezas e sim com um profeta-legislador aenunciar leis reveladas ante as quais a capacidade humana de discutirtem de ceder autoridade da evidncia universal.

    A biografia interior de Mrio Ferreira realmente um mistrio, tograndes foram os dois milagres intelectuais que a moldaram. Oprimeiro transformou um mero ensasta e divulgador cultural emfilsofo na acepo mais tcnica e rigorosa do termo, um dominadorcompleto das questes debatidas ao longo de dois milnios,especialmente nos campos da lgica e da dialtica. O segundo fez dele onico repito, o nico filsofo moderno que suporta umacomparao direta com Plato e Aristteles. Este segundo milagreanuncia-se ao longo de toda a segunda fase da obra, numa seqncia deenigmas e tenses que exigiam, de certo modo, explodir numatempestade de evidncias e, escapando ao jogo dialtico, convidar ainteligncia a uma atitude de xtase contemplativo. Mas o primeiromilagre, sobrevindo ao filsofo no seu quadragsimo-terceiro ano deidade, no tem nada, absolutamente nada, que o deixe prever na obrapublicada at ento. A famlia do filsofo foi testemunha doinesperado. Mrio fazia uma CONFERNCIA, no tom meio literrio,meio filosfico dos seus escritos usuais, quando de repente pediudesculpas ao auditrio e se retirou, alegando que tivera uma idia e

    precisava anot-la urgentemente. A idia era nada mais, nada menosque as teses numeradas destinadas a constituir o ncleo daFilosofiaConcreta, por sua vez coroamento dos dez volumes iniciaisdaEnciclopdia, que viriam a ser escritos uns ao mesmo tempo, outrosem seguida, mas que ali j estavam embutidos de algum modo.

    AFilosofia Concreta construda geometricamente como umaseqncia de afirmaes auto-evidentes e de concluses

    exaustivamente fundadas nelas uma ambiciosa e bem sucedidatentativa de descrever a estrutura geral da realidade tal como tem de

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    ser concebida necessariamente para que as afirmaes da cinciafaam sentido.

    Mrio denomina a sua filosofia positiva, mas no no sentido

    comteano. Positividade (do verbo pr) significa a apenasafirmao. O objetivo da filosofia positiva deMrio Ferreira buscaraquilo que legitimamente se pode afirmar sobre o conjunto darealidade luz do que foi investigado pelos filsofos ao longo de vinte equatro sculos. Por baixo das diferenas entre escolas e correntes depensamento, Mrio discerne uma infinidade de pontos de convergnciaonde todos estiveram de acordo, mesmo sem declar-lo, e ao mesmotempo vai construindo e sintetizando os mtodos de demonstrao

    necessrios a fundament-los sob todos os ngulos concebveis.

    Da que a filosofia positiva seja tambm concreta. Um conhecimentoconcreto, enfatiza ele, um conhecimento circular, que conexiona tudoquanto pertence ao objeto estudado, desde a sua definio geral at osfatores que determinam a sua entrada e sada da existncia, a suainsero em totalidades maiores, o seu posto na ordem dosconhecimentos, etc. Por isso que seqncia de demonstraesgeomtricas se articula um conjunto de investigaes dialticas, de

    modo que aquilo que foi obtido na esfera da alta abstrao sejareencontrado no mbito da experincia mais singular e imediata. Asubida e descida entre os dois planos opera-se por meioda decadialtica, que enfoca o seu objeto sob dez aspectos:

    1. Campo sujeito-objeto. Todo e qualquer ser, seja fsico, espiritual,existente, inexistente, hipottico, individual, universal, etc. simultaneamente objeto e sujeito, o que o mesmo que dizer em

    termos que no so os usados pelo autor receptor e emissor deinformaes. Se tomarmos o objeto mais alto e universal Deus , Ele evidentemente sujeito, e s sujeito, ontologicamente: gerando todosos processos, no objeto de nenhum. No entanto, para ns, objetodos nossos pensamentos. Deus, que ontologicamente puro sujeito,pode ser objeto do PONTO DE VISTA cognitivo. No outro extremo, umobjeto inerte, como uma pedra, parece ser puro objeto, sem nada desujeito. No entanto, bvio que ela est em algum lugar e emite aosobjetos circundantes alguma informao sobre a sua presena, porexemplo, o peso com que ela repousa sobre outra pedra. Com uma

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    imensa gradao de diferenciaes, cada ente pode ser precisamentedescrito nas suas respectivas funes de sujeito e objeto. Conhecer umente , em primeiro lugar, saber a diferenciao e a articulao dessasfunes. Alguns exerccios para o leitor se aquecer antes de entrar no

    estudo da obra de Mrio Ferreira: (1) Diferencie os aspectos e ocasiesem que um fantasma sujeito e objeto. (2) E uma idia abstrata,quando sujeito, quando objeto? (3) E um personagem de fico,como Dom Quixote?

    2. Campo da atualidade e virtualidade. Dado um ente qualquer, pode-se distinguir entre o que ele efetivamente num certo momento eaquilo em que ele pode (ou no) se transformar no instante seguinte.

    Alguns entes abstratos, como por exemplo a liberdade ou a justia,podem se transformar nos seus contrrios. Mas um gato no pode setransformar num antigato.

    3.Distino entre as virtualidades (possibilidades reais) e aspossibilidades no-reais, ou meramente hipotticas. Todapossibilidade, uma vez logicamente enunciada, pode ser concebidacomo real ou irreal. S podemos obter essa gradao peloconhecimento dialtico que temos das potncias do objeto.

    4.Intensidade e extensidade. Mrio toma esses termos emprestados dofsico alemo Wilhelm Ostwald (1853-1932), separando aquilo que spode variar em diferena de estados, como por exemplo o sentimentode temor ou a plenitude de significados de uma palavra, e aquilo que sepode medir por meio de unidades homogneas, como por exemplolinhas e volumes.

    5.Intensidade e extensidade nas atualizaes. Quando os entespassam por mudanas, elas podem ser tanto de natureza intensivaquanto extensiva. A descrio precisa das mudanas exige a articulaodos dois pontos de vista.

    6. Campo das oposies no sujeito: razo e intuio. O estudo dequalquer ente sob os cinco primeiros aspectos no pode ser feito scom base no que se sabe deles, mas tem de levar em contaa modalidadedo seu conhecimento, especialmente a distino entre os

    elementos racionais e intuitivos que entram em jogo.

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    7. Campo das oposies da razo: conhecimento e desconhecimento.Se a razo fornece o conhecimento do geral e a intuio o do particular,em ambos os casos h uma seleo: conhecer tambm desconhecer.Todos os dualismos da razo concreto-abstrato, objetividade-

    subjetividade, finito-infinito, etc. procedem da articulao entreconhecer e desconhecer. No se conhece um objeto enquanto no sesabe o QUE TEM de ser desconhecido para que ele se torne conhecido.

    8. Campo das atualizaes e virtualizaes racionais. A razo operasobre o trabalho da intuio, atualizando ou virtualizando, isto ,trazendo para o primeiro plano ou relegando para um plano de fundoos vrios aspectos do objeto percebido. Toda anlise crtica de

    conceitos abstratos supe uma clara conscincia do que a foiatualizado e virtualizado.

    9. Campo das oposies da intuio. A mesma separao do atual e dovirtual j acontece no nvel da intuio, que espontaneamenteseletiva. Se, por exemplo, olhamos esta revista como umasingularidade, fazemos abstrao dos demais exemplares da mesmatiragem. Tal como a razo, a intuio conhece e desconhece.

    10. Campo do variante e do invariante. No h fato absolutamentenovo nem absolutamente idntico a seus antecessores. Distinguir os

    vrios graus de novidade e repetio o dcimo e ltimo procedimentodadecadialtica.

    Mrio complementa o mtodo com apentadialtica, uma distino decinco planos diferentes nos quais um ente ou fato pode ser examinado:comounidade, comoparte de um tododo qual elemento, como

    captulo de umasrie, como pea de um sistema(ou estrutura detenses) e como parte douniverso.

    Nos dez primeiros volumes da Enciclopdia, Mrio aplica essesmtodos resoluo de vrios problemas filosficos divididos segundoa distino tradicional entre as disciplinas que compem a filosofia lgica, ontologia, teoria do conhecimento, etc. , compondo assim aarmadura geral com que, na segunda srie, se aprofundar no estudopormenorizado de determinados temas singulares.

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    Aconteceu que, na elaborao dessa segunda srie, ele se deteve maisdemoradamente no estudo dos nmeros em Plato e Pitgoras, o queacabou por determinar o upgradeespetacular que marca a segundametania do filsofo e os dez volumes finais daEnciclopdia, tal como

    expliquei na introduo Sabedoria das Leis Eternas. OlivroPitgoras e o Tema do Nmero, um dos mais importantes doautor, d testemunho da mutao. O que chamou a ateno de Mriofoi que, na tradio pitagrico-platnica, os nmeros no eramencarados como meras quantidades, no sentido em que so usados nasmedies, mas sim comoformas, isto , articulaes lgicas de relaespossveis. O que Pitgoras queria dizer com sua famosa afirmao deque tudo so nmeros no que todas as qualidades diferenciadoras

    podiam se reduzir a quantidades, mas que as quantidades mesmaseram por assim dizer qualitativas: cada uma delas expressava um certotipo de articulao de tenses cujo conjunto formava um objeto. Mas,se de fato assim, conclui Mrio, a seqncia dos nmeros inteiros no apenas uma contagem, mas uma srie ordenada de categorias lgicas.Contar , mesmo inconscientemente, galgar os degraus de umacompreenso progressiva da estrutura do real. Vejamos, s paraexemplificar, o que acontece no trnsito do nmero um ao nmero

    cinco. Todo e qualquer objeto necessariamente uma unidade.Ens etunum convertuntur, o ser e a unidade so a mesma coisa, dir DunsScot. Ao mesmo tempo, porm, esse objeto conter em sialguma dualidadeessencial. Mesmo a unidade simples, ou Deus, noescapa ao dualismo gnoseolgico do conhecido e do desconhecido, jque aquilo que Ele conhece de si mesmo desconhecido por ns. Aomesmo tempo, os dois aspectos da dualidade tm de estar ligados entresi, o que exige a presena de um terceiro elemento, a relao. Mas arelao, ao articular os dois aspectos anteriores, estabelece entre elesumaproporo, ou quaternidade. A quaternidade, considerada comoforma diferenciada do ente cuja unidade abstrata captamos noprincpio, por sua vez uma quinta forma. E assim por diante.

    A mera contagem exprime, sinteticamente, o conjunto dasdeterminaes internas e externas que compem qualquer objetomaterial ou espiritual, atual ou possvel, real ou irreal. Os nmeros soportanto leis que expressam a estrutura da realidade. O prprio

    Mrio confessa no saber se essa sua verso muito pessoal dopitagorismo coincide materialmente com a filosofia do Pitgoras

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    histrico. Seja uma descoberta ou uma redescoberta, a filosofia deMrio descerra diante dos nossos olhos, de maneira diferenciada emeticulosamente acabada, um edifcio doutrinal inteiro que, emPitgoras e mesmo em Plato estava apenas embutido de maneira

    compacta e obscura. Ao mesmo tempo, emA Sabedoria dosPrincpiose demais volumes finais daEnciclopdia, ele d ao seuprprio projeto filosfico um alcance incomparavelmente maior do quese poderia prever at mesmo pela magistralFilosofia Concreta. A estaaltura, aquilo que comeara como conjunto de regras metodolgicas setransmuta num sistema completo de metafsica, a mathesis megisteouensinamento supremo, ultrapassando de muito a ambio originria

    daEnciclopdiae elevando a obra de Mrio Ferreira ao estatuto de

    uma das mais altas realizaes do gnio filosfico de todos os tempos.

    No tenho a menor dvida de que, quando passar a atual fase dedegradao intelectual e moral do pas e for possvel pensar numareconstruo, essa obra, mais que qualquer outra, deve tornar-se oalicerce de uma nova cultura brasileira. A obra, em si, no precisadisso: ela sobreviver muito bem quando a mera recordao daexistncia de algo chamado Brasil tiver desaparecido. O que est em

    jogo no o FUTUROde Mrio Ferreira dos Santos: o futuro de umpas que a ele no deu nada, nem mesmo um reconhecimento da bocapara fora, mas ao qual ele pode dar uma nova vida no esprito.

    Notas:

    [1] So Paulo, -Realizaes, 2001.